Do curso: Histórias de Carreira: Gestão de Projetos com Ricardo Vargas

Gestão de Projetos com Ricardo Vargas

Apresentora: O que a vida me ensinou e eu levei para a minha carreira, com Ricardo Vargas, gestor de projetos, liderou iniciativas globais em diversos setores, trabalhou com governos, trabalhou na ONU, consultor para várias empresas da Fortune Five Hundred, um entusiasta da IA e um defensor da sustentabilidade no mundo dos projetos. Natural de Belo Horizonte, apreciador de um bom vinho, pai de duas filhas e um visionário da sua área. Ricardo, qual o projeto que define a sua carreira? Ricardo: Bem, eu posso dizer que a carreira em projetos na verdade, ela é um conjunto de várias carreiras. Então, se eu pudesse dizer, eu teria vários projetos que marcaram desde o primeiro projeto que eu fiz, que foi o planejamento da reforma de um alto forno, quando eu ainda era estudante, um alto forno para uma indústria siderúrgica, até os projetos na ONU. Mas se eu estivesse que eleger um projeto que realmente marcou a minha vida, foi o projeto que a gente fez de reconstrução no Haiti, que foi um projeto que ele reuniu a engenharia, que eram construção de casas, mas reuniu esse aspecto técnico dentro de um ambiente humanitário, de perda de vidas, de... sabe, tristeza, e de como você pode usar projetos para reconstruir a dignidade de vida de uma comunidade etc. Esse foi, sem dúvida nenhuma, o projeto que eu senti mais valor na minha vida em termos de, assim, não era só, vamos dizer, tornar o meu cliente mais rico, gerar um lucro, mas realmente melhorar as condições de vida de quem perdeu tudo e um pouco mais. Então esse projeto é um projeto muito, muito marcante, porque ele envolveu uma complexidade tremenda ao lidar com as pessoas, assim, de pessoas que, assim, que não queriam sair quase que da lama naquele metro quadrado que era deles para deixar a gente construir, porque tinha medo de perder aquele... aquele metro quadrado. Pessoas dormindo em caixa de papelão naquilo porque não queriam perder aquele quadrado onde em algum momento foi a casa, onde... a casa, se é que podemos chamar de casa, que eles viviam. Então a gente conseguiu remodelar e criar um modelo de comunidade também, porque, além de construir, a gente criou um modelo de governança onde a própria comunidade governava os recursos básicos, o que era maravilhoso, porque as comunidades governando o uso desses recursos, a gente parou de ter problema de falta de água, porque a comunidade se autorregulava. Nós não precisávamos, porque eles entendiam que era um recurso compartilhado deles. além de uma das coisas mais marcantes para mim, que foi como o investimento no projeto, ele pode se multiplicar. Porque, olha só, quando a gente usou a comunidade local para poder desenvolver o projeto, trabalhar no projeto, a gente pagou essas pessoas para construir as próprias casas. E esse dinheiro que a gente pagou às pessoas voltava para a comunidade, porque ele era o dinheiro que era gasto na venda, ele era o dinheiro que era gasto ali na comunidade. Então o dinheiro, ele se multiplicou, além de ter dado uma habilidade. Então, para mim, esse é um projeto que eu não esqueço. Apresentadora: E que competências é que precisa ter um gestor de projeto para ser bem sucedido em uma situação tão transformadora como esta no Haiti? Ricardo: Olha, a primeira coisa que é importante é sempre olhar o cenário grande, o que a gente chama de big picture. Por quê? Porque, muitas vezes, se você pensa só em uma eficiência operacional e se eu reduzo esse projeto a uma visão microscópica de que esse projeto é construir casa, bem, de repente eu poderia contratar uma construtora que chegaria e estacionaria um navio ali na baía de Porto Príncipe e faria o trabalho talvez muito mais rápido. Mas na hora que aqueles 2.000 funcionários fossem embora, o que sobrou para mim era parede. Eu não tinha nenhum outro ganho. Então visão holística é entender que um projeto, ele é muito mais do que simplesmente o produto que ele está gerando. Ele é uma influência dentro da sociedade, ele é uma influência nos hábitos, e por isso que eu sou tão apaixonado pelo conceito de sustentabilidade. É entender que quando a gente faz um projeto, a gente tem que pensar em uma visão mais ampla. Por exemplo, você vai fazer um aeroporto, você não pode pensar só na pista e no terminal, você tem que entender que aquele aeroporto vai se situar em uma terra, e ao redor daquela terra tem uma comunidade que está vivendo. Você pode ter uma pressão inflacionária de preços, você pode ter um deslocamento de mão de obra. Imagina, por exemplo, eu construir um aeroporto em um vilarejo que tem 5.000 habitantes e eu venho com 7.000 operários. Eu praticamente... Eu dobrei a população daquela cidade quase que instantaneamente. Então entender esse contexto. Eu acho que esse é o grande desafio e a grande vantagem que faz um gerente de projeto competente. Apresentadora: E, nesse caso, como é que um gerente de projeto que lida normalmente com projetos de uma escala menor, como é que ele ou ela se preparam para dar o salto para poder gerir um tipo de projeto desse gênero? Ricardo: Sim, é... Claro, tudo começa pequeno, tudo começa pequeno. é claro que eu estou aqui falando porque eu fui muito feliz de ter esse tipo de experiência, mas o que que é importante é todo tipo de projeto, seja preparar a sua viagem de férias ou reformar a cozinha da sua casa, é uma oportunidade para que você tenha experiência e adquira o conhecimento. Toda oportunidade que você tem, por exemplo, se você agora que está ouvindo esse episódio, de repente está tendo um desafio de relacionamento com a equipe sua de projeto ou com seu patrocinador, ou com a equipe, entenda que isso é um desafio, mas isso também é uma oportunidade maravilhosa de aprendizado. E nessas, vamos dizer, nessas pequenas dores, nesses pequenos desafios que a gente expande a fronteira da nossa capacidade. Uma coisa que eu quero explicar rapidamente, a minha visão é o seguinte, quando a gente pensa em capacidade e carreira, é como se a gente estivesse um limite entre o que dá para fazer e o que não dá para fazer. O que é possívele o que não é. Só que esse limite, ele não é estático, ele não é uma parede. É como se fosse uma membrana. E você precisa alongar essa membrana para que esse limite do que é possível se expanda. E como você faz isso? Lógico, através de uma educação um pouco mais estruturada, como fazer um curso, aprender, como também da própria vivência prática. A cada dia que a gente experimenta uma coisa nova, é uma oportunidade de exercitar esse músculo e expandir. Hoje eu consigo tornar possíveis coisas que eu jamais pensava que seriam possíveis de se tornar há dez anos atrás. Então é essa plasticidade que faz a carreira, essa nossa carreira. E quando você é pequeno, não ache que essas pequenas experiências elas não vão contribuir, que só as grandes. Não. O sucesso e carreira é construído tijolo a tijolo. Você não constrói uma parede de uma vez. Você não vem com caminhão com uma parede pronta, Cada tijolo ali vai montando até que no final você vê só o conjunto, mas o conjunto, quando você olha no micro, são pequenas coisas que te levaram àquele caminho. Apresentadora: Como entusiasta da inteligência artificial, como é que você vê o futuro do trabalho? Ricardo: Eu vejo com dois olhos. Um olho que é, sem dúvida nenhuma, uma oportunidade. E sem dúvida nenhuma eu olho com muita admiração de pensar assim: Como é que a gente consegue criar uma coisa tão boa? Como é que a gente consegue criar esses mecanismos tão inteligentes? Como é que nós conseguimos fazer computadores terem resposta? Isso é uma coisa... Isso é uma mágica, a gente ter essa capacidade intelectual de fazer isso. Então eu acho que esse lado positivo, eu acho que isso vai revolucionar muitas coisas na vida, vai revolucionar projetos, vai conseguir com que nós otimizemos muito mais. Agora, com outro olho, eu vejo com muita preocupação. Por quê? Porque isso significa uma transformação no trabalho. Isso significa que o nosso trabalho vai ser essencialmente diferente no futuro. Vai ser essencialmente um monte de coisas que a gente faz hoje vão passar a ser feitas naturalmente por agentes de inteligência artificial, vão ser feitas por isso. A gente precisa estar preparado para isso, inclusive, para repensar o nosso lugar dentro da sociedade. E a preocupação que eu tenho é que quando as pessoas não se preparam, e um dos primeiros passos para você se preparar é você ter a consciência da mudança. A maior parte das pessoas ainda está em um movimento de negação da mudança. Negação é assim: "Não, isso não é nada. Sempre foi assim e não vai acontecer nada", até que um dia acontece. Então, e isso é uma coisa que me chama muitíssima a atenção. Apresentadora: Se o Ricardo de 25 anos olhasse para o futuro e olhasse para o lugar onde você está hoje, acha que ele ficaria surpreendido com o caminho da sua carreira o levou? Ricardo: Bem, eu acho que sim. Eu acho que eu, quando tinha 25, 24 anos, eu jamais imaginaria que eu teria condições de hoje, por exemplo, está gravando cursos no LinkedIn e tendo 150.000 alunos em um curso. Então, isso para mim, nem, assim, nos meus sonhos mais... mais loucos eu teria uma perspectiva de pensar que um brasileiro que até 22 anos de idade não falava inglês conseguisse fazer isso. Agora, o que eu penso também é o seguinte, sucesso não é uma corrida de velocidade, é uma maratona. Não adianta. E uma coisa que me preocupa muito é que o jovem hoje de 25 anos, ele não tem essa paciência nem essa persistência. É, assim, ele ou ela querem fazer algo e querem que isso dê certo amanhã e querem... Sabe aquela coisa assim. E depois de amanhã, e eles querem ser promovidos, e se eu não for promovido a cada três meses eu vou sair. E, assim, é um jogo, o que a gente chama em inglês de long game. É um jogo grande. Hoje, quando eu chego e falo assim: Pô, o sucesso que eu tenho, que me deixa muito feliz, ele é fruto de um monte de coisa, sabe? Assim, eu não cheguei onde eu cheguei porque eu escrevi 16 livros. Eu não cheguei onde eu cheguei porque eu gravei o curso. Na verdade é tudo ao mesmo tempo que construiu isso, que construiu isso. E é por isso que eu falo que se eu pudesse falar para o Ricardo de 25 anos, dar alguma dica, é o seguinte, não adianta você não gostar do que você faz. Você tem que ter paixão pelo que você faz. Você tem que gostar do que você faz, porque senão sua vida fica miserável. Segundo, você tem que ter persistência, sabe, tem que ter persistência. Os resultados, eles não necessariamente acontecem da noite para o dia. Leva tempo, dá trabalho, tem obstáculo. É igualzinho um projeto. E o projeto não dá certo. Eu fico aqui, como eu contei há pouco do projeto do Haiti, parece que foi uma maravilha. Assim, a gente chegou e estava tudo bem e todo mundo ficou motivado e a gente construiu e deu certo e todo mundo se abraçou. Bem, isso é uma história de ficção, é uma história de ficção. Na verdade, todos os dias tinha um problema, todos os dias. E essa é a característica natural do trabalho. Dá trabalho mesmo. E se não desse trabalho, eu falaria para esse cara assim: Olha, se não for para dar trabalho, você é desnecessário. A gente só existe, e dentro da nossa função, o gerenciamento de projetos só existe porque é difícil. Porque se fosse fácil, o projeto era autogerenciado, eu não precisava de ninguém para gerenciar. E gerenciar porque dá trabalho, é porque é difícil, porque dá problema, porque não funciona. Então acho que é essa... essa seria a mensagem que eu daria para esse Ricardo. Apresentadora: E que competências é que lhe recomendaria adquirir? Por exemplo, chegar aqui ao LinkedIn Learning e colocar gestão de tempo, gerenciamento de projetos? Ricardo: Olha, eu faria, eu separaria em grupos aqui. O grupo número um, que é o grupo técnico. Primeiro, uma competência que eu... E aí eu estou falando técnica: inteligência artificial. Pode falar para mim assim: Eu sou advogado. Inteligência artificial. Por quê? Porque quem não dominar isso como ferramenta, não estou dizendo que você vai virar um programador ou um developer, não é isso. Mas você tem que aprender a usar assim. Assim, isso é uma condição, assim, para qualquer atividade humana profissional que você venha a fazer, você vai precisar. Esse é o lado técnico. Agora vamos falar um pouquinho do lado um pouco não técnico. A primeira coisa. Você tem que desenvolver a sua capacidade de priorizar, porque o seu dia, por mais tecnologia que nós temos, ele continua tendo 24 horas e você continua sendo um humano. Você precisa dormir, você precisa comer. Então você ainda continua com essas limitações que o mesmo HOMEm de 30.000 anos atrás tinha. Então, o que que é importante? Você tem que saber priorizar. Você tem que saber focar de acordo com a sua direção. Então eu colocaria ali técnicas de priorização, etc. E aí, dentro da priorização, entraria gestão de tempo. Como é que eu vou gerenciar o meu tempo imaginando que o meu dia só tem 24 horas? Então seria a segunda. Terceiro, como é que eu lido com volatilidade? Por quê? Porque nós não fomos criados desenvolvidos para lidar com volatilidade. A gente foi desenvolvido para lidar com repetição, com rotina, com coisa que acontece todo dia. Nós fomos criados para seguir ali o manual da vida página a página. Agora, de repente, quando alguém pega o manual da vida, sabe, tira, desencaderna esse manual da vida e joga tudo para o alto e cai aquele monte de folha no chão, a gente não sabe como é que lê esse livro, e é o que está acontecendo hoje. Então eu colocaria o seguinte, como é que eu lido com volatilidade? Como é que eu lido com esse ambiente VUCA, esse ambiente que muda o tempo todo? Que tipo de habilidades. E isso vai incluir tomada de decisão mais rápida, vai incluir ciclos de vida menores. Por isso que, por exemplo, por que os cursos do LinkedIn são extremamente bem sucedidos? Porque eles são cursos normalmente, vamos dizer, de meia hora a duas horas. Eles não são cursos de três anos. Eles são habilidades como se fossem micro doses de habilidades. E isso permite com que a pessoa tenha muito mais plasticidade. O que que adianta você chegar e falar assim: Olha, eu vou adquirir esse conhecimento e daqui a dez anos eu vou ter esse conhecimento. Bem, daqui a dez anos talvez esse conhecimento não sirva para mais nada, porque o mundo já mudou. Então é ciclos de vida menores, tomada de decisão mais rápida. Então eu aprenderia Tomada de decisão, Ambiente VUCA, Gestão de tempo, Priorização. E, no lado técnico, indiscutivelmente, e eu vou até repetir isso mais uma vez, inteligência artificial. Não é porque eu sou um entusiasta disso, é porque a maior parte das pessoas ainda não entenderam o que que está acontecendo. E eu acho que o que está acontecendo é muito, muito grande, é muito grande, que vai mudar muito a forma. É quando o computador atingiu a casa de todo o mundo. Sabe, assim, é a mesma coisa. Nós vamos ver uma revolução muito grande, uma substituição de muitas habilidades que a gente imaginava que só humanos fariam, que vão ser naturalmente repassadas para máquinas fazerem. Apresentadora: Como é que você usa IA, por exemplo, na sua gestão de tempo na sua vida? Ricardo: Eu uso AI para muita coisa. Toda vez que eu tenho, por exemplo, eu já vou falar, assim, toda vez que eu dou uma tarefa repetitiva etc, eu tenho agentes de IA que eu uso para exatamente acelerar o meu processo. Então eu tenho vários agentes de IA que me ajudam, por exemplo, em tarefas pequenas, por exemplo, resumir um vídeo no YouTube, ordenar e priorizar determinados elementos que eu tenho. Eu uso demais para estudar, por exemplo, o NotebookLM, que é maravilhoso. Eu pego, põe todos os arquivos, eu começo a brincar, fazer perguntas, começo a fazer quiz, tudo automaticamente. Então eu uso o dia inteiro. E eu vou dizer que eu, olha, eu trabalho bastante, mas eu devo trabalhar umas 12, 13 horas por dia, e dessas 12, 13 horas, certamente mais da metade é usando inteligência artificial. É usando o NotebookLM. O ChatGPT eu não preciso nem falar porque isso já é natural, mas, assim, eu uso para basicamente tudo, inclusive, para coisas menos óbvias, como, por exemplo, tá, eu estou dirigindo na estrada sozinho, eu vou e ligo o ChatGPT no multi modo oral verbal e eu vou batendo papo com o ChatGPT e fazendo a minha lista. Eu chego e falo assim: Olha, eu não posso deixar de fazer isso, coloca aí na minha lista, e aí o ChatGPT... Aí no final fala assim: Por favor, você lê para mim a lista que eu coloquei. Falei, ótimo, porque aí na hora que eu chego no outro lado, eu já tenho uma lista. Então eu faço o brainstorming dirigindo. Eu, outro dia, eu sou apaixonado por tecnologia, tudo. Então eu tava estudando computação quântica, e eu estava discutindo um algoritmo chamado Grover, que é um algoritmo de busca para achar um determinado... um determinado valor dentro do universo quântico. E eu estava discutindo isso com o ChatGPT enquanto eu dirigia. Então, assim, é tornar esse ambiente parte natural do que você faz. Apresentadora: E até para cozinhar. Ricardo: Até para cozinhar. ChefGPT.XYZ, faz a receita a partir do que você tem na sua despensa, né? Então até para isso. Apresentadora: Maravilhoso! Ricardo, o que é que a vida te ensinou que você leva para a sua carreira? Ricardo: Olha, a vida me ensinou é que quanto mais adaptável a gente se torna para as mudanças, mais capazes nós nos tornamos para progredir na carreira em um mundo tão volátil. É a adaptabilidade a tudo. A gente... Eu há cinco anos atrás não estaria falando de inteligência artificial, como eu estou falando agora. E pode ser que daqui a três anos nós estejamos falando de outra coisa. Então adaptabilidade é tudo. Adaptabilidade é tudo. É uma das principais coisas que a gente tem na carreira, porque isso é que vai dar a nossa capacidade para reinventar a nossa carreira caso alguma coisa aconteça. E a gente precisa reinventar. Por isso que eu... eu trabalhei na ONU, eu fui empresário, eu fui consultor, eu trabalho como empreendedor também. Então, olha só, são vários Ricardos dentro de um só. E é isso que me torna muito mais resiliente às variabilidades do mundo. Apresentadora: Obrigada aos vários Ricardos por esta conversa. Ricardo: Eu que agradeço a oportunidade e um abraço a todos.

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