O que uma cirurgia ortognática tem a ver com RH Ágil, resolução de problemas e criatividade?

O que uma cirurgia ortognática tem a ver com RH Ágil, resolução de problemas e criatividade?

Lá estava eu tentando me acomodar melhor na cama de uma sala de recuperação após uma cirurgia super complexa de 5 horas, sem entender muito bem o que estava acontecendo. Aos poucos fui começando a prestar atenção nos movimentos da sala de recuperação e escutei as enfermeiras conversando, os pacientes resmungando de dor... Aquilo era tudo muito novo pra mim, estava me adaptando, entendendo o cenário e ao mesmo tempo tentando lidar com as náuseas do pós operatório, provavelmente em função da anestesia geral. E o pior: a cirurgia limitava a minha fala, pois eu não podia abrir a boca. 

Comecei a ter alguns flashs de lembrança da fisioterapeuta, momentos antes, falando com a enfermeira “como assim vocês não tem botão pra ela chamar? Como vocês vão saber caso ela esteja passando mal? Como ela vai chamar vocês?”. Fiquei pensando naquilo e a náusea foi aumentando cada vez mais. Tentei me ajeitar melhor na cama e percebi que estava com um aparelho para medir minha oxigenação preso no meu dedo indicador esquerdo. Quando fui me ajeitar, encostei sem querer o aparelho no estrado da cama, que era de metal. Aquele toque gerou um ruído. Foi aí que me dei conta: é assim que vou chamar a atenção da enfermeira. Comecei a bater constantemente com o meu dedo na cama e a enfermeira falou “já vai, estou atendendo”. Na hora respirei aliviada: “ufa, pelo menos ela entendeu que estou precisando de ajuda”.

[Corta a cena para 1 mês antes da cirurgia] 

Em torno de um mês antes da minha cirurgia tive a oportunidade de participar de um projeto global na empresa que trabalho e uma das etapas do projeto era a aplicação de um teste comportamental. Tive a devolutiva dos resultados desse teste pouco tempo antes de sair de afastamento e uma das notas mais altas foi em relação a minha capacidade de resolver problemas. Sempre me considerei uma pessoa muito prática, mas nunca tinha parado pra pensar que isso poderia significar uma alta capacidade de resolução de problemas. 

Pois bem… Comecei a refletir sobre a minha forma de trabalhar e lembrei dessa situação que vivi na sala de recuperação. Estava diante de dois problemas: problema 1 - sentia muita náusea e precisava de um remédio; problema 2 - não podia falar em função da limitação da cirurgia e precisava encontrar outra alternativa para chamar a enfermeira para me dar o medicamento. Quando a enfermeira veio me atender, usei também o recurso da mímica para demonstrar o que estava sentindo (apontei para a boca do estômago e fiz uma cara feia. Na hora ela entendeu e disse “enjoo?” e eu só fiz que “sim” com a cabeça”). Ou seja, encontrei uma saída (talvez não a melhor, mas a melhor possível naquele momento) para pedir ajuda. Resolvi os meus problemas

Usei a criatividade nesse momento? Com certeza. Talvez não de forma intencional ou racional - quiçá como recurso de sobrevivência-, mas usei. Para mim, a criatividade tem tudo a ver com resolução de problemas.

A criatividade é basicamente você enxergar uma forma diferente de resolver um problema e testá-la.         

O ponto-chave é ter alguma ação envolvida, se não, vai ser só pura imaginação (aprendi isso lendo o livro Somos Todos Criativos, do Sir Ken Robinson - fica a dica ;)). 

Contei toda essa história como pano de fundo pra chegar no questionamento principal que está rondando na minha mente nesses últimos tempos: se criatividade tem a ver com resolução de problemas e os profissionais de RH passam grande parte do seu dia resolvendo problemas, porque existem poucos profissionais de RH criativos

Ou será que só não os enxergamos assim, porque ainda achamos que criatividade é só “coisa de artista”? Ou será que a forma que os RHs resolvem esses problemas é ainda muito padronizada e operacional e, por isso, entendemos que eles não são criativos? Um profissional de RH pode ser criativo? Ou deve ser criativo? O que significa criatividade dentro do RH? 

Rodei uma enquete rápida no meu Linkedin perguntando para os profissionais de RH o quanto eles se consideram criativos/as, numa escala de 0 a 10 (sendo 0 o mínimo e 10 o máximo), A média de respostas foi 7. Resultado curioso…

Tenho visto um movimento crescente na comunidade de RH sobre temas relacionados a agilidade: o famoso “RH Ágil”. E dos vários cursos, palestras e materiais que consumi sobre isso, o que de fato me parece estar por trás do desejo de se tornar um RH ágil tem a ver com resolução de problemas e, consequentemente, com tornar-se mais criativo.  Estamos vivendo uma cultura do “pensar diferente” - a famosa mudança de mindset - , onde o RH, que, na minha opinião, deveria ser o responsável por estimular esse tipo de habilidade, é o que está ficando para trás nessa corrida. Por um lado há reclamações ainda recorrentes dos clientes internos - uma falta de conexão com o negócio - e de outro, uma questionável autopercepção dos RHs (será mesmo que estão com nota 7?). Tudo resultando no crescente desejo de se tornar uma área mais ágil e criativa. A conta não bate…

A solução? Quem sou eu para dizer…

A solução perfeita não existe, mas posso compartilhar com vocês dois pensamentos que direcionam bastante minha forma de atuação no dia-a-dia. 

  1. Já ouviu falar do conceito de mente de aprendiz ou mente de principiante

Ele surgiu do Zen Budismo e tem a ver com estar aberto a todas as possibilidades de  aprendizado

Tem a ver com se EXPERIMENTAR. Explorar novas formas de fazer a mesma coisa. Resolver problemas. Lembra da história que contei sobre como resolvi o problema no pós operatório da minha cirurgia ortognática? É mais ou menos isso. 

E para ter esse comportamento, é preciso muita CORAGEM para sair da zona de conforto, e de fato, mudar. 

2. O poder de escutar as pessoas e ter empatia

Pode parecer clichê, mas funciona. Lembra do conceito da agilidade de “colocar o cliente no centro”? É preciso ter muita humildade e escuta ativa para conseguir fazer isso. E principalmente quando falamos de profissionais de RH, que normalmente buscam ter a resposta para tudo. É uma busca interna difícil, mas não impossível. E com certeza vai se conectar mais com o conceito de “entrega de valor”. 

Meu convite para você é: exercite a mente de principiante e pratique a escuta ativa através da empatia. 

Pode ser que depois de se experimentar, você até redescubra a pessoa criativa que há aí dentro. :)


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