Quais são os segredos da longevidade empresarial?
10 características das empresas japonesas japonesas
🗾 Em tempos de curto prazismo, um tema em que o Japão se destaca é a longevidade empresarial. 👈
❗ O país possui mais de 33.000 empresas com mais de 100 anos de vida – mais de 40% do total mundial.
🎌 Além disso – de acordo com um estudo do Research Institute of Centennial Management da Japan University of Economics – o país possui:
➡️ Mais de 3.100 empresas com mais de dois séculos (56% do total global);
➡️ 140 empresas com mais de 500 anos; e,
➡️ 19 em operação há mais de mil anos! 🤗
🏯 Entre essas empresas – que sobreviveram a guerras, desastres naturais, transformações sociais etc. – está a Kongo Gumi (https://www.kongogumi.co.jp/).
💡 Fundada em 578, ela é considerada a empresa mais antiga do mundo. A empresa, que começou construindo templos budistas, hoje em dia faz parte de um grande conglomerado de construção civil.
👉 Outras empresas que merecem destaque são os hotéis Keiunkan (https://www.keiunkan.co.jp/) e Koman (http://www.sennennoyu-koman.com/), fundados nos anos 705 e 717, respectivamente,
👉 e a Ichimonjiya Wasuke, uma confeitaria localizada em Kyoto desde o ano 1.000 e que é gerida pela 25ª geração da mesma família.
💡 A maioria dessas empresas centenárias, conhecidas como “shinise” (“loja antiga” em japonês), são pequenas e familiares e atuam nos setores de alimentação, hotelaria e bens de consumo.
❗ Entre elas, no entanto, também estão empresas de grande porte, como a Nintendo (fundada em 1889), a multinacional de embalagens Suntory (de 1899) e uma grande construtora japonesa chamada Takenaka, fundada em 1610.
💡 Segundo o estudo do Institute of Centennial Management, existem 69 empresas japonesas com mais de 300 anos que faturam mais de US$ 50 milhões por ano.
🤗 As shinise são fonte de orgulho no país e de fascínio para os estrangeiros. Sua resiliência oferece lições para empresas de todo o mundo. Qual é o segredo da sua longevidade? ❓
💡Fundamentalmente, as empresas japonesas centenárias operam com uma lógica muito diferente da grande maioria das empresas. Entre suas características, estão o(a):
➡️ Para sobreviver por séculos repletos de inevitáveis crises e dificuldades, uma empresa não pode perseguir apenas números financeiros: ela precisa conectar as pessoas a um propósito mais amplo. Este é o caso das shinise.
💡Segundo Toshio Goto, professor da Japan University of Economics, as shinise têm absoluta clareza em relação à sua razão de existir.
➡️ Além disso, apresentam elevado espírito cívico e sentimento de retribuição à sociedade.
2. ❗Vivência de sólidos valores: 👈
➡️ A internalização de valores essenciais, chamados de “kakun” ou princípios familiares, é outra característica marcante das empresas japonesas longevas.
💡 Entre eles, se destacam o comprometimento com a empresa e seus funcionários, a qualidade do trabalho, o senso de comunidade e o respeito à tradição acima da lógica financeira.
➡️ São esses valores que balizam as decisões ao longo de gerações.
➡️ Consequentemente, as shinise desfrutam de uma elevada reputação social no Japão que as tornam uma espécie de turma de elite do mundo corporativo.
3. ❗Foco: 👈
➡️ Uma característica das shinise é se dedicar a uma única atividade que sabem realizar muito bem. Essa característica permanece mesmo quando há uma transformação significativa no mercado.
💡 A Nintendo constitui um bom exemplo. A empresa foi fundada para produzir cartas de um jogo japonês chamado de hanafuda. Posteriormente, ela migrou para o segmento de jogos eletrônicos, mantendo sua competência essencial de “criar diversão”.
4. ❗Excelência: 👈
➡️ A excelência é outra característica marcante das shinise.
💡 Para essas empresas, o elevado nível de qualidade no atendimento dos clientes, um princípio conhecido como omotenashi, é considerado crucial para manter sua prosperidade ao longo do tempo.
➡️ Isso é particularmente verdadeiro nos ryokans, os hotéis tipicamente japoneses que tratam os hóspedes como pessoas da família.
➡️ Neles, vale a ideia de que é preciso se antecipar às necessidades dos clientes como forma de uma proporcionar uma melhor experiência.
5. ❗Construção de relacionamentos de confiança: 👈
➡️ As shinise se veem como parte de uma rede interconectada composta por seus fundadores, empregados, clientes, fornecedores e comunidade.
💡 Para que essa rede seja saudável, é importante que todas as partes se beneficiem. Esse conceito, denominado de “sampo-yoshi” (bom para o vendedor, bom para o comprador, bom para a sociedade), vem de longa data.
ℹ️ Desde o período Edo, no início do século XVII, comerciantes viajavam entre diferentes regiões do país com amostras dos produtos que vendiam. Os habitantes realizavam seus pedidos e os recebiam posteriormente.
ℹ️ Como havia um descompasso entre o pagamento e o recebimento das mercadorias, os vendedores sabiam que criar relacionamentos de confiança precisava ser sua prioridade central.
ℹ️ Para isso, além de honrar seus compromissos, procuravam ajudar as comunidades criando oportunidades econômicas ou realizando doações após desastres naturais.
💡 Uma consequência do sampo-yoshi que permanece até hoje é a enorme preocupação das shinise em manter a reputação da marca elevada a fim de manter a confiança e lealdade de seus clientes.
💡 Segundo o professor Goto, o aspecto mais positivo da cultura de trabalho nas empresas japonesas é sua atitude em relação às promessas comerciais no que tange a prazos, qualidade e outros compromissos.
➡️ A seu ver, esse comportamento corporativo de cumprimento dos compromissos é a base da confiança junto aos clientes e outros públicos.
➡️ Outro aspecto decorrente da visão sistêmica da empresa é o entendimento de que a boa coexistência de longo prazo com os parceiros comerciais pode requerer sacrifícios no curto prazo.
6. ❗Conservadorismo Financeiro: 👈
➡️ Acostumadas a crises periódicas, as empresas japonesas mais longevas são via de regra avessas a risco na sua gestão financeira.
💡Consequentemente, tendem a acumular grandes reservas de caixa.
ℹ️ Uma pesquisa do Institute of Centennial Management com as shinise, por exemplo, constatou que mais de um quarto das empresas possuía recursos em caixa suficientes para assegurar a manutenção de suas operações por dois anos ou mais.
7. ❗Visão de longo prazo: 👈
➡️ As empresas japonesas centenárias obviamente desenvolvem uma orientação de longo prazo em tudo o que fazem.
💡 Segundo o professor da Harvard Business School, Hirotaka Takeuchi, “muitas empresas ficam presas no curto prazo, centradas em planos estratégicos de cinco anos. Muitas empresas japonesas, no entanto, pensam em como estarão daqui a 100 ou 200 anos”.
8. ❗Crescimento controlado: 👈
➡️ O crescimento certamente não é a prioridade central das empresas japonesas centenárias.
💡 Em seu lugar, estão valores como a estabilidade e a manutenção dos valores e tradições.
9.❗Regras para sucessão: 👈
➡️ Sempre um tema desafiador, muitas empresas familiares japonesas centenárias passaram a adotar funcionários de longa data como membros da família com o objetivo de assegurar que sempre haverá alguém preparado a dar continuidade ao legado da família.
💡 Empresas de grande porte, como Suzuki e Panasonic, por exemplo, já realizaram essa prática em algum momento de sua história.
10. ❗Conceito de sucesso associado à longevidade: 👈
➡️ A métrica de sucesso das shinise não é o lucro: é sua longevidade.
💡 Isto é: a prioridade de cada geração é passar o bastão para a próxima como parte de uma corrida de revezamento sem prazo de duração.
➡️ Realizar demissões ou iniciativas similares é malvisto socialmente.
💡 Além disso, há séculos, vender ou fechar uma empresa é considerado um ato desonroso no Japão.
💡 O conceito de sucesso diferenciado em relação à grande maioria das empresas ocidentais se torna ainda mais evidente em períodos de crises ou catástrofes sociais.
➡️ Nesses momentos, a dedicação à comunidade no intuito de servir ao bem comum se torna a prioridade absoluta.
ℹ️ Um exemplo ocorreu após o tsunami que destruiu a cidade de Fukushima em 2011. Na ocasião, a empresa de bebidas Yakult sofreu uma perda de 30% de receitas na região.
ℹ️ Em vez de reduzir o número de funcionários, seu CEO Hiromi Watanabe fez exatamente o oposto: assegurou a todos os empregados que manteria os empregos e que faria o possível para recuperar a comunidade, mesmo que fosse necessário “utilizar todo o caixa e reservas de lucro da companhia”.
ℹ️ Ele distribuiu US$ 300 em dinheiro para cada vendedor diretamente dos cofres da empresa (já que os bancos permaneceram fechados por semanas) e usou o centro de distribuição da Yakult como abrigo para os empregados e seus familiares.
ℹ️ Quando o fornecimento das bebidas da Yakult foi interrompido em virtude do fechamento temporário de suas fábricas, os vendedores decidiram distribuir água e noodles gratuitamente para os clientes por conta própria.
ℹ️ Quando o CEO Watanabe ficou sabendo, solicitou aos empregados distribuir ainda mais itens para as vítimas.
ℹ️ Em suas palavras: “acreditava que poderíamos recuperar as perdas financeiras em três anos. Mas não conseguiríamos recuperar a confiança de nossos clientes se deixássemos de ajudá-los em um momento de crise.”
🤗 Posteriormente, ocorreu um belo gesto de retribuição da população: os clientes passaram a dar presentes aos vendedores da empresa quando os encontravam, afirmando que nunca esqueceriam seu gesto e que seriam sempre gratos por sua ajuda.
ℹ️ Em outra entrevista, o CEO da empresa de roupas UNIQLO, Tadashi Yanai (que também ajudou os residentes após a catástrofe de Fukushima), afirmou:
💡“Uma empresa precisa contribuir ativamente para a sociedade. Atualmente, a maioria das empresas fracassa em manter um equilíbrio adequado com seu entorno. Todos nós somos, em primeiro lugar, um membro da sociedade antes de sermos um membro de uma empresa. Pensar apenas na empresa certamente irá levar ao fracasso”.
Conclusão:
👉❗ Após contrapor a filosofia de longo prazo que permite às shinise continuarem a prosperar por séculos à mentalidade e foco no curtíssimo prazo que vemos no mundo corporativo ocidental, com seu pensamento trimestral...
👉❗ ... é inevitável não concluir que a relação que estabelecemos com o tempo em nossas empresas atualmente é pouco inteligente, para não dizer estúpida.
Prof. Dr. Alexandre Di Miceli da Silveira é palestrante e fundador da Virtuous Company, uma consultoria de alta gestão dedicada a aportar conteúdo de ponta em ética empresarial, governança corporativa, cultura, liderança, diversidade, propósito e futuro do trabalho.
O autor agradece à Profa. Dra. Angela Donaggio pelos valiosos comentários e sugestões.
Prof. Di Miceli é autor dos livros:
C-Level Marketing e Vendas | Diretor de Negócios I Investidor e Mentor de Startups I Conselheiro de Empresas
1 aEspetacular seu artigo, Alexandre Di Miceli. Obrigado por compartilhar esses exemplos. Que sirvam de inspiração para conselheiros que devem zelar pela perenidade das empresas que supervisionam.
Aprendiz | Conselheiro | Inovação
1 aAlexandre Di Miceli obrigado por compartilhar os “segredos”, ou melhor as razões da longevidade das empresas japonesas, quando paramos para refletir, são impressionante óbvias, mas todas necessitam de compromentimento e muita resiliência.
Empreendedor Educação, Carreira e Network | CEO | CRO | Conselheiro | Mentor | Palestrante | Autor | Professor de MBA | Crédito | Gestão de Riscos | Mercado Financeiro | International Banking
1 aEspetáculos: a cultura e o post, estimado Alexandre Di Miceli! Chega a ser tema de psiquiatra, aprender sobre esta cultura magnífica de longevidade empresarial, e coloca-la em confronto com a cultura americana das startups. Estas últimas já nascem para serem vendidas, revendidas e dane-se o futuro da empresa e de todos os seus stakeholders. É a antítese do bom capitalismo.
Liderança Técnica com Visão Executiva | +29 anos gerando valor para Indústria da Mineração | Valuation de Projetos Estratégicos de Mineração | Planejamento Estratégico | Governança Corporativa |
1 aAlexandre Di Miceli análise completa excelente dessas empresas centenárias japonesas. Parabéns! A cultura nipônica é sensacional e nos inspira de forma positiva em vários aspectos! Muito obrigado por compartilhar essa sua experiência no Japão.🇯🇵
Diretor-executivo do Instituto Luísa Pinho Sartori, Environmental activist, Atlantic Forest native trees seedlings producer.
1 aExcelentes conceitos. Fazem todo o sentido.