A associação entre as mudanças climáticas e as cadeias ilícitas responsáveis pelo desmatamento e perda de biodiversidade em biomas fundamentais como as florestas tropicais ainda não é compreendida como prioridade no debate global sobre financiamento climático, pautado pelos países desenvolvidos. E precisa ser.
A presidência da COP30, na Amazônia brasileira, traz uma oportunidade única para trazer as florestas para o centro das COPs e priorizar o enfrentamento aos crimes ambientais na agenda de ação sobre clima e natureza, mobilizando apoio e capital internacionais. E, com essa lente, a conversa sobre investimento não se restringe a comando e controle, mas traz o foco para novas economias regenerativas, que ofereçam alternativas econômicas a quem hoje destrói a floresta por necessidade.
E por que isso é prioritário?
O desmatamento ilegal, impulsionado por crimes ambientais e crimes convergentes, gera perda de biodiversidade, alterações no uso do solo e tem transformado partes do bioma amazônico —um sumidouro essencial de carbono— em emissor de carbono, contribuindo e acelerando as alterações climáticas.
Essas mudanças criam as condições ideais para incêndios florestais que devastam ainda mais as florestas. Isso se deve ao aumento da temperatura, à redução da umidade do solo e do ar e à intensificação de eventos climáticos extremos, como secas e ondas de calor.
Esse ciclo de retroalimentação é mortal e direciona a floresta ao ponto de não retorno. Não podemos permitir que isso continue.
Não há como limitar o aquecimento global a 1,5ºC, a meta do Acordo de Paris, sem a bacia Amazônica.
No Brasil, que abriga mais de 60% da bacia Amazônica, cerca de 90% do desmatamento é ilegal. Uma proporção igualmente alta ocorre nos demais países amazônicos. Alimentados por mercados ilícitos interconectados, os crimes ambientais –a terceira atividade criminosa mais lucrativa do mundo– são, portanto, o motor do desmatamento. Isso inclui grilagem de terras, extração seletiva de madeira, mineração ilegal e uma agropecuária marcada por ilicitudes.
Na maioria dos países, os crimes ambientais ainda são tratados como de segunda classe pelas polícias e pelo sistema de justiça criminal. Dependendo dos governos, podem ser incentivados, em vez de punidos.
Muitos investidores, públicos e privados, ainda se esquivam do tema, tido como estranho aos negócios, fazendo vista grossa para suas conexões com cadeias produtivas globais e com o sistema financeiro internacional, por onde circulam e são lavados os produtos e os lucros da destruição ambiental.
A boa notícia é que o Brasil tem, por um lado, reduzido o desmatamento e, por outro, oferecido oportunidades de investimento, como o restauro ecológico e produtivo florestal, que precisa virar mainstream. Afinal, restaurar florestas é a tecnologia de captura de carbono mais acessível e escalável disponível.
Na COP30, temos a chance de protagonizar a integração da natureza e das florestas à agenda climática. O principal resultado que a agenda de ação pode entregar para as florestas tropicais é a mobilização do investimento necessário para transformar os ecossistemas de crimes ambientais em ecossistemas de empreendimentos verdes, nos quais bioeconomias íntegras e inclusivas redefinam os modelos econômicos insustentáveis vigentes.
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