Descrição de chapéu Reconstrução Gaúcha

'Foi uma reconstrução do zero', diz dono de microcervejaria reaberta após enchente no RS

Negócio vive retomada depois de ficar mais de 30 dias inundado em Porto Alegre

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Porto Alegre

Quem entra no prédio da microcervejaria Gewehr, na zona norte de Porto Alegre, dá de cara com tanques em operação, funcionários movimentando barris de chope e sacas de insumos guardadas de maneira organizada.

É um cenário bem diferente do registrado no primeiro semestre do ano passado, quando a enchente histórica da capital gaúcha devastou a estrutura da empresa. A fábrica fica no bairro Anchieta, o mesmo do aeroporto Salgado Filho, também atingido pela catástrofe.

Durante o mês de maio, a água alcançou cerca de 2 metros no pavilhão da cervejaria, que ficou inacessível por mais de 30 dias. A inundação espalhou sujeira, revirou materiais e estragou peças do maquinário.

Duas pessoas estão em uma escada em uma cervejaria. A pessoa à esquerda usa uma camiseta amarela com o logo da cervejaria e bermuda clara. A pessoa à direita usa uma camiseta preta com o mesmo logo e shorts escuros. Ao fundo, há tanques de metal brilhante, típicos de uma cervejaria.
Fellipe Riffel, com camiseta amarela, e Luiz Gewehr, com camiseta preta e boné, são sócios de microcervejaria reconstruída após enchente em Porto Alegre - Leonardo Vieceli/Folhapress

A empresa conseguiu retomar a produção no local só no início de agosto, mas um problema em um dos equipamentos forçou uma nova parada para manutenção. A operação voltou nos meses seguintes, ainda com necessidade de ajustes pontuais.

"Considerando o que a gente viveu, foi uma reconstrução do zero", resume Luiz Gewehr, 55, um dos sócios da cervejaria.

Ele toca o negócio em parceria com a mulher, Sonia Gewehr, 54, e Fellipe Riffel, 31. Além dos três sócios, a empresa tem cinco funcionários.

"A vida como empresário não parou, porque os clientes queriam chope, e aí veio um dos dramas. Depois do caos da enchente no começo de maio, as coisas foram voltando, os shoppings estavam funcionando, e tive de procurar alternativas", lembra Luiz.

"Com a ajuda de outras cervejarias que cederam tanques, a gente pôde produzir e recomeçar a vender naquela época inicial", acrescenta.

A empresa contou com o apoio de voluntários que atuaram na limpeza e na reorganização da fábrica no bairro Anchieta. A pintura do pavilhão foi recebida por meio de doação de um conhecido.

Para reconstruir o espaço, os sócios montaram uma engenharia financeira. Eles injetaram dinheiro próprio, buscaram crédito por meio do programa Pronampe e também recorreram a auxílio do Sebrae-RS concedido a negócios de menor porte. O prejuízo da cervejaria na enchente é estimado em cerca de R$ 600 mil.

Após a reconstrução, a capacidade produtiva aumentou com a troca de parte dos equipamentos. "Por termos uma estrutura melhor agora, conseguimos vender mais do que antes", afirma Luiz.

A cervejaria fornece produtos para bares e restaurantes da Grande Porto Alegre, além de atender eventos.

"Às vezes, a gente se acomoda com o que tem. É tipo o sapo sendo cozinhado na panela. A gente estava numa boa antes da enchente. Tirar experiências boas de algo assim, uma tragédia, é o melhor aprendizado", diz o empresário.

Conforme o gerente da regional metropolitana do Sebrae-RS, Paulo Bruscato, micro e pequenos negócios, de modo geral, ainda enfrentam incertezas na retomada no estado.

"As enchentes, assim como a pandemia, mudaram comportamentos de consumo", diz. "Isso pode carregar oportunidades e também deficiências no modelo de negócios", completa.

O Sebrae-RS apostou em um programa chamado Supera, que atendeu a mais de 10 mil empresas no Rio Grande do Sul com aporte direto de recursos, aponta Bruscato. O orçamento da iniciativa ficou em torno de R$ 100 milhões, diz o gerente.


A série Reconstrução Gaúcha, publicada mensalmente no site da Folha, mostra a tentativa de reconstrução do Rio Grande do Sul após as enchentes de proporções históricas que começaram em abril de 2024 e atingiram centenas de municípios do estado. As reportagens, publicadas no fim de cada mês, mostram os desafios em áreas como agropecuária, infraestrutura e setor imobiliário, além do empenho na restauração dessas atividades.

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