Descrição de chapéu The Economist guerra comercial

Veja quem é o homem por trás das tarifas de Donald Trump

Secretário de Comércio dos EUA é um dos principais defensores de elevar taxas para reduzir déficits comerciais que ele vê como 'saque' ao país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

The Economist

Howard Lutnick é um lutador e um chorão. Ele deve sua fortuna de bilhões de dólares —sua vida, na verdade— à sorte e à determinação. A ambição agressiva que construiu sua carreira poderia insensibilizar outros homens. Mas o Sr. Lutnick também conhece a dor e a tragédia; elas o atingiram e o reduziram às lágrimas na televisão nacional. Também lhe deram propósito.

O evento definidor da vida do Sr. Lutnick foi o 11 de setembro. Dois terços de seus funcionários —incluindo seu próprio irmão— morreram naquele dia. A sede de sua empresa, Cantor Fitzgerald, ficava no World Trade Center. Após os ataques, ele se tornou um lutador por sua empresa e por sua cidade. O desastre trouxe luta, depois redenção.

A imagem mostra dois homens em primeiro plano. O homem à esquerda usa um boné branco com a inscrição '45-47' e um paletó escuro. O homem à direita tem cabelo curto e usa uma camisa clara com um paletó escuro. O fundo é um céu azul claro.
Secretário de Comércio, Howard Lutnick, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump - Nathan Howard - 6.jul.25/Reuters

Décadas depois, a luta para o Sr. Lutnick, agora com 63 anos, é sobre o destino dos próprios EUA. O homem no ringue é outro bilionário de grande cidade, Donald Trump. Neste embate, o Sr. Lutnick tem sido até agora mais um carregador de toalhas, um animador ou um treinador. Outrora doador de Trump, ele gerenciou a transição do presidente eleito, preenchendo aproximadamente 4.000 cargos governamentais antes da posse —o papel perfeito para alguém que se descreveu como "viciado em pessoas". Em troca, ele esperava ser nomeado secretário do Tesouro. Mas sua agressiva articulação aparentemente irritou Trump, que o escolheu para liderar o Departamento de Comércio em vez disso.

"Vocês verão o maior conjunto de talentos, de todos os tempos, entrar em campo em 20 de janeiro", ele prometeu. No entanto, seu chefe valoriza lealdade acima de talento. A afirmação de Lutnick antecedeu uma série de nomeações alarmantes: Matt Gaetz para procurador-geral, Pete Hegseth no Pentágono, Robert F. Kennedy Jr. para Saúde e Serviços Humanos. Isso sugere que sua influência tem limites, ou que ele supervisionou nomeações menos proeminentes e provocativas. Lutnick há muito aconselha contratar amigos, mas apenas os capazes. Se Trump ouviu essa ressalva, ele a ignorou.

Lutnick cresceu em uma família de classe média em Long Island, filho de uma professora de arte e um professor de história. A miséria chegou rápido. Quando tinha 16 anos, sua mãe morreu de câncer. Então, durante sua primeira semana na universidade, seu pai, também doente com câncer, recebeu a dose errada de medicamento da equipe do hospital e morreu. A perda de ambos os pais, ele disse, deixou ele e seus irmãos como astronautas em uma caminhada espacial: amarrados uns aos outros, à deriva de todos os demais.

Um amigo da família conseguiu-lhe um emprego na Cantor Fitzgerald, então uma das maiores corretoras de títulos do Tesouro. O sucesso também veio rapidamente. Uma série de negociações lucrativas o aproximou de Bernie Cantor, o chefe. Lutnick mais tarde descreveria sua ascensão assim: "Na primeira vez que eu lhe fiz ganhar 100 milhões de dólares, ele gostou de mim; na segunda vez que lhe fiz ganhar 100 milhões de dólares, ele me amou; e na terceira vez que fiz isso —família." Aos 29 anos, ele se tornou presidente da empresa.

Quando Cantor ficou doente terminal, uma disputa desagradável surgiu entre sua esposa, Iris, e Lutnick pelo controle da empresa. Quando finalmente chegaram a um acordo no tribunal de Delaware, Lutnick ergueu seu bebê de seis dias em triunfo. Ele se sentiu como Mufasa, o pai em "O Rei Leão". A Sra. Cantor o proibiu de ir ao funeral. Mas ele havia vencido.

Trabalhar no 105º andar da torre norte do World Trade Center foi, por um tempo, um sonho. Fora de uma janela estava a "axila" da Estátua da Liberdade; fora da outra, Manhattan como em um cartão postal. Seus colegas eram família. Esse era o ethos da empresa: contratar amigos, cunhados, irmãos. Transformou-se em um pesadelo naquela terça-feira de manhã em 2001. Lutnick foi poupado por pura sorte. Ele estava deixando seu filho no jardim de infância quando as torres foram atingidas; 658 de seus funcionários morreram.

Lutnick chorou todos os dias por três anos, mesmo em uma entrevista de televisão após a outra. No início, a imprensa simpatizava com ele e o exaltava. Mas em poucos dias começaram a "atacá-lo" por não enviar cheques de pagamento às famílias dos funcionários mortos. Foi chamado de insensível, dissimulado, ávido por mídia, cheio de "lágrimas de crocodilo". Não havia outra opção, ele insistiu: "Era apenas matemática... Simplesmente não havia dinheiro."

Pelos cinco anos seguintes, ele desviou um quarto dos salários de seus funcionários restantes para um fundo de assistência às famílias das vítimas. Com o tempo, a empresa prosperou. Seus funcionários "costuraram [sua] alma de volta".

Em seu abraço ao MAGA (acrônimo para Make America Great Again ou Faça a América Grande Novamente), Lutnick mitifica os trabalhadores americanos esmagados pela globalização. "Tarifar o resto do mundo e mantê-los bem longe", ele disse. Essa conversa populista soa discordante vinda do proprietário da cobertura no Hotel Pierre em Nova York.

Mais relevante para Lutnick é a perspectiva de cortes de impostos e desregulamentação de criptomoedas sob Trump. Lutnick diz que possui "centenas de milhões de dólares" em bitcoin; ele se extasia sobre o tempo em que os Estados Unidos não tinham imposto de renda. Liberais censores também fizeram parte de sua conversão ao MAGA. Em 2022, ele orquestrou a listagem pública da Rumble, um YouTube para a extrema direita, para dar uma plataforma a figuras consideradas odiosas demais para as big techs. "Este é o retorno da internet da liberdade de expressão", disse na época. "Nós só queremos os EUA em que crescemos".

Lutnick disse que julga contratações na administração Trump por sua capacidade, bem como por sua "fidelidade e lealdade... ao homem". O talento mais impressionante de Lutnick é sua capacidade de imbuir a equipe com um senso de missão. Mas isso só é válido na medida da qualidade da equipe e da própria missão.

Texto da The Economist, traduzido por Matheus dos Santos, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado em www.economist.com

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.