SlideShare uma empresa Scribd logo
ENFERMIDADES DE TILÁPIAS DO NILO EM TANQUES-REDE
Fabiana Garcia
Zootec., Dra., PqC do Polo Regional do Noroeste Paulista/APTA
fgarcia@apta.sp.gov.br
Daiane Mompean Romera
Biól., Técnica de apoio à pesquisa do Polo Regional do Noroeste Paulista/APTA
daianemompean@gmail.com
Katia Suemi Gozi
Méd. Vet., bolsista FAPESP
ksg.sjrp@hotmail.com
Durante o período entre 2005 e 2013, o grupo de pesquisa de sanidade de animais
aquáticos da APTA Noroeste Paulista, composto pelos pesquisadores Fabiana Garcia,
Sergio H. C. Schalch, Eduardo M. Onaka e Fernando S. Fonseca, pelos técnicos de apoio à
pesquisa Daiane Mompean Romera e Pedro G. Candeira e pelas bolsistas Katia S. Gozi,
Lidiane Franceschini e Aline C. Zago, desenvolveu estudos de levantamento de
enfermidades parasitarias e bacterianas em tilápias do Nilo. O objetivo destas avaliações foi
identificar as principais causas de mortalidade neste sistema de cultivo e definir quais as
situações que predispõem os peixes a tais enfermidades para fornecer base cientifica ao
desenvolvimento de medidas e produtos profiláticos e terapêuticos para a atividade.
Nestes trabalhos, foram avaliadas pisciculturas nos reservatórios de Nova Avanhandava -
rio Tietê, Ilha Solteira - rio Paraná, Água Vermelha - rio Grande e Canoas II - rio
Paranapanema. As amostragens foram sazonais no decorrer de um ano, com representação
de todas as fases de cultivo (1 a 800 g) e dando- se preferência aos peixes moribundos ou
com sinais clínicos de enfermidades.
www.aptaregional.sp.gov.br
ISSN 2316-5146
Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014
Dos exemplares avaliados no Noroeste Paulista, a faixa de peso de 35 a 150 g foi a mais
acometida por bactérias (prevalência1
de 40 %), seguida pela faixa de peso de 400 a 800 g
(prevalência de 30 %). No sistema de cultivo em tanques-rede, os piscicultores têm adotado
o manejo de classificação e repicagem dos peixes, realizado, em geral quando as tilapias
atingem o peso médio de 150 g. Neste manejo, os peixes de cada tanque são retirados da
água e, sobre uma mesa classificatória, são selecionados, manualmente, em três classes de
tamanho (pequenos, médios e grandes) e redistribuídos em outros três tanques-rede, onde
ficarão acondicionados até atingirem o peso de abate.
Desta forma, as faixas de peso com maior ocorrência de bactérias correspondem às de
maiores densidades de estocagem, ou seja, antes da repicagem e ao final do cultivo. Esta
relação entre a ocorrência de patógenos e a densidade de estocagem foi comprovada
também no artigo científico publicado por nosso grupo de pesquisa (GARCIA et al., 2013a;
GARCIA et al., 2013b).
Por se tratarem de patógenos oportunistas, os parasitos e as bactérias que acometem as
tilápias em tanques-rede, assim como as demais espécies da piscicultura brasileira, são
indicadores de falhas de manejo ou, em situações menos comuns, indicam variações
ambientais bruscas (ex. redução na temperatura da água). Conhecendo este conceito, o
piscicultor pode acompanhar o grau de infestação parasitaria de seus peixes em cada fase
de cultivo, a cada época do ano e identificar, através dessa avaliação simples, os pontos
críticos de seu sistema de cultivo. A partir desta constatação, ele poderá lançar mão das
estratégias de boas praticas de manejo de maneira pontual.
Para a avaliação parasitológica, o técnico responsável necessita de um microscópio e de
laminas e lamínulas de vidro para proceder as avaliações. O custo é baixo comparado aos
benefícios que este monitoramento pode trazer à unidade produtiva. Para proceder a
amostragem, o técnico deve dar preferência a exemplares moribundos ou que apresentem
sinais clínicos de enfermidades. É importante que sejam capturados, pelo menos, três
exemplares de cada tanque-rede amostrado, pois há grande diferença na intensidade de
infestação de acordo com a capacidade individual de cada peixe resistir às enfermidades.
A constatação de que tais patógenos são oportunistas fica clara à medida que se verifica
que, na maioria das avaliações, peixes com elevada infestação por determinado patogeno,
também apresenta elevada infestação por outros parasitos e, se submetido à uma analise
1
Prevalência é o percentual de peixes infestados do total de peixes analisados (BUSH et al. 1997)
www.aptaregional.sp.gov.br
ISSN 2316-5146
Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014
microbiológica, também estarão infectados por bactérias. Esta situação é comum e
demonstra que a somatória de fatores estressantes no cultivo (falhas de manejo) leva o
peixe à perda de sua capacidade de se defender dos organismos patogênicos.
O estudo de levantamento das enfermidades demonstrou que nos meses de inverno,
quando a temperatura e a renovação de água são reduzidas, há maior ocorrência de
parasitos dos gêneros Trichodina, Epistylis, Ictio e os monogenéticos Gyrodactilideos, que
acometem a pele das tilápias. Devido à menor taxa de renovação da água, neste período
pode ocorrer maior acumulo de matéria orgânica no ambiente de cultivo (sedimento, telas,
comedouros, bolsões, etc.), exigindo do piscicultor, maiores cuidados na limpeza dos
tanques e equipamentos e maior atenção para que não haja sobre de ração.
De todas as tilápias amostradas durante este estudo, aproximadamente, 40 % delas
apresentaram algum sinal clínico relacionado à enfermidade. Desses peixes que
apresentaram sinais clínicos, a prevalência de parasitos monogeneticos e Trichodina variou
de 60 a 100 % em todos os reservatórios estudados, enquanto a prevalência media de
bactérias isoladas nos reservatórios avaliados foi de 30 %.
Em geral, grande parte dos peixes acometida por bactérias, apresentou elevada infestação
por parasitos. Este é um resultado que deve ser levado em conta quando o piscicultor lançar
mão do uso de antibióticos para controlar a mortalidade de seus peixes. É imprescindível
que ele faça uma avaliação parasitológica antes de usar o antibiótico, pois, em grande parte
dos casos, o protozoário Trichodina, é a causa primaria da mortalidade de peixes. Esse
parasito possui movimentos giratórios com ação abrasiva, que causam lesões na pele dos
peixes. Essas lesões são porta de entrada para as bactérias. Nesses casos, banhos de sal
associados à correções de manejo (ex. redução na densidade de estocagem) já são
suficientes para controlar a causa da mortalidade elevada ( GARCIA & SCHALCH, 2011).
No Brasil, a lista de produtos terapêuticos registrados para uso na aqüicultura é limitada. Por
este motivo, as mesmas moléculas de antibióticos são utilizadas repetidas vezes pelo
piscicultor, levando à resistência bacteriana. Neste ano de 2013, o Laboratório de
Enfermidade de Animais Aquáticos do Pólo Noroeste Paulista isolou, pela primeira vez
desde sua criação (2005), bactérias resistentes aos antibióticos com registro para uso na
aqüicultura, demonstrando que este problema já começa a atingir as pisciculturas desta
região.
www.aptaregional.sp.gov.br
ISSN 2316-5146
Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014
Se o piscicultor ou técnico responsável pela piscicultura tiver interesse em conhecer os
produtos veterinários com registro para uso na aqüicultura, ele deve consultar o Compendio
de Produtos Veterinários (http://www.cpvs.com.br/cpvs/index.html), clicar em ‘pesquisa’,
selecionar ‘peixes’ e clicar em ‘buscar’.
Por fim, devemos considerar as enfermidades como um desafio a ser superado na
piscicultura de tilápias do Nilo em tanques-rede, por se tratar de um sistema de produção
intensivo, com maior risco sanitário, econômico e ambiental, quando comparado aos
sistemas menos intensivos. Determinar a capacidade de suporte dos tanques-rede e
trabalhar dentro deste limite é o primeiro passo para se reduzir a ocorrência das
enfermidades e, conseqüentemente, a mortalidade no sistema. Juntamente com este ajuste,
destaca-se o monitoramento da qualidade da água e dos parasitos para se definir os pontos
críticos do sistema (época do ano, fase de cultivo, manejo, etc.) que determinarão a
adequada recomendação de produtos profiláticos estratégicos (vacinas, dietas especiais
contendo probióticos, prebióticos, imunoestimulantes, etc.). Estas medidas devem reduzir os
riscos da atividade, de modo a prolongar seu sucesso, garantindo menor impacto ambiental
e maior segurança alimentar aos consumidores da tilápia do Nilo.
Referencias Bibliográficas:
BUSH, A.O., LAFFERTY, K.D., LOTZ, J.M., SHOSTAK, A.W. Parasitology meets ecology on
its own terms. Journal of Parasitology, v.83, n.4, p.575-583, 1997.
GARCIA, F.; GOZI, K. F.; ROMERA, D. M. Tilápias em tanques-rede: As vantagens na
redução da densidade de estocagem. Panorama da Aquicultura, v.23, p.36-45, 2013a.
GARCIA, F.; ROMERA, D.M.; GOZI, K.S.; ONAKA, E.M.; FONSECA, F.S.; SCHALCH,
S.H.C.; CANDEIRA, P.G.; GUERRA, L.O.M.; CARMO, F.J.; CARNEIRO, D.J.; MARTINS,
M.I.E.G.; PORTELLA, M.C. Stocking density of Nile tilapia in cages placed in a hydroelectric
reservoir. Aquaculture (Amsterdam), v.410-411, p.51-56, 2013b.
GARCIA, F.; SCHALCH, S.H.C. Prevenção e Controle de Enfermidades. In: AYROZA,
L.M.S. (Org.). Piscicultura. 1ed.Campinas: CATI, 2011, p. 77-95. (Manual Técnico 79).
SCHALCH, S.H.C.; GARCIA, F. Enfermidade de Peixes. In: AYROZA, L.M.S. (Org.).
Piscicultura. 1ed.Campinas: CATI, 2011, p. 99-123. (Manual Técnico 79).
www.aptaregional.sp.gov.br
ISSN 2316-5146
Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014
ZAGO, A. C. Análise parasitológica e microbiológica de tilápias do Nilo (Oreochromis
niloticus) criadas em tanques-rede no reservatório de Água Vermelha - SP e suas
inter-relações com as variáveis limnológicas e fase de criação. 69f. Dissertação
(Mestrado em Zoologia). Botucatu, UNESP, Instituto de Biociências, 2012.

Mais conteúdo relacionado

DOC
O CONSUMO DO MEXILHÃO PROVENIENTE DA BAÍA DE GUANABARA
PDF
2017 art rhreboucas vibrios
PDF
Artigo bioterra v18_n2_08
PDF
7027 27183-1-pb
PDF
Larvas de moluscos bivalves na criação de tilápias
PDF
Rogério salvador
PPT
Achatina fulica 2003
PDF
Fitossanidade agronegocio mg_agropec
O CONSUMO DO MEXILHÃO PROVENIENTE DA BAÍA DE GUANABARA
2017 art rhreboucas vibrios
Artigo bioterra v18_n2_08
7027 27183-1-pb
Larvas de moluscos bivalves na criação de tilápias
Rogério salvador
Achatina fulica 2003
Fitossanidade agronegocio mg_agropec

Mais procurados (6)

PDF
Aula 04 manejo_sanitario_na_piscicultura
PDF
Artigo bioterra v19_n2_05
PDF
Fitossanidade helicoverpa
PDF
Javalis dbo
PDF
Santana1189[1]
DOC
Moscas domesticas e_intoxicacoes (1)
Aula 04 manejo_sanitario_na_piscicultura
Artigo bioterra v19_n2_05
Fitossanidade helicoverpa
Javalis dbo
Santana1189[1]
Moscas domesticas e_intoxicacoes (1)
Anúncio

Destaque (17)

PDF
Boas praticas-de-manejo-na-alimentacao-de-peixes
PDF
Boas praticas-de-manejo-na-alimentacao-de-peixes
PDF
Os benefícios do alimento vivo na criação de Tilápias Nilóticas
PDF
Livro água 2011
PPSX
Água ideal para aquários
PPTX
Projeto aquário
PDF
Guia para identificação de peixes ornamentais marinhos. (www.AquaA3.com.br) F...
PDF
Fogão a Lenha
PDF
Manual criação galinhas caipiras
PDF
Digestorio peixes embrapa
PDF
Manual construcao-rural
DOCX
A casa do futuro tem horta
PPS
Estabelecendo Metas
 
PDF
20 Modelos de Pesquisa de Satisfação de Clientes
PDF
Plano de vendas_apresentacao
PDF
Receitas E Carcapios Saudaveis
PDF
Como garantir eficiência
Boas praticas-de-manejo-na-alimentacao-de-peixes
Boas praticas-de-manejo-na-alimentacao-de-peixes
Os benefícios do alimento vivo na criação de Tilápias Nilóticas
Livro água 2011
Água ideal para aquários
Projeto aquário
Guia para identificação de peixes ornamentais marinhos. (www.AquaA3.com.br) F...
Fogão a Lenha
Manual criação galinhas caipiras
Digestorio peixes embrapa
Manual construcao-rural
A casa do futuro tem horta
Estabelecendo Metas
 
20 Modelos de Pesquisa de Satisfação de Clientes
Plano de vendas_apresentacao
Receitas E Carcapios Saudaveis
Como garantir eficiência
Anúncio

Semelhante a Enfermidades de tilápias do nilo em tanques-rede (20)

PDF
Artigo bioterra v21_n1_01
PDF
Panorama geral da piscicultura brasileira .pdf
PDF
Agrodiário - Psicultura
PDF
Manejo sanitario-Patricia Maciel.pdf
PDF
Artigo_Bioterra_V22_N2_08
PDF
Artigo bioterra v20_n1_09
PDF
Impactos Ambientais da Piscicultura
PPTX
TAMBAQUI.pptx
DOCX
Piscicultura doenças parasitárias em peixes
PDF
Criação e manejo de peixes
PDF
2. manual de piscicultura ostrensky & boeger
PDF
Aula 01 manejo sanitario do sistema produtivo
PDF
Aula 01 manejo_sanitario_do_sistema_produtivo
PDF
220 livro-piscicultura-fundamentos-e-tecnicas-de-manejo
PDF
220 livro-piscicultura-fundamentos-e-tecnicas-de-manejo
PDF
Aquicultura - Tilápia
PDF
Bioflocos autotróficos (ABFT) usando Chlorella vulgaris e Scenedesmus obliquu...
DOCX
Projeto piscicultura
PDF
Controlo de contaminantes e patogénios alimentares final (1)
Artigo bioterra v21_n1_01
Panorama geral da piscicultura brasileira .pdf
Agrodiário - Psicultura
Manejo sanitario-Patricia Maciel.pdf
Artigo_Bioterra_V22_N2_08
Artigo bioterra v20_n1_09
Impactos Ambientais da Piscicultura
TAMBAQUI.pptx
Piscicultura doenças parasitárias em peixes
Criação e manejo de peixes
2. manual de piscicultura ostrensky & boeger
Aula 01 manejo sanitario do sistema produtivo
Aula 01 manejo_sanitario_do_sistema_produtivo
220 livro-piscicultura-fundamentos-e-tecnicas-de-manejo
220 livro-piscicultura-fundamentos-e-tecnicas-de-manejo
Aquicultura - Tilápia
Bioflocos autotróficos (ABFT) usando Chlorella vulgaris e Scenedesmus obliquu...
Projeto piscicultura
Controlo de contaminantes e patogénios alimentares final (1)

Mais de Rural Pecuária (20)

PDF
Pecuária leiteira de precisão: uso de sensores para monitoramento e detecção ...
PDF
50 perguntas, 50 respostas sobre a Carne Carbono Neutro (CCN).
PDF
Soro de queijo tipo coalho de leite bovino: alternativa para a terminação de ...
PDF
Staphylococcus coagulase-negativos no leite de vacas com mastite tratadas com...
PDF
Tecnologia e custo da cana-de-açúcar para a alimentação animal
PDF
BRS Capiaçu: cultivar de capim-elefante de alto rendimento para produção de s...
PDF
Reaproveitamento de água residuária em sistemas de produção de leite em confi...
PDF
Boas práticas agropecuárias na produção de leite: da pesquisa para o produtor
PDF
Catálogo de forrageiras recomendadas pela Embrapa
PDF
Dez dicas para produção de milho
PDF
Criação de Bezerras Leiteiras
PDF
Como produzir-Goiaba Orgânica
PDF
Principais cogumelos comestíveis cultivados e nativos do estado de são paulo ...
PDF
Potencial de cultivo da planta alimentícia não convencional “major gomes” ap...
PDF
Horticultura de baixo carbono e segurança hídrica no cultivo de bananeira agr...
PDF
Silício auxilia as plantas na defesa contra os estresses ambientais aprovado
PDF
Manual Técnico de Ranicultura está disponível
PDF
Infiltração em viveiros escavados destinados à criação de peixes
PDF
A importância da longevidade das vacas de corte
PDF
Uso da água no enraizamento de estacas de Amoreira
Pecuária leiteira de precisão: uso de sensores para monitoramento e detecção ...
50 perguntas, 50 respostas sobre a Carne Carbono Neutro (CCN).
Soro de queijo tipo coalho de leite bovino: alternativa para a terminação de ...
Staphylococcus coagulase-negativos no leite de vacas com mastite tratadas com...
Tecnologia e custo da cana-de-açúcar para a alimentação animal
BRS Capiaçu: cultivar de capim-elefante de alto rendimento para produção de s...
Reaproveitamento de água residuária em sistemas de produção de leite em confi...
Boas práticas agropecuárias na produção de leite: da pesquisa para o produtor
Catálogo de forrageiras recomendadas pela Embrapa
Dez dicas para produção de milho
Criação de Bezerras Leiteiras
Como produzir-Goiaba Orgânica
Principais cogumelos comestíveis cultivados e nativos do estado de são paulo ...
Potencial de cultivo da planta alimentícia não convencional “major gomes” ap...
Horticultura de baixo carbono e segurança hídrica no cultivo de bananeira agr...
Silício auxilia as plantas na defesa contra os estresses ambientais aprovado
Manual Técnico de Ranicultura está disponível
Infiltração em viveiros escavados destinados à criação de peixes
A importância da longevidade das vacas de corte
Uso da água no enraizamento de estacas de Amoreira

Último (12)

PPTX
Aula 9 - Funções em Python (Introdução à Ciência da Computação)
PPTX
Proposta de Implementação de uma Rede de Computador Cabeada.pptx
PDF
eBook - GUIA DE CONSULTA RAPIDA EM ROTEADORES E SWITCHES CISCO - VOL I.pdf
PPTX
Tipos de servidor em redes de computador.pptx
PPTX
Analise Estatica de Compiladores para criar uma nova LP
PPTX
Viasol Energia Solar -Soluções para geração e economia de energia
PDF
Manejo integrado de pragas na cultura do algodão
PPT
Conceitos básicos de Redes Neurais Artificiais
PPTX
Utilizando code blockes por andre backes
PDF
Processos no SAP Extended Warehouse Management, EWM100 Col26
PDF
Jira Software projetos completos com scrum
PDF
Termos utilizados na designação de relação entre pessoa e uma obra.pdf
Aula 9 - Funções em Python (Introdução à Ciência da Computação)
Proposta de Implementação de uma Rede de Computador Cabeada.pptx
eBook - GUIA DE CONSULTA RAPIDA EM ROTEADORES E SWITCHES CISCO - VOL I.pdf
Tipos de servidor em redes de computador.pptx
Analise Estatica de Compiladores para criar uma nova LP
Viasol Energia Solar -Soluções para geração e economia de energia
Manejo integrado de pragas na cultura do algodão
Conceitos básicos de Redes Neurais Artificiais
Utilizando code blockes por andre backes
Processos no SAP Extended Warehouse Management, EWM100 Col26
Jira Software projetos completos com scrum
Termos utilizados na designação de relação entre pessoa e uma obra.pdf

Enfermidades de tilápias do nilo em tanques-rede

  • 1. ENFERMIDADES DE TILÁPIAS DO NILO EM TANQUES-REDE Fabiana Garcia Zootec., Dra., PqC do Polo Regional do Noroeste Paulista/APTA fgarcia@apta.sp.gov.br Daiane Mompean Romera Biól., Técnica de apoio à pesquisa do Polo Regional do Noroeste Paulista/APTA daianemompean@gmail.com Katia Suemi Gozi Méd. Vet., bolsista FAPESP ksg.sjrp@hotmail.com Durante o período entre 2005 e 2013, o grupo de pesquisa de sanidade de animais aquáticos da APTA Noroeste Paulista, composto pelos pesquisadores Fabiana Garcia, Sergio H. C. Schalch, Eduardo M. Onaka e Fernando S. Fonseca, pelos técnicos de apoio à pesquisa Daiane Mompean Romera e Pedro G. Candeira e pelas bolsistas Katia S. Gozi, Lidiane Franceschini e Aline C. Zago, desenvolveu estudos de levantamento de enfermidades parasitarias e bacterianas em tilápias do Nilo. O objetivo destas avaliações foi identificar as principais causas de mortalidade neste sistema de cultivo e definir quais as situações que predispõem os peixes a tais enfermidades para fornecer base cientifica ao desenvolvimento de medidas e produtos profiláticos e terapêuticos para a atividade. Nestes trabalhos, foram avaliadas pisciculturas nos reservatórios de Nova Avanhandava - rio Tietê, Ilha Solteira - rio Paraná, Água Vermelha - rio Grande e Canoas II - rio Paranapanema. As amostragens foram sazonais no decorrer de um ano, com representação de todas as fases de cultivo (1 a 800 g) e dando- se preferência aos peixes moribundos ou com sinais clínicos de enfermidades.
  • 2. www.aptaregional.sp.gov.br ISSN 2316-5146 Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014 Dos exemplares avaliados no Noroeste Paulista, a faixa de peso de 35 a 150 g foi a mais acometida por bactérias (prevalência1 de 40 %), seguida pela faixa de peso de 400 a 800 g (prevalência de 30 %). No sistema de cultivo em tanques-rede, os piscicultores têm adotado o manejo de classificação e repicagem dos peixes, realizado, em geral quando as tilapias atingem o peso médio de 150 g. Neste manejo, os peixes de cada tanque são retirados da água e, sobre uma mesa classificatória, são selecionados, manualmente, em três classes de tamanho (pequenos, médios e grandes) e redistribuídos em outros três tanques-rede, onde ficarão acondicionados até atingirem o peso de abate. Desta forma, as faixas de peso com maior ocorrência de bactérias correspondem às de maiores densidades de estocagem, ou seja, antes da repicagem e ao final do cultivo. Esta relação entre a ocorrência de patógenos e a densidade de estocagem foi comprovada também no artigo científico publicado por nosso grupo de pesquisa (GARCIA et al., 2013a; GARCIA et al., 2013b). Por se tratarem de patógenos oportunistas, os parasitos e as bactérias que acometem as tilápias em tanques-rede, assim como as demais espécies da piscicultura brasileira, são indicadores de falhas de manejo ou, em situações menos comuns, indicam variações ambientais bruscas (ex. redução na temperatura da água). Conhecendo este conceito, o piscicultor pode acompanhar o grau de infestação parasitaria de seus peixes em cada fase de cultivo, a cada época do ano e identificar, através dessa avaliação simples, os pontos críticos de seu sistema de cultivo. A partir desta constatação, ele poderá lançar mão das estratégias de boas praticas de manejo de maneira pontual. Para a avaliação parasitológica, o técnico responsável necessita de um microscópio e de laminas e lamínulas de vidro para proceder as avaliações. O custo é baixo comparado aos benefícios que este monitoramento pode trazer à unidade produtiva. Para proceder a amostragem, o técnico deve dar preferência a exemplares moribundos ou que apresentem sinais clínicos de enfermidades. É importante que sejam capturados, pelo menos, três exemplares de cada tanque-rede amostrado, pois há grande diferença na intensidade de infestação de acordo com a capacidade individual de cada peixe resistir às enfermidades. A constatação de que tais patógenos são oportunistas fica clara à medida que se verifica que, na maioria das avaliações, peixes com elevada infestação por determinado patogeno, também apresenta elevada infestação por outros parasitos e, se submetido à uma analise 1 Prevalência é o percentual de peixes infestados do total de peixes analisados (BUSH et al. 1997)
  • 3. www.aptaregional.sp.gov.br ISSN 2316-5146 Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014 microbiológica, também estarão infectados por bactérias. Esta situação é comum e demonstra que a somatória de fatores estressantes no cultivo (falhas de manejo) leva o peixe à perda de sua capacidade de se defender dos organismos patogênicos. O estudo de levantamento das enfermidades demonstrou que nos meses de inverno, quando a temperatura e a renovação de água são reduzidas, há maior ocorrência de parasitos dos gêneros Trichodina, Epistylis, Ictio e os monogenéticos Gyrodactilideos, que acometem a pele das tilápias. Devido à menor taxa de renovação da água, neste período pode ocorrer maior acumulo de matéria orgânica no ambiente de cultivo (sedimento, telas, comedouros, bolsões, etc.), exigindo do piscicultor, maiores cuidados na limpeza dos tanques e equipamentos e maior atenção para que não haja sobre de ração. De todas as tilápias amostradas durante este estudo, aproximadamente, 40 % delas apresentaram algum sinal clínico relacionado à enfermidade. Desses peixes que apresentaram sinais clínicos, a prevalência de parasitos monogeneticos e Trichodina variou de 60 a 100 % em todos os reservatórios estudados, enquanto a prevalência media de bactérias isoladas nos reservatórios avaliados foi de 30 %. Em geral, grande parte dos peixes acometida por bactérias, apresentou elevada infestação por parasitos. Este é um resultado que deve ser levado em conta quando o piscicultor lançar mão do uso de antibióticos para controlar a mortalidade de seus peixes. É imprescindível que ele faça uma avaliação parasitológica antes de usar o antibiótico, pois, em grande parte dos casos, o protozoário Trichodina, é a causa primaria da mortalidade de peixes. Esse parasito possui movimentos giratórios com ação abrasiva, que causam lesões na pele dos peixes. Essas lesões são porta de entrada para as bactérias. Nesses casos, banhos de sal associados à correções de manejo (ex. redução na densidade de estocagem) já são suficientes para controlar a causa da mortalidade elevada ( GARCIA & SCHALCH, 2011). No Brasil, a lista de produtos terapêuticos registrados para uso na aqüicultura é limitada. Por este motivo, as mesmas moléculas de antibióticos são utilizadas repetidas vezes pelo piscicultor, levando à resistência bacteriana. Neste ano de 2013, o Laboratório de Enfermidade de Animais Aquáticos do Pólo Noroeste Paulista isolou, pela primeira vez desde sua criação (2005), bactérias resistentes aos antibióticos com registro para uso na aqüicultura, demonstrando que este problema já começa a atingir as pisciculturas desta região.
  • 4. www.aptaregional.sp.gov.br ISSN 2316-5146 Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014 Se o piscicultor ou técnico responsável pela piscicultura tiver interesse em conhecer os produtos veterinários com registro para uso na aqüicultura, ele deve consultar o Compendio de Produtos Veterinários (http://www.cpvs.com.br/cpvs/index.html), clicar em ‘pesquisa’, selecionar ‘peixes’ e clicar em ‘buscar’. Por fim, devemos considerar as enfermidades como um desafio a ser superado na piscicultura de tilápias do Nilo em tanques-rede, por se tratar de um sistema de produção intensivo, com maior risco sanitário, econômico e ambiental, quando comparado aos sistemas menos intensivos. Determinar a capacidade de suporte dos tanques-rede e trabalhar dentro deste limite é o primeiro passo para se reduzir a ocorrência das enfermidades e, conseqüentemente, a mortalidade no sistema. Juntamente com este ajuste, destaca-se o monitoramento da qualidade da água e dos parasitos para se definir os pontos críticos do sistema (época do ano, fase de cultivo, manejo, etc.) que determinarão a adequada recomendação de produtos profiláticos estratégicos (vacinas, dietas especiais contendo probióticos, prebióticos, imunoestimulantes, etc.). Estas medidas devem reduzir os riscos da atividade, de modo a prolongar seu sucesso, garantindo menor impacto ambiental e maior segurança alimentar aos consumidores da tilápia do Nilo. Referencias Bibliográficas: BUSH, A.O., LAFFERTY, K.D., LOTZ, J.M., SHOSTAK, A.W. Parasitology meets ecology on its own terms. Journal of Parasitology, v.83, n.4, p.575-583, 1997. GARCIA, F.; GOZI, K. F.; ROMERA, D. M. Tilápias em tanques-rede: As vantagens na redução da densidade de estocagem. Panorama da Aquicultura, v.23, p.36-45, 2013a. GARCIA, F.; ROMERA, D.M.; GOZI, K.S.; ONAKA, E.M.; FONSECA, F.S.; SCHALCH, S.H.C.; CANDEIRA, P.G.; GUERRA, L.O.M.; CARMO, F.J.; CARNEIRO, D.J.; MARTINS, M.I.E.G.; PORTELLA, M.C. Stocking density of Nile tilapia in cages placed in a hydroelectric reservoir. Aquaculture (Amsterdam), v.410-411, p.51-56, 2013b. GARCIA, F.; SCHALCH, S.H.C. Prevenção e Controle de Enfermidades. In: AYROZA, L.M.S. (Org.). Piscicultura. 1ed.Campinas: CATI, 2011, p. 77-95. (Manual Técnico 79). SCHALCH, S.H.C.; GARCIA, F. Enfermidade de Peixes. In: AYROZA, L.M.S. (Org.). Piscicultura. 1ed.Campinas: CATI, 2011, p. 99-123. (Manual Técnico 79).
  • 5. www.aptaregional.sp.gov.br ISSN 2316-5146 Pesquisa & Tecnologia, vol. 11, n. 1, Jan-Jun 2014 ZAGO, A. C. Análise parasitológica e microbiológica de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus) criadas em tanques-rede no reservatório de Água Vermelha - SP e suas inter-relações com as variáveis limnológicas e fase de criação. 69f. Dissertação (Mestrado em Zoologia). Botucatu, UNESP, Instituto de Biociências, 2012.