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JOANACOELIRIBEIROGARCIA|ANTIGAS/NOVASATRIBUIÇÕESDOSPROFISSIONAISDAINFORMAÇÃO
ANTIGAS / NOVAS ATRIBUIÇÕES DOS PROFISSIONAIS DA INFORMAÇÃO
Joana Coeli Ribeiro Garcia
Doutora em Ciência da Informação.
Professora da Universidade Federal da Paraíba.
RESUMO
A fim de atender as necessidades da sociedade, as atribuições dos profissionais da informação sofrem
mutações, interferindo na organização, representação, preservação e condições de acesso e de uso
da informação. Crescem, portanto, as atribuições e qualificações profissionais para acompanhar as
inovações tecnológicas, exigindo no seu desempenho, atitudes éticas e de responsabilidade social
em cada uma delas.
Palavras-chave: Disseminação da informação. Uso da informação. Preservação da informação. Acesso
e uso da informação.
Desde os primórdios da humanidade quando os primeiros hominídeos gravaram em cavernas
indicando que na região existia caça, podemos afirmar a existência das profissões relacionadas
à informação que além de comunicar, disseminar têm como princípio ético a preservação das
memórias. Dentre as profissões que têm na informação o elemento imprescindível para sua atuação,
reportamo-nos à Biblioteconomia que no Brasil, é considerada como profissão liberal desde 1962,
quando a Lei 4.084, a estabeleceu como privativa dos Bacharéis em Biblioteconomia, fazendo-se
necessário para seu exercício apresentação de diploma de nível superior.
Du Mont (1991) focalizando as atribuições assumidas no desempenho profissional admite quatro
aspectos principais. São eles:
a) a manutenção e preservação dos acervos;
b) atendimento das necessidades de informação dos participantes da instituição onde a unidade
de informação está inserida;
c) atendimento das necessidades de informação dos usuários de tal unidade;
d) responsabilidade social com a totalidade da sociedade.
Assim a partir dessas atribuições, os profissionais se ocupam do atendimento às necessidades
de informação dos recursos humanos da corporação onde se localiza a unidade de informação, mas
também com a sociedade, incluindo usuários e não usuários. A autora aumenta as atribuições do
profissional da informação. Afirma que a ele cabe promover, ativamente, a justiça social; apoiar
iniciativas culturais; assumir posições políticas; e seguir valores e princípios éticos, objetivando o
atendimento a necessidades de informação, seja simples consulta, sejam informações para fornecer
respaldo a pesquisas que reverterão em novo conhecimento (DU MONT, 1991). Essas atribuições,
possivelmente tomam como base a sociedade americana, mas nós brasileiros não estamos distantes
do que ela propôs.
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Favorecendo a preservação e saindo das cavernas (enquanto espaços físicos), hoje os meios
eletrônicos são os facilitadores da armazenagem e por via de consequência da manutenção
das informações. Ao compararmos as novas gerações de computadores cada vez menores e
suas memórias com possibilidades reais de armazenar volume de informação cada vez maior
entendemos os termos abundância e excesso usados para indicar a quantidade de informação
que se encontra nas memórias eletrônicas e que podem também estar na cloud computing.
Esta refere-se à utilização da memória e das capacidades de armazenamento e computadores
e servidores compartilhados e interligados pela Internet, ampliando as possibilidades.
Inicia-se a armazenagem eletrônica com a biblioteca digital, constituída por documentos
digitalizados, disponibilizados e materializados em disquetes, compact disk read only memory
(CD-ROM), ou em digital vídeo disk (DVD), e depois a biblioteca virtual, que insere e torna
visíveis textos completos em linha por meio da Internet com acesso a distância. Além da ideia de
organização e preservação da integridade dos documentos, a armazenagem em forma eletrônica
e sua disseminação independem de localização física e de horário de funcionamento, acrescida da
possibilidade de inúmeros usuários acessarem e consultarem o mesmo documento ao mesmo tempo.
A disseminação surge com dupla função: de um lado efetivar e ampliar o uso das bibliotecas
pública e especializada por meio de indicação de livros que podiam ser lidos (censura as avessas).
De outra parte tais listas tinham a finalidade de não provocar inquietações nos espíritos dos
leitores e manter os sistemas políticos vigentes. Ao mesmo tempo as bibliotecas especializadas
desenvolviam técnicas de disseminação para que os técnicos renovassem seus conhecimentos
e as organizações pudessem ganhar de suas concorrentes, produzindo mais, melhor, com menor
custo. Implícita, a relação entre informação e novos conhecimentos que divulgados mantêm o ciclo,
reforçando a preservação, porque só se dissemina o que existe e para existir há que se preservar.
Quanto as proposições atuais de disseminação está a World Wide Web (www) ou, simplesmente
web, como um conjunto de textos separados, ligados logicamente, com a simplicidade de reunir
virtualmente informação sobre qualquer coisa (RANGEL, 1999). A web criação de Tim Berners Lee
conecta o mundo, permitindo que internautas naveguem com apenas um toque no mouse, celular,
tablets e outros artefatos que virão, possibilitando ao hipertexto representar o que o homem,
historicamente, sempre fez. Ao realizar uma leitura e algum conceito não se apresentar com clareza,
recorre-se a um dicionário ou a outra obra que especifique o assunto, que pode conduzir a outro
assunto, e assim sucessivamente, podendo desviar o leitor do texto inicial. Ao se desviar do site
inicial em busca de outros links, o usuário pode ampliar suas informações ou perder a centralidade
inicial. Isto por que o estoque de informações é sempre maior do que a necessidade do usuário, e
ao ser atraído, despertado para outro link, muda-se o interesse, consequentemente surge outra
demanda. Não mais o autor conclui o texto, mas sim, o leitor, das formas mais diversificadas,
diferindo de leitor para leitor, ao buscar novos links, a cada nova motivação (FOUCAULT, 1992).
Adisseminaçãoprovocainclusiveumaampliaçãonaquantidadedeobrasproduzidas,no comércio
livreiroenoaparecimentodeoutrosprofissionaisqueseocupamdarevisão,dacrítica,docomérciodas
obras.Surgemnovosleitoresqueusamawebparaseinformardasnovidades,imprimem-nasparaseu
uso pessoal ou adquirem-nas por outros meios para compor seus acervos. Enquanto os tradicionais,
maisromânticos,referem-seaocheirodolivro,dopapeledatintaaosquaisestãohabituadosedosquais
gostariam de não se afastar. O mediador, o disseminador das informações torna-se hábil navegador
nas novas mídias e assume atividades de construção de mapas de navegação para seus usuários.
Não esqueçamos, porém que o acesso pressupõe organização e representação da informação.
Os profissionais utilizam terminologia padronizada e estruturada, fragmentam o conteúdo dos
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documentos em partes e os representam. A terminologia assume as concepções da área que a
está definindo, possibilitando aos especialistas expressarem e comunicarem seus conhecimentos.
Adaptar os assuntos contidos e identificados nos documentos aos estipulados nas tabelas de
classificação, nas listas de cabeçalhos e nos tesauros (instrumentos de representação da informação),
de maneira inequívoca, para o sistema disseminar e o usuário acessar informações, continua sendo
um problema. Em primeiro lugar, porque as representações sofrem as influências sociais, visto
que são construções arbitrárias dos homens, que vivem em sociedade e que as transferem para as
ferramentas utilizadas para indexar. Depois, talvez o mais importante, além dos valores sociais que
interferem no usuário, é que o profissional e o usuário tanto podem representar o mesmo documento
de forma diferenciada, quanto podem usar a mesma representação para identificar coisas diversas.
Embora se reconheça que a organização das informações é essencial para disponibilizá-las e
acessá-las, a reformatação da linguagem compromete o código de comunicação, estabelece um
duplo fluxo de informação em que o intermediário constitui figura indispensável e de certa forma lhe
confere um (falso) poder. Barreto (2003) e Battles (2003) coincidem nas ideias de que a codificação
em metalinguagem oculta a informação, diferente das proposições alternativas atuais e do uso da
linguagem natural. Isso acontece tanto nos tradicionais catálogos manuais quanto na rede eletrônica
de informação e comunicação e é severa crítica a nossa atuação e aos processos que utilizamos para
indexar quer documentos, quer informações.
Em 2007 assisti a uma aula da professora Maria José Huertas, pesquisadora espanhola e então
Presidente da ISKO 1
, que propunha solução alternativa para a indexação no sentido de ampliar o
conhecimento sobre um objeto a partir de dicionários especializados, identificando possibilidades de
utilizaçãodetermosrepresentativos.Feitoisto,criam-secategorias,expandindoasrepresentações do
objeto, utilizando os vários termos. Essa alternativa assemelha-se ao que nos conta Battles (2003) por
meio da história de um profissional que catalogava, descrevendo ao máximo seu objeto, acreditando
fazer a coisa certa. Infelizmente aquele bibliotecário não atendia ao sistema, pois não correspondia
à produtividade exigida e foi “convidado” a se aposentar. Realidade e / ou ficção refletem a busca de
conhecimento, questionam a obviedade praticada, originam processo alternativo, inova a tecnologia.
Novamente a tecnologia, anunciada por Berners-Lee, a web semântica permite, com facilidade,
cruzar informações confinadas em programas de editores de texto, planilhas e calendários,
conectando-as e reunindo-as. Além dos serviços de busca e de navegadores, muitos outros
programaspodemsurgirparausufruirdessetipodebasededados.Asempresasmundiaiscontribuem
escaneando bibliotecas inteiras para disponibilizar o acervo anterior às TICs. Prometendo que “A
real mágica acontece quando cada palavra de cada livro estiver linkada a outras, agrupada, citada,
indexada, analisada, anotada, misturada novamente, reunida mais uma vez e entrelaçada de forma
profunda.” (KELLY, 2006, p.45).
Para concluir sobre as antigas/novas atribuições, utilizamos as palavras de Garcia, Targino e
Dantas (2012) para quem elas devem ser desempenhadas com responsabilidade ética e social quer
o profissional esteja na qualidade de produtor da informação, de organizador, disseminador, quer de
mediador. Em sistemas tradicionais ou nos mais modernos todos eles, os atores, necessitam atentar
para o cerne de seu trabalho mantendo íntima ligação com a ética e a responsabilidade social, numa
perspectiva multidimensional. O que contempla direitos civis, sociais, culturais, políticos, econômicos
e ambientais de todos os homens e mulheres, do Brasil, e do mundo.
1 ISKO - International Society of Knowledge Organization
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REFERÊNCIAS
BARRETO, A.A. Políticas de monitoramento da informação por compressão semântica dos seus
estoques. DataGramaZero: Revista de Ciência da Informação, v.4, n. 2, abr. 2003. Disponível em:
<http://www.dgz.org.br>. Acesso em: 18 ago. 2003.
BATTLES, M. A conturbada história das bibliotecas. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2003.
DU MONT, R. R. Ethics in librarianship: a management model. Library Trends, p. 201-215, Fall 1991.
FOUCAULT, M. O que é um autor? 2. ed. Lisboa: Veja, 1992.
GARCIA, J.C.R.; TARGINO, M.G.; DANTAS, E.R.F. Conceito de responsabilidade social da Ciência da
Informação. Informação & Informação, Londrina, v.17, n.1, p1-25, jan./jun. 2012. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/12309/11372>. Acesso em: 2
dez. 2012.
KELLY, K. A biblioteca universal. Veja. Especial Tecnologia, São Paulo, p. 43-45, jul. 2006.
RANGEL, R. Passado e futuro da era da informação. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

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