Sistema Reprodutor
                                    " CADA PARTO É UM PARTO ."
                                                (Paul Claudel)




 Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino
     NEREU CARLOS PRESTES




 Semiologia da Glândula Mamaria de Éguas,
 Cadelas e Gatas
     FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA




 Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes
     EDUARDO HARRY BIRGEL




 Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino
     ALICIO MARTINS JÚNIOR
     FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA
Semiologia do Sistema Reprodutor
Feminino
           CARLOS PRESTES ILUSTRAÇÕES: Médica
   Veterinária Diane Hama Sassaki




          ANATOMIA GERAL
          BÁSICA
          O sistema reprodutivo das fêmeas constitui-sc de ovários, ovidutos,
          cornos e corpo uterino, cerviz, vagina, vestíbulo c vulva. As estruturas
          internas são sustentadas pelo ligamento largo: mesovário que sustenta
          o ovário; mesossalpinge que ancora o oviduto e o mesométrio que
          mantém o útero. Nervos autónomos inervam o ovário, o oviduto e o
          útero, enquanto as fibras sensitivas e parassimpáticas do nervo pudendo
          atendem a vagina, vulva e clitóris. Embriologicamente, os duetos de
          Múller fundem-se na porção caudal para originar o útero, cerviz e a
          porção anterior do canal vaginal. O oviduto torna-se sinuoso, adqui-
          rindo epitélio diferenciado e fímbrias pouco antes do nascimento.
               As medidas dos ovários variam corn a idade, raça, número de partos,
          estado nutricional e fase do ciclo reprodutivo. Na vaca e na ovelha, têm
          forma de azeitona; na porca, parecem cachos de uva e, na égua, têm
          aspecto de rim, contendo a fossa de ovulação. Nas gatas, os ovários
          têm o tamanho e a forma lembrando um grão de arroz, parcialmente
          cobertos por uma bursa c, nas cadelas, o tamanho varia na dependên-
          cia do ciclo estral, localizando-se próximo aos rins, sendo recobertos
          pela gordura periovárica. Desempenham dupla função, liberando os
          oócitos e promovendo a estcroidogênese.
               As tubas ou ovidutos podem ser divididos em quatro segmentos
          funcionais: as fímbrias, o infundíbulo, a ampola e o istmo, vasculari-
          zadas por ramos das artérias uterinas e ovarianas. Apresentam funções
          singulares de conduzir o óvulo e os espermatozóides em direções opostas
          e, simultaneamente, permitir a fertilização e as primeiras clivagens e
          conduzir os embriões ao útero.
               O útero é composto por dois cornos, um corpo curto e uma cerviz,
          também denominada de colo, com forma, comprimento e diâmetro
          variáveis de espécie para espécie. As paredes são constituídas por uma
          mucosa interna, uma camada muscular lisa intermediária e uma sero-
          sa externa (peritôneo), inervados por ramos simpáticos dos plexos uterino
          e pélvico. Os vasos sanguíneos são numerosos, espessos e sinuosos,
          representados principalmente pela artéria uterina média, um ramo da
          artéria ilíaca interna ou externa que supre o órgão e aumenta muito de
          diâmetro durante a gestação, permitindo-se palpar e sentir o frémito
          nos grandes animais gestantes mediante manipulação por via retal.
336    Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



      O endométrio uterino é revestido por células
epiteliais com típica função secretória e glândulas
sinuosas e ramificadas. O volume e a composição
do fluido uterino variam durante as fases do ciclo
reprodutivo e apresentam as funções de permitir
condições para a capacitação espermática e forne-
cer subsídios nutritivos ao embrião (blastocisto) até
que se complete a implantação/placentação.
      O útero apresenta ampla capacidade de dis-
tenção, permitindo a gestação; contrai-se forte-
mente no momento do parto, facilitando a expul-
são dos produtos e involui rapidamente no puer-
pério, garantindo a depuração do órgão, preparan-
do-se para nova prenhez.
      A cerviz (Quadro 8.1) caracteriza-se pela es-
pessa parede ligando o fundo vaginal ao corpo do
útero, contendo saliências anelares na vaca e pe-
quenos ruminantes, anéis em "saca-rolha" na por-
ca, anel único com dobras de mucosa e protrusão
na égua e textura firme nas cadelas e gatas. Per-
manece firmemente fechada, exceto durante o cio,
e apresenta um muco (tampão cervical) que é
expelido pela vagina, constituído de macromolé-
culas de mucina de origem epitelial.
      O espaço vaginal é uma estrutura tubular de
comprimento variável, constituída de superfície
epitelial, uma fina camada muscular que lhe per-
mite os movimentos de contração e de uma serosa.        Figura 8.1 - Ilustração esquemática do aparelho reprodutor da
Apresenta odor sui generis para cada espécie animal,    vaca, vista dorsal. Vulva, vestíbulo e conduto vaginal abertos,
é um forte atrativo sexual, lubrificada por secreções   permitindo a visualização da cerviz, clitóris e meato urinário
da própria parede vaginal, produtos de glândulas        externo.
sebáceas e sudoríparas, muco cervical, fluido endo-
metrial tubárico e células esfoliativas. Essa capaci-
dade de descamação epitelial permite observação e
tipificação celular características de cada momento     SINAIS E/OU SINTOMAS
hormonal do ciclo estral, na maioria das espécies       REVELADORES DE PROBLEMAS
domésticas. É o órgão copulatório e via fetal mole
no momento do parto, apresentando pH e flora            DO SISTEMA REPRODUTOR
microbiológica típica. Na porção ventral do vestí-
bulo, abre-se o meato urinário externo.                 FEMININO
      O genital feminino exterior é composto pela       A fisiopatologia da reprodução dos animais do-
vulva, glândulas vestibulares e pelo clitóris. Embo-    mésticos é um capítulo muito rico e altamente
ra não faça parte do aparelho reprodutor, a região      estudado. Os sinais e sintomas são exibidos iso-
perineal tem enorme importância nos animais do-         ladamente ou envolvendo outros sistemas orgâ-
mésticos, pois eventuais defeitos de conformação        nicos. Deve ser lembrada a estacionalidade re-
acarretam posicionamento anómalo da vulva, refle-       produtiva dos equídeos e de algumas raças de
tindo-se no desempenho reprodutivo do animal (Figs.     pequenos ruminantes. De forma geral, a refe-
8.1 a 8.6).
                                                        rência do proprietário ou a observação do técni-
                                                        co detectam as seguintes anormalidades: anestro
                                                        prolongado, ciclos irregulares, ninfomania, estros
 Quadro 8.1 - Funções da cerviz.
                                                        curtos, comportamento masculinizado, defeitos
  1.    Facilitar o transporte espermático.             anatómicos da genitália externa, aumento de vo-
  2.    Atuar como reservatório de espermatozóides.
                                                        lume no períneo ou projeções anormais exterio-
  3.    Agir na seleção de espermatozóides viáveis.
                                                        rizadas pela vulva, distensão abdominal, dor, con-
Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino   337



              CE                                                  a gestação, subinvolução dos sítios placcntários
                                                                  (cães). Outras secreções vaginais incluem
                                                                  corrimento verde escuro (puerpério inicial em
                                                                  cães), secreção marrom fétida (morte com de-
                                                        OD
                                                                  composição fetal), secreção serossanguinolen-
                                                                  ta, secreção purulenta (infecções), secreção mar-
                                                                  rom ou enegrecida (mumificação fetal). Cuida-
                                                                  do especial deve ser dado às hemorragias via
                                                                  vagina nos grandes animais, decorrentes de
                                                                  varizes vaginais ou lacerações e rupturas extensas
                                                                  dos órgãos genitais. Distúrbios locais e aqueles
                                                                  de ordem metabólica podem influenciar sobre-
                            Vá
                                                                  maneira as manifestações do aparelho reprodutor
                                                                  feminino. Polidipsia e poliúria são sinais mais
                                                                  relatados nos casos de piometra em pequenos
                                                                  animais.
                                                                       O material básico necessário para o exame do
                                        -MUE                      aparelho reprodutor compreende:

                                                                      Luva plástica descartável.
                                                                      Lubrificante (não utilizar óleo vegetal).
                                                                      Água e sabão ou detergente neutro.
                                                                      Papel toalha.
                                                                      Faixa ou plástico para forrar a cauda.
Figura 8.2 - Representação do aparelho reprodutor da vaca. CE =       Solução fisiológica.
corno uterino esquerdo; CD = corno uterino direito; OE =              Especulo metálico ou descartável compatível.
ovário esquerdo; OD = ovário direito; CO = corpo do útero; C
                                                                      Bandeja metálica estéril.
= cerviz; Vá = vagina; Vê = vestíbulo; MUE = meato urinário
externo; CL = clitóris; Vu = vulva; T = tuba.
                                                                      Pinça de biopsia uterina.
                                                                      Aparelho para coleta de amostra para micro-
                                                                      biológico.
trações e esforços expulsivos, crostas aderidas na                    Escovas para coleta citológica.
cauda c períneo, corrimento vaginal sanguino-                         Lanterna.
lento (fazer o diagnóstico diferencial com proestro                   Meios para transporte e fixação das amostras.
e estro em cães), folículo ovariano persistente,                      Seringas.
tumores ovarianos produtores de estrógeno, tu-                        Pipetas.
                                                                      Álcool.
mor venéreo transmissível (cães), cistite, laceração
vaginal, metrorragia, coagulopatias, corpo estra-                     Fósforo.
nho vaginal, descolamento placentário durante                         Solução anti-séptica.


                                                                                         Sacro




                                                                                                  Órgão genital
Figura 8.3 - Disposição anatómica do reto e do
                                                                                                  feminino
aparelho reprodutor da vaca em relação aos ossos
                                                                                Fémur
rekicos. Vista lateral direita.
338   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico




Vestíbulo                                                                                          Figura 8.4 - Vista lateral
                                                                                                   direita e a relação anatómica do
                                                                                                   aparelho reprodutor da vaca
                                                                                                   com relação ao reto e bexiga,
                       Vagina          Cerviz                                                      excluindo-se a representação
                                                Corpo                             Corno uterino
                                                                                                   óssea.
                                                 uterino         Ovário direito esquerdo
                                                             Corno uterino
                                                             direito



Figura     8.5     -   Representação
esquemática da disposição anatómica
do aparelho reprodutor da égua. R =
reto; Vê = vestíbulo vaginal; MUE =
meato urinário externo; Vá = vagina;
C = cerviz; Co = corpo uterino; CD
= corno direito; CE = corno
esquerdo; OD = ovário direito; U =
uretra; B = bexiga urinária; L =
ligamento largo.




                                                                                                                        MUE
                                                Figura 8.6 - Representação anatómica do aparelho reprodutor da porca. Observar a
                                                sinuosidade dos cornos uterinos e a aparência dos ovários lembrando cacho de uva.
                                                CL = clitóris; Vu = vulva; Vê = vestíbulo; MUE = meato urinário externo; Vá =
                                                              vagina; C = cerviz "em saca rolha"; Co = corpo uterino; CE = corno
                                                              uterino esquerdo; CD = corno uterino direito; T = tuba; OD = ovário
                                                              direito; OE = ovário esquerdo.




                                       Vu
Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 339



  Tabela 8.1 - Resumo da sequência do exame clínico do aparelho reprodutor feminino.

  Identificação ou resenha                            - Raça, espécie, idade, eventuais particularidades
  Anamnese                                            - Primípara, plurípara
  Exame físico -                                      -   Condição nutricional
  Geral                                               -   Corrimento
                                                      -   Coloração de mucosas, linfonodos,
                                                      -   Parâmetros vitais: temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência
                                                          respiratória, frequência dos ruídos ruminais
  - Específico                                        -   Distensão e tensão abdominal
                                                      -   Forma e dilatação da vulva
                                                      -   Aumentos de volume, cicatrizes
                                                      -   Exame retal
  Exames complementares                               - Dosagem hormonal, exames microbiológicos e sorológicos, exames
                                                        citológico e histológico




Figura 8.7 - Esquema ilustrativo da disposição anatómica do
aparelho reprodutor da porca na cavidade abdominal.




Figura 8.8-Vista posterior de égua contida em tronco metálico.      Figura 8.9 - Vista posterior de vaca contida em tronco. O
Observar a posição do ânus, vulva e hipertrofia de clitóris.            animal apresenta prolapso cervicovaginal pós-parto normal.
340   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico




                                                                  Figura 8.13 - Útero de cadela com acúmulo de pus
                                                                  piometra.
Figura 8.10 - Prolapso parcial de vagina em vaca.




                                                                  Figura 8.14 - Tumor no corpo do útero, provocando bloqueio
                                                                  mecânico do parto.
Figura 8.11 - Laceração perineal de 39 grau em égua ocorrida no
momento do parto. Nota-se a entrada do reto. Parte do espaço
vaginal e ruptura completa do períneo e esfíncter anal.
                                                                  PROTOCOLO DE EXAME -
                                                                  GINECOLÓGICO E OBSTÉTRICO
                                                                  Identificação. Espécie, raça, nome, número, tatua-
                                                                  gem, registro, idade, peso, eventuais particulari-
                                                                  dades (Tabela 8.1).
                                                                       Anamnese. Pode ser inquiridora ou espontâ-
                                                                  nea, procurando resgatar todo o histórico repro-
                                                                  dutivo do animal. Anotar todas as observações do
                                                                  proprietário, tratador ou responsável e atentar para
                                                                  a alimentação, manejo sanitário, medidas preven-
                                                                  tivas, utilização de drogas medicamentosas e a
                                                                  situação dos outros animais do grupo ou rebanho.
                                                                  Tirar conclusões ou negligenciar alguns aspectos,
                                                                  nesse momento, não é recomendável.
                                                                       Exame geral. Temperatura retal, linfonodos, pele
                                                                  e anexos, mucosas, exame convencional dos gran-
Figura 8.12 - Prolapso parcial de útero em cadela pós-parto.      des sistemas e da glândula mamaria (inspeção,
                                                                  palpação e eventual análise da secreção). Atentar
Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino   341



 para o estado nutricional e eventuais distúrbios     Exame Retal em Grandes Animais
 circulatórios (edema localizado ou difuso).
     Exame específico externo. Baseia-se principal-        O examinador deve estar convenientemente
mente na inspeção e na palpação externa. Avaliar      trajado com bota, avental ou macacão, luva com-
a distensão e a tensão abdominal, sinais de movi-     prida e utilizar lubrificante durante a limpeza do
mentos fetais ou contrações musculares e de tim-      reto e manipulação sobre os órgãos internos. As
panismo. Examinar a região perineal, vulva, cau-      unhas devem ser aparadas e os animais devida-
da c glândula mamaria, verificando o edema e a        mente contidos em troncos, para evitar acidentes.
quantidade, qualidade, odor e cor da secreção         O conhecimento de anatomia e fisiologia é essen-
vaginal. Observar atentamente a posição, forma,       cial para o reconhecimento das estruturas, para
grau de dilatação e relaxamento da vulva e liga-      diferenciar útero vazio do gestante e a condição
mentos sacroisquiáticos. Aumentos de volume,          normal do estado patológico (Figs. 8.15 e 8.16).
cicatrizes, prolapsos e lesões devem ser criterio-         Por convenção clássica, a espessura do útero
samente anotados. Inspecionar os ossos pélvicos.      da vaca vai de El (l dedo) até EVI, em que é
     Embora a glândula mamaria mereça um exa-         impossível delimitá-lo manualmente.
me semiológico especial, a inspeção externa deve           Para simetria:
se ater ao tamanho, à forma do úbere e dos tetos,
pele, coloração e observação de nodosidades. A          •   S = simétrico (ambos os cornos).
palpação auxilia sobremaneira as conclusões.            •   AS = assimétricos.
     Exame específico interno. Nos animais em           •   AS+++ = corno direito maior que o esquerdo.
trabalho de parto, o exame obstétrico interno           •   + AS = corno esquerdo ligeiramente maior
específico, quando necessário, deve ser realizado           ao oposto.
por via vaginal com manipulação direta com
luva, nos grandes animais, e pelo toque digital,                           GI = relaxado.
nos pequenos animais, após prévia higienização do
períneo do animal, dos braços do operador e do ma-     Gontração
terial necessário e sob intensa lubrificação. Nos                          CII = contratilidade média.
pequenos ruminantes e na porca, esse procedi-                              CHI = fortemente contraído.
mento deve ser cuidadoso e sob intensa lubrifi-
cação, devido ao seu tamanho e riscos de lacera-           A exploração retal deve atingir a cerviz, o útero
ções e ruptura uterina (ver Figs. 8.7 a 8.14).        e os ovários. A localização ovariana em geral não
     Observar:                                        apresenta dificuldades e o tamanho do órgão
                                                      depende da idade, da raça dos animais, da esta-
 a) vias fetais: abertura e grau de lubrificação;     ção do ano (éguas), da fase do ciclo estral e de
 b) bolsas fetais: ruptura, cor, odor e quantidade    eventuais situações patológicas, principalmente
    dos líquidos;                                     os cistos e os tumores.
 c) feto: viabilidade, tamanho e apresentação,             Fundamentalmente, dedilhando o ovário, busca-
    posição e atitude.                                se verificar a presença de folículos, de corpo lúteo
                                                      ou aumentos de volume anómalos que, aliados a
     Para um exame ginecológico rotineiro, empre-     outros achados, nos auxiliam no diagnóstico.
gado fundamentalmente para animais não gestan-             Com o advento e uso da ultra-sonografia em
tes, sadios ou com problemas reprodutivos e para      larga escala, a mensuração do ovário e de cada
animais prenhes em situações especiais, inclui-se     folículo ficou fácil e altamente fidedigna, permi-
a palpação via retal para equinos e bovinos, a pal-
                                                      tindo o estudo do comportamento ovariano, me-
pação abdominal para médios e pequenos animais
                                                      lhorando a acuidade de observação e dos méto-
e a vaginoscopia. Nos suínos, ovinos, caprinos e
grandes cães ou animais obesos, a manipulação do      dos diagnósticos.
abdome é difícil, comprometendo, em algumas cir-           Para a consistência dos folículos ovarianos,
cunstâncias, o diagnóstico.                           utiliza-se a classificação:
     Exames complementares como o Raio X, a
ultra-sonografia, a endoscopia, a dosagem hormo-       1    - sem flutuação;
nal, os exames hematológicos e bioquímicos po-         2    — flutuação débil;
dem ser ferramentas essenciais.                        3    — flutuação média;
                                                       4    - folículo maduro;
                                                       5    - folículo rompido (ovulação).
342   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico


                                                                                  í*
                                                                                  Figura 8.15 - Corte esquemático
                                                                                  simulando a palpação do trato
                                                                                  reprodutivo da vaca por via retal no
                                                                                  local correspondente à cerviz.




Figura 8.16 - (A) Vista cranio-
caudal da palpação cervical da
vaca por via retal. Essa é a forma de
empunhar a cerviz para a
inseminação artificial e nos tra-
tamentos de infusão uterina. (B)
Vista craniocaudal da palpação por
via retal do corno uterino direito.
Notar a assimetria entre os cornos,
compatível com gestação inicial.



  Quadro 8.2 - Convenção adotada para tamanho                baixo, evitando o ingresso de líquido. Secar a vulva
  comparativo do ovário de grandes animais.                  e períneo com papel toalha. Os exames manuais
                                                             são executados ao parto ou em situações que não
  E = ervilha                  N = noz                   n
  F = feijão                   G = ovo de galinha   Q-cro"
                                                             podem ser identificadas visualmente. Nos cães,
  A = avelã                    Pa = ovo de pata         D    utiliza-se o toque digital munido de luva, espe-
                                                        Q.
  P = ovo de pomba             Ga = ovo de gansa        O    cialmente para palpar possíveis tumores vaginais.
                                                             Com o animal devidamente contido, o especulo
                                                             é introduzido no vestíbulo, afastando-se
                                                             manualmente os lábios vulvares e, com suave
Exame Vaginal                                                movimento circulatório, o tubo é introduzido
                                                             obedecendo-se à curvatura dorsocranial da vagi-
     Previamente à vaginoscopia, o técnico deve              na. Para as éguas, utiliza-se o especulo tubular
realizar o exame retal, preparar o material neces-           ou o tipo Polanski, que permite a visualização de
sário, promover a bandagem da cauda, dispor o                todo o trajeto vaginal. Se necessário, lubrifica-se
animal lateral ou dorsalmente, higienizar o períneo          o equipamento com solução fisiológica estéril. Nas
e lábios vulvares e, eventualmente, nos animais              cadelas, especules tubulares metálicos, plásticos,
com grande quantidade de pêlo ou lã, aparar o                de acrílico ou o tipo bico de pato são empregados
necessário para permitir um exame limpo, evitan-             rotineiramente. Nessa espécie, a visualização da
do-se a introdução de material contaminante no               cerviz é dificultada ou impossibilitada pelas inú-
espaço vaginal. Quando a lavagem for imposta, a              meras dobras da mucosa vaginal. As gatas, de forma
água deve ser aspergida sem pressão, de cima para            geral, não aceitam os exames vaginais.
Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino    343



     Em poucos segundos, utilizando-se boa ilu-                        • Grau de umidade - cerviz/vagina
minação, é possível a realização da vaginoscopia,                        — I = seca.
descrevendo-se no prontuário todas as observações.                       — II = ligeiramente úmida.
     A presença de fezes caracteriza as fístulas                          - III = umidade média.
retovaginais e lacerações perineais graves; a urina                      - IV = muito úmida.
no fundo vaginal denuncia graves lesões do meato                         - V = coleção de muco.
urinário externo e prega transversa; a presença de
muito ar (pneumovagina) significa que a coaptação                      • Característica do muco - cerviz/vagina
dos lábios vulvares é imperfeita. Deve-se qualificar                      - Cl = claro.
e quantificar a secreção c atentar para aderências,                      - Sá = sanguinolento.
cicatrizes, defeitos anatómicos, aumentos de volu-                       — MP = muco purulento.
me, forma e posição da cerviz. Alguns animais sen-                        - P = purulento.
tem ligeiro desconforto ao exame pelo ingresso de
ar na vagina ou abertura exagerada do especulo.
     Para a vaca, adota-se a seguinte convenção
clássica:
                                                                     Diagnóstico de Gestação
                                                                         O diagnóstico de gestação deve ser realizado
  • Forma da cerviz                                                 o mais prccoccmente possível para orientar o criador,
    - C = cónica.                                                   racionalizar serviços, aumentar a eficiência
      • R = roseta.                                                 reprodutiva e produtiva e adotar procedimentos
    - E = espalhada.                                                de manejo (ver Figs. 8.17 a 8.20). Com a utilização
    - P = pendular.                                                 da ultra-sonografia é possível detectar a gestação
                                                                    aos 30 dias nos pequenos ruminantes, aos 24 dias
  • Abertura cervical
                                                                    nos bovinos, aos 12 a 15 dias nas éguas e entre 18
    - O = fechada.
                                                                    a 20 dias nos pequenos animais, de maneira
    - l = abertura mínima.
    - 2 = diâmetro de lápis.                                        fidedigna. E possível, inclusive, determinar o sexo
    -3 = 1 dedo.                                                    do filhote a partir da visualização do tubérculo genital
    -4 = 2 dedos.                                                   pela ultra-sonografia cm muitas espécies animais,
    -5 = 3 dedos.                                                   em diferentes períodos gestacionais.
                                                                         Devemos lembrar, contudo, que equipamen-
  • Coloração da mucosa = cerviz/vagina                             tos não substituem os métodos semiológicos e a
    - A = anêmica.                                                  capacidade profissional do médico veterinário.
    - B = pálida.                                                        A porca é o animal mais difícil para se detec-
    - C = hiperêmica.                                               tar a gestação manualmente, tanto pela palpação
    - D-E = vermelho patológico.                                    abdominal quanto pela palpação rctal, quando


                                                                    Corno uterino                Corno uterino
                                                                       direito                     esquerdo




Figura 8.17 - (A) Corte esquemático do abdome de cadela, representando a
disposição do útero gestante. (B) Útero de cadela compatível com 30 dias de
gestação. Três vesículas fetais no corno esquerdo e quatro no corno direito. (C)
Corte esquemático do corno uterino gestante. Observa-se a disposição dos fetos
e a placenta do tipo zonária.
                                                                                                  Corpo uterino
                                                                                                 Cerviz
                                                                                                            Placenta
zonária
Secção
344 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



                                                                                                            Corno uterino
                                                                     Alantocório
                                                                                                            Saco amniótico
                                                                                                               Amnio
                                                                    Alantóide




                                                                     Placenta
                                                                      zonária
                                                                    seccionada




                                                                  Cordão umbilical




                                                                 Figura 8.19 - Palpação abdominal do feto de cadela no período
                                                                 médio e final da gestação. Pela suave compressão manual,
Figura 8.18 - Cadela em final de gestação colocada em decúbito   percebe-se partes do feto e de seus movimentos. Notar a
lateral para exame. Observar o aumento típico do volume das      disposição do feto, dos envoltórios, cordão umbilical e
glândulas mamarias e a posição das mãos do examinador            placenta zonária.
efetuando a palpação abdominal. Posicionamento ideal para a
execução da ausculta do batimento cardíaco do feto e a ultra-
sonografia.
                                                                      Fase assintomática: a persistência do corpo
                                                                      lúteo e o não retorno ao cio 21 dias após a
apresentar tamanho compatível. O mais forte                           cobertura ou inseminação induzem a supor
indicativo da gestação nessa espécie é o não re-                      uma gestação.
torno ao cio, após a cobertura natural ou insemi-                     Pequena bolsa inicial: 5a e 6a semanas. Ape-
nação artificial. Aparelho ultra-sonográfico adap-                    nas profissionais experientes conseguem um
tável ao braço do operador já está sendo utiliza-                     diagnóstico seguro nessa fase. Pequena bolsa
do, aumentando a eficiência diagnostica. Outros                       característica: 7- e 8a semanas. A presença de
métodos são demorados ou antieconômicos.                              corpo lúteo, assimetria uterina e
     Para pequenos ruminantes, a palpação do ab-
dome é pouco eficaz. Para pequenos animais, dó-
ceis, de abdome flácido e sem obesidade, a palpa-
ção abdominal em decúbito lateral, utilizando-se as
mãos dispostas, uma de cada lado do abdome, per-
mite contornar as vesículas fetais a partir de 25 a 30
dias da prenhez, com segurança diagnostica. O Raio
X é empregado entre 40 e 45 dias, pois a calcifica-
ção esquelética permite quantificar o número de
filhotes. O ultra-som constitui-se em método alta-
mente seguro e pouco invasivo, sendo excelente para
a observação da viabilidade fetal.
     O uso do estetoscópio possibilita a ausculta
do batimento cardíaco dos produtos, a qual se ca-
racteriza pelo alto ritmo.
     Para bovinos e equinos, a palpação retal é
amplamente utilizada, sendo um método seguro e
                                                                 Figura 8.20 - Peça anatómica do útero de ovelha gestante (70
económico no diagnóstico da gestação. Nos bovi-                  dias). Notar o alantocório que constitui a porção fetal da
nos, o período de gestação é assim caracterizado:                placenta cotiledonária.
Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino      345



     nítida duplicidade de parede permite diagnós-                    • Fase de descida: 20a e 24a semanas. Devido ao
     tico eficaz.                                                       peso, o útero aloja-se na porção mais baixa
     Grande bolsa inicial: 9a e 10a semanas. A assi-                    do abdome. Diagnósticos erróneos podem
     metria pronunciada, conteúdo flutuante, "pro-                      acontecer. Tracionar a cerviz e perceber o peso,
     va de beliscamento positivo" e feto de 7 a                         palpar o frémito da artéria uterina média.
     lOcm garantem diagnóstico definitivo.                            • Fase final: 24- a 40a semanas. A palpação do
     Grande bolsa característica: 11a a 14§ semana.                     útero aumentado, placentomas e partes do pro
     Fase de balão: 14a e 19a semanas. Os placen-                       duto facilitam o diagnóstico.
     tomas são claramente palpáveis; percebe-se
     o pulso da artéria uterina média e o útero com                    A palpação retal na espécie equina deve ser efe-
     tamanho de bola de futebol.                                   tuada com extremo cuidado e sob intensa lubrifica-




Figura 8.21 - Representação esquemática da evolução da gestação (3, 4, 7 e 9 meses) em vaca. Notar a disposição do útero gravídico
em relação ao rúmen (R). P = placentoma.
346   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



cão, com o braço protegido por luva para evitar lace-          Durante o cio, o útero está relaxado e os ovários
rações ou perfurações do intestino (Figs. 8.21 a 8.23).   aumentam de volume, devido ao crescimento
O útero da égua tem forma de ípsilon c os ovários         folicular. Todo o órgão deve ser examinado com
são maiores que os da vaca e de forma e tamanho           a mão disposta "em concha", partindo-se de um
variáveis, na dependência do ciclo ou estacionalidade     ovário, corno, corpo, corno e ovário contralateral.
reprodutiva. A maioria das raças apresenta atividade      Até a 4- ou 5a semana após a cobertura, o diagnós-
reprodutiva nos dias longos, de maior luminosidade.       tico de gestação manual não é fácil e seguro, a


                                                                                    Figura 8.22 - Representação es-
                                                                                    quemática da gestação inicial da
                                                                                    égua. Observar o aumento de volume
                                                                                    de tamanho compatível a uma bola
                                                                                    de ténis (E) próximo ao corpo do
                                                                                    útero (Co) - aproximadamente 30
                                                                                    dias após a fecundação. CD =
                                                                                    corno uterino direito; CE = corno
                                                                                    uterino esquerdo; OD = ovário
                                                                                    direito; OE = ovário esquerdo; VA
                                                                                    = vagina; VÊ = vestíbulo.




                                                          Figura 8.23 - Corte esquemático ilustrativo da evolução da
                                                          gestação na égua (120, 210 e 300 dias da prenhez). Notar a
                                                          disposição do âmnio, alantóide e cordão umbilical e o
                                                          posicionamento particular adotado pelo feto equino no interior
                                                          do útero.
Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 347



  Quadro 8.3 - Duração media da gestação em            cultivo e antibiograma do material e por testes
  animais (em dias).                                   sorológicos, principalmente nos casos de infecções
           Vacas               273 a 296
                                                       graves, não responsivas ao tratamento, episódios
           Éguas               327 a 357               de abortamento e partos prematuros, visando a saúde
           Ovelhas             140 a 155               animal e a saúde pública. Para a coleta da amostra,
           Porcas              111 a 116               é necessário o máximo de assepsia. Existem no
           Cabras              148 a 156
           Cadelas                                     mercado equipamentos reutilizáveis e descartáveis,
                                60 a 63
           Catas                56 a 65
                                                       destinados principalmente aos grandes animais, para
                                                       a coleta dessas amostras, incluindo meios especiais
                                                       para o transporte até o laboratório. Pode ser colhi-
                                                       do material de cada segmento do sistema repro-
menos que seja confirmada pela ultra-sonografia.       dutor feminino.
Nas fases iniciais da prenhez, o embrião se mo-             O antibiograma indicará a sensibilidade ou
vimenta pelos cornos uterinos, tem rápida para-        resistência bacteriana ao princípio da droga, fun-
da no corpo do útero para implantar-se perma-          damentando a terapia a ser imposta.
nentemente em um dos cornos, aumentado pro-
gressivamente pela presença dos líquidos fetais.
Aos 2 a 3 meses, detecta-se uma vesícula do ta-
manho de uma "bola de futebol de salão". Aos 4
                                                       Exame Citológico e Histológico
a 5 meses, toca-se pelo reto as porções do feto, a          A característica descamativa do epitélio vagi-
parede do útero é fina, com flutuação c o liga-        nal, acompanhando as mudanças hormonais do ciclo
mento uterino fica tenso, devido ao peso do ór-        estral, fizeram do esfregaço vaginal um excelente
gão. A partir da metade da gestação, não há maio-      complemento diagnóstico. A colpocitologia tornou-
res dificuldades para o diagnóstico de gestação        se rotineira nos exames ginecológicos dos carnívo-
nessa espécie.                                         ros, equinos e bovinos, sendo empregada em menor
                                                       escala nas outras espécies animais. As células são
                                                       obtidas com o uso de cotonete, escova ginecológi-
EXAMES COMPLEMENTARES                                  ca ou lavado vaginal com auxílio de especulo,
                                                       depositadas em lâmina (esfregaço), fixadas e cora-
Dosagem Hormonal                                       das tricome ou diff-quick® para exame ao micros-
                                                       cópio óptico.
     As dosagens hormonais podem ser realizadas             As citologias cervical e uterina são utilizadas
no soro, no plasma e, em situações especiais, no       cm equinos e bovinos. A análise da morfologia
leite, urina e fezes, sendo eficientes como método     celular, muco, leucócitos e bactérias, auxiliam no
complementar de diagnóstico de um estado fisio-        diagnóstico da fase do ciclo reprodutivo e forne-
lógico ou distúrbios cndócrinos. O material cole-      cem fortes indícios dos processos inflamatórios e
tado, devidamente acondicionado, identificado e        tumorais.
preservado, deverá ser encaminhado a laboratórios           Fragmentos de tecido vaginal e uterino po-
específicos, obedecendo-se protocolos rígidos de       dem ser facilmente obtidos, particularmente nos
tempo e transporte, a fim de evitar resultados er-     grandes animais, com pinça de biopsia específi-
róneos. Existem na literatura especializada valo-      ca para análise histopatológica, fixados em solu-
res de referência para os principais hormônios li-     ção de Bouin para transporte ao laboratório
gados à reprodução dos animais domésticos. O           processador da amostra. Constitui-se em exame
resultado emitido deve sempre ser associado aos        complementar mais demorado, porém indispen-
achados clínicos para estabelecer as suspeitas diag-   sável em determinadas patologias.
nosticas e apresentar validade confiável.                   Atualmente, a citologia aspirativa com agulha
                                                       fina como método auxiliar de diagnóstico é ampla-
                                                       mente utilizada. Constitui-se em exame simples e se-
Exames Microbiológicos e                               guro de coleta de amostras em lesões sólidas ou
                                                       fluidas no corpo do animal, tornando-se um com-
Sorológicos                                            plemento ao exame ginecológico. Por ser uma téc-
     Quando houver suspeita de processo infeccioso     nica rápida e de baixo custo, pode ser utilizada
                                                       durante uma cirurgia, auxiliando o técnico nas
ou inespecífico, a confirmação deverá ser feita pelo
348    Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



condutas emergenciais, podendo ser executada                              PRESTES, N.C., LANGONI, H., CORDEIRO, L.A.V. Estudo
em estruturas não visíveis, guiando-se a agulha                              do leite de éguas sadias ou portadoras de mastite
com o ultra-som.                                                             assintomática, pelo teste de Whiteside, análise microbio-
     A amniocentese, rotineiramente empregada                                lógica e contagem de células somáticas. Braz-ilian Journal
na espécie humana para exames bioquímicos,                                   ofVeterinary Research and Animal Science, v.36, n.3, p.2-8,
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Semiologia da Glândula Mamaria de
Éguas, Cadelas e Gatas
  •FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA




        INTRODUÇÃO
        Os animais que pertencem à classe dos mamíferos são caracterizados
        pelo corpo basicamente coberto por pêlos c amamentam suas crias pelo
        uso de estruturas denominadas glândulas mamarias. A capacidade dos
        mamíferos de alimentar as suas crias por meio da secreção das glându-
        las mamarias durante a primeira parte da vida após o parto proporci-
        ona a esses animais a perspectiva da sobrevivência. O desenvolvimento
        dos dentes coincide com a necessidade de consumir outros alimentos
        além do leite.


        Secreção do Leite
             As funções do organismo são reguladas por dois sistemas de con-
        trole: o nervoso e o hormonal.
             Esses dois sistemas são chamados de sistema neuroendócrino. De
        maneira geral, as respostas rápidas são controladas pelo sistema ner-
        voso e, as lentas, como o processo de crescimento, reprodução, meta-
        bolismo, entre outras, são coordenadas pelo sistema endócrino. Exis-
        te, muitas vezes, uma inter-relação entre os dois sistemas: ora os hor-
        mônios agem sobre o sistema nervoso, ora o sistema endócrino é es-
        timulado ou inibido pelos mensageiros químicos liberados pelo siste-
        ma nervoso.
             Embora o desenvolvimento da glândula mamaria comece com o
        início da puberdade, ela se mantém pouco desenvolvida até que ocor-
        ra a gestação. A secreção de leite frequentemente começa durante a
        última parte da gestação, em virtude do aumento dos níveis de pro-
        lactina, e resulta na formação do colostro. O leite é formado nas célu-
        las mioepiteliais. A lactação, entretanto, não pode ocorrer até que a
        gestação chegue ao seu final. Um dos hormônios da neuro-hipófisc de
        interesse primordial na lactação é a ocitocina. A descida do leite em
        animais sadios deve-se à ação da ocitocina, liberada por via reflexa do
        lóbulo posterior da hipófise, depois que o estímulo da ordenha ou da
        mamada tenha sido desencadeado. O estímulo tátil ou da amamenta-
        ção resulta na transmissão de um impulso nervoso pelo nervo inguinal
        até a medula espinhal e cerebelo. O hipotálamo determina a liberação
350   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

de ocitocina, que segue por ramos das veias ju-          cies quanto à sua aparência e à quantidade rela-
gulares até o coração e de lá é levada para todas        tiva dos componentes secretados. A cadela tem
as partes do corpo através da aorta, chegando às         quatro a cinco glândulas mamarias em cada lado
glândulas pelas artérias pudendas externas, o que        da linha média, que se estendem desde a região
estimula a contração das células miocpiteliais que       ventral do tórax até a região inguinal. Cada teta
envolvem os alvéolos e promove o relaxamento             pode possuir até 20 aberturas distintas, cada uma
do esfíncter do orifício das tetas, forçando assim       correspondendo a um sistema específico de glân-
a ejeção do leite.                                       dulas. De acordo com a sua localização anatómi-
     Segundo o número de glândulas mamarias,             ca, elas são denominadas torácica cranial e cau-
os animais domésticos podem ser classificados cm:        dal, abdominal cranial e caudal e, por fim, inguinal
                                                         (Figura 8.24). Cerca da metade das cadelas não
  • Dimásticos:caprinos, ovinos e equinos (até duas).    possui um dos pares da glândula abdominal cra-
  • P o limas ticos: bovinos (4), carnívoros (6 a 10),   nial. As gatas apresentam quatro pares de glân-
    onívoros (10 a 14).                                  dulas mamarias e a sua nomenclatura é similar à
                                                         usada para cadelas. As éguas possuem um par de
     A glândula mamaria, assim como as glându-           glândulas mamarias. Cada glândula mamaria é di-
las sudoríparas e sebáceas, é uma glândula cutâ-         vidida por cápsulas fibroelásticas que originam dois
nea. Embora seja basicamente similar em todos            ou, ocasionalmente, três lobos mamários. Cada lobo
os mamíferos, há amplas variações entre as espé-         possui uma cisterna e um orifício de teta próprios
                                                         e separados. Dessa forma, cada teta pode possuir
                                                         de duas a três aberturas.
                                                              Antes do exame físico da glândula mamaria, é
                                                         importante que algumas informações sejam conhe-
                                                         cidas, tais como espécie, raça, nome, número, ta-
                                                         tuagem, registro, idade, peso c eventuais particu-
Figura 8.24 - Glândulas mamarias em                      laridades. A anamnese pode ser inquiridora ou es-
cadelas. 1 = torácica cranial; 2 = torácica              pontânea, procurando resgatar todo o histórico
caudal; 3 = abdominal cranial; 4 =                       reprodutivo do animal. Deve-sc, inicialmente:
abdominal caudal; 5 = inguinal.
                                                           • Perguntar quantos partos a fêmea já teve:
                                                             - Nulípara: nunca pariu. — Primtpara:
                                                             um trabalho de parto. - Plurípara:
                                                             vários trabalhos de parto.
                                                           • Perguntar se os partos foram normais ou
                                                             distócicos (parto difícil, laborioso).
                                                           • Cirurgias anteriores ou exames realizados
                                                             (ovariectomia, biópsia, por exemplo).
                                                           • Aparecimento e duração dos sinais clínicos.
                                                           • Se usa ou usou anticoncepcionais.
                                                           • Tratamentos realizados e evolução.


                                                         Exame Físico Específico
Figura 8.25 - Neoplasia mamaria em cadelas.
                                                              O exame físico das glândulas mamarias das
                                                         cadelas, gatas e éguas inicia-se com a inspeção do
                                                         paciente, na tentativa de observar a coloração da
                                                         pele, a presença de lesões, secreções, o número e
                                                         o tamanho das glândulas mamarias e das tetas.
                                                             A cor da glândula mamaria varia com a raça
                                                         da cadela c da gata e depende do número de
                                                         melanócitos, como também do número, do tama-
                                                         nho e da disposição dos grânulos de melanina
Semiologia da Glândula Mamaria de Éguas, Cadelas e Gatas   351



dentro dos melanócitos. A pele da cadela e das                       armazenado. Tal acúmulo é considerado normal
gatas apresenta-se, usualmente, marrom-clara (pale                   na gestação avançada e na lactação. Durante a
ta n) mas pode ter manchas acinzentadas ou ene-                      lactação, na pseudocicsc ou falsa gestação e, às
grecidas. A pele da glândula mamaria das éguas                       vezes, logo após o parto, esse acúmulo pode au-
é invariavelmente escura. O aumento de volume                        mentar a ponto das mamas tornarem-se extrema-
fisiológico das mamas ocorre geralmente nos ca-                      mente quentes e sensíveis à palpação. Kgalactorréta
sos de gestação avançada, por acúmulo de colos-                      diz respeito à lactação não associada a prenhez,
tro, e é mantido durante a lactação. Causas de au-                   sendo o indício mais comum de pseudociese.
mento anormal de tamanho incluem infecção                            Ocorre como resultado da secreção aumentada de
(mamite), abscessos e neoplasia. Qualquer aumento                    prolactina, em virtude do declínio da progcstcro-
de volume é mais bem avaliado com a realização                       na sérica associada ao final do diestro. Em felinos, a
simultânea da palpação, já que se pode dife-                         hiperplasia mamaria caracteriza-se por rápido cres-
renciar um processo inflamatório e/ou infeccioso                     cimento anormal de tecido. É mais comum em
de um outro neoplásico. A palpação é mais bem                        gatas jovens e o seu aspecto lembra uma neopla-
realizada em cadelas e gatas colocando o animal                      sia mamaria, sendo necessária uma avaliação his-
em decúbito lateral (Fig. 8.26), devendo iniciar-                    tológica para se fazer o diagnóstico diferencial entre
se das glândulas "aparentemente" sadias para as                      ambas. Na grande maioria das vezes é indolor à
"visivelmente" alteradas. Todos os pares de glân-                    palpação. A mamite ou mastite c o processo infla-
dulas devem ser palpados. A palpação da glândula                     matório da glândula mamaria, em grande parte,
mamaria de éguas é feita com o clínico posicio-                      de origem infecciosa. É caracterizada por aumento
nado lateralmente ao animal (a uma certa distân-                     de volume, elevação da temperatura local e dor
                                                                     acentuada à palpação. A mastite não é comum em
cia da mama e, obviamente, dos membros poste-
                                                                     cadelas e gatas; quando ocorre, é provavelmente
riores), com uma das mãos no dorso do animal e
                                                                     como sequela de danos traumáticos prévios. O
estendendo o braço da outra mão na direção da
                                                                     quadro está associado à história de parto recente
mama. Por exemplo, se o exame for feito pelo
                                                                     (entre uma e três semanas) e abandono dos filho-
lado esquerdo, a mão esquerda é posicionada sobre
                                                                     tes pela mãe. Na maioria das vezes, acomete apenas
o dorso, enquanto a mão direita é colocada no flanco
                                                                     uma ou duas glândulas e, com maior frequência,
e movimentada lentamente em direção à glân-
                                                                     as de localização abdominal e inguinal, por se-
dula mamaria.
                                                                     rem mais produtivas. No entanto, na forma agu-
     A ausência total de secreção láctea é deno-
                                                                     da, particularmente quando se desenvolve logo
minada de agalaxia; já a galactostasia é o acúmulo
                                                                     após o parto, é comum observar o comprometi-
e cstasc de leite caracterizado por glândulas fir-                   mento de várias mamas. Os microorganismos mais
mes, quentes e edemaciadas. O leite é produzi-                       frequentemente isolados são estreptococos e es-
do mais rápido do que pode ser comodamente                           tafilococos que, na fase aguda, tendem a causar,
                                                                     respectivamente, inflamação supurativa e necro-
                                                                     sante. A avaliação física geral do animal é impor-
                                                                     tante e revelará elevação da temperatura corpo-
                                                                     ral, taquicardia e taquipnéia. A forma crónica pode
                                                                     estar associada a cistos mamários (galactocele) que
                                                                     resultam da obstrução dos duetos acinares. Os
                                                                     processos inflamatórios da glândula mamaria são
                                                                     mais dolorosos ao manuseio que as neoplasias. O
                                                                     leite, ao exame citológico, mostra-se, em geral,
                                                                     purulento ou hemorrágico, com neutrófilos de-
                                                                     generados. O plano diagnóstico também deve
                                                                     incluir cultivo bacteriano e antibiograma do leite
                                                                     alterado.
                                                                           Um outro processo que altera a estrutura da glân-
                                                                     dula mamaria é a neoplasia. De todos os animais
                                                                     domésticos, a cadela é o que apresenta maior inci-
                                                                     dência de tumores. A neoplasia do tecido mamário
Figura 8.26 - Palpação das glândulas mamarias de cadeia.             é uma entidade patológica comum em cadelas com
Ilustração: Médica Veterinária Diane Hama Sassaki
352 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico


mais de cinco anos de idade e corresponde, aproxi-       inguinais e axilares deve ser considerado para que se
madamente, à metade de todos os tumores na ca-           possa detectar eventuais metástases. O plano diagnós-
dela. Embora sejam menos prevalentes em gatas,           tico deve incluir exames radiográficos da região torácica
ainda constituem o terceiro tumor mais comum em          para verificar se há metástase pulmonar. Ainda exis-
felinos. O tamanho é extremamente variável: de           tem controvérsias entre os autores consultados sobre
alguns milímetros a vários centímetros de diâme-         as vantagens e as desvantagens de se proceder a biópsia
tro. Em muitos casos, a condição está presente durante   cirúrgica ou aspirativa (com agulha fina) para o diag-
vários anos como um nódulo pequeno, semelhante           nóstico cito e histopatológico na tentativa de elucidar
a um grão de ervilha, que tende a passar desaperce-      o tipo de tumor.
bido tanto pelo proprietário como pelo veterinário,
até que, de repente, aumenta rapidamente de ta-
manho. Esse aumento está, geralmente, associado          BIBLIOGRAFIA
ao estímulo do estro, e o rápido crescimento neo-
plásico coincide, muitas vezes, com o desenvolvi-        CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. 2.ed.,
mento de lesões metastásicas que se espalham, por           Editora Guanabara Koogan, 1999, p.528. HARDY,
via linfática, aos nódulos linfáticos locais ou pelo     R.M. General physical examination of the canine
sistema cardiovascular para fígado e pulmões. A in-         patient. Veterinary Clinics of North America: Small Animal
cidência de tumores mamários é relativamente baixa          Practice. v.ll, n.3, p.453-67, 1981. KELLY, W.R.
em cadelas castradas antes da manifestação do pri-       Diagnóstico Clínico Veterinário. 3.cd. Rio de
                                                            Janeiro: Interamericana. 1986. p.364. NELSON, R.W.,
meiro cio, mas aumenta progressivamente a partir
                                                         COUTO, C.G. Fundamentos de Medicina
do segundo cio nos animais não operados. Os pro-
                                                            Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Guanabara
prietários quase sempre identificam os tumores ma-
                                                            Koogan, p.465-501, 1992. RADOSTITS, O.M., JOE
mários nos animais, meses antes de recorrerem aos
                                                         MAYHEW, I.G., HOUSTON,
cuidados veterinários, e geralmente relatam que ti-         D.M. Veterinary Clinicai Examination andDiagnosis. W. B.
veram dois ou mais cios. O tamanho dos linfonodos           Saunders, 2000. p.771.
Semiologia da Glândula
Mamaria de Ruminantes
   EDUARDO HARRY BIRGEL




        INTRODUÇÃ
        O
        Em vista da utilização da produção gerada pela glândula mamaria dos
        ruminantes na alimentação humana, revestem-se os estudos de se-
        miologia desse órgão de grande interesse clínico e académico. Pois
        baseados nos resultados do exame clínico do úbere, será tomada uma
        série de medidas para manutenção da produção e para que a matéria-
        prima seja adequada para o consumo do leite in natura ou haja elabo-
        ração de laticínios de excelente qualidade.
             A participação do médico veterinário especializado em clínica de
        bovinos, ou seja, dos buiatras, é fundamental e indispensável na ca-
        deia produtiva de leite c seus produtos manufaturados, desde a pro-
        dução até o consumo, isto é, do balde das fazendas às mesas dos con-
        sumidores. Pode-se afirmar, sem medo de erro ou supervalorização da
        atuação do buiatra, que ele é o elo principal dessa cadeia produtiva, pois
        tanto os erros como o não-atendimento das recomendações feitas pelo
        profissional bem formado são, em geral, fontes de irreparáveis perdas
        económicas, falhas na produção higiénica do leite e produtos lácteos
        sem a necessária qualidade tecnológica e frequentemente causariam
        desarranjo no sistema de manejo e criação dos animais produtores de
        leite. Tais possibilidades tornam necessário o aprimoramento do buiatra,
        em todas as áreas de sua atuação: o atendimento da criação dos bovi-
        nos (manejo e alimentação); a saúde animal (clínicas médica e cirúr-
        gica, como também das doenças infectocontagiosas e parasitárias ou
        relacionadas à reprodução - ginecologia c obstetrícia). Além do mais,
        o buiatra deve ter uma formação que permita não só a recuperação da
        saúde dos bovinos produtores de leite mas, e principalmente, manter
        a saúde dos animais e o nível de produção do rebanho, pois as medi-
        das profiláticas de teor clínico-epidcmiológico só podem ser adequa-
        damente implantadas cm um rebanho após o perfeito diagnóstico dos
        males que acometem os indivíduos que os constituem. Em contrapar-
        tida, caso as decisões do clínico veterinário estejam certas, baseadas
        numa excelente formação profissional, c sendo suas recomendações
        acatadas pelo pecuarista, com certeza o rebanho terá boa produtivida-
        de e o plantei será constituído por indivíduos sadios.
             Nessas considerações iniciais, creio ter ficado claro e explicitado
        de forma definitiva ser fundamental para a saúde e produção do reba-
354   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



nho a perfeita formação do clínico, que dará aten-    sejam obrigados a vender esse produto agrope-
dimento à criação e à saúde dos animais; desse        cuário primário por valores aviltantes. Além do
profissional exigem-se conhecimentos básicos de       mais, os clínicos veterinários, de modo geral, e o
anatomia e fisiologia, alicerçando sua formação em    buiatra, em particular, devem aperfeiçoar seu
Clínica Veterinária, com perfeito conhecimento        conhecimento numa área à qual geralmente se
de suas especializações em medicina veterinária       dá pouca importância: a relação custo/benefício.
interna e externa, patologia das doenças infecto-     Para tanto, esse profissional deve conhecer as des-
contagiosas e parasitárias, bem como da reprodu-      pesas que comportam as técnicas que utilizará no
ção. Associam-se a tais especialidades fortes co-     diagnóstico (necessidade de saber diagnosticar);
nhecimentos de criação, manejo e alimentação          saber o custo e a duração dos tratamentos reco-
animal. Ressalte-se, por sua significativa impor-     mendados (pleno conhecimento das normas te-
tância, que todas essas áreas do conhecimento têm     rapêuticas e capacidade de prognosticar e avaliar
um fundamento ordenador e condutor de atitu-          a evolução das doenças); bem como ter plena cons-
des e decisões: a Semiologia ou Propedêutica Vete-    ciência do valor do animal e de sua produção. Essa
rinária. Essa ciência, por razões epistemológicas,    gama de conhecimentos fundamentais para a boa
por si só se define (pró + pedeutica = ensinar an-    formação profissional do clínico veterinário, es-
tes; e semion + logus = estudo dos sintomas ou ma-    pecialmente do buiatra, servirá para demonstrar,
nifestações) e, assim, poder-se-ia conceituar Se-     de forma incontestável, sua atuação na produção
miologia como conjunto de conhecimentos ne-           animal com produtividade, garantindo o lucro do
cessários e introdutórios para o ensino de uma        pecuarista e demonstrando sua real participação
ciência maior. Por tal razão, a semiologia poderia    na melhoria da produtividade dos rebanhos.
ser considerada uma ciência pré-profissionalizante         Para tanto, o clínico deve se colocar ao lado
cujo ensinamento prepararia a formação do vete-       do pecuarista, pois as corporações - Laboratórios
rinário para o perfeito treinamento em uma ciên-      de Pr odutos Far macêuticos, Cooperativas
cia maior (considerada sua aplicação e uso na saúde   Agropecuárias e Indústrias de Laticínios - sabem
animal), a Clínica Veterinária em suas mais varia-    se defender ou possuem equipe de técnicos que
das especializações.                                  consegue manter em seu poder a maior parte da
     Pelo exposto, fica claro que a semiologia        lucratividade. O clínico veterinário deve se posi-
veterinária é a ciência e arte do exame clínico dos   cionar a respeito e talvez assim se consiga manter
animais doentes ou daqueles que não alcançaram        nos Estados mais desenvolvidos cultural, técnica
adequadamente a perspectiva de sua produção,          e economicamente uma pecuária leiteira de escol
dentro dos limites de seu potencial genético e das    — para desativar o sistema adrede preparado para
normas regionais de criação, manejo e alimenta-       desestruturação dos excelentes planteis de vacas
ção. Além do mais, o ensino da semiologia ou          leiteiras, ainda criados em regiões periféricas das
propedêutica veterinária teria ainda a função de      grandes cidades. Desse modo, poderíamos ter
alertar ou preparar o buiatra para as demandas da     farta oferta de leite integral, estabilizado ou
sociedade, particularmente das populações rurais      homogeneizado e pasteurizado nas próprias
e dos pecuaristas, relacionando saúde animal com      fazendas - leite de excelente qualidade higiénica
os fatorcs económicos, enfatizando a produtivi-       e nutritiva - com o tradicional, mas já esquecido,
dade e seu custo, como também correlacionando,        sabor de leite; ao invés disso, a conjuntura
de forma direta, saúde e produção animal com          económica dominante nos oferece e obriga
saúde pública - atuando no controle das zoonoses      consumir um "leite aguado" do qual se tirou tudo,
ou na inspeção sanitária e tecnologia de produtos     mas que é de longa duração, com sabor que nem
lácteos. Assim, ter-se-ia a possibilidade de a in-    de leve lembra o sabor e agradável aroma do leite
dústria de laticínios oferecer leite higienicamente   puro. Leite que, empacotado, viaja mais de mil
produzido, o que resultaria em produtos de ex-        quilómetros para chegar à mesa do consumidor,
celente qualidade.                                    como salienta a propaganda do produto - que
     No caso específico da produção leiteira, o       esquece de dizer o que se perdeu cm termos de
clínico veterinário com a ideal formação em se-       matéria-prima neste percurso. Talvez por isso,
miologia deve propugnar para que a produção de        como falsa compensação, a esse leite transforma-
leite seja consumida pela população com preços        do adiciona-se inúmeras e desnecessárias subs-
aceitáveis para seu poder aquisitivo, mas não         tâncias — vitaminas, minerais, aminoácidos etc. E
permitindo que os criadores de bovinos leiteiros      o consumidor, por comodismo, compra esse pró-
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   355



duto contemptível c, em consequência, são               ideais de higiene; b) apenas o leite higiénico
desativados inúmeros laticínios das pequenas e          permite a produção de laticínios de excelente
médias cidades, encerrando a atividade de vários        qualidade, obedecendo a um adágio profissional
planteis produtores de leite, com a consequente         - "nenhuma tecnologia que manipula ou indus-
diminuição da atividade autónoma dos buiatras.          trializa produtos de origem animal melhora a
Assim, cabe ao clínico a responsabilidade de pro-       qualidade da matéria-prima; quando essa técnica
pagar e divulgar as qualidades do leite pasteuri-       for de excelente nível, apenas não altera a quali-
zado e integral, aceitando apenas sua homo-             dade e propriedades primitivas do produto"; c) a
geneização e ao desejo do consumidor para dimi-         criação de ruminantes leiteiros saudáveis e a
nuir seu teor de gordura. Pois, dessa forma, atuará     dedicação dos criadores na produção de leite hi-
eficientemente na defesa da saúde pública ao            giénico resultam em maior produção e melhores
oferecer e recomendar o consumo de matéria-prima        resultados económicos, além de cfetiva partici-
fundamental para boa alimentação e nutrição das         pação no equacionamento da Saúde Pública.
populações, em detrimento de produtos indus-                 Leite anti-higiênico. Representa a antítese do
trializados e sem as desejadas qualidades.              leite que, em condições ideais, deveria ser distri-
     Por tais razões, associadas à necessidade de       buído para ser consumido pelas populações.
diferenciar as características fisiológicas do leite,   Quanto às suas qualidades, esse tipo de leite
daqueles anormais por condições patológicas es-         poderia variar de sofrível a péssimo. Essa gradação,
pecíficas da mama ou por razões de produção             após avaliação sanitária competente, recomenda-
leiteira em condições não higiénicas, iniciaremos       rá o uso do produto: consumo, industrialização ou
esse capítulo de semiologia da glândula mamaria         descarte, por serem inadequadas as duas possibi-
diferenciando conceitualmente leite mamitoso do         lidades anteriores. Qualquer que seja o nível de
leite produzido em condições anti-higiênicas. Pois      qualificação do leite anti-higiênico, um fato é in-
                                                        contestável: ele foi produzido, manipulado e/ou
dessa diferenciação dependerá, em muitas circuns-
                                                        industrializado em condições higiênico-sanitárias
tâncias, o diagnóstico nosológico da enfermidade
                                                        inadequadas e indesejáveis. Houve falha na criação,
da glândula mamaria.
                                                        no manejo da ordenha c na conservação pre-
                                                        liminar do leite c as condições sanitárias do reba-
                                                        nho deveriam ser reavaliadas por um clínico ve-
Características Higiênico-                              terinário competente.
organolépticas do Leite                                      Leite mamitoso. Essa designação serve para
                                                        caracterizar as amostras de leite obtidas de ani-
     Para a liberação do leite produzido em planteis    mais leiteiros acometidos por uma das formas
de bovinos e caprinos para o consumo humano,            clínicas de mamites, isto é, no caso particular das
ele deverá apresentar características organolépticas    considerações desse trabalho, de vacas e cabras
smgeneris e ser gerado, manipulado, manufatura-         acometidas por um processo inflamatório das
do e/ou industrializado, da produção ao consumo,        estruturas anatómicas do úbere - todos passíveis
em condições higiênico-sanitárias ideais. Dentro        de um adequado diagnóstico clínico.
desse conceito pode-se afirmar a existência de três
tipos de leite: higiénico, anti-higiênico e mamitoso.   Inter-relação entre Leite
     Leite higiénico. É aquele produzido em condi-
                                                        Higiénico e Leite Mamitoso
ções ideais, por vacas e cabras saudáveis, subme-
tidas a manejos adequados de criação e alimenta-             A correlação entre esses dois tipos de leite é
ção, bem como com cuidados especiais no siste-          imediata, pois o leite mamitoso nunca poderá ser
ma de ordenha e conservação do leite produzido          considerado higienicamente produzido. Além do
(cuidados higiénicos nos momentos que antece-           mais, quando ele é adicionado e misturado a outras
dem e sucedem a ordenha e adequada tecnologia           quantidades de leite higiénico, alterará a quali-
da ordenha - manual ou mecânica). Pelo expos-           dade e a constituição da mistura homogeneizada,
to, o conceito de leite higiénico está entre os         tornando, na maioria das vezes, esse leite de
objetivos da Saúde Pública e da Produção Eco-           mistura inadequado para o consumo in natura ou
nómica de Alimentos de Origem Animal, pois: a)          para a produção de excelentes laticínios. Entre-
a população deve receber, para consumo, leite in        tanto, apesar da correlação ser imediata, para o
natura, produzido e industrializado em condições        leite mamitoso, que sempre deve ser considerado
356   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



um leite não produzido em condições higiénicas              tão definitivamente estabelecidos, neste epítome
ideais, o leite de produção anti-higiênica nem sem-         apresentaremos as dúvidas existentes e faremos
pre é ou deve ser considerado leite mamitoso.               as recomendações consideradas mais pertinentes
Existem, como se deduz, diferenças fundamen-                para o clínico no exercício de sua profissão.
tais, evidentes e facilmente diagnosticáveis por                As enfermidades da glândula mamaria são
minucioso exame semiológico entre os dois tipos            responsáveis por enormes perdas económicas e,
de leite considerados.                                     mesmo não sendo uma das características da ciên-
                                                           cia brasileira a exatidão das estatísticas vitais, já na
                                                           década de 1950, Renato Lopes Leão1, presidente
Conhecimentos Prévios                                      da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária,
                                                           afirmara que entre 20 e 40% dos efetivos dos re-
Necessários para Estudos                                   banhos leiteiros sofriam, constantemente, de
Semiológicos da Glândula                                   mamites e que, nos Estados Unidos, essa doença
                                                           fora considerada inimiga n2 l da produção leiteira.
Mamaria                                                    Paradoxalmente, a ciência e as técnicas veteriná-
      O ensino da Semiologia, em geral ou em um            rias evoluíram de forma marcante, mas, ainda hoje,
órgão ou sistema orgânico específico dos animais do-       esses números se repetem e dá-se às mamites o
mésticos, deve preparar os clínicos veterinários para      mesmo destaque. Assim sendo, na evolução da
responderem quatro questões fundamentais (Onde?,           postura deste capítulo, ficará claro que as técnicas e
O quê?, Por que? e Como?). Os compêndios de Se-            manobras de semiotécnica, clínica propedêutica
miologia ou Propedêutica Clínica devem apresen-            e patologia médica da glândula mamaria visaram a
tar, em seus capítulos, um preâmbulo sumarizado e          preparar o estudante e o médico veterinário para
objetivo da anatomia topo-descritiva, da fisiologia        que possam dar excelente atendimento às búfalas
ou fisiopatologia e, quando pertinente, de anato-          ou vacas acometidas por uma forma clínica de
mia patológica - principalmente patologia médica           mamite (as demais doenças da mama, apesar de
dos temas em questão, detalhando ao final as con-          sua importância e significado em patologia e pro-
siderações de scmiotécnica e de clínica propedêu-          dução animal, serão consideradas fatores etiológi-
tica. Assim, as questões preestabelecidas serão ade-       cos predisponentes às mamites).
quadamente respondidas: Onde examinar?, pela re-                A melhor colocação e situação do ensino da
capitulação objetiva de anatomia descritiva e topo-        semiologia e/ou patologia da glândula mamaria é
gráfica; O que examinar*., pelo destaque dos conhe-        um assunto que ainda não foi definitivamente
cimentos fundamentais da fisiologia nos animais            elucidado. Para alguns tratadistas clássicos da Me-
sadios e pelas informações de fisiopatologia para ana-     dicina Veterinária, comoSisson &Grossman (1953),
lisar a função de órgãos ou sistemas comprometidos         Lesbories (1955), Leinati (1955) e Fincher (1956),
por alguma enfermidade; Por que examinará, o co-           o estudo da glândula mamaria far-se-ia em con-
nhecimento de patologia médica dos males que afli-         junto ou como item anexo aos estudos do apare-
gem os animais orientam o clínico - alertado pelo          lho genital, quer seja em seus aspectos morfoló-
proprietário do paciente sobre a necessidade de ser        gicos, fisiológicos, semiológicos e patológicos. Esses
submetido a exame clínico (obedecendo aos mo-              autores associaram a glândula mamaria ao apare-
dernos conceitos da Semiologia Veterinária, o ani-         lho genital feminino, pois sua função estaria in-
mal que não alcançar o nível programado de produ-          timamente relacionada à gestação e ao parto, es-
ção - no caso, de leite, deve ser submetido a              tando, ainda, a indução e a manutenção da lacta-
elucidativo exame clínico) e; finalmente, Como exa-        ção diretamente ligadas aos hormônios da esfera
minar.', fulcro da Semiologia Veterinária - arte e ciên-   sexual. Além do mais, a secreção láctea será uti-
cia do exame clínico dos animais. Portanto, esse úl-       lizada na alimentação do rebento das matrizes pro-
timo item será o objetivo especial deste capítulo.         dutoras de leite ou de carne. Outros autores, des-
                                                           tacando os histologistas, estudam a glândula ma-
                                                           maria em conjunto, no capítulo sobre "Semiolo-
                                                           gia da pele"; finalmente, alguns como Kolb (1980),
SÚMULA DA MORFOLOGIA DA                                    em seu tratado sobre "Fisiologia Veterinária", deu
GLÂNDULA MAMARIA                                           destaque à fisiologia da glândula mamaria, atri-
                                                           buindo-lhe um capítulo independente e isolado,
Apesar de aparentemente se julgar que os estu-             como se faz na presente publicação.
dos básicos e estáticos da glândula mamaria es-
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes             357



     Mas para Costa & Chaves (1949), o ensino da                    lado o teto, consequentemente ocorrendo a ere-
histologia da glândula mamaria deveria ser incluí-                  ção do teto, o que facilita a ordenha (ver Fig. 8.29).
do no capítulo dedicado ao estudo da pele e ane-                         Ductus papillarís. O canal do teto é curto e
xos, em face de sua origem embrionária na crista                    irregular, mais estreito em sua extremidade dis-
mamaria do espessamento epiblástico. Além do                        tai. O orifício do teto tem inúmeras particulari-
mais, destacaram que, segundo conceitos histoló-                    dades anatómicas que impedem a penetração das
gicos, o órgão, que habitualmente é designado por                   bactérias na cisterna do teto. O epitélio escamo-
glândula mamaria, deveria ser considerado como                      so de dupla camada do sinus papillarís pode so-
um aglomerado de glândulas elementares e não                        frer estratificações por estresse da ordenha ou por
como um órgão unitário. Essas glândulas elemen-                     reação a lesões de diferentes origens, determinando
tares, histomorfologicamente, podem ser classifi-                   o desenvolvimento de tecido fibroso cicatricial,
cadas como tubuloacinosas compostas com tipo                        com projeções para o lume da cisterna, podendo
secretório holomerócrino ou apócrino, separadas por                 até obstruí-la.
abundante tecido conjuntivo (ver Figs. 8.27 e 8.28).                     Sinus lactiferous. A cisterna da glândula mamaria
     Ressalte-se, entretanto, que outros autores de                 tem volume de variada magnitude, na dependên-
compêndios especialistas em morfofisiologia:                        cia da constituição racial, podendo ser uma cavi-
anatomistas (Sisson & Grossman, 1953), histologistas                dade simples e ampla ou subdividir-se por pregas
(Maximow & Bloom, 1952, Junqueira & Carnei-                         e membranas, constituindo, então, múltiplas cavi-
ro, 1982) e fisiologistas (Kolb, 1980) consideram a                 dades. O epitélio de revestimento também é for-
estrutura da glândula mamaria como tubuloalveolar.                  mado por células dispostas em duas camadas.
     As diferentes estruturas da glândula mama-                          Na cisterna da glândula, abrem-se entre 8 e
ria apresentam inúmeras configurações histoló-                      12 duetos galactóforos, que provêm do parênqui-
gicas que merecem destaque e serão detalhadas
a seguir.
     Tetos. A parede das papilas da glândula mama-
ria dos bovinos é delgada e sua epiderme é des-
provida de pêlos e de glândulas; entretanto, inter-
namente tem um plexo vascular que se preenche
de sangue, aumentando a pressão quando estimu-




                                                                    Figura 8.28 - Célula secretora da glândula mamaria: re-
                                                                    presentação esquemática da imagem em microscopia ele-trônica.
Figura 8.27 - Estrutura de um ácino da glândula mamaria:            1 = gotículas de gordura com resquícios celulares; 2 = glóbulos
representação esquemática. A = artéria; B = célula mioepi-telial;   de gordura; 3 = grânulos de proteína; 4 = microvilosidades;
C = capilares; D = células secretoras; E = duto galac-tóforo        5 = junções celulares; 6. mitocôndrias; 7 = ribossomos; 8 = retículo
terminal; F = fibras musculares; C = duto galactó-foro              endoplasmático; 9 = células mioepiteliais; 10 = membrana basal;
interlobular.                                                       11 = núcleo celular.
358   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



                                        BC                           do, nos casos mais graves, observar-se a atrofia e
                                                                     endurecimento da glândula.
                                                                          Na regressão do parênquima glandular pós-
                                                                     lactação, reduz-se o número de alvéolos/ácinos,
                                                                     permanecendo apenas o sistema galactóforo e
                                                                     lóbulos de tecido adiposo. Todavia, algumas es-
                                                                     truturas secretoras permanecem, porém perdem,
                                                                     nessas oportunidades, a capacidade secretora e
                                                                     eventualmente retornam em atividade na próxi-
                                                                     ma lactação, produzindo colostro. Condição nor-
                                                                     mal e fisiológica das vacas leiteiras é a de produ-
                                                                     zirem mais leite na segunda lactação que na pri-
                                                                     meira, pois um maior número de unidades secre-
                                                                     toras entra cm atividade. O potencial máximo de
                                                                     produção láctea será alcançado, em termos médios,
                                             f                       na 5a ou 6a lactação.

Figura 8.29 - Esquema do arcabouço da mama. A = lóbulo e
ácinos glandulares (aumentados); B = veia; C = artéria; D =          Anatomia da Glândula Mamaria
lobos glandulares; E = cortes de ácinos; F = células secretoras; G
= membrana basal e vasos sanguíneos; H = células secretoras e             A glândula mamaria dos bovinos ainda será
glóbulos de gordura; l e J = capilares; K = circulação sanguínea     considerada neste item do capítulo como padrão
do teto.
                                                                     de referência, mencionando especificações em
                                                                     outras espécies animais, se estas se fizerem ne-
ma glandular. Esses duetos são mantidos em                           cessárias.
                                                                          Na escala zoológica, os animais mamíferos,
posição pelo tecido conjuntivo que forma o estroma
                                                                     ou seja, aqueles incluídos na classe Mammalia,
da glândula, revestidos internamente por epité-
lio de dupla camada celular e circundados por                        difercnciam-se pelo tipo e características de suas
musculatura lisa e tecido conjuntivo elástico sem,                   glândulas mamarias, órgãos secretores fundamen-
entretanto, formar uma estrutura de esfíncter.                       tais para o desenvolvimento dos recém-nascidos
     Sistema ácino-lobular ou alvéolo-tubular. O te-                 em diferentes estágios de maturidade. Nessa
cido secretor constitui a maior parte do parênquima                  evolução zoológica, existem variados tipos de
glandular, que se divide em lobos, formado por                       mamas e maneiras dos lactentes mamarem ou se
                                                                     alimentarem da secreção das fêmeas lactantes. Essa
vários lóbulos. Os duetos interlobulares permeiam
o tecido conjuntivo do estroma entre lóbulos glan-                   variação compreende tanto as glândulas mama-
dulares, dando origem aos duetos intralobularcs,                     rias mais complexas vistas nos mamíferos supe-
                                                                     riores quanto as formas mais primitivas e rudi-
que atingem os duetos terminais e os ácinos/al-
véolos secretores. Os ácinos, para alguns                            mentares de glândulas mamarias, descritas nos ma-
histologistas ou os alvéolos, segundo outros, apre-                  míferos da ordem Monotremata, cujos géneros
sentam apenas uma camada de células cúbicas,                         Ormthorhynchus e Rquidna (Tachyglossus aculeatus]
                                                                     botam ovos. Esses ovos são colocados numa bol-
que se achatam sob a ação do aumento da pres-
são do leite secretado. O tecido conjuntivo do                       sa diferente daquela dos marsupiais, onde um par
estroma da glândula entre alvéolos/ácinos contí-                     de glândulas mamarias com cerca de 120 tubos
                                                                     galactóforos abrem-se, separadamente, na base de
guos é frouxo na glândula sadia com lactação em
condições normais. Ressalta-se que, nesse tecido                     longos pêlos mamários que, umedecidos, alimen-
conjuntivo, distribuem-se capilares sanguíneos,                      tarão os filhotes. Nessa evolução, passa-se por
fibras reticulares e células mioepiteliais. Durante                  formas observadas em animais da subclasse
a involução da glândula mamaria, na fase pós-                        Metaterianos, mamíferos desprovidos de placen-
lactação, ocorre retração do tecido glandular, sendo                 ta, onde se destaca a ordem Marsupia/ia, com des-
                                                                     taque à família Didephidae, com animais portado-
por isso mais perceptível o estroma glandular nas
vacas secas. Nos processos inflamatórios, o estroma                  res de bolsas (Marsupium). Esses animais nascem
reage às ações irritantes com proliferação celular                   imaturos, mas com vivacidade suficiente para se
e formação de tecido fibroso cicatricial, poden-                     transferirem para a bolsa e se fixarem de forma
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   359



permanente ou não a um par de glândulas ma-                 mamarias, assim designadas: anteriores e poste-
marias ali localizadas.                                     riores direita e esquerda. Nos pequenos ruminan-
     O grau máximo de evolução c desenvolvimento            tes, cabras e ovelhas, o úbere é constituído por
da glândula mamaria é observado na ordem                    duas glândulas mamarias, usualmente designadas
Mammafía, cujas fêmeas geram seus rebentos no               por metades - esquerda ou direita.
útero, envoltos por uma placenta verdadeira. Es-                 Destaque-se que, frequentemente, se obser-
ses animais podem ser classificados pelo número             vam nas vacas e mais raramente nos demais rumi-
de glândulas mamarias cm bimásticos oupo/imásficos,         nantes domésticos glândulas mamarias ou tetos
tendo respectivamente um ou vários pares de glân-           supranumerários ou acessórios. As quatro glându-
dulas mamarias. Ainda em diferentes espécies de             las mamarias das vacas, anatómica e funcionalmente
animais mamíferos, é característica específica o local      independentes, apresentam a separação entre
e a distribuição das glândulas mamarias: peitorais,         quartos contralaterais, formada por lâmina de te-
inguinais e na linha abdominotorácica. Tal distri-          cido fibroelástico, constituindo o ligamento mé-
buição é detalhada na Tabela 8.2.                           dio do órgão, responsável por sua fixação na linha
                                                            branca abdominal. Não existe, entretanto, uma es-
Anatomia da Glândula Mamaria dos Bovinos                    trutura anatómica definida separando os quartos
                                                            anteriores dos posteriores (Figs. 8.29 e 8.36).
     Para o perfeito estabelecimento de normas
semiológicas do exame clínico da glândula ma-               Forma e Volume da Glândula Mamaria
maria, c necessário, inicialmente, firmar o con-
ceito do úbere, como recomendado por Cecililia                   A glândula mamaria dos animais domésticos
(1956): nas vacas (também nas búfalas), o úbere             apresenta particularidades anatómicas relaciona-
é constituído por quatro glândulas mamarias (dois           das à forma e tamanho que dependem de inúme-
pares) independentes morfológica e funcionalmen-            ros fatores, intrínsecos e extrínsecos, como: es-
te, localizadas na região inguinal. Com essa con-           pécie e raça animal, idade, constituição individual
ceituação, ficam claras e bem definidas as roti-            e condições de manejo leiteiro, alimentação e
neiras denominações que se referem a uma glân-              criação, além das condições de sanidade do pró-
dula mamaria, chamando-a de "quarto" - o ter-               prio órgão. De modo geral, tomando como exem-
mo refere-se a um quarto do úbere ou da mama,               plo um animal de produção, pode-se dizer que
considerando-a formada por quatro glândulas                 nos bovinos o úbere pesa entre 11 e 15 quilogra-


  Tabela 8.2 - Número e localização das glândulas mamarias em animais domésticos e selvagens.
8 sistema reprodutor
8 sistema reprodutor
UJ
                                                                                                                                                                                    Ol
                                                                                                                                                                                    M

                                                                                                                                                                                    i/i
                                                                                                                                                                                    (í
                                                                                                                                                                                    3



                                                                                                                                                                                    <D
                                                                                                                                                                                    2

  Tabela 8.3 - Características anatómicas da glândula mamaria dos animais domésticos.                                                                                               5'

E
aracterísticas                     Vaca              Búfala            Cabra        "~~~~ — B|i|ii|i|P||i                   Porca           Cadela           Gata         j
   a glândula mamánJH
                                                                                                                                                                              4     CL
                                                                                                                                                                                    O
 Número de glândulas                      4             4                 2                    2                2             10-12             8-12             8
                                                                                                                                                                                    EU
 Forma da glândula                 Hemisférica     Hemisférica         Cónica             Hemisférica       Hemisférica      Ovóide           Ovóide         Ovóide                 «a
 Forma do teto                     Cilíndrico         Cónico           Cónico              Cilíndrico         Cónico         Carnoso          Carnoso        Carnoso
 Número de orifícios do teto              1             1                 1                    1                2               3                5-8           4-7
 Número de duetos                     5-20              —                6-9                   6                —               —                —              —
 galactóforos na cisterna
 da glândula
 Observações                        Produção         Produção          Produção          Produção para as   Cisterna da      2 glândulas       Papila da    Ausência de
                                   económica        económica         económica         crias. Em algumas    glândula      abdominais e      glândula em     glândulas
                                     de leite         de leite          de leite        regiões, produção    dividida.     1-2 inguinais       forma de      inguinais
                                                                                          económica de       Produção     mais desenvol-      mamelão,
                                                                                                leite        para cria     vidas. Produ-        possuem
                                                                                                                           ção para cria,   auréola como
                                                                                                                          com reflexo da     nos primatas
                                                                                                                            sucção (cada
                                                                                                                           leitão tem seu
                                                                                                                              teto para
                                                                                                                                                                              ,,i
                                                                                                                               mamar)
l
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes              363



nal, em condições ideais, o órgão deve apresen-
tar uma excelente estrutura para sua fixação na
parede abdominal (Fig. 8.35). Essa condição é con-
                                                                                                   Ligamento médio
siderada fundamental para a criação e seleção das                                                            (Elástico)
vacas leiteiras, pois a frouxidão dessa fixação faz
com que o úbere se aproxime do solo facilitando
a ocorrência de traumatismos (mama pêndula).
     Entre os ligamentos suspensores da glându-
la mamaria dos bovinos, cabe destacar os seguin-
tes (Fig. 8.36).
     Ligamento suspensor lateral da mama (Fig. 8.37).
Esse ligamento tem origem no tendão subpélvico,
projetando-se para as duas porções laterais do úbere.
Nessa distribuição, subdivide-se em duas cama-
das: a superficial e a profunda, que se unirão distal-
mente ao ligamento médio. A constituição desse
ligamento é fibrosa.


                                                                                                 Ligamento lateral
                                                                                                      (Fibroso)
                                                                                          Mama repleta de leite

                                                                           Figura 8.37 - Ligamentos suspensores da glândula mamaria: úbere
                                                                           com pequena quantidade de leite (tetos com posição simétrica e
                                                                Púbis      paralela); úbere repleto de leite (boa extensão do ligamento elástico
                                                                           medial) tetos simétricos com divergência, sem se aproximarem
                                                                           do solo.



                                                                                Ligamento médio. Esse ligamento formado por
                                                                           tecido conjuntivo elástico divide o úbere em duas
                                                                           porções: glândulas anterior e posterior direitas e
                                                                           glândulas mamarias anterior e posterior esquer-
                                                                           das. Esse ligamento se insere na linha branca do
                                                                           abdome e, por sua constituição elástica, permite
                                                                           o abaixamento da glândula mamaria, quando re-
                                                                           pleta de leite, mas por ação contrabalanceada com
                                                                           a dos ligamentos laterais, pouco extensíveis, ocor-
                                                                           re a maior divergência dos tetos, não permitindo
                                                                           suas aproximações do solo.
                                                                                Cordões conjuntivos. Esses cordões se locali-
                                                                           zam na superfície dorsal da mama, fixando-a à
                                                                           parede do abdome.
                                                                                Faseia superficial. Essa estrutura é formada pelo
                                                                           tecido conjuntivo que reveste as glândulas mama-
                                                                           rias e suportam o peso do úbere de forma difusa.
                                                                                Pele. Na realidade, a maior função da pele
                                                                           relaciona-se à proteção do parênquima glandular
                                                                           e à de recepção de estímulos; entretanto, não se
Figura 8.36 - Implantação e suspensão da glândula mamaria da
                                                                           pode negar e menosprezar sua ação suspensora e
vaca. Corte transversal na 4 a vértebra sacral - vista posterior, a = 4-   fixadora do úbere.
vértebra sacral; b = intestino grosso - reto; c = vagina e vesícula
urinária; d = músculo reto interno; e = bainha lateral do
tendão subpélvico; f = músculo semimembranoso; g = glândula
                                                                           Estruturas Internas da Glândula Mamaria
mamaria posterior esquerda; h = bainha medial do tendão                         As estruturas anatómicas internas da glân-
subpélvico. 1 = ligamento la teral da glândula mamaria
                                                                           dula mamaria serão detalhadas considerando-
(fibroso); 2 = ligamento medial da glândula mamaria (elástico)
(Fig. 8.37).                                                               se, como padrão de referência, a vaca, pois a maio-
364   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



 ria das considerações se equivale nas várias es-
 pécies de animais domésticos. Quando houver
 necessidade, far-se-ão detalhamentos específicos
 (Figs. 8.38 e 8.39).
      Ductuspapillaris. O conduto do orifício do teto
tem entre 5 e 13mm de comprimento. Seu epité-
lio de revestimento é secretor de muco que con-
tribui para o perfeito fechamento desse conduto,
impedindo a penetração de bactérias para o inte-
rior das cavidades da glândula. O diâmetro do
conduto papilar é irregular, variando entre 0,40 e
0,77mm, sendo esse dueto delineado por um con-
junto de fibras musculares lisas, dispostas em sen-
tido longitudinal e circundadas por feixes circula-
res de músculo estriado, formando um verdadeiro
esfíncter, cuja contração determina a hermética                   Figura 8.39 - Estruturas internas das cavidades da glândula
oclusão do ductus papillaris. Na porção proximal                  mamaria. (A) 1 = sinusgalactoforous; 2 = divisória das duas
do orifício do teto, que apresenta o maior diâme-                 cisternas, onde se abrem delicados lóbulos glandulares produtores
tro, ocorre o pregueamento do epitélio de revesti-                de leite; 3 = anel de Fúrstenberger (às vezes obstruídos por
                                                                  membrana fibrosa); 4 = localização da prega de Fúrstenberger; 5
mento interno, formando a prega de Fúrstenberger
                                                                  = ductus papillaris e orifício externo do teto. (B) 5 = Detalhe
que, supostamente, atuaria como uma válvula, re-                  do ductus papillaris.
forçando o fechamento do orifício.
     Sinuspapillaris. A cavidade ou cisterna do teto
tem capacidade para conter de 30 a 40mL de leite,                 ou seja, o volume correspondente ao retirado por
                                                                  uma das pressões exercidas durante a ordenha. De
                                                                  modo geral, a forma do teto é cilíndrica, com capa-
                                                                  cidade de creção quando excitado; essa forma
                                                                  modifica-se segundo características da espécie
                                                                  (cónico nos zebuínos), das raças (menores no gado
                                                                  Jersey), da idade (maiores nas vacas mais velhas)
                                                                  e em condições anormais, consequentes a distúrbios
                                                                  constitucionais hereditários ou congénitos e adqui-
                                                                  ridos (tetos carnosos, longos, dilatados, etc.).
                                                                       Apesar do tecido epitelial de revestimento
                                                                  interno da cisterna do teto não formar longas pregas
                                                                  ou verdadeiras bolsas, há possibilidade de se
                                                                  encontrarem cristas epiteliais ou mesmo a formação
                                                                  de membranas, como ocorre em algumas circuns-
                                                                  tâncias na região divisória entre as cisternas do
                                                                  teto e da glândula (sinus galactoforous). A perma-
                                                                  nência dessa membrana impede, por obstrução,
                                                                  a descida do leite e o preenchimento da cisterna
                                                                  do teto. Tal evento é observado na primeira lacta-
                                                                  ção, quando pode ser diagnosticada, devendo então
                                                                  ser rompida, permitindo que a novilha recém-
                                                                  parida seja ordenhada.
                                                                       No espaço de separação das duas cisternas,
                                                                  observa-se a abertura de glândulas mamarias aces-
Figura 8.38 - Estruturas anatómicas internas da glândula
mamaria de vaca. Corte transversal. 1 = parênquima da glândula
                                                                  sórias, fazendo saliências no epitélio de revesti-
mamaria; 2 = sinusgalactoforous;3 = sinuspapillaris; 4 = ductus   mento. Nas vacas, essas observações se manifes-
papillaris; 5 = seio - sulco intramamário; 6 = ligamento medial   tam pela visualização de pequenas elevações do
(fibroelástico); 7 = tecido adiposo; 8 = revestimento cutâneo.    derma; porém, em vacas, as aberturas dessas glân-
                                                                  dulas acessórias se acompanham de grande quan-
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   365



 tidade de tecido secretor, podendo ser acometi-         quartos direitos e quartos esquerdos. Ao penetra-
 das por processos inflamatórios infecciosos ou dar      rem no úbere, as artérias passam a se denominar
 origem a cistos de retenção ou mesmo abscessos.         artérias mamarias e se dividem em ramos craniais
      Nos processos inflamatórios do tecido epite-       e caudais. Em seguida, esses ramos se subdividem
lial de revestimento interno da cisterna do teto,        inúmeras vezes, originando vasto sistema capilar,
há intensa proliferação e crescimento exuberan-          que atinge todas as estruturas anatómicas da glân-
te de tecido fíbrocicatricial que, às vezes, atua como   dula mamaria. Outra possibilidade de irrigação da
válvula, dificultando a ordenha ou forma cordões         mama é pela artéria perineal. A parede dos tetos,
de espessamento de consistência firme passível de        apesar de delgada, apresenta desenvolvido plexo
ser detectado por palpação (cisternite).                 vascular, formando anel ao redor do ponto de in-
     Sinas lactiferous. A denominada cisterna da glân-   serção da base do teto na cisterna da glândula.
dula ou do leite corresponde à cavidade dilatada,             O sistema venoso forma um plexo na base
única ou múltipla, localizada acima e em contato         do úbere - na faseia entre a glândula e a parede
direto com a cavidade do teto. Pode conter entre         abdominal, que deverá receber a maior parte do
100 e 400mL de leite, na dependência da produção         sangue circulante das quatro glândulas. Esse plexo
láctea da vaca. Nessa cavidade, desembocam entre         se estende anteriormente, dos dois lados nas veias
8 e 12 ou, mais raramente, 20 condutos galactóforos,     abdominais subcutâneas que emergem do ponto
que veiculam o leite produzido nos alvéolos              localizado na parede abdominal na base da mama,
secretores. A partir da cavidade ou sinus galactoforo,   e se dirige anteriormente para penetrar na cavi-
os duetos principais se dicotomizam, formando uma        dade torácica, em local próximo ao apêndice xi-
verdadeira rede de túbulos galactóforos, finalizan-      fóide do osso externo, transformando-se na veia
do-se os duetos terminais nos alvéolos ou ácinos se-     torácica interna para fixar-se na veia cava ante-
cretores de leite. A estrutura anatómica dos duetos      rior. Esse mesmo plexo circulatório se estende pos-
galactoforous principais e secundários dá à glândula     teriormente, formando outra via de circulação do
mamaria uma condição especial de preenchimento           sangue venoso do úbere, representado pelas vei-
e de reserva de leite produzido entre duas orde-         as pudendas externas. Por esses vasos, o maior
nhas: a glândula mamaria preenche, inicialmente,         volume de sangue circulante do úbere deixa o
suas porções dorsais, ou seja, os duetos que se loca-    órgão, passando pelo canal inguinal, tendo traje-
lizam próximo às unidades secretoras e, finalmen-        to paralelo às artérias, convergindo para a veia cava
te, as cisternas do teto e da glândula.                  anterior, pela veia ilíaca externa.
                                                              Finalmente, o terceiro sistema venoso capaci-
                                                         tado a circular o sangue venoso do úbere é repre-
Circulação Sanguínea da Glândula Mamaria                 sentado pelas veias perineais. Extraordinariamen-
     Os bovinos especializados para a produção lei-      te, em algumas vacas, é único para as duas metades
teira, para manterem essa produção, devem apre-          do úbere. Essa veia se dirige em sentido dorsal e,
sentar um sistema vascular desenvolvido e que            sobre o ísquio, une-se à veia pudenda interna.
permita intensa circulação nas várias porções cons-           A distribuição do sistema vascular venoso do
tituintes do úbere (Tabela 8.4). Para que uma vaca       úbere, havendo um fluxo interno (veia pudenda
produza l litro de leite, deve receber no sistema        externa e veia perineal) e outro externo (veia abdo-
circulatório da mama aporte de 300 a 400 litros          minal superficial), impossibilita a ocorrência de
de sangue. Fisiologistas como Scheunert e cols.          distúrbios circulatórios quando a vaca lactante se
(1942) destacaram que a circulação sanguínea na          deita por longo período sobre a mama e a veia
                                                         abdominal superficial.
mama é mais lenta que a observada na glândula
                                                              Tanto o fluxo de circulação sanguínea como a
salivar, sendo no úbere o sistema venoso mais de-
                                                         pressão sanguínea do sistema vascular do úbere
senvolvido que o arterial (50 a 100 vezes); assim,
                                                         apresentam variações na dependência da ordenha
teria pressão sanguínea menor - assemelhando-
                                                         c da retenção de leite na mama: 1. a ordenha com
se àquela dos grandes vasos da base do coração.
                                                         retirada do leite acumulado, por mecanismo refle-
     O sangue arterial que irriga a glândula mama-
                                                         xo, aumenta o fluxo sanguíneo nas glândulas ma-
ria emana das artérias do tronco pudendo-epigás-         marias; 2. o aumento da pressão intramamária por
trico, procedente da artéria femoral. As artérias        retenção do leite nas cisternas e duetos galactóforos
pudendas externas atravessam o anel inguinal e           da mama determina aumento da pressão sanguí-
cada uma se dirige para um dos lados do úbere -          nea do sistema vascular (20 a 40mmHg).
366   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



Sistema Linfático do Úbere                                     No ciclo secretor de leite, uma vaca de 550kg
                                                          de peso vivo, produzindo 30L/dia de leite, com
     Nas vacas, o sistema linfático centraliza-se nos     3,7g% de gordura, 4,8g% de lactose e 3,3g% de
linfonodos retromamários ou inguinais superfi-            proteína total, tem uma necessidade energética
ciais, localizados na base dos quartos posteriores        de 48.000Kcal* (Kolb, 1980).
da mama. Na maioria das vezes são representa-                  As características físicas e organolépticas do
dos por um par de linfonodos, em forma de dis-            leite são dadas por sua constituição química. A
co, com cerca de 7cm de diâmetro; raramente, essas        cor branca é determinada por pigmentos liposso-
unidades são subdivididas em 3 a 7 unidades. À            lúveis e a opacidade c uma consequência da pre-
medida que aumentam em número, diminuem                   sença abundante de corpúsculos de gordura, pois
em tamanho. Esse sistema linfático nodular dre-           ImL de leite possui 2 a 6 bilhões desses corpús-
na a linfa de todos os vasos linfáticos aferentes.        culos em suspensão, cujo diâmetro varia entre l
Os vasos aferentes atravessam o canal inguinal e          e 22u, (Schcunert e cols., 1942).
chegam ao linfonodo inguinal profundo, mas tam-                O leite produzido pelos animais ruminantes
bém podem alcançar o linfonodo ilíaco externo.            domésticos é rico em proteína, sendo considerado
     Detalhe que deve ser ressaltado refere-se ao         cascinoso, pois a caseína é a proteína predominan-
sistema linfático do úbere das éguas, pois nessas         te. Em contrapartida, o leite produzido por éguas,
fêmeas o sistema é difuso, não se centralizando           carnívoros e primatas é considerado globulínico, pre-
em linfonodos bem definidos.                              dominando na secreção a associação lactoalbumina
                                                          e lactoglobulina. A constituição do leite de animais
                                                          domésticos, adaptada de Scheunert e cols. (1942),
Inervação do Úbere                                        foi delineada nas Tabelas 8.5 a 8.7.

     Os nervos que inervam as várias estruturas do
                                                          Desenvolvimento da Glândula Mamaria,
úbere são mistos quanto à origem, pois emanam da
                                                          Instalação e Manutenção da Lactação
medula espinal e do sistema simpático. Os nervos
espinais emergem da coluna lombar e, por meio do               Afora o desenvolvimento embriológico da glân-
canal inguinal, darão origem a terminações nervo-         dula mamaria a partir da crista mamaria, merece
                                                          destaque, particularmente para embasamento dos
sas que inervam tanto a glândula mamaria como a
                                                          conhecimentos da semiologia, o desenvolvimento
pele que as recobre. As fibras do sistema simpático
                                                          da mama após o nascimento, na instalação da pu-
provêm do plexo mesentérico. O sistema de incrvação
                                                          berdade, durante a gestação e após o parto, bem
do úbere é essencial no reflexo responsável pela          como deve-se ressaltar a involução na fase de re-
liberação da ocitocina do lóbulo anterior da hipófise     pouso de produção da vaca leiteira (vaca seca) e na
e, conseqiientemente, pela descida do leite no            senilidade. Em qualquer dessas fases, a ação dire-
momento da ordenha. Entretanto, não tem qual-             ta ou a interação de hormônios é fundamental para
quer influência sobre a produção de leite.                o pleno desenvolvimento da glândula mamaria e
                                                          da secreção láctea.
                                                               Entre os referidos hormônios merecem desta-
Fisiologia da Glândula Mamaria                            que: estrógenos; progesterona; prolactina ou hormô-
                                                          nio lactogênico; ocitocina; tiroxina e adrenalina
     Segundo Kolb (1980), a glândula mamaria é uma        (Fig. 8.40).
característica específica dos animais da ordem
Mamma/ia, classificadas, morfologicamente, como
                                                          Fase Pré-púbere
glândulas alvcolares e, funcionalmente, com duas fases
secretórias merócrina-apócrina, apesar de Sarda (1952),       Antes da instalação da puberdade, há significante
                                                          desenvolvimento da mama. Essas manifestações só
em seu compêndio "Elementos de Fisiologia", con-
siderar a glândula mamaria como túbulo-acinosa com
duas atividades secretoras merócrina e holócrina,
considerando o leite uma secreção intracelular ex-         * Para produção de 48.000Kcal, exige-se: 30.000Kcal
pulsa das células secretoras com pequena quantida-           de ácidos graxos voláteis; lO.OOOKcal de compostos
                                                             fermentados pela microbiota do rume e S.OOOKcal
de de material citoplasmático e, praticamente, ne-
                                                             de constituintes alimentares. A perda de energia
nhum conteúdo nuclear. A integridade basilar da célula
                                                             deve-se à formação de gases no rume, nas citadas
á mantida durante o ciclo secretor.                          eondições, equivalente a S.OOOKcal.
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   367



  Tabela 8.4 - Variação do fluxo sanguíneo na glândula mamaria em diferentes fases da lactação (adaptado de Kolb,
  1980).

                                       Produção Fluxo sanguíneo da mama                               Massa da
          i lactação                   litros/dia             litros/min          litros/dia          mama (kg)
  Plena                                   20                                       10.000
  Seca (14 dias antes do parto)                                   21 12            30.240                 44 33
  Pós-parto (14 dias)                                                              17.280




                            Hipófise                            grande desenvolvimento do sistema tubular da
                                                                glândula mamaria. Após 4 meses de gestação, a
                                                                progesterona elaborada pelo corpo lúteo gestacional
                                                                passa a ter ação dominante, determinando a for-
                                             s     Mama
                                            .—
                                            -                   mação de lóbulos de tecido alveolar. As forma-
                                           Acinos               ções primordiais dos alvéolos dilatam-se e pas-
                                           Túbulos              sam a elaborar uma secreção com grande concen-
                                                                tração de globulinas. No momento do parto, a vaca
                                                                estará apta para a produção leiteira e, nos primei-
Figura 8.40 - Desenvolvimento da glândula mamaria. CL =
                                                                ros dias, haverá produção de colostro, contendo
corpo lúteo; F = folículo. A ação da progesterona inibe a
liberação de prolactina. A ação do estrógeno estimula a
                                                                as necessárias imunoglobulinas para proteção
liberação de prolactina.                                        imunológica dos bezerros recém-nascidos.

                                                                Involução da Glândula Mamaria no Período de
serão evidentes com a instalação da função ovaria-
na, pois a secreção de estrógenos em níveis míni-               Reparação entre Lactações
mos - insuficientes para estabelecimento de ciclos                  Quando a lactação cessa numa vaca não ges-
estrais - será suficiente para iniciar o desenvolvi-           tante, instala-se um processo de involução glan-
mento do sistema de duetos galactóforos no inte-               dular: o leite residual é reabsorvido; ocorre redu-
rior do tecido conjuntivo e coxim gorduroso. O de-             ção do tamanho dos alvéolos que, eventualmen-
senvolvimento da glândula mamaria é variável na                te, podem desaparecer, permanecendo apenas os
dependência de características constitucionais pró-            duetos galactóforos e lóbulos de tecido gorduro-
prias; porém, nesses casos, o clínico experiente, por          so. A próxima gestação resultará na total restau-
palpação da glândula imatura, já poderia selecionar            ração do sistema túbulo-alveolar, como descrito
as futuras excelentes produtoras de leite.                     anteriormente.
                                                                    Quando o declínio da lactação corresponder
Desenvolvimento da Mama na Puberdade                           a uma vaca gestante, observa-se uma sequência
     Após a puberdade, haverá ocorrência de cios;              de fenómenos fisiológicos: a partir do período
portanto, ovulações e formação de corpos lúteos.               médio de gestação, observa-se gradativo c contí-
iniciam-se os ciclos estrais periódicos e intensifi-           nuo declínio da lactação; há depressão da ação da
ca-se a produção e atividade dos hormônios se-                 prolactina por ação da progesterona; mesmo em
xuais: estrógenos e progesterona. Durante o anestro            vacas de grande produção leiteira, deve-se favo-
juvenil - prc-puberdade, o desenvolvimento da                  recer a diminuição da produção e secar a vaca,
mama foi insignificante. Em seguida, o sistema                 dando-lhe, no mínimo, 55 a 60 dias de repouso
constituído pelos duetos galactóforos se desen-                sem produção láctea.
volve por estímulo dos estrógenos e o sistema                       No sequencial descrito, inúmeros alvéolos
alveolar será pouco estimulado pela progestero-                podem permanecer durante o período de repou-
na secretada pelo corpo lúteo, porém esse hor-                 so glandular; eles deixam de produzir mas, após
mônio sensibilizará os duetos galactóforos.                    o parto, estarão aptos a elaborar o colostro e a se-
                                                               guir leite. Paralelamente, novos alvéolos se for-
Desenvolvimento da Mama na Gestação                            mam e tal fato explicaria o aumento de produção
    Nos primeiros meses da gestação, o nível de                láctea em vacas sadias, progressivamente, até a
estrógenos aumenta gradativamente, havendo                     5a lactação (aproximadamente, 7 anos de idade).
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   367



 Tabela 8.4 - Variação do fluxo sanguíneo na glândula mamaria em diferentes fases da lactação (adaptado de Kolb,
 1980).
                                            Produção              Fluxo sanguíneo da mama                 Massa
                                            da
 Fase da lactação                           litros/dia          litros/min          litros/dia           mama
 (kg)

Plena                                  20                          —                10.000                  —
Seca (14 dias antes do parto)                                      21               30.240                  44

 Pós-parto (1 4 dias)                                              12                17.280                 33

                            Hipófise                              grande desenvolvimento do sistema tubular da
                                                                  glândula mamaria. Após 4 meses de gestação, a
                                                                  progesterona elaborada pelo corpo lúteo gestacional
                                                                  passa a ter ação dominante, determinando a for-
                                                         Mama
                                                                  mação de lóbulos de tecido alveolar. As forma-
                                                                  ções primordiais dos alvéolos dilatam-se e pas-
                                                                  sam a elaborar uma secreção com grande concen-
                                                                  tração de globulinas. No momento do parto, a vaca
                                                                  estará apta para a produção leiteira e, nos primei-
Figura 8.40 - Desenvolvimento da glândula mamaria. CL =           ros dias, haverá produção de colostro, contendo
corpo lúteo; F = folículo. A ação da progesterona inibe a
liberação de prolactina. A ação do estrógeno estimula a
                                                                  as necessárias imunoglobulinas para proteção
liberação de prolactina.                                          imunológica dos bezerros recém-nascidos.

                                                                  Involução da Glândula Mamaria no Período de
serão evidentes com a instalação da função ovaria-
na, pois a secreção de estrógenos em níveis míni-                 Reparação entre Lactações
mos - insuficientes para estabelecimento de ciclos                    Quando a lactação cessa numa vaca não ges-
estrais — será suficiente para iniciar o desenvolvi-             tante, instala-se um processo de involução glan-
mento do sistema de duetos galactóforos no inte-                 dular: o leite residual é reabsorvido; ocorre redu-
rior do tecido conjuntivo e coxim gorduroso. O de-               ção do tamanho dos alvéolos que, eventualmen-
senvolvimento da glândula mamaria é variável na                  te, podem desaparecer, permanecendo apenas os
dependência de características constitucionais pró-              duetos galactóforos e lóbulos de tecido gorduro-
prias; porém, nesses casos, o clínico experiente, por            so. A próxima gestação resultará na total restau-
palpação da glândula imatura, já poderia selecionar              ração do sistema túbulo-alveolar, como descrito
as futuras excelentes produtoras de leite.                       anteriormente.
                                                                      Quando o declínio da lactação corresponder
Desenvolvimento da Mama na Puberdade                             a uma vaca gestante, observa-se uma sequência
     Após a puberdade, haverá ocorrência de cios;                de fenómenos fisiológicos: a partir do período
portanto, ovulações e formação de corpos lúteos.                 médio de gestação, observa-se gradativo e contí-
Iniciam-se os ciclos estrais periódicos e intensifi-             nuo declínio da lactação; há depressão da ação da
ca-se a produção e atividade dos hormônios se-                   prolactina por ação da progesterona; mesmo em
xuais: estrógenos e progesterona. Durante o anestro              vacas de grande produção leiteira, deve-se favo-
juvenil - pré-puberdade, o desenvolvimento da                    recer a diminuição da produção e secar a vaca,
mama foi insignificante. Em seguida, o sistema                   dando-lhe, no mínimo, 55 a 60 dias de repouso
constituído pelos duetos galactóforos se desen-                  sem produção láctea.
volve por estímulo dos estrógenos e o sistema                         No sequencial descrito, inúmeros alvéolos
alveolar será pouco estimulado pela progestero-                  podem permanecer durante o período de repou-
na secretada pelo corpo lúteo, porém esse hor-                   so glandular; eles deixam de produzir mas, após
mônio sensibilizará os duetos galactóforos.                      o parto, estarão aptos a elaborar o colostro e a se-
                                                                 guir leite. Paralelamente, novos alvéolos se for-
Desenvolvimento da Mama na Gestação                              mam e tal fato explicaria o aumento de produção
    Nos primeiros meses da gestação, o nível de                  láctea em vacas sadias, progressivamente, até a
estrógenos aumenta gradativamente, havendo                       5- lactação (aproximadamente, 7 anos de idade).
(j
                                                                                                                                                                                                               j
                                                                                                                                                                                                               CA
                                                                                                                                                                                                               oo
                                                                                                                                                                                                               in
                                                                                                                                                                                                               01
                                                                                                                                                                                                               3
                                                                                                                                                                                                               o_
                                                                                                                                                                                                               o
                                                                                                                                                                                                               ia
                                                                                                                                                                                                               S'
                                                                                                                                                                                                               S




                                                                                                                                                                                                              á
                                                                                                                                                                                                              ná
Tabela 8.5 Constituição do leite de alguns espécimes de animais domésticos (adaptado de
Scheunert e cols., 1942).
Animais Densidade a 15"C                    Resíduo             Proteína           Caseína            Lactoalbumi
                                                                                                                                                                                                               a. o
                                                                                                                                                                                                               fl) 10
Vacas* dos                                  seco g%             total g%              g%               globulina
                                                                                                                                                                                                               o-
Vales das               1,0310
Montanhas               1,0327                  12,0 12,8            3,30              2,50                     0,60                       3,20                 4,60                 0,8 0       0 , 13 6 8
                        1,0264 a                                     3,34              2,75                     0,70                       3,64                 4,96                 0,7 6       0 , 13 6 8
Cabras                                      9.3 - 14,3
                       1,0341                                        3,76                                                             2,00 - 5,90               4, 40                0,85        0 , 10 1 9
                                                                                       2,60                     1,16
Ovelhas                 1,0355              13,3 -25,0
                                                                4,30     -6,60                                                        2,20-2,80             4,0 0 - 6,6 0        0,8 0 - 1,2 0   0 , 12 9 7
Porcas                  1,0412              17,1 -20,5
                                                                                       4,17                     0,98                  3,90-9,50             3,1 0-      6,10         0,8 0       0 , 07 5 6
Éguas                   1,0334 a            9.4 - 10,4          5,30-       7,30
                       1,0450                                   1, 6 0 - 2, 1 0                                                       0,40- 1,10            6,3 0- 7 ,1 0        0,3 0 - 0,4 8   0,0310

Cadelas                 1,0340                  23,0
                                                                    9,72                                                                   9,26                  3,11                0,91 4,91   0,1656
Catas
                                                                                       4,15                     5,57                       5,96                  3,33                              0,51
                                                                    18,37
                                                                                       9,08                     3,12


Colostro das vacas: 74,67% água e 25,33% resíduo seco, sendo 4,04g% de caseína; 13,60g% de lactoalbumina e globulina; 3,6g% d e gordura; 2,67g% de lactose e 1,56g% de cinzas.
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 369


             Tabela 8.6 - Características físicas do leite de vaca (adaptado de Scheunert e cols., 1942).



             Peso específico                               1027 a 1034                a 15°C
             Viscosidade* Tensão                           1,5 a 4,2 0,7 a            entre 1 5 e 20°C
             superficial Pressão                           0,8                        considerando água = 1
             osmótica Ponto de                             7.5 atmosferas             pouca oscilação ~ à do sangue
             congelação índice de                          0,56°C                     menor que a da água
             refração                                      1,347 a 1,351              a 40°C
             Eletrocondutividade                           4.5 a 5,8mS                a25°C

           * Nas cabras e nas ovelhas, respectivamente, 2,1-2,5 e 2,4-2,7




Instalação e Manutenção da Lactação                                              Lactogênese é o termo utilizado para representar
                                                                             o início ou instalação da lactação. O processo de
    A glândula mamaria desenvolvida e maturada                               lactogênese é induzido e conduzido por açã o
para a produção leiteira, suficiente para a criação                          hormonal. Os estrógenos, em sua ação, estimu-
de seu bezerro e para produção láctea economi-                               lam a produção de prolactina (ou hormônio lacto-
camente viável, apresenta, após o parto, duas con-                           gênico), associada às ações de adrcnocorticóides;
dições fisiológicas: a lactogênese e a galactopoiese.                        ao contrário, essa produção é deprimida pela ação




                                                                                                                 Supra-renal




                                                                                                              Lactogênese
                                                                                                              Galactopoiese


Figura 8.41 - Lactogênese e galactopoiese: ações hormonais determinantes. A progesterona inibe a liberação da prolactina e os
estrógenos estimulam essa produção. A prolactina tem ação na instalação da lactação (lactogênese). A somatotrofina garante a
manutenção da lactação (galactopoiese).
370   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



  Tabela 8.7 - Composição proteica do leite de vacas           domésticos produtores de leite, causadoras de sé-
  (adaptado de Kolb, 1980).                                    rios prejuízos económicos para a pecuária leitei-
  Frações proteicas do leite       Valores relativos (%)
                                                               ra, exige que o clínico veterinário utilize o cabedal
                                                               de seus conhecimentos de semiologia, capacitando-
 Alfacaseína                              43 a 63              o para a execução de minucioso c completo exa-
 Betacaseína                              19 a 28
                                                               me clínico. Para tanto, é necessário estabelecer
 Gamacaseína                                3a7
 Alfalactoalbumina                          2a5
                                                               duas condições preliminares que devem ser se-
 Betalactoglobulina                        7 a 12              guidas e obedecidas, rotineiramente, no exercí-
 Albumina sérica                         0,7 a 1,3             cio diuturno da Clínica Veterinária: o plano de
 Imunoglobulinas                         1,4 a 3,1             exame clínico da glândula mamaria e o domínio
                                                               da semiotécnica da mama.
                                                                    O plano de exame clínico recomendado no
                                                               capítulo específico deste compêndio é exposto
da progesterona. Assim sendo, no final da gesta-               no Quadro 8.4.
ção, há predomínio de progesterona e, conseqiien-                   No transcorrer deste estudo da semiologia da
temente, a concentração de prolactina c peque-                 glândula mamaria, apenas os itens específicos do
na. No momento do parto, desencadeia-se uma                    exame clínico do órgão serão considerados. Ou-
complexa interação de controle endócrino, haven-               tros, por serem contexto de Semiologia Geral,
do, nesse momento, liberação de ocitocina que,                 foram detalhados em outros capítulos.
aluando sobre a glândula mamaria, causaria a des-                     Identificação do animal.
cida do leite.
                                                                 Quadro 8.4 - Plano de exame de glândula
     Galactopoiese designa a condição de manuten-
                                                                 mamaria.
ção da produção de leite, durante o período de
                                                                      Anamnese.
lactação. Esta função é conduzida pela ação do
                                                                      Exame físico geral.
hormônio hipofisário - a somatotrofina (Tabela
                                                                      Exame da glândula mamaria:
8.8 c Figs. 8.40 e Fig. 8.41).
                                                                      - Inspeção.
                                                                      - Palpação.
                                                                      - Exame macroscópico do leite.
SEMIOLOGIA DA                                                         Exames complementares do leite:
                                                                      - Microscópicos.
GLÂNDULA                                                              - Bioquímicos.
MAMARIA                                                               - Microbiológicos.


O diagnóstico preciso das enfermidades da glân-
dula mamaria, especialmente das formas clínicas
de mamite que acometem as espécies de animais


 Tabela 8.8 - Relações entre hormônios e desenvolvimento e função da glândula mamaria (adaptado de Schalm e cols.,
 1971).

 Hormônio                                Ação no desenvolvimento da                         Ação na função da mama
                                                  mama

 Estrógeno                          Crescimento dos duetos galactóforos:                Estimula a secreção e ação da pro-
                                    prepara o tecido mamaria para a ação da             lactina Atua na lactogênese
                                    progesterona
                                                                                        Restringe a ação dos estrógenos
 Progesterona                       Estimula a formação e desenvolvimento dos           sobre o lóbulo anterior da hipófise
                                    alvéolos                                            para produção de prolactina

                                                                                        Estimula a produção de leite
 Prolactina ou hormônio                                                                 Determina a lactogênese
 lactogênico                                                                            Determina a descida do leite Atua
 Ocitocina
                                                                                        sobre o metabolismo geral Impede
 Tiroxina
                                                                                        a ação da ocitocina
 Adrenalina
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   371



     Na atividade clínica, o veterinário deve obede-     glândula mamaria se caracterizavam por motiva-
cer a semiotécnica específica dos órgãos e sistemas      ções zootécnicas, económicas ou de saúde públi-
orgânicos; no caso da glândula mamaria, recomenda-       ca, o momento do exame da mama se estabelece,
se as técnicas semiológicas citadas no Quadro 8.5.       predominantemente, por condições de sanidade
     As mencionadas técnicas, além de dominadas,         animal:
devem ser rotineiramente realizadas em sua ple-
nitude quando se quiser ou houver necessidade              • Para diagnosticar enfermidades da mama.
de estabelecer preciso diagnóstico clínico, princi-        • Para estabelecer razão de quebra de produ
palmente nas diferentes formas clínicas das mamites          ção leiteira.
dos ruminantes quando em inúmeras circunstân-              • Para avaliar causa de recusa do leite pela in
cias, além da necessidade de diagnóstico nosológico,         dústria de laticínios — leite ácido ou alcalino
for fundamental o diagnóstico etiológico para orien-         ou por excesso de cloretos.
tar a terapia e estabelecer o prognóstico.                 • Para estabelecer profilaxia das mamites nos
     Após a leitura das considerações preliminares,          rebanhos.
introdutórias ao estudo da semiologia da glândula          • Para fazer levantamentos regionais das for
mamaria, considerou-se este o momento de escla-              mas clínicas de mamites, prevalência e sen
recer algumas questões previamente apresentadas.             sibilidade dos agentes ctiológicos.


  Por que Examinar a                                       Onde e o que Examinar na
  Glândula Mamaria                                         Glândula Mamaria
    • A glândula mamaria possui relação direta com             As súmulas de anatomia e de fisiologia da
      a produção leiteira.                                 glândula mamaria anteriormente apresentadas
    • A produção leiteira tem estreita relação com         deram pleno conhecimento do que é necessário
      a Saúde Pública.                                     para a formação de um clínico veterinário, dedi-
    • Nas enfermidades da glândula mamaria há              cado ao atendimento de vacas com alterações
      necessidade de diagnóstico precoce.                  patológicas ou doenças da glândula mamaria.
    • As lesões do tecido glandular são irreversíveis.
    • Além do diagnóstico preciso, deve-se esta              • A Semiologia avalia de forma dinâmica a
      belecer o prognóstico das doenças e realizar             anatomia e a fisiologia da mama, consideran
      o tratamento imediatamente.                              do suas particularidades, associando-as aos
    • A glândula mamaria e/ou seus quartos devem               conceitos de patologia.
      ser minuciosamente examinados sempre que               • No exame clínico da glândula mamaria, con
      a produção estabelecida pelo potencial gené              sidera-se:
      tico do animal não for alcançada.                        - O parênquima glandular; sinusgalactoforous
                                                                  e a pele que reveste essas estruturas.
                                                               - O teto, sinus et ductus papillaris e o reves
  Quando Examinar a                                               timento cpitelial interno e externo dessas
                                                                  estruturas.
  Glândula Mamaria                                             - O leite produzido, caracterizando suas
       Ao contrário do que se afirmou no item ante-               qualidades e alterações.
  rior, quando as razões que exigiam o exame da

                                                         Como Examinar a Glândula Mamaria
 Quadro 8.5 - Semiotécnica do exame da mama.                 Esse exame é baseado nas técnicas desen-
 1. Inspeção direta e indireta do úbere.                 volvidas para tal finalidade e são assuntos perti-
 2. Palpação direta e indireta do úbere.                 nentes à Semiotécnica, setor da semiologia que
 3. Exames complementares do leite:                      padroniza os métodos de exame clínico e que serão
    Microscópicos. -                                     detalhados nos itens seguintes deste capítulo. As
    Bioquímicos.                                         observações serão submetidas à análise dos co-
    Microbiológicos.
                                                         nhecimentos fundamentais adquiridos, constituin-
372   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



do a propedêutica clínica ou a ciência da inter-         Identificação do Animal Enfermo
pretação das manifestações clínicas observadas no
exame. Quando necessário, esses aspectos serão                Os animais submetidos ao exame clínico nas
incluídos nos itens seguintes deste capítulo.            fazendas, nos ambulatórios ou nos hospitais ve-
     Em resumo, examina-se a glândula mamaria            terinários devem ter uma ficha clínica, zootécnica
usando-se os preceitos da semiologia e obedecen-         ou de manejo na qual devem ser registradas as
do-se os princípios de matérias fundamentais.            informações pertinentes. Em casos especiais, o
                                                         clínico veterinário deve ter consigo ou nas pro-
                                                         priedades o registro pormenorizado de suas ati-
Desenvolvimento Preliminar do                            vidades e recomendações que fizer (Quadro 8.6).

Exame Semiológico da Glândula
Mamaria                                                  Anamnese do Caso Clínico
                                                              Pelo questionamento do tratador do animal
      Por razões óbvias, é plenamente reconheci-
                                                         ou sua explanação espontânea, o clínico veteri-
do que as primeiras medidas tomadas para o com-
                                                         nário faz o levantamento do histórico do enfermo
pleto exame da glândula mamaria pertencem às
                                                         ou dos antecedentes mediatos ou imediatos da
áreas gerais da semiologia veterinária c, por isso,
                                                         doença. Nessa avaliação, serão considerados os fatos
foram convenientemente tratadas nos capítulos
                                                         relacionados ao rebanho (anamnese colctiva) como
iniciais deste compêndio. Assim sendo, os 4 itens ini-
                                                         também aqueles ao indivíduo doente (anamnese
ciais do plano de exame clínico da glândula ma-
                                                         individual) (Quadros 8.7 e 8.8).
maria podem ser considerados como conhecidos.
Por tal razão, esses itens - identificação do animal;
anamnese ou histórico do animal enfermo; o               Avaliação do Estado Geral do Animal Enfermo
exame das funções vitais e a avaliação do estado
geral do paciente serão apresentados em quadros               Após o recebimento das informações preli-
resumidos. Tal reforço que se faz não visa aper-         minares das condições do animal doente, deve-
feiçoar o conhecimento do clínico veterinário, mas       se fazer sua avaliação preliminar por uma inspe-
deixar bem claro que tais informações preliminares       ção geral do animal. Essas informações são obti-
não devem faltar no levantamento detalhado das           das pelo conhecimento de seu desempenho, ati-
manifestações apresentadas pelo animal doente.
Essa motivação é um dos princípios da semiolo-
gia moderna:jamais um diagnóstico nosológico pode         Quadro 8.6 - Identificação do animal.
ser estabelecido com bases no resultado de um único       • Nome, número e/ou registro.
exame físico ou de uma prova complementar. Atual-         • Espécie, raça.
mente, não se aceita a existência de manifestações        • Características de pelagem.
clínicas ou sintomas patognomônicos, que por si
                                                          • Sexo.
só definiriam uma doença. Ao contrário, o diag-
                                                          • Idade - peso - uso.
nóstico clínico representa a conclusão de um exame
                                                          • Proprietário - endereço.
completo do doente, do sistema ou órgão afetado
pela enfermidade.
     Resulta esse diagnóstico da interpretação de
todas as informações conseguidas no desenvolvi-           Quadro 8.7 - Anamnese coletiva - pertinente a
mento do exame clínico e, portanto, um exercí-            enfermidades da glândula mamaria.
cio mental de um profissional formado para o
                                                          • Sistema de criação, características do estábulo, tipo
exercício dessa função. A necessidade de racioci-
                                                            e condições de ordenha, normas para secar a vaca.
nar sobre o conjunto de sintomas amealhados
                                                          • Produção leiteira: produção leiteira média dos
transforma a semiologia em ciência e o clínico              animais e do plantei (por dia e por lactação); ocor
veterinário é, entre muitos profissionais que atuam         rência de doenças da mama.
no campo da pecuária, aquele preparado para fir-          • Alimentação: normas características da ração, su-
mar o diagnóstico de uma doença animal, estabe-             plementação, mineralização, etc.
lecer o prognóstico e propor as medidas terapêu-          • Condições sanitárias do rebanho.
ticas, quer sejam profiláticas ou curativas.
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes                   373



        .                          •   i. . i   i   f                                                    i Quadro 8.10 -
                                                                         Exame das funções vitais.
  Quadro 8.8 - Anamnese individual - referente a
  animais com alterações da mama.                                        • Frequência e características da respiração pulmonar (1).

  •   Antecedentes distantes: doenças anteriores, decur                  • Frequência e características dos movimentos do
      so da última lactação, distúrbios metabólicos, doen                  rúmen (2).
      ças infectocontagiosas, etc.                                       • Frequência e características do pulso e/ou batimentos
  •   Antecedentes recentes: produção leiteira (anterior                   cardíacos (3).
      e atual), fase da lactação, início e evolução da                   • Temperatura interna (4).
      enfermidade, etc.                                                  • Apetite (5) e defecação.
  •   Apetite, ruminação e atitudes (estação e locomoção).               • Micção.
  •   Tratamentos realizados.
                                                                      (1), (3) e (4) - nas mamites agudas, apostematosas e principal mente
                                                                          flegmonosas há evidente taquipnéia, taquicardia e febre alta, com
                                                                          até 41 °C.
                                                                      (2) e (5) - nas mamites flegmonosas, quando se instala o quadro de toxemia
tudes e comportamento em seu ambiente de cria-                            altera-se a função digestiva, manifesta por hipotonia do rúmen e
ção (rebanho), se locomovendo ou em posição                               diminuição do apetite.
quadrupedal (ou especialmente em decúbito,
quando o animal estiver impossibilitado de se
erguer) (Quadro 8.9).                                                 EXAME ESPECIFICO DA
                                                                      GLÂNDULA MAMARIA
fxame das Funções Vitais                                              O diagnóstico preciso das enfermidades da glân-
                                                                      dula mamaria e, particularmente, das mamites,
     O perfeito funcionamento de órgãos vitais re-
                                                                      exige que o clínico veterinário utilize todos os seus
flete a condição de sanidade de um animal. Em
                                                                      conhecimentos de semiologia, realizando exame
várias circunstâncias, enfermidades localizadas em                    clínico minucioso e completo.
órgãos ou sistemas orgânicos determinam altera-                            O exame clínico da glândula mamaria para
ções de algumas dessas funções vitais. Isso tam-                      diagnóstico das mamites comporta a metodolo-
bém ocorre nas enfermidades da glândula mamaria,                      gia a seguir mencionada:
principalmente nos casos de mamites flegmonosas
ou, em outras situações, como enfermidades sis-                          • Exame físico - inspeção e palpação.
témicas que determinam modificações da glân-                             • Aspecto macroscópico do leite - característi
dula mamaria, como nos exantemas da mama de                                cas da secreção láctea.
origem alimentar.                                                        • Pesquisa de leite mamitoso - avaliação clíni
     Pelo exposto, torna-se obrigatório, no exame                          ca de modificações do leite: alcalinidade e
semiológico destinado à elucidação de casos clí-                           celularidade.
nicos de doenças da glândula mamaria, o exame                            • Exame microscópico de leite - contagem e
das funções vitais, ressaltando que deve ser feito                         diferenciação das células somáticas.
antes da avaliação do sistema afetado pela enfer-                        • Exame microbiológico do leite - isolamento
                                                                           de cepas e antibiograma.
midade (Quadro 8.10).

         HABITO
     C
 Quadro 8.9 - Avaliação do estado geral de animal acometido por enfermidades da glândula mamaria.
        o
        nstituição: edemas da mama; hipertrofia e atrofia nas mamites apostematosas, alterações articulares e das
         bainhas tendíneas.
        Temperamento: inquietação - observada em casos de mamite aguda, principalmente nas flegmonosas.
         Estado de nutrição: emagrecimento em mamites apostematosas crónicas.
        ATITUDE
         Em estação: atitude antiálgica nas mamites agudas (deslocamento do centro de gravidade - abdução dos membros
         posteriores).
         Em locomoção: anormal - claudicação - mamites agudas.
         Em decúbito: sobre os quartos sadios; permanente - mamite paralítica.
374   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



Exame Físico da Glândula Mamaria                                       • Em locomoção, percebe-se que o animal mo-
                                                                         vimenta-se com os membros posteriores muito
     O exame físico da mama é feito pelos tradi-                         afastados evitando balançar o úbere e seu
cionais métodos da semiologia: inspeção e palpa-                         choque contra os membros.
ção, direta ou indireta, descritos de forma sumá-
ria a seguir e no Quadro 8.11.                                      Inspeção Direta do Úbere
                                                                         Ao inspecionar-se o úbere de um animal, reco-
Inspeção                                                            mcnda-se analisar todas as estruturas anatómicas que
                                                                    o constituem: parênquima glandular, tetos e pele
     A inspeção é o método de exploração clínica
                                                                    que recobre a mama. Nesse exame, inúmeros aspec-
baseado no sentido da visão e por ele se inicia o
                                                                    tos, que podem constituir sintomas das mamites,
exame de qualquer órgão ou sistema. No caso
                                                                    devem ser considerados (Figs. 8.42 e 8.43).
particular da glândula mamaria, a inspeção é fei-
ta, inicialmente, observando-se as atitudes do
animal em posição quadrupedal, em locomoção                         MODIFICAÇÕES DE FORMA DA GLÂNDULA MAMARIA
e, quando possível, em decúbito, para em segui-                          Essas modificações podem ser consequentes
da observar-se o úbere lateralmente, de ambos                       à alteração do desenvolvimento da glândula, cons-
os lados e por trás.                                                tituindo as malformações ou podem ser adquiri-
                                                                    das, determinadas por enfermidades anteriores.
Modificação da Atitude
                                                                    DISPOSIÇÃO E SIMETRIA DOS TETOS
    As mamites agudas, como já foi referido,
podem ser processos muito dolorosos, principal-                          Em vacas sadias e não portadoras de malfor-
mente quando todo o úbcre é acometido e, as-                        mação do úbere, os tetos apresentam-se simétri-
sim, o animal assume típicas atitudes antiálgicas.                  cos, acentuando-se uma divergência quando o úbere
                                                                    estiver repleto de leite, principalmente momen-
 * Em posição quadrupedal, o animal apresenta                       tos antes da ordenha. Convergência ou divergên-
   os membros posteriores em abdução c os                           cia, na maioria das vezes, c causada por retrações
   desvia em sentido posterior, modificando o                       consequentes à cicatrização de lesões do parênquima
   centro de gravidade do corpo. Dessa forma a                      glandular ou das cisternas da glândula.
   glândula mamaria fica livre da compressão
   exercida pelos membros posteriores.
                                                                    AUMENTO DE VOLUME DA GLÂNDULA MAMARIA
 • Em decúbito, quando possível, observa-se que
   o animal evita se deitar sobre a região afetada.                      Os aumentos podem ser generalizados ou
   Nos casos graves, como mamites flegmonosas,                      localizados. Entre os aumentos de volume gene-
   a vaca demonstra o desconforto causado pela                      ralizados destacam-se aqueles que atingem todo
   intensa dor deitando e erguendo-se inúmeras                      o úbere, como se observa nos edemas pós-parto
   e repetidas vezes, ou escoiceando a mama.                        e nos edemas inflamatórios causados por mamites


 Quadro 8.11 - Exame físico da glândula mamaria: inspeção do úbere.
 •    Forma da porção glandular: alteração de desenvolvimento e da sustentação (mama em escada, mama de cabra,
      dilatações da cisterna da glândula, mama pêndula).
 •    Forma e cúpula dos tetos: variável na dependência de vários fatores (espécie, raça, idade, fase da lactação).
      Modificação da forma dos tetos (volumosos, dilatados e assimétricos).
 •    Número de tetos: aumento: politelia - polimastia (pseudofístulas). Diminuição do número de tetos (fusão e
      agenesia).
 •    Aumento de volume da mama: generalizado - edemas pré e pós-parto ou inflamatórios; localizados e circuns
      critos - abscesso, cistos, hematomas e neoplasias.
 •    Aumento de volume do teto: constitucional (dilatação); nos processos inflamatórios (telite).
 •    Diminuição de volume mama e tetos: fisiológica (novilhas e vacas secas); patológica (hipoplasia, atrofia).
 •    Lesões cutâneas da mama e tetos: lesões primárias e secundárias da pele (eflorescências cutâneas).
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   375



Figura 8.42 - Inspeção do
úbere: forma       da   mama,
ferimentos do teto e aumentos
de volume. (A) ferimento do
teto (amputação do teto
posterior); (B) abscesso intra-
mamário; (C) cisto ceroso da
mama; (D) papiloma do teto.




                                  D
376   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



agudas. Os aumentos podem ser generalizados,                           se, inicialmente, todo o úbere, para a seguir ava-
mas atingindo totalmente apenas uma das glân-                          liar o parênquima de cada um dos quartos da mama
dulas mamarias. Os aumentos de volumes locali-                         e, finalmente, examinar-se os tetos, procurando
zados caracterizam-se por serem circunscritos, entre                   evidenciar o espessamento do tecido epitelial de
os quais se menciona, obrigatoriamente, os abs-                        revestimento interno do sinus papillaris (há evi-
cessos, os cistos lácteos ou serosos e hematomas.                      dente endurecimento, com formação de um cor-
Eles têm consistência flutuante e diferenciam-                         dão espesso nas cisternites), o ductus papillaris e
se por punção exploradora, drenando, respecti-                         sua permeabilidade, além das bordas distais do
vamente, pus, leite ou soro lácteo e sanguíneo.                        sinus lactifer (não há possibilidade da introdução
                                                                       do dedo na cisterna nos casos de galactoforites)
AUMENTO DE VOLUME DOS TETOS                                            (Fig. 8.44B).

     Duas são as circunstâncias que causam aumento
de volume dos tetos: dilatação da cisterna do teto                     Palpação do Parênquima da
e os processos inflamatórios de todas as estruturas                    Glândula Mamaria
do teto. A primeira é considerada uma malforma-                             Antes de iniciar a palpação da mama (Quadro
ção denominada por dilatação do sinus papillaris; a                    8.12, Tabela 8.9 e Figs. 8.44A e 8.45), faz-se tentati-
segunda é observada nas tclites - inflamação das                       va para preguear a pele que reveste o parênquima
estruturas do teto, apresentando o teto aspecto                        glandular; desse modo se avalia a elasticidade da
luzidio, sendo extremamente doloroso à palpação.                       pele e do tecido celular subcutâneo (Figs. 8.46 e
                                                                       8.47). Em condições normais, é fácil preguear a pele
DIMINUIÇÃO DE VOLU ME DA MAMA E/OU DOS TETOS                           sobre a glândula e, uma vez cessada a pressão,
                                                                       rapidamente a pele volta às suas condições naturais
     A diminuição de volume do úbere ou da glân-                       (Fig. 8.46). Nos edemas, quer nos fisiológicos que
dula mamaria é ocorrência mais rara, observada                         atingem a glândula mamaria antes e/ou imediata-
em algumas condições fisiológicas como: nas                            mente após o parto, como nos inflamatórios, não há
novilhas, nas vacas secas há muito tempo e nas                         possibilidade de preguear-sc a pele e, uma vez
vacas velhas. Em condições patológicas, esse fato                      eliminada a pressão, percebe-se nitidamente uma
é observado em atrofia da glândula e/ou dos te-                        depressão neste local, ocorrendo o que se denomina
tos, consequente a mamites crónicas.                                   prova àe godé positiva ou cacifo presente (Fig. 8.47).
                                                                       O último fato descrito deve-se à perda de elastici-
Palpação                                                               dade dos tecidos por sua infiltração com plasma
                                                                       transudado. A consistência da glândula nessas cir-
     A palpação é o método de exploração clínica                       cunstâncias é denominada de pastosa. Em seguida,
baseado na sensação táctil e na força muscular,                        aumentando a pressão, palpa-se o parênquima mamário
utilizado para pesquisar a temperatura, sensibili-                     que, em condições normais, em vaca recém-ordenhada
dade c consistência das diferentes estruturas da                       ou seca, é de consistência firme, sem apresentar
glândula mamaria. Nesse órgão se aplica princi-                        nodulações duras, conseguindo-se palpar apenas gra-
palmente a técnica clireta ou imediata, palpando-                      nulação representada pelos ácinos glandulares.


 Quadro 8.12 - Exame físico da glândula mamaria: palpação do úbere.
 Avaliar, temperatura, sensibilidade e consistência.
  Técnica: palpa-se o úbere, as glândulas individualmente, sinus lactifer, os tetos (sinus papillaris e ductus papillaris).
        Palpação do parênquima: faz-se o pregueamento cutâneo, se houver presença de cacifo ou prova de godé positiva
        (edema); verifica-se a consistência (pastosa, firme, dura - com nodulações ou difusa); sensibilidade (processos
        inflamatórios agudos) - calor (edemas e processos inflamatórios).
 Notação de Hannover - l, II, III (consistências normais), IV, V (endurecimento de mamites crónicas), VI (processo inflamatório
 agudo), VII (edema pós-parto).
        Palpação do teto: flutuante (normal); cordão endurecido (cisternite).
        Palpação do sinus lactifer- introdução do dedo demonstrando fibrosamento do anel de separação das cavida des causado
        por processo inflamatório (galactoforites).
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   377



Figura
8.43      -
Inspeçao
da
glândula
mamaria:
vários
tipos     e
formas
das
glândulas
e       dos
tetos. (A)
mama em
escada;
(B) mama
tipo     de
cabra; (C)
mama
volumosa
e
pêndula,
com
aplicação
de
sustentad
or       do
úbere;
(D) tetos
volumo-
sos
(carnudos
);      (E)
tetos com
cisterna
dilatada;
(F) mama
e     tetos
com
dilatações
adquirida
s       das
cavidades
.
378   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



 A




                                                                           D




Figura 8.44 - Palpação da glândula mamaria (demonstração do Prof. Dr. Leonardo Miranda de Araújo). (A) Palpação do parênquima -
inicialmente todo parênquima e a seguir as glândulas individualmente; (B) palpação da cisterna da glândula (introdução do dedo no
sinus galactoforous); (C) palpação do teto (cisterna) por rolamento; (D) palpação do canal do teto (cúpula e orifício).



  Tabela 8.9 Classificação dos resultados da palpação da glândula mamaria. Notação de Hannover (Escola Superior de
  Veterinária).*

  Notação     Observação/manifestação                                                                      Interpretação

      SÁ        A mama recém-ordenhada apresenta-se firme à pressão com granulação                             Normal
                fina. Distendida e tensa antes da ordenha
      I         Nodulação grosseira, dura, mas pequena e localizada                                            Normal
      II        Nodulação grosseira, dura e generalizada, com nódulos localizados de                   Normal em vacas de
                pequeno tamanho                                                                          várias lactações
      III       Nódulos duros de tamanho médio, com distribuição generalizada no                      Vaca recuperada de mamite
                parênquima mamário                                                                    (com tecido cicatricial) ou
                                                                                                        caso de mamite atual
      IV        Nódulos grandes e duros, confluentes, com endurecimento de lóbulos                        Mamite em fase de
                glandulares                                                                               cronificação
      V         Endurecimento difuso do parênquima glandular - atinge lobos glandulares                   Mamite crónica
      VI        Edema inflamatório agudo da glândula mamaria, rubor, calor, dor e                          Mamite aguda Edema
                tumor, consistência pastosa, além da alteração da função - quebra do leite              e congestão
      Vil       Edema fisiológico da mama no pós-parto. O parênquima não pode ser palpado.            Pós-parto (fisiológico)
                Há sinais menos alarmantes, mas assemelhados aos dos processos inflamatórios. Leite
                sanguinolento

* A Escola Superior de Veterinária de Hannover apresenta uma notação para representar os resultados da palpação do parênquima
mamário, sendo os resultados anotados em algarismos romanos.
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   379




Figura 8.45 - Palpação dos lin-
fonoclos retromamários (caso
clínico de leucose enzoótica
dos bovinos).




Figura 8.46 - (A) Pregueamento da
pele, a pele elástica facilmente forma
pregas; (B) desfeito o pregueamento, a
pele rapidamente volta à condição
normal (elasticidade da pele mantida).
380   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico




                                                                                Figura 8.47 - Pregueamento da
                                                                                pele impossibilitado de ser feito -
                                                                                cessada a pressão, permanece uma
                                                                                depressão no local -prova de godé
                                                                                positiva (consistência pastosa -
                                                                                edema).



     Por palpação direta, utilizando-se o dorso da      cisternas cia glândula mamaria, fato que dificulta-
mão, avalia-se a temperatura da pele que reveste        rá a realização da mencionada manobra (Fig. 8.44B).
o órgão: há aumento da temperatura local nos
edemas inflamatórios e diminuição nas gangre-
nas (mamite flcgmonosa do tipo gangrenoso).             Aspecto Macroscópico do Leite -
     Por esse método de exploração clínica, ava-
lia-se também a sensibilidade da mama, que es-          Características da Secreção
tará aumentada, em grau variável de intensida-
                                                             A avaliação do aspecto macroscópico do leite
de, nas mamitcs agudas.
                                                        é feita pela inspeção de jatos de leite ordenha-
                                                        dos, sobre placa ou bandeja de fundo escuro como
Palpação do Teto                                        também em caneca tclada - de maneira genérica
     A palpação do teto de uma vaca lactante em         a prova é denominada prova do coador. Avaliam-
condição normal revela uma consistência flutuante,      se também as seguintes características do leite:
pela presença de leite osinuspapillaris. Nos casos    volume, cor e consistência. Deve, também, des-
de telite, observa-se maior tensão do teto, com         tacar outras características organolcpticas como
manifesta sensibilidade. O epitélio de revestimento     sabor e odor, bem como se observa sobre o fundo
interno da cisterna do teto c palpado rolando-se        da bandeja escura ou sobre a placa telada a presença
o teto entre os dedos polegar, indicador e médio:       de grumos ou massas representativas das exsu-
nas cisternites ocorre cspessamento do mencio-          dações características das mamites catarrais ou
nado epitélio da cisterna do teto e à palpação tem-     outras manifestações sintomáticas das mamites:
se a sensação da formação de um cordão endure-          leite sanguinolento (congestão mamaria); pus
cido no interior do teto (Fig. 8.44C e D).              (mamite apostematosa); soro sanguíneo e flocos
                                                        de pseudomembranas (mamite flegmonosa ou
Palpação do Sinus Lactifer                              gangrenosa). Ressalte-sc que a ocorrência de
(Cisterna da Glândula)                                  grumos extremamente pequenos só poderá ser
                                                        detectada pela centrifugação de amostras de leite,
     Essa palpação é feita procurando introduzir a      comprovando-se a sedimentação exagerada de
extremidade do dedo indicador no interior da cis-       muco e catarro (Quadro 8.13).
terna da glândula. Nas mamites crónicas ou agu-
das, isso não é possível, pois inúmeros germes, no
início do processo inflamatório, determinam uma         Volume de Leite Produzido
galactoforitc intensa, caracterizada por espessamento       O volume de leite produzido é variável, de-
das pregas de epitélio localizadas entre as duas        pendente de muitos fatores. Assim sendo, a dimi-
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes       381
       Técnica: ordenha em caneca de fundo escuro ou telada.
      Avalia-se: cor, consistência e presença de massas ou grumos e outras alterações.
                         i   i                          ' i i
                   - Avaliação do aspecto macroscópico do leite de bovinos.
      Cor do leite: branco característico; amarelo (no colostro, nos animais da raça Jersey,
      ingestão excessiva decarotenos, presença de algumas bactérias - Pseudomonas spp., M. flavum e Sarcina lutea; contaminação
      por substâncias químicas e antibióticos - acriflavina e terramicina); vermelho (sangue - coágulos nas hemorragias e
      homogéneo nas congestões e diáteses hemorrágicas); hemorragias, diáteses hemorrágicas e pelo uso de fenotiazina).
      Consistência do leite: fluido-viscoso - densidade maior do que 1 (normal); fluido-aquoso (alimentação deficiente e no
      final da lactação); mucoso (colostro - normal; em condições patológicas nas mamites); caseoso (mamite apostematosa); com
      grumos (mamite catarral).




nuição da produção láctea pode ter várias origens,
                                                                   Consistência do Leite - Considerações Gerais
entre as quais destacam-se: alimentares (deficiên-
cia ou mudanças das normas alimentares), doen-                          Em condições normais, o leite de uma vaca
ças sistémicas ou localizadas (febres, distúrbios di-              fora do período puerpcral imediato é uma mistura
gestivos e, evidentemente, enfermidades da pró-                    polifásica fluida, onde se encontram em suspen-
pria glândula) e excitações psíquicas (dores, nin-                 são glóbulos de gordura, células somáticas (leucó-
fomania). Na maioria dos exemplos citados, há                      citos e células de descamação), bem como em
diminuição proporcional do leite produzido nas                     solução aquosa seus constituintes maiores — pro-
quatro glândulas do úbere. Em casos de mamite,                     teínas e glícides e os sais minerais. O leite tem
isso só ocorre nas formas flegmonosas ou quando,                   aspecto e viscosidade característicos, sua densida-
ocasionalmente, o processo inflamatório infeccio-                  de é maior que um, variando entre 1,0310 e 1,0327.
so acometer, de forma simultânea, todo o úbere.                         Em condições fisiológicas, específicas c pa-
Nos casos em que apenas uma glândula apresenta                     tológicas, particularmente nas enfermidades da
mamite, a comparação de sua produção com a obtida                  glândula mamaria, modificam-se o aspecto e a
nas demais glândulas sadias demonstra evidente                     consistência do leite. As seguintes anormali-
diminuição, causada pelo processo inflamatório.                    dades de consistência devem ser destacadas
Apesar de não ser necessário alertar as pessoas re-                (Fig. 8.48):
lacionadas com a produção leiteira, é bom ressal-
tar que a diminuição da produção leiteira em um                      • Leite fluido-aquoso: a densidade do leite dimi
dos quartos ou de toda a mama é um sintoma sig-                        nui, dando-lhe consistência aquosa, em ani
nificativo das mamites, pois os processos inflama-                     mais alimentados com rações de baixo valor
tórios apresentam cinco sinais fundamentais: tu-                       nutritivo e algumas vezes no final da lactação.
mor, calor, rubor, dor e perda da função (produção                   • Leite mucoso: em condições fisiológicas, o lei
de leite no caso da glândula mamaria).                                 te tem sua consistência aumentada, tornan
     Nas mamites flegmonosas há grande dimi-                           do-se mais denso, no colostro ou em condi
nuição de produção leiteira, ocorrendo agalaxia                        ções patológicas, como enfermidades sisté
em até 36 horas. Os grumos formados têm baixa                          micas ou em algumas formas especiais e ini
densidade e flutuam na excreção ordenhada,                             ciais de mamites.
quando a amostra colhida é mantida em repouso;                       • Leite caseoso: o leite transforma-se numa ex
realmente são flóculos e representam liberação                         creção purulenta homogénea nas mamites
de pseudomembranas formadas durante o processo                         apostematosas, causadas principalmente pelo
inflamatório.                                                          Arcanobacterium pyogenes (antigamente deno
                                                                       minada Corynebacterium pyogenes ou Actinomyces
                                                                       pyogenes) e algumas cepas de Staphylococcus.
Cor da Secreção Láctea                                               • Leite espumoso: em mamites causadas por ger
               3
                                                                       mes com grande atividade fermentativa, como
     A cor do leite depende de sua constituição e                      algumas cepas de Rscherichia coli e Aerobacter
sofre alterações sob influência de inúmeros fato-                      spp., observa-se produção de leite com ex
res como: fase da lactação, tipo de alimentação,                       cesso de espuma; em condições fisiológicas,
características do agente bacteriano colonizado na                     no final da lactação, pode observar-se, durante
glândula e elementos contaminantes.                                    a ordenha, formação excessiva de espuma.
382   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



  • Leite sanguinolento: o leite tem aspecto sangui         terapias apresentam leite com grumos de pequeno
    nolento intenso nas mamites flegmonosas que             tamanho, em número variável, eliminados durante
    evoluem para uma gangrena (E. coli, Closteridium        todo o processo de ordenha.
    spp. e Stapkylococcusaureus) a excreção da glân             Mamites catarrais que apresentam grumos
    dula perde sua característica de leite, trans           volumosos apenas nos primeiros jatos de uma
    formando-se em um líquido cor de vinho ou               ordenha são consideradas casos clínicos com evo-
    apresenta essa característica, porém em inten           lução mais favorável do que aquelas apresentan-
    sidade ténue nas alterações congestivas da              do quantidade de grumos pequenos durante todo
    mama causadas principalmente por processos              o processo de ordenha.
    inflamatórios agudos; nos edemas e conges                   Nas mamites flegmonosas, o tipo de secreção
    tões fisiológicas pós-parto, pode, de forma             pode apresentar as variações a seguir expostas:
    efémera, se observar leite avermelhado.
  • Leite com grumos: os grumos ou massas que                 • Mamites flegmonosas produzidas por cepas
    aparecem no leite de vacas com mamite são                   de germes coliformes patogênicos apresen
    consequentes a precipitação de substâncias                  tam secreção láctea que rapidamente se trans
    exsudadas durante a evolução do processo in                 forma em excreção serosa de cor amarelada,
    flamatório (os grumos são constituídos prin                 apresentando grumos em forma de flocos de
    cipalmente por massas de fibrina, outras pro                coloração acinzentada que, por serem de
    teínas lácteas e células somáticas), constituin             menor densidade, flutuam, quando a mostra
    do-se numa das principais manifestações sin                 colhida for mantida cm repouso.
    tomáticas das diferentes formas clínicas de               • Nas mamites flegmonosas, produzidas poiSta-
    mamites.                                                    phylococcus aureus, com virulência exarccbada ou
                                                                Pseudomonas aeruginosa e Yersinia pseudo-
                                                                tuberculosis, a secreção láctea transforma-se ra
Consistência do Leite                                           pidamente em excreção serossanguinolenta, com
     Características do leite segundo o aspecto da secre-       reduzida quantidade de grumos densos, evo
ção observado por inspeção em bandeja de fundo escu-            luindo para agalaxia e, frequentemente, para
ro (prova da caneca ou da coagem do leite). Como já             formas gangrenosas (Tabela 8.10).
foi sobejamente destacado, as alterações de con-
sistência do leite são manifestações sintomáticas
de fundamental importância para o diagnóstico das           Composição Química do Leite e suas
mamites, quer seja em bovinos, bubalinos, caprinos
ou ovinos leiteiros. O aspecto e consistência lác-          Implicações no Diagnóstico das
tea são verificados por inspeção do leite obtido por
ordenha manual em bandeja com fundo escuro ou
                                                            Mamites
caneca com placa escura ou telada. Brito Figuei-                  A constituição química e características físicas
redo, eminente especialista da Faculdade de                 do leite são variáveis em condições fisiológicas, pois
Medicina Veterinária da Universidade Federal de             dependem das condições individuais ou ineren-
Minas Gerais, recomenda que essa prova seja                 tes aos sistemas de criação e manejo, como tam-
denominada de "coação ou coadura do leite".                 bém das fases da lactação ou ordenha. Além do
     Nas mamites catarrais, a quantidade e o volu-          mais, a secreção láctea sofre modificações caracte-
me dos grumos ou massas não são diretamente pro-            rísticas de sua constituição química durante a evo-
porcionais à gravidade do processo inflamatório ou          lução dos processos inflamatórios da glândula
à virulência do agente causador da infecção. Toda-          mamaria. Todavia, essa variação deve ser signifi-
via, o aspecto e a quantidade de grumos podem               cativamente diferente daquelas consideradas fisio-
permitir avaliar-se a evolução de uma mamite, prin-         lógicas, constituindo, assim, um conjunto de sin-
cipalmente nos casos em tratamento; sendo consi-            tomas fundamentais para o diagnóstico clínico dessas
derada satisfatória a evolução de casos clínicos apre-      enfermidades inflamatórias da mama.
sentando grumos numerosos e volumosos no leite,
que se transformam na evolução do tratamento em
secreção com menor quantidade de grumos de me-              Características Físico-químicas do Leite
nor tamanho. Fntrctanto, deve ressaltar-se que
                                                                 Reação do leite. O leite apresenta reação anfó-
mamites catarrais crónicas e rebeldes às inúmeras
                                                            tera, isto é, apresenta-se tamponado, principal-
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes      383




                                                                                                                          «HM
                                                                 BHHMHMHfili




Figura 8.48 - Características macroscópicas do leite. Inspeção avaliando jatos de leite ordenhado em bandeja de fundo escuro
ou tamis. (A) Ordenha de leite em bandeja de fundo escuro, mantido o caráter de leite. Observou-se a passagem de grumos ou
massas; (B) leite com grumos grandes (mamite catarral); (C) secreção sanguinolenta da glândula mamaria (congestão da mama ou
mamite flegmonosa); (D) amostras de secreção da glândula mamaria em bandeja do CMT: superior esquerdo - pus homogéneo das
mamites apostematosas por Arcanobacterium pyogenes; superior e inferior direito - colostro; (E) secreção da glândula mamaria -
fluido lácteo-sanguinolento, com tecido necrosado (mamites crónicas, em quartos já perdidos).
384   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



  Tabela 8.10 - Aspecto e consistência da secreção láctea de bovinos, segundo Notação de Hannover.*
  Notação                     Observação/manifestação da secreção lá
      AS        Secreção sem alteração - mantém-se o aspecto e característica de leite                  Normal
      A         Secreção láctea mantém o aspecto de leite, porém é menos viscoso,                  Final de lactação
                    isto é, aquoso e sem gr umos; na placa com fundo escuro tem                    Ração deficiente
                    coloração azulada                                                               Vaca secando
        B       Secreção láctea com aspecto de leite, menos viscoso (aquoso),
                    azulado com pe quenos grumos                                                   Mamite catarral
        C       Secreção láctea com características de leite menos viscoso,
                    com alguns grumos grandes                                                      Mamite catarral
        D       Secreção láctea com características de leite conservadas, porém mais
                    fluido e com inúmeros grumos grandes                                           Mamite catarral
        E       Secreção láctea praticamente sem características de leite:
                    • predomínio de flocos de pequena densidade e que flutuam na secreção
                    • predomínio de massas purulentas                                         • Colimastite
        F       A excreção da glândula ma maria não tem qualquer característica               • Mamite apostematosa
                    de leite: soro sanguíneo (Sg) e sangue (Ssg) Pus                        Mamite flegmonosa-gangrenosa
                (P)
                                                                                                Mamite apostematosa
* A Escola Superior de Veterinária de Hannover apresenta uma notação para representar as características da secreção
láctea, sendo os resultados anotados com as seis primeiras letras do alfabeto .


mente quando seu pH é ácido. O pH médio do                      tando os teores de gordura, caseína, lactoalbumina
leite varia entre 6,5 e 6,8, acentuadamcnte ácido               e modificações de constituintes em solução, com
no colostro (menos que 6,4), menos ácido no final               o decréscimo da concentração de lactose e de
da lactação e manifestadamente alcalino na                      potássio, com aumento dos níveis lácteos de só-
mamite. Nesse último caso, há aumento da per-                   dio e cloretos (Quadro 8.14).
meabilidade da glândula aos componentes san-
guíneos, principalmente aos íons bicarbonato,
responsáveis pela elevação do pH, sobrepondo-                   Pesquisa do Leite Mamitoso
se mesmo à ação acidificante dos germes fermen-
tadores da lactose (Fig. 8.49).                                      Para caracterizar as provas utilizadas rotinei-
     Composição química do leite. A constituição                ramente, durante o exame clínico de animais lei-
do leite considerado normal para vacas e cabras,                teiros, com a finalidade de estabelecer o diagnós-
segundo Schmidt (1971), é apresentada na Ta-                    tico de mamite, devem ser estabelecidos alguns
bela 8.11.                                                      conceitos que obedecem as normas da Semiologia
     No colostro, a composição da secreção sofre                Veterinária, tanto em seus aspectos de Semiotécnica
alterações evidentes, aumentando as porções só-                 como também de Clínica Propedêutica.
lidas do leite, isto é, o extrato seco, sendo resul-
tante do aumento do teor proteico do leite.
     No final da lactação, há modificação das ca-
racterísticas e da composição do leite: diminui-
ção da acidez do leite (pH próximo a 6,8), aumen-


 Tabela 8.11 - Composição química do leite.
                              Lactantes       Colostro
 Composição           Cabra           Vaca      Vaca
 Água                 88%             87,2%     74,7%
 Extrato seco         12%             12,8%     25,3%
 Cordura              3,5%            3,6g%     3,6g%
 Proteínas            3,1%            3,3g%     1 7,6g%
 Lactose              4,6%            4,9g%     2,6g%
 Cinza                0,79%           0,8g%     1 ,6g%
                                                                Figura 8.49 - Determinação da eletrocondutividade do leite.
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 385



    Juadro 8.14 - Composição físico-química e celular do leite de vaca.
       LEITE - MISTURA POLIFÁSICA: gordura e células em suspensão; glicídios, proteínas e sais minerais em solução.
       pH 6,5 - 6,8, com reação anfótera.
        Final de lactação - pH tende a neutralidade.
       Colostro é ácido (pH 6,4); nas mamites o leite é alcalino.
       VARIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO LEITE
       pH - alcalino nas mamites.
        Proteínas - aumento de lactoalbumina e globulinas nas mastites.
        Lactose - diminui nas mamites.
       Cloretos - aumenta nas mamites.
        Celularidade (células somáticas) aumenta nas mamites, principalmente os polimorfos nucleares neutrófilos.




     Inicialmente, deve-se relembrar os preceitos                    fato característico, resultante da ação de germes
 definidores de "leite higiénico" ou "higienicamen-                  fcrmentadores da lactose, causadores de mamites.
 te produzido" e "leite mamitoso".                                   Facilmente demonstrado pela deficiência ou
                                                                     ausência de caramelização dessa secreção, o que
   • Leite higiénico: aquele produzido em condições                  é observado no leite normal (por isso foi idealiza-
     ideais de bovinos e caprinos saudáveis, sub                     da e usada rotineiramente uma prova baseada no
     metidos a manejos adequados de criação e ali                    aquecimento de leite aícaJinizado com solução de
     mentação, bem como com cuidados especiais                       hidróxido de sódio - a caramelização intensa
     no sistema de ordenha c conservação do leite                    demonstraria ser o leite normal).
     produzido.                                                           Cloretos. Nas mamites, há transudação de clo-
   • Leite mamitoso: essa designação serve para                     reto de sódio do sangue para o leite, sendo esse cloreto
     caracterizar as amostras de leite obtidas de                   responsável pelo sabor salgado do leite mamitoso.
     animais leiteiros acometidos de uma das for                    O leite no interior da glândula mamaria deve manter
     mas clínicas de mamites.                                       a isotonicidade, que nas mamites estará alterada pelo
                                                                    consumo da lactose na fermentação bacteriana, e
      Neste item, serão consideradas as caracterís-                 para manter a mesma tensão osmótica da secreção
 ticas do leite mamitoso - obtido de glândulas ma-                  láctea há transudação de cloretos para o leite
 marias acometidas por um processo inflamatório.                    produzido. Nessas circunstâncias, no leite mamitoso,
                                                                    observa-se diminuição do teor da lactose (consumida
                                                                    na fermentação bacteriana), aumento da taxa láctea
Variações da Composição do Leite Utilizadas no                      de cloretos (transudação de NaCl, para manter a os-
Diagnóstico das Mamites                                             molaridade da secreção) e, consequentemente, há
      Para caracterização clínica do leite mamitoso,                aumento da eletrocondutividade do leite (presença
 merecem destaque as modificações da composi-                       de íons de cloro).
 ção do leite a seguir detalhadas.
     />//. O potencial hidrogeniônico do leite, que
                                                                    Pesquisa do Leite Mamitoso
pode ser avaliado por inúmeras técnicas, demonstra
que a diminuição da acidez com elevação nomi-                            Segundo os conceitos de Clínica Propedêutica
nal do pH (alcalinidade) caracteriza amostras do                    e Patologia Médica Veterinária, o leite de glân-
leite na maioria das mamites. Tal observação tem                    dulas mamarias acometidas por processo inflama-
grande valor semiológico no diagnóstico desses                      tório caracteriza-se por modificação do pH (alca-
processos inflamatórios.                                            linidade) e aumento do número de células somá-
     Proteínas. Aumentos da lactoalbumina e lacto-                  ticas no leite (principalmento leucócitos polimor-
globulina ocorrem nas mamites, responsáveis pela                    fonucleares granulócitos neutrófilos), sendo es-
coagulação do leite mamitoso durante seu aque-                      tes dois fatos associados à diminuição da produ-
cimento ou fervura.                                                 ção de leite, sintomas evidentes das mamites.
     Lactose. A diminuição dos teores de lactose                         As principais provas para demonstração de leite
no leite de animais acometidos por mamite é um                      mamitoso em animais leiteiros são descritas a seguir.
386   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



     Avaliação dopH do leite. O pH do leite mami-                    sitiva, há diminuição do teor de lactose (valores
toso pode ser determinado pelo uso de papéis                         abaixo de 3g%), não ocorrendo caramelização evi-
indicadores, com potenciômetros ou pelo uso de                       dente, a cor da reação é esmaecida.
soluções indicadoras.                                                     Avaliação semiquantitativa do número de leucó-
     No exame clínico de vacas leiteiras, rotineira-                 citos no leite. As provas que determinam indireta-
mente recomenda-se o uso Ac papéis indicadores com                   mente o número de leucócitos no leite são: a prova
o azul de bromocresol, que dão boas indicações de                    da catalase, a prova de White Side e a prova de
alcalinidade acima de 7,2, ou avalia-se o pH ao se                   Schalm c Noorlander (Califórnia Mastitis Test -
realizar a prova do GMT, cujo reativo apresenta                      GMT), relacionadas à presença de ADN - ácido
como indicador a púrpura de bromocresol que, em                      desoxirribonucléico celular no leite. Nas vacas e
pH alcalino, desenvolve cor violeta intensa e, cm                    nas búfalas, a prova pode ser realizada sem con-
pH ácido, a reação torna-se amarelada (Figs. 8.50                    testação. Mas, nos caprinos, a secreção apócrina
e 8.52). Além do mais, quando oportuno, determi-                     da glândula mamaria libera, no leite, corpúsculos
na-se o pH do leite com potenciômetros (portáteis)                   citoplasmáticos livres de ADN, que entretanto,
ou em aparelhos fixos, quando o leite colhido puder                  morfologicamente, se assemelham aos leucócitos
ser examinado no laboratório.                                        em tamanho e forma, dificultando as contagens
     Determinação da lactose. O teor de lactose lác-                 das células somáticas do leite por meios de con-
tea, como já foi destacado anteriormente, decres-                    tadores eletrônicos.
ce nas mamites, impossibilitando a perfeita cara-
melização do leite. Essa prova não é rotineiramente                   a) Prova de catalase
realizada por ser de difícil interpretação e exigir
aquecimento padronizado para sua realização, mas                          A catalase é uma enzima encontrada em
a técnica recomendada é detalhada em seguida.                        (efusões) fluidos orgânicos de animais c vegetais.
     A 2mL de leite suspeito adiciona-se ImL de                      Sua quantidade é pequena no leite, com exceção
hidróxido de sódio a 2,5%; após a homogeneização,                    para o leite produzido no início e no final da lacta-
a mistura é aquecida em fogo fraco (espiriteira com                  ção. Nas mamites, a ocorrência c concentração
álcool) durante 90 segundos. A interpretação do                      láctea de catalase aumentam de forma evidente,
resultado faz-se pelo desenvolvimento de cor: na                     revelando a existência de maior número de célu-
prova negativa há caramclização do leite (a lactose                  las somáticas nas amostras de leite.
do leite, aproximadamente 4,6g% em meio alcali-                           A determinação da catalase é uma prova que
no e quente, carameliza-se) desenvolvendo a mis-                     não pode ser realizada no estábulo, durante o
tura coloração rósea - cereja intensa; na prova po-                  exame clínico, devendo necessariamente ser exe-
                                                                     cutada em laboratório. Tal fato desestimulou seu
                                                                     uso rotineiro no controle das mamites nos reba-
                                                                     nhos de animais leiteiros. A prova está baseada
                                                                     na capacidade da catalase liberar oxigénio mole-
                                                                     cular do peróxido de hidrogénio:

                                                                         2H2O2 + catalase -» O2 + 2H 2O

                                                                        A prova pode ser realizada em tubos de fer-
                                                                     mentação ou em lâminas.

                                                                         • Prova da catalase em tubos de fermenta -
                                                                           ção de Smith

                                                                          Reativo. Solução stock de água oxigenada com
                                                                     concentração de 30%, que deverá ser mantida em
                                                                     frasco escuro e em refrigerador.
Figura 8.50 - Avaliação do pH do leite pelo CMT - recep-                  A solução de uso é feita no momento da rea-
táculos à esquerda, pH ácido do colostro (coloração amarelada)
à direita, pH próximo da neutralidade, sendo o inferior normal e o
                                                                     lização da prova, recomendando-se uma solução
superior ligeiramente alcalino.                                      de água oxigenada a 1%.
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   387



     Técnica. O tubo de fermentação de Smith é                        Interpretação. O resultado da reação é demons-
preenchido com 5mL de uma solução de água                         trado pela formação de bolhas de gás no interior
oxigenada a 1%, à qual se adicionam 15mL de                       da mistura, facilmente evidenciada ao se colocar
leite. O conjunto é incubado durante 3 horas, em                  a lâmina sobre uma superfície plana escura. A
temperatura variando entre 35 e 37°C. Em seguida,                 produção de oxigénio molecular caracteriza-se pelo
a quantidade de gás acumulada na extremidade                      desprendimento de bolhas de gás, sendo a quan-
fechada do rubo de fermentação é avaliada, ex-                    tidade de gás produzida diretamente proporcio-
pressa em termos de volume de gás produzido                       nal ao número de células somáticas do leite.
(Quadro 8.15).
     Interpretação. A interpretação está perfeitamen-              b) Prova de Whiteside
te padronizada para leite de vaca. O leite higié-
nico desenvolve menos de 10% de gás (produção                          A prova de Whiteside, que pode ser executada
de 2mL de gás). É de destacar-se que o resultado                  em lâminas ou em tubos de ensaio, foi baseada
será maior no colostro e no final da lactação, atin-              no princípio descrito e aplicado no teste de Donné,
gindo, nas mamites, valores iguais ou superiores                  idealizado por esse médico e microbiologista, no
a 40% (produção de 8mL de gás).                                   século XIX, para quantificar pus no sedimento
                                                                  urinário, pois observara que a adição de hidróxi-
    • Prova da catalase cm lâminas                                do de potássio ao sedimento urinário contendo
                                                                  pus, tornava a mistura espessa e viscosa (Fig. 8.51).
    A prova c simples de ser realizada, servindo
de triagem; por isso, poderia ser realizada no es-                     • Prova de Whiteside, em tubos de ensaio
tábulo, imediatamente após o exame físico da
glândula mamaria da vaca leiteira ou no cabril,                        Essa prova pode ser perfeitamente feita em
quando se examinam cabras.                                        amostras de leite de ruminantes leiteiros, no mo-
    Reativo. Soluçãostock de água oxigenada a 30%;                mento do exame clínico desses animais, pois não
solução de uso, feita no momento de realização                    exige manipulações complicadas. Foi originalmen-
da prova; recomenda-se a solução de água oxige-                   te introduzida por Whiteside (1939), para o con-
nada a 3%, recente.                                               trole de mamites em rebanhos de vaca leiteira.
     Técnica. Sobre lâmina de vidro lapidado,                          Reativos. Hidróxido de sódio normal (4%) e
usualmente utilizada para microscopia, colocam-                   solução de bromocresol púrpura (1:300).
se 5 gotas de leite, às quais se adicionam 2 gotas                     Técnica. Em tubo de ensaio contendo 2mL
de solução de água oxigenada a 3%, fazendo-se,                    de solução normal de hidróxido de sódio, adicio-
cm seguida, a homogeneização da mistura.                          nam-se 2 a 3 gotas da solução de bromocresol



 Quadro 8.15 - Pesquisa de leite mamitoso: determinação do pH e celularidade pela prova da catalase.
 1. Avaliação do pH:
    - potenciômetro
       papel de azul bromo cresol - alcalinidade (7,2)
 2. Avaliação da celularidade - leucócitos (neutrófilos).
     2.1. Prova da catalase (2H 2O2 + catalase -> O2 + 2H2O): Em tubo de
           fermentação Interpretação
                                      O2 dispendido                             células/mL x
                                %                     mL                          103 < 500
                               < 20                   <4                        500 a 1.000
                              20-30                   4-6                      1.000 a 2.000
                              30-40                   6-8                         >2000
                               > 40                   >8
        2.2. Prova de Whiteside.
        2.3. Prova Schalm Noorlander - CMT.
388    Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



                                                                         Prova de Whiteside em lâminas

                                                                    Essa prova para avaliar o número de células
                                                               somáticas do leite apresenta maior sensibilidade
                                                               que a anterior e foi modificada por Murphy e
                                                               Hanson (1941). A prova pode ser realizada cm
                                                               lâminas ou em placas de vidro lapidado, seme-
                                                               lhantes às usadas no teste de soro-aglutinação
                                          D                    rápida para diagnóstico de brucelose (placas de
                                                               Huddleson).
Figura 8.51 - Resultados da prova de Whiteside realizada            Equipamento e reativo. Placa de vidro com
em placa. A = ( ------- ) a mistura mantém-se opaca, sem
                                                               reticulado quadrado com 4cm de lado e solução
grumos; B = (±—) a mistura mantém-se opaca, havendo
percepção de partículas finas dispersas ou pequenos grumos     normal de hidróxido de sódio, ou seja, solução a 4%.
aderidos na parede do tubo; C = (+—) a mistura apresenta            Técnica. No reticulado, colocam-se 5 gotas de
coágulos - evidentes na homogeneização com bastão,             leite, cuja temperatura deve se assemelhar àque-
inúmeros grumos de pequeno tamanho aderem-se à parede do       la do ambiente. Em seguida adiciona-se l gota
tubo; D = (++-) a mistura apresenta coagulação e os coágulos   de solução de NaOH a 4%, fazendo-se, durante
acompanham o bastão de homogeneização; massas de grumos
aderem-se à parede do tubo; E = (+++) a mistura coagula        20 segundos, homogeneização com bastões de plás-
imediatamente e as massas movimentam-se com o uso do           tico ou de madeira, espalhando-se a mistura em
bastão homogeneizador; massas de grandes grumos                um círculo com aproximadamente 3cm de diâ-
coagulados aderem-se à parede do tubo.                         metro. Recomenda-se realizar as provas com amos-
                                                               tras de leite recém-ordenhado. Quando a amostra
                                                               tiver temperatura maior que a ambiental, reco-
púrpura e, a seguir, colocam-se 8 a lOmL de leite              menda-se adicionar-se 2 gotas de solução de NaOH
(sem espuma); finalmente, homogeneíza-se a                     a 4%, em vez de l gota.
mistura por inversão do tubo de ensaio adequa-                      Interpretação. O resultado da reação nos casos
damente tampado.                                               de provas positivas demonstram a formação de
     Interpretação. Os resultados são assim anota              massas viscosas que, sob atuação da homogeneização
dos: ( ----) para resultado negativo e (±—), (++-) e           com bastão, reúnem-se em pequenos grumos bran-
(+++), respectivamente, para as provas positivas,
                                                               cos, dispersos em fluido translúcido, quando ob-
em crescendo, segundo a intensidade da reação,
                                                               servados com iluminação colocada sob a placa de
com aumento do número de células somáticas.
                                                               vidro, as anotações dos resultados se faz da seguinte
A positividade da reação c sua intensidade são
                                                               forma: reação negativa ( ---- ); reação suspeita (±—)
demonstradas pelo aparecimento de precipita-
                                                               e reações positivas, de acordo com suas intensida-
dos que se aderem à parede do tubo nos movi-
                                                               des e característica dos grumos, respectivamente,
mentos de inversão do tubo; simultaneamente,
                                                               em (+—); (++-); (+++-); (++++) (Quadro 8.16).
ocorre aumento de viscosidade da mistura. A
leitura deve ser feita imediatamente após a homo-
                                                                 c) Prova de Schalm e Noorlander - Califórnia
geneização da mistura.
                                                                    Mastitis Test (GMT)

                                                                   Essa prova foi padronizada por Shcalm e
                                                               Noorlander em 1957, para determinar o número
                                                               de células somáticas no leite produzido por gru-


  Quadro 8.16 - Pesquisa de leite mamitoso: determinação da celularidade pela prova de Whiteside.
      Prova de Whiteside (adaptação da prova de Donné)
               Reativo: NaOH 4% + Bromocresol púrpura 1:300
               Em tubos - 2mL NaOH + 3 gotas Bromocresol púrpura + 8ml_ de leite
               Cor violeta = alcalinidade
               Maior viscosidade + grumos = maior celularidade
               Em lâmina - 1 gota NaOH - 4% + 5 gotas leite -» grumos (+)
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes         389



pôs de vacas (leite de tambor ou tanques) e ava-                        ma foi padronizado para vacas leiteiras, podendo ser
liar a higiene da produção, como também esti-                           plenamente utilizado para búfalas e tem sido, com
mar a ocorrência e influência da mamite sobre a                         reservas, utilizado em cabras. Evidentemente, em
produção leiteira dos rebanhos. A prova do CMT                          cabras utilizam-se apenas dois receptáculos. Os re-
baseia-sc nos princípios de reação do ADN nu-                           sultados obtidos são controversos, pois os caprinos
clear com a soda, como já descrito para a prova de                      têm, em condições fisiológicas, maior número de
Whiteside; todavia, os dois autores citados veri-                       células somáticas que vacas e búfalas.
ficaram que a adição de um agente tenso-ativo                                Técnica. Nos receptáculos da placa, ordenha-
melhorava o poder de destruição das células so-                         se aproximadamente 2mL de leite; a igualdade
máticas, tornando as reações mais evidentes. Assim                      de volume é conseguida inclinando-se a placa 45".
sendo, Schaim c Noorlander (1957) associaram à                          Adiciona-se igual volume do reativo para, a se-
soda um agente tenso-ativo amniônico, isto é, o                         guir, homogeneizar-se a mistura com movimen-
alquil-aril sulfonato. Esse detergente atuará tam-                      tos circulares (atualmente essas placas trazem duas
bém sobre os glóbulos de gordura, reduzindo seus                        marcas elevadas que, quando na referida inclina-
volumes e facilitando sua dispersão, permitindo                         ção, indicam, aproximadamente, os volumes do
melhor avaliação das reações. O CMT foi modi-                           reativo e da mistura total).
ficado, no Brasil, por Fernandes, docente do Curso                           Natureza da reação da prova de Schaim e
de Medicina Veterinária da Universidade Fede-                           Noorlander. O princípio ativo da reação é o ácido
ral do Rio Grande do Sul, substituindo o deter -                        desoxirribonucléico (ADN) liberado do núcleo das
gente por produto comercial de limpeza domés-                           células somáticas, principalmente dos leucócitos,
tica, dando à prova a denominação de Teste de                           destruídos por ação da soda e do detergente
Mamão.                                                                  amniônico, resultando na gelificação da mistura.
     Reativos. O reativo de Schaim e Nooríander&vci                    O pH da reação será demonstrado pelo indicador -
a seguinte constituição: hidróxido de sódio 13,5g;                      púrpura de bromocrezol.
púrpura de bromocresol a 0,4g; alquil-aril-sulfonato                         Interpretação. A avaliação dos resultados po-
de sódio l,9g; completando-se o volume com água                         sitivos na prova CMT c feita pela intensidade da
q.s. 3,8L.                                                              viscosidade desenvolvida. Da mesma forma, ob-
     A reação é feita em bandejas especiais conten-                     servam-se as modificações do pH: coloração vio-
do 4 receptáculos, numerados e/ou identificados pelas                   leta representa pH alcalino (ale = 7,2) amarelada
letras: B e A para amostras de leite das glândulas                      o pH ácido (ac = 5,2), estes dados devem figurar,
anterior e posterior esquerdas; D e C para amostras                     nos resultados da reação, com a avaliação da in-
das glândulas anterior e posterior direitas. O siste-                   tensidade da reação (Fig. 8.50).


   Tabela 8.12 - Avaliação da prova de Schaim e Noorlander (CMT) em leite de vaca.

           Prova de Schaim e Noorlander (CMT)
           Reativo: NaOH 12,5g + púrpura de bromocresol 0,4g + detergente aniônico 1,9g + H.,Oqs 3,8L
           Prova em bandeja especial (2mL leite + 2ml_ reativo)
                                                                                                    stimativa do número de células
      Resultado segund os
                                                                                                    somáticas por mL e a
          autores
                                                                                                    amplitude de variação

                                                                                                    Até 200.000 (até 25% Ne)
  ( ---- ) negativo                    Mistura sem modificação
                                                                                             1 50.000 a 500.000 (30 a 40% de Ne)
  (±—) traços                          Mistura com viscosidade fugaz-desaparece com
                                       a movimentação
                                                                                             400.000 a 1.500.000 (40 a 60% de Ne)
  ( H—) levemente positivo           Reação demonstrando viscosidade da mistura
                                                                                             800.000 a 5.000.000 (60 a 70% de Ne)
  (++-) fracamente positivo          A homogeinização da mistura demonstra ocor rência
                                      de sua gelificação
                                                                                             mais de 5.000.000 (70 a 80% de Ne)
  (+++) fortemente positivo          Na mistura, além da gelificação, demonstra -se
                                             coagulação com formação de massas gelatinosas

Ne = leucócitos do tipo polimorfo nuclear neutrófilos.
390   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico

                                                             Figura 8.52 - Esquema da realização da prova de Schalm
                                                             e Noorlander - CMT. (A) Colheita do leite na bandeja
                                                             do CMT; (B) inclinação de 45° para igualar os volumes de
                                                             leite colhido; (C) adição de igual volume de reativo CMT;
                                                             (D) homogeneização da mistura, verificando-se o
                                                             aparecimento de sua viscosidade; (E) reação francamente
                                                             positiva (reação intensa +++).




      A prova GMT pode ser feita, sem dificulda-       sua constituição, particularmente no que se refe-
de de interpretação, nas fêmeas de bovinos e           re ao número de células somáticas (exuberante
bubalinos (Fig. 8.52). Todavia, deve-se destacar       quantidade de células epiteliais e de leucócitos).
que, nas cabras e ovelhas, há presença, no leite,      Assim sendo, os resultados se caracterizam por
de corpúsculos citoplasmáticos resultantes do pro-     evidente formação de grumos e aumento da vis-
cesso apócrino da secreção láctea, bem como a          cosidade, quase sempre considerados como for-
existência de maior número de células somáticas        temente positivos. Tal restrição traz, pelo menos,
em condições fisiológicas. Entretanto, os corpús-      uma vantagem: o método não permitirá "o diag-
culos não reagem com os reagentes utilizados na        nóstico de mamitc assintomática". Os especialis-
realização dessa prova, pois são desprovidos de        tas Mary C. Smith e Uavid M. Sherman, no livro
ADN. Nesse momento é conveniente fazer-se o            "Goat Medicine" (1994), destacaram: "o leite de
primeiro alerta sobre o uso dos métodos semiquan-      cabra, naturalmente, tem uma maior quantidade
titativos de avaliação de resultados, por provas que   de células epiteliais que o leite de vaca, sendo
demonstram qualidades de reações, sem permitir         considerado que leite, cujo resultado seja T (traços)
sua exata quantificação. Essas são provas que          ou l (fracamente positivo) representariam resul-
dependem do virtuosismo do examinador, isto é,         tados de amostras com até l milhão de células
relacionam-se mais com a capacidade do avalia-         somáticas por mililitro, não representando moti-
dor em diferenciar reações que de sua experiên-        vo de preocupação".
cia e por isso são dependentes de inúmeros fato-           Apesar dos referidos autores utilizarem no
res aleatórios.                                        texto do livro a designação mamite assintomática,
      Os resultados da prova de CMT em caprinos        destacaram: "a precariedade do uso do GMT (ou
e ovinos devem ser interpretados com muito cri-        outro teste qualquer), para o diagnóstico da mamite
tério em face do tipo de secreção do leite c de        assintomática, depende da prevalência da mamite
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes                         391



no rebanho; em rebanho submetido a bom manejo                                            Observação: Na avaliação dos resultados do
sanitário, o valor de um resultado positivo e de                                    CMT, em amostras de leite de ruminantes obti-
insignificante valor diagnóstico".                                                  das de glândulas mamarias sadias ou suspeitas,
     Como foi destacado anteriormente, os resul-                                    demonstrou-se serem inúmeras as circunstâncias
tados obtidos no leite de pequenos ruminantes                                       em que o aumento da cclularidade do leite não
devem ser interpretados com atenção, destacan-                                      se deve, seguramente, a processos inflamatórios
do: o resultado negativo é um bom indício de                                        de origem infecciosa. Sabe-se que há maior nú-
ausência do processo inflamatório da mama; os                                       mero de células somáticas quando houver reten-
resultados ligeiramente positivos são observados                                    ção de leite entre ordenha, no início c no final da
cm animais sadios e podem representar até 1,5 x                                     lactação, nos primeiros e nos últimos jatos de uma
l O6 células somáticas por mL; os fortemente posi-                                  ordenha, mas sem dúvidas essa ocorrência é pre-
tivos indicam, seguramente, uma reação causada                                      dominante nas mamites.
por um processo inflamatório da mama e resulta-
dos com até 5,0 x K)6 células somáticas por mL.
     Na avaliação dos resultados da prova de                                        Exame Microscópico do Leite
Schalm e Noorlander devem ser considerados                                               O exame microscópico do leite, com finalida-
e destacados alguns detalhes. A maior intensi-                                      de de estabelecer o número de células somáticas
dade de reação da prova pode ser observada no                                       por mililitro de leite, bem como para avaliar as
final da lactação ou durante enfermidades sis-                                      características morfológicas dessas células, neces-
témicas. Todavia, nessas circunstâncias, o re-                                      sariamente não é feito em amostras estéreis de leite.
sultado é observado no leite obtido em todas                                        Todavia, como esse é um exame semiológico mais
as glândulas que constituem o úbere; se hou-                                        complexo, exigindo utilização de laboratório espe-
ver resultados diferentes entre as amostras das                                     cial, ele é feito na mesma amostra destinada aos
metades ou dos quartos da mama, há indícios                                         exames microbiológicos, evitando-se assim a ne-
evidentes de inflamação no quarto ou metade                                         cessidade de outra colheita de amostra.
que apresentar reação mais intensa.
    Apesar dos resultados de pequeno valor apre-                                    Colheita de Amostras de Leite
sentados pelo CMT cm cabras e ovelhas leitei-
ras, não se poderia deixar de apresentar, neste                                          As amostras de leite destinadas a exames
momento, o sistema de apreciação dos valores                                        laboratoriais, principalmente para realização de
dessas provas delineado por Schalm e cols., 1971,                                   exames bacteriológicos, devem ser colhidas com
idealizadores do método, configurando nas Ta-                                       cuidados de assepsia. As normas a seguir descri-
belas 8.12, 8.13 e 8.14 a interpretação dos resul-                                  tas são recomendáveis, pois cm buiatria resulta-
tados no leite de vacas, cabras c ovelhas.                                          ram em excelentes resultados.


  Tabela 8.13 - Avaliação da prova de Schalm e Noorlander (CMT) em caprinos (segundo Schalm e cols., 1971).
        esuitaao segundo os                                                                                  Estimativa do numero de células
           autores                                                                                                somáticas por mL e a amplitude
                                                                                                                  de variação

                                                                                                           60.000 (até 480.000) 270.000
                                                                                                           (até 630.000)
  ( ----- ) ne gat i vo                R e a ç ã o se m mod i fi c a ç ã o

  ( ± — ) t ra ç o s                   R e a ç ã o c om l í qui d o muc o so na pe ri fe ri a d o re -     6 6 0 . 0 0 0 (2 4 0 . 0 0 0 a 1 . 4 4 0 . 0 0 0 )
                                       c e pt á c ul o

  (H ---- ) levemente positivo         Reação com formaçã o muc o-floc ulenta, se m ten -                  2 .4 00. 000 (1 .08 0. 000 a 5 .85 0. 000 )
                                       d ê nc i a a fo r ma r c u me c e nt ra l

  (+ H —) fracamente positivo          R e aç ã o c om for ma ç ã o de gel se mi -lí qui d o, c om         ma i s d e 1 0 . 0 0 0 . 0 0 0
                                       movimento em massas e formação de cume central

   Na notação de resultados por cruzes, recomenda-se sempre deixar claro o número máximo considerado: - = (-); ± = ((+)-); + = (+-); ++ = (++-) e +++
   = (+++).

                                       Reaçã o c om formaçã o de ma ssa gelati nosa c on ve xa e
  (+ + +) fortemente positivo          pre sa a o fu nd o d o re c e pt á c ul o
392   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



  Tabela 8.14 - Avaliação da prova de Schalm e Noorlander (CMT) em ovinos (segundo Schalm e cols., 1971).

      Resultado segundo                               Avaliação                       Estimativa do número de células
         os autores                                                                        somáticas por mL e a
                                                                                           amplitude de variação

  ( ---- ) negativo                Reação sem modificação                            30.000 (até 310.000)
                                   Reação com líquido mucoso na periferia do re-     200.000 (até 520.000)
  (±—) traços                      ceptáculo
                                   Reação com formação muco-floculenta, sem ten-     900.000 (200.000 a 2.800.000)
  (H—) levemente positivo          dência a formar cume central
                                   Reação com formação de gel semi-Iíquido, com      2.800.000 (1.144.000 a 4.800.000)
  (+H—)               fracamente   movimento em massas e formação de cume central
                                   Reação com formação de massa gelatinosa con-      9.500.000 (1.250.000 a 1 7.000.000)
  positivo (+++) fortemente        vexa e presa ao fundo do receptáculo

  positivo




     Inicialmente, faz-se a assepsia da extremidade               te, determinação do pH e realização da prova de
do teto, particularmente do orifício do teto. Com                 Schalm e Noorlander. Por isso, no momento da
chumaço de algodão embebido em álcool a 70%,                      colheita da amostra, já realizou-se previamente
limpa-se a extremidade do teto para, a seguir, passar             o escoamento do leite retido nas cisternas; por-
com energia pequenos pedaços de algodão                           tanto, já houve uma limpeza mecânica do canal
embebido na mesma substância inúmeras vezes                       do orifício do teto.
sobre o orifício do teto, recomendando-se a cada                       A amostra é colhida por ordenha em sentido
limpeza renovar-se o algodão (Fig. 8.53). Entre-                  horizontal, isto c, mantendo-se o tubo coletor paralelo
tanto, pelo pequeno tempo de atuação do álcool                    ao solo, protegendo se a parte estéril da rolha sob a
a 70%, a assepsia seria mais mecânica do que por                  mão que a segura, juntamente com o mencionado
ação asséptica. Não se recomenda deixar o teto                    tubo (Fig. 8.53). Assim, evitar-se-á que pêlos e outros
molhado com álcool ou o uso de soluções assép-                    detritos contaminem a rolha ou penetrem, inadver-
ticas enérgicas, pois contaminando o leite, essas                 tidamente, no interior do tubo de colheita, alterando
substâncias impediriam ou dificultariam o cres-                   a qualidade semiológica da amostra.
cimento bacteriano.                                                    Fssa amostra deve ser enviada, imediatamen-
     O volume de leite a ser colhido varia entre 5                te, ao laboratório, ou refrigerada, podendo ser uti-
c lOmL, de acordo com a capacidade do recipien-                   lizada dentro de 24 horas, sem outros cuidados
te utilizado e as necessidades das provas. Reco-                  de conservação.
mendam-se tubos de centrífuga de vidro, com
capacidade para 15mL, providos de rolha de cor-
tiça ou borracha, protegidos por papel manilha e                  Contagem de Número de Células Somáticas
esterilizados em forno Pasteur. É conveniente                          A contagem de células somáticas do leite, em
ressaltar que é mais importante colher uma amostra                animais ruminantes de uso leiteiro, praticamente
representativa que uma amostra volumosa; esse                     refere-se ao número de leucócitos; mas no caso
cuidado se aplica, particularmente, para animais                  particular dos caprinos é conveniente ressaltar que
rebeldes, quando a ordenha é mais difícil, em face                o número de células somáticas é muito grande,
das reações e indocilidade do animal.                             pois aos leucócitos se associam às células de des-
     Os primeiros jatos de leite, ou seja, o leite                camação do tecido epitclial de revestimento in-
acumulado nas cisternas do teto, no período en-                   terno das várias estruturas da glândula mamaria.
tre ordenhas, são desprezados, pois apresentam                         Cabe ressaltar, mais uma vez, a ocorrência dos
grande número de bactérias saprófitas e a orde-                   corpúsculos citoplasmáticos no leite de vaca,
nha previa descontamina o ductuspapillaris. To-                   partículas assemelhadas em tamanho e forma aos
davia, cabe, mais uma vez, ressaltar que o exa-                   leucócitos e que dificultam a avaliação qualitati-
me da glândula mamaria é um complexo                              va e quantitativa das contagens de células somá-
semiológico no qual se inscrevem inúmeras pro-                    ticas, principalmente quando a contagem se faz
vas, destacando avaliação macroscópica do lei-                    por contadores eletrônicos de partículas.
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes   393



      Entre os leucócitos observados no leite, pelo          tório sofisticado e não deve ser recomendado
 significado diagnóstico que apresentam, destacam-           para contagem de células somáticas do leite de
 se os polimorfonucleares granulócitos neutrófilos.          caprinos. Tal restrição é consequente à
      Inúmeras foram as técnicas recomendadas para           ocorrência das partículas citoplasmáticas no
a contagem total das células somáticas do leite,             leite de cabra (não existe no leite de vaca),
merecendo destaque as expostas no Quadro 8.17.               que têm tamanho semelhante ao dos leucó-
     Método de Trommsdorff. Essa é uma técnica               citos e, por isso, as contagens assim determi-
baseada na centrifugação e separação das células             nadas, apresentam valores que são praticamen-
por decantação, com auxílio de centrifugação em              te o dobro do número real das células somá-
tubos especiais, com capacidade para lOmL de                 ticas existentes na amostra de leite. Esse tipo
leite. A avaliação do número de células é propor-            de contagem em leite de vacas aplica-se, prin-
cional ao volume do sedimento, medido na por-                cipalmente, para avalilar a condição de pro-
ção capilar aferida, existente na extremidade desses         dução higiénica do leite de consumo e para
tubos. A avaliação semiquantitativa é considera-             controle clínico-epidemiológico da mamite nos
da pouco sensível dando, entretanto, informações             rebanhos leiteiros.
válidas para o diagnóstico clínico, principalmen-        b) Variações do número de células somáticas no leite.
te se a coloração do sedimento for amarelada,               A contagem padrão de células no leite deve
revelando a presença de piócitos e, assim, detec-           ser feita em amostras obtidas imediatamen-
tando a ocorrência de um processo inflamatório              te antes da ordenha normal e seus valores,
catarral da glândula mamaria (ver Quadro 8.17).             em termos médios, atingem cifras maiores que
     Método de Prescott e Ereed. Este método de             400.000 células/mL para vacas e de 800.000
contagem de células somáticas é feito em esfrega-           células/mL para cabras. Observa-se aumento
ços de leite corados. Segundo os autores citados,           fisiologicamente no início e no final da
0,lmL de leite homogeneizado deve ser estendi-              lactação (no final da lactação, observa-se au-
do sobre uma área de lcmz demarcada em uma                  mento de macrófagos e células epiteliais
lâmina de vidro lapidado, para em seguida ser seco          descamadas); sendo também maior o número
e fixado em álcool metílico e corado com uma                de células somáticas, no início c no final da
solução de azul de metileno, ou outro corante celular.      ordenha; cm condições patológicas, aumenta
As células são contadas sobre 100 diferentes cam-           nas congestões mamarias, na retenção de
pos microscópicos (utilizando-se objetiva de imer-          leite na mama (ordenha mal feita), nos trau-
são). Para o número global de células somáticas             matismos e principalmente nas mamites. A
por mL de leite, multiplica-se o número de célu-            interpretação da contagem de células so-
las encontradas em 100 campos por 5.000. Esse fator         máticas do leite das vacas somente terá signi-
de multiplicação poderá variar na dependência das           ficado semiológico para o diagnóstico dos casos
características do microscópio utilizado (do fator          de mamite se forem utilizados métodos apro-
do microscópio) (ver Quadro 8.17).                          priados - sensíveis e específicos e padroni-
     Contagem de células somáticas em câmaras               zados para serem utilizados nessa espécie de
hematimétricas. A contagem das células pode ser             animais domésticos, pois o leite da vaca di-
feita cm amostras diluídas em líquidos especiais,           fere do leite da cabra, principalmente, por ser
que permitam a fragmentação dos glóbulos de                 resultante de secreção do tipo apócrino de
gordura e uma perfeita dispersão das células, em            secreção láctea, dando-lhe características pró-
câmaras hematimétricas tipo Neubauer modifi-                prias. Como citado na literatura consultada:
cada ou similares. A técnica assemelha-se à des-            "a aplicação em caprinos leiteiros de testes,
crita para contagem de hemácias c leucócitos                provas e regulamentos, padronizados e de-
sanguíneos.                                                 senvolvidos para bovinos, frequentemente,
                                                            levam os criadores e produtores comerciais a
Contagem em Contadores Automáticos                          uma situação de pânico, quando interpreta-
                                                            se o grande número de células contadas como
 a) Contagem eletrônica. A contagem eletrônica das          evidência de sérios problemas de mamite no
    células somáticas utilizando-se aparelhos como          rebanho ou se houver ameaças de sanções eco-
    o Coulter Counter (contador eletrônico de par-          nómicas pelos órgãos de fiscalização da pro-
    tículas), apesar de facilitar e dar precisão e          dução higiénica do leite" (Smith e Sherman
    sensibilidade à contagem, exige um labora-              - 1994).
394   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



  Quadro 8.17 - Exame macroscópico do leite: contagem de células somáticas.

  1) Colheita de amostras
       • Esterelidade - assepsia - evitar contaminação.

  2) Contagem de células somáticas
       • Método de Trommsdorff - por centrifugação (avaliação do volume do sedimento).
       • Método de Prescott e Breed - contagem das células em esfregaço de leite corado x fator microscópico.
       • Contagem em câmaras hematimétricas, contadores eletrônicos e avaliação do ADN do núcleo das células.

  Mamite catarral por Estafilococus coagulase (-)                   700.000-5.OOO.OOOcel/m     L
  Mamite catarral por Estafilococus coagulase (+)                   600.000-1     .OOO.OOOccl/mL
  Mamite catarral por Estreptococus                                 1.500.000-4.500. OOOcel/mL




    Pelas razões mencionadas, as determinações                           do leite de cabra, não há interferência das par-
    do número de células somáticas no leite uti-                         tículas citoplasmáticas, oriundas da secreção
    lizando-se contadores eletrônicos do tipo                            apócrina de leite, pois as partículas citoplas-
    CoulterGounterrião são consideradas nem es-                          máticas são destituídas de ADN.
    pecíficas ou sensíveis para o diagnóstico de
    mamites nos caprinos, pois aproximadamen-
    te um terço dos resultados obtidos em ani-                      Diferenciação das Células Somáticas do Leite
    mais sadios foi maior que dois milhões de
                                                                         A diferenciação das células somáticas é feita
    células por mililitro.
                                                                    sobre esfregaços corados, feitos com leite homo-
 c) Método "Fossomático" de contagem de células
                                                                    geneizado ou a partir de sedimento da amostra,
    somáticas no leite. Esse método de determina-
                                                                    após a centrifugação.
    ção automatizada de contagem celular em flui-
    dos orgânicos utiliza uma técnica fluorescente                       Técnica. O esfregaço pode ser feito com a
    reagindo o leite com um corante que tem                         amostra utilizada para a contagem total de célu-
    afinidade específica para o ácido dcsoxirribo-                  las somáticas ou com sedimento de leite, antes
    nucléico do núcleo das células, portanto, sen-                  da realização do exame microbiológico do leite (a
    sível e específico para determinar essas célu-                  centrifugação da amostra do leite antes da reali-
    las. Por isso é recomendado, atualmente, por                    zação do exame bacteriológico é um método de
    associações responsáveis pelo controle higié-                   concentração que facilita o isolamento de bacté-
    nico do leite. Nesse tipo de contagem, incluem-                 rias). Nesse último caso, a amostra é centrifugada
    se as células epiteliais e os leucócitos. No caso               durante 10 a 15 minutos com 2.500rpm; despre-




A                                                                    B

                                                              Figura 8.53 - Colheita de amostras estéreis de leite:
A) Assepsia da cúpula e orifício do teto
B) Colheita do leite mantendo o tubo em posição horizontal (evita que pelos e sujidades caiam dentro do tubo)
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes            395



ga-se o tampão de gordura por aquecimento;                             metida por mamite, observa-se a presença de
despreza-se o sobrenadante, colhendo-se o sedi-                        grupos de bactérias, tendo então, esse exame, a
mento com alça de platina estéril, distribuindo-o                      conotação de bacterioscopia.
sobre lâmina lapidada; para finalmente deixar o
esfregaço secar e, em seguida, fixá-lo durante 10
minutos, em álcool metílico.                                           Exame Microbiológico do Leite
      Em ambos os casos, a coloração é realizada
com solução aquosa de azul de toluidina a l :2.000,                        Um dos conceitos fundamentais da semiologia
durante l minuto ou com corante de Rosenfeld                          e patologia clínica, relacionados às enfermidades
(atuação entre 5 e 10 minutos). Em seguida, o                         das glândulas mamarias, é aquele salientando que
esfregaço é lavado, seco c observado em micros-                       seus diagnósticos devem ser precisos e precoces,
copia de campo claro (aumentado em 800 vezes).                        pois as lesões de tecidos glandulares são irrever-
      Interpretação. Nos esfregaços, são diferencia-                  síveis e, mesmo que a evolução leve à cura com-
dos os seguintes tipos de leucócitos: polimorfo-                      pleta, o tecido glandular destruído transforma-se
nucleares neutrófilos e eosinófilos; mononuclea-                      em fibroso, deixando de ter capacidade secreto-
res linfócitos e monócitos (macrófagos). Além disso,                  ra. Baseado nesta afirmação, pode-se concluir que
encontram-se, no caso do leite de cabras, inúme-                      as normas utilizadas no exame microbiológico do
ros corpúsculos citoplasmáticos. No colostro,                         leite devem ser as básicas dessa ciência, todavia
encontram-se conglomerados de células com ci-                         submetidas a modificações a fim de poder-se apre-
toplasma espumoso, denominadas corpúsculo de                          sentar o diagnóstico ctiológico e a sensibilidade
Nissen. Na contagem diferencial das células so-                       do agente microbiano causador da mamite aos
máticas do leite de vacas são descritos, ainda, um                    antibióticos o mais rápido possível, isto é, entre
grande número de células epitcliais (descamadas,                      36 e 48 horas. As técnicas rotineiras que serão ex-
cilíndricas e cúbicas). E, em condições patológi-                     postas a seguir são adaptadas do sistema de diagnós-
cas, descreve-se, ainda, a presença de células                        tico microbiológico das mamites padronizadas pelo
gigantes (na tuberculose), eritrócitos e fragmen-                     laboratório especializado da Clínica Obstétrica c
tos de células desintegradas (ver Quadro 8.18).                       Ginecológica dos Bovinos, da Escola Superior de
      Nas mamites agudas, predominam os leucó-                        Veterinária - Hannovcr (ver Quadro 8.19).
citos, principalmente os polimorfbnuclcares neu-                           Colheitas de amostras. As amostras colhidas
trófilos. Nas mamites catarrais crónicas, aparecem                    devem ser representativas do leite produzido pela
nos esfregaços, feitos com sedimento, conglome-                       glândula mamaria, recomendando, para tanto, usar
rados de neutrófilos, envolvidos por massas de                        as normas e cuidados de assepsia recomendados
fibrina. Nas mamites apostematosas, além das                          anteriormente.
massas de fibrina, observa-se uma granulação                               Preparo de amostra para provas bacteriológicas.
escura, dando um aspecto de penteado sobre o                          Antes da realização das provas, as amostras de-
esfregaço.                                                            vem ser centrifugadas durante 10 a 15 minutos
      Destaca-se, ainda, que no esfregaço do leite,                   2.500rpm; desprega-se o tampão de gordura por
nos casos de amostras colhidas de glândula aco-                       aquecimento; desprcza-se o sobrenadante; restan-


 Quadro 8.18 - Exame microscópico do leite: identificação das células somáticas do leite. Diferenciação segundo
 Schõnberg (1951).

 3) Contagem diferencial de células somáticas
        Técnica: esfregaço —* fixação -» coloração = exame microscópico com imersão (800x) - número médio= 150.000
 (20.000 a 500.000) células somáticas por ml_.
         Diferenciação
         Polimorfonucleares neutrófilos                                                      50 - 70%
         Polimorfonucleares eosinófilos                                                       O - 3%
         Mononucleares linfócitos                                                             25 - 35%
         Mononucleares monócitos                                                              5 - 1 5%
         Outras células
          Células epiteliais descamadas; células gigantes (na tuberculose da mama); eritrócitos e corpúsculos de Nissen (corpúsculos
 colostrais).
396   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



 Quadro 8.19 - Exame microbiológico do leite, como norma rotineira para complementar o diagnóstico das mamites.
      • Colheita e preparo da amostra para o exame.
      •   Bacterioscopia - lâmina corada com azul de toluidina ou corante de Rosenfeld.
      •   Isolamento de microorganismos do leite
          - Plaquear em ágar-sangue.
          - Semear em caldo glicosado.
      •   Pesquisa de sensibilidade aos antibióticos: antibiograma.




do o sedimento, concentrado para a realização dos                       melhor aproveitamento do material de labo-
exames microbiológicos: bacterioscopia; isolamento                      ratório e que 4 amostras sejam examinadas em
bacteriológico e avaliação da sensibilidade do                          apenas uma placa. Após a incubação as placas
agente bacteriano, frente a diferentes antibióti-                       são avaliadas anotando-se a ocorrência e o tipo
cos e quimioterápicos.                                                  de hemólise, características e o tamanho das
                                                                        colónias. Das colónias evidenciadas, pode-se
a) Bacterioscopia. O exame microscópico do es-                          fazer o isolamento do agente bacteriano
   fregaço do sedimento lácteo, fixado em ál                            causador da mamite e determinar-se a espécie
   cool metílico e corado com azul de toluidina                         do microorganismo isolado (Quadro 8.20). c)
   ou outro corante celular, utilizado para a ava                       Características das colónias em ágar-sangue.
   liação das células somáticas permite a eviden-                          • Streptococcus: colónias finíssimas, lisas e
   ciação das bactérias (o uso do corante de                                  brilhantes, associadas a vários tipos de
   Rosenfeld, como recomendado em hemato                                      hemólise. Staphylococcus aureus - colónias
   logia, tem apresentado excelentes resultados),
                                                                              pequenas, elevadas, lisas, opacas ou bri
   pois cora tanto o núcleo como o citoplasma
                                                                              lhantes, descoloridas, com hemólise do
   das células somáticas. Nesses esfrcgaços,
                                                                              Tipo beta ou associada a hemólise alfa
   encontram-se, principalmente, estafilococos
                                                                              e delta.
   e estreptococos, que podem estar distribuí
   dos entre as células ou serem observados no                             • Micrococcus: Staphylococcus coagulase ne
   interior delas, representando então uma fase                               gativo têm morfologia semelhante a an
   do processo de fagocitosc.                                                 terior podendo apresentar halo de hemólise
b) Isolamento de bactérias do leite. Após a realiza                           do Tipo beta com l mm de espessura.
   ção do esfregaço do sedimento lácteo para                               • Coliformes: colónias de tamanho médio,
   identificar as células somáticas ou evidenciar                             opaca, lisa, elevadas com odor de bolor.
   a presença de bactérias, a alça de platina deve                         • Arcanobacterium pyogenes (anteriormente
   ser esterilizada e reutilizada, semeando o                                 Corynebacterium c Actynomices}: colónias
   sedimento lácteo cm ágar-sangue e, posteri                                 finíssimas e com pequeno halo de hemó
   ormente, em caldo glicosado. Os meios de                                   lise, crescimento lento, devendo aguardar-
   cultura são a seguir incubados durante 18 a                                se mais 48 horas de incubação para obte-
   24 horas em estufas mantidas a 37°C.                                       rem-se melhores condições para a leitura
   No uso rotineiro, as placas de ágar -sangue                                do resultado.
   são subdivididas em 4 partes para permitir


 Quadro 8.20 - Frequência de bactérias patogênicas causadoras de mamite isoladas de amostras de leite de 160 casos clínicos
 de mamite em vacas leiteiras, criadas na região de Campinas - SP.
              Staphylococcus spp.                                                         52,4%
              Streptococcus spp. (agalactiae, dysgalactiae ou uberis)                     22,5%
              Arcanobacterium pyogenes                                                    9,1%
              Germes coliformes (bacilares)                                               8,6%
              Fungos (leveduras)                                                          2,7%
              Germes indeterminados                                                       4,8%
Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes         397



       Destaca-se que o isolamento de microor-           cefalosporina, lincomicina, neomicina, canamicina,
       ganismos do género Mycoplasma exige               tetraciclinas, cloranfenicol, gentamicina, olean-
       meios sólidos ou líquidos especiais. Nos          domicina, eritromicina, entre outros). As placas
       primeiros, crescem formando pequenas              para o antibiograma devem ser incubadas a 37°C
       colónias típicas, comparáveis à forma de          durante 12 a 24 horas, fazendo-se a leitura de acordo
       "ovos fritos" e, antes da realização da prova,    com o halo de inibição do crescimento bactcria-
       devem ser mantidos em meios conserva-             no. De acordo com a espessura do halo de inibi-
       dores (de transportes) adequados.                 ção e de acordo com a característica de antibióti-
 d) Aspectos morfológicos das bactérias em esfregaços    cos, os resultados são assim expressos: R = resis-
    lácteos corados pelo Gram.                           tentes, S = sensíveis e MS = muito sensíveis.
    • Streptococcus: cocos unidos em cadeia de,               A terapia deve ser recomendada de acordo
       no mínimo 5 elementos arredondados ou             com a sensibilidade apresentada pelas cepas de
       ovais Gram-positivos.
                                                         germes isolados. Segundo a técnica descrita o
    • Staphylococcus: cocos unidos em grupos de,
                                                         tratamento específico pode ser preconizado em
       no mínimo, 4 elementos arredondados
                                                         menos de 48 horas. Caso tivesse sido feito o iso-
       Gram-positivos.
    • Coliformes: bacilos Gram-ncgativos.                lamento do agente, para, a partir de cultura pura,
    • Arcanobacterium pyogenes: elementos                fazer o antibiograma, o resultado demoraria en-
       pleomorfos, semelhantes a "caracteres chi         tre 72 e 96 horas. Essa demora em ter-se a exata
       neses", podendo formar cadeias Gram-              indicação para terapia específica poderia tornar
       positivas.                                        irreversível a evolução da infecção, impossibili-
 e) Características do crescimento em caldo glicosado.   tando a cura mesmo após uso de medicamentos
    O crescimento em caldo glicosado pode ser            adequados.
    observado após 18 a 24 horas de incubação a                                 1
                                                                                -
    37°C. As seguintes características devem ser
    destacadas:                                          OBSERVAÇÃO FINAL
    • Staphylococcus: crescimento com turvação
       sem sedimento.                                    O perfeito diagnóstico das enfermidades da glân-
    • Streptococcus: crescimento com precipita           dula mamaria depende fundamentalmente de
       ções e formação de grumos e, raramente,           minucioso e adequado exame clínico do animal
       com turvações.                                    enfermo, alicerçado no conhecimento e na prática
    • Coliformes: crescimento com intensa tur            da metodologia técnica e normas da semiologia.
       vação.                                            Mas deve-se ressaltar que, no exercício rotineiro
    • Arcanobacterium pyogenes: cresce mal nesse         da profissão junto aos animais de produção, o médico
       meio líquido de cultura.                          veterinário se submeterá a lento, mas eficaz pro-
 f) Pesquisa de sensibilidade dos germes causadores      cesso de formação, atingindo a maturidade neces-
    de mamite aos antibióticos. A sensibilidade dos      sária para o exercício da clínica veterinária.
    germes é avaliada por meio de antibiogramas,              Com certeza, pode-se afirmar que, no caso
    podendo ser empregadas várias técnicas; uma          específico da semiologia da glândula mamaria, a
    dessas, realizada em placas de ágar-sangue será      utilização do plano de exame clínico apresenta-
    descrita a seguir.                                   do nesse capítulo, associado à prática das técni-
                                                         cas recomendadas, o clínico veterinário estará apto
     A cultura em meio líquido (caldo glicosado)         a concluir seu exame clínico consistente e defi-
é homogeneizada, e algumas gotas colocadas em            nitivo, estabelecendo em todos os casos o exato
placa com ágar-sangue e homogeneamente dis-              diagnóstico nosológico.
tribuídas com alça de Drigalsky. Após isso, espe-
rar-se alguns minutos, mantendo a placa sobre
superfície nivelada, em posições equidistantes,          BIBLIOGRAFIA
são colocados os discos contendo quantidades
padrões de antibióticos. Recomenda utilizarem-           ADAMS, H.R, ALLEN, N.N. The values of oxitocin for
se antibióticos que sejam facilmente encontrados           reducing fluctuations in mi l k and fat yields./. Dairy Sei.,
no comércio e tenham indicação para uso intra-             v.3.S, p.1117-25, 1952.
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398   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



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                        Semiologia do Sistema
Reprodutor Masculino
  •ALICIO MARTINS JÚNIOR
   FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA


        Inúmeros fatores podem afctar a capacidade reprodutiva, tais como:
        afecções inerentes ou não ao sistema reprodutor, estado sanitário e
        nutricional, idade e comportamento sexual. A demanda crescente por
        animais de genética superior, a disponibilidade de métodos de apro-
        veitamento do sémen e a facilidade de utilização aumentaram consi-
        deravclmente a responsabilidade na avaliação andrológica e tratamento
        dos distúrbios reprodutivos. A fertilidade é uma indicação sensível de
        saúde geral uma vez que pode ser afetada por qualquer doença pre-
        sente em outra parte do organismo. Casos de infertilidade assintomá-
        tica podem somente ser esclarecidos através de minucioso exame fí-
        sico geral e específico do animal, associado à análise das condições
        nutricionais, sanitárias e de manejo reprodutivo.


        REVISÃO ANATÓMICA E FISIOLÓGICA DO
        SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO
        O sistema reprodutor masculino é composto por diferentes órgãos,
        os quais são responsáveis pela produção de hormônios androgêni-
        cos, espermatozóides e líquido seminal, bem como pelo transporte
        de sémen durante a ejaculação (Quadro 8.21). As principais estruturas
        anatómicas e funcionais, como pênis, bolsa testicular, testículos, epi-
        dídimos, duetos deferentes, ampolas e glândulas sexuais anexas, prós-
        tata, glândulas vesiculares e bulbouretrais, acham-se distribuídas de
        acordo com a espécie.
             A bolsa testicular, presente em todos os animais domésticos,
        é uma evaginação do períneo composta basicamente por pele, faseia
        escrotal e uma camada fibroelástica subcutânea e muscular (túnica
        dartos), fundida ao folheto parietal da túnica vaginal. A pele tem
        uma epiderme fina e alguns poucos pêlos. A bolsa testicular regula
        a temperatura testicular por meio de dois mecanismos espe -
        cializados:

         l. Resfriamento do sangue arterial antes de entrar no testículo, através
             da troca de calor com o sangue venoso no plexo pampiniforme,
             localizado no cordão espermático;
400   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



  (Quadro o.21 ~ Principais constitumt                       Quadro 8.22 - Tempo médio de descida
  sistema reprodutor masculino.                             testículos para a bolsa testicular.
  •   Bolsa testicular                                      •   Garanhão: 9 a 11 meses de gestação
  •   Testículos                                            •   Touro: até 4 meses de gestação
  •   Epidídimos                                            •   Carneiro: 80 dias de gestação
  •   Duetos deferentes                                     •   Cão: 5 dias após o nascimento
  •   Cordões espermáticos                                  •   Gato: 2 a 5 dias após o nascimento
  •   Glândulas prostática, vesiculares e bulbouretrais
  •   Prepúcio e pênis


                                                          guinal externo, ajuda na migração dos testícu-
 2. Movimentação dos testículos pela contração            los. A descida, porém, é passiva, pois não existe
    do músculo cremastérico externo e túnica              tecido contrátil no gubernáculo. Na maioria das
    dartos, retraindo-os parapróximo do corpo, quan-      espécies domésticas a passagem dos testículos
    do a temperatura externa estiver baixa ou pelo        através do canal inguinal ocorre por volta de
    seu relaxamento, deixando-os afastados do corpo,      duas semanas após o nascimento, permitindo
    quando a temperatura estiver elevada.                 que assumam uma posição definitiva dentro cio
                                                          escroto. A idade do descenso testicular não está
     Nos animais domésticos, os testículos estão          estabelecida com exatidão nos animais
localizados na região inguinal ou sub-inguinal,           domésticos de companhia. Em cães e gatos é
dentro da bolsa testicular, portanto, fora da             um evento observado após o nascimento e de-
cavidade abdominal. Cada testículo se situa               pende da raça. Como regra geral, os testículos
dentro do processo vaginal, uma extensão sepa-            devem ser palpáveis na bolsa testicular, em
rada do peritônio que passa pelo canal inguinal.          ambas as espécies, no máximo até oito semanas
Os anéis inguinais interno e externo permitem             de idade. No cão, é raro os testículos descerem
a passagem do processo vaginal e de seus consti-          após 14 semanas e não o fazem após os seis meses
tuintes, além de servir como trajeto para impor-          de idade. Os espermatozóidcs e o líquido pro-
tantes vasos c nervos, os quais irrigam e iner-           duzido pelos túbulos seminíferos são transpor-
vam os órgãos genitais. Os testículos são os ór-          tados até o epidídimo, onde os espermatozói-
gãos mais importantes do sistema reprodutor               des se concentram e amadurecem. O epidídimo,
masculino. Nos mamíferos domésticos, a função             adjacente às superfícies dorsal, medial e caudal
testicular normal, sobretudo a espermatogêncsc,           do testículo, apresenta três partes distintas: cabeça,
depende do mecanismo de termorregulação de-               corpo e cauda. A partir da cauda, origina-se o dueto
sempenhado pelo músculo cremastérico e túnica             deferente, o qual irá se ligar à uretra pélvica. A
dartos, os quais respondem efetivamente à va-             cabeça do epidídimo absorve uma quantidade
riação da temperatura ambiente. Por isso, nos             considerável de líquido originado nos túbulos
machos domésticos, os testículos se localizam fora        seminíferos, resultando em aumento da concen-
da cavidade abdominal, ou seja, na bolsa testi-           tração de espermatozóides. A cauda armazena
cular, onde a temperatura é cerca de 3 a 4°C menor        cerca de 80% das células germinativas maduras.
do que a temperatura corporal.                            Não havendo ejaculação, o principal destino dos
     Os testículos dos cães são relativamente pe-         espermatozóides é a descarga espontânea na
quenos e têm seus eixos longitudinais cm sen-             uretra e eliminação na urina.
tido oblíquo e dorsocaudal. A bolsa testicular                 No garanhão, os testículos se situam na re-
se localiza entre a região inguinal e o ânus, sendo       gião pré-púbica, dentro da bolsa testicular, em
visível olhando-se o animal por trás. Em gatos,           uma posição praticamente horizontal. A bolsa tes-
observa-se uma bolsa testicular ventral ao ânus.
                                                          ticular é lisa, firme, elástica e de forma globular
A descida dos testículos para a bolsa testicular
                                                          c, como em outras espécies, contém numerosas
(Quadro 8.22) é facilitada QQO gubernáculo, um
                                                          glândulas sudoríparas, as quais contribuem para
cordão de tecido mesenquimal, o qual liga o tes-
                                                          a termorregulação. Os testículos são geralmente
tículo e o epidídimo, em desenvolvimento, à
                                                          assimétricos, sendo o esquerdo, na grande maioria
bolsa testicular em formação. A subsequente re-
                                                          das vezes, maior e mais penduloso do que o
gressão, associada ao aumento de volume do
                                                          direito, além de estar situado mais caudalmente
gubernáculo, imediatamente distai ao anel in-
                                                          ao testículo direito.
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino      401



     A bolsa testícular, no touro, situa-se um pou-   abaixo da bolsa testicular, & flexura sigmóide ou o
co mais à frente do que no garanhão. É longa e        S peniano, que se desfaz durante a ereção, fazendo
pendulosa. Os testículos são maiores, com aspec-      com que o pênis se exteriorize cerca de 30 a 45cm
to ovalado e alongado.                                além do orifício prepucial. O prepúcio c relativa-
     O pênis apresenta forma cilíndrica em todas      mente longo e estreito; contudo, o orifício deve
as espécies, estendendo-se, exceto no gato, do arco   ser pérvio a dois dedos. A genitália externa dos
isquiático até as proximidades do umbigo, na          carneiros se assemelha à do touro, com duas di-
parede abdominal ventral. Tem como funções            ferenças básicas. Os testículos são proporcional-
básicas depositar o sémen no trato genital feminino   mente maiores e a uretra se projeta além da glande
e expelir a urina para o meio exterior. A porção      peniana, formando o apêndice vermiforme ou
livre do pênis do cão contém o osso peniano, que      vermicular da uretra. No bode, a extremidade do
se desenvolve após o nascimento, podendo che-         pênis é enrolada, sobretudo durante a cópula
gar a até 12cm de comprimento nos cães de grande      (Quadro 8.23).
porte. A glande é relativamente longa, com a parte         Além dos espermatozóides, o sémen é com-
cranial cilíndrica e extremidade pontiaguda. Cau-     posto principalmente de secreções das glândulas
dalmente à glande, encontra-se o bulbo da glande      sexuais acessórias (próstata, glândulas vesiculares
do pênis, bastante evidente durante a ercção, já      e glândulas bulbouretrais), as quais acrescentam
que aumenta cerca de duas a três vezes, contri-       volume, nutrientes, tampões e outras substâncias,
buindo para o "aprisionamento" ou "nó" durante        cujas funções ainda permanecem desconhecidas.
o coito. Ao cessar o impulso pélvico, o cão           Essas secreções são chamadas de plasma ou líquido
desmonta e se volta contra a cadela, com o pênis      seminal. A presença, o tamanho e a localização
ereto e girado 180° num plano horizontal, perma-      dessas glândulas variam consideravelmente com
necendo na vagina até acabar a ereção, a qual pode    a espécie. A próstata, por exemplo, é dissemina-
                                                      da na uretra pélvica de ovinos e caprinos, ao passo
demorar de 15 a 30 minutos. O pênis do gato tem
                                                      que no touro, apresenta uma parte difusa e um
uma peculiar orientação, com o seu orifício uretral
                                                      corpo discreto. A próstata é um órgão compacto
apresentando-se caudodorsal, ao passo que a porção
                                                      no cão c, de fato, é a única glândula acessória
dorsal do pênis se posiciona cranioventralmente.
                                                      encontrada nessa espécie. A próstata do cão é
A porção livre do pênis é cónica, revestida por
                                                      esférica e lisa, dividida em lobos esquerdo e direito,
algumas pequenas papilas ou espículas, desen-         envolvendo completamente a uretra. Em gatos,
volvendo-sç entre dois e seis meses de idade e        a glândula prostática tem uma superfície irregular,
que regridem em animais castrados. O prepúcio         cobrindo a uretra somente em suas porções dorsal
do cão está, efetivamente, separado da parede         e lateral. As ampolas são dilatações que se originam
abdominal, mas pode permanecer ligado a ela por       nas extremidades distais dos duetos deferentes,
uma prega da pele (frênulo persistente).              sendo mais pronunciadas no cão c no cavalo. As
     O pênis do cavalo, quando em repouso, mede       glândulas vesiculares são alongadas e relativamen-
cerca de 50cm de comprimento; durante a ereção,       te grandes nos animais domésticos. As glândulas
sua extensão aumenta em 50% ou mais. A extre-         bulbouretrais ou glândulas de Cowper estão
midade livre da glande peniana, quando expandi-       localizadas mais caudalmente, encontrando-se
da, é convexa e circundada por uma proeminente        em posição imediatamente anterior ao músculo
borda (coroa da glande); apresenta uma profunda
depressão em sua parte inferior (fossa da glande),
onde a uretra se exterioriza cerca de 2cm, poden-          Quadro 8.23 - Características anatómicas dos órgãos
do ser sede de lesões, como a habronemíase. Nas         ré -oprodutores em algumas espécies domésticas.
outras espécies, o referido órgão tem a extremida-
                                                          Ovina e caprina: próstata difusa e pênis com um
de afilada. O prepúcio contém um material espesso         apêndice filiforme e flexura sigmóide
conhecido como esmegma, que se acumula ao longo           Bovina: flexura sigmóide
do pênis. A fossa uretral circunda o processo ure-        Equina: pênis extremamente vascular com a uretra
tral e se comunica dorsalmente com o divertículo          protruindo-se alguns centímetros além da glande
uretral sendo, também, um local de acúmulo de             peniana
                                                          Canina: osso peniano e próstata como uma única
esmegma.                                                  glândula acessória
     O pênis do touro é mais longo e de menor             Felina: pênis com presença de espículas
diâmetro do que o do garanhão, formando, logo
402   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



Ureter                                                          próstata de cães da raça Scottish Terrier é cerca
                                                                de quatro vezes maior do que a de animais de outras
                                                                raças com a mesma estatura, levando o clínico,
                                                   Ampola
                                                                desconhecedor de tal particularidade, a um
                                                                diagnóstico equivocado de hiperplasia prostática
                                                                em um cão sadio.

                                                    Glândula
                                                    vesicular
                                                                ANAMNESE
                                                                Como as causas de infertilidade podem estar as-
                                                                sociadas às falhas de manejo, um histórico com-
                                                 Próstata       pleto deve ser obtido, detalhando-se as afecções
                                                                passadas e/ou atuais, a ocorrência de traumas,
                                                                vacinações, tratamentos etc. A compra de um
                                                                reprodutor deve ser acompanhada de certificado
                                                                de exame andrológico, bem como dos dados do
                                                                vendedor. O ideal seria estabelecer uma cronologia
                                                                da vida reprodutiva do animal, desde a puberdade
                                                                até a fase adulta. Entretanto, nem sempre isso é
                                            Tuberosidade
                                              isquiática
                                                                possível, em virtude da venda ou troca do animal
                                                                e/ou de informações não tão precisas e completas,
Figura 8.53 - Glândulas sexuais acessórias do garanhão.         principalmente quando se trata de animais de
                                                                grande porte.
                                                                    Durante a avaliação do reprodutor, algumas
isquiocavernoso. No garanhão e ruminantes são                   perguntas devem ser feitas, como se segue:
pequenas e arredondadas. Sua secreção é viscosa
e combina-se com a secreção das glândulas vesi-                     Qual a idade do animal? Acompanha certifi-
                                                                    cado de exame andrológico? Foi adquirido
culares durante a ejaculação.
                                                                    recentemente? Quais são os antecedentes
                                                                    do animal? O animal já possui produtos?
                                                                    Como são os filhos do animal? Apresentam
IDENTIFICAÇÃO                                                       alguma anormalidade? O animal apresenta
A idade do animal é um dado importante, já que                      desejo sexual? Consegue cobrir a fêmea? A
as anormalidades hereditárias e/ou congénitas                       penetração é completa ou o animal não con-
(criptorquidismo, frênulo persistente) podem ser                    segue expor o pênis totalmente? A retração
observadas nos primeiros dias ou semanas de vida                    peniana ocorre normalmente? Quantas
ou mais tarde (hipoplasia testicular). O apareci-                   fêmeas, em média, o animal já cobriu?
mento de tumores testiculares é comum em ani-                       Qual o índice de prenhe/? Apresenta
mais idosos, especialmente no cão. Da mesma                         comportamento anormal (agressivo,
forma, a qualidade do sémen e a libido tendem a                     afeminado...)?
diminuir, principalmente nos machos idosos. Como                    Ocorreu alguma mudança no manejo do
                                                                    animal (alimentação, mudança de tratador
é frequente o aparecimento de outros problemas
                                                                    etc.)?
de saúde nos animais mais velhos, a capacidade
                                                                    O animal foi ou está sendo medicado?
física e funcional para a reprodução pode, tam-
                                                                    Com o quê? Qual a dosagem? Há quanto
bém, ser comprometida. A idade também é um
                                                                    tempo?
fator crítico para a maturidade sexual. Um                          Há quanto tempo apresenta o problema?
reprodutor equino somente poderá ser conside-                       Qual a evolução da afecção? Apresenta
rado sexualmente maduro após cinco anos de idade,                   dificuldade para se locomover?
visto que os testículos ainda continuam a aumentar
cm peso e tamanho até essa idade ou mais,
implicando em um aumento progressivo na
produção de espermatozóides. A raça do animal
é importante para algumas espécies. Assim, a
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino   403



INDÍCIOS DE ANORMALIDADES                                também nos casos de desequilíbrio hormonal ou
                                                         atividade sexual excessiva. Indicativo de libido
PRIMÁRIAS OU SECUNDÁRIAS                                 reduzida pode ser lentidão ou relutância em co-
ENVOLVENDO O SISTEMA                                     pular. A indiferença sexual está relacionada com
                                                         a rejeição que alguns animais, principalmente
REPRODUTOR MASCULINO                                     garanhões, apresentam frente à fêmea ou deter -
                                                         minadas companheiras, perdendo todo o desejo
Infertilidade                                            sexual na presença delas. Tal comportamento é
                                                         decorrente, na maioria das vezes, de traumas
     A infertilidade é definida como a redução tem-      psíquicos, em virtude de experiências passadas,
porária ou permanente da capacidade de conceber e
                                                         marcadas por agressões como, coices, mordidas
produzir descendentes viáveis. Pode se manifestar
                                                         ou simplesmente pelo medo de alguma atitude
à cópula (incapacidade couendi) ou na ausência
                                                         agressiva da égua. Qualquer ato de insistência do
de fertilização (incapacidade generandi). A
avaliação do potencial reprodutivo (avaliação            operador, no sentido de forçar o garanhão a montar
anclrológica e teste de comportamento sexual) e          a égua, será acompanhado por respostas negativas
manejo são importantes para verificar a aptidão          e agravará ainda mais a situação. Quando a impo-
para a reprodução. O manejo inadequado pode              tência e o comportamento sexual forem induzi-
levar a um baixo desempenho reprodutivo. A               dos pela dor e medo, a condição poderá persistir
maioria dos proprietários de cães e gatos toma           mesmo após a diminuição do processo doloroso.
medidas para evitar que seus animais procriem.           Os cães, por exemplo, podem relutar a montar se
Os cruzamentos indesejáveis são notoriamente             doenças de disco intervertebral ou articulares es-
férteis e a infertilidade é rara em cães e gatos.        tiverem presentes. Nesse caso, a causa pode deixar
Entretanto, não há dúvidas de que a falha re-            de ser física e passar para psicológica. A maioria
produtiva em determinadas raças caninas é co-            dos problemas de origem psicológica é estabele-
mum e, geralmente, atribuída ao alto índice de           cida pelo próprio homem, como consequência de
cruzamento consanguíneo praticado nessas es-             falhas no manejo. O sucesso das primeiras
pécies. O médico veterinário tem acesso bastante         experiências sexuais constitui em prc-requisito para
limitado para o diagnóstico de infertilidade em          a performance reprodutiva futura. Assim, um macho
pequenos animais em comparação com bovinos               sexualmente inexperiente, independentemente da
e equinos, nos quais o sistema reprodutor pode           espécie, deve ser exposto primariamente a uma
ser facilmente examinado por meio de exame               fêmea experiente e dócil.
físico específico interno (palpação por via retal             Aumento do instinto sexual. O aumento do ins-
e ultra-sonografia de imagem).                           tinto sexual, nos machos, denomina-se satiríase
                                                         e ocorre devido à maior produção de esteróides,
                                                         principalmente em animais novos, em regime de
Mudança de                                               superalimentação, ou com animais criptorquídi-
Comportamento Sexual                                     cos, resultando em aumento do desejo genésico
                                                         com a aproximação da fêmea em cio. Indícios de
     Indiferença sexual. O apetite sexual ou libido      libido exacerbada são ereções frequentes, hábito
é controlado por um mecanismo neuroendócri-              de montar sobre outros animais da mesma espécie
no. ^.puberdade, no macho, representa o momento          e/ou de espécie diferente e masturbação. Muitas
em que este é capaz de produzir espermato-               vezes, esses animais, quando colocados perto do
zóides pela primeira vez, em número e qualida-           manequim, exacerbam a excitação, saltando so-
de suficientes para emprenhar uma fêmea (ver             bre o mesmo sem prévia ereção. Tais padrões com-
Quadro 8.24). É preciso lembrar que a puberda-           portamentais costumam estar associados a animais
de não é sinónimo de maturidade sexual, a qual           jovens, a caminho da maturidade sexual. Nos cães,
pode ocorrer meses a anos mais tarde, dependendo         é frequente o aumento da libido pela irritação da
da espécie. Inicialmente, deve-sc diferenciar a au-      glande.
sência de libido e indiferença sexual. A ausência             Agressividade. Alguns reprodutores se tornam
da libido é •à falta de interesse ou de estímulo sexu-
                                                         extremamente agressivos durante as coberturas,
al causado por fatores hereditários, ambientais e/
                                                         esquecendo-se da função que deveriam desempe-
ou patológicos. A redução da libido pode ocorrer
                                                         nhar e concentrando-se em agredir a sua parceira
404   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico
  Quadro 8.24 - Tempo médio para o inicio da              fase do exame é de grande importância, pois
  puberdade nas diferentes espécies.                      algumas enfermidades extragenitais, com com-
  •   Equina: 1 8 meses
                                                          prometimento geral do animal, frequentemente
  •   Bovina: 9 e 10 meses                                interferem, em maior ou menor grau, na função
  •   Ovina: 6 a 8 meses                                  reprodutiva ou conduzem a uma falsa
  •   Canina: 7 a 11 meses                                impressão do envolvimento do sistema repro-
  •   Felina: 9 a 10 meses                                dutor. Por exemplo, nos equinos, os quais normal-
                                                          mente exteriorizam o pênis durante a micção,
                                                          a protrusão intermitente do órgão não associa-
e, em alguns casos, o operador. Pode ser causado          da à micção pode sugerir a presença de um cál-
pelo temperamento típico do animal ou por injúrias        culo urinário. E aconselhável, portanto, adiar o
anteriores.                                               exame específico do sistema reprodutor até que
     Masturbação. Prática observada em touros, cães       a condição geral do animal seja conhecida e resta-
e garanhões. O touro procura lançar o membro              belecida. As condições corporal e muscular
rijo entre as pernas e junto ao peito; o cavalo procura   devem ser averiguadas, já que o mau desem-
golpear repetidas vezes o pênis contra a parede           penho reprodutivo pode estar relacionado às di-
abdominal. Os cães geralmente tentam friccionar           ficuldades de monta associadas aos quadros de
o pênis em algum objeto ou na perna de alguma             subnutrição, parasitoses e traumas. Lesões loco-
pessoa.                                                   motoras usualmente interferem na.performance
                                                          reprodutiva dos machos, principalmente quan-
                                                          do localizadas nos membros posteriores. A ob-
Ausência ou Falha na                                      servação do animal em repouso e caminhando
                                                          permite, muitas vezes, identificar alguns pro-
Manutenção da Ereção                                      blemas, tais como: laminite, traumas em re-
     A ereção do pênis está sob controle do siste-        gião lombossacral, displasias, artrites, paresias
ma nervoso vegetativo. A ausência ou falha na ma-         espásticas, problemas nos cascos, nos dígitos
nutenção da ereção c um tipo de queixa associa-           ou nos coxins plantares, entre outros. Animais
da à indiferença sexual. Se tal indiferença não foi       jovens com defeitos de conformação não devem,
adquirida em decorrência de determinadas expe-            a princípio, ser utilizados como reprodutores.
riências passadas, a falta de libido pode ser resul-      Animais obesos apresentam maior dificulda-
tado de alguma disfunção orgânica ou causa here-          de à cobertura. Por outro lado, animais caqué-
ditária. Essa anormalidade também é observada             ticos, desnutridos, com distúrbios endócrinos
em animais com excelente libido, que em decor-            ou sob estresse podem ter a qualidade esper-
rência de problemas de origem psicológica, tem            mática comprometida. Deve-se avaliar, também,
a ereção prejudicada. Em equinos com libido normal,       os parâmetros vitais dos animais e a coloração
a falha na manutenção da ereção pode ocorrer por          das mucosas.
doenças neuromusculares ou vasculares. Geral-
mente, a introdução do pênis é incompleta e,
mesmo quando efetiva, haverá falta de movimentos
copulatórios normais. Fazem muitas tentativas fra-
                                                          EXAME FÍSICO
cassadas antes de conseguirem a penetração. Em            ESPECÍFICO EXTERNO
cães, o osso peniano mantém a rigidez do pênis e
a penetração pode ocorrer antes mesmo do pênis            Muitos machos ressentem-se à palpação da genitá-
ficar ereto. Se o pênis estiver ereto antes da pene-      lia externa. Desta forma é indispensável realizar
tração, não será possível uma penetração total e          tal exame com bastante cautela, o qual é facilitado,
não ocorrerá o aprisionamento, de fundamental im-         e muito, pela contenção adequada do animal,
portância para a fecundação.                              principalmente quando da manipulação de pê-
                                                          nis, prepúcio, testículos e realização de proce-
                                                          dimentos complementares: cateterização, exa-
EXAME FfSICO GERAL                                        me endoscópico da uretra e ultra-sonográfico
                                                          dos testículos, entre outros (ver capítulos de con-
Após cuidadosa identificação e detalhada anamne-          tenção física e medicamentosa dos animais do-
se, deve-se realizar o exame físico geral. Essa           mésticos).
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino     405



Bolsa Testicular/Testículos/
Epidídimos
     A bolsa testicular é geralmente elástica, lisa,
fina, com pouco pêlo e relativamente pendulosa
(exceto nos gatos e em baixa temperatura), mas
pode retrair-se em direção ao corpo durante a
palpação, em virtude das contrações voluntárias
dos músculos cremastéricos externos.
     A inspeção da região escrotal é melhor con-
duzida em pequenos animais mantidos em posição
quadrupedal, no chão ou em cima de uma mesa
de superfície não escorregadia; nos bovinos, em
                                                         Figura 8.54 - Mensuração da circunferência escrotal em
um tronco de contenção, examinando-se por trás;          touro.
lateralmente, em eqiiinos. A pelagem e a pele da
bolsa testicular devem ser observadas com relação
à cor, infestação parasitária e alterações micóticas.
Deve estar livre de escaras, cicatrizes, lesões granu-
lomatosas, edemas, fístulas, dermatites e assime-
trias graves. A bolsa testicular está comumente
envolvida em processos traumáticos. O volume
da bolsa testicular pode aumentar quando o
testículo está hipertrofiado, com líquido ou em
processos tumorais.
     A circunferência escrotal (CE) está corre-
lacionada à produção espcrmática e é utilizada
para a seleção de animais. Existe uma correla-
ção positiva entre a CE e a concentração espermá-
tica, motilidade e normospermia. Os testículos
e os epidídimos devem ser examinados com base            Figura 8.55 - Avaliação da cauda do epididímo.
na simetria, tamanho e sinais de inflamação. A
assimetria testicular pode ocorrer como resultado
de atrofia ou hipoplasia, nos quais o testículo
menor se encontra fibrosado, com o epidídimo
proeminente, ou devido ao aumento de volume
testicular, sendo usualmente acompanhado de
dor e hipertermia (orquite aguda).
      Glossário Semiológico:
  •   Espermatocele: distensão do epidídimo com
      acúmulo de esperma.
  •   Hematocele: extravasamento e acúmulo de san
      gue na cavidade da túnica vaginal.
  •   Hidrocele: acúmulo de líquido no saco da túnica
      vaginal.
  •   Monorquidismo: presença de um único testículo      Figura 8.56 - Palpação dos cordões espermáticos.
      no escroto. Chamado, também, de criptorquidismo
      unilateral.
  •   Orquite: inflamação do(s) testículo(s).                É relativamente fácil palpar os testículos e
  •   Orquiocele: tumor ou herniação completa de um      epidídimos normais. O exame é realizado pal-
      testículo.
                                                         pando-se o testículo individualmente, ao mesmo
  •   Orquiopatia: processo patológico do testículo.
                                                         tempo em que é imobilizado na bolsa testicular.
406   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



Nos ruminantes, o ideal é suspender um testículo              Para a avaliação de tamanho, forma, consis-
enquanto se examina o outro. Os testículos              tência e simetria testicular, é interessante que
normais possuem uma consistência firme,                 ambos os testículos sejam fixados dentro da res-
assemelhando-se a um bíceps semiflexionado.             pectiva bolsa, um de cada vez, palpando-se por
A pele da bolsa testicular se movimenta livre-          trás cada testículo, separadamente, mediante ele-
mente sobre eles. O endurecimento testicular é          vação de um deles em direção ao cordão testicu-
sugestivo de neoplasia ou de orquite crónica,           lar. Lembrar que, no caso do garanhão, os testí-
constituindo uma provável indicação para biópsia        culos, epidídimo e cordão espermático são mais
dirigida. Testículos flácidos sugerem, frequen-         bem avaliados se o examinador se posicionar ao
temente processos degenerativos, disgenesia ou          lado do animal. Deve-se, entretanto, levar em conta
endocrinopatia. ^capacidade de deslocamento dos         que existe uma considerável diferença no tama-
testículos é verificada mais facilmente pela            nho dos testículos de animais normais da mesma
palpação. A camada peritoneal fornece normal-           espécie e, como regra geral, observa-se normal-
mente uma superfície escorregadia, a qual               mente uma discreta assimetria testicular. Deve-
juntamente com a túnica vaginal, torna possível         se, também, mensurar a circunferência escrotal,
a movimentação dos testículos dentro dos limites        o volume testicular e as dimensões testiculares
anatómicos da bolsa testicular. Entretanto, o           com paquímetro ou fita métrica (Fig. 8.54).
testículo normal não deve apresentar deslo-                   A assimetria acentuada pode ocorrer como
camento excessivo para o canal inguinal. E ne-          resultado de uma orquite, hipoplasia unilateral,
cessário, também, verificar se ambos os testícu-        atrofia (sequela de orquite crónica), ou devido a
los estão presentes na bolsa testicular. Ausência       algum processo neoplásico. A hipertrofia bilate-
do testículo (monorquidismo verdadeiro) ou              ral ocorre nos processos inflamatórios dos testí-
                                                        culos, podendo ou não comprometer os epidídi-
retenção dentro da cavidade abdominal (criptor-
                                                        mos. A palpação simultânea dos testículos revelará
quidismo), ou no canal inguinal, pode dificultar
                                                        aumento de volume, consistência mais firme,
a palpação. Na maioria dos casos de criptorquidia,
                                                        aumento de temperatura e manifestação de dor.
os testículos somente produzem hormônios,
                                                        A inflamação do escroto provoca um aumento
apresentando um quadro de azoospermia, isto
                                                        considerável da parede escrotal. A atrofia tes-
é, ausência de espermatozóides.
                                                        ticular c, comumente, encontrada após orquites
     O criptorquidismo c considerado hereditário;
                                                        pós-castração ou pós-traumática, secundária à
em garanhões, a condição não deve ser conside-          torção do funículo espermático ou devida à crip-
rada como definitiva até que o animal tenha, pelo       torquidia corrigida cirurgicamente. Nesses casos,
menos, dois anos de idade. Em cães, o criptor-          o testículo geralmente fica sensível e com con-
quidismo é o distúrbio mais comum do desen-             sistência flácida. O diagnóstico diferencial entre
volvimento sexual, ocorrendo em até 13% dos cães.       hipoplasia e degeneração testicular é difícil de ser
E mais frequente nas raças braquicefálicas, incluin-    feito levando-se em consideração apenas os
do Dachshunds, Chow-Chows, Cockers Spaniels             aspectos morfológicos. A hipoplasia testicular não
e Poodles. Porém, não c raro encontrar criptor-         é aparente até a puberdade. O testículo hipo-
quidismo abdominal em cães portadores de tumor          plásico geralmente varia em tamanho, desde um
das células de Sertoli (sertolioma), o qual causa       quarto até próximo ao normal. A consistência do
alopecia bilateral c feminização. Em gatos, ob-         testículo hipoplásico é muito semelhante ao do tes-
serva-se maior ocorrência de criptorquidismo em         tículo normal.
raças puras do que nos mestiços, sugerindo uma                O epidídimo deve ser cuidadosamente palpado
origem genética para essa anormalidade. Diferen-        entre o polegar e o dedo indicador, ao longo de
temente dos equinos, que manifestam libido acen-        seus três segmentos (cabeça, corpo e cauda), para
tuada, os gatos com criptorquidismo bilateral ma-       verificação da consistência e tamanho. A iden-
nifestam pouca ou nenhuma libido. Em equinos,           tificação da cauda do epidídimo pode ser facilitada
há uma predominância de criptorquidia unilate-          pela localização do ligamento caudal do epidídimo,
ral esquerda. Isso é explicável pelo descenso relati-   palpado como um nódulo firme (Fig. 8.55). A
vamente lento do testículo esquerdo, associado          cabeça e o corpo do epidídimo, de maneira geral,
ao fechamento contínuo do anel inguinal. Testí-         não são estruturas facilmente palpáveis, a não ser
culos criptorquídicos são mais propensos à              em casos de alterações patológicas. A cauda, de
neoplasia do que aqueles em posição normal.             consistência ligeiramente firme, é bastante evi-
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino   407



dente e pronunciada. Não devem possuir nódu-          tecido subcutâneo (abscesso), ao passo que uma
los, aumento de temperatura ou dor à palpação.        inflamação posterior, próxima à bolsa testicular,
Em caso de epididimite aguda, o testículo e o         pode indicar um hematoma no pênis, resultante
epidídimo, de forma geral, ficam indistinguí-         de lesão durante um acasalamento violento,
veis à palpação; nesse caso, o aumento de sen-        traumático ou mesmo o desenvolvimento de
sibilidade e tamanho são sinais importantes.          neoplasia. Os "cálculos prepuciais", ocasio-
     Um segmento do cordão espermático pode           nalmente encontrados em cavalos e bois, são
ser examinado pela palpação delicada ao nível         concreções sebáceas, impedindo, em algumas
da base da bolsa testicular (porção dorsal). Isso     situações, a exteriorização normal do pênis e a
pode ser feito com a mão apertando o cordão           micção. O prolapso e a inflamação da mucosa do
espermático entre o polegar e os demais dedos         orifício prepucial (postite), ocorre mais comu-
(Fig 8.56). O cordão espermático contém artéria       mente em touros, com maior incidência nas raças
e veia espermáticas, na forma de um emaranhado        zebuínas, devido ao prepúcio mais longo e
de vasos (plexo pampiniforme), dueto deferente,       penduloso. No entanto, alguns touros podem
todos envolvidos por membranas serosas,               apresentar eversão do prepúcio por um breve
músculo cremastérico, o qual se encontra inse-        período, principalmente durante a micção. O
rido na superfície externa das serosas. Entre-        edema de prepúcio resultante de traumas pode
tanto, nem todas essas estruturas são identifi-       acarretar fimose ou parafimose.
cáveis à palpação. Os dois cordões devem possuir           No garanhão, o pênis pode ser exteriorizado
tamanho c uniformidade. A simetria entre ambos        introduzindo-se a mão enluvada no prepúcio,
é de importância clínica, uma vez que os desvios      segurando-se o pênis além da glande e aplican-
de normalidade são, invariavelmente de signi-         do-se, então, uma tração discreta e constante no
ficado diagnóstico. O mesmo se aplica à con-          pênis, sobrepujando, aos poucos, a tensão dos
sistência, que deve ser firme. Deve-se tentar         músculos retratores. O uso de uma égua estimula
sentir as várias estruturas do cordão. A presen-      a ereção e a lavagem, com água aquecida (morna),
ça de dor e tumefações pode indicar abscesso,         ajuda a manter o pênis ereto para o exame. Alguns
hematoma, torção ou hérnia. A varicocele c a          animais, no entanto, resistem à manipulação do
dilatação local da veia espermática no plexo          pênis. A tranqiiilização com xilazina (0,5mg/kg)
pampiniforme, sendo, em 50% dos casos, bila-          ou acepromazina (0,04 a 0,06mg/kg) torna-se,
teral. A torção do cordão espermático pode ocor-      muitas vezes, necessária, permitindo que um
rer no criptorquidismo, levando ao infarto c à        exame mais detalhado e tranquilo seja realizado.
necrose dos testículos.                               Contudo, o uso dos derivados de fenotiazínicos
                                                      deve ser feito com cautela, já que são apontados
                                                      como uma das causas de priapismo associado à
Prepúcio e Pênis                                      parafimose paralítica em equinos. Para evitar
                                                      acidentes ou lesões penianas após o relaxamento
     Um ambiente bem iluminado é essencial para       induzido por drogas, deve-se tomar todo o cuidado
a avaliação do pênis e do prepúcio, os quais são      e evitar que o cavalo fique solto até que o pênis
inspecionados e palpados pelo lado, expondo assim     seja totalmente retraído para dentro do prepúcio.
o médico veterinário aos coices e outros movimen-     O ideal seria a apresentação de uma fêmea no cio,
tos defensivos, mesmo quando touros e garanhões       o que possibilitaria a observação da ereção e o com-
estão adequadamente contidos. Os pequenos ani-        portamento sexual do animal. No entanto, às vezes,
mais devem ser colocados, de preferência, em          essa manobra pode deixar o animal inquieto e não
decúbito lateral, o que facilita a imobilização e o   cooperativo ao exame. Estando o pênis ereto, deve-
exame. Deve-se, inicialmente, observar o prepúcio     se remover o esmegma antes da realização da
para identificar a ocorrência de edemas, alterações   inspeção. O uso de chumaços de algodão embe-
congénitas (frênulo peniano persistente), hemor-      bidos em água morna ajuda a higienização e a ma-
ragias, abscessos e outras lesões, atentando-sc,      nutenção da ereção.
também, para o grau de abertura do óstio pre-              No estado não erétil, a extremidade livre do
pucial. A pele do prepúcio deve ser fina, elásti-     pênis do touro pode ser detectada quase à altura
ca e móvel, sem evidência de inflamação. Uma          da porção média, entre a bolsa testicular e o ori-
inflamação anterior, próxima ao orifício prepucial    fício do prepúcio. No touro, o orifício do prepúcio
é. muitas vezes, causada por acúmulo de pus no        deve ser pérvio a passagem de dois dedos, não
408    Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



sendo possível tocar diretamente a extremidade
do pênis. O pênis dos ruminantes pode ser
inspecionado, superficialmente, permitindo que o
animal monte em um manequim ou em uma fê-
mea no cio. No entanto, para realizar um exame
completo da porção livre do pênis, em toda a sua
extensão, pode-se fazer uso do eletroejaculador,
cujos estímulos elétricos, de baixa amperagem e
contínuos, farão o animal expor o pênis, manten-
do-o exposto mediante tração com auxílio de uma
gaze. O exame do pênis de touros pode ser facili-
tado durante a palpação retal, pelo relaxamento do
músculo retrator do pênis, o que permite a exposição
parcial do órgão. Às vezes, torna-se necessário o           Figura 8.54 - Priapismo em equino.
bloqueio do nervo pudendo interno ou o uso de
tranquilizantes.
     O pênis do cão pode ser exteriorizado posicio-           Quadro 8.25 - Principais anomalias do pênis e do
nando-se o animal em decúbito lateral e, então,               prepúcio.
empurrando-se o prepúcio para trás com os de-                 •   Frênulo persistente
dos de uma das mãos, enquanto a outra expõe o                 •   Hipospadia
membro. A técnica para exteriorização do pênis                •   Nódulos, pústulas, granulomas, papilomas, sarcóides,
do gato consiste em retrair o prepúcio com os dedos               carcinomas, feridas
                                                              •   Fimose
indicador e polegar. Pode-se observar, nos cães,              •   Postite
uma pequena descarga de secreção, que se encontra             •   Balanite
retida no prepúcio. Da mesma forma, nos equi-                 •   Balanopostite
nos, o pênis deve ser higienizado antes de se ini-            •   Parafimose
ciar a avaliação.

      Glossário:                                            mais frequentemente nas partes caudais e com menor
  • Balanite: inflamação da glande peniana.                 frequência no prepúcio. Pode ser individual ou
  • Balanopostite: inflamação simultânea da glande          múltipla, com poucos milímetros até lOcm de diâ-
    e da mucosa prepucial.                                  metro e aspecto de couvc-flor. Transmitida durante
  • Fimose: incapacidade de exteriorização do pênis em      o coito, é extremamente invasiva, podendo de-
    virtude do alongamento ou estenose do prepúcio.         senvolver metástases em outros locais, incluindo
  • Frêmilopersistente: é a permanência anormal de tecido   os órgãos viscerais, pele e encéfalo. No entanto, a
    conjuntivo entre a glande do pênis e prepúcio.          metástase não é de ocorrência comum. Outras anor-
  • Hipospadia: abertura da uretra ventralmente ao pê       malidades do prepúcio e do pênis podem ser ob-
    nis e caudalmente ao orifício urctral normal.           servadas durante a avaliação.
  • Postite: inflamação do prepúcio.

     Com exceção do frcnulo peniano persistente,            Parafimose e Príapismo
os distúrbios penianos congénitos são raros (Qua-
                                                                 A parafimose e o priapismo (Fig. 8.54) possuem
dro 8.25). Sempre que possível, o pênis deve ser
                                                            causas diversas e requerem um cuidado especial.
palpado em toda a sua extensão prepucial na tenta-          A parafimose é uma condição na qual o pênis é im-
tiva de detectar tumefações e aderências aos teci-          pedido de retrair para a cavidade prepucial. Em cães,
dos vizinhos. A palpação do pênis pode revelar fra-         ocorre mais frequentemente após a ereção. Por-
turas, tumefações e neoplasias, o que torna a exte-         tanto, é observada, muitas vezes, após a colheita
riorização do pênis ainda mais difícil. Áreas endu-         de sémen e, ocasionalmente, após a cópula. Pode
recidas e dolorosas, palpadas ao longo da uretra            ocorrer em gatos de pelagem longa, quando o pênis
prepucial, podem significar periuretrite secundária         fica emaranhado nos pêlos prepuciais. Em touros
à estenose uretral. O tumor venéreo transmissível é         pode ocorrer como consequência da ruptura espon-
a neoplasia mais comum observada no pênis de cães,          tânea da túnica albugínea do corpo cavernoso do
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino   409



pênis. O priapismo é a ereção involuntária & perma-    Protrusão Insuficiente do Pênis
nente do pênis sem que haja manifestação, por parte
do animal, de desejo sexual. E visto nas condições          Nesse caso, o pênis não entra em contato
dolorosas do pênis, tromboembolismo peniano,           com a vulva, devido à exteriorização insuficien-
traumas medulares, uretrites e paralisia do nervo      te. Em geral, ocorre em virtude do desenvolvi-
pudendo. Invariavelmente, o pênis exteriorizado        mento de um processo inflamatório, com ede-
se torna edemaciado cm virtude do aumento da           maciação do prepúcio ou aderências com o pênis.
pressão hidrostática causado pelo ingurgitamento       A lesão primária da mucosa peniana ou prepucial
venoso. Além da lesão provocada pela má circu-         pode ser consequência de trauma ou de doença
lação, o pênis exposto está sujeito a traumatismo.     venérea vesicular. Ocasionalmente, a lesão pri-
Na maioria dos casos, a uretra não se encontra         mária é uma ruptura da mucosa, em forma de
comprometida. A tumefação do pênis também              circunferência, na junção do pênis com o prepúcio,
pode ser causada por inflamação, porém, em tais        após um coito vigoroso. A constrição congénita e a
circunstâncias, nem sempre o pênis é deslocado         estenose adquirida do orifício prepucial (fimose),
para fora do prepúcio. A parafimose de longa du-       evitam ou impedem a protrusão do pênis ereto.
ração pode resultar em gangrena ou necrose.            Não são com segurança através de inspeção e
                                                       palpação quando o pênis está retraído. Somente
                                                       durante o acasalamento se pode verificar se a
Fimose                                                 abertura do orifício é adequada. A protrusão ou
     Na fimosc, o pênis fica retido na cavidade        a extrusão do pênis pode ser prejudicada ou
prepucial por causa da diminuição congénita ou         impedida por malformações, destacando-se a
                                                       flexão da glande peniana causada por uma fusão
adquirida do orifício prepucial, impedindo a exte-
                                                       congénita, semelhante a um cordão, entre as
riorização do pênis. Muitas vezes a alteração não é
                                                       membranas mucosas prepucial e peniana (persis-
percebida pelo proprietário ou tratador, sendo
                                                       tência do frênulo). É uma anomalia anatómica
identificada quando o animal apresenta inconti-
                                                       de pouca importância, contudo, é um problema
nência urinária cm virtude do acúmulo de urina
                                                       a ser considerado por limitar o grau de exposição
no prepúcio ou quando demonstra incapacidade
                                                       do pênis e alterar sua angulação (curvatura ventral
em copular. A porção livre do pênis, em potros         do pênis ereto), tornando o acasalamento difícil
neonatos, encontra-sc, normalmente, aderida à lâ-      ou impossível.
mina prepucial interna durante as primeiras semanas
de vida; a completa separação ocorre entre quatro
e seis semanas de idade. A fimose adquirida usual-
mente ocorre de forma secundária à postite aguda       Fratura do Pênis
ou crónica ou devido a lesões prepuciais localiza-          Essa afecção surge, na maioria dos casos, du-
das (abscessos, neoplasias, granulomas). O estreita-   rante um empuxo ejaculatório vigoroso. Compre-
mento congénito ou adquirido do óstio prepucial        ende a ruptura da túnica albugínea com conse-
não pode ser avaliado com segurança por meio           quente hemorragia do corpo cavernoso, que inunda
de inspeção e palpação (pela introdução de um          o tecido conjuntivo peripeniano, seguido do de-
dedo no orifício prepucial), sendo mais satisfatório   senvolvimento de hematoma local. Muitas vezes,
o relato de incapacidade de exteriorização do pê-      coexiste um prolapso de prepúcio em virtude,
nis durante a obtenção da anamnese e/ou pela           provavelmente, de o hematoma localizado obs-
observação do comportamento sexual.                    truir o fluxo sanguíneo venoso do prepúcio e/ou
                                                       interferir na inervação vasomotora local, atraindo,
Balanopostite                                          então, a atenção do proprietário ou do tratador.
     A inflamação ou infecção da cavidade prepucial
e do pênis é extremamente comum em cães e
touros e rara em gatos. Após trauma do pênis ou
                                                       EXAME FfSICO
do prepúcio, é possível o desenvolvimento de           ESPECÍFICO INTERNO
infecções bacterianas secundárias. A balanopostite
geralmente é caracterizada por corrimento pre-         Até certo ponto, os órgãos sexuais internos dos
pucial purulento. Em casos avançados pode pro-         machos podem ser examinados pela exploração
mover adcrências do pênis ao prepúcio.                 manual ou digital retal. Entretanto, nem sem-
410   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico


                         3

  Quadro 8.26 - Indícios mais comuns do envol-
                                                      é feita de rotina através da palpação por via retal,
  vimento prostático em cães.                         em virtude da maior ocorrência de prostatite, hi-
                                                      perplasia e neoplasia, quando comparada com
  •   Incontinência urinária
                                                      equinos, bovinos, ovinos, caprinos e felinos. A lo-
  •   Disquezia e disúria
  •   Hematúria                                       calização precisa varia de acordo com a raça e o
                                                      tamanho do animal. É bilobada c se localiza, em
                                                      animais adultos, na entrada da sínfise pélvica. A
                                                      hipertrofia prostática é comum em animais ido-
pré o exame da genitália interna é um procedi-        sos não castrados. Muitas ve/.es, a palpação digi-
mento fácil, tendo em vista o comportamento           tal associada à palpação transabdominal externa,
agressivo e não cooperativo de alguns animais.        em animais de médio porte c/ou magros, pode
A observação de anormalidades como pus, sangue        auxiliar na averiguação do tamanho, alteração de
ou células inflamatórias no sémen é indicação         localização e aumento de sensibilidade. Em al-
da necessidade da avaliação das várias estrutu-       gumas situações, a palpação pode ser facilitada,
ras que compõem a genitália masculina interna.        suspendendo-se os membros anteriores do ani-
Os animais domésticos, com exceção da espécie         mal. Raramente, a próstata dilatada se situa com-
canina, apresentam normalmente quatro pares           pletamente dentro do canal pélvico.
de glândulas acessórias, a saber:
                                                           Cães com cinco anos ou mais são mais pro-
                                                      pensos a desenvolver hiperplasia prostática sig-
 1. Duas glândulas bulbouretrais
                                                      nificativa e apresentam alterações secundárias
 2. Uma próstata
 3. Duas ampolas, as quais envolvem cada seg          como disquezia, disúria com incontinência uri-
    mento terminal dos duetos deferentes              nária, independentemente de micção e hema-
 4. Um par de glândulas vesiculares                   túria (Quadro 8.26). Outros sinais inespecíficos,
                                                      como febre, apatia c dor abdominal aguda, estão
                                                      frequentemente presentes nas infecções bac-
                                                      terianas e neoplásicas da próstata. A hiperpla-
Glândulas Bulbouretrais                               sia prostática benigna é o distúrbio prostático
    As glândulas bulbouretrais são estruturas         mais comum no cão. A próstata hiperplásica se
ovóides localizadas cm posição caudodorsal à          mostra, à palpação por via retal, aumentada, lisa
uretra pélvica c estão, quase completamente,          e sem reação dolorosa ao toque. A neoplasia
cobertas por musculatura estriada, fibrosa no         prostática é muito rara em grandes animais e
touro e muscular lisa nos outros animais. Como        gatos. O adenocarcinoma prostático é a neoplasia
descrito anteriormente, não existem nos cães.         mais comum da próstata canina. O formato da
São difíceis de serem palpadas por via retal em       glândula é irregular, com consistência mais firme
virtude do espesso revestimento do músculo            que o normal. Nesse caso, diferentemente de
isquiocavernoso.                                      outros aumentos de volume prostático não nco-
                                                      plásicos, pode ocorrer uma completa obstrução
                                                      uretral. A atrofia da próstata é observada em ani-
Próstata                                              mais senis, cujo tamanho pode ficar reduzido à
     A glândula prostática se encontra dorsal à in-   metade ou até 25% do tamanho normal, talvez
tersecção da uretra pélvica e cm posição caudo-       por uma diminuição do estímulo androgênico.
dorsal cm relação às glândulas vesiculares. Ela se    As doenças da próstata são extremamente raras
encontra externamente à uretra pélvica, no colo       em gatos.
da bexiga. Os cavalos e os ruminantes possuem
um corpo prostático em forma de anel, que cir-
cunda a próstata. Em bovinos, somente o corpo           Quadro 8.27 - Tamanho das glândulas vesiculares
da próstata pode ser sentido e apresenta cerca de       de equinos e bovinos adultos.
l,5cm de largura. Os dois lobos da próstata de
                                                        • Equinos: 15 a 20cm de comprimento e Sem de
equinos são difíceis de serem avaliados pela pal-
                                                          diâmetro.
pação por via retal, sendo mais bem avaliados pela      • Bovinos: 10 a 1 5cm de comprimento e 3 a 7cm de
ultra-sonografia de imagem. A próstata é a maior          diâmetro.
glândula sexual acessória dos cães e sua avaliação
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino   411



Ampolas                                                ramente são sensíveis à manipulação, exceto nos
                                                       estágios agudos de doenças.
      As ampolas contribuem para a ejaculação e             A presença de dor à micção (estrangúria), à
armazenam o esperma em suspensão provenien-            defecação (disquezia) e/ou a ocorrência de la-
te dos testículos e epidídimos; encontram-se pre-      minite nos membros posteriores, de touros, pode
sentes nas porções terminais dos duetos deferen-       estar associada à inflamação das glândulas vesi-
tes dos equinos, ruminantes, cães e gatos. Porém,      culares (vesiculite). Durante o exame por via
sua palpação somente é realizada em bovinos e          retal, o touro manifesta uma reação dolorosa
equinos. São detectadas à palpação por via retal,      intensa à palpação das glândulas inflamadas. Na
movendo-se a mão cranialmente ao longo da ure-         vesiculite crónica, a glândula adquire uma con-
tra pélvica até que os dois duetos sejam palpados      sistência firme, perde a sua lobulação normal e
dorsalmente à bexiga. As ampolas se apresentam         pode se encontrar aderida às estruturas pélvicas.
como um espessamento dos duetos deferentes,            A principal causa é a infecção por bactérias do
cerca de 2 a 4cm, cranialmente à sua bifurcação.       género Erucella.
O diâmetro das ampolas nos equinos e bovinos é
cerca de 13mm e 8mm, respectivamente, em
machos totalmente desenvolvidos; durante a ex-         Anéis Inguinais Internos
citação, dobram de tamanho, diminuindo após a
ejaculação. A inflamação é caracterizada por assi-          Os anéis inguinais internos são mais comu-
metria, aumento em tamanho (espessura do dedo          mente examinados cm equinos, através da palpação
mínimo ou até do polegar), perda de elasticida-        por via retal, para determinar a localização dos
de, rigidez, superfície irregular e mobilidade res-    testículos e estruturas presentes dentro do anel
trita. Essas alterações ocorrem em quadros de in-      inguinal, em animais com suspeita de hérnia in-
flamação aguda e crónica. A sensibilidade dolorosa     guinal e/ou escrotal. Os anéis são palpados cranial
é observada somente nos processos agudos. O            e ventralmente à borda pélvica de ambos os lados.
aumento exagerado das ampolas, devido a um             São estruturas em forma de fenda e não devem
processo inflamatório ou neoplásico, induz ao acú-     estar aderidas aos intestinos e/ou outras estruturas.
mulo excessivo de secreções glandulares e de           Dentro de cada anel inguinal interno está o anel
esperma, levando à obstrução parcial ou total dos      vaginal, onde a artéria espermática e o dueto
duetos e ao desenvolvimento de azoospermia.            deferente podem, frequentemente, ser palpados.
                                                       A abertura do canal inguinal, em equinos, possui
                                                       cerca de 2 a 3cm de diâmetro. A prevalência de
                                                       hérnia inguinal adquirida em pacientes equinos,
Glândulas Vesiculares                                  com cólica, pode chegar a 10%.
     As glândulas vesiculares são relativamente
fáceis de localizar através da parede do reto,
ocupando uma posição ventral. As duas glândulas        EXAMES COMPLEMENTARES
vesiculares formam uma estrutura em Y, para
frente, e situam-se de cada lado da uretra pélvica.
Devem ser comparadas com relação ao tamanho,           Biópsia Testicular
simetria, consistência, mobilidade e presença de            A biópsia testicular tem sido utilizada em
sensibilidade dolorosa. Seu tamanho normal varia       associação com a avaliação da qualidade esper-
consideravelmente com a idade do animal, sen-          mática para o diagnóstico de problemas de ferti-
do maiores em animais em reprodução e menores
                                                       lidade em homens. Essa combinação pode ser
em animais jovens e/ou castrados (Quadro 8.27).
São lobuladas no touro e lisas no garanhão. Os         interessante em Medicina Veterinária, tendo em
distúrbios de desenvolvimento embrionário po-          vista os parcos e dispendiosos testes existentes
dem levar à ausência de ambas as glândulas (raro),     para a determinação do perfil hormonal nas di-
de apenas uma (mais comum), ou a um desen-             ferentes espécies domésticas. A biópsia testicu-
volvimento insatisfatório (hipoplasia). À inflama-     lar é de particular interesse em casos de asper-
ção, as glândulas vesiculares se tornam espessas,      mia, pois possibilita o diagnóstico diferencial entre
firmes e com as bordas irregulares, exceto no touro,   algumas afecções, tais como: obstrução do epidí-
no qual se tornam lisas, na maioria das vezes. Ra-     dimo, hipoplasia, degeneração testicular e cessação
412   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



da espermatogênese. A biópsia pode ser útil no        de comprimento para minimizar o trauma no
estabelecimento do diagnóstico e prognóstico de       testículo e na vascularização. Um fragmento
distúrbios inflamatórios, não inflamatórios e neo-    elíptico de tecido é excisado pela túnica e colo-
plásicos. Pode ser indicada, também, em animais       cado em solução fixadora. Posteriormente, a túnica
criptorquídicos, já que os testículos retidos podem   e a pele são suturadas.
causar uma disfunção testicular, tornando-se
fibrosados e/ou neoplásicos. No entanto, a biópsia
de testículo, ou seja, a colheita de amostras de      Biópsia por Aspiração
tecido das gônadas, não é um procedimento de
                                                            Utilizando-se uma agulha de tamanho apro-
rotina e, raramente, realizado devido a possíveis     priado, a biópsia pode ser feita com a bolsa tes-
complicações. Pode dar origem a distúrbios da         ticular fechada ou parcialmente aberta, através da
espermatogênese, de longa duração, que, em alguns     realização de uma excisão de meio centímetro de
casos, tornam-se irreversíveis, como resultado de     comprimento na pele, sem atingir o testículo. Ê
hemorragias praticamente inevitáveis da túnica        necessária, nessa técnica, anestesia local, por in-
albugínea, altamente vascularizada, e irritação do    filtração na pele, com lidocaína ou mepivacaína.
parênquima testicular, por ocasião da colheita da     Após a assepsia, a agulha é levemente inserida
amostra. Uma simples biópsia unilateral pode levar    através da pele, e tecido testicular (biópsias aspi-
ao comprometimento da espermatogênese do tes-         rativa fechada), ou diretamente dentro do tecido
tículo não biópsiado.                                 testicular (biópsia aspirativa aberta). A punção da
     Os métodos disponíveis incluem biópsias por      túnica é quase sempre dolorosa em virtude da exis-
excisão ou aspiração, sendo a última utilizada,       tência de fibras nervosas sensitivas entre a camada
preferencialmente, por ser pouco invasiva e pro-      dérmica e a túnica albugínea. A agulha é acoplada
vocar menos danos às estruturas testiculares.         a uma seringa e feita a sucção à medida que a
                                                      agulha vai sendo posicionada em diferentes pla-
                                                      nos do testículo, assegurando uma colheita satis-
Biópsia por Excisão                                   fatória de material. O material, uma vez obtido,
                                                      pode ser imediatamente colocado em uma lâmina
     Técnica utilizada comumente em pequenos          para avaliação histológica ou em solução fixa-
animais. Deve-se adotar os procedimentos apro-        dora para avaliação histopatológica.
priados de contenção para as diferentes espécies.
Em pequenos animais, os diferentes procedimen-
tos de biópsia devem ser realizados posicionando-     MÉTODOS PARA COLHEITA
se o paciente em decúbito lateral; nos grandes,
mantendo-os em posição quadrupedal, de pre-
                                                      DE SÉMEN
ferência em tronco de contenção. Toda a área          Existem vários métodos para colheita de sémen
da bolsa testicular é tricotomizada e preparada       nos animais domésticos. Alguns não são mais
assepticamente (lavagem de toda a bolsa testi-        utilizados devido ao aparecimento de técnicas
cular com solução degermante e água + solução         mais apropriadas; contudo, serão abordados com
de iodo-povidona ou similar). É interessante a        a finalidade de informação. Convém lembrar que
lavagem das porções internas dos membros pos-         a escolha do método está condicionada à espécie
teriores na região inguinal. Essa preparação do       animal, levando-se em consideração, também, as
campo cirúrgico é extremamente importante para        condições do animal, docilidade e local, para,
evitar a penetração de bactérias no testículo. O      então, optar pela técnica a ser empregada. Con-
uso de tranquilizantes e a infiltração da pele com    dições de segurança para se evitar qualquer pos-
anestésicos ou, em última instância, a realização     sibilidade de acidente com a(s) pessoa(s) envol-
de anestesia geral, dependendo do temperamento        vida(s) na colheita e com o animal, devem ser
do animal, é indicada para a intervenção cirúrgi-     observadas em primeira instância. Para melhor
ca. O testículo deve ser imobilizado na bolsa tes-    compreensão, classificaremos os principais mé-
ticular, comprimindo-o na base do escroto e des-      todos de colheita, em uso em função do sexo, ou
viando-o vcntralmente. Uma incisão é feita ao         seja, aplicados ao macho e aplicados à fêmea ou
escroto e túnica albugínea, em sua porção ventral.    similar. No primeiro caso, temos os seguintes
A incisão não deve ser maior que meio centímetro      métodos: eletroejaculação, excitação mecânica
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino           413



do pênis, massagem das ampolas dos duetos              o eletrodo, já que a resposta está condicionada
deferentes e camisa peniana (codori).                  ao local excitado, ou seja, excitação mais caudal
      O primeiro método, um dos mais utilizados,       (lombossacral) ou cranial (lombar), respectiva-
está disponível para emprego nos ruminantes e          mente, promovem a ereção e a ejaculação. A
felinos domésticos e selvagens, enquanto que o         estimulação dessas regiões também induz a li-
da excitação manual do pênis é comumente em-           beração de secreções das glândulas sexuais ane-
pregado no cão e no touro. Devido à dificuldade        xas. A disposição dos nervos eretores e promo-
de fazer o animal responder a esse tipo de mani-       tores da ejaculação pode levar à obtenção de
pulação, é raramente usado no touro. O método          sémen com o pênis flácido, semi-ereto, cm ere-
da massagem das ampolas pode ser tentado no            ção, ereto sem ejaculação ou somente com se-
touro e no garanhão quando a colheita do sémen         creções das glândulas sexuais. Alguns touros não
é necessária e não se dispõe de vagina artificial      chegam a exteriorizar o pênis, fazendo com que
ou eletroejaculador, métodos de eleição para es-       o sémen flua pelo óstio prepucial. No caso do
sas espécies, exceto o último, o qual não deve ser     bode e carneiro, torna-se necessário exteriori-
utilizado no cavalo. A camisa peniana, em raríssimas   zar o pênis e mante-lo assim durante o proce-
ocasiões, pode ser utilizada no garanhão, desde        dimento de colheita. Para tanto, pode-se utili-
que não se disponha de uma vagina artificial c a       zar uma gaze passada ao redor do pênis, dei-
massagem das ampolas não resulte na colheita do        xando a glande livre. Entretanto, antes da
sémen. Além disso, o garanhão geralmente reluta
em receber esse dispositivo de colheita. Assim
como o método da massagem das ampolas, esses
métodos fornecem um material pobre, isto é, baixo
volume e qualidade seminal questionável,
servindo apenas para avaliação rápida, quando
não se tem outra opção e se quer ter uma ideia
da "qualidade espermática" do reprodutor, em
nível de campo.


Eletroejaculação
     Introduzida na espécie bovina, após os bons
resultados obtidos em ovinos, em 1936, por
Gunn. Vários modelos estão disponíveis no
mercado, consistindo basicamente de uma fonte          Figura 8.53 - Equipamento de eletroejaculação para co-
de energia e um eletrodo bipolar (Fig. 8.53),          lheita de sémen em touro.
em tamanho (comprimento e diâmetro) com-
patível para bovinos, ovinos, caprinos e felinos.
O equipamento pode ser conectado à tomada
ou bateria de automóvel, existindo, ainda, a
opção de uma bateria recarregável. Embora de
fácil manuseio, requer habilidade para o uso e
deve somente ser utilizado por indivíduos trei-
nados e com experiência apropriada (Fig. 8.54).
Basicamente, estímulos elétricos de baixa mi-
liamperagem são desencadeados a intervalos de
3 a 4 segundos, estimulando os centros de ere-
ção e ejaculação situados na medula espinal,
levando à ejaculação. Estímulos de 200 a 250mA
são aumentados progressivamente até que o ani-
mal acabe ejaculando ao atingir 500 a 700mA.
Face ao comportamento do animal no momento
da colheita, pode-se adiantar ou retroceder            Figura 8.54 - Introdução do eletrodo bipolar, via transretal.
414   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



exteriorização do pênis, deve-se fazer o animal             des e médios animais, deve-se, no mínimo, lavar
sentar nos posteriores, o que fará com que a                bem a região abdominal, prepúcio e pênis. As-
coluna se encurve c ocorra a exteriorização. A              sim, em touros, costumamos, primeiramente, in-
seguir, deita-se o animal cm decúbito lateral e             duzir a micção (Fig. 8.57) c a defecação, aparar
inicia-se o procedimento através da colocação               os pêlos prepuciais (Fig. 8.58) para, em seguida,
do eletrodo via transretal. No caso do touro, além          proceder à lavagem pela introdução de uma pi-
de um brete de contenção adequado (Fig. 8.55),              peta pelo óstio do prepúcio (Fig. 8.59). Então,
para se evitar lesões ao animal e ao operador, é            efetua-se uma primeira lavagem com Quilol
necessário fazer a higienização da região abdo-             (anti-séptico), diluído em solução salina
minal (Fig. 8.56) e óstio prepucial. A colheita             (1:1.000), cerca de um litro, segurando-sc o
de sémen com finalidade de exame andrológico                prepúcio com a mão direita e massageando-se
não necessita de rigorosa higienização, o mes-              o pênis externamente para uma boa higienização;
mo não ocorrendo quando se deseja colher a                  despreza-se esse lavado e novamente infunde-
amostra para processamento, ou seja, utilização             se um litro de solução salina para remoção do
de sémen fresco (i n natura) diluído ou não, sé-            excesso do anti-séptico. Após secar o óstio, o
men refrigerado ou congelado, o que varia de                animal já está apto para o procedimento de
acordo com a espécie trabalhada. Em se tratan-              colheita. Como desvantagens desse método,
do de colheita para processamento, em gran-                 podemos citar a necessidade de equipamento




                                                                                                        i


Figura 8.55 - Brete de contenção para colheita de sémen     Figura 8.57 - Indução da micção antes da colheita de
com eletroejaculador.                                       sémen através da eletroejaculação.




Figura 8.56- Higienização da região abdominal e prepúcio.   Figura 8.58 - Tricotomia dos pêlos do óstio prepucial.
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino   415



e a ocorrência de falsas colheitas (rara), ou seja,        Excitação Mecânica do Pênis
o animal poderia falhar em ejacular face à
inervação da região implicada nos processos de                   Este método c indicado para colheita de sé-
ereção e/ou ejaculação, sendo difícil se obter o           men no cão, varrão e, mais raramente, touros de
sémen nessa condição. Outra desvantagem é a                origem zebuína. Consiste na manipulação do corpo
colheita de uma amostra menos concentrada,                 do pênis, levando à ereção e ejaculação. No cão,
por ser um sistema aberto de colheita, com o               foi primeiramente praticada por Spallanzani,
tubo coletor exposto às condições ambientais               obtendo descendentes após a primeira inseminação
(queda de pêlos, contaminação por urina, poei-             artificial em animais de fecundação interna. Tam-
ra, entre outros), pode produzir uma amostra               bém denominada de masturbação, é o método de
pobre para certificar a qualidade cspermática.             eleição para caninos e suínos. Em se tratando do
Como vantagens, podemos mencionar a uti-                   cão, de preferência colocá-lo na presença de uma
lização em animais incapacitados para efetuar              fêmea no cio ou expô-lo a uma fêmea previamente
a monta, devido a problemas nos locomotores                preparada, seja pela impregnação da vulva com
(articulações, cascos etc.), especialmente nos             um swab de muco, de cadela no cio, o qual pode
posteriores, a não necessidade de presença de              ser mantido congelado, seja pelo emprego áespray
uma fêmea e a utilização em animais bravios                contendo ferormônios, não facilmente encontrado
(Fig. 8.60).                                               à venda no mercado nacional. A seguir, quando o
                                                           animal estiver cheirando a região perineal da ca-
                                                           dela, o operador deve se posicionar ao lado es-
                                                           querdo do animal e com a mão direita enluvada,
                                                           exteriorizar o pênis, retraindo o prepúcio para além
                                                           do bulbo e exercer uma leve pressão para que o
                                                           animal entre em ereção. Lembrar que o prepúcio
                                                           deve ser retraído antes que ocorra o ingurgitamento
                                                           total do pênis. A medida que o animal monta, o
                                                           bulbo da glande deve ser mantido sob pressão
                                                           contínua ou intermitente para que a ereção seja
                                                           mantida. Durante a ejaculação, o cão fará urna
                                                           rotação do pênis em ângulo de 180°, fazendo com
                                                           que o membro esquerdo passe por cima do braço
                                                           do indivíduo que está colhendo o sémen. Essa
                                                           rotação deixará o pênis direcionado caudalmen-
Figura 8.59 - Lavagem do prepúcio e pênis com solução      te. Movimentos de intromissão do pênis desen-
fisiológica.                                               cadearão a ejaculação. Em cães, pode-se distin-
                                                           guir 3 frações espermáticas: a primeira, denomi-
                                                           nada pré-espermática (0,5 a 2mL), cuja secreção
                                                           provém das glândulas uretrais, serve para "lim-
                                                           par" a uretra e sua emissão dura cerca de 5 a 30
                                                           segundos. A 2- fração (l a 3mL), rica em esper-
                                                           matozóides, dura de 30 segundos a 3 ou 4 minu-
                                                           tos. As duas frações são ejaculadas durante e
                                                           imediatamente após os movimentos de intromis-
                                                           são. Com o pênis voltado para trás, ocorrerá a
                                                           eliminação da 3§ fração (5 a 30mL), chamada de
                                                           prostática, a qual possui coloração amarelada e faz
                                                           com que o animal continue "engatado" na cadela
                                                           por 5 a 30 minutos. O volume das frações varia
                                                           grandemente, também, em decorrência do tama-
                                                           nho do animal. Em suínos, há necessidade de se
                                                           adestrar o animal para saltar sobre uma fêmea no
Figura 8.60 - Touros da raça Nelore (Fazenda Descalvado,   cio ou sobre um manequim fixo (phantori). Qphanton
Anhembi - SP).                                             é uma armação de ferro, sobre a qual é montada
416   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



                                                          trada. O animal deve estar devidamente contido
                                                          e higienizado, conforme descrito anteriormente.
                                                          Assim sendo, o técnico deve introduzir a mão
                                                          através do reto até ultrapassar um pouco o punho,
                                                          palpar as glândulas vesiculares e iniciar o
                                                          procedimento de massagem, individualmente.
                                                          Convém lembrar que essas estruturas variam no
                                                          aspecto conforme a espécie, sendo lobuladas nos
                                                          bovinos c lisas nos garanhões. O tempo gasto é
                                                          variável (2 a 10 minutos), bem como o volume
                                                          do líquido seminal (3 a lOmL). O tamanho
                                                          também é variável com o indivíduo. Após a
Figura 8.61 - Phanton, utilizado para colheita de sémen
                                                          massagem para liberação do líquido seminal,
em suíno.                                                 inicia-se a manipulação das ampolas, uma a uma,
                                                          no sentido craniocaudal, utilizando-se somente
                                                          os dedos indicador e polegar. O tempo neces-
uma espuma de alta densidade ou similar, coberta          sário para se obter o material varia de indivíduo
por um couro ou lona resistente (Fig. 8.61). Essa         para indivíduo, mas, cm geral, não ultrapassa
estrutura é pincelada com secreção de porca no cio        10 minutos, sendo mais comum o gotejamento
periodicamente e isso faz com que o cachaço salte         do sémen logo nos primeiros minutos da colheita.
sobre ela simulando uma cópula. Após a monta do           O material colhido, desde que boa parte do
animal, o pênis c desviado lateralmente e para baixo,     líquido seminal tenha sido eliminado, é rico em
exercendo-se uma pressão sobre ele. A extremi-            espermatozóides, gotejando por um período de
dade da glande deve permanecer livre para que se          2 a 10 minutos ou, mais raramente, em um único
colha o sémen adequadamente. O procedimento               jato quando o material fica retido na uretra. Mo-
dura em média 5 a 15 minutos, considerando as             vimentos sobre a uretra pélvica auxiliam na eli-
três frações eliminadas. Esse método não requer           minação do sémen. Cuidados com o animal, no
aparelhos, a não ser um recipiente apropriado para        que diz respeito à contenção, higienização, entre
receber o sémen, como um tubo aquecido no caso            outros, já foram abordados no tópico referente
do cão e uma garrafa térmica para o varrão. Ê des-        à elctroejaculação, devendo-se seguir os passos
tinado a animais devidamente adestrados.                  mencionados. No entanto, o técnico deve estar
                                                          com as unhas devidamente aparadas e fazer uso
                                                          de lubrificante. Esse método é mais recomen-
Massagem das Ampolas dos                                  dável para exame andrológico, devido ao fato
                                                          de o material geralmente apresentar acentuado
Duetos Deferentes                                         grau de contaminação por microorganismos,
     Também conhecido como método america-                urina, pêlos, entre outros.
no, foi utilizado pela primeira vez em 1934. Esse
método é recomendado para bovinos e equinos
que não estejam aptos à monta. Serve também               Camisa Peniana
para se ter uma ideia da qualidade do sémen,                   Embora já tenha sido utilizada em coelhos,
em nível de campo. É interessante manter uma              esse método, ainda que raramente empregado, é
fêmea no cio perto do animal durante o proce-             direcionado para os equídeos, uma vez que a co-
dimento. Isso promove uma excitação maior do              locação da camisa é facilitada com a exposição do
reprodutor. A amostra de sémen, obtida pela               pênis e, também, porque o formato do mesmo
massagem nas ampolas de Henle e glândulas ve-             propicia seu emprego. Sua utilização em equídeos
siculares, é lançada na uretra pélvica e posterior-       é somente recomendada em casos quando não se
mente colhida, em gotas, através do óstio pre-            dispõe de uma vagina artificial ou no caso de mas-
pucial. Antes de se iniciar a massagem nas ampo-          sagem das ampolas de Henle não surtir o efeito
las, preconiza-se a massagem das glândulas vesicu-        desejável. O animal deve ser dócil, pois o codon
lares para se eliminar a maior parte do líquido           é colocado com o animal em estado de ereção, o
seminal e, assim, colher uma amostra mais concen-         que geralmente não é fácil de ser efetuado. Como
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino   417



desvantagens, podemos citar a dificuldade de se       dos no procedimento anterior. Após higicnização
colocar e retirar a camisa peniana, sua ruptura       da genitália externa da fêmea e do macho, coloca-
e/ou queda e, ainda, contaminação por urina. O        se uma esponja no fundo vaginal com ajuda do
sémen colhido, dependendo da qualidade e              especulo. O esperma será parcialmente absorvido
volume, pode ser utilizado para processamento;        pela esponja, a qual será, posteriormente, retirada,
contudo, o método não c nada prático, além de         espremida ou lavada com diluentc apropriado para
não apresentar nenhuma vantagem que torne sua         recuperação do material em frasco estéril. Gomo
aplicação rotineira.                                  inconvenientes, podemos citar a perda de parte da
                                                      amostra, a qual ficará retida na esponja e, ainda,
                                                      provável traumatismo sobre as células espermáti-
MÉTODOS PARA COLHEITA                                 cas quando do ato de espremer a esponja.
APLICADOS EM FÊMEAS
Com relação aos principais métodos aplicados à        Coletor Vaginal
fêmea ou similares, podemos citar: colheita direta-
mente da cavidade vaginal ou uterina, esponja              Raramente empregado, é indicado quando não
inserida na cavidade vaginal, coletor vaginal c, o    se dispõe de vagina artificial, eletroejacualdor e a
mais difundido, o método da vagina artificial. Os     massagem das ampolas dos duetos deferentes não
três primeiros são raramente utilizados e sob con-    oferece amostra suficiente. Esse dispositivo pode
dições extremas, nas quais se deseja apenas ob-       ser de borracha, plástico ou vidro e tem sua forma
servara "qualidade" do sémen, não servindo para       e tamanho condicionados à espécie animal na qual
processamento.                                        será utilizado. Deve ser inserido imediatamente antes
                                                      da cópula. Os dispositivos de borracha são mais
                                                      difíceis de serem colocados, tendo como desvantagens
                                                      a possibilidade de um maior tempo de contato com
Colheita da Cavidade                                  o sémen e a saída deste durante a cópula.
Vaginal ou Uterina
     Embora possa ser empregada em bovinos,           Vagina Artificial
equídeos, caprinos, ovinos e cães, não oferece
amostra de qualidade e, como mencionado, não se            De longe, o método de eleição para se co-
presta para processamento com finalidade de in-       lher sémen na maioria das espécies domésticas.
seminação artificial. Nesse caso, deixa-se a fêmea    Por meio dessa técnica c possível colher uma
ser montada e, após a cópula, recolhe-se o sémen      amostra espermática semelhante em qualidade
depositado na vagina. Em se tratando da égua, o       e volume à ejaculada durante a cópula. O ani-
sémen pode ser obtido a partir do útero, já que       mal ejaculará em um dispositivo que simula uma
nessa espécie, parte do ejaculado penetra na cavi-    vagina natural, obtendo-se, assim, um sémen com-
dade uterina (ejaculação intrauterina). A colheita    parável ao método natural. Pode ser utilizado em
do material pode ser realizada por meio de pipeta,    bovinos, equídeos, ovinos, caprinos, gatos, cães
seringa acoplada a um equipo de sorotcrapia ou        e suínos. Nas duas últimas espécies, não é o
similar. A única vantagem é seu baixo custo, pois     método mais utilizado, sendo a técnica da ma-
pequena porção do sémen pode ser recuperada,          nipulação peniana (masturbação) preconizada.
estando ainda misturada às secreções e células das    Embora largamente utilizada em ruminantes e
referidas cavidades. Propicia a propagação de         equinos, a vagina artificial teve seu primeiro
doenças e diminuição da capacidade de fertilização    emprego na espécie canina e, a partir daí, dife-
dos espermatozóides.                                  rentes modelos foram sendo criados e adapta-
                                                      dos às outras espécies domésticas, à medida que
                                                      a inseminação artificial foi ganhando espaço. O
                                                      sémen é colhido em condições próximas da ideal
Esponja Inserida na Cavidade Vaginal                  para posterior análise com finalidade de exame
    Essa técnica pode ser aplicada nos animais        espermático e emprego para processamento,
domésticos, exceto no varrão e no gato, embora        principalmente para uso de sémen refrigerado e
não seja de uso corrente pelos motivos menciona-      congelado, na dependência da espécie. À parte
418   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico




                                                                           Figura 8.62 - Fêmea bovina utilizada
                                                                           como manequim para colheita de sémen
                                                                           através de vagina artificial.



os diferentes modelos existentes para emprego             de cio, acabe aceitando a monta sem maiores pro-
nas espécies citadas c as considerações iniciais          blemas. Deve-se, entretanto, contê-la adequa-
com relação à contenção e higicnização da geni-           damente, assim como no caso de manequins vivos
tália externa, essa técnica permite a utilização          para as espécies bovina e equina. Como consi-
de manequins fixos (phanton) ou móveis, podendo           derado anteriormente, a vagina artificial varia em
ser utilizada, no caso de colheita de sémen do            comprimento, diâmetro e forma de acordo com
touro, uma vaca no cio ou não (Fig. 8.62), um             a espécie (Fig. 8.63). Contudo, de modo geral, é
garrote ou um touro dócil. Para o garanhão reco-          constituída por um tubo rígido de borracha, couro
menda-se uma égua no cio ou dócil ou mane-                ou metal, o qual é revestido internamente por
quim fixo. Para pequenos ruminantes, devido à             uma borracha de látex presa nas extremidades.
docilidade desses animais, o manequim vivo c o            Entre a parede interna da vagina c a borracha
mais utilizado, sendo necessário apenas um cur-           de látex será colocada água a 45 - 48"C, depen-
to período de adaptação para que a fêmea, fora            dendo da época do ano (Fig. 8.64). A água, a essa




                                

Figura 8.63 - A vagina artificial varia em comprimento,   Figura 8.64 - Coloca-se água a 45 - 48°C entre a parede
diâmetro e forma de acordo com a espécie.                 interna da vagina artificial e a borracha de látex.
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino      419



 temperatura, aquece a vagina como um todo, equi-                logo o animal ejacule e desmonte, a vagina deve
 librando-a antes da colheita; à colheita, sua tem-              ser posicionada na vertical para se evitar a perda
 peratura deverá situar-se entre 41 e 43°C (Fig.                 de sémen. No caso do garanhão, deve-se espe-
 8.65). O tempo de colheita varia de espécie para                rar que ele retire o pênis da vagina, uma vez que
 espécie, sendo extremamente rápida nos rumi-                    nessa espécie o pênis chega a triplicar de volu-
 nantes (segundos), de média duração nos                         me ao momento da ejaculação. O tubo coletor
 equídeos (l a 2 minutos) e longa duração no varrão              ou similar deve proteger o sémen de fatores
 c cão (5 a 20 minutos). No caso do garanhão,                    externos, como da exposição à luz solar, tempe-
 devido ao tipo de cópula, na qual o animal friccio-             ratura externa, entre outros. Em touros, é acon-
 na o pênis várias vezes antes de ejacular, há ne-               selhável executar duas ou três montas falsas (frus-
 cessidade de se lubrificar a vagina internamente                tradas), isto é, fazer com que o animal salte so-
 em toda a sua extensão com vaselina neutra,                     bre o manequim, mas tenha seu pênis desviado
 geléia KY, lubrificante HR ou similar. A quanti-                lateralmente sem apresentar-lhe a vagina. Essa
 dade de lubrificante não pode ser excessiva, já                 conduta excita o animal e faz com que a amostra
 que o pênis do animal deve sentir o contato com                 seminal fique mais concentrada, pois o animal
 •í parede interna da vagina artificial. Além disso,             eliminará considerável volume de líquido seminal.
 o lubrificante em excesso, aliado à temperatura,                Uma 2- amostra pode ser colhida após um período
 pode dissolver c acabar contaminando o sémen.                   de descanso de 20 a 30 minutos. Nos ruminan-
 A quantidade de água a ser colocada na vagina                   tes, após colocar a água pode-se, também, insu-
 artificial depende do modelo, da espécie e, ain-                flar ar pela válvula existente na parte externa.
 da, do animal, variando de 200mL a 2-3L. O                      Isto faz com que a parede interna da vagina
 procedimento de colheita é fácil de ser executa-                artificial comprima ainda mais a base do pênis,
 do, com um pouco mais de trabalho no caso do                    simulando os músculos vulvovaginais. Em se
 garanhão, devido ao seu comportamento mais                      tratando de suíno, devido ao fato dessa espécie
 fogoso. Basicamente, independente da espécie,                   aceitar facilmente o manequim fixo, a colheita
 o operador deve posicionar-se ao lado direito do                não oferece maiores problemas. Assim que o
 macho. Assim que o animal saltar sobre o ma-
                                                                 animal efetua a monta, o operador segura a glande
 nequim, seu pênis deve ser desviado lateralmente
                                                                 exercendo forte pressão, para que o animal com-
 com a mão esquerda, deixando que o animal faça
                                                                 plete a ereção e torne possível a penetração do
 a intromissão do membro (pênis) na vagina
 artificial, a qual deve ser firmemente segurada                 pênis na vagina. Embora pouco utilizada em
 com a mão direita. A vagina deve ser mantida
 em um ângulo de aproximadamente 45° para
 facilitar a intromissão do pênis (Fig. 8.66). Tão




                                                                Figura 8.66 - O operador deve se posicionar ao lado di-
Figura 8.65 - A temperatura da vagina artificial, à colheita,   reito do macho, deixando que o animal faça a intromissão
deve estar entre 41 e 43°C.                                     do pênis na vagina artificial.
420   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



suínos e cães, o procedimento em caninos asse-        após a realização de um único exame andrológico.
melha-se, de modo geral, ao adotado para os           Somente o espermograma não é suficiente para
suínos, lembrando apenas que, em cães, ocorre         atestar à integridade morfofuncional do aparelho
a rotação do pênis à ejaculação e, dessa forma, o     reprodutor; sendo assim, o histórico da vida re-
operador deve acompanhar o movimento exe-             produtiva do animal c o exame físico são de suma
cutado para viabilizar a colheita. Aqui cabe          importância para orientar e concluir sobre a apti-
considerar, também, o tamanho do animal; con-         dão reprodutiva do animal. Como a produção
tudo, como mencionado, não é o método de elei-        espcrmática é contínua, deve-se conhecer e res-
ção para essa espécie. Como grande vantagem           peitar o período de formação dos espcrmatozói-
da vagina artificial, pode-se citar a simulação de    des (espcrmatogênese), bem como a época do ano
uma cópula natural, obtendo-se um ejaculado de        e condições sanitárias e nutricionais, às quais es-
qualidade. A limitação para seu emprego reside        tão submetidos os animais. O método de colheita
nos casos de animais bravios, com problemas           da amostra de sémen, respeitando o(s) método(s)
locomotores (especialmente nos posteriores) e,        indicado(s) para as diferentes espécies domésti-
mais raramente, em animais que não se adaptam         cas, deve ser levado em conta quando da inter-
a esse tipo de manejo. Se fosse o método de elei-     pretação dos achados. O exame das característi-
ção para cães, diferentes tamanhos de vagina se-      cas físicas, químicas e microscópicas deve ser rea-
riam necessários, face à grande variação de porte     lizado sob condições adequadas de temperatura,
dos animais dessa espécie. Convém salientar que,      tempo de execução, bem como material, equipa-
independentemente da espécie e, ainda que um          mento, soluções, meios e corantes apropriados.
manequim fixo seja adotado, a presença de uma         De um modo geral, os exames a serem realizados
fêmea no cio (Fig. 8.67) excita o animal e uma        não diferem de espécie para espécie. Logo após
amostra seminal de melhor qualidade, com              a colheita, o sémen deve ser encaminhado para o
certeza, será obtida.                                 laboratório o mais rapidamente possível, protegi-
                                                      do da luminosidade, temperatura externa etc. O
                                                      laboratório deve, de preferência, ser conjugado
ANÁLISE ESPERMÁTICA                                   ao local de colheita e os equipamentos e mate-
                                                      riais necessários (placa aquecedora, banho-maria,
O exame do sémen (espcrmograma) somente pode          pipetas, ponteiras, lâminas/lamínulas etc.), para
ser considerado confiável se todo o procedimen-       manipulação do sémen, acertados para a tempe-
to, desde o preparo do animal (higienização), la-     ratura desejada (Fig. 8.68). A amostra deve ser
vagem e esterilização dos materiais e um indiví-      colocada em banho-maria a 32 - 37°C e mantida
duo capacitado, conhecedor das particularidades       ai durante todo o procedimento. Entretanto, antes
das espécies, for levado em consideração. Deve-       de se efetuar o exame microscópico, o sémen deve
se, também, tomar cuidado para não cometer            ser avaliado com base nas suas características fí-
enganos que comprometam a certificação sobre a        sicas e químicas, principalmente físicas. Os exa-
capacidade coeundi e/ou generandi do reprodutor,      mes de densidade, capacidades respiratória,




                                                                 Figura 8.67 - Manifestação de cio em égua.
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino     421




                                                               Figura 8.68 - O laboratório deve estar
                                                               conjugado ao local de colheita e os equipa-
                                                               mentos, necessários para manipulação do
                                                               sémen, acertados para a temperatura
                                                               desejada.



frutolítica e desidrogenante e pH, devem ser         dutor ou devido a alterações patológicas (estcno-
desconsiderados e realizados somente sob deter-      se, obstrução etc.), nos condutos de ejaculação.
minadas condições, ou seja, cm pesquisa, ensino      O teste de exaustão, utilizado em casos de sus-
ou quando julgado imprescindível por algum mo-       peita de disfunção epididimária, reduz sensivel-
tivo específico. Esses testes não fazem parte da     mente o volume colhido à medida que sucessi-
rotina de exames a serem efetuados, não compro-      vas ejaculações se sucedem.
metendo de maneira alguma o resultado do es-
permograma. Descreveremos, a seguir, os suces-
sivos testes a serem efetuados, os quais compõem     Aspecto
o espermograma e que, juntamente com os dados
sobre histórico e exame físico específico, já men-                      .
cionados, fornecerão os subsídios necessários para        Essa característica proporciona uma rápida
se concluir sobre a capacidade reprodutiva do ani-   ideia sobre a qualidade da amostra, logo à colheita.
mal na data de colheita e de realização do exame.    Em ruminantes, a concentração espermática pode
                                                     ser estimada com base na aparência do sémen,
                                                     da mesma forma que se tem uma boa ideia da
Volume                                               motilidade e vigor dos espermatozóides. De modo
                                                     geral, varia de cremoso (fino ou denso), leitoso,
     Apresenta grande variação conforme a espé-      soroso e aquoso (ralo). Deve-se levar em conta
cie, tamanho do animal, época do ano, alimenta-      que, em caninos, devido às diferentes frações
ção, regime e método de colheita, entre outros.      colhidas, o aspecto varia, o mesmo não aconte-
Assim, pode-se esperar, por exemplo, um maior        cendo nos ruminantes e equídeos. Contudo, esse
volume quando se colhe o sémen por meio da           tipo de avaliação somente fornece uma noção a
eletroejaculação em comparação com o método          respeito do ejaculado, não podendo em hipótese
da vagina artificial, embora não ocorra, de modo     alguma substituir o exame para verificação da con-
geral, ficando também na dependência da habi-        centração espermática. O aspecto transparente
lidade do operador. A época do ano parece estar      pode indicar pequena quantidade de espermato-
mais relacionada com a qualidade espermática do      zóides (oligozoospermia) ou mesmo ausência
que com o volume. Já diferença marcante pode         (azoospermia).
ser observada entre um animal em repouso sexual
e outro em atividade. Contudo, o volume, dentre
as demais características a serem comentadas, não     Quadro 8.28 - Volume médio de sémen obtido
é fator limitante para a execução da análise es-      em espécies domésticas.
permática, podendo ser no caso de aproveitamento           Espécie Volume (mL)
da amostra para fins de inseminação. O Quadro              Bovina 0, 5 - 20 30 - 340 0, 5 - 3 0,2 -
8.28 mostra os valores médios limites para as              Equina 2,5 2 - 3 5 1 0 0- 5 0 0
espécies domésticas em consideração. A ausên-              Ovina
cia de sémen (aspermia), embora de ocorrência              Caprina
                                                           Canina
rara, pode ocorrer após uso excessivo do repro-            Suína
422   Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



Odor                                                        O exame microscópico do sémen requer um
                                                       indivíduo com larga experiência, uma vez que certos
      Na maioria das vezes é imperceptível (sui        testes realizados ao microscópio são de natureza
generís); contudo, em casos de contaminação por        subjetiva (turbilhonamento, motilidade individual
urina, pus e/ou sangue, assume odor caracte-           e vigor) necessitando, assim, de longo período de
rístico. Embora seja um exame de pronta obser-         prática laboratorial para se estimar e classificar
vação, às vezes, é negligenciado ou esquecido          adequadamente a amostra sob análise (Fig. 8.69).
por técnicos que atuam em nível de campo. En-          Embora equipamento computadorizado específico
tretanto, pode indicar problemas existentes na         para esse tipo de análise já esteja disponível no
vias genitourinárias ou na micção ao ato da eja-       mercado, sua utilização em rotina não se justifica,
culação, fato não raro de acontecer quando se          pois a subjetividade do exame ao microscópio, para
colhe sémen por meio de eletroejaculação no            as características espermáticas mencionadas, não
touro e vagina artificial em certos garanhões. A       compromete de modo algum a análise da amostra.
simples contaminação por urina já torna                Além disso, o custo elevado do equipamento
desnecessária a continuidade dos exames, uma           somente indica sua aquisição para trabalhos em
vez que afeta sobremaneira a viabilidade csper-        pesquisa. O exame para se verificar a concentra-
mática. Portanto, ainda que desprezado por al-         ção espcrmática pode ser feito em câmara
guns, não deve ser abolido do rol de exames a          empregada em hematometria ou de maneira mais
serem feitos.                                          sofisticada, através de contador de células, espec-
                                                       trofotômetro, entre outros. Entretanto, convém
                                                       lembrar que o emprego desses recursos sofistica-
Cor                                                    dos para contagem de espermatozóides é de uso
                                                       mais comum nas centrais de colheita de sémen, já
      De maneira similar aos outros caracteres es-     que facilita a execução dos exames, face ao grande
permáticos já mencionados, a cor do sémen varia        número de amostras a serem analisadas. A avalia-
de espécie para espécie e, ainda, quando alguma        ção morfológica das células espermáticas é de suma
condição patológica estiver presente. Contudo,         importância para se certificar a capacidadegenerandi
mesmo dentro da mesma espécie, estará na de-           do reprodutor, requerendo um indivíduo capaz de
pendência de variabilidade de cor de amostras com      identificar as diferentes anormalidades (defeitos),
diferentes concentrações ou que apresentem, fi-        algumas delas de difícil visualização. A ocorrência
siologicamente, presença de flavinas. Assim, em-       de graves e/ou inúmeras anormalidades, dependendo
bora seja mais comum a cor branca ou branco-pérola     do tipo e frequência, pode sugerir o local apresen-
para o sémen do touro, alguns animais mostram
coloração amarelo-citrino (atípica), devido à pre-
sença da flavina. O sémen do carneiro e do bode
geralmente é branco-pérola ou marfim; o do bode
pode apresentar coloração amarelada como des-
crito para o touro. Com relação ao garanhão,
jumento c cão, de modo geral, predomina a cor
branca, indo até a branca-acinzentada, na depen-
dência da colheita separada ou não das diferen-
tes frações. No caso do garanhão, deve-sc conside-
rar, também, a presença da fração gel, a qual deve
ser desprezada para efeito de análise e/ou pro-
cessamento do sémen. Deve-se atentar para
colorações diferentes das citadas, as quais podem
indicar processos patológicos ou contaminações.
As cores vermelha, esverdeada ou amarelada es-
tão relacionadas, respectivamente, com a presença
de sangue, pus e urina. A coloração vermelha,
variando de tonalidade, pode indicar a ocorrência
de sangue fresco (vermelho-vivo) ou já com de-        Figura 8.69 - O exame microscópico do sémen requer
gradação da hemoglobina (marrom).                     profissional com prática laboratorial.
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino   423



tando a alteração. Descreveremos a seguir os exa-         do aspecto da amostra (cremoso a seroso), de uma
mes microscópicos de rotina, imprescindíveis de           a quatro gotas de sémen devem ser colocadas em
serem realizados, lembrando que o espcrmograma            um tubo de ensaio com cerca de ImL da solução de
compreende todos os testes realizados, ou seja,           citrato de sódio 2,94% ou similar (solução fisiológi-
exames físicos, químicos (quando houver) c mi-            ca, ringer com lactato etc.) para pronta avaliação.
croscópicos do scmen.                                     Uma gota colocada sobre uma lâmina de microscopia
                                                          e coberta por uma lamínula c examinada em mi-
                                                          croscópio óptico comum ou contraste de fase (ideal),
Motilidade                                                ao aumento de 200 a 4()()x. Para as espécies domés-
                                                          ticas mencionadas, a motilidade individual não deve
     Do ponto de vista genético, a motilidade dos         ser inferior a 60-70%, percentual que indica um sa-
espermatozóides apresenta repetibilidadc mais             tisfatório potencial para a reprodução. Valores de 30
baixa que a da circunferência escrotal e da mor-          a 59% são considerados questionáveis e abaixo disso,
fologia cspermática, sendo menos correlacionada           insatisfatórios. Os espermatozóides apresentam
com a fertilidade. Deve ser realizado imediata-           movimentos distintos. Contudo, somente movimen-
mente após a colheita do sémen. Sofre influên-            tos do tipo retilíneo progressivo e circular aberto
cia dircta do tempo, da temperatura, concentra-           devem ser levados cm consideração quando se estima
ção, contaminação e método de avaliação. É uma            a motilidade individual. Outros tipos, como circular
das principais características que se deve consi-         fechado, oscilatório e retrógrado, devem ser descon-
derar na avaliação da capacidade fecundante do            siderados na avaliação de motilidade individual.
sémen (capacidade generandí). Embora alta                 Atentar para o fato de que soluções hipertônicas
motilidade indique uma elevada porcentagem de             dificultam a motilidade espermática. O movimen-
células vivas, uma amostra apresentando motili-           to retilíneo progressivo resulta da rotação do esper-
dade menor pode não ser significante se outras            matozóide sobre seu próprio eixo e, também, da ação
características estiverem normais. O material a ser       propulsora da cauda. Os movimentos indesejáveis
empregado, isto é, lâmina, lamínula, tubos de en-         podem ser oriundos de fatorcs externos, como choque
saio, entre outros, deve estar devidamente limpo          térmico e ação de meios hipotônicos, os quais
e esterilizado, bem como a uma temperatura ao             promovem o encurvamento da cauda, levando a
redor de 37°C. Da mesma forma, o banho-maria              movimento do tipo circular. Movimentos oscilató-
e a placa aquecedora devem estar acertados à mes-         rios estão relacionados com amostras envelhecidas
ma temperatura. Esse procedimento visa evitar o           ou demora na execução do exame. A presença de
choque térmico, o qual é extremamente nocivo              gota protoplasmática distai está associada com mo-
aos espermatozóides. O exame de motilidade                vimentos retrógrados. O vigor do movimento está di-
compreende a avaliação da motilidade de massa             retamente associado com a concentração espermática.
(turbilhonamento), motilidade individual e vigor.         Amostras com alta porcentagem de motilidade
Para o exame de motilidade de massa, aplicado             individual apresentam, salvo raríssimas exccções, es-
somente aos ruminantes, dentre as espécies abor-          permatozóides com vigor atingindo o escore mais
dadas, deve-se colocar uma gota de sémen in natura        elevado, numa classificação variando de O a 5. O
sobre uma lâmina de microscopia e examinar ao             menor valor (0) implica numa amostra com ausên-
microscópio sob aumento de lOOx. Os turbilhões            cia de movimento, enquanto 5 indicaria uma amos-
formados, semelhantes às ondas, são graduados             tra na qual os espermatozóides exibem enérgicos
de l a 4, conforme sua atividade: 4 = turbilhões          movimentos progressivos.
muito ativos (ondas vigorosas e rápidas); 3 = turbi-
lhões ativos (ondas mais lentas); 2 = turbilhões lentos
(sem ondas, mas com oscilação); l = ausência de           Concentração Espermática
turbilhões (às vezes, somente tremulante).
     O exame de motilidade individual apresenta                Sem dúvida, é um dos parâmetros espermáti-
pequena variação na sua condução, na dependên-            cos que apresenta maior variação entre as espé-
cia da espécie. Assim, o sémen dos ruminantes, de-        cies c, inclusive, no próprio animal. A medida da
vido à sua alta concentração cspermática, precisa ser     circunferência escrotal (CE), como método para
previamente diluído para que a motilidade indivi-         predizer o potencial de produção de espermato-
dual possa ser estimada. No caso de cães, às vezes,       zóides, é bastante acurado no touro. Sua correla-
esse procedimento pode ser necessário. Dependendo         ção é altamente significativa com o peso do parên-
424    Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico



 quima testicular. Desde que a heritabilidade do       espermatozóides/mm3, o que corresponde a 800 X
 tamanho do testículo tem sido relatada ser de         106/mL. Se o volume de sémen colhido for de 4mL,
 moderada a alta (0,45 a 0,75), a seleção baseada na   então, o total de espermatozóides será de 3.200 x
 medida da cireunferência escrotal oferece a           IO6 no ejaculado.
 oportunidade para melhorar a capacidade repro-
 dutiva. No touro, especialmente, de corte, existe          Glossário:
 alta correlação entre a medida da CE e a idade na       • Acinesia: ausência de motilidade
 qual a fêmea (progénie) alcança a puberdade (0,71       • Aspermia: ausência de ejaculado
 a 1,07). O Quadro 8.29 mostra os valores limites        • Astenospermia: debilidade de movimentação do
 (médios), nos diferentes animais domésticos.              cspermatozóide
      Para a contagem das células espermáticas deve-     • Azoospermia: ausência de espermatozóides no
se considerar, em primeiro lugar, o aspecto da             ejaculado
amostra, uma vez que sua concentração aparente           • Hemospermla: presença de sangue no ejaculado
proporcionará a escolha da diluição a ser emprega-       • Necrospermia: ejaculado com a totalidade ou quase
                                                           todos os espermatozóidcs mortos
da. De modo geral, para amostras de sémen de
                                                         • Oligospermia: pequeno volume de ejaculado
ruminantes, adota-sc a diluição de 1:200 ou 1:400;
                                                         • Oligozoospermia: número baixo de espermatozói-
para equídeos, cão e cachaço, diluições variando           des no ejaculado
entre 1:25 a 1:100 são praticadas. Quanto maior for      • Piospermia: presença de piócitos no ejaculado
a concentração da amostra, maior será a diluição.        • Teratospermia: formas tcratológicas do esperma-
Como método prático para as diferentes espécies,           tozóide
pode-se adotar como regra geral a adição de 20u.L
de sémen em 4, 2 ou l mL de solução de citrato de
sódio ou solução salina (com formol) para se obter,    Morfologia Espermática
respectivamente, diluições de 1:200, 1:100 e 1:50.
Isso pode ser feito com uma micropipeta ou pipeta           A presença de células espermáticas normais
de Sahli. Pipetas para glóbulos vermelhos ou brancos   tem alta correlação com a circunferência escrotal.
também podem ser utilizadas. Após montagem da          O aparecimento de formas anormais (defeitos) está
câmara hematimétrica e colocação da amostra, deve-     diretamente relacionado com fertilidade diminuí-
se proceder à contagem conforme adotada em he-         da. Em 1934, Langerlof introduziu a contagem
matometria. De modo geral, contam-se cinco qua-        diferencial de células para grupos de anormali-
drados médios (80 pequenos) e o número de es-          dades. A condição morfológica das células esper-
permatozóides contados (NEC) deve ser multipli-        máticas é uma reflexão da cspermatogênese, a qual,
cado pela constante referente àquela diluição, ou      se prejudicada, resulta na produção anormal de
seja, para diluições de 1:200, 1:100, 1:50 e 1:25,     células espermáticas. A associação com baixa fer-
multiplica-se, respectivamente, o NEC por, 10.000,     tilidade se dará quando a incidência de defeitos
5.000, 2.500 e 1.250. O valor obtido mostra o nú-      morfológicos sérios, chamados de maiores, exce-
mero de espcrmatozóides (NE) por mm3. Para se          der o limite estabelecido para cada espécie. En-
obter o NE por mL, basta multiplicar por 1.000.        tretanto, de modo geral, não se aceita defeitos totais
Assim, por exemplo, se para uma amostra de sémen       maiores que 30%. Os chamados defeitos primários
de touro for adotada a diluição de 1:200 e, à          ocorrem nos testículos durante a espcrmatogênese
contagem, forem observados 80 espermatozóides,         e são sempre defeitos maiores, afetando seriamen-
isso significa que, naquela amostra, existem 800.000   te a fertilidade. Já defeitos que aparecem nos es-
                                                       permatozóides após a saída dos testículos, são cha-
                                                       mados de defeitos secundários c são de menor im-
                                                       portância (defeitos menores). Na realidade, o im-
 Quadro 8,29 - Concentração espermática em
                                                       portante é verificar a proporção em que ocorrem.
 animais domésticos.
                                                       Embora a maioria dos defeitos secundários não
 Animal Concentração (mm3)                             seja tão séria quanto os primários e não afete a
 Touro    300.000 a 2.000.000 30.000 a 800.000         fertilidade, a menos que presentes em grande
 Garanhão 2.000.000 a 5.000.000 1.000.000 a
 Carneiro 5.000.000 60.000 a 300.000
                                                       número, alguns defeitos secundários podem ter
 Bode                                                  maior associação com a diminuição da fertilidade
 Cão                                                   que alguns defeitos primários. Por exemplo, caudas
                                                       acessórias (1a) em comparação com defeito "Dag"
Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino          425



(2a ). Se um defeito de cauda torna uma célula           BIBLIOGRAFIA
espermática imóvel, então, ela não será capaz de
alcançar o ovócito e, assim, será inútil para a fer-     ANDRADE, S. L. Fisiologia e Manejo da Reprodução F.quina.
tilização. Já um defeito de acrossoma impedirá o             Recife: O autor. 1983. 388p.
espermatozóide de atravessar a zona pelúcida e           ARTHUR, G.H. Reprodução e Obstetrícia Veterinária. 4.ed.,
                                                             Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1979. 573p.
defeitos nucleares não promoverão a fertilização
                                                         BLANC11ARD, T.L, VARNER, D.D., SCIIUMACHER,
ou levarão à morte embrionária precoce. Alguns
                                                            J. Manual of E quine Reproduction. St. Louis: Mosby-Year
graus de defeitos nucleares são mais sérios (maiores)       Book, Inc. 1998. 209p.
que defeitos de cauda ou defeitos de acrossoma,          CHRIST1ANSEN, I.B.J. Reprodução no Cão e Gato. l.cd.,
pois uma célula espermática com um defeito nu-               São Paulo: Manolc. 1998. 362 p.
clear pode provocar a reação de fertilização e, dessa    COLAHAN, P.T., MAYHEW, I.G., MERRITT, A.M.,
forma, impedir que um espermatozóide normal fer-            MOORE, J.N. Ef/uine Medicine and Surgery. Califórnia:
tilize o ovócito. O esfregaço do sémen deve ser             American Veterinary Publications LTDA. 4.ed., p.861-
preparado imediatamente após a obtenção da                  947, 1991. 1860p.
amostra. Diferentes corantes e técnicas podem ser        CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. 2.ed.,
utilizados, de acordo com a finalidade e a espécie.          Editora Guanabara Koogan, 1999. 528p.
 er literatura especializada sobre o assunto. O exame   GUYTON, A.C. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janei-
                                                            ro: Guanabara Koogan. 8.ed., 699-719, 1992. 864p.
do esfregaço corado não requer microscópio
                                                         HAFEZ, E.S.E. Reprodução Mimai. 4.cd., São Paulo: Manole.
sofisticado. Outro exame, o da câmara úmida,
                                                             1988. 720p.
também deve ser realizado e, para tal, deve-se colher    HARDY, R.M. General physical cxamination of the canine
uma pequena amostra, por exemplo, uma gota de               patient. Veterinary Clinics of North America: Small Animal
sémen, e depositá-la em um recipiente com cerca             Practice. v.ll, n.3, p.4.S3-67, 1981.
de ImL de solução de citrato de sódio formolado.         HERMAN, H.A., M1TCHELL, J.R., DOAK, G.A. The Ar-
Esse material, fixado, pode ser guardado em gela-           tificial Inseminarion and Embryotransfer ofDairy andBeef
deira para posterior análise. Cerca de 10|lL da             Catlle. Danville: Interestate Publishers, Inc. 1994. 517p.
amostra fixada deve ser colocada sobre lâmina de         KELLY, W.R. Diagnóstico Clínico Veterinário. 3.ed. Rio de
microscopia, com uma lamínula, e analisada ao               Janeiro: Interamericana. 1986. 364p.
microscópio com contraste de fase, ao aumento de         KOBLUK, C.N., AMES, T.R., GEOR, RJ. The Horse: Di-
                                                            seases and Clinicai Management. Philadelphia: W. B.
l.OOOx. Menor aumento ou microscópio de menor
                                                            Saunders Company, v.2, p.937-72, 1995. 1336p.
resolução pode resultar em defeitos não reconhe-
                                                         McKINNON, A.O., VOSS, J.L. Equine Reproduction. Phila-
cidos ou de interpretação errónea, podendo levar            delphia: Lea & Febiger, 1993, 1137p.
a um falso diagnóstico. O ideal é realizar os dois       MIALOT, J.P. Patologia da Reprodução dos Carnívoros Do-
exames, ou seja, o da lâmina corada e o da câmara           mésticos. Porto Alegre: A hora veterinária, 1988. 160p.
úmida, já que algumas alterações aparecem mais           MIES FILHO, A. Reprodução dos Animais e Inseminação
bem definidas em um ou outro tipo de exame.                 Artificial. 6.ed., Porto Alegre: Sulina. 1987. 750p.
As alterações morfológicas do espermatozóide             MORROW, D.A. Current Therapy in Theriogenology, Diagnosis
podem atingir as diferentes partes que o consti-            Treatment and Prevention of Reproductive Diseases in Ani-
tuem, ou seja, cabeça (acrossoma e núcleo), colo,           mal. Philadelphia: Saunders, 1980. 1287p.
peça intermediária e cauda. Não é rara a ocorrência      NELSON, R.W., COUTO, C.G. Fundamentos de Medicina
                                                            Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Guanabara
de duas ou mais anormalidades atingindo um
                                                            Koogan, p.502-30, 1992. 737p.
mesmo espermatozóide. O limite aceitável para
                                                         NOVAKES, D.E. Fertilidade e Obstetrícia em Bovinos. São Paulo:
a ocorrência de defeitos menores, maiores e totais          Varela. 1991. 139p.
varia com a espécie e deve seguir regulamenta-           RADOSTITS, O.M., JOE MAYHEW, I.G., HOUSTON,
ção oficial quando da análise da amostra e certi-           D.M. Veterinary Clinicai Examination and Diagnosis. W.B.
ficação da mesma. Alguns defeitos são aceitáveis            Saunders, 2000. 771 p.
para uma espécie e não para outra. Outros tipos          ROSEMBERGER, G., DIRKSEN, G., GRUNDER, H.,
de células podem estar presentes no sémen, tais             STOBER, M. Exame Clínico dos Bovinos. 3.cd., Rio de
como: células inflamatórias, glóbulos vermelhos,            Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. 419p.
leveduras, medusas, bactérias, entre outras. Para        ROSSDALE, P.D., RICKETTS, S.W. Medicina Pratica en el
a descrição e interpretação do significado de cada          Haras. Buenos Aires: Editorial Hemisfério Sur, 1979.464p.
                                                         SPEIRS, V.C. Exame Clínico de Equinos. Porto Alegre: Artmed,
patologia espermática, aconselha-se consultar li-
                                                            p.223-36, 1999. 366p.
teratura específica.

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8 sistema reprodutor

  • 1. Sistema Reprodutor " CADA PARTO É UM PARTO ." (Paul Claudel) Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino NEREU CARLOS PRESTES Semiologia da Glândula Mamaria de Éguas, Cadelas e Gatas FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes EDUARDO HARRY BIRGEL Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino ALICIO MARTINS JÚNIOR FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA
  • 2. Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino CARLOS PRESTES ILUSTRAÇÕES: Médica Veterinária Diane Hama Sassaki ANATOMIA GERAL BÁSICA O sistema reprodutivo das fêmeas constitui-sc de ovários, ovidutos, cornos e corpo uterino, cerviz, vagina, vestíbulo c vulva. As estruturas internas são sustentadas pelo ligamento largo: mesovário que sustenta o ovário; mesossalpinge que ancora o oviduto e o mesométrio que mantém o útero. Nervos autónomos inervam o ovário, o oviduto e o útero, enquanto as fibras sensitivas e parassimpáticas do nervo pudendo atendem a vagina, vulva e clitóris. Embriologicamente, os duetos de Múller fundem-se na porção caudal para originar o útero, cerviz e a porção anterior do canal vaginal. O oviduto torna-se sinuoso, adqui- rindo epitélio diferenciado e fímbrias pouco antes do nascimento. As medidas dos ovários variam corn a idade, raça, número de partos, estado nutricional e fase do ciclo reprodutivo. Na vaca e na ovelha, têm forma de azeitona; na porca, parecem cachos de uva e, na égua, têm aspecto de rim, contendo a fossa de ovulação. Nas gatas, os ovários têm o tamanho e a forma lembrando um grão de arroz, parcialmente cobertos por uma bursa c, nas cadelas, o tamanho varia na dependên- cia do ciclo estral, localizando-se próximo aos rins, sendo recobertos pela gordura periovárica. Desempenham dupla função, liberando os oócitos e promovendo a estcroidogênese. As tubas ou ovidutos podem ser divididos em quatro segmentos funcionais: as fímbrias, o infundíbulo, a ampola e o istmo, vasculari- zadas por ramos das artérias uterinas e ovarianas. Apresentam funções singulares de conduzir o óvulo e os espermatozóides em direções opostas e, simultaneamente, permitir a fertilização e as primeiras clivagens e conduzir os embriões ao útero. O útero é composto por dois cornos, um corpo curto e uma cerviz, também denominada de colo, com forma, comprimento e diâmetro variáveis de espécie para espécie. As paredes são constituídas por uma mucosa interna, uma camada muscular lisa intermediária e uma sero- sa externa (peritôneo), inervados por ramos simpáticos dos plexos uterino e pélvico. Os vasos sanguíneos são numerosos, espessos e sinuosos, representados principalmente pela artéria uterina média, um ramo da artéria ilíaca interna ou externa que supre o órgão e aumenta muito de diâmetro durante a gestação, permitindo-se palpar e sentir o frémito nos grandes animais gestantes mediante manipulação por via retal.
  • 3. 336 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico O endométrio uterino é revestido por células epiteliais com típica função secretória e glândulas sinuosas e ramificadas. O volume e a composição do fluido uterino variam durante as fases do ciclo reprodutivo e apresentam as funções de permitir condições para a capacitação espermática e forne- cer subsídios nutritivos ao embrião (blastocisto) até que se complete a implantação/placentação. O útero apresenta ampla capacidade de dis- tenção, permitindo a gestação; contrai-se forte- mente no momento do parto, facilitando a expul- são dos produtos e involui rapidamente no puer- pério, garantindo a depuração do órgão, preparan- do-se para nova prenhez. A cerviz (Quadro 8.1) caracteriza-se pela es- pessa parede ligando o fundo vaginal ao corpo do útero, contendo saliências anelares na vaca e pe- quenos ruminantes, anéis em "saca-rolha" na por- ca, anel único com dobras de mucosa e protrusão na égua e textura firme nas cadelas e gatas. Per- manece firmemente fechada, exceto durante o cio, e apresenta um muco (tampão cervical) que é expelido pela vagina, constituído de macromolé- culas de mucina de origem epitelial. O espaço vaginal é uma estrutura tubular de comprimento variável, constituída de superfície epitelial, uma fina camada muscular que lhe per- mite os movimentos de contração e de uma serosa. Figura 8.1 - Ilustração esquemática do aparelho reprodutor da Apresenta odor sui generis para cada espécie animal, vaca, vista dorsal. Vulva, vestíbulo e conduto vaginal abertos, é um forte atrativo sexual, lubrificada por secreções permitindo a visualização da cerviz, clitóris e meato urinário da própria parede vaginal, produtos de glândulas externo. sebáceas e sudoríparas, muco cervical, fluido endo- metrial tubárico e células esfoliativas. Essa capaci- dade de descamação epitelial permite observação e tipificação celular características de cada momento SINAIS E/OU SINTOMAS hormonal do ciclo estral, na maioria das espécies REVELADORES DE PROBLEMAS domésticas. É o órgão copulatório e via fetal mole no momento do parto, apresentando pH e flora DO SISTEMA REPRODUTOR microbiológica típica. Na porção ventral do vestí- bulo, abre-se o meato urinário externo. FEMININO O genital feminino exterior é composto pela A fisiopatologia da reprodução dos animais do- vulva, glândulas vestibulares e pelo clitóris. Embo- mésticos é um capítulo muito rico e altamente ra não faça parte do aparelho reprodutor, a região estudado. Os sinais e sintomas são exibidos iso- perineal tem enorme importância nos animais do- ladamente ou envolvendo outros sistemas orgâ- mésticos, pois eventuais defeitos de conformação nicos. Deve ser lembrada a estacionalidade re- acarretam posicionamento anómalo da vulva, refle- produtiva dos equídeos e de algumas raças de tindo-se no desempenho reprodutivo do animal (Figs. pequenos ruminantes. De forma geral, a refe- 8.1 a 8.6). rência do proprietário ou a observação do técni- co detectam as seguintes anormalidades: anestro prolongado, ciclos irregulares, ninfomania, estros Quadro 8.1 - Funções da cerviz. curtos, comportamento masculinizado, defeitos 1. Facilitar o transporte espermático. anatómicos da genitália externa, aumento de vo- 2. Atuar como reservatório de espermatozóides. lume no períneo ou projeções anormais exterio- 3. Agir na seleção de espermatozóides viáveis. rizadas pela vulva, distensão abdominal, dor, con-
  • 4. Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 337 CE a gestação, subinvolução dos sítios placcntários (cães). Outras secreções vaginais incluem corrimento verde escuro (puerpério inicial em cães), secreção marrom fétida (morte com de- OD composição fetal), secreção serossanguinolen- ta, secreção purulenta (infecções), secreção mar- rom ou enegrecida (mumificação fetal). Cuida- do especial deve ser dado às hemorragias via vagina nos grandes animais, decorrentes de varizes vaginais ou lacerações e rupturas extensas dos órgãos genitais. Distúrbios locais e aqueles de ordem metabólica podem influenciar sobre- Vá maneira as manifestações do aparelho reprodutor feminino. Polidipsia e poliúria são sinais mais relatados nos casos de piometra em pequenos animais. O material básico necessário para o exame do -MUE aparelho reprodutor compreende: Luva plástica descartável. Lubrificante (não utilizar óleo vegetal). Água e sabão ou detergente neutro. Papel toalha. Faixa ou plástico para forrar a cauda. Figura 8.2 - Representação do aparelho reprodutor da vaca. CE = Solução fisiológica. corno uterino esquerdo; CD = corno uterino direito; OE = Especulo metálico ou descartável compatível. ovário esquerdo; OD = ovário direito; CO = corpo do útero; C Bandeja metálica estéril. = cerviz; Vá = vagina; Vê = vestíbulo; MUE = meato urinário externo; CL = clitóris; Vu = vulva; T = tuba. Pinça de biopsia uterina. Aparelho para coleta de amostra para micro- biológico. trações e esforços expulsivos, crostas aderidas na Escovas para coleta citológica. cauda c períneo, corrimento vaginal sanguino- Lanterna. lento (fazer o diagnóstico diferencial com proestro Meios para transporte e fixação das amostras. e estro em cães), folículo ovariano persistente, Seringas. tumores ovarianos produtores de estrógeno, tu- Pipetas. Álcool. mor venéreo transmissível (cães), cistite, laceração vaginal, metrorragia, coagulopatias, corpo estra- Fósforo. nho vaginal, descolamento placentário durante Solução anti-séptica. Sacro Órgão genital Figura 8.3 - Disposição anatómica do reto e do feminino aparelho reprodutor da vaca em relação aos ossos Fémur rekicos. Vista lateral direita.
  • 5. 338 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Vestíbulo Figura 8.4 - Vista lateral direita e a relação anatómica do aparelho reprodutor da vaca com relação ao reto e bexiga, Vagina Cerviz excluindo-se a representação Corpo Corno uterino óssea. uterino Ovário direito esquerdo Corno uterino direito Figura 8.5 - Representação esquemática da disposição anatómica do aparelho reprodutor da égua. R = reto; Vê = vestíbulo vaginal; MUE = meato urinário externo; Vá = vagina; C = cerviz; Co = corpo uterino; CD = corno direito; CE = corno esquerdo; OD = ovário direito; U = uretra; B = bexiga urinária; L = ligamento largo. MUE Figura 8.6 - Representação anatómica do aparelho reprodutor da porca. Observar a sinuosidade dos cornos uterinos e a aparência dos ovários lembrando cacho de uva. CL = clitóris; Vu = vulva; Vê = vestíbulo; MUE = meato urinário externo; Vá = vagina; C = cerviz "em saca rolha"; Co = corpo uterino; CE = corno uterino esquerdo; CD = corno uterino direito; T = tuba; OD = ovário direito; OE = ovário esquerdo. Vu
  • 6. Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 339 Tabela 8.1 - Resumo da sequência do exame clínico do aparelho reprodutor feminino. Identificação ou resenha - Raça, espécie, idade, eventuais particularidades Anamnese - Primípara, plurípara Exame físico - - Condição nutricional Geral - Corrimento - Coloração de mucosas, linfonodos, - Parâmetros vitais: temperatura corporal, frequência cardíaca, frequência respiratória, frequência dos ruídos ruminais - Específico - Distensão e tensão abdominal - Forma e dilatação da vulva - Aumentos de volume, cicatrizes - Exame retal Exames complementares - Dosagem hormonal, exames microbiológicos e sorológicos, exames citológico e histológico Figura 8.7 - Esquema ilustrativo da disposição anatómica do aparelho reprodutor da porca na cavidade abdominal. Figura 8.8-Vista posterior de égua contida em tronco metálico. Figura 8.9 - Vista posterior de vaca contida em tronco. O Observar a posição do ânus, vulva e hipertrofia de clitóris. animal apresenta prolapso cervicovaginal pós-parto normal.
  • 7. 340 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Figura 8.13 - Útero de cadela com acúmulo de pus piometra. Figura 8.10 - Prolapso parcial de vagina em vaca. Figura 8.14 - Tumor no corpo do útero, provocando bloqueio mecânico do parto. Figura 8.11 - Laceração perineal de 39 grau em égua ocorrida no momento do parto. Nota-se a entrada do reto. Parte do espaço vaginal e ruptura completa do períneo e esfíncter anal. PROTOCOLO DE EXAME - GINECOLÓGICO E OBSTÉTRICO Identificação. Espécie, raça, nome, número, tatua- gem, registro, idade, peso, eventuais particulari- dades (Tabela 8.1). Anamnese. Pode ser inquiridora ou espontâ- nea, procurando resgatar todo o histórico repro- dutivo do animal. Anotar todas as observações do proprietário, tratador ou responsável e atentar para a alimentação, manejo sanitário, medidas preven- tivas, utilização de drogas medicamentosas e a situação dos outros animais do grupo ou rebanho. Tirar conclusões ou negligenciar alguns aspectos, nesse momento, não é recomendável. Exame geral. Temperatura retal, linfonodos, pele e anexos, mucosas, exame convencional dos gran- Figura 8.12 - Prolapso parcial de útero em cadela pós-parto. des sistemas e da glândula mamaria (inspeção, palpação e eventual análise da secreção). Atentar
  • 8. Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 341 para o estado nutricional e eventuais distúrbios Exame Retal em Grandes Animais circulatórios (edema localizado ou difuso). Exame específico externo. Baseia-se principal- O examinador deve estar convenientemente mente na inspeção e na palpação externa. Avaliar trajado com bota, avental ou macacão, luva com- a distensão e a tensão abdominal, sinais de movi- prida e utilizar lubrificante durante a limpeza do mentos fetais ou contrações musculares e de tim- reto e manipulação sobre os órgãos internos. As panismo. Examinar a região perineal, vulva, cau- unhas devem ser aparadas e os animais devida- da c glândula mamaria, verificando o edema e a mente contidos em troncos, para evitar acidentes. quantidade, qualidade, odor e cor da secreção O conhecimento de anatomia e fisiologia é essen- vaginal. Observar atentamente a posição, forma, cial para o reconhecimento das estruturas, para grau de dilatação e relaxamento da vulva e liga- diferenciar útero vazio do gestante e a condição mentos sacroisquiáticos. Aumentos de volume, normal do estado patológico (Figs. 8.15 e 8.16). cicatrizes, prolapsos e lesões devem ser criterio- Por convenção clássica, a espessura do útero samente anotados. Inspecionar os ossos pélvicos. da vaca vai de El (l dedo) até EVI, em que é Embora a glândula mamaria mereça um exa- impossível delimitá-lo manualmente. me semiológico especial, a inspeção externa deve Para simetria: se ater ao tamanho, à forma do úbere e dos tetos, pele, coloração e observação de nodosidades. A • S = simétrico (ambos os cornos). palpação auxilia sobremaneira as conclusões. • AS = assimétricos. Exame específico interno. Nos animais em • AS+++ = corno direito maior que o esquerdo. trabalho de parto, o exame obstétrico interno • + AS = corno esquerdo ligeiramente maior específico, quando necessário, deve ser realizado ao oposto. por via vaginal com manipulação direta com luva, nos grandes animais, e pelo toque digital, GI = relaxado. nos pequenos animais, após prévia higienização do períneo do animal, dos braços do operador e do ma- Gontração terial necessário e sob intensa lubrificação. Nos CII = contratilidade média. pequenos ruminantes e na porca, esse procedi- CHI = fortemente contraído. mento deve ser cuidadoso e sob intensa lubrifi- cação, devido ao seu tamanho e riscos de lacera- A exploração retal deve atingir a cerviz, o útero ções e ruptura uterina (ver Figs. 8.7 a 8.14). e os ovários. A localização ovariana em geral não Observar: apresenta dificuldades e o tamanho do órgão depende da idade, da raça dos animais, da esta- a) vias fetais: abertura e grau de lubrificação; ção do ano (éguas), da fase do ciclo estral e de b) bolsas fetais: ruptura, cor, odor e quantidade eventuais situações patológicas, principalmente dos líquidos; os cistos e os tumores. c) feto: viabilidade, tamanho e apresentação, Fundamentalmente, dedilhando o ovário, busca- posição e atitude. se verificar a presença de folículos, de corpo lúteo ou aumentos de volume anómalos que, aliados a Para um exame ginecológico rotineiro, empre- outros achados, nos auxiliam no diagnóstico. gado fundamentalmente para animais não gestan- Com o advento e uso da ultra-sonografia em tes, sadios ou com problemas reprodutivos e para larga escala, a mensuração do ovário e de cada animais prenhes em situações especiais, inclui-se folículo ficou fácil e altamente fidedigna, permi- a palpação via retal para equinos e bovinos, a pal- tindo o estudo do comportamento ovariano, me- pação abdominal para médios e pequenos animais lhorando a acuidade de observação e dos méto- e a vaginoscopia. Nos suínos, ovinos, caprinos e grandes cães ou animais obesos, a manipulação do dos diagnósticos. abdome é difícil, comprometendo, em algumas cir- Para a consistência dos folículos ovarianos, cunstâncias, o diagnóstico. utiliza-se a classificação: Exames complementares como o Raio X, a ultra-sonografia, a endoscopia, a dosagem hormo- 1 - sem flutuação; nal, os exames hematológicos e bioquímicos po- 2 — flutuação débil; dem ser ferramentas essenciais. 3 — flutuação média; 4 - folículo maduro; 5 - folículo rompido (ovulação).
  • 9. 342 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico í* Figura 8.15 - Corte esquemático simulando a palpação do trato reprodutivo da vaca por via retal no local correspondente à cerviz. Figura 8.16 - (A) Vista cranio- caudal da palpação cervical da vaca por via retal. Essa é a forma de empunhar a cerviz para a inseminação artificial e nos tra- tamentos de infusão uterina. (B) Vista craniocaudal da palpação por via retal do corno uterino direito. Notar a assimetria entre os cornos, compatível com gestação inicial. Quadro 8.2 - Convenção adotada para tamanho baixo, evitando o ingresso de líquido. Secar a vulva comparativo do ovário de grandes animais. e períneo com papel toalha. Os exames manuais são executados ao parto ou em situações que não E = ervilha N = noz n F = feijão G = ovo de galinha Q-cro" podem ser identificadas visualmente. Nos cães, A = avelã Pa = ovo de pata D utiliza-se o toque digital munido de luva, espe- Q. P = ovo de pomba Ga = ovo de gansa O cialmente para palpar possíveis tumores vaginais. Com o animal devidamente contido, o especulo é introduzido no vestíbulo, afastando-se manualmente os lábios vulvares e, com suave Exame Vaginal movimento circulatório, o tubo é introduzido obedecendo-se à curvatura dorsocranial da vagi- Previamente à vaginoscopia, o técnico deve na. Para as éguas, utiliza-se o especulo tubular realizar o exame retal, preparar o material neces- ou o tipo Polanski, que permite a visualização de sário, promover a bandagem da cauda, dispor o todo o trajeto vaginal. Se necessário, lubrifica-se animal lateral ou dorsalmente, higienizar o períneo o equipamento com solução fisiológica estéril. Nas e lábios vulvares e, eventualmente, nos animais cadelas, especules tubulares metálicos, plásticos, com grande quantidade de pêlo ou lã, aparar o de acrílico ou o tipo bico de pato são empregados necessário para permitir um exame limpo, evitan- rotineiramente. Nessa espécie, a visualização da do-se a introdução de material contaminante no cerviz é dificultada ou impossibilitada pelas inú- espaço vaginal. Quando a lavagem for imposta, a meras dobras da mucosa vaginal. As gatas, de forma água deve ser aspergida sem pressão, de cima para geral, não aceitam os exames vaginais.
  • 10. Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 343 Em poucos segundos, utilizando-se boa ilu- • Grau de umidade - cerviz/vagina minação, é possível a realização da vaginoscopia, — I = seca. descrevendo-se no prontuário todas as observações. — II = ligeiramente úmida. A presença de fezes caracteriza as fístulas - III = umidade média. retovaginais e lacerações perineais graves; a urina - IV = muito úmida. no fundo vaginal denuncia graves lesões do meato - V = coleção de muco. urinário externo e prega transversa; a presença de muito ar (pneumovagina) significa que a coaptação • Característica do muco - cerviz/vagina dos lábios vulvares é imperfeita. Deve-se qualificar - Cl = claro. e quantificar a secreção c atentar para aderências, - Sá = sanguinolento. cicatrizes, defeitos anatómicos, aumentos de volu- — MP = muco purulento. me, forma e posição da cerviz. Alguns animais sen- - P = purulento. tem ligeiro desconforto ao exame pelo ingresso de ar na vagina ou abertura exagerada do especulo. Para a vaca, adota-se a seguinte convenção clássica: Diagnóstico de Gestação O diagnóstico de gestação deve ser realizado • Forma da cerviz o mais prccoccmente possível para orientar o criador, - C = cónica. racionalizar serviços, aumentar a eficiência • R = roseta. reprodutiva e produtiva e adotar procedimentos - E = espalhada. de manejo (ver Figs. 8.17 a 8.20). Com a utilização - P = pendular. da ultra-sonografia é possível detectar a gestação aos 30 dias nos pequenos ruminantes, aos 24 dias • Abertura cervical nos bovinos, aos 12 a 15 dias nas éguas e entre 18 - O = fechada. a 20 dias nos pequenos animais, de maneira - l = abertura mínima. - 2 = diâmetro de lápis. fidedigna. E possível, inclusive, determinar o sexo -3 = 1 dedo. do filhote a partir da visualização do tubérculo genital -4 = 2 dedos. pela ultra-sonografia cm muitas espécies animais, -5 = 3 dedos. em diferentes períodos gestacionais. Devemos lembrar, contudo, que equipamen- • Coloração da mucosa = cerviz/vagina tos não substituem os métodos semiológicos e a - A = anêmica. capacidade profissional do médico veterinário. - B = pálida. A porca é o animal mais difícil para se detec- - C = hiperêmica. tar a gestação manualmente, tanto pela palpação - D-E = vermelho patológico. abdominal quanto pela palpação rctal, quando Corno uterino Corno uterino direito esquerdo Figura 8.17 - (A) Corte esquemático do abdome de cadela, representando a disposição do útero gestante. (B) Útero de cadela compatível com 30 dias de gestação. Três vesículas fetais no corno esquerdo e quatro no corno direito. (C) Corte esquemático do corno uterino gestante. Observa-se a disposição dos fetos e a placenta do tipo zonária. Corpo uterino Cerviz Placenta
  • 12. 344 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Corno uterino Alantocório Saco amniótico Amnio Alantóide Placenta zonária seccionada Cordão umbilical Figura 8.19 - Palpação abdominal do feto de cadela no período médio e final da gestação. Pela suave compressão manual, Figura 8.18 - Cadela em final de gestação colocada em decúbito percebe-se partes do feto e de seus movimentos. Notar a lateral para exame. Observar o aumento típico do volume das disposição do feto, dos envoltórios, cordão umbilical e glândulas mamarias e a posição das mãos do examinador placenta zonária. efetuando a palpação abdominal. Posicionamento ideal para a execução da ausculta do batimento cardíaco do feto e a ultra- sonografia. Fase assintomática: a persistência do corpo lúteo e o não retorno ao cio 21 dias após a apresentar tamanho compatível. O mais forte cobertura ou inseminação induzem a supor indicativo da gestação nessa espécie é o não re- uma gestação. torno ao cio, após a cobertura natural ou insemi- Pequena bolsa inicial: 5a e 6a semanas. Ape- nação artificial. Aparelho ultra-sonográfico adap- nas profissionais experientes conseguem um tável ao braço do operador já está sendo utiliza- diagnóstico seguro nessa fase. Pequena bolsa do, aumentando a eficiência diagnostica. Outros característica: 7- e 8a semanas. A presença de métodos são demorados ou antieconômicos. corpo lúteo, assimetria uterina e Para pequenos ruminantes, a palpação do ab- dome é pouco eficaz. Para pequenos animais, dó- ceis, de abdome flácido e sem obesidade, a palpa- ção abdominal em decúbito lateral, utilizando-se as mãos dispostas, uma de cada lado do abdome, per- mite contornar as vesículas fetais a partir de 25 a 30 dias da prenhez, com segurança diagnostica. O Raio X é empregado entre 40 e 45 dias, pois a calcifica- ção esquelética permite quantificar o número de filhotes. O ultra-som constitui-se em método alta- mente seguro e pouco invasivo, sendo excelente para a observação da viabilidade fetal. O uso do estetoscópio possibilita a ausculta do batimento cardíaco dos produtos, a qual se ca- racteriza pelo alto ritmo. Para bovinos e equinos, a palpação retal é amplamente utilizada, sendo um método seguro e Figura 8.20 - Peça anatómica do útero de ovelha gestante (70 económico no diagnóstico da gestação. Nos bovi- dias). Notar o alantocório que constitui a porção fetal da nos, o período de gestação é assim caracterizado: placenta cotiledonária.
  • 13. Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 345 nítida duplicidade de parede permite diagnós- • Fase de descida: 20a e 24a semanas. Devido ao tico eficaz. peso, o útero aloja-se na porção mais baixa Grande bolsa inicial: 9a e 10a semanas. A assi- do abdome. Diagnósticos erróneos podem metria pronunciada, conteúdo flutuante, "pro- acontecer. Tracionar a cerviz e perceber o peso, va de beliscamento positivo" e feto de 7 a palpar o frémito da artéria uterina média. lOcm garantem diagnóstico definitivo. • Fase final: 24- a 40a semanas. A palpação do Grande bolsa característica: 11a a 14§ semana. útero aumentado, placentomas e partes do pro Fase de balão: 14a e 19a semanas. Os placen- duto facilitam o diagnóstico. tomas são claramente palpáveis; percebe-se o pulso da artéria uterina média e o útero com A palpação retal na espécie equina deve ser efe- tamanho de bola de futebol. tuada com extremo cuidado e sob intensa lubrifica- Figura 8.21 - Representação esquemática da evolução da gestação (3, 4, 7 e 9 meses) em vaca. Notar a disposição do útero gravídico em relação ao rúmen (R). P = placentoma.
  • 14. 346 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico cão, com o braço protegido por luva para evitar lace- Durante o cio, o útero está relaxado e os ovários rações ou perfurações do intestino (Figs. 8.21 a 8.23). aumentam de volume, devido ao crescimento O útero da égua tem forma de ípsilon c os ovários folicular. Todo o órgão deve ser examinado com são maiores que os da vaca e de forma e tamanho a mão disposta "em concha", partindo-se de um variáveis, na dependência do ciclo ou estacionalidade ovário, corno, corpo, corno e ovário contralateral. reprodutiva. A maioria das raças apresenta atividade Até a 4- ou 5a semana após a cobertura, o diagnós- reprodutiva nos dias longos, de maior luminosidade. tico de gestação manual não é fácil e seguro, a Figura 8.22 - Representação es- quemática da gestação inicial da égua. Observar o aumento de volume de tamanho compatível a uma bola de ténis (E) próximo ao corpo do útero (Co) - aproximadamente 30 dias após a fecundação. CD = corno uterino direito; CE = corno uterino esquerdo; OD = ovário direito; OE = ovário esquerdo; VA = vagina; VÊ = vestíbulo. Figura 8.23 - Corte esquemático ilustrativo da evolução da gestação na égua (120, 210 e 300 dias da prenhez). Notar a disposição do âmnio, alantóide e cordão umbilical e o posicionamento particular adotado pelo feto equino no interior do útero.
  • 15. Semiologia do Sistema Reprodutor Feminino 347 Quadro 8.3 - Duração media da gestação em cultivo e antibiograma do material e por testes animais (em dias). sorológicos, principalmente nos casos de infecções Vacas 273 a 296 graves, não responsivas ao tratamento, episódios Éguas 327 a 357 de abortamento e partos prematuros, visando a saúde Ovelhas 140 a 155 animal e a saúde pública. Para a coleta da amostra, Porcas 111 a 116 é necessário o máximo de assepsia. Existem no Cabras 148 a 156 Cadelas mercado equipamentos reutilizáveis e descartáveis, 60 a 63 Catas 56 a 65 destinados principalmente aos grandes animais, para a coleta dessas amostras, incluindo meios especiais para o transporte até o laboratório. Pode ser colhi- do material de cada segmento do sistema repro- menos que seja confirmada pela ultra-sonografia. dutor feminino. Nas fases iniciais da prenhez, o embrião se mo- O antibiograma indicará a sensibilidade ou vimenta pelos cornos uterinos, tem rápida para- resistência bacteriana ao princípio da droga, fun- da no corpo do útero para implantar-se perma- damentando a terapia a ser imposta. nentemente em um dos cornos, aumentado pro- gressivamente pela presença dos líquidos fetais. Aos 2 a 3 meses, detecta-se uma vesícula do ta- manho de uma "bola de futebol de salão". Aos 4 Exame Citológico e Histológico a 5 meses, toca-se pelo reto as porções do feto, a A característica descamativa do epitélio vagi- parede do útero é fina, com flutuação c o liga- nal, acompanhando as mudanças hormonais do ciclo mento uterino fica tenso, devido ao peso do ór- estral, fizeram do esfregaço vaginal um excelente gão. A partir da metade da gestação, não há maio- complemento diagnóstico. A colpocitologia tornou- res dificuldades para o diagnóstico de gestação se rotineira nos exames ginecológicos dos carnívo- nessa espécie. ros, equinos e bovinos, sendo empregada em menor escala nas outras espécies animais. As células são obtidas com o uso de cotonete, escova ginecológi- EXAMES COMPLEMENTARES ca ou lavado vaginal com auxílio de especulo, depositadas em lâmina (esfregaço), fixadas e cora- Dosagem Hormonal das tricome ou diff-quick® para exame ao micros- cópio óptico. As dosagens hormonais podem ser realizadas As citologias cervical e uterina são utilizadas no soro, no plasma e, em situações especiais, no cm equinos e bovinos. A análise da morfologia leite, urina e fezes, sendo eficientes como método celular, muco, leucócitos e bactérias, auxiliam no complementar de diagnóstico de um estado fisio- diagnóstico da fase do ciclo reprodutivo e forne- lógico ou distúrbios cndócrinos. O material cole- cem fortes indícios dos processos inflamatórios e tado, devidamente acondicionado, identificado e tumorais. preservado, deverá ser encaminhado a laboratórios Fragmentos de tecido vaginal e uterino po- específicos, obedecendo-se protocolos rígidos de dem ser facilmente obtidos, particularmente nos tempo e transporte, a fim de evitar resultados er- grandes animais, com pinça de biopsia específi- róneos. Existem na literatura especializada valo- ca para análise histopatológica, fixados em solu- res de referência para os principais hormônios li- ção de Bouin para transporte ao laboratório gados à reprodução dos animais domésticos. O processador da amostra. Constitui-se em exame resultado emitido deve sempre ser associado aos complementar mais demorado, porém indispen- achados clínicos para estabelecer as suspeitas diag- sável em determinadas patologias. nosticas e apresentar validade confiável. Atualmente, a citologia aspirativa com agulha fina como método auxiliar de diagnóstico é ampla- mente utilizada. Constitui-se em exame simples e se- Exames Microbiológicos e guro de coleta de amostras em lesões sólidas ou fluidas no corpo do animal, tornando-se um com- Sorológicos plemento ao exame ginecológico. Por ser uma téc- Quando houver suspeita de processo infeccioso nica rápida e de baixo custo, pode ser utilizada durante uma cirurgia, auxiliando o técnico nas ou inespecífico, a confirmação deverá ser feita pelo
  • 16. 348 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico condutas emergenciais, podendo ser executada PRESTES, N.C., LANGONI, H., CORDEIRO, L.A.V. Estudo em estruturas não visíveis, guiando-se a agulha do leite de éguas sadias ou portadoras de mastite com o ultra-som. assintomática, pelo teste de Whiteside, análise microbio- A amniocentese, rotineiramente empregada lógica e contagem de células somáticas. Braz-ilian Journal na espécie humana para exames bioquímicos, ofVeterinary Research and Animal Science, v.36, n.3, p.2-8, 1999. citogenéticos e análise da viabilidade e maturi- COUT1NIIO DA SILVA, M.A., ALVARENGA, M.A., dade fetal, não é utilizada em Medicina Veteri- CARNEVALE, E.M. Diagnosis of fungai endometritis nária pela dificuldade de coleta das amostras, em in mares: efficacy of citology, histology and stain. virtude do tamanho, localização anatómica do útero Proceedings ofSocietyfor Theriogenology, San António, Texas, gestante, disposição dos anexos e líquidos fetais USA, p. 171, 2000. e pelo risco do procedimento. ALVARENGA, F.C.L., BICUDO, S.D., PRESTES, N.C. et O aparelho de endoscopia tem sido utilizado ai. Diagnóstico ultra-sonográfico de piometra em cade- em exames ginecológicos, permitindo a visuali- las. Braz. J. Vet. Rés. Anim. Sei., v.32, n.2, p. 105-8, 1995. zação interna da vagina e do útero e, quando in- TONIOLLO, G.H., VICENTE, W.R.R. Manual de serido pela parede abdominal, observa-se a por- obstetrícia veterinária, l.ed., São Paulo: Editora Varela, ção serosa dos órgãos e os ovários. p. 124, 1993. MEIRA, C., FERREIRA, J.C.P., PAPA, F.O. et ai. Study of the estrous cycle in donkeys (Kyuus asinus) using ultrasonography and plasma progesterone concentrations. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Biol. Reprod. Mono., v.l, p.403-10, 1995. MEIRA, C., FERREIRA, J.C.P., PAPA, F.O., HENRY, M. HAFEZ, E.S.E. Anatomia funcional da reprodução femini- Ultrasonographic evaluation of the conceptus from days na. In: HAFEZ, E.S.E. Reprodução Animal. 6.ed., cap.I. 10 of 60 of prcgnancy in Jennies. Theriogenology, v.49, São Paulo: Editora Manolc, p.32-69, 1993. p.1475-82, 1998. GRUNERT, E., GREGORY, R.M. Semiologia do aparelho JANIS, R.M., GONZALEZ, M.S. Contribuição da ultra- genital feminino. In: GRUNERT, E., GREGORY, R.M. sonografia e radiologia na avaliação diagnostica da cavi- Diagnóstico e Terapêutica da Infertilidade na Vaca. l .ed., cap.ll. dade abdominal em pequenos animais. Revista Clínica Porto Alegre: Editora Sulina, p.33-51, 1984. Veterinária, v. 10, p.36-7, 1997. HARVEY, M. Conditions of the non-pregnant fcmale. In: ETTINGER, S.J., FELDMAN, E.C. Textbook ofVeterinary SIMPSOM, G.M., ENGLAND, G.C.W., HARVEY, M. Internai Medicine, 4.ed., v.l. Philadclphia, London, Toronto, Manual of Small Animal Reproduction and Neonatology. Montreal, Sydney, Tokyo. W.B. Saunders Company, 1995. Chapter Four. United Kingdom, British Small Animal 1081p. Vet. Association, 1998, pp.35-51. SARTORI FILHO, R., PRESTES, N.C., COELHO, K. I. ROCHA, N.S., RAHAL, S.G., SCHMITT, E, Dl SANTI, F. Yolk sac remnant in a mini-pony foal. Equine Practice, G.W. Citologia aspirativa por agulha fina como método v.19, n.4, p.24-7, 1997. auxiliar durante a cirurgia. Revista Cães e Gatos, v.98, p.22- PRESTES, N.C., VULCANO, L.C., MAMPR1M, MJ., OBA, 23, 2001. E. Níveis séricos no momento da cobertura de T 3, T4 e PRESTES, N.C., ALVARENGA, M.A., BANDARRA, E.R, progestcrona em cabras da raça Saanen, durante o cio SUZANO, S.M.C., CRUZ, M.L. Tumor ovariano das normal e induzido e de tcstosterona em 12 machos uti- células da granulosa em vaca Simental. Revista de Educação lizados como reprodutores. Vet. e Zoot., São Paulo, v.8, Continuada, v.4, fase.l, p.28-32, 2001. p.15-26, 1996. LOPES, M.D. Técnicas de reprodução assistida em pequenos PRESTES, N.C., LOPES, M.D., BICUDO, S.D. et ai. animais. Revista de Educação Continuada, v.4, fase. l, p.33- Piometra canina: aspectos clínicos, laboratoriais e radio- 9, 2001. lógicos. Semina, v.12, n.l, p.53-6, 1991. PRESTES, N.C., CHALHOUB, M.C.L., LOPES, M.D., SARTORI FILHO, R., PRESTES, N.C., THOMAZINI, TAKAHIRA, R.K. Amniocentesis and biochemical I.A. et ai. Use of fibrin glue derived from snake venom evaluation of amniotic fluid in ewes at 70,100 and 145 days in testicular biopsy of rams. J. Venom. Anim. Toxins, v.4, of prcgnancy. Small Ruminant Research, v.39, p.277-81,2001. p.24-8, 1998. PRESTES, N.C. O parto distócico c as principais emergên- GINTHER, O.J. Equine pregnancy: physical interactions cias obstétricas em equinos. Revista de Educação between the uterus and conceptus. Proceedings of the Continuada, v.3, fasc.2, p.40-6, 2000. annual convention of the american association of equine practitioners. Baltimore, Maryland, v.44, p.73-104, 1998.
  • 17. Semiologia da Glândula Mamaria de Éguas, Cadelas e Gatas •FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA INTRODUÇÃO Os animais que pertencem à classe dos mamíferos são caracterizados pelo corpo basicamente coberto por pêlos c amamentam suas crias pelo uso de estruturas denominadas glândulas mamarias. A capacidade dos mamíferos de alimentar as suas crias por meio da secreção das glându- las mamarias durante a primeira parte da vida após o parto proporci- ona a esses animais a perspectiva da sobrevivência. O desenvolvimento dos dentes coincide com a necessidade de consumir outros alimentos além do leite. Secreção do Leite As funções do organismo são reguladas por dois sistemas de con- trole: o nervoso e o hormonal. Esses dois sistemas são chamados de sistema neuroendócrino. De maneira geral, as respostas rápidas são controladas pelo sistema ner- voso e, as lentas, como o processo de crescimento, reprodução, meta- bolismo, entre outras, são coordenadas pelo sistema endócrino. Exis- te, muitas vezes, uma inter-relação entre os dois sistemas: ora os hor- mônios agem sobre o sistema nervoso, ora o sistema endócrino é es- timulado ou inibido pelos mensageiros químicos liberados pelo siste- ma nervoso. Embora o desenvolvimento da glândula mamaria comece com o início da puberdade, ela se mantém pouco desenvolvida até que ocor- ra a gestação. A secreção de leite frequentemente começa durante a última parte da gestação, em virtude do aumento dos níveis de pro- lactina, e resulta na formação do colostro. O leite é formado nas célu- las mioepiteliais. A lactação, entretanto, não pode ocorrer até que a gestação chegue ao seu final. Um dos hormônios da neuro-hipófisc de interesse primordial na lactação é a ocitocina. A descida do leite em animais sadios deve-se à ação da ocitocina, liberada por via reflexa do lóbulo posterior da hipófise, depois que o estímulo da ordenha ou da mamada tenha sido desencadeado. O estímulo tátil ou da amamenta- ção resulta na transmissão de um impulso nervoso pelo nervo inguinal até a medula espinhal e cerebelo. O hipotálamo determina a liberação
  • 18. 350 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico de ocitocina, que segue por ramos das veias ju- cies quanto à sua aparência e à quantidade rela- gulares até o coração e de lá é levada para todas tiva dos componentes secretados. A cadela tem as partes do corpo através da aorta, chegando às quatro a cinco glândulas mamarias em cada lado glândulas pelas artérias pudendas externas, o que da linha média, que se estendem desde a região estimula a contração das células miocpiteliais que ventral do tórax até a região inguinal. Cada teta envolvem os alvéolos e promove o relaxamento pode possuir até 20 aberturas distintas, cada uma do esfíncter do orifício das tetas, forçando assim correspondendo a um sistema específico de glân- a ejeção do leite. dulas. De acordo com a sua localização anatómi- Segundo o número de glândulas mamarias, ca, elas são denominadas torácica cranial e cau- os animais domésticos podem ser classificados cm: dal, abdominal cranial e caudal e, por fim, inguinal (Figura 8.24). Cerca da metade das cadelas não • Dimásticos:caprinos, ovinos e equinos (até duas). possui um dos pares da glândula abdominal cra- • P o limas ticos: bovinos (4), carnívoros (6 a 10), nial. As gatas apresentam quatro pares de glân- onívoros (10 a 14). dulas mamarias e a sua nomenclatura é similar à usada para cadelas. As éguas possuem um par de A glândula mamaria, assim como as glându- glândulas mamarias. Cada glândula mamaria é di- las sudoríparas e sebáceas, é uma glândula cutâ- vidida por cápsulas fibroelásticas que originam dois nea. Embora seja basicamente similar em todos ou, ocasionalmente, três lobos mamários. Cada lobo os mamíferos, há amplas variações entre as espé- possui uma cisterna e um orifício de teta próprios e separados. Dessa forma, cada teta pode possuir de duas a três aberturas. Antes do exame físico da glândula mamaria, é importante que algumas informações sejam conhe- cidas, tais como espécie, raça, nome, número, ta- tuagem, registro, idade, peso c eventuais particu- Figura 8.24 - Glândulas mamarias em laridades. A anamnese pode ser inquiridora ou es- cadelas. 1 = torácica cranial; 2 = torácica pontânea, procurando resgatar todo o histórico caudal; 3 = abdominal cranial; 4 = reprodutivo do animal. Deve-sc, inicialmente: abdominal caudal; 5 = inguinal. • Perguntar quantos partos a fêmea já teve: - Nulípara: nunca pariu. — Primtpara: um trabalho de parto. - Plurípara: vários trabalhos de parto. • Perguntar se os partos foram normais ou distócicos (parto difícil, laborioso). • Cirurgias anteriores ou exames realizados (ovariectomia, biópsia, por exemplo). • Aparecimento e duração dos sinais clínicos. • Se usa ou usou anticoncepcionais. • Tratamentos realizados e evolução. Exame Físico Específico Figura 8.25 - Neoplasia mamaria em cadelas. O exame físico das glândulas mamarias das cadelas, gatas e éguas inicia-se com a inspeção do paciente, na tentativa de observar a coloração da pele, a presença de lesões, secreções, o número e o tamanho das glândulas mamarias e das tetas. A cor da glândula mamaria varia com a raça da cadela c da gata e depende do número de melanócitos, como também do número, do tama- nho e da disposição dos grânulos de melanina
  • 19. Semiologia da Glândula Mamaria de Éguas, Cadelas e Gatas 351 dentro dos melanócitos. A pele da cadela e das armazenado. Tal acúmulo é considerado normal gatas apresenta-se, usualmente, marrom-clara (pale na gestação avançada e na lactação. Durante a ta n) mas pode ter manchas acinzentadas ou ene- lactação, na pseudocicsc ou falsa gestação e, às grecidas. A pele da glândula mamaria das éguas vezes, logo após o parto, esse acúmulo pode au- é invariavelmente escura. O aumento de volume mentar a ponto das mamas tornarem-se extrema- fisiológico das mamas ocorre geralmente nos ca- mente quentes e sensíveis à palpação. Kgalactorréta sos de gestação avançada, por acúmulo de colos- diz respeito à lactação não associada a prenhez, tro, e é mantido durante a lactação. Causas de au- sendo o indício mais comum de pseudociese. mento anormal de tamanho incluem infecção Ocorre como resultado da secreção aumentada de (mamite), abscessos e neoplasia. Qualquer aumento prolactina, em virtude do declínio da progcstcro- de volume é mais bem avaliado com a realização na sérica associada ao final do diestro. Em felinos, a simultânea da palpação, já que se pode dife- hiperplasia mamaria caracteriza-se por rápido cres- renciar um processo inflamatório e/ou infeccioso cimento anormal de tecido. É mais comum em de um outro neoplásico. A palpação é mais bem gatas jovens e o seu aspecto lembra uma neopla- realizada em cadelas e gatas colocando o animal sia mamaria, sendo necessária uma avaliação his- em decúbito lateral (Fig. 8.26), devendo iniciar- tológica para se fazer o diagnóstico diferencial entre se das glândulas "aparentemente" sadias para as ambas. Na grande maioria das vezes é indolor à "visivelmente" alteradas. Todos os pares de glân- palpação. A mamite ou mastite c o processo infla- dulas devem ser palpados. A palpação da glândula matório da glândula mamaria, em grande parte, mamaria de éguas é feita com o clínico posicio- de origem infecciosa. É caracterizada por aumento nado lateralmente ao animal (a uma certa distân- de volume, elevação da temperatura local e dor acentuada à palpação. A mastite não é comum em cia da mama e, obviamente, dos membros poste- cadelas e gatas; quando ocorre, é provavelmente riores), com uma das mãos no dorso do animal e como sequela de danos traumáticos prévios. O estendendo o braço da outra mão na direção da quadro está associado à história de parto recente mama. Por exemplo, se o exame for feito pelo (entre uma e três semanas) e abandono dos filho- lado esquerdo, a mão esquerda é posicionada sobre tes pela mãe. Na maioria das vezes, acomete apenas o dorso, enquanto a mão direita é colocada no flanco uma ou duas glândulas e, com maior frequência, e movimentada lentamente em direção à glân- as de localização abdominal e inguinal, por se- dula mamaria. rem mais produtivas. No entanto, na forma agu- A ausência total de secreção láctea é deno- da, particularmente quando se desenvolve logo minada de agalaxia; já a galactostasia é o acúmulo após o parto, é comum observar o comprometi- e cstasc de leite caracterizado por glândulas fir- mento de várias mamas. Os microorganismos mais mes, quentes e edemaciadas. O leite é produzi- frequentemente isolados são estreptococos e es- do mais rápido do que pode ser comodamente tafilococos que, na fase aguda, tendem a causar, respectivamente, inflamação supurativa e necro- sante. A avaliação física geral do animal é impor- tante e revelará elevação da temperatura corpo- ral, taquicardia e taquipnéia. A forma crónica pode estar associada a cistos mamários (galactocele) que resultam da obstrução dos duetos acinares. Os processos inflamatórios da glândula mamaria são mais dolorosos ao manuseio que as neoplasias. O leite, ao exame citológico, mostra-se, em geral, purulento ou hemorrágico, com neutrófilos de- generados. O plano diagnóstico também deve incluir cultivo bacteriano e antibiograma do leite alterado. Um outro processo que altera a estrutura da glân- dula mamaria é a neoplasia. De todos os animais domésticos, a cadela é o que apresenta maior inci- dência de tumores. A neoplasia do tecido mamário Figura 8.26 - Palpação das glândulas mamarias de cadeia. é uma entidade patológica comum em cadelas com Ilustração: Médica Veterinária Diane Hama Sassaki
  • 20. 352 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico mais de cinco anos de idade e corresponde, aproxi- inguinais e axilares deve ser considerado para que se madamente, à metade de todos os tumores na ca- possa detectar eventuais metástases. O plano diagnós- dela. Embora sejam menos prevalentes em gatas, tico deve incluir exames radiográficos da região torácica ainda constituem o terceiro tumor mais comum em para verificar se há metástase pulmonar. Ainda exis- felinos. O tamanho é extremamente variável: de tem controvérsias entre os autores consultados sobre alguns milímetros a vários centímetros de diâme- as vantagens e as desvantagens de se proceder a biópsia tro. Em muitos casos, a condição está presente durante cirúrgica ou aspirativa (com agulha fina) para o diag- vários anos como um nódulo pequeno, semelhante nóstico cito e histopatológico na tentativa de elucidar a um grão de ervilha, que tende a passar desaperce- o tipo de tumor. bido tanto pelo proprietário como pelo veterinário, até que, de repente, aumenta rapidamente de ta- manho. Esse aumento está, geralmente, associado BIBLIOGRAFIA ao estímulo do estro, e o rápido crescimento neo- plásico coincide, muitas vezes, com o desenvolvi- CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. 2.ed., mento de lesões metastásicas que se espalham, por Editora Guanabara Koogan, 1999, p.528. HARDY, via linfática, aos nódulos linfáticos locais ou pelo R.M. General physical examination of the canine sistema cardiovascular para fígado e pulmões. A in- patient. Veterinary Clinics of North America: Small Animal cidência de tumores mamários é relativamente baixa Practice. v.ll, n.3, p.453-67, 1981. KELLY, W.R. em cadelas castradas antes da manifestação do pri- Diagnóstico Clínico Veterinário. 3.cd. Rio de Janeiro: Interamericana. 1986. p.364. NELSON, R.W., meiro cio, mas aumenta progressivamente a partir COUTO, C.G. Fundamentos de Medicina do segundo cio nos animais não operados. Os pro- Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Guanabara prietários quase sempre identificam os tumores ma- Koogan, p.465-501, 1992. RADOSTITS, O.M., JOE mários nos animais, meses antes de recorrerem aos MAYHEW, I.G., HOUSTON, cuidados veterinários, e geralmente relatam que ti- D.M. Veterinary Clinicai Examination andDiagnosis. W. B. veram dois ou mais cios. O tamanho dos linfonodos Saunders, 2000. p.771.
  • 21. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes EDUARDO HARRY BIRGEL INTRODUÇÃ O Em vista da utilização da produção gerada pela glândula mamaria dos ruminantes na alimentação humana, revestem-se os estudos de se- miologia desse órgão de grande interesse clínico e académico. Pois baseados nos resultados do exame clínico do úbere, será tomada uma série de medidas para manutenção da produção e para que a matéria- prima seja adequada para o consumo do leite in natura ou haja elabo- ração de laticínios de excelente qualidade. A participação do médico veterinário especializado em clínica de bovinos, ou seja, dos buiatras, é fundamental e indispensável na ca- deia produtiva de leite c seus produtos manufaturados, desde a pro- dução até o consumo, isto é, do balde das fazendas às mesas dos con- sumidores. Pode-se afirmar, sem medo de erro ou supervalorização da atuação do buiatra, que ele é o elo principal dessa cadeia produtiva, pois tanto os erros como o não-atendimento das recomendações feitas pelo profissional bem formado são, em geral, fontes de irreparáveis perdas económicas, falhas na produção higiénica do leite e produtos lácteos sem a necessária qualidade tecnológica e frequentemente causariam desarranjo no sistema de manejo e criação dos animais produtores de leite. Tais possibilidades tornam necessário o aprimoramento do buiatra, em todas as áreas de sua atuação: o atendimento da criação dos bovi- nos (manejo e alimentação); a saúde animal (clínicas médica e cirúr- gica, como também das doenças infectocontagiosas e parasitárias ou relacionadas à reprodução - ginecologia c obstetrícia). Além do mais, o buiatra deve ter uma formação que permita não só a recuperação da saúde dos bovinos produtores de leite mas, e principalmente, manter a saúde dos animais e o nível de produção do rebanho, pois as medi- das profiláticas de teor clínico-epidcmiológico só podem ser adequa- damente implantadas cm um rebanho após o perfeito diagnóstico dos males que acometem os indivíduos que os constituem. Em contrapar- tida, caso as decisões do clínico veterinário estejam certas, baseadas numa excelente formação profissional, c sendo suas recomendações acatadas pelo pecuarista, com certeza o rebanho terá boa produtivida- de e o plantei será constituído por indivíduos sadios. Nessas considerações iniciais, creio ter ficado claro e explicitado de forma definitiva ser fundamental para a saúde e produção do reba-
  • 22. 354 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico nho a perfeita formação do clínico, que dará aten- sejam obrigados a vender esse produto agrope- dimento à criação e à saúde dos animais; desse cuário primário por valores aviltantes. Além do profissional exigem-se conhecimentos básicos de mais, os clínicos veterinários, de modo geral, e o anatomia e fisiologia, alicerçando sua formação em buiatra, em particular, devem aperfeiçoar seu Clínica Veterinária, com perfeito conhecimento conhecimento numa área à qual geralmente se de suas especializações em medicina veterinária dá pouca importância: a relação custo/benefício. interna e externa, patologia das doenças infecto- Para tanto, esse profissional deve conhecer as des- contagiosas e parasitárias, bem como da reprodu- pesas que comportam as técnicas que utilizará no ção. Associam-se a tais especialidades fortes co- diagnóstico (necessidade de saber diagnosticar); nhecimentos de criação, manejo e alimentação saber o custo e a duração dos tratamentos reco- animal. Ressalte-se, por sua significativa impor- mendados (pleno conhecimento das normas te- tância, que todas essas áreas do conhecimento têm rapêuticas e capacidade de prognosticar e avaliar um fundamento ordenador e condutor de atitu- a evolução das doenças); bem como ter plena cons- des e decisões: a Semiologia ou Propedêutica Vete- ciência do valor do animal e de sua produção. Essa rinária. Essa ciência, por razões epistemológicas, gama de conhecimentos fundamentais para a boa por si só se define (pró + pedeutica = ensinar an- formação profissional do clínico veterinário, es- tes; e semion + logus = estudo dos sintomas ou ma- pecialmente do buiatra, servirá para demonstrar, nifestações) e, assim, poder-se-ia conceituar Se- de forma incontestável, sua atuação na produção miologia como conjunto de conhecimentos ne- animal com produtividade, garantindo o lucro do cessários e introdutórios para o ensino de uma pecuarista e demonstrando sua real participação ciência maior. Por tal razão, a semiologia poderia na melhoria da produtividade dos rebanhos. ser considerada uma ciência pré-profissionalizante Para tanto, o clínico deve se colocar ao lado cujo ensinamento prepararia a formação do vete- do pecuarista, pois as corporações - Laboratórios rinário para o perfeito treinamento em uma ciên- de Pr odutos Far macêuticos, Cooperativas cia maior (considerada sua aplicação e uso na saúde Agropecuárias e Indústrias de Laticínios - sabem animal), a Clínica Veterinária em suas mais varia- se defender ou possuem equipe de técnicos que das especializações. consegue manter em seu poder a maior parte da Pelo exposto, fica claro que a semiologia lucratividade. O clínico veterinário deve se posi- veterinária é a ciência e arte do exame clínico dos cionar a respeito e talvez assim se consiga manter animais doentes ou daqueles que não alcançaram nos Estados mais desenvolvidos cultural, técnica adequadamente a perspectiva de sua produção, e economicamente uma pecuária leiteira de escol dentro dos limites de seu potencial genético e das — para desativar o sistema adrede preparado para normas regionais de criação, manejo e alimenta- desestruturação dos excelentes planteis de vacas ção. Além do mais, o ensino da semiologia ou leiteiras, ainda criados em regiões periféricas das propedêutica veterinária teria ainda a função de grandes cidades. Desse modo, poderíamos ter alertar ou preparar o buiatra para as demandas da farta oferta de leite integral, estabilizado ou sociedade, particularmente das populações rurais homogeneizado e pasteurizado nas próprias e dos pecuaristas, relacionando saúde animal com fazendas - leite de excelente qualidade higiénica os fatorcs económicos, enfatizando a produtivi- e nutritiva - com o tradicional, mas já esquecido, dade e seu custo, como também correlacionando, sabor de leite; ao invés disso, a conjuntura de forma direta, saúde e produção animal com económica dominante nos oferece e obriga saúde pública - atuando no controle das zoonoses consumir um "leite aguado" do qual se tirou tudo, ou na inspeção sanitária e tecnologia de produtos mas que é de longa duração, com sabor que nem lácteos. Assim, ter-se-ia a possibilidade de a in- de leve lembra o sabor e agradável aroma do leite dústria de laticínios oferecer leite higienicamente puro. Leite que, empacotado, viaja mais de mil produzido, o que resultaria em produtos de ex- quilómetros para chegar à mesa do consumidor, celente qualidade. como salienta a propaganda do produto - que No caso específico da produção leiteira, o esquece de dizer o que se perdeu cm termos de clínico veterinário com a ideal formação em se- matéria-prima neste percurso. Talvez por isso, miologia deve propugnar para que a produção de como falsa compensação, a esse leite transforma- leite seja consumida pela população com preços do adiciona-se inúmeras e desnecessárias subs- aceitáveis para seu poder aquisitivo, mas não tâncias — vitaminas, minerais, aminoácidos etc. E permitindo que os criadores de bovinos leiteiros o consumidor, por comodismo, compra esse pró-
  • 23. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 355 duto contemptível c, em consequência, são ideais de higiene; b) apenas o leite higiénico desativados inúmeros laticínios das pequenas e permite a produção de laticínios de excelente médias cidades, encerrando a atividade de vários qualidade, obedecendo a um adágio profissional planteis produtores de leite, com a consequente - "nenhuma tecnologia que manipula ou indus- diminuição da atividade autónoma dos buiatras. trializa produtos de origem animal melhora a Assim, cabe ao clínico a responsabilidade de pro- qualidade da matéria-prima; quando essa técnica pagar e divulgar as qualidades do leite pasteuri- for de excelente nível, apenas não altera a quali- zado e integral, aceitando apenas sua homo- dade e propriedades primitivas do produto"; c) a geneização e ao desejo do consumidor para dimi- criação de ruminantes leiteiros saudáveis e a nuir seu teor de gordura. Pois, dessa forma, atuará dedicação dos criadores na produção de leite hi- eficientemente na defesa da saúde pública ao giénico resultam em maior produção e melhores oferecer e recomendar o consumo de matéria-prima resultados económicos, além de cfetiva partici- fundamental para boa alimentação e nutrição das pação no equacionamento da Saúde Pública. populações, em detrimento de produtos indus- Leite anti-higiênico. Representa a antítese do trializados e sem as desejadas qualidades. leite que, em condições ideais, deveria ser distri- Por tais razões, associadas à necessidade de buído para ser consumido pelas populações. diferenciar as características fisiológicas do leite, Quanto às suas qualidades, esse tipo de leite daqueles anormais por condições patológicas es- poderia variar de sofrível a péssimo. Essa gradação, pecíficas da mama ou por razões de produção após avaliação sanitária competente, recomenda- leiteira em condições não higiénicas, iniciaremos rá o uso do produto: consumo, industrialização ou esse capítulo de semiologia da glândula mamaria descarte, por serem inadequadas as duas possibi- diferenciando conceitualmente leite mamitoso do lidades anteriores. Qualquer que seja o nível de leite produzido em condições anti-higiênicas. Pois qualificação do leite anti-higiênico, um fato é in- contestável: ele foi produzido, manipulado e/ou dessa diferenciação dependerá, em muitas circuns- industrializado em condições higiênico-sanitárias tâncias, o diagnóstico nosológico da enfermidade inadequadas e indesejáveis. Houve falha na criação, da glândula mamaria. no manejo da ordenha c na conservação pre- liminar do leite c as condições sanitárias do reba- nho deveriam ser reavaliadas por um clínico ve- Características Higiênico- terinário competente. organolépticas do Leite Leite mamitoso. Essa designação serve para caracterizar as amostras de leite obtidas de ani- Para a liberação do leite produzido em planteis mais leiteiros acometidos por uma das formas de bovinos e caprinos para o consumo humano, clínicas de mamites, isto é, no caso particular das ele deverá apresentar características organolépticas considerações desse trabalho, de vacas e cabras smgeneris e ser gerado, manipulado, manufatura- acometidas por um processo inflamatório das do e/ou industrializado, da produção ao consumo, estruturas anatómicas do úbere - todos passíveis em condições higiênico-sanitárias ideais. Dentro de um adequado diagnóstico clínico. desse conceito pode-se afirmar a existência de três tipos de leite: higiénico, anti-higiênico e mamitoso. Inter-relação entre Leite Leite higiénico. É aquele produzido em condi- Higiénico e Leite Mamitoso ções ideais, por vacas e cabras saudáveis, subme- tidas a manejos adequados de criação e alimenta- A correlação entre esses dois tipos de leite é ção, bem como com cuidados especiais no siste- imediata, pois o leite mamitoso nunca poderá ser ma de ordenha e conservação do leite produzido considerado higienicamente produzido. Além do (cuidados higiénicos nos momentos que antece- mais, quando ele é adicionado e misturado a outras dem e sucedem a ordenha e adequada tecnologia quantidades de leite higiénico, alterará a quali- da ordenha - manual ou mecânica). Pelo expos- dade e a constituição da mistura homogeneizada, to, o conceito de leite higiénico está entre os tornando, na maioria das vezes, esse leite de objetivos da Saúde Pública e da Produção Eco- mistura inadequado para o consumo in natura ou nómica de Alimentos de Origem Animal, pois: a) para a produção de excelentes laticínios. Entre- a população deve receber, para consumo, leite in tanto, apesar da correlação ser imediata, para o natura, produzido e industrializado em condições leite mamitoso, que sempre deve ser considerado
  • 24. 356 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico um leite não produzido em condições higiénicas tão definitivamente estabelecidos, neste epítome ideais, o leite de produção anti-higiênica nem sem- apresentaremos as dúvidas existentes e faremos pre é ou deve ser considerado leite mamitoso. as recomendações consideradas mais pertinentes Existem, como se deduz, diferenças fundamen- para o clínico no exercício de sua profissão. tais, evidentes e facilmente diagnosticáveis por As enfermidades da glândula mamaria são minucioso exame semiológico entre os dois tipos responsáveis por enormes perdas económicas e, de leite considerados. mesmo não sendo uma das características da ciên- cia brasileira a exatidão das estatísticas vitais, já na década de 1950, Renato Lopes Leão1, presidente Conhecimentos Prévios da Sociedade Paulista de Medicina Veterinária, afirmara que entre 20 e 40% dos efetivos dos re- Necessários para Estudos banhos leiteiros sofriam, constantemente, de Semiológicos da Glândula mamites e que, nos Estados Unidos, essa doença fora considerada inimiga n2 l da produção leiteira. Mamaria Paradoxalmente, a ciência e as técnicas veteriná- O ensino da Semiologia, em geral ou em um rias evoluíram de forma marcante, mas, ainda hoje, órgão ou sistema orgânico específico dos animais do- esses números se repetem e dá-se às mamites o mésticos, deve preparar os clínicos veterinários para mesmo destaque. Assim sendo, na evolução da responderem quatro questões fundamentais (Onde?, postura deste capítulo, ficará claro que as técnicas e O quê?, Por que? e Como?). Os compêndios de Se- manobras de semiotécnica, clínica propedêutica miologia ou Propedêutica Clínica devem apresen- e patologia médica da glândula mamaria visaram a tar, em seus capítulos, um preâmbulo sumarizado e preparar o estudante e o médico veterinário para objetivo da anatomia topo-descritiva, da fisiologia que possam dar excelente atendimento às búfalas ou fisiopatologia e, quando pertinente, de anato- ou vacas acometidas por uma forma clínica de mia patológica - principalmente patologia médica mamite (as demais doenças da mama, apesar de dos temas em questão, detalhando ao final as con- sua importância e significado em patologia e pro- siderações de scmiotécnica e de clínica propedêu- dução animal, serão consideradas fatores etiológi- tica. Assim, as questões preestabelecidas serão ade- cos predisponentes às mamites). quadamente respondidas: Onde examinar?, pela re- A melhor colocação e situação do ensino da capitulação objetiva de anatomia descritiva e topo- semiologia e/ou patologia da glândula mamaria é gráfica; O que examinar*., pelo destaque dos conhe- um assunto que ainda não foi definitivamente cimentos fundamentais da fisiologia nos animais elucidado. Para alguns tratadistas clássicos da Me- sadios e pelas informações de fisiopatologia para ana- dicina Veterinária, comoSisson &Grossman (1953), lisar a função de órgãos ou sistemas comprometidos Lesbories (1955), Leinati (1955) e Fincher (1956), por alguma enfermidade; Por que examinará, o co- o estudo da glândula mamaria far-se-ia em con- nhecimento de patologia médica dos males que afli- junto ou como item anexo aos estudos do apare- gem os animais orientam o clínico - alertado pelo lho genital, quer seja em seus aspectos morfoló- proprietário do paciente sobre a necessidade de ser gicos, fisiológicos, semiológicos e patológicos. Esses submetido a exame clínico (obedecendo aos mo- autores associaram a glândula mamaria ao apare- dernos conceitos da Semiologia Veterinária, o ani- lho genital feminino, pois sua função estaria in- mal que não alcançar o nível programado de produ- timamente relacionada à gestação e ao parto, es- ção - no caso, de leite, deve ser submetido a tando, ainda, a indução e a manutenção da lacta- elucidativo exame clínico) e; finalmente, Como exa- ção diretamente ligadas aos hormônios da esfera minar.', fulcro da Semiologia Veterinária - arte e ciên- sexual. Além do mais, a secreção láctea será uti- cia do exame clínico dos animais. Portanto, esse úl- lizada na alimentação do rebento das matrizes pro- timo item será o objetivo especial deste capítulo. dutoras de leite ou de carne. Outros autores, des- tacando os histologistas, estudam a glândula ma- maria em conjunto, no capítulo sobre "Semiolo- gia da pele"; finalmente, alguns como Kolb (1980), SÚMULA DA MORFOLOGIA DA em seu tratado sobre "Fisiologia Veterinária", deu GLÂNDULA MAMARIA destaque à fisiologia da glândula mamaria, atri- buindo-lhe um capítulo independente e isolado, Apesar de aparentemente se julgar que os estu- como se faz na presente publicação. dos básicos e estáticos da glândula mamaria es-
  • 25. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 357 Mas para Costa & Chaves (1949), o ensino da lado o teto, consequentemente ocorrendo a ere- histologia da glândula mamaria deveria ser incluí- ção do teto, o que facilita a ordenha (ver Fig. 8.29). do no capítulo dedicado ao estudo da pele e ane- Ductus papillarís. O canal do teto é curto e xos, em face de sua origem embrionária na crista irregular, mais estreito em sua extremidade dis- mamaria do espessamento epiblástico. Além do tai. O orifício do teto tem inúmeras particulari- mais, destacaram que, segundo conceitos histoló- dades anatómicas que impedem a penetração das gicos, o órgão, que habitualmente é designado por bactérias na cisterna do teto. O epitélio escamo- glândula mamaria, deveria ser considerado como so de dupla camada do sinus papillarís pode so- um aglomerado de glândulas elementares e não frer estratificações por estresse da ordenha ou por como um órgão unitário. Essas glândulas elemen- reação a lesões de diferentes origens, determinando tares, histomorfologicamente, podem ser classifi- o desenvolvimento de tecido fibroso cicatricial, cadas como tubuloacinosas compostas com tipo com projeções para o lume da cisterna, podendo secretório holomerócrino ou apócrino, separadas por até obstruí-la. abundante tecido conjuntivo (ver Figs. 8.27 e 8.28). Sinus lactiferous. A cisterna da glândula mamaria Ressalte-se, entretanto, que outros autores de tem volume de variada magnitude, na dependên- compêndios especialistas em morfofisiologia: cia da constituição racial, podendo ser uma cavi- anatomistas (Sisson & Grossman, 1953), histologistas dade simples e ampla ou subdividir-se por pregas (Maximow & Bloom, 1952, Junqueira & Carnei- e membranas, constituindo, então, múltiplas cavi- ro, 1982) e fisiologistas (Kolb, 1980) consideram a dades. O epitélio de revestimento também é for- estrutura da glândula mamaria como tubuloalveolar. mado por células dispostas em duas camadas. As diferentes estruturas da glândula mama- Na cisterna da glândula, abrem-se entre 8 e ria apresentam inúmeras configurações histoló- 12 duetos galactóforos, que provêm do parênqui- gicas que merecem destaque e serão detalhadas a seguir. Tetos. A parede das papilas da glândula mama- ria dos bovinos é delgada e sua epiderme é des- provida de pêlos e de glândulas; entretanto, inter- namente tem um plexo vascular que se preenche de sangue, aumentando a pressão quando estimu- Figura 8.28 - Célula secretora da glândula mamaria: re- presentação esquemática da imagem em microscopia ele-trônica. Figura 8.27 - Estrutura de um ácino da glândula mamaria: 1 = gotículas de gordura com resquícios celulares; 2 = glóbulos representação esquemática. A = artéria; B = célula mioepi-telial; de gordura; 3 = grânulos de proteína; 4 = microvilosidades; C = capilares; D = células secretoras; E = duto galac-tóforo 5 = junções celulares; 6. mitocôndrias; 7 = ribossomos; 8 = retículo terminal; F = fibras musculares; C = duto galactó-foro endoplasmático; 9 = células mioepiteliais; 10 = membrana basal; interlobular. 11 = núcleo celular.
  • 26. 358 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico BC do, nos casos mais graves, observar-se a atrofia e endurecimento da glândula. Na regressão do parênquima glandular pós- lactação, reduz-se o número de alvéolos/ácinos, permanecendo apenas o sistema galactóforo e lóbulos de tecido adiposo. Todavia, algumas es- truturas secretoras permanecem, porém perdem, nessas oportunidades, a capacidade secretora e eventualmente retornam em atividade na próxi- ma lactação, produzindo colostro. Condição nor- mal e fisiológica das vacas leiteiras é a de produ- zirem mais leite na segunda lactação que na pri- meira, pois um maior número de unidades secre- toras entra cm atividade. O potencial máximo de produção láctea será alcançado, em termos médios, f na 5a ou 6a lactação. Figura 8.29 - Esquema do arcabouço da mama. A = lóbulo e ácinos glandulares (aumentados); B = veia; C = artéria; D = Anatomia da Glândula Mamaria lobos glandulares; E = cortes de ácinos; F = células secretoras; G = membrana basal e vasos sanguíneos; H = células secretoras e A glândula mamaria dos bovinos ainda será glóbulos de gordura; l e J = capilares; K = circulação sanguínea considerada neste item do capítulo como padrão do teto. de referência, mencionando especificações em outras espécies animais, se estas se fizerem ne- ma glandular. Esses duetos são mantidos em cessárias. Na escala zoológica, os animais mamíferos, posição pelo tecido conjuntivo que forma o estroma ou seja, aqueles incluídos na classe Mammalia, da glândula, revestidos internamente por epité- lio de dupla camada celular e circundados por difercnciam-se pelo tipo e características de suas musculatura lisa e tecido conjuntivo elástico sem, glândulas mamarias, órgãos secretores fundamen- entretanto, formar uma estrutura de esfíncter. tais para o desenvolvimento dos recém-nascidos Sistema ácino-lobular ou alvéolo-tubular. O te- em diferentes estágios de maturidade. Nessa cido secretor constitui a maior parte do parênquima evolução zoológica, existem variados tipos de glandular, que se divide em lobos, formado por mamas e maneiras dos lactentes mamarem ou se alimentarem da secreção das fêmeas lactantes. Essa vários lóbulos. Os duetos interlobulares permeiam o tecido conjuntivo do estroma entre lóbulos glan- variação compreende tanto as glândulas mama- dulares, dando origem aos duetos intralobularcs, rias mais complexas vistas nos mamíferos supe- riores quanto as formas mais primitivas e rudi- que atingem os duetos terminais e os ácinos/al- véolos secretores. Os ácinos, para alguns mentares de glândulas mamarias, descritas nos ma- histologistas ou os alvéolos, segundo outros, apre- míferos da ordem Monotremata, cujos géneros sentam apenas uma camada de células cúbicas, Ormthorhynchus e Rquidna (Tachyglossus aculeatus] botam ovos. Esses ovos são colocados numa bol- que se achatam sob a ação do aumento da pres- são do leite secretado. O tecido conjuntivo do sa diferente daquela dos marsupiais, onde um par estroma da glândula entre alvéolos/ácinos contí- de glândulas mamarias com cerca de 120 tubos galactóforos abrem-se, separadamente, na base de guos é frouxo na glândula sadia com lactação em condições normais. Ressalta-se que, nesse tecido longos pêlos mamários que, umedecidos, alimen- conjuntivo, distribuem-se capilares sanguíneos, tarão os filhotes. Nessa evolução, passa-se por fibras reticulares e células mioepiteliais. Durante formas observadas em animais da subclasse a involução da glândula mamaria, na fase pós- Metaterianos, mamíferos desprovidos de placen- lactação, ocorre retração do tecido glandular, sendo ta, onde se destaca a ordem Marsupia/ia, com des- taque à família Didephidae, com animais portado- por isso mais perceptível o estroma glandular nas vacas secas. Nos processos inflamatórios, o estroma res de bolsas (Marsupium). Esses animais nascem reage às ações irritantes com proliferação celular imaturos, mas com vivacidade suficiente para se e formação de tecido fibroso cicatricial, poden- transferirem para a bolsa e se fixarem de forma
  • 27. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 359 permanente ou não a um par de glândulas ma- mamarias, assim designadas: anteriores e poste- marias ali localizadas. riores direita e esquerda. Nos pequenos ruminan- O grau máximo de evolução c desenvolvimento tes, cabras e ovelhas, o úbere é constituído por da glândula mamaria é observado na ordem duas glândulas mamarias, usualmente designadas Mammafía, cujas fêmeas geram seus rebentos no por metades - esquerda ou direita. útero, envoltos por uma placenta verdadeira. Es- Destaque-se que, frequentemente, se obser- ses animais podem ser classificados pelo número vam nas vacas e mais raramente nos demais rumi- de glândulas mamarias cm bimásticos oupo/imásficos, nantes domésticos glândulas mamarias ou tetos tendo respectivamente um ou vários pares de glân- supranumerários ou acessórios. As quatro glându- dulas mamarias. Ainda em diferentes espécies de las mamarias das vacas, anatómica e funcionalmente animais mamíferos, é característica específica o local independentes, apresentam a separação entre e a distribuição das glândulas mamarias: peitorais, quartos contralaterais, formada por lâmina de te- inguinais e na linha abdominotorácica. Tal distri- cido fibroelástico, constituindo o ligamento mé- buição é detalhada na Tabela 8.2. dio do órgão, responsável por sua fixação na linha branca abdominal. Não existe, entretanto, uma es- Anatomia da Glândula Mamaria dos Bovinos trutura anatómica definida separando os quartos anteriores dos posteriores (Figs. 8.29 e 8.36). Para o perfeito estabelecimento de normas semiológicas do exame clínico da glândula ma- Forma e Volume da Glândula Mamaria maria, c necessário, inicialmente, firmar o con- ceito do úbere, como recomendado por Cecililia A glândula mamaria dos animais domésticos (1956): nas vacas (também nas búfalas), o úbere apresenta particularidades anatómicas relaciona- é constituído por quatro glândulas mamarias (dois das à forma e tamanho que dependem de inúme- pares) independentes morfológica e funcionalmen- ros fatores, intrínsecos e extrínsecos, como: es- te, localizadas na região inguinal. Com essa con- pécie e raça animal, idade, constituição individual ceituação, ficam claras e bem definidas as roti- e condições de manejo leiteiro, alimentação e neiras denominações que se referem a uma glân- criação, além das condições de sanidade do pró- dula mamaria, chamando-a de "quarto" - o ter- prio órgão. De modo geral, tomando como exem- mo refere-se a um quarto do úbere ou da mama, plo um animal de produção, pode-se dizer que considerando-a formada por quatro glândulas nos bovinos o úbere pesa entre 11 e 15 quilogra- Tabela 8.2 - Número e localização das glândulas mamarias em animais domésticos e selvagens.
  • 30. UJ Ol M i/i (í 3 <D 2 Tabela 8.3 - Características anatómicas da glândula mamaria dos animais domésticos. 5' E aracterísticas Vaca Búfala Cabra "~~~~ — B|i|ii|i|P||i Porca Cadela Gata j a glândula mamánJH 4 CL O Número de glândulas 4 4 2 2 2 10-12 8-12 8 EU Forma da glândula Hemisférica Hemisférica Cónica Hemisférica Hemisférica Ovóide Ovóide Ovóide «a Forma do teto Cilíndrico Cónico Cónico Cilíndrico Cónico Carnoso Carnoso Carnoso Número de orifícios do teto 1 1 1 1 2 3 5-8 4-7 Número de duetos 5-20 — 6-9 6 — — — — galactóforos na cisterna da glândula Observações Produção Produção Produção Produção para as Cisterna da 2 glândulas Papila da Ausência de económica económica económica crias. Em algumas glândula abdominais e glândula em glândulas de leite de leite de leite regiões, produção dividida. 1-2 inguinais forma de inguinais económica de Produção mais desenvol- mamelão, leite para cria vidas. Produ- possuem ção para cria, auréola como com reflexo da nos primatas sucção (cada leitão tem seu teto para ,,i mamar)
  • 31. l
  • 32. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 363 nal, em condições ideais, o órgão deve apresen- tar uma excelente estrutura para sua fixação na parede abdominal (Fig. 8.35). Essa condição é con- Ligamento médio siderada fundamental para a criação e seleção das (Elástico) vacas leiteiras, pois a frouxidão dessa fixação faz com que o úbere se aproxime do solo facilitando a ocorrência de traumatismos (mama pêndula). Entre os ligamentos suspensores da glându- la mamaria dos bovinos, cabe destacar os seguin- tes (Fig. 8.36). Ligamento suspensor lateral da mama (Fig. 8.37). Esse ligamento tem origem no tendão subpélvico, projetando-se para as duas porções laterais do úbere. Nessa distribuição, subdivide-se em duas cama- das: a superficial e a profunda, que se unirão distal- mente ao ligamento médio. A constituição desse ligamento é fibrosa. Ligamento lateral (Fibroso) Mama repleta de leite Figura 8.37 - Ligamentos suspensores da glândula mamaria: úbere com pequena quantidade de leite (tetos com posição simétrica e Púbis paralela); úbere repleto de leite (boa extensão do ligamento elástico medial) tetos simétricos com divergência, sem se aproximarem do solo. Ligamento médio. Esse ligamento formado por tecido conjuntivo elástico divide o úbere em duas porções: glândulas anterior e posterior direitas e glândulas mamarias anterior e posterior esquer- das. Esse ligamento se insere na linha branca do abdome e, por sua constituição elástica, permite o abaixamento da glândula mamaria, quando re- pleta de leite, mas por ação contrabalanceada com a dos ligamentos laterais, pouco extensíveis, ocor- re a maior divergência dos tetos, não permitindo suas aproximações do solo. Cordões conjuntivos. Esses cordões se locali- zam na superfície dorsal da mama, fixando-a à parede do abdome. Faseia superficial. Essa estrutura é formada pelo tecido conjuntivo que reveste as glândulas mama- rias e suportam o peso do úbere de forma difusa. Pele. Na realidade, a maior função da pele relaciona-se à proteção do parênquima glandular e à de recepção de estímulos; entretanto, não se Figura 8.36 - Implantação e suspensão da glândula mamaria da pode negar e menosprezar sua ação suspensora e vaca. Corte transversal na 4 a vértebra sacral - vista posterior, a = 4- fixadora do úbere. vértebra sacral; b = intestino grosso - reto; c = vagina e vesícula urinária; d = músculo reto interno; e = bainha lateral do tendão subpélvico; f = músculo semimembranoso; g = glândula Estruturas Internas da Glândula Mamaria mamaria posterior esquerda; h = bainha medial do tendão As estruturas anatómicas internas da glân- subpélvico. 1 = ligamento la teral da glândula mamaria dula mamaria serão detalhadas considerando- (fibroso); 2 = ligamento medial da glândula mamaria (elástico) (Fig. 8.37). se, como padrão de referência, a vaca, pois a maio-
  • 33. 364 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico ria das considerações se equivale nas várias es- pécies de animais domésticos. Quando houver necessidade, far-se-ão detalhamentos específicos (Figs. 8.38 e 8.39). Ductuspapillaris. O conduto do orifício do teto tem entre 5 e 13mm de comprimento. Seu epité- lio de revestimento é secretor de muco que con- tribui para o perfeito fechamento desse conduto, impedindo a penetração de bactérias para o inte- rior das cavidades da glândula. O diâmetro do conduto papilar é irregular, variando entre 0,40 e 0,77mm, sendo esse dueto delineado por um con- junto de fibras musculares lisas, dispostas em sen- tido longitudinal e circundadas por feixes circula- res de músculo estriado, formando um verdadeiro esfíncter, cuja contração determina a hermética Figura 8.39 - Estruturas internas das cavidades da glândula oclusão do ductus papillaris. Na porção proximal mamaria. (A) 1 = sinusgalactoforous; 2 = divisória das duas do orifício do teto, que apresenta o maior diâme- cisternas, onde se abrem delicados lóbulos glandulares produtores tro, ocorre o pregueamento do epitélio de revesti- de leite; 3 = anel de Fúrstenberger (às vezes obstruídos por membrana fibrosa); 4 = localização da prega de Fúrstenberger; 5 mento interno, formando a prega de Fúrstenberger = ductus papillaris e orifício externo do teto. (B) 5 = Detalhe que, supostamente, atuaria como uma válvula, re- do ductus papillaris. forçando o fechamento do orifício. Sinuspapillaris. A cavidade ou cisterna do teto tem capacidade para conter de 30 a 40mL de leite, ou seja, o volume correspondente ao retirado por uma das pressões exercidas durante a ordenha. De modo geral, a forma do teto é cilíndrica, com capa- cidade de creção quando excitado; essa forma modifica-se segundo características da espécie (cónico nos zebuínos), das raças (menores no gado Jersey), da idade (maiores nas vacas mais velhas) e em condições anormais, consequentes a distúrbios constitucionais hereditários ou congénitos e adqui- ridos (tetos carnosos, longos, dilatados, etc.). Apesar do tecido epitelial de revestimento interno da cisterna do teto não formar longas pregas ou verdadeiras bolsas, há possibilidade de se encontrarem cristas epiteliais ou mesmo a formação de membranas, como ocorre em algumas circuns- tâncias na região divisória entre as cisternas do teto e da glândula (sinus galactoforous). A perma- nência dessa membrana impede, por obstrução, a descida do leite e o preenchimento da cisterna do teto. Tal evento é observado na primeira lacta- ção, quando pode ser diagnosticada, devendo então ser rompida, permitindo que a novilha recém- parida seja ordenhada. No espaço de separação das duas cisternas, observa-se a abertura de glândulas mamarias aces- Figura 8.38 - Estruturas anatómicas internas da glândula mamaria de vaca. Corte transversal. 1 = parênquima da glândula sórias, fazendo saliências no epitélio de revesti- mamaria; 2 = sinusgalactoforous;3 = sinuspapillaris; 4 = ductus mento. Nas vacas, essas observações se manifes- papillaris; 5 = seio - sulco intramamário; 6 = ligamento medial tam pela visualização de pequenas elevações do (fibroelástico); 7 = tecido adiposo; 8 = revestimento cutâneo. derma; porém, em vacas, as aberturas dessas glân- dulas acessórias se acompanham de grande quan-
  • 34. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 365 tidade de tecido secretor, podendo ser acometi- quartos direitos e quartos esquerdos. Ao penetra- das por processos inflamatórios infecciosos ou dar rem no úbere, as artérias passam a se denominar origem a cistos de retenção ou mesmo abscessos. artérias mamarias e se dividem em ramos craniais Nos processos inflamatórios do tecido epite- e caudais. Em seguida, esses ramos se subdividem lial de revestimento interno da cisterna do teto, inúmeras vezes, originando vasto sistema capilar, há intensa proliferação e crescimento exuberan- que atinge todas as estruturas anatómicas da glân- te de tecido fíbrocicatricial que, às vezes, atua como dula mamaria. Outra possibilidade de irrigação da válvula, dificultando a ordenha ou forma cordões mama é pela artéria perineal. A parede dos tetos, de espessamento de consistência firme passível de apesar de delgada, apresenta desenvolvido plexo ser detectado por palpação (cisternite). vascular, formando anel ao redor do ponto de in- Sinas lactiferous. A denominada cisterna da glân- serção da base do teto na cisterna da glândula. dula ou do leite corresponde à cavidade dilatada, O sistema venoso forma um plexo na base única ou múltipla, localizada acima e em contato do úbere - na faseia entre a glândula e a parede direto com a cavidade do teto. Pode conter entre abdominal, que deverá receber a maior parte do 100 e 400mL de leite, na dependência da produção sangue circulante das quatro glândulas. Esse plexo láctea da vaca. Nessa cavidade, desembocam entre se estende anteriormente, dos dois lados nas veias 8 e 12 ou, mais raramente, 20 condutos galactóforos, abdominais subcutâneas que emergem do ponto que veiculam o leite produzido nos alvéolos localizado na parede abdominal na base da mama, secretores. A partir da cavidade ou sinus galactoforo, e se dirige anteriormente para penetrar na cavi- os duetos principais se dicotomizam, formando uma dade torácica, em local próximo ao apêndice xi- verdadeira rede de túbulos galactóforos, finalizan- fóide do osso externo, transformando-se na veia do-se os duetos terminais nos alvéolos ou ácinos se- torácica interna para fixar-se na veia cava ante- cretores de leite. A estrutura anatómica dos duetos rior. Esse mesmo plexo circulatório se estende pos- galactoforous principais e secundários dá à glândula teriormente, formando outra via de circulação do mamaria uma condição especial de preenchimento sangue venoso do úbere, representado pelas vei- e de reserva de leite produzido entre duas orde- as pudendas externas. Por esses vasos, o maior nhas: a glândula mamaria preenche, inicialmente, volume de sangue circulante do úbere deixa o suas porções dorsais, ou seja, os duetos que se loca- órgão, passando pelo canal inguinal, tendo traje- lizam próximo às unidades secretoras e, finalmen- to paralelo às artérias, convergindo para a veia cava te, as cisternas do teto e da glândula. anterior, pela veia ilíaca externa. Finalmente, o terceiro sistema venoso capaci- tado a circular o sangue venoso do úbere é repre- Circulação Sanguínea da Glândula Mamaria sentado pelas veias perineais. Extraordinariamen- Os bovinos especializados para a produção lei- te, em algumas vacas, é único para as duas metades teira, para manterem essa produção, devem apre- do úbere. Essa veia se dirige em sentido dorsal e, sentar um sistema vascular desenvolvido e que sobre o ísquio, une-se à veia pudenda interna. permita intensa circulação nas várias porções cons- A distribuição do sistema vascular venoso do tituintes do úbere (Tabela 8.4). Para que uma vaca úbere, havendo um fluxo interno (veia pudenda produza l litro de leite, deve receber no sistema externa e veia perineal) e outro externo (veia abdo- circulatório da mama aporte de 300 a 400 litros minal superficial), impossibilita a ocorrência de de sangue. Fisiologistas como Scheunert e cols. distúrbios circulatórios quando a vaca lactante se (1942) destacaram que a circulação sanguínea na deita por longo período sobre a mama e a veia abdominal superficial. mama é mais lenta que a observada na glândula Tanto o fluxo de circulação sanguínea como a salivar, sendo no úbere o sistema venoso mais de- pressão sanguínea do sistema vascular do úbere senvolvido que o arterial (50 a 100 vezes); assim, apresentam variações na dependência da ordenha teria pressão sanguínea menor - assemelhando- c da retenção de leite na mama: 1. a ordenha com se àquela dos grandes vasos da base do coração. retirada do leite acumulado, por mecanismo refle- O sangue arterial que irriga a glândula mama- xo, aumenta o fluxo sanguíneo nas glândulas ma- ria emana das artérias do tronco pudendo-epigás- marias; 2. o aumento da pressão intramamária por trico, procedente da artéria femoral. As artérias retenção do leite nas cisternas e duetos galactóforos pudendas externas atravessam o anel inguinal e da mama determina aumento da pressão sanguí- cada uma se dirige para um dos lados do úbere - nea do sistema vascular (20 a 40mmHg).
  • 35. 366 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Sistema Linfático do Úbere No ciclo secretor de leite, uma vaca de 550kg de peso vivo, produzindo 30L/dia de leite, com Nas vacas, o sistema linfático centraliza-se nos 3,7g% de gordura, 4,8g% de lactose e 3,3g% de linfonodos retromamários ou inguinais superfi- proteína total, tem uma necessidade energética ciais, localizados na base dos quartos posteriores de 48.000Kcal* (Kolb, 1980). da mama. Na maioria das vezes são representa- As características físicas e organolépticas do dos por um par de linfonodos, em forma de dis- leite são dadas por sua constituição química. A co, com cerca de 7cm de diâmetro; raramente, essas cor branca é determinada por pigmentos liposso- unidades são subdivididas em 3 a 7 unidades. À lúveis e a opacidade c uma consequência da pre- medida que aumentam em número, diminuem sença abundante de corpúsculos de gordura, pois em tamanho. Esse sistema linfático nodular dre- ImL de leite possui 2 a 6 bilhões desses corpús- na a linfa de todos os vasos linfáticos aferentes. culos em suspensão, cujo diâmetro varia entre l Os vasos aferentes atravessam o canal inguinal e e 22u, (Schcunert e cols., 1942). chegam ao linfonodo inguinal profundo, mas tam- O leite produzido pelos animais ruminantes bém podem alcançar o linfonodo ilíaco externo. domésticos é rico em proteína, sendo considerado Detalhe que deve ser ressaltado refere-se ao cascinoso, pois a caseína é a proteína predominan- sistema linfático do úbere das éguas, pois nessas te. Em contrapartida, o leite produzido por éguas, fêmeas o sistema é difuso, não se centralizando carnívoros e primatas é considerado globulínico, pre- em linfonodos bem definidos. dominando na secreção a associação lactoalbumina e lactoglobulina. A constituição do leite de animais domésticos, adaptada de Scheunert e cols. (1942), Inervação do Úbere foi delineada nas Tabelas 8.5 a 8.7. Os nervos que inervam as várias estruturas do Desenvolvimento da Glândula Mamaria, úbere são mistos quanto à origem, pois emanam da Instalação e Manutenção da Lactação medula espinal e do sistema simpático. Os nervos espinais emergem da coluna lombar e, por meio do Afora o desenvolvimento embriológico da glân- canal inguinal, darão origem a terminações nervo- dula mamaria a partir da crista mamaria, merece destaque, particularmente para embasamento dos sas que inervam tanto a glândula mamaria como a conhecimentos da semiologia, o desenvolvimento pele que as recobre. As fibras do sistema simpático da mama após o nascimento, na instalação da pu- provêm do plexo mesentérico. O sistema de incrvação berdade, durante a gestação e após o parto, bem do úbere é essencial no reflexo responsável pela como deve-se ressaltar a involução na fase de re- liberação da ocitocina do lóbulo anterior da hipófise pouso de produção da vaca leiteira (vaca seca) e na e, conseqiientemente, pela descida do leite no senilidade. Em qualquer dessas fases, a ação dire- momento da ordenha. Entretanto, não tem qual- ta ou a interação de hormônios é fundamental para quer influência sobre a produção de leite. o pleno desenvolvimento da glândula mamaria e da secreção láctea. Entre os referidos hormônios merecem desta- Fisiologia da Glândula Mamaria que: estrógenos; progesterona; prolactina ou hormô- nio lactogênico; ocitocina; tiroxina e adrenalina Segundo Kolb (1980), a glândula mamaria é uma (Fig. 8.40). característica específica dos animais da ordem Mamma/ia, classificadas, morfologicamente, como Fase Pré-púbere glândulas alvcolares e, funcionalmente, com duas fases secretórias merócrina-apócrina, apesar de Sarda (1952), Antes da instalação da puberdade, há significante desenvolvimento da mama. Essas manifestações só em seu compêndio "Elementos de Fisiologia", con- siderar a glândula mamaria como túbulo-acinosa com duas atividades secretoras merócrina e holócrina, considerando o leite uma secreção intracelular ex- * Para produção de 48.000Kcal, exige-se: 30.000Kcal pulsa das células secretoras com pequena quantida- de ácidos graxos voláteis; lO.OOOKcal de compostos fermentados pela microbiota do rume e S.OOOKcal de de material citoplasmático e, praticamente, ne- de constituintes alimentares. A perda de energia nhum conteúdo nuclear. A integridade basilar da célula deve-se à formação de gases no rume, nas citadas á mantida durante o ciclo secretor. eondições, equivalente a S.OOOKcal.
  • 36. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 367 Tabela 8.4 - Variação do fluxo sanguíneo na glândula mamaria em diferentes fases da lactação (adaptado de Kolb, 1980). Produção Fluxo sanguíneo da mama Massa da i lactação litros/dia litros/min litros/dia mama (kg) Plena 20 10.000 Seca (14 dias antes do parto) 21 12 30.240 44 33 Pós-parto (14 dias) 17.280 Hipófise grande desenvolvimento do sistema tubular da glândula mamaria. Após 4 meses de gestação, a progesterona elaborada pelo corpo lúteo gestacional passa a ter ação dominante, determinando a for- s Mama .— - mação de lóbulos de tecido alveolar. As forma- Acinos ções primordiais dos alvéolos dilatam-se e pas- Túbulos sam a elaborar uma secreção com grande concen- tração de globulinas. No momento do parto, a vaca estará apta para a produção leiteira e, nos primei- Figura 8.40 - Desenvolvimento da glândula mamaria. CL = ros dias, haverá produção de colostro, contendo corpo lúteo; F = folículo. A ação da progesterona inibe a liberação de prolactina. A ação do estrógeno estimula a as necessárias imunoglobulinas para proteção liberação de prolactina. imunológica dos bezerros recém-nascidos. Involução da Glândula Mamaria no Período de serão evidentes com a instalação da função ovaria- na, pois a secreção de estrógenos em níveis míni- Reparação entre Lactações mos - insuficientes para estabelecimento de ciclos Quando a lactação cessa numa vaca não ges- estrais - será suficiente para iniciar o desenvolvi- tante, instala-se um processo de involução glan- mento do sistema de duetos galactóforos no inte- dular: o leite residual é reabsorvido; ocorre redu- rior do tecido conjuntivo e coxim gorduroso. O de- ção do tamanho dos alvéolos que, eventualmen- senvolvimento da glândula mamaria é variável na te, podem desaparecer, permanecendo apenas os dependência de características constitucionais pró- duetos galactóforos e lóbulos de tecido gorduro- prias; porém, nesses casos, o clínico experiente, por so. A próxima gestação resultará na total restau- palpação da glândula imatura, já poderia selecionar ração do sistema túbulo-alveolar, como descrito as futuras excelentes produtoras de leite. anteriormente. Quando o declínio da lactação corresponder Desenvolvimento da Mama na Puberdade a uma vaca gestante, observa-se uma sequência Após a puberdade, haverá ocorrência de cios; de fenómenos fisiológicos: a partir do período portanto, ovulações e formação de corpos lúteos. médio de gestação, observa-se gradativo c contí- iniciam-se os ciclos estrais periódicos e intensifi- nuo declínio da lactação; há depressão da ação da ca-se a produção e atividade dos hormônios se- prolactina por ação da progesterona; mesmo em xuais: estrógenos e progesterona. Durante o anestro vacas de grande produção leiteira, deve-se favo- juvenil - prc-puberdade, o desenvolvimento da recer a diminuição da produção e secar a vaca, mama foi insignificante. Em seguida, o sistema dando-lhe, no mínimo, 55 a 60 dias de repouso constituído pelos duetos galactóforos se desen- sem produção láctea. volve por estímulo dos estrógenos e o sistema No sequencial descrito, inúmeros alvéolos alveolar será pouco estimulado pela progestero- podem permanecer durante o período de repou- na secretada pelo corpo lúteo, porém esse hor- so glandular; eles deixam de produzir mas, após mônio sensibilizará os duetos galactóforos. o parto, estarão aptos a elaborar o colostro e a se- guir leite. Paralelamente, novos alvéolos se for- Desenvolvimento da Mama na Gestação mam e tal fato explicaria o aumento de produção Nos primeiros meses da gestação, o nível de láctea em vacas sadias, progressivamente, até a estrógenos aumenta gradativamente, havendo 5a lactação (aproximadamente, 7 anos de idade).
  • 37. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 367 Tabela 8.4 - Variação do fluxo sanguíneo na glândula mamaria em diferentes fases da lactação (adaptado de Kolb, 1980). Produção Fluxo sanguíneo da mama Massa da Fase da lactação litros/dia litros/min litros/dia mama (kg) Plena 20 — 10.000 — Seca (14 dias antes do parto) 21 30.240 44 Pós-parto (1 4 dias) 12 17.280 33 Hipófise grande desenvolvimento do sistema tubular da glândula mamaria. Após 4 meses de gestação, a progesterona elaborada pelo corpo lúteo gestacional passa a ter ação dominante, determinando a for- Mama mação de lóbulos de tecido alveolar. As forma- ções primordiais dos alvéolos dilatam-se e pas- sam a elaborar uma secreção com grande concen- tração de globulinas. No momento do parto, a vaca estará apta para a produção leiteira e, nos primei- Figura 8.40 - Desenvolvimento da glândula mamaria. CL = ros dias, haverá produção de colostro, contendo corpo lúteo; F = folículo. A ação da progesterona inibe a liberação de prolactina. A ação do estrógeno estimula a as necessárias imunoglobulinas para proteção liberação de prolactina. imunológica dos bezerros recém-nascidos. Involução da Glândula Mamaria no Período de serão evidentes com a instalação da função ovaria- na, pois a secreção de estrógenos em níveis míni- Reparação entre Lactações mos - insuficientes para estabelecimento de ciclos Quando a lactação cessa numa vaca não ges- estrais — será suficiente para iniciar o desenvolvi- tante, instala-se um processo de involução glan- mento do sistema de duetos galactóforos no inte- dular: o leite residual é reabsorvido; ocorre redu- rior do tecido conjuntivo e coxim gorduroso. O de- ção do tamanho dos alvéolos que, eventualmen- senvolvimento da glândula mamaria é variável na te, podem desaparecer, permanecendo apenas os dependência de características constitucionais pró- duetos galactóforos e lóbulos de tecido gorduro- prias; porém, nesses casos, o clínico experiente, por so. A próxima gestação resultará na total restau- palpação da glândula imatura, já poderia selecionar ração do sistema túbulo-alveolar, como descrito as futuras excelentes produtoras de leite. anteriormente. Quando o declínio da lactação corresponder Desenvolvimento da Mama na Puberdade a uma vaca gestante, observa-se uma sequência Após a puberdade, haverá ocorrência de cios; de fenómenos fisiológicos: a partir do período portanto, ovulações e formação de corpos lúteos. médio de gestação, observa-se gradativo e contí- Iniciam-se os ciclos estrais periódicos e intensifi- nuo declínio da lactação; há depressão da ação da ca-se a produção e atividade dos hormônios se- prolactina por ação da progesterona; mesmo em xuais: estrógenos e progesterona. Durante o anestro vacas de grande produção leiteira, deve-se favo- juvenil - pré-puberdade, o desenvolvimento da recer a diminuição da produção e secar a vaca, mama foi insignificante. Em seguida, o sistema dando-lhe, no mínimo, 55 a 60 dias de repouso constituído pelos duetos galactóforos se desen- sem produção láctea. volve por estímulo dos estrógenos e o sistema No sequencial descrito, inúmeros alvéolos alveolar será pouco estimulado pela progestero- podem permanecer durante o período de repou- na secretada pelo corpo lúteo, porém esse hor- so glandular; eles deixam de produzir mas, após mônio sensibilizará os duetos galactóforos. o parto, estarão aptos a elaborar o colostro e a se- guir leite. Paralelamente, novos alvéolos se for- Desenvolvimento da Mama na Gestação mam e tal fato explicaria o aumento de produção Nos primeiros meses da gestação, o nível de láctea em vacas sadias, progressivamente, até a estrógenos aumenta gradativamente, havendo 5- lactação (aproximadamente, 7 anos de idade).
  • 38. (j j CA oo in 01 3 o_ o ia S' S á ná Tabela 8.5 Constituição do leite de alguns espécimes de animais domésticos (adaptado de Scheunert e cols., 1942). Animais Densidade a 15"C Resíduo Proteína Caseína Lactoalbumi a. o fl) 10 Vacas* dos seco g% total g% g% globulina o- Vales das 1,0310 Montanhas 1,0327 12,0 12,8 3,30 2,50 0,60 3,20 4,60 0,8 0 0 , 13 6 8 1,0264 a 3,34 2,75 0,70 3,64 4,96 0,7 6 0 , 13 6 8 Cabras 9.3 - 14,3 1,0341 3,76 2,00 - 5,90 4, 40 0,85 0 , 10 1 9 2,60 1,16 Ovelhas 1,0355 13,3 -25,0 4,30 -6,60 2,20-2,80 4,0 0 - 6,6 0 0,8 0 - 1,2 0 0 , 12 9 7 Porcas 1,0412 17,1 -20,5 4,17 0,98 3,90-9,50 3,1 0- 6,10 0,8 0 0 , 07 5 6 Éguas 1,0334 a 9.4 - 10,4 5,30- 7,30 1,0450 1, 6 0 - 2, 1 0 0,40- 1,10 6,3 0- 7 ,1 0 0,3 0 - 0,4 8 0,0310 Cadelas 1,0340 23,0 9,72 9,26 3,11 0,91 4,91 0,1656 Catas 4,15 5,57 5,96 3,33 0,51 18,37 9,08 3,12 Colostro das vacas: 74,67% água e 25,33% resíduo seco, sendo 4,04g% de caseína; 13,60g% de lactoalbumina e globulina; 3,6g% d e gordura; 2,67g% de lactose e 1,56g% de cinzas.
  • 39. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 369 Tabela 8.6 - Características físicas do leite de vaca (adaptado de Scheunert e cols., 1942). Peso específico 1027 a 1034 a 15°C Viscosidade* Tensão 1,5 a 4,2 0,7 a entre 1 5 e 20°C superficial Pressão 0,8 considerando água = 1 osmótica Ponto de 7.5 atmosferas pouca oscilação ~ à do sangue congelação índice de 0,56°C menor que a da água refração 1,347 a 1,351 a 40°C Eletrocondutividade 4.5 a 5,8mS a25°C * Nas cabras e nas ovelhas, respectivamente, 2,1-2,5 e 2,4-2,7 Instalação e Manutenção da Lactação Lactogênese é o termo utilizado para representar o início ou instalação da lactação. O processo de A glândula mamaria desenvolvida e maturada lactogênese é induzido e conduzido por açã o para a produção leiteira, suficiente para a criação hormonal. Os estrógenos, em sua ação, estimu- de seu bezerro e para produção láctea economi- lam a produção de prolactina (ou hormônio lacto- camente viável, apresenta, após o parto, duas con- gênico), associada às ações de adrcnocorticóides; dições fisiológicas: a lactogênese e a galactopoiese. ao contrário, essa produção é deprimida pela ação Supra-renal Lactogênese Galactopoiese Figura 8.41 - Lactogênese e galactopoiese: ações hormonais determinantes. A progesterona inibe a liberação da prolactina e os estrógenos estimulam essa produção. A prolactina tem ação na instalação da lactação (lactogênese). A somatotrofina garante a manutenção da lactação (galactopoiese).
  • 40. 370 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Tabela 8.7 - Composição proteica do leite de vacas domésticos produtores de leite, causadoras de sé- (adaptado de Kolb, 1980). rios prejuízos económicos para a pecuária leitei- Frações proteicas do leite Valores relativos (%) ra, exige que o clínico veterinário utilize o cabedal de seus conhecimentos de semiologia, capacitando- Alfacaseína 43 a 63 o para a execução de minucioso c completo exa- Betacaseína 19 a 28 me clínico. Para tanto, é necessário estabelecer Gamacaseína 3a7 Alfalactoalbumina 2a5 duas condições preliminares que devem ser se- Betalactoglobulina 7 a 12 guidas e obedecidas, rotineiramente, no exercí- Albumina sérica 0,7 a 1,3 cio diuturno da Clínica Veterinária: o plano de Imunoglobulinas 1,4 a 3,1 exame clínico da glândula mamaria e o domínio da semiotécnica da mama. O plano de exame clínico recomendado no capítulo específico deste compêndio é exposto da progesterona. Assim sendo, no final da gesta- no Quadro 8.4. ção, há predomínio de progesterona e, conseqiien- No transcorrer deste estudo da semiologia da temente, a concentração de prolactina c peque- glândula mamaria, apenas os itens específicos do na. No momento do parto, desencadeia-se uma exame clínico do órgão serão considerados. Ou- complexa interação de controle endócrino, haven- tros, por serem contexto de Semiologia Geral, do, nesse momento, liberação de ocitocina que, foram detalhados em outros capítulos. aluando sobre a glândula mamaria, causaria a des- Identificação do animal. cida do leite. Quadro 8.4 - Plano de exame de glândula Galactopoiese designa a condição de manuten- mamaria. ção da produção de leite, durante o período de Anamnese. lactação. Esta função é conduzida pela ação do Exame físico geral. hormônio hipofisário - a somatotrofina (Tabela Exame da glândula mamaria: 8.8 c Figs. 8.40 e Fig. 8.41). - Inspeção. - Palpação. - Exame macroscópico do leite. SEMIOLOGIA DA Exames complementares do leite: - Microscópicos. GLÂNDULA - Bioquímicos. MAMARIA - Microbiológicos. O diagnóstico preciso das enfermidades da glân- dula mamaria, especialmente das formas clínicas de mamite que acometem as espécies de animais Tabela 8.8 - Relações entre hormônios e desenvolvimento e função da glândula mamaria (adaptado de Schalm e cols., 1971). Hormônio Ação no desenvolvimento da Ação na função da mama mama Estrógeno Crescimento dos duetos galactóforos: Estimula a secreção e ação da pro- prepara o tecido mamaria para a ação da lactina Atua na lactogênese progesterona Restringe a ação dos estrógenos Progesterona Estimula a formação e desenvolvimento dos sobre o lóbulo anterior da hipófise alvéolos para produção de prolactina Estimula a produção de leite Prolactina ou hormônio Determina a lactogênese lactogênico Determina a descida do leite Atua Ocitocina sobre o metabolismo geral Impede Tiroxina a ação da ocitocina Adrenalina
  • 41. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 371 Na atividade clínica, o veterinário deve obede- glândula mamaria se caracterizavam por motiva- cer a semiotécnica específica dos órgãos e sistemas ções zootécnicas, económicas ou de saúde públi- orgânicos; no caso da glândula mamaria, recomenda- ca, o momento do exame da mama se estabelece, se as técnicas semiológicas citadas no Quadro 8.5. predominantemente, por condições de sanidade As mencionadas técnicas, além de dominadas, animal: devem ser rotineiramente realizadas em sua ple- nitude quando se quiser ou houver necessidade • Para diagnosticar enfermidades da mama. de estabelecer preciso diagnóstico clínico, princi- • Para estabelecer razão de quebra de produ palmente nas diferentes formas clínicas das mamites ção leiteira. dos ruminantes quando em inúmeras circunstân- • Para avaliar causa de recusa do leite pela in cias, além da necessidade de diagnóstico nosológico, dústria de laticínios — leite ácido ou alcalino for fundamental o diagnóstico etiológico para orien- ou por excesso de cloretos. tar a terapia e estabelecer o prognóstico. • Para estabelecer profilaxia das mamites nos Após a leitura das considerações preliminares, rebanhos. introdutórias ao estudo da semiologia da glândula • Para fazer levantamentos regionais das for mamaria, considerou-se este o momento de escla- mas clínicas de mamites, prevalência e sen recer algumas questões previamente apresentadas. sibilidade dos agentes ctiológicos. Por que Examinar a Onde e o que Examinar na Glândula Mamaria Glândula Mamaria • A glândula mamaria possui relação direta com As súmulas de anatomia e de fisiologia da a produção leiteira. glândula mamaria anteriormente apresentadas • A produção leiteira tem estreita relação com deram pleno conhecimento do que é necessário a Saúde Pública. para a formação de um clínico veterinário, dedi- • Nas enfermidades da glândula mamaria há cado ao atendimento de vacas com alterações necessidade de diagnóstico precoce. patológicas ou doenças da glândula mamaria. • As lesões do tecido glandular são irreversíveis. • Além do diagnóstico preciso, deve-se esta • A Semiologia avalia de forma dinâmica a belecer o prognóstico das doenças e realizar anatomia e a fisiologia da mama, consideran o tratamento imediatamente. do suas particularidades, associando-as aos • A glândula mamaria e/ou seus quartos devem conceitos de patologia. ser minuciosamente examinados sempre que • No exame clínico da glândula mamaria, con a produção estabelecida pelo potencial gené sidera-se: tico do animal não for alcançada. - O parênquima glandular; sinusgalactoforous e a pele que reveste essas estruturas. - O teto, sinus et ductus papillaris e o reves Quando Examinar a timento cpitelial interno e externo dessas estruturas. Glândula Mamaria - O leite produzido, caracterizando suas Ao contrário do que se afirmou no item ante- qualidades e alterações. rior, quando as razões que exigiam o exame da Como Examinar a Glândula Mamaria Quadro 8.5 - Semiotécnica do exame da mama. Esse exame é baseado nas técnicas desen- 1. Inspeção direta e indireta do úbere. volvidas para tal finalidade e são assuntos perti- 2. Palpação direta e indireta do úbere. nentes à Semiotécnica, setor da semiologia que 3. Exames complementares do leite: padroniza os métodos de exame clínico e que serão Microscópicos. - detalhados nos itens seguintes deste capítulo. As Bioquímicos. observações serão submetidas à análise dos co- Microbiológicos. nhecimentos fundamentais adquiridos, constituin-
  • 42. 372 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico do a propedêutica clínica ou a ciência da inter- Identificação do Animal Enfermo pretação das manifestações clínicas observadas no exame. Quando necessário, esses aspectos serão Os animais submetidos ao exame clínico nas incluídos nos itens seguintes deste capítulo. fazendas, nos ambulatórios ou nos hospitais ve- Em resumo, examina-se a glândula mamaria terinários devem ter uma ficha clínica, zootécnica usando-se os preceitos da semiologia e obedecen- ou de manejo na qual devem ser registradas as do-se os princípios de matérias fundamentais. informações pertinentes. Em casos especiais, o clínico veterinário deve ter consigo ou nas pro- priedades o registro pormenorizado de suas ati- Desenvolvimento Preliminar do vidades e recomendações que fizer (Quadro 8.6). Exame Semiológico da Glândula Mamaria Anamnese do Caso Clínico Pelo questionamento do tratador do animal Por razões óbvias, é plenamente reconheci- ou sua explanação espontânea, o clínico veteri- do que as primeiras medidas tomadas para o com- nário faz o levantamento do histórico do enfermo pleto exame da glândula mamaria pertencem às ou dos antecedentes mediatos ou imediatos da áreas gerais da semiologia veterinária c, por isso, doença. Nessa avaliação, serão considerados os fatos foram convenientemente tratadas nos capítulos relacionados ao rebanho (anamnese colctiva) como iniciais deste compêndio. Assim sendo, os 4 itens ini- também aqueles ao indivíduo doente (anamnese ciais do plano de exame clínico da glândula ma- individual) (Quadros 8.7 e 8.8). maria podem ser considerados como conhecidos. Por tal razão, esses itens - identificação do animal; anamnese ou histórico do animal enfermo; o Avaliação do Estado Geral do Animal Enfermo exame das funções vitais e a avaliação do estado geral do paciente serão apresentados em quadros Após o recebimento das informações preli- resumidos. Tal reforço que se faz não visa aper- minares das condições do animal doente, deve- feiçoar o conhecimento do clínico veterinário, mas se fazer sua avaliação preliminar por uma inspe- deixar bem claro que tais informações preliminares ção geral do animal. Essas informações são obti- não devem faltar no levantamento detalhado das das pelo conhecimento de seu desempenho, ati- manifestações apresentadas pelo animal doente. Essa motivação é um dos princípios da semiolo- gia moderna:jamais um diagnóstico nosológico pode Quadro 8.6 - Identificação do animal. ser estabelecido com bases no resultado de um único • Nome, número e/ou registro. exame físico ou de uma prova complementar. Atual- • Espécie, raça. mente, não se aceita a existência de manifestações • Características de pelagem. clínicas ou sintomas patognomônicos, que por si • Sexo. só definiriam uma doença. Ao contrário, o diag- • Idade - peso - uso. nóstico clínico representa a conclusão de um exame • Proprietário - endereço. completo do doente, do sistema ou órgão afetado pela enfermidade. Resulta esse diagnóstico da interpretação de todas as informações conseguidas no desenvolvi- Quadro 8.7 - Anamnese coletiva - pertinente a mento do exame clínico e, portanto, um exercí- enfermidades da glândula mamaria. cio mental de um profissional formado para o • Sistema de criação, características do estábulo, tipo exercício dessa função. A necessidade de racioci- e condições de ordenha, normas para secar a vaca. nar sobre o conjunto de sintomas amealhados • Produção leiteira: produção leiteira média dos transforma a semiologia em ciência e o clínico animais e do plantei (por dia e por lactação); ocor veterinário é, entre muitos profissionais que atuam rência de doenças da mama. no campo da pecuária, aquele preparado para fir- • Alimentação: normas características da ração, su- mar o diagnóstico de uma doença animal, estabe- plementação, mineralização, etc. lecer o prognóstico e propor as medidas terapêu- • Condições sanitárias do rebanho. ticas, quer sejam profiláticas ou curativas.
  • 43. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 373 . • i. . i i f i Quadro 8.10 - Exame das funções vitais. Quadro 8.8 - Anamnese individual - referente a animais com alterações da mama. • Frequência e características da respiração pulmonar (1). • Antecedentes distantes: doenças anteriores, decur • Frequência e características dos movimentos do so da última lactação, distúrbios metabólicos, doen rúmen (2). ças infectocontagiosas, etc. • Frequência e características do pulso e/ou batimentos • Antecedentes recentes: produção leiteira (anterior cardíacos (3). e atual), fase da lactação, início e evolução da • Temperatura interna (4). enfermidade, etc. • Apetite (5) e defecação. • Apetite, ruminação e atitudes (estação e locomoção). • Micção. • Tratamentos realizados. (1), (3) e (4) - nas mamites agudas, apostematosas e principal mente flegmonosas há evidente taquipnéia, taquicardia e febre alta, com até 41 °C. (2) e (5) - nas mamites flegmonosas, quando se instala o quadro de toxemia tudes e comportamento em seu ambiente de cria- altera-se a função digestiva, manifesta por hipotonia do rúmen e ção (rebanho), se locomovendo ou em posição diminuição do apetite. quadrupedal (ou especialmente em decúbito, quando o animal estiver impossibilitado de se erguer) (Quadro 8.9). EXAME ESPECIFICO DA GLÂNDULA MAMARIA fxame das Funções Vitais O diagnóstico preciso das enfermidades da glân- dula mamaria e, particularmente, das mamites, O perfeito funcionamento de órgãos vitais re- exige que o clínico veterinário utilize todos os seus flete a condição de sanidade de um animal. Em conhecimentos de semiologia, realizando exame várias circunstâncias, enfermidades localizadas em clínico minucioso e completo. órgãos ou sistemas orgânicos determinam altera- O exame clínico da glândula mamaria para ções de algumas dessas funções vitais. Isso tam- diagnóstico das mamites comporta a metodolo- bém ocorre nas enfermidades da glândula mamaria, gia a seguir mencionada: principalmente nos casos de mamites flegmonosas ou, em outras situações, como enfermidades sis- • Exame físico - inspeção e palpação. témicas que determinam modificações da glân- • Aspecto macroscópico do leite - característi dula mamaria, como nos exantemas da mama de cas da secreção láctea. origem alimentar. • Pesquisa de leite mamitoso - avaliação clíni Pelo exposto, torna-se obrigatório, no exame ca de modificações do leite: alcalinidade e semiológico destinado à elucidação de casos clí- celularidade. nicos de doenças da glândula mamaria, o exame • Exame microscópico de leite - contagem e das funções vitais, ressaltando que deve ser feito diferenciação das células somáticas. antes da avaliação do sistema afetado pela enfer- • Exame microbiológico do leite - isolamento de cepas e antibiograma. midade (Quadro 8.10). HABITO C Quadro 8.9 - Avaliação do estado geral de animal acometido por enfermidades da glândula mamaria. o nstituição: edemas da mama; hipertrofia e atrofia nas mamites apostematosas, alterações articulares e das bainhas tendíneas. Temperamento: inquietação - observada em casos de mamite aguda, principalmente nas flegmonosas. Estado de nutrição: emagrecimento em mamites apostematosas crónicas. ATITUDE Em estação: atitude antiálgica nas mamites agudas (deslocamento do centro de gravidade - abdução dos membros posteriores). Em locomoção: anormal - claudicação - mamites agudas. Em decúbito: sobre os quartos sadios; permanente - mamite paralítica.
  • 44. 374 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Exame Físico da Glândula Mamaria • Em locomoção, percebe-se que o animal mo- vimenta-se com os membros posteriores muito O exame físico da mama é feito pelos tradi- afastados evitando balançar o úbere e seu cionais métodos da semiologia: inspeção e palpa- choque contra os membros. ção, direta ou indireta, descritos de forma sumá- ria a seguir e no Quadro 8.11. Inspeção Direta do Úbere Ao inspecionar-se o úbere de um animal, reco- Inspeção mcnda-se analisar todas as estruturas anatómicas que o constituem: parênquima glandular, tetos e pele A inspeção é o método de exploração clínica que recobre a mama. Nesse exame, inúmeros aspec- baseado no sentido da visão e por ele se inicia o tos, que podem constituir sintomas das mamites, exame de qualquer órgão ou sistema. No caso devem ser considerados (Figs. 8.42 e 8.43). particular da glândula mamaria, a inspeção é fei- ta, inicialmente, observando-se as atitudes do animal em posição quadrupedal, em locomoção MODIFICAÇÕES DE FORMA DA GLÂNDULA MAMARIA e, quando possível, em decúbito, para em segui- Essas modificações podem ser consequentes da observar-se o úbere lateralmente, de ambos à alteração do desenvolvimento da glândula, cons- os lados e por trás. tituindo as malformações ou podem ser adquiri- das, determinadas por enfermidades anteriores. Modificação da Atitude DISPOSIÇÃO E SIMETRIA DOS TETOS As mamites agudas, como já foi referido, podem ser processos muito dolorosos, principal- Em vacas sadias e não portadoras de malfor- mente quando todo o úbcre é acometido e, as- mação do úbere, os tetos apresentam-se simétri- sim, o animal assume típicas atitudes antiálgicas. cos, acentuando-se uma divergência quando o úbere estiver repleto de leite, principalmente momen- * Em posição quadrupedal, o animal apresenta tos antes da ordenha. Convergência ou divergên- os membros posteriores em abdução c os cia, na maioria das vezes, c causada por retrações desvia em sentido posterior, modificando o consequentes à cicatrização de lesões do parênquima centro de gravidade do corpo. Dessa forma a glandular ou das cisternas da glândula. glândula mamaria fica livre da compressão exercida pelos membros posteriores. AUMENTO DE VOLUME DA GLÂNDULA MAMARIA • Em decúbito, quando possível, observa-se que o animal evita se deitar sobre a região afetada. Os aumentos podem ser generalizados ou Nos casos graves, como mamites flegmonosas, localizados. Entre os aumentos de volume gene- a vaca demonstra o desconforto causado pela ralizados destacam-se aqueles que atingem todo intensa dor deitando e erguendo-se inúmeras o úbere, como se observa nos edemas pós-parto e repetidas vezes, ou escoiceando a mama. e nos edemas inflamatórios causados por mamites Quadro 8.11 - Exame físico da glândula mamaria: inspeção do úbere. • Forma da porção glandular: alteração de desenvolvimento e da sustentação (mama em escada, mama de cabra, dilatações da cisterna da glândula, mama pêndula). • Forma e cúpula dos tetos: variável na dependência de vários fatores (espécie, raça, idade, fase da lactação). Modificação da forma dos tetos (volumosos, dilatados e assimétricos). • Número de tetos: aumento: politelia - polimastia (pseudofístulas). Diminuição do número de tetos (fusão e agenesia). • Aumento de volume da mama: generalizado - edemas pré e pós-parto ou inflamatórios; localizados e circuns critos - abscesso, cistos, hematomas e neoplasias. • Aumento de volume do teto: constitucional (dilatação); nos processos inflamatórios (telite). • Diminuição de volume mama e tetos: fisiológica (novilhas e vacas secas); patológica (hipoplasia, atrofia). • Lesões cutâneas da mama e tetos: lesões primárias e secundárias da pele (eflorescências cutâneas).
  • 45. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 375 Figura 8.42 - Inspeção do úbere: forma da mama, ferimentos do teto e aumentos de volume. (A) ferimento do teto (amputação do teto posterior); (B) abscesso intra- mamário; (C) cisto ceroso da mama; (D) papiloma do teto. D
  • 46. 376 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico agudas. Os aumentos podem ser generalizados, se, inicialmente, todo o úbere, para a seguir ava- mas atingindo totalmente apenas uma das glân- liar o parênquima de cada um dos quartos da mama dulas mamarias. Os aumentos de volumes locali- e, finalmente, examinar-se os tetos, procurando zados caracterizam-se por serem circunscritos, entre evidenciar o espessamento do tecido epitelial de os quais se menciona, obrigatoriamente, os abs- revestimento interno do sinus papillaris (há evi- cessos, os cistos lácteos ou serosos e hematomas. dente endurecimento, com formação de um cor- Eles têm consistência flutuante e diferenciam- dão espesso nas cisternites), o ductus papillaris e se por punção exploradora, drenando, respecti- sua permeabilidade, além das bordas distais do vamente, pus, leite ou soro lácteo e sanguíneo. sinus lactifer (não há possibilidade da introdução do dedo na cisterna nos casos de galactoforites) AUMENTO DE VOLUME DOS TETOS (Fig. 8.44B). Duas são as circunstâncias que causam aumento de volume dos tetos: dilatação da cisterna do teto Palpação do Parênquima da e os processos inflamatórios de todas as estruturas Glândula Mamaria do teto. A primeira é considerada uma malforma- Antes de iniciar a palpação da mama (Quadro ção denominada por dilatação do sinus papillaris; a 8.12, Tabela 8.9 e Figs. 8.44A e 8.45), faz-se tentati- segunda é observada nas tclites - inflamação das va para preguear a pele que reveste o parênquima estruturas do teto, apresentando o teto aspecto glandular; desse modo se avalia a elasticidade da luzidio, sendo extremamente doloroso à palpação. pele e do tecido celular subcutâneo (Figs. 8.46 e 8.47). Em condições normais, é fácil preguear a pele DIMINUIÇÃO DE VOLU ME DA MAMA E/OU DOS TETOS sobre a glândula e, uma vez cessada a pressão, rapidamente a pele volta às suas condições naturais A diminuição de volume do úbere ou da glân- (Fig. 8.46). Nos edemas, quer nos fisiológicos que dula mamaria é ocorrência mais rara, observada atingem a glândula mamaria antes e/ou imediata- em algumas condições fisiológicas como: nas mente após o parto, como nos inflamatórios, não há novilhas, nas vacas secas há muito tempo e nas possibilidade de preguear-sc a pele e, uma vez vacas velhas. Em condições patológicas, esse fato eliminada a pressão, percebe-se nitidamente uma é observado em atrofia da glândula e/ou dos te- depressão neste local, ocorrendo o que se denomina tos, consequente a mamites crónicas. prova àe godé positiva ou cacifo presente (Fig. 8.47). O último fato descrito deve-se à perda de elastici- Palpação dade dos tecidos por sua infiltração com plasma transudado. A consistência da glândula nessas cir- A palpação é o método de exploração clínica cunstâncias é denominada de pastosa. Em seguida, baseado na sensação táctil e na força muscular, aumentando a pressão, palpa-se o parênquima mamário utilizado para pesquisar a temperatura, sensibili- que, em condições normais, em vaca recém-ordenhada dade c consistência das diferentes estruturas da ou seca, é de consistência firme, sem apresentar glândula mamaria. Nesse órgão se aplica princi- nodulações duras, conseguindo-se palpar apenas gra- palmente a técnica clireta ou imediata, palpando- nulação representada pelos ácinos glandulares. Quadro 8.12 - Exame físico da glândula mamaria: palpação do úbere. Avaliar, temperatura, sensibilidade e consistência. Técnica: palpa-se o úbere, as glândulas individualmente, sinus lactifer, os tetos (sinus papillaris e ductus papillaris). Palpação do parênquima: faz-se o pregueamento cutâneo, se houver presença de cacifo ou prova de godé positiva (edema); verifica-se a consistência (pastosa, firme, dura - com nodulações ou difusa); sensibilidade (processos inflamatórios agudos) - calor (edemas e processos inflamatórios). Notação de Hannover - l, II, III (consistências normais), IV, V (endurecimento de mamites crónicas), VI (processo inflamatório agudo), VII (edema pós-parto). Palpação do teto: flutuante (normal); cordão endurecido (cisternite). Palpação do sinus lactifer- introdução do dedo demonstrando fibrosamento do anel de separação das cavida des causado por processo inflamatório (galactoforites).
  • 47. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 377 Figura 8.43 - Inspeçao da glândula mamaria: vários tipos e formas das glândulas e dos tetos. (A) mama em escada; (B) mama tipo de cabra; (C) mama volumosa e pêndula, com aplicação de sustentad or do úbere; (D) tetos volumo- sos (carnudos ); (E) tetos com cisterna dilatada; (F) mama e tetos com dilatações adquirida s das cavidades .
  • 48. 378 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico A D Figura 8.44 - Palpação da glândula mamaria (demonstração do Prof. Dr. Leonardo Miranda de Araújo). (A) Palpação do parênquima - inicialmente todo parênquima e a seguir as glândulas individualmente; (B) palpação da cisterna da glândula (introdução do dedo no sinus galactoforous); (C) palpação do teto (cisterna) por rolamento; (D) palpação do canal do teto (cúpula e orifício). Tabela 8.9 Classificação dos resultados da palpação da glândula mamaria. Notação de Hannover (Escola Superior de Veterinária).* Notação Observação/manifestação Interpretação SÁ A mama recém-ordenhada apresenta-se firme à pressão com granulação Normal fina. Distendida e tensa antes da ordenha I Nodulação grosseira, dura, mas pequena e localizada Normal II Nodulação grosseira, dura e generalizada, com nódulos localizados de Normal em vacas de pequeno tamanho várias lactações III Nódulos duros de tamanho médio, com distribuição generalizada no Vaca recuperada de mamite parênquima mamário (com tecido cicatricial) ou caso de mamite atual IV Nódulos grandes e duros, confluentes, com endurecimento de lóbulos Mamite em fase de glandulares cronificação V Endurecimento difuso do parênquima glandular - atinge lobos glandulares Mamite crónica VI Edema inflamatório agudo da glândula mamaria, rubor, calor, dor e Mamite aguda Edema tumor, consistência pastosa, além da alteração da função - quebra do leite e congestão Vil Edema fisiológico da mama no pós-parto. O parênquima não pode ser palpado. Pós-parto (fisiológico) Há sinais menos alarmantes, mas assemelhados aos dos processos inflamatórios. Leite sanguinolento * A Escola Superior de Veterinária de Hannover apresenta uma notação para representar os resultados da palpação do parênquima mamário, sendo os resultados anotados em algarismos romanos.
  • 49. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 379 Figura 8.45 - Palpação dos lin- fonoclos retromamários (caso clínico de leucose enzoótica dos bovinos). Figura 8.46 - (A) Pregueamento da pele, a pele elástica facilmente forma pregas; (B) desfeito o pregueamento, a pele rapidamente volta à condição normal (elasticidade da pele mantida).
  • 50. 380 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Figura 8.47 - Pregueamento da pele impossibilitado de ser feito - cessada a pressão, permanece uma depressão no local -prova de godé positiva (consistência pastosa - edema). Por palpação direta, utilizando-se o dorso da cisternas cia glândula mamaria, fato que dificulta- mão, avalia-se a temperatura da pele que reveste rá a realização da mencionada manobra (Fig. 8.44B). o órgão: há aumento da temperatura local nos edemas inflamatórios e diminuição nas gangre- nas (mamite flcgmonosa do tipo gangrenoso). Aspecto Macroscópico do Leite - Por esse método de exploração clínica, ava- lia-se também a sensibilidade da mama, que es- Características da Secreção tará aumentada, em grau variável de intensida- A avaliação do aspecto macroscópico do leite de, nas mamitcs agudas. é feita pela inspeção de jatos de leite ordenha- dos, sobre placa ou bandeja de fundo escuro como Palpação do Teto também em caneca tclada - de maneira genérica A palpação do teto de uma vaca lactante em a prova é denominada prova do coador. Avaliam- condição normal revela uma consistência flutuante, se também as seguintes características do leite: pela presença de leite osinuspapillaris. Nos casos volume, cor e consistência. Deve, também, des- de telite, observa-se maior tensão do teto, com tacar outras características organolcpticas como manifesta sensibilidade. O epitélio de revestimento sabor e odor, bem como se observa sobre o fundo interno da cisterna do teto c palpado rolando-se da bandeja escura ou sobre a placa telada a presença o teto entre os dedos polegar, indicador e médio: de grumos ou massas representativas das exsu- nas cisternites ocorre cspessamento do mencio- dações características das mamites catarrais ou nado epitélio da cisterna do teto e à palpação tem- outras manifestações sintomáticas das mamites: se a sensação da formação de um cordão endure- leite sanguinolento (congestão mamaria); pus cido no interior do teto (Fig. 8.44C e D). (mamite apostematosa); soro sanguíneo e flocos de pseudomembranas (mamite flegmonosa ou Palpação do Sinus Lactifer gangrenosa). Ressalte-sc que a ocorrência de (Cisterna da Glândula) grumos extremamente pequenos só poderá ser detectada pela centrifugação de amostras de leite, Essa palpação é feita procurando introduzir a comprovando-se a sedimentação exagerada de extremidade do dedo indicador no interior da cis- muco e catarro (Quadro 8.13). terna da glândula. Nas mamites crónicas ou agu- das, isso não é possível, pois inúmeros germes, no início do processo inflamatório, determinam uma Volume de Leite Produzido galactoforitc intensa, caracterizada por espessamento O volume de leite produzido é variável, de- das pregas de epitélio localizadas entre as duas pendente de muitos fatores. Assim sendo, a dimi-
  • 51. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 381 Técnica: ordenha em caneca de fundo escuro ou telada. Avalia-se: cor, consistência e presença de massas ou grumos e outras alterações. i i ' i i - Avaliação do aspecto macroscópico do leite de bovinos. Cor do leite: branco característico; amarelo (no colostro, nos animais da raça Jersey, ingestão excessiva decarotenos, presença de algumas bactérias - Pseudomonas spp., M. flavum e Sarcina lutea; contaminação por substâncias químicas e antibióticos - acriflavina e terramicina); vermelho (sangue - coágulos nas hemorragias e homogéneo nas congestões e diáteses hemorrágicas); hemorragias, diáteses hemorrágicas e pelo uso de fenotiazina). Consistência do leite: fluido-viscoso - densidade maior do que 1 (normal); fluido-aquoso (alimentação deficiente e no final da lactação); mucoso (colostro - normal; em condições patológicas nas mamites); caseoso (mamite apostematosa); com grumos (mamite catarral). nuição da produção láctea pode ter várias origens, Consistência do Leite - Considerações Gerais entre as quais destacam-se: alimentares (deficiên- cia ou mudanças das normas alimentares), doen- Em condições normais, o leite de uma vaca ças sistémicas ou localizadas (febres, distúrbios di- fora do período puerpcral imediato é uma mistura gestivos e, evidentemente, enfermidades da pró- polifásica fluida, onde se encontram em suspen- pria glândula) e excitações psíquicas (dores, nin- são glóbulos de gordura, células somáticas (leucó- fomania). Na maioria dos exemplos citados, há citos e células de descamação), bem como em diminuição proporcional do leite produzido nas solução aquosa seus constituintes maiores — pro- quatro glândulas do úbere. Em casos de mamite, teínas e glícides e os sais minerais. O leite tem isso só ocorre nas formas flegmonosas ou quando, aspecto e viscosidade característicos, sua densida- ocasionalmente, o processo inflamatório infeccio- de é maior que um, variando entre 1,0310 e 1,0327. so acometer, de forma simultânea, todo o úbere. Em condições fisiológicas, específicas c pa- Nos casos em que apenas uma glândula apresenta tológicas, particularmente nas enfermidades da mamite, a comparação de sua produção com a obtida glândula mamaria, modificam-se o aspecto e a nas demais glândulas sadias demonstra evidente consistência do leite. As seguintes anormali- diminuição, causada pelo processo inflamatório. dades de consistência devem ser destacadas Apesar de não ser necessário alertar as pessoas re- (Fig. 8.48): lacionadas com a produção leiteira, é bom ressal- tar que a diminuição da produção leiteira em um • Leite fluido-aquoso: a densidade do leite dimi dos quartos ou de toda a mama é um sintoma sig- nui, dando-lhe consistência aquosa, em ani nificativo das mamites, pois os processos inflama- mais alimentados com rações de baixo valor tórios apresentam cinco sinais fundamentais: tu- nutritivo e algumas vezes no final da lactação. mor, calor, rubor, dor e perda da função (produção • Leite mucoso: em condições fisiológicas, o lei de leite no caso da glândula mamaria). te tem sua consistência aumentada, tornan Nas mamites flegmonosas há grande dimi- do-se mais denso, no colostro ou em condi nuição de produção leiteira, ocorrendo agalaxia ções patológicas, como enfermidades sisté em até 36 horas. Os grumos formados têm baixa micas ou em algumas formas especiais e ini densidade e flutuam na excreção ordenhada, ciais de mamites. quando a amostra colhida é mantida em repouso; • Leite caseoso: o leite transforma-se numa ex realmente são flóculos e representam liberação creção purulenta homogénea nas mamites de pseudomembranas formadas durante o processo apostematosas, causadas principalmente pelo inflamatório. Arcanobacterium pyogenes (antigamente deno minada Corynebacterium pyogenes ou Actinomyces pyogenes) e algumas cepas de Staphylococcus. Cor da Secreção Láctea • Leite espumoso: em mamites causadas por ger 3 mes com grande atividade fermentativa, como A cor do leite depende de sua constituição e algumas cepas de Rscherichia coli e Aerobacter sofre alterações sob influência de inúmeros fato- spp., observa-se produção de leite com ex res como: fase da lactação, tipo de alimentação, cesso de espuma; em condições fisiológicas, características do agente bacteriano colonizado na no final da lactação, pode observar-se, durante glândula e elementos contaminantes. a ordenha, formação excessiva de espuma.
  • 52. 382 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico • Leite sanguinolento: o leite tem aspecto sangui terapias apresentam leite com grumos de pequeno nolento intenso nas mamites flegmonosas que tamanho, em número variável, eliminados durante evoluem para uma gangrena (E. coli, Closteridium todo o processo de ordenha. spp. e Stapkylococcusaureus) a excreção da glân Mamites catarrais que apresentam grumos dula perde sua característica de leite, trans volumosos apenas nos primeiros jatos de uma formando-se em um líquido cor de vinho ou ordenha são consideradas casos clínicos com evo- apresenta essa característica, porém em inten lução mais favorável do que aquelas apresentan- sidade ténue nas alterações congestivas da do quantidade de grumos pequenos durante todo mama causadas principalmente por processos o processo de ordenha. inflamatórios agudos; nos edemas e conges Nas mamites flegmonosas, o tipo de secreção tões fisiológicas pós-parto, pode, de forma pode apresentar as variações a seguir expostas: efémera, se observar leite avermelhado. • Leite com grumos: os grumos ou massas que • Mamites flegmonosas produzidas por cepas aparecem no leite de vacas com mamite são de germes coliformes patogênicos apresen consequentes a precipitação de substâncias tam secreção láctea que rapidamente se trans exsudadas durante a evolução do processo in forma em excreção serosa de cor amarelada, flamatório (os grumos são constituídos prin apresentando grumos em forma de flocos de cipalmente por massas de fibrina, outras pro coloração acinzentada que, por serem de teínas lácteas e células somáticas), constituin menor densidade, flutuam, quando a mostra do-se numa das principais manifestações sin colhida for mantida cm repouso. tomáticas das diferentes formas clínicas de • Nas mamites flegmonosas, produzidas poiSta- mamites. phylococcus aureus, com virulência exarccbada ou Pseudomonas aeruginosa e Yersinia pseudo- tuberculosis, a secreção láctea transforma-se ra Consistência do Leite pidamente em excreção serossanguinolenta, com Características do leite segundo o aspecto da secre- reduzida quantidade de grumos densos, evo ção observado por inspeção em bandeja de fundo escu- luindo para agalaxia e, frequentemente, para ro (prova da caneca ou da coagem do leite). Como já formas gangrenosas (Tabela 8.10). foi sobejamente destacado, as alterações de con- sistência do leite são manifestações sintomáticas de fundamental importância para o diagnóstico das Composição Química do Leite e suas mamites, quer seja em bovinos, bubalinos, caprinos ou ovinos leiteiros. O aspecto e consistência lác- Implicações no Diagnóstico das tea são verificados por inspeção do leite obtido por ordenha manual em bandeja com fundo escuro ou Mamites caneca com placa escura ou telada. Brito Figuei- A constituição química e características físicas redo, eminente especialista da Faculdade de do leite são variáveis em condições fisiológicas, pois Medicina Veterinária da Universidade Federal de dependem das condições individuais ou ineren- Minas Gerais, recomenda que essa prova seja tes aos sistemas de criação e manejo, como tam- denominada de "coação ou coadura do leite". bém das fases da lactação ou ordenha. Além do Nas mamites catarrais, a quantidade e o volu- mais, a secreção láctea sofre modificações caracte- me dos grumos ou massas não são diretamente pro- rísticas de sua constituição química durante a evo- porcionais à gravidade do processo inflamatório ou lução dos processos inflamatórios da glândula à virulência do agente causador da infecção. Toda- mamaria. Todavia, essa variação deve ser signifi- via, o aspecto e a quantidade de grumos podem cativamente diferente daquelas consideradas fisio- permitir avaliar-se a evolução de uma mamite, prin- lógicas, constituindo, assim, um conjunto de sin- cipalmente nos casos em tratamento; sendo consi- tomas fundamentais para o diagnóstico clínico dessas derada satisfatória a evolução de casos clínicos apre- enfermidades inflamatórias da mama. sentando grumos numerosos e volumosos no leite, que se transformam na evolução do tratamento em secreção com menor quantidade de grumos de me- Características Físico-químicas do Leite nor tamanho. Fntrctanto, deve ressaltar-se que Reação do leite. O leite apresenta reação anfó- mamites catarrais crónicas e rebeldes às inúmeras tera, isto é, apresenta-se tamponado, principal-
  • 53. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 383 «HM BHHMHMHfili Figura 8.48 - Características macroscópicas do leite. Inspeção avaliando jatos de leite ordenhado em bandeja de fundo escuro ou tamis. (A) Ordenha de leite em bandeja de fundo escuro, mantido o caráter de leite. Observou-se a passagem de grumos ou massas; (B) leite com grumos grandes (mamite catarral); (C) secreção sanguinolenta da glândula mamaria (congestão da mama ou mamite flegmonosa); (D) amostras de secreção da glândula mamaria em bandeja do CMT: superior esquerdo - pus homogéneo das mamites apostematosas por Arcanobacterium pyogenes; superior e inferior direito - colostro; (E) secreção da glândula mamaria - fluido lácteo-sanguinolento, com tecido necrosado (mamites crónicas, em quartos já perdidos).
  • 54. 384 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Tabela 8.10 - Aspecto e consistência da secreção láctea de bovinos, segundo Notação de Hannover.* Notação Observação/manifestação da secreção lá AS Secreção sem alteração - mantém-se o aspecto e característica de leite Normal A Secreção láctea mantém o aspecto de leite, porém é menos viscoso, Final de lactação isto é, aquoso e sem gr umos; na placa com fundo escuro tem Ração deficiente coloração azulada Vaca secando B Secreção láctea com aspecto de leite, menos viscoso (aquoso), azulado com pe quenos grumos Mamite catarral C Secreção láctea com características de leite menos viscoso, com alguns grumos grandes Mamite catarral D Secreção láctea com características de leite conservadas, porém mais fluido e com inúmeros grumos grandes Mamite catarral E Secreção láctea praticamente sem características de leite: • predomínio de flocos de pequena densidade e que flutuam na secreção • predomínio de massas purulentas • Colimastite F A excreção da glândula ma maria não tem qualquer característica • Mamite apostematosa de leite: soro sanguíneo (Sg) e sangue (Ssg) Pus Mamite flegmonosa-gangrenosa (P) Mamite apostematosa * A Escola Superior de Veterinária de Hannover apresenta uma notação para representar as características da secreção láctea, sendo os resultados anotados com as seis primeiras letras do alfabeto . mente quando seu pH é ácido. O pH médio do tando os teores de gordura, caseína, lactoalbumina leite varia entre 6,5 e 6,8, acentuadamcnte ácido e modificações de constituintes em solução, com no colostro (menos que 6,4), menos ácido no final o decréscimo da concentração de lactose e de da lactação e manifestadamente alcalino na potássio, com aumento dos níveis lácteos de só- mamite. Nesse último caso, há aumento da per- dio e cloretos (Quadro 8.14). meabilidade da glândula aos componentes san- guíneos, principalmente aos íons bicarbonato, responsáveis pela elevação do pH, sobrepondo- Pesquisa do Leite Mamitoso se mesmo à ação acidificante dos germes fermen- tadores da lactose (Fig. 8.49). Para caracterizar as provas utilizadas rotinei- Composição química do leite. A constituição ramente, durante o exame clínico de animais lei- do leite considerado normal para vacas e cabras, teiros, com a finalidade de estabelecer o diagnós- segundo Schmidt (1971), é apresentada na Ta- tico de mamite, devem ser estabelecidos alguns bela 8.11. conceitos que obedecem as normas da Semiologia No colostro, a composição da secreção sofre Veterinária, tanto em seus aspectos de Semiotécnica alterações evidentes, aumentando as porções só- como também de Clínica Propedêutica. lidas do leite, isto é, o extrato seco, sendo resul- tante do aumento do teor proteico do leite. No final da lactação, há modificação das ca- racterísticas e da composição do leite: diminui- ção da acidez do leite (pH próximo a 6,8), aumen- Tabela 8.11 - Composição química do leite. Lactantes Colostro Composição Cabra Vaca Vaca Água 88% 87,2% 74,7% Extrato seco 12% 12,8% 25,3% Cordura 3,5% 3,6g% 3,6g% Proteínas 3,1% 3,3g% 1 7,6g% Lactose 4,6% 4,9g% 2,6g% Cinza 0,79% 0,8g% 1 ,6g% Figura 8.49 - Determinação da eletrocondutividade do leite.
  • 55. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 385 Juadro 8.14 - Composição físico-química e celular do leite de vaca. LEITE - MISTURA POLIFÁSICA: gordura e células em suspensão; glicídios, proteínas e sais minerais em solução. pH 6,5 - 6,8, com reação anfótera. Final de lactação - pH tende a neutralidade. Colostro é ácido (pH 6,4); nas mamites o leite é alcalino. VARIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO DO LEITE pH - alcalino nas mamites. Proteínas - aumento de lactoalbumina e globulinas nas mastites. Lactose - diminui nas mamites. Cloretos - aumenta nas mamites. Celularidade (células somáticas) aumenta nas mamites, principalmente os polimorfos nucleares neutrófilos. Inicialmente, deve-se relembrar os preceitos fato característico, resultante da ação de germes definidores de "leite higiénico" ou "higienicamen- fcrmentadores da lactose, causadores de mamites. te produzido" e "leite mamitoso". Facilmente demonstrado pela deficiência ou ausência de caramelização dessa secreção, o que • Leite higiénico: aquele produzido em condições é observado no leite normal (por isso foi idealiza- ideais de bovinos e caprinos saudáveis, sub da e usada rotineiramente uma prova baseada no metidos a manejos adequados de criação e ali aquecimento de leite aícaJinizado com solução de mentação, bem como com cuidados especiais hidróxido de sódio - a caramelização intensa no sistema de ordenha c conservação do leite demonstraria ser o leite normal). produzido. Cloretos. Nas mamites, há transudação de clo- • Leite mamitoso: essa designação serve para reto de sódio do sangue para o leite, sendo esse cloreto caracterizar as amostras de leite obtidas de responsável pelo sabor salgado do leite mamitoso. animais leiteiros acometidos de uma das for O leite no interior da glândula mamaria deve manter mas clínicas de mamites. a isotonicidade, que nas mamites estará alterada pelo consumo da lactose na fermentação bacteriana, e Neste item, serão consideradas as caracterís- para manter a mesma tensão osmótica da secreção ticas do leite mamitoso - obtido de glândulas ma- láctea há transudação de cloretos para o leite marias acometidas por um processo inflamatório. produzido. Nessas circunstâncias, no leite mamitoso, observa-se diminuição do teor da lactose (consumida na fermentação bacteriana), aumento da taxa láctea Variações da Composição do Leite Utilizadas no de cloretos (transudação de NaCl, para manter a os- Diagnóstico das Mamites molaridade da secreção) e, consequentemente, há Para caracterização clínica do leite mamitoso, aumento da eletrocondutividade do leite (presença merecem destaque as modificações da composi- de íons de cloro). ção do leite a seguir detalhadas. />//. O potencial hidrogeniônico do leite, que Pesquisa do Leite Mamitoso pode ser avaliado por inúmeras técnicas, demonstra que a diminuição da acidez com elevação nomi- Segundo os conceitos de Clínica Propedêutica nal do pH (alcalinidade) caracteriza amostras do e Patologia Médica Veterinária, o leite de glân- leite na maioria das mamites. Tal observação tem dulas mamarias acometidas por processo inflama- grande valor semiológico no diagnóstico desses tório caracteriza-se por modificação do pH (alca- processos inflamatórios. linidade) e aumento do número de células somá- Proteínas. Aumentos da lactoalbumina e lacto- ticas no leite (principalmento leucócitos polimor- globulina ocorrem nas mamites, responsáveis pela fonucleares granulócitos neutrófilos), sendo es- coagulação do leite mamitoso durante seu aque- tes dois fatos associados à diminuição da produ- cimento ou fervura. ção de leite, sintomas evidentes das mamites. Lactose. A diminuição dos teores de lactose As principais provas para demonstração de leite no leite de animais acometidos por mamite é um mamitoso em animais leiteiros são descritas a seguir.
  • 56. 386 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Avaliação dopH do leite. O pH do leite mami- sitiva, há diminuição do teor de lactose (valores toso pode ser determinado pelo uso de papéis abaixo de 3g%), não ocorrendo caramelização evi- indicadores, com potenciômetros ou pelo uso de dente, a cor da reação é esmaecida. soluções indicadoras. Avaliação semiquantitativa do número de leucó- No exame clínico de vacas leiteiras, rotineira- citos no leite. As provas que determinam indireta- mente recomenda-se o uso Ac papéis indicadores com mente o número de leucócitos no leite são: a prova o azul de bromocresol, que dão boas indicações de da catalase, a prova de White Side e a prova de alcalinidade acima de 7,2, ou avalia-se o pH ao se Schalm c Noorlander (Califórnia Mastitis Test - realizar a prova do GMT, cujo reativo apresenta GMT), relacionadas à presença de ADN - ácido como indicador a púrpura de bromocresol que, em desoxirribonucléico celular no leite. Nas vacas e pH alcalino, desenvolve cor violeta intensa e, cm nas búfalas, a prova pode ser realizada sem con- pH ácido, a reação torna-se amarelada (Figs. 8.50 testação. Mas, nos caprinos, a secreção apócrina e 8.52). Além do mais, quando oportuno, determi- da glândula mamaria libera, no leite, corpúsculos na-se o pH do leite com potenciômetros (portáteis) citoplasmáticos livres de ADN, que entretanto, ou em aparelhos fixos, quando o leite colhido puder morfologicamente, se assemelham aos leucócitos ser examinado no laboratório. em tamanho e forma, dificultando as contagens Determinação da lactose. O teor de lactose lác- das células somáticas do leite por meios de con- tea, como já foi destacado anteriormente, decres- tadores eletrônicos. ce nas mamites, impossibilitando a perfeita cara- melização do leite. Essa prova não é rotineiramente a) Prova de catalase realizada por ser de difícil interpretação e exigir aquecimento padronizado para sua realização, mas A catalase é uma enzima encontrada em a técnica recomendada é detalhada em seguida. (efusões) fluidos orgânicos de animais c vegetais. A 2mL de leite suspeito adiciona-se ImL de Sua quantidade é pequena no leite, com exceção hidróxido de sódio a 2,5%; após a homogeneização, para o leite produzido no início e no final da lacta- a mistura é aquecida em fogo fraco (espiriteira com ção. Nas mamites, a ocorrência c concentração álcool) durante 90 segundos. A interpretação do láctea de catalase aumentam de forma evidente, resultado faz-se pelo desenvolvimento de cor: na revelando a existência de maior número de célu- prova negativa há caramclização do leite (a lactose las somáticas nas amostras de leite. do leite, aproximadamente 4,6g% em meio alcali- A determinação da catalase é uma prova que no e quente, carameliza-se) desenvolvendo a mis- não pode ser realizada no estábulo, durante o tura coloração rósea - cereja intensa; na prova po- exame clínico, devendo necessariamente ser exe- cutada em laboratório. Tal fato desestimulou seu uso rotineiro no controle das mamites nos reba- nhos de animais leiteiros. A prova está baseada na capacidade da catalase liberar oxigénio mole- cular do peróxido de hidrogénio: 2H2O2 + catalase -» O2 + 2H 2O A prova pode ser realizada em tubos de fer- mentação ou em lâminas. • Prova da catalase em tubos de fermenta - ção de Smith Reativo. Solução stock de água oxigenada com concentração de 30%, que deverá ser mantida em frasco escuro e em refrigerador. Figura 8.50 - Avaliação do pH do leite pelo CMT - recep- A solução de uso é feita no momento da rea- táculos à esquerda, pH ácido do colostro (coloração amarelada) à direita, pH próximo da neutralidade, sendo o inferior normal e o lização da prova, recomendando-se uma solução superior ligeiramente alcalino. de água oxigenada a 1%.
  • 57. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 387 Técnica. O tubo de fermentação de Smith é Interpretação. O resultado da reação é demons- preenchido com 5mL de uma solução de água trado pela formação de bolhas de gás no interior oxigenada a 1%, à qual se adicionam 15mL de da mistura, facilmente evidenciada ao se colocar leite. O conjunto é incubado durante 3 horas, em a lâmina sobre uma superfície plana escura. A temperatura variando entre 35 e 37°C. Em seguida, produção de oxigénio molecular caracteriza-se pelo a quantidade de gás acumulada na extremidade desprendimento de bolhas de gás, sendo a quan- fechada do rubo de fermentação é avaliada, ex- tidade de gás produzida diretamente proporcio- pressa em termos de volume de gás produzido nal ao número de células somáticas do leite. (Quadro 8.15). Interpretação. A interpretação está perfeitamen- b) Prova de Whiteside te padronizada para leite de vaca. O leite higié- nico desenvolve menos de 10% de gás (produção A prova de Whiteside, que pode ser executada de 2mL de gás). É de destacar-se que o resultado em lâminas ou em tubos de ensaio, foi baseada será maior no colostro e no final da lactação, atin- no princípio descrito e aplicado no teste de Donné, gindo, nas mamites, valores iguais ou superiores idealizado por esse médico e microbiologista, no a 40% (produção de 8mL de gás). século XIX, para quantificar pus no sedimento urinário, pois observara que a adição de hidróxi- • Prova da catalase cm lâminas do de potássio ao sedimento urinário contendo pus, tornava a mistura espessa e viscosa (Fig. 8.51). A prova c simples de ser realizada, servindo de triagem; por isso, poderia ser realizada no es- • Prova de Whiteside, em tubos de ensaio tábulo, imediatamente após o exame físico da glândula mamaria da vaca leiteira ou no cabril, Essa prova pode ser perfeitamente feita em quando se examinam cabras. amostras de leite de ruminantes leiteiros, no mo- Reativo. Soluçãostock de água oxigenada a 30%; mento do exame clínico desses animais, pois não solução de uso, feita no momento de realização exige manipulações complicadas. Foi originalmen- da prova; recomenda-se a solução de água oxige- te introduzida por Whiteside (1939), para o con- nada a 3%, recente. trole de mamites em rebanhos de vaca leiteira. Técnica. Sobre lâmina de vidro lapidado, Reativos. Hidróxido de sódio normal (4%) e usualmente utilizada para microscopia, colocam- solução de bromocresol púrpura (1:300). se 5 gotas de leite, às quais se adicionam 2 gotas Técnica. Em tubo de ensaio contendo 2mL de solução de água oxigenada a 3%, fazendo-se, de solução normal de hidróxido de sódio, adicio- cm seguida, a homogeneização da mistura. nam-se 2 a 3 gotas da solução de bromocresol Quadro 8.15 - Pesquisa de leite mamitoso: determinação do pH e celularidade pela prova da catalase. 1. Avaliação do pH: - potenciômetro papel de azul bromo cresol - alcalinidade (7,2) 2. Avaliação da celularidade - leucócitos (neutrófilos). 2.1. Prova da catalase (2H 2O2 + catalase -> O2 + 2H2O): Em tubo de fermentação Interpretação O2 dispendido células/mL x % mL 103 < 500 < 20 <4 500 a 1.000 20-30 4-6 1.000 a 2.000 30-40 6-8 >2000 > 40 >8 2.2. Prova de Whiteside. 2.3. Prova Schalm Noorlander - CMT.
  • 58. 388 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Prova de Whiteside em lâminas Essa prova para avaliar o número de células somáticas do leite apresenta maior sensibilidade que a anterior e foi modificada por Murphy e Hanson (1941). A prova pode ser realizada cm lâminas ou em placas de vidro lapidado, seme- lhantes às usadas no teste de soro-aglutinação D rápida para diagnóstico de brucelose (placas de Huddleson). Figura 8.51 - Resultados da prova de Whiteside realizada Equipamento e reativo. Placa de vidro com em placa. A = ( ------- ) a mistura mantém-se opaca, sem reticulado quadrado com 4cm de lado e solução grumos; B = (±—) a mistura mantém-se opaca, havendo percepção de partículas finas dispersas ou pequenos grumos normal de hidróxido de sódio, ou seja, solução a 4%. aderidos na parede do tubo; C = (+—) a mistura apresenta Técnica. No reticulado, colocam-se 5 gotas de coágulos - evidentes na homogeneização com bastão, leite, cuja temperatura deve se assemelhar àque- inúmeros grumos de pequeno tamanho aderem-se à parede do la do ambiente. Em seguida adiciona-se l gota tubo; D = (++-) a mistura apresenta coagulação e os coágulos de solução de NaOH a 4%, fazendo-se, durante acompanham o bastão de homogeneização; massas de grumos aderem-se à parede do tubo; E = (+++) a mistura coagula 20 segundos, homogeneização com bastões de plás- imediatamente e as massas movimentam-se com o uso do tico ou de madeira, espalhando-se a mistura em bastão homogeneizador; massas de grandes grumos um círculo com aproximadamente 3cm de diâ- coagulados aderem-se à parede do tubo. metro. Recomenda-se realizar as provas com amos- tras de leite recém-ordenhado. Quando a amostra tiver temperatura maior que a ambiental, reco- púrpura e, a seguir, colocam-se 8 a lOmL de leite menda-se adicionar-se 2 gotas de solução de NaOH (sem espuma); finalmente, homogeneíza-se a a 4%, em vez de l gota. mistura por inversão do tubo de ensaio adequa- Interpretação. O resultado da reação nos casos damente tampado. de provas positivas demonstram a formação de Interpretação. Os resultados são assim anota massas viscosas que, sob atuação da homogeneização dos: ( ----) para resultado negativo e (±—), (++-) e com bastão, reúnem-se em pequenos grumos bran- (+++), respectivamente, para as provas positivas, cos, dispersos em fluido translúcido, quando ob- em crescendo, segundo a intensidade da reação, servados com iluminação colocada sob a placa de com aumento do número de células somáticas. vidro, as anotações dos resultados se faz da seguinte A positividade da reação c sua intensidade são forma: reação negativa ( ---- ); reação suspeita (±—) demonstradas pelo aparecimento de precipita- e reações positivas, de acordo com suas intensida- dos que se aderem à parede do tubo nos movi- des e característica dos grumos, respectivamente, mentos de inversão do tubo; simultaneamente, em (+—); (++-); (+++-); (++++) (Quadro 8.16). ocorre aumento de viscosidade da mistura. A leitura deve ser feita imediatamente após a homo- c) Prova de Schalm e Noorlander - Califórnia geneização da mistura. Mastitis Test (GMT) Essa prova foi padronizada por Shcalm e Noorlander em 1957, para determinar o número de células somáticas no leite produzido por gru- Quadro 8.16 - Pesquisa de leite mamitoso: determinação da celularidade pela prova de Whiteside. Prova de Whiteside (adaptação da prova de Donné) Reativo: NaOH 4% + Bromocresol púrpura 1:300 Em tubos - 2mL NaOH + 3 gotas Bromocresol púrpura + 8ml_ de leite Cor violeta = alcalinidade Maior viscosidade + grumos = maior celularidade Em lâmina - 1 gota NaOH - 4% + 5 gotas leite -» grumos (+)
  • 59. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 389 pôs de vacas (leite de tambor ou tanques) e ava- ma foi padronizado para vacas leiteiras, podendo ser liar a higiene da produção, como também esti- plenamente utilizado para búfalas e tem sido, com mar a ocorrência e influência da mamite sobre a reservas, utilizado em cabras. Evidentemente, em produção leiteira dos rebanhos. A prova do CMT cabras utilizam-se apenas dois receptáculos. Os re- baseia-sc nos princípios de reação do ADN nu- sultados obtidos são controversos, pois os caprinos clear com a soda, como já descrito para a prova de têm, em condições fisiológicas, maior número de Whiteside; todavia, os dois autores citados veri- células somáticas que vacas e búfalas. ficaram que a adição de um agente tenso-ativo Técnica. Nos receptáculos da placa, ordenha- melhorava o poder de destruição das células so- se aproximadamente 2mL de leite; a igualdade máticas, tornando as reações mais evidentes. Assim de volume é conseguida inclinando-se a placa 45". sendo, Schaim c Noorlander (1957) associaram à Adiciona-se igual volume do reativo para, a se- soda um agente tenso-ativo amniônico, isto é, o guir, homogeneizar-se a mistura com movimen- alquil-aril sulfonato. Esse detergente atuará tam- tos circulares (atualmente essas placas trazem duas bém sobre os glóbulos de gordura, reduzindo seus marcas elevadas que, quando na referida inclina- volumes e facilitando sua dispersão, permitindo ção, indicam, aproximadamente, os volumes do melhor avaliação das reações. O CMT foi modi- reativo e da mistura total). ficado, no Brasil, por Fernandes, docente do Curso Natureza da reação da prova de Schaim e de Medicina Veterinária da Universidade Fede- Noorlander. O princípio ativo da reação é o ácido ral do Rio Grande do Sul, substituindo o deter - desoxirribonucléico (ADN) liberado do núcleo das gente por produto comercial de limpeza domés- células somáticas, principalmente dos leucócitos, tica, dando à prova a denominação de Teste de destruídos por ação da soda e do detergente Mamão. amniônico, resultando na gelificação da mistura. Reativos. O reativo de Schaim e Nooríander&vci O pH da reação será demonstrado pelo indicador - a seguinte constituição: hidróxido de sódio 13,5g; púrpura de bromocrezol. púrpura de bromocresol a 0,4g; alquil-aril-sulfonato Interpretação. A avaliação dos resultados po- de sódio l,9g; completando-se o volume com água sitivos na prova CMT c feita pela intensidade da q.s. 3,8L. viscosidade desenvolvida. Da mesma forma, ob- A reação é feita em bandejas especiais conten- servam-se as modificações do pH: coloração vio- do 4 receptáculos, numerados e/ou identificados pelas leta representa pH alcalino (ale = 7,2) amarelada letras: B e A para amostras de leite das glândulas o pH ácido (ac = 5,2), estes dados devem figurar, anterior e posterior esquerdas; D e C para amostras nos resultados da reação, com a avaliação da in- das glândulas anterior e posterior direitas. O siste- tensidade da reação (Fig. 8.50). Tabela 8.12 - Avaliação da prova de Schaim e Noorlander (CMT) em leite de vaca. Prova de Schaim e Noorlander (CMT) Reativo: NaOH 12,5g + púrpura de bromocresol 0,4g + detergente aniônico 1,9g + H.,Oqs 3,8L Prova em bandeja especial (2mL leite + 2ml_ reativo) stimativa do número de células Resultado segund os somáticas por mL e a autores amplitude de variação Até 200.000 (até 25% Ne) ( ---- ) negativo Mistura sem modificação 1 50.000 a 500.000 (30 a 40% de Ne) (±—) traços Mistura com viscosidade fugaz-desaparece com a movimentação 400.000 a 1.500.000 (40 a 60% de Ne) ( H—) levemente positivo Reação demonstrando viscosidade da mistura 800.000 a 5.000.000 (60 a 70% de Ne) (++-) fracamente positivo A homogeinização da mistura demonstra ocor rência de sua gelificação mais de 5.000.000 (70 a 80% de Ne) (+++) fortemente positivo Na mistura, além da gelificação, demonstra -se coagulação com formação de massas gelatinosas Ne = leucócitos do tipo polimorfo nuclear neutrófilos.
  • 60. 390 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Figura 8.52 - Esquema da realização da prova de Schalm e Noorlander - CMT. (A) Colheita do leite na bandeja do CMT; (B) inclinação de 45° para igualar os volumes de leite colhido; (C) adição de igual volume de reativo CMT; (D) homogeneização da mistura, verificando-se o aparecimento de sua viscosidade; (E) reação francamente positiva (reação intensa +++). A prova GMT pode ser feita, sem dificulda- sua constituição, particularmente no que se refe- de de interpretação, nas fêmeas de bovinos e re ao número de células somáticas (exuberante bubalinos (Fig. 8.52). Todavia, deve-se destacar quantidade de células epiteliais e de leucócitos). que, nas cabras e ovelhas, há presença, no leite, Assim sendo, os resultados se caracterizam por de corpúsculos citoplasmáticos resultantes do pro- evidente formação de grumos e aumento da vis- cesso apócrino da secreção láctea, bem como a cosidade, quase sempre considerados como for- existência de maior número de células somáticas temente positivos. Tal restrição traz, pelo menos, em condições fisiológicas. Entretanto, os corpús- uma vantagem: o método não permitirá "o diag- culos não reagem com os reagentes utilizados na nóstico de mamitc assintomática". Os especialis- realização dessa prova, pois são desprovidos de tas Mary C. Smith e Uavid M. Sherman, no livro ADN. Nesse momento é conveniente fazer-se o "Goat Medicine" (1994), destacaram: "o leite de primeiro alerta sobre o uso dos métodos semiquan- cabra, naturalmente, tem uma maior quantidade titativos de avaliação de resultados, por provas que de células epiteliais que o leite de vaca, sendo demonstram qualidades de reações, sem permitir considerado que leite, cujo resultado seja T (traços) sua exata quantificação. Essas são provas que ou l (fracamente positivo) representariam resul- dependem do virtuosismo do examinador, isto é, tados de amostras com até l milhão de células relacionam-se mais com a capacidade do avalia- somáticas por mililitro, não representando moti- dor em diferenciar reações que de sua experiên- vo de preocupação". cia e por isso são dependentes de inúmeros fato- Apesar dos referidos autores utilizarem no res aleatórios. texto do livro a designação mamite assintomática, Os resultados da prova de CMT em caprinos destacaram: "a precariedade do uso do GMT (ou e ovinos devem ser interpretados com muito cri- outro teste qualquer), para o diagnóstico da mamite tério em face do tipo de secreção do leite c de assintomática, depende da prevalência da mamite
  • 61. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 391 no rebanho; em rebanho submetido a bom manejo Observação: Na avaliação dos resultados do sanitário, o valor de um resultado positivo e de CMT, em amostras de leite de ruminantes obti- insignificante valor diagnóstico". das de glândulas mamarias sadias ou suspeitas, Como foi destacado anteriormente, os resul- demonstrou-se serem inúmeras as circunstâncias tados obtidos no leite de pequenos ruminantes em que o aumento da cclularidade do leite não devem ser interpretados com atenção, destacan- se deve, seguramente, a processos inflamatórios do: o resultado negativo é um bom indício de de origem infecciosa. Sabe-se que há maior nú- ausência do processo inflamatório da mama; os mero de células somáticas quando houver reten- resultados ligeiramente positivos são observados ção de leite entre ordenha, no início c no final da cm animais sadios e podem representar até 1,5 x lactação, nos primeiros e nos últimos jatos de uma l O6 células somáticas por mL; os fortemente posi- ordenha, mas sem dúvidas essa ocorrência é pre- tivos indicam, seguramente, uma reação causada dominante nas mamites. por um processo inflamatório da mama e resulta- dos com até 5,0 x K)6 células somáticas por mL. Na avaliação dos resultados da prova de Exame Microscópico do Leite Schalm e Noorlander devem ser considerados O exame microscópico do leite, com finalida- e destacados alguns detalhes. A maior intensi- de de estabelecer o número de células somáticas dade de reação da prova pode ser observada no por mililitro de leite, bem como para avaliar as final da lactação ou durante enfermidades sis- características morfológicas dessas células, neces- témicas. Todavia, nessas circunstâncias, o re- sariamente não é feito em amostras estéreis de leite. sultado é observado no leite obtido em todas Todavia, como esse é um exame semiológico mais as glândulas que constituem o úbere; se hou- complexo, exigindo utilização de laboratório espe- ver resultados diferentes entre as amostras das cial, ele é feito na mesma amostra destinada aos metades ou dos quartos da mama, há indícios exames microbiológicos, evitando-se assim a ne- evidentes de inflamação no quarto ou metade cessidade de outra colheita de amostra. que apresentar reação mais intensa. Apesar dos resultados de pequeno valor apre- Colheita de Amostras de Leite sentados pelo CMT cm cabras e ovelhas leitei- ras, não se poderia deixar de apresentar, neste As amostras de leite destinadas a exames momento, o sistema de apreciação dos valores laboratoriais, principalmente para realização de dessas provas delineado por Schalm e cols., 1971, exames bacteriológicos, devem ser colhidas com idealizadores do método, configurando nas Ta- cuidados de assepsia. As normas a seguir descri- belas 8.12, 8.13 e 8.14 a interpretação dos resul- tas são recomendáveis, pois cm buiatria resulta- tados no leite de vacas, cabras c ovelhas. ram em excelentes resultados. Tabela 8.13 - Avaliação da prova de Schalm e Noorlander (CMT) em caprinos (segundo Schalm e cols., 1971). esuitaao segundo os Estimativa do numero de células autores somáticas por mL e a amplitude de variação 60.000 (até 480.000) 270.000 (até 630.000) ( ----- ) ne gat i vo R e a ç ã o se m mod i fi c a ç ã o ( ± — ) t ra ç o s R e a ç ã o c om l í qui d o muc o so na pe ri fe ri a d o re - 6 6 0 . 0 0 0 (2 4 0 . 0 0 0 a 1 . 4 4 0 . 0 0 0 ) c e pt á c ul o (H ---- ) levemente positivo Reação com formaçã o muc o-floc ulenta, se m ten - 2 .4 00. 000 (1 .08 0. 000 a 5 .85 0. 000 ) d ê nc i a a fo r ma r c u me c e nt ra l (+ H —) fracamente positivo R e aç ã o c om for ma ç ã o de gel se mi -lí qui d o, c om ma i s d e 1 0 . 0 0 0 . 0 0 0 movimento em massas e formação de cume central Na notação de resultados por cruzes, recomenda-se sempre deixar claro o número máximo considerado: - = (-); ± = ((+)-); + = (+-); ++ = (++-) e +++ = (+++). Reaçã o c om formaçã o de ma ssa gelati nosa c on ve xa e (+ + +) fortemente positivo pre sa a o fu nd o d o re c e pt á c ul o
  • 62. 392 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Tabela 8.14 - Avaliação da prova de Schalm e Noorlander (CMT) em ovinos (segundo Schalm e cols., 1971). Resultado segundo Avaliação Estimativa do número de células os autores somáticas por mL e a amplitude de variação ( ---- ) negativo Reação sem modificação 30.000 (até 310.000) Reação com líquido mucoso na periferia do re- 200.000 (até 520.000) (±—) traços ceptáculo Reação com formação muco-floculenta, sem ten- 900.000 (200.000 a 2.800.000) (H—) levemente positivo dência a formar cume central Reação com formação de gel semi-Iíquido, com 2.800.000 (1.144.000 a 4.800.000) (+H—) fracamente movimento em massas e formação de cume central Reação com formação de massa gelatinosa con- 9.500.000 (1.250.000 a 1 7.000.000) positivo (+++) fortemente vexa e presa ao fundo do receptáculo positivo Inicialmente, faz-se a assepsia da extremidade te, determinação do pH e realização da prova de do teto, particularmente do orifício do teto. Com Schalm e Noorlander. Por isso, no momento da chumaço de algodão embebido em álcool a 70%, colheita da amostra, já realizou-se previamente limpa-se a extremidade do teto para, a seguir, passar o escoamento do leite retido nas cisternas; por- com energia pequenos pedaços de algodão tanto, já houve uma limpeza mecânica do canal embebido na mesma substância inúmeras vezes do orifício do teto. sobre o orifício do teto, recomendando-se a cada A amostra é colhida por ordenha em sentido limpeza renovar-se o algodão (Fig. 8.53). Entre- horizontal, isto c, mantendo-se o tubo coletor paralelo tanto, pelo pequeno tempo de atuação do álcool ao solo, protegendo se a parte estéril da rolha sob a a 70%, a assepsia seria mais mecânica do que por mão que a segura, juntamente com o mencionado ação asséptica. Não se recomenda deixar o teto tubo (Fig. 8.53). Assim, evitar-se-á que pêlos e outros molhado com álcool ou o uso de soluções assép- detritos contaminem a rolha ou penetrem, inadver- ticas enérgicas, pois contaminando o leite, essas tidamente, no interior do tubo de colheita, alterando substâncias impediriam ou dificultariam o cres- a qualidade semiológica da amostra. cimento bacteriano. Fssa amostra deve ser enviada, imediatamen- O volume de leite a ser colhido varia entre 5 te, ao laboratório, ou refrigerada, podendo ser uti- c lOmL, de acordo com a capacidade do recipien- lizada dentro de 24 horas, sem outros cuidados te utilizado e as necessidades das provas. Reco- de conservação. mendam-se tubos de centrífuga de vidro, com capacidade para 15mL, providos de rolha de cor- tiça ou borracha, protegidos por papel manilha e Contagem de Número de Células Somáticas esterilizados em forno Pasteur. É conveniente A contagem de células somáticas do leite, em ressaltar que é mais importante colher uma amostra animais ruminantes de uso leiteiro, praticamente representativa que uma amostra volumosa; esse refere-se ao número de leucócitos; mas no caso cuidado se aplica, particularmente, para animais particular dos caprinos é conveniente ressaltar que rebeldes, quando a ordenha é mais difícil, em face o número de células somáticas é muito grande, das reações e indocilidade do animal. pois aos leucócitos se associam às células de des- Os primeiros jatos de leite, ou seja, o leite camação do tecido epitclial de revestimento in- acumulado nas cisternas do teto, no período en- terno das várias estruturas da glândula mamaria. tre ordenhas, são desprezados, pois apresentam Cabe ressaltar, mais uma vez, a ocorrência dos grande número de bactérias saprófitas e a orde- corpúsculos citoplasmáticos no leite de vaca, nha previa descontamina o ductuspapillaris. To- partículas assemelhadas em tamanho e forma aos davia, cabe, mais uma vez, ressaltar que o exa- leucócitos e que dificultam a avaliação qualitati- me da glândula mamaria é um complexo va e quantitativa das contagens de células somá- semiológico no qual se inscrevem inúmeras pro- ticas, principalmente quando a contagem se faz vas, destacando avaliação macroscópica do lei- por contadores eletrônicos de partículas.
  • 63. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 393 Entre os leucócitos observados no leite, pelo tório sofisticado e não deve ser recomendado significado diagnóstico que apresentam, destacam- para contagem de células somáticas do leite de se os polimorfonucleares granulócitos neutrófilos. caprinos. Tal restrição é consequente à Inúmeras foram as técnicas recomendadas para ocorrência das partículas citoplasmáticas no a contagem total das células somáticas do leite, leite de cabra (não existe no leite de vaca), merecendo destaque as expostas no Quadro 8.17. que têm tamanho semelhante ao dos leucó- Método de Trommsdorff. Essa é uma técnica citos e, por isso, as contagens assim determi- baseada na centrifugação e separação das células nadas, apresentam valores que são praticamen- por decantação, com auxílio de centrifugação em te o dobro do número real das células somá- tubos especiais, com capacidade para lOmL de ticas existentes na amostra de leite. Esse tipo leite. A avaliação do número de células é propor- de contagem em leite de vacas aplica-se, prin- cional ao volume do sedimento, medido na por- cipalmente, para avalilar a condição de pro- ção capilar aferida, existente na extremidade desses dução higiénica do leite de consumo e para tubos. A avaliação semiquantitativa é considera- controle clínico-epidemiológico da mamite nos da pouco sensível dando, entretanto, informações rebanhos leiteiros. válidas para o diagnóstico clínico, principalmen- b) Variações do número de células somáticas no leite. te se a coloração do sedimento for amarelada, A contagem padrão de células no leite deve revelando a presença de piócitos e, assim, detec- ser feita em amostras obtidas imediatamen- tando a ocorrência de um processo inflamatório te antes da ordenha normal e seus valores, catarral da glândula mamaria (ver Quadro 8.17). em termos médios, atingem cifras maiores que Método de Prescott e Ereed. Este método de 400.000 células/mL para vacas e de 800.000 contagem de células somáticas é feito em esfrega- células/mL para cabras. Observa-se aumento ços de leite corados. Segundo os autores citados, fisiologicamente no início e no final da 0,lmL de leite homogeneizado deve ser estendi- lactação (no final da lactação, observa-se au- do sobre uma área de lcmz demarcada em uma mento de macrófagos e células epiteliais lâmina de vidro lapidado, para em seguida ser seco descamadas); sendo também maior o número e fixado em álcool metílico e corado com uma de células somáticas, no início c no final da solução de azul de metileno, ou outro corante celular. ordenha; cm condições patológicas, aumenta As células são contadas sobre 100 diferentes cam- nas congestões mamarias, na retenção de pos microscópicos (utilizando-se objetiva de imer- leite na mama (ordenha mal feita), nos trau- são). Para o número global de células somáticas matismos e principalmente nas mamites. A por mL de leite, multiplica-se o número de célu- interpretação da contagem de células so- las encontradas em 100 campos por 5.000. Esse fator máticas do leite das vacas somente terá signi- de multiplicação poderá variar na dependência das ficado semiológico para o diagnóstico dos casos características do microscópio utilizado (do fator de mamite se forem utilizados métodos apro- do microscópio) (ver Quadro 8.17). priados - sensíveis e específicos e padroni- Contagem de células somáticas em câmaras zados para serem utilizados nessa espécie de hematimétricas. A contagem das células pode ser animais domésticos, pois o leite da vaca di- feita cm amostras diluídas em líquidos especiais, fere do leite da cabra, principalmente, por ser que permitam a fragmentação dos glóbulos de resultante de secreção do tipo apócrino de gordura e uma perfeita dispersão das células, em secreção láctea, dando-lhe características pró- câmaras hematimétricas tipo Neubauer modifi- prias. Como citado na literatura consultada: cada ou similares. A técnica assemelha-se à des- "a aplicação em caprinos leiteiros de testes, crita para contagem de hemácias c leucócitos provas e regulamentos, padronizados e de- sanguíneos. senvolvidos para bovinos, frequentemente, levam os criadores e produtores comerciais a Contagem em Contadores Automáticos uma situação de pânico, quando interpreta- se o grande número de células contadas como a) Contagem eletrônica. A contagem eletrônica das evidência de sérios problemas de mamite no células somáticas utilizando-se aparelhos como rebanho ou se houver ameaças de sanções eco- o Coulter Counter (contador eletrônico de par- nómicas pelos órgãos de fiscalização da pro- tículas), apesar de facilitar e dar precisão e dução higiénica do leite" (Smith e Sherman sensibilidade à contagem, exige um labora- - 1994).
  • 64. 394 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Quadro 8.17 - Exame macroscópico do leite: contagem de células somáticas. 1) Colheita de amostras • Esterelidade - assepsia - evitar contaminação. 2) Contagem de células somáticas • Método de Trommsdorff - por centrifugação (avaliação do volume do sedimento). • Método de Prescott e Breed - contagem das células em esfregaço de leite corado x fator microscópico. • Contagem em câmaras hematimétricas, contadores eletrônicos e avaliação do ADN do núcleo das células. Mamite catarral por Estafilococus coagulase (-) 700.000-5.OOO.OOOcel/m L Mamite catarral por Estafilococus coagulase (+) 600.000-1 .OOO.OOOccl/mL Mamite catarral por Estreptococus 1.500.000-4.500. OOOcel/mL Pelas razões mencionadas, as determinações do leite de cabra, não há interferência das par- do número de células somáticas no leite uti- tículas citoplasmáticas, oriundas da secreção lizando-se contadores eletrônicos do tipo apócrina de leite, pois as partículas citoplas- CoulterGounterrião são consideradas nem es- máticas são destituídas de ADN. pecíficas ou sensíveis para o diagnóstico de mamites nos caprinos, pois aproximadamen- te um terço dos resultados obtidos em ani- Diferenciação das Células Somáticas do Leite mais sadios foi maior que dois milhões de A diferenciação das células somáticas é feita células por mililitro. sobre esfregaços corados, feitos com leite homo- c) Método "Fossomático" de contagem de células geneizado ou a partir de sedimento da amostra, somáticas no leite. Esse método de determina- após a centrifugação. ção automatizada de contagem celular em flui- dos orgânicos utiliza uma técnica fluorescente Técnica. O esfregaço pode ser feito com a reagindo o leite com um corante que tem amostra utilizada para a contagem total de célu- afinidade específica para o ácido dcsoxirribo- las somáticas ou com sedimento de leite, antes nucléico do núcleo das células, portanto, sen- da realização do exame microbiológico do leite (a sível e específico para determinar essas célu- centrifugação da amostra do leite antes da reali- las. Por isso é recomendado, atualmente, por zação do exame bacteriológico é um método de associações responsáveis pelo controle higié- concentração que facilita o isolamento de bacté- nico do leite. Nesse tipo de contagem, incluem- rias). Nesse último caso, a amostra é centrifugada se as células epiteliais e os leucócitos. No caso durante 10 a 15 minutos com 2.500rpm; despre- A B Figura 8.53 - Colheita de amostras estéreis de leite: A) Assepsia da cúpula e orifício do teto B) Colheita do leite mantendo o tubo em posição horizontal (evita que pelos e sujidades caiam dentro do tubo)
  • 65. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 395 ga-se o tampão de gordura por aquecimento; metida por mamite, observa-se a presença de despreza-se o sobrenadante, colhendo-se o sedi- grupos de bactérias, tendo então, esse exame, a mento com alça de platina estéril, distribuindo-o conotação de bacterioscopia. sobre lâmina lapidada; para finalmente deixar o esfregaço secar e, em seguida, fixá-lo durante 10 minutos, em álcool metílico. Exame Microbiológico do Leite Em ambos os casos, a coloração é realizada com solução aquosa de azul de toluidina a l :2.000, Um dos conceitos fundamentais da semiologia durante l minuto ou com corante de Rosenfeld e patologia clínica, relacionados às enfermidades (atuação entre 5 e 10 minutos). Em seguida, o das glândulas mamarias, é aquele salientando que esfregaço é lavado, seco c observado em micros- seus diagnósticos devem ser precisos e precoces, copia de campo claro (aumentado em 800 vezes). pois as lesões de tecidos glandulares são irrever- Interpretação. Nos esfregaços, são diferencia- síveis e, mesmo que a evolução leve à cura com- dos os seguintes tipos de leucócitos: polimorfo- pleta, o tecido glandular destruído transforma-se nucleares neutrófilos e eosinófilos; mononuclea- em fibroso, deixando de ter capacidade secreto- res linfócitos e monócitos (macrófagos). Além disso, ra. Baseado nesta afirmação, pode-se concluir que encontram-se, no caso do leite de cabras, inúme- as normas utilizadas no exame microbiológico do ros corpúsculos citoplasmáticos. No colostro, leite devem ser as básicas dessa ciência, todavia encontram-se conglomerados de células com ci- submetidas a modificações a fim de poder-se apre- toplasma espumoso, denominadas corpúsculo de sentar o diagnóstico ctiológico e a sensibilidade Nissen. Na contagem diferencial das células so- do agente microbiano causador da mamite aos máticas do leite de vacas são descritos, ainda, um antibióticos o mais rápido possível, isto é, entre grande número de células epitcliais (descamadas, 36 e 48 horas. As técnicas rotineiras que serão ex- cilíndricas e cúbicas). E, em condições patológi- postas a seguir são adaptadas do sistema de diagnós- cas, descreve-se, ainda, a presença de células tico microbiológico das mamites padronizadas pelo gigantes (na tuberculose), eritrócitos e fragmen- laboratório especializado da Clínica Obstétrica c tos de células desintegradas (ver Quadro 8.18). Ginecológica dos Bovinos, da Escola Superior de Nas mamites agudas, predominam os leucó- Veterinária - Hannovcr (ver Quadro 8.19). citos, principalmente os polimorfbnuclcares neu- Colheitas de amostras. As amostras colhidas trófilos. Nas mamites catarrais crónicas, aparecem devem ser representativas do leite produzido pela nos esfregaços, feitos com sedimento, conglome- glândula mamaria, recomendando, para tanto, usar rados de neutrófilos, envolvidos por massas de as normas e cuidados de assepsia recomendados fibrina. Nas mamites apostematosas, além das anteriormente. massas de fibrina, observa-se uma granulação Preparo de amostra para provas bacteriológicas. escura, dando um aspecto de penteado sobre o Antes da realização das provas, as amostras de- esfregaço. vem ser centrifugadas durante 10 a 15 minutos Destaca-se, ainda, que no esfregaço do leite, 2.500rpm; desprega-se o tampão de gordura por nos casos de amostras colhidas de glândula aco- aquecimento; desprcza-se o sobrenadante; restan- Quadro 8.18 - Exame microscópico do leite: identificação das células somáticas do leite. Diferenciação segundo Schõnberg (1951). 3) Contagem diferencial de células somáticas Técnica: esfregaço —* fixação -» coloração = exame microscópico com imersão (800x) - número médio= 150.000 (20.000 a 500.000) células somáticas por ml_. Diferenciação Polimorfonucleares neutrófilos 50 - 70% Polimorfonucleares eosinófilos O - 3% Mononucleares linfócitos 25 - 35% Mononucleares monócitos 5 - 1 5% Outras células Células epiteliais descamadas; células gigantes (na tuberculose da mama); eritrócitos e corpúsculos de Nissen (corpúsculos colostrais).
  • 66. 396 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Quadro 8.19 - Exame microbiológico do leite, como norma rotineira para complementar o diagnóstico das mamites. • Colheita e preparo da amostra para o exame. • Bacterioscopia - lâmina corada com azul de toluidina ou corante de Rosenfeld. • Isolamento de microorganismos do leite - Plaquear em ágar-sangue. - Semear em caldo glicosado. • Pesquisa de sensibilidade aos antibióticos: antibiograma. do o sedimento, concentrado para a realização dos melhor aproveitamento do material de labo- exames microbiológicos: bacterioscopia; isolamento ratório e que 4 amostras sejam examinadas em bacteriológico e avaliação da sensibilidade do apenas uma placa. Após a incubação as placas agente bacteriano, frente a diferentes antibióti- são avaliadas anotando-se a ocorrência e o tipo cos e quimioterápicos. de hemólise, características e o tamanho das colónias. Das colónias evidenciadas, pode-se a) Bacterioscopia. O exame microscópico do es- fazer o isolamento do agente bacteriano fregaço do sedimento lácteo, fixado em ál causador da mamite e determinar-se a espécie cool metílico e corado com azul de toluidina do microorganismo isolado (Quadro 8.20). c) ou outro corante celular, utilizado para a ava Características das colónias em ágar-sangue. liação das células somáticas permite a eviden- • Streptococcus: colónias finíssimas, lisas e ciação das bactérias (o uso do corante de brilhantes, associadas a vários tipos de Rosenfeld, como recomendado em hemato hemólise. Staphylococcus aureus - colónias logia, tem apresentado excelentes resultados), pequenas, elevadas, lisas, opacas ou bri pois cora tanto o núcleo como o citoplasma lhantes, descoloridas, com hemólise do das células somáticas. Nesses esfrcgaços, Tipo beta ou associada a hemólise alfa encontram-se, principalmente, estafilococos e delta. e estreptococos, que podem estar distribuí dos entre as células ou serem observados no • Micrococcus: Staphylococcus coagulase ne interior delas, representando então uma fase gativo têm morfologia semelhante a an do processo de fagocitosc. terior podendo apresentar halo de hemólise b) Isolamento de bactérias do leite. Após a realiza do Tipo beta com l mm de espessura. ção do esfregaço do sedimento lácteo para • Coliformes: colónias de tamanho médio, identificar as células somáticas ou evidenciar opaca, lisa, elevadas com odor de bolor. a presença de bactérias, a alça de platina deve • Arcanobacterium pyogenes (anteriormente ser esterilizada e reutilizada, semeando o Corynebacterium c Actynomices}: colónias sedimento lácteo cm ágar-sangue e, posteri finíssimas e com pequeno halo de hemó ormente, em caldo glicosado. Os meios de lise, crescimento lento, devendo aguardar- cultura são a seguir incubados durante 18 a se mais 48 horas de incubação para obte- 24 horas em estufas mantidas a 37°C. rem-se melhores condições para a leitura No uso rotineiro, as placas de ágar -sangue do resultado. são subdivididas em 4 partes para permitir Quadro 8.20 - Frequência de bactérias patogênicas causadoras de mamite isoladas de amostras de leite de 160 casos clínicos de mamite em vacas leiteiras, criadas na região de Campinas - SP. Staphylococcus spp. 52,4% Streptococcus spp. (agalactiae, dysgalactiae ou uberis) 22,5% Arcanobacterium pyogenes 9,1% Germes coliformes (bacilares) 8,6% Fungos (leveduras) 2,7% Germes indeterminados 4,8%
  • 67. Semiologia da Glândula Mamaria de Ruminantes 397 Destaca-se que o isolamento de microor- cefalosporina, lincomicina, neomicina, canamicina, ganismos do género Mycoplasma exige tetraciclinas, cloranfenicol, gentamicina, olean- meios sólidos ou líquidos especiais. Nos domicina, eritromicina, entre outros). As placas primeiros, crescem formando pequenas para o antibiograma devem ser incubadas a 37°C colónias típicas, comparáveis à forma de durante 12 a 24 horas, fazendo-se a leitura de acordo "ovos fritos" e, antes da realização da prova, com o halo de inibição do crescimento bactcria- devem ser mantidos em meios conserva- no. De acordo com a espessura do halo de inibi- dores (de transportes) adequados. ção e de acordo com a característica de antibióti- d) Aspectos morfológicos das bactérias em esfregaços cos, os resultados são assim expressos: R = resis- lácteos corados pelo Gram. tentes, S = sensíveis e MS = muito sensíveis. • Streptococcus: cocos unidos em cadeia de, A terapia deve ser recomendada de acordo no mínimo 5 elementos arredondados ou com a sensibilidade apresentada pelas cepas de ovais Gram-positivos. germes isolados. Segundo a técnica descrita o • Staphylococcus: cocos unidos em grupos de, tratamento específico pode ser preconizado em no mínimo, 4 elementos arredondados menos de 48 horas. Caso tivesse sido feito o iso- Gram-positivos. • Coliformes: bacilos Gram-ncgativos. lamento do agente, para, a partir de cultura pura, • Arcanobacterium pyogenes: elementos fazer o antibiograma, o resultado demoraria en- pleomorfos, semelhantes a "caracteres chi tre 72 e 96 horas. Essa demora em ter-se a exata neses", podendo formar cadeias Gram- indicação para terapia específica poderia tornar positivas. irreversível a evolução da infecção, impossibili- e) Características do crescimento em caldo glicosado. tando a cura mesmo após uso de medicamentos O crescimento em caldo glicosado pode ser adequados. observado após 18 a 24 horas de incubação a 1 - 37°C. As seguintes características devem ser destacadas: OBSERVAÇÃO FINAL • Staphylococcus: crescimento com turvação sem sedimento. O perfeito diagnóstico das enfermidades da glân- • Streptococcus: crescimento com precipita dula mamaria depende fundamentalmente de ções e formação de grumos e, raramente, minucioso e adequado exame clínico do animal com turvações. enfermo, alicerçado no conhecimento e na prática • Coliformes: crescimento com intensa tur da metodologia técnica e normas da semiologia. vação. Mas deve-se ressaltar que, no exercício rotineiro • Arcanobacterium pyogenes: cresce mal nesse da profissão junto aos animais de produção, o médico meio líquido de cultura. veterinário se submeterá a lento, mas eficaz pro- f) Pesquisa de sensibilidade dos germes causadores cesso de formação, atingindo a maturidade neces- de mamite aos antibióticos. A sensibilidade dos sária para o exercício da clínica veterinária. germes é avaliada por meio de antibiogramas, Com certeza, pode-se afirmar que, no caso podendo ser empregadas várias técnicas; uma específico da semiologia da glândula mamaria, a dessas, realizada em placas de ágar-sangue será utilização do plano de exame clínico apresenta- descrita a seguir. do nesse capítulo, associado à prática das técni- cas recomendadas, o clínico veterinário estará apto A cultura em meio líquido (caldo glicosado) a concluir seu exame clínico consistente e defi- é homogeneizada, e algumas gotas colocadas em nitivo, estabelecendo em todos os casos o exato placa com ágar-sangue e homogeneamente dis- diagnóstico nosológico. tribuídas com alça de Drigalsky. Após isso, espe- rar-se alguns minutos, mantendo a placa sobre superfície nivelada, em posições equidistantes, BIBLIOGRAFIA são colocados os discos contendo quantidades padrões de antibióticos. Recomenda utilizarem- ADAMS, H.R, ALLEN, N.N. The values of oxitocin for se antibióticos que sejam facilmente encontrados reducing fluctuations in mi l k and fat yields./. Dairy Sei., no comércio e tenham indicação para uso intra- v.3.S, p.1117-25, 1952. mamário ou intramuscular (penicilinas, cloxacilina, CECÍLIA, C. A. Enciclopédia de Ia Leche. Madrid: Ed. Espasa- Calpes, 1956.
  • 68. 398 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico COSTA, A.C., CHAVES, RR. Tratado Elementar de Histolo- Fossomatic por prcdicting half infection. J. Dairy Sei., gia e Anatomia Microscópica. 2v., 2.ed. Lisboa, 1949. v.66, p.2575-9, 1983. ROSENBERGER, G. Exame Clínico FINCHER, M.C;., GIBBONS, W.J., MAYER, K., PARK, S.E. dos Bovinos. Úbere. 2.ed., Diseases ofCattle. American Veterinary Publications, Inc. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p.329-41, 1977. Illinois, 1956. GRUNERT, E. Weiblichen SARDA, J.M. Elementos de Fisiologia. 2v. 6.ed. Barcelona: geschechtapparat. In: Editorial Científica Médica, 1952. SCHALM, O.W., ROSENBERGER, G. DieKlinische Untersuchungdes Rindes. CARROL, E.J., JAIN, N.C. BovimMastistis. 3.ed. Berlin: Verlag Paul Parrey, p.472-543, 1990. Philadelphia: Lea & Febiger, 1971. SCI1ALM,O.W., GRUNERT, E., WEIGT, U. Euterkrankhcitcn. In: AHLERS, NOORLANDER, D.O. Experimcnts and D. et ai. Buiatrik. M. e H. Schaper, Hannover, 1985. observadoras leading to dcvclopmcnt of the Californian HEIDRIC, H.J., RENK, W. Diseases oftheMamary Glands of mastitis test. J. Am. Vet. Med. Ass., 130p., 199, 1957 Domestics Animais. Saunders & Co., Philadelphia, 1967. SCHEUNERT, A., TRAUTMANN, A., KRZYWANEK, F.W. JENNES, R. Composition and characteristics of goat milk: Tratado de Fisiologia Veterinária. Barcelona: Ed. Labor, review 1968-1979../. Dairy Sei., v.63, p.1605-30, 1980. 1942. SCHMIDT, G.H. Biologia de Ia Lactaãon. JUNQUEIRA, L.C., CARNEIRO, J. Histologia Básica. S.cd., Zaragoza: Ed. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1982. KOLB, E. Acribia, 1971. SCHÕNBERG, F, Milchkunde und Fisiologia Veterinária. 4.ed., Rio de Janeiro: milch hygiene. Verlag Guanabara Koogan, 1980. LEINATI, L. Compendio di Schaper, Hannover, 1951. In: SCHÕNHERR, W. Manual Anatomia Patológica Dagli Animali Prático de Analisis de Leche. Zaragoza: Editorial Acribia, Domestici. 3.ed. Milão: Ed. Ambrosiana, 1955. 1959. SISSON, S., GROSSMAN, G.RH. Anatomia de los MAXIMOV, A., BOLLOM, W. Tratado de Histologia. 3.ed. Animales Buenos Aires: Editorial Labor, 1952. MURPHY, J.M., Domésticos. 3.ed., Barcelona: Salvai, 1953. SMITH, M., HANSON, J.J. A modificd Whiteside test SHERMAN, D.M. Mammary gland and milk for thc dctcction of chonic bovine mastitis. Cocnell Vel., production. In: SMITH, M.E., SHERMAN, D.M. Goat 31. p.47, 1941. POUTREL, B., LERONDELLE, C. Medicine. Philadelphia: Lea & Febiger, p.465-94, 1994. Cell content of goat WHITESIDE, W.I I. Observations on a new test for the presencc milk: Califórnia mastitis test, Coultcr counter and of mastitis in milk Can. Pub. Health. J., 30, p.4(>, 1939. Semiologia do Sistema
  • 69. Reprodutor Masculino •ALICIO MARTINS JÚNIOR FRANCISCO LEYDSON F. FEITOSA Inúmeros fatores podem afctar a capacidade reprodutiva, tais como: afecções inerentes ou não ao sistema reprodutor, estado sanitário e nutricional, idade e comportamento sexual. A demanda crescente por animais de genética superior, a disponibilidade de métodos de apro- veitamento do sémen e a facilidade de utilização aumentaram consi- deravclmente a responsabilidade na avaliação andrológica e tratamento dos distúrbios reprodutivos. A fertilidade é uma indicação sensível de saúde geral uma vez que pode ser afetada por qualquer doença pre- sente em outra parte do organismo. Casos de infertilidade assintomá- tica podem somente ser esclarecidos através de minucioso exame fí- sico geral e específico do animal, associado à análise das condições nutricionais, sanitárias e de manejo reprodutivo. REVISÃO ANATÓMICA E FISIOLÓGICA DO SISTEMA REPRODUTOR MASCULINO O sistema reprodutor masculino é composto por diferentes órgãos, os quais são responsáveis pela produção de hormônios androgêni- cos, espermatozóides e líquido seminal, bem como pelo transporte de sémen durante a ejaculação (Quadro 8.21). As principais estruturas anatómicas e funcionais, como pênis, bolsa testicular, testículos, epi- dídimos, duetos deferentes, ampolas e glândulas sexuais anexas, prós- tata, glândulas vesiculares e bulbouretrais, acham-se distribuídas de acordo com a espécie. A bolsa testicular, presente em todos os animais domésticos, é uma evaginação do períneo composta basicamente por pele, faseia escrotal e uma camada fibroelástica subcutânea e muscular (túnica dartos), fundida ao folheto parietal da túnica vaginal. A pele tem uma epiderme fina e alguns poucos pêlos. A bolsa testicular regula a temperatura testicular por meio de dois mecanismos espe - cializados: l. Resfriamento do sangue arterial antes de entrar no testículo, através da troca de calor com o sangue venoso no plexo pampiniforme, localizado no cordão espermático;
  • 70. 400 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico (Quadro o.21 ~ Principais constitumt Quadro 8.22 - Tempo médio de descida sistema reprodutor masculino. testículos para a bolsa testicular. • Bolsa testicular • Garanhão: 9 a 11 meses de gestação • Testículos • Touro: até 4 meses de gestação • Epidídimos • Carneiro: 80 dias de gestação • Duetos deferentes • Cão: 5 dias após o nascimento • Cordões espermáticos • Gato: 2 a 5 dias após o nascimento • Glândulas prostática, vesiculares e bulbouretrais • Prepúcio e pênis guinal externo, ajuda na migração dos testícu- 2. Movimentação dos testículos pela contração los. A descida, porém, é passiva, pois não existe do músculo cremastérico externo e túnica tecido contrátil no gubernáculo. Na maioria das dartos, retraindo-os parapróximo do corpo, quan- espécies domésticas a passagem dos testículos do a temperatura externa estiver baixa ou pelo através do canal inguinal ocorre por volta de seu relaxamento, deixando-os afastados do corpo, duas semanas após o nascimento, permitindo quando a temperatura estiver elevada. que assumam uma posição definitiva dentro cio escroto. A idade do descenso testicular não está Nos animais domésticos, os testículos estão estabelecida com exatidão nos animais localizados na região inguinal ou sub-inguinal, domésticos de companhia. Em cães e gatos é dentro da bolsa testicular, portanto, fora da um evento observado após o nascimento e de- cavidade abdominal. Cada testículo se situa pende da raça. Como regra geral, os testículos dentro do processo vaginal, uma extensão sepa- devem ser palpáveis na bolsa testicular, em rada do peritônio que passa pelo canal inguinal. ambas as espécies, no máximo até oito semanas Os anéis inguinais interno e externo permitem de idade. No cão, é raro os testículos descerem a passagem do processo vaginal e de seus consti- após 14 semanas e não o fazem após os seis meses tuintes, além de servir como trajeto para impor- de idade. Os espermatozóidcs e o líquido pro- tantes vasos c nervos, os quais irrigam e iner- duzido pelos túbulos seminíferos são transpor- vam os órgãos genitais. Os testículos são os ór- tados até o epidídimo, onde os espermatozói- gãos mais importantes do sistema reprodutor des se concentram e amadurecem. O epidídimo, masculino. Nos mamíferos domésticos, a função adjacente às superfícies dorsal, medial e caudal testicular normal, sobretudo a espermatogêncsc, do testículo, apresenta três partes distintas: cabeça, depende do mecanismo de termorregulação de- corpo e cauda. A partir da cauda, origina-se o dueto sempenhado pelo músculo cremastérico e túnica deferente, o qual irá se ligar à uretra pélvica. A dartos, os quais respondem efetivamente à va- cabeça do epidídimo absorve uma quantidade riação da temperatura ambiente. Por isso, nos considerável de líquido originado nos túbulos machos domésticos, os testículos se localizam fora seminíferos, resultando em aumento da concen- da cavidade abdominal, ou seja, na bolsa testi- tração de espermatozóides. A cauda armazena cular, onde a temperatura é cerca de 3 a 4°C menor cerca de 80% das células germinativas maduras. do que a temperatura corporal. Não havendo ejaculação, o principal destino dos Os testículos dos cães são relativamente pe- espermatozóides é a descarga espontânea na quenos e têm seus eixos longitudinais cm sen- uretra e eliminação na urina. tido oblíquo e dorsocaudal. A bolsa testicular No garanhão, os testículos se situam na re- se localiza entre a região inguinal e o ânus, sendo gião pré-púbica, dentro da bolsa testicular, em visível olhando-se o animal por trás. Em gatos, uma posição praticamente horizontal. A bolsa tes- observa-se uma bolsa testicular ventral ao ânus. ticular é lisa, firme, elástica e de forma globular A descida dos testículos para a bolsa testicular c, como em outras espécies, contém numerosas (Quadro 8.22) é facilitada QQO gubernáculo, um glândulas sudoríparas, as quais contribuem para cordão de tecido mesenquimal, o qual liga o tes- a termorregulação. Os testículos são geralmente tículo e o epidídimo, em desenvolvimento, à assimétricos, sendo o esquerdo, na grande maioria bolsa testicular em formação. A subsequente re- das vezes, maior e mais penduloso do que o gressão, associada ao aumento de volume do direito, além de estar situado mais caudalmente gubernáculo, imediatamente distai ao anel in- ao testículo direito.
  • 71. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 401 A bolsa testícular, no touro, situa-se um pou- abaixo da bolsa testicular, & flexura sigmóide ou o co mais à frente do que no garanhão. É longa e S peniano, que se desfaz durante a ereção, fazendo pendulosa. Os testículos são maiores, com aspec- com que o pênis se exteriorize cerca de 30 a 45cm to ovalado e alongado. além do orifício prepucial. O prepúcio c relativa- O pênis apresenta forma cilíndrica em todas mente longo e estreito; contudo, o orifício deve as espécies, estendendo-se, exceto no gato, do arco ser pérvio a dois dedos. A genitália externa dos isquiático até as proximidades do umbigo, na carneiros se assemelha à do touro, com duas di- parede abdominal ventral. Tem como funções ferenças básicas. Os testículos são proporcional- básicas depositar o sémen no trato genital feminino mente maiores e a uretra se projeta além da glande e expelir a urina para o meio exterior. A porção peniana, formando o apêndice vermiforme ou livre do pênis do cão contém o osso peniano, que vermicular da uretra. No bode, a extremidade do se desenvolve após o nascimento, podendo che- pênis é enrolada, sobretudo durante a cópula gar a até 12cm de comprimento nos cães de grande (Quadro 8.23). porte. A glande é relativamente longa, com a parte Além dos espermatozóides, o sémen é com- cranial cilíndrica e extremidade pontiaguda. Cau- posto principalmente de secreções das glândulas dalmente à glande, encontra-se o bulbo da glande sexuais acessórias (próstata, glândulas vesiculares do pênis, bastante evidente durante a ercção, já e glândulas bulbouretrais), as quais acrescentam que aumenta cerca de duas a três vezes, contri- volume, nutrientes, tampões e outras substâncias, buindo para o "aprisionamento" ou "nó" durante cujas funções ainda permanecem desconhecidas. o coito. Ao cessar o impulso pélvico, o cão Essas secreções são chamadas de plasma ou líquido desmonta e se volta contra a cadela, com o pênis seminal. A presença, o tamanho e a localização ereto e girado 180° num plano horizontal, perma- dessas glândulas variam consideravelmente com necendo na vagina até acabar a ereção, a qual pode a espécie. A próstata, por exemplo, é dissemina- da na uretra pélvica de ovinos e caprinos, ao passo demorar de 15 a 30 minutos. O pênis do gato tem que no touro, apresenta uma parte difusa e um uma peculiar orientação, com o seu orifício uretral corpo discreto. A próstata é um órgão compacto apresentando-se caudodorsal, ao passo que a porção no cão c, de fato, é a única glândula acessória dorsal do pênis se posiciona cranioventralmente. encontrada nessa espécie. A próstata do cão é A porção livre do pênis é cónica, revestida por esférica e lisa, dividida em lobos esquerdo e direito, algumas pequenas papilas ou espículas, desen- envolvendo completamente a uretra. Em gatos, volvendo-sç entre dois e seis meses de idade e a glândula prostática tem uma superfície irregular, que regridem em animais castrados. O prepúcio cobrindo a uretra somente em suas porções dorsal do cão está, efetivamente, separado da parede e lateral. As ampolas são dilatações que se originam abdominal, mas pode permanecer ligado a ela por nas extremidades distais dos duetos deferentes, uma prega da pele (frênulo persistente). sendo mais pronunciadas no cão c no cavalo. As O pênis do cavalo, quando em repouso, mede glândulas vesiculares são alongadas e relativamen- cerca de 50cm de comprimento; durante a ereção, te grandes nos animais domésticos. As glândulas sua extensão aumenta em 50% ou mais. A extre- bulbouretrais ou glândulas de Cowper estão midade livre da glande peniana, quando expandi- localizadas mais caudalmente, encontrando-se da, é convexa e circundada por uma proeminente em posição imediatamente anterior ao músculo borda (coroa da glande); apresenta uma profunda depressão em sua parte inferior (fossa da glande), onde a uretra se exterioriza cerca de 2cm, poden- Quadro 8.23 - Características anatómicas dos órgãos do ser sede de lesões, como a habronemíase. Nas ré -oprodutores em algumas espécies domésticas. outras espécies, o referido órgão tem a extremida- Ovina e caprina: próstata difusa e pênis com um de afilada. O prepúcio contém um material espesso apêndice filiforme e flexura sigmóide conhecido como esmegma, que se acumula ao longo Bovina: flexura sigmóide do pênis. A fossa uretral circunda o processo ure- Equina: pênis extremamente vascular com a uretra tral e se comunica dorsalmente com o divertículo protruindo-se alguns centímetros além da glande uretral sendo, também, um local de acúmulo de peniana Canina: osso peniano e próstata como uma única esmegma. glândula acessória O pênis do touro é mais longo e de menor Felina: pênis com presença de espículas diâmetro do que o do garanhão, formando, logo
  • 72. 402 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Ureter próstata de cães da raça Scottish Terrier é cerca de quatro vezes maior do que a de animais de outras raças com a mesma estatura, levando o clínico, Ampola desconhecedor de tal particularidade, a um diagnóstico equivocado de hiperplasia prostática em um cão sadio. Glândula vesicular ANAMNESE Como as causas de infertilidade podem estar as- sociadas às falhas de manejo, um histórico com- Próstata pleto deve ser obtido, detalhando-se as afecções passadas e/ou atuais, a ocorrência de traumas, vacinações, tratamentos etc. A compra de um reprodutor deve ser acompanhada de certificado de exame andrológico, bem como dos dados do vendedor. O ideal seria estabelecer uma cronologia da vida reprodutiva do animal, desde a puberdade até a fase adulta. Entretanto, nem sempre isso é Tuberosidade isquiática possível, em virtude da venda ou troca do animal e/ou de informações não tão precisas e completas, Figura 8.53 - Glândulas sexuais acessórias do garanhão. principalmente quando se trata de animais de grande porte. Durante a avaliação do reprodutor, algumas isquiocavernoso. No garanhão e ruminantes são perguntas devem ser feitas, como se segue: pequenas e arredondadas. Sua secreção é viscosa e combina-se com a secreção das glândulas vesi- Qual a idade do animal? Acompanha certifi- cado de exame andrológico? Foi adquirido culares durante a ejaculação. recentemente? Quais são os antecedentes do animal? O animal já possui produtos? Como são os filhos do animal? Apresentam IDENTIFICAÇÃO alguma anormalidade? O animal apresenta A idade do animal é um dado importante, já que desejo sexual? Consegue cobrir a fêmea? A as anormalidades hereditárias e/ou congénitas penetração é completa ou o animal não con- (criptorquidismo, frênulo persistente) podem ser segue expor o pênis totalmente? A retração observadas nos primeiros dias ou semanas de vida peniana ocorre normalmente? Quantas ou mais tarde (hipoplasia testicular). O apareci- fêmeas, em média, o animal já cobriu? mento de tumores testiculares é comum em ani- Qual o índice de prenhe/? Apresenta mais idosos, especialmente no cão. Da mesma comportamento anormal (agressivo, forma, a qualidade do sémen e a libido tendem a afeminado...)? diminuir, principalmente nos machos idosos. Como Ocorreu alguma mudança no manejo do animal (alimentação, mudança de tratador é frequente o aparecimento de outros problemas etc.)? de saúde nos animais mais velhos, a capacidade O animal foi ou está sendo medicado? física e funcional para a reprodução pode, tam- Com o quê? Qual a dosagem? Há quanto bém, ser comprometida. A idade também é um tempo? fator crítico para a maturidade sexual. Um Há quanto tempo apresenta o problema? reprodutor equino somente poderá ser conside- Qual a evolução da afecção? Apresenta rado sexualmente maduro após cinco anos de idade, dificuldade para se locomover? visto que os testículos ainda continuam a aumentar cm peso e tamanho até essa idade ou mais, implicando em um aumento progressivo na produção de espermatozóides. A raça do animal é importante para algumas espécies. Assim, a
  • 73. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 403 INDÍCIOS DE ANORMALIDADES também nos casos de desequilíbrio hormonal ou atividade sexual excessiva. Indicativo de libido PRIMÁRIAS OU SECUNDÁRIAS reduzida pode ser lentidão ou relutância em co- ENVOLVENDO O SISTEMA pular. A indiferença sexual está relacionada com a rejeição que alguns animais, principalmente REPRODUTOR MASCULINO garanhões, apresentam frente à fêmea ou deter - minadas companheiras, perdendo todo o desejo Infertilidade sexual na presença delas. Tal comportamento é decorrente, na maioria das vezes, de traumas A infertilidade é definida como a redução tem- psíquicos, em virtude de experiências passadas, porária ou permanente da capacidade de conceber e marcadas por agressões como, coices, mordidas produzir descendentes viáveis. Pode se manifestar ou simplesmente pelo medo de alguma atitude à cópula (incapacidade couendi) ou na ausência agressiva da égua. Qualquer ato de insistência do de fertilização (incapacidade generandi). A avaliação do potencial reprodutivo (avaliação operador, no sentido de forçar o garanhão a montar anclrológica e teste de comportamento sexual) e a égua, será acompanhado por respostas negativas manejo são importantes para verificar a aptidão e agravará ainda mais a situação. Quando a impo- para a reprodução. O manejo inadequado pode tência e o comportamento sexual forem induzi- levar a um baixo desempenho reprodutivo. A dos pela dor e medo, a condição poderá persistir maioria dos proprietários de cães e gatos toma mesmo após a diminuição do processo doloroso. medidas para evitar que seus animais procriem. Os cães, por exemplo, podem relutar a montar se Os cruzamentos indesejáveis são notoriamente doenças de disco intervertebral ou articulares es- férteis e a infertilidade é rara em cães e gatos. tiverem presentes. Nesse caso, a causa pode deixar Entretanto, não há dúvidas de que a falha re- de ser física e passar para psicológica. A maioria produtiva em determinadas raças caninas é co- dos problemas de origem psicológica é estabele- mum e, geralmente, atribuída ao alto índice de cida pelo próprio homem, como consequência de cruzamento consanguíneo praticado nessas es- falhas no manejo. O sucesso das primeiras pécies. O médico veterinário tem acesso bastante experiências sexuais constitui em prc-requisito para limitado para o diagnóstico de infertilidade em a performance reprodutiva futura. Assim, um macho pequenos animais em comparação com bovinos sexualmente inexperiente, independentemente da e equinos, nos quais o sistema reprodutor pode espécie, deve ser exposto primariamente a uma ser facilmente examinado por meio de exame fêmea experiente e dócil. físico específico interno (palpação por via retal Aumento do instinto sexual. O aumento do ins- e ultra-sonografia de imagem). tinto sexual, nos machos, denomina-se satiríase e ocorre devido à maior produção de esteróides, principalmente em animais novos, em regime de Mudança de superalimentação, ou com animais criptorquídi- Comportamento Sexual cos, resultando em aumento do desejo genésico com a aproximação da fêmea em cio. Indícios de Indiferença sexual. O apetite sexual ou libido libido exacerbada são ereções frequentes, hábito é controlado por um mecanismo neuroendócri- de montar sobre outros animais da mesma espécie no. ^.puberdade, no macho, representa o momento e/ou de espécie diferente e masturbação. Muitas em que este é capaz de produzir espermato- vezes, esses animais, quando colocados perto do zóides pela primeira vez, em número e qualida- manequim, exacerbam a excitação, saltando so- de suficientes para emprenhar uma fêmea (ver bre o mesmo sem prévia ereção. Tais padrões com- Quadro 8.24). É preciso lembrar que a puberda- portamentais costumam estar associados a animais de não é sinónimo de maturidade sexual, a qual jovens, a caminho da maturidade sexual. Nos cães, pode ocorrer meses a anos mais tarde, dependendo é frequente o aumento da libido pela irritação da da espécie. Inicialmente, deve-sc diferenciar a au- glande. sência de libido e indiferença sexual. A ausência Agressividade. Alguns reprodutores se tornam da libido é •à falta de interesse ou de estímulo sexu- extremamente agressivos durante as coberturas, al causado por fatores hereditários, ambientais e/ esquecendo-se da função que deveriam desempe- ou patológicos. A redução da libido pode ocorrer nhar e concentrando-se em agredir a sua parceira
  • 74. 404 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Quadro 8.24 - Tempo médio para o inicio da fase do exame é de grande importância, pois puberdade nas diferentes espécies. algumas enfermidades extragenitais, com com- • Equina: 1 8 meses prometimento geral do animal, frequentemente • Bovina: 9 e 10 meses interferem, em maior ou menor grau, na função • Ovina: 6 a 8 meses reprodutiva ou conduzem a uma falsa • Canina: 7 a 11 meses impressão do envolvimento do sistema repro- • Felina: 9 a 10 meses dutor. Por exemplo, nos equinos, os quais normal- mente exteriorizam o pênis durante a micção, a protrusão intermitente do órgão não associa- e, em alguns casos, o operador. Pode ser causado da à micção pode sugerir a presença de um cál- pelo temperamento típico do animal ou por injúrias culo urinário. E aconselhável, portanto, adiar o anteriores. exame específico do sistema reprodutor até que Masturbação. Prática observada em touros, cães a condição geral do animal seja conhecida e resta- e garanhões. O touro procura lançar o membro belecida. As condições corporal e muscular rijo entre as pernas e junto ao peito; o cavalo procura devem ser averiguadas, já que o mau desem- golpear repetidas vezes o pênis contra a parede penho reprodutivo pode estar relacionado às di- abdominal. Os cães geralmente tentam friccionar ficuldades de monta associadas aos quadros de o pênis em algum objeto ou na perna de alguma subnutrição, parasitoses e traumas. Lesões loco- pessoa. motoras usualmente interferem na.performance reprodutiva dos machos, principalmente quan- do localizadas nos membros posteriores. A ob- Ausência ou Falha na servação do animal em repouso e caminhando permite, muitas vezes, identificar alguns pro- Manutenção da Ereção blemas, tais como: laminite, traumas em re- A ereção do pênis está sob controle do siste- gião lombossacral, displasias, artrites, paresias ma nervoso vegetativo. A ausência ou falha na ma- espásticas, problemas nos cascos, nos dígitos nutenção da ereção c um tipo de queixa associa- ou nos coxins plantares, entre outros. Animais da à indiferença sexual. Se tal indiferença não foi jovens com defeitos de conformação não devem, adquirida em decorrência de determinadas expe- a princípio, ser utilizados como reprodutores. riências passadas, a falta de libido pode ser resul- Animais obesos apresentam maior dificulda- tado de alguma disfunção orgânica ou causa here- de à cobertura. Por outro lado, animais caqué- ditária. Essa anormalidade também é observada ticos, desnutridos, com distúrbios endócrinos em animais com excelente libido, que em decor- ou sob estresse podem ter a qualidade esper- rência de problemas de origem psicológica, tem mática comprometida. Deve-se avaliar, também, a ereção prejudicada. Em equinos com libido normal, os parâmetros vitais dos animais e a coloração a falha na manutenção da ereção pode ocorrer por das mucosas. doenças neuromusculares ou vasculares. Geral- mente, a introdução do pênis é incompleta e, mesmo quando efetiva, haverá falta de movimentos copulatórios normais. Fazem muitas tentativas fra- EXAME FÍSICO cassadas antes de conseguirem a penetração. Em ESPECÍFICO EXTERNO cães, o osso peniano mantém a rigidez do pênis e a penetração pode ocorrer antes mesmo do pênis Muitos machos ressentem-se à palpação da genitá- ficar ereto. Se o pênis estiver ereto antes da pene- lia externa. Desta forma é indispensável realizar tração, não será possível uma penetração total e tal exame com bastante cautela, o qual é facilitado, não ocorrerá o aprisionamento, de fundamental im- e muito, pela contenção adequada do animal, portância para a fecundação. principalmente quando da manipulação de pê- nis, prepúcio, testículos e realização de proce- dimentos complementares: cateterização, exa- EXAME FfSICO GERAL me endoscópico da uretra e ultra-sonográfico dos testículos, entre outros (ver capítulos de con- Após cuidadosa identificação e detalhada anamne- tenção física e medicamentosa dos animais do- se, deve-se realizar o exame físico geral. Essa mésticos).
  • 75. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 405 Bolsa Testicular/Testículos/ Epidídimos A bolsa testicular é geralmente elástica, lisa, fina, com pouco pêlo e relativamente pendulosa (exceto nos gatos e em baixa temperatura), mas pode retrair-se em direção ao corpo durante a palpação, em virtude das contrações voluntárias dos músculos cremastéricos externos. A inspeção da região escrotal é melhor con- duzida em pequenos animais mantidos em posição quadrupedal, no chão ou em cima de uma mesa de superfície não escorregadia; nos bovinos, em Figura 8.54 - Mensuração da circunferência escrotal em um tronco de contenção, examinando-se por trás; touro. lateralmente, em eqiiinos. A pelagem e a pele da bolsa testicular devem ser observadas com relação à cor, infestação parasitária e alterações micóticas. Deve estar livre de escaras, cicatrizes, lesões granu- lomatosas, edemas, fístulas, dermatites e assime- trias graves. A bolsa testicular está comumente envolvida em processos traumáticos. O volume da bolsa testicular pode aumentar quando o testículo está hipertrofiado, com líquido ou em processos tumorais. A circunferência escrotal (CE) está corre- lacionada à produção espcrmática e é utilizada para a seleção de animais. Existe uma correla- ção positiva entre a CE e a concentração espermá- tica, motilidade e normospermia. Os testículos e os epidídimos devem ser examinados com base Figura 8.55 - Avaliação da cauda do epididímo. na simetria, tamanho e sinais de inflamação. A assimetria testicular pode ocorrer como resultado de atrofia ou hipoplasia, nos quais o testículo menor se encontra fibrosado, com o epidídimo proeminente, ou devido ao aumento de volume testicular, sendo usualmente acompanhado de dor e hipertermia (orquite aguda). Glossário Semiológico: • Espermatocele: distensão do epidídimo com acúmulo de esperma. • Hematocele: extravasamento e acúmulo de san gue na cavidade da túnica vaginal. • Hidrocele: acúmulo de líquido no saco da túnica vaginal. • Monorquidismo: presença de um único testículo Figura 8.56 - Palpação dos cordões espermáticos. no escroto. Chamado, também, de criptorquidismo unilateral. • Orquite: inflamação do(s) testículo(s). É relativamente fácil palpar os testículos e • Orquiocele: tumor ou herniação completa de um epidídimos normais. O exame é realizado pal- testículo. pando-se o testículo individualmente, ao mesmo • Orquiopatia: processo patológico do testículo. tempo em que é imobilizado na bolsa testicular.
  • 76. 406 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Nos ruminantes, o ideal é suspender um testículo Para a avaliação de tamanho, forma, consis- enquanto se examina o outro. Os testículos tência e simetria testicular, é interessante que normais possuem uma consistência firme, ambos os testículos sejam fixados dentro da res- assemelhando-se a um bíceps semiflexionado. pectiva bolsa, um de cada vez, palpando-se por A pele da bolsa testicular se movimenta livre- trás cada testículo, separadamente, mediante ele- mente sobre eles. O endurecimento testicular é vação de um deles em direção ao cordão testicu- sugestivo de neoplasia ou de orquite crónica, lar. Lembrar que, no caso do garanhão, os testí- constituindo uma provável indicação para biópsia culos, epidídimo e cordão espermático são mais dirigida. Testículos flácidos sugerem, frequen- bem avaliados se o examinador se posicionar ao temente processos degenerativos, disgenesia ou lado do animal. Deve-se, entretanto, levar em conta endocrinopatia. ^capacidade de deslocamento dos que existe uma considerável diferença no tama- testículos é verificada mais facilmente pela nho dos testículos de animais normais da mesma palpação. A camada peritoneal fornece normal- espécie e, como regra geral, observa-se normal- mente uma superfície escorregadia, a qual mente uma discreta assimetria testicular. Deve- juntamente com a túnica vaginal, torna possível se, também, mensurar a circunferência escrotal, a movimentação dos testículos dentro dos limites o volume testicular e as dimensões testiculares anatómicos da bolsa testicular. Entretanto, o com paquímetro ou fita métrica (Fig. 8.54). testículo normal não deve apresentar deslo- A assimetria acentuada pode ocorrer como camento excessivo para o canal inguinal. E ne- resultado de uma orquite, hipoplasia unilateral, cessário, também, verificar se ambos os testícu- atrofia (sequela de orquite crónica), ou devido a los estão presentes na bolsa testicular. Ausência algum processo neoplásico. A hipertrofia bilate- do testículo (monorquidismo verdadeiro) ou ral ocorre nos processos inflamatórios dos testí- culos, podendo ou não comprometer os epidídi- retenção dentro da cavidade abdominal (criptor- mos. A palpação simultânea dos testículos revelará quidismo), ou no canal inguinal, pode dificultar aumento de volume, consistência mais firme, a palpação. Na maioria dos casos de criptorquidia, aumento de temperatura e manifestação de dor. os testículos somente produzem hormônios, A inflamação do escroto provoca um aumento apresentando um quadro de azoospermia, isto considerável da parede escrotal. A atrofia tes- é, ausência de espermatozóides. ticular c, comumente, encontrada após orquites O criptorquidismo c considerado hereditário; pós-castração ou pós-traumática, secundária à em garanhões, a condição não deve ser conside- torção do funículo espermático ou devida à crip- rada como definitiva até que o animal tenha, pelo torquidia corrigida cirurgicamente. Nesses casos, menos, dois anos de idade. Em cães, o criptor- o testículo geralmente fica sensível e com con- quidismo é o distúrbio mais comum do desen- sistência flácida. O diagnóstico diferencial entre volvimento sexual, ocorrendo em até 13% dos cães. hipoplasia e degeneração testicular é difícil de ser E mais frequente nas raças braquicefálicas, incluin- feito levando-se em consideração apenas os do Dachshunds, Chow-Chows, Cockers Spaniels aspectos morfológicos. A hipoplasia testicular não e Poodles. Porém, não c raro encontrar criptor- é aparente até a puberdade. O testículo hipo- quidismo abdominal em cães portadores de tumor plásico geralmente varia em tamanho, desde um das células de Sertoli (sertolioma), o qual causa quarto até próximo ao normal. A consistência do alopecia bilateral c feminização. Em gatos, ob- testículo hipoplásico é muito semelhante ao do tes- serva-se maior ocorrência de criptorquidismo em tículo normal. raças puras do que nos mestiços, sugerindo uma O epidídimo deve ser cuidadosamente palpado origem genética para essa anormalidade. Diferen- entre o polegar e o dedo indicador, ao longo de temente dos equinos, que manifestam libido acen- seus três segmentos (cabeça, corpo e cauda), para tuada, os gatos com criptorquidismo bilateral ma- verificação da consistência e tamanho. A iden- nifestam pouca ou nenhuma libido. Em equinos, tificação da cauda do epidídimo pode ser facilitada há uma predominância de criptorquidia unilate- pela localização do ligamento caudal do epidídimo, ral esquerda. Isso é explicável pelo descenso relati- palpado como um nódulo firme (Fig. 8.55). A vamente lento do testículo esquerdo, associado cabeça e o corpo do epidídimo, de maneira geral, ao fechamento contínuo do anel inguinal. Testí- não são estruturas facilmente palpáveis, a não ser culos criptorquídicos são mais propensos à em casos de alterações patológicas. A cauda, de neoplasia do que aqueles em posição normal. consistência ligeiramente firme, é bastante evi-
  • 77. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 407 dente e pronunciada. Não devem possuir nódu- tecido subcutâneo (abscesso), ao passo que uma los, aumento de temperatura ou dor à palpação. inflamação posterior, próxima à bolsa testicular, Em caso de epididimite aguda, o testículo e o pode indicar um hematoma no pênis, resultante epidídimo, de forma geral, ficam indistinguí- de lesão durante um acasalamento violento, veis à palpação; nesse caso, o aumento de sen- traumático ou mesmo o desenvolvimento de sibilidade e tamanho são sinais importantes. neoplasia. Os "cálculos prepuciais", ocasio- Um segmento do cordão espermático pode nalmente encontrados em cavalos e bois, são ser examinado pela palpação delicada ao nível concreções sebáceas, impedindo, em algumas da base da bolsa testicular (porção dorsal). Isso situações, a exteriorização normal do pênis e a pode ser feito com a mão apertando o cordão micção. O prolapso e a inflamação da mucosa do espermático entre o polegar e os demais dedos orifício prepucial (postite), ocorre mais comu- (Fig 8.56). O cordão espermático contém artéria mente em touros, com maior incidência nas raças e veia espermáticas, na forma de um emaranhado zebuínas, devido ao prepúcio mais longo e de vasos (plexo pampiniforme), dueto deferente, penduloso. No entanto, alguns touros podem todos envolvidos por membranas serosas, apresentar eversão do prepúcio por um breve músculo cremastérico, o qual se encontra inse- período, principalmente durante a micção. O rido na superfície externa das serosas. Entre- edema de prepúcio resultante de traumas pode tanto, nem todas essas estruturas são identifi- acarretar fimose ou parafimose. cáveis à palpação. Os dois cordões devem possuir No garanhão, o pênis pode ser exteriorizado tamanho c uniformidade. A simetria entre ambos introduzindo-se a mão enluvada no prepúcio, é de importância clínica, uma vez que os desvios segurando-se o pênis além da glande e aplican- de normalidade são, invariavelmente de signi- do-se, então, uma tração discreta e constante no ficado diagnóstico. O mesmo se aplica à con- pênis, sobrepujando, aos poucos, a tensão dos sistência, que deve ser firme. Deve-se tentar músculos retratores. O uso de uma égua estimula sentir as várias estruturas do cordão. A presen- a ereção e a lavagem, com água aquecida (morna), ça de dor e tumefações pode indicar abscesso, ajuda a manter o pênis ereto para o exame. Alguns hematoma, torção ou hérnia. A varicocele c a animais, no entanto, resistem à manipulação do dilatação local da veia espermática no plexo pênis. A tranqiiilização com xilazina (0,5mg/kg) pampiniforme, sendo, em 50% dos casos, bila- ou acepromazina (0,04 a 0,06mg/kg) torna-se, teral. A torção do cordão espermático pode ocor- muitas vezes, necessária, permitindo que um rer no criptorquidismo, levando ao infarto c à exame mais detalhado e tranquilo seja realizado. necrose dos testículos. Contudo, o uso dos derivados de fenotiazínicos deve ser feito com cautela, já que são apontados como uma das causas de priapismo associado à Prepúcio e Pênis parafimose paralítica em equinos. Para evitar acidentes ou lesões penianas após o relaxamento Um ambiente bem iluminado é essencial para induzido por drogas, deve-se tomar todo o cuidado a avaliação do pênis e do prepúcio, os quais são e evitar que o cavalo fique solto até que o pênis inspecionados e palpados pelo lado, expondo assim seja totalmente retraído para dentro do prepúcio. o médico veterinário aos coices e outros movimen- O ideal seria a apresentação de uma fêmea no cio, tos defensivos, mesmo quando touros e garanhões o que possibilitaria a observação da ereção e o com- estão adequadamente contidos. Os pequenos ani- portamento sexual do animal. No entanto, às vezes, mais devem ser colocados, de preferência, em essa manobra pode deixar o animal inquieto e não decúbito lateral, o que facilita a imobilização e o cooperativo ao exame. Estando o pênis ereto, deve- exame. Deve-se, inicialmente, observar o prepúcio se remover o esmegma antes da realização da para identificar a ocorrência de edemas, alterações inspeção. O uso de chumaços de algodão embe- congénitas (frênulo peniano persistente), hemor- bidos em água morna ajuda a higienização e a ma- ragias, abscessos e outras lesões, atentando-sc, nutenção da ereção. também, para o grau de abertura do óstio pre- No estado não erétil, a extremidade livre do pucial. A pele do prepúcio deve ser fina, elásti- pênis do touro pode ser detectada quase à altura ca e móvel, sem evidência de inflamação. Uma da porção média, entre a bolsa testicular e o ori- inflamação anterior, próxima ao orifício prepucial fício do prepúcio. No touro, o orifício do prepúcio é. muitas vezes, causada por acúmulo de pus no deve ser pérvio a passagem de dois dedos, não
  • 78. 408 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico sendo possível tocar diretamente a extremidade do pênis. O pênis dos ruminantes pode ser inspecionado, superficialmente, permitindo que o animal monte em um manequim ou em uma fê- mea no cio. No entanto, para realizar um exame completo da porção livre do pênis, em toda a sua extensão, pode-se fazer uso do eletroejaculador, cujos estímulos elétricos, de baixa amperagem e contínuos, farão o animal expor o pênis, manten- do-o exposto mediante tração com auxílio de uma gaze. O exame do pênis de touros pode ser facili- tado durante a palpação retal, pelo relaxamento do músculo retrator do pênis, o que permite a exposição parcial do órgão. Às vezes, torna-se necessário o Figura 8.54 - Priapismo em equino. bloqueio do nervo pudendo interno ou o uso de tranquilizantes. O pênis do cão pode ser exteriorizado posicio- Quadro 8.25 - Principais anomalias do pênis e do nando-se o animal em decúbito lateral e, então, prepúcio. empurrando-se o prepúcio para trás com os de- • Frênulo persistente dos de uma das mãos, enquanto a outra expõe o • Hipospadia membro. A técnica para exteriorização do pênis • Nódulos, pústulas, granulomas, papilomas, sarcóides, do gato consiste em retrair o prepúcio com os dedos carcinomas, feridas • Fimose indicador e polegar. Pode-se observar, nos cães, • Postite uma pequena descarga de secreção, que se encontra • Balanite retida no prepúcio. Da mesma forma, nos equi- • Balanopostite nos, o pênis deve ser higienizado antes de se ini- • Parafimose ciar a avaliação. Glossário: mais frequentemente nas partes caudais e com menor • Balanite: inflamação da glande peniana. frequência no prepúcio. Pode ser individual ou • Balanopostite: inflamação simultânea da glande múltipla, com poucos milímetros até lOcm de diâ- e da mucosa prepucial. metro e aspecto de couvc-flor. Transmitida durante • Fimose: incapacidade de exteriorização do pênis em o coito, é extremamente invasiva, podendo de- virtude do alongamento ou estenose do prepúcio. senvolver metástases em outros locais, incluindo • Frêmilopersistente: é a permanência anormal de tecido os órgãos viscerais, pele e encéfalo. No entanto, a conjuntivo entre a glande do pênis e prepúcio. metástase não é de ocorrência comum. Outras anor- • Hipospadia: abertura da uretra ventralmente ao pê malidades do prepúcio e do pênis podem ser ob- nis e caudalmente ao orifício urctral normal. servadas durante a avaliação. • Postite: inflamação do prepúcio. Com exceção do frcnulo peniano persistente, Parafimose e Príapismo os distúrbios penianos congénitos são raros (Qua- A parafimose e o priapismo (Fig. 8.54) possuem dro 8.25). Sempre que possível, o pênis deve ser causas diversas e requerem um cuidado especial. palpado em toda a sua extensão prepucial na tenta- A parafimose é uma condição na qual o pênis é im- tiva de detectar tumefações e aderências aos teci- pedido de retrair para a cavidade prepucial. Em cães, dos vizinhos. A palpação do pênis pode revelar fra- ocorre mais frequentemente após a ereção. Por- turas, tumefações e neoplasias, o que torna a exte- tanto, é observada, muitas vezes, após a colheita riorização do pênis ainda mais difícil. Áreas endu- de sémen e, ocasionalmente, após a cópula. Pode recidas e dolorosas, palpadas ao longo da uretra ocorrer em gatos de pelagem longa, quando o pênis prepucial, podem significar periuretrite secundária fica emaranhado nos pêlos prepuciais. Em touros à estenose uretral. O tumor venéreo transmissível é pode ocorrer como consequência da ruptura espon- a neoplasia mais comum observada no pênis de cães, tânea da túnica albugínea do corpo cavernoso do
  • 79. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 409 pênis. O priapismo é a ereção involuntária & perma- Protrusão Insuficiente do Pênis nente do pênis sem que haja manifestação, por parte do animal, de desejo sexual. E visto nas condições Nesse caso, o pênis não entra em contato dolorosas do pênis, tromboembolismo peniano, com a vulva, devido à exteriorização insuficien- traumas medulares, uretrites e paralisia do nervo te. Em geral, ocorre em virtude do desenvolvi- pudendo. Invariavelmente, o pênis exteriorizado mento de um processo inflamatório, com ede- se torna edemaciado cm virtude do aumento da maciação do prepúcio ou aderências com o pênis. pressão hidrostática causado pelo ingurgitamento A lesão primária da mucosa peniana ou prepucial venoso. Além da lesão provocada pela má circu- pode ser consequência de trauma ou de doença lação, o pênis exposto está sujeito a traumatismo. venérea vesicular. Ocasionalmente, a lesão pri- Na maioria dos casos, a uretra não se encontra mária é uma ruptura da mucosa, em forma de comprometida. A tumefação do pênis também circunferência, na junção do pênis com o prepúcio, pode ser causada por inflamação, porém, em tais após um coito vigoroso. A constrição congénita e a circunstâncias, nem sempre o pênis é deslocado estenose adquirida do orifício prepucial (fimose), para fora do prepúcio. A parafimose de longa du- evitam ou impedem a protrusão do pênis ereto. ração pode resultar em gangrena ou necrose. Não são com segurança através de inspeção e palpação quando o pênis está retraído. Somente durante o acasalamento se pode verificar se a Fimose abertura do orifício é adequada. A protrusão ou Na fimosc, o pênis fica retido na cavidade a extrusão do pênis pode ser prejudicada ou prepucial por causa da diminuição congénita ou impedida por malformações, destacando-se a flexão da glande peniana causada por uma fusão adquirida do orifício prepucial, impedindo a exte- congénita, semelhante a um cordão, entre as riorização do pênis. Muitas vezes a alteração não é membranas mucosas prepucial e peniana (persis- percebida pelo proprietário ou tratador, sendo tência do frênulo). É uma anomalia anatómica identificada quando o animal apresenta inconti- de pouca importância, contudo, é um problema nência urinária cm virtude do acúmulo de urina a ser considerado por limitar o grau de exposição no prepúcio ou quando demonstra incapacidade do pênis e alterar sua angulação (curvatura ventral em copular. A porção livre do pênis, em potros do pênis ereto), tornando o acasalamento difícil neonatos, encontra-sc, normalmente, aderida à lâ- ou impossível. mina prepucial interna durante as primeiras semanas de vida; a completa separação ocorre entre quatro e seis semanas de idade. A fimose adquirida usual- mente ocorre de forma secundária à postite aguda Fratura do Pênis ou crónica ou devido a lesões prepuciais localiza- Essa afecção surge, na maioria dos casos, du- das (abscessos, neoplasias, granulomas). O estreita- rante um empuxo ejaculatório vigoroso. Compre- mento congénito ou adquirido do óstio prepucial ende a ruptura da túnica albugínea com conse- não pode ser avaliado com segurança por meio quente hemorragia do corpo cavernoso, que inunda de inspeção e palpação (pela introdução de um o tecido conjuntivo peripeniano, seguido do de- dedo no orifício prepucial), sendo mais satisfatório senvolvimento de hematoma local. Muitas vezes, o relato de incapacidade de exteriorização do pê- coexiste um prolapso de prepúcio em virtude, nis durante a obtenção da anamnese e/ou pela provavelmente, de o hematoma localizado obs- observação do comportamento sexual. truir o fluxo sanguíneo venoso do prepúcio e/ou interferir na inervação vasomotora local, atraindo, Balanopostite então, a atenção do proprietário ou do tratador. A inflamação ou infecção da cavidade prepucial e do pênis é extremamente comum em cães e touros e rara em gatos. Após trauma do pênis ou EXAME FfSICO do prepúcio, é possível o desenvolvimento de ESPECÍFICO INTERNO infecções bacterianas secundárias. A balanopostite geralmente é caracterizada por corrimento pre- Até certo ponto, os órgãos sexuais internos dos pucial purulento. Em casos avançados pode pro- machos podem ser examinados pela exploração mover adcrências do pênis ao prepúcio. manual ou digital retal. Entretanto, nem sem-
  • 80. 410 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico 3 Quadro 8.26 - Indícios mais comuns do envol- é feita de rotina através da palpação por via retal, vimento prostático em cães. em virtude da maior ocorrência de prostatite, hi- perplasia e neoplasia, quando comparada com • Incontinência urinária equinos, bovinos, ovinos, caprinos e felinos. A lo- • Disquezia e disúria • Hematúria calização precisa varia de acordo com a raça e o tamanho do animal. É bilobada c se localiza, em animais adultos, na entrada da sínfise pélvica. A hipertrofia prostática é comum em animais ido- pré o exame da genitália interna é um procedi- sos não castrados. Muitas ve/.es, a palpação digi- mento fácil, tendo em vista o comportamento tal associada à palpação transabdominal externa, agressivo e não cooperativo de alguns animais. em animais de médio porte c/ou magros, pode A observação de anormalidades como pus, sangue auxiliar na averiguação do tamanho, alteração de ou células inflamatórias no sémen é indicação localização e aumento de sensibilidade. Em al- da necessidade da avaliação das várias estrutu- gumas situações, a palpação pode ser facilitada, ras que compõem a genitália masculina interna. suspendendo-se os membros anteriores do ani- Os animais domésticos, com exceção da espécie mal. Raramente, a próstata dilatada se situa com- canina, apresentam normalmente quatro pares pletamente dentro do canal pélvico. de glândulas acessórias, a saber: Cães com cinco anos ou mais são mais pro- pensos a desenvolver hiperplasia prostática sig- 1. Duas glândulas bulbouretrais nificativa e apresentam alterações secundárias 2. Uma próstata 3. Duas ampolas, as quais envolvem cada seg como disquezia, disúria com incontinência uri- mento terminal dos duetos deferentes nária, independentemente de micção e hema- 4. Um par de glândulas vesiculares túria (Quadro 8.26). Outros sinais inespecíficos, como febre, apatia c dor abdominal aguda, estão frequentemente presentes nas infecções bac- terianas e neoplásicas da próstata. A hiperpla- Glândulas Bulbouretrais sia prostática benigna é o distúrbio prostático As glândulas bulbouretrais são estruturas mais comum no cão. A próstata hiperplásica se ovóides localizadas cm posição caudodorsal à mostra, à palpação por via retal, aumentada, lisa uretra pélvica c estão, quase completamente, e sem reação dolorosa ao toque. A neoplasia cobertas por musculatura estriada, fibrosa no prostática é muito rara em grandes animais e touro e muscular lisa nos outros animais. Como gatos. O adenocarcinoma prostático é a neoplasia descrito anteriormente, não existem nos cães. mais comum da próstata canina. O formato da São difíceis de serem palpadas por via retal em glândula é irregular, com consistência mais firme virtude do espesso revestimento do músculo que o normal. Nesse caso, diferentemente de isquiocavernoso. outros aumentos de volume prostático não nco- plásicos, pode ocorrer uma completa obstrução uretral. A atrofia da próstata é observada em ani- Próstata mais senis, cujo tamanho pode ficar reduzido à A glândula prostática se encontra dorsal à in- metade ou até 25% do tamanho normal, talvez tersecção da uretra pélvica e cm posição caudo- por uma diminuição do estímulo androgênico. dorsal cm relação às glândulas vesiculares. Ela se As doenças da próstata são extremamente raras encontra externamente à uretra pélvica, no colo em gatos. da bexiga. Os cavalos e os ruminantes possuem um corpo prostático em forma de anel, que cir- cunda a próstata. Em bovinos, somente o corpo Quadro 8.27 - Tamanho das glândulas vesiculares da próstata pode ser sentido e apresenta cerca de de equinos e bovinos adultos. l,5cm de largura. Os dois lobos da próstata de • Equinos: 15 a 20cm de comprimento e Sem de equinos são difíceis de serem avaliados pela pal- diâmetro. pação por via retal, sendo mais bem avaliados pela • Bovinos: 10 a 1 5cm de comprimento e 3 a 7cm de ultra-sonografia de imagem. A próstata é a maior diâmetro. glândula sexual acessória dos cães e sua avaliação
  • 81. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 411 Ampolas ramente são sensíveis à manipulação, exceto nos estágios agudos de doenças. As ampolas contribuem para a ejaculação e A presença de dor à micção (estrangúria), à armazenam o esperma em suspensão provenien- defecação (disquezia) e/ou a ocorrência de la- te dos testículos e epidídimos; encontram-se pre- minite nos membros posteriores, de touros, pode sentes nas porções terminais dos duetos deferen- estar associada à inflamação das glândulas vesi- tes dos equinos, ruminantes, cães e gatos. Porém, culares (vesiculite). Durante o exame por via sua palpação somente é realizada em bovinos e retal, o touro manifesta uma reação dolorosa equinos. São detectadas à palpação por via retal, intensa à palpação das glândulas inflamadas. Na movendo-se a mão cranialmente ao longo da ure- vesiculite crónica, a glândula adquire uma con- tra pélvica até que os dois duetos sejam palpados sistência firme, perde a sua lobulação normal e dorsalmente à bexiga. As ampolas se apresentam pode se encontrar aderida às estruturas pélvicas. como um espessamento dos duetos deferentes, A principal causa é a infecção por bactérias do cerca de 2 a 4cm, cranialmente à sua bifurcação. género Erucella. O diâmetro das ampolas nos equinos e bovinos é cerca de 13mm e 8mm, respectivamente, em machos totalmente desenvolvidos; durante a ex- Anéis Inguinais Internos citação, dobram de tamanho, diminuindo após a ejaculação. A inflamação é caracterizada por assi- Os anéis inguinais internos são mais comu- metria, aumento em tamanho (espessura do dedo mente examinados cm equinos, através da palpação mínimo ou até do polegar), perda de elasticida- por via retal, para determinar a localização dos de, rigidez, superfície irregular e mobilidade res- testículos e estruturas presentes dentro do anel trita. Essas alterações ocorrem em quadros de in- inguinal, em animais com suspeita de hérnia in- flamação aguda e crónica. A sensibilidade dolorosa guinal e/ou escrotal. Os anéis são palpados cranial é observada somente nos processos agudos. O e ventralmente à borda pélvica de ambos os lados. aumento exagerado das ampolas, devido a um São estruturas em forma de fenda e não devem processo inflamatório ou neoplásico, induz ao acú- estar aderidas aos intestinos e/ou outras estruturas. mulo excessivo de secreções glandulares e de Dentro de cada anel inguinal interno está o anel esperma, levando à obstrução parcial ou total dos vaginal, onde a artéria espermática e o dueto duetos e ao desenvolvimento de azoospermia. deferente podem, frequentemente, ser palpados. A abertura do canal inguinal, em equinos, possui cerca de 2 a 3cm de diâmetro. A prevalência de hérnia inguinal adquirida em pacientes equinos, Glândulas Vesiculares com cólica, pode chegar a 10%. As glândulas vesiculares são relativamente fáceis de localizar através da parede do reto, ocupando uma posição ventral. As duas glândulas EXAMES COMPLEMENTARES vesiculares formam uma estrutura em Y, para frente, e situam-se de cada lado da uretra pélvica. Devem ser comparadas com relação ao tamanho, Biópsia Testicular simetria, consistência, mobilidade e presença de A biópsia testicular tem sido utilizada em sensibilidade dolorosa. Seu tamanho normal varia associação com a avaliação da qualidade esper- consideravelmente com a idade do animal, sen- mática para o diagnóstico de problemas de ferti- do maiores em animais em reprodução e menores lidade em homens. Essa combinação pode ser em animais jovens e/ou castrados (Quadro 8.27). São lobuladas no touro e lisas no garanhão. Os interessante em Medicina Veterinária, tendo em distúrbios de desenvolvimento embrionário po- vista os parcos e dispendiosos testes existentes dem levar à ausência de ambas as glândulas (raro), para a determinação do perfil hormonal nas di- de apenas uma (mais comum), ou a um desen- ferentes espécies domésticas. A biópsia testicu- volvimento insatisfatório (hipoplasia). À inflama- lar é de particular interesse em casos de asper- ção, as glândulas vesiculares se tornam espessas, mia, pois possibilita o diagnóstico diferencial entre firmes e com as bordas irregulares, exceto no touro, algumas afecções, tais como: obstrução do epidí- no qual se tornam lisas, na maioria das vezes. Ra- dimo, hipoplasia, degeneração testicular e cessação
  • 82. 412 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico da espermatogênese. A biópsia pode ser útil no de comprimento para minimizar o trauma no estabelecimento do diagnóstico e prognóstico de testículo e na vascularização. Um fragmento distúrbios inflamatórios, não inflamatórios e neo- elíptico de tecido é excisado pela túnica e colo- plásicos. Pode ser indicada, também, em animais cado em solução fixadora. Posteriormente, a túnica criptorquídicos, já que os testículos retidos podem e a pele são suturadas. causar uma disfunção testicular, tornando-se fibrosados e/ou neoplásicos. No entanto, a biópsia de testículo, ou seja, a colheita de amostras de Biópsia por Aspiração tecido das gônadas, não é um procedimento de Utilizando-se uma agulha de tamanho apro- rotina e, raramente, realizado devido a possíveis priado, a biópsia pode ser feita com a bolsa tes- complicações. Pode dar origem a distúrbios da ticular fechada ou parcialmente aberta, através da espermatogênese, de longa duração, que, em alguns realização de uma excisão de meio centímetro de casos, tornam-se irreversíveis, como resultado de comprimento na pele, sem atingir o testículo. Ê hemorragias praticamente inevitáveis da túnica necessária, nessa técnica, anestesia local, por in- albugínea, altamente vascularizada, e irritação do filtração na pele, com lidocaína ou mepivacaína. parênquima testicular, por ocasião da colheita da Após a assepsia, a agulha é levemente inserida amostra. Uma simples biópsia unilateral pode levar através da pele, e tecido testicular (biópsias aspi- ao comprometimento da espermatogênese do tes- rativa fechada), ou diretamente dentro do tecido tículo não biópsiado. testicular (biópsia aspirativa aberta). A punção da Os métodos disponíveis incluem biópsias por túnica é quase sempre dolorosa em virtude da exis- excisão ou aspiração, sendo a última utilizada, tência de fibras nervosas sensitivas entre a camada preferencialmente, por ser pouco invasiva e pro- dérmica e a túnica albugínea. A agulha é acoplada vocar menos danos às estruturas testiculares. a uma seringa e feita a sucção à medida que a agulha vai sendo posicionada em diferentes pla- nos do testículo, assegurando uma colheita satis- Biópsia por Excisão fatória de material. O material, uma vez obtido, pode ser imediatamente colocado em uma lâmina Técnica utilizada comumente em pequenos para avaliação histológica ou em solução fixa- animais. Deve-se adotar os procedimentos apro- dora para avaliação histopatológica. priados de contenção para as diferentes espécies. Em pequenos animais, os diferentes procedimen- tos de biópsia devem ser realizados posicionando- MÉTODOS PARA COLHEITA se o paciente em decúbito lateral; nos grandes, mantendo-os em posição quadrupedal, de pre- DE SÉMEN ferência em tronco de contenção. Toda a área Existem vários métodos para colheita de sémen da bolsa testicular é tricotomizada e preparada nos animais domésticos. Alguns não são mais assepticamente (lavagem de toda a bolsa testi- utilizados devido ao aparecimento de técnicas cular com solução degermante e água + solução mais apropriadas; contudo, serão abordados com de iodo-povidona ou similar). É interessante a a finalidade de informação. Convém lembrar que lavagem das porções internas dos membros pos- a escolha do método está condicionada à espécie teriores na região inguinal. Essa preparação do animal, levando-se em consideração, também, as campo cirúrgico é extremamente importante para condições do animal, docilidade e local, para, evitar a penetração de bactérias no testículo. O então, optar pela técnica a ser empregada. Con- uso de tranquilizantes e a infiltração da pele com dições de segurança para se evitar qualquer pos- anestésicos ou, em última instância, a realização sibilidade de acidente com a(s) pessoa(s) envol- de anestesia geral, dependendo do temperamento vida(s) na colheita e com o animal, devem ser do animal, é indicada para a intervenção cirúrgi- observadas em primeira instância. Para melhor ca. O testículo deve ser imobilizado na bolsa tes- compreensão, classificaremos os principais mé- ticular, comprimindo-o na base do escroto e des- todos de colheita, em uso em função do sexo, ou viando-o vcntralmente. Uma incisão é feita ao seja, aplicados ao macho e aplicados à fêmea ou escroto e túnica albugínea, em sua porção ventral. similar. No primeiro caso, temos os seguintes A incisão não deve ser maior que meio centímetro métodos: eletroejaculação, excitação mecânica
  • 83. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 413 do pênis, massagem das ampolas dos duetos o eletrodo, já que a resposta está condicionada deferentes e camisa peniana (codori). ao local excitado, ou seja, excitação mais caudal O primeiro método, um dos mais utilizados, (lombossacral) ou cranial (lombar), respectiva- está disponível para emprego nos ruminantes e mente, promovem a ereção e a ejaculação. A felinos domésticos e selvagens, enquanto que o estimulação dessas regiões também induz a li- da excitação manual do pênis é comumente em- beração de secreções das glândulas sexuais ane- pregado no cão e no touro. Devido à dificuldade xas. A disposição dos nervos eretores e promo- de fazer o animal responder a esse tipo de mani- tores da ejaculação pode levar à obtenção de pulação, é raramente usado no touro. O método sémen com o pênis flácido, semi-ereto, cm ere- da massagem das ampolas pode ser tentado no ção, ereto sem ejaculação ou somente com se- touro e no garanhão quando a colheita do sémen creções das glândulas sexuais. Alguns touros não é necessária e não se dispõe de vagina artificial chegam a exteriorizar o pênis, fazendo com que ou eletroejaculador, métodos de eleição para es- o sémen flua pelo óstio prepucial. No caso do sas espécies, exceto o último, o qual não deve ser bode e carneiro, torna-se necessário exteriori- utilizado no cavalo. A camisa peniana, em raríssimas zar o pênis e mante-lo assim durante o proce- ocasiões, pode ser utilizada no garanhão, desde dimento de colheita. Para tanto, pode-se utili- que não se disponha de uma vagina artificial c a zar uma gaze passada ao redor do pênis, dei- massagem das ampolas não resulte na colheita do xando a glande livre. Entretanto, antes da sémen. Além disso, o garanhão geralmente reluta em receber esse dispositivo de colheita. Assim como o método da massagem das ampolas, esses métodos fornecem um material pobre, isto é, baixo volume e qualidade seminal questionável, servindo apenas para avaliação rápida, quando não se tem outra opção e se quer ter uma ideia da "qualidade espermática" do reprodutor, em nível de campo. Eletroejaculação Introduzida na espécie bovina, após os bons resultados obtidos em ovinos, em 1936, por Gunn. Vários modelos estão disponíveis no mercado, consistindo basicamente de uma fonte Figura 8.53 - Equipamento de eletroejaculação para co- de energia e um eletrodo bipolar (Fig. 8.53), lheita de sémen em touro. em tamanho (comprimento e diâmetro) com- patível para bovinos, ovinos, caprinos e felinos. O equipamento pode ser conectado à tomada ou bateria de automóvel, existindo, ainda, a opção de uma bateria recarregável. Embora de fácil manuseio, requer habilidade para o uso e deve somente ser utilizado por indivíduos trei- nados e com experiência apropriada (Fig. 8.54). Basicamente, estímulos elétricos de baixa mi- liamperagem são desencadeados a intervalos de 3 a 4 segundos, estimulando os centros de ere- ção e ejaculação situados na medula espinal, levando à ejaculação. Estímulos de 200 a 250mA são aumentados progressivamente até que o ani- mal acabe ejaculando ao atingir 500 a 700mA. Face ao comportamento do animal no momento da colheita, pode-se adiantar ou retroceder Figura 8.54 - Introdução do eletrodo bipolar, via transretal.
  • 84. 414 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico exteriorização do pênis, deve-se fazer o animal des e médios animais, deve-se, no mínimo, lavar sentar nos posteriores, o que fará com que a bem a região abdominal, prepúcio e pênis. As- coluna se encurve c ocorra a exteriorização. A sim, em touros, costumamos, primeiramente, in- seguir, deita-se o animal cm decúbito lateral e duzir a micção (Fig. 8.57) c a defecação, aparar inicia-se o procedimento através da colocação os pêlos prepuciais (Fig. 8.58) para, em seguida, do eletrodo via transretal. No caso do touro, além proceder à lavagem pela introdução de uma pi- de um brete de contenção adequado (Fig. 8.55), peta pelo óstio do prepúcio (Fig. 8.59). Então, para se evitar lesões ao animal e ao operador, é efetua-se uma primeira lavagem com Quilol necessário fazer a higienização da região abdo- (anti-séptico), diluído em solução salina minal (Fig. 8.56) e óstio prepucial. A colheita (1:1.000), cerca de um litro, segurando-sc o de sémen com finalidade de exame andrológico prepúcio com a mão direita e massageando-se não necessita de rigorosa higienização, o mes- o pênis externamente para uma boa higienização; mo não ocorrendo quando se deseja colher a despreza-se esse lavado e novamente infunde- amostra para processamento, ou seja, utilização se um litro de solução salina para remoção do de sémen fresco (i n natura) diluído ou não, sé- excesso do anti-séptico. Após secar o óstio, o men refrigerado ou congelado, o que varia de animal já está apto para o procedimento de acordo com a espécie trabalhada. Em se tratan- colheita. Como desvantagens desse método, do de colheita para processamento, em gran- podemos citar a necessidade de equipamento i Figura 8.55 - Brete de contenção para colheita de sémen Figura 8.57 - Indução da micção antes da colheita de com eletroejaculador. sémen através da eletroejaculação. Figura 8.56- Higienização da região abdominal e prepúcio. Figura 8.58 - Tricotomia dos pêlos do óstio prepucial.
  • 85. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 415 e a ocorrência de falsas colheitas (rara), ou seja, Excitação Mecânica do Pênis o animal poderia falhar em ejacular face à inervação da região implicada nos processos de Este método c indicado para colheita de sé- ereção e/ou ejaculação, sendo difícil se obter o men no cão, varrão e, mais raramente, touros de sémen nessa condição. Outra desvantagem é a origem zebuína. Consiste na manipulação do corpo colheita de uma amostra menos concentrada, do pênis, levando à ereção e ejaculação. No cão, por ser um sistema aberto de colheita, com o foi primeiramente praticada por Spallanzani, tubo coletor exposto às condições ambientais obtendo descendentes após a primeira inseminação (queda de pêlos, contaminação por urina, poei- artificial em animais de fecundação interna. Tam- ra, entre outros), pode produzir uma amostra bém denominada de masturbação, é o método de pobre para certificar a qualidade cspermática. eleição para caninos e suínos. Em se tratando do Como vantagens, podemos mencionar a uti- cão, de preferência colocá-lo na presença de uma lização em animais incapacitados para efetuar fêmea no cio ou expô-lo a uma fêmea previamente a monta, devido a problemas nos locomotores preparada, seja pela impregnação da vulva com (articulações, cascos etc.), especialmente nos um swab de muco, de cadela no cio, o qual pode posteriores, a não necessidade de presença de ser mantido congelado, seja pelo emprego áespray uma fêmea e a utilização em animais bravios contendo ferormônios, não facilmente encontrado (Fig. 8.60). à venda no mercado nacional. A seguir, quando o animal estiver cheirando a região perineal da ca- dela, o operador deve se posicionar ao lado es- querdo do animal e com a mão direita enluvada, exteriorizar o pênis, retraindo o prepúcio para além do bulbo e exercer uma leve pressão para que o animal entre em ereção. Lembrar que o prepúcio deve ser retraído antes que ocorra o ingurgitamento total do pênis. A medida que o animal monta, o bulbo da glande deve ser mantido sob pressão contínua ou intermitente para que a ereção seja mantida. Durante a ejaculação, o cão fará urna rotação do pênis em ângulo de 180°, fazendo com que o membro esquerdo passe por cima do braço do indivíduo que está colhendo o sémen. Essa rotação deixará o pênis direcionado caudalmen- Figura 8.59 - Lavagem do prepúcio e pênis com solução te. Movimentos de intromissão do pênis desen- fisiológica. cadearão a ejaculação. Em cães, pode-se distin- guir 3 frações espermáticas: a primeira, denomi- nada pré-espermática (0,5 a 2mL), cuja secreção provém das glândulas uretrais, serve para "lim- par" a uretra e sua emissão dura cerca de 5 a 30 segundos. A 2- fração (l a 3mL), rica em esper- matozóides, dura de 30 segundos a 3 ou 4 minu- tos. As duas frações são ejaculadas durante e imediatamente após os movimentos de intromis- são. Com o pênis voltado para trás, ocorrerá a eliminação da 3§ fração (5 a 30mL), chamada de prostática, a qual possui coloração amarelada e faz com que o animal continue "engatado" na cadela por 5 a 30 minutos. O volume das frações varia grandemente, também, em decorrência do tama- nho do animal. Em suínos, há necessidade de se adestrar o animal para saltar sobre uma fêmea no Figura 8.60 - Touros da raça Nelore (Fazenda Descalvado, cio ou sobre um manequim fixo (phantori). Qphanton Anhembi - SP). é uma armação de ferro, sobre a qual é montada
  • 86. 416 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico trada. O animal deve estar devidamente contido e higienizado, conforme descrito anteriormente. Assim sendo, o técnico deve introduzir a mão através do reto até ultrapassar um pouco o punho, palpar as glândulas vesiculares e iniciar o procedimento de massagem, individualmente. Convém lembrar que essas estruturas variam no aspecto conforme a espécie, sendo lobuladas nos bovinos c lisas nos garanhões. O tempo gasto é variável (2 a 10 minutos), bem como o volume do líquido seminal (3 a lOmL). O tamanho também é variável com o indivíduo. Após a Figura 8.61 - Phanton, utilizado para colheita de sémen massagem para liberação do líquido seminal, em suíno. inicia-se a manipulação das ampolas, uma a uma, no sentido craniocaudal, utilizando-se somente os dedos indicador e polegar. O tempo neces- uma espuma de alta densidade ou similar, coberta sário para se obter o material varia de indivíduo por um couro ou lona resistente (Fig. 8.61). Essa para indivíduo, mas, cm geral, não ultrapassa estrutura é pincelada com secreção de porca no cio 10 minutos, sendo mais comum o gotejamento periodicamente e isso faz com que o cachaço salte do sémen logo nos primeiros minutos da colheita. sobre ela simulando uma cópula. Após a monta do O material colhido, desde que boa parte do animal, o pênis c desviado lateralmente e para baixo, líquido seminal tenha sido eliminado, é rico em exercendo-se uma pressão sobre ele. A extremi- espermatozóides, gotejando por um período de dade da glande deve permanecer livre para que se 2 a 10 minutos ou, mais raramente, em um único colha o sémen adequadamente. O procedimento jato quando o material fica retido na uretra. Mo- dura em média 5 a 15 minutos, considerando as vimentos sobre a uretra pélvica auxiliam na eli- três frações eliminadas. Esse método não requer minação do sémen. Cuidados com o animal, no aparelhos, a não ser um recipiente apropriado para que diz respeito à contenção, higienização, entre receber o sémen, como um tubo aquecido no caso outros, já foram abordados no tópico referente do cão e uma garrafa térmica para o varrão. Ê des- à elctroejaculação, devendo-se seguir os passos tinado a animais devidamente adestrados. mencionados. No entanto, o técnico deve estar com as unhas devidamente aparadas e fazer uso de lubrificante. Esse método é mais recomen- Massagem das Ampolas dos dável para exame andrológico, devido ao fato de o material geralmente apresentar acentuado Duetos Deferentes grau de contaminação por microorganismos, Também conhecido como método america- urina, pêlos, entre outros. no, foi utilizado pela primeira vez em 1934. Esse método é recomendado para bovinos e equinos que não estejam aptos à monta. Serve também Camisa Peniana para se ter uma ideia da qualidade do sémen, Embora já tenha sido utilizada em coelhos, em nível de campo. É interessante manter uma esse método, ainda que raramente empregado, é fêmea no cio perto do animal durante o proce- direcionado para os equídeos, uma vez que a co- dimento. Isso promove uma excitação maior do locação da camisa é facilitada com a exposição do reprodutor. A amostra de sémen, obtida pela pênis e, também, porque o formato do mesmo massagem nas ampolas de Henle e glândulas ve- propicia seu emprego. Sua utilização em equídeos siculares, é lançada na uretra pélvica e posterior- é somente recomendada em casos quando não se mente colhida, em gotas, através do óstio pre- dispõe de uma vagina artificial ou no caso de mas- pucial. Antes de se iniciar a massagem nas ampo- sagem das ampolas de Henle não surtir o efeito las, preconiza-se a massagem das glândulas vesicu- desejável. O animal deve ser dócil, pois o codon lares para se eliminar a maior parte do líquido é colocado com o animal em estado de ereção, o seminal e, assim, colher uma amostra mais concen- que geralmente não é fácil de ser efetuado. Como
  • 87. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 417 desvantagens, podemos citar a dificuldade de se dos no procedimento anterior. Após higicnização colocar e retirar a camisa peniana, sua ruptura da genitália externa da fêmea e do macho, coloca- e/ou queda e, ainda, contaminação por urina. O se uma esponja no fundo vaginal com ajuda do sémen colhido, dependendo da qualidade e especulo. O esperma será parcialmente absorvido volume, pode ser utilizado para processamento; pela esponja, a qual será, posteriormente, retirada, contudo, o método não c nada prático, além de espremida ou lavada com diluentc apropriado para não apresentar nenhuma vantagem que torne sua recuperação do material em frasco estéril. Gomo aplicação rotineira. inconvenientes, podemos citar a perda de parte da amostra, a qual ficará retida na esponja e, ainda, provável traumatismo sobre as células espermáti- MÉTODOS PARA COLHEITA cas quando do ato de espremer a esponja. APLICADOS EM FÊMEAS Com relação aos principais métodos aplicados à Coletor Vaginal fêmea ou similares, podemos citar: colheita direta- mente da cavidade vaginal ou uterina, esponja Raramente empregado, é indicado quando não inserida na cavidade vaginal, coletor vaginal c, o se dispõe de vagina artificial, eletroejacualdor e a mais difundido, o método da vagina artificial. Os massagem das ampolas dos duetos deferentes não três primeiros são raramente utilizados e sob con- oferece amostra suficiente. Esse dispositivo pode dições extremas, nas quais se deseja apenas ob- ser de borracha, plástico ou vidro e tem sua forma servara "qualidade" do sémen, não servindo para e tamanho condicionados à espécie animal na qual processamento. será utilizado. Deve ser inserido imediatamente antes da cópula. Os dispositivos de borracha são mais difíceis de serem colocados, tendo como desvantagens a possibilidade de um maior tempo de contato com Colheita da Cavidade o sémen e a saída deste durante a cópula. Vaginal ou Uterina Embora possa ser empregada em bovinos, Vagina Artificial equídeos, caprinos, ovinos e cães, não oferece amostra de qualidade e, como mencionado, não se De longe, o método de eleição para se co- presta para processamento com finalidade de in- lher sémen na maioria das espécies domésticas. seminação artificial. Nesse caso, deixa-se a fêmea Por meio dessa técnica c possível colher uma ser montada e, após a cópula, recolhe-se o sémen amostra espermática semelhante em qualidade depositado na vagina. Em se tratando da égua, o e volume à ejaculada durante a cópula. O ani- sémen pode ser obtido a partir do útero, já que mal ejaculará em um dispositivo que simula uma nessa espécie, parte do ejaculado penetra na cavi- vagina natural, obtendo-se, assim, um sémen com- dade uterina (ejaculação intrauterina). A colheita parável ao método natural. Pode ser utilizado em do material pode ser realizada por meio de pipeta, bovinos, equídeos, ovinos, caprinos, gatos, cães seringa acoplada a um equipo de sorotcrapia ou e suínos. Nas duas últimas espécies, não é o similar. A única vantagem é seu baixo custo, pois método mais utilizado, sendo a técnica da ma- pequena porção do sémen pode ser recuperada, nipulação peniana (masturbação) preconizada. estando ainda misturada às secreções e células das Embora largamente utilizada em ruminantes e referidas cavidades. Propicia a propagação de equinos, a vagina artificial teve seu primeiro doenças e diminuição da capacidade de fertilização emprego na espécie canina e, a partir daí, dife- dos espermatozóides. rentes modelos foram sendo criados e adapta- dos às outras espécies domésticas, à medida que a inseminação artificial foi ganhando espaço. O sémen é colhido em condições próximas da ideal Esponja Inserida na Cavidade Vaginal para posterior análise com finalidade de exame Essa técnica pode ser aplicada nos animais espermático e emprego para processamento, domésticos, exceto no varrão e no gato, embora principalmente para uso de sémen refrigerado e não seja de uso corrente pelos motivos menciona- congelado, na dependência da espécie. À parte
  • 88. 418 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Figura 8.62 - Fêmea bovina utilizada como manequim para colheita de sémen através de vagina artificial. os diferentes modelos existentes para emprego de cio, acabe aceitando a monta sem maiores pro- nas espécies citadas c as considerações iniciais blemas. Deve-se, entretanto, contê-la adequa- com relação à contenção e higicnização da geni- damente, assim como no caso de manequins vivos tália externa, essa técnica permite a utilização para as espécies bovina e equina. Como consi- de manequins fixos (phanton) ou móveis, podendo derado anteriormente, a vagina artificial varia em ser utilizada, no caso de colheita de sémen do comprimento, diâmetro e forma de acordo com touro, uma vaca no cio ou não (Fig. 8.62), um a espécie (Fig. 8.63). Contudo, de modo geral, é garrote ou um touro dócil. Para o garanhão reco- constituída por um tubo rígido de borracha, couro menda-se uma égua no cio ou dócil ou mane- ou metal, o qual é revestido internamente por quim fixo. Para pequenos ruminantes, devido à uma borracha de látex presa nas extremidades. docilidade desses animais, o manequim vivo c o Entre a parede interna da vagina c a borracha mais utilizado, sendo necessário apenas um cur- de látex será colocada água a 45 - 48"C, depen- to período de adaptação para que a fêmea, fora dendo da época do ano (Fig. 8.64). A água, a essa Figura 8.63 - A vagina artificial varia em comprimento, Figura 8.64 - Coloca-se água a 45 - 48°C entre a parede diâmetro e forma de acordo com a espécie. interna da vagina artificial e a borracha de látex.
  • 89. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 419 temperatura, aquece a vagina como um todo, equi- logo o animal ejacule e desmonte, a vagina deve librando-a antes da colheita; à colheita, sua tem- ser posicionada na vertical para se evitar a perda peratura deverá situar-se entre 41 e 43°C (Fig. de sémen. No caso do garanhão, deve-se espe- 8.65). O tempo de colheita varia de espécie para rar que ele retire o pênis da vagina, uma vez que espécie, sendo extremamente rápida nos rumi- nessa espécie o pênis chega a triplicar de volu- nantes (segundos), de média duração nos me ao momento da ejaculação. O tubo coletor equídeos (l a 2 minutos) e longa duração no varrão ou similar deve proteger o sémen de fatores c cão (5 a 20 minutos). No caso do garanhão, externos, como da exposição à luz solar, tempe- devido ao tipo de cópula, na qual o animal friccio- ratura externa, entre outros. Em touros, é acon- na o pênis várias vezes antes de ejacular, há ne- selhável executar duas ou três montas falsas (frus- cessidade de se lubrificar a vagina internamente tradas), isto é, fazer com que o animal salte so- em toda a sua extensão com vaselina neutra, bre o manequim, mas tenha seu pênis desviado geléia KY, lubrificante HR ou similar. A quanti- lateralmente sem apresentar-lhe a vagina. Essa dade de lubrificante não pode ser excessiva, já conduta excita o animal e faz com que a amostra que o pênis do animal deve sentir o contato com seminal fique mais concentrada, pois o animal •í parede interna da vagina artificial. Além disso, eliminará considerável volume de líquido seminal. o lubrificante em excesso, aliado à temperatura, Uma 2- amostra pode ser colhida após um período pode dissolver c acabar contaminando o sémen. de descanso de 20 a 30 minutos. Nos ruminan- A quantidade de água a ser colocada na vagina tes, após colocar a água pode-se, também, insu- artificial depende do modelo, da espécie e, ain- flar ar pela válvula existente na parte externa. da, do animal, variando de 200mL a 2-3L. O Isto faz com que a parede interna da vagina procedimento de colheita é fácil de ser executa- artificial comprima ainda mais a base do pênis, do, com um pouco mais de trabalho no caso do simulando os músculos vulvovaginais. Em se garanhão, devido ao seu comportamento mais tratando de suíno, devido ao fato dessa espécie fogoso. Basicamente, independente da espécie, aceitar facilmente o manequim fixo, a colheita o operador deve posicionar-se ao lado direito do não oferece maiores problemas. Assim que o macho. Assim que o animal saltar sobre o ma- animal efetua a monta, o operador segura a glande nequim, seu pênis deve ser desviado lateralmente exercendo forte pressão, para que o animal com- com a mão esquerda, deixando que o animal faça plete a ereção e torne possível a penetração do a intromissão do membro (pênis) na vagina artificial, a qual deve ser firmemente segurada pênis na vagina. Embora pouco utilizada em com a mão direita. A vagina deve ser mantida em um ângulo de aproximadamente 45° para facilitar a intromissão do pênis (Fig. 8.66). Tão Figura 8.66 - O operador deve se posicionar ao lado di- Figura 8.65 - A temperatura da vagina artificial, à colheita, reito do macho, deixando que o animal faça a intromissão deve estar entre 41 e 43°C. do pênis na vagina artificial.
  • 90. 420 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico suínos e cães, o procedimento em caninos asse- após a realização de um único exame andrológico. melha-se, de modo geral, ao adotado para os Somente o espermograma não é suficiente para suínos, lembrando apenas que, em cães, ocorre atestar à integridade morfofuncional do aparelho a rotação do pênis à ejaculação e, dessa forma, o reprodutor; sendo assim, o histórico da vida re- operador deve acompanhar o movimento exe- produtiva do animal c o exame físico são de suma cutado para viabilizar a colheita. Aqui cabe importância para orientar e concluir sobre a apti- considerar, também, o tamanho do animal; con- dão reprodutiva do animal. Como a produção tudo, como mencionado, não é o método de elei- espcrmática é contínua, deve-se conhecer e res- ção para essa espécie. Como grande vantagem peitar o período de formação dos espcrmatozói- da vagina artificial, pode-se citar a simulação de des (espcrmatogênese), bem como a época do ano uma cópula natural, obtendo-se um ejaculado de e condições sanitárias e nutricionais, às quais es- qualidade. A limitação para seu emprego reside tão submetidos os animais. O método de colheita nos casos de animais bravios, com problemas da amostra de sémen, respeitando o(s) método(s) locomotores (especialmente nos posteriores) e, indicado(s) para as diferentes espécies domésti- mais raramente, em animais que não se adaptam cas, deve ser levado em conta quando da inter- a esse tipo de manejo. Se fosse o método de elei- pretação dos achados. O exame das característi- ção para cães, diferentes tamanhos de vagina se- cas físicas, químicas e microscópicas deve ser rea- riam necessários, face à grande variação de porte lizado sob condições adequadas de temperatura, dos animais dessa espécie. Convém salientar que, tempo de execução, bem como material, equipa- independentemente da espécie e, ainda que um mento, soluções, meios e corantes apropriados. manequim fixo seja adotado, a presença de uma De um modo geral, os exames a serem realizados fêmea no cio (Fig. 8.67) excita o animal e uma não diferem de espécie para espécie. Logo após amostra seminal de melhor qualidade, com a colheita, o sémen deve ser encaminhado para o certeza, será obtida. laboratório o mais rapidamente possível, protegi- do da luminosidade, temperatura externa etc. O laboratório deve, de preferência, ser conjugado ANÁLISE ESPERMÁTICA ao local de colheita e os equipamentos e mate- riais necessários (placa aquecedora, banho-maria, O exame do sémen (espcrmograma) somente pode pipetas, ponteiras, lâminas/lamínulas etc.), para ser considerado confiável se todo o procedimen- manipulação do sémen, acertados para a tempe- to, desde o preparo do animal (higienização), la- ratura desejada (Fig. 8.68). A amostra deve ser vagem e esterilização dos materiais e um indiví- colocada em banho-maria a 32 - 37°C e mantida duo capacitado, conhecedor das particularidades ai durante todo o procedimento. Entretanto, antes das espécies, for levado em consideração. Deve- de se efetuar o exame microscópico, o sémen deve se, também, tomar cuidado para não cometer ser avaliado com base nas suas características fí- enganos que comprometam a certificação sobre a sicas e químicas, principalmente físicas. Os exa- capacidade coeundi e/ou generandi do reprodutor, mes de densidade, capacidades respiratória, Figura 8.67 - Manifestação de cio em égua.
  • 91. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 421 Figura 8.68 - O laboratório deve estar conjugado ao local de colheita e os equipa- mentos, necessários para manipulação do sémen, acertados para a temperatura desejada. frutolítica e desidrogenante e pH, devem ser dutor ou devido a alterações patológicas (estcno- desconsiderados e realizados somente sob deter- se, obstrução etc.), nos condutos de ejaculação. minadas condições, ou seja, cm pesquisa, ensino O teste de exaustão, utilizado em casos de sus- ou quando julgado imprescindível por algum mo- peita de disfunção epididimária, reduz sensivel- tivo específico. Esses testes não fazem parte da mente o volume colhido à medida que sucessi- rotina de exames a serem efetuados, não compro- vas ejaculações se sucedem. metendo de maneira alguma o resultado do es- permograma. Descreveremos, a seguir, os suces- sivos testes a serem efetuados, os quais compõem Aspecto o espermograma e que, juntamente com os dados sobre histórico e exame físico específico, já men- . cionados, fornecerão os subsídios necessários para Essa característica proporciona uma rápida se concluir sobre a capacidade reprodutiva do ani- ideia sobre a qualidade da amostra, logo à colheita. mal na data de colheita e de realização do exame. Em ruminantes, a concentração espermática pode ser estimada com base na aparência do sémen, da mesma forma que se tem uma boa ideia da Volume motilidade e vigor dos espermatozóides. De modo geral, varia de cremoso (fino ou denso), leitoso, Apresenta grande variação conforme a espé- soroso e aquoso (ralo). Deve-se levar em conta cie, tamanho do animal, época do ano, alimenta- que, em caninos, devido às diferentes frações ção, regime e método de colheita, entre outros. colhidas, o aspecto varia, o mesmo não aconte- Assim, pode-se esperar, por exemplo, um maior cendo nos ruminantes e equídeos. Contudo, esse volume quando se colhe o sémen por meio da tipo de avaliação somente fornece uma noção a eletroejaculação em comparação com o método respeito do ejaculado, não podendo em hipótese da vagina artificial, embora não ocorra, de modo alguma substituir o exame para verificação da con- geral, ficando também na dependência da habi- centração espermática. O aspecto transparente lidade do operador. A época do ano parece estar pode indicar pequena quantidade de espermato- mais relacionada com a qualidade espermática do zóides (oligozoospermia) ou mesmo ausência que com o volume. Já diferença marcante pode (azoospermia). ser observada entre um animal em repouso sexual e outro em atividade. Contudo, o volume, dentre as demais características a serem comentadas, não Quadro 8.28 - Volume médio de sémen obtido é fator limitante para a execução da análise es- em espécies domésticas. permática, podendo ser no caso de aproveitamento Espécie Volume (mL) da amostra para fins de inseminação. O Quadro Bovina 0, 5 - 20 30 - 340 0, 5 - 3 0,2 - 8.28 mostra os valores médios limites para as Equina 2,5 2 - 3 5 1 0 0- 5 0 0 espécies domésticas em consideração. A ausên- Ovina cia de sémen (aspermia), embora de ocorrência Caprina Canina rara, pode ocorrer após uso excessivo do repro- Suína
  • 92. 422 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico Odor O exame microscópico do sémen requer um indivíduo com larga experiência, uma vez que certos Na maioria das vezes é imperceptível (sui testes realizados ao microscópio são de natureza generís); contudo, em casos de contaminação por subjetiva (turbilhonamento, motilidade individual urina, pus e/ou sangue, assume odor caracte- e vigor) necessitando, assim, de longo período de rístico. Embora seja um exame de pronta obser- prática laboratorial para se estimar e classificar vação, às vezes, é negligenciado ou esquecido adequadamente a amostra sob análise (Fig. 8.69). por técnicos que atuam em nível de campo. En- Embora equipamento computadorizado específico tretanto, pode indicar problemas existentes na para esse tipo de análise já esteja disponível no vias genitourinárias ou na micção ao ato da eja- mercado, sua utilização em rotina não se justifica, culação, fato não raro de acontecer quando se pois a subjetividade do exame ao microscópio, para colhe sémen por meio de eletroejaculação no as características espermáticas mencionadas, não touro e vagina artificial em certos garanhões. A compromete de modo algum a análise da amostra. simples contaminação por urina já torna Além disso, o custo elevado do equipamento desnecessária a continuidade dos exames, uma somente indica sua aquisição para trabalhos em vez que afeta sobremaneira a viabilidade csper- pesquisa. O exame para se verificar a concentra- mática. Portanto, ainda que desprezado por al- ção espcrmática pode ser feito em câmara guns, não deve ser abolido do rol de exames a empregada em hematometria ou de maneira mais serem feitos. sofisticada, através de contador de células, espec- trofotômetro, entre outros. Entretanto, convém lembrar que o emprego desses recursos sofistica- Cor dos para contagem de espermatozóides é de uso mais comum nas centrais de colheita de sémen, já De maneira similar aos outros caracteres es- que facilita a execução dos exames, face ao grande permáticos já mencionados, a cor do sémen varia número de amostras a serem analisadas. A avalia- de espécie para espécie e, ainda, quando alguma ção morfológica das células espermáticas é de suma condição patológica estiver presente. Contudo, importância para se certificar a capacidadegenerandi mesmo dentro da mesma espécie, estará na de- do reprodutor, requerendo um indivíduo capaz de pendência de variabilidade de cor de amostras com identificar as diferentes anormalidades (defeitos), diferentes concentrações ou que apresentem, fi- algumas delas de difícil visualização. A ocorrência siologicamente, presença de flavinas. Assim, em- de graves e/ou inúmeras anormalidades, dependendo bora seja mais comum a cor branca ou branco-pérola do tipo e frequência, pode sugerir o local apresen- para o sémen do touro, alguns animais mostram coloração amarelo-citrino (atípica), devido à pre- sença da flavina. O sémen do carneiro e do bode geralmente é branco-pérola ou marfim; o do bode pode apresentar coloração amarelada como des- crito para o touro. Com relação ao garanhão, jumento c cão, de modo geral, predomina a cor branca, indo até a branca-acinzentada, na depen- dência da colheita separada ou não das diferen- tes frações. No caso do garanhão, deve-sc conside- rar, também, a presença da fração gel, a qual deve ser desprezada para efeito de análise e/ou pro- cessamento do sémen. Deve-se atentar para colorações diferentes das citadas, as quais podem indicar processos patológicos ou contaminações. As cores vermelha, esverdeada ou amarelada es- tão relacionadas, respectivamente, com a presença de sangue, pus e urina. A coloração vermelha, variando de tonalidade, pode indicar a ocorrência de sangue fresco (vermelho-vivo) ou já com de- Figura 8.69 - O exame microscópico do sémen requer gradação da hemoglobina (marrom). profissional com prática laboratorial.
  • 93. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 423 tando a alteração. Descreveremos a seguir os exa- do aspecto da amostra (cremoso a seroso), de uma mes microscópicos de rotina, imprescindíveis de a quatro gotas de sémen devem ser colocadas em serem realizados, lembrando que o espcrmograma um tubo de ensaio com cerca de ImL da solução de compreende todos os testes realizados, ou seja, citrato de sódio 2,94% ou similar (solução fisiológi- exames físicos, químicos (quando houver) c mi- ca, ringer com lactato etc.) para pronta avaliação. croscópicos do scmen. Uma gota colocada sobre uma lâmina de microscopia e coberta por uma lamínula c examinada em mi- croscópio óptico comum ou contraste de fase (ideal), Motilidade ao aumento de 200 a 4()()x. Para as espécies domés- ticas mencionadas, a motilidade individual não deve Do ponto de vista genético, a motilidade dos ser inferior a 60-70%, percentual que indica um sa- espermatozóides apresenta repetibilidadc mais tisfatório potencial para a reprodução. Valores de 30 baixa que a da circunferência escrotal e da mor- a 59% são considerados questionáveis e abaixo disso, fologia cspermática, sendo menos correlacionada insatisfatórios. Os espermatozóides apresentam com a fertilidade. Deve ser realizado imediata- movimentos distintos. Contudo, somente movimen- mente após a colheita do sémen. Sofre influên- tos do tipo retilíneo progressivo e circular aberto cia dircta do tempo, da temperatura, concentra- devem ser levados cm consideração quando se estima ção, contaminação e método de avaliação. É uma a motilidade individual. Outros tipos, como circular das principais características que se deve consi- fechado, oscilatório e retrógrado, devem ser descon- derar na avaliação da capacidade fecundante do siderados na avaliação de motilidade individual. sémen (capacidade generandí). Embora alta Atentar para o fato de que soluções hipertônicas motilidade indique uma elevada porcentagem de dificultam a motilidade espermática. O movimen- células vivas, uma amostra apresentando motili- to retilíneo progressivo resulta da rotação do esper- dade menor pode não ser significante se outras matozóide sobre seu próprio eixo e, também, da ação características estiverem normais. O material a ser propulsora da cauda. Os movimentos indesejáveis empregado, isto é, lâmina, lamínula, tubos de en- podem ser oriundos de fatorcs externos, como choque saio, entre outros, deve estar devidamente limpo térmico e ação de meios hipotônicos, os quais e esterilizado, bem como a uma temperatura ao promovem o encurvamento da cauda, levando a redor de 37°C. Da mesma forma, o banho-maria movimento do tipo circular. Movimentos oscilató- e a placa aquecedora devem estar acertados à mes- rios estão relacionados com amostras envelhecidas ma temperatura. Esse procedimento visa evitar o ou demora na execução do exame. A presença de choque térmico, o qual é extremamente nocivo gota protoplasmática distai está associada com mo- aos espermatozóides. O exame de motilidade vimentos retrógrados. O vigor do movimento está di- compreende a avaliação da motilidade de massa retamente associado com a concentração espermática. (turbilhonamento), motilidade individual e vigor. Amostras com alta porcentagem de motilidade Para o exame de motilidade de massa, aplicado individual apresentam, salvo raríssimas exccções, es- somente aos ruminantes, dentre as espécies abor- permatozóides com vigor atingindo o escore mais dadas, deve-se colocar uma gota de sémen in natura elevado, numa classificação variando de O a 5. O sobre uma lâmina de microscopia e examinar ao menor valor (0) implica numa amostra com ausên- microscópio sob aumento de lOOx. Os turbilhões cia de movimento, enquanto 5 indicaria uma amos- formados, semelhantes às ondas, são graduados tra na qual os espermatozóides exibem enérgicos de l a 4, conforme sua atividade: 4 = turbilhões movimentos progressivos. muito ativos (ondas vigorosas e rápidas); 3 = turbi- lhões ativos (ondas mais lentas); 2 = turbilhões lentos (sem ondas, mas com oscilação); l = ausência de Concentração Espermática turbilhões (às vezes, somente tremulante). O exame de motilidade individual apresenta Sem dúvida, é um dos parâmetros espermáti- pequena variação na sua condução, na dependên- cos que apresenta maior variação entre as espé- cia da espécie. Assim, o sémen dos ruminantes, de- cies c, inclusive, no próprio animal. A medida da vido à sua alta concentração cspermática, precisa ser circunferência escrotal (CE), como método para previamente diluído para que a motilidade indivi- predizer o potencial de produção de espermato- dual possa ser estimada. No caso de cães, às vezes, zóides, é bastante acurado no touro. Sua correla- esse procedimento pode ser necessário. Dependendo ção é altamente significativa com o peso do parên-
  • 94. 424 Semiologia Veterinária: A Arte do Diagnóstico quima testicular. Desde que a heritabilidade do espermatozóides/mm3, o que corresponde a 800 X tamanho do testículo tem sido relatada ser de 106/mL. Se o volume de sémen colhido for de 4mL, moderada a alta (0,45 a 0,75), a seleção baseada na então, o total de espermatozóides será de 3.200 x medida da cireunferência escrotal oferece a IO6 no ejaculado. oportunidade para melhorar a capacidade repro- dutiva. No touro, especialmente, de corte, existe Glossário: alta correlação entre a medida da CE e a idade na • Acinesia: ausência de motilidade qual a fêmea (progénie) alcança a puberdade (0,71 • Aspermia: ausência de ejaculado a 1,07). O Quadro 8.29 mostra os valores limites • Astenospermia: debilidade de movimentação do (médios), nos diferentes animais domésticos. cspermatozóide Para a contagem das células espermáticas deve- • Azoospermia: ausência de espermatozóides no se considerar, em primeiro lugar, o aspecto da ejaculado amostra, uma vez que sua concentração aparente • Hemospermla: presença de sangue no ejaculado proporcionará a escolha da diluição a ser emprega- • Necrospermia: ejaculado com a totalidade ou quase todos os espermatozóidcs mortos da. De modo geral, para amostras de sémen de • Oligospermia: pequeno volume de ejaculado ruminantes, adota-sc a diluição de 1:200 ou 1:400; • Oligozoospermia: número baixo de espermatozói- para equídeos, cão e cachaço, diluições variando des no ejaculado entre 1:25 a 1:100 são praticadas. Quanto maior for • Piospermia: presença de piócitos no ejaculado a concentração da amostra, maior será a diluição. • Teratospermia: formas tcratológicas do esperma- Como método prático para as diferentes espécies, tozóide pode-se adotar como regra geral a adição de 20u.L de sémen em 4, 2 ou l mL de solução de citrato de sódio ou solução salina (com formol) para se obter, Morfologia Espermática respectivamente, diluições de 1:200, 1:100 e 1:50. Isso pode ser feito com uma micropipeta ou pipeta A presença de células espermáticas normais de Sahli. Pipetas para glóbulos vermelhos ou brancos tem alta correlação com a circunferência escrotal. também podem ser utilizadas. Após montagem da O aparecimento de formas anormais (defeitos) está câmara hematimétrica e colocação da amostra, deve- diretamente relacionado com fertilidade diminuí- se proceder à contagem conforme adotada em he- da. Em 1934, Langerlof introduziu a contagem matometria. De modo geral, contam-se cinco qua- diferencial de células para grupos de anormali- drados médios (80 pequenos) e o número de es- dades. A condição morfológica das células esper- permatozóides contados (NEC) deve ser multipli- máticas é uma reflexão da cspermatogênese, a qual, cado pela constante referente àquela diluição, ou se prejudicada, resulta na produção anormal de seja, para diluições de 1:200, 1:100, 1:50 e 1:25, células espermáticas. A associação com baixa fer- multiplica-se, respectivamente, o NEC por, 10.000, tilidade se dará quando a incidência de defeitos 5.000, 2.500 e 1.250. O valor obtido mostra o nú- morfológicos sérios, chamados de maiores, exce- mero de espcrmatozóides (NE) por mm3. Para se der o limite estabelecido para cada espécie. En- obter o NE por mL, basta multiplicar por 1.000. tretanto, de modo geral, não se aceita defeitos totais Assim, por exemplo, se para uma amostra de sémen maiores que 30%. Os chamados defeitos primários de touro for adotada a diluição de 1:200 e, à ocorrem nos testículos durante a espcrmatogênese contagem, forem observados 80 espermatozóides, e são sempre defeitos maiores, afetando seriamen- isso significa que, naquela amostra, existem 800.000 te a fertilidade. Já defeitos que aparecem nos es- permatozóides após a saída dos testículos, são cha- mados de defeitos secundários c são de menor im- portância (defeitos menores). Na realidade, o im- Quadro 8,29 - Concentração espermática em portante é verificar a proporção em que ocorrem. animais domésticos. Embora a maioria dos defeitos secundários não Animal Concentração (mm3) seja tão séria quanto os primários e não afete a Touro 300.000 a 2.000.000 30.000 a 800.000 fertilidade, a menos que presentes em grande Garanhão 2.000.000 a 5.000.000 1.000.000 a Carneiro 5.000.000 60.000 a 300.000 número, alguns defeitos secundários podem ter Bode maior associação com a diminuição da fertilidade Cão que alguns defeitos primários. Por exemplo, caudas acessórias (1a) em comparação com defeito "Dag"
  • 95. Semiologia do Sistema Reprodutor Masculino 425 (2a ). Se um defeito de cauda torna uma célula BIBLIOGRAFIA espermática imóvel, então, ela não será capaz de alcançar o ovócito e, assim, será inútil para a fer- ANDRADE, S. L. Fisiologia e Manejo da Reprodução F.quina. tilização. Já um defeito de acrossoma impedirá o Recife: O autor. 1983. 388p. espermatozóide de atravessar a zona pelúcida e ARTHUR, G.H. Reprodução e Obstetrícia Veterinária. 4.ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1979. 573p. defeitos nucleares não promoverão a fertilização BLANC11ARD, T.L, VARNER, D.D., SCIIUMACHER, ou levarão à morte embrionária precoce. Alguns J. Manual of E quine Reproduction. St. Louis: Mosby-Year graus de defeitos nucleares são mais sérios (maiores) Book, Inc. 1998. 209p. que defeitos de cauda ou defeitos de acrossoma, CHRIST1ANSEN, I.B.J. Reprodução no Cão e Gato. l.cd., pois uma célula espermática com um defeito nu- São Paulo: Manolc. 1998. 362 p. clear pode provocar a reação de fertilização e, dessa COLAHAN, P.T., MAYHEW, I.G., MERRITT, A.M., forma, impedir que um espermatozóide normal fer- MOORE, J.N. Ef/uine Medicine and Surgery. Califórnia: tilize o ovócito. O esfregaço do sémen deve ser American Veterinary Publications LTDA. 4.ed., p.861- preparado imediatamente após a obtenção da 947, 1991. 1860p. amostra. Diferentes corantes e técnicas podem ser CUNNINGHAM, J.G. Tratado de Fisiologia Veterinária. 2.ed., utilizados, de acordo com a finalidade e a espécie. Editora Guanabara Koogan, 1999. 528p. er literatura especializada sobre o assunto. O exame GUYTON, A.C. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janei- ro: Guanabara Koogan. 8.ed., 699-719, 1992. 864p. do esfregaço corado não requer microscópio HAFEZ, E.S.E. Reprodução Mimai. 4.cd., São Paulo: Manole. sofisticado. Outro exame, o da câmara úmida, 1988. 720p. também deve ser realizado e, para tal, deve-se colher HARDY, R.M. General physical cxamination of the canine uma pequena amostra, por exemplo, uma gota de patient. Veterinary Clinics of North America: Small Animal sémen, e depositá-la em um recipiente com cerca Practice. v.ll, n.3, p.4.S3-67, 1981. de ImL de solução de citrato de sódio formolado. HERMAN, H.A., M1TCHELL, J.R., DOAK, G.A. The Ar- Esse material, fixado, pode ser guardado em gela- tificial Inseminarion and Embryotransfer ofDairy andBeef deira para posterior análise. Cerca de 10|lL da Catlle. Danville: Interestate Publishers, Inc. 1994. 517p. amostra fixada deve ser colocada sobre lâmina de KELLY, W.R. Diagnóstico Clínico Veterinário. 3.ed. Rio de microscopia, com uma lamínula, e analisada ao Janeiro: Interamericana. 1986. 364p. microscópio com contraste de fase, ao aumento de KOBLUK, C.N., AMES, T.R., GEOR, RJ. The Horse: Di- seases and Clinicai Management. Philadelphia: W. B. l.OOOx. Menor aumento ou microscópio de menor Saunders Company, v.2, p.937-72, 1995. 1336p. resolução pode resultar em defeitos não reconhe- McKINNON, A.O., VOSS, J.L. Equine Reproduction. Phila- cidos ou de interpretação errónea, podendo levar delphia: Lea & Febiger, 1993, 1137p. a um falso diagnóstico. O ideal é realizar os dois MIALOT, J.P. Patologia da Reprodução dos Carnívoros Do- exames, ou seja, o da lâmina corada e o da câmara mésticos. Porto Alegre: A hora veterinária, 1988. 160p. úmida, já que algumas alterações aparecem mais MIES FILHO, A. Reprodução dos Animais e Inseminação bem definidas em um ou outro tipo de exame. Artificial. 6.ed., Porto Alegre: Sulina. 1987. 750p. As alterações morfológicas do espermatozóide MORROW, D.A. Current Therapy in Theriogenology, Diagnosis podem atingir as diferentes partes que o consti- Treatment and Prevention of Reproductive Diseases in Ani- tuem, ou seja, cabeça (acrossoma e núcleo), colo, mal. Philadelphia: Saunders, 1980. 1287p. peça intermediária e cauda. Não é rara a ocorrência NELSON, R.W., COUTO, C.G. Fundamentos de Medicina Interna de Pequenos Animais. Rio de Janeiro: Guanabara de duas ou mais anormalidades atingindo um Koogan, p.502-30, 1992. 737p. mesmo espermatozóide. O limite aceitável para NOVAKES, D.E. Fertilidade e Obstetrícia em Bovinos. São Paulo: a ocorrência de defeitos menores, maiores e totais Varela. 1991. 139p. varia com a espécie e deve seguir regulamenta- RADOSTITS, O.M., JOE MAYHEW, I.G., HOUSTON, ção oficial quando da análise da amostra e certi- D.M. Veterinary Clinicai Examination and Diagnosis. W.B. ficação da mesma. Alguns defeitos são aceitáveis Saunders, 2000. 771 p. para uma espécie e não para outra. Outros tipos ROSEMBERGER, G., DIRKSEN, G., GRUNDER, H., de células podem estar presentes no sémen, tais STOBER, M. Exame Clínico dos Bovinos. 3.cd., Rio de como: células inflamatórias, glóbulos vermelhos, Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. 419p. leveduras, medusas, bactérias, entre outras. Para ROSSDALE, P.D., RICKETTS, S.W. Medicina Pratica en el a descrição e interpretação do significado de cada Haras. Buenos Aires: Editorial Hemisfério Sur, 1979.464p. SPEIRS, V.C. Exame Clínico de Equinos. Porto Alegre: Artmed, patologia espermática, aconselha-se consultar li- p.223-36, 1999. 366p. teratura específica.