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COMO ESCREVER UM ARTIGO
O gênero textual ARTIGO pode ser científico ou de opinião. O gênero textual artigo
científico refere-se à apresentação de um relatório escrito de estudos a respeito de uma
questão específica ou à divulgação de resultados de uma pesquisa realizada. O artigo de
opinião diz algo em relação ao que já foi dito, ou seja, é escrito com base em uma notícia
ou uma reportagem, uma música, um romance, um fato, etc.
Podemos notar que, tanto um quanto o outro, é escrito para fazer o leitor aderir ao
ponto de vista do produtor, negando e criticando opiniões diferentes das apresentadas. Isto
é feito por meio de argumentações (apresentação de provas à favor ou contrárias a uma
ideia, um fato, uma razão). Para fazer argumentações no texto, precisa-se apoiar em fatos
que comprovem ou desmintam tal coisa. Quem escreve um artigo deve assumir uma
posição em relação a um assunto polêmico e que a defende. Em suma, a argumentação
busca convencer, influenciar, persuadir alguém; defende um ponto de vista sobre determinado
assunto. Consiste no emprego de provas, justificativas, a fim de apoiar ou rechaçar uma opinião
ou uma tese; é um raciocínio destinado a provar ou a refutar uma dada proposição.
Quanto a linguagem, o texto deve ser escrito de maneira clara, objetiva, precisa (sem
rodeios, sem ficar se enrolando para dizer o que se quer) e coerente (deve-se ter ligação
lógica entre um fato e outro ou entre uma ideia e outra).
A estrutura de um artigo, normalmente, se dá da seguinte forma:
a) situação-problema: coloca a questão a ser desenvolvida para guiar o leitor ao que virá
nas demais partes do texto. Busca contextualizar o assunto a ser bordado, por meio de
afirmações gerais e/ou específicas. Nesse momento, pode evidenciar o objetivo da
argumentação que será sustentada ao longo do artigo, bem como a importância de se
discutir o tema; ou seja, é o que chamamos de introdução.
b) discussão: expõe os argumentos e constrói a opinião a respeito da questão examinada.
Todo texto dissertativo precisa argumentar, ou seja, apresentar provas a favor da posição
que assumiu e provas para mostrar que a posição contrária está equivocada. Para evitar
abstrações, geralmente faz uso da exposição de fatos concretos, dados e exemplos, com o
emprego de sequências narrativas, descritivas e explicativas, entre outras; ou seja, é a parte
de desenvolvimento.
c) solução-avaliação: evidencia a resposta à questão apresentada, podendo haver uma
reafirmação da posição assumida ou uma apreciação do assunto abordado. Não é
adequado um simples resumo ou mera paráfrase das afirmações anteriores. Ou seja, é a
parte da conclusão.
Sendo artigo científico, antes de se fazer a estrutura acima citada, é constituída,
primeiramente, ainda de:
a) título, e subtítulo (se houver);
b) nome (s) do(s) autor (es);
c) resumo na língua do texto (em português e uma de língua estrangeira);
d) palavras-chave na língua do texto (em português e uma de língua estrangeira).
É O SUS – OU É A POBREZA?
1 Na semana passada, um estudo realizado pelo Instituto do Coração de São Paulo e
publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia deu manchete em vários jornais do país.
Segundo a pesquisa, pacientes que sofreram infarto do miocárdio e são atendidos pelo
Sistema Único de Saúde, SUS, têm 36% mais chances de morrer do que aqueles que são
acompanhados por médicos particulares ou de convênios.
2 Lendo esta frase, leitores, qual é a conclusão que se tira de imediato? Que o SUS não
funciona, vocês dirão; que é um sistema ruim, precário. Mas será que é mesmo?
3 Indo um pouco adiante no trabalho, descobrimos que na fase de internação a proporção
de óbitos é praticamente a mesma nos dois grupos. A mortalidade maior em pacientes do
SUS ocorre após a alta, quando a pessoa retorna a seu ambiente habitual. E isto enseja
uma reflexão não apenas sobre infarto do miocárdio, como sobre o Brasil em geral. Em
primeiro lugar, é preciso dizer que, por paradoxal que pareça, uma maior mortalidade por
doença cardíaca pode ser um sinal de progresso – um progresso meio estranho, mas
progresso de qualquer jeito. No passado, os brasileiros pobres não morriam de infarto,
porque nem chegavam à idade em que o problema ocorre: faleciam antes, não raro na
infância, de desnutrição, de diarreia, de doença respiratória. A expectativa de vida cresceu,
e cresceu nos países ricos e pobres. As mortes por desnutrição e por doenças infecciosas,
causadas por micróbios, diminuíram. Mas isso tem um preço. Viver mais não quer dizer
viver de forma mais saudável. O pobre hoje tem mais comida, mas é comida calórica,
gordurosa – pobre não come salmão nem caras saladas, nem frutas. Pobre fuma mais, e
pobre é mais sedentário – passou a época em que trabalho implicava necessariamente
movimento e trabalho físico, e academia de ginástica não é para qualquer um. Pobre tem
menos acesso à informação sobre saúde, pobre consulta menos, às vezes porque não tem
sequer como pagar a condução que o levará ao posto de saúde. Aliás, temos evidências
disto em nossa própria cidade de Porto Alegre: um trabalho recentemente realizado pelos
doutores Sérgio L. Bassanesi, Maria Inês Azambuja e Aloysio Achutti mostrou que a
mortalidade precoce por doença cardiovascular foi 2,6 vezes maior nos bairros mais
humildes da Capital.
4 Tudo isso explica a conclusão a que chegou o Simpósio Internacional sobre desigualdade
em saúde reunido em Toronto, Canadá: “a pobreza, e não os fatores médicos, é a principal
causa da doença cardiovascular”. Um artigo publicado no importante periódico médico
Circulation salienta o fato de que 80% dos óbitos por doença cardíaca ocorrem em países
pobres e acrescenta: “Os fatores de risco para doença cardiovascular aumentam primeiro
entre os ricos, mas à medida que estes aprendem a lição e corrigem o estilo de vida, os
riscos concentram-se nos mais pobres. A suscetibilidade para esses problemas também
cresce por causa do estresse psicológico.” Quando falamos no estresse psicológico não
podemos
esquecer aquele que está se tornando cada vez mais frequente, o desemprego. Vários
estudos mostram que problemas cardíacos são mais comuns em desempregados.
5 Estas coisas não diminuem a responsabilidade dos serviços de saúde, públicos ou
privados, ao contrário, aumentam-na. A questão da informação e da educação em saúde
hoje é absolutamente crucial.
6 SUS e sistemas privados não são antagônicos, são complementares. É claro que a tarefa
do SUS é muito maior – afinal, o sistema atende cerca de 80% da população – e é mais
difícil: este é um país pobre, que tem poucos recursos, inclusive para a saúde. Mesmo
assim, e o próprio trabalho o mostra, estamos no caminho. Apesar de tudo, as coisas
melhoram.
(SCLIAR, Moacyr. É o SUS – ou é a pobreza. Zero Hora. Porto Alegre, 27 jan. 2009, p. 03).
O texto de Moacyr Scliar é um artigo de opinião, publicado no Jornal Zero Hora, no dia 27 de
janeiro de 2009. Nesta coluna, Scliar emite suas opiniões acerca de temas das mais
diversas áreas, em um texto que mantém semanalmente a mesma formatação.
A tipologia de base é a dissertação, pois o autor apresenta a sua posição sobre as razões
pelas quais as pessoas que são atendidas pelo Sistema Único de Saúde têm mais chances
de morrer de infarto do miocárdio do que aquelas que são atendidas pelos médicos
particulares ou de convênios. Nessa abordagem, Scliar manifesta um posicionamento crítico
sustentado por uma argumentação sólida para deixar claro que é a pobreza a causa da
morte de pacientes com doenças cardiovasculares, e não o tipo de atendimento.
O autor utiliza uma linguagem comum e faz uso de um vocabulário claro, acessível aos
leitores do veículo em que o artigo foi publicado. O texto está redigido na primeira pessoa do
plural (Quando falamos em estresse psicológico, não podemos esquecer aquele que está se
tornando cada vez mais frequente, o desemprego); o tempo verbal predominante é o
presente do indicativo (tira, ocorre, cresce, diminuíram). Há também a presença do pretérito
perfeito do indicativo para apresentar a notícia que gerou a produção do artigo (deu,
sofreram) e expor sua argumentação com base nas evidências sobre as razões pelas quais
outrora as pessoas não morriam de infarto (morriam, faleciam, cresce, diminuíram).
O texto estrutura-se em situação-problema, discussão e solução-avaliação. Estas partes são
explicitadas a seguir.
A situação-problema (parágrafos 1-2) inicia com a contextualização do assunto a ser
abordado. Apresenta um comentário sobre a repercussão na imprensa escrita do estudo
realizado pelo Instituto do Coração de São Paulo, relacionado às chances de morrer de
pacientes que sofreram infarto do miocárdio se forem atendidos por médicos do SUS ou por
médicos particulares ou de convênios. A partir disso, o autor apresenta a questão
controversa: será que o SUS é de fato um sistema ruim?
Na discussão (parágrafos 3-4), Scliar expõe os argumentos para defender seu ponto de
vista referente à questão examinada: “(...) na fase de internação, a proporção de óbitos é
praticamente a mesma nos dois grupos. A mortalidade maior em pacientes do SUS ocorre
após a alta, quando a pessoa retorna a seu ambiente habitual”. O autor sustenta a opinião
de que a pobreza é a principal causa de morte por doença cardiovascular e faz alusão às
doenças comuns que outrora causavam morte muito antes de a pessoa chegar à idade em
que o problema vascular normalmente ocorre. Afirma ainda que o crescimento da
expectativa de vida não é sinal de qualidade de vida. Expõe também características do estilo
de vida do pobre e indica quais se tornam fatores que contribuem para o desenvolvimento
de doença
cardiovascular. O autor apresenta, como argumentos para corroborar o seu ponto de vista, a
conclusão do Simpósio Internacional sobre desigualdade em saúde e a análise publicada no
reconhecido periódico médico Circulation sobre os fatores de risco para doença
cardiovascular.
A solução-avaliação (parágrafos 5-6) é construída a partir da resposta à questão
apresentada no início do artigo, e é claramente analisada. Scliar responsabiliza todos os
serviços de saúde, públicos e privados, por zelarem pela informação e educação em saúde,
e afirma que SUS e sistema privados são complementares, mas que, por vivermos num país
pobre, o compromisso do SUS é bem maior.
Assim, “É o SUS – ou é a pobreza?” é um artigo de opinião, pois interage com o leitor na
medida em que discute uma questão polêmica e apresenta a sua resposta, valendo-se de
argumentos consistentes que enriquecem a visão de mundo do leitor.
Bibliografia Consultada:
CAMPOS, Elisabeth Marques et ali. Viva português: língua portuguesa. - 9º ano.
-2ª ed. São Paulo: Ática, 2009.
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11565, em
11/11/2012.
http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_13_o_genero_textual_artigo_de_opiniao.pdf, em 13/11/2012.

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Como Escrever um Artigo

  • 1. COMO ESCREVER UM ARTIGO O gênero textual ARTIGO pode ser científico ou de opinião. O gênero textual artigo científico refere-se à apresentação de um relatório escrito de estudos a respeito de uma questão específica ou à divulgação de resultados de uma pesquisa realizada. O artigo de opinião diz algo em relação ao que já foi dito, ou seja, é escrito com base em uma notícia ou uma reportagem, uma música, um romance, um fato, etc. Podemos notar que, tanto um quanto o outro, é escrito para fazer o leitor aderir ao ponto de vista do produtor, negando e criticando opiniões diferentes das apresentadas. Isto é feito por meio de argumentações (apresentação de provas à favor ou contrárias a uma ideia, um fato, uma razão). Para fazer argumentações no texto, precisa-se apoiar em fatos que comprovem ou desmintam tal coisa. Quem escreve um artigo deve assumir uma posição em relação a um assunto polêmico e que a defende. Em suma, a argumentação busca convencer, influenciar, persuadir alguém; defende um ponto de vista sobre determinado assunto. Consiste no emprego de provas, justificativas, a fim de apoiar ou rechaçar uma opinião ou uma tese; é um raciocínio destinado a provar ou a refutar uma dada proposição. Quanto a linguagem, o texto deve ser escrito de maneira clara, objetiva, precisa (sem rodeios, sem ficar se enrolando para dizer o que se quer) e coerente (deve-se ter ligação lógica entre um fato e outro ou entre uma ideia e outra). A estrutura de um artigo, normalmente, se dá da seguinte forma: a) situação-problema: coloca a questão a ser desenvolvida para guiar o leitor ao que virá nas demais partes do texto. Busca contextualizar o assunto a ser bordado, por meio de afirmações gerais e/ou específicas. Nesse momento, pode evidenciar o objetivo da argumentação que será sustentada ao longo do artigo, bem como a importância de se discutir o tema; ou seja, é o que chamamos de introdução. b) discussão: expõe os argumentos e constrói a opinião a respeito da questão examinada. Todo texto dissertativo precisa argumentar, ou seja, apresentar provas a favor da posição que assumiu e provas para mostrar que a posição contrária está equivocada. Para evitar abstrações, geralmente faz uso da exposição de fatos concretos, dados e exemplos, com o emprego de sequências narrativas, descritivas e explicativas, entre outras; ou seja, é a parte de desenvolvimento. c) solução-avaliação: evidencia a resposta à questão apresentada, podendo haver uma reafirmação da posição assumida ou uma apreciação do assunto abordado. Não é adequado um simples resumo ou mera paráfrase das afirmações anteriores. Ou seja, é a parte da conclusão. Sendo artigo científico, antes de se fazer a estrutura acima citada, é constituída, primeiramente, ainda de: a) título, e subtítulo (se houver); b) nome (s) do(s) autor (es); c) resumo na língua do texto (em português e uma de língua estrangeira); d) palavras-chave na língua do texto (em português e uma de língua estrangeira).
  • 2. É O SUS – OU É A POBREZA? 1 Na semana passada, um estudo realizado pelo Instituto do Coração de São Paulo e publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia deu manchete em vários jornais do país. Segundo a pesquisa, pacientes que sofreram infarto do miocárdio e são atendidos pelo Sistema Único de Saúde, SUS, têm 36% mais chances de morrer do que aqueles que são acompanhados por médicos particulares ou de convênios. 2 Lendo esta frase, leitores, qual é a conclusão que se tira de imediato? Que o SUS não funciona, vocês dirão; que é um sistema ruim, precário. Mas será que é mesmo? 3 Indo um pouco adiante no trabalho, descobrimos que na fase de internação a proporção de óbitos é praticamente a mesma nos dois grupos. A mortalidade maior em pacientes do SUS ocorre após a alta, quando a pessoa retorna a seu ambiente habitual. E isto enseja uma reflexão não apenas sobre infarto do miocárdio, como sobre o Brasil em geral. Em primeiro lugar, é preciso dizer que, por paradoxal que pareça, uma maior mortalidade por doença cardíaca pode ser um sinal de progresso – um progresso meio estranho, mas progresso de qualquer jeito. No passado, os brasileiros pobres não morriam de infarto, porque nem chegavam à idade em que o problema ocorre: faleciam antes, não raro na infância, de desnutrição, de diarreia, de doença respiratória. A expectativa de vida cresceu, e cresceu nos países ricos e pobres. As mortes por desnutrição e por doenças infecciosas, causadas por micróbios, diminuíram. Mas isso tem um preço. Viver mais não quer dizer viver de forma mais saudável. O pobre hoje tem mais comida, mas é comida calórica, gordurosa – pobre não come salmão nem caras saladas, nem frutas. Pobre fuma mais, e pobre é mais sedentário – passou a época em que trabalho implicava necessariamente movimento e trabalho físico, e academia de ginástica não é para qualquer um. Pobre tem menos acesso à informação sobre saúde, pobre consulta menos, às vezes porque não tem sequer como pagar a condução que o levará ao posto de saúde. Aliás, temos evidências disto em nossa própria cidade de Porto Alegre: um trabalho recentemente realizado pelos doutores Sérgio L. Bassanesi, Maria Inês Azambuja e Aloysio Achutti mostrou que a mortalidade precoce por doença cardiovascular foi 2,6 vezes maior nos bairros mais humildes da Capital. 4 Tudo isso explica a conclusão a que chegou o Simpósio Internacional sobre desigualdade em saúde reunido em Toronto, Canadá: “a pobreza, e não os fatores médicos, é a principal causa da doença cardiovascular”. Um artigo publicado no importante periódico médico Circulation salienta o fato de que 80% dos óbitos por doença cardíaca ocorrem em países pobres e acrescenta: “Os fatores de risco para doença cardiovascular aumentam primeiro entre os ricos, mas à medida que estes aprendem a lição e corrigem o estilo de vida, os riscos concentram-se nos mais pobres. A suscetibilidade para esses problemas também cresce por causa do estresse psicológico.” Quando falamos no estresse psicológico não podemos esquecer aquele que está se tornando cada vez mais frequente, o desemprego. Vários estudos mostram que problemas cardíacos são mais comuns em desempregados. 5 Estas coisas não diminuem a responsabilidade dos serviços de saúde, públicos ou privados, ao contrário, aumentam-na. A questão da informação e da educação em saúde hoje é absolutamente crucial. 6 SUS e sistemas privados não são antagônicos, são complementares. É claro que a tarefa do SUS é muito maior – afinal, o sistema atende cerca de 80% da população – e é mais difícil: este é um país pobre, que tem poucos recursos, inclusive para a saúde. Mesmo assim, e o próprio trabalho o mostra, estamos no caminho. Apesar de tudo, as coisas melhoram. (SCLIAR, Moacyr. É o SUS – ou é a pobreza. Zero Hora. Porto Alegre, 27 jan. 2009, p. 03).
  • 3. O texto de Moacyr Scliar é um artigo de opinião, publicado no Jornal Zero Hora, no dia 27 de janeiro de 2009. Nesta coluna, Scliar emite suas opiniões acerca de temas das mais diversas áreas, em um texto que mantém semanalmente a mesma formatação. A tipologia de base é a dissertação, pois o autor apresenta a sua posição sobre as razões pelas quais as pessoas que são atendidas pelo Sistema Único de Saúde têm mais chances de morrer de infarto do miocárdio do que aquelas que são atendidas pelos médicos particulares ou de convênios. Nessa abordagem, Scliar manifesta um posicionamento crítico sustentado por uma argumentação sólida para deixar claro que é a pobreza a causa da morte de pacientes com doenças cardiovasculares, e não o tipo de atendimento. O autor utiliza uma linguagem comum e faz uso de um vocabulário claro, acessível aos leitores do veículo em que o artigo foi publicado. O texto está redigido na primeira pessoa do plural (Quando falamos em estresse psicológico, não podemos esquecer aquele que está se tornando cada vez mais frequente, o desemprego); o tempo verbal predominante é o presente do indicativo (tira, ocorre, cresce, diminuíram). Há também a presença do pretérito perfeito do indicativo para apresentar a notícia que gerou a produção do artigo (deu, sofreram) e expor sua argumentação com base nas evidências sobre as razões pelas quais outrora as pessoas não morriam de infarto (morriam, faleciam, cresce, diminuíram). O texto estrutura-se em situação-problema, discussão e solução-avaliação. Estas partes são explicitadas a seguir. A situação-problema (parágrafos 1-2) inicia com a contextualização do assunto a ser abordado. Apresenta um comentário sobre a repercussão na imprensa escrita do estudo realizado pelo Instituto do Coração de São Paulo, relacionado às chances de morrer de pacientes que sofreram infarto do miocárdio se forem atendidos por médicos do SUS ou por médicos particulares ou de convênios. A partir disso, o autor apresenta a questão controversa: será que o SUS é de fato um sistema ruim? Na discussão (parágrafos 3-4), Scliar expõe os argumentos para defender seu ponto de vista referente à questão examinada: “(...) na fase de internação, a proporção de óbitos é praticamente a mesma nos dois grupos. A mortalidade maior em pacientes do SUS ocorre após a alta, quando a pessoa retorna a seu ambiente habitual”. O autor sustenta a opinião de que a pobreza é a principal causa de morte por doença cardiovascular e faz alusão às doenças comuns que outrora causavam morte muito antes de a pessoa chegar à idade em que o problema vascular normalmente ocorre. Afirma ainda que o crescimento da expectativa de vida não é sinal de qualidade de vida. Expõe também características do estilo de vida do pobre e indica quais se tornam fatores que contribuem para o desenvolvimento de doença cardiovascular. O autor apresenta, como argumentos para corroborar o seu ponto de vista, a conclusão do Simpósio Internacional sobre desigualdade em saúde e a análise publicada no reconhecido periódico médico Circulation sobre os fatores de risco para doença cardiovascular. A solução-avaliação (parágrafos 5-6) é construída a partir da resposta à questão apresentada no início do artigo, e é claramente analisada. Scliar responsabiliza todos os serviços de saúde, públicos e privados, por zelarem pela informação e educação em saúde, e afirma que SUS e sistema privados são complementares, mas que, por vivermos num país pobre, o compromisso do SUS é bem maior. Assim, “É o SUS – ou é a pobreza?” é um artigo de opinião, pois interage com o leitor na medida em que discute uma questão polêmica e apresenta a sua resposta, valendo-se de argumentos consistentes que enriquecem a visão de mundo do leitor.
  • 4. Bibliografia Consultada: CAMPOS, Elisabeth Marques et ali. Viva português: língua portuguesa. - 9º ano. -2ª ed. São Paulo: Ática, 2009. http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11565, em 11/11/2012. http://www.revel.inf.br/files/artigos/revel_13_o_genero_textual_artigo_de_opiniao.pdf, em 13/11/2012.