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exit                        tema Gestão de Mudança no Terceiro Sector: mito ou revolução?
                             Editorial
                             Dianova em Foco
                             Entrevista com...
                             Tema de Actualidade
 Ano 8 _nº 27_ Jul/Dez 11




                             Artigo de Opinião
                             Rede Dianova
                             Inter-Gerações
                             Arquitecturas Colaborativas
                             Novos Canais de Comunicação
                             Sites & Blogs
                             Inspirações
2
                                                                                                Rui Martins
                                                                                  Director de Comunicação




            O que significa criar um futuro sustentável? Estão as
            Organizações Sociais aptas a abraçar este desafio na
            actualidade?
            Björn Stigson, Presidente do World Business Council for                   de indivíduos e Organizações para perceberem e criarem novas
            Sustainable Development, mencionava num passado recente                   Oportunidades económicas (novos produtos, novos métodos de
            que “criar um futuro sustentável significa operar mudanças na             produção, novos esquemas organizacionais e novas combinações
            sociedade que tenham impacto nas estratégias e nas operações              de produto-mercado) e para introduzirem as suas ideias no
            das empresas”. Mas como a coesão social não é lograda sem as              mercado, face à incerteza e outros obstáculos, de que carecem
            Organizações Sociais que estão no terreno e melhor conhecem as            então as Organizações Sociais para encontrar a simplicidade na
            idiossincrasias do sector, acrescentaria este stakeholder nacional        complexidade que lhes permita tornarem-se auto-sustentáveis
            de importância crescente para o efeito!                                   sobretudo nesta conjuntura actual?

            Mas que mudanças são essas? Em primeiro lugar, necessitamos,              Bem, antes de mais vamos às boas notícias. As crises felizmente
            por um lado, de um ambiente enquadrador que promova a inovação            podem ser boas conselheiras e profícuas em oportunidades,
            e o empreendedorismo por parte da iniciativa privada (com ou sem          quando o bem-estar de muitos pode ser alcançado através de
            fins lucrativos), e, de outro, uma mudança de mentalidades e de           uma verdadeira cultura de cooperação e cooptição assente numa
            valores que incentivem – e não obstaculizem ou inviabilizem – essa        abordagem multi-stakeholders. Refiro-me ao Investimento
            mesma promoção.                                                           Social. E concretamente a 2 iniciativas e guias que podem
                                                                                      ajudar a revolucionar o(s) nosso(s) mundo(s) e a torná-lo(s) mais
            A Estratégia Europeia 2020 e, mais recentemente, a comunicação            sustentável.
            da Comissão Europeia “A roadmap to stability and growth” apontam
            para melhorias das políticas de estabilidade e crescimento                Uma delas é o Social Investment Manual – a Guide for Social
            (tais como a implementação e observância da directiva de                  Entrepreneurs desenvolvida pela Social Investment Task Force,
            pagamentos e a iniciativa de aceleração de empregabilidade dos            sob a égide da Schwab Foundation for Social Entrepreneurship,
            jovens Youth Opportunities) e para uma imprescindível criação de          permitindo às Organizações Sociais tornarem-se não apenas
            uma Governação económica robusta e integrada que garanta a                financeiramente auto-sustentáveis, mas também lucrativas, e
            capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias          a outra a European Social Investment Facility recentemente
            necessidades.                                                             lançada pela Euclid Network – Third Sector Leaders, e que
                                                                                      visa congregar esforços e vontades mutuamente benéficas
            Não é assim de estranhar que a Governação ou Boa Gestão                   para Investidores Sociais (mormente de longo prazo e menos
            (Governance) seja um dos pilares de um novo capitalismo promotor          especuladores) e Projectos comunitários com impacto que
            de desenvolvimento económico que mitigue as inequidades.                  procuram fontes alternativas de financiamento.
            Autores como Marilyn Wyatt ou David Larcker têm promovido
            esta boa prática de gestão – mecanismos de controlo que uma               Com uma das principais barreiras ao crescimento sustentável
            Organização adopta para prevenir ou dissuadir potenciais actos            aparentemente ultrapassadas (dependerá agora da boa vontade
            de interesse-próprio por gestores díspares do bem-estar dos               dos investidores e match dos projectos inovadores e com impacto),
            stakeholders e shareholders – no seio do Terceiro Sector.                 os restantes desafios de gestão que se colocam às Organizações
                                                                                      parecem peanuts. Recriar e liderar o futuro organizacional assenta
            Tradicionalmente movidas por uma gestão de valores, as                    na implementação de uma estratégia de Gestão de Mudança que
editorial




            Organizações Sociais parecem constituir o epítome da                      colmate o gap entre a situação actual e a situação desejada.
            transformação social que, ao actuarem como Organizações
            socialmente responsáveis, operam como entidades rentáveis                 Um processo de gestão de mudança assenta nos seguintes
            (procurando estratégias diferenciadoras de captação de recursos),         princípios: mobilizar a mudança através da Liderança; traduzir
            como bons locais para trabalhar (a ideia de criação da Social Great       a estratégia (metas, iniciativas, indicadores); alinhar Corporate
            Place to Work foi avançada recentemente numa formação em                  e Departamentos/Unidades; motivar numa tarefa conjunta
            Empreendedorismo Social) e contribuem para a sustentabilidade             (Capacitação, Comunicação, Objectivos, Formação); e gerir para
            das suas comunidades e do planeta.                                        converter estratégia num processo contínuo.

            Aprender com os erros significa, nesta linha de pensamento, que os        Os mais de 20 especialistas nacionais e internacionais que
            Decisores devem começar por incorporar estes princípios nas suas          colaboram com esta 27ª edição da EXIT® trazem-lhe insights,
            responsáveis tomadas de decisão, tornando-se cooperantes e não            know-how, metodologias e instrumentos que irão certamente
            concorrentes destes aliados sociais. A assimetria de informação           fazer a diferença neste processo. Pode não ser uma tarefa fácil,
            deve ser esbatida, como advoga Stiglitz, para que o acesso em             mas há que saber encontrar simplicidade na complexidade,
            tempo oportuno a e.g. programas de financiamento estruturais              arriscar, encorajar a inovação e abraçar a Mudança!
            possam ser capitalizados em benefício último da sociedade no seu
            todo e não apenas de forma egoísta e compartimentada.                     Nota: as opiniões dos Especialistas que colaboram com a EXIT® não
            Se ser Empreendedor é ter a capacidade manifesta e vontade                reflectem necessariamente o posicionamento institucional da Dianova
índice
2 | Editorial                                                   •	 Margarida	Segard	
  •	 Rui	Martins                                                   Directora Adjunta no ISQ e Coordenadora da Rede RSO PT
     O que significa criar um futuro sustentável? Estão as      •	 Daniela	Godinho	
     Organizações Sociais aptas a abraçar este desafio na          Directora Financeira da Efeito D
     actualidade?
                                                              35 a 37 | Tema de Actualidade
4 a 9 | Dianova em Foco                                         •	 Jacquelyn	Hadley,	Laura	Lanzerotti	e	Adam	Nathan	–
  •	 Dianova Portugal: promotora de Transformação Social e         The Bridgespan Group (Boston, EUA)
     Organizacional rumo à Sustentabilidade!
  •	 Centro de Formação Dianova e Universidade Lusófona       38 a 47 | Artigo de Opinião
     celebram Protocolo de Cooperação na área da                •	 Karl	Richter	– Co-fundador da JenLi Foundation, co-
     Formação e Empregabilidade                                    autor de “Making Good in Social Impact Investment:
  •	 Centro Formação Dianova lança website http://                 Opportunities in an Emerging Asset Class”, Advsor
     formacao.dianova.pt: Simplicidade, facilidade de              da Euclide Network sobre o Impacto do Investimento
     navegação e relevância de conteúdos                           Social e coordenador da Task Force do European Social
  •	 Dianova Portugal nova coordenadora nacional da                Investment Facility (Londres, UK)
     campanha europeia Access.City Award 2012                   •	 Luis	Mota	– Fundador & Director-Executivo da i advisers
  •	 Grupo de 29 profissionais suecos visitam Dianova e         •	 Richard	Tafel	– CEO da Public Squared, & Kevin Ivers,
     Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas                       CEO da Center Strategies (Washington DC, EUA)
  •	 Dianova Portugal participa na 13ª Conferência da EFTC      •	 Rita	Maltez	– Partner da Pares Advogados
     em Oxford                                                  •	 Matt	Forti,	Manager,	&	Jeri	Eckhart-Queenan,	Head	
  •	 Dianova Portugal participa no Programa europeu                Global Development Practice – The Bridgespan Group
     “Aprendizagem ao Longo da Vida - Programa                     (Boston, EUA)
     Transversal/ Visitas de Estudo»                            •	 Ana	Marreiros	– Account Manager Corporate and
                                                                   Internal Communication, no Grupo Inforpress
10 a 34 | Entrevista com...
  •	 Mirjam	Schoning	                                         48 | Rede Dianova
     Senior Director & Head of Schwab Foundation for Social     •		Agências das Nações Unidas reforçam a
     Entrepreneurship (Genebra, Suíça)                             Coordenação e Acção para atingir as metas da
  • Américo Carvalho Mendes                                        Educação
     Coordenador da Área de Economia Social da
     Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional       49 |	Inter-Gerações
     Porto                                                      •		Carlos	Azevedo – Coordenador-Geral UDIPSS-Porto
  •	 João	Proença	
     Director da Faculdade de Economia da Universidade        50 a 53 | Arquitecturas Colaborativas
     do Porto, Director da Pós-Graduação em Gestão de           •		Luc	Galoppin – Co-founder & COO at MedeMerkers
     Organizações Sem Fins Lucrativos na EGP-UPBS,                 (Bruxelas, Bélgica)
     Universidade do Porto
     Beatriz Águas                                            54 |	Novos	Canais	de	Comunicação
     Doutoranda e Docente na EGP-UPBS e no Instituto            •	 Javier	Celaya – Fundador da Dosdoce.com & Director
     Politécnico de Castelo Branco                                 do Mestrado em Comunicação Digital, Universidad de
  •	 Miguel	Sousa	                                                 Alcalá (UAH), (Madrid, Espanha)
     Chief Operational Officer, Inova+ | Inovamais, S.A.
  •	 Paulo	Silva	Pereira                                      55 |	Sites	&	Blogs
     Co-fundador da Orange Bird e da PPL Portugal                 http://socialinvestmentfacility.wordpress.com/
  •	 Patrícia	Boura	                                              http://ppl.com.pt/
     Vice-Presidente da Cooperativa António Sérgio para a         http://formacao.dianova.pt/
     Economia Social (CASES)
  •	 Lino	Maia	                                               56 | Inspirações
     Presidente da Confederação Nacional das Instituições       •	 Up	and	Out	of	Poverty:	The	Social	Marketing	Solution
     de Solidariedade (CNIS)                                       Autor: Philip Kotler | Nancy R. Lee | 1ª Edição: Junho
  •	 José	Manuel	Costa	                                            2009
     Presidente do Grupo GCI                                    •	 De	Bom	a	Excelente
  •	 Celso	Grecco	                                                 Autor: Jim Collins | 3ª Edição: Abril 2007
     Presidente da Bolsa de Valores Sociais de Lisboa e         •	 Marketing	3.0	–	Do	Produto	e	do	Consumidor	até	ao	
     Fundador da Atitude – Associação pelo Desenvolvimento         Espírito	Humano
     do Investimento Social                                        Autores: Philip Kotler | Hermawan Kartajaya | Iwan
                                                                   Setiwan | 1ª Edição: Fevereiro 2011

                                                                                                                              3
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                                                          Dianova Portugal: promotora de Transformação Social e
                                                       Organizacional rumo à Sustentabilidade!

                                    A operar desde 1984 em Portugal, a
                                 Associação Dianova Portugal  – Intervenção
                              em Toxicodependências e Desenvolvimento
                          Social é uma Instituição Particular de Solidariedade
                       Social, Associação de Utilidade Pública e Organização
                    Não-Governamental para o Desenvolvimento de âmbito
                  nacional e sem fins lucrativos, com sede na Quinta das Lapas,
                  Monte Redondo, Torres Vedras.

                  Tendo por missão desenvolver acções e programas que
                  contribuam activamente para a autonomia pessoal e o
                  progresso social, alicerçada nos valores	 de	 Solidariedade	 •	
                  Compromisso	•	Tolerância	•	Internacionalidade,	a nossa	visão
                  fundamenta-se na convicção de que, com a ajuda adequada,
                  cada pessoa pode encontrar em si mesma os recursos para
                  alcançar o seu desenvolvimento pessoal e integração social. 

                  Contando na actualidade com uma diversidade de Programas           Instituto	 Português	 de	 Apoio	 ao	 Desenvolvimento	 (IPAD	
                  Sociais, Educativos, Saúde, Desenvolvimento Comunitário            –	 MNE), do Instituto Português de Corporate Governance
                  e Formação e Capacitação de Pessoas e Organizações, as             (IPCG);	 da REDE	 Nacional	 de	 Responsabilidade	 Social	
                  nossas  áreas de intervenção encontram-se licenciadas e            das Organizações RSO PT; da European Federation of
                  protocoladas pelo Instituto da Droga e Toxicodependência           Therapeutic	 Communities	 (EFTC),  do Grupo	 Lusófona,
                  (IDT, IP), Instituto da Segurança Social (ISS, IP), Instituto de   mantemos relações operativas com a UNESCO, entre muitos
                  Emprego e Formação Profissional (IEFP), Direcção-Geral             outros, signatários e Coordenador Nacional das campanhas
                  do Emprego e Relações no Trabalho (DGERT) e Instituto              European Action On Drugs e da Access.City 2012 da Comissão
                  Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD-MNE).                  Europeia	 –	 DG	 Justiça	 (EC	 –	 DG	 JUST) e encontramo-nos
                                                                                     cotados na Bolsa	de	Valores	Sociais	de	Lisboa com o projecto
                  Dispondo actualmente de uma Equipa de 37 Colaboradores             “Educação é a Melhor Prevenção” Aventura Emotiva 3G®
                  (21% na área de Gestão e 79% nas áreas de Programas                http://www.bvs.org.pt/dianova
                  & Intervenção; 54% são Mulheres e 46% Homens; média
                  de idades de 39,9 anos), toda a nossa intervenção assenta          Fruto deste  nosso desenvolvimento organizacional e
                  em quatro pilares de diferenciação: Profissionalismo e             cooperação,  eis o nosso  Impacto Social nos últimos 4 anos
dianova em foco




                  Competência, Inovação e Qualidade, Eficácia no Tratamento e        (2007 e 2010) nas múltiplas áreas de intervenção: beneficiámos
                  Reinserção e Ética e Responsabilidade Social.                      15.245	Pessoas	(jovens,	adultos	e	seniores): 1.113 Pessoas
                                                                                     em 2007, 2.041 Pessoas em	2008, 4.664 Pessoas em 2009 e
                  Somos membro e parceiros da rede Dianova; do Conselho              7.427 Pessoas em 2010.
                  Económico	 e	 Social	 das	 Nações	 Unidas	 (ECOSOC/UN), do
                  Vienna	 NGO	 Committee	 on	 Narcotic	 Drugs	 (VNGOC), do           Visite-nos em www.dianova.pt!
Centro	 de	 Formação	 Dianova	 e	 Universidade	 Lusófona	 celebram	 Protocolo	 de	




                                                                                                                             dianova em foco
Cooperação na área da Formação e Empregabilidade
O Centro de Formação Dianova (http://formacao.dianova.pt uma     concretiza uma aliança sustentável entre o sector da Educação
das Unidades de negócio da Dianova Portugal) e a Universidade    e o sector da Formação Profissional, associando a qualidade
Lusófona, no seguimento do Protocolo de Cooperação assinado      dos especialistas do primeiro, ao know-how e à percepção das
entre ambas as Organizações, iniciaram em Setembro último        necessidades formativas dos diferentes sectores económicos
a divulgação do Projecto «Competências Transversais: +           que o segundo detém.    
Formação + Competências».
                                                                 As acções de formação a desenvolver encontram-se também
Cientes de que o aumento de competências transversais no         abertas para público externo à Universidade Lusófona, sendo
seio de alunos do Ensino Superior potencia mais e melhores       que se deverão respeitar os seguintes requisitos:
oportunidades de emprego, este projecto visa principalmente      - 12º ano de escolaridade (ou experiência profissional de
o desenvolvimento das Soft Skills omitidas nos Currículos          relevo);
das Licenciaturas e Mestrados que privilegiam as áreas           - Mínimo 18 anos de idade;
técnicas. No entanto, consideraram-se também fundamentais        - Activos empregados ou à procura de emprego.
as competências intermédias em Gestão de Projectos e
Tecnologias de Informação e Comunicação dado serem               Dianova e Universidade Lusófona: uma Parceria de Futuro,
instrumentos indispensáveis e requisito preferencial no acto     com Futuro!
de recrutamento nas Empresas/ Organizações.

Os Planos de Formação dos Cursos foram concebidos e
avaliados pelo Centro de Formação da Dianova, obedecendo
aos critérios de rigor e qualidade exigidos pela Direcção
Geral do Emprego e das Relações do Trabalho e pelo próprio
Sistema de Gestão da Formação desta Unidade, consistindo
esta oferta formativa em Acções de Formação Certificada.  

Os(as) Alunos(as)/Formandos(as) poderão encontrar em
Cursos como «Gestão Eficaz de Reuniões», «Gestão da
Motivação e Estilos de Liderança», «Coaching e Mentoring
para Gestores», «Técnicas de Comunicação em Público»,
«Comunicação Interna: como ouvir, informar e envolver o/a
Colaborador/a», entre outros, as ferramentas que necessitam
para marcar a diferença no mercado de trabalho tanto no
Sector Empresarial como no Terceiro Sector.

As Empresas / Organizações sairão beneficiadas com
a retenção de talentos que procuram na aquisição de
competências transversais, a polivalência necessária a um
desempenho exímio da sua actividade profissional.

Apresentar soluções criativas para problemas identificados;
pro-actividade na construção da identidade corporativa; actuar
com sensibilidade e rigor na Gestão de Pessoas; planear e
executar projectos de trabalho eliminando desperdiçadores
de tempo e de outros recursos, são actos que os beneficiários
destas acções replicarão no mercado laboral.     

Para além do reforço da empregabilidade e da valorização
pessoal dos estudantes do Ensino Superior, este projecto


Centro Formação Dianova lança website http://formacao.dianova.pt:
Simplicidade,	facilidade	de	navegação	e	relevância	de	conteúdos
A Dianova Portugal lançou o seu 11º canal de gestão de           objectivo incrementar a visibilidade das Soluções Formativas/
relacionamentos online com Clientes e Potenciais Clientes,       Cursos e Outros Serviços de criação de valor para Pessoas
Parceiros e outros Stakeholders relevantes: o WEBSITE            e Organizações, este website caracteriza-se pela sua
do Centro de Formação Dianova que poderá ser visitado e          Simplicidade com páginas diferenciadas por cores, Facilidade
consultado em http://formacao.dianova.pt.                        de Navegação e Pesquisa, e Relevância de Informação e
                                                                 Conhecimento, contando com 17 itens de menu principais.
Desenvolvido criativamente pela Orange – Original
Communication e tecnologicamente pela Triângulo Digital,         Para além dos menus/páginas de âmbito institucional
assente na plataforma Joomla 1.5, e tendo por principal          como Quem	 Somos, Que	 Fazemos, Contactos,	

                                                                                                                                   5
6
                                                             T e s t e m u n h o s ,	
                                                         Histórico	-	Resultados	
                                                   e	 Notícias	 de interesse e
                                              actualidade e Galeria de Imagens,
                                         poderão ser consultadas as mais de
                                      150 Soluções Formativas/Cursos que
                                  o Centro de Formação Dianova oferece, nas
                              distintas modalidades de formação privada e co-
                          -financiada, Alugueres de Espaços e Equipamentos
                       e outros Serviços como o Diagnóstico	de	Necessidades
                    ou o Centro de Conhecimento através do qual poder-se-á
                  aceder a legislação relevante, links de interesse, FAQs e
                  parcerias e protocolos estabelecidos com entidades públicas
                  e privadas.

                  Para saber quais as Soluções Formativas/Cursos que são
                  disponibilizados e/ou que poderá frequentar num futuro
                  próximo, e visando facilitar a sua navegação e pesquisa, os
                  Cursos foram agrupados por tipologias de destinatários
                  diferenciados por cores diversas:
                  • Organizações	 do	 Terceiro	 Sector,	 Comunidade	 Educativa,	
                    Organizações	de	Apoio	aos	Seniores,	Empresas	e	Público	
                    em geral e, dentro destas, agregados por áreas:
                  • Desenvolvimento Pessoal e Social, Desenvolvimento
                    Organizacional, Tecnologias de Informação e  Comunicação e
                    ainda Cursos de Iniciação, Aperfeiçoamento ou Reconversão
                    profissional

                  A sua opinião é muito importante para nós: visite o site http://
                  formacao.dianova.pt e envie-nos os seus comentários e/ou
                  sugestões de melhoria. Obrigado!




                                                                     Dianova Portugal nova coordenadora nacional da
dianova em foco




                                                                     campanha europeia Access.City Award 2012


                  Na qualidade de Coordenadora Nacional, desde Agosto de                Access.City Award 2012 tem por objectivo divulgar e premiar as
                  2011, da nova campanha “Premio Access.City 2012” http://              cidades que tomam medidas exemplares para melhorar a sua
                  accesscityaward.eu da Comissão Europeia – Direcção Geral de           acessibilidade para as pessoas portadoras de deficiência em
                  Justiça no âmbito das Acessibilidades Municipais para facilitar       aspectos fundamentais da vida nas cidades. Esta iniciativa irá
                  a inclusão social e diminuir as barreiras dos Deficientes,            destacar as acções mais bem-sucedidas implementadas pelos
                  a Dianova Portugal tem como responsabilidades a gestão                Municípios (portugueses incluídos) que permitam às pessoas
                  da awareness da campanha junto dos Media nacionais e                  portadoras de deficiência participar plenamente na sociedade e
                  regionais, de Entidades Políticas, Autarquias e Organizações          desfrutar de acesso igualitário aos seus direitos.
                  relevantes para os objectivos a alcançar.
                                                                                        O prémio faz parte dos esforços alargados da UE para criar
                   Cerca de 80 milhões de cidadãos europeus são portadores              uma Europa sem barreiras. Uma acessibilidade melhorada
                   de deficiência. Com o envelhecimento da sociedade, o                 resulta em benefícios económicos e sociais duradouros para
                   número de pessoas portadoras de deficiência ou com                   as cidades, em particular num contexto de envelhecimento
                   mobilidade reduzida é cada vez maior. Além disso, a Europa           demográfico. As cidades com pelo menos 50.000 habitantes
                   é hoje uma sociedade essencialmente urbana, onde 4 em                e com actividades desenvolvidas nesta área desde os
                   cada 5 europeus vivem em cidades. Proporcionar a todos o             últimos 5 anos tiveram até 20 de Setembro para apresentar
                   acesso aos transportes, espaços públicos e serviços, assim           a sua candidatura através do site www.accesscityaward.eu. A
                   como às tecnologias, tornou-se num verdadeiro desafio. A             cerimónia coincidirá com a Conferência do Dia Europeu das
                   melhoria da acessibilidade também proporciona benefícios             Pessoas com Deficiência, de 1 a 2 de Dezembro de 2011. O
                   económicos e sociais e contribui para a sustentabilidade e           vencedor do concurso será reconhecido como o “Vencedor do
                   capacidade de inclusão do ambiente urbano.                           Prémio	Access•City	2012”.

                  As candidaturas abertas pela Comissão Europeia – Direcção-            Para mais informações visite o site: www.accesscityaward.eu
                  -Geral de Justiça decorreram até 20 de Setembro último. O prémio
dianova em foco
Grupo	de	29	profissionais	suecos	visitam	Dianova	e	Comunidade	Terapêutica	Quinta	
das	Lapas
A 6, 26 e 30 de Setembro, três grupos de 29 profissionais       A conversa informal que mantiveram com alguns dos nossos
da área social da Suécia realizaram uma visita de carácter      Utentes suecos foi muito enriquecedora e até emocionante;
institucional e cultural à Dianova Portugal, durante a qual     sentiram que os Utentes estavam bem integrados quer na
tiveram a oportunidade de trocar impressões com cidadãos        dinâmica, quer na filosofia do Programa; e valorizaram o
suecos que se encontram em programa de tratamento na            trabalho que estão desenvolver connosco.”
Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas.
                                                                Para Therese Wennberg, porta-voz do Grupo, ” Queremos
Após a recepção de boas vindas, foi realizada uma breve         agradecer-vos pela hospitalidade com que nos brindaram
apresentação corporativa e sobre os resultados da área de       nesta visita à Dianova. A impressão com que ficámos é que
tratamento, os Grupos efectuaram uma visita arquitectónico-     vocês estão a desenvolver um excelente trabalho. Esmeraram-
-patrimonial e ambiental ao Solar e Jardins da Quinta das       -se no planeamento e gestão da visita, e apreciámos muito
Lapas, a que se seguiu uma visita à Comunidade Terapêutica      sinceramente o tempo que nos dedicaram a mostrar o
e conversas informais com os Utentes suecos em tratamento.      fantástico ambiente que se vive na Dianova. Foi ainda muito
                                                                interessante ver os nossos cidadãos Utentes suecos e trocar
De acordo com Ana Delgado, Psicóloga Clínica e responsável      impressões com eles acerca do tratamento na Comunidade
pela gestão das visitas, “as visitas ao espaço do bosque        Terapêutica. Muito obrigado e continuação de bom trabalho”.
e da Comunidade Terapêutica foram muito positivas e
corresponderam ou superaram as expectativas dos grupos.         A gestão – componente turística - destas visitas foi organizada
Valorizaram muito o espaço físico e tranquilidade do ambiente   pela OasisTravel, que tomou conhecimento da Dianova através
envolvente, mas também a nossa dinâmica e a forma como          da campanha “Não deixamos que atires para o Lixo” que foi
estruturamos o Programa Terapêutico. Colocaram algumas          implementada entre Janeiro e Abril de 2011 em vários suportes
questões práticas e específicas, procurando comparar            patrocinados por Media e outras Organizações privadas.
procedimentos e know-how.




                                                                                                                                    7
8
                                                          Dianova Portugal participa na 13ª Conferência da EFTC
                                                       em Oxford

                                      Como membro da European Federation            para a melhoria das taxas de retenção e conclusão dos
                                   of Therapeutic Communities, a Dianova            processos tratamento. Também às CTs cumpre a tarefa de
                                participou na 13ª Conferência realizada a           activar a articulação inter-institucional e promover o acesso
                            20-23 de Setembro em Oxford, Inglaterra, http://        a diferentes serviços, técnicos e organismos a todos os seus
                        www.eftc-europe.com/2011conference/, representada           beneficiários.
                      por Cristina Lopes, Directora Técnica da CTQL http://www.
                   dianova.pt/os-nossos-servicos/comunidade-terapeutica, e          Em conclusão fica clara a necessidade de continuar a investir
                  na qual participaram aproximadamente 150 pessoas.                 em estudos que “divulguem” a eficácia da intervenção em
                                                                                    comunidade terapêutica comparando abordagens de curta e
                                                                                    longa duração, monitorizando resultados de follow-up a longo
                                                                                    prazo, nomeadamente com o apoio da EMCDDA.
                  Num verdadeiro ambiente de partilha e reflexão, os 4 dias
                  da Conferência permitiram o acesso a vários estudos sobre         A conferência foi concluída com o compromisso geral de
                  a evidência científica da eficácia das intervenções a nível das   todos os delegados integrarem uma rede que permita realizar
                  toxicodependências, em contexto residencial. Numa época           estes estudos e monitorizar resultados, chamando a si desde
                  marcada por uma crise financeira, social e política o valor das   políticos à sociedade em geral, que deve ser convidada a
                  intervenções realizadas em contexto residencial é colocado        participar na 14º Conferencia 2013 a realizar-se em Praga,
                  em causa em detrimento de politicas de redução de danos,          República Checa. Aos delegados lançou-se o desafio de na
                  com severo investimento em suporte farmacológico, sem             mesma se fazerem acompanhar por utentes e participar na
                  garantia de integração em serviços psicoterapêuticos e ou         Festa Anual das Adicções, no âmbito da expressão artística.
                  psicopedagógicos.

                  Vários investigadores/profissionais apresentaram investiga-
                  ções que comprovam a mais-valia das Comunidades Terapêu-
                  ticas e sua intervenção como resposta, não exclusiva à adição,
                  mas a um problema complexo que afecta o sujeito, famílias
                  e a sociedade em geral. Com custos reduzidos (comparativa-
                  mente a programas em ambulatório) as CTs permitem não só
                  promover a abstinência como a promoção do desenvolvimento
                  das pessoas numa abordagem transversal e multidisciplinar,
                  prestando cuidados saúde primários; investir na procura em-
                  prego e formação académica; cidadania, etc.
dianova em foco




                  As dúvidas sobre a eficácia da metodologia e da intervenção
                  das CTs provêm da complexidade da problemática e
                  consequente complexa abordagem com recurso a diferentes
                  ciências e métodos, mas também de um estigma/ignorância
                  social  que se detecta inclusive nas massas políticas.

                  Com grande capacidade de adaptação e evolução as
                  comunidades terapêuticas conseguem dar resposta a públicos
                  específicos (e.g. mulheres grávidas) de forma integrativa,
                  profissional, humana e optimista. Com intenso investimento
                  na profissionalização das equipas e especialização das
                  mesmas, o sucesso dos processos de tratamento em
                  ambiente residencial depende em grande parte da equipa
                  técnica, da relação de confiança e empatia que estabelece
                  com os beneficiários. Da sua capacidade de comunicar,
                  motivar e educar resultam sucessos surpreendentes (pessoas
                  reabilitadas, integras e felizes) e respostas inovadoras para
                  problemáticas que afectam a saúde da sociedade em geral
                  (co-morbilidades – e.g. patologias foro mental, integração na
                  CT de indivíduos em programa substituição, etc.).

                  A taxa de retenção é presentemente uma das preocupações
                  das CTs. Uma vez mais se reforça  a importância da qualidade
                  da equipa como factor pré-determinante para a potenciação
                  desta taxa. A CT deve ser um espaço de fomentação
                  emocional, segurizante e facilitador de mudanças de conduta.
                  A capacidade de criatividade e de elaboração de respostas
                  individualizadas adaptadas às características de cada sujeito
                  são também apresentadas como factores pré-determinantes
Dianova	Portugal	participa	no	Programa	europeu	“Aprendizagem	ao	Longo	da	Vida	




                                                                                                                              dianova em foco
-	Programa	Transversal/	Visitas	de	Estudo»

                                                                interesse para a Organização, potenciando os seus projectos.
                                                                Na sua sequência, foram aprovadas e financiadas as 2 visitas de
                                                                estudo que foram realizadas no mês de Setembro por Susana
                                                                Almeida e Ana Santos.

                                                                Em 2011, o foco dos Colaboradores da Dianova neste Programa
                                                                centra-se na participação em fóruns de interesse com vista ao
                                                                desenvolvimento do Projecto Parque Aventura Emotiva 3G®.

                                                                O sub-programa “Visitas de Estudo” é direccionado a
                                                                especialistas das áreas da educação e formação e o principal
                                                                objectivo é a definição de políticas e a cooperação a nível
                                                                europeu no domínio da aprendizagem ao longo da vida,
                                                                designadamente no contexto do Processo de Lisboa e de
                                                                Copenhaga e do Programa de Trabalho “Educação e Formação
                                                                2010”.

                                                                As acções consistem em visitas de curta duração (de 3 ou
                                                                de 5 dias), onde um pequeno grupo de especialistas realiza
A Dianova, através dos departamentos de Inovação &              o intercâmbio de informações relevantes no que respeita
Desenvolvimento e Formação & Gestão de Projectos, candidatou-   a temática em estudo, discute prioridades a nível nacional
-se ao «Programa	Aprendizagem	ao	Longo	da	Vida	-	Programa	      e internacional, procura soluções e práticas inovadoras
Transversal/ Visitas de Estudo» da Comissão Europeia            e promove a qualidade e a transparência nos sistemas
http://ec.europa.eu/education/lifelong-learning-programme/      de educação e formação. Este Programa é co-financiado
doc78_en.htm com o objectivo de colher boas práticas a nível    pela Comissão Europeia e pelo Estado Português, sob a
internacional e contactar com especialistas em áreas de         coordenação da Direcção-geral de Educação e Cultura.




Foto	de	Grupo,	Susana	Almeida,	UK,	2011

Em 2012, a Dianova pretende dar continuidade a estas acções de mainstream e benchmarking com vista ao seu
desenvolvimento organizacional.  

                                                                                                                                    9
10


                                                                  Mirjam Schoning
                                                                  Senior Director & Head of Schwab Foundation for Social Entrepreneurship
                                                                   (Genebra, Suíça)

                                                                 Dianova: É de            confiança mútua com os investidores sociais. O Manual inclui
                                                                 opinião     geral        ainda uma lista abrangente de diferentes fontes de capital de
                                                                 de	que,	a	fim	de	        investimento.
                                                                resolver alguns
                                                               dos     problemas          As quantias que os investidores sociais fornecem às
                                                              mais difíceis do            Organizações sociais são muitas vezes maiores do que as
                                                            mundo       globaliza-        subvenções, mas que, é claro, terão que ser pagos, na maioria
                                                         do,	 especialmente	 nos	         das vezes com juros. Para além de avaliar se taxa de juros é
                                                     países	desenvolvidos,	a	res-         inferior às taxas típicas de mercado, um empreendedor ainda
                                              posta depende de Inovação e Em-             tem que avaliar cuidadosamente se pode pagar o empréstimo.
                    preendedorismo. Pensando no Sector sem fins lucrativos e
                    o	seu	papel	na	mudança	social,	como	poderá	ser	definida	a	             O capital angariado junto de investidores sociais oferece uma
                    Inovação Social e o Empreendedorismo?                                 oportunidade única para escalar o impacto da Organização
                    Mirjam Schoning: Estávamos acostumados a empresários,                 de uma forma sem precedentes, mas também pode levar
                    como Steve Jobs, serem os principais motores da inovação para         a consequências indesejadas tais como: uma mudança na
                    a economia. Sob uma luz semelhante, os empreendedores so-             direcção estratégica, uma divergência em relação aos valores
                    ciais são os principais motores da inovação para a sociedade.         originais e missão da Organização, um distanciamento do
                    Eles têm, assim, desenvolvido modelos como a microfinança ou          envolvimento directo com a comunidade que serve ou uma
                    novos métodos de ensino que abrem novas oportunidades para            perda de controlo sobre a cultura organizacional. O Manual
                    todos os segmentos da população.                                      procura abordar estas advertências activamente para mitigá-
                                                                                          -las desde o início.
                    Um empreendedor social é um líder ou visionário pragmático
                    que:                                                                  Dianova: As Organizações sociais desempenham um papel
                                                                                          vital	 nas	 comunidades	 e	 na	 sociedade,	 envolvendo	 uma	
                    • Atinge a grande escala, uma mudança social sistémica e              elevada	confiança	pública.	Como	podem	os	seus	Conselhos	
                    sustentável através de uma nova invenção, uma abordagem               de Administração gerir eficazmente as Organizações de
                    diferente, uma aplicação mais rigorosa de tecnologias ou              forma	a	incrementar	a	confiança	e	o	apoio	do	público?	Terá	
                    estratégias conhecidas, ou uma combinação destas.                     a Governance um papel mais importante no Sector sem fins
                                                                                          lucrativos do que nas empresas com fins lucrativos?
                                                                                          Mirjam Schoning: É interessante que coloque essa pergunta
entrevista com...




                    • Concentra-se em primeiro lugar na criação de valor social e/
                    ou ecológico.                                                         a seguir à questão do investimento. De facto, como feedback
                                                                                          para o Manual de Investimento Social, fomos solicitados a
                    • Constrói Organizações fortes e sustentáveis, que podem ser          fornecer mais informação e orientação em torno da questão da
                    configuradas como sem fins lucrativos ou empresas com fins            Governance nas Organizações Sociais ou sem fins lucrativos.
                    lucrativos.                                                           Muitas vezes, quando um investidor social traz capital para uma
                                                                                          Organização, ele exige estruturas de governança específicas,
                    Em última instância, queremos lutar por todo o empreendedoris-        como um Conselho de Supervisão e muitas vezes exige um
                    mo como sendo empreendedorismo social.                                assento no tal Conselho. Actualmente, estamos a solicitar
                                                                                          aos empreendedores sociais de todo o mundo que preencham
                    Dianova: Acabou	 de	 ser	 lançado	 pela	 Euclide	 Network	 -	         um inquérito sobre as suas estruturas de Governança actuais.
                    European	 Third	 Sector	 Leaders	 a	 Taskforce	 on	 European	         Enquanto esperamos pelos resultados finais desse estudo
                    Social Investment Facility. A Mirjam também esteve envolvida          em Janeiro, podemos constatar que a maioria das principais
                    na	 elaboração	 do	 “Manual	 de	 Investimento	 Social	 -	 um	 Guia	   Organizações sociais já tem Conselhos activos e independentes.
                    para Empreendedores Sociais” desenvolvido pela Schwab
                    Foundation. Para uma melhor performance num processo de               Na Europa, as Organizações sociais geralmente desfrutam de
                    gestão	de	mudança	no	sector	sem	fins	lucrativos,	a	fim	de	‘ser	       uma confiança pública por causa da sua missão clara. À medida
                    financeiramente	 auto-sustentável,	 mas	 também	 rentável’,	          que os seus números e importância crescem, será importante
                    poderia resumir as principais conclusões deste relevante Guia         garantir que sejam bem governadas para não se perder a
                    que podem fornecer um roteiro sustentável “para expandir o            confiança pública.
                    seu impacto”?
                    Mirjam Schoning: O Manual de Investimento Social foi a                Dianova: De acordo com a sua experiência na Schwab
                    ideia de um grupo de empreendedores sociais que fazem                 Foundation,	 quais	 são	 as	 principais	 tendências,	 desafios	
                    parte da Schwab Foundation Network e que se reuniu há um              estruturais ou forças que influenciam as exigências de
                    ano numa das nossas reuniões na China. A maioria deles já             encarnar	 bem	 o	 papel	 da	 Liderança	 no	 sector	 sem	 fins	
                    tinha realizado experiências de captação de capital junto de          lucrativos?
                    investidores sociais e desejavam serem capazes de aprender            Mirjam Schoning: Os Empreendedores sociais e muitos
                    mais sobre o processo antes de embarcar nele com uma                  líderes de Organizações sem fins lucrativos têm estado, nas
                    aprendizagem por tentativa e erro. Decidiram então, criar um          últimas décadas, na sombra dos CEOs, empresários e outros
                    Manual que proporcionasse aos empreendedores sociais mais             líderes “Estrela” no domínio dos negócios e da política. Têm
                    conhecimento sobre captação de capital, bem como gestão de            estado a trabalhar nas margens da nossa sociedade. Os
Empreendedores sociais induzem às comunidades em que              Dianova: Transparência e Accountability são factores chave




                                                                                                                                    entrevista com...
trabalham a tarefa de serem os seus próprios agentes de           da confiança organizacional. Se facilmente se consegue
mudança, em vez de conferirem soluções de fora sobre elas.        mensurar	 os	 inputs	 e	 outputs	 (por	 exemplo,	 quantificar	
O estilo de liderança desses indivíduos tende a ser aberto        o	 desempenho	 e	 avaliar	 os	 resultados	 da	 actividade)	 e	
e envolvente, trabalhando através de redes, comunidades           mostrar publicamente aos doadores como o seu dinheiro foi
planas, reconhecendo que as mentes de muitos são muito            gasto/investido,	a	avaliação	de	resultados	ou	impacto	social	
mais poderosas do que a de um só.                                 pode	tornar-se	uma	tarefa	difícil.	Como	tornar	mais	simples	
                                                                  e	 acessível	 a	 tarefa	 hercúlea	 de	 avaliar	 o	 impacto	 de	 uma	
Podemos constatar algumas características-chave de fortes         Organização num problema em larga escala da sociedade?
líderes sociais:                                                  O que deverá exactamente ser medido numa abordagem
                                                                  realista e com recursos escassos?
a) A busca incessante de uma visão forte: Os empreendedores       Mirjam Schoning: Toda a Organização deve esforçar-se por
   sociais perseguem a sua visão a qualquer custo. Jose           compreender o seu impacto (outcomes) e não apenas os seus
   Ignacio Avalos, Fundador da Organização mexicana “Un           outputs. Há uma enorme diferença em contabilizar as pessoas que
   Kilo de Ayuda” diz que “se você não está pronto para perder    passaram pelos seus cursos de formação e tentar perceber o que
   tudo o que tem ao lutar pela sua causa, nunca será um bom      aprenderam e como as suas vidas mudaram em conformidade.
   empreendedor social”.                                          Se, por exemplo, você fornecer uma boa refeição na formação,
                                                                  talvez as pessoas só saiam com a barriga cheia?
b) Um grau elevado de empatia: Os estudos psicológicos
   parecem corroborar o facto de que os empreendedores            Assim, avaliar o impacto deve ser do interesse acima de tudo da
   sociais pontuam muito acima da média na empatia e              própria Organização. Além disso, doadores, investidores e o público
   na capacidade de expressar empatia. A maioria dos              em geral cada vez mais exigirão uma prova dos outcomes, em vez
   empreendedores sociais começou a sua aventura ao sair          dos outputs. Existe uma diversidade de ferramentas tais como o
   de um impulso emocional, contrariando uma deliberação          Balanced Scorecard e a análise de Retorno do Investimento Social,
   racional de prós e contras. Foram todos profundamente          que todavia consomem tempo e recursos. Uma Organização deve
   afectados pelos problemas que viram ao seu redor e             escolher o seu método de acordo com a sua dimensão e recursos,
   sentiram que não tinham escolha a não ser agir.                mas deve garantir de alguma forma que a avaliação está sempre
                                                                  incluída.
c) Adaptação contínua às comunidades que servem: Os
   empreendedores sociais ouvem e aprendem com os                 Estamos também a assistir ao desenvolvimento de standards
   beneficiários finais. A inovação necessita de uma forma de     universais tais como o Reporting Standard Social (SRS) na
   liderança participativa e colaborativa, onde todos podem ser   Alemanha ou o GIIRS nos EUA. Um relatório standard poderá
   aprendizes e professores.                                      levar-nos a um ponto em que as Organizações sociais só têm de
                                                                  preencher um formato para todos os seus stakeholders.
d) Dar poder às pessoas em seu redor: O Banco Grameen cria
   sistematicamente líderes a partir dos seus mutuários, que      Dianova: Por	 último	 mas	 não	 menos	 importante,	 na	 sua	
   também possuem 90% do banco. Muitos empreendedores             opinião a revolução operada pelo sector sem fins lucrativos
   sociais são capazes de envolver, de forma criativa,            está	 a	 acontecer,	 ou	 é	 ainda	 uma	 miragem	 no	 que	 diz	
   voluntários e jovens como recursos não tradicionais.           respeito à Gestão de Mudança?
   Considerando que o estilo de “comando e controlo” tem          Mirjam Schoning: Na última década testemunhámos seguramente
   sido a característica de muitos líderes, vemos que este tem    uma revolução no crescimento do Sector Social. Se é verdade
   evoluindo para uma forma mais “partilhada” e “em rede” no      que os empreendedores sociais já existiam antes, também é
   estilo de liderança. Numa sessão sobre liderança em Davos      verdade que actuavam nas margens da sociedade. Hoje em dia, as
   há alguns anos atrás, os palestrantes concluíram que a         Universidades têm vindo a lançar centros e cursos, os estudantes
   paixão por uma missão adicionada ao desejo de contagiar        aspiram a tornar-se empreendedores sociais ou a trabalhar para
   tantas pessoas quanto possível, com a mesma paixão,            uma Organização do sector, as empresas cada vez mais buscam
   é fundamental para promover a inovação e a mudança             parcerias e o sector público está a começar a olhar para políticas
   transformacional. Esta paixão é um elemento-chave dado         que promovam a inovação e o negócio social. A União Europeia, por
   que a pessoa deve ser capaz de convencer os outros.            exemplo, vai lançar uma grande iniciativa de negócio social a 18 de
                                                                  Novembro.
Dianova: Acredita	que,	no	geral,	há	uma	maior	necessidade	
de compreensão acerca da sustentabilidade financeira e
modelos de negócio por parte dos Conselhos Executivos e
Administração	de	Organizações	Sociais?	Que	recomendações	
lhes daria para encarar de uma forma mais eficaz os desafios
da sustentabilidade nestes tempos de crise?
Mirjam Schoning: Esperamos que o Manual de Investimento
Social seja uma ferramenta para Executivos de Organizações
sem fins lucrativos saberem mais sobre fontes inovadoras
de financiamento e como aceder-lhes. Dados os tempos de
turbulência económica e as grandes mudanças em curso no
domínio dos negócios sociais, é importante que os Executivos e
Conselhos tenham uma compreensão das tendências actuais
e assegurar a viabilidade a longo prazo de uma Organização.




                                                                                                                                          11
12


                                                                  Américo Carvalho Mendes
                                                                  Coordenador da Área de Economia Social da Universidade Católica Portuguesa –
                                                                   Centro Regional Porto


                                                                     Dianova: Em Por-      público, desde que tudo isto seja no sentido de contribuir para
                                                                     tugal,	os	especia-    a construção de relações sociais mais solidárias.
                                                                    listas continuam
                                                                   sem chegar a um         Dianova:	Para	que	um	processo	de	mudança	tenha	sucesso,	
                                                                  consenso termino-        deve	existir	liderança,	confiança	dos	stakeholders	e	tempo.	
                                                                lógico sobre o Sector      Estão reunidas estas condições para que as estratégias
                                                             dito não lucrativo: Ter-      de mudança orientadas à Sustentabilidade ocorram em
                                                         ceiro	 Sector,	 Economia	 So-     Portugal por parte das Organizações Sociais?
                                                   cial	e	Solidária,	Sociedade	Civil...	   Américo Carvalho Mendes: Cada Organização de Economia Social
                                    Na	sua	opinião,	qual	a	designação	que	melhor	          terá que construir o seu caminho próprio para ser sustentável.
                    caracteriza este sector e quais as suas principais implicações?        Não há soluções que possam ser semelhantes para todas. O
                    Américo Carvalho Mendes: A minha preferência vai para                  que acho que se pode dizer, de uma forma genérica, sobre este
                    o conceito de Economia Social e Solidária. Acho que é o                assunto e sobre estas Organizações é o seguinte: tudo o que se
                    mais apropriado para designar o sector que engloba as                  fizer no sentido de haver mais transparência na gestão e haver
                    “Organizações de Economia Social” que defino da seguinte               mais pessoas disponíveis para trabalharem nestas Organizações
                    maneira:                                                               em cargos de direcção e noutras funções imbuídas do sentido da
                    • Têm personalidade jurídica, ou, se a não têm, dispõem de             construção do ‘bem comum’ será bom para a sua sustentabilidade.
                      normas do conhecimento público que regulam a pertença à
                      organização, o seu modo de governo e o seu funcionamento;            Isto acontece em muitas das Organizações de Economia Social
                    • Têm formas de auto-governo;                                          do país, mas há que reconhecer que o caminho ainda a trilhar
                    • São privadas no sentido de serem iniciativas da sociedade            neste domínio é longo.
                      civil;
                    • São de adesão voluntária;                                            Dianova:	Quais	são	os	desafios	internos	mais	referidos	para	
                    • A sua missão principal é organizar a acção colectiva no              que haja uma reflexão sobre a mudança de curso de uma
                      sentido de contribuir para relações mais solidárias do seres         Organização?
                      humanos entre si e com o meio ambiente em que vivem;                 Américo Carvalho Mendes: Os melhores métodos que
                    • Fazem isso através da produção de bens públicos (ex.                 conheço, para que haja a reflexão atrás referida, são os que
                      redução da pobreza e doutras formas de exclusão social,              apelam à maior participação possível de dirigentes e de outros
                      defesa dos direitos humanos, redução das disparidades                colaboradores da Organização. Nas nossas Organizações de
entrevista com...




                      regionais, protecção do ambiente, protecção do património            Economia Social é pouco frequente o recurso a este tipo de
                      cultural e arquitectónico, protecção civil, melhoria da saúde        métodos. Por isso, o principal desafio aqui é promover a sua
                      pública, produção de conhecimento do domínio público, etc.)          adopção por um número cada vez maior de Organizações.
                      e/ou da produção de bens ou serviços privados ou de clube
                      que contribuam para relações sociais mais solidárias;                Dianova: “O material da vida não é a estabilidade e a harmonia
                    • Para esta produção mobilizam recursos geridos em regime              quieta,	mas	a	luta	permanente	entre	os	contrários.”	A	gestão	
                      de propriedade comum.                                                da mudança é transversal à condição humana?
                                                                                           Américo Carvalho Mendes: A vida humana é feita de mudança,
                    O conceito de Sector dito não lucrativo tem a desvantagem              às vezes difícil, mas também é feita de continuidades. A questão
                    de excluir do âmbito da Economia Social grande parte das               aqui está em saber estar atento ao que é preciso mudar e estar
                    cooperativas e das mutualidades. O conceito de Terceiro Sector         disponível para o fazer, tendo, ao mesmo tempo, o discernimento
                    tem o problema de referir a Economia Social como se fosse              necessário para preservar e valorizar o que é importante manter
                    um sector que estivesse em terceiro lugar, numa ordem de               para dar sentido à vida vivida de forma solidária.
                    importância, a seguir ao sector privado e ao sector público,
                    quando todos têm o seu lugar próprio e insubstituível numa             Dianova: Hoje	em	dia,	as	pessoas	não	estão	mais	interessadas	
                    boa organização da sociedade. O conceito de Sociedade Civil é          em saber simplesmente se se trabalha por uma boa causa.
                    demasiado abrangente para designar a Economia Social, uma              Ou	seja,	a	pergunta	que	se	impõe	é:	será	uma	Organização	
                    vez que esta é uma componente da Sociedade Civil, mas não a            responsável	 e	 digna	 do	 meu	 investimento?	 Que	 diferença	
                    sua totalidade.                                                        faz na sociedade? Este é o principal desafio para a Economia
                                                                                           Social?
                    Dianova: Está actualmente em voga o conceito de Inovação               Américo Carvalho Mendes: Este é, com certeza, um desafio
                    Social.	 Que	 implica	 para	 si	 esta	 Inovação?	 Reavaliação	 das	    muito importante das Organizações de Economia Social, hoje
                    práticas	de	trabalho,	alterações	nas	orientações	estratégicas	         e sempre. Se estas Organizações são iniciativas voluntárias da
                    ou mudanças na função social por parte das Organizações da             sociedade civil para construir relações sociais mais solidárias,
                    Economia Social?                                                       deve-lhes estar na massa do sangue apelar continuamente
                    Américo Carvalho Mendes: A inovação social é um processo               ao empenhamento solidário e voluntário de quem as dirige,
                    do qual fazem parte a criação e a melhoria do desempenho               de quem nelas trabalha e de quem com elas quer colaborar.
                    das Organizações de Economia Social, mas não se esgota aí.
                    Inclui, também, mudanças na organização e nas actividades              Tal como atrás referi, uma das melhores formas para as
                    das empresas com fins lucrativos e nas entidades do sector             Organizações de Economia Social atraírem esses contributos
solidários e voluntários é através de transparência na gestão          Dianova:	Para	si,	é	afinal	a	Gestão	da	Mudança	na	Economia	




                                                                                                                                       entrevista com...
e de sentido da construção do ‘bem comum’, bem evidenciado             Social e Solidária um mito ou uma revolução?
por quem as dirige e por quem mais nelas trabalha.                     Américo Carvalho Mendes: Nem é um mito, nem é uma
                                                                       revolução no sentido de um processo violento, onde se pretende
Dianova: Decisões	orientadas	para	um	consenso	geral,	em	               “matar” tudo o que é passado. Não é um mito porque a gestão
que parece haver um esvaziamento ideológico das forças                 da mudança está a acontecer em um número cada vez maior
político-governativas,	 requerem	 uma	 perspectiva	 de	 longo	         das nossas Organizações de Economia Social. O caminho ainda é
prazo para que ocorra um desenvolvimento social e humano               longo e nunca estará todo percorrido, mas está a fazer-se.
sustentável?
Américo Carvalho Mendes: Não há desenvolvimento que seja               Essa gestão da mudança não deve ignorar pessoas,
sustentável se não houver democracia e aprofundamento da mesma.        conhecimentos e práticas que, vindas do “passado”, nem por
                                                                       isso deixam de ser muito importantes para a construção do
Quando as Organizações de Economia Social são geridas de               ‘bem comum’. Atitudes maniqueístas que consideram que o
forma participada, transparente e democrática, são excelentes          que é “novo” é bom e o que é “velho” é mau não são boas
escolas e espaços de exercício da cidadania activa. Têm, por           formas de promover relações sociais mais solidárias. Uma
isso, um papel muito importante para complementar as                   gestão da mudança para ser solidária tem de saber combinar
instâncias da democracia representativa e para contribuírem            o “novo” e o “velho” com humanidade e inteligência.
no sentido de corrigir problemas na organização e no
funcionamento destas instâncias.


                                  João Proença
                                   Director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto




                                                                      Beatriz Casais
                                                                       Doutoranda na Faculdade de Economia da Universidade do
                                                                        Porto e Docente no Politécnico de Viseu e no Politécnico de
                                                                        Viana do Castelo




Dianova:	 Em	 Portugal,	 os	 espe-                                     Estado. Contudo, este Terceiro Setor só se pode afirmar em
cialistas continuam sem chegar a                                       plenitude quando é suficientemente independente dos restantes,
um consenso terminológico sobre o                                      não sendo vulnerável a pressões, nomeadamente de ordem
Sector	dito	não-lucrativo:	Terceiro			Sector,	Economia	Social	         financeira. Daí a importância de uma gestão que garanta a sua
e	Solidária,	Sociedade	Civil...	Na	sua	opinião,	qual	a	desig-          sustentabilidade e independência, gerando fundos para serem
nação que melhor caracteriza este Sector e quais as suas               reinvestidos na organização.
principais implicações? A própria denominação Organização
Sem	 Fins	 Lucrativos	 continua	 a	 fazer	 sentido	 à	 luz	 actual	    Dianova:	 Para	 Julian	 Birkinshaw,	 Professor	 e	 Co-fundador	
do	conhecimento	e	da	conjuntura	económico-social?	Qual	a	              do	Management	Innovation	Lab	da	London	Business	School,	a	
designação que considera mais apropriada ao desafio atual              Inovação não está tanto no produto mas nas práticas de trabalho.
da Sustentabilidade a que também estas Organizações estão              A estratégia de mudança implica obrigatoriamente a adoção de
sujeitas?                                                              uma nova cultura de trabalho? A resistência à mudança é um
João Proença e Beatriz Casais: Quando nos referimos a                  factor	previsível	em	qualquer	programa	de	mudança	planeada,	
Organizações sem fins lucrativos queremos dizer que essas              ou um conceito adaptável ao progressismo exagerado de uma
Organizações não distribuem os lucros pelos seus corpos sociais,       estratégia a 180º?
ao contrário do que acontece, por exemplo, nas empresas. Segundo       João Proença e Beatriz Casais: Quando falamos de programas
este ponto de vista, a terminologia adequa-se às Organizações          de mudança planeada, ou seja de marketing social, a inovação
criadas no âmbito da sociedade civil e às Organizações públicas.       não estará tanto no que se faz, mas na forma como se faz, na
                                                                       forma como se apresentam os benefícios e na forma como se
Contudo, a sustentabilidade financeira destas estruturas é             apresentam os custos de mudança. E é isso que, muitas vezes,
fundamental, sejam estruturas sem fins lucrativos do setor             diferencia o sucesso das Organizações.
estatal ou do setor privado. Daí que estas Organizações tenham
de ter forçosamente uma gestão com o objectivo da auto-                Quando a missão consiste em promover uma mudança social,
-sustentabilidade, o que as incentiva a gerar e a obter fundos e       como é o caso das estruturas que desenvolvem Marketing Social,
receitas próprias. Esses fundos são reinvestidos na Organização,       o valor do processo é ainda mais significativo. O sucesso do plano
e consequentemente potenciam o seu desenvolvimento e a                 de marketing social baseia-se como em qualquer outro plano
concretização da missão.                                               de marketing em conseguir que o alvo entenda que o benefício é
                                                                       compensador do preço ou “esforço” a pagar, ou seja que o bem
As Instituições privadas sem fins lucrativos (no sentido da não        social é mais significativo do que o custo da mudança.
distribuição dos lucros pelos corpos sociais) constituem o Terceiro
Setor, um sector independente dos demais, que encontra o seu           Dianova: Para que uma mudança proceda nas
espaço nas lacunas de acção dos sectores empresarial e do              devidas condições e com sucesso é necessário

                                                                                                                                             13
14
                                                                valorizar o aspeto      menos	 o	 mesmo	 peso	 dos	 interesses	 das	 empresas,	 em	
                                                            da liderança. Como          igualdade com os interesses da sociedade “. Emergindo como
                                                       vê o papel da liderança no       uma	tendência	galopante,	acredita	que	o	repto	está	lançado?
                                                 desenvolvimento     organizacional     João Proença e Beatriz Casais: Os negócios deverão ser
                                            destas	 Organizações?	 Que	 boas	           enquadrados num sistema composto por tês vértices:
                                        práticas ou paradigmas de gestão podem          • a sustentabilidade das Organizações;
                                    as Organizações Sociais incorporar nos seus         • a satisfação das necessidades dos utilizadores e/ou
                                modelos de gestão para se tornarem mais eficientes?       consumidores;
                             A Educação e Formação de profissionais que operam          • e ainda a garantia do bem-estar da sociedade.
                         – ou venham a operar – no Terceiro Sector é fundamental
                      para capacitar estas Organizações em termos de capital            Se estes três objectivos não conviverem em harmonia não se
                    técnico	e	relacional.	Como	avalia	a	experiência	ao	nível	da	pós-    consegue garantir a sustentabilidade dos negócios. Isto porque os
                    -graduação	em	“Gestão	das	Organizações	Sem	Fins	Lucrativos”	        negócios para sobreviverem exigem recursos, os quais são, como
                    da	EGP-UPBS?                                                        sabemos, limitados. É necessário garantir a sustentabilidade
                    João Proença e Beatriz Casais: Cada vez mais as Organizações        dos recursos naturais, como as matérias-primas, para que os
                    sem fins lucrativos necessitam de estratégias e gestão              negócios subsistam.
                    profissional. Interessa construir um modelo organizacional com
                    base na gestão empresarial, adaptando-a às especificidades do       Por outro lado, necessitamos constantemente de consumidores
                    setor não-lucrativo.                                                para garantir a sustentabilidade da procura. A busca desenfreada
                                                                                        do lucro se não considerar a sustentabilidade da procura, constitui
                    Muitas as vezes as Organizações desenvolviam o seu plano de         aquilo a que se pode chamar de marketing com visão curta. Da
                    acção através de actividades que previam a sensibilização social    mesma forma que as empresas identificam nos consumidores
                    para diversas causas. Contudo, quando nos propomos a mudar          necessidades latentes de que os próprios por vezes não têm
                    algo na sociedade, necessitamos de fazer um ponto de situação       consciência, também deverão identificar os limites de consumo
                    e delinear objetivos mensuráveis. Por isso é fundamental que        dos seus clientes, evitando assim o seu endividamento, a
                    os líderes destas Organizações obtenham formação em gestão,         obesidade, ou o aumento da poluição, por exemplo, de forma a
                    de modo a desenvolverem uma estratégia com abordagem                garantir a sustentabilidade do consumo por muito mais tempo.
                    empresarial delineando objectivos sociais a atingir, objectivos
                    esses que deverão ser mensuráveis e monitorizáveis.                 Não se pode olhar só para a satisfação das necessidades dos
                                                                                        consumidores, nem para os resultados das Organizações. É
                    A Pós-Graduação em Gestão de Organizações Sem Fins Lucrativos       fundamental garantir a sustentabilidade da sociedade, nas
                    da EGP-UPBS tem vindo a desenvolver essas competências,             suas mais diversas formas, para se garantir por sua vez a
                    através de um ensino integrado de áreas tão diferentes mas          sustentabilidade dos mercados.
                    complementares como são as finanças, contabilidade ou
                    direito associadas a áreas como o marketing, estratégia ou          Dianova:	 Para	 si,	 é	 afinal	 a	 Gestão	 da	 Mudança	 na	 Economia	
                    recursos humanos e potenciando-se também competências de            Social e Solidária um mito ou uma revolução?
entrevista com...




                    comunicação e relações com os media, negociação ou liderança,       João Proença e Beatriz Casais: Se considerarmos o caminho
                    entre outras.                                                       percorrido, a mudança social tem vindo a ser uma realidade. As
                                                                                        estratégias usadas de marketing social relacionado com a saúde,
                    Os profissionais que têm obtido esta formação consideram-se         o marketing verde, o marketing social relacionado com o combate
                    pois mais aptos para os diferentes desafios de gestão que as        à pobreza têm obtido resultados interessantes.
                    Organizações sem fins lucrativos exigem nos dias de hoje.           Também a credibilização do Terceiro Sector através do incremento
                                                                                        das práticas de gestão empresariais tem sido fundamental para
                    Dianova: Segundo dados apresentados no estudo “Citizens             uma mudança de atitude das pessoas em geral em relação aos
                    Engage. Good Purpose” da Edelman “86% dos consumidores              donativos, patrocínios e ações de mecenato.
                    globais acreditam que os negócios precisam de colocar pelo




                                                                                           Miguel Sousa
                                                    Chief Operational Officer, Inova+ | Inovamais, S.A.


                    Dianova: Michael Porter no seu clássico The competitive             inovação:
                    advantage of nations afirmava que “A invenção e o                   “Inovação
                    empreendedorismo estão no centro da vantagem                        é      como
                    [competitiva]	 nacional”	 (1990).	 Como	 definiria	 Inovação	 e	    guiar     na
                    quais os seus impactos na Gestão Organizacional?                    “autobahn”
                    Miguel Sousa: Podemos encontrar na literatura e em casos            a      160Kmh
                    práticos de sucesso, definições variadas de inovação. Stephen       – mal nos
                    Shapiro define inovação como a capacidade antecipar mercados:       a p e rce b e m o s
                    “Inovação, hoje, é vender produtos que ainda não existem, para      da velocidade a
                    mercados ainda a emergir, através de tecnologias que mudam          que vamos, zzzwoom,
                    todos os dias”.                                                     há um Mercedes que nos
                                                                                        ultrapassa pela esquerda, depois outro e ainda outro”.
                    Nicholas Negroponte valoriza a competitividade como estímulo da
entrevista com...
Gary Hamel tem uma visão mais sociológica dos processos de inova-   Muitas empresas protegem-se dos riscos de inovar adoptando
ção: “Inovação é um processo que deve vir de baixo – não me digam   uma estratégia convencional, agarram-se ao seu “Ciclo das
que a mudança deve vir do topo. Nunca vi os monarcas instaurarem    Operações” e sobrevivem (esta é a palavra correcta) com
uma república”.                                                     melhorias contínuas e algumas inovações incrementais.

Enquanto Lewis Platt define inovação na sua experiencia             Assim sendo, muitas Organizações desenvolvem todo o seu mode-
empresarial: “Inovação é estar ciente de que o que quer que         lo de negócio e de actividade ao nível das operações, nas quais as
tenha tido exíto no passado, não o vai ter no futuro”.              práticas associadas ao seu negócio estão convertidas em “procedi-
                                                                    mentos” que estão bem assimilados, compreendidos e difundidos
Nós na INOVA+ definimos inovação como “uma mudança                  por toda a Organização. Aos desafios tecnológicos, económicos e
economicamente útil”, com impactos ao nível do processo,            sociais, a Organização reage com a implementação de “soluções
produto, marketing e organização.                                   convencionais”, normalmente cópias de soluções já testadas por
Miguel Sousa: É de senso comum que os portugueses são               outros, que garantem uma resposta, mas não significam um salto
avessos ao risco. Concorda com esta afirmação? Como                 qualitativo na Organização. O aparecimento de problemas é, nesta
fomentar um ambiente propício ao Empreendedorismo e                 óptica, encarado como uma ameaça à estabilidade e nunca como
Inovação Social?                                                    uma oportunidade de melhoria. Estas Organizações sobrevivem,
Miguel Sousa: A inovação envolve sempre risco, não existe           mas a pergunta que se impõe é: até quando?
inovação sem risco. Este pode ser atenuado, prevenido e
partilhado com outros, mas nunca eliminado. Quando uma              As Organizações mais inovadoras, por seu lado, são aquelas que
empresa ou indivíduo desencadeia um processo de inovação            encaram os problemas como oportunidades de melhoria. Estas
enfrenta um problema fundamental, o de fazer com que os             organizam-se para dar resposta às solicitações tecnológicas,
seus colaboradores/investidores compreendam que assumir             económicas ou sociais, promovendo a concepção do projecto,
riscos tem de fazer parte do processo, devendo ser encorajada       na qual são apresentados os objectivos, planos de trabalho,
a tomada de decisões e medidas que admitam algum risco              recursos necessários e resultados esperados. As parcerias e
ao invés de rejeição. De acordo com a minha experiência, a          actividades em consórcio, com Organizações académicas ou
empresa/indivíduo que aprende a avaliar e a viver com o risco       outras empresas, são uma forma de estimular o desenvolvimento
irá conquistar uma taxa significativamente mais elevada de          tecnológico e reduzir os riscos associados a processos de
retorno do que a empresa que não o faz.                             inovação. Porém, a melhor das ideias pode falhar se não existir
                                                                    competências e ferramentas eficientes de gestão de projecto,
Considero o apoio ao empreendedorismo um dos maiores                capazes de potenciar a avaliação e exploração de resultados.
desafios de Portugal. Nesse sentido, tem-se assistido ao
desenvolvimento de algumas iniciativas das quais destaco o          Contudo, estas Organizações são inovadoras, mas saberão elas
Fundo de Capital Semente suportado pelo Fundo SAFPRI para           fazer dinheiro com os resultados das inovações geradas?
apoiar a criação de novas empresas de base tecnológica. Contudo,
na minha opinião, mais importante do que o dinheiro, pelo menos     As Organizações mais competitivas são aquelas que conseguem
nas fases de criação e desenvolvimento inicial de uma empresa,      “saltar” entre o Ciclo de Operação e o Ciclo de Inovação. O
é o mentoring por parte de quem já tenha trilhado o mesmo           primeiro garante o funcionamento normal da Organização e a
caminho, conheça bem o sector de actividade escolhido e saiba       relação diária com os seus “stakeholders”, o segundo assegura
como potenciar um novo projecto, nomeadamente através da            a competitividade da empresa e a diferenciação no mercado. É
capacidade de gerar e gerir a inovação.                             assim importante ter método na gestão do Ciclo de Inovação
                                                                    e garantir uma eficaz e eficiente transição de resultados de
Em resumo, são necessárias cinco qualidades para se ser             inovação para o Ciclo de Operação.
empreendedor. As primeiras quatro, usando como inspiração
um sketch dos Gato Fedorento, são: trabalho, trabalho, trabalho     Dianova: Como Consultora especializada na promoção e
e trabalho. E se só tiverem trabalho, trabalho, trabalho e          gestão	de	projectos	de	inovação,	como	definiria	um	processo	
trabalho esqueçam empreendedorismo. A quinta qualidade é            de gestão de mudança e quais os principais drivers e impli-
a inteligência, brilhantemente definida pelo académico italiano     cações críticas a observar para um bem sucedido processo?
Carlo M. Cippola como, “ a capacidade de criar e distribuir         Miguel Sousa: Portugal tem vindo a dar passos interessantes
riqueza, de ganhar enquanto se dá a ganhar aos outros”.             e promissores de incentivo ao ciclo de inovação e ao estímulo à
                                                                    implementação de processo de mudança nas empresas.
Dianova: Como é que alguns gestores são capazes de dar o
salto	 enquanto	 outros	 “do	 mesmo	 sector,	 com	 as	 mesmas	      A sistematização de processos de inovação nas empre-
oportunidades	e	recursos	semelhantes”	não	o	dão?	Ou	seja,	e	        sas nacionais pode ser suportada pela norma Portuguesa
como	refere	Jim	Collins	em	Good	to	Great	(2007),	“pode	uma	boa	     4457:2007 “Sistema de Gestão da Investigação, Desenvol-
empresa	tornar-se	uma	empresa	óptima,	e,	se	sim,	como?”             vimento e Inovação” que permite uma abordagem sis-
Miguel Sousa: O salto depende do tamanho do risco de inovar.        tematizada e contínua da Gestão da Investigação,


                                                                                                                                          15
16
                                                             Desenvolvimento             Nessa lógica vão sobreviver apenas aquelas Organizações que
                                                         e Inovação. O conceito          consigam fazer e apresentar soluções no mercado melhores
                                                   de Inovação é entendido por           do que as dos seus concorrentes e para isso vão ter que ser
                                              esta Norma com um sentido menos            inovadoras. Não há outra alternativa.
                                         restrito que o tradicionalmente aceite.         Dianova: Que	boas	práticas	preconizaria	ou	gostaria	de	ver	
                                     A inovação de base científica e de origem           disseminadas	 pelas	 Organizações	 deste	 Sector	 e,	 natural-
                                 tecnológica, normalmente associada à inovação           mente,	nos	restantes?
                              de produtos e processos é ampliada, reconhecendo-          Miguel Sousa: Existem incentivos financeiros comunitários que
                           -se agora a inovação organizacional e a inovação de           não estão a ser utilizados pelas Organizações portuguesas. A
                         marketing.                                                      taxa de participação portuguesa em programas de índole euro-
                                                                                         peia é extremamente baixo quando comparado com o potencial
                    Contudo a existência de processos de inovação numa empresa,          existente. Estas Organizações deviam receber formação em
                    não garante uma empresa inovadora. A promoção e estímulo             como aproveitar estes incentivos, como participar em redes de
                    de uma cultura de inovação é o driver principal para o fomento       conhecimento europeias e principalmente como dar dimensão
                    e difusão dos processos de inovação nas Organizações.                europeia às boas práticas que temos em Portugal.

                    A INOVA+ surge como facilitador dos processos de inovação,           Para além disso, gostava de ver mais empreendedorismo na socie-
                    ajudando a encontrar, seja a nível nacional ou internacional         dade portuguesa, nos jovens e nos menos jovens. Para combater o
                    os meios disponíveis, quem é que já está a trabalhar naquela         desemprego são precisas mais empresas, e para isso são precisos
                    área, com quem as empresas devem trabalhar, quem são os              também mais empreendedores. Temos défice de cultura empre-
                    parceiros ideais, e como encontrar o financiamento certo.            endedora em Portugal, e na Europa em geral, sobretudo porque
                                                                                         lidamos mal com o risco e com o falhanço, contudo em situações
                    Dianova: De Empresa para Organização Social: como per-               de elevado desemprego, como aquela em que nos encontramos
                    cepciona a questão da Sustentabilidade nas Organizações              actualmente, é mais fácil arriscar. Mas não podemos pensar que
                    da	Economia	Social	e	Solidária?	Há	diferenças	substantivas	          em épocas de desemprego o empreendedorismo acontecerá au-
                    (para	 além	 das	 óbvias	 lucrativa	 vs	 não-lucrativa,	 mas	 não	   tomaticamente, simplesmente porque os desempregados vão
                    orientada	ao	prejuízo)	na	gestão	estratégica	das	diferentes	         começar a criar empresas. Em alguns casos isso até pode acon-
                    tipologias de Organizações?                                          tecer, contudo é preciso fomentar as condições necessárias para
                    Miguel Sousa: Os drivers de inovação mantêm-se quando passamos       construção de uma cultura empreendedora em Portugal.
                    das empresas para as Organizações da economia social e solidária.
                    Economia Solidária é centrada na valorização do ser humano e não     Dianova: Empreendedores com consciência social usam o
                    do capital. A inovação social tem que ultrapassar um paradigma       seu	poder	económico	(rentabilidade)	para	criar	um	mundo	
                    que existe em Portugal e na Europa de que em actividades de cariz    mais	 justo	 e	 equitativo	 (fazendo	 o	 bem).	 Numa	 conjuntura	
                    social temos muita dificuldade em expressar palavras como capital,   recessiva	e	de	austeridade	actual,	julga	que	estão	conjuga-
                    capitalismo, retorno de investimentos, investidores, ou, ainda um    das as forças para que esta tendência se confirme ou iremos
                    pouco menos, pois já não é tão pejorativo, empreendedorismo.         assistir,	 pelo	 contrário,	 a	 um	 retrocesso	 na	 Responsabili-
entrevista com...




                    É preciso tornar os negócios sociais lucrativos tal como são os      dade	 Social	 das	 Organizações	 (como	 sistema	 integrado	 de	
                    negócios da economia industrial e não ter problemas em desenhar      gestão	orientado	à	sustentabilidade)?
                    planos de negócio que pretendem ser lucrativos.                      Miguel Sousa: Existem muitos exemplos de modelos de
                                                                                         negócio que utilizam princípios de consciência social para
                    Dianova: Considera	que	esta	orientação	à	Sustentabilidade,	          comunicar com o seu mercado. Já não estamos a falar de uma
                    como Organização Socialmente Responsável numa óptica de              tendência mas sim de uma evidência. As empresas de hoje, que
                    utilização	 racional	 de	 recursos,	 é	 contrária	 à	 prossecução	   pretendem estar nos mercados de amanhã, devem incorporar
                    do	fim	social	-	cultural,	educativo,	científico…	-	destas	Or-        práticas de consciência social no funcionamento de toda a
                    ganizações?                                                          organização da empresa.
                    Miguel Sousa: Pelo contrário, a procura da sustentabilidade deve
                    ser uma missão de todos os actores sociais, económicos e polí-       Dianova: Para	si,	e	face	ao	que	observa	ou	possa	conhecer,	
                    ticos. Sustentabilidade é a nova buzz-word do século XXI e todo e    é afinal a Gestão da Mudança na Economia Social e Solidária
                    qualquer negócio/actividade tem que ter como objectivo principal     um mito ou uma revolução?
                    ser sustentável. Temos que acabar com os elefantes brancos.          Miguel Sousa: A inovação social é um facto e já é um driver
                                                                                         económico. Sectores como o da saúde, tecnologias de
                    Dianova: A	actual	crise	económico-financeira	e	social	é	um	          informação, transportes, entre outros, são bons exemplos da
                    catalisador ou obstáculo à mudança de paradigma de com-              revolução que está em curso.
                    portamentos e mentalidades junto dos Decisores e Gestores
                    das	 Organizações	 deste	 e/ou	 dos	 restantes	 sectores	 (con-
                    siderando	 o	 caso	 das	 Empresas	 públicas	 e	 das	 parcerias	
                    público-privadas)?
                    Miguel Sousa: Vivemos uma conjuntura económica delicada,
                    onde uma boa gestão dos problemas sociais terá uma
                    importância extrema. No actual contexto, as dificuldades têm
                    que ser transformadas em catalisadores de novos negócios,
                    novos paradigmas e novos actores. Temos que conseguir
                    produzir mais, apresentar dados científicos superiores e em
                    melhores condições que os outros e para isso vamos ter
                    que fazer melhor à custa de centros de conhecimento mais
                    eficientes, melhor tecnologia e melhor Organização.
Paulo Silva Pereira




                                                                                                                                        entrevista com...
                                         Co-fundador da Orange Bird e da PPL Portugal

                                              Dianova: A crise fi-      forma de trazer de novo à esfera “real” a actividade económica
                                               nanceira	 de	 2008,	     da nossa sociedade. Esse investimento é selectivo e procura
                                               assente numa “fa-        valorizar um impacto nas pessoas e no meio ambiente, muito
                                                lha	 de	 regulação,	    para além dos resultados financeiros positivos. Através de
                                                da	política	macro-      critérios rigorosos como estes, conseguimos garantir que a
                                                -económica	 e	 do	      actividade financeira fica ligada a iniciativas que possuem um
                                                próprio modelo          impacto visível e valorizado na e pela sociedade.
                                               de funcionamento
                                              do sistema de mer-        Dianova:	 Soumitra	 Dutta,	 Professor	 do	 INSEAD,	 afirma	 em	
                                             cado”,	 como	 refere	      Throwing Sheep in the Boardroom	 (2009)	 que	 os	 Media	
                                           Julian Birkinshaw em         e	 Redes	 Sociais	 estão	 a	 impulsionar	 para	 novos	 Valores,	
                                        Reinventing        Manage-      Comportamentos	 e	 Expectativas,	 considerando	 que	 são	
                                     ment	 (2010),	 provocou	 na	       revolucionários ao desafiarem as convenções actuais acerca da
                                 vossa opinião alguma mudança           interacção	social,	do	comportamento	organizacional,	da	gestão	
nos modelos de gestão na actualidade? Como podem as Orga-               e	da	governança,	em	suma,	do	Poder.	Quais	são	para	vocês	os	
nizações	tornar-se	mais	eficientes,	empreendedoras	e	criativas	         principais benefícios desta nova arquitectura de colaboração
face à sua própria sustentabilidade?                                    social?
Paulo Silva Pereira: Existe já uma análise extensa sobre a              Paulo Silva Pereira: Esta nova arquitectura de colaboração
crise financeira de 2008. Apesar de não sermos a fonte melhor           social privilegia a transparência, a exposição e partilha social
preparada para opinar, creio que no entanto concordamos que             e um espírito “win-win-win” em que qualquer parte envolvida
houve um descolar do modelo económico em vigor relativamente            ganha e dá a ganhar às outras partes.
à realidade vivida. Com uma forte bolha imobiliária e outra de
produtos derivados, viveu-se numa economia paralela, virtual            Há vários aspectos onde esta colaboração social traz claros
e vários níveis acima da realidade. Isto é, transaccionavam-se          benefícios. Vamos partilhar apenas um exemplo muito
bens, produtos e serviços muito para além da real capacidade            ilustrativo no caso do Crowdfunding. Um dos principais riscos
financeira das entidades envolvidas e muito para além do real           e preocupações com este conceito reside no facto de não haver
valor dos bens que estavam na origem desses contratos.                  garantia de cumprimento de execução de um projecto por parte do
                                                                        seu promotor. Assim sendo, investimos em determinado projecto
A grande mudança nos modelos de gestão da actualidade dá-se             esperando receber um prémio em troca (seja um bem, serviço,
precisamente nessa lógica, de trazer de novo “à terra” todo o meio      juros ou participação no capital da empresa) mas não temos
económico envolvente. As Organizações sentem hoje necessidade           qualquer certeza que este cumprirá com o que se comprometeu.
de operarem no mundo muito real em que os investimentos que
fazem, as operações que executam e os serviços e produtos que           Todavia, a estatística existente desde 2005 do modelo de
oferecem têm um impacto real, visível e mensurável.                     Crowdfunding é bastante reveladora e deve-se, essencialmente,
                                                                        ao efeito de transparência e colaboração que existe nas redes
Empreender e inovar é sustentável se trouxer valor acrescentado         sociais e nas plataformas comunitárias (como no caso do
a todo um meio ambiente e não apenas ao fornecedor ou ao                PPL). Aqui a gestão e a governança ao fim de devidamente
consumidor. As estratégias tomadas, as decisões corporativas e          implementado o conceito ficam a cabo da própria comunidade,
toda a acção de uma instituição são hoje determinadas num contexto      com resultados surpreendentes.
muito mais amplo de acção e influência. A responsabilidade e a
cidadania corporativas ganham valor para além das suas utilizações      Factos relativos ao risco de incumprimento:
cliché e tornam-se factores relevantes na visão e planeamento a         • Este research do Deutsche Bank, em 2007, revela já uma
médio longo prazo de qualquer Organização.                              tendência em que o incumprimento é significativamente inferior
                                                                        ao que ocorre na Banca formal. http://www.dbresearch.de/
O modelo de gestão das Organizações é hoje, por isso, um processo       PROD/DBR_INTERNET_DE-PROD/PROD0000000000213372.pdf
que evoluiu e se tornou mais sofisticado do ponto de vista social e     Dizem os entendidos que o facto de existir uma relação pessoal
ambiental. As Organizações necessitam apresentar uma proposta           com os Bancos (o projectista e o apoiante não se conhecem,
de valor não só credível e remuneradora aos seus accionistas mas        são anónimos), de haver um interesse mútuo entre apoiante e
também às pessoas e ao planeta. O focus em People,	Profit	and	          projectista e pelo facto de não haver intermediários, gera este
Planet é actualmente uma estratégia fundamental para que uma            fenómeno interessante de incumprimentos muito baixos.
Organização sustente resultados positivos a prazo.                      • Outro artigo interessante e relevante: http://www.soloco.
                                                                          co.uk/2011/03/crowdfunding-v-banks-who-can-you-trust/
Dianova:	 Foi	 recentemente	 lançada	 pela	 Euclid	 Network	            • Uma das plataformas de referência, (www.kiva.org) apregoa
European	 Third	 Sector	 Leaders	 a	 Taskforce	 for	 a	                   uma taxa de incumprimento inferior a 1%
“European Social Investment Facility” visando desenvolver               • Outras plataformas como a Zopa, Smava, etc, também evidenciam
recomendações sobre como a Comissão Europeia pode usar os                 taxas de incumprimento inferior a 1%. Outro artigo interessante:
seus recursos financeiros mais eficientemente para suportar               http://investmentinstartups.wordpress.com/crowdfunding-2/
empresas	 sociais,	 empreendedorismo	 social	 e	 a	 economia	
social	 na	 Europa,	 no	 âmbito	 da	 Estratégia	 Europeia	 2020,	 do	   Dianova:	Da	inteligência	emocional,	à	inteligência	colectiva	até	
Acto do Mercado Único e da Social Business Initiative. Como             à	 inteligência	 colaborativa,	 o	 que	 ganham	 as	 Organizações	
percepcionam o papel do Investimento Social numa conjuntura             e	 a	 Comunidade	 numa	 dinâmica	 de	 gestão	 de	 capital	
como a actual e em contraponto à questão anterior?                      relacional e cultura de cooperação/cooptição?
Paulo Silva Pereira: O investimento social é uma importante             Paulo Silva Pereira: Daniel Goleman trouxe-nos

                                                                                                                                              17
18
                                                                uma revolução no           factor limitador de oportunidades.
                                                           pensamento através            • Acção global : o avanço das tecnologias de comunicação deu
                                                     de “Emotional Intelligence”.          azo ao aparecimento de Organizações globais que operam
                                                Recentemente trouxe-nos uma                a baixo custo. Com a proliferação do acesso à internet, uma
                                           nova revolução nesse pensamento,                organização global integrada deixa de possuir barreiras
                                       desta vez com “Social Intelligence”. Aqui ele       geográficas e permite o acesso a novos mercados, ideias e
                                   faz uma síntese apurada dos últimos estudos e           tecnologia.
                               resultados de pesquisa em biologia e neurociência,
                            revelando que nós estamos todos wired to connect,            Algumas ferramentas sociais online, como o crowdfunding,
                         isto é, todos temos um natural circuito de conexão ao           reúnem e promovem estes quatro princípios, e por conseguinte,
                      próximo, com um surpreendente impacto profundo das nos-            potenciam a cultura de cooperação/coopetição onde a fluidez de
                    sas relações em todos os aspectos do nosso dia-a-dia.                recursos e capitais, sem barreiras, traz um valor acrescentado
                                                                                         cujo benefício consegue ser auferido por um número muito
                    Ainda de acordo com Don Tapscott e Anthony D. Williams, entre        superior de participantes.
                    outros investigadores no campo da Inteligência Colectiva, são
                    necessários quatro princípios para que se extraia o real valor       Dianova:	 Mais	 do	 que	 buzzwords,	 Cidadania	 Socialmente	
                    desta força:                                                         Responsável,	      Responsabilidade	     Social	     Corporativa,	
                    • Espírito de abertura – Openness : partilha de ideias e de          Inevitabilidade	 de	 Transparência	 (Web	 2.0),	 Ética	 Social	 e	
                      propriedade intelectual. As Organizações e a comunidade            Investimento Social são instrumentos de estratégia de mudança
                      auferem maiores benefícios ao permitirem a partilha de ideias      orientados à Sustentabilidade das Organizações e da própria
                      e estas ganham consideravelmente em qualidade, ao se               coesão económica e social. Como surge o crowdfunding e como se
                      sujeitarem ao escrutínio comum através de colaboração.             pode definir este conceito?
                    • Parceria entre iguais – Peering : existe uma tendência para        Paulo Silva Pereira: O crowdfunding consiste em contribuições
                      “achatar” as estruturas das Organizações. Com organizações         financeiras de investidores online, patrocinadores ou doadores
                      horizontais (ex: o “abrir” do programa Linux onde qualquer         que financiam iniciativas ou entidades com fins lucrativos ou não
                      utilizador tem a liberdade de o modificar e desenvolver desde      lucrativos.
                      que o partilhe com todos) a parceria entre iguais é bem sucedida
                      porque promove a auto-organização – o que para certas tarefas      Existem três modelos de crowdfunding, todos eles baseados
                      é um estilo de produção que funciona de forma bem mais             na solicitação de contribuições financeiras com o intuito de
                      eficiente do que a organização tradicionalmente hierárquica.       promover o financiamento de um projecto, ideia ou iniciativa
                    • Partilha : as Organizações hoje já partilham várias ideias e       empreendedora. Essa solicitação é feita a um número elevado
                      conceitos, apesar de manterem algum controle sobre outras,         de potenciais investidores / patrocinadores / doadores, fazendo
                      como potenciais e críticos direitos de patente. A limitação e      uso de redes sociais e seguindo um desses três modelos:
                      ocultação de toda a propriedade intelectual - provou-se - é um     1. Doação, filantropia e/ou patrocínio, onde não existe um retorno
entrevista com...
entrevista com...
   financeiro a quem contribui, é gratificado através de prémios     nossos projectos de uns biólogos marinhos que pretendem criar
   criativos e participações no projecto ou ideia em causa;          uma empresa oferecem passeios de barco no Sado para ver
2. Empréstimos de pessoas a pessoas, com um retorno financeiro       golfinhos como um dos prémios).
   pré-acordado;
3. Investimento em troca de participação, lucros ou partilha de      Uma vez que o projecto esteja activo na plataforma, segue-
   receitas.                                                         -se a fase de divulgar e publicitar o projecto. Não se trata de
                                                                     “pedinchar” ou pedir esmola, trata-se de promover um projecto
O segundo e terceiro modelos são hoje questionados em alguns         empreendedor pessoal a um conjunto de potenciais investidores.
países, por falta de regulamentação e um potencial de alteração de   Alguns desses potenciais investidores serão críticos e não
regras de alocação de capital. Nos Estados Unidos a Securities and   investirão, outros serão parceiros e não só investirão como
Exchange Commission (SEC) bloqueou o modelo de investimentos         irão eles próprios promover o projecto, pois só se o projecto se
em capitais próprios por uma “crowd” enquanto delibera sobre         financiar é que esses investidores receberão o seu prémio.
a regulamentação. À data de hoje, comenta-se a tendência para
a SEC não só permitir estes modelos, como até os promover,           A regra de financiamento e custo é transparente. Se o projecto
pelos seus benefícios óbvios de incentivo ao empreendedorismo e      se financiar na sua totalidade (100%) ou mais dentro do prazo
desenvolvimento de projectos que na grande maioria não sairiam       estabelecido, o promotor recebe todos os fundos e paga uma
do papel de outra forma. Apoiantes de renome como o presidente       comissão de 5% ao PPL para que este continue a sua missão de
Obama, ou o ex-presidente Bill Clinton, apelam à regulamentação      promoção do crowdfunding e do empreendedorismo em Portugal.
rápida e à alavancagem destas ferramentas pelo seu potencial claro
de promoção do empreendedorismo e emprego na economia. A SEC         Se o projecto não se financiar na totalidade dentro do prazo
poderá desta forma vir a seguir o exemplo dos governos britânicos    previsto, os valores até aí investidos são devolvidos integramente
e holandês que já deram passos significativos permitindo os três     aos investidores sem qualquer custo para qualquer das partes
modelos e no caso holandês criando mesmo um veículo inovador         envolvidas. O projecto neste caso acaba por ser rejeitado pelo
para a gestão da participação em capitais próprios.                  público e/ou não se executa ou se re-candidata com um formato
                                                                     diferente. Com o projecto financiado, o promotor recebe os
Dianova: Como pode um Empreendedor ou Organização ver                fundos, implementa e executa o projecto e entrega os prémios e
viabilizada financeiramente a sua Ideia ou Projecto através do       recompensas prometidos aos investidores.
crowdfunding	e	especificamente	do	PPL	(www.ppl.com.pt	)?	
Paulo Silva Pereira: O promotor tem uma ideia e concebe um           Dianova: A quem se destina e que tipo de projectos são
projecto. Para o efeito descreve-o claramente, define o montante     passíveis	de	se	candidatar	ao	PPL?		
de financiamento que necessita (e que irá necessitar detalhar        Paulo Silva Pereira: Qualquer tema de projecto é aceite, sendo
também) e o prazo em que deseja financiá-lo (falamos de prazos       que os projectos devem ter um cariz empreendedor, alinhados
que vão desde os 30 dias aos 120). Um dos factores relevantes        aos valores por que se rege a equipa do PPL (ver no site).
do conceito de crowdfunding é definir um conjunto de prémios         Neste momento já temos projectos activos, representativos de
e recompensas que sejam verdadeiramente apelativos. Aqui             empreendedorismo e ciência, um negócio online, dois projectos
está uma das chaves que definem que projectos se financiam.          portugueses de Moçambique, um projecto social, um jogo de
Os apoiantes mais próximos do promotor poderão investir              tabuleiro, uma aplicação móvel para telemóvel, uma plataforma
na própria equipa e simplesmente doarem o dinheiro sem se            profissional de vídeo, o CD de uma banda, três projectos de livros
preocuparem com a recompensa. O investidor anónimo estará            (fotográfico, crianças e de viagens), uma tese universitária e uma
necessariamente interessado no prémio que está a comprar.            exposição de fotografia.

Os projectos podem oferecer prémios relacionados com a               Tipicamente trata-se de projectos de financiamento
execução do projecto (um livro ou um CD ou uma aplicação móvel)      relativamente pequenos, pois o crowdfunding baseado em
ou podem oferecer prémios bem criativos e apelativos mas que         donativos e prémios normalmente não ultrapassa o
não tenham necessariamente que ver com o projecto (um dos            valor de 100 mil euros e os que temos actualmente

                                                                                                                                           19
20
                                                                 não ultrapassam os
                                                             10 mil euros cada um.

                                                 Os critérios de aceitação por parte
                                             do PPL são projectos que tenham
                                        uma origem fidedigna (alguém que se
                                   identifique claramente e que dê mostras do seu
                                comportamento geral (através dos seus perfis online,
                             as suas redes de contactos, o seu CV, associações, etc.),
                          sejam viáveis (com capacidade, conhecimento e vontade de
                      se implementarem), sejam sérios na sua intenção, se coadunem
                    com os valores da equipa PPL e que tenham fortes capacidades de
                    se financiarem (equipa com boa rede de apoio).

                    Dianova:	 Quais	 as	 vossas	 expectativas	 relativamente	 à	
                    evolução	do	www.ppl.com.pt	,	em	que	se	baseia	o	vosso	modelo	
                    de negócio e qual o seu impacto esperado a nível de mudança
                    de mentalidades e comportamentos junto da Sociedade e de
                    potenciais Social Business Angels?
                    Paulo Silva Pereira: O PPL tem um modelo de negócio simples,
                    que cobra uma comissão de 5% a projectos que se financiem a
                    100% ou mais dentro do prazo estabelecido e que não cobra
                    absolutamente nada caso contrário. Mas o modelo de negócio
                    não se cinge a esta simples fórmula matemática. O potencial do
                    Crowdfunding enquanto plataforma de empreendedorismo e
                    inovação social é claro. As parcerias necessárias para extrairmos
                    todo esse potencial, a criação de uma vasta comunidade
                    interessada e o desenvolver de serviços associados proporciona
                    então um caso interessante de investimento com retorno e elevado
                    impacto na sociedade.                                                 comunidade. Quem decide? Nós decidimos, todos quantos revelem
                                                                                          interesse em determinados projectos. O PPL somos todos nós.
                    As apresentações que vimos no primeiro evento internacional           Para um Social Business Angel esta ferramenta torna-se num
                    de crowdfunding em Portugal, no passado dia 28 de Setembro            exercício de validação crítica de uma ideia por parte da sociedade.
                    na Fundação Calouste Gulbenkian, deixaram-nos entender                Uma ideia com uma vasta comunidade de apoio por trás que
                    que o modelo de crowdfunding por capitais próprios, em que            tenha obtido um voto directo de interesse via investimentos por
                    os promotores de uma ideia ou projecto são empresas que               parte desses apoiantes é uma ideia pré-aprovada socialmente
entrevista com...




                    oferecem a troco de investimento do público em geral uma parte        com impacto positivo garantido à partida. Para além desta
                    dos seus capitais, é o modelo com maior potencial de promoção         filtragem, o Crowdfunding é em si um meio ideal para um Social
                    no empreendedorismo em geral.                                         Business Angel operar, conhecendo novos projecto, novas
                                                                                          equipas e investindo directamente nestes.
                    O PPL não opera nesta área, dado ela revestir-se de detalhes e
                    requisitos legais que necessitam ainda de um mais aprofundado         O PPL, enquanto solução donation based, prioriza o provar do
                    conhecimento antes de se lançar em Portugal.                          conceito e a criação de uma comunidade de apoio que acredite
                                                                                          no potencial desta ferramenta que lhe pertence. Uma eventual
                    No entanto, o PPL na versão actualmente existente, donation           evolução pode passar pela oferta de serviços aos promotores de
                    based, possui já os principais atributos que proporcionam             projectos (serviços de lançamento e planeamento de projecto,
                    uma mudança de mentalidade abrindo novas janelas a toda a             serviços de incubação após financiamento do projecto, etc.),
                    comunidade. Nenhuma entidade que participe neste modelo               serviços aos investidores (conta premium com diversas vantagens
                    consegue obter qualquer benefício se as outras entidades              a saber em breve) e serviços a parceiros (ex: gestão fechada
                    participantes não obtiverem também (por exemplo: promotor             de projectos – financiamento de projectos em comunidade
                    de um projecto, investidor e plataforma PPL). O sucesso de uma        fechada, serviços de estabelecimento de plataformas internas
                    destas entidades é tanto maior quanto essa entidade promover          semelhantes), lançamento de plataformas especializadas (ex:
                    as outras envolvidas. Ou seja, o espírito de colaboração não é aqui   Crowdfunding especialmente dedicado ao financiamento de
                    apenas um factor desejável. Ele é um factor crítico de sucesso.       bolsas para estudantes carenciados, etc.).

                    Este espírito de colaboração, a total transparência do processo       Vemos ainda o PPL evoluir para conceitos mais avançados de
                    (qualquer projecto ou processo de financiamento é visível por         crowdfunding em que por exemplo, os investidores poderão
                    uma enorme comunidade e escrutinado por todos, levando a              contribuir não apenas com dinheiro mas possivelmente com
                    um elevar dos níveis de qualidade e decréscimo de um potencial        competências, trabalho ou outros recursos (ex: divulgação).
                    incumprimento) e o factor “ganho se todos ganharem” são
                    ingredientes para a implementação, adaptação, exploração e            Uma das mais-valias desta ferramenta consiste na educação
                    crescimento de todo este conceito em Portugal, juntamente com         financeira que proporciona aos seus utilizadores. Apesar de se
                    uma nova mentalidade inovadora, empreendedora e colaboradora.         tratar de um processo simples e transparente, o lançamento
                                                                                          de um projecto no PPL segue os mesmos passos de um
                    Assistimos a uma democratização da decisão de investimento            empreendedor sofisticado (para que servirá o dinheiro? Que
                    e ao lançamento de projectos vindos da comunidade e para a            problema irá resolver? O que ganha um investidor? Como
posso confiar? Etc.). Mais interessante ainda seria instituir esta   Ambos os conceitos são extremamente relevantes para a nossa




                                                                                                                                         entrevista com...
educação financeira nos nossos programas educativos. Porque          sociedade mas servem propósitos distintos com impactos
não termos como obrigatório o lançamento bem sucedido de             também distintos.
um projecto em plataforma de crowdfunding no programa do
ensino secundário para alunos do 10º ao 12º ano? Porque não          Dianova:	Tendo	acabado	(a	13	de	Setembro)	de	ser	publicado	
nas universidades de Gestão, Economia e não só? Porque não           o 1º Relatório de Avaliação do Memorando de Entendimento
nos programas avançados de gestão para executivos onde se            com a Troika sobre as medidas de austeridade que estão
lecciona empreendedorismo teórico?                                   a	 ser	 postas	 em	 prática	 em	 Portugal,	 e	 face	 aos	 mais	 de	 1	
                                                                     mil milhões de Euros que terão que ser cobertos em 2012
Dianova:	Existindo	a	Bolsa	de	Valores	Sociais	em	Lisboa,	o	PPL	      afectando directamente os contribuintes e a sua disponibilidade
assume-se	 como	 um	 projecto	 de	 captação	 de	 investimento	       financeira,	prevêem	dificuldades	ou	constrangimentos	a	este	
concorrente	ou	complementar?	Quais	as	principais	diferenças	         modelo de captação de investimento nos próximos 2 anos?
entre ambas as plataformas?                                          Paulo Silva Pereira: Vivemos tempos desafiantes que nos
Paulo Silva Pereira: A Bolsa de Valores Sociais (BVS) satisfaz       afectam a todos. As medidas de austeridade visam criar
uma necessidade semelhante no promotor, que é a angariação           austeridade financeira no nosso próprio comportamento, para
de fundos. No entanto, os projectos nesta Bolsa necessitam           que se promova um gasto inteligente (leia-se com cuidada
ter um cariz social e com impacto comunitário que permitirá à        percepção do impacto do gasto) e um angariar de poupanças por
Organização aceitar ou não a candidatura do projecto. Para quem      parte da população em geral. Enfrentamos tempos de escassez
investe, a BVS oferece a realização pessoal de ter contribuído       de liquidez e em que cada euro terá um significado acrescido
para algo relevante para a sociedade e para o bem comum.             quando sair das nossas carteiras.

O PPL satisfaz a mesma necessidade de angariação de fundos           Nos próximos 2 anos, estes desafios tornar-se-ão mais evidentes
por parte do promotor. Contudo, os projectos lançados no PPL,        e afectar-nos-ão directamente a todos.
tipicamente, não terão um cariz social. Terão um cariz mais
empreendedor e mesmo capitalista (vou lançar o meu livro,            No entanto, sabemos que o país não vai acabar agora.
vou fazer uma festa, vou montar uma empresa, vou montar              Não estamos a preparar a cerimónia fúnebre de Portugal.
uma plataforma digital, etc.) necessitando, no entanto, de estar     Historicamente até passámos por momentos bem mais próximos
alinhados aos valores por que se rege a equipa do PPL (ver           dessa cerimónia, e sempre soubemos correr com essa nuvem
no site). O investidor num projecto do PPL, particularmente          negra a rolo da massa.
estará a comprar uma recompensa para além de apoiar uma
equipa em que acredita, um projecto aliciante e uma acção de         Muitos amigos e colegas emigram, compreensivelmente, à
empreendedorismo de cariz social ou não.                             procura de estabilidade e reconhecimento que não encontram
                                                                     por cá. Quem opta por estar neste país, hoje sabe que apenas
                                                                                          existe uma forma de o fazer... ser parte
                                                                                          da solução! Já não existe o status quo do
                                                                                          emprego e salário garantido e um planear
                                                                                          antecipado de férias e tempos de lazer. Hoje,
                                                                                          há que sair da rotina, procurar soluções
                                                                                          e esforçar-se por encontrar formas de
                                                                                          abrir os horizontes às nossas e futuras
                                                                                          gerações. Urge encontrar soluções e apoiar
                                                                                          quem as procura por forma também a que
                                                                                          um dia esses nossos amigos emigrantes
                                                                                          regressem com conhecimentos e energia
                                                                                          acrescidas para continuarmos a viver bem e
                                                                                          melhor. Em Portugal há uma qualidade de
                                                                                          vida intrínseca que não é valorizada pelas
                                                                                          dificuldades que atravessamos noutros
                                                                                          aspectos. Não conseguimos dar o devido
                                                                                          valor à segurança relativa que ainda existe,
                                                                                          ao tempo e aos valores sociais, familiares
                                                                                          e comunitários que possuímos. Portugal
                                                                                          é um país pleno de ideias, inovação e
                                                                                          conhecimento e capacidade para as
                                                                                          implementar.

                                                                                           Ao mudarmos a nossa mentalidade ar-
                                                                                           riscamo-nos a ter condições de evoluir e
                                                                                           estar na vanguarda de um novo conceito
                                                                                           de bem-estar. Este conceito dá primazia
                                                                                           a valores importantes em que Portugal
                                                                                           possui uma balança favoravelmente dese-
                                                                                           quilibrada e menos relevância à riqueza
                                                                                           extrema ou a números económicos
                                                                                           que nem sempre conseguem
                                                                                           medir o índice de felicidade.

                                                                                                                                               21
22
                                                                Não é por acaso           que terão mais capacidade de se financiarem necessitarão
                                                             que Portugal é dos           de oferecer algo mais à sociedade do que o simples prazer ou
                                                       países mais procurados             benefício de um pequeno grupo de indivíduos.
                                                 pela comunidade europeia de re-
                                             formados.                                    A promoção do empreendedorismo e a inovação social é um
                                                                                          elemento com claro potencial nesta ferramenta. Os investidores
                                     Que mentalidade necessitamos de mudar?               individuais ou institucionais que procuram onde fazer a diferença
                                 Contavam-nos esta anedota um dia: um cliente             têm agora um canal privilegiado de validação desse potencial
                             entrou numa farmácia chinesa e encontrou vários              impacto. Fazem-no através do conhecimento de novas e
                          boiões com lagartos vivos lá dentro. Viu um boião que dizia     inovadoras ideias que vêm directamente da comunidade e
                       “perigo, lagartos perigosos” e que não tinha tampa. Perguntou      para a comunidade, a troco de recompensas que mostram um
                    apreensivo ao farmacêutico se não era perigoso ter aquele boião       compromisso do projecto para quem aposta em si.
                    aberto. Ao que ele respondeu, acalmando-o, que não, não seria
                    perigoso visto tratarem-se de lagartos portugueses. De cada vez       Dianova:	Por	último,	mas	não	menos	importante,	para	vocês	é	
                    que um tentava sair do boião os outros dois encarregavam-se de        afinal a Gestão da Mudança na Economia Social e Solidária um
                    o puxar para baixo.                                                   mito ou uma revolução?
                                                                                          Paulo Silva Pereira: Por tudo o que foi exposto na nossa conversa,
                    Necessitamos de nos promover mutuamente, apoiarmo-nos                 cremos que a Gestão da Mudança na Economia Social e Solidária
                    de forma colaborativa e alavancarmos as nossas virtudes e             encontra no PPL uma ferramenta importante que pode apoiar
                    capacidades que juntas corresponderão sempre mais do que à            uma mudança de mentalidade, e contribuir para uma revolução
                    soma individual das partes.                                           na forma de pensar a economia social. Não é por acaso que
                                                                                          desde a ocorrência da crise financeira em 2008, mais de 180
                    Nos tempos de austeridade que vivemos, vemos o PPL e o                bancos fecharam portas, internacionalmente, mas os bancos
                    crowdfunding em Portugal como uma oportunidade importante             sociais, com especial prevalência na Europa, cresceram a ritmos
                    para os investidores canalizarem o pouco das suas poupanças           superiores a 30%. Assistimos a uma viragem de pensamento, o
                    para projectos com impacto social visível e que ofereçam um           “cada um por si” e o “mais melhor que menos” provaram não
                    retorno em forma de prémio que seja apelativo ao investidor.          ser sustentáveis. Somos seres inteligentes, apesar de tudo,
                    De facto, sentimos o nosso cinto a apertar. Mas continuamos a         podemos não saber ao certo por onde ir, mas sabemos bem por
                    ter uma pequena disponibilidade para apoiar aqueles biólogos          onde não ir.
                    marinhos que têm um pedido de patente global e que são
                    portugueses, em troca de uma visita em mar alto à execução            À semelhança da Greenpeace nos anos 80, que ajudou a lançar um
                    do seu protótipo. Alternativamente também podemos comprar             novo movimento ambientalista e de atenção para com o planeta,
                    um livro de histórias para crianças para oferecer este Natal. Este    vivemos hoje em tempo de necessidade de um novo movimento.
                    é escrito por uma autora portuguesa e ilustrado por um artista        Um movimento que alguns já apelidam de Financepeace.
                    moçambicano. Acresce que este livro tem uma componente
                    social importante visto que será distribuído e lido em várias         É bom vivermos em tempos inovadores como estes em que os
entrevista com...




                    escolas de bairros pobres de Maputo.                                  canais de comunicação e transferência de capitais e riqueza
                                                                                          sofrem transformações abruptas com o potencial de melhorar
                    Os promotores de projectos rapidamente irão perceber, também,         significativamente a capacidade de gerar bem-estar de toda uma
                    que em tempos de maiores desafios como os actuais, os projectos       comunidade ou multidão. Carpe diem!




                                                                       Fig. 1 - Equipa PPL Portugal
Patrícia Boura




                                                                                                                                        entrevista com...
                                          Vice-Presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES)

                                            Dianova: Em Por-           -me também um pilar importante neste desenho, que está aliás
                                             tugal,	os	especia-        previsto na Lei de bases.
                                              listas continuam
                                               sem chegar a            Dianova:	Como	Vice-Presidente	da	CASES,	quais	os	principais	
                                               um     consenso         constrangimentos ou barreiras que as Organização da
                                               terminológico           Economia Social e Solidária enfrentam a nível da sua Gestão?
                                               sobre o Sector          Como escolher o melhor modelo de gestão para uma dada
                                              dito	 não-lucra-         situação?
                                            tivo:      Terceiro        Patrícia Boura: Esse é um tema que também não é consensual.
                                           Sector,	 Economia	          Também não creio que a CASES deva conduzir as Organizações
                                         Social	 e	 Solidária,	        num ou noutro sentido. Cada qual deverá encontrar o seu
                                       Sociedade	 Civil...	 Na	        caminho. De qualquer forma, do meu ponto de vista pessoal, o
                                   sua	 opinião,	 qual	 a	 desi-       melhor modelo seria aquele que conseguisse conciliar o melhor
                               gnação que melhor caracte-              dos dois mundos. Ou seja, conseguir trazer eficiência e eficácia às
riza este Sector e quais as suas principais implicações? A             Organizações baseadas numa gestão democrática, participada, e
própria	denominação	Organização	Sem	Fins	Lucrativos	con-               com objectivos bem claros para que todos trabalhem no sentido
tinua a fazer sentido à luz actual do conhecimento e da con-           de um objectivo comum.
juntura	económico-social?	Qual	a	designação	que	considera	
mais apropriada ao desafio atual da Sustentabilidade a que             Dianova: Existe a percepção de que uma real e efectiva cultura
também estas Organizações estão sujeitas?                              de	 cooperação	 e	 de	 colaboração	 é	 incipiente	 em	 Portugal,	
                                                                       sobretudo num sector tão escasso em recursos e competências
Patrícia Boura: Nas Conferências de Economia Social que                como o da Economia Social e Solidária. A que se esta exiguidade
fizemos na semana de 12 a 16 de Setembro, esse foi obviamente          de	“solidariedade”	inter-organizacional	e	inter-sectorial?
um dos temas abordados e foram apresentadas varias versões             Patrícia Boura: Em primeiro lugar porque o sector até há muito
terminológicas que continuam em aberto. É muito interessante           pouco tempo nem se conhecia. Esse foi um dos primeiros
a discussão teórica à volta do assunto, sob o ponto de vista           desafios da CASES. Promover o reconhecimento dos parceiros
académico, mas do ponto de vista da prática, se o consenso for         neste sector. Não imaginava que actores no mesmo terreno
à volta da não exclusão de nenhuma das formas de economia              pudessem ser perfeitos desconhecidos e não trabalhassem em
social e solidária, mas sim da sua inclusão, parece-me que não         rede, mas de facto, era uma realidade.
há grande problema, seja qual for a denominação escolhida.
                                                                       Depois, com efeito, não existe uma cultura de trabalho em
A Europa e as suas instituições designam o sector por Economia         rede que tem que ser estimulada, promovida e premiada,
Social, embora do ponto de vista académico esse nem seja o             principalmente em momentos em que os recursos escasseiam.
melhor conceito para a definir, uma vez que historicamente             Este sector tem de dar o exemplo na partilha de recursos,
representa uma grande dependência face ao Estado e o que se            trabalho em rede, e solidariedade institucional.
pretende é uma autonomia e uma relação de parceria e não de
subserviência ou de subsidiodependência.                               Dianova:	Herman	&	Rentz,	no	artigo	“Nonprofit	Organizational	
                                                                       Effectiveness: contrasts between especially effective and
De qualquer forma, existem vários grupos a trabalhar essa              less	 effective	 organizations”	 (1998)	 Nonprofit	 Management	
questão. Aguardemos.                                                   and	 Leadership,	 afirmam	 que	 um	 dos	 factores	 distintivos	
                                                                       de	 uma	 Organização	 Não-Lucrativa	 mais	 eficaz	 é	 um	 maior	
Dianova:	 Lançado	 no	 início	 deste	 ano,	 o	 CNES	 –	 Conselho	      uso	 de	 procedimentos	 correctos	 de	 gestão	 (avaliação	 de	
nacional para a Economia Social prevê um estudo a desenvolver          necessidades,	 planeamento	 estratégico,	 mensuração	 de	
pelo	 Grupo	 de	 Trabalho	 para	 a	 Reforma	 Legislativa	 do	          satisfação).	Como	percepciona	a	questão	da	Sustentabilidade	
Sector	 da	 Economia	 Social	 e	 Solidária,	 Presidido	 pelo	 Prof.	   nas Organizações da Economia Social e Solidária?
Rui	 Namorado,	 da	 Faculdade	 de	 Economia	 da	 Universidade	         Patrícia Boura: Concordo em absoluto. Parece-me fundamental
de	 Coimbra.	 Peça	 angular	 para	 o	 Sector,	 quais	 são	 na	 sua	    para a sustentabilidade das Organizações que estas atentem
opinião os principais eixos que o novo enquadramento legal             à sua organização, enquanto um todo e não apenas com a
deve promover?                                                         preocupação central na sua missão, porque isso não existe.
Patrícia Boura: Deve, antes de mais, trazer aos dias de hoje
aquilo que está legislado. A legislação deste sector é anacrónica      É óbvio que a missão e o objecto social da Organização é aquilo
e dispersa. Penso que seria muito útil uma actualização da             que move a gestão, mas precisamente por isso, todos os outros
legislação família a família (associações, cooperativas, fundações,    “departamentos” devem funcionar eficientemente para que a
misericórdias, etc.) como está a ser desenvolvida nesse grupo de       missão se cumpra.
trabalho, e por outro lado uma “lei chapéu” que as enquadre e
lhes dê força.                                                         De que adianta fazer um excelente trabalho social com crianças
                                                                       desfavorecidas se estiver em risco a continuidade da minha
A Lei de Bases da Economia Social foi já aprovada na generalidade e    Organização por falta de recursos e eu tiver que fechar portas,
vai agora ser discutida na sua especificidade. Espero que se consiga   amanhã? Nós somos o que fazemos pelo que de nada me adianta
um consenso de todos os partidos políticos à volta do tema.            ser excelente se não o puder praticar.

Reconhecer a inovação neste sector parece-me primordial, pelo          Dianova: Considera que esta orientação                 à
que o reconhecimento legislativo das empresas sociais parece-          Sustentabilidade,	 como	 Organização Socialmente

                                                                                                                                              23
24
                                                                Responsável numa             caminhos e tiver a capacidade de se reinventar todos os dias. É
                                                            óptica     de utilização         valido para os outros sectores e é valido para este.
                                                      racional de	 	 recursos,	 é	
                                               contrária à prossecução do fim                Dianova:	 Que	 boas	 práticas	 preconizaria	 ou	 gostaria	 de	 ver	
                                           social	(cultural,	educativo,	científico…)	        disseminadas	 pelas	 Organizações	 deste	 Sector,	 sobretudo	
                                       destas Organizações?                                  numa conjuntura actual de crise económica e financeira?
                                  Patrícia Boura: Muito pelo contrário. É                    Patrícia Boura: Verdadeiro trabalho em rede, estudos de impacto
                               fundamental à sua sobrevivência tal como acima                reais, trabalho com o utente e não para o utente, real capacitação
                            exemplifiquei.                                                   do utente, eficácia e eficiência na gestão, procura de caminhos
                                                                                             para a inovação e o empreendedorismo sociais, parceria com o
                      Dianova:	A	actual	crise	económico-financeira	e	social	é	um	            Estado e não dependência do Estado.
                    catalisador ou obstáculo à mudança de paradigma de com-
                    portamentos e mentalidades junto dos Decisores e Gestores                Dianova:	Para	si,	é	afinal	a	Gestão	da	Mudança	na	Economia	
                    das Organizações deste sector?                                           Social e Solidária um mito ou uma revolução?
                    Patrícia Boura: Pode ser sempre as duas coisas, mas no fim,              Patrícia Boura: Terá que ser uma realidade a muito curto prazo
                    só ficará quem tiver a capacidade de mudar e de se adaptar à             sob pena de não cumprir aquilo a que se propõe. Contribuir para
                    nova realidade e às novas circunstâncias. Quem encontrar novos           um melhor desenvolvimento socioeconómico do país.




                                                                    Lino	Maia
                                                                    Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS)

                                                                     Dianova: Em Por-        envolvidas a curto e médio prazo para todas as partes, para que o
                                                                     tugal,	os	especia-      conflito, potencial ou aberto, possa ser antecipado e gerido.
                                                                     listas continuam
                                                                     sem chegar a um         Dianova: As Organizações estagnadas que persistam em
                                                                    consenso termi-          paradigmas conservadores e obsoletos poderão oferecer
                                                                  nológico sobre o           uma	 maior	 resistência	 à	 mudança?	 Quais	 as	 principais	
                                                                 Sector	 dito	 não-lu-       implicações e desvantagens desta resistência?
                                                               crativo	(mas	não	orien-       Lino	 Maia: Num processo de gestão da mudança, um dos
                                                            tado	ao	prejuízo):	Terceiro	     maiores desafios está em permitir, e potenciar, a mudança
                                                       Sector,	 Economia	 Social	 e	         nas várias partes do sistema (organização) envolvendo todas as
                                                Solidária,	 Sociedade	 Civil...	 Na	 sua	    pessoas, mas sem permitir a perda de identidade e, talvez mais
entrevista com...




                    opinião,	qual	a	designação	que	melhor	caracteriza	este	Sector	e	         importante, a identificação plena dos colaboradores com a Missão
                    quais as suas principais implicações?                                    da Organização. Este factor, a identificação dos colaboradores de
                    Lino	 Maia: Há três grandes “famílias” não-lucrativas: o                 uma Organização sem fins lucrativos com a Missão desta, parece
                    cooperativismo, o mutualismo e a solidariedade social. O que             ser um dos que, de forma mais intensa, permite compreender a
                    caracteriza a família da solidariedade social é a congregação de         persistência da ligação entre colaborador e Organização.
                    esforços e de contributos em favor de outros, privilegiadamente
                    os mais carenciados, e não em benefício próprio. Desde sempre            Principalmente num meio em que as condições laborais
                    me tenho batido pela designação de Sector Solidário.                     oferecidas são muitas vezes precárias e menos atraentes, quando
                                                                                             comparadas com as condições laborais numa organização
                    Dianova:	Assiste-se	hoje	a	uma	erosão	ou	anomia	de	valores.	             empresarial com fins lucrativos. A resistência à mudança, por seu
                    Os princípios éticos que conformam as nossas decisões                    lado, é natural e humana. Numa Organização em que a estrutura
                    individuais e organizacionais carecem de uma imperativa                  é, antes de tudo o resto, humana também e orientada para servir
                    reeducação e formação societal que molde novas atitudes de               as necessidades humanas, a resistência deve ser esperada e
                    dignidade humana ante o capitalismo selvagem de lucro fácil              trabalhada. Parte desta resistência parece também advir da
                    e imediato a qualquer custo?                                             forte identificação dos colaboradores com a Organização e sua
                    Lino	 Maia: Diria que a economia (ordenamento na casa) deve              Missão, com o facto de sentirem as características do trabalho
                    ser caracterizada pela procura e harmonização do que é belo,             que desempenham como suas e, essencialmente, da dificuldade
                    bem e bom. Para todos. Talvez isso esteja um pouco esquecido e           em separar o desempenho técnico e profissional do envolvimento
                    importa ser retomado.                                                    emocional que muitas destas funções implicam necessariamente.
                                                                                             Numa Organização sem fins lucrativos, como uma I.P.S.S.,
                    Dianova: Gestão de mudança implica necessariamente uma                   o desempenho profissional implica muitas vezes ser
                    gestão de conflito?                                                      envolvido emocionalmente, pelo que a mudança num padrão
                    Lino	Maia: Na medida em que mudança significa alterar a ordem            comportamental imbuído de vários padrões emocionais é,
                    previamente estabelecida, ordem essa que resultou de sucessivos          certamente, tarefa complexa. Não é, no entanto, impossível. É
                    reajustes numa estrutura, sobretudo humana, a gestão dessa               até necessária, se as Organizações sem fins lucrativos querem
                    mudança não pode deixar de ter em conta que serão necessários            caminhar no sentido da sustentabilidade.
                    novos reajustes. Independentemente da natureza ou da dimensão
                    desses acertos, diferentes perspectivas serão encontradas e,             Dianova:	Que	competências	e	procedimentos	são	necessários	
                    consequentemente, vantagens e desvantagens destas novas                  para uma gestão cada vez mais eficiente e eficaz na Economia
                    perspectivas serão visíveis a curto, médio e longo prazo. Na gestão da   Social?
                    mudança interessa compreender quais as vantagens e desvantagens          Lino	Maia: Realçaria nesta resposta as questões relacionadas com
entrevista com...
a gestão eficaz (mais do que eficiente na maior parte dos casos) do   Lino	Maia: Penso que é sempre necessário vender a mudança a
improviso e da reacção a situações inesperadas, especialmente         quem dela faz parte. Talvez prefira chamar-lhe argumentação,
porque, muitas vezes, estas Organizações trabalham com situações-     mas a venda dos argumentos é sempre necessária, isto porque
-limite. Ora, para gerir eficazmente o improviso é necessário que     não há certezas à partida de que a mudança trará melhores
as Organizações se orientem para a eficiência, isto é, para uma       condições do que as actuais. Especialmente num meio
gestão de recursos (humanos e físicos) que tenha como princípios      socioeconómico tão conturbado como o que se vive actualmente.
orientadores obter os melhores resultados (qualidade) com o menor     Deve também partir-se do princípio de que a mudança tem como
desperdício de recursos (gestão orçamental).                          ponto inicial a definição clara da situação actual e da desejada
                                                                      com o processo de mudança. Esta informação deve ser clara
O controlo de indicadores financeiros é de grande importância neste   para todos os envolvidos.
sector, orientado para a não lucratividade mas, como referiam na
primeira pergunta, que não orientado para o prejuízo. Trata-se de     Se os objectivos com o processo de mudança estão largos passos
assegurar que há competências de gestão na Organização.               à frente da situação desejável definida à partida, então um de
                                                                      dois erros pode estar a acontecer: ou a situação desejável não é
Dianova: Como gerir a mudança em harmonia com os valores              ambiciosa o suficiente para o processo de mudança que se quer
internos de uma Organização?                                          implementar e a Organização tem capacidade para mais ainda;
Lino	Maia: Mais uma vez trabalhando a Missão e a forma como           ou a definição de metas com a mudança está muito para além do
cada colaborador desta Organização não lucrativa a vê e traduz.       que a organização sustenta actualmente e a médio prazo. Seja
A Missão destas Organizações deve estar plenamente espelhada          como for, a mudança parece comprometida à partida. Trata-se
e clara para quem nelas trabalha. A forma como essa Missão            de definir metas claras para todos, se possível, traduzíveis em
é traduzida pode, e deve, ser adaptada aos recursos que a             comportamentos e indicadores visíveis.
Organização tem e que estão em permanente mudança. Um dos
exemplos que se pode dar nesta área é a utilização das novas          Dianova: Existe uma grande susceptibilidade entre a
tecnologias de informação e comunicação e o papel que têm de          mudança pessoal e corporativa e o conflito de interesses
aproximar utentes das Organizações que lhes prestam apoio,            entre Organizações e funções incompatíveis?
mais do que os espartilhar em espaços isolados.                       Lino	 Maia: Nem todas as Organizações, como nem todas as
                                                                      pessoas dentro das Organizações, têm como princípio norteador
Os valores que a Organização defende devem ser tidos em               e balizador o sentido ético.
consideração desde o momento da sua formação, criação,
selecção e recrutamento de equipa de trabalho. Se se tomar em         Dianova: O apoio visível da alta direcção é fundamental para
consideração de que na criação de uma Organização sem fins            superar a resistência à mudança?
lucrativos o que está na sua base é um movimento da sociedade         Lino	Maia: Parece claro que sim. A Direcção de uma Organização
civil, e que as pessoas que compõem a sua equipa de trabalho,         sem fins lucrativos é composta por elementos da sociedade e
actual e futura, fazem parte da comunidade de onde surgiu esse        da comunidade em que a Organização está inserida. Se falamos
movimento, é de esperar que as pessoas sintam a Organização           de mudança nestas Organizações falamos em assegurar que
como sua também e, consequentemente, conheçam os seus                 a Missão é a mesma, mas a forma como se desenvolvem as
valores, idealmente que os defendam. Acima de tudo, trata-se da       ferramentas para a traduzir é o que tem que ser adaptado.
capacidade de envolver pessoas numa orientação comum, pelo            Temos que ter a garantia de que quem gere esta mudança,
que as duas ferramentas principais em qualquer processo de            conhece bem a Missão da Organização e simultaneamente a
mudança, e nestas Organizações ainda mais, são o envolvimento         comunidade em que se insere e para a qual está orientada. A
e participação das pessoas envolvidas na mudança.                     resistência à mudança pode ser minimizada quando há confiança
                                                                      e parece-me que também é disso que se fala na direcção destas
Dianova: Cerca de 70% dos Projectos de Mudança                        Organizações.
Organizacional	 não	 são	 bem	 sucedidos.	 Num	 contexto	 de	
“negócio”	volátil,	a	necessidade	de	adaptação	e	estabilidade	         Dianova:	Para	si,	é	afinal	a	Gestão	da	Mudança	na	Economia	
pode esbarrar nesta estimativa?                                       Social e Solidária um mito ou uma revolução?
Lino	Maia: Julgo já ter aludido à necessidade de envolvimento         Lino	 Maia: Uma achega: a gestão da mudança organizacional
intenso que há na gestão da mudança nas questões anteriores.          na economia social e solidária parece-me que está a acontecer
A volatilidade do negócio não parece ser o factor que mais            desde sempre como em qualquer dimensão organizacional,
condiciona um processo de mudança organizacional, ainda mais          lucrativa ou não. Trata-se de estruturas humanas, elos que unem
porque não é maior do que a que se regista em muitas outras           pessoas no desempenho das suas funções, já de si orientadas
áreas de negócio lucrativo.                                           para as necessidades humanas. A forma como a sociedade vê
                                                                      as Organizações sem fins lucrativos muda naturalmente com a
Dianova:	 Muitas	 vezes,	 é	 necessário	 “vender”	 a	 mudança	        massa humana que a molda. Pode acontecer que, enquanto
para as pessoas como forma de acelerar o «acordo» e                   estamos a decidir se é precisa, ou possível, uma revolução
implementação. Pode ocorrer que muitas vezes essa                     nestas Organizações, esta revolução esteja já a
mudança esteja largos passos à frente do desejável?                   acontecer.

                                                                                                                                          25
26


                                                                 José Manuel Costa
                                                                 Presidente do Grupo GCI


                                                                    Dianova:	Quando	     ciclos económicos.
                                                                    fundou a agência     Ainda assim, ela é mais necessária, precisamente, em fases
                                                                   GCI	com	29	anos,	     como aquela em que nos encontramos. Portugal tem um
                                                                   numa época em         problema complexo para o curto e médio prazo. De acordo com
                                                                  que a comunica-        dados do INE, ainda referentes a 2010, mais de quatro milhões
                                                                 ção profissional e      de portugueses estariam em risco de pobreza sem as pensões
                                                              de massas ainda era        de reforma e transferências sociais do Estado.
                                                           um pouco rudimentar
                                                       em	Portugal,	já	tinha	alguma	     Mesmo com estes apoios, um em cada cinco portugueses já
                                                noção do impacto que a responsa-         está no limiar da pobreza, há distritos inteiros em situações de
                    bilidade social teria nas empresas?                                  falência económica e social. Combater a pobreza e melhorar
                    José Manuel Costa: Sim, mas de uma forma ainda muito                 a inclusão social são, provavelmente, os mais importantes
                    superficial. Estávamos no início dos anos 90 e o mercado da          desafios das últimas décadas para as empresas, sociedade
                    consultoria em comunicação estava a dar os primeiros passos          civil e governantes, pelo que as estratégias de responsabilidade
                    em Portugal. Então, as consultoras de comunicação eram menos         social não podem, pura e simplesmente, ser ignoradas. Dito
                    parceiras e mais fornecedoras, o que colocava alguns entraves        isto – e respondendo directamente à sua pergunta: sim, há
                    à forma como trabalhávamos com competências ligadas aos              margem para melhorar e sim, a inovação, empreendedorismo
                    recursos humanos, comunicação interna e externa, políticas de        e sustentabilidade são factores inegáveis para a sobrevivência
                    sustentabilidade ou responsabilidade social.                         competitiva de uma Organização.

                    Hoje somos parte integrante das equipas de marketing,                Poderia dar-lhe vários exemplos de empresas que já perceberam
                    trabalhando com os vários departamentos do cliente numa              isto há alguns anos, mas posso referir-lhe, por exemplo – e
                    estratégia cada vez mais integrada e interligada de comunicação.     porque é um caso internacional – o da Wal-Mart. Esta empresa
                    Isso dá-nos uma outra visão, por exemplo, dos temas ligados à        norte-americana percebeu, em 2004, que a sustentabilidade
                    sustentabilidade e responsabilidade social.                          não era apenas imprescindível para o seu futuro, como seria
                                                                                         um poderoso aliado de negócios, por exemplo, para eliminar
                    Dianova:	 De	 que	 forma	 é	 que	 a	 responsabilidade,	 o	           custos desnecessários. A Wal-Mart está a criar um novo nível de
                    empreendedorismo e o sentido cívico da sua equipa de trabalho        competitividade baseado na sustentabilidade, e isso dar-lhe-á os
                    influenciou os destinos da GCI?                                      respectivos frutos em termos de negócio, hoje e amanhã.
                    José Manuel Costa: É uma excelente pergunta e que poderá
entrevista com...




                    resumir o crescimento da GCI nos seus primeiros anos. Sempre         Dianova: Segundo dados apresentados no estudo “Citizens
                    fiz questão de liderar uma consultora de profissionais que não       Engage.	 Good	 Purpose	 Study	 2010”	 da	 Edelman,	 “86%	 dos	
                    estão acomodados. Somos uma consultora que procura sempre            consumidores globais acreditam que os negócios precisam
                    outros desafios, que incentiva os seus – os nossos – colaboradores   de colocar pelo menos o mesmo peso dos interesses das
                    a sair constantemente da sua zona de conforto, para que              empresas,	 em	 igualdade	 com	 os	 interesses	 da	 sociedade”.	
                    cheguem a novas respostas e soluções. Creio que esta é uma das       Emergindo	 como	 uma	 tendência	 galopante,	 acredita	 que	 o	
                    características que mais nos diferencia das nossas concorrentes.     repto está lançado
                                                                                         José Manuel Costa: Sim, esta é uma tendência que tem vindo
                    Em 1994, fundei a GCI como resultado daquilo que aprendi na          a crescer e já não voltará atrás. Há uma outra tendência
                    minha vida profissional e pessoal, até então. Lutei para que a       interessante: este crescimento global das boas causas está
                    irreverência fosse um dos valores da GCI e continuo a lutar, todos   a ser liderado por economias em desenvolvimento. O último
                    os dias, para que esta atitude não se desvaneça. Creio que na GCI    “Good Purpose”, estudo que acabou de citar, diz que a China
                    continuamos a ser irreverentes e inovadores, apesar das várias       lidera, globalmente, as boas causas. Isto quer dizer que os
                    gerações de grandes profissionais que por cá já passaram.            consumidores chineses têm mais hipóteses de comprar marcas
                                                                                         que apoiem boas causa que outros consumidores.
                    Sendo também um curioso por natureza, é normal que o
                    empreendedorismo seja, a par do sentido cívico, um dos atributos     No Brasil e no México, por exemplo, 8 em cada 10 consumidores
                    da GCI. Atributos esses que quero preservar.                         afirmou que compraria um produto de uma empresa que suporte
                                                                                         as boas causas, em comparação com pouco mais de metade
                    Dianova:	 Os	 conceitos	 de	 inovação,	 empreendedorismo	 e	         (54%) dos consumidores das maiores economias ocidentais.
                    sustentabilidade são factores inegáveis para a sobrevivência
                    competitiva de uma Organização. Existe margem de                     Estes números asseguram-nos que a responsabilidade social terá
                    progressão suficiente no tecido empresarial português para           de ser levada a sério pelas empresas. Em último caso, por próprias
                    encetar esta atitude?                                                preocupações de negócio. Ainda citando o “Good Purpose”: 62%
                    José Manuel Costa: Eu sou um optimista nato e um eterno              dos inquiridos do estudo diz-se disposto a trocar uma marca que
                    insatisfeito, por isso acredito que podemos fazer sempre melhor.     não apoia uma boa causa por uma que apoie uma boa causa. Já
                    Muitas vezes, associam-se as estratégias de responsabilidade         pensou no que isto significa no actual contexto económico?
                    social e sustentabilidade aos ciclos económicos. Eu acho que a
                    aposta em estratégias de sustentabilidade e responsabilidade         Dianova: Os assuntos globais são preocupações locais. Esta
                    social não pode – ou melhor, não deve – estar dependente de          afirmação pressupõe um imperativo no rumo e na estratégia
social das empresas?                                                      José Manuel Costa: Sim, concordo com esta ideia. Julgo, porém,




                                                                                                                                        entrevista com...
José Manuel Costa: As empresas não são todas iguais, mas a                que as empresas poderão também ter um papel importante no
verdade é que assuntos globais – como as alterações climáticas,           cumprimento da função social das Organizações do Terceiro
nutrição sustentável, sustentabilidade, aquecimento global, inclusão      Sector, trabalhando com estas. Um exemplo: a GCI desenvolveu
social ou ética e transparência – são cada vez mais preocupações          um projecto para a Delta, o “Tempo para Dar”, que criou uma
locais.                                                                   onda de solidariedade única em todo o país. Partindo da falência
                                                                          do sistema social e do problema da solidão nos idosos, o “Tempo
Acredito também que, para as empresas, estes assuntos tornam-             para Dar” foi um conceito de voluntariado que permitiu à Delta
-se ainda mais pertinentes pela expectativa dos consumidores              devolver um pouco do que a sociedade lhe deu. E envolve
face à sua responsabilidade social e compromisso para com                 empresas e consumidores, unindo-os num objectivo comum.
os temas sociais. E hoje já não é possível pegar no cheque e
limitarmo-nos a atribuir donativos, é necessário que as empresas          Quando contactámos pela primeira vez a “Coração Amarelo”,
integrem as boas causas no seu negócio do dia-a-dia. E aqui               a instituição apoiada, esta tinha 27 voluntários. Quatro meses
estamos a falar de negócio. É um pouco como as empresas que,              depois, com o projecto “Tempo para Dar”, a instituição tinha
ao integrarem as estratégias de sustentabilidade no seu dia-a-            já 170 voluntários. Estamos a falar de pessoas que dão apoio
-dia, conseguem poupar dinheiro. É um ciclo virtuoso.                     domiciliário e acompanham idosos que sofrem de solidão. Este
                                                                          tema – o da solidão na terceira idade – é um dos temas que
                                                                          ganhará uma especial relevância nos próximos anos, sobretudo
                                                                          na Europa. É um problema cultural português, ao qual a Delta
                                                                          está atenta. E um excelente exemplo do que as empresas podem
                                                                          fazer numa altura como esta, de forma criativa e competente.

                                                                          Dianova: Gestão de mudança implica necessariamente uma
                                                                          gestão de conflito? O que é para si gestão de mudança?
                                                                          José Manuel Costa: Eu prefiro falar de mudança de mentalidades,
                                                                          porque qualquer mudança terá de juntar todos os stakeholders,
                                                                          ter em conta a criação de pontes entre os sectores público
                                                                          e privado, a sociedade civil e a comunidade, numa lógica de
                                                                          promoção de interesses mútuos. Isto é aquilo a que, na GCI e na
                                                                          rede Edelman, chamamos de Public Engagement.

                                                                          Há uns meses, Richard Edelman, o CEO da Edelman, rede
                                                                          na qual a GCI é afiliada, esteve em Dallas, no Texas. No seu
                                                                          blog, o executivo revelou que conseguia ver uma evolução na
                                                                          mentalidade dos texanos – o que o surpreendeu. Hoje, Dallas
                                                                          já não é uma cidade de pistoleiros de forte personalidade, mas
                                                                          de empreendedores, ambiciosos e determinados, cidadãos
                                                                          que pensam globalmente, envolvem-se com a comunidade e
Dianova:	 Existirá	 uma	 necessidade	 real	 de	 mudança,	 face	 à	        abraçam a diversidade cultural. Edelman diz que, no Texas,
condição/perspectivas de futuro da Economia Social. Por outras            há apenas a mudar a mentalidade no que toca à mobilidade
palavras,	a	repercussão	da	actividade	destas	entidades	terá	de	           sustentável. O texano continua a olhar para o automóvel como
se estabelecer através de uma nova gestão de mudança?                     o centro do mundo e, aliás, parece ser incentivado a fazê-lo, a
José Manuel Costa: Creio que sim, e julgo que os recentes                 julgar pelo combustível barato e estacionamento grátis – apenas
tumultos de Londres, por exemplo, são um bom exemplo desta                4% do total da população utiliza os transportes públicos.
mudança. Na minha opinião, esta crise internacional económica e
política era previsível – e vai além da crise da dívida. Era previsível   E o que fazem as autoridades de Dallas para mudar esta situação?
porque os países mais ricos e desenvolvidos chegaram a uma                Constroem a maior linha de metro ligeiro de todos os Estados
fase em que, pura e simplesmente, não conseguem aumentar                  Unidos – 115 quilómetros. As autoridades metropolitanas
o nível de vida dos seus cidadãos, estão reféns de um sistema             acreditam que demorará uma geração a tirar os cidadãos dos
económico que está descontrolado.                                         carros e colocá-los no metro ou outros transportes públicos.
                                                                          Uma geração – para tamanho desafio – não me parece muito.
Esta é uma crise mais complexa do que a simples crise                     A quem interessa esta mudança? A começar, às empresas. Mas
de valores, e que nos vai obrigar a toda uma mudança de                   também à cidade, aos serviços públicos – saúde, transportes
mentalidades. Estou a falar de temas como as alterações                   e polícia, por exemplo -, às ONG ambientais e de direitos de
climáticas, sustentabilidade ou inclusão social. Estas questões           cidadãos com mobilidade reduzida.
têm sido remetidas para segundo plano, e um sistema que, já
de si, é insustentável, tornar-se-á cada vez mais auto-destrutivo.        O que quero explicar, com este exemplo, é que esta promoção
                                                                          de interesses mútuos num mundo de interdependências, esta
A mudança terá de ser trabalhada por todos – Governos,                    criação de pontes de relacionamento entre stakeholders e
ONGs, sector privado. As empresas, como é óbvio, têm aqui um              shareholders, será, ela própria, um agente de mudança. Porque,
importantíssimo papel.                                                    cada vez mais, estamos num mundo de interdependência e não
                                                                          podemos ver os problemas em compartimentos estanques. Eles
Dianova:	 Reavaliação	 das	 práticas	 de	 trabalho,	 governance,	         influenciam e são influenciados por uma multiplicidade de
orientação	 para	 objectivos,	 prestação	 de	 contas	 e	 avaliação	       factores. E é essa complexidade .que será cada vez mais a
de	 desempenho,	 poderão	 ser	 a	 tónica	 dominante	 das	                 regra.
Organizações do Terceiro Sector para continuar a cumprir a
sua função social?
                                                                                                                                              27
28


                                                                    Celso Grecco
                                                                    Presidente da Bolsa de Valores Sociais de Lisboa e Fundador da Atitude – Associação
                                                                     pelo Desenvolvimento do Investimento Social

                                                                     Dianova:	 Numa	         um conceito de investimento limpo e justo, prestando contas
                                                                     entrevista ante-        e sendo um verdadeiro agente de mudança na sociedade. Na
                                                                     rior referiu que        educação, na cultura, no meio ambiente e no empreendedorismo.
                                                                    “não podem exis-         Por outro lado é necessário que haja uma exigência na condição
                                                                   tir empresas bem          de investidor. O dinheiro é um recurso finito. Se não arranjarmos
                                                                 sucedidas em so-            maneira de o “reciclar” ele acabará por se extinguir.
                                                              ciedades	 falidas”.	 Na	
                                                            sua óptica de marketeer          Dianova:	 Qual	 foi	 a	 principal	 motivação	 para	 abraçar	 este	
                                                        e cidadão brasileiro como e          projecto da Bolsa de Valores Sociais?
                                                 quando é que reparou que o Tercei-          Celso Grecco: A ideia surgiu em 2001, quando o Brasil começou a
                    ro Sector seria uma área de expansão na sociedade civil?                 estruturar-se no sector corporativo em relação à actividade social.
                    Celso Grecco: Esse fenómeno apareceu nos anos noventa                    A Bolsa de Valores brasileira veio falar comigo e pediu-me para
                    quando o Brasil se abriu ao mercado mundial. Era um país muito           explorar uma plataforma de responsabilidade social. Na altura
                    protegido por uma legislação que criava barreiras comerciais             nada estava definido, poderia ser sobre educação, meio ambiente
                    fortes e intransponíveis. Não havia construtoras e fábricas              ou qualquer outro tema da área. Qual seria o papel de uma Bolsa?
                    estrangeiras e a atenção comercial estava concentrada no seu             A minha ideia partia da própria lógica do que é uma Bolsa de
                    próprio mercado. Por exemplo, tínhamos uma lei para a indústria          Valores. Ela reúne por um lado, a empresa que precisa de capital
                    informática que só permitia que os computadores vendidos                 financeiro. Simplificando, se uma empresa deseja capitalizar-
                    no Brasil fossem construídos internamente. Era um país                   -se tem três opções: pode pedir um empréstimo ao banco,
                    muito fechado. Quando a globalização derrubou as fronteiras,             apresentando as devidas garantias; pode abrir uma sociedade
                    junto com a internacionalização do sector produtivo, veio uma            ou uma fusão; e depois existe a terceira opção lançando as suas
                    mentalidade, fortemente americana, de que uma empresa que                acções em Bolsa e rejeitando as duas outras opções, atraindo
                    extrai o seu lucro da sociedade tem de reflectir na contra-curva         pequenos accionistas à procura dos seus dividendos.
                    da retribuição. Veio um pouco daí, o conceito de responsabilidade
                    social que no início tinha muito a ver com um acto de devolução,         Ora a única alternativa viável para uma Organização social era,
                    quer no sector social como na forma de uma causa particular.             numa óptica de transparência e governance, angariar fundos
                    Essa mentalidade alertou a sociedade para o facto de o Brasil            através de donativos convertidos em acções sociais, a troco de
                    preservar certos gaps sociais e uma estrutura de classes em              todo o processo de recolha, aplicação e resultados nos relatórios
                    pirâmide com os ricos no topo e a base dos pobres.                       de contas. Partindo desse princípio propus que se criasse uma
                                                                                             Bolsa de Valores Sociais no Brasil. Esse projecto viajou até
entrevista com...




                    Para além disso houve uma tendência considerável na criação              Portugal em 2008, aquando da minha participação num congresso
                    de institutos corporativos, que profissionalizassem o esforço das        de empreendedorismo social, a convite para relatar a nossa
                    empresas nesse sentido. Começando a contratar profissionais vindo        experiência. Na plateia estava uma directora da bolsa da Euronext
                    do Terceiro Sector, no âmbito da gestão social, que pudessem valorizar   que veio conversar comigo no final sobre o sucesso da ideia no
                    a causa de uma Organização e tratá-la com relevância. Esse é um          Brasil. E a Bolsa de Valores portuguesa faz parte de uma rede
                    pensamento que tem prevalecido na condução das Organizações e            constituinte por Bruxelas, Paris, Amesterdão e Nova Iorque que
                    que retira o olhar da filantropia, quando alguém actua por convicções    buscava um projecto comum de responsabilidade social. Era
                    religiosas ou pessoais, e o passa a fazer por pragmatismo. Ou seja,      uma rede recente e talvez funcionasse num âmbito mais vasto
                    se uma empresa não apoiar a sociedade nas suas fraquezas e               de aplicação, pois os temas e as prioridades na França não são
                    limitações, amanhã terá um ambiente desprotegido e frágil que irá        necessariamente iguais aos de Portugal.
                    piorar o estado do seu produto. Logo, esta é uma relação de causa/
                    efeito. Isso move a orientação da responsabilidade social de uma         Começámos então a desenhar um conceito de valor social em
                    filantropia para um investimento social, acompanhando todo o             Portugal, constituindo uma equipa local que permanece comigo
                    processo desde o depósito até ao retorno.                                até hoje e que tem um know-how e um conhecimento avançado
                                                                                             do terreno, no terceiro sector. Com efeito, passamos um ano a
                    Dianova:	 Traçando	 um	 paralelismo	 para	 Portugal,	 como	 ca-          estudar a sua inserção, as regras e procedimentos até que em
                    racteriza a nossa situação ao nível da filantropia e da economia         2009 lançamos a BVS portuguesa.
                    social?
                    Celso Grecco: Eu acho que existe um terreno bastante fértil para         Dianova:	Quais	foram	os	principais	obstáculos	que	encontrou	
                    que esse tema floresça. Portugal ainda tem muito que crescer             na persecução deste objectivo?
                    nesse aspecto, encontrando-se talvez no estádio do Brasil, de há         Celso Grecco: O grande obstáculo, que ainda não superamos,
                    muito anos atrás. É um país extremamente solidário e a própria           corresponde à própria essência que nos move: a transparência
                    “legislação” da Troika pode fomentar essa mudança. Por exemplo,          e a responsabilidade. Por outras palavras, a pessoa quando
                    ao contrário do Brasil, em Portugal há um incentivo para donativos       oferece o donativo tem de acompanhar todo o processo e saber
                    traduzido em deduções fiscais. Tem uma legislação que o favorece,        o que se passa com o dinheiro. Nós convidamos as pessoas, na
                    um sistema mais simples, mas é um país ainda bastante filantrópico       plataforma BVS, a escolher o seu projecto, a depositar quanto
                    na sua cultura de dar sem olhar a quem.                                  quiserem e a acompanhar todo o processo com prestação de
                                                                                             relatório de contas. Aqui em Portugal estamos a aprender muito
                    O apelo tem de se soltar da emoção e caminhar para a racionalidade.      com o exemplo brasileiro e com os factores positivos.
                    Mas isso implica que a Organização social se comprometa com              Hoje, o investidor português já tem uma maior facilidade ao registar-
entrevista com...
-se no site da BVS, voluntariamente, e a cada três meses nós          fase de construção cultural. Aí discute-se muito a existência de
publicamos um relatório da Organização. Acontece exactamente          um sector da economia para Organizações com corpo e espírito
isso com a Dianova que nos vai fornecendo os seus dados e fases       social, criadas por agrupamentos comunitários que geram lucro
de trabalho. A maior dificuldade de tudo isto subsiste ainda na       para reinvestir totalmente na Organização. Eles são bem menos
desconfiança das pessoas a esse acompanhamento. Ele é muito bem       dependentes da filantropia e da caridade e como qualquer
visto pelas empresas mas ainda é relativizado pelos particulares. É   Organização de mercado, são dependentes do comércio e querem
muito comum no acto de doação, o cidadão português não querer         vender os seus serviços.
saber o que se passa à volta do seu dinheiro sem querer aferir os
resultados. E isso não é bom, pois nós lutamos pela prevalência do    Esse tema ainda está em discussão mundial e algumas empresas
investidor social ao invés de um mero doador.                         já olham para a sua sustentabilidade dentro de uma cadeia de valor,
                                                                      como parceiros de negócios com essas Organizações. A “Natura”
Dianova: Como caracteriza a sua adaptação para a realidade            por exemplo criou uma linha de cosméticos chamada “Ecos”, na
portuguesa?                                                           Amazónia, capacitando as comunidades da região para plantar
Celso Grecco: Uma primeira diferença em termos de adaptação           ecologicamente os frutos e comercializar as suas essências. São
é entender - e nós temos investido algum tempo nisso - a função       exemplos ainda muito isolados, se fizermos um congresso mundial
das redes sociais. Recentemente, um estudo indicava que na            sobre o tema vamos ter bons mas poucos exemplos.
faixa entre os 18 e os 35 anos, praticamente 100% da população
portuguesa está no Facebook. Esse é um dado fantástico para           Acho que o potencial é muito grande e em Portugal é fantástico, algo
direccionar uma aposta na nossa página e nas nossas estratégias.      que vai ser concretizado pela Bolsa. Vamos lançar em Novembro
Os SMS’s são extremamente utilizados também como veículo de           um segundo patamar para receber esses negócios sociais.
informação, em Portugal. Esse era um aspecto que, antigamente
no Brasil, era apenas socorrido pela internet arcaica da altura.      Dianova:	 Ainda	 bem	 que	 toca	 nesse	 aspecto,	 já	 que	 irão	
Uma plataforma sem a banda larga e a velocidade que existe            brevemente	 lançar	 um	 novo	 conceito	 de	 acções	 sociais,	
hoje, onde o You Tube era uma ideia em embrião assim como as          chamadas social bonds.	Pode	falar-nos	um	pouco	mais	acerca	
actuais redes sociais.                                                deste instrumento?
                                                                      Celso Grecco: A ideia foi a seguinte. Primeiro queríamos uma
As TIC não existiam com o fulgor de hoje. Nesse tempo, as pessoas     Bolsa que se aproximasse mais desse conceito, fortalecendo os
tinham muito receio de usar o cartão de crédito online com receio     negócios sociais por duas razões. Primeiro porque eles em si já
de fraudes. Ou seja, era muito mais comum o indivíduo tomar           firmam a própria Organização que os promove, gerando riqueza
conhecimento no site e depois fazer a sua transacção no banco.        para a Organização e diminuindo a dependência que ela tem de
Havia muito mais investimento de empresas, no caso do Brasil,         doações. Segundo, se nós começamos a criar vários números
do que de particulares. Em Portugal, nós usamos intensivamente        como esses, então acreditamos que pode ser uma resposta social
o site www.bvs.org.pt , temos cerca de 1700 investidores sociais      para um país em dificuldades, como as que Portugal atravessa.
registados que o usam de uma forma limpa, simples e bastante
actualizada. Contratamos uma agência de activação digital para        Juntando essa ordem de razões, encontrámos um instrumento
monitorizar o Facebook, Twitter, o mobile service, etc. Estamos       financeiro absolutamente conhecido que são as bonds, para que
mais dedicados a facilitar o processo de apoio aos investidores,      as Organizações possam emitir esses títulos sociais e permitir
com valores menores e maior rapidez. Todas essas características      às pessoas a sua compra. Ou seja, ela vai comprar um papel
no Brasil, não existiam, principalmente os social media.              como se fosse uma accionista. É uma doação mas que tem uma
                                                                      vantagem já que no final de um período, a Organização compro-
Dianova: As pequenas e médias empresas já interiorizaram              mete-se a fazer uma devolução desse dinheiro. Pode ser a tota-
que o investimento feito na economia social e solidária reverte       lidade, metade ou apenas uma parte, dependendo do acordado.
automaticamente	 no	 sucesso	 global	 da	 marca,	 ou	 continua	 a	    Mas qualquer coisa que volte é bem mais inteligente do que a
ser uma prática restrita às grandes corporações?                      doação que só funciona uma vez. Porque ajuda a criar uma
Celso Grecco: Em termos de economia social e solidária, num           mentalidade de retorno e reincidência nas Organiza-
aspecto mais mundial, esse é um tema que ainda está numa              ções socialmente responsáveis.

                                                                                                                                              29
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                                                               de devolução ou reto-       E quando não paga impostos eles fazem com que as empresas
                                                        ma/retorno financeira asso-        deixem de pagar, porque quando uma empresa dispõe uma
                                                  ciada a estas social bonds é mais um     verba para uma I.P.S.S., deduz no imposto contributivo.
                                             estímulo para a contribuição do investidor
                                        social?                                            No bom sentido é quase como um governo paralelo porque ele cuida
                                    Celso Grecco: Eu acho que sim. E também uma            dos nossos bens essenciais para uma sociedade civilizada. Um
                                maneira, espero eu, de as empresas conceberem uma          governo sombra que cumpre um papel interventivo nas economias
                            possível multiplicação das suas verbas, em responsabilidade    modernas.
                         social. Com os tempos difíceis que se avizinham haverá menos
                      dinheiro, portanto é preciso reciclá-lo em vez de o dividir em       Dianova: A grande questão que se coloca nos nossos dias é
                    vários peditórios. Manter as contribuições solidárias num circuito     quem,	porquê	e	como	vamos	ajudar?
                    normal consoante as necessidades, permite ao donatário ser corpo       Celso Grecco: É, principalmente quando temos de seleccionar
                    presente nesse ciclo.                                                  com critério o dinheiro. Quando ele fica mais escasso, como
                                                                                           neste ambiente de crise.
                    Dianova:	 Pela	 sua	 própria	 natureza	 de	 utilidade	 pública,	 a	
                    Organização social tem de valorizar prioritariamente uma               Dianova: A ambição legítima de obter meio milhão de euros
                    lógica de proximidade com o cidadão. Considera que estas               para 2011 é alcançável a seu ver?
                    Organizações em Portugal promovem a transparência e a                  Celso Grecco: Penso que sim. Nós estamos perto de atingir esse
                    confiança necessárias para este public engagement?                     valor e foi até uma meta conservadora, para não darmos um
                    Celso Grecco: Eu acho que um grupo delas, sim. Por força da            passo maior do que a perna. Gostaríamos que fosse mais, mas
                    mudança de mentalidade das grandes fundações, nas empresas             pelo menos esse objectivo será alcançado.
                    que já estão habituadas a prestar contas aos accionistas. Por
                    força da própria entrada na Bolsa de Valores Sociais que veio          Dianova: Como explica que a realidade empresarial brasileira
                    alterar o paradigma. Nem todas as Organizações por mais                tenha	 acordado	 mais	 cedo	 para	 estas	 respostas	 sociais,	
                    meritórias que elas sejam, se identificam com o nosso enfoque          antecipando as tendências que agora vigoram na Europa?
                    principal. Que é atacar a causa e não a consequência.                  Celso Grecco: Cada indivíduo, sociedade ou país acorda para estas
                                                                                           realidades levando o seu tempo. O despertar de consciências
                    Qualquer Organização que preste serviços sociais é legítima e          vem sempre como uma inerência de um facto provocado na sua
                    saudável, como a sopa dos pobres ou protecção aos sem-abrigo. Por      vida. Muitas pessoas deixam de fumar quando se lhes detecta
                    isso as entidades assistencialistas precisam atacar as consequências   um cancro. Outras param de beber quando perdem um amigo
                    mas antecipar a causa é prevenção e responsabilidade.                  ou familiar num acidente por excesso de álcool. Um susto ou um
                                                                                           factor externo provoca uma reacção para algo.
                    Dianova:	 A	 possibilidade	 que	 se	 coloca	 ao	 investidor,	 ao	
                    acompanhar as prestações de contas e os relatórios de impacto          Eu creio que no Brasil esse fenómeno deveu-se à abertura
                    social	do	projecto,	foram	pensadas	nesse	sentido.                      económica e liberal ao mundo e ao alerta dos gestores
entrevista com...




                    Celso Grecco: Exacto. Acompanhar o processo e recomendar às            internacionais para as disparidades de riqueza e miséria dentro
                    pessoas que elas têm o direito e o dever de fazer parte do trabalho    do país. Em vez de reverter todos os lucros que obtemos numa
                    das Organizações é fundamental. Tal como, prestar contas no            empresa para a matriz, devemos canalizar algumas verbas da
                    compromisso de dizer ao doador-investidor social como o seu            fonte para acções de responsabilidade social e comunitária. O que
                    dinheiro vai ser utilizado. E mesmo na nossa vida pessoal, se          faz todo o sentido.
                    você precisa de um computador não entra numa loja aleatória
                    e compra o primeiro artigo que vê na montra. Vai pesquisar,            Já aqui na Europa, aquilo que eu noto é que quando se começa
                    perguntar aos amigos, faz contas, compara com outros. Porque           a discutir o próprio modelo de União Europeia, o Estado é
                    é que na hora da doação, o doador passa um choque e desliga            extremamente presente e cria situações de comodismo e
                    do assunto? É uma questão de lógica. O cuidado que temos               impotência numa realidade que é bastante dura, em tempos menos
                    com o dinheiro que gastamos connosco, deve ser o mesmo que             prósperos. As pessoas, de repente, sentem-se desprotegidas com
                    empregamos nas nossas contribuições.                                   a falta de resposta dos seus governantes. Creio que a discussão
                                                                                           hoje em dia na Europa é o próprio modelo de bem-estar social que
                    Dianova: Obviamente que este modelo se insere numa política            o Estado já não consegue mais garantir e que a sociedade reclama.
                    alternativa de fundraising e sustentabilidade. É também uma
                    forma de sensibilizar os agentes económicos e sociais para             E por isso hoje o tema tão presente em Portugal seja o
                    que se envolvam assídua e voluntariamente no futuro destas             empreendedorismo. Tanto no empreendedorismo puro como
                    associações.                                                           no social, se você olha para um contexto em que escasseiam
                    Celso Grecco: Acho que sim. Isso vai ajudar a organizar o              oportunidades, tem obrigatoriamente de seguir em frente e
                    Terceiro Sector como uma força da economia. Este sector gera           batalhar para isso. O que é que eu preciso de fazer para gerar a
                    muitos empregos, faz educação, faz saúde, contribuiu para a            minha riqueza? Essa é a pergunta que se deve fazer.
Margarida Segard




                                                                                                                                          entrevista com...
                                         Directora Adjunta no ISQ e Coordenadora da Rede RSO PT

                                                Dianova: Em Por-        Agora há uma coisa que posso garantir, estas Organizações
                                                 tugal,	 os	 especia-   sociais não podem sobreviver apenas de subsídios à exploração.
                                                  listas continuam      E neste âmbito de prestador de serviços, o Terceiro Sector tem de
                                                   sem chegar a um      se posicionar em concursos públicos. Além de isso, tem as suas
                                                   consenso termi-      evidentes vantagens, trabalham mais em rede e em parcerias. E
                                                   nológico sobre o     mesmo que se encontrem a trabalhar sozinhas devem constituir
                                                   Sector	 dito	 não-   consórcios que as auxiliem, garantindo mais recursos e conseguindo
                                                  -lucrativo	 (mas	     trabalhar uma economia de escala mais interessante.
                                                não orientado ao
                                              prejuízo):	 Terceiro	     Nestes últimos anos, houve uma aceleração muito em grande em
                                            Sector,	Economia	So-        termos de networking e parcerias que eu não verifico nas empresas.
                                         cial	e	Solidária,	Socieda-     A sua génese teve muito a ver com os vários programas que foram
                                      de	Civil,	etc.	Na	sua	opinião,	   lançados, quer a nível da União Europeia, Segurança Social e/
                                  qual a designação que melhor          ou iniciativas comunitárias. Programas esses, que obrigaram a
caracteriza este Sector e quais as suas principais implicações?         constituição de parcerias para que certas Organizações sociais
Margarida Segard: Eu gosto de lhe chamar Terceiro Sector. Porque        pudessem ser elegíveis num projecto. E esses consórcios, em
é um sector de consciência colectiva, com uma missão social e           muitos casos, estimulam a que haja uma heterogeneidade de
que, inclusive, pode e deve ser um prestador de serviços e ter          actores, envolvendo-se com o sector empresarial e com o Estado.
lucro. Prefiro esta denominação do que enfatizar os termos com          Ou seja, não serem todos do Terceiro Sector.
ou sem ‘fins lucrativos’ já que, na minha opinião, não é assim que
se divide uma sociedade. Além de que está em maior consonância          Este fenómeno que se está a passar em Portugal já acontecia na
com os actuais modelos de gestão e com as novas consciências            década passada na Irlanda, um dos países com maior sucesso
dos agentes do Terceiro Sector que se considerem prestadores de         nesta especialidade. Em tempos de crise, há uns que choram e
serviços de qualidade, devendo ser pagos por isso.                      outros que vendem lenços! Nós estamos na fase de vender lenços.
                                                                        E isso implica que se olhe para o modelo de gestão de cada um
Mas é claro que conservam uma missão social que o sector dito           (Estado, Empresas e Organizações Sociais), repensando os seus
business se auto-exclui, ou que não possui nos seus critérios           recursos internos e contando mais com os recursos externos.
como core business. E por tudo isso, considero que o Terceiro           A mentalidade de uma ONG pequena em se fixar num sítio sem poder
Sector tem um peso fortíssimo e permite conciliar a missão              extravasar a sua área de actuação, já não se usa. E este modelo de
social, a consciência colectiva e a prestação de serviços.              gestão de responsabilidade social vem precisamente fazer esse
                                                                        apelo. Um diálogo permanente com os stakeholders, de forma a
Dianova:	 Herman	 &	 Reinz	 apontam	 como	 um	 dos	 principais	         estar incorporado no seu modelo de gestão, com uma avaliação
elementos de uma Organização mais eficiente a incorporação              integral e transversal, a fornecedores, clientes e colaboradores. Um
de	estratégias	de	gestão	como	mudança,	tais	como	Avaliação	             diálogo completo é pensar num mercado, com forças já posicionadas,
da Satisfação ou procura de fontes diversificadas de receita.           contando com elas para levar a cabo a sua missão.
Neste	contexto,	como	podem	incorporar	as	Organizações	da	
Economia social o modelo de gestão de Responsabilidade                  Dianova:	 Na	 sua	 opinião,	 a	 contratação	 ou	 incorporação	 de	
Social	Corporativa	na	óptica	da	sustentabilidade,	e	quais	as	           novos quadros profissionais é necessária ao processo de
principais barreiras e benefícios na sua implementação?                 mudança?
Margarida Segard: Neste momento, conhecendo muito bem                   Margarida Segard: Eu acho que o Terceiro Sector, tanto a
o Terceiro Sector, as empresas e o Estado, não consigo fazer            nível de contratação como de recursos humanos, é gerido
uma distinção em termos de modelo de gestão, no âmbito da               autonomamente do resto do mundo. Sobre a valorização salarial,
responsabilidade social. É por essa razão que a rede nacional de        trabalha com umas tabelas de referência que estão claramente
responsabilidade social emerge. Esta Rede aparece justamente            abaixo da média na maioria das profissões, em funções similares.
porque acreditamos que é possível incorporar um modelo de               A nível de tipificação das profissões que tradicionalmente recruta,
responsabilidade social nestes três sectores. Óbvio que existem         já não se contrata para uma Organização sustentável apenas
alguns requisitos, indicadores e formas de operacionalizar estas        técnicos da área social. Não faz sentido.
práticas que podem ser diferentes, mas não essas que mencionou.
                                                                        O Terceiro Sector tem de ser gerido e trabalhado externamente e por
A avaliação de satisfação deve ser comum a todos e os critérios         isso precisa, tal como numa empresa, de pessoas com competências
devem ser similares. Em termos de sucesso na angariação de              de gestão, marketing e vendas. Apostar num maior investimento em
receita, toda essa fase é colocada de forma diferente numa I.P.S.S.     soluções inovadoras e produtos I&D, em recurso de investigadores
e numa empresa, até porque esta última só nasce quando existe           direccionados para o mercado. Ou seja, uma Organização social
um nicho de mercado e alguém que paga por um dado produto. O            dos dias de hoje, mantendo a sua missão social de uma forma
Terceiro Sector não funciona assim. Dá resposta a uma necessidade       sustentável, deve ser administrada como uma empresa. Os serviços
do mercado independentemente de haver alguém a pagar por isso.          que o Terceiro Sector presta ainda estão muito aquém em termos de
                                                                        correspondência salarial, em relação aos estatais. Por outro lado e
Ao reflectirmos na constituição de uma ONG, ao contrário de uma         com a agudização desta crise a pôr em causa o Estado Social, não
empresa, prioriza-se o serviço/missão e só depois a angariação          tenha a mínima dúvida que se vão devolver uma série de funções e
de fundos. A génese de uma Organização social é pensada desta           responsabilidades para a Economia Social.
maneira. É natural que a diversidade na angariação de receitas de
um Terceiro Sector tenha de ser, necessariamente, muito maior.          Dianova:	 A	 descentralização	 da	 Organização	 (ou	
                                                                        a	 democratização	 do	 poder),	 na	 promoção	

                                                                                                                                                31
32
                                                                dos objectivos e           stakeholders, na avaliação com os clientes, no posicionamento
                                                            decisões,	é	favorável	a	       dos seus produtos no mercado, na forma como os utilizadores
                                                      uma gestão mais eficiente?           avaliam os serviços e mesmo na gestão de recursos humanos.
                                                Margarida Segard: Eu faço a apolo-
                                           gia do modelo de gestão organizacional          A ISO 26000 é, de alguma maneira, uma norma eclética
                                       que quanto menos hierarquizado for, mais            que consegue reunir outras normas mais segmentadas
                                  eficiente se tornará. Não só em termos de custos         de responsabilidade social e tocar de forma harmoniosa
                              reais, como de custos comunicacionais e de interface         em algumas dimensões e requisitos destas três vertentes:
                           no processo de decisão. É para lá que caminhamos. Os            ambiental, económico e social. Além disso, todo este processo
                        modelos mais planos onde a comunicação fluida se executa           não foi simples. A ISO 26000 é um tratado mundial com mais
                      com menos resistência, corresponde a isso. E Portugal precisa        de cem países envolvidos e 97 peritos na sua discussão inicial,
                    de um banho de humildade nesse aspecto.                                o que é um processo absolutamente singular. Foi um passo que
                                                                                           veio consolidar as práticas e os modelos de gestão socialmente
                    Dianova:	 Esta	 crise	 económico-financeira	 e	 a	 conjuntura	         responsáveis nas empresas e I.P.S.S.’s.
                    actual,	 alicerçadas	 num	 capitalismo	 selvagem	 e	 na	
                    desregulação	 estatal,	 poderão	 ajudar	 a	 fomentar	 melhores	        Dianova: Uma das principais questões na Igualdade
                    práticas	 de	 responsabilidade	 social,	 governança	 e	                de Oportunidades e de Género reside no equilíbrio ou
                    comportamentos de decisão éticos?                                      conciliação entre vida profissional e familiar. O que ganham
                    Margarida Segard: Com certeza. Na génese desta crítica está jus-       as Organizações e a Sociedade com a incorporação destes
                    tamente, a falta de mecanismos de controlo e práticas éticas. Foram    modelos na gestão organizacional?
                    identificadas várias actividades criminosas e irregulares porque a     Margarida Segard: Ganham tudo. Seja na maior motivação
                    interface normativa entre os vários sistemas de fiscalização, execu-   dos trabalhadores, ao nível do número de horas reais
                    ção e gestão, não estavam, de todo, ligados. E daí, o aparecimento     efectivamente trabalhadas, como no nivelamento de custos
                    de todo este fenómeno selvagem como referiu na questão.                salariais. Actualmente ainda temos em Portugal, espartilhos
                                                                                           brutais na duração dos horários de trabalho e no pagamento
                    E neste momento, identificadas estas fragilidades no sistema           de horas extraordinárias, num cumprimento rígido que não é
                    financeiro, este acto mundial só vem provar a necessidade da           minimamente compatível nem com a vida do(a)s trabalhado(a)s,
                    responsabilidade social se introduzir nas políticas de governance.     nem com as necessidades das empresas.
                    Não apenas a nível de gestão da ONG mas também a nível normativo
                    e regulador. A obrigatoriedade de se cumprirem princípios éticos       Portugal é cada vez mais um país prestador de serviços e menos
                    é fundamental. E nisso, o Estado tem um papel fundamental              um Estado produtivo e industrial. Cada vez mais os serviços
                    ao estipular novas regras e hábitos de sustentabilidade e              requerem trabalhos de concepção, preparação, de criação de
                    responsabilidade social. E isto é valorizar quem tem práticas          produtos e de entrega final ao cliente. Isto não se compadece
                    internas e evidências de responsabilidade social, ou seja, medidas     com um horário fixo das “nove às cinco” que grassa no país.
                    anti-corrupção, códigos de ética, programas ambientais, etc.
                                                                                           Hoje em dia as tecnologias de informação são uma grande ajuda
entrevista com...




                    Dianova: Foram recentemente divulgadas as novas guidelines             nesta conciliação da vida familiar, o que exige um investimento
                    ISO 26000. Como percepciona esta normalização – de forma               em sistemas intranet, networking, para que se possa trabalhar
                    voluntária – e quais os principais benefícios dela resultantes         em casa e em simultâneo, na companhia dos filhos e da
                    para as Organizações?                                                  família. Com esta flexibilização de horários, ganhamos todos.
                    Margarida Segard: A voluntariedade era algo expectável, aliás          Aliás, as empresas e organizações que acumulam prémios de
                    ninguém desejava o contrário e é importante que assim continue.        reconhecimento público, “best place to work”, claramente estão
                    A ISO 26000 é uma norma orientadora que na sua transposição            associadas a indicadores positivos na conciliação da vida pessoal
                    para as regras nacionais, consegue ter algumas componentes             com o trabalho. Percebo que certas comodidades não estejam
                    certificáveis. Mesmo que ainda não seja possível, em alguns            ao alcance de várias organizações pelo investimento avultado,
                    países, fazer essa certificação, considero que a grande vantagem       mas para isso servem os protocolos com organismos públicos e
                    desta norma é que de facto consegue criar orientações para as          empresas privadas. Tudo isto tem um retorno fantástico.
                    grandes questões das Organizações sociais. No diálogo com os
Dianova:	Para	que	estes	processos	possam	ser	interiorizados,	          Dianova: Os assuntos globais são preocupações locais. Esta




                                                                                                                                        entrevista com...
uma comunicação eficaz assente numa estratégia e fluxo                 afirmação pressupõe um imperativo na direcção das Organizações?
proactivo de informação e de gestão de relacionamentos                 Margarida Segard: Os assuntos globais têm de ser preocupações
internos	 e	 externos	 são	 indispensáveis.	 Na	 sua	 opinião,	        locais. Esse é um dos princípios da responsabilidade social, um
qual o papel que a Gestão da Comunicação reveste para uma              diálogo permanente com os stakeholders e uma priorização dos
Organização Social?                                                    agentes e unidades locais.
Margarida Segard: É, absolutamente, essencial. O seu papel é           Quando uma Organização contrata trabalhadores, fornecedores e
determinante quer a nível interno como externo. Neste momento          pretende se promover aos clientes, deve pensar e priorizar o seu
se estamos a pensar num Terceiro Sector que venda produtos,            ambiente social para que seja um agente de desenvolvimento.
com uma fonte de financiamento ou fundraising, tendo ou                Se eu posso contratar pessoas e serviços à minha volta é por aí
não clientes específicos, é importantíssima a valorização do           que devemos começar, sem prejudicar os critérios de qualidade.
seu produto no mercado e a forma como o vende. Todas as                Mas eu devo dedicar alguma atenção em promover-me a nível
actividades do marketing são essenciais, tal e qual o marketing        local como organização empregadora e vendedora. Isso é um
interno. Trabalhar toda a comunicação interna da Organização           princípio básico. E então nos processos de internacionalização
vai facilitar o processo empírico dos serviços. Aliás, a ISO 26000     isso é fundamental. Para garantir um desenvolvimento local e
vem destacar todas essas funções.                                      até uma redução de custos de produção.

Dianova: A REDE RSO PT tem promovido ao
longo	 destes	 últimos	 3	 anos	 uma	 diversidade	
de boas práticas para as Organizações dos 3
sectores	 de	 actividade.	 Pode	 dar-nos	 alguns	
exemplos dessas práticas transversais?
Margarida Segard: Por exemplo, a nível da
conciliação familiar, temos pedido às mais diversas
entidades dos três sectores que exponham o seu
trabalho com baixos custos em tempos de crise.
Limitando o seu investimento a uma fasquia que
permita estimular soluções alternativas para os
seus problemas. Como protocolos com creches,
manter uma comunicação em rede, partilhar certo
equipamento industrial com empresas do mesmo
parque industrial e, com isso, dividir custos. Ter
recursos partilhados em áreas específicas nos quais
não preciso de ter alguém a tempo inteiro.

E a REDE tem tentado mostrar certas práticas e que é possível
cumprir este modelo de rentabilização e eficiência. Não só ao nível    Dianova:	Para	si,	é	afinal	a	Gestão	da	Mudança	na	Economia	
do voluntariado, da participação das empresas em projectos na área     Social e Solidária um mito ou uma revolução?
social, mas sobretudo no ajuste de um modelo de gestão interno, de     Margarida Segard: Não é um mito de certeza. Neste momento,
forma a garantir a minha adequação aos princípios consciencializados   é uma emergência. Tem de existir por uma questão de
de responsabilidade social. Este é um desafio a custo zero.            sustentabilidade. Claro que deve ser acelerada neste contexto
                                                                       de crise mas eu diria que a gestão de mudança é não só uma
Dianova:	 Na	 sua	 opinião,	 a	 REDE	 tem	 ajudado	 a	 moldar	         urgência no sector social como a nível global, tanto para o Estado
percepções	positivas	junto	de	Decisores,	Media	e	Sociedade	            como para o business. Ou há uma gestão de mudança equilibrada
em geral acerca do que é efectivamente uma Organização                 e de acordo com os padrões de evolução, ou então caminhamos
Socialmente Responsável e suas vantagens?                              para a ruptura dos modelos económicos, sociais e laborais.
Margarida Segard: Não tenho a mínima dúvida. Posso-lhe dizer
que temos obtido grande retorno e dados que permitem avançar           Existem muitos recursos mal gastos e modelos de gestão
com uma evolução significativa nas Organizações antes e depois         pouco eficazes, num longo caminho organizacional para trilhar.
da sua entrada na REDE.                                                No entanto, acho que ainda estamos numa fase muito básica
                                                                       e redutora na forma como reagimos à necessidade de mais
Quanto aos Media, em todas estas entrevistas nos jornais e revistas,   eficiência. Estamos a exagerar nos custos salariais, não é
verifico com agrado a sua importância já que temos desmistificado      possível cortar “gorduras” assim. É natural porque, quando
o conceito de responsabilidade social. Por incrível que pareça, há     olhamos para os resultados, a primeira coisa que fazemos é
ainda uma desinformação muito grande dos nossos jornalistas e          racionar nos custos salariais e de fornecimento de serviços.
dos Media em geral, sobre o que é responsabilidade social. Ainda
se confunde frequentemente com voluntariado, filantropia ou            É importante fazer essa reflexão. Valorizar o nosso modelo de
solidariedade, tal como há dez anos atrás.                             negócio, os nossos talentos e recursos humanos e a sustentabilidade
                                                                       da nossa actividade. Hoje em dia, se perguntar à maioria das
A REDE tem feito apresentações sobre isso, até em mestrados da         empresas implementadas no terreno, qual é a sua missão, não lhe
especialidade e em comunicação social, e eu fiquei estupefacta com     sabem dizer. Sabem que vendem “pentes”, apenas. Não conseguem
o total desconhecimento sobre o tema por alunos que já concluíram      pensar mais do que um ano, numa estratégia, nos seus objectivos
os seus cursos ou estão a preparar teses de mestrado. A REDE foi       e no seu mercado. Acabam por confundir visão com missão social.
também criada para promover e informar sobre os pareceres e            As Organizações têm de repensar a sua existência, atendendo
particularidades, no esclarecimento da responsabilidade social.        a estes valores.



                                                                                                                                              33
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                                                                   Daniela Godinho
                                                                   Directora Financeira da Efeito D


                                                                    Dianova:      Em       inovação e de empreendedorismo, no entanto não tem sido fá-
                                                                    Portugal,	     os	     cil captar investidores, não só devido à conjuntura actual, como
                                                                    especialistas          também à “resistência à inovação”.
                                                                   continuam sem
                                                                  chegar a um con-         Neste momento estamos atentar estabelecer parcerias com
                                                                 senso terminológi-        empresas para o desenvolvimento de algumas peças e de novos
                                                              co sobre o Sector dito       produtos com este conceito, para que o sector empresarial se
                                                           não-lucrativo:	 Terceiro	       envolva mais nas questões sociais.
                                                        Sector,	 EconomiaSocial	 e	
                                                 Solidária,	 Sociedade	 Civil...	 Na	      Dianova:	Numa	conjuntura	actual	de	austeridade	crescente	e	
                    sua	opinião,	qual	a	designação	que	melhor	caracteriza	este	            suas	 implicações	 na	 disponibilidade	 financeira	 dos	 cidadãos,	
                    Sector e quais as suas principais implicações?                         receia que a crise condicione ou possa inviabilizar projectos
                    Daniela Godinho: Talvez Economia Social e Solidária, na                sociais	de	forma	genérica’	Tem	algum	conselho	ou	recomenda-
                    medida em que é um sector sem fins lucrativos e preocupações           ção que possa partilhar com as suas Organizações congéneres
                    transversais a todos os sectores e tendo como objectivos últimos,      para obviar esta provável fatalidade?
                    o bem-estar da sociedade civil                                         Daniela Godinho: É obvio que a conjuntura actual não é propícia
                                                                                           à disponibilidade financeira dos cidadãos, sendo já notória essa
                    Dianova:	Como	responsável	financeira	da	Efeito	D,	quais	con-           situação a todos os níveis. As Organizações terão que encontrar
                    sidera os principais constrangimentos ou barreiras que uma             mecanismos próprios para irem ao encontro das necessidades
                    Organização Social enfrenta a nível da sua Gestão?                     dos cidadãos, captando-lhes a atenção e alertando-os para a
                    Daniela Godinho: Por um lado, a falta de consciência da                necessidade de participarem activamente na consolidação deste
                    responsabilidade que a sociedade civil deveria ter no fortalecimento   sector da economia que cada vez mais é fundamental para a coesão
                    destas Organizações. Por outro lado, a necessidade premente de         Nacional.
                    o Estado proporcionar mais e melhores ferramentas para que as
                    Organizações Não-Lucrativas se possam desenvolver e consolidar.        Dianova:	 Para	 si,	 é	 afinal	 a	 Gestão	 da	 Mudança	 na	 Economia	
                                                                                           Social e Solidária um mito ou uma revolução?
                    Dianova:	Herman	&	Rentz,	no	artigo	“Nonprofit	Organizational	          Daniela Godinho: Penso que é já o pronuncio de uma revolução,
                    Effectiveness: contrasts between especially effective and less         na medida em que de alguma forma tem obrigado as sociedades
                    effective	 organizations”	 (1998)	 Nonprofit	 Management	 and	         e os seus governantes a olharem para esta Economia Social e
                    Leadership,	afirmam	que	um	dos	factores	distintivos	de	uma	            Solidária, com cada vez mais respeito e no sentido em que já se
entrevista com...




                    Organização	 Não-Lucrativa	 mais	 eficaz	 é	 a	 implementação	         começam a verificar algumas alterações de mentalidade, que
                    de estratégias de gestão de mudança tais como a procura                permitem aos gestores tomarem decisões mais eficazes. Quer
                    de fontes de receita diversas. Como percepciona a questão              socialmente, quer financeiramente e que podem contribuir para
                    da Sustentabilidade nas Organizações da Economia Social e              a consolidação destas Organizações Não Lucrativas.
                    Solidária?
                    Daniela Godinho: Na verdade as Organizações Não-Lucrativas,
                    cada vez têm menos apoios financeiros por parte do Estado
                    e na medida em que elas são fundamentais nas sociedades
                    actuais, a única forma de se manterem e consolidarem é
                    através da criação de mecanismos de sustentabilidade. Para
                    tal, têm que procurar novas fontes de receitas, através de
                    projectos socialmente inovadores, de forma a garantirem as
                    receitas necessárias à sua gestão.

                    Paralelamente, deverão criar-se mais mecanismos, para que as
                    empresas do sector privado possam organizar-se de uma forma
                    socialmente mais eficaz, permitindo-lhes canalizar recursos
                    para investir nos projectos das Organizações Não-Lucrativas.

                    Dianova: A Efeito D tem cotado um projecto na Bolsa de Valores
                    Sociais. Como tem evoluído a aceitação deste projecto junto de
                    potenciais investidores e quais as principais dificuldades que
                    tem sentido na captação de investimento?
                    Daniela Godinho: O efeito D é uma marca de design com um
                    conceito de “peças geneticamente alteradas, tais como as
                    crianças com Trissomia 21”, criada para gerar receitas para
                    o Centro Diferenças (APPT21) e para de alguma forma dar
                    visibilidade à ”normalidade da diferença”.

                    Tem sido bastante bem aceite, como projecto em termos de
tema de actualidade
                                               Jacquelyn	Hadley,	Laura	Lanzerotti	e	Adam	Nathan
                                               The Bridgespan Group
                                                (Boston, EUA)



                                                 “Vivendo o seu Plano Estratégico: Um Guia para a
                                                 Implementação e Obtenção de resultados”
                                          Um plano estratégi-         Organizações para obter um plano no papel para vivenciar
                                         co é trabalho árduo.         a sua estratégia. Abaixo, sintetizamos as ideias-chave e os
                                      Trata-se de articular os        conhecimentos a partir de experiências da sua implementação.
                                   resultados comprometidos
                              pela Organização e as acções            Use a sua estratégia como uma ferramenta
que levará a cabo para lá chegar. Porque é um trabalho árduo,
é tentador pensar que terminar o plano escrito é equivalente a
                                                                      para orientar a tomada de decisões
                                                                      É fácil distrair-se com os desafios no dia-a-dia da gestão
cruzar a linha de chegada.
                                                                      de uma Organização sem fins lucrativos, e também por
                                                                      novos problemas e oportunidades que possam surgir
Mas, é claro que não é. Escrever um plano estratégico é
                                                                      inesperadamente. Mas é importante não deixar a poeira
apenas o primeiro passo para alcançar impacto ano após ano.
                                                                      assentar no seu plano estratégico. Uma vez que já tenha
O próximo passo é a implementação e é, várias vezes, onde as
                                                                      encarado o trabalho árduo do processo de criação, é
Organizações costumam tropeçar. Na verdade, ao responder
                                                                      importante usá-lo como um guia para avaliar as oportunidades
ao mais recente questionário de diagnóstico organizacional, os
                                                                      de desenvolvimento e fazer frente às contrariedades.
funcionários de mais de 120 Organizações sem fins lucrativos
avaliaram o rating relativo à capacidade dos seus empregadores
                                                                      A sua estratégia irá ajudá-lo a permanecer no rumo certo na
para implementar as suas estratégias 10% abaixo da sua média
                                                                      direcção dos seus objectivos mas somente se se referir a ele
para todas as outras áreas de capacidade organizacional.
                                                                      com frequência e lembrar permanentemente a sua equipa e
                                                                      administração do que está a tentar alcançar, a sua razão, e
Os entrevistados deram às suas Organizações especialmente notas
                                                                      como tenciona fazê-lo. Como um CEO recentemente disse,
baixas nas suas capacidades para traduzir as estratégias em áreas
                                                                      “Ter um plano estratégico... é o que permite manter o curso,
geríveis, comunicando as suas visões e as mudanças necessárias
                                                                      mesmo em tempos de mudança.”
para as alcançar, na distribuição de pessoal e recursos necessários
para atingir as metas, planeando e acompanhando o progresso e
ajustando o percurso quando a mudança torne necessário.               Mantenha-se	flexível	na	sua	abordagem
                                                                      Os melhores planos estratégicos fornecem orientações
Essas deficiências podiam resultar numa falta de consciência          fortes e responsabilização, mas não agem como coletes de
das prioridades estratégicas dessa Organização, e falta de            força. O mundo em que as Organizações sem fins lucrativos
envolvimento nas prioridades estratégicas de uma Organização.         operam não é tão inocente ou puro como o papel em que os
Da mesma forma, podem resultar numa falta de recursos para            planos estratégicos são escritos. Aplicação efectiva significa
as suas prioridades que são importantes apenas no nome, e,            encontrar um equilíbrio entre a manutenção de um foco
em última análise, numa evolução demasiadamente lenta para            consistente estratégico e a adaptação a novas circunstâncias.
atingir os objectivos da Organização.
                                                                      Os líderes com quem conversámos falam sobre a execução
Se algum destes sintomas é-lhe familiar, este Guia é destinado        estratégica como um processo repetitivo: a fim de alcançar
para si. Os seus conteúdos partilham experiências de clientes         o impacto pretendido da sua Organização, precisavam
da The Bridgespan, bem como conhecimentos de outras                   estar dispostos a ajustar o seu curso. Muitas Organizações
ONGs que se destacaram na construção de um impulso para               experientes não conseguiram prever eventos que influenciaram
que convertessem o planeamento em implementação.                      a sua capacidade de avançar com as estratégias, como um
                                                                      importante financiador alterando o seu foco ou mudanças
As Organizações entrevistadas partilham uma orientação para           significativas na política governamental.
a mudança. Elas usaram abordagens práticas para converter
as suas visões em acções tangíveis, e têm sido diligentes             Em vez de abandonar as suas estratégias, eles mudaram as
na monitorização do processo evolutivo e na correcção do              tácticas, mantendo os seus objectivos estratégicos em foco,
curso tomado quando as circunstâncias mudam. É esta                   mas adaptando as acções específicas que estavam a tomar
combinação de mentalidade e de gestão de implementação                com base no que aprenderam e nas novas circunstâncias
que atinge resultados. Este guia apresenta os métodos para a          necessárias. Em última análise, eles formularam novas rotas
implementação em seis etapas. Dentro de cada etapa, encontrará        para os seus destinos.
referências aos templates que ilustram os tipos de ferramentas
utilizadas por estes líderes de organizações sociais, para impor a    Manter uma comunicação constante
implementação nas suas organizações!                                  A execução bem sucedida de sua estratégia exige que todos os
                                                                      stakeholders estejam plenamente conscientes das suas priori-
Conselhos para viver o seu plano                                      dades e direcção. Muitos, se não a maioria, dos planos es-
Os Líderes de Organizações sem fins lucrativos que                    tratégicos são formulados entre equipas de executivos
entrevistámos foram sinceros sobre como moviam as suas                e conselhos de administração; com frequência, os


                                                                                                                                          35
36
                                                                  líderes da organi-       implementação, outras tentam mudar muito de uma só vez.
                                                             zação atrasam ou ne-          Esse tiro pode sair pela culatra, particularmente se a sua
                                                       gligenciam o acto crucial de        estratégia exigir grandes mudanças no trabalho que a sua
                                                 comunicar, a visão nova ou revisão        equipa e Organização está a executar.
                                             organizacional para os funcionários.
                                                                                           Embora possa ser tentador o emprego de novos esforços,
                                     Se a sua Organização não entende a estratégia         o contrato de pessoal, e o redesenho das funções internas,
                                 e não interiorizou a necessidade de mudança,              todas no primeiro trimestre de implementação, ao fazer muito
                              você não terá o buy-in / envolvimento necessário para        no início, pode arriscar prioridades insuficientes de recursos,
                           executar com sucesso o plano. É importante fornecer             burning out a sua equipa, e alcançando menos do que você
                        uma mensagem consistente, clara e positiva sobre o plano           sequenciou ao longo do tempo.
                      e a razão da nova estratégia ser a melhor alternativa de acção,
                      para incentivar os colaboradores a sua própria implementação.        Considere a forma como pode lançar a sua implementação,
                      Também é importante repetir essa mensagem.                           e em primeiro lugar lide com as mudanças que a sua
                                                                                           Organização anseia enfrentar. Isso permitirá que faça
                      As suas comunicações devem cobrir aquilo que é diferente na          progressos demonstrativos no imediato, enquanto constrói
                      Organização, o porquê dessa mudança ser fundamental para             uma plataforma para mudanças de longo prazo.
                      alcançar o impacto que você procura, e como sua equipa pode
                      desempenhar um papel importante.                                     Além disso, é importante ter uma pessoa responsável
                                                                                           pela condução do processo de mudança. Para algumas
                      Capacitar os “campeões da mudança”                                   Organizações, isso significa redefinir o papel dos altos
                      Algumas funções serão afectadas pelo processo de                     funcionários para a implementação directa. Outros possuem
                      implementação mais do que outras, e os colaboradores nessas          bastantes membros júniores a servir como “guarda de
                      áreas podem apresentar sinais de “choque de mudança”,                trânsito” para assegurar os progressos de implementação de
                      necessitando de tempo e incentivo para chegar à administração.       forma eficiente.

                      Para enfrentar esse desafio, procure oportunidades para              Nas Organizações estudadas, a pessoa encarregada da
                      fortalecer “campeões de mudança” que podem contornar                 implementação foi identificada precocemente (durante
                                                                                           o processo de planeamento estratégico), reportando
tema de actualidade




                      os temores dos seus colegas e providenciar mensagens
                      convincentes sobre a mudança necessária. Além disso, deve-           directamente ao responsável da Organização, assinalando
                      -se incentivar a própria implementação pelos colaboradores,          que a implementação foi a de mais alta prioridade. Embora
                      permitindo-lhes fornecer informações e iniciativas sobre as          possa não ser possível ou necessário para a sua Organização,
                      mudanças que afectarão directamente os seus papéis individuais.      dedicar um membro da equipa em tempo integral para
                                                                                           gerir a implementação é fundamental para que tome a
                                                                                           responsabilidade de coordenar esforços e manter a dinâmica.
                      Fase de execução com um “campeão”                                    Também é essencial para a liderança da sua Organização
                      designado                                                            implementar tão apaixonadamente quanto a formulação da
                      Enquanto algumas Organizações lutam para iniciar a sua               estratégia.



                      Implementação que gera resultados: Passo a Passo




                      Apesar do caminho que temos projectado para a implementação          com mais frequência do que em épocas de grande fluxo), a fim
                      da estratégia poder parecer linear, a execução do seu plano          de permanecer na ordem e conseguir o impacto procurado.
                      é realmente um grande processo interativo. Conforme vai
                      avançando, você pode encontrar-se a revisitar decisões que           Passo 1: Traduzir Objectivos Estratégicos
                      fez anteriormente podendo, assim, aprender com as suas
                      experiências e encontrar desafios imprevistos e oportunidades.       em Iniciativas Viáveis
                                                                                           Logo que faça a transição do planeamento estratégico para
                      O sexto passo, “Revisitar e repetir”, ressalta o facto de que você   a implementação, a sua primeira tarefa é conseguir ser
                      terá que passar pelo processo anualmente (ou potencialmente          específico sobre o trabalho a ser feito. Em termos práticos,
isso significa passar pelo processo de tradução multianual,      estratégicos. Para Organizações com pequenas quantidades




                                                                                                                              tema de actualidade
metas estratégicas de alto nível articuladas no seu plano em     de apoio financeiro sem restrições, o alinhamento de recursos
iniciativas concretas que a sua Organização realizará num        para a estratégia pode exigir um fundraising agressivo para
período de 12 a 18 meses. Quebrar metas de longo prazo em        suportar as suas prioridades estratégicas e iniciativas para
segmentos oportunos, de fácil definição e tratamento, ajudará    que as restrições de financiamento não abrandem o seu
a criar um roteiro detalhado que alinhe as actividades do dia-   progresso.
-a-dia da sua Organização com os mandatos globais da sua
estratégia.                                                      Passo 5: Monitorar o progresso
                                                                 Organizações que são eficazes na implementação estratégica
Passo 2: Criar um Projecto para a Mudança                        têm processos fortes no local para medir sistematicamente
Uma vez que traduziu os seus objectivos estratégicos em          e avaliar o progresso em relação aos seus objectivos. Os
iniciativas, o próximo passo fundamental é considerar o          processos ajudá-los-ão a manter o foco à medida que
conjunto de iniciativas de forma holística para garantir que     executam as suas estratégias, aprendendo e ajustando
o seu alcance, duração e esforço necessários são realistas       assim que evoluem. Um mecanismo simples que muitas
e devidamente sequenciados. Em essência, você precisa            organizações usam para acompanhar o progresso é a revisão
criar um projecto de mudança para que os líderes em toda         trimestral.
a sua Organização possam ver como os seus papéis e seus
departamentos de trabalho se conectam uns aos outros.            Passo 6: Revisitar a sua estratégia e repetir
É importante que todos possam compreender o “grande
retrato”, para que fique claro porque certas iniciativas e
                                                                 o processo
                                                                 Organizações que são mais eficazes na implementação
mudanças começarão antes de outras. A criação de um plano
                                                                 contínua ao longo do tempo revêem os seus planos, vendo as
para a mudança é sobre como definir o palco para construir o
                                                                 suas estratégias como âncoras, sem restrições, para o que
impulso do progresso.
                                                                 podem alcançar. Assim que você implementa em 2, 3, 4 ou 5
                                                                 anos a sua estratégia, é uma boa ideia repetir todos os passos
Passo 3: Mobilizar a Equipa                                      descritos acima. Numa base anual, as duas primeiras etapas
A implementação efectiva depende que a sua equipa esteja em      (traduzir e criar) pode levar menos tempo e esforço, se está
consonância e inicie a estratégia. A execução do seu plano,      simplesmente actualizando as iniciativas estabelecidas no
sem dúvida, exigirá que os seus colaboradores façam coisas       início do seu processo de implementação. Assim como Sam
de maneira diferente, e ajudá-los a fazer essas mudanças         Cobbs, director-executivo da First Place for Youth, explicou,
pode ser difícil. Com a finalidade de mobilizar a sua equipa,    “Ter um plano estratégico e objectivos bem articulados torna
é indispensável que se concentrem em dois elementos-chave        o processo muito mais fácil. Não está muito em debate. Tudo
para o sucesso: 1) comunicar um argumento convincente para       que fazemos orienta-se aos objectivos que foram estipulados
a mudança necessária; 2) o alinhamento dos objectivos de         no plano.”
desempenho individual dos membros da sua equipa com as
prioridades estratégicas da Organização.
                                                                 Nota:	 Os Autores concederam e autorizaram previamente a
Passo 4: Alinhar as finanças para apoiar a                       edição deste Artigo. Poderá ler a versão original (inglês) em
implementação                                                    http://www.bridgespan.org/WorkArea/linkit.aspx?LinkIdentifi
Além do tempo dos colaboradores, a implementação da sua          er=id&ItemID=23012
estratégia provavelmente exigirá mudanças financeiras ou
aquisição de novos recursos para suporte dos objectivos




                                                                                                                                     37
38
                                                          Karl	Richter,
                                                            Co-fundador da JenLi Foundation, co-autor de “Making Good in Social Impact Investment:
                                                               Opportunities in an Emerging Asset Class”, Advsor da Euclide Network sobre o Impacto
                                                                 do Investimento Social e coordenador da Task Force do European Social Investment
                                                                  Facility (Londres, UK)


                                                                   “Caro	Dr.	Doom,	daqui	é	o	Dr.	Hope...	O	mundo	não	
                                                                   vai	acabar,	mas	decididamente	o	mundo	das	finan-
                                                                   ças está a mudar.”

                                                          Nouriel Roubini, o             significa que não temos tempo para conceber um novo sistema.
                                                         economista que ga-              No entanto, o capitalismo é um sistema extremamente flexível
                                                      nhou o apelido de “Dr.             e já se reinventou, pelo que poderá fazê-lo novamente. Nós
                                                  Doom” por prever a crise fi-           podemos (e devemos) modificar o capitalismo dominante para
                                            nanceira de 2008, pergunta num ar-           equilibrar os interesses do capital com os interesses do povo.
                    tigo com o mesmo nome publicado em Agosto deste ano: “O
                    capitalismo estará condenado?”.                                      O quadro principal deste novo modelo é a Economia Social
                                                                                         – uma construção que combina retorno financeiro com
                    Os economistas de “colarinho branco” dos últimos 30 anos             resultados sociais. Alguns chamam a isso Valor Acrescentado,
                    deixaram de oferecer um modelo teórico satisfatório para o           outros Valor Partilhado, e outros ainda Filantrocapitalismo.
                    capitalismo e os falhanços da doutrina praticada tornaram-se         A mensagem é a mesma – objectivos sociais e financeiros
                    claros quando os mercados financeiros entraram em colapso, no        podem coexistir dentro de uma economia baseada no mercado.
                    dia 15 de Setembro 2008 – o dia em que a Lehman’s Brothers           Além disso, a combinação dos dois pode criar um sistema
                    entrou em colapso. Alguns discípulos obstinados de economia da       económico mais robusto que melhor sirva a sociedade.
                    Chicago School of Economics argumentaram que os mercados
                    não eram livres o suficiente para a autocorrecção e que a única      Não existe uma única solução para todos, na verdade, a
                    maneira de evitar a próxima crise consistia em desregular ainda      diversidade e a pluralidade são um requisito fundamental
                    mais e colocar mais fé nos mercados livres e no capitalismo          na redução do alinhamento dentro do sistema, o que desse
                    laissez-faire. Não se enganem, alguns passageiros do naufrágio       modo diminuiria o risco sistémico. Os princípios e valores para
                    do Titanic também estavam felizes com o entretenimento da            esse novo paradigma já foram percepcionados, precisando
                    banda, enquanto outros procuravam os botes salva-vidas.              apenas mais de um pouco de esforço para ser transportado
                                                                                         do obscurantismo para a popularidade:
                    No caos financeiro, essas instituições clamaram de uma forma         • Modelos de investimento de sucesso serão flexíveis
artigo de opinião




                    gritante pelos bailouts, capturando a maior atenção, enquanto os       e adaptáveis, capazes de responder melhor a um
                    bancos sociais e Organizações semelhantes foram calmamente             paradigma mais amplo da economia de maior incerteza e
                    continuando a fazer o que melhor sabem, prestando serviços             imprevisibilidade; eles serão mais holísticos assim que a
                    financeiros que incidem sobre ambos os resultados: sociais             complexidade se tornar legítima para o curso da actividade.
                    e financeiros. A sua raison d’être é a de se concentrar em           • Os aspectos da economia social marginal tomarão os
                    promover o empreendedorismo social e os negócios sociais –             atributos do sector financeiro convencional em consideração,
                    por outras palavras, promover uma economia social baseada no           e vice-versa, assim que eles se movam para mais perto uns
                    mercado em que o financiamento é usado para criar e partilhar          dos outros e abracem os princípios da outra que até então
                    prosperidade e reduzir a desigualdade económica.                       parecia um contra-senso.
                                                                                         • As Organizações da economia social que buscam capital de
                    Sem entrar em detalhes sobre o porquê dos seus modelos                 investimento serão mais eficientes nos seus comportamentos,
                    levarem a melhor nesta crise, o ponto relevante é que os seus          e os investidores de impacto social serão mais complacentes
                    modelos de negócios estão menos correlacionados com os                 das necessidades das organizações de economia social.
                    mercados comerciais. Chegou a hora de fornecer a essas               • A criação de valor socioeconómico a longo prazo terá
                    Organizações o destaque que merecem, e o capital que precisam          prioridade sobre ganhos financeiros a curto-prazo, exigindo
                    para desempenhar um papel mais forte na recuperação                    uma avaliação de risco diferente.
                    socioeconómica – e talvez mesmo em reequilibrar o próprio            • Um aumento no valor real irá ocorrer quando houver um
                    capitalismo, ajudando a reduzir a ocorrência de falhas no mercado.     juízo consensual de que algo vale mais para as pessoas, e
                                                                                           não apenas porque o preço dos activos subiu.
                    Nouriel Roubini está certo quando diz que nos fomos                  • Para obter sucesso, os investidores terão de estar mais
                    “afastando tanto do modelo anglo-saxão de laissez-faire e              envolvidos nos seus investimentos e preparados para
                    da economia de vodu, como do modelo europeu continental                depositar mais tempo e capacidade em estabelecer
                    dos estados providência guiados para o défice. Ambos estão             compromissos no trabalho. Eles precisam ser melhor
                    ultrapassados.” Mas ele não revela, no seu artigo, para onde           informados e mais em sintonia com as exigências investida.
                    estamos a caminhar, por isso deixem-me tentar.
                                                                                         O relatório “Making Good in Social Impact Investment:
                    O primeiro ponto a destacar é que provavelmente estamos presos       Opportunities in an Emerging Asset Class”, destaca que um
                    ao capitalismo. Gostem ou não, ele (o capitalismo) parece o menos    quadro suficientemente robusto de análise já existe para o
                    ameaçador de todos os sistemas económicos experimentados             investimento de impacto social e que uma linha divisória foi
                    até à data e face à ausência de uma alternativa viável, o que        imposta. Argumenta ainda, que o mercado de investimento social
oferece aos principais investidores a oportunidade de empenhar       No dia 8 de Setembro de 2011 em Cracóvia, uma task force de




                                                                                                                                       artigo de opinião
a economia social neste momento. É um mercado emergente              banqueiros sociais e financiadores éticos de toda a Europa,
no sentido mais literal. Inevitavelmente haverão algumas dores       reuniram-se em resposta à consulta pública da Comissão Europeia
de parto à medida que evolui do nascimento para a maturidade,        sobre a forma como o capital privado poderia ser atraído de uma
mas em última análise, esses investidores que procuram capital       forma mais natural, para estimular a economia social. Esta task
que se envolverão no início deste mercado, serão capazes de          force revelou que a Comissão Europeia deve estabelecer um
colher os frutos. Deverá ser também um mercado integrado e           mecanismo para usar os seus recursos limitados de forma mais
a funcionar como uma escada rolante de financiamento para as         eficaz no estímulo da economia social. A task force recomendou
organizações de economia social, fornecendo a mais completa          doze princípios orientadores para esse mecanismo na atracção de
gama de títulos de capital e abraçando a mais ampla variedade        capitais não-públicos para o efeito, nomeando este mecanismo do
de organizações.                                                     Mecanismo Europeu de Investimento Social (ESIF).

O lançamento formal, no Reino Unido, do Big Society Bank             O capitalismo não está condenado e até já temos a versão do
(actualmente Big Society Capital) em Julho de 2011, provou que       ‘negativo’ para saber como corrigi-lo - agora vamos implementá-lo!
o financiamento social tem ido além de uma mera “boa ideia”
para captar o interesse das classes políticas, e também uma
convicção de que atrair capital privado para alcançar resultados     Nota	1:	Poderá ler/fazer download da versão original (inglês)
sociais deve fazer parte de qualquer solução para a crise            deste Artigo em: http://www.dianova.pt/publicacoes/revista-exit
financeira global. Isto é particularmente verdade, no contexto       Nota	2: Poderá aceder ao Relatório “Making Good in Social
das economias desenvolvidas com elevado endividamento                Impact Investment: Opportunities in an Emerging Asset
público, como resultado das políticas pré-crise combinadas           Class” em: http://www.thecityuk.com/assets/Reports/Other/
com as acções pós-crise para estabilizar o sistema financeiro.       MakingGoodOnSocialImpactInvestment.pdf


                                      Luis	Mota
                                         Fundador & Director-Executivo da i advisers


                                              “A informação na base de estratégias vencedoras”

                                                Vivemos tempos       Este nível base da pirâmide tem como objectivos: ter
                                                particularmente      conhecimento das notícias sobre a Organização, saber que
                                               difíceis, nomea-      actividades e projectos os congéneres estão a desenvolver, saber
                                               damente no que        quais são as novas políticas que afectam o sector, conhecer
                                              concerne à di-         incentivos à actividade e acompanhar os estudos realizados.
                                            mensão económica
                                          das Organizações. E,       Com esta informação, sempre actual, conseguem os gestores
                                        temos       conhecimento     tomar decisões mais assertivas e em real time, o “marketing
                                     que estes se vão perpetuar      e comunicação” pode avaliar os resultados das suas acções
                                durante os próximos anos. Assim      e desenvolver benchmarking com os restantes players, os
sendo, é unânime que, em termos de gestão, devem as Organi-          departamentos de research incrementam a qualidade dos seus
zações preservar os seus maiores activos, estar atentas a novas      relatórios e os colaboradores em geral podem gerar mais valor
oportunidades, acompanhar de perto todos os seus stakeholders        à Organização, ao mesmo tempo que esta os fideliza, fazendo
e comunicar de forma assertiva. Acresce que, para levarem a          cada um sentir-se parte do todo. Ora, ter toda a informação
bom porto estes objectivos, os custos associados são incompa-        disponível, a um clique, é uma ferramenta de elevado potencial
ráveis aos benefícios, pelo que o retorno do investimento está à     como suporte à decisão e que serve toda a Organização.
partida garantido.
                                                                     Contudo, nas vantagens directas que emanam da sua utilização,
Existem formas mais eficazes e processos mais efectivos              podemos acrescentar valor utilizando os seus conteúdos para
de desenvolver com qualidade estas competências na                   analisar a performance mediática e gerir  aquele que é, por
Organização. O facto, é que é essencial fazer uma correcta           muitos considerados, um dos maiores activos de qualquer
gestão da informação, mapear os stakeholders de forma                Organização: a sua reputação.
sistemática - de forma a acompanhar os seus movimentos
e entender as novas necessidades – e monitorizar os vários           Senão vejamos, um dos objectivos primários da gestão é
vectores de reputação para que seja possível cumprir com os          de facto incrementar, melhorar e promover a reputação
objectivos estratégicos da organização.                              da sua Organização. Assim sendo e a priori de qualquer
                                                                     acção ou definição estratégica, é necessário avaliar, fazer
A informação é por inerência o primeiro elemento da cadeia           um diagnóstico, sobre cada um dos vectores que geram
de valor e tem por missão analisar, organizar e levar até às         a reputação, sejam eles a solidez financeira, a visão e
Organizações o seu conhecimento. Este trabalho, vulgo clipping,      liderança, a capacidade de inovação, a qualidade dos produtos
é usualmente exteriorizado e apresenta duas ferramentas              e/ou serviços, o ambiente de trabalho ou as política de
essenciais: um portal que possibilita gerir, pesquisar e partilhar   responsabilidade social. É necessário entender cada um, de
toda a informação e uma compilação das notícias do dia,              forma a poder planear quais devem ser reforçados e em
enviada por e-mail, que permite às Organizações disseminar a         que medida a comunicação, em sentido lato, pode
informação por todos os seus colaboradores.                          servir esse propósito.

                                                                                                                                             39
40
                                                                 Existem dois me-       dos seus stakeholders, criar alertas de actividade que
                                                             canismos que, desen-       permitam monitorizar alterações no seu ambiente de negócio,
                                                      volvidos de forma concertada,     acompanhar as melhores práticas internacionais, detectar
                                                possibilitam esta avaliação. Por um     oportunidades de negócios, estudar possíveis mercados de
                                           lado, a elaboração de estudos de merca-      expansão, desenvolver cenários ou a antecipar tendências.
                                      do junto dos stakeholders, com questionários
                                  muito objectivos e que afiram directamente sobre      E todas estas valências têm por objectivo encontrar vantagens
                              os vectores de reputação - quantificando valores para     competitivas face aos demais players.
                           a posterior criação de um índice de reputação e avalian-
                       do qualitativamente as opiniões. Por outro, proceder a uma       Para as Organizações que têm efectivamente preocupações
                     análise reputacional através da informação publicada.              com a informação, a gestão dos seus stakeholders e a
                                                                                        sua reputação, o trabalho está simplificado dado que já
                    Esta última, revela-se decisiva para averiguar se a comunicação     reúnem grande parte da estrutura necessária a um correcto
                    está a ir ao encontro das necessidades reputacionais da             desenvolvimento da inteligência económica.
                    Organização e quais as alterações que se revelam fundamentais
                    realizar ao seu plano. Um exemplo, determinada empresa do           Os benefícios, directos e indirectos, para as Organizações
                    sector energético tem uma forte valorização da sua capacidade       que adoptam este modelo são inúmeros e dão-lhe “armas”
                    financeira, com a publicação assídua de notícias sobre os           para a prossecução da sua estratégia. Assim, e tendo sempre
                    resultados, aquisições e internacionalização, tem uma liderança     uma vantagem sobre os seus pares, conseguem estar mais à
                    sempre presente nos vários meios de comunicação social              frente, com valores distintivos, com produtos inovadores o que
                    contudo, é rara a informação sobre a qualidade dos seus serviços,   muitas dita o sucesso ou insucesso de um projecto.
                    ou seja, tem este vector: qualidade percebida dos serviços,
                    desfavorecido. Neste caso, a estratégia deve passar a contemplar
                    uma abordagem mais exaustiva desta área. Este controlo deve
                    ser realizado com assiduidade e faz parte do ciclo da reputação.

                    Se a Organização desenvolver estas competências, está
                    dotada das ferramentas necessárias a uma correcta de gestão
                    da informação e da sua reputação: analisa a informação
                    publicada, afere os seus índices de reputacionais, mede a
                    eficácia da comunicação e revê a estratégia comunicacional.

                    Acontece que as vantagens da informação, como base ao               PS/Nota: Estas tarefas, fundamentais para a sobrevivência
                    desenvolvimento de outras competências, não se ficam por            das Organizações, sejam elas públicas ou privadas,
                    aqui. Existe uma área fundamental para as Organizações              independentemente do sector de actividade e da sua dimensão,
                    que pode beneficiar directamente desta base e que visa              são, nos nossos dias, maioritariamente subcontratadas. Não
artigo de opinião




                    dar respostas a um mercado cada vez mais competitivo, a             somente porque existem empresas que se foram especializando
                    inteligência económica ou competitiva.                              ao longo das últimas décadas nesta área e conseguem por isso
                                                                                        ter um nível de serviço de elevada qualidade, mas também porque
                    Os seus objectivos são lineares e transversais à Organização:       conseguem apresentar valores financeiros muito abaixo dos que
                    acompanhar de forma sistemática e organizada os movimentos          seriam necessários para desenvolver a actividade internamente.




                                                                                              Richard	Tafel,
                                             CEO da Public Squared, & Kevin Ivers, CEO da Center Strategies
                                                                                     (Washington DC, EUA)



                     “Combinando	Empreendedores	Sociais	com	Líde-
                    res Políticos no Primeiro Dia: O Modelo Brasileiro”

                    Empreendedores sociais de todo o mundo serão forçados, em           penha entre os secto-
                    virtude da crise económica actual, a olhar para novos modelos       res, público e privado:
                    de inovação de operação. O modelo Brasileiro, de conectar           1. Os sectores governa-
                    política governamental com entrega de serviços sem fins                mentais e empresariais
                    lucrativos, oferece lições sobre sustentabilidade.                     não podem satisfazer as neces-
                                                                                           sidades de todos os desafortunados.
                    O modelo de empreendedorismo social nasceu do princípio             2. Os sectores governamentais e empresariais financiarão
                    americano de que o capitalismo poderia resolver os flagelos            boas causas.
                    sociais com caridade, colmatando as lacunas deixadas pelo           3. Os sectores governamentais e empresariais não são fontes
                    governo. O modelo dos EUA tem como assumpção três pre-                 de inovação no desenvolvimento social.
                    missas principais sobre o papel que a sociedade civil desem-        Este modelo americano permite inovar, dada a liberdade
artigo de opinião
que proporciona à sociedade civil, e à competição entre              tinham acordado em conjunto.
implementadores e financiadores para produzir resultados.            Os resultados têm sido tão notáveis que muitos ofuscaram
Também permitiu aos americanos exibir os seus valores                os dos mais ricos, tais como os Estados Unidos: o acesso
culturais de voluntariado e caridade. Porém esta filosofia tem       universal e gratuito ao tratamento do HIV foi alcançado ao longo
consistentemente mostrado um modelo mal sustentado, que              de 10 anos no Brasil, embora esse direito nunca tenha sido
depende inteiramente da disponibilidade de fundos em excesso         atingido na abordagem público-privada dos EUA; a educação
e dos caprichos dos doadores, sejam eles públicos ou privados.       para a prevenção tem levado ao nivelamento e até mesmo à
                                                                     diminuição de novas infecções por HIV no Brasil, enquanto
Como podemos ver actualmente, o modelo dos EUA apresenta             estes índices continuam em alta nos EUA; o conteúdo da
as seguintes deficiências.                                           educação preventiva no Brasil sempre foi baseado na ciência
1. A procura por serviços em tempos económicos difíceis              e não é censurado pelo governo, embora tenha sido uma fonte
   é maior, enquanto os recursos de financiadores                    de profundo conflito através da divisão governo-ONG nos EUA
   governamentais e de empresas, normalmente, diminuem.              desde o início da epidemia. Cooperação intensiva como modelo
2. Os líderes de ONG são hostis à ideia de se envolverem em          tem rendido um amplo input, execução efectiva e consistência.
   políticas públicas, porque as ideias para a sua actividade
   social surgem a partir de uma crítica geral do fracasso da        O modelo do Brasil estende-se a muitas áreas do
   acção governativa.                                                desenvolvimento social, onde o acordo entre os dois sectores
3. Os líderes de ONG estão convencidos de que podem operar           tem sido bem sucedida em outras áreas prioritárias, para o
   em paralelo com as empresas e a acção governativa por             país. O “Fome Zero” e a “Bolsa Família”, programas da última
   tempo indeterminado, e em muitos casos, ver esta acção            década, têm beneficiado de um sector não-governamental bem
   paralela como parte de sua missão.                                sustentado capaz de fornecer uma gama de serviços de apoio
                                                                     às famílias, recebendo assistência financeira directa destinada
O fracasso dos Estados Unidos em forjar soluções políticas           a atenuar a pobreza, aumentando o atendimento escolar e a
sustentáveis deverá estimular as ONG a olhar para outros             imunização infantil, a segurança alimentar e eliminado a fome.
modelos que têm provado uma maior sustentabilidade a longo
prazo e apresentado resultados consistentes.                         Os programas de micro-financiamento governamentais
                                                                     (micro-créditos) deram às ONG locais maior capacidade de
O Brasil é um bom lugar para se olhar. O gigante emergente           escala a novos clientes e para apoiar a ampliação de pequenos
da América do Sul tem usado um modelo completamente                  negócios em áreas pobres, dando maiores rendimentos
diferente ao longo de décadas e tem evidenciado um sucesso           estruturais para as populações vulneráveis. Ao mesmo tempo,
notável, não só na sustentabilidade, mas obtendo resultados          ninguém teve que disputar dinheiro de fontes privadas, e uma
surpreendentes. Desde que retornaram a democracia, em                quantidade histórica de brasileiros foi retirada da pobreza e
meados dos anos oitenta, a sociedade civil brasileira tem            começou a gerar um real poder de fogo no motor económico
vigorosamente posicionado-se como um impaciente sistema de           do consumo doméstico do país. Isto compreendeu um fluxo
entregas para uma ampla gama de serviços sociais. E os novos         de receitas histórico de retorno ao governo, levando a um
governos democráticos viram como se fornecia os recursos             profundo desenvolvimento económico e social.
necessários para essas ONG realizarem o seu trabalho. Como
tal, quando os grandes desafios sociais começaram a ser              O modelo de cooperação intensivo também tem seus
endereçados no Brasil, tal foi feito através de um processo          inconvenientes. Há espaço para a corrupção e para a falta de
elaborado de cooperação entre ambos os sectores.                     transparência, sobretudo tendo em conta a estreita relação
                                                                     entre os líderes de ONGs e os da agência governamental.
Exemplo disso foi a resposta do Brasil à epidemia da SIDA,           Mas outra ironia do sistema brasileiro é que o elevado nível
que surgiu com a chegada da democracia. Activistas sociais           de transparência na contabilização dos gastos públicos
começaram a formar centenas de ONG locais para ajudar doentes        discricionários combinam com a natureza pública do diálogo
de todos os tipos, e trabalharam estreitamente no desenvolvimento    Governo-ONG no desenvolvimento de políticas, o que motivou
de políticas brasileiras sobre prevenção, tratamento e educação.     que a corrupção na sociedade civil fosse mais difícil de ser
Por sua vez, o governo começou a financiar projectos propostos       eliminada. O suborno no sector privado em concessões públicas
por todo o país. Uma Comissão Nacional de SIDA para a sociedade      e a compra de votos são de longe os casos mais perversos de
civil e para o governo foi formada com poderes reais para formular   corrupção de acordo com a “Transparência”, um grupo de
normas e políticas nacionais, e uma “solidariedade” compacta         observação brasileiro. O modelo também significa que as
foi sedimentada, através da qual as ONG seriam sustentadas por       ONG devem sacrificar uma certa dose de independência
recursos governamentais a fim de implementar as políticas que        política em prol da manutenção da “solidariedade”

                                                                                                                                         41
42
                                                                 de acordo com             desenvolvimento de políticas como um modelo em progressão,
                                                             o governo e com os            ano a ano, criando uma solução sustentada. Uma cooperação
                                                       actores da sociedade civil. Na      mais estreita, em detrimento do actual nível de desconexão
                                                 prática, os governos brasileiros de       entre a sociedade civil e o governo em que nos EUA, poderá ser
                                            todos os matizes partidários fizeram um        vista como muito desafiador dada a cultura política da nação.
                                       esforço para manter os seus parceiros ONG           Mas a necessidade crescente num momento de escassez de
                                   satisfeitos não causando conflitos políticos, e         recursos pode fazer desses tais movimentos ousados uma
                               obtendo sempre crédito e louvores dos resultados            necessidade.
                            do país em fóruns e organismos internacionais.
                                                                                           Nota: poderá ler/fazer download da versão original (inglês)
                      Empreendedores sociais globais devem aplicar a lição                 deste Artigo em http://www.dianova.pt/publicacoes/revista-exit
                    do Brasil, casando a inovação social directamente com o




                                                                                                     Rita Maltez
                                                                                    Partner da Pares Advogados


                                                                                “Ética e Governo”

                    Os temas da ética e do bom governo são, pelas piores razões,           de recursos pró-
                    temas na ordem do dia. A grave crise económica e financeira            prios que lhes são
                    que vivemos é, acima de tudo, resultado de falhas graves, seja no      afectos pelos seus
                    governo das sociedades comerciais (mas não só nestas), seja no         instituidores ou funda-
                    uso das mais elementares regras éticas que a conduta humana            dores, integram muitas
                    deve observar.                                                         vezes no seu universo patri-
                                                                                           monial, como forma de produção
                    Falamos de falhas humanas de consequências catastróficas,              de novos recursos para desenvolvimento das suas actividades
                    como bem refere o justamente famoso relatório da Comissão              centrais, participações sociais de relevo em empresas com
                    de Inquérito à Crise Financeira  (Financial Crisis Inquiry             fim lucrativo e aplicam alguns dos seus recursos em inves-
                    Commission1) nomeada pelo Presidente e pelo Congresso dos              timentos em instrumentos financeiros ou noutras realidades
                    Estados Unidos.                                                        geradoras de recursos financeiros (detenção e exploração de
                                                                                           imóveis, por exemplo) de valor bastante significativo.
artigo de opinião




                    O designado Terceiro Sector, cobrindo a Economia Social ou
                    Solidária, é particularmente interpelado, pelas suas finalidade        Assim, a gestão destes patrimónios deve ser profissional e tem
                    e vocação, em tempos como os que atravessamos, em que os               que ser entregue a administradores profissionais e independentes
                    mais frágeis e expostos estão, mais do que nunca, entregues            dos fundadores ou instituidores das ditas Organizações.
                    a si próprios e à sua sorte (ou falta dela).
                                                                                           Torna-se pois evidente que as regras de bom governo,
                    Ao falarmos de organizações de recursos de natureza vária,             universalmente aceites como indutoras de melhor e mais
                    com uma finalidade intrinsecamente altruísta, poderia                  adequada performance das Organizações empresariais com
                    pensar-se que seria desnecessário falarmos de ética ou de              fins lucrativos devem também ser seguidas pelo Terceiro
                    bom governo dessas Organizações.                                       Sector.

                    Porém, não é assim. Na verdade, mesmo sem fins lucrativos,             Admito que entre nós esta evidência não seja tão clara quanto
                    essas organizações, pela sua natureza e funções têm que                o é há já muitos anos, por exemplo, nos EUA onde a instituição
                    assentar numa estrutura organizacional complexa, envolvem              e o contributo individual para fundações com os mais
                    importantes meios financeiros e, seja pela sua dimensão, seja          variados objectivos, desde a criação de universidades, até à
                    pela função que desempenham em prol da comunidade em                   preservação de parques naturais ou de patrimónios artísticos
                    determinadas áreas, são muitas vezes agentes económicos e              ou de interesse cultural, sem esquecer a pesquisa científica ou
                    sociais de grande relevo.                                              a ajuda a populações mais desfavorecidas, é prática comum,
                                                                                           independentemente das posses, da formação, da origem
                    Falamos de fundações e associações ou de entidades colectivas          social ou do nível académico dos instituidores e fundadores.
                    ou patrimónios com naturezas e finalidades similares, de génese
                    voluntária e privada que, em regra, desenvolvem a sua actividade na    Recordo sempre com gosto uma pequena pedra que existe no
                    educação, na protecção do meio ambiente, da saúde ou da cultura,       átrio da Biblioteca Pública de Nova Iorque onde se encontra
                    só para dar alguns dos exemplos mais evidentes e que, pela sua         inscrito o nome de um dos seus benfeitores e que mais não
                    dimensão ou finalidade, requerem uma organização profissional de       era do que o jardineiro que cuidava dos jardins de casas da
                    recursos semelhante à de qualquer entidade empresarial.                cidade próximas da Biblioteca, e que ali se refugiava nos seus
                                                                                           tempos livres tendo naturalmente desenvolvido o gosto pela
                    Acresce que muitas dessas Organizações, embora disponham               leitura e pela criação da sua própria pequena biblioteca, que
                    1
                     Relatório: http://cybercemetery.unt.edu/archive/fcic/20110310173545/http://c0182732.cdn1.cloudfiles.rackspacecloud.com/fcic_final_
                    report_full.pdf
artigo de opinião
deixou em testamento à Biblioteca Pública, como retribuição        de controlo e supervisão, submetendo-se a auditorias e prestando
pelo acolhimento. Merece este homem, como todos os                 contas, assim trazendo aquilo a que Rui Vilar chamou “um “novo”
inúmeros beneméritos daquela instituição, que a mesma              valor acrescentado ético ao valor acrescentado social que é o
seja bem gerida, preserve e faça frutificar o seu património,      resultado esperado da intervenção das fundações” (in Homenagem
cumprindo o seu desiderato em prol da comunidade.                  aos Profs. Doutores A. Ferrer Correia, Orlando de Carvalho e Vasco
                                                                   Lobo Xavier, Nos 20 Anos do Código das Sociedades Comerciais,
E como se garante que assim seja? Com uma gestão profissional,     Coimbra Editora, 1996).
competente, independente, transparente e responsável.
                                                                   Seria bom que assim fosse em todos os organismos que
O adequado desempenho das estruturas e processos, a                integram o Terceiro Sector, seja qual for a sua função,
monitorização desse desempenho e seu controle são os               objectivo ou dimensão.
instrumentos que garantem a prossecução dos fins altruístas
dessas instituições de modo sustentável, assegurando o             Porém, e ao contrário do que Rui Vilar defende no seu texto
cumprimento dos seus objectivos e funções a longo prazo.           acima referido, entendo que, para tal, não basta a auto
Assim, regras básicas do corporate governance como a               disciplina nem a auto regulação. Gostaria que bastasse,
separação entre funções executivas e deliberativas, a existência   mas infelizmente, mostram a experiência e a prática que
de mecanismos internos e externos de controlo e a possibilidade    assim não é. A simples adopção voluntária de códigos de
de responsabilização das administrações, à semelhança do que       conduta, ainda que com a correspondente publicidade, não
se passa para as sociedades comerciais, devem igualmente ser       é garantia de integridade e muito menos da sua aplicação. É
seguidas pelas fundações, associações e demais entidades,          assim em todos os sectores, pois se olharmos atentamente,
organismos e patrimónios de natureza similar.                      inúmeras entidades adoptam voluntariamente códigos de
                                                                   conduta ou ética, regulamentos internos de funcionamento,
As melhores práticas internacionais recomendam a                   de detecção e comunicação de irregularidades, etc., que são
incorporação por esses organismos de princípios de bom             pura e simplesmente ignorados, sem qualquer consequência,
governo tão básicos quanto a publicação de relatórios e contas,    também por ineficiência de mecanismos internos de controlo.
a realização de auditorias independentes às actividades
dessas instituições e até o alinhamento das remunerações de        Acresce que se as fundações e associações de maior porte
gestores por critérios de desempenho e mérito.                     adoptam voluntariamente regras de bom governo, tal não
                                                                   acontece na grande maioria dos casos, com evidente prejuízo para
Em Portugal existe um conjunto relativamente extenso de            os fins a que os seus instituidores e fundadores as destinaram.
regras de bom governo, constantes em diversos normativos
legais desde o Código das Sociedades Comerciais até ao             Estou convicta de que um maior amadurecimento da nossa
Código dos Valores Mobiliários, mas passando também                sociedade e da nossa economia e o aumento da qualidade da
por muita outra legislação avulsa aplicável a determinado          formação e informação dos nossos jovens nesta matéria, serão
sectores da economia ou destinada a proteger bens ou valores       os pontos de partida para uma alteração de mentalidade e, logo,
comunitários concretos, como é o caso das leis do ambiente.        das práticas de gestão e de controlo da gestão que asseguram a
A força vinculativa das regras de bom governo tem distintos        qualidade, não só das nossas empresas mas também dos agentes
graus, consoante as empresas sejam cotadas ou não e, dentro        da Economia Social. É na formação académica e profissional que
das não cotadas o conjunto de obrigações nesta matéria             devem incidir, antes de mais, os nossos esforços.
é também distinto em função da dimensão das empresas.
Existe ainda detalhadas recomendações não vinculativas mas         Aliás, esta formação gera igualmente cidadãos mais compe-
cuja observância contribui naturalmente para uma maior             tentes, interventivos e exigentes.
valorização das empresas que as observem.
                                                                   Interpelar, questionar, verificar, exigir competência, qualida-
Porém, este acervo legislativo, regulatório e recomendatório,      de, transparência e prestação de contas devem ser atitudes
na sua generalidade, não se aplica ao Terceiro Sector.             normais de cidadania e são garantias da democracia cujo ob-
                                                                   jectivo é também o de assegurar equidade e proporcionalida-
No entanto, se olharmos à nossa volta, verificamos que a           de no tratamento dos “stakeholders”.
generalidade das Fundações e organismos de natureza similar,
de maior dimensão e notoriedade pública, estabelecem e seguem      Mas é igualmente na criação de um quadro legal, simples mas
regras e procedimentos em tudo semelhantes às adoptadas pelas      eficaz, para o governance do Terceiro Sector que, a meu ver,
sociedades comerciais de maior dimensão, com administrações        está a chave que abre a porta para instituições mais
profissionais, integrando inúmeros independentes, com estruturas   capazes, competentes e produtivas.

                                                                                                                                         43
44
                                                            Matt	Forti,	Manager,	&	Jeri	Eckhart-Queenan,	Head	Global	Development	Practice
                                                              The Bridgespan Group
                                                                 (Boston, EUA)



                                                                     “Mensuração como Aprendizagem: O que os
                                                                     CEOs	de	Organizações	sem	fins	lucrativos,	Mem-
                                                                     bros de CA e Filantropos necessitam saber para
                                                                     continuar a melhorar”

                                                            A mensuração é um               -avaliação e propositadamente providenciar ao pessoal
                                                          tema quente actual-               tempo, recursos, incentivos e “fóruns de aprendizagem” para
                                                       mente no sector social,              que façam o mesmo.
                                                   à medida que um número
                                             crescente de financiadores quer sa-            4. Garantir o benefício de todos os contribuidores: se o
                    ber exactamente como o seu dinheiro está a ser usado, e à               sistema não é construído para servir todos os intervenientes
                    medida que as Organizações sem fins lucrativos empreendem               interessados, o resultado será decepcionante: beneficiários
                    avaliações rigorosas para dar provas que os seus programas              que não conseguem responder às pesquisas, a equipa que
                    funcionam e atrair financiamento que lhes permitam crescer.             não reúne e regista os dados que deveria, os doadores que
                    Mas um dos usos mais importantes da mensuração/avaliação                fornecem informações incompletas, e os financiadores que
                    é muitas vezes negligenciado, a saber: o propósito de apren-            coligem, mas não lêem os relatórios.
                    der e melhorar o desempenho, ou por outras palavras mensu-
                    ração de desempenho.                                                    5.	Tornar-se	melhor	na	mensuração	ao	longo	do	tempo: com a
                                                                                            experiência, as Organizações podem identificar, com uma confiança
                    Os benefícios da mensuração de desempenho podem ser                     acrescida, os aspectos dos seus programas que guiam para os
                    substanciais. Entre os aspectos a ter em conta:                         resultados, e as correspondentes mensurações que lhes dão as
                    • Organizações que avaliam a sua aprendizagem acham                     informações mais valiosas. De seguida, são capazes de reduzir
                      frequentemente que são capazes de fazer mais para os seus             o tempo e a despesa da avaliação, por exemplo, controlando as
                      beneficiários com menos dinheiro;                                     dimensões ou ajustando os tamanhos de amostra. Organizações
                    • são capazes de adaptar os seus programas de uma forma                 comprometidas com a progressão também melhoram
                      mais rápida e eficaz à evolução das circunstâncias, mas               continuamente o rigor, seja por meio de mais aprofundadas análises,
                      também a tomar melhores decisões na alocação de recursos.             comparações com outros grupos de dados, ou complementando a
                                                                                            avaliação interna com avaliação externa.
artigo de opinião




                    O problema é que a ideia de fazer avaliação de desempenho
                    assusta muitos líderes do sector social. O processo parece              Os financiadores podem desempenhar um papel importante,
                    assustador, as recompensas distantes e incertas.                        ajudando a esclarecer o impacto pretendido e a teoria da
                                                                                            mudança para os donatários (ver artigo “Zeroing in on
                    A mensuração de desempenho não precisa ser uma                          Impact1” para saber mais sobre impacto previsto e teoria da
                    experiência esmagadora. A experiência dos exemplos no                   mudança), fornecendo-lhes os recursos que precisam para
                    sector, a partir de iniciativa Goldman Sachs “10,000 Women              capacitar uma avaliação interna e, quando possível, facilitando
                    initiative to the Latin American Youth Center”, oferece cinco           os sistemas de mensuração compartilhada. Mais importante,
                    lições fundamentais para orientar o desenvolvimento de uma              eles podem apoiar uma cultura de avaliação, reconhecendo que
                    abordagem eficaz para a mensuração de desempenho:                       as Organizações sem fins lucrativos não podem e nem sempre
                                                                                            oferecem resultados perfeitos e, portanto, incentivando essas
                    1. Comece com o fim em mente: antes mesmo de pensar em                  organizações a procurar novas oportunidades de aprender
                    métricas ou sistemas, é importante obter uma visão clara                com seus dados e a partilhar como pretendem evoluir.
                    sobre os resultados que as Organizações irão obter. Um
                    bom teste para saber se uma liderança sem fins lucrativos
                    tem essa clareza em mente implica que os seus membros
                    consigam responder a esta pergunta numa única frase: Quem
                    serve a Organização, e que mudança é que procura criar?

                    2. Mensuração	âncora	na	teoria	de	mudança	da	Organização: uma
                    robusta teoria de mudança especifica o conjunto de programas, acti-
                    vidades, capacidades organizacionais e relacionamentos necessários
                    para alcançar os resultados que a Organização tenha em mãos. Uma
                    vez que esta teoria se torne explícita e acordada, é muito mais fácil
                    agregar todo o conjunto de informações que revela não apenas se a
                    Organização está a alcançar os resultados, mas também como os al-
                    cançou e as mudanças a empregar para o seu aperfeiçoamento.

                    3. Criar uma cultura de mensuração: os líderes de uma
                    Organização devem, através de suas acções, abraçar a auto-              1
                                                                                             Ver Artigo http://www.bridgespan.org/LearningCenter/Resource
                                                                                            Detail.aspx?id=858
em dia, e contratou mais 7 funcionários a tempo inteiro.




                                                                                                                                 artigo de opinião
Breve nota sobre a terminologia
Há, infelizmente, pouca consistência no modo como o                • Custos mais baixos para aprender
sector social define termos relacionados com mensuração.           A Camfed é uma ONG internacional que tem financiado o
Ao longo deste trabalho, usaremos o seguinte:                      acesso à educação e formação profissional e desenvolvimento
• Mensuração	 de	 desempenho	 (também	 monitorização	 /	           de liderança, para mais de 1 milhão de meninas e jovens na
  avaliação	 de	 desempenho):	 acompanhamento contínuo de          África rural. De acordo com a Directora Executiva, Ann Cotton,
  dados, geralmente pelo próprio pessoal de uma Organização        o sistema de mensuração de desempenho da Camfed, que se
  através de um sistema de dados interno, para os propósitos       serve dos membros da comunidade (incluindo as mulheres
  principais de aprendizagem, responsabilidade e evolução.         jovens no seu próprio programa) para ajudar a colectar os
  Os sistemas mais poderosos integram programas, dados             dados, é “significativamente menos caro e mais eficaz do que
  financeiros e organizacionais, embora o nosso foco principal     recorrer a avaliadores” para fazer avaliações frequentes.
  neste artigo seja a avaliação de programas (ou seja, modelos,
  abordagens, intervenções).                                       A razão é que a avaliação regular não só ajuda a variável da
 • Avaliação: Atributos ou estudos para responder a                organização académica e social dos resultados, mas também
   perguntas críticas sobre um programa da Organização.            ajuda o pessoal a detectar, em tempo real, quando uma
   As avaliações podem ser feitas interna ou externamente,         jovem não está a receber os serviços Camfed (muitas vezes,
   para apoiar a aprendizagem e o aperfeiçoamento, mas             resultado da interferência da comunidade, uma situação que
   também para demonstrar evidências e influencias no              a Camfed geralmente rectifica rapidamente). Além do mais,
   terreno.                                                        os avaliadores comunitários (além de construírem os seus
 • Avaliação de impacto: Um tipo de avaliação que se estuda        próprios conhecimentos) estão a melhorar a precisão do seu
   quando uma mudança nos resultados pode ser atribuída ao         trabalho nas Organizações porque “falam a mesma língua e
   programa de uma Organização. Os resultados comprovados          são sensíveis às correntes e dinâmicas de poder.”
   através desta avaliação são chamados de impactos.
 • Estudo de controlo aleatório: Um tipo de avaliação de           De acordo com a directora de marketing da Camfed, Laurie
   impacto em que os participantes elegíveis são escolhidos        Zivetz, a Organização reviu em baixa a sua mensuração com
   aleatoriamente para receber ou não receber programa de          custos relacionados nos últimos anos, equipando os colectores
   uma organização. Embora amplamente considerada a forma          de dados com laptops e, em alguns casos, telefones móveis.
   mais rigorosa de avaliação de impacto, apenas pode ser          Nas comunidades onde os telefones móveis estão a ser usados,
   usada para programas que se prestem a atribuição aleatória.     informações sobre os pagamentos que a Camfed fez em nome de
                                                                   seus clientes, que costumava ser recolhida trimestralmente, está
                                                                   agora a ser colectada semanalmente ou mesmo diariamente.

Benefícios da mensuração de desempenho
Considere alguns dos benefícios claros da mensuração de            • Inovação célere
desempenho:                                                        One Acre Fund é uma Organização avaliada em 3 milhões
                                                                   dólares que fornece um conjunto abrangente de sementes,
                                                                   adubos, formação, marketing e seguros para mais de 30.000
• Melhores resultados para os beneficiários                        agricultores na África Oriental. A One Acre Fund gere 20 a 30
A campanha Goldman Sachs 10.000 Women é um significativo
                                                                   experiências em curso para explorar novas oportunidades
investimento de vários anos para oferecer a mulheres
                                                                   para aumentar o lucro de cada terreno plantado, incluindo
carenciadas, em todo o mundo, uma educação empresarial
                                                                   configurações de testes de diferentes fertilizantes, ajustando
e serviços de apoio (networking, orientação, assessoria) que
                                                                   os rácios do pessoal de formação para os agricultores e
precisam para fazer crescer os seus negócios e, ao fazê-lo,
                                                                   revendo os regimes de reembolso.
gerar maior crescimento económico.
                                                                   Os líderes da Organização reúnem regularmente dados sobre essas
Ayodeji Megbope, proprietário da empresa de catering No
                                                                   experiências, analisando e interpretando para auxílio de testes,
Leftovers Nigeria Limited, completou com êxito o programa
                                                                   protótipos e, rapidamente definindo novas abordagens. Como
“180 hour curriculum” na Universidade Pan-African em 2008,
                                                                   resultado, a One Acre Fund foi capaz de implementar as melhores
tomando conhecimento sobre temas de negócios que variam de
                                                                   ideias e melhorias a tempo para a próxima época de cultivo.
operações de vendas para gestão de pessoas. Após a formação,
como o negócio de Megbope começou a crescer, o sistema de
mensuração de desempenho empregue, que controla a utilização       • Alocação melhorada de recursos
de demonstrações financeiros e métodos contabilísticos, entre      Uma vez que a “10.000 Women” trabalha com mais de 70
outros indicadores, revelou que sairia beneficiada de conselhos    académicos e parceiros de Organizações sem fins lucrativos,
suplementares em matéria de contabilidade.                         os seus dirigentes consideraram que a tomada de decisões
                                                                   sobre onde e como alocar recursos é um desafio constante.
Então, Peter Bamkole, director do programa da Universidade         Em que países se deve investir? Que parcerias? Que actividades
Pan-African, recomendou a Megbope que trabalhasse de               programáticas?
perto com um contabilista, que a ajudasse a aprofundar a sua
capacidade para gerar lucros e liquidez, no projecto. Munido com   A actividade do sistema de mensuração de desempenho informa
esse conhecimento adicional, Megbope negociou um cronograma        sobre essas decisões. Por exemplo, os dados demográficos e
de facturação mais favorável junto dos seus fornecedores,          o histórico dos negócios recolhidos desde a primeira ronda de
abrindo a sua primeira conta bancária e criando fazendo prova de   participantes em 2009, mostraram que os parceiros do programa
demonstrações financeiras que lhe permitissem ter acesso ao        tinham dificuldade em encontrar mulheres que eram
capital. Como resultado, rapidamente desenvolveu seu negócio       simultaneamente precárias e que tinham potencial de
de 1.000 dólares mensais antes do programa para 16.000 hoje        crescimento. A Goldman Sachs usou essa informação

                                                                                                                                       45
46
                                                                 para realojar re-     Recorrendo à nossa experiência, muitos líderes de Organizações
                                                            cursos, aumentando o       sem fins lucrativos têm mais dificuldade com a primeira parte
                                                      seu investimento no marketing    do processo, definindo o impacto que pretendem alcançar, e
                                                local e em acções de promoção,         articulando exactamente o que tem de acontecer (e porquê), a
                                           permitindo que os parceiros localizassem    fim de alcançar esse impacto. Mas cada fase apresenta os seus
                                      mais facilmente as mulheres que atendessem       próprios desafios. As experiências no sector social oferecem
                                  aos critérios de selecção do programa.               cinco lições que sugerem como obter um sistema de mensuração
                                                                                       de desempenho produtivo, instalado e pronto a funcionar.
                           • Custos do programa mais baixos
                         A Jumpstart, sediada em Boston, fornece orientação            Lição	1:	Comece	com	o	final	em	mente
                     individualizada e protecção para alunos em idades pré-            Antes mesmo de pensar em medidas ou sistemas, é
                    -escolares em comunidades de baixos rendimentos. Em 2002,          importante ter uma visão muito clara sobre os resultados
                    os líderes seniores notaram que o escritório de Boston tinha       que a Organização encabeçará, também conhecidos como
                    o dobro de funcionários do que outras localizações; todavia,       “impacto previsto”. Um bom teste para saber se a equipa
                    o sistema de mensuração mostrava que este escritório               de liderança possui essa clareza consiste em pedir a cada
                    permanecia com um número semelhante de crianças                    membro para responder à seguinte pergunta com uma única
                    preparadas para a escola (a principal medida de sucesso da         frase: Quem ou o que é que a sua Organização serve e quais
                    Jumpstart). Escudada por estes dados custo/resultado, a            as mudanças que pretende criar e até quando?
                    Jumpstart reduziu os custos de pessoal em Boston, em linha
                    com outras localizações, mantendo a qualidade das suas             Lição	2:	Mensuração	âncora	na	sua	teoria	
                    ofertas, e os resultados foram alcançados.
                                                                                       de mudança
                                                                                       Com a pretensão de um impacto claramente definido, os
                                                                                       líderes da Organização devem perguntar: Como é que a
                    Um quadro de mensuração de desempenho                              Organização alcançará, exactamente, os seus resultados?
                    e lições apreendidas
                    Muitos líderes do Terceiro Sector dizem-nos que encontraram        Lição	3:	Criar	uma	cultura	de	avaliação
                    um conceito de mensuração - e as complexidades de                  “A cultura importa muito mais do que os sistemas. Se a
                    desenvolvimento de um sistema em que se sintam confiantes          sua Organização não se preocupa com métricas, não se
                    - confuso. Uma forma de desmistificar essa teoria é reflectir na   preocupa em começar a criar sistemas para mensuração de
                    aprendizagem e progresso contínuo como um ciclo de vida, e         desempenho.”
                    pensar na mensuração como uma ferramenta que pode ajudar                - Brian Trelstad, diretor de investimentos, Acumen Fund
                    um movimento da organização através desse ciclo de vida.
                                                                                       Estamos de acordo com o Brian - como pode você criar uma
                    As Organizações do sector social que utilizam a mensuração         cultura de avaliação, se ainda não possui uma? A nossa pesquisa
                    dessa forma geralmente seguem algumas variações de um              sugere dois factores críticos: o compromisso da liderança e
artigo de opinião




                    primeiro processo popularizado no mundo corporativo, que           oportunidades intencionais para aprender e melhorar.
                    tem vindo a utilizar ferramentas de melhoria comprovada,
                    como a Six Sigma durante décadas.
                                                                                       Lição	 4:	 Assegure	 os	 benefícios	 de	 todos	
                    Como os líderes de uma Organização têm uma ideia cada              os contribuintes.
                    vez mais clara face aos resultados que aspiram alcançar,           A mensuração só funciona quando aqueles que contribuem e
                    e sobre o que precisam para alcançar esses resultados              usam o sistema, como fornecedores de dados, colectores de dados,
                    (Definir), tornam-se mais capazes de descobrir quais as            analistas e superintendentes, beneficiam directamente do sistema.
                    informações que lhes dirão como se estão a comportar
                    (Avaliar), compreender o que funciona e o que não funciona         Lição	5:	Tornar-se	melhor	na	mensuração	
                    (Aprender), e explicitamente aplicar o que aprenderam para
                                                                                       ao longo do tempo
                    melhorar os seus resultados (Melhorar). Manter este ciclo
                                                                                       Com a experiência, as Organizações descobrem que
                    de quatro fases em mente não só ajuda os líderes a decidir o
                                                                                       podem identificar, com uma confiança brutal, os aspectos
                    que mensurar e porquê, mas também ajuda-os a decidir o que
                                                                                       particulares dos seus programas que guiam aos resultados,
                    não se deve mensurar, um factor importante para não tornar a
                                                                                       e as avaliações que lhes dão as informações mais valiosas.
                    mensuração num conceito esmagador e ineficaz.
                                                                                       Como resultado, elas são cada vez mais capazes de reduzir
                                                                                       o tempo e a despesa de avaliação, por exemplo, racionando o
                    O gráfico abaixo, retrata o ciclo de vida, em quatro partes:
                                                                                       número de métricas que analisam, de pesquisas que realizam,
                    Definir, Avaliar, Aprender e Melhorar.
                                                                                       ou ajustando os tamanhos de amostra.


                                                                                       Nota:	 Os Autores concederam e autorizaram previamente a
                                                                                       edição deste Artigo. Poderá ler a versão original (inglês) em
                                                                                       http://www.bridgespan.org/WorkArea/linkit.aspx?LinkIdentifi
                                                                                       er=id&ItemID=22296
artigo de opinião
                                            Ana Marreiros
                                            Account Manager Corporate and Internal Communication, no Grupo Inforpress



                                              “A comunicação interna facilita a mudança?”

                                           Se falar de ges-       A boa organização e execução do plano de comunicação
                                          tão da mudança          interna potencia indivíduos mais confiantes das suas acções e,
                                         é uma tarefa com-        consequentemente, melhora a reputação da Organização que
                                       plexa, falar de gestão     representam. O desafio do Terceiro Sector é ter uma pessoa
                                     da mudança no contexto       alocada à comunicação, alguém determinado a executar o
                                  de um sector tão disper-        plano de comunicação e com “jogo de cintura” suficiente para
                            so como o Terceiro Sector é ain-      saber levar as pessoas a atingir os objectivos da mudança. Não
da mais difícil. Mas o desafio que temos para hoje passa por      interessa o nível hierárquico que ocupa actualmente, mas sim
abordar o papel da comunicação interna enquanto facilitador       que seja alguém que de forma inata tenha características de
da gestão da mudança.                                             liderança e seja um apaixonado pela comunicação. Este perfil
                                                                  vai ser a chave para alcançar os objectivos da comunicação
Neste sentido, a má notícia é que nenhuma entidade de nenhum      interna.
sector consegue evoluir sem recorrer a uma comunicação
interna estruturada. Mas, a boa notícia é que a comunicação       A comunicação interna deve ter como premissa fomentar a
interna é muito mais árdua em entidades de grande dimensão        união entre os intervenientes no plano. Quando esta união está
e altamente estruturadas, onde os colaboradores acabam por        sólida, a Organização tem cientes as etapas de um processo
se envolver muito pouco nas acções. Uma vez que as estruturas     de mudança e os próprios intervenientes adiantam-se, criam
do Terceiro Sector são muito mais ágeis e voluntariosas, esta     os cenários e antecipam-se a eles.
má notícia está excluída - o que há a fazer é dar prioridade à
comunicação interna.                                              Em contexto de mudança, a comunicação interna não é
                                                                  eficaz quando a Organização não é transparente e clara na
Implementar mecanismos de comunicação interna no Terceiro         difusão das mensagens, elementos indispensáveis para
Sector é fortalecer a construção e manutenção da coesão           um ambiente organizacional saudável. Outro aspecto que
social. Apesar das pessoas que integram as Organizações           normalmente actua como barreira à comunicação interna é a
serem um público super importante na hora de planificarmos        capacidade que o ser humano tem para criar rumores. Antes
os planos de comunicação, infelizmente temos tendência para       os investigadores desta área chamavam-lhe “rádio alcatifa”,
as subestimar ou mesmo esquecer. E isto acontece porque           mas com a evolução da internet, a terminologia está a evoluir
acabamos por não conhecer as pessoas que trabalham                para “rumores.net”, já que muitas destas dúvidas se passam
connosco. Definimos minuciosamente o perfil de cada um dos        online.
nossos públicos externos, mas ignoramos o público interno.
Este desconhecimento leva a que a comunicação interna             Nunca podemos esquecer que os membros são os porta-
não preencha totalmente as necessidades informativas dos          -vozes diários das Organizações, logo têm de estar informados
membros com quem trabalhamos.                                     para saberem responder às questões dos públicos externos. A
                                                                  ideia é que os membros conheçam tão bem as Organizações,
Mas se todos estivermos bem informados e conscientes da           quanto as Organizações devem conhecer os seus membros –
realidade, vamos ser melhores pessoas, actuando de forma          e esta forma de estar de “dar e receber” é possível através da
mais ágil e assertiva. O verdadeiro compromisso organizacional    comunicação interna.
só é alcançado quando os membros se sentem identificados e
implicados. Ganhamos nós e ganha a sociedade.                     Em jeito de conclusão, não podemos ter dúvida que a
                                                                  comunicação, interna e externa, é um dos principais
Qual é então o ponto de partida da comunicação interna quando     desafios do Terceiro Sector. É necessário criar sistemas de
a necessidade de mudança impera? Se imaginarmos o conjunto        comunicação entre este sector e os sectores público e privado,
dos indivíduos envolvidos nesta mudança como uma “tripulação”,    mas esta comunicação externa só vai ser eficaz quando
o primeiro passo é identificar os pontos que a nossa tripulação   a comunicação interna já for suficientemente sólida. Os
necessita entender para continuar a desempenhar as suas           objectivos fundamentais pelos quais temos de lutar são: gerar
funções de forma exemplar e produtiva. Podemos recorrer a         confiança entre todos os membros da organização, ajudando
uma pequena análise interna para conhecer as características,     a criar uma identidade organizacional única. Desta forma,
necessidades e interesses da tripulação, obtendo as bases para    teremos membros comprometidos e participativos. Quando
traçar a estratégia da mudança.                                   a comunicação interna atinge o seu grau de maturidade,
                                                                  os membros já sabem que vão ser os primeiros a saber
No fim de conhecermos os prós e contras da nossa realidade,       das notícias das suas organizações. Com intervenientes
sem esquecer os rumores, estamos em condições de desenhar         informados, a mudança é um passo suave.
um plano de comunicação interna, que deve englobar os
seguintes pontos: Que mensagem devemos comunicar?
A quem? Quando (definir os prazos)? Através de que meios
(definir os canais)? Como?
                                                                                                                                     47
48
                                                      Agências	das	Nações	Unidas	reforçam	a	
                                                   Coordenação e Acção para atingir as metas da Educação

                                Expressando preocupação com o ritmo             países na região. Os sistemas de educação de qualidade que
                              lento dos progressos na Educação para             melhor respondem às necessidades do mercado de trabalho
                           Todos, os dirigentes das Nações Unidas e altos       e que representam os cidadãos, serão fundamentais para a
                        representantes da UNDP, UNICEF, UNFPA, Banco            construção de sociedades sustentáveis.
                     Mundial, ONU Mulheres e da Iniciativa EFA-Fast Track
                  discutiram a forma de intensificar os esforços para atingir   Expressando preocupação de que a ajuda à educação tenha
               metas até 2015, durante um encontro privado, organizado          estagnado, os participantes chamaram a atenção para a
               pela Directora-Geral da UNESCO, Irina Bokova, em Nova York,      próxima EFA-FTI Replenishment Pledging Conference, a ser
               a 18 de Setembro de 2011.                                        realizada em Copenhaga, em Novembro. É crucial, dizem eles,
                                                                                que a FTI (rebaptizada de Parceria Global para a Educação),
               Em consenso, afirmaram dever ser um objectivo primário,          seja apoiada por uma reposição substancial.
               a garantia que crianças mais desfavorecidas e os jovens
               tivessem acesso à escola. Notaram também, que muitas             A discussão privada contou com a participação da
               crianças e jovens estão a sair da escola sem as competências     Administradora do UNDP, Helen Clark, do Director Executivo
               adequadas para assegurar um trabalho decente, enfatizando        da UNFPA, Babatunde Osotimehin, da Directora Executiva da
               a necessidade de aumentar a atenção na área crítica de           ONU para as mulheres, Michelle Bachelet, da Vice-Directora
               educação secundária das raparigas, onde o progresso tem          Executiva da UNICEF, Geeta Rao Gupta, do Vice-Presidente
               sido demasiado lento.                                            do Banco Mundial para o Desenvolvimento Humano, Tamar
                                                                                Manuelyan Atinc, e da Presidente da EFA-FTI, Carol Bellamy.
               Os participantes apoiaram uma proposta da UNESCO para
               fortalecer a eficácia da coordenação EFA através de um           Nota	 1: Desde 2010, a Dianova (nos 11 países da Europa e
               aumento do diálogo e de partilha de conhecimentos aos níveis     das Américas – Sul, Latina e do Norte – onde opera) mantém
               nacional, regional e global. Discutiram, de igual forma, como    relações operativas com a UNESCO para a área da educação
               melhorar a sinergia de esforços das respectivas agências para
               objectivos complementares, tais como a saúde, e concordaram      Nota	 2: Poderá aceder/fazer download do artigo na versão
               em reforçar a coordenação e cooperação a nível do país.          original (inglês) em http://www.unesco.org/new/en/unesco/
                                                                                about-us/who-we-are/director-general/news-single-view/
               Virando-se para o curso das transformações na região             news/un_agencies_to_step_up_coordination_and_action_to_
               arábica, todos os presentes concordaram sobre a necessidade      meet_education_goals/
               de esforços colaborativos e coordenados para ajudar os
rede dianova
inter-gerações
                                           Carlos Azevedo
                                           Coordenador-Geral UDIPSS-Porto


                                             “Porque é que as Organizações do Terceiro Sector
                                             em Portugal falham?”

                                            As Organizações         interesse público e garantir actividades na esfera da acção
                                           do Terceiro Sector       social num verdadeiro espírito de solidariedade e com
                                         em Portugal enfren-        mecanismos efectivos de redistribuição;
                                       tam desafios verdadei-    2. Reinvenção das respostas sociais como forma de
                                   ramente interessantes. Na        recuperação da identidade sectorial e de aproximação à
                              verdade, estão numa encruzilha-       comunidade local, isto é, respostas e serviços que sejam
da que as obriga a reposicionarem-se estrategicamente para          capazes de resolver de forma sistémica os velhos e os
garantirem a sua sustentabilidade a médio e longo prazo.            novos problemas sociais assentes em relações e redes de
Todavia, os problemas que enfrentem não são novos. Aliás,           confiança entre agentes locais (ex. empresas, Organizações
a maior parte daqueles que trabalham ou colaboram neste             do Terceiro Sector, Estado, famílias, etc.). Na prática, isto
sector conhecem-nos profundamente e, aqui ou ali, já foram          implica inverter a lógica de sobrevalorização dos recursos
capazes de apontar caminhos e receitas para a afamada sus-          infra-estruturais por comparação com o capital social (as
tentabilidade estratégica e financeira.                             redes que nos unem, ajudam a criar confiança e aumentam
Steven Block escreveu, nos EUA, um livro sobre a                    o impacto social?);
sustentabilidade em Organizações Sem Fins Lucrativos
intitulado “Why Nonprofits fail”. A obra, que podia muito bem
ter como pano de fundo a realidade portuguesa, elenca as
seguintes 7 razões para a insustentabilidade em Organizações
do Terceiro Sector:

1. Fundofobia – incapacidade e resistência no processo de
   angariação de fundos;
2. Infortúnio financeiro – culpabilização de entidades supra
   locais (ex. Estado) pela falta de instabilidade financeira;
3. Desorientação no recrutamento – contratação de recursos
   humanos em função de redes de proximidade e não da
   respectiva competência;
4. Síndrome do fundador – dependência excessiva de uma ou
   várias figuras paternalistas;
5. Depressão cultural – sub-exploração de capital social;
6. Performance política auto-centrada – criação de ciclos
   viciosos para a satisfação de interesses fechados;
7. Confusão entre direcção executiva e “Board” – falta de
   clarificação entre o papel da “Board” (na maior parte das
   organizações eleito como representante dos interesses da      3. Implementação de novas práticas e modelos capazes
   comunidade local e com funções iminentemente estratégicas)       de garantir maior eficiência na gestão dos recursos
   e a direcção executiva (enquanto braço operacional dos           (humanos, financeiros e infra-estruturais) organizacionais;
   representantes dos interesses dessa comunidade).                 e, finalmente,
                                                                 4. Uma reforma legislativa que permita a concretização
Acrescentaria duas dimensões ao que foi escrito por Block:          dos propósitos atrás enunciados e que, entre outras
8. Inexistência de modelos de negócio capazes de fazer avançar      coisas, garanta que a relação entre os diversos agentes
   o interesse público e, consequentemente, contribuir para a       económicos e o Terceiro Sector se foque no impacto social
   melhoraria do mundo ainda que numa pequena escala;               gerado e não na dimensão ou na visibilidade das suas
9. Existência de um monopólio do Estado na contratualização         actividades. Exemplos concretos de medidas que podem
   dos serviços prestados por estas entidades.                      permitir a concretização deste propósito são a eliminação
                                                                    da isenção de IVA nas actividades de acção social
O que é preciso para sair desta encruzilhada e fazer com            (permitindo respectiva liquidação e dedução ainda que a
que este tipo de Organizações seja capaz de protagonizar            taxas reduzidas) e a criação de incentivos que facilitem o
um verdadeiro “Regresso ao Futuro”? Isto é, recuperar a sua         chamado “investimento social”.
verdadeira identidade adoptando os novos modelos, processos
e recursos existentes actualmente?                               Este caminho parece árduo. Na minha opinião é verdadeira-
                                                                 mente feito de árdua esperança (que não é mais do aquilo que
O futuro exige quatro medidas cuja implementação é urgente:      tem caracterizado os portugueses ao longo dos séculos) o que
1. Assunção do risco e aproximação ao mercado, ou seja,          não o torna impossível de percorrer. Isto foi possível noutros
   criação de iniciativas de Empreendedorismo Social que         países. Quem se arrisca a fazer com que as Organizações
   sejam, simultaneamente, capazes de fazer avançar o            do Terceiro Sector em Portugal deixem de falhar?

                                                                                                                                    49
50

                                                                      Luc	Galoppin
                                                                        Co-founder & COO at MedeMerkers
                                                                          (Bruxelas, Bélgica)




                                                                             “Arquitectura Social. Olhar para a sua Organização
                                                                             de forma diferente.”

                                                                         Assim como assisti-           era o slogan que iria incentivar o crescimento económico. O que
                                                                        mos ao final da Revo-          acabou por acontecer. Sem qualquer dúvida, a nossa economia,
                                                                     lução Industrial, descobri-       sociedade e o nosso bem-estar não poderiam ter progredido
arquitecturas colaborativas



                                                                mos também que as dinâmicas            para os actuais níveis de prosperidade sem as políticas de com-
                                                        de liderança e de trabalho já não são          pliance e obediência. Conceitos criativos, tais como a capacitação
                              hierárquicas. Esse modelo terminou. A forma como executamos              e a co-criação eram divertidos em teoria, mas eles não traziam
                              os nossos projectos e empresas na actualidade foi inspirada pela         para casa o mais importante. Esta compensação da economia
                              lógica de 120 anos de gestão científica. “Command-and-control”           tradicional é demonstrada na imagem abaixo (Fig. 1):




                                                                                               Fig.1

                              Mas a boa e velha economia já não é como costumava ser. É                conexão entre clientes e colaboradores/empregados. Goste-
                              crepitante e parece ser mais do que apenas uma tosse inocente.           -se ou não, a internet mudou a propriedade da sua marca para
                              O factor de compliance já não é o caminho mais curto para a              os seus clientes. Os clientes tornaram-se detentores das suas
                              produtividade. Quando o mundo muda, as regras mudam também.              marcas, defendendo-as ou renegando-as. Ou seja: quando
                              E se você insistir em jogar no presente com as regras do passado,        os consumidores se revêem numa marca, a produtividade
                              o seu jogo vai acabar por ficar bloqueado. A verdade é que os            depende da sua capacidade de incluir os clientes na história
                              relacionamentos já não são hierárquicos. Hoje em dia, tornaram-          do seu produto. O mesmo vale para os projectos: a propriedade
                              se tribais.                                                              exige a inclusão dos colaboradores no processo criativo. Dê
                                                                                                       uma olhadela na forma como o poder regula a economia
                              Num mundo onde a informação já não é escassa, a                          digital (Fig. 2):
                              produtividade está relacionada com a forma diferenciada de




                                                                                               Fig.2

                              Torne-se	pateta,	não	S.M.A.R.T.er!                                       o segredo do crescimento da nossa economia nas últimas
                              As Organizações controladas pelo top-down S.M.A.R.T. com                 décadas.
                              empregados diligentes estão em apuros. Elas funcionam bem
                              num ambiente onde a quantidade de informação é fixada. O                 Mas há uma enorme desvantagem em tudo isto: conceber a
                              gestor recebe a informação, interpreta-a, processa-a e, de               impotência. E agora está a acontecer uma mudança: desde
                              seguida, distribui as instruções. Na verdade, este tem sido              o aparecimento da Internet, é esmagadora a quantidade de
informação que está disponível para todos. A maioria das           quadro organizativo não é a posição (‘the boxes’) ou as linhas




                                                                                                                                arquitecturas colaborativas
pessoas, equipas e empresas estão paralisadas pelo dilúvio de      de comunicação/report. É o espaço em branco que fica entre
informação. O resultado para a tomada de decisões corporativa      elas.
da SMART é doloroso: por muito que tente, estará sempre
atrasado nesta nova economia orientada para a informação.

Os conselhos para os líderes são claros:
• Seja cada vez mais pateta na distribuição de inteligência
  na comunidade de sua marca (facto importante: dando o
  controle), e...
• Redefina a inteligência: isto não está nos manuais, mas sim,
  na interacção.

O que isso significará para a sua Organi-
zação!
A nossa tendência para ignorar as partes invisíveis dos gráficos
da nossa Organização, pode levar-nos a conclusões erradas
sobre o que realmente é o sucesso. Quando eu peço aos              Não é o nível de escolaridade de um gestor que determina o
clientes para fazerem uma apreciação geral, da forma como          sucesso de um projecto. Na verdade, é a medida da sua
as coisas são feitas, geralmente acabam por me mostrar o           capacidade em recrutar uma rede de pessoas da hierarquia e
seu quadro da Organização. De súbito, a pergunta mais lógica       colocá-las num tecido social que promova uma comunidade
a fazer parece ser: “qual é a posição mais importante, a fim de    para a co-criação. Por outras palavras: gestores de projectos
completar as tarefas por aqui”?                                    bem sucedidos são arquitectos sociais. Eles fornecem uma
                                                                   plataforma na parte superior da hierarquia, permitindo que a
                                                                   comunidade de embaixadores atinja os objectivos do projecto.
                                                                   Um arquitecto social é alguém que faz um uso consciente do
                                                                   espaço em branco num quadro organizacional.

                                                                   Uma questão de equilíbrio
                                                                   Não se engane quanto a isto: As comunidades não estão
                                                                   a substituir a hierarquia. Continuamos a precisar dela e
                                                                   de controlo para fazer as coisas. A única diferença com os
                                                                   velhos tempos é que você apenas será controlado até meio-
                                                                   -caminho. A Revolução Industrial acabou. Hoje, tratar do nosso
                                                                   expediente requer uma camada extra no topo da hierarquia.
                                                                   Esta é a camada de comunidades, tribos, movimentos,
                                                                   problemas e soluções. Cada uma destas comunidades deseja
                                                                   ser atendida. E você precisa dessas comunidades para obter
                                                                   resultados na economia dos dias de hoje.



Existem três tipos de respostas:
1. O CEO: aqueles que favorecem esta posição como a ‘mais
   importante’, dizem-me que esta é a pessoa que tem a
   autoridade para fazer as coisas e que suporta a visão para
   inspirar as tropas;
2. As pessoas na linha de frente na base do quadro
   organizacional: o argumento aqui é o de que você pode
   mudar tudo o que quiser, mas se essas pessoas não
   estiverem comprometidas com os seus objectivos, pode de
   igual forma esquecer tudo o que foi feito;
3. Chefias intermédias: logicamente, se eles não
   conseguem manter tudo organizado, a iniciativa irá falhar
   estrondosamente.

A verdade é que não há ninguém que diga qual é a posição
mais importante na estrutura da Organização, de modo a que
se cumpram as actividades. Os projectos de maior sucesso
na história de qualquer Organização são aqueles onde o
gestor responsável poderia reunir uma equipa de talentos
competentes e complementares que trabalhem numa relação
                                                                   Nunca	comece	uma	Comunidade!	
                                                                   É tentador pensar que é necessária a criação de uma co-
de confiança. A parte mais importante é que as equipas
                                                                   munidade para dar o pontapé de saída no seu projecto.
bem sucedidas mantêm-se em constante contacto com a
                                                                   Pois bem, não é preciso. Essa comunidade já existe.
hierarquia. Isso significa que a parte mais importante do
                                                                   Aqui vai uma dica: as comunidades geralmen-

                                                                                                                                          51
52
                                                                        te reúnem-se em        sociais recém-nomeados é: “Como o fará”? A resposta está
                                                                    torno de iniciativas e     na liderança tribal.
                                                               soluções que são transver-
                                                         sais. Uma hierarquia com “silos”      Honrando	a	Tribo	
                                                    não pode servir para isso. Então, ao in-   A liderança tribal é o mecanismo que faz um momento de
                                                vés de criar a comunidade você deve saber      arquitectura social. E isso leva-nos a um equilíbrio entre o
                                            ‘escutar’ a comunidade. As oportunidades es-       compliance e a co-criação. No seu livro de 2009, “Tribes”,
                                        tão mesmo debaixo dos seus pés, aquelas que tem        Seth Godin observa que um grupo só precisa de duas coisas
                                     vindo a ignorar o tempo todo. Procure os proprietários    para se tornar uma tribo: um interesse comum e uma forma
                                  de processo ou outras pessoas que lutam por uma boa          de comunicar. Segundo Godin o papel de um líder reside no
                                causa sem uma hierarquia que os suporte.                       apoio ao aumento da eficácia da tribo e dos seus membros
                                                                                               através de:
                              Impacto prático                                                  • Transformação do interesse partilhado num objectivo
                              As pessoas precisam de uma arquitectura que os ajude a             apaixonante e num desejo de mudança;
                              conectar-se e compartilhar os seus conhecimentos. Dê-lhes        • Fornecer ferramentas que permitem aos membros reforçar
                              uma plataforma. Passado um tempo, se você tiver sorte, elas        as suas comunicações e
arquitecturas colaborativas



                              declararão como sua essa plataforma. Esta é denominada           • Alavancar a tribo que lhe permita crescer e ganhar novos
                              influência sem autoridade.                                         membros
                                                                                               A mudança de liderança hierárquica para a liderança tribal
                              Construir uma tal arquitectura social não é fácil porque não     deixa claro que as arquitecturas sociais não precisam de
                              é feito com a pressão da autoridade. Pelo contrário, é feito     controlo, mas sim de confiança. Infelizmente, muitas vezes
                              com trabalho gradual e consistente a nível local, estando no     achamos que alguns líderes não têm a confiança necessária
                              terreno, e em permanente contacto. Exemplos típicos de uma       para liderar a sua tribo. A confiança, neste caso, é a capacidade
                              plataforma incluem:                                              de dizer “eu não sei e, por isso, preciso da ajuda de pessoas
                              • Uma comunidade de voluntários em torno de uma                  da minha tribo envolvidas no projecto.” Isto requer que o líder
                              determinada campanha;                                            tribal seja vulnerável e maduro. O paradoxo do líder tribal é o
                              • Uma comunidade de arquitectos de aprendizagem que se           seguinte: quanto mais você estiver pronto a admitir que não
                              certificam de que as melhores práticas de diferentes países      sabe e que precisa de ajuda - na mesma medida você estará a
                              se espalham por toda a Organização;                              homenagear a sua tribo.
                              • Uma comunidade de apoio que se orgulha de um novo
                              processo de suporte e continuamente o melhora.                   Questão: Onde é que o conhecimento da tribo reside?
                              Desta forma, a próxima pergunta para estes arquitectos           Resposta: Na comunidade.
Pergunta: Como o alcançará?                                       A validação social é uma maneira de valorizar embaixadores e




                                                                                                                                arquitecturas colaborativas
Resposta: Honrando/desafiando a comunidade: confie neles          heróis que trabalham arduamente para alcançar um objectivo.
para resolver um problema. Elogiá-los por um problema bem         A validação social é feita a partir de várias direcções ao mesmo
resolvido.                                                        tempo: empregados, supervisores, colegas e até concorrentes.
                                                                  Mais importante, este é o lugar onde as plataformas de media
Primeiros Passos. Procurando Comunidades                          sociais podem ajudar, porque as suas dinâmicas são tribais
É um erro comum dos gestores pensar que precisam de iniciar       por natureza.
as comunidades. É um esforço desperdiçado porque a maioria
das comunidades já existem e não necessitam de um inventor        Até agora não houve qualquer maneira de registar a
adicional. O que elas precisam, ao invés disso, é do seu apoio.   apreciação de uma maneira formal, mas recentemente
O primeiro passo é descobrir os lugares da sua Organização        a geração Facebook tornou conhecido o botão “I like”. As
onde as comunidades se formaram em torno de uma iniciativa,       plataformas internas de media social como Yammer e Rypple
uma questão ou problema. Depois, deverá oferecer-lhes             estão bem equipadas para apoiar a validação social, com
uma plataforma, por exemplo, o apoio administrativo de um         agradecimentos, objectivos, medalhas e feedback formal.
programa geral da empresa. Outro exemplo é uma plataforma
de comunicação ou um fórum para ganhar reconhecimento             Conclusão: se há uma nova função que as nossas Organizações
dentro da sua Organização.                                        precisam desesperadamente é a de um Arquitecto Social:
Irá descobrir rapidamente o mecanismo tribal como base para       alguém que possa encontrar um novo equilíbrio, olhando de
as regras e rituais das comunidades.                              forma diferente a Organização e explorando o poder das suas
                                                                  Comunidades.
Validação Social                                                  Nota: poderá ler/fazer download da versão original (inglês) em
Depois de ter criado uma arquitectura social, você deve
                                                                  http://www.dianova.pt/publicacoes/revista-exit
mantê-la e desenvolvê-la ainda mais - não pelas clássicas
recompensas, benefícios e subsídios, mas por algo que
funciona muito melhor. Validação social.




                                                                                                                                          53
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                                                                            Javier Celaya
                                                                            Fundador da Dosdoce.com & Director do Mestrado em Comunicação Digital,
                                                                             Universidad de Alcalá (UAH), (Madrid, Espanha)



                                                                              “Crowdfunding no sector cultural”

                                                                            Necessitava      de   nos seus projectos culturais, muito além do patrocínio ou do
                                                                           760€ para contar       mecenato das empresas.
                                                                         uma história: “um
                                                                      relato sobre a sobrevi-     Um exemplo destas iniciativas é a realizada pelo Ateneo de
                                                                  vência e solidão de um in-      Barcelona. Esta instituição catalã, por ocasião da celebração
                                                            divíduo submetido a uma pressão       de Sant Jordi, lança a cada ano uma iniciativa para que, a
                                                                                                  partir de uma quantidade que varia de um mínimo de 35€ até
novos canais de comunicação!



                               contínua.” Garrido Barroso http://garridobarroso.blogspot.com/
                               aspirava cumprir o sonho de editar a sua própria banda desenha-    ao limite dos próprios bolsos das entidades e dos cidadãos,
                               da em 500 exemplares e 48 páginas no sempre elegante preto e       estes “apadrinhem” um livro que necessita submeter-se
                               branco, que contasse as experiências de um zombie que não é        a um processo de restauração e conservação. Em 2010, na
                               zombie. E conseguiu-o. Graças ao apoio de 41 pessoas, incluindo    primeira edição desta iniciativa cultural, inscreveram-se mais
                               a rede de conteúdos culturais Dosdoce.com http://www.dosdoce.      de 100 padrinhos que conseguiram salvar do castigo do tempo
                               com/, Garrido Barroso fez com que o processo criativo fosse para   43 obras literárias. Entre essas obras destacava-se uma
                               além da sua mesa de escritório e dos tracejados do seu lápis.      composição de Francesco Petrarca, publicada em Veneza
                                                                                                  em 1586 ou “Os Seis Livros da República”, de Jean Bodin.
                               É o crowdfunding, que podemos traduzir como financiamento          Na edição de 2011, o Ateneo procurou buscar financiamento
                               colectivo ou em massa, micro-crédito ou também, para que           para restaurar a pele de 35 obras literárias das 3.000 que
                               nos entendamos, micro-mecenato. A Rede pôs em contacto             precisavam de apoio. Uma vez restaurados, os exemplares
                               milhões de pessoas em todo o mundo que precisam de                 tornaram-se parte dos arquivos bibliográficos do próprio
                               apoio financeiro de outros, a fim de avançar com os seus           Ateneo de Barcelona.
                               projectos pessoais ou profissionais. Desde uma revista que
                               nos fala de ciência, curtas-metragens de ficção ou projectos       O crowdfunding encontrou nas redes sociais a sua autonomia
                               de solidariedade como a ajuda para um grupo coral formado          definitiva. As velhas fórmulas de financiamento altruísta,
                               por crianças poder viajar para uma competição internacional        tais como subsídios, o mecenato, ou o patrocínio, estão
                               de canto, até ao “Solo”, a BD que Garrido Barbosa pôde             a ser superadas pelas milhões de almas que, no mundo
                               finalmente financiar.                                              inteiro e desinteressadamente, ajudam a cumprir os sonhos
                                                                                                  e projectos de muitos outros, mais além dos interesses de
                               www.lanzanos.com é um site dedicado especificamente à              posicionamento da marca e marketing de grandes empresas
                               busca de financiamento para que estes “sonhadores” possam          e corporações.
                               realizar as suas ideias e projectos. Porém, nem todos vêem
                               a luz do dia. O projecto é enviado para o site e entra num         Um dos seus primeiros suspiros foi dado em 1997 pela banda
                               espaço chamado “A caixa”; somente aqueles que obtiverem a          britânica de rock Marillion. Necessitou e obteve, através de
                               maioria dos votos acabarão por receber o dinheiro solicitado       uma campanha na rede dos seus fãs norte-americanos,
                               pelo aspirante. Em troca, os patrocinadores, qualquer um que       60.000$ para pagar a tour da banda. No cinema foi em
                               esteja disposto a deixar desde 1 euro até 250€, dependendo         2004, quando os produtores franceses Guillaume Colboc
                               do projecto, receberão vários agradecimentos dos autores           y Pommmeraud Benjamin lançaram uma campanha de
                               em função da quantidade depositada. Garrido Barroso, para          doações pela Internet, para financiar o seu filme “Demain la
                               agradecer aqueles que ajudaram o seu livro em quadrinhos,          Veille”. Em três semanas já tinham o dinheiro.
                               deu uma versão digital do mesmo para quem doasse 3€
                               ou uma cópia original autografada da história para quem            A rede abriu muitas possibilidades para comunicar
                               contribuísse com 70€.                                              acontecimentos culturais, e graças a ela muitos projectos
                                                                                                  verão a luz, para além do benefício empresarial. Se J. K.
                               No entanto, o mecenato, o patrocínio, o apoio das pessoas,         Rowling tivesse usado essa ferramenta, quem sabe se o Harry
                               empresas ou instituições que precisam de financiamento para        Potter não tinha voado na sua vassoura muito antes do que
                               ver como o seu trabalho se leva adiante, encontrou na rede/        a aposta de um humilde editorial, num manuscrito rejeitado
                               mundo online um novo canal de comunicação que há alguns            pelas grandes casas britânicas de literatura fantástica.
                               anos atrás estava confinada a áreas mais reduzidas do mundo
                               cultural.                                                          Nota: poderá ler o artigo na versão original (espanhol) em
                                                                                                  http://www.dosdoce.com/articulo/opinion/3678/crowdfunding-
                               A Rede permite aos criadores, àqueles que têm uma ideia            en-el-sector-cultural/
                               cultural ou de negócios, encontrar uma base sólida de apoio
                               financeiro em qualquer lugar do mundo; uma necessidade que
                               não só está a lançar autores anónimos que buscam com os
                               seus projectos esculpir um nicho no mundo da cultura, como
                               um número cada vez maior de instituições que pedem aos
                               seus co-cidadãos para se envolverem de uma outra maneira
sites e blogs
http://socialinvestmentfacility.wordpress.com/
A Task	Force	for	a	European	Social	Investment	Facility	(ESIF) é composta por banqueiros sociais, investidores sociais e financeiros
alternativos de toda a Europa para desenvolver recomendações ascendentes, da forma como a Comissão Europeia pode utilizar os
seus recursos financeiros mais eficazmente para apoiar os negócios sociais, o empreendedorismo e a economia social na Europa
- questões prioritárias que foram identificadas como parte da estratégia Europa 2020, a Lei do Mercado Único e da Iniciativa Social
Empresarial para apoiar a coesão territorial, social e económica. O objectivo da Task Force ESIF é representar os pontos de vista da
mais ampla secção transversal de financeiros sociais europeus, intermediários e stakeholders, que lhes irá dizer “se a Comissão
gostaria de promover o investimento social para apoiar as empresas sociais e o empreendedorismo social na Europa, então nós,
os praticantes, recomendamos que a Comissão se centre sobre estas questões.... http://www.euclidnetwork.eu/pages/en/social-
investment-taskforce.html»



http://ppl.com.pt/
O avanço da tecnologia veio permitir uma capacidade de comunicação e cooperação inéditas. As redes virtuais permitem capturar
uma inteligência e conhecimento conjunto que é superior ao do indivíduo. O mesmo se aplica à criatividade das massas. Outro
potencial promissor é o julgamento de grupo que permite escolher o que melhor beneficia uma comunidade. E ainda há a
possibilidade de doarmos e/ou investirmos em ideias, projectos ou instituições que interessam a um colectivo (crowdfunding). Há
vários nomes e há várias formas de apelidar este movimento. Um termo comum e agregador é o crowdfunding. A Orange Bird
promove o crowdfunding em Portugal e lançou, com esse efeito, esta plataforma de crowdfunding – PPL	Portugal – Que é o PPL
(people, pessoas) com Portugal.




http://formacao.dianova.pt/
A Dianova Portugal lançou o seu 11º canal de gestão de relacionamentos online com Clientes e Potenciais Clientes, Parceiros e
outros Stakeholders relevantes: o site do Centro de Formação Dianova que poderá ser visitado em http://formacao.dianova.pt .
Desenvolvido criativamente pela Orange – Original Communication e tecnologicamente pela Triângulo Digital, assente na
plataforma Joomla 1.5, e tendo por principal objectivo incrementar a visibilidade das mais de 150 Soluções Formativas/Cursos
e Outros Serviços de criação de valor para Pessoas e Organizações, este site caracteriza-se pela sua Simplicidade com páginas
diferenciadas por cores, Facilidade de Navegação e Pesquisa, e Relevância de Informação e Conhecimento, contando com 17 itens
de menu principais.




                                                                                                                                       55
Inspirações
                                                                              Up and Out of Poverty: The Social Marketing
                                                                              Solution
                                                                              Em Up and Out of Poverty, o lendário especialista em marketing Philip Kotler e a pioneira em social
                                                                              marketing Nancy Lee, abordam a pobreza de um ponto de vista novo e poderoso: o do comerciante. Kotler
                                                                              e Lee avaliam cada caminho proposto para a redução da pobreza, incluindo a ajuda externa tradicional, a
                                                                              melhoria da educação, a capacitação profissional, modelos de desenvolvimento económico, microfinanças,
                                                                              inovação e marketing social. Irá aprender como aplicar estratégias avançadas de marketing e técnicas para,
                                                                              sistematicamente, criar condições para que os pobres possam sair da pobreza extrema. Através de estudos
                                                                              reais, você irá entender como essas técnicas de marketing podem ajudar a promover a saúde, a educação, a
                                                                              construção da comunidade, a motivação pessoal, e muito mais.
                                                                              Autor: Philip Kotler | Nancy R. Lee
                                                                              1ª Edição: Junho 2009
                                                                              Wharton School Publishing




                                                                                                             De Bom a Excelente
                 «Como é que uma boa empresa pode tornar-se excepcional?» Os resultados de uma pesquisa, que durou
              cerca de cinco anos, foram agora divulgados no livro De Bom a Excelente. Collins e a sua equipa analisaram
                 perto de 1.500 empresas, que figuraram na lista das 500 maiores da revista Fortune. Apenas onze dessas
                empresas conseguiram sustentar durante mais de quinze anos um crescimento extraordinário. Estas onze
                  Organizações, entre as quais a Gillette, a Kimberley-Clark e a Philip Morris, geram retornos financeiros
              superiores aos da média de mercado, ultrapassando gigantes como a Coca-Cola, Intel ou a General Electric.
             Em comum, todas tiveram o que Collins classificou como «líder de nível 5»: um gestor que estaria no topo da
             pirâmide da excelência em gestão. Quem são esses tais líderes de nível 5? Quais são as suas características?
                      E por que razão nomes consagrados, como Welch e Chambers, não figuram na lista de Jim Collins?
                                                                                  Autor: Jim Collins | 3ª Edição: Abril 2007
                                                                                                           Casa das Letras




                                                                Marketing 3.0 – Do Produto e do Consumidor
                                                                até	ao	Espírito	Humano
                                                                Os consumidores dos dias de hoje escolhem os produtos e as companhias que satisfazem as suas necessidades
                                                                mais profundas de criatividade, comunidade e idealismo. As empresas de vanguarda perceberam que, para esses
                                                                clientes mais conscienciosos e atentos à tecnologia, as velhas regras do marketing já não se aplicam. Por isso,




                                                                                                                                                                                                                                                       s
                                                                                                                                                                                                                                                     da
                                                                têm de criar produtos, serviços e culturas de empresa que sejam inspiradoras e que incluam e respeitem

                                                                                                                                                                                                                                                   ni
                                                                os valores dos seus clientes. Esta é uma obra crucial para compreender as modernas tendências dos                                                                                sU
                                                                                                                                                                                                                                              õe

                                                                                                                                                                                                                                             cia
                                                                consumidores e de que forma as empresas têm de se lhes adaptar.
                                                                                                                                                                                                                                           aç

                                                                                                                                                                                                                                          ên
                                                                                                                                                                                                                                       sN

                                                                                                                                                                                                                                       nd
                                                                Autor: Philip Kotler | Hermawan Kartajaya | Iwan Setiwan
                                                                                                                                                                                                                                    da

                                                                                                                                                                                                                                    pe


                                                                1ª Edição: Fevereiro 2011
                                                                                                                                                                                                                                 de
                                                                                                                                                                                                                                ial




                                                                Actual Editora
                                                                                                                                                                                                                             ico
                                                                                                                                                                                                                              oc
                                                                                                                                                                                                                           eS

                                                                                                                                                                                                                           ox
                                                                                                                                                                                                                        eT
                                                                                                                                                                                                                       ico
                                                                                                                                                                                                                     de
                                                                                                                                                                                                                   óm




                                                                                                                    Siga a Dianova nas Redes Sociais
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                                                                                                                                                                                                                con
  ficha técnica




                                                                                                                                                                                                              uve
                                                                                                                                                                                                             oE




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                                                                                                                                                                                            sd
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                                                                                                                                                                                        rea




                                                                        T.: 261 312 300 | F.: 261 312 322 | E.: secretariado@dianova.pt | www.dianova.pt
                                                                                                                                                                                      tivo
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                                                                                                                                                                               ara




                   Propriedade, Administração e Redacção: Associação Dianova Portugal
                                                                                                                                                                           N) p




                   Qtª das Lapas, 2565-517 Monte Redondo TVD | T.: 261 324 900 | F.: 261 326 666 | Email: rui.martins@dianova.pt | www.dianova.pt
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                                                                                                                                                                       sta




                   Design: Orange – original communication
                                                                                                                                                                    mE




                   Impressão: Palmigráfica,	Lda
                                                                                                                                                                   OSO




                   ISSN: 1646-0383 | Depósito Legal: 214288/04
                                                                                                                                                              D co

                                                                                                                                                              ( EC




                   Distribuição: Gratuita | Periodicidade: Semestral
                                                                                                                                                           ONG




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Exit 27 gestao_mudancaterceirosector

  • 1. ® exit tema Gestão de Mudança no Terceiro Sector: mito ou revolução? Editorial Dianova em Foco Entrevista com... Tema de Actualidade Ano 8 _nº 27_ Jul/Dez 11 Artigo de Opinião Rede Dianova Inter-Gerações Arquitecturas Colaborativas Novos Canais de Comunicação Sites & Blogs Inspirações
  • 2. 2 Rui Martins Director de Comunicação O que significa criar um futuro sustentável? Estão as Organizações Sociais aptas a abraçar este desafio na actualidade? Björn Stigson, Presidente do World Business Council for de indivíduos e Organizações para perceberem e criarem novas Sustainable Development, mencionava num passado recente Oportunidades económicas (novos produtos, novos métodos de que “criar um futuro sustentável significa operar mudanças na produção, novos esquemas organizacionais e novas combinações sociedade que tenham impacto nas estratégias e nas operações de produto-mercado) e para introduzirem as suas ideias no das empresas”. Mas como a coesão social não é lograda sem as mercado, face à incerteza e outros obstáculos, de que carecem Organizações Sociais que estão no terreno e melhor conhecem as então as Organizações Sociais para encontrar a simplicidade na idiossincrasias do sector, acrescentaria este stakeholder nacional complexidade que lhes permita tornarem-se auto-sustentáveis de importância crescente para o efeito! sobretudo nesta conjuntura actual? Mas que mudanças são essas? Em primeiro lugar, necessitamos, Bem, antes de mais vamos às boas notícias. As crises felizmente por um lado, de um ambiente enquadrador que promova a inovação podem ser boas conselheiras e profícuas em oportunidades, e o empreendedorismo por parte da iniciativa privada (com ou sem quando o bem-estar de muitos pode ser alcançado através de fins lucrativos), e, de outro, uma mudança de mentalidades e de uma verdadeira cultura de cooperação e cooptição assente numa valores que incentivem – e não obstaculizem ou inviabilizem – essa abordagem multi-stakeholders. Refiro-me ao Investimento mesma promoção. Social. E concretamente a 2 iniciativas e guias que podem ajudar a revolucionar o(s) nosso(s) mundo(s) e a torná-lo(s) mais A Estratégia Europeia 2020 e, mais recentemente, a comunicação sustentável. da Comissão Europeia “A roadmap to stability and growth” apontam para melhorias das políticas de estabilidade e crescimento Uma delas é o Social Investment Manual – a Guide for Social (tais como a implementação e observância da directiva de Entrepreneurs desenvolvida pela Social Investment Task Force, pagamentos e a iniciativa de aceleração de empregabilidade dos sob a égide da Schwab Foundation for Social Entrepreneurship, jovens Youth Opportunities) e para uma imprescindível criação de permitindo às Organizações Sociais tornarem-se não apenas uma Governação económica robusta e integrada que garanta a financeiramente auto-sustentáveis, mas também lucrativas, e capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias a outra a European Social Investment Facility recentemente necessidades. lançada pela Euclid Network – Third Sector Leaders, e que visa congregar esforços e vontades mutuamente benéficas Não é assim de estranhar que a Governação ou Boa Gestão para Investidores Sociais (mormente de longo prazo e menos (Governance) seja um dos pilares de um novo capitalismo promotor especuladores) e Projectos comunitários com impacto que de desenvolvimento económico que mitigue as inequidades. procuram fontes alternativas de financiamento. Autores como Marilyn Wyatt ou David Larcker têm promovido esta boa prática de gestão – mecanismos de controlo que uma Com uma das principais barreiras ao crescimento sustentável Organização adopta para prevenir ou dissuadir potenciais actos aparentemente ultrapassadas (dependerá agora da boa vontade de interesse-próprio por gestores díspares do bem-estar dos dos investidores e match dos projectos inovadores e com impacto), stakeholders e shareholders – no seio do Terceiro Sector. os restantes desafios de gestão que se colocam às Organizações parecem peanuts. Recriar e liderar o futuro organizacional assenta Tradicionalmente movidas por uma gestão de valores, as na implementação de uma estratégia de Gestão de Mudança que editorial Organizações Sociais parecem constituir o epítome da colmate o gap entre a situação actual e a situação desejada. transformação social que, ao actuarem como Organizações socialmente responsáveis, operam como entidades rentáveis Um processo de gestão de mudança assenta nos seguintes (procurando estratégias diferenciadoras de captação de recursos), princípios: mobilizar a mudança através da Liderança; traduzir como bons locais para trabalhar (a ideia de criação da Social Great a estratégia (metas, iniciativas, indicadores); alinhar Corporate Place to Work foi avançada recentemente numa formação em e Departamentos/Unidades; motivar numa tarefa conjunta Empreendedorismo Social) e contribuem para a sustentabilidade (Capacitação, Comunicação, Objectivos, Formação); e gerir para das suas comunidades e do planeta. converter estratégia num processo contínuo. Aprender com os erros significa, nesta linha de pensamento, que os Os mais de 20 especialistas nacionais e internacionais que Decisores devem começar por incorporar estes princípios nas suas colaboram com esta 27ª edição da EXIT® trazem-lhe insights, responsáveis tomadas de decisão, tornando-se cooperantes e não know-how, metodologias e instrumentos que irão certamente concorrentes destes aliados sociais. A assimetria de informação fazer a diferença neste processo. Pode não ser uma tarefa fácil, deve ser esbatida, como advoga Stiglitz, para que o acesso em mas há que saber encontrar simplicidade na complexidade, tempo oportuno a e.g. programas de financiamento estruturais arriscar, encorajar a inovação e abraçar a Mudança! possam ser capitalizados em benefício último da sociedade no seu todo e não apenas de forma egoísta e compartimentada. Nota: as opiniões dos Especialistas que colaboram com a EXIT® não Se ser Empreendedor é ter a capacidade manifesta e vontade reflectem necessariamente o posicionamento institucional da Dianova
  • 3. índice 2 | Editorial • Margarida Segard • Rui Martins Directora Adjunta no ISQ e Coordenadora da Rede RSO PT O que significa criar um futuro sustentável? Estão as • Daniela Godinho Organizações Sociais aptas a abraçar este desafio na Directora Financeira da Efeito D actualidade? 35 a 37 | Tema de Actualidade 4 a 9 | Dianova em Foco • Jacquelyn Hadley, Laura Lanzerotti e Adam Nathan – • Dianova Portugal: promotora de Transformação Social e The Bridgespan Group (Boston, EUA) Organizacional rumo à Sustentabilidade! • Centro de Formação Dianova e Universidade Lusófona 38 a 47 | Artigo de Opinião celebram Protocolo de Cooperação na área da • Karl Richter – Co-fundador da JenLi Foundation, co- Formação e Empregabilidade autor de “Making Good in Social Impact Investment: • Centro Formação Dianova lança website http:// Opportunities in an Emerging Asset Class”, Advsor formacao.dianova.pt: Simplicidade, facilidade de da Euclide Network sobre o Impacto do Investimento navegação e relevância de conteúdos Social e coordenador da Task Force do European Social • Dianova Portugal nova coordenadora nacional da Investment Facility (Londres, UK) campanha europeia Access.City Award 2012 • Luis Mota – Fundador & Director-Executivo da i advisers • Grupo de 29 profissionais suecos visitam Dianova e • Richard Tafel – CEO da Public Squared, & Kevin Ivers, Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas CEO da Center Strategies (Washington DC, EUA) • Dianova Portugal participa na 13ª Conferência da EFTC • Rita Maltez – Partner da Pares Advogados em Oxford • Matt Forti, Manager, & Jeri Eckhart-Queenan, Head • Dianova Portugal participa no Programa europeu Global Development Practice – The Bridgespan Group “Aprendizagem ao Longo da Vida - Programa (Boston, EUA) Transversal/ Visitas de Estudo» • Ana Marreiros – Account Manager Corporate and Internal Communication, no Grupo Inforpress 10 a 34 | Entrevista com... • Mirjam Schoning 48 | Rede Dianova Senior Director & Head of Schwab Foundation for Social • Agências das Nações Unidas reforçam a Entrepreneurship (Genebra, Suíça) Coordenação e Acção para atingir as metas da • Américo Carvalho Mendes Educação Coordenador da Área de Economia Social da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional 49 | Inter-Gerações Porto • Carlos Azevedo – Coordenador-Geral UDIPSS-Porto • João Proença Director da Faculdade de Economia da Universidade 50 a 53 | Arquitecturas Colaborativas do Porto, Director da Pós-Graduação em Gestão de • Luc Galoppin – Co-founder & COO at MedeMerkers Organizações Sem Fins Lucrativos na EGP-UPBS, (Bruxelas, Bélgica) Universidade do Porto Beatriz Águas 54 | Novos Canais de Comunicação Doutoranda e Docente na EGP-UPBS e no Instituto • Javier Celaya – Fundador da Dosdoce.com & Director Politécnico de Castelo Branco do Mestrado em Comunicação Digital, Universidad de • Miguel Sousa Alcalá (UAH), (Madrid, Espanha) Chief Operational Officer, Inova+ | Inovamais, S.A. • Paulo Silva Pereira 55 | Sites & Blogs Co-fundador da Orange Bird e da PPL Portugal http://socialinvestmentfacility.wordpress.com/ • Patrícia Boura http://ppl.com.pt/ Vice-Presidente da Cooperativa António Sérgio para a http://formacao.dianova.pt/ Economia Social (CASES) • Lino Maia 56 | Inspirações Presidente da Confederação Nacional das Instituições • Up and Out of Poverty: The Social Marketing Solution de Solidariedade (CNIS) Autor: Philip Kotler | Nancy R. Lee | 1ª Edição: Junho • José Manuel Costa 2009 Presidente do Grupo GCI • De Bom a Excelente • Celso Grecco Autor: Jim Collins | 3ª Edição: Abril 2007 Presidente da Bolsa de Valores Sociais de Lisboa e • Marketing 3.0 – Do Produto e do Consumidor até ao Fundador da Atitude – Associação pelo Desenvolvimento Espírito Humano do Investimento Social Autores: Philip Kotler | Hermawan Kartajaya | Iwan Setiwan | 1ª Edição: Fevereiro 2011 3
  • 4. 4 Dianova Portugal: promotora de Transformação Social e Organizacional rumo à Sustentabilidade! A operar desde 1984 em Portugal, a Associação Dianova Portugal  – Intervenção em Toxicodependências e Desenvolvimento Social é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, Associação de Utilidade Pública e Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento de âmbito nacional e sem fins lucrativos, com sede na Quinta das Lapas, Monte Redondo, Torres Vedras. Tendo por missão desenvolver acções e programas que contribuam activamente para a autonomia pessoal e o progresso social, alicerçada nos valores de Solidariedade • Compromisso • Tolerância • Internacionalidade, a nossa visão fundamenta-se na convicção de que, com a ajuda adequada, cada pessoa pode encontrar em si mesma os recursos para alcançar o seu desenvolvimento pessoal e integração social.  Contando na actualidade com uma diversidade de Programas Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD Sociais, Educativos, Saúde, Desenvolvimento Comunitário – MNE), do Instituto Português de Corporate Governance e Formação e Capacitação de Pessoas e Organizações, as (IPCG); da REDE Nacional de Responsabilidade Social nossas  áreas de intervenção encontram-se licenciadas e das Organizações RSO PT; da European Federation of protocoladas pelo Instituto da Droga e Toxicodependência Therapeutic Communities (EFTC),  do Grupo Lusófona, (IDT, IP), Instituto da Segurança Social (ISS, IP), Instituto de mantemos relações operativas com a UNESCO, entre muitos Emprego e Formação Profissional (IEFP), Direcção-Geral outros, signatários e Coordenador Nacional das campanhas do Emprego e Relações no Trabalho (DGERT) e Instituto European Action On Drugs e da Access.City 2012 da Comissão Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD-MNE). Europeia – DG Justiça (EC – DG JUST) e encontramo-nos cotados na Bolsa de Valores Sociais de Lisboa com o projecto Dispondo actualmente de uma Equipa de 37 Colaboradores “Educação é a Melhor Prevenção” Aventura Emotiva 3G® (21% na área de Gestão e 79% nas áreas de Programas http://www.bvs.org.pt/dianova & Intervenção; 54% são Mulheres e 46% Homens; média de idades de 39,9 anos), toda a nossa intervenção assenta Fruto deste  nosso desenvolvimento organizacional e em quatro pilares de diferenciação: Profissionalismo e cooperação,  eis o nosso  Impacto Social nos últimos 4 anos dianova em foco Competência, Inovação e Qualidade, Eficácia no Tratamento e (2007 e 2010) nas múltiplas áreas de intervenção: beneficiámos Reinserção e Ética e Responsabilidade Social. 15.245 Pessoas (jovens, adultos e seniores): 1.113 Pessoas em 2007, 2.041 Pessoas em 2008, 4.664 Pessoas em 2009 e Somos membro e parceiros da rede Dianova; do Conselho 7.427 Pessoas em 2010. Económico e Social das Nações Unidas (ECOSOC/UN), do Vienna NGO Committee on Narcotic Drugs (VNGOC), do Visite-nos em www.dianova.pt!
  • 5. Centro de Formação Dianova e Universidade Lusófona celebram Protocolo de dianova em foco Cooperação na área da Formação e Empregabilidade O Centro de Formação Dianova (http://formacao.dianova.pt uma concretiza uma aliança sustentável entre o sector da Educação das Unidades de negócio da Dianova Portugal) e a Universidade e o sector da Formação Profissional, associando a qualidade Lusófona, no seguimento do Protocolo de Cooperação assinado dos especialistas do primeiro, ao know-how e à percepção das entre ambas as Organizações, iniciaram em Setembro último necessidades formativas dos diferentes sectores económicos a divulgação do Projecto «Competências Transversais: + que o segundo detém.     Formação + Competências». As acções de formação a desenvolver encontram-se também Cientes de que o aumento de competências transversais no abertas para público externo à Universidade Lusófona, sendo seio de alunos do Ensino Superior potencia mais e melhores que se deverão respeitar os seguintes requisitos: oportunidades de emprego, este projecto visa principalmente - 12º ano de escolaridade (ou experiência profissional de o desenvolvimento das Soft Skills omitidas nos Currículos relevo); das Licenciaturas e Mestrados que privilegiam as áreas - Mínimo 18 anos de idade; técnicas. No entanto, consideraram-se também fundamentais - Activos empregados ou à procura de emprego. as competências intermédias em Gestão de Projectos e Tecnologias de Informação e Comunicação dado serem Dianova e Universidade Lusófona: uma Parceria de Futuro, instrumentos indispensáveis e requisito preferencial no acto com Futuro! de recrutamento nas Empresas/ Organizações. Os Planos de Formação dos Cursos foram concebidos e avaliados pelo Centro de Formação da Dianova, obedecendo aos critérios de rigor e qualidade exigidos pela Direcção Geral do Emprego e das Relações do Trabalho e pelo próprio Sistema de Gestão da Formação desta Unidade, consistindo esta oferta formativa em Acções de Formação Certificada.   Os(as) Alunos(as)/Formandos(as) poderão encontrar em Cursos como «Gestão Eficaz de Reuniões», «Gestão da Motivação e Estilos de Liderança», «Coaching e Mentoring para Gestores», «Técnicas de Comunicação em Público», «Comunicação Interna: como ouvir, informar e envolver o/a Colaborador/a», entre outros, as ferramentas que necessitam para marcar a diferença no mercado de trabalho tanto no Sector Empresarial como no Terceiro Sector. As Empresas / Organizações sairão beneficiadas com a retenção de talentos que procuram na aquisição de competências transversais, a polivalência necessária a um desempenho exímio da sua actividade profissional. Apresentar soluções criativas para problemas identificados; pro-actividade na construção da identidade corporativa; actuar com sensibilidade e rigor na Gestão de Pessoas; planear e executar projectos de trabalho eliminando desperdiçadores de tempo e de outros recursos, são actos que os beneficiários destas acções replicarão no mercado laboral.      Para além do reforço da empregabilidade e da valorização pessoal dos estudantes do Ensino Superior, este projecto Centro Formação Dianova lança website http://formacao.dianova.pt: Simplicidade, facilidade de navegação e relevância de conteúdos A Dianova Portugal lançou o seu 11º canal de gestão de objectivo incrementar a visibilidade das Soluções Formativas/ relacionamentos online com Clientes e Potenciais Clientes, Cursos e Outros Serviços de criação de valor para Pessoas Parceiros e outros Stakeholders relevantes: o WEBSITE e Organizações, este website caracteriza-se pela sua do Centro de Formação Dianova que poderá ser visitado e Simplicidade com páginas diferenciadas por cores, Facilidade consultado em http://formacao.dianova.pt. de Navegação e Pesquisa, e Relevância de Informação e Conhecimento, contando com 17 itens de menu principais. Desenvolvido criativamente pela Orange – Original Communication e tecnologicamente pela Triângulo Digital, Para além dos menus/páginas de âmbito institucional assente na plataforma Joomla 1.5, e tendo por principal como Quem Somos, Que Fazemos, Contactos, 5
  • 6. 6 T e s t e m u n h o s , Histórico - Resultados e Notícias de interesse e actualidade e Galeria de Imagens, poderão ser consultadas as mais de 150 Soluções Formativas/Cursos que o Centro de Formação Dianova oferece, nas distintas modalidades de formação privada e co- -financiada, Alugueres de Espaços e Equipamentos e outros Serviços como o Diagnóstico de Necessidades ou o Centro de Conhecimento através do qual poder-se-á aceder a legislação relevante, links de interesse, FAQs e parcerias e protocolos estabelecidos com entidades públicas e privadas. Para saber quais as Soluções Formativas/Cursos que são disponibilizados e/ou que poderá frequentar num futuro próximo, e visando facilitar a sua navegação e pesquisa, os Cursos foram agrupados por tipologias de destinatários diferenciados por cores diversas: • Organizações do Terceiro Sector, Comunidade Educativa, Organizações de Apoio aos Seniores, Empresas e Público em geral e, dentro destas, agregados por áreas: • Desenvolvimento Pessoal e Social, Desenvolvimento Organizacional, Tecnologias de Informação e  Comunicação e ainda Cursos de Iniciação, Aperfeiçoamento ou Reconversão profissional A sua opinião é muito importante para nós: visite o site http:// formacao.dianova.pt e envie-nos os seus comentários e/ou sugestões de melhoria. Obrigado! Dianova Portugal nova coordenadora nacional da dianova em foco campanha europeia Access.City Award 2012 Na qualidade de Coordenadora Nacional, desde Agosto de Access.City Award 2012 tem por objectivo divulgar e premiar as 2011, da nova campanha “Premio Access.City 2012” http:// cidades que tomam medidas exemplares para melhorar a sua accesscityaward.eu da Comissão Europeia – Direcção Geral de acessibilidade para as pessoas portadoras de deficiência em Justiça no âmbito das Acessibilidades Municipais para facilitar aspectos fundamentais da vida nas cidades. Esta iniciativa irá a inclusão social e diminuir as barreiras dos Deficientes, destacar as acções mais bem-sucedidas implementadas pelos a Dianova Portugal tem como responsabilidades a gestão Municípios (portugueses incluídos) que permitam às pessoas da awareness da campanha junto dos Media nacionais e portadoras de deficiência participar plenamente na sociedade e regionais, de Entidades Políticas, Autarquias e Organizações desfrutar de acesso igualitário aos seus direitos. relevantes para os objectivos a alcançar. O prémio faz parte dos esforços alargados da UE para criar Cerca de 80 milhões de cidadãos europeus são portadores uma Europa sem barreiras. Uma acessibilidade melhorada de deficiência. Com o envelhecimento da sociedade, o resulta em benefícios económicos e sociais duradouros para número de pessoas portadoras de deficiência ou com as cidades, em particular num contexto de envelhecimento mobilidade reduzida é cada vez maior. Além disso, a Europa demográfico. As cidades com pelo menos 50.000 habitantes é hoje uma sociedade essencialmente urbana, onde 4 em e com actividades desenvolvidas nesta área desde os cada 5 europeus vivem em cidades. Proporcionar a todos o últimos 5 anos tiveram até 20 de Setembro para apresentar acesso aos transportes, espaços públicos e serviços, assim a sua candidatura através do site www.accesscityaward.eu. A como às tecnologias, tornou-se num verdadeiro desafio. A cerimónia coincidirá com a Conferência do Dia Europeu das melhoria da acessibilidade também proporciona benefícios Pessoas com Deficiência, de 1 a 2 de Dezembro de 2011. O económicos e sociais e contribui para a sustentabilidade e vencedor do concurso será reconhecido como o “Vencedor do capacidade de inclusão do ambiente urbano. Prémio Access•City 2012”. As candidaturas abertas pela Comissão Europeia – Direcção- Para mais informações visite o site: www.accesscityaward.eu -Geral de Justiça decorreram até 20 de Setembro último. O prémio
  • 7. dianova em foco Grupo de 29 profissionais suecos visitam Dianova e Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas A 6, 26 e 30 de Setembro, três grupos de 29 profissionais A conversa informal que mantiveram com alguns dos nossos da área social da Suécia realizaram uma visita de carácter Utentes suecos foi muito enriquecedora e até emocionante; institucional e cultural à Dianova Portugal, durante a qual sentiram que os Utentes estavam bem integrados quer na tiveram a oportunidade de trocar impressões com cidadãos dinâmica, quer na filosofia do Programa; e valorizaram o suecos que se encontram em programa de tratamento na trabalho que estão desenvolver connosco.” Comunidade Terapêutica Quinta das Lapas. Para Therese Wennberg, porta-voz do Grupo, ” Queremos Após a recepção de boas vindas, foi realizada uma breve agradecer-vos pela hospitalidade com que nos brindaram apresentação corporativa e sobre os resultados da área de nesta visita à Dianova. A impressão com que ficámos é que tratamento, os Grupos efectuaram uma visita arquitectónico- vocês estão a desenvolver um excelente trabalho. Esmeraram- -patrimonial e ambiental ao Solar e Jardins da Quinta das -se no planeamento e gestão da visita, e apreciámos muito Lapas, a que se seguiu uma visita à Comunidade Terapêutica sinceramente o tempo que nos dedicaram a mostrar o e conversas informais com os Utentes suecos em tratamento. fantástico ambiente que se vive na Dianova. Foi ainda muito interessante ver os nossos cidadãos Utentes suecos e trocar De acordo com Ana Delgado, Psicóloga Clínica e responsável impressões com eles acerca do tratamento na Comunidade pela gestão das visitas, “as visitas ao espaço do bosque Terapêutica. Muito obrigado e continuação de bom trabalho”. e da Comunidade Terapêutica foram muito positivas e corresponderam ou superaram as expectativas dos grupos. A gestão – componente turística - destas visitas foi organizada Valorizaram muito o espaço físico e tranquilidade do ambiente pela OasisTravel, que tomou conhecimento da Dianova através envolvente, mas também a nossa dinâmica e a forma como da campanha “Não deixamos que atires para o Lixo” que foi estruturamos o Programa Terapêutico. Colocaram algumas implementada entre Janeiro e Abril de 2011 em vários suportes questões práticas e específicas, procurando comparar patrocinados por Media e outras Organizações privadas. procedimentos e know-how. 7
  • 8. 8 Dianova Portugal participa na 13ª Conferência da EFTC em Oxford Como membro da European Federation para a melhoria das taxas de retenção e conclusão dos of Therapeutic Communities, a Dianova processos tratamento. Também às CTs cumpre a tarefa de participou na 13ª Conferência realizada a activar a articulação inter-institucional e promover o acesso 20-23 de Setembro em Oxford, Inglaterra, http:// a diferentes serviços, técnicos e organismos a todos os seus www.eftc-europe.com/2011conference/, representada beneficiários. por Cristina Lopes, Directora Técnica da CTQL http://www. dianova.pt/os-nossos-servicos/comunidade-terapeutica, e Em conclusão fica clara a necessidade de continuar a investir na qual participaram aproximadamente 150 pessoas. em estudos que “divulguem” a eficácia da intervenção em comunidade terapêutica comparando abordagens de curta e longa duração, monitorizando resultados de follow-up a longo prazo, nomeadamente com o apoio da EMCDDA. Num verdadeiro ambiente de partilha e reflexão, os 4 dias da Conferência permitiram o acesso a vários estudos sobre A conferência foi concluída com o compromisso geral de a evidência científica da eficácia das intervenções a nível das todos os delegados integrarem uma rede que permita realizar toxicodependências, em contexto residencial. Numa época estes estudos e monitorizar resultados, chamando a si desde marcada por uma crise financeira, social e política o valor das políticos à sociedade em geral, que deve ser convidada a intervenções realizadas em contexto residencial é colocado participar na 14º Conferencia 2013 a realizar-se em Praga, em causa em detrimento de politicas de redução de danos, República Checa. Aos delegados lançou-se o desafio de na com severo investimento em suporte farmacológico, sem mesma se fazerem acompanhar por utentes e participar na garantia de integração em serviços psicoterapêuticos e ou Festa Anual das Adicções, no âmbito da expressão artística. psicopedagógicos. Vários investigadores/profissionais apresentaram investiga- ções que comprovam a mais-valia das Comunidades Terapêu- ticas e sua intervenção como resposta, não exclusiva à adição, mas a um problema complexo que afecta o sujeito, famílias e a sociedade em geral. Com custos reduzidos (comparativa- mente a programas em ambulatório) as CTs permitem não só promover a abstinência como a promoção do desenvolvimento das pessoas numa abordagem transversal e multidisciplinar, prestando cuidados saúde primários; investir na procura em- prego e formação académica; cidadania, etc. dianova em foco As dúvidas sobre a eficácia da metodologia e da intervenção das CTs provêm da complexidade da problemática e consequente complexa abordagem com recurso a diferentes ciências e métodos, mas também de um estigma/ignorância social  que se detecta inclusive nas massas políticas. Com grande capacidade de adaptação e evolução as comunidades terapêuticas conseguem dar resposta a públicos específicos (e.g. mulheres grávidas) de forma integrativa, profissional, humana e optimista. Com intenso investimento na profissionalização das equipas e especialização das mesmas, o sucesso dos processos de tratamento em ambiente residencial depende em grande parte da equipa técnica, da relação de confiança e empatia que estabelece com os beneficiários. Da sua capacidade de comunicar, motivar e educar resultam sucessos surpreendentes (pessoas reabilitadas, integras e felizes) e respostas inovadoras para problemáticas que afectam a saúde da sociedade em geral (co-morbilidades – e.g. patologias foro mental, integração na CT de indivíduos em programa substituição, etc.). A taxa de retenção é presentemente uma das preocupações das CTs. Uma vez mais se reforça  a importância da qualidade da equipa como factor pré-determinante para a potenciação desta taxa. A CT deve ser um espaço de fomentação emocional, segurizante e facilitador de mudanças de conduta. A capacidade de criatividade e de elaboração de respostas individualizadas adaptadas às características de cada sujeito são também apresentadas como factores pré-determinantes
  • 9. Dianova Portugal participa no Programa europeu “Aprendizagem ao Longo da Vida dianova em foco - Programa Transversal/ Visitas de Estudo» interesse para a Organização, potenciando os seus projectos. Na sua sequência, foram aprovadas e financiadas as 2 visitas de estudo que foram realizadas no mês de Setembro por Susana Almeida e Ana Santos. Em 2011, o foco dos Colaboradores da Dianova neste Programa centra-se na participação em fóruns de interesse com vista ao desenvolvimento do Projecto Parque Aventura Emotiva 3G®. O sub-programa “Visitas de Estudo” é direccionado a especialistas das áreas da educação e formação e o principal objectivo é a definição de políticas e a cooperação a nível europeu no domínio da aprendizagem ao longo da vida, designadamente no contexto do Processo de Lisboa e de Copenhaga e do Programa de Trabalho “Educação e Formação 2010”. As acções consistem em visitas de curta duração (de 3 ou de 5 dias), onde um pequeno grupo de especialistas realiza A Dianova, através dos departamentos de Inovação & o intercâmbio de informações relevantes no que respeita Desenvolvimento e Formação & Gestão de Projectos, candidatou- a temática em estudo, discute prioridades a nível nacional -se ao «Programa Aprendizagem ao Longo da Vida - Programa e internacional, procura soluções e práticas inovadoras Transversal/ Visitas de Estudo» da Comissão Europeia e promove a qualidade e a transparência nos sistemas http://ec.europa.eu/education/lifelong-learning-programme/ de educação e formação. Este Programa é co-financiado doc78_en.htm com o objectivo de colher boas práticas a nível pela Comissão Europeia e pelo Estado Português, sob a internacional e contactar com especialistas em áreas de coordenação da Direcção-geral de Educação e Cultura. Foto de Grupo, Susana Almeida, UK, 2011 Em 2012, a Dianova pretende dar continuidade a estas acções de mainstream e benchmarking com vista ao seu desenvolvimento organizacional.   9
  • 10. 10 Mirjam Schoning Senior Director & Head of Schwab Foundation for Social Entrepreneurship (Genebra, Suíça) Dianova: É de confiança mútua com os investidores sociais. O Manual inclui opinião geral ainda uma lista abrangente de diferentes fontes de capital de de que, a fim de investimento. resolver alguns dos problemas As quantias que os investidores sociais fornecem às mais difíceis do Organizações sociais são muitas vezes maiores do que as mundo globaliza- subvenções, mas que, é claro, terão que ser pagos, na maioria do, especialmente nos das vezes com juros. Para além de avaliar se taxa de juros é países desenvolvidos, a res- inferior às taxas típicas de mercado, um empreendedor ainda posta depende de Inovação e Em- tem que avaliar cuidadosamente se pode pagar o empréstimo. preendedorismo. Pensando no Sector sem fins lucrativos e o seu papel na mudança social, como poderá ser definida a O capital angariado junto de investidores sociais oferece uma Inovação Social e o Empreendedorismo? oportunidade única para escalar o impacto da Organização Mirjam Schoning: Estávamos acostumados a empresários, de uma forma sem precedentes, mas também pode levar como Steve Jobs, serem os principais motores da inovação para a consequências indesejadas tais como: uma mudança na a economia. Sob uma luz semelhante, os empreendedores so- direcção estratégica, uma divergência em relação aos valores ciais são os principais motores da inovação para a sociedade. originais e missão da Organização, um distanciamento do Eles têm, assim, desenvolvido modelos como a microfinança ou envolvimento directo com a comunidade que serve ou uma novos métodos de ensino que abrem novas oportunidades para perda de controlo sobre a cultura organizacional. O Manual todos os segmentos da população. procura abordar estas advertências activamente para mitigá- -las desde o início. Um empreendedor social é um líder ou visionário pragmático que: Dianova: As Organizações sociais desempenham um papel vital nas comunidades e na sociedade, envolvendo uma • Atinge a grande escala, uma mudança social sistémica e elevada confiança pública. Como podem os seus Conselhos sustentável através de uma nova invenção, uma abordagem de Administração gerir eficazmente as Organizações de diferente, uma aplicação mais rigorosa de tecnologias ou forma a incrementar a confiança e o apoio do público? Terá estratégias conhecidas, ou uma combinação destas. a Governance um papel mais importante no Sector sem fins lucrativos do que nas empresas com fins lucrativos? Mirjam Schoning: É interessante que coloque essa pergunta entrevista com... • Concentra-se em primeiro lugar na criação de valor social e/ ou ecológico. a seguir à questão do investimento. De facto, como feedback para o Manual de Investimento Social, fomos solicitados a • Constrói Organizações fortes e sustentáveis, que podem ser fornecer mais informação e orientação em torno da questão da configuradas como sem fins lucrativos ou empresas com fins Governance nas Organizações Sociais ou sem fins lucrativos. lucrativos. Muitas vezes, quando um investidor social traz capital para uma Organização, ele exige estruturas de governança específicas, Em última instância, queremos lutar por todo o empreendedoris- como um Conselho de Supervisão e muitas vezes exige um mo como sendo empreendedorismo social. assento no tal Conselho. Actualmente, estamos a solicitar aos empreendedores sociais de todo o mundo que preencham Dianova: Acabou de ser lançado pela Euclide Network - um inquérito sobre as suas estruturas de Governança actuais. European Third Sector Leaders a Taskforce on European Enquanto esperamos pelos resultados finais desse estudo Social Investment Facility. A Mirjam também esteve envolvida em Janeiro, podemos constatar que a maioria das principais na elaboração do “Manual de Investimento Social - um Guia Organizações sociais já tem Conselhos activos e independentes. para Empreendedores Sociais” desenvolvido pela Schwab Foundation. Para uma melhor performance num processo de Na Europa, as Organizações sociais geralmente desfrutam de gestão de mudança no sector sem fins lucrativos, a fim de ‘ser uma confiança pública por causa da sua missão clara. À medida financeiramente auto-sustentável, mas também rentável’, que os seus números e importância crescem, será importante poderia resumir as principais conclusões deste relevante Guia garantir que sejam bem governadas para não se perder a que podem fornecer um roteiro sustentável “para expandir o confiança pública. seu impacto”? Mirjam Schoning: O Manual de Investimento Social foi a Dianova: De acordo com a sua experiência na Schwab ideia de um grupo de empreendedores sociais que fazem Foundation, quais são as principais tendências, desafios parte da Schwab Foundation Network e que se reuniu há um estruturais ou forças que influenciam as exigências de ano numa das nossas reuniões na China. A maioria deles já encarnar bem o papel da Liderança no sector sem fins tinha realizado experiências de captação de capital junto de lucrativos? investidores sociais e desejavam serem capazes de aprender Mirjam Schoning: Os Empreendedores sociais e muitos mais sobre o processo antes de embarcar nele com uma líderes de Organizações sem fins lucrativos têm estado, nas aprendizagem por tentativa e erro. Decidiram então, criar um últimas décadas, na sombra dos CEOs, empresários e outros Manual que proporcionasse aos empreendedores sociais mais líderes “Estrela” no domínio dos negócios e da política. Têm conhecimento sobre captação de capital, bem como gestão de estado a trabalhar nas margens da nossa sociedade. Os
  • 11. Empreendedores sociais induzem às comunidades em que Dianova: Transparência e Accountability são factores chave entrevista com... trabalham a tarefa de serem os seus próprios agentes de da confiança organizacional. Se facilmente se consegue mudança, em vez de conferirem soluções de fora sobre elas. mensurar os inputs e outputs (por exemplo, quantificar O estilo de liderança desses indivíduos tende a ser aberto o desempenho e avaliar os resultados da actividade) e e envolvente, trabalhando através de redes, comunidades mostrar publicamente aos doadores como o seu dinheiro foi planas, reconhecendo que as mentes de muitos são muito gasto/investido, a avaliação de resultados ou impacto social mais poderosas do que a de um só. pode tornar-se uma tarefa difícil. Como tornar mais simples e acessível a tarefa hercúlea de avaliar o impacto de uma Podemos constatar algumas características-chave de fortes Organização num problema em larga escala da sociedade? líderes sociais: O que deverá exactamente ser medido numa abordagem realista e com recursos escassos? a) A busca incessante de uma visão forte: Os empreendedores Mirjam Schoning: Toda a Organização deve esforçar-se por sociais perseguem a sua visão a qualquer custo. Jose compreender o seu impacto (outcomes) e não apenas os seus Ignacio Avalos, Fundador da Organização mexicana “Un outputs. Há uma enorme diferença em contabilizar as pessoas que Kilo de Ayuda” diz que “se você não está pronto para perder passaram pelos seus cursos de formação e tentar perceber o que tudo o que tem ao lutar pela sua causa, nunca será um bom aprenderam e como as suas vidas mudaram em conformidade. empreendedor social”. Se, por exemplo, você fornecer uma boa refeição na formação, talvez as pessoas só saiam com a barriga cheia? b) Um grau elevado de empatia: Os estudos psicológicos parecem corroborar o facto de que os empreendedores Assim, avaliar o impacto deve ser do interesse acima de tudo da sociais pontuam muito acima da média na empatia e própria Organização. Além disso, doadores, investidores e o público na capacidade de expressar empatia. A maioria dos em geral cada vez mais exigirão uma prova dos outcomes, em vez empreendedores sociais começou a sua aventura ao sair dos outputs. Existe uma diversidade de ferramentas tais como o de um impulso emocional, contrariando uma deliberação Balanced Scorecard e a análise de Retorno do Investimento Social, racional de prós e contras. Foram todos profundamente que todavia consomem tempo e recursos. Uma Organização deve afectados pelos problemas que viram ao seu redor e escolher o seu método de acordo com a sua dimensão e recursos, sentiram que não tinham escolha a não ser agir. mas deve garantir de alguma forma que a avaliação está sempre incluída. c) Adaptação contínua às comunidades que servem: Os empreendedores sociais ouvem e aprendem com os Estamos também a assistir ao desenvolvimento de standards beneficiários finais. A inovação necessita de uma forma de universais tais como o Reporting Standard Social (SRS) na liderança participativa e colaborativa, onde todos podem ser Alemanha ou o GIIRS nos EUA. Um relatório standard poderá aprendizes e professores. levar-nos a um ponto em que as Organizações sociais só têm de preencher um formato para todos os seus stakeholders. d) Dar poder às pessoas em seu redor: O Banco Grameen cria sistematicamente líderes a partir dos seus mutuários, que Dianova: Por último mas não menos importante, na sua também possuem 90% do banco. Muitos empreendedores opinião a revolução operada pelo sector sem fins lucrativos sociais são capazes de envolver, de forma criativa, está a acontecer, ou é ainda uma miragem no que diz voluntários e jovens como recursos não tradicionais. respeito à Gestão de Mudança? Considerando que o estilo de “comando e controlo” tem Mirjam Schoning: Na última década testemunhámos seguramente sido a característica de muitos líderes, vemos que este tem uma revolução no crescimento do Sector Social. Se é verdade evoluindo para uma forma mais “partilhada” e “em rede” no que os empreendedores sociais já existiam antes, também é estilo de liderança. Numa sessão sobre liderança em Davos verdade que actuavam nas margens da sociedade. Hoje em dia, as há alguns anos atrás, os palestrantes concluíram que a Universidades têm vindo a lançar centros e cursos, os estudantes paixão por uma missão adicionada ao desejo de contagiar aspiram a tornar-se empreendedores sociais ou a trabalhar para tantas pessoas quanto possível, com a mesma paixão, uma Organização do sector, as empresas cada vez mais buscam é fundamental para promover a inovação e a mudança parcerias e o sector público está a começar a olhar para políticas transformacional. Esta paixão é um elemento-chave dado que promovam a inovação e o negócio social. A União Europeia, por que a pessoa deve ser capaz de convencer os outros. exemplo, vai lançar uma grande iniciativa de negócio social a 18 de Novembro. Dianova: Acredita que, no geral, há uma maior necessidade de compreensão acerca da sustentabilidade financeira e modelos de negócio por parte dos Conselhos Executivos e Administração de Organizações Sociais? Que recomendações lhes daria para encarar de uma forma mais eficaz os desafios da sustentabilidade nestes tempos de crise? Mirjam Schoning: Esperamos que o Manual de Investimento Social seja uma ferramenta para Executivos de Organizações sem fins lucrativos saberem mais sobre fontes inovadoras de financiamento e como aceder-lhes. Dados os tempos de turbulência económica e as grandes mudanças em curso no domínio dos negócios sociais, é importante que os Executivos e Conselhos tenham uma compreensão das tendências actuais e assegurar a viabilidade a longo prazo de uma Organização. 11
  • 12. 12 Américo Carvalho Mendes Coordenador da Área de Economia Social da Universidade Católica Portuguesa – Centro Regional Porto Dianova: Em Por- público, desde que tudo isto seja no sentido de contribuir para tugal, os especia- a construção de relações sociais mais solidárias. listas continuam sem chegar a um Dianova: Para que um processo de mudança tenha sucesso, consenso termino- deve existir liderança, confiança dos stakeholders e tempo. lógico sobre o Sector Estão reunidas estas condições para que as estratégias dito não lucrativo: Ter- de mudança orientadas à Sustentabilidade ocorram em ceiro Sector, Economia So- Portugal por parte das Organizações Sociais? cial e Solidária, Sociedade Civil... Américo Carvalho Mendes: Cada Organização de Economia Social Na sua opinião, qual a designação que melhor terá que construir o seu caminho próprio para ser sustentável. caracteriza este sector e quais as suas principais implicações? Não há soluções que possam ser semelhantes para todas. O Américo Carvalho Mendes: A minha preferência vai para que acho que se pode dizer, de uma forma genérica, sobre este o conceito de Economia Social e Solidária. Acho que é o assunto e sobre estas Organizações é o seguinte: tudo o que se mais apropriado para designar o sector que engloba as fizer no sentido de haver mais transparência na gestão e haver “Organizações de Economia Social” que defino da seguinte mais pessoas disponíveis para trabalharem nestas Organizações maneira: em cargos de direcção e noutras funções imbuídas do sentido da • Têm personalidade jurídica, ou, se a não têm, dispõem de construção do ‘bem comum’ será bom para a sua sustentabilidade. normas do conhecimento público que regulam a pertença à organização, o seu modo de governo e o seu funcionamento; Isto acontece em muitas das Organizações de Economia Social • Têm formas de auto-governo; do país, mas há que reconhecer que o caminho ainda a trilhar • São privadas no sentido de serem iniciativas da sociedade neste domínio é longo. civil; • São de adesão voluntária; Dianova: Quais são os desafios internos mais referidos para • A sua missão principal é organizar a acção colectiva no que haja uma reflexão sobre a mudança de curso de uma sentido de contribuir para relações mais solidárias do seres Organização? humanos entre si e com o meio ambiente em que vivem; Américo Carvalho Mendes: Os melhores métodos que • Fazem isso através da produção de bens públicos (ex. conheço, para que haja a reflexão atrás referida, são os que redução da pobreza e doutras formas de exclusão social, apelam à maior participação possível de dirigentes e de outros defesa dos direitos humanos, redução das disparidades colaboradores da Organização. Nas nossas Organizações de entrevista com... regionais, protecção do ambiente, protecção do património Economia Social é pouco frequente o recurso a este tipo de cultural e arquitectónico, protecção civil, melhoria da saúde métodos. Por isso, o principal desafio aqui é promover a sua pública, produção de conhecimento do domínio público, etc.) adopção por um número cada vez maior de Organizações. e/ou da produção de bens ou serviços privados ou de clube que contribuam para relações sociais mais solidárias; Dianova: “O material da vida não é a estabilidade e a harmonia • Para esta produção mobilizam recursos geridos em regime quieta, mas a luta permanente entre os contrários.” A gestão de propriedade comum. da mudança é transversal à condição humana? Américo Carvalho Mendes: A vida humana é feita de mudança, O conceito de Sector dito não lucrativo tem a desvantagem às vezes difícil, mas também é feita de continuidades. A questão de excluir do âmbito da Economia Social grande parte das aqui está em saber estar atento ao que é preciso mudar e estar cooperativas e das mutualidades. O conceito de Terceiro Sector disponível para o fazer, tendo, ao mesmo tempo, o discernimento tem o problema de referir a Economia Social como se fosse necessário para preservar e valorizar o que é importante manter um sector que estivesse em terceiro lugar, numa ordem de para dar sentido à vida vivida de forma solidária. importância, a seguir ao sector privado e ao sector público, quando todos têm o seu lugar próprio e insubstituível numa Dianova: Hoje em dia, as pessoas não estão mais interessadas boa organização da sociedade. O conceito de Sociedade Civil é em saber simplesmente se se trabalha por uma boa causa. demasiado abrangente para designar a Economia Social, uma Ou seja, a pergunta que se impõe é: será uma Organização vez que esta é uma componente da Sociedade Civil, mas não a responsável e digna do meu investimento? Que diferença sua totalidade. faz na sociedade? Este é o principal desafio para a Economia Social? Dianova: Está actualmente em voga o conceito de Inovação Américo Carvalho Mendes: Este é, com certeza, um desafio Social. Que implica para si esta Inovação? Reavaliação das muito importante das Organizações de Economia Social, hoje práticas de trabalho, alterações nas orientações estratégicas e sempre. Se estas Organizações são iniciativas voluntárias da ou mudanças na função social por parte das Organizações da sociedade civil para construir relações sociais mais solidárias, Economia Social? deve-lhes estar na massa do sangue apelar continuamente Américo Carvalho Mendes: A inovação social é um processo ao empenhamento solidário e voluntário de quem as dirige, do qual fazem parte a criação e a melhoria do desempenho de quem nelas trabalha e de quem com elas quer colaborar. das Organizações de Economia Social, mas não se esgota aí. Inclui, também, mudanças na organização e nas actividades Tal como atrás referi, uma das melhores formas para as das empresas com fins lucrativos e nas entidades do sector Organizações de Economia Social atraírem esses contributos
  • 13. solidários e voluntários é através de transparência na gestão Dianova: Para si, é afinal a Gestão da Mudança na Economia entrevista com... e de sentido da construção do ‘bem comum’, bem evidenciado Social e Solidária um mito ou uma revolução? por quem as dirige e por quem mais nelas trabalha. Américo Carvalho Mendes: Nem é um mito, nem é uma revolução no sentido de um processo violento, onde se pretende Dianova: Decisões orientadas para um consenso geral, em “matar” tudo o que é passado. Não é um mito porque a gestão que parece haver um esvaziamento ideológico das forças da mudança está a acontecer em um número cada vez maior político-governativas, requerem uma perspectiva de longo das nossas Organizações de Economia Social. O caminho ainda é prazo para que ocorra um desenvolvimento social e humano longo e nunca estará todo percorrido, mas está a fazer-se. sustentável? Américo Carvalho Mendes: Não há desenvolvimento que seja Essa gestão da mudança não deve ignorar pessoas, sustentável se não houver democracia e aprofundamento da mesma. conhecimentos e práticas que, vindas do “passado”, nem por isso deixam de ser muito importantes para a construção do Quando as Organizações de Economia Social são geridas de ‘bem comum’. Atitudes maniqueístas que consideram que o forma participada, transparente e democrática, são excelentes que é “novo” é bom e o que é “velho” é mau não são boas escolas e espaços de exercício da cidadania activa. Têm, por formas de promover relações sociais mais solidárias. Uma isso, um papel muito importante para complementar as gestão da mudança para ser solidária tem de saber combinar instâncias da democracia representativa e para contribuírem o “novo” e o “velho” com humanidade e inteligência. no sentido de corrigir problemas na organização e no funcionamento destas instâncias. João Proença Director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto Beatriz Casais Doutoranda na Faculdade de Economia da Universidade do Porto e Docente no Politécnico de Viseu e no Politécnico de Viana do Castelo Dianova: Em Portugal, os espe- Estado. Contudo, este Terceiro Setor só se pode afirmar em cialistas continuam sem chegar a plenitude quando é suficientemente independente dos restantes, um consenso terminológico sobre o não sendo vulnerável a pressões, nomeadamente de ordem Sector dito não-lucrativo: Terceiro Sector, Economia Social financeira. Daí a importância de uma gestão que garanta a sua e Solidária, Sociedade Civil... Na sua opinião, qual a desig- sustentabilidade e independência, gerando fundos para serem nação que melhor caracteriza este Sector e quais as suas reinvestidos na organização. principais implicações? A própria denominação Organização Sem Fins Lucrativos continua a fazer sentido à luz actual Dianova: Para Julian Birkinshaw, Professor e Co-fundador do conhecimento e da conjuntura económico-social? Qual a do Management Innovation Lab da London Business School, a designação que considera mais apropriada ao desafio atual Inovação não está tanto no produto mas nas práticas de trabalho. da Sustentabilidade a que também estas Organizações estão A estratégia de mudança implica obrigatoriamente a adoção de sujeitas? uma nova cultura de trabalho? A resistência à mudança é um João Proença e Beatriz Casais: Quando nos referimos a factor previsível em qualquer programa de mudança planeada, Organizações sem fins lucrativos queremos dizer que essas ou um conceito adaptável ao progressismo exagerado de uma Organizações não distribuem os lucros pelos seus corpos sociais, estratégia a 180º? ao contrário do que acontece, por exemplo, nas empresas. Segundo João Proença e Beatriz Casais: Quando falamos de programas este ponto de vista, a terminologia adequa-se às Organizações de mudança planeada, ou seja de marketing social, a inovação criadas no âmbito da sociedade civil e às Organizações públicas. não estará tanto no que se faz, mas na forma como se faz, na forma como se apresentam os benefícios e na forma como se Contudo, a sustentabilidade financeira destas estruturas é apresentam os custos de mudança. E é isso que, muitas vezes, fundamental, sejam estruturas sem fins lucrativos do setor diferencia o sucesso das Organizações. estatal ou do setor privado. Daí que estas Organizações tenham de ter forçosamente uma gestão com o objectivo da auto- Quando a missão consiste em promover uma mudança social, -sustentabilidade, o que as incentiva a gerar e a obter fundos e como é o caso das estruturas que desenvolvem Marketing Social, receitas próprias. Esses fundos são reinvestidos na Organização, o valor do processo é ainda mais significativo. O sucesso do plano e consequentemente potenciam o seu desenvolvimento e a de marketing social baseia-se como em qualquer outro plano concretização da missão. de marketing em conseguir que o alvo entenda que o benefício é compensador do preço ou “esforço” a pagar, ou seja que o bem As Instituições privadas sem fins lucrativos (no sentido da não social é mais significativo do que o custo da mudança. distribuição dos lucros pelos corpos sociais) constituem o Terceiro Setor, um sector independente dos demais, que encontra o seu Dianova: Para que uma mudança proceda nas espaço nas lacunas de acção dos sectores empresarial e do devidas condições e com sucesso é necessário 13
  • 14. 14 valorizar o aspeto menos o mesmo peso dos interesses das empresas, em da liderança. Como igualdade com os interesses da sociedade “. Emergindo como vê o papel da liderança no uma tendência galopante, acredita que o repto está lançado? desenvolvimento organizacional João Proença e Beatriz Casais: Os negócios deverão ser destas Organizações? Que boas enquadrados num sistema composto por tês vértices: práticas ou paradigmas de gestão podem • a sustentabilidade das Organizações; as Organizações Sociais incorporar nos seus • a satisfação das necessidades dos utilizadores e/ou modelos de gestão para se tornarem mais eficientes? consumidores; A Educação e Formação de profissionais que operam • e ainda a garantia do bem-estar da sociedade. – ou venham a operar – no Terceiro Sector é fundamental para capacitar estas Organizações em termos de capital Se estes três objectivos não conviverem em harmonia não se técnico e relacional. Como avalia a experiência ao nível da pós- consegue garantir a sustentabilidade dos negócios. Isto porque os -graduação em “Gestão das Organizações Sem Fins Lucrativos” negócios para sobreviverem exigem recursos, os quais são, como da EGP-UPBS? sabemos, limitados. É necessário garantir a sustentabilidade João Proença e Beatriz Casais: Cada vez mais as Organizações dos recursos naturais, como as matérias-primas, para que os sem fins lucrativos necessitam de estratégias e gestão negócios subsistam. profissional. Interessa construir um modelo organizacional com base na gestão empresarial, adaptando-a às especificidades do Por outro lado, necessitamos constantemente de consumidores setor não-lucrativo. para garantir a sustentabilidade da procura. A busca desenfreada do lucro se não considerar a sustentabilidade da procura, constitui Muitas as vezes as Organizações desenvolviam o seu plano de aquilo a que se pode chamar de marketing com visão curta. Da acção através de actividades que previam a sensibilização social mesma forma que as empresas identificam nos consumidores para diversas causas. Contudo, quando nos propomos a mudar necessidades latentes de que os próprios por vezes não têm algo na sociedade, necessitamos de fazer um ponto de situação consciência, também deverão identificar os limites de consumo e delinear objetivos mensuráveis. Por isso é fundamental que dos seus clientes, evitando assim o seu endividamento, a os líderes destas Organizações obtenham formação em gestão, obesidade, ou o aumento da poluição, por exemplo, de forma a de modo a desenvolverem uma estratégia com abordagem garantir a sustentabilidade do consumo por muito mais tempo. empresarial delineando objectivos sociais a atingir, objectivos esses que deverão ser mensuráveis e monitorizáveis. Não se pode olhar só para a satisfação das necessidades dos consumidores, nem para os resultados das Organizações. É A Pós-Graduação em Gestão de Organizações Sem Fins Lucrativos fundamental garantir a sustentabilidade da sociedade, nas da EGP-UPBS tem vindo a desenvolver essas competências, suas mais diversas formas, para se garantir por sua vez a através de um ensino integrado de áreas tão diferentes mas sustentabilidade dos mercados. complementares como são as finanças, contabilidade ou direito associadas a áreas como o marketing, estratégia ou Dianova: Para si, é afinal a Gestão da Mudança na Economia recursos humanos e potenciando-se também competências de Social e Solidária um mito ou uma revolução? entrevista com... comunicação e relações com os media, negociação ou liderança, João Proença e Beatriz Casais: Se considerarmos o caminho entre outras. percorrido, a mudança social tem vindo a ser uma realidade. As estratégias usadas de marketing social relacionado com a saúde, Os profissionais que têm obtido esta formação consideram-se o marketing verde, o marketing social relacionado com o combate pois mais aptos para os diferentes desafios de gestão que as à pobreza têm obtido resultados interessantes. Organizações sem fins lucrativos exigem nos dias de hoje. Também a credibilização do Terceiro Sector através do incremento das práticas de gestão empresariais tem sido fundamental para Dianova: Segundo dados apresentados no estudo “Citizens uma mudança de atitude das pessoas em geral em relação aos Engage. Good Purpose” da Edelman “86% dos consumidores donativos, patrocínios e ações de mecenato. globais acreditam que os negócios precisam de colocar pelo Miguel Sousa Chief Operational Officer, Inova+ | Inovamais, S.A. Dianova: Michael Porter no seu clássico The competitive inovação: advantage of nations afirmava que “A invenção e o “Inovação empreendedorismo estão no centro da vantagem é como [competitiva] nacional” (1990). Como definiria Inovação e guiar na quais os seus impactos na Gestão Organizacional? “autobahn” Miguel Sousa: Podemos encontrar na literatura e em casos a 160Kmh práticos de sucesso, definições variadas de inovação. Stephen – mal nos Shapiro define inovação como a capacidade antecipar mercados: a p e rce b e m o s “Inovação, hoje, é vender produtos que ainda não existem, para da velocidade a mercados ainda a emergir, através de tecnologias que mudam que vamos, zzzwoom, todos os dias”. há um Mercedes que nos ultrapassa pela esquerda, depois outro e ainda outro”. Nicholas Negroponte valoriza a competitividade como estímulo da
  • 15. entrevista com... Gary Hamel tem uma visão mais sociológica dos processos de inova- Muitas empresas protegem-se dos riscos de inovar adoptando ção: “Inovação é um processo que deve vir de baixo – não me digam uma estratégia convencional, agarram-se ao seu “Ciclo das que a mudança deve vir do topo. Nunca vi os monarcas instaurarem Operações” e sobrevivem (esta é a palavra correcta) com uma república”. melhorias contínuas e algumas inovações incrementais. Enquanto Lewis Platt define inovação na sua experiencia Assim sendo, muitas Organizações desenvolvem todo o seu mode- empresarial: “Inovação é estar ciente de que o que quer que lo de negócio e de actividade ao nível das operações, nas quais as tenha tido exíto no passado, não o vai ter no futuro”. práticas associadas ao seu negócio estão convertidas em “procedi- mentos” que estão bem assimilados, compreendidos e difundidos Nós na INOVA+ definimos inovação como “uma mudança por toda a Organização. Aos desafios tecnológicos, económicos e economicamente útil”, com impactos ao nível do processo, sociais, a Organização reage com a implementação de “soluções produto, marketing e organização. convencionais”, normalmente cópias de soluções já testadas por Miguel Sousa: É de senso comum que os portugueses são outros, que garantem uma resposta, mas não significam um salto avessos ao risco. Concorda com esta afirmação? Como qualitativo na Organização. O aparecimento de problemas é, nesta fomentar um ambiente propício ao Empreendedorismo e óptica, encarado como uma ameaça à estabilidade e nunca como Inovação Social? uma oportunidade de melhoria. Estas Organizações sobrevivem, Miguel Sousa: A inovação envolve sempre risco, não existe mas a pergunta que se impõe é: até quando? inovação sem risco. Este pode ser atenuado, prevenido e partilhado com outros, mas nunca eliminado. Quando uma As Organizações mais inovadoras, por seu lado, são aquelas que empresa ou indivíduo desencadeia um processo de inovação encaram os problemas como oportunidades de melhoria. Estas enfrenta um problema fundamental, o de fazer com que os organizam-se para dar resposta às solicitações tecnológicas, seus colaboradores/investidores compreendam que assumir económicas ou sociais, promovendo a concepção do projecto, riscos tem de fazer parte do processo, devendo ser encorajada na qual são apresentados os objectivos, planos de trabalho, a tomada de decisões e medidas que admitam algum risco recursos necessários e resultados esperados. As parcerias e ao invés de rejeição. De acordo com a minha experiência, a actividades em consórcio, com Organizações académicas ou empresa/indivíduo que aprende a avaliar e a viver com o risco outras empresas, são uma forma de estimular o desenvolvimento irá conquistar uma taxa significativamente mais elevada de tecnológico e reduzir os riscos associados a processos de retorno do que a empresa que não o faz. inovação. Porém, a melhor das ideias pode falhar se não existir competências e ferramentas eficientes de gestão de projecto, Considero o apoio ao empreendedorismo um dos maiores capazes de potenciar a avaliação e exploração de resultados. desafios de Portugal. Nesse sentido, tem-se assistido ao desenvolvimento de algumas iniciativas das quais destaco o Contudo, estas Organizações são inovadoras, mas saberão elas Fundo de Capital Semente suportado pelo Fundo SAFPRI para fazer dinheiro com os resultados das inovações geradas? apoiar a criação de novas empresas de base tecnológica. Contudo, na minha opinião, mais importante do que o dinheiro, pelo menos As Organizações mais competitivas são aquelas que conseguem nas fases de criação e desenvolvimento inicial de uma empresa, “saltar” entre o Ciclo de Operação e o Ciclo de Inovação. O é o mentoring por parte de quem já tenha trilhado o mesmo primeiro garante o funcionamento normal da Organização e a caminho, conheça bem o sector de actividade escolhido e saiba relação diária com os seus “stakeholders”, o segundo assegura como potenciar um novo projecto, nomeadamente através da a competitividade da empresa e a diferenciação no mercado. É capacidade de gerar e gerir a inovação. assim importante ter método na gestão do Ciclo de Inovação e garantir uma eficaz e eficiente transição de resultados de Em resumo, são necessárias cinco qualidades para se ser inovação para o Ciclo de Operação. empreendedor. As primeiras quatro, usando como inspiração um sketch dos Gato Fedorento, são: trabalho, trabalho, trabalho Dianova: Como Consultora especializada na promoção e e trabalho. E se só tiverem trabalho, trabalho, trabalho e gestão de projectos de inovação, como definiria um processo trabalho esqueçam empreendedorismo. A quinta qualidade é de gestão de mudança e quais os principais drivers e impli- a inteligência, brilhantemente definida pelo académico italiano cações críticas a observar para um bem sucedido processo? Carlo M. Cippola como, “ a capacidade de criar e distribuir Miguel Sousa: Portugal tem vindo a dar passos interessantes riqueza, de ganhar enquanto se dá a ganhar aos outros”. e promissores de incentivo ao ciclo de inovação e ao estímulo à implementação de processo de mudança nas empresas. Dianova: Como é que alguns gestores são capazes de dar o salto enquanto outros “do mesmo sector, com as mesmas A sistematização de processos de inovação nas empre- oportunidades e recursos semelhantes” não o dão? Ou seja, e sas nacionais pode ser suportada pela norma Portuguesa como refere Jim Collins em Good to Great (2007), “pode uma boa 4457:2007 “Sistema de Gestão da Investigação, Desenvol- empresa tornar-se uma empresa óptima, e, se sim, como?” vimento e Inovação” que permite uma abordagem sis- Miguel Sousa: O salto depende do tamanho do risco de inovar. tematizada e contínua da Gestão da Investigação, 15
  • 16. 16 Desenvolvimento Nessa lógica vão sobreviver apenas aquelas Organizações que e Inovação. O conceito consigam fazer e apresentar soluções no mercado melhores de Inovação é entendido por do que as dos seus concorrentes e para isso vão ter que ser esta Norma com um sentido menos inovadoras. Não há outra alternativa. restrito que o tradicionalmente aceite. Dianova: Que boas práticas preconizaria ou gostaria de ver A inovação de base científica e de origem disseminadas pelas Organizações deste Sector e, natural- tecnológica, normalmente associada à inovação mente, nos restantes? de produtos e processos é ampliada, reconhecendo- Miguel Sousa: Existem incentivos financeiros comunitários que -se agora a inovação organizacional e a inovação de não estão a ser utilizados pelas Organizações portuguesas. A marketing. taxa de participação portuguesa em programas de índole euro- peia é extremamente baixo quando comparado com o potencial Contudo a existência de processos de inovação numa empresa, existente. Estas Organizações deviam receber formação em não garante uma empresa inovadora. A promoção e estímulo como aproveitar estes incentivos, como participar em redes de de uma cultura de inovação é o driver principal para o fomento conhecimento europeias e principalmente como dar dimensão e difusão dos processos de inovação nas Organizações. europeia às boas práticas que temos em Portugal. A INOVA+ surge como facilitador dos processos de inovação, Para além disso, gostava de ver mais empreendedorismo na socie- ajudando a encontrar, seja a nível nacional ou internacional dade portuguesa, nos jovens e nos menos jovens. Para combater o os meios disponíveis, quem é que já está a trabalhar naquela desemprego são precisas mais empresas, e para isso são precisos área, com quem as empresas devem trabalhar, quem são os também mais empreendedores. Temos défice de cultura empre- parceiros ideais, e como encontrar o financiamento certo. endedora em Portugal, e na Europa em geral, sobretudo porque lidamos mal com o risco e com o falhanço, contudo em situações Dianova: De Empresa para Organização Social: como per- de elevado desemprego, como aquela em que nos encontramos cepciona a questão da Sustentabilidade nas Organizações actualmente, é mais fácil arriscar. Mas não podemos pensar que da Economia Social e Solidária? Há diferenças substantivas em épocas de desemprego o empreendedorismo acontecerá au- (para além das óbvias lucrativa vs não-lucrativa, mas não tomaticamente, simplesmente porque os desempregados vão orientada ao prejuízo) na gestão estratégica das diferentes começar a criar empresas. Em alguns casos isso até pode acon- tipologias de Organizações? tecer, contudo é preciso fomentar as condições necessárias para Miguel Sousa: Os drivers de inovação mantêm-se quando passamos construção de uma cultura empreendedora em Portugal. das empresas para as Organizações da economia social e solidária. Economia Solidária é centrada na valorização do ser humano e não Dianova: Empreendedores com consciência social usam o do capital. A inovação social tem que ultrapassar um paradigma seu poder económico (rentabilidade) para criar um mundo que existe em Portugal e na Europa de que em actividades de cariz mais justo e equitativo (fazendo o bem). Numa conjuntura social temos muita dificuldade em expressar palavras como capital, recessiva e de austeridade actual, julga que estão conjuga- capitalismo, retorno de investimentos, investidores, ou, ainda um das as forças para que esta tendência se confirme ou iremos pouco menos, pois já não é tão pejorativo, empreendedorismo. assistir, pelo contrário, a um retrocesso na Responsabili- entrevista com... É preciso tornar os negócios sociais lucrativos tal como são os dade Social das Organizações (como sistema integrado de negócios da economia industrial e não ter problemas em desenhar gestão orientado à sustentabilidade)? planos de negócio que pretendem ser lucrativos. Miguel Sousa: Existem muitos exemplos de modelos de negócio que utilizam princípios de consciência social para Dianova: Considera que esta orientação à Sustentabilidade, comunicar com o seu mercado. Já não estamos a falar de uma como Organização Socialmente Responsável numa óptica de tendência mas sim de uma evidência. As empresas de hoje, que utilização racional de recursos, é contrária à prossecução pretendem estar nos mercados de amanhã, devem incorporar do fim social - cultural, educativo, científico… - destas Or- práticas de consciência social no funcionamento de toda a ganizações? organização da empresa. Miguel Sousa: Pelo contrário, a procura da sustentabilidade deve ser uma missão de todos os actores sociais, económicos e polí- Dianova: Para si, e face ao que observa ou possa conhecer, ticos. Sustentabilidade é a nova buzz-word do século XXI e todo e é afinal a Gestão da Mudança na Economia Social e Solidária qualquer negócio/actividade tem que ter como objectivo principal um mito ou uma revolução? ser sustentável. Temos que acabar com os elefantes brancos. Miguel Sousa: A inovação social é um facto e já é um driver económico. Sectores como o da saúde, tecnologias de Dianova: A actual crise económico-financeira e social é um informação, transportes, entre outros, são bons exemplos da catalisador ou obstáculo à mudança de paradigma de com- revolução que está em curso. portamentos e mentalidades junto dos Decisores e Gestores das Organizações deste e/ou dos restantes sectores (con- siderando o caso das Empresas públicas e das parcerias público-privadas)? Miguel Sousa: Vivemos uma conjuntura económica delicada, onde uma boa gestão dos problemas sociais terá uma importância extrema. No actual contexto, as dificuldades têm que ser transformadas em catalisadores de novos negócios, novos paradigmas e novos actores. Temos que conseguir produzir mais, apresentar dados científicos superiores e em melhores condições que os outros e para isso vamos ter que fazer melhor à custa de centros de conhecimento mais eficientes, melhor tecnologia e melhor Organização.
  • 17. Paulo Silva Pereira entrevista com... Co-fundador da Orange Bird e da PPL Portugal Dianova: A crise fi- forma de trazer de novo à esfera “real” a actividade económica nanceira de 2008, da nossa sociedade. Esse investimento é selectivo e procura assente numa “fa- valorizar um impacto nas pessoas e no meio ambiente, muito lha de regulação, para além dos resultados financeiros positivos. Através de da política macro- critérios rigorosos como estes, conseguimos garantir que a -económica e do actividade financeira fica ligada a iniciativas que possuem um próprio modelo impacto visível e valorizado na e pela sociedade. de funcionamento do sistema de mer- Dianova: Soumitra Dutta, Professor do INSEAD, afirma em cado”, como refere Throwing Sheep in the Boardroom (2009) que os Media Julian Birkinshaw em e Redes Sociais estão a impulsionar para novos Valores, Reinventing Manage- Comportamentos e Expectativas, considerando que são ment (2010), provocou na revolucionários ao desafiarem as convenções actuais acerca da vossa opinião alguma mudança interacção social, do comportamento organizacional, da gestão nos modelos de gestão na actualidade? Como podem as Orga- e da governança, em suma, do Poder. Quais são para vocês os nizações tornar-se mais eficientes, empreendedoras e criativas principais benefícios desta nova arquitectura de colaboração face à sua própria sustentabilidade? social? Paulo Silva Pereira: Existe já uma análise extensa sobre a Paulo Silva Pereira: Esta nova arquitectura de colaboração crise financeira de 2008. Apesar de não sermos a fonte melhor social privilegia a transparência, a exposição e partilha social preparada para opinar, creio que no entanto concordamos que e um espírito “win-win-win” em que qualquer parte envolvida houve um descolar do modelo económico em vigor relativamente ganha e dá a ganhar às outras partes. à realidade vivida. Com uma forte bolha imobiliária e outra de produtos derivados, viveu-se numa economia paralela, virtual Há vários aspectos onde esta colaboração social traz claros e vários níveis acima da realidade. Isto é, transaccionavam-se benefícios. Vamos partilhar apenas um exemplo muito bens, produtos e serviços muito para além da real capacidade ilustrativo no caso do Crowdfunding. Um dos principais riscos financeira das entidades envolvidas e muito para além do real e preocupações com este conceito reside no facto de não haver valor dos bens que estavam na origem desses contratos. garantia de cumprimento de execução de um projecto por parte do seu promotor. Assim sendo, investimos em determinado projecto A grande mudança nos modelos de gestão da actualidade dá-se esperando receber um prémio em troca (seja um bem, serviço, precisamente nessa lógica, de trazer de novo “à terra” todo o meio juros ou participação no capital da empresa) mas não temos económico envolvente. As Organizações sentem hoje necessidade qualquer certeza que este cumprirá com o que se comprometeu. de operarem no mundo muito real em que os investimentos que fazem, as operações que executam e os serviços e produtos que Todavia, a estatística existente desde 2005 do modelo de oferecem têm um impacto real, visível e mensurável. Crowdfunding é bastante reveladora e deve-se, essencialmente, ao efeito de transparência e colaboração que existe nas redes Empreender e inovar é sustentável se trouxer valor acrescentado sociais e nas plataformas comunitárias (como no caso do a todo um meio ambiente e não apenas ao fornecedor ou ao PPL). Aqui a gestão e a governança ao fim de devidamente consumidor. As estratégias tomadas, as decisões corporativas e implementado o conceito ficam a cabo da própria comunidade, toda a acção de uma instituição são hoje determinadas num contexto com resultados surpreendentes. muito mais amplo de acção e influência. A responsabilidade e a cidadania corporativas ganham valor para além das suas utilizações Factos relativos ao risco de incumprimento: cliché e tornam-se factores relevantes na visão e planeamento a • Este research do Deutsche Bank, em 2007, revela já uma médio longo prazo de qualquer Organização. tendência em que o incumprimento é significativamente inferior ao que ocorre na Banca formal. http://www.dbresearch.de/ O modelo de gestão das Organizações é hoje, por isso, um processo PROD/DBR_INTERNET_DE-PROD/PROD0000000000213372.pdf que evoluiu e se tornou mais sofisticado do ponto de vista social e Dizem os entendidos que o facto de existir uma relação pessoal ambiental. As Organizações necessitam apresentar uma proposta com os Bancos (o projectista e o apoiante não se conhecem, de valor não só credível e remuneradora aos seus accionistas mas são anónimos), de haver um interesse mútuo entre apoiante e também às pessoas e ao planeta. O focus em People, Profit and projectista e pelo facto de não haver intermediários, gera este Planet é actualmente uma estratégia fundamental para que uma fenómeno interessante de incumprimentos muito baixos. Organização sustente resultados positivos a prazo. • Outro artigo interessante e relevante: http://www.soloco. co.uk/2011/03/crowdfunding-v-banks-who-can-you-trust/ Dianova: Foi recentemente lançada pela Euclid Network • Uma das plataformas de referência, (www.kiva.org) apregoa European Third Sector Leaders a Taskforce for a uma taxa de incumprimento inferior a 1% “European Social Investment Facility” visando desenvolver • Outras plataformas como a Zopa, Smava, etc, também evidenciam recomendações sobre como a Comissão Europeia pode usar os taxas de incumprimento inferior a 1%. Outro artigo interessante: seus recursos financeiros mais eficientemente para suportar http://investmentinstartups.wordpress.com/crowdfunding-2/ empresas sociais, empreendedorismo social e a economia social na Europa, no âmbito da Estratégia Europeia 2020, do Dianova: Da inteligência emocional, à inteligência colectiva até Acto do Mercado Único e da Social Business Initiative. Como à inteligência colaborativa, o que ganham as Organizações percepcionam o papel do Investimento Social numa conjuntura e a Comunidade numa dinâmica de gestão de capital como a actual e em contraponto à questão anterior? relacional e cultura de cooperação/cooptição? Paulo Silva Pereira: O investimento social é uma importante Paulo Silva Pereira: Daniel Goleman trouxe-nos 17
  • 18. 18 uma revolução no factor limitador de oportunidades. pensamento através • Acção global : o avanço das tecnologias de comunicação deu de “Emotional Intelligence”. azo ao aparecimento de Organizações globais que operam Recentemente trouxe-nos uma a baixo custo. Com a proliferação do acesso à internet, uma nova revolução nesse pensamento, organização global integrada deixa de possuir barreiras desta vez com “Social Intelligence”. Aqui ele geográficas e permite o acesso a novos mercados, ideias e faz uma síntese apurada dos últimos estudos e tecnologia. resultados de pesquisa em biologia e neurociência, revelando que nós estamos todos wired to connect, Algumas ferramentas sociais online, como o crowdfunding, isto é, todos temos um natural circuito de conexão ao reúnem e promovem estes quatro princípios, e por conseguinte, próximo, com um surpreendente impacto profundo das nos- potenciam a cultura de cooperação/coopetição onde a fluidez de sas relações em todos os aspectos do nosso dia-a-dia. recursos e capitais, sem barreiras, traz um valor acrescentado cujo benefício consegue ser auferido por um número muito Ainda de acordo com Don Tapscott e Anthony D. Williams, entre superior de participantes. outros investigadores no campo da Inteligência Colectiva, são necessários quatro princípios para que se extraia o real valor Dianova: Mais do que buzzwords, Cidadania Socialmente desta força: Responsável, Responsabilidade Social Corporativa, • Espírito de abertura – Openness : partilha de ideias e de Inevitabilidade de Transparência (Web 2.0), Ética Social e propriedade intelectual. As Organizações e a comunidade Investimento Social são instrumentos de estratégia de mudança auferem maiores benefícios ao permitirem a partilha de ideias orientados à Sustentabilidade das Organizações e da própria e estas ganham consideravelmente em qualidade, ao se coesão económica e social. Como surge o crowdfunding e como se sujeitarem ao escrutínio comum através de colaboração. pode definir este conceito? • Parceria entre iguais – Peering : existe uma tendência para Paulo Silva Pereira: O crowdfunding consiste em contribuições “achatar” as estruturas das Organizações. Com organizações financeiras de investidores online, patrocinadores ou doadores horizontais (ex: o “abrir” do programa Linux onde qualquer que financiam iniciativas ou entidades com fins lucrativos ou não utilizador tem a liberdade de o modificar e desenvolver desde lucrativos. que o partilhe com todos) a parceria entre iguais é bem sucedida porque promove a auto-organização – o que para certas tarefas Existem três modelos de crowdfunding, todos eles baseados é um estilo de produção que funciona de forma bem mais na solicitação de contribuições financeiras com o intuito de eficiente do que a organização tradicionalmente hierárquica. promover o financiamento de um projecto, ideia ou iniciativa • Partilha : as Organizações hoje já partilham várias ideias e empreendedora. Essa solicitação é feita a um número elevado conceitos, apesar de manterem algum controle sobre outras, de potenciais investidores / patrocinadores / doadores, fazendo como potenciais e críticos direitos de patente. A limitação e uso de redes sociais e seguindo um desses três modelos: ocultação de toda a propriedade intelectual - provou-se - é um 1. Doação, filantropia e/ou patrocínio, onde não existe um retorno entrevista com...
  • 19. entrevista com... financeiro a quem contribui, é gratificado através de prémios nossos projectos de uns biólogos marinhos que pretendem criar criativos e participações no projecto ou ideia em causa; uma empresa oferecem passeios de barco no Sado para ver 2. Empréstimos de pessoas a pessoas, com um retorno financeiro golfinhos como um dos prémios). pré-acordado; 3. Investimento em troca de participação, lucros ou partilha de Uma vez que o projecto esteja activo na plataforma, segue- receitas. -se a fase de divulgar e publicitar o projecto. Não se trata de “pedinchar” ou pedir esmola, trata-se de promover um projecto O segundo e terceiro modelos são hoje questionados em alguns empreendedor pessoal a um conjunto de potenciais investidores. países, por falta de regulamentação e um potencial de alteração de Alguns desses potenciais investidores serão críticos e não regras de alocação de capital. Nos Estados Unidos a Securities and investirão, outros serão parceiros e não só investirão como Exchange Commission (SEC) bloqueou o modelo de investimentos irão eles próprios promover o projecto, pois só se o projecto se em capitais próprios por uma “crowd” enquanto delibera sobre financiar é que esses investidores receberão o seu prémio. a regulamentação. À data de hoje, comenta-se a tendência para a SEC não só permitir estes modelos, como até os promover, A regra de financiamento e custo é transparente. Se o projecto pelos seus benefícios óbvios de incentivo ao empreendedorismo e se financiar na sua totalidade (100%) ou mais dentro do prazo desenvolvimento de projectos que na grande maioria não sairiam estabelecido, o promotor recebe todos os fundos e paga uma do papel de outra forma. Apoiantes de renome como o presidente comissão de 5% ao PPL para que este continue a sua missão de Obama, ou o ex-presidente Bill Clinton, apelam à regulamentação promoção do crowdfunding e do empreendedorismo em Portugal. rápida e à alavancagem destas ferramentas pelo seu potencial claro de promoção do empreendedorismo e emprego na economia. A SEC Se o projecto não se financiar na totalidade dentro do prazo poderá desta forma vir a seguir o exemplo dos governos britânicos previsto, os valores até aí investidos são devolvidos integramente e holandês que já deram passos significativos permitindo os três aos investidores sem qualquer custo para qualquer das partes modelos e no caso holandês criando mesmo um veículo inovador envolvidas. O projecto neste caso acaba por ser rejeitado pelo para a gestão da participação em capitais próprios. público e/ou não se executa ou se re-candidata com um formato diferente. Com o projecto financiado, o promotor recebe os Dianova: Como pode um Empreendedor ou Organização ver fundos, implementa e executa o projecto e entrega os prémios e viabilizada financeiramente a sua Ideia ou Projecto através do recompensas prometidos aos investidores. crowdfunding e especificamente do PPL (www.ppl.com.pt )? Paulo Silva Pereira: O promotor tem uma ideia e concebe um Dianova: A quem se destina e que tipo de projectos são projecto. Para o efeito descreve-o claramente, define o montante passíveis de se candidatar ao PPL? de financiamento que necessita (e que irá necessitar detalhar Paulo Silva Pereira: Qualquer tema de projecto é aceite, sendo também) e o prazo em que deseja financiá-lo (falamos de prazos que os projectos devem ter um cariz empreendedor, alinhados que vão desde os 30 dias aos 120). Um dos factores relevantes aos valores por que se rege a equipa do PPL (ver no site). do conceito de crowdfunding é definir um conjunto de prémios Neste momento já temos projectos activos, representativos de e recompensas que sejam verdadeiramente apelativos. Aqui empreendedorismo e ciência, um negócio online, dois projectos está uma das chaves que definem que projectos se financiam. portugueses de Moçambique, um projecto social, um jogo de Os apoiantes mais próximos do promotor poderão investir tabuleiro, uma aplicação móvel para telemóvel, uma plataforma na própria equipa e simplesmente doarem o dinheiro sem se profissional de vídeo, o CD de uma banda, três projectos de livros preocuparem com a recompensa. O investidor anónimo estará (fotográfico, crianças e de viagens), uma tese universitária e uma necessariamente interessado no prémio que está a comprar. exposição de fotografia. Os projectos podem oferecer prémios relacionados com a Tipicamente trata-se de projectos de financiamento execução do projecto (um livro ou um CD ou uma aplicação móvel) relativamente pequenos, pois o crowdfunding baseado em ou podem oferecer prémios bem criativos e apelativos mas que donativos e prémios normalmente não ultrapassa o não tenham necessariamente que ver com o projecto (um dos valor de 100 mil euros e os que temos actualmente 19
  • 20. 20 não ultrapassam os 10 mil euros cada um. Os critérios de aceitação por parte do PPL são projectos que tenham uma origem fidedigna (alguém que se identifique claramente e que dê mostras do seu comportamento geral (através dos seus perfis online, as suas redes de contactos, o seu CV, associações, etc.), sejam viáveis (com capacidade, conhecimento e vontade de se implementarem), sejam sérios na sua intenção, se coadunem com os valores da equipa PPL e que tenham fortes capacidades de se financiarem (equipa com boa rede de apoio). Dianova: Quais as vossas expectativas relativamente à evolução do www.ppl.com.pt , em que se baseia o vosso modelo de negócio e qual o seu impacto esperado a nível de mudança de mentalidades e comportamentos junto da Sociedade e de potenciais Social Business Angels? Paulo Silva Pereira: O PPL tem um modelo de negócio simples, que cobra uma comissão de 5% a projectos que se financiem a 100% ou mais dentro do prazo estabelecido e que não cobra absolutamente nada caso contrário. Mas o modelo de negócio não se cinge a esta simples fórmula matemática. O potencial do Crowdfunding enquanto plataforma de empreendedorismo e inovação social é claro. As parcerias necessárias para extrairmos todo esse potencial, a criação de uma vasta comunidade interessada e o desenvolver de serviços associados proporciona então um caso interessante de investimento com retorno e elevado impacto na sociedade. comunidade. Quem decide? Nós decidimos, todos quantos revelem interesse em determinados projectos. O PPL somos todos nós. As apresentações que vimos no primeiro evento internacional Para um Social Business Angel esta ferramenta torna-se num de crowdfunding em Portugal, no passado dia 28 de Setembro exercício de validação crítica de uma ideia por parte da sociedade. na Fundação Calouste Gulbenkian, deixaram-nos entender Uma ideia com uma vasta comunidade de apoio por trás que que o modelo de crowdfunding por capitais próprios, em que tenha obtido um voto directo de interesse via investimentos por os promotores de uma ideia ou projecto são empresas que parte desses apoiantes é uma ideia pré-aprovada socialmente entrevista com... oferecem a troco de investimento do público em geral uma parte com impacto positivo garantido à partida. Para além desta dos seus capitais, é o modelo com maior potencial de promoção filtragem, o Crowdfunding é em si um meio ideal para um Social no empreendedorismo em geral. Business Angel operar, conhecendo novos projecto, novas equipas e investindo directamente nestes. O PPL não opera nesta área, dado ela revestir-se de detalhes e requisitos legais que necessitam ainda de um mais aprofundado O PPL, enquanto solução donation based, prioriza o provar do conhecimento antes de se lançar em Portugal. conceito e a criação de uma comunidade de apoio que acredite no potencial desta ferramenta que lhe pertence. Uma eventual No entanto, o PPL na versão actualmente existente, donation evolução pode passar pela oferta de serviços aos promotores de based, possui já os principais atributos que proporcionam projectos (serviços de lançamento e planeamento de projecto, uma mudança de mentalidade abrindo novas janelas a toda a serviços de incubação após financiamento do projecto, etc.), comunidade. Nenhuma entidade que participe neste modelo serviços aos investidores (conta premium com diversas vantagens consegue obter qualquer benefício se as outras entidades a saber em breve) e serviços a parceiros (ex: gestão fechada participantes não obtiverem também (por exemplo: promotor de projectos – financiamento de projectos em comunidade de um projecto, investidor e plataforma PPL). O sucesso de uma fechada, serviços de estabelecimento de plataformas internas destas entidades é tanto maior quanto essa entidade promover semelhantes), lançamento de plataformas especializadas (ex: as outras envolvidas. Ou seja, o espírito de colaboração não é aqui Crowdfunding especialmente dedicado ao financiamento de apenas um factor desejável. Ele é um factor crítico de sucesso. bolsas para estudantes carenciados, etc.). Este espírito de colaboração, a total transparência do processo Vemos ainda o PPL evoluir para conceitos mais avançados de (qualquer projecto ou processo de financiamento é visível por crowdfunding em que por exemplo, os investidores poderão uma enorme comunidade e escrutinado por todos, levando a contribuir não apenas com dinheiro mas possivelmente com um elevar dos níveis de qualidade e decréscimo de um potencial competências, trabalho ou outros recursos (ex: divulgação). incumprimento) e o factor “ganho se todos ganharem” são ingredientes para a implementação, adaptação, exploração e Uma das mais-valias desta ferramenta consiste na educação crescimento de todo este conceito em Portugal, juntamente com financeira que proporciona aos seus utilizadores. Apesar de se uma nova mentalidade inovadora, empreendedora e colaboradora. tratar de um processo simples e transparente, o lançamento de um projecto no PPL segue os mesmos passos de um Assistimos a uma democratização da decisão de investimento empreendedor sofisticado (para que servirá o dinheiro? Que e ao lançamento de projectos vindos da comunidade e para a problema irá resolver? O que ganha um investidor? Como
  • 21. posso confiar? Etc.). Mais interessante ainda seria instituir esta Ambos os conceitos são extremamente relevantes para a nossa entrevista com... educação financeira nos nossos programas educativos. Porque sociedade mas servem propósitos distintos com impactos não termos como obrigatório o lançamento bem sucedido de também distintos. um projecto em plataforma de crowdfunding no programa do ensino secundário para alunos do 10º ao 12º ano? Porque não Dianova: Tendo acabado (a 13 de Setembro) de ser publicado nas universidades de Gestão, Economia e não só? Porque não o 1º Relatório de Avaliação do Memorando de Entendimento nos programas avançados de gestão para executivos onde se com a Troika sobre as medidas de austeridade que estão lecciona empreendedorismo teórico? a ser postas em prática em Portugal, e face aos mais de 1 mil milhões de Euros que terão que ser cobertos em 2012 Dianova: Existindo a Bolsa de Valores Sociais em Lisboa, o PPL afectando directamente os contribuintes e a sua disponibilidade assume-se como um projecto de captação de investimento financeira, prevêem dificuldades ou constrangimentos a este concorrente ou complementar? Quais as principais diferenças modelo de captação de investimento nos próximos 2 anos? entre ambas as plataformas? Paulo Silva Pereira: Vivemos tempos desafiantes que nos Paulo Silva Pereira: A Bolsa de Valores Sociais (BVS) satisfaz afectam a todos. As medidas de austeridade visam criar uma necessidade semelhante no promotor, que é a angariação austeridade financeira no nosso próprio comportamento, para de fundos. No entanto, os projectos nesta Bolsa necessitam que se promova um gasto inteligente (leia-se com cuidada ter um cariz social e com impacto comunitário que permitirá à percepção do impacto do gasto) e um angariar de poupanças por Organização aceitar ou não a candidatura do projecto. Para quem parte da população em geral. Enfrentamos tempos de escassez investe, a BVS oferece a realização pessoal de ter contribuído de liquidez e em que cada euro terá um significado acrescido para algo relevante para a sociedade e para o bem comum. quando sair das nossas carteiras. O PPL satisfaz a mesma necessidade de angariação de fundos Nos próximos 2 anos, estes desafios tornar-se-ão mais evidentes por parte do promotor. Contudo, os projectos lançados no PPL, e afectar-nos-ão directamente a todos. tipicamente, não terão um cariz social. Terão um cariz mais empreendedor e mesmo capitalista (vou lançar o meu livro, No entanto, sabemos que o país não vai acabar agora. vou fazer uma festa, vou montar uma empresa, vou montar Não estamos a preparar a cerimónia fúnebre de Portugal. uma plataforma digital, etc.) necessitando, no entanto, de estar Historicamente até passámos por momentos bem mais próximos alinhados aos valores por que se rege a equipa do PPL (ver dessa cerimónia, e sempre soubemos correr com essa nuvem no site). O investidor num projecto do PPL, particularmente negra a rolo da massa. estará a comprar uma recompensa para além de apoiar uma equipa em que acredita, um projecto aliciante e uma acção de Muitos amigos e colegas emigram, compreensivelmente, à empreendedorismo de cariz social ou não. procura de estabilidade e reconhecimento que não encontram por cá. Quem opta por estar neste país, hoje sabe que apenas existe uma forma de o fazer... ser parte da solução! Já não existe o status quo do emprego e salário garantido e um planear antecipado de férias e tempos de lazer. Hoje, há que sair da rotina, procurar soluções e esforçar-se por encontrar formas de abrir os horizontes às nossas e futuras gerações. Urge encontrar soluções e apoiar quem as procura por forma também a que um dia esses nossos amigos emigrantes regressem com conhecimentos e energia acrescidas para continuarmos a viver bem e melhor. Em Portugal há uma qualidade de vida intrínseca que não é valorizada pelas dificuldades que atravessamos noutros aspectos. Não conseguimos dar o devido valor à segurança relativa que ainda existe, ao tempo e aos valores sociais, familiares e comunitários que possuímos. Portugal é um país pleno de ideias, inovação e conhecimento e capacidade para as implementar. Ao mudarmos a nossa mentalidade ar- riscamo-nos a ter condições de evoluir e estar na vanguarda de um novo conceito de bem-estar. Este conceito dá primazia a valores importantes em que Portugal possui uma balança favoravelmente dese- quilibrada e menos relevância à riqueza extrema ou a números económicos que nem sempre conseguem medir o índice de felicidade. 21
  • 22. 22 Não é por acaso que terão mais capacidade de se financiarem necessitarão que Portugal é dos de oferecer algo mais à sociedade do que o simples prazer ou países mais procurados benefício de um pequeno grupo de indivíduos. pela comunidade europeia de re- formados. A promoção do empreendedorismo e a inovação social é um elemento com claro potencial nesta ferramenta. Os investidores Que mentalidade necessitamos de mudar? individuais ou institucionais que procuram onde fazer a diferença Contavam-nos esta anedota um dia: um cliente têm agora um canal privilegiado de validação desse potencial entrou numa farmácia chinesa e encontrou vários impacto. Fazem-no através do conhecimento de novas e boiões com lagartos vivos lá dentro. Viu um boião que dizia inovadoras ideias que vêm directamente da comunidade e “perigo, lagartos perigosos” e que não tinha tampa. Perguntou para a comunidade, a troco de recompensas que mostram um apreensivo ao farmacêutico se não era perigoso ter aquele boião compromisso do projecto para quem aposta em si. aberto. Ao que ele respondeu, acalmando-o, que não, não seria perigoso visto tratarem-se de lagartos portugueses. De cada vez Dianova: Por último, mas não menos importante, para vocês é que um tentava sair do boião os outros dois encarregavam-se de afinal a Gestão da Mudança na Economia Social e Solidária um o puxar para baixo. mito ou uma revolução? Paulo Silva Pereira: Por tudo o que foi exposto na nossa conversa, Necessitamos de nos promover mutuamente, apoiarmo-nos cremos que a Gestão da Mudança na Economia Social e Solidária de forma colaborativa e alavancarmos as nossas virtudes e encontra no PPL uma ferramenta importante que pode apoiar capacidades que juntas corresponderão sempre mais do que à uma mudança de mentalidade, e contribuir para uma revolução soma individual das partes. na forma de pensar a economia social. Não é por acaso que desde a ocorrência da crise financeira em 2008, mais de 180 Nos tempos de austeridade que vivemos, vemos o PPL e o bancos fecharam portas, internacionalmente, mas os bancos crowdfunding em Portugal como uma oportunidade importante sociais, com especial prevalência na Europa, cresceram a ritmos para os investidores canalizarem o pouco das suas poupanças superiores a 30%. Assistimos a uma viragem de pensamento, o para projectos com impacto social visível e que ofereçam um “cada um por si” e o “mais melhor que menos” provaram não retorno em forma de prémio que seja apelativo ao investidor. ser sustentáveis. Somos seres inteligentes, apesar de tudo, De facto, sentimos o nosso cinto a apertar. Mas continuamos a podemos não saber ao certo por onde ir, mas sabemos bem por ter uma pequena disponibilidade para apoiar aqueles biólogos onde não ir. marinhos que têm um pedido de patente global e que são portugueses, em troca de uma visita em mar alto à execução À semelhança da Greenpeace nos anos 80, que ajudou a lançar um do seu protótipo. Alternativamente também podemos comprar novo movimento ambientalista e de atenção para com o planeta, um livro de histórias para crianças para oferecer este Natal. Este vivemos hoje em tempo de necessidade de um novo movimento. é escrito por uma autora portuguesa e ilustrado por um artista Um movimento que alguns já apelidam de Financepeace. moçambicano. Acresce que este livro tem uma componente social importante visto que será distribuído e lido em várias É bom vivermos em tempos inovadores como estes em que os entrevista com... escolas de bairros pobres de Maputo. canais de comunicação e transferência de capitais e riqueza sofrem transformações abruptas com o potencial de melhorar Os promotores de projectos rapidamente irão perceber, também, significativamente a capacidade de gerar bem-estar de toda uma que em tempos de maiores desafios como os actuais, os projectos comunidade ou multidão. Carpe diem! Fig. 1 - Equipa PPL Portugal
  • 23. Patrícia Boura entrevista com... Vice-Presidente da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) Dianova: Em Por- -me também um pilar importante neste desenho, que está aliás tugal, os especia- previsto na Lei de bases. listas continuam sem chegar a Dianova: Como Vice-Presidente da CASES, quais os principais um consenso constrangimentos ou barreiras que as Organização da terminológico Economia Social e Solidária enfrentam a nível da sua Gestão? sobre o Sector Como escolher o melhor modelo de gestão para uma dada dito não-lucra- situação? tivo: Terceiro Patrícia Boura: Esse é um tema que também não é consensual. Sector, Economia Também não creio que a CASES deva conduzir as Organizações Social e Solidária, num ou noutro sentido. Cada qual deverá encontrar o seu Sociedade Civil... Na caminho. De qualquer forma, do meu ponto de vista pessoal, o sua opinião, qual a desi- melhor modelo seria aquele que conseguisse conciliar o melhor gnação que melhor caracte- dos dois mundos. Ou seja, conseguir trazer eficiência e eficácia às riza este Sector e quais as suas principais implicações? A Organizações baseadas numa gestão democrática, participada, e própria denominação Organização Sem Fins Lucrativos con- com objectivos bem claros para que todos trabalhem no sentido tinua a fazer sentido à luz actual do conhecimento e da con- de um objectivo comum. juntura económico-social? Qual a designação que considera mais apropriada ao desafio atual da Sustentabilidade a que Dianova: Existe a percepção de que uma real e efectiva cultura também estas Organizações estão sujeitas? de cooperação e de colaboração é incipiente em Portugal, sobretudo num sector tão escasso em recursos e competências Patrícia Boura: Nas Conferências de Economia Social que como o da Economia Social e Solidária. A que se esta exiguidade fizemos na semana de 12 a 16 de Setembro, esse foi obviamente de “solidariedade” inter-organizacional e inter-sectorial? um dos temas abordados e foram apresentadas varias versões Patrícia Boura: Em primeiro lugar porque o sector até há muito terminológicas que continuam em aberto. É muito interessante pouco tempo nem se conhecia. Esse foi um dos primeiros a discussão teórica à volta do assunto, sob o ponto de vista desafios da CASES. Promover o reconhecimento dos parceiros académico, mas do ponto de vista da prática, se o consenso for neste sector. Não imaginava que actores no mesmo terreno à volta da não exclusão de nenhuma das formas de economia pudessem ser perfeitos desconhecidos e não trabalhassem em social e solidária, mas sim da sua inclusão, parece-me que não rede, mas de facto, era uma realidade. há grande problema, seja qual for a denominação escolhida. Depois, com efeito, não existe uma cultura de trabalho em A Europa e as suas instituições designam o sector por Economia rede que tem que ser estimulada, promovida e premiada, Social, embora do ponto de vista académico esse nem seja o principalmente em momentos em que os recursos escasseiam. melhor conceito para a definir, uma vez que historicamente Este sector tem de dar o exemplo na partilha de recursos, representa uma grande dependência face ao Estado e o que se trabalho em rede, e solidariedade institucional. pretende é uma autonomia e uma relação de parceria e não de subserviência ou de subsidiodependência. Dianova: Herman & Rentz, no artigo “Nonprofit Organizational Effectiveness: contrasts between especially effective and De qualquer forma, existem vários grupos a trabalhar essa less effective organizations” (1998) Nonprofit Management questão. Aguardemos. and Leadership, afirmam que um dos factores distintivos de uma Organização Não-Lucrativa mais eficaz é um maior Dianova: Lançado no início deste ano, o CNES – Conselho uso de procedimentos correctos de gestão (avaliação de nacional para a Economia Social prevê um estudo a desenvolver necessidades, planeamento estratégico, mensuração de pelo Grupo de Trabalho para a Reforma Legislativa do satisfação). Como percepciona a questão da Sustentabilidade Sector da Economia Social e Solidária, Presidido pelo Prof. nas Organizações da Economia Social e Solidária? Rui Namorado, da Faculdade de Economia da Universidade Patrícia Boura: Concordo em absoluto. Parece-me fundamental de Coimbra. Peça angular para o Sector, quais são na sua para a sustentabilidade das Organizações que estas atentem opinião os principais eixos que o novo enquadramento legal à sua organização, enquanto um todo e não apenas com a deve promover? preocupação central na sua missão, porque isso não existe. Patrícia Boura: Deve, antes de mais, trazer aos dias de hoje aquilo que está legislado. A legislação deste sector é anacrónica É óbvio que a missão e o objecto social da Organização é aquilo e dispersa. Penso que seria muito útil uma actualização da que move a gestão, mas precisamente por isso, todos os outros legislação família a família (associações, cooperativas, fundações, “departamentos” devem funcionar eficientemente para que a misericórdias, etc.) como está a ser desenvolvida nesse grupo de missão se cumpra. trabalho, e por outro lado uma “lei chapéu” que as enquadre e lhes dê força. De que adianta fazer um excelente trabalho social com crianças desfavorecidas se estiver em risco a continuidade da minha A Lei de Bases da Economia Social foi já aprovada na generalidade e Organização por falta de recursos e eu tiver que fechar portas, vai agora ser discutida na sua especificidade. Espero que se consiga amanhã? Nós somos o que fazemos pelo que de nada me adianta um consenso de todos os partidos políticos à volta do tema. ser excelente se não o puder praticar. Reconhecer a inovação neste sector parece-me primordial, pelo Dianova: Considera que esta orientação à que o reconhecimento legislativo das empresas sociais parece- Sustentabilidade, como Organização Socialmente 23
  • 24. 24 Responsável numa caminhos e tiver a capacidade de se reinventar todos os dias. É óptica de utilização valido para os outros sectores e é valido para este. racional de recursos, é contrária à prossecução do fim Dianova: Que boas práticas preconizaria ou gostaria de ver social (cultural, educativo, científico…) disseminadas pelas Organizações deste Sector, sobretudo destas Organizações? numa conjuntura actual de crise económica e financeira? Patrícia Boura: Muito pelo contrário. É Patrícia Boura: Verdadeiro trabalho em rede, estudos de impacto fundamental à sua sobrevivência tal como acima reais, trabalho com o utente e não para o utente, real capacitação exemplifiquei. do utente, eficácia e eficiência na gestão, procura de caminhos para a inovação e o empreendedorismo sociais, parceria com o Dianova: A actual crise económico-financeira e social é um Estado e não dependência do Estado. catalisador ou obstáculo à mudança de paradigma de com- portamentos e mentalidades junto dos Decisores e Gestores Dianova: Para si, é afinal a Gestão da Mudança na Economia das Organizações deste sector? Social e Solidária um mito ou uma revolução? Patrícia Boura: Pode ser sempre as duas coisas, mas no fim, Patrícia Boura: Terá que ser uma realidade a muito curto prazo só ficará quem tiver a capacidade de mudar e de se adaptar à sob pena de não cumprir aquilo a que se propõe. Contribuir para nova realidade e às novas circunstâncias. Quem encontrar novos um melhor desenvolvimento socioeconómico do país. Lino Maia Presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) Dianova: Em Por- envolvidas a curto e médio prazo para todas as partes, para que o tugal, os especia- conflito, potencial ou aberto, possa ser antecipado e gerido. listas continuam sem chegar a um Dianova: As Organizações estagnadas que persistam em consenso termi- paradigmas conservadores e obsoletos poderão oferecer nológico sobre o uma maior resistência à mudança? Quais as principais Sector dito não-lu- implicações e desvantagens desta resistência? crativo (mas não orien- Lino Maia: Num processo de gestão da mudança, um dos tado ao prejuízo): Terceiro maiores desafios está em permitir, e potenciar, a mudança Sector, Economia Social e nas várias partes do sistema (organização) envolvendo todas as Solidária, Sociedade Civil... Na sua pessoas, mas sem permitir a perda de identidade e, talvez mais entrevista com... opinião, qual a designação que melhor caracteriza este Sector e importante, a identificação plena dos colaboradores com a Missão quais as suas principais implicações? da Organização. Este factor, a identificação dos colaboradores de Lino Maia: Há três grandes “famílias” não-lucrativas: o uma Organização sem fins lucrativos com a Missão desta, parece cooperativismo, o mutualismo e a solidariedade social. O que ser um dos que, de forma mais intensa, permite compreender a caracteriza a família da solidariedade social é a congregação de persistência da ligação entre colaborador e Organização. esforços e de contributos em favor de outros, privilegiadamente os mais carenciados, e não em benefício próprio. Desde sempre Principalmente num meio em que as condições laborais me tenho batido pela designação de Sector Solidário. oferecidas são muitas vezes precárias e menos atraentes, quando comparadas com as condições laborais numa organização Dianova: Assiste-se hoje a uma erosão ou anomia de valores. empresarial com fins lucrativos. A resistência à mudança, por seu Os princípios éticos que conformam as nossas decisões lado, é natural e humana. Numa Organização em que a estrutura individuais e organizacionais carecem de uma imperativa é, antes de tudo o resto, humana também e orientada para servir reeducação e formação societal que molde novas atitudes de as necessidades humanas, a resistência deve ser esperada e dignidade humana ante o capitalismo selvagem de lucro fácil trabalhada. Parte desta resistência parece também advir da e imediato a qualquer custo? forte identificação dos colaboradores com a Organização e sua Lino Maia: Diria que a economia (ordenamento na casa) deve Missão, com o facto de sentirem as características do trabalho ser caracterizada pela procura e harmonização do que é belo, que desempenham como suas e, essencialmente, da dificuldade bem e bom. Para todos. Talvez isso esteja um pouco esquecido e em separar o desempenho técnico e profissional do envolvimento importa ser retomado. emocional que muitas destas funções implicam necessariamente. Numa Organização sem fins lucrativos, como uma I.P.S.S., Dianova: Gestão de mudança implica necessariamente uma o desempenho profissional implica muitas vezes ser gestão de conflito? envolvido emocionalmente, pelo que a mudança num padrão Lino Maia: Na medida em que mudança significa alterar a ordem comportamental imbuído de vários padrões emocionais é, previamente estabelecida, ordem essa que resultou de sucessivos certamente, tarefa complexa. Não é, no entanto, impossível. É reajustes numa estrutura, sobretudo humana, a gestão dessa até necessária, se as Organizações sem fins lucrativos querem mudança não pode deixar de ter em conta que serão necessários caminhar no sentido da sustentabilidade. novos reajustes. Independentemente da natureza ou da dimensão desses acertos, diferentes perspectivas serão encontradas e, Dianova: Que competências e procedimentos são necessários consequentemente, vantagens e desvantagens destas novas para uma gestão cada vez mais eficiente e eficaz na Economia perspectivas serão visíveis a curto, médio e longo prazo. Na gestão da Social? mudança interessa compreender quais as vantagens e desvantagens Lino Maia: Realçaria nesta resposta as questões relacionadas com
  • 25. entrevista com... a gestão eficaz (mais do que eficiente na maior parte dos casos) do Lino Maia: Penso que é sempre necessário vender a mudança a improviso e da reacção a situações inesperadas, especialmente quem dela faz parte. Talvez prefira chamar-lhe argumentação, porque, muitas vezes, estas Organizações trabalham com situações- mas a venda dos argumentos é sempre necessária, isto porque -limite. Ora, para gerir eficazmente o improviso é necessário que não há certezas à partida de que a mudança trará melhores as Organizações se orientem para a eficiência, isto é, para uma condições do que as actuais. Especialmente num meio gestão de recursos (humanos e físicos) que tenha como princípios socioeconómico tão conturbado como o que se vive actualmente. orientadores obter os melhores resultados (qualidade) com o menor Deve também partir-se do princípio de que a mudança tem como desperdício de recursos (gestão orçamental). ponto inicial a definição clara da situação actual e da desejada com o processo de mudança. Esta informação deve ser clara O controlo de indicadores financeiros é de grande importância neste para todos os envolvidos. sector, orientado para a não lucratividade mas, como referiam na primeira pergunta, que não orientado para o prejuízo. Trata-se de Se os objectivos com o processo de mudança estão largos passos assegurar que há competências de gestão na Organização. à frente da situação desejável definida à partida, então um de dois erros pode estar a acontecer: ou a situação desejável não é Dianova: Como gerir a mudança em harmonia com os valores ambiciosa o suficiente para o processo de mudança que se quer internos de uma Organização? implementar e a Organização tem capacidade para mais ainda; Lino Maia: Mais uma vez trabalhando a Missão e a forma como ou a definição de metas com a mudança está muito para além do cada colaborador desta Organização não lucrativa a vê e traduz. que a organização sustenta actualmente e a médio prazo. Seja A Missão destas Organizações deve estar plenamente espelhada como for, a mudança parece comprometida à partida. Trata-se e clara para quem nelas trabalha. A forma como essa Missão de definir metas claras para todos, se possível, traduzíveis em é traduzida pode, e deve, ser adaptada aos recursos que a comportamentos e indicadores visíveis. Organização tem e que estão em permanente mudança. Um dos exemplos que se pode dar nesta área é a utilização das novas Dianova: Existe uma grande susceptibilidade entre a tecnologias de informação e comunicação e o papel que têm de mudança pessoal e corporativa e o conflito de interesses aproximar utentes das Organizações que lhes prestam apoio, entre Organizações e funções incompatíveis? mais do que os espartilhar em espaços isolados. Lino Maia: Nem todas as Organizações, como nem todas as pessoas dentro das Organizações, têm como princípio norteador Os valores que a Organização defende devem ser tidos em e balizador o sentido ético. consideração desde o momento da sua formação, criação, selecção e recrutamento de equipa de trabalho. Se se tomar em Dianova: O apoio visível da alta direcção é fundamental para consideração de que na criação de uma Organização sem fins superar a resistência à mudança? lucrativos o que está na sua base é um movimento da sociedade Lino Maia: Parece claro que sim. A Direcção de uma Organização civil, e que as pessoas que compõem a sua equipa de trabalho, sem fins lucrativos é composta por elementos da sociedade e actual e futura, fazem parte da comunidade de onde surgiu esse da comunidade em que a Organização está inserida. Se falamos movimento, é de esperar que as pessoas sintam a Organização de mudança nestas Organizações falamos em assegurar que como sua também e, consequentemente, conheçam os seus a Missão é a mesma, mas a forma como se desenvolvem as valores, idealmente que os defendam. Acima de tudo, trata-se da ferramentas para a traduzir é o que tem que ser adaptado. capacidade de envolver pessoas numa orientação comum, pelo Temos que ter a garantia de que quem gere esta mudança, que as duas ferramentas principais em qualquer processo de conhece bem a Missão da Organização e simultaneamente a mudança, e nestas Organizações ainda mais, são o envolvimento comunidade em que se insere e para a qual está orientada. A e participação das pessoas envolvidas na mudança. resistência à mudança pode ser minimizada quando há confiança e parece-me que também é disso que se fala na direcção destas Dianova: Cerca de 70% dos Projectos de Mudança Organizações. Organizacional não são bem sucedidos. Num contexto de “negócio” volátil, a necessidade de adaptação e estabilidade Dianova: Para si, é afinal a Gestão da Mudança na Economia pode esbarrar nesta estimativa? Social e Solidária um mito ou uma revolução? Lino Maia: Julgo já ter aludido à necessidade de envolvimento Lino Maia: Uma achega: a gestão da mudança organizacional intenso que há na gestão da mudança nas questões anteriores. na economia social e solidária parece-me que está a acontecer A volatilidade do negócio não parece ser o factor que mais desde sempre como em qualquer dimensão organizacional, condiciona um processo de mudança organizacional, ainda mais lucrativa ou não. Trata-se de estruturas humanas, elos que unem porque não é maior do que a que se regista em muitas outras pessoas no desempenho das suas funções, já de si orientadas áreas de negócio lucrativo. para as necessidades humanas. A forma como a sociedade vê as Organizações sem fins lucrativos muda naturalmente com a Dianova: Muitas vezes, é necessário “vender” a mudança massa humana que a molda. Pode acontecer que, enquanto para as pessoas como forma de acelerar o «acordo» e estamos a decidir se é precisa, ou possível, uma revolução implementação. Pode ocorrer que muitas vezes essa nestas Organizações, esta revolução esteja já a mudança esteja largos passos à frente do desejável? acontecer. 25
  • 26. 26 José Manuel Costa Presidente do Grupo GCI Dianova: Quando ciclos económicos. fundou a agência Ainda assim, ela é mais necessária, precisamente, em fases GCI com 29 anos, como aquela em que nos encontramos. Portugal tem um numa época em problema complexo para o curto e médio prazo. De acordo com que a comunica- dados do INE, ainda referentes a 2010, mais de quatro milhões ção profissional e de portugueses estariam em risco de pobreza sem as pensões de massas ainda era de reforma e transferências sociais do Estado. um pouco rudimentar em Portugal, já tinha alguma Mesmo com estes apoios, um em cada cinco portugueses já noção do impacto que a responsa- está no limiar da pobreza, há distritos inteiros em situações de bilidade social teria nas empresas? falência económica e social. Combater a pobreza e melhorar José Manuel Costa: Sim, mas de uma forma ainda muito a inclusão social são, provavelmente, os mais importantes superficial. Estávamos no início dos anos 90 e o mercado da desafios das últimas décadas para as empresas, sociedade consultoria em comunicação estava a dar os primeiros passos civil e governantes, pelo que as estratégias de responsabilidade em Portugal. Então, as consultoras de comunicação eram menos social não podem, pura e simplesmente, ser ignoradas. Dito parceiras e mais fornecedoras, o que colocava alguns entraves isto – e respondendo directamente à sua pergunta: sim, há à forma como trabalhávamos com competências ligadas aos margem para melhorar e sim, a inovação, empreendedorismo recursos humanos, comunicação interna e externa, políticas de e sustentabilidade são factores inegáveis para a sobrevivência sustentabilidade ou responsabilidade social. competitiva de uma Organização. Hoje somos parte integrante das equipas de marketing, Poderia dar-lhe vários exemplos de empresas que já perceberam trabalhando com os vários departamentos do cliente numa isto há alguns anos, mas posso referir-lhe, por exemplo – e estratégia cada vez mais integrada e interligada de comunicação. porque é um caso internacional – o da Wal-Mart. Esta empresa Isso dá-nos uma outra visão, por exemplo, dos temas ligados à norte-americana percebeu, em 2004, que a sustentabilidade sustentabilidade e responsabilidade social. não era apenas imprescindível para o seu futuro, como seria um poderoso aliado de negócios, por exemplo, para eliminar Dianova: De que forma é que a responsabilidade, o custos desnecessários. A Wal-Mart está a criar um novo nível de empreendedorismo e o sentido cívico da sua equipa de trabalho competitividade baseado na sustentabilidade, e isso dar-lhe-á os influenciou os destinos da GCI? respectivos frutos em termos de negócio, hoje e amanhã. José Manuel Costa: É uma excelente pergunta e que poderá entrevista com... resumir o crescimento da GCI nos seus primeiros anos. Sempre Dianova: Segundo dados apresentados no estudo “Citizens fiz questão de liderar uma consultora de profissionais que não Engage. Good Purpose Study 2010” da Edelman, “86% dos estão acomodados. Somos uma consultora que procura sempre consumidores globais acreditam que os negócios precisam outros desafios, que incentiva os seus – os nossos – colaboradores de colocar pelo menos o mesmo peso dos interesses das a sair constantemente da sua zona de conforto, para que empresas, em igualdade com os interesses da sociedade”. cheguem a novas respostas e soluções. Creio que esta é uma das Emergindo como uma tendência galopante, acredita que o características que mais nos diferencia das nossas concorrentes. repto está lançado José Manuel Costa: Sim, esta é uma tendência que tem vindo Em 1994, fundei a GCI como resultado daquilo que aprendi na a crescer e já não voltará atrás. Há uma outra tendência minha vida profissional e pessoal, até então. Lutei para que a interessante: este crescimento global das boas causas está irreverência fosse um dos valores da GCI e continuo a lutar, todos a ser liderado por economias em desenvolvimento. O último os dias, para que esta atitude não se desvaneça. Creio que na GCI “Good Purpose”, estudo que acabou de citar, diz que a China continuamos a ser irreverentes e inovadores, apesar das várias lidera, globalmente, as boas causas. Isto quer dizer que os gerações de grandes profissionais que por cá já passaram. consumidores chineses têm mais hipóteses de comprar marcas que apoiem boas causa que outros consumidores. Sendo também um curioso por natureza, é normal que o empreendedorismo seja, a par do sentido cívico, um dos atributos No Brasil e no México, por exemplo, 8 em cada 10 consumidores da GCI. Atributos esses que quero preservar. afirmou que compraria um produto de uma empresa que suporte as boas causas, em comparação com pouco mais de metade Dianova: Os conceitos de inovação, empreendedorismo e (54%) dos consumidores das maiores economias ocidentais. sustentabilidade são factores inegáveis para a sobrevivência competitiva de uma Organização. Existe margem de Estes números asseguram-nos que a responsabilidade social terá progressão suficiente no tecido empresarial português para de ser levada a sério pelas empresas. Em último caso, por próprias encetar esta atitude? preocupações de negócio. Ainda citando o “Good Purpose”: 62% José Manuel Costa: Eu sou um optimista nato e um eterno dos inquiridos do estudo diz-se disposto a trocar uma marca que insatisfeito, por isso acredito que podemos fazer sempre melhor. não apoia uma boa causa por uma que apoie uma boa causa. Já Muitas vezes, associam-se as estratégias de responsabilidade pensou no que isto significa no actual contexto económico? social e sustentabilidade aos ciclos económicos. Eu acho que a aposta em estratégias de sustentabilidade e responsabilidade Dianova: Os assuntos globais são preocupações locais. Esta social não pode – ou melhor, não deve – estar dependente de afirmação pressupõe um imperativo no rumo e na estratégia
  • 27. social das empresas? José Manuel Costa: Sim, concordo com esta ideia. Julgo, porém, entrevista com... José Manuel Costa: As empresas não são todas iguais, mas a que as empresas poderão também ter um papel importante no verdade é que assuntos globais – como as alterações climáticas, cumprimento da função social das Organizações do Terceiro nutrição sustentável, sustentabilidade, aquecimento global, inclusão Sector, trabalhando com estas. Um exemplo: a GCI desenvolveu social ou ética e transparência – são cada vez mais preocupações um projecto para a Delta, o “Tempo para Dar”, que criou uma locais. onda de solidariedade única em todo o país. Partindo da falência do sistema social e do problema da solidão nos idosos, o “Tempo Acredito também que, para as empresas, estes assuntos tornam- para Dar” foi um conceito de voluntariado que permitiu à Delta -se ainda mais pertinentes pela expectativa dos consumidores devolver um pouco do que a sociedade lhe deu. E envolve face à sua responsabilidade social e compromisso para com empresas e consumidores, unindo-os num objectivo comum. os temas sociais. E hoje já não é possível pegar no cheque e limitarmo-nos a atribuir donativos, é necessário que as empresas Quando contactámos pela primeira vez a “Coração Amarelo”, integrem as boas causas no seu negócio do dia-a-dia. E aqui a instituição apoiada, esta tinha 27 voluntários. Quatro meses estamos a falar de negócio. É um pouco como as empresas que, depois, com o projecto “Tempo para Dar”, a instituição tinha ao integrarem as estratégias de sustentabilidade no seu dia-a- já 170 voluntários. Estamos a falar de pessoas que dão apoio -dia, conseguem poupar dinheiro. É um ciclo virtuoso. domiciliário e acompanham idosos que sofrem de solidão. Este tema – o da solidão na terceira idade – é um dos temas que ganhará uma especial relevância nos próximos anos, sobretudo na Europa. É um problema cultural português, ao qual a Delta está atenta. E um excelente exemplo do que as empresas podem fazer numa altura como esta, de forma criativa e competente. Dianova: Gestão de mudança implica necessariamente uma gestão de conflito? O que é para si gestão de mudança? José Manuel Costa: Eu prefiro falar de mudança de mentalidades, porque qualquer mudança terá de juntar todos os stakeholders, ter em conta a criação de pontes entre os sectores público e privado, a sociedade civil e a comunidade, numa lógica de promoção de interesses mútuos. Isto é aquilo a que, na GCI e na rede Edelman, chamamos de Public Engagement. Há uns meses, Richard Edelman, o CEO da Edelman, rede na qual a GCI é afiliada, esteve em Dallas, no Texas. No seu blog, o executivo revelou que conseguia ver uma evolução na mentalidade dos texanos – o que o surpreendeu. Hoje, Dallas já não é uma cidade de pistoleiros de forte personalidade, mas de empreendedores, ambiciosos e determinados, cidadãos que pensam globalmente, envolvem-se com a comunidade e Dianova: Existirá uma necessidade real de mudança, face à abraçam a diversidade cultural. Edelman diz que, no Texas, condição/perspectivas de futuro da Economia Social. Por outras há apenas a mudar a mentalidade no que toca à mobilidade palavras, a repercussão da actividade destas entidades terá de sustentável. O texano continua a olhar para o automóvel como se estabelecer através de uma nova gestão de mudança? o centro do mundo e, aliás, parece ser incentivado a fazê-lo, a José Manuel Costa: Creio que sim, e julgo que os recentes julgar pelo combustível barato e estacionamento grátis – apenas tumultos de Londres, por exemplo, são um bom exemplo desta 4% do total da população utiliza os transportes públicos. mudança. Na minha opinião, esta crise internacional económica e política era previsível – e vai além da crise da dívida. Era previsível E o que fazem as autoridades de Dallas para mudar esta situação? porque os países mais ricos e desenvolvidos chegaram a uma Constroem a maior linha de metro ligeiro de todos os Estados fase em que, pura e simplesmente, não conseguem aumentar Unidos – 115 quilómetros. As autoridades metropolitanas o nível de vida dos seus cidadãos, estão reféns de um sistema acreditam que demorará uma geração a tirar os cidadãos dos económico que está descontrolado. carros e colocá-los no metro ou outros transportes públicos. Uma geração – para tamanho desafio – não me parece muito. Esta é uma crise mais complexa do que a simples crise A quem interessa esta mudança? A começar, às empresas. Mas de valores, e que nos vai obrigar a toda uma mudança de também à cidade, aos serviços públicos – saúde, transportes mentalidades. Estou a falar de temas como as alterações e polícia, por exemplo -, às ONG ambientais e de direitos de climáticas, sustentabilidade ou inclusão social. Estas questões cidadãos com mobilidade reduzida. têm sido remetidas para segundo plano, e um sistema que, já de si, é insustentável, tornar-se-á cada vez mais auto-destrutivo. O que quero explicar, com este exemplo, é que esta promoção de interesses mútuos num mundo de interdependências, esta A mudança terá de ser trabalhada por todos – Governos, criação de pontes de relacionamento entre stakeholders e ONGs, sector privado. As empresas, como é óbvio, têm aqui um shareholders, será, ela própria, um agente de mudança. Porque, importantíssimo papel. cada vez mais, estamos num mundo de interdependência e não podemos ver os problemas em compartimentos estanques. Eles Dianova: Reavaliação das práticas de trabalho, governance, influenciam e são influenciados por uma multiplicidade de orientação para objectivos, prestação de contas e avaliação factores. E é essa complexidade .que será cada vez mais a de desempenho, poderão ser a tónica dominante das regra. Organizações do Terceiro Sector para continuar a cumprir a sua função social? 27
  • 28. 28 Celso Grecco Presidente da Bolsa de Valores Sociais de Lisboa e Fundador da Atitude – Associação pelo Desenvolvimento do Investimento Social Dianova: Numa um conceito de investimento limpo e justo, prestando contas entrevista ante- e sendo um verdadeiro agente de mudança na sociedade. Na rior referiu que educação, na cultura, no meio ambiente e no empreendedorismo. “não podem exis- Por outro lado é necessário que haja uma exigência na condição tir empresas bem de investidor. O dinheiro é um recurso finito. Se não arranjarmos sucedidas em so- maneira de o “reciclar” ele acabará por se extinguir. ciedades falidas”. Na sua óptica de marketeer Dianova: Qual foi a principal motivação para abraçar este e cidadão brasileiro como e projecto da Bolsa de Valores Sociais? quando é que reparou que o Tercei- Celso Grecco: A ideia surgiu em 2001, quando o Brasil começou a ro Sector seria uma área de expansão na sociedade civil? estruturar-se no sector corporativo em relação à actividade social. Celso Grecco: Esse fenómeno apareceu nos anos noventa A Bolsa de Valores brasileira veio falar comigo e pediu-me para quando o Brasil se abriu ao mercado mundial. Era um país muito explorar uma plataforma de responsabilidade social. Na altura protegido por uma legislação que criava barreiras comerciais nada estava definido, poderia ser sobre educação, meio ambiente fortes e intransponíveis. Não havia construtoras e fábricas ou qualquer outro tema da área. Qual seria o papel de uma Bolsa? estrangeiras e a atenção comercial estava concentrada no seu A minha ideia partia da própria lógica do que é uma Bolsa de próprio mercado. Por exemplo, tínhamos uma lei para a indústria Valores. Ela reúne por um lado, a empresa que precisa de capital informática que só permitia que os computadores vendidos financeiro. Simplificando, se uma empresa deseja capitalizar- no Brasil fossem construídos internamente. Era um país -se tem três opções: pode pedir um empréstimo ao banco, muito fechado. Quando a globalização derrubou as fronteiras, apresentando as devidas garantias; pode abrir uma sociedade junto com a internacionalização do sector produtivo, veio uma ou uma fusão; e depois existe a terceira opção lançando as suas mentalidade, fortemente americana, de que uma empresa que acções em Bolsa e rejeitando as duas outras opções, atraindo extrai o seu lucro da sociedade tem de reflectir na contra-curva pequenos accionistas à procura dos seus dividendos. da retribuição. Veio um pouco daí, o conceito de responsabilidade social que no início tinha muito a ver com um acto de devolução, Ora a única alternativa viável para uma Organização social era, quer no sector social como na forma de uma causa particular. numa óptica de transparência e governance, angariar fundos Essa mentalidade alertou a sociedade para o facto de o Brasil através de donativos convertidos em acções sociais, a troco de preservar certos gaps sociais e uma estrutura de classes em todo o processo de recolha, aplicação e resultados nos relatórios pirâmide com os ricos no topo e a base dos pobres. de contas. Partindo desse princípio propus que se criasse uma Bolsa de Valores Sociais no Brasil. Esse projecto viajou até entrevista com... Para além disso houve uma tendência considerável na criação Portugal em 2008, aquando da minha participação num congresso de institutos corporativos, que profissionalizassem o esforço das de empreendedorismo social, a convite para relatar a nossa empresas nesse sentido. Começando a contratar profissionais vindo experiência. Na plateia estava uma directora da bolsa da Euronext do Terceiro Sector, no âmbito da gestão social, que pudessem valorizar que veio conversar comigo no final sobre o sucesso da ideia no a causa de uma Organização e tratá-la com relevância. Esse é um Brasil. E a Bolsa de Valores portuguesa faz parte de uma rede pensamento que tem prevalecido na condução das Organizações e constituinte por Bruxelas, Paris, Amesterdão e Nova Iorque que que retira o olhar da filantropia, quando alguém actua por convicções buscava um projecto comum de responsabilidade social. Era religiosas ou pessoais, e o passa a fazer por pragmatismo. Ou seja, uma rede recente e talvez funcionasse num âmbito mais vasto se uma empresa não apoiar a sociedade nas suas fraquezas e de aplicação, pois os temas e as prioridades na França não são limitações, amanhã terá um ambiente desprotegido e frágil que irá necessariamente iguais aos de Portugal. piorar o estado do seu produto. Logo, esta é uma relação de causa/ efeito. Isso move a orientação da responsabilidade social de uma Começámos então a desenhar um conceito de valor social em filantropia para um investimento social, acompanhando todo o Portugal, constituindo uma equipa local que permanece comigo processo desde o depósito até ao retorno. até hoje e que tem um know-how e um conhecimento avançado do terreno, no terceiro sector. Com efeito, passamos um ano a Dianova: Traçando um paralelismo para Portugal, como ca- estudar a sua inserção, as regras e procedimentos até que em racteriza a nossa situação ao nível da filantropia e da economia 2009 lançamos a BVS portuguesa. social? Celso Grecco: Eu acho que existe um terreno bastante fértil para Dianova: Quais foram os principais obstáculos que encontrou que esse tema floresça. Portugal ainda tem muito que crescer na persecução deste objectivo? nesse aspecto, encontrando-se talvez no estádio do Brasil, de há Celso Grecco: O grande obstáculo, que ainda não superamos, muito anos atrás. É um país extremamente solidário e a própria corresponde à própria essência que nos move: a transparência “legislação” da Troika pode fomentar essa mudança. Por exemplo, e a responsabilidade. Por outras palavras, a pessoa quando ao contrário do Brasil, em Portugal há um incentivo para donativos oferece o donativo tem de acompanhar todo o processo e saber traduzido em deduções fiscais. Tem uma legislação que o favorece, o que se passa com o dinheiro. Nós convidamos as pessoas, na um sistema mais simples, mas é um país ainda bastante filantrópico plataforma BVS, a escolher o seu projecto, a depositar quanto na sua cultura de dar sem olhar a quem. quiserem e a acompanhar todo o processo com prestação de relatório de contas. Aqui em Portugal estamos a aprender muito O apelo tem de se soltar da emoção e caminhar para a racionalidade. com o exemplo brasileiro e com os factores positivos. Mas isso implica que a Organização social se comprometa com Hoje, o investidor português já tem uma maior facilidade ao registar-
  • 29. entrevista com... -se no site da BVS, voluntariamente, e a cada três meses nós fase de construção cultural. Aí discute-se muito a existência de publicamos um relatório da Organização. Acontece exactamente um sector da economia para Organizações com corpo e espírito isso com a Dianova que nos vai fornecendo os seus dados e fases social, criadas por agrupamentos comunitários que geram lucro de trabalho. A maior dificuldade de tudo isto subsiste ainda na para reinvestir totalmente na Organização. Eles são bem menos desconfiança das pessoas a esse acompanhamento. Ele é muito bem dependentes da filantropia e da caridade e como qualquer visto pelas empresas mas ainda é relativizado pelos particulares. É Organização de mercado, são dependentes do comércio e querem muito comum no acto de doação, o cidadão português não querer vender os seus serviços. saber o que se passa à volta do seu dinheiro sem querer aferir os resultados. E isso não é bom, pois nós lutamos pela prevalência do Esse tema ainda está em discussão mundial e algumas empresas investidor social ao invés de um mero doador. já olham para a sua sustentabilidade dentro de uma cadeia de valor, como parceiros de negócios com essas Organizações. A “Natura” Dianova: Como caracteriza a sua adaptação para a realidade por exemplo criou uma linha de cosméticos chamada “Ecos”, na portuguesa? Amazónia, capacitando as comunidades da região para plantar Celso Grecco: Uma primeira diferença em termos de adaptação ecologicamente os frutos e comercializar as suas essências. São é entender - e nós temos investido algum tempo nisso - a função exemplos ainda muito isolados, se fizermos um congresso mundial das redes sociais. Recentemente, um estudo indicava que na sobre o tema vamos ter bons mas poucos exemplos. faixa entre os 18 e os 35 anos, praticamente 100% da população portuguesa está no Facebook. Esse é um dado fantástico para Acho que o potencial é muito grande e em Portugal é fantástico, algo direccionar uma aposta na nossa página e nas nossas estratégias. que vai ser concretizado pela Bolsa. Vamos lançar em Novembro Os SMS’s são extremamente utilizados também como veículo de um segundo patamar para receber esses negócios sociais. informação, em Portugal. Esse era um aspecto que, antigamente no Brasil, era apenas socorrido pela internet arcaica da altura. Dianova: Ainda bem que toca nesse aspecto, já que irão Uma plataforma sem a banda larga e a velocidade que existe brevemente lançar um novo conceito de acções sociais, hoje, onde o You Tube era uma ideia em embrião assim como as chamadas social bonds. Pode falar-nos um pouco mais acerca actuais redes sociais. deste instrumento? Celso Grecco: A ideia foi a seguinte. Primeiro queríamos uma As TIC não existiam com o fulgor de hoje. Nesse tempo, as pessoas Bolsa que se aproximasse mais desse conceito, fortalecendo os tinham muito receio de usar o cartão de crédito online com receio negócios sociais por duas razões. Primeiro porque eles em si já de fraudes. Ou seja, era muito mais comum o indivíduo tomar firmam a própria Organização que os promove, gerando riqueza conhecimento no site e depois fazer a sua transacção no banco. para a Organização e diminuindo a dependência que ela tem de Havia muito mais investimento de empresas, no caso do Brasil, doações. Segundo, se nós começamos a criar vários números do que de particulares. Em Portugal, nós usamos intensivamente como esses, então acreditamos que pode ser uma resposta social o site www.bvs.org.pt , temos cerca de 1700 investidores sociais para um país em dificuldades, como as que Portugal atravessa. registados que o usam de uma forma limpa, simples e bastante actualizada. Contratamos uma agência de activação digital para Juntando essa ordem de razões, encontrámos um instrumento monitorizar o Facebook, Twitter, o mobile service, etc. Estamos financeiro absolutamente conhecido que são as bonds, para que mais dedicados a facilitar o processo de apoio aos investidores, as Organizações possam emitir esses títulos sociais e permitir com valores menores e maior rapidez. Todas essas características às pessoas a sua compra. Ou seja, ela vai comprar um papel no Brasil, não existiam, principalmente os social media. como se fosse uma accionista. É uma doação mas que tem uma vantagem já que no final de um período, a Organização compro- Dianova: As pequenas e médias empresas já interiorizaram mete-se a fazer uma devolução desse dinheiro. Pode ser a tota- que o investimento feito na economia social e solidária reverte lidade, metade ou apenas uma parte, dependendo do acordado. automaticamente no sucesso global da marca, ou continua a Mas qualquer coisa que volte é bem mais inteligente do que a ser uma prática restrita às grandes corporações? doação que só funciona uma vez. Porque ajuda a criar uma Celso Grecco: Em termos de economia social e solidária, num mentalidade de retorno e reincidência nas Organiza- aspecto mais mundial, esse é um tema que ainda está numa ções socialmente responsáveis. 29
  • 30. 30 Dianova: O conceito cultura, para o meio ambiente, paga impostos muitas vezes, etc. de devolução ou reto- E quando não paga impostos eles fazem com que as empresas ma/retorno financeira asso- deixem de pagar, porque quando uma empresa dispõe uma ciada a estas social bonds é mais um verba para uma I.P.S.S., deduz no imposto contributivo. estímulo para a contribuição do investidor social? No bom sentido é quase como um governo paralelo porque ele cuida Celso Grecco: Eu acho que sim. E também uma dos nossos bens essenciais para uma sociedade civilizada. Um maneira, espero eu, de as empresas conceberem uma governo sombra que cumpre um papel interventivo nas economias possível multiplicação das suas verbas, em responsabilidade modernas. social. Com os tempos difíceis que se avizinham haverá menos dinheiro, portanto é preciso reciclá-lo em vez de o dividir em Dianova: A grande questão que se coloca nos nossos dias é vários peditórios. Manter as contribuições solidárias num circuito quem, porquê e como vamos ajudar? normal consoante as necessidades, permite ao donatário ser corpo Celso Grecco: É, principalmente quando temos de seleccionar presente nesse ciclo. com critério o dinheiro. Quando ele fica mais escasso, como neste ambiente de crise. Dianova: Pela sua própria natureza de utilidade pública, a Organização social tem de valorizar prioritariamente uma Dianova: A ambição legítima de obter meio milhão de euros lógica de proximidade com o cidadão. Considera que estas para 2011 é alcançável a seu ver? Organizações em Portugal promovem a transparência e a Celso Grecco: Penso que sim. Nós estamos perto de atingir esse confiança necessárias para este public engagement? valor e foi até uma meta conservadora, para não darmos um Celso Grecco: Eu acho que um grupo delas, sim. Por força da passo maior do que a perna. Gostaríamos que fosse mais, mas mudança de mentalidade das grandes fundações, nas empresas pelo menos esse objectivo será alcançado. que já estão habituadas a prestar contas aos accionistas. Por força da própria entrada na Bolsa de Valores Sociais que veio Dianova: Como explica que a realidade empresarial brasileira alterar o paradigma. Nem todas as Organizações por mais tenha acordado mais cedo para estas respostas sociais, meritórias que elas sejam, se identificam com o nosso enfoque antecipando as tendências que agora vigoram na Europa? principal. Que é atacar a causa e não a consequência. Celso Grecco: Cada indivíduo, sociedade ou país acorda para estas realidades levando o seu tempo. O despertar de consciências Qualquer Organização que preste serviços sociais é legítima e vem sempre como uma inerência de um facto provocado na sua saudável, como a sopa dos pobres ou protecção aos sem-abrigo. Por vida. Muitas pessoas deixam de fumar quando se lhes detecta isso as entidades assistencialistas precisam atacar as consequências um cancro. Outras param de beber quando perdem um amigo mas antecipar a causa é prevenção e responsabilidade. ou familiar num acidente por excesso de álcool. Um susto ou um factor externo provoca uma reacção para algo. Dianova: A possibilidade que se coloca ao investidor, ao acompanhar as prestações de contas e os relatórios de impacto Eu creio que no Brasil esse fenómeno deveu-se à abertura social do projecto, foram pensadas nesse sentido. económica e liberal ao mundo e ao alerta dos gestores entrevista com... Celso Grecco: Exacto. Acompanhar o processo e recomendar às internacionais para as disparidades de riqueza e miséria dentro pessoas que elas têm o direito e o dever de fazer parte do trabalho do país. Em vez de reverter todos os lucros que obtemos numa das Organizações é fundamental. Tal como, prestar contas no empresa para a matriz, devemos canalizar algumas verbas da compromisso de dizer ao doador-investidor social como o seu fonte para acções de responsabilidade social e comunitária. O que dinheiro vai ser utilizado. E mesmo na nossa vida pessoal, se faz todo o sentido. você precisa de um computador não entra numa loja aleatória e compra o primeiro artigo que vê na montra. Vai pesquisar, Já aqui na Europa, aquilo que eu noto é que quando se começa perguntar aos amigos, faz contas, compara com outros. Porque a discutir o próprio modelo de União Europeia, o Estado é é que na hora da doação, o doador passa um choque e desliga extremamente presente e cria situações de comodismo e do assunto? É uma questão de lógica. O cuidado que temos impotência numa realidade que é bastante dura, em tempos menos com o dinheiro que gastamos connosco, deve ser o mesmo que prósperos. As pessoas, de repente, sentem-se desprotegidas com empregamos nas nossas contribuições. a falta de resposta dos seus governantes. Creio que a discussão hoje em dia na Europa é o próprio modelo de bem-estar social que Dianova: Obviamente que este modelo se insere numa política o Estado já não consegue mais garantir e que a sociedade reclama. alternativa de fundraising e sustentabilidade. É também uma forma de sensibilizar os agentes económicos e sociais para E por isso hoje o tema tão presente em Portugal seja o que se envolvam assídua e voluntariamente no futuro destas empreendedorismo. Tanto no empreendedorismo puro como associações. no social, se você olha para um contexto em que escasseiam Celso Grecco: Acho que sim. Isso vai ajudar a organizar o oportunidades, tem obrigatoriamente de seguir em frente e Terceiro Sector como uma força da economia. Este sector gera batalhar para isso. O que é que eu preciso de fazer para gerar a muitos empregos, faz educação, faz saúde, contribuiu para a minha riqueza? Essa é a pergunta que se deve fazer.
  • 31. Margarida Segard entrevista com... Directora Adjunta no ISQ e Coordenadora da Rede RSO PT Dianova: Em Por- Agora há uma coisa que posso garantir, estas Organizações tugal, os especia- sociais não podem sobreviver apenas de subsídios à exploração. listas continuam E neste âmbito de prestador de serviços, o Terceiro Sector tem de sem chegar a um se posicionar em concursos públicos. Além de isso, tem as suas consenso termi- evidentes vantagens, trabalham mais em rede e em parcerias. E nológico sobre o mesmo que se encontrem a trabalhar sozinhas devem constituir Sector dito não- consórcios que as auxiliem, garantindo mais recursos e conseguindo -lucrativo (mas trabalhar uma economia de escala mais interessante. não orientado ao prejuízo): Terceiro Nestes últimos anos, houve uma aceleração muito em grande em Sector, Economia So- termos de networking e parcerias que eu não verifico nas empresas. cial e Solidária, Socieda- A sua génese teve muito a ver com os vários programas que foram de Civil, etc. Na sua opinião, lançados, quer a nível da União Europeia, Segurança Social e/ qual a designação que melhor ou iniciativas comunitárias. Programas esses, que obrigaram a caracteriza este Sector e quais as suas principais implicações? constituição de parcerias para que certas Organizações sociais Margarida Segard: Eu gosto de lhe chamar Terceiro Sector. Porque pudessem ser elegíveis num projecto. E esses consórcios, em é um sector de consciência colectiva, com uma missão social e muitos casos, estimulam a que haja uma heterogeneidade de que, inclusive, pode e deve ser um prestador de serviços e ter actores, envolvendo-se com o sector empresarial e com o Estado. lucro. Prefiro esta denominação do que enfatizar os termos com Ou seja, não serem todos do Terceiro Sector. ou sem ‘fins lucrativos’ já que, na minha opinião, não é assim que se divide uma sociedade. Além de que está em maior consonância Este fenómeno que se está a passar em Portugal já acontecia na com os actuais modelos de gestão e com as novas consciências década passada na Irlanda, um dos países com maior sucesso dos agentes do Terceiro Sector que se considerem prestadores de nesta especialidade. Em tempos de crise, há uns que choram e serviços de qualidade, devendo ser pagos por isso. outros que vendem lenços! Nós estamos na fase de vender lenços. E isso implica que se olhe para o modelo de gestão de cada um Mas é claro que conservam uma missão social que o sector dito (Estado, Empresas e Organizações Sociais), repensando os seus business se auto-exclui, ou que não possui nos seus critérios recursos internos e contando mais com os recursos externos. como core business. E por tudo isso, considero que o Terceiro A mentalidade de uma ONG pequena em se fixar num sítio sem poder Sector tem um peso fortíssimo e permite conciliar a missão extravasar a sua área de actuação, já não se usa. E este modelo de social, a consciência colectiva e a prestação de serviços. gestão de responsabilidade social vem precisamente fazer esse apelo. Um diálogo permanente com os stakeholders, de forma a Dianova: Herman & Reinz apontam como um dos principais estar incorporado no seu modelo de gestão, com uma avaliação elementos de uma Organização mais eficiente a incorporação integral e transversal, a fornecedores, clientes e colaboradores. Um de estratégias de gestão como mudança, tais como Avaliação diálogo completo é pensar num mercado, com forças já posicionadas, da Satisfação ou procura de fontes diversificadas de receita. contando com elas para levar a cabo a sua missão. Neste contexto, como podem incorporar as Organizações da Economia social o modelo de gestão de Responsabilidade Dianova: Na sua opinião, a contratação ou incorporação de Social Corporativa na óptica da sustentabilidade, e quais as novos quadros profissionais é necessária ao processo de principais barreiras e benefícios na sua implementação? mudança? Margarida Segard: Neste momento, conhecendo muito bem Margarida Segard: Eu acho que o Terceiro Sector, tanto a o Terceiro Sector, as empresas e o Estado, não consigo fazer nível de contratação como de recursos humanos, é gerido uma distinção em termos de modelo de gestão, no âmbito da autonomamente do resto do mundo. Sobre a valorização salarial, responsabilidade social. É por essa razão que a rede nacional de trabalha com umas tabelas de referência que estão claramente responsabilidade social emerge. Esta Rede aparece justamente abaixo da média na maioria das profissões, em funções similares. porque acreditamos que é possível incorporar um modelo de A nível de tipificação das profissões que tradicionalmente recruta, responsabilidade social nestes três sectores. Óbvio que existem já não se contrata para uma Organização sustentável apenas alguns requisitos, indicadores e formas de operacionalizar estas técnicos da área social. Não faz sentido. práticas que podem ser diferentes, mas não essas que mencionou. O Terceiro Sector tem de ser gerido e trabalhado externamente e por A avaliação de satisfação deve ser comum a todos e os critérios isso precisa, tal como numa empresa, de pessoas com competências devem ser similares. Em termos de sucesso na angariação de de gestão, marketing e vendas. Apostar num maior investimento em receita, toda essa fase é colocada de forma diferente numa I.P.S.S. soluções inovadoras e produtos I&D, em recurso de investigadores e numa empresa, até porque esta última só nasce quando existe direccionados para o mercado. Ou seja, uma Organização social um nicho de mercado e alguém que paga por um dado produto. O dos dias de hoje, mantendo a sua missão social de uma forma Terceiro Sector não funciona assim. Dá resposta a uma necessidade sustentável, deve ser administrada como uma empresa. Os serviços do mercado independentemente de haver alguém a pagar por isso. que o Terceiro Sector presta ainda estão muito aquém em termos de correspondência salarial, em relação aos estatais. Por outro lado e Ao reflectirmos na constituição de uma ONG, ao contrário de uma com a agudização desta crise a pôr em causa o Estado Social, não empresa, prioriza-se o serviço/missão e só depois a angariação tenha a mínima dúvida que se vão devolver uma série de funções e de fundos. A génese de uma Organização social é pensada desta responsabilidades para a Economia Social. maneira. É natural que a diversidade na angariação de receitas de um Terceiro Sector tenha de ser, necessariamente, muito maior. Dianova: A descentralização da Organização (ou a democratização do poder), na promoção 31
  • 32. 32 dos objectivos e stakeholders, na avaliação com os clientes, no posicionamento decisões, é favorável a dos seus produtos no mercado, na forma como os utilizadores uma gestão mais eficiente? avaliam os serviços e mesmo na gestão de recursos humanos. Margarida Segard: Eu faço a apolo- gia do modelo de gestão organizacional A ISO 26000 é, de alguma maneira, uma norma eclética que quanto menos hierarquizado for, mais que consegue reunir outras normas mais segmentadas eficiente se tornará. Não só em termos de custos de responsabilidade social e tocar de forma harmoniosa reais, como de custos comunicacionais e de interface em algumas dimensões e requisitos destas três vertentes: no processo de decisão. É para lá que caminhamos. Os ambiental, económico e social. Além disso, todo este processo modelos mais planos onde a comunicação fluida se executa não foi simples. A ISO 26000 é um tratado mundial com mais com menos resistência, corresponde a isso. E Portugal precisa de cem países envolvidos e 97 peritos na sua discussão inicial, de um banho de humildade nesse aspecto. o que é um processo absolutamente singular. Foi um passo que veio consolidar as práticas e os modelos de gestão socialmente Dianova: Esta crise económico-financeira e a conjuntura responsáveis nas empresas e I.P.S.S.’s. actual, alicerçadas num capitalismo selvagem e na desregulação estatal, poderão ajudar a fomentar melhores Dianova: Uma das principais questões na Igualdade práticas de responsabilidade social, governança e de Oportunidades e de Género reside no equilíbrio ou comportamentos de decisão éticos? conciliação entre vida profissional e familiar. O que ganham Margarida Segard: Com certeza. Na génese desta crítica está jus- as Organizações e a Sociedade com a incorporação destes tamente, a falta de mecanismos de controlo e práticas éticas. Foram modelos na gestão organizacional? identificadas várias actividades criminosas e irregulares porque a Margarida Segard: Ganham tudo. Seja na maior motivação interface normativa entre os vários sistemas de fiscalização, execu- dos trabalhadores, ao nível do número de horas reais ção e gestão, não estavam, de todo, ligados. E daí, o aparecimento efectivamente trabalhadas, como no nivelamento de custos de todo este fenómeno selvagem como referiu na questão. salariais. Actualmente ainda temos em Portugal, espartilhos brutais na duração dos horários de trabalho e no pagamento E neste momento, identificadas estas fragilidades no sistema de horas extraordinárias, num cumprimento rígido que não é financeiro, este acto mundial só vem provar a necessidade da minimamente compatível nem com a vida do(a)s trabalhado(a)s, responsabilidade social se introduzir nas políticas de governance. nem com as necessidades das empresas. Não apenas a nível de gestão da ONG mas também a nível normativo e regulador. A obrigatoriedade de se cumprirem princípios éticos Portugal é cada vez mais um país prestador de serviços e menos é fundamental. E nisso, o Estado tem um papel fundamental um Estado produtivo e industrial. Cada vez mais os serviços ao estipular novas regras e hábitos de sustentabilidade e requerem trabalhos de concepção, preparação, de criação de responsabilidade social. E isto é valorizar quem tem práticas produtos e de entrega final ao cliente. Isto não se compadece internas e evidências de responsabilidade social, ou seja, medidas com um horário fixo das “nove às cinco” que grassa no país. anti-corrupção, códigos de ética, programas ambientais, etc. Hoje em dia as tecnologias de informação são uma grande ajuda entrevista com... Dianova: Foram recentemente divulgadas as novas guidelines nesta conciliação da vida familiar, o que exige um investimento ISO 26000. Como percepciona esta normalização – de forma em sistemas intranet, networking, para que se possa trabalhar voluntária – e quais os principais benefícios dela resultantes em casa e em simultâneo, na companhia dos filhos e da para as Organizações? família. Com esta flexibilização de horários, ganhamos todos. Margarida Segard: A voluntariedade era algo expectável, aliás Aliás, as empresas e organizações que acumulam prémios de ninguém desejava o contrário e é importante que assim continue. reconhecimento público, “best place to work”, claramente estão A ISO 26000 é uma norma orientadora que na sua transposição associadas a indicadores positivos na conciliação da vida pessoal para as regras nacionais, consegue ter algumas componentes com o trabalho. Percebo que certas comodidades não estejam certificáveis. Mesmo que ainda não seja possível, em alguns ao alcance de várias organizações pelo investimento avultado, países, fazer essa certificação, considero que a grande vantagem mas para isso servem os protocolos com organismos públicos e desta norma é que de facto consegue criar orientações para as empresas privadas. Tudo isto tem um retorno fantástico. grandes questões das Organizações sociais. No diálogo com os
  • 33. Dianova: Para que estes processos possam ser interiorizados, Dianova: Os assuntos globais são preocupações locais. Esta entrevista com... uma comunicação eficaz assente numa estratégia e fluxo afirmação pressupõe um imperativo na direcção das Organizações? proactivo de informação e de gestão de relacionamentos Margarida Segard: Os assuntos globais têm de ser preocupações internos e externos são indispensáveis. Na sua opinião, locais. Esse é um dos princípios da responsabilidade social, um qual o papel que a Gestão da Comunicação reveste para uma diálogo permanente com os stakeholders e uma priorização dos Organização Social? agentes e unidades locais. Margarida Segard: É, absolutamente, essencial. O seu papel é Quando uma Organização contrata trabalhadores, fornecedores e determinante quer a nível interno como externo. Neste momento pretende se promover aos clientes, deve pensar e priorizar o seu se estamos a pensar num Terceiro Sector que venda produtos, ambiente social para que seja um agente de desenvolvimento. com uma fonte de financiamento ou fundraising, tendo ou Se eu posso contratar pessoas e serviços à minha volta é por aí não clientes específicos, é importantíssima a valorização do que devemos começar, sem prejudicar os critérios de qualidade. seu produto no mercado e a forma como o vende. Todas as Mas eu devo dedicar alguma atenção em promover-me a nível actividades do marketing são essenciais, tal e qual o marketing local como organização empregadora e vendedora. Isso é um interno. Trabalhar toda a comunicação interna da Organização princípio básico. E então nos processos de internacionalização vai facilitar o processo empírico dos serviços. Aliás, a ISO 26000 isso é fundamental. Para garantir um desenvolvimento local e vem destacar todas essas funções. até uma redução de custos de produção. Dianova: A REDE RSO PT tem promovido ao longo destes últimos 3 anos uma diversidade de boas práticas para as Organizações dos 3 sectores de actividade. Pode dar-nos alguns exemplos dessas práticas transversais? Margarida Segard: Por exemplo, a nível da conciliação familiar, temos pedido às mais diversas entidades dos três sectores que exponham o seu trabalho com baixos custos em tempos de crise. Limitando o seu investimento a uma fasquia que permita estimular soluções alternativas para os seus problemas. Como protocolos com creches, manter uma comunicação em rede, partilhar certo equipamento industrial com empresas do mesmo parque industrial e, com isso, dividir custos. Ter recursos partilhados em áreas específicas nos quais não preciso de ter alguém a tempo inteiro. E a REDE tem tentado mostrar certas práticas e que é possível cumprir este modelo de rentabilização e eficiência. Não só ao nível Dianova: Para si, é afinal a Gestão da Mudança na Economia do voluntariado, da participação das empresas em projectos na área Social e Solidária um mito ou uma revolução? social, mas sobretudo no ajuste de um modelo de gestão interno, de Margarida Segard: Não é um mito de certeza. Neste momento, forma a garantir a minha adequação aos princípios consciencializados é uma emergência. Tem de existir por uma questão de de responsabilidade social. Este é um desafio a custo zero. sustentabilidade. Claro que deve ser acelerada neste contexto de crise mas eu diria que a gestão de mudança é não só uma Dianova: Na sua opinião, a REDE tem ajudado a moldar urgência no sector social como a nível global, tanto para o Estado percepções positivas junto de Decisores, Media e Sociedade como para o business. Ou há uma gestão de mudança equilibrada em geral acerca do que é efectivamente uma Organização e de acordo com os padrões de evolução, ou então caminhamos Socialmente Responsável e suas vantagens? para a ruptura dos modelos económicos, sociais e laborais. Margarida Segard: Não tenho a mínima dúvida. Posso-lhe dizer que temos obtido grande retorno e dados que permitem avançar Existem muitos recursos mal gastos e modelos de gestão com uma evolução significativa nas Organizações antes e depois pouco eficazes, num longo caminho organizacional para trilhar. da sua entrada na REDE. No entanto, acho que ainda estamos numa fase muito básica e redutora na forma como reagimos à necessidade de mais Quanto aos Media, em todas estas entrevistas nos jornais e revistas, eficiência. Estamos a exagerar nos custos salariais, não é verifico com agrado a sua importância já que temos desmistificado possível cortar “gorduras” assim. É natural porque, quando o conceito de responsabilidade social. Por incrível que pareça, há olhamos para os resultados, a primeira coisa que fazemos é ainda uma desinformação muito grande dos nossos jornalistas e racionar nos custos salariais e de fornecimento de serviços. dos Media em geral, sobre o que é responsabilidade social. Ainda se confunde frequentemente com voluntariado, filantropia ou É importante fazer essa reflexão. Valorizar o nosso modelo de solidariedade, tal como há dez anos atrás. negócio, os nossos talentos e recursos humanos e a sustentabilidade da nossa actividade. Hoje em dia, se perguntar à maioria das A REDE tem feito apresentações sobre isso, até em mestrados da empresas implementadas no terreno, qual é a sua missão, não lhe especialidade e em comunicação social, e eu fiquei estupefacta com sabem dizer. Sabem que vendem “pentes”, apenas. Não conseguem o total desconhecimento sobre o tema por alunos que já concluíram pensar mais do que um ano, numa estratégia, nos seus objectivos os seus cursos ou estão a preparar teses de mestrado. A REDE foi e no seu mercado. Acabam por confundir visão com missão social. também criada para promover e informar sobre os pareceres e As Organizações têm de repensar a sua existência, atendendo particularidades, no esclarecimento da responsabilidade social. a estes valores. 33
  • 34. 34 Daniela Godinho Directora Financeira da Efeito D Dianova: Em inovação e de empreendedorismo, no entanto não tem sido fá- Portugal, os cil captar investidores, não só devido à conjuntura actual, como especialistas também à “resistência à inovação”. continuam sem chegar a um con- Neste momento estamos atentar estabelecer parcerias com senso terminológi- empresas para o desenvolvimento de algumas peças e de novos co sobre o Sector dito produtos com este conceito, para que o sector empresarial se não-lucrativo: Terceiro envolva mais nas questões sociais. Sector, EconomiaSocial e Solidária, Sociedade Civil... Na Dianova: Numa conjuntura actual de austeridade crescente e sua opinião, qual a designação que melhor caracteriza este suas implicações na disponibilidade financeira dos cidadãos, Sector e quais as suas principais implicações? receia que a crise condicione ou possa inviabilizar projectos Daniela Godinho: Talvez Economia Social e Solidária, na sociais de forma genérica’ Tem algum conselho ou recomenda- medida em que é um sector sem fins lucrativos e preocupações ção que possa partilhar com as suas Organizações congéneres transversais a todos os sectores e tendo como objectivos últimos, para obviar esta provável fatalidade? o bem-estar da sociedade civil Daniela Godinho: É obvio que a conjuntura actual não é propícia à disponibilidade financeira dos cidadãos, sendo já notória essa Dianova: Como responsável financeira da Efeito D, quais con- situação a todos os níveis. As Organizações terão que encontrar sidera os principais constrangimentos ou barreiras que uma mecanismos próprios para irem ao encontro das necessidades Organização Social enfrenta a nível da sua Gestão? dos cidadãos, captando-lhes a atenção e alertando-os para a Daniela Godinho: Por um lado, a falta de consciência da necessidade de participarem activamente na consolidação deste responsabilidade que a sociedade civil deveria ter no fortalecimento sector da economia que cada vez mais é fundamental para a coesão destas Organizações. Por outro lado, a necessidade premente de Nacional. o Estado proporcionar mais e melhores ferramentas para que as Organizações Não-Lucrativas se possam desenvolver e consolidar. Dianova: Para si, é afinal a Gestão da Mudança na Economia Social e Solidária um mito ou uma revolução? Dianova: Herman & Rentz, no artigo “Nonprofit Organizational Daniela Godinho: Penso que é já o pronuncio de uma revolução, Effectiveness: contrasts between especially effective and less na medida em que de alguma forma tem obrigado as sociedades effective organizations” (1998) Nonprofit Management and e os seus governantes a olharem para esta Economia Social e Leadership, afirmam que um dos factores distintivos de uma Solidária, com cada vez mais respeito e no sentido em que já se entrevista com... Organização Não-Lucrativa mais eficaz é a implementação começam a verificar algumas alterações de mentalidade, que de estratégias de gestão de mudança tais como a procura permitem aos gestores tomarem decisões mais eficazes. Quer de fontes de receita diversas. Como percepciona a questão socialmente, quer financeiramente e que podem contribuir para da Sustentabilidade nas Organizações da Economia Social e a consolidação destas Organizações Não Lucrativas. Solidária? Daniela Godinho: Na verdade as Organizações Não-Lucrativas, cada vez têm menos apoios financeiros por parte do Estado e na medida em que elas são fundamentais nas sociedades actuais, a única forma de se manterem e consolidarem é através da criação de mecanismos de sustentabilidade. Para tal, têm que procurar novas fontes de receitas, através de projectos socialmente inovadores, de forma a garantirem as receitas necessárias à sua gestão. Paralelamente, deverão criar-se mais mecanismos, para que as empresas do sector privado possam organizar-se de uma forma socialmente mais eficaz, permitindo-lhes canalizar recursos para investir nos projectos das Organizações Não-Lucrativas. Dianova: A Efeito D tem cotado um projecto na Bolsa de Valores Sociais. Como tem evoluído a aceitação deste projecto junto de potenciais investidores e quais as principais dificuldades que tem sentido na captação de investimento? Daniela Godinho: O efeito D é uma marca de design com um conceito de “peças geneticamente alteradas, tais como as crianças com Trissomia 21”, criada para gerar receitas para o Centro Diferenças (APPT21) e para de alguma forma dar visibilidade à ”normalidade da diferença”. Tem sido bastante bem aceite, como projecto em termos de
  • 35. tema de actualidade Jacquelyn Hadley, Laura Lanzerotti e Adam Nathan The Bridgespan Group (Boston, EUA) “Vivendo o seu Plano Estratégico: Um Guia para a Implementação e Obtenção de resultados” Um plano estratégi- Organizações para obter um plano no papel para vivenciar co é trabalho árduo. a sua estratégia. Abaixo, sintetizamos as ideias-chave e os Trata-se de articular os conhecimentos a partir de experiências da sua implementação. resultados comprometidos pela Organização e as acções Use a sua estratégia como uma ferramenta que levará a cabo para lá chegar. Porque é um trabalho árduo, é tentador pensar que terminar o plano escrito é equivalente a para orientar a tomada de decisões É fácil distrair-se com os desafios no dia-a-dia da gestão cruzar a linha de chegada. de uma Organização sem fins lucrativos, e também por novos problemas e oportunidades que possam surgir Mas, é claro que não é. Escrever um plano estratégico é inesperadamente. Mas é importante não deixar a poeira apenas o primeiro passo para alcançar impacto ano após ano. assentar no seu plano estratégico. Uma vez que já tenha O próximo passo é a implementação e é, várias vezes, onde as encarado o trabalho árduo do processo de criação, é Organizações costumam tropeçar. Na verdade, ao responder importante usá-lo como um guia para avaliar as oportunidades ao mais recente questionário de diagnóstico organizacional, os de desenvolvimento e fazer frente às contrariedades. funcionários de mais de 120 Organizações sem fins lucrativos avaliaram o rating relativo à capacidade dos seus empregadores A sua estratégia irá ajudá-lo a permanecer no rumo certo na para implementar as suas estratégias 10% abaixo da sua média direcção dos seus objectivos mas somente se se referir a ele para todas as outras áreas de capacidade organizacional. com frequência e lembrar permanentemente a sua equipa e administração do que está a tentar alcançar, a sua razão, e Os entrevistados deram às suas Organizações especialmente notas como tenciona fazê-lo. Como um CEO recentemente disse, baixas nas suas capacidades para traduzir as estratégias em áreas “Ter um plano estratégico... é o que permite manter o curso, geríveis, comunicando as suas visões e as mudanças necessárias mesmo em tempos de mudança.” para as alcançar, na distribuição de pessoal e recursos necessários para atingir as metas, planeando e acompanhando o progresso e ajustando o percurso quando a mudança torne necessário. Mantenha-se flexível na sua abordagem Os melhores planos estratégicos fornecem orientações Essas deficiências podiam resultar numa falta de consciência fortes e responsabilização, mas não agem como coletes de das prioridades estratégicas dessa Organização, e falta de força. O mundo em que as Organizações sem fins lucrativos envolvimento nas prioridades estratégicas de uma Organização. operam não é tão inocente ou puro como o papel em que os Da mesma forma, podem resultar numa falta de recursos para planos estratégicos são escritos. Aplicação efectiva significa as suas prioridades que são importantes apenas no nome, e, encontrar um equilíbrio entre a manutenção de um foco em última análise, numa evolução demasiadamente lenta para consistente estratégico e a adaptação a novas circunstâncias. atingir os objectivos da Organização. Os líderes com quem conversámos falam sobre a execução Se algum destes sintomas é-lhe familiar, este Guia é destinado estratégica como um processo repetitivo: a fim de alcançar para si. Os seus conteúdos partilham experiências de clientes o impacto pretendido da sua Organização, precisavam da The Bridgespan, bem como conhecimentos de outras estar dispostos a ajustar o seu curso. Muitas Organizações ONGs que se destacaram na construção de um impulso para experientes não conseguiram prever eventos que influenciaram que convertessem o planeamento em implementação. a sua capacidade de avançar com as estratégias, como um importante financiador alterando o seu foco ou mudanças As Organizações entrevistadas partilham uma orientação para significativas na política governamental. a mudança. Elas usaram abordagens práticas para converter as suas visões em acções tangíveis, e têm sido diligentes Em vez de abandonar as suas estratégias, eles mudaram as na monitorização do processo evolutivo e na correcção do tácticas, mantendo os seus objectivos estratégicos em foco, curso tomado quando as circunstâncias mudam. É esta mas adaptando as acções específicas que estavam a tomar combinação de mentalidade e de gestão de implementação com base no que aprenderam e nas novas circunstâncias que atinge resultados. Este guia apresenta os métodos para a necessárias. Em última análise, eles formularam novas rotas implementação em seis etapas. Dentro de cada etapa, encontrará para os seus destinos. referências aos templates que ilustram os tipos de ferramentas utilizadas por estes líderes de organizações sociais, para impor a Manter uma comunicação constante implementação nas suas organizações! A execução bem sucedida de sua estratégia exige que todos os stakeholders estejam plenamente conscientes das suas priori- Conselhos para viver o seu plano dades e direcção. Muitos, se não a maioria, dos planos es- Os Líderes de Organizações sem fins lucrativos que tratégicos são formulados entre equipas de executivos entrevistámos foram sinceros sobre como moviam as suas e conselhos de administração; com frequência, os 35
  • 36. 36 líderes da organi- implementação, outras tentam mudar muito de uma só vez. zação atrasam ou ne- Esse tiro pode sair pela culatra, particularmente se a sua gligenciam o acto crucial de estratégia exigir grandes mudanças no trabalho que a sua comunicar, a visão nova ou revisão equipa e Organização está a executar. organizacional para os funcionários. Embora possa ser tentador o emprego de novos esforços, Se a sua Organização não entende a estratégia o contrato de pessoal, e o redesenho das funções internas, e não interiorizou a necessidade de mudança, todas no primeiro trimestre de implementação, ao fazer muito você não terá o buy-in / envolvimento necessário para no início, pode arriscar prioridades insuficientes de recursos, executar com sucesso o plano. É importante fornecer burning out a sua equipa, e alcançando menos do que você uma mensagem consistente, clara e positiva sobre o plano sequenciou ao longo do tempo. e a razão da nova estratégia ser a melhor alternativa de acção, para incentivar os colaboradores a sua própria implementação. Considere a forma como pode lançar a sua implementação, Também é importante repetir essa mensagem. e em primeiro lugar lide com as mudanças que a sua Organização anseia enfrentar. Isso permitirá que faça As suas comunicações devem cobrir aquilo que é diferente na progressos demonstrativos no imediato, enquanto constrói Organização, o porquê dessa mudança ser fundamental para uma plataforma para mudanças de longo prazo. alcançar o impacto que você procura, e como sua equipa pode desempenhar um papel importante. Além disso, é importante ter uma pessoa responsável pela condução do processo de mudança. Para algumas Capacitar os “campeões da mudança” Organizações, isso significa redefinir o papel dos altos Algumas funções serão afectadas pelo processo de funcionários para a implementação directa. Outros possuem implementação mais do que outras, e os colaboradores nessas bastantes membros júniores a servir como “guarda de áreas podem apresentar sinais de “choque de mudança”, trânsito” para assegurar os progressos de implementação de necessitando de tempo e incentivo para chegar à administração. forma eficiente. Para enfrentar esse desafio, procure oportunidades para Nas Organizações estudadas, a pessoa encarregada da fortalecer “campeões de mudança” que podem contornar implementação foi identificada precocemente (durante o processo de planeamento estratégico), reportando tema de actualidade os temores dos seus colegas e providenciar mensagens convincentes sobre a mudança necessária. Além disso, deve- directamente ao responsável da Organização, assinalando -se incentivar a própria implementação pelos colaboradores, que a implementação foi a de mais alta prioridade. Embora permitindo-lhes fornecer informações e iniciativas sobre as possa não ser possível ou necessário para a sua Organização, mudanças que afectarão directamente os seus papéis individuais. dedicar um membro da equipa em tempo integral para gerir a implementação é fundamental para que tome a responsabilidade de coordenar esforços e manter a dinâmica. Fase de execução com um “campeão” Também é essencial para a liderança da sua Organização designado implementar tão apaixonadamente quanto a formulação da Enquanto algumas Organizações lutam para iniciar a sua estratégia. Implementação que gera resultados: Passo a Passo Apesar do caminho que temos projectado para a implementação com mais frequência do que em épocas de grande fluxo), a fim da estratégia poder parecer linear, a execução do seu plano de permanecer na ordem e conseguir o impacto procurado. é realmente um grande processo interativo. Conforme vai avançando, você pode encontrar-se a revisitar decisões que Passo 1: Traduzir Objectivos Estratégicos fez anteriormente podendo, assim, aprender com as suas experiências e encontrar desafios imprevistos e oportunidades. em Iniciativas Viáveis Logo que faça a transição do planeamento estratégico para O sexto passo, “Revisitar e repetir”, ressalta o facto de que você a implementação, a sua primeira tarefa é conseguir ser terá que passar pelo processo anualmente (ou potencialmente específico sobre o trabalho a ser feito. Em termos práticos,
  • 37. isso significa passar pelo processo de tradução multianual, estratégicos. Para Organizações com pequenas quantidades tema de actualidade metas estratégicas de alto nível articuladas no seu plano em de apoio financeiro sem restrições, o alinhamento de recursos iniciativas concretas que a sua Organização realizará num para a estratégia pode exigir um fundraising agressivo para período de 12 a 18 meses. Quebrar metas de longo prazo em suportar as suas prioridades estratégicas e iniciativas para segmentos oportunos, de fácil definição e tratamento, ajudará que as restrições de financiamento não abrandem o seu a criar um roteiro detalhado que alinhe as actividades do dia- progresso. -a-dia da sua Organização com os mandatos globais da sua estratégia. Passo 5: Monitorar o progresso Organizações que são eficazes na implementação estratégica Passo 2: Criar um Projecto para a Mudança têm processos fortes no local para medir sistematicamente Uma vez que traduziu os seus objectivos estratégicos em e avaliar o progresso em relação aos seus objectivos. Os iniciativas, o próximo passo fundamental é considerar o processos ajudá-los-ão a manter o foco à medida que conjunto de iniciativas de forma holística para garantir que executam as suas estratégias, aprendendo e ajustando o seu alcance, duração e esforço necessários são realistas assim que evoluem. Um mecanismo simples que muitas e devidamente sequenciados. Em essência, você precisa organizações usam para acompanhar o progresso é a revisão criar um projecto de mudança para que os líderes em toda trimestral. a sua Organização possam ver como os seus papéis e seus departamentos de trabalho se conectam uns aos outros. Passo 6: Revisitar a sua estratégia e repetir É importante que todos possam compreender o “grande retrato”, para que fique claro porque certas iniciativas e o processo Organizações que são mais eficazes na implementação mudanças começarão antes de outras. A criação de um plano contínua ao longo do tempo revêem os seus planos, vendo as para a mudança é sobre como definir o palco para construir o suas estratégias como âncoras, sem restrições, para o que impulso do progresso. podem alcançar. Assim que você implementa em 2, 3, 4 ou 5 anos a sua estratégia, é uma boa ideia repetir todos os passos Passo 3: Mobilizar a Equipa descritos acima. Numa base anual, as duas primeiras etapas A implementação efectiva depende que a sua equipa esteja em (traduzir e criar) pode levar menos tempo e esforço, se está consonância e inicie a estratégia. A execução do seu plano, simplesmente actualizando as iniciativas estabelecidas no sem dúvida, exigirá que os seus colaboradores façam coisas início do seu processo de implementação. Assim como Sam de maneira diferente, e ajudá-los a fazer essas mudanças Cobbs, director-executivo da First Place for Youth, explicou, pode ser difícil. Com a finalidade de mobilizar a sua equipa, “Ter um plano estratégico e objectivos bem articulados torna é indispensável que se concentrem em dois elementos-chave o processo muito mais fácil. Não está muito em debate. Tudo para o sucesso: 1) comunicar um argumento convincente para que fazemos orienta-se aos objectivos que foram estipulados a mudança necessária; 2) o alinhamento dos objectivos de no plano.” desempenho individual dos membros da sua equipa com as prioridades estratégicas da Organização. Nota: Os Autores concederam e autorizaram previamente a Passo 4: Alinhar as finanças para apoiar a edição deste Artigo. Poderá ler a versão original (inglês) em implementação http://www.bridgespan.org/WorkArea/linkit.aspx?LinkIdentifi Além do tempo dos colaboradores, a implementação da sua er=id&ItemID=23012 estratégia provavelmente exigirá mudanças financeiras ou aquisição de novos recursos para suporte dos objectivos 37
  • 38. 38 Karl Richter, Co-fundador da JenLi Foundation, co-autor de “Making Good in Social Impact Investment: Opportunities in an Emerging Asset Class”, Advsor da Euclide Network sobre o Impacto do Investimento Social e coordenador da Task Force do European Social Investment Facility (Londres, UK) “Caro Dr. Doom, daqui é o Dr. Hope... O mundo não vai acabar, mas decididamente o mundo das finan- ças está a mudar.” Nouriel Roubini, o significa que não temos tempo para conceber um novo sistema. economista que ga- No entanto, o capitalismo é um sistema extremamente flexível nhou o apelido de “Dr. e já se reinventou, pelo que poderá fazê-lo novamente. Nós Doom” por prever a crise fi- podemos (e devemos) modificar o capitalismo dominante para nanceira de 2008, pergunta num ar- equilibrar os interesses do capital com os interesses do povo. tigo com o mesmo nome publicado em Agosto deste ano: “O capitalismo estará condenado?”. O quadro principal deste novo modelo é a Economia Social – uma construção que combina retorno financeiro com Os economistas de “colarinho branco” dos últimos 30 anos resultados sociais. Alguns chamam a isso Valor Acrescentado, deixaram de oferecer um modelo teórico satisfatório para o outros Valor Partilhado, e outros ainda Filantrocapitalismo. capitalismo e os falhanços da doutrina praticada tornaram-se A mensagem é a mesma – objectivos sociais e financeiros claros quando os mercados financeiros entraram em colapso, no podem coexistir dentro de uma economia baseada no mercado. dia 15 de Setembro 2008 – o dia em que a Lehman’s Brothers Além disso, a combinação dos dois pode criar um sistema entrou em colapso. Alguns discípulos obstinados de economia da económico mais robusto que melhor sirva a sociedade. Chicago School of Economics argumentaram que os mercados não eram livres o suficiente para a autocorrecção e que a única Não existe uma única solução para todos, na verdade, a maneira de evitar a próxima crise consistia em desregular ainda diversidade e a pluralidade são um requisito fundamental mais e colocar mais fé nos mercados livres e no capitalismo na redução do alinhamento dentro do sistema, o que desse laissez-faire. Não se enganem, alguns passageiros do naufrágio modo diminuiria o risco sistémico. Os princípios e valores para do Titanic também estavam felizes com o entretenimento da esse novo paradigma já foram percepcionados, precisando banda, enquanto outros procuravam os botes salva-vidas. apenas mais de um pouco de esforço para ser transportado do obscurantismo para a popularidade: No caos financeiro, essas instituições clamaram de uma forma • Modelos de investimento de sucesso serão flexíveis artigo de opinião gritante pelos bailouts, capturando a maior atenção, enquanto os e adaptáveis, capazes de responder melhor a um bancos sociais e Organizações semelhantes foram calmamente paradigma mais amplo da economia de maior incerteza e continuando a fazer o que melhor sabem, prestando serviços imprevisibilidade; eles serão mais holísticos assim que a financeiros que incidem sobre ambos os resultados: sociais complexidade se tornar legítima para o curso da actividade. e financeiros. A sua raison d’être é a de se concentrar em • Os aspectos da economia social marginal tomarão os promover o empreendedorismo social e os negócios sociais – atributos do sector financeiro convencional em consideração, por outras palavras, promover uma economia social baseada no e vice-versa, assim que eles se movam para mais perto uns mercado em que o financiamento é usado para criar e partilhar dos outros e abracem os princípios da outra que até então prosperidade e reduzir a desigualdade económica. parecia um contra-senso. • As Organizações da economia social que buscam capital de Sem entrar em detalhes sobre o porquê dos seus modelos investimento serão mais eficientes nos seus comportamentos, levarem a melhor nesta crise, o ponto relevante é que os seus e os investidores de impacto social serão mais complacentes modelos de negócios estão menos correlacionados com os das necessidades das organizações de economia social. mercados comerciais. Chegou a hora de fornecer a essas • A criação de valor socioeconómico a longo prazo terá Organizações o destaque que merecem, e o capital que precisam prioridade sobre ganhos financeiros a curto-prazo, exigindo para desempenhar um papel mais forte na recuperação uma avaliação de risco diferente. socioeconómica – e talvez mesmo em reequilibrar o próprio • Um aumento no valor real irá ocorrer quando houver um capitalismo, ajudando a reduzir a ocorrência de falhas no mercado. juízo consensual de que algo vale mais para as pessoas, e não apenas porque o preço dos activos subiu. Nouriel Roubini está certo quando diz que nos fomos • Para obter sucesso, os investidores terão de estar mais “afastando tanto do modelo anglo-saxão de laissez-faire e envolvidos nos seus investimentos e preparados para da economia de vodu, como do modelo europeu continental depositar mais tempo e capacidade em estabelecer dos estados providência guiados para o défice. Ambos estão compromissos no trabalho. Eles precisam ser melhor ultrapassados.” Mas ele não revela, no seu artigo, para onde informados e mais em sintonia com as exigências investida. estamos a caminhar, por isso deixem-me tentar. O relatório “Making Good in Social Impact Investment: O primeiro ponto a destacar é que provavelmente estamos presos Opportunities in an Emerging Asset Class”, destaca que um ao capitalismo. Gostem ou não, ele (o capitalismo) parece o menos quadro suficientemente robusto de análise já existe para o ameaçador de todos os sistemas económicos experimentados investimento de impacto social e que uma linha divisória foi até à data e face à ausência de uma alternativa viável, o que imposta. Argumenta ainda, que o mercado de investimento social
  • 39. oferece aos principais investidores a oportunidade de empenhar No dia 8 de Setembro de 2011 em Cracóvia, uma task force de artigo de opinião a economia social neste momento. É um mercado emergente banqueiros sociais e financiadores éticos de toda a Europa, no sentido mais literal. Inevitavelmente haverão algumas dores reuniram-se em resposta à consulta pública da Comissão Europeia de parto à medida que evolui do nascimento para a maturidade, sobre a forma como o capital privado poderia ser atraído de uma mas em última análise, esses investidores que procuram capital forma mais natural, para estimular a economia social. Esta task que se envolverão no início deste mercado, serão capazes de force revelou que a Comissão Europeia deve estabelecer um colher os frutos. Deverá ser também um mercado integrado e mecanismo para usar os seus recursos limitados de forma mais a funcionar como uma escada rolante de financiamento para as eficaz no estímulo da economia social. A task force recomendou organizações de economia social, fornecendo a mais completa doze princípios orientadores para esse mecanismo na atracção de gama de títulos de capital e abraçando a mais ampla variedade capitais não-públicos para o efeito, nomeando este mecanismo do de organizações. Mecanismo Europeu de Investimento Social (ESIF). O lançamento formal, no Reino Unido, do Big Society Bank O capitalismo não está condenado e até já temos a versão do (actualmente Big Society Capital) em Julho de 2011, provou que ‘negativo’ para saber como corrigi-lo - agora vamos implementá-lo! o financiamento social tem ido além de uma mera “boa ideia” para captar o interesse das classes políticas, e também uma convicção de que atrair capital privado para alcançar resultados Nota 1: Poderá ler/fazer download da versão original (inglês) sociais deve fazer parte de qualquer solução para a crise deste Artigo em: http://www.dianova.pt/publicacoes/revista-exit financeira global. Isto é particularmente verdade, no contexto Nota 2: Poderá aceder ao Relatório “Making Good in Social das economias desenvolvidas com elevado endividamento Impact Investment: Opportunities in an Emerging Asset público, como resultado das políticas pré-crise combinadas Class” em: http://www.thecityuk.com/assets/Reports/Other/ com as acções pós-crise para estabilizar o sistema financeiro. MakingGoodOnSocialImpactInvestment.pdf Luis Mota Fundador & Director-Executivo da i advisers “A informação na base de estratégias vencedoras” Vivemos tempos Este nível base da pirâmide tem como objectivos: ter particularmente conhecimento das notícias sobre a Organização, saber que difíceis, nomea- actividades e projectos os congéneres estão a desenvolver, saber damente no que quais são as novas políticas que afectam o sector, conhecer concerne à di- incentivos à actividade e acompanhar os estudos realizados. mensão económica das Organizações. E, Com esta informação, sempre actual, conseguem os gestores temos conhecimento tomar decisões mais assertivas e em real time, o “marketing que estes se vão perpetuar e comunicação” pode avaliar os resultados das suas acções durante os próximos anos. Assim e desenvolver benchmarking com os restantes players, os sendo, é unânime que, em termos de gestão, devem as Organi- departamentos de research incrementam a qualidade dos seus zações preservar os seus maiores activos, estar atentas a novas relatórios e os colaboradores em geral podem gerar mais valor oportunidades, acompanhar de perto todos os seus stakeholders à Organização, ao mesmo tempo que esta os fideliza, fazendo e comunicar de forma assertiva. Acresce que, para levarem a cada um sentir-se parte do todo. Ora, ter toda a informação bom porto estes objectivos, os custos associados são incompa- disponível, a um clique, é uma ferramenta de elevado potencial ráveis aos benefícios, pelo que o retorno do investimento está à como suporte à decisão e que serve toda a Organização. partida garantido. Contudo, nas vantagens directas que emanam da sua utilização, Existem formas mais eficazes e processos mais efectivos podemos acrescentar valor utilizando os seus conteúdos para de desenvolver com qualidade estas competências na analisar a performance mediática e gerir  aquele que é, por Organização. O facto, é que é essencial fazer uma correcta muitos considerados, um dos maiores activos de qualquer gestão da informação, mapear os stakeholders de forma Organização: a sua reputação. sistemática - de forma a acompanhar os seus movimentos e entender as novas necessidades – e monitorizar os vários Senão vejamos, um dos objectivos primários da gestão é vectores de reputação para que seja possível cumprir com os de facto incrementar, melhorar e promover a reputação objectivos estratégicos da organização. da sua Organização. Assim sendo e a priori de qualquer acção ou definição estratégica, é necessário avaliar, fazer A informação é por inerência o primeiro elemento da cadeia um diagnóstico, sobre cada um dos vectores que geram de valor e tem por missão analisar, organizar e levar até às a reputação, sejam eles a solidez financeira, a visão e Organizações o seu conhecimento. Este trabalho, vulgo clipping, liderança, a capacidade de inovação, a qualidade dos produtos é usualmente exteriorizado e apresenta duas ferramentas e/ou serviços, o ambiente de trabalho ou as política de essenciais: um portal que possibilita gerir, pesquisar e partilhar responsabilidade social. É necessário entender cada um, de toda a informação e uma compilação das notícias do dia, forma a poder planear quais devem ser reforçados e em enviada por e-mail, que permite às Organizações disseminar a que medida a comunicação, em sentido lato, pode informação por todos os seus colaboradores. servir esse propósito. 39
  • 40. 40 Existem dois me- dos seus stakeholders, criar alertas de actividade que canismos que, desen- permitam monitorizar alterações no seu ambiente de negócio, volvidos de forma concertada, acompanhar as melhores práticas internacionais, detectar possibilitam esta avaliação. Por um oportunidades de negócios, estudar possíveis mercados de lado, a elaboração de estudos de merca- expansão, desenvolver cenários ou a antecipar tendências. do junto dos stakeholders, com questionários muito objectivos e que afiram directamente sobre E todas estas valências têm por objectivo encontrar vantagens os vectores de reputação - quantificando valores para competitivas face aos demais players. a posterior criação de um índice de reputação e avalian- do qualitativamente as opiniões. Por outro, proceder a uma Para as Organizações que têm efectivamente preocupações análise reputacional através da informação publicada. com a informação, a gestão dos seus stakeholders e a sua reputação, o trabalho está simplificado dado que já Esta última, revela-se decisiva para averiguar se a comunicação reúnem grande parte da estrutura necessária a um correcto está a ir ao encontro das necessidades reputacionais da desenvolvimento da inteligência económica. Organização e quais as alterações que se revelam fundamentais realizar ao seu plano. Um exemplo, determinada empresa do Os benefícios, directos e indirectos, para as Organizações sector energético tem uma forte valorização da sua capacidade que adoptam este modelo são inúmeros e dão-lhe “armas” financeira, com a publicação assídua de notícias sobre os para a prossecução da sua estratégia. Assim, e tendo sempre resultados, aquisições e internacionalização, tem uma liderança uma vantagem sobre os seus pares, conseguem estar mais à sempre presente nos vários meios de comunicação social frente, com valores distintivos, com produtos inovadores o que contudo, é rara a informação sobre a qualidade dos seus serviços, muitas dita o sucesso ou insucesso de um projecto. ou seja, tem este vector: qualidade percebida dos serviços, desfavorecido. Neste caso, a estratégia deve passar a contemplar uma abordagem mais exaustiva desta área. Este controlo deve ser realizado com assiduidade e faz parte do ciclo da reputação. Se a Organização desenvolver estas competências, está dotada das ferramentas necessárias a uma correcta de gestão da informação e da sua reputação: analisa a informação publicada, afere os seus índices de reputacionais, mede a eficácia da comunicação e revê a estratégia comunicacional. Acontece que as vantagens da informação, como base ao PS/Nota: Estas tarefas, fundamentais para a sobrevivência desenvolvimento de outras competências, não se ficam por das Organizações, sejam elas públicas ou privadas, aqui. Existe uma área fundamental para as Organizações independentemente do sector de actividade e da sua dimensão, que pode beneficiar directamente desta base e que visa são, nos nossos dias, maioritariamente subcontratadas. Não artigo de opinião dar respostas a um mercado cada vez mais competitivo, a somente porque existem empresas que se foram especializando inteligência económica ou competitiva. ao longo das últimas décadas nesta área e conseguem por isso ter um nível de serviço de elevada qualidade, mas também porque Os seus objectivos são lineares e transversais à Organização: conseguem apresentar valores financeiros muito abaixo dos que acompanhar de forma sistemática e organizada os movimentos seriam necessários para desenvolver a actividade internamente. Richard Tafel, CEO da Public Squared, & Kevin Ivers, CEO da Center Strategies (Washington DC, EUA) “Combinando Empreendedores Sociais com Líde- res Políticos no Primeiro Dia: O Modelo Brasileiro” Empreendedores sociais de todo o mundo serão forçados, em penha entre os secto- virtude da crise económica actual, a olhar para novos modelos res, público e privado: de inovação de operação. O modelo Brasileiro, de conectar 1. Os sectores governa- política governamental com entrega de serviços sem fins mentais e empresariais lucrativos, oferece lições sobre sustentabilidade. não podem satisfazer as neces- sidades de todos os desafortunados. O modelo de empreendedorismo social nasceu do princípio 2. Os sectores governamentais e empresariais financiarão americano de que o capitalismo poderia resolver os flagelos boas causas. sociais com caridade, colmatando as lacunas deixadas pelo 3. Os sectores governamentais e empresariais não são fontes governo. O modelo dos EUA tem como assumpção três pre- de inovação no desenvolvimento social. missas principais sobre o papel que a sociedade civil desem- Este modelo americano permite inovar, dada a liberdade
  • 41. artigo de opinião que proporciona à sociedade civil, e à competição entre tinham acordado em conjunto. implementadores e financiadores para produzir resultados. Os resultados têm sido tão notáveis que muitos ofuscaram Também permitiu aos americanos exibir os seus valores os dos mais ricos, tais como os Estados Unidos: o acesso culturais de voluntariado e caridade. Porém esta filosofia tem universal e gratuito ao tratamento do HIV foi alcançado ao longo consistentemente mostrado um modelo mal sustentado, que de 10 anos no Brasil, embora esse direito nunca tenha sido depende inteiramente da disponibilidade de fundos em excesso atingido na abordagem público-privada dos EUA; a educação e dos caprichos dos doadores, sejam eles públicos ou privados. para a prevenção tem levado ao nivelamento e até mesmo à diminuição de novas infecções por HIV no Brasil, enquanto Como podemos ver actualmente, o modelo dos EUA apresenta estes índices continuam em alta nos EUA; o conteúdo da as seguintes deficiências. educação preventiva no Brasil sempre foi baseado na ciência 1. A procura por serviços em tempos económicos difíceis e não é censurado pelo governo, embora tenha sido uma fonte é maior, enquanto os recursos de financiadores de profundo conflito através da divisão governo-ONG nos EUA governamentais e de empresas, normalmente, diminuem. desde o início da epidemia. Cooperação intensiva como modelo 2. Os líderes de ONG são hostis à ideia de se envolverem em tem rendido um amplo input, execução efectiva e consistência. políticas públicas, porque as ideias para a sua actividade social surgem a partir de uma crítica geral do fracasso da O modelo do Brasil estende-se a muitas áreas do acção governativa. desenvolvimento social, onde o acordo entre os dois sectores 3. Os líderes de ONG estão convencidos de que podem operar tem sido bem sucedida em outras áreas prioritárias, para o em paralelo com as empresas e a acção governativa por país. O “Fome Zero” e a “Bolsa Família”, programas da última tempo indeterminado, e em muitos casos, ver esta acção década, têm beneficiado de um sector não-governamental bem paralela como parte de sua missão. sustentado capaz de fornecer uma gama de serviços de apoio às famílias, recebendo assistência financeira directa destinada O fracasso dos Estados Unidos em forjar soluções políticas a atenuar a pobreza, aumentando o atendimento escolar e a sustentáveis deverá estimular as ONG a olhar para outros imunização infantil, a segurança alimentar e eliminado a fome. modelos que têm provado uma maior sustentabilidade a longo prazo e apresentado resultados consistentes. Os programas de micro-financiamento governamentais (micro-créditos) deram às ONG locais maior capacidade de O Brasil é um bom lugar para se olhar. O gigante emergente escala a novos clientes e para apoiar a ampliação de pequenos da América do Sul tem usado um modelo completamente negócios em áreas pobres, dando maiores rendimentos diferente ao longo de décadas e tem evidenciado um sucesso estruturais para as populações vulneráveis. Ao mesmo tempo, notável, não só na sustentabilidade, mas obtendo resultados ninguém teve que disputar dinheiro de fontes privadas, e uma surpreendentes. Desde que retornaram a democracia, em quantidade histórica de brasileiros foi retirada da pobreza e meados dos anos oitenta, a sociedade civil brasileira tem começou a gerar um real poder de fogo no motor económico vigorosamente posicionado-se como um impaciente sistema de do consumo doméstico do país. Isto compreendeu um fluxo entregas para uma ampla gama de serviços sociais. E os novos de receitas histórico de retorno ao governo, levando a um governos democráticos viram como se fornecia os recursos profundo desenvolvimento económico e social. necessários para essas ONG realizarem o seu trabalho. Como tal, quando os grandes desafios sociais começaram a ser O modelo de cooperação intensivo também tem seus endereçados no Brasil, tal foi feito através de um processo inconvenientes. Há espaço para a corrupção e para a falta de elaborado de cooperação entre ambos os sectores. transparência, sobretudo tendo em conta a estreita relação entre os líderes de ONGs e os da agência governamental. Exemplo disso foi a resposta do Brasil à epidemia da SIDA, Mas outra ironia do sistema brasileiro é que o elevado nível que surgiu com a chegada da democracia. Activistas sociais de transparência na contabilização dos gastos públicos começaram a formar centenas de ONG locais para ajudar doentes discricionários combinam com a natureza pública do diálogo de todos os tipos, e trabalharam estreitamente no desenvolvimento Governo-ONG no desenvolvimento de políticas, o que motivou de políticas brasileiras sobre prevenção, tratamento e educação. que a corrupção na sociedade civil fosse mais difícil de ser Por sua vez, o governo começou a financiar projectos propostos eliminada. O suborno no sector privado em concessões públicas por todo o país. Uma Comissão Nacional de SIDA para a sociedade e a compra de votos são de longe os casos mais perversos de civil e para o governo foi formada com poderes reais para formular corrupção de acordo com a “Transparência”, um grupo de normas e políticas nacionais, e uma “solidariedade” compacta observação brasileiro. O modelo também significa que as foi sedimentada, através da qual as ONG seriam sustentadas por ONG devem sacrificar uma certa dose de independência recursos governamentais a fim de implementar as políticas que política em prol da manutenção da “solidariedade” 41
  • 42. 42 de acordo com desenvolvimento de políticas como um modelo em progressão, o governo e com os ano a ano, criando uma solução sustentada. Uma cooperação actores da sociedade civil. Na mais estreita, em detrimento do actual nível de desconexão prática, os governos brasileiros de entre a sociedade civil e o governo em que nos EUA, poderá ser todos os matizes partidários fizeram um vista como muito desafiador dada a cultura política da nação. esforço para manter os seus parceiros ONG Mas a necessidade crescente num momento de escassez de satisfeitos não causando conflitos políticos, e recursos pode fazer desses tais movimentos ousados uma obtendo sempre crédito e louvores dos resultados necessidade. do país em fóruns e organismos internacionais. Nota: poderá ler/fazer download da versão original (inglês) Empreendedores sociais globais devem aplicar a lição deste Artigo em http://www.dianova.pt/publicacoes/revista-exit do Brasil, casando a inovação social directamente com o Rita Maltez Partner da Pares Advogados “Ética e Governo” Os temas da ética e do bom governo são, pelas piores razões, de recursos pró- temas na ordem do dia. A grave crise económica e financeira prios que lhes são que vivemos é, acima de tudo, resultado de falhas graves, seja no afectos pelos seus governo das sociedades comerciais (mas não só nestas), seja no instituidores ou funda- uso das mais elementares regras éticas que a conduta humana dores, integram muitas deve observar. vezes no seu universo patri- monial, como forma de produção Falamos de falhas humanas de consequências catastróficas, de novos recursos para desenvolvimento das suas actividades como bem refere o justamente famoso relatório da Comissão centrais, participações sociais de relevo em empresas com de Inquérito à Crise Financeira  (Financial Crisis Inquiry fim lucrativo e aplicam alguns dos seus recursos em inves- Commission1) nomeada pelo Presidente e pelo Congresso dos timentos em instrumentos financeiros ou noutras realidades Estados Unidos. geradoras de recursos financeiros (detenção e exploração de imóveis, por exemplo) de valor bastante significativo. artigo de opinião O designado Terceiro Sector, cobrindo a Economia Social ou Solidária, é particularmente interpelado, pelas suas finalidade Assim, a gestão destes patrimónios deve ser profissional e tem e vocação, em tempos como os que atravessamos, em que os que ser entregue a administradores profissionais e independentes mais frágeis e expostos estão, mais do que nunca, entregues dos fundadores ou instituidores das ditas Organizações. a si próprios e à sua sorte (ou falta dela). Torna-se pois evidente que as regras de bom governo, Ao falarmos de organizações de recursos de natureza vária, universalmente aceites como indutoras de melhor e mais com uma finalidade intrinsecamente altruísta, poderia adequada performance das Organizações empresariais com pensar-se que seria desnecessário falarmos de ética ou de fins lucrativos devem também ser seguidas pelo Terceiro bom governo dessas Organizações. Sector. Porém, não é assim. Na verdade, mesmo sem fins lucrativos, Admito que entre nós esta evidência não seja tão clara quanto essas organizações, pela sua natureza e funções têm que o é há já muitos anos, por exemplo, nos EUA onde a instituição assentar numa estrutura organizacional complexa, envolvem e o contributo individual para fundações com os mais importantes meios financeiros e, seja pela sua dimensão, seja variados objectivos, desde a criação de universidades, até à pela função que desempenham em prol da comunidade em preservação de parques naturais ou de patrimónios artísticos determinadas áreas, são muitas vezes agentes económicos e ou de interesse cultural, sem esquecer a pesquisa científica ou sociais de grande relevo. a ajuda a populações mais desfavorecidas, é prática comum, independentemente das posses, da formação, da origem Falamos de fundações e associações ou de entidades colectivas social ou do nível académico dos instituidores e fundadores. ou patrimónios com naturezas e finalidades similares, de génese voluntária e privada que, em regra, desenvolvem a sua actividade na Recordo sempre com gosto uma pequena pedra que existe no educação, na protecção do meio ambiente, da saúde ou da cultura, átrio da Biblioteca Pública de Nova Iorque onde se encontra só para dar alguns dos exemplos mais evidentes e que, pela sua inscrito o nome de um dos seus benfeitores e que mais não dimensão ou finalidade, requerem uma organização profissional de era do que o jardineiro que cuidava dos jardins de casas da recursos semelhante à de qualquer entidade empresarial. cidade próximas da Biblioteca, e que ali se refugiava nos seus tempos livres tendo naturalmente desenvolvido o gosto pela Acresce que muitas dessas Organizações, embora disponham leitura e pela criação da sua própria pequena biblioteca, que 1 Relatório: http://cybercemetery.unt.edu/archive/fcic/20110310173545/http://c0182732.cdn1.cloudfiles.rackspacecloud.com/fcic_final_ report_full.pdf
  • 43. artigo de opinião deixou em testamento à Biblioteca Pública, como retribuição de controlo e supervisão, submetendo-se a auditorias e prestando pelo acolhimento. Merece este homem, como todos os contas, assim trazendo aquilo a que Rui Vilar chamou “um “novo” inúmeros beneméritos daquela instituição, que a mesma valor acrescentado ético ao valor acrescentado social que é o seja bem gerida, preserve e faça frutificar o seu património, resultado esperado da intervenção das fundações” (in Homenagem cumprindo o seu desiderato em prol da comunidade. aos Profs. Doutores A. Ferrer Correia, Orlando de Carvalho e Vasco Lobo Xavier, Nos 20 Anos do Código das Sociedades Comerciais, E como se garante que assim seja? Com uma gestão profissional, Coimbra Editora, 1996). competente, independente, transparente e responsável. Seria bom que assim fosse em todos os organismos que O adequado desempenho das estruturas e processos, a integram o Terceiro Sector, seja qual for a sua função, monitorização desse desempenho e seu controle são os objectivo ou dimensão. instrumentos que garantem a prossecução dos fins altruístas dessas instituições de modo sustentável, assegurando o Porém, e ao contrário do que Rui Vilar defende no seu texto cumprimento dos seus objectivos e funções a longo prazo. acima referido, entendo que, para tal, não basta a auto Assim, regras básicas do corporate governance como a disciplina nem a auto regulação. Gostaria que bastasse, separação entre funções executivas e deliberativas, a existência mas infelizmente, mostram a experiência e a prática que de mecanismos internos e externos de controlo e a possibilidade assim não é. A simples adopção voluntária de códigos de de responsabilização das administrações, à semelhança do que conduta, ainda que com a correspondente publicidade, não se passa para as sociedades comerciais, devem igualmente ser é garantia de integridade e muito menos da sua aplicação. É seguidas pelas fundações, associações e demais entidades, assim em todos os sectores, pois se olharmos atentamente, organismos e patrimónios de natureza similar. inúmeras entidades adoptam voluntariamente códigos de conduta ou ética, regulamentos internos de funcionamento, As melhores práticas internacionais recomendam a de detecção e comunicação de irregularidades, etc., que são incorporação por esses organismos de princípios de bom pura e simplesmente ignorados, sem qualquer consequência, governo tão básicos quanto a publicação de relatórios e contas, também por ineficiência de mecanismos internos de controlo. a realização de auditorias independentes às actividades dessas instituições e até o alinhamento das remunerações de Acresce que se as fundações e associações de maior porte gestores por critérios de desempenho e mérito. adoptam voluntariamente regras de bom governo, tal não acontece na grande maioria dos casos, com evidente prejuízo para Em Portugal existe um conjunto relativamente extenso de os fins a que os seus instituidores e fundadores as destinaram. regras de bom governo, constantes em diversos normativos legais desde o Código das Sociedades Comerciais até ao Estou convicta de que um maior amadurecimento da nossa Código dos Valores Mobiliários, mas passando também sociedade e da nossa economia e o aumento da qualidade da por muita outra legislação avulsa aplicável a determinado formação e informação dos nossos jovens nesta matéria, serão sectores da economia ou destinada a proteger bens ou valores os pontos de partida para uma alteração de mentalidade e, logo, comunitários concretos, como é o caso das leis do ambiente. das práticas de gestão e de controlo da gestão que asseguram a A força vinculativa das regras de bom governo tem distintos qualidade, não só das nossas empresas mas também dos agentes graus, consoante as empresas sejam cotadas ou não e, dentro da Economia Social. É na formação académica e profissional que das não cotadas o conjunto de obrigações nesta matéria devem incidir, antes de mais, os nossos esforços. é também distinto em função da dimensão das empresas. Existe ainda detalhadas recomendações não vinculativas mas Aliás, esta formação gera igualmente cidadãos mais compe- cuja observância contribui naturalmente para uma maior tentes, interventivos e exigentes. valorização das empresas que as observem. Interpelar, questionar, verificar, exigir competência, qualida- Porém, este acervo legislativo, regulatório e recomendatório, de, transparência e prestação de contas devem ser atitudes na sua generalidade, não se aplica ao Terceiro Sector. normais de cidadania e são garantias da democracia cujo ob- jectivo é também o de assegurar equidade e proporcionalida- No entanto, se olharmos à nossa volta, verificamos que a de no tratamento dos “stakeholders”. generalidade das Fundações e organismos de natureza similar, de maior dimensão e notoriedade pública, estabelecem e seguem Mas é igualmente na criação de um quadro legal, simples mas regras e procedimentos em tudo semelhantes às adoptadas pelas eficaz, para o governance do Terceiro Sector que, a meu ver, sociedades comerciais de maior dimensão, com administrações está a chave que abre a porta para instituições mais profissionais, integrando inúmeros independentes, com estruturas capazes, competentes e produtivas. 43
  • 44. 44 Matt Forti, Manager, & Jeri Eckhart-Queenan, Head Global Development Practice The Bridgespan Group (Boston, EUA) “Mensuração como Aprendizagem: O que os CEOs de Organizações sem fins lucrativos, Mem- bros de CA e Filantropos necessitam saber para continuar a melhorar” A mensuração é um -avaliação e propositadamente providenciar ao pessoal tema quente actual- tempo, recursos, incentivos e “fóruns de aprendizagem” para mente no sector social, que façam o mesmo. à medida que um número crescente de financiadores quer sa- 4. Garantir o benefício de todos os contribuidores: se o ber exactamente como o seu dinheiro está a ser usado, e à sistema não é construído para servir todos os intervenientes medida que as Organizações sem fins lucrativos empreendem interessados, o resultado será decepcionante: beneficiários avaliações rigorosas para dar provas que os seus programas que não conseguem responder às pesquisas, a equipa que funcionam e atrair financiamento que lhes permitam crescer. não reúne e regista os dados que deveria, os doadores que Mas um dos usos mais importantes da mensuração/avaliação fornecem informações incompletas, e os financiadores que é muitas vezes negligenciado, a saber: o propósito de apren- coligem, mas não lêem os relatórios. der e melhorar o desempenho, ou por outras palavras mensu- ração de desempenho. 5. Tornar-se melhor na mensuração ao longo do tempo: com a experiência, as Organizações podem identificar, com uma confiança Os benefícios da mensuração de desempenho podem ser acrescida, os aspectos dos seus programas que guiam para os substanciais. Entre os aspectos a ter em conta: resultados, e as correspondentes mensurações que lhes dão as • Organizações que avaliam a sua aprendizagem acham informações mais valiosas. De seguida, são capazes de reduzir frequentemente que são capazes de fazer mais para os seus o tempo e a despesa da avaliação, por exemplo, controlando as beneficiários com menos dinheiro; dimensões ou ajustando os tamanhos de amostra. Organizações • são capazes de adaptar os seus programas de uma forma comprometidas com a progressão também melhoram mais rápida e eficaz à evolução das circunstâncias, mas continuamente o rigor, seja por meio de mais aprofundadas análises, também a tomar melhores decisões na alocação de recursos. comparações com outros grupos de dados, ou complementando a avaliação interna com avaliação externa. artigo de opinião O problema é que a ideia de fazer avaliação de desempenho assusta muitos líderes do sector social. O processo parece Os financiadores podem desempenhar um papel importante, assustador, as recompensas distantes e incertas. ajudando a esclarecer o impacto pretendido e a teoria da mudança para os donatários (ver artigo “Zeroing in on A mensuração de desempenho não precisa ser uma Impact1” para saber mais sobre impacto previsto e teoria da experiência esmagadora. A experiência dos exemplos no mudança), fornecendo-lhes os recursos que precisam para sector, a partir de iniciativa Goldman Sachs “10,000 Women capacitar uma avaliação interna e, quando possível, facilitando initiative to the Latin American Youth Center”, oferece cinco os sistemas de mensuração compartilhada. Mais importante, lições fundamentais para orientar o desenvolvimento de uma eles podem apoiar uma cultura de avaliação, reconhecendo que abordagem eficaz para a mensuração de desempenho: as Organizações sem fins lucrativos não podem e nem sempre oferecem resultados perfeitos e, portanto, incentivando essas 1. Comece com o fim em mente: antes mesmo de pensar em organizações a procurar novas oportunidades de aprender métricas ou sistemas, é importante obter uma visão clara com seus dados e a partilhar como pretendem evoluir. sobre os resultados que as Organizações irão obter. Um bom teste para saber se uma liderança sem fins lucrativos tem essa clareza em mente implica que os seus membros consigam responder a esta pergunta numa única frase: Quem serve a Organização, e que mudança é que procura criar? 2. Mensuração âncora na teoria de mudança da Organização: uma robusta teoria de mudança especifica o conjunto de programas, acti- vidades, capacidades organizacionais e relacionamentos necessários para alcançar os resultados que a Organização tenha em mãos. Uma vez que esta teoria se torne explícita e acordada, é muito mais fácil agregar todo o conjunto de informações que revela não apenas se a Organização está a alcançar os resultados, mas também como os al- cançou e as mudanças a empregar para o seu aperfeiçoamento. 3. Criar uma cultura de mensuração: os líderes de uma Organização devem, através de suas acções, abraçar a auto- 1 Ver Artigo http://www.bridgespan.org/LearningCenter/Resource Detail.aspx?id=858
  • 45. em dia, e contratou mais 7 funcionários a tempo inteiro. artigo de opinião Breve nota sobre a terminologia Há, infelizmente, pouca consistência no modo como o • Custos mais baixos para aprender sector social define termos relacionados com mensuração. A Camfed é uma ONG internacional que tem financiado o Ao longo deste trabalho, usaremos o seguinte: acesso à educação e formação profissional e desenvolvimento • Mensuração de desempenho (também monitorização / de liderança, para mais de 1 milhão de meninas e jovens na avaliação de desempenho): acompanhamento contínuo de África rural. De acordo com a Directora Executiva, Ann Cotton, dados, geralmente pelo próprio pessoal de uma Organização o sistema de mensuração de desempenho da Camfed, que se através de um sistema de dados interno, para os propósitos serve dos membros da comunidade (incluindo as mulheres principais de aprendizagem, responsabilidade e evolução. jovens no seu próprio programa) para ajudar a colectar os Os sistemas mais poderosos integram programas, dados dados, é “significativamente menos caro e mais eficaz do que financeiros e organizacionais, embora o nosso foco principal recorrer a avaliadores” para fazer avaliações frequentes. neste artigo seja a avaliação de programas (ou seja, modelos, abordagens, intervenções). A razão é que a avaliação regular não só ajuda a variável da • Avaliação: Atributos ou estudos para responder a organização académica e social dos resultados, mas também perguntas críticas sobre um programa da Organização. ajuda o pessoal a detectar, em tempo real, quando uma As avaliações podem ser feitas interna ou externamente, jovem não está a receber os serviços Camfed (muitas vezes, para apoiar a aprendizagem e o aperfeiçoamento, mas resultado da interferência da comunidade, uma situação que também para demonstrar evidências e influencias no a Camfed geralmente rectifica rapidamente). Além do mais, terreno. os avaliadores comunitários (além de construírem os seus • Avaliação de impacto: Um tipo de avaliação que se estuda próprios conhecimentos) estão a melhorar a precisão do seu quando uma mudança nos resultados pode ser atribuída ao trabalho nas Organizações porque “falam a mesma língua e programa de uma Organização. Os resultados comprovados são sensíveis às correntes e dinâmicas de poder.” através desta avaliação são chamados de impactos. • Estudo de controlo aleatório: Um tipo de avaliação de De acordo com a directora de marketing da Camfed, Laurie impacto em que os participantes elegíveis são escolhidos Zivetz, a Organização reviu em baixa a sua mensuração com aleatoriamente para receber ou não receber programa de custos relacionados nos últimos anos, equipando os colectores uma organização. Embora amplamente considerada a forma de dados com laptops e, em alguns casos, telefones móveis. mais rigorosa de avaliação de impacto, apenas pode ser Nas comunidades onde os telefones móveis estão a ser usados, usada para programas que se prestem a atribuição aleatória. informações sobre os pagamentos que a Camfed fez em nome de seus clientes, que costumava ser recolhida trimestralmente, está agora a ser colectada semanalmente ou mesmo diariamente. Benefícios da mensuração de desempenho Considere alguns dos benefícios claros da mensuração de • Inovação célere desempenho: One Acre Fund é uma Organização avaliada em 3 milhões dólares que fornece um conjunto abrangente de sementes, adubos, formação, marketing e seguros para mais de 30.000 • Melhores resultados para os beneficiários agricultores na África Oriental. A One Acre Fund gere 20 a 30 A campanha Goldman Sachs 10.000 Women é um significativo experiências em curso para explorar novas oportunidades investimento de vários anos para oferecer a mulheres para aumentar o lucro de cada terreno plantado, incluindo carenciadas, em todo o mundo, uma educação empresarial configurações de testes de diferentes fertilizantes, ajustando e serviços de apoio (networking, orientação, assessoria) que os rácios do pessoal de formação para os agricultores e precisam para fazer crescer os seus negócios e, ao fazê-lo, revendo os regimes de reembolso. gerar maior crescimento económico. Os líderes da Organização reúnem regularmente dados sobre essas Ayodeji Megbope, proprietário da empresa de catering No experiências, analisando e interpretando para auxílio de testes, Leftovers Nigeria Limited, completou com êxito o programa protótipos e, rapidamente definindo novas abordagens. Como “180 hour curriculum” na Universidade Pan-African em 2008, resultado, a One Acre Fund foi capaz de implementar as melhores tomando conhecimento sobre temas de negócios que variam de ideias e melhorias a tempo para a próxima época de cultivo. operações de vendas para gestão de pessoas. Após a formação, como o negócio de Megbope começou a crescer, o sistema de mensuração de desempenho empregue, que controla a utilização • Alocação melhorada de recursos de demonstrações financeiros e métodos contabilísticos, entre Uma vez que a “10.000 Women” trabalha com mais de 70 outros indicadores, revelou que sairia beneficiada de conselhos académicos e parceiros de Organizações sem fins lucrativos, suplementares em matéria de contabilidade. os seus dirigentes consideraram que a tomada de decisões sobre onde e como alocar recursos é um desafio constante. Então, Peter Bamkole, director do programa da Universidade Em que países se deve investir? Que parcerias? Que actividades Pan-African, recomendou a Megbope que trabalhasse de programáticas? perto com um contabilista, que a ajudasse a aprofundar a sua capacidade para gerar lucros e liquidez, no projecto. Munido com A actividade do sistema de mensuração de desempenho informa esse conhecimento adicional, Megbope negociou um cronograma sobre essas decisões. Por exemplo, os dados demográficos e de facturação mais favorável junto dos seus fornecedores, o histórico dos negócios recolhidos desde a primeira ronda de abrindo a sua primeira conta bancária e criando fazendo prova de participantes em 2009, mostraram que os parceiros do programa demonstrações financeiras que lhe permitissem ter acesso ao tinham dificuldade em encontrar mulheres que eram capital. Como resultado, rapidamente desenvolveu seu negócio simultaneamente precárias e que tinham potencial de de 1.000 dólares mensais antes do programa para 16.000 hoje crescimento. A Goldman Sachs usou essa informação 45
  • 46. 46 para realojar re- Recorrendo à nossa experiência, muitos líderes de Organizações cursos, aumentando o sem fins lucrativos têm mais dificuldade com a primeira parte seu investimento no marketing do processo, definindo o impacto que pretendem alcançar, e local e em acções de promoção, articulando exactamente o que tem de acontecer (e porquê), a permitindo que os parceiros localizassem fim de alcançar esse impacto. Mas cada fase apresenta os seus mais facilmente as mulheres que atendessem próprios desafios. As experiências no sector social oferecem aos critérios de selecção do programa. cinco lições que sugerem como obter um sistema de mensuração de desempenho produtivo, instalado e pronto a funcionar. • Custos do programa mais baixos A Jumpstart, sediada em Boston, fornece orientação Lição 1: Comece com o final em mente individualizada e protecção para alunos em idades pré- Antes mesmo de pensar em medidas ou sistemas, é -escolares em comunidades de baixos rendimentos. Em 2002, importante ter uma visão muito clara sobre os resultados os líderes seniores notaram que o escritório de Boston tinha que a Organização encabeçará, também conhecidos como o dobro de funcionários do que outras localizações; todavia, “impacto previsto”. Um bom teste para saber se a equipa o sistema de mensuração mostrava que este escritório de liderança possui essa clareza consiste em pedir a cada permanecia com um número semelhante de crianças membro para responder à seguinte pergunta com uma única preparadas para a escola (a principal medida de sucesso da frase: Quem ou o que é que a sua Organização serve e quais Jumpstart). Escudada por estes dados custo/resultado, a as mudanças que pretende criar e até quando? Jumpstart reduziu os custos de pessoal em Boston, em linha com outras localizações, mantendo a qualidade das suas Lição 2: Mensuração âncora na sua teoria ofertas, e os resultados foram alcançados. de mudança Com a pretensão de um impacto claramente definido, os líderes da Organização devem perguntar: Como é que a Um quadro de mensuração de desempenho Organização alcançará, exactamente, os seus resultados? e lições apreendidas Muitos líderes do Terceiro Sector dizem-nos que encontraram Lição 3: Criar uma cultura de avaliação um conceito de mensuração - e as complexidades de “A cultura importa muito mais do que os sistemas. Se a desenvolvimento de um sistema em que se sintam confiantes sua Organização não se preocupa com métricas, não se - confuso. Uma forma de desmistificar essa teoria é reflectir na preocupa em começar a criar sistemas para mensuração de aprendizagem e progresso contínuo como um ciclo de vida, e desempenho.” pensar na mensuração como uma ferramenta que pode ajudar - Brian Trelstad, diretor de investimentos, Acumen Fund um movimento da organização através desse ciclo de vida. Estamos de acordo com o Brian - como pode você criar uma As Organizações do sector social que utilizam a mensuração cultura de avaliação, se ainda não possui uma? A nossa pesquisa dessa forma geralmente seguem algumas variações de um sugere dois factores críticos: o compromisso da liderança e artigo de opinião primeiro processo popularizado no mundo corporativo, que oportunidades intencionais para aprender e melhorar. tem vindo a utilizar ferramentas de melhoria comprovada, como a Six Sigma durante décadas. Lição 4: Assegure os benefícios de todos Como os líderes de uma Organização têm uma ideia cada os contribuintes. vez mais clara face aos resultados que aspiram alcançar, A mensuração só funciona quando aqueles que contribuem e e sobre o que precisam para alcançar esses resultados usam o sistema, como fornecedores de dados, colectores de dados, (Definir), tornam-se mais capazes de descobrir quais as analistas e superintendentes, beneficiam directamente do sistema. informações que lhes dirão como se estão a comportar (Avaliar), compreender o que funciona e o que não funciona Lição 5: Tornar-se melhor na mensuração (Aprender), e explicitamente aplicar o que aprenderam para ao longo do tempo melhorar os seus resultados (Melhorar). Manter este ciclo Com a experiência, as Organizações descobrem que de quatro fases em mente não só ajuda os líderes a decidir o podem identificar, com uma confiança brutal, os aspectos que mensurar e porquê, mas também ajuda-os a decidir o que particulares dos seus programas que guiam aos resultados, não se deve mensurar, um factor importante para não tornar a e as avaliações que lhes dão as informações mais valiosas. mensuração num conceito esmagador e ineficaz. Como resultado, elas são cada vez mais capazes de reduzir o tempo e a despesa de avaliação, por exemplo, racionando o O gráfico abaixo, retrata o ciclo de vida, em quatro partes: número de métricas que analisam, de pesquisas que realizam, Definir, Avaliar, Aprender e Melhorar. ou ajustando os tamanhos de amostra. Nota: Os Autores concederam e autorizaram previamente a edição deste Artigo. Poderá ler a versão original (inglês) em http://www.bridgespan.org/WorkArea/linkit.aspx?LinkIdentifi er=id&ItemID=22296
  • 47. artigo de opinião Ana Marreiros Account Manager Corporate and Internal Communication, no Grupo Inforpress “A comunicação interna facilita a mudança?” Se falar de ges- A boa organização e execução do plano de comunicação tão da mudança interna potencia indivíduos mais confiantes das suas acções e, é uma tarefa com- consequentemente, melhora a reputação da Organização que plexa, falar de gestão representam. O desafio do Terceiro Sector é ter uma pessoa da mudança no contexto alocada à comunicação, alguém determinado a executar o de um sector tão disper- plano de comunicação e com “jogo de cintura” suficiente para so como o Terceiro Sector é ain- saber levar as pessoas a atingir os objectivos da mudança. Não da mais difícil. Mas o desafio que temos para hoje passa por interessa o nível hierárquico que ocupa actualmente, mas sim abordar o papel da comunicação interna enquanto facilitador que seja alguém que de forma inata tenha características de da gestão da mudança. liderança e seja um apaixonado pela comunicação. Este perfil vai ser a chave para alcançar os objectivos da comunicação Neste sentido, a má notícia é que nenhuma entidade de nenhum interna. sector consegue evoluir sem recorrer a uma comunicação interna estruturada. Mas, a boa notícia é que a comunicação A comunicação interna deve ter como premissa fomentar a interna é muito mais árdua em entidades de grande dimensão união entre os intervenientes no plano. Quando esta união está e altamente estruturadas, onde os colaboradores acabam por sólida, a Organização tem cientes as etapas de um processo se envolver muito pouco nas acções. Uma vez que as estruturas de mudança e os próprios intervenientes adiantam-se, criam do Terceiro Sector são muito mais ágeis e voluntariosas, esta os cenários e antecipam-se a eles. má notícia está excluída - o que há a fazer é dar prioridade à comunicação interna. Em contexto de mudança, a comunicação interna não é eficaz quando a Organização não é transparente e clara na Implementar mecanismos de comunicação interna no Terceiro difusão das mensagens, elementos indispensáveis para Sector é fortalecer a construção e manutenção da coesão um ambiente organizacional saudável. Outro aspecto que social. Apesar das pessoas que integram as Organizações normalmente actua como barreira à comunicação interna é a serem um público super importante na hora de planificarmos capacidade que o ser humano tem para criar rumores. Antes os planos de comunicação, infelizmente temos tendência para os investigadores desta área chamavam-lhe “rádio alcatifa”, as subestimar ou mesmo esquecer. E isto acontece porque mas com a evolução da internet, a terminologia está a evoluir acabamos por não conhecer as pessoas que trabalham para “rumores.net”, já que muitas destas dúvidas se passam connosco. Definimos minuciosamente o perfil de cada um dos online. nossos públicos externos, mas ignoramos o público interno. Este desconhecimento leva a que a comunicação interna Nunca podemos esquecer que os membros são os porta- não preencha totalmente as necessidades informativas dos -vozes diários das Organizações, logo têm de estar informados membros com quem trabalhamos. para saberem responder às questões dos públicos externos. A ideia é que os membros conheçam tão bem as Organizações, Mas se todos estivermos bem informados e conscientes da quanto as Organizações devem conhecer os seus membros – realidade, vamos ser melhores pessoas, actuando de forma e esta forma de estar de “dar e receber” é possível através da mais ágil e assertiva. O verdadeiro compromisso organizacional comunicação interna. só é alcançado quando os membros se sentem identificados e implicados. Ganhamos nós e ganha a sociedade. Em jeito de conclusão, não podemos ter dúvida que a comunicação, interna e externa, é um dos principais Qual é então o ponto de partida da comunicação interna quando desafios do Terceiro Sector. É necessário criar sistemas de a necessidade de mudança impera? Se imaginarmos o conjunto comunicação entre este sector e os sectores público e privado, dos indivíduos envolvidos nesta mudança como uma “tripulação”, mas esta comunicação externa só vai ser eficaz quando o primeiro passo é identificar os pontos que a nossa tripulação a comunicação interna já for suficientemente sólida. Os necessita entender para continuar a desempenhar as suas objectivos fundamentais pelos quais temos de lutar são: gerar funções de forma exemplar e produtiva. Podemos recorrer a confiança entre todos os membros da organização, ajudando uma pequena análise interna para conhecer as características, a criar uma identidade organizacional única. Desta forma, necessidades e interesses da tripulação, obtendo as bases para teremos membros comprometidos e participativos. Quando traçar a estratégia da mudança. a comunicação interna atinge o seu grau de maturidade, os membros já sabem que vão ser os primeiros a saber No fim de conhecermos os prós e contras da nossa realidade, das notícias das suas organizações. Com intervenientes sem esquecer os rumores, estamos em condições de desenhar informados, a mudança é um passo suave. um plano de comunicação interna, que deve englobar os seguintes pontos: Que mensagem devemos comunicar? A quem? Quando (definir os prazos)? Através de que meios (definir os canais)? Como? 47
  • 48. 48 Agências das Nações Unidas reforçam a Coordenação e Acção para atingir as metas da Educação Expressando preocupação com o ritmo países na região. Os sistemas de educação de qualidade que lento dos progressos na Educação para melhor respondem às necessidades do mercado de trabalho Todos, os dirigentes das Nações Unidas e altos e que representam os cidadãos, serão fundamentais para a representantes da UNDP, UNICEF, UNFPA, Banco construção de sociedades sustentáveis. Mundial, ONU Mulheres e da Iniciativa EFA-Fast Track discutiram a forma de intensificar os esforços para atingir Expressando preocupação de que a ajuda à educação tenha metas até 2015, durante um encontro privado, organizado estagnado, os participantes chamaram a atenção para a pela Directora-Geral da UNESCO, Irina Bokova, em Nova York, próxima EFA-FTI Replenishment Pledging Conference, a ser a 18 de Setembro de 2011. realizada em Copenhaga, em Novembro. É crucial, dizem eles, que a FTI (rebaptizada de Parceria Global para a Educação), Em consenso, afirmaram dever ser um objectivo primário, seja apoiada por uma reposição substancial. a garantia que crianças mais desfavorecidas e os jovens tivessem acesso à escola. Notaram também, que muitas A discussão privada contou com a participação da crianças e jovens estão a sair da escola sem as competências Administradora do UNDP, Helen Clark, do Director Executivo adequadas para assegurar um trabalho decente, enfatizando da UNFPA, Babatunde Osotimehin, da Directora Executiva da a necessidade de aumentar a atenção na área crítica de ONU para as mulheres, Michelle Bachelet, da Vice-Directora educação secundária das raparigas, onde o progresso tem Executiva da UNICEF, Geeta Rao Gupta, do Vice-Presidente sido demasiado lento. do Banco Mundial para o Desenvolvimento Humano, Tamar Manuelyan Atinc, e da Presidente da EFA-FTI, Carol Bellamy. Os participantes apoiaram uma proposta da UNESCO para fortalecer a eficácia da coordenação EFA através de um Nota 1: Desde 2010, a Dianova (nos 11 países da Europa e aumento do diálogo e de partilha de conhecimentos aos níveis das Américas – Sul, Latina e do Norte – onde opera) mantém nacional, regional e global. Discutiram, de igual forma, como relações operativas com a UNESCO para a área da educação melhorar a sinergia de esforços das respectivas agências para objectivos complementares, tais como a saúde, e concordaram Nota 2: Poderá aceder/fazer download do artigo na versão em reforçar a coordenação e cooperação a nível do país. original (inglês) em http://www.unesco.org/new/en/unesco/ about-us/who-we-are/director-general/news-single-view/ Virando-se para o curso das transformações na região news/un_agencies_to_step_up_coordination_and_action_to_ arábica, todos os presentes concordaram sobre a necessidade meet_education_goals/ de esforços colaborativos e coordenados para ajudar os rede dianova
  • 49. inter-gerações Carlos Azevedo Coordenador-Geral UDIPSS-Porto “Porque é que as Organizações do Terceiro Sector em Portugal falham?” As Organizações interesse público e garantir actividades na esfera da acção do Terceiro Sector social num verdadeiro espírito de solidariedade e com em Portugal enfren- mecanismos efectivos de redistribuição; tam desafios verdadei- 2. Reinvenção das respostas sociais como forma de ramente interessantes. Na recuperação da identidade sectorial e de aproximação à verdade, estão numa encruzilha- comunidade local, isto é, respostas e serviços que sejam da que as obriga a reposicionarem-se estrategicamente para capazes de resolver de forma sistémica os velhos e os garantirem a sua sustentabilidade a médio e longo prazo. novos problemas sociais assentes em relações e redes de Todavia, os problemas que enfrentem não são novos. Aliás, confiança entre agentes locais (ex. empresas, Organizações a maior parte daqueles que trabalham ou colaboram neste do Terceiro Sector, Estado, famílias, etc.). Na prática, isto sector conhecem-nos profundamente e, aqui ou ali, já foram implica inverter a lógica de sobrevalorização dos recursos capazes de apontar caminhos e receitas para a afamada sus- infra-estruturais por comparação com o capital social (as tentabilidade estratégica e financeira. redes que nos unem, ajudam a criar confiança e aumentam Steven Block escreveu, nos EUA, um livro sobre a o impacto social?); sustentabilidade em Organizações Sem Fins Lucrativos intitulado “Why Nonprofits fail”. A obra, que podia muito bem ter como pano de fundo a realidade portuguesa, elenca as seguintes 7 razões para a insustentabilidade em Organizações do Terceiro Sector: 1. Fundofobia – incapacidade e resistência no processo de angariação de fundos; 2. Infortúnio financeiro – culpabilização de entidades supra locais (ex. Estado) pela falta de instabilidade financeira; 3. Desorientação no recrutamento – contratação de recursos humanos em função de redes de proximidade e não da respectiva competência; 4. Síndrome do fundador – dependência excessiva de uma ou várias figuras paternalistas; 5. Depressão cultural – sub-exploração de capital social; 6. Performance política auto-centrada – criação de ciclos viciosos para a satisfação de interesses fechados; 7. Confusão entre direcção executiva e “Board” – falta de clarificação entre o papel da “Board” (na maior parte das organizações eleito como representante dos interesses da 3. Implementação de novas práticas e modelos capazes comunidade local e com funções iminentemente estratégicas) de garantir maior eficiência na gestão dos recursos e a direcção executiva (enquanto braço operacional dos (humanos, financeiros e infra-estruturais) organizacionais; representantes dos interesses dessa comunidade). e, finalmente, 4. Uma reforma legislativa que permita a concretização Acrescentaria duas dimensões ao que foi escrito por Block: dos propósitos atrás enunciados e que, entre outras 8. Inexistência de modelos de negócio capazes de fazer avançar coisas, garanta que a relação entre os diversos agentes o interesse público e, consequentemente, contribuir para a económicos e o Terceiro Sector se foque no impacto social melhoraria do mundo ainda que numa pequena escala; gerado e não na dimensão ou na visibilidade das suas 9. Existência de um monopólio do Estado na contratualização actividades. Exemplos concretos de medidas que podem dos serviços prestados por estas entidades. permitir a concretização deste propósito são a eliminação da isenção de IVA nas actividades de acção social O que é preciso para sair desta encruzilhada e fazer com (permitindo respectiva liquidação e dedução ainda que a que este tipo de Organizações seja capaz de protagonizar taxas reduzidas) e a criação de incentivos que facilitem o um verdadeiro “Regresso ao Futuro”? Isto é, recuperar a sua chamado “investimento social”. verdadeira identidade adoptando os novos modelos, processos e recursos existentes actualmente? Este caminho parece árduo. Na minha opinião é verdadeira- mente feito de árdua esperança (que não é mais do aquilo que O futuro exige quatro medidas cuja implementação é urgente: tem caracterizado os portugueses ao longo dos séculos) o que 1. Assunção do risco e aproximação ao mercado, ou seja, não o torna impossível de percorrer. Isto foi possível noutros criação de iniciativas de Empreendedorismo Social que países. Quem se arrisca a fazer com que as Organizações sejam, simultaneamente, capazes de fazer avançar o do Terceiro Sector em Portugal deixem de falhar? 49
  • 50. 50 Luc Galoppin Co-founder & COO at MedeMerkers (Bruxelas, Bélgica) “Arquitectura Social. Olhar para a sua Organização de forma diferente.” Assim como assisti- era o slogan que iria incentivar o crescimento económico. O que mos ao final da Revo- acabou por acontecer. Sem qualquer dúvida, a nossa economia, lução Industrial, descobri- sociedade e o nosso bem-estar não poderiam ter progredido arquitecturas colaborativas mos também que as dinâmicas para os actuais níveis de prosperidade sem as políticas de com- de liderança e de trabalho já não são pliance e obediência. Conceitos criativos, tais como a capacitação hierárquicas. Esse modelo terminou. A forma como executamos e a co-criação eram divertidos em teoria, mas eles não traziam os nossos projectos e empresas na actualidade foi inspirada pela para casa o mais importante. Esta compensação da economia lógica de 120 anos de gestão científica. “Command-and-control” tradicional é demonstrada na imagem abaixo (Fig. 1): Fig.1 Mas a boa e velha economia já não é como costumava ser. É conexão entre clientes e colaboradores/empregados. Goste- crepitante e parece ser mais do que apenas uma tosse inocente. -se ou não, a internet mudou a propriedade da sua marca para O factor de compliance já não é o caminho mais curto para a os seus clientes. Os clientes tornaram-se detentores das suas produtividade. Quando o mundo muda, as regras mudam também. marcas, defendendo-as ou renegando-as. Ou seja: quando E se você insistir em jogar no presente com as regras do passado, os consumidores se revêem numa marca, a produtividade o seu jogo vai acabar por ficar bloqueado. A verdade é que os depende da sua capacidade de incluir os clientes na história relacionamentos já não são hierárquicos. Hoje em dia, tornaram- do seu produto. O mesmo vale para os projectos: a propriedade se tribais. exige a inclusão dos colaboradores no processo criativo. Dê uma olhadela na forma como o poder regula a economia Num mundo onde a informação já não é escassa, a digital (Fig. 2): produtividade está relacionada com a forma diferenciada de Fig.2 Torne-se pateta, não S.M.A.R.T.er! o segredo do crescimento da nossa economia nas últimas As Organizações controladas pelo top-down S.M.A.R.T. com décadas. empregados diligentes estão em apuros. Elas funcionam bem num ambiente onde a quantidade de informação é fixada. O Mas há uma enorme desvantagem em tudo isto: conceber a gestor recebe a informação, interpreta-a, processa-a e, de impotência. E agora está a acontecer uma mudança: desde seguida, distribui as instruções. Na verdade, este tem sido o aparecimento da Internet, é esmagadora a quantidade de
  • 51. informação que está disponível para todos. A maioria das quadro organizativo não é a posição (‘the boxes’) ou as linhas arquitecturas colaborativas pessoas, equipas e empresas estão paralisadas pelo dilúvio de de comunicação/report. É o espaço em branco que fica entre informação. O resultado para a tomada de decisões corporativa elas. da SMART é doloroso: por muito que tente, estará sempre atrasado nesta nova economia orientada para a informação. Os conselhos para os líderes são claros: • Seja cada vez mais pateta na distribuição de inteligência na comunidade de sua marca (facto importante: dando o controle), e... • Redefina a inteligência: isto não está nos manuais, mas sim, na interacção. O que isso significará para a sua Organi- zação! A nossa tendência para ignorar as partes invisíveis dos gráficos da nossa Organização, pode levar-nos a conclusões erradas sobre o que realmente é o sucesso. Quando eu peço aos Não é o nível de escolaridade de um gestor que determina o clientes para fazerem uma apreciação geral, da forma como sucesso de um projecto. Na verdade, é a medida da sua as coisas são feitas, geralmente acabam por me mostrar o capacidade em recrutar uma rede de pessoas da hierarquia e seu quadro da Organização. De súbito, a pergunta mais lógica colocá-las num tecido social que promova uma comunidade a fazer parece ser: “qual é a posição mais importante, a fim de para a co-criação. Por outras palavras: gestores de projectos completar as tarefas por aqui”? bem sucedidos são arquitectos sociais. Eles fornecem uma plataforma na parte superior da hierarquia, permitindo que a comunidade de embaixadores atinja os objectivos do projecto. Um arquitecto social é alguém que faz um uso consciente do espaço em branco num quadro organizacional. Uma questão de equilíbrio Não se engane quanto a isto: As comunidades não estão a substituir a hierarquia. Continuamos a precisar dela e de controlo para fazer as coisas. A única diferença com os velhos tempos é que você apenas será controlado até meio- -caminho. A Revolução Industrial acabou. Hoje, tratar do nosso expediente requer uma camada extra no topo da hierarquia. Esta é a camada de comunidades, tribos, movimentos, problemas e soluções. Cada uma destas comunidades deseja ser atendida. E você precisa dessas comunidades para obter resultados na economia dos dias de hoje. Existem três tipos de respostas: 1. O CEO: aqueles que favorecem esta posição como a ‘mais importante’, dizem-me que esta é a pessoa que tem a autoridade para fazer as coisas e que suporta a visão para inspirar as tropas; 2. As pessoas na linha de frente na base do quadro organizacional: o argumento aqui é o de que você pode mudar tudo o que quiser, mas se essas pessoas não estiverem comprometidas com os seus objectivos, pode de igual forma esquecer tudo o que foi feito; 3. Chefias intermédias: logicamente, se eles não conseguem manter tudo organizado, a iniciativa irá falhar estrondosamente. A verdade é que não há ninguém que diga qual é a posição mais importante na estrutura da Organização, de modo a que se cumpram as actividades. Os projectos de maior sucesso na história de qualquer Organização são aqueles onde o gestor responsável poderia reunir uma equipa de talentos competentes e complementares que trabalhem numa relação Nunca comece uma Comunidade! É tentador pensar que é necessária a criação de uma co- de confiança. A parte mais importante é que as equipas munidade para dar o pontapé de saída no seu projecto. bem sucedidas mantêm-se em constante contacto com a Pois bem, não é preciso. Essa comunidade já existe. hierarquia. Isso significa que a parte mais importante do Aqui vai uma dica: as comunidades geralmen- 51
  • 52. 52 te reúnem-se em sociais recém-nomeados é: “Como o fará”? A resposta está torno de iniciativas e na liderança tribal. soluções que são transver- sais. Uma hierarquia com “silos” Honrando a Tribo não pode servir para isso. Então, ao in- A liderança tribal é o mecanismo que faz um momento de vés de criar a comunidade você deve saber arquitectura social. E isso leva-nos a um equilíbrio entre o ‘escutar’ a comunidade. As oportunidades es- compliance e a co-criação. No seu livro de 2009, “Tribes”, tão mesmo debaixo dos seus pés, aquelas que tem Seth Godin observa que um grupo só precisa de duas coisas vindo a ignorar o tempo todo. Procure os proprietários para se tornar uma tribo: um interesse comum e uma forma de processo ou outras pessoas que lutam por uma boa de comunicar. Segundo Godin o papel de um líder reside no causa sem uma hierarquia que os suporte. apoio ao aumento da eficácia da tribo e dos seus membros através de: Impacto prático • Transformação do interesse partilhado num objectivo As pessoas precisam de uma arquitectura que os ajude a apaixonante e num desejo de mudança; conectar-se e compartilhar os seus conhecimentos. Dê-lhes • Fornecer ferramentas que permitem aos membros reforçar uma plataforma. Passado um tempo, se você tiver sorte, elas as suas comunicações e arquitecturas colaborativas declararão como sua essa plataforma. Esta é denominada • Alavancar a tribo que lhe permita crescer e ganhar novos influência sem autoridade. membros A mudança de liderança hierárquica para a liderança tribal Construir uma tal arquitectura social não é fácil porque não deixa claro que as arquitecturas sociais não precisam de é feito com a pressão da autoridade. Pelo contrário, é feito controlo, mas sim de confiança. Infelizmente, muitas vezes com trabalho gradual e consistente a nível local, estando no achamos que alguns líderes não têm a confiança necessária terreno, e em permanente contacto. Exemplos típicos de uma para liderar a sua tribo. A confiança, neste caso, é a capacidade plataforma incluem: de dizer “eu não sei e, por isso, preciso da ajuda de pessoas • Uma comunidade de voluntários em torno de uma da minha tribo envolvidas no projecto.” Isto requer que o líder determinada campanha; tribal seja vulnerável e maduro. O paradoxo do líder tribal é o • Uma comunidade de arquitectos de aprendizagem que se seguinte: quanto mais você estiver pronto a admitir que não certificam de que as melhores práticas de diferentes países sabe e que precisa de ajuda - na mesma medida você estará a se espalham por toda a Organização; homenagear a sua tribo. • Uma comunidade de apoio que se orgulha de um novo processo de suporte e continuamente o melhora. Questão: Onde é que o conhecimento da tribo reside? Desta forma, a próxima pergunta para estes arquitectos Resposta: Na comunidade.
  • 53. Pergunta: Como o alcançará? A validação social é uma maneira de valorizar embaixadores e arquitecturas colaborativas Resposta: Honrando/desafiando a comunidade: confie neles heróis que trabalham arduamente para alcançar um objectivo. para resolver um problema. Elogiá-los por um problema bem A validação social é feita a partir de várias direcções ao mesmo resolvido. tempo: empregados, supervisores, colegas e até concorrentes. Mais importante, este é o lugar onde as plataformas de media Primeiros Passos. Procurando Comunidades sociais podem ajudar, porque as suas dinâmicas são tribais É um erro comum dos gestores pensar que precisam de iniciar por natureza. as comunidades. É um esforço desperdiçado porque a maioria das comunidades já existem e não necessitam de um inventor Até agora não houve qualquer maneira de registar a adicional. O que elas precisam, ao invés disso, é do seu apoio. apreciação de uma maneira formal, mas recentemente O primeiro passo é descobrir os lugares da sua Organização a geração Facebook tornou conhecido o botão “I like”. As onde as comunidades se formaram em torno de uma iniciativa, plataformas internas de media social como Yammer e Rypple uma questão ou problema. Depois, deverá oferecer-lhes estão bem equipadas para apoiar a validação social, com uma plataforma, por exemplo, o apoio administrativo de um agradecimentos, objectivos, medalhas e feedback formal. programa geral da empresa. Outro exemplo é uma plataforma de comunicação ou um fórum para ganhar reconhecimento Conclusão: se há uma nova função que as nossas Organizações dentro da sua Organização. precisam desesperadamente é a de um Arquitecto Social: Irá descobrir rapidamente o mecanismo tribal como base para alguém que possa encontrar um novo equilíbrio, olhando de as regras e rituais das comunidades. forma diferente a Organização e explorando o poder das suas Comunidades. Validação Social Nota: poderá ler/fazer download da versão original (inglês) em Depois de ter criado uma arquitectura social, você deve http://www.dianova.pt/publicacoes/revista-exit mantê-la e desenvolvê-la ainda mais - não pelas clássicas recompensas, benefícios e subsídios, mas por algo que funciona muito melhor. Validação social. 53
  • 54. 54 Javier Celaya Fundador da Dosdoce.com & Director do Mestrado em Comunicação Digital, Universidad de Alcalá (UAH), (Madrid, Espanha) “Crowdfunding no sector cultural” Necessitava de nos seus projectos culturais, muito além do patrocínio ou do 760€ para contar mecenato das empresas. uma história: “um relato sobre a sobrevi- Um exemplo destas iniciativas é a realizada pelo Ateneo de vência e solidão de um in- Barcelona. Esta instituição catalã, por ocasião da celebração divíduo submetido a uma pressão de Sant Jordi, lança a cada ano uma iniciativa para que, a partir de uma quantidade que varia de um mínimo de 35€ até novos canais de comunicação! contínua.” Garrido Barroso http://garridobarroso.blogspot.com/ aspirava cumprir o sonho de editar a sua própria banda desenha- ao limite dos próprios bolsos das entidades e dos cidadãos, da em 500 exemplares e 48 páginas no sempre elegante preto e estes “apadrinhem” um livro que necessita submeter-se branco, que contasse as experiências de um zombie que não é a um processo de restauração e conservação. Em 2010, na zombie. E conseguiu-o. Graças ao apoio de 41 pessoas, incluindo primeira edição desta iniciativa cultural, inscreveram-se mais a rede de conteúdos culturais Dosdoce.com http://www.dosdoce. de 100 padrinhos que conseguiram salvar do castigo do tempo com/, Garrido Barroso fez com que o processo criativo fosse para 43 obras literárias. Entre essas obras destacava-se uma além da sua mesa de escritório e dos tracejados do seu lápis. composição de Francesco Petrarca, publicada em Veneza em 1586 ou “Os Seis Livros da República”, de Jean Bodin. É o crowdfunding, que podemos traduzir como financiamento Na edição de 2011, o Ateneo procurou buscar financiamento colectivo ou em massa, micro-crédito ou também, para que para restaurar a pele de 35 obras literárias das 3.000 que nos entendamos, micro-mecenato. A Rede pôs em contacto precisavam de apoio. Uma vez restaurados, os exemplares milhões de pessoas em todo o mundo que precisam de tornaram-se parte dos arquivos bibliográficos do próprio apoio financeiro de outros, a fim de avançar com os seus Ateneo de Barcelona. projectos pessoais ou profissionais. Desde uma revista que nos fala de ciência, curtas-metragens de ficção ou projectos O crowdfunding encontrou nas redes sociais a sua autonomia de solidariedade como a ajuda para um grupo coral formado definitiva. As velhas fórmulas de financiamento altruísta, por crianças poder viajar para uma competição internacional tais como subsídios, o mecenato, ou o patrocínio, estão de canto, até ao “Solo”, a BD que Garrido Barbosa pôde a ser superadas pelas milhões de almas que, no mundo finalmente financiar. inteiro e desinteressadamente, ajudam a cumprir os sonhos e projectos de muitos outros, mais além dos interesses de www.lanzanos.com é um site dedicado especificamente à posicionamento da marca e marketing de grandes empresas busca de financiamento para que estes “sonhadores” possam e corporações. realizar as suas ideias e projectos. Porém, nem todos vêem a luz do dia. O projecto é enviado para o site e entra num Um dos seus primeiros suspiros foi dado em 1997 pela banda espaço chamado “A caixa”; somente aqueles que obtiverem a britânica de rock Marillion. Necessitou e obteve, através de maioria dos votos acabarão por receber o dinheiro solicitado uma campanha na rede dos seus fãs norte-americanos, pelo aspirante. Em troca, os patrocinadores, qualquer um que 60.000$ para pagar a tour da banda. No cinema foi em esteja disposto a deixar desde 1 euro até 250€, dependendo 2004, quando os produtores franceses Guillaume Colboc do projecto, receberão vários agradecimentos dos autores y Pommmeraud Benjamin lançaram uma campanha de em função da quantidade depositada. Garrido Barroso, para doações pela Internet, para financiar o seu filme “Demain la agradecer aqueles que ajudaram o seu livro em quadrinhos, Veille”. Em três semanas já tinham o dinheiro. deu uma versão digital do mesmo para quem doasse 3€ ou uma cópia original autografada da história para quem A rede abriu muitas possibilidades para comunicar contribuísse com 70€. acontecimentos culturais, e graças a ela muitos projectos verão a luz, para além do benefício empresarial. Se J. K. No entanto, o mecenato, o patrocínio, o apoio das pessoas, Rowling tivesse usado essa ferramenta, quem sabe se o Harry empresas ou instituições que precisam de financiamento para Potter não tinha voado na sua vassoura muito antes do que ver como o seu trabalho se leva adiante, encontrou na rede/ a aposta de um humilde editorial, num manuscrito rejeitado mundo online um novo canal de comunicação que há alguns pelas grandes casas britânicas de literatura fantástica. anos atrás estava confinada a áreas mais reduzidas do mundo cultural. Nota: poderá ler o artigo na versão original (espanhol) em http://www.dosdoce.com/articulo/opinion/3678/crowdfunding- A Rede permite aos criadores, àqueles que têm uma ideia en-el-sector-cultural/ cultural ou de negócios, encontrar uma base sólida de apoio financeiro em qualquer lugar do mundo; uma necessidade que não só está a lançar autores anónimos que buscam com os seus projectos esculpir um nicho no mundo da cultura, como um número cada vez maior de instituições que pedem aos seus co-cidadãos para se envolverem de uma outra maneira
  • 55. sites e blogs http://socialinvestmentfacility.wordpress.com/ A Task Force for a European Social Investment Facility (ESIF) é composta por banqueiros sociais, investidores sociais e financeiros alternativos de toda a Europa para desenvolver recomendações ascendentes, da forma como a Comissão Europeia pode utilizar os seus recursos financeiros mais eficazmente para apoiar os negócios sociais, o empreendedorismo e a economia social na Europa - questões prioritárias que foram identificadas como parte da estratégia Europa 2020, a Lei do Mercado Único e da Iniciativa Social Empresarial para apoiar a coesão territorial, social e económica. O objectivo da Task Force ESIF é representar os pontos de vista da mais ampla secção transversal de financeiros sociais europeus, intermediários e stakeholders, que lhes irá dizer “se a Comissão gostaria de promover o investimento social para apoiar as empresas sociais e o empreendedorismo social na Europa, então nós, os praticantes, recomendamos que a Comissão se centre sobre estas questões.... http://www.euclidnetwork.eu/pages/en/social- investment-taskforce.html» http://ppl.com.pt/ O avanço da tecnologia veio permitir uma capacidade de comunicação e cooperação inéditas. As redes virtuais permitem capturar uma inteligência e conhecimento conjunto que é superior ao do indivíduo. O mesmo se aplica à criatividade das massas. Outro potencial promissor é o julgamento de grupo que permite escolher o que melhor beneficia uma comunidade. E ainda há a possibilidade de doarmos e/ou investirmos em ideias, projectos ou instituições que interessam a um colectivo (crowdfunding). Há vários nomes e há várias formas de apelidar este movimento. Um termo comum e agregador é o crowdfunding. A Orange Bird promove o crowdfunding em Portugal e lançou, com esse efeito, esta plataforma de crowdfunding – PPL Portugal – Que é o PPL (people, pessoas) com Portugal. http://formacao.dianova.pt/ A Dianova Portugal lançou o seu 11º canal de gestão de relacionamentos online com Clientes e Potenciais Clientes, Parceiros e outros Stakeholders relevantes: o site do Centro de Formação Dianova que poderá ser visitado em http://formacao.dianova.pt . Desenvolvido criativamente pela Orange – Original Communication e tecnologicamente pela Triângulo Digital, assente na plataforma Joomla 1.5, e tendo por principal objectivo incrementar a visibilidade das mais de 150 Soluções Formativas/Cursos e Outros Serviços de criação de valor para Pessoas e Organizações, este site caracteriza-se pela sua Simplicidade com páginas diferenciadas por cores, Facilidade de Navegação e Pesquisa, e Relevância de Informação e Conhecimento, contando com 17 itens de menu principais. 55
  • 56. Inspirações Up and Out of Poverty: The Social Marketing Solution Em Up and Out of Poverty, o lendário especialista em marketing Philip Kotler e a pioneira em social marketing Nancy Lee, abordam a pobreza de um ponto de vista novo e poderoso: o do comerciante. Kotler e Lee avaliam cada caminho proposto para a redução da pobreza, incluindo a ajuda externa tradicional, a melhoria da educação, a capacitação profissional, modelos de desenvolvimento económico, microfinanças, inovação e marketing social. Irá aprender como aplicar estratégias avançadas de marketing e técnicas para, sistematicamente, criar condições para que os pobres possam sair da pobreza extrema. Através de estudos reais, você irá entender como essas técnicas de marketing podem ajudar a promover a saúde, a educação, a construção da comunidade, a motivação pessoal, e muito mais. Autor: Philip Kotler | Nancy R. Lee 1ª Edição: Junho 2009 Wharton School Publishing De Bom a Excelente «Como é que uma boa empresa pode tornar-se excepcional?» Os resultados de uma pesquisa, que durou cerca de cinco anos, foram agora divulgados no livro De Bom a Excelente. Collins e a sua equipa analisaram perto de 1.500 empresas, que figuraram na lista das 500 maiores da revista Fortune. Apenas onze dessas empresas conseguiram sustentar durante mais de quinze anos um crescimento extraordinário. Estas onze Organizações, entre as quais a Gillette, a Kimberley-Clark e a Philip Morris, geram retornos financeiros superiores aos da média de mercado, ultrapassando gigantes como a Coca-Cola, Intel ou a General Electric. Em comum, todas tiveram o que Collins classificou como «líder de nível 5»: um gestor que estaria no topo da pirâmide da excelência em gestão. Quem são esses tais líderes de nível 5? Quais são as suas características? E por que razão nomes consagrados, como Welch e Chambers, não figuram na lista de Jim Collins? Autor: Jim Collins | 3ª Edição: Abril 2007 Casa das Letras Marketing 3.0 – Do Produto e do Consumidor até ao Espírito Humano Os consumidores dos dias de hoje escolhem os produtos e as companhias que satisfazem as suas necessidades mais profundas de criatividade, comunidade e idealismo. As empresas de vanguarda perceberam que, para esses clientes mais conscienciosos e atentos à tecnologia, as velhas regras do marketing já não se aplicam. Por isso, s da têm de criar produtos, serviços e culturas de empresa que sejam inspiradoras e que incluam e respeitem ni os valores dos seus clientes. Esta é uma obra crucial para compreender as modernas tendências dos sU õe cia consumidores e de que forma as empresas têm de se lhes adaptar. aç ên sN nd Autor: Philip Kotler | Hermawan Kartajaya | Iwan Setiwan da pe 1ª Edição: Fevereiro 2011 de ial Actual Editora ico oc eS ox eT ico de óm Siga a Dianova nas Redes Sociais ntu con ficha técnica uve oE Twitter http://twitter.com/dianovapt Flickr http://www.flickr.com/photos/dianovaportugal o, J elh Slideshare http://www.slideshare.com/dianova Facebook http://www.facebook.com/dianovaportugal açã ons You Tube http://www.youtube.com/user/dianovaportugal Blog http://aprendercrescerconcretizar.wordpress.com duc oC to d aE Associação Dianova Portugal sd jun Quinta das Lapas, 2565-517 Monte Redondo TVD rea T.: 261 312 300 | F.: 261 312 322 | E.: secretariado@dianova.pt | www.dianova.pt tivo as á sul Con ara Propriedade, Administração e Redacção: Associação Dianova Portugal N) p Qtª das Lapas, 2565-517 Monte Redondo TVD | T.: 261 324 900 | F.: 261 326 666 | Email: rui.martins@dianova.pt | www.dianova.pt tuto Direcção e Coordenação Editorial: Rui Martins C/U sta Design: Orange – original communication mE Impressão: Palmigráfica, Lda OSO ISSN: 1646-0383 | Depósito Legal: 214288/04 D co ( EC Distribuição: Gratuita | Periodicidade: Semestral ONG Tiragem: 3.250 exemplares