NOVOS DESAFIOS, NOVAS DÚVIDAS

        Hoje em dia, perante as grandes mudanças no mundo das tecnologias e da
informação, e tendo em conta o novo perfil de utilizador, colocam três questões
essenciais às bibliotecas:

             •   Em que ambiente se devem situar nos dias de hoje?

             •   Perante a sociedade da informação e do conhecimento e das novas
                 tecnologias da informação, que rearticulação devem, as unidades
                 documentais, efectuar na sua missão?

             •   “Do libraries really need books?”

        Para dar resposta a estas questões, as unidades documentais deverão, antes de
mais, segmentar o seu posicionamento e um dos factores decisivos para traçar o
“caminho” de uma biblioteca será o perfil dos seus utilizadores.

        A nova geração de jovens utilizadores tem, tendencialmente, necessidades,
apetências e exigências muito precisas. São a geração da tecnologia e da portabilidade e,
por isso, para eles o Mundo é plano porque podem aceder à informação muito
facilmente.

        Numa primeira análise parece então que as bibliotecas digitais apresentam
vantagens por serem bastante apelativas para os jovens. Expondo apenas uma pequena
colecção física de livros de referência e novidades, elas constituiriam a maior parte da
sua colecção em formato digital, sediada, por exemplo, num portal em intranet, onde
figurariam bases de dados; revistas especializadas; ligações a outras unidades
documentais, com sistema integrado de recuperação da informação. Esta seria a
biblioteca escolar ideal do séc. XXI, relatada no texto de Loertscher1. Pergunto-me se
também o seria para a realidade portuguesa e muito especificamente para o ambiente
das bibliotecas escolares do nosso país.

        Efectivamente, a renovação das bibliotecas, sejam elas de que tipo for, enfatiza
os aspectos, as tarefas e os papéis tecnológicos. Neste sentido a missão da biblioteca

1
 Loertscher,David (2003) .The digital scool library: aworld-wide development and a fascinating
challenge. In: “Teacher Librarian”, vol. 30, nº5, junho de 2003
deixou de ser a conjugação dos verbos “adquirir,” “organizar” e “disponibilizar”. A
nova missão vai mais além, tornando a biblioteca numa entidade que possibilita a
ligação dos utilizadores com o conhecimento. Penso, então que esta missão não exclui
mas congrega esforços para disponibilizar o saber, e ele não está sediado apenas num
único ambiente ou suporte. Separar fisicamente os suportes da colecção equivaleria
separar intelectualmente os livros da “Web”. O texto “Do libraries really need book?”
(p.3)2 refere algo que considero importante se transpusermos para a realidade das
bibliotecas escolares: “Há uma diferença real entre informação, conhecimento e entre
conhecimento e compreensão. […] Os formatos disponibilizados no ecrã estão mais
relacionados com a informação […] “

           Se num estabelecimento de ensino mais voltado para as Ciências Exactas e para
as tecnologias faz todo o sentido optar-se por uma biblioteca digital porque a
informação está em constante actualização, numa biblioteca escolar o ambiente é
diferente. Penso que aqui é importante os alunos acederem às novas tecnologias e aos
novos suportes, mas também é importante habituar os alunos a fazerem “pesquisas de
prateleiras”. E porque os conteúdos curriculares são mais estáveis, os livros também são
uma excelente via para os alunos construírem o conhecimento. Se no ensino básico o
importante é dotar os alunos de instrumentos e competências para que os estudantes se
tornem autónomos, então a biblioteca escolar deve disponibilizar uma colecção
integradora que inclua o digital e o físico e, portanto, com uma multiplicidade de
ferramentas.

           Concluo com uma ideia patente no texto “Do libraries really need book?”3 que
me parece fazer todo o sentido. O ambiente das bibliotecas deve reflectir os novos
paradigmas da tecnologia, da informação e do conhecimento, acompanhando também o
novo perfil do utilizador, no entanto, a integração dos dois tipos de conhecimento (em
suporte físico e digital) numa biblioteca escolar poderá apresentar grandes vantagens, já
que abre várias perspectivas de conhecimento; permite que os utilizadores escolham os
suportes que mais apreciam, tornando-se mais democrática e dota os seus utilizadores
de vários tipos de ferramentas que lhes permite chegar ao conhecimento. Será portanto a


2
    Carlson, Scott (2002). Do libraries really need books?. In: The Chronical,july, 12, 2002.
3
    idem
partir dos contextos que se pode decidir que biblioteca se quer. No contexto onde
trabalho uma biblioteca exclusivamente digital não seria integradora.

       Bibliografia:

Carlson, Scott (2002). Do libraries really need books? [em linha]. In: The Chronical,
July, 12, 2002. [consultado em 11 de Abril 2009]
Disponível em: http://chronicle.com/free/v48/i44/44a03101.htm


Loertscher, David (2003) .The digital scool library: aworld-wide development and a
fascinating challenge. [em linha] In: “Teacher Librarian”, vol. 30, nº5, junho de 2003.
[consultado em 11 de Abril 2009] Disponível em:
http://www.teacherlibrarian.com/tlmag/v_30/v_30_5_feature.html

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  • 1. NOVOS DESAFIOS, NOVAS DÚVIDAS Hoje em dia, perante as grandes mudanças no mundo das tecnologias e da informação, e tendo em conta o novo perfil de utilizador, colocam três questões essenciais às bibliotecas: • Em que ambiente se devem situar nos dias de hoje? • Perante a sociedade da informação e do conhecimento e das novas tecnologias da informação, que rearticulação devem, as unidades documentais, efectuar na sua missão? • “Do libraries really need books?” Para dar resposta a estas questões, as unidades documentais deverão, antes de mais, segmentar o seu posicionamento e um dos factores decisivos para traçar o “caminho” de uma biblioteca será o perfil dos seus utilizadores. A nova geração de jovens utilizadores tem, tendencialmente, necessidades, apetências e exigências muito precisas. São a geração da tecnologia e da portabilidade e, por isso, para eles o Mundo é plano porque podem aceder à informação muito facilmente. Numa primeira análise parece então que as bibliotecas digitais apresentam vantagens por serem bastante apelativas para os jovens. Expondo apenas uma pequena colecção física de livros de referência e novidades, elas constituiriam a maior parte da sua colecção em formato digital, sediada, por exemplo, num portal em intranet, onde figurariam bases de dados; revistas especializadas; ligações a outras unidades documentais, com sistema integrado de recuperação da informação. Esta seria a biblioteca escolar ideal do séc. XXI, relatada no texto de Loertscher1. Pergunto-me se também o seria para a realidade portuguesa e muito especificamente para o ambiente das bibliotecas escolares do nosso país. Efectivamente, a renovação das bibliotecas, sejam elas de que tipo for, enfatiza os aspectos, as tarefas e os papéis tecnológicos. Neste sentido a missão da biblioteca 1 Loertscher,David (2003) .The digital scool library: aworld-wide development and a fascinating challenge. In: “Teacher Librarian”, vol. 30, nº5, junho de 2003
  • 2. deixou de ser a conjugação dos verbos “adquirir,” “organizar” e “disponibilizar”. A nova missão vai mais além, tornando a biblioteca numa entidade que possibilita a ligação dos utilizadores com o conhecimento. Penso, então que esta missão não exclui mas congrega esforços para disponibilizar o saber, e ele não está sediado apenas num único ambiente ou suporte. Separar fisicamente os suportes da colecção equivaleria separar intelectualmente os livros da “Web”. O texto “Do libraries really need book?” (p.3)2 refere algo que considero importante se transpusermos para a realidade das bibliotecas escolares: “Há uma diferença real entre informação, conhecimento e entre conhecimento e compreensão. […] Os formatos disponibilizados no ecrã estão mais relacionados com a informação […] “ Se num estabelecimento de ensino mais voltado para as Ciências Exactas e para as tecnologias faz todo o sentido optar-se por uma biblioteca digital porque a informação está em constante actualização, numa biblioteca escolar o ambiente é diferente. Penso que aqui é importante os alunos acederem às novas tecnologias e aos novos suportes, mas também é importante habituar os alunos a fazerem “pesquisas de prateleiras”. E porque os conteúdos curriculares são mais estáveis, os livros também são uma excelente via para os alunos construírem o conhecimento. Se no ensino básico o importante é dotar os alunos de instrumentos e competências para que os estudantes se tornem autónomos, então a biblioteca escolar deve disponibilizar uma colecção integradora que inclua o digital e o físico e, portanto, com uma multiplicidade de ferramentas. Concluo com uma ideia patente no texto “Do libraries really need book?”3 que me parece fazer todo o sentido. O ambiente das bibliotecas deve reflectir os novos paradigmas da tecnologia, da informação e do conhecimento, acompanhando também o novo perfil do utilizador, no entanto, a integração dos dois tipos de conhecimento (em suporte físico e digital) numa biblioteca escolar poderá apresentar grandes vantagens, já que abre várias perspectivas de conhecimento; permite que os utilizadores escolham os suportes que mais apreciam, tornando-se mais democrática e dota os seus utilizadores de vários tipos de ferramentas que lhes permite chegar ao conhecimento. Será portanto a 2 Carlson, Scott (2002). Do libraries really need books?. In: The Chronical,july, 12, 2002. 3 idem
  • 3. partir dos contextos que se pode decidir que biblioteca se quer. No contexto onde trabalho uma biblioteca exclusivamente digital não seria integradora. Bibliografia: Carlson, Scott (2002). Do libraries really need books? [em linha]. In: The Chronical, July, 12, 2002. [consultado em 11 de Abril 2009] Disponível em: http://chronicle.com/free/v48/i44/44a03101.htm Loertscher, David (2003) .The digital scool library: aworld-wide development and a fascinating challenge. [em linha] In: “Teacher Librarian”, vol. 30, nº5, junho de 2003. [consultado em 11 de Abril 2009] Disponível em: http://www.teacherlibrarian.com/tlmag/v_30/v_30_5_feature.html