CURSO: GEOGRAFIA - 1º ANO                                       GEOGRAFIA GERAL

TEXTO 02 = A EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA

Necessidade de compreensão do mundo
        A humanidade sempre se intrigou, questionou e tentou entender o que acontecia à sua
volta. O hábito do nomadismo levava as populações pré-históricas a percorrer grandes
distâncias, passando por lugares onde as estações do ano, a vegetação, o relevo e os rios eram
muito diferentes, o que permitiu um maior conhecimento da superfície do planeta.
        Muitos povos da Antiguidade, como os fenícios, os gregos, os assírios e os egípcios,
eram comerciantes e navegadores. Em sua expansão em busca de novos territórios e
mercados, o conhecimento dos fenômenos naturais e o domínio de rotas terrestres e marítimas
eram necessários.
        Na Antiguidade, tornou-se comum no Egito a prática da medição de terras e, ao que
tudo indica, a geodésia se originou com os egípcios.
        A primeira pessoa a calcular a circunferência da Terra, com bastante precisão para a
época e a dividi-la em meridianos foi o grego Eratóstenes (276 a.C. – 194 a.C.). Em 240 a.C.
ele tornou-se diretor da biblioteca de Alexandria, no Egito, tendo escrito uma obra intitulada
Tratado geral de Geografia. Eratóstenes calculou em 39.350 Km a circunferência da Terra – a
medida correta é de 40.110 Km,no Equador – e chegou à conclusão de que a Terra é redonda.
        Os gregos, que muito aprenderam com os egípcios, conseguiram dominar grande parte
do mundo conhecido, que na época se restringia ao Mediterrâneo. Eles se preocuparam em
sistematizar as informações a respeito de nosso planeta e chamavam esses conhecimentos de
Geografia “escrever sobre a Terra” ou “estudo da superfície terrestre”. Deixaram diversos
escritos sobre suas experiências e vivências geográficas.
Como por exemplo:
     Estrabão (63 a.C. – 25 d.C.) escreveu uma obra de 17 volumes, Geographicae, na
        qual, além de especular sobre o formato da terra, descrevia suas experiências de
        viagens. Esta obra se parece mais com um guia e foi escrita para uso militar.
     Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) concebeu a Terra como uma esfera.
     Hiparco (190 a.C. – 125 a.C.) criou o sistema de coordenadas geográficas (conjunto de
        paralelos e meridianos).
     Ptolomeu (100 d.C. – 178 d.C.), em sua obra Almagesti, que depois foi traduzida para
        o árabe, propunha o sistema geocêntrico, em que a Terra seria o centro do Universo e
        o Sol, os planetas e as estrelas girariam ao seu redor. Seus estudos influenciaram o
        mundo por mais de 1500 anos, até que a teoria heliocêntrica fosse elaborada por
        Copérnico. Ptolomeu escreveu A Geografia , mapeando o mundo conhecido na época,
        obra que constituiu o primeiro atlas, fornecendo a latitude e a longitude de lugares
        importantes. Sua obra serviu de orientação geográfica durante séculos.
     O astrolábio, que servia para medir a altura angular de uma estrela, foi uma invenção
        grega e era chamado de dioptra.

       Além dessas discussões sobre a forma da Terra e do aperfeiçoamento da geodésia,
   muitos temas, como a classificação dos tipos de clima, a descrição de lugares e países,
   estações do ano e regime dos rios, apareciam nesses estudos de forma dispersa.
       Os romanos aproveitaram os conhecimentos gregos, com objetivos práticos de
   demarcação das terras do Império Romano.
       Com a decadência do Império Romano (século III), os árabes herdaram a Geografia
   grega. Muitos trabalhos foram traduzidos do grego para o árabe e os estudos de Geografia
   foram aprofundados.



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Durante a Idade Média, as respostas para os questionamentos a respeito do mundo
   passaram a ser fornecidas pela religião. A Geografia perdeu força e quase desapareceu do
   mundo ocidental nesse período.
      Impulsionada por objetivos militares, de expansão e de organização do Império
   Muçulmano, a Geografia se desenvolveu no mundo árabe juntamente com outras áreas,
   como a Astronomia, a Matemática e a Geometria. Entre os exploradores árabes destacam-
   se Al-drisi (1100-1166), que elaborou um sofisticado sistema de classificação climática, e
   Ibn Battuta (1304-1368), que em suas viagens descobriu que as regiões quentes do
   mundo, ao contrário do que se pensava, eram habitáveis.

   A Geografia e a expansão do horizonte geográfico

           Durante o século XIII o horizonte geográfico dos europeus se limitava a áreas
   imediatas da Europa, como o norte da África e o Oriente Médio.
           Os povos islâmicos ou muçulmanos desempenharam um papel importante na
   expansão geográfica pelos continentes, ocorrida desde o século VII, dominando parte da
   Ásia, da África e da Europa.
           Os europeus conheciam o Oriente principalmente por meio do relato das viagens
   de Marco Pólo (1254-1324), venesiano que havia cruzado o interior da Ásia e vivido vinte
   anos na China, tendo escrito um livro intitulado Livro das diversidades e maravilhas, no
   qual descrevia lendas, lugares e costumes exóticos, excitando a imaginação de seus
   leitores.
           No final da Idade Média, o comércio antes restrito ao interior dos feudos, começou
   a ser reativado e se expandiu. As cidades também cresciam. As cruzadas, expedições
   religiosas que tinham entre outros objetivos a expulsão dos muçulmanos da Palestina,
   contribuíram para a expansão européia em direção ao Oriente e para um maior
   conhecimento do continente asiático.
           Mas foi só na época das grandes explorações e conquistas do século XV e XVI que
   o aperfeiçoamento de embarcações e de instrumentos de navegação como a bússola e o
   astrolábio e a confecção de mapas mais precisos permitiram que os navegantes se
   aventurassem a empreender viagens por mares nunca antes navegados.
           Diversos viajantes alargaram o horizonte geográfico conhecido. A descrição
   geográfica, o mapeamento e a Cartografia, impulsionados pela necessidade de expansão,
   tiveram um grande avanço. Era a época das Grandes Navegações.

Período Conquistas
1415    Os portugueses conquistaram Ceuta, no norte da África.
1488    Bartolomeu Dias (1450-1500),português, chegou a um grande cabo ao sul da África
        a que deu o nome de Cabo das Tormentas, mais tarde chamado de Boa Esperança
1498    Vasco da Gama (1460-1524), português, chegou a Calicute, descobrindo o tão
        procurado caminho marítimo para a Índia.
1492    Cristóvão Colombo (1451-1506), genovês, planejou chegar às Índias navegando
        pelo ocidente. A serviço dos reis da Espanha, chegou ao continente americano.
1519    Fernando de Magalhães (1480-1521), navegador português a serviço da Espanha,
        empreendeu a primeira viagem de circunavegação do mundo, provando o formato
        arredondado da Terra. Partindo de Sevilha, a expedição contornou a Patagônia (no
        atual Estreito de Magalhães) e atingiu a Ásia (Filipinas) pelo Pacífico. Magalhães
        morreu nas Filipinas em 1521. A expedição chegou a Sevilha em 1522, sob o
        comando de Sebastião Elcano (1460-1526), pela rota do Cabo da Boa Esperança,
        permitindo a partir daí uma maior precisão das medidas e das observações.



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Os relatos de viajantes que voltavam das novas terras descrevendo o clima, a vegetação, o
relevo e os povos, denominados de trabalhos geográficos, eram estudos variados e tinham
um caráter apenas descritivo. Por esse motivo, até o final do século XVIII não se pode
falar em Geografia como uma ciência.

A Geografia Moderna

        A partir do século XVI, com a formação das novas colônias e com o impulso do
comércio colonial, os países europeus passaram a substituir as expedições exploradoras
por expedições científicas cujo objetivo era inventariar os recursos naturais e as
possibilidades produtivas dos novos territórios. Cientistas, naturalistas, botânicos e
geógrafos passaram a fazer parte das viagens. Eles estudavam novas espécies vegetais,
para que elas fossem plantadas e comercializadas.
        No século XVIII o horizonte geográfico se alargou ainda mais. Terras antes
desconhecidas, como a Austrália, a Nova Zelândia e a Sibéria, passaram a ser visitadas.
        Grandes nomes se empenharam no estudo da Terra. A partir das observações de
Copérnico (1473-1543), Kepler (1571-1630) e Galileu (1564-1642), a teoria heliocêntrica
substitui o geocentrismo.
        Filósofos e pensadores como Montesquieu (1689-1755), Kant (1724-1804),
Goethe (1749-1832) e Hegel (1770-1831) começaram a buscar explicações integradas do
mundo e se preocuparam com a questão do espaço e com a Geografia Social, buscando a
relação entre a humanidade e o meio ambiente.
         Até então os estudos de Geografia apresentavam duas tendências. A primeira
confundia os estudos matemáticos sobre a forma e as dimensões da Terra (a geodésia),
com a Cartografia e com a Astronomia; a segunda se preocupava com a descrição de
povos e lugares exóticos, seu modo de vida, suas atividades, seus costumes e as relações
com os lugares onde viviam.
        No século XIX praticamente todas as regiões do mundo já eram conhecidas, o que
permitia uma avaliação mais global do planeta.
         A Geografia começou a se estruturar como ciência na Alemanha, com Humboldt
(1769-1859) e Ritter (1779-1859). Esses dois cientistas deram à Geografia um método de
análise, tentando estabelecer as relações entre os fenômenos que ocorrem nas diversas
paisagens da superfície do planeta e desses com a ação da humanidade, sistematizando,
enfim, o conhecimento geográfico e estabelecendo leis.
        Assim, a Geografia abandonou o papel puramente descritivo e passou a explicar
fenômenos e suas inter-relações, tornando-se uma ciência. Humboldt a entendia como
uma ciência de síntese de todos os fenômenos que ocorrem na Terra. Surgia, assim, a
denominada Geografia Moderna.
        A partir daí, a Geografia passa a ter um caráter científico e acadêmico e a ser
produzida e pensada nas universidades.
        No século XIX, é tempo de inventariar o interior dos continentes. Os países
colonialistas apóiam a formação de sociedades geográficas, que, entre outras atividades,
elaboram mapas, organizam expedições de conhecimento e exploração de novas áreas e
recursos.
        Ainda no século XIX a Geografia é reconhecida oficialmente e passa a ser
ensinada nas escolas.
        Augusto Comte (1798-1857) desenvolve o positivismo. Esse conceito filosófico
afirmava que a ciência deveria deixar de especular sobre a origem dos fenômenos e apoiar
apenas na observação, na experimentação e na comparação de resultados, procurando a
causa dos fenômenos e formulando leis. Com o positivismo, a descrição, a enumeração e
a classificação dos fatos novamente assumem um papel importante, influenciando a


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chamada Geografia Tradicional. A humanidade é apenas um elemento da paisagem e as
relações sociais são pouco valorizadas.
         A partir de observações das espécies, de suas mudanças e variações, Lamarck
(1744-1828) e Darwin (1809-1882) elaboraram a teoria evolucionista.
         Lamarck acreditava que as espécies evoluíam pelas alterações ocorridas no corpo,
por causa do uso ou desuso dos órgãos, como resposta a uma adaptação ao meio ambiente.
Essas mudanças seriam transmitidas hereditariamente. Darwin descreveu a influência
ambiental na evolução das espécies ao meio ambiente. Provou que as mudanças ocorrem
pela seleção natural e não pela lei do “uso e desuso” de Lamarck.
         Recebendo forte influência do positivismo e da teoria evolucionista de Darwin,
desenvolve-se na Alemanha, com Ratzel (1844-1904) o determinismo geográfico, que
sustentava que as condições ambientais, em especial o clima, são capazes de influenciar o
desenvolvimento intelectual e cultural das pessoas. Esta teoria afirmava que nas áreas
temperadas a humanidade teria um desenvolvimento mais elevado do que nas áreas
tropicais, quentes e úmidas.
         A teoria determinista tentava explicar e justificar os deslocamentos e as conquistas
dos povos. Afirmava que os grupos humanos, ao crescer, tendem a alargar os seus
territórios, ocupando territórios vizinhos. Reforçou uma idéia – já comum nos países
conquistadores – de supremacia racial que entende que um povo ou uma determinada
etnia é superior a outra e influenciou a expansão nazista alemã. (*)

(*) O Nazismo, política expansionista e totalitária da Alemanha, utilizou a idéia de que
o país tinha de conquistar seu “espaço vital”, ou seja, mercados consumidores e
fornecedores de matéria-prima. Defendia o direito alemão de conquistar o mundo e a
criação da Grande Alemanha, habitada pela raça ariana, considerada por eles como
superior, justificando dessa maneira a perseguição e o extermínio de outras raças.

Objeto de estudo da Geografia

        O determinismo teve muita influência sobre os geógrafos que acreditavam que a
sociedade humana e suas atividades eram determinadas pelo meio físico.
        Ratzel estabeleceu as bases para a Geografia Humana. Desenvolveu o conceito de
território e elaborou o conceito de espaço vital , no qual haveria uma relação entre uma
determinada população e os recursos disponíveis em seu território. Assim, se o território
se mostrasse insuficiente para suprir as necessidades dessa população, o progresso natural
seria a apropriação de novos territórios. Na realidade, esta teoria justificava a expansão
imperialista da época.
        Posteriormente Ratzel passou a considerar as influências e as condições culturais e
da história na determinação das sociedades e de suas atividades.
        Em reação ao determinismo, a escola francesa, com Vidal De La Blache
(1845-1918), lançou o possibilismo , que afirmava que as pessoas poderiam atuar no
meio, modificando-o e determinando o seu desenvolvimento, ou seja, o meio natural
oferece um conjunto de possibilidades, e sua utilização depende dos costumes e das
técnicas (gêneros de vida) diferenciados e do desenvolvimento histórico de cada
sociedade. O que diferencia as sociedades seriam os modos de produção diversificados. A
circulação e o comércio permitiriam contatos e a difusão de técnicas e hábitos.
        Apesar da valorização da ação humana, La Blache definiu a Geografia como uma
ciência dos lugares e não dos homens.
        A região, definida como objeto de estudo da Geografia, seria o espaço que
sintetiza a Geografia Física (o meio natural) e a Geografia Humana (o aproveitamento



                                                                                           4
que os homens e as mulheres fazem do meio) o que daria grande ênfase à história da
   ocupação do ambiente natural.
           Cada região do planeta possuiria uma história e uma individualidade que a
   diferenciaria das outras. Surge daí a Geografia Regional. Do estudo de regiões com
   características semelhantes surgem da Geografia Agrária, a Urbana, a do Comércio, a da
   População, a das Indústrias e a Geografia Econômica.
           Todo esse desdobramento levou à divisão e à especialização de estudos. As regiões
   tradicionais, por sua vez, tendem a desaparecer num mundo cada vez mais
   homogeneizado a partir do processo de industrialização, urbanização e revolução dos
   meios de comunicação e transportes. (*)

    (*) As áreas urbanas do mundo apresentam semelhanças, sejam elas um espaço de um
    país rico ou não. Todas apresentam elevado contingente populacional e grandes
    problemas.


  O Século XX e a Geografia Atual

        O mundo se modificou muito durante o século XX.O desenvolvimento de idéias, as
duas Grandes Guerras Mundiais, o surgimento dos países socialistas, o confronto entre países
socialistas e capitalistas e a revolução tecnológica foram algumas dessas mudanças.
        Assim aconteceu também no campo das idéias. Muitas correntes de pensamento
geográfico se sucederam, procurando melhor definir essa ciência.
        MaxSorre (1880-1962), francês, desenvolveu a idéia de que a Geografia deve estudar
as diferentes maneiras com as quais a humanidade organiza o seu meio. Suas idéias forma
consideradas Ecologia Humana.
        O desejo de fazer da Geografia um estudo mais científico, mais aceito como
disciplina, levou à adoção da estatística e da matemática como recursos de apoio. A chamada
Geografia Quantitativa propunha a criação de modelos ou de fórmulas matemáticas para
melhor explicar os fenômenos. Ela foi muito criticada porque seus modelos não poderiam
levar em conta todos os aspectos da realidade, sendo insuficientes para explicá-las; além do
mais, ela não se preocupava com a resolução dos problemas sociais.
        A segunda metade do século XX foi marcada por revoluções, confrontos, movimentos
de libertação e questionamentos do sistema mundial de dominação. A gritante desigualdade
na distribuição da riqueza pelos países do mundo e no interior deles,o atraso econômico em
que vivem diversas nações subdesenvolvidas do planeta foram fatos analisados historicamente
e relacionados com os conflitos que ocorriam no interior das classes sociais e com a
dominação colonialista.
        Yves Lacoste, em seu livro A Geografia – Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a
guerra, faz uma crítica à Geografia tradicional, dizendo que ela sempre existiu a serviço da
dominação e do poder.
        Geógrafos como Pierre George, B. Kayser e R. Guglielmo passaram a questionar o
papel assumido até então pela Geografia tradicional: o de explicação e justificação das
ideologias dominantes. Surgiram correntes críticas mais comprometidas com mudanças e
propostas de transformações sociais, que passam a propor uma Geografia mais atuante, que
possa oferecer instrumentos para a compreensão e a intervenção na realidade social. É a
chamada Geografia Marxista ou Crítica.
        O centro das preocupações passa a ser as relações entre a sociedade, o trabalho e a
natureza, na apropriação dos recursos e na produção de espaços diferenciados. Para se
compreender essas relações, lança-se mão de explicações históricas e econômicas. A
Geografia Física passa a ser olhada a partir da Geografia Humana. A Geografia assume um
caráter politizador e de denúncias.

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Hoje a Geografia se propõe muito mais do que somente descrever paisagens e passa
por um processo de renovação. Milton Santos propõe a discussão do espaço social, que é
histórico, dinâmico e fruto do trabalho e da produção da humanidade.
        A Geografia estuda o espaço e as relações que nele ocorrem, sendo, portanto, um canal
de reflexão para uma ação transformadora, objetivando a construção da cidadania. Sabemos
que, apesar de o espaço geográfico ser construído pelos homens e mulheres por meio do
trabalho, não são todos que se beneficiam dos frutos desta construção. Interesses de classe,
econômicos e políticos estão presentes, colocando-o a serviço de alguns.
        Na Geografia dos últimos tempos surgiram abordagens que buscam explicações mais
abrangentes, que dêem conta das interações entre os elementos socioculturais da paisagem e
os elementos físicos e biológicos presentes nela, entendendo as relações entre a natureza e a
construção do espaço nas diferentes sociedades.
        Preocupa-se hoje, não mais em descrever o que o espaço contém, mas como ele
chegou a tal configuração, resultado das relações sociais e conseqüentemente um produto
histórico, influenciado por questões de ordem econômica, política,social e cultural.
        Como se vê, o objeto de estudo da Geografia sofreu variações durante os séculos, as
décadas e os anos, transformando-se de acordo com o conhecimento e as idéias de cada época.

Entendendo o papel da Geografia e do geógrafo num mundo técnico: a teoria e a prática.
       No século XX muitas novas técnicas foram desenvolvidas. Duas se destacam em
relação ao avanço nas análises e à organização de dados e imagens: o computador e o satélite.
De suma importância para a Cartografia, para a estatística e para a Geografia, eles deram novo
rumo às possibilidades de entendimento do mundo. Como o geógrafo tenta analisar e
compreender a organização do espaço na superfície terrestre, a utilização dessas novas
tecnologias e ferramentas facilitou a obtenção e a espacialização dos dados, para que se
aplique o saber geográfico à transformação do espaço.
       Hoje os geógrafos podem atuar em diversas áreas do conhecimento: no
assessoramento de empresas públicas e privadas; no planejamento territorial de áreas rurais e
urbanas; como consultores especializados em vegetação, geomorfologia, solos etc.; na
cartografia; em estudos ambientais, atuando junto às secretarias de meio ambiente, parques
estaduais e nacionais. Boa parte dos formados, porém, atua como professores.
       Dadas todas as possibilidades de estudo, a Geografia é hoje uma disciplina
extremamente complexa e está dividida em inúmeras áreas especializadas. Esta segmentação
muitas vezes faz com que se perca a análise integrada.
       Atualmente, a ciência tem por maior objetivo criar ou manipular novas tecnologias
visando ao lucro. Grande parte do conhecimento é utilizada para a produção. Há muito o
trabalhador passou a existir em função da produção, quando deveria ocorrer o contrário.
       Sem esquecer que um dos papéis do geógrafo é interferir na sociedade e propor
mudanças espaciais e sociais, devemos lembrar que ele também deve ter uma boa formação
para acompanhar as tendências do mercado de trabalho.
       O geógrafo deve apresentar soluções para problemas que podem ser espacializados e
ter uma atuação interdisciplinar. No entanto, sua participação nesses projetos é muito
pequena. Se um geógrafo fosse requisitado para atuar em projetos de engenharia, arquitetura,
administração pública e outros, muitos problemas poderiam ser evitados. Não conviveríamos
com a construção de empreendimentos imobiliários ou vias de tráfego em áreas inadequadas,
como fundos de vales de rios secos temporariamente ou margens de inundação de rios.

Fonte: Livro: Geografia Geral   Autor: Marcos de Amorim – Cap. I – ( pag. 10/17)   Editora Moderna




                                                                                                     6

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Geo Geral Texto 02

  • 1. CURSO: GEOGRAFIA - 1º ANO GEOGRAFIA GERAL TEXTO 02 = A EVOLUÇÃO DA GEOGRAFIA Necessidade de compreensão do mundo A humanidade sempre se intrigou, questionou e tentou entender o que acontecia à sua volta. O hábito do nomadismo levava as populações pré-históricas a percorrer grandes distâncias, passando por lugares onde as estações do ano, a vegetação, o relevo e os rios eram muito diferentes, o que permitiu um maior conhecimento da superfície do planeta. Muitos povos da Antiguidade, como os fenícios, os gregos, os assírios e os egípcios, eram comerciantes e navegadores. Em sua expansão em busca de novos territórios e mercados, o conhecimento dos fenômenos naturais e o domínio de rotas terrestres e marítimas eram necessários. Na Antiguidade, tornou-se comum no Egito a prática da medição de terras e, ao que tudo indica, a geodésia se originou com os egípcios. A primeira pessoa a calcular a circunferência da Terra, com bastante precisão para a época e a dividi-la em meridianos foi o grego Eratóstenes (276 a.C. – 194 a.C.). Em 240 a.C. ele tornou-se diretor da biblioteca de Alexandria, no Egito, tendo escrito uma obra intitulada Tratado geral de Geografia. Eratóstenes calculou em 39.350 Km a circunferência da Terra – a medida correta é de 40.110 Km,no Equador – e chegou à conclusão de que a Terra é redonda. Os gregos, que muito aprenderam com os egípcios, conseguiram dominar grande parte do mundo conhecido, que na época se restringia ao Mediterrâneo. Eles se preocuparam em sistematizar as informações a respeito de nosso planeta e chamavam esses conhecimentos de Geografia “escrever sobre a Terra” ou “estudo da superfície terrestre”. Deixaram diversos escritos sobre suas experiências e vivências geográficas. Como por exemplo:  Estrabão (63 a.C. – 25 d.C.) escreveu uma obra de 17 volumes, Geographicae, na qual, além de especular sobre o formato da terra, descrevia suas experiências de viagens. Esta obra se parece mais com um guia e foi escrita para uso militar.  Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) concebeu a Terra como uma esfera.  Hiparco (190 a.C. – 125 a.C.) criou o sistema de coordenadas geográficas (conjunto de paralelos e meridianos).  Ptolomeu (100 d.C. – 178 d.C.), em sua obra Almagesti, que depois foi traduzida para o árabe, propunha o sistema geocêntrico, em que a Terra seria o centro do Universo e o Sol, os planetas e as estrelas girariam ao seu redor. Seus estudos influenciaram o mundo por mais de 1500 anos, até que a teoria heliocêntrica fosse elaborada por Copérnico. Ptolomeu escreveu A Geografia , mapeando o mundo conhecido na época, obra que constituiu o primeiro atlas, fornecendo a latitude e a longitude de lugares importantes. Sua obra serviu de orientação geográfica durante séculos.  O astrolábio, que servia para medir a altura angular de uma estrela, foi uma invenção grega e era chamado de dioptra. Além dessas discussões sobre a forma da Terra e do aperfeiçoamento da geodésia, muitos temas, como a classificação dos tipos de clima, a descrição de lugares e países, estações do ano e regime dos rios, apareciam nesses estudos de forma dispersa. Os romanos aproveitaram os conhecimentos gregos, com objetivos práticos de demarcação das terras do Império Romano. Com a decadência do Império Romano (século III), os árabes herdaram a Geografia grega. Muitos trabalhos foram traduzidos do grego para o árabe e os estudos de Geografia foram aprofundados. 1
  • 2. Durante a Idade Média, as respostas para os questionamentos a respeito do mundo passaram a ser fornecidas pela religião. A Geografia perdeu força e quase desapareceu do mundo ocidental nesse período. Impulsionada por objetivos militares, de expansão e de organização do Império Muçulmano, a Geografia se desenvolveu no mundo árabe juntamente com outras áreas, como a Astronomia, a Matemática e a Geometria. Entre os exploradores árabes destacam- se Al-drisi (1100-1166), que elaborou um sofisticado sistema de classificação climática, e Ibn Battuta (1304-1368), que em suas viagens descobriu que as regiões quentes do mundo, ao contrário do que se pensava, eram habitáveis. A Geografia e a expansão do horizonte geográfico Durante o século XIII o horizonte geográfico dos europeus se limitava a áreas imediatas da Europa, como o norte da África e o Oriente Médio. Os povos islâmicos ou muçulmanos desempenharam um papel importante na expansão geográfica pelos continentes, ocorrida desde o século VII, dominando parte da Ásia, da África e da Europa. Os europeus conheciam o Oriente principalmente por meio do relato das viagens de Marco Pólo (1254-1324), venesiano que havia cruzado o interior da Ásia e vivido vinte anos na China, tendo escrito um livro intitulado Livro das diversidades e maravilhas, no qual descrevia lendas, lugares e costumes exóticos, excitando a imaginação de seus leitores. No final da Idade Média, o comércio antes restrito ao interior dos feudos, começou a ser reativado e se expandiu. As cidades também cresciam. As cruzadas, expedições religiosas que tinham entre outros objetivos a expulsão dos muçulmanos da Palestina, contribuíram para a expansão européia em direção ao Oriente e para um maior conhecimento do continente asiático. Mas foi só na época das grandes explorações e conquistas do século XV e XVI que o aperfeiçoamento de embarcações e de instrumentos de navegação como a bússola e o astrolábio e a confecção de mapas mais precisos permitiram que os navegantes se aventurassem a empreender viagens por mares nunca antes navegados. Diversos viajantes alargaram o horizonte geográfico conhecido. A descrição geográfica, o mapeamento e a Cartografia, impulsionados pela necessidade de expansão, tiveram um grande avanço. Era a época das Grandes Navegações. Período Conquistas 1415 Os portugueses conquistaram Ceuta, no norte da África. 1488 Bartolomeu Dias (1450-1500),português, chegou a um grande cabo ao sul da África a que deu o nome de Cabo das Tormentas, mais tarde chamado de Boa Esperança 1498 Vasco da Gama (1460-1524), português, chegou a Calicute, descobrindo o tão procurado caminho marítimo para a Índia. 1492 Cristóvão Colombo (1451-1506), genovês, planejou chegar às Índias navegando pelo ocidente. A serviço dos reis da Espanha, chegou ao continente americano. 1519 Fernando de Magalhães (1480-1521), navegador português a serviço da Espanha, empreendeu a primeira viagem de circunavegação do mundo, provando o formato arredondado da Terra. Partindo de Sevilha, a expedição contornou a Patagônia (no atual Estreito de Magalhães) e atingiu a Ásia (Filipinas) pelo Pacífico. Magalhães morreu nas Filipinas em 1521. A expedição chegou a Sevilha em 1522, sob o comando de Sebastião Elcano (1460-1526), pela rota do Cabo da Boa Esperança, permitindo a partir daí uma maior precisão das medidas e das observações. 2
  • 3. Os relatos de viajantes que voltavam das novas terras descrevendo o clima, a vegetação, o relevo e os povos, denominados de trabalhos geográficos, eram estudos variados e tinham um caráter apenas descritivo. Por esse motivo, até o final do século XVIII não se pode falar em Geografia como uma ciência. A Geografia Moderna A partir do século XVI, com a formação das novas colônias e com o impulso do comércio colonial, os países europeus passaram a substituir as expedições exploradoras por expedições científicas cujo objetivo era inventariar os recursos naturais e as possibilidades produtivas dos novos territórios. Cientistas, naturalistas, botânicos e geógrafos passaram a fazer parte das viagens. Eles estudavam novas espécies vegetais, para que elas fossem plantadas e comercializadas. No século XVIII o horizonte geográfico se alargou ainda mais. Terras antes desconhecidas, como a Austrália, a Nova Zelândia e a Sibéria, passaram a ser visitadas. Grandes nomes se empenharam no estudo da Terra. A partir das observações de Copérnico (1473-1543), Kepler (1571-1630) e Galileu (1564-1642), a teoria heliocêntrica substitui o geocentrismo. Filósofos e pensadores como Montesquieu (1689-1755), Kant (1724-1804), Goethe (1749-1832) e Hegel (1770-1831) começaram a buscar explicações integradas do mundo e se preocuparam com a questão do espaço e com a Geografia Social, buscando a relação entre a humanidade e o meio ambiente. Até então os estudos de Geografia apresentavam duas tendências. A primeira confundia os estudos matemáticos sobre a forma e as dimensões da Terra (a geodésia), com a Cartografia e com a Astronomia; a segunda se preocupava com a descrição de povos e lugares exóticos, seu modo de vida, suas atividades, seus costumes e as relações com os lugares onde viviam. No século XIX praticamente todas as regiões do mundo já eram conhecidas, o que permitia uma avaliação mais global do planeta. A Geografia começou a se estruturar como ciência na Alemanha, com Humboldt (1769-1859) e Ritter (1779-1859). Esses dois cientistas deram à Geografia um método de análise, tentando estabelecer as relações entre os fenômenos que ocorrem nas diversas paisagens da superfície do planeta e desses com a ação da humanidade, sistematizando, enfim, o conhecimento geográfico e estabelecendo leis. Assim, a Geografia abandonou o papel puramente descritivo e passou a explicar fenômenos e suas inter-relações, tornando-se uma ciência. Humboldt a entendia como uma ciência de síntese de todos os fenômenos que ocorrem na Terra. Surgia, assim, a denominada Geografia Moderna. A partir daí, a Geografia passa a ter um caráter científico e acadêmico e a ser produzida e pensada nas universidades. No século XIX, é tempo de inventariar o interior dos continentes. Os países colonialistas apóiam a formação de sociedades geográficas, que, entre outras atividades, elaboram mapas, organizam expedições de conhecimento e exploração de novas áreas e recursos. Ainda no século XIX a Geografia é reconhecida oficialmente e passa a ser ensinada nas escolas. Augusto Comte (1798-1857) desenvolve o positivismo. Esse conceito filosófico afirmava que a ciência deveria deixar de especular sobre a origem dos fenômenos e apoiar apenas na observação, na experimentação e na comparação de resultados, procurando a causa dos fenômenos e formulando leis. Com o positivismo, a descrição, a enumeração e a classificação dos fatos novamente assumem um papel importante, influenciando a 3
  • 4. chamada Geografia Tradicional. A humanidade é apenas um elemento da paisagem e as relações sociais são pouco valorizadas. A partir de observações das espécies, de suas mudanças e variações, Lamarck (1744-1828) e Darwin (1809-1882) elaboraram a teoria evolucionista. Lamarck acreditava que as espécies evoluíam pelas alterações ocorridas no corpo, por causa do uso ou desuso dos órgãos, como resposta a uma adaptação ao meio ambiente. Essas mudanças seriam transmitidas hereditariamente. Darwin descreveu a influência ambiental na evolução das espécies ao meio ambiente. Provou que as mudanças ocorrem pela seleção natural e não pela lei do “uso e desuso” de Lamarck. Recebendo forte influência do positivismo e da teoria evolucionista de Darwin, desenvolve-se na Alemanha, com Ratzel (1844-1904) o determinismo geográfico, que sustentava que as condições ambientais, em especial o clima, são capazes de influenciar o desenvolvimento intelectual e cultural das pessoas. Esta teoria afirmava que nas áreas temperadas a humanidade teria um desenvolvimento mais elevado do que nas áreas tropicais, quentes e úmidas. A teoria determinista tentava explicar e justificar os deslocamentos e as conquistas dos povos. Afirmava que os grupos humanos, ao crescer, tendem a alargar os seus territórios, ocupando territórios vizinhos. Reforçou uma idéia – já comum nos países conquistadores – de supremacia racial que entende que um povo ou uma determinada etnia é superior a outra e influenciou a expansão nazista alemã. (*) (*) O Nazismo, política expansionista e totalitária da Alemanha, utilizou a idéia de que o país tinha de conquistar seu “espaço vital”, ou seja, mercados consumidores e fornecedores de matéria-prima. Defendia o direito alemão de conquistar o mundo e a criação da Grande Alemanha, habitada pela raça ariana, considerada por eles como superior, justificando dessa maneira a perseguição e o extermínio de outras raças. Objeto de estudo da Geografia O determinismo teve muita influência sobre os geógrafos que acreditavam que a sociedade humana e suas atividades eram determinadas pelo meio físico. Ratzel estabeleceu as bases para a Geografia Humana. Desenvolveu o conceito de território e elaborou o conceito de espaço vital , no qual haveria uma relação entre uma determinada população e os recursos disponíveis em seu território. Assim, se o território se mostrasse insuficiente para suprir as necessidades dessa população, o progresso natural seria a apropriação de novos territórios. Na realidade, esta teoria justificava a expansão imperialista da época. Posteriormente Ratzel passou a considerar as influências e as condições culturais e da história na determinação das sociedades e de suas atividades. Em reação ao determinismo, a escola francesa, com Vidal De La Blache (1845-1918), lançou o possibilismo , que afirmava que as pessoas poderiam atuar no meio, modificando-o e determinando o seu desenvolvimento, ou seja, o meio natural oferece um conjunto de possibilidades, e sua utilização depende dos costumes e das técnicas (gêneros de vida) diferenciados e do desenvolvimento histórico de cada sociedade. O que diferencia as sociedades seriam os modos de produção diversificados. A circulação e o comércio permitiriam contatos e a difusão de técnicas e hábitos. Apesar da valorização da ação humana, La Blache definiu a Geografia como uma ciência dos lugares e não dos homens. A região, definida como objeto de estudo da Geografia, seria o espaço que sintetiza a Geografia Física (o meio natural) e a Geografia Humana (o aproveitamento 4
  • 5. que os homens e as mulheres fazem do meio) o que daria grande ênfase à história da ocupação do ambiente natural. Cada região do planeta possuiria uma história e uma individualidade que a diferenciaria das outras. Surge daí a Geografia Regional. Do estudo de regiões com características semelhantes surgem da Geografia Agrária, a Urbana, a do Comércio, a da População, a das Indústrias e a Geografia Econômica. Todo esse desdobramento levou à divisão e à especialização de estudos. As regiões tradicionais, por sua vez, tendem a desaparecer num mundo cada vez mais homogeneizado a partir do processo de industrialização, urbanização e revolução dos meios de comunicação e transportes. (*) (*) As áreas urbanas do mundo apresentam semelhanças, sejam elas um espaço de um país rico ou não. Todas apresentam elevado contingente populacional e grandes problemas. O Século XX e a Geografia Atual O mundo se modificou muito durante o século XX.O desenvolvimento de idéias, as duas Grandes Guerras Mundiais, o surgimento dos países socialistas, o confronto entre países socialistas e capitalistas e a revolução tecnológica foram algumas dessas mudanças. Assim aconteceu também no campo das idéias. Muitas correntes de pensamento geográfico se sucederam, procurando melhor definir essa ciência. MaxSorre (1880-1962), francês, desenvolveu a idéia de que a Geografia deve estudar as diferentes maneiras com as quais a humanidade organiza o seu meio. Suas idéias forma consideradas Ecologia Humana. O desejo de fazer da Geografia um estudo mais científico, mais aceito como disciplina, levou à adoção da estatística e da matemática como recursos de apoio. A chamada Geografia Quantitativa propunha a criação de modelos ou de fórmulas matemáticas para melhor explicar os fenômenos. Ela foi muito criticada porque seus modelos não poderiam levar em conta todos os aspectos da realidade, sendo insuficientes para explicá-las; além do mais, ela não se preocupava com a resolução dos problemas sociais. A segunda metade do século XX foi marcada por revoluções, confrontos, movimentos de libertação e questionamentos do sistema mundial de dominação. A gritante desigualdade na distribuição da riqueza pelos países do mundo e no interior deles,o atraso econômico em que vivem diversas nações subdesenvolvidas do planeta foram fatos analisados historicamente e relacionados com os conflitos que ocorriam no interior das classes sociais e com a dominação colonialista. Yves Lacoste, em seu livro A Geografia – Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, faz uma crítica à Geografia tradicional, dizendo que ela sempre existiu a serviço da dominação e do poder. Geógrafos como Pierre George, B. Kayser e R. Guglielmo passaram a questionar o papel assumido até então pela Geografia tradicional: o de explicação e justificação das ideologias dominantes. Surgiram correntes críticas mais comprometidas com mudanças e propostas de transformações sociais, que passam a propor uma Geografia mais atuante, que possa oferecer instrumentos para a compreensão e a intervenção na realidade social. É a chamada Geografia Marxista ou Crítica. O centro das preocupações passa a ser as relações entre a sociedade, o trabalho e a natureza, na apropriação dos recursos e na produção de espaços diferenciados. Para se compreender essas relações, lança-se mão de explicações históricas e econômicas. A Geografia Física passa a ser olhada a partir da Geografia Humana. A Geografia assume um caráter politizador e de denúncias. 5
  • 6. Hoje a Geografia se propõe muito mais do que somente descrever paisagens e passa por um processo de renovação. Milton Santos propõe a discussão do espaço social, que é histórico, dinâmico e fruto do trabalho e da produção da humanidade. A Geografia estuda o espaço e as relações que nele ocorrem, sendo, portanto, um canal de reflexão para uma ação transformadora, objetivando a construção da cidadania. Sabemos que, apesar de o espaço geográfico ser construído pelos homens e mulheres por meio do trabalho, não são todos que se beneficiam dos frutos desta construção. Interesses de classe, econômicos e políticos estão presentes, colocando-o a serviço de alguns. Na Geografia dos últimos tempos surgiram abordagens que buscam explicações mais abrangentes, que dêem conta das interações entre os elementos socioculturais da paisagem e os elementos físicos e biológicos presentes nela, entendendo as relações entre a natureza e a construção do espaço nas diferentes sociedades. Preocupa-se hoje, não mais em descrever o que o espaço contém, mas como ele chegou a tal configuração, resultado das relações sociais e conseqüentemente um produto histórico, influenciado por questões de ordem econômica, política,social e cultural. Como se vê, o objeto de estudo da Geografia sofreu variações durante os séculos, as décadas e os anos, transformando-se de acordo com o conhecimento e as idéias de cada época. Entendendo o papel da Geografia e do geógrafo num mundo técnico: a teoria e a prática. No século XX muitas novas técnicas foram desenvolvidas. Duas se destacam em relação ao avanço nas análises e à organização de dados e imagens: o computador e o satélite. De suma importância para a Cartografia, para a estatística e para a Geografia, eles deram novo rumo às possibilidades de entendimento do mundo. Como o geógrafo tenta analisar e compreender a organização do espaço na superfície terrestre, a utilização dessas novas tecnologias e ferramentas facilitou a obtenção e a espacialização dos dados, para que se aplique o saber geográfico à transformação do espaço. Hoje os geógrafos podem atuar em diversas áreas do conhecimento: no assessoramento de empresas públicas e privadas; no planejamento territorial de áreas rurais e urbanas; como consultores especializados em vegetação, geomorfologia, solos etc.; na cartografia; em estudos ambientais, atuando junto às secretarias de meio ambiente, parques estaduais e nacionais. Boa parte dos formados, porém, atua como professores. Dadas todas as possibilidades de estudo, a Geografia é hoje uma disciplina extremamente complexa e está dividida em inúmeras áreas especializadas. Esta segmentação muitas vezes faz com que se perca a análise integrada. Atualmente, a ciência tem por maior objetivo criar ou manipular novas tecnologias visando ao lucro. Grande parte do conhecimento é utilizada para a produção. Há muito o trabalhador passou a existir em função da produção, quando deveria ocorrer o contrário. Sem esquecer que um dos papéis do geógrafo é interferir na sociedade e propor mudanças espaciais e sociais, devemos lembrar que ele também deve ter uma boa formação para acompanhar as tendências do mercado de trabalho. O geógrafo deve apresentar soluções para problemas que podem ser espacializados e ter uma atuação interdisciplinar. No entanto, sua participação nesses projetos é muito pequena. Se um geógrafo fosse requisitado para atuar em projetos de engenharia, arquitetura, administração pública e outros, muitos problemas poderiam ser evitados. Não conviveríamos com a construção de empreendimentos imobiliários ou vias de tráfego em áreas inadequadas, como fundos de vales de rios secos temporariamente ou margens de inundação de rios. Fonte: Livro: Geografia Geral Autor: Marcos de Amorim – Cap. I – ( pag. 10/17) Editora Moderna 6