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Alexandre de Gusmão Pedrini
           (Organizador)




Ecoturismo e Educação Ambiental




                 1
Copyright © 2005 por Alexandre de gusmão Pedrini
Título Original: Ecoturismo e Educação Ambiental

Editor
Tomaz Adour

Editoração Eletrônica
Luciana Figueiredo




PAPEL VIRTUAL EDITORA
Rua Miguel Lemos, 41 sala 605
Copacabana - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22.071-000
Telefone: (21) 2525-3936
E-mail: editor@papelvirtual.com.br
Endereço Eletrônico: www.papelvirtual.com.br

                             2
APRESENTAÇÃO DOS AUTORES


ALEXANDRE DE GUSMÃO PEDRINI
Biólogo. Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro. Professor-Adjunto na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ). Orienta alunos na Graduação e Pós-
Graduação.Tem trabalhos publicados no Brasil e no exterior.
Organizou e é autor nas coletâneas: a) Educação Ambiental: Re-
flexões e Práticas Contemporâneas pela Vozes; b) O Contrato
Social da Ciência, unindo saberes na Educação Ambiental pela
Vozes; c) Ecoturismo e Educação Ambiental pela Publit. Criador
e Animador da Lista de Discussão Educação Ambiental e
Ecoturismo (Eaecoturismo). Atua em Educação Ambiental Co-
munitária, no Departamento de Biologia Vegetal do Instituto de
Biologia da UERJ, sito a Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão
Haroldo Lisboa da Cunha, Sala 525/1, CEP 20550-013, Rio de
Janeiro, RJ, Brasil; tel: 2587-7434, 2567-2567 e tel/fax 2587-7655;
e-mails: pedrini@uerj.br e agpedrini@vetor.com.br.

CRISTHIANE OLIVEIRA DA GRAÇA AMÂNCIO
Bióloga licenciada e bacharel em ecologia pela Universidade Fe-
deral Rural do Rio de Janeiro (UFRuralRJ). Mestre e Doutoran-
da em Desenvolvimento Rural pelo Curso de Pós-Graduação em
Desenvolvimento Agricultura e Sociedade (CPDA) da UFRRJ.
Pesquisadora da Embrapa Pantanal em educação ambiental e
metodologias de intervenção social. Foi professora do curso de
pós-graduação por tutoria à distância em “Ecoturismo: Interpre-
tação e educação ambiental” da Universidade Federal de Lavras
(UFLA), onde ainda atua como responsável pelo conteúdo de
educação ambiental nos cursos de pós-graduação por tutoria à
distância em Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Agrícolas
(MAA) e Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria (MAI).
Consultora na área ambiental. Endereço: Embrapa Pantanal Rua

                                3
21 de Setembro, 1880 - Bairro Nossa Senhora de Fátima. Caixa
Postal 109 - Corumbá, MS- Brasil - 79320-900 Fone: (67) 233-
2430 ramal 240 - Fax: (67) 233-1011; camancio@cpap.embrapa.br

MILTA FONSECA TORGANO
Bióloga. Professora do curso fundamental e graduada em Ciências
Biológicas pela Universidade Veiga de Almeida. Publicou trabalhos
em Educação Ambiental. e-mail: torgano38@yahoo.com.br;
torgano1@hotmail.com

NADJA MARIA CASTILHO DA COSTA
Geógrafa, Mestre e Doutora pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Profa. Adjunta do Dept o. de Geografia da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena
o Grupo de Estudos Ambientais (GEA). Preside o Comitê de
Estudos Regionais do Instituto Panamericano de Geografia e
História (IPGH), ligado a Organização dos Estados Americanos
(OEA). Coordena projetos de pesquisa interdisciplinares e
interinstitucionais em Geografia Física, Meio Ambiente e Turismo,
com destaque para pesquisas extensionistas, envolvendo
participações comunitárias em Educação Ambiental, formal e
informal. Endereço: Av. São Francisco Xavier, 524, Maracanã,
sala 4002-D, Rio de Janeiro - RJ. Tel/Fax: (21) 25877703 r. 38.
E-mail: nadjagea@bol.com.br

VIVIAN CASTILHO DA COSTA
Jornalista pela Universidade Gama Filho (UGF). Geógrafa (1999),
pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre
em Geografia (2002), pela Universidade Federal do Rio de Janei-
ro (PPGG/UFRJ), onde está fazendo o seu doutoramento, com
tese que analisa novas metodologias de estudo em trilhas
interpretativas, utilizando ferramentas de geoprocessamento. Par-
ticipa de projetos de levantamento do potencial ecoturístico em
unidades de conservação e Educação Ambiental formal e informal

                               4
para comunidades. Vem atuando na área de Geoecologia, Geo-
grafia Física e do Turismo, participando de palestras e publicando
vários trabalhos sobre Ecoturismo e Educação Ambiental. Tel:
(21) 22343352. E-mail: viviancastilho@uol.com.br




                                5
6
SUMÁRIO



Apresentação dos autores ........................................................ 3
Apresentação .......................................................................... 9
Davies Gruber Sansolo
Introdução ........................................................................... 11
Alexandre de Gusmão Pedrini
Ecoturismo com Educação Ambiental : discursos e práticas .. 13
Alexandre de Gusmão Pedrini e Milta Fonseca Torgano
Educação Ambiental pelo Ecoturismo, em Unidades de
Conservação: uma proposta efetiva para o parque estadual da
pedra branca (PEPB) – RJ .................................................... 39
Nadja Maria Castilho da Costa e Vivian Castilho da Costa
O ensino a distância da Educação Ambiental direcionado
para o Ecoturismo: a experiência no curso de especialização
por tutoria a distância em Ecoturismo da UFLA/FAEPE
(2000-2003) ........................................................................ 67
Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio




                                           7
8
APRESENTAÇÃO




        Este livro reúne uma série de textos que evidenciam a rela-
ção entre o ecoturismo e a essência do pensamento ambientalista,
sobretudo, representado pela educação ambiental. A problemática
ambiental promoveu a construção de novos valores culturais so-
bre a natureza no mundo contemporâneo. Tais valores englobam
uma gama de perspectivas que em alguns casos se confundem em
outros se camuflam um aos outros. Se por um lado, o ecoturismo
como um segmento de mercado é decorrente da mercantilização
dos valores ambientalistas, por outro lado é uma das trilhas que o
movimento ambientalista tem encontrado para promover o
intercambio cultural, distribuição de renda e inclusão social e a
ampliação dos valores conservacionistas.
        De forma geral a educação no mundo ocidental vem se desen-
volvendo embutida ao longo da história do pensamento científico
moderno, que em última análise e se desencadeia na educação formal
desenvolvida nas escolas e nas universidades e, portanto moldando o
significado de ambiente para o mundo contemporâneo.

                                9
Assim como o ecoturismo, a educação ambiental como um
movimento, uma dinâmica, um fenômeno social, engloba diver-
sas linhas de pensamento e tem em comum um eixo temático: a
crise ambiental, sobretudo no que diz respeito aos significados da
natureza, que se apresenta de forma contraditória em nossa socieda-
de. Por um lado, a natureza como recurso econômico, por outro
como um novo valor humanista, onde o ser humano passa a se
reconhecer como responsável e integrante da dinâmica e
interconexões naturais. Além disso, se revela como ser social que
explora outros humanos assim como outros recursos da natureza.
       Neste livro são apresentados trabalhos que buscam clarear
o significado do fenômeno ecoturístico. O texto Ecoturismo com
Educação Ambiental: Discursos e Práticas de Alexandre de
Gusmão Pedrini e Milta Fonseca Torgano apresenta uma revisão
sobre o que se tem escrito e pesquisado sobre educação ambiental
e ecoturismo no Brasil.
       O texto Educação Ambiental pelo Ecoturismo em Unidades
de Conservação: uma proposta efetiva para o Parque Estadual da
Pedra Branca (PEPB) - RJ de Nadja Maria Castilho da Costa e Vivian
Castilho da Costa busca conceituar sob a ótica do turismo e do lazer
o significado da educação ambiental e vão além, destacam a impor-
tância da Educação Ambiental nos planos de manejo de unidades de
conservação que oferecem atividades de visitação e ecoturismo.
       Finalmente, um tema que vem ganhando força nos últi-
mos anos com o advento das novas tecnologias de comunicação é
o ensino a distância, que aqui é apresentado por meio do estudo
de caso do curso de especialização por tutoria à distância em
Ecoturismo da Universidade Federal de Lavras (UFLA) por
Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio.
       Prof. Dr. Davis Gruber Sansolo, Doutor e Mestre em
Geografia Física pela Universidade de São Paulo, Professor do
Programa de Mestrado em Hospitalidade da Universidade
Anhembi-Morumbi e do Curso de Pós Graduação em Ecoturismo
do SENAC -Águas de São Pedro (SP).

                                10
INTRODUÇÃO




       O Ecoturismo quanto a Educação Ambiental são áreas do
saber com limitadas pesquisas publicadas no Brasil. Principalmente
quanto a estudos de casos realizados tanto no Brasil como em
outros países não só latinoamericanos como europeus, asiáticos e
africanos. Quando os dois temas se entrelaçam os resultados de
pesquisas ou atividades de ensino são mais escassos. No entanto,
na prática cotidiana podemos identificar muitas atividades não
declaradas cientificamente, envolvendo os dois temas. Mas, por
falta de definições de metodologias científicas que arrolem os dois
campos de pesquisa muitos são os trabalhos que carecem de reco-
nhecimento do meio acadêmico. Este comportamento sugere que
o meio acadêmico se esforce para capacitar este novo campo de
pesquisa de profissionais qualificados de modo que seus trabalhos
cotidianos possam adotar o ritual que permita que as atividades
tenham cientificidade e, assim, aceitação acadêmica.
       Por outro lado, há intensa atividade ecoturística, empresa-
rial ou não, que se pressupõe articulada com a Educação

                                11
Ambiental, segundo discurso explícito ou não de seus promoto-
res. Mas, este fenômeno não está amplamente estudado, pois o
que pode ser observado em contato com o setor empresarial
ecoturístico, participando ou não de sua programação é de que o
casamento da EA com o Ecoturismo não vem ocorrendo. Deste
modo, este livro se propõe a apresentar alguns casos da tentativa
de se promover o Ecoturismo com Educação Ambiental e ser base
para futuros debates nesta interseção de estudos tão interessante e
fundamental para a economia.




                                12
ECOTURISMO COM EDUCAÇÃO AMBIENTAL : DISCURSOS
                           E PRÁTICAS


  Alexandre de Gusmão Pedrini e Milta Fonseca Torgano



Introdução

      O Ecoturismo com Educação Ambiental (EA), como área
de pesquisa, no Brasil, tem sido alvo de preocupações recentes
(IRVING, 1998a e b; SERRANO, 2000; MARASCHIN &
PEDRINI, 2003; PEDRINI, 2005; AMÂNCIO e COSTA &
COSTA, nesta coletânea). Ainda, se verificam alguns planejadores
e guias ecoturísticos, adotando acriticamente manuais de
ecoturismo como o formulado pela UNIÃO EUROPÉIA/
EMBRATUR (1994) em que a EA não está internalizada ao tu-
rismo ecológico. Nesse manual, ecoturismo é conceituado como
aquele que é desenvolvido em locais com potencial ecológico, de
modo conservacionista, buscando conciliar a exploração turística
com o meio ambiente, harmonizando as ações com a natureza,
bem como, oferecer aos turistas um contato íntimo com os recur-
sos naturais e culturais da região, em busca da formação de uma
consciência ecológica. O mais criticável neste conceito naturalista é

                                 13
o de pretender apenas construir uma consciência ambiental e não
a de mudar opiniões, hábitos e condutas do ecoturista espontâneo
ou oriundo de pacotes turísticos. Há outros conceitos como os
apresentados por IRVING (1998a) que são mais concretos e bem
aproximados com os conceitos aceitáveis da EA. Seu conceito é o
de que o ecoturismo deve ser uma alternativa econômica de baixo
impacto ambiental e capaz de contribuir para o desenvolvimento
sustentável de uma dada região. Deve ainda, pelo simbólico e do
lúdico permitir a aprendizagem de novas atitudes de respeito aos
valores ambientais e culturais, consolidando nova postura ética,
respeitando a natureza e o “outro”, ou seja, os demais elementos
das atuais e futuras gerações das sociedades humanas.
       Este breve intróito ao tema mostra conflitos na conceituação
de ecoturismo (vide GOMES, 1999), embora existam autores
que já vem tentando acoplar o Ecoturismo com a EA, apesar das
confusões conceituais e metodológicas nestas duas atividades in-
dividualmente e em conjunto.

O que mais se diz de interessante na bibliografia brasileira...

       Em 1994, o governo federal (BRASIL, 1994) publicou as
“Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo”. No en-
tanto, esta política não foi criada até agora, mas as diretrizes
funcionam como uma espécie de política implícita. Nelas, a EA
não é citada explicitamente, mas de modo tímido como uma es-
tratégia para a sensibilização pública para as questões ambientais,
o que podemos considerar insuficiente. No conceito oficial de
ecoturismo cunhado a EA se inclui, mesmo que de modo
incipiente, buscando apenas a conscientização ambiental. A EA, tem
dentre outros objetivos a mudança de posturas, comportamentos e
condutas, adotando os pressupostos da EA das Conferências de Tbilisi
e Moscou (cf. PEDRINI, 2002).
       Mas, o meio acadêmico já estava sensibilizado com a ques-
tão do ecoturismo, pois ele está se desenvolvendo rapidamente

                                14
sem um arcabouço teórico-metodológico que o sustente. Um
exemplo da produção de conhecimento neste campo foi a devo-
ção de um só número do periódico “Turismo em Análise” da
Universidade de São Paulo no início de 1992, a este tema. Tendo
como pano de fundo a Rio-92 o número dedicado ao ecoturismo
abordou doze assuntos relevantes, mas nenhum deles abordou a
EA como pressuposto para o desenvolvimento ecoturístico. No
entanto, não deixou de ser um marco na trajetória do ecoturismo
como área de reflexão acadêmica.
       Anos mais tarde, os pesquisadores da área publicaram obras
importantes, refletindo o aumento de preocupação acadêmica na
área do ecoturismo e essa com a EA. Foram publicadas coletâneas
como SERRANO & BRUHNS (1997), VASCONCELOS
(1998), RODRIGUES (2000), NEIMAN, 2002 e o livro de
SEABRA (2001), reunindo atores de diversos campos subjacentes
ou de obras traduzidas como LINDBERG & HAWKINS (2001).
Além disto, o meio acadêmico tem produzido monografias, dis-
sertações e teses sobre o Ecoturismo. Exemplo é a dissertação de
Patrício Melo GOMES (2000) em que ele fez uma releitura do
ecoturismo praticado no Brasil. Em todas estas obras, a preocu-
pação com a parte de planejamento cuidadoso e a gestão
sócioambiental com a atividade ecoturística é patente.
       A inserção da EA no campo das preocupações humanas é
mais antiga, no Brasil, do que o Ecoturismo como campo
institucionalizado do saber reflexivo, podendo ter-se uma idéia
panorâmica da EA e de algumas de suas trajetórias no trabalho de
PEDRINI (2002). Além disto, foi promulgada uma lei federal do
Brasil de grande importância (BRASIL, 1999), a Política Nacio-
nal de Educação Ambiental (PONEA)-política explícita- que
foi regulamentada pelo Decreto 4281 de 25 de junho de 2002 e
que em conjunto com as Diretrizes para uma Política Nacional
de Ecoturismo de 1994- política implícita -, constituem um
referencial básico teórico para as práticas destes dois campos
científicos.

                               15
No entanto, o Ecoturismo com a Educação Ambiental e
vice-versa, embora discurso freqüente de quem os prega e fomen-
ta (por exemplo, órgãos públicos) ou pratica (por exemplo : em-
presários, fazendeiros e ONGs) é uma das atividades sociais com
pesquisas escassas, cujos relatos são raramente publicados em pe-
riódicos ou livros com visibilidade pública. Tanto, que em nosso
levantamento bibliográfico pouco foi achado para a América La-
tina e o Brasil. Dentre o que foi achado, vale a pena ser destacado
alguns escritos, a maioria teórica.
        Em 1997, no evento “I Encontro Nacional de Turismo com
Base Local”, cujos anais foram publicados posteriormente
FIGUEIREDO (2000) propôs um modelo interessante de turis-
mo e EA em unidades de conservação, valorizando a sabedoria
popular e a científica. Neste mesmo ano, o Ministério do Meio
Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA)
em colaboração com o Ministério de Educação e Desporto (MEC)
organizaram a I Conferência Nacional de Educação Ambiental (I
CNEA). Deste evento, emanou a Declaração de Brasília para a
Educação Ambiental, segundo MMA/MEC (1997). Esta decla-
ração, alicerçada nos princípios clássicos de outras declarações
internacionais de EA como a organizada pela UNESCO foi na
cidade de Tbilisi na Geórgia, antigo estado da União Soviética.
Dentre os signatários desta declaração estão renomados especia-
listas da EA e da questão ambiental. Esta declaração foi derivada
da discussão coletiva de profissionais que debateram, primeira-
mente, em suas regiões as problemáticas da EA e recomendações
para equacionar os problemas e resolve-los. Posteriormente, em
Brasília, os relatos regionais foram apresentados e rediscutidos. A
síntese de caráter nacional concluiu por dezenas de recomenda-
ções ao MMA e ao MEC, dentre, as quais, delinear políticas de
incentivo ao ecoturismo como alternativa do desenvolvimento
sustentável realizada de forma responsável no contexto da EA.
Esta recomendação tornou-se um marco do casamento entre a
Educação Ambiental e o ecoturismo, no Brasil.

                                16
Em 1999, HARTMANN apresentou um trabalho em que
o ecoturismo seria uma alternativa para a Educação Ambiental.
Esse autor listou alguns obstáculos para o desenvolvimento do
Ecoturismo no Brasil de forma ordenada e articulada, segundo
BRASIL (1994):

1. Ação deficiente dos empresários;
2. Ação político-governamental insuficiente;
3. Comportamento inadequado do ecoturista;
4.Pouca ou nenhuma atividade comunitária;
5.Fraca interação empresarial e interinstitucional;
6. Infra-estrutura deficiente ou inadequada para o ecoturismo;
7. Necessidade de profissionais capacitados;
8. Desconhecimento de critérios operacionais de sustentabilidade.

        A partir da constatação destas deficiências HARTMANN
(op. cit.) relatou duas experiências realizadas com um ônibus de-
nominado BICHO DO MATO, a partir do município de Angra
dos Reis. No entanto, não apresentou uma avaliação dos trabalhos
e permaneceu a dúvida se ela pode superar os defeitos enumerados
acima. De qualquer modo não deixa de ser um relato da tentativa
de prática de ecoturismo com educação ambiental.
        O grande marco da literatura brasileira, entrelaçando o
Ecoturismo com a EA é a coletânea organizada pela pesquisadora
Célia SERRANO (2000). Na sua obra, reúne muitos colegas de
variadas visões profissionais, mostrando algumas experiências em
diferentes contextos. Porém, antes já havia outras publicações,
tratando do tema, mesmo que de modo esparso, como, por exem-
plo, o trabalho de CASCINO (2000), publicado em primeira
edição em 1998. Este trabalho propõe um novo conceito na área,
introduzindo o termo ECOLAZER que seria o ecoturismo com
EA. Isto é, pressupõe uma educação sustentável que poderia ser
traduzida como a inclusão da eco-reflexão, reconsiderando a fi-
gura do turista, do lazer e do espaço natural.

                               17
No entanto, aquele trabalho como outros não passaram de
pura expressão de vontade dos seus signatários, pois praticamente
nada de novo foi implementado, tendo por base a Declaração de
Brasília. Essa, é mais uma no rol de outras tantas declarações que
periodicamente enchem o coração dos educadores ambientais e
pesquisadores em ecoturismo por novas perspectivas e ações, prin-
cipalmente, por parte dos governos. PEDRINI (2002) demons-
trou que este mesmo comportamento ocorre na EA no plano in-
ternacional, em que, já existem declarações como as de Tbilisi,
Moscou, Belgrado e Tessalonique, mas pouco tem sido feito pelos
governos para a mudança de hábitos e posturas nos diversos países
signatários.
        CASCINO (1998), IRVING (1998b) e SANSOLO (1998)
em recente coletânea sobre Turismo e Meio Ambiente salientaram
a convergência entre o ecoturismo e a EA. Além de publicações
em livros, periódicos e anais vem aumentando a publicação de
textos na Internet. Vale destacar, além do que já foi citado os
trabalhos de BERTINI(2001), NEIMAN (2001) e MANOSSO
(2001) na Internet e o de MORETTI (2000) nos anais de um
evento de turismo. Todos os trabalhos destacam o ecoturismo e
EA como um novo paradigma para o desenvolvimento econômi-
co e social brasileiros. Há inclusive, uma lista de discussão na
Internet (Educação Ambiental e Ecoturismo), criada pelo primeiro
autor deste ensaio no endereço: www.grupos.com.br/grupos/
eaecoturismo. Esta lista prega a discussão em caráter nacional e
internacional desta nova proposta de paradigma.
        No contexto da EA o ecoturismo é incentivado como prá-
tica a ser desenvolvida na educação não formal no seio da coleti-
vidade humana, segundo a lei federal número 9.795 de 27 de
abril de 1999 que criou a Política Nacional de Educação Ambiental
(PONEA). No estado do Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO,
1999), existe a lei de número 3225 publicada no Diário Oficial
do Estado do Rio de Janeiro, em 30 de dezembro de 1999 que
dispõe da Política Estadual de Educação Ambiental do estado do

                               18
Rio de Janeiro. A lei, apesar de sua visão naturalista, prevê em seu
artigo 14 que a EA não-formal são ações e práticas educativas,
visando à sensibilização, organização, mobilização e participação
da coletividade na defesa da qualidade do meio ambiente, sendo
assim, incentivada pelo Poder Público através do ecoturismo, den-
tre outras atividades. Deste modo, o ecoturismo é uma prática
intrinsecamente desejada de ser realizada com a EA.
       TULIK (1992) num trabalho sobre ecoturismo publicado
no Brasil na década de noventa quando ele passou a ser estudado
como fenômeno social, tratou-o criticamente. Mostrou esta for-
ma de turismo “alternativo” como uma atividade que também
não seria de acesso a todas as camadas sociais, incluindo dentre
estas os hotéis de lazer “resorts” que aliam atividades físicas ao
conforto moderno.
       Assim, este capítulo tem como objetivo apresentar se,
empiricamente, a Educação Ambiental é realmente praticada em
atividades de ecoturismo, realizadas tanto em contexto litorâneo
como interiorano brasileiro.

Como fizemos...

      Foi adotada a abordagem qualitativa bem discutida em seus
valores em confrontação com a quantitativa, nos livros de
MINAYO (1992) e CHIZZOTTI (2001). Foram feitos dois
estudos de caso. Este tipo de abordagem - o estudo de caso -,
segundo GIL (1991) e PEDRINI (submetido) se caracteriza
pela pesquisa aprofundada e exaustiva de um ou poucos objetos,
de forma a conhecer de modo amplo e detalhado o objeto.
Parte do princípio de que a análise de uma unidade de deter-
minado universo permite a compreensão da generalidade do
mesmo ou dá as bases para um estudo mais preciso posteri-
ormente. Segundo CASTRO (1977) o estudo de caso é primei-
ramente interessante não pelo caso em si, mas pelo que ele
sugere a respeito do todo.

                                19
O estudo do primeiro caso foi num “resort” localizado no
litoral do estado do Rio de Janeiro, durante um “pacote turístico”
realizado em 1999. Neste pacote havia um “passeio ecológico”
promovido por uma organização não governamental (ONG) de-
nominada de Instituto Ecológico, cujos donos são também sóci-
os do “resort”. O trabalho se concentrou neste passeio. O segun-
do caso foi no “ Projecto Vivo” proposta de compatibilização
entre a pecuária, o ecoturismo e a educação ambiental. É realiza-
do num Hotel-Fazenda no município de Bonito, estado do Mato
Grosso do Sul. A pesquisa foi feita em 2002.
        As seguintes estratégias foram utilizadas para a coleta de
dados: a) Observação Participante (OP); b) Entrevista com roteiro
semi-estruturado (E); c) História de Vida (HV); d) Análise de
Conteúdo de textos de divulgação (AC). Utilizando-se estas quatro
estratégias de coleta de dados, pode-se fazer a triangulação na aná-
lise posterior de dados, segundo TRIVIÑOS (1987) e BECKER
(1994) que sugerem que toda pesquisa de campo deva ter. Isto se
adeqüa tanto para as abordagens qualitativas do presente trabalho
quanto para as quantitativas. Metodologia similar foi adotada por
SORRENTINO (1997) e trabalhos em PEDRINI (2002).
        Para a coleta de dados com a observação participante ado-
tou-se basicamente o conceito de SCHWARTZ & SCHWARTZ
(1955), em que, o observador é parte do contexto observado,
modificando e sendo modificado pelo segundo. Estando face a
face com os sujeitos observados, no seu cenário cultural, o obser-
vador coleta dados. Segundo MINAYO (1992) o conceito de
observador-participante seria nomeado observador-como-parti-
cipante que é uma estratégia complementar a adoção de entrevis-
tas com os “atores”, visando a coleta de dados. É uma observação
quase formal , em espaço curto de tempo, mas válida e, portanto,
utilizada neste trabalho.
        Dois tipos de entrevistas foram feitas: uma aos funcionários
e outra aos hóspedes dos hotéis participantes ao final das atividades.
Os roteiros das entrevistas seguem, em anexo, a este texto. Para o

                                 20
uso de entrevistas como instrumento de coleta de dados vale a
pena consultar as obras de GOODE & HATT (1979), GIL
(1991), LAKATOS & MARCONI (1991) e de BECKER (1994)
onde várias armadilhas a que o entrevistador (pesquisador) são
apresentadas e propostas soluções adequadas.
       Uma breve problematização será feita sobre a entrevista
como estratégia de coleta.
       GOODE & HATT (1979) fazem uma discussão
aprofundada da entrevista como técnica de coleta de dados, in-
clusive, analisando situações reais tanto pelo lado do entrevistado/
informante quanto do entrevistador/pesquisador o que faz esta
obra de fundamental interesse para pesquisadores sociais iniciantes.
GIL (1991) define entrevista como a técnica em que o pesquisador
apresenta-se frente ao investigado e lhe formula questões, com o
objetivo de obter dados de interesse para a pesquisa. É uma forma
de interação social, uma espécie de diálogo assimétrico, em que
uma parte busca a coleta de dados/informação e outra que é a
fonte de dados/informação. LAKATOS & MARCONI (1991)
apresentaram vantagens e limitações para o uso da técnica de co-
leta de dados pela entrevista. Dentre as primeiras verificadas no
presente trabalho vale ressaltar as seguintes: a) pode ser utilizada
com qualquer pessoa que saiba se expressar oralmente, incluindo
analfabeto em português; b) possibilita a obtenção de dados não
encontrados nos documentos consultados e não percebidos na
observação participante, maximizando a abordagem metodológica;
c) há a possibilidade de se conseguir informações mais precisas,
podendo ser comprovadas, imediatamente, as discordâncias; d)
permite maior oportunidade de se avaliar atitudes, condutas, po-
dendo ser registrado o que se observa neste tipo de abordagem; e)
oferece maior flexibilidade, pois o pesquisador pode repetir suas
questões ou esclarecer pontos inconspícuos nas perguntas. Dentre
as desvantagens que devem ser minimizadas ou superadas, vale
apontar as seguintes : a) dificuldade de expressão e comunicação
de ambas as partes; b) possibilidade do pesquisador influenciar o

                                21
entrevistado, consciente ou inconscientemente; c) preguiça do entre-
vistado em responder às perguntas; d) retenção de dados importantes
face o receio do entrevistado de ser identificado posteriormente; e)
incapacidade do entrevistado de compreender adequadamente o que
for perguntado, levando a responder o que não foi perguntado. Ape-
sar, do que LAKATOS & MARCONI (1991) problematizaram so-
bre a entrevista, ela ainda é a melhor técnica de coleta de dados do
que o questionário, por exemplo, para este tipo de pesquisa.
        A História de Vida é uma estratégia de coleta de dados
pouco usada na Educação Ambiental (cf. BRITO, 2001). Se-
gundo MINAYO (1992) a HV pode ser escrita ou verbalizada.
Em nosso estudo, foi inicialmente verbalizada e depois escrita.
Foi selecionada ao invés da entrevista, pois o informante era uma
pessoa muito tímida e simples, sendo esta técnica se mostrado
mais adequada. De fato, foi também uma estratégia de coleta de
dados complementar a outros informantes. MINAYO (1992)
problematiza esta estratégia de coleta.
        Para a análise dos dados coletados pela OP, HV e E foi
adotada a Análise de Conteúdo (AC). Este tipo de análise é o
mais organizado desta técnica fartamente adotada na análise de
textos. A AC é uma opção de validação metodológica em que
identifica a percepção dos conteúdos latentes e intuições não pas-
síveis de quantificação, além dos conteúdos manifestos (conspí-
cuos) dos textos em linguagem natural. Esta obra, publicada por
uma editora portuguesa se propôs a ser um manual para estudantes
e profissionais das ciências humanas e é recomendada para adoção
pela sua clareza e objetividade.

O que aconteceu...

1. No Resort Litorâneo Fluminense

     O passeio chamado “ecológico” , na realidade, era uma ca-
minhada de cerca de uma hora por uma trilha estreita com placas

                                22
aos seus lados, cujos dizeres eram frases de “marketing” para a
conservação ambiental. Por onde as pessoas passavam o chão era
de terra batida cercada lateralmente por espécimes de arbustos de
restinga sem aves ou outros animais típicos do bioma visitado. Ao
final da caminhada chegou-se a uma praia deserta perto de uma
reserva biológica costeira particular. Neste momento, foi feito um
lanche e se conversou sobre as belezas locais. Em nenhum mo-
mento se observou uma atividade que se propusesse transferir
conhecimentos sócioambientais contextualizados. Ou mesmo,
visando sensibilização ou mudanças de hábitos e posturas, como
deveria ser uma atividade de EA num espaço não formal, como
está previsto na Política Nacional de Educação Ambiental
(PONEA), segundo BRASIL(1999). Havia também uma casa com
macacos presos, cuidadosamente alimentados. Havia notícias de
trabalho com escolas, mas nada que se pudesse fazer uma análise
mais detalhada.
       Os dados retirados das entrevistas (80% de argentinos e
20% de brasileiros) que tinham como objetivo principal verificar
se tanto os guias de ecoturismo como os hóspedes tinham algum
conhecimento sobre ecoturismo ou EA prévio ou posterior ao
passeio ecológico confirmou o que se esperava. A análise dos da-
dos (que foram poucos, pois a maioria das perguntas não foram
respondidas) permitiu perceber uma visão naturalista das ques-
tões ambientais em que o homem não estava inserido, tanto na
visão dos guias como na dos hóspedes. O desconhecimento da
legislação ambiental e ecoturística, conceitos, finalidades e im-
pactos tanto negativos como positivos sobre ecoturismo e EA foi
marcante. De fato, os guias apresentaram um discurso
preservacionista “... continuamos nossa caminhada perseverando
e lutando por um Mundo Melhor para todos: plantas, homens e
passarinhos...”, mas não vivendo todos em conjunto e sem uma
proposta consistente. Ou ainda, conceituando o ecoturismo como
“...uma atividade econômica, um negócio lucrativo, porém deve-
rá ser minuciosamente planejada para não ocasionar resultados

                               23
inversos como impacto ambiental e não prejudicar no desenvol-
vimento sustentável do lugar.” Um discurso coerente, mas, em
tese, pois o lucro advindo desta atividade não promove desenvol-
vimento auto-sustentável. Aponta que participa de sua comuni-
dade participando de uma Escola Comunitária não formal, em
que as crianças que lá afluem conhecem “coisas novas”. Deu para
perceber que é mais uma atividade de marketing ambiental, pois
não foram mostradas suas atividades nem uma avaliação do que
se alcança com esta “Escola”.
       Os entrevistados crêem também que o ecoturismo deve ser
uma ferramenta para a Educação Ambiental, porém com um dis-
curso apelativo “’.porque só amamos aquilo que conhecemos e a
partir do contato com o verde temos uma outra consciência com
a natureza...”. Sabemos que a natureza envolve outras cores, in-
cluindo a humana que não é nem um pouco “verde”. Dentre os
hóspedes, a tendência se repete “... ecoturismo são estes momentos
que passamos conhecendo e aprendendo sobre a vida vegetal e
animal de cada região”. Ou difundir a proteção, observar e co-
nhecer o meio ambiente.
       Porém, o que mais se destaca nas respostas dos entrevista-
dos é que todos mostraram seu amor à natureza e aos homens.
No entanto, consideraram que a EA, não é uma responsabilidade
de todos, por exemplo, “... sempre tive respeito pela natureza e
muita admiração, tento preserva-la da maneira que posso que é
não destruindo-a, porém não trabalho com este processo de
conscientização para os outros” .
       Concentrando as análises principalmente nos guias turísticos,
pode-se perceber que, apesar de terem consciência da preservação
ambiental local, não souberam aproveitá-lo como contexto para
construir uma metodologia de abordagem para o seu discurso
“ecológico”. Entendem o ecoturismo como uma atividade sus-
tentável que deve dar lucro e que seja uma “indústria não
poluente”. Porém, o “resort” joga seus resíduos sem nenhum tra-
tamento próximo a praia que utiliza para dar lazer aos seus hóspedes.

                                 24
Entendiam que o ecoturismo pode ser uma ferramenta para a
EA, porque “... só amamos aquilo que conhecemos e a partir do
verde temos uma outra consciência com a natureza e nos trans-
formamos em protetores, zelando por tudo que a pertença”. Assim,
com esta percepção naturalista do que seja o meio (apenas “verde”)
criam que participavam de um trabalho de ecoturismo com EA.
Pelo que podemos observar neste relato, há boa intenção dos guias
pertencentes ao Instituto Ecológico, mas a emissão de esgotos
domésticos próximo a praia dos ecoturistas contrariava todo o dis-
curso ecoturístico e obviamente de educar ambientalmente pessoas.

2. Na fazenda em Bonito

       Bonito é um município do estado do Mato Grosso do Sul,
próximo ao Pantanal-Sul. Segundo VARGAS (2001) a atividade
turística em Bonito foi implementada quando a de agropecuária
entrou em crise, induzindo a economia a uma nova situação.
Segundo BOGGIANI (2001) um dos primeiros fatores que fa-
cilitou o desenvolvimento do ecoturismo em Bonito foram suas
belezas naturais. Dentre estas, os autores deste trabalho presenciaram
grutas, cachoeiras belíssimas, “rafting” e mergulho com garrafa
ou em apnéia. Este possibilitava a visão subaquática de densa e
variada vegetação aquática e deslumbrante e mansa ictiofauna.
VARGAS (1998) dentre outros autores vem estudando a atividade
turística e seus desdobramentos sociais e econômicos. Esta autora
desenvolveu, provavelmente, o primeiro estudo da Educação
Ambiental em Bonito e cercanias. Trata-se de sua dissertação de
mestrado pelo Departamento de Educação da Universidade Fe-
deral do Mato Grosso do Sul. Neste estudo, a autora analisou o
ecoturismo e o desenvolvimento sustentável, propondo atividades
de Educação Ambiental.
       Vários são os atrativos ecoturísticos em Bonito. No entanto,
o Projecto Vivo nos pareceu o mais original. Os donos do projeto,
em 1995, contrataram uma firma de consultoria em ecoturismo

                                 25
que planejou e realizou atividades no ramo para o Hotel-Fazenda.
A proposta do Projecto Vivo, em termos práticos, de ecoturismo
com EA, começava com uma cavalgada, em que, um sábio e vivido
funcionário do Hotel-Fazenda expunha todo o seu trabalho de
dezenas de anos naqueles campos cheios de gado bovino. Mostra-
va as várias fases, pelas quais, o gado era tratado com a intenção
de produção e venda de bezerros, cujo leite de suas mães era-lhe
totalmente dedicado. O gado também era tratado com sal home-
opático. O pasto era usado, utilizando-se o sistema de “voisin”.
Este, era usado de modo que quando um pasto estivesse pobre
em vegetação e rico em esterco ele era vedado ao gado. O pasto ao
lado que ficara sem gado para que sua vegetação pudesse se re-
compor passava, então, a receber o gado e o anterior ficava para
crescimento vegetal. No sistema “voisin” o pasto foi subdividido
em retângulos com cerca eletrificada a base de energia solar que
também beneficiava os chalés do Hotel. Deste modo, não é ne-
cessário o desmate de mata nativa para a obtenção de extensos
pastos. Esta, já é uma atitude elogiável, pois cerca de 50% do
terreno da fazenda era mantida como mata. Isto se deve a um
interessante fato, pois além da Reserva Legal, obrigada por lei e
nem sempre respeitada por pecuaristas, se somava uma grande
extensão de uma Reserva Florestal nativa e a uma “Reserva Parti-
cular de Patrimônio Natural (RPPN)”, esta, com 88 hectares.
        Prosseguindo, a cavalgada terminava num pomar que foi pro-
jetado para ter frutas o ano inteiro, afim de que no final da cavalgada
houvesse material para uso didático, além de se poder ter o prazer de
retirar uma fruta do pé e saboreá-la. Reúne árvores como jaca, jambo,
serigüela, acerola, fruta-de-conde, manga (enormes, por sinal), maçã,
pitanga, goiaba, dentre outras. Plantas medicinais como boldo, erva-
cidreira e capim-limão e outras plantas. Havia também plantas que
tinham defesas químicas a determinadas pragas, fornecendo ao pomar
um inseticida natural. Este local, mostrava como era possível
compatibilizar fisicamente diferentes terrenos e utiliza-los para mostrar
a diversidade vegetal de interesse direto ao ser humano.

                                   26
Após o almoço, reiniciavam as atividades com uma cami-
nhada nas trilhas da mata ciliar do Rio Formoso (célebre nas atrações
ecoturísticas da cidade de Bonito) que passa dentro da RPPN.
Após, se iniciava um passeio de bote pelo mesmo rio com total
segurança, simulando um modesto “rafting”, pois passava-se apenas
por uma curta corredeira. Este rio tinha águas limpas e transpa-
rentes, correndo sobre seixos rolados com cianófitas crostosas.
Cobrindo galhos submersos haviam algas filamentosas, como
rodófitas azuladas do gênero Batrachospermum na sua fase
Chantransia. Num determinado momento foi possível um delicioso
banho de rio. Em seguida, o passeio terminava na confluência do
Rio Formoso com o Rio Miranda de águas bem turvas e caudalosas,
sendo que as duas águas não se misturavam por longo trecho.
        Voltando a sede do Hotel, com muitos mosquitos, oferecia-
se aos ecoturistas que fossem crianças a participação em uma oficina
de reciclagem de papel. Esta, era guiada por uma das funcionárias
da fazenda, que permitia a observação dos ecoturistas adultos pais
ou não das crianças. Em paralelo, os adultos desinteressados pela
oficina de reciclagem aproveitavam uma piscina convencional. E
assim, terminava o “passeio ecológico”. Todos muito gentis e alguns
com sabedoria popular bem definida.
        Mas, as atividades do PV tinham desdobramentos. Suas
pretensões eram de realizar trabalhos com a comunidade humana
da cidade de Bonito e estarem abertos a comunidade científica
para estudos sócio-ambientais. Dentre os trabalhos com a comu-
nidade poder-se-ia exemplificar com o Projeto Reciclagem que
envolvia alunos de todas as quarta-séries das escolas municipais,
estaduais e particulares. Este projeto teve início em agosto de 1999.
Envolveram cerca de 550 alunos com o apoio da Secretaria Mu-
nicipal de Educação. Além deste projeto havia outro de plantio
de mudas de árvores em volta das escolas com a doação de grades
protetoras com o logo do Projecto Vivo. Participavam ativamente
os professores e alunos que eram orientados por uma técnica em
turismo (SOUZA, 2002). Dentre todas as atividades o objetivo

                                 27
final era avaliado através dos professores que relatavam mudança
de comportamento dos alunos. Em relação ao apoio a cientistas
foi relatado que biólogos estiveram estudando aves e insetos, inclu-
indo entidades muito respeitadas como a Universidade Estadual de
Campinas (UNICAMP) e a Universidade Federal do Mato Grosso
do Sul (UFMS).
        Em nosso trabalho adotamos entrevistas para coletar dados
do contexto. Os participantes foram de 100% brasileiros, sendo
cerca de 40% de guias e uma também gestora. Igualmente com o
caso do resort a maioria das perguntas não foram respondidas.
Principalmente aquelas que tratavam de conceitos, métodos e das
políticas explícitas e implícitas, tanto da EA como do Ecoturismo.
Neste caso, ao contrário do resort a visão naturalista foi substitu-
ída por outra mais humanista, incluindo o Homem como objeti-
vo final do processo, mas compatibilizado com seu meio. O dis-
curso dos guias neste caso, humanista, foi diferente dos do resort,
embora os dados obtidos dos ecoturistas fossem naturalistas.
        Tais afirmações podem ser verificadas no depoimento
“....ecoturismo significa um turismo onde a comunidade é inclu-
sa no processo de turismo.....com resgate da cultura, tradições,....”.
Isto mostra, a visão contextualizada da guia, em que o ecoturismo
precisa abranger a cultura humana local, envolvendo outros com-
partimentos sócio-ambientais. Porém, no depoimento de um
ecoturista “...este passeio não me modificou em nada....vim só
para usufruir de um passeio....”
        Tal resultado sugere, que, talvez o esforço institucional atra-
vés de seus guias possa não estar sendo adequadamente avaliado,
pois nada foi encontrado arquivado no PV. Porém nada que des-
mereça ou que estimule sua desistência. Apenas, a necessidade de
incluir na equipe um Educador Ambiental com competência em
Avaliação de Desempenho que pode ser de modo formal por es-
crito ou lúdicos, por brincadeiras e jogos.
        Estas atividades sugerem que de fato se realizava um
ecoturismo com educação ambiental. Mas, atualmente não se

                                  28
observou nenhuma atividade com a comunidade, além do que
os passeios são feitos sem nenhum aproveitamento da
exuberância e da infra-estrutura disponível para se realizar a
educação ambiental tão discursada. Parece que a existência de
um Educador Ambiental com sólidos conhecimentos teórico-
práticos, em horário integral, residente ou não no Hotel Fazenda
resolveria este impasse. Este que se mostra como uma falta de
aproveitamento de uma grande infra-estrutura montada e
praticamente nenhum aproveitamento por falta de técnico
especializado. E o futuro? Caberá a nós procurarmos seus donos
e os estimularmos de novo para que este exemplo do passado se
repita? O que devemos fazer?

À guisa de Conclusão

        As práticas estudadas nesta pesquisa não são derivadas de
nenhum referencial teórico, advindo dos guias de “ecoturismo”.
De fato, desconheciam do que se tratava. Quanto ao conceito e
finalidades da EA no ecoturismo afirmaram que pretendiam pos-
sibilitar uma conscientização ecológica e mudança de atitudes.
Porém, o modo como abordavam a EA, de fato, jamais possibili-
taria que este intento fosse atingido, tanto pela ausência de um
arcabouço teórico-metodológico como pelo paradoxo que era o
“resort”. Apenas no Projecto Vivo os guias e pessoal técnico ti-
nham uma visão humanista. Porém, os turistas não conheciam
nada sobre ecoturismo nem sabiam conceituá-lo nem imaginar
como deveria ser uma atividade ecoturística com EA. Assim, não
podiam exigir algo além de um passeio na natureza silvestre, agra-
dável e divertido.
        Deste modo, as práticas de “ecoturismo” e sua respectiva
“EA” não aderem totalmente a nenhum dos diplomas legais go-
vernamentais. Quer seja no plano ecoturístico representado pelas
Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo como pela
Política Nacional de Educação Ambiental.

                               29
Agradecimentos

       Aos gerentes e equipes do resort do Rio de Janeiro e da
fazenda de Mato Grosso do Sul e ao Prof. Luis Afonso Figueiredo
da Fundação Santo André, estado de São Paulo por suas valiosas
críticas a primeira versão deste ensaio, quando só tinha um estu-
do de caso. A Profa. Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio da
Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais por sua cuidadosa
leitura crítica do texto.

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TRIVIÑOS, A N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais; a
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TULIK, O. Turismo e Meio Ambiente; Identificação e Possibili-
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                              36
Anexo

        Roteiro de entrevista para os clientes “ ecoturistas”

Nome _______________________________Sexo: M [ ] F [ ]
Idade: ____
Profissão:______________________Escolaridade:________________
Cidade/Estado/País de origem : __________________________
Porque veio a este hotel?
O tema socioambiental o sensibiliza?O que tem feito para melhora-
lo?
O que o tema meio-ambiente significa para você?
O que significa ecoturismo para você?
Acredita que o ecoturismo contribui para a educação ambiental?
Esta atividade que está participando ou o conjunto delas estão
permitindo pensar e transformar sua conduta e postura em relação
a nosso planeta? Sabe como medir uma eventual mudança na sua
conduta?
Fale o que deseja.

        Roteiro de entrevista para guias de ecoturismo

Nome _____________________________Sexo : M [ ] F [ ]
Idade: ______
Profissão:________________Escolaridade: ________________
Cidade/Estado/País de Origem : _________________________
O tema socioambiental o sensibiliza?O que tem feito para melho-
ra-lo?
O que o tema meio-ambiente significa para você? E Ecoturismo?
Acredita que o ecoturismo contribui para sua Educação Ambiental?
Esta atividade que está participando ou o conjunto delas estão
permitindo pensar e transformar sua conduta e postura em relação
a nosso planeta? Sabe como medir uma eventual mudança na sua
conduta?

                               37
Você conhece a Proposta de diretrizes para uma Política Brasileira
para o Ecoturismo?
Quais são os objetivos do ecoturismo que pratica?
Qual o referencial teórico-metodológico de sua prática?
Qual o seu conceito de desenvolvimento sustentado que prega
em suas atividades?
Quais são os impactos positivos e negativos que o ecoturismo que
pratica traz a comunidade da cidade onde o resort está situado?
Qual o conceito e finalidades da Educação Ambiental que prega
em sua prática com o ecoturismo?
Em que o ecoturismo tem contribuído para a Educação Ambiental
de seus clientes?
Fale o que deseja.




                               38
EDUCAÇÃO AMBIENTAL PELO ECOTURISMO, EM UNIDADES
   DE CONSERVAÇÃO: UMA PROPOSTA EFETIVA PARA O
  PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA (PEPB) – RJ

 Nadja Maria Castilho da Costa e Vivian Castilho da Costa

Introdução

       Cada vez mais está evidente o interesse da população, princi-
palmente urbana, na busca pelo contato com a natureza. Os rema-
nescentes de Mata Atlântica nas áreas Naturais Protegidas ou Unida-
des de Conservação (UCs) têm suscitado forte preocupação quanto a
sua preservação e manutenção. A demanda por essas áreas tem sido
muito grande, principalmente nos países que contêm uma grande
biodiversidade, como é o caso do Brasil. Seus recursos são raros e,
às vezes, únicos, geralmente, caracterizados por uma alta fragilidade e
suscetibilidade a perdas irreparáveis, se não forem protegidos e
compreendidos pelas próprias populações que os circundam.
       Neste contexto, vêm surgindo programas de Educação
Ambiental 1 , para suprir a necessidade de reorientar hábitos,

______________________________________

1
  PEDRINI (1998), destaca que a Educação Ambiental, no computo global, surgiu
a partir da grave situação do uso inadequado dos recursos naturais do Planeta, em
diferentes escalas espaciais e temporais.

                                         39
atitudes, costumes e valores das comunidades e visitantes que uti-
lizam as UCs e seu entorno, assim como a falta de informação e
até mesmo de apreciação, das belezas naturais e culturais que es-
ses recursos possuem, além de contribuir para a minimização ou
solução dos impactos neles causados.
        Uma das formas de utilização desses recursos que, atual-
mente, vem crescendo no mundo é o ecoturismo. Cabe, portan-
to, discutir sobre as bases conceituais desse tipo de turismo, como
ele vem se desenvolvendo nas áreas legalmente protegidas e quais
as possíveis relações e contribuições para a Educação Ambiental,
realizada nas UCs de Uso Indireto (Parques Nacionais e Estadu-
ais, principalmente).

1. Lazer, Recreação, Turismo e Ecoturismo: A Interface de
suas Ações nas Áreas Metropolitanas

        O progresso tecnológico e organizacional advindos da Revo-
lução Industrial fez aumentar a produtividade, reduzir custos e as
jornadas de trabalho e elevou o nível de recursos disponíveis para o
consumo (inclusive o tempo), alcançando camadas da sociedade cada
vez mais amplas. No século XX, o lazer e o turismo surgiram como
atividades de massa, trazendo à tona muitas oportunidades de negó-
cios e objeto de maiores interesses econômicos. Segundo SONEIRO
(1991:215): “quando as sociedades industriais alcançam elevadas taxas
de concentração demográfica nas áreas urbanas, o meio natural começa a
ser valorizado para o turismo”. Cresce, assim, a busca por paisagens
naturais e também pela diversidade dos espaços, valorizando as peri-
ferias urbanas (áreas periurbanas) que assumem um papel importan-
te, pois são elas que possuem os pontos de atração que passam a ser
valorizados, cada vez mais, por todo um sistema. São eles: agências de
viagem, empresas aéreas, hotéis, e órgãos do governo, que atraem
outras formas de “(re)alimentar” o turismo. Isso é feito através da
abertura de lojas de artesanato, de produtos esotéricos e de souvenires,
centros culturais e artísticos, entre outros.

                                  40
Após a II Guerra Mundial, o turismo e o lazer atingiram
um patamar de crescimento que fez com que, do ponto de vista
econômico, passassem a ser considerados como “indústrias”, par-
ticularmente nas grandes metrópoles. A conseqüente melhora na
qualidade de vida, incremento da renda, da capacidade de gastos,
redução da carga horária de trabalho, ampliação do período de
férias remuneradas e a democratização dos meios de transporte
coletivos e particulares, originaram um espetacular desenvolvi-
mento da mobilidade espacial da população mundial com fins
recreativos (SONEIRO, op. cit.).
        O estudo do turismo, por sua vez, não pode estar
desvinculado da compreensão do conceito de lazer. O turismo é
uma atividade que se coloca no âmbito mais amplo do lazer2 . De
certo modo, as decisões de “fazer” turismo dão-se, às vezes, em
conjunto com algumas atividades de lazer (por exemplo: viajar
para ir à Disneyworld) e sempre em detrimento de outras (por
exemplo: acompanhar e/ou participar de eventos ou atividades
na própria cidade de residência, ao invés de viajar). É preciso,
portanto, compreender, também, com bastante profundidade, a
questão do lazer e do uso do tempo, para que se possa melhor
situar, analisar e gerir as práticas ligadas ao turismo.
        Discussões a respeito do conceito de recreação e de turismo
são infestadas por terminologias imprecisas. Contudo, há um
considerável número de trabalhos na literatura que tentam clari-
ficar o significado de tais termos, assim como recreação e lazer,
que possuem definições universalmente aceitáveis.
        Alguns conceitos sobre recreação e lazer começaram a sur-
gir nos Estados Unidos, em diferentes épocas. Mas, o termo

______________________________________

2
  Essa definição do turismo como atividade de lazer aparece em toda a bibliografia
referente a turismo, no exterior e no Brasil. Apesar disso, é importante considerar o
fato de que uma categoria especial de viagens, ligada às atividades profissionais, vem
crescendo muito no presente. No caso do estado de São Paulo, ela respondeu,
segundo a Pesquisa sobre Demanda Turística Internacional de 1998, pela maior
parte (56%) dos turistas recebidos naquele estado, no referido ano.

                                         41
“lazer”, com significado equivalente a recreação, tem predomínio
na Europa e, segundo DUMAZEDIER (1962), embora estejam
associados ao mesmo assunto possuem significados sutilmente
diferentes. Lazer pode ser considerado como o tempo que se dispõe
depois do trabalho, do sono e das tarefas pessoais e domésticas
para a pessoa fazer o que quiser, estando associado a uma medida
de tempo (“tempo disponível”). A recreação contempla grande
variedade de atividades que é empreendida durante o lazer. Fora
dos círculos profissionais, provavelmente nunca teve uma palavra
ou frase em circulação para descrever aquele tempo que nós utili-
zamos como lazer.
       Assim sendo, lazer, recreação e turismo são abstrações de
experiência comum vivida, que só os que estão fora dela podem
perceber sua diferenciação. É essa a linguagem acadêmica e a lin-
guagem que o planejador está acostumado a pensar
(CUNNINGHAM, 1980).
       A gestão de empreendimentos, tais como: parques temáticos,
parques aquáticos, áreas de eventos culturais, exposições, rodeios,
clubes de lazer e esportes, dentre muitos outros, não pode prescin-
dir de estudos na área do lazer, pois esses locais podem colocar-se
na rota de turistas e se caracterizar como atrativos turísticos.
       Contudo, a relação entre turismo e recreação é bem estreita
e a literatura geralmente os enfoca como aspectos relativos ao
mesmo fenômeno. Usualmente, estão associados, mesmo porque
podem ser encontrados recreacionistas e turistas, juntos, nos mesmos
locais, fazendo coisas semelhantes.
       Segundo CLAWSON & KNETSCH (1974), o lazer é um
tempo, enquanto recreação é uma atividade (ou inatividade).
Ambos estão altamente correlacionados, mas não são sinônimos.
       Turismo e recreação, particularmente ao ar livre, têm dois
aspectos básicos: a provisão e a demanda por instalações. As
interações entre ambos acontecem em várias escalas, refletindo o
tempo disponível e as distâncias que podem ser atravessadas duran-
te aquele tempo. Há, assim, uma diferença da recreação realizada

                                42
na residência para a recreação realizada à distância. A última,
freqüentemente está associada à aquisição de acomodação tem-
porária. Isto significa que o turismo pode ser considerado como
uma forma extrema de recreação que é distinguida pela relativa
longa permanência longe de casa e pela distância percorrida
(BRITTON, 1979).
       Turismo e recreação freqüentemente compartilham as mes-
mas instalações e competem por espaço e oportunidades de negó-
cios. Podem ser criadas instalações, a exemplo do que ocorre nos
parques temáticos, para atrair os turistas e também satisfazer os
recreacionistas. Pode existir uma demanda local para novas insta-
lações recreativas (por exemplo, montanhas de esqui artificiais),
incitadas por experiências sugeridas por turistas estrangeiros.
Medidas adotadas para melhorar o ambiente, como por exemplo,
conservar e restabelecer paisagens de parques nacionais e monu-
mentos históricos, beneficiam a recreação e o turismo. As deman-
das e os efeitos de recreação e turismo são, então, muito
interrelacionadas. BURKART & MEDLIK (1974:10) descreve-
ram a confusa situação, da seguinte forma:

             “turismo representa um uso particular de tempo
       desocupado e uma forma particular de recreação, mas
          não inclui todos os usos de tempo desocupados nem
          todas as formas de recreação. Inclui muita viagem,
        mas não toda a viagem. Então, conceitualmente, tu-
          rismo é distinguido em particular, por um lado, de
         conceitos relacionados de lazer e recreação, e de via-
                                   gem e migração no outro”.

       Em síntese, turismo compreende uma gama de escolhas ou
estilos de recreação, expressa por viagens ou por uma mudança
temporária, de seu local de residência. É uma modalidade de lazer
ou recreação. O mercado e as mudanças rápidas de tecnologias e
nos sistemas social, político e econômico, permitiram às pessoas,

                                 43
procurarem novas e diferentes formas de recreação, aumentando
a importância do turismo. Segundo MATHLESON & WALL
(1982), o turismo possui um desenvolvimento evolutivo ao fazer
uso do lazer e, portanto, representa a ampliação da oportunidade
para o exercício da escolha dos tipos de atividades recreativas.
       Uma das modalidades de turismo, que pode apresentar ati-
vidades de recreação e lazer, vem crescendo muito no mundo todo,
e chama-se turismo ecológico, ou ecoturismo, como é mais
conhecidamente denominado.
       A discussão do ecoturismo no Brasil é relativamente recente.
Em 1987, a EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) lançou
no mercado um novo produto turístico denominado “Turismo
Ecológico”, mas poucos resultados foram obtidos nesta linha de
atuação, até o lançamento da publicação “Diretrizes para uma
Política Nacional de Ecoturismo” (BARROS II & LA PENHA,
1994). Nesse documento, o ecoturismo é definido como:

             “um segmento da atividade turística que utiliza,
       de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural,
           incentiva a sua conservação e busca a formação de
                   uma consciência ambientalista através da
        interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar
                                  das populações envolvidas”.

        O conceito implica, portanto, em valorização do patrimônio
natural e cultural e no compromisso de bem-estar das populações
locais, ou seja, é entendido como modalidade de “Turismo Sustentá-
vel” e não apenas como um segmento da atividade turística centrada
unicamente no “bem natural”. Apesar disso, somente há pouco tem-
po o Ecoturismo vem se estruturando como política governamental
e tem sido pouco praticado nas Unidades de Conservação, não tendo
conseguido a união dos interesses da EMBRATUR com os do IBAMA
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis) e demais órgãos de controle ambiental.

                                44
O ecoturismo se caracteriza como uma atividade econômica
especial, não somente porque é geograficamente localizada e
participativa da própria organização do espaço, mas também porque
apresenta uma demanda flutuante ao longo do ano, tendo uma
singular preferência na escolha pelos usuários, sendo sua oferta
constituída de produtos baseados em atrativos naturais e/ou cul-
turais. É aí que reside o perigo de oportunistas, com sua ética
empresarial imediatista e selvagem, não darem o adequado valor
à matéria prima de seus produtos: o meio ambiente e a cultura,
recursos frágeis e de difícil regeneração e/ou reposição.

2. A Educação Ambiental como Alicerce das Atividades
Ecoturísticas em Unidades de Conservação

       Nos últimos anos, o crescimento do turismo, particular-
mente do ecoturismo, tem sido considerável e os empresários desse
segmento estão otimistas com essa fonte crescente de recursos,
que se mostra ecologicamente viável e economicamente lucrati-
vo, podendo contribuir à resolução de uma série de problemas,
particularmente nas Unidades de Conservação, a exemplo da ma-
nutenção e fiscalização de seus ecossistemas.
       Porém, algumas atividades ecoturísticas podem produzir
impactos negativos, dependendo da forma como sejam
conduzidas. Na realidade, o grande dilema das Unidades de Con-
servação, principalmente aquelas localizadas em áreas urbanas
densamente ocupadas, é a preservação da integridade ecológica,
concomitantemente ao uso do potencial de seus recursos para o
lazer controlado e a recreação.
       Será que o turismo pode ser visto como uma ferramenta
para a conservação e desenvolvimento sustentável? Por que ter
turismo ecológico em áreas protegidas? Neste contexto, são inú-
meras as iniciativas qualificadas como “ecoturísticas”, no Brasil, que
se implantam de forma oportunista e não comprometida. Como
desdobramento do problema, em diversos encontros nacionais e

                                 45
internacionais sobre o tema, tem sido evidente o grau de distorção
conceitual sobre o que vem a ser ecoturismo. Esta divergência
filosófica, ideológica e conceitual talvez represente o tópico central
a ser equacionado e trabalhado metodologicamente, como ponto
de partida para o desenho estratégico de programas efetivos de
manejo e Educação Ambiental a serem implantados em UCs.
        As atividades turísticas têm-se desenvolvido de tal forma
que os indivíduos escolhem os lugares que vão visitar, muitas ve-
zes, através de critérios que associam aspectos peculiares e especi-
ais, ou seja, pela “personalidade do lugar”, pelas características
ambientais mais fortes, acabando por relacionar a natureza com
os seus costumes e relações sócio-culturais e individuais. Em rela-
ção à natureza, o que o turista pode exigir? Uma bela paisagem?
Até onde sua capacidade de percepção pode ir? Segundo TUAN
(1980:72):

             “A avaliação do meio ambiente pelo visitante é
        puramente estética. É a visão de um estranho. O es-
        tranho julga pela aparência, por algum critério for-
       mal de beleza. É preciso um esforço especial para pro-
       vocar empatia em relação às vidas e valores dos habi-
        tantes. (...) sua percepção freqüentemente se reduz a
                     usar os seus olhos para compor quadros.”

       A experiência e visão de mundo desempenham importante
papel no desenvolvimento da percepção, pois o contato direto
com a paisagem permite ao indivíduo construir seu espaço
perceptivo justificando, assim, um estudo de paisagens da nature-
za, conduzindo para a elaboração de programas de Educação
Ambiental. No entanto, um mesmo lugar pode ser vivido de
diferentes formas e a paisagem pode deteriorar-se, se for usada
para exercícios da atividade turística das mais diversas formas,
evidentes ou não. A transformação dos espaços naturais para
implantação de edificações é uma delas.

                                 46
Algumas razões merecem destaque para a utilização do tu-
rismo ecológico, particularmente em Unidades de Conservação,
tanto sob o ponto de vista ambiental quanto sócio-econômico.
Uma dessas razões é que a atividade ecoturística deve levar em
conta as características das comunidades locais (dos receptivos),
colaborando com a mentalidade comercial do núcleo, a fim de
permitir e promover melhores meios de sobrevivência e qualidade
de vida para sua população.
        BARRETO & SORRENTINO (1996), destacam “o isola-
mento das Unidades de Conservação em relação à comunidade em ge-
ral”, exceto em poucas atividades onde as comunidades se tornam
apenas receptoras de informações, com destaque para importância
destas áreas para o meio ambiente.
        Outra questão a se considerar refere-se às bases econômicas
que norteiam o verdadeiro ecoturismo, que são antagônicas às do
turismo de massa, orientado para maximizar receitas ao invés de
resultados. A maximização de receitas, que implica em atrair o
maior número possível de turistas, impactando atrativos, não com-
bina com o ecoturismo, que aponta para a maximização de resul-
tados, o que pode ocorrer em níveis baixos de visitação, uma vez
que os custos, e, principalmente, os impactos ambientais e/ou
culturais podem aumentar mais rapidamente do que as receitas,
quando se têm altos níveis de visitação. É preciso lembrar que
todo tipo de turismo tem um custo ambiental e/ou cultural.
        Paralelamente a isso, as localidades turísticas têm dificul-
dades em solucionar os problemas de saneamento básico, pois a
demanda sobre estes serviços é multiplicada e, às vezes, são im-
próprias a um aporte maior de visitantes em épocas de alta tem-
porada e fins de semana prolongados. Por sua vez, na formação
de centros turísticos, a população nativa é freqüentemente afastada
de seu local de moradia e de sua atividade de origem.
        Essas considerações nos permitem destacar que a abordagem
perceptiva ambiental e a educação, tanto das populações locais
como de seus visitantes, é significativa para o entendimento das

                                47
relações resultantes das experiências vividas com as paisagens das
áreas preservadas e que pode, também, servir de fundamentação
para a implantação de programas cujo objetivo seja o de melhorar a
qualidade de vida da população, reforçada pela elaboração de pro-
postas de Educação Ambiental para essas comunidades.
       MANOSSO (2001) destaca que a EA para aqueles que
praticam o Ecoturismo deve ser desenvolvida de maneira diferen-
ciada da forma tradicional. Segundo ele, o ecoturista deve ter um
mínimo de conhecimento sobre as características geo-ambientais
da área onde serão efetuadas as atividades e sobre as relações sócio-
ambientais existentes, considerando que as UC´s têm caracterís-
ticas próprias e, muitas vezes, únicas, que devem ser levadas em
conta nos trabalhos de capacitação do público-alvo.
       Neste sentido, uma avaliação espacial multi e interdisciplinar
dos vários aspectos do meio físico-biótico e sócio-econômico de uma
UC, torna-se fundamental, como subsídio às práticas educativas.
       O uso de ferramentas, a exemplo das técnicas e softwares
de geoprocessamento3 , conduzirá a uma análise integrada dos
dados de maneira precisa e passível de ser atualizada de forma
rápida e eficaz.
       Uma das formas mais eficientes para transferir tais conhe-
cimentos, tanto para os visitantes quanto para os moradores do
interior e entorno de uma área protegida, é através da realização
de cursos de capacitação para professores, particularmente das
escolas situadas em sua periferia. Estes serão os verdadeiros
difusores de conhecimento para os interessados, não somente em
conhecer a UC, mas também de participar ativamente da prote-
ção de seus recursos naturais. Os professores devem compreender
ações de Educação Ambiental formal e informal. Segundo
TABANEZ et al (1996), no que diz respeito à educação informal,

______________________________________

3
  O uso de softwares de SGI (Sistema Geográfico de Informação), tais como: Arcview,
Idrisi, Spring, Mapinfo, entre outros.


                                         48
o processo é complexo, porém necessário na medida em que eles
serão os responsáveis pela implantação de uma conscientização
conservacionista, numa geração altamente receptiva de conheci-
mento e ávida por aplicá-lo em termos práticos e efetivos, quais
sejam: as crianças e os adolescentes.

2.1 - A Importância do Uso da Recreação Florestal nas Unidades
de Conservação

        Conforme foi mostrado anteriormente, a recreação, em
geral, está associada às atividades ecoturísticas, podendo ser de-
senvolvida em áreas naturais, devendo estar condicionada a míni-
ma ou nenhuma alteração do patrimônio natural, ou seja, a cons-
trução de infra-estrutura aos visitantes, como abertura de estra-
das, trilhas ou áreas de camping, devem causar o menor impacto
paisagístico e ambiental possível. Ainda, como uma norma geral,
a recreação em Unidades de Conservação não deve ocorrer sem a
efetivação de programas integrados de Educação Ambiental. Essa
Educação Ambiental deve ter como um de seus objetivos, dar
oportunidade de obtenção de conhecimento sobre os diversos
recursos naturais, a mais variada clientela.
        Neste sentido, a recreação florestal é um recurso muito utiliza-
do no ecoturismo. CLAWSON & KNETSCH (op. cit.) dividiram a
recreação em dois tipos distintos: recreação em ambientes fechados
ou cobertos (indoor recreation) e recreação ao ar livre (outdoor
recreation), mas foi DOUGLASS (1972) que avaliou que a recreação
florestal seria qualquer forma de recreação ao ar livre, particularmen-
te em área florestada. No Brasil, o termo “recreação florestal” é mais
empregado para trabalhos técnicos ligados à conservação da nature-
za. As áreas legalmente protegidas são os locais mais apropriados à
sua prática, tendo no seu bojo, a Educação Ambiental.
        Segundo MILANO (1997:49), a Educação Ambiental em
UCs deve usar processos recreativos, principalmente através da
interpretação da natureza. Ele define a interpretação como sendo:

                                  49
“... uma atividade educativa, cujo propósito é
       dar a conhecer o significado dos recursos através de
           aspectos originais, por experiência direta ou por
         meios ilustrativos, ao invés do simples comunicar
         de sua significância ou importância. As técnicas de
         interpretação em áreas silvestres objetivam confun-
        dir as atividades de recreação e educação, impercep-
          tivelmente, de maneira que o visitante desenvolva
            sua Educação Ambiental sem se perceber disso.”

        Portanto, interpretação ambiental é a tradução da linguagem
da natureza para a linguagem comum dos visitantes, fazendo com
que os ecoturistas sejam informados e educados, além de divertidos,
podendo utilizar como “arma” de interação, a recreação florestal. O
objetivo fundamental da interpretação não é somente instrução, mas
a provocação. Deve despertar curiosidade, ressaltando o que parece
insignificante. Deve ser dirigida para cada tipo de público (diferenci-
ado para crianças e adultos) e de interesse especial. Ao mesmo tem-
po, deve relacionar os objetos de divulgação ou interpretação com a
personalidade ou experiência das pessoas a quem se dirige.
        A informação como tal, não é interpretação. A interpretação
é uma forma de comunicação que vai além da informação, tratan-
do dos significados, interrelações e questionamentos. Toda a inter-
pretação inclui informação, sendo uma arte que combina muitas
artes (sejam científicas, históricas, arquitetônicas), para explicar os
temas, utilizando todos os sentidos para construir conceitos e pro-
vocar reações no indivíduo. Deve tratar do todo, em conjunto, e
não de partes isoladas e os temas devem estar interrelacionados.

2.2 – O papel das trilhas interpretativas como veículo de Educação
Ambiental

      Como foi dito anteriormente, a interpretação ambiental
não somente promove a informação, mas proporciona e incentiva

                                  50
a integração do homem com a natureza. Neste sentido, a inter-
pretação serve como uma ferramenta da educação ambiental para
a solução dos problemas ligados a manutenção e conservação de
áreas naturais e vem se destacando como importante instrumento
de “manejo de visitantes”, como afirma DELGADO (2000:156):

           “É uma atividade educativa, que não necessaria-
        mente faz parte de um processo, mas de uma estraté-
         gia de manejo para minimizar os problemas decor-
         rentes do uso público de uma determinada área ou
                                                  região”.

       Como este mesmo autor denota, as atividades interpretativas
podem chegar a formar parte de uma estratégia educativa e ser
uma importante arma redutora dos impactos socioambientais das
atividades econômicas humanas, principalmente quando integradas
ao turismo de massa.
       A implantação de trilhas interpretativas em Unidades de Con-
servação deve, portanto, ser pensada através do método personaliza-
do, como ressalta Delgado, pois exige a presença e a participação de
um guia ou intérprete. As trilhas interpretativas personalizadas são
também denominadas por outros pesquisadores, de trilhas
interpretativas guiadas. Tais trilhas são as mais indicadas para a
implementação de atividades de Educação Ambiental em áreas
naturais, pois é o mais conhecido instrumento que guias turísticos
e intérpretes utilizam para os visitantes de UC´s e o método que
mais apresenta facilidades na transmissão de conhecimentos em
programas de EA ao ar livre.
       As trilhas interpretativas se diferenciam de outras trilhas
(das que são simplesmente voltadas a caminhadas e excursões),
pois exigem um planejamento adequado das atividades recreati-
vas a serem desenvolvidas nelas e de seus produtos turísticos, já
que “ganham tratamento interpretativo quando indicadas às paradas
de interpretação, ou ainda possuir placas interpretativas nos lugares

                                 51
mais estratégicos” (DELGADO, op. cit.:164). TABANEZ et al
(1997:89) também destaca essa diferenciação, afirmando que as
trilhas interpretativas proporcionam “oportunidade de contato di-
reto com o ambiente natural, direcionado ao aprendizado e à
sensibilização” dos visitantes e turistas que as utilizam.
       Enfim, deve existir nas áreas legalmente protegidas uma
perfeita parceria entre o ecoturismo, a interpretação através de
trilhas e a educação ambiental, pois só assim haverá um maior e
melhor aproveitamento das atividades que, certamente tem que
contemplar simultaneamente: conhecimento científico, aprecia-
ção dos recursos naturais e redução dos impactos sócio-ambientais.

3 - Propostas Efetivas de Educação e Interpretação Ambiental
no Manejo do Parque Estadual da Pedra Branca – PEPB
(município do Rio de Janeiro)

       O Parque Estadual da Pedra Branca localiza-se na porção
central do município do Rio de Janeiro, totalizando uma superfí-
cie de 12.398 ha. Trata-se da segunda mais importante Unidade
de Conservação da cidade, tendo sido criada em 1974, através da
Lei Estadual no. 2.377 de 28 de junho.
        Apesar dos quase trinta anos de existência, somente a par-
tir de 1995, estudos sistemáticos começaram a se desenvolver,
culminando com a realização de seu Plano Diretor, ainda em fase
de conclusão (COSTA, 2002). Nele, o diagnóstico ambiental
mostra que, em 1996, já existia cerca de 1.000 famílias residentes
em seu interior e 15.000 famílias em sua periferia próxima (entre
as cotas 50 e 100 m)4 . Hoje, esses números devem ter triplicado,
em face ao crescimento acelerado que a zona oeste da cidade do
Rio de Janeiro vem apresentando. Isso significa que a Unidade de

______________________________________

4
  O limite da área protegida corresponde a todo maciço montanhoso acima da cota
de 100 m de altitude.

                                         52
Conservação vem sofrendo forte pressão antrópica, traduzida no
aumento crescente da população em seu interior, apesar do status
de área protegida.
        MARICATO (1996), destaca a relação existente entre a
desvalorização para o mercado imobiliário, das terras que se en-
contram legalmente protegidas, e o fato de exercerem atração para
ocupação ilegal pela população pobre. A posição negligente da
fiscalização facilita o seu processo de ocupação (grilagem e posse),
pois os invasores não encontram resistência quando efetuam o
assentamento. Para isso não ocorrer, a população urbana próxi-
ma e dentro do Parque necessita se inserir no processo de manejo
efetivo do mesmo, considerando que, a ação de desapropriação
de um número tão elevado de pessoas, não deverá ocorrer5 . Assim
sendo, há a necessidade de uma ação integrada e, conseqüentemen-
te, harmoniosa entre aqueles que querem preservar e/ou conservar
seus recursos naturais e os que residem em seu interior, pois só
assim os objetivos práticos de manejo poderão ser alcançados. A
Educação Ambiental se constitui numa dessas ações. Segundo
VASCONCELOS (1997), ela é um processo permanente no qual
as comunidades tomam consciência do seu meio ambiente e ad-
quirem conhecimentos, habilidades, experiências e valores que as
tornam capazes de agir, individualmente ou coletivamente, na
busca de soluções para os problemas ambientais.
        Várias deverão ser as formas de desenvolvimento de práticas
educativas, com destaque para: (a) a questão das áreas de risco de
deslizamentos, considerando que todo maciço da Pedra Branca se
constitui em área de alta vulnerabilidade a ocorrência de movi-
mentos de massa; e (b) a questão do ecoturismo, que poderá, a
médio e longo prazo, proporcionar geração de emprego e renda à
população e auto-sustentabilidade para o Parque. Nos dias atuais,

______________________________________

5
  A regularização fundiária é um dos graves problemas enfrentados pela grande
maioria das unidades de conservação que comportam ocupantes em seu interior.


                                         53
programas que gerem recursos financeiros, tanto para a Unidade
de Conservação, quanto para os que nela residem, são oportunos
e fatalmente conduzirão ao desenvolvimento integrado da região.

3.1 - O ecoturismo no PEPB: integrando lazer, recreação e Educação
Ambiental

        Os programas educativos normalmente desenvolvidos em
áreas públicas, particularmente naquelas legalmente protegidas,
estão direcionados principalmente ao público visitante, seja ele
residente ou não na Unidade de Conservação. SIRKIS (1999)
ressalta que eles devem contemplar: sinalização ecológica, trilhas,
coleta seletiva do lixo e elaboração de material educativo (folhe-
tos, folders, vídeos, etc.) que mostre, não somente noções de meio
ambiente e legislação, como também as principais características
da área. Porém, no caso do Parque Estadual da Pedra Branca, que
é uma Unidade de Conservação urbana com população residente
em seu interior, as práticas educativas devem estar direcionadas,
também, aos moradores que poderão se converter em monitores
ambientais, voltados simultaneamente, à proteção do meio ambi-
ente local e fomento as atividades ecoturísticas, mantendo contato
direto com os usuários.
        Essas práticas, envolvendo a população residente no interior
e periferia próxima ao Parque, terão outra função importante,
que é minimizar os conflitos de interesses entre ela e a adminis-
tração da Unidade, proporcionando a adesão dos moradores à
tarefa de conservação dos recursos naturais e fomento ao
ecoturismo local, num processo de planejamento e gestão
participativa.
        Os estudos realizados para o Plano de Manejo do PEPB
(COSTA, op. cit.), apontaram algumas áreas com forte potencial
para o desenvolvimento do ecoturismo e lazer. Nelas, essas ativi-
dades, de certa forma, já vêm sendo desenvolvidas, porém, de
maneira incipiente e caótica, sem planejamento e controle dos

                                54
usuários que as freqüentam. Um dos exemplos marcantes é a re-
presa do Camorim, em sua vertente leste (próxima ao bairro de
Curicica, Jacarepaguá). Uma parcela significativa dos visitantes
chega ao açude, de rara beleza, através de trilhas alternativas,
burlando a fiscalização do Parque (localizada na trilha principal).
Isso vem acarretando sérios problemas ambientais, principalmente
no que diz respeito ao comprometimento da qualidade de suas
águas, que abastecem a baixada de Jacarepaguá.
        Uma das formas pensadas para conciliar ecoturismo e con-
servação dos recursos naturais da área são o desenvolvimento de
programas de educação/interpretação ambiental6 . Eles deverão
ser utilizados como veículos de mudanças, com efeitos importan-
tes na reorientação de hábitos e valores das comunidades usuárias
da Unidade de Conservação. Permitirão que a população (parti-
cularmente a residente) encontre em seu interior, um local de
lazer, recreação e práticas ecoturísticas, simultaneamente ao apren-
dizado e melhoria da qualidade de vida.

          3.1.1 – Planejamento e implantação de trilhas interpretativas:
          aliando comunidades residentes e visitantes no processo de EA.

       Um dos fatores preocupantes no manejo do PEPB diz res-
peito ao crescimento da população que reside no seu interior e
periferia próxima. A expectativa é que hoje, residam no interior
da gleba, cerca de 3.000 famílias e em sua periferia, 20.000. Isso
conseqüentemente gera um aumento no número de visitantes e/
ou pessoas que transitam por suas trilhas. FIGUEIREDO (1999)
ressalta que as atividades de manejo de áreas naturais protegidas

______________________________________

 6
   A interpretação ambiental é uma prática bastante antiga. Foi proposta pela pri-
meira vez, em 1957, por Freedman Tilden e se constitui numa atividade educativa que
tem por objetivo, revelar os significados e as relações existentes no meio ambiente, por
meio de objetos originais e ilustrações, ao invés de simplesmente comunicar a formação
literal, sendo uma maneira estimulante da pessoa aprender, em linguagem acessível
(VASCONCELLOS, op. cit.).


                                          55
envolvendo populações, devem acabar com as barreiras das relações
interpessoais, superando as limitações impostas pelas burocracias
institucionais e pela falta de um planejamento participativo. Deve-
se, porém, tomar cuidado com o processo de “invasão cultural”
procurando realizar um trabalho “com as populações envolvidas e
não para elas”. Neste sentido, todos os atores do processo deverão
ser beneficiados. Destaca ainda que os administradores das UCs e
os empreendedores do ecoturismo devem não somente respeitar
a população local, mas também reconhecê-la como agente trans-
formador e coadjuvante da proteção ambiental.
       No caso específico do PEPB, há que se distinguir a popula-
ção tradicional, que já reside no local há mais de 30 anos, ou seja,
antes da criação da Unidade de Conservação - com suas raízes e
valores a serem preservados - daquelas que invadiram o Parque
recentemente, em busca de moradia, e pouca ou nenhuma iden-
tidade tem com ele. Apesar da necessidade e importância da par-
ticipação de todos no processo educativo voltado ao ecoturismo
conservacionista, a contribuição da primeira, sem dúvida é mais
significativa, pelo conhecimento da realidade local e, seguramen-
te maior interesse na proteção dos recursos naturais. Neste senti-
do, deve haver um esforço ainda maior pra integrar o chamado
“etnoconhecimento” dos moradores mais antigos (DIEGUES, 1999)
aos planos de manejo, bem como das ações educativas a eles
direcionadas .
       As atividades educativas e recreativas em áreas florestais são,
em grande parte, realizadas através de programas de uso público
em trilhas de interpretação ambiental. ANDRADE & ROCHA
(1990) afirmam que ainda é incipiente, no Brasil, o processo de
implantação de trilhas de interpretação e isso obviamente se apli-
ca ao PEPB. Dentre os vários problemas encontrados à sua im-
plantação, destacam-se os mesmos colocados pelo autor, quais
sejam: abandono, falta de infraestrutura adequada, falta de ma-
nutenção, problemas erosivos (a exemplo da trilha que leva ao
açude do Camorim), ausência de segurança, e falta de estudos

                                 56
que avaliem seu real potencial educativo e sua capacidade de carga
quanto à visitação.
       A determinação da capacidade de carga em trilhas é usual-
mente obtida, pela maioria dos estudiosos - principalmente os
engenheiros florestais e biólogos - através da metodologia pro-
posta por CIFUENTES (1992) com base em números de visitas/
tempo/sítio. Essa metodologia mostrou-se prática, porém não
consegue apresentar uma visão conjuntural dos condicionantes
físico-ambientais presentes nos pontos mais vulneráveis das tri-
lhas, principalmente no item manutenção, pois a capacidade de
manejo inclui fatores extremamente mutáveis e que se expressam
nas suas condições estruturais.
       De acordo com WAGAR (1964, apud TAKAHASHI,
1997:66), a capacidade de carga recreativa “é um conceito adapta-
do, emprestado do manejo de pastagens, criado para buscar um nú-
mero ideal de visitantes que uma área pode tolerar, enquanto fornece
uma qualidade sustentada de recreação”. Ele afirma ainda que a
capacidade de carga recreativa não é um valor absoluto, inerente
somente as características ecológicas de cada área, mas também,
uma experiência psicológica, dependente das expectativas dos vi-
sitantes em relação ao que poderá ser feito e/ou visto na região.
       Segundo TAKAHASHI (1997), devem ser feitas
reavaliações com base em experiências de manejo que conduzi-
ram a uma idéia de capacidade de suporte (ou carga) calcada, não
necessariamente no número de visitantes, mas em seu comporta-
mento, sendo os recursos adequados e as condições sociais, os
principais indicadores a serem considerados. Com base nessa pre-
missa, o PEPB demanda urgentemente que estudos dessa natureza
sejam realizados, considerando a ausência de efetivo planejamento
do ecoturismo e lazer controlado em seu interior. Tais estudos
encontram-se, atualmente, em andamento e a metodologia que
está sendo aplicada, encontra-se detalhada em trabalhos recentes
de COSTA, et al (2003); COSTA & MELLO (2005) e COSTA
& COSTA (2005).

                                57
No entanto, para que se estabeleça um programa educativo,
turístico e/ou recreativo, faz-se necessário uma avaliação técnica
das trilhas passíveis de serem utilizadas para tal, a fim de que pos-
sam suportar um mínimo impacto de seu uso. Inclui-se aí uma
definição dos seus limites de utilização (capacidade de suporte),
além da criação de uma infraestrutura básica para a mesma (sina-
lização, segurança e manutenção).
       Os impactos decorrentes do uso devem ser monitorados de
forma a que sejam adotadas atitudes de manejo adequadas, antes
que o ambiente atinja um grau de deterioração irreversível, tais
como: a perda da cobertura vegetal mais sensível, desmoronamen-
tos/deslizamentos e comprometimento da qualidade da água, colo-
cando, inclusive, o visitante em situação de vulnerabilidade. Neste
sentido, é extremamente importante a interrelação da capacidade
de carga e de manutenção das trilhas com as condicionantes geo-
ambientais (declividade do terreno, solos, ocorrência de processos
erosivos, uso do solo, dentre os principais).
       STANKEY et al (1985, apud TAKAHASHI, 1997 e 1998),
por outro lado, ao defender o “Limite Aceitável de Câmbio –
LAC7 ”, colocam que “não existe relação direta entre o número de
visitantes e a quantidade de impactos negativos em uma área”, e que
esses impactos estão muito mais ligados ao comportamento dos
visitantes, do que propriamente ao número de pessoas que visitam.
       É evidente que os impactos negativos estão muito ligados à
qualidade do uso, mas não deve ser descartada nem desmerecida
a variável quantitativa, mesmo sendo difícil e questionável sua
mensuração. Mesmo que todos os visitantes sejam “comporta-
dos”, há de se chegar a um limite de suportabilidade (do ambien-
te e dos próprios visitantes) ditado, de certa forma, pela quanti-
dade de pessoas que transitam nas trilhas, sob determinados

______________________________________

7
  O “LAC” – concepção que se opõe à “Capacidade de Suporte” – usa a variável
comportamental para definição dos limites de utilização de uma área.


                                         58
condicionantes geo-ambientais. Por isto é que a sua capacidade
de suporte é tão importante e tão utilizada pelos pesquisadores.
Uma vez quantificada a capacidade de carga dessas trilhas, pode-
rão ser analisadas as formas necessárias de melhorar sua
infraestrutura, além da implementação de obras de segurança/
proteção das trilhas e dos visitantes, com o intuito de minimizar
os processos erosivos, e até, em última instância, evitar caminha-
das, nos trechos de maior risco.
       Tais medidas visam conciliar o uso recreativo destas áreas
com seus outros objetivos primários, como por exemplo, a con-
servação dos recursos naturais e a pesquisa científica, além de
estruturar os locais designados para o desenvolvimento de ativi-
dades de uso público que devem ser manejados para controlar os
efeitos negativos sobre o ambiente e para garantir a qualidade da
experiência do visitante.

4- Considerações Finais

       O meio ambiente, como um bem a ser protegido, tem con-
seguido, atualmente, significativa importância nos processos de
tomada de decisão nas diferentes esferas de poder e, cada vez mais,
a Educação Ambiental tem sido um veículo importante na
implementação de ações transformadoras que conduzam, con-
cretamente, ao desenvolvimento sustentável.
       Neste contexto, a integração entre práticas educativas e ati-
vidades que conduzam a melhoria da qualidade de vida e gerem
renda às comunidades locais, torna-se necessária. Inserir a Educação
Ambiental nas atividades ecoturísticas desenvolvidas em áreas le-
galmente protegidas é um bom exemplo. As mudanças de com-
portamento em relação ao meio ambiente somente ocorrerão
quando a sociedade, em geral, tiver assimilado, conscientemente,
a idéia de harmonizar as preocupações e valores dos indivíduos
com os problemas concretos da proteção à natureza, num contexto
integrado e associativo entre sujeito e objeto (homem-natureza).

                                59
Conceber uma Educação Ambiental que responda, de ma-
neira eficaz, as expectativas de todos os atores envolvidos, com-
preende não somente a aquisição de novos conhecimentos e téc-
nicas, como também a realização de trabalhos orientados para o
presente e o futuro, indo muito além de uma visão imediatista da
resolução dos problemas sócio-ambientais.
       O PEPB, como um exemplo de UC urbana que sofre os
efeitos da pressão populacional, mais do que qualquer outra área
protegida, deve promover atividades de ecoturismo que estejam
fortemente embasadas em ações educativas. Os pesquisadores envol-
vidos e os administradores, por sua vez, devem direcionar seus proje-
tos para a implementação de programas que incluam o ensino da EA
em escolas e no treinamento de guias e monitores ambientais de
Parques, mostrando os valores e benefícios dos princípios ecológicos
e de atitudes corretas de preservação dos recursos naturais.

Agradecimentos

       À WWF-Brasil, pelo apoio financeiro do Programa Natu-
reza e Sociedade (NATSOC) e ao CNPq, pela bolsa de doutora-
do de Vivian Castilho da Costa.

5 – Bibliografia Citada

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                             65
66
O ENSINO A DISTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
DIRECIONADO PARA O ECOTURISMO: A EXPERIÊNCIA NO
 CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO POR TUTORIA A DISTÂNCIA
  EM   ECOTURISMO DA UFLA/FAEPE (2000-2003)

            Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio

        Este trabalho é o relato de uma experiência profissional
com professora de educação a distância em educação ambiental.
As opiniões aqui apresentadas refletem exclusivamente esta expe-
riência o que não descontextualiza a realidade do curso no perío-
do em que este foi ofertado. É muito importante que as diferen-
tes experiências com educação ambiental sejam relatadas para se
refletir tanto sobre as vantagens como com as desvantagens da
utilização desta ciência interdisciplinar de maneira indiscriminada
como se fosse um pacote tecnológico.

1- O Ecoturismo no Brasil.

      O ecoturismo ou qualquer outra denominação que este
segmento do turismo venha a receber, surgiu para determinar um
ramo do turismo que especifique viagens ou processos de conhe-
cimento de realidades sobre um local que tenha áreas naturais
onde determinadas pessoas pretendem se inserir, mas não morar

                                67
(RODRIGUES, 1999). Esta autora critica os diversos estudos
vinculados ao ecoturismo que acontecem pelo país e que não con-
sideram outros fatores determinantes do fenômeno do turismo.
O que tem sido observado é uma visão simplista e limitada de um
segmento do turismo, forte e sério que, apesar do apelo
interdisciplinar ou transdisciplinar e ecológico (mesmo que no
sentido stricto da palavra), não assume tal compromisso.
       Oficialmente o ecoturismo é conceituado como um seg-
mento do turismo que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio
cultural e natural, incentiva sua conservação e busca a formação
de uma consciência ambientalista através da interpretação do
ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas
no processo (EMBRATUR, 1994). Para tal afirmação, os envol-
vidos no desenvolvimento do ecoturismo devem ter claro o que
se entende por sustentabilidade (de que, para quem e para o quê),
interpretação ambiental e conservação dos recursos naturais. Além
dos conhecimentos básicos que estão ligados ao turismo.
       O ecoturismo tem forte ligação com os movimentos sociais
ambientalistas, sejam eles de visão mais ecológica ou
ecodesenvolvimentista. Este segmento tem procurado se firmar no
cenário nacional baseado no apelo socialmente correto, como uma
alternativa econômica à população residente próxima aos locais com
potenciais ecoturísticos. Para que se cumpra os reais propósitos do
ecoturismo, propósitos estes caracterizados em diversas conceituações
encontradas na literatura mundial, serão necessários muitos estu-
dos e esforços práticos para acompanhar a evolução meteórica que
este segmento do turismo assumiu. Para tal, faz-se necessário assu-
mir uma outra postura como pesquisador, pois dentro do ecoturismo
há vários conceitos que devem ser considerados, tal como o de eco-
logia, o de antropologia, o do próprio turismo, entre outros. As-
sim, as pesquisa terão que passar a ter um enfoque mais biocêntrico
que antropocêntrico (RODRIGUES, 1999).
       O rompimento com o mito da natureza intocada é funda-
mental para a promoção do ecoturismo de forma responsável,

                                 68
pois a partir daí o homem passa a ser inserido na natureza, como
agente e receptor de ações ligadas a ela. Mas vale ressaltar, que
além das denominações conceituais que o ecoturismo possui, ele
é antes de mais nada uma postura do ser humano.
       É de se concordar, que para se colocar em prática os propó-
sitos estabelecidos oficialmente para a promoção do ecoturismo,
tem que se romper com todo um processo de desenvolvimento
sócio-econômico que está estabelecido há mais de um século.
       O fato é que tem se observado muito mais a exploração do
termo “ecológico”, do que uma atividade realmente
compromissada com a definição Ecoturismo. As atividade ditas
ecoturísticas no Brasil, ainda são elitistas, mantenedoras de um
abismo social, e degradantes, ressalvando todo os esforços realiza-
dos por ong´s e institutos governamentais ligados ao meio ambi-
ente, para contrapor esta situação. Será apenas através de esforços
para a mobilização e a formação responsável de todos agentes
envolvidos no processo da implantação e execução da atividade
ecoturística, que realmente será possível converter este quadro de
utilização oportunista dos recursos naturais.

2- A Educação Ambiental, seus espaços de ação e sua
contribuição para a promoção do ecoturismo.

        O debate sobre a educação ambiental no Brasil é relativa-
mente recente e ainda difuso. Há vários trabalhos sendo realiza-
dos e muitas discussões sobre a elaboração teórica que possa fun-
damentar a prática da educação ambiental. O célebre educador
PAULO FREIRE (1999) considerava necessário a reflexão crítica
sobre a prática, principalmente a educativa, referindo-se a relação
teoria/prática, sem a qual a teoria pode ir virando “blablablá” e a
prática ativismo. Este autor refere-se a educação como uma for-
ma de intervenção no mundo, considerando “uma das bonitezas
de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres histó-
ricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo”

                                69
(FREIRE, 1999). A reflexão sobre a relação teoria/prática se tor-
na fundamental para que fujamos do oportunismo que ronda a
temática ambiental.
       Neste contexto situaremos algumas classificações e defini-
ções acerca da educação ambiental que acreditamos ser
esclarecedoras dos propósitos que fundamentam a análise do tema.
Sabe-se que a educação ambiental surgiu na tentativa de minimizar
e reverter o quadro de degradação ambiental que se instalou no
mundo no último século. Quadro este, provocado pelo atual
modelo de desenvolvimento que tem como base o capital. Portan-
to, a educação ambiental possui um enfoque emergencial e trans-
formador, já que prega a busca por outra forma de relação do ser
humano com o meio em que está inserido. Esta nova forma de
enxergar a educação, que tem muito dos propósitos e diretrizes da
educação popular pregada por Paulo Freire, ainda causa muitos
conflitos no nível de compreensão dos educadores ambiental em
potencial, muitos ainda confundem a educação ambiental com
transmissão de conhecimentos ecológicos, em sua essência, trazen-
do para a educação ambiental um enfoque disciplinar e restrito.
       Os raios de ação da educação ambiental perpassam ativida-
des superficiais (em sua maioria) até chegarem a atividades mais
aprofundadas em seus propósitos. SORRENTINO (1995a) co-
menta que muitas atividades de educação ambiental não possu-
em nenhum tipo de vínculo pedagógico, avaliativo e de assessoria
com a clientela que atende. Por outro lado, há outros “programas
que procuram estimular os participantes a distinguir causas e conse-
qüências dos processos predatórios e degradadores da qualidade de
vida, procurando identificar responsáveis e responsabilidades de cada
um, na preservação/conservação, recuperação e melhoria da qualida-
de de vida de todos. Porém, é bastante comum enfrentarem dificul-
dades para extrapolar o discurso crítico e provocar
atitudes”(SORRENTINO, 1995).
       Assim, podemos perceber uma visão da educação ambiental
que chama a atenção para mudanças de valores atreladas a um

                                 70
processo educativo mais abrangente que o ensino de ecologia e
que esta mudança esteja fundamentada na visão de sustentabilidade
de um modelo de desenvolvimento que a própria educação
ambiental sugere. Para tal, REIGOTA (1995) complementa que
a educação ambiental é uma forma de educação que exige a parti-
cipação dos cidadãos nas discussões que envolvem a questão
ambiental, tentando estabelecer o que o autor chama de “nova
aliança” entre o homem e a natureza. Ela deve também estimular
a ética na relações econômicas, políticas e sociais (REIGOTA,
1995). O que altera os parâmetros da educação conhecida atual-
mente, pois, para ele, o termo “ambiental” não envolve somente
questões ecológicas e, sim, um universo mais amplo que envolva,
acima de tudo, a participação social. Não seria uma educação
feita em forma de pacotes, que já chegam para a sociedade pron-
tos e pré-formulados por uma elite intelectual. Ela seria construída
pela própria sociedade ao serem discutidos os problemas ambientais
de determinada região. Não haveria um único modelo a ser se-
guido como correto. Essa participação traria à tona uma reflexão
sobre a chamada ética cidadã, que seria analisada sob diversas ver-
tentes: a econômica, a política e a social. Para SORRENTINO
(1995) a importância de um resgate da auto-estima do ser huma-
no e do que seja cidadania para as pessoas, é fundamental para o
exercício de uma educação ambiental dita plena, completa.
       Neste momento é importante classificar os espaços de ação
da educação ambiental que, segundo LEONARDI (1996), é di-
vidida em três aspectos:

I. educação ambiental formal: é aquela exercida como atividade
escolar no nível básico dos sistemas oficiais de ensino, tanto em
atividades em salas de aula ou fora delas. Ela possui conteúdos,
metodologias e meios de avaliação claramente definidos;

I. educação ambiental não-formal: é aquela que ocorre em outros
e variados espaços da vida social, com diferentes componentes,

                                71
metodologias e formas de ação daquela formal. Seu caráter não-
formal indica que é uma atividade fora da escola e é exercida normal-
mente por sindicatos, ONG’s, empresas, secretarias de governo, etc.;

I. educação ambiental informal: é aquela exercida em outros es-
paços sociais, muito variados, não possuindo compromisso com a
continuidade. Não se exige, também, que defina claramente sua
forma de ação, metodologia e avaliação, como, por exemplo, os
meios de comunicação de massa.

       Uma outra forma de compreender ou interpretar a educação
ambiental seria por meio das classificações apresentadas por
SORRENTINO (1995a). Ao tentar compreender as diversas
concepções de educação ambiental, este autor as classificou em qua-
tro grandes correntes: “conservacionista”, “educação ao ar livre”,
“gestão ambiental” e “economia ecológica”.
       A corrente conservacionista o autor considera impulsionada
pelo livro de Rachel Carson, “Primavera Silenciosa” publicado
em 1962. Este livro trouxe estímulo para reflexões acerca das con-
seqüências que o uso indevido do meio ambiente traria para a
humanidade. Muito difundida em países desenvolvidos, estimulou
também movimentos que o autor classificou como pertencente à
corrente “gestão ambiental”.
       A corrente denominada “educação ao ar livre” tem, como
seus criadores, adeptos de atividades ecológicas como a caminhada,
o tracking, o montanhismo e os escoteiros. Há pouco tempo é
que estas atividades ganharam uma conotação de educação
ambiental, com o surgimento do ecoturismo propriamente dito.
Segundo este autor “nos países do norte há maior consistência filosó-
fica em sua prática como o estímulo ao auto-conhecimento e o
aprimoramento do fazer cotidiano individual e social”.
       A terceira corrente, denominada “gestão ambiental”, tem
suas raízes nos movimentos sociais da América Latina. No Brasil,
seu período de auge foi durante a ditadura militar, quando estes

                                 72
movimentos passaram a exigir maior participação da população
nos problemas relativos à degradação ambiental e à administra-
ção dos espaços públicos, bem como a cobrar do governo atitudes
contra empresas ou qualquer outro órgão publico ou privado que
trouxesse danos ao ambiente.
       A última corrente, classificada de “economia ecológica”, tem
com bases filosóficas publicações de Ignacy Sachs (Teoria do
Ecodesenvolvimento, 1986) e Schumacher (“O Negócio é ser Pe-
queno”, 1981). Seu grande impulso foi com publicações voltadas
para diretrizes norteadoras de atitudes no âmbito sócio-econômico
do desenvolvimento da população mundial. Para este autor, é nesta
corrente que se encontram duas vertentes que estão norteando hoje a
Educação Ambiental: o “desenvolvimento sustentável” e a busca por
“sociedades sustentáveis”, onde estes reúnem grupos diversos que vão
desde os governantes em geral até grupos opositores ao modelo de
desenvolvimento e sociedade que estes governantes propõem.
       Este autor também identifica quatro grandes conjuntos de
temas e objetivos que os diferentes projetos de educação ambiental
se propõem a realizar. São eles: “biológicos” (voltados mais para a
questão da preservação e conservação natural do meio), “espiritu-
ais/culturais” (voltados para a promoção do auto-conhecimento e
compreensão do universo, resgatando valores intrínsecos no ho-
mem visando a construção de uma nova ética), “políticos” (volta-
dos para o desenvolvimento de conceitos como a democracia, a
participação popular, o diálogo e a auto-gestão), “econômicos”
(visando a melhoria da qualidade de vida por meio da geração de
empregos voltados para atividades ambientais e não explorado-
ras). No mais, ele finaliza a colocação definindo como objetivo
geral da educação ambiental “Contribuir para a conservação/prote-
ção do planeta e de todas as suas espécies e para a melhoria da quali-
dade de vida de cada indivíduo e comunidade, através de processos
educativos instigantes, interativos, holísticos e que resgatem nossas
capacidades de auto-conhecimento e de auto-gestão política e econô-
mica” (SORRENTINO, 1995a).

                                 73
Concluindo, para o mesmo autor, a educação ambiental
deve ter como objetivos promover a interdisciplinaridade, a visão
crítica e global/holística, a participação, a interação, o auto-conhe-
cimento, o resgate de saberes e a resolução de problemas. Ela tam-
bém deve ser (ter como métodos) interdisciplinar, crítica e sistêmica,
participativa, interativa, reflexiva, problematizadora e instigante e
ter como conteúdo as questões ambientais e de qualidade de vida
relacionados com cada realidade que se está trabalhando. Baseados
nesta colocação, podemos, enfim, traçar alguns caminhos para a
utilização da educação ambiental em atividades Ecoturísticas.
        É pensando em como propor mudança de valores e de relação
homem/natureza que pode ser inserido a discussão da educação
ambiental. Pois a atividade ecoturística pode ser enquadrada como
um espaço para ação da educação ambiental não-formal, mas o
ecoturismo não se confunde com a educação ambiental, ele por si só
não tem o cunho educativo, e sim, muito mais recreativo e de lazer.
        Se estamos propondo mudanças, de certo que os mecanismos
para atingir tais mudanças devem ser diferentes do convencional.
Isso não se constitui objeto deste ensaio, no entanto, existe uma
vasta bibliografia sobre metodologias que se baseiam na partici-
pação efetiva dos atores envolvidos. Este tipo de intervenção con-
siderada participativa tem como base de seu processo o desen-
volvimento da autoconfiança e da faculdade crítica. Elementos
essenciais para que as comunidades que habitam localidades com
potenciais de uso para o ecoturismo possam se defender dos
“ecoexploradores” que, através do discurso do desenvolvimento eco-
nômico e do progresso, marginalizam irreversivelmente a população
em questão. A atividade ecoturística deve respeitar principalmen-
te os interesses destas populações que, se forem mobilizadas de
forma responsável, passarão a reivindicar seus direitos, externar
seus interesses e seus temores. Um planejamento participativo tam-
bém pode oferecer subsídios para o exercício da cidadania plena
por parte de pessoas que naturalmente são excluídas de um pro-
cesso de desenvolvimento.

                                 74
3- O ensino a distância no Brasil: Breve situação didático-
pedagógica.

       O ensino a distância no Brasil8 , não é novidade, apesar de
ser relativamente recente os estudos voltados para esta temática.
       Conceituar o que é a educação a distância parece um tanto
óbvio, porém caracterizar a pedagogia que envolve esta modali-
dade de ensino ainda é difícil. Na literatura em geral, o que mais
é observado são conceitos que são construídos a partir da negação ao
se comparar a educação presencial, conceituando o que não seria a
educação a distância. Portanto a educação a distância se consiste em
uma modalidade educativa (contrariando uma série de
questionamentos que a apresentam como algo que procure substi-
tuir o ensino presencial), que tem como centro do seu processo o
aluno, não mais o professor, como é observado no ensino tradicional.
       KEEGAN (1991) aponta alguns elementos que considera
centrais sobre o ensino a distância:
     • separação física entre professor e aluno, que a distingue
          do ensino presencial;
     • influência da organização educacional (planejamento, sis-
          tematização, plano, projeto, organização dirigida etc.),
          que a diferencia da educação individual;
     • utilização de meios técnicos de comunicação, usualmen-
          te impressos, para unir o professor ao aluno e transmitir
          os conteúdos educativos;

______________________________________

8
  O ensino a distância no Brasil está previsto na “lei de diretrizes e bases da educa-
ção nacional”. Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996, no artigo 80, no título VIII:
Das Disposições Gerais. No artigo 32, § 4º; artigo 37, § 1º e artigo 47, § 3º. O
decreto nº 2494 de 10 de fevereiro de 1998 (D.O.U. 11/02/98, seção 1, página 1)
regulamenta o artigo 80 da lei 9394/1996. Outras bases legais foram estabelecidas
pelo decreto nº 2561 de 27 de abril de 1998 (D.O.U. 28/04/98) e pela portaria
ministerial nº 301, de 07 de abril de 1998 (D.O.U. de 09/04/98). Em 03 de abril
de 2001, a resolução nº 1 do Conselho Nacional de Educação estabeleceu as nor-
mas para a pós-graduação lato e stricto sensu.


                                         75
•   previsão de uma comunicação de mão dupla, onde o es-
        tudante se beneficia de um diálogo, e da possibilidade de
        iniciativas de dupla via;
    •   possibilidade de encontros ocasionais com propósitos
        didáticos e de socialização.

       Esta modalidade de ensino procura trabalhar com uma
pedagogia específica baseada na aprendizagem colaborativa de
dupla via. O que isto significa? Como o centro do processo é o
aluno, e este se encontra distante do professor, é fundamental que
um canal entre eles esteja acessível, seja por telefone, fax, e-mail,
redes interativas ou por correio postal. Desta forma, o professor
passa a ser uma figura muito mais preocupada com a formação
integrada do aluno do que apenas um transmissor de informações.
Ele dispõe, pelo menos teoricamente, de mais tempo para aten-
der ao seu aluno, processo impossibilitado no ensino presencial,
onde as turmas costumam ter em média 50/60 alunos. Chama-se
aprendizagem colaborativa, fundamentada no construtivismo, pois
um dos pilares principais do ensino a distância é a motivação do
aluno para o assunto estudado, já que o professor não estará pre-
sente para ministrar aulas. Desta forma, deve-se colaborar com o
processo educativo muito mais que informar sobre determinado
assunto acadêmico.
       O ensino a distância tem tomado grandes proporções no
Brasil, encontramos cursos de excelente qualidade, porém existem
muitos oportunistas que a tratam apenas como mercadoria, sem
se preocupar com o seu propósito fundamental: levar a educação,
formal ou não-formal, até pessoas que, por vias tradicionais, não
poderiam estar se beneficiando deste direito constitucional. O
ensino a distância tem se voltado mais a atender um público adulto
que infantil ou juvenil (Nunes, 1992a, 1992b).
       Apesar de muitas controvérsias no assunto, é fato que a
educação a distância se constitui em uma forma mais barata de
atender a uma população, e de uma só vez, muito maior que o

                                 76
ensino tradicional é capaz. Dada as mudanças sócio-econômicas
que acometem a sociedade atual, torna-se cada vez mais essencial
uma reciclagem profissional, ou até mesmo uma formação edu-
cacional básica, desta forma, a educação a distância pode afetar
segmentos sociais que não são contemplados pelo ensino presencial
(Keegan, 1991; Guaranys et al, 1979).
        Acreditamos que o maior questionamento não deve passar
pela educação à distância e sim pela qualidade do ensino que,
tanto o ensino presencial quanto a distância, são capazes de oferecer.
Qual é a concepção de educação que os envolvidos neste processo
possuem? O processo que envolve o ensino a distância deve
considerar sobretudo as características culturais e contextos que
envolvem o público alvo, bem como a valorização das experiências
individuais, pois é a partir destas informações que serão escolhidos
os melhores meios de motivação e de produção do material didático9 .
        Outra característica importante da educação a distância é a
busca pela interatividade, não esta, vinculada apenas as tecnologias
mais sofisticadas, mas a ação que visa a interação dos alunos com
a instituição, com o professor, com a sua realidade, com a realidade
mundial, da instituição com o aluno, com o professor e também
do professor com todos estes fatores antes descritos. A interação é
multilateral. Para que esse processo se constitua em interação deve-
se procurar ações complexas que envolvam a reflexão, o senso
crítico, o questionamento, a busca por soluções e respostas frente
aos questionamentos, a comparações, análises e sobretudo a
criatividade. O estímulo ao feedback é imprescindível, por isso
falamos em dupla via. O professor está descentralizado do processo
e a sua postura não pode ser mecanicista, apenas de transmitir
conhecimentos de forma sofisticada. Não é parte do ensino a dis-
tância, como não deveria ser das outras modalidades de ensino, a

______________________________________

9
  Isso não quer dizer que estes fatores não são considerados no processo do ensino
presencial. Contudo, são indispensáveis para o sucesso do ensino a distancia, ressal-
tando que neste processo, o professor está DISTANTE.


                                         77
massificação do ser. Por este processo educativo não estar centrado
no professor, passa ser condição desprender o aluno da depen-
dência deste profissional, deforma que a sua responsabilidade é
maior e o processo estimula a sua autoconfiança, pois o aprendi-
zado depende principalmente do aluno se condicionar e discipli-
nar para “aprender a aprender” (Nunes, 1992a).
       Ressaltamos que não somos favoráveis a substituição do
professor por qualquer outro meio, mas sim da descentralização e
da revisão de papéis assumidos por este profissional. Com também
não estamos apresentando o ensino a distância com a tábua de
salvação para os problemas educativos brasileiros, nem tão pouco
colocar uma visão de ensino a distância substitutiva do ensino
presencial, relembramos que um processo complementa o outro.
São dois processos que visam o mesmo objetivo que é a educação.
Mesmo em se tratando de ensino a distância, é importante algum
encontro presencial, para que haja de fato uma integração do aluno
com a forma de abordagem do assunto proposto pelo professor.
O ensino a distância não se resume a recepção de materiais por
parte de um indivíduo que resolverá seus problemas sozinho. O
que se espera é que se estimule a autonomia do aluno para a con-
dução do seu curso e assim, este aprenda a conviver com a
interatividade (Nunes 1992b).
         A preparação e a formação do professor para o ensino a
distância é importante pois esta modalidade de ensino não se re-
sume a transpor do ensino presencial mantendo os mesmos con-
teúdos e métodos de ensino/aprendizagem. Em um primeiro
momento relembramos que professar é diferente de educar. Nem
todo professor é um educador (infelizmente) e vice-versa. A vocação
para o magistério não é construída em escolas, nem nunca será,
tanto para o ensino a distância quanto para o ensino presencial.
       Mesmo em se tratando do desenvolvimento de uma peda-
gogia específica ao ensino a distância, não podemos ser irresponsá-
veis em desconsiderar todo o processo educativo que nos cerca a
séculos. Os professores do ensino a distância ainda são, na maioria,

                                78
formados pelo ensino presencial, a sua construção prático-peda-
gógica se dá neste contexto, o que dificulta na aplicação de novas
metodologias de ensino. Repensar seus modelos pedagógicos são
fundamentais para o sucesso do processo, pois requer um modelo
específico para cada tipo de curso, mesmo que o conteúdo seja o
mesmo. Aprender a trabalhar em equipe, inclusive com profissio-
nais que não sejam da educação, faz parte de um projeto de ensino
a distância, pois é necessário combinar competências para o de-
senvolvimento de um material didático. Tanto aluno quanto pro-
fessores são companheiros neste processo, o que muitas vezes mexe
com o ego de alguns profissionais, consideramos para tanto, a
aprendizagem como meio educativo, não pode ser apresentada de
cima para baixo. É fato que a maioria dos professores não estão
preparados para trabalhar colaborativamente, mesmo que cobrem
de seus alunos esta postura. A alteração dos papéis tanto do aluno
quanto do professor são fundamentais para o estabelecimento da
aprendizagem colaborativa, que significa também, aprender em
meio a conflito, pois o professor não é mais transmissor de co-
nhecimentos para um grupo de alunos passivos e nem detentor
de uma verdade. O conflito é saudável, isso é óbvio, pois é a partir
dele que se constrói um ideal. A ruptura com este modelo disci-
plinar e positivista que a sociedade, não só a educação (pois ela
está voltada para os atores sociais) vive não serão rompidos por
teorias ou decretos governamentais. Será somente através dos pro-
fessores e dos alunos que esta mudança se dará, gradualmente.
Buscar uma metodologia alternativa não implica, jamais, em per-
ca da qualidade do ensino, este argumento geralmente é pregado
por pessoas inseguras a mudanças. Como já apresentamos anteri-
ormente, a qualidade da educação está na concepção e não no
processo adotado (Keegan, 1991; Nunes, 1992a).
       Outro ponto importante está na redação do material didá-
tico. Não há uma regra estabelecida e generalizada, pois fatores
específicos devem ser considerados, porém não se pode deixar de
relevar pontos essenciais como a necessidade de estimular a atenção

                                79
e o interesse do aluno e a adaptação da linguagem, considerando
a especificidade do grupo. A busca pela interatividade, a motiva-
ção e a democratização do saber devem ser lembradas a todos que
estão envolvidos no preparo do material. Para que a aprendizagem
ocorra é necessário que o aluno internalize e processe o conteúdo,
isso requer uma reflexão.
       Mesmo em se tratando de coletividade, de interatividade e
de colaboração, o aprendizado é individual, a internalização é um
processo individual, mesmo que esteja em grupo. Estimular a
problematização através de experiências próprias ou familiares ao
contexto do aluno são estratégias bem sucedidas normalmente. A
adaptação de metodologias advindas de outros processos ou ex-
periências, muitas vezes recai no insucesso, pois apenas a adapta-
ção não é satisfatória. Isso também pode ser aplicado tanto para
professores quanto para alunos.
       Estabelecer quanto conteúdo é suficiente para ser trabalhado
no ensino a distância, a utilização de diferentes recursos
tecnológicos, capacidade de síntese, custos, tempo para a tutoria
presencial, número de participantes e objetivo do projeto que
compõe o ensino a distância são essenciais para o sucesso da iniciativa.
Estabelecer um cronograma pode auxiliar, pois remete a necessidade
de assumir responsabilidades e compromisso de ambas as partes.
       Podemos concluir que o processo que envolve o ensino a
distância se dá em grupo, no sentido que envolve a participação
de todos os membros em prol de um objetivo comum, a educa-
ção. Não é aceitável uma simples divisão de tarefas, sem interação
e nem interdependência. A educação requer investimentos, não
só financeiros, pois isto limitaria muito seus propósitos.
       A utilização do ensino a distância na democratização do
saber, para a formação, capacitação profissional e atualização de
profissionais no mercado de trabalho mostram que esta modali-
dade de ensino, quer aceitem ou não, está estabelecida entre nós.
Cabe a sociedade incorporar esta realidade e a academia regular a
qualidade destes cursos.

                                  80
3.1- O Caso da FAEPE: Histórico da instituição e sua missão

        A “Fundação de apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão”
(FAEPE) foi criada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA),
na época, Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), em
17 de junho de 1976. Com a finalidade de promover, não só para
a comunidade local e nem acadêmica, apoio ao Ensino, Pesquisa
e Extensão, como seu próprio nome já diz. Desde lá tem contribuído
significativamente para a formação profissional não só brasileira. Ela
se constitui em uma fundação de direito privado.
        O primeiro curso por tutoria a distância da Universidade
foi em 1987 entre um convênio da ESAL com a ABEAS, para a
especialização no nível de pós-graduação em “Produção de Ru-
minantes”. A primeira pós-graduação por tutoria a distância
da FAEPE foi oferecida em 1990, em “Administração Rural”, curso
até hoje com o maior índice de inscritos.
        Os cursos de pós-graduação (especialização) por tutoria a
distância10 estão devidamente regulamentados pelo MEC e pela
pró-reitoria de pós-graduação da UFLA. Ao se habilitar para um
dos cursos, o aluno é orientado a preencher uma ficha de inscrição,
via correio aéreo ou em meio eletrônico com seus dados pessoais,
comprovantes acadêmicos e o comprovante de pagamento da inscri-
ção (pois os cursos não são gratuitos), e recebem também um
ficha de preenchimento optativo, sobre alguns dados que servirão de
subsídios para o delineamento do perfil do estudante e da turma.
        Para estes cursos no nível de especialização os módulos são
impressos e há geralmente dois encontros presenciais que acontecem
no meio do curso e no final, geralmente. A responsabilidade pelo
material didático compete ao professor e ao seu respectivo
departamento. Salvo em curso interdepartamentais, onde a
______________________________________

10
  Para maiores informações sobre os cursos favor acessar www.faepe.org.br ou no
próprio site da UFLA www.ufla.br onde o link para a FAEPE está entre os parceiros
da instituição. O contato pode ser também através do telefone (35) 3829 1200.


                                         81
coordenação é composta por representantes de diversos
departamentos. A eles competem coordenar a estrutura didática
e pedagógica do curso, bem como seu funcionamento. Nos cursos
por tutoria à distância, há a possibilidade de contratação de
professores externos ao quadro docente da UFLA, desde que
estes profissionais possuam, no mínimo, o título de mestre. A
FAEPE compete operacionalizar o andamento do curso e
gerenciar os recursos pertinentes a eles.
        Os cursos duram em média um ano e a distribuição do
material didático é feita, também, em média, entre 30 a 40 dias.
Desta forma, quando se atingiu a distribuição de metade do ma-
terial, é marcado o primeiro encontro. Há orientações no “Guia
do pós-graduando” para como proceder em caso de dúvidas sobre
o conteúdo dos módulos. Elas podem ser tiradas tanto via correio
aéreo, fax, e-mail, telefone ou presencial (no caso de pessoas que
morem perto da instituição ou na época dos encontros).
        No que se refere a avaliação didática, cada curso desenvol-
ve sua própria técnica. Desde a metade de 2001 as turmas neces-
sitam cumprir com a redação de uma monografia orientada por
um dos professores do curso para a conclusão do curso.
        Desta forma, a instituição vem cumprido seu papel de pro-
mover a educação e a atualização profissional de forma democrá-
tica a todos os interessados da sociedade.
        A FAEPE hoje é considerada modelo em gestão e eficiência
do ensino a distância recomendado pelo MEC salvo sua dedica-
ção na democratização dos conhecimentos existentes dentro da
Universidade Federal de Lavras.

3.2- O curso de Ecoturismo: Interpretação e Educação Ambiental

      O curso de Ecoturismo: Interpretação e Educação
Ambiental passou a ser oferecido a partir do segundo semestre de
2000. Este curso passou por diversas reformulações, chegou a ser
reprovado pelo conselho que regulamenta os cursos por tutoria a

                                82
distância até que tomou o formato ideal, que foi apresentado em
sua primeira turma e continua até os dias de hoje.
       Inicialmente o curso foi concebido por três professores de
departamentos diferentes da UFLA. Seu propósito era inovador
pois buscava reunir elementos que estão inseridos no Ecoturismo
e de maneira geral, não são abordados. O que se observa na maior
parte dos cursos, é que se trata muito mais da questão gerencial,
considerando elementos ligados a teoria do turismo e assuntos
ligados a ecologia em um sentido restrito. Este curso visava forne-
cer discussões, dentro dos módulos, sobre: introdução ao
ecoturismo, educação ambiental, interpretação ambiental e da
paisagem, ecologia (de forma ampliada), história cultural, plane-
jamento social e uma prática voltada ao ecoturismo. O sucesso
deste curso veio com os números de participantes. Foram formadas
até maio de 2003 580 alunos, segundo informações do setor de
gestão dos cursos da FAEPE.
       A distribuição da responsabilidade pelos módulos se con-
centraram entre os professores responsáveis pela criação curso, na
maioria, o que poderia comprometer a qualidade do mesmo. A
proposta de reformulação e outras questões extra-curso desagra-
daram a um dos idealizadores do curso e levaram a sua saída do
mesmo, por espontânea vontade. Foi neste momento, anterior
ao oferecimento do curso, que ingressaram dez profissionais de
diversas áreas, para suprir a saída deste profissional, eu estava
entre eles.
       No momento do primeiro encontro presencial foram
adotadas formas participativas entre os alunos tanto no que diz
respeito a avaliação e estrutura do curso quanto a avaliação para a
conclusão do mesmo. Ficou acertado entre os professores que a
avaliação para a conclusão do curso não teria o formato tradicio-
nalmente adotado por outros cursos, que consistem em provas ou
trabalhos presenciais. Seria realizado um único trabalho que abor-
dasse todo o conteúdo do curso, através de questões propostas por
todos os professores em conjunto aos alunos, em um momento

                                83
pré-agendado no primeiro encontro. Este trabalho constaria tam-
bém com o relato e discussão de uma experiência de cada aluno.
Ficou assim acertado, que não haveriam atividades individuais,
que acarretassem em avaliação numérica, por parte dos professo-
res. O professor coordenador sugeriu e também foi aceito pelo
grupo, que fossem realizados um levantamento entre os alunos
sobre as expectativas em relação ao módulo prático, para que, a
partir daí, este módulo fosse construído. Esta prática de consulta
aos alunos se estenderia a todas as turmas, a partir de então. Vale
lembrar que o módulo prático era o último módulo a ser ofereci-
do no último encontro.
       Este módulo prático passou a ser distribuído em três ativi-
dades práticas, onde os alunos, deveriam optar por uma delas,
antes da realização do último encontro. São elas: A1- gestão do
negócio ecoturístico (visa discutir questões operacionais da intro-
dução de atividades ecoturísticas em um determinado espaço),
A2- Práticas em Educação Ambiental, e A3- Prática de Condução
e Interpretação Ecoturística (atividade que levaria o grupo a um
espaço que fosse utilizado para a realização de atividades
ecoturísticas, e assim discutir, em um ambiente natural, como
melhor aproveitar os recursos)
       Infelizmente o professor coordenador se afastou do grupo
logo após o primeiro encontro, pois estava aprovado para cursar
seu doutorado fora do Brasil, desta maneira, só restava passar a
coordenação para a outro professor e também idealizador do curso
que restava no grupo original. O professor foi afastado do curso,
mas não teve seu nome retirado. Ele foi substituído por outros
profissionais recomendados pelo seu departamento e no momento
da sua volta a UFLA, seus módulos seriam repassados novamente.
Nunca foram colocados em prática os modelos de avaliação para
a conclusão do curso, a atual coordenação, optou por avaliar os
alunos de forma convencional. Como a primeira turma não tinha
sido avaliada no primeiro encontro, forma enviadas questões para
serem respondidas em casa, o que não é preferencial mesmo para

                                84
atividades a distância, pois exige um maior esforço do professor
em garantir a originalidade do trabalho. O módulo prático A3
(sob a responsabilidade da coordenação) também foi modificado,
as atividades passaram a ser feitas dentro da própria universidade,
em uma trilha que era usada para fins outros. Os alunos não sugerem
mais conteúdos para as práticas, apenas optam pelas estabelecidas
no primeiro encontro.
       Estas questões geraram conflitos internos ao grupo de pro-
fessores que se submeteram a um tipo de coordenação e não con-
cordavam com algumas atitudes conduzidas pela atual
coordenadoria. Mesmo assim o curso continuou, sem que se per-
desse o foco na qualidade, até a conclusão de turmas em julho de
2003. A partir daí, o curso foi encerrado.

3.3- A metodologia adotada nos encontros presenciais para a
abordagem da Educação Ambiental.

        Eu era responsável por uma parte do módulo de ecologia
(módulo 2) que tratava da “interpretação Ambiental”, por parte
do módulo 6 (Educação Ambiental: movimentos e interpreta-
ções sócio-ambientais ) e também pela prática A2 (Educação
Ambiental), com a saída do professor e coordenador, passei a subs-
tituí-lo no módulo 1, introdutório ao ecoturismo e nos módulos
6 e A2, estes dois últimos, divididos com uma professora do de-
partamento de educação da UFLA. A redação dos módulos, com
a exceção módulo 2 e das práticas, foram feitas pelo professor
afastado, optamos por trabalhar com o seu material no módulo 6,
mas as atividades presenciais deveriam ser revistas.
        Visando a participação efetiva dos alunos, bem como a sua
história de vida, optamos por trabalhar em conjunto a todo mo-
mento. Iniciamos sempre nossas aulas utilizando “danças circula-
res” que além de promover a integração maior do grupo, pois a
nossa aula é a primeira do segundo encontro, e nem sempre os
grupos são os mesmos do primeiro encontro, esta técnica também

                                85
promove a “quebra” do ambiente formal de ensino e da expecta-
tiva por uma aula expositiva, onde o professor fala para um grupo
de espectadores. No módulo 6, após a “dança circular”, iniciamos
uma discussão, através de dinâmicas, sobre a educação, e posteri-
or a isso apresentamos um histórico da educação ambiental e de
suas conceituações. Utilizamos um vídeo que trata da questão
ambiental e finalmente promovemos atividades em grupo sobre a
interpretação do conteúdo do módulo e sobre o assunto discuti-
do em sala. Não é nosso foco avaliar numericamente o aluno, por
isso, não promovemos atividades de avaliação formais para este
fim em nenhum dos nossos trabalhos, mesmo que tenhamos que
numerar a participação deles, para efeito de currículo e conclusão
do curso.
       No módulo prático, o número de alunos é menor, pois
neste momento a turma está separada em três. As abordagens são
mais específicas à prática de educação ambiental e a discussão da
postura de um educador ambiental. Fazemos a “dança circular”,
apresentamos uma série de bibliografias pertinentes ao tema par
que os alunos possam consultar. Apresentamos vídeos que tratam
da questão da cidadania, desigualdades e de consumo. Levamos
os alunos a um centro de separação de lixo reciclável, mantido
por uma fundação ambientalista. Neste momento os alunos pas-
sam a conhecer na prática, muitas questões que envolvem a edu-
cação ambiental e que nem sempre são apresentadas ou questio-
nadas. Após estes trabalhos, os alunos são convidados a se separa-
rem em grupos e organizar oficinas que tratem de temas por eles
escolhidos, e depois conduzem estas oficinas entre os outros alu-
nos desta mesma prática. A montagem e a escolha do tema fica a
cargo do grupo, pois seria tutorial, neste momento, definirmos
temas. Queremos formar cidadãos atuantes na questão ambiental,
a criatividade e o compromisso são fundamentais para o sucesso
desta nossa empreitada, a flexibilidade fará com que estes profissio-
nais consigam atuar em diferentes espaços. Não será definindo re-
gras preestabelecidas que estarem contribuindo para essa formação.

                                 86
4- Conclusão

       Ao longo destes três anos envolvidos com o ensino a dis-
tância, pudemos concluir que não se pode ocultar a existência
desta ferramenta essencial para a democratização do saber. Como
já apresentado anteriormente, não falamos da superação do ensi-
no presencial e nem do professor, tratamos de complementar e
ofertar um mecanismo a mais de formação para aqueles que so-
mente pelas vias tradicionais não poderiam ter acesso.
       A experiência com o curso de ecoturismo foi excepcional
para colocar em prática os diferentes conceitos de participação e
de atuação no ensino a distância. Também foi importante para
observar falhas que não podem prosseguir em nenhum segmento
do ensino. Tendo em vista a não conscientização do grupo gestor
deste curso o mesmo foi encerrado e relançado com outro nome
e linguagem teórico onde as discussões sobre educação ambiental
e sobre desenvolvimento local permaneceram de fora. Fato este
que empobrece a discussão do ecoturismo como ferramenta de
desenvolvimento local e de alternativa ao fluxo migratório cam-
po-cidade. Não é nosso propósito denegrir a imagem do atual
curso que substituiu o anterior, mas sim de provocar uma refle-
xão sobre democratização de conhecimento e formação de cons-
ciência crítica sobre a atuação dos interventores em áreas de po-
tencial ecoturístico. Isso se reflete na continuidade de módulos
que tratam da educação ambiental em outros cursos da própria
UFLA/FAEPE. Reforçando então que não foi uma decisão da
instituição em encerrar este tipo de discussão mas de pessoas físi-
cas que não percebem essa problemática com importante para a
formação de especialista em ecoturismo.
       Esperamos ter contribuído para a formação de inúmeras
pessoas que puderam se beneficiar com o curso, com este capítulo
do livro e com as pessoas que passaram a ser formadas por nossos
ex-alunos.


                                87
Bibliografia

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                               92
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  • 1. Alexandre de Gusmão Pedrini (Organizador) Ecoturismo e Educação Ambiental 1
  • 2. Copyright © 2005 por Alexandre de gusmão Pedrini Título Original: Ecoturismo e Educação Ambiental Editor Tomaz Adour Editoração Eletrônica Luciana Figueiredo PAPEL VIRTUAL EDITORA Rua Miguel Lemos, 41 sala 605 Copacabana - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22.071-000 Telefone: (21) 2525-3936 E-mail: editor@papelvirtual.com.br Endereço Eletrônico: www.papelvirtual.com.br 2
  • 3. APRESENTAÇÃO DOS AUTORES ALEXANDRE DE GUSMÃO PEDRINI Biólogo. Mestre e Doutor pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor-Adjunto na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Orienta alunos na Graduação e Pós- Graduação.Tem trabalhos publicados no Brasil e no exterior. Organizou e é autor nas coletâneas: a) Educação Ambiental: Re- flexões e Práticas Contemporâneas pela Vozes; b) O Contrato Social da Ciência, unindo saberes na Educação Ambiental pela Vozes; c) Ecoturismo e Educação Ambiental pela Publit. Criador e Animador da Lista de Discussão Educação Ambiental e Ecoturismo (Eaecoturismo). Atua em Educação Ambiental Co- munitária, no Departamento de Biologia Vegetal do Instituto de Biologia da UERJ, sito a Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, Sala 525/1, CEP 20550-013, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; tel: 2587-7434, 2567-2567 e tel/fax 2587-7655; e-mails: pedrini@uerj.br e agpedrini@vetor.com.br. CRISTHIANE OLIVEIRA DA GRAÇA AMÂNCIO Bióloga licenciada e bacharel em ecologia pela Universidade Fe- deral Rural do Rio de Janeiro (UFRuralRJ). Mestre e Doutoran- da em Desenvolvimento Rural pelo Curso de Pós-Graduação em Desenvolvimento Agricultura e Sociedade (CPDA) da UFRRJ. Pesquisadora da Embrapa Pantanal em educação ambiental e metodologias de intervenção social. Foi professora do curso de pós-graduação por tutoria à distância em “Ecoturismo: Interpre- tação e educação ambiental” da Universidade Federal de Lavras (UFLA), onde ainda atua como responsável pelo conteúdo de educação ambiental nos cursos de pós-graduação por tutoria à distância em Gestão e Manejo Ambiental em Sistemas Agrícolas (MAA) e Gestão e Manejo Ambiental na Agroindústria (MAI). Consultora na área ambiental. Endereço: Embrapa Pantanal Rua 3
  • 4. 21 de Setembro, 1880 - Bairro Nossa Senhora de Fátima. Caixa Postal 109 - Corumbá, MS- Brasil - 79320-900 Fone: (67) 233- 2430 ramal 240 - Fax: (67) 233-1011; camancio@cpap.embrapa.br MILTA FONSECA TORGANO Bióloga. Professora do curso fundamental e graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Veiga de Almeida. Publicou trabalhos em Educação Ambiental. e-mail: torgano38@yahoo.com.br; torgano1@hotmail.com NADJA MARIA CASTILHO DA COSTA Geógrafa, Mestre e Doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Profa. Adjunta do Dept o. de Geografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena o Grupo de Estudos Ambientais (GEA). Preside o Comitê de Estudos Regionais do Instituto Panamericano de Geografia e História (IPGH), ligado a Organização dos Estados Americanos (OEA). Coordena projetos de pesquisa interdisciplinares e interinstitucionais em Geografia Física, Meio Ambiente e Turismo, com destaque para pesquisas extensionistas, envolvendo participações comunitárias em Educação Ambiental, formal e informal. Endereço: Av. São Francisco Xavier, 524, Maracanã, sala 4002-D, Rio de Janeiro - RJ. Tel/Fax: (21) 25877703 r. 38. E-mail: nadjagea@bol.com.br VIVIAN CASTILHO DA COSTA Jornalista pela Universidade Gama Filho (UGF). Geógrafa (1999), pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Mestre em Geografia (2002), pela Universidade Federal do Rio de Janei- ro (PPGG/UFRJ), onde está fazendo o seu doutoramento, com tese que analisa novas metodologias de estudo em trilhas interpretativas, utilizando ferramentas de geoprocessamento. Par- ticipa de projetos de levantamento do potencial ecoturístico em unidades de conservação e Educação Ambiental formal e informal 4
  • 5. para comunidades. Vem atuando na área de Geoecologia, Geo- grafia Física e do Turismo, participando de palestras e publicando vários trabalhos sobre Ecoturismo e Educação Ambiental. Tel: (21) 22343352. E-mail: viviancastilho@uol.com.br 5
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  • 7. SUMÁRIO Apresentação dos autores ........................................................ 3 Apresentação .......................................................................... 9 Davies Gruber Sansolo Introdução ........................................................................... 11 Alexandre de Gusmão Pedrini Ecoturismo com Educação Ambiental : discursos e práticas .. 13 Alexandre de Gusmão Pedrini e Milta Fonseca Torgano Educação Ambiental pelo Ecoturismo, em Unidades de Conservação: uma proposta efetiva para o parque estadual da pedra branca (PEPB) – RJ .................................................... 39 Nadja Maria Castilho da Costa e Vivian Castilho da Costa O ensino a distância da Educação Ambiental direcionado para o Ecoturismo: a experiência no curso de especialização por tutoria a distância em Ecoturismo da UFLA/FAEPE (2000-2003) ........................................................................ 67 Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio 7
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  • 9. APRESENTAÇÃO Este livro reúne uma série de textos que evidenciam a rela- ção entre o ecoturismo e a essência do pensamento ambientalista, sobretudo, representado pela educação ambiental. A problemática ambiental promoveu a construção de novos valores culturais so- bre a natureza no mundo contemporâneo. Tais valores englobam uma gama de perspectivas que em alguns casos se confundem em outros se camuflam um aos outros. Se por um lado, o ecoturismo como um segmento de mercado é decorrente da mercantilização dos valores ambientalistas, por outro lado é uma das trilhas que o movimento ambientalista tem encontrado para promover o intercambio cultural, distribuição de renda e inclusão social e a ampliação dos valores conservacionistas. De forma geral a educação no mundo ocidental vem se desen- volvendo embutida ao longo da história do pensamento científico moderno, que em última análise e se desencadeia na educação formal desenvolvida nas escolas e nas universidades e, portanto moldando o significado de ambiente para o mundo contemporâneo. 9
  • 10. Assim como o ecoturismo, a educação ambiental como um movimento, uma dinâmica, um fenômeno social, engloba diver- sas linhas de pensamento e tem em comum um eixo temático: a crise ambiental, sobretudo no que diz respeito aos significados da natureza, que se apresenta de forma contraditória em nossa socieda- de. Por um lado, a natureza como recurso econômico, por outro como um novo valor humanista, onde o ser humano passa a se reconhecer como responsável e integrante da dinâmica e interconexões naturais. Além disso, se revela como ser social que explora outros humanos assim como outros recursos da natureza. Neste livro são apresentados trabalhos que buscam clarear o significado do fenômeno ecoturístico. O texto Ecoturismo com Educação Ambiental: Discursos e Práticas de Alexandre de Gusmão Pedrini e Milta Fonseca Torgano apresenta uma revisão sobre o que se tem escrito e pesquisado sobre educação ambiental e ecoturismo no Brasil. O texto Educação Ambiental pelo Ecoturismo em Unidades de Conservação: uma proposta efetiva para o Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB) - RJ de Nadja Maria Castilho da Costa e Vivian Castilho da Costa busca conceituar sob a ótica do turismo e do lazer o significado da educação ambiental e vão além, destacam a impor- tância da Educação Ambiental nos planos de manejo de unidades de conservação que oferecem atividades de visitação e ecoturismo. Finalmente, um tema que vem ganhando força nos últi- mos anos com o advento das novas tecnologias de comunicação é o ensino a distância, que aqui é apresentado por meio do estudo de caso do curso de especialização por tutoria à distância em Ecoturismo da Universidade Federal de Lavras (UFLA) por Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio. Prof. Dr. Davis Gruber Sansolo, Doutor e Mestre em Geografia Física pela Universidade de São Paulo, Professor do Programa de Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi-Morumbi e do Curso de Pós Graduação em Ecoturismo do SENAC -Águas de São Pedro (SP). 10
  • 11. INTRODUÇÃO O Ecoturismo quanto a Educação Ambiental são áreas do saber com limitadas pesquisas publicadas no Brasil. Principalmente quanto a estudos de casos realizados tanto no Brasil como em outros países não só latinoamericanos como europeus, asiáticos e africanos. Quando os dois temas se entrelaçam os resultados de pesquisas ou atividades de ensino são mais escassos. No entanto, na prática cotidiana podemos identificar muitas atividades não declaradas cientificamente, envolvendo os dois temas. Mas, por falta de definições de metodologias científicas que arrolem os dois campos de pesquisa muitos são os trabalhos que carecem de reco- nhecimento do meio acadêmico. Este comportamento sugere que o meio acadêmico se esforce para capacitar este novo campo de pesquisa de profissionais qualificados de modo que seus trabalhos cotidianos possam adotar o ritual que permita que as atividades tenham cientificidade e, assim, aceitação acadêmica. Por outro lado, há intensa atividade ecoturística, empresa- rial ou não, que se pressupõe articulada com a Educação 11
  • 12. Ambiental, segundo discurso explícito ou não de seus promoto- res. Mas, este fenômeno não está amplamente estudado, pois o que pode ser observado em contato com o setor empresarial ecoturístico, participando ou não de sua programação é de que o casamento da EA com o Ecoturismo não vem ocorrendo. Deste modo, este livro se propõe a apresentar alguns casos da tentativa de se promover o Ecoturismo com Educação Ambiental e ser base para futuros debates nesta interseção de estudos tão interessante e fundamental para a economia. 12
  • 13. ECOTURISMO COM EDUCAÇÃO AMBIENTAL : DISCURSOS E PRÁTICAS Alexandre de Gusmão Pedrini e Milta Fonseca Torgano Introdução O Ecoturismo com Educação Ambiental (EA), como área de pesquisa, no Brasil, tem sido alvo de preocupações recentes (IRVING, 1998a e b; SERRANO, 2000; MARASCHIN & PEDRINI, 2003; PEDRINI, 2005; AMÂNCIO e COSTA & COSTA, nesta coletânea). Ainda, se verificam alguns planejadores e guias ecoturísticos, adotando acriticamente manuais de ecoturismo como o formulado pela UNIÃO EUROPÉIA/ EMBRATUR (1994) em que a EA não está internalizada ao tu- rismo ecológico. Nesse manual, ecoturismo é conceituado como aquele que é desenvolvido em locais com potencial ecológico, de modo conservacionista, buscando conciliar a exploração turística com o meio ambiente, harmonizando as ações com a natureza, bem como, oferecer aos turistas um contato íntimo com os recur- sos naturais e culturais da região, em busca da formação de uma consciência ecológica. O mais criticável neste conceito naturalista é 13
  • 14. o de pretender apenas construir uma consciência ambiental e não a de mudar opiniões, hábitos e condutas do ecoturista espontâneo ou oriundo de pacotes turísticos. Há outros conceitos como os apresentados por IRVING (1998a) que são mais concretos e bem aproximados com os conceitos aceitáveis da EA. Seu conceito é o de que o ecoturismo deve ser uma alternativa econômica de baixo impacto ambiental e capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável de uma dada região. Deve ainda, pelo simbólico e do lúdico permitir a aprendizagem de novas atitudes de respeito aos valores ambientais e culturais, consolidando nova postura ética, respeitando a natureza e o “outro”, ou seja, os demais elementos das atuais e futuras gerações das sociedades humanas. Este breve intróito ao tema mostra conflitos na conceituação de ecoturismo (vide GOMES, 1999), embora existam autores que já vem tentando acoplar o Ecoturismo com a EA, apesar das confusões conceituais e metodológicas nestas duas atividades in- dividualmente e em conjunto. O que mais se diz de interessante na bibliografia brasileira... Em 1994, o governo federal (BRASIL, 1994) publicou as “Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo”. No en- tanto, esta política não foi criada até agora, mas as diretrizes funcionam como uma espécie de política implícita. Nelas, a EA não é citada explicitamente, mas de modo tímido como uma es- tratégia para a sensibilização pública para as questões ambientais, o que podemos considerar insuficiente. No conceito oficial de ecoturismo cunhado a EA se inclui, mesmo que de modo incipiente, buscando apenas a conscientização ambiental. A EA, tem dentre outros objetivos a mudança de posturas, comportamentos e condutas, adotando os pressupostos da EA das Conferências de Tbilisi e Moscou (cf. PEDRINI, 2002). Mas, o meio acadêmico já estava sensibilizado com a ques- tão do ecoturismo, pois ele está se desenvolvendo rapidamente 14
  • 15. sem um arcabouço teórico-metodológico que o sustente. Um exemplo da produção de conhecimento neste campo foi a devo- ção de um só número do periódico “Turismo em Análise” da Universidade de São Paulo no início de 1992, a este tema. Tendo como pano de fundo a Rio-92 o número dedicado ao ecoturismo abordou doze assuntos relevantes, mas nenhum deles abordou a EA como pressuposto para o desenvolvimento ecoturístico. No entanto, não deixou de ser um marco na trajetória do ecoturismo como área de reflexão acadêmica. Anos mais tarde, os pesquisadores da área publicaram obras importantes, refletindo o aumento de preocupação acadêmica na área do ecoturismo e essa com a EA. Foram publicadas coletâneas como SERRANO & BRUHNS (1997), VASCONCELOS (1998), RODRIGUES (2000), NEIMAN, 2002 e o livro de SEABRA (2001), reunindo atores de diversos campos subjacentes ou de obras traduzidas como LINDBERG & HAWKINS (2001). Além disto, o meio acadêmico tem produzido monografias, dis- sertações e teses sobre o Ecoturismo. Exemplo é a dissertação de Patrício Melo GOMES (2000) em que ele fez uma releitura do ecoturismo praticado no Brasil. Em todas estas obras, a preocu- pação com a parte de planejamento cuidadoso e a gestão sócioambiental com a atividade ecoturística é patente. A inserção da EA no campo das preocupações humanas é mais antiga, no Brasil, do que o Ecoturismo como campo institucionalizado do saber reflexivo, podendo ter-se uma idéia panorâmica da EA e de algumas de suas trajetórias no trabalho de PEDRINI (2002). Além disto, foi promulgada uma lei federal do Brasil de grande importância (BRASIL, 1999), a Política Nacio- nal de Educação Ambiental (PONEA)-política explícita- que foi regulamentada pelo Decreto 4281 de 25 de junho de 2002 e que em conjunto com as Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo de 1994- política implícita -, constituem um referencial básico teórico para as práticas destes dois campos científicos. 15
  • 16. No entanto, o Ecoturismo com a Educação Ambiental e vice-versa, embora discurso freqüente de quem os prega e fomen- ta (por exemplo, órgãos públicos) ou pratica (por exemplo : em- presários, fazendeiros e ONGs) é uma das atividades sociais com pesquisas escassas, cujos relatos são raramente publicados em pe- riódicos ou livros com visibilidade pública. Tanto, que em nosso levantamento bibliográfico pouco foi achado para a América La- tina e o Brasil. Dentre o que foi achado, vale a pena ser destacado alguns escritos, a maioria teórica. Em 1997, no evento “I Encontro Nacional de Turismo com Base Local”, cujos anais foram publicados posteriormente FIGUEIREDO (2000) propôs um modelo interessante de turis- mo e EA em unidades de conservação, valorizando a sabedoria popular e a científica. Neste mesmo ano, o Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal (MMA) em colaboração com o Ministério de Educação e Desporto (MEC) organizaram a I Conferência Nacional de Educação Ambiental (I CNEA). Deste evento, emanou a Declaração de Brasília para a Educação Ambiental, segundo MMA/MEC (1997). Esta decla- ração, alicerçada nos princípios clássicos de outras declarações internacionais de EA como a organizada pela UNESCO foi na cidade de Tbilisi na Geórgia, antigo estado da União Soviética. Dentre os signatários desta declaração estão renomados especia- listas da EA e da questão ambiental. Esta declaração foi derivada da discussão coletiva de profissionais que debateram, primeira- mente, em suas regiões as problemáticas da EA e recomendações para equacionar os problemas e resolve-los. Posteriormente, em Brasília, os relatos regionais foram apresentados e rediscutidos. A síntese de caráter nacional concluiu por dezenas de recomenda- ções ao MMA e ao MEC, dentre, as quais, delinear políticas de incentivo ao ecoturismo como alternativa do desenvolvimento sustentável realizada de forma responsável no contexto da EA. Esta recomendação tornou-se um marco do casamento entre a Educação Ambiental e o ecoturismo, no Brasil. 16
  • 17. Em 1999, HARTMANN apresentou um trabalho em que o ecoturismo seria uma alternativa para a Educação Ambiental. Esse autor listou alguns obstáculos para o desenvolvimento do Ecoturismo no Brasil de forma ordenada e articulada, segundo BRASIL (1994): 1. Ação deficiente dos empresários; 2. Ação político-governamental insuficiente; 3. Comportamento inadequado do ecoturista; 4.Pouca ou nenhuma atividade comunitária; 5.Fraca interação empresarial e interinstitucional; 6. Infra-estrutura deficiente ou inadequada para o ecoturismo; 7. Necessidade de profissionais capacitados; 8. Desconhecimento de critérios operacionais de sustentabilidade. A partir da constatação destas deficiências HARTMANN (op. cit.) relatou duas experiências realizadas com um ônibus de- nominado BICHO DO MATO, a partir do município de Angra dos Reis. No entanto, não apresentou uma avaliação dos trabalhos e permaneceu a dúvida se ela pode superar os defeitos enumerados acima. De qualquer modo não deixa de ser um relato da tentativa de prática de ecoturismo com educação ambiental. O grande marco da literatura brasileira, entrelaçando o Ecoturismo com a EA é a coletânea organizada pela pesquisadora Célia SERRANO (2000). Na sua obra, reúne muitos colegas de variadas visões profissionais, mostrando algumas experiências em diferentes contextos. Porém, antes já havia outras publicações, tratando do tema, mesmo que de modo esparso, como, por exem- plo, o trabalho de CASCINO (2000), publicado em primeira edição em 1998. Este trabalho propõe um novo conceito na área, introduzindo o termo ECOLAZER que seria o ecoturismo com EA. Isto é, pressupõe uma educação sustentável que poderia ser traduzida como a inclusão da eco-reflexão, reconsiderando a fi- gura do turista, do lazer e do espaço natural. 17
  • 18. No entanto, aquele trabalho como outros não passaram de pura expressão de vontade dos seus signatários, pois praticamente nada de novo foi implementado, tendo por base a Declaração de Brasília. Essa, é mais uma no rol de outras tantas declarações que periodicamente enchem o coração dos educadores ambientais e pesquisadores em ecoturismo por novas perspectivas e ações, prin- cipalmente, por parte dos governos. PEDRINI (2002) demons- trou que este mesmo comportamento ocorre na EA no plano in- ternacional, em que, já existem declarações como as de Tbilisi, Moscou, Belgrado e Tessalonique, mas pouco tem sido feito pelos governos para a mudança de hábitos e posturas nos diversos países signatários. CASCINO (1998), IRVING (1998b) e SANSOLO (1998) em recente coletânea sobre Turismo e Meio Ambiente salientaram a convergência entre o ecoturismo e a EA. Além de publicações em livros, periódicos e anais vem aumentando a publicação de textos na Internet. Vale destacar, além do que já foi citado os trabalhos de BERTINI(2001), NEIMAN (2001) e MANOSSO (2001) na Internet e o de MORETTI (2000) nos anais de um evento de turismo. Todos os trabalhos destacam o ecoturismo e EA como um novo paradigma para o desenvolvimento econômi- co e social brasileiros. Há inclusive, uma lista de discussão na Internet (Educação Ambiental e Ecoturismo), criada pelo primeiro autor deste ensaio no endereço: www.grupos.com.br/grupos/ eaecoturismo. Esta lista prega a discussão em caráter nacional e internacional desta nova proposta de paradigma. No contexto da EA o ecoturismo é incentivado como prá- tica a ser desenvolvida na educação não formal no seio da coleti- vidade humana, segundo a lei federal número 9.795 de 27 de abril de 1999 que criou a Política Nacional de Educação Ambiental (PONEA). No estado do Rio de Janeiro (RIO DE JANEIRO, 1999), existe a lei de número 3225 publicada no Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, em 30 de dezembro de 1999 que dispõe da Política Estadual de Educação Ambiental do estado do 18
  • 19. Rio de Janeiro. A lei, apesar de sua visão naturalista, prevê em seu artigo 14 que a EA não-formal são ações e práticas educativas, visando à sensibilização, organização, mobilização e participação da coletividade na defesa da qualidade do meio ambiente, sendo assim, incentivada pelo Poder Público através do ecoturismo, den- tre outras atividades. Deste modo, o ecoturismo é uma prática intrinsecamente desejada de ser realizada com a EA. TULIK (1992) num trabalho sobre ecoturismo publicado no Brasil na década de noventa quando ele passou a ser estudado como fenômeno social, tratou-o criticamente. Mostrou esta for- ma de turismo “alternativo” como uma atividade que também não seria de acesso a todas as camadas sociais, incluindo dentre estas os hotéis de lazer “resorts” que aliam atividades físicas ao conforto moderno. Assim, este capítulo tem como objetivo apresentar se, empiricamente, a Educação Ambiental é realmente praticada em atividades de ecoturismo, realizadas tanto em contexto litorâneo como interiorano brasileiro. Como fizemos... Foi adotada a abordagem qualitativa bem discutida em seus valores em confrontação com a quantitativa, nos livros de MINAYO (1992) e CHIZZOTTI (2001). Foram feitos dois estudos de caso. Este tipo de abordagem - o estudo de caso -, segundo GIL (1991) e PEDRINI (submetido) se caracteriza pela pesquisa aprofundada e exaustiva de um ou poucos objetos, de forma a conhecer de modo amplo e detalhado o objeto. Parte do princípio de que a análise de uma unidade de deter- minado universo permite a compreensão da generalidade do mesmo ou dá as bases para um estudo mais preciso posteri- ormente. Segundo CASTRO (1977) o estudo de caso é primei- ramente interessante não pelo caso em si, mas pelo que ele sugere a respeito do todo. 19
  • 20. O estudo do primeiro caso foi num “resort” localizado no litoral do estado do Rio de Janeiro, durante um “pacote turístico” realizado em 1999. Neste pacote havia um “passeio ecológico” promovido por uma organização não governamental (ONG) de- nominada de Instituto Ecológico, cujos donos são também sóci- os do “resort”. O trabalho se concentrou neste passeio. O segun- do caso foi no “ Projecto Vivo” proposta de compatibilização entre a pecuária, o ecoturismo e a educação ambiental. É realiza- do num Hotel-Fazenda no município de Bonito, estado do Mato Grosso do Sul. A pesquisa foi feita em 2002. As seguintes estratégias foram utilizadas para a coleta de dados: a) Observação Participante (OP); b) Entrevista com roteiro semi-estruturado (E); c) História de Vida (HV); d) Análise de Conteúdo de textos de divulgação (AC). Utilizando-se estas quatro estratégias de coleta de dados, pode-se fazer a triangulação na aná- lise posterior de dados, segundo TRIVIÑOS (1987) e BECKER (1994) que sugerem que toda pesquisa de campo deva ter. Isto se adeqüa tanto para as abordagens qualitativas do presente trabalho quanto para as quantitativas. Metodologia similar foi adotada por SORRENTINO (1997) e trabalhos em PEDRINI (2002). Para a coleta de dados com a observação participante ado- tou-se basicamente o conceito de SCHWARTZ & SCHWARTZ (1955), em que, o observador é parte do contexto observado, modificando e sendo modificado pelo segundo. Estando face a face com os sujeitos observados, no seu cenário cultural, o obser- vador coleta dados. Segundo MINAYO (1992) o conceito de observador-participante seria nomeado observador-como-parti- cipante que é uma estratégia complementar a adoção de entrevis- tas com os “atores”, visando a coleta de dados. É uma observação quase formal , em espaço curto de tempo, mas válida e, portanto, utilizada neste trabalho. Dois tipos de entrevistas foram feitas: uma aos funcionários e outra aos hóspedes dos hotéis participantes ao final das atividades. Os roteiros das entrevistas seguem, em anexo, a este texto. Para o 20
  • 21. uso de entrevistas como instrumento de coleta de dados vale a pena consultar as obras de GOODE & HATT (1979), GIL (1991), LAKATOS & MARCONI (1991) e de BECKER (1994) onde várias armadilhas a que o entrevistador (pesquisador) são apresentadas e propostas soluções adequadas. Uma breve problematização será feita sobre a entrevista como estratégia de coleta. GOODE & HATT (1979) fazem uma discussão aprofundada da entrevista como técnica de coleta de dados, in- clusive, analisando situações reais tanto pelo lado do entrevistado/ informante quanto do entrevistador/pesquisador o que faz esta obra de fundamental interesse para pesquisadores sociais iniciantes. GIL (1991) define entrevista como a técnica em que o pesquisador apresenta-se frente ao investigado e lhe formula questões, com o objetivo de obter dados de interesse para a pesquisa. É uma forma de interação social, uma espécie de diálogo assimétrico, em que uma parte busca a coleta de dados/informação e outra que é a fonte de dados/informação. LAKATOS & MARCONI (1991) apresentaram vantagens e limitações para o uso da técnica de co- leta de dados pela entrevista. Dentre as primeiras verificadas no presente trabalho vale ressaltar as seguintes: a) pode ser utilizada com qualquer pessoa que saiba se expressar oralmente, incluindo analfabeto em português; b) possibilita a obtenção de dados não encontrados nos documentos consultados e não percebidos na observação participante, maximizando a abordagem metodológica; c) há a possibilidade de se conseguir informações mais precisas, podendo ser comprovadas, imediatamente, as discordâncias; d) permite maior oportunidade de se avaliar atitudes, condutas, po- dendo ser registrado o que se observa neste tipo de abordagem; e) oferece maior flexibilidade, pois o pesquisador pode repetir suas questões ou esclarecer pontos inconspícuos nas perguntas. Dentre as desvantagens que devem ser minimizadas ou superadas, vale apontar as seguintes : a) dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes; b) possibilidade do pesquisador influenciar o 21
  • 22. entrevistado, consciente ou inconscientemente; c) preguiça do entre- vistado em responder às perguntas; d) retenção de dados importantes face o receio do entrevistado de ser identificado posteriormente; e) incapacidade do entrevistado de compreender adequadamente o que for perguntado, levando a responder o que não foi perguntado. Ape- sar, do que LAKATOS & MARCONI (1991) problematizaram so- bre a entrevista, ela ainda é a melhor técnica de coleta de dados do que o questionário, por exemplo, para este tipo de pesquisa. A História de Vida é uma estratégia de coleta de dados pouco usada na Educação Ambiental (cf. BRITO, 2001). Se- gundo MINAYO (1992) a HV pode ser escrita ou verbalizada. Em nosso estudo, foi inicialmente verbalizada e depois escrita. Foi selecionada ao invés da entrevista, pois o informante era uma pessoa muito tímida e simples, sendo esta técnica se mostrado mais adequada. De fato, foi também uma estratégia de coleta de dados complementar a outros informantes. MINAYO (1992) problematiza esta estratégia de coleta. Para a análise dos dados coletados pela OP, HV e E foi adotada a Análise de Conteúdo (AC). Este tipo de análise é o mais organizado desta técnica fartamente adotada na análise de textos. A AC é uma opção de validação metodológica em que identifica a percepção dos conteúdos latentes e intuições não pas- síveis de quantificação, além dos conteúdos manifestos (conspí- cuos) dos textos em linguagem natural. Esta obra, publicada por uma editora portuguesa se propôs a ser um manual para estudantes e profissionais das ciências humanas e é recomendada para adoção pela sua clareza e objetividade. O que aconteceu... 1. No Resort Litorâneo Fluminense O passeio chamado “ecológico” , na realidade, era uma ca- minhada de cerca de uma hora por uma trilha estreita com placas 22
  • 23. aos seus lados, cujos dizeres eram frases de “marketing” para a conservação ambiental. Por onde as pessoas passavam o chão era de terra batida cercada lateralmente por espécimes de arbustos de restinga sem aves ou outros animais típicos do bioma visitado. Ao final da caminhada chegou-se a uma praia deserta perto de uma reserva biológica costeira particular. Neste momento, foi feito um lanche e se conversou sobre as belezas locais. Em nenhum mo- mento se observou uma atividade que se propusesse transferir conhecimentos sócioambientais contextualizados. Ou mesmo, visando sensibilização ou mudanças de hábitos e posturas, como deveria ser uma atividade de EA num espaço não formal, como está previsto na Política Nacional de Educação Ambiental (PONEA), segundo BRASIL(1999). Havia também uma casa com macacos presos, cuidadosamente alimentados. Havia notícias de trabalho com escolas, mas nada que se pudesse fazer uma análise mais detalhada. Os dados retirados das entrevistas (80% de argentinos e 20% de brasileiros) que tinham como objetivo principal verificar se tanto os guias de ecoturismo como os hóspedes tinham algum conhecimento sobre ecoturismo ou EA prévio ou posterior ao passeio ecológico confirmou o que se esperava. A análise dos da- dos (que foram poucos, pois a maioria das perguntas não foram respondidas) permitiu perceber uma visão naturalista das ques- tões ambientais em que o homem não estava inserido, tanto na visão dos guias como na dos hóspedes. O desconhecimento da legislação ambiental e ecoturística, conceitos, finalidades e im- pactos tanto negativos como positivos sobre ecoturismo e EA foi marcante. De fato, os guias apresentaram um discurso preservacionista “... continuamos nossa caminhada perseverando e lutando por um Mundo Melhor para todos: plantas, homens e passarinhos...”, mas não vivendo todos em conjunto e sem uma proposta consistente. Ou ainda, conceituando o ecoturismo como “...uma atividade econômica, um negócio lucrativo, porém deve- rá ser minuciosamente planejada para não ocasionar resultados 23
  • 24. inversos como impacto ambiental e não prejudicar no desenvol- vimento sustentável do lugar.” Um discurso coerente, mas, em tese, pois o lucro advindo desta atividade não promove desenvol- vimento auto-sustentável. Aponta que participa de sua comuni- dade participando de uma Escola Comunitária não formal, em que as crianças que lá afluem conhecem “coisas novas”. Deu para perceber que é mais uma atividade de marketing ambiental, pois não foram mostradas suas atividades nem uma avaliação do que se alcança com esta “Escola”. Os entrevistados crêem também que o ecoturismo deve ser uma ferramenta para a Educação Ambiental, porém com um dis- curso apelativo “’.porque só amamos aquilo que conhecemos e a partir do contato com o verde temos uma outra consciência com a natureza...”. Sabemos que a natureza envolve outras cores, in- cluindo a humana que não é nem um pouco “verde”. Dentre os hóspedes, a tendência se repete “... ecoturismo são estes momentos que passamos conhecendo e aprendendo sobre a vida vegetal e animal de cada região”. Ou difundir a proteção, observar e co- nhecer o meio ambiente. Porém, o que mais se destaca nas respostas dos entrevista- dos é que todos mostraram seu amor à natureza e aos homens. No entanto, consideraram que a EA, não é uma responsabilidade de todos, por exemplo, “... sempre tive respeito pela natureza e muita admiração, tento preserva-la da maneira que posso que é não destruindo-a, porém não trabalho com este processo de conscientização para os outros” . Concentrando as análises principalmente nos guias turísticos, pode-se perceber que, apesar de terem consciência da preservação ambiental local, não souberam aproveitá-lo como contexto para construir uma metodologia de abordagem para o seu discurso “ecológico”. Entendem o ecoturismo como uma atividade sus- tentável que deve dar lucro e que seja uma “indústria não poluente”. Porém, o “resort” joga seus resíduos sem nenhum tra- tamento próximo a praia que utiliza para dar lazer aos seus hóspedes. 24
  • 25. Entendiam que o ecoturismo pode ser uma ferramenta para a EA, porque “... só amamos aquilo que conhecemos e a partir do verde temos uma outra consciência com a natureza e nos trans- formamos em protetores, zelando por tudo que a pertença”. Assim, com esta percepção naturalista do que seja o meio (apenas “verde”) criam que participavam de um trabalho de ecoturismo com EA. Pelo que podemos observar neste relato, há boa intenção dos guias pertencentes ao Instituto Ecológico, mas a emissão de esgotos domésticos próximo a praia dos ecoturistas contrariava todo o dis- curso ecoturístico e obviamente de educar ambientalmente pessoas. 2. Na fazenda em Bonito Bonito é um município do estado do Mato Grosso do Sul, próximo ao Pantanal-Sul. Segundo VARGAS (2001) a atividade turística em Bonito foi implementada quando a de agropecuária entrou em crise, induzindo a economia a uma nova situação. Segundo BOGGIANI (2001) um dos primeiros fatores que fa- cilitou o desenvolvimento do ecoturismo em Bonito foram suas belezas naturais. Dentre estas, os autores deste trabalho presenciaram grutas, cachoeiras belíssimas, “rafting” e mergulho com garrafa ou em apnéia. Este possibilitava a visão subaquática de densa e variada vegetação aquática e deslumbrante e mansa ictiofauna. VARGAS (1998) dentre outros autores vem estudando a atividade turística e seus desdobramentos sociais e econômicos. Esta autora desenvolveu, provavelmente, o primeiro estudo da Educação Ambiental em Bonito e cercanias. Trata-se de sua dissertação de mestrado pelo Departamento de Educação da Universidade Fe- deral do Mato Grosso do Sul. Neste estudo, a autora analisou o ecoturismo e o desenvolvimento sustentável, propondo atividades de Educação Ambiental. Vários são os atrativos ecoturísticos em Bonito. No entanto, o Projecto Vivo nos pareceu o mais original. Os donos do projeto, em 1995, contrataram uma firma de consultoria em ecoturismo 25
  • 26. que planejou e realizou atividades no ramo para o Hotel-Fazenda. A proposta do Projecto Vivo, em termos práticos, de ecoturismo com EA, começava com uma cavalgada, em que, um sábio e vivido funcionário do Hotel-Fazenda expunha todo o seu trabalho de dezenas de anos naqueles campos cheios de gado bovino. Mostra- va as várias fases, pelas quais, o gado era tratado com a intenção de produção e venda de bezerros, cujo leite de suas mães era-lhe totalmente dedicado. O gado também era tratado com sal home- opático. O pasto era usado, utilizando-se o sistema de “voisin”. Este, era usado de modo que quando um pasto estivesse pobre em vegetação e rico em esterco ele era vedado ao gado. O pasto ao lado que ficara sem gado para que sua vegetação pudesse se re- compor passava, então, a receber o gado e o anterior ficava para crescimento vegetal. No sistema “voisin” o pasto foi subdividido em retângulos com cerca eletrificada a base de energia solar que também beneficiava os chalés do Hotel. Deste modo, não é ne- cessário o desmate de mata nativa para a obtenção de extensos pastos. Esta, já é uma atitude elogiável, pois cerca de 50% do terreno da fazenda era mantida como mata. Isto se deve a um interessante fato, pois além da Reserva Legal, obrigada por lei e nem sempre respeitada por pecuaristas, se somava uma grande extensão de uma Reserva Florestal nativa e a uma “Reserva Parti- cular de Patrimônio Natural (RPPN)”, esta, com 88 hectares. Prosseguindo, a cavalgada terminava num pomar que foi pro- jetado para ter frutas o ano inteiro, afim de que no final da cavalgada houvesse material para uso didático, além de se poder ter o prazer de retirar uma fruta do pé e saboreá-la. Reúne árvores como jaca, jambo, serigüela, acerola, fruta-de-conde, manga (enormes, por sinal), maçã, pitanga, goiaba, dentre outras. Plantas medicinais como boldo, erva- cidreira e capim-limão e outras plantas. Havia também plantas que tinham defesas químicas a determinadas pragas, fornecendo ao pomar um inseticida natural. Este local, mostrava como era possível compatibilizar fisicamente diferentes terrenos e utiliza-los para mostrar a diversidade vegetal de interesse direto ao ser humano. 26
  • 27. Após o almoço, reiniciavam as atividades com uma cami- nhada nas trilhas da mata ciliar do Rio Formoso (célebre nas atrações ecoturísticas da cidade de Bonito) que passa dentro da RPPN. Após, se iniciava um passeio de bote pelo mesmo rio com total segurança, simulando um modesto “rafting”, pois passava-se apenas por uma curta corredeira. Este rio tinha águas limpas e transpa- rentes, correndo sobre seixos rolados com cianófitas crostosas. Cobrindo galhos submersos haviam algas filamentosas, como rodófitas azuladas do gênero Batrachospermum na sua fase Chantransia. Num determinado momento foi possível um delicioso banho de rio. Em seguida, o passeio terminava na confluência do Rio Formoso com o Rio Miranda de águas bem turvas e caudalosas, sendo que as duas águas não se misturavam por longo trecho. Voltando a sede do Hotel, com muitos mosquitos, oferecia- se aos ecoturistas que fossem crianças a participação em uma oficina de reciclagem de papel. Esta, era guiada por uma das funcionárias da fazenda, que permitia a observação dos ecoturistas adultos pais ou não das crianças. Em paralelo, os adultos desinteressados pela oficina de reciclagem aproveitavam uma piscina convencional. E assim, terminava o “passeio ecológico”. Todos muito gentis e alguns com sabedoria popular bem definida. Mas, as atividades do PV tinham desdobramentos. Suas pretensões eram de realizar trabalhos com a comunidade humana da cidade de Bonito e estarem abertos a comunidade científica para estudos sócio-ambientais. Dentre os trabalhos com a comu- nidade poder-se-ia exemplificar com o Projeto Reciclagem que envolvia alunos de todas as quarta-séries das escolas municipais, estaduais e particulares. Este projeto teve início em agosto de 1999. Envolveram cerca de 550 alunos com o apoio da Secretaria Mu- nicipal de Educação. Além deste projeto havia outro de plantio de mudas de árvores em volta das escolas com a doação de grades protetoras com o logo do Projecto Vivo. Participavam ativamente os professores e alunos que eram orientados por uma técnica em turismo (SOUZA, 2002). Dentre todas as atividades o objetivo 27
  • 28. final era avaliado através dos professores que relatavam mudança de comportamento dos alunos. Em relação ao apoio a cientistas foi relatado que biólogos estiveram estudando aves e insetos, inclu- indo entidades muito respeitadas como a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Em nosso trabalho adotamos entrevistas para coletar dados do contexto. Os participantes foram de 100% brasileiros, sendo cerca de 40% de guias e uma também gestora. Igualmente com o caso do resort a maioria das perguntas não foram respondidas. Principalmente aquelas que tratavam de conceitos, métodos e das políticas explícitas e implícitas, tanto da EA como do Ecoturismo. Neste caso, ao contrário do resort a visão naturalista foi substitu- ída por outra mais humanista, incluindo o Homem como objeti- vo final do processo, mas compatibilizado com seu meio. O dis- curso dos guias neste caso, humanista, foi diferente dos do resort, embora os dados obtidos dos ecoturistas fossem naturalistas. Tais afirmações podem ser verificadas no depoimento “....ecoturismo significa um turismo onde a comunidade é inclu- sa no processo de turismo.....com resgate da cultura, tradições,....”. Isto mostra, a visão contextualizada da guia, em que o ecoturismo precisa abranger a cultura humana local, envolvendo outros com- partimentos sócio-ambientais. Porém, no depoimento de um ecoturista “...este passeio não me modificou em nada....vim só para usufruir de um passeio....” Tal resultado sugere, que, talvez o esforço institucional atra- vés de seus guias possa não estar sendo adequadamente avaliado, pois nada foi encontrado arquivado no PV. Porém nada que des- mereça ou que estimule sua desistência. Apenas, a necessidade de incluir na equipe um Educador Ambiental com competência em Avaliação de Desempenho que pode ser de modo formal por es- crito ou lúdicos, por brincadeiras e jogos. Estas atividades sugerem que de fato se realizava um ecoturismo com educação ambiental. Mas, atualmente não se 28
  • 29. observou nenhuma atividade com a comunidade, além do que os passeios são feitos sem nenhum aproveitamento da exuberância e da infra-estrutura disponível para se realizar a educação ambiental tão discursada. Parece que a existência de um Educador Ambiental com sólidos conhecimentos teórico- práticos, em horário integral, residente ou não no Hotel Fazenda resolveria este impasse. Este que se mostra como uma falta de aproveitamento de uma grande infra-estrutura montada e praticamente nenhum aproveitamento por falta de técnico especializado. E o futuro? Caberá a nós procurarmos seus donos e os estimularmos de novo para que este exemplo do passado se repita? O que devemos fazer? À guisa de Conclusão As práticas estudadas nesta pesquisa não são derivadas de nenhum referencial teórico, advindo dos guias de “ecoturismo”. De fato, desconheciam do que se tratava. Quanto ao conceito e finalidades da EA no ecoturismo afirmaram que pretendiam pos- sibilitar uma conscientização ecológica e mudança de atitudes. Porém, o modo como abordavam a EA, de fato, jamais possibili- taria que este intento fosse atingido, tanto pela ausência de um arcabouço teórico-metodológico como pelo paradoxo que era o “resort”. Apenas no Projecto Vivo os guias e pessoal técnico ti- nham uma visão humanista. Porém, os turistas não conheciam nada sobre ecoturismo nem sabiam conceituá-lo nem imaginar como deveria ser uma atividade ecoturística com EA. Assim, não podiam exigir algo além de um passeio na natureza silvestre, agra- dável e divertido. Deste modo, as práticas de “ecoturismo” e sua respectiva “EA” não aderem totalmente a nenhum dos diplomas legais go- vernamentais. Quer seja no plano ecoturístico representado pelas Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo como pela Política Nacional de Educação Ambiental. 29
  • 30. Agradecimentos Aos gerentes e equipes do resort do Rio de Janeiro e da fazenda de Mato Grosso do Sul e ao Prof. Luis Afonso Figueiredo da Fundação Santo André, estado de São Paulo por suas valiosas críticas a primeira versão deste ensaio, quando só tinha um estu- do de caso. A Profa. Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio da Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais por sua cuidadosa leitura crítica do texto. Bibliografia Citada AMÂNCIO, C. O da G. O ensino a distância da Educação Ambiental direcionado para o Ecoturismo: o caso do curso de especialização por tutoria a distância em ecoturismo da UFLA/ FAEPE. In: PEDRINI, AG (Org.) Ecoturismo e Educação Ambiental. (nesta coletânea). BANDUCCI JÚNIOR, A & MORETTI, E. C. Qual Paraíso?; Turismo e Ambiente em Bonito e no Pantanal. Campo Grande, UFMS, e São Paulo: Chronos, 2001. 205 p. BECKER, H. S. Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais. São Paulo: Hucitec, 1994. 178 p. BERTINI, M. A Ecoturismo com Educação Ambiental: Um Paradigma Sócio-Ambiental. Disponível em: educação_ambiental@grupos.com.br, em 15/08/2001, 2 p. BOGGIANI, P. C. Ciência, meio ambiente e turismo em Boni- to: a combinação que deu certo? In: BANDUCCI JÚNIOR, A; MORETTI, E. C. Qual Paraíso?; Turismo e Ambiente em Boni- to e no Pantanal. Campo Grande, UFMS, e São Paulo: Chronos, 2001, p. 151-168. 30
  • 31. BRASIL. Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo.Brasília, EMBRATUR, 1994, 48 p. _______ . Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal/ Ministério da Educação. CONFERÊNCIA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 1, 1997, Brasília. Anais...(Declaração de Brasília para a Educação Ambiental). Brasília, 1997, 88 p. ________.Lei n 9795 de 27/04/1999 que dispõe sobre a EA, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília, Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 4 p. (prospecto). BRITO, M. C. C. de Elaboração participativa de uma AGEN- DA 21 da comunidade caiçara do pouso da Cajaíba, Piracicaba, São Paulo. Dissertação (mestrado), Universidade de São Paulo, 150p. CASCINO, F. Pensando a relação entre Ecoturismo e Educação Ambiental. In: VASCONCELOS, F. P. (Org.) Turismo e Meio Ambiente. Fortaleza, Universidade Estadual do Ceará (UECE), 1998, 265-279 p. ___________. Ecolazer e Educação Ambiental: uma inegável re- lação. In: NOAL, F. O.; REIGOTA, M. ; BARCELOS, V. H. De L. (Orgs.) Tendências da Educação Ambiental Brasileira. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000, 2 ed., p. 85-97. CASTRO, C. de M. A Prática da Pesquisa. São Paulo: McGraw- Hill do Brasil, 1977. 156 p. CHIZZOTTI, A Pesquisa em Ciências Sociais e Humanas. São Paulo: Cortez, 2001. 164p. 31
  • 32. COSTA, V. C. da C. & COSTA, N. M. C da. Educação Ambiental pelo Ecoturismo, em Unidades de Conservação: uma proposta efetiva para o Parque Estadual da Pedra Branca(PEPB)-RJ. In: PEDRINI, AG(Org.) Ecoturismo e Educação Ambiental (nesta coletânea). FIGUEIREDO, L. A V. de. Ecoturismo e participação popular no manejo de áreas protegidas; aspectos conceituais, educativos e reflexões. In: RODRIGUES, A B. (Org.) , 2 ed., Turismo e Am- biente; Reflexões e Propostas. São Paulo: Hucitec., 55-67 p. GIL, A C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, Atlas, 1991. 207 p. GOMES, P. M. (Eco)Turismo: uma (re)leitura dos discursos. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 2000, 100 p. GOODE, W. L. & HATT, P. K. Métodos em Pesquisa Social. São Paulo, Nacional, 7 ed., 1979. 488 p. HARTMANN, F. Ecoturismo : uma alternativa para a Educação Ambiental. In : MATA, S. F.; GAVAZZA, S.; ALMEIDA, M. C. M. de; OLIVEIRA, C. L. de ; BARROS, R. . (Orgs). Educação Ambiental : compromisso com a sociedade. Rio de Janeiro, MZ Editora, 1999 ( Anais do VIII Seminário de Educação Ambiental em 29/30 de setembro e 1 de outubro de 1999, no Instituto Mi- litar de Engenharia do Rio de Janeiro), p. 200-204. IRVING, M. de A Educação Ambiental como premissa ao desen- volvimento do ecoturismo. In: MATA,, S. F. da, GAVAZZA, S., ALMEIDA, M. C. M. ; OTTONI, A B. (Orgs.) Educação Ambiental; Desafio do século: um apelo ético. Rio de janeiro, Ed. Terceiro Milênio, 1998a ( Anais do VII Seminário de Educa- ção Ambiental em 7-9 de outubro de 1998, no Instituto Militar de Engenharia do Rio de Janeiro), p. 277-281. 32
  • 33. IRVING, M. de A Educação Ambiental como premissa ao desen- volvimento do ecoturismo. In: VASCONCELOS, F. P. (Org.) Turismo e Meio Ambiente. Fortaleza, Universidade Estadual do Ceará, 1998b, p. 295-302. LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 3 ed., 1991. 270 p. LINDBERG, K. & HAWKINS, D. E. (Eds.) Ecoturismo; um guia para planejamento e gestão. São Paulo: SENAC, 3 ed., 2001. 292 p. MANOSSO, F. C. O Ecoturismo e a Educação Ambiental como atividades norteadoras do desenvolvimento econômico e social. Disponível em: h t t p : / / w w w. t u r i s m o e p r o g r e s s o . h p g . i g . c o m . b r / n 2 / n2ecoturismo.htm; Acesso em 25/10/2001, 10 p. MARASCHIN. C. M. De A & PEDRINI, A de G. A Educação Ambiental no Ecoturismo: estudo de caso numa empresa de ecoturismo no Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Resultados Prelimina- res. VII Encontro de Educação Ambiental do estado do Rio de Janeiro, anais, 2003. MINAYO, M. C. O desafio do conhecimento; pesquisa qualita- tiva em saúde. São Paulo:Hucitec/ABRASCO, 1992. 269 p. MMA/MEC. I Conferência Nacional de Educação Ambiental (Declaração de Brasília para a Educação Ambiental). Brasília (DF), 1997. 88 p. MORETTI, S. A. A Atividade Turística no município de Jar- dim-MS e as possibilidades e limites da Educação Ambiental. Encontro Nacional de Turismo com Base Local, 15-8/11/2000, Joinville (SC), 4, Anais, 7 p. 33
  • 34. NEIMAN, Z. Ecoturismo e Educação Ambiental : Caminhos para uma nova consciência da Comunidade Universitária. Cader- nos de Turismo da UNIABC (SP), n. 2, Out. de 2001. Disponível em: http://www.uniabc.br/cadernos/turismo2/ecoturismo.htm; Acesso em 1/10/2001. NEIMAN, Z. (Org.) Meio Ambiente, Educação e Ecoturismo. São Paulo, Manole, 2002. NOAL, F. O., REIGOTA, M. ; BARCELOS, V. H. De L. (Orgs.) Tendências da Educação Ambiental Brasileira. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2000, 2 ed. 263 p. PEDRINI, A de G. Trajetórias em Educação Ambiental. In: PEDRINI, A de G. (Org.) Educação Ambiental: Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis: Vozes, 5 ed., 2002, p. 21-87. _______________(Org.) O Contrato Social da Ciência, unin- do saberes na Educação Ambiental. Petrópolis: Vozes, 2002. 267 p. PEDRINI, A de G. Em busca da Educação Ambiental no (eco)turismo brasileiro; um ensaio. I Encontro Interdisciplinar de Ecoturismo em Unidades de Conservação, de 3 a 5 de outubro de 2005 , anais, CD-ROM. PEDRINI, AG. O estudo de caso como unidade operacional. In: PEDRINI, AG. Metodologias em Educação Ambiental; um ca- minho das pedras. Submetido a uma editora. _____________; DE-PAULA, J. C. Educação Ambiental: Críticas e Propostas. In: PEDRINI, A de G. (Org.).Educação Ambiental: Reflexões e Práticas Contemporâneas. Petrópolis: Vozes, 5 ed., 2002, p.88-145. 34
  • 35. RIO DE JANEIRO. Lei n 3.325 de 17//2/1999 que dispõe sobre a Educação Ambiental, institui a Política Estadual de Educação Ambiental (PEEA) e complementa a Lei Federal n. 9795/99 mo âmbito do estado do Rio de Janeiro, Diário Oficial do estado do Rio de Janeiro de 30 de dezembro de 1999, 4 p. (prospecto). RODRIGUES, A B. (Org.) Turismo e Ambiente; Reflexões e Propostas. 2 ed. São Paulo: Hucitec, 2000. 177 p. SANSOLO, D. G. Educação Ambiental, Turismo e Conserva- ção. In: VASCONCELOS, F. P. (Org.) Turismo e Meio Ambi- ente. Fortaleza: UECE, 1998, p. 280-294 SCHWARTZ, M.; SCHWARTZ, C. G. “Problems in Partici- pant Observation” .American Journal of Sociology, v. 60, p. 343- 353, 1955. SEABRA, G. Ecos do Turismo; o turismo ecológico em áreas protegidas. Campinas: Papirus, 2001. 95 p. SERRANO, C. M. T. A educação pelas pedras: uma introdução. In: SERRANO, C. M. T. (Org.) . A educação pelas pedras; ecoturismo e educação ambiental. São Paulo:CHRONOS, 2000, p. 7-24. ________________. A educação pelas pedras; ecoturismo e educação ambiental. São Paulo: CHRONOS, 2000. 190 p. ________________; BRUHNS, H. T. (Orgs.) Viagens a Natu- reza; turismo, cultura e Ambiente. Campinas: Papirus, 2 ed.,1999. 150 p. SORRENTINO, M .Educação Ambiental: um estudo de caso. In: PADUA, S. M.; TABANEZ, M. F. (Orgs) Educação 35
  • 36. Ambiental; caminhos trilhados no Brasil. São Paulo, Instituto de Pesquisas Ecológicas, 1997, p. 43-54 SOUZA, Franziska M. Entrevista concedida a A de G. Pedrini e M. F. Pedrini, em Bonito (MS), em 07 de fevereiro de 2002. TRIVIÑOS, A N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais; a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.175 p. TULIK, O. Turismo e Meio Ambiente; Identificação e Possibili- dades da Oferta Alternativa. Turismo em Análise, São Paulo, v. 3, n.1, p. 21-30, 1992. UNIÃO EUROPÉIA/EMBRATUR. Manual de Ecoturismo. Brasília, 1994. 48 p. VARGAS, I. A de. Ecoturismo e desenvolvimento sustentável em Bonito-MS: elementos de análise para uma educação ambiental. Campo Grande :Depto de Educação-UFMS (Disser- tação de Mestrado), 1998. _______________. A gênese do turismo em Bonito. In: BANDUCCI JÚNIOR, A ;MORETTI, E. C. Qual Paraíso?; Turismo e Ambiente em Bonito e no Pantanal. Campo Grande, UFMS, e São Paulo: Chronos, 2001, p. 127-149. VASCONCELOS, F. P. (Org.) Turismo e Meio Ambiente. For- taleza, Universidade Estadual do Ceará, 1998. 302 p. 36
  • 37. Anexo Roteiro de entrevista para os clientes “ ecoturistas” Nome _______________________________Sexo: M [ ] F [ ] Idade: ____ Profissão:______________________Escolaridade:________________ Cidade/Estado/País de origem : __________________________ Porque veio a este hotel? O tema socioambiental o sensibiliza?O que tem feito para melhora- lo? O que o tema meio-ambiente significa para você? O que significa ecoturismo para você? Acredita que o ecoturismo contribui para a educação ambiental? Esta atividade que está participando ou o conjunto delas estão permitindo pensar e transformar sua conduta e postura em relação a nosso planeta? Sabe como medir uma eventual mudança na sua conduta? Fale o que deseja. Roteiro de entrevista para guias de ecoturismo Nome _____________________________Sexo : M [ ] F [ ] Idade: ______ Profissão:________________Escolaridade: ________________ Cidade/Estado/País de Origem : _________________________ O tema socioambiental o sensibiliza?O que tem feito para melho- ra-lo? O que o tema meio-ambiente significa para você? E Ecoturismo? Acredita que o ecoturismo contribui para sua Educação Ambiental? Esta atividade que está participando ou o conjunto delas estão permitindo pensar e transformar sua conduta e postura em relação a nosso planeta? Sabe como medir uma eventual mudança na sua conduta? 37
  • 38. Você conhece a Proposta de diretrizes para uma Política Brasileira para o Ecoturismo? Quais são os objetivos do ecoturismo que pratica? Qual o referencial teórico-metodológico de sua prática? Qual o seu conceito de desenvolvimento sustentado que prega em suas atividades? Quais são os impactos positivos e negativos que o ecoturismo que pratica traz a comunidade da cidade onde o resort está situado? Qual o conceito e finalidades da Educação Ambiental que prega em sua prática com o ecoturismo? Em que o ecoturismo tem contribuído para a Educação Ambiental de seus clientes? Fale o que deseja. 38
  • 39. EDUCAÇÃO AMBIENTAL PELO ECOTURISMO, EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: UMA PROPOSTA EFETIVA PARA O PARQUE ESTADUAL DA PEDRA BRANCA (PEPB) – RJ Nadja Maria Castilho da Costa e Vivian Castilho da Costa Introdução Cada vez mais está evidente o interesse da população, princi- palmente urbana, na busca pelo contato com a natureza. Os rema- nescentes de Mata Atlântica nas áreas Naturais Protegidas ou Unida- des de Conservação (UCs) têm suscitado forte preocupação quanto a sua preservação e manutenção. A demanda por essas áreas tem sido muito grande, principalmente nos países que contêm uma grande biodiversidade, como é o caso do Brasil. Seus recursos são raros e, às vezes, únicos, geralmente, caracterizados por uma alta fragilidade e suscetibilidade a perdas irreparáveis, se não forem protegidos e compreendidos pelas próprias populações que os circundam. Neste contexto, vêm surgindo programas de Educação Ambiental 1 , para suprir a necessidade de reorientar hábitos, ______________________________________ 1 PEDRINI (1998), destaca que a Educação Ambiental, no computo global, surgiu a partir da grave situação do uso inadequado dos recursos naturais do Planeta, em diferentes escalas espaciais e temporais. 39
  • 40. atitudes, costumes e valores das comunidades e visitantes que uti- lizam as UCs e seu entorno, assim como a falta de informação e até mesmo de apreciação, das belezas naturais e culturais que es- ses recursos possuem, além de contribuir para a minimização ou solução dos impactos neles causados. Uma das formas de utilização desses recursos que, atual- mente, vem crescendo no mundo é o ecoturismo. Cabe, portan- to, discutir sobre as bases conceituais desse tipo de turismo, como ele vem se desenvolvendo nas áreas legalmente protegidas e quais as possíveis relações e contribuições para a Educação Ambiental, realizada nas UCs de Uso Indireto (Parques Nacionais e Estadu- ais, principalmente). 1. Lazer, Recreação, Turismo e Ecoturismo: A Interface de suas Ações nas Áreas Metropolitanas O progresso tecnológico e organizacional advindos da Revo- lução Industrial fez aumentar a produtividade, reduzir custos e as jornadas de trabalho e elevou o nível de recursos disponíveis para o consumo (inclusive o tempo), alcançando camadas da sociedade cada vez mais amplas. No século XX, o lazer e o turismo surgiram como atividades de massa, trazendo à tona muitas oportunidades de negó- cios e objeto de maiores interesses econômicos. Segundo SONEIRO (1991:215): “quando as sociedades industriais alcançam elevadas taxas de concentração demográfica nas áreas urbanas, o meio natural começa a ser valorizado para o turismo”. Cresce, assim, a busca por paisagens naturais e também pela diversidade dos espaços, valorizando as peri- ferias urbanas (áreas periurbanas) que assumem um papel importan- te, pois são elas que possuem os pontos de atração que passam a ser valorizados, cada vez mais, por todo um sistema. São eles: agências de viagem, empresas aéreas, hotéis, e órgãos do governo, que atraem outras formas de “(re)alimentar” o turismo. Isso é feito através da abertura de lojas de artesanato, de produtos esotéricos e de souvenires, centros culturais e artísticos, entre outros. 40
  • 41. Após a II Guerra Mundial, o turismo e o lazer atingiram um patamar de crescimento que fez com que, do ponto de vista econômico, passassem a ser considerados como “indústrias”, par- ticularmente nas grandes metrópoles. A conseqüente melhora na qualidade de vida, incremento da renda, da capacidade de gastos, redução da carga horária de trabalho, ampliação do período de férias remuneradas e a democratização dos meios de transporte coletivos e particulares, originaram um espetacular desenvolvi- mento da mobilidade espacial da população mundial com fins recreativos (SONEIRO, op. cit.). O estudo do turismo, por sua vez, não pode estar desvinculado da compreensão do conceito de lazer. O turismo é uma atividade que se coloca no âmbito mais amplo do lazer2 . De certo modo, as decisões de “fazer” turismo dão-se, às vezes, em conjunto com algumas atividades de lazer (por exemplo: viajar para ir à Disneyworld) e sempre em detrimento de outras (por exemplo: acompanhar e/ou participar de eventos ou atividades na própria cidade de residência, ao invés de viajar). É preciso, portanto, compreender, também, com bastante profundidade, a questão do lazer e do uso do tempo, para que se possa melhor situar, analisar e gerir as práticas ligadas ao turismo. Discussões a respeito do conceito de recreação e de turismo são infestadas por terminologias imprecisas. Contudo, há um considerável número de trabalhos na literatura que tentam clari- ficar o significado de tais termos, assim como recreação e lazer, que possuem definições universalmente aceitáveis. Alguns conceitos sobre recreação e lazer começaram a sur- gir nos Estados Unidos, em diferentes épocas. Mas, o termo ______________________________________ 2 Essa definição do turismo como atividade de lazer aparece em toda a bibliografia referente a turismo, no exterior e no Brasil. Apesar disso, é importante considerar o fato de que uma categoria especial de viagens, ligada às atividades profissionais, vem crescendo muito no presente. No caso do estado de São Paulo, ela respondeu, segundo a Pesquisa sobre Demanda Turística Internacional de 1998, pela maior parte (56%) dos turistas recebidos naquele estado, no referido ano. 41
  • 42. “lazer”, com significado equivalente a recreação, tem predomínio na Europa e, segundo DUMAZEDIER (1962), embora estejam associados ao mesmo assunto possuem significados sutilmente diferentes. Lazer pode ser considerado como o tempo que se dispõe depois do trabalho, do sono e das tarefas pessoais e domésticas para a pessoa fazer o que quiser, estando associado a uma medida de tempo (“tempo disponível”). A recreação contempla grande variedade de atividades que é empreendida durante o lazer. Fora dos círculos profissionais, provavelmente nunca teve uma palavra ou frase em circulação para descrever aquele tempo que nós utili- zamos como lazer. Assim sendo, lazer, recreação e turismo são abstrações de experiência comum vivida, que só os que estão fora dela podem perceber sua diferenciação. É essa a linguagem acadêmica e a lin- guagem que o planejador está acostumado a pensar (CUNNINGHAM, 1980). A gestão de empreendimentos, tais como: parques temáticos, parques aquáticos, áreas de eventos culturais, exposições, rodeios, clubes de lazer e esportes, dentre muitos outros, não pode prescin- dir de estudos na área do lazer, pois esses locais podem colocar-se na rota de turistas e se caracterizar como atrativos turísticos. Contudo, a relação entre turismo e recreação é bem estreita e a literatura geralmente os enfoca como aspectos relativos ao mesmo fenômeno. Usualmente, estão associados, mesmo porque podem ser encontrados recreacionistas e turistas, juntos, nos mesmos locais, fazendo coisas semelhantes. Segundo CLAWSON & KNETSCH (1974), o lazer é um tempo, enquanto recreação é uma atividade (ou inatividade). Ambos estão altamente correlacionados, mas não são sinônimos. Turismo e recreação, particularmente ao ar livre, têm dois aspectos básicos: a provisão e a demanda por instalações. As interações entre ambos acontecem em várias escalas, refletindo o tempo disponível e as distâncias que podem ser atravessadas duran- te aquele tempo. Há, assim, uma diferença da recreação realizada 42
  • 43. na residência para a recreação realizada à distância. A última, freqüentemente está associada à aquisição de acomodação tem- porária. Isto significa que o turismo pode ser considerado como uma forma extrema de recreação que é distinguida pela relativa longa permanência longe de casa e pela distância percorrida (BRITTON, 1979). Turismo e recreação freqüentemente compartilham as mes- mas instalações e competem por espaço e oportunidades de negó- cios. Podem ser criadas instalações, a exemplo do que ocorre nos parques temáticos, para atrair os turistas e também satisfazer os recreacionistas. Pode existir uma demanda local para novas insta- lações recreativas (por exemplo, montanhas de esqui artificiais), incitadas por experiências sugeridas por turistas estrangeiros. Medidas adotadas para melhorar o ambiente, como por exemplo, conservar e restabelecer paisagens de parques nacionais e monu- mentos históricos, beneficiam a recreação e o turismo. As deman- das e os efeitos de recreação e turismo são, então, muito interrelacionadas. BURKART & MEDLIK (1974:10) descreve- ram a confusa situação, da seguinte forma: “turismo representa um uso particular de tempo desocupado e uma forma particular de recreação, mas não inclui todos os usos de tempo desocupados nem todas as formas de recreação. Inclui muita viagem, mas não toda a viagem. Então, conceitualmente, tu- rismo é distinguido em particular, por um lado, de conceitos relacionados de lazer e recreação, e de via- gem e migração no outro”. Em síntese, turismo compreende uma gama de escolhas ou estilos de recreação, expressa por viagens ou por uma mudança temporária, de seu local de residência. É uma modalidade de lazer ou recreação. O mercado e as mudanças rápidas de tecnologias e nos sistemas social, político e econômico, permitiram às pessoas, 43
  • 44. procurarem novas e diferentes formas de recreação, aumentando a importância do turismo. Segundo MATHLESON & WALL (1982), o turismo possui um desenvolvimento evolutivo ao fazer uso do lazer e, portanto, representa a ampliação da oportunidade para o exercício da escolha dos tipos de atividades recreativas. Uma das modalidades de turismo, que pode apresentar ati- vidades de recreação e lazer, vem crescendo muito no mundo todo, e chama-se turismo ecológico, ou ecoturismo, como é mais conhecidamente denominado. A discussão do ecoturismo no Brasil é relativamente recente. Em 1987, a EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) lançou no mercado um novo produto turístico denominado “Turismo Ecológico”, mas poucos resultados foram obtidos nesta linha de atuação, até o lançamento da publicação “Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo” (BARROS II & LA PENHA, 1994). Nesse documento, o ecoturismo é definido como: “um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. O conceito implica, portanto, em valorização do patrimônio natural e cultural e no compromisso de bem-estar das populações locais, ou seja, é entendido como modalidade de “Turismo Sustentá- vel” e não apenas como um segmento da atividade turística centrada unicamente no “bem natural”. Apesar disso, somente há pouco tem- po o Ecoturismo vem se estruturando como política governamental e tem sido pouco praticado nas Unidades de Conservação, não tendo conseguido a união dos interesses da EMBRATUR com os do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) e demais órgãos de controle ambiental. 44
  • 45. O ecoturismo se caracteriza como uma atividade econômica especial, não somente porque é geograficamente localizada e participativa da própria organização do espaço, mas também porque apresenta uma demanda flutuante ao longo do ano, tendo uma singular preferência na escolha pelos usuários, sendo sua oferta constituída de produtos baseados em atrativos naturais e/ou cul- turais. É aí que reside o perigo de oportunistas, com sua ética empresarial imediatista e selvagem, não darem o adequado valor à matéria prima de seus produtos: o meio ambiente e a cultura, recursos frágeis e de difícil regeneração e/ou reposição. 2. A Educação Ambiental como Alicerce das Atividades Ecoturísticas em Unidades de Conservação Nos últimos anos, o crescimento do turismo, particular- mente do ecoturismo, tem sido considerável e os empresários desse segmento estão otimistas com essa fonte crescente de recursos, que se mostra ecologicamente viável e economicamente lucrati- vo, podendo contribuir à resolução de uma série de problemas, particularmente nas Unidades de Conservação, a exemplo da ma- nutenção e fiscalização de seus ecossistemas. Porém, algumas atividades ecoturísticas podem produzir impactos negativos, dependendo da forma como sejam conduzidas. Na realidade, o grande dilema das Unidades de Con- servação, principalmente aquelas localizadas em áreas urbanas densamente ocupadas, é a preservação da integridade ecológica, concomitantemente ao uso do potencial de seus recursos para o lazer controlado e a recreação. Será que o turismo pode ser visto como uma ferramenta para a conservação e desenvolvimento sustentável? Por que ter turismo ecológico em áreas protegidas? Neste contexto, são inú- meras as iniciativas qualificadas como “ecoturísticas”, no Brasil, que se implantam de forma oportunista e não comprometida. Como desdobramento do problema, em diversos encontros nacionais e 45
  • 46. internacionais sobre o tema, tem sido evidente o grau de distorção conceitual sobre o que vem a ser ecoturismo. Esta divergência filosófica, ideológica e conceitual talvez represente o tópico central a ser equacionado e trabalhado metodologicamente, como ponto de partida para o desenho estratégico de programas efetivos de manejo e Educação Ambiental a serem implantados em UCs. As atividades turísticas têm-se desenvolvido de tal forma que os indivíduos escolhem os lugares que vão visitar, muitas ve- zes, através de critérios que associam aspectos peculiares e especi- ais, ou seja, pela “personalidade do lugar”, pelas características ambientais mais fortes, acabando por relacionar a natureza com os seus costumes e relações sócio-culturais e individuais. Em rela- ção à natureza, o que o turista pode exigir? Uma bela paisagem? Até onde sua capacidade de percepção pode ir? Segundo TUAN (1980:72): “A avaliação do meio ambiente pelo visitante é puramente estética. É a visão de um estranho. O es- tranho julga pela aparência, por algum critério for- mal de beleza. É preciso um esforço especial para pro- vocar empatia em relação às vidas e valores dos habi- tantes. (...) sua percepção freqüentemente se reduz a usar os seus olhos para compor quadros.” A experiência e visão de mundo desempenham importante papel no desenvolvimento da percepção, pois o contato direto com a paisagem permite ao indivíduo construir seu espaço perceptivo justificando, assim, um estudo de paisagens da nature- za, conduzindo para a elaboração de programas de Educação Ambiental. No entanto, um mesmo lugar pode ser vivido de diferentes formas e a paisagem pode deteriorar-se, se for usada para exercícios da atividade turística das mais diversas formas, evidentes ou não. A transformação dos espaços naturais para implantação de edificações é uma delas. 46
  • 47. Algumas razões merecem destaque para a utilização do tu- rismo ecológico, particularmente em Unidades de Conservação, tanto sob o ponto de vista ambiental quanto sócio-econômico. Uma dessas razões é que a atividade ecoturística deve levar em conta as características das comunidades locais (dos receptivos), colaborando com a mentalidade comercial do núcleo, a fim de permitir e promover melhores meios de sobrevivência e qualidade de vida para sua população. BARRETO & SORRENTINO (1996), destacam “o isola- mento das Unidades de Conservação em relação à comunidade em ge- ral”, exceto em poucas atividades onde as comunidades se tornam apenas receptoras de informações, com destaque para importância destas áreas para o meio ambiente. Outra questão a se considerar refere-se às bases econômicas que norteiam o verdadeiro ecoturismo, que são antagônicas às do turismo de massa, orientado para maximizar receitas ao invés de resultados. A maximização de receitas, que implica em atrair o maior número possível de turistas, impactando atrativos, não com- bina com o ecoturismo, que aponta para a maximização de resul- tados, o que pode ocorrer em níveis baixos de visitação, uma vez que os custos, e, principalmente, os impactos ambientais e/ou culturais podem aumentar mais rapidamente do que as receitas, quando se têm altos níveis de visitação. É preciso lembrar que todo tipo de turismo tem um custo ambiental e/ou cultural. Paralelamente a isso, as localidades turísticas têm dificul- dades em solucionar os problemas de saneamento básico, pois a demanda sobre estes serviços é multiplicada e, às vezes, são im- próprias a um aporte maior de visitantes em épocas de alta tem- porada e fins de semana prolongados. Por sua vez, na formação de centros turísticos, a população nativa é freqüentemente afastada de seu local de moradia e de sua atividade de origem. Essas considerações nos permitem destacar que a abordagem perceptiva ambiental e a educação, tanto das populações locais como de seus visitantes, é significativa para o entendimento das 47
  • 48. relações resultantes das experiências vividas com as paisagens das áreas preservadas e que pode, também, servir de fundamentação para a implantação de programas cujo objetivo seja o de melhorar a qualidade de vida da população, reforçada pela elaboração de pro- postas de Educação Ambiental para essas comunidades. MANOSSO (2001) destaca que a EA para aqueles que praticam o Ecoturismo deve ser desenvolvida de maneira diferen- ciada da forma tradicional. Segundo ele, o ecoturista deve ter um mínimo de conhecimento sobre as características geo-ambientais da área onde serão efetuadas as atividades e sobre as relações sócio- ambientais existentes, considerando que as UC´s têm caracterís- ticas próprias e, muitas vezes, únicas, que devem ser levadas em conta nos trabalhos de capacitação do público-alvo. Neste sentido, uma avaliação espacial multi e interdisciplinar dos vários aspectos do meio físico-biótico e sócio-econômico de uma UC, torna-se fundamental, como subsídio às práticas educativas. O uso de ferramentas, a exemplo das técnicas e softwares de geoprocessamento3 , conduzirá a uma análise integrada dos dados de maneira precisa e passível de ser atualizada de forma rápida e eficaz. Uma das formas mais eficientes para transferir tais conhe- cimentos, tanto para os visitantes quanto para os moradores do interior e entorno de uma área protegida, é através da realização de cursos de capacitação para professores, particularmente das escolas situadas em sua periferia. Estes serão os verdadeiros difusores de conhecimento para os interessados, não somente em conhecer a UC, mas também de participar ativamente da prote- ção de seus recursos naturais. Os professores devem compreender ações de Educação Ambiental formal e informal. Segundo TABANEZ et al (1996), no que diz respeito à educação informal, ______________________________________ 3 O uso de softwares de SGI (Sistema Geográfico de Informação), tais como: Arcview, Idrisi, Spring, Mapinfo, entre outros. 48
  • 49. o processo é complexo, porém necessário na medida em que eles serão os responsáveis pela implantação de uma conscientização conservacionista, numa geração altamente receptiva de conheci- mento e ávida por aplicá-lo em termos práticos e efetivos, quais sejam: as crianças e os adolescentes. 2.1 - A Importância do Uso da Recreação Florestal nas Unidades de Conservação Conforme foi mostrado anteriormente, a recreação, em geral, está associada às atividades ecoturísticas, podendo ser de- senvolvida em áreas naturais, devendo estar condicionada a míni- ma ou nenhuma alteração do patrimônio natural, ou seja, a cons- trução de infra-estrutura aos visitantes, como abertura de estra- das, trilhas ou áreas de camping, devem causar o menor impacto paisagístico e ambiental possível. Ainda, como uma norma geral, a recreação em Unidades de Conservação não deve ocorrer sem a efetivação de programas integrados de Educação Ambiental. Essa Educação Ambiental deve ter como um de seus objetivos, dar oportunidade de obtenção de conhecimento sobre os diversos recursos naturais, a mais variada clientela. Neste sentido, a recreação florestal é um recurso muito utiliza- do no ecoturismo. CLAWSON & KNETSCH (op. cit.) dividiram a recreação em dois tipos distintos: recreação em ambientes fechados ou cobertos (indoor recreation) e recreação ao ar livre (outdoor recreation), mas foi DOUGLASS (1972) que avaliou que a recreação florestal seria qualquer forma de recreação ao ar livre, particularmen- te em área florestada. No Brasil, o termo “recreação florestal” é mais empregado para trabalhos técnicos ligados à conservação da nature- za. As áreas legalmente protegidas são os locais mais apropriados à sua prática, tendo no seu bojo, a Educação Ambiental. Segundo MILANO (1997:49), a Educação Ambiental em UCs deve usar processos recreativos, principalmente através da interpretação da natureza. Ele define a interpretação como sendo: 49
  • 50. “... uma atividade educativa, cujo propósito é dar a conhecer o significado dos recursos através de aspectos originais, por experiência direta ou por meios ilustrativos, ao invés do simples comunicar de sua significância ou importância. As técnicas de interpretação em áreas silvestres objetivam confun- dir as atividades de recreação e educação, impercep- tivelmente, de maneira que o visitante desenvolva sua Educação Ambiental sem se perceber disso.” Portanto, interpretação ambiental é a tradução da linguagem da natureza para a linguagem comum dos visitantes, fazendo com que os ecoturistas sejam informados e educados, além de divertidos, podendo utilizar como “arma” de interação, a recreação florestal. O objetivo fundamental da interpretação não é somente instrução, mas a provocação. Deve despertar curiosidade, ressaltando o que parece insignificante. Deve ser dirigida para cada tipo de público (diferenci- ado para crianças e adultos) e de interesse especial. Ao mesmo tem- po, deve relacionar os objetos de divulgação ou interpretação com a personalidade ou experiência das pessoas a quem se dirige. A informação como tal, não é interpretação. A interpretação é uma forma de comunicação que vai além da informação, tratan- do dos significados, interrelações e questionamentos. Toda a inter- pretação inclui informação, sendo uma arte que combina muitas artes (sejam científicas, históricas, arquitetônicas), para explicar os temas, utilizando todos os sentidos para construir conceitos e pro- vocar reações no indivíduo. Deve tratar do todo, em conjunto, e não de partes isoladas e os temas devem estar interrelacionados. 2.2 – O papel das trilhas interpretativas como veículo de Educação Ambiental Como foi dito anteriormente, a interpretação ambiental não somente promove a informação, mas proporciona e incentiva 50
  • 51. a integração do homem com a natureza. Neste sentido, a inter- pretação serve como uma ferramenta da educação ambiental para a solução dos problemas ligados a manutenção e conservação de áreas naturais e vem se destacando como importante instrumento de “manejo de visitantes”, como afirma DELGADO (2000:156): “É uma atividade educativa, que não necessaria- mente faz parte de um processo, mas de uma estraté- gia de manejo para minimizar os problemas decor- rentes do uso público de uma determinada área ou região”. Como este mesmo autor denota, as atividades interpretativas podem chegar a formar parte de uma estratégia educativa e ser uma importante arma redutora dos impactos socioambientais das atividades econômicas humanas, principalmente quando integradas ao turismo de massa. A implantação de trilhas interpretativas em Unidades de Con- servação deve, portanto, ser pensada através do método personaliza- do, como ressalta Delgado, pois exige a presença e a participação de um guia ou intérprete. As trilhas interpretativas personalizadas são também denominadas por outros pesquisadores, de trilhas interpretativas guiadas. Tais trilhas são as mais indicadas para a implementação de atividades de Educação Ambiental em áreas naturais, pois é o mais conhecido instrumento que guias turísticos e intérpretes utilizam para os visitantes de UC´s e o método que mais apresenta facilidades na transmissão de conhecimentos em programas de EA ao ar livre. As trilhas interpretativas se diferenciam de outras trilhas (das que são simplesmente voltadas a caminhadas e excursões), pois exigem um planejamento adequado das atividades recreati- vas a serem desenvolvidas nelas e de seus produtos turísticos, já que “ganham tratamento interpretativo quando indicadas às paradas de interpretação, ou ainda possuir placas interpretativas nos lugares 51
  • 52. mais estratégicos” (DELGADO, op. cit.:164). TABANEZ et al (1997:89) também destaca essa diferenciação, afirmando que as trilhas interpretativas proporcionam “oportunidade de contato di- reto com o ambiente natural, direcionado ao aprendizado e à sensibilização” dos visitantes e turistas que as utilizam. Enfim, deve existir nas áreas legalmente protegidas uma perfeita parceria entre o ecoturismo, a interpretação através de trilhas e a educação ambiental, pois só assim haverá um maior e melhor aproveitamento das atividades que, certamente tem que contemplar simultaneamente: conhecimento científico, aprecia- ção dos recursos naturais e redução dos impactos sócio-ambientais. 3 - Propostas Efetivas de Educação e Interpretação Ambiental no Manejo do Parque Estadual da Pedra Branca – PEPB (município do Rio de Janeiro) O Parque Estadual da Pedra Branca localiza-se na porção central do município do Rio de Janeiro, totalizando uma superfí- cie de 12.398 ha. Trata-se da segunda mais importante Unidade de Conservação da cidade, tendo sido criada em 1974, através da Lei Estadual no. 2.377 de 28 de junho. Apesar dos quase trinta anos de existência, somente a par- tir de 1995, estudos sistemáticos começaram a se desenvolver, culminando com a realização de seu Plano Diretor, ainda em fase de conclusão (COSTA, 2002). Nele, o diagnóstico ambiental mostra que, em 1996, já existia cerca de 1.000 famílias residentes em seu interior e 15.000 famílias em sua periferia próxima (entre as cotas 50 e 100 m)4 . Hoje, esses números devem ter triplicado, em face ao crescimento acelerado que a zona oeste da cidade do Rio de Janeiro vem apresentando. Isso significa que a Unidade de ______________________________________ 4 O limite da área protegida corresponde a todo maciço montanhoso acima da cota de 100 m de altitude. 52
  • 53. Conservação vem sofrendo forte pressão antrópica, traduzida no aumento crescente da população em seu interior, apesar do status de área protegida. MARICATO (1996), destaca a relação existente entre a desvalorização para o mercado imobiliário, das terras que se en- contram legalmente protegidas, e o fato de exercerem atração para ocupação ilegal pela população pobre. A posição negligente da fiscalização facilita o seu processo de ocupação (grilagem e posse), pois os invasores não encontram resistência quando efetuam o assentamento. Para isso não ocorrer, a população urbana próxi- ma e dentro do Parque necessita se inserir no processo de manejo efetivo do mesmo, considerando que, a ação de desapropriação de um número tão elevado de pessoas, não deverá ocorrer5 . Assim sendo, há a necessidade de uma ação integrada e, conseqüentemen- te, harmoniosa entre aqueles que querem preservar e/ou conservar seus recursos naturais e os que residem em seu interior, pois só assim os objetivos práticos de manejo poderão ser alcançados. A Educação Ambiental se constitui numa dessas ações. Segundo VASCONCELOS (1997), ela é um processo permanente no qual as comunidades tomam consciência do seu meio ambiente e ad- quirem conhecimentos, habilidades, experiências e valores que as tornam capazes de agir, individualmente ou coletivamente, na busca de soluções para os problemas ambientais. Várias deverão ser as formas de desenvolvimento de práticas educativas, com destaque para: (a) a questão das áreas de risco de deslizamentos, considerando que todo maciço da Pedra Branca se constitui em área de alta vulnerabilidade a ocorrência de movi- mentos de massa; e (b) a questão do ecoturismo, que poderá, a médio e longo prazo, proporcionar geração de emprego e renda à população e auto-sustentabilidade para o Parque. Nos dias atuais, ______________________________________ 5 A regularização fundiária é um dos graves problemas enfrentados pela grande maioria das unidades de conservação que comportam ocupantes em seu interior. 53
  • 54. programas que gerem recursos financeiros, tanto para a Unidade de Conservação, quanto para os que nela residem, são oportunos e fatalmente conduzirão ao desenvolvimento integrado da região. 3.1 - O ecoturismo no PEPB: integrando lazer, recreação e Educação Ambiental Os programas educativos normalmente desenvolvidos em áreas públicas, particularmente naquelas legalmente protegidas, estão direcionados principalmente ao público visitante, seja ele residente ou não na Unidade de Conservação. SIRKIS (1999) ressalta que eles devem contemplar: sinalização ecológica, trilhas, coleta seletiva do lixo e elaboração de material educativo (folhe- tos, folders, vídeos, etc.) que mostre, não somente noções de meio ambiente e legislação, como também as principais características da área. Porém, no caso do Parque Estadual da Pedra Branca, que é uma Unidade de Conservação urbana com população residente em seu interior, as práticas educativas devem estar direcionadas, também, aos moradores que poderão se converter em monitores ambientais, voltados simultaneamente, à proteção do meio ambi- ente local e fomento as atividades ecoturísticas, mantendo contato direto com os usuários. Essas práticas, envolvendo a população residente no interior e periferia próxima ao Parque, terão outra função importante, que é minimizar os conflitos de interesses entre ela e a adminis- tração da Unidade, proporcionando a adesão dos moradores à tarefa de conservação dos recursos naturais e fomento ao ecoturismo local, num processo de planejamento e gestão participativa. Os estudos realizados para o Plano de Manejo do PEPB (COSTA, op. cit.), apontaram algumas áreas com forte potencial para o desenvolvimento do ecoturismo e lazer. Nelas, essas ativi- dades, de certa forma, já vêm sendo desenvolvidas, porém, de maneira incipiente e caótica, sem planejamento e controle dos 54
  • 55. usuários que as freqüentam. Um dos exemplos marcantes é a re- presa do Camorim, em sua vertente leste (próxima ao bairro de Curicica, Jacarepaguá). Uma parcela significativa dos visitantes chega ao açude, de rara beleza, através de trilhas alternativas, burlando a fiscalização do Parque (localizada na trilha principal). Isso vem acarretando sérios problemas ambientais, principalmente no que diz respeito ao comprometimento da qualidade de suas águas, que abastecem a baixada de Jacarepaguá. Uma das formas pensadas para conciliar ecoturismo e con- servação dos recursos naturais da área são o desenvolvimento de programas de educação/interpretação ambiental6 . Eles deverão ser utilizados como veículos de mudanças, com efeitos importan- tes na reorientação de hábitos e valores das comunidades usuárias da Unidade de Conservação. Permitirão que a população (parti- cularmente a residente) encontre em seu interior, um local de lazer, recreação e práticas ecoturísticas, simultaneamente ao apren- dizado e melhoria da qualidade de vida. 3.1.1 – Planejamento e implantação de trilhas interpretativas: aliando comunidades residentes e visitantes no processo de EA. Um dos fatores preocupantes no manejo do PEPB diz res- peito ao crescimento da população que reside no seu interior e periferia próxima. A expectativa é que hoje, residam no interior da gleba, cerca de 3.000 famílias e em sua periferia, 20.000. Isso conseqüentemente gera um aumento no número de visitantes e/ ou pessoas que transitam por suas trilhas. FIGUEIREDO (1999) ressalta que as atividades de manejo de áreas naturais protegidas ______________________________________ 6 A interpretação ambiental é uma prática bastante antiga. Foi proposta pela pri- meira vez, em 1957, por Freedman Tilden e se constitui numa atividade educativa que tem por objetivo, revelar os significados e as relações existentes no meio ambiente, por meio de objetos originais e ilustrações, ao invés de simplesmente comunicar a formação literal, sendo uma maneira estimulante da pessoa aprender, em linguagem acessível (VASCONCELLOS, op. cit.). 55
  • 56. envolvendo populações, devem acabar com as barreiras das relações interpessoais, superando as limitações impostas pelas burocracias institucionais e pela falta de um planejamento participativo. Deve- se, porém, tomar cuidado com o processo de “invasão cultural” procurando realizar um trabalho “com as populações envolvidas e não para elas”. Neste sentido, todos os atores do processo deverão ser beneficiados. Destaca ainda que os administradores das UCs e os empreendedores do ecoturismo devem não somente respeitar a população local, mas também reconhecê-la como agente trans- formador e coadjuvante da proteção ambiental. No caso específico do PEPB, há que se distinguir a popula- ção tradicional, que já reside no local há mais de 30 anos, ou seja, antes da criação da Unidade de Conservação - com suas raízes e valores a serem preservados - daquelas que invadiram o Parque recentemente, em busca de moradia, e pouca ou nenhuma iden- tidade tem com ele. Apesar da necessidade e importância da par- ticipação de todos no processo educativo voltado ao ecoturismo conservacionista, a contribuição da primeira, sem dúvida é mais significativa, pelo conhecimento da realidade local e, seguramen- te maior interesse na proteção dos recursos naturais. Neste senti- do, deve haver um esforço ainda maior pra integrar o chamado “etnoconhecimento” dos moradores mais antigos (DIEGUES, 1999) aos planos de manejo, bem como das ações educativas a eles direcionadas . As atividades educativas e recreativas em áreas florestais são, em grande parte, realizadas através de programas de uso público em trilhas de interpretação ambiental. ANDRADE & ROCHA (1990) afirmam que ainda é incipiente, no Brasil, o processo de implantação de trilhas de interpretação e isso obviamente se apli- ca ao PEPB. Dentre os vários problemas encontrados à sua im- plantação, destacam-se os mesmos colocados pelo autor, quais sejam: abandono, falta de infraestrutura adequada, falta de ma- nutenção, problemas erosivos (a exemplo da trilha que leva ao açude do Camorim), ausência de segurança, e falta de estudos 56
  • 57. que avaliem seu real potencial educativo e sua capacidade de carga quanto à visitação. A determinação da capacidade de carga em trilhas é usual- mente obtida, pela maioria dos estudiosos - principalmente os engenheiros florestais e biólogos - através da metodologia pro- posta por CIFUENTES (1992) com base em números de visitas/ tempo/sítio. Essa metodologia mostrou-se prática, porém não consegue apresentar uma visão conjuntural dos condicionantes físico-ambientais presentes nos pontos mais vulneráveis das tri- lhas, principalmente no item manutenção, pois a capacidade de manejo inclui fatores extremamente mutáveis e que se expressam nas suas condições estruturais. De acordo com WAGAR (1964, apud TAKAHASHI, 1997:66), a capacidade de carga recreativa “é um conceito adapta- do, emprestado do manejo de pastagens, criado para buscar um nú- mero ideal de visitantes que uma área pode tolerar, enquanto fornece uma qualidade sustentada de recreação”. Ele afirma ainda que a capacidade de carga recreativa não é um valor absoluto, inerente somente as características ecológicas de cada área, mas também, uma experiência psicológica, dependente das expectativas dos vi- sitantes em relação ao que poderá ser feito e/ou visto na região. Segundo TAKAHASHI (1997), devem ser feitas reavaliações com base em experiências de manejo que conduzi- ram a uma idéia de capacidade de suporte (ou carga) calcada, não necessariamente no número de visitantes, mas em seu comporta- mento, sendo os recursos adequados e as condições sociais, os principais indicadores a serem considerados. Com base nessa pre- missa, o PEPB demanda urgentemente que estudos dessa natureza sejam realizados, considerando a ausência de efetivo planejamento do ecoturismo e lazer controlado em seu interior. Tais estudos encontram-se, atualmente, em andamento e a metodologia que está sendo aplicada, encontra-se detalhada em trabalhos recentes de COSTA, et al (2003); COSTA & MELLO (2005) e COSTA & COSTA (2005). 57
  • 58. No entanto, para que se estabeleça um programa educativo, turístico e/ou recreativo, faz-se necessário uma avaliação técnica das trilhas passíveis de serem utilizadas para tal, a fim de que pos- sam suportar um mínimo impacto de seu uso. Inclui-se aí uma definição dos seus limites de utilização (capacidade de suporte), além da criação de uma infraestrutura básica para a mesma (sina- lização, segurança e manutenção). Os impactos decorrentes do uso devem ser monitorados de forma a que sejam adotadas atitudes de manejo adequadas, antes que o ambiente atinja um grau de deterioração irreversível, tais como: a perda da cobertura vegetal mais sensível, desmoronamen- tos/deslizamentos e comprometimento da qualidade da água, colo- cando, inclusive, o visitante em situação de vulnerabilidade. Neste sentido, é extremamente importante a interrelação da capacidade de carga e de manutenção das trilhas com as condicionantes geo- ambientais (declividade do terreno, solos, ocorrência de processos erosivos, uso do solo, dentre os principais). STANKEY et al (1985, apud TAKAHASHI, 1997 e 1998), por outro lado, ao defender o “Limite Aceitável de Câmbio – LAC7 ”, colocam que “não existe relação direta entre o número de visitantes e a quantidade de impactos negativos em uma área”, e que esses impactos estão muito mais ligados ao comportamento dos visitantes, do que propriamente ao número de pessoas que visitam. É evidente que os impactos negativos estão muito ligados à qualidade do uso, mas não deve ser descartada nem desmerecida a variável quantitativa, mesmo sendo difícil e questionável sua mensuração. Mesmo que todos os visitantes sejam “comporta- dos”, há de se chegar a um limite de suportabilidade (do ambien- te e dos próprios visitantes) ditado, de certa forma, pela quanti- dade de pessoas que transitam nas trilhas, sob determinados ______________________________________ 7 O “LAC” – concepção que se opõe à “Capacidade de Suporte” – usa a variável comportamental para definição dos limites de utilização de uma área. 58
  • 59. condicionantes geo-ambientais. Por isto é que a sua capacidade de suporte é tão importante e tão utilizada pelos pesquisadores. Uma vez quantificada a capacidade de carga dessas trilhas, pode- rão ser analisadas as formas necessárias de melhorar sua infraestrutura, além da implementação de obras de segurança/ proteção das trilhas e dos visitantes, com o intuito de minimizar os processos erosivos, e até, em última instância, evitar caminha- das, nos trechos de maior risco. Tais medidas visam conciliar o uso recreativo destas áreas com seus outros objetivos primários, como por exemplo, a con- servação dos recursos naturais e a pesquisa científica, além de estruturar os locais designados para o desenvolvimento de ativi- dades de uso público que devem ser manejados para controlar os efeitos negativos sobre o ambiente e para garantir a qualidade da experiência do visitante. 4- Considerações Finais O meio ambiente, como um bem a ser protegido, tem con- seguido, atualmente, significativa importância nos processos de tomada de decisão nas diferentes esferas de poder e, cada vez mais, a Educação Ambiental tem sido um veículo importante na implementação de ações transformadoras que conduzam, con- cretamente, ao desenvolvimento sustentável. Neste contexto, a integração entre práticas educativas e ati- vidades que conduzam a melhoria da qualidade de vida e gerem renda às comunidades locais, torna-se necessária. Inserir a Educação Ambiental nas atividades ecoturísticas desenvolvidas em áreas le- galmente protegidas é um bom exemplo. As mudanças de com- portamento em relação ao meio ambiente somente ocorrerão quando a sociedade, em geral, tiver assimilado, conscientemente, a idéia de harmonizar as preocupações e valores dos indivíduos com os problemas concretos da proteção à natureza, num contexto integrado e associativo entre sujeito e objeto (homem-natureza). 59
  • 60. Conceber uma Educação Ambiental que responda, de ma- neira eficaz, as expectativas de todos os atores envolvidos, com- preende não somente a aquisição de novos conhecimentos e téc- nicas, como também a realização de trabalhos orientados para o presente e o futuro, indo muito além de uma visão imediatista da resolução dos problemas sócio-ambientais. O PEPB, como um exemplo de UC urbana que sofre os efeitos da pressão populacional, mais do que qualquer outra área protegida, deve promover atividades de ecoturismo que estejam fortemente embasadas em ações educativas. Os pesquisadores envol- vidos e os administradores, por sua vez, devem direcionar seus proje- tos para a implementação de programas que incluam o ensino da EA em escolas e no treinamento de guias e monitores ambientais de Parques, mostrando os valores e benefícios dos princípios ecológicos e de atitudes corretas de preservação dos recursos naturais. Agradecimentos À WWF-Brasil, pelo apoio financeiro do Programa Natu- reza e Sociedade (NATSOC) e ao CNPq, pela bolsa de doutora- do de Vivian Castilho da Costa. 5 – Bibliografia Citada ANDRADE, W. J. & ROCHA, L. G. Planejamento, Implanta- ção e Manutenção de Trilhas. In: CONGRESSO FLORESTAL BRASILEIRO, 6., 1990, Campos do Jordão. Anais... Campos do Jordão: SBS/SBEF, 1990. p. 35-47. BARRETO, K. D. & SORRENTINO, M. A Educação Ambiental nas Unidades de Conservação do Estado de São Paulo e Chile. In: FOREST´96 – CONGRESSO E EXPOSIÇÃO IN- TERNACIONAL SOBRE FLORESTAS. 2., 1996, Belo Hori- zonte. Resumos… Belo Horizonte: Biosfera, 1996. p. 345. 60
  • 61. BARROS II, S. M. & LA PENHA, D. T. M. de. (Coords.) Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo. Brasília: EMBRATUR / IBAMA - BSB, 1994. (Informativo). BRITTON, R. Some Notes on the Geography of Tourism. [S.I.]: Canadian Geographer, v. 23, p. 276-282, 1979. BURKART, A. J. & MEDLIK, S. Tourism: Past, Present and Future. London: Heinemann, 1974. 256 p. CIFUENTES, M. Determinación de Capacidad de Carga Turística em Áreas Protegidas. Turrialba, Costa Rica: Centro Agronômico Tropical de Investigacion y Enceñanza - CATIE. Programa de Manejo Integrado de Recursos Naturales, 1992. 28 p. (Série técnica, 194). CLAWSON, M. & KNETSCH, J. L. Economics of Outdoor Recreation. Maryland: The Johns Hopkins Press, 1974. 178 p. COSTA, N. M. C. da. Análise Ambiental do Parque Estadual da Pedra Branca, por Geoprocessamento: Uma Contribuição ao seu Plano de Manejo. 2002. 317 p. v. 1. Tese Doutorado - Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG), Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. COSTA, N. M. C. da; et al. A Inserção das Escolas no Manejo do Parque Estadual da Pedra Branca. In: VII Encontro de Educação Ambiental do Estado do Rio de Janeiro. 1. 2003, Rio de Janeiro. Anais..., Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2003. p. 18-29. COSTA, V. C. da & MELLO, F. A. P. Manejo e Monitoramento de Trilhas Interpretativas: Contribuição Metodológica para a Per- cepção do Espaço Ecoturístico em Unidades de Conservação. In: 61
  • 62. Simpósio Nacional sobre Geografia, Percepção e Cognição do Meio Ambiente – SINPEC, 1., 2005, Londrina. Anais… Lon- drina: Laboratório de Pesquisas Urbanas e Regionais, Deptº de Geociências, UEL, 2005. Cd-rom. Seção temática: Natureza e Turismo em Áreas Protegidas: Os Conflitos de Percepção. COSTA, V. C. da & COSTA, N. M. C. da. Determinação da Capacidade de Suporte e Monitoramento de Impacto de Visitação (MIV) das Trilhas do Rio Grande e Camorim: Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB-RJ). In: XI Simpósio Brasileiro de Geo- grafia Física Aplicada, 1., 2005, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 2005. Cd-rom. CUNNINGHAM, H. Leisure in the Industrial Revolution. London: Croom Helm, 1980. 225 p. DELGADO, J. A Interpretação Ambiental como Instrumento para o Ecoturismo. In: SERRANO, C. (Org.). A Educação Pe- las Pedras: Ecoturismo e Educação Ambiental. Chronos: [s.n.] (Coleção Tours), 2000. p. 155-169. DIEGUES, A. C. S. As Áreas Naturais Protegidas, o Turismo e as Populações Tradicionais. 2. ed. In: SERRANO, C. M. T. e BRUHNS, H. T. (Orgs.). Viagens à Natureza; Turismo, Cultura e Ambiente. Campinas: Papirus (Coleção Turismo), 1999. p. 85-102. DOUGLASS, R. W. Forest Recreation. New York: Pergamon Press, 1972. 175 p. DUMAZEDIER, J. Vers une civilisation du loisir? Paris: [s.n.], 1962. p. 23-28. FARIA, H. H. de; et al. Estudo da Capacidade de Carga Turística de uma Área de Recreação da Estação Experimental e Ecológica 62
  • 63. de Itirapina, São Paulo. In: Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. 1., 1997, Curitiba. Anais... v. II, Curitiba: UNILIVRE / Rede Nacional Pró Unidades de Conservação / IAP, 1997. p. 320-332. FIGUEIREDO, L. A. V. de. Ecoturismo e Participação Popular no Manejo de Áreas Protegidas: Aspectos Conceituais, Educativos e Reflexões. 2. ed. In: RODRIGUES, A. B. (Org.). Turismo e Ambiente: Reflexões e Propostas, São Paulo: Hucitec, 1999. 177 p. MANOSSO, F. C. O Ecoturismo e a Educação Ambiental como Atividades Norteadoras do Desenvolvimento Econômico e So- cial. Publicação eletrônica [mensagem pessoal]. Mensagem rece- bida por: <educacao_ambiental@grupos.com.br> em 24 out. 2001. Disponível em: <http:// www.turismoeprogresso.hpg.ig.com.br/n2/n2ecoturismo. htm>. MARICATO, H. Urbanismo na Periferia do Capitalismo: De- senvolvimento da Igualdade e Contravenção Sistemática. In: ________. Metrópole na Periferia do Capitalismo: Ilegalidade, Desigualdade e Violência. São Paulo: HUCITEC, 1996. cap. 2, p. 21-52. MATHLESON, A. & WALL, G. Tourism: Economic, Physical and Social Impacts. London and New York: Longman, 1982. 208 p. MILANO, S. M. Unidades de Conservação: Conceitos Básicos e Princípios Gerais de Planejamento, Manejo e Administração. In: Manejo de Áreas Naturais Protegidas. Curitiba: UNILIVRE, 1997. (Apostila – UNILIVRE, 1). p. 1-60. PEDRINI, A. de G. Trajetórias da Educação Ambiental. In: ________. Educação Ambiental: Reflexões e práticas contem- porâneas. Petrópolis: Vozes, 1998. cap. 1, p. 21-87. 63
  • 64. SIRKIS, A. Ecologia Urbana e Poder Local. Rio de Janeiro: Fundação Onda Azul, 1999. 318 p. SONEIRO, J. C. Aproximation a la Geografia del turismo. Madrid: Editorial Sínteses, Colecion Espacios y Sociedades, 1991. (Serie general, 21). STANKEY, G. H. et al. Carrying Capacity of Recreation Set- tings. A Literature Review Management. New York: [s.n.], 1985. 47 p. TABANEZ, et al. A Eficácia de um Curso de Educação Ambiental Não Formal para Professores numa Área Natural - Estação Ecológica dos Caetetus – SP. Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 8, n. 1, p. 71-88. 1996. _______________. Avaliação de Trilhas Interpretativas para Edu- cação Ambiental. In: PADUA, S. M. e TABANEZ, M. F. (Orgs.). Educação Ambiental – Caminhos Trilhados no Brasil. Amazô- nia: IPÊ, 1997. p. 89-102. TAKAHASHI, L. Y. Bases Gerais sobre Recreação, Capacidade de Carga e Limite Aceitável de Câmbio (LAC). In: Manejo de Áreas Naturais Protegidas. Curitiba: UNILIVRE, 1997. (Apos- tila: UNILIVRE, 1). p. 61-75. _______________. Caracterização dos Visitantes, suas Prefe- rências e Percepções e Avaliação dos Impactos da Visitação Pú- blica em Unidades de Conservação do Estado do Paraná. 1998. 129 p. Tese Doutorado - Setor de Ciências Agrárias, Universida- de Federal do Paraná, Curitiba. TUAN, Y-F. Topofilia. Um Estudo da Percepção, Atitudes e Va- lores do Meio Ambiente. São Paulo: DIFEL, 1980. 178 p. 64
  • 65. VASCONCELOS, J. M. de O. Programas de Educação e Inter- pretação Ambiental no Manejo de Unidades de Conservação. In: Manejo de Áreas Naturais Protegidas. Curitiba: UNILIVRE, 1997. (Apostila: UNILIVRE 1). p. 77-96. WAGAR, J. A. The Carrying Capacity of Wild Lands for Rec- reation. Washington: Forest Science – Monograph 7, 1964. 24 p. 65
  • 66. 66
  • 67. O ENSINO A DISTÂNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL DIRECIONADO PARA O ECOTURISMO: A EXPERIÊNCIA NO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO POR TUTORIA A DISTÂNCIA EM ECOTURISMO DA UFLA/FAEPE (2000-2003) Cristhiane Oliveira da Graça Amâncio Este trabalho é o relato de uma experiência profissional com professora de educação a distância em educação ambiental. As opiniões aqui apresentadas refletem exclusivamente esta expe- riência o que não descontextualiza a realidade do curso no perío- do em que este foi ofertado. É muito importante que as diferen- tes experiências com educação ambiental sejam relatadas para se refletir tanto sobre as vantagens como com as desvantagens da utilização desta ciência interdisciplinar de maneira indiscriminada como se fosse um pacote tecnológico. 1- O Ecoturismo no Brasil. O ecoturismo ou qualquer outra denominação que este segmento do turismo venha a receber, surgiu para determinar um ramo do turismo que especifique viagens ou processos de conhe- cimento de realidades sobre um local que tenha áreas naturais onde determinadas pessoas pretendem se inserir, mas não morar 67
  • 68. (RODRIGUES, 1999). Esta autora critica os diversos estudos vinculados ao ecoturismo que acontecem pelo país e que não con- sideram outros fatores determinantes do fenômeno do turismo. O que tem sido observado é uma visão simplista e limitada de um segmento do turismo, forte e sério que, apesar do apelo interdisciplinar ou transdisciplinar e ecológico (mesmo que no sentido stricto da palavra), não assume tal compromisso. Oficialmente o ecoturismo é conceituado como um seg- mento do turismo que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio cultural e natural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas no processo (EMBRATUR, 1994). Para tal afirmação, os envol- vidos no desenvolvimento do ecoturismo devem ter claro o que se entende por sustentabilidade (de que, para quem e para o quê), interpretação ambiental e conservação dos recursos naturais. Além dos conhecimentos básicos que estão ligados ao turismo. O ecoturismo tem forte ligação com os movimentos sociais ambientalistas, sejam eles de visão mais ecológica ou ecodesenvolvimentista. Este segmento tem procurado se firmar no cenário nacional baseado no apelo socialmente correto, como uma alternativa econômica à população residente próxima aos locais com potenciais ecoturísticos. Para que se cumpra os reais propósitos do ecoturismo, propósitos estes caracterizados em diversas conceituações encontradas na literatura mundial, serão necessários muitos estu- dos e esforços práticos para acompanhar a evolução meteórica que este segmento do turismo assumiu. Para tal, faz-se necessário assu- mir uma outra postura como pesquisador, pois dentro do ecoturismo há vários conceitos que devem ser considerados, tal como o de eco- logia, o de antropologia, o do próprio turismo, entre outros. As- sim, as pesquisa terão que passar a ter um enfoque mais biocêntrico que antropocêntrico (RODRIGUES, 1999). O rompimento com o mito da natureza intocada é funda- mental para a promoção do ecoturismo de forma responsável, 68
  • 69. pois a partir daí o homem passa a ser inserido na natureza, como agente e receptor de ações ligadas a ela. Mas vale ressaltar, que além das denominações conceituais que o ecoturismo possui, ele é antes de mais nada uma postura do ser humano. É de se concordar, que para se colocar em prática os propó- sitos estabelecidos oficialmente para a promoção do ecoturismo, tem que se romper com todo um processo de desenvolvimento sócio-econômico que está estabelecido há mais de um século. O fato é que tem se observado muito mais a exploração do termo “ecológico”, do que uma atividade realmente compromissada com a definição Ecoturismo. As atividade ditas ecoturísticas no Brasil, ainda são elitistas, mantenedoras de um abismo social, e degradantes, ressalvando todo os esforços realiza- dos por ong´s e institutos governamentais ligados ao meio ambi- ente, para contrapor esta situação. Será apenas através de esforços para a mobilização e a formação responsável de todos agentes envolvidos no processo da implantação e execução da atividade ecoturística, que realmente será possível converter este quadro de utilização oportunista dos recursos naturais. 2- A Educação Ambiental, seus espaços de ação e sua contribuição para a promoção do ecoturismo. O debate sobre a educação ambiental no Brasil é relativa- mente recente e ainda difuso. Há vários trabalhos sendo realiza- dos e muitas discussões sobre a elaboração teórica que possa fun- damentar a prática da educação ambiental. O célebre educador PAULO FREIRE (1999) considerava necessário a reflexão crítica sobre a prática, principalmente a educativa, referindo-se a relação teoria/prática, sem a qual a teoria pode ir virando “blablablá” e a prática ativismo. Este autor refere-se a educação como uma for- ma de intervenção no mundo, considerando “uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres histó- ricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo” 69
  • 70. (FREIRE, 1999). A reflexão sobre a relação teoria/prática se tor- na fundamental para que fujamos do oportunismo que ronda a temática ambiental. Neste contexto situaremos algumas classificações e defini- ções acerca da educação ambiental que acreditamos ser esclarecedoras dos propósitos que fundamentam a análise do tema. Sabe-se que a educação ambiental surgiu na tentativa de minimizar e reverter o quadro de degradação ambiental que se instalou no mundo no último século. Quadro este, provocado pelo atual modelo de desenvolvimento que tem como base o capital. Portan- to, a educação ambiental possui um enfoque emergencial e trans- formador, já que prega a busca por outra forma de relação do ser humano com o meio em que está inserido. Esta nova forma de enxergar a educação, que tem muito dos propósitos e diretrizes da educação popular pregada por Paulo Freire, ainda causa muitos conflitos no nível de compreensão dos educadores ambiental em potencial, muitos ainda confundem a educação ambiental com transmissão de conhecimentos ecológicos, em sua essência, trazen- do para a educação ambiental um enfoque disciplinar e restrito. Os raios de ação da educação ambiental perpassam ativida- des superficiais (em sua maioria) até chegarem a atividades mais aprofundadas em seus propósitos. SORRENTINO (1995a) co- menta que muitas atividades de educação ambiental não possu- em nenhum tipo de vínculo pedagógico, avaliativo e de assessoria com a clientela que atende. Por outro lado, há outros “programas que procuram estimular os participantes a distinguir causas e conse- qüências dos processos predatórios e degradadores da qualidade de vida, procurando identificar responsáveis e responsabilidades de cada um, na preservação/conservação, recuperação e melhoria da qualida- de de vida de todos. Porém, é bastante comum enfrentarem dificul- dades para extrapolar o discurso crítico e provocar atitudes”(SORRENTINO, 1995). Assim, podemos perceber uma visão da educação ambiental que chama a atenção para mudanças de valores atreladas a um 70
  • 71. processo educativo mais abrangente que o ensino de ecologia e que esta mudança esteja fundamentada na visão de sustentabilidade de um modelo de desenvolvimento que a própria educação ambiental sugere. Para tal, REIGOTA (1995) complementa que a educação ambiental é uma forma de educação que exige a parti- cipação dos cidadãos nas discussões que envolvem a questão ambiental, tentando estabelecer o que o autor chama de “nova aliança” entre o homem e a natureza. Ela deve também estimular a ética na relações econômicas, políticas e sociais (REIGOTA, 1995). O que altera os parâmetros da educação conhecida atual- mente, pois, para ele, o termo “ambiental” não envolve somente questões ecológicas e, sim, um universo mais amplo que envolva, acima de tudo, a participação social. Não seria uma educação feita em forma de pacotes, que já chegam para a sociedade pron- tos e pré-formulados por uma elite intelectual. Ela seria construída pela própria sociedade ao serem discutidos os problemas ambientais de determinada região. Não haveria um único modelo a ser se- guido como correto. Essa participação traria à tona uma reflexão sobre a chamada ética cidadã, que seria analisada sob diversas ver- tentes: a econômica, a política e a social. Para SORRENTINO (1995) a importância de um resgate da auto-estima do ser huma- no e do que seja cidadania para as pessoas, é fundamental para o exercício de uma educação ambiental dita plena, completa. Neste momento é importante classificar os espaços de ação da educação ambiental que, segundo LEONARDI (1996), é di- vidida em três aspectos: I. educação ambiental formal: é aquela exercida como atividade escolar no nível básico dos sistemas oficiais de ensino, tanto em atividades em salas de aula ou fora delas. Ela possui conteúdos, metodologias e meios de avaliação claramente definidos; I. educação ambiental não-formal: é aquela que ocorre em outros e variados espaços da vida social, com diferentes componentes, 71
  • 72. metodologias e formas de ação daquela formal. Seu caráter não- formal indica que é uma atividade fora da escola e é exercida normal- mente por sindicatos, ONG’s, empresas, secretarias de governo, etc.; I. educação ambiental informal: é aquela exercida em outros es- paços sociais, muito variados, não possuindo compromisso com a continuidade. Não se exige, também, que defina claramente sua forma de ação, metodologia e avaliação, como, por exemplo, os meios de comunicação de massa. Uma outra forma de compreender ou interpretar a educação ambiental seria por meio das classificações apresentadas por SORRENTINO (1995a). Ao tentar compreender as diversas concepções de educação ambiental, este autor as classificou em qua- tro grandes correntes: “conservacionista”, “educação ao ar livre”, “gestão ambiental” e “economia ecológica”. A corrente conservacionista o autor considera impulsionada pelo livro de Rachel Carson, “Primavera Silenciosa” publicado em 1962. Este livro trouxe estímulo para reflexões acerca das con- seqüências que o uso indevido do meio ambiente traria para a humanidade. Muito difundida em países desenvolvidos, estimulou também movimentos que o autor classificou como pertencente à corrente “gestão ambiental”. A corrente denominada “educação ao ar livre” tem, como seus criadores, adeptos de atividades ecológicas como a caminhada, o tracking, o montanhismo e os escoteiros. Há pouco tempo é que estas atividades ganharam uma conotação de educação ambiental, com o surgimento do ecoturismo propriamente dito. Segundo este autor “nos países do norte há maior consistência filosó- fica em sua prática como o estímulo ao auto-conhecimento e o aprimoramento do fazer cotidiano individual e social”. A terceira corrente, denominada “gestão ambiental”, tem suas raízes nos movimentos sociais da América Latina. No Brasil, seu período de auge foi durante a ditadura militar, quando estes 72
  • 73. movimentos passaram a exigir maior participação da população nos problemas relativos à degradação ambiental e à administra- ção dos espaços públicos, bem como a cobrar do governo atitudes contra empresas ou qualquer outro órgão publico ou privado que trouxesse danos ao ambiente. A última corrente, classificada de “economia ecológica”, tem com bases filosóficas publicações de Ignacy Sachs (Teoria do Ecodesenvolvimento, 1986) e Schumacher (“O Negócio é ser Pe- queno”, 1981). Seu grande impulso foi com publicações voltadas para diretrizes norteadoras de atitudes no âmbito sócio-econômico do desenvolvimento da população mundial. Para este autor, é nesta corrente que se encontram duas vertentes que estão norteando hoje a Educação Ambiental: o “desenvolvimento sustentável” e a busca por “sociedades sustentáveis”, onde estes reúnem grupos diversos que vão desde os governantes em geral até grupos opositores ao modelo de desenvolvimento e sociedade que estes governantes propõem. Este autor também identifica quatro grandes conjuntos de temas e objetivos que os diferentes projetos de educação ambiental se propõem a realizar. São eles: “biológicos” (voltados mais para a questão da preservação e conservação natural do meio), “espiritu- ais/culturais” (voltados para a promoção do auto-conhecimento e compreensão do universo, resgatando valores intrínsecos no ho- mem visando a construção de uma nova ética), “políticos” (volta- dos para o desenvolvimento de conceitos como a democracia, a participação popular, o diálogo e a auto-gestão), “econômicos” (visando a melhoria da qualidade de vida por meio da geração de empregos voltados para atividades ambientais e não explorado- ras). No mais, ele finaliza a colocação definindo como objetivo geral da educação ambiental “Contribuir para a conservação/prote- ção do planeta e de todas as suas espécies e para a melhoria da quali- dade de vida de cada indivíduo e comunidade, através de processos educativos instigantes, interativos, holísticos e que resgatem nossas capacidades de auto-conhecimento e de auto-gestão política e econô- mica” (SORRENTINO, 1995a). 73
  • 74. Concluindo, para o mesmo autor, a educação ambiental deve ter como objetivos promover a interdisciplinaridade, a visão crítica e global/holística, a participação, a interação, o auto-conhe- cimento, o resgate de saberes e a resolução de problemas. Ela tam- bém deve ser (ter como métodos) interdisciplinar, crítica e sistêmica, participativa, interativa, reflexiva, problematizadora e instigante e ter como conteúdo as questões ambientais e de qualidade de vida relacionados com cada realidade que se está trabalhando. Baseados nesta colocação, podemos, enfim, traçar alguns caminhos para a utilização da educação ambiental em atividades Ecoturísticas. É pensando em como propor mudança de valores e de relação homem/natureza que pode ser inserido a discussão da educação ambiental. Pois a atividade ecoturística pode ser enquadrada como um espaço para ação da educação ambiental não-formal, mas o ecoturismo não se confunde com a educação ambiental, ele por si só não tem o cunho educativo, e sim, muito mais recreativo e de lazer. Se estamos propondo mudanças, de certo que os mecanismos para atingir tais mudanças devem ser diferentes do convencional. Isso não se constitui objeto deste ensaio, no entanto, existe uma vasta bibliografia sobre metodologias que se baseiam na partici- pação efetiva dos atores envolvidos. Este tipo de intervenção con- siderada participativa tem como base de seu processo o desen- volvimento da autoconfiança e da faculdade crítica. Elementos essenciais para que as comunidades que habitam localidades com potenciais de uso para o ecoturismo possam se defender dos “ecoexploradores” que, através do discurso do desenvolvimento eco- nômico e do progresso, marginalizam irreversivelmente a população em questão. A atividade ecoturística deve respeitar principalmen- te os interesses destas populações que, se forem mobilizadas de forma responsável, passarão a reivindicar seus direitos, externar seus interesses e seus temores. Um planejamento participativo tam- bém pode oferecer subsídios para o exercício da cidadania plena por parte de pessoas que naturalmente são excluídas de um pro- cesso de desenvolvimento. 74
  • 75. 3- O ensino a distância no Brasil: Breve situação didático- pedagógica. O ensino a distância no Brasil8 , não é novidade, apesar de ser relativamente recente os estudos voltados para esta temática. Conceituar o que é a educação a distância parece um tanto óbvio, porém caracterizar a pedagogia que envolve esta modali- dade de ensino ainda é difícil. Na literatura em geral, o que mais é observado são conceitos que são construídos a partir da negação ao se comparar a educação presencial, conceituando o que não seria a educação a distância. Portanto a educação a distância se consiste em uma modalidade educativa (contrariando uma série de questionamentos que a apresentam como algo que procure substi- tuir o ensino presencial), que tem como centro do seu processo o aluno, não mais o professor, como é observado no ensino tradicional. KEEGAN (1991) aponta alguns elementos que considera centrais sobre o ensino a distância: • separação física entre professor e aluno, que a distingue do ensino presencial; • influência da organização educacional (planejamento, sis- tematização, plano, projeto, organização dirigida etc.), que a diferencia da educação individual; • utilização de meios técnicos de comunicação, usualmen- te impressos, para unir o professor ao aluno e transmitir os conteúdos educativos; ______________________________________ 8 O ensino a distância no Brasil está previsto na “lei de diretrizes e bases da educa- ção nacional”. Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996, no artigo 80, no título VIII: Das Disposições Gerais. No artigo 32, § 4º; artigo 37, § 1º e artigo 47, § 3º. O decreto nº 2494 de 10 de fevereiro de 1998 (D.O.U. 11/02/98, seção 1, página 1) regulamenta o artigo 80 da lei 9394/1996. Outras bases legais foram estabelecidas pelo decreto nº 2561 de 27 de abril de 1998 (D.O.U. 28/04/98) e pela portaria ministerial nº 301, de 07 de abril de 1998 (D.O.U. de 09/04/98). Em 03 de abril de 2001, a resolução nº 1 do Conselho Nacional de Educação estabeleceu as nor- mas para a pós-graduação lato e stricto sensu. 75
  • 76. previsão de uma comunicação de mão dupla, onde o es- tudante se beneficia de um diálogo, e da possibilidade de iniciativas de dupla via; • possibilidade de encontros ocasionais com propósitos didáticos e de socialização. Esta modalidade de ensino procura trabalhar com uma pedagogia específica baseada na aprendizagem colaborativa de dupla via. O que isto significa? Como o centro do processo é o aluno, e este se encontra distante do professor, é fundamental que um canal entre eles esteja acessível, seja por telefone, fax, e-mail, redes interativas ou por correio postal. Desta forma, o professor passa a ser uma figura muito mais preocupada com a formação integrada do aluno do que apenas um transmissor de informações. Ele dispõe, pelo menos teoricamente, de mais tempo para aten- der ao seu aluno, processo impossibilitado no ensino presencial, onde as turmas costumam ter em média 50/60 alunos. Chama-se aprendizagem colaborativa, fundamentada no construtivismo, pois um dos pilares principais do ensino a distância é a motivação do aluno para o assunto estudado, já que o professor não estará pre- sente para ministrar aulas. Desta forma, deve-se colaborar com o processo educativo muito mais que informar sobre determinado assunto acadêmico. O ensino a distância tem tomado grandes proporções no Brasil, encontramos cursos de excelente qualidade, porém existem muitos oportunistas que a tratam apenas como mercadoria, sem se preocupar com o seu propósito fundamental: levar a educação, formal ou não-formal, até pessoas que, por vias tradicionais, não poderiam estar se beneficiando deste direito constitucional. O ensino a distância tem se voltado mais a atender um público adulto que infantil ou juvenil (Nunes, 1992a, 1992b). Apesar de muitas controvérsias no assunto, é fato que a educação a distância se constitui em uma forma mais barata de atender a uma população, e de uma só vez, muito maior que o 76
  • 77. ensino tradicional é capaz. Dada as mudanças sócio-econômicas que acometem a sociedade atual, torna-se cada vez mais essencial uma reciclagem profissional, ou até mesmo uma formação edu- cacional básica, desta forma, a educação a distância pode afetar segmentos sociais que não são contemplados pelo ensino presencial (Keegan, 1991; Guaranys et al, 1979). Acreditamos que o maior questionamento não deve passar pela educação à distância e sim pela qualidade do ensino que, tanto o ensino presencial quanto a distância, são capazes de oferecer. Qual é a concepção de educação que os envolvidos neste processo possuem? O processo que envolve o ensino a distância deve considerar sobretudo as características culturais e contextos que envolvem o público alvo, bem como a valorização das experiências individuais, pois é a partir destas informações que serão escolhidos os melhores meios de motivação e de produção do material didático9 . Outra característica importante da educação a distância é a busca pela interatividade, não esta, vinculada apenas as tecnologias mais sofisticadas, mas a ação que visa a interação dos alunos com a instituição, com o professor, com a sua realidade, com a realidade mundial, da instituição com o aluno, com o professor e também do professor com todos estes fatores antes descritos. A interação é multilateral. Para que esse processo se constitua em interação deve- se procurar ações complexas que envolvam a reflexão, o senso crítico, o questionamento, a busca por soluções e respostas frente aos questionamentos, a comparações, análises e sobretudo a criatividade. O estímulo ao feedback é imprescindível, por isso falamos em dupla via. O professor está descentralizado do processo e a sua postura não pode ser mecanicista, apenas de transmitir conhecimentos de forma sofisticada. Não é parte do ensino a dis- tância, como não deveria ser das outras modalidades de ensino, a ______________________________________ 9 Isso não quer dizer que estes fatores não são considerados no processo do ensino presencial. Contudo, são indispensáveis para o sucesso do ensino a distancia, ressal- tando que neste processo, o professor está DISTANTE. 77
  • 78. massificação do ser. Por este processo educativo não estar centrado no professor, passa ser condição desprender o aluno da depen- dência deste profissional, deforma que a sua responsabilidade é maior e o processo estimula a sua autoconfiança, pois o aprendi- zado depende principalmente do aluno se condicionar e discipli- nar para “aprender a aprender” (Nunes, 1992a). Ressaltamos que não somos favoráveis a substituição do professor por qualquer outro meio, mas sim da descentralização e da revisão de papéis assumidos por este profissional. Com também não estamos apresentando o ensino a distância com a tábua de salvação para os problemas educativos brasileiros, nem tão pouco colocar uma visão de ensino a distância substitutiva do ensino presencial, relembramos que um processo complementa o outro. São dois processos que visam o mesmo objetivo que é a educação. Mesmo em se tratando de ensino a distância, é importante algum encontro presencial, para que haja de fato uma integração do aluno com a forma de abordagem do assunto proposto pelo professor. O ensino a distância não se resume a recepção de materiais por parte de um indivíduo que resolverá seus problemas sozinho. O que se espera é que se estimule a autonomia do aluno para a con- dução do seu curso e assim, este aprenda a conviver com a interatividade (Nunes 1992b). A preparação e a formação do professor para o ensino a distância é importante pois esta modalidade de ensino não se re- sume a transpor do ensino presencial mantendo os mesmos con- teúdos e métodos de ensino/aprendizagem. Em um primeiro momento relembramos que professar é diferente de educar. Nem todo professor é um educador (infelizmente) e vice-versa. A vocação para o magistério não é construída em escolas, nem nunca será, tanto para o ensino a distância quanto para o ensino presencial. Mesmo em se tratando do desenvolvimento de uma peda- gogia específica ao ensino a distância, não podemos ser irresponsá- veis em desconsiderar todo o processo educativo que nos cerca a séculos. Os professores do ensino a distância ainda são, na maioria, 78
  • 79. formados pelo ensino presencial, a sua construção prático-peda- gógica se dá neste contexto, o que dificulta na aplicação de novas metodologias de ensino. Repensar seus modelos pedagógicos são fundamentais para o sucesso do processo, pois requer um modelo específico para cada tipo de curso, mesmo que o conteúdo seja o mesmo. Aprender a trabalhar em equipe, inclusive com profissio- nais que não sejam da educação, faz parte de um projeto de ensino a distância, pois é necessário combinar competências para o de- senvolvimento de um material didático. Tanto aluno quanto pro- fessores são companheiros neste processo, o que muitas vezes mexe com o ego de alguns profissionais, consideramos para tanto, a aprendizagem como meio educativo, não pode ser apresentada de cima para baixo. É fato que a maioria dos professores não estão preparados para trabalhar colaborativamente, mesmo que cobrem de seus alunos esta postura. A alteração dos papéis tanto do aluno quanto do professor são fundamentais para o estabelecimento da aprendizagem colaborativa, que significa também, aprender em meio a conflito, pois o professor não é mais transmissor de co- nhecimentos para um grupo de alunos passivos e nem detentor de uma verdade. O conflito é saudável, isso é óbvio, pois é a partir dele que se constrói um ideal. A ruptura com este modelo disci- plinar e positivista que a sociedade, não só a educação (pois ela está voltada para os atores sociais) vive não serão rompidos por teorias ou decretos governamentais. Será somente através dos pro- fessores e dos alunos que esta mudança se dará, gradualmente. Buscar uma metodologia alternativa não implica, jamais, em per- ca da qualidade do ensino, este argumento geralmente é pregado por pessoas inseguras a mudanças. Como já apresentamos anteri- ormente, a qualidade da educação está na concepção e não no processo adotado (Keegan, 1991; Nunes, 1992a). Outro ponto importante está na redação do material didá- tico. Não há uma regra estabelecida e generalizada, pois fatores específicos devem ser considerados, porém não se pode deixar de relevar pontos essenciais como a necessidade de estimular a atenção 79
  • 80. e o interesse do aluno e a adaptação da linguagem, considerando a especificidade do grupo. A busca pela interatividade, a motiva- ção e a democratização do saber devem ser lembradas a todos que estão envolvidos no preparo do material. Para que a aprendizagem ocorra é necessário que o aluno internalize e processe o conteúdo, isso requer uma reflexão. Mesmo em se tratando de coletividade, de interatividade e de colaboração, o aprendizado é individual, a internalização é um processo individual, mesmo que esteja em grupo. Estimular a problematização através de experiências próprias ou familiares ao contexto do aluno são estratégias bem sucedidas normalmente. A adaptação de metodologias advindas de outros processos ou ex- periências, muitas vezes recai no insucesso, pois apenas a adapta- ção não é satisfatória. Isso também pode ser aplicado tanto para professores quanto para alunos. Estabelecer quanto conteúdo é suficiente para ser trabalhado no ensino a distância, a utilização de diferentes recursos tecnológicos, capacidade de síntese, custos, tempo para a tutoria presencial, número de participantes e objetivo do projeto que compõe o ensino a distância são essenciais para o sucesso da iniciativa. Estabelecer um cronograma pode auxiliar, pois remete a necessidade de assumir responsabilidades e compromisso de ambas as partes. Podemos concluir que o processo que envolve o ensino a distância se dá em grupo, no sentido que envolve a participação de todos os membros em prol de um objetivo comum, a educa- ção. Não é aceitável uma simples divisão de tarefas, sem interação e nem interdependência. A educação requer investimentos, não só financeiros, pois isto limitaria muito seus propósitos. A utilização do ensino a distância na democratização do saber, para a formação, capacitação profissional e atualização de profissionais no mercado de trabalho mostram que esta modali- dade de ensino, quer aceitem ou não, está estabelecida entre nós. Cabe a sociedade incorporar esta realidade e a academia regular a qualidade destes cursos. 80
  • 81. 3.1- O Caso da FAEPE: Histórico da instituição e sua missão A “Fundação de apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão” (FAEPE) foi criada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), na época, Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), em 17 de junho de 1976. Com a finalidade de promover, não só para a comunidade local e nem acadêmica, apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão, como seu próprio nome já diz. Desde lá tem contribuído significativamente para a formação profissional não só brasileira. Ela se constitui em uma fundação de direito privado. O primeiro curso por tutoria a distância da Universidade foi em 1987 entre um convênio da ESAL com a ABEAS, para a especialização no nível de pós-graduação em “Produção de Ru- minantes”. A primeira pós-graduação por tutoria a distância da FAEPE foi oferecida em 1990, em “Administração Rural”, curso até hoje com o maior índice de inscritos. Os cursos de pós-graduação (especialização) por tutoria a distância10 estão devidamente regulamentados pelo MEC e pela pró-reitoria de pós-graduação da UFLA. Ao se habilitar para um dos cursos, o aluno é orientado a preencher uma ficha de inscrição, via correio aéreo ou em meio eletrônico com seus dados pessoais, comprovantes acadêmicos e o comprovante de pagamento da inscri- ção (pois os cursos não são gratuitos), e recebem também um ficha de preenchimento optativo, sobre alguns dados que servirão de subsídios para o delineamento do perfil do estudante e da turma. Para estes cursos no nível de especialização os módulos são impressos e há geralmente dois encontros presenciais que acontecem no meio do curso e no final, geralmente. A responsabilidade pelo material didático compete ao professor e ao seu respectivo departamento. Salvo em curso interdepartamentais, onde a ______________________________________ 10 Para maiores informações sobre os cursos favor acessar www.faepe.org.br ou no próprio site da UFLA www.ufla.br onde o link para a FAEPE está entre os parceiros da instituição. O contato pode ser também através do telefone (35) 3829 1200. 81
  • 82. coordenação é composta por representantes de diversos departamentos. A eles competem coordenar a estrutura didática e pedagógica do curso, bem como seu funcionamento. Nos cursos por tutoria à distância, há a possibilidade de contratação de professores externos ao quadro docente da UFLA, desde que estes profissionais possuam, no mínimo, o título de mestre. A FAEPE compete operacionalizar o andamento do curso e gerenciar os recursos pertinentes a eles. Os cursos duram em média um ano e a distribuição do material didático é feita, também, em média, entre 30 a 40 dias. Desta forma, quando se atingiu a distribuição de metade do ma- terial, é marcado o primeiro encontro. Há orientações no “Guia do pós-graduando” para como proceder em caso de dúvidas sobre o conteúdo dos módulos. Elas podem ser tiradas tanto via correio aéreo, fax, e-mail, telefone ou presencial (no caso de pessoas que morem perto da instituição ou na época dos encontros). No que se refere a avaliação didática, cada curso desenvol- ve sua própria técnica. Desde a metade de 2001 as turmas neces- sitam cumprir com a redação de uma monografia orientada por um dos professores do curso para a conclusão do curso. Desta forma, a instituição vem cumprido seu papel de pro- mover a educação e a atualização profissional de forma democrá- tica a todos os interessados da sociedade. A FAEPE hoje é considerada modelo em gestão e eficiência do ensino a distância recomendado pelo MEC salvo sua dedica- ção na democratização dos conhecimentos existentes dentro da Universidade Federal de Lavras. 3.2- O curso de Ecoturismo: Interpretação e Educação Ambiental O curso de Ecoturismo: Interpretação e Educação Ambiental passou a ser oferecido a partir do segundo semestre de 2000. Este curso passou por diversas reformulações, chegou a ser reprovado pelo conselho que regulamenta os cursos por tutoria a 82
  • 83. distância até que tomou o formato ideal, que foi apresentado em sua primeira turma e continua até os dias de hoje. Inicialmente o curso foi concebido por três professores de departamentos diferentes da UFLA. Seu propósito era inovador pois buscava reunir elementos que estão inseridos no Ecoturismo e de maneira geral, não são abordados. O que se observa na maior parte dos cursos, é que se trata muito mais da questão gerencial, considerando elementos ligados a teoria do turismo e assuntos ligados a ecologia em um sentido restrito. Este curso visava forne- cer discussões, dentro dos módulos, sobre: introdução ao ecoturismo, educação ambiental, interpretação ambiental e da paisagem, ecologia (de forma ampliada), história cultural, plane- jamento social e uma prática voltada ao ecoturismo. O sucesso deste curso veio com os números de participantes. Foram formadas até maio de 2003 580 alunos, segundo informações do setor de gestão dos cursos da FAEPE. A distribuição da responsabilidade pelos módulos se con- centraram entre os professores responsáveis pela criação curso, na maioria, o que poderia comprometer a qualidade do mesmo. A proposta de reformulação e outras questões extra-curso desagra- daram a um dos idealizadores do curso e levaram a sua saída do mesmo, por espontânea vontade. Foi neste momento, anterior ao oferecimento do curso, que ingressaram dez profissionais de diversas áreas, para suprir a saída deste profissional, eu estava entre eles. No momento do primeiro encontro presencial foram adotadas formas participativas entre os alunos tanto no que diz respeito a avaliação e estrutura do curso quanto a avaliação para a conclusão do mesmo. Ficou acertado entre os professores que a avaliação para a conclusão do curso não teria o formato tradicio- nalmente adotado por outros cursos, que consistem em provas ou trabalhos presenciais. Seria realizado um único trabalho que abor- dasse todo o conteúdo do curso, através de questões propostas por todos os professores em conjunto aos alunos, em um momento 83
  • 84. pré-agendado no primeiro encontro. Este trabalho constaria tam- bém com o relato e discussão de uma experiência de cada aluno. Ficou assim acertado, que não haveriam atividades individuais, que acarretassem em avaliação numérica, por parte dos professo- res. O professor coordenador sugeriu e também foi aceito pelo grupo, que fossem realizados um levantamento entre os alunos sobre as expectativas em relação ao módulo prático, para que, a partir daí, este módulo fosse construído. Esta prática de consulta aos alunos se estenderia a todas as turmas, a partir de então. Vale lembrar que o módulo prático era o último módulo a ser ofereci- do no último encontro. Este módulo prático passou a ser distribuído em três ativi- dades práticas, onde os alunos, deveriam optar por uma delas, antes da realização do último encontro. São elas: A1- gestão do negócio ecoturístico (visa discutir questões operacionais da intro- dução de atividades ecoturísticas em um determinado espaço), A2- Práticas em Educação Ambiental, e A3- Prática de Condução e Interpretação Ecoturística (atividade que levaria o grupo a um espaço que fosse utilizado para a realização de atividades ecoturísticas, e assim discutir, em um ambiente natural, como melhor aproveitar os recursos) Infelizmente o professor coordenador se afastou do grupo logo após o primeiro encontro, pois estava aprovado para cursar seu doutorado fora do Brasil, desta maneira, só restava passar a coordenação para a outro professor e também idealizador do curso que restava no grupo original. O professor foi afastado do curso, mas não teve seu nome retirado. Ele foi substituído por outros profissionais recomendados pelo seu departamento e no momento da sua volta a UFLA, seus módulos seriam repassados novamente. Nunca foram colocados em prática os modelos de avaliação para a conclusão do curso, a atual coordenação, optou por avaliar os alunos de forma convencional. Como a primeira turma não tinha sido avaliada no primeiro encontro, forma enviadas questões para serem respondidas em casa, o que não é preferencial mesmo para 84
  • 85. atividades a distância, pois exige um maior esforço do professor em garantir a originalidade do trabalho. O módulo prático A3 (sob a responsabilidade da coordenação) também foi modificado, as atividades passaram a ser feitas dentro da própria universidade, em uma trilha que era usada para fins outros. Os alunos não sugerem mais conteúdos para as práticas, apenas optam pelas estabelecidas no primeiro encontro. Estas questões geraram conflitos internos ao grupo de pro- fessores que se submeteram a um tipo de coordenação e não con- cordavam com algumas atitudes conduzidas pela atual coordenadoria. Mesmo assim o curso continuou, sem que se per- desse o foco na qualidade, até a conclusão de turmas em julho de 2003. A partir daí, o curso foi encerrado. 3.3- A metodologia adotada nos encontros presenciais para a abordagem da Educação Ambiental. Eu era responsável por uma parte do módulo de ecologia (módulo 2) que tratava da “interpretação Ambiental”, por parte do módulo 6 (Educação Ambiental: movimentos e interpreta- ções sócio-ambientais ) e também pela prática A2 (Educação Ambiental), com a saída do professor e coordenador, passei a subs- tituí-lo no módulo 1, introdutório ao ecoturismo e nos módulos 6 e A2, estes dois últimos, divididos com uma professora do de- partamento de educação da UFLA. A redação dos módulos, com a exceção módulo 2 e das práticas, foram feitas pelo professor afastado, optamos por trabalhar com o seu material no módulo 6, mas as atividades presenciais deveriam ser revistas. Visando a participação efetiva dos alunos, bem como a sua história de vida, optamos por trabalhar em conjunto a todo mo- mento. Iniciamos sempre nossas aulas utilizando “danças circula- res” que além de promover a integração maior do grupo, pois a nossa aula é a primeira do segundo encontro, e nem sempre os grupos são os mesmos do primeiro encontro, esta técnica também 85
  • 86. promove a “quebra” do ambiente formal de ensino e da expecta- tiva por uma aula expositiva, onde o professor fala para um grupo de espectadores. No módulo 6, após a “dança circular”, iniciamos uma discussão, através de dinâmicas, sobre a educação, e posteri- or a isso apresentamos um histórico da educação ambiental e de suas conceituações. Utilizamos um vídeo que trata da questão ambiental e finalmente promovemos atividades em grupo sobre a interpretação do conteúdo do módulo e sobre o assunto discuti- do em sala. Não é nosso foco avaliar numericamente o aluno, por isso, não promovemos atividades de avaliação formais para este fim em nenhum dos nossos trabalhos, mesmo que tenhamos que numerar a participação deles, para efeito de currículo e conclusão do curso. No módulo prático, o número de alunos é menor, pois neste momento a turma está separada em três. As abordagens são mais específicas à prática de educação ambiental e a discussão da postura de um educador ambiental. Fazemos a “dança circular”, apresentamos uma série de bibliografias pertinentes ao tema par que os alunos possam consultar. Apresentamos vídeos que tratam da questão da cidadania, desigualdades e de consumo. Levamos os alunos a um centro de separação de lixo reciclável, mantido por uma fundação ambientalista. Neste momento os alunos pas- sam a conhecer na prática, muitas questões que envolvem a edu- cação ambiental e que nem sempre são apresentadas ou questio- nadas. Após estes trabalhos, os alunos são convidados a se separa- rem em grupos e organizar oficinas que tratem de temas por eles escolhidos, e depois conduzem estas oficinas entre os outros alu- nos desta mesma prática. A montagem e a escolha do tema fica a cargo do grupo, pois seria tutorial, neste momento, definirmos temas. Queremos formar cidadãos atuantes na questão ambiental, a criatividade e o compromisso são fundamentais para o sucesso desta nossa empreitada, a flexibilidade fará com que estes profissio- nais consigam atuar em diferentes espaços. Não será definindo re- gras preestabelecidas que estarem contribuindo para essa formação. 86
  • 87. 4- Conclusão Ao longo destes três anos envolvidos com o ensino a dis- tância, pudemos concluir que não se pode ocultar a existência desta ferramenta essencial para a democratização do saber. Como já apresentado anteriormente, não falamos da superação do ensi- no presencial e nem do professor, tratamos de complementar e ofertar um mecanismo a mais de formação para aqueles que so- mente pelas vias tradicionais não poderiam ter acesso. A experiência com o curso de ecoturismo foi excepcional para colocar em prática os diferentes conceitos de participação e de atuação no ensino a distância. Também foi importante para observar falhas que não podem prosseguir em nenhum segmento do ensino. Tendo em vista a não conscientização do grupo gestor deste curso o mesmo foi encerrado e relançado com outro nome e linguagem teórico onde as discussões sobre educação ambiental e sobre desenvolvimento local permaneceram de fora. Fato este que empobrece a discussão do ecoturismo como ferramenta de desenvolvimento local e de alternativa ao fluxo migratório cam- po-cidade. Não é nosso propósito denegrir a imagem do atual curso que substituiu o anterior, mas sim de provocar uma refle- xão sobre democratização de conhecimento e formação de cons- ciência crítica sobre a atuação dos interventores em áreas de po- tencial ecoturístico. Isso se reflete na continuidade de módulos que tratam da educação ambiental em outros cursos da própria UFLA/FAEPE. Reforçando então que não foi uma decisão da instituição em encerrar este tipo de discussão mas de pessoas físi- cas que não percebem essa problemática com importante para a formação de especialista em ecoturismo. Esperamos ter contribuído para a formação de inúmeras pessoas que puderam se beneficiar com o curso, com este capítulo do livro e com as pessoas que passaram a ser formadas por nossos ex-alunos. 87
  • 88. Bibliografia AB’SABER, A. A universidade brasileira na (Re)Conceituação da Educação Ambiental. Educação Brasileira, Brasília, v.15, n.31, p.107-115, 1993. AMMANN, S.B. Ideologia do desenvolvimento de comunida- de no Brasil. São Paulo, Cortez. 1987 BARBOSA, J. H. Introdução ao ecoturismo. Lavras: UFLA/ FAEPE. 2000. BARBOSA, J. H. et al. Introdução ao estudo de gestão e manejo ambiental. Lavras: UFLA/FAEPE, 2000. BOSCHI, R.R. A arte da associação: política de base e democra- cia no Brasil. São Paulo, Vértice. 1991. BORDENAVE, E.J.D. O que é participação. São Paulo, Brasiliense. 1987. BRASIL. Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo. Brasília: EMBRATUR, 1994. _________. Coordenação de educação Ambiental. Educação ambiental. Brasília: MEC, 1997. ___________ Coordenação de educação ambiental. PRONEA - Programa Nacional de Educação Ambiental. Brasília: MEC, 1997. ___________ Coordenação de educação Ambiental. A implan- tação da educação ambiental no Brasil. Brasília: MEC, 1998. 88
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