ASIO4ALL - Baixa latência ao alcance de todos
Miguel Ratton
Para que uma interface de áudio possa oferecer desempenho razoável, além da
qualidade na conversão do áudio, é preciso que o seu driver possua uma “latência”
baixa, e não imponha um atraso significativo (às vezes, proibitivo) no fluxo dos
dados de áudio. A latência baixa é particularmente importante quando se quer
monitorar na saída do software o sinal que está sendo gravado na entrada, ou
quando se deseja tocar um instrumento virtual via MIDI em tempo real. Nesses
casos, se a latência estiver maior do que uns 10 ms, as coisas ficam realmente
muito ruins: a monitoração é ouvida como um eco e o sintetizador virtual soa com
um atraso desagradável.
O primeiro formato de driver do Windows para dispositivos de áudio foi o MME, e
fazia parte de um adendo (MultiMedia Extensions) à velha versão 3.1. O
desempenho dessa tecnologia era muito limitado para que pudesse ser usado
efetivamente em aplicações profissionais de áudio, pois além da latência
impraticável, o MME não permitia um fluxo de áudio multicanal. Isso impossibilitava
usar o Windows para gravação de áudio em estúdio, e a opção era o Mac, que já
contava com as soluções proprietárias da Digidesign (ProTools) e da MOTU (Digital
Performer) para essa finalidade.
A luz surgiu no fim do túnel para os usuários de PC quando a Steinberg lançou o
ASIO (Audio Stream Input/Output), uma interface de software (API) que permite a
transferência sincronizada de áudio multicanal entre dispositivos de hardware e
software. Disponível primeiramente para Mac, que era então a maior fatia do
mercado de áudio digital, a tecnologia do ASIO foi transportada pouco depois
também para a plataforma PC/Windows, praticamente na mesma época em que a
Microsoft apresentava o formato WDM (Windows Driver Model), que prometia
solucionar todas as limitações do MME.
Apesar de todo o esforço da Microsoft, contando inclusive com o apoio da Cakewalk
Music, o WDM não conseguiu superar o desempenho do ASIO no Windows, e depois
de algum tempo até o Sonar passou a adotar o ASIO, que se tornou o padrão “de
fato” de drivers para uso profissional.
Hoje, praticamente todos os modelos de interface de áudio profissionais (e mesmo
as semi-pro) dispõem de driver ASIO. Mas o mesmo não acontece com as
interfaces mais simples, que usam drivers WDM “genéricos”. Por isso, o usuário
“menos favorecido” – aquele que usa uma interface de áudio onboard – acaba
sendo penalizado duas vezes: na qualidade dos conversores e na latência. Mesmo
no caso de usuários que possuem interfaces profissionais, há sempre uma situação
de emergência em que se precisa usar um dispositivo de áudio onboard, e aí a
latência acaba atrapalhando também.
Felizmente, pelo menos no que diz respeito à latência do driver, essa desvantagem
pode ser superada, graças ao ASIO4ALL, uma espécie de emulação de ASIO que
acessa o núcleo do driver WDM e aumenta seu desempenho de forma bastante
eficiente.
O ASIO4ALL não faz milagres, como transformar uma plaquinha Genius em M-
Audio, mas permite que os usuários das Realtek AC97 onboard e similares toquem
seus sintetizadores virtuais sem atraso e monitorem suas gravações sem aquele
eco insuportável.
Instalação e operação
Para usar o ASIO4ALL basta que a interface de áudio tenha um driver WDM, no
qual o ASIO4ALL se acopla e faz seu trabalho. Essa operação “parasita” não altera o
driver original e nem prejudica o sistema operacional.
A instalação é realmente muito fácil e não requer qualquer trabalho ou
conhecimento do usuário. Basta executar o instalador que o ASIO4ALL está lá,
pronto para ser usado. Junto com ele vem um manual de operação, bastante
explicativo (está disponível em inglês, alemão ou chinês).
Na instalação, o ASIO4ALL também permite ao usuário escolher uma opção que dá
ao software acesso às entradas de áudio como se fossem dispositivos ReWire. Este
recurso é útil para alguns softwares que não “enxergam” entradas de áudio, mas
podem usar entradas ReWire.
As configurações do ASIO4ALL são feitas em um painel de controle com design um
pouco bizarro, mas bastante eficiente. Para os usuários que não quiserem se
preocupar muito com ajustes, é recomendado modo “Simple” (ícone do Bush), onde
se pode ajustar apenas o tamanho do buffer ASIO, que determina a latência efetiva
da operação da interface. Já no modo “Advanced” (ícone do Einsten), o usuário
pode fazer ajustes mais detalhados, como compensação de latência e tamanho do
buffer de hardware (se for o caso).
Tenho usado o ASIO4ALL para gravar e reproduzir áudio em um notebook Toshiba
com a interface onboard Realtek AC97, e também com uma interface USB Edirol
UA3D que usa o driver USB audio “genérico” do Windows XP. Os resultados têm
sido muito bons.
No Sonar, tenho conseguido trabalhar com latências bem abaixo de 5 ms (no driver
WDM puro não dava para conseguir abaixo de 10 ms). O driver se comporta bem e
o sistema tem sido bastante estável, sem engasgos ou dropouts. Dessa forma
posso tocar sintetizadores virtuais e sintetizadores MIDI externos sem atrasos
perceptíveis entre eles.
Em alguns testes que pude fazer no Nuendo, a latência do ASIO4ALL também ficou
bem mais baixa do que a do driver ASIO Multimedia Driver que a Steinberg oferece
para dispositivos que não tenham driver ASIO.
Quem quiser experimentar o ASIO4ALL, pode consegui-lo diretamente no site
www.asio4all.com, baixando o arquivo que contém o instalador e o manual. Como o
seu nome sugere, o driver é de uso livre.
Uma última observação: existe também um outro driver ASIO desenvolvido para
ser usado com interfaces WDM, chamado ASIO2KS (www.asio2ks.de). Ele também
é gratuito e foi desenvolvido na Alemanha. Apesar da interface gráfica com
aparência mais profissional (convencional), o driver até hoje não saiu da versão
beta.

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Manual asio 4

  • 1. ASIO4ALL - Baixa latência ao alcance de todos Miguel Ratton Para que uma interface de áudio possa oferecer desempenho razoável, além da qualidade na conversão do áudio, é preciso que o seu driver possua uma “latência” baixa, e não imponha um atraso significativo (às vezes, proibitivo) no fluxo dos dados de áudio. A latência baixa é particularmente importante quando se quer monitorar na saída do software o sinal que está sendo gravado na entrada, ou quando se deseja tocar um instrumento virtual via MIDI em tempo real. Nesses casos, se a latência estiver maior do que uns 10 ms, as coisas ficam realmente muito ruins: a monitoração é ouvida como um eco e o sintetizador virtual soa com um atraso desagradável. O primeiro formato de driver do Windows para dispositivos de áudio foi o MME, e fazia parte de um adendo (MultiMedia Extensions) à velha versão 3.1. O desempenho dessa tecnologia era muito limitado para que pudesse ser usado efetivamente em aplicações profissionais de áudio, pois além da latência impraticável, o MME não permitia um fluxo de áudio multicanal. Isso impossibilitava usar o Windows para gravação de áudio em estúdio, e a opção era o Mac, que já contava com as soluções proprietárias da Digidesign (ProTools) e da MOTU (Digital Performer) para essa finalidade. A luz surgiu no fim do túnel para os usuários de PC quando a Steinberg lançou o ASIO (Audio Stream Input/Output), uma interface de software (API) que permite a transferência sincronizada de áudio multicanal entre dispositivos de hardware e software. Disponível primeiramente para Mac, que era então a maior fatia do mercado de áudio digital, a tecnologia do ASIO foi transportada pouco depois também para a plataforma PC/Windows, praticamente na mesma época em que a Microsoft apresentava o formato WDM (Windows Driver Model), que prometia solucionar todas as limitações do MME. Apesar de todo o esforço da Microsoft, contando inclusive com o apoio da Cakewalk Music, o WDM não conseguiu superar o desempenho do ASIO no Windows, e depois de algum tempo até o Sonar passou a adotar o ASIO, que se tornou o padrão “de fato” de drivers para uso profissional. Hoje, praticamente todos os modelos de interface de áudio profissionais (e mesmo as semi-pro) dispõem de driver ASIO. Mas o mesmo não acontece com as interfaces mais simples, que usam drivers WDM “genéricos”. Por isso, o usuário “menos favorecido” – aquele que usa uma interface de áudio onboard – acaba sendo penalizado duas vezes: na qualidade dos conversores e na latência. Mesmo no caso de usuários que possuem interfaces profissionais, há sempre uma situação de emergência em que se precisa usar um dispositivo de áudio onboard, e aí a latência acaba atrapalhando também. Felizmente, pelo menos no que diz respeito à latência do driver, essa desvantagem pode ser superada, graças ao ASIO4ALL, uma espécie de emulação de ASIO que acessa o núcleo do driver WDM e aumenta seu desempenho de forma bastante
  • 2. eficiente. O ASIO4ALL não faz milagres, como transformar uma plaquinha Genius em M- Audio, mas permite que os usuários das Realtek AC97 onboard e similares toquem seus sintetizadores virtuais sem atraso e monitorem suas gravações sem aquele eco insuportável. Instalação e operação Para usar o ASIO4ALL basta que a interface de áudio tenha um driver WDM, no qual o ASIO4ALL se acopla e faz seu trabalho. Essa operação “parasita” não altera o driver original e nem prejudica o sistema operacional. A instalação é realmente muito fácil e não requer qualquer trabalho ou conhecimento do usuário. Basta executar o instalador que o ASIO4ALL está lá, pronto para ser usado. Junto com ele vem um manual de operação, bastante explicativo (está disponível em inglês, alemão ou chinês). Na instalação, o ASIO4ALL também permite ao usuário escolher uma opção que dá ao software acesso às entradas de áudio como se fossem dispositivos ReWire. Este recurso é útil para alguns softwares que não “enxergam” entradas de áudio, mas podem usar entradas ReWire. As configurações do ASIO4ALL são feitas em um painel de controle com design um pouco bizarro, mas bastante eficiente. Para os usuários que não quiserem se preocupar muito com ajustes, é recomendado modo “Simple” (ícone do Bush), onde se pode ajustar apenas o tamanho do buffer ASIO, que determina a latência efetiva da operação da interface. Já no modo “Advanced” (ícone do Einsten), o usuário pode fazer ajustes mais detalhados, como compensação de latência e tamanho do buffer de hardware (se for o caso).
  • 3. Tenho usado o ASIO4ALL para gravar e reproduzir áudio em um notebook Toshiba com a interface onboard Realtek AC97, e também com uma interface USB Edirol UA3D que usa o driver USB audio “genérico” do Windows XP. Os resultados têm sido muito bons. No Sonar, tenho conseguido trabalhar com latências bem abaixo de 5 ms (no driver WDM puro não dava para conseguir abaixo de 10 ms). O driver se comporta bem e o sistema tem sido bastante estável, sem engasgos ou dropouts. Dessa forma posso tocar sintetizadores virtuais e sintetizadores MIDI externos sem atrasos perceptíveis entre eles. Em alguns testes que pude fazer no Nuendo, a latência do ASIO4ALL também ficou bem mais baixa do que a do driver ASIO Multimedia Driver que a Steinberg oferece para dispositivos que não tenham driver ASIO. Quem quiser experimentar o ASIO4ALL, pode consegui-lo diretamente no site www.asio4all.com, baixando o arquivo que contém o instalador e o manual. Como o seu nome sugere, o driver é de uso livre. Uma última observação: existe também um outro driver ASIO desenvolvido para ser usado com interfaces WDM, chamado ASIO2KS (www.asio2ks.de). Ele também é gratuito e foi desenvolvido na Alemanha. Apesar da interface gráfica com
  • 4. aparência mais profissional (convencional), o driver até hoje não saiu da versão beta.