CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 200ICAMPANHA DA FRATERNIDADE 200I
TEMA: CAMPANHA DA FRATERNIDADETEMA: CAMPANHA DA FRATERNIDADE
LEMA: VIDA SIM DROGAS NÃOLEMA: VIDA SIM DROGAS NÃO
APRESENTAÇÃO
Uma vez mais a Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) anima, em âmbito nacional,
a Campanha da Fraternidade. Essa feliz iniciativa, com 37 anos, vem mobilizando, cada ano, toda
a Igreja Católica no Brasil, outras Igrejas e muitas instâncias sociais a favor de vida digna para
todos os brasileiros, justiça social, fraternidade e paz.
Iniciamos o século XXI e o terceiro milênio, que desejamos, como propunha a CF
Ecumênica de 2000, sejam sem exclusões, colocando como tema para a CF a complexa e
dramática questão das drogas, em todas as suas variáveis. Trata-se de um mutirão em prol de vida
de qualidade, com sentido motivador positivo de realização pessoal, social e transcendente.
A escolha do tema relacionado com drogas parte da realidade de um sistema de morte,
alimentado por um estilo de vida materialista, que vem se alastrando como furacão, a partir do
cultivo, comercialização e consumo das mesmas, que ceifa milhares de vidas e afeta
profundamente famílias e amplos setores sociais. Junto com as trágicas conseqüências do uso de
drogas, crescem a violência social, a prostituição, os roubos, os assaltos e seqüestros, a corrupção
política, a corrosão da dimensão ética do trabalho e a guerra entre traficantes, que mantém
exércitos bem armados e bairros dominados.
Além dos fiéis de nossa Igreja, convidamos a todos os cidadãos que lutam por um Brasil
justo e solidário, para que somem forças para a mobilização nacional contra as drogas, seus
mentores e traficantes e todos os que os apóiam; a favor das pessoas vitimadas, exploradas,
destruídas, que desejamos redimidas, promovidas e reinseridas na comunidade; e a favor de todos
os que se organizam para destruir esse flagelo social que arruina tanta gente, especialmente os
jovens. "Este trabalho de reabilitação social também pode constituir um verdadeiro e próprio
empenho de evangelização." (EA 61)
Agradecemos a todos os que colaboraram para a produção de todo o material de apoio
desta CF. Nossa gratidão de pastores a todos os que se envolverem nesta Campanha da
Fraternidade, ajudando-a a alcançar seus objetivos, na certeza de estarmos cumprindo o
mandamento novo de Jesus: o amor, preferentemente aos mais necessitados. À luz da mensagem
de conversão, que perpassa a Quaresma, canalizaremos nossas energias para atender com
misericórdia os crucificados na cruz das drogas, na esperança inabalável da luz da ressurreição,
que nos dá a certeza de libertação e salvação.
Dom Raymundo Damasceno Assis
Bispo Auxiliar de Brasília e
Secretário-Geral da CNBB
Pe. Antônio Donizetti Sgarbi
Secretário-Executivo da CF
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Oração “Vida sim, droga não”
Deus de ternura e bondade,
bendito sois pelo maravilhoso dom de viver!
Nós vos agradecemos, porque podemos
escolher a vida e não a morte.
Fortalecei-nos na solidariedade
a favor das vítimas das drogas.
Aumentai em nós, Senhor, a perseverança e a união,
na luta contra o perverso sistema de destruição da vida.
Que encontremos sempre em Vossa Palavra,
na Eucaristia e na comunidade eclesial,
o sustento para a caminhada e para a construção do vosso Reino.
Que vosso amor, ó Pai,
circule em nossos corações, nas relações humanas e na sociedade,
para acelerar a vinda do mundo que a gente quer:
um mundo sem ódio, sem exclusões, sem drogas,
um mundo pleno de vida, amor, solidariedade e paz.
Por Jesus Cristo, vosso Filho, que veio ao mundo
para que todos tenham vida,
na unidade do Espírito Santo.
Amém.
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I N T R O D U Ç Ã O
A Campanha da Fraternidade
1. A Campanha da Fraternidade (CF) é um momento privilegiado da ação evangelizadora e
pastoral da Igreja no Brasil. Iniciada em 1962, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, a CF
alcançou dimensão nacional em 1964. A cada ano ela foi mobilizando mais pessoas, grupos e
entidades religiosas e civis. No ano 2000, foi celebrada a primeira Campanha da Fraternidade
Ecumênica, coordenada pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), com o tema
“Fraternidade, Dignidade Humana e Paz” e o lema “Novo Milênio sem exclusões”.
2. A Campanha da Fraternidade acontece na Quaresma e, como convém a esse tempo litúrgico,
suscita um apelo à conversão para a justiça, o amor, a fraternidade e a paz. Como elemento
motivador, ela traz sempre um tema relevante da convivência humana, que interpela a
consciência das pessoas e exige conversão profunda e repostas concretas, tanto por parte da Igreja
quanto da sociedade.
3. A escolha do lema “Vida sim, drogas não” é, como em todos os anos, resultado de ampla
consulta aos que trabalham anualmente com a Campanha. A decisão coube à Presidência da
CNBB e à Comissão Episcopal de Pastoral (CEP), em 1999. Na escolha e no tratamento do tema
da CF considera-se a fidelidade ao projeto do Reino de Deus, os sinais dos tempos representados
pelos desafios das condições de vida do povo brasileiro e o respeito ao período quaresmal.
4. A CF tem sido, ao longo de mais de três décadas, um processo educativo que ajuda a perceber
as exigências da Palavra de Deus diante dos problemas concretos da sociedade. Desse modo, têm
se conseguido três importantes resultados: a) estimular os agentes de pastoral e os fiéis a
estudarem, de modo mais intenso, a Palavra de Deus e aprofundarem as conseqüências práticas
da fé; b) comunicar ao público em geral, fora dos ambientes eclesiásticos, a voz profética da
Igreja diante de graves questões sociais e sensibilizar a sociedade como um todo para a temática
em questão; c) incentivar iniciativas pastorais concretas como resposta aos clamores da realidade
analisada e às exigências da Palavra de Deus intensamente refletidas nas comunidades.
A Campanha de 2001
5. Neste ano a Campanha da Fraternidade está voltada para o grave problema das drogas, que
vem afetando dramaticamente milhares de pessoas, famílias e muitos setores sociais. O assunto
está em seqüência às CFs anteriores, particularmente a de 1997, “Cristo liberta de todas a
prisões”, a de 1983, “Fraternidade sim, violência não”, e a de 2000, que versou sobre a dignidade
humana, a paz e projetou um novo milênio sem exclusões.
6. O lema “Vida sim, drogas não” obviamente mantém a relação profunda das CFs anteriores
com as estruturas políticas, econômicas e sociais de nosso País. A produção e o tráfico de drogas
tornaram-se hoje um grande negócio e, portanto, interferem na política e na cultura de nosso
povo. O problema passou a ser estrutural, atingindo um grande número de pessoas, e é, na
verdade, mundial.
7. Temos consciência de que ainda é pouco o que sabemos sobre o uso das drogas, intimamente
ligado aos padrões culturais de cada sociedade. Em algumas, elas se enquadram num contexto
ritual, como entre certos povos indígenas; noutras, são inseridas em procedimentos médicos,
como nas sociedades modernas, e, em ambos os casos, seus efeitos nocivos são contrabalançados
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pelo controle social. Quando, ao contrário, o consumo de drogas escapa ao controle sociocultural
tornando-as acessíveis a qualquer pessoa (inclusive a crianças e adolescentes), seus efeitos podem
ser mortíferos. É o que está acontecendo hoje, devido a graves rupturas nas instituições sociais,
abalos morais, mudanças culturais e a inclusão das drogas no sistema de circulação das
mercadorias em geral.
8. Neste texto, serão consideradas drogas:
 lícitas (livremente produzidas e comercializadas, como o fumo e o álcool);
 semilícitas (distribuídas somente sob prescrição médica);
 ilícitas (cuja produção, comercialização e consumo constituem infrações legais).
Isso porque todas elas são substâncias cujo consumo traz sempre algum tipo de dano à
pessoa ou à sociedade e, por essa razão, devem ser de alguma forma combatidas ou controladas.
Mas faremos as devidas distinções entre elas quando for o caso.
9. Diante dessa realidade, é preciso fazer, como cidadãos conscientes do valor da pessoa
humana e da periculosidade das drogas, primeiramente, um grande mutirão de trabalho
preventivo. É nosso dever, também, acionar as instâncias competentes para o cerceamento das
poderosas forças que produzem e traficam drogas e para a pronta recuperação dos atingidos por
elas. Mas, acima de tudo, deve estar o trabalho em favor da dignidade humana a ser preservada,
promovida e, quando necessário, resgatada. Seguindo os passos de Jesus e olhando o próximo
com o seu olhar, queremos construir um mundo onde o ser humano encontre a felicidade e não
precise mais buscar nas drogas um prazer ilusório.
Objetivos da CF-2001
10. A Campanha da Fraternidade de 2001, em fidelidade ao que acima foi colocado, tem por
objetivo geral mobilizar a comunidade eclesial e a sociedade brasileira para enfrentar
corajosamente o grave e complexo problema das drogas, que arruina milhares de vidas e afeta
profundamente a paz social.
11. Como objetivos específicos, a CF 2001 visa a:
a) contribuir para que a comunidade eclesial e a sociedade sejam mais sensíveis ao complexo
problema das drogas, às suas vítimas e às suas danosas conseqüências;
b) mobilizar a própria Igreja para se colocar, mais ainda, profeticamente a favor da vida e
da dignidade humana, particularmente dos empobrecidos e excluídos;
c) anunciar para o novo milênio uma sociedade sem exclusões, onde a pessoa humana seja
o centro, a vida não se subordine à lógica econômica, e o trabalho não se reduza à mera
sobrevivência mas promova a vida em todas as suas dimensões;
d) incentivar amplo movimento de solidariedade para manter viva a esperança das vítimas
diretas das drogas, divulgando iniciativas já existentes e estimulando novas;
e) denunciar "com coragem e com força o hedonismo, o materialismo e aqueles estilos de
vida que facilmente induzem à droga"1
, bem como os mecanismos sociais do mercado
“neoliberal” que, com seu padrão de consumo insaciável, aumenta a competição e o
individualismo, deixando um vazio existencial nas pessoas nele integradas e a revolta
nas que dele são excluídas, levando umas e outras para o mundo das drogas.
Os subsídios para a CF-2001 e este Texto-base
1 Papa JOÃO PAULO II, Ecclesia in America, (EA) nº 61.
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12. Como nos anos anteriores, há diferentes subsídios para a Campanha: Texto-base, manual, CD
e fita cassete, cartaz, folhetos diversos. O Texto-base aqui apresentado é a peça principal porque
dá a fundamentação do tema. Sua finalidade é fornecer o conteúdo básico a ser veiculado ao
longo da Campanha e depois dela, embasando a reflexão, a oração e as iniciativas. Como é óbvio,
a proposta da CF se liga a uma postura mais pastoral do que técnica, mais didática do que
científica. O que se pretende é questionar, suscitar debates, provocar atitudes. Como se trata de
Texto-base, há necessidade de ser permanentemente atualizado e, sobretudo, lido à luz de novas
situações e das diversas realidades locais.
13. A primeira parte deste texto (VER) traz uma visão global do problema das drogas, que desfaz
sonhos de muitas famílias; para isso, situa o complexo sistema das drogas no contexto social,
econômico e político. Na segunda parte (JULGAR), o texto busca na ética, no olhar de Deus e no
ensino da Igreja a luz que ilumine a prática transformadora dessa situação. A última parte (AGIR)
aponta princípios para a ação, exemplificando com experiências concretas de prevenção,
intervenção, tratamento e reinserção social das vítimas de drogas.
PRIMEIRA PARTE:
QUERO VER DE NOVO (Mc 10, 51)
(VER)
Alguns esclarecimentos prévios
14. A Igreja quer ver a realidade com o olhar amoroso que reconhece no outro a imagem e
semelhança de Deus, e assim deixar-se interpelar pela condição humana com suas alegrias e
sofrimentos, desejos e frustrações, realizações e fracassos. Esse olhar nos convoca a atitudes
fraternas que se expressam tanto no cuidado pessoal (ver no dependente de drogas uma vítima a
ser socorrida, sem prejulgá-lo), quanto na atuação social e política sobre as estruturas de pecado
que sustentam o sistema das drogas.
15. O problema das drogas no mundo atual é complexo e polêmico. Complexo, porque só se pode
falar de drogas no plural e porque o problema reside menos nas drogas enquanto substâncias
entorpecentes do que em seu uso, suas conseqüências e no sistema que as sustenta. Polêmico,
porque são muitos os diagnósticos e, freqüentemente, as propostas para uma política antidrogas
conflitam entre si. A análise aqui apresentada mais aponta temas para estudo e reflexão do que
conclusões definitivas. Para abordar o tema, trouxemos a contribuição de diferentes disciplinas
cujo enfoque é relevante para a pastoral. Para que este Texto-base possa fornecer uma orientação
segura a quem o consulte, evitamos endossar teses polêmicas ou que não estejam respaldadas por
instituições reconhecidas pela comunidade científica.
16. Recorremos a muitas pessoas peritas no assunto, dentro e fora das instituições católicas.
Gratuita e voluntariamente, elas contribuíram com suas críticas e sugestões, prestando sua
colaboração por conhecerem a gravidade do problema e por confiarem no papel educativo das
Igrejas cristãs. Expressando aqui nosso agradecimento a esses colaboradores anônimos, queremos
dizer-lhes que a CNBB espera corresponder à sua confiança, promovendo, nesta Campanha da
Fraternidade, uma nova consciência social. Ao fazê-lo, ela estará cumprindo sua missão
evangelizadora, que, neste novo milênio, convoca todas as pessoas de boa-vontade a
construirmos um mundo de justiça e de paz, livre dos males das drogas.
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No que diz respeito ao termo “droga”, convém desde já assinalar sua ambigüidade.
Embora deva-se incluir entre as drogas tanto as substâncias “leves” quanto as “pesadas”, as
legais e as proibidas por lei, o uso corrente associou a palavra àquelas que são objeto de tráfico
ilegal. Ao falarmos de drogas, no plural e sem especificação, queremos nos referir às
substâncias capazes de provocar alterações da percepção, do humor e das sensações. Incluem-
se, portanto, entre as drogas também o álcool, o tabaco, certos produtos naturais (ex.:
cogumelos), inalantes (ex.: cola, éter) e vários medicamentos (ex.: anfetaminas, morfina).
Sonhos e pesadelos
17. Quem de nós não sonha? E sonhamos durante o sono e melhor ainda quando acordados. Faz
parte da natureza humana ter utopias, alimentar esperanças e costurar sonhos que permitam
descortinar horizontes novos onde reine o amor, a felicidade, a paz, o equilíbrio ecológico. Os
sonhos ajudam a transformar a realidade em que vivemos, animando nossos projetos, planos e
esforços para sua realização. No mais profundo de nós está esse impulso que busca uma vida
plena, prazerosa, marcada pelo afeto e pelo cuidado mútuo.
18. Esses sonhos estão em nós porque fomos criados para viver em comunhão. A vida bem
vivida nada tem de monotonia, ela é música, melodia, uma festa sem fim, sintonia entre
diferentes que se equilibram na harmonia e fazem dela uma obra de arte. Harmonia consigo
mesma, com as outras pessoas, com a natureza e com Deus. Ao criar a terra e depois o homem e a
mulher, Deus “viu que tudo era bom” (Gn 1,31). O Apocalipse fala da recriação de “um novo céu
e uma nova terra” (Ap 21, 1). É o nosso grande sonho: a fraternidade cósmica, incluindo toda a
criação numa nova, complexa e bela harmonia.
19. Mas quantas vezes nossos sonhos se tornam pesadelos? Sonhos povoados por monstros ao
invés de criaturas normais, sonhos nos quais pessoas queridas assumem atitude agressiva, sonhos
onde a ordem natural das coisas é subvertida, ficando a pessoa dominada pela sensação de
impotência, incapaz de reagir a essas ameaças que fogem ao seu controle e à sua compreensão. O
pesadelo é a experiência subjetiva do caos, quando a harmonia é rompida pelo ruído que impede
a comunicação.
20. Essa imagem do sonho/pesadelo pode ajudar a entender por que o problema das drogas tem
hoje uma nova face. Desde tempos imemoriais o ser humano tem usado substâncias
entorpecentes ou estupefacientes com várias finalidades. Como artifícios para lidar com o
próprio corpo (contra a insônia, a depressão ou a dor, por exemplo), favorecer a sociabilidade (o
álcool para desinibir os convidados no início da festa), ou propiciar experiências religiosas (a
ayahuasca usada por certos povos amazônicos). Em alguns casos, elas ajudam a realizar sonhos
legítimos, sendo seus efeitos nocivos atenuados pela delimitação imposta pelo procedimento
médico, pelo controle social ou pelo ritual. Quando, ao contrário, as drogas tornam-se acessíveis
a qualquer pessoa (inclusive crianças e adolescentes), rompe-se o equilíbrio do consumo
socialmente controlado, e os danos aumentam e podem ser mortíferos. Nesse caso, as drogas não
ajudam a realizar sonhos; antes, transformam a vida em pesadelo. É o que está acontecendo hoje,
devido à transformação das drogas em mercadorias disponíveis a qualquer um e impostas por
pessoas de interesses espúrios.
21. A realidade das drogas abala muitos sonhos, transformando-os em pesadelos. O fumo, o
álcool, os estimulantes, os tóxicos e entorpecentes estão mais perto de nós do que por vezes
suspeitamos ou queremos admitir. Há um enorme exército de produtores, agentes financeiros e
traficantes comandando o mundo das drogas. É muito dinheiro em jogo. É muita vida
desperdiçada. De nada adianta fugir da realidade. Ao contrário, devemos encará-la de frente para
conhecer o drama das drogas em toda sua complexidade e assim nos colocarmos em posição
adequada para enfrentá-lo e superá-lo.
O complexo sistema das drogas
22. Quando se fala em drogas, pensamos saber de que se trata. Temos geralmente, pelo menos,
um conhecimento prático devido a algum caso de drogas ocorrido na própria família, na
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vizinhança ou com amigos. Alguém viciado em cigarro que não consegue sequer dormir direito,
outro com a saúde em frangalhos por causa da bebida, alguém sem capacidade para trabalhar por
causa da maconha, e ainda outro vivendo na marginalidade por causa da cocaína ou do tráfico.
Além disso, muita coisa se sabe por livros, revistas, jornais, rádio e TV. A mídia nos bombardeia
com a propaganda de alerta contra os males e perigos das drogas, mas ao mesmo tempo estimula
seu uso através de filmes, reportagens e matérias nas quais o consumo de drogas parece
comportamento normal a ser imitado por quem queira identificar-se com as personalidades da
moda. Não devemos nos ater a essa informação propagandística se queremos entender o mundo
das drogas, muito mais complicado do que parece à primeira vista. Precisamos antes de mais
nada desconfiar do que já pensamos saber por experiência vivida ou pelos meios de comunicação,
para então indagar mais seriamente sobre o tema.
23. Essa indagação pode começar de um fato cotidiano: muitas pessoas adultas quando têm nas
mãos uma garrafa de bebida alcoólica se contentam com alguns goles. Nesse caso, mesmo sendo
uma droga perigosa, o álcool não lhes faz tanto mal. Já outras pessoas, se tomam um trago não
conseguem mais parar e se embebedam. Ou seja, a mesma substância provoca efeitos diferentes
conforme as condições da pessoa que a ingere. O problema da droga deve, portanto, ser visto
dentro do contexto sociocultural e das condições físicas e psíquicas que envolvem seu consumo.
Deixando de lado os raros casos de quem produz toda droga que consome, vamos abordar o
problema situando-o no interior de um complexo sistema de relações entre produtores,
intermediários e consumidores de drogas, que chamaremos sistema das drogas.
24. O elemento mais visível desse sistema é o usuário de alguma droga. Quando a pessoa atinge
alto grau de comprometimento no uso da droga, pode ter sua vida praticamente arruinada. Salvo
exceções, o usuário não tem acesso à droga se ela não lhe for oferecida (normalmente, vendida)
por alguém que age como intermediário entre a produção e o consumo. Este pode ter uma
ocupação lícita (quem vende cigarro, bebida ou produtos farmacêuticos) ou ilícita
(narcotraficante, farmácia que vende anfetaminas e estimulantes sem prescrição médica, ou quem
vende cola de sapateiro a crianças). A relação entre usuário e intermediário forma a metade mais
visível do eixo do sistema das drogas e tem sido o alvo mais freqüente da repressão. No caso das
drogas ilícitas, esse segmento do eixo engloba desde o grande traficante que controla todo o
sistema, até o "avião" que faz a entrega ao usuário.
25. O intermediário, por sua vez, só pode dispor da droga se ela lhe for passada pelo produtor.
Este é o que cultiva a planta ou potencializa seu princípio ativo (no caso da coca e dos opiáceos),
ou a indústria (farmacêutica, do fumo, do álcool, de solventes). Temos aí a segunda metade do
eixo do sistema: a relação entre produtor e intermediário.
26. As intricadas relações entre essas duas metades de um mesmo eixo, que vai do produtor ao
consumidor final, configuram o sistema das drogas. A rigor, seriam vários subsistemas, um para
cada tipo de droga, mais ou menos ligados entre si e com outros sistemas (como o crime
organizado, o tráfico de armas, a prostituição etc.). No caso das drogas ilícitas, o elemento mais
visado desse sistema é o traficante, por ser quem faz a mediação entre o produtor e o consumidor.
Não é ele, porém, quem detém a posição mais forte no complexo, e sim o agente financeiro cujo
capital põe em movimento todo o sistema, e que, de alguma forma, detém o comando tanto da
produção quanto do tráfico ou intermediação comercial. Seria, portanto, ingênuo reduzir o
sistema das drogas à sua parte visível, que geralmente é apresentada na mídia na figura dos
pequenos produtores (plantadores de coca ou maconha), pequenos traficantes (que fazem a
entrega direta) e consumidores presos por estarem drogados ou portando alguma droga
(geralmente pessoas pobres).
27. Cabe aqui uma consideração sobre o narcotráfico, cujas redes permeiam todo o planeta,
movimentando valores estimados em torno de US$ 400 bilhões por ano. Apesar de sua
clandestinidade, seu poder alcança muita gente, tanto na fase de produção e de industrialização,
quanto nos inúmeros depósitos para a distribuição. A mídia já fez muitas reportagens sobre o
domínio desse comércio, que hoje é um dos setores que oferecem melhores salários a quem nele
ingressa. Sua imensa malha integra produtores, agentes financeiros, traficantes e consumidores.
Enquanto os poderosos chefes dessa rede dispõem de muitos meios para escapar da repressão
policial, inclusive fazendo a “lavagem de dinheiro”, que lhe dá a aparência de comércio legal, os
pequenos traficantes e os usuários de droga acabam atrás das grades ou mortos pelos becos das
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favelas. Fecha-se assim o círculo vicioso e maldito. Os excluídos da sociedade de mercado
acabam se tornando as pessoas mais expostas à violência do narcotráfico. As chacinas e os
conflitos entre gangues nas grandes cidades, a guerra pelo controle do tráfico, as manobras de
introdução da droga nas escolas e lugares de lazer, a precariedade explosiva do sistema carcerário
trazem estampada nos corpos das vítimas a sua origem e social.
28. Nosso país, nosso estado, nosso município e, provavelmente, até nosso bairro e edifício está
conectado a esse vasto sistema das drogas. Ao contrário da imagem corrente do "mundo das
drogas" como um mundo à parte, freqüentado apenas por marginais e pessoas desclassificadas,
são muitos os fios de conexão entre o sistema das drogas e a sociedade em geral. Essas conexões
ficam mais claras quando se levam em conta todas as conseqüências diretas e indiretas do tráfico
e do consumo de drogas. Mesmo pessoas que nunca consumiram drogas tornam-se vítimas delas
quando são assaltadas por gente drogada ou que rouba para comprar drogas, quando sofrem a
violência que cerca as bocas de fumo, quando sofrem acidente de trânsito por causa de motoristas
embriagados, quando são governadas por políticos eleitos com dinheiro do narcotráfico e com ele
comprometido... E a lista poderia ir longe. O sistema das drogas causa muito mais vítimas do que
parece à primeira vista. Não apenas o tóxico-dependente, mas de algum modo, todos somos
vítimas de sua ação anti-social.
Indicador particularmente grave do esgarçamento do tecido social, é o aumento da violência e
da criminalidade, em grande parte por causa da droga. De 1980 a 1996, a taxa de assassinatos
dobrou no Brasil, passando de 13 para 25 por ano em cada 100 mil habitantes. Mais
impressionante é o fato de que esse índice sobe a 44,8 em cada 100 mil jovens entre 15 e 19
anos de idade e, na mesma faixa etária, chega a 215 mortes no Estado do Rio de Janeiro e a 134
no Estado de São Paulo. Estamos aqui evidentemente diante de um daqueles “pecados sociais
que clamam ao céu”, resultado do comércio de droga, tráfico de armas, corrupção,
desigualdade social... (DGAE – Doc. 61 – CNBB – p. 82)
29. Cabe então a pergunta: se somos todos vítimas, quem seriam os culpados? Já houve um
tempo em que o mundo das drogas parecia ser dividido entre “mocinhos” e “bandidos”, como se
todo o mal pudesse ser de exclusiva responsabilidade de uma única parte. Os países
consumidores acusavam os países produtores; estes jogavam a culpa no narcotráfico; já os
traficantes alegavam estar atendendo à demanda de consumidores ricos. Essas acusações mútuas
não levaram a coisa alguma e hoje sabemos que a melhor atitude diante do sistema das drogas é
compartilhar as responsabilidades. Somos co-responsáveis, no mínimo por omissão.
30. Essa responsabilidade compartilhada nos obriga a rever certas atitudes simplistas que
reduzem o problema a uma questão individual, fechando os olhos para a complexidade do
sistema e limitando-se a propor terapias de recuperação. Nunca é demais lembrar os estragos
feitos pelo narcotráfico, sobretudo nas periferias, pensar nos gastos públicos com o tratamento de
saúde dos fumantes, ou ainda no custo social do alcoolismo e tudo que ele acarreta: acidentes de
trânsito, desemprego, brigas e morte, desmanche familiar... e há ainda a disseminação do vírus
HIV entre usuários de drogas injetáveis, o aumento da violência e a extensão do crime organizado
a quase todas as esferas da sociedade. Se é certo que a terapia é indispensável, importa também
considerar outras ações possíveis contra o sistema das drogas, dentro do espírito de
responsabilidade compartilhada.
31. Diante da magnitude do sistema das drogas hoje, a necessidade de compartilhar as
responsabilidades tornou-se mundial, pois nenhum país é capaz de impedir sua expansão sem a
colaboração de outros. Tal colaboração internacional não pode ser submetida à hegemonia de um
Estado, nem servir de pretexto para a violação da soberania nacional de outros. Respeitando a
autodeterminação de cada povo, não escamoteando interesses particulares, nem reduzindo o
problema a apenas um de seus elementos (policial, educativo, médico, moral...), a humanidade
pode hoje enfrentar adequadamente o problema das drogas. O primeiro passo é a tomada de
consciência de nosso ainda limitado conhecimento sobre ele, para, em seguida, assumirmos a co-
responsabilidade com outros países, grupos, igrejas, associações, movimentos, enfim todas as
forças sociais que desejam ver a humanidade vivendo mais feliz sobre a face da terra sem perder
o autocontrole por causa de drogas.
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Esclarecendo alguns pontos
32. Ao estudarmos o vasto mundo das drogas, elegemos enfocar o problema da dependência,
como motivador principal para esta Campanha da Fraternidade. Vamos aqui descrever de forma
resumida as drogas mais usadas no Brasil, alertando para seus efeitos nocivos, e depois
analisaremos mais de perto as possíveis causas da dependência de drogas, inserindo o problema
no seu contexto sociocultural. Em segundo lugar, vamos esclarecer certos termos e conceitos de
nossa abordagem, sempre buscando uma visão mais global, no sentido de questionar algumas
idéias correntes e encarar a realidade da forma mais objetiva possível. Em terceiro lugar,
obviamente, está a proposta de uma mobilização total de nossa sociedade para buscar os meios
possíveis mais eficazes para resolver esse dramático problema do mundo de hoje. O que nos
move nesse projeto é a dinâmica da fé cristã, encarnada na caridade que vê, se compadece diante
da vítima, tem a iracúndia misericordiosa de Deus para com os responsáveis pela tragédia e age
para sanar a situação, conforme vemos na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 23-37).
Ao longo de sua história, ao explorar as potencialidades da natureza, a humanidade foi
descobrindo uma grande variedade de substâncias vegetais que, adequadamente preparadas,
podem provocar sensações agradáveis ou suprimir dores e angústias. Em geral, elas são usadas
com finalidade terapêutica, religiosa ou lúdica, e assim inseridas nas normas culturais de cada
povo. O problema aparece quando o consumo dessas substâncias foge ao controle social, como
ocorre hoje devido à sua exploração comercial, tornando-as um verdadeiro drama para a
convivência humana. .
33. Os dados mostram que, apesar dos esforços feitos até agora, o consumo das várias drogas
vem atingindo formas e proporções cada vez mais preocupantes. Mas é preciso ir além dos fatos e
procurar as causas, atacá-las. É evidente que o consumo abusivo de drogas não deve ser visto
apenas como resultado de patologias individuais, mas como um fato social. E aqui está um
grande indicativo de causa: “uma sociedade como a nossa, cada vez mais pragmática, insensível,
competitiva, consumista e individualista, é uma sociedade que favorece o uso de drogas" (2
). Ela
gerou um mundo onde a existência cotidiana se tornou ao mesmo tempo tão árdua e tão vazia de
sentido, que os tóxicos funcionam como “amortecedores” nas relações do ser humano consigo
mesmo e com o mundo. Há quem use a expressão “civilização química” para designar essa
realidade.
34. Muitas entidades têm feito pesquisas e estudos para orientar uma intervenção eficaz contra os
males provocados pelo uso indevido de drogas, mas freqüentemente elas se deparam com
barreiras, de grandes proporções, como os interesses econômicos envolvidos na produção e venda
de drogas (lícitas e ilícitas), a incompreensão de quem não se sente diretamente afetado, e a
limitação de recursos humanos e materiais adequados a um enfrentamento político da questão.
35. As políticas públicas do Brasil e de muitos outros países têm concentrado suas energias na
repressão às substâncias ilícitas e a seus usuários, mas pouco tem feito no campo da prevenção ao
seu uso e da educação para a saúde e quase nada para eliminar as verdadeiras causas da
disseminação das drogas3
. Suas campanhas publicitárias parecem ter tido pouco efeito além de
provocar um certo medo das drogas ilícitas, com o risco até mesmo de provocar curiosidade em
experimentá-las. Já as drogas lícitas, em particular o tabaco, o álcool e as anfetaminas, não têm
merecido a devida atenção. Embora o Ministério da Saúde venha fazendo campanha contra o
fumo, esta é contrabalançada por uma publicidade sutil que identifica o fumo e o álcool com
sucesso, poder, bom gosto e “finesse”.4
Mas, o que é mesmo droga?
36. Nossa abordagem, resultado de muito estudo, considera como “droga” os psicotrópicos, que,
introduzidos no organismo humano, provocam alterações no sistema nervoso central, em
2 Cf. Ana Carolina L. L. da COSTA e Elizabeth Costa GONÇALVES, A Sociedade, a Escola e a Família diante das
drogas, in Richard BUCHER, (Org) As drogas e a vida, uma abordagem psicossocial, São Paulo, Editora Pedagógica
Universitária Ltda. 1988, p. 48- 49
3 A Câmara dos Deputados aprovou, no dia 9 de agosto de 2000, a proibição da propaganda de cigarros em rádios,
TVs, jornais, revistas, outdoors e patrocínio das marcas de cigarros a eventos culturais e esportivos. Até o momento o
projeto não foi apresentado ao Senado.
4 Relatório do 1o
Fórum Nacional Antidrogas,1998, Secretaria Nacional Antidrogas -SENAD/ Presidência da República.
9
particular alterações da percepção, do humor e das sensações, induzindo, ainda que
temporariamente, sensações de prazer, de euforia, ou aliviando o medo, a dor, as frustrações, as
angústias etc. Essa definição vai além do uso corrente, que só qualifica como “droga”
psicotrópicos proibidos por lei.
37. A qualidade e a intensidade das alterações produzidas pelas substâncias psicotrópicas
dependem de vários fatores. Os mais importantes são: suas propriedades farmacológicas, a
quantidade ingerida, as características particulares da pessoa que ingere, as expectativas em
relação aos efeitos da droga e as circunstâncias que envolvem o uso 5
. No caso do álcool, por
exemplo, qualquer dose ingerida por crianças é nociva.
Algumas drogas e seus efeitos:
As drogas podem ser classificadas como depressoras, estimuladoras ou perturbadoras. Abaixo
estão as mais freqüentes no Brasil.
A) Depressoras
1. Álcool: é uma droga lícita e seu uso é socialmente estimulado. Seus efeitos sobre o
comportamento dependem da quantidade ingerida. O álcool provoca diversos problemas de
saúde como a gastrite, a cirrose hepática, dormência nas pernas.
2. Inalantes ou Solventes: são produtos voláteis usados em atividades industriais (ex.: cola de
sapateiro), comerciais e domésticas. Os inalantes evaporam à temperatura ambiente e podem
ser “cheirados”. Têm propriedades anestesiantes e tranqüilizantes, induzem à euforia e ao
delírio, provocam a sensação de desequilíbrio. São tóxicos para o sistema nervoso, fígado e
coração. A longo prazo, provocam também perda de peso e lesões no cérebro.
B) Estimuladoras
3. Anfetaminas ou "Bolinhas": obtidas em laboratório, são produtos sintéticos. Podem ser
comprimidos ou injetáveis. São drogas ilícitas, exceto para uso médico, como anorexígenos.
Estão contidas nos moderadores de apetite. Trazem sensação semelhante à da cocaína. Após
os efeitos, surgem angústia, pânico, medo, idéias de perseguição, cansaço intenso,
depressão, perda de apetite, suor, irritação de pele, entre outras.
4. Cocaína: é um dos mais potentes excitantes do sistema nervoso central. Em estado natural, a
coca da região dos Andes é mascada para disfarçar a fadiga, a fome e a sede. Quimicamente
potencializada, a coca torna-se um pó branco capaz de estimular o estado de alerta, reduzir o
sono e acelerar o pensamento. Seu uso pode causar lesões no septo nasal, alteração do ritmo
cardíaco, provocando taquicardia e palpitações. Seu uso continuado provoca graves danos à
pessoa.
5. Crack: é o nome dado à cocaína transformada por meio de soda cáustica ou bicarbonato de
sódio, para se tornar própria para fumar. Pode atingir grau de pureza de até 90%, com a
potência maior que a cocaína em pó. Com muita facilidade cria dependência. Inicialmente, o
usuário tem a sensação de confiança em si mesmo, de poder e excitação. Após seu uso,
segue-se um período de depressão, paranóia e outros sintomas. A pessoa pode tornar-se
violenta e suicida em potencial. É conhecida como a “ droga da morte”.
6. Merla: produzida a partir da pasta básica da cocaína com o acréscimo de querosene, gasolina,
metanol ou ácido sulfúrico, é uma droga de baixo custo e rápida dependência. Provoca
emagrecimento acelerado, problemas respiratórios, perda de dentes, feridas, insônia e outros
sintomas físicos. No nível psicológico, traz sentimentos de perseguição, medo e paranóia.
7. Nicotina: aspirada pelo fumo do tabaco, causa inúmeros malefícios cardiológicos e
respiratórios. A nicotina produz dependência física. A condição de droga lícita favorece seu
uso, embora já tenha sido citada como causadora de 24 doenças.
C) Perturbadoras
8. Maconha: é o nome popular de um arbusto de origem asiática. Suas folhas são secas e
transformadas em cigarro: o “baseado”. A longo prazo e intensamente usada, provoca o
aumento do apetite, transpiração excessiva, tremores e ansiedades, aumento dos batimentos
cardíacos e estados alterados de consciência.
9. Ecstasy: droga sintética, é uma mistura de anfetamina e alucinógenos, feita em laboratório e
consumida em forma de comprimido ou pílulas. Deixa a pessoa extremamente excitada,
provoca euforia e desejo de contato físico. Passado o efeito, a pessoa sente náuseas, pânico,
cansaço e fadiga. Em usuários crônicos, pode provocar depressão, demência e delírio.
5 Cf. Elizabeth Costa GONÇALVES, Alguns conceitos referentes à toxicomania, in Richard BUCHER, (Org) As
drogas e a vida, uma abordagem psicossocial, São Paulo, Editora Pedagógica Universitária Ltda. 1988, p. 10.
10
Toxicomania e dependência
38. A toxicomania foi definida pela Organização Mundial da Saúde - OMS - como um estado de
intoxicação periódica ou crônica, nocivo ao indivíduo ou à sociedade, causado pelo uso repetido
de uma droga, com três características básicas: a) desejo irresistível ou necessidade imperiosa de
consumir a droga e procurá-la de todas as maneiras; b) tendência de aumentar as doses; c)
dependência psicológica, às vezes física, em relação aos efeitos da droga.6
39. A dependência de alguma droga é um caso particular da situação mais ampla da dependência
que, desde o nascimento, relaciona todo ser humano com objetos, pessoas e situações, tornando-
as indispensáveis para seu bem-estar, auto-estima e equilíbrio psicológico. Mas certas
dependências podem causar graves prejuízos, como acontece com a droga. Neste caso, pesam
muito as carências individuais dos sujeitos, os possíveis efeitos da droga, e a sensação de prazer
dela resultante. Apesar das críticas que podem ser feitas, é corrente a distinção entre a
dependência física e psíquica.
40. Fala-se de dependência física quando a droga muda intensamente o funcionamento do
organismo a tal ponto que, se o indivíduo deixa de usá-la, aparece um conjunto de sintomas
físicos chamados “síndrome de abstinência”. O exemplo mais conhecido é o do “delirium
tremens”, que aparece em alcoólicos crônicos quando privados da bebida. O delírio começa com
tremores exagerados, ansiedade, insônia, fraqueza, pesadelos, suores abundantes, dores,
alucinações visuais, desidratação, crises convulsivas e, se não houver tratamento adequado, até
mesmo a morte.
41. A definição de dependência física inclui a noção de tolerância, que é o processo de adaptação
do organismo a determinada droga e, consequentemente progressivo enfraquecimento dos seus
efeitos. O resultado é que o usuário sente necessidade de aumentar cada vez mais as doses para
continuar obtendo os mesmos efeitos.
42. Há dependência psíquica quando o usuário sente necessidade imperiosa de repetir o uso da
droga movido pela lembrança do prazer que seu efeito proporciona. O indivíduo, sem a droga,
não chega a ter os mesmos sintomas descritos para a “síndrome de abstinência”, mas sofre
psicologicamente, sente-se desamparado, inseguro, ansioso, angustiado, desanimado e pode até
sentir dores de origem psicossomática. Esses sintomas variam muito de pessoa para pessoa.
* O termo “drogado”, embora de uso corrente é impreciso e grosseiro. Pode-se chamar de
“consumidor de drogas” aquele que consome drogas com intervalos irregulares e, por isso tem
maior possibilidade de deixá-las.
* É denominado “toxicodependente” aquele que toma regularmente um remédio ou droga, mas
com capacidade para deixá-la ainda que a custo de muito esforço.
* Denomina-se “toxicômano” aquele que, definitivamente, passa boa parte do seu tempo e de
sua vida na busca de drogas, das quais já não pode mais se desfazer.7
43. Cabe também aqui considerar a distinção entre drogas “leves” e “pesadas”. Há quem rejeite
tal distinção porque ela alivia o peso da condenação social e da repressão policial sobre drogas
como a maconha, o fumo e o álcool que, embora sendo imediatamente menos prejudiciais a quem
as consome, acabam sendo tão ou mais nocivas à sociedade pelo seu efeito massivo. Nessa
perspectiva, o fumo e o álcool devem receber a mesma estigmatização das demais drogas, uma
vez que tal classificação não deve ser apenas de ordem técnica, mas embutir uma Política Social
que vise à eliminação de todas as drogas. Quem, ao contrário, considera um direito individual o
consumo de drogas “leves” desde que não prejudique as demais, postula uma Política Social que
reprima a indução de pessoas indefesas ao uso de drogas e concentra todo esforço na eliminação
das drogas “pesadas”. Entre essas duas posições polares, podem-se encontrar diferentes
concepções quanto à política de controle e repressão às drogas.
6 Cf. Organização Mundial da Saúde. Apud Drogas: Conceitos, mimeo, s/d.
7 Dicionário Interdisciplinar da Pastoral da Saúde, Centro Universitário São Camilo, São Paulo, Paulus, 1999.
11
44. Enfim, para explicar a toxicomania é preciso ter em mente que ela “é o encontro de um
indivíduo, um produto (a droga), e um momento sociocultural.”8
Esse modelo de compreensão do
fenômeno da dependência parece ser o mais adequado por abranger tanto drogas “leves”, como o
álcool, quanto as mais “pesadas”. Em todas as situações de dependência, é preciso ter presente o
tripé “pessoa / substância química / contexto sociocultural”: a análise cuidadosa das relações
entre esses elementos oferecerá uma visão mais realista do problema, evitando simplificações em
que um dos três elementos parece explicar o todo.
Procurando explicações mais profundas
45. Em geral, nosso contato direto com o problema das drogas se dá quando alguma pessoa de
nossas relações torna-se tóxicodependente ou alcoólico. Mas o problema das drogas vai muito
além de nossas relações pessoais ou familiares. Ele pode ser percebido na “boca de fumo”, que
traz medo e insegurança às pessoas, nas propostas recebidas por pequenos agricultores para
plantar maconha, na corrupção que mancha setores da polícia e dos poderes constituídos, nas
denúncias de “lavagem” de dinheiro, ou nos escândalos desvelados pela CPI do Narcotráfico. Ao
nos depararmos com essas realidades, percebemos que o mundo das drogas está muito próximo
de nós. E aí nos fazemos muitas perguntas: por que tanta gente consome regularmente drogas?
Como explicar o avanço do narcotráfico? Será que não há formas de resistir? Onde fica o sonho
de vida agora ameaçado pelo pesadelo de substâncias que só nos alienam da realidade?
46. A resposta a essas perguntas não é simples nem direta. Não podemos reduzir a raiz do
problema a uma questão meramente pessoal. Tampouco se pode falar da crise sócio-econômica e
política como causa primeira, uma vez que os Estados Unidos são o maior consumidor mundial
de drogas. Nem instituições como a família ou a escola podem ser unicamente responsabilizadas.
Se queremos alguma luz sobre tais perguntas, precisamos ter a coragem de tomar o longo
caminho da análise e da reflexão sobre essa realidade, muito complexa.
47. Na verdade, estamos diante de um conjunto de fatores que, combinados, formam o pano de
fundo para se entender esse complexo campo das drogas. Suas conseqüências são visíveis a olho
nu. Suas causas, porém, se escondem por trás de aparentes certezas que mais facilmente iludem
do que revelam. Além do mais, o consumo freqüente de cada tipo de droga tem motivações
distintas de uma para outra, e não podemos reduzir tudo a um único fator explicativo.
O uso de drogas
48. O uso e o abuso de drogas tem crescido de modo significativo. Cada vez mais diminui a idade
do primeiro contato com as drogas. A ajuda clínica tem mostrado o desencanto da população
jovem, a mais sacrificada, quando os valores familiares e educacionais não conseguem assumir o
papel integrador. Numa sociedade carente de modelos estáveis de identificação, principalmente
para a faixa etária em que os valores ainda estão em gestação, instala-se um sentimento de
angústia e insegurança. As drogas tornam-se então atraentes, sendo vistas como solução rápida e
desejada contra a angústia, embora não alterem a situação real.9
49. São muitas as motivações para o consumo de drogas. As motivações de natureza coletiva
normalmente regulam e restringem o seu uso a determinadas ocasiões, lugares ou companheiros.
É o caso da bebida usada com moderação, entre os colegas depois do expediente, nas festas ou na
ceia de Natal. Dificilmente o consumo de drogas, limitado a situações como essas, provocará
dependência. Outras são as conseqüências das motivações individuais, que vão da busca de
prazeres intensos e imediatos (o que pode significar ausência de perspectivas, ou descrença num
futuro satisfatório), à dificuldade de encarar o mundo com seu próprio potencial (o que pode
revelar a existência de problemas psicológicos). Quando essas motivações são muito fortes,
busca-se uma alteração da consciência pelo recurso a alguma droga. Aí pode começar a
dependência e, com ela, os problemas mais graves para o usuário e as pessoas que o cercam.
50. O estado de fragilidade ou desequilíbrio psicológico parece ser um importante motivador para
8 III Curso de Introdução ao Estudo das Toxicomanias e Marginalidades - UFG, Goiânia-GO,1997.
9 Cf. Cf. Ana Carolina L. L. da COSTA e Elizabeth Costa GONÇALVES, A Sociedade, a escola e a família diante das
drogas, in Richard BUCHER, (Org) As drogas e a vida, uma abordagem psicossocial, São Paulo, Editora Pedagógica
Universitária Ltda. 1988, p. 47- 54.
12
o recurso às drogas. Sendo a adolescência um período de instabilidade emocional e biológica, ela
torna-se um momento propício ao uso experimental das drogas. De fato, “o último levantamento
do CEBRID, realizado em 1997, revela que o percentual de adolescentes que já consumiram
drogas (uso na vida10
) entre os 10 e 12 anos de idade é altíssimo: 51,2.% usaram álcool; 11%
usaram tabaco; 7,8%, solventes; 2%, ansiolíticos e 1,8% já se utilizaram de anfetamínicos nessa
faixa etária. Nas 10 capitais pesquisadas, cresceu a tendência para o uso freqüente de maconha
entre crianças e adolescentes. O uso de cocaína e de álcool também aumentou em 6 capitais. A
situação agrava-se entre as crianças e adolescentes em situação de rua. Segundo o levantamento
de 1993, o uso de drogas por essa população apresenta os seguintes percentuais: 82,5% em São
Paulo, 71,5% em Porto Alegre, 64,5% em Fortaleza, 57% no Rio de Janeiro e 90,5% em Recife.11
As drogas mais comumente usadas por crianças de rua são: o tabaco, os inalantes, a maconha.” 12
Tal realidade desrespeita os direitos reconhecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Rostos desfigurados
51. Quantas vezes encontramos pessoas alcoolizadas estiradas nos caminhos e calçadas? Mas é
dentro de casa que o álcool provoca maiores estragos. Discussões, desavenças, separação e, no
extremo, briga, agressão física e quebradeira são os resultados mais diretos. As mulheres e
crianças costumam ser as mais atingidas, sofrendo às vezes por anos a fio e em silêncio os efeitos
do alcoolismo de marido, filhos ou irmãos. Uma grande quantidade de famílias sofre o drama de
conviver diariamente com um alcoólico dentro de casa. Sofre a pessoa dependente e sofrem seus
familiares, principalmente quando é a própria mãe a alcoólica. Por outro lado, na hora de se livrar
da bebida, devido aos laços afetivos, a família co-dependente, que procura a libertação, constitui
normalmente o maior suporte e apoio no processo de cura.
52. Das pessoas que você conhece, quantas são fumantes? O cigarro fascina muitos jovens e
adolescentes, sendo muitas vezes apresentado pela propaganda como símbolo de status adulto e
independente. Felizmente, já há leis que limitam sua propaganda e proíbem o cigarro em alguns
ambientes públicos, aviões e ônibus. Sabe-se que além do câncer de pulmão, muitos outros males
são causados pelo fumo, não apenas nos usuários mas também nas pessoas que, estando perto do
fumante, inalam a fumaça sem querer. Também aqui vale sublinhar a importância do afeto e do
carinho dos amigos e familiares na hora em que o fumante deseja se livrar do cigarro, o que nem
sempre é fácil.
53. Popularizada pelos grupos de rock nos anos 60, a maconha é o entorpecente mais comum
entre os jovens, sendo consumida também por adultos de todas as camadas sociais. A maconha
tem sido considerada a porta de entrada para drogas “pesadas”. Devido à facilidade de produção,
são muitos os pontos de venda da maconha, apesar de seu tráfico e seu porte constituírem
transgressão penal. Seu uso por tempo prolongado torna a pessoa apática e, no limite, incapaz de
um trabalho produtivo.
54. A palavra “droga” está hoje associada principalmente à cocaína e ao crime organizado em
torno de seu tráfico em âmbito mundial. Comercializada em forma de pó branco, é mais usada
por adultos que por jovens. Normalmente, o pó é aspirado, podendo também ser injetado na veia,
uma vez diluído em água. Há quem fume a pasta da coca, produto grosseiro extraído de folhas
tratadas com solventes como querosene, gasolina, ácido sulfúrico ou metanol. Seu uso aumenta a
pressão arterial e provoca taquicardia. Em casos extremos, pode causar parada cardíaca.
55. Dois subprodutos da cocaína, porém, muito mais danosos ao organismo humano, são o crack
e a merla, cujo preparo possibilita a ingestão por meio do fumo, que leva a cocaína diretamente
ao pulmão e, daí, ao cérebro. Provoca um prazer intenso mas rápido, levando o usuário ao desejo
incontrolável de repetir muitas vezes a dose (é o que chamam fissura). Droga mortífera para
muitos meninos e meninas de rua, especialmente em São Paulo, Recife, Salvador e Brasília, mas
também para canavieiros do Nordeste. Seu uso continuado deixa o dependente num estado
lastimável, porque perde as noções de higiene, torna-se violento, irritado e toma atitudes bizarras
devido à paranóia. Se as drogas em geral constituem um caminho sem volta, neste caso a vida
10 Uso na vida - quando a pessoa fez uso de qualquer droga pelo menos uma vez na vida. Cf. José Carlos F.
GALDURÓZ et. alii IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre Estudantes de 1º e 2º Graus em 10 Capitais
Brasileiras - 1977 - Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Centro Brasileiro de
Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). São Paulo, SP. 1997, p. 127.
11 SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas. Relatório do 1º Fórum Nacinal Antidrogas, Brasília, DF, 1998, p. 13
12 Ibdem. Relatório do 1º
Fórum Nacional Antidrogas, novembro de 1998.
13
costuma ser tão curta e trágica que muitos traficantes são contrários à sua produção para não
perderem clientela.
56. As drogas injetáveis (no Brasil, a cocaína; noutros países, também a heroína) estão entre as
mais mortíferas para seus usuários porque, além de seus riscos intrínsecos, favorecem a
transmissão do vírus HIV (AIDS), já que seu consumo costuma ser feito em grupo. O resultado
da injeção intravenosa provoca um prazer intenso, porém mais passageiro do que a aspiração
nasal, o que aumenta a “fissura” e, consequentemente, leva a um consumo fora de controle. Seus
efeitos sobre a pessoa são arrasadores.
O pesadelo da família
57. Combinadas com outros fatores de caráter estrutural, as drogas interrompem o sonho de
convivência harmoniosa. Quando a droga entra pela porta, a paz sai pela janela. A família, em
muitos casos, se torna refém do traficante. Os gastos com entorpecentes ou com o álcool levam
muitas famílias a perderem bens acumulados com o sacrifício de anos. Além disso, o medo de
represálias passa a rondar a casa e, com isso, sofrem todos os membros da família.
58. Aspecto importante é a mudança no papel da mulher na estrutura familiar. Por diversas
influências, está acontecendo uma sadia superação do patriarcalismo no lar. Com novos valores
referentes à dignidade humana e, também, ao se tornar economicamente autônoma, a mulher tem,
positivamente, mais participação nas decisões na família, e o mesmo ocorre com os filhos. Essa
reestruturação de papéis, porém, precisa vir acompanhada de um novo modo de ser presença,
como pai e mãe, junto aos filhos, hoje muitas vezes realizada por meio de verdadeiras
chantagens. O que mais se vê é que, além da ausência dentro do lar, por parte do pai, o que já é
secular, soma-se agora a ausência da mãe, ocasionando, em muitos casos, filhos órfãos de pais
vivos. O custo psico-afetivo e financeiro dessa ausência torna-se cada vez mais alto:
personalidade imatura, presentes, promessas, tratamentos psicológicos, babás etc. É óbvio que,
hoje, o casal que decide formar família necessita trabalhar bem esta questão da presença eficaz de
ambos junto aos filhos, já que antes a carga maior ficava com a mãe. Pode-se afirmar que uma
das grandes causas da busca da droga pelas crianças, adolescentes e jovens provém do vazio
afetivo existente na família.
59. Um outro elemento a ser considerado em relação à família é o das crises entre marido e
mulher, que, obviamente, repercutem profundamente nos filhos, levando-os às vezes à fuga nas
drogas. O problema atinge, não raro, os próprios adultos. O desrespeito, as traições, o
rompimento e a recomposição de laços matrimoniais são, hoje, cada vez mais freqüentes entre os
casais. E a mídia tripudia, com a maior liberalidade, sobre essas questões, tornando-as
corriqueiras e normais na opinião pública. Só que essas situações são sempre vividas, na prática,
com muito sofrimento, e as principais vítimas são os filhos. Nem sempre, nos casais, há
maturidade, humildade e amor, que, se é verdadeiro, tem sempre o ingrediente da renúncia, que
os ajuda a encontrarem uma solução menos traumática para todos, principalmente os filhos. Daí,
muitas vezes, a equivocada busca de bálsamos na bebida, no fumo, nos calmantes, e, por fim, em
entorpecentes, que, em casos desesperados, parecem oferecer a saída ilusória para o sonho da
felicidade.
Um caso entre tantos outros
“Queridos pais,
Imagino a raiva que têm de mim. Sim, fui muito ingrata com vocês. Larguei os
estudos, tornei-me viciada, desapareci. Vim para São Paulo com um amigo e, aqui, passei a
viver de pequenos expedientes. Na verdade, afundei-me na lama.
O fato é que, agora, estou na pior. Peguei AIDS. O que temo não é a morte. Ela é
inevitável para todo nós. Tenho medo é de ficar sozinha. Preciso de vocês. Mas também sei que
os maltratei muito e posso entender que queiram manter distância de mim. Cada um na sua.
É muito cinismo da minha parte vir, agora, pedir socorro. Mas, sei lá, alguma coisa
dentro de mim dá forças para que eu escreva esta carta. Nem que seja para saberem que estou
no início do fim.
14
Um dia qualquer, passarei aí em frente de casa, só para dar um último adeus com o
olhar. Se por acaso tiverem interesse que eu entre, numa boa, prendam, à goiabeira do jardim,
um pano de prato branco ou uma toalha de rosto. Então pode ser que eu crie coragem e dê um
alô. Caso contrário, entendo que vocês têm todo o direito de não querer carregar essa mala
pesada e sem alça na qual me transformei. Irei em frente, sem bater à porta, esperando em
Deus. Que, um dia, a gente se reencontre no outro lado da vida.
Beijos da filha ingrata, mas que ainda guarda, no fundo do coração, com muito amor,
(sic.).
Clara
Três semanas depois, antes das cinco horas da manhã, Clara desembarca na rodoviária
e toma um ônibus para a Praia do Canto. É quinta-feira, e o vento sul começa a aplacar o calor,
encapelando o mar e silvando entre prédios e janelas. Clara desce na esquina e caminha,
temerosa, pelo outro lado da rua. Sabe que, a essa hora, seus pais e as duas irmãs costumam
estar dormindo.
Ao decifrar a ponta do telhado, seu coração acelera. Olha o portão de ferro esmaltado
de preto, as grades em lança que marcam o limite entre a casa e a calçada. Vislumbra o cume da
goiabeira. Seus olhos ficam marejados. De repente, uma coisa branca quebra o antigo cenário.
Não é uma toalha nem um pano de prato. É um lençol, com pequenos furos no meio,
tremulando entre a árvore e o muro da garagem.
Em prantos, Clara atravessa a rua e corre para casa”.
(Extraído do romance de Fr. Betto: O Vencedor; Ática, 1995)
O sonho da harmonia social
60. O relacionamento entre as pessoas pode ser carinhoso, amigável, fraterno, mas também pode
ser mesquinho, egoísta, carregado de inveja, ciúme e vingança. Podemos viver unidos por laços
de solidariedade ou de concorrência. Esta, traz consigo desconfiança mútua e competição, aquela
traz justiça e partilha. Claro que ambas se misturam no cotidiano de nossas vidas, gerando medos
e angústias. De um lado, as pessoas podem desenvolver um individualismo exacerbado, uma
subjetividade doentia. Por outro lado, elas podem desenvolver personalidades autênticas,
amadurecendo uma individualidade que torna a amizade e a solidariedade mais verdadeiras. Na
verdade, uma e outra atravessam o coração de cada ser humano e o coração da sociedade como
um todo: mesmo os que temos o melhor propósito de realizar o sonho do grande banquete da
vida, por vezes trabalhamos só para nós mesmos, descuidando da harmonia universal. Quando
predomina a exaltação do mais forte, do vitorioso, do competitivo, prevalece também o
individualismo, o corporativismo, a exclusão dos pequenos e dos fracos. E, infelizmente, é esse o
contexto da sociedade neocapitalista e hedonista, que já está dominando boa parte da sociedade
brasileira, perante o qual estamos perdendo a distância crítica e abandonando a busca de
alternativas mais humanas.
61. A competição desregrada em busca dos interesses egoístas quebra sonhos individuais,
familiares, comunitários e universais. Aliás, uns e outros estão estreitamente vinculados. Ao
romper laços individuais ou familiares, estamos comprometendo a fraternidade universal. E,
reciprocamente, ao desenvolver estruturas sociais, econômicas e políticas escandalosamente
desiguais, estamos fragmentando esperanças de indivíduos e famílias concretas. Todos os sonhos
estão inter-relacionados. Rompendo os fios que os costuram, desfaz-se toda a rede.
62. O resultado disso é uma distância enorme e crescente entre o sonho de Deus e o nosso, por
um lado, e, por outro, uma realidade que nega, no dia-a-dia, a possibilidade de uma existência
sintonizada, harmoniosa, justa, igualitária e feliz. Realidade que, embora em graus diferenciados,
afeta todas os setores sociais e abre caminho para desvios comportamentais, inclusive o uso de
drogas. Para entendê-la convém considerar o processo de transformação em curso no mundo
atual.
Um mundo em crise
15
63. O mundo no qual vivemos é uma sociedade em busca de caminhos. Os estudiosos falam de
sociedade pós-industrial, pós-moderna, informacional etc. O fato é que os grandes paradigmas
estão se transformando. Sabemos o que deixamos para trás no século XX, mas não sabemos em
qual direção caminha o mundo no século XXI. Acreditamos na possibilidade de um novo milênio
sem exclusões, mas constatamos uma realidade cada vez mais excludente. Já a Gaudium et Spes
(n. 4) constatava, em 1965, que “o gênero humano encontra-se hoje em uma fase nova de sua
história, na qual mudanças profundas e rápidas estendem-se progressivamente ao universo
inteiro”. De fato, a mundialização do mercado e a globalização da cultura, gerada nos pólos mais
ricos, estão dissolvendo as sociedades tradicionais e impondo sua integração no moderno sistema
mundial como sociedades periféricas e subalternas.
64. Nossa sociedade é, cada vez mais, marcada pelo urbano, que hoje inclui mas ultrapassa a
cidade. Trata-se menos de um espaço geográfico e mais de um modo de ser, de viver, enfim, de
uma nova cultura com sua linguagem própria, seus valores e contravalores refletindo uma nova
mentalidade comparada à rural tradicional. Cultura e mentalidade urbanas que exercem um forte
fascínio tanto na zona rural quanto na própria cidade. Para uma imensa multidão que, por causa
de uma política rural equivocada, foi e é expulsa do campo nestes últimos anos, a cidade é,
porém, com todos os seus apelos, um verdadeiro inferno.
65. Espaço de desenvolvimento tanto de uma individualidade madura e sadia quanto do
individualismo mais feroz, o mundo urbano é, infelizmente, propício à violência, aos vícios, ao
consumo de drogas. Na luta pela sobrevivência física, mental, moral e religiosa nessa selva de
pedra, não tendo mais as referências do universo rural, consideradas sólidas pelos que vivem no
campo, a insegurança diante dos caminhos a tomar neste novo ambiente pode conduzir a escolhas
erradas. Há, na cultura urbana, novos enfoques dados aos valores, como amor, liberdade, família,
religião, que assustam e perturbam. Assim, por exemplo, liberdade, amor, fidelidade,
solidariedade, convertem-se em fardo pesado, parecendo ser mais fácil abdicar das opções pelos
valores humanos que contam, evitando-se responsabilidade e compromisso. Em lugar da
liberdade, as pessoas se amarram na teia das ilusões das promessas do ganho fácil, da
libertinagem, das aventuras. E aí se abrem as portas para o comportamento anti-social, entre os
quais o do consumo de drogas.
Nova forma da mercadoria e hegemonia neoliberal
66. O fenômeno da crise de valores na cultura urbana tem raízes nas transformações pelas quais
passam a economia e a política em âmbito mundial, a partir de uma ideologia avessa aos valores
humanos, porque fundada no absolutismo do dinheiro, que, por sua vez, cria um fascinante
universo simbólico próprio. A produção e o comércio se difundem e se globalizam, e o capital
financeiro ganha hegemonia e desconhece fronteiras. Instala-se, em todo o mundo, feroz
concorrência pela disputa de mercados, não tanto pelo aumento do número de consumidores,
como na onda do “consumo de massa”, mas para vender muito para os poucos que podem
comprar. Temos aí a corrida pela produção de bens supérfluos, com a conseqüente exasperação
dos desejos e, portanto, a criação de necessidades artificiais. A mercadoria incorpora cada vez
menos valor de uso e mais valor simbólico, que é transferido ao custo: o que conta é a marca, a
“griffe”, a sensação de identidade com o esportista ou a celebridade que aparece na propaganda.
Esse consumo de mercadorias simbólicas apóia-se na aura dos grandes vencedores e atrai pessoas
dispostas a pagar qualquer preço para participarem desse mundo mágico, forçando quem não
pode pagar a entrar em depressão ou a tê-los a qualquer custo, por meio de roubos ou de assaltos.
67. Associada ao processo de globalização, as ideologias consumistas adotadas pelas elites e
difundidas por muitos órgãos da mídia tornaram-se modo de pensar e de agir político que
desqualifica como “atrasada” outras opções que se apresentem em oposição. Um de seus
postulados é que o mercado não deve ser submetido a regulamentações externas e que o Estado
não pode intervir na vida econômica, mas sim favorecê-la. Para alguns teóricos dessa ideologia,
ao Estado cabem as ações no campo social, isto é, no campo não atendido pelos agentes
econômicos do mercado, o que é, em geral, dificultado por causa do alto custo do serviço e da
dívida externa a ser paga aos credores. Uma das conseqüências dessa ideologia é a redução dos
investimentos públicos nos setores de saúde, educação, agricultura, previdência social e
habitação. Outra conseqüência grave é o desemprego, que faz multiplicar o trabalho informal.
16
68. Nesse mundo em crise de valores, tanto entre os socialmente bem situados como entre os
mais pobres, instala-se facilmente o caos, a incerteza e a insegurança, como nos pesadelos de
beco sem saída. Os horizontes se fecham e as esperanças se reduzem. O caminho longo e penoso
da reflexão, do diálogo e do compromisso é facilmente descartado em troca de alguma coisa que
proporcione ao menos um alívio momentâneo e permita escapar do enfrentamento com a dura
realidade. Não é surpreendente que adultos, jovens e até crianças procurem nas drogas um meio
de fugir dos seus problemas.
69. Na raiz de tudo está, portanto, uma sociedade destituída de sentido verdadeiro para a vida
humana. O consumismo, a busca do prazer individual, a concorrência exacerbada geram um
egocentrismo doentio. Valores como a amizade, a solidariedade, a busca do bem-comum tornam-
se “caretas”, ultrapassados. A via longa, reflexiva, dialógica e comprometida é substituída pelo
caminho fácil da satisfação individual. O compromisso de vida dá lugar ao evento instantâneo. O
sentimento dá lugar à sensação. A relação dá lugar ao uso efêmero do outro. É como se tudo
tivesse se tornado descartável: os produtos, os bens da natureza e até as pessoas. A sensação de
vazio e de infelicidade é o resultado dessa experiência sem profundidade afetiva, sem carinho e
sem diálogo. A existência perde o tempero e o brilho, e abre-se o caminho para a busca ilusória
do prazer imediato. Mas este só faz aumentar a desilusão, o vazio e a infelicidade. Daí a
depressão, as despesas com infindáveis tratamentos, e o recurso ao artifício das drogas, com
todas as suas trágicas conseqüências. Mas não haverá droga suficiente para preencher esse poço
sem fundo. Ao contrário, quanto mais drogas, mais ele se aprofunda, até à destruição total da
pessoa.
A restauração dos sonhos
70. E como devem se colocar os cristãos diante desse imenso desafio, eles mesmo vulneráveis em
todo este universo em crise? Em tal sociedade, que se modifica a uma velocidade extraordinária,
mais do que nunca valem as palavras da Constituição Pastoral Gaudium et Spes nº 1: “As
alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e
de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos
discípulos de Cristo”. É vital, obviamente, uma extraordinária revitalização da fé, porque o
sonho de Deus permanece de pé. Numerosas forças vivas e ativas, dentro e fora da Igreja, estão
procurando, com humildade e tenacidade, levar adiante o projeto inspirador da Criação. A
resistência, a teimosia e a coragem dessas pessoas, grupos, comunidades de base, movimentos e
organizações mantêm acesa a chama de um amanhã novo e recriado. É por isso que a CF-2001
tem por lema em primeiro lugar não o repúdio às drogas mas a afirmação “Vida sim!”.
71. Certamente não é fugindo da realidade por meio dos sonhos ilusórios, proporcionados pelas
drogas e suas “viagens”, que construiremos o ambiente de vida harmoniosa e prazerosa que,
eticamente, tanto desejamos para nós mesmos e para as próximas gerações. Uma intuição
profunda nos diz que basta uma sociedade “frugal”, sóbria, onde nos contentemos com pouco,
desde que o pouco seja o suficiente para todos, pois realmente necessário é que as relações
humanas nela existentes sejam permeadas por autênticos valores que produzem a alegria de viver.
Acreditamos que esse sonho do “paraíso”, que parece perdido no passado remoto, será
reconhecido em algum lugar do futuro: um dia a humanidade chegará lá, restaurará seus mais
lindos sonhos e completará o sonho do Criador. Nessa caminhada, muitas pessoas, por causa das
circunstâncias atuais, são derrubadas pelas drogas, e sua queda nos interpela como um pedido de
socorro. Socorro que deve traduzir-se tanto no cuidado com cada pessoa, quanto numa Política
Social e numa ordem econômica que busca o bem comum, a distribuição eqüitativa dos bens,
superando o neoliberalismo, "que considera os lucros e as leis do mercado como parâmetros
absolutos a prejuízo da dignidade e do respeito da pessoa e do povo13
".
13 Cf. Ecclesia in America, 56 e 52.
17
SEGUNDA PARTE:
ESCOLHAA VIDA! (Dt 30, 19)
(JULGAR)
72. A cruel realidade do mundo das drogas, do qual este Texto-base nos revela uma pequena
amostra, não deixa ninguém indiferente. Há uma indignação ética que, por si mesma, irrompe no
coração de qualquer um que aposta no ser humano, luta por um mundo melhor para seus filhos,
seus alunos, seus amigos e colegas, seus concidadãos, seus irmãos e irmãs de fé e ideal. Há
também um sentimento de compaixão pelas vítimas dos sistemas que favorecem o comércio, o
tráfico e o consumo das drogas, e, ao mesmo tempo, um sentimento de clamor por justiça em
relação aos causadores desse imenso problema. Entre esses sistemas, se destaca a ideologia
neoliberal que, ao considerar o lucro e as leis do mercado como parâmetros absolutos, atenta
contra a dignidade da pessoa e do povo e descuida dos mais frágeis na sociedade. Há ainda os
exploradores da fragilidade humana, que esvaziam as pessoas do sentido da vida, para oferecer-
lhes como solução os vícios que alienam e fazem fugir, e com os quais esses exploradores se
enriquecem.
73. Nesta segunda parte do Texto-base, além de uma atenção prioritária às pessoas vítimas das
drogas, a serem atendidas segundo os preceitos da ética, da cidadania e do amor, buscamos na
Palavra de Deus luzes que apontam caminhos para essas vítimas e apoio para os que a elas se
dedicam. Evidenciamos, também, o apelo de Deus à conversão dos que tripudiam sobre seus
filhos e filhas e, ainda, conforme o caso, a veemente condenação deles pela justiça divina.
Incentivamos as comunidades para que, à semelhança das outras partes deste Texto-base,
procurem complementar os dados aqui colocados.
O contexto social das drogas
74. A Igreja, como vimos na primeira parte deste Texto-base, é consciente de que todo o trágico
problema das drogas, que afeta profundamente as pessoas nelas envolvidas, suas famílias e
grandes parcelas da sociedade, é agravado por um contexto social, econômico, político e cultural,
que gera esvaziamento do sentido da vida, desespero, fugas e busca ilusória do prazer. O Papa
João Paulo II, vai direto ao cerne da questão.: “É necessário denunciar com coragem e com
força o hedonismo, o materialismo e aquele estilo de vida que facilmente induzem à droga”. É
essencial, sim, atender, e da melhor maneira possível, a vítima das drogas, mas é igualmente
essencial lutar contra as situações que conduzem ao uso desses venenos e contra os que
criminalmente os disseminam.
75. À luz da fé se constata que a idolatria do dinheiro, que absolutiza a riqueza, o capital, a
economia de mercado e o consumismo, constróem uma sociedade injusta, na qual os que têm
dinheiro e bens se tornam senhores da vida e da morte dos que nada ou pouco têm, além de se
tornarem, também, senhores da natureza. A injustiça social impele os mais ricos e os mais fortes
ao despojamento dos bens e dos direitos dos outros para deles se apropriarem. O egoísmo
impulsiona a acumular, impede a partilha, leva à escravização da natureza e ao desperdício, não
se importando com os milhões de seres humanos carentes de tudo. A qualidade de vida é
confundida com o nível de consumo e com a quantidade de coisas a possuir. A confiança, a
segurança, a garantia e o sentido da vida são colocados no dinheiro e nas coisas, em detrimento
das pessoas.
76. O mundo globalizado a partir do ídolo dinheiro, escreve o professor Milton Santos, manipula
18
ardilosamente a competitividade, que comanda as nossas formas de ação, o consumo, que
comanda as nossas formas de inanição, e a confusão dos espíritos, que impede o nosso
entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade e de cada um de nós.14
Uma das molas
propulsoras dessa globalização perversa, segundo ainda o professor Milton Santos, é o uso
despótico da informação a serviço da ideologia neoliberal, que busca instruir e convencer. 15
77. A idolatria do dinheiro (cf. Am 6, 3-7; Am 4, 1- 3; 1 Tm 6,10) requer vítimas, e um deles é o
dependente das drogas. Por detrás de toda vítima da dependência química há uma indústria que
precisa de muito dinheiro. São milhares de pessoas arriscando literalmente a vida para conseguir
mais clientes para comprar drogas e, assim, captar mais dinheiro.
78. É necessário tratar a vítima, mas é fundamental também atingir as causas que ultrapassam o
nível da pessoa afetada, causas que conformam uma gigantesca trama de produtores, grandes
industriais da droga, agentes financeiros e traficantes. Poderosos que são, eles conseguem armar
exércitos, dominar bairros, comprar políticos e pessoas influentes nas altas rodas sociais, nos
meios de comunicação social, na polícia e escravizar pobres para servi-los. Além da dominação
pelo vício da droga, há o domínio, pela promessa de riqueza, rápida e fácil, de felicidade e, mais
ainda, pelo temor, pois o assassinato é moeda corrente nesse trágico meio.
79. Diz o Catecismo da Igreja Católica, 2290: “O uso das drogas inflige gravíssimos danos à
saúde e à vida humana. Salvo indicações estritamente terapêuticas, constitui falta grave. A
produção clandestina e o tráfico de drogas são práticas escandalosas; constituem uma cooperação
direta, pois incitam a práticas gravemente contrárias à lei moral”.
80. Quem desenvolve em si e nos outros a cidadania, fundamentada na ética, na justiça social, na
fraternidade e na solidariedade, está plantando a sociedade segundo o Plano de Deus e, portanto,
criando dificuldades para aqueles que têm o propósito de dividir e destruir, reinar como senhores
deste mundo. Não há como clamar “Não às drogas! Sim à vida!” sem lutar denodadamente por
profundas mudanças no modelo social vigente, gerador de emprobrecimento da maior parte do
povo, de exclusões e de esvaziamento do sentido da vida. O amor ao outro, como pessoa, exige o
compromisso da luta por criar condições humanas, sociais e espirituais básicas que garantam a
todos a alegria interior de viver, amar, ser generoso e fazer o bem.
Para refletir:
Que apoio damos aos que lutam por erradicar as causas econômicas, sociais, políticas e
culturais que geram e alimentam o mundo das drogas?
Que meios concretos temos para impedir em nosso bairro, em nossas famílias, em nossas
escolas a influência dos traficantes?
O contexto pessoal das drogas
Ser humano - obra preciosa
81. Muito esforço, perseverança, gastos materiais e emocionais envolvem a recuperação não só
dos dependentes químicos mas de qualquer pessoa que esteja em situação de risco. Vale a pena?
Responde mais fácil e rapidamente a essa pergunta quem tiver amor pela pessoa em questão.
Quem ama sabe perfeitamente que o outro não é descartável, que sua perda é algo difícil de
aceitar, seja qual for o problema em que esteja envolvido. Se assim é com o amor humano, mais
ainda o será com o amor de Deus, terno criador de todos e de cada um em particular.
82. Para Deus todos nós temos nome e temos nossa história, que é por ele conhecida e
acompanhada com desvelos incríveis. Podemos aplicar a cada pessoa as ternas declarações de
amor que Deus faz a seu povo através do profeta Isaías: “Mesmo que as montanhas oscilassem e
as colinas se abalassem jamais o meu amor te abandonará” (Is 54,10); “Pode uma mulher
14 CF. SANTOS, Milton: “Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal” , Ed.
Record, 2000, Rio de Janeiro, RJ, p. 46.
15 Cf. ibdem p. 38-39.
19
esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que
ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca” (Is 49, 15)
83. O Salmo 139 (138) diz que o Senhor sonda, conhece e acompanha cada um de nós, penetra
nossos pensamentos e nos envolve por todos os lados. Deus não é presença de um fiscal que não
deixa escapar nenhuma falta. Ele é a solicitude própria do amor, para cada um e para todos, sem
exceção. Cada um está sempre diante de sua ternura solícita que não descansa, que não abandona
ninguém em momento algum.
84. E quanto mais frágil e necessitada é a pessoa, maior é o desvelo do Senhor. Seu amor
preferencial pelo empobrecido, pelo pecador, pelo enfermo, pelo excluído é pura gratuidade. Não
há mérito algum no carente em conseguir ser alvo preferencial do seu amor misericordioso e de
libertação. E se o amor humano provém do amor de Deus, obviamente é-lhe intrínseco o
desvelar-se pelo mais necessitado. É o que acontece em qualquer família em que reina o amor. E
é o que deveria acontecer na vida de cada cristão, de cada grupo de cristãos e da comunidade
eclesial.
85. Esse mesmo sentimento é expresso por Jesus na parábola da ovelha perdida (cf. Mt 18, 10-14;
Lc 15, 3-7): o amor de Deus não é, e o nosso também não deveria ser, uma questão de estatística.
Afinal 99% do rebanho a salvo seria um bom saldo, mas o pastor não descansa enquanto houver
uma única ovelha exposta a sofrimentos e perigos. Também não se trata de algum mérito especial
da ovelha extraviada: ela pode não ser a mais produtiva, é apenas preciosa para o coração do
pastor.
86. Na Campanha da Fraternidade 2000, quando tratamos da Dignidade Humana, vimos que cada
ser humano abandonado é um sinal de pouco apreço pela inviolável sacralidade da vida humana.
Cada vez que permitimos, por omissão ou indiferença, que um ser humano que sofre fique
entregue à própria sorte, estamos negando na prática o valor da vida humana que afirmamos em
tantos discursos. Quando o valor da vida de alguém é desconsiderado, abre-se caminho para não
mais se considerar inviolável e preciosa a vida de qualquer um. Em se tratando de vida humana,
qualquer exceção é ameaçadora e perigosa para todos.
Criados por amor e livres, para sermos felizes
87. A Bíblia traz, nos seus primeiros capítulos, uma reflexão sobre o ser humano colocado diante
de uma proposta de paraíso, de vida feliz (cf. Gn 2, 4b-24). Mas não era uma felicidade
obrigatória, sem alternativa. Era uma felicidade a ser construída e preservada por meio do desafio
da liberdade (Gn 2, 25 a 3, 1-24). Mas muita gente talvez se pergunte: E isso não foi perigoso
demais? Vejam só quanta desgraça a humanidade construiu usando essa liberdade! Não seria
melhor Deus ter guardado para si esse arriscado presente, o da liberdade humana?
88. Sem liberdade, seríamos robôs, incapazes de ser felizes ou infelizes, seríamos marionetes na
mão do Criador, sem sentido próprio. Ser criado à imagem e semelhança de Deus é também ser
um interlocutor capaz de criar, transformar. Para o bem e para o mal? Sim, é verdade, mas é a
possibilidade do “não” que enriquece o significado do “sim”. Podemos usar mal a liberdade que
nos foi dada, mas sem ela não realizaremos coisa alguma que tenha sentido humano.
89. O resumo da lei de Deus, na versão do Deuteronômio, mostra que, ao mesmo tempo que
garante a nossa inestimável liberdade, o Senhor está profundamente ansioso para que façamos a
escolha certa. Ele aponta um caminho, não por vontade arbitrária de ser obedecido, mas porque
quer o melhor para nós, com toda a força do seu amor: “Eis que ponho diante de ti a vida e a
felicidade, a morte e a infelicidade... Eu hoje te ordeno: ame o Senhor, teu Deus, ande nos seus
caminhos e guarde os seus mandamentos, suas leis e seus costumes. Eis que eu ponho diante de
ti a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua posteridade, amando o
Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e ligando-te a ele!…” (Dt 30, 15-20).
90. A luta pela liberdade tem inspirado fantásticos heroísmos na história da humanidade. Entre os
adolescentes, ela faz parte da construção da personalidade de cada um e se manifesta na
necessidade de se auto-afirmar, muitas vezes testando suas próprias forças contra os padrões
socialmente estabelecidos. A educação da liberdade nos adolescentes e jovens não é nada fácil
para pais e educadores, em face das investidas de inescrupulosos que exploram essa delicada fase
da vida humana, açulando, com desastrosas conseqüências, um uso pervertido deste maravilhoso
dom de Deus, que é a liberdade.
91. O dependente de drogas, por exemplo, usando mal o dom da liberdade, perde-a em grande
20
parte para a droga. E aos poucos direciona seu ser para um ídolo, a droga, que vai destruir a sua
vida. O mesmo ocorre com pessoas dominadas por qualquer outro vício. A salvação dessas
pessoas estará exatamente na recuperação do exercício construtivo do precioso dom da liberdade,
na capacidade de atribuir-se sadios limites, dizer não ao ídolo devorador. Elas precisam crer que
podem mais do que o hábito que tomou o controle de suas vidas, crer que podem, com a força de
Deus e o apoio dos irmãos, não só conseguir a libertação, mas se colocar a serviço da libertação
de outros, e do verdadeiro sentido da vida.
92. É evidente, porém, que se requer um passo fundamental, o qual somente a própria pessoa
afetada pelo vício pode dar: a conversão. Deus, que respeita o uso que fazemos da liberdade,
colabora conosco e espera ansioso por um pequeno sinal de nossa vontade para a nossa conversão
e o retorno à casa paterna, como aconteceu com o filho pródigo (cf. Lc 15, 11-32). E Deus nunca
deixa de oferecer motivação e caminhos de volta. Ele, que nos ama infinita e apaixonadamente,
será parceiro na recuperação da liberdade, porque foi para a liberdade que ele nos criou e Cristo
nos libertou (cf. Gl 5, 1-26). E é para oferecer caminhos de libertação, que o Senhor suscita
pessoas e instituições, que se colocam a serviço das pessoas afetadas pela tragédia dos vícios,
pela tragédia da droga.
A sabedoria de livremente impor-se limites
93. Liberdade e limites serão opostos, incompatíveis? Muitos experimentam não ter limites e
descobrem que acabam perdendo juntamente com eles a possibilidade de importantes realizações
pessoais.
94. Diz o livro dos provérbios: “O que observa a disciplina está no caminho da vida (Pv 10,17).
Não se trata aí de uma disciplina opressora, mas de um controle de si mesmo que permite dirigir
esforços para um objetivo ditado pela própria liberdade. Como, por exemplo, chegar a ser um
grande pianista ou um atleta, sem a disciplina dos exercícios que aprimoram a técnica? Como
criar um clima familiar afetuoso e acolhedor se cada um resolver que não precisa se controlar,
quando o trato com os demais exige uma certa paciência?
95. Quem despreza a noção de limites para chegar mais depressa ao que deseja é como um rio
que rejeitasse as próprias margens: vai se espalhar, virará pântano e perderá o rumo e a força para
chegar ao mar. A educação para a compreensão dos limites como força que potencializa e dirige o
nosso agir é importante para cada um poder desenvolver melhor seus dons pessoais e alcançar
objetivos que valham a pena. “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é
permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma” (1 Cor 6,12). Essa orientação de
São Paulo indica um uso importante da liberdade: discernir que limites devemos respeitar para
conseguir fazer da nossa vida uma realização mais gratificante e mais digna de nossa identidade
de filhos e filhas de Deus.
Hábitos que controlamos e hábitos que nos controlam
96. “Mais vale quem domina o coração, é dono de si próprio, do que aquele que conquista uma
cidade” (Pv 16,32). Não são apenas os dependentes químicos os que podem perder o controle de
sua vida, dominados por hábitos que se tornam pesadas cadeias. Todos nós podemos nos deixar
controlar, seja pela propaganda, seja pela pressão de grupo, seja pelas próprias válvulas de escape
que inventamos para amortecer as dificuldades da vida. Na verdade, quem não se condiciona a si
mesmo, por sua própria vontade, ao que quer ser e fazer, é condicionado facilmente pelos outros
ao que não quer ser e fazer. Quem de nós não conhece gente que quer emagrecer mas não
consegue parar de comer, gente que já nem conversa com a família porque não consegue desviar
os olhos da TV ou é escravo da Internet, gente que promete controlar a língua e não resiste na
hora de fazer mais um comentário ferino sobre a vida alheia, gente que promete parar de fumar
ou beber e não toma os meios?
97. Isso posto, seria bom que cada um de nós se examinasse antes de censurar a incapacidade
alheia de resistir a hábitos e vícios. É importante tirar a trave dos próprios olhos, como
recomenda Jesus (cf. Mt 7,3; Lc 6,41). Provavelmente teremos, nós também, alguns hábitos e
tendências que encontramos dificuldade em dominar. Isso não deve servir para nos acomodar
diante da situação, mas pode nos conduzir a uma postura mais humilde e caridosa diante de
21
quem, por ter perdido o controle de algum hábito, está pondo em risco a sua felicidade ou a sua
vida.
Para refletir
Estamos sabendo apresentar as leis de Deus e os valores do Evangelho como ajuda para indicar
um uso construtivo da liberdade humana?
Educamos para a valorização dos limites que nos permitem crescer e ser mais, conviver no
amor?
Temos hábitos difíceis de abandonar? Como lidamos com eles?
A força da fé nas situações de dor
98. Na vida de cada um, inevitavelmente, haverá momentos dolorosos, inquietações, medos,
inseguranças geradoras de angústia. Temos problemas pessoais e problemas gerados pelo
panorama social em que vivemos; o social e o pessoal têm implicações mútuas, e sabemos que a
situação sócio-política e cultural contribui direta e indiretamente para que muitos vivam num
clima de permanente ansiedade e medo da vida. A sabedoria de viver se mede muito pela
capacidade de lidar com as pequenas e grandes aflições do cotidiano.
99. A fé religiosa ajuda muito. Quando Jesus recomenda “Não andeis inquietos com o dia de
amanhã, pois o dia de amanhã terá suas próprias preocupações, basta para cada dia a sua
própria dificuldade” (cf. Mt 6, 34), ele está convidando a uma confiança maior no poder de
Deus, em cujas mãos estamos todos nós. Jesus mesmo se apresenta como alguém capaz de aliviar
nossas angústias: “Vinde a mim vós todos que estais cansados sob o peso do fardo e eu vos darei
descanso”(Mt 11, 28). Ele não vai fazer nenhum tipo de mágica para os problemas
desaparecerem, mas tem uma paz profunda a oferecer. Com essa pacificação de coração baseada
na confiança em Deus, podemos mais e enfrentamos melhor os tropeços.
100. É também isso que São Paulo quer dizer quando afirma que “todas as coisas concorrem
para o bem daqueles que amam a Deus”(Rm 8, 28). Não é um seguro contra problemas nem é
uma garantia de que Deus vai fazer favores especiais a seus protegidos. É uma afirmação do
poder da fé como força e critério de ação e julgamento diante das dificuldades. Afinal, o que
conta não é tanto o que nos acontece, mas o que somos capazes de fazer com o que nos acontece.
A fé potencializa nossos dons.
Todos os dias milhares de pessoas se mantêm sóbrias rezando a
Oração da serenidade
Deus, concedei-me a Serenidade
Para aceitar as coisas que não posso modificar,
Coragem para modificar aquelas que posso,
E Sabedoria para perceber a diferença.
A vida e suas possibilidades valem mais que a ilusão das drogas
101. Em seu artigo “Drogas na escola”, Lídia Rosemberg Aratangy, recomenda “combater o
22
vício das drogas, mas sem inibir essa preciosa inquietação que leva o homem a buscar conhecer
sempre mais”16
. Em outras palavras, é preciso propor alternativas emocionantes, gratificantes. A
própria fé é para ser vivida com a alegria de quem descobre um sentido para a vida e proclama
que viver é uma aventura capaz de grandes emoções. Sobre essa necessidade de buscar propostas
empolgantes para construir um projeto de vida, diz o psicanalista Renato Mezan: “…sou quem
amei; sou o que fiz de meus modelos, sou quem incorporei na voracidade absoluta de conter em
mim o mundo”17
.
102. Santo Agostinho diz isso de outra maneira: “Nosso coração está inquieto enquanto não
repousa em ti”. De um modo ou de outro, o que se afirma é que o ser humano anda em busca de
algo que dê sabor, propósito e entusiasmo à vida. Muitas vezes pensa que encontrou, mas logo
fica insatisfeito e parte para outra: isso é, também, um sinal da sua fome de infinito. Somos
anunciadores do Infinito de Deus: cabe-nos fazer isso de forma convincente, com toda a
fascinante beleza do chamado de Deus, sem fazer da religião uma coleção desanimadora de
regras cujo sentido a pessoa não percebe.
103. São Paulo, que encontrou em algumas comunidades do início do cristianismo, pessoas que
se deixavam levar por vícios, reagiu. Percebeu que elas precisavam ocupar-se com atividades
sadias, que lhes causassem prazer interior, alegria. Suas admoestações são diretas e, ao pedir que
essas pessoas deixem o vício, estimula-as a terem um comportamento que preencha a vida de
alegria. Diz São Paulo: “Estejam atentos para a maneira como vocês vivem: não vivam como
tolos, mas como sensatos, aproveitando o tempo presente, porque os dias são maus. Não se
embriaguem, pois isso leva para a libertinagem. Busquem antes a plenitude do Espírito. Juntos
recitem salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor de todo o
coração...” (Ef 5, 15-19).
Vida sim! Morte não!
104. A vida é um bem tão precioso que a grande promessa de Jesus é que ela será eterna, porque
o nosso Deus é o Deus da Vida. Esse Deus da Vida quer também vida, a mais feliz possível, já,
aqui e agora, não só depois da morte. Trata-se de vida com sabor de céu, mesmo no meio das
dificuldades, vida de quem sabe por que e para que está vivo. Essa seria a primeira função da
educação da fé: ajudar a construir mais vida, com sentido. A pessoa que tem fé deve ser capaz de
acordar todos os dias com a sensação de estar fazendo parte de um grande milagre: “O
fornecimento do tempo é um milagre cotidiano. Acordas pela manhã e vê! Tua bolsa está
magicamente cheia com 24 horas desse tecido ainda não manufaturado do universo da vida, a
mais preciosa de tuas posses!” (Arnold Bennet)
105. No Evangelho segundo São João, Jesus nos diz que quem nele crê tem a vida eterna. Não
diz “terá”; fala no presente. Trata-se também desta vida mesmo, daqui da terra, vivida no clima
de Deus, cheia de um novo sentido. E quem vive neste clima da construção do Reino achará
emocionantes as oportunidades do cotidiano, carregadas de apelos a um crescimento que é
programa empolgante. Escreve São Paulo: “Como escolhidos de Deus, santos, amados, vistam-se
de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência. Suportem-se uns aos
outros e se perdoem mutuamente, sempre que tiverem queixa contra alguém. E acima de tudo
vistam-se com o amor que é o laço da perfeição”(Col 3, 12-14). Isto é viver na luz, e ele
acrescenta: “O fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade”(Ef 5, 9). Vida com
sentido é, portanto, uma excelente prevenção contra todo tipo de vício, tanto as drogas como
outras formas destrutivas de enfrentar os problemas diários.
16 Lídia Rosemberg ARATANGY. Drogas na Escola. O Desafio da Prevenção. In Júlio Groppa AQUINO (Org.)
Drogas na Escola. Editora Summus Editorial, São Paulo, 1998, p. 11.
17 Paulo ALBERTINI, Mal Estar e Prazer. Ibdem, p. 46.
23
Para refletir
Vivemos com alegria a esperança que brota da fé?
Nossa comunidade transmite essa alegria?
O amor, que traz felicidade, tem suas exigências
106. O dependente de algum vício, entre os quais a dependência química, costuma ter muitos
sintomas semelhantes ao do chamado fenômeno de “adolescência prolongada”, caracterizada por
pouca disposição em assumir responsabilidades. A psicologia diria que ele tem dificuldades em
passar do princípio do prazer ao princípio da realidade; com isso, não cresce e deixa de
desenvolver importantes capacidades construtivas. Um amor verdadeiro não se conforma com
essa situação, muito menos a alimenta, e faz de tudo para que a pessoa se liberte dessa terrível
prisão.
107. O amor de Deus também não fabrica crianças mimadas, nem faz por nós o que Ele mesmo
nos deu capacidade para fazer. O amor do Pai sabe temperar acolhimento, perdão, braços sempre
abertos, com apelos exigentes para que cada um seja tão bom, tão grande e tão feliz como estava
no seu sonho inicial, ao criar cada um como pessoa de grande valor. Assim agiu Jesus que, ao
mesmo tempo em que era terno, acolhedor e compassivo com sofredores, humildes e pecadores,
fazia propostas exigentes aos que se propunham a seguí-lo e era contundente contra os que
prejudicavam os outros, bem como a convivência fraterna e justa.
108. Não é inteligente fazer abatimentos, descontos, quando se trata da qualidade da nossa
própria vida. Será uma lástima se cada um de nós não se construir, de fato, da melhor forma
possível. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” – o verso famoso de Fernando Pessoa
indica uma direção. Qualquer esforço vale a pena para fazer frutificar o grande ser humano que
cada um de nós já é e poderá ser ainda mais.
109. São Paulo, face à nossa fragilidade psico-espiritual, insiste para que nos exercitemos com
vistas a nos tornarmos fortes contra as armadilhas do mal que surgem em nossa caminhada:
“Fortaleçam-se no Senhor e na força de seu poder”(Ef 6, 10). Nos versículos seguintes, ele nos
pede para vestirmos a armadura de Deus, a fim de resistirmos às manobras do mal,
permanecermos firmes, superando todas as provas (cf. Ef. 6, 11-17). Mas, se caímos, ele, além de
nos provocar à mudança de vida, deixando o mal, é propositivo, incentivando, estimulando-nos a
fazer o bem: “deixem de viver como viviam antes, como homem velho que se corrompe com
paixões enganadoras. É preciso que se renovem pela transformação espiritual da inteligência e
se revistam do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e na santidade que vem da
verdade... Afastem de vocês qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto, e todo tipo de
maldade. Sejam bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, como Deus
perdoou vocês em Cristo” (Ef 4, 22-24, 31-32).
Ocupação sadia e alegria de servir
110. “Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”, dizia D. Helder
Câmara. As razões para viver se percebem mais facilmente quando a pessoa se coloca a serviço.
Muitos são os testemunhos de gente que se dispôs a ajudar outros, por compaixão, e acabou se
descobrindo como o beneficiário primeiro do serviço que lhes estava generosamente oferecendo.
Jesus convida a servir, falando da recompensa que vem do céu: “…quando deres uma ceia,
convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te
retribuir; mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14).
111. Antes mesmo da ressurreição dos justos, há uma alegria muito especial em prestar serviços
que não podem ser retribuídos de modo material. Mas sabemos que sempre há um tipo de
retribuição: todos têm algo a oferecer, mesmo os mais carentes. Essa alegria funciona tanto para
aqueles(as) que se colocam a serviço dos dependentes de drogas como para as próprias vítimas
24
dessa dependência. Ambos se sentem mais felizes quando descobrem que podem ser úteis.
Ocupar-se generosamente de outros é boa receita para obter uma atitude mais positiva em relação
aos próprios problemas. O serviço, na tônica do amor gratuito, ajuda a tomar uma certa distância
dos problemas pessoais, e essa distância faz com que os vejamos em nova perspectiva. Vem do
serviço fraterno uma alegria que conduz a novos e mais luminosos caminhos.
Cristãos, chamados a fazer diferença
112. Saber que a nossa presença fez alguma diferença para melhor neste mundo conturbado é
uma das melhores sensações que uma pessoa pode experimentar. Há mães que escrevem naqueles
famosos álbuns de bebê, respondendo à pergunta sobre o que desejam para a criança recém-
nascida: que o mundo fique um pouco melhor porque ela existe. É um modo bonito de afirmar
que sabem para que serve a vida que acabou de vir ao mundo.
113. A emoção de perceber que algo que realizamos fez diferença anima a construir cada vez
mais e melhor, coloca-nos com alegria numa estrada bem iluminada pela satisfação de ser gente,
de existir, de amar e ser amado. Essa alegria é vivenciada por aqueles(as) que se dedicam à
recuperação de dependentes de drogas ou a outras tarefas transformadoras. E deve tornar-se
também progressivamente uma alegria, de grande potencial salvador, para a pessoa que precisa
de recuperação. Nessa tarefa de fazer diferença não estamos sozinhos. Deus, que fez o chamado,
vai junto como parceiro, força e estímulo. Ele mesmo o garante: “Não temas, eu estou contigo”
(Is 43, 5; Jr 1, 8). No dizer de Fernando Pessoa: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”.
Para refletir
Como educamos crianças e jovens para a alegria do serviço prestado com generosidade e
responsabilidade?
A comunidade se une para responder às necessidades da realidade local? Como?
Um amor sem exclusões
114. Jesus avisa que a vontade do Pai é “que não se perca um só destes pequeninos” (Mt 18,14).
Somos uma grande família, na qual todos são responsáveis por todos. Nosso próximo é aquele de
quem nos tornamos próximos, como se vê na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 30-37). A
condição para o outro ter direito a ser esse tipo de “próximo” não é o parentesco, nem a filiação
religiosa, nem as virtudes da pessoa envolvida, nem a afinidade emocional. O grande critério para
mobilizar a nossa fraterna atenção é a própria necessidade do(a) irmão(ã). Se alguma prioridade
devemos dar a alguém em nossa caridade fraterna, o grande critério haverá de ser a necessidade
de quem precisa de nós. Ou, como disse Jesus: “Não são aqueles que têm saúde que precisam de
médico, mas os doentes” (Mc 2,17).
115. Esse apelo à solidariedade sem exclusões deve mobilizar pessoas e comunidades cristãs
diante dos sofrimentos dos dependentes químicos e dependentes de qualquer outra situação e,
também, diante dos sofrimentos de suas famílias, sem julgamentos preconceituosos e sem outras
cobranças que não sejam as exigência da própria reeducação dos que precisam se recuperar. Às
vezes nos comportamos como se os problemas alheios fossem coisas muito distantes de nós. Com
isso, perdemos a oportunidade de viver a experiência gratificante da generosidade fraterna, e
perdem aqueles que precisam do nosso apoio para viver melhor. Poderíamos refletir com o poeta
Mário Quintana: “Essas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderes o
braço e tocar no ombro do teu vizinho…”.
116. Na parábola do Bom Samaritano, Jesus destaca que exatamente o excluído pelos judeus -
pois eles não aceitavam os samaritanos -, é que se tornou modelo de caridade e de proximidade
do outro, caído à beira da estrada, de quem tanto o sacerdote como o levita não cuidaram. O Bom
25
Samaritano, mesmo sem o saber, está fazendo a um desconhecido, tratado como irmão, o
benefício que Jesus julgará, no Juizo Final, como feito a si mesmo: “todas as vezes que isto
fizestes a um de meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizeste” (Mt 40).
A Igreja se põe a serviço da vida e da esperança
117. Somos Igreja a serviço do evangelho da vida, vida a ser desenvolvida com dignidade,
alegria, paz. Vivemos, como cristãos mergulhados na realidade deste mundo cheio de
ambigüidades, de contrastes imensos, entre felicidade e infelicidade. Sabemos que “as alegrias e
esperanças, as tristezas e as angústias de todos os homens, especialmente as dos pobres e
daqueles que sofrem, são as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de
Cristo” (GS 1). Toca-nos, portanto, o coração o sofrimento da multidão de irmãos(ãs) nossos(as),
de suas famílias e da sociedade que sofre com tantos problemas e injustiças, e, neste complexo
contexto, dos que carregam consigo as conseqüências violentas do mercado da droga.
118. Pela palavra do Papa João Paulo II, a Igreja é convocada a se engajar na luta por um mundo
livre, também da tragédia da droga, compreendendo suas causas e indo à raiz do problema,
situando a questão da droga num universo mais amplo, no qual é gerada e alimentada: “O flagelo
das drogas não seria, em essência, o mal a ser combatido ou, pelo menos, o único a ser
combatido. Ele seria muito mais o efeito de outro mal, maior e mais grave: a perda do sentido da
vida. Daí a ênfase na recuperação e prática dos valores básicos da virtude cristã e a denúncia
dos comportamentos e atitudes contrários à preservação da vida, à solidariedade e amor ao
próximo, justiça etc…”; “É necessário denunciar com coragem e com força o hedonismo, o
materialismo e aquele estilo de vida que facilmente induzem à droga (João Paulo II, Ecclesia in
America, 60 e 61).
Procurar parceria para servir a vida e a esperança
119. Não somos, os católicos, os únicos a estendermos as mãos e abrirmos o coração aos que se
perderam no caminho da droga. Quando se trata de fazer o bem, todas as pessoas sensíveis à dor
alheia são chamadas ao mesmo mutirão. Reconhecemos e valorizamos o empenho de outros
grupos, profissionais e organizações dedicados à recuperação dos irmãos necessitados. Aprender
uns com os outros e saber conjugar dons complementares são mostras de inteligência solidária e
caminho para um resultado melhor. Vemos com especial alegria o trabalho realizado por outras
Igrejas cristãs, nossas irmãs na fé, que têm importante ação nessa área.
120. Jesus estimula o apoio de seus discípulos a todos os que fazem o bem: “Mestre, vimos um
homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não nos segue.
Jesus disse: “Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar
mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor” (Mc 9, 40). Isso quer dizer que toda
ação que liberta a pessoa humana faz parte da missão de Jesus e merece todo o apoio dos que o
seguem.
121. Felizes, portanto, por tudo que for realizado em benefício de quem precisa, seguiremos o
conselho de Paulo aos cristãos de Filipos: “Nada façais por competição ou vanglória, mas por
humildade; considerai os outros superiores a vós mesmos. Cada um procure, não o próprio
interesse mas o interesse dos outros. Tende os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo”
(Fl 2,3-4).
O Evangelho do amor que liberta, transforma, faz crescer
122. Nosso Deus escolheu o Amor como meio de salvação do mundo. Diante dos sofrimentos e
descaminhos humanos, conseqüências do pecado, respondeu com uma doação maior. E a entrega
total da vida de Jesus nos proclama: só o Amor salva! Essa abertura ao Amor é a grande força
transformadora do mundo. Transforma o dependente de qualquer substância ou situação, que,
sabendo-se amado por Deus e pelos irmãos, tem motivos a mais para se libertar e buscar outro
caminho, que de fato conduz à felicidade. Transforma o agente que se envolve na sua
26
recuperação, fazendo dele uma pessoa melhor. Transforma a sociedade, questionada por essa
generosidade sem interesses ocultos, que vai na contramão das pressões consumistas e
competitivas.
123. Se o problema parecer grande demais para nossas forças, lembremos a imagem do grão de
mostarda, a mais pequenina das sementes, que a força da vida, alimentada por Deus, transforma
em grande árvore (cf. Mt 13, 31-32). Jesus prometeu: “quem permanecer em mim e eu nele dará
muito fruto” (Jo 15,5). Os frutos do amor, da caridade e do serviço, partilhados com os
dependentes e suas famílias, serão um sinal de esperança, parte indispensável do anúncio do
Reino, que é a própria razão de ser da Igreja de Jesus. E mesmo que não consigamos recuperar
alguém, o importante é que cumprimos nossa parte, fizemos o que estava ao nosso alcance,
expressamos nosso amor, fizemos a pessoa afetada sentir-se amada, fomos para ela sacramento
do amor misericordioso do Senhor. O filme “Os últimos passos de um homem” elucida isso
muito bem, retratando a dedicação à toda prova de uma religiosa a um condenado à morte.
124. Quando o amor toma conta das pessoas, há um total redimensionamento das relações
humanas e da maneira de encarar os problemas. Um missionário18
, vendo o menino pobre
carregar nas costas outro menino, até um pouco maior, lhe diz: “Caramba, deve estar pesando
muito! Vou te ajudar!”. E o menino, sentindo sim o peso, mas com uma força especial que tem,
responde: “Não Padre, não precisa! Não pesa, não! É meu irmão!” Temos na história recente,
exemplos heróicos gritantes, que nos estimulam no serviço ao excluído social mais esmagado. É
o caso, apenas para citar dois deles, de Madre Teresa de Calcutá e de Irmã Dulce.
125. A CF 2001, “Vida sim! Drogas Não!”, nos leva a divulgar esses e outros heróis, cristãos e
não cristãos, como mensagem profética de Deus para a Igreja hoje, em sua opção preferencial
pelos pobres, chamada a dar maior atenção, de modo dedicado e competente aos portadores de
alguma deficiência, aos discriminados por raça, sexo, cultura, religião, enfermidades
estigamizadoras etc. Os dependentes químicos ou de qualquer outro estimulador que vicia e
corrói a vida são, entre outros, alertas diretos e muito específicos do Senhor à caridade libertadora
de seus seguidores e que, certamente, poderão ser incluídos no relato de situações arroladas por
Jesus, no Juízo Final: “Pode vir para o Reino de meu Pai, porque eu era dependente e você
cuidou de mim!” ou “Afaste-se de mim, maldito, porque eu era dependente e você não cuidou de
mim!” (cf. Mt 25, 31-46).
Para refletir
Fazer um levantamento de grupos e organizações que já trabalham na recuperação de
dependentes químicos. Desses, quais são de nossa Igreja? Como podemos apoiar, colaborar?
Há exclusões, preconceitos e outras dificuldades que podem atrapalhar esse trabalho?
TERCEIRA PARTE:
A PROFECIA DAAÇÃO SOLIDÁRIA
(AGIR)
126. O Agir da Campanha da Fraternidade, neste primeiro ano do novo milênio, propõe ações que
visam à construção de um milênio sem drogas. A proposta se enquadra num contexto mais amplo
e tem por objetivo último colaborar na realização de um novo projeto de vida e sociedade, que,
além de questionar a estrutura social, econômica e política, de crescente consumismo, gerador de
18 Na década de 50 foi divulgada (inclusive no Brasil) uma foto com esta cena (um menino carregando outra
criança). A foto pertenceria ao filme "Men of Boy's" que retrata a vida do Pe. Flanagn (USA) e sua experiência na
"Cidade dos Meninos".
27
novos tipos de necessidades e dependências, deseja mobilizar a todos para ações concretas, que
coloquem as bases de uma sociedade justa e solidária. Estamos convencidos de que esse tipo de
sociedade reforça o sentido positivo da vida, não permite a exclusão social de ninguém e, assim,
encontra caminhos eficazes para solucionar o grande flagelo das drogas.
127. Trata-se de um Agir que, diante dos três agentes que atuam nessa problemática, droga, ser
humano e ambiente, prioriza o ser humano, definido como pessoa. O Agir Cristão desenvolve-se
como Projeto Evangélico em sintonia com as "Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da
Igreja no Brasil (1999-2002)"19
e com o Projeto Evangelizador "Ser Igreja no Novo Milênio
(2001-2002)".
128. Sem ignorar nem desprestigiar qualquer trabalho neste campo, a Campanha da Fraternidade
quer intervir na realidade reconhecendo que a droga não é o principal problema do
toxicodependente e, sim, a falta de sentido positivo da vida. Embora as propostas de ação
elencadas neste texto priorizem respostas a situações de dependência química, não podemos
perder de vista outras situações similares e, sobretudo, o panorama mais amplo.
129. As ações que forem sendo assumidas no Agir devem ser resultado de uma reflexão ampla
que vai do âmbito pessoal às políticas públicas. Reflexão que passa pela exigência de mudança de
posturas pessoais, com gestos de resistência à mentalidade consumista, até a transformação de
estruturas marcadas por uma economia de mercado que visa mais ao lucro do que a qualidade de
vida das pessoas e da sociedade.
130. A exemplo de atividades realizadas em outras Campanhas da Fraternidade, o Agir da CF
2001 tem vários níveis: da assistência (socorro imediato), da promoção humana (que busca o
desenvolvimento da dignidade humana, a autonomia das pessoas), do engajamento libertador (na
defesa dos direitos humanos e da mobilização em favor da transformação social, ou seja, a busca,
de modo organizado, de mudanças nas relações sociais, econômicas, políticas e culturais), tendo
como base, em todas estas iniciativas, os valores evangélicos.
131. O nosso Agir da CF 2001 se situa no amplo campo da área da saúde, que por vez revela
uma sociedade seriamente enferma. Desejamos ações que visem à saúde integral das pessoas,
aquela que é "resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio
ambiente, trabalho, transporte, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e aos serviços de
saúde”20
, e, também, acesso ao direito de receber orientações específicas de valores como ética,
cidadania, sentido da vida, solidariedade.
132. Estamos atuando num campo complexo, que é o imenso desafio das drogas. Percebemos que
ninguém tem respostas prontas. Devemos, portanto, como cristãos, exercitar a humildade e atuar
em parceria com pessoas das mais diversas áreas. Estamos diante de um gravíssimo problema
social que exige, de um lado, um trabalho interdisciplinar, e, de outro, muito respeito aos que já
atuam nessa área com trabalhos concretos, que precisam ser valorizados, avaliados, multiplicados
etc.
133. Diversas experiências vêm sendo realizadas no País por órgãos públicos, entidades civis,
organizações não-governamentais e instituições religiosas das mais diversas denominações.
Citamos algumas dessas iniciativas, que desenvolvem ações concretas. São experiências que
podem ajudar o ser e o agir de cada um de nós, das nossas comunidades e de toda sociedade
sedenta de vida e esperança.
Políticas públicas de controle
134. O Poder constituído da Nação se mobiliza para desenvolver uma política de controle do
cultivo, produção e comércio de drogas. É assim que, no Brasil, foi criada, recentemente, pelo
Governo Federal a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), que tem como finalidade o
desenvolvimento de uma política de controle do uso indevido e abusivo de drogas, além de,
juntamente com os orgãos de Segurança, combater o tráfico ilícito de drogas e substâncias
psicotrópicas21
.
19 Documentos da CNBB nº 61
20 Definição da 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), que foi assumida pela Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988.
21 O endereço e o telefone gratuito da SENAD é: Anexo II do Palácio do Planalto, sala 244. Brasília - DF. CEP 70
150 - 900. Fone: 0800 61 4321. O FAX é 0xx61 411 2110. O endereço eletrônico é prevtrat@planalto.gov.br
28
135.A SENAD realizou um Fórum Nacional antidrogas, em 1998, que levantou inúmeras
iniciativas que poderiam ser viabilizadas no combate às drogas. Muitas delas estão sendo postas
em prática. É importante conhecê-las, estudá-las, discuti-las e divulgá-las. Além desse Fórum, a
SENAD tem realizado anualmente a "Semana Nacional Antidrogas" e estabelecido convênio com
várias entidades que têm como objetivo a implementação dos programas de prevenção ao uso
indevido de drogas, além de outros programas de repressão ao tráfico e de controle da produção e
distribuição de substâncias passíveis de serem utilizadas como drogas etc.
São inúmeras as iniciativas que estão sendo tomadas para o combate às drogas.
Entre elas:
Projeto-escola, em parceria com Secretarias Estaduais de Educação, para discussão
em colégios da rede pública, sobre sexualidade, saúde e uso indevido de drogas. Há, para
isso, treinamento de professores e alunos;
Criação de centros de referência, na Universidade Federal da Bahia, Universidade
Federal de São Paulo e Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade de Brasília,
para cursos e projetos de capacitação de profissionais e agentes de prevenção sobre o uso
indevido de drogas e doenças sexualmente transmissíveis. Há, também, cursos de
capacitação de profissionais para trabalharem em instituições públicas de saúde, em setores
que atuam com a síndrome e doenças adquiridas pelo abuso de drogas ilícitas. A
Universidade de São Paulo (USP) possui o CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas).
Quanto a recursos, é possível obter, junto ao Governo, o financiamentos de projetos
de organizações governamentais e comunitárias para treinamento de profissionais para o
atendimento de usuários de drogas, assim como para a prevenção ou tratamento de AIDS e,
ainda, de centros ou clínicas de tratamento, recuperação e reinserção social.
A iniciativa particular criou a FEBRACT22
(Federação Brasileira de Comunidades
Terapêuticas), que, em 1991, publicou o "Catálogo de Centros Brasileiros para o Tratamento/
Prevenção de Dependência de Drogas". E há, também, a Associação Nacional de
Comunidades Terapêuticas Cristãs (ANCTC)e a Federação das Comunidades Terapêuticas
Evangélicas do Brasil (FETEB).
136. No campo da legislação, é obrigatória a criação e o funcionamento dos Conselhos Estaduais
e Municipais de Entorpecentes. Os Governadores, os Prefeito, as Assembléias Legislativas e as
Câmaras Municipais de Vereadores são os primeiros responsáveis pela implantação e
funcionamento desses Conselhos.
137. Encontra-se aqui uma importante pista de atuação para os nossos agentes de pastoral,
sobretudo daqueles que atuam ou querem atuar na Pastoral da Sobriedade, sobre a qual
voltaremos mais adiante neste texto. Passem, portanto, a exigir do Poder Executivo a elaboração
de um projeto para criar e fazer funcionar um Conselho de Entorpecentes em cada Estado e
Município. Acompanhem a discussão e aprovação desse Conselho nas Assembléias Legislativas e
Câmaras de Vereadores, onde não o houver. Mantenham sempre vivas as discussões dos
problemas locais relacionados às drogas, em fóruns que envolvam a população para auxiliar a
atuação do Conselho Paritário de Entorpecentes. Organizem e dinamizem fóruns de debates,
permanente ou não, sobre o assunto, em parceria com os grupos que atuam na área.
138. É fazendo cumprir a lei, que determina a criação dos Conselhos Municipais de
Entorpecentes (COMEN), que se poderá garantir uma política pública preventiva às drogas e de
atendimento aos dependentes e suas famílias. Os municípios só poderão receber verbas
destinadas à prevenção, tratamento e repressão às drogas se o COMEN estiver em pleno
funcionamento e sujeito a supervisão.
139. Fóruns permanentes de debate podem e devem acompanhar: a política do Governo Federal,
testando a sua eficiência na sua realidade concreta; a atuação de deputados, vereadores,
governadores e prefeitos; Comissões Parlamentares, como a Comissão Parlamentar de Inquérito
(CPI) do Narcotráfico, observando sua eficiência ou ineficiência no combate às drogas. Uma
22 FEBRACT - Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Fazenda Vila Brandina. Caixa Postal 5694 -
CEP 13094-970. Campinas, SP. Telefone/Fax: Oxx19 252-7919.
29
atuação nessa instância ajudará ainda a incentivar, criticar, propor mudanças ou reforçar as
políticas que são desenvolvidas.23
140. Mas não basta uma ação nos municípios e no País. A cooperação internacional entre as
nações reforça o princípio da responsabilidade compartilhada entre elas e ajuda a reduzir a
demanda das drogas como pilar de toda a estratégia mais abrangente de esforço contra seu
tráfico, comercialização e consumo.
Algumas questões fundamentais ligadas às políticas públicas podem ser acompanhas,
discutidas, encaminhadas:
1 - a legislação atual para a repressão ao narcotráfico e ao consumo de drogas: já
tramita no Congresso a reforma da lei n. 6.368/1976, que dava ênfase excessiva aos
consumidores, sem uma punição efetiva aos controladores do comércio. Dispositivos legais
deveriam ser aplicados para transformar em crime toda a espécie de “lavagem” de dinheiro e
para a desapropriação e venda imediata dos bens apreendidos do narcotráfico;
2 – quanto à cola, levar adiante o estudo da proposta do falecido educador Darcy
Ribeiro, obrigando os produtores de cola a colocarem odores ruins para desestimular o seu
cheiro pelas crianças de rua e talvez em outros produtos alternativos;
3 – Poder Judiciário: atacar seriamente a questão da impunidade e da corrupção dos
meios judiciários;24
4 – CPI do Narcotráfico: acompanhar os trabalhos, que resultaram da CPI do
Narcotráfico. Um deles, a cargo do SENAD, se refere às casas de recuperação de dependentes
químicos. Motivar a transformação desta CPI em uma Comissão Permanente do Congresso
para investigação do narcotráfico e consumo de drogas no País, como já acontece em alguns
países;
5 – legalização do uso de drogras. É necessário acompanhar com exigente reflexão a
proposta da legalização de algum tipo de droga, considerada menos perniciosa;
6 – agricultores: faz-se necessário também o apoio do Governo aos pequenos
agricultores, seduzidos pelo alto rendimento do cultivo de plantas ligadas às drogas, bem como
aos seringueiros e indígenas que ocupam as fronteiras do Brasil, onde acontece muito do
tráfico de drogas;
7 – ECA: discutir a proposta de incluir um parágrafo único no art. 243 do Estatuto da
Criança e do Adolescente com os seguintes elementos: Nas mesmas penas incidem os
proprietários e exploradores de estabelecimentos comerciais quando a criança e o adolescente
forem encontrados nos interiores destes, adquirindo ou fazendo uso dos produtos que possam
causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida.
1. Existe Conselho de Entorpecentes em nosso município? Como é formado? Como
está atuando?
2. Se esse Conselho não existe, o que poderíamos fazer para que o mesmo seja
criado?
3. Como organizar fóruns para acompanhar as políticas de governo a respeito das
drogas?
4. Organizar um levantamento de tudo que existe na localidade na questão das
drogas.
5. Como participar dessas iniciativas para que sejam incentivadas e apoiadas? Como
fazer para que existam novas iniciativas?
Prevenção ao uso indevido de drogas
141. A prevenção é um tipo de comportamento, de responsabilidade pessoal e coletiva, que cria
as condições básicas para que algo aconteça ou seja impedido de acontecer. Podemos e devemos
prevenir não só contra alguma coisa, mas a favor de algo. No caso em questão, a prevenção deve
23 Em princípio a CPI do Narcotráfico deve encerrar as suas atividades em outubro de 2000. Sugere-se a criação, no
âmbito do Congresso Nacional, de um órgão para o acompanhamento do problema do narcotráfico no Brasil.
24 Revista Isto È, 17/11/99.
30
favorecer tudo que, por si só, se oponha à droga, ao alcoolismo, aos vícios em geral. Prevenção se
faz, sobretudo, fornecendo informações, formação e apoio.
142.A forma de desenvolver ações preventivas vai depender muito de cada realidade sócio-
econômica e cultural da comunidade em que se atua. Para ser .eficiente, um programa de
prevenção precisa ser bem planejado, desenvolvido por um determinado período de tempo e ser
avaliado continuamente. E, obviamente, deverá ainda formar pessoas para desenvolvê-lo,
envolvendo os diversos segmentos da comunidade.
143. A formação humana verdadeira se dá na educação para o amor, o respeito, o cuidado e a
promoção da vida. É fundamental, portanto que a educação ofereça oportunidades para que
crianças, adolescentes, jovens e adultos façam experiências positivas da alegria de conviver,
servir e cultivar momentos e situações de felicidade. Os educadores e os pais, de modo particular,
precisam educar para a liberdade com responsabilidade e para a autonomia, com uma
metodologia que alie sabiamente ternura e firmeza. E nessa questão dois extremos devem ser
evitados: por um lado, a ausência ou omissão e o laxismo, porque as crianças não terão
oportunidade de conhecer e aprender limites importantes, e, por outro lado, a superproteção e o
rigor excessivo, porque não há amadurecimento das pessoas quando se tornam vulneráveis,
permanecem ingênuas, ou são inibidas.
144. A informação educativa deve estar centrada, sempre, na verdade, evitando sensacionalismo,
exagero, ameaça e chantagem. No caso da droga, a informação deve ser passada, de maneira
preferencial, tanto pessoalmente como em pequenos grupos, pois isso facilita muito o diálogo
construtivo, já que, comumente, a comunicação de massa fica, em geral, na superficialidade do
assunto. Além disso, no pequeno grupo, há mais chances de se dar destaque aos valores e ao
sentido da vida, ao prazer do verdadeiro, ao valor da amizade, à alegria de viver e não apenas ao
que em geral se costuma destacar na informação: os aspectos químicos da droga, seus efeitos e o
modo de usar.
145. Um gesto de grande importância, como forma de apoio à prevenção e ao combate às drogas,
é incentivar, acompanhar as iniciativas articuladas para isso e prestar-lhe serviços. É preciso
conhecê-las, saber de suas necessidades e dificuldades e mobilizar a comunidade para ajudá-las.
Um outro caminho, de grande utilidade, é apoiar e estimular a integração de instâncias já
organizadas, como associações de bairros, igrejas, clubes esportivos, associações de pais etc.
Quanto mais houver integração e apoio mútuo entre as diversas iniciativas, mais facilmente o
mundo das drogas será conhecido e meios mais eficazes serão acionados para combatê-lo e para
ajudar as suas vítimas. A Campanha da Fraternidade quer ajudar a participação e a mobilização
de toda a sociedade na prevenção do uso indevido de drogas, tanto por um grande trabalho
coletivo em todo o Brasil, como pela articulação das iniciativas, pequenas ou grandes, pois essa é
uma tarefa de todos, e não só das autoridades médicas, policiais ou judiciárias.
146. Um meio saudável de prevenção às drogas é o desenvolvimento de programas de esporte,
cultura e lazer, que, educativamente, colocam no centro do projeto a valorização da pessoa e não
da atividade em si. Pode-se dizer que, em grande parte, é o não dar importância a esse princípio
que distorce a atuação de atletas, dançarinos, artistas, que recorrem ao uso de anabolizantes em
academias de ginástica, clubes esportivos etc.
147. Uma das atividades a serem incluídas, portanto, na mobilização contra as drogas é a
reivindicação, junto aos poderes públicos e à sociedade, do desenvolvimento de muito mais
programas de esporte, cultura e lazer, envolvendo escolas, públicas e privadas, clubes, Igrejas,
para que cedam à comunidade seus espaços ociosos para realização de eventos nesse sentido, ou
eles mesmos organizem tais atividades.
148. Nesse contexto, sugere-se também apoiar, desenvolver, reivindicar programas de ações
básicas de saúde, como, por exemplo, o Programa de Agentes Comunitários de Saúde ou o
Programa de Saúde da Mulher, incluindo nesses programas, a questão do combate às drogas. Isso
acarreta, é claro, a inclusão desse item no treinamento de agentes comunitários de saúde e no
desenvolvimento de ações e atividades de prevenção primária e secundária junto às escolas
família e comunidade em geral.
149. O trabalho ajuda muito na proteção contra os vícios, pois, além do rendimento que produz,
é um fator que aumenta a auto-estima, corrobora na construção da pessoa e é importante terapia
ocupacional. Apoiar, desenvolver, reivindicar programas de geração de renda e de emprego, para
jovens e adultos com baixa qualificação, é uma das atividades a ser promovida como meio contra
as drogas. É evidente que, na questão do trabalho, é fundamental continuar denunciando o
31
modelo econômico que coloca o lucro e o capital de poucos acima do trabalho digno para o povo,
condenando a grande maioria à exclusão social, que leva tantas pessoas ao desemprego e ao
desespero, caminho para ações anti-sociais, como droga, roubo, assalto, violência. Estimular e
apoiar, também, as entidades que dão apoio aos trabalhadores, na coordenação de suas
reivindicações e na defesa e promoção de seus direitos.
150. Nessa questão dos direitos, um outro caminho contra os vícios é o apoio e fortalecimento de
grupos, associações e categorias sociais que se empenham na conquista, defesa e promoção de
seus direitos fundamentais. É que, na medida em que a dignidade humana é respeitada, as pessoas
poderão encontrar com mais facilidade o sentido da vida, evitando assim os vazios existenciais,
que pessoas mal intencionadas prometem preencher com ilusões e drogas
151. Em todo este complexo universo de pessoas mais vulneráveis aos vícios, é evidente a
necessidade de se dar atenção especial a alguns grupos excluídos que não são suficientemente
contemplados pelas políticas públicas, como são, por exemplo, os portadores de deficiências
físicas, moradores de rua, meninos e meninas de rua, índios sob deturpada influência de
disseminadores de vícios e doenças, portadores de HIV, encarcerados etc. Nesses casos
específicos, é necessário criar alternativas apropriadas de tratamento e convivência para esses
grupos, e estimular a criação de políticas diferenciadas que respeitem a sua diversidade.
Questionamentos
1. De todas as ações preventivas relacionadas acima, o que já existe em sua
comunidade? Existe também alguma outra ação preventiva que não está
relacionada aqui?
2. Que tipo de apoio podemos dar às ações existentes?
3. Que iniciativas poderíamos, ainda, ter na área de prevenção?
Quanto à intervenção de ajuda
152. A intervenção de ajuda aos dependentes é utilizada, especialmente, nos casos em que os
usuários ainda não necessitam de internamento para se recuperarem. Isso ocorre quando eles
fazem uso ocasional, recreativo, de drogas, sem o comprometimento de seu livre arbítrio. Não há
propriamente dependência, vício, mas a estrada já está aberta para isso, e o perigo é evidente.
153. Para maior eficácia, a intervenção visa, o mais possível, a realizar sua ação com todos os
membros da família, com as pessoas do relacionamento íntimo do usuário de drogas, bem como
de outras pessoas com as quais se relaciona como o patrão, o médico, o advogado, os educadores.
É fundamental chegar a um certo consenso no modo de lidar com o dependente. E esse fator tem
sua razão de ser, partindo-se do princípio de que é comum os dependentes procurarem essas
pessoas, manipularem-nas e conseguirem o que querem de cada um isoladamente.
154. A intervenção é feita, normalmente, por meio da participação em grupos de auto-ajuda ou de
aconselhamento. Os grupos de auto-ajuda são formados por homens e mulheres que seguem
tradições e passos específicos, com o objetivo de favorecer e acelerar a recuperação do usuário de
drogas. Crêem que o processo comunitário é fundamental no serviço que prestam e entendem que
a solidão é que fragiliza muito as pessoas. Daí o lema que, em geral, usam: "Solidários sim,
solitários não!". Anônimos por escolha, desprendidos por obrigação, eles formam uma cruzada
silenciosa de apoio a todas as pessoas que padecem de comportamentos compulsivos. Esses
grupos podem ser incentivados e merecem todo o apoio.
155. Um dado a ser destacado é que esses grupos de auto-ajuda são pequenos núcleos formados
por pessoas que se libertaram de estilos de vida destrutivos e se colocam voluntárias a serviço da
recuperação dos usuários de drogas pela pregação, com mensagens e dinâmicas apropriadas, da
felicidade proveniente da vivência da sobriedade. Na troca de experiências, o indivíduo em
estado de risco, se enxerga no grupo e, ao fazê-lo, toma consciência de que o seu problema não é
o único, encontrando, assim, força extra para a própria recuperação. Nos grupos de auto-ajuda,
todos os membros encontram-se num processo de abstinência de álcool ou de droga e o desejo de
se recuperar cria um clima de empatia entre os participantes. Aos poucos, acontece uma mudança
total de vida, condição fundamental para a recuperação.
32
Existem diversos Grupos de auto-ajuda. Citamos alguns deles:
a) Grupos de apoio à recuperação do dependente químico:
AA- Alcoólicos Anônimos;25
NA – Narcóticos Anônimos;
NATA – Núcleo de Apoio ao Toxicômano e ao Alcoólatra.
b) Grupos de apoio a familiares e amigos dos dependentes de drogas:
AL-ANON – para familiares e amigos de alcoólicos;26
AL-ATEEN – para filhos de alcoólicos (de 13 a 19 anos);
AMOR-EXIGENTE – para familiares, amigos e educadores.
NAR-ANON – para familiares, parentes e amigos de adictos em recuperação;
NAFTA – para familiares para familiares de toxicômacos;
NAFTINHA – para crianças.
156. Alcoólicos Anônimos (AA) é uma irmandade mundial de homens e mulheres que se ajudam
mutuamente, compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu
problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O AA não está ligado a
nenhuma religião, movimento político, organização ou instituição. Muitas comunidades e
famílias cristãs apóiam estes grupos de AA. Os Grupos Familiares Al-Anon são uma associação
de parentes e amigos de alcoólicos e funcionam com os mesmos princípios dos grupos de AA,
adaptando-os ao grupo. Há algo similar também para os que desejam deixar o vício do fumo, do
sexo, da compulsão consumista e outros.
157. Narcóticos Anônimos (NA) é uma associação comunitária de adictos a drogas em
recuperação, que se ajudam uns aos outros. Uma irmandade sem fins lucrativos, na qual não
existe restrição social, religiosa, econômica, racial, étnica, de nacionalidade, gênero ou status
social. Os grupos vivem em suas comunidades, freqüentam as reuniões quanto lhes convém, não
existindo nenhum registro ou controle, taxas ou contribuições.
158. Núcleo de Apoio aos Toxicômacos e Alcoólatras (NATA) é uma associação de usuários ou
recuperados que se encontram regularmente a fim de se prestarem auxílio e se conservarem livres
das drogas e do álcool. É dividido em dois setores, um para a família (NAFTA), para crianças
(NAFTINHA) e outro para os dependentes químicos (NATA). Em geral, são ligados a entidades
que mantêm comunidades terepêuticas.
159. Amor-Exigente é uma proposta educacional destinada a pais e orientadores, como forma de
prevenir e solucionar problemas com os jovens, tais como: desrespeito, violência, falta de
motivação, uso de álcool ou drogas, abuso verbal, repetência escolar, enfim, qualquer
comportamento inadequado. É uma nova abordagem, que enfatiza a mudança de comportamento
de pais, professores, pedagogos, terapeutas, orientadores e voluntários em relação a jovens com
problemas (27
).
Os doze princípios do “Amor Exigente” são um guia para uma maneira de viver e de
administrar a família e norteiam os grupos de apoio a pais e jovens.
1. Raízes culturais - princípios de integridade moral e ética são imutáveis.
2. Os pais também são gente - têm limitações e fraquezas, não são perfeitos.
3. Os recursos são limitados - temos limites físicos, emocionais e econômicos. É preciso
respeitar limites.
25 O telefone do AA pode ser encontrado em todas as listas telefônicas, em lugar de destaque. O telefone nacional do
AA é - 0xx11 229 3611. O endereço eletrônico do AA é alcoolicosanonimos@nutecnet.com.br , e o site é
www.alcoolicosanonimos.org.br
26 O telefone nacional do Al-Anon é - 0xx11 222 2099; o fax é - 0xx11 220 8799 e o site é http:/www.al-anon.org.br
O endereço eletrônico do NAR-ANON é: naranon@domai.com.br , o site é
http://wwwdomai.com.br/clientes/naranon/index.htm , e o telefone do Escritório Nacional é 0xx21 283 0896 e
0xx21 263 6595 no Rio de Janeiro. Em São Paulo o telefone é 0xx11 605 8403.
27Sílvia Mara Carvalho de MENEZES, O que é Amor Exigente, Loyola, 1997, São Paulo, SP.
1. Amor-Exigente é um grupo de apoio, não um grupo terapêutico. Apresenta um processo de mudança, que
poderá ser usado como guia e ajuda para encontrar o bem-estar da família. É um grupo de ação e não de consolação.
Nele se discute a orientação para as situações apresentadas e o acompanhamento das atitudes sugeridas, para que
haja uma verdadeira mudança interior no contexto familiar e escolar.
33
4. Pais e filhos não são iguais - pai é guia, orientador, legislador, conduz o filho.
5. Culpa - pais fazem sua parte do modo mais completo possível.
6. Comportamento - o comportamento dos pais afeta os filhos e os filhos aos pais.
7. Tomada de atitude - é dever dos pais agir prontamente, assumir posições claras e bem
definidas.
8. A crise - é precisos ter coragem e disposição para mudar e ser capaz de amar os filhos e
fazer o que precisa ser feito.
9. Grupo de apoio - sozinhos os pais se sentem perdidos e amedrontados, unidos e reunidos
em grupos encontrarão novos caminhos.
10. Cooperação - a essência da família repousa na cooperação. É da cooperação que nasce a
afetividade e a cidadania.
11. Exigência e disciplina - existem direitos e deveres para pais e filhos.
12. O amor - amar é um grande desafio. É uma decisão, deixa de ser um sentimento para ser
uma opção de vida. O verdadeiro amor tem compromisso com valores maiores do que
satisfação dos desejos.
Questionamentos
1. Não seria importante que a sua diocese, paróquia ou comunidade fizesse um
mapeamento dos grupos de auto-ajuda e de apoio já existentes para divulgá-los,
fortalecê-los e apoiá-los mais?
2. Que tipo de grupos de auto-ajuda e apoio é necessário em nossa comunidade?
Como organizá-los?
3. Como recuperar a disciplina e as exigências ético-morais do amor verdadeiro?
Tratamento e reinserção social dos dependentes de drogas
160. As pesquisas têm apontado para a complexidade do fenômeno da dependência e também
para o pouco conhecimento que dispomos sobre o assunto. Assim sendo, deve-se investir muito
mais na pesquisa, respeitar a diversidade de programas de tratamento e a quantidade de
referenciais teóricos para a compreensão do problema das drogas. Não dá para afirmar que um
programa é melhor do que o outro. As últimas pesquisas têm apontado que se deve levar em
conta no tratamento, em primeiro lugar, a situação de cada indivíduo, a individualização, e depois
as dimensões médica, psicoterápica e social.
161. Dependentes diferentes necessitam, muitas vezes, de diferentes formas de tratamento.
Alguns conseguem iniciar sua recuperação desde o início, com tratamento ambulatorial ou em
grupos de auto-ajuda. Outros precisam de internações hospitalares para desintoxicação ou
afastamento inicial do álcool ou outras drogas. Alguns precisam de atendimento psicológico ou
psiquiátrico. Outros, enfim, necessitam de um tratamento em uma comunidade terapêutica.
162. Os modelos de atendimento a dependentes passam geralmente por duas etapas:
desintoxicação, que visa a retirada da droga; manutenção, que visa à reorganização da vida do
indivíduo, sem o uso prejudicial da droga. Entre as intervenções terapêuticas mais
freqüentemente utilizadas no tratamento das farmacodependências, destacam-se: desintoxicação,
farmacoterapia, psicoterapia individual, psicoterapia de grupo, atendimento familiar, terapia
ocupacional, terapias cognitivas e comportamentais, grupos comunitários de ajuda mútua.28
163. É sempre bom relembrar que a possibilidade de sucesso em um tratamento é maior quando o
paciente o procura voluntariamente e quando ele participa da escolha e do desenvolvimento de
um projeto terapêutico.
164. Os poderes constituídos, por dever legal, têm de criar e estimular a formação de unidades de
tratamento e recuperação de drogados para garantir a saúde de todos, especialmente dos jovens,
conforme prescreve o Estatuto da Criança e Adolescentes (cf. Art. 101, inc. VI. Art. 4º e 7º). Na
Paraíba, o Poder Judiciário criou e mantém uma Instituição (Comunidade Terapêutica), que tem
recuperado adolescentes infratores, o Centro Terapêutico do Adolescente - CETA. E o tratamento
tem revelado que a relação entre drogas e infrações cometidas por adolescentes é estreita e chega
28 SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas. Relatório do 1º Fórum Nacional Antidrogas, Brasília, DF, p. 29
34
a quase 100% dos casos. É preciso, sempre, na aplicação da medida sócio-educativa, tratar das
causas que levaram o adolescente à transgressão legal, ou seja, à droga.
165. Como resposta às necessidades das pessoas que caem nas armadilhas da dependência e ao
clamor de seus familiares por socorro, multiplicam-se pelo Brasil os ambulatórios, as casas de
acolhida, as comunidades terapêuticas, as Fazendas do Senhor Jesus, as Fazendas da Esperança,
o Lar São Francisco na Providência de Deus, os Lares Dom Bosco, as Casas de Esperança e Vida
etc. Essas comunidades terapêuticas procuram manter um forte compromisso ético com relação
aos seus assistidos, um programa coerente de recuperação e privilegiam a espiritualidade e o
progresso científico em seus trabalhos. Essas instituições contam com inúmeras famílias, que
acolhem e acompanham aqueles que necessitam de tal apoio.
166. Nessas entidades faz-se, geralmente, um longo tratamento que compreende três fases:
desintoxicação, terapia e reintegração social. A desintoxicação, obrigatoriamente, é feita pelo
isolamento do meio. Isso em busca da autonomia do sujeito. O apoio das comunidades é essencial
na terceira fase, que é a de reintegração social.
167. A maioria das comunidades terapêuticas descobriu, ainda, a importância da laborterapia no
tratamento dos dependentes. "Não pedimos esmolas, oferecemos trabalho!": é assim que as
pessoas em tratamento colaboram com o próprio serviço para a manutenção da comunidade. As
Fazendas da Esperança, a Fazenda do Senhor Jesus, que mantem escolas profissionalizantes, e,
principalmente, o conjunto de obras ligadas ao "Lar São Francisco na Providência de Deus"
montaram verdadeiras indústrias, nas quais os dependentes aprendem alguma ocupação sadia, um
ofício, além de canalizarem energias, trabalharem, assumirem responsabilidades e saborearem os
frutos do que fazem.
168. Deixar de usar drogas, ou abster-se de álcool, é apenas um dos aspectos da reabilitação. É
necessário redescobrir o gosto e o sentido da vida. A caminhada de retorno será tanto mais difícil
e penosa quanto mais longo e fundo se tenha ido nessa triste viagem.
Questionamentos:
- O Estatuto da Criança e do Adolescente, no Art. 101, afirma que os poderes
constituídos têm por dever legal criar e estimular a formação de unidades de
tratamento e recuperação de dependentes de drogas para garantir a saúde dos
jovens. Existe alguma entidade que cumpra este papel em sua comunidade ou em
seu município? Se existe, como apoiá-la, fortalecê-la? Se não existe, o que fazer para
criar uma unidade de tratamento?
Os desafios de um dependente de drogas depois do tratamento
169. A síndrome de abstinência: normalmente, os dependentes químicos, ao pararem de
consumir a droga, são acometidos de síndrome de abstinência, que lhes traz grandes sofrimentos.
Todo tratamento exige um empenho muito grande do paciente. Às vezes, o indivíduo já não
possui vontade forte e necessita, assim, então de um grupo de apoio. O paciente vive um
profundo conflito: o corpo quer a droga, e a mente tenta impedir. É fundamental realizar terapias
específicas que levem em conta essa violenta tensão.
170. A discriminação: após o tratamento, o dependente químico precisa voltar à vida em
sociedade. Isso vai expô-lo novamente ao ambiente de risco, e as recaídas podem ocorrer. É
comum que se sinta discriminado. Nessa fase, todo apoio da família, dos amigos e das Igrejas é
imprescindível. É necessário que ele se sinta acolhido, tenha oportunidade de trabalhar, e que se
afaste dos ambientes onde antes consumia drogas. Os grupos de auto-ajuda são fundamentais
nessa etapa.
171. A luta contínua: dificilmente, acontece uma cura definitiva. As pessoas que foram
dependentes permanecem sempre suscetíveis a uma recaída. É por isso que o alcóolico que
assumiu viver na sobriedade procura evitar o primeiro gole, porque é consciente que sua doença
continuará a progredir a partir do estágio onde parou no tratamento. Volta tudo. Seu esforço é
essencial, mas não dispensa a ajuda e a compreensão daqueles que convivem com ele.
35
Sem mudança de vida, é quase impossível perseverar. O apoio da família, da sociedade ou de
um grupo de ajuda colabora muito para a sobriedade da vida.
172. A droga poderá ser a causa direta da morte de um dependente: por overdose, por exemplo;
ou poderá ser causa indireta, pelas complicações secundárias que acarreta, como, por exemplo,
problemas cardiovasculares, respiratórios, hepáticos, pancreáticos, intestinais, renais, infecções
generalizadas. Além disso, é ainda causa de muitos outros problemas, como acidentes,
assassinatos, prisão etc.
Questionamentos
1. Como nossa comunidade acompanha o ex-dependente, após o tratamento,
considerados os inúmeros desafios que ele enfrenta em seu meio social?
2. Por que são poucos os que perseveram após o tratamento de recuperação?
O papel das famílias, das escolas e das igrejas
173. Família, escola e igreja são ambientes formativos de grande importância no
desenvolvimento integral das pessoas e, por isso, necessitam atuar em interdependência. Nesses
ambientes, as pessoas podem cultivar princípios universais que governam as atividades humanas,
bem como valores humanos cristãos, como ética, respeito, justiça, imparcialidade, integridade,
honestidade, fidelidade, defesa da dignidade humana etc. E é nesses ambientes que se pode
experimentar, de fato, a força educativa do amor. Por mais que haja falhas nelas, é ali,
principalmente, que se formam os valores fundamentais da pessoa humana, que se aprende a
convivência em sociedade, que se dá a abertura para a transcendência e se descobre o sentido da
vida. É, dessa maneira, imprescindível continuar investindo no aperfeiçoamento dessas três
instâncias educativas.
174. Essas instituições podem também educar para a disciplina preventiva e construtiva. A falta
da disciplina, que tem um papel importante na questão dos indispensáveis limites positivos - sem
os quais não podemos ser gente, nem conviver com os outros - pode ser um fator motivador do
uso de drogas. Sabemos que um equilibrado trabalho de auto-disciplina e sobriedade é um dos
pilares para uma vida sadia, em todos os sentidos. Também o é na prevenção e no tratamento de
dependência de qualquer tipo de droga.
175. Uma das preocupações das citadas instituições deve ser a valorização dos talentos, dos
dons de cada um, especialmente daqueles que estão em fase de formação da personalidade, como
os adolescentes e os jovens. Uma pessoa estimulada, valorizada e realizada dificilmente tornar-
se-á vítima do prazer enganoso.
176. O ambiente educa quando é sadio, carregado de amizade, carinho, segurança,
responsabilidade, dedicação, amor, misericórdia, fé. Os dependentes de drogas são geralmente
pessoas "enfermas", de afeto não sabem amar de maneira justa porque não são amados de
maneira correta também. No tratamento deles, é importante possibilitar uma convivência em
ambientes propícios à formação, pois é neles que se forjam personalidades livres, seguras,
amorosas e solidárias..
177. Nos objetivos dessas entidades, especialmente em face do que é veiculado pela mídia, deve-
se dar um grande destaque ao desenvolvimento do senso crítico. É de fundamental importância
cultivar um diálogo constante com os produtores, roteiristas, artistas, jornalistas e comentaristas,
que detêm um enorme poder de construir opinião no povo, já que eles, sem censura, podem
promover valores humanos e cristãos ou contravalores. É a participação direta e crítica dos
usuários dos meios de comunicação, mais que a censura oficial, que pode positivamente
disciplinar o que é veiculado. Os destinatários das mensagens veiculadas desempenham também
importante papel no processo de comunicação. Infelizmente, neste aspecto, somos um povo
perigosamente omisso e facilmente manipulável.
36
A família e a dependência das drogas: pistas de ação
178. A família, a primeira educadora, para desenvolver bem a sua missão, necessita que os pais
realizem um contínuo investimeto educacional em si mesmos e nos filhos. Em face das imensas
dificuldades que ela enfrenta em nossos dias, necessita do auxílio de outras instituições como a
escola e a comunidade eclesial. Falta, porém, muitas vezes, entre essas entidades um consenso
básico sobre o valor da família e a necessária união e coordenação entre elas. Disso resulta a falta
de clareza e coerência quanto aos valores, o que pode levar as pessoas ao descrédito, à confusão
de idéias e ao relativismo ético e moral. A vítima maior da família sem fundamentos são,
evidentemente, o filho e a filha. Sem o apoio dos pais, os filhos se tornam frágeis e facilmente
vulneráveis às pressões dos que rondam as pessoas incautas, aliciando-as para as suas armadilhas.
Entre aqueles estão também os que comandam o mundo das drogas.
179. É preocupação essencial da evangelização e da pastoral orgânica estabelecer e colocar em
ação uma Pastoral Familiar criativa, atualizada, alegre, corajosa, com forte mística evangélica. A
Pastoral Familiar deve contemplar uma série de iniciativas que visem às famílias na prevenção ao
uso de drogas. Entre elas, estejam, sobretudo, ações que valorizem as relações familiares e
incentivem os valores humanos e religiosos; ajudem a prevenir quanto a qualquer tipo de vício e
a eliminar o preconceito quanto às drogas. É importante que se forneçam aos pais informações
sobre entidades que atuam nesse campo, especialmente de maneira preventiva.
180. Procure-se criar grupos de apoio formados de pais cujo filho ou filha esteja envolvido com
drogas, bem como vincular o tratamento de toda a família no atendimento de um dependente,
com terapias individuais ou em grupo, terapia ocupacional e comportamental, grupos
comunitários de ajuda mútua etc.
181. Outra preocupação deve ser trabalhar criticamente as campanhas de informação,
esclarecimento e prevenção promovidas pelos meios de comunicação social, não permitindo que
induzam a sociedade a marginalizar e discriminar ninguém, como por exemplo, com o uso de
palavras estigmadoras como drogado, viciado, maconheiro e outras.
182.Urge que as comunidades defendam, com todos os meios possíveis, especialmente nos
conselhos paritários, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA reconhece que a
família é insubstituível no desenvolvimento integral das pessoas. A Igreja e todas as instâncias
sociais que, de fato, querem um futuro melhor para crianças e jovens e para o Brasil, devem,
evidentemente investir muito na luta para que as famílias tenham as condições humanas básicas e
dignas para o sustento, a guarda e a educação dos filhos menores.
183. Cuidar para que não sejam reforçadas situações difíceis, pela qual passa a família que
sofre as conseqüências da dependência de drogas, com freqüentes observações negativas e
impróprias que aos poucos vão se introjetando e arruinando ainda mais o processo de educação
integral do dependente e drogas.29
Questionamentos:
Existem outras atividades que poderiam ser realizadas pelas nossas
famílias, pela Pastoral Familiar, pelos Movimentos de Casais e outras pastorais, em
favor das famílias que procuram educar seus filhos para a prevenção, ou em favor
das famílias que enfrentam algum caso de dependência de droga?
Comunidade escolar e dependência de drogas: pistas de ação.
184. A população escolar é constituída predominantemente de crianças, adolescentes e jovens
que estão em fase de desenvolvimento, com possibilidades educacionais muito peculiares. Os
educandos estão numa das fases mais preciosas da estruturação da personalidade e da
29 Algumas conseqüências da dependência de drogas são: violências, roubos, irresponsabilidades, gravidez
indesejada, descontroles financeiros, baixa reputação, envolvimento com o crime, prisões, doenças, etc. O menor mal
que pode acontecer aos dependentes apresenta como sintoma um retardamento na maturidade, que os torna
adolescentes intermináveis. A imaturidade se manifesta freqüentemente no temor do futuro ou na fuga perante novas
responsabilidades. Nada dá certo. Todo projeto iniciado é interrompido, com crises aguçadas de desânimo e auto-
estima.
37
organização dos padrões de vida. Em sua idade, eles passam praticamente metade de seu tempo
no ambiente escolar. É importante, portanto, que a escola tenha uma proposta educacional que
respeite as fases de desenvolvimento dos educandos e ofereça-lhes, criticamente, as bases para
que realizem, o mais harmoniosamente possível, o seu crescimento. E isso, como acima já
indicamos, de forma interdisciplinar e em cooperação mútua com a família e a Igreja.
185. O mínimo que se exige de uma escola é que honestamente operacionalize os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), que incluem os Temas Transversais e o Ensino Religioso, e
incentivam a desenvolver programas educacionais que proporcionem a formação de cidadãos
críticos e responsáveis diante de uma sociedade cheia de problemas, entre eles, o da droga.
186. No contexto da CF 2001, propomos algumas pistas de ação mais específicas para as escolas.
Consideramos importante trabalhar as informações científicas sobre as drogas, com verdade,
serenidade e lucidez, de acordo com a faixa etária dos alunos. Procure-se evitar o
sensacionalismo, o moralismo e o alarmismo etc. Discursos antidrogas e mensagens
amedrontadoras ou repressivas, além de não serem eficazes, podem até mesmo estimular o uso,
pois "o amor educa, a repressão domestica". É necessário discutir, nos programas de prevenção, o
uso de drogas e bebidas, situando-o, porém, dentro do contexto mais amplo da saúde
187. O trabalho de prevenção às drogas, assim como da educação para a vivência equilibrada da
sexualidade e a não-violência, não deve constituir algo extraordinário na atividade educacional da
escola, o que, em geral, causa curiosidade e apreensão entre os educandos e as famílias e, às
vezes, desconfianças, de estar havendo na escola casos complicados, que estejam provocando a
ação especial da escola nesses assuntos. Como a tarefa da escola ultrapassa os limites do instruir
e transmitir conhecimentos – cada vez mais à disposição nos meios eletrônicos – sua missão
passa sobretudo para a esfera do educar para a cidadania e para saber o que fazer com o saber
acumulado, que está à disposição de todos. Cada professor é convidado, como responsável por
seus alunos e pelos destinos do País, a desenvolver cada vez mais a dimensão educativa em seu
trabalho profissional.
188. A escola, além do enfoque educativo das diversas disciplinas, favorecerá, criativa e
generosamente, atividades extraclasses que favoreçam nos alunos o conhecimento de si e do
outro, e estimulem a disciplina e organização do tempo. Ajudam muito nisso os diversos tipos de
grupos, como teatro, dança, esporte, música, grêmios, grupos de jovens, voluntariado junto aos
mais necessitados, etc. Estimulem-se, portanto, atividades criativas que possam absorver e
entusiasmar as crianças e os jovens. Para alguém afastar-se das drogas, é necessário que tenha
outras opções mais interessantes, que lhe ocupem o tempo, dentro de um contexto muito mais
saudável. Tudo isso contribui para que as pessoas cresçam nas relações humanas, assumam
valores, tenham uma vida saudável, entrem num processo de amadurecimento, exercitem a
participação cidadã, clareiem suas opções etc.
189. Faz parte do processo educativo escolar estabelecer regras de convivência, limites claros e
estimular processo participativo, que ajudem os alunos a construir um ambiente onde a disciplina
pessoal e comunitária seja assumida, na liberdade, como geradora de equilíbrio pessoal,
convivência construtiva com o diferente e comportamentos compatíveis com a cidadania. Das
orientações que cabem à escola faz parte também a questão das drogas, da violência e de outros
tipos de desvios comportamentais.
190. Muitas outras atividades podem, ainda, ser desenvolvidas: incentivar a participação em
palestras, campanhas solidárias, debates, cine-fóruns, jornais, folhetos etc. sobre a questão da
dependência de drogas; envolver as famílias e a comunidade na montagem e na execução de
planos de prevenção; capacitar professores e/ou técnicos para identificar e dar encaminhamento
aos alunos, que, em relação às drogas, se encontram em situações de risco etc; apresentar
modelos de vida existentes na história que ajudarão os estudantes na procura de um projeto de
vida posto à disposição do bem comum, particularmente dos mais necessitados.
191.Quando se descobrem alunos usando drogas, a abordagem deve ser direta, com atitude clara
de oferta de ajuda e não de repressão, encaminhando-o, conforme o caso, e em estreita ligação
com a família, para acompanhamento especializado, grupos de ajuda mútua, entidades
especializadas, serviços de saúde, internação etc. A escola não pode ser omissa e nem
simplesmente descartar o problema mediante expulsão do aluno dependente. Ela não é uma
agência de tratamento de casos tão específicos, mas, obviamente, lhe cabe orientar alunos e pais
para procurarem instâncias adequadas de ajuda especializada.
192.Relembramos aqui as ricas propostas da Campanha da Fraternidade de 1998, que tratou da
38
temática "fraternidade e educação", no enfoque de uma educação “a serviço da vida e da
esperança”. Tais propostas promovem um processo educativo que liberta, dá condições aos
alunos de aprender a ser, aprender a aprender, aprender a conviver aprender a fazer30
Estimulam as pessoas a participarem na construção de uma escola mais eficaz, que eduque no
exercício da cidadania, permitindo a todos serem também educadores, numa sociedade na qual
somos todos aprendizes, sempre.
Questionamento:
Que tal ajudar as escolas a assumirem como dado normal de seu Projeto Educativo
a prevenção às drogas?
Que iniciativas poderão ser tomadas para a prevenção às drogas e também no
acompanhamento dos casos de uso das drogas nas escolas? E nos casos de reinserção na
comunidade das pessoas que se encontram em tratameto?
As Igrejas Cristãs e a dependência de drogas: pistas de ação
193. Como foi dito anteriormente, é motivo de muita alegria, o trabalho realizado por outras
Igrejas neste desafiador campo da dependência de drogas. A troca de experiências em relação a
aos trabalhos que vêm sendo realizados pela diversas denominações cristãs enriquece a ação dos
discípulos de Cristo, estimula o ecumenismo e manifesta a Glória de Deus. E um lugar
privilegiado para esta troca de experiência, e sobretudo para a busca de novos caminhos na luta
contra a dependência, é a Associação Nacional de Comunidades Terapêuticas Cristãs (ANCTC),
já apresentada neste texto, a qual já promoveu dois congressos nacionais da Pastoral da
Sobriedade, o primeiro em Guaratinguetá, SP, de 10 a 13 de junho de 1999, e o segundo em
Arujá, SP, de 07 a 10 de setembro de 2000.
194. A Campanha da Fraternidade Ecumênica, realizada, no ano 2000, sob coordenação do
Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), trouxe muitas conquistas no caminho da união
de esforços das Igrejas cristãs em prol de um mundo que priorize a paz e a dignidade humana, um
mundo sem exclusões. Que esta comunhão ecumênica se prolongue em 2001, incluindo, também,
o esforço de reflexão, oração e atividades na busca de respostas ao grande desafio constituído
pelo mundo das drogas e dos vícios de qualquer espécie.
A contribuição específica das Associações e Movimentos Eclesiais
195.As inúmeras associações e os diversos movimentos eclesiais constituem uma grande riqueza
na Igreja. Em sua busca de renovação da vida cristã, essas instituições favorecem a vivência do
Evangelho nas mais variadas formas de espiritualidade, provocam importantes momentos de
experiência de Deus e entusiasmam os fiéis. Todas essas instituições, com seu impulso espiritual,
e concomitante compromisso com a justiça social, constituem importantes meios na busca de
respostas para solucionar, direta ou indiretamente, o grave problema das drogas. Que a CF 2001
- "Vida Sim, Drogas Não!" – impulsione as associações e movimentos eclesiais a um ainda maior
envolvimento no importante trabalho de prevenção de drogas e recuperação de dependentes,
visto que comprovada está a importância da espiritualidade na recuperação de pessoas envolvidas
em drogas.
A contribuição específica das paróquias
196.Evangelizar é o grande objetivo das paróquias. O trabalho evangelizador, ao oferecer os
meios de salvação aos fiéis, opera a cura do coração da pessoa para a edificação da Igreja,
comunidade de salvação, e na construção de uma sociedade solidária e fraterna São muitos os
meios que a Paróquia pode utilizar em sua missão evangelizadora e pastoral: anúncio da Palavra
30 UNESCO: Educação, um tesouro a descobrir. Relatório Jacques Dolors, São Paulo, Ed. Cortez, 1998.
39
de Deus, testemunho de comunhão, serviço e diálogo ecumênico, inter-religioso e com as
culturas.
197. Um importante meio para fortalecer a fé, a esperança e a caridade dos fiéis, portanto, dar-
lhes segurança na vivência cristã, é a celebração nas assembléias litúrgicas. Liturgias bem
celebradas e participadas são expressão da disposição de viver segundo as alegrias e exigências
do Evangelho e, também, do amor solidário e forte, que liberta, promove e salva. Favoreça-se,
particularmente, a celebração da Penitência e da Eucaristia, pois ambas retemperam as
convicções morais e alimentam a dinâmica da doação de si aos outros, como mediadores de
reconciliação e solidariedade eucarística da partilha.
198. Pastorear inclui também ir ao encontro da ovelha que se afastou do rebanho. A comunidade
paroquial, como sinal da presença do Bom Samaritano e Bom Pastor, deve estar sempre atenta às
diversas necessidades e formas de pobreza em seu próprio âmbito, e uma forma de pobreza é a
drogadição.
199. A presença de dependentes de drogas e o contínuo perigo que ameaça outros de serem
envolvidos pelo mundo das drogas são um chamado contínuo à paróquia para se organizar e dar
uma resposta a essa problemática. Além de procurar criar condições para o encaminhamento dos
dependentes de drogas e suas famílias para tratamento, outros serviços podem ser organizados
pelas diversas pastorais já existentes, como, por exemplo, a Pastoral da Visitação e da Acolhida.
Essa Pastoral poderia incluir em sua missão uma atenção especial às famílias atingidas pelo
flagelo das drogas, levando-lhes uma mensagem de esperança, concretizada em gestos de amor e
compreensão.
200. Dentro do possível, sejam organizadas "Casas de Acolhida", pois, em geral, as iniciativas de
apoio a dependentes esbarram na falta de um local adequado. Uma "Casa de Acolhida" deve se
esforçar para manter pessoas que atendam com jeito e amor. Deve estar capacitada a encaminhar
os que a procuram com problemas relacionados a drogas a grupos de auto-ajuda, pessoas e
instituições especializadas. Deve também possuir um catálogo de informações detalhadas sobre
os recursos existentes para o tratamento de dependentes e que estão ao alcance da comunidade
local, além de apoiar os que estão em processo de recuperação.31
Importa que essas casas, por
meio de voluntariado dêem, em nome da comunidade eclesial, todo apoio possível aos que estão
em processo de recuperação.
201. Um outro modo de enfrentar a questão das drogas é a paróquia dar apoio aos ambulatórios
existentes na comunidades, que prestam ajuda aos dependentes, e liderar reivindicação para que
sejam estabelecidos onde não os houver. Um tipo de colaboração, por parte da Paróquia, consiste
na disponibilização de um local para núcleos de AA, Al-Anon, Sobriedade Cristã, bem como a
organização de serviços como o “S.O.S. Droga”.
202. Há outras iniciativas possíveis e, evidentemente, as comunidades serão realisticamente
criativas em sua identificação. Acolher ou assistir, por meio de grupos de família, um dependente
na fase da reinserção social ou laborativa. Organizar "Caravanas da Vida" – mutirão para visitar
escolas, capelas, hospitais -, para levar as mensagens da Campanha da Fraternidade a todas as
pessoas e instituições, por meio de palestras, jograis, encenações, shows etc. Incluir no "Dia da
Comunicação" uma atividade especial da Pastoral da Comunicação junto à comunidade eclesial,
para divulgar o tema “Vida Sim, Droga Não!”, em todos os meios de comunicação existentes na
paróquia.
Questionamento:
1. O que a Paróquia se propõe a fazer para articular a Campanha: “Vida sim,
drogas não”?
2. O que fazer para manter a continuidade dos trabalhos com relação à
dependência de drogas?
As Pastorais e a Pastoral da Sobriedade
203. Existem muitas pastorais que estão dando sua contribuição especial para enfrentar a
31 É importante que a comunidade conheça as entidades para as quais serão encaminhados os dependentes. Por isso,
optamos por não publicar uma lista nacional de todas elas.
40
problemática da dependência de drogas, com o espírito do Bom Pastor. Entre elas, destacamos a
Pastoral da Saúde, a Pastoral da Juventude, a Pastoral Familiar, a Pastoral da Educação e o
Ensino Religioso Escolar.
204. Na 36ª a Assembléia Geral da CNBB (1998), em Itaici, o Setor Juventude fez veemente
pronunciamento, relatando as conclusões de um encontro das instituições que trabalham com
dependentes químicos, realizado em Lins - SP, em junho de 1997. Diante da problemática que foi
apresentada, o Setor Juventude recebeu, como resposta, manifestação favorável de 247 bispos
presentes para a implantação de uma pastoral específica que visasse à prevenção, recuperação e
reinserção dos dependentes químicos.
205. Todas as pastorais foram convocadas para a luta contra as drogas. Dessa articulação, surgiu
uma nova pastoral - a Pastoral da Sobriedade. Sobriedade? O que seria? Sobriedade não é uma
simples ausência de álcool e drogas. Sobriedade é uma maneira de viver. E a sobriedade é
fundamental para todas as pessoas e para todas as categorias sociais “Tudo o que é demais sobra",
diz o ditado popular. Muitas vezes, em nossas vidas, sobra sono, comilança, cobiça, vazio afetivo,
vazio existencial, desespero etc. São Pedro já havia recomendado isto: “Sede sóbrios e vigiai” (1
Pd 5,8). Os excessos são prejudiciais não só à saúde física, mas também à saúde psicológica,
social e espiritual.
206. Os que são privilegiados pelo dinheiro e bens sabem perfeitamente que o consumismo e a
idolatria do dinheiro levam facilmente ao egoísmo e ao vazio interior, que por sua vez, conduzem
à bebida, à droga e a outros vícios. Uma vida simples, austera, honesta colabora, e muito, para a
prática da solidariedade, porque deixa espaço para o outro e para Deus. Mas os que lutam pela
sobrevivência correm o risco de serem alienados pelo ímã distante do ídolo dinheiro, que empurra
para jogatinas, com esperanças de enriquecimento rápido, e para desvios sociais diversos, entre
os quais a bebida, o fumo e todas as demais drogas. Gastamos com coisas desnecessárias,
desperdiçamos. Tudo isso está muito bem no espírito da quaresma, tempo em que se recomenda
o jejum, a abstinência, a prática da solidariedade e também a luta política por uma sociedade
justa. A atual Campanha oferece uma boa oportunidade para que organizemos a Pastoral da
Sobriedade32
, reunindo agentes de pastoral que ajudem os mais fracos a redescobrir o gosto pela
vida, o profundo significado da liberdade, do amor como base da própria existência e para a
prática da partilha, pois o que se economiza na sobriedade pertençe ao mais necessitado.
A Pastoral da Sobriedade, como todas as demais iniciativas sérias que citamos ao
longo deste texto, atuará , nesta questão das drogas, em cinco frentes de trabalho:
1. Prevenção: será dirigida ao público que nunca experimentou drogas e àqueles que
já as experimentaram, sem, entretanto, terem se habituado ao uso.
2. Intervenção: atuará junto ao público que já se iniciou no uso de drogas, faz uso
dela com alguma freqüência, mas ainda não se tornou uma vítima crônica.
3. Recuperação: oferecerá atendimento aos usuários de droga, nos quais já se
instalou a dependência química, física ou psicológica.
4. Reinserção social: auxiliará os que passaram por um tratamento, nos desafios que
enfrentam em seu dia-a-dia.
5. Atuação política: desenvolverá reflexão e atividades junto aos organismos que
atuam na sociedade (Conselhos, fóruns...), defendendo sempre uma política "antidrogas" que
seja eficaz, prática e que gere vida.
32 Entre os subsídios da Pastoral da Sobriedade já publicados, destacamos: Nilo MOMM e Wilsom BASSO, scj.
Prevenção ao uso de drogas: roteiro para grupos de jovens. São Paulo, Centro de Capacitação da Juventude, 1998.
MOMM, Nilo, Pastoral da Sobriedade. Pronunciamentos da Igreja. Ed. Loyola, São Paulo, 1999.
2. CNBB - Pastoral da Sobriedade da Arquidiocese de Curibita: Os 12 passos da Pastoral da Sobriedade - Manual
do Agente. Rua Jacarezinho, 1717, fone : (41) 339-1113, Mercês. CEP 80.810-130. Curitiba - PR.
41
Questionamentos:
Cada pastoral em nossa Igreja responde a uma necessidade. Seria oportuno
organizar em sua comunidade a Pastoral da Sobriedade? Como? Com quem? Quando?
Para quê? Com que recursos? Quais os passos para a articulação dessa Pastoral? (Para
ajudar, encaminhamos algumas pistas - números 207 - 211.
207. Primeiro passo: levantamento do que já existe. O primeiro passo a ser dado é o
levantamento dos recursos existentes na comunidade, ou seja, o que já existe e que tem a ver com
a Pastoral da Sobriedade. Quais são as pessoas, entidades que estão trabalhando em atividades
ligadas à Pastoral da Sobriedade: comunidades terapêuticas, clínicas, hospitais, Conselho
Municipal de Entorpecentes, grupos de auto-ajuda, tipo AA, NATA, Amor Exigente etc. Em
seguida, relacionar grupos de jovens da Pastoral da Juventude, movimentos, pastorais,
convocando a todos os representantes para um encontro específico sobre a problemática.
208. Segundo passo: com a primeira reunião geral dos convidados, já se está dando início à
Pastoral da Sobriedade. Dadas as explicações e motivações, distribua-se o cadastro e solicite-se a
inscrição dos que estão motivados pela causa e comprometidos com ela. Utilize-se
principalmente o conteúdo da “Carta da Pastoral da Sobriedade”.33
209. Terceiro passo: criação de uma comissão para a Pastoral da Sobriedade e início dos
trabalhos. Iniciar o trabalho de prevenção, que visa a evitar o mal antes que aconteça. É
importante reforçar os grupos já existentes e, se necessário, formar outros, inclusive nas escolas.
210.Quarto passo: intervenção e tratamento. O ideal é que em cada paróquia, exista pelo menos
um grupo de auto-ajuda funcionando e os endereços das comunidades terapêuticas vizinhas. Se
não houver nenhuma, é necessário elaborar um projeto, buscar recursos financeiros, treinar
pessoal apropriado, entrar em contato a Pastoral da Sobriedade, ou com algum outro órgão ligado
a alguma instituição que possa ajudar no treinamento dos agentes.
211. Outros passos poderão ser dados como: entrar em contato com alguma das comunidades
terapêuticas bem conceituadas, que já estão se espalhando por todo o Brasil34
; montar um espaço
que funcione como referência da Comissão da Pastoral da Sobriedade. O ideal é que se disponha
de um endereço onde funcione durante o dia, uma "Casa de Acolhida", pessoas voluntárias como
referência, e, à noite, os grupos de auto-ajuda. Isso colabora para tirar a Pastoral do anonimato
Aos poucos a paróquia poderá se articular com outros núcleos diocesanos e, também, de âmbito
regional e nacional. Subsídios e experiências serão permutadas e o amor pastoral circulará entre
os irmãos, que experimentarão a verdade e solidificarão a convicção de que a esperança não
decepciona.
33 Nilo MOMM, Pastoral da Sobriedade. Pronunciamentos da Igreja. Ed. Loyola, São Paulo, 1999, p. 43-46.
34 Como exemplos de comunidades terepêuticas, citamos: AFRUCTO - Comunidade Terapêutica Oasis, Porto
Alegre, RS; SERVOS - Sociedade de Empenho na Recuperação de Vidas através da Oração e Serviços, Brasília, DF;
Associação Casa Familia Rosetta, Porto Velho, RO; Casa Dia, Americana, SP; Lar de São Francisco na Providência
de Deus, em Jaci (SP); Comunidade Vida Nova, Curitiba, PR; 0.P.J. Obra de Promoção dos Jovens, Rio de Janeiro,
RJ; Fazendas da Esperança, em Guaratinguetá, SP e Brasília, DF; Comunidades Casa da Esperança e Vida, Diadema
SP; as Fazendas do Senhor Jesus, em Campinas (SP). Estamos providenciando a relação de todas as Comunidades
Terepêuticas no Brasil. E agradecemos colaboração para estes dados.
42
35
Os 12 Passos são a base para a maioria dos trabalhos existentes com dependentes de
drogas e seus familiares. A Pastoral da Sobriedade adota os 12 passos buscando, na Bíblia
Sagrada, os fundamentos para esta nova atitude de vida.
1º) Admitimos que éramos impotentes perante o álcool e a droga, que tínhamos perdido o domínio
sobre nossas vidas. Mateus 9, 36 / Romanos 7,18-20 / Salmos 6,2-4 / Salmos 31,19.10.
2º) Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos a sanidade.
Mateus12, 18-21 / Marcos 9, 23.24 / Lucas 13, 10-13 / João 12,46 / Filipenses 2, 13.
3º) Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o
concebíamos. Mateus 11, 28-30 / Mateus 16, 21-26 / Efésio 2, 8.9 / Salmos 3, 5.6 / Romanos 12, 1.
4º) Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
Mateus 23, 23-28 / Lucas 12, 1-6 / Romanos 12, 1-6 / I Coríntios 4, 19.20.
5º) Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a
natureza exata de nossas falhas. Lucas 15, 17-20 / Atos 19, 18 / 2 Coríntios 10, 3-5 / Tiago 6,
16.
6º) Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter.
Romanos 6, 11.12/ Efésio 4, 17-23 / Colossenses 3, 5-8 / 1 Pedro 1, 13-16 / Tiago 4, 10.
7º) Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
Mateus 18, 4 / Atos 3, 19 / Hebreus 12, 5-11 / 1 Pedro 5, 6.7 / 1 João 1, 9.
8º) Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e
nos dispusemos a reparar os danos a elas causados.
Mateus 18, 21-35 / Lucas 6, 31.37-38 / Lucas 19, 8 / João 13, 34.35.
9º) Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas,
sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
Mateus 5, 9.23-24 / Romanos 15, 2 / Filipenses 1, 9-11 / Colossenses 4, 5.6 / Salmos 51,
14.17.
10º) Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados,
nós o admitíamos prontamente. Marcos 14, 38 / Romanos 12, 3 / Tessalonicenses 5, 17-22
Hebreus 2, 1-3 / 1 Coríntios 10, 12.
11º) Procuramos, por meio da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente
com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de sua
vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade. João 4, 13.14
Romanos 8, 26-28 / Gálatas 2, 20 / Filipenses 4, 6-9 / Tito 3, 1-7 / Colossenses 3, 16.
12º) Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos procuramos
transmitir esta mensagem aos alcoólatras e toxicômanos e praticar estes princípios
em todas as nossas atividades. Marcos 5, 18-20 / 1 Coríntios 9, 22-27 / 1 Coríntios 15, 10
1 Timóteo 1, 12-16 / Gálatas 6, 1.
GESTO CONCRETO DA CAMPANHA
E FUNDO NACIONAL DE SOLIDARIEDADE
212. Finalidade do Gesto. A Campanha da Fraternidade se expressa concretamente pelo gesto
fraterno da COLETA DA SOLIDARIEDADE. Sua finalidade é a constituição dos Fundos
Nacional e Diocesanos de Solidariedade. A arrecadação destina-se ao desenvolvimento de ações
em favor dos que sofrem processos de exclusão. É um gesto concreto em âmbito nacional,
realizado em todas as dioceses e comunidades cristãs.
35 O desenvolvimento destes passos pode ser encontrado nos seguintes livros: Pe. Haroldo J. RAHAM SJ, O
Caminho da Sobriedade. Ed. Loyola, São Paulo, 1996, p. 67 - 72; FRIENDS IN RECOVERY, The Twelve Steps For
Christians. Doze passos para os cristãos. Trad. Bárbara Theoto Lambert. Ed. Loyola, São Paulo, 6ª Ed. 1999.
43
213. Destinação dos recursos. Os recursos destinar-se-ão prioritariamente à prevenção,
intervenção, tratamento e reinserção social dos dependentes de drogas. Da arrecadação, 60%
ficarão nas dioceses, constituindo o Fundo Diocesano de Solidariedade. O Fundo Nacional de
Solidariedade36
, receberá 40% da coleta.
214. Como organizar a coleta. Todas as pessoas das comunidades eclesiais serão convidadas a
colaborar com o gesto concreto de solidariedade durante todo o tempo da Campanha, do início da
Quaresma até o domingo que antecede a Páscoa. É importante que bispos, padres, religiosos(as),
lideranças leigas, agentes de pastoral motivem e animem todos os fiéis a participarem, oferecendo
a alegria de sua solidariedade - que é a melhor forma de sacrifício quaresmal - em favor de
trabalhos de prevenção e de recuperação de dependentes de drogas.
O dia nacional da coleta será o Domingo de Ramos, dia 08 de abril de 2001
215. Quem administra o Fundo Nacional de Solidariedade. A Cáritas Brasileira é o
organismo da CNBB responsável pela administração do Fundo. A gestão e aprovação dos
projetos estarão a cargo do Conselho Episcopal para o Fundo Nacional de Solidariedade,
nomeado pela Presidência e Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB, com aprovação do
Conselho Permanente.
216. A quem encaminhar os Projetos. Os projetos referentes ao tema deste ano deverão ser
encaminhados à CÁRITAS BRASILEIRA, que, por sua vez, os apresentará ao Conselho
Episcopal do Fundo Nacional de Solidariedade, para análise e decisões.
217. Fundos Diocesanos de Solidariedade. Esses fundos serão administrados por um Conselho
a ser constituído em cada diocese, contando com a participação da Cáritas e das Pastorais Sociais
atuantes.
Concluindo:
218. O Agir da CF 2001 - "Vida sim, drogas não", levantou e sistematizou, como foi proposto no
início, muitas ações concretas que já vêm sendo realizadas em sua grande maioria. Mas é
evidente que o potencial criativo das nossas comunidades eclesiais fará aparecer outras
iniciativas que apontam para a solução de tão grave problema. É importante intercomunicá-las. A
Pastoral da Sobriedade pode receber essas comunicações e socializá-las:
2001.semdrogas@uol.com.br e telefax (Oxx11) 3749.1891.
219. Maria, sempre presente em nosso caminho, modelo de fé, esperança e caridade, continuará a
inspirar nossas ações em busca dos mais necessitados. Ela que vive para glorificação do Senhor -
Minha alma glorifica o Senhor! (Lc 1, 46) -, está a serviço do Deus que despede os ricos de mãos
vazias, destrona os poderosos de seus tronos, sacia de bens os famintos e eleva os humildes
(cf.Lc 1, 51-53), nos ampara na missão juntos aos que sofrem, aos necessitados, entre os quais, os
que estão na tragédia da dependência química e são vencidos por outras drogas. Maria nos diz:
"Fazei o que ele vos disser" (Jo 2, 5), ou seja, o que Jesus nos manda fazer. E Jesus Cristo, que
nos libertou (cf. Gl 5, 1), e que "ontem, hoje, é o mesmo e sê-lo-á para sempre" (Hb 13, 8), não
nos abandonará na difícil missão que nos confia e, também, não deixará ninguém à mercê de
qualquer dependência contrária à vida em abundância, que ele mesmo nos dá, também, neste
início do novo milênio.
36 Cáritas Brasileira. SDS - BL "P" - nº 36 - Salas 410/414. Ed. Venâncio III. 70 393 - 900 - Brasília/DF. Fone
3. (0xx61) 226 5008 - Fax (0xx61) 226 0701. E-mail: caritas@zaz.com.br
44
ORIENTAÇÕES
GERAIS
DA
CAMPANHA
DA
FRATERNIDADE
2001
45
(Cartaz oficial da CF 2001, como fundo)
46
?
? 1º CAPÍTULO
? CELEBRAR A QUARESMA
?
? 1. O Sentido da Quaresma
Celebrar a Quaresma é reconhecer a presença de Deus na caminhada, no trabalho, na luta,
no sofrimento e na dor da vida do povo! Como o povo de Israel que andou 40 anos no deserto
antes de chegar à terra prometida, terra da promessa onde corre leite e mel. Como Jesus que
passou 40 dias de retiro antes de anunciar a vinda do Reino. Que subiu a Jerusalém para cumprir
a missão que o Pai lhe confiou: dar a sua vida e ser glorificado.
A quaresma é um tempo forte de conversão, de mudança interior, tempo de deixar tudo o
que é velho em nós, tempo de assumir tudo o que traz vida para a gente, em nossas comunidades
e na sociedade. Tempo de graça e salvação, onde nos preparamos para viver, de maneira intensa,
livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico, da história da salvação, a Páscoa,
Aliança definitiva, vitória sobre o pecado, a escravidão e a morte.
Para muitos, é apenas um tempo triste em que se canta e medita sobre os sofrimentos de
Jesus que morreu pelos pecados da humanidade. Tempo de pedir perdão a Deus e fazer
penitência. Todavia, a característica fundamental do tempo quaresmal não é o de ser somente um
tempo de jejuns, mortificações e sacrifícios para que os cristãos participem dos sofrimentos de
Jesus na Cruz. O que marca a Quaresma é, sobretudo, sua dimensão pascal: caminho para a
Páscoa. Comemorando o acontecimento salvador da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, a
Igreja celebra o novo nascimento dos que serão batizados, renova a vida dos que foram batizados
e a reconciliação dos pecadores arrependidos. Assim, a caminhada quaresmal prepara e ensaia a
grande festa da Páscoa. Sem esta ligação, a Quaresma perde sua força espiritual.
A espiritualidade quaresmal é caracterizada também por uma atenta, profunda e prolongada
escuta da Palavra de Deus. É esta Palavra que ilumina a vida e chama à conversão, infundindo
confiança na misericórdia de Deus. O confronto com o Evangelho ajuda a perceber o mal, o pecado, na
perspectiva da Aliança, isto é, a misteriosa relação nupcial de amor entre Deus e o seu povo. Motiva
para atitudes de partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmãos que voltam
convertidos.
Fazer da Quaresma um tempo favorável de avaliação de nossas opções de vida e linhas de
trabalho, para corrigir os erros e aprofundar a vivência da fé, abrindo-nos a Deus, aos outros e
realizando ações concretas de fraternidade, de solidariedade.
? 2. Memória do Deus que liberta e do clamor do povo!
Celebrar a quaresma é, antes de tudo, experimentar a presença e comunicação da graça
salvadora através das celebrações litúrgicas. É tornar presente, festejar as muitas libertações de
Deus na história. É renovar a profissão de fé no Deus libertador que o povo eleito fez durante a
escravidão do Egito. “... nós clamamos ao Senhor, Deus de nossos pais, e o Senhor ouviu a nossa
voz e viu nossa opressão, nosso cansaço e nossa angústia, e o Senhor nos libertou do Egito...” (Dt
26,4-10). A primeira auto-definição de Deus é: “Eu sou a libertação”, “Eu ouvi o clamor do meu
povo e resolvi descer para libertá-lo” (Ex 3,7-8). É também celebrar a busca da humanidade
inteira por autêntica libertação, justiça e paz. De repente, toda a experiência penitencial, todo
clamor dos povos, todo esse combate contra o pecado pessoal e social do mundo, todo esse
esforço de seguir Jesus no “caminho da Cruz”, começa aos poucos, a dar seus frutos... os efeitos
das “passagens de Deus já vão se fazendo sentir... as alegrias da Páscoa já se anunciam... É que a Terra
prometida, o Mundo Novo, feito de homens e mulheres, gente liberta e salva, solidária e fraterna, já se
esboça no horizonte...
47
? 3. Quaresma e a Campanha da Fraternidade
Celebrar a Quaresma é juntar-se em mutirão, como povo de Deus, em busca da verdadeira
libertação. A dimensão comunitária da Quaresma é, no Brasil, vivenciada e assumida pela
Campanha da Fraternidade. Assumindo cada ano uma situação da realidade social, nos ajuda a
viver concretamente a experiência da Páscoa de Jesus nas páscoas do povo. “Assim como outrora
Israel, o antigo povo, sentia a presença salvífica de Deus quando Ele o libertava da opressão do
Egito, quando o fazia atravessar o mar e o conduzia à conquista da Terra prometida, assim
também nós; novo povo de Deus, não podemos deixar de sentir seu passo que salva, quando se dá
o verdadeiro sentido do desenvolvimento, que é para cada um e para todos, a passagem de
condições de vida menos humanas para condições mais humanas... Menos humanas: as carências
materiais dos que são privados do mínimo vital e as carências morais dos que são mutilados pelo
egoísmo... Mais humanas: a passagem da miséria para a posse do necessário, a vitória sobre as
calamidades sociais...”(Medellin, introdução).
A Campanha da Fraternidade se torna assim um dos elementos quaresmais que nos ajudam
na preparação pascal. Cada comunidade deve procurar a forma de fazer a ligação da CF com a
celebração de cada domingo da quaresma. Muitas comunidades têm feito esta ligação com os
cantos, trazendo símbolos, nas preces dos fiéis. Neste ano 2001, o primeiro do novo milênio, ano
“C” da liturgia, as leituras nos ajudam a viver a realidade da “Conversão” com o coração e os
olhos solidários ao clamor dos dependentes de drogas em nosso País, para que seja um serviço à
vida. Conduzidos pelo Espírito, vamos com Jesus ao deserto onde seremos educados para
enfrentar as tentações do mundo, renovamos nossa fidelidade ao Deus vivo e verdadeiro,
sustentados por sua Palavra. Em nossa caminhada pascal, subimos a montanha com Jesus e três
dos seus discípulos para fazermos a experiência da intimidade com Ele, contemplaremos a visão de
sua glória e ouviremos o mandamento de escutar sua Palavra. Celebramos a Páscoa de Jesus que
acontece nos que descobrem o rosto transfigurado do Pai nos rostos desfigurados dos dependentes de
drogas e de toda outra dependência que escraviza e arruina a pessoa humana. Nos aproximamos da
Páscoa, educados no amor misericordioso do Pai que acolhe e festeja a volta do Filho Pródigo. Enfim,
escutamos a palavra de esperança: “Vou realizar uma coisa nova, que já está aparecendo!”. Jesus, diante
da adúltera nos mostra esta novidade, oferece um gesto de amor incomparável que marcou sua vida.
? 4. Uma caminhada de oração, jejum, esmola
Oração, jejum e esmola, ao longo da história, sempre foram atitudes, gestos fundamentais
nas relações das pessoas entre si, com Deus e com a natureza. O Evangelho da quarta-feira de
cinzas (Mt 6,1-6.16-18) apresenta as condições para a prática autêntica e frutuosa das obras
penitenciais da Quaresma, como participação no mistério pascal de Cristo. À luz destas obras e
no espírito da Campanha da Fraternidade, especificamente sob o enfoque do tema do ano, é
necessário descobrir o significado sempre atualizado da oração, do jejum e da esmola.
? A oração
A Quaresma é tempo de uma mais assídua e intensa oração, pessoal e comunitária,
entendida como diálogo com o Pai, por Cristo. Rezar é renovar a aliança com o Senhor. O
exercício da oração está inseparavelmente ligado à conversão, através da qual, as pessoas se
tornam sempre mais abertas e disponíveis às iniciativas da ação de Deus. Ela ajuda a comunidade
e o batizado, em particular, no discernimento do projeto de Deus face à realidade sofrida de
tantos irmãos, vítimas de relações sociais injustas, da prática de uma política, muitas vezes,
desvirtuada, que não se orienta pela busca e promoção do bem comum, mas pela procura de
interesses pessoais ou de grupos.
A oração como expressão de relação filial com o Pai desperta e reaviva a consciência de
que todos somos irmãos, chamados a viver como filhos e aprofundar esta relação. Em virtude desta
relação, somos chamados a viver dignamente e com pleno direito de participação nas decisões que
afetam a convivência social, com pleno direito de cidadania. Face à realidade desumana em que vivem
tantos filhos de Deus, rezar na comunhão com o Pai impulsiona à missão, ao compromisso solidário, à
busca de políticas que garantam a todos eles vida de acordo com sua real dignidade.
No tempo quaresmal, a oração comunitária expressa, além da dimensão orante, a
perspectiva da Igreja comunidade pecadora em processo de conversão.
?
48
? “Vós concedeis aos cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da
Páscoa. Entregues à oração e à pratica do amor fraterno, preparamo-nos
para celebrar os mistérios pascais, que nos deram vida nova e nos tornaram
filhas e filhos vossos” ( I Prefácio da quaresma).
49
? O jejum
O jejum e a abstinência de carne expressam a íntima relação existente entre os gestos
externos de penitência, mudança de vida e conversão interior.
Jejuar e abster-se de carne, na afirmação do profeta Isaías, consiste em libertar os cativos,
acabar com a opressão, dividir o pão com o pobre, hospedar o que não tem casa, vestir o nu. O
jejum deve ser expressão de renovação interior, de desprendimento e de liberdade face aos bens
terrenos que dispõe à fraternidade e à solidariedade. Em nossa realidade, o jejum ganha
característica de compromisso com a população empobrecida, em permanente jejum, forçado não
só pela falta de comida, mas também por estar privada do acesso à educação, à saúde, à moradia e
às condições mínimas de saneamento básico.
Jejuar, então, é privar-se de alimento destinando-o aos que passam fome e também atitude
positiva de colaborar para superar os mecanismos que geram opressão e marginalização. Quem
tem o suficiente é chamado a jejuar livremente, como ato de louvor a Deus, destinando estes
recursos aos irmãos sofredores, no gesto concreto da Campanha da Fraternidade. São chamados
também, e talvez mais fortemente, a gestos de solidariedade que garantam pleno exercício de
cidadania para todos.
?
? “Vós acolheis nossa penitência como oferenda à vossa glória. O
jejum e a abstinência que praticamos, quebrando nosso orgulho, nos
convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com os
necessitados” (III Prefácio da Quaresma).
?
? A esmola
A Quaresma é tempo de um mais forte empenho de caridade para com os irmãos. A liturgia
fala da “prática do amor fraterno e da libertação do egoísmo”, tornando-nos disponíveis às
necessidades dos irmãos. A oração e o jejum devem ser sinais de uma atitude de conversão, de
justiça e de solidariedade.
A esmola, na perspectiva do espírito da Campanha da Fraternidade e da Quaresma, confere
aos gestos de generosidade humana uma dimensão evangélica profunda que se expressa na
solidariedade. Coloca o batizado e a comunidade face a face com o irmão empobrecido e
marginalizado para ajudá-lo e promovê-lo.
Dar esmola não é dar apenas dinheiro, roupa, um prato de comida, às vezes por descargo de
consciência ou para livrar-se de importunação. É fazer-se doação aos irmãos no serviço fraterno,
na participação em movimentos e projetos populares para geração de empregos, para maior
democratização da posse da terra, no campo e na cidade, para a construção de moradia para
todos, para a ampliação dos postos de saúde e atendimento a todos... É ajudar a pessoa a
desenvolver suas capacidades e se tornar sujeito de sua promoção.
?
? “Pela penitência da Quaresma corrigis nossos vícios, elevais
nossos sentimentos, fortaleceis nosso espírito fraterno e nos garantis
uma eterna recompensa” (IV Prefácio da Quaresma).
4. Como fazer?
Sabemos que desde o início a Campanha da fraternidade foi pensada para ser um momento
forte, dentro do tempo da Quaresma, para a vivência da caridade. Seria muito pouco reduzir a
Campanha ao momento litúrgico. Ela deve atingir a catequese, os grupos de rua, os meios de
comunicação, seminários sobre o assunto, grupos e pessoas de boa vontade que lutam por uma
sociedade mais justa... E tudo isso deve estar presente na liturgia, memorial da morte e da
ressurreição do Senhor e levar a uma transformação da realidade.
A equipe de liturgia da comunidade, ao fazer seu planejamento para este tempo litúrgico,
pode se perguntar:
1 Quais os sinais de pecado e de morte que marcam mais a nossa comunidade atualmente?
Quais os sinais de vida e ressurreição que a gente gostaria que aparecessem entre nós?
50
2 Como ligar estes sinais com o mistério que celebramos na quaresma?
3 Como sentimos o tema proposto pela Campanha da Fraternidade, aqui em nosso bairro,
cidade ou região? Qual será o gesto concreto?
4 Haverá batismo na Páscoa? E primeiras-comunhões? Como integrar a preparação destes
sacramentos com a vivência quaresmal?
5 E as celebrações do sacramento da reconciliação, e a via-sacra?
6 De que maneira podemos encaminhar a CF e as celebrações da quaresma para que ajudem a
comunidade a melhor celebrar a Páscoa?
7 Haverá outros momentos fortes de oração? Ofício Divino das comunidades? Alguma vigília?
Quando? Como? Quem prepara?
É importante manter algum símbolo forte que marque em cada domingo o sentido da
preparação para a Páscoa, exemplo: A Cruz com pano roxo, a aspersão com água no ato
penitencial. Algum canto que caracterize o sentido da conversão.
A Equipe de liturgia poderia também conversar sobre como tornar a liturgia mais afetiva,
cordial, misericordiosa, orante, que seja educadora pelo seu modo de fazer, de dividir os
ministérios, de acolher as expressões da cultura e da sabedoria dos pobres. Não somente falar
sobre a realidade de um sistema de morte, alimentado por um estilo de vida materialista, que se
alastra a partir do cultivo, comercialização e consumo de drogas, mas buscar detectar as mais
diversas dependências que escravizam a todos nós e fazer a experiência de uma busca de se
libertar das mesmas. Este tempo da quaresma já é um caminho pedagógico vivencial, no qual, o
Senhor pela sua Palavra, pelos gestos e símbolos que atualizam a sua presença, vai nos educando
para a vida, para a solidariedade...
Embora cada ano a Campanha da Fraternidade nos ofereça cantos novos para todos os
momentos da celebração, diante da realidade da comunidade, a equipe de liturgia terá a liberdade
de escolher outros que a comunidade já conhece.
O "Projeto Ser Igreja no Novo Milênio", que estamos preparando de maneira mais próxima,
com a Campanha da Fraternidade deste ano, faz sugestões muito concretas para a organização da
vida paroquial e uma delas é a equipe de liturgia (orientada pelo pároco e coordenada por pessoa
designada por ele) que semanalmente preparará a animação da liturgia dominical e da liturgia
sacramental. Onde for possível, a homilia poderia ser preparada com a colaboração desta equipe
de liturgia ou de celebração. A equipe é, na verdade, a primeira destinatária da Palavra de Deus,
por isso, se coloca à escuta para acolher a Boa Nova em sua vida, antes de relacioná-la com o
tema da Campanha. Assim, a homilia poderá ser enriquecida com a meditação que a própria
comunidade faz da Palavra a partir da sua experiência. Algumas pessoas que trabalham com
dependentes de droga ou tem experiência em algum grupo de apoio poderiam ser convidadas a
participar iluminando a partilha com seu testemunho e experiência.
51
?
? 2º CAPÍTULO
? NATUREZA E HISTÓRICO
DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE
Em 1961, três padres responsáveis pela Caritas Brasileira idealizaram uma campanha para
arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-la, assim,
autônoma financeiramente. A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade e realizada,
pela primeira vez, na quaresma de 1962, em Natal-RN, com adesão de outras três Dioceses e
apoio financeiro dos Bispos norte-americanos. No ano seguinte, 16 Dioceses do Nordeste
realizaram a Campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos
Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na
perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso País.
Em seu início, teve destacada atuação o Secretariado Nacional de Ação Social da CNBB,
sob cuja dependência estava a Caritas Brasileira, que fora fundada, no Brasil, em 1957. Na época,
o responsável pelo Secretariado de Ação Social era Dom Eugênio de Araújo Sales, e por isso,
Presidente da Caritas Brasileira. O fato de ser Administrador Apostólico de Natal-RN explica que
a Campanha tenha iniciado naquela circunscrição eclesiástica e em todo o Rio Grande do Norte.
Este projeto foi lançado, em nível nacional, no dia 26 de dezembro de 1963, sob o impulso
renovador do espírito do Concílio Vaticano II, em andamento na época, e realizado pela primeira
vez na quaresma de 1964. O tempo do Concílio foi fundamental para a concepção, estruturação e
encaminhamentos da Campanha da Fraternidade, do Plano de Pastoral de Emergência, do Plano
de Pastoral de Conjunto e de outras iniciativas de renovação eclesial. Ao longo de quatro anos
seguidos, por um período extenso em cada um, os Bispos ficaram hospedados na mesma casa, em
Roma, participando das sessões do Concílio e de diversos momentos de reunião, estudo, troca de
experiências. Nesse contexto, nasceu e cresceu a Campanha da Fraternidade.
Em 20 de dezembro de 1964, os Bispos aprovaram o projeto inicial da mesma, intitulado:
“Campanha da Fraternidade - Pontos Fundamentais apreciados pelo Episcopado em Roma”. Em
1965, tanto a Caritas quanto a Campanha da Fraternidade, que estavam vinculadas ao
Secretariado Nacional de Ação Social, foram vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da
CNBB. A CNBB passou a assumir a CF. Nesta transição, foi estabelecida a estruturação básica da
52
CF. Em 1967, começou a ser redigido um subsídio, maior que os anteriores, para a organização
anual da CF. Nesse mesmo ano, iniciaram-se, também, os encontros nacionais das Coordenações
Nacional e Regionais da CF. A partir de 1971, tanto a Presidência da CNBB como a Comissão
Episcopal de Pastoral começaram a ter uma participação mais intensa em todo o processo da CF.
Em 1970, a CF ganhou um especial e significativo apoio: a mensagem do Papa, transmitida
em cadeia nacional de rádio e televisão, quando de sua abertura, na Quarta-feira de Cinzas. A
mensagem papal continua enriquecendo a abertura da CF.
De 1963 até hoje, a Campanha da Fraternidade é uma atividade ampla de evangelização
desenvolvida num determinado tempo (Quaresma), para ajudar os cristãos e as pessoas de boa
vontade a viverem a fraternidade em compromissos concretos, no processo de transformação da
sociedade, a partir de um problema específico que exige a participação de todos na busca de
alternativas de solução. É grande instrumento para desenvolver o espírito quaresmal de
conversão, renovação interior e ação comunitária como a verdadeira penitência que Deus quer de
nós em preparação da Páscoa. É momento de conversão, de prática de gestos concretos de
fraternidade, de exercício de uma verdadeira pastoral de conjunto em prol da transformação de
situações injustas e não cristãs. É precioso meio para a evangelização no tempo quaresmal,
retomando a pregação dos profetas, confirmada por Cristo, segundo a qual, a verdadeira
penitência que agrada a Deus é repartir o pão com quem tem fome, dar de vestir ao maltrapilho,
libertar os oprimidos, promover a todos.
A Campanha da Fraternidade tornou-se especial manifestação de evangelização libertadora,
provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a
partir de problemas específicos, tratados à luz do Projeto de Deus.
A Campanha da Fraternidade tem como objetivos permanentes:
8 despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em
particular, os cristãos na busca do bem comum;
9 educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor; exigência central do
Evangelho;
10 renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na
Evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária
(todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora
da Igreja).
53
? 3º CAPÍTULO
? OS TEMAS DA CF
NO SEU CONTEXTO HISTÓRICO
A Campanha da Fraternidade surgiu durante o desenvolvimento do Concílio Vaticano II. O
primeiro documento conciliar aprovado foi sobre a Liturgia. O documento Lumen Gentium,
constituição dogmática, sobre a Igreja - sua natureza e sua missão evangelizadora - foi também
dos primeiros documentos refletidos e aprovados pelo Concílio. O documento Gaudium et Spes,
constituição pastoral, sobre a Igreja no mundo de hoje - sua presença transformadora, surgiu de
um discurso do Cardeal Suenens, no final da primeira sessão. Foi aprovado no final do Concílio.
A primeira das Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano, após o período
conciliar, em Medellín (1968), foi convocada para a implementação do Concílio, no Continente.
A reflexão sobre a realidade latino-americana levou a Igreja a enfrentar o desafio da pobreza e da
urgente presença transformadora nas estruturas sociais. A Conferência de Puebla, dez anos
depois, acentuou ainda mais a dimensão social da fé e da vivência cristã, a fim de se superar a
situação de marginalização, opressão e exclusão em que vive a maioria do povo, criando-se um
clima de comunhão e participação.
Os temas da Campanha da Fraternidade, inicialmente, contemplaram mais a vida interna da
Igreja. A consciência sempre maior da realidade sócio-econômico-política, marcada pela
injustiça, pela exclusão e por índices sempre mais altos de miséria, fez escolher como temas da
Campanha aspectos bem determinados desta realidade em que a Fraternidade está ferida e cujo
restabelecimento é compromisso urgente da fé. A partir do início dos encontros nacionais sobre a
CF, em 1971, a escolha de seus temas vem tendo sempre mais ampla participação dos 16
Regionais da CNBB que recolhem sugestões das Dioceses e estas das paróquias e comunidades.
Alguns pontos de referência na escolha dos temas são:
11 aspectos da vida da Igreja e da sociedade (eventos especiais, como centenário da
Rerum Novarum em 1991 - Solidários na Dignidade do Trabalho; ano da família em
1994 - A Família, como vai?);
12 desafios sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos da realidade brasileira;
13 as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, da Igreja no Brasil e documentos do
Magistério da Igreja Universal;
14 a Palavra de Deus e as exigências da Quaresma.
Ao longo dos mais de trinta anos, podem ser destacadas as seguintes fases nos seus temas:
1ª FASE: EM BUSCA DA RENOVAÇÃO INTERNA DA IGREJA
1) Renovação da Igreja
CF-64: Tema: Igreja em Renovação
Lema: Lembre-se: você também é Igreja
CF-65: Tema: Paróquia em Renovação
Lema: Faça de sua paróquia uma Comunidade de fé, culto e amor
54
2) Renovação do Cristão
CF-66: Tema: Fraternidade
Lema: Somos responsáveis uns pelos outros
CF-67: Tema: Corresponsabilidade
Lema: Somos todos iguais, somos todos irmãos
CF-68: Tema: Doação
Lema: Crer com as mãos
CF-69: Tema: Descoberta
Lema: Para o outro o próximo é você
CF-70: Tema: Participação
Lema: Participar
CF-71: Tema: Reconciliação
Lema: Reconciliar
CF-72: Tema: Serviço e Vocação
Lema: Descubra a felicidade de servir
2ª FASE: A IGREJA PREOCUPA-SE COM A REALIDADE SOCIAL DO
POVO, DENUNCIANDO O PECADO SOCIAL E
PROMOVENDO A JUSTIÇA (Vaticano II, Medellín e Puebla).
CF-73: Tema: Fraternidade e Libertação
Lema: O egoísmo escraviza, o amor liberta
CF-74: Tema: Reconstruir a Vida
Lema: Onde está o teu irmão?
CF-75: Tema: Fraternidade é Repartir
Lema: Repartir o Pão
CF-76: Tema: Fraternidade e Comunidade
Lema: Caminhar juntos
CF-77: Tema: Fraternidade na Família
Lema: Trabalho e justiça para todos
CF-78: Tema: Fraternidade no Mundo do Trabalho
Lema: Trabalho e Justiça para Todos
CF-79: Tema: Por um Mundo mais Humano
Lema: Preserve o que é de todos
CF-80: Tema: Fraternidade no mundo das Migrações Exigência da Eucaristia
Lema: Para onde vais?
CF-81: Tema: Saúde e Fraternidade
Lema: Saúde para todos
CF-82: Tema: Educação e Fraternidade
Lema: A Verdade vos libertará
CF-83: Tema: Fraternidade e Violência
Lema: Fraternidade sim, Violência não
CF-84: Tema: Fraternidade e Vida
Lema: Para que todos tenham Vida
3ª FASE: A IGREJA VOLTA-SE PARA SITUAÇÕES EXISTENCIAIS DO
POVO BRASILEIRO
CF-85: Tema: Fraternidade e Fome
Lema: Pão para quem tem fome
CF-86: Tema: Fraternidade e Terra
55
Lema: Terra de Deus, Terra de Irmãos
CF-87: Tema: A Fraternidade e o Menor
Lema: Quem acolhe o Menor, a Mim acolhe
CF-88: Tema: A Fraternidade e o Negro
Lema: Ouvi o Clamor deste povo!
CF-89: Tema: A Fraternidade e a Comunicação
Lema: Comunicação para a Verdade e a Paz
CF-90: Tema: A Fraternidade e a Mulher
Lema: Mulher e Homem: Imagem de Deus
CF-91: Tema: A Fraternidade e o Mundo do Trabalho
Lema: Solidários na dignidade do Trabalho
CF-92: Tema: Fraternidade e Juventude
Lema: Juventude - Caminho Aberto
CF-93: Tema: Fraternidade e Moradia
Lema: Onde Moras?
CF-94: Tema: A Fraternidade e a Família
Lema: A Família, como vai?
CF-95: Tema: A Fraternidade e os Excluídos
Lema: Eras Tu, Senhor?!
CF-96: Tema: A Fraternidade e a Política
Lema: Justiça e Paz se abraçarão!
CF-97: Tema: A Fraternidade e os Encarcerados
Lema: Cristo liberta de todas as prisões!
CF-98: Tema: A Fraternidade e a Educação
Lema: A serviço da vida e da esperança!
CF-99: Tema: Fraternidade e os Desempregados
Lema: Sem trabalho... Por quê?
CF ECUMÊNICA 2000 - NA CELEBRAÇÃO DO GRANDE JUBILEU DA
ENCARNAÇÃO A CAMPANHA DA FRATERNIDADE FOI REALIZADA
PELO CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL
(CONIC), COM O TEMA: "DIGNIDADE HUMANA E PAZ" E O LEMA:
"NOVO MILÊNIO SEM EXCLUSÕES".
CF-2001: Tema : Campanha da Fraternidade
Lema: Vida Sim, Drogas Não!
CF-2002: Tema: Povos Indígenas
Lema:
? 4º CAPÍTULO
? A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2001
56
? E O PROJETO 'SER IGREJA NO NOVO MILÊNIO'
A CF desse ano é um projeto que está em sintonia com as "Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil (1999-2002)37
" e se insere no contexto de preparação para o
lançamento do Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil: Ser Igreja no Novo Milênio (SINM).
Ela faz parte do "15º Plano Bienal de Atividades do Secretariado Nacional (2000-2001)"38
onde
encontramos os projetos para operacionalizar as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da
Igreja no Brasil.
No conjunto de atividades decorrentes das DGAE, o 15º Plano Bienal elaborado pelo
Secretariado Nacional de Pastoral da CNBB encontramos os "programas globais". Trata-se de
atividades que transcendem os objetivos específicos de uma dimensão, de um setor ou de uma
pastoral e incidem em toda ação evangelizadora, exigindo a participação conjunta de todos os
assessores e a colaboração de muitas outras pessoas e entidades. A Campanha da Fraternidade é
um destes "programas globais".
O objetivo permanente da Campanha da Fraternidade é: "despertar o espírito comunitário e
cristão do povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho;
renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na promoção humana em
vista de uma sociedade justa e solidária"39
.
A CF neste primeiro ano do novo milênio, como o lema "Vida Sim, Drogas, Não!", deseja
mobilizar a comunidade eclesial e a sociedade brasileira para enfrentar corajosamente o grave e
complexo problema das drogas, que arruina milhares de vidas e afeta profundamente a paz social,
como já definimos. A CF quer trabalhar para a realização de um milênio sem drogas
colaborando na realização de um novo projeto de vida e sociedade que, além de questionar o
crescente consumismo, gerador de novos tipos de necessidade e dependências, quer reforçar o
sentido positivo da vida.
Essa proposta ampla da CF inserida na fase preparatória do Projeto SINM, será um passo
importante na ação evangelizadora da Igreja no Brasil. O Projeto SINM tem como finalidades:
"renovar a consciência da identidade e da missão da Igreja no Brasil, num contexto em
rápida mudança, que questiona muitas das formas de existir e de agir das comunidades eclesiais e
de cada cristão."40
O Projeto volta-se em primeiro lugar, para a evangelização e procura manter
viva e perseverante a fidelidade das comunidades eclesiais. Quer, com isso, continuar o anúncio
do Evangelho por palavras e sinais visíveis do amor de Deus pela humanidade. Um Deus que
liberta do mal e promove a dignidade de cada pessoa.
A Campanha da Fraternidade deste ano de 2001, em sintonia com o Projeto SINM, pretende
anunciar a Boa-Nova da salvação, trazida por Jesus Cristo, a um povo que vive numa sociedade
onde o lucro é buscado a todo custo, que cria dia-a-dia novas necessidades nas pessoas, somente
para alimentar o mercado, gerando dependências de todo tipo e entre elas a do consumo de
drogas, fumo e álcool.
A Campanha deste ano de 2001 quer renovar também o convite a todos os batizados para
serem igreja, participando das comunidade eclesiais, vivenciando a fé nos grupos de reflexão e
vida (grupos formados de pessoas reunidas em: família, setores, condomínios, prédios, capelas
rurais etc). São pequenas comunidades que querem superar o individualismo egoísta que leva as
pessoas a se fecharem cada vez mais, vendo no outro sempre uma ameaça. São grupos de pessoas
que querem também resistir à massificação que despersonifica o ser humano e abafa o seu senso
crítico frente aos que não constróem a vida.
E assim, no espírito do Projeto "Ser Igreja no Novo Milênio", quer-se com esta Campanha
se lançar para frente, em direção ao Reino definitivo. Seja qual for o ponto a que tenhamos
chegado até o momento nesta grande aventura do seguimento de Cristo, continuemos
caminhando na mesma direção. (Cf. Fl. 3, 12-14.16)
37 DOCUMENTOS DA CNBB, Nº 61.
38 DOCUMENTOS DA CNBB, Nº 63.
39 CNBB, 15º PLANO BIENAL DE ATIVIDADES DO SECRETARIADO NACIONAL, DOC. 63, SÃO PAULO,
PAULINAS, 2000, P.34.
40 CNBB, OLHANDO PARA FRENTE. O PROJETO 'SER IGREJA NO NOVO MILÊNIO" EXPLICADO ÀS
COMUNIDADES. AGOSTO, 2000. MÍMEO, P. 5.
57
É neste sentido que oferecer-se-á mais um subsídio neste ano de 2001 denominado
Fraternidade nos Grupos de Reflexão, que tem como objetivo anunciar a Boa Nova de Jesus (o
Kerígma) na realidade marcada pelo trágico problema das drogas, convidando os grupos de
reflexão a se tornarem pequenas comunidades eclesiais a partir de passos bem concretos. Assim
os grupos de reflexão estarão melhor preparados para abraçar o Projeto "Ser Igreja no Novo
Milênio", que se inciará a partir da Páscoa. O Projeto dará subsídios para que os grupos façam
suas reflexões sobre o livro dos Atos dos Apóstolos e cresçam no ensinamento dos Apóstolos, na
comunhão fraterna e na fração do pão.41
? 5º CAPÍTULO
? O SERVIÇO DE COORDENAÇÃO E ANIMAÇÃO DA CF
41 CF. AT 2, 42.
58
A CF é um programa global conjunto dos Organismos Nacionais, do Secretariado Nacional
da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) e das Igrejas Particulares, sempre realizado à luz e
na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil como já foi dito.
E, agora, depois do Projeto Rumo ao Novo Milênio, ela se insere na preparação do lançamento do
Projeto "Ser Igreja no Novo Milênio" (SINM). É preciso, assim, que a equipe de coordenação da
CF conheça o Projeto SINM para que não fique fora desta ação conjunta proposta pela Igreja no
Brasil.
Desde 1963, com o Plano de Emergência, e 1966, com o Plano de Pastoral de Conjunto, a
ação evangelizadora (pastoral) da Igreja vive um processo de planejamento abrangente. Este
processo tem as Diretrizes como fundamentação e inspiração e se expressa no Plano de Pastoral,
elaborado de forma muito participativa e em diversos níveis.
A busca desse planejamento, sempre mais participativo, requer envolvimento dos agentes
de pastoral, das equipes de coordenação e animação, dos conselhos e outros órgãos a serviço do
crescimento da vida comunitária.
A realização da CF, como programa global conjunto, é exercício e expressão de
planejamento participativo e de articulação pastoral, decorrente da própria natureza da Igreja-
comunhão.
A articulação:
15 favorece o desenvolvimento dos carismas eclesiais de maneira orgânica;
16 distribui tarefas e define as atribuições das diversas pastorais, organismos, movimentos
e grupos;
17 envolve um maior número possível de interessados, na reflexão, na decisão, na
execução e na avaliação.
Para uma eficaz e frutuosa realização da CF, como de todo programa pastoral, é
indispensável reavivar, a cada ano, o processo de seu planejamento. Isto não acontece sem a
constituição de equipes de trabalho, de coordenação entusiastas, dinâmicas, criativas, com
profunda espiritualidade e zelo apostólico.
Em muitos Regionais, Dioceses e Paróquias, a animação da CF é assumida pela respectiva
equipe de Coordenação Pastoral, com o estabelecimento de uma Comissão específica para a CF.
Este procedimento poderá favorecer a uma maior integração, evitando paralelismos. Poderá, por
outro lado, apresentar o risco da CF “ser de todos e, ao mesmo tempo, de ninguém”.
Especial tarefa e compromisso das equipes, nos seus diversos níveis, deve ser a
desrotinização da Campanha. A CF não é a mesma a cada ano. Evitando a novidade pela simples
novidade, as equipes saberão utilizar-se de criatividade para realizá-la, todos os anos, como algo
realmente novo.
? 1. Equipe Regional da CF
? Compete-lhe:
18 estimular a formação, o assessoramento e a articulação das equipes diocesanas;
19 planejar a CF em nível regional: o que organizar, quem envolver, que calendário
seguir, onde e como atuar.
59
? Atividades que poderão desenvolver:
? Antes da Campanha:
20 realizar Encontro Regional para o estudo do Texto-base, a fim de descobrir a melhor
forma de utilização das peças e subsídios de divulgação;
21 definir atividades a serem assumidas conjuntamente nas Dioceses, Paróquias e
Comunidades;
22 verificar a possibilidade da produção de subsídios adaptados à realidade local;
23 possibilitar a troca de informações e o repasse de subsídios, relacionados ao tema,
produzidos em âmbito mais local ou provenientes de outras fontes e regiões;
24 constituir equipes e/ou indicar pessoas que possam prestar serviço de assessoria.
? Durante a Campanha:
25 descobrir formas de estar em permanente contato com as equipes diocesanas para
animação e intercâmbio das experiências mais significativas;
26 possibilitar o acompanhamento das atividades comuns programadas.
? Depois da Campanha:
27 promover um novo encontro regional de avaliação;
28 providenciar a redação e o envio da síntese Regional da avaliação à Secretaria
Executiva Nacional da CF, dentro do cronograma previsto;
29 definir a participação regional no encontro nacional de avaliação e planejamento da CF;
30 repassar às Dioceses a avaliação nacional e outras informações.
? 2. Equipe Diocesana da CF
? Compete-lhe:
31 estimular a formação, assessorar e articular as equipes paroquiais;
32 planejar, em nível diocesano: o que realizar, quem envolver, que calendário seguir,
como e onde atuar.
? Atividades que poderão desenvolver:
? Antes da Campanha:
33 encomendar os subsídios necessários para as paróquias, comunidades religiosas,
colégios, meios de comunicação, movimentos de Igreja;
34 programar a realização de encontro diocesano para estudo do Texto-base, buscando a
melhor forma de utilizar as diversas peças da Campanha;
35 definir atividades comuns nas paróquias;
36 promover o intercâmbio de informações e subsídios;
37 sugerir a escolha do gesto concreto;
38 estabelecer uma programação especial de lançamento;
39 constituir equipes para atividades específicas;
40 informar da existência e repassar subsídios alternativos.
? Durante a Campanha:
41 acompanhar as diversas equipes existentes;
42 verificar o andamento das atividades comuns programadas;
43 manter freqüente contato com as paróquias para perceber o andamento da Campanha;
44 conferir a chegada dos subsídios a todos os destinatários em potencial;
45 alimentar com pequenos textos motivadores (release) os Meios de Comunicação Social.
60
? Depois da Campanha:
46 promover encontro diocesano de avaliação;
47 cuidar da redação final e do envio da síntese da avaliação à equipe regional;
48 participar do encontro regional de avaliação;
49 repassar às equipes paroquiais a avaliação regional e outras informações;
50 concretizar o gesto concreto e garantir o repasse da parte da coleta para a CNBB
Regional e Nacional;
51 fazer com que a Campanha se estenda por todo o ano, repassando outros subsídios que
forem sendo publicados.
? 3. Equipe Paroquial da CF
A Campanha da Fraternidade acontece mesmo é nas famílias, nos grupos e nas
comunidades eclesiais articulados pela paróquia. Como em relação a outras atividades pastorais,
o papel do pároco ou da equipe presbiteral é preponderante. Mesmo que, por vezes, muitas coisas
aconteçam bem sem ou até apesar do pároco, tudo anda melhor quando ele estimula, incentiva,
articula e organiza a ação pastoral. Em toda paróquia, pastoralmente dinâmica, não faltarão
equipes de serviço para tudo o que for necessário. O Conselho Paroquial de Pastoral, já
constituído na maioria das Paróquias, por si ou pela constituição de comissão específica, garantirá
a realização articulada e entusiasta da Campanha da Fraternidade.
? Atividades que poderão desenvolver:
? Antes da Campanha:
52 providenciar o pedido de material junto à Diocese;
53 programar um encontro paroquial para estudo do Texto-base e descoberta da melhor
maneira de serem utilizadas as diversas peças de reflexão e divulgação da CF;
54 definir as atividades a serem assumidas conjuntamente;
55 estabelecer a programação da abertura, em nível paroquial;
56 buscar juntos os meios para que a CF possa atingir eficazmente todos os espaços e
ambientes da realidade paroquial;
57 planejar um gesto concreto comum e a destinação da coleta da CF.
58 realizar encontros conjuntos ou específicos com as diversas equipes paroquiais para
programação de toda a Quaresma e semana santa;
59 prever a colocação do maior número possível de subsídios da Campanha.
? Durante a Campanha
60 intensificar sua divulgação;
61 conferir a chegada dos subsídios aos destinatários;
62 motivar para sucessivos gestos concretos de fraternidade;
63 realizar a coleta.
? Depois da Campanha:
64 avaliar sua realização, encaminhando a síntese para a Coordenação Diocesana;
65 marcar presença no encontro diocesano de avaliação;
66 repassar às lideranças da paróquia as conclusões da avaliação diocesana;
67 concretizar o gesto concreto e garantir o repasse da parte da coleta para a Diocese, o
Regional e a CNBB Nacional;
68 fazer com que a Campanha se estenda por todo o ano, repassando outros subsídios que
forem sendo publicados.
61
6º CAPÍTULO
CRONOGRAMA GERAL
1999
69 Junho: definição do tema e do lema da CF-2001.
70 Setembro: reunião da Comissão Episcopal de Pastoral - Coleta de sugestões para o Texto-
base da CF-2001.
71 Novembro: Lançamento do Texto-base da CF 2000 Ecumênica no "Panteon da
Democracia"
72 Dezembro: encontro com Agentes de Pastoral da Sobriedade sobre a CF- 2001.
2000
73 Janeiro e fevereiro: organização e preparação do lançamento da CF-2000 nos Regionais,
Dioceses, Paróquias, comunidades e grupos; primeira redação do Texto-base da CF-2001.
74 Fevereiro: escolha das letras dos cantos e segunda redação do Texto-base da CF-2001.
75 Março (08) a abril (23): Quarta-feira de Cinzas (08/03)- lançamento da Campanha da
Fraternidade 2000 Ecumênica com o tema “Dignidade humana e paz”; em nível nacional
com mensagem do Papa e culto ecumênico com todas as Igrejas do CONIC.
76 Março (dia 20): análise da segunda redação do Texto-base da CF-2001 pela Assessoria
Nacional da CNBB.
77 Abril (dia 13): Sessão solene sobre a CF 2000 Ecumênica na Câmara dos Deputados com
publicação no jornal da Câmara do dia 17 de abril.
78 Abril (até dia 15): envio do Texto-base da CF-2001 (terceira redação) aos Regionais,
Bispos da Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB e colaboradores da CF
para observações e emendas.
79 Abril (24) a agosto (20): avaliação da CF-2000 nos níveis paroquial (01 a 30 de abril),
diocesano (01 a 30 de maio), regional (30 de maio a 15 de junho) e nacional (27 e 28 de
junho). O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) fez sua avaliação nos dias 19 a
20 de agosto de 2000.
80 Maio (até dia 30): envio à Secretaria Executiva Nacional da CF, por parte dos Regionais,
Bispos da Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB e colaboradores da CF,
das observações e emendas à terceira redação do Texto-base CF-2001.
81 Maio e junho: pré-seleção das músicas e do cartaz da CF-2001; quarta redação do Texto-
base CF-2001.
82 Junho 2000 (27 e 28): encontro nacional com Coordenadores(as) Regionais da CF, Bispos
da Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral e Assessores(as) Nacionais da CNBB para
avaliação da CF 2000 Ecumência; estudo do Texto-base da CF-2001; aprovação das
músicas da CF-2001; escolha do cartaz da CF-2001; definição do tema CF-2002 : Povos
Indígenas.
83 Julho e agosto 2000: último prazo para envio, com desconto, dos pedidos de material da
CF-2001; elaboração das Orientações Gerais para a CF-2001; início da redação final e
remessa do Texto-base da CF-2001 para impressão; -2001; elaboração dos subsídios da CF-
2001; gravação dos discos (Compacto e CD) e da fita K-7 da CF-2001.
84 Agosto a dezembro 2000: impressão e distribuição do material da CF-2001; gravação do
spot para TV e do jingle para rádio da CF-2001.
85 Setembro 2000: Definição do lema da CF 2002. Análise, na reunião da Comissão
Episcopal de Pastoral da CNBB, do primeiro esquema do Texto-base da CF-2002.
62
86 Outubro 2000: Apresentação, na reunião da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, da
primeira redação do Texto-base da CF-2002; lançamento do concurso do cartaz e das letras
para os cantos da CF-2002.
87 Novembro 2000: Estudo, na reunião do Grupo de Assessores e Assessoras da CNBB, da
segunda redação do Texto-base da CF-2002; terceira redação do Texto-base da CF-2002; envio
aos Subsecretariados e Coordenadores Regionais da CF da terceira redação do Texto-base da CF-
2002.
2001
88 Janeiro e fevereiro 2001: organização da CF-2001 nos Regionais, Dioceses, Paróquias,
Comunidades e Grupos.
89 Fevereiro 2001: último prazo para envio de contribuições ao Texto-base da CF-2002;
escolha das letras dos cantos para a CF-2002.
90 28 de fevereiro/2001 a 15 de abril/2001: Campanha da Fraternidade sobre o tema
“Campanha da Fraternidade”, com o lema "VIDA SIM, DROGAS NÃO"; Quarta-feira de
Cinzas (28/02) lançamento da CF-2001 em nível nacional, regional, diocesano e paroquial,
com a mensagem do Papa, da presidência da CNBB e programas especiais.
91 Março a maio 2001: concurso das músicas para os cantos da CF-2002.
92 Março 2001: estudo e aprovação Texto-base da CF-2002.
93 Abril a maio 2001: redação e revisão do Texto-base da CF-2002; avaliação da CF-2001
nos níveis paroquial (de 16 a 30 de abril), diocesano (de 01 a 15 de maio), regional (16 a 31
de maio) e nacional (19 e 20 de junho).
94 Maio 2001: pré-seleção das músicas CF-2002.
95 Junho 2001: encontro nacional com Coordenadores(as) Regionais da CF, Bispos da
Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral e Assessores(as) Nacionais da CNBB para
avaliação da CF-2001; aprovação das músicas da CF-2002; escolha do cartaz da CF-2002;
elaboração das Orientações Gerais da CF-2003, escolha do tema e do lema.
96 Julho 2001: recebimento, por parte da Secretaria Executiva da CF, dos pedidos de material
para a CF-2002; remessa do Texto-base da CF-2002 para produção gráfica.
97 Julho e agosto 2001: elaboração dos subsídios, gravação do CD e fita K-7 da CF-2002;
remessa do Texto-base da CF-2002 para produção gráfica; encaminhamentos da CF-2002.
98 Agosto a dezembro 2001: impressão e distribuição do material da CF-2002; gravação do
spot para TV e do jingle para rádio da CF-2002; lançamento do Texto-base da CF - 2002,
em nível nacional e diocesano.
? AVALIAÇÃO DA CF-2001
63
? (PARA O NÍVEL PAROQUIAL)
Enviar esta avaliação à Coordenação Diocesana da CF até o dia 30 de abril de 2001.
Para a avaliação, é importante ter presente os objetivos e as orientações gerais da CF-
2001.
? Identificação
Nome da Paróquia: ................................................................................................................................
A Coordenação da CF é feita: a) por uma Equipe Paroquial da CF ( ); b) pelo Conselho
Paroquial de Pastoral ( ); c) por um padre ( ), por um diácono ( ), por um(a) religioso(a) (
) ou por um leigo(a) ( ).
População da Paróquia: .........................................................................................................................
Número de Comunidades (capelas) existentes na Paróquia: ................................................................
? 1. Preparação
1.1- Houve algum encontro paroquial para o estudo do tema da CF? Sim ( ) Não ( )
1.2 - Número de participantes: ( ) Duração do encontro: (........................................................
)
1.3 - Presentes: Equipe Paroquial da Campanha ( ) Conselho Paroquial de Pastoral (
)
Pastorais representadas:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
;
Movimentos representados:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
;
Outros grupos representados:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
1.4 - Que dificuldades foram encontradas com relação ao tema e texto base? ...................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
1.5 - Quais os principais encaminhamentos dados? ............................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
64
? 2. Lançamento
2.1 - Quais foram os recursos utilizados? Distribuição de material para as lideranças ( );
confecção de um folheto próprio ( ); uma celebração litúrgica centralizada na temática ( );
distribuição de subsídios para jornais, emissoras de Rádio e de Televisão ( ); colocação de
cartazes nas escolas e outros lugares públicos ( ); uso de outdoor ( ); faixas ( ); outros
recursos ( ) - Quais? ........................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
2.2 - Quantidade de material adquirido: texto base ( ); manual ( ); cartazes ( );
outdoors ( ); discos ( ); fitas K-7 ( ); faixas ( ); adesivos ( ); jingles para o
Rádio ( ); demais subsídios ( ).
2.3 - A Diocese/Regional produziu algum subsídio próprio? Sim ( ) Não ( ) A Paróquia
usou deste material produzido? Sim ( ) Não ( ). Quantidade adquirida: (
....................................................................................................................................................
)
Como a Paróquia avalia esse material produzido pela Diocese/Regional?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
? 3. Realização
3.1- Reação da Imprensa: houve espaços para divulgação? Sim ( ) Não ( ) Houve críticas? Sim
( )
Não ( ) O que foi criticado?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3.2 - Quais os pontos altos ou fatos mais significativos da CF-2001? ................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3.3 - O que foi melhor nesta CF-2001, em relação à de 2000? ...........................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3.4 - O que foi pior nesta CF-2001, em relação à de 2000?.................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3.5 - Os encaminhamentos dados na fase de preparação se concretizaram? Sim ( ) Como? .......
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Não ( ) Por quê?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3.6 - O que aconteceu, de concreto, como fruto novo desta Campanha? ............................................
65
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3.7 - Os recursos financeiros para a realização da CF vieram da venda do próprio material ( ); de
doações ( ); do orçamento paroquial ( ); do percentual paroquial da coleta ( ).
3.8 - Total da Coleta, realizada na Paróquia, no Domingo de Ramos: R$ ............................... ,00.
Os 45% da coleta destinados à Paróquia totalizaram: R$ ...............................................,00.
A coleta é feita de alguma outra modalidade? Qual?
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
Foram aplicados em programas de promoção humana? Sim ( ) Não ( )
Quais:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Tiveram outra aplicação? Sim ( ) Não ( ) Qual?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
? 4 - Subsídios
4.1- Como a Paróquia avalia os subsídios fornecidos pela Coordenação Nacional da CF?
Muito
bom
Bom Regular Fraco Não usado
Fraternidade no Grupo de Reflexão
Frat. na Escola/ Ensino fundamental I
Frat. na Escola/ Ensino fundamental
II
Frat. na Escola/ Ensino médio
Agenda Pastoral
Calendário da Fraternidade
Cantos da Missa: entrada
ofertório
comunhão
Cartaz
CD
Celebração da Misericórdia e Vigília
Eucarística
Círculos Bíblicos
Encontros Catequéticos
Encontros com Jovens
Fita K-7
Jingle para Rádio
Manual
Oração da Campanha
Spot para TV
Texto base
Texto base em linguagem simplificada
Via Sacra
4.2- As peças promocionais, fornecidas pela Coordenação Nacional da CF:
Foram bem
aceitas?
Devem
continuar
sendo
produzidas?
Observações
66
sim não sim não
Adesivo-lema
Envelopes
Faixa de pano
Outdoor
4.3 - Teria outro tipo de material a sugerir? Sim ( ) Não ( ) Qual? .............................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
4.4- Como a paróquia avalia os subsídios?
Quanto ao conteúdo:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Quanto à linguagem:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Quanto ao seu poder motivador:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Outros aspectos:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
4.5 - Quando a paróquia recebeu o material encomendado? ...............................................................
? 5 - Sugestões
5.1- Sobre a organização geral da Campanha para os próximos anos:
Para a Diocese:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Para a CNBB Regional:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Para a CNBB Nacional:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
5.2 - Alguma sugestão para a realização da CF-2002?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
67
..............................................................................................................................................................
5.3 - Outras considerações: .................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Local e data:
..............................................................................................................................................................
Assinatura do responsável:
..............................................................................................................................................................
68
? AVALIAÇÃO DA CF-2001
? (PARA O NÍVEL DIOCESANO)
Enviar esta avaliação à Coordenação Regional da CF até o dia 20 de maio de 2001.
Para a avaliação, é importante ter presente os objetivos e as orientações gerais da CF-
2001.
? Identificação
Nome da Diocese: .................................................................................................................................
A Coordenação da CF é feita: a) por uma Equipe Diocesana da CF ( ); b) pelo Conselho
Diocesano de Pastoral ( ); c) por um padre ( ), por um diácono ( ), por um(a) religioso(a)
( ) ou por um leigo(a) ( ).
Número de Paróquias da Diocese: ( ) Número de Paróquias que avaliaram a CF 2001,
seguindo este esquema proposto pela Coordenação Nacional: ( )
? 1. Preparação
1.1- Houve algum encontro diocesano para o estudo do tema da CF? Sim ( ) Não ( )
1.2 - Número de participantes: ( ) Duração do encontro: (........................................................
)
1.3 - Presentes: representantes de _____ paróquias;
Pastorais representadas:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
;
Movimentos representados:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
;
Outros grupos representados:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
1.4 - Que dificuldades as paróquias encontraram com relação ao tema e ao texto base?
a) em nível diocesano:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
69
b) em nível paroquial (resumo):
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
70
1.5 - Quais os principais encaminhamentos dados?
a) em nível diocesano:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
b) em nível paroquial (resumo):
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
? 2. Lançamento
2.1 - Houve um lançamento em nível diocesano? Sim ( ) Não ( ) Quem e como foi
organizado?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
2.2 - Os Meios de Comunicação Social foram envolvidos? Sim ( ) Não ( ) De que
forma? .................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
2.3 - A Diocese produziu algum material próprio para o lançamento? Sim ( ) Não ( ). Que
tipo?
..............................................................................................................................................................
.................................................. Esse material foi aproveitado pelas Paróquias? Sim ( ) Não (
)
2.4 - Quais as iniciativas paroquiais (indique) de maior significação, desta fase de lançamento da
CF?
1)
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
2)
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3)
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
? 3. Realização
3.1- Reação da Imprensa: houve espaços para divulgação? Sim ( ) Não ( ) Houve críticas?
Sim ( ) Não ( ) O que foi criticado? ..............................................................................................
71
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
72
3.2 - Quais os pontos altos ou fatos mais significativos da CF-2001?
a) em nível diocesano:
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
b) em nível paroquial (resumo):
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
3.3 - O que foi melhor nesta CF-2001, em relação à de 2000?
a) em nível diocesano:
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
b) em nível paroquial (resumo):
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
3.4 - O que foi pior melhor nesta CF-2001, em relação à de 2000?....................................................
a) em nível diocesano:
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
b) em nível paroquial (resumo):
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
3.5 - Os encaminhamentos dados na fase de preparação se concretizaram?
a) em nível diocesano: Sim ( ) Como?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
73
Não ( ) Por quê?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
b) em nível paroquial (resumo): Sim ( ) Como?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Não ( ) Por quê?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
3.6 - O que aconteceu, de concreto, como fruto novo desta Campanha? ............................................
a) em nível diocesano:
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
b) em nível paroquial (resumo do que disseram as Paróquias):
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
3.7 - Os recursos financeiros para a realização da CF, em nível diocesano, vieram da venda do
próprio material ( ); de doações ( ); do orçamento paroquial ( ); da coleta da CF ( ).
3.8 - Total da Coleta, realizada nas Paróquias, no Domingo de Ramos: R$ ............................... ,
00.
Os 35% da coleta destinados à Diocese totalizaram:
R$ ....................................................,00.
A coleta é feita de alguma outra modalidade? Qual?
..............................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
...................................................................................................................................................
Foram aplicados em programas de promoção humana? Sim ( ) Não ( )
Quais:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
74
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Tiveram outra aplicação? Sim ( ) Não ( ) Qual?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
4 - Subsídios
4.1. Como a Diocese avalia os subsídios fornecidos pela Coordenação Nacional da CF? (resumo
quantificado do que disseram as Paróquias).
Muito
bom
Bom Regular Fraco Não usado
Fraternidade nos Grupos de Reflexão
Frat. na Escola/ Ensino Fundamental I
Frat. na Escola/ Ensino Fundamental
II
Frat. na Escola/ Ensino médio
Agenda Pastoral
Calendário da Fraternidade
Cantos da Missa: entrada
ofertório
comunhão
Cartaz
CD
Celebração da Misericórdia e Vigília
Eucarística
Círculos Bíblicos
Encontros Catequéticos
Encontros com Jovens
Fita K-7
Jingle para Rádio
Manual
Oração da Campanha
Spot para TV
Texto base
Texto base em linguagem simplificada
Via Sacra
4.2- As peças promocionais, fornecidas pela Coordenação Nacional da CF:
Foram bem
aceitas?
Devem
continuar
sendo
produzidas?
Observações
sim não sim não
Adesivo-lema
Envelopes
Faixa de pano
Outdoor
4.3 - As Paróquias sugeriram algum outros tipo de material? Sim ( ) Não ( ) Qual? ..................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
4.4- Resumidamente, como as Paróquias avaliaram os subsídios:
75
Quanto ao conteúdo:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Quanto à linguagem:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Quanto ao seu poder motivador:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Outros aspectos:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
4.5 - Quando a Diocese recebeu o material encomendado? ................................................................
..............................................................................................................................................................
? 5 - Sugestões
5.1- Sobre a organização geral da Campanha nos próximos anos:
Para a CNBB Regional:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Para a CNBB Nacional:
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
5.2 - Alguma sugestão para a realização da CF-2002?
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
5.3 - Outras considerações: .................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
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76
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..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
..............................................................................................................................................................
Local e data:
..............................................................................................................................................................
Assinatura do responsável:
..............................................................................................................................................................
77
CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2002 - PEDIDO DE MATERIAL
(REMETER À DIOCESE ATÉ 31/05/2001)
O pedido deve ser feito via Diocese. A paróquia o entrega à Diocese e esta o remete à Secretaria Executiva Nacional da CF. Terão
um desconto de 15% os pedidos que chegarem, em Brasília, até o dia 13/07/2001.
Diocese: ...............................................................................................................................................
Cidade: .................................................................... Estado: ..............................................................
Endereço: ..................................................................................................... Cep: ..............................
Fone: ( ...... ) .................... Inscrição Estadual: .............................. CGC: ..........................................
SUBSÍDIOS
78
? ÍNDICE
Apresentação
Oração
Introdução
Primeira Parte: Quero ver de novo (Mc 10, 51)
Alguns esclarecimentos prévios
Sonhos e pesadelos
O complexo sistema das drogas
Esclarecendo alguns pontos
Mas, o que é mesmo droga?
Toxicomania e dependência
Procurando explicações profundas
O uso de drogas
Rostos desfigurados
O pesadelo da família
O sonho da harmonia social
Um mundo em crise
Nova forma da mercadoria e hegemonia neoliberal
A restauração de sonhos
Segunda Parte: Escolha a vida! (Dt 30, 19)
O contexto social das drogas
O contexto pessoal das drogas
Ser humano - obra preciosa
Criados por amor e livres, para sermos felizes
A sabedoria de livremente impor-se limites
Hábitos que controlamos e hábitos que nos controlam
A força da fé nas situações de dor
A vida e sua possibilidades valem mais que a ilusão das drogas
Vida sim! Morte não!
O amor, que traz felicidade, tem suas exigências
Cristãos, chamados a fazer diferença
Um amor sem exclusões
A Igreja se põe a serviço da vida e da esperança
Procurar parceria par servir a vida e a esperança
O Evangelho do amor que liberta, transforma, faz crescer
Terceira Parte: A profecia da ação solidária
Políticas públicas de controle
Prevenção ao uso indevido de drogas
Quando à intervenção de ajuda
Tratamento e reinserção social dos dependentes de drogas
Os desafios de um dependente de drogas depois do tratamento
79
O papel das famílias, das escolas e das igrejas
A família e a dependência das drogas: pistas de ação
Comunidade escolar e dependência de drogas: pista de ação
As Igrejas Cristãs e a dependência de drogas: pistas de ação
A contribuição específica das Associações e Movimentos Eclesias
A contribuição específica das paróquias
As Pastorais e a Pastoral da Sobriedade
Gesto concreto da Campanha e fundo Nacional de Solidariedade
Concluindo
ORIENTAÇÕES GERAIS DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2001
1ª Capítulo - Celebrar a Quaresma
2º Capítulo - Natureza e Histórico da Campanha da Fraternidade
3º Capítulo - Os Temas da CF no Seu Contexto Histórico
4º Capítulo - a Campanha da Fraternidade 2001 e o Projeto Ser Igreja no Novo Milênio
5º Capítulo - O Serviço de Coordenação e Animação da CF
6º Capítulo - Cronograma Geral
Avaliação da CF - 2001 (Para o nível paroquial)
Avaliação da CF - 2001 ) Para o nível diocesano)
Campanha da Fraternidade 2002 - Pedido de Material
80

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Material álcool e drogas

  • 1. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL CAMPANHA DA FRATERNIDADE 200ICAMPANHA DA FRATERNIDADE 200I TEMA: CAMPANHA DA FRATERNIDADETEMA: CAMPANHA DA FRATERNIDADE LEMA: VIDA SIM DROGAS NÃOLEMA: VIDA SIM DROGAS NÃO APRESENTAÇÃO Uma vez mais a Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) anima, em âmbito nacional, a Campanha da Fraternidade. Essa feliz iniciativa, com 37 anos, vem mobilizando, cada ano, toda a Igreja Católica no Brasil, outras Igrejas e muitas instâncias sociais a favor de vida digna para todos os brasileiros, justiça social, fraternidade e paz. Iniciamos o século XXI e o terceiro milênio, que desejamos, como propunha a CF Ecumênica de 2000, sejam sem exclusões, colocando como tema para a CF a complexa e dramática questão das drogas, em todas as suas variáveis. Trata-se de um mutirão em prol de vida de qualidade, com sentido motivador positivo de realização pessoal, social e transcendente. A escolha do tema relacionado com drogas parte da realidade de um sistema de morte, alimentado por um estilo de vida materialista, que vem se alastrando como furacão, a partir do cultivo, comercialização e consumo das mesmas, que ceifa milhares de vidas e afeta profundamente famílias e amplos setores sociais. Junto com as trágicas conseqüências do uso de drogas, crescem a violência social, a prostituição, os roubos, os assaltos e seqüestros, a corrupção política, a corrosão da dimensão ética do trabalho e a guerra entre traficantes, que mantém exércitos bem armados e bairros dominados. Além dos fiéis de nossa Igreja, convidamos a todos os cidadãos que lutam por um Brasil justo e solidário, para que somem forças para a mobilização nacional contra as drogas, seus mentores e traficantes e todos os que os apóiam; a favor das pessoas vitimadas, exploradas, destruídas, que desejamos redimidas, promovidas e reinseridas na comunidade; e a favor de todos os que se organizam para destruir esse flagelo social que arruina tanta gente, especialmente os jovens. "Este trabalho de reabilitação social também pode constituir um verdadeiro e próprio empenho de evangelização." (EA 61) Agradecemos a todos os que colaboraram para a produção de todo o material de apoio desta CF. Nossa gratidão de pastores a todos os que se envolverem nesta Campanha da Fraternidade, ajudando-a a alcançar seus objetivos, na certeza de estarmos cumprindo o mandamento novo de Jesus: o amor, preferentemente aos mais necessitados. À luz da mensagem de conversão, que perpassa a Quaresma, canalizaremos nossas energias para atender com misericórdia os crucificados na cruz das drogas, na esperança inabalável da luz da ressurreição, que nos dá a certeza de libertação e salvação. Dom Raymundo Damasceno Assis Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário-Geral da CNBB Pe. Antônio Donizetti Sgarbi Secretário-Executivo da CF 1
  • 2. Oração “Vida sim, droga não” Deus de ternura e bondade, bendito sois pelo maravilhoso dom de viver! Nós vos agradecemos, porque podemos escolher a vida e não a morte. Fortalecei-nos na solidariedade a favor das vítimas das drogas. Aumentai em nós, Senhor, a perseverança e a união, na luta contra o perverso sistema de destruição da vida. Que encontremos sempre em Vossa Palavra, na Eucaristia e na comunidade eclesial, o sustento para a caminhada e para a construção do vosso Reino. Que vosso amor, ó Pai, circule em nossos corações, nas relações humanas e na sociedade, para acelerar a vinda do mundo que a gente quer: um mundo sem ódio, sem exclusões, sem drogas, um mundo pleno de vida, amor, solidariedade e paz. Por Jesus Cristo, vosso Filho, que veio ao mundo para que todos tenham vida, na unidade do Espírito Santo. Amém. 2
  • 3. I N T R O D U Ç Ã O A Campanha da Fraternidade 1. A Campanha da Fraternidade (CF) é um momento privilegiado da ação evangelizadora e pastoral da Igreja no Brasil. Iniciada em 1962, na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, a CF alcançou dimensão nacional em 1964. A cada ano ela foi mobilizando mais pessoas, grupos e entidades religiosas e civis. No ano 2000, foi celebrada a primeira Campanha da Fraternidade Ecumênica, coordenada pelo Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), com o tema “Fraternidade, Dignidade Humana e Paz” e o lema “Novo Milênio sem exclusões”. 2. A Campanha da Fraternidade acontece na Quaresma e, como convém a esse tempo litúrgico, suscita um apelo à conversão para a justiça, o amor, a fraternidade e a paz. Como elemento motivador, ela traz sempre um tema relevante da convivência humana, que interpela a consciência das pessoas e exige conversão profunda e repostas concretas, tanto por parte da Igreja quanto da sociedade. 3. A escolha do lema “Vida sim, drogas não” é, como em todos os anos, resultado de ampla consulta aos que trabalham anualmente com a Campanha. A decisão coube à Presidência da CNBB e à Comissão Episcopal de Pastoral (CEP), em 1999. Na escolha e no tratamento do tema da CF considera-se a fidelidade ao projeto do Reino de Deus, os sinais dos tempos representados pelos desafios das condições de vida do povo brasileiro e o respeito ao período quaresmal. 4. A CF tem sido, ao longo de mais de três décadas, um processo educativo que ajuda a perceber as exigências da Palavra de Deus diante dos problemas concretos da sociedade. Desse modo, têm se conseguido três importantes resultados: a) estimular os agentes de pastoral e os fiéis a estudarem, de modo mais intenso, a Palavra de Deus e aprofundarem as conseqüências práticas da fé; b) comunicar ao público em geral, fora dos ambientes eclesiásticos, a voz profética da Igreja diante de graves questões sociais e sensibilizar a sociedade como um todo para a temática em questão; c) incentivar iniciativas pastorais concretas como resposta aos clamores da realidade analisada e às exigências da Palavra de Deus intensamente refletidas nas comunidades. A Campanha de 2001 5. Neste ano a Campanha da Fraternidade está voltada para o grave problema das drogas, que vem afetando dramaticamente milhares de pessoas, famílias e muitos setores sociais. O assunto está em seqüência às CFs anteriores, particularmente a de 1997, “Cristo liberta de todas a prisões”, a de 1983, “Fraternidade sim, violência não”, e a de 2000, que versou sobre a dignidade humana, a paz e projetou um novo milênio sem exclusões. 6. O lema “Vida sim, drogas não” obviamente mantém a relação profunda das CFs anteriores com as estruturas políticas, econômicas e sociais de nosso País. A produção e o tráfico de drogas tornaram-se hoje um grande negócio e, portanto, interferem na política e na cultura de nosso povo. O problema passou a ser estrutural, atingindo um grande número de pessoas, e é, na verdade, mundial. 7. Temos consciência de que ainda é pouco o que sabemos sobre o uso das drogas, intimamente ligado aos padrões culturais de cada sociedade. Em algumas, elas se enquadram num contexto ritual, como entre certos povos indígenas; noutras, são inseridas em procedimentos médicos, como nas sociedades modernas, e, em ambos os casos, seus efeitos nocivos são contrabalançados 3
  • 4. pelo controle social. Quando, ao contrário, o consumo de drogas escapa ao controle sociocultural tornando-as acessíveis a qualquer pessoa (inclusive a crianças e adolescentes), seus efeitos podem ser mortíferos. É o que está acontecendo hoje, devido a graves rupturas nas instituições sociais, abalos morais, mudanças culturais e a inclusão das drogas no sistema de circulação das mercadorias em geral. 8. Neste texto, serão consideradas drogas:  lícitas (livremente produzidas e comercializadas, como o fumo e o álcool);  semilícitas (distribuídas somente sob prescrição médica);  ilícitas (cuja produção, comercialização e consumo constituem infrações legais). Isso porque todas elas são substâncias cujo consumo traz sempre algum tipo de dano à pessoa ou à sociedade e, por essa razão, devem ser de alguma forma combatidas ou controladas. Mas faremos as devidas distinções entre elas quando for o caso. 9. Diante dessa realidade, é preciso fazer, como cidadãos conscientes do valor da pessoa humana e da periculosidade das drogas, primeiramente, um grande mutirão de trabalho preventivo. É nosso dever, também, acionar as instâncias competentes para o cerceamento das poderosas forças que produzem e traficam drogas e para a pronta recuperação dos atingidos por elas. Mas, acima de tudo, deve estar o trabalho em favor da dignidade humana a ser preservada, promovida e, quando necessário, resgatada. Seguindo os passos de Jesus e olhando o próximo com o seu olhar, queremos construir um mundo onde o ser humano encontre a felicidade e não precise mais buscar nas drogas um prazer ilusório. Objetivos da CF-2001 10. A Campanha da Fraternidade de 2001, em fidelidade ao que acima foi colocado, tem por objetivo geral mobilizar a comunidade eclesial e a sociedade brasileira para enfrentar corajosamente o grave e complexo problema das drogas, que arruina milhares de vidas e afeta profundamente a paz social. 11. Como objetivos específicos, a CF 2001 visa a: a) contribuir para que a comunidade eclesial e a sociedade sejam mais sensíveis ao complexo problema das drogas, às suas vítimas e às suas danosas conseqüências; b) mobilizar a própria Igreja para se colocar, mais ainda, profeticamente a favor da vida e da dignidade humana, particularmente dos empobrecidos e excluídos; c) anunciar para o novo milênio uma sociedade sem exclusões, onde a pessoa humana seja o centro, a vida não se subordine à lógica econômica, e o trabalho não se reduza à mera sobrevivência mas promova a vida em todas as suas dimensões; d) incentivar amplo movimento de solidariedade para manter viva a esperança das vítimas diretas das drogas, divulgando iniciativas já existentes e estimulando novas; e) denunciar "com coragem e com força o hedonismo, o materialismo e aqueles estilos de vida que facilmente induzem à droga"1 , bem como os mecanismos sociais do mercado “neoliberal” que, com seu padrão de consumo insaciável, aumenta a competição e o individualismo, deixando um vazio existencial nas pessoas nele integradas e a revolta nas que dele são excluídas, levando umas e outras para o mundo das drogas. Os subsídios para a CF-2001 e este Texto-base 1 Papa JOÃO PAULO II, Ecclesia in America, (EA) nº 61. 4
  • 5. 12. Como nos anos anteriores, há diferentes subsídios para a Campanha: Texto-base, manual, CD e fita cassete, cartaz, folhetos diversos. O Texto-base aqui apresentado é a peça principal porque dá a fundamentação do tema. Sua finalidade é fornecer o conteúdo básico a ser veiculado ao longo da Campanha e depois dela, embasando a reflexão, a oração e as iniciativas. Como é óbvio, a proposta da CF se liga a uma postura mais pastoral do que técnica, mais didática do que científica. O que se pretende é questionar, suscitar debates, provocar atitudes. Como se trata de Texto-base, há necessidade de ser permanentemente atualizado e, sobretudo, lido à luz de novas situações e das diversas realidades locais. 13. A primeira parte deste texto (VER) traz uma visão global do problema das drogas, que desfaz sonhos de muitas famílias; para isso, situa o complexo sistema das drogas no contexto social, econômico e político. Na segunda parte (JULGAR), o texto busca na ética, no olhar de Deus e no ensino da Igreja a luz que ilumine a prática transformadora dessa situação. A última parte (AGIR) aponta princípios para a ação, exemplificando com experiências concretas de prevenção, intervenção, tratamento e reinserção social das vítimas de drogas. PRIMEIRA PARTE: QUERO VER DE NOVO (Mc 10, 51) (VER) Alguns esclarecimentos prévios 14. A Igreja quer ver a realidade com o olhar amoroso que reconhece no outro a imagem e semelhança de Deus, e assim deixar-se interpelar pela condição humana com suas alegrias e sofrimentos, desejos e frustrações, realizações e fracassos. Esse olhar nos convoca a atitudes fraternas que se expressam tanto no cuidado pessoal (ver no dependente de drogas uma vítima a ser socorrida, sem prejulgá-lo), quanto na atuação social e política sobre as estruturas de pecado que sustentam o sistema das drogas. 15. O problema das drogas no mundo atual é complexo e polêmico. Complexo, porque só se pode falar de drogas no plural e porque o problema reside menos nas drogas enquanto substâncias entorpecentes do que em seu uso, suas conseqüências e no sistema que as sustenta. Polêmico, porque são muitos os diagnósticos e, freqüentemente, as propostas para uma política antidrogas conflitam entre si. A análise aqui apresentada mais aponta temas para estudo e reflexão do que conclusões definitivas. Para abordar o tema, trouxemos a contribuição de diferentes disciplinas cujo enfoque é relevante para a pastoral. Para que este Texto-base possa fornecer uma orientação segura a quem o consulte, evitamos endossar teses polêmicas ou que não estejam respaldadas por instituições reconhecidas pela comunidade científica. 16. Recorremos a muitas pessoas peritas no assunto, dentro e fora das instituições católicas. Gratuita e voluntariamente, elas contribuíram com suas críticas e sugestões, prestando sua colaboração por conhecerem a gravidade do problema e por confiarem no papel educativo das Igrejas cristãs. Expressando aqui nosso agradecimento a esses colaboradores anônimos, queremos dizer-lhes que a CNBB espera corresponder à sua confiança, promovendo, nesta Campanha da Fraternidade, uma nova consciência social. Ao fazê-lo, ela estará cumprindo sua missão evangelizadora, que, neste novo milênio, convoca todas as pessoas de boa-vontade a construirmos um mundo de justiça e de paz, livre dos males das drogas. 5
  • 6. No que diz respeito ao termo “droga”, convém desde já assinalar sua ambigüidade. Embora deva-se incluir entre as drogas tanto as substâncias “leves” quanto as “pesadas”, as legais e as proibidas por lei, o uso corrente associou a palavra àquelas que são objeto de tráfico ilegal. Ao falarmos de drogas, no plural e sem especificação, queremos nos referir às substâncias capazes de provocar alterações da percepção, do humor e das sensações. Incluem- se, portanto, entre as drogas também o álcool, o tabaco, certos produtos naturais (ex.: cogumelos), inalantes (ex.: cola, éter) e vários medicamentos (ex.: anfetaminas, morfina). Sonhos e pesadelos 17. Quem de nós não sonha? E sonhamos durante o sono e melhor ainda quando acordados. Faz parte da natureza humana ter utopias, alimentar esperanças e costurar sonhos que permitam descortinar horizontes novos onde reine o amor, a felicidade, a paz, o equilíbrio ecológico. Os sonhos ajudam a transformar a realidade em que vivemos, animando nossos projetos, planos e esforços para sua realização. No mais profundo de nós está esse impulso que busca uma vida plena, prazerosa, marcada pelo afeto e pelo cuidado mútuo. 18. Esses sonhos estão em nós porque fomos criados para viver em comunhão. A vida bem vivida nada tem de monotonia, ela é música, melodia, uma festa sem fim, sintonia entre diferentes que se equilibram na harmonia e fazem dela uma obra de arte. Harmonia consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza e com Deus. Ao criar a terra e depois o homem e a mulher, Deus “viu que tudo era bom” (Gn 1,31). O Apocalipse fala da recriação de “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21, 1). É o nosso grande sonho: a fraternidade cósmica, incluindo toda a criação numa nova, complexa e bela harmonia. 19. Mas quantas vezes nossos sonhos se tornam pesadelos? Sonhos povoados por monstros ao invés de criaturas normais, sonhos nos quais pessoas queridas assumem atitude agressiva, sonhos onde a ordem natural das coisas é subvertida, ficando a pessoa dominada pela sensação de impotência, incapaz de reagir a essas ameaças que fogem ao seu controle e à sua compreensão. O pesadelo é a experiência subjetiva do caos, quando a harmonia é rompida pelo ruído que impede a comunicação. 20. Essa imagem do sonho/pesadelo pode ajudar a entender por que o problema das drogas tem hoje uma nova face. Desde tempos imemoriais o ser humano tem usado substâncias entorpecentes ou estupefacientes com várias finalidades. Como artifícios para lidar com o próprio corpo (contra a insônia, a depressão ou a dor, por exemplo), favorecer a sociabilidade (o álcool para desinibir os convidados no início da festa), ou propiciar experiências religiosas (a ayahuasca usada por certos povos amazônicos). Em alguns casos, elas ajudam a realizar sonhos legítimos, sendo seus efeitos nocivos atenuados pela delimitação imposta pelo procedimento médico, pelo controle social ou pelo ritual. Quando, ao contrário, as drogas tornam-se acessíveis a qualquer pessoa (inclusive crianças e adolescentes), rompe-se o equilíbrio do consumo socialmente controlado, e os danos aumentam e podem ser mortíferos. Nesse caso, as drogas não ajudam a realizar sonhos; antes, transformam a vida em pesadelo. É o que está acontecendo hoje, devido à transformação das drogas em mercadorias disponíveis a qualquer um e impostas por pessoas de interesses espúrios. 21. A realidade das drogas abala muitos sonhos, transformando-os em pesadelos. O fumo, o álcool, os estimulantes, os tóxicos e entorpecentes estão mais perto de nós do que por vezes suspeitamos ou queremos admitir. Há um enorme exército de produtores, agentes financeiros e traficantes comandando o mundo das drogas. É muito dinheiro em jogo. É muita vida desperdiçada. De nada adianta fugir da realidade. Ao contrário, devemos encará-la de frente para conhecer o drama das drogas em toda sua complexidade e assim nos colocarmos em posição adequada para enfrentá-lo e superá-lo. O complexo sistema das drogas 22. Quando se fala em drogas, pensamos saber de que se trata. Temos geralmente, pelo menos, um conhecimento prático devido a algum caso de drogas ocorrido na própria família, na 6
  • 7. vizinhança ou com amigos. Alguém viciado em cigarro que não consegue sequer dormir direito, outro com a saúde em frangalhos por causa da bebida, alguém sem capacidade para trabalhar por causa da maconha, e ainda outro vivendo na marginalidade por causa da cocaína ou do tráfico. Além disso, muita coisa se sabe por livros, revistas, jornais, rádio e TV. A mídia nos bombardeia com a propaganda de alerta contra os males e perigos das drogas, mas ao mesmo tempo estimula seu uso através de filmes, reportagens e matérias nas quais o consumo de drogas parece comportamento normal a ser imitado por quem queira identificar-se com as personalidades da moda. Não devemos nos ater a essa informação propagandística se queremos entender o mundo das drogas, muito mais complicado do que parece à primeira vista. Precisamos antes de mais nada desconfiar do que já pensamos saber por experiência vivida ou pelos meios de comunicação, para então indagar mais seriamente sobre o tema. 23. Essa indagação pode começar de um fato cotidiano: muitas pessoas adultas quando têm nas mãos uma garrafa de bebida alcoólica se contentam com alguns goles. Nesse caso, mesmo sendo uma droga perigosa, o álcool não lhes faz tanto mal. Já outras pessoas, se tomam um trago não conseguem mais parar e se embebedam. Ou seja, a mesma substância provoca efeitos diferentes conforme as condições da pessoa que a ingere. O problema da droga deve, portanto, ser visto dentro do contexto sociocultural e das condições físicas e psíquicas que envolvem seu consumo. Deixando de lado os raros casos de quem produz toda droga que consome, vamos abordar o problema situando-o no interior de um complexo sistema de relações entre produtores, intermediários e consumidores de drogas, que chamaremos sistema das drogas. 24. O elemento mais visível desse sistema é o usuário de alguma droga. Quando a pessoa atinge alto grau de comprometimento no uso da droga, pode ter sua vida praticamente arruinada. Salvo exceções, o usuário não tem acesso à droga se ela não lhe for oferecida (normalmente, vendida) por alguém que age como intermediário entre a produção e o consumo. Este pode ter uma ocupação lícita (quem vende cigarro, bebida ou produtos farmacêuticos) ou ilícita (narcotraficante, farmácia que vende anfetaminas e estimulantes sem prescrição médica, ou quem vende cola de sapateiro a crianças). A relação entre usuário e intermediário forma a metade mais visível do eixo do sistema das drogas e tem sido o alvo mais freqüente da repressão. No caso das drogas ilícitas, esse segmento do eixo engloba desde o grande traficante que controla todo o sistema, até o "avião" que faz a entrega ao usuário. 25. O intermediário, por sua vez, só pode dispor da droga se ela lhe for passada pelo produtor. Este é o que cultiva a planta ou potencializa seu princípio ativo (no caso da coca e dos opiáceos), ou a indústria (farmacêutica, do fumo, do álcool, de solventes). Temos aí a segunda metade do eixo do sistema: a relação entre produtor e intermediário. 26. As intricadas relações entre essas duas metades de um mesmo eixo, que vai do produtor ao consumidor final, configuram o sistema das drogas. A rigor, seriam vários subsistemas, um para cada tipo de droga, mais ou menos ligados entre si e com outros sistemas (como o crime organizado, o tráfico de armas, a prostituição etc.). No caso das drogas ilícitas, o elemento mais visado desse sistema é o traficante, por ser quem faz a mediação entre o produtor e o consumidor. Não é ele, porém, quem detém a posição mais forte no complexo, e sim o agente financeiro cujo capital põe em movimento todo o sistema, e que, de alguma forma, detém o comando tanto da produção quanto do tráfico ou intermediação comercial. Seria, portanto, ingênuo reduzir o sistema das drogas à sua parte visível, que geralmente é apresentada na mídia na figura dos pequenos produtores (plantadores de coca ou maconha), pequenos traficantes (que fazem a entrega direta) e consumidores presos por estarem drogados ou portando alguma droga (geralmente pessoas pobres). 27. Cabe aqui uma consideração sobre o narcotráfico, cujas redes permeiam todo o planeta, movimentando valores estimados em torno de US$ 400 bilhões por ano. Apesar de sua clandestinidade, seu poder alcança muita gente, tanto na fase de produção e de industrialização, quanto nos inúmeros depósitos para a distribuição. A mídia já fez muitas reportagens sobre o domínio desse comércio, que hoje é um dos setores que oferecem melhores salários a quem nele ingressa. Sua imensa malha integra produtores, agentes financeiros, traficantes e consumidores. Enquanto os poderosos chefes dessa rede dispõem de muitos meios para escapar da repressão policial, inclusive fazendo a “lavagem de dinheiro”, que lhe dá a aparência de comércio legal, os pequenos traficantes e os usuários de droga acabam atrás das grades ou mortos pelos becos das 7
  • 8. favelas. Fecha-se assim o círculo vicioso e maldito. Os excluídos da sociedade de mercado acabam se tornando as pessoas mais expostas à violência do narcotráfico. As chacinas e os conflitos entre gangues nas grandes cidades, a guerra pelo controle do tráfico, as manobras de introdução da droga nas escolas e lugares de lazer, a precariedade explosiva do sistema carcerário trazem estampada nos corpos das vítimas a sua origem e social. 28. Nosso país, nosso estado, nosso município e, provavelmente, até nosso bairro e edifício está conectado a esse vasto sistema das drogas. Ao contrário da imagem corrente do "mundo das drogas" como um mundo à parte, freqüentado apenas por marginais e pessoas desclassificadas, são muitos os fios de conexão entre o sistema das drogas e a sociedade em geral. Essas conexões ficam mais claras quando se levam em conta todas as conseqüências diretas e indiretas do tráfico e do consumo de drogas. Mesmo pessoas que nunca consumiram drogas tornam-se vítimas delas quando são assaltadas por gente drogada ou que rouba para comprar drogas, quando sofrem a violência que cerca as bocas de fumo, quando sofrem acidente de trânsito por causa de motoristas embriagados, quando são governadas por políticos eleitos com dinheiro do narcotráfico e com ele comprometido... E a lista poderia ir longe. O sistema das drogas causa muito mais vítimas do que parece à primeira vista. Não apenas o tóxico-dependente, mas de algum modo, todos somos vítimas de sua ação anti-social. Indicador particularmente grave do esgarçamento do tecido social, é o aumento da violência e da criminalidade, em grande parte por causa da droga. De 1980 a 1996, a taxa de assassinatos dobrou no Brasil, passando de 13 para 25 por ano em cada 100 mil habitantes. Mais impressionante é o fato de que esse índice sobe a 44,8 em cada 100 mil jovens entre 15 e 19 anos de idade e, na mesma faixa etária, chega a 215 mortes no Estado do Rio de Janeiro e a 134 no Estado de São Paulo. Estamos aqui evidentemente diante de um daqueles “pecados sociais que clamam ao céu”, resultado do comércio de droga, tráfico de armas, corrupção, desigualdade social... (DGAE – Doc. 61 – CNBB – p. 82) 29. Cabe então a pergunta: se somos todos vítimas, quem seriam os culpados? Já houve um tempo em que o mundo das drogas parecia ser dividido entre “mocinhos” e “bandidos”, como se todo o mal pudesse ser de exclusiva responsabilidade de uma única parte. Os países consumidores acusavam os países produtores; estes jogavam a culpa no narcotráfico; já os traficantes alegavam estar atendendo à demanda de consumidores ricos. Essas acusações mútuas não levaram a coisa alguma e hoje sabemos que a melhor atitude diante do sistema das drogas é compartilhar as responsabilidades. Somos co-responsáveis, no mínimo por omissão. 30. Essa responsabilidade compartilhada nos obriga a rever certas atitudes simplistas que reduzem o problema a uma questão individual, fechando os olhos para a complexidade do sistema e limitando-se a propor terapias de recuperação. Nunca é demais lembrar os estragos feitos pelo narcotráfico, sobretudo nas periferias, pensar nos gastos públicos com o tratamento de saúde dos fumantes, ou ainda no custo social do alcoolismo e tudo que ele acarreta: acidentes de trânsito, desemprego, brigas e morte, desmanche familiar... e há ainda a disseminação do vírus HIV entre usuários de drogas injetáveis, o aumento da violência e a extensão do crime organizado a quase todas as esferas da sociedade. Se é certo que a terapia é indispensável, importa também considerar outras ações possíveis contra o sistema das drogas, dentro do espírito de responsabilidade compartilhada. 31. Diante da magnitude do sistema das drogas hoje, a necessidade de compartilhar as responsabilidades tornou-se mundial, pois nenhum país é capaz de impedir sua expansão sem a colaboração de outros. Tal colaboração internacional não pode ser submetida à hegemonia de um Estado, nem servir de pretexto para a violação da soberania nacional de outros. Respeitando a autodeterminação de cada povo, não escamoteando interesses particulares, nem reduzindo o problema a apenas um de seus elementos (policial, educativo, médico, moral...), a humanidade pode hoje enfrentar adequadamente o problema das drogas. O primeiro passo é a tomada de consciência de nosso ainda limitado conhecimento sobre ele, para, em seguida, assumirmos a co- responsabilidade com outros países, grupos, igrejas, associações, movimentos, enfim todas as forças sociais que desejam ver a humanidade vivendo mais feliz sobre a face da terra sem perder o autocontrole por causa de drogas. 8
  • 9. Esclarecendo alguns pontos 32. Ao estudarmos o vasto mundo das drogas, elegemos enfocar o problema da dependência, como motivador principal para esta Campanha da Fraternidade. Vamos aqui descrever de forma resumida as drogas mais usadas no Brasil, alertando para seus efeitos nocivos, e depois analisaremos mais de perto as possíveis causas da dependência de drogas, inserindo o problema no seu contexto sociocultural. Em segundo lugar, vamos esclarecer certos termos e conceitos de nossa abordagem, sempre buscando uma visão mais global, no sentido de questionar algumas idéias correntes e encarar a realidade da forma mais objetiva possível. Em terceiro lugar, obviamente, está a proposta de uma mobilização total de nossa sociedade para buscar os meios possíveis mais eficazes para resolver esse dramático problema do mundo de hoje. O que nos move nesse projeto é a dinâmica da fé cristã, encarnada na caridade que vê, se compadece diante da vítima, tem a iracúndia misericordiosa de Deus para com os responsáveis pela tragédia e age para sanar a situação, conforme vemos na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 23-37). Ao longo de sua história, ao explorar as potencialidades da natureza, a humanidade foi descobrindo uma grande variedade de substâncias vegetais que, adequadamente preparadas, podem provocar sensações agradáveis ou suprimir dores e angústias. Em geral, elas são usadas com finalidade terapêutica, religiosa ou lúdica, e assim inseridas nas normas culturais de cada povo. O problema aparece quando o consumo dessas substâncias foge ao controle social, como ocorre hoje devido à sua exploração comercial, tornando-as um verdadeiro drama para a convivência humana. . 33. Os dados mostram que, apesar dos esforços feitos até agora, o consumo das várias drogas vem atingindo formas e proporções cada vez mais preocupantes. Mas é preciso ir além dos fatos e procurar as causas, atacá-las. É evidente que o consumo abusivo de drogas não deve ser visto apenas como resultado de patologias individuais, mas como um fato social. E aqui está um grande indicativo de causa: “uma sociedade como a nossa, cada vez mais pragmática, insensível, competitiva, consumista e individualista, é uma sociedade que favorece o uso de drogas" (2 ). Ela gerou um mundo onde a existência cotidiana se tornou ao mesmo tempo tão árdua e tão vazia de sentido, que os tóxicos funcionam como “amortecedores” nas relações do ser humano consigo mesmo e com o mundo. Há quem use a expressão “civilização química” para designar essa realidade. 34. Muitas entidades têm feito pesquisas e estudos para orientar uma intervenção eficaz contra os males provocados pelo uso indevido de drogas, mas freqüentemente elas se deparam com barreiras, de grandes proporções, como os interesses econômicos envolvidos na produção e venda de drogas (lícitas e ilícitas), a incompreensão de quem não se sente diretamente afetado, e a limitação de recursos humanos e materiais adequados a um enfrentamento político da questão. 35. As políticas públicas do Brasil e de muitos outros países têm concentrado suas energias na repressão às substâncias ilícitas e a seus usuários, mas pouco tem feito no campo da prevenção ao seu uso e da educação para a saúde e quase nada para eliminar as verdadeiras causas da disseminação das drogas3 . Suas campanhas publicitárias parecem ter tido pouco efeito além de provocar um certo medo das drogas ilícitas, com o risco até mesmo de provocar curiosidade em experimentá-las. Já as drogas lícitas, em particular o tabaco, o álcool e as anfetaminas, não têm merecido a devida atenção. Embora o Ministério da Saúde venha fazendo campanha contra o fumo, esta é contrabalançada por uma publicidade sutil que identifica o fumo e o álcool com sucesso, poder, bom gosto e “finesse”.4 Mas, o que é mesmo droga? 36. Nossa abordagem, resultado de muito estudo, considera como “droga” os psicotrópicos, que, introduzidos no organismo humano, provocam alterações no sistema nervoso central, em 2 Cf. Ana Carolina L. L. da COSTA e Elizabeth Costa GONÇALVES, A Sociedade, a Escola e a Família diante das drogas, in Richard BUCHER, (Org) As drogas e a vida, uma abordagem psicossocial, São Paulo, Editora Pedagógica Universitária Ltda. 1988, p. 48- 49 3 A Câmara dos Deputados aprovou, no dia 9 de agosto de 2000, a proibição da propaganda de cigarros em rádios, TVs, jornais, revistas, outdoors e patrocínio das marcas de cigarros a eventos culturais e esportivos. Até o momento o projeto não foi apresentado ao Senado. 4 Relatório do 1o Fórum Nacional Antidrogas,1998, Secretaria Nacional Antidrogas -SENAD/ Presidência da República. 9
  • 10. particular alterações da percepção, do humor e das sensações, induzindo, ainda que temporariamente, sensações de prazer, de euforia, ou aliviando o medo, a dor, as frustrações, as angústias etc. Essa definição vai além do uso corrente, que só qualifica como “droga” psicotrópicos proibidos por lei. 37. A qualidade e a intensidade das alterações produzidas pelas substâncias psicotrópicas dependem de vários fatores. Os mais importantes são: suas propriedades farmacológicas, a quantidade ingerida, as características particulares da pessoa que ingere, as expectativas em relação aos efeitos da droga e as circunstâncias que envolvem o uso 5 . No caso do álcool, por exemplo, qualquer dose ingerida por crianças é nociva. Algumas drogas e seus efeitos: As drogas podem ser classificadas como depressoras, estimuladoras ou perturbadoras. Abaixo estão as mais freqüentes no Brasil. A) Depressoras 1. Álcool: é uma droga lícita e seu uso é socialmente estimulado. Seus efeitos sobre o comportamento dependem da quantidade ingerida. O álcool provoca diversos problemas de saúde como a gastrite, a cirrose hepática, dormência nas pernas. 2. Inalantes ou Solventes: são produtos voláteis usados em atividades industriais (ex.: cola de sapateiro), comerciais e domésticas. Os inalantes evaporam à temperatura ambiente e podem ser “cheirados”. Têm propriedades anestesiantes e tranqüilizantes, induzem à euforia e ao delírio, provocam a sensação de desequilíbrio. São tóxicos para o sistema nervoso, fígado e coração. A longo prazo, provocam também perda de peso e lesões no cérebro. B) Estimuladoras 3. Anfetaminas ou "Bolinhas": obtidas em laboratório, são produtos sintéticos. Podem ser comprimidos ou injetáveis. São drogas ilícitas, exceto para uso médico, como anorexígenos. Estão contidas nos moderadores de apetite. Trazem sensação semelhante à da cocaína. Após os efeitos, surgem angústia, pânico, medo, idéias de perseguição, cansaço intenso, depressão, perda de apetite, suor, irritação de pele, entre outras. 4. Cocaína: é um dos mais potentes excitantes do sistema nervoso central. Em estado natural, a coca da região dos Andes é mascada para disfarçar a fadiga, a fome e a sede. Quimicamente potencializada, a coca torna-se um pó branco capaz de estimular o estado de alerta, reduzir o sono e acelerar o pensamento. Seu uso pode causar lesões no septo nasal, alteração do ritmo cardíaco, provocando taquicardia e palpitações. Seu uso continuado provoca graves danos à pessoa. 5. Crack: é o nome dado à cocaína transformada por meio de soda cáustica ou bicarbonato de sódio, para se tornar própria para fumar. Pode atingir grau de pureza de até 90%, com a potência maior que a cocaína em pó. Com muita facilidade cria dependência. Inicialmente, o usuário tem a sensação de confiança em si mesmo, de poder e excitação. Após seu uso, segue-se um período de depressão, paranóia e outros sintomas. A pessoa pode tornar-se violenta e suicida em potencial. É conhecida como a “ droga da morte”. 6. Merla: produzida a partir da pasta básica da cocaína com o acréscimo de querosene, gasolina, metanol ou ácido sulfúrico, é uma droga de baixo custo e rápida dependência. Provoca emagrecimento acelerado, problemas respiratórios, perda de dentes, feridas, insônia e outros sintomas físicos. No nível psicológico, traz sentimentos de perseguição, medo e paranóia. 7. Nicotina: aspirada pelo fumo do tabaco, causa inúmeros malefícios cardiológicos e respiratórios. A nicotina produz dependência física. A condição de droga lícita favorece seu uso, embora já tenha sido citada como causadora de 24 doenças. C) Perturbadoras 8. Maconha: é o nome popular de um arbusto de origem asiática. Suas folhas são secas e transformadas em cigarro: o “baseado”. A longo prazo e intensamente usada, provoca o aumento do apetite, transpiração excessiva, tremores e ansiedades, aumento dos batimentos cardíacos e estados alterados de consciência. 9. Ecstasy: droga sintética, é uma mistura de anfetamina e alucinógenos, feita em laboratório e consumida em forma de comprimido ou pílulas. Deixa a pessoa extremamente excitada, provoca euforia e desejo de contato físico. Passado o efeito, a pessoa sente náuseas, pânico, cansaço e fadiga. Em usuários crônicos, pode provocar depressão, demência e delírio. 5 Cf. Elizabeth Costa GONÇALVES, Alguns conceitos referentes à toxicomania, in Richard BUCHER, (Org) As drogas e a vida, uma abordagem psicossocial, São Paulo, Editora Pedagógica Universitária Ltda. 1988, p. 10. 10
  • 11. Toxicomania e dependência 38. A toxicomania foi definida pela Organização Mundial da Saúde - OMS - como um estado de intoxicação periódica ou crônica, nocivo ao indivíduo ou à sociedade, causado pelo uso repetido de uma droga, com três características básicas: a) desejo irresistível ou necessidade imperiosa de consumir a droga e procurá-la de todas as maneiras; b) tendência de aumentar as doses; c) dependência psicológica, às vezes física, em relação aos efeitos da droga.6 39. A dependência de alguma droga é um caso particular da situação mais ampla da dependência que, desde o nascimento, relaciona todo ser humano com objetos, pessoas e situações, tornando- as indispensáveis para seu bem-estar, auto-estima e equilíbrio psicológico. Mas certas dependências podem causar graves prejuízos, como acontece com a droga. Neste caso, pesam muito as carências individuais dos sujeitos, os possíveis efeitos da droga, e a sensação de prazer dela resultante. Apesar das críticas que podem ser feitas, é corrente a distinção entre a dependência física e psíquica. 40. Fala-se de dependência física quando a droga muda intensamente o funcionamento do organismo a tal ponto que, se o indivíduo deixa de usá-la, aparece um conjunto de sintomas físicos chamados “síndrome de abstinência”. O exemplo mais conhecido é o do “delirium tremens”, que aparece em alcoólicos crônicos quando privados da bebida. O delírio começa com tremores exagerados, ansiedade, insônia, fraqueza, pesadelos, suores abundantes, dores, alucinações visuais, desidratação, crises convulsivas e, se não houver tratamento adequado, até mesmo a morte. 41. A definição de dependência física inclui a noção de tolerância, que é o processo de adaptação do organismo a determinada droga e, consequentemente progressivo enfraquecimento dos seus efeitos. O resultado é que o usuário sente necessidade de aumentar cada vez mais as doses para continuar obtendo os mesmos efeitos. 42. Há dependência psíquica quando o usuário sente necessidade imperiosa de repetir o uso da droga movido pela lembrança do prazer que seu efeito proporciona. O indivíduo, sem a droga, não chega a ter os mesmos sintomas descritos para a “síndrome de abstinência”, mas sofre psicologicamente, sente-se desamparado, inseguro, ansioso, angustiado, desanimado e pode até sentir dores de origem psicossomática. Esses sintomas variam muito de pessoa para pessoa. * O termo “drogado”, embora de uso corrente é impreciso e grosseiro. Pode-se chamar de “consumidor de drogas” aquele que consome drogas com intervalos irregulares e, por isso tem maior possibilidade de deixá-las. * É denominado “toxicodependente” aquele que toma regularmente um remédio ou droga, mas com capacidade para deixá-la ainda que a custo de muito esforço. * Denomina-se “toxicômano” aquele que, definitivamente, passa boa parte do seu tempo e de sua vida na busca de drogas, das quais já não pode mais se desfazer.7 43. Cabe também aqui considerar a distinção entre drogas “leves” e “pesadas”. Há quem rejeite tal distinção porque ela alivia o peso da condenação social e da repressão policial sobre drogas como a maconha, o fumo e o álcool que, embora sendo imediatamente menos prejudiciais a quem as consome, acabam sendo tão ou mais nocivas à sociedade pelo seu efeito massivo. Nessa perspectiva, o fumo e o álcool devem receber a mesma estigmatização das demais drogas, uma vez que tal classificação não deve ser apenas de ordem técnica, mas embutir uma Política Social que vise à eliminação de todas as drogas. Quem, ao contrário, considera um direito individual o consumo de drogas “leves” desde que não prejudique as demais, postula uma Política Social que reprima a indução de pessoas indefesas ao uso de drogas e concentra todo esforço na eliminação das drogas “pesadas”. Entre essas duas posições polares, podem-se encontrar diferentes concepções quanto à política de controle e repressão às drogas. 6 Cf. Organização Mundial da Saúde. Apud Drogas: Conceitos, mimeo, s/d. 7 Dicionário Interdisciplinar da Pastoral da Saúde, Centro Universitário São Camilo, São Paulo, Paulus, 1999. 11
  • 12. 44. Enfim, para explicar a toxicomania é preciso ter em mente que ela “é o encontro de um indivíduo, um produto (a droga), e um momento sociocultural.”8 Esse modelo de compreensão do fenômeno da dependência parece ser o mais adequado por abranger tanto drogas “leves”, como o álcool, quanto as mais “pesadas”. Em todas as situações de dependência, é preciso ter presente o tripé “pessoa / substância química / contexto sociocultural”: a análise cuidadosa das relações entre esses elementos oferecerá uma visão mais realista do problema, evitando simplificações em que um dos três elementos parece explicar o todo. Procurando explicações mais profundas 45. Em geral, nosso contato direto com o problema das drogas se dá quando alguma pessoa de nossas relações torna-se tóxicodependente ou alcoólico. Mas o problema das drogas vai muito além de nossas relações pessoais ou familiares. Ele pode ser percebido na “boca de fumo”, que traz medo e insegurança às pessoas, nas propostas recebidas por pequenos agricultores para plantar maconha, na corrupção que mancha setores da polícia e dos poderes constituídos, nas denúncias de “lavagem” de dinheiro, ou nos escândalos desvelados pela CPI do Narcotráfico. Ao nos depararmos com essas realidades, percebemos que o mundo das drogas está muito próximo de nós. E aí nos fazemos muitas perguntas: por que tanta gente consome regularmente drogas? Como explicar o avanço do narcotráfico? Será que não há formas de resistir? Onde fica o sonho de vida agora ameaçado pelo pesadelo de substâncias que só nos alienam da realidade? 46. A resposta a essas perguntas não é simples nem direta. Não podemos reduzir a raiz do problema a uma questão meramente pessoal. Tampouco se pode falar da crise sócio-econômica e política como causa primeira, uma vez que os Estados Unidos são o maior consumidor mundial de drogas. Nem instituições como a família ou a escola podem ser unicamente responsabilizadas. Se queremos alguma luz sobre tais perguntas, precisamos ter a coragem de tomar o longo caminho da análise e da reflexão sobre essa realidade, muito complexa. 47. Na verdade, estamos diante de um conjunto de fatores que, combinados, formam o pano de fundo para se entender esse complexo campo das drogas. Suas conseqüências são visíveis a olho nu. Suas causas, porém, se escondem por trás de aparentes certezas que mais facilmente iludem do que revelam. Além do mais, o consumo freqüente de cada tipo de droga tem motivações distintas de uma para outra, e não podemos reduzir tudo a um único fator explicativo. O uso de drogas 48. O uso e o abuso de drogas tem crescido de modo significativo. Cada vez mais diminui a idade do primeiro contato com as drogas. A ajuda clínica tem mostrado o desencanto da população jovem, a mais sacrificada, quando os valores familiares e educacionais não conseguem assumir o papel integrador. Numa sociedade carente de modelos estáveis de identificação, principalmente para a faixa etária em que os valores ainda estão em gestação, instala-se um sentimento de angústia e insegurança. As drogas tornam-se então atraentes, sendo vistas como solução rápida e desejada contra a angústia, embora não alterem a situação real.9 49. São muitas as motivações para o consumo de drogas. As motivações de natureza coletiva normalmente regulam e restringem o seu uso a determinadas ocasiões, lugares ou companheiros. É o caso da bebida usada com moderação, entre os colegas depois do expediente, nas festas ou na ceia de Natal. Dificilmente o consumo de drogas, limitado a situações como essas, provocará dependência. Outras são as conseqüências das motivações individuais, que vão da busca de prazeres intensos e imediatos (o que pode significar ausência de perspectivas, ou descrença num futuro satisfatório), à dificuldade de encarar o mundo com seu próprio potencial (o que pode revelar a existência de problemas psicológicos). Quando essas motivações são muito fortes, busca-se uma alteração da consciência pelo recurso a alguma droga. Aí pode começar a dependência e, com ela, os problemas mais graves para o usuário e as pessoas que o cercam. 50. O estado de fragilidade ou desequilíbrio psicológico parece ser um importante motivador para 8 III Curso de Introdução ao Estudo das Toxicomanias e Marginalidades - UFG, Goiânia-GO,1997. 9 Cf. Cf. Ana Carolina L. L. da COSTA e Elizabeth Costa GONÇALVES, A Sociedade, a escola e a família diante das drogas, in Richard BUCHER, (Org) As drogas e a vida, uma abordagem psicossocial, São Paulo, Editora Pedagógica Universitária Ltda. 1988, p. 47- 54. 12
  • 13. o recurso às drogas. Sendo a adolescência um período de instabilidade emocional e biológica, ela torna-se um momento propício ao uso experimental das drogas. De fato, “o último levantamento do CEBRID, realizado em 1997, revela que o percentual de adolescentes que já consumiram drogas (uso na vida10 ) entre os 10 e 12 anos de idade é altíssimo: 51,2.% usaram álcool; 11% usaram tabaco; 7,8%, solventes; 2%, ansiolíticos e 1,8% já se utilizaram de anfetamínicos nessa faixa etária. Nas 10 capitais pesquisadas, cresceu a tendência para o uso freqüente de maconha entre crianças e adolescentes. O uso de cocaína e de álcool também aumentou em 6 capitais. A situação agrava-se entre as crianças e adolescentes em situação de rua. Segundo o levantamento de 1993, o uso de drogas por essa população apresenta os seguintes percentuais: 82,5% em São Paulo, 71,5% em Porto Alegre, 64,5% em Fortaleza, 57% no Rio de Janeiro e 90,5% em Recife.11 As drogas mais comumente usadas por crianças de rua são: o tabaco, os inalantes, a maconha.” 12 Tal realidade desrespeita os direitos reconhecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente. Rostos desfigurados 51. Quantas vezes encontramos pessoas alcoolizadas estiradas nos caminhos e calçadas? Mas é dentro de casa que o álcool provoca maiores estragos. Discussões, desavenças, separação e, no extremo, briga, agressão física e quebradeira são os resultados mais diretos. As mulheres e crianças costumam ser as mais atingidas, sofrendo às vezes por anos a fio e em silêncio os efeitos do alcoolismo de marido, filhos ou irmãos. Uma grande quantidade de famílias sofre o drama de conviver diariamente com um alcoólico dentro de casa. Sofre a pessoa dependente e sofrem seus familiares, principalmente quando é a própria mãe a alcoólica. Por outro lado, na hora de se livrar da bebida, devido aos laços afetivos, a família co-dependente, que procura a libertação, constitui normalmente o maior suporte e apoio no processo de cura. 52. Das pessoas que você conhece, quantas são fumantes? O cigarro fascina muitos jovens e adolescentes, sendo muitas vezes apresentado pela propaganda como símbolo de status adulto e independente. Felizmente, já há leis que limitam sua propaganda e proíbem o cigarro em alguns ambientes públicos, aviões e ônibus. Sabe-se que além do câncer de pulmão, muitos outros males são causados pelo fumo, não apenas nos usuários mas também nas pessoas que, estando perto do fumante, inalam a fumaça sem querer. Também aqui vale sublinhar a importância do afeto e do carinho dos amigos e familiares na hora em que o fumante deseja se livrar do cigarro, o que nem sempre é fácil. 53. Popularizada pelos grupos de rock nos anos 60, a maconha é o entorpecente mais comum entre os jovens, sendo consumida também por adultos de todas as camadas sociais. A maconha tem sido considerada a porta de entrada para drogas “pesadas”. Devido à facilidade de produção, são muitos os pontos de venda da maconha, apesar de seu tráfico e seu porte constituírem transgressão penal. Seu uso por tempo prolongado torna a pessoa apática e, no limite, incapaz de um trabalho produtivo. 54. A palavra “droga” está hoje associada principalmente à cocaína e ao crime organizado em torno de seu tráfico em âmbito mundial. Comercializada em forma de pó branco, é mais usada por adultos que por jovens. Normalmente, o pó é aspirado, podendo também ser injetado na veia, uma vez diluído em água. Há quem fume a pasta da coca, produto grosseiro extraído de folhas tratadas com solventes como querosene, gasolina, ácido sulfúrico ou metanol. Seu uso aumenta a pressão arterial e provoca taquicardia. Em casos extremos, pode causar parada cardíaca. 55. Dois subprodutos da cocaína, porém, muito mais danosos ao organismo humano, são o crack e a merla, cujo preparo possibilita a ingestão por meio do fumo, que leva a cocaína diretamente ao pulmão e, daí, ao cérebro. Provoca um prazer intenso mas rápido, levando o usuário ao desejo incontrolável de repetir muitas vezes a dose (é o que chamam fissura). Droga mortífera para muitos meninos e meninas de rua, especialmente em São Paulo, Recife, Salvador e Brasília, mas também para canavieiros do Nordeste. Seu uso continuado deixa o dependente num estado lastimável, porque perde as noções de higiene, torna-se violento, irritado e toma atitudes bizarras devido à paranóia. Se as drogas em geral constituem um caminho sem volta, neste caso a vida 10 Uso na vida - quando a pessoa fez uso de qualquer droga pelo menos uma vez na vida. Cf. José Carlos F. GALDURÓZ et. alii IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre Estudantes de 1º e 2º Graus em 10 Capitais Brasileiras - 1977 - Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina, Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). São Paulo, SP. 1997, p. 127. 11 SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas. Relatório do 1º Fórum Nacinal Antidrogas, Brasília, DF, 1998, p. 13 12 Ibdem. Relatório do 1º Fórum Nacional Antidrogas, novembro de 1998. 13
  • 14. costuma ser tão curta e trágica que muitos traficantes são contrários à sua produção para não perderem clientela. 56. As drogas injetáveis (no Brasil, a cocaína; noutros países, também a heroína) estão entre as mais mortíferas para seus usuários porque, além de seus riscos intrínsecos, favorecem a transmissão do vírus HIV (AIDS), já que seu consumo costuma ser feito em grupo. O resultado da injeção intravenosa provoca um prazer intenso, porém mais passageiro do que a aspiração nasal, o que aumenta a “fissura” e, consequentemente, leva a um consumo fora de controle. Seus efeitos sobre a pessoa são arrasadores. O pesadelo da família 57. Combinadas com outros fatores de caráter estrutural, as drogas interrompem o sonho de convivência harmoniosa. Quando a droga entra pela porta, a paz sai pela janela. A família, em muitos casos, se torna refém do traficante. Os gastos com entorpecentes ou com o álcool levam muitas famílias a perderem bens acumulados com o sacrifício de anos. Além disso, o medo de represálias passa a rondar a casa e, com isso, sofrem todos os membros da família. 58. Aspecto importante é a mudança no papel da mulher na estrutura familiar. Por diversas influências, está acontecendo uma sadia superação do patriarcalismo no lar. Com novos valores referentes à dignidade humana e, também, ao se tornar economicamente autônoma, a mulher tem, positivamente, mais participação nas decisões na família, e o mesmo ocorre com os filhos. Essa reestruturação de papéis, porém, precisa vir acompanhada de um novo modo de ser presença, como pai e mãe, junto aos filhos, hoje muitas vezes realizada por meio de verdadeiras chantagens. O que mais se vê é que, além da ausência dentro do lar, por parte do pai, o que já é secular, soma-se agora a ausência da mãe, ocasionando, em muitos casos, filhos órfãos de pais vivos. O custo psico-afetivo e financeiro dessa ausência torna-se cada vez mais alto: personalidade imatura, presentes, promessas, tratamentos psicológicos, babás etc. É óbvio que, hoje, o casal que decide formar família necessita trabalhar bem esta questão da presença eficaz de ambos junto aos filhos, já que antes a carga maior ficava com a mãe. Pode-se afirmar que uma das grandes causas da busca da droga pelas crianças, adolescentes e jovens provém do vazio afetivo existente na família. 59. Um outro elemento a ser considerado em relação à família é o das crises entre marido e mulher, que, obviamente, repercutem profundamente nos filhos, levando-os às vezes à fuga nas drogas. O problema atinge, não raro, os próprios adultos. O desrespeito, as traições, o rompimento e a recomposição de laços matrimoniais são, hoje, cada vez mais freqüentes entre os casais. E a mídia tripudia, com a maior liberalidade, sobre essas questões, tornando-as corriqueiras e normais na opinião pública. Só que essas situações são sempre vividas, na prática, com muito sofrimento, e as principais vítimas são os filhos. Nem sempre, nos casais, há maturidade, humildade e amor, que, se é verdadeiro, tem sempre o ingrediente da renúncia, que os ajuda a encontrarem uma solução menos traumática para todos, principalmente os filhos. Daí, muitas vezes, a equivocada busca de bálsamos na bebida, no fumo, nos calmantes, e, por fim, em entorpecentes, que, em casos desesperados, parecem oferecer a saída ilusória para o sonho da felicidade. Um caso entre tantos outros “Queridos pais, Imagino a raiva que têm de mim. Sim, fui muito ingrata com vocês. Larguei os estudos, tornei-me viciada, desapareci. Vim para São Paulo com um amigo e, aqui, passei a viver de pequenos expedientes. Na verdade, afundei-me na lama. O fato é que, agora, estou na pior. Peguei AIDS. O que temo não é a morte. Ela é inevitável para todo nós. Tenho medo é de ficar sozinha. Preciso de vocês. Mas também sei que os maltratei muito e posso entender que queiram manter distância de mim. Cada um na sua. É muito cinismo da minha parte vir, agora, pedir socorro. Mas, sei lá, alguma coisa dentro de mim dá forças para que eu escreva esta carta. Nem que seja para saberem que estou no início do fim. 14
  • 15. Um dia qualquer, passarei aí em frente de casa, só para dar um último adeus com o olhar. Se por acaso tiverem interesse que eu entre, numa boa, prendam, à goiabeira do jardim, um pano de prato branco ou uma toalha de rosto. Então pode ser que eu crie coragem e dê um alô. Caso contrário, entendo que vocês têm todo o direito de não querer carregar essa mala pesada e sem alça na qual me transformei. Irei em frente, sem bater à porta, esperando em Deus. Que, um dia, a gente se reencontre no outro lado da vida. Beijos da filha ingrata, mas que ainda guarda, no fundo do coração, com muito amor, (sic.). Clara Três semanas depois, antes das cinco horas da manhã, Clara desembarca na rodoviária e toma um ônibus para a Praia do Canto. É quinta-feira, e o vento sul começa a aplacar o calor, encapelando o mar e silvando entre prédios e janelas. Clara desce na esquina e caminha, temerosa, pelo outro lado da rua. Sabe que, a essa hora, seus pais e as duas irmãs costumam estar dormindo. Ao decifrar a ponta do telhado, seu coração acelera. Olha o portão de ferro esmaltado de preto, as grades em lança que marcam o limite entre a casa e a calçada. Vislumbra o cume da goiabeira. Seus olhos ficam marejados. De repente, uma coisa branca quebra o antigo cenário. Não é uma toalha nem um pano de prato. É um lençol, com pequenos furos no meio, tremulando entre a árvore e o muro da garagem. Em prantos, Clara atravessa a rua e corre para casa”. (Extraído do romance de Fr. Betto: O Vencedor; Ática, 1995) O sonho da harmonia social 60. O relacionamento entre as pessoas pode ser carinhoso, amigável, fraterno, mas também pode ser mesquinho, egoísta, carregado de inveja, ciúme e vingança. Podemos viver unidos por laços de solidariedade ou de concorrência. Esta, traz consigo desconfiança mútua e competição, aquela traz justiça e partilha. Claro que ambas se misturam no cotidiano de nossas vidas, gerando medos e angústias. De um lado, as pessoas podem desenvolver um individualismo exacerbado, uma subjetividade doentia. Por outro lado, elas podem desenvolver personalidades autênticas, amadurecendo uma individualidade que torna a amizade e a solidariedade mais verdadeiras. Na verdade, uma e outra atravessam o coração de cada ser humano e o coração da sociedade como um todo: mesmo os que temos o melhor propósito de realizar o sonho do grande banquete da vida, por vezes trabalhamos só para nós mesmos, descuidando da harmonia universal. Quando predomina a exaltação do mais forte, do vitorioso, do competitivo, prevalece também o individualismo, o corporativismo, a exclusão dos pequenos e dos fracos. E, infelizmente, é esse o contexto da sociedade neocapitalista e hedonista, que já está dominando boa parte da sociedade brasileira, perante o qual estamos perdendo a distância crítica e abandonando a busca de alternativas mais humanas. 61. A competição desregrada em busca dos interesses egoístas quebra sonhos individuais, familiares, comunitários e universais. Aliás, uns e outros estão estreitamente vinculados. Ao romper laços individuais ou familiares, estamos comprometendo a fraternidade universal. E, reciprocamente, ao desenvolver estruturas sociais, econômicas e políticas escandalosamente desiguais, estamos fragmentando esperanças de indivíduos e famílias concretas. Todos os sonhos estão inter-relacionados. Rompendo os fios que os costuram, desfaz-se toda a rede. 62. O resultado disso é uma distância enorme e crescente entre o sonho de Deus e o nosso, por um lado, e, por outro, uma realidade que nega, no dia-a-dia, a possibilidade de uma existência sintonizada, harmoniosa, justa, igualitária e feliz. Realidade que, embora em graus diferenciados, afeta todas os setores sociais e abre caminho para desvios comportamentais, inclusive o uso de drogas. Para entendê-la convém considerar o processo de transformação em curso no mundo atual. Um mundo em crise 15
  • 16. 63. O mundo no qual vivemos é uma sociedade em busca de caminhos. Os estudiosos falam de sociedade pós-industrial, pós-moderna, informacional etc. O fato é que os grandes paradigmas estão se transformando. Sabemos o que deixamos para trás no século XX, mas não sabemos em qual direção caminha o mundo no século XXI. Acreditamos na possibilidade de um novo milênio sem exclusões, mas constatamos uma realidade cada vez mais excludente. Já a Gaudium et Spes (n. 4) constatava, em 1965, que “o gênero humano encontra-se hoje em uma fase nova de sua história, na qual mudanças profundas e rápidas estendem-se progressivamente ao universo inteiro”. De fato, a mundialização do mercado e a globalização da cultura, gerada nos pólos mais ricos, estão dissolvendo as sociedades tradicionais e impondo sua integração no moderno sistema mundial como sociedades periféricas e subalternas. 64. Nossa sociedade é, cada vez mais, marcada pelo urbano, que hoje inclui mas ultrapassa a cidade. Trata-se menos de um espaço geográfico e mais de um modo de ser, de viver, enfim, de uma nova cultura com sua linguagem própria, seus valores e contravalores refletindo uma nova mentalidade comparada à rural tradicional. Cultura e mentalidade urbanas que exercem um forte fascínio tanto na zona rural quanto na própria cidade. Para uma imensa multidão que, por causa de uma política rural equivocada, foi e é expulsa do campo nestes últimos anos, a cidade é, porém, com todos os seus apelos, um verdadeiro inferno. 65. Espaço de desenvolvimento tanto de uma individualidade madura e sadia quanto do individualismo mais feroz, o mundo urbano é, infelizmente, propício à violência, aos vícios, ao consumo de drogas. Na luta pela sobrevivência física, mental, moral e religiosa nessa selva de pedra, não tendo mais as referências do universo rural, consideradas sólidas pelos que vivem no campo, a insegurança diante dos caminhos a tomar neste novo ambiente pode conduzir a escolhas erradas. Há, na cultura urbana, novos enfoques dados aos valores, como amor, liberdade, família, religião, que assustam e perturbam. Assim, por exemplo, liberdade, amor, fidelidade, solidariedade, convertem-se em fardo pesado, parecendo ser mais fácil abdicar das opções pelos valores humanos que contam, evitando-se responsabilidade e compromisso. Em lugar da liberdade, as pessoas se amarram na teia das ilusões das promessas do ganho fácil, da libertinagem, das aventuras. E aí se abrem as portas para o comportamento anti-social, entre os quais o do consumo de drogas. Nova forma da mercadoria e hegemonia neoliberal 66. O fenômeno da crise de valores na cultura urbana tem raízes nas transformações pelas quais passam a economia e a política em âmbito mundial, a partir de uma ideologia avessa aos valores humanos, porque fundada no absolutismo do dinheiro, que, por sua vez, cria um fascinante universo simbólico próprio. A produção e o comércio se difundem e se globalizam, e o capital financeiro ganha hegemonia e desconhece fronteiras. Instala-se, em todo o mundo, feroz concorrência pela disputa de mercados, não tanto pelo aumento do número de consumidores, como na onda do “consumo de massa”, mas para vender muito para os poucos que podem comprar. Temos aí a corrida pela produção de bens supérfluos, com a conseqüente exasperação dos desejos e, portanto, a criação de necessidades artificiais. A mercadoria incorpora cada vez menos valor de uso e mais valor simbólico, que é transferido ao custo: o que conta é a marca, a “griffe”, a sensação de identidade com o esportista ou a celebridade que aparece na propaganda. Esse consumo de mercadorias simbólicas apóia-se na aura dos grandes vencedores e atrai pessoas dispostas a pagar qualquer preço para participarem desse mundo mágico, forçando quem não pode pagar a entrar em depressão ou a tê-los a qualquer custo, por meio de roubos ou de assaltos. 67. Associada ao processo de globalização, as ideologias consumistas adotadas pelas elites e difundidas por muitos órgãos da mídia tornaram-se modo de pensar e de agir político que desqualifica como “atrasada” outras opções que se apresentem em oposição. Um de seus postulados é que o mercado não deve ser submetido a regulamentações externas e que o Estado não pode intervir na vida econômica, mas sim favorecê-la. Para alguns teóricos dessa ideologia, ao Estado cabem as ações no campo social, isto é, no campo não atendido pelos agentes econômicos do mercado, o que é, em geral, dificultado por causa do alto custo do serviço e da dívida externa a ser paga aos credores. Uma das conseqüências dessa ideologia é a redução dos investimentos públicos nos setores de saúde, educação, agricultura, previdência social e habitação. Outra conseqüência grave é o desemprego, que faz multiplicar o trabalho informal. 16
  • 17. 68. Nesse mundo em crise de valores, tanto entre os socialmente bem situados como entre os mais pobres, instala-se facilmente o caos, a incerteza e a insegurança, como nos pesadelos de beco sem saída. Os horizontes se fecham e as esperanças se reduzem. O caminho longo e penoso da reflexão, do diálogo e do compromisso é facilmente descartado em troca de alguma coisa que proporcione ao menos um alívio momentâneo e permita escapar do enfrentamento com a dura realidade. Não é surpreendente que adultos, jovens e até crianças procurem nas drogas um meio de fugir dos seus problemas. 69. Na raiz de tudo está, portanto, uma sociedade destituída de sentido verdadeiro para a vida humana. O consumismo, a busca do prazer individual, a concorrência exacerbada geram um egocentrismo doentio. Valores como a amizade, a solidariedade, a busca do bem-comum tornam- se “caretas”, ultrapassados. A via longa, reflexiva, dialógica e comprometida é substituída pelo caminho fácil da satisfação individual. O compromisso de vida dá lugar ao evento instantâneo. O sentimento dá lugar à sensação. A relação dá lugar ao uso efêmero do outro. É como se tudo tivesse se tornado descartável: os produtos, os bens da natureza e até as pessoas. A sensação de vazio e de infelicidade é o resultado dessa experiência sem profundidade afetiva, sem carinho e sem diálogo. A existência perde o tempero e o brilho, e abre-se o caminho para a busca ilusória do prazer imediato. Mas este só faz aumentar a desilusão, o vazio e a infelicidade. Daí a depressão, as despesas com infindáveis tratamentos, e o recurso ao artifício das drogas, com todas as suas trágicas conseqüências. Mas não haverá droga suficiente para preencher esse poço sem fundo. Ao contrário, quanto mais drogas, mais ele se aprofunda, até à destruição total da pessoa. A restauração dos sonhos 70. E como devem se colocar os cristãos diante desse imenso desafio, eles mesmo vulneráveis em todo este universo em crise? Em tal sociedade, que se modifica a uma velocidade extraordinária, mais do que nunca valem as palavras da Constituição Pastoral Gaudium et Spes nº 1: “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo”. É vital, obviamente, uma extraordinária revitalização da fé, porque o sonho de Deus permanece de pé. Numerosas forças vivas e ativas, dentro e fora da Igreja, estão procurando, com humildade e tenacidade, levar adiante o projeto inspirador da Criação. A resistência, a teimosia e a coragem dessas pessoas, grupos, comunidades de base, movimentos e organizações mantêm acesa a chama de um amanhã novo e recriado. É por isso que a CF-2001 tem por lema em primeiro lugar não o repúdio às drogas mas a afirmação “Vida sim!”. 71. Certamente não é fugindo da realidade por meio dos sonhos ilusórios, proporcionados pelas drogas e suas “viagens”, que construiremos o ambiente de vida harmoniosa e prazerosa que, eticamente, tanto desejamos para nós mesmos e para as próximas gerações. Uma intuição profunda nos diz que basta uma sociedade “frugal”, sóbria, onde nos contentemos com pouco, desde que o pouco seja o suficiente para todos, pois realmente necessário é que as relações humanas nela existentes sejam permeadas por autênticos valores que produzem a alegria de viver. Acreditamos que esse sonho do “paraíso”, que parece perdido no passado remoto, será reconhecido em algum lugar do futuro: um dia a humanidade chegará lá, restaurará seus mais lindos sonhos e completará o sonho do Criador. Nessa caminhada, muitas pessoas, por causa das circunstâncias atuais, são derrubadas pelas drogas, e sua queda nos interpela como um pedido de socorro. Socorro que deve traduzir-se tanto no cuidado com cada pessoa, quanto numa Política Social e numa ordem econômica que busca o bem comum, a distribuição eqüitativa dos bens, superando o neoliberalismo, "que considera os lucros e as leis do mercado como parâmetros absolutos a prejuízo da dignidade e do respeito da pessoa e do povo13 ". 13 Cf. Ecclesia in America, 56 e 52. 17
  • 18. SEGUNDA PARTE: ESCOLHAA VIDA! (Dt 30, 19) (JULGAR) 72. A cruel realidade do mundo das drogas, do qual este Texto-base nos revela uma pequena amostra, não deixa ninguém indiferente. Há uma indignação ética que, por si mesma, irrompe no coração de qualquer um que aposta no ser humano, luta por um mundo melhor para seus filhos, seus alunos, seus amigos e colegas, seus concidadãos, seus irmãos e irmãs de fé e ideal. Há também um sentimento de compaixão pelas vítimas dos sistemas que favorecem o comércio, o tráfico e o consumo das drogas, e, ao mesmo tempo, um sentimento de clamor por justiça em relação aos causadores desse imenso problema. Entre esses sistemas, se destaca a ideologia neoliberal que, ao considerar o lucro e as leis do mercado como parâmetros absolutos, atenta contra a dignidade da pessoa e do povo e descuida dos mais frágeis na sociedade. Há ainda os exploradores da fragilidade humana, que esvaziam as pessoas do sentido da vida, para oferecer- lhes como solução os vícios que alienam e fazem fugir, e com os quais esses exploradores se enriquecem. 73. Nesta segunda parte do Texto-base, além de uma atenção prioritária às pessoas vítimas das drogas, a serem atendidas segundo os preceitos da ética, da cidadania e do amor, buscamos na Palavra de Deus luzes que apontam caminhos para essas vítimas e apoio para os que a elas se dedicam. Evidenciamos, também, o apelo de Deus à conversão dos que tripudiam sobre seus filhos e filhas e, ainda, conforme o caso, a veemente condenação deles pela justiça divina. Incentivamos as comunidades para que, à semelhança das outras partes deste Texto-base, procurem complementar os dados aqui colocados. O contexto social das drogas 74. A Igreja, como vimos na primeira parte deste Texto-base, é consciente de que todo o trágico problema das drogas, que afeta profundamente as pessoas nelas envolvidas, suas famílias e grandes parcelas da sociedade, é agravado por um contexto social, econômico, político e cultural, que gera esvaziamento do sentido da vida, desespero, fugas e busca ilusória do prazer. O Papa João Paulo II, vai direto ao cerne da questão.: “É necessário denunciar com coragem e com força o hedonismo, o materialismo e aquele estilo de vida que facilmente induzem à droga”. É essencial, sim, atender, e da melhor maneira possível, a vítima das drogas, mas é igualmente essencial lutar contra as situações que conduzem ao uso desses venenos e contra os que criminalmente os disseminam. 75. À luz da fé se constata que a idolatria do dinheiro, que absolutiza a riqueza, o capital, a economia de mercado e o consumismo, constróem uma sociedade injusta, na qual os que têm dinheiro e bens se tornam senhores da vida e da morte dos que nada ou pouco têm, além de se tornarem, também, senhores da natureza. A injustiça social impele os mais ricos e os mais fortes ao despojamento dos bens e dos direitos dos outros para deles se apropriarem. O egoísmo impulsiona a acumular, impede a partilha, leva à escravização da natureza e ao desperdício, não se importando com os milhões de seres humanos carentes de tudo. A qualidade de vida é confundida com o nível de consumo e com a quantidade de coisas a possuir. A confiança, a segurança, a garantia e o sentido da vida são colocados no dinheiro e nas coisas, em detrimento das pessoas. 76. O mundo globalizado a partir do ídolo dinheiro, escreve o professor Milton Santos, manipula 18
  • 19. ardilosamente a competitividade, que comanda as nossas formas de ação, o consumo, que comanda as nossas formas de inanição, e a confusão dos espíritos, que impede o nosso entendimento do mundo, do país, do lugar, da sociedade e de cada um de nós.14 Uma das molas propulsoras dessa globalização perversa, segundo ainda o professor Milton Santos, é o uso despótico da informação a serviço da ideologia neoliberal, que busca instruir e convencer. 15 77. A idolatria do dinheiro (cf. Am 6, 3-7; Am 4, 1- 3; 1 Tm 6,10) requer vítimas, e um deles é o dependente das drogas. Por detrás de toda vítima da dependência química há uma indústria que precisa de muito dinheiro. São milhares de pessoas arriscando literalmente a vida para conseguir mais clientes para comprar drogas e, assim, captar mais dinheiro. 78. É necessário tratar a vítima, mas é fundamental também atingir as causas que ultrapassam o nível da pessoa afetada, causas que conformam uma gigantesca trama de produtores, grandes industriais da droga, agentes financeiros e traficantes. Poderosos que são, eles conseguem armar exércitos, dominar bairros, comprar políticos e pessoas influentes nas altas rodas sociais, nos meios de comunicação social, na polícia e escravizar pobres para servi-los. Além da dominação pelo vício da droga, há o domínio, pela promessa de riqueza, rápida e fácil, de felicidade e, mais ainda, pelo temor, pois o assassinato é moeda corrente nesse trágico meio. 79. Diz o Catecismo da Igreja Católica, 2290: “O uso das drogas inflige gravíssimos danos à saúde e à vida humana. Salvo indicações estritamente terapêuticas, constitui falta grave. A produção clandestina e o tráfico de drogas são práticas escandalosas; constituem uma cooperação direta, pois incitam a práticas gravemente contrárias à lei moral”. 80. Quem desenvolve em si e nos outros a cidadania, fundamentada na ética, na justiça social, na fraternidade e na solidariedade, está plantando a sociedade segundo o Plano de Deus e, portanto, criando dificuldades para aqueles que têm o propósito de dividir e destruir, reinar como senhores deste mundo. Não há como clamar “Não às drogas! Sim à vida!” sem lutar denodadamente por profundas mudanças no modelo social vigente, gerador de emprobrecimento da maior parte do povo, de exclusões e de esvaziamento do sentido da vida. O amor ao outro, como pessoa, exige o compromisso da luta por criar condições humanas, sociais e espirituais básicas que garantam a todos a alegria interior de viver, amar, ser generoso e fazer o bem. Para refletir: Que apoio damos aos que lutam por erradicar as causas econômicas, sociais, políticas e culturais que geram e alimentam o mundo das drogas? Que meios concretos temos para impedir em nosso bairro, em nossas famílias, em nossas escolas a influência dos traficantes? O contexto pessoal das drogas Ser humano - obra preciosa 81. Muito esforço, perseverança, gastos materiais e emocionais envolvem a recuperação não só dos dependentes químicos mas de qualquer pessoa que esteja em situação de risco. Vale a pena? Responde mais fácil e rapidamente a essa pergunta quem tiver amor pela pessoa em questão. Quem ama sabe perfeitamente que o outro não é descartável, que sua perda é algo difícil de aceitar, seja qual for o problema em que esteja envolvido. Se assim é com o amor humano, mais ainda o será com o amor de Deus, terno criador de todos e de cada um em particular. 82. Para Deus todos nós temos nome e temos nossa história, que é por ele conhecida e acompanhada com desvelos incríveis. Podemos aplicar a cada pessoa as ternas declarações de amor que Deus faz a seu povo através do profeta Isaías: “Mesmo que as montanhas oscilassem e as colinas se abalassem jamais o meu amor te abandonará” (Is 54,10); “Pode uma mulher 14 CF. SANTOS, Milton: “Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal” , Ed. Record, 2000, Rio de Janeiro, RJ, p. 46. 15 Cf. ibdem p. 38-39. 19
  • 20. esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca” (Is 49, 15) 83. O Salmo 139 (138) diz que o Senhor sonda, conhece e acompanha cada um de nós, penetra nossos pensamentos e nos envolve por todos os lados. Deus não é presença de um fiscal que não deixa escapar nenhuma falta. Ele é a solicitude própria do amor, para cada um e para todos, sem exceção. Cada um está sempre diante de sua ternura solícita que não descansa, que não abandona ninguém em momento algum. 84. E quanto mais frágil e necessitada é a pessoa, maior é o desvelo do Senhor. Seu amor preferencial pelo empobrecido, pelo pecador, pelo enfermo, pelo excluído é pura gratuidade. Não há mérito algum no carente em conseguir ser alvo preferencial do seu amor misericordioso e de libertação. E se o amor humano provém do amor de Deus, obviamente é-lhe intrínseco o desvelar-se pelo mais necessitado. É o que acontece em qualquer família em que reina o amor. E é o que deveria acontecer na vida de cada cristão, de cada grupo de cristãos e da comunidade eclesial. 85. Esse mesmo sentimento é expresso por Jesus na parábola da ovelha perdida (cf. Mt 18, 10-14; Lc 15, 3-7): o amor de Deus não é, e o nosso também não deveria ser, uma questão de estatística. Afinal 99% do rebanho a salvo seria um bom saldo, mas o pastor não descansa enquanto houver uma única ovelha exposta a sofrimentos e perigos. Também não se trata de algum mérito especial da ovelha extraviada: ela pode não ser a mais produtiva, é apenas preciosa para o coração do pastor. 86. Na Campanha da Fraternidade 2000, quando tratamos da Dignidade Humana, vimos que cada ser humano abandonado é um sinal de pouco apreço pela inviolável sacralidade da vida humana. Cada vez que permitimos, por omissão ou indiferença, que um ser humano que sofre fique entregue à própria sorte, estamos negando na prática o valor da vida humana que afirmamos em tantos discursos. Quando o valor da vida de alguém é desconsiderado, abre-se caminho para não mais se considerar inviolável e preciosa a vida de qualquer um. Em se tratando de vida humana, qualquer exceção é ameaçadora e perigosa para todos. Criados por amor e livres, para sermos felizes 87. A Bíblia traz, nos seus primeiros capítulos, uma reflexão sobre o ser humano colocado diante de uma proposta de paraíso, de vida feliz (cf. Gn 2, 4b-24). Mas não era uma felicidade obrigatória, sem alternativa. Era uma felicidade a ser construída e preservada por meio do desafio da liberdade (Gn 2, 25 a 3, 1-24). Mas muita gente talvez se pergunte: E isso não foi perigoso demais? Vejam só quanta desgraça a humanidade construiu usando essa liberdade! Não seria melhor Deus ter guardado para si esse arriscado presente, o da liberdade humana? 88. Sem liberdade, seríamos robôs, incapazes de ser felizes ou infelizes, seríamos marionetes na mão do Criador, sem sentido próprio. Ser criado à imagem e semelhança de Deus é também ser um interlocutor capaz de criar, transformar. Para o bem e para o mal? Sim, é verdade, mas é a possibilidade do “não” que enriquece o significado do “sim”. Podemos usar mal a liberdade que nos foi dada, mas sem ela não realizaremos coisa alguma que tenha sentido humano. 89. O resumo da lei de Deus, na versão do Deuteronômio, mostra que, ao mesmo tempo que garante a nossa inestimável liberdade, o Senhor está profundamente ansioso para que façamos a escolha certa. Ele aponta um caminho, não por vontade arbitrária de ser obedecido, mas porque quer o melhor para nós, com toda a força do seu amor: “Eis que ponho diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade... Eu hoje te ordeno: ame o Senhor, teu Deus, ande nos seus caminhos e guarde os seus mandamentos, suas leis e seus costumes. Eis que eu ponho diante de ti a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, escutando a sua voz e ligando-te a ele!…” (Dt 30, 15-20). 90. A luta pela liberdade tem inspirado fantásticos heroísmos na história da humanidade. Entre os adolescentes, ela faz parte da construção da personalidade de cada um e se manifesta na necessidade de se auto-afirmar, muitas vezes testando suas próprias forças contra os padrões socialmente estabelecidos. A educação da liberdade nos adolescentes e jovens não é nada fácil para pais e educadores, em face das investidas de inescrupulosos que exploram essa delicada fase da vida humana, açulando, com desastrosas conseqüências, um uso pervertido deste maravilhoso dom de Deus, que é a liberdade. 91. O dependente de drogas, por exemplo, usando mal o dom da liberdade, perde-a em grande 20
  • 21. parte para a droga. E aos poucos direciona seu ser para um ídolo, a droga, que vai destruir a sua vida. O mesmo ocorre com pessoas dominadas por qualquer outro vício. A salvação dessas pessoas estará exatamente na recuperação do exercício construtivo do precioso dom da liberdade, na capacidade de atribuir-se sadios limites, dizer não ao ídolo devorador. Elas precisam crer que podem mais do que o hábito que tomou o controle de suas vidas, crer que podem, com a força de Deus e o apoio dos irmãos, não só conseguir a libertação, mas se colocar a serviço da libertação de outros, e do verdadeiro sentido da vida. 92. É evidente, porém, que se requer um passo fundamental, o qual somente a própria pessoa afetada pelo vício pode dar: a conversão. Deus, que respeita o uso que fazemos da liberdade, colabora conosco e espera ansioso por um pequeno sinal de nossa vontade para a nossa conversão e o retorno à casa paterna, como aconteceu com o filho pródigo (cf. Lc 15, 11-32). E Deus nunca deixa de oferecer motivação e caminhos de volta. Ele, que nos ama infinita e apaixonadamente, será parceiro na recuperação da liberdade, porque foi para a liberdade que ele nos criou e Cristo nos libertou (cf. Gl 5, 1-26). E é para oferecer caminhos de libertação, que o Senhor suscita pessoas e instituições, que se colocam a serviço das pessoas afetadas pela tragédia dos vícios, pela tragédia da droga. A sabedoria de livremente impor-se limites 93. Liberdade e limites serão opostos, incompatíveis? Muitos experimentam não ter limites e descobrem que acabam perdendo juntamente com eles a possibilidade de importantes realizações pessoais. 94. Diz o livro dos provérbios: “O que observa a disciplina está no caminho da vida (Pv 10,17). Não se trata aí de uma disciplina opressora, mas de um controle de si mesmo que permite dirigir esforços para um objetivo ditado pela própria liberdade. Como, por exemplo, chegar a ser um grande pianista ou um atleta, sem a disciplina dos exercícios que aprimoram a técnica? Como criar um clima familiar afetuoso e acolhedor se cada um resolver que não precisa se controlar, quando o trato com os demais exige uma certa paciência? 95. Quem despreza a noção de limites para chegar mais depressa ao que deseja é como um rio que rejeitasse as próprias margens: vai se espalhar, virará pântano e perderá o rumo e a força para chegar ao mar. A educação para a compreensão dos limites como força que potencializa e dirige o nosso agir é importante para cada um poder desenvolver melhor seus dons pessoais e alcançar objetivos que valham a pena. “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma” (1 Cor 6,12). Essa orientação de São Paulo indica um uso importante da liberdade: discernir que limites devemos respeitar para conseguir fazer da nossa vida uma realização mais gratificante e mais digna de nossa identidade de filhos e filhas de Deus. Hábitos que controlamos e hábitos que nos controlam 96. “Mais vale quem domina o coração, é dono de si próprio, do que aquele que conquista uma cidade” (Pv 16,32). Não são apenas os dependentes químicos os que podem perder o controle de sua vida, dominados por hábitos que se tornam pesadas cadeias. Todos nós podemos nos deixar controlar, seja pela propaganda, seja pela pressão de grupo, seja pelas próprias válvulas de escape que inventamos para amortecer as dificuldades da vida. Na verdade, quem não se condiciona a si mesmo, por sua própria vontade, ao que quer ser e fazer, é condicionado facilmente pelos outros ao que não quer ser e fazer. Quem de nós não conhece gente que quer emagrecer mas não consegue parar de comer, gente que já nem conversa com a família porque não consegue desviar os olhos da TV ou é escravo da Internet, gente que promete controlar a língua e não resiste na hora de fazer mais um comentário ferino sobre a vida alheia, gente que promete parar de fumar ou beber e não toma os meios? 97. Isso posto, seria bom que cada um de nós se examinasse antes de censurar a incapacidade alheia de resistir a hábitos e vícios. É importante tirar a trave dos próprios olhos, como recomenda Jesus (cf. Mt 7,3; Lc 6,41). Provavelmente teremos, nós também, alguns hábitos e tendências que encontramos dificuldade em dominar. Isso não deve servir para nos acomodar diante da situação, mas pode nos conduzir a uma postura mais humilde e caridosa diante de 21
  • 22. quem, por ter perdido o controle de algum hábito, está pondo em risco a sua felicidade ou a sua vida. Para refletir Estamos sabendo apresentar as leis de Deus e os valores do Evangelho como ajuda para indicar um uso construtivo da liberdade humana? Educamos para a valorização dos limites que nos permitem crescer e ser mais, conviver no amor? Temos hábitos difíceis de abandonar? Como lidamos com eles? A força da fé nas situações de dor 98. Na vida de cada um, inevitavelmente, haverá momentos dolorosos, inquietações, medos, inseguranças geradoras de angústia. Temos problemas pessoais e problemas gerados pelo panorama social em que vivemos; o social e o pessoal têm implicações mútuas, e sabemos que a situação sócio-política e cultural contribui direta e indiretamente para que muitos vivam num clima de permanente ansiedade e medo da vida. A sabedoria de viver se mede muito pela capacidade de lidar com as pequenas e grandes aflições do cotidiano. 99. A fé religiosa ajuda muito. Quando Jesus recomenda “Não andeis inquietos com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas próprias preocupações, basta para cada dia a sua própria dificuldade” (cf. Mt 6, 34), ele está convidando a uma confiança maior no poder de Deus, em cujas mãos estamos todos nós. Jesus mesmo se apresenta como alguém capaz de aliviar nossas angústias: “Vinde a mim vós todos que estais cansados sob o peso do fardo e eu vos darei descanso”(Mt 11, 28). Ele não vai fazer nenhum tipo de mágica para os problemas desaparecerem, mas tem uma paz profunda a oferecer. Com essa pacificação de coração baseada na confiança em Deus, podemos mais e enfrentamos melhor os tropeços. 100. É também isso que São Paulo quer dizer quando afirma que “todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus”(Rm 8, 28). Não é um seguro contra problemas nem é uma garantia de que Deus vai fazer favores especiais a seus protegidos. É uma afirmação do poder da fé como força e critério de ação e julgamento diante das dificuldades. Afinal, o que conta não é tanto o que nos acontece, mas o que somos capazes de fazer com o que nos acontece. A fé potencializa nossos dons. Todos os dias milhares de pessoas se mantêm sóbrias rezando a Oração da serenidade Deus, concedei-me a Serenidade Para aceitar as coisas que não posso modificar, Coragem para modificar aquelas que posso, E Sabedoria para perceber a diferença. A vida e suas possibilidades valem mais que a ilusão das drogas 101. Em seu artigo “Drogas na escola”, Lídia Rosemberg Aratangy, recomenda “combater o 22
  • 23. vício das drogas, mas sem inibir essa preciosa inquietação que leva o homem a buscar conhecer sempre mais”16 . Em outras palavras, é preciso propor alternativas emocionantes, gratificantes. A própria fé é para ser vivida com a alegria de quem descobre um sentido para a vida e proclama que viver é uma aventura capaz de grandes emoções. Sobre essa necessidade de buscar propostas empolgantes para construir um projeto de vida, diz o psicanalista Renato Mezan: “…sou quem amei; sou o que fiz de meus modelos, sou quem incorporei na voracidade absoluta de conter em mim o mundo”17 . 102. Santo Agostinho diz isso de outra maneira: “Nosso coração está inquieto enquanto não repousa em ti”. De um modo ou de outro, o que se afirma é que o ser humano anda em busca de algo que dê sabor, propósito e entusiasmo à vida. Muitas vezes pensa que encontrou, mas logo fica insatisfeito e parte para outra: isso é, também, um sinal da sua fome de infinito. Somos anunciadores do Infinito de Deus: cabe-nos fazer isso de forma convincente, com toda a fascinante beleza do chamado de Deus, sem fazer da religião uma coleção desanimadora de regras cujo sentido a pessoa não percebe. 103. São Paulo, que encontrou em algumas comunidades do início do cristianismo, pessoas que se deixavam levar por vícios, reagiu. Percebeu que elas precisavam ocupar-se com atividades sadias, que lhes causassem prazer interior, alegria. Suas admoestações são diretas e, ao pedir que essas pessoas deixem o vício, estimula-as a terem um comportamento que preencha a vida de alegria. Diz São Paulo: “Estejam atentos para a maneira como vocês vivem: não vivam como tolos, mas como sensatos, aproveitando o tempo presente, porque os dias são maus. Não se embriaguem, pois isso leva para a libertinagem. Busquem antes a plenitude do Espírito. Juntos recitem salmos, hinos e cânticos inspirados, cantando e louvando ao Senhor de todo o coração...” (Ef 5, 15-19). Vida sim! Morte não! 104. A vida é um bem tão precioso que a grande promessa de Jesus é que ela será eterna, porque o nosso Deus é o Deus da Vida. Esse Deus da Vida quer também vida, a mais feliz possível, já, aqui e agora, não só depois da morte. Trata-se de vida com sabor de céu, mesmo no meio das dificuldades, vida de quem sabe por que e para que está vivo. Essa seria a primeira função da educação da fé: ajudar a construir mais vida, com sentido. A pessoa que tem fé deve ser capaz de acordar todos os dias com a sensação de estar fazendo parte de um grande milagre: “O fornecimento do tempo é um milagre cotidiano. Acordas pela manhã e vê! Tua bolsa está magicamente cheia com 24 horas desse tecido ainda não manufaturado do universo da vida, a mais preciosa de tuas posses!” (Arnold Bennet) 105. No Evangelho segundo São João, Jesus nos diz que quem nele crê tem a vida eterna. Não diz “terá”; fala no presente. Trata-se também desta vida mesmo, daqui da terra, vivida no clima de Deus, cheia de um novo sentido. E quem vive neste clima da construção do Reino achará emocionantes as oportunidades do cotidiano, carregadas de apelos a um crescimento que é programa empolgante. Escreve São Paulo: “Como escolhidos de Deus, santos, amados, vistam-se de sentimentos de compaixão, bondade, humildade, mansidão, paciência. Suportem-se uns aos outros e se perdoem mutuamente, sempre que tiverem queixa contra alguém. E acima de tudo vistam-se com o amor que é o laço da perfeição”(Col 3, 12-14). Isto é viver na luz, e ele acrescenta: “O fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade”(Ef 5, 9). Vida com sentido é, portanto, uma excelente prevenção contra todo tipo de vício, tanto as drogas como outras formas destrutivas de enfrentar os problemas diários. 16 Lídia Rosemberg ARATANGY. Drogas na Escola. O Desafio da Prevenção. In Júlio Groppa AQUINO (Org.) Drogas na Escola. Editora Summus Editorial, São Paulo, 1998, p. 11. 17 Paulo ALBERTINI, Mal Estar e Prazer. Ibdem, p. 46. 23
  • 24. Para refletir Vivemos com alegria a esperança que brota da fé? Nossa comunidade transmite essa alegria? O amor, que traz felicidade, tem suas exigências 106. O dependente de algum vício, entre os quais a dependência química, costuma ter muitos sintomas semelhantes ao do chamado fenômeno de “adolescência prolongada”, caracterizada por pouca disposição em assumir responsabilidades. A psicologia diria que ele tem dificuldades em passar do princípio do prazer ao princípio da realidade; com isso, não cresce e deixa de desenvolver importantes capacidades construtivas. Um amor verdadeiro não se conforma com essa situação, muito menos a alimenta, e faz de tudo para que a pessoa se liberte dessa terrível prisão. 107. O amor de Deus também não fabrica crianças mimadas, nem faz por nós o que Ele mesmo nos deu capacidade para fazer. O amor do Pai sabe temperar acolhimento, perdão, braços sempre abertos, com apelos exigentes para que cada um seja tão bom, tão grande e tão feliz como estava no seu sonho inicial, ao criar cada um como pessoa de grande valor. Assim agiu Jesus que, ao mesmo tempo em que era terno, acolhedor e compassivo com sofredores, humildes e pecadores, fazia propostas exigentes aos que se propunham a seguí-lo e era contundente contra os que prejudicavam os outros, bem como a convivência fraterna e justa. 108. Não é inteligente fazer abatimentos, descontos, quando se trata da qualidade da nossa própria vida. Será uma lástima se cada um de nós não se construir, de fato, da melhor forma possível. “Tudo vale a pena se a alma não é pequena” – o verso famoso de Fernando Pessoa indica uma direção. Qualquer esforço vale a pena para fazer frutificar o grande ser humano que cada um de nós já é e poderá ser ainda mais. 109. São Paulo, face à nossa fragilidade psico-espiritual, insiste para que nos exercitemos com vistas a nos tornarmos fortes contra as armadilhas do mal que surgem em nossa caminhada: “Fortaleçam-se no Senhor e na força de seu poder”(Ef 6, 10). Nos versículos seguintes, ele nos pede para vestirmos a armadura de Deus, a fim de resistirmos às manobras do mal, permanecermos firmes, superando todas as provas (cf. Ef. 6, 11-17). Mas, se caímos, ele, além de nos provocar à mudança de vida, deixando o mal, é propositivo, incentivando, estimulando-nos a fazer o bem: “deixem de viver como viviam antes, como homem velho que se corrompe com paixões enganadoras. É preciso que se renovem pela transformação espiritual da inteligência e se revistam do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e na santidade que vem da verdade... Afastem de vocês qualquer aspereza, desdém, raiva, gritaria, insulto, e todo tipo de maldade. Sejam bons e compreensivos uns com os outros, perdoando-se mutuamente, como Deus perdoou vocês em Cristo” (Ef 4, 22-24, 31-32). Ocupação sadia e alegria de servir 110. “Feliz de quem atravessa a vida inteira tendo mil razões para viver”, dizia D. Helder Câmara. As razões para viver se percebem mais facilmente quando a pessoa se coloca a serviço. Muitos são os testemunhos de gente que se dispôs a ajudar outros, por compaixão, e acabou se descobrindo como o beneficiário primeiro do serviço que lhes estava generosamente oferecendo. Jesus convida a servir, falando da recompensa que vem do céu: “…quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. Serás feliz porque eles não têm com que te retribuir; mas ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14). 111. Antes mesmo da ressurreição dos justos, há uma alegria muito especial em prestar serviços que não podem ser retribuídos de modo material. Mas sabemos que sempre há um tipo de retribuição: todos têm algo a oferecer, mesmo os mais carentes. Essa alegria funciona tanto para aqueles(as) que se colocam a serviço dos dependentes de drogas como para as próprias vítimas 24
  • 25. dessa dependência. Ambos se sentem mais felizes quando descobrem que podem ser úteis. Ocupar-se generosamente de outros é boa receita para obter uma atitude mais positiva em relação aos próprios problemas. O serviço, na tônica do amor gratuito, ajuda a tomar uma certa distância dos problemas pessoais, e essa distância faz com que os vejamos em nova perspectiva. Vem do serviço fraterno uma alegria que conduz a novos e mais luminosos caminhos. Cristãos, chamados a fazer diferença 112. Saber que a nossa presença fez alguma diferença para melhor neste mundo conturbado é uma das melhores sensações que uma pessoa pode experimentar. Há mães que escrevem naqueles famosos álbuns de bebê, respondendo à pergunta sobre o que desejam para a criança recém- nascida: que o mundo fique um pouco melhor porque ela existe. É um modo bonito de afirmar que sabem para que serve a vida que acabou de vir ao mundo. 113. A emoção de perceber que algo que realizamos fez diferença anima a construir cada vez mais e melhor, coloca-nos com alegria numa estrada bem iluminada pela satisfação de ser gente, de existir, de amar e ser amado. Essa alegria é vivenciada por aqueles(as) que se dedicam à recuperação de dependentes de drogas ou a outras tarefas transformadoras. E deve tornar-se também progressivamente uma alegria, de grande potencial salvador, para a pessoa que precisa de recuperação. Nessa tarefa de fazer diferença não estamos sozinhos. Deus, que fez o chamado, vai junto como parceiro, força e estímulo. Ele mesmo o garante: “Não temas, eu estou contigo” (Is 43, 5; Jr 1, 8). No dizer de Fernando Pessoa: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Para refletir Como educamos crianças e jovens para a alegria do serviço prestado com generosidade e responsabilidade? A comunidade se une para responder às necessidades da realidade local? Como? Um amor sem exclusões 114. Jesus avisa que a vontade do Pai é “que não se perca um só destes pequeninos” (Mt 18,14). Somos uma grande família, na qual todos são responsáveis por todos. Nosso próximo é aquele de quem nos tornamos próximos, como se vê na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 30-37). A condição para o outro ter direito a ser esse tipo de “próximo” não é o parentesco, nem a filiação religiosa, nem as virtudes da pessoa envolvida, nem a afinidade emocional. O grande critério para mobilizar a nossa fraterna atenção é a própria necessidade do(a) irmão(ã). Se alguma prioridade devemos dar a alguém em nossa caridade fraterna, o grande critério haverá de ser a necessidade de quem precisa de nós. Ou, como disse Jesus: “Não são aqueles que têm saúde que precisam de médico, mas os doentes” (Mc 2,17). 115. Esse apelo à solidariedade sem exclusões deve mobilizar pessoas e comunidades cristãs diante dos sofrimentos dos dependentes químicos e dependentes de qualquer outra situação e, também, diante dos sofrimentos de suas famílias, sem julgamentos preconceituosos e sem outras cobranças que não sejam as exigência da própria reeducação dos que precisam se recuperar. Às vezes nos comportamos como se os problemas alheios fossem coisas muito distantes de nós. Com isso, perdemos a oportunidade de viver a experiência gratificante da generosidade fraterna, e perdem aqueles que precisam do nosso apoio para viver melhor. Poderíamos refletir com o poeta Mário Quintana: “Essas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderes o braço e tocar no ombro do teu vizinho…”. 116. Na parábola do Bom Samaritano, Jesus destaca que exatamente o excluído pelos judeus - pois eles não aceitavam os samaritanos -, é que se tornou modelo de caridade e de proximidade do outro, caído à beira da estrada, de quem tanto o sacerdote como o levita não cuidaram. O Bom 25
  • 26. Samaritano, mesmo sem o saber, está fazendo a um desconhecido, tratado como irmão, o benefício que Jesus julgará, no Juizo Final, como feito a si mesmo: “todas as vezes que isto fizestes a um de meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizeste” (Mt 40). A Igreja se põe a serviço da vida e da esperança 117. Somos Igreja a serviço do evangelho da vida, vida a ser desenvolvida com dignidade, alegria, paz. Vivemos, como cristãos mergulhados na realidade deste mundo cheio de ambigüidades, de contrastes imensos, entre felicidade e infelicidade. Sabemos que “as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias de todos os homens, especialmente as dos pobres e daqueles que sofrem, são as alegrias e esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo” (GS 1). Toca-nos, portanto, o coração o sofrimento da multidão de irmãos(ãs) nossos(as), de suas famílias e da sociedade que sofre com tantos problemas e injustiças, e, neste complexo contexto, dos que carregam consigo as conseqüências violentas do mercado da droga. 118. Pela palavra do Papa João Paulo II, a Igreja é convocada a se engajar na luta por um mundo livre, também da tragédia da droga, compreendendo suas causas e indo à raiz do problema, situando a questão da droga num universo mais amplo, no qual é gerada e alimentada: “O flagelo das drogas não seria, em essência, o mal a ser combatido ou, pelo menos, o único a ser combatido. Ele seria muito mais o efeito de outro mal, maior e mais grave: a perda do sentido da vida. Daí a ênfase na recuperação e prática dos valores básicos da virtude cristã e a denúncia dos comportamentos e atitudes contrários à preservação da vida, à solidariedade e amor ao próximo, justiça etc…”; “É necessário denunciar com coragem e com força o hedonismo, o materialismo e aquele estilo de vida que facilmente induzem à droga (João Paulo II, Ecclesia in America, 60 e 61). Procurar parceria para servir a vida e a esperança 119. Não somos, os católicos, os únicos a estendermos as mãos e abrirmos o coração aos que se perderam no caminho da droga. Quando se trata de fazer o bem, todas as pessoas sensíveis à dor alheia são chamadas ao mesmo mutirão. Reconhecemos e valorizamos o empenho de outros grupos, profissionais e organizações dedicados à recuperação dos irmãos necessitados. Aprender uns com os outros e saber conjugar dons complementares são mostras de inteligência solidária e caminho para um resultado melhor. Vemos com especial alegria o trabalho realizado por outras Igrejas cristãs, nossas irmãs na fé, que têm importante ação nessa área. 120. Jesus estimula o apoio de seus discípulos a todos os que fazem o bem: “Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lhe proibimos, porque ele não nos segue. Jesus disse: “Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor” (Mc 9, 40). Isso quer dizer que toda ação que liberta a pessoa humana faz parte da missão de Jesus e merece todo o apoio dos que o seguem. 121. Felizes, portanto, por tudo que for realizado em benefício de quem precisa, seguiremos o conselho de Paulo aos cristãos de Filipos: “Nada façais por competição ou vanglória, mas por humildade; considerai os outros superiores a vós mesmos. Cada um procure, não o próprio interesse mas o interesse dos outros. Tende os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,3-4). O Evangelho do amor que liberta, transforma, faz crescer 122. Nosso Deus escolheu o Amor como meio de salvação do mundo. Diante dos sofrimentos e descaminhos humanos, conseqüências do pecado, respondeu com uma doação maior. E a entrega total da vida de Jesus nos proclama: só o Amor salva! Essa abertura ao Amor é a grande força transformadora do mundo. Transforma o dependente de qualquer substância ou situação, que, sabendo-se amado por Deus e pelos irmãos, tem motivos a mais para se libertar e buscar outro caminho, que de fato conduz à felicidade. Transforma o agente que se envolve na sua 26
  • 27. recuperação, fazendo dele uma pessoa melhor. Transforma a sociedade, questionada por essa generosidade sem interesses ocultos, que vai na contramão das pressões consumistas e competitivas. 123. Se o problema parecer grande demais para nossas forças, lembremos a imagem do grão de mostarda, a mais pequenina das sementes, que a força da vida, alimentada por Deus, transforma em grande árvore (cf. Mt 13, 31-32). Jesus prometeu: “quem permanecer em mim e eu nele dará muito fruto” (Jo 15,5). Os frutos do amor, da caridade e do serviço, partilhados com os dependentes e suas famílias, serão um sinal de esperança, parte indispensável do anúncio do Reino, que é a própria razão de ser da Igreja de Jesus. E mesmo que não consigamos recuperar alguém, o importante é que cumprimos nossa parte, fizemos o que estava ao nosso alcance, expressamos nosso amor, fizemos a pessoa afetada sentir-se amada, fomos para ela sacramento do amor misericordioso do Senhor. O filme “Os últimos passos de um homem” elucida isso muito bem, retratando a dedicação à toda prova de uma religiosa a um condenado à morte. 124. Quando o amor toma conta das pessoas, há um total redimensionamento das relações humanas e da maneira de encarar os problemas. Um missionário18 , vendo o menino pobre carregar nas costas outro menino, até um pouco maior, lhe diz: “Caramba, deve estar pesando muito! Vou te ajudar!”. E o menino, sentindo sim o peso, mas com uma força especial que tem, responde: “Não Padre, não precisa! Não pesa, não! É meu irmão!” Temos na história recente, exemplos heróicos gritantes, que nos estimulam no serviço ao excluído social mais esmagado. É o caso, apenas para citar dois deles, de Madre Teresa de Calcutá e de Irmã Dulce. 125. A CF 2001, “Vida sim! Drogas Não!”, nos leva a divulgar esses e outros heróis, cristãos e não cristãos, como mensagem profética de Deus para a Igreja hoje, em sua opção preferencial pelos pobres, chamada a dar maior atenção, de modo dedicado e competente aos portadores de alguma deficiência, aos discriminados por raça, sexo, cultura, religião, enfermidades estigamizadoras etc. Os dependentes químicos ou de qualquer outro estimulador que vicia e corrói a vida são, entre outros, alertas diretos e muito específicos do Senhor à caridade libertadora de seus seguidores e que, certamente, poderão ser incluídos no relato de situações arroladas por Jesus, no Juízo Final: “Pode vir para o Reino de meu Pai, porque eu era dependente e você cuidou de mim!” ou “Afaste-se de mim, maldito, porque eu era dependente e você não cuidou de mim!” (cf. Mt 25, 31-46). Para refletir Fazer um levantamento de grupos e organizações que já trabalham na recuperação de dependentes químicos. Desses, quais são de nossa Igreja? Como podemos apoiar, colaborar? Há exclusões, preconceitos e outras dificuldades que podem atrapalhar esse trabalho? TERCEIRA PARTE: A PROFECIA DAAÇÃO SOLIDÁRIA (AGIR) 126. O Agir da Campanha da Fraternidade, neste primeiro ano do novo milênio, propõe ações que visam à construção de um milênio sem drogas. A proposta se enquadra num contexto mais amplo e tem por objetivo último colaborar na realização de um novo projeto de vida e sociedade, que, além de questionar a estrutura social, econômica e política, de crescente consumismo, gerador de 18 Na década de 50 foi divulgada (inclusive no Brasil) uma foto com esta cena (um menino carregando outra criança). A foto pertenceria ao filme "Men of Boy's" que retrata a vida do Pe. Flanagn (USA) e sua experiência na "Cidade dos Meninos". 27
  • 28. novos tipos de necessidades e dependências, deseja mobilizar a todos para ações concretas, que coloquem as bases de uma sociedade justa e solidária. Estamos convencidos de que esse tipo de sociedade reforça o sentido positivo da vida, não permite a exclusão social de ninguém e, assim, encontra caminhos eficazes para solucionar o grande flagelo das drogas. 127. Trata-se de um Agir que, diante dos três agentes que atuam nessa problemática, droga, ser humano e ambiente, prioriza o ser humano, definido como pessoa. O Agir Cristão desenvolve-se como Projeto Evangélico em sintonia com as "Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (1999-2002)"19 e com o Projeto Evangelizador "Ser Igreja no Novo Milênio (2001-2002)". 128. Sem ignorar nem desprestigiar qualquer trabalho neste campo, a Campanha da Fraternidade quer intervir na realidade reconhecendo que a droga não é o principal problema do toxicodependente e, sim, a falta de sentido positivo da vida. Embora as propostas de ação elencadas neste texto priorizem respostas a situações de dependência química, não podemos perder de vista outras situações similares e, sobretudo, o panorama mais amplo. 129. As ações que forem sendo assumidas no Agir devem ser resultado de uma reflexão ampla que vai do âmbito pessoal às políticas públicas. Reflexão que passa pela exigência de mudança de posturas pessoais, com gestos de resistência à mentalidade consumista, até a transformação de estruturas marcadas por uma economia de mercado que visa mais ao lucro do que a qualidade de vida das pessoas e da sociedade. 130. A exemplo de atividades realizadas em outras Campanhas da Fraternidade, o Agir da CF 2001 tem vários níveis: da assistência (socorro imediato), da promoção humana (que busca o desenvolvimento da dignidade humana, a autonomia das pessoas), do engajamento libertador (na defesa dos direitos humanos e da mobilização em favor da transformação social, ou seja, a busca, de modo organizado, de mudanças nas relações sociais, econômicas, políticas e culturais), tendo como base, em todas estas iniciativas, os valores evangélicos. 131. O nosso Agir da CF 2001 se situa no amplo campo da área da saúde, que por vez revela uma sociedade seriamente enferma. Desejamos ações que visem à saúde integral das pessoas, aquela que é "resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e aos serviços de saúde”20 , e, também, acesso ao direito de receber orientações específicas de valores como ética, cidadania, sentido da vida, solidariedade. 132. Estamos atuando num campo complexo, que é o imenso desafio das drogas. Percebemos que ninguém tem respostas prontas. Devemos, portanto, como cristãos, exercitar a humildade e atuar em parceria com pessoas das mais diversas áreas. Estamos diante de um gravíssimo problema social que exige, de um lado, um trabalho interdisciplinar, e, de outro, muito respeito aos que já atuam nessa área com trabalhos concretos, que precisam ser valorizados, avaliados, multiplicados etc. 133. Diversas experiências vêm sendo realizadas no País por órgãos públicos, entidades civis, organizações não-governamentais e instituições religiosas das mais diversas denominações. Citamos algumas dessas iniciativas, que desenvolvem ações concretas. São experiências que podem ajudar o ser e o agir de cada um de nós, das nossas comunidades e de toda sociedade sedenta de vida e esperança. Políticas públicas de controle 134. O Poder constituído da Nação se mobiliza para desenvolver uma política de controle do cultivo, produção e comércio de drogas. É assim que, no Brasil, foi criada, recentemente, pelo Governo Federal a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD), que tem como finalidade o desenvolvimento de uma política de controle do uso indevido e abusivo de drogas, além de, juntamente com os orgãos de Segurança, combater o tráfico ilícito de drogas e substâncias psicotrópicas21 . 19 Documentos da CNBB nº 61 20 Definição da 8ª Conferência Nacional de Saúde (1986), que foi assumida pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 21 O endereço e o telefone gratuito da SENAD é: Anexo II do Palácio do Planalto, sala 244. Brasília - DF. CEP 70 150 - 900. Fone: 0800 61 4321. O FAX é 0xx61 411 2110. O endereço eletrônico é prevtrat@planalto.gov.br 28
  • 29. 135.A SENAD realizou um Fórum Nacional antidrogas, em 1998, que levantou inúmeras iniciativas que poderiam ser viabilizadas no combate às drogas. Muitas delas estão sendo postas em prática. É importante conhecê-las, estudá-las, discuti-las e divulgá-las. Além desse Fórum, a SENAD tem realizado anualmente a "Semana Nacional Antidrogas" e estabelecido convênio com várias entidades que têm como objetivo a implementação dos programas de prevenção ao uso indevido de drogas, além de outros programas de repressão ao tráfico e de controle da produção e distribuição de substâncias passíveis de serem utilizadas como drogas etc. São inúmeras as iniciativas que estão sendo tomadas para o combate às drogas. Entre elas: Projeto-escola, em parceria com Secretarias Estaduais de Educação, para discussão em colégios da rede pública, sobre sexualidade, saúde e uso indevido de drogas. Há, para isso, treinamento de professores e alunos; Criação de centros de referência, na Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal de São Paulo e Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade de Brasília, para cursos e projetos de capacitação de profissionais e agentes de prevenção sobre o uso indevido de drogas e doenças sexualmente transmissíveis. Há, também, cursos de capacitação de profissionais para trabalharem em instituições públicas de saúde, em setores que atuam com a síndrome e doenças adquiridas pelo abuso de drogas ilícitas. A Universidade de São Paulo (USP) possui o CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas). Quanto a recursos, é possível obter, junto ao Governo, o financiamentos de projetos de organizações governamentais e comunitárias para treinamento de profissionais para o atendimento de usuários de drogas, assim como para a prevenção ou tratamento de AIDS e, ainda, de centros ou clínicas de tratamento, recuperação e reinserção social. A iniciativa particular criou a FEBRACT22 (Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas), que, em 1991, publicou o "Catálogo de Centros Brasileiros para o Tratamento/ Prevenção de Dependência de Drogas". E há, também, a Associação Nacional de Comunidades Terapêuticas Cristãs (ANCTC)e a Federação das Comunidades Terapêuticas Evangélicas do Brasil (FETEB). 136. No campo da legislação, é obrigatória a criação e o funcionamento dos Conselhos Estaduais e Municipais de Entorpecentes. Os Governadores, os Prefeito, as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais de Vereadores são os primeiros responsáveis pela implantação e funcionamento desses Conselhos. 137. Encontra-se aqui uma importante pista de atuação para os nossos agentes de pastoral, sobretudo daqueles que atuam ou querem atuar na Pastoral da Sobriedade, sobre a qual voltaremos mais adiante neste texto. Passem, portanto, a exigir do Poder Executivo a elaboração de um projeto para criar e fazer funcionar um Conselho de Entorpecentes em cada Estado e Município. Acompanhem a discussão e aprovação desse Conselho nas Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores, onde não o houver. Mantenham sempre vivas as discussões dos problemas locais relacionados às drogas, em fóruns que envolvam a população para auxiliar a atuação do Conselho Paritário de Entorpecentes. Organizem e dinamizem fóruns de debates, permanente ou não, sobre o assunto, em parceria com os grupos que atuam na área. 138. É fazendo cumprir a lei, que determina a criação dos Conselhos Municipais de Entorpecentes (COMEN), que se poderá garantir uma política pública preventiva às drogas e de atendimento aos dependentes e suas famílias. Os municípios só poderão receber verbas destinadas à prevenção, tratamento e repressão às drogas se o COMEN estiver em pleno funcionamento e sujeito a supervisão. 139. Fóruns permanentes de debate podem e devem acompanhar: a política do Governo Federal, testando a sua eficiência na sua realidade concreta; a atuação de deputados, vereadores, governadores e prefeitos; Comissões Parlamentares, como a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Narcotráfico, observando sua eficiência ou ineficiência no combate às drogas. Uma 22 FEBRACT - Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas. Fazenda Vila Brandina. Caixa Postal 5694 - CEP 13094-970. Campinas, SP. Telefone/Fax: Oxx19 252-7919. 29
  • 30. atuação nessa instância ajudará ainda a incentivar, criticar, propor mudanças ou reforçar as políticas que são desenvolvidas.23 140. Mas não basta uma ação nos municípios e no País. A cooperação internacional entre as nações reforça o princípio da responsabilidade compartilhada entre elas e ajuda a reduzir a demanda das drogas como pilar de toda a estratégia mais abrangente de esforço contra seu tráfico, comercialização e consumo. Algumas questões fundamentais ligadas às políticas públicas podem ser acompanhas, discutidas, encaminhadas: 1 - a legislação atual para a repressão ao narcotráfico e ao consumo de drogas: já tramita no Congresso a reforma da lei n. 6.368/1976, que dava ênfase excessiva aos consumidores, sem uma punição efetiva aos controladores do comércio. Dispositivos legais deveriam ser aplicados para transformar em crime toda a espécie de “lavagem” de dinheiro e para a desapropriação e venda imediata dos bens apreendidos do narcotráfico; 2 – quanto à cola, levar adiante o estudo da proposta do falecido educador Darcy Ribeiro, obrigando os produtores de cola a colocarem odores ruins para desestimular o seu cheiro pelas crianças de rua e talvez em outros produtos alternativos; 3 – Poder Judiciário: atacar seriamente a questão da impunidade e da corrupção dos meios judiciários;24 4 – CPI do Narcotráfico: acompanhar os trabalhos, que resultaram da CPI do Narcotráfico. Um deles, a cargo do SENAD, se refere às casas de recuperação de dependentes químicos. Motivar a transformação desta CPI em uma Comissão Permanente do Congresso para investigação do narcotráfico e consumo de drogas no País, como já acontece em alguns países; 5 – legalização do uso de drogras. É necessário acompanhar com exigente reflexão a proposta da legalização de algum tipo de droga, considerada menos perniciosa; 6 – agricultores: faz-se necessário também o apoio do Governo aos pequenos agricultores, seduzidos pelo alto rendimento do cultivo de plantas ligadas às drogas, bem como aos seringueiros e indígenas que ocupam as fronteiras do Brasil, onde acontece muito do tráfico de drogas; 7 – ECA: discutir a proposta de incluir um parágrafo único no art. 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente com os seguintes elementos: Nas mesmas penas incidem os proprietários e exploradores de estabelecimentos comerciais quando a criança e o adolescente forem encontrados nos interiores destes, adquirindo ou fazendo uso dos produtos que possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida. 1. Existe Conselho de Entorpecentes em nosso município? Como é formado? Como está atuando? 2. Se esse Conselho não existe, o que poderíamos fazer para que o mesmo seja criado? 3. Como organizar fóruns para acompanhar as políticas de governo a respeito das drogas? 4. Organizar um levantamento de tudo que existe na localidade na questão das drogas. 5. Como participar dessas iniciativas para que sejam incentivadas e apoiadas? Como fazer para que existam novas iniciativas? Prevenção ao uso indevido de drogas 141. A prevenção é um tipo de comportamento, de responsabilidade pessoal e coletiva, que cria as condições básicas para que algo aconteça ou seja impedido de acontecer. Podemos e devemos prevenir não só contra alguma coisa, mas a favor de algo. No caso em questão, a prevenção deve 23 Em princípio a CPI do Narcotráfico deve encerrar as suas atividades em outubro de 2000. Sugere-se a criação, no âmbito do Congresso Nacional, de um órgão para o acompanhamento do problema do narcotráfico no Brasil. 24 Revista Isto È, 17/11/99. 30
  • 31. favorecer tudo que, por si só, se oponha à droga, ao alcoolismo, aos vícios em geral. Prevenção se faz, sobretudo, fornecendo informações, formação e apoio. 142.A forma de desenvolver ações preventivas vai depender muito de cada realidade sócio- econômica e cultural da comunidade em que se atua. Para ser .eficiente, um programa de prevenção precisa ser bem planejado, desenvolvido por um determinado período de tempo e ser avaliado continuamente. E, obviamente, deverá ainda formar pessoas para desenvolvê-lo, envolvendo os diversos segmentos da comunidade. 143. A formação humana verdadeira se dá na educação para o amor, o respeito, o cuidado e a promoção da vida. É fundamental, portanto que a educação ofereça oportunidades para que crianças, adolescentes, jovens e adultos façam experiências positivas da alegria de conviver, servir e cultivar momentos e situações de felicidade. Os educadores e os pais, de modo particular, precisam educar para a liberdade com responsabilidade e para a autonomia, com uma metodologia que alie sabiamente ternura e firmeza. E nessa questão dois extremos devem ser evitados: por um lado, a ausência ou omissão e o laxismo, porque as crianças não terão oportunidade de conhecer e aprender limites importantes, e, por outro lado, a superproteção e o rigor excessivo, porque não há amadurecimento das pessoas quando se tornam vulneráveis, permanecem ingênuas, ou são inibidas. 144. A informação educativa deve estar centrada, sempre, na verdade, evitando sensacionalismo, exagero, ameaça e chantagem. No caso da droga, a informação deve ser passada, de maneira preferencial, tanto pessoalmente como em pequenos grupos, pois isso facilita muito o diálogo construtivo, já que, comumente, a comunicação de massa fica, em geral, na superficialidade do assunto. Além disso, no pequeno grupo, há mais chances de se dar destaque aos valores e ao sentido da vida, ao prazer do verdadeiro, ao valor da amizade, à alegria de viver e não apenas ao que em geral se costuma destacar na informação: os aspectos químicos da droga, seus efeitos e o modo de usar. 145. Um gesto de grande importância, como forma de apoio à prevenção e ao combate às drogas, é incentivar, acompanhar as iniciativas articuladas para isso e prestar-lhe serviços. É preciso conhecê-las, saber de suas necessidades e dificuldades e mobilizar a comunidade para ajudá-las. Um outro caminho, de grande utilidade, é apoiar e estimular a integração de instâncias já organizadas, como associações de bairros, igrejas, clubes esportivos, associações de pais etc. Quanto mais houver integração e apoio mútuo entre as diversas iniciativas, mais facilmente o mundo das drogas será conhecido e meios mais eficazes serão acionados para combatê-lo e para ajudar as suas vítimas. A Campanha da Fraternidade quer ajudar a participação e a mobilização de toda a sociedade na prevenção do uso indevido de drogas, tanto por um grande trabalho coletivo em todo o Brasil, como pela articulação das iniciativas, pequenas ou grandes, pois essa é uma tarefa de todos, e não só das autoridades médicas, policiais ou judiciárias. 146. Um meio saudável de prevenção às drogas é o desenvolvimento de programas de esporte, cultura e lazer, que, educativamente, colocam no centro do projeto a valorização da pessoa e não da atividade em si. Pode-se dizer que, em grande parte, é o não dar importância a esse princípio que distorce a atuação de atletas, dançarinos, artistas, que recorrem ao uso de anabolizantes em academias de ginástica, clubes esportivos etc. 147. Uma das atividades a serem incluídas, portanto, na mobilização contra as drogas é a reivindicação, junto aos poderes públicos e à sociedade, do desenvolvimento de muito mais programas de esporte, cultura e lazer, envolvendo escolas, públicas e privadas, clubes, Igrejas, para que cedam à comunidade seus espaços ociosos para realização de eventos nesse sentido, ou eles mesmos organizem tais atividades. 148. Nesse contexto, sugere-se também apoiar, desenvolver, reivindicar programas de ações básicas de saúde, como, por exemplo, o Programa de Agentes Comunitários de Saúde ou o Programa de Saúde da Mulher, incluindo nesses programas, a questão do combate às drogas. Isso acarreta, é claro, a inclusão desse item no treinamento de agentes comunitários de saúde e no desenvolvimento de ações e atividades de prevenção primária e secundária junto às escolas família e comunidade em geral. 149. O trabalho ajuda muito na proteção contra os vícios, pois, além do rendimento que produz, é um fator que aumenta a auto-estima, corrobora na construção da pessoa e é importante terapia ocupacional. Apoiar, desenvolver, reivindicar programas de geração de renda e de emprego, para jovens e adultos com baixa qualificação, é uma das atividades a ser promovida como meio contra as drogas. É evidente que, na questão do trabalho, é fundamental continuar denunciando o 31
  • 32. modelo econômico que coloca o lucro e o capital de poucos acima do trabalho digno para o povo, condenando a grande maioria à exclusão social, que leva tantas pessoas ao desemprego e ao desespero, caminho para ações anti-sociais, como droga, roubo, assalto, violência. Estimular e apoiar, também, as entidades que dão apoio aos trabalhadores, na coordenação de suas reivindicações e na defesa e promoção de seus direitos. 150. Nessa questão dos direitos, um outro caminho contra os vícios é o apoio e fortalecimento de grupos, associações e categorias sociais que se empenham na conquista, defesa e promoção de seus direitos fundamentais. É que, na medida em que a dignidade humana é respeitada, as pessoas poderão encontrar com mais facilidade o sentido da vida, evitando assim os vazios existenciais, que pessoas mal intencionadas prometem preencher com ilusões e drogas 151. Em todo este complexo universo de pessoas mais vulneráveis aos vícios, é evidente a necessidade de se dar atenção especial a alguns grupos excluídos que não são suficientemente contemplados pelas políticas públicas, como são, por exemplo, os portadores de deficiências físicas, moradores de rua, meninos e meninas de rua, índios sob deturpada influência de disseminadores de vícios e doenças, portadores de HIV, encarcerados etc. Nesses casos específicos, é necessário criar alternativas apropriadas de tratamento e convivência para esses grupos, e estimular a criação de políticas diferenciadas que respeitem a sua diversidade. Questionamentos 1. De todas as ações preventivas relacionadas acima, o que já existe em sua comunidade? Existe também alguma outra ação preventiva que não está relacionada aqui? 2. Que tipo de apoio podemos dar às ações existentes? 3. Que iniciativas poderíamos, ainda, ter na área de prevenção? Quanto à intervenção de ajuda 152. A intervenção de ajuda aos dependentes é utilizada, especialmente, nos casos em que os usuários ainda não necessitam de internamento para se recuperarem. Isso ocorre quando eles fazem uso ocasional, recreativo, de drogas, sem o comprometimento de seu livre arbítrio. Não há propriamente dependência, vício, mas a estrada já está aberta para isso, e o perigo é evidente. 153. Para maior eficácia, a intervenção visa, o mais possível, a realizar sua ação com todos os membros da família, com as pessoas do relacionamento íntimo do usuário de drogas, bem como de outras pessoas com as quais se relaciona como o patrão, o médico, o advogado, os educadores. É fundamental chegar a um certo consenso no modo de lidar com o dependente. E esse fator tem sua razão de ser, partindo-se do princípio de que é comum os dependentes procurarem essas pessoas, manipularem-nas e conseguirem o que querem de cada um isoladamente. 154. A intervenção é feita, normalmente, por meio da participação em grupos de auto-ajuda ou de aconselhamento. Os grupos de auto-ajuda são formados por homens e mulheres que seguem tradições e passos específicos, com o objetivo de favorecer e acelerar a recuperação do usuário de drogas. Crêem que o processo comunitário é fundamental no serviço que prestam e entendem que a solidão é que fragiliza muito as pessoas. Daí o lema que, em geral, usam: "Solidários sim, solitários não!". Anônimos por escolha, desprendidos por obrigação, eles formam uma cruzada silenciosa de apoio a todas as pessoas que padecem de comportamentos compulsivos. Esses grupos podem ser incentivados e merecem todo o apoio. 155. Um dado a ser destacado é que esses grupos de auto-ajuda são pequenos núcleos formados por pessoas que se libertaram de estilos de vida destrutivos e se colocam voluntárias a serviço da recuperação dos usuários de drogas pela pregação, com mensagens e dinâmicas apropriadas, da felicidade proveniente da vivência da sobriedade. Na troca de experiências, o indivíduo em estado de risco, se enxerga no grupo e, ao fazê-lo, toma consciência de que o seu problema não é o único, encontrando, assim, força extra para a própria recuperação. Nos grupos de auto-ajuda, todos os membros encontram-se num processo de abstinência de álcool ou de droga e o desejo de se recuperar cria um clima de empatia entre os participantes. Aos poucos, acontece uma mudança total de vida, condição fundamental para a recuperação. 32
  • 33. Existem diversos Grupos de auto-ajuda. Citamos alguns deles: a) Grupos de apoio à recuperação do dependente químico: AA- Alcoólicos Anônimos;25 NA – Narcóticos Anônimos; NATA – Núcleo de Apoio ao Toxicômano e ao Alcoólatra. b) Grupos de apoio a familiares e amigos dos dependentes de drogas: AL-ANON – para familiares e amigos de alcoólicos;26 AL-ATEEN – para filhos de alcoólicos (de 13 a 19 anos); AMOR-EXIGENTE – para familiares, amigos e educadores. NAR-ANON – para familiares, parentes e amigos de adictos em recuperação; NAFTA – para familiares para familiares de toxicômacos; NAFTINHA – para crianças. 156. Alcoólicos Anônimos (AA) é uma irmandade mundial de homens e mulheres que se ajudam mutuamente, compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O AA não está ligado a nenhuma religião, movimento político, organização ou instituição. Muitas comunidades e famílias cristãs apóiam estes grupos de AA. Os Grupos Familiares Al-Anon são uma associação de parentes e amigos de alcoólicos e funcionam com os mesmos princípios dos grupos de AA, adaptando-os ao grupo. Há algo similar também para os que desejam deixar o vício do fumo, do sexo, da compulsão consumista e outros. 157. Narcóticos Anônimos (NA) é uma associação comunitária de adictos a drogas em recuperação, que se ajudam uns aos outros. Uma irmandade sem fins lucrativos, na qual não existe restrição social, religiosa, econômica, racial, étnica, de nacionalidade, gênero ou status social. Os grupos vivem em suas comunidades, freqüentam as reuniões quanto lhes convém, não existindo nenhum registro ou controle, taxas ou contribuições. 158. Núcleo de Apoio aos Toxicômacos e Alcoólatras (NATA) é uma associação de usuários ou recuperados que se encontram regularmente a fim de se prestarem auxílio e se conservarem livres das drogas e do álcool. É dividido em dois setores, um para a família (NAFTA), para crianças (NAFTINHA) e outro para os dependentes químicos (NATA). Em geral, são ligados a entidades que mantêm comunidades terepêuticas. 159. Amor-Exigente é uma proposta educacional destinada a pais e orientadores, como forma de prevenir e solucionar problemas com os jovens, tais como: desrespeito, violência, falta de motivação, uso de álcool ou drogas, abuso verbal, repetência escolar, enfim, qualquer comportamento inadequado. É uma nova abordagem, que enfatiza a mudança de comportamento de pais, professores, pedagogos, terapeutas, orientadores e voluntários em relação a jovens com problemas (27 ). Os doze princípios do “Amor Exigente” são um guia para uma maneira de viver e de administrar a família e norteiam os grupos de apoio a pais e jovens. 1. Raízes culturais - princípios de integridade moral e ética são imutáveis. 2. Os pais também são gente - têm limitações e fraquezas, não são perfeitos. 3. Os recursos são limitados - temos limites físicos, emocionais e econômicos. É preciso respeitar limites. 25 O telefone do AA pode ser encontrado em todas as listas telefônicas, em lugar de destaque. O telefone nacional do AA é - 0xx11 229 3611. O endereço eletrônico do AA é alcoolicosanonimos@nutecnet.com.br , e o site é www.alcoolicosanonimos.org.br 26 O telefone nacional do Al-Anon é - 0xx11 222 2099; o fax é - 0xx11 220 8799 e o site é http:/www.al-anon.org.br O endereço eletrônico do NAR-ANON é: naranon@domai.com.br , o site é http://wwwdomai.com.br/clientes/naranon/index.htm , e o telefone do Escritório Nacional é 0xx21 283 0896 e 0xx21 263 6595 no Rio de Janeiro. Em São Paulo o telefone é 0xx11 605 8403. 27Sílvia Mara Carvalho de MENEZES, O que é Amor Exigente, Loyola, 1997, São Paulo, SP. 1. Amor-Exigente é um grupo de apoio, não um grupo terapêutico. Apresenta um processo de mudança, que poderá ser usado como guia e ajuda para encontrar o bem-estar da família. É um grupo de ação e não de consolação. Nele se discute a orientação para as situações apresentadas e o acompanhamento das atitudes sugeridas, para que haja uma verdadeira mudança interior no contexto familiar e escolar. 33
  • 34. 4. Pais e filhos não são iguais - pai é guia, orientador, legislador, conduz o filho. 5. Culpa - pais fazem sua parte do modo mais completo possível. 6. Comportamento - o comportamento dos pais afeta os filhos e os filhos aos pais. 7. Tomada de atitude - é dever dos pais agir prontamente, assumir posições claras e bem definidas. 8. A crise - é precisos ter coragem e disposição para mudar e ser capaz de amar os filhos e fazer o que precisa ser feito. 9. Grupo de apoio - sozinhos os pais se sentem perdidos e amedrontados, unidos e reunidos em grupos encontrarão novos caminhos. 10. Cooperação - a essência da família repousa na cooperação. É da cooperação que nasce a afetividade e a cidadania. 11. Exigência e disciplina - existem direitos e deveres para pais e filhos. 12. O amor - amar é um grande desafio. É uma decisão, deixa de ser um sentimento para ser uma opção de vida. O verdadeiro amor tem compromisso com valores maiores do que satisfação dos desejos. Questionamentos 1. Não seria importante que a sua diocese, paróquia ou comunidade fizesse um mapeamento dos grupos de auto-ajuda e de apoio já existentes para divulgá-los, fortalecê-los e apoiá-los mais? 2. Que tipo de grupos de auto-ajuda e apoio é necessário em nossa comunidade? Como organizá-los? 3. Como recuperar a disciplina e as exigências ético-morais do amor verdadeiro? Tratamento e reinserção social dos dependentes de drogas 160. As pesquisas têm apontado para a complexidade do fenômeno da dependência e também para o pouco conhecimento que dispomos sobre o assunto. Assim sendo, deve-se investir muito mais na pesquisa, respeitar a diversidade de programas de tratamento e a quantidade de referenciais teóricos para a compreensão do problema das drogas. Não dá para afirmar que um programa é melhor do que o outro. As últimas pesquisas têm apontado que se deve levar em conta no tratamento, em primeiro lugar, a situação de cada indivíduo, a individualização, e depois as dimensões médica, psicoterápica e social. 161. Dependentes diferentes necessitam, muitas vezes, de diferentes formas de tratamento. Alguns conseguem iniciar sua recuperação desde o início, com tratamento ambulatorial ou em grupos de auto-ajuda. Outros precisam de internações hospitalares para desintoxicação ou afastamento inicial do álcool ou outras drogas. Alguns precisam de atendimento psicológico ou psiquiátrico. Outros, enfim, necessitam de um tratamento em uma comunidade terapêutica. 162. Os modelos de atendimento a dependentes passam geralmente por duas etapas: desintoxicação, que visa a retirada da droga; manutenção, que visa à reorganização da vida do indivíduo, sem o uso prejudicial da droga. Entre as intervenções terapêuticas mais freqüentemente utilizadas no tratamento das farmacodependências, destacam-se: desintoxicação, farmacoterapia, psicoterapia individual, psicoterapia de grupo, atendimento familiar, terapia ocupacional, terapias cognitivas e comportamentais, grupos comunitários de ajuda mútua.28 163. É sempre bom relembrar que a possibilidade de sucesso em um tratamento é maior quando o paciente o procura voluntariamente e quando ele participa da escolha e do desenvolvimento de um projeto terapêutico. 164. Os poderes constituídos, por dever legal, têm de criar e estimular a formação de unidades de tratamento e recuperação de drogados para garantir a saúde de todos, especialmente dos jovens, conforme prescreve o Estatuto da Criança e Adolescentes (cf. Art. 101, inc. VI. Art. 4º e 7º). Na Paraíba, o Poder Judiciário criou e mantém uma Instituição (Comunidade Terapêutica), que tem recuperado adolescentes infratores, o Centro Terapêutico do Adolescente - CETA. E o tratamento tem revelado que a relação entre drogas e infrações cometidas por adolescentes é estreita e chega 28 SENAD - Secretaria Nacional Antidrogas. Relatório do 1º Fórum Nacional Antidrogas, Brasília, DF, p. 29 34
  • 35. a quase 100% dos casos. É preciso, sempre, na aplicação da medida sócio-educativa, tratar das causas que levaram o adolescente à transgressão legal, ou seja, à droga. 165. Como resposta às necessidades das pessoas que caem nas armadilhas da dependência e ao clamor de seus familiares por socorro, multiplicam-se pelo Brasil os ambulatórios, as casas de acolhida, as comunidades terapêuticas, as Fazendas do Senhor Jesus, as Fazendas da Esperança, o Lar São Francisco na Providência de Deus, os Lares Dom Bosco, as Casas de Esperança e Vida etc. Essas comunidades terapêuticas procuram manter um forte compromisso ético com relação aos seus assistidos, um programa coerente de recuperação e privilegiam a espiritualidade e o progresso científico em seus trabalhos. Essas instituições contam com inúmeras famílias, que acolhem e acompanham aqueles que necessitam de tal apoio. 166. Nessas entidades faz-se, geralmente, um longo tratamento que compreende três fases: desintoxicação, terapia e reintegração social. A desintoxicação, obrigatoriamente, é feita pelo isolamento do meio. Isso em busca da autonomia do sujeito. O apoio das comunidades é essencial na terceira fase, que é a de reintegração social. 167. A maioria das comunidades terapêuticas descobriu, ainda, a importância da laborterapia no tratamento dos dependentes. "Não pedimos esmolas, oferecemos trabalho!": é assim que as pessoas em tratamento colaboram com o próprio serviço para a manutenção da comunidade. As Fazendas da Esperança, a Fazenda do Senhor Jesus, que mantem escolas profissionalizantes, e, principalmente, o conjunto de obras ligadas ao "Lar São Francisco na Providência de Deus" montaram verdadeiras indústrias, nas quais os dependentes aprendem alguma ocupação sadia, um ofício, além de canalizarem energias, trabalharem, assumirem responsabilidades e saborearem os frutos do que fazem. 168. Deixar de usar drogas, ou abster-se de álcool, é apenas um dos aspectos da reabilitação. É necessário redescobrir o gosto e o sentido da vida. A caminhada de retorno será tanto mais difícil e penosa quanto mais longo e fundo se tenha ido nessa triste viagem. Questionamentos: - O Estatuto da Criança e do Adolescente, no Art. 101, afirma que os poderes constituídos têm por dever legal criar e estimular a formação de unidades de tratamento e recuperação de dependentes de drogas para garantir a saúde dos jovens. Existe alguma entidade que cumpra este papel em sua comunidade ou em seu município? Se existe, como apoiá-la, fortalecê-la? Se não existe, o que fazer para criar uma unidade de tratamento? Os desafios de um dependente de drogas depois do tratamento 169. A síndrome de abstinência: normalmente, os dependentes químicos, ao pararem de consumir a droga, são acometidos de síndrome de abstinência, que lhes traz grandes sofrimentos. Todo tratamento exige um empenho muito grande do paciente. Às vezes, o indivíduo já não possui vontade forte e necessita, assim, então de um grupo de apoio. O paciente vive um profundo conflito: o corpo quer a droga, e a mente tenta impedir. É fundamental realizar terapias específicas que levem em conta essa violenta tensão. 170. A discriminação: após o tratamento, o dependente químico precisa voltar à vida em sociedade. Isso vai expô-lo novamente ao ambiente de risco, e as recaídas podem ocorrer. É comum que se sinta discriminado. Nessa fase, todo apoio da família, dos amigos e das Igrejas é imprescindível. É necessário que ele se sinta acolhido, tenha oportunidade de trabalhar, e que se afaste dos ambientes onde antes consumia drogas. Os grupos de auto-ajuda são fundamentais nessa etapa. 171. A luta contínua: dificilmente, acontece uma cura definitiva. As pessoas que foram dependentes permanecem sempre suscetíveis a uma recaída. É por isso que o alcóolico que assumiu viver na sobriedade procura evitar o primeiro gole, porque é consciente que sua doença continuará a progredir a partir do estágio onde parou no tratamento. Volta tudo. Seu esforço é essencial, mas não dispensa a ajuda e a compreensão daqueles que convivem com ele. 35
  • 36. Sem mudança de vida, é quase impossível perseverar. O apoio da família, da sociedade ou de um grupo de ajuda colabora muito para a sobriedade da vida. 172. A droga poderá ser a causa direta da morte de um dependente: por overdose, por exemplo; ou poderá ser causa indireta, pelas complicações secundárias que acarreta, como, por exemplo, problemas cardiovasculares, respiratórios, hepáticos, pancreáticos, intestinais, renais, infecções generalizadas. Além disso, é ainda causa de muitos outros problemas, como acidentes, assassinatos, prisão etc. Questionamentos 1. Como nossa comunidade acompanha o ex-dependente, após o tratamento, considerados os inúmeros desafios que ele enfrenta em seu meio social? 2. Por que são poucos os que perseveram após o tratamento de recuperação? O papel das famílias, das escolas e das igrejas 173. Família, escola e igreja são ambientes formativos de grande importância no desenvolvimento integral das pessoas e, por isso, necessitam atuar em interdependência. Nesses ambientes, as pessoas podem cultivar princípios universais que governam as atividades humanas, bem como valores humanos cristãos, como ética, respeito, justiça, imparcialidade, integridade, honestidade, fidelidade, defesa da dignidade humana etc. E é nesses ambientes que se pode experimentar, de fato, a força educativa do amor. Por mais que haja falhas nelas, é ali, principalmente, que se formam os valores fundamentais da pessoa humana, que se aprende a convivência em sociedade, que se dá a abertura para a transcendência e se descobre o sentido da vida. É, dessa maneira, imprescindível continuar investindo no aperfeiçoamento dessas três instâncias educativas. 174. Essas instituições podem também educar para a disciplina preventiva e construtiva. A falta da disciplina, que tem um papel importante na questão dos indispensáveis limites positivos - sem os quais não podemos ser gente, nem conviver com os outros - pode ser um fator motivador do uso de drogas. Sabemos que um equilibrado trabalho de auto-disciplina e sobriedade é um dos pilares para uma vida sadia, em todos os sentidos. Também o é na prevenção e no tratamento de dependência de qualquer tipo de droga. 175. Uma das preocupações das citadas instituições deve ser a valorização dos talentos, dos dons de cada um, especialmente daqueles que estão em fase de formação da personalidade, como os adolescentes e os jovens. Uma pessoa estimulada, valorizada e realizada dificilmente tornar- se-á vítima do prazer enganoso. 176. O ambiente educa quando é sadio, carregado de amizade, carinho, segurança, responsabilidade, dedicação, amor, misericórdia, fé. Os dependentes de drogas são geralmente pessoas "enfermas", de afeto não sabem amar de maneira justa porque não são amados de maneira correta também. No tratamento deles, é importante possibilitar uma convivência em ambientes propícios à formação, pois é neles que se forjam personalidades livres, seguras, amorosas e solidárias.. 177. Nos objetivos dessas entidades, especialmente em face do que é veiculado pela mídia, deve- se dar um grande destaque ao desenvolvimento do senso crítico. É de fundamental importância cultivar um diálogo constante com os produtores, roteiristas, artistas, jornalistas e comentaristas, que detêm um enorme poder de construir opinião no povo, já que eles, sem censura, podem promover valores humanos e cristãos ou contravalores. É a participação direta e crítica dos usuários dos meios de comunicação, mais que a censura oficial, que pode positivamente disciplinar o que é veiculado. Os destinatários das mensagens veiculadas desempenham também importante papel no processo de comunicação. Infelizmente, neste aspecto, somos um povo perigosamente omisso e facilmente manipulável. 36
  • 37. A família e a dependência das drogas: pistas de ação 178. A família, a primeira educadora, para desenvolver bem a sua missão, necessita que os pais realizem um contínuo investimeto educacional em si mesmos e nos filhos. Em face das imensas dificuldades que ela enfrenta em nossos dias, necessita do auxílio de outras instituições como a escola e a comunidade eclesial. Falta, porém, muitas vezes, entre essas entidades um consenso básico sobre o valor da família e a necessária união e coordenação entre elas. Disso resulta a falta de clareza e coerência quanto aos valores, o que pode levar as pessoas ao descrédito, à confusão de idéias e ao relativismo ético e moral. A vítima maior da família sem fundamentos são, evidentemente, o filho e a filha. Sem o apoio dos pais, os filhos se tornam frágeis e facilmente vulneráveis às pressões dos que rondam as pessoas incautas, aliciando-as para as suas armadilhas. Entre aqueles estão também os que comandam o mundo das drogas. 179. É preocupação essencial da evangelização e da pastoral orgânica estabelecer e colocar em ação uma Pastoral Familiar criativa, atualizada, alegre, corajosa, com forte mística evangélica. A Pastoral Familiar deve contemplar uma série de iniciativas que visem às famílias na prevenção ao uso de drogas. Entre elas, estejam, sobretudo, ações que valorizem as relações familiares e incentivem os valores humanos e religiosos; ajudem a prevenir quanto a qualquer tipo de vício e a eliminar o preconceito quanto às drogas. É importante que se forneçam aos pais informações sobre entidades que atuam nesse campo, especialmente de maneira preventiva. 180. Procure-se criar grupos de apoio formados de pais cujo filho ou filha esteja envolvido com drogas, bem como vincular o tratamento de toda a família no atendimento de um dependente, com terapias individuais ou em grupo, terapia ocupacional e comportamental, grupos comunitários de ajuda mútua etc. 181. Outra preocupação deve ser trabalhar criticamente as campanhas de informação, esclarecimento e prevenção promovidas pelos meios de comunicação social, não permitindo que induzam a sociedade a marginalizar e discriminar ninguém, como por exemplo, com o uso de palavras estigmadoras como drogado, viciado, maconheiro e outras. 182.Urge que as comunidades defendam, com todos os meios possíveis, especialmente nos conselhos paritários, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O ECA reconhece que a família é insubstituível no desenvolvimento integral das pessoas. A Igreja e todas as instâncias sociais que, de fato, querem um futuro melhor para crianças e jovens e para o Brasil, devem, evidentemente investir muito na luta para que as famílias tenham as condições humanas básicas e dignas para o sustento, a guarda e a educação dos filhos menores. 183. Cuidar para que não sejam reforçadas situações difíceis, pela qual passa a família que sofre as conseqüências da dependência de drogas, com freqüentes observações negativas e impróprias que aos poucos vão se introjetando e arruinando ainda mais o processo de educação integral do dependente e drogas.29 Questionamentos: Existem outras atividades que poderiam ser realizadas pelas nossas famílias, pela Pastoral Familiar, pelos Movimentos de Casais e outras pastorais, em favor das famílias que procuram educar seus filhos para a prevenção, ou em favor das famílias que enfrentam algum caso de dependência de droga? Comunidade escolar e dependência de drogas: pistas de ação. 184. A população escolar é constituída predominantemente de crianças, adolescentes e jovens que estão em fase de desenvolvimento, com possibilidades educacionais muito peculiares. Os educandos estão numa das fases mais preciosas da estruturação da personalidade e da 29 Algumas conseqüências da dependência de drogas são: violências, roubos, irresponsabilidades, gravidez indesejada, descontroles financeiros, baixa reputação, envolvimento com o crime, prisões, doenças, etc. O menor mal que pode acontecer aos dependentes apresenta como sintoma um retardamento na maturidade, que os torna adolescentes intermináveis. A imaturidade se manifesta freqüentemente no temor do futuro ou na fuga perante novas responsabilidades. Nada dá certo. Todo projeto iniciado é interrompido, com crises aguçadas de desânimo e auto- estima. 37
  • 38. organização dos padrões de vida. Em sua idade, eles passam praticamente metade de seu tempo no ambiente escolar. É importante, portanto, que a escola tenha uma proposta educacional que respeite as fases de desenvolvimento dos educandos e ofereça-lhes, criticamente, as bases para que realizem, o mais harmoniosamente possível, o seu crescimento. E isso, como acima já indicamos, de forma interdisciplinar e em cooperação mútua com a família e a Igreja. 185. O mínimo que se exige de uma escola é que honestamente operacionalize os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que incluem os Temas Transversais e o Ensino Religioso, e incentivam a desenvolver programas educacionais que proporcionem a formação de cidadãos críticos e responsáveis diante de uma sociedade cheia de problemas, entre eles, o da droga. 186. No contexto da CF 2001, propomos algumas pistas de ação mais específicas para as escolas. Consideramos importante trabalhar as informações científicas sobre as drogas, com verdade, serenidade e lucidez, de acordo com a faixa etária dos alunos. Procure-se evitar o sensacionalismo, o moralismo e o alarmismo etc. Discursos antidrogas e mensagens amedrontadoras ou repressivas, além de não serem eficazes, podem até mesmo estimular o uso, pois "o amor educa, a repressão domestica". É necessário discutir, nos programas de prevenção, o uso de drogas e bebidas, situando-o, porém, dentro do contexto mais amplo da saúde 187. O trabalho de prevenção às drogas, assim como da educação para a vivência equilibrada da sexualidade e a não-violência, não deve constituir algo extraordinário na atividade educacional da escola, o que, em geral, causa curiosidade e apreensão entre os educandos e as famílias e, às vezes, desconfianças, de estar havendo na escola casos complicados, que estejam provocando a ação especial da escola nesses assuntos. Como a tarefa da escola ultrapassa os limites do instruir e transmitir conhecimentos – cada vez mais à disposição nos meios eletrônicos – sua missão passa sobretudo para a esfera do educar para a cidadania e para saber o que fazer com o saber acumulado, que está à disposição de todos. Cada professor é convidado, como responsável por seus alunos e pelos destinos do País, a desenvolver cada vez mais a dimensão educativa em seu trabalho profissional. 188. A escola, além do enfoque educativo das diversas disciplinas, favorecerá, criativa e generosamente, atividades extraclasses que favoreçam nos alunos o conhecimento de si e do outro, e estimulem a disciplina e organização do tempo. Ajudam muito nisso os diversos tipos de grupos, como teatro, dança, esporte, música, grêmios, grupos de jovens, voluntariado junto aos mais necessitados, etc. Estimulem-se, portanto, atividades criativas que possam absorver e entusiasmar as crianças e os jovens. Para alguém afastar-se das drogas, é necessário que tenha outras opções mais interessantes, que lhe ocupem o tempo, dentro de um contexto muito mais saudável. Tudo isso contribui para que as pessoas cresçam nas relações humanas, assumam valores, tenham uma vida saudável, entrem num processo de amadurecimento, exercitem a participação cidadã, clareiem suas opções etc. 189. Faz parte do processo educativo escolar estabelecer regras de convivência, limites claros e estimular processo participativo, que ajudem os alunos a construir um ambiente onde a disciplina pessoal e comunitária seja assumida, na liberdade, como geradora de equilíbrio pessoal, convivência construtiva com o diferente e comportamentos compatíveis com a cidadania. Das orientações que cabem à escola faz parte também a questão das drogas, da violência e de outros tipos de desvios comportamentais. 190. Muitas outras atividades podem, ainda, ser desenvolvidas: incentivar a participação em palestras, campanhas solidárias, debates, cine-fóruns, jornais, folhetos etc. sobre a questão da dependência de drogas; envolver as famílias e a comunidade na montagem e na execução de planos de prevenção; capacitar professores e/ou técnicos para identificar e dar encaminhamento aos alunos, que, em relação às drogas, se encontram em situações de risco etc; apresentar modelos de vida existentes na história que ajudarão os estudantes na procura de um projeto de vida posto à disposição do bem comum, particularmente dos mais necessitados. 191.Quando se descobrem alunos usando drogas, a abordagem deve ser direta, com atitude clara de oferta de ajuda e não de repressão, encaminhando-o, conforme o caso, e em estreita ligação com a família, para acompanhamento especializado, grupos de ajuda mútua, entidades especializadas, serviços de saúde, internação etc. A escola não pode ser omissa e nem simplesmente descartar o problema mediante expulsão do aluno dependente. Ela não é uma agência de tratamento de casos tão específicos, mas, obviamente, lhe cabe orientar alunos e pais para procurarem instâncias adequadas de ajuda especializada. 192.Relembramos aqui as ricas propostas da Campanha da Fraternidade de 1998, que tratou da 38
  • 39. temática "fraternidade e educação", no enfoque de uma educação “a serviço da vida e da esperança”. Tais propostas promovem um processo educativo que liberta, dá condições aos alunos de aprender a ser, aprender a aprender, aprender a conviver aprender a fazer30 Estimulam as pessoas a participarem na construção de uma escola mais eficaz, que eduque no exercício da cidadania, permitindo a todos serem também educadores, numa sociedade na qual somos todos aprendizes, sempre. Questionamento: Que tal ajudar as escolas a assumirem como dado normal de seu Projeto Educativo a prevenção às drogas? Que iniciativas poderão ser tomadas para a prevenção às drogas e também no acompanhamento dos casos de uso das drogas nas escolas? E nos casos de reinserção na comunidade das pessoas que se encontram em tratameto? As Igrejas Cristãs e a dependência de drogas: pistas de ação 193. Como foi dito anteriormente, é motivo de muita alegria, o trabalho realizado por outras Igrejas neste desafiador campo da dependência de drogas. A troca de experiências em relação a aos trabalhos que vêm sendo realizados pela diversas denominações cristãs enriquece a ação dos discípulos de Cristo, estimula o ecumenismo e manifesta a Glória de Deus. E um lugar privilegiado para esta troca de experiência, e sobretudo para a busca de novos caminhos na luta contra a dependência, é a Associação Nacional de Comunidades Terapêuticas Cristãs (ANCTC), já apresentada neste texto, a qual já promoveu dois congressos nacionais da Pastoral da Sobriedade, o primeiro em Guaratinguetá, SP, de 10 a 13 de junho de 1999, e o segundo em Arujá, SP, de 07 a 10 de setembro de 2000. 194. A Campanha da Fraternidade Ecumênica, realizada, no ano 2000, sob coordenação do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs (CONIC), trouxe muitas conquistas no caminho da união de esforços das Igrejas cristãs em prol de um mundo que priorize a paz e a dignidade humana, um mundo sem exclusões. Que esta comunhão ecumênica se prolongue em 2001, incluindo, também, o esforço de reflexão, oração e atividades na busca de respostas ao grande desafio constituído pelo mundo das drogas e dos vícios de qualquer espécie. A contribuição específica das Associações e Movimentos Eclesiais 195.As inúmeras associações e os diversos movimentos eclesiais constituem uma grande riqueza na Igreja. Em sua busca de renovação da vida cristã, essas instituições favorecem a vivência do Evangelho nas mais variadas formas de espiritualidade, provocam importantes momentos de experiência de Deus e entusiasmam os fiéis. Todas essas instituições, com seu impulso espiritual, e concomitante compromisso com a justiça social, constituem importantes meios na busca de respostas para solucionar, direta ou indiretamente, o grave problema das drogas. Que a CF 2001 - "Vida Sim, Drogas Não!" – impulsione as associações e movimentos eclesiais a um ainda maior envolvimento no importante trabalho de prevenção de drogas e recuperação de dependentes, visto que comprovada está a importância da espiritualidade na recuperação de pessoas envolvidas em drogas. A contribuição específica das paróquias 196.Evangelizar é o grande objetivo das paróquias. O trabalho evangelizador, ao oferecer os meios de salvação aos fiéis, opera a cura do coração da pessoa para a edificação da Igreja, comunidade de salvação, e na construção de uma sociedade solidária e fraterna São muitos os meios que a Paróquia pode utilizar em sua missão evangelizadora e pastoral: anúncio da Palavra 30 UNESCO: Educação, um tesouro a descobrir. Relatório Jacques Dolors, São Paulo, Ed. Cortez, 1998. 39
  • 40. de Deus, testemunho de comunhão, serviço e diálogo ecumênico, inter-religioso e com as culturas. 197. Um importante meio para fortalecer a fé, a esperança e a caridade dos fiéis, portanto, dar- lhes segurança na vivência cristã, é a celebração nas assembléias litúrgicas. Liturgias bem celebradas e participadas são expressão da disposição de viver segundo as alegrias e exigências do Evangelho e, também, do amor solidário e forte, que liberta, promove e salva. Favoreça-se, particularmente, a celebração da Penitência e da Eucaristia, pois ambas retemperam as convicções morais e alimentam a dinâmica da doação de si aos outros, como mediadores de reconciliação e solidariedade eucarística da partilha. 198. Pastorear inclui também ir ao encontro da ovelha que se afastou do rebanho. A comunidade paroquial, como sinal da presença do Bom Samaritano e Bom Pastor, deve estar sempre atenta às diversas necessidades e formas de pobreza em seu próprio âmbito, e uma forma de pobreza é a drogadição. 199. A presença de dependentes de drogas e o contínuo perigo que ameaça outros de serem envolvidos pelo mundo das drogas são um chamado contínuo à paróquia para se organizar e dar uma resposta a essa problemática. Além de procurar criar condições para o encaminhamento dos dependentes de drogas e suas famílias para tratamento, outros serviços podem ser organizados pelas diversas pastorais já existentes, como, por exemplo, a Pastoral da Visitação e da Acolhida. Essa Pastoral poderia incluir em sua missão uma atenção especial às famílias atingidas pelo flagelo das drogas, levando-lhes uma mensagem de esperança, concretizada em gestos de amor e compreensão. 200. Dentro do possível, sejam organizadas "Casas de Acolhida", pois, em geral, as iniciativas de apoio a dependentes esbarram na falta de um local adequado. Uma "Casa de Acolhida" deve se esforçar para manter pessoas que atendam com jeito e amor. Deve estar capacitada a encaminhar os que a procuram com problemas relacionados a drogas a grupos de auto-ajuda, pessoas e instituições especializadas. Deve também possuir um catálogo de informações detalhadas sobre os recursos existentes para o tratamento de dependentes e que estão ao alcance da comunidade local, além de apoiar os que estão em processo de recuperação.31 Importa que essas casas, por meio de voluntariado dêem, em nome da comunidade eclesial, todo apoio possível aos que estão em processo de recuperação. 201. Um outro modo de enfrentar a questão das drogas é a paróquia dar apoio aos ambulatórios existentes na comunidades, que prestam ajuda aos dependentes, e liderar reivindicação para que sejam estabelecidos onde não os houver. Um tipo de colaboração, por parte da Paróquia, consiste na disponibilização de um local para núcleos de AA, Al-Anon, Sobriedade Cristã, bem como a organização de serviços como o “S.O.S. Droga”. 202. Há outras iniciativas possíveis e, evidentemente, as comunidades serão realisticamente criativas em sua identificação. Acolher ou assistir, por meio de grupos de família, um dependente na fase da reinserção social ou laborativa. Organizar "Caravanas da Vida" – mutirão para visitar escolas, capelas, hospitais -, para levar as mensagens da Campanha da Fraternidade a todas as pessoas e instituições, por meio de palestras, jograis, encenações, shows etc. Incluir no "Dia da Comunicação" uma atividade especial da Pastoral da Comunicação junto à comunidade eclesial, para divulgar o tema “Vida Sim, Droga Não!”, em todos os meios de comunicação existentes na paróquia. Questionamento: 1. O que a Paróquia se propõe a fazer para articular a Campanha: “Vida sim, drogas não”? 2. O que fazer para manter a continuidade dos trabalhos com relação à dependência de drogas? As Pastorais e a Pastoral da Sobriedade 203. Existem muitas pastorais que estão dando sua contribuição especial para enfrentar a 31 É importante que a comunidade conheça as entidades para as quais serão encaminhados os dependentes. Por isso, optamos por não publicar uma lista nacional de todas elas. 40
  • 41. problemática da dependência de drogas, com o espírito do Bom Pastor. Entre elas, destacamos a Pastoral da Saúde, a Pastoral da Juventude, a Pastoral Familiar, a Pastoral da Educação e o Ensino Religioso Escolar. 204. Na 36ª a Assembléia Geral da CNBB (1998), em Itaici, o Setor Juventude fez veemente pronunciamento, relatando as conclusões de um encontro das instituições que trabalham com dependentes químicos, realizado em Lins - SP, em junho de 1997. Diante da problemática que foi apresentada, o Setor Juventude recebeu, como resposta, manifestação favorável de 247 bispos presentes para a implantação de uma pastoral específica que visasse à prevenção, recuperação e reinserção dos dependentes químicos. 205. Todas as pastorais foram convocadas para a luta contra as drogas. Dessa articulação, surgiu uma nova pastoral - a Pastoral da Sobriedade. Sobriedade? O que seria? Sobriedade não é uma simples ausência de álcool e drogas. Sobriedade é uma maneira de viver. E a sobriedade é fundamental para todas as pessoas e para todas as categorias sociais “Tudo o que é demais sobra", diz o ditado popular. Muitas vezes, em nossas vidas, sobra sono, comilança, cobiça, vazio afetivo, vazio existencial, desespero etc. São Pedro já havia recomendado isto: “Sede sóbrios e vigiai” (1 Pd 5,8). Os excessos são prejudiciais não só à saúde física, mas também à saúde psicológica, social e espiritual. 206. Os que são privilegiados pelo dinheiro e bens sabem perfeitamente que o consumismo e a idolatria do dinheiro levam facilmente ao egoísmo e ao vazio interior, que por sua vez, conduzem à bebida, à droga e a outros vícios. Uma vida simples, austera, honesta colabora, e muito, para a prática da solidariedade, porque deixa espaço para o outro e para Deus. Mas os que lutam pela sobrevivência correm o risco de serem alienados pelo ímã distante do ídolo dinheiro, que empurra para jogatinas, com esperanças de enriquecimento rápido, e para desvios sociais diversos, entre os quais a bebida, o fumo e todas as demais drogas. Gastamos com coisas desnecessárias, desperdiçamos. Tudo isso está muito bem no espírito da quaresma, tempo em que se recomenda o jejum, a abstinência, a prática da solidariedade e também a luta política por uma sociedade justa. A atual Campanha oferece uma boa oportunidade para que organizemos a Pastoral da Sobriedade32 , reunindo agentes de pastoral que ajudem os mais fracos a redescobrir o gosto pela vida, o profundo significado da liberdade, do amor como base da própria existência e para a prática da partilha, pois o que se economiza na sobriedade pertençe ao mais necessitado. A Pastoral da Sobriedade, como todas as demais iniciativas sérias que citamos ao longo deste texto, atuará , nesta questão das drogas, em cinco frentes de trabalho: 1. Prevenção: será dirigida ao público que nunca experimentou drogas e àqueles que já as experimentaram, sem, entretanto, terem se habituado ao uso. 2. Intervenção: atuará junto ao público que já se iniciou no uso de drogas, faz uso dela com alguma freqüência, mas ainda não se tornou uma vítima crônica. 3. Recuperação: oferecerá atendimento aos usuários de droga, nos quais já se instalou a dependência química, física ou psicológica. 4. Reinserção social: auxiliará os que passaram por um tratamento, nos desafios que enfrentam em seu dia-a-dia. 5. Atuação política: desenvolverá reflexão e atividades junto aos organismos que atuam na sociedade (Conselhos, fóruns...), defendendo sempre uma política "antidrogas" que seja eficaz, prática e que gere vida. 32 Entre os subsídios da Pastoral da Sobriedade já publicados, destacamos: Nilo MOMM e Wilsom BASSO, scj. Prevenção ao uso de drogas: roteiro para grupos de jovens. São Paulo, Centro de Capacitação da Juventude, 1998. MOMM, Nilo, Pastoral da Sobriedade. Pronunciamentos da Igreja. Ed. Loyola, São Paulo, 1999. 2. CNBB - Pastoral da Sobriedade da Arquidiocese de Curibita: Os 12 passos da Pastoral da Sobriedade - Manual do Agente. Rua Jacarezinho, 1717, fone : (41) 339-1113, Mercês. CEP 80.810-130. Curitiba - PR. 41
  • 42. Questionamentos: Cada pastoral em nossa Igreja responde a uma necessidade. Seria oportuno organizar em sua comunidade a Pastoral da Sobriedade? Como? Com quem? Quando? Para quê? Com que recursos? Quais os passos para a articulação dessa Pastoral? (Para ajudar, encaminhamos algumas pistas - números 207 - 211. 207. Primeiro passo: levantamento do que já existe. O primeiro passo a ser dado é o levantamento dos recursos existentes na comunidade, ou seja, o que já existe e que tem a ver com a Pastoral da Sobriedade. Quais são as pessoas, entidades que estão trabalhando em atividades ligadas à Pastoral da Sobriedade: comunidades terapêuticas, clínicas, hospitais, Conselho Municipal de Entorpecentes, grupos de auto-ajuda, tipo AA, NATA, Amor Exigente etc. Em seguida, relacionar grupos de jovens da Pastoral da Juventude, movimentos, pastorais, convocando a todos os representantes para um encontro específico sobre a problemática. 208. Segundo passo: com a primeira reunião geral dos convidados, já se está dando início à Pastoral da Sobriedade. Dadas as explicações e motivações, distribua-se o cadastro e solicite-se a inscrição dos que estão motivados pela causa e comprometidos com ela. Utilize-se principalmente o conteúdo da “Carta da Pastoral da Sobriedade”.33 209. Terceiro passo: criação de uma comissão para a Pastoral da Sobriedade e início dos trabalhos. Iniciar o trabalho de prevenção, que visa a evitar o mal antes que aconteça. É importante reforçar os grupos já existentes e, se necessário, formar outros, inclusive nas escolas. 210.Quarto passo: intervenção e tratamento. O ideal é que em cada paróquia, exista pelo menos um grupo de auto-ajuda funcionando e os endereços das comunidades terapêuticas vizinhas. Se não houver nenhuma, é necessário elaborar um projeto, buscar recursos financeiros, treinar pessoal apropriado, entrar em contato a Pastoral da Sobriedade, ou com algum outro órgão ligado a alguma instituição que possa ajudar no treinamento dos agentes. 211. Outros passos poderão ser dados como: entrar em contato com alguma das comunidades terapêuticas bem conceituadas, que já estão se espalhando por todo o Brasil34 ; montar um espaço que funcione como referência da Comissão da Pastoral da Sobriedade. O ideal é que se disponha de um endereço onde funcione durante o dia, uma "Casa de Acolhida", pessoas voluntárias como referência, e, à noite, os grupos de auto-ajuda. Isso colabora para tirar a Pastoral do anonimato Aos poucos a paróquia poderá se articular com outros núcleos diocesanos e, também, de âmbito regional e nacional. Subsídios e experiências serão permutadas e o amor pastoral circulará entre os irmãos, que experimentarão a verdade e solidificarão a convicção de que a esperança não decepciona. 33 Nilo MOMM, Pastoral da Sobriedade. Pronunciamentos da Igreja. Ed. Loyola, São Paulo, 1999, p. 43-46. 34 Como exemplos de comunidades terepêuticas, citamos: AFRUCTO - Comunidade Terapêutica Oasis, Porto Alegre, RS; SERVOS - Sociedade de Empenho na Recuperação de Vidas através da Oração e Serviços, Brasília, DF; Associação Casa Familia Rosetta, Porto Velho, RO; Casa Dia, Americana, SP; Lar de São Francisco na Providência de Deus, em Jaci (SP); Comunidade Vida Nova, Curitiba, PR; 0.P.J. Obra de Promoção dos Jovens, Rio de Janeiro, RJ; Fazendas da Esperança, em Guaratinguetá, SP e Brasília, DF; Comunidades Casa da Esperança e Vida, Diadema SP; as Fazendas do Senhor Jesus, em Campinas (SP). Estamos providenciando a relação de todas as Comunidades Terepêuticas no Brasil. E agradecemos colaboração para estes dados. 42
  • 43. 35 Os 12 Passos são a base para a maioria dos trabalhos existentes com dependentes de drogas e seus familiares. A Pastoral da Sobriedade adota os 12 passos buscando, na Bíblia Sagrada, os fundamentos para esta nova atitude de vida. 1º) Admitimos que éramos impotentes perante o álcool e a droga, que tínhamos perdido o domínio sobre nossas vidas. Mateus 9, 36 / Romanos 7,18-20 / Salmos 6,2-4 / Salmos 31,19.10. 2º) Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia devolver-nos a sanidade. Mateus12, 18-21 / Marcos 9, 23.24 / Lucas 13, 10-13 / João 12,46 / Filipenses 2, 13. 3º) Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na forma em que o concebíamos. Mateus 11, 28-30 / Mateus 16, 21-26 / Efésio 2, 8.9 / Salmos 3, 5.6 / Romanos 12, 1. 4º) Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos. Mateus 23, 23-28 / Lucas 12, 1-6 / Romanos 12, 1-6 / I Coríntios 4, 19.20. 5º) Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser humano a natureza exata de nossas falhas. Lucas 15, 17-20 / Atos 19, 18 / 2 Coríntios 10, 3-5 / Tiago 6, 16. 6º) Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses defeitos de caráter. Romanos 6, 11.12/ Efésio 4, 17-23 / Colossenses 3, 5-8 / 1 Pedro 1, 13-16 / Tiago 4, 10. 7º) Humildemente rogamos a Ele que nos livrasse de nossas imperfeições. Mateus 18, 4 / Atos 3, 19 / Hebreus 12, 5-11 / 1 Pedro 5, 6.7 / 1 João 1, 9. 8º) Fizemos uma relação de todas as pessoas a quem tínhamos prejudicado e nos dispusemos a reparar os danos a elas causados. Mateus 18, 21-35 / Lucas 6, 31.37-38 / Lucas 19, 8 / João 13, 34.35. 9º) Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem. Mateus 5, 9.23-24 / Romanos 15, 2 / Filipenses 1, 9-11 / Colossenses 4, 5.6 / Salmos 51, 14.17. 10º) Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados, nós o admitíamos prontamente. Marcos 14, 38 / Romanos 12, 3 / Tessalonicenses 5, 17-22 Hebreus 2, 1-3 / 1 Coríntios 10, 12. 11º) Procuramos, por meio da prece e da meditação, melhorar nosso contato consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o conhecimento de sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa vontade. João 4, 13.14 Romanos 8, 26-28 / Gálatas 2, 20 / Filipenses 4, 6-9 / Tito 3, 1-7 / Colossenses 3, 16. 12º) Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a estes passos procuramos transmitir esta mensagem aos alcoólatras e toxicômanos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades. Marcos 5, 18-20 / 1 Coríntios 9, 22-27 / 1 Coríntios 15, 10 1 Timóteo 1, 12-16 / Gálatas 6, 1. GESTO CONCRETO DA CAMPANHA E FUNDO NACIONAL DE SOLIDARIEDADE 212. Finalidade do Gesto. A Campanha da Fraternidade se expressa concretamente pelo gesto fraterno da COLETA DA SOLIDARIEDADE. Sua finalidade é a constituição dos Fundos Nacional e Diocesanos de Solidariedade. A arrecadação destina-se ao desenvolvimento de ações em favor dos que sofrem processos de exclusão. É um gesto concreto em âmbito nacional, realizado em todas as dioceses e comunidades cristãs. 35 O desenvolvimento destes passos pode ser encontrado nos seguintes livros: Pe. Haroldo J. RAHAM SJ, O Caminho da Sobriedade. Ed. Loyola, São Paulo, 1996, p. 67 - 72; FRIENDS IN RECOVERY, The Twelve Steps For Christians. Doze passos para os cristãos. Trad. Bárbara Theoto Lambert. Ed. Loyola, São Paulo, 6ª Ed. 1999. 43
  • 44. 213. Destinação dos recursos. Os recursos destinar-se-ão prioritariamente à prevenção, intervenção, tratamento e reinserção social dos dependentes de drogas. Da arrecadação, 60% ficarão nas dioceses, constituindo o Fundo Diocesano de Solidariedade. O Fundo Nacional de Solidariedade36 , receberá 40% da coleta. 214. Como organizar a coleta. Todas as pessoas das comunidades eclesiais serão convidadas a colaborar com o gesto concreto de solidariedade durante todo o tempo da Campanha, do início da Quaresma até o domingo que antecede a Páscoa. É importante que bispos, padres, religiosos(as), lideranças leigas, agentes de pastoral motivem e animem todos os fiéis a participarem, oferecendo a alegria de sua solidariedade - que é a melhor forma de sacrifício quaresmal - em favor de trabalhos de prevenção e de recuperação de dependentes de drogas. O dia nacional da coleta será o Domingo de Ramos, dia 08 de abril de 2001 215. Quem administra o Fundo Nacional de Solidariedade. A Cáritas Brasileira é o organismo da CNBB responsável pela administração do Fundo. A gestão e aprovação dos projetos estarão a cargo do Conselho Episcopal para o Fundo Nacional de Solidariedade, nomeado pela Presidência e Conselho Episcopal de Pastoral da CNBB, com aprovação do Conselho Permanente. 216. A quem encaminhar os Projetos. Os projetos referentes ao tema deste ano deverão ser encaminhados à CÁRITAS BRASILEIRA, que, por sua vez, os apresentará ao Conselho Episcopal do Fundo Nacional de Solidariedade, para análise e decisões. 217. Fundos Diocesanos de Solidariedade. Esses fundos serão administrados por um Conselho a ser constituído em cada diocese, contando com a participação da Cáritas e das Pastorais Sociais atuantes. Concluindo: 218. O Agir da CF 2001 - "Vida sim, drogas não", levantou e sistematizou, como foi proposto no início, muitas ações concretas que já vêm sendo realizadas em sua grande maioria. Mas é evidente que o potencial criativo das nossas comunidades eclesiais fará aparecer outras iniciativas que apontam para a solução de tão grave problema. É importante intercomunicá-las. A Pastoral da Sobriedade pode receber essas comunicações e socializá-las: 2001.semdrogas@uol.com.br e telefax (Oxx11) 3749.1891. 219. Maria, sempre presente em nosso caminho, modelo de fé, esperança e caridade, continuará a inspirar nossas ações em busca dos mais necessitados. Ela que vive para glorificação do Senhor - Minha alma glorifica o Senhor! (Lc 1, 46) -, está a serviço do Deus que despede os ricos de mãos vazias, destrona os poderosos de seus tronos, sacia de bens os famintos e eleva os humildes (cf.Lc 1, 51-53), nos ampara na missão juntos aos que sofrem, aos necessitados, entre os quais, os que estão na tragédia da dependência química e são vencidos por outras drogas. Maria nos diz: "Fazei o que ele vos disser" (Jo 2, 5), ou seja, o que Jesus nos manda fazer. E Jesus Cristo, que nos libertou (cf. Gl 5, 1), e que "ontem, hoje, é o mesmo e sê-lo-á para sempre" (Hb 13, 8), não nos abandonará na difícil missão que nos confia e, também, não deixará ninguém à mercê de qualquer dependência contrária à vida em abundância, que ele mesmo nos dá, também, neste início do novo milênio. 36 Cáritas Brasileira. SDS - BL "P" - nº 36 - Salas 410/414. Ed. Venâncio III. 70 393 - 900 - Brasília/DF. Fone 3. (0xx61) 226 5008 - Fax (0xx61) 226 0701. E-mail: caritas@zaz.com.br 44
  • 46. (Cartaz oficial da CF 2001, como fundo) 46
  • 47. ? ? 1º CAPÍTULO ? CELEBRAR A QUARESMA ? ? 1. O Sentido da Quaresma Celebrar a Quaresma é reconhecer a presença de Deus na caminhada, no trabalho, na luta, no sofrimento e na dor da vida do povo! Como o povo de Israel que andou 40 anos no deserto antes de chegar à terra prometida, terra da promessa onde corre leite e mel. Como Jesus que passou 40 dias de retiro antes de anunciar a vinda do Reino. Que subiu a Jerusalém para cumprir a missão que o Pai lhe confiou: dar a sua vida e ser glorificado. A quaresma é um tempo forte de conversão, de mudança interior, tempo de deixar tudo o que é velho em nós, tempo de assumir tudo o que traz vida para a gente, em nossas comunidades e na sociedade. Tempo de graça e salvação, onde nos preparamos para viver, de maneira intensa, livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico, da história da salvação, a Páscoa, Aliança definitiva, vitória sobre o pecado, a escravidão e a morte. Para muitos, é apenas um tempo triste em que se canta e medita sobre os sofrimentos de Jesus que morreu pelos pecados da humanidade. Tempo de pedir perdão a Deus e fazer penitência. Todavia, a característica fundamental do tempo quaresmal não é o de ser somente um tempo de jejuns, mortificações e sacrifícios para que os cristãos participem dos sofrimentos de Jesus na Cruz. O que marca a Quaresma é, sobretudo, sua dimensão pascal: caminho para a Páscoa. Comemorando o acontecimento salvador da morte e da ressurreição de Jesus Cristo, a Igreja celebra o novo nascimento dos que serão batizados, renova a vida dos que foram batizados e a reconciliação dos pecadores arrependidos. Assim, a caminhada quaresmal prepara e ensaia a grande festa da Páscoa. Sem esta ligação, a Quaresma perde sua força espiritual. A espiritualidade quaresmal é caracterizada também por uma atenta, profunda e prolongada escuta da Palavra de Deus. É esta Palavra que ilumina a vida e chama à conversão, infundindo confiança na misericórdia de Deus. O confronto com o Evangelho ajuda a perceber o mal, o pecado, na perspectiva da Aliança, isto é, a misteriosa relação nupcial de amor entre Deus e o seu povo. Motiva para atitudes de partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmãos que voltam convertidos. Fazer da Quaresma um tempo favorável de avaliação de nossas opções de vida e linhas de trabalho, para corrigir os erros e aprofundar a vivência da fé, abrindo-nos a Deus, aos outros e realizando ações concretas de fraternidade, de solidariedade. ? 2. Memória do Deus que liberta e do clamor do povo! Celebrar a quaresma é, antes de tudo, experimentar a presença e comunicação da graça salvadora através das celebrações litúrgicas. É tornar presente, festejar as muitas libertações de Deus na história. É renovar a profissão de fé no Deus libertador que o povo eleito fez durante a escravidão do Egito. “... nós clamamos ao Senhor, Deus de nossos pais, e o Senhor ouviu a nossa voz e viu nossa opressão, nosso cansaço e nossa angústia, e o Senhor nos libertou do Egito...” (Dt 26,4-10). A primeira auto-definição de Deus é: “Eu sou a libertação”, “Eu ouvi o clamor do meu povo e resolvi descer para libertá-lo” (Ex 3,7-8). É também celebrar a busca da humanidade inteira por autêntica libertação, justiça e paz. De repente, toda a experiência penitencial, todo clamor dos povos, todo esse combate contra o pecado pessoal e social do mundo, todo esse esforço de seguir Jesus no “caminho da Cruz”, começa aos poucos, a dar seus frutos... os efeitos das “passagens de Deus já vão se fazendo sentir... as alegrias da Páscoa já se anunciam... É que a Terra prometida, o Mundo Novo, feito de homens e mulheres, gente liberta e salva, solidária e fraterna, já se esboça no horizonte... 47
  • 48. ? 3. Quaresma e a Campanha da Fraternidade Celebrar a Quaresma é juntar-se em mutirão, como povo de Deus, em busca da verdadeira libertação. A dimensão comunitária da Quaresma é, no Brasil, vivenciada e assumida pela Campanha da Fraternidade. Assumindo cada ano uma situação da realidade social, nos ajuda a viver concretamente a experiência da Páscoa de Jesus nas páscoas do povo. “Assim como outrora Israel, o antigo povo, sentia a presença salvífica de Deus quando Ele o libertava da opressão do Egito, quando o fazia atravessar o mar e o conduzia à conquista da Terra prometida, assim também nós; novo povo de Deus, não podemos deixar de sentir seu passo que salva, quando se dá o verdadeiro sentido do desenvolvimento, que é para cada um e para todos, a passagem de condições de vida menos humanas para condições mais humanas... Menos humanas: as carências materiais dos que são privados do mínimo vital e as carências morais dos que são mutilados pelo egoísmo... Mais humanas: a passagem da miséria para a posse do necessário, a vitória sobre as calamidades sociais...”(Medellin, introdução). A Campanha da Fraternidade se torna assim um dos elementos quaresmais que nos ajudam na preparação pascal. Cada comunidade deve procurar a forma de fazer a ligação da CF com a celebração de cada domingo da quaresma. Muitas comunidades têm feito esta ligação com os cantos, trazendo símbolos, nas preces dos fiéis. Neste ano 2001, o primeiro do novo milênio, ano “C” da liturgia, as leituras nos ajudam a viver a realidade da “Conversão” com o coração e os olhos solidários ao clamor dos dependentes de drogas em nosso País, para que seja um serviço à vida. Conduzidos pelo Espírito, vamos com Jesus ao deserto onde seremos educados para enfrentar as tentações do mundo, renovamos nossa fidelidade ao Deus vivo e verdadeiro, sustentados por sua Palavra. Em nossa caminhada pascal, subimos a montanha com Jesus e três dos seus discípulos para fazermos a experiência da intimidade com Ele, contemplaremos a visão de sua glória e ouviremos o mandamento de escutar sua Palavra. Celebramos a Páscoa de Jesus que acontece nos que descobrem o rosto transfigurado do Pai nos rostos desfigurados dos dependentes de drogas e de toda outra dependência que escraviza e arruina a pessoa humana. Nos aproximamos da Páscoa, educados no amor misericordioso do Pai que acolhe e festeja a volta do Filho Pródigo. Enfim, escutamos a palavra de esperança: “Vou realizar uma coisa nova, que já está aparecendo!”. Jesus, diante da adúltera nos mostra esta novidade, oferece um gesto de amor incomparável que marcou sua vida. ? 4. Uma caminhada de oração, jejum, esmola Oração, jejum e esmola, ao longo da história, sempre foram atitudes, gestos fundamentais nas relações das pessoas entre si, com Deus e com a natureza. O Evangelho da quarta-feira de cinzas (Mt 6,1-6.16-18) apresenta as condições para a prática autêntica e frutuosa das obras penitenciais da Quaresma, como participação no mistério pascal de Cristo. À luz destas obras e no espírito da Campanha da Fraternidade, especificamente sob o enfoque do tema do ano, é necessário descobrir o significado sempre atualizado da oração, do jejum e da esmola. ? A oração A Quaresma é tempo de uma mais assídua e intensa oração, pessoal e comunitária, entendida como diálogo com o Pai, por Cristo. Rezar é renovar a aliança com o Senhor. O exercício da oração está inseparavelmente ligado à conversão, através da qual, as pessoas se tornam sempre mais abertas e disponíveis às iniciativas da ação de Deus. Ela ajuda a comunidade e o batizado, em particular, no discernimento do projeto de Deus face à realidade sofrida de tantos irmãos, vítimas de relações sociais injustas, da prática de uma política, muitas vezes, desvirtuada, que não se orienta pela busca e promoção do bem comum, mas pela procura de interesses pessoais ou de grupos. A oração como expressão de relação filial com o Pai desperta e reaviva a consciência de que todos somos irmãos, chamados a viver como filhos e aprofundar esta relação. Em virtude desta relação, somos chamados a viver dignamente e com pleno direito de participação nas decisões que afetam a convivência social, com pleno direito de cidadania. Face à realidade desumana em que vivem tantos filhos de Deus, rezar na comunhão com o Pai impulsiona à missão, ao compromisso solidário, à busca de políticas que garantam a todos eles vida de acordo com sua real dignidade. No tempo quaresmal, a oração comunitária expressa, além da dimensão orante, a perspectiva da Igreja comunidade pecadora em processo de conversão. ? 48
  • 49. ? “Vós concedeis aos cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da Páscoa. Entregues à oração e à pratica do amor fraterno, preparamo-nos para celebrar os mistérios pascais, que nos deram vida nova e nos tornaram filhas e filhos vossos” ( I Prefácio da quaresma). 49
  • 50. ? O jejum O jejum e a abstinência de carne expressam a íntima relação existente entre os gestos externos de penitência, mudança de vida e conversão interior. Jejuar e abster-se de carne, na afirmação do profeta Isaías, consiste em libertar os cativos, acabar com a opressão, dividir o pão com o pobre, hospedar o que não tem casa, vestir o nu. O jejum deve ser expressão de renovação interior, de desprendimento e de liberdade face aos bens terrenos que dispõe à fraternidade e à solidariedade. Em nossa realidade, o jejum ganha característica de compromisso com a população empobrecida, em permanente jejum, forçado não só pela falta de comida, mas também por estar privada do acesso à educação, à saúde, à moradia e às condições mínimas de saneamento básico. Jejuar, então, é privar-se de alimento destinando-o aos que passam fome e também atitude positiva de colaborar para superar os mecanismos que geram opressão e marginalização. Quem tem o suficiente é chamado a jejuar livremente, como ato de louvor a Deus, destinando estes recursos aos irmãos sofredores, no gesto concreto da Campanha da Fraternidade. São chamados também, e talvez mais fortemente, a gestos de solidariedade que garantam pleno exercício de cidadania para todos. ? ? “Vós acolheis nossa penitência como oferenda à vossa glória. O jejum e a abstinência que praticamos, quebrando nosso orgulho, nos convidam a imitar vossa misericórdia, repartindo o pão com os necessitados” (III Prefácio da Quaresma). ? ? A esmola A Quaresma é tempo de um mais forte empenho de caridade para com os irmãos. A liturgia fala da “prática do amor fraterno e da libertação do egoísmo”, tornando-nos disponíveis às necessidades dos irmãos. A oração e o jejum devem ser sinais de uma atitude de conversão, de justiça e de solidariedade. A esmola, na perspectiva do espírito da Campanha da Fraternidade e da Quaresma, confere aos gestos de generosidade humana uma dimensão evangélica profunda que se expressa na solidariedade. Coloca o batizado e a comunidade face a face com o irmão empobrecido e marginalizado para ajudá-lo e promovê-lo. Dar esmola não é dar apenas dinheiro, roupa, um prato de comida, às vezes por descargo de consciência ou para livrar-se de importunação. É fazer-se doação aos irmãos no serviço fraterno, na participação em movimentos e projetos populares para geração de empregos, para maior democratização da posse da terra, no campo e na cidade, para a construção de moradia para todos, para a ampliação dos postos de saúde e atendimento a todos... É ajudar a pessoa a desenvolver suas capacidades e se tornar sujeito de sua promoção. ? ? “Pela penitência da Quaresma corrigis nossos vícios, elevais nossos sentimentos, fortaleceis nosso espírito fraterno e nos garantis uma eterna recompensa” (IV Prefácio da Quaresma). 4. Como fazer? Sabemos que desde o início a Campanha da fraternidade foi pensada para ser um momento forte, dentro do tempo da Quaresma, para a vivência da caridade. Seria muito pouco reduzir a Campanha ao momento litúrgico. Ela deve atingir a catequese, os grupos de rua, os meios de comunicação, seminários sobre o assunto, grupos e pessoas de boa vontade que lutam por uma sociedade mais justa... E tudo isso deve estar presente na liturgia, memorial da morte e da ressurreição do Senhor e levar a uma transformação da realidade. A equipe de liturgia da comunidade, ao fazer seu planejamento para este tempo litúrgico, pode se perguntar: 1 Quais os sinais de pecado e de morte que marcam mais a nossa comunidade atualmente? Quais os sinais de vida e ressurreição que a gente gostaria que aparecessem entre nós? 50
  • 51. 2 Como ligar estes sinais com o mistério que celebramos na quaresma? 3 Como sentimos o tema proposto pela Campanha da Fraternidade, aqui em nosso bairro, cidade ou região? Qual será o gesto concreto? 4 Haverá batismo na Páscoa? E primeiras-comunhões? Como integrar a preparação destes sacramentos com a vivência quaresmal? 5 E as celebrações do sacramento da reconciliação, e a via-sacra? 6 De que maneira podemos encaminhar a CF e as celebrações da quaresma para que ajudem a comunidade a melhor celebrar a Páscoa? 7 Haverá outros momentos fortes de oração? Ofício Divino das comunidades? Alguma vigília? Quando? Como? Quem prepara? É importante manter algum símbolo forte que marque em cada domingo o sentido da preparação para a Páscoa, exemplo: A Cruz com pano roxo, a aspersão com água no ato penitencial. Algum canto que caracterize o sentido da conversão. A Equipe de liturgia poderia também conversar sobre como tornar a liturgia mais afetiva, cordial, misericordiosa, orante, que seja educadora pelo seu modo de fazer, de dividir os ministérios, de acolher as expressões da cultura e da sabedoria dos pobres. Não somente falar sobre a realidade de um sistema de morte, alimentado por um estilo de vida materialista, que se alastra a partir do cultivo, comercialização e consumo de drogas, mas buscar detectar as mais diversas dependências que escravizam a todos nós e fazer a experiência de uma busca de se libertar das mesmas. Este tempo da quaresma já é um caminho pedagógico vivencial, no qual, o Senhor pela sua Palavra, pelos gestos e símbolos que atualizam a sua presença, vai nos educando para a vida, para a solidariedade... Embora cada ano a Campanha da Fraternidade nos ofereça cantos novos para todos os momentos da celebração, diante da realidade da comunidade, a equipe de liturgia terá a liberdade de escolher outros que a comunidade já conhece. O "Projeto Ser Igreja no Novo Milênio", que estamos preparando de maneira mais próxima, com a Campanha da Fraternidade deste ano, faz sugestões muito concretas para a organização da vida paroquial e uma delas é a equipe de liturgia (orientada pelo pároco e coordenada por pessoa designada por ele) que semanalmente preparará a animação da liturgia dominical e da liturgia sacramental. Onde for possível, a homilia poderia ser preparada com a colaboração desta equipe de liturgia ou de celebração. A equipe é, na verdade, a primeira destinatária da Palavra de Deus, por isso, se coloca à escuta para acolher a Boa Nova em sua vida, antes de relacioná-la com o tema da Campanha. Assim, a homilia poderá ser enriquecida com a meditação que a própria comunidade faz da Palavra a partir da sua experiência. Algumas pessoas que trabalham com dependentes de droga ou tem experiência em algum grupo de apoio poderiam ser convidadas a participar iluminando a partilha com seu testemunho e experiência. 51
  • 52. ? ? 2º CAPÍTULO ? NATUREZA E HISTÓRICO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE Em 1961, três padres responsáveis pela Caritas Brasileira idealizaram uma campanha para arrecadar fundos para as atividades assistenciais e promocionais da instituição e torná-la, assim, autônoma financeiramente. A atividade foi chamada Campanha da Fraternidade e realizada, pela primeira vez, na quaresma de 1962, em Natal-RN, com adesão de outras três Dioceses e apoio financeiro dos Bispos norte-americanos. No ano seguinte, 16 Dioceses do Nordeste realizaram a Campanha. Não teve êxito financeiro, mas foi o embrião de um projeto anual dos Organismos Nacionais da CNBB e das Igrejas Particulares no Brasil, realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral (Evangelizadora) da Igreja em nosso País. Em seu início, teve destacada atuação o Secretariado Nacional de Ação Social da CNBB, sob cuja dependência estava a Caritas Brasileira, que fora fundada, no Brasil, em 1957. Na época, o responsável pelo Secretariado de Ação Social era Dom Eugênio de Araújo Sales, e por isso, Presidente da Caritas Brasileira. O fato de ser Administrador Apostólico de Natal-RN explica que a Campanha tenha iniciado naquela circunscrição eclesiástica e em todo o Rio Grande do Norte. Este projeto foi lançado, em nível nacional, no dia 26 de dezembro de 1963, sob o impulso renovador do espírito do Concílio Vaticano II, em andamento na época, e realizado pela primeira vez na quaresma de 1964. O tempo do Concílio foi fundamental para a concepção, estruturação e encaminhamentos da Campanha da Fraternidade, do Plano de Pastoral de Emergência, do Plano de Pastoral de Conjunto e de outras iniciativas de renovação eclesial. Ao longo de quatro anos seguidos, por um período extenso em cada um, os Bispos ficaram hospedados na mesma casa, em Roma, participando das sessões do Concílio e de diversos momentos de reunião, estudo, troca de experiências. Nesse contexto, nasceu e cresceu a Campanha da Fraternidade. Em 20 de dezembro de 1964, os Bispos aprovaram o projeto inicial da mesma, intitulado: “Campanha da Fraternidade - Pontos Fundamentais apreciados pelo Episcopado em Roma”. Em 1965, tanto a Caritas quanto a Campanha da Fraternidade, que estavam vinculadas ao Secretariado Nacional de Ação Social, foram vinculadas diretamente ao Secretariado Geral da CNBB. A CNBB passou a assumir a CF. Nesta transição, foi estabelecida a estruturação básica da 52
  • 53. CF. Em 1967, começou a ser redigido um subsídio, maior que os anteriores, para a organização anual da CF. Nesse mesmo ano, iniciaram-se, também, os encontros nacionais das Coordenações Nacional e Regionais da CF. A partir de 1971, tanto a Presidência da CNBB como a Comissão Episcopal de Pastoral começaram a ter uma participação mais intensa em todo o processo da CF. Em 1970, a CF ganhou um especial e significativo apoio: a mensagem do Papa, transmitida em cadeia nacional de rádio e televisão, quando de sua abertura, na Quarta-feira de Cinzas. A mensagem papal continua enriquecendo a abertura da CF. De 1963 até hoje, a Campanha da Fraternidade é uma atividade ampla de evangelização desenvolvida num determinado tempo (Quaresma), para ajudar os cristãos e as pessoas de boa vontade a viverem a fraternidade em compromissos concretos, no processo de transformação da sociedade, a partir de um problema específico que exige a participação de todos na busca de alternativas de solução. É grande instrumento para desenvolver o espírito quaresmal de conversão, renovação interior e ação comunitária como a verdadeira penitência que Deus quer de nós em preparação da Páscoa. É momento de conversão, de prática de gestos concretos de fraternidade, de exercício de uma verdadeira pastoral de conjunto em prol da transformação de situações injustas e não cristãs. É precioso meio para a evangelização no tempo quaresmal, retomando a pregação dos profetas, confirmada por Cristo, segundo a qual, a verdadeira penitência que agrada a Deus é repartir o pão com quem tem fome, dar de vestir ao maltrapilho, libertar os oprimidos, promover a todos. A Campanha da Fraternidade tornou-se especial manifestação de evangelização libertadora, provocando, ao mesmo tempo, a renovação da vida da Igreja e a transformação da sociedade, a partir de problemas específicos, tratados à luz do Projeto de Deus. A Campanha da Fraternidade tem como objetivos permanentes: 8 despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; 9 educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor; exigência central do Evangelho; 10 renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na Evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação evangelizadora e libertadora da Igreja). 53
  • 54. ? 3º CAPÍTULO ? OS TEMAS DA CF NO SEU CONTEXTO HISTÓRICO A Campanha da Fraternidade surgiu durante o desenvolvimento do Concílio Vaticano II. O primeiro documento conciliar aprovado foi sobre a Liturgia. O documento Lumen Gentium, constituição dogmática, sobre a Igreja - sua natureza e sua missão evangelizadora - foi também dos primeiros documentos refletidos e aprovados pelo Concílio. O documento Gaudium et Spes, constituição pastoral, sobre a Igreja no mundo de hoje - sua presença transformadora, surgiu de um discurso do Cardeal Suenens, no final da primeira sessão. Foi aprovado no final do Concílio. A primeira das Conferências Gerais do Episcopado Latino-americano, após o período conciliar, em Medellín (1968), foi convocada para a implementação do Concílio, no Continente. A reflexão sobre a realidade latino-americana levou a Igreja a enfrentar o desafio da pobreza e da urgente presença transformadora nas estruturas sociais. A Conferência de Puebla, dez anos depois, acentuou ainda mais a dimensão social da fé e da vivência cristã, a fim de se superar a situação de marginalização, opressão e exclusão em que vive a maioria do povo, criando-se um clima de comunhão e participação. Os temas da Campanha da Fraternidade, inicialmente, contemplaram mais a vida interna da Igreja. A consciência sempre maior da realidade sócio-econômico-política, marcada pela injustiça, pela exclusão e por índices sempre mais altos de miséria, fez escolher como temas da Campanha aspectos bem determinados desta realidade em que a Fraternidade está ferida e cujo restabelecimento é compromisso urgente da fé. A partir do início dos encontros nacionais sobre a CF, em 1971, a escolha de seus temas vem tendo sempre mais ampla participação dos 16 Regionais da CNBB que recolhem sugestões das Dioceses e estas das paróquias e comunidades. Alguns pontos de referência na escolha dos temas são: 11 aspectos da vida da Igreja e da sociedade (eventos especiais, como centenário da Rerum Novarum em 1991 - Solidários na Dignidade do Trabalho; ano da família em 1994 - A Família, como vai?); 12 desafios sociais, econômicos, políticos, culturais e religiosos da realidade brasileira; 13 as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora, da Igreja no Brasil e documentos do Magistério da Igreja Universal; 14 a Palavra de Deus e as exigências da Quaresma. Ao longo dos mais de trinta anos, podem ser destacadas as seguintes fases nos seus temas: 1ª FASE: EM BUSCA DA RENOVAÇÃO INTERNA DA IGREJA 1) Renovação da Igreja CF-64: Tema: Igreja em Renovação Lema: Lembre-se: você também é Igreja CF-65: Tema: Paróquia em Renovação Lema: Faça de sua paróquia uma Comunidade de fé, culto e amor 54
  • 55. 2) Renovação do Cristão CF-66: Tema: Fraternidade Lema: Somos responsáveis uns pelos outros CF-67: Tema: Corresponsabilidade Lema: Somos todos iguais, somos todos irmãos CF-68: Tema: Doação Lema: Crer com as mãos CF-69: Tema: Descoberta Lema: Para o outro o próximo é você CF-70: Tema: Participação Lema: Participar CF-71: Tema: Reconciliação Lema: Reconciliar CF-72: Tema: Serviço e Vocação Lema: Descubra a felicidade de servir 2ª FASE: A IGREJA PREOCUPA-SE COM A REALIDADE SOCIAL DO POVO, DENUNCIANDO O PECADO SOCIAL E PROMOVENDO A JUSTIÇA (Vaticano II, Medellín e Puebla). CF-73: Tema: Fraternidade e Libertação Lema: O egoísmo escraviza, o amor liberta CF-74: Tema: Reconstruir a Vida Lema: Onde está o teu irmão? CF-75: Tema: Fraternidade é Repartir Lema: Repartir o Pão CF-76: Tema: Fraternidade e Comunidade Lema: Caminhar juntos CF-77: Tema: Fraternidade na Família Lema: Trabalho e justiça para todos CF-78: Tema: Fraternidade no Mundo do Trabalho Lema: Trabalho e Justiça para Todos CF-79: Tema: Por um Mundo mais Humano Lema: Preserve o que é de todos CF-80: Tema: Fraternidade no mundo das Migrações Exigência da Eucaristia Lema: Para onde vais? CF-81: Tema: Saúde e Fraternidade Lema: Saúde para todos CF-82: Tema: Educação e Fraternidade Lema: A Verdade vos libertará CF-83: Tema: Fraternidade e Violência Lema: Fraternidade sim, Violência não CF-84: Tema: Fraternidade e Vida Lema: Para que todos tenham Vida 3ª FASE: A IGREJA VOLTA-SE PARA SITUAÇÕES EXISTENCIAIS DO POVO BRASILEIRO CF-85: Tema: Fraternidade e Fome Lema: Pão para quem tem fome CF-86: Tema: Fraternidade e Terra 55
  • 56. Lema: Terra de Deus, Terra de Irmãos CF-87: Tema: A Fraternidade e o Menor Lema: Quem acolhe o Menor, a Mim acolhe CF-88: Tema: A Fraternidade e o Negro Lema: Ouvi o Clamor deste povo! CF-89: Tema: A Fraternidade e a Comunicação Lema: Comunicação para a Verdade e a Paz CF-90: Tema: A Fraternidade e a Mulher Lema: Mulher e Homem: Imagem de Deus CF-91: Tema: A Fraternidade e o Mundo do Trabalho Lema: Solidários na dignidade do Trabalho CF-92: Tema: Fraternidade e Juventude Lema: Juventude - Caminho Aberto CF-93: Tema: Fraternidade e Moradia Lema: Onde Moras? CF-94: Tema: A Fraternidade e a Família Lema: A Família, como vai? CF-95: Tema: A Fraternidade e os Excluídos Lema: Eras Tu, Senhor?! CF-96: Tema: A Fraternidade e a Política Lema: Justiça e Paz se abraçarão! CF-97: Tema: A Fraternidade e os Encarcerados Lema: Cristo liberta de todas as prisões! CF-98: Tema: A Fraternidade e a Educação Lema: A serviço da vida e da esperança! CF-99: Tema: Fraternidade e os Desempregados Lema: Sem trabalho... Por quê? CF ECUMÊNICA 2000 - NA CELEBRAÇÃO DO GRANDE JUBILEU DA ENCARNAÇÃO A CAMPANHA DA FRATERNIDADE FOI REALIZADA PELO CONSELHO NACIONAL DE IGREJAS CRISTÃS DO BRASIL (CONIC), COM O TEMA: "DIGNIDADE HUMANA E PAZ" E O LEMA: "NOVO MILÊNIO SEM EXCLUSÕES". CF-2001: Tema : Campanha da Fraternidade Lema: Vida Sim, Drogas Não! CF-2002: Tema: Povos Indígenas Lema: ? 4º CAPÍTULO ? A CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2001 56
  • 57. ? E O PROJETO 'SER IGREJA NO NOVO MILÊNIO' A CF desse ano é um projeto que está em sintonia com as "Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (1999-2002)37 " e se insere no contexto de preparação para o lançamento do Projeto de Evangelização da Igreja no Brasil: Ser Igreja no Novo Milênio (SINM). Ela faz parte do "15º Plano Bienal de Atividades do Secretariado Nacional (2000-2001)"38 onde encontramos os projetos para operacionalizar as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. No conjunto de atividades decorrentes das DGAE, o 15º Plano Bienal elaborado pelo Secretariado Nacional de Pastoral da CNBB encontramos os "programas globais". Trata-se de atividades que transcendem os objetivos específicos de uma dimensão, de um setor ou de uma pastoral e incidem em toda ação evangelizadora, exigindo a participação conjunta de todos os assessores e a colaboração de muitas outras pessoas e entidades. A Campanha da Fraternidade é um destes "programas globais". O objetivo permanente da Campanha da Fraternidade é: "despertar o espírito comunitário e cristão do povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho; renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na promoção humana em vista de uma sociedade justa e solidária"39 . A CF neste primeiro ano do novo milênio, como o lema "Vida Sim, Drogas, Não!", deseja mobilizar a comunidade eclesial e a sociedade brasileira para enfrentar corajosamente o grave e complexo problema das drogas, que arruina milhares de vidas e afeta profundamente a paz social, como já definimos. A CF quer trabalhar para a realização de um milênio sem drogas colaborando na realização de um novo projeto de vida e sociedade que, além de questionar o crescente consumismo, gerador de novos tipos de necessidade e dependências, quer reforçar o sentido positivo da vida. Essa proposta ampla da CF inserida na fase preparatória do Projeto SINM, será um passo importante na ação evangelizadora da Igreja no Brasil. O Projeto SINM tem como finalidades: "renovar a consciência da identidade e da missão da Igreja no Brasil, num contexto em rápida mudança, que questiona muitas das formas de existir e de agir das comunidades eclesiais e de cada cristão."40 O Projeto volta-se em primeiro lugar, para a evangelização e procura manter viva e perseverante a fidelidade das comunidades eclesiais. Quer, com isso, continuar o anúncio do Evangelho por palavras e sinais visíveis do amor de Deus pela humanidade. Um Deus que liberta do mal e promove a dignidade de cada pessoa. A Campanha da Fraternidade deste ano de 2001, em sintonia com o Projeto SINM, pretende anunciar a Boa-Nova da salvação, trazida por Jesus Cristo, a um povo que vive numa sociedade onde o lucro é buscado a todo custo, que cria dia-a-dia novas necessidades nas pessoas, somente para alimentar o mercado, gerando dependências de todo tipo e entre elas a do consumo de drogas, fumo e álcool. A Campanha deste ano de 2001 quer renovar também o convite a todos os batizados para serem igreja, participando das comunidade eclesiais, vivenciando a fé nos grupos de reflexão e vida (grupos formados de pessoas reunidas em: família, setores, condomínios, prédios, capelas rurais etc). São pequenas comunidades que querem superar o individualismo egoísta que leva as pessoas a se fecharem cada vez mais, vendo no outro sempre uma ameaça. São grupos de pessoas que querem também resistir à massificação que despersonifica o ser humano e abafa o seu senso crítico frente aos que não constróem a vida. E assim, no espírito do Projeto "Ser Igreja no Novo Milênio", quer-se com esta Campanha se lançar para frente, em direção ao Reino definitivo. Seja qual for o ponto a que tenhamos chegado até o momento nesta grande aventura do seguimento de Cristo, continuemos caminhando na mesma direção. (Cf. Fl. 3, 12-14.16) 37 DOCUMENTOS DA CNBB, Nº 61. 38 DOCUMENTOS DA CNBB, Nº 63. 39 CNBB, 15º PLANO BIENAL DE ATIVIDADES DO SECRETARIADO NACIONAL, DOC. 63, SÃO PAULO, PAULINAS, 2000, P.34. 40 CNBB, OLHANDO PARA FRENTE. O PROJETO 'SER IGREJA NO NOVO MILÊNIO" EXPLICADO ÀS COMUNIDADES. AGOSTO, 2000. MÍMEO, P. 5. 57
  • 58. É neste sentido que oferecer-se-á mais um subsídio neste ano de 2001 denominado Fraternidade nos Grupos de Reflexão, que tem como objetivo anunciar a Boa Nova de Jesus (o Kerígma) na realidade marcada pelo trágico problema das drogas, convidando os grupos de reflexão a se tornarem pequenas comunidades eclesiais a partir de passos bem concretos. Assim os grupos de reflexão estarão melhor preparados para abraçar o Projeto "Ser Igreja no Novo Milênio", que se inciará a partir da Páscoa. O Projeto dará subsídios para que os grupos façam suas reflexões sobre o livro dos Atos dos Apóstolos e cresçam no ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna e na fração do pão.41 ? 5º CAPÍTULO ? O SERVIÇO DE COORDENAÇÃO E ANIMAÇÃO DA CF 41 CF. AT 2, 42. 58
  • 59. A CF é um programa global conjunto dos Organismos Nacionais, do Secretariado Nacional da Conferência dos Bispos do Brasil (CNBB) e das Igrejas Particulares, sempre realizado à luz e na perspectiva das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil como já foi dito. E, agora, depois do Projeto Rumo ao Novo Milênio, ela se insere na preparação do lançamento do Projeto "Ser Igreja no Novo Milênio" (SINM). É preciso, assim, que a equipe de coordenação da CF conheça o Projeto SINM para que não fique fora desta ação conjunta proposta pela Igreja no Brasil. Desde 1963, com o Plano de Emergência, e 1966, com o Plano de Pastoral de Conjunto, a ação evangelizadora (pastoral) da Igreja vive um processo de planejamento abrangente. Este processo tem as Diretrizes como fundamentação e inspiração e se expressa no Plano de Pastoral, elaborado de forma muito participativa e em diversos níveis. A busca desse planejamento, sempre mais participativo, requer envolvimento dos agentes de pastoral, das equipes de coordenação e animação, dos conselhos e outros órgãos a serviço do crescimento da vida comunitária. A realização da CF, como programa global conjunto, é exercício e expressão de planejamento participativo e de articulação pastoral, decorrente da própria natureza da Igreja- comunhão. A articulação: 15 favorece o desenvolvimento dos carismas eclesiais de maneira orgânica; 16 distribui tarefas e define as atribuições das diversas pastorais, organismos, movimentos e grupos; 17 envolve um maior número possível de interessados, na reflexão, na decisão, na execução e na avaliação. Para uma eficaz e frutuosa realização da CF, como de todo programa pastoral, é indispensável reavivar, a cada ano, o processo de seu planejamento. Isto não acontece sem a constituição de equipes de trabalho, de coordenação entusiastas, dinâmicas, criativas, com profunda espiritualidade e zelo apostólico. Em muitos Regionais, Dioceses e Paróquias, a animação da CF é assumida pela respectiva equipe de Coordenação Pastoral, com o estabelecimento de uma Comissão específica para a CF. Este procedimento poderá favorecer a uma maior integração, evitando paralelismos. Poderá, por outro lado, apresentar o risco da CF “ser de todos e, ao mesmo tempo, de ninguém”. Especial tarefa e compromisso das equipes, nos seus diversos níveis, deve ser a desrotinização da Campanha. A CF não é a mesma a cada ano. Evitando a novidade pela simples novidade, as equipes saberão utilizar-se de criatividade para realizá-la, todos os anos, como algo realmente novo. ? 1. Equipe Regional da CF ? Compete-lhe: 18 estimular a formação, o assessoramento e a articulação das equipes diocesanas; 19 planejar a CF em nível regional: o que organizar, quem envolver, que calendário seguir, onde e como atuar. 59
  • 60. ? Atividades que poderão desenvolver: ? Antes da Campanha: 20 realizar Encontro Regional para o estudo do Texto-base, a fim de descobrir a melhor forma de utilização das peças e subsídios de divulgação; 21 definir atividades a serem assumidas conjuntamente nas Dioceses, Paróquias e Comunidades; 22 verificar a possibilidade da produção de subsídios adaptados à realidade local; 23 possibilitar a troca de informações e o repasse de subsídios, relacionados ao tema, produzidos em âmbito mais local ou provenientes de outras fontes e regiões; 24 constituir equipes e/ou indicar pessoas que possam prestar serviço de assessoria. ? Durante a Campanha: 25 descobrir formas de estar em permanente contato com as equipes diocesanas para animação e intercâmbio das experiências mais significativas; 26 possibilitar o acompanhamento das atividades comuns programadas. ? Depois da Campanha: 27 promover um novo encontro regional de avaliação; 28 providenciar a redação e o envio da síntese Regional da avaliação à Secretaria Executiva Nacional da CF, dentro do cronograma previsto; 29 definir a participação regional no encontro nacional de avaliação e planejamento da CF; 30 repassar às Dioceses a avaliação nacional e outras informações. ? 2. Equipe Diocesana da CF ? Compete-lhe: 31 estimular a formação, assessorar e articular as equipes paroquiais; 32 planejar, em nível diocesano: o que realizar, quem envolver, que calendário seguir, como e onde atuar. ? Atividades que poderão desenvolver: ? Antes da Campanha: 33 encomendar os subsídios necessários para as paróquias, comunidades religiosas, colégios, meios de comunicação, movimentos de Igreja; 34 programar a realização de encontro diocesano para estudo do Texto-base, buscando a melhor forma de utilizar as diversas peças da Campanha; 35 definir atividades comuns nas paróquias; 36 promover o intercâmbio de informações e subsídios; 37 sugerir a escolha do gesto concreto; 38 estabelecer uma programação especial de lançamento; 39 constituir equipes para atividades específicas; 40 informar da existência e repassar subsídios alternativos. ? Durante a Campanha: 41 acompanhar as diversas equipes existentes; 42 verificar o andamento das atividades comuns programadas; 43 manter freqüente contato com as paróquias para perceber o andamento da Campanha; 44 conferir a chegada dos subsídios a todos os destinatários em potencial; 45 alimentar com pequenos textos motivadores (release) os Meios de Comunicação Social. 60
  • 61. ? Depois da Campanha: 46 promover encontro diocesano de avaliação; 47 cuidar da redação final e do envio da síntese da avaliação à equipe regional; 48 participar do encontro regional de avaliação; 49 repassar às equipes paroquiais a avaliação regional e outras informações; 50 concretizar o gesto concreto e garantir o repasse da parte da coleta para a CNBB Regional e Nacional; 51 fazer com que a Campanha se estenda por todo o ano, repassando outros subsídios que forem sendo publicados. ? 3. Equipe Paroquial da CF A Campanha da Fraternidade acontece mesmo é nas famílias, nos grupos e nas comunidades eclesiais articulados pela paróquia. Como em relação a outras atividades pastorais, o papel do pároco ou da equipe presbiteral é preponderante. Mesmo que, por vezes, muitas coisas aconteçam bem sem ou até apesar do pároco, tudo anda melhor quando ele estimula, incentiva, articula e organiza a ação pastoral. Em toda paróquia, pastoralmente dinâmica, não faltarão equipes de serviço para tudo o que for necessário. O Conselho Paroquial de Pastoral, já constituído na maioria das Paróquias, por si ou pela constituição de comissão específica, garantirá a realização articulada e entusiasta da Campanha da Fraternidade. ? Atividades que poderão desenvolver: ? Antes da Campanha: 52 providenciar o pedido de material junto à Diocese; 53 programar um encontro paroquial para estudo do Texto-base e descoberta da melhor maneira de serem utilizadas as diversas peças de reflexão e divulgação da CF; 54 definir as atividades a serem assumidas conjuntamente; 55 estabelecer a programação da abertura, em nível paroquial; 56 buscar juntos os meios para que a CF possa atingir eficazmente todos os espaços e ambientes da realidade paroquial; 57 planejar um gesto concreto comum e a destinação da coleta da CF. 58 realizar encontros conjuntos ou específicos com as diversas equipes paroquiais para programação de toda a Quaresma e semana santa; 59 prever a colocação do maior número possível de subsídios da Campanha. ? Durante a Campanha 60 intensificar sua divulgação; 61 conferir a chegada dos subsídios aos destinatários; 62 motivar para sucessivos gestos concretos de fraternidade; 63 realizar a coleta. ? Depois da Campanha: 64 avaliar sua realização, encaminhando a síntese para a Coordenação Diocesana; 65 marcar presença no encontro diocesano de avaliação; 66 repassar às lideranças da paróquia as conclusões da avaliação diocesana; 67 concretizar o gesto concreto e garantir o repasse da parte da coleta para a Diocese, o Regional e a CNBB Nacional; 68 fazer com que a Campanha se estenda por todo o ano, repassando outros subsídios que forem sendo publicados. 61
  • 62. 6º CAPÍTULO CRONOGRAMA GERAL 1999 69 Junho: definição do tema e do lema da CF-2001. 70 Setembro: reunião da Comissão Episcopal de Pastoral - Coleta de sugestões para o Texto- base da CF-2001. 71 Novembro: Lançamento do Texto-base da CF 2000 Ecumênica no "Panteon da Democracia" 72 Dezembro: encontro com Agentes de Pastoral da Sobriedade sobre a CF- 2001. 2000 73 Janeiro e fevereiro: organização e preparação do lançamento da CF-2000 nos Regionais, Dioceses, Paróquias, comunidades e grupos; primeira redação do Texto-base da CF-2001. 74 Fevereiro: escolha das letras dos cantos e segunda redação do Texto-base da CF-2001. 75 Março (08) a abril (23): Quarta-feira de Cinzas (08/03)- lançamento da Campanha da Fraternidade 2000 Ecumênica com o tema “Dignidade humana e paz”; em nível nacional com mensagem do Papa e culto ecumênico com todas as Igrejas do CONIC. 76 Março (dia 20): análise da segunda redação do Texto-base da CF-2001 pela Assessoria Nacional da CNBB. 77 Abril (dia 13): Sessão solene sobre a CF 2000 Ecumênica na Câmara dos Deputados com publicação no jornal da Câmara do dia 17 de abril. 78 Abril (até dia 15): envio do Texto-base da CF-2001 (terceira redação) aos Regionais, Bispos da Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB e colaboradores da CF para observações e emendas. 79 Abril (24) a agosto (20): avaliação da CF-2000 nos níveis paroquial (01 a 30 de abril), diocesano (01 a 30 de maio), regional (30 de maio a 15 de junho) e nacional (27 e 28 de junho). O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC) fez sua avaliação nos dias 19 a 20 de agosto de 2000. 80 Maio (até dia 30): envio à Secretaria Executiva Nacional da CF, por parte dos Regionais, Bispos da Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB e colaboradores da CF, das observações e emendas à terceira redação do Texto-base CF-2001. 81 Maio e junho: pré-seleção das músicas e do cartaz da CF-2001; quarta redação do Texto- base CF-2001. 82 Junho 2000 (27 e 28): encontro nacional com Coordenadores(as) Regionais da CF, Bispos da Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral e Assessores(as) Nacionais da CNBB para avaliação da CF 2000 Ecumência; estudo do Texto-base da CF-2001; aprovação das músicas da CF-2001; escolha do cartaz da CF-2001; definição do tema CF-2002 : Povos Indígenas. 83 Julho e agosto 2000: último prazo para envio, com desconto, dos pedidos de material da CF-2001; elaboração das Orientações Gerais para a CF-2001; início da redação final e remessa do Texto-base da CF-2001 para impressão; -2001; elaboração dos subsídios da CF- 2001; gravação dos discos (Compacto e CD) e da fita K-7 da CF-2001. 84 Agosto a dezembro 2000: impressão e distribuição do material da CF-2001; gravação do spot para TV e do jingle para rádio da CF-2001. 85 Setembro 2000: Definição do lema da CF 2002. Análise, na reunião da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, do primeiro esquema do Texto-base da CF-2002. 62
  • 63. 86 Outubro 2000: Apresentação, na reunião da Comissão Episcopal de Pastoral da CNBB, da primeira redação do Texto-base da CF-2002; lançamento do concurso do cartaz e das letras para os cantos da CF-2002. 87 Novembro 2000: Estudo, na reunião do Grupo de Assessores e Assessoras da CNBB, da segunda redação do Texto-base da CF-2002; terceira redação do Texto-base da CF-2002; envio aos Subsecretariados e Coordenadores Regionais da CF da terceira redação do Texto-base da CF- 2002. 2001 88 Janeiro e fevereiro 2001: organização da CF-2001 nos Regionais, Dioceses, Paróquias, Comunidades e Grupos. 89 Fevereiro 2001: último prazo para envio de contribuições ao Texto-base da CF-2002; escolha das letras dos cantos para a CF-2002. 90 28 de fevereiro/2001 a 15 de abril/2001: Campanha da Fraternidade sobre o tema “Campanha da Fraternidade”, com o lema "VIDA SIM, DROGAS NÃO"; Quarta-feira de Cinzas (28/02) lançamento da CF-2001 em nível nacional, regional, diocesano e paroquial, com a mensagem do Papa, da presidência da CNBB e programas especiais. 91 Março a maio 2001: concurso das músicas para os cantos da CF-2002. 92 Março 2001: estudo e aprovação Texto-base da CF-2002. 93 Abril a maio 2001: redação e revisão do Texto-base da CF-2002; avaliação da CF-2001 nos níveis paroquial (de 16 a 30 de abril), diocesano (de 01 a 15 de maio), regional (16 a 31 de maio) e nacional (19 e 20 de junho). 94 Maio 2001: pré-seleção das músicas CF-2002. 95 Junho 2001: encontro nacional com Coordenadores(as) Regionais da CF, Bispos da Presidência, Comissão Episcopal de Pastoral e Assessores(as) Nacionais da CNBB para avaliação da CF-2001; aprovação das músicas da CF-2002; escolha do cartaz da CF-2002; elaboração das Orientações Gerais da CF-2003, escolha do tema e do lema. 96 Julho 2001: recebimento, por parte da Secretaria Executiva da CF, dos pedidos de material para a CF-2002; remessa do Texto-base da CF-2002 para produção gráfica. 97 Julho e agosto 2001: elaboração dos subsídios, gravação do CD e fita K-7 da CF-2002; remessa do Texto-base da CF-2002 para produção gráfica; encaminhamentos da CF-2002. 98 Agosto a dezembro 2001: impressão e distribuição do material da CF-2002; gravação do spot para TV e do jingle para rádio da CF-2002; lançamento do Texto-base da CF - 2002, em nível nacional e diocesano. ? AVALIAÇÃO DA CF-2001 63
  • 64. ? (PARA O NÍVEL PAROQUIAL) Enviar esta avaliação à Coordenação Diocesana da CF até o dia 30 de abril de 2001. Para a avaliação, é importante ter presente os objetivos e as orientações gerais da CF- 2001. ? Identificação Nome da Paróquia: ................................................................................................................................ A Coordenação da CF é feita: a) por uma Equipe Paroquial da CF ( ); b) pelo Conselho Paroquial de Pastoral ( ); c) por um padre ( ), por um diácono ( ), por um(a) religioso(a) ( ) ou por um leigo(a) ( ). População da Paróquia: ......................................................................................................................... Número de Comunidades (capelas) existentes na Paróquia: ................................................................ ? 1. Preparação 1.1- Houve algum encontro paroquial para o estudo do tema da CF? Sim ( ) Não ( ) 1.2 - Número de participantes: ( ) Duração do encontro: (........................................................ ) 1.3 - Presentes: Equipe Paroquial da Campanha ( ) Conselho Paroquial de Pastoral ( ) Pastorais representadas: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ; Movimentos representados: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ; Outros grupos representados: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 1.4 - Que dificuldades foram encontradas com relação ao tema e texto base? ................................... .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 1.5 - Quais os principais encaminhamentos dados? ............................................................................ .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 64
  • 65. ? 2. Lançamento 2.1 - Quais foram os recursos utilizados? Distribuição de material para as lideranças ( ); confecção de um folheto próprio ( ); uma celebração litúrgica centralizada na temática ( ); distribuição de subsídios para jornais, emissoras de Rádio e de Televisão ( ); colocação de cartazes nas escolas e outros lugares públicos ( ); uso de outdoor ( ); faixas ( ); outros recursos ( ) - Quais? ........................................................................................................................ .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 2.2 - Quantidade de material adquirido: texto base ( ); manual ( ); cartazes ( ); outdoors ( ); discos ( ); fitas K-7 ( ); faixas ( ); adesivos ( ); jingles para o Rádio ( ); demais subsídios ( ). 2.3 - A Diocese/Regional produziu algum subsídio próprio? Sim ( ) Não ( ) A Paróquia usou deste material produzido? Sim ( ) Não ( ). Quantidade adquirida: ( .................................................................................................................................................... ) Como a Paróquia avalia esse material produzido pela Diocese/Regional? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ? 3. Realização 3.1- Reação da Imprensa: houve espaços para divulgação? Sim ( ) Não ( ) Houve críticas? Sim ( ) Não ( ) O que foi criticado? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3.2 - Quais os pontos altos ou fatos mais significativos da CF-2001? ................................................ .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3.3 - O que foi melhor nesta CF-2001, em relação à de 2000? ........................................................... .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3.4 - O que foi pior nesta CF-2001, em relação à de 2000?................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3.5 - Os encaminhamentos dados na fase de preparação se concretizaram? Sim ( ) Como? ....... .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Não ( ) Por quê? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3.6 - O que aconteceu, de concreto, como fruto novo desta Campanha? ............................................ 65
  • 66. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3.7 - Os recursos financeiros para a realização da CF vieram da venda do próprio material ( ); de doações ( ); do orçamento paroquial ( ); do percentual paroquial da coleta ( ). 3.8 - Total da Coleta, realizada na Paróquia, no Domingo de Ramos: R$ ............................... ,00. Os 45% da coleta destinados à Paróquia totalizaram: R$ ...............................................,00. A coleta é feita de alguma outra modalidade? Qual? .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... Foram aplicados em programas de promoção humana? Sim ( ) Não ( ) Quais: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Tiveram outra aplicação? Sim ( ) Não ( ) Qual? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ? 4 - Subsídios 4.1- Como a Paróquia avalia os subsídios fornecidos pela Coordenação Nacional da CF? Muito bom Bom Regular Fraco Não usado Fraternidade no Grupo de Reflexão Frat. na Escola/ Ensino fundamental I Frat. na Escola/ Ensino fundamental II Frat. na Escola/ Ensino médio Agenda Pastoral Calendário da Fraternidade Cantos da Missa: entrada ofertório comunhão Cartaz CD Celebração da Misericórdia e Vigília Eucarística Círculos Bíblicos Encontros Catequéticos Encontros com Jovens Fita K-7 Jingle para Rádio Manual Oração da Campanha Spot para TV Texto base Texto base em linguagem simplificada Via Sacra 4.2- As peças promocionais, fornecidas pela Coordenação Nacional da CF: Foram bem aceitas? Devem continuar sendo produzidas? Observações 66
  • 67. sim não sim não Adesivo-lema Envelopes Faixa de pano Outdoor 4.3 - Teria outro tipo de material a sugerir? Sim ( ) Não ( ) Qual? ............................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 4.4- Como a paróquia avalia os subsídios? Quanto ao conteúdo: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Quanto à linguagem: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Quanto ao seu poder motivador: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Outros aspectos: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 4.5 - Quando a paróquia recebeu o material encomendado? ............................................................... ? 5 - Sugestões 5.1- Sobre a organização geral da Campanha para os próximos anos: Para a Diocese: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Para a CNBB Regional: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Para a CNBB Nacional: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 5.2 - Alguma sugestão para a realização da CF-2002? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 67
  • 68. .............................................................................................................................................................. 5.3 - Outras considerações: ................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Local e data: .............................................................................................................................................................. Assinatura do responsável: .............................................................................................................................................................. 68
  • 69. ? AVALIAÇÃO DA CF-2001 ? (PARA O NÍVEL DIOCESANO) Enviar esta avaliação à Coordenação Regional da CF até o dia 20 de maio de 2001. Para a avaliação, é importante ter presente os objetivos e as orientações gerais da CF- 2001. ? Identificação Nome da Diocese: ................................................................................................................................. A Coordenação da CF é feita: a) por uma Equipe Diocesana da CF ( ); b) pelo Conselho Diocesano de Pastoral ( ); c) por um padre ( ), por um diácono ( ), por um(a) religioso(a) ( ) ou por um leigo(a) ( ). Número de Paróquias da Diocese: ( ) Número de Paróquias que avaliaram a CF 2001, seguindo este esquema proposto pela Coordenação Nacional: ( ) ? 1. Preparação 1.1- Houve algum encontro diocesano para o estudo do tema da CF? Sim ( ) Não ( ) 1.2 - Número de participantes: ( ) Duração do encontro: (........................................................ ) 1.3 - Presentes: representantes de _____ paróquias; Pastorais representadas: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ; Movimentos representados: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ; Outros grupos representados: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 1.4 - Que dificuldades as paróquias encontraram com relação ao tema e ao texto base? a) em nível diocesano: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 69
  • 70. b) em nível paroquial (resumo): .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 70
  • 71. 1.5 - Quais os principais encaminhamentos dados? a) em nível diocesano: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. b) em nível paroquial (resumo): .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ? 2. Lançamento 2.1 - Houve um lançamento em nível diocesano? Sim ( ) Não ( ) Quem e como foi organizado? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 2.2 - Os Meios de Comunicação Social foram envolvidos? Sim ( ) Não ( ) De que forma? ................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 2.3 - A Diocese produziu algum material próprio para o lançamento? Sim ( ) Não ( ). Que tipo? .............................................................................................................................................................. .................................................. Esse material foi aproveitado pelas Paróquias? Sim ( ) Não ( ) 2.4 - Quais as iniciativas paroquiais (indique) de maior significação, desta fase de lançamento da CF? 1) .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 2) .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3) .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. ? 3. Realização 3.1- Reação da Imprensa: houve espaços para divulgação? Sim ( ) Não ( ) Houve críticas? Sim ( ) Não ( ) O que foi criticado? .............................................................................................. 71
  • 73. 3.2 - Quais os pontos altos ou fatos mais significativos da CF-2001? a) em nível diocesano: .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... b) em nível paroquial (resumo): .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... 3.3 - O que foi melhor nesta CF-2001, em relação à de 2000? a) em nível diocesano: .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... b) em nível paroquial (resumo): .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... 3.4 - O que foi pior melhor nesta CF-2001, em relação à de 2000?.................................................... a) em nível diocesano: .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... b) em nível paroquial (resumo): .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... 3.5 - Os encaminhamentos dados na fase de preparação se concretizaram? a) em nível diocesano: Sim ( ) Como? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 73
  • 74. Não ( ) Por quê? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. b) em nível paroquial (resumo): Sim ( ) Como? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Não ( ) Por quê? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 3.6 - O que aconteceu, de concreto, como fruto novo desta Campanha? ............................................ a) em nível diocesano: .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... b) em nível paroquial (resumo do que disseram as Paróquias): .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... 3.7 - Os recursos financeiros para a realização da CF, em nível diocesano, vieram da venda do próprio material ( ); de doações ( ); do orçamento paroquial ( ); da coleta da CF ( ). 3.8 - Total da Coleta, realizada nas Paróquias, no Domingo de Ramos: R$ ............................... , 00. Os 35% da coleta destinados à Diocese totalizaram: R$ ....................................................,00. A coleta é feita de alguma outra modalidade? Qual? .............................................................................................................................................................. ................................................................................................................................................... ................................................................................................................................................... Foram aplicados em programas de promoção humana? Sim ( ) Não ( ) Quais: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 74
  • 75. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Tiveram outra aplicação? Sim ( ) Não ( ) Qual? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 4 - Subsídios 4.1. Como a Diocese avalia os subsídios fornecidos pela Coordenação Nacional da CF? (resumo quantificado do que disseram as Paróquias). Muito bom Bom Regular Fraco Não usado Fraternidade nos Grupos de Reflexão Frat. na Escola/ Ensino Fundamental I Frat. na Escola/ Ensino Fundamental II Frat. na Escola/ Ensino médio Agenda Pastoral Calendário da Fraternidade Cantos da Missa: entrada ofertório comunhão Cartaz CD Celebração da Misericórdia e Vigília Eucarística Círculos Bíblicos Encontros Catequéticos Encontros com Jovens Fita K-7 Jingle para Rádio Manual Oração da Campanha Spot para TV Texto base Texto base em linguagem simplificada Via Sacra 4.2- As peças promocionais, fornecidas pela Coordenação Nacional da CF: Foram bem aceitas? Devem continuar sendo produzidas? Observações sim não sim não Adesivo-lema Envelopes Faixa de pano Outdoor 4.3 - As Paróquias sugeriram algum outros tipo de material? Sim ( ) Não ( ) Qual? .................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 4.4- Resumidamente, como as Paróquias avaliaram os subsídios: 75
  • 76. Quanto ao conteúdo: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Quanto à linguagem: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Quanto ao seu poder motivador: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Outros aspectos: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 4.5 - Quando a Diocese recebeu o material encomendado? ................................................................ .............................................................................................................................................................. ? 5 - Sugestões 5.1- Sobre a organização geral da Campanha nos próximos anos: Para a CNBB Regional: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Para a CNBB Nacional: .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 5.2 - Alguma sugestão para a realização da CF-2002? .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 5.3 - Outras considerações: ................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. 76
  • 77. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. .............................................................................................................................................................. Local e data: .............................................................................................................................................................. Assinatura do responsável: .............................................................................................................................................................. 77
  • 78. CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2002 - PEDIDO DE MATERIAL (REMETER À DIOCESE ATÉ 31/05/2001) O pedido deve ser feito via Diocese. A paróquia o entrega à Diocese e esta o remete à Secretaria Executiva Nacional da CF. Terão um desconto de 15% os pedidos que chegarem, em Brasília, até o dia 13/07/2001. Diocese: ............................................................................................................................................... Cidade: .................................................................... Estado: .............................................................. Endereço: ..................................................................................................... Cep: .............................. Fone: ( ...... ) .................... Inscrição Estadual: .............................. CGC: .......................................... SUBSÍDIOS 78
  • 79. ? ÍNDICE Apresentação Oração Introdução Primeira Parte: Quero ver de novo (Mc 10, 51) Alguns esclarecimentos prévios Sonhos e pesadelos O complexo sistema das drogas Esclarecendo alguns pontos Mas, o que é mesmo droga? Toxicomania e dependência Procurando explicações profundas O uso de drogas Rostos desfigurados O pesadelo da família O sonho da harmonia social Um mundo em crise Nova forma da mercadoria e hegemonia neoliberal A restauração de sonhos Segunda Parte: Escolha a vida! (Dt 30, 19) O contexto social das drogas O contexto pessoal das drogas Ser humano - obra preciosa Criados por amor e livres, para sermos felizes A sabedoria de livremente impor-se limites Hábitos que controlamos e hábitos que nos controlam A força da fé nas situações de dor A vida e sua possibilidades valem mais que a ilusão das drogas Vida sim! Morte não! O amor, que traz felicidade, tem suas exigências Cristãos, chamados a fazer diferença Um amor sem exclusões A Igreja se põe a serviço da vida e da esperança Procurar parceria par servir a vida e a esperança O Evangelho do amor que liberta, transforma, faz crescer Terceira Parte: A profecia da ação solidária Políticas públicas de controle Prevenção ao uso indevido de drogas Quando à intervenção de ajuda Tratamento e reinserção social dos dependentes de drogas Os desafios de um dependente de drogas depois do tratamento 79
  • 80. O papel das famílias, das escolas e das igrejas A família e a dependência das drogas: pistas de ação Comunidade escolar e dependência de drogas: pista de ação As Igrejas Cristãs e a dependência de drogas: pistas de ação A contribuição específica das Associações e Movimentos Eclesias A contribuição específica das paróquias As Pastorais e a Pastoral da Sobriedade Gesto concreto da Campanha e fundo Nacional de Solidariedade Concluindo ORIENTAÇÕES GERAIS DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE 2001 1ª Capítulo - Celebrar a Quaresma 2º Capítulo - Natureza e Histórico da Campanha da Fraternidade 3º Capítulo - Os Temas da CF no Seu Contexto Histórico 4º Capítulo - a Campanha da Fraternidade 2001 e o Projeto Ser Igreja no Novo Milênio 5º Capítulo - O Serviço de Coordenação e Animação da CF 6º Capítulo - Cronograma Geral Avaliação da CF - 2001 (Para o nível paroquial) Avaliação da CF - 2001 ) Para o nível diocesano) Campanha da Fraternidade 2002 - Pedido de Material 80