Minhas Três Vidas
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Considerações do Autor

          o começar a escrever este livro, deparei-me com al-



A
           gumas barreiras preconceituosas aos meus escritos
           que considerava inadmissíveis, não me permitindo
            ir adiante. Porém, com minha persistência, conti-
            nuei. Mesmo com o pensamento inexato, sentia
grande necessidade de ir em frente, pois com a sensibilidade
que passei a adquirir notei que não era só ficção o que eu
estava passando para o papel. Alguma coisa ou alguém do
plano metafísico me conduzia por meio da inspiração.
    Após alguns depoimentos de amigos e com as devidas
provas, como relatórios médicos em formato de documen-
tos de onde ficou internado o jovem acidentado, cujo nome
do personagem, este sim é fictício assim como os demais
personagens desta narrativa, continuei a escrever.
    O jovem acidentado será citado como Juarez, que teve
uma cura verdadeira por meio de fenômenos de aparição e
materialização de espíritos luminosos, fenômenos esses na-
turais, simples e verdadeiros, no entanto, complicados para
os leigos, que confundem esses abnegados trabalhadores com
espíritos demoníacos ou almas perdidas.
    Procurei ser o mais coerente possível e gostaria de agra-
decer aos filhos da União Espírita Ogum da Lua e Cabocla
Iara, pois foi pelo amor e dedicação desses irmãos que de-
senvolvi meus escritos, por meio de psicografias enviadas
pelos irmãos espirituais. Mas deixo um adendo. Como disse
um pensador: “Muito tenho para aprender e pouco para
ensinar”.


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Com Deus e por Deus

        Deus, em sua infinita sabedoria, bondade e total
amor pela Criação, nos permite ter contato com o mundo
transcendental, onde habitam os nossos entes queridos. Mas
para que isso seja possível, necessário se faz estar com o
nosso pensamento claro e livre do orgulho, do egoísmo,
da vaidade, da ganância etc., para que nossa aura não tenha
nenhuma nódoa, assim, os nossos contatos além de ser to-
talmente agradáveis, também serão terapêuticos.
        O que não podemos é dar margem a pensamentos
obsoletos, pois sua negatividade enganará até mesmo o nos-
so subconsciente, e aí então, em nossos sonhos, pode nos
fazer vítimas de nós mesmos.
        Nesse contato que fazemos com o mundo espiri-
tual, passamos não somente por sintonias em camadas su-
periores, como também por camadas inferiores, às vezes
com sortilégios tristes e sintomas ruins que se refletem em
nós, adquiridos pela captação de energias negativas – so-
fredoras, vingativas e outras.
        Por esse motivo, com Deus e o amor de Deus é que
temos como via de fato o nosso porto seguro, e a virtude de
transformar energias ruins em fontes de luz que, se bem
conduzidas, podem até ser transmitidas aos que necessitam.
        Se pensarmos no milagre da multiplicação dos pães,
poderemos vê-lo todos os dias: na agricultura, nos mares,
nos rios e na vegetação. Esse é o milagre que dificilmente
nós enxergamos, e que acontece nas 24 horas do dia.
Todos os dias.


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Então, necessário se faz que não odiemos as cama-
das inferiores, popularmente ditas demoníacas, pois elas
também são parte da Criação do Pai. Por conseguinte, são
eles nossos irmãos. É de nossa missão resgatá-los para Deus,
pois a palavra expressa pelos lábios Divinos diz que não
quer jamais um filho para o caminho da desonra.
         É necessário que não tenhamos ódio no coração,
mas muito amor, fé, caridade, solidariedade e confiança
no Criador. É necessário que aprendamos a não só a pedir,
pedir, pedir, mas a agradecer o que Deus nos dá em abun-
dância: o oxigênio, as frutas, as águas, os grãos, as vegeta-
ções, as ervas medicinais e muito mais. Este é o verdadeiro
milagre da multiplicação que esperamos.
                   O milagre da multiplicação não se expres-
sa somente na abundância de frutas, das águas, do oxigê-
nio, dos grãos, da vegetação, dos peixes, dos pães, das er-
vas medicinais e outros, para a nossa satisfação e cura ma-
terial. O milagre da multiplicação se faz complementando
a tudo isso com o acréscimo do amor, para que sejam mul-
tiplicados os alimentos do corpo e da alma com orações e
atos da fé, com a grandeza e a arte da caridade e com a
sutileza da esperança, que se transformam em perdão e
AMOR – magnífico é o Amor que se resume puramente
em Deus. Seguramente, nesse caminho seremos felizes, pois
nos faz progredir no mundo físico e espiritual.
         Nós, deste planeta, vivemos em um plano de expia-
ção e precisamos nos conduzir, porque somos sim, parci-
almente limitados. E é justamente por esse motivo que
estamos sujeitos à arrogância e à ignorância. Temos o nos-
so livre-arbítrio para nos conduzir, mas temos as leis de

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Causa e Efeito constituídas no Universo.
        Portanto, ao partirmos para o Plano Espiritual, lá
sim, estaremos em nosso verdadeiro lar. E voltamos para
lá com o que conseguimos conquistar. Certamente, leva-
mos o que é nosso de direito, deixando na Terra o que é da
Terra (exemplo: os bens materiais). Levamos o que apren-
demos ou o que de bom praticamos, com fé e solidarieda-
de, para ganharmos amor, o amor de Deus, mas também
levamos o que de ruim praticamos: a desonra, o egoísmo,
a calúnia, a ganância e a nossa ausência, quando se fazia tão
necessário a nossa presença.
        O Plano Espiritual é um de nossos lares. Certamen-
te que, ao regressarmos para ele, seremos glorificados com
as boas atitudes ou sofreremos o peso de nossas matulas.
Os resultados para nele viver dependerão exclusivamente
de nossas conquistas e dos nossos direitos. Então, no Pla-
no Espiritual, somos conduzidos para as moradas que her-
damos de fato e de acordo com o nosso psíquico. E para
que a nossa herança seja farta, é necessário que façamos um
bom investimento na Terra!

                                Um forte abraço e boa leitura.
                                             Nevas do Amaral




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Início da Saga
         Dona Antônia e seu marido trabalhavam muito para
manter João Eduardo em uma boa escola particular, dando-
lhe tudo o que desejava: brinquedos, roupas caras e outras
variedades, sempre do bom e do melhor. De momento e
hora, faziam-lhe suas vontades, era só pedir.
         João, criado com muito mimo, era o caçula da famí-
lia, a “raspa do tacho”, como se diz popularmente. Após
alguns anos, o menino, já transformado em homem, cursa a
universidade “São Francisco”, para logo começar a traba-
lhar em um escritório de partido político, onde prontamen-
te se destaca como um excelente líder, conquistando uma
promoção e um elevado salário. Mas não é por aí que as
coisas ficam: João, por meio de elogios, se sente extrema-
mente seguro em suas ambições, tornando-as ilimitadas.
         Seus pais, abarcados pela ambição do filho, reme-
tem-no à segurança da recompensa pela criação de uma
criança traquina, inteligente e encantadora. Foram nesses
requisitos que João se formou em sua intelectualidade. E
por tudo isso, compensou seus pais, porque o conforto
financeiro que João Eduardo lhes proporcionou, fora fan-
tástico. “Valeu a pena”, diziam o senhor Arnaldo e sua es-
posa dona Antônia.
         E João Eduardo, que a cada instante desejava ainda
mais provar a todos a sua imensa capacidade, até se exce-
dia em seus desejos. A ganância o inquietava e isso não lhe
fazia bem, porque perdia a solidariedade de ceder a ou-
trem a oportunidade de conquistar a felicidade, assim como
ele , no tocante à parte financeira. João Eduardo só conse-
guia ver abastanças e volumosas fortunas.
         Soam os sinos das eras. Aquele jovem, já próximo
aos 28 anos, um dia se apaixona por uma mulher de pele

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morena, olhos castanhos, muito sensual e de traços troianos.
20 anos apenas: Ternamente linda. O que de mais interes-
sante havia era justamente a ascendência dessa mulher e tam-
bém a sua forma física. Seu nome era Izabel e, por coinci-
dência ou destino, havia um parentesco entre ambos que
nem eles, nem os de suas famílias sabiam. A única coisa que
sabiam é que conviveram juntos durante a infância, moran-
do no mesmo bairro e na mesma rua e o destino lhes colo-
cou frente a frente novamente, em sua fase adulta.
        Izabel, uma mulher extremamente culta, apesar da
pouca idade, era fluente nos idiomas inglês, alemão e fran-
cês, que lhe caíam perfeitamente com os trejeitos do cor-
po, do coração e da alma. Uma mulher com quem João se
encantou e se casou, tendo com ela dois filhos: Junior e
Gabriela.
        Falemos um pouco neste parágrafo sobre as difi-
culdades encontradas para que fosse realizada essa união
conjugal. Na verdade, para que fosse executado esse ma-
trimônio, houve alguns transtornos quanto aos pais de
Izabel, cuja educação lhe remetiam aos princípios matri-
moniais de uma criação, muito rigorosa no contexto religi-
oso, e que rejeita a ganância financeira. Porém, por mais
uma vez o amor levou à deriva os preconceitos ou excesso
de cuidados. E isso não bastou. Izabel havia se prometido
a Lúcio, uma pessoa possessiva em seu modo de ser. Um
homem cuja paixão tresloucada, ínfima, mesquinha e im-
perativa, deixa excedido e encarcerado seu coração pela
obsessão sentida por Izabel. Lúcio era homem tão posses-
sivo quanto a sua própria loucura; um homem egoísta em
seus desejos pessoais, amargo e irresoluto em relação à pró-
pria vida. Para ele, Izabel serviria só e simplesmente para a
sua continuidade, fatal continuidade... Seria um objeto em
suas mãos.
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Lúcio, não conformado pela perda de Izabel, nada
mais poderia fazer do que caluniá-la, difamá-la e
desmoralizá-la com todo o ódio que sentia. Pensando e
agindo dessa forma, faria dessa maneira o resgate de seu
brio e sua acrimoniosa desforra.
        Seus apelos chegaram ao mais baixo caminho. Além
dos requisitos negativos predeterminados por ele, havia
também práticas anônimas e demoníacas. Um homem sem
recato nem honradez, que se fazia valer de missas, cultos
evangélicos e até de feitiçarias, pois o que queria era lo-
grar-se de um objetivo único, que era ver João Eduardo e
Izabel arrastados num recife de lodo, pobres e loucos.
        Bem, como o amor sempre vence, as dificuldades
foram imensas para realizar-se o tão polêmico matrimô-
nio, porém aconteceu, pois era inevitável, pelo amor que
sempre vence.
       No entanto, Lúcio prometera a si que mesmo indo
para o inferno, haveria de ver João e Izabel separados. Suas
visitas a lugares onde ficava sabendo que poderia recon-
quistar Izabel eram frequentes, não importando qual a reli-
gião ou rituais que pudesse trazê-la de volta para satisfazer
seu ego. Com isso ele cada vez mais decaía no conceito
espiritual, dando vazão a espíritos de baixíssima frequência,
energias estas captadas em lugares onde se praticam magia
negra. Além do mais, suas orgias eram constantes: bebidas,
tabagismo, drogas e amigos que estavam sempre na mes-
ma sintonia. Com isso se formava um elo entre o mundo
físico e as baixas camadas do mundo espiritual, onde a
morada desses espíritos era em camadas obscuras, e lá que
eram planejadas as desordens em laboratórios plasmados,
tudo com a finalidade de prejudicar tanto espíritos perdi-
dos em busca de um caminho, como também seres encar-
nados. Em uma dessas orgias, Lúcio fora assaltado por

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quatro bandidos; uma armação de seus falsos amigos. Mas
Lúcio reagiu ao assalto e a fatalidade foi inevitável. Ele veio
a falecer e em seguida foi resgatado pelos espíritos das
trevas. Por ser ele muito inteligente, rapidamente aprendeu
a se comunicar de forma telepática, e seu objetivo era a
destruição do casal: João e Izabel.

              João Eduardo é perseguido por Lúcio
         João tinha como objetivo dar conforto para sua espo-
sa e filhos, pois tinha em seu íntimo o mesmo intuito de seus
pais: dar tudo do bom e do melhor para sua família. Além do
mais, seu ego era alimentado por todos que o cercavam, fa-
miliares e seus superiores do trabalho: o partido político. João
queria mais e mais, não importando a que custo. Com isso
começou uma cadeia de egoísmo incalculável, aceitando subor-
no pela troca de favores, facilitando assim a vida de amigos e
parentes com bons empregos, excelentes salários e total esta-
bilidade. Por serem empregos públicos, em repartições as quais
ele tinha livre acesso, passou a ser um homem notável em seu
poder.
         E ainda tinha Osmar, o presidente do partido em suas
mãos. João sabia de tudo o que se passava no movimento
partidário, de todas as sujeiras. Passou então a tomar atitudes
irrelevantes, adversas à conduta de um bom cidadão e pai de
família.
         João era solicitado pelo partido para viagens e mais
viagens, e seu lar passou a ser os aviões e os carros, e em cada
uma das viagens suas finanças aumentavam ainda mais, ge-
rando mais entusiasmo, ou melhor, cada vez mais se dispu-
nha a servir ao seu partido.
         Em uma dessas viagens conheceu Lídia, mulher de
belo porte físico e muito sensual, mas problemática e de ca-

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ráter dúbio. Ela vivia com crises neuróticas, portanto, estava
vulnerável a energias ruins. Então, Lúcio aproveita essa aber-
tura ou oportunidade para usá-la como trampolim em suas
ações sórdidas contra João. E João, induzido pelos espíritos
que acompanhavam Lúcio, enxergava em Lídia uma mulher
mais interessante. Por ser extremamente sensual e a mais lin-
da que já conhecera, estava deslumbrado por ela, que se mos-
trava ou se insinuava, mostrando estar sempre disposta a sa-
tisfazer as vontades eróticas de seu parceiro. As visitas de
João a Lídia eram constantes e ela o seduzia para as orgias.
Logo se tornaram amantes, e com as juras de amor ele mentia
prometendo a ela que logo estaria divorciado e livre de sua
esposa, dizendo que o divórcio estava para sair e aí sim, os
dois estariam totalmente livres. Aquela dama estava deslum-
brada; além de ele ser um homem viril, ainda lhe dava vários
presentes, como carro, apartamento, jóias, vestidos e festas,
na alta sociedade e nos meios políticos.
         Sua esposa começou a perceber que algo estava erra-
do e passou a indagar. Com isso, Lúcio sentia que sua vingan-
ça estava próxima. Mas João sabia se sair de situações piores
como, por exemplo, quando era sabatinado por seus adversá-
rios e convencer Izabel, uma simples dona de casa, seria fácil,
pensava João.
         Izabel já não era mais a mesma. Suas amigas invejo-
sas, querendo ver “o circo pegar fogo”, diziam: – Izabel, mi-
nha querida, abra os seus olhos. Você parece que está cega!
O João está sendo desonesto com você. Ele é um canalha,
está na cara que ele tem outra. Cuidado... Cuide do seu
homem, boba!
         João já não era mais o mesmo, não era o homem cari-
nhoso de outrora com sua esposa. Não participava da educa-
ção de seus filhos, Junior e a pequena Gabriela, e estava cada
vez mais afastado de sua ainda jovem esposa. Ela se sentia

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sozinha e sucessivamente angustiada. Começou então a ter
sintomas de depressão. Perdera o interesse em se arrumar e
tudo ia mal com ela.
         Entre os colegas de João havia Alberto, um homem
de meia idade que era realmente um bom amigo, sempre de-
voto a Deus, bem conceituado em seu modo de vida, tanto
familiar quanto profissional. Era um funcionário que traba-
lhava no partido, mas era terceirizado, e tentava passar para
João Eduardo suas experiências no campo amoroso e famili-
ar, dando-lhe bons conselhos.
         Izabel, desmotivada com o comportamento munda-
no do marido, deixa os cuidados do lar e a educação dos fi-
lhos sob os auspícios de suas duas empregadas, para com al-
gumas de suas atuais amigas, satisfazer-se em festas, afogan-
do assim os seus sentimentos em taças de bebida.
         João, alertado por seu bom amigo, que lhe aconselha-
va e implorava a Deus por ele e sua família, começou a per-
ceber que estava perdendo algo muito precioso: sua esposa e
seus filhos.
       E Izabel, sem perceber, estava dando vazão a espíritos
de planos inferiores: era Lúcio sob o comando daquela le-
gião, que aproveitava sua vulnerabilidade para sugar suas
energias.
         João, pensando no que dissera seu amigo Alberto em
relação à sua família, tomou uma decisão. Deixou de compa-
recer a alguns encontros marcados com Lídia e aos poucos
foi se afastando daquela dama. Sua amante lhe cobrava por
essas faltas, dizendo a ele que deveria ser mais presente e que
ela não aceitava ficar sozinha nos finais de semana, pois era
jovem ainda e tinha de aproveitar o seu tempo. João estava
entre a cruz e a espada, e seu amigo tentava de alguma forma
fazer com que ele entendesse que sua família era tudo o que
importava em sua vida, enfatizando os clamores a Deus em

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prol de João e sua família e argumentando que a melhor
mulher do mundo literalmente é a nossa esposa, pois ela está
sempre potente para qualquer situação, em momentos bons
ou ruins. Uma amante só é interessante nos bons momentos,
pois ela não está presente e é impotente nas horas amargas,
isto, logicamente, com raras exceções.
As amigas de Izabel lhe aconselhavam a ir em frente dizendo:
– Larga de ser boba, não dá moleza. Vai passear, a noite é
uma criança. Vamos sair e conhecer pessoas interessantes. Se
ele lhe trai, você deve pagar na mesma moeda.
         A quantidade de bebida que Izabel estava ingerindo
era cada vez maior, sendo quase que diariamente. Nas suas
saídas, as duas falsas amigas lhes diziam: – Você, Izabel, é
realmente muito bonita! Olha como você esta sendo notada,
veja como aquele rapaz não tira os olhos de você. Não perca
tempo sua boba, aquele rapaz é lindo, é um gato.
         Izabel respondia: – Não, literalmente não. Eu tenho
um marido. Não vou pagar na mesma moeda, pois isso não é
de minha índole.
         Quando João percebeu que sua esposa estava para se
transformar em uma alcoólatra, tomou uma atitude definiti-
va. Separou-se de Lídia, que totalmente segura, achava que
João estava por ela realmente apaixonado. Mas na realidade,
nem ela e nem João sabiam do amor verdadeiro que ele tinha
pela sua esposa e pelos filhos.
         Lídia, por meio de dívidas exageradamente feitas para
manter o seu alto padrão de vida, começa a vender os presen-
tes que ganhou de seu amante João. Inconformada com a si-
tuação, passa a persegui-lo, ligando diariamente para o seu
trabalho. E ele, por sua vez, não quis mais atender às suas
ligações. Desesperada, Lídia passa a ligar para a casa de João,
e não sabendo mais como agir, com arrogância conta tudo a
Izabel, expondo-lhe a sua vida íntima com João e até as

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aberrações que cometia com ele na parte sexual e o drama de
sua atual situação, exigindo dele que assumisse suas dívidas
porque ela não era descartável. Disse-lhe também dos presen-
tes ganhos, de seu status na sociedade e que num instante
perdera tudo.
         Izabel, com seus apelos a Deus, pedia forças para
suportar todos aqueles dissabores. E João, sem saber, recebia
por via telepática as vibrações de Lúcio, então com muito
ódio, e pensou em várias formas para se ver livre de Lídia.
Mas Alberto intercedeu, dando-lhe conselhos e pedindo-lhe
que se acalmasse para não tomar decisões precipitadas.
         Izabel queria divorciar-se a qualquer custo, mas no
fundo sabia que mesmo com todos os problemas, João era o
seu porto seguro. Ela ainda o amava e, afinal de contas, ele
era o pai de seus filhos. Izabel dizia isso entre lágrimas, mas a
depressão, as amigas e as energias negativas de espíritos de
baixa freqüência e aproveitadores invadiram seu lar, come-
çando uma desordenada vibração e causando uma grande dis-
córdia. Esses espíritos, conhecidos como vampiros, se apro-
veitavam da desarmonia do lar para se satisfazer com as
vibrações de sadismo, ódio, traição e vícios em excesso.
         O casal de filhos de João era bem educado, apesar do
caminho errado que o pai deles seguira. Com o lar se desfa-
zendo, os filhos perdiam o entusiasmo pelos estudos. Não
eram mais aquelas crianças dóceis e tornaram-se rebeldes por
causa da ausência dos pais, que se transformaram com o uso
do álcool em excesso e das palavras grotescas que brotavam
dos lábios de ambos.
         A mãe daqueles meninos, Izabel, além de alcoólatra
estava tristemente para se transformar em uma pessoa gros-
seira e amarga. Ela já não era mais a mãe dedicada e carinho-
sa, e os maus espíritos se deliciavam com aquela situação,
pois as energias ruins deles emanavam, se proliferavam com

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a presença de mais companheiros para preencher com
desordens o lar daquela família. Lídia, já sem propósito de
vida, fazia constante visitas a Izabel. Suas palavras pesadas
agrediam até a alma de Izabel, que também tomada por ener-
gias inferiores, fazia-se enlevar quase que totalmente. Mal
intencionada em suas palavras, Lídia tentava convencer Izabel
a se separar de João Eduardo, pois ele era um cafajeste, mas
mesmo assim, era o grande amor de sua vida. Izabel afirmava
que tudo o que tinha, havia conquistado pelo amor que João
Eduardo sentia por ela.
       Naquele instante, ela ofegava diante das más energias
que recebia de Lídia. O que Izabel fez foi apelar para o nosso
tão esquecido Pai, o nosso amado Deus, que naquele momen-
to de angústia e desespero fora lembrado. Com esse apelo, fo-
ram emanadas sintonias de paz, que certamente absorveram
os murmúrios de Lídia.
         No âmago daquele pedido a Deus, Izabel começa a
atrair para si minúsculas gotículas de energias supremas e fa-
voráveis a ela. Uma luz se acendera à sua volta. Ali se aproxi-
maram novamente grandes e magníficos Anjos da
espiritualidade, Espíritos Guardiões, que sem palavras e sem
que ambas percebessem a presença deles, fizeram com que
aquelas energias ruins começassem a se dissipar. Lídia, não
se sentindo bem, se afasta incomodada, dizendo a Izabel que
em outro dia se falariam.
         João, desolado com o que estava se passando, tinha
uma preocupação quase única - seus filhos. Alberto, seu ami-
go, insistia para que seus olhos se abrissem quanto a Lídia, o
grande obstáculo que atrapalhava a sua felicidade. Os filhos
se afastavam dele; sua esposa, terna mulher, fragilmente pos-
suída por más companhias quando ingeria bebidas alcoóli-
cas, e com o ódio que sentia pelo que estava se passando em
suas vidas, dava vazão aos espíritos aproveitadores. João

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percebia também que sua vida profissional estava ameaçada
pelos acontecimentos atuais. Seus superiores já não o viam mais
como o supremo intelecto e excelente profissional de primeira
linha. Enfim, tudo na vida de João Eduardo transformara-se
em um jogo de difícil resolução. Um jogo injusto, no qual o
poder se encontrava totalmente nas mãos do inimigo.
        De tudo, o que ainda lhe segurava era o seu trabalho,
pois diante de seus superiores uma cumplicidade os mantinha
unidos: os “segredos profissionais”. Profissionalmente, João
conhecia por demais os pontos podres, as chantagens, os cri-
mes de colarinho branco etc. Se contasse aos adversários aqueles
segredos, seria o partido totalmente desmascarado pelos
oposicionistas.
        Osmar, o líder do partido, pensou, pensou e pediu a
opinião dos demais. Cada um lhe passava um conceito.
Haroldo, o vice-líder e conselheiro, braço direito de Osmar,
disse:
        – Haveremos de dar um jeito em João Eduardo e em
sua família, e isto será muito fácil.
        – Você é louco, Haroldo? – responde Osmar. Não há
necessidade de chegarmos a esse ponto, isso somente em úl-
tima hipótese. João não é nada bobo e deve ter um excelente
Seguro de Vida. Se algo lhe acontecer, vamos ser sabatinados
por autoridades e por nossos adversários. Haverá uma inves-
tigação minuciosa da seguradora, por isso, nem pensar nessa
hipótese. Devemos ter muita calma, Haroldo, pois existem
outros meios. Nós temos excelentes advogados e o nosso
departamento de marketing poderá montar boas estratégias.
Afinal, João Eduardo não é louco, e certamente não nos de-
nunciará. Não se esqueça de um detalhe, meu amigo: o di-
nheiro compra tudo, e se há algo de que João gosta, é de di-
nheiro, assim como nós. Fique tranquilo e deixe comigo, está
bem?

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Após Osmar argumentar e colocar aos demais os seus
planos, todos se reuniram para chegar a um consenso, que foi
oferecer a João uma boa aposentadoria, mas ameaçando se
ele abrisse a boca, dizendo que ele poderia até sofrer um
enfarte fulminante.
        E João, em pensamento, ao perceber que entre eles
havia muita astúcia, agiu de um modo que lhe era peculiar.
Pediu-lhes, antes de qualquer proposta, uma reunião. Com
isso João estava se prevenindo para não correr riscos com a
sua segurança.
        Imediatamente após lhe ser permitida a reunião, to-
dos nela compareceram para, atentos, ouvirem as suas pro-
postas. Na mesa onde estava reunidos, João Eduardo inicia o
seu discurso usando o termo “ironia”, pois era disso que eles
gostavam, e isso os excitava. E João Eduardo começa a ex-
por seus argumentos.
        – Meus amigos e correligionários, vocês não imagi-
nam o quanto eu amo o meu trabalho, e esta casa é tudo o
que eu tenho, e o que sou, devo a vocês. Tanto aos meus
antecessores, como também aos que chegaram após mim. Esta
casa e todos vocês, muito me ensinaram. Por isso, sou grato a
cada um de vocês e jamais usarei de ingratidão, pois sei mui-
to bem reconhecer o que de bom fizeram por mim, todos
vocês. Hoje tenho uma família saudável e meus pais estão
bem amparados financeiramente. Enfatizo: Tudo o que te-
nho, devo a vocês. Porém, cometi uma falha, e somente eu
posso e devo corrigi-la. Enlevei-me, por algum tempo, pela
beleza de uma mulher, e dela fiz minha amante. Hoje, essa
mesma mulher tenta destruir o meu lar e age também em
meu trabalho e, após tantas sequelas, agora sei como evitá-la
para que não me ocorra mais catástrofes. Para preservar mi-
nha família e principalmente este movimento (partido políti-
co), ouvi Alberto, nosso companheiro que presta serviços para

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esta boa casa. Digo boa casa pelas pessoas competentes que
aqui estão à minha volta, e se estas pessoas são competentes,
imaginem nossos líderes, que são nossos dirigentes, princi-
palmente a pessoa de nosso presidente Osmar e nosso vice
Haroldo, pessoas estas que elevo em meus pensamentos pela
grandeza de seus conceitos, caráter elevado e serviços pres-
tados à nossa sociedade. Estes dois homens são os pais deste
partido, e também excelentes pais de família. Gostaria de ci-
tar também o quanto eles são grandes, tanto como pais deste
partido, quanto com a preocupação que ambos têm com sua
dignidade e a de seus companheiros de trabalho, e também a
lealdade com os adversários. Estes meus comentários são só
uma pequena gota do que são verdadeiramente estes nobres
senhores. Mas agora, quero voltar ao que me disse o nosso
amigo Alberto, que me abriu os olhos em relação àquela mu-
lher com quem me envolvi. Bem, diante deste impasse e com
muita tristeza no coração, tenho que tomar uma decisão coe-
rente, que é a seguinte: Para que eu não venha atrapalhar o
bom andamento desta conceituada casa, estou pedindo meu
desligamento, sem nenhum prejuízo para nosso querido mo-
vimento partidário. Mas pediria a compreensão dos senhores,
pois não quero me desligar totalmente.
         – E o que você pretende? – Retruca Haroldo. Você Já
tem emprego em outro partido?
         – Bem, se eu renunciar do meu cargo de diretor exe-
cutivo e tesoureiro, tudo aqui fica mais tranquilo. Mas se eu
ficar, posso, com os meus problemas, atrapalhar o bom anda-
mento desta casa. Fico torcendo para que tudo ande bem por
aqui, portanto, vou abrir um escritório e dar assessoria finan-
ceira ao partido. Prometo-lhes que jamais pertencerei a qual-
quer outro partido, e se vocês me permitirem, poderei no fu-
turo, quando lhes convier, assessorá-los com consultoria, pois
é neste campo que desempenho bem o meu trabalho, assim

22
como também a outras empresas privadas de outros segmen-
tos. Gostaria de repetir, em alto e bom som: Prometo não
prestar serviço a qualquer outro partido político, pois o meu
coração ficará nesta casa.
         – E o que você precisa para montar seu escritório?
– Pergunta Osmar, o presidente do movimento.
         – Bem, Tenho uma boa conta bancária e não pretendo
incomodá-los, – responde João, já sabendo o que Osmar tinha
a lhe dizer.
         Osmar contesta. – E se você tiver uma ajuda do nosso
caixa?
         Essa pergunta foi feita por Osmar com a intenção de
suborná-lo ou comprar sua consciência. João, percebendo a
manobra, sentiu-se aliviado, pois sabia que o seu silêncio es-
tava sendo comprado. Menos mal, pois dessa maneira o risco
de vida seria menor. Melhor assim do que tê-los como
inimigos declarados.
         João Eduardo pensa consigo mesmo: – A partir de
agora vou tentar consertar as coisas. Não quero mais traba-
lhar de maneira tão desonesta, pretendo me reconciliar com
minha família. Mas neste momento vou seguir aquele velho
conselho, ou melhor, aquele velho ditado: “Se não pode com
eles, junte-se a eles”. Essa é a única saída que vejo neste
exato momento. E João, fingindo estar pensado na proposta
de Osmar, faz uma pausa e depois diz:
         – Pois assim será. Aceito a vossa proposta, meu presi-
dente, e podem contar com minha fidelidade e total discrição.
       – Com total ironia, João continua. – Pois bem, sei que a
discrição é nossa maior segurança para a nossa dignidade física.
– Disse essas palavras para mostrar aos seus líderes que sabia
o risco que corria se abrisse a boca em relação aos podres de
seu partido.
         João Eduardo queria consertar os erros, porém, os atos

                                                             23
cometidos desde sua juventude, nos quais colocava o dinhei-
ro como prioridade em sua vida, fez com que sempre estives-
se vulnerável às vibrações negativas. Após montar seu escri-
tório, passa por grandes dificuldades para conquistar sua cli-
entela, mas, mesmo assim, sua vida profissional começa a
dar algum sinal de melhora e também a sua vida familiar. Izabel,
no entanto, continuava bebendo quase que diariamente, e
andava a cada dia mais deprimida.

           Lídia encontra João em um restaurante
        Lídia, após tomar conhecimento do afastamento de
João de seu partido, se desespera, pois sabia claramente por-
que isso aconteceu. O que Lídia também sabia era que João
Eduardo tinha uma conta bancária altíssima, e vendo que
todo o apelo feito para reconquistá-lo não dera certo, começa
a pensar em novas investidas. Tenta de todas as formas
chantageá-lo, até que, num belo dia, por acaso encontra João
entrando em um dos restaurantes que os dois costumeiramente
frequentavam quando estavam juntos.
        – Olá meu caro, como está? Tudo bem? – Pergunta
Lídia, com um sorriso sarcástico.
        – Tudo bem – Responde João Eduardo receoso, pois
nesse instante preocupou-se com os seus acompanhantes, que
eram futuros clientes. Quando João vira-lhe as costas, Lídia o
aborda.
        – Se você não me der atenção farei um grande escân-
dalo aqui mesmo meu caro, na presença de seus amigos. Você
não pode me descartar dessa forma.
        – Por favor, não me faça passar por esse vexame –
responde João, preocupado com o que ela poderia fazer. –
Dessa forma você só vai piorar a situação, pois essas pessoas
são homens de negócios. Estou fechando bons contratos com

24
eles e você pode acabar comigo. Tenha calma, vamos
conversar.
        – Está bem. – Responde Lídia.
        – Só que agora não é possível – lhe diz João Eduardo,
– marcaremos um encontro.
        – Nem pensar, meu caro. Você acha que sou boba de
perder esta oportunidade?
        – Bem, então façamos o seguinte: aqui está o número
do telefone do restaurante. Daqui a alguns minutos você me
liga. Pensarei numa desculpa para dar aos meus clientes.
        – Está bem, mas não tente me enganar, pois poderá
lhe custar muito caro.
        João conseguiu sair-se bem, como sempre. Afinal, ele
era muito astuto. Cinco minutos depois, o telefone do restau-
rante toca e o garçom chama João, dizendo-lhe que era sua
esposa afirmando urgência. Depois de atender ao telefone,
João Eduardo volta aos seus clientes desculpando-se, pois
sua esposa não se encontrava bem e precisaria transferir a
reunião para o dia seguinte. Logo depois, João Eduardo e
Lídia se encontram como ele havia prometido. Ironicamente,
Lídia diz:
        – João, que saudade! Você é o único homem de minha
vida, eu te amo!
        Mas ele, não acreditando e procurando um meio para
sair daquela situação, mostrando a Lídia um ar de decepção,
lhe pergunta:
        – Será?
        – O que você quer dizer com isso? Ou melhor, o que
você sabe? – Responde Lídia.
        – Não adianta você negar, você me traiu e sei muito
bem com quem, sei de tudo.
        – Foi por isso que você deixou o seu emprego no partido?
        – O que você acha?

                                                             25
– Mas foi só uma aventura, meu amor. Contigo é dife-
rente, porque você é um homem de verdade. Viril, inteligente,
bonito...
        – E com eles foi tudo um fracasso, um grande fracasso,
não é?
        João percebe que Lídia teve relações íntimas com al-
guém de seu antigo trabalho e, jogando a sua esperteza, ele
diz o nome do líder.
        – Osmar é muito oportunista, minha cara.
        – Osmar lhe contou algo?
        – Olha Lídia, vamos acabar com esta palhaçada. Está
tudo acabado, siga com a sua vida.
        – João, eu sai só uma vez com Osmar.
        – E com os demais?
        – Bem, com Haroldo foi quase à força, ele me
chantageou.
        – E como ele chantageou você? Vamos fazer o se-
guinte, Lídia. Siga a sua vida e não tente me perseguir. Eu
não tenho mais nada com você.
        – João, isso não vai ficar assim, você não perde por
esperar. Você usou e abusou de mim e agora quer me jogar
fora, como se eu fosse descartável?

        Alguns dias após o encontro com Lídia, Alberto en-
contra João e, com alegria pelo reencontro, os dois vão come-
morar em um almoço no restaurante que sempre frequenta-
ram. Durante o almoço, João argumenta que não quer mais
nada com Lídia, mas confessa sentir que algo o empurra para
ela, e que por algumas vezes fora procurá-la.
        Alberto lhe diz que ele deveria ser forte e não procurá-
la, pois diante das chantagens de Lídia, as coisas só iriam
piorar para João e sua família.
        Após os conselhos dado a João, Alberto, ao chegar à

26
sua casa, continua com suas suplicas a Deus em prol do ami-
go, enfraquecendo assim as energias ruins de Lúcio e seus
comparsas do mundo espiritual, vindas dos umbrais onde se
situam os maus espíritos.

                           Lídia encontra uma amiga
        – Lídia! Como você está, minha amiga? Há quanto
tempo não nos vemos! Como vai, tudo bem? – pergunta Anita.
        – O que você acha, Anita?
        – Pensando bem, me parece que você está com
problemas.
        – Problemas? Pode por problema nisso, minha cara.
        – Mas na última vez em que nos falamos você me
parecia tão bem. Estava alegre, até achei você um pouco
metida. Você estava com um caso, se não me engano ele se
chama João Eduardo, e agora você me parece tão impotente.
        – E você, como está? – pergunta Lídia.
        – Comigo está quase tudo bem. No amor estou mal,
mas vou superar essa dificuldade, você verá.
        – Por que tem tanta certeza assim Anita?
        – Bem, o Marcos me trocou por outra mulher, e eu fui
orientada a procurar um Pai de Santo que faz trabalhos para
o amor, trazendo o namorado de volta. Estou trabalhando
para isso, porque o meu objetivo é tê-lo de volta.
        – Anita, me dê o endereço desse feiticeiro, pois o meu
maior problema é esse. Você se lembra bem de João
Eduardo, não é?
        – Lógico que me lembro! Um gato. Como poderia
esquecê-lo? E ele, como está?
        – Pois é menina, ele também me largou, deu-me as
costas. Demitiu-me de sua vida e eu o quero de volta, custe o
que custar.

                                                           27
– Por falar em custe o que custar, vou logo lhe avisan-
do que não são baratos os trabalhos do tal feiticeiro, minha
cara.
       – Para que existem cheques?
       – Só que tem que ter fundo, minha cara Lídia.
       – Vamos logo. Dê-me esse endereço que estou ansiosa.
Lá eu darei um jeito, deixe comigo.

                                  Lídia e o Pai de Santo
         Lídia bate palmas para chamar alguém. Quando apa-
rece o tal Pai de Santo, ela diz:
         – Bom dia! Gostaria de falar com o Pai Gildo.
         – Aqui não se diz bom dia, e sim boa noite, minha
senhora. Mas vai falando o que deseja.
         – Eu quero falar com Pai Gildo.
         – Sobre o quê?
         – Quero fazer uma consulta. É o Senhor?
         – Sim, sou eu. Mas pode me chamar de Pai Quiumba.
Entre que eu vou lhe atender. Sente-se e espere, porque eu
tenho mais gente para consultar.
         O lugar onde Lídia estava era ameaçador e com
muitos trabalhos espalhados pelo chão. Ali, tudo parecia ter
mau cheiro. Era assombroso! O tal pai Gildo era esquisito e
misterioso, ou melhor, totalmente desconfiado, com um olhar
sinistro.
         Após Lídia esperar por duas horas, o tal Pai Gildo cha-
mou-a para uma pequena sala, cuja porta era uma cortina em pés-
simo estado, suja e mal cheirosa. Ali se inicia uma variedade de
perguntas. Queria o tal Pai Gildo saber quem a tinha mandado e o
que ela fazia em sua vida. Sua profissão etc. Após várias
perguntas, ele afirma:
         – Você veio aqui por causa de um homem, não é verdade?

28
– Sim, é verdade. O senhor acertou em cheio.
         No desespero em que Lídia se encontrava, ela não
percebera a artimanha que tinha sido usada pelo mal espírita
para mostrar-lhe que profetizava.
         – Eu estou sofrendo muito por causa desse homem.
         – Mas você é tão apaixonada por ele a ponto de vir
aqui, pedir que eu o traga de volta?
         – Entenda do jeito que o senhor quiser, eu o quero de
qualquer jeito. Farei o possível e o impossível para tê-lo de
volta. Lúcio estava próximo de Lídia para que ela não
desistisse de suas investidas.
         – Olhe, minha senhora, não é muito barato! Quanto a
senhora pode gastar para que eu o traga de volta, com um
trabalho feito em amarração?
         – Bem, eu vou deixar um cheque em branco com o
senhor, e aí o senhor vê em quanto fica, está bem?
         – Dona Lídia, não trabalhamos com cheques, tem que
ser dinheiro vivo.
         – Bem, em dinheiro eu só tenho no momento o da
consulta.
         – E como você quer um homem? Pensa que é assim?
Paga logo a minha consulta e volta quando tiver o dinheiro,
dona.
         Lídia não tinha escrúpulos. De caráter dúbio, porém
não tão esperta quanto pensava, achando que poderia tapear
o feiticeiro com cheque sem fundo. Nesse momento, Lúcio
entra em total sintonia telepática com Lídia e faz com que ela
responda ao tal “Pai Quiumba”.
         – O senhor fique tranqüilo, que volto ainda hoje com
o dinheiro. Darei um jeito. Até mais tarde.
         – Eu sei que você irá dar um jeito, pois quando vocês
querem um homem, não medem as consequências. Em pen-
samento, Pai Gildo diz: “Essas mulheres ficam até sem

                                                           29
comer para arrumar dinheiro e ter o seu homem de volta. E
quem se dá bem sou eu!”.

         Lídia dá o golpe para conseguir dinheiro
         Lídia apela para alguns amigos sem sucesso, pois seu
crédito estava cortado em todos os lugares. Pensando em
como fazer para conseguir o dinheiro, tenta vender alguma
coisa que lhe restava, porém, não consegue. Vai para casa
desesperada e sente uma dor horrível nos rins. Há dias passa-
dos já vinha tendo algumas crises, talvez pelo desenfrear de
sua agitação. Mas mesmo com dores, a sua prioridade era fa-
zer talvez até o impossível para reconquistar João. Lúcio vi-
brava para Lídia reatar com João Eduardo.
         Lídia Pensou, pensou e então se lembrou que tinha
uma folha de cheque em um velho talão da antiga conta de
João, que ele esquecera em sua casa. João Eduardo era bem
conceituado financeiramente e Lídia não teve dúvidas. Pre-
encheu uma folha de cheque, colocou uma assinatura seme-
lhante à dele, pois ela tinha algumas notas de compras com A
assinatura de João, e foi procurar Alberto, amigo de João, in-
ventando uma história, ou melhor, dando-lhe uma desculpa,
dizendo que João havia lhe dado aquele cheque.
         Alberto, encurralado, mesmo sabendo que Lídia esta-
va mentindo achou melhor trocar o tal cheque e ficar livre
das ameaças que ela estava fazendo. Lídia disse a Alberto
que mostraria o cheque à esposa de João, pois precisava da-
quele dinheiro para cuidar de sua saúde, quando na verdade,
ela o queria era para fazer o tal trabalho com o inescrupuloso
feiticeiro.




30
Lídia, de volta ao Pai Gildo
         Já era quase meia-noite quando Lídia chega ao seu
destino. Bate palmas e logo é recebida pelo auxiliar do Pai de
Santo, que logo foi dizendo que ele estava ocupado e não
poderia atendê-la naquele instante.
         Diga ao Pai que arrumei dois mil reais. Pergunte-lhe
se esse dinheiro é o suficiente.
         O homem, já de volta, através do velho portão de
madeira, quase caindo, convidou-a para entrar dizendo-lhe:
         – Dona Lídia, sente-se que vou lhe servir um café. O
Pai Gildo não tardará a lhe atender.
         Em seguida, entra na sala Pai Gildo, sorrindo-lhe e
beijando-lhe a testa, dizendo:
         – Vamos conseguir trazer o seu homem, você verá!
         – Mas por que o senhor fala com tanta firmeza?
         Pai Gildo era raposa velha, como diz o ditado, e se
saindo bem, ele responde:
         – Porque você provou-me que é uma mulher forte,
uma guerreira que não desiste nunca. Então, vamos iniciar os
trabalhos?
         O feiticeiro pediu a Lídia que escrevesse o nome dos
dois, dela e João Eduardo, pedindo-lhe também algum objeto
pertencente ao rapaz. Ela entregou-lhe algumas fotos e os
endereços de ambos. Logo em seguida, tomado por energias,
o inescrupuloso “Pai de Santo” pronunciava palavras de bai-
xo calão, de espíritos atrasados e revoltados, que de alguma
forma se tornam obedientes ao que o feiticeiro lhe mandava
fazer. Esses espíritos, equivocadamente são confundidos com
Exus, que na verdade são espíritos ou energias que traba-
lham em uma linha intermediária, que divide o bem do mal.
São espíritos voluntários e em elevação, que aceitam missões
difíceis, assim como algumas profissões no plano terrestre.

                                                           31
Eles se sujeitam até mesmo a ser escarnecidos, taxados como
diabo ou satanás, não somente por outros credos, como também
por espíritas mal informados.
         Os que aceitam presentes para fazer o mal são conhe-
cidos como quiumbas por grandes mestres e bons pesquisa-
dores da verdadeira teologia do conhecimento espiritual pós-
vida (quiumba é uma palavra de origem africana que significa
espírito das trevas).
         O tal Pai, logo após o iniciar dos trabalhos, passa a dar
um atendimento “vip” a Lídia para tirar-lhe mais dinheiro, fa-
zendo dela sua vítima. Assim que sai do transe, pergunta à
moça:
         – Lídia, você sentiu boas vibrações, minha amiga?
         – Pai Gildo, será que ele volta?
         – Eu lhe prometi que o prazo para ele voltar é de sete
a vinte e um dias. Agora, é só uma questão de tempo.
         As dores de Lídia aumentaram e ela pediu ajuda a
         “Pai Gildo”.
         – O senhor pode me dar um passe para aliviar as dores
que tenho nos rins?
         – Minha cara, aqui nós só trabalhamos com magia ne-
gra, e o seu caso pertence à Medicina. Vá procurar um médico,
nós não tratamos de pessoas materialmente enfermas.
         A casa do tal feiticeiro ficava num bairro da periferia.
Um lugar muito perigoso, pois ali havia uma comercialização
descontrolada de drogas. Naquele lugar, estava outra vítima
de “Pai Gildo”, um consulente que se sente honrado em
oferecer a Lídia uma carona, porque para sair daquele lugar a
pé, seria um tanto arriscado.
         Dali Lídia segue, levada por essa pessoa, a um hospi-
tal, pois realmente não se sentia bem de saúde. Agradece ao
homem, que ainda persistente oferece-lhe mais ajuda, dizen-
do que a esperaria após a consulta feita para levá-la até sua

32
casa, dizendo um até breve.
        Depois de um ansioso e longo tempo de espera, uma
atendente lhe chama para que o médico a examinasse. O
médico, no entanto, após diagnosticá-la, diz:
        – Senhorita, o seu caso é sério, muito sério, você pre-
cisa cuidar-se. Vá a um especialista o mais rápido possível.
Depois de dito isso, o médico lhe aplicou uma injeção, recei-
tou-lhe alguns comprimidos e mandou-a para casa.
        Lídia, ao sair dali, propõe-se a buscar um táxi. Porém,
percebe que tinha pouco dinheiro. Resolve então voltar para
casa de ônibus, porque o dinheiro que tinha era suficiente
apenas para uma passagem de coletivo. Ao chegar ao seu apar-
tamento, o único dos presentes que lhe restava, dado por João
Eduardo, estava sendo questionado na Justiça pela adminis-
tradora do prédio por falta de pagamento de condomínios e
outras taxas ativas. Lídia, como sempre, continua adiando
suas dívidas na esperança de que João Eduardo voltasse, con-
forme prometido por pai Gildo. Só assim resolveria todos os
seus problemas financeiros.

                       O tempo passa e nada de João
        Passaram-se vinte e um dias. Ansioso foi esse tempo
para Lídia, e nada. Assim como no início dos trabalhos do tal
“Pai Gildo”, Lídia estava no mesmo ponto inicial: na estaca
zero. Nada, simplesmente nada no que se referia ao retorno
de seu homem, seu provedor João Eduardo.
        Enquanto isso, João, envolvido pelo feitiço de Pai
Gildo, lutava e relutava contra sua vontade. A vontade de
rever Lídia fazia com que ele sentisse algo que lhe puxava
para aquela excitante mulher. Ao mesmo tempo, tinha como
objetivo reconquistar Izabel. Era a luta entre o bem e o mal,
do ódio contra o amor de sua amada esposa, que após aquele

                                                            33
episódio sórdido, percebera o quanto amava. Mas, diária e
continuamente, Izabel ingeria bebidas alcoólicas e sua casa
continuava uma desordem. Não havia entendimento entre
João, seus filhos e a esposa. Bastava-lhes algum gesto ou
qualquer diálogo para que entrassem em choque.
        Enquanto Lúcio e os espíritos trevosos vibravam para
que João voltasse para Lídia, assim a desordem seria total, os
espíritos de luz, protetores de Izabel e João, ou melhor, seus
anjos da guarda, vibravam a favor da reconciliação do casal e
dos filhos. Era uma luta constante.
        As atitudes do passado e do presente, de ambas as
partes, abriam um grande espaço aos espíritos negativos e
corruptos, que aceitavam as ofertas ou presentes em troca de
ver aquela família na lama, assim como eles são: perversos,
vingativos e sádicos. Essas energias espargiam naquele lar
um desconforto total, com atitudes e explanações errôneas e
agressivas, sempre sob as más inspirações.
        Entre essa classe espiritual, há, assim como no plano
material, uma divisão em diversas classes. Verifica-se no en-
tanto que ali, no lar de João Eduardo, há uma definida classe
espiritual trabalhando, composta de energias vãs emanadas
por espíritos corruptos, concentrados entre a orgia e os víci-
os gerais, trazendo aos poucos, àquele lar, uma atmosfera
degradante e pontuada por más vibrações.
        O que se percebia era uma tentativa de invasão dos
bons amigos do Plano Espiritual Superior. Porém, lhes eram
escassas a luz que os irradiariam para o auxílio aqueles ir-
mãos tão carentes. Não percebia João e toda a sua família, a
grande tentativa que faziam os bons espírito ou anjos, irmãos
espirituais abnegados, para ajudar a resolver tal situação. E
eles persistiam, e eternamente continuariam, mesmo com to-
das as dificuldades, a jorrar-lhes nem que fosse uma ínfima
partícula de raios de amor, enlevada por suas boas vibrações.

34
Por isso a degradação não era total, porque havia uma peque-
na luz no fim do túnel.
        O mau pensamento ou as más atitudes se transfor-
mam em más sintonias, que consequentemente atraem maus
espíritos. O bom pensamento ou boas atitudes, por conse-
guinte atraem bons espíritos e a paz. João não cultuava ne-
nhuma fé ou não se lembrava sequer da existência de Deus.
Ele continuava e persistia preocupado com o dinheiro em
abundancia, com o lucro em alta escala. O dinheiro era a sua
vida.

                 O ser humano que vive em contato
                          com nosso querido Deus
         O criador de todas as coisas, ou seja, o nosso Deus
Onipotente, não importando a fé, ou as denominações que lhe
derem, sempre será o nosso porto seguro. Quem não tem uma
fé, certamente se torna escravo de si mesmo ou escravo de seu
próprio egoísmo, além de estar totalmente vulnerável e sujeito
às vibrações negativas. E quando isso ocorre com pessoas de
má índole, que permanecem no erro e que não tem escrúpulos,
geram em torno de si maus pensamentos: inveja, ciúmes, ego-
ísmo, ganância desenfreada, corrupção, individualismo, calu-
nia etc. E quando um espírito do mal se aproxima, encontra o
maior de seus desejos, que é o de atormentar as pessoas, mate-
rializando doenças e tirando o máximo de proveito que puder,
sugando suas energias, incentivando aos vícios pelo psiquismo,
ao roubo e até a homicídios. Essa pessoa, estando total ou
parcialmente indefesa (sem nenhuma fé), logicamente será
atingida, tornando-se uma presa fácil dessas vibrações
maléficas.
         Sintomas físicos como mal estar, insônia, angústia,
choros desmotivados, previsão ou sensação de morte e

                                                           35
outros males. São assim que começam a se revelar as más
sintonias. Isto é só o fim, ou o começo de uma situação
degradante.
        Mas quando o ser humano tem sua fé, seja ela qual
for, que pregue o amor ao próximo, à família, solidariedade e
principalmente amor a Deus, tudo leva a crer que terá o seu
anjo ou espírito guardião fortalecido, bem sintonizado, desig-
nado por Deus 24 horas por dia, não importando se o nome
de sua proteção seja Anjo da Guarda, Protetor, Espírito
Santo, Energia ou Orixá.
        Nosso querido mestre Jesus afastava e conduzia os
espíritos que obsedavam as pessoas para outras dimensões.
Essas pessoas obsedadas estavam vulneráveis por causa de
seus atos improcedentes. Provavelmente, João Eduardo, sua
esposa e seus filhos, estavam vulneráveis e expostos a tal
obsessão.
        Observemos o que dizia o Mestre Jesus às pessoas que
eram vítimas de espíritos obsessores, também conhecidos como
“legião”: – “Vás e não peques mais”. Ou pode-se dizer: Vá e
tenha bons pensamentos e boas atitudes.

                                  Lídia volta ao Pai Gildo
        Lídia, voltando àquele lugar, bate palmas e logo é atendida.
O auxiliar pede para que ela entre. Em seguida, surge Pai Gildo.
        – Tudo bem? Veio trazer-me boas notícias, não é mesmo?
        – Não – responde Lídia, desolada. O senhor prome-
teu-me que João Eduardo voltaria entre sete a vinte e um dias.
Já faz quase dois meses e nada. Ele ainda não voltou. Estou
desesperada e com dívidas, muitas dívidas. Não tenho mais
nem o que comer, e eu quero o João se arrastando aos meus
pés, não só pelo que ele foi para mim ou porque ele me dava de
tudo, agora eu o quero por vingança – e põe-se a chorar.

36
Magoada pelos enganos e mentiras de João Eduardo e de
pai de Gildo, frente a frente com seu guru, cheia de tormentos, se
diz vencida por Izabel nessa batalha. E é bem verdade que Izabel,
com todos aqueles problemas, era realmente uma vencedora.
Afinal, ela usava uma poderosa arma: o amor que doava saído de
suas entranhas, aos filhos a ao marido. Amor que estava guardado
em seu íntimo, mas a bebida alcoólica estava lhe prejudicando,
numa busca inútil por consolo e resolução dos problemas.
         Izabel, vagamente se apegava à fé, mas o que pedia,
clamando, era com palavras verdadeiras. Nesses momentos, o seu
coração se abria, despojado e seguro às suas preces. Mas, é claro
que entre eles havia uma fenda já um tanto profunda, para que as
energias inconstantes dali se provessem, para que os maus espíri-
tos entrassem em sintonia com o ódio e a vaidade, cujo único
objetivo era explorar esses sentimentos ao máximo, para comple-
tar a maldosa destruição daquele lar.
         Enquanto isso, Pai Gildo diz a Lídia que é preciso
reforçar o trabalho.
         – Então reforce, – respondeu Lídia, com muito ódio.
         – Vamos reforçar minha filha, só que eu preciso de mais
dinheiro.
         – Dinheiro? Eu não o tenho mais dinheiro. Já lhe disse
que não tenho nem o que comer.
         – Mas você disse que tem um bom apartamento. Vai ter
de vendê-lo.
         – O Senhor acha que devo vender meu apartamento para
continuar esse trabalho?
         – Minha filha, o que mais vale? O apartamento ou esse
homem?
         – E se ele não voltar? – pergunta Lídia.
         – Você tem de confiar em mim, o trabalho já está quase
dando o resultado que você deseja. Agora, só precisa de um
pequeno reforço.

                                                               37
– E em quanto fica esse “pequeno reforço?”.
         – Para que ele fique bem feito, quero que você me
traga o quanto antes a quantia de sete mil reais. Garanto-lhe
que o seu homem voltará, com certeza, no prazo de três dias.
         Lídia, espantada e com ironia, responde a pai Gildo.
         – Mas meu amigo, eu não tenho mais dinheiro, nem
para comer. Ajude-me, por favor! Traga-me este homem que
depois eu saberei ser muito generosa com você. Poderei ate
lhe dar um carro novo.
         – Pois venda o seu apartamento. Sem dinheiro, não
tem trabalho. E vá embora, porque tenho muita gente para
atender.
         Lúcio, furioso, assim que Lídia vira as costas para Pai
Gildo, com sua vibração ruim faz com que o tal “Pai
Quiumba” leve um belo tombo, caindo de boca no chão.
         Lídia, por mais uma vez se sente derrotada e com os
rins cada vez mais problemáticos. No desespero que sentia
para alcançar aquele objetivo, a conquista do seu homem, ela
se esquecera do mais importante: sua saúde, que se agravara.
         Ao chegar em seu apartamento, Lídia procura um com-
panheiro para o seu consolo: o rádio. Sintoniza-o em qual-
quer emissora e ouve a voz do locutor, que diz:
         – Você está desesperada, não é mesmo? Nada está
dando certo em sua vida? Sua saúde está abalada? Seu espo-
so ou namorado se foi? Nós temos a solução. Ligue-nos agora
mesmo, porque teremos resposta de imediato para o seu caso.
Temos aqui vários depoimentos e uma equipe que ora por
você. Ouça alguns depoimentos.
         Lídia, muita atenta, começa a se envolver e a sentir-
se realizada com aqueles depoimentos. Não teve dúvidas. Foi
à casa de Anita, também enganada por Pai Gildo, e as duas
tomaram uma decisão. Ansiosa, Lídia liga para o líder religio-
so, o locutor, para um contato imediato. Logo ela é atendida

38
pela secretária da tal emissora pirata, que lhe pede que escre-
va uma carta para ser lida ao vivo pelo locutor. No dia se-
guinte, após a carta chegar às mãos do locutor, este a respon-
de, pedindo que as duas fossem à igreja para serem atendidas
pelo reverendo.
         Eis o que o locutor respondeu no ar:
         – Eu sou o Reverendo Luiz e aqui estou com a carta
de Lídia, que me conta sobre o seu estado de saúde, causado
pela má situação financeira que está atravessando, além da
triste ausência e o abandono de seu namorado. Eis o que esta
se passando com você, minha filha. Você está com um traba-
lho de feitiçaria muito pesado. Um Exu e uma Pomba-Gira
aceitaram uma tarefa para acabar com você, e essa pessoa
você conhece bem. É ela mesma, é exatamente quem você
esta pensando neste exato momento. A minha vidência ainda
me mostra todo o mal que fizeram a você. Esse trabalho par-
tiu também de uma vizinha sua. Procure-nos com urgência,
mas venha rápido, para que possamos fazer-lhe uma forte cor-
rente de orações. Eu tenho o poder para lhe salvar dessa
situação. Vou abençoar-lhe e seu namorado voltará urgente,
mais rápido do que você pensa, minha querida ouvinte.
Venha hoje mesmo.
         Lídia, já um tanto debilitada e com um péssimo as-
pecto, consegue, com a ajuda de Anita, chegar ao local onde
o reverendo reunia, pela força da comunicação, o rádio, mui-
tas pessoas que se encontravam desesperadas e sem saber o
que fazer.




                                                O encontro

                                                            39
Quando Lídia se apresenta à secretária do reverendo, esta
percebe que a pobre moça não se prezava mais ao futuro. Mas
mesmo assim, após varias e varias perguntas, Silvia, a secretária
do reverendo, diz à Lídia:
        Venda o seu apartamento e volte aqui. Nós não cobramos
nada, mas você precisa só colaborar com ofertas para que possa-
mos continuar pagando o aluguel desse enorme salão e o progra-
ma de rádio, por meio do qual prestamos auxilio às pessoas que
têm problemas iguais aos seus.
        Lídia alegou que seu apartamento estava à venda já há
algum tempo, porém, não conseguia vender, pois nunca havia
aparecido ninguém interessado.
        – Posso lhe dar uma idéia? – diz-lhe a secretária. Abaixe o
preço que você está pedindo para vendê-lo, assim, ficará mais fácil
a negociação do seu imóvel. Eu pedirei ao reverendo para que ore
muito por você, e verá como será rápida a venda do apartamento.
Façamos o seguinte: você me dá o seu endereço para que eu o
coloque na fogueira da prosperidade.
        No dia seguinte, logo após lídia se levantar, toca a campa-
inha. Era uma pessoa interessada na compra do apartamento:
        – Bom dia! Quero falar com dona Lídia.
        – Pois não, sou eu mesma. O que o senhor deseja?
        – A senhora está vendendo o apartamento?
        – É, estou.
        – Bem, estou interessado. Quanto a senhora quer por ele?
        – Veja bem meu senhor, o apartamento vale oitenta
mil, mas estou pedindo cinqüenta mil, pois tenho urgência
em vendê-lo.
        – Têm dividas? – pergunta-lhe o comprador.
        – Algumas taxas de condomínio atrasadas. Lídia lhe
mostra os boletos.
        – Aqui está o que devo: Três mil reais.
        – Bem, eu lhe dou vinte mil reais. É pegar ou largar.

40
– O senhor aceita um café? É a única coisa que posso
lhe oferecer no momento.
         Lídia lhe oferece um café para ter tempo de pensar,
pois estava sendo pressionada. Enquanto fazia o café, marti-
rizava-se em pensamentos: “Aquele pessoal da igreja do re-
verendo Luiz é realmente incrível. Fui ontem ter com eles e
hoje já estou vendo o resultado. Isto é um verdadeiro mila-
gre. Não é bem o que eu queria, mas até agora não havia
aparecido nenhum comprador, e se eu pegar os vinte mil
reais e tiver o João de volta, tudo estará resolvido em minha
vida, pois se aconteceu este milagre, com certeza outro mila-
gre acontecerá: João irá voltar”.
       Mas o que Lídia não sabia é que aquele sujeito, o com-
prador sem escrúpulos e mal intencionado, era comparsa do
revendo Luiz e de sua secretária Silvia, que o enviaram até
Lídia para extorqui-la, executando uma compra desonesta e
oportunista do imóvel, a preço irrisório, sabendo eles perfei-
tamente, que através da sensibilidade emocional em que a
moça se encontrava, certamente seria uma presa fácil, e eles
bem sucedidos com a compra do imóvel. Com isso, teriam
um bom lucro após vender o apartamento para outra pessoa
pelo preço de mercado.
         Lídia, voltando da cozinha com o café, diz ao homem:
         – O senhor não pode melhorar um pouco mais a sua
proposta?
         – Senhora, na verdade eu já estou quase arrependido,
pois percebo que nesse apartamento tem alguma coisa. Aqui
há uma tristeza muito grande, parece-me que tem macumba,
feitiçaria, enfim, uma energia totalmente negativa que toma
conta deste lugar. Quem morar aqui só terá problemas.      Pa-
rece-me que tem um feitiço muito bravo, coisas de vizinho.
         Após ouvir atentamente aquele homem, Lídia deduz
rapidamente que João fora embora porque alguma vizinha

                                                           41
invejosa lhe fez algum trabalho para tirar João de sua vida.
Ao ouvir as estranhas palavras daquele homem, inesperada-
mente, quase que suplicando, diz ao homem:
        – Pensando bem... Não, não vá embora! Vamos
conversar!
        – Não, dona Lídia, eu não vou comprar mais o
apartamento da senhora.
        – Então está bem, eu aceito os vinte mil. Fechamos o
negócio agora?
        O comprador convida Lídia a ir ao seu escritório para
concluir o negócio. Assim, consumado o negócio, ela entrega
as chaves do apartamento ao homem. E a convite de sua
amiga Anita, Lídia vai morar com ela, dividindo ambas as
despesas de aluguel, telefone, alimentação e outros.
        – Você viu Anita? Agora vai ser tudo do jeito que eu
quero. Aquele canalha logo em breve estará aqui, em minhas
mãos. O pessoal do reverendo Luiz é ótimo, fomos num dia e
no dia seguinte consegui vender o apartamento. Temos que ir
lá o quanto antes para eu dar a minha oferta, para que João
Eduardo esteja logo, bem aqui, aos meus pés. Vamos Anita,
arrume-se enquanto eu pego um táxi.
        – Que nada Lídia! Vamos de ônibus, você precisa
economizar.
        – Que economizar, que nada. Logo, logo o João vol-
tará e meus problemas financeiros estarão resolvidos, mesmo
porque, eu não estou bem de saúde. De vez em quando me
dá umas crises e eu tenho muitas dores nos rins. Estou
urinando sangue.
        – Cuidado Lídia, você precisa se cuidar, mulher ! – pre-
vine Anita.
        – Assim que João voltar para mim amiga, irei tomar
providências em relação à minha saúde. Irei me tratar nas
melhores clínicas e aproveitarei para fazer algumas correções,

42
com cirurgias plásticas e estéticas faciais. E você Anita? O seu
namorado não voltou?
       – É, mas eu prefiro não mexer mais com essas coisas,
vou deixar nas mãos de Deus. O que for meu virá em minhas
mãos. Bem, até que enfim chegamos à igreja do reverendo.

                                                   Na igreja
         Lídia aborda um atendente. – Boa tarde moço, quero
falar com a Sílvia.
         – Quem quer falar-lhe?
         – Diga que é a moça do apartamento que ela saberá .
         – Qual é o seu nome moça?
         – Diga-lhe que é a Lídia.
         Em seguida, aparece Sílvia. E Lídia, dirigindo-se a ela
com entusiasmo, diz:
         – Vocês são demais. Eu vim o mais rápido para agrade-
cer-lhes, e também para trazer a oferta prometida. Diga-me o
quanto devo dar como colaboração, além do meu testemunho.
         – Bem Lídia, você colaborando com ofertas, no máxi-
mo em três dias seu namorado estará de volta, com toda a
garantia.
         – Quero saber o quanto devo doar.
         – Quanto mais você puder colaborar, mais rápido seu
namorado voltará. Faça esse desafio e você verá como o mila-
gre acontece rápido. Faça isso.
         – Duzentos reais está bom?
         – Se você acha que estamos aqui pedindo esmolas, está
totalmente enganada, moça. Isso é uma ofensa. Bem, faça o
seguinte: Doe a metade do que conseguiu com a venda do seu
apartamento e você verá o milagre acontecer. Reafirmo-lhe que
em três dias você terá o seu homem de volta, eu lhe garanto.
         Anita quis interferir, dizendo que aquilo era um

                                                             43
absurdo. A secretária Sílvia, porém, percebendo a intromissão
de Anita, chamou Lídia para outra sala para torná-la sua presa.
        – Dez mil reais? – indaga Lídia, com admiração.
        – Sim, exatamente dez mil reais – afirma a secretaria
do tal reverendo. E foi o preço que Lídia pagou por seu ato
de simplicidade, desespero e fé naquela quadrilha. Silvia, a
secretária confiável do reverendo, participava de um esque-
ma sórdido, cuja finalidade era só usufruir do desespero das
pessoas com promessas e garantias em tudo o que se dizia
relativo à solução de problemas.

                                 Lídia em estado grave
        Lídia, ansiosa, aguardara os três dias. Porém, João
Eduardo não regressara. Os dias se passavam e o seu cora-
ção, totalmente em frangalhos, se desajustava em seu peito
sórdido, seco, frio, quase em morte. E João Eduardo, não mais.
Ou nunca mais.
        Sua doença estava cada vez mais grave e Anita tenta-
va ajudá-la do jeito que podia. Lídia dizia à amiga que os seus
caminhos se estreitavam a partir dali. Enferma de corpo e
alma, se calava pelos cantos. Porém, com muita revolta, não
ouvia ninguém, e também não obtinha mais respostas aos
seus clamores. Talvez a vida lhe obrigara, a partir daquele
momento, a se conformar.
        Anita, por sua vez, passou a frequentar um templo
budista, onde, bem orientada, se instruiu e passou às medita-
ções e à leitura de bons livros, tornando-se em pouco tempo
uma pessoa mais alegre, passando a compreender e a aceitar
o que a vida podia lhe dar. Entendia que na vida, faz-se
sintonia com as leis de causa e de efeito. O bom torna-se
bom, o ruim se multiplica e torna-se ainda pior.
        Metafisicamente falando, o sobrenatural aprofunda-se

44
nela através de leituras feitas em livros extraordinários, assim
como os bons livros espíritas, e, além do mais, de fundo cientí-
fico elevado, trazendo-lhe fontes tranquilas para a sua alma.
         Lídia, totalmente apegada aos seus encantamentos, es-
quece de sua saúde física, já um tanto afetada pelas esperas e pela
angústia. É aconselhada várias vezes por sua amiga a cuidar de
sua saúde. Após visitar um consultório médico, imediatamente
recebe das mãos do doutor uma guia de internação em caráter
de urgência, por sorte em um hospital que ficava bem próximo
à casa onde ela morava com sua amiga Anita.
         Após vários exames realizados por uma junta médica,
foi feita uma biopsia e concluiu-se que os rins de Lídia esta-
vam totalmente comprometidos, pois ela tardara a procurar
por tratamento. Após o diagnóstico feito, encontraram um
enorme tumor maligno bem próximo ao seu coração e outro
no rim. Quem sabe não teria sido o resultado de tantas lágri-
mas, tanto ódio e tanta angústia? Ou, quem sabe, não estaria
ali já há muito tempo, somente aguardando o momento de
mostrar-se em dores, para arrancar-lhe o máximo de sofrimento.
         O tempo, curto o tempo, deixa por alguns dias a jo-
vem mulher banhar-se com as próprias lamúrias, para depois de
derrubadas suas lágrimas, afagar suave o “benéfico mal” que guar-
dava em seu peito com as delicadas mãos, aceitando-o diante do
tempo que ainda lhe restava de vida. Termina aqui a passagem
de Lídia pelo plano Terrestre, mas perguntas pairam: Será que
Lídia teve oportunidades de resgatar dívidas? E para onde
teria ido? Lídia acreditava parcialmente que as pessoas, João
Eduardo, por exemplo, é que tinham por obrigação cumprir
com os compromissos dela e promover seus devaneios. Seria
Justo?
         Lúcio, junto àquela legião de espíritos trevosos,
resolve que deveria resgatar Lídia para se juntar a eles, mas
sabendo de antemão que não seria tão fácil, afinal, ela tinha

                                                                45
seu livre-arbítrio.
         – Será que Lídia perdera essa oportunidade de se
vingar de João? – questiona Lúcio.
Há um pequeno trecho bíblico que diz: “Nem filho paga por
pai, nem pai paga por filho”.
       Será que essa lei fará com que a alma de Lídia fique por
aí, vagando?
         Após a morte de Lídia, Anita resolve mudar-se, pois
sentia um grande vazio em sua casa: faltava-lhe a amiga. Anita
recordava-se muito de Lídia e passou a frequentar um bom
centro espírita. Lá, formavam-se grupos de voluntários para
visitas constantes às crianças excepcionais. E Anita sempre
se fazia presente nessas oportunidades, além de continuar fre-
quentando o templo budista, onde aprendera a meditação, o
jejum e a reflexão. Entre os frequentadores daquela casa de
caridade, Anita conheceu Oscar, um homem culto, de meia
idade e boa procedência, cuja humildade jorrava de seus lábi-
os em forma de sorriso. Um cavalheiro que lhe cercava de
atenção, fazendo-a dele se aproximar num encantamento de
amor. Houve entre ambos, as flores e o namoro.
         O desejo de estar sempre junto dela, de lhe dar flores,
era uma realidade fantástica que fazia Anita fruir em seu co-
ração, também muito sofrido, o desejo da vida, o desejo de
amar. Mas como em todo sonho ou conto de fadas, de
repente, sem motivo, uma emoção profundamente triste, va-
zia, faz surgir dos lábios de Oscar uma doçura ternamente
transformada em um gosto amargo, ao dizer a Anita que não
poderiam mais se envolver, que ele se afastaria dela por mo-
tivos alheios à sua vontade.
         Há dois anos, Oscar tivera um romance com uma moça
chamada Camila. Depois de perceber que não havia nada em
comum entre ele e Camila, que eram desajustados, ele foi amar-
gamente traído por aquela mulher, que preocupada somente com

46
o seu bem-estar, feriu-o intensamente com suas falsas juras de
amor, transformadas por Oscar em decepção e desconfiança
no sexo oposto.
        Certamente que Anita lhe parecia diferente, no en-
tanto, não confiava nela o suficiente para viver uma bela his-
tória de amor, assim como sonhara. Quis colocar à prova a
paixão, o amor e a honestidade de Anita.
        Esse afastamento de Oscar foi uma determinação um
tanto insegura e vulgar da parte dele, que por não ter nenhu-
ma experiência com as mulheres, acreditava que seria o úni-
co caminho para chegar ao que ambos buscavam: o amor.
O coração de Oscar ficou imensamente amargurado, e o de
Anita, duplamente amargurado, pois sabia o que havia acon-
tecido no passado entre Oscar e outra mulher.
        – Anita! O melhor que devemos fazer é nos separar,
paremos por aqui. Não mereço você, sou só um tolo, não sei
lidar com as mulheres, não podemos mais ficar juntos
        Ela rebate as suas palavras respondendo-lhe:
       – Oscar! Que brincadeira é essa? O que está
acontecendo? – e se põe a chorar.
        Momentaneamente, ao levantar o rosto, percebe que
o homem a quem estava aprendendo a amar se encontrava ali
chorando, e a passos lerdos ia aos poucos se afastando dela,
silencioso, pés rastejantes, para que talvez nem mesmo os
seus rastros ficassem. Ele sabia perfeitamente que seus ras-
tros seriam as suas saudades.
        Oscar não diz mais nada e vai-se embora, com a cer-
teza de que Anita sairia à sua procura. Pobre mulher... Ali,
surpreendida, os seus braços não se moviam e suas pernas só
lhe deram forças para que se ajoelhasse no chão, sozinha, lançan-
do um grito triste acompanhado de um choro sórdido, tão sór-
dido, que instantaneamente a fez se calar.
        Aquela noite, uma noite de inverno, estava muito fria.

                                                              47
Anita tinha preparado uma bebida muito saborosa, com uma
receita elaborada por sua mãe que ela jamais esquecera. Nessa
bebida estavam incluídos os seguintes ingredientes: chocola-
te, ovos, leite, açúcar e uma pequena dose de conhaque. Jun-
to àquela bebida viria também um pouco de sua história de
vida, de suas labutas e tudo pelo que já tinha passado em sua
vida.
         Anita nascera em uma família pobre, originária do sul
do Brasil. Ainda menina, que viera para a cidade grande para
conquistar uma vida mais digna.
       Mas e o seu amor? Por que não teria Anita sorte com o
amor? Que Deus tomasse conta de sua alma.
         Alguns dia se passam e Oscar, por intermédio de ou-
tras pessoas, fica sabendo notícias de Anita. Ela não andava
bem, estava abatida e muito deprimida. A verdade é que ele a
queria, e sofria muito com a separação.
         Oscar era um homem simples; não possuía bens e vi-
via com um salário razoável. Um homem de 40 anos cuja
vida sempre fora voltada para o trabalho. Após o episódio
com Camila, Oscar jurou para si mesmo que nunca mais pas-
saria por uma situação daquela natureza, que o envolvera em
traumas, tristezas profundas, traição, desilusões e inquieta-
ções. Mas Anita, não! Por que Anita? O seu amor por ela
tirava-lhe os domínios que impusera para o seu destino! Deve-
ria procurá-la? Sim é claro que deveria, porque nada soubera
de erros passados. Anita lhe dissera tudo num gesto transpa-
rente, para nada ficar-lhe oculto. E será que ela o perdoaria?
         O que Anita nem imaginava era que Oscar, na verda-
de, era um empresário bem sucedido, que ocultara dela os
seus grandes bens financeiros. Era dono de uma siderúrgica que
empregava 1.500 funcionários.
         A tristeza, irmã melancólica da depressão, comparti-
lhava as horas com Anita após a sua separação de Oscar. Do

48
silêncio oculto que se fazia em sua casa, nada se ouvia além dela
mesma e de suas lamentações. Para si, todas as manhãs lhe eram
vazias, as tardes pareciam não existir mais, e desejava o véu da
noite pra morrer com ele. As noites lhe eram frias e trevosas. Às
vezes chamava por sua amiga que já se fora, outras vezes temia a
presença de Lídia, chegando a sentir fortes arrepios e temores
em um dia que invocou a presença da amiga falecida. E poucas
lhe foram as noites tranquilas em que conseguia dormir.
         De repente, numa manhã, ao levantar-se da cama olha
para o espelho e assustada e põe-se a chorar. Teria perdido
uns bons quilos de peso corporal. Sua fisionomia era cadavé-
rica, flagelada. Imediatamente toma o seu banho e troca a
sua roupa para dirigir-se a um hospital, pois daquela forma
não poderia continuar.

               Que Ironia, mais uma vez, o destino
         Anita, em uma de suas idas ao hospital, ao passar por
alguns exames não sabia que ali, onde se tratava doentes, um
dos provedores do hospital teria o nome de Oscar. Ela real-
mente não se importava com o nome, porque não seria o
mesmo Oscar a quem ela tanto amava, jamais, pois ele não
teria o mínimo de condição para ser um provedor daquele
complexo hospitalar. Em uma das consultas, um médico sim-
pático chama-lhe pelo nome ao atendê-la.
         Dr. Osvaldo, ao examiná-la sorrindo, lhe dá o
diagnóstico: chama-o de “solidão”.
Essa situação despertou nela grandes atenções, e aquele doutor
passou-lhe um carinho especial através das palavras, pois sabia
que a situação daquela senhorita estava ligada somente ao fator
psicológico.
         O que resta dizer é que, após algumas visitas ao hos-
pital, Anita sente que ainda teria possibilidades de se reerguer,

                                                              49
por encontrar ali uma pessoa que se tornou um grande amigo,
que era o Dr. Osvaldo. Mas ela sentia que ele lhe omitia algu-
ma coisa, ainda assim, confiara a sua vida a ele, pois suas
palavras lhe confortavam, e muito.
         O tempo passava. Depois de suas visitas ao médico,
Anita conseguira se estabilizar, retornando à vida ativa. Não
se esquecera por todo de Oscar, mas já se sentia melhor, qua-
se pronta para o labor. Algumas sessões lhe foram feitas por
profissionais na área de psicologia, para ajudá-la em seu pro-
gresso íntimo. E sempre ali presente estava o seu “Dr. Ami-
go”. E nessa vigilância, com algumas visitações médicas,
Anita sente-se muito bem. Só que uma coisa começava a afli-
gir a sua mente. Por que tanta atenção do Dr. Osvaldo? Foi
quando caiu em si. – Meu Deus! Não pode ser! Eu não devo
mais passar por essa penosa situação.
         Um dia, ao examiná-la, Dr. Osvaldo, não contendo
mais sua paixão mas sem lhe faltar com o devido respeito,
fez-lhe um elogio, convidando-a para jantar.
         – Anita, você é e está hoje ainda mais bonita. Não
gostaria de jantar comigo?
         – Dr. Osvaldo, o senhor é realmente uma pessoa mui-
to interessante, bonito. Um excelente médico, de boa posição
social e tem uma missão maravilhosa, que é a de curar as
pessoas. O senhor é tudo que uma mulher equilibrada sonha.
Mas o meu coração doutor, meu coração está totalmente
ocupado, e para sempre.
         – Você me desculpe, Anita. Pensei que você fosse
solteira e que não tinha compromisso algum. A sua ficha diz
que você é solteira.
         – Sim, sou solteira e não tenho namorado, não tenho
ninguém. Quem eu realmente amo, profundamente, foi
embora sem dar-me explicações.
         – E como se chama esse felizardo, Anita?

50
– Isso agora não importa, doutor.
        – Desculpe a minha curiosidade, estou querendo
saber demais de sua vida.
        – Não, não há problema. Eu é quem lhe devo descul-
pas. Fui um tanto grosseira e o senhor me é tão gentil. A
pessoa a quem amo se chama Oscar. Ele trabalha em uma
siderúrgica. Não tem o seu status, é uma pessoa simples fi-
nanceiramente, porém, um perfeito cavalheiro tanto quanto
o senhor, doutor. Ele é tudo o que eu sonhei para completar
a minha felicidade: Um homem pobre financeiramente, mas
rico de alma, rico em suas convicções, em seus planos. Só
que eu não entendo porque ele se foi. Não pensou nas sequelas
que me deixaria ao afastar-se de mim, sem que existisse al-
gum motivo ou justificativa para isso.
        – Ele não lhe deu nenhuma explicação? – pergunta
Dr. Osvaldo.
        – Por que Oscar? Por quê? Se você soubesse como eu
te amo e o quanto te odeio por isso. Eu tinha planos para nós
dois, mas tudo não passou de uma mentira.
        Em seguida, Anita se despede de Dr. Osvaldo e ele
lhe pede desculpas.
        – O senhor não imagina o bem que me fez com esse
convite, auxiliando-me em meu interior, levantando minha
autoestima. Quando vim a este hospital, desolada, jamais
pensei em meu regresso como pessoa normal. Mas com as
bênçãos divinas, encontrei-me com o senhor e lhe fiquei de-
vedora. Foi aqui, através de seu braço amigo e de seu coração
maravilhoso que me fiz novamente filha de Deus, uma
pessoa normal. E foi exatamente isso que eu tanto precisei para
erguer-me novamente. Fico-lhe grata doutor, muito grata. Que
Deus o ilumine sempre.
        Oscar, além de provedor daquele hospital, também o
era em outras instituições filantrópicas, em especial numa casa

                                                            51
espírita, onde ele se sentia muitíssimo bem na companhia de
crianças “especiais”. Mas mantinha sigilo total, para que sua
solidariedade não perdesse a essência da caridade.

                                Lídia vaga sobre a Terra
         Após a morte de Lídia, com o seu espírito já desliga-
do do corpo físico, ela se encontra numa dimensão de baixa
frequência, com outros espíritos da mesma faixa vibratória.
         – Que lugar é este? – pergunta Lídia. – Que horrível!
Onde estou?
         Responde-lhe, telepaticamente, um dos espíritos ali
presentes:
         – Aqui, minha cara, é a sua nova casa.
       – Como assim? Eu tenho de encontrar Anita. Pelo que
sei, ela estava comigo no hospital, e aqui não me parece ser
um hospital.
         – Verdadeiramente, aqui não é um hospital, você esta
certa. Aqui é outro lugar, é a sua nova casa. O seu corpo
você deixou lá no hospital, e de lá ele foi levado para o cemi-
tério. Seu corpo agora está podre! Podre, você entendeu? Em
decomposição.
         – Não entendi e você está falando bobagem. Eu
estou aqui, viva e com muitas dores. Diga-me onde posso
encontrar um médico.
         Como ninguém a atendia em seus apelos, confusamente
ela perguntava:
         – Por favor, diga-me a verdade! Eu quero voltar pra casa!
         – Como você se chama? – alguém pergunta.
         – Eu me chamo Lídia.
       – Olhe aqui moça, você agora é um espírito, só espírito.
O seu corpo está debaixo da terra, podre, todo podre. Você
entende isso? Logo ali na frente tem um homem que se cha-

52
ma Lúcio. Ele esta à sua procura faz tempo. Tem outro ali
que você já conhece. Foi assassinado de tanto enrolar os ou-
tros enquanto viveu na Terra. Um belo dia ele achou um que
fez dele churrasco! Vá até lá que você descobrirá quem ele é.
        – E você, quem é? Pergunta Lídia.
        – Bem, eu era ladrão, assassino, estuprador etc. Só
que, após vários anos, comecei a entender que estou aqui na
condição de espírito, sofrendo um monte neste lugar horrí-
vel. Estou aqui de acordo com as minhas ações. É aqui o
nosso lugar, e pode ir se acostumando, minha cara.
       – Estou com frio, com fome e com muitas dores.
       – Para você se alimentar terá que esperar. Bem, eu não
estou aqui pra lhe ensinar nada, aqui é cada um por si.
        – E onde está a pessoa que eu conheço?
        – Vá andando por aí. Depois daquele lodo você o
encontrará. Será fácil você encontrá-lo, pois ele está todo
deformado, talvez se banhando no lodo que ele mesmo
construiu.
        – Então ele está vivo! – responde Lidia. – No meu
caso, se eu sinto dores em todo o meu corpo, certamente é
porque também estou viva. Sabe de uma coisa, você está me
enrolando, seu mentiroso.
        Naquele momento, surge na presença de Lídia um
espírito de aparência suave. Após cumprimentá-la, ele lhe diz:
        – Chamo-me Rafael, sou um espírito que trabalha na
linha que divide o bem do mal. Sou conhecido por vários
nomes no planeta Terra. Alguns me chamam de Guardião,
outros de Exu, Portal, Auxiliar... Assim, rotulando-me com
nomes diferentes e credos também diferentes. Por vezes somos
confundidos com espíritos que sentem prazer em fazer o mal.
O que fazemos, no entanto, é trabalharmos ardorosamente para
manter o equilíbrio no Universo, e vim aqui neste lugar de tre-
vas com a missão de lhe fazer um convite. Venha conosco para

                                                            53
uma colônia espiritual, onde você terá grandes oportunidades
de um bom aprendizado e conforto espiritual.
         – Bem, Sr. Gabriel ou Sr. Rafael, – responde Lídia –
isso pra mim não tem a menor importância. O que me inte-
ressa no momento é falar com o homem que aquele outro
espírito diz que eu conheço. Você pode me dizer onde ele
está?
         – Eu lhe recomendo que não o veja, pelo menos por
agora.
         – Veja bem, Sr. Rafael ou Sr Exu, seja lá o que for.
Sempre fui dona do meu nariz. Não lhe conheço e não aceito
suas ordens ou recomendações. Eu tenho um objetivo, que é
reconquistar o homem que perdi. Não estou bem de saúde,
sinto muitas dores. Sinto fome e muito frio. Quero resolver
minhas pendengas. Você pode me dizer onde está a tal
pessoa que aquele cara disse que eu conheço? Sim ou não?
         – Aqui você tem vontade própria, ou seja, tem o seu
“livre-arbítrio”. Portanto, você é livre para ir e vir. Siga o seu
caminho e encontrarás quem procura – responde Rafael.
         Após algum tempo, Lídia se depara com Lúcio e Gildo,
o tal feiticeiro. Com muito espanto, ela exclama:
         – Você por aqui? Nossa! Pai Gildo, como você está
péssimo, seu pilantra! Cadê o João, que você jurou que no
máximo em 21 dias estaria comendo em minhas mãos?
         – Agora ficou mais fácil, minha cara! Este aqui é Lucio.
Você não o conhece, mas ele esteve sempre ao seu lado, ten-
tando lhe ajudar. Ele era namorado da esposa do seu amante.
Vamos formar uma equipe e nos preparar para uma viagem, e
lá você terá o seu homem a hora em que você quiser. O terá até
24 horas por dia. O que você acha?
         – Você está tentando me enrolar outra vez, não é
mesmo? – diz Lídia.
         – Tente entender uma coisa moça, nós estamos mor-

54
tos! Mortos, entendeu? Estamos mortos fisicamente, como se
diz na Terra. Agora nós estamos em outro plano, que muitos
chamam de “Inferno”. Aqui, ou você se une a nós, ou você se
declara nossa inimiga. Como queira minha cara.
         Lídia, já um tanto amedrontada, procura disfarçar,
buscando resolver as suas preocupações e necessidades físicas.
         – Como é que a gente se alimenta por aqui? Estou
com muita fome... Sinto frio e tenho dores.
         – Para nos alimentarmos por aqui – diz o feiticeiro –
temos que vagar sobre a Terra para sugar as energias das
pessoas que nos dão abertura.
         – Como assim? O que é abertura? Não estou enten-
dendo nada, meu caro – responde Lídia.
         – Quanto mais as pessoas cometem erros, mais elas
ficam vulneráveis, ficando assim mais fácil para nós. Mas não
tenha pressa para aprender, pois você terá tempo disponível
em seu aprendizado. Aos poucos você aprenderá a fazer isso,
é muito fácil. O que basta é que você não tenha piedade de
ninguém, pois o ódio é a arma mais eficiente para nós.
         Lídia, muito confusa com aquela situação, não sabia
se era realidade ou sonho. Dizia para si mesma ser só um sonho,
apenas um sonho. Era o que estava lhe acontecendo, era no que
ela queria acreditar. Aquilo tudo não se passava de um sonho ba-
nal, afirmava Lídia para si mesma.
         Mesmo acreditando que estava sonhando e que ainda es-
tava viva e na Terra, ela pergunta ao feiticeiro:
         – Então, Pai Gildo, diga-me, o que foi que lhe aconteceu?
         – Bem, minha cara, das coisas que não resolvi em sua
vida, muitas outras pessoas eu também enganei com minhas
mentiras e traições. Até que um dia, de tanto enrolar os outros,
acabei me dando mal.
         – Mal como?
         – É, minha cara, fui procurado por um libertino ex-

                                                               55
plorador de mulheres, popularmente conhecido como cafetão,
você entende? Ele estava desesperado para conquistar uma
bacana e tomar o dinheiro dela. Eu o fiz vender o carro e a
casa para me pagar um trabalho, que jamais fiz direito. E foi
daí que, após a promessa vencida, ele notou que eu não tinha
feito trabalho algum, da forma como ele queria que aconte-
cesse e, mordido de raiva, me arrancou da Terra e me man-
dou pra cá, para o inferno. Jogou gasolina em meu corpo e
sem piedade ateou fogo. Por isso estou todo deformado. Mas
estou convicto de que aqui é realmente o meu lugar, pelo
fato de ter enrolado muitas pessoas. Mas não me arrependo
de nada de errado que fiz.
         Aos gritos, o feiticeiro retumba bem alto: – Quero
que se dane!
         E, voltando para Lídia, ele diz: – Agora, depois de
estar ciente que aqui é o meu lugar, faço uma imensa questão
de buscá-lo para que ele viva aqui também. Esta será a mi-
nha vingança, ele será meu escravo, pois este é o meu, maior
objetivo.
         – Mas aqui há muitos moradores? – pergunta Lídia.
         – Sim, aqui há muitos moradores, e vão bem mais
além do que você imagina. Aqui é a morada de corruptos que
enganam as pessoas, exploradores mentirosos etc. Mais pra
baixo, é a de assassinos, gananciosos, mesquinhos e fraudu-
lentos. Mais abaixo, de estupradores e outros, enfim, de ho-
mens que conhecem o poder Divino, mas que persistem no
erro ou na rejeição, assim como eu, que estou aqui por minha
opção, porque sou alimentado pelo ódio e seduzido a conti-
nuar aqui por aqueles espíritos que trabalharam comigo, os
quiumbas (espíritos trevosos). E aqui há muitos políticos e líde-
res de nações, que manipulavam o seu povo e ainda manipu-
lam, interferindo junto aos maus políticos que lá na Terra ainda
vivem, pessoas que eram consideradas importantíssimas na Ter-

56
ra, mas que aqui são consideradas lixo dos mais podres.
         Novamente Lídia pergunta ao feiticeiro: – Mas se você
morreu recentemente, como pode saber de tudo isso e eu não?
         – Você se esqueceu de quem eu fui? Fui e sou um
feiticeiro, fiz vários trabalhos para atrapalhar os outros e por
isso lhe afirmo: sou um mau espírita com muito prazer. Eu
praticava somente magia negra, trabalhava com espíritos pe-
rigosos e hei de me tornar um desses líderes ou gênios do
mal. Vivia constantemente invocando espíritos trevosos para
fazer o mal às pessoas.
         Lídia, confusa com as respostas dadas pelo feiticeiro,
confessou-lhe que realmente estava uma tanto atrapalhada,
porque não imaginava nada daquilo.
O tal Pai Gildo, no entanto, entre comparações lhe diz:
         – Minha cara, assim como existem maus espíritas, há
de existir também maus pastores, maus padres, e tantas ou-
tros, de tantas outras religiões existentes na face da Terra.
Eu, Pai Gildo, o feiticeiro, conheci a vida e a morte. Por op-
ção dediquei minha vida em lidar com essa qualidade de espí-
ritos, pois me identifiquei com eles. Só não sei lhe dizer se fui
fruto desse ambiente. Mas aqui estou por questão pessoal e me
dou bem, mesmo sofrendo muito. O sofrimento me traz mais
ódio, e o ódio me alimenta. Me considero um psicopata, apren-
diz de gênio do mal.
         – Mas por que você quer ser tão perverso assim?
         – Você, moça, não conhece o que é maldade, pensa que
sabe fazer o mal, mas na verdade é uma otária. Nós aqui nada
somos em relação aos nossos chefes, os chamados espíritos das tre-
vas.
         – E os Exus? – pergunta Lídia – Quem são eles?
         – Os Exus podem ser comparados a policiais. Alguns
mais evoluídos, outros menos, alguns mais severos outros mais
amenos. Eles trabalham como voluntários na linha que divide o

                                                               57
bem do mal, para manter o equilíbrio universal, assim dizem eles.
         – E você pretende sair daqui e ir para um lugar melhor?
         – O que me segura e me alimenta aqui é o ódio, como já
lhe disse, pois foi pelo ódio fui criado por meus genitores. Meu
pai carnal era um matador pistoleiro feroz, um pistoleiro que
matava pra ver o tombo, e minha mãe uma pilantra de marca
maior. Gosto muito de ver os outros sofrerem, assim como eu
sofri na minha infância e juventude. Tornei-me um sádico, por
isso sempre gostei de invocar os maus espíritos para fazer amar-
rações e também para fazer o mal aos outros E você Lídia, quer
sair daqui?
         – Se é que não estou sonhando, e se tenho o poder de
fazer o mal aos outros também, então, só tenho um objetivo,
uma só coisa a fazer: Quero o João Eduardo em minhas mãos,
quero vê-lo se arrastando aos meus pés como um animal ferido.
         Nesse momento, Lúcio solta varias gargalhadas e afirma:
         – É isso aí! E pode contar comigo, Lídia, já que é isso
que você quer e agora sabe que não é um sonho!
         – É, eu sei que nada mais conseguirei, o que me resta
agora é me consolar com essa situação e trazer aquele maldi-
to para este lugar, para eu saciar minha vingança.
         O feiticeiro lhe diz:
         – Pois é, já que você não acredita totalmente em sua
morte física, vou lhe mostrar um quadro visionário de como
você morreu e como está hoje o seu corpo embaixo da terra,
decomposto após algumas semanas devido à ausência de sua
alma. Assim, você poderá tirar todas as suas dúvidas. Agora olhe
nesse espelho que está logo aí, na sua frente.
         Lídia, ao ver sua própria imagem fria e triste, numa
sepultura solitária, fica também muito triste e começa a solu-
çar, dizendo que aquilo não era possível, porque ela estava
ali, totalmente lúcida a conversar com Pai Gildo e Lucio, que
aquilo não passava de mais um truque baixo daquele patife.

58
O falso Pai de Santo, sarcasticamente se põe a sorrir com altas
gargalhadas, dizendo-lhe:
        – Minha cara, isso que você está sentindo é totalmen-
te normal. Porém, terá que aceitar por ser esta a sua realidade
agora, pois você se encontra em outro plano de vida.
        – Não me venha com mais uma de suas mentiras –
responde Lídia – Eu não acredito mais em você!
        – Eu queria poupá-la de mais sofrimentos, mas já que
você insiste, então olhe mais uma vez no espelho que verá no
seu quadro de existência: a sua própria morte, física, é claro.
        Lídia, ao voltar-se de frente para o espelho, fica es-
pantada ao ver-se morrendo naquele hospital. Lembra-se que,
agonizante, pedia às pessoas que estavam ao seu lado por
ajuda, mas ninguém lhe fazia caso. Certamente porque ela,
naquele momento, já se encontrava desligada, para fora de
seu corpo físico e se transferindo para o Plano Espiritual,
pelo fato de ninguém estar ouvindo os seus apelos, pois
espírito não tem cordas vocais.
        Aos poucos Lídia vai se afastando do espelho ao ver
exatamente a triste cena de sua própria morte. Ao perceber-
se de frente para o espelho, reconhece que naquela imagem o
seu corpo entra em estado profundo de inércia, para logo após
erguer-se, como uma cópia feita ou um clone de seu próprio
corpo físico, na condição de espírito ou alma miserável em
total degradação.
        Naquele instante, mistura-se nela medo e revolta, por
não poder rever seus bens materiais, o luxo ou a boa vida que
desfrutou na companhia de João Eduardo. Só lágrimas, além
das dores, fome e frio. Muitas lágrimas!
        O tal Pai Gildo, ao vê-la sentada no chão com as mãos
desesperadas sobre a cabeça, tenta lhe dizer algo.
        – É assim mesmo, minha cara, é assim mesmo. É a lei
de causa e efeito.

                                                            59
O feiticeiro, como já era prático na indução das pessoas, e prin-
cipalmente de espíritos, quando em seus momentos psicológi-
cos frágeis, aproveita para induzi-la aos seus planos sórdidos.
         – Veja, é como eu lhe falei. Vamos formar uma equipe e
você aprenderá muitas coisas. Ficaremos mais fortes nos unindo,
aí, você poderá fazer dele, digo, do tal de João Eduardo, o que
você quiser. Pense, pense bastante e não tenha pressa.
         Após algum tempo, Lídia, obstinada e um tanto re-
voltada por sua atual situação, aprende, por meio da indução
do feiticeiro, como se tornar um espírito obscuro. E com uma
equipe pronta, sob o comando de Pai Gildo, parte em busca
dos seus maldosos objetivos. Lúcio se oferece para participar
daquela equipe, sem saber que se tornaria mais um escravo
do tal feiticeiro.

                                           Na casa de João
        João, conversando com Izabel, diz:
        – Bem que você poderia amenizar mais com a bebida,
Izabel. Eu acho melhor procurarmos ajuda, existem clínicas
especializadas para esse caso.
        – Não se esqueça João, foi você quem provocou esta
situação – responde Izabel.
        – Izabel, você está dando um péssimo exemplo aos
nossos filhos. Eles não são mais crianças, já estão saindo da in-
fância para a adolescência, e esses maus exemplos lhes são muito
perigosos.
        – João, eu tenho consciência disso, quero parar, mas
não consigo. Mas e você, já pensou nos seus maus exemplos?
        – Izabel, você deve procurar fazer um tratamento, pois
está se tornando uma alcoólatra.
        – Não vai adiantar João, porque isso não é doença.


60
Eu vou parar, você verá, é só deixar que a minha mágoa passe.
Me dê um tempo.
         Parcialmente, Izabel estava certa. Só o que ela não
sabia é que a sua mágoa abria fendas para que espíritos vici-
ados lhe induzissem através de bebidas alcoólicas, que favo-
reciam a eles. As energias eram sugadas, fortalecendo as suas
forças negativas e, através de artimanhas, realizavam as suas
maldades. Por conseqüência do álcool em excesso, poderia
provocar sequelas em Izabel e traumatizar seus filhos.
         Passados alguns dias, Izabel, tocada pela bebida, co-
meça a contar aos seus amigos sobre a situação que está pas-
sando com sua família. Por que não poderiam eles ser felizes?
Será que ele, João Eduardo, estaria com algum plano macabro,
por isso nada fazia por ela, somente esperando por sua morte
para poder ficar totalmente livre para Lídia? Na verdade, o
que Izabel e João Eduardo não sabiam é que a pobre mulher
já havia falecido.
         João, a parte, escuta sem querer as lamúrias de Izabel
e, após suas amigas irem embora, tenta conversar com sua
mulher.
         – Izabel, eu tive uma aventura com aquela mulher,
mas me arrependi amargamente. Eu nunca mais a vi por op-
ção minha, porque optei por você, entenda de uma vez por
todas. Nós não estamos mais juntos, confie em minhas pala-
vras. Ela não está mais em minha vida, nunca mais a vi, mesmo
porque, ela desapareceu. O que posso dizer-lhe é que nem mes-
mo sei onde ela anda e nem quero saber.
         – Quem? A tal Lídia? – pergunta Izabel – João, acon-
tece que eu não sou tola como você. Se ela parou de vir aqui
para me atormentar, logicamente ela está com você, e vocês
dois, com certeza, têm um acordo.
         João Eduardo irrita-se naquele mesmo instante, como
se um ódio imenso o atravessasse e adentrasse em si, em for-

                                                            61
ma de uma fonte de energia ruim, assim como a luz de um raio
que, lhe atravessando o cérebro, deixou-o atordoado e com do-
res frequentes e profundas. Naquele momento, não percebera o
que lhe ocorrera. Aquele foi o primeiro contato com a falecida
Lídia, e ambos tragavam a frequência de uma vibração profun-
damente espiritual. Sem que João Eduardo o percebesse, ao dar
um grito, pede a Izabel:
         – Ai, ai, ai! Que dor horrível, Izabel! Por favor, socor-
ra-me, socorra-me que estou passando mal. Por favor, seja
imediata, pois sinto que estou morrendo! Que sensação hor-
rível, nunca havia sentido isso em minha vida. Pegue o carro
e leve-me ao médico.
         Izabel, perdidamente atordoada com o que estava
acontecendo, tirou-lhe do bolso as chaves e, pedindo a ajuda
de um de seus filhos, colocou-o dentro do carro e levou-o a
um consultório médico próximo de sua casa. Já no consultó-
rio, o médico lhe da um bom analgésico e recomenda a Izabel
que leve João Eduardo imediatamente a um hospital, para ter
um melhor atendimento.
         Após ser atendido por Dr. Osvaldo, um profissional
idôneo e capacitado na área da Medicina, logo uma enfer-
meira aplica-lhe um calmante injetável para que ele pudesse
ficar em observação, e no dia seguinte lhe seriam feitas as
avaliações necessárias. João Eduardo agonizava. Seu semblan-
te, quase desfalecido, se desfigurava em morte. Dr. Osvaldo
procura acalmar Izabel, talvez pelo fato de, em pesquisas elabo-
radas, ele perceber que ali havia outra parte da Ciência. A “Ciên-
cia Oculta”, talvez.
         O sono de João Eduardo era dramático. Ele se deba-
tia na cama como quem estivesse transbordado de angústia e
de ódio, havendo em seu corpo tremores contínuos, compa-
rados aos de um estado febril, como se tivesse a presença de
mais alguém naquele recinto. Tudo o que ali estava aconte-

62
cendo, era justamente pelas vibrações negativas que Lídia e sua
gangue, através da maldade e ódio, transmitiam ao pobre ho-
mem. E aquele quarto de hospital realmente estava infectado
com a presença daquela legião.
         Depois de ser avaliado parcialmente, Dr. Osvaldo
colocou João Eduardo sob fortes medicamentos, para que
mais tarde pudesse diagnosticá-lo melhor. Somente no final
da tarde é que foi chamado para falar com o Doutor Osvaldo,
que lhes disse:
         – O senhor João Eduardo terá que fazer algumas ra-
diografias, ressonâncias e alguns exames de rotina.
         – Sim, doutor – Confirma Izabel, aflita.
         Dali se seguiram as radiografias e os exames
laboratoriais, até que, com tudo concluído, o médico retorna
com as respostas.
         – Dona Izabel, as minhas notícias quanto ao quadro clí-
nico de seu esposo não são das melhores, tenho que lhe ser sin-
cero. O seu esposo está com um tumor enorme nos rins, que já
está abrangendo outros órgãos.
         – Mas ele nunca reclamou de nada, doutor! Como pode
ser assim tão grave?
         – A senhora tem razão, e é realmente temível. Eu sou
médico e minha especialidade é exatamente o câncer. Eu, em
toda a minha vida profissional, nunca vi um caso desses. Nor-
malmente o tumor começa a incomodar o paciente quando ele
ainda está bem menor. E se estivesse menor, teríamos mais chances.
         – O Senhor acha que meu marido não tem cura, doutor?
         – Veja dona Izabel, a chance é muito remota. O me-
lhor que posso fazer é transferi-lo para o Hospital São Miguel.
Eu trabalho lá também e a senhora pode confiar que faremos
o melhor, mas não podemos lhe garantir nada, dona Izabel.

                                                  Comentário
                                                               63
Nós, seres humanos, independente ou não das fartas
religiões, certamente que temos os nossos guardiões (lógica
da existência humana), designados por Deus para zelar por
nossas vidas espiritual e física. Recebem esses guardiões al-
guns nomes como Anjo da Guarda, Protetores, Energias,
Orixás, Portal de Luz, Benfazejos, Espírito Santo e outros,
podendo-se imaginar que, aqui neste Orbe, somos sustenta-
dos beneficamente por esses guardiões. E assim também,
opostos a eles, certamente existem os chamados espíritos do
abismo com outros codinomes, que devastam todo um siste-
ma de harmonia. Mas temos a convicção de que esses espíri-
tos trevosos um dia estarão do lado oposto, ou melhor, do
lado do bem. Não podemos prever quando, pois é questão de
tempo, que é senhor supremo e sábio. Por isso, a evolução de
cada um deles se dará com o progresso espiritual dos mes-
mos. Sobre esse complexo de contrariedade, nada sabemos
com exatidão, pois ainda não há uma conclusão extremamen-
te verdadeira, sabemos muito pouco diante da sapiência do
criador (Deus). Podemos dizer que existe um equilíbrio no
Universo, gerado justamente por meio dessas fontes
energéticas, como também podemos dizer que essa energia
inferior possa ser a que exatamente necessita ainda ser lapi-
dada para que, unida à sua outra metade, a benéfica, quem
sabe o mundo ficará completo em sua composição. Mas só o
tempo poderá nos dizer, só o tempo.
        Aquele mal que João sentia, na realidade eram as vi-
brações que Lídia lhe passava. Foi o que ela aprendera, e tão
bem, após o seu desencarne, com os seus recentes compa-
nheiros das trevas que, com as suas façanhas espirituais, con-
seguiram confundir até mesmo os médicos, enfermeiros, Izabel
e principalmente a sua almejada vítima: João Eduardo.
        As crises que João Eduardo sentia, passados alguns

64
dias foram aos poucos diminuindo, porque, certamente, ao re-
ceber as orações emanadas pela esposa, pelos filhos e alguns
amigos, seus inimigos eram atacados e as perversidades de Lídia
enfraquecidas.
        Pelo resultado do diagnóstico feito, os médicos acre-
ditavam que a situação do rapaz só tendia a piorar, e se as-
sustaram diante do quadro de restabelecimento de João Eduar-
do. Em suas hipóteses e indecisões, acreditavam estar diante
de uma situação não alcançada por eles, por se tratar de um
fenômeno ou algo desconhecido pela Medicina contemporâ-
nea. Por esse motivo, jamais pensaram ou acreditaram na-
quelas bases, com exceção de Dr. Osvaldo que, silenciosa-
mente, em suas meditações, formava ao redor do rapaz uma
aura quase protetora, por não ser totalmente cético e acredi-
tar que existia algo acima da Medicina ou de sua capacidade
como médico.
        E Lídia, quando percebia isso, vibrava com mais
frequência, colocando em sua fórmula ainda mais ódio! Quan-
do isso ocorria, as dores de João Eduardo aumentavam e, em
intervalos menores, ficavam mais fortes. Era uma verdadeira
luta entre o bem e o mal: de um lado, afloravam-se energias
em forma de orações de parentes e amigos de João, havendo
do outro lado um contra-ataque de energias cheias de ódio,
violência e obscuridade, reunidas por uma legião perversa e
maligna, exaltada pelos devaneios de Lídia, e, de outro lado, as
orações que contra-atacavam essas energias e traziam algum alento
a João Eduardo.
        – Lídia, assistindo a degradação de João e o desalento
de Izabel, se deliciava e cada vez se exaltava, intensificando
ainda mais, com aqueles espíritos vingativos e trevosos, seus
ataques de ódio.
        Após alguns dias, João recebeu alta do hospital, pois
os médicos acharam por bem não mexer naquele tumor por-

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que, se o fizessem, a situação do paciente se agravaria mais. Na
verdade, os protetores de João travavam uma luta contínua contra
Lídia e seus companheiros, fazendo de tudo para que João não
passasse por uma cirurgia, pois isso poderia ser fatal e desneces-
sário. João não resistiria e, após a anestesia geral, seu espírito
ficaria à disposição de Lídia, por estar semi desvinculado de seu
corpo físico e isso não seria compensatório. Enfim, ele estava
totalmente desenganado pelos médicos e, seus últimos meses,
segundo a Medicina, poderiam ser em casa diante dos filhos e
da esposa, que ficaram perturbados por não saberem mais o que
fazer. Para Izabel, a bebida era a principal companheira. Dizia a
pobre mulher que lhe servia para satisfazer seus desabafos e inse-
gurança.
         No dia seguinte, após João ter vindo do hospital, se
levantou do leito para não se sentir só. E, mesmo debilitado,
resolveu ir a uma praça próxima de sua casa para apreciar a
paisagem e repensar a sua vida. João Eduardo se senta em
um dos bancos e começa refletir sobre sua vida. Tudo o que
fez e o que foi, resulta-lhe num retorno triste ao seu passado,
às tantas amarguras que ele e as pessoas que estavam ao seu
redor sofreram. Também milhares de pessoas perderam com
seus lucros gananciosos e desonestos. Ele se recorda primei-
ramente de sua infância; como fora doce! Além de sua ino-
cência, havia duas límpidas luzes que constantemente se pu-
nham ao seu redor: seu querido pai e sua amada mamãe. Que
intensa vida de labor ambos tiveram em prol de uma vida abun-
dante para João Eduardo. Lembra-se também de sua juventude,
de seus tempos de colegial, dos amores, afetos e desejos juvenis.
Lembra-se também dos seus amigos.
         Profissionalmente bem sucedido, necessitava agora de
uma trégua para não cavar a sua própria decadência e a de
seu lar.
         – Meu Deus! O que restou de meu lar?

66
Era essa a principal pergunta que João Eduardo se fazia,
em busca de uma solução para o que aquela família estava pas-
sando. Inquieto, se questionava:
        – O que será de minha esposa e de meus filhos se eu
não resistir a esta doença?
        Os sintomas que João Eduardo sentia, eram na ver-
dade as vibrações emanadas por Lídia, que o afetavam psi-
quicamente, pois recebia energias enfermas através de for-
mas adquiridas pelos espíritos trevosos, companheiros de
Lídia. Na realidade, seus rins estavam bons, mas os médicos
queriam aplicar-lhe quimioterapia, que neste caso só agrava-
ria ainda mais sua situação em relação à sua saúde.




                                                             67
A volta de João ao hospital
        Oscar visita o hospital com outros provedores, não
só com a intenção de supervisionar o trabalho dos médicos e
dos funcionários, mas também para visitar os pacientes na
intenção de tranquilizá-los.
        Nesse hospital, havia pacientes particulares, como
João Eduardo, que tinha boa condição financeira, sendo que
noutra ala havia os que nada pagavam, eram mantidos pelos
provedores. Ali, no entanto, diante da situação, todos eram
atendidos pelos médicos, funcionários e provedores da mes-
ma forma: com respeito e carinho.
        Oscar, entrando na sala de espera onde estava João
Eduardo aguardando Dr. Osvaldo, o cumprimenta:
        – Bom dia, senhor!
        – Bom dia! – Responde João.
        – Como vai o senhor?
        – Vou levando, com a ajuda dos médicos, que são
muito bons.
        – Qual o seu nome?
        – Chamo-me João Eduardo. E como vai o senhor? –
pergunta-lhe João Eduardo
– Estou bem. Sr. João Eduardo, meu nome é Oscar. Faço
parte de um grupo de voluntários aqui no hospital.
        – Mas o que realmente fazem os senhores aqui? – per-
gunta João Eduardo.
        – O que fazemos aqui é visitar os pacientes. Doamos
dois dias por semana para colaborar com os funcionários no
que nos for permitido. Aqui, auxiliamos desde a faxina até os
banhos nos pacientes. Em momentos vagos, nos dedicamos
com nossas palavras, um contato direto e de coração aberto
com os pacientes que permitirem nossas visitas.

68
– Como assim? Dá pra você me explicar melhor? –
diz João Eduardo.
         Às vezes, Sr. João Eduardo, nós, por de alguma pala-
vra dita, podemos confortar alguém que está ao nosso lado.
Além do mais, podemos descobrir as possibilidades que há
entre nós mesmos em fazer amigos. E essa certeza nos é exa-
ta quando percebemos que todos somos filhos de um Pai único
e, vitoriosos, cantamos a alegria de sermos irmãos. Esse é o
meu, ou melhor, o compromisso que eu e o restante do grupo
temos com todos os que carecem. E posso lhe dizer que ga-
nhamos também com essa permuta, gestos de humildade e
principalmente “amor”. O que queremos na verdade meu
amigo, é que as nossas palavras possam auxiliar em seus
restabelecimentos, porque esse é o nosso gesto fraterno e a
nossa obrigação humana, afinal, ser solidário nos faz bem, por-
que temos como lema que, fazer o bem, faz bem. Caso neces-
site de alguma coisa Sr. João Eduardo, pode me procurar que
estarei pronto a lhe ajudar.
         Oscar, naquele momento, mesmo sendo verdadeiras
as suas palavras, não se identificara como provedor, preferin-
do passar como voluntário.
         João se encontrava sentado numa cadeira de rodas à
espera do médico. Sentia fortes crises provocadas por Lídia
que, com suas vibrações maléficas, se deleitava no plano es-
piritual. Quando o seu ódio aumentava, as dores de João
Eduardo também se agravavam. Lídia ainda estava também
enferma em seu psíquico ou períspírito, totalmente seduzida
pelo que deixara na Terra.
         Oscar, ao perceber que João não estava bem, imedia-
tamente dá a devida assistência, levando-o a sala do Dr. Os-
valdo, pedindo-lhe prioridade no atendimento e que anteci-
passe a consulta do paciente. Pela delicadeza de seu estado,
o atendimento deveria ser prioritário. Oscar, próximo a João

                                                            69
Eduardo e já parcialmente orientado por sua sensibilidade
espiritual, percebe que por ali vagava uma vibração ruim, mas
cala-se em oração, pedindo a Deus, no silêncio de sua prece,
que a eles fosse transmitida uma fonte de luz, que os envol-
vesse por meio dos protetores da divina casa espírita e insti-
tuição filantrópica que freqüentava, e da qual era também
provedor.
         Dr. Osvaldo chama Oscar, que está saindo, e lhe diz:
         – Obrigado Dr. Oscar, pelo auxilio. O senhor foi
magnífico.
         E foi naquele exato momento que a atendente, sem
perceber que Dr. Oscar, pelo seu livre acesso ao hospital te-
ria entrado com o paciente na sala do Dr. Osvaldo, pede a
Anita que também entre, por ser a próxima paciente a ser
atendida.
         Ao entrar na sala, Anita se põe perplexa ao ver Oscar.
Fixando os olhos nos dele, Anita perde-se no tempo. Não
poderia ela ali chorar as tristezas passadas, nem tampouco
poderia sorrir pelo reencontro. O que realmente ela desejava
naquele instante era morrer... Sim, “morrer”, pois só assim,
talvez, por um minuto apenas voltaria para os braços de Os-
car, a quem ainda tanto ama.
         – Oscar! O que significa isso? Você, doutor? Pelo
que sei você é funcionário de uma siderúrgica, e não doutor!
Naquele instante, Anita volta os olhos a João Eduardo e diz:
         – Eu o conheço. Por acaso você se chama João Eduardo?
         João, abatido, perdera também, no decorrer daqueles
dias, alguns quilos, tendo facialmente um envelhecimento
precoce, mas sem perder o vínculo de sua fisionomia.
         – Sim é este o meu nome. E você, quem é? Não me
lembro de você!
         – E o senhor, Dr. Oscar? – pergunta João. O senhor
me disse que era voluntário aqui neste hospital.

70
– Sou amigo do Dr. Osvaldo e ele me chama de dou-
tor por brincadeira. Essa é a sua maneira carinhosa de me
tratar, não é verdade Dr. Osvaldo?
         João e Anita, já quase convencidos, são surpreendi-
dos pela atendente que entra na sala.
         – Doutor Oscar, tem um funcionário seu lhe espe-
rando; é o seu motorista, e pediu para avisá-lo que já esta
de volta e que a seu pedido está à sua disposição para levá-
lo para a sua siderúrgica.
         Oscar, já não tendo mais como se defender, abaixa a
cabeça como a pedir clemência e, sem nenhuma explicação,
espera o julgamento de sua amada, que vagarosamente apro-
xima-se dele e, num gesto muito triste, começa a dizer algu-
mas palavras enquanto inicia um suave pranto.
         Anita dirige-se ao Dr. Osvaldo.
         – Doutor Osvaldo, aquela proposta para jantarmos
juntos ainda está de pé? Se o senhor quiser, tudo bem, eu
irei jantar com o senhor.
         Dr. Osvaldo sabia algo sobre Anita que nem ela mes-
ma sabia, e pretendia lhe dizer no momento certo, quando
estivesse convicto de sua suspeita.
         Oscar, percebendo que Anita estava confusa, lhe diz:
         Anita, preciso falar-lhe. Podemos?
         – Lógico que não, não tenho nada para falar com você!
Fui classificada por você como descartável “Dr. Oscar”!
         Anita, paralisada, aflita e com o coração em cha-
mas, gesticulava e colocava as mãos sobre o peito, num ato
desesperado de amor pelo homem que à sua frente se colo-
cava, dando-lhe o direito de abraçá-lo. Anita o amava forte-
mente, mas, diante da situação, ela compreendera tudo o
que ele havia feito, pois, sabendo naquele momento que
Oscar era o dono da siderúrgica, seguramente ela não que-
ria envolver-se com gente poderosa para não passar por

                                                           71
decepções como Lídia, e terminar como quase terminou.
        – Não, não quero falar com você.
        Numa última tentativa, Oscar se despede e aguarda a
saída de Anita do hospital.
        – Então Dr. Osvaldo, vamos jantar juntos ou não? –
pergunta Anita, ainda tensa.
        – Gostaria muito Anita, mas não sabia da sua ligação
com Dr. Oscar. Ele me falou de alguém que ama muito, só que
precisava tomar uma atitude muito arriscada, porque tinha pas-
sado por uma decepção amorosa que lhe trouxe aborrecimen-
tos e esse foi o único jeito que encontrou, colocando quem
mais amava à prova. Peço-lhe perdão, pois agora vejo que essa
pessoa é você.
        – Dr. Osvaldo, aceite a minha companhia. Não sou
submissa a ninguém, não tenho mais nada com Oscar.
        – Não, Anita. Seria o melhor jantar da minha vida, mas
me seria também muito desastroso. Dá para ver nitidamente o
quanto vocês se amam, eu seria um tropeço para ambos.
        – Você quer um conselho? Lute, mas lute mesmo por
este amor. Lute pelo Dr. Oscar, porque valerá à pena. Qual-
quer um percebe o quanto ele te ama e você a ele. Isso é uma
fase de encontros e desencontros.
        Anita, sem ter mais o que dizer, pede licença a Dr.
Osvaldo para retirar-se, pois aguardaria na sala de espera sua
vez para ser atendida, pois precisava de uma consulta de retor-
no. Antes de ela sair do consultório, João Eduardo, que já se
sentia um pouco melhor e participara de toda a conversa sem
dizer nada, faz uma pergunta a Anita:
        – Anita, de onde você me conhece?
        – É melhor deixar pra lá, eu garanto que você não vai
gostar de saber.
        – Se o Dr. Osvaldo permitir que você continue eu
gostaria sim, de saber.

72
Dr. Osvaldo intervém na conversa dos dois.
         – Perdoe-me, amigo, nós nos esquecemos de você e
das dores que sente.
         – A crise passou, ela vem e volta – responde João.
         No mundo espiritual, os espíritos trevosos, respon-
sáveis pela obsessão, sabiam que as orações de Oscar fize-
ram com que os guardiões de João o fortalecessem e, com
isso, as vibrações de Lídia foram afastadas e as crises de
João passaram momentaneamente.
         – Então Anita, você pode me dizer?
         – Podem ficar à vontade, hoje está calmo por aqui –
diz Dr. Osvaldo.
         – Bem, João Eduardo, se você quer saber mesmo, vou
aliviar sua curiosidade. Eu era a amiga numero um de Lídia.
Você se lembra dela?
         – Lógico que sim! E ela, como está? – pergunta João
         – Você não sabe? Jura? Infelizmente ela morreu.
         – Como? Não posso acreditar! Como foi isso? – diz
João, perplexo com a notícia.
         Anita conta com detalhes sobre a doença de Lídia, e
sobre sua revolta e ódio por João ter desistido dela.
         – Talvez o que você esteja passando seja resultado da
sua insensatez, João Eduardo. Lídia sofrera muito para mor-
rer, completamente revoltada com sua indiferença, com seu
desprezo.
         – Mas entre nós não poderia haver mais nada, tudo
estava terminado – responde João Eduardo.
         – Sim, vocês poderiam ter terminado, mas que hou-
vesse entre ambos o diálogo pra finalizar o relacionamento
de forma coerente, não a deixando com esperanças, como ela
ficou.
         – Mas eu era um homem muito ocupado profissional-
mente, além de ter a minha família.

                                                           73
– João Eduardo, você se fez parte da vida de Lídia.
Ao se afastar dela, levou uma parte dela consigo. Ela não te
amava na verdade, mas, de alguma forma, ela fazia parte de
você, afinal, havia um contato intimo entre ambos.
         – O incrível é eu estar tendo os mesmos sintomas que
Lídia teve. Dr. Osvaldo, como o senhor pode explicar isso?
         Que coincidência, não sei como posso explicar, meu
amigo.
         – Mas afinal, quem foi Lídia Anita? – pergunta-lhe o mé-
dico, e João Eduardo, antes que Anita respondesse se antecipa.
         – Doutor, Lídia foi uma bela mulher que passou pela
minha vida, mas que eu desprezei, desrespeitando antes a
minha própria família.
         – Enquanto falavam Lídia, no plano espiritual, presen-
ciava toda a conversa, mas não tendo como mostrar-se diante
deles, sugava as energias de João Eduardo para que o seu esta-
do de saúde se agravasse, devolvendo-lhe energias maléficas
em forma de dores insuportáveis, como as que fizeram com
que ele fosse imediatamente internado no hospital.
         – Depois de tomadas as providências com João Eduar-
do, Dr. Osvaldo retorna ao consultório para passar uma re-
ceita à Lídia, e mais uma vez, pede insistentemente que ela
vá a procura do Dr. Oscar.
         – Dr. Osvaldo, eu não quero status e nem ser amante,
quero viver a realidade de uma felicidade. Quero um compa-
nheiro que me faça feliz e que eu também o faça, pois certa-
mente eu também o farei. Quero sentir o desejo da vida, que-
ro procriar e quero a presença de Deus, quero sim é viver um
grande amor, este é o meu grande sonho.
         – Mas você pode unir o útil ao agradável Anita. Não é
sempre que a sorte bate à nossa porta.
         – Não considero isso como sorte, pelo contrário, acho
isso um azar.

74
– Por que Anita?
        – Doutor, eu já passei por uma decepção amorosa,
mas a maior lição que eu tive foi exatamente o que minha
amiga Lídia passou.
        – Quem? A tal amante de que João falou?
        – É isso mesmo!
        – Que eu saiba, João Eduardo não é daqui, mas de
uma cidade próxima.
        – É verdade, ele veio de Itupeva.
        – Exatamente, responde Dr. Osvaldo.
        – Pois é, eu não sei se hoje ainda é assim, mas João
era poderoso, tinha ou tem muito dinheiro. Ele encheu Lídia
de presentes, carros, jóias, roupas boas e até um apartamen-
to. Ele frequentava com ela muitas festas, reuniões e bons
jantares. Aí então, quando a paixão passou e tudo se acabou,
Lídia, não tendo limites para gastar, pois já acostumada com
aquela nova fase de sua vida, ficou à deriva e perdeu tudo.
Perdeu sua dignidade e até a sua saúde. Ganhou, talvez até
antes da hora, uma tristeza tão abominável que a levou à
morte. Quando esse romance veio à tona e os filhos e a espo-
sa de João descobriram, a casa dele transformou-se num ver-
dadeiro caos. A esposa dele começou a beber, os filhos fica-
ram rebeldes, e ele em tão decidiu se separar de Lídia, que do
outro lado já achava fazer parte da família de João. Dali nas-
ceu o ciúme, a ira, as calúnias e a difamação. E Lídia, como já
estava acostumada com aquela vida de alta sociedade, come-
çou contrair cada vez mais dívidas para manter o seu status.
Ela realmente não tinha juízo. Foi nessa época que eu a reen-
contrei, pois já fazia algum tempo que não a via. Foi exata-
mente quando o homem, que eu julgava amar, foi embora e
eu, em meus apelos, procurei um Pai de Santo conhecido como
Pai Gildo para que ele resolvesse o meu problema, sendo esse
um dos maiores erros de minha vida.

                                                            75
– Por que foi o maior erro da sua vida?
         – Foi o maior erro de minha vida porque, além de
gastar uma boa quantia em dinheiro, caí nas mãos de um vi-
garista que fez-me sentir também, durante algum tempo, uma
pessoa tão baixa quanto ele. Inocentemente, talvez tenha até
prejudicado Lídia, pois, tentando ajudá-la em sua situação
amorosa com João Eduardo, acabei colocando-a em uma mi-
séria financeira e psicológica quase total. Meu Deus! Como
fui inocente, tola e incoerente! E não ficou só nisso não Dr.
Osvaldo, a cada dia que passava, o nosso desespero aumen-
tava, e saímos tresloucadas em busca de solução para as nos-
sas ilusões, passando pela mão de gente que só sabe enganar
as pessoas, numa pura ilusão de que alguma coisa poderia dar
certo. Mas eram só promessas, puras promessas que nunca se
realizavam. Eu, já cansada, logo me desiludi. Larguei tudo e
deixei nas mãos do destino. Lídia, porém, obcecada com os
seus problemas, a cada dia se tornava mais escrava de suas
vontades. E nessa fixação ou fanatismo, Lídia se excedeu tanto
que suas atitudes se transformaram em grandes pesadelos.
Tentei tirá-la daquela situação, mas já era tarde demais. E o
sonho de minha amiga transformou-se em ódio, e o ódio trans-
formou-se em morte. Minha pobre menina, doutor!
         Anita, ao sussurrar essas palavras, começou a clamar
a ausência de sua grande amiga, entre lágrimas e soluços.
         – Depois disso tudo, comecei a frequentar um templo
budista e uma casa espírita onde ensinam o amor ao próximo,
a ter solidariedade, como evitar preconceitos e a respeitar
fenômenos com Entidades Espirituais. Foi aí que eu me li-
bertei dos erros que estava cometendo. Mas Lídia, infeliz-
mente continuou em seus erros, envolvendo-se tanto que isso
afetou até a sua saúde. Ela sentia muitas dores nos rins, que
foram se agravando. Quando resolveu ir ao médico, já era
tarde, pois um tumor enorme já tinha atingido o órgão. Um

76
tumor maligno, doutor. Coincidência ou não, o seu ex-aman-
te está com o mesmo mal. Como pode ser isso? É, nós não
somos nada nessa vida. O restante da história o senhor já
sabe.
        – É Anita, você, além de ser muito bonita é também
notável. E sua fragilidade interior também é marcante.
        – É a vida que ensina por isso, eu prefiro sofrer só. O
amor que sinto por Oscar é tão intenso que me parece já ter
ultrapassado as linhas carnais. Parece-me até coisa de alma!
Amo Oscar perdidamente. Quando me deito, silenciosa, me
ponho a conversar sozinha com ele. Faço carícias no meu
travesseiro, beijo-o e lhe chamo de “meu Oscar”. Às vezes,
quando, por exemplo, vou comer uma maçã, coloco frente a
mim e digo: “Essa maçã é para o meu amor!” Imagine Dr.
Osvaldo, não tenho coragem de comê-la. No dia seguinte,
coloco-a no jardim frente à minha casa. Para mim, seria um
desafeto comer a fruta logo após ter dado a ele. Coisas de
amor, coisas de mulher, coisas de quem muito ama!
        – Anita, tudo o que você está me dizendo é perfeito.
Procure o Oscar e lhe fale dos seus sentimentos.
        – Não Doutor, prefiro não mais tê-lo, porque não quero
passar pelo que passou a minha amiga. Tenho muito medo.
Dr. Osvaldo, eu gostaria de fazer-lhe um pedido.
        – Pois peça Anita.
        – Bem, eu não sei qual a sua religião, mas gostaria de vir
aqui amanhã cedo para fazer uma oração para João Eduardo.
        – Isso é muito bom. Eu acredito na Ciência. Não te-
nho nenhuma religião ou fé, na verdade, sigo aquele pensa-
mento que diz: “Eu não acredito em bruxa ou em sua existên-
cia, mas que existe, existe”. Com isso quero dizer que acredito
que realmente existe algo acima da Ciência, não sei nem como
lhe explicar, mas se você quiser pode vir, eu lhe autorizo.
Venha amanhã às 9 horas. Está bom para você?

                                                               77
– Está ótimo Doutor, muito obrigada.
         Assim que Anita se vai, Dr. Osvaldo liga para Dr. Os-
car e fala sobre a conversa que teve com Anita, mas sem lhe
dar muitos detalhes.
         Oscar, convicto do amor de Anita, sente-se enlevado.
Era tudo de que ele precisava para sua felicidade. No dia se-
guinte, Oscar chega ao hospital pouco antes das 9 horas e,
antes de fazer uma visita a João Eduardo, segue até o consultó-
rio de Dr. Osvaldo que, ao contar-lhe mais alguns detalhes de
sua conversa com Anita, ainda lhe diz que provavelmente ela
estaria no hospital para fazer uma oração para a melhora de
João Eduardo.
         Oscar nada mais fazia do que olhar o seu relógio. Que-
ria imediatamente ver a mulher amada. Chega o momento – 9
horas. A passos largos, pelo corredor do hospital Oscar busca
o quarto de João Eduardo. Ao entrar no quarto não a vê, mas
percebe que ali, um aroma suave de Anita se faz presente. E
ela, ao entrar novamente no quarto para iniciar suas orações
em favor de João Eduardo, se põe frente a Oscar e quase não
responde ao seu cumprimento, por assustar-se com a presença
de seu homem tão amado. Pelo tremor de seu corpo, era evi-
dente que ela não se sentia calma, mas iniciara naquele instan-
te, súplicas em preces a Deus. O que se percebe espiritualmen-
te é que o enfermo passa a ficar mais tranquilo em suas dores,
que no princípio o agitavam muito. Pelo poder das palavras da
prece, Lídia e seus comparsas se afastam, tendo João Eduardo
condições de sentir-se aliviado. Sereno e ausente das dores ele
adormece, anestesiado pela energia dos bons espíritos.




78
Lídia no Plano Espiritual
        – Mas que droga! – reclama Lídia. Eu gostaria que
você, seu feiticeiro mentiroso, que você me dissesse, ou me-
lhor, que me falasse a verdade sobre os meus poderes. Você
os enaltece tanto! Mas quando alguém faz aquelas orações
idiotas a gente se esparrama como fumaça por aí. Por que
acontece isso? Responda-me seu capeta, imbecil!
        – Nós temos um poder muito forte cara amiga, – res-
ponde-lhe o feiticeiro – que pode criar até tempestades, rede-
moinhos, enchentes e mortes. Nós temos uma infinidade de
poderes que deixa o mundo em atropelos. A nossa grande
força, vaidade e euforia são justamente quando não aparece
um empecilho desses para nos afastar, nos aniquilar, nos des-
truir. A chamada oração, quando bem executada por um co-
ração que seja puro e verdadeiro, tem todas as possibilidades
possíveis de nos atingir.
        A oração é o único sistema que envolve os bons ca-
maradas – explica Pai Gildo – trazendo os espíritos do alto
para nos afastar. A tal da oração minha amiga, varre tudo
que há de mal, ela queima, quase extermina. Por isso é que
quando ela vem nós, da baixa esfera, por estratégia nos afas-
tamos rapidamente, para que não pereçamos. Neste caso, te-
mos que fugir das orações, que são como uma grande tem-
pestade. E atenção, minha cara. Quando você notar que a
oração está se aproximando, corra, pois essa arma, que os do
bem usam, é muito poderosa quando bem feita.
        – Isso é um disparate ou mais uma de suas outras
mentiras! Eu que não vou temer a tamanho absurdo saído de
sua boca. O inferno que lhe acolha com suas mentiras.
        – Você tem toda razão, Lídia. Mas quando passar por
uma situação dessas, certamente que se lembrará do que es-
tou lhe dizendo. Verá que aqui eu não preciso mais do seu
                                                           79
dinheiro, o que eu realmente quero é a sua companhia, para
que possamos nos fortalecer nessa nossa nova vida trevosa,
que provavelmente será eterna.

                                            Anita e Oscar
        Quando terminam as orações, Anita e Oscar se cum-
primentam e se dirigem a uma sala ao lado do quarto, pois
João adormecera.
        – Anita... Tenho saudades.
        – Será que você não percebeu que eu não te amo mais?
Eu não quero comprometer-me mais com você Oscar, afinal,
você é um grande mentiroso.
        Ao mesmo tempo em que dizia tudo isso a Oscar, um
medo enorme se formava dentro de Anita, onde estava a per-
sonagem verdadeira, que queria desvendar a grande mentira
saída de seus lábios. Lábios infames, ardilosos, que não per-
mitiam que ela exprimisse a verdade de seus sentimentos.
Lábios que não permitiam que ela pudesse sentir o corpo do
homem tão desejado pelo seu amor.
        Oscar, de várias maneiras tenta convencê-la, fazen-
do-lhe mil declarações de amor.
        Mas Anita dizia: – Oscar? O meu Oscar morreu!
        Redimido de seus erros após a sua conversa com Dr.
Osvaldo, Oscar é que passa a perceber o quanto a havia mal-
tratado com o seu desdém e o seu desafeto. Percebe ali, na-
quele instante, com apenas uma pequena frase: “O meu Os-
car morreu!” Os fragmentos da dor. E quanta dor ele teria
deixado no coração daquela mulher, já surrada pelo seu pas-
sado.
        – Eu não estou entendendo nada, – diz Oscar – você,
naquele quarto, liderou uma corrente de preces maravilhosa,
demonstrou um amor imenso pelo próximo sendo solidária,
80
como é recomendado pela espiritualidade, e aqui fora você
me parece uma pessoa amarga, cheia de mágoas e rancorosa.
Dr. Osvaldo falou de você e de seus sentimentos nobres de
mulher especial e sofrida, mas bem equilibrada. Mas aqui você
se mostra outra pessoa! Você não pode imaginar o quanto eu
te amo Anita! Hoje eu vejo com muita clareza o quanto eu
lhe quero, se case comigo.
        – Você tem consciência do que fez comigo? Deixou-
me sem nenhuma explicação, não me dizendo o porquê e nem
mesmo dando-me o direito à defesa. Por quê? Por quê?
        – Não chore Anita. Sei agora o quanto eu te amo tam-
bém, meu amor. Eu agi com você de uma forma brutal, mui-
to baixa, eu reconheço. Eu simplesmente, por uma questão
de egoísmo, quis por à prova o seu amor e errei, eu sei que
errei. Por isso lhe peço perdão, e sei que essa é a única forma
que tenho para tê-la em meus braços. Anita, eu te amo.
        Anita, quase cedendo, mas ainda muito magoada, ti-
nha medo de perdoá-lo, pois teria que compartilhar com o
seu amor o dissabor que tivera, e isso ela não queria mais. O
“Eu te amo” de Oscar, ali, naquele momento, ia se distanci-
ando, pois ela, em sua reflexão, viajou no tempo em sua me-
mória. Pensa Anita na posição social que tinha Oscar... Era
de uma posição elevada. E sendo ela uma mulher financeira-
mente simples, acreditava que ficaria refém de Oscar, na
mesma situação de sua amiga Lídia. Isso lhe amedrontava e
ela jamais desejaria para si. Se Oscar a fez passar por uma
situação desagradável e desnecessária como aquela, será que
não faria um dia alguma coisa pior? Por mais que ele tivesse
sofrido por alguma decepção em sua vida, Anita não estava
mais disposta a ficar à mercê dele como uma poça, para que
ele jogasse os seus despojos, a sua vingança, a sua ira. Isso
não! Para ela não foi bom o que ele fez. Ela não sentia revol-
ta nem ambição, por amá-lo demais. O que sentia era medo.

                                                            81
Dali em diante, ela guardaria para si, em seu coração, o gran-
de amor que sentia por Oscar. Faria dele parte de sua alma.
        Enquanto ali estavam Oscar e Anita, entra Dr. Os-
valdo, trazendo em suas mãos alguns papéis. Batia-os eufori-
camente em suas mãos com um gesto imenso de felicidade.
        – Anita, traga-lhe ótimas notícias. Eu já sabia pelos
testes que fiz sem lhe falar, mas agora tenho certeza e posso
lhe dizer com toda a convicção.
        – Pode falar Dr. Osvaldo. E diga o quanto antes, por-
que, pela felicidade do senhor, a notícia parece ser ótima.
        – Bem, eu não sei se posso dizer na frente do Oscar,
por não saber se é particularidade sua ou não. Perdão, Anita
acho que, enlevado pela minha euforia, creio estar fazendo
alguma coisa errada. Prefiro que vá até minha sala.
        – Doutor... Seja lá o que for, eu jamais ficarei magoa-
da, pois lhe estimo muito. Vamos, Doutor, fale o quanto an-
tes esse seu segredo, o que sabe de mim. A minha vida, Dr.
Osvaldo é, e sempre será um livro aberto. Eu não tenho nada
a esconder.
        – Bem, se eu posso falar, então, lá vai. É uma ótima
notícia Anita.
        – Fale Dr.Osvaldo, estou curiosa.
        – Anita, você será mamãe. Você está grávida!
        Oscar toma-se frente de Anita. – Grávida? Você Anita,
grávida?
        Anita, inconformada mas feliz, pergunta:
        – É verdade Dr.Osvaldo? Eu estou grávida?
        – Com certeza minha amiga! Deus é imensamente
maravilhoso.
        Oscar põe-se de joelhos ao chão e, vazado em lágri-
mas, diz para Anita:
        – Aí está meu amor, agora você não tem outra saída.
Fiquemos juntos...

82
Anita saíra das trevas. Aquele momento fora total-
mente a sua glória. Não mais tristezas, não mais o vazio que
tanto sombreou os seus olhos... Não! Nunca mais! Teria al-
guém para amar e ser seu companheiro ou sua companheira
até o fim de seus dias. Deus colocou-lhe no ventre um anjo
em forma humana. Um anjo, que em suas responsabilidades
se tornaria frágil até a sua idade adulta, que traria para ela,
enquanto sua vida durasse somente “felicidade”. Mas sem
perceber que poderia dividir a grande felicidade com o ho-
mem que ama, inconsequentemente abandona Oscar.
         – Como ficar juntos? Eu tenho condições de cuidar
do meu filho sozinha. Além do mais, você nem sabe se o
filho é seu, Oscar.
         – Pelo seu caráter Anita, eu não tenho a menor dúvida.
         – Só que eu pretendo criá-lo sozinha. Quando esta
criança nascer, você faça nele um exame de sangue, pois se
ele for o seu filho, assim como você acha que é, deixarei vê-lo
uma vez por mês.
         – Você está louca? Nem pensar? Verei o meu filho
todos os dias. Anita, eu lhe proponho que nos casemos, – diz
Oscar, eufórico – Vamos nos casar? Eu sei que você me
ama, assim como eu também te amo. E sei também que co-
meti uma infantilidade colocando-lhe à prova. Mas vamos
deixar isso passar, perdoe-me, por favor, eu lhe peço. Se aca-
so você quiser, faça comigo o que lhe fiz por ignorância ou
ingenuidade. Faça o que quiser, mas deixe-me ficar junto com
o nosso filho.
         – Tudo isso agora por causa da minha gravidez, não é
verdade Oscar? Não, nem pensar meu caro.
         – Não quero casar-me com você só pelo bebê, Anita,
por favor, entenda isso. Eu agora sei o quanto a amo, de ver-
dade. Loucamente eu te amo!
         – Você me pôs à prova porque se sente o senhor da

                                                            83
situação. É rico e acha que pode fazer o que quiser com seu
semelhante, acha que o dinheiro compra tudo, mas você está
completamente enganado comigo, porque o dinheiro nunca
me comprou. É rico e tem tudo nas mãos para colocar-me a
seus pés. E eu não quero a sua riqueza, quero um amor de
verdade. O que me satisfará a partir de agora é o meu bebe.
Uma luz está iluminando-me desde o meu ventre até o meu
coração. Estou feliz. Quero, a partir de então, ser forte, não
mais ser hipócrita, insegura, frágil. Quero ser verdadeira co-
migo mesma. Nessas novas sensações que adiciono em mim,
conservarei o que sempre me foi real, e isso meu caro, lhe
digo olhando firme em seus olhos, que é e certamente será
você Oscar, a alma que tanto idealizei para viver junto com a
minha. Mas agora, sem medo, há em mim uma partícula sua
que eu felicito.
         – Mas Anita, eu estou aqui, à sua frente, sou real. Sou
uma pessoa normal, um ser humano que errou, mas que
agora está diante de você para se redimir.
         – Você e nenhum outro homem me farão chorar no-
vamente. Você é o grande amor da minha vida, mas quando
falei que o meu Oscar morreu, é a pura verdade. O meu Os-
car é aquele funcionário da siderúrgica que você idealizou e
me fez conhecer e ficar fascinada, não é esse Oscar com
motorista particular, segurança à sua volta, com pompa e ri-
queza. Você me pôs a prova, uma prova difícil que me fez
sentir totalmente vulnerável e humilhada. Você ainda me diz
que posso lhe colocar à prova? É isso mesmo o que eu deve-
ria fazer, mas eu não quero. Jamais, porque se eu lhe colocas-
se à prova, com certeza sofreria outra decepção.
         – Então me diz que eu tenho de fazer. Pelo amor de
         Deus, me diz! Eu quero estar com
você. Seja o que for que quiser que eu faça, eu farei, tenha
certeza disto.

84
– Bem Oscar, pensando bem e para que você esqueça
de uma vez por todas de mim, resolvi neste exato momento
lhe colocar à prova. Você terá que tomar uma decisão corajo-
sa.
        E o que é minha querida Anita? Estou completamen-
te a seus pés. Ponha-me à prova, assim não teremos nenhuma
dúvida.
        – Você me dará um tempo, peço-lhe que tenha paci-
ência. Vou pensar em tudo o que está acontecendo com a
gente. Quero e preciso ser coerente e ter certeza desse amo
que tanto nos tem imaculado. Quero ter certeza que você me
ama assim como eu te amo, ou melhor, como eu amo aquele
Oscar que conheci e que me deixou deslumbrada, mas que
me trouxe tanto sofrimento.
        Não tendo mais palavras para convencê-la, Oscar,
calado, se afasta de Anita e, pouco distante dela, sussurra
que irá esperá-la, mesmo que seja o tempo de sua existência.
Mesmo que seja esse tempo, o último sinal de sua vida. Quando
já estava um tanto distante, Anita quis trair-se indo ao seu
encontro, pois imaginava o quanto ele sofreria. E era justa-
mente o que não desejava para Oscar. Mas lembrou do que
sua amiga Lidia passou e, naquele instante, voltou atrás.

           Anita volta ao hospital no dia seguinte
       – Bom dia, Dr. Osvaldo.
       – Bom dia Anita. Mas o que lhe traz aqui hoje? Há
algum problema com a sua saúde?
       – Não Doutor, o motivo de minha vinda aqui não é
por mim. É que eu gostaria de visitar novamente João Eduar-
do para continuar com as orações que iniciei ontem. Posso?
       – Muito bem, Anita. A partir de agora você terá livre

                                                          85
acesso neste hospital, a hora e o dia que desejar. A sua presença
nos será sempre uma honra.
         – Sinto-me lisonjeada com suas palavras Doutor, muito
obrigada.
         – Fique à vontade Anita. Caso necessite de algo, estarei
em meu consultório.
         – Preciso sim, Doutor, mas terá que ser agora.
         – Sim, Anita, me diga o que é.
         – O senhor por acaso não vai me perguntar como está o
meu bebê?
O médico sorri, pela sua graciosidade e lhe responde:
         – Como está o seu bebê? Ou melhor, vou lhe perguntar:
“Como está ‘o nosso bebê’?”. Digo-lhe dessa forma porque já o
tenho também em meu coração, acredite!
         Anita, emocionada, quase começa a chorar. Porém, Dr.
Osvaldo, ao colocar a mão em seu avental, tira dele um bombom
e lhe diz:
         – Se você chorar, lhe garanto que não irá ganhar este bom-
bom. E mulher grávida não pode ter vontades! Imagine, o nosso
bebezinho com carinha de bombom?
         Anita sorri e, ao dirigir-se para pegar o bombom, lhe dá
um forte abraço.
         – Ah! Doutor Osvaldo, como é bom ter o senhor ao meu
lado. Que Deus derrame dos céus uma gotinha de bálsamo sagra-
do sobre o senhor, para que a sua força e a sua luz se perpetuem.
         – Obrigado, minha doce Anita, farei bom uso de suas pa-
lavras. E, por hoje, chega de fortes emoções. Vá visitar o nosso
amigo paciente.
- Não se esqueça. Eu estarei no consultório e, pensado bem, você
bem que poderia ser uma voluntária no nosso hospital, que tal
Anita?
         – Ótimo! Eu aceito o convite. Diga-me o que devo fazer.


86
Chegando ao quarto onde João Eduardo estava Anita se
depara com uma mulher.
         – Bom dia, senhora.
         – Bom dia.
         – E o senhor João Eduardo, como amanheceu hoje?
         – Parece bem melhor.
         – A senhora é parente dele?
         – Sim, eu sou a esposa dele. E você? Quem é?
         – Eu me chamo Anita. Conheci o seu esposo há pouco
tempo, e agora tomei a liberdade de vir aqui para lhe fazer uma
corrente de oração em prol de sua saúde. E se a senhora não se
opuser, eu gostaria de continuar.
         – Mas você poderia dizer-me o porquê de toda essa de-
dicação? Quem é você realmente? Como conheceu o meu mari-
do e qual o grau de afinidade você tem com ele? E por que tanto
interesse em fazer orações pra ele?
         Com tantas perguntas, Anita, receando suas próprias res-
postas, começa a gaguejar por não saber como lhe responder.
         – Bem, eu o conheci...
         Nesse momento, entra Oscar.
         – Bom dia, senhora. Bom dia, Anita! A senhora é a
esposa de João, não é?
         – Sim, sou. E o senhor, quem é?
         – Muito prazer, senhora. Eu sou um voluntário e ve-
nho sempre ao hospital, assim como Anita, para doar uma
palavra amiga de apoio aos pacientes e parentes dos mesmos.
Eu e Anita estamos namorando. Em breve, se ela quiser, é
claro, nós iremos nos casar. Eu a quero muito. Ela é o grande
amor de minha vida, além de que, nós estamos esperando a
chegada do nosso bebê.
         Anita, não sabendo o que dizer, mais uma vez brava e
feliz, reprime Oscar.
         – Oscar, você está me ofendendo com suas palavras.

                                                              87
A senhora Izabel acaba de conhecer-me. O que ela vai pen-
sar de mim? Por favor, pare com essa conversa.
         – O que eu quero Anita, é que o mundo todo saiba o
quanto eu lhe quero, o quanto eu lhe amo. Não estou conse-
guindo mais respirar naturalmente, os sentimentos me sufo-
cam. Às vezes, penso que estou morrendo. Quero que todos
saibam! Ah, se eu pudesse aqui, neste lugar, gritar bem alto
para que todos ouçam as minhas palavras, letra a letra: Eu te
amo!
         Anita abaixa a cabeça, pois não suportava mais o cru-
el destino de seu orgulho. Ali, na sua frente, estava Oscar.
Braços fortes de jovialidade para protegê-la do frio que a iso-
lava. Ali, na sua frente, estava o homem mais belo que a na-
tureza preservou para ela, somente para ela. Ali, perto de
seus lábios, outros lábios que a seduziam com palavras. Do-
ces os lábios do homem a quem tanto ama. Um brinde à vida!
Sim, pois tudo o que Izabel acabara de presenciar, não havia
como não se comover. Ela tenta disfarçar diante do ocorrido,
porém com gestos de quem estivesse pouco interessada em
saber da vida íntima de ambos, Izabel responde:
         – Vocês podem fazer as orações, mas até onde eu sei,
meu marido é incrédulo. Ele não acredita em oração, em nada.
         Oscar e Anita logo perceberam que aquela mulher
suportava um sofrimento cáustico, tão intenso que ambos
sentiram de uma só vez uma energia cavernosa, extremamen-
te negativa, que se fazia aparecer em sua aura, a sua moradia.
Apiedaram-se da pobre mulher devido à situação em que es-
tava, principalmente com o seu esposo enfermo. Izabel mos-
trava em seus olhos a ausência de perspectiva e a intensidade
de sortilégios que a vida lhe reservara. Oscar e Anita, silenci-
osos em suas orações, pediam do alto o auxilio dos irmãos
espirituais, para que suavizassem a gravidade que tanto fluía
da pobre mulher.

88
Logo no início da oração, Izabel pressente que as pala-
vras de ambos pareciam transformar-se em energias. Era algo
que ela nunca sentira antes, mas que a deixara envolvida,
embriagada. Por um breve momento Izabel chegou a sentir
náuseas. Ela não se sente bem e pensa em sair dali, porém,
resolve ficar. Com aqueles sintomas, algum resultado teria atra-
vés daquela reação. Sim, ela esperaria. Se passasse mal não
haveria problema, porque já se encontrava dentro de um hos-
pital e ali Dr. Osvaldo lhe prestaria o atendimento necessário.
         Na turbulência de seus pensamentos, Izabel começa
a criar situações vulgares. Pensava também em qual seria a
reação de todas as pessoas que estavam envolvidas em sua
vida se ela chegasse a morrer naquele dia. Seria bom para ela?
Sim, seria ótimo, porque ela se afastaria de tudo o que se
passava em sua vida. Tomaria pra si um lugar distante, nada
mais lhe pesaria nessa vida. Seria por esse caminho a forma
correta para que pudesse resolver sua situação?
         Iniciadas as orações, um silêncio envolvente penetra-
va naquele lugar. Um silêncio apenas quebrado pelas preces.
Izabel sentia ao seu redor um vento suave, que soprava dos
seus ouvidos aos seus pés. Aquele vento entorpecia o seu
coração em remissão, pois lhe fazia se encontrar com as fer-
vorosas palavras daquele casal. Um êxtase... Nele, luzes opa-
cas reluziam. Nele, um presente, uma dádiva. Os sintomas
que Izabel sentia se amenizaram. Todos os sintomas ruins
que estavam em seu corpo já haviam passado, não mais exis-
tiam. Que maravilha! Era muito bom.
         Izabel põe-se a pensar: – Será que aquele casal, que
acabara de se aproximar, não estaria aqui para ajudar-me tam-
bém? Anjos em forma humana.
         O peso dos sofrimentos que Izabel trazia na alma es-
tava insuportável. A sua emotividade parecia não existir mais,
não sabia dizer nem mesmo o que estava fazendo naquele

                                                             89
hospital ou que providências tomar. No que dizia respeito à
sua vida... Uma vida amargurada, sem direito algum à felici-
dade. Sentia-se uma mulher sem sorte no amor, sem sorte na
vida... Uma mulher cuja juventude, assim como o vento, trans-
formara-se rapidamente em um destino bárbaro.
         Confusa, Izabel sentia-se extremamente inferior di-
ante de Oscar e Anita. Uma mulher dominada pelo impulso
da bebida alcoólica, que se fazia de amiga, a única e verda-
deira, mas que estava destruindo a ela e a sua família. Era ela
quem a acariciava em seus momentos de depressão. A cada
trago que tomava, se tornava mais amarga, assim como o fel.
E seus filhos? Ela já não se importava mais com eles. Esta-
vam, pela mãe, abandonados. O seu marido...
         – Oh! João Eduardo! Por que não fomos felizes?
         Tudo pra Izabel realmente estava terminado. Mas e
os anjos? Os anjos em forma de seres humanos, que frente a
Izabel se prostravam em orações? Ali estavam os dois,
homem e mulher.
         Depois de terminadas as orações, Izabel, com de de-
licadeza e respeito, antecipa-se e pergunta a Anita:
         – Você está grávida, Anita?
          – Sim, Senhora, eu estou grávida. Poucas semanas
apenas, mas estou grávida.
         – Meus parabéns! Vocês realmente formam um lindo
casal.
         Anita sorri não pela maneira agradável com que Izabel
dirigiu-se a ela, mas porque percebera que as orações, bem
direcionadas, foram como um analgésico, tanto para João
como para Izabel. Aquele ambiente estava magnífico. Pare-
cia que ali havia chegado uma legião de anjos enviados por
Deus.
         – Deus seja louvado! – exclama Anita.
         Oscar, mais próximo de João Eduardo, sentia vibra-

90
ções extraordinárias, porém com elas havia um misto de tris-
teza e ódio, emitidos por um espírito desordenado. Um espí-
rito que, por não ter nenhum bom reflexo, se perdia entre
aquela imensidão de luzes que entraram naquele ambiente
para fortalecer as auras que aos poucos se apagavam. Eram
Anita e sua “gang”, que se camuflavam para não serem per-
cebidos.
         Oscar também sorri após sentir que a tristeza havia
debandado daquele recinto por algum tempo. Izabel põe-se a
olhar fixamente para Oscar e Anita, que logo se aproximam
e, num abraço, viram-se para ela, que imediatamente abaixa
seu rosto e começa chorar.
         – Dona Izabel! Acalme-se – pede Anita – Tenha fé
em nosso Senhor Jesus! Vamos pedir a Deus que tudo fique
bem daqui por diante.
         – Anita, não me chame de dona, por favor, apenas de
Izabel, e me dê um abraço forte, bem forte! Não tenho nin-
guém mais a quem recorrer ou desabafar. Creio precisar de
vocês... Necessito de amigos, de bons amigos. Eles me fazem
uma falta danada na vida, pois até agora só tivemos falsos
amigos e também falsas amigas, que agora percebo claramen-
te que só queriam ver o circo pegar fogo, como diz o velho
ditado.
         Anita abre os braços e, chorando, neles Izabel se aga-
salha como se fosse o reencontro de duas grades amigas.
         – Como eu preciso disso! Abraços de verdade – diz
Izabel – Estranho, Anita, a impressão que tenho e a de que
nos conhecemos há muito tempo, e na verdade conheço você
há pouco mais de uma hora!
         Pelo que podemos observar, nos conceitos extrafísicos,
aquelas almas já eram velhas amigas. O reencontro delas nes-
ta vida não era mera coincidência, pois em vidas passadas
elas conviveram juntas fazendo parte de uma mesma família,

                                                            91
daí então, neste exato momento, ambas se reencontram para
seguir juntas e se beneficiar em suas evoluções espirituais.
Comove, aos que tem sensibilidade, o amor EM um encontro
desse gênero.
         Entre afagos e sorrisos, Anita e Oscar, envoltos pelo
amor, disseram a Izabel que seriam, a partir dali, os seus alia-
dos. Que ela não deixasse que eles ficassem ausentes, pois
isso eles jamais aceitariam. Houvesse o que fosse Izabel sem-
pre poderia contar com o apoio de ambos. Aproximaram-se
de João Eduardo por intermédio das orações e do amor ema-
nado pelos espíritos de luz. João, num sono profundo, mos-
trava-se também muito calmo.
       Todos se despediram e prometeram que no dia seguin-
te estariam ali novamente, no mesmo horário, para se ajuda-
rem. Anita também havia derrubado as desilusões, o tanto
que até ali tinha sofrido. Oscar, amedrontado com a resolu-
ção de Anita, pouco se expressava, pois tinha medo de algu-
ma palavra não se encaixar bem entre ambos e a situação
deles se tornar pior.

                                       O Mundo Espiritual
        Com aquela maravilhosa vibração, Lídia e sua legião,
sentindo-se fracos em suas nefastas vibrações, se afastaram
temporariamente de João. Os espíritos atormentadores e en-
raivecidos se afastarem, mas na promessa de que voltariam
duplamente mais fortes, e que Anita e Oscar também fossem
atingidos, para não serem mais intrometidos e nenhum em-
pecilho na vingança planejada por eles. Anita e Oscar deveri-
am levar uma boa lição.
        – Aquela infeliz da Anita – diz Lídia entre dentes –
Ela se dizia minha melhor amiga... Bem que poderia usar suas
forças para me ajudar, pois ela bem sabe o que eu sofri. Se ela
92
continuar persistindo, tiro tudo que está vindo de bom para
ela, inclusive seu filho. Um dos espíritos da legião, ali presen-
te, comenta:
         – Isso é muito bom! Lídia está se saindo melhor do
que a encomenda. Vamos lá garota, não dá mole! Bota pra
arrebentar e mate-a também! Passe as vibrações de seu cân-
cer para ela, assim como está fazendo com o canalha do seu
ex-amante.
Ao ouvir a palavra “mate-a”, Lídia, rancorosa, sentiu em seu
coração que não poderia ser assim tão calculista. Por enquan-
to aquela que fora a sua amiga ainda não a tinha prejudicado
diretamente, por não saber onde a alma de sua amiga se en-
contrava. Por algum instante Lídia se aquieta. Como o soprar
de um vento forte, sua alma sobe a um grande despenhadeiro
e lá, sozinha, ela começa refletir.
         – O que eu devo fazer? Anita também já sofreu tanto,
eu não tenho como. Não! Não devo mais sentir piedade de
ninguém! Mas Anita não! Tentarei fazer com que ela se afaste
de João Eduardo e de Izabel.
         Um espírito comparsa de Lídia que se encontrava por
perto, diz:
         – Ela não vai lhe ouvir! Ferra ela também!
         – Se ela não me ouvir, minha benevolência por ela se
acabará, e a transformarei em nada. Essa será a minha regra.
         No outro dia, Dr. Osvaldo presencia algo estranho e
sem explicação. O que estava acontecendo não tinha reflexo
científico. Pelo diagnóstico executado pela junta médica hos-
pitalar, adequada ao caso de João Eduardo, os médicos resol-
veram de comum acordo que seria aplicada a quimioterapia e
o tratamento se iniciaria nesse mesmo dia, no período da
manhã. Porém o que ocorreu é que pouco antes de iniciar o
tratamento, Dr. Osvaldo, ao entrar no quarto do paciente para
averiguar seu quadro, percebeu que João Eduardo não estava

                                                              93
no leito e muito menos no quarto. Preocupado, pergunta a uma
das enfermeiras o que havia ocorrido com ele, já pensando que
o pior poderia ter-lhe acontecido.
         A enfermeira responde que seu paciente estava no cor-
redor do hospital com uma ótima aparência, inclusive esperan-
do pela visita de seu médico para dizer-lhe que não sentia mais
nada. Que por sanar-lhe as dores, ele se sentia muito bem.
         Dr. Osvaldo enfim encontra-o numa outra ala do hos-
pital, conversando com alguns enfermeiros e dizendo-lhes que
Dr. Osvaldo poderia lhe dar alta. Uma alegria imensa havia
no semblante de seu paciente, o que fez com que o médico
parasse no corredor, ainda distante dele e, colocando as mãos
sobre o queixo, se perguntava o que realmente havia aconte-
cido. Parecia um tanto impossível, mas ali estava uma reali-
dade ainda desconhecida por ele.
         Foi algum sedativo? Ou teria sido algum engano quan-
to ao diagnóstico? Bem, teria que examiná-lo novamente, só
que aquele dia não seria possível. Não haveria de destruir a
felicidade do jovem senhor com suas dúvidas e curiosidades!
Como poderia estar curado um câncer nos rins diagnosticado
com total precisão? Como, se o tumor é totalmente maligno?
         – João, realmente eu não entendo esta sua melhora,
está tudo muito confuso para mim, não estou entendendo
nada! E olha que sou especialista nessa enfermidade. Vou
mandá-lo pra casa até que eu possa saber com certeza o que
está se passando. Qualquer coisa me procure, aqui está meu
telefone. Seja noite, dia ou madrugada, não se preocupe. É
só me ligar.
         – Eu não sei o que dizer quanto à minha saúde ou
quanto à enfermidade que se apossou de mim, Doutor. Só o
que sei é que durante a minha convalescença ocorreram
coisas estranhas.
         – O que, por exemplo?

94
– Ouvia palavras horríveis, que aos poucos iam se
desmanchando por meio de palavras santificadas.
         – Como assim? Você pode me explicar melhor?
         – Creio que não saberei lhe explicar nunca, Doutor.
Parecia uma execução de Deus contra a profanação. Eram
gritos terríveis, de um ódio alucinado! O que não se apagou
de minha memória a respeito desse sonho ou visão, não sei,
porque eu me sentia meio acordado, meio dormindo, algo
muito estranho. Apesar de não acreditar em nada disso, uma
frase ficou-me gravada na mente. De todas as vozes, havia
uma de bom tom, uma voz feminina que, parecendo entediada,
repetia por várias vezes a seguinte frase: “Você há de vir para
onde estou, pois esse é o meu desejo e o meu veredicto”. E
repetia como que se estivesse com ódio: “Você há de vir para
onde eu estou, pois esse é o meu desejo”. Por mais que eu
não acredite nisso, não consigo tirar de minha mente. O que
o senhor acha que pode estar acontecendo? Será um delírio?
         – Isso não há de ser nada, deve ser porque você ainda
está muito fraco, não se preocupe.

                                             Oscar e Anita
Oscar pede a Anita que vá jantar com ele, pra que possam
nesse ter uma oportunidade maior de diálogo referente à vida
de ambos.
        – Oscar, já lhe disse, siga o seu caminho. Não queira
colocar à prova o que a vida lhe propõe. Esteja certo que será
para você um caminho muito difícil, quase impossível. Nós
vivemos em mundos diferentes e eu não pretendo sair de
minha posição, estou feliz assim e me sinto bem.
        – Eu, Anita, vivo numa sociedade bem avantajada
financeiramente, mas nem por isso deixo os meus compro-
missos com as pessoas. Deus me deu o dom da fraternidade.
                                                            95
Isso a mim pertence e também sou muito feliz em poder
dividir com os meus irmãos deste plano, porque estou certo
de que a riqueza que herdamos verdadeiramente é o amor
ao próximo e a Deus. Sei que errei muito com você e mil
vezes lhe peço perdão e, se necessitar, outras mil vezes lhe
pedirei.
         Anita se cala diante das palavras de Oscar. Seus
olhos brilham de fulgor e lisonjeio pelo homem a quem tan-
to ama. Calada, porém orgulhosa em ouvir palavras doces,
tranquilas, serenas e exatas que lhe enchem a alma, pelo
justo fato de estarem frente a frente e próxima de uma pes-
soa realmente abastada em amor. Só que, quanto a ambos,
só tempo os instruirá.
         – Anita, jante comigo, lhe peço. Nem que seja esse o
nosso último jantar.
         Depois de Oscar muito insistir, Anita abre a guarda.
Aceita o convite e ele marca para logo mais à noite.
         – Às sete horas está bem?
         – Sim, está!
         – Então irei à sua casa para lhe buscar.
         – Está bem.
         – Mas uma coisa eu tenho de lhe perguntar: Será que
você virá mesmo? Perdoe-me pela pergunta, meu amor.
         – Sim Oscar, eu lhe espero. Afinal, sou uma mulher de
palavra.
         Beijaram-se na face como bons amigos, mas o coração
de amantes, em arroubos de amor, parecia saltar-lhe pelos
lábios.
         Por que Anita não cedia a ele o seu perdão? Talvez pela
justa razão de esperar que o tempo se incumbisse de todos os
motivos e razões. O tempo é quem curaria as feridas que ainda
permaneciam num fruto ainda verde ou amargo.


96
Durante o jantar, Anita explica os motivos pelos quais
ainda exita em aceitar ficar com Oscar.
        – Por que você mentiu para mim? Não havia necessi-
dade disso! Você se fez passar por um simples funcionário da
siderúrgica e ainda desprezou-me, por quê?
        – Veja bem Anita, a coisa não é tão simples assim.
Não foi bem uma mentira, foi o modo que encontrei para me
defender.
        – Para se defender de quê? Como assim? Eu não
entendi.
        – Eu lhe explico. Eu estava vivendo uma fantasia, ou
melhor, fazendo uma experiência comigo mesmo. Há dois anos
passados, bem antes de conhecer você, eu passei por uma
situação amorosa muito difícil e traumatizante. Pensava es-
tar vivendo um grande amor e, mesmo apesar dos meus 38
anos, foi a minha primeira experiência sexual e amorosa, e
por isso, ou melhor, por não ter nenhuma experiência em re-
lação ao sexo oposto, fui iludido ao entregar-me de corpo e
alma àquela mulher sem a mínima experiência, será que você
entende? Antes eu só pensava em trabalhar para assumir a
enorme responsabilidade que meus pais jogaram em minhas
costas. Logo que me formei, colocaram sob o meu comando
a siderúrgica. Estava imaturo, desprevenido profissionalmente,
porque até os meus vinte e cinco anos eu só estudava. For-
mei-me em Administração de Empresas. Por essa razão ar-
quei em minha vida um compromisso muito sério com o tra-
balho. Não foi nada fácil manter aquela empresa em pé, e a
minha primeira experiência sexual veio-me praticamente aos
trinta e cinco anos. E, de tudo que tenho passado, a única
situação que me fez amadurecer tão cedo em minha vida foi
o respeito e amor ao meu próximo. Isso sim, eu posso lhe
dizer, com clarividência, era o que meus pais me enfatizavam.
Por isso dou graças e louvo a Deus por ser assim, pois esse é

                                                           97
um dos maiores vínculos que tenho com a felicidade.
        Dos meus desenganos comigo mesmo eu cometi um
grande erro em relação a você. Foi realmente uma fraqueza,
ou falta de experiência amorosa, não sei. O que sei é que o
que estou passando, talvez seja o preço do meu aprendizado
ou da minha insegurança. Por isso Anita, é que tanto insisti
para que você jantasse comigo, pois se não soubesse um pou-
co de minha vida, a impressão que você teria de mim seria a
pior. Eu posso até lhe jurar que, a partir de hoje, mesmo que
você não se fique mais comigo, certamente estarei contigo
pelo resto de minha vida, juntos ou em pensamento, pois nin-
guém mais importa na minha vida.
        – Como assim, Oscar?
        – O nosso bebê é também parte de mim.
        – Estou ansiosa para fazer-lhe uma pergunta. Por que
os seus pais lhe deram essa responsabilidade tão cedo em sua
vida? E onde estão eles neste exato momento?
        – Anita, eu sou filho único. E é por esse motivo e
outros mais que tenho sofrido tanto em minha vida.
        – Oscar, da maneira que você fala, tenho a impressão
de que deve ser alguma coisa muito séria. Você não gostaria
de me dizer?
        – Não somente eu gostaria como lhe implorei tanto
para que você estivesse comigo neste jantar, porque preciso
de um ombro amigo para os meus desabafos. Tudo começou
com os meus pais fugindo da Áustria, por causa da guerra.
Eles vieram para o Brasil, onde aqui nasci. Eles estiveram
comigo até a minha tenra juventude e, que após me
empossarem em nossa empresa, eles desapareceram.
        – Mas o que aconteceu com eles?
        – Nada sei a respeito deles. E para lhe ser sincero,
tenho medo até em pensar. O que quero lhe dizer Anita, é
que meus pais me fazem uma grande falta, não tenho sequer

98
um parente aqui no Brasil, sou extremamente só.
        Anita, comovida com a história de Oscar, aproxima-
va-se mais dele para que ele pudesse sentir o seu apoio, o seu
carisma. Mas em alguns momentos também vacilava quanto
às palavras de Oscar, temendo que ele não estivesse dizen-
do-lhe a verdade. Curiosa, ela fazia perguntas tentando des-
cobrir algumas falhas que pudessem mostrar a fraqueza de
Oscar.
        – De onde é mesmo que os seus pais são?
        – Eles são austríacos. Naquela época, se os austría-
cos não se convertessem ao nazismo eram subjugados e se
tornavam inimigos de seu próprio país. Meus pais, não que-
rendo renegar a sua pátria, só tiveram uma alternativa: Fugir.
Mas para onde? O mundo era e é grande, mas para os que
viviam em guerra, como no caso da Europa que estava en-
volvida nessa situação, eles acreditavam que tinham de ir para
bem longe. Meu pai, ainda jovem, não se admitia ter de ir
para as frentes de batalha. Ele tinha se casado recentemente,
era filho de pessoas nobres e muito religiosas, portanto, tirar
a vida de qualquer ser humano era contra seus princípios. Os
seus pais, ou seja, os meus avôs colocaram os meus pais num
navio para que partissem em busca de paz, enquanto meus
avôs foram em busca da morte, para eles já não havia mais
como fugir. E foi aqui, neste belo e imenso país, que eles
foram acolhidos. Trabalharam muito e, quando eu me for-
mei, me entregaram a empresa e partiram para uma aventura
que eu sempre achei que fosse uma grande loucura, que era
voltar para a Europa de barco, assim como fora a fuga deles.
É como fazem alguns excêntricos aventureiros.
        – É por isso que não é correto você deixar que eu
compartilhe de sua vida e de seus bens, pois afinal, foi com
muito sacrifício que seus pais e você conquistaram os seus
objetivos.

                                                            99
Anita, mais uma vez para colocá-lo à prova, pergunta:
– E seus pais, estão aqui no Brasil ou na Europa?
        – Eu não sei. O que posso lhe afirmar é que soube, na
época, que a viagem deles não teria dado certo, pois uma
tempestade muito forte não permitiu que chegassem ao des-
tino. E era só o que eles queriam. Oxalá não tenha sido esse
o tributo que eles deveriam pagar.
        – Mas só havia eles dois no barco?
        – Não, além deles havia mais três pessoas. Um co-
mandante e dois imediatos.
        – E com eles, o comandante e os imediatos, o que
aconteceu?
        – Nada se sabe a respeito de todos eles. O comandan-
te e os imediatos foram em companhia dos meus pais por
dinheiro, por sinal foram muito bem remunerados.
        – Mas os seus pais estavam cientes do risco que
corriam no mar?
        – Mesmo sabendo que havia um grande risco, os meus
pais tomaram essa atitude por se tornarem egocêntricos, tal-
vez.
        – Não vejo nada de egocentrismo nessa história Os-
car, porque se era uma realização a ser feita, foi o que eles
fizeram: completaram a realização.
        – Me trocaram por uma realização mesquinha, como
lhe disse antes, egocêntrica. Eu, aqui sozinho. Eu e meus
gritos numa voz rouca, muda. Ninguém podia ouvir minhas
lamentações.
        Anita, sensibilizada, toca-o em seus braços dizendo-
lhe que ele não estava só.
        – E onde eles deverão estar?
        – Com certeza todos pereceram e fiquei sozinho, ór-
fão, mas muito bem financeiramente. Para que essa estabili-
dade? Para nada? De que vale essa riqueza? Para muitos, isso

100
significa sorte, liberdade financeira. Para mim, é somente um
vazio imenso, deixado por uma grande ferida chamada triste-
za. Perdi meus pais, não tenho você, e uma criança que agora
vem ao mundo para reviver uma história que parcialmente
irá se repetir: Um filho sem pai. Para ele será muito triste,
Anita. Eu, particularmente, nunca me acostumarei com a idéia
e a oportunidade que tive, mas o tempo amenizará mais um
destino que terei ou virei a cumprir. Deus seja louvado, Anita.
         – Abrace a vida Oscar...
         Ansiosa, plena no seu amor que reacendera ainda mais
forte em seu coração, Anita passa a querer lutar consigo mes-
ma em sua opinião, que a faria esquecer tudo para ficar para
sempre junto ao homem a quem tanto ama. Mas as provas
ainda eram insuficientes, pois Oscar teria a marcante presen-
ça de pai. Amedrontava-se ao pensar no desprezo que ele
poderia dar ao seu filho, e isso ela jamais aceitaria.
         – Até hoje Anita, eu me busquei tanto em minha vida!
Fiz nela coisas fantasiosas.
         – Como coisas fantasiosas?
         – O que eu quero dizer é que a minha fantasia ou
minha experiência foi a mais profusa, a mais vulgar que fiz, e
com quem fiz. Foi com você; eu machuquei a pessoa a quem
mais amo, e você provou-me com seu amor que devo ter for-
ça e vontade de viver. Hoje eu sei que fui ou que sou amado
não pelo meu status, mas pelo que sou. Pelo menos me resta
este consolo.
         – Uma pena essa sua fantasia. Para mim ela foi cruel.
Mas Oscar, você deve ter amigos. Pelo seu status, o que não
lhe faltam são amigos!
         – Amigos eu os tenho e muitos. Tenho amigos que me
abraçam forte, que choram comigo. Que se preocupam as 24
horas do dia comigo, até que eu me reative depois da bonan-
ça. Esses meus “verdadeiramente amigos” me procuram para

                                                           101
que eu possa proporcionar-lhes uma festa, dar-lhes um di-
nheiro emprestado ou quando necessitam de uma viagem ur-
gente para o exterior e me pegam como patrocinador. Esses
são os amigos que tenho. São maravilhosos, você não acha
Anita?
         Anita sorri dizendo-lhe que ela era a sua melhor amiga.
         – A sua amizade vem diretamente dos céus, você é o
meu anjo protetor, não posso deixar de acreditar em você. Se
eu fizer isso não acreditarei mais em mim, nem tampouco em
Deus.
         Anita abaixa o seu rosto, orgulhosa da grandeza por
ele prestada.
         – Um dia, já exausto de tanto oportunismo, decidi fa-
zer com aqueles amigos uma brincadeira. Disse-lhes que ti-
nha ficado pobre financeiramente, que estava falido e que só
estava vivendo de aparências. Os que estavam ao meu redor
desapareceram feito ratos de esgoto. Esqueceram-se das fes-
tas proporcionadas por mim, enfim, de tudo o que lhes era
satisfatório e simplesmente debandaram. Aquilo tudo me foi
muito engraçado, senti que as amizades eu não conquistava,
mas as comprava, e sempre por um bom dinheiro. Eles sumi-
ram, se dissiparam.
         – Eu, após este jantar delicioso e cheio de requinte,
vou ter que ir embora.
         – Pois leve a minha alma contigo. Certamente ela se
deliciará também. Você é diferente. É especial. E agora mais
do que nunca, porque é a mãe do meu filho. Eu a tenho a
minha família, quer você queira ou não.
         – Você tem certeza disso? Você tem certeza que A
criança que está no meu ventre é seu filho?
         – Eu sinto isso no mais fundo do meu coração e de
minha alma. Eu tenho plena convicção. Não é só mãe que
tem sexto sentido ou “intuição”, pai também tem.

102
Anita, na intenção de por Oscar à prova, diz:
        – Mas não é seu este filho, a sua intuição pode es-
tar errada. Anita tinha plena certeza de que o filho era de
Oscar, mas ela queria provocá-lo na busca de saber se ele
realmente a amava.
Agora era ela quem queria provas decisivas do amor de
Oscar.
        – Está bem. Mesmo que ele não seja, pelo que você
me afirma, deixe-me aprender a amá-lo, quero ser o pai dessa
criança. Prometo-lhe encher de carinho, tanto esta criança,
quanto você.

                      Minhas Três Vidas – O encontro
         Num banco de jardim, há ocasionalmente o encontro
de dois homens. Um deles ainda com ares de juventude, o ou-
tro, mesmo sereno, em sua fisionomia mostra sua idade avan-
çada, é um ancião. O velho senhor, num tom de paz e
tranquilidade, cumprimenta o jovem senhor.
         – Bom dia!
         O jovem num tom áspero responde: – Bom dia.
         – Hoje o dia está lindo e a temperatura está agradável.
         – É verdade. Mas quando temos algo para solucionar,
parece que o dia fica sempre escuro, as nuvens ficam negras,
pesadas. Mas tirando os problemas, o dia realmente está
muito formoso, lindo.
         – O senhor vem sempre aqui?
         – Não, não, só venho quando estou desocupado, por
isso é raro vir aqui. Hoje é um dia especial. Estou precisando
repensar minha situação e minhas pendências.
         O velho senhor percebe por meio da experiência de
seus longos anos já vividos, que o tom ingrato daquele jovem

                                                            103
senhor era de quem queria estar só. Não sabia o jovem que,
às vezes, a solidão só aumenta os problemas e o velho ho-
mem, percebendo que poderia ajudá-lo, o faria se necessário
fosse. Sabia aquele experiente ancião que por pior que fos-
sem os problemas do rapaz, não passariam de coisas fúteis
que a vida norteia e domina. Amigavelmente, o sábio senhor,
dirigindo-se ao jovem já quase amigo, lhe diz:
        – Problemas, meu jovem, enquanto tivermos vida eles
estarão sempre conosco. Imagine o senhor que tédio seria a
vida se não existissem os problemas? Problemas meu jovem
amigo, todos têm.
        O velho homem, olhando fixamente aos olhos do jo-
vem, senta-se, cauteloso pelo cansaço de seu corpo, num dos
bancos do jardim que estava próximo deles e estende uma
pequena bengala que estava em uma de suas mãos, colocan-
do-a encostada no banco. Depois, retira de sua cabeça um
chapéu simples e velho, de formato elegante, assim como ele-
gante também ele já fora. Tira o chapéu da cabeça e o pousa
no colo. Sussurrando, pede ao jovem, da mesma forma como
se pede a um filho, que se sentasse junto dele, para que fos-
sem apresentados um ao outro e pudessem iniciar entre am-
bos uma combinação de idéias e fatos que a vida preserva.
        – Sente-se aqui, meu jovem rapaz.
        – Com muito gosto, apesar de não nos conhecermos.
Perdão senhor, por não ter me apresentado antes. Meu nome
é João Eduardo.
        – Não há problema algum meu amigo, estou aqui ao
seu dispor. Fixe-se forte, para que alguém possa em você se
amparar, como sua esposa e filhos. O meu nome é José.
        Aquele homem, o Sr. José, tem uma história longa em
sua vida que, por mais resumida, ainda fica muito emocio-
nante. E isso não lhe tira o direito de falar o mínimo possível
dessa vida tão maravilhosa que nos serve de exemplo.

104
– Eu, meu filho, se assim puder chamá-lo devido a mi-
nha avançada idade, nasci em berço muito forte, na presente e
rica fonte do amor. Fui o primogênito de um amor intenso en-
tre um homem e uma mulher, cuja duração foi curta na vida
entre ambos. Já com os meus 10 anos de idade ganhei de pre-
sente dois irmãozinhos de uma só vez: João e Néu. Eles eram
tão parecidos que até meus pais os confundiam. Os gêmeos
chegaram pra completar a nossa felicidade e vedar os nossos
martírios, pois aos nove meses dos pequenos, nos vem a faltar
o nosso pai. Nessa época, minha mãe, ainda jovem, chorava
pelos cantos a ausência do companheiro. Foram tempos
vazios em nossas vidas.
         O velho José achou que deveria parar com a sua his-
tória, pois acreditava que era o seu amigo quem teria direito
ao desabafo, mas foi propositalmente que o ancião lhe con-
tou uma pequena parte de sua história, para que o jovem se
sentisse mais à vontade. Calou-se frente ao novo amigo, lhe
pedindo desculpas por falar demais.
         João, envolvido por uma história simples, porém
magnífica, não se opôs ao velho senhor, pedindo-lhe,
encarecidamente, que continuasse.
         Zé Tocador, como aquele velho senhor gostava de
ser chamado, diz:
         – Se você não se opõe, mas eu tentarei resumi-la ao
máximo.
         – O senhor terá o tempo que quiser.
         –Com o passar do tempo, minha mãe se casa nova-
mente com um senhor também viúvo, que trazia com ele um
“mundaréu” de filhos. Somados a nós, os seis irmãos e o ca-
sal, fizemos uma enorme família. Os anos se passaram e nos-
sos pais se foram. Ficou para mim a responsabilidade de edu-
car meus irmãos, e fiz o que foi possível diante de minhas
condições paupérrimas, mas com orgulho e humildade. Para

                                                          105
os irmãos que quiseram, tive a oportunidade de ensiná-los a
ler e a escrever, pois onde morávamos não existia escola. O
tempo continuou a passar... Os filhos de nossos pais se casa-
ram e tiveram os seus filhos. Alguns irmãos e filhos também
já se foram, pois havia chegado seu tempo. A mim, meu jo-
vem amigo, só me resta transmitir o que aprendi em minha
vida e mostrar para quem eu puder, que não vale a pena so-
frer pelas coisas ruins proporcionadas por nos mesmos, ou
também ser traídos por nossos atos ou nossos maus pensa-
mentos. Podemos chamar isso de causa e efeito. Agora me
conte, por que o meu novo amigo está demonstrando tanta
tristeza nos olhos e também em seu semblante? Apesar de
não termos nenhuma afinidade familiar, ofereço-lhe o meu
ombro velho, no entanto, amigo. Se você achar que fará bem
à sua alma, converse comigo.
         João, jamais pensando que na vida ainda existissem
pessoas que pudessem agir dessa maneira, sente-se comovi-
do, pois atos assim como esse se encontram pouquíssimo hoje
em dia entre pais e filhos. O tempo atual é insuficiente para
uma conversa; as pessoas parecem não ter mais tempo para
um bom bate-papo. Não existe mais tempo para falar, não
existe mais tempo para ouvir, mas o velho senhor faz a tal
oferta com muito carisma. Que tenham um bom diálogo.
         – Eu estou... Nada, deixe para lá. Não vou ocupá-lo
com os meus problemas. Desculpe minha curiosidade, mas,
quantos anos o senhor tem?
         – Apenas 94 anos meu jovem amigo, – responde o
ancião – mas a vida ainda me alegra. Sou um ancião muito
feliz, porque a felicidade mora dentro de nós, ou melhor, mora
dentro de nossa alma. Você é que me parece muito triste.
         – Nem sei se deveria abrir o meu coração para o se-
nhor, pois acabo de conhecê-lo. Mas a situação que passo hoje...
Tudo o que se refere à minha vida, setor profissional, afetivo,

106
em meu lar, tudo está ruim, tudo está se destruindo. E com
todas esses problemas, eu ainda me encontro muito enfermo,
praticamente desiludido pelos médicos. Estou com uma doen-
ça incurável que me esmaga a cada segundo de minha vida.
Sinto-me totalmente desamparado, inútil, sem perspectiva para
nada.
        O sábio Sr. José, percebendo que João Eduardo estava
completamente desconcertado, lhe responde:
        – Mas você tenha certeza de uma coisa: Após a
tempestade, segue-se a calmaria.
        – Eu já ouvi várias vezes essas frases, mas a minha
situação ainda é mais complicada que a tempestade.
        – Para Deus, meu amigo, nada é difícil. Não diga a Deus
que você tem um grande problema, diga ao problema que você
tem um grande Deus. Estou lhe passando este pensamento
que ouvi de alguém e que acho muito precioso. Veja você que
frase bonita, e é de autor desconhecido. Nós, meu amigo, te-
mos o privilégio de ter um grande Deus. Portanto, diante da
grandeza de Deus os nossos problemas se tornam ínfimo.
        – Sr. José, eu não sei mais o que fazer, estou desespera-
do. Os médicos constataram um grande tumor no meu rim e
não consigo nem me alimentar. Tudo parece me fazer mal. Mas
eu sinto que este tumor não é real, mesmo porque, nas resso-
nâncias que faço às vezes ele aparece e às vezes não. Tudo isso
eu acho muito estranho. A minha esposa, esta se deixou levar
pela bebida, uma quase alcoólatra já acima dos limites. Parece
que ouço vozes em minha casa, enfim, tudo está fora do lugar.
Só pesadelos e mais pesadelos, é horrível! Só angústia, tristeza,
discussão... Não tenho sossego nem consigo dormir. Os meus
filhos não querem mais estudar, estão, rebeldes. Eu sempre fui
um pai e um esposo extremamente generoso, tudo que me
pediam eu dava e, mesmo assim, tudo vai mal.
        O velho Zé Tocador, atentamente ouvindo as lamú-

                                                             107
rias do jovem homem, com comoção lhe toca o peito ao dizer
que tudo o que vem nesta vida passa. Tudo passa, menos a
sabedoria e a bondade de Deus. Um silêncio afaga os lábios
de João Eduardo, já farto de tristezas.
         – Nem sei por que estou lhe falando tudo isso, afinal,
o senhor não tem nada que se sobrecarregar com problemas
alheios.
         – Meu bom homem, você ainda é muito jovem, e pos-
so lhe afirmar que tenho muito a ver com a sua vida afinal,
você é um ser humano e, na condição de ser humano, somos
irmãos. Somos filho do mesmo pai, somos uma partícula de
Deus. Posso lhe sugerir uma coisa?
         – Pode sim, claro. É o que mais estou necessitando:
de sugestões.
         – Você tem alguma religião?
         – Minha família é de origem católica, mas há também
protestantes e espíritas. Eu não frequento nenhum desses lu-
gares, pois sempre trabalhei muito, sempre fui uma pessoa
ocupada.
         – Você precisa se aproximar de Deus, acredite! Tudo
poderá melhorar. Aproximar-se de Deus só nos faz bem.
         – E onde encontrar Deus? Eu nem mesmo sei como
fazer isso!
         – A dor é um mal provocado pela necessidade, por-
tanto é um mal que se cura, mas para a cura há a necessidade
da busca, a busca da fé. A fé é capaz de remover montanhas,
tudo é possível quando realmente acreditamos. A fé é a irmã
primeira do amor. Pense bem, meu rapaz, na existência de
Deus. Todo este planeta em plena harmonia, o dia que se
transforma em noite, a noite transformada em dia. É pura-
mente a Existência Suprema. Bela em formas pelas quais Ele
age, transforma, vivifica. Deus realmente existe, pois veja
como nosso planeta e outros foram planejados, a posição do

108
sol, da lua, das estrelas, das águas, com a percentagem de
70% e 30% de terra, enfim, tudo foi projetado de forma ma-
temática, de forma exata. Esta luz meu caro, é a irradiação de
Deus sobre nós, e para que possamos acreditar, basta apenas
olhar ao nosso redor.
        Um tanto distante da Terra... A Lua, as estrelas e o
sol. Tão próximo de nós as vegetações, o oxigênio, os pás-
saros – como belos são os pássaros! A multiplicação dos
alimentos que renascem pela terra todos os dias, enfim, isso
é uma prova mínima da existência de Deus. É questão de
analisar para depois crer, e pedir ao Pai, com humildade e
amor, para que ele nos dê o pão, o pão do saber. Se pedir-
mos com amor, certamente que jamais ele nos dará pedra
ou ignorância.
        Filho, se assim o posso chamar, tudo há de passar e
você poderá, num futuro muito próximo, ver a comprovação
do que lhe digo agora.
        – E o que o senhor me aconselha procurar? Que tipo
de religião para que eu possa estar em sintonia com Deus?
        – Haja de acordo com seu coração e peça, dê esse
tributo a ele. Certamente ele agirá corretamente, porque o
nosso bom pensamento só tem uma direção: Deus.
        O senhor José era incansável em suas palavras. Em
suas entranhas havia uma formosura inexplicável. Ele se ex-
pressava de uma forma elegante, amiga e carismática. Certa-
mente por ser muito maduro e estar planificado em seus co-
nhecimentos. Incansavelmente, ele continua.
        – Uma casa de oração sempre faz bem e ajuda-nos
muito. Nesses lugares, encontra-se o apoio de algumas pes-
soas humildes que expressam as palavras de Deus. Essa é a
sua vez, jovem amigo. As suas dores estão profundas, então
siga o amor de Deus através de suas dores. Não se regozije
das expressões de desprezo ou escárnio. Seja humilde e deixe

                                                          109
o seu coração agir. Ainda há tempo, eu lhe afirmo com toda a
convicção.
         – Mas que casa de oração? Existem tantas religiões
nesse mundo!
         – Procure um lugar onde você se sinta bem, pois nes-
se lugar você haverá de encontrar Deus. Não importa se é
igreja católica, igreja protestante, sinagoga ou uma casa espí-
rita. Siga o lugar que lhe aproxime de Deus verdadeiramente.
A você será muito fácil!
         – Vejo pessoas falarem das religiões atuais. Segundo
pesquisas, existem no mundo por volta de 68 mil religiões.
Pergunto para o senhor: Em que porta devo bater ou onde
devo entrar?
         – A informação que você obteve está totalmente fora
da realidade, pois não existe somente essa quantidade de
religiões, e sim milhões e milhões delas.
         – Como assim? O senhor pode me explicar melhor?
         – Sim, eu posso. O nosso coração é o templo de Deus.
Então, veja onde é que estão as religiões! Agora, o importan-
te é que participemos de reuniões para explanar as palavras
de Deus deixadas para nós. Mas observe um detalhe: Exis-
tem grupos de pessoas chamadas oportunistas ou usurpadoras
que usam as palavras divinas para obter grandes lucros, e as-
sim sugar as pessoas em nome de Deus. São pessoas profa-
nas, não os siga. Eles são como animais peçonhentos, estão
sempre cheios de um veneno que contamina e destrói. Um
bom lugar você conhecerá facilmente, pois haverá nele sem-
pre boas palavras, que expressam fervor e autenticidade na
palavra “solidariedade”, sem a ganância financeira. Aí sim,
entre corajosamente, entre de corpo e alma e ali você obterá
respostas positivas. A caridade e a solidariedade são cegas
meu amigo, não têm malícia, não pensam em bens materiais,
são suaves. A caridade é a irmã primogênita da fé, e a fé sem

110
a caridade transborda, porque caridade é amor, e amor é Deus.
A caridade, no entanto, é o vínculo da perfeição. Não permi-
ta jamais que a sua fé o faça mesquinho, que o torne indivi-
dualista. Isso poderá lhe transformar num ser totalmente
materialista que só pensa em seu grupo, nos que se reúnem
com você, mas todos os seres humanos são filhos do mesmo
pai, estando certos ou errados.
         Não deixe que ninguém venha lhe convencer com essa
situação elaborada, suja e sórdida. Seja solidário com o seu
próximo, sem o tal preconceito religioso. Viva mais intensa-
mente a sua vida e faça-se feliz. Mas lembre-se de uma coisa:
se receberes caridade, quando puderes, a transfira.
É a dadivosa mão a cultuar o amor ou a semente que faz
renascer. Mas cuidado com os que colocam Deus à prova.
Exemplo: Se você doar uma boa quantia em dinheiro, seus
problemas serão resolvidos. O dinheiro esta com certeza mais
ligado à ganância do que à solidariedade e ao amor a Deus, à
família e ao próximo, que certamente é seu irmão por ser ele
também uma partícula de Deus.
         Enquanto o Sr. José e João Eduardo travavam amiza-
de naquela praça, o que não perceberam foi o tempo em que
ambos permaneceram ali. Bastaram as poucas palavras ex-
pressadas por João Eduardo para que o velho senhor as deci-
frasse, para que João Eduardo ouvisse por horas seguidas uma
voz terna e carinhosa, cujas mensagens envaideceram o ami-
go João Eduardo como um ser existente e com esperança de
dias melhores, pois sendo ele uma criação divina, eterno ele
também seria.
         – Dependendo da condição ou da situação, senhor,
sem dinheiro nada é possível. Isso se vê mesmo entre as
religiões.
         – Dê a César o que é de César... Dê a Deus o que a
Deus pertence. Meu rapaz, a verdadeira riqueza que Deus quer

                                                         111
em nós é o amor. O dinheiro é coisa da terra, é produto e cria-
ção do homem, da matéria. Deus não está preocupado com
bens materiais, tributos, dízimos ou ofertas. Tudo o que há na
terra, pertence a ela. Porém, o que é do Céu, pertence também
a ele. A Terra é um mundo pequeno para a nossa eternidade; o
Céu, como dizem nos é eterno. Vamos pedir a Deus por essa
riqueza, a riqueza infinita do amor e do perdão.
         João, depois de ouvir tais palavras fica inquieto dian-
te do que teria feito em sua vida. Pensava nos seus feitos, na
sua soberania quanto ao seu próximo e trêmulo põe-se a cho-
rar. Aquele senhor o havia despertado para a vida, porém, o
que ele fizera talvez a própria vida não lhe daria oportunida-
de de perdão. Ele magoara a sua tão querida esposa,
desestruturando o seu lar e os seus filhos, fazendo de sua
companheira, uma mulher de traços delicados e de boa índo-
le, uma pessoa enegrecida pelo ódio e pelo rancor, tragados
em copos, no final de um vício profundo e frio. João Eduardo
tomara para si corações, assim como o de Lídia, para os dese-
jos ardentes do prazer e do dinheiro fácil. Mesmo profissio-
nalmente ele havia prejudicado várias e várias pessoas.
       João pensa: – Meu Deus! Eu fiz desordens em minha
vida! Que perdão é esse que eu terei que procurar?
         De todo esse seu pensamento confuso, amedrontado,
lembre-se somente de uma coisa: O coração ou o pensamen-
to é o meio ou o veículo de comunicação entre nós e Deus.
         De repente, José se levanta do banco e olha fixamen-
te para João Eduardo. Esse, sem ter o que dizer, levanta-se
também, ergue os olhos para o velho senhor e pergunta:
         – Por que todas estas recomendações? O senhor com
certeza é um religioso ou frequenta algum lugar. A que
religião o senhor pertence?
         – Não importa a minha religião, não quero que você
se sinta influenciado por mim. Siga o seu caminho, siga seu

112
coração. Na certeza de que alcançará o seu objetivo, fique
em paz. Até um dia, meu jovem amigo.
         João, emocionado, sentou-se novamente no banco
porque sentia uma dor profunda no peito. Não era nada refe-
rente ao seu estado de saúde. Naquele instante, o que ele
sentiu foi uma luz muito forte que estava se afastando dele.
Antes, sentira em seu ombro a mão de um homem de estatu-
ra alta, magro e de cor clara. Um homem cuja suavidade das
mãos parecia ter iluminado todo o seu corpo em plena luz do
dia.
         – Meu Deus, como a vida é infinita! Um homem a
quem eu nunca vi, se projetou em minhas dificuldades e trans-
mitiu-me uma filosofia altiva, trazendo para mim alívio e pa-
lavras de esperança. Estou quase sem dores.
         Naquele momento João estava quase sem dores, por-
que as vibrações de Lídia e sua gangue se tornaram fracas
diante da luz que permanecia junto de João. Essa Luz ou
energia fora deixada pelo Sr. José e, no plano espiritual, se
tornou uma luta descomunal.
         – Engraçado, eu aqui, sentado nesta praça, e aparece
esse senhor que me transmite uma paz tão grande, que me
faz sentir alegre, com ânimo e vontade de viver, apesar dos
tantos problemas que tenho. Eu não sei se o verei mais, mas
a partir de agora, com ele em meu coração, vou chamá-lo em
meu pensamento de “meu bom José”.




                                                         113
João e Izabel
         Depois de sair do hospital, João fora à praça para se
distrair e encontrou aquele senhor, “o bom José”, que lhe
aconselhou a procurar um lugar de orações na intenção de
que João tivesse um ponto de apoio, um porto seguro. Ao
retornar para casa, encontra-se com a esposa Izabel, que
preocupada já estava para sair à sua procura.
         – João! Onde você estava? Por que não avisou que ia
sair? Todos nós ficamos preocupados com você!
         – Ficaram mesmo? Que bom!
         – Lógico! Afinal, você é o meu marido e precisa de
cuidados.
         – Você falando assim eu me sinto lisonjeado
         – Anita e Oscar estiveram aqui para lhe fazer uma
visita e eu tomei a liberdade de pedir a eles para fazer uma
oração em seu favor.
         – Que bom! É bom saber que temos bons amigos e
que eles se preocupam com a gente.
         – É, certamente que eles são amigos e não falsos como
aqueles aproveitadores que vinham orar por você, com a bíblia
numa mão e uma sacolinha na outra, para que déssemos uma
oferta para Deus. Engraçado, depois que a gente passa por
certas situações é que começamos a enxergar o lado profano
das pessoas.
         – Izabel, eu ainda não lhe contei o que foi que me
aconteceu na praça.
         – Mas que praça é essa?
         – É essa que fica aqui perto de nossa casa.
         – Sim, sei. E o que houve?
         – Conheci um senhor de 94 anos de idade. Gostaria
que você visse a simpatia que ele é e o carisma que ele tem.


114
Ele me passou uma paz magnífica com seus conselhos, tive
até vontade de convidá-lo para vir aqui em nossa casa.
        – Mas porque não o convidou?
        – Tantos foram os seus bons conselhos que passamos
horas a fio conversando. No final, eu estava tão emotivo que
quase não percebi quando ele já estava indo embora. Ao se
despedir de mim, eu tristemente chorava pela comoção de suas
palavras. A impressão que tenho, até o momento, é que ele
deve ser uma grande pessoa perante Deus, só mesmo você
ouvindo para me dar razão, Izabel.
        – Pelo tempo que nós nos conhecemos como marido e
mulher, tenho convicção plena de suas palavras, João. Mas o
que foi que ele lhe disse? E onde podemos encontrá-lo?
– Onde encontrá-lo eu não sei, mas ele me aconselhou, entre
outras coisas, que fosse à procura de uma casa de oração, não
importasse onde. Que eu seguisse o meu coração e fosse, devi-
do também à necessidade que estamos passando em nossas
vidas. Que deveríamos procurar Deus para sermos felizes.

A Guerra
       Oscar e Anita agem de maneira discreta quanto à cren-
ça seguida por eles, para que João Eduardo e Izabel não se
sintam influenciados. João e Izabel, de origem católica porém
não praticantes, ao tomarem consciência de suas ligações com
Deus passam a frequentar a igreja, mantendo em suas casas
orações e pedidos em favor da paz e da saúde.
       Certo dia, ao participar de uma missa na igreja que
frequentava, João Eduardo sente uma crise fortíssima e é
imediatamente socorrido, justamente por um padre que esta-
va em visita àquela paróquia. O nome do padre era André e,
além de padre, era também um médium sensitivo. Só que,
ele além de não saber nada sobre mediunidade, nem

                                                         115
imaginava que a sensibilidade espiritual que trazia com ele
era parte de seu dom.
        Ao aproximar-se de João Eduardo, Padre André sen-
te algo estranho. Ao tocá-lo, começa a ter estranhas sensa-
ções a influenciar seus pensamentos, sensações cobertas de
ódio e injurias. Que coisas estranhas estariam acontecendo
com aquele homem? O padre, confuso, não soube explicar.
Porém, percebeu que havia algo errado, pois as dores que
João sentia possuíam vibrações ruins, maléficas, e uma re-
sistência forte quando alguém tentava lhe amparar ou lhe
tocar. As dores pareciam insuportáveis.
        Naquele instante, o padre, tentando socorrê-lo, de
repente se ergue e, como se estivesse nele outra pessoa, mais
resistente e forte, diz com autoridade:
        – Solte este homem! Saiam dele, eu vos ordeno!
        Os católicos fiéis que ali estavam ficaram abisma-
dos com a atitude daquele padre que, cruzando os braços
de João, continua a dizer:
        – Saia deste homem! Saiba que está muito próxima a
sua resignação. Assim como Jesus retirou os espíritos e nos
deu esta autoridade, em nome de Deus eu ordeno: Afaste-
se deste homem!
        João, um pouco mais tranquilo e já sem dores, ao
perceber que aquele homem o havia auxiliado, beija-lhe as
mãos e humildemente lhe agradece. Algumas pessoas ali pre-
sentes, por nunca terem presenciado uma cena daquele gê-
nero antecipam os julgamentos, dizendo em voz alta que o
padre visitante não pertencia nem a igreja e nem a Deus,
pois o que fizera ali, na presença de todos, era puramente
obra demoníaca.
        – Onde já seu viu? Falar com demônios! Pois que
fosse também um deles, porque eram os demônios que
podiam falar entre si.

116
Foi o que muitos adeptos comentaram por falta de
conhecimento sobre o fenômeno. Padre André se dirige a João
Eduardo e lhe aconselha a procurar ajuda.
        – Saia daqui agora mesmo e vá procurar uma boa casa
espírita, pois lá o seu caso será resolvido. Mas seja rápido,
pois se você não se cuidar, irá para um buraco sem fim levan-
do consigo a sua família. Sua companheira está se tornando
uma alcoólatra, ela precisa acabar com aquele vício. Seus dois
filhos estão rebeldes, perdendo o interesse pela vida. Pense
bem moço, você não está doente. Este mal que está com você
não é doença física nenhuma. Os médicos estão sem saber o
que fazer com você, estão perdidos e não sabem como lhe
curar.
        As palavras de Padre André eram insistentes e piedo-
sas. Ele quase que implorava em tom baixo para João Eduar-
do e sua esposa, de forma que somente eles o escutavam. Já
não havia mais alternativas. O que deveriam fazer era seguir
as palavras ditas por lábios nobres.
        – Então o senhor acha que devo ir?
        – Sim, e o quanto antes, pois o que você tem não é
doença física, meu filho, é uma vingança contagiosa e vulgar
que pode destruir você e sua família. Ainda bem que não lhe
aplicaram a quimioterapia ou outras drogas incompatíveis com
seu organismo. Isso, graças aos seus anjos guardiões. O médico
que está lhe prestando cuidados é muito bom, tem pesquisado
constantemente para solucionar o seu problema. Porém, o que
ele não sabe é que o seu caso é espiritual. Procure o quanto
antes uma solução espiritual que esse problema será sanado.
        Os mentores transmitiam ao Padre André e ele disse
a João que seguraria as energias nefastas que sombreavam o
seu corpo por pouco tempo, por serem muito pesadas e
malignas.
        João Eduardo, abismado com a situação, perguntava-

                                                          117
se como aquele homem sabia de suas coisas pessoais. Era
tudo muito estranho.
         Algumas pessoas que estavam ali comentavam. –
Realmente o padre tem demônio.
         Ali, dentro da igreja, a ousadia de Lídia e sua gangue
foi incrível. O mundo espiritual, naquele recinto, transmutou-
se em guerra, com situações horríveis entre anjos e quiumbas
(espíritos obsessores). Lídia gritava...
         – Largue-me, eu já te disse, largue-me! Quem é você?
         – Eu sou o mensageiro das estradas.
         – Como você é bonito e forte!
         – Eu não estou aqui para a sua apreciação, estou aqui
para retirar-lhe deste recinto e do corpo a quem tanto atordoas.
         – Mas será que a sua prepotência é dessa maneira que
você está mostrando?
         – Eu não tenho prepotência alguma, tenho autorida-
de para expulsar-lhe daqui. Vamos, saia daqui.
         – Então veremos... Steph, Joab, Ruan! Convido todos
os meus comparsas para o ataque.
Somos uma legião, uma legião de maus espíritos. Veja que há
uma grande desigualdade; você está só, mas veja só quantos
somos!
         Lanças e espadas plasmadas fumegavam no templo...
Medievais lutavam na defesa e no ataque. O que Lídia não
sabia é que conhecimentos milenares são guardados no Uni-
verso espiritual. Bastou um sopro para que a defesa vencesse
o ataque num só instante.
         Enraivecida, Lídia pede caminho para se retirar. Seus
lábios flamejantes juraram vingança. Não se calaria nem se
acalmaria enquanto não visse o homem a quem tanto queria
ao seu lado, ou melhor, em suas mãos para o seu bel prazer.
Caído, esmagado e uivando como um cão a procurar pelas
sombras da noite por seu esgalgado corpo em decomposição.

118
Era dessa maneira que Lídia desejava João. A força do
seu ódio a deixara desnorteada. Estendia a sua jura a todos
que estavam ali presentes em espírito. Só não blasfemou o
padre porque sabia da importância supra daquele persona-
gem no mundo da espiritualidade, tendo ele, para sua prote-
ção, o zelo de um mensageiro, um grande guardião que lhe
acompanhava há várias encarnações. O padre era um grande
médium, apesar de não ter consciência de sua mediunidade.
         Em meio a toda aquela atribulação, Padre André não
possuía a visão dos imortais, porém, pressentia a desarmo-
nia, as contradições e a vitória! O que Padre André não sabia
é que ele fora conduzido àquela igreja por seu mentor e pela
Graça Divina, e de como importante fora ele ter sido enviado
por bons espíritos e por Deus para salvar a vida de João Eduar-
do, que já estava predestinada por aquela legião à sua fatali-
dade e total destruição de sua família.

Amantes Eternos
          O dia se finda, a noite se faz presente. É hora de
refletir, de fazer o balanço diário. Depois de um grande susto,
ao saber daquele acontecimento e receber seu marido em casa
ajudado por mãos amigas, Izabel senta-se com seu marido no
sofá da imensa sala de visitas que havia em sua casa. Imó-
veis, se olham profundamente e num só instante falam em
uma só voz:
          – Meu Deus! O que está acontecendo conosco?
          Ao sentirem as mesmas palavras, os dois se põem a
chorar, aproximam-se um pouco mais os corpos e se abra-
çam, rogando a Deus o perdão que aliviaria suas culpas, pois
já se arrependidos queriam, além da saúde, obter paz e felici-
dade. Na verdade, João acreditava que por muito pouco ain-
da viveria, mas se o pouco que Deus lhe concedesse fosse

                                                           119
suficiente para reparar pelo menos algumas de suas falhas,
ele ficaria feliz.
          Quando não transformado o ser humano pelo amor,
surge para si a dor. E a dor, dependendo das circunstâncias,
resulta em sofrimento e aprendizado, que pode lapidar o ser
físico e o ser psíquico, elaborando, na grande maioria dos seres,
traços em seus escaninhos. A dor é persistente, é cruel e noci-
va... É bendita.
          João Eduardo tenta suportar os golpes da dor. O su-
cesso profissional fora para si o primeiro salto. Vem-lhe a mor-
te dos pais e, logo após esse triste episódio, outros insucessos
tais como o seu próprio massacre profissional. Sua conquista
foi ter requisitado para si como esposa uma jovem mulher, bela,
de boa índole familiar, culta, mas que após anos vividos em
comum se transforma em uma mulher amarga, cujo vício do
álcool a deixa completa de dissabor e aflita para sair das obscu-
ridades da vida, pois ainda persiste muito para sobreviver. João
Eduardo, que depois de tempos acostumado com as regalias,
traz na vulgaridade de sua cobiça a exaltação, iludindo e depri-
mindo com o seu status social pessoas inferiores, irresolutas e
incoerentes, em cuja permuta recebe vingança. Talvez esse
tenha sido o seu pior erro ou seu grande aprendizado. Um erro
que tem nome, que se chama traição ou Lídia!
          Izabel se tornara o seu ponto de amparo. Ele sofrera
até ali o bastante para pedir-lhe perdão, por mil vezes se neces-
sário. Ela o abraçava amparando sua cabeça em seus seios.
Mesmo ainda sujeita ao domínio do álcool, ela requisitava para
si forças extraordinárias para o acalento de todos de sua famí-
lia. E Izabel estava ali, para João. Após aquele episódio mara-
vilhoso com Padre André, como que em um passe de mágica
Izabel se tornou dócil e mais protetora. O espírito de Lúcio,
que também estava envolvido naquele esquema sórdido, fora
afastado juntamente com a gangue de Lídia e do tal feiticeiro.

120
Os filhos
         Naquele dia, João Eduardo recebeu o afago dos seus
dois filhos. Foi maravilhoso o final de noite no aconchego da
família, que boa aquela troca de carinho com esposa e fi-
lhos... Será que tudo voltaria a ser bom como fora há tempos?

                                   A Igreja - O Episódio
        – Izabel, eu estou assustado. O padre não é daquela
paróquia, eu não o conhecia, nunca o tinha visto na minha
frente! Como ele sabia de tudo aquilo? Dos meus problemas,
que sou casado e que tenho um casal de filhos? Como pode?
Falou-me até das bebidas que você toma diariamente... Ele
falou-me de coisa íntimas, que estão só em meus pensamen-
tos! Disse-me também que não é esta doença que vai me matar,
porque na realidade eu não estou doente, que se eu não pro-
curar uma casa espírita posso desencarnar muito em breve,
porque há em mim um espírito perverso no desejo de vingan-
ça. Ele pediu-me, Izabel, por a minha própria vida que eu vá
o quanto antes, porque ele não pode e nem tem condições de
segurar essa energia ruim por muito tempo. O que faço, Izabel?
        – Vamos procurar ajuda. Nos informaremos com al-
guém onde podemos encontrar um lugar sério para irmos.
        – Eu não gosto desse negócio de “macumba”, mas
diante de tudo o que nos tem acontecido, me parece ser a
única maneira, ou a nossa ultima tentativa. É o único jeito, e
espero que esse não seja o último lugar, mas o único que
temos para os nossos apelos neste momento. Agora eu estou
sem aquelas crises, estou ótimo. Vou andar um pouquinho ali
na praça para apreciar o movimento e pensar em como
vamos fazer, porque no momento me sinto perdido, sem

                                                          121
iniciativa. Fazer o quê? Que atitude tomar? Não vamos nos pre-
cipitar com as nossas palavras, pois na vida há dois caminhos: o
ruim e o bom. Mas repito: não gosto desse negócio de macum-
ba. Creio que já temos sofrido o bastante para não sabermos
diferenciar o bem do mal. Que procuremos o bem, pois ele exis-
te, assim como existem bons evangélicos e bons padres, haverá
de existir também bons espíritas.
         – Tenhamos calma, pois certa estou João, que Deus está
nos iluminando. Ele nos enviará o pão da misericórdia para nos
saciar, assim como também indicará o caminho certo, por isso
não devemos temer. E quando você for à praça não demore,
para que eu não fique preocupada. Está bem? Por favor!

Padre André
         Um jovem que por vocação optou pela religião católi-
ca para ser seu ponto de comunicação com Deus. Um homem
religioso cuja herança era sua conexão sublime com as divin-
dades da Natureza. Um homem que tem dotes exclusivos, por
se sobressair de uma seleção conquistada por pouquíssimas
pessoas sensíveis e extremamente refinadas. Entre eles não há
competidores negativos que possam induzir-se ao sistema ruim.
         Padre André foi criado por pais adotivos na vida ma-
terial. Uma família de dois filhos legítimos, perfazendo-se com
ele e mais outros dois, quatro filhos. A união e a religiosidade
que havia nesse lar eram intensas em luz entre os quatros
filhos do casal, sendo dois legítimos e dois adotivos. Um de-
les se tornou um excelente médico, a filha uma das melhores
psicólogas e o terceiro se tornou um bom pastor, voltado para
o bem como poucos, de uma igreja evangélica que conduzia
seu rebanho sempre para o bom caminho, aliviando pais de
família que tinham filhos problemáticos por causa da bebida
e das drogas, além do excelente Padre André.

122
A filosofia de vida que possuíam era um modelo interes-
sante, exemplos que deveriam ser rotineiros e seguidos pela so-
ciedade humana. Por sermos seres racionais, que se dizem supe-
riores, deveríamos nos prostrar diante de situações que outros
praticam diante de nossos olhos e que pouco percebemos ou
não queremos nos dar conta.
         Vamos nos igualar às andorinhas, que têm filhotes de
várias idades. Quando os mais velhos iniciam seus vôos, a
prova de gratidão que têm com os pais é regressar ao ninho
para ajudá-los na criação dos irmãos mais jovens, que neces-
sitam de alimento para também sobreviverem. É assim que
as andorinhas constituem a família, sempre se auxiliando e se
protegendo. Tudo isso é simplesmente uma comparação com
a família do padre, que praticou e deu certo, pois foi desse
modo que os filhos se ergueram na vida.
         Padre André foi um privilegiado por ter sido criado
nesse seio familiar. Sendo ele o filho mais jovem, recebeu
guarida e muito amor de pais e irmãos. Isso fez com que esse
religioso, hoje em dia, divida seu pão com os irmãos, não
negando ajuda a nenhum necessitado. Ele faz o que tem de
ser feito para outrem não por caridade, mas por obrigação
humana e solidariedade, pois para ele a caridade é vivificada
por Deus. Talvez seja esse o motivo de Lídia nem mesmo
conseguir pensar em algo errado.
         Na realidade, o padre tinha vibrações de espíritos que
rondavam estradas, mas exclusivamente para socorrer víti-
mas em acidentes fatais. Essas vibrações, ou seja, esses espí-
ritos socorriam almas de corpos recém-desencarnados, enca-
minhando-os para o mundo extrafísico com carinho e muito
consolo. Lógico que para aqueles que aceitavam os espíritos
socorristas ou os espíritos amigos.
         Padre André não sabia a altura que se encontrava sua
mediunidade, muito menos lhe passava pela cabeça ter esse

                                                            123
dom. Às vezes estranhava a si próprio por acontecimentos
como o de João Eduardo, que acabara de vivenciar. Em seus
momentos de fraqueza, tentava até se reprimir excomungan-
do-se. No entanto, ao se colocar como uma pessoa compre-
endida na religiosidade, além da dedicação e clemência a
Deus, ele se redimia, certamente para avaliar as situações
estranhas ou fenômenos que ele presenciava. É claro que se-
riam maravilhas emanadas por Deus, pois se assim não fosse,
jamais deixaria algumas pessoas felizes com os seus feitos,
pois tudo que é bom e traz felicidade pertence a Deus, por-
que pertence ao bem. Às vezes acontecia alguma dessas situ-
ações em lugares não adequados, como no caso de João na
igreja. Cite-se inadequado pela interpretação dos ignorantes,
pois o caso de João acontecera no lugar exato.
         Padre André jamais deixou de buscar esclarecimen-
tos quanto às suas dúvidas. Ele se aprofundava mais, toman-
do as atitudes que necessitava para desvendar o que na ver-
dade havia de mistério.
         Após algum tempo de busca entre religiosos, religiões
e estudos afins, o padre chegara à conclusão de que era um
médium nato e que haveria de abraçar e cumprir sua abençoa-
da missão. O que ele não sabia é que esse dom da espiritualidade
era trazido de sua descendência, já muito antes de seus avôs.
Isso foi verificado através de estatutos de sua arvore
genealógica, guardados como relíquias por seus avôs paternos,
mais tarde encontrados por ele e desvendados.

                                                    Na praça
        Apos João caminhar por quase uma hora, resolve vol-
tar e sentar-se no banco da praça próxima de sua casa. E eis
quem estava sentado próximo a ele: Sr. José!


124
– Boa tarde João, Como vai? Está com a aparên-
cia boa, com toda certeza você está bem.
        João, de imediato não reconhecera a voz. Após se
virar para o lado, verifica quem é a pessoa que lhe sur-
preende e se alegra, pelo fato de desejar rever o Sr. José.
        – Boa tarde Sr. José, que prazer imenso em
reencontrá-lo! Que surpresa maravilhosa! E o senhor não
esqueceu o meu nome!
        – Mas por que eu haveria de esquecer o vosso
nome?
        – Pessoas boas iguais ao senhor a gente não pode
esquecer a imagem.
        – Eu, pela minha idade, até que poderia esquecer
o vosso nome, mas o seu semblante jamais. Pelo que vejo
você também não se esqueceu do meu nome, apesar de
que José, Zé, Zezinho... Fica tudo igual. Se esquecer um
nome, existe outro. Não é mesmo?
        João Eduardo estava tão emocionado com aquele
velho senhor ali, se fazendo presente à sua frente e com
tanta humildade, que as palavras não saiam de seus lábios,
ele somente sussurrava.
        – É realmente fantástico! Graças a Deus, que ma-
ravilha! Eu estou muito feliz em vê-lo, Sr. José! Agora
estou melhor ainda, bem melhor que há dois minutos pas-
sados. Gostei muito da sua presença e dos conselhos que
me deu no outro dia, mas pensei que nunca mais o veria.
        – Você me dizendo que gosta de minha presença?
Fico muito lisonjeado, porque o senhor não me conhece
bem ainda. Sou um velho jovem muito arteiro, gosto de
festas, de música e de piadas picantes.
        Ambos começam a sorrir. João Eduardo, sentado
no banco, se levanta e precipitadamente vai a ele para
um abraço. Ao aproximar-se tenta recuar, mas não havia

                                                       125
tempo para retornar, pois os braços do velho homem, já
abertos, esperavam pelo aconchego do seu novo amigo.
        – Aceite meu filho este abraço que você buscou, e
que eu o receba com muito afeto e muito amor a Deus celestial.
Seja bem vindo em meu coração. Posso lhe chamar de amigo?
        João, buscando-lhe os braços, pede para que ele se
sente no banco da praça nem que fosse por um minuto ape-
nas, por ter uma grande necessidade em falar-lhe.
        – Meu jovem senhor, o meu tempo será o vosso. Fi-
quemos na paz de Deus o tempo que nos for permitido.
        – Vamos combinar uma coisa? O senhor me chama
de amigo e eu o chamarei de meu bom José. Posso? E o
senhor me chamará de você. Então, vamos combinar da se-
guinte forma: nenhum de nós dois será chamado de senhor,
porque na verdade senhor é o Pai que está nos Céus.
        – E lhe afirmo, estou muitíssimo honrado com esse
seu modo, meu jovem.
        Sentados no banco da praça, João Eduardo, um ho-
mem prepotente, ambicioso e materialista, que somente pen-
sava em cálculos, hoje, no entanto, carinhosamente sorri e se
emociona ao dialogar com um senhor de palavras simples,
porém singelas e cheias de candura. Quando é que ele se sen-
taria numa praça para conversar com alguém?
        Os ensinamentos alcançados pelo tempo fizeram sim,
João Eduardo amadurecer e alcançar alguns conhecimentos.
Agora, um João, que de tanto sofrer por se equivocar da vida,
já não mais repudiava o próximo. Era um ser ainda cheio de
falhas, mas partir dali com algumas virtudes. João sentia ago-
ra um espaço maior em sua vida. Modestamente forte, que-
ria vencer em igualdade com o seu próximo, porque, mesmo
estando consciente de sua mortalidade, o que ele desejava
era vencer as sequelas da imoralidade, sendo, no entanto,
autêntico até o seu último instante.

126
– Meu bom José! Acontecera-me algo extraordinário
que me deixou impressionado. Não sei o que o senhor irá
pensar e nem sei como lhe dizer, mas tenho de lhe falar.
         – E o que foi que lhe aconteceu de fantástico, de tão
extraordinário, João?
         Nesse dia, o velho José se põe a ouvir as lamúrias dos
sortilégios que João estava enfrentando para sobreviver, como
via de regra, para a sua evolução. João Eduardo ia elucidando
ao velho homem o passado de sua vida ao mais recente acon-
tecimento que lhe ocorrera, concluindo a sua história com o
ocorrido entre ele e Padre André dentro da igreja.
         – Meu bom José, o padre me pediu para que eu fosse
rápido à procura de alguém que pudesse me ajudar. Pelo fato
de eu não acreditar em bruxaria ou coisa parecida, não tenho
ânimo e nem mesmo faço idéia de onde buscar alguém que
possa me auxiliar. Tenho medo de cair nas mãos de oportu-
nistas, assim como já aconteceu, e as coisas só piorarem.
         – João, tudo o que há na Terra é criação Divina. Nós,
com os nossos percalços, é que transmutamos, através da
poeira de nossas mentes, coisas boas em malfazejas. Nada,
meu amigo, pertence ao diabo. Diabos somos nós mesmos ao
usarmos o exclusivismo e as nossas ganâncias. Quando te-
mos más atitudes e falta de solidariedade, certamente que o
diabo está conosco, ou que sejamos o próprio, porque Deus,
em sua infinita bondade e amor por sua criação, não iria criar
diabo com chifre e rabo e nos entregar a ele por condenação
eterna. O que existe na verdade são bons e maus espíritos,
cada um de acordo com seus atos ou pensamentos. O malfei-
to atinge, mas pega justamente em quem não tem Deus em
seu coração, ficando exposto e vulnerável ao mal. Existem
sim, claro que existem espíritos do mal, e eles são vingativos,
abomináveis e sádicos. Mas só existe um meio para resolver

                                                           127
tudo isso, que é tentar salvar esses espíritos, porque, por mais
que eles não queiram ser ajudados, com certeza estão à procu-
ra de um lugar ao sol. E para quem está com pensamentos
positivos e voltados para as coisas benignas, esta classe de es-
píritos avança, mas não consegue penetrar. É muito fácil afastá-
los, pois a oração para eles é o pior dos venenos, pois na com-
posição da oração sempre há o amor. Para a esfera deles a ora-
ção é incômoda, prejudicial, pois seus principais aliados são o
ódio e a vingança e, em alguns casos, a vingança dura por vari-
as encarnações, pois cada caso é um caso.
         Em meio ao diálogo entre ambos, João Eduardo come-
ça a perceber o grau de conhecimento e sabedoria de seu ami-
go, o “bom José”. Ouve de sua suave voz palavras fecundas e
infinitamente formosas, que adentram no mais profundo de
seu coração. Palavras segredadas em amor e fé.
         – Meu bom José, qual é a sua religião?
         – Isto no momento não importa, porque não quero lhe
influenciar, como lhe disse da outra vez em que nos falamos.
         – O senhor falou em ganância. Então é pecado a gente
ter as coisas, ou melhor, lutar para ter um bom dinheiro?
         – João, veja bem. Em primeiro lugar, o pecado não exis-
te. Trabalhar, criar oportunidades para ganhar dinheiro ou para
ficar rico, não é errado. Errado ou pecado, como queira, é es-
magar o seu próximo com o poder, é pisotear as pessoas para
vencer na vida, iludindo-as por vezes, para tomar-lhes os bens
que a maioria conquistou de forma sacrificada e honesta. É a
corrupção, agir com má-fé e usar de calúnia ou iludir as pesso-
as para levar vantagens. Isso sim é que acaba por atrasar a evo-
lução do ser humano, tanto no plano terreno quanto no
extrafísico, pois não existe efeito sem causa. A Lei de “Causa e
Efeito” é uma das maiores leis, escolhida por Deus e colocada
no Universo pra reger o homem encarnado e o homem em
espírito (eterno), tanto neste plano como no espiritual. Por ser

128
magnânima, funciona 100%. Quando ouvir alguém dizer que
Deus vai castigar o indivíduo, isso pode se chamar de balela,
pois se está levantando calúnia contra Deus ou, pode se cha-
mar de ignorância, porque se Deus é amor, como pode Ele
usar o ódio contra seus filhos ou a vingança? Não, isso não é
possível e nem verdade. Agora, dizer que essa Lei criada por
Deus traz resultados, isso sim é correto. Somos nós, meu
amigo, que geramos o efeito criado por nossas faltas.
        A conversa se tornara muito participativa entre
ambos, e não contaram horas nem cansaço. Naquele dia, o céu
tinha um azul especial; as flores se mostravam espetaculares
em perfumes e cores, afinal, era primavera e a vegetações aca-
bara de renascer. Um frescor suave se delineava entre eles num
cheiro agradável de leite materno. Quem sabe não seria a Mãe
Natureza revidando-lhes a graça de suas palavras. De repente,
o velho homem, o bom José, se levanta do banco para o
momento do adeus.
        – Meu bom José, gostaria tanto que o senhor fosse à
minha casa para fazer-nos uma visita. Eu, minha esposa e
meus filhos ficaríamos muito felizes com a sua presença.
        – Agora meu amigo, você me deixou emocionado.
Um dia, se Deus permitir, lá estarei com vocês para um café
e uma boa conversa. Obrigado pelo carinho de seu convite.
Mas não vou deixar de dizer-lhe que amanhã você terá visi-
ta em sua casa, e que lhe trará boas novas. Um casal, duas
pessoas que se tornaram seus bons amigos, e que irão aju-
dar muito você e sua esposa. Desejo-lhe boa sorte, e tenho
certeza de que terá.
        Ao chegar à sua casa, João é recebido com alegria
por Izabel, já preocupada com ele.
        – Mas o que houve com você? Parece-me tão estranho!
        – É que tudo de bom tem nos acontecido, por isso
estou feliz assim.

                                                           129
– Mas o que houve de tão bom assim que você parece
não querer me contar?
        – Eu lhe contarei minha princesa, com todos os
detalhes.
        João Eduardo, ao chamá-la de “minha princesa”, fez
com que Izabel se sentasse numa poltrona que estava ao seu
lado e, derribando-se em choro, repetiu:
        – Princesa... Você nunca mais havia me chamado dessa
forma, “minha princesa”!
        João se põe de joelhos frente a ela e a abraça, deitan-
do a cabeça em seu colo e repetindo “minha princesa” várias
vezes seguidas, acariciando-lhe o rosto e os cabelos, para num
pranto, sussurrar que a amava.
        Passada a forte emoção que se abatera sobre eles, João
conta a Izabel sobre seu reencontro com o amigo José.
        – Mas por que você não insistiu pra que ele viesse
aqui em casa? Só assim poderemos conhecê-lo melhor, e de-
veras ele nos ajudasse.
        – Ele me parece um homem tão verdadeiro Izabel,
que antes que a gente pense em algo para dizer ele já traz as
repostas prontas em seus lábios, é incrível!
        – Que bom meu, meu...
        – João lhe interrompe e diz: – Vamos, tenha coragem
e complete a frase, eu sei do seu amor por mim, mas preciso
ouvir da sua boca ou do seu coração, minha amada.
        – Vou dizer-lhe, meu príncipe. É muito reconfortan-
te eu poder lhe dizer estas palavras: Eu te amo, meu marido.
Bem, eu convidei Anita e Oscar para jantar conosco amanhã.
        – Eu já sei.
        – Como assim, eu já sei? Eu não lhe falei nada!
        – Parece que alguém já me disse isso... Não foi você?
Mas deixemos pra lá, isso agora não convém, não é mesmo?


130
O jantar no dia seguinte
        Antes do jantar, Izabel pede ao casal se poderia fazer
aquelas preces tão reconfortantes e formosas, que só eles
sabiam fazer.
        – Com todo o prazer Izabel, – responde Anita.
        Silenciados pela voz de Anita, todos passam a ouvir
atenciosamente suas palavras.
        – Senhor Deus, Tu, Esplendido e Supremo, que crias-
te o infinito Universo, que fizeste para a sequidão da terra a
brandura terna das águas, para a vida ser fecundada com a
carícia dos mananciais. Tu, Senhor, que sacia os corações de
seus filhos com o seu amor... Tu, Senhor, que não permite
jamais que caíamos no vazio da escuridão, tão funesta em
seu escárnio, e que nos ampara em vossos braços. O senhor é
misericordioso com estes seus filhos, neste lar.
Eles, Senhor, lhes pedem o “pão”, o pão do amor fraterno.
        Anita estendeu as suas boas palavras em súplicas por
alguns minutos mais, deixando a casa, suave e leve espiritu-
almente, e, durante o jantar todos sorriram.
        – João, como você está se sentindo? Você me parece
bem! – exclama Oscar.
        – Do que me aconteceu na igreja até o momento
presente, estou ótimo, não sinto nada.
        – Mas o que aconteceu com você na igreja? Você não
nos contou...
        João conta a Anita e Oscar, com detalhes, tudo o que
lhe acontecera. As atitudes de um padre que, em sinal de
solidariedade, passou a ser visto pelos praticantes da igreja
de uma forma antagônica.
        – Há outra coisa interessante também que tem ocor-
rido comigo, inclusive eu nem mesmo ainda comentei com
Izabel.

                                                           131
João Eduardo, ao usar essas palavras se emociona,
abaixa o seu semblante e se cala. Izabel, ao aproximar-se dele,
dá um beijo em seu rosto e lhe abraça.
         – Então nos conte “meu príncipe”! Veja, nós estamos
juntinhos de você. Não estamos ao seu lado, estamos com
você.
         Ali, silenciosos por um instante, apesar de não sabe-
rem o que João diria, ficam atentos, pensando na hipótese de
uma crise que poderia atingi-lo. Izabel, para preencher aquele
vazio que já incomodava a todos, se dirige aos visitantes,
Anita e Oscar.
         – É verdade, eu até tinha me esquecido de suas cri-
ses, João. Vejam vocês, meu marido está ótimo! Ele está com
outra aparência, vocês não acham?
         – Obrigado, minha princesa, pelo seu carinho. Não se
preocupe com as crises que sinto, pois não será desta vez que
elas virão para prejudicar esta noite maravilhosa que estamos
passando junto de nossos amigos. O que tenho a dizer é que,
além de você, eu sinto pela primeira vez que tenho amigos
verdadeiros. Nem sei como me expressar, mas haverei de con-
seguir, tentarei. É que Anita e Oscar, meu novo amigo, o
bom José e o padre André, apesar de tê-lo visto uma única
vez, enfim, todos vocês me fazem forte e saudável, e a minha
vontade de viver já começa a aflorar em meu coração. Sinto
emoções boas, as quais nunca antes havia sentido. O mundo
para mim, nos dias atuais, despertou-me para a vida e para a
Natureza e, principalmente, para o meu lar, a minha compa-
nheira e os meus filhos. E para Deus. A vida me despertou
também para amigos verdadeiros como vocês, e isso está acon-
tecendo depois que Padre André disse tudo aquilo para mim
Izabel.
         – É verdade, mas fique quieto João, você não deve
falar estas coisas para Oscar e Anita, que eles podem não

132
gostar. Izabel usa um tom de brincadeira ao expressar suas
palavras e todos se põem a sorrir.
         – Vocês dois não vão deixar seus amigos curiosos,
não é mesmo? – retruca Oscar.
Então, João toma coragem e passa a narrar tudo o que se
passou na igreja com Padre André, e também comenta sobre
o seu novo amigo, o bom José.
         – Não sei bem como explicar, mas sinto que o ambi-
ente está bom e que entre todos nós vocês terão muita alegria
– comenta Oscar, feliz pelas novidades.
         – E é chegado o momento de Anita e eu contarmos
um segredo nosso.
         – É o sexo do bebê? Não? Então, não me digam que
são gêmeos!
         – Erraram. O que temos a dizer é que seguimos o
Espiritismo, somos espíritas. Infelizmente alguns
preconceituosos chamam de “macumba”.
         – E por que vocês mantiveram isso em segredo?
         – Não lhes falamos antes por alguns motivos. O pri-
meiro deles é que não conhecíamos a religiosidade de vocês
ou suas raízes religiosas. Deduzimos que vocês fossem cató-
licos, talvez. Pelo menos foi o que você nos disse no hospi-
tal, Izabel, que João não dava importância a nenhuma reli-
gião, e tínhamos de respeitá-los. Além do mais, por ser o Es-
piritismo muito perseguido por incrédulos e profanos, tive-
mos receio de perder essa amizade que está começando. Nós
esperamos, por respeito, que as pessoas venham ter conosco,
em nossa filosofia religiosa. Inclusive, como no caso de vocês,
pois a nossa finalidade é ajudá-los, e não influenciá-los. Essa é a
revelação que temos para vocês.
         – E vocês frequentam algum local? – pergunta Izabel.
         – Eu e Anita frequentamos uma casa espírita
maravilhosa. É um local para prestar assistência a crianças

                                                               133
excepcionais. Se vocês nos permitirem e quiserem, um dia des-
ses nós os levaremos a um local que acreditamos ser bom.
Tenho certeza que vocês irão gostar.
         – Gostaríamos imensamente de conhecer esse local
Oscar – afirma João. – Meu amigo, nós não somente queremos ir
para conhecer, como também para que possamos obter as
respostas às nossas perguntas, pois, pelo que Padre André me
orientou, ele suportaria por pouco tempo aquela carga negativa,
por isso necessito tomar as devidas providências o mais rápido
possível. Sentimos que em nossos corações alguma coisa parece
nos despertar para esse misterioso mundo que tão próximo de
nós se faz agora. Queremos conhecer porque para nós é diferen-
te e parece bom. Nós queremos e desejamos ir com vocês, não
importa onde.
         – É um centro espírita pequeno e muito humilde, próximo
daqui – orienta Anita.
         – Mas eu tenho medo dessa coisa de alma ou espírito –
diz Izabel, aflita.
         – Izabel, esses lugares existem para ajudar as pessoas
aflitas a combater o mal que nelas estão. Esse ambiente onde
queremos levá-los é um lugar limpo, onde vocês se sentirão bem.
É um lugar onde Deus está presente, porque lá se ouvem muitas
orações e palavras de bom tom. O que realmente as pessoas de
lá desejam é ajudar ao próximo com seus bons conselhos. Va-
mos lá e vocês verão com seus próprios olhos que é um lugar
humilde e maravilhoso. E se por acaso não gostarem, sairemos
imediatamente. Está bem?
         João e Izabel aceitam o convite dos amigos para no dia
seguinte conhecer a pequena casa de caridade.




134
Acalanto
         Depois de uma noite tranquila, onde nascera uma
calmaria naquela família, tudo ali emanava felicidade. João
Eduardo e Izabel tinham motivos; bastava um olhar entre
eles para que suas faces transbordassem de alegria e seus lá-
bios sorrissem. Na noite anterior, Anita e Oscar se despedi-
ram por volta de 11 horas. Após os amigos partirem e en-
quanto os pequenos dormiam, os dois se dirigiram a uma va-
randa larga onde havia algumas cadeiras de encosto. Ali eles
se sentaram para apreciar por alguns minutos o vácuo que
possuía a noite com suas estrelas. Apreciavam a majestosa
obra do criador: o silêncio, a suavidade do vento, o belo e
triste cantar de uma ave noturna, cuja voz se explanava em
saudosismo e amor. E beijam-se com os lábios úmidos e trê-
mulos. E se amam como adolescentes, como pela primeira
vez. Até chegarem ao êxtase, completando o ciclo do prazer
absoluto da arte de fazer amor com as bênçãos de Deus, en-
quanto o aroma agradável da flor dama-da-noite se encarrega
de completar aquele momento único que só pertencia a am-
bos. Logo após vem o cansaço e o sono tranquilo e reparador,
dando uma pausa para o acalanto daquelas almas. Mas antes
de os dois irem para seu repouso, João diz a Izabel que o
velho amor acordou, e Izabel lhe beija com ternura.

                                                 O convite
        Após aqueles dois encontros na praça com seu recen-
te amigo, Sr. José, João Eduardo o convida para ir à sua casa
fazer-lhes uma visita, pois sua esposa teria imenso prazer em
conhecê-lo. O bom José, envaidecido com a forma amistosa
de seu amigo, se rende ao seu pedido dizendo-lhe que pode-
ria marcar o dia, pois prontamente ele estaria lá para alguns

                                                          135
minutos de conversa e para a conquista de uma nova amizade.
Ambos ficam felizes.
         E foi num domingo, por volta das 10 horas da manhã,
que Marília, a empregada, anuncia ao casal João Eduardo e
Izabel que na sala de espera havia um senhor bem vestido
que gostaria de falar-lhes. Espontaneamente, ambos vão
recebê-lo.
         Um pouco mais adiante segue Izabel, logo reprimida
por João que pede a ela que espere. Ela sorri, pois fora auto-
mática a pressa que sentiu.
         Na sala, Sr. José, logo que os vê, se precipita para
cumprimentar o casal.
         – Como vai o senhor, meu bom José?
         – Muito bem, meu filho, apesar de um pouco cansado
pela idade. Mas o meu espírito está muito bem.
         – Meu bom José, esta é minha esposa, de quem lhe
falei. É a pessoa que imensamente gostaria de conhecê-lo, a
minha Izabel.
       – Meu amigo, quem está em minha frente e a quem você
chama de esposa, na realidade é um lindo diamante, um frag-
mento de seu coração. Fico envaidecido em conhecê-la, tão bela
senhora.
         – Sinceramente meu bom homem, suas palavras são
sutis e doces. Porém, não completas.
         – Mas por que você diz que ele, em suas palavras, não
foi completo? – pergunta João.
         – Não foi completo porque quero deste ancião um
forte abraço, e que ele também me chame de filha.
         Todos sorriram com o suspense que Izabel, à primeira
vista, tinha deixado naquela sala.
         – Pois sim, minha filha. Mesmo tendo nos conhecido
neste instante, me sinto lisonjeado com sua delicadeza, e penso
que a partir de agora faço parte desta família. Os meus bra-

136
ços estão fracos materialmente, mas o meu abraço vem do cora-
ção. Deus os abençoe e fortaleça a ambos.
         Após os abraços ganhos, os três se sentam e, bastaram
alguns poucos minutos para que fossem anunciados também,
         – João, não se esqueça que o dia ainda não terminou
para você, recorda Izabel ao seu marido.
         – E você pode me dizer por quê? Perdoe-me, amor, é
que eu trabalhei tanto hoje que não estou me lembrando!
         – São exatamente 7 da noite, e você terá de ir à casa
espírita às 8 horas, pois há uma consulta marcada para você,
já se esqueceu?
         – É verdade! Estou tão cansado que já ia me esque-
cendo. Vou tomar uma boa ducha e em seguida irei até lá.
Você não irá hoje comigo?
         – Mas é claro que sim, essa batalha nos pertence, meu
amor, é a nossa recuperação. E, graças a Deus e as orienta-
ções de um mentor espiritual que se manifesta por meio do
médium, o irmão Lazaro, essas consultas têm nos ajudado mui-
to. É justamente com essa ajuda que estamos melhorando dia a
dia, e estamos indo muito bem.

                               Lídia no Plano Espiritual
         – Um bando de cafajestes, assim como eu, agora em
pele de cordeiros, livres e leves. Já pensou? Eu, transformada em
capeta e com direito a rabinho e chifrinho! Uma prostituta de
saia curta, mal amada e sem direito a virar anjo, porque sou
debochada. Sem direito a uma vingançazinha, sem direito a nada!
Mas que petulância, vocês não acham? Eu, ou melhor, nós, não
vamos perder essa batalha, pois seremos persistentes. Já que es-
tou perdida, não tenho mais nada a zelar e seguiremos em
frente. Prontos para a guerra?


                                                             137
Lídia e Anita
         – Olá amiga, como você está?
         Anita, assombrada, não sabendo se era sonho ou reali-
dade, se sentia meio dormindo e meio acordada. Como se esti-
vesse passando por uma hipnose, senta-se à cama e vê que em
seu quarto há sombras foscas em meio a um ar rarefeito que
emanava um cheiro estranho de gases carbonizados e enxofre.
Em meio àquela fumaça, surge uma sombra em forma de corpo
que, em sua intuição, lhe parecia Lídia em fortes tons escuros.
         – Lídia! É você mesma quem está aqui?
         Lídia, de forma telepática, começa a se comunicar com
Anita e lhe diz:
         – Acalme-se. Faça de conta que você está sonhando,
minha cara. Tentarei ser rápida; vim aqui só para lhe dar um
aviso, sua idiota. Fique fora do meu caminho, pois você me
traiu e agora está cinicamente do lado de João Eduardo. Pense
nesse pivete que você espera com ansiedade, pois você pode se
arrepender, sua pilantra traiçoeira! Eu quero aquele patife do
João cadavérico, seco e gritando aos meus pés! Eu o quero aqui
comigo, não me atrapalhe e nem fique no meu caminho, estou
lhe avisando! Onde vivo agora não se fala em piedade. Aqui, a
sua desgraça é a nossa conquista minha cara, portanto não se
meta, afaste-se da casa daquele pilantra.
         Anita acorda chorando e aos gritos daquele pesadelo
horrível.
         – Meu Deus! Acho que não foi pesadelo, não. Minha
irmãzinha, o seu estado está deplorável. Por que, Meu Deus?
Ouça-me, Lídia, a luz divina é imensa e não faz sofrer. Senhor
Jesus, tenha misericórdia dessa alma que cegamente se vê num
mar de ódio, cuja violação de Sua palavra ali existe. Piedade
senhor, tende piedade! Pois ela está no escaninho da morte
eterna!

138
Ouça o meu pedido, Lídia! Por Deus minha irmã, eu a
amo muito e lutarei para que você um dia sinta a luz em seu
coração. Sei o que você sofreu, mas não é justo que agora você
se entregue aos seios da escuridão. Por nosso Senhor Jesus, ouça
o meu pedido minha irmã, e tire esse ódio do seu coração.
        Anita vivia sozinha em sua casa e sua gravidez era recen-
te. Mesmo assim, acordara aos prantos e gritos por estar total-
mente perplexa diante do que vira e ouvira. Sua certeza, pelo
fato de ter assiduidade aos ensinamentos de sua religião, é a de
que fora real a sua visão. Por um instante, chorou a saudade de
sua grande amiga... Chorou o destino de Lídia, que ela mesma
escolhera. Tomada pela insônia e preocupada com a situação,
uma pergunta surge em seu coração.
        – Como posso abandonar João Eduardo e Izabel? E
Lídia, meu Deus? Que providências eu deverei tomar?
        Os comparsas de Lídia, ouvindo as lamentações de Anita,
começam a escarnecer com seus deboches o sofrimento da ami-
ga terrena. As palavras de Anita repercutem no plano espiritual,
deixando Lídia calada. Mas aqueles espíritos maldosamente cor-
rompiam-na com palavras violentas e repudiáveis.
        – Veja Lídia, depois que você se danou toda, vem essa
santinha para lhe iludir e querer lhe levar para o “bom cami-
nho”? Sai fora dessa, pois você já não tem mais salvação. Eles
que se danem! Vamos ficar perto dela para que esse filho não
nasça; depois a gente conta para eles que fomos nós que fizemos
isso. Garanto-lhe que ela vai sair do nosso caminho.
        De repente, com um grito forte, Lídia pede para que
todos se calem, pois ali quem dava as cartas era ela, e o que
estava em pauta era a sua causa.
        – Hoje fui convidada para ir até o centro colocar as coi-
sas em pratos limpos no que se refere ao João e a Izabel. Nós
iremos todos a esse lugar, para bagunçar e, quem sabe, até trazer
o meu troféu: João Eduardo.

                                                             139
O mentor espiritual que prestava cuidados a João Eduar-
do, disse-lhe que nesse dia ele não poderia se ausentar da reu-
nião, pois teria ali uma surpresa não muito agradável, porém,
necessária.
João Eduardo, confuso e ao mesmo tempo amedrontado por
causa de sua saúde, pede ao mentor para que ele antecipe o as-
sunto. Infelizmente, não lhe foi permitido saber antecipadamente
o que iria acontecer naquela noite. O mentor simplesmente pe-
diu-lhe que tivesse calma; bastaria que ele soubesse que seria em
prol de sua saúde e de sua felicidade. Só aí então, é que João
acalmou-se, porque não sofrera mais aquelas crises, que lhe pa-
reciam mortais.
          Anoitece e os corações de João Eduardo e Izabel
disparam.
        – João! Por favor, acalme-se. Por que tanta ansiedade?
Tenha fé em Deus e nos mentores espirituais, pois todos eles
estão a nosso favor.
        – Eu sei meu amor, assim como sei também que você
está tensa. Vamos para o centro, lá eu ficarei mais tranquilo.
        Izabel, em seu sexto sentido, chegou até a pressentir que
aquela surpresa teria algo a ver com Lídia, mas não quis contar
nada a João Eduardo para que ele não se aborrecesse ou se ame-
drontasse ainda mais. Ao chegarem ao centro espírita, foram
recebidos com afabilidade por Irmão Lázaro, que ao cumpri-
mentar Izabel, lhe diz:
        – Minha irmã, estou certo de que você já sabe do que se
trata.
        – Irmão Lázaro, para que eu me certifique desse pensa-
mento que está fixado em minha mente, tem algo a ver com...
        – Sim, minha irmã, tem tudo a ver com Lídia.
        – Meu Deus! Como pode?
        – Tenhamos calma e fé, irmã Izabel. Nós conseguire-
mos, com as graças de Deus e o auxilio do espaço. Nós temos

140
um grupo de espíritos que estão lutando a nosso favor.
      – Que Deus tenha misericórdia de nós e de Lídia.

               A reunião entre Lídia e João Eduardo
         Lídia é levada à presença de João e, por volta das 8 da
noite, tem início a reunião. São poucos ainda os dias de frequência
e participação de João e sua esposa naquela casa, porém, já rece-
bem orientações de Entidades do plano espiritual.
         Um dos mentores pede para que João se coloque frente
a eles. Logo se fecham em forma de círculo alguns médiuns
preparados espiritualmente para equilibrar as energias negativas
que Lídia poderia trazer consigo. Lídia, pelo pouco tempo de
desencarnada, já trazia em si camadas negativas fortes de outras
encarnações que, unidas à última, lhe deixara mais potente no
campo oposto à luz. Ela, pelo contrário, não sentia medo al-
gum de estar ali presente. O que ela sentia era uma vontade
imensa de comparecer o quanto antes para mostrar, perante to-
das as pessoas, sua ira e seus deboches.
         Bastou, no entanto, chamá-la pelo nome que, de repen-
te, o que se viu foi uma médium contorcer-se no chão, aos gri-
tos e fortes gargalhadas.
         – Quem és tu, minha irmã? O que vens fazer aqui? –
pergunta o mentor espiritual. – Se veio em nome de nosso Se-
nhor Jesus Cristo, peça e receberás.
         A jovem mulher, tomada pelo espírito, tenta reprimir
as palavras que lhe chegam aos lábios, porém, a força e a ousadia
daquele espírito eram tamanhas que logo a fizeram perder quase
todos os sentidos para que pudesse passar, totalmente a seu gos-
to, sua suja e devassa mensagem.
         – Estou aqui não é porque quero, mas porque imensa-
mente desejo! Há, há, há... Tenho sede, muita sede de vingança.
Quem sou eu e o que venho fazer aqui? Pergunte a essa pilantra
                                                               141
traidora! – e aponta para Anita. Ao mesmo tempo, olha para
Izabel com ódio...
         – Eu não lhe disse sua pilantra, para você sair de perto
desse canalha? – e aponta para João. Em seguida, olhando para
Izabel, Lídia continua.
         – A sua intuição... Por que você trouxe o seu tão amado
cafajeste até aqui hoje? Coitados de todos vocês, pensam acredi-
tar em uma força celestial para ajudá-los, sendo que o que vim
fazer aqui, jamais será barrado.
         – O mentor espiritual responde: – E o que você, minha
irmã, veio fazer aqui de tão importante para tanto escândalo?
Será que não vê que aqui é uma casa de Deus, e que na casa de
Deus o poder é tão infinito que jamais as suas forças irão predo-
minar?
         – Bem, para que todos saibam, para que não paire ne-
nhuma dúvida e para que meu nome se perpetue entre vós, eu
me chamo Lídia, e trago comigo uma grande legião, disposta a
tudo.
         Enquanto algumas pessoas no recinto se sentiam ame-
drontadas e tremiam pela cena ali exposta, Lídia escarnecia com
o seu infame sorriso de desventura.
         – Eu não venho em nome de Jesus, estou aqui por or-
dem total do capeta. O que eu venho fazer aqui? Vocês ainda
me perguntam? Venho buscar o que é meu por natureza, e certa-
mente hoje levarei aquilo que a mim pertence.
         Nesse momento, João começa a ter uma forte crise e é
socorrido por uma entidade conhecida como Preta-Velha e tam-
bém por Irmão X.
         – Mas o que é que lhe pertence?
         – O meu amante. Ele é o meu homem. O meu desejo é
levá-lo magro e seco, assim como uma folha em decomposição.
Esquelético, frio, acabado. Mas eu resolvi e não vou adiar mais.
Eu o levarei hoje mesmo comigo. Veja suas crises! As suas dores

142
são as minhas dores, são as dores que me fizeram partir desta
vida terrena para o inferno, e já que estou condenada...
         – A irmã não tem essa ordem e nem tampouco esse
poder. Esse poder, minha irmã, só cabe a Deus e a mais
ninguém.
         – Bem, se for assim, então veremos. Eu, de minha par-
te, não tenho tempo a perder.
         A médium que estava em transe e possuída por Lídia,
começa a jogar-se no chão de uma forma que ninguém conse-
guia segurá-la. De repente, outro médium é colocado em estado
calamitoso. Logo após outro mais, até que, já não tendo mais
condição alguma de assegurar nada, o mentor pede auxílio às
forças divinas para sustentá-los naquela atribulação.
         Todos os que estavam em transe e possessos se acalmam
e caem ao chão. Num instante, um grito muito piedoso salta
entre as pessoas que ali estavam.
       – Meu Deus! Estou morrendo!

        Naquele dia, encontravam-se no centro espírita por vol-
ta de 50 participantes. Por estarem todos juntos e pelo fato de o
ambiente ser pequeno, foi só depois de alguns instantes que per-
ceberam a ausência de João Eduardo no círculo feito por eles,
pois Lídia o havia induzido a sair daquele recinto para ficar to-
talmente exposto às suas energias. Porém ela não conseguiu, mas
permitiu que sua legião dele se apossasse, para que não fosse
admitida a entrada da proteção divina. Ali estava um homem
mórbido, esmaecido, com traços da morte em seu semblante
cadavérico. Algumas pessoas ali choravam, temendo que o po-
bre homem tivesse morrido.
        Imediatamente, um médium veio para socorrê-lo e,
quando o amparou em seus braços, ele se lamentou, dizendo
que era tarde demais. Ele acreditou que João Eduardo estivesse
morto.

                                                             143
Izabel fica estática com o que acaba de ouvir.
        – Não! Não pode ser verdade!
        Amparada por Anita, ela repetia palavras ingênuas e tristes...
        – Não! Não pode ser verdade. O meu João não está
morto! Eu não acredito! João, os nossos filhos, o nosso lar! Eu
não posso ficar sozinha, sem você!
        Anita pede-lhe que se acalmasse porque, para Deus, nada
era impossível.
        – Eu não acredito que o meu esposo, o meu compa-
nheiro tenha me deixado. Não! Isso não pode ser verdade!
        Em meio àquela cena, uma das médiuns grita em voz de
prazer e êxtase:
        – Vamos embora, meu homem, você agora será somen-
te meu. Saia desse corpo, porque ele já não lhe pertence. Vamos
embora.
        – João, com a cabeça deitada no colo de Izabel, recebia
em seu rosto as lágrimas da mulher amada.
        Naquele dia, Sr. José ou o “bom José”, como era cha-
mado por João, não deveria ter se atrasado, mas ocorreu-lhe um
imprevisto e somente de surpresa é que todos ali presentes ouvi-
ram uma voz de quem acabara de chegar àquele ambiente, di-
zendo:
        – Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo!
        Todos ouviram a voz suave de um homem de 94 anos e
muito experiente pela sua idade, pelos seus conhecimentos e, prin-
cipalmente, por toda a caridade que já praticara neste mundo.
        – Bendito e louvado seja o nome de Nosso Senhor Je-
sus Cristo!
        Todos, numa única voz, respondem.
        – Para sempre seja louvado o nome de Nosso Senhor
Jesus Cristo!
        – Meus queridos irmãos, o nosso amigo não está morto,
está somente desfalecido. Sua energia está sendo sugadas por

144
espíritos vampirescos e estão sendo emitidas energias ruins pelos
espíritos que o estão atingindo. Mas nós estamos com ele e, se
cada um de nós tiver fé viva em nosso bom Deus, poderemos
emitir energias boas em forma de ectoplasma para repor o
ectoplasma dele, que esta sendo sugado por esses espíritos malé-
ficos. Essa corrente maligna será retirada desse irmão e do nosso
meio, mas isso depende de nós. Tenhamos fé e muita concen-
tração. Oremos.
         – Sr. Deus! Se for digno de nós aqui presentes, deseja-
mos acabar com o sofrimento deste irmão. Se vossos desígnios
estiverem ao final desta prova, permita-nos que falemos com
autoridade a estes espíritos trevosos e sofredores, e com autori-
dade peçamos a toda legião de espíritos do bem o auxilio direto,
e que estes irmãos sejam conduzidos a esferas transparentes e
tenham a oportunidade de conhecer o caminho que conduz à
Luz do Senhor, nosso querido Pai. Bom pai! Não permitais que
pereçamos diante destes espíritos revoltosos e vingativos, por-
que a revolta e a vingança não prospera, mas atrasa a boa evolu-
ção dos irmãos que procuram um lugar ao sol, pois todos os
espíritos revoltosos ou não, são frutos de vossa criação e nossos
irmãos.
         Neste momento lhe pedimos por pão, o pão da vida. A ti
Senhor, que com o Vosso amor nos criou, pedimos por estes espí-
ritos que, enfatizo, são nossos irmãos e estão perdidos em seus
devaneios ou iras psíquicas, se achando donos da verdade. Faça
Senhor, com que saia de Vossas Dadivosas mãos, o orvalho de
vossa existência sobre este vosso servo, para que ele, neste instante,
receba em seu corpo, retirando todos os eflúvios maléficos que
nele faz estada. E pedimos também, aos nossos guerreiros da luz,
que tenham força total para nos amparar neste momento de total
angustia. Misericórdia, Senhor Deus, é o que vos pedimos. Não
deixe Senhor, que este vosso servo caia nos braços da vingança,
pois se for para ele cair, que caia senhor, em vossos braços.

                                                                  145
Em nome de Jesus Cristo eu vos peço, Pai amado, que
este nosso irmãozinho receba em seu corpo os bons eflúvios de
nossos espíritos amigos e protetores. Peço também, com auto-
ridade, que neste momento, se retire deste corpo, toda e qual-
quer ligação ruim que nele possa estar. Eu ordeno, em nome de
Jesus, e peço aos nossos soldados guerreiros da luz que nos am-
parem.
         O velho homem, assim como Jesus em suas curas, so-
prou os ouvidos de João que, num instante abriu os olhos, co-
meçando a mover-se ligeiramente ano chão e a soltar uma gran-
de gargalhada. As pessoas que estavam próximas dele se afastam,
pois se assustaram com a horrível cena que acabavam de presen-
ciar.
         Quem conhecera a Lídia poderia até dizer que houve
uma mutação naquele corpo, de homem para mulher. Era real-
mente assustador ver João Eduardo totalmente transfigurado.
         O bom José pedia para que todos ali presentes formas-
sem um elo em oração, para que fosse retirada a legião de maus
espíritos nele presente. Auxiliado pelos guardiões do espaço,
acorrentaram e expulsaram todos aqueles espíritos diabólicos
quando, somente um deles, Lídia, aquela alma perniciosa, pede,
por um instante a mais, para dizer, através dos lábios de João
Eduardo.
         – Diga minha irmã, o que queres – pergunta o bom
José.
         – Só quero, ao sair deste corpo, levar tudo o que lhe
pertence. Vocês não têm o direito de impedir o que estou fazen-
do. É olho por olho e dente por dente. O que esse homem fez
comigo na vida terrena, só posso revidar dessa forma. Infeliz-
mente, parece-me que por enquanto eu não posso terminar o
que comecei, porque o meu corpo espiritual parece estar em
chamas com essas energias que todos vocês estão jogando em
mim. Vocês são uns desventurados, assim como eu! Anita!

146
Tanto que eu lhe pedi para não ficar contra mim!

         – Minha Lídia, eu a amo tanto! Você não está totalmen-
te perdida em sua vida espiritual. Veja minha irmã, quanta luz
cintila ao seu redor! O seu corpo está começando a se defor-
mar... Olhe para os seus companheiros... Saia desse umbral! Eu
lhe imploro, em nome de Jesus. Saia dessas trevas, pois lhe que-
remos juntinho de nós!
         – Prefiro o inferno! Prefiro me ver transformada em
monstro. Quero escandalizar e desordenar quem eu puder, justa-
mente para não ficar sozinha. Posso até ter perdido esse confron-
to, mas criarei novas forças para retornar mais potente ainda.
         – Eu lhe digo Lídia, que falas assim pelo ódio que está
ressequido em seu coração. Mas Deus lhe relevará um dia suas
palavras e você ira reconhecer quão bela, sublime e eterna é a
Luz Divina! É tão bom estar do lado de cá sem ódio, minha
querida amiga. Veja você, abandonei a ideia de ir atrás do meu
ex-namorado e hoje me sinto feliz sem ele.
         Momentaneamente, um grito surge nos lábios de um
médium ainda jovem. Um grito atinado e rebelde, a que todos
ali presentes se apiedam. Surge naquele momento outra cena:
uma pequenina luz que algumas pessoas mais sensitivas pude-
ram observar. Estava ali, sob aquela luz, a mãe de lídia, a única
pessoa a quem Lídia amou de todo coração, e que se fora quan-
do Lídia ainda era uma adolescente. Naquele momento, sua
mãezinha teve a grande e única oportunidade de comunicar-se
com sua filha Lídia, pois ela estava em um lugar de luz. Então,
para não perder tempo, ela diz:
         – Lídia, minha filha querida. Após tantos anos lhe en-
contrei e não lhe deixarei mais. Por amor vou até os confins
com você, e bem que você poderia aproveitar esta oportunidade
e seguir-me ao lado destes mentores, porque deste lado em que
estou tudo é tranqüilo, tudo é paz. Estes irmãos são dedicados e

                                                             147
solidários, mas, se for o caso, posso ir para esse umbral só para
estar contigo. Nunca mais vou lhe deixar minha filha querida, e
o que pedimos ao Pai ele nos concede. Venha! Eu te amo! Você
é fruto de uma grande história de amor. Venha comigo e ne-
nhum mal irá lhe acontecer, eu garanto. Além do mais, eu devo
isso a você pelo total desempenho que teve quando eu estava no
leito de morte. O seu desempenho foi fantástico na tentativa de
salvar-me da morte, e isso só não foi possível porque minha
hora havia chegado. Mas após ser socorrida por estes sábios Es-
píritos de Luz, me acho em um lugar maravilho. Venha minha
filha querida, eu te amo e sei do seu amor por mim. Venha ver
como o amor e a solidariedade transformam o espírito para
melhor.
         Algumas pessoas, após o ocorrido, perceberam em seus
aguçados sentidos que Lídia, ao sair do corpo de João Eduardo,
lhes dera a impressão de estar tirando dele toda uma roupagem
falsa em formato sombra, para em seguida estender a mão para
sua doce mãe, que caminhava a passos lentos e com um olhar
brando. Cabisbaixa, amparada pela mão e pelo colo que acalen-
ta, Lídia foi encaminhada pelos bons mentores para uma clínica
e, após sua recuperação, para uma escola espiritual.
         Lídia segue o seu caminho, um caminho inexplicável
por parecer não haver nele destino algum que a levasse a um
ponto final. Nela um vento soprava para limpar seu perispírito,
trazendo às pessoas o seu odor, um perfume dulcificado e suave,
calcinado pela transfusão de amor.
         Lídia partira, caminhando a passos lentos para uma jor-
nada de luz.
         Uma legião de espíritos benfeitores, adentrando àquele
ambiente, pede ao mentor para que as portas e as janelas fossem
abertas, que todos ali presentes retirassem dos pés os seus calça-
dos e que se mantivessem em silêncio e sintonizados com Deus
e os bons espíritos de luz, por necessitarem fazer uma limpeza,

148
retirando dali todas as impurezas deixadas pelos espíritos
atordoadores.

         Seguem-se alguns dias. Izabel, sentada em uma cadeira
que havia nos fundos de sua casa, passa a observar a beleza e a
tranquilidade que havia ao seu redor. Ela não queria pensar mais
no passado e em tudo o que aconteceu. Porém, não podia ainda
se ocultar, porque em seu pensamento Lídia ainda se fazia pre-
sente e ela acreditava que não poderia deixá-la pra trás.
         De alguma maneira, Izabel e o grupo da casa espírita
tinham que tomar uma atitude séria, porque Lídia não poderia
mais seguir o caminho da vingança que cegamente premeditara.
Izabel passou a compreendê-la e a amá-la após todo o sofrimen-
to por que passara, para ela agora bem esclarecido e um grande
aprendizado. Mas, como estará agora Lídia? Só o tempo dirá
         Muitas sessões foram feitas em prol da família de João
Eduardo, mas com um segmento mais direcionado a ele, pois
acreditavam que a sua doença poderia ser totalmente espiritual.
Lídia, através de um impulso, acreditava-se que conscientemen-
te tivera pena de João, pois levara consigo a carga do seu
perispírito, que se quisesse poderia ter deixado com ele. Dentro
da espiritualidade, pode-se dizer que Lídia era obsedada ou in-
fluencia por aquela gang, revoltada e com muita vontade e força
para realizar suas façanhas do mal.
         O que Lídia fez, sem perceber, foi obter para si um raio
de luz que a iluminava, por intermédio dos mentores de sua
mãe.

                               Lídia no Plano Espiritual
       A ala dos quiumbas, na Espiritualidade é considerada
um dos níveis mais baixos dessa esfera. Nessa classe, mesmo
sendo considerados malignos, existem espíritos de vários graus.

                                                             149
A classe mais pesada supõe-se que seja daquelas almas que, de
tão maléficas e perversas, chegam até a deformar o próprio
perispírito, transformando-se em formas monstruosas horríveis.
Outros, pela tamanha desordem que podem cometer entre si e
com a humanidade, permanecem acorrentados. Uma outra classe,
chamada de “obsessores”, são espíritos vingativos e vadios, que
em suas desordens praticam calamidades como, por exemplo,
praticar o mal por vingança, vagando pelo plano terrestre e tra-
zendo depressão, angústia e decadência para as famílias. Mas essa
aproximação só se faz possível quando as pessoas estão fora da
sintonia com Deus, ou, quando visam só o dinheiro e a ganân-
cia, esquecendo do seu próximo e dos entes queridos que se
foram para o mundo espiritual. Mas se a palavra de Deus afirma
que ele não tem nenhum filho a perder, com certeza cabe aos
líderes religiosos a incumbência de ter como objetivo lutar no
intuito de conduzir ou resgatar essas almas perdidas para Deus.
Portanto, para que isso seja possível e, quando estes espíritos se
fizerem presentes em centros espíritas ou igrejas de qualquer
denominação, devemos tratar essas almas com amor e solidarie-
dade, porém, com rigor e muita convicção.
         São almas perdidas? Não! São almas que estão na perdi-
ção, mas que no fundo de suas consciências estão à procura de
um lugar ao sol. Esses são nossos irmãos, como se fossem ove-
lhas negras de uma família, da família que luta ardentemente
para restituí-los à casa do Pai, pois com certeza, o nosso Criador
e Pai amoroso ama a todos sem distinção. Devemos orientar os
espíritos trevosos, orientando-os sem julgá-los, mostrando que
eles têm a possibilidade de reaver as suas falhas e de se redimirem
com facilidade, porque Deus proporciona a eles esta oportuni-
dade, assim como uma boa mãe e um bom pai proporcionam
nova oportunidade para os filhos que estão seguindo o caminho
errado. Essa é a classe onde se encontra Lídia.
         Deus não tem nenhum filho a perder, perdem-se “aque-

150
les que querem”. Esta é uma frase verdadeira e magnífica deixa-
da por Jesus. O que se quer dizer, é que Lídia depende somente
de sua vontade e resignação. As leis estão no Universo portanto,
nós é que escolhemos o caminho,
         Naquele instante juntam-se como insetos em desordem
a legião de espíritos que fazia parte da mesma gang de Lídia.
Trava-se uma luta mesquinha, suja e repleta de traição entre eles,
dividindo-os em pequenos grupos por terem perdido uma alia-
da importante. Para aqueles revoltosos era uma derrota, para os
bons Espíritos, uma vitória conquistada com amor e com a ban-
deira de Jesus. Com toda certeza Deus, em sua infinita bondade
e amor, enche aquela casa espírita de luz e amor por gratidão.
Gratidão pela dedicação daqueles médiuns, cujos objetivos fo-
ram salvar mais um filho ou filha e trazer de volta para o reba-
nho, nesse caso uma filha: Lídia.
         E então se ergue Lídia, a vencedora, pois aceitou o cha-
mado de sua mãe e de Deus. Daquele espírito ficara ali somente
seu passado e, junto dele, somente o exemplo do que ela seria ou
teria capacidade para fazer. Houve ali um pacato e total silêncio.
         Bem acima da ala dos quiumbas, existem outras classes
de espíritos que trabalham na linha que divide o mal e o bem,
ou a luz e as trevas. Esses espíritos são erroneamente confundi-
dos com espíritos do mal. São os chamados “Exus”. Dentro da
escala espiritual, são espíritos mensageiros, guerreiros, guardiões,
protetores, considerados os “bons policiais” do Universo. São
brigões, pesados, duros e sinceros. Foram eles os guardiões na-
quela seção tão especial, e que muito colaboraram na recupera-
ção de Lidia e na busca de sua mãe.
         Os Exus são conduzidos pelos Espíritos Superiores; são
eles os seus guias, os dirigentes que lutam em prol do bem, pois
almejam seguir a caminho da perfeição e alcançar mais luz, e a
misericórdia Divina sempre há de enviá-los para que alcancem
seus progressos espirituais. Os Exus nada mais são que espíritos

                                                                151
que conhecem muito bem as leis do Universo, trabalhando com
muita dedicação para que o equilíbrio não seja quebrado. Estão
em busca da paz para se elevarem em boas energias.
         – Salve, senhor Exu.
         – Salve, Lídia. Diz-me o que deseja, minha irmã.
         Lídia estava muito tímida diante do espírito irmão. Al-
guma coisa estranha deveria estar nela, pois a sua aura se encon-
trava ligeiramente fraca, vazia. Ela inclusive se mostrava neutra
em suas reações, era como se estivesse dopada por algum senti-
mento. Algo estranho e duvidoso estava se passando. Por um
instante, ela fixou o olhar no irmão Exu como se estivesse ana-
lisando a sua aura. Calada diante dele, olhava-o de uma maneira
estranha. Tímido, ele lhe responde:
         – Nada não, não é nada.
         Ao afastar-se, Lídia o deixa feliz, pois ele percebe que
aquela estranheza era um bom sinal, afinal, Lídia não sentia mais
aquelas dores horríveis e isso era realmente uma grande vitória
de Lídia. Esperava que seu pressentimento não falhasse, pois
desejava imensamente levar aos irmãos superiores uma boa
notícia.

                                     Alguns meses depois
         Anita, muito feliz com sua gravidez provoca, de uma
maneira que parece casual, se encontrar com Oscar para que
ambos participem do desenvolvimento do bebê e possam com-
partilhar juntos o carinho por ele. Ela permite os seus afagos,
dados ao bebê.
         – O meu bebezinho já veio visitar-me? Onde será que
está a cabecinha do bebê, Anita?
         – Eu não sei dizer exatamente, mas me parece que está
aqui, deste lado.
         – Nossa Anita! Como ele se mexe! Será que percebe

152
quando a gente conversa com ele ou lhe faz afagos?
          – Sim Oscar, isso já foi provado pela ciência.
          – Se for assim, então vou aproveitar para dizer-lhe algu-
mas palavrinhas. Mas são particulares, só entre ele e eu, você não
pode ouvir. Meu bebê, assim como amo muito você, amo tam-
bém a sua mãezinha. Sabe meu filhinho, se sua mamãe permi-
tisse, ela não teria todo esse trabalho de vir com você até onde
estou. Sabe por quê? Eu lhe afirmo que, certamente, ficaria
com vocês 24 por dia. Mas quem sabe um dia? Em Deus eu
tenho essa certeza.
          Ao dizer tais palavras, Oscar olha fixamente para Anita e
ambos sorriem. Anita se afligia com a dor e o anseio de Oscar,
mas não estava agindo de propósito, pois Oscar era o homem a
quem ela tanto amava, mas era necessário que agisse daquela
forma.

                             Visitas de João ao Hospital
         João Eduardo continuara com o tratamento hospitalar.
Por vezes, acreditou não ser mais necessário dar continuidade ao
tratamento, por não sentir praticamente nada. Alguns reflexos
das crises que ele tinha vinham-lhe ao corpo mas, na verdade,
eram do seu psíquico, nada grave, como lhe acontecera há me-
ses. Ele temia, sempre que voltava ao hospital, que os médicos
lhe dissessem algo a respeito de sua saúde que ele não gostaria de
ouvir.
         Os irmãos do Centro Espírita diziam a João que ele
podia confiar e ter fé, pois se restabeleceria. Mas que não deixas-
se de retornar ao hospital quando necessário fosse, pois os médi-
cos do Plano Espiritual, por ética respeitam a Medicina do pla-
no físico.
         Suas idas ao consultório médico eram semanais; como João
se sentia bem, suas consultas passaram a ser quinzenais. Aconteceu,

                                                               153
no entanto, que o Dr. Osvaldo necessitou fazer uma longa viagem
ate a Itália para resolver uma herança de seus avôs, permanecendo
ausente de seu posto por dois meses.
          Nesse ínterim, João voltou ao hospital por algumas ve-
zes, mas não fora atendido em todos os detalhes necessários que
só o Dr. Osvaldo, como seu médico pessoal, fazia.
          Logo após retornar de sua viagem, Dr. Osvaldo pede a
João que faça os exames rotineiros referentes à sua enfermidade.
Após averiguá-los, Dr. Osvaldo fica estático diante do que vê.
          – Mas o que foi que o senhor viu aí nesses exames? É
algo tão ruim para o senhor ficar desse jeito, parado, sem me
dizer nada? Nenhuma palavra? O que há Doutor?
          – Não é nada grave meu amigo, mas acho que os apare-
lhos de ressonância devem estar com algum problema. Eu lhe
enviarei a outro laboratório para que sejam feitos novos exames.
Você se importa?
          – É claro que não, Doutor. O que precisar ser feito pela
minha saúde, eu farei de bom grado. Aconteça o que for, eu
não temo mais nada. Estou feliz e seguro em tudo. Se for para
eu partir hoje para outro plano, irei sem mágoas e sem ressenti-
mentos. Estou imensamente feliz, Doutor. Peço-lhe, por favor,
que não guarde nenhum segredo sobre o meu estado de saúde.
          Pelo modo de João agir, nota-se que havia contradições
em seu modo de pensar com relação à sua saúde. Hora ele acre-
ditava estar totalmente curado, hora ele imaginava que seus dias
estavam contados. Todo esse transtorno ocorria porque seu psí-
quico havia sido atingido, mas, com certeza, os psicólogos do
Plano Espiritual estavam trabalhando incessantemente para curá-
lo de seu problema psíquico, era só uma questão de tempo.
          Após refazer todos os exames, João Eduardo, ao retornar
ao hospital a pedido do Dr. Osvaldo, percebe no médico um
semblante sério. Ao se cumprimentarem, Dr. Osvaldo pede pra
que ele se sente, juntamente com Izabel, pois lhe daria uma

154
notícia duvidosa, dizendo-lhe, por mais uma vez, que os exa-
mes seriam refeitos. Ele reuniria uma junta médica no hospital,
com profissionais altamente qualificados, para resolver o que
estava acontecendo com os exames de João Eduardo e saber quais
providências deveriam ser tomadas, pois havia algo sem
explicação.
         – Doutor, o que o senhor está querendo dizer? Seja
claro, por favor!
         – Não vamos nos precipitar meu amigo, porque, como
você sabe, seu problema, além de delicado, é muito sério. Mas
me parece que as notícias são ótimas!
         – Como são “ótimas”, Doutor?
         – É que os exames não acusam nada de grave, e o tumor
nem aparece. Pelos exames, você está curado. Quero que me
perdoe pelo que vou lhe dizer, mas, sinceramente, não estou
acreditando. Quero que você aguarde um novo contato, mas,
de minha parte, estou felicíssimo, mas ainda preocupado.
         – Bendito e Louvado seja, Doutor! Meu bom José,
minha querida esposa Izabel, meus grandes amigos Anita e Os-
car, meus irmãos da Espiritualidade e o senhor Doutor, por
toda a sua dedicação. Seja o que for, em nome de Deus eu vos
agradeço.
         – Eu e a junta médica deste hospital vamos lhe pedir
dois meses, para termos a certeza plena e total do seu    diag-
nóstico.
         – Mas se o senhor diz que estou bem, por que isso
agora?
         – Por ser um caso inédito e delicado, temos que ter
100% de certeza. Esse tempo será o suficiente.
         Doutor Osvaldo lhe falou desta forma por não conhe-
cer as técnicas contemporâneas espirituais, só conhecia a parte
científica.


                                                           155
João e a Casa Espírita
          João Eduardo, depois de receber a notícia de que sua
saúde poderia estar restabelecida, apressado segue para casa para
compartilhar a felicidade que estava sentindo com os filhos. Ao
caminhar pelas ruas, deixava que suas lágrimas se misturassem
ao sereno e, na tarde fria de um mês de inverno, lhe permitia
que as pessoas próximas dele não percebessem sua comoção. Ao
chegar em casa, as primeiras pessoas que encontra são seus fi-
lhos. Izabel, ao vê-lo aos prantos como uma criança quando
busca amparo, pensa logo no resultado dos exames e não hesita
em envolvê-lo em seus braços.
          – Perdoe-me, por favor. Eu não deveria ter chegado des-
sa maneira para não preocupar as crianças, mas é que nós saímos
muito felizes do hospital, e esse choro é de pura felicidade! Eu
creio Izabel, que algo de maravilhoso tenha acontecido comigo.
Você, ou melhor, nós, temos acompanhado as complicações com
os exames, não é mesmo? Só que Dr. Osvaldo tem quase certeza
de que não deva mais existir enfermidade alguma em mim. Por
isso estou desta forma, feito um menino chorão.
          – Senhor Jesus, obrigada por tudo – agradece Izabel.
Perdoai-nos, ó bom Deus, pois grande é a vossa graça! Meu
esposo, você pode confiar, nós ainda seremos uma família mui-
to feliz!
          Logo, ao cair da noite, João Eduardo e Izabel vão até o
Centro Espírita para contar a todos sobre a graça recebida. Ao
encontrá-los, nada disseram. Por estarem emotivos, às vezes sor-
riam, às vezes choravam. O que fizeram, naquele momento, foi
abraçar forte os irmãos da casa espírita que, perplexos, sem sabe-
rem o porquê, pois ainda não haviam dado explicação, aceita-
vam os seus abraços sem nada lhes perguntar, pois certamente
falariam no momento oportuno. Foi ali que eles perceberam e

156
concretizaram em seus corações, as possibilidades que a
Espiritualidade lhes oferecia.
         João Eduardo e Izabel aprenderam a amar e a respeitar
os amigos daquela formação religiosa ou filosófica, principal-
mente pelo afeto e atenção que a todos eram peculiares. Doa-
vam-se uns aos outros com muito amor e solidariedade. João e
Izabel, depois de alcançarem uma graça impossível aos seus e aos
conhecimentos da Medicina, passaram a acreditar no elo entre a
natureza metafísica e o homem, o que para eles tornou-se algo
magnífico. Passaram a classificar o homem, em seu estado físi-
co, como uma matéria totalmente elaborada, desde a parte or-
gânica até a psicológica. Passaram a visualizar o homem, em seu
estado fluídico, como um ser totalmente elaborado por partí-
culas de igualdade, de respeito e de amor. Deslumbrados com o
que acabara de acontecer, eles se conheceram e se avaliaram como
membros do Cosmos e passaram a enxergar que o ser humano
está ligado à Espiritualidade pelo chamado cordão de prata, que
está situado no centro do cérebro.
         – Sua doença já não existe mais - dizia-lhe a Entidade
com a qual ele se consultava, chamado de Irmão X, um dos
mentores daquela casa que trabalhava com o médium Irmão
Lázaro. Irmão X foi a Entidade que abraçou a causa de João e de
sua família desde o início da doença ou peregrinação, coman-
dando com amor aquela causa juntamente com outros espíritos
trabalhadores da ceara do Mestre Jesus. Ali havia índios (Cabo-
clos) e sábios Pretos-Velhos, entre outros fieis companheiros da
Espiritualidade.
         – Como assim? Então eu estou curado mesmo? – inda-
gava João.
         – Sim, está totalmente curado, ou melhor, você nunca
teve essa doença, que foi projetada por Lídia e pelo seu
psiquismo, e se tornou mais evidente após o primeiro diagnós-
tico médico, quando afirmaram que você tinha um tumor

                                                            157
maligno. Meu irmão, nós já sabíamos da sua felicidade. Não
pudemos falar-lhe antes por motivos superiores que não nos
permitiam dizer. Tudo, meu irmão, no seu tempo exato. Esse é
o tempo. Temos uma grande certeza de que tudo o que ocorrera
a vós foi por misericórdia de Deus, para que aproveitassem essas
oportunidades doadas para evoluírem. E nós, do Plano Espiri-
tual, estamos 100% certos de que valeu a pena. Eu vos peço por
uma coisa meus irmãos: tenham misericórdia de nossa irmã Lídia,
pois ela, afinal, é nossa irmãzinha, pois como eu e vocês, ela é
uma criação de Deus. Orem por ela, meus irmãos, pois neste
exato momento ela está sob os cuidados de irmãos especialistas
em psicologia para o seu restabelecimento. Quanto a vós, meu
irmão, continue com suas visitas de rotina ao médico e não lhe
diga nada, por favor. Deixe que eles saibam por conta própria, é
o que lhe pedimos
         – E que mérito eu obtive para que essa enfermidade de-
saparecesse de meu corpo?
         – Essa doença não lhe pertencia, era projetada e quem a
enviava para vós, na verdade era o espírito de Lídia e aquela gang.
Lídia, que deixava as suas próprias sequelas em você, conviveu
com as mesmas dores que você sentia, até resolver abandonar
aquela vingança a convite de sua terna mãe. Ela optou por segui-
la, mas ainda sente rancor por você e por sua esposa. Um espíri-
to, tal qual Lídia, ao aproximar-se de uma pessoa traz consigo
todo o conteúdo de sua vida carnal. Ela dera passagem à enfer-
midade (câncer) pela qual culpava a ti, meu irmão. Como essa
enfermidade a intranquilizava, ao aproximar-se de ti ela jorrava
toda essa energia em forma de ódio em sua aura. Ela se aliviava
através de sua ira, e vós, meu irmão, se contaminava por estar
vulnerável. Em mais uns poucos dias essa energia ruim iria se
materializar, porque o seu psiquismo ou a força de seu pensa-
mento iria constituir e materializar o tumor em você. Aí então
não haveria mais solução, você passaria a realmente ter o tal

158
tumor, mas você nos procurou a tempo e isso foi muito bom.
         – Quer dizer que se ela morreu com essa doença e eu
sentia os sintomas que ela?
         – Exatamente. Se o espírito fizer a passagem da Terra
com uma doença ou qualquer outro problema, e aprender se
comunicar de maneira telepática, até que ele se esclareça conti-
nuará por raiva, vingança etc., enviando as vibrações que há em
seu psiquismo. Há casos em que ele consegue, em conjunto
com o psiquismo do encarnado, até materializar a tal doença, e
assim foi com você. O ódio que ela sentia por você era muito
grande, por não conseguir em sua vida terrena o que ela almeja-
va. Então, suas vibrações eram mais fortes e, sucessivamente, as
dores ou a tal doença apareciam com mais frequência. Portanto
agora, com certeza, você está totalmente livre, pois os nossos
irmãos trabalhadores do Plano Espiritual conseguiram afastar
definitivamente Lídia para uma clínica, e aquela legião que a
acompanhava optou por voltar para o lugar de onde vieram. As
vibrações ruins deles acabaram, eles só conseguiam lhe perturbar
sob o comando de Lídia, porque o motivo era ela, e, além do
mais, com suas orações e assistência espiritual de seus proteto-
res, eles não tiveram mais força suficiente para lhe atormentar.
Quanto à sua saúde, você aos poucos se restabelecerá. Mas para
que isso seja definitivo e concreto, é necessário que sua mente
esteja em perfeita harmonia com seus órgãos, que estão perfei-
tos. Os médicos irão constatar que o tumor que estava nos seus
rins sumiu e muitos acharão que foi um milagre ou outro fenô-
meno, ou mesmo que foi um erro médico.
         – Se acaso eu viesse a falecer, o que seria de meu espírito?
         Antes que désseis passagem, seriam contínuas as vibrações
em seu psiquismo. Lídia continuaria enviando-as, porque acredi-
tava que era a arma mais eficaz que teria pra lhe atingir e,
consequentemente, acabar com a sua vida terrena para depois lhe
conduzir, em espírito, para o local onde ela convivia com a legião.

                                                                 159
– Mas por que ela queria me levar? Pelo que eu saiba, ela
não me amava e nem eu a ela.
         – O que ela lhe fez não foi por amor. Ela se sentiu
descartável quando você não quis saber mais dela. Tudo o que
ela fez foi por vingança e por ódio. Ela acreditava que você fosse
propriedade dela e também o culpado por sua decadência finan-
ceira e por sua doença. Para concluir, seu ódio duplicou-se após
sua morte. No conceito que Lídia levara consigo para o túmulo,
ela estava onde estava por sua culpa, sua total culpa João. Apesar
de eu não ser juiz para julgar a sua culpa, o problema foi você
não ter esclarecido a ela por que estava acabando com aquele
romance ou aventura, que não existia nem uma gota de amor de
ambas as partes. Faltou-lhe a coragem para ser verdadeiro com
ela. O que ela queria, em verdade, era ver você passar por tudo o
que ela passou. Portanto, meu irmão, aquele câncer já não existe
mais em você e nem em Lídia.
         Ali, naquele momento, após uma longa conversa entre
o mentor e João Eduardo, um mensageiro, ao aproximar-se do
mentor, lhe trouxe uma ótima visita. Por um instante esse
mentor, emocionado pelas vibrações energéticas enviadas pelo
médium receptor, não se conteve e fez pender, sobre a face do
médium, sua satisfação e alegria em forma de lágrimas.
         – Acabo de receber uma ótima mensagem de um
guardião.
         – Qual é a noticia, meu irmão?
         – Lídia agora está entre nós. Neste exato momento, ela
está sendo enviada para um lugar, ou melhor, para uma colônia
de paz próxima de sua mamãe, onde serão regeneradas suas ener-
gias, por meio do auxílio cedido por sua genitora e outros pa-
rentes dela. Por isso temos que ir agora, mas em breve continu-
aremos nosso gostoso “bate-papo”, como dizem vocês



160
Lídia pede por remissão
          As suas mãos, os seus pés, o seu coração... envelhecidos,
feridos, em frangalhos. Por quê? Para quê? A sua carne já teria
há muito sido despojada aos vermes. Um mundo intenso à sua
frente seduzindo-a, num caminho cuja luz reluzindo em seus
olhos a hipnotizava, parecendo querer neutralizar todas as dores
que sentia. E era o seu ódio que a estava destruindo, aniquilan-
do-a, fazendo-a definhar para que em alma se transformasse em
verme.
          – Eu também sou filha de Deus – rogava Lídia.
          – Deus, tenha misericórdia de mim, Senhor, que tan-
to quero acabar com este ódio! Será, ó Pai, que tu me conce-
derás essa oportunidade? Não quero e nem suportarei viver
mais assim, como um verme. Abarca-me Senhor, com a vos-
sa grandeza. Eu, neste instante, me redimo diante de vós e,
de joelhos ao chão, me ponho em lágrimas diante dos seus
olhos, Senhor! Não quero mais tragar desse veneno cruel que
me faz definhar. Olhai por mim Pai, pois seu que errei se-
nhor, então, perdoa-me, ó Paizinho querido! Sinto que minha
caminhada é longa, mas sinto também que deste lado poderei
ser feliz, assim como minha mamãe o é. Ela não sente mais as
dores que sentia em seu corpo carnal e, com certeza, é pelo
amor que ela emana de seu límpido coração. Permita-me que
eu seja como ela! Prometo que já mais o decepcionarei.
          O mentor que estava encarregado dos ensinamentos a
Lídia diz:
          – Lídia, minha irmã. Chegou o momento de você ver
por esta tela materializada, o umbral onde estava antes de vir
para cá. É bom que veja, pois faz parte de seu aprendizado.
          O local onde Lidia havia estado tinha um forte cheiro de
corpos em decomposição. O que se via ali eram pessoas total-
mente deformadas. Ouvia-se gritos horríveis de sofrimento,

                                                               161
junto a gargalhadas demoníacas em um pântano lamacento e de
cor obscura. Havia muito fogo e fumaça, dor e ódio que os
alimentavam. Havia perispíritos em formas jovens que envelhe-
ciam porque, logo após jorrar suas dores e difamações sobre o
mundo terreno, voltavam para aquele lugar um tanto mais le-
ves, pra logo depois se sobrecarregarem até se reduzirem a nada.
         Naquele lugar, onde ninguém clamava por ninguém ou
por nada, às vezes alguns daqueles espíritos, ao se redimirem de
seus erros, saíam dali. Só que, quando ocorria alguma situação
desse gênero, na maioria das vezes uns não conseguiam, pois
eram acorrentados e escravizados, não passando de meros ins-
trumentos para servirem de escudos para os mais astutos.
         Diz o Mentor a Lídia: – Você teve a oportunidade de
reencontrar sua genitora em uma casa de oração, onde aquele
povo terrestre, por solidariedade e amor ao próximo, dispõe
de seu precioso tempo na Terra para servir a qualquer um
que lhes procure. E quero acrescentar que você realmente é
amada, tanto pela sua mãe como também por sua amiga que
está encarnada, cujo nome é Anita. Ela realmente lhe ama,
use-a como um porto seguro para que sirva em sua nova
etapa na vida espiritual.
         Os ex-companheiros de Lídia, ao vê-la do outro lado,
deixaram seus maus afazeres para tentar trazê-la de volta com
vibrações telepáticas, mas foi em vão, porque, a essa altura, já era
tarde demais, pois Lídia estava conhecendo o quanto é valioso o
perdão e o verdadeiro amor ao próximo. Tentaram hipnotizá-la
para deixá-la presa à ilusão das dores físicas de sua matéria, não
sabendo contar dias ou noites naquele lugar.
         – Senhor Deus! Deixe-me ver minha mãezinha queri-
da, que pela vossa misericórdia me tirou deste inferno – rogava
Lídia.



162
Missionários de Luz enfrentam o Umbral
        Os Exus, que mais uma vez frisamos, são pré-deter-
minados em suas escalas evolutivas, têm acesso aos campos
de contato que ligam o bem e o mal, auxiliando aos que bus-
cam a luz e aos que vêm para a luz, um trabalho magnífico.
Ao se aproximarem do portal daquele umbral, eles materiali-
zam roupas de chumbo para evitar as más vibrações, ondas
magnéticas ofuscantes que tentam impedi-los de entrar na-
quele local. Mas isso não era possível, pois aqueles missio-
nários, em sua grande maioria, já tinham passado por situa-
ções iguais naquele lugar, sabiam das artimanhas e usariam a
força se necessário fosse.
        – O que vieram fazer por aqui? – pergunta-lhes a le-
gião de espíritos trevosos.
        – Nada daquilo que nos é costumeiro, meus irmãos.
Por que perguntam?
        – Lídia, se é que vieram buscá-la, ela não está mais
aqui, vá procurar em outro umbral.
Nós já sabemos que agora ela não pertence mais a este lugar
– responde aos mensageiros
        – Nós estamos aqui em paz. Afastem-se, pois preci-
samos passar.
        De repente, homens em formato de animais pelo
estado psíquico surgem à frente deles, os quais, ao lançarem suas
espadas reluzentes, enfrentam-nos deixando-os embolados em
chamas e perturbados em gritos. Caminham 7 mensageiros sob
aquele mormaço ardente à procura de uma voz que tanto ressoara
seu pedido de clemência, que se ouvira por todos os recantos.
        – Aqui, irmãos, eu o encontrei.
        Mesmo sabendo de suas linhagens na Espiritualidade,
e que coisas horrendas se faziam por ali, esses mensageiros
por hora também se apiedavam, como no caso de Lídia, que

                                                             163
já não tinha mais os seus pés naquele lugar horrível. As suas
mãos estavam envoltas de chagas e seu corpo começara a se defi-
nhar. A sua voz, rouca, porém ainda reconhecível, se punha a
dizer:
         – Me tire daqui! Por favor, me tire daqui! Era Gildo, o
ex-Pai de Santo e Lúcio.
         Lídia, assistindo à distância, ou melhor, por uma tela
projetada para essa finalidade, diz em seus pensamentos: –
Graças! Graças ao Bom Deus! Como o senhor é maravilhoso!
Os mensageiros conseguiram tirar mais dois daquele lugar
horrível.
         – Irmão, o seu pedido de ajuda chegou até nós, e sua
força de vontade nos fortalecerá ainda mais. Mantenha fé, pois
é pela força do seu pensamento que conseguiremos tirá-los
daqui!
         Lidia sussurra: – Como eu gostaria de estar lá, nesse
umbral, exatamente nesse momento, junto àqueles mensa-
geiros, com uma espada em punho e trabalhando em prol da
luz. Que maravilhoso é o resgate desses espíritos que querem
se redimir
         – Nós podemos levá-lo em nossos braços, mas estamos
certos de que você poderá buscar os seus pés e caminhar por
si mesmo.
         – Eu não tenho mais os meus pés... O que devo fazer?
         – Pense no criador, somente nele, com toda força que
lhe resta e com resignação.
         – Senhor, eu quero sair daqui! Ajude-me!
         Uma nuvem clara envolve os seus pés e Gildo, cir-
cundado pelos mensageiros, sai daquele local junto com Lú-
cio, e logo os dois são encaminhados para um hospital que há
no espaço, para a cura de seus perispíritos.
         – Que bárbaro! Que trabalho lindo o desses mensageiros!
É fascinante o resgate, salvar almas, fazer o bem, que maravilha!

164
João Eduardo em outra sessão com o mentor
         – E Lídia, agora também está curada?
         – Sim, para onde ela foi conduzida, entendeu que a
doença era do seu corpo físico, que ficou debaixo da terra.
Por misericórdia de Deus, a doença que está em seu psiquismo
os mentores saberão com certeza como curá-la. Quanto ao
Gildo, o processo é o mesmo, só que bem mais demorado, e o
destino dele só Deus sabe. Mas penso que ele se tornará um
bom mensageiro ou guardião no futuro.
         – Por que só agora os mentores conseguiram afastar
Lídia do meu João? – pergunta Izabel.
         – Porque, para isso, é necessária a técnica de espíritos
especializados, e é necessário que haja permissão de vocês e
dedicação total. Quando nos procuram, tudo fica mais fácil e
nós, tendo a vossa permissão para trabalhar, conseguimos
salvar Lídia, doutrinar alguns daqueles espíritos e conduzi-
los para outras colônias, onde terão novas oportunidades de
aprendizado. Quanto a Lídia, foi realmente muito difícil afastá-
la de você e de João, que era o mais atingido, mas graças a
Deus e aos experientes e sábios mentores de luz, que
perceberam o ponto fraco de Lídia, que é sua mãe, a pessoa ou o
espírito a quem ela realmente ama de todo seu coração, com
essa estratégia, os bons irmãos conseguiram, com muita dedica-
ção, encontrar e trazer a mãe de Lídia, que muito colaborou e
tudo foi resolvido com sucesso. Quanto ao Lúcio, foi mais fácil
após descobrir que o que ele sentia na realidade era orgulho ou
egocentrismo. Seu amor próprio estava ferido por perder Izabel
para você. Os nossos mentores, compostos de Caboclos, Pre-
tos-Velhos, Boiadeiros, Exus e outros como psicólogos, psiqui-
atras e médicos, todos do plano espiritual, já conduziram boa
parte desses espíritos que traziam transtornos a vocês. Eles

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foram levados para escolas e clínicas, onde verão que o espírito é
saudável, pois a doença só existe no corpo físico e no psíquico,
tanto da mente encarnada como também do espírito. Porém,
os conduzidos para clínicas ou escolas foram espontaneamente,
por vontade própria.
        – Naquela sessão em que Lídia estava presente, eu
pensei que meu João não voltaria à vida, mas graças a vocês
todos e ao senhor José, que carinhosamente nós chamamos
de meu bom José, meu marido esta aí para contar sua saga.
        – E por que só alguns e não a todos, meu irmão?
        – Se Deus disse “Eu não tenho nenhum filho a per-
der”, perdem-se aqueles que querem ficar perdidos, ou me-
lhor, os que continuam com o objetivo do ódio, da vingança,
da ganância etc. Isso quer dizer que Ele, o nosso bom Deus,
nos deixou a lei universal do livre-arbítrio, lembra-se?
        – Sim, agora eu me recordo quando o senhor me dis-
se, pouco tempo atrás.
        – Os seres humanos, quando desencarnam ou dão
passagem da Terra, a que nós chamamos de “mundo de expi-
ações”, em sua grande maioria são pessoas pouco esclarecidas
quanto ao mundo espiritual, ou seja, o “plano astral”. Quan-
do em espírito, não percebem que a sua carne morreu, pois
perdem a noção e, em seus devaneios, acham que tudo aquilo é
só um sonho ruim ou um pesadelo. Às vezes, quando percebe
que desencarnou, a pessoa entra em estado de loucura, depres-
são ativa, inquietude e muitos outros sintomas, porque ainda
está apegada aos bens materiais, objetos de suas paixões. Nós,
mentores e mensageiros, buscamos proteger àqueles que neces-
sitam e aos que querem ser auxiliados com bons aprendizados.
É aí, meu irmão, que entra a “lei do livre-arbítrio.”
        – Como sabemos quando morremos? – pergunta curioso,
João.
        – João, para que tenhamos consciência de nossa

166
passagem, precisamos estar bem informados em relação ao mun-
do extrafísico e a Espiritualidade, ou seja, com o mundo dos
espíritos. Nesse caso, a leitura de bons livros ajuda aos que habi-
tam a Terra a serem mais informados, pois os bons livros espíri-
tas, em sua maioria são psicografados por espíritos extremamente
sábios, inclusive a Bíblia, desde que bem         interpretada.
         – Porque acontece isso, como no caso de Lídia?
         – Acontece justamente quando as pessoas são apega-
das às coisas terrenas, aos bens materiais, pois o bem maior
está em seu coração, e a melhor maneira de se desviar desse
apego é procurar conhecer Deus em sua essência e magnitude,
ou melhor, como espírito, e lembrar que fomos criados por Ele
à sua imagem e semelhança, em espírito, literalmente. Tanto
nós, espíritos, como também o corpo humano, pois sem o Cri-
ador não há a obra, ou melhor, a obra-prima, pois, com toda a
convicção, nós somos a obra-prima de Deus! Sendo assim, a
melhor maneira para evitar que empecilhos ocorram em nossa
vida espiritual é estarmos continuamente contritos diante de
Deus Pai e abertos aos bons aprendizados, que nos levam a
caminho da evolução.
         – E quanto a não sabermos que morremos? O que pode
nos acontecer, meu irmão?
         – As pessoas desinformadas desse aprendizado se
desligam do corpo físico de acordo com o seu estado psíquico.
Um exemplo: Nem sempre, e pela condição do psíquico, a pes-
soa desencarnada aceita a sua passagem devido ao apego que tem
aos bens materiais conquistados, como eu disse antes, ou até
mesmo a um ente querido, paixões etc. Se esse ser não tiver um
bom esclarecimento espiritual, que lhe ensine a não ter tanto
apego às coisas terrenas, mais difícil se tornará para ele desligar-
se do plano terreno. Observe bem: O desligamento do corpo
físico é imediato, mas do plano terrestre é de acordo com o
tempo, que é senhor supremo e sábio.

                                                                167
– Então, quer dizer que a maioria, ao morrer, fica ligada
ao corpo físico?
          – Não propriamente ao corpo que está debaixo da terra
ou cremado, ou até em outro estado. Quando o sangue para
totalmente de circular, os órgãos do corpo físico também pa-
ram, então, todo o processo físico também pára, inclusive o
cérebro perde sua consciência e, aí, automaticamente o espí-
rito se desliga do corpo, saindo em forma de ectoplasma ou o
“fôlego da vida”, que o individuo adquiriu em seu nascimen-
to. Mas o espírito não perde sua consciência, e nesse caso ele
acredita estar sonhando ou vivendo um pesadelo horrível,
começando a vagar pelo tempo e carregando em seu subcons-
ciente o peso de seu corpo físico, impregnando sua casa e
familiares e tudo o que deixou para trás. Aí então, após um
determinado período, ele encontra a casa dos seus familiares
ou o local onde ainda está impregnada a sua vida material
(que pode ser sua casa, uma jóia, roupa ou até mesmo uma
árvore que ele plantou quando vivo) e começa a tentar
comunicar-se.
          Para que você compreenda melhor, irmão João, esse
estado é como se o espírito ainda estivesse preso ao seu corpo
físico; ele sente suas mãos, pés e todos os membros do corpo,
inclusive o problema que lhe causou a morte. No caso da pessoa
ser bem idosa, esse processo é bem mais ameno, porque o espí-
rito já é mais experiente, tanto materialmente quanto espiritual-
mente, pelo tempo vivido na Terra. Imagine você tendo um
pesadelo e querendo gritar ou se mover e não conseguir! Mas é
aí, no entanto, que se vê o imaginário, pelo psíquico ou
perispírito.
          – Há um momento exato para que o espírito se
desprenda do corpo?
          – Veja bem João Eduardo, o espírito, quando
reencarna, toma o seu corpo exatamente no momento do

168
nascimento, que também é chamado de “fôlego da vida”. É nes-
se exato momento que o recém-nascido se torna independente
do espírito e do corpo físico de sua mãe. Todo esse processo tem
a ver com o oxigênio, o momento em que a criança aspira e o
espírito se torna reencarnado, passando a pertencer ao seu corpo
e a ter vida própria. Da mesma forma, quando a pessoa falece,
ela expira, e é nesse momento que o espírito se desliga do corpo.
E se o desencarnado não for bem esclarecido, aí então começa o
pesadelo, conforme lhe falei. Ele vê tudo o que se passa à sua
volta... Vê a sua família chorando, vê o velório, a cerimônia
fúnebre, enfim, ele observa tudo o que está próximo de si. Mas
repito-lhe: Tudo o que se passa com ele acontece como se esti-
vesse dormindo, por acreditar que toda aquela situação seja um
sonho. Isso tudo por ele não ter a prática da vida espiritual.
Mais ou menos como uma criança que precisa aprender a andar.
         – Mas e os irmãos do plano espiritual, não vêm em seu
socorro pra resgatá-lo, como eu já fui informado?
         – Os irmãos sempre vêm em socorro, pois estão pron-
tos para essas situações. São os chamados “Auxiliadores”. Mas
nem sempre os recém-desencarnados aceitam a ajuda de tais es-
píritos, achando que tudo aquilo faz parte de seu sonho ruim,
pois acreditam que aqueles espíritos fazem parte de seus deva-
neios. Ali, João, além dos espíritos auxiliadores aproximam-se
também os espíritos das trevas para tentar resgatá-lo, e várias
dessas almas são levadas por eles, de acordo com seu proceder
durante a vida terrena (lei de causa e efeito).
         – Irmão, quem tem mais seguidores? O bem ou o mal?
         – Não há mais nem menos, tudo depende das ações
         de cada um durante a vida material.
         – Por que, irmão, algumas pessoas ao desencarnarem
ficam nessa aflição?
         – Tudo na vida de um ser vivente é uma questão de
tempo, o tempo é que nos indica algo a ser feito. Mas quanto

                                                             169
ao homem recém-desencarnado, por aflição daquilo que lhe disse
pouco antes, ele tenta contato com os parentes mais próximos,
principalmente onde viveu os seus últimos dias, pois ali está
impregnado o seu EU e os seus bens materiais, não sabendo esse
irmão que, a partir dali, o seu bem mais precioso está em seu
coração ou pensamento. E enfatizo, é como disse nosso Mestre
Jesus: “Onde está o seu tesouro, ali está o seu coração”. Por isso
é recomendável orar sempre em favor dos entes queridos, para
que eles não se tornem revoltados ou abandonados e sucessiva-
mente venham a sentir revolta e ódio pelos que ficaram, como
dizem vocês, ainda vivos ou presos em seus corpos carnais aqui
neste plano.
        Quando esse espírito se põe presente, as pessoas mais
sensíveis ficam com a sensação da presença de alguém e pas-
sam a ter medo, angústia e até sensação de morte, porque,
pelo fato dele estar com essas sensações, a sua energia passa
também a ser reflexo de um suposto pesadelo. E, quando a
maioria dos desencarnados começa perceber que há algo
estranho consigo, se perguntando “será que eu morri?”,
começam a passar para as pessoas o seu medo e a sua angústia de
forma telepática. Essa é a maneira que o espírito sem prática
tem para se comunicar, porque ele não tem tato e nem as cordas
vocais, mas dificilmente as pessoas percebem ou sabem se co-
municar com seus entes queridos, por falta de conhecerem bons
livros que possam lhes transmitir um bom ensinamento sobre o
mundo espiritual. Por isso é recomendável as orações em favor
daqueles espíritos que se foram para uma nova vida, é obrigação
dos que ficaram no plano físico encaminhar seus entes queridos
para esferas luminosas ou para o Céu, como dizem outras deno-
minações ou filosofias religiosas. Com o passar do tempo, os
que eram recém-desencarnados obtém a prática desse tipo de
comunicação através da telepatia, sugestionando as pessoas e fa-
zendo-as acreditar que possam estar até doentes, ou melhor, com

170
o mesmo problema que deveras tenha causado a sua morte. Mas
há casos e casos, uns passam a ter consciência que deram passa-
gem, mas outros continuam achando que é pesadelo. Também
há os espíritos vagabundos que convencem o recém-falecido de
que sua família lhe virou as costas e, por isso, ele deve se vingar, e
então começa a se formar uma corrente maldosa contra aquela
família, chamada de legião. Muitas vezes a vítima confunde todos
esses transtornos com feitiçaria, olho gordo, inveja etc. Você se
recorda, João Eduardo, com quem isso aconteceu?
         – Graças a Deus, irmão, não tenho mais essas sequelas.
Mas isso acontece sempre?
         – Sim, mas que para isso ocorra é necessário que a
pessoa esteja vulnerável. O ideal é as pessoas serem mais
zelosas com seus entes queridos e fazê-los entender que a
vida continua após a morte física. Rezar ou orar para que
bons espíritos ou o santo de sua devoção possam conduzir
aquela alma para um bom lugar, um lugar de aprendizado,
rogar a Deus transmitindo muito amor para que aquele que
partiu entenda a sua passagem, o seu tempo na Terra, o ciclo da
vida, assim como uma árvore, que morre após dar frutos e som-
bra, mas as suas sementes infalivelmente germinarão e surgirão
novas árvores em forma de uma nova reencarnação.
         – É realmente uma boa forma para evitar transtornos.
         – Estando envoltos pelo bem, certamente nada de mal
os atingirá. Por meio das orações nós podemos nos livrar de
várias espécies negativas da Espiritualidade, como os
obsessores, os suicidas, os gananciosos, os caluniadores e
corruptos, que enganam seus semelhantes ou súditos, os es-
píritos da inveja, os que vos transmitem enfermidades e mui-
tos outros. Por isso, meu irmão, é que devemos orar a Deus
sempre, pois a oração nos irradia e nos alimenta a alma. As
boas orações são sinônimo de amor, e são verdadeiramente
um porto seguro para todos.

                                                                  171
– Então, nos dois mundos é tudo igual?
         – Veja bem, o Plano Espiritual é um mundo de aper-
feiçoamento, e o mundo material é um lugar de expiação,
aprendizado e acerto de contas.
         – Não entendi.
         – O mundo de aperfeiçoamento é onde aos poucos
nos livramos de coisas fúteis que cometemos, e que inclusive
podem nos custar várias reencarnações. Por isso, depois de
esclarecidos, não temos fome nem sede, nem a necessidade
de acumular bens como imóveis, dinheiro, carros e tantas
outras coisas as quais damos tanto valor aqui neste plano,
onde infelizmente ainda impera a ambição e a ganância. Mas
o tempo vai cumprindo a sua etapa.
         Em contínuas perguntas ao Mentor Espiritual ou ao ir-
mão Lazaro, um médium muito bem preparado, João Eduardo
recebe deles informações extraordinárias do mundo espiritual.
Irmão Lázaro sabia que aquela busca incessante de informa-
ção por parte de João Eduardo lhe seria muito importante, pois
ele realmente buscava esclarecimento do mundo transcendental.
E, sem que percebesse, estava se tornando um verdadeiro mem-
bro daquela casa de caridade.
         – Estou orgulhosa de tê-lo como meu companheiro, a
quem Deus permitiu que passássemos por toda essa situação
para ficarmos mais esclarecidos quanto ao prosseguimento de
nossas vidas em evolução, pois fazemos parte dessa evolução.
         – Enquanto Deus permitir, eu ficarei sempre ao seu lado
Izabel, pois só agora sei que nós somos parte um do outro, mi-
nha doce rainha! Como eu te amo! Deus é testemunha! Quero-
lhe sempre e sempre juntinho de mim. Você é a minha pedra
preciosa, o meu porto seguro. Nós não ficaremos longe um do
outro nunca mais, Deus há de nos conceder essa graça.
         – Eu te amo, Izabel!.
         – Eu te amo, João Eduardo!

172
As crises que João sentia, desapareceram. Izabel se tor-
nara uma mulher mais jovem fisicamente, pois superara o vício,
que aos poucos a extinguia. Os filhos se encontravam bem e a
paz voltara àquele lar. Todo o ódio em forma de pesadelo, que
entre eles se estabelecera, desapareceu. João tomara novos ru-
mos profissionais; escolhera para si uma função mais alinhada,
onde pudesse tranquilamente cumprir as suas obrigações como
pessoa séria e de bom caráter com as suas responsabilidades. Fi-
nanceiramente, João Eduardo era um homem com bem menos
dinheiro do que antes, mas com uma situação estável, buscando
respeitar com dignidade as coisas alheias e a si, e também a
compactuar com as pessoas mais simples a sua atenção e os seus
gestos solidários.
        – Hoje eu tenho de ir ao centro espírita mais cedo,
porque haverá uma reunião importante. Você irá comigo hoje,
Izabel?
        – Sim, quando quiser e como quiser, meu senhor.

                                            A Casa de Caridade
         A cada duas semanas, às quartas-feiras, as sessões eram
feitas somente com a classe mediúnica, onde, além da presença,
ou melhor, do contato com os Espíritos, havia um tempo para
fazerem leitura e explanação de bons livros espíritas. Era um
conceito de busca de conhecimentos numa ciência profunda-
mente tentadora, que em sua beleza se ocultava como em mati-
zes. Assim também os espíritos com pouco conhecimento, como
por exemplo, Lídia, também poderiam desfrutar daquele bom
aprendizado.
         Após leituras feitas e com a presença das Entidades Espirituais,
poderiam ser feitas perguntas para esclarecimentos pessoais. Médiuns e
mentores se dispunham a dar todas as explicações.
         – Irmão, onde moram os espíritos? – perguntou João Eduardo.

                                                                     173
– Assim como disse o nosso Mestre Jesus, existem mui-
tas moradas, meu irmão, que estão de acordo com a compreen-
são de cada espírito. Existem lugares maravilhosos, lugares ame-
nos e lugares horríveis, de muito sofrimento.
        – E como fazer para que um espírito mau se torne
bom? – indagou Izabel, mas antes que o mentor pudesse res-
ponder, uma senhora que ali estava, rapidamente virou-se e
disse:
        – Louvado seja o nome do Senhor Deus! Eu sou Lídia,
necessito do perdão de vocês dois para que possa alcançar os
meus objetivos e as graças divinas.
        A senhora, tomada pelo espírito, se põe a chorar. Era Lídia!
        – Por Deus, perdoem-me! A minha morada ainda é um
pouco distante e se tornará próxima de Deus através do perdão
de ambos, e minha caminhada se tornará mais suave
        – Não lhe perdoamos só uma vez minha querida irmã,
como lhe perdoamos quantas vezes forem necessárias – res-
ponde Izabel, carinhosamente. – Que Deus lhe fortaleça em seu
novo caminho rumo à Espiritualidade. Lhe pedimos que nos
perdoe também.
        – Me perdoe Lídia – diz João Eduardo, – pois tudo
não passou de um mal-entendido. Minha irmã, eu realmente
fui egoísta, só me preocupando com o meu bem-estar.
        Em seguida, aquela senhora é tomada por um grito
tão piedoso que algumas pessoas se assustaram e, entre elas,
além de João, Izabel e o mentor, todos viram que uma mulher
jovem – Lídia – levantara seus braços abertos, glorificando a
Deus pelo perdão tão rápido. Em meio ao testemunho, as
pessoas começaram a ouvir uma suave melodia de louvor a
Deus, que saía dos lábios de uma das pessoas ali presentes.
        – Mais uma vez a vitória. Mais uma vez, Lídia, em sua
mutação, de espírito rebelde torna-se um espírito bom – diz o
mentor a todos. Pela pergunta que a mim fizestes, irmão, creio

174
não ser necessária a minha resposta, mas posso lhe afirmar que,
a partir de agora, Lídia estará em boa companhia, pois sua ma-
mãe estará com ela como assim sempre desejou tê-la como eter-
na companheira. Vá com estes irmãos maravilhosos e dedicados
e também com a presença de Deus altíssimo, Lídia. Deus real-
mente não tem nenhum filho a perder, todos têm chances de
voltar para Ele. Quaisquer Entidades podem conduzir o espírito
para o lado do bem, com amor e dedicação. O amor e o perdão
são as mais eficazes das armas. Não há nada melhor para comba-
ter o mal do que o amor, pois o mal é sinônimo de ódio, de
revolta, de violência e de terror. Esses sentimentos ruins afetam
tanto o plano material, quanto o espiritual. Mas o amor, sinôni-
mo do bem, o Grande Criador deixou para reger o nosso Univer-
so que está aí, completo em seus planetas e em suas galáxias. Com
suas estrelas, com seus astros e com toda a Criação que o nosso Pai
Eterno nos deixou, além de sua generosidade em multiplicar os
alimentos, a água em abundância e o oxigênio, que carinhosa-
mente chamamos de o “Hálito de Deus” e tantas outras generosi-
dades. No plano espiritual nós vivemos em plena evolução, prin-
cipalmente quando temos a oportunidade de trabalhar com as
nossas energias em prol do próximo. E quando ainda somos pou-
co esclarecidos, passamos por estágios, que nada mais são do que
o nosso regresso ao mundo de expiações, assim chamado por nós,
pois somos nós mesmos que nos condenamos a reencarnar, e pe-
dimos para voltar para, aqui em Terra, poder resgatar as nossas
dívidas de vidas passadas. É como uma duplicata que você tem de
pagar ao seu credor. Por isso aqui, no plano terrestre, nunca so-
mos totalmente felizes, somos inseguros com o dia de amanhã.

         – É a isso que chamamos de reencarnação?
         – Exatamente. A reencarnação é o ressurgimento do es-
pírito, como as sementes que brotam e renascem sobre a terra.
A morte é um fenômeno natural, a passagem para a outra vida,

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a liberdade do espírito. Assim como a reencarnação é a passa-
gem para a expiação.
Aqui, neste plano, os espíritos encarnados sofrem pela
insegurança e necessidade de obter bens materiais para a con-
tinuação da vida, tida como preciosa. Todos amam a vida
porque ela oferece a oportunidade de resgatar dividas anteri-
ores, os espíritos encarnados têm este instinto e sentem o
receio da morte e querem viver vários anos, por terem aqui
na Terra a grande oportunidade de se resignar. Portanto, quanto
mais tempo ficamos presos ao corpo físico, mais se tem a
oportunidade do resgate. Mas mesmo assim há limites, devido
ao peso da carne. Aqui, no plano espiritual, nós nos tornamos
mais leves, porque deixamos a roupagem que nos oprime (o
corpo físico). Tanto é que, ao chegarmos aqui, de volta no mundo
espiritual de forma natural, nós, em nosso subconsciente, sorri-
mos, ao passo que, ao chegarmos aqui em Terra pela reencarna-
ção, ao nascermos, choramos.
          Nesse momento, Isabel faz uma pergunta ao irmão
espiritual.
        – E você, irmão, deve ser um espírito de muita luz!
Ainda haverá a necessidade de você reencarnar e voltar para
este plano?
        – Tenho me dedicado muito para que não haja mais
essa necessidade, pois reencarnar, para nós, é como a morte
no plano físico. Quanto mais trabalhamos, mais queremos
trabalhar, porque é pelo labor que conseguimos erguer a ban-
deira da paz e do amor, em prol dos nossos semelhantes e da
evolução. Trabalho não por mim, somente. Trabalhamos por
nós, incansavelmente, por toda a eternidade. Essa é a ebuli-
ção do Universo. Somos energia, minha irmã, e desejamos
que um dia o Universo seja totalmente iluminado pela compre-
ensão. Quanto a reencarnar, só se eu regredir em minhas ações.
Pode ser até que eu esteja na fase angelical, e isso é imutável.

176
Mas, se eu regredir, o meu tempo de estada como reencarnado
poderá ser de um segundo apenas, uns meses ou poucos anos,
como também poderá ser de vários e vários anos. Isso depende
dos meus próprios conceitos, ou seja, dos meus atos, de minha
livre escolha. Você entendeu minha irmã?
         – Ainda estou confusa.
         – Observe que aqui, neste plano físico, milhares de
seres humanos retornam em suas passagens de volta ao plano
espiritual diariamente. Adultos, crianças, idosos e adolescentes.
Isso porque a reencarnação tem um tempo de expiação, ou
um prazo de validade. Como diz a palavra de Deus, “O fruto
será colhido em seu devido tempo”.
         – Ainda estou um pouco confusa, irmão.
         – Vou lhe dar um exemplo: se você contrai uma pe-
quena dívida, você vai pagá-la mais rápido. Por quê? Porque
ela ainda está pequena. Porém, se a sua dívida for grande,
certamente que se puder você pagará, caso contrário, você levará
um tempo maior para quitá-la. Quando uma criança morre, é
exatamente porque em sua vida passada só existia uma pequena
dívida, ou seja, um pequeno carma para o seu resgate, ou para a
sua volta à Espiritualidade.
         – Irmão, agora compreendo como a obra de Deus é
perfeita e cheia de graça!
         – Sim, irmã, e olha que só conhecemos um milésimo
dessa perfeição. Imagine o restante! São coisas que na graça
de nossos pensamentos nem há como alcançar.

                            O bom José e João Eduardo
        Terminada a sessão, João se sente envergonhado de
perguntar ao médium Lázaro ou ao mentor a respeito de sua
saúde, pois, ainda frágil em seu pensamento, uma gotinha de
medo rondava sua fé, que não era totalmente convicta. Seu

                                                             177
retorno ao médico fora marcado para o dia seguinte e, a partir
dali, João contava cada hora que se passava, permitindo em si
que uma pequena amargura lhe corroesse.
         Ao saírem do centro espírita, João e Izabel foram
acompanhados até o veículo pelo irmão José, o bom José,
que havia percebido no semblante de João que ele não se
sentia bem, pois escondia alguma amargura.
         – João, não me negue. Diga-me, por favor, Por que
você está permitindo que essa angústia lhe tome? Não, não é
possível meu irmão, que por um pequeno deslize você jogue
a sua felicidade fora, isso é inadmissível!
         João não manifestara o seu temor a Izabel para que ela
não se preocupasse. O que ele não queria também é que alguém
jamais soubesse de sua particular incredulidade. João Eduardo
não conseguia assimilar para si que o seu problema era o que
popularmente se chama de “encosto” e, em seu conceito, o afas-
tamento do espírito obsessor não iria lhe trazer a cura de seu
corpo físico. Ainda havia em João um pequeno sinal de des-
crença; não quanto à Espiritualidade, mas quanto à duração de
sua vida neste plano.
         – Perdoe-me, meu bom José. Eu sei que é tentação
ou ignorância minha, por isso peço ao senhor que me ajude.
         – Acalme-se, meu bom rapaz, que tudo dará certo.
Confie em Deus.
         Izabel, entremeada em lágrimas, sorri e abraça João
Eduardo ternamente, dizendo-lhe:
         – Meu grande esposo, o nosso carma ainda está muito
pesado. Com o que aprendi há pouco com o nosso mentor,
temos uma dívida dolosa para resgatar, por isso viveremos
até nossa total velhice. O nosso bom José é quem pode nos
dizer também quanto a esse nosso carma.
         – Tenha fé, meu filho. Que tenha a sua fé a dimensão
de uma semente de mostarda, não importa. Tu e tua compa-

178
nheira sigam os teus caminhos na paz do Senhor, nosso Deus.
Não se preocupem, vão em paz.
         Ao ouvir aquelas palavras do bom José, João Eduar-
do sentiu-se mais confiante, tranquilo e com uma expressão
de sorriso na face, pois adorava quando seu bom amigo lhe
passava alguma mensagem. Isso lhe confortava.
         Já sozinho, João se perguntava: – Será que estou curado
mesmo ou o meu problema é psíquico? Ou será que eles estão
me escondendo a verdade para que eu não me desespere? O que
será meu Deus? Será que o pessoal do centro está mentindo
para que eu não caia em desespero?
         O espírito transmissor deixa transparecer a doença no
corpo, na alma ou no psiquismo.
É o que todos da casa de caridade dizem a João Eduardo e
Izabel. Quando surge no corpo, a medicina consegue diag-
nosticar por intermédio de exames avançados como radio-
grafias, ultrassonografias e ressonâncias, que buscam tumores
benignos, malignos e tantas outras enfermidades. Mas se o pro-
blema estiver na alma, o espírito que causa obsessões transmite à
sua vítima, por meio de ilusões, uma variedade imensa de acha-
ques, trazendo-lhe uma série de sintomas. Isso torna a vítima
desses espíritos perturbadores muita agressiva, podendo, em al-
gumas dessas situações, levarem-no a uma enfermidade desco-
nhecida pela medicina. É o que comumente acontece.
         Citemos como exemplo o caso de João Eduardo, quan-
do auxiliado pela Espiritualidade. Se a pessoa possuída, seja por
incredulidade, falta de orientação ou desconhecimento não bus-
car socorro para iluminar sua aura, certamente que com o tem-
po o seu corpo se tornará morada de espíritos sugadores ou
vampirescos, que nada mais são que energias de baixa frequência,
que acreditam que só podem sobreviver dessa forma, sugando a
energia alheia. E quando a situação se entrelaça nesse sentido,
fica quase impossível a recuperação da pessoa que está sendo

                                                             179
obsedada. O “encosto”, afeta o paciente ou vítima de tal forma,
que em muitos casos a vítima começa a declinar psíquica e fi-
nanceiramente, e até no convívio familiar e de amigos. Outros
passam a usar drogas e bebidas alcoólicas em excesso e a agredir
fisicamente as pessoas. Existem médicos, advogados, intelectu-
ais ou outros, morando nas ruas, embaixo das pontes ou em
hospícios, sem que haja uma explicação coerente ou convincen-
te de psiquiatras de renome para esse tipo de comportamen-
to, pois no cérebro do paciente não consta nenhum tipo de le-
são, sendo que esses problemas ou anomalias são causados pelos
chamados “encostos”.
         Mas no caso de nosso amigo João, mesmo ainda estan-
do um pouco descrente, há sim grandes possibilidades de cura.
Retirou-se dele o espírito que o obsedava, conduzindo essa frá-
gil criatura para outras esferas evolutivas, onde terá novas opor-
tunidades de superar as suas próprias sombras. Cuidar de um
espírito como Lídia requer paciência e muita dedicação.


      Em Sintonia com o Divino e com a Natureza
         Acreditamos que estar em sintonia com a Natureza é
estar em harmonia com o “Onipotente”. Os elementos da
Natureza – água, terra, fogo e ar – são primordiais para nossas
vidas, acreditem! Os vegetais, em sua grande variedade, nos
são úteis devido a grandes fontes energéticas que possuem. A vela
simboliza o sol ou o fogo; Usamos as velas por causa do fogo,
pois fogo é luz, que ao resplandecer nos serve como ponto
referencial. Como dizem, “Uma luz no fim do túnel” ou a “estre-
la guia”. Onde há uma vela acesa, o ambiente se torna purificado,
pois o calor da mesma mantém aquele local livre de bactérias, e os
trabalhos espirituais seguem envoltos em energias boas ou ruins,
de acordo com quem os estiver conduzindo. Se tudo o que há

180
aqui, neste orbe, é dádiva de Deus, por que não utilizarmos o
que Ele nos emana?
        Vejamos a importância das ervas, em conjunto aos
quatros elementos da natureza.

                                                        As Ervas
         As ervas são ricas em clorofila e outras substâncias
fornecidas pelos quatros elementos da Natureza. João Eduar-
do, em uma das sessões, pergunta ao Irmão Lázaro sobre a
utilização das ervas nos trabalhos.
         – O Senhor e as entidades, irmão Lázaro, se utilizam
de instrumentos como velas, águas e ervas, para captar for-
ças positivas. Por que isso se faz necessário aqui, nesta casa
de caridade, se em outras denominações o que basta são as ora-
ções, dízimos e ofertas?
         – Cada lugar tem o seu culto, o seu ritual, a sua liturgia.
Em todas as denominações, os dirigentes, quando bem in-
tencionados em suas progressões, tudo o que ali por ele for
utilizado tem a sua eficácia. Em nosso caso, sabemos que.
quando nós, seres humanos, ingerimos verduras e ervas cru-
as conquistamos um grande benefício, tanto para o corpo
material, quanto para o corpo astral, ou seja, nossas aura ou
corpo astral também são beneficiados com os alimentos, chás e
banhos com ervas.
         Os nossos antepassados, digo, avós e bisavós e também
os índios e os velhos africanos, fervorosos no curandeirismo,
usavam e recomendavam as ervas não somente para banhos e
plasmas como também em forma de chás, sucos de ervas e tam-
bém a ingestão das raízes, acreditando eles que as ervas fossem o
meio mais eficaz para a manutenção da saúde. E, logicamente,
eles estavam corretos em seu pensar e em suas ações, pois na
época a medicina era algo muitíssimo raro. Quanto às pesquisas

                                                                181
da medicina em relação à utilização de ervas, já há comprova-
ções positivas em relação à teoria das antigas vovós.


                                     Os Quatro Elementos
Água
         A água das nascentes, como também a que nos chega
por intermédio das chuvas, nos traz energias primorosas. Os
trovões, magníficos, ao anunciarem a chegada das águas pro-
vindas dos céus, avisam que uma chuva cairá para lavar a
terra e penetrar em suas entranhas. Ao anunciarem as águas,
às vezes surgem vozes que ressoam os seus martírios... Vozes que
cantam a benevolência trazida pelas águas. O trovão, aos quais
nossos irmãos indígenas dão à antonomásia de “deus”... Faz-se
natural que o digam assim: “deus-trovão”, pois realmente não é
ele o pai supremo que eles se referem, porém, uma essência abas-
tada em alento.
         A água, em sua composição, contém ferro, fosfato,
enxofre, magnésio e outros nutrientes. É ela que sustenta as
nossas vidas. Isso se pode observar em nosso próprio corpo
físico, cuja maior quantidade é composta de líquidos. Assim
também é a composição de nosso planeta: 70% do nosso Glo-
bo Terrestre é composto de água.

Fogo
         O fogo, por meio do aquecimento do sol, em sua per-
feição e grandiosidade está colocado a uma distância estraté-
gica, para que nós, seres humanos, não sejamos sucumbidos.
Ele é o nosso condutor de energia, a nossa estrela de quinta gran-
deza.

182
O fogo saído de uma lareira, ateado em uma mata... O
fogo que surge do centro da terra, que esparge dos vulcões. O
fogo aceso de uma vela.
        Vejamos o quanto o fogo destrói, mas o que ele tam-
bém constrói, mesmo destruindo. O fogo destrói bactérias e é a
própria luz! Mesmo rigoroso, nos é benevolente, pois nos ilu-
mina nas trevas. Ele nos aquece do triste frio do corpo e da
alma.
        O fogo, em sua luz nos resplandece, nos guia como
uma estrela, nos encaminhando para a vida eterna. Este é o
monologo do fogo
        Onde houver uma vela acesa, tudo ao seu redor esta-
rá quimicamente esterilizado; ao seu redor não permanece
ou não sobrevive nenhum inseto, tudo flui bem, pois, ao vê-la
acesa em fogo, a nossa certeza é de um ambiente purificado. E,
em nosso caso, o simbolizo em almas benfazejas.

Terra
        Muito interessante quando chamamos a terra como
mãe, a nossa mãe. Isso é algo extremamente belo, pois a nos-
sa composição física é semelhante à dela e para ela todo ser
vivo volta mesmo em cinzas. Os mesmos elementos que a terra
possui o corpo físico também tem. Há entre nós um termo
perfeito quando dizemos que a terra nos alimenta. Sim. É pura-
mente verdade, pois como bem sabemos, carecemos de seus
nutrientes, dos grãos às frutas, de espécimes vegetais e animais,
tudo para a sobrevivência de nossos corpos físicos, ajudando
assim, o ciclo da nossa evolução!
        Quando o espírito parte de volta ao plano espiritual,
devolve à terra o que dela utilizou em forma de pó ou cinzas,
reciclados ou reutilizados como fertilizante.
        Frase do célebre químico francês Lavoisier: “Na Natu-

                                                             183
reza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Isso é mui-
to perfeito e filosófico. Em nosso planeta, tudo se permite quando
há a junção dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar em
perfeita harmonia, fazendo parte ativa da composição ou do
milagre da colheita (arroz, feijão, milho, soja etc.).

Ar – Oxigênio
         O oxigênio tem o sufixo “GÊNIO”. Quem sabe não
seja um ar libertino formado por gases de ectoplasmas, pois
gênios, no mundo extrafísico, são os espíritos, que se movi-
mentam livremente pelo Universo, redundando numa única,
extra e genial Energia: Deus. O ar perfeito, o oxigênio, o “há-
lito de Deus”.
         Nós, sem esse ar, não podemos ser coisa alguma! Nem
mesmo partícula de nada, pois nem chegaríamos a nascer,
por ser ele o principal elemento que, estando ligado à
espiritualidade, rege a existência dos seres viventes.
         Para o Universo, o ar é único, é o “fôlego da vida”.
Para se ter uma idéia o feto, durante a estada no útero de sua
futura mãe, não tem vida própria, ele depende do ar que ela
respira. Mas assim que o feto sai do corpo de sua mãe, a primei-
ra coisa que ele precisa é de ar, e é nesse exato momento que se
tem a junção do corpo espiritual com o corpo físico ou carnal,
para sua sobrevivência.

   Irmão Lázaro continua com suas explanações
        – Quem mais respeita a Natureza? A parcela de pes-
soas que ainda conserva o bom- senso está se tornando irrisória.
Não existem mais índios ou sertanistas que zelem 100% pela
Mãe Natureza. O poder e a ganância, a estupidez, o desrespeito e
a imoralidade, fazem estada neste mundo. É como cuspir no

184
prato que se come. Abusam do autoritarismo, achando que pelo
poder e pelo dinheiro, tudo podem. Acreditam ser sábios, mas na
verdade são ignorantes e incrédulos. Não sabem que a reencarna-
ção é algo notório e lógico, que merece ter um pouco de atenção.
Quem sabe, se assim o fizessem, cuidariam um pouco mais do
nosso planeta, da nossa Mãe Natureza. É assim o que o ser humano
é: insatisfeito e cheio de soberba.
       Satisfeitos, João e Izabel se despedem marcando uma
próxima reunião.

                          Anita em consulta no Centro
        No pequeno centro espírita havia poucos médiuns,
porém, eram pessoas realmente dedicadas e convictas de
suas missões. Cumpridoras de suas obrigações, elas ali se
encontravam toda vez que era necessário. Eram pessoas
que tinham conhecimento da verdadeira riqueza doada
por Deus: o amor ao próximo, a solidariedade e o perdão.
        No centro, João Eduardo encontra sua amiga.
        – Anita, você vai consultar com alguma entidade?
        – Sim, João. Hoje estou aqui também à procura de
colo e braços para um consolo espiritual.
        – Você gostaria de se consultar com Mãe Benedita?
        – Que bom! Gostaria sim.
        Anita, aproxima-se da médium incorporada Irmã
Alzira, uma senhora simples, humilde e de apenas 52 anos,
cuja incorporação fizera com que a sua idade se dupli-
casse devido ao perispírito daquela sábia negra ex-escra-
va, “Irmã Benedita”. Com a proximidade, ela se reerguia
em luz por meio de Irmã Alzira, que zelosamente a auxilia-
va emprestando-lhe seu corpo, doando-lhe energias, como
a quem só pode um anjo ainda em corpo físico. Sem que
percebessem, havia entre ambas uma ligação formidável em prol

                                                            185
das pessoas que ali estavam em busca de prosperidade física e
espiritual. Sim, um verdadeiro elo que cresce entre alguns mem-
bros da humanidade: o compartilhar.
         Naquele instante, ali estava Anita, a terceira pessoa. E
Mãe Benedita se dirige a ela.
         – Hum... Minha filha, Deus te abençoe!
         – Que a sua benção, minha mãe, me sirva de lenitivo.
         – Filha, você está pensando em tomar uma atitude há
um bom tempo, mas não tem coragem suficiente para tal pro-
jeto, que é colocar a pessoa a quem tanto ama a prova. Eu lhe
afirmo: Essa prova que você exige dele é desnecessária. Esse seu
rapaz está para tomar decisões em sua vida, decisões corajosas de
um homem de bem, que vêm de encontro ao que você pensa.
Digo-lhe, no entanto, que mesmo eu lhe recomendando a não
fazer, por não haver necessidade, você fará.
         – Será mãe? Será que o que estou pensando em dizer
a ele vai ser tão ruim assim?
         – Minha filha, ele está cansado de ser o que é no seu
dia-a-dia, em sua vida profissional. E, por outro lado, está
deslumbrado com o seu modo de vida, e esse deslumbramen-
to chama a atenção de alguém ruim que quer prejudicá-los. Ore
bastante por Oscar filha, cuide para que ele não decaia por vi-
brações ruins.
         – Mas porque a senhora me diz dessa forma? Parece
querer me resguardar de algo.
         – Exatamente, porque eu não quero que você fique
assustada com algum mal- entendido que você e Oscar pos-
sam ter, e que isto venha a lhe aborrecer. Mas não se preocu-
pe, pois estaremos sempre ao seu lado. Se acalme que tudo
virá a seu tempo, confie em Deus.
         Anita, muito preocupada com as atitudes que tinha para
tomar, percebeu o que aquela mensageira queria lhe passar.
         – Ouça com atenção filha, e guarde para si tudo o que

186
eu lhe disse.
         – Sim, minha mãe, eu farei o possível. E o meu bebê? A
senhora acha que ele está bem?
         – A aura do seu bebê está ótima. Fique tranquila fi-
lha, que nós estamos juntinhos de vocês. Deixe-me benzer o
seu corpo com um pouco de arruda para que você possa
retornar em paz ao seu lar.
         Após a benzedura, Mãe Benedita recomenda a Anita
tomar alguns banhos de rosa branca apanhada em quintal,
pois seria bom para o bebê. Ao chegar em casa, logo lhe vem
um sono inexplicável, e ela se deita e adormece. Ao adormecer,
seu espírito passa a visitar lugares tranqüilos e interessantes. Nesse
seu giro pelo mundo espiritual, Anita encontra com um jovem
em apuros. Ao aproximar-se dele, já não o vê mais com esse
aspectos, pois ele se modificara em seu físico, parecendo um
homem de meia idade, cuja aparência, à primeira vista não iden-
tificara nitidamente, mas percebera, ao aproximar-se dele, que
se tratava de Oscar, cercado por espíritos malfeitores. Próxima
dele estava Mãe Benedita, que usava suas vibrações numa luta
exaustiva para livrá-lo daquela baixa frequência. Na verdade, o
sonho de Anita, estava concernente à realidade, pois foi revelado
em seu sonho o que realmente estava acontecendo com o seu
amado. Anita era médium sonambúlica, mesmo sem perceber.
         Oscar estava sendo envolvido por entidades negativas,
exatamente porque o ex-namorado de Anita há muito vinha
lutando para reconquistá-la por vingança e ódio, após Anita aban-
donar a ideia de reatar o namoro com ele. Apelando para conse-
guir obtê-la de volta, não por amor, mas para satisfazer seu ego,
ele queria apossar-se de Anita, pois estava ferido em seu orgu-
lho. Quando ela quis tê-lo de volta, ele a humilhou de todas as
formas possíveis, mas quando ela concluiu que viveria feliz sem
ele, então, com seu orgulho ferido, começou a apelar procuran-
do templos evangélicos, igrejas, fazendo novenas e até feitiçarias

                                                                  187
com bruxos, tudo na intenção de prejudicar Oscar, pois ele acre-
ditava que sem Oscar em seu caminho, tudo ficaria mais fácil.
Por isso a dificuldade para Oscar e Anita ficarem juntos, e essas
vibrações ruins começaram a fazer um efeito mais eficaz quando
Oscar desistiu de Anita para colocá-la à prova. Por esse motivo,
Oscar e Anita não conseguiam completar o sonho de ambos de se
casarem, sempre havia alguma atrapalhação.
          Por conta dessas energias ruins, Oscar sentia desanimo para
o trabalho, além de outros afazeres que arcara para constituir sua
família. Mas Oscar era um homem de boa índole e bem intencio-
nado. Na verdade, fora aberta uma fresta em sua aura e ele estava
vulnerável àquela energia ruim, por ter um pouco de revolta em seu
coração e por algo errado que ele cometera anos atrás. Oscar, já
conhecendo um pouco a espiritualidade, começa perceber que não
se encontrava bem. Vivia aborrecido e ranzinza, e seu comporta-
mento não era aquele que costumava ter. A cada dia manifestava
uma nova maneira de se comportar. Aquela energia parecia se mul-
tiplicar todos os dias, e Oscar estava abandonando a sua empresa.
Ele, que era uma pessoa educada, bem conceituada, coerente e, aci-
ma de tudo, humilde. Mas ultimamente se sentia angustiado, so-
nolento, com raiva de tudo e de todos e sem interesse por nada.
          Anita, preocupada com seu sonho e com as atitudes de
Oscar, no outro dia, inquieta e tensa, resolve ligar para Oscar para
comentar o sonho que tivera com ele na noite passada.
          – Alô! Como está você Oscar? Está tudo bem? Liguei para
o seu trabalho e o senhor Mário falou-me que faz três dias que você
não aparece por lá, então, resolvi ligar para você aí em sua casa.
          Oscar, sem perceber que estava envolvido por energias ru-
ins, responde com certa grosseria.
          – E daí, Anita? O que é que há? Se eu não fui trabalhar
é problema meu, somente meu. Será que não posso descansar?
Olhe Anita, não me leve a mal, mas vou desligar porque eu
estava dormindo e você me acordou. Outra hora a gente

188
conversa, está bem assim?
        – Não desligue Oscar, quero falar-lhe de um sonho
que tive com você ontem. Sonhei que você estava sendo
envolvido por espíritos ruins. E nessas...
        – Eu não sabia que você agora estava ficando fanática!
Sonho é sonho, Anita! Tchau. – e desliga o telefone.
        – Meu Deus! O que estará acontecendo com Oscar?
Ele nunca agiu dessa maneira! Ainda bem que eu não me
casei com esse grosso!

         Oscar, ao se levantar, faz uma oração costumeira
que sua mãe lhe ensinou na infância. Logo após a oração,
ele começa a lembrar o que disse a Anita por telefone. Por
que teria usado aquelas palavras com ela? Anita queria di-
zer-lhe alguma coisa importante, mas a sua rudez não lhe
permitiu ouvi-la. Ele fora extremamente bruto com ela. Con-
fuso, ele se assustava com os seus próprios gestos. Preocupado
com a atitude que teve com Anita, também se sentia feliz. Na
verdade não era felicidade, mas sadismo, emanado daquelas
más energias enviadas pelo ex-namorado de Anita, tendo como
intermediário um feiticeiro mau-caráter.

                                De volta à Mãe Benedita
         Assim que Anita se aproxima de Mãe Benedita, ela lhe diz:
         – Pois é, minha filha. Às vezes a gente começa a ter um
sonho bom, e esse sonho se transforma e fica ruim. Com a sua
sensibilidade, que por sinal se faz muito importante na
espiritualidade, sem com que perceba você às vezes consegue ajudar
alguém.
         – Então a senhora sabe do sonho que tive esta semana? Eu
estou preocupada. Por isso vim até a senhora para que me socorra
com o seu auxílio costumeiro, orientando-me no que melhor eu

                                                              189
deva fazer para ajudar Oscar.
        – Veja filha, o que você teve não foi bem um sonho, foi
um contato extrafísico ou uma visão. Nós aproveitamos o seu
estado de sonolência para requisitarmos o seu espírito para nos
ajudar, pois você é o elo entre nós e Oscar, o nosso porta-voz.
Você fez uma viagem astral; levamos você para outra dimensão.
        – E por que eu, mãe Benedita?
        – Às vezes nós necessitamos trabalhar com o espírito
de encarnados. No caso de Oscar, para nós fica mais fácil ajudá-
lo, pois a temos como nossa intermediária ou aliada. A sua
participação foi fundamental naquele momento, porque o seu
bom pensamento e a sua energia são maravilhosos. A sua aura
é verdadeira, repleta de pontos contínuos de luz. Nós, do pla-
no espiritual, trabalhamos muito bem contigo, minha filha!
Agora, lhe peço que me conte sobre a visão que teve com Oscar
em sua viagem astral. Isso irá ajudá-lo bastante, para que ele reflita
bem e aprenda a se safar dos seus momentos de aflição e se defen-
der dos irmãos das baixas esferas no plano inferior, que neste
momento tentam envolvê-lo.
        – A Senhora, Mãe Benedita, disse que gosta de trabalhar
comigo, sendo assim, não foi a primeira vez que eu tive a honra
de trabalhar com a senhora, não é? E estou muito emocionada;
quando precisar de mim e só me chamar, minha mãe, com seu
gesto tão carinhoso!
        Ao dizer aquelas palavras, Anita sente o seu coração
acelerar os batimentos, devido à emotividade que sente jun-
to de Mãe Benedita, deixando que as lágrimas se derramem
em sua face, para que seu lindo rosto e sua alma se refres-
quem com elas.
        Mãe Benedita responde com afeto:
        – O amor que há entre nós nos faz irmãos, filhos e pais,
nos faz Deus!
        – Nós temos ligações de vidas passadas? Seguramente

190
que sim...
        – Filha. Aqui, nesta vida terrena, siga e cumpra dig-
namente a sua missão. Neste plano, a sua caminhada será
grande. Viva cada dia de sua vida sempre com intensidade, e
faça tudo que tiveres de fazer com total alegria. Auxilie o seu
bom amigo e amado Oscar, retirando dele, em nome de Deus,
as más influências que tentam obsedá-lo pela magia negra.
Essa é a meta do seu destino.

                               No dia seguinte, Anita vai
                                 à casa de João Eduardo
         Anita, em visita ao casal João Eduardo e Izabel, casual-
mente (nada é por acaso) se encontra com Oscar. Ela pensa en-
tão – “Foi bom encontrá-lo, pois justamente o que eu iria fazer
na casa de nossos amigos era pedir ajuda a eles no caso de Oscar,
pois me encontro sozinha e sem forças para fazer o que for ne-
cessário por ele. Anita já se sentia cansada por causa da gravidez,
pois seu corpo se avantajava à medida que o bebê se desenvolvia
dentro de seu ventre. Ao chegar à casa de Isabel, estava fatigada
com a roupa que usava, pois não estava adequada, apertava-lhe
o corpo. Izabel logo percebe que Anita estava inquieta por causa
da roupa que estava usando e, não resistindo, pois aquilo lhe
incomodava também, pediu-lhe que fossem até o seu quarto,
pois queria falar-lhe algo. Ao chegarem, Izabel foi até seu roupeiro
e pegou um lindo vestido de gestante, bem solto, leve e muito
suave, num tom de azul-celeste que parecia ter sido feito exclu-
sivamente para Anita, porque se mesclava à cor de seus olhos.
Um vestido que, no corpo de Anita, expressava toda a sua gran-
deza de caráter, bondade e beleza de uma mulher digna em con-
tribuir com a continuidade da humanidade, gerando um filho
cuja alma vinha da vanguarda de espíritos e que resplandecia em
luz.
                                                                191
– Bem amiga, estou aproveitando esta oportunidade para
presentear-lhe com algo. Aqui está: Ele é todinho seu, tome.
         – Para mim? – Diz Anita. – Mas ele é muito bonito e,
com certeza, caríssimo!
         – Teria que ser ele muito bonito para combinar contigo.
Você concorda?
         – É o seu coração quem diz, minha boa e doce amiga.
         – Você merece! Minha querida, isso é nada diante do
que você é em sua dignidade. Gostaria que você o colocasse
agora, será que é possível?
         – Eu coloquei uma roupa pouco adequada para o dia.
Estou tão fatigada e alegre com o presente, que farei uso ime-
diatamente. Muito obrigada minha amiga, que Deus ilumine
o seu carinho.
         Izabel deixa que sua amiga fique à vontade para trocar
de roupa. E, não tardando muito, logo Anita pede para que
Izabel entre no quarto para ver como ela ficara. Anita tinha a
pele clara, os cabelos levemente castanhos, olhos azuis como o
mar, nobre em sua personalidade, estatura mediana, corpo ma-
gro. Era uma mulher simples, mas de traços elegantes e expres-
são delicada.
         Ao aproximar-se Izabel se alegra ao ver que ali havia uma
majestade em formato mulher.
         – Anita! Eu gostaria imensamente de... Eu gostaria
de ser... Eu gostaria...
         – Izabel, seja madrinha do meu bebê, por favor!
         – Era isso mesmo que eu estava tentando pedir-lhe,
mas não me encorajava para terminar a frase, pois se eu for
madrinha de seu filho, passarei a ser da sua família.
         – E era isso mesmo o que eu tanto queria, mas nunca
tive coragem de pedir. Entregar o meu filho em seus braços para
que faças dele um de seus filhos, para mim será uma consagração
a Deus.

192
Ambas se abraçam e, emotivas, se põem a sorrir e a cho-
rar, seguindo ambas para a sala. Uma mulher grávida linda, ao
lado de outra mulher maravilhosa, cuja beleza surgia da alma,
vinha de dentro, de dentro da alma e envolvia todo o seu corpo
físico.
         Oscar e João sorriem. – Que mulheres lindas!
         – Oscar! Como Anita é linda!
         – Sim. A minha, quero dizer, Anita é excepcional!
         Oscar, ao voltar seus olhos para Anita, pede
desculpas a ela.
         – Perdão Anita, pelo que eu disse. Não se ofenda,
pois você sabe que não é do meu feitio ser grosso daquela
forma que fui.
         Anita, ao aproximar-se dele, acaricia seus cabelos e
começa a contar para todos os sonhos que tivera com ele. Por
outro lado, Oscar conta que, quando Anita lhe telefonou, ele se
sentia como que estivesse embriagado, em transe. Com essa
sintonia, ele sentia uma sensação de angústia e medo, o ambien-
te em sua casa tinha uma atmosfera pesada, tensa, chegando a
ser indelicado com Anita.
         – Há momentos em que sinto desejos estranhos. Sinto
que a necessidade do isolamento me faz bem, e que algumas
atitudes surgem em meu pensamento para que eu, sem pensar,
haja de uma forma irreflexiva, impensada. E sei que essas atitu-
des não me pertencem, sinto que algo estranho vaga sobre mim,
e que essas energias não são boas.
João e Izabel dizem, quase ao mesmo tempo. – Se é assim,
iremos todos juntos ao centro espírita. Lá teremos a resposta
para tudo isso que está acontecendo com você.
         Ao dizer a Oscar que iriam todos ao centro espírita,
imediatamente ele modifica o seu semblante e, em tom de iro-
nia, responde que não haveria necessidade de aborrecer os ir-
mãos do plano superior e muito menos os médiuns da casa.

                                                             193
Mas Izabel insiste. – Oscar, nós estamos notando a sua
mudança de comportamento, você está diferente, não é o mes-
mo de alguns segundos atrás. Cuide-se, meu amigo, não se per-
mita ser envolvido e vencido pelos perseguidores. Pense, algo
deve estar errado Oscar.
          – Creio que não há necessidade. Eu não irei, estou bem.
          Izabel chama João Eduardo um pouco mais distante
de Oscar, dizendo-lhe que seriam padrinhos do bebê. Pede-
lhe que ele aproveite esse tempo para convencê-lo.
          – Oscar, bem, se você não quer se cuidar, se é assim
que quer, aceitamos a sua opção. Só que eu gostaria imensa-
mente de batizar o bebê, a pedido de Izabel e Anita. Mas não
posso aceitar.
          – Como não pode aceitar? Por que essa desfeita com a gente,
que lhe tem tanto apreço?
          – E você está tendo esse apreço com a gente? Será? Por que
você não pode atender a um pedido nosso?
          – Não, não! Pelo amor de Deus, eu não sei o que estou
dizendo. Eu irei sim, até agora, se vocês quiserem e se for necessário.
Mas aceite o meu filho como seu afilhado.
          A mudança repentina no comportamento de Oscar ocorreu
porque o seu perispírito, estava mesclado com dois tipos de energia, ou
seja, a de seus protetores e a daquela falange, enviada pelo feiticeiro a
pedido do ex-namorado de Anita.
          – Nós já aceitamos o bebê, desde quando fora fecundado.
Vocês nos ensinaram a amá-lo. Eu e Izabel nos encontramos com vocês,
podemos dizer, na maior de nossas amarguras e, por intermédio de
vocês e do meu grande amigo, o nosso bom José, estamos vencendo as
nossas batalhas. O que pudermos fazer, nós faremos, pois estamos jun-
to com vocês. Lutaremos para fazer o possível e o impossível.




 194
Os quatro amigos
         Os quatro amigos seguiram juntos à casa de caridade. Ao
entrarem no centro espírita, a maioria das pessoas ali presente per-
cebeu que com eles havia também uma sombra. Escura, ruim,
que trazia consigo uma atmosfera pesada, envolvida de maus pres-
ságios, afinal, os que ali estavam eram sensitivos por trabalharem
espiritualmente.
         Logo se inicia a sessão. Irmão Lázaro era um excelente
médium, um homem de 58 anos que passara da juventude até o
presente momento a prestar serviços de caridade ao seu próximo.
Ele era uma pessoa muito instruída quanto aos trabalhos mais
pesados com certos espíritos. Herdara essa bem-aventurança de
seu pai, que também já nascera dentro da filosofia espírita. O
incrível é que, junto dele, os seus pais constantemente, ainda em
visa, colaboravam participando em suas devidas funções.
         Logo após a abertura da sessão, irmão Lázaro inicia sua
palestra.
         – Meus irmãos, daremos início à nossa sessão de hoje.
Vamos pedir a Deus que tenha misericórdia de nós, não permi-
tindo que as energias densas venham nos tentar. Pedimos a pre-
sença de todas as correntes que nos prestam socorro, dos benevo-
lentes anjos salutares, aos guerreiros que lutam em prol da paz.
Bendito e louvado seja o nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Pedimos a presença de nossos Caboclos, Pretos-Velhos, Baianos,
Boiadeiros e Exus, e todos os espíritos de luz para nos proteger.
Amém.
         Em seguida, o médium Lázaro inicia uma linda oração
chamada “Prece de Cáritas”, mundialmente conhecida.

        “Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade, dai a
força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que procura a
verdade; ponde no coração do homem a compaixão e a caridade!

                                                                195
Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação,
ao doente o repouso.

        Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a ver-
dade, à criança o guia, e ao órfão o pai!

        Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o
que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não co-
nhece, esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bonda-
de permita aos espíritos consoladores derramarem por toda a
parte a paz, a esperança e a fé.

         Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abra-
sar a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e
infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão.

      E um só coração, um só pensamento subirá até Vós,
como um grito de reconhecimento e de amor.

       Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos
com os braços abertos, oh! Poder, oh! Bondade, oh! Beleza,
oh! Perfeição e queremos de alguma sorte merecer a Vossa
Divina Misericórdia.

        Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, a fim
de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a
razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o es-
pelho onde se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem”.
        Assim Seja.

        Esta prece, denominada “de Cáritas”, tem sido queri-
da e contritamente orada por várias gerações de espíritas. Cáritas
era um espírito que se comunicava por meio de uma das gran-

196
des médiuns de sua época, Madame W. Krell, em um grupo de
Bordeaux, na França, sendo ela uma das maiores psicógrafas da
História do Espiritismo, em especial por transmitir poesias (que
se constitui no ácido da psicografia), da lavra de Lamartine, André
Chénier, Saint-Beuve e Alfred de Musset, além do próprio Edgard
Allan Poe. Na prosa, recebeu ela mensagens de O Espírito da
Verdade, Dumas, Larcordaire, Lamennais Pascal, e dos gregos
Ésopo e Fenelon.
         A prece de Cáritas foi psicografada na noite de Natal,
25 de dezembro do ano de 1873, ditada pela suave Cáritas,
de quem são, ainda, as comunicações: “Como servir à
religião espiritual” e “A esmola espiritual”.

         – Percebo que hoje, neste recinto, o ar está denso, e que
há aqui uma propagação que nos tenta desvanecer ao ímpio.
Não, isso jamais se permitirá aqui, porque esta casa é de solida-
riedade e caridade, é uma casa de orações. Há em nosso meio
um irmão do plano inferior que acaba de ser acorrentado pelos
nossos guardiões, e que nos dirá algo.
         O que aconteceu de interessante naquele dia é que havia
um jovem adolescente de nome Henrique, com cerca de 18
anos apenas, que justamente há um mês entrara pela primeira
vez naquele local, vindo a ser frequentador assíduo das sessões
devido a uma inevitável necessidade, qual se fizera, de ser levado
por seus pais para receber auxílio dos irmãos superiores quanto à
sua recuperação, pois o uso das drogas vinha definhando a sua
carne e o seu espírito.
         Perfeito! O testemunho todos presenciaram, e tão per-
feito fora o testemunho que, após o ocorrido, até o próprio
rapaz, ao agradecer a Deus, colocou diante de todos os ali pre-
sentes a promessa feita pelos lábios dele próprio, por ficar mara-
vilhado com a sólida realidade da existência de Deus e da
Espiritualidade,

                                                               197
Em seguida, irmão Lázaro continua – Em nome de nosso
Senhor Jesus eu recorro aos bons mentores, para que tragam
neste instante esse espírito obsessor, após as orações de abertura
e as cantigas de exaltação aos Guias e Protetores.
        O pequeno jovem inesperadamente cai ao chão, se re-
torcendo em transe como em um ataque de epilepsia, lan-
çando um liquido viscoso e de cor esverdeada de sua boca.
Algumas pessoas, ao se levantarem de seus assentos para
socorrê-lo, deixam os seus pais assustados e se pondo a cho-
rar. Logo, ao se aproximar do rapaz, irmão Lázaro pede para
que todos dele se afastem, pois não havia nada de errado, a
não ser que o que estava se manifestando no jovem era um
espírito de baixíssima frequência, conhecido pelos Pretos-
Velhos como “quiumba”. Mas esse estava acorrentado, não ha-
vendo, portanto, perigo algum.
        O quiumba começa a falar por meio do jovem Henrique,
em meio ao transe.
        – Seus filhos de uma p..., porque me trouxeram aqui?
Eu não suporto este ambiente, sinto náuseas.
        Irmão Lázaro inicia o processo de doutrinação...
        – Sendo que os seus sintomas são esses, meu irmão, o
que viestes fazer aqui então?
        – Eu não vim visitar ninguém, simplesmente acom-
panhava alguém. E se eu acompanhava a mandado de ou-
trem, por que vocês me acorrentaram?
        – Nossos protetores lhe acorrentaram devido a sua
energia ruim, que está muito forte, e isso deve estar afetando
muito a quem você faz companhia.
        –Isso é problema meu e dele, para isso fui muito bem
pago. Estou ganhando muita bebida, sangue de animal e ou-
tros presentes para ferrá-lo
        – E quem você está perturbando?
        – Pergunte ao próprio, e a esta corja de espíritos que

198
me trouxeram aqui na marra. Se eu soubesse que daria no que
deu, o teria jogado debaixo de um carro, ou teria feito com que
ele se atirasse de cima de um viaduto, ou então, poderia provo-
car um assalto, aí ele poderia vir comigo para as profundezas do
lodo, meu chapa. Eu já fui bandido e matador, mas agora, por
eu ter dado uma vacilada, perderei a minha mesada.
         O quiumba, apontando para Oscar com sadismo e dan-
do muitas gargalhadas, continua a falar: – Tudo bem palhaço, a
gente se esbarra por aí. Um dia desses, eu te pego de jeito.
         – Quer dizer que todo esse transtorno que está se pas-
sando com nosso irmão Oscar é culpa sua meu irmão?
         – É isso mesmo! E eu não sou seu irmão! Estou encos-
tado nesse homem para acabar com a sua dignidade e também
para separá-lo daquela mulher com quem ele pretende casar-se. –
E aponta para Anita. – E não vou falar mais nada, quero que se
danem. – O quiumba sorria e gritava sarcasticamente.
         – E podemos saber quem pagou para você fazer tudo
         isso?
       O quiumba continuava sorrindo, com sarcasmo.
         – Cale-se, meu irmão, com as suas ironias, e conte-
nos agora!
         Oscar, ainda envolto por aquela energia, queria ir
embora, dizendo que aquilo tudo estava confuso para ele. O
que teria ele a ver com aquela galhofa? Ele dizia que tudo
não passava de uma grande palhaçada.
         O mentor da casa que era uma pessoa hábil, e pedia para
que Oscar se acalmasse um pouco, obrigando aquele espírito a
falar a verdade a respeito do que sabia sobre Oscar. O espírito,
por sua vez, sentindo-se acuado, começa a falar, dizendo que
quem o mandou perseguir Oscar foi o ex- namorado de Anita,
apontando para ela. Normalmente, espíritos dessas esferas não
gostam de falar nomes de pessoas encarnadas. Falou também
sobre algumas particularidades de Oscar, ou melhor, algo que se

                                                            199
passava só no pensamento dele.
         – Eu estou enfiando bobagens na cabeça desse trou-
xa, para que ele faça aquela viagem suicida que ele pretende
fazer. É! Aquele passeio que os pais dele fizeram e se deram mal...
Ele já conhece, não é mesmo seu otário?
         Oscar tente responder...
         – O Senhor me perdoe irmão, mas isto já está se tor-
nando um transtorno. Chega aqui um espírito à toa, mentiro-
so, e começa a dizer essas coisas... Que viagem eu devo fa-
zer? Quem sabe seja a influência do médium, por ser muito
novinho e ainda não ter a devida experiência, ou melhor, com
certeza é à força, pois o pequeno rapaz que quer me ajudar não
entende ainda muito bem de mediunidade. E ainda, para com-
pletar, fica aí soltando palavras de baixo calão.
         Enquanto o jovem médium Henrique estava em tran-
se com aquele espírito trevoso, Oscar, sem perceber, estava
sendo influenciado e quase estava também entrando em transe e
na mesma sintonia daquele espírito. Outro comparsa estava ali,
exatamente para confundir os médiuns que estavam vibrando
em favor de Oscar.
         Anita tenta acalmá-lo – Mas essa qualidade de espírito
você já sabe Oscar, eles são dessa forma.
         Nesse momento, Irmão Lazaro sussurra para Anita –
Minha irmã, Oscar está tomado pela energia que circula en-
tre ele e o nosso jovem médium irmão Henrique.
         – Perdão irmão, eu não tinha percebido. É que estou
agindo assim por preocupação.
         – A sua rejeição pra mim é zero. A viagem a que eu
me refiro, é a mesma que os babacas dos seus pais fizeram em
um barco há alguns anos. Será que agora você se recorda?
Inclusive, eles estão atordoados no espaço, querendo muito
lhe pedir que não faça aquela viagem, porque será fatal. Eles
também querem lhe pedir perdão pelo que fizeram, por deixa-

200
rem você sozinho no mundo com toda aquela responsabilida-
de, mas nós cortamos a sua frequência e estamos conseguindo
atrapalhar esse contato, porque você nos abriu a guarda seu bobão.
Eu e minha gangue não vamos permitir essa aproximação. Quer
também que eu fale o nome deles? Ou que carinhosamente eu
os chame de “minha pequena Ásia” e “meu grande Habib”? E
então? Acredita agora seu babaca?
         Esse comentário que o espírito das trevas fez abriu
de vez os olhos de Oscar, e já se via nitidamente que, em sua
composição espiritual, também havia um espírito de luz, es-
pecialista em psicologia e que trabalha para o bem, se
misturando na comunicação telepática do tal espírito, exata-
mente para que Oscar saísse daquele quase transe. E, gritando,
Oscar ordena:
         – Pare! Chega! Já basta. Meu Deus, será que é verda-
de? Meus pais viajaram. Na verdade, nunca mais me deram
notícias e eu não sabia, até este momento, se estavam vivos ou
mortos, tanto que gostaria muito de revê-los, por isso me pas-
sou pela cabeça fazer uma viagem para a Áustria. Cheguei até
pensar em fazer essa viagem nas mesmas condições em que eles
viajaram. O que esse espírito disse, quanto às formas carinhosas
com que se tratavam os meus pais, está totalmente correta,
certíssima! Meu Deus! Então é tudo verdade!
         O quiumba, sorrindo, continua a zombar de Oscar. –
E não vamos ficar somente por aqui não, – e aponta para
Anita – coitada dessa mulher! Sua empresa, onde você tem vári-
os empregados à sua disposição, vai ficar nas mãos dela por im-
posição sua, e ela, sozinha, vai quebrar a cara! Mas vocês estão
tentando estragar os meus planos. Escute aqui seu otário, com
seu masoquismo e com nossa ajuda, você já estava quase que
disposto e convencido da tal viagem e a abandonar a empresa.
Certamente que iria direto pra as profundezas, para eu lhe apre-
sentar ao meu chefe. Ele é bem mais poderoso do que eu!

                                                              201
Irmão Lázaro pergunta ao espírito trevoso – E qual a
razão para tudo isso?
         – Bem, eu ganhei vários presentes para fazer o mal a
este palhaço. Já que não tenho mais nada a perder, vou contar a
história completa, mas quero em dobro o que ganhei para aban-
donar tudo isso. E já vou avisando, não venham com essa histó-
ria de que os bons irmãos querem me conduzir para esferas lu-
minosas, pois eu quero ficar com o meu chefe. Agora eu per-
gunto: Topa o acordo ou não? Bem, eu sei que você vai topar.
         – Eu fui mandado para acabar com o casamento dele e
levá-la de volta ao seu antigo homem. Aquela mulher – e apon-
ta novamente para Anita – Ele está com ela em seu coração, mas
eu, aos poucos, estava afastando-a dele.
         – E podemos saber o porquê de tudo isso?
– Sim, podem. Se me derem o que eu quero, podem sim.
         Eu ganhei um bom banquete, que um homem me pa-
gou. Inclusive ganharia o dobro após destruí-lo. Por isso eu
quero o dobro.
       – Quem sabe eu ainda consiga, não é mesmo?
       Enquanto isso, aquele excelente espírito, o psicólogo,
com muito esforço e total dedicação continua vibrando,
passando mensagens telepáticas para aquele obsessor na
intenção de que ele esclarecesse tudo o que se passava com
as perturbações de Oscar
         – Não, meu irmão! Sua estada com o nosso irmão Os-
car termina neste momento.
         – Eu não tenho permissão para falar o nome de quem
me mandou. Eu estava quase ganhando esta batalha e vocês
me prenderam aqui. Deixem-me ir embora, não gosto deste
lugar! Me liberem! Vocês estão me sugando! Se você, irmão
babaca, não me pagar, eu volto para cobrar! E quero em sete dias
meus presentes
         Nesse momento, o mentor se manifesta e pede – Siga

202
estes irmãos que o levarão a um plano melhor, onde você apren-
derá as verdadeiras obras. Quanto ao homem que você está pre-
judicando, ele não lhe deve nada e não ira lhe dar nenhum pre-
sente relacionado a bens materiais. Ele pode sim, lhe dar exce-
lentes presentes: muitas orações para que você entenda que o
mal faz mal e o bem faz o bem.
         – Eu não quero... Tenho um gosto enorme em sofrer
e fazer os outros sofrerem. Se um dia eu mudar as minhas
idéias, já sei onde posso vir para ser socorrido. Mas agora,
tenho de seguir meu destino. Eu quero fazer a minha estada
no corpo do cara que me mandou para que eu fizesse o que
tentei fazer. Agora por vingança porque a atitude porca desse
cara só atrasou o meu lado, ou minha caminhada. Portanto
peço que não me atrapalhem, vou voltar para quem me
mandou. Conheço o que é causa e efeito ou a lei do retorno.
Torno a repetir: esta é a lei do retorno, então, eu tenho esse
direito ou meu livre-arbítrio, é ou não é? Eu estou nas trevas,
mas conheço bem o sistema, ou melhor, as leis do Universo.
         – Mas tu sabes, meu irmão, que terás que levar contigo
toda a tua energia, e que se colocá-la em seu amigo, o mal volta-
rá todo para ele e para você?
         – Dane-se ele. Não é essa a Lei Superior? Ou a Lei do
Universo? Você pensa que está conversando com um babaca?
Eu conheço alguma coisa do Mundo Espiritual. Esse “ju-
mento” em que estou montado não sabe nada, mas eu? Eu sei o
que é bom e o que é ruim. Agora, faça um favor e me solte;
prometo que vou embora, vou voltar para quem me mandou.
         Naquele instante, Henrique, o jovem rapaz, tomado por
aquele espírito, levanta o seu semblante para cima e, com um
grito piedoso, cai de joelhos prostrado no chão. Imediatamente
foram ao socorro daquele jovem que, sonolento e assustado,
pedia a presença de seus pais. Logo seus pais se aproximaram
dele e, entre lágrimas, acolheram a sua cabeça ao colo.O mentor

                                                             203
pede aos Exus e outras Entidades para que levem dali todo aquele
rastro degradante. Tentaram doutrinar aquele espírito, mas ele
estava ainda muito convicto de onde queria ficar e era imaturo.
Não era aquela a sua vontade, ou seu tempo e o seu livre-arbí-
trio. O fruto ainda não estava maduro, tudo vem a seu tempo.
         Izabel fala ao mentor sobre Oscar. – Será que agora Os-
car ficará bem?
         – Sim, certamente, desde que ele colabore, tomando
alguns banhos com ervas para limpar a sua aura.
         – Eu irei ajudá-lo. Com os vossos auxílios, Deus nos
fortalecerá.
         – Oscar estará constantemente vigiado. Terá os
cuidados de Mãe Benedita e de outros espíritos benevolentes.
Ele não poderá ficar sozinho, pois essa casta de espíritos maléfi-
cos é traiçoeira. Basta que ganhem mais para voltarem mais for-
tes e em número maior.
         Em seguida, Oscar é conduzido até onde está Mãe
Benedita. A entidade lhe dá um passe magnético para lhe
transmitir energias boas, envolvendo-o em sua aura, assim
como uma ligação, ou seja, um cordão umbilical. Com uma
vela acesa na mão direita, ela a circunda sobre sua cabeça
para purificar seu corpo astral, passando-lhe algumas reco-
mendações: Que ele fizesse orações diárias para estar sempre
em sintonia com Deus e com os bons espíritos, pois só assim
evitaria a aproximação das energias negativas.

        Seguem-se os dias. Para Oscar, a sua situação cotidi-
ana volta à normalidade. Ele agradece imensamente aos
amigos por tê-lo ajudado num momento tão perigoso de sua
vida.
Alguns dias depois, algo de interessante acontece. Uma manche-
te de jornal, estampa a forma estranha como um homem se
suicidou.

204
“Um homem enlouquecido teria se jogado de seu aparta-
mento no terceiro andar”
        O interessante é que, antes de cometer o suicídio, ele
corta a palma de sua mão em forma de uma letra, a letra “K” de
“Kiumba”.
        Quando Anita fica sabendo daquele acontecimento,
se surpreende ainda mais ao saber que aquele homem era
Frank, o seu ex-namorado
        – Que coisa horrível! Será que é o que estou pensando ou
só coincidência? Coisas da vida...


                       Oscar em visita à Mãe Benedita
         Oscar teria que voltar à casa de caridade uma vez por
semana, durante sete semanas seguidas para fazer uma cor-
rente de orações, receber passes e obter orientações de Mãe
Benedita, Guia Espiritual da médium Alzira. Como Anita não
podia acompanhá-lo todas as sextas-feiras, Oscar pede a João
Eduardo que o acompanhe, pois ele se sentia um pouco en-
vergonhado e amedrontado.
         Ao chegarem à casa de caridade, são recebidos por
Irmão Lázaro.
         – Seja bem-vindo Oscar, à nossa casa.
         – Obrigado, meu irmão, por vossa sensibilidade e por
vosso carinho. Deus seja louvado.
         – Amém. Que Deus prepare o teu coração. Eu peço que
você me perdoe, mas dentre o que você veio buscar aqui, existe
uma coisa adormecida em seu coração que você provavelmente só
irá se lembrar após algumas horas, ou ao sair daqui.
         – Meu Deus!!! Eu não disse nada a ninguém, mas sabia
que teria outra coisa a fazer aqui, e agora, como num estalo eu já
sei. Obrigado, farei isso agora mesmo.

                                                              205
Os olhos de Oscar correm em todas as direções no inte-
riores da casa espírita, porém, ali não estava a pessoa a quem ele
dirigiria suas palavras.
         – Acalme-se, que o jovem rapaz está por vir.
         Poucos minutos se passaram e de repente Oscar vê o
jovem Henrique. Ele prostra-se diante dele para pedir-lhe
desculpas pela grosseria e por sua incredulidade.
         – Gostaria que você me perdoasse meu pequeno jo-
vem, pelo que fiz contigo. Creio que eu estava envolvido por
aquela energia ruim.
         – O mal que estava contigo me foi tão útil e necessário
que eu só tenho a agradecer, a Deus e aos mentores desta casa,
por permitir que a mim fosse transportado o que havia em sua
aura senhor Dr. Oscar, pois só assim me libertei de um sofri-
mento ainda maior em minha vida. Até da morte eu me livrei,
devido ao que aconteceu conosco naquela sessão. Eu estou feliz,
pois renasci! O que tenho a dizer-lhe é que não há porque pedir
perdão pela lição que acolhemos para as nossas vidas. Deus nos
abençoe, hoje e sempre.
         Ao ouvir as palavras do rapaz, Oscar ficou sabendo da
luta que o jovem vinha enfrentando para salvar-se. Emociona-
do, deu um abraço no rapaz e mais uma vez agradeceu-lhe.
          – Henrique, que Deus em sua infinita bondade e sa-
bedoria lhe abençoe. Bem, quero aproveitar a oportunidade, já
que somos amigos, para lhe pedir que não me chame mais de
Doutor e sim de Oscar, afinal, somos amigos e irmãos na mes-
ma fé.
         Iniciada a sessão, logo Mãe Benedita pede a um
Cambone (auxiliar), que lhe traga Oscar, pois ela estava pronta
para falar-lhe.
         – A sua bênção, Mãe Benedita.
         – Que Pai Oxalá lhe abençoe, meu filho.
         – Então minha Mãe, esse encosto veio mandado?

206
– Certamente, filho!
         – Mas por que minha Mãe, se eu não faço mal a nin-
guém? Por que essas perseguições?
         – Bem, meu filho, alguma coisa errada se passou com
você para estar assim vulnerável, pois as energias ruins só se apro-
ximam de quem esta vulnerável, ou melhor, você deve ter feito
algo errado e isso abriu uma brecha no seu perispírito. Quando o
ser humano busca ser correto esses espíritos têm pouquíssimo
acesso, não chegando a afetar o cotidiano das pessoas. Isso por-
que, estando em sintonia com seus guardiões, não fica vulnerável
às energias ruins. Pense, examine a sua consciência.
Faça uma pequena regressão voltando no tempo, assim você
conseguirá saber se fez ou não algo prejudicial a alguém a ponto
de prejudicá-lo. Eu sei que neste momento você se sente confu-
so, mas acredite, tudo ficará claro para você, pois o tempo é
sábio e o nosso bom Deus é Supremo.
         – As vossas palavras são reconfortantes e me trazem
uma segurança muito grande, minha Mãe. A senhora é muito
sabia.
         – É, filho... Realmente eu devo ter aprendido alguma
coisa nessa minha vida espiritual, porque junto a mim, além
de excelentes mestres e bons livros que são plasmados para
que possamos aprender, Deus me deu vocês também, para
que eu possa compartilhar o pouco que sei e o muito que ainda
tenho a aprender. Agora vá em paz, com Deus diante de seus
passos. E tenha fé, pois tudo ficará bem, você verá.
         Terminada a sessão, Oscar, antes de despedir-se de
João, é logo convidado por ele para ir até sua casa. Ao chega-
rem à casa de João, os dois e Izabel comentam sobre o acon-
tecimento da semana anterior. Faltara Anita naquele dia, e Izabel
telefonara para saber se estava tudo bem com ela.
         – Alô! Sim, sou eu, Anita!
         – Posso saber o que você está fazendo em casa às oito

                                                               207
horas da noite, com um calor tão forte como esse?
         – Estou só morta de vontade de sair de casa para tomar
um sorvete.
         – Eu tenho sorvete aqui em casa, de vários sabores.
         – Menos um que é o que eu mais gosto...
         – E eu posso saber qual é?
         – É de salada de frutas.
         – Pois eu tenho. É uma pena você não estar aqui
conosco para saborear o delicioso sorvete de salada de frutas, e se
você não vir logo, acabarei com seu sorvete.
         – Sim, é uma pena. E agora aumentou mais ainda a
vontade! Mas vou dormir e logo esquecerei.
         – Mas você tem coragem de me dizer isso? Não senhora,
Oscar e João irão aí nesse instante para buscá-la, está bem?
         – Verdade? Mas ficará muito tarde, deixemos para uma
próxima oportunidade, sim?
         – Não, você pode muito bem dormir aqui em casa.
         – Não Izabel, eu nunca fiz isso em minha vida, tenho
vergonha...
         – Você, além de minha irmã é minha protetora, e tam-
bém a minha querida comadre. Você Já se esqueceu que agora
somos uma família?
         – Você tem o dom de convencer Isabel, até já.
         – João e Oscar, eu fiz uma loucura! Aqui em casa eu não
tenho sorvete de salada de frutas! E agora?
         – Não se preocupe, eu sei onde encontrar. Irei buscar
agora mesmo.
         – Bem... Então, eu e Izabel poderemos ir buscar Anita.
O que você acha Izabel?
         – Eu acho uma ótima idéia, mas vão vocês, enquanto
eu dou umas ordens na cozinha.
         Correu tudo bem naquela noite. Oscar conseguiu o sor-
vete e João pegou Anita em sua casa. E só depois de fartada com

208
o sorvete é que Anita ficou sabendo da façanha de Izabel. Todos
sorriram alegres por estarem bem espiritualmente. Izabel, na
intenção de ver o casal unido não perde tempo, convida a amiga
Anita para jantar. Marcam para quinta-feira, às 19h.
        No bate papo entre os dois casais, Oscar comenta o que
Mãe Benedita lhe disse sobre o exame de consciência que ele
deveria fazer para não ficar vulnerável. Acreditava ele não ter
nada de tão grave em sua vida, a não ser o que fizera com Anita.
Aí sim, estaria com as sequelas do remorso.
        – Ninguém melhor do que nosso irmão Lázaro para
nos ajudar nesta tarefa – comenta João Eduardo.
        Então vamos amanhã até a casa dele! – afirma Anita.

                                Na casa de Irmão Lázaro
         – Bem, Oscar, primeiro vamos ligar o nosso pensa-
mento a Deus em oração, pedindo-Lhe que conduza até nós
um raio de luz e de sabedoria do local habitado por Mãe
Benedita e os bons espíritos, para obtermos deles o auxílio
de que necessitamos.
         Após algumas preces, irmão Lázaro pede a Oscar que
reflita sobre tudo que fez durante os últimos anos de sua vida,
todas as atitudes que ele imaginava serem boas e ruins. Pede para
que todos ali presentes fiquem em silêncio absoluto e com os
olhos fechados, para que Oscar pudesse refletir e fazer uma via-
gem em seu íntimo.
         Poucos minutos depois, aproxima-se daquele ambiente
um espírito com prática na técnica em conduzir as pessoas à
hipnose. Oscar, em transe provocado pela hipnose, começa a se
transportar e a narrar o que sentia em um lugar que, aos poucos, ele
percebe tratar-se de uma clínica. Ali, há duas enfermeiras e um mé-
dico e com eles estava uma paciente. Ao ver o rosto da paciente que
estava em uma maca, mesmo com a visão ofuscada Oscar percebera

                                                                209
que se tratava de uma mulher ainda jovem. Aproximando-se mais
dela, Oscar a reconhece. Era Camila, a primeira e única mulher
que tivera em toda a sua vida, a mulher com quem conviveu por
um ano e meio e, após esse tempo, ele a abandonara porque, para
sua decepção, descobrira que ela o havia traído várias vezes, com
vários parceiros.
       Na realidade, Camila o havia traído várias vezes. Porém,
ao se separarem, ela levava no ventre um filho e, com a má
condição financeira em que se encontrava após se separar de Oscar,
revoltada com sua tolice de engravidar fez, aos três meses de
gestação, um aborto.
         Oscar soube, na época em que descobriu a traição de
Camila, que ela estava grávida. Queria lhe dar uma nova opor-
tunidade, mas não admitia a criança que estava em seu ventre:
não a queria grávida de outro homem. Seria assim ou nada.
         Nesse momento, Oscar volta do transe e Irmão Lázaro
lhe faz uma revelação.
         – Dentro da escala de consanguinidade, aquela criança
poderia ser o seu filho.
         – Como, irmão Lázaro? Ele não tinha o meu sangue,
com toda certeza.
         – Mesmo não sendo seu filho, para nós, que cremos
no Plano Espiritual, ser pai ou ser filho vem da afinidade que
sentimos por alguém. Tenho certeza que, se fosse nos dias atu-
ais, mesmo você estando convicto de que não era um filho seu
que ela carregava, mesmo assim, ele já teria conquistado o seu
coração. O que tenho a lhe dizer é que hoje você está maduro e
preparado para assumir essa falha cometida no passado. E este
espírito que sofreu o terror do aborto poderia ter lhe escolhido
como um bom pai adotivo.
         – Mas se por ventura eu me corrigir, esse espírito será o
mesmo que foi abortado?
         – Isso não se sabe, ele já pode ter reencarnado. Mas a

210
revelação virá do alto, porque, pela lógica e segundo o que estu-
damos, se ele escolheu a Camila para ser sua mãe, aguardará
uma nova oportunidade. Quanto a você, esteja certo de que se
isso vier a acontecer, deverá recebê-lo de braços abertos, porque
já está determinado. Pai não é o que concebe, mas aquele que
cria e que doa o amor.
         – Meu Deus! Eu ajudei e incentivei a interromper uma
vida! Estou muito envergonhado diante de todos vocês, princi-
palmente de você, Anita.
         – Oscar, você quer falar sobre isso na frente de todos ou
prefere ficar a sós com nosso irmão Lazaro?
         – Não tenho nada a esconder Anita, por favor, fiquem
aqui comigo.
         Irmão Lázaro explica a Oscar e aos demais que ali
estavam as consequências de um aborto.
         – Não sei, mas gostaria que você e João Eduardo ou-
vissem, porque estou muito frágil para suportar mais um acon-
tecimento comigo –, pede Oscar a Anita. – Por favor, fiquem
comigo.
         – Não se preocupe, eu e João Eduardo ficaremos
juntinhos de você. A sua dor e a sua resolução serão nossas
também.

                           A história de Oscar e Camila
        – Camila. Nós estamos namorando há dois meses, só
que hoje tenho uma notícia ruim pra lhe dar.
        – E você pode me adiantar qual é a notícia?
        – Sim. Hoje, um rapaz cujo nome é Gustavo me
procurou, pois queria falar-me. Pedi a ele que esperasse um pouco
por estar muito atarefado, não podendo deixar as minhas obri-
gações naquele instante. Ele me respondeu que esperaria o tem-
po que fosse necessário, pois era inadiável o que tinha a me dizer

                                                              211
e o assunto tratava de você, Camila. Quando ele se expressou
dessa forma, fiquei curioso, deixando os afazeres para ouvi-lo.
As poucas palavras que ouvi do rapaz foram suficientes para eu
ficar num estado psicológico péssimo.
         – Mas o que ele disse de tão sério?
         – Ele me disse que é seu amante, e que precisava de
dinheiro para não me incomodar e nos deixar em paz
         – Mas isso não é verdade Oscar! Ele lhe disse isso para ter-
me de volta, e eu não o quero mais. Por favor, acredite em mim!
         A partir daquele dia, o rapaz não foi mais procurá-lo,
mas mesmo assim, Oscar não acreditava na fidelidade de Camila
e não confiava mais em suas palavras. Só pairavam em sua cabe-
ça dúvidas e mentiras por parte dela. A vida de ambos estava em
desordem total, e tentavam a cada dia que se findava modificar
o que acontecia entre ambos, mas nunca as coisas acabavam bem,
uma neurose os perturbava.
         Um ano e meio depois, numa manhã de domingo,
Oscar, ao sair de sua casa, deparou-se com o rapaz, que lhe
pediu um instante de atenção para dizer-lhe que Camila esta-
va grávida de três meses, e que o filho não era de Oscar. Ela
escondia a verdade para não perder o conforto financeiro que
Oscar lhe proporcionava. Ao mesmo tempo ela tinha dinhei-
ro suficiente para sustentar seu outro amante, que era o pai do
filho que Camila carregava em sua barriga. Gustavo comentou
com ironia para provocar Oscar.
         – Camila, o tal Gustavo esteve novamente à minha
procura para me dizer que você está grávida, e que o filho
não é meu. Isso é verdade? Por favor, não me esconda nada!
         – Por favor, perdoe-me! Eu tenho cometido graves
erros com você! Antes de ficar contigo, como você sabe, eu me
envolvia com drogas e nessa loucura conheci Gustavo, também
viciado. Por algumas vezes ficamos juntos, até que um dia ele
desapareceu. Pensei que ele tivesse morrido ou que estivesse

212
preso. Quando ele soube que eu tinha mudado o meu estilo de
vida e saí da miséria, ele veio à minha procura fazendo-me chan-
tagens, inclusive com promessas de lhe fazer mal, Oscar. Para
que isso não acontecesse, eu cedi às chantagens dele, até que há
três meses eu estive com ele em nosso quarto. Fui forçada a man-
ter um relacionamento íntimo com ele em nossa cama. Sarcasti-
camente, ele me deixou chorando, e com uma grande ferida no
coração. Por um momento, passou-me pela cabeça que eu deve-
ria matá-lo, mas não tive coragem. Sinceramente, não sei a
quem o filho pertence, se a você ou a ele. Eu tive muito medo
que você soubesse.
         – Você está mentindo, deveria ter me contado a verda-
de. Por que tanto mentira? Eu pensei que você me amasse!
         – É porque ele só vive no meio de vagabundos. Imagi-
ne! Um pedido que ele fizesse a eles poderia nos exterminar!
         – Mas ele diz que você está grávida de um filho dele!
         – É como eu lhe disse, não sei de quem é esse filho
que espero, só sei que tenho sofrido muito com essa situação,
e desmoronou tudo novamente. O que me resta agora é sair
da sua casa e da sua vida. Assim ficarei mais tranquila Oscar.
         – Mais uma vez você esta mentindo, porque a minha
mãe me disse, por várias vezes que a mulher sempre sabe
quem é o pai de seu filho. Ela me dizia isso porque mamãe
tinha uma irmã, que na 2ª Grande Guerra fora obrigada a ter
relações amorosas com vários soldados. Mas quando ela
engravidou, sabia exatamente quem era o pai da criança.
Mamãe dizia que a mulher sempre sabe quem é o pai. Eu
posso até ficar contigo, só que primeiro temos que dar um
jeito de afastar esse rapaz de nós, e depois, pensaremos no
que fazer com a sua gestação.
         Para Oscar, era interessante estar com Camila, uma
mulher fisicamente muito atraente. Ele estava cego de pai-
xão por Camila e acreditava que venceria essa batalha.

                                                            213
– Se você me quiser de verdade Oscar, até tiro esta criança.
Conheço um lugar bom para fazer o aborto.
         – Eu topo! Quanto ao aborto, será melhor assim, pois
esse filho não é meu. Consiga uma boa clínica, que lhe dê toda
a assistência de que você precisar. Eu pago todas as despesas.
Logo você estará grávida de um filho meu.
         Passou-se exatamente uma semana para que tudo fosse
resolvido. Lá estava a bela moça, livre de uma deformação
física que, segundo ela, fora causada por uma gravidez indesejada.
Assim pensava também Oscar. Camila ficou internada na clinica,
pois havia tido um início de hemorragia e necessitava de cuida-
dos médicos. Essa hemorragia teria sido causada por uma altera-
ção de pressão, pela vida desregrada que levava.
        Esses dois dias de internação foram suficientes para que ela
voltasse à vida triste que levava. No dia em que teve alta, quando
Oscar foi buscá-la não a encontrou mais. Por várias semanas ele a
procurou pelos arredores, mas nada soube da pobre mulher. Só
lhe restaram saudades.
        Oscar, após ter relatado tudo o que acontecera consigo
e Camila, deixa o pranto cair em sua face, para, em soluços,
pedir auxilio a Deus e orientações a Lázaro, o irmão médium.
         – Meu irmão! Então aquela criança que estava no ven-
tre de Camila seria realmente o meu filho de sangue! Meu Deus!
Mesmo que não fosse, hoje eu não agiria dessa forma, eu o teria
criado com muito amor e dedicação. Por que teve de ser assim?
Olhe só o mal que causei à Camila, a mim e a esse espírito! Estou
sentindo-me totalmente perdido, meu irmão.
         – O principal, diante dessa situação, é o arrependi-
mento. – Lázaro cautelosamente lhe responde – Como eu lhe
disse, esse espírito, que tentou reencarnar, provavelmente deve
estar à espera de uma nova oportunidade para cumprir sua mis-
são. Quem sabe?
         – Então, pode ser o que estou pensando?

214
– Não, não é o que você esta pensando. Não é o filho
que Anita está esperando, com certeza, não. Esse é fruto do
amor entre vocês dois. Esse espírito terá de nascer do ventre
de Camila, e o pai biológico não será você. Aquela gestação foi
concebida em uma aventura frustrada, que não tinha nada a ver
com você, meu irmão. Mas como você participou daquele ato
sórdido, a sua própria consciência lhe acusa. O ideal agora é
rezar e fazer boas ações, e até lhe recomendo, se um dia puder, a
adotar uma criança.
         – Adotar uma criança? Isso é magnífico! Bem, eu posso
e farei de bom grado, mas me parece difícil conseguir adotar
uma criança.
         – Adotar uma criança não é tão difícil, Oscar.
– responde Anita.
         – Só que para Oscar não será tão simples – argumenta
Irmão Lázaro.
         – Mas por quê? – pergunta o amigo João Eduardo.
         – Porque, para Oscar, o ideal seria que ele adotasse
um filho de Camila – explica Anita, tentando entender a situ-
ação que Lázaro expôs.
         – Como é que você sabe disso, Anita?
         – Eu imaginei que deveria ser assim. Estou certa em
pensar dessa forma irmão Lázaro?
         – Você está correta. Das atitudes de Oscar, essa poderá
ser a mais nobre e a que trará a cura total ao seu psiquismo e à
sua consciência.
         – Eu bem que gostaria de saber onde está Camila e a
situação em que ela se encontra. A partir do momento em
que nos separamos, nunca mais voltamos a nos ver. O que
posso fazer é contratar um detetive para encontrá-la. O que
penso é que ela não tenha nenhum filho, pois não foi a pri-
meira vez que praticou um ato que agora vejo que é sórdido
e criminoso. Provavelmente ela até esteja passando por

                                                             215
privações financeiras.
         Irmão Lázaro resume a todas aquelas palavras toman-
do a seguinte atitude:
         – Meus irmãos. A ansiedade neste momento é ruim; o
ideal é entregar este problema nas mãos do Criador e seus auxili-
ares, nossos Espíritos de Luz. Agora, o mais importante é que
Oscar tenha esse objetivo pelo arrependimento.
         – Quem sabe se ela já não pode estar grávida por aí e o
destino os colocará frente a frente? Comenta João Eduardo.
         – É exatamente isso que devemos fazer: aguardar.

        Logo após, todos se despedem do irmão na promessa
de estarem juntos novamente no centro espírita, para a próxi-
ma sessão. Ao sair da casa do Irmão Lázaro, Anita faz um
convite aos dois amigos para um sorvete, pois desejava uma
taça imensa de sorvete de salada de frutas. João pediu-lhes
desculpas, dizendo que necessitaria ir à sua casa, na intenção
de deixar Anita e Oscar a sós.

                                               Na sorveteria
        – Bem Anita, o que você acha disso tudo? Pelo que
disse nosso grande orientador, Irmão Lázaro, necessito adotar um
filho de Camila, mas não sei como fazer isso, pois acho quase
impossível dar certo. Que Deus me perdoe dizer isso, mas ela
deve estar envolvida com aquele camarada. Onde ela estará agora
e fazendo o que de sua vida? Na época, ela se envolvera com más
amizades, enfim, uma série de motivos que poderiam acarretar
problemas à sua vida futura. Mas seja como for, que Deus me
ajude, pois tudo deverá vir a seu tempo.
        – Seja paciente. O que você não pode e nem deve é ter
pressa. Se você conseguir encontrar Camila agora, na situação
psicológica em que está se encontra neste momento, creio que

216
não valha a pena. Se um dia acontecer de encontrá-la, você terá
o seu filho, adotivo ou não. Entregue nas mãos de Deus, pois o
importante é que ele seja amado, e não somente criado.
         Mas Oscar se martirizava, pedindo a Anita para ajudá-lo
a encontrá-la. Queria observar todos os passos de Camila para
evitar que, se ela estivesse grávida, fizesse um novo aborto, pois
ele assumiria a paternidade. Ele sabia que, pela cidade não ser
tão grande, seria mais fácil encontrá-la.
         Depois de alguns dias, Oscar contrata um detetive para
encontrar Camila. Os dias se passam e nada de Camila, e sua
ansiedade fazia com que culpasse o profissional por ainda não
ter nenhuma pista de Camila. Realmente Oscar estava inquieto,
querendo resolver o quanto antes essa pendência psíquica que
muito lhe incomodava.
         – Oscar! – repreende Anita – Você está ansioso, acal-
me-se. Tenha fé, muita fé. Cada coisa a seu tempo! Tenha a
certeza que se você tiver que adotar um filho de Camila, ele
virá em suas mãos. Confie. Pense que nada há de vir por
acaso, assim nos aconselhou o irmão Lázaro.
         – Bem Anita, que tal então falar de nós dois? Eu gos-
taria de saber como você está em relação a mim, se já pode
perdoar o meu erro, porque eu desejo sair da condição de amigo
e me casar com você. Diz-me, o que preciso fazer para que você
confie em mim definitivamente?
         – Eu lhe disse que preciso de uma prova do seu amor,
assim como você fez comigo. Estou grávida e às vezes me
sinto angustiada e insegura... Sinto sua falta ao meu lado, para
acariciar a mim e ao bebê.
         – Mas eu tenho implorado a você e a resposta é sempre
essa! Gostaria que você também imaginasse a minha situação,
longe de você e do meu filho. Por quantas vezes, eu, repousan-
do em minha cama, clamo por vocês, e com as mãos fixadas no
rosto me ponho a rezar!

                                                              217
– Eu acredito que realmente você transformou-me num
pretexto em sua vida.
         – Eu lhe prometo não mais falar sobre isso. Saberei
vencer esta fase, pois tenho que respeitar os seus modos, porém,
não tenho mais como aceitar as suas imposições. Que sejamos feli-
zes, cada um o seu modo, não é mesmo?
         Oscar tomara essa decisão não por medida de defesa ou de
rejeição à Anita e ao bebê. Ele reagiu dessa maneira, contudo, teria
que dar um basta àquela situação.
         Anita, por sua vez, se amedrontara realmente com a com a
atitude de Oscar. Ela não queria perdê-lo jamais. Imediatamente,
solta dos lábios a sua doce sugestão.
         – Pois bem Oscar, eu vou lhe fazer uma proposta. Será
muito difícil para você, mas dessa vez, será tudo ou nada.
         – Então, pela última vez, diz-me a sua proposta.
         – Eu não acredito que você passe por esta avaliação,
mas vou lhe propor o seguinte: Se você realmente ama a mim e
ao meu filho, veja bem, é tudo ou nada.
         – Está bem Anita, é tudo ou nada agora, por favor, fale.
         – Compre uma casa modesta para mim, você e nosso
filho. Entregue a sua siderúrgica para os seus funcionários,
doe os seus bens para as instituições filantrópicas, assim como a
Casa de Caridade que frequentamos, e vamos viver uma vida
simples, porém, digna para os nossos dias, assim como imaginei
ao lhe conhecer, porque, na verdade, eu o tenho como um bom
amigo, eu não lhe amo. Na verdade, eu amo aquele Oscar, fun-
cionário da siderúrgica. Esse sim, eu amo de todo o meu cora-
ção. Torno a repetir quantas vezes forme necessárias: Eu te amo
Oscar, do fundo do meu coração, e esse amor que sinto pelo
meu Oscar, é muito forte! Ele ultrapassa os limites da minha
imaginação, eu vivo com você todos os instantes, Deus é teste-
munha. Eu não tenho como lhe explicar, pois é forte demais!
Só que eu não consigo lhe ver assim, como se fosse meu senhor,

218
quero lhe ver de igual para igual. Lutaremos juntos pela nossa
sobrevivência, e saiba Oscar, que você é e sempre será meu ho-
mem, meu cúmplice meu amor verdadeiro, pois me abarco em
tristeza ao sentir que umas manchas escuras e frias se abatem
sobre você. Você para mim é atencioso, amigo e amante. Um
perfeito cavalheiro. Sinto-me totalmente segura quando estou
contigo, mas lhe vejo como um pássaro aprisionado, em busca
de liberdade. Para mim, Oscar, essa sua liberdade é a proposta
que lhe faço. Não me responda agora, pense, pois será tudo ou
nada. Mas lembre-se de uma coisa, amanhã eu envelhecerei e
certamente não serei a mesma. Pense bem, mas seja breve em
sua resposta, pois agora é a hora.
         Ao calar-se, Anita se assusta e por um momento se sente
indignada diante da sua coragem em fazer aquela absurda pro-
posta a Oscar, pois ele começa a sorrir à sua frente, sem parar
nenhum instante.
         – E você acha Anita? Você acredita em que Anita?
         – Basta Oscar! Eu já sei a resposta por causa do seu
sorriso, que me parece sarcástico!
         – Não, não basta Anita. – Oscar aproxima-se de Anita e,
ao acariciar seus lábios, afaga o seu ventre – Eu estou sorrindo
e sorriremos muito, se essa realmente for a sua proposta.
         – Mas eu posso saber por que o sorriso?
         – Sim, e lhe darei a resposta de imediato, neste
instante, pois, não tenho mais no que pensar.
         Quando Oscar tenta lhe falar, ela, com suavidade e
ternura, coloca os seus lábios ao dele, deixando que o seu
perfume o envolvesse, pedindo-lhe que naquele instante não
lhe dissesse mais nada porque, diante da sua intuição, aquele
seria o seu último beijo.
         Após um terno e longo beijo, Oscar, ao fixar seus olhos
nos de Anita, lhe diz:
         – E a minha resposta? Como ficamos?

                                                            219
– Deixe para daqui a alguns dias. É melhor que você
pense, não quero lhe perder, pelo menos por hoje.
         – Não! Não pretendo esperar mais!
         Oscar se levanta da mesa e pede para que Anita o espere,
pois iria buscar algo que estava em seu carro.
         Sozinha, Anita fica a pensar. – O que será que ele foi
fazer no carro? Será que vai embora e me deixará aqui sozi-
nha? Que vergonha! Eu acredito que, mesmo que ele não me
queira mais, não será capaz de fazer isso comigo, afinal ele é um
cavalheiro.
         O coração de Anita se acelera com a adrenalina que
lhe sobe ao corpo. Porém, Oscar não demora, trazendo em
suas mãos uma pequena pasta com alguns papéis.
         – Anita, você fala em doar a empresa para os meus
funcionários, para que se torne uma cooperativa. Bem, aqui
está o projeto de doação.
         – Mas o que é isso? Você fez...
         – Sim. Agora, preste atenção. Eu já imaginava tomar
essa decisão, só me faltava o seu empurrão, e este será o pon-
tapé inicial. Quanto a eu abrir mão dos meus bens para ter
uma vida humilde ao seu lado, para mim será gratificante,
porque ficarei ainda mais rico: terei você e nosso filho. Essa será
a melhor e maior riqueza da minha vida.
         Anita estava perplexa diante o que ouvia. Essa foi a
maior prova que a vida poderia lhe dar. Parada, olhava no
fundo dos olhos de Oscar. Pensou num instante em morrer,
pois acreditava que sua missão havia se completado. O seu
homem, a sua imagem, o seu reflexo, o seu grande amor!
         – Meu Deus, Oscar!
         – Quero que você saiba que lhe amo de verdade, pois
você despertou em mim uma nova vida. E mesmo que não
queira mais ficar comigo, lhe digo que jamais esquecerei dos
nossos momentos. Talvez por não ter tido muita experiência

220
no amor, não saiba tratar uma mulher especial como você.
Sinto que lhe perdi.
         Oscar levanta-se da mesa e, ao afastar-se dela, ouve Anita
lhe dizer:
         – Oscar, ouça-me! Ouça-me, por favor! Eu quero me
casar com você.
         Os dois se abraçam e se beijam. As lágrimas de ambos se
misturam feito água do mar, deixando-os calados, sublimes.
Ambos sorrindo, murmuram – Graças a Deus!
         – Anita, quanto a eu ter me levantado para ir embora,
devo lhe confessar que foi só um blefe ou um dengo.
         O ventre de Anita se agita. Um medo de que aquelas
emoções pudessem atingir o pequeno bebê, fez com que de-
cidissem ir até um hospital próximo. No caminho, param em
uma floricultura onde, além do proprietário, havia uma fre-
guesa, uma senhora de idade um tanto avançada que, se
aproximando deles diz – Você está se sentindo bem, filha?
         – Não, senhora, o bebezinho parece querer nascer
antes do tempo.
         – Não se preocupe filha. Vá para sua casa com o seu
companheiro, tome um banho refrescante e tome um chazi-
nho bem suave. Não se esqueça filha, de colocar numa vasilha
algumas gotas daquela essência que você tem em sua casa. Em
curto período você estará bem.
         Anita ficara surpresa com a atenção e o carinho de
uma senhora que mal havia conhecido. Oscar, ouvindo tais
palavras, sorriu para a senhora e ambos, ao agradecê-la por
sua atenção, perguntam-lhe o nome, pois a senhora se mos-
trara ser uma pessoa de Deus, com a sua capacidade de amor ao
próximo.
         – Gostaríamos de saber o seu nome, para guardá-lo
em nosso coração.
         – Engraçado filha, a impressão que tenho é de que eu

                                                               221
já os conheço. O meu nome é Benedita. Vão em paz, e que
Deus os abençoe.
         Ao se afastarem, já dentro do carro percebem que aque-
la senhora, a cada momento que se distanciava deles, parecia
tomar uma forma física diferente, assim como uma
materialização, ou seja, a transformação de uma pessoa em
outra. Anita pede para que Oscar pare o carro alguns metros
depois daquela senhora.
         – Oscar, o nome dela é Benedita, o mesmo nome da
Entidade do centro espírita – Mãe Benedita. Inclusive o seu
tom de voz me fez lembrá-la.
         – Anita, olhe para ela! Apesar de distante de nós, ela
me parece familiar! Deus seja louvado, afinal, Mãe Benedita
é quem esta cuidando de nós.
         Ao chegarem em casa, já era noite. Anita começa a
amedrontar-se com as leves dores que sentia em seu ventre.
         – Por favor, Anita, vamos ao hospital.
         – Não, meu amor. Vamos parar por aqui com a nossa
incredulidade. Se for para eu morrer agora, estarei feliz e gra-
ta a Deus por ter conquistado o maior dos meus sonhos:
morrer pertinho de ti.
– Não fale assim, meu amor!
         Anita, próxima de Oscar, desfalece. Enlouquecido, Os-
car a coloca na cama e imediatamente telefona para o seu médi-
co particular para que ele a socorra. Apoiada em seu colo, Oscar
aos gritos é socorrido pela vizinha do apartamento ao lado, que
após ver a porta aberta, imediatamente entre para socorrê-los.
         – Oscar, não se preocupe. Tenha fé em Deus que ela ficará
bem – diz a vizinha, Matilde, tentando acalmá-lo. – Eu fui até a
cozinha e preparei um pouco de chá, vamos dar a ela.
         Anita, ao voltar da vertigem, toma um pouco de chá e
logo começa a reagir. Ao tocar a campainha, Matilde abre a
porta para receber o médico que havia chegado. Depois de

222
diagnosticá-la, ele diz:
        – Oscar, não se preocupe porque Anita e o bebê passam
bem.
        – Mas o que houve com ela Doutor?
        – Uma pequena queda de pressão, provocada por algu-
ma emoção. Isso nós resolveremos com um simples chá.
        – Nós já demos um chá para ela, há poucos instantes –
responde Matilde ao médico.
        – Então, nada melhor que bom um banho e repouso,
isso lhe fará bem. Só não a deixem sozinha.
        – Muito obrigado Doutor.
        – Se precisar me chame. Não se importe com a hora.

         Anita já se encontrava no oitavo mês de gestação. As
mudanças que estavam acontecendo em seu corpo lhe inco-
modavam, porém, ela suportava com paciência e amor. Os-
car, para não deixá-la sozinha, sentava-se a seu lado a observá-
la, vendo o quanto estava bela em sua gestação.
         – Minha querida Anita. Desejo tanto ficar juntinho de
você, por toda a minha vida. Quero fazê-la minha companheira,
minha esposa, a mulher a quem eu tanto desejo em minha vida!
O nosso bebezinho será parecido contigo. Oscar aproxima-se do ventre
de Anita e, ao beijá-lo, sorri de uma maneira doce. – Mesmo que
você me rejeitasse, sem que percebesse jamais eu sairei de perto de ti.
Andaria oculto para lhe proteger, a ti e ao nosso pequeno bebê.
         Ao dizer aquelas palavras, Oscar, também cansado, pois já
eram duas horas da madrugada, sem perceber, adormece ao lado de
Anita.
         O dia amanhece. Anita, ao acordar, percebe que alguém
está ao seu lado. Ao verificar que se tratava de Oscar, ela o em-
purra da cama. Ele acorda assustado, pois caíra no chão.
         – Escute aqui meu caro, o que é que você está fazendo
em minha cama? Você pode me dizer, senhor Oscar?

                                                                  223
– Perdão Anita, é que eu adormeci.
        – Mas você tinha que adormecer em minha cama? E
onde é que está a sua cama, a sua casa?
        – Eu não podia deixá-la sozinha, por isso fiquei aqui
com você.
        – Não tem mais nenhuma desculpa. Você queria
mesmo era se deitar comigo, e isso eu não permito mais.
        – Eu estou envergonhado, desculpe-me. A única
coisa que fiz foi beijar-te...
        – Foi beijar o meu ventre e dizer que me amava.
        – Você ouviu?
        – Tanto ouvi como também vi e aceitei os seus cari-
nhos. Agora, para você dormir comigo, só depois do casa-
mento. A não ser que você queira deitar agora por mais um
tempinho, aí eu deixo...
        Oscar imediatamente se deita ao lado de Anita e ambos
riem muito depois do susto que Anita dera em Oscar. Em segui-
da, se abraçam e se beijam. Certamente que Deus os abençoara
naquele instante, pois foi ali, naquele momento, que se consu-
mou aquela linda união que entrelaçara ambos.

                              Planos para o casamento
        – Bem Oscar, eu já escolhi os meus padrinhos.
        – E quem são eles?
        – João e Izabel.
        – Olhe aqui Anita, isso não é correto. Você está roubando
os meus padrinhos!
        – Será que não é você o espertalhão? Mas eu disse pri-
meiro, eu ganhei, porque já falei com eles. Você viu como sou
mais esperta que você? Não, meu amor, eu não fiz isso. Só estou
brincando, não os chamei ainda. Queria primeiro falar com você.
        – Meus parabéns pela escolha, estou morrendo de inveja.

224
Agora terei de abrir mão desse casal? Não é possível! Eu só
permitirei que eles sejam seus padrinhos porque tenho em men-
te uma dupla maravilhosa.
        – E quem são? Eu posso saber?
        – Ainda não sei... Você está muito Curiosa? Acho que
vou guardar segredo. Bem, é o nosso irmão Lázaro, que dirige
a Casa de Caridade e a médium dona Alzira, que trabalha
com Mãe Benedita.
        – Com certeza estamos bem de padrinhos, só que,
pensando bem, acho que deveríamos escolher o irmão Lázaro
para consagrar nossa união.
        – E quem eu poderia escolher no lugar dele?
        – O senhor José.
        – Como diz João Eduardo: “o nosso bom José”!
        – Ótimo! Está fechado!

                                            Pistas de Camila
         – Anita, eu bem sei que a hora não é propícia para lhe
dizer, mas há pouco o detetive que contratei para encontrar
Camila me telefonou para dizer que já tem uma pista dela. Ele
descobriu que ela está presa.
         – Eu não acredito! E qual foi o motivo?
         – Pelo que ele ficou sabendo, ela foi acusada de roubo.
         – Como assim? Roubo de quê?
         – Ela estava em um restaurante, jantando com um ho-
mem. Quando ele foi pagar a conta, a carteira dele não estava
mais no bolso do seu paletó, simplesmente havia sumido. Pelo
que o detetive contou-me, o homem jamais esperava que fosse
Camila. Porém, a falta de sorte dela foi tamanha que, ao apa-
nhar do bolso dele para colocar em sua bolsa, a metade da car-
teira ficou para fora. Foi aí que, de repente, ele viu a ladra à sua
frente, e o jantar acabou na delegacia.

                                                               225
– E você sabe onde ela está?
         – Não, eu não sei. O detetive ficou de me ligar assim
que souber de algo.
         Logo em seguida, o telefone toca; era o funcionário de
Oscar dizendo que o Sr. Magalhães havia ligado pedindo para
Oscar retornar a ligação. Oscar diz a Anita que vai retornar a
ligação para o detetive Magalhães, pois ele já devia ter o endere-
ço. Logo ele desliga o telefone e diz a Anita que já tem o ende-
reço da delegacia onde está detida Camila.
         – Vamos até lá?
         – Vamos fazer-lhe uma visita? Quem sabe isso não é
o começo ou o caminho de que você precisa para corrigir o
que supõe ser um erro, o seu erro.
         – Tenho receio de aproximar-me dela, não sabemos o
que vamos encontrar. Mas se você estiver junto de mim eu
terei coragem.
         – É claro que sim, meu amor! É claro que estarei conti-
go, e para que você se recorde, nós temos as Entidades conosco
e nossa Mãe Benedita pertinho de nós.

                                    Em visita à delegacia
         – Como vai, Camila?
         – O que você quer? Que veio fazer aqui, Oscar? E,
afinal de contas, quem é essa moça?
         – Esta é Anita, a minha noiva.
         – Por que vieram me visitar? Eu não lhe devo nada;
sei que não tenho juízo, que sou uma pessoa vulgar, mas com
certeza não roubei nada de você. Se há uma coisa que não tenho
costume é de roubar, faço tudo errado mas roubar, nunca!
         – Ninguém está lhe acusando de nada – responde Anita.
         – Mas se você nem me conhece... Por que esta aqui, moça?
         – Nós não estamos aqui para prejudicá-la ou acusá-la,

226
estamos aqui para lhe ajudar.
        – Aquele safado que estava comigo, maldito Josué! Foi
ele quem colocou a carteira na minha bolsa para se ver livre de
mim. Fez-me essa acusação, para se livrar de mim. Mas ele há de
pagar por isso.
        – Por que ele queria se livrar de você? – pergunta Oscar.
        – Porque ele não é homem. Homem que é homem
assume seus atos, assim como você, que no momento em
que mais precisei me ajudou. Eu não sei se posso falar aqui,
na presença da sua noiva, mas você foi um homem muito
bom para mim. Cuide bem dele moça, pois ele merece. É um
bom homem, eu é que não presto, sou uma louca.
        – Ouça Camila, eu não tenho nada a esconder da mi-
nha noiva. O que você quiser falar sobre o que houve em nosso
relacionamento, e o que está acontecendo com você agora, pode
nos dizer abertamente.
        – Estou muito confusa, não sei quais são as suas in-
tenções. O que vocês querem de mim? Por que estão aqui?
Pelo amor de Deus, não me prejudiquem ainda mais!
        – Se você não deve nada à justiça, então confie em
nós, pois conseguiremos um bom advogado pra lhe tirar daqui
– explica Anita à Camila, ainda muito confusa com toda aquela
situação.
        – Mas por que todo esse interesse em mim, se, quanto à
fidelidade, não fui honesta com o Oscar? Afinal, o que vocês
querem comigo? Vocês ainda não me responderam!
        – Bem, você se lembra quando estava grávida? Eu a aju-
dei levando você a uma clínica clandestina para que você fizesse
um aborto, lembra-se?
        – Lembro-me perfeitamente Oscar, como se fosse
hoje.
        – Naquela época, por não ter nenhum escrúpulo ou a
maturidade que tenho hoje, me fiz cúmplice. O correto seria

                                                             227
utilizar um meio qualquer para que aquilo não acontecesse. Sin-
to-me até hoje muito culpado, e é por isso que estamos aqui.
         – Não se sinta culpado nunca, pois você tinha toda a
razão. Eu tenho certeza que o filho nem era seu, era daquele
safado, que já era...
         – O que aconteceu com ele?
         – Ele morreu nas mãos de um traficante – conta
Camila, chorando.
         – Você o amava? – pergunta Oscar.
         – Sim! Ele era meu homem, apesar de todos os defei-
tos que tinha. Ele era ardente e companheiro, era ele quem
eu realmente amava. Perdoe-me, moça, por estar falando des-
sa maneira. A maioria dos meus sofrimentos foi de moça bo-
nita, porém pobre. Infelizmente essa é uma parte de minha so-
frida vida. A maioria dos homens que tento segurar vivem co-
migo por algum tempo e, após descobrirem que estou grávida,
arranjam um motivo não pra me ajudar e me prejudicar ainda
mais. É por isso que eu digo que aquele canalha que me acusou
não é homem suficiente para assumir os seus atos.
         – Como assim? Você já o conhecia antes? Nós ouvi-
mos quando ele disse para o delegado que lhe conheceu há
duas horas apenas!
         – Qual nada, é pura mentira dona. Somos amantes há
algum tempo, coisa de oito a nove meses. Ele me fez promes-
sas e mais promessas, e o que eu ganhei dele? Nada além de
promessas, uma grande calúnia e esta gravidez indesejada.
Eu falei para aquele canalha que estava grávida dele, e ele me
respondeu que filho nem pensar. Aí então, pedi para ele provi-
denciar uma clínica e pagar o aborto, pois eu não tenho dinhei-
ro e nem quero filho, pois filho só atrapalha. Mas o que ele fez
foi mandar que eu me virasse. Eu não sou ladra! Estou revoltada
com o desdém com que ele me tratou. Então, insisti para ele
pagar o aborto, pois assim eu o deixaria em paz. Não querendo

228
pagar o aborto e pretendendo ficar livre de mim, enquanto fui
ao toalete ele colocou a carteira dele com uma mixaria de di-
nheiro na minha bolsa para me acusar. Denunciou-me como
ladra para se ver livre de mim e por vingança, porque não fui fiel
a ele, e agora aqui estou. Sou mesmo uma miserável, além de
grávida, ainda estou presa.

         – Grávida? – Pergunta Oscar, eufórico. – Então você
está grávida?
         – É, infelizmente eu estou, e esse cafajeste está fa-
zendo o mesmo que aqueles outros estúpidos que passaram
pela minha vida. O único que eu realmente amei foi aquele
que você conheceu há tempos passados, e que agora está
morto. Não sei se foi para o céu ou para o inferno, Deus ou o
diabo que o tenham. Foi ele quem me engravidou quando eu
estava com você.
         – Estamos dispostos a lhe dar toda a assistência
possível – diz Anita.
         – Nós só lhe faremos uma exigência – completa Os-
car – Você não pode abortar. Nós vamos lhe tirar daqui o
quanto antes; você fará um bom pré-natal e será assistida por
um excelente médico até o nascimento desse bebê.
         – Eu não tenho pretensão nenhuma em continuar com
esta gravidez.
         – Por favor, não faça isso! – pede Anita.
         – Só se eu der esse filho para vocês, mas pelo que
estou vendo, você já traz um filho em seu ventre. Digam, então,
por que tanto interesse? Será que vocês querem mais um filho
ou vieram aqui para me ferrar mais um pouco? Vamos, falem!
Vocês não pediram para que eu jogasse limpo? Então joguem
limpo comigo.
         – Eu não sei se conseguirei explicar Camila, é muito
difícil. O que eu tenho a dizer é que, por causa do que aconte-

                                                              229
ceu conosco no passado, eu também tenho sofrido muito, pois
não deveria ter lhe incentivado a fazer aquele aborto, deveria ter
amparado o seu filho. Por uma questão de querer corrigir um
erro do passado, eu acredito que a única forma de reverter essa
situação seria adotar o seu filho, que seria criado por mim e
Anita com carinho, porém, sem nunca esconder dele quem são
os seus pais verdadeiros. Isso agora dependerá exclusivamente de
você, Camila.
         – Mas como é que vou fazer para ganhar o meu
dinheiro com esta criança na barriga?
         – Como você já percebeu, eu também estou grávida,
e lhe prometo que o tratamento e o conforto que eu tiver
você também receberá. Você terá tudo que uma gestante ne-
cessita para ter um bebê saudável. E nós estamos certos de que
após a sua gestação você não ficará desamparada. Ajudaremos
também, para que você reconstrua a sua vida de uma forma
digna e saudável.
         – Eu insisto, ainda não entendi o porquê de todo esse
interesse.
         –Não importa por enquanto Camila, se você aceitar
que nós a tiremos daqui o mais rápido possível, e que durante
a sua gravidez cuidemos de você, com a condição de que
você não cometa o aborto, com o tempo você entenderá tudo
direitinho. Só podemos lhe afirmar que isso será bom para
nós e para você. É pegar ou largar.
         – Bem, já que é assim... Pior eu não posso ficar,
porque não há nem como. Vocês vão me tirar daqui?
         – Você pode contar com isso, confie em nós – afirma
Anita.
         – Eu topo, mas veja lá se vocês não vão me tapear!
         – Fique tranquila amiga, você entenderá tudo quando
sair daqui.
         Ao saírem da delegacia, Oscar entra em contato com o

230
detetive para que ele vá até onde está o amante de Camila. Foi
fácil encontrá-lo e convencê-lo, pois lhe bastou uma pequena
quantia pra que ele fosse à delegacia e retirasse a queixa feita
contra a pobre mulher.
        Logo depois que Camila foi solta, Anita e Oscar alu-
garam um pequeno apartamento para ela e lhe deram toda a
assistência que uma gestante necessita em sua gravidez. Du-
rante esse período, Oscar e Anita, por várias vezes, repetiram
a Camila que eles queriam adotar aquela criança para
tranquilizar Oscar por sua cumplicidade no aborto feito por
Camila no passado. Mesmo assim, a moça parecia não
compreendê-los por completo, mas aceitou deles o apoio.

     Algum tempo depois, João e Doutor Osvaldo
        Izabel pede insistentemente para que João Eduardo
vá à consulta com Dr. Osvaldo.
        – João Eduardo, você precisa ir ao hospital!
        – Izabel, já faz algum tempo que eu não sinto mais
nada, inclusive, como você mesma sabe, o Dr. Osvaldo me
avaliou há seis meses.
        – Pelo amor de Deus e dos bons mentores, vá, meu
marido! Eu irei contigo. Seja o que for, não perca a fé e nem
a esperança.
        – Sim Izabel, eu tenho fé! A prova disso é que eu
acho desnecessário ir ao medico.

       João Eduardo, logo após tomar um demorado banho,
em seguida toma outro banho a base de ervas, indicadas pe-
los mentores espirituais. Após os banhos ele se recosta em
sua cama para um curto repouso, não tardando mais que dez
minutos. Logo em seguida, ao apoiar-se na cabeceira, ele
começa a chorar.

                                                            231
– Meu Deus. Esteja comigo, Pai querido, e permita que
os bons amigos do Plano Espiritual nos tragam boas energias!
Tenha misericórdia deste vosso servo. Peco constantemente Se-
nhor, mas permita-me que eu conquiste a sabedoria e seja me-
nos ignorante, controle a minha insensatez e as minhas ganas,
permitindo-me que eu tenha a alegria de mais algum tempo de
vida neste plano. Eu bem sei, Senhor, que somos mortais nesta
vida, mas imortais no Plano Espiritual. Mas a vida nos deste
com o seu total amor, por isso, vos peço compreensão para os
meus desígnios.
        Ao levantar-se de sua cama, João Eduardo segue para
o centro espírita e, lá chegando, pede com veemência aos
irmãos daquela casa de caridade que lhe auxiliem, transmi-
tindo-lhe energias de paz, fé e coragem para enfrentar mais uma
de suas provações em seu resgate.

                      Três horas da tarde, no hospital
         Izabel e João Eduardo se encontram com Oscar no hos-
pital executando seu trabalho como voluntário, e ele acompanha
o casal para lhes dar apoio. Os três são recebidos por uma assisten-
te do hospital, que os encaminha ao consultório de Dr. Osvaldo.
João Eduardo, ansioso, talvez por receio, não queria saber o resul-
tado dos exames. Poucos minutos depois, Dr. Osvaldo, ao
cumprimentá-los, senta-se em sua cadeira atrás de sua escrivani-
nha e, ao abrir o envelope que estava consigo, tenso e angustiado
e com total perplexidade, ele exclama:
         – Mas não é possível, deve ter acontecido algo estranho
com o resultado de seus exames, João Eduardo. Agora o seu
problema está nos pulmões.
         – Como assim, doutor? – pergunta Izabel, já aflita.
        – Meu Deus!... Bem que eu não queria vir, pra não saber
de nenhuma noticia ruim!...

232
– Mantenha-se calmo meu amigo, seu diagnóstico está
confuso, mas tenha calma João. Estava tudo certo e eu estava
preparado para lhe dar uma boa notícia.
          Nesse momento, Oscar percebeu que a fé de João ain-
da não era suficiente para a sua cura psíquica e também Izabel
percebera, pois ficara abalada e tensa com o que Doutor Os-
valdo lhes dissera.
          – Como o diagnóstico está confuso doutor? Eu não
estou curado? Os tumores ainda estão nos meus órgãos?
          – Como pode isso doutor, se João está sem dores?
          – Sim, mas por favor, me aguardem por alguns minu-
tos. Eu a voltarei, pois não é possível, algo está errado. – Sus-
surrando, ele repete a si mesmo que nos exames de João apare-
cem dois tumores nos pulmões.
          Izabel e João se olhavam entre si assustados e amedronta-
dos, pois para eles a dúvida de Dr. Osvaldo realmente lhes deixou
desconcertados. Sua fé ou convicção na cura ainda era muito pou-
ca, porque no centro, o mentor chamado de Irmão X lhe dera um
diagnostico totalmente favorável, dizendo que a doença não seria
dele, e sim de Lídia, aquele espírito que virou sua família de cabe-
ça para baixo. Será que, talvez, João Eduardo estivesse pior e real-
mente com o tal câncer que todos imaginavam? A sensação que se
via no semblante de João era muito triste. Caminhando pelos
cantos do consultório, ele se lastimava, balançando a cabeça de
maneira negativa.
          – Senhor Deus, não deixe que o resultado desse diag-
nóstico venha a me trazer desespero. Que eu seja paciente e te-
nha resignação com os seus desígnios, pois tu sabes o que fazer
pra nós, seus filhos.
          – Acalme-se, meu amor, Deus está conosco. Seja do
jeito que for, estarei sempre ao seu lado.
          Oscar, abraçando ambos, tenta reconfortá-los – O que
tiver de acontecer contigo, estaremos juntos. Você pode contar

                                                                233
com isso, mas se bem conheço aquele centro espírita, o diagnos-
tico do irmão X está correto. Confie João, que tudo terminara
bem. Eu tenho fé e estou convicto disso. O que devemos fazer
neste instante é unir as nossas forças, você não acha?
         A ansiedade estava tomando conta do casal. Juntos a
eles, estavam também duas atendentes que se emocionavam,
mas que se calavam, devido à ética profissional que tinham
de seguir.
         O tempo parecia não ter fim. Frente ao consultório,
havia um longo corredor vazio, que só denunciava vida quando
alguém ali passava trazendo aos pés o som de seus sapatos.
Um som vazio e triste. Dez minutos depois, Dr. Osvaldo
retorna à sala.
         – Onde está a minha secretária, a senhorita Clara?
         – Ela está no ambulatório – responde a atendente. O
senhor necessita falar-lhe? – Pergunta uma das auxiliares.
         – Sim, e com a maior urgência, se possível. Olhando
para João, o médico sutilmente lhe sorri.
         – O seu sorriso doutor, o que quer dizer?
         – Posso saber por que tanta ansiedade?
         – Porque eles me dizem que eu não estou doente.
         – Se o meu sorriso não lhe diz nada, será que o meu
abraço pode lhe dizer algo?
         – Ganhar um abraço seu doutor, me deixaria feliz.
         – Mas, e se esse abraço vier para lhe dar uma ótima no-
tícia, 100% verdadeira, dizendo, em minhas palavras, que você
está bem e que seus órgãos estão perfeitos? Curado... Não seria
melhor? Pois eu quero lhe dar esse abraço, meu amigo! João,
você está curado e totalmente fora de perigo. Sua saúde está
ótima!
         Necessário se fez que Dr. Osvaldo viesse ao encontro de
João que, ao ouvir as palavras do médico, pela comoção que
tivera, por alguns segundos suas pernas perderam os movimen-

234
tos. Sorrisos e lágrimas se espalharam entre eles, invadidos pela
felicidade.
         – Se o senhor está tão certo assim doutor, eu abrirei os
meus braços e agradecerei a Deus por sua infinita bondade, e
por colocar todos vocês ao meu lado como anjos que me auxi-
liam para que, com o progresso de minha humildade, eu consi-
ga me equilibrar em minha luz.
         Prontamente, a secretária Clara entra no consultório.
         – Doutor, o senhor pediu-me que eu viesse, aqui estou.
         – Sim, e pela primeira vez eu serei um tanto rude com
você e mal-educado, principalmente frente às pessoas que
aqui estão, mas assim se faz necessário. Apesar de você ser
muito eficiente e responsável, será que percebe a confusão
em que me colocou com o seu equívoco?
         – O Senhor poderia me explicar melhor, doutor?
Naquele instante, todos se calaram para ouvi-los.
         – Você simplesmente confundiu o nome do paciente
e me trouxe os exames de outro, que está na ala dois, aparta-
mento 15, cujo nome é João Eduardo Dautanies que, inclusi-
ve, está muito mal. Você entendeu agora a minha situação
frente ao meu paciente?
         – Doutor, perdoe-me, pois não foi intencional.
         – Sim, certamente que não foi intencional, só que esse
descuido não poderá mais acontecer, Clara.
         – Talvez eu não tivesse o reconhecimento e a alegria que
tenho agora sem esse suspense que nos aconteceu por causa dos
exames trocados, devido à situação do meu caso. – comenta,
feliz, João Eduardo. – Hoje você está sendo um personagem
exclusivo em minha vida, Clara e certo estamos que isso não
deva ter acontecido por acaso. Que Deus lhe abençoe.
         – Se o senhor pensa dessa forma, eu fico feliz. Mesmo
assim, peço a todos que me perdoem pelo constrangimento que
causei.

                                                             235
– Tudo bem Clara, o seu erro poderia até ser inadmis-
sível, mas não será por isso que você deixará jamais de ser a
minha assistente de trabalho preferida. Agi dessa forma porque
não tive outra saída para dar explicação a eles.
         – Obrigada, doutor, é uma honra trabalhar com o se-
nhor. E mais uma vez, perdoem-me.
         Dr. Osvaldo, ao sentar-se em sua cadeira, ainda co-
menta por alguns segundos sobre o que acontecera ali com
eles, não julgando mais a fragilidade e o erro que ocorrera,
porém, a nobreza e a simplicidade que Clara tivera ao corrigir
a sua falha profissional.
         – Mas vocês não acham que isso é motivo para come-
morar? Afinal de contas, isso acontece uma vez em cada 100
anos, vocês não acham?
         – Não é possível doutor, eu renasci para a vida!
         – Vou pedir suco, café e água, é o que de melhor tenho
para oferecer a todos neste instante. Quero também estar com
vocês neste momento, pois estou feliz e gostaria de compactuar
essa alegria com todos. Um dia ainda quero decifrar este enig-
ma. Agora me pergunto: Como pode um tumor maligno apa-
recer e desaparecer por várias vezes em seus rins, sem os devidos
tratamentos da Medicina?
         – Um dia desse eu explicarei ao senhor com detalhes,
tudo o que aconteceu com o nosso amigo João Eduardo. –
enfatiza Oscar, também feliz com o resultado final de todo o
acontecido naquele consultório.
         – Claro que queremos comemorar com o senhor esta
nossa vitória! – congratula-se Izabel, agora aliviada pelo mal-
entendido ter sido prontamente resolvido. – O senhor é o nos-
so Anjo da Guarda. Façamos um trato; marcaremos um encon-
tro em nossa casa e o senhor será nosso convidado de honra.
Ficará ao seu critério o dia e o horário, doutor.
         – Mas por que ao meu critério, Izabel?!

236
– Para que o senhor use o seu dia de folga pois, para nós,
o compromisso quanto ao dia ou horário não nos pesa.
         – Me sinto muito grato Izabel, inclusive, nem havia
pensado nisso. Que tal depois de amanhã? Assim está bem João?
         – Esta ótimo para nós, doutor, e leve a sua secretária
Clara, com certeza ela irá adorar o seu convite, e ficaremos
muito felizes com este belo evento.
         – Oscar e Anita estarão conosco?
         – Sem a menor duvida, pois esse jantar sem eles não
terá a menor graça.
         – Mas, por falar em Anita, onde ela está Oscar?
         – Eu a deixei em casa, na certeza de que irá reclamar
por não estar conosco neste momento tão importante.
         – Diga-lhe que foi melhor que ficasse em casa, devido às
fortes emoções que tivemos aqui hoje. Se eu, médico, me preo-
cupei com vocês e comigo mesmo, imaginem se ela estivesse
aqui, a situação ficaria uma tanto mais delicada, não é mesmo?
         – Claro, doutor, o senhor tem toda a razão.
         Às 17 horas, ao saírem do consultório, Izabel e Oscar se
assustam com os gestos que João começa fazer. Ele simplesmente
começa a cantar, assoviar e a dizer para as pessoas que ele acaba de
renascer. Uma senhora, ao passar por ele, indaga:
         – Por que você está dizendo para o mundo acaba de
renascer, hein, meu garoto?
         – É que o nosso Pai Altíssimo teve misericórdia de
mim, me permitindo mais algum tempo de vida.
         – Entendi. Você estava doente e com medo de morrer, e
agora vê que está fora de perigo. Acertei?
         – Sim, minha querida senhora, é isso mesmo.
A senhora dirige o olhar a Izabel e pergunta se João Eduardo era
irmão ou marido dela.
         – É meu marido.
         – Que pena que este “gato” tem compromisso! Posso dar

                                                                237
um abraço e um beijo nele?
         – Não somente um abraço, mas quantos a senhora quiser
dar.
         – Muitas felicidades meu filho, e nunca mais deixe esca-
par de ti esta linda mulher. Que Deus guie a todos vocês.
         Izabel decide convidar aquela senhora tão simpática a se
juntar a eles no jantar em comemoração à boa saúde de João
Eduardo.
         – Por que a senhora não vem jantar conosco nesta quin-
ta-feira? Será um jantar em família maravilhoso, pois nessa oca-
sião comemoraremos a cura de meu marido.
         – Gostei da idéia. Posso levar meu marido também? Ele
é muito alegre!
         – Claro que sim. – Responde João.
         – Vai ser muito bom. – Retruca Oscar.
Izabel pega um pequeno bloco de rascunho e dá o endereço de
casa àquela senhora, dizendo-lhe para que chegassem às 17h.


                           Oscar e a divisão da empresa
         Oscar chama Anita para lhe mostrar como será dividi-
da a sua empresa, querendo inclusive saber se ela estaria de
acordo com o projeto elaborado por ele e por seus advogados.
         – Bem, Anita, eu não poderia renunciar totalmente à
empresa, porque na siderúrgica não há um líder a altura, pelo
menos por enquanto. Após pensar cuidadosamente, agirei da
seguinte forma, mas quero a sua aprovação.
         Antes de Oscar dar início às explicações, Anita o inter-
rompe, dizendo-lhe:
         – Oscar, você não precisa me dizer como será feita a
divisão...
         – Anita, você precisa saber. Se vamos nos casar, a partir de

238
agora somos uma família. Aqui está o projeto, e quero saber se
você tem alguma opinião, alguma idéia, para que, de repente,
possamos aproveitá-la. Aí então eu comunicarei aos meus funcio-
nários o que vou fazer com a empresa e finalizar com uma bonita
festa.
         – Se você faz questão, eu fico muito feliz em participar.
         – A idéia é a seguinte: vou doar 50% da siderúrgica
para os funcionários em forma de cooperativa, 30% para ins-
tituições filantrópicas e 15% pertencerá ao nosso filho, com
usofruto nosso até que ele alcance a maioridade. Nós, digo,
você e eu, ficaremos com 5%.
         – Quando nosso filho alcançar a maioridade, todo o
lucro de suas cotas, que serão de 15%, pertencerá a ele?
         – É aí que eu lhe pergunto: o que você acha?
         – Quando o nosso bebê fizer 18 anos ele será dono de
si próprio. Mas, e nós? O que faremos nessa época pela nossa
sobrevivência? Também temos que pensar na criança que
vamos adotar. Podemos fazer alguns ajustes no projeto em
forma de testamento?
         – Sim, é claro.
         – Então, vejamos. Em vez de 15% para nosso filho, vamos
colocar 20% para nós. Se der certo, a doação deixará 10% para cada
um deles, que será usufruído por eles após a maioridade de ambos.
Quanto a nós dois, poderemos viver de nossa aposentadoria!
         – Sendo nós, já velhos, a nossa aposentadoria será o suficien-
te. Não é mesmo?
         – Que bom! Você pensou em tudo.
         – mas se não fosse você com as suas sugestões...
         Graciosamente, Anita, entre trejeitos e lágrimas, começa a
imitar uma velhinha para que Oscar sorrisse.
         – Oi, meu amor, eu me chamo Anita “com H”. Qual é o
seu nome mesmo? É José?
         – Eu não me chamo José, o meu nome é Pedro. Pedro não,

                                                                  239
desculpe-me, eu tenho o mesmo nome que o seu marido tem, meu
nome é Oscar.
         – Seja lá quem for, eu só sei dizer que te amo muito meu
moleque travesso, seu velhinho atrevido!
         Ambos sorriem.
         – Ah! Anita, vamos logo escolher a nossa casa, estou ansioso
para ficar com você para sempre, meu grande e único amor.
         – Seu grande mentiroso, eu não sou o seu único amor.
Você se declarou para outra pessoa, pensa que eu não sei?
         – Isso é verdade meu amor, é a pura verdade Anita, você
não é o meu único amor, afinal de contas, temos a caminho outro
grande amor para preencher nossas vidas, que é o nosso filho, o fruto
do nosso amor.
         – Oscar, agora falando sério. Lhe farei uma pergunta, mas
gostaria que você olhasse bem para os meus olhos e que me res-
pondesse com sinceridade.
         – Pergunte logo, Anita. Do modo como você me olha,
estou ficando assustado.
         – Eu estou envergonhada, mas vou lhe perguntar assim
mesmo. Vai ter bastante doce no nosso casamento? Estou
maluquinha pra comer doces de casamento.
         – Eu lhe dou uma tonelada de doces, minha velhinha
maravilhosa. Até agora mesmo, se você assim desejar.
         – Não, agora eu só quero duas coisas: uma, é tomar
um sorvete, daqueles bem grandes, de salada de frutas!
         – E qual é a outra coisa?
         – Bem, pelo fato de saber que você não é homem de se
jogar fora, o que eu quero nesse momento é lhe beijar muito.
         Ao abraçá-la, Oscar agradece a Deus em pensamento pela
felicidade que sentia em conseguir juntar a parte verdadeira que
se entrelaçava a seu corpo: Anita, a sua alma querida. Oscar lite-
ralmente reconhece que valeu a pena trocar sua fortuna por uma
pequena e doce família: Anita e o bebê que estava a caminho.

240
O casamento de Oscar e Anita
        Numa quarta-feira pela manhã, Anita e Oscar se unem
pelo matrimônio. A cerimônia foi simples, porém, farta de
amor. Pela manhã, eles e algumas testemunhas seguiram em
direção ao cartório para consolidar o casamento civil. À noi-
te houve o matrimônio religioso no centro espírita, na pre-
sença de amigos e do Irmão Lázaro, que na condição de diri-
gente da casa, celebrou o casamento e intercedeu, dando ên-
fase à confirmação de Deus e dos bons mentores do Plano
Espiritual, transmitindo-lhes alguns conselhos e as bênçãos
para as duas almas que se uniram por amor para uma nova
etapa em suas vidas.
        Assim foi a explanação do médium Lázaro, durante a
celebração do casamento.

         – A paz do Senhor Deus esteja, agora e sempre, bem jun-
tinha de nós. Estamos felizes neste dia, pois estamos frente a um
casal que se faz especial ante a criação Divina. Anita, por meio de
suas expressões de doçura nos tem ensinado, com seus gestos, os
grandes louvores pelos quais todos nós deveríamos nos
exemplificar, pois, em tudo o que faz, ela alcança o seu progresso.
Oscar, um homem que, através de suas reencarnações vem de-
monstrando para si mesmo como é importante carregar em seus
trechos percorridos a humildade, o amor e a solidariedade. Hoje,
falo isso para que todos ouçam. A luz que irradia deles tem um
tom jaspe de céu. Neles essa luz se torna tão magnífica, que nós,
aqui presentes, junto a eles temos o privilégio de recebê-la tam-
bém em nossos corações. Realmente, nos é esta uma grande e
misericordiosa dádiva. Quisera eu, irmãos, contar-lhes o passa-
do que se incube do presente dessas duas lindas almas. Neles um
traço, uma linha, um segmento, que ainda os levará frente ao

                                                               241
misericordioso Deus, nosso Pai. Portanto, tomo a liberdade de
lhes dar outra notícia maravilhosa. Este casal, bem sabe que está
aguardando a vinda de uma nova progênie para a conclusão do
amor de ambos e a continuação da humanidade: o filho que
virá com muita saúde e lhe trará também muita alegria, e lhes
parabenizamos, principalmente Anita, pela graça de ser mulher,
que tem o dom de dar à luz, tornando-se sublime para Deus por
estar colaborando com o surgimento de novas vidas. Anita, pela
graça de ser mulher sim, pois a mulher que da à luz com zelo e
amor pela sua gestação, se torna sublime para Deus por colabo-
rar com o surgimento de novas vidas. Quanto a Oscar, o felici-
tamos por seu desempenho e convicção para reconquistar seu
grande amor de vidas passadas, e sua solidariedade e amor ao
próximo quando ele e Anita tomaram a atitude de adotar e sal-
var a vida de outro ser que logo nascerá de outra mulher, que
rejeitou suas gestações anteriores por viver insegura em seu mundo
de idas e vindas.

                                             O fenômeno Luz
        Por conta de todas as palavras ditas pelo irmão mé-
dium, as lágrimas se delineavam sobre as faces, reconhecedoras
de seus dizeres e de seu zelo em seus diálogos. Algumas pesso-
as, mais concentradas após as orações, percebem dentro da
casa um clarão de luz suave passando por todos e fechando-se
entre Anita e Oscar. Outros sentem uma sensação de bem-estar
fora do comum. Com certeza, uma gotícula de energia ou luz do
nosso Deus querido.
      Novamente, Irmão Lázaro toma a palavra.
        – Deus está conosco, sejam felizes Oscar e Anita.
        O estimado Irmão Lázaro acaricia o ventre de Anita di-
zendo-lhe que aquele bebê estava por demais feliz por Deus lhe
permitir a escolha de seus pais e os seus resgates. Anita, no entan-

242
to, emocionada se abraça ao médium e em seguida a Oscar, e em
uníssono dizem:
         – “Seja bem-vindo, meu filho”.
         As emoções, os festejos e o tempo que não parava,
deixaram aflorar a luz do novo dia, fazendo com que Izabel se
aproximasse de sua amiga para dizer-lhe:
         – Anita, o dia já amanhece e você precisa descansar.
Afinal de contas, você já está entrando nos nove meses de
gestação.
         – Oh, minha querida irmã e comadre, eu nunca estive
tão bem em minha vida! Oscar também está preocupado co-
migo, só porque comi uns docinhos a mais. E por falar nisso, eu
ainda não degustei do meu bolo. Você me acompanha?
         – É dessa vez que viro uma baleia! Eu topo, mas com
uma condição.
         – Meu Deus! Que condição é essa?
         – Bem... É que não sei se devo falar-lhe...
         – Ora Izabel, por que você está assim? Fale-me logo!
         – É que após o nascimento do bebê, gostaria muito
que você fosse lá para casa. Eu tenho uma saudade imensa dos
meus filhos quando crianças.
         – É nada, isso é puro ciúme de madrinha. Mas eu topo,
e tenho certeza de que Oscar também irá gostar.
        Enquanto isso, Oscar e João Eduardo também conver-
sam sobre os últimos acontecimentos.
         – Estou feliz por demais Oscar, em lhe ver casado com
Anita. Eu aprendi tanto a querer bem vocês dois que já não
conseguimos, eu e Izabel, ficar distante de vocês. Estou
felicíssimo. Que Deus os abençoe para sempre. Venha cá, meu
irmão que quero lhe dar um abraço bem forte! Eu tenho certeza
de que Deus ouve as nossas súplicas.
         – Com certeza João, seremos amigos e irmãos para todo
o sempre.

                                                           243
Nasce o bebê de Anita e Oscar
          Exatamente 15 dias após o casamento de Anita e
Oscar, surge um novo personagem em nossa história: um ra-
paz de 54 cm de estatura e 3,580 kg. Moreno claro, olhos
claros, fisionomia serena, mas que não suporta passar do
horário de alimentação.
          Anita deu à luz um belo menino. E quem fez o parto
com todos os cuidados? Claro! Dr. Osvaldo e sua futura
esposa Clara, que depois do incidente com os exames de João
Eduardo, sutilmente Izabel abriu os olhos de ambos, convidan-
do-os para aquele jantar em sua casa. Foi ali que Dr. Osvaldo e
Clara fizeram uma grande descoberta: o amor, e em breve irão
se casar.
          Izabel chega com o bebê para Anita amamentar.
          – Mamãe, o seu bebê está faminto!
          – Bem que eu queria ter tido uma madrinha dessas, só
assim eu não seria tão frágil e raquítica como sou hoje. Venha
meu bebê, mamãe tem um montão de leite pra você.
          Assim na Terra como no Céu. Essa é a forma com que
aprendemos quando entramos ou saímos deste planeta.
          Enquanto Anita repousava, Oscar e seus amigos jun-
tavam as suas felicidades, principalmente com a vinda do pe-
queno Francisco Xavier (em homenagem póstuma a um grande
líder espiritual). Uma imagem de mulher se punha próxima a
Anita. Uma bela jovem, com um pouco de luz em sua volta, que
desabrochara para a vida, a “doce vida da espiritualidade”. Era Lídia.
          – Meu Deus, meu Deus! Você está aqui Lídia? – diz Anita,
emocionada. – Eu não posso vê-la, mas sinto-a pertinho de mim.
Seja bem-vinda minha querida irmã, seja bem vinda!
          Imediatamente, Lídia se espanta com os dizeres da amiga,
por jamais perceber que ela sentiria a sua presença. Abaixa o seu

244
semblante e se põe a chorar.
         – Ó, Deus! Como o Senhor é misericordioso permitin-
do que Anita percebesse a minha presença e conduzindo-me em seu
coração. E ela sabe que jamais eu estaria aqui novamente para lhe
fazer algum mal. Bendito sejais vós, ó Pai Celestial.
         Lídia, naquele instante, enlevada pelo amor envia uma
mensagem de paz à sua amiga acariciando o seu bebê, que ao
fixar seus olhinhos se põe a sorrir pela doce carícia recebida da-
quele espírito que viera visitar Anita por amor.
         – É titia Lídia que está nos visitando, filhinho – diz Anita.
– Bendita seja.
         De imediato, entra em seu quarto para uma visita formal
Irmão Lázaro, acompanhado de Izabel. Ao cumprimentá-la, logo
diz:
         – Perdoe-me minha amiga e irmã, eu não sabia que aqui
contigo se encontrava outra visita.
         – Mas não há ninguém aqui comigo, irmão.
         – Anita, eu sei que você tem uma excelente visita.
         – Já sabe? Então eu não estou sonhando e é verdade
que Lídia esta aqui conosco?
         – Não só é verdade, como também lhe deixou uma
singela mensagem.

         “Anita, minha amiga e irmã em Cristo. Eu estou indo
bem, aqui tudo é tranquilo e fazemos aquilo que queremos fa-
zer, pois temos o livre-arbítrio, e os irmãos do Plano Espiritual
são compreensivos, solidários e maravilhosos, nos ensinando e
nos conduzindo com muita benevolência e amor. Por isso agra-
deço sempre por ter saído daquela condição de espírito do um-
bral para a luz, e quero aproveitar a oportunidade para estudar
muito, pois aqui, no Plano Espiritual, existem excelentes bibli-
otecas com os melhores autores. Quero agradecer o empenho
que todos vocês tiveram quando ainda eu estava com aquele

                                                                 245
ódio e revolta. E também aproveitar a oportunidade que me
concederam para parabenizar-lhe pela sua união com Oscar, um
gato e com um excelente coração, cercado de bondade, solidari-
edade e amor. Parabéns também pelo seu lindo bebê, o Francis-
co, e a criança que logo virá, adotada por vocês para fazer com-
panhia ao seu bebê. Um forte abraço.
         – Você gostou da mensagem? – pergunta Irmão Lázaro.
         – Sim, irmão, e me sinto muito honrada por ela estar
aqui me visitando.
         – Como você está irmã Lídia, no mundo da
espiritualidade?
         Por meio de telepatia, Lídia responde ao Irmão Lázaro.
– Tenho me esforçado muito para alcançar progresso Irmão
Lázaro, e estou muito feliz em saber que Deus é um bom Pai e
tem cuidado para que eu não mais caia nos braços da devassidão
e da tristeza. Hoje estou congratulada a Deus por estar aqui con-
quistando mais um risco de luz pra recompor a minha aura, que
se encontrava totalmente escura e perdida. E quero aproveitar o
momento para lhes dar boas novas. Eu fui convocada pelos
mentores a fazer parte da equipe que zelará pelo espírito de Gildo
na clínica onde ele se encontra neste momento, portanto, terei o
maior empenho em tirá-lo do estado psíquico em que ainda se
encontra, muito confuso e ainda sofrendo. Gostaria de frisar
que minha mãezinha está sempre comigo, trazendo-me excelestes
orientações.
         – Anita, Lídia já se foi. Vamos nutri-la sempre com as
nossas orações. E você, fique alerta e feliz, pois bendita sejas tu
por perceber os irmãos que estão em nossa volta, minha querida
irmã, porque tens luzes magníficas ao teu redor.
         – Rendo graças a Deus por todos os instantes de minha
vida, irmão. A minha grande felicidade é ter todos vocês
comigo. Deus permita que esse nosso elo haja de ser eterno.


246
A fuga de Camila
         Com o passar dos dias, um grande amor vai se somando
no coração de Camila, ao perceber que em seu ventre o bebê
cresce. Ela passa a compreender que aquela criança, totalmente
dependente de si, lhe seria a sua única e verdadeira companhia
para toda a vida.
         – Bom dia, minha criança – diz carinhosamente
Camila, afagando o ventre. – Como estamos hoje? Antes de
qualquer coisa, referente à atitude que sua mãezinha vai to-
mar para não se separar de você, eu gostaria de saber se você
é uma menininha ou um rapazinho. Eu tenho uma leve impres-
são de que você é uma menininha, mas se for um rapazinho será
bem-vindo da mesma forma. O que eu não desejo é perder você,
e farei o que for necessário para que isso não aconteça.
         A decisão tomada por Camila a deixa confusa. Toma
em suas mãos uma folha de papel e uma caneta para deixar
uma triste carta de despedida aos seus amigos, com os se-
guintes dizeres:
         “Meus amigos. Jamais pude compreender até o mo-
mento o por quê de vossas preocupações e de tanto zelo co-
migo. Mesmo assim, através de seus afetos vocês me ensina-
ram o que é amar, colocando frente a meus olhos atitudes e
encantos. Sinto-me prazenteira em dizer-lhes que aprendi a amar.
E é justamente por isso que venho tomar uma decisão muito
séria em minha vida. Sinceramente, com o passar dos dias tenho
convivido com uma situação que me faz atuar como mãe, que
aos poucos vai me fraquejando e me fazendo sentir, como doce
se faz o ser mãe. Tenho me afligido muito com esse sentimento
que está crescendo em mim, que é o dom divino de gerar uma
nova vida. Agora, sinceramente, eu não posso tirar essa criança
dos meus braços, pois tenho certeza de que não conseguirei.
Anita, agora que você já é mamãe, pense um pouco em mim e

                                                            247
ore por mim... Por favor, eu sinto um grande medo de tudo,
mas o que não posso fazer é fugir de minha realidade, da divina
missão de ser mãe.
         Tenho lutado para me afastar do obscuro mundo do
vício e dos fracassos vividos para recomeçar a minha vida.
Quem sabe eu consiga! Eu sinto que conseguirei, porque até
agora não usei mais drogas. Deixo-lhes esta carta com amor,
pedindo que não me procurem, não me censurem pela minha
atitude e não se aflijam por mim. Eu e o bebê ficaremos bem.
Mais uma vez lhes digo que não sei quais são os motivos que
os fizeram me ajudar, porém, eu aprendi a amá-los. Mesmo
assim, adeus e obrigada por tudo”.
         Camila pega apenas parte de seus pertences, uma peque-
na quantia em dinheiro, que era a mesada oferecida por Oscar e
Anita e somente a roupa vestida em seu corpo. Era um vestido
solto, apropriado à gestação e muito bonito, que Anita lhe pre-
senteara. O vestido tinha um tom esverdeado que combinava
com a sua serenidade, apesar de que a sua tranquilidade estava
contrastada com os ressentimentos passados.
         – Meu Deus, o que é que estou fazendo?! Estou sendo
cruel e ingrata com Oscar e Anita!
Meu corpo, a cada dia que passa está ficando mais delicado...
Sinto o peso da criança, mas tenho que procurar Josué, afinal
de contas, ele é o meu homem e o verdadeiro pai do meu bebê,
e não é justo que eu fique sozinha com esta responsabilidade, ou
que deva passá-la para outras pessoas.
         Por algumas vezes, Camila pensou em voltar ou telefo-
nar para pedir-lhes perdão pelo que havia feito com amigos,
mas não se encorajava em tomar tal atitude. O que ela acredita-
va é que teria de cumprir naturalmente o seu destino. Voltando
ao lugar de onde saíra, ou seja, de sua humilde casa alugada onde
vivia com Josué, Camila, ao chegar à tal casa, soube que Josué
havia mudado dali pra safar-se da perseguição pelo envolvimento

248
com as drogas.
         Camila persistiu em sua busca até conseguir, com um
de seus amigos, o seu endereço atual. Esse amigo, inclusive, pe-
diu-lhe que não fosse a esse lugar, por ser muito perigoso. Mas
Camila, persistente consigo mesma, certamente que iria, pois
lugares piores do que esse ela já havia frequentado. Buscou um
transporte que a levaria até esse lugar para reclamar ao amante os
seus direitos de estarem juntos.
         Ao chegar ao local, logo fora recebida com maus tra-
tos e perguntas obscenas, que pela primeira vez a fizeram
ficar envergonhada frente à sua própria gestação.
         – Por favor, meu senhor, é só uma informação que
procuro.
         – Senhor uma pinóia, eu tenho nome, sua.... Se quiser
informação, me chame de Zé da Rocha e arruma algum di-
nheiro para o “véio” aqui pagar as contas. Cinquenta tá bom.
         – Mas, cinquenta? Eu não tenho esse dinheiro, só tenho
dois reais. Por favor, eu só quero uma informação.
         – Eu não quero essa merreca, não tô passando fome. Se
quiser, vamos lá pra minha casa descansar comigo que te passo
a informação.
         – O senhor deveria me respeitar, sou uma senhora e es-
tou gestante.
         – Isso é que não! Você não é senhora nem aqui, nem no
céu. Basta procurar o vagabundo do Josué pra gente saber quem é
você. Com certeza é mais um caso dele, é ou não é? E caso dele é
coisa perdida, pois ele só anda com vagabunda. E tem mais, Eu sei
da sua história. Você deve ser a tal da Camila, a quem ele usou e
debochou. Vamos dormir comigo e chega de conversa fiada.
         – O senhor acha que ninguém tem o direito de se redimir?
         – Nem todos. E você bem sabe que é uma dessas perdi-
das, para quem não existe cura. Uma hora dessas deve ter alguém
chorando muito por alguma maldade feita por você. E torno a lhe

                                                              249
dizer: se você esta aqui atrás desse pilantra, é porque não presta
mesmo!
         – E o senhor pode me dizer qual foi a maldade que eu fiz?
         – Nem precisa, porque só você é quem sabe. Cala logo
essa boca, que dela só esta saindo besteira.
         – O senhor não se aproxime de mim, pois não tardará
para que o Josué venha aqui para tirar-lhe satisfações.
         O homem furiosamente avança sobre Camila tentando
arrancar-lhe a roupa do corpo. Ela, por sua vez, se põe a
gritar por socorro, e o homem tão logo a joga ao chão,
esmurrando sua face para tentar desfalecê-la.
         Camila, não suportando mais as agressões e totalmente
indefesa, desfalece. No início do ato ela sente a agitação do bebê
em seu ventre e, com o objetivo de defender seu filho, mesmo
sem saber de onde viera tanta força ela consegue tirar o homem
de cima de si, empurrando-o com os dois pés, afinal, ela sabia se
defender, pois não era a primeira vez que passava por isso. Rapi-
damente, ao levantar-se do chão passa a agredi-lo com um peda-
ço de madeira que estava próximo de si.
         Aquele homem, cheio de monstruosidade e força, teria
cerca de 50 anos de idade. No entanto, a ira da jovem fora tanta
para proteger a si e a seu filho, que conseguiu deixá-lo desfaleci-
do no chão após alguns golpes.
         Meu Deus! Não sei se matei este miserável. Ajuda-me e dai-
me forças para que eu saia deste lugar. Vamos embora, meu bebê,
mamãe não permitirá que nada de ruim nesse mundo lhe aconteça.
         Havia nela desmantelos e danos físicos. Sua roupa não
estava rasgada, mas suja. Os seus longos cabelos, esvoaçados. A
sua face, dolorida devido às agressões sofridas. Mas o seu bebê,
sua maior preocupação naquele instante, se encontrava bem.
Camila teria levado um mau jeito em seu joelho esquerdo, mas
passaria. Tudo passaria, como em tantas outras vezes.
         Logo à frente, Camila, ao se encontrar com uma velha

250
senhora, lhe pergunta se já ouvira falar no nome de Josué, que
por algum tempo vivera por ali.
        – Sim, filha, eu o conheço, apesar de saber que ele
não é gente boa, você me perdoe por meus dizeres. Eu o co-
nheço e vou lhe passar o endereço, mas por favor, não diga a
ele quem lhe deu o endereço, eu tenho medo. Estou fazendo
isso porque me parece que você está precisando de ajuda, mas
lembre-se, ele não vale nada, estou lhe avisando.
        – Senhora, muito obrigada e que Deus lhe ilumine
por sua caridade.
        Já era tarde, aproximadamente dez horas da noite.
Camila, ao sair daquele lugar, parte em busca de Josué. So-
mente por volta das duas horas da madrugada, após fazer
longa caminhada, é que ela consegue encontrá-lo.

         – Mas você está louca? Veja a sua situação! O que
houve? Você foi agredida por Oscar? Conta-me!
         – Jamais! Eu vou lhe contar o que foi que me aconte-
ceu, mas primeiro eu tenho que tomar um banho e comer algu-
ma coisa, porque estou faminta. Já tem quase dois dias que es-
tou à sua procura, e até que enfim lhe encontrei neste cortiço.
         – Mas onde é que você ficou na noite passada? E você
não tem bagagem, nem grana...
         – O único dinheiro que trouxe comigo foram cinquenta
paus para a passagem, e nem isso deveria ter pegado, porque eu
não tinha o direito diante do que fizeram por mim. Eles são
maravilhosos. Logo o dinheiro acabou e ontem fui obrigada a
encostar-me num banco qualquer de praça.
         – Mas até que ponto você chegou! Você é masoquis-
ta, parece que gosta de sofrer.
         – Pelo meu filho eu faço qualquer sacrifício, e não fale
desse jeito comigo. Eu não quero doar o bebê, porque ele tem
pai e mãe. Esse filho eu não quero desprezar. Hoje eu tenho

                                                             251
consciência de que fiz muitas bobagens; fiz vários abortos e matei
muitos inocentes. Agora, tudo o que fiz foi pensando no bebê e
em nós dois.
         – Belos e exemplares pais esse bebê terá, você não
acha? Nenhum de nós dois presta Camila, somos vidas tor-
tas, o que vamos dar como exemplo para o nosso filho? Vou
ensiná-lo a roubar e a usar drogas?
         – Você não diga isso, porque nós temos chances em
nossas vidas. Podemos ainda ser felizes.
         – Sim, você ainda não me contou tudo. O que foi que
lhe aconteceu? Como você chegou aqui, nesta situação? Inclusi-
ve o seu rosto está inchado, como é que você se machucou as-
sim?
         – Eu caí ao andar pela rua. Por um instante, me deu
uma vertigem e quando dei por mim, estava caída no chão.
Talvez tenha sido devido ao cansaço e à fome que sentia.
Como você vê, estou gestante.
         Bem. Quanto à verdadeira história a respeito do que
lhe acontecera realmente, Camila não quis contar a Josué para
não haver vingança. Ela o havia procurado para recomeçarem as
suas vidas. Aquilo passaria, assim como outras muitas vezes já
passara.
         – Alguns poucos meses longe de você e sabe que estou
percebendo que você está mudando? Está mais bonita, mais
bem tratada. Enfim, parece que “bateu” um requinte em você.
Parabéns, que seja daí para melhor. Me dê um abraço e vamos
tentar modificar tudo isso de ruim que ainda trazemos conosco,
só que lhe aviso: eu posso tentar mudar, mas primeiro preciso
fazer a boa, pois está tudo certo entre eu e mais quatro amigos
para a gente assaltar um banco do jeito que bolamos. Vai dar
tudo certo, depois eu prometo que paro com tudo para nós
seguirmos uma outra vida.
         – Alguma coisa vai dar errado, porque eu senti um gelo

252
no coração, e você pode não acreditar, mas vim atrás de você
não só pelo nosso filho, mas porque eu te amo de verdade. Eu
ficava com outros homens, mas sempre voltava para você.
        Uma semana depois, Camila ainda se sente intranquila
pela decisão que tomara, principalmente ao perceber, através de
sussurros entre Josué e alguns de seus amigos, que alguma coisa
muito perigosa estava cercando-os. E ela não queria ouvir os
seus dizeres, porque temia alguma coisa ruim. Às vezes, sozinha,
sem que Josué percebesse, Camila, preocupada com o pós-par-
to de Anita, começava a chorar. Porém, uma fé desejável de ser
também feliz, vinha e lhe abrandava as dúvidas.

                                             Anita e a carta
        Anita, com a chave reserva do apartamento onde es-
        tava vivendo Camila, entra e pergunta:
        – Onde é que você está, Camila?
        – Ola! Somos nós, Oscar e Camila. Viemos lhe visitar e
ver como você está.
        – Ela não está, deve ter saído um pouco – diz Anita.
        – Será que foi ao hospital falar com Dr. Osvaldo?
        – Creio que não, está marcada para amanhã a consulta
de rotina, Oscar, inclusive ela me pediu para que eu a
acompanhasse.
        – Ainda bem. Ela deve estar por aí.
        – Eu trouxe para ela algumas roupinhas de bebê, vou
colocá-las em cima da cama.
        – Mas será que ela irá gostar que você entre em seu
quarto?
        – Tanto gosta meu amor, que na maioria das vezes em
que venho aqui, sozinha ou com Izabel, ela nos pede que arrume-
mos as roupinhas do bebê na cômoda dele.
– Então, se é assim, vá até lá que eu ficarei aqui lhe esperando.

                                                             253
Minutos depois, Anita, chorando, volta para a sala.
        – Oscar! Ó, meu Deus!
        – Mas o que houve? Você está pálida. Tem alguma coisa
errada lá no quarto? Vamos, diga-me!
        – Há sim, uma coisa ruim, e está aqui em minhas mãos.
É uma carta muito triste que Camila nos deixou. Oscar, ela
foi embora! Ela foi embora!
        – Mas como isso pode acontecer? Não é possível! E
o que ela diz nesta carta?
        – Coisas em que não posso acreditar. Ela nos deixará
por ainda não confiar em nós, e também para tentar uma nova
vida com o seu bebê e Josué.
        – E você acha que devemos deixá-la à sorte?
        – Creio que não. Tentemos encontrá-la, talvez não
esteja bem.

                   Oscar e Anita em busca de Camila
        Por mais uma vez, o destino se cumpriu entre Anita e
Oscar. Saíram dia após dia em busca de informações sobre Camila
e não desistiriam. No entanto, não sabiam mais onde procurá-la.
Novamente Oscar combina com um detetive, Paulo Antunes,
para auxiliá-los na busca de Camila.
        – Por favor, Paulo. Não vamos desistir. Gaste o que for
necessário para encontrá-la. Nós precisamos saber como ela está
para ajudá-la.
        – Certamente que nós a encontraremos, fiquem
tranquilos.

         Alguns dias já haviam se passado. Era uma noite triste e
fria; um frio na alma perturbava aquela mulher sem que ela
soubesse o porquê. Aquela tristeza parecia estar no peito há um
século, e aquele martírio lhe deixava profundamente desalentada.

254
Relembrava naquela noite tudo o que já havia se passa-
do em sua vida: a sagaz e infame vulgaridade que havia encalçado
seu progresso espiritual. Sentada à beira da cama de um quarto
pequeno, quase escuro, cuja iluminação vinha de uma pequena
lâmpada que havia do lado de fora da casa, Camila, com as mãos
postas no ventre, cabelos caídos à face, pés descalços no chão,
aos prantos pedia perdão à criança que estava por vir. Era a noite
mais triste de todas as noites.
         Passara-se o tempo. Camila se sentara ali por volta das
20h; estranhamente calada, sem ao menos ter força para erguer a
cabeça, não percebera que as horas se iam, até que, por volta das
23h ela se assusta com um grande movimento do lado de fora
do pequeno quarto.
         – Meu Deus! Que tiros são esses? E estas sirenes?
Logo o seu quarto é invadido por um homem que, num tom
baixo de voz, mandou que ela se calasse. Era um policial.
         – Onde está o seu macho vagabunda?
         – Pelo amor de Deus, o senhor Não me trate assim.
Mal terminara de completar a frase e Camila é esbofeteada pelo
policial.
         – Pelo amor de Deus, não faça isso comigo! Estou
grávida!
         – Melhor que esse aí também não nasça para não ficar
igual ao pai dele. E enquanto você não disser onde ele está, vai
continuar apanhando.
         O jovem rapaz que estava escondido no quarto, sem
que Camila soubesse, logo se põe à frente do miserável policial
e se identifica dizendo não ser o marido dela.
         – Eu tô pouco me lixando! Dane-se ela, dane-se você!
Não havendo testemunhas, morrerão os dois, aqui e agora.
         O rapaz, enlouquecido, se põe à frente de Camila. Por
sua vez, o policial toma em suas mãos a arma que estava em sua
cintura e impiedosamente a dispara contra o rapaz, que desfale-

                                                              255
ce imediatamente. A pobre mulher, sem perspectiva nenhuma
de vida, leva as mãos ao ventre, fecha os seus olhos e clama por
Deus.
         – Senhor meu Deus, perdoa-me! Salve esta criancinha
inocente... Quanto a mim, não importa. Um tiro é disparado.
Uma morte silenciosa, sem voz. Braços que lhe afagam, um
corpo que aquece o seu. Uma voz suave que lhe diz:
         – Eu te amo Camila, eu te amo muito. Nós seremos
felizes com o nosso bebê.
Assustada, imediatamente Camila abre os olhos ao reconhecer
aquela voz: era Josué. Ao virar-se para a porta, percebe que havia
outro corpo no chão. Era o do policial que Josué acabara de
matar.
         – Não olhe, fique encostada em meu peito. Não tema
nada, estou aqui com você.
         – Mas porque você o matou? Meu Deus! Pensei que o
tiro teria saído dele pra mim!
         – Aconteça o que acontecer, as únicas palavras que posso
pronunciar agora são eu te amo. Sente-se e descanse um pouco.
         Poucos foram os minutos de felicidade e alegria entre
ambos, pois prontamente à sua porta surge outro policial, que
pedia cobertura a tantos outros que estavam ali ao redor para
que Josué fosse capturado.
         – Vamos pegá-lo, ele está dentro da casa.
         Josué, ao perceber que ali estava o seu fim, teria de con-
seguir uma maneira de se afastar de Camila para que ela e o bebê
não sofressem. Beijou-a e, afastando-se rapidamente, ao pular a
janela ainda teve um instante pra dizer que a amava, pedindo a
ela que fugisse pelo buraco que havia na parede da casa de ma-
deira onde estavam.
         Josué se dirige ao policial e diz:
         – Aí, seu estúpido, somos ambos da mesma matilha.
Quer me matar só porque não dividi a droga do dinheiro contigo?

256
– Cale a boca infeliz, você já está morto!
         Um estalo, uma queda, vários suspiros.
Camila imediatamente se levanta da cama e segue em direção à
rua, quando vê Josué caído no chão, entre dores e gritos de ódio.
Ao dirigir-se ele, é segura pelas mãos de uma senhora que tenta
tranquilizá-la.
         Josué grita...
         – Não! Não, Camila! Fique aí para cuidar do nosso bebê!
Estes policiais são do mal, fuja!
         – Josué, não me deixe!
         – Estaremos sempre juntos, não tenha medo!
         Outro disparo. Josué, com as mãos no peito se vira de
costas pra cima, oportunidade que o policial jamais perderia para
crivar o corpo do homem de balas, para não serem acusados por
ele.
         – Meu Deus! Tenha misericórdia! – Grita Camila, de-
sesperada.
         Josué, ao ouvir as palavras de clamor de sua amada, toma
imediatamente a arma das mãos do policial que estava ao seu
lado, caído e desfalecido e, com um só disparo derruba o seu
algoz, o seu inimigo.
         – Vamos juntos, amigo, não é justo que eu sofra sozi-
nho se temos a mesma natureza. Vamos juntos para o inferno.
         Aos poucos, Josué vai se largando no chão. Camila, ao
aproximar-se dele, se ajoelha para que ele deite sua cabeça em
seu colo. Ofegante Josué começa a dizer algumas palavras e to-
dos ali presentes se emocionam.
         – Deus! Ó Deus! Não sei que mundo é este onde estou,
nem mesmo sei para onde devo ir! Tudo em minha frente está
opaco, quero luz, dê-me luz, Senhor!
         Nesse mesmo instante, aquele homem deixa de existir.
Talvez por ironia, um vento oculto passou entre as pessoas que
ali estavam. A face de Camila, molhada por suas lágrimas, era

                                                             257
enxugada com o suave roçar de seus cabelos em sua face, com o
espanar do vento. Doce e triste era o vento, pois cantava nos
ouvidos da jovem mulher a sua triste sina.
         Quatro mortes, quatro horríveis assassinatos. Uma
monstruosa chacina divulgada por jornais e TVs pelo mundo
afora, cujas imagens ficariam presas para sempre nos olhos e no
coração de Camila. Um estado depressivamente profundo atin-
ge aquela mulher. Dessa vez, Camila se perdera no mundo; um
estado de letargia roubara-lhe o último elo de esperança que a
faria alcançar a felicidade que ainda poderia ter nessa vida. Como
uma pessoa totalmente embriagada, saiu às ruas sem destino
como uma inocente ave ainda sem saber voar, perdida ao vento.
Sem vida futura, sem nada.

                                  Lídia e a reencarnação
         O mentor Irmão X conversa com Lídia.
          – Como se sente irmã, nesta sua nova morada?
         – Louvado seja o Senhor Jesus. Aqui me encontro muito
bem e em total paz, pois sinto que minha aura está suave. Creio
que já me libertei da insanidade por meio das buscas que tenho
feito pelo labor e resignação, para o meu progresso espiritual.
         – Sabias que já estás preparada para o retorno?
         – Não, irmão, eu não sabia. Mas me parece que faz tão
pouco tempo que saí do corpo físico! E estou bem aqui, mas se
tiver de ser assim, que assim seja meu bom irmão, mesmo que
haja forças negativas para tentar impedir-me, eu voltarei para res-
gatar, eliminar as minhas dívidas do passado e seguir a caminho
da perfeição. Quem sabe assim eu possa ter progressos em minha
espiritualidade, pois terei possibilidades melhores para o labor em
prol do bem, tanto aqui, quanto no plano terrestre. Desta vez não
perderei a oportunidade que o nosso Criador esta me dando, mas
pensei que demorasse anos para um espírito reencarnar.

258
– Ha casos e casos, minha boa irmã. Cada espírito tem
o seu histórico e, no seu caso, pela bondade de Deus houve um
consenso e a permissão lhe foi dada pelos Espíritos Superiores
para a sua volta ao plano físico. Mesmo porque, regressaste ao
Plano Espiritual prematuramente, graças ao seu descuido com a
saúde de seu antigo corpo carnal. Por isso, lhe afirmo que está
próxima a sua reencarnação.

         Lídia estudava com afinco naquela colônia, onde se
esclarecia com muita rapidez, por meio do aprendizado em vi-
das passadas e também por sua atual vivência no Plano Espiritu-
al. Eis que, em determinado momento, o mentor recomenda a
Lídia e aos demais alunos que fizessem um intervalo, para que
todos pudessem imaginar e refletir sobre tudo o que haviam
aprendido até o momento. Após sair da sala de aula, Lídia sen-
tou-se em um lindo jardim onde havia várias e várias espécies de
orquídeas. Ela então as admira, pois eram a sua flor preferida,
que ela e Anita cultivavam com muito carinho quando da sua
estada no plano físico. As duas costumavam comentar que as
orquídeas eram lindas por serem barrocas e nativas. Aquelas or-
quídeas, plasmadas no astral para sua sensível admiração, tam-
bém eram uma tática para que Lídia se lembrasse do caminho
de volta, que ela agora teria de seguir.
         Irmão X, pela técnica da telepatia, muito comum entre
os espíritos, diz a Lídia:
         – Não temas irmã, o que tu fizestes até agora foi alcan-
çar raios iluminados o suficiente para aprender e renascer, sem
que haja qualquer empecilho. Lá, viverás por 94 anos na conta-
gem terrestre. Seus anjos e protetores estarão ao seu lado o tem-
po todo durante a sua estada no Plano Terrestre.
         – E como devo agir de agora em diante, irmão? Na mi-
nha volta?
         – A sua missão será árdua; terá algumas dificuldades e,

                                                             259
no seu caso, excepcionalmente você perdera a consciência bem
próximo ao momento da sua reencarnação, ou melhor, no mo-
mento exato do seu nascimento. Esquecerá tudo que passou
aqui conosco e se tornará uma criança totalmente inocente.
         – Mas isso é necessário, meu irmão? Por que eu devo
perder a consciência?
         – Deus nos dá o livre-arbítrio, mas existem regras. Pe-
rante as Leis do Universo o esquecimento é necessário, e isso nos
é dado pela misericórdia de Deus, para que não nos perturbe-
mos com os erros do passado. Pense bem; como seria se você
reencarnasse sem perder a consciência? Como seria nossa nova
oportunidade na Terra com nossa consciência cobrando os nos-
sos erros do passado? Siga o seu coração e o seu destino. Saberás
por si mesma e pelo seu instinto como deverá agir.
         – Irmão, desculpe-me por tantas perguntas, mas tenho
que lhe fazer mais uma.
         – Fique à vontade minha boa irmã, estou aqui exata-
mente para lhe orientar. Esta é a minha missão ou função, auxiliá-
la respondendo a todas as suas perguntas. Fui designado pata
esta colônia com essa finalidade.
         – Por que eu, excepcionalmente, tenho de perder a cons-
ciência e os outros que
reencarnam não a perdem?
         – Não é assim, Lídia. Todos que reencarnam perdem a
consciência literalmente. Uns bem próximos ao nascimento,
outros bem antes, e outros até alguns anos antes de reencarnar.
Cada um com seu histórico. Enfatizo: cada caso é um caso, mas
todos são acompanhados por Espíritos esclarecidos e
especializados para cada caso, e também pelos guardiões desig-
nados para cuidar e lhe proteger durante sua estada no plano
físico. Há também uma legião de espíritos que trabalham para
resguardá-la durante a gestação da futura mamãe, e quando lá
você renascer ou nascer, terá vários anjos, vários Espíritos de Luz

260
para lhe acompanhar até o fim de sua jornada terrestre. No seu
caso, você e a Legião de Espíritos precisarão estar próximos à sua
futura mamãe, exatamente para que ela sinta sua total presença e
não desista da criança que está em seu ventre. E você terá a gran-
de oportunidade de ampará-la em seu sofrimento durante e até
o final de sua gestação. Essa assistência que você dará a ela fará
parte da sua missão nessa sua nova passagem. A partir de hoje,
Irmã Lídia, a sua missão será estar ao lado dela até no momento
da sua reencarnação. Proteja-a com toda a sua energia e a sua
paz. Zele bem pelo corpo carnal de sua futura mamãe e lembre-
se: você encontrara muito sofrimento naquela alma encarnada,
pois tudo isso faz parte do resgate dela.
         Não esqueça, minha irmã, que a vida, tanto aqui quan-
to no plano físico, é um grande aprendizado para todos nós,
desencarnados e encarnados. Então, a esses dois processos pode-
mos nos referir como teoria e pratica ou vice-versa. Em um
plano você aprende e em outro você pratica o que aprendeu.
Mas quem aprende na teoria pode fazer tudo errado na prática,
por isso o livre-arbítrio.
         – A minha afinidade será grande com essa pessoa, ir-
mão, eu tenho certeza, pois já a conheço. Digo isso pelo que eu
aprendi aqui e por minha intuição. Conheço também um pou-
co mais o meu coração, logicamente que aqui eu tive a oportu-
nidade de aprender a amar o próximo e ser solidária e, além do
mais, sinto que já a conheço. Principalmente após descobrir em
minhas aulas que em vidas anteriores já estive com ela em uma
ligação familiar, meu bom Irmão X. Farei o melhor para que
tudo dê certo.
         – Bem Lidia, como você já sabe, por seu excelente de-
sempenho em suas aulas, a reencarnação é como a morte para os
que aqui estão. Você irá desaparecer do nosso convívio para esta
missão, e lá no plano físico se tornara outra pessoa, mas com o
mesmo espírito, pois o corpo físico após a morte apodrece e

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vira pó, mas o espírito, esse minha boa irmã, é eterno, porque
Deus nos fez eternos. Então, quando o espírito precisa reencarnar,
seria como trocar sua roupagem espiritual por um novo corpo
físico
         Quero que saiba de uma coisa muito importante. Quan-
to a você reencarnar agora, é notório que realmente é um pouco
cedo, e que você poderia desfrutar de sua estada aqui conosco
por mais algum tempo, mas por sua excepcional desempenho
você está pronta. Dessa vez, além do seu resgate, também lhe
pedimos que como voluntária abraçasse esta missão. Você po-
derá permanecer por mais um tempo aqui conosco se quiser,
mas queremos lhe pedir que antecipe sua reencarnação como
voluntária, por que neste momento se assim o fizer estará pres-
tando um grande serviço para sua futura mãe, seu futuro irmão
e para a Espiritualidade. – E eu poderei saber o que é este servi-
ço voluntário, meu bom irmão?
         – A bem da verdade, você seria a primeira dos dois fi-
lhos dessa mulher, cujo nome no plano físico é Camila. Mas o
espírito que iria reencarnar em sua atual gestação não tem por
enquanto a mínima condição pelos seus traumas sofridos, mo-
tivados exatamente pelos abortos provocados por aquela mu-
lher. Consequentemente, ela também passou e passará por vári-
os traumas e, nesse caso, você estaria dando a grande oportuni-
dade a esse espírito, que está sob tratamento em uma colônia
especifica de ser seu irmão. Assim sendo, ele não perderá a opor-
tunidade de voltar para seus acertos, afinal, será sua quinta e
última tentativa e, se ele não conseguir reencarnar, ficará por
vários séculos perdido em seus próprios traumas psíquicos. Para
que você tenha idéia de como ele está neste momento, vou
materializar o local onde ele se encontra em suas deformações
psíquicas.
         Assim que foi plasmado o local onde aquele espírito se
encontrava, Lídia levou um grande susto e perguntou:

262
– Então eu estaria reencarnando por solidariedade a este
espírito?
         – Sim, Lidia. – Afirma o mentor.
         Havia ali um espírito em uma situação degradante, meio
adulto, meio criança. Enquanto ele se preparava, ou seja, volta-
va para o seu estágio infantil, sua genitora estava se relacionando
intimamente, de forma que sua gravidez seria inevitável, pois
ela não tomava os devidos cuidados, era promíscua. E aquele
espírito, nos abortos que Camila praticava, era arrancado de seu
ventre aos pedaços, como se fosse arrancado de uma cratera,
sem nenhum pingo de misericórdia. De outro ângulo, ele se via
dissolvendo e podia sentir que estava sendo jogado em um vaso
sanitário para ser devorado pelo esgoto. Ouvia-se, de forma te-
lepática, aquele espírito pedindo por clemência, dizendo que
amava sua futura mamãe e, em cada nova tentativa de renascer,
ele fazia o possível para que ela o recebesse com carinho e digni-
dade, mas toda vez sofria outra decepção. Mas ele nunca desis-
tiu de sua mãe, por ser ela eleita a mulher que lhe daria a grande
oportunidade de seguir a caminho da perfeição.
         – Portanto, minha boa irmã, – explica o mentor Irmão
X –por mais uma vez ele irá tentar se refugiar exatamente no
ventre que lhe feriu, mas como agora ele não tem a mínima
condição de reencarnar, pedimos a você que antecipe sua passa-
gem para o plano físico, salvando Camila e este espírito da de-
gradação total por vários séculos. Mas saiba que esta decisão é só
sua, nenhum de nós pode decidir por você. Posso lhe afirmar
que será a atitude mais nobre que poderá demonstrar, e com
essa atitude estará colaborando com Camila e com esse espírito
para um resgate mais suave, e também aos demais envolvidos
neste processo.
Para nós, que estamos lutando para a melhora desse espírito,
será uma grande vitória, e você também estará colaborando com
o sistema ou processo de vidas, tanto no plano espiritual quanto

                                                               263
no plano físico. Isso lhe trará um reconhecimento maravilhoso
da Alta Espiritualidade.
         – Eu tinha algumas dúvidas quanto a voltar a voltar ao
plano físico, mas após ver o sofrimento desse espírito, lhe afir-
mo Irmão X, que estou pronta para esta missão. Haverei de
passar dias felizes em minha volta para cá, quando me for per-
mitido o regresso.
         – Você esta certíssima, Lídia, e lhe repito que, durante a
gestação de Camila, haverá muito sofrimento daquela mulher,
pois este sofrimento lhe trará um grande aprendizado e o reco-
nhecimento dela do mal que fez, tanto para a alma quanto para
o corpo físico com os abortos que praticou. Inclusive, após o
seu nascimento, ela tornará a ficar grávida para receber o filho
que renegou por várias vezes, interrompendo por meio do abor-
to a reencarnação daquele ser inofensivo que você viu plasmado
através de uma tela telepática.
         – Este, para mim, será o maior dos desafios e uma gran-
de oportunidade de ser solidaria. Sei também que estar junto a
essa mãe me fará gloriosa, pois numa dessas viagens de retorno,
em vidas anteriores, já estivemos juntas.
         – Você irmã, é muito querida por todos nós. Nós apren-
demos a lhe amar verdadeiramente. O seu progresso se fez mui-
tíssimo rápido depois de chegar a este plano. Esse é o resultado
de sua coragem, de sua luta e persistência. Você realmente é uma
grande guerreira. Prossiga sem temer a nada, irmã Lídia. Estare-
mos com você em todas suas dificuldades, creia-me.




264
O Retorno de Lídia
        Lídia ainda traz alguns vestígios de seu psiquismo
quando fora martirizada pelos espíritos da baixa esfera. Após
algum tempo ausente, ela regressara, porém com uma roupa-
gem magnífica de amor, serenidade e grandes afetos conquis-
tados no mundo da Espiritualidade. Ela se alegrava por ter o
alvedrio de volitar (andar) para onde queria. Assim veria, por
vezes mais a Anita, a quem o seu enlace de amizade perma-
neceria como uma esmeralda valiosíssima em seu coração,
mesmo depois de reencarnações posteriores.
        Agora Lídia sabia um pouco mais sobre os dois mun-
dos, um pouco mais do que ha entre os Céus e a Terra. E
quanto o homem ainda caminharia na conquista da perfeição
ou de um Céu. Lídia sabia que teria à sua frente uma imensa
quantidade de degraus a subir, mas tinha a precisão necessá-
ria, em conhecimentos abarcados pela Espiritualidade, de
onde deveria iniciar o seu caminho. Seria fiel e breve em sua
busca.
        – Onde deverá estar a quem eu procuro? Certamente
que o tempo me dará essa satisfação.

        Estática com a visão que tivera desse mundo após o
seu aprendizado espiritual, Lídia, totalmente resignada,
adentra à casa de seus recém-amigos a quem tanto aprendera
a amar e respeitar, deixando ali uma aura tão formosa e com
aroma de orquídeas campestres, que o aroma era inconfundível.
Ela exalava seu perfume suave gratuitamente por amor aos seus
amigos.
        – Anita, que aroma suave... Parece ter vindo de fora!
Você está sentindo?
        – Você também, meu amor, está sentindo? Pensei que
fosse somente eu. Por isso me calei. Foi uma suave brisa que

                                                          265
entrou pela janela de nosso quarto. Esse perfume pertencera à
Lídia, pertence a ela, meu amor, ela adorava orquídeas. Lídia
está aqui neste momento para nos dar a sua mensagem de amor.
Ela parece quase um anjo em sua brandura... Eu posso senti-la.
        Anita teve a impressão de estar vendo quase um anjo,
porque aquele processo era verdadeiro. Lídia, em espírito, esta-
va passando por uma metamorfose, voltando ao estado infantil.
Emocionada, ela se põe a chorar e, aproximando-se do pequeno
bebê de Anita, este lhe sorri.
        Naquele momento de vibrações magníficas, entra no
quarto uma jovem que há duas semanas apenas fora admitida
para cuidar dos afazeres domésticos. Prontamente, após servir o
chá da tarde para Anita e Oscar, ela sente uma pequena tontura,
sendo logo apoiada por Anita, que estava ao seu lado, sentando-
a numa cadeira que estava próxima à cama.
        – Perdoe-me, senhora, por favor. Nunca senti uma sen-
sação estranha como essa... Estou ficando tonta. Parece que os
meus sentidos se vão...
        – Não se preocupe, Márcia, isso pode ser queda de pres-
são. Abaixe um pouco a sua cabeça.
        – Não, minha irmã! Sou eu, Lídia. A paz esteja com
vocês.
        – Oscar! Eu imaginava que fosse Lídia. Como você está
minha querida?
        – Creio que estou melhor do que mereceria estar.
        – Lídia, nós não te esquecemos jamais...
        – Como eu posso não saber e não agradecer a vocês,
principalmente pelo que me fizeram para que eu alcançasse o
meu progresso? Por isso venho a vocês pra dizer-lhes que o meu
retorno está próximo. Que Deus, em sua bondade infinita, está
permitindo o meu regresso. Irei reencarnar e estarei sempre
pertinho de vocês. Meu Deus, estou tão feliz!
        Ao dizer aquelas palavras, Márcia, como numa verti-

266
gem, se derriba nos braços de Anita e Oscar. Eles a deitaram
sobre a cama para que ela pudesse refazer as energias doadas.
Calmamente, Márcia se levanta perguntando aos patrões:
         – O que eu fiz? Sei que falei um bocado de coisa, mas
eu não consegui me controlar, não sei por que aconteceu isto
comigo, com certeza vocês vão me demitir.
         Calados, eles a olham sem lhe dizer nada.
         – Os senhores me perdoem, eu nunca me senti assim
em toda a minha vida. Se os senhores pensam que tenho algu-
ma enfermidade, por favor, não me demitam, eu preciso muito
trabalhar. Nunca aconteceu isso comigo. Eu sinto muito, vou
arrumar as minhas coisas.
         – Márcia, você não sabe por que lhe aconteceu tudo
isso? – pergunta Anita.
         – Não, senhora... Creio que tive um passamento ou uma
epilepsia, ou outra coisa qualquer, porque olhando em seus sem-
blantes, algo horrível deve ter me ocorrido aqui, há poucos mi-
nutos.
         – Sim, Márcia, ocorreu, – conta Oscar. – E você é uma
pessoa enorme, admirável, formidável. Que Deus te ilumine,
filha!
         – Mas, enfim, o que foi que aconteceu para o senhor
usar esses termos tão reconfortantes comigo?
         Após Anita e Oscar contar o ocorrido, a moça
totalmente espantada se levanta e diz:
         – Mas isso senhor, não pode acontecer comigo, porque
os meus segmentos são opostos a isso. Eu sou evangélica, meus
pais já nasceram evangélicos. Eu não aceito essa linhagem religi-
osa.
         Oscar e Anita se calam. A moça pede licença a eles para
se retirar e não mais voltar ao trabalho nem sequer para receber
os dias em que efetivara o seu compromisso. Não deixou ende-
reço algum e saiu dizendo baixinho:

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– Vade retro, Satanás! Em casa de macumbeiro, nem
passando fome eu trabalho.
         Seis meses depois, Márcia retornou à casa deles para pe-
dir-lhes perdão e dizer que, após uma pesquisa pessoal, ela pas-
sou a ver a Espiritualidade de um modo respeitoso, solidário,
participativo e verdadeiro, e que a partir daquele dia se tornaria
uma espírita convicta. Isso foi para Anita e Oscar motivo de
alegria e prova de que o mundo não está resumido, mas sim,
abrangente ao infinito.
         Márcia, uma moça de poucos estudos e grande vontade
de desenvolvimento intelectual, de imediato foi convidada por
Oscar para preencher uma vaga em uma de suas instituições,
onde poderia trabalhar e estudar, só sairia dali quando quisesse e
depois de formada, pois os seus estudos seriam por conta da
Corporação. A moça fica feliz e aceita, pela forma humilde com
que lhe ofertaram.

                   Lídia sofre perseguição no Umbral
        – Olhe só aquelazinha! O que você está fazendo aqui?
Se cansou de suas asinhas? Não, eu acho que você sentiu sauda-
des dos seus demônios. Venha aqui pra eu lhe dar um abraço!
        – Afaste-se de mim, porque sou uma serva de Deus.
        – Engraçado! Então a gente pode fazer a desordem que
quiser que não acontecerá nada de ruim. Legal!
        – Porque dizes isso?
        – Ora, vejam só. O que tu eras e agora quer posar de
santinha! É uma perdida disfarçada de...
        – Cale-se! Não vou ouvir mais os seus abusos, as suas
difamações. Eu simplesmente não persisti em meus erros passa-
dos, eu os reconheci.
        – Mas por que então nós ficamos aqui neste inferno,
sendo somente você a protegida, a privilegiada?

268
– Eu não sou privilegiada, todos nós somos, é só ques-
tão de querer. Vocês não quiseram e não querem. Isso foi o que
vocês fizeram a mim, mas em tempo reconheci minha revolta e
ódio e me arrependi. Deus, em sua infinita bondade e miseri-
córdia, permitiu que os nossos irmãos de luz viessem em meu
auxílio.
         – Ora vai se danar... Eu vou chamar e reunir a legião
para que você sinta novamente o peso de nossos aferros.
         Lídia sentindo-se constrangida e sem saber como pode-
ria se defender, medita e implora a presença dos irmãos da alta
esfera. Prontamente é atendida por Irmão X.
         – Eu e outros espíritos estamos próximos, nem você nem
ele podem nos ver, mas estamos na sua sintonia. Enfrente-os sem
temor, nós estaremos contigo irmã, em todos os instantes.
       -Não os tema, pois o teu medo pode lhe trazer transtor-
nos. Enfatizo: não tenha medo.
       Com um barulho ensurdecedor, os quiumbas se manifes-
tavam.
         – Ela voltou, ela voltou! Vamos pegá-la. Desta vez ela
não resistirá.
         – Senhor, tenha misericórdia de mim e destes irmãos
que têm os corações em chamas e os olhos tão escuros para o
infinito! Misericórdia, Senhor!
         Ao se aproximarem, o corpo fluídico de Lídia foi se
refletindo em múltiplas luzes até que, assustados, eles se afasta-
ram. Tentaram mais vezes se aproximar dela para capturá-la, mas
não conseguiram nada. Para eles, os quiumbas, talvez fossem
novos truques que ela aprendera com sua nova gangue.
         – Vamos cair fora daqui! Essa mulher está muito estra-
nha, assim, com tanta luz! Luzes que nos perturba e nos ofus-
cam. Estou fora!
         Nem mesmo lídia entendeu direito o que se passara!
Protagonista desse ato, não soube esclarecer o que vivenciou ali,

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no entanto, foi agradecer aos mentores pelo luminoso aconche-
go. Dali, Lídia se dispersa, dirigindo a sua atenção ao seu com-
promisso de busca. Os olhos da espiritualidade, em seus breves
reflexos, fizeram Lídia descobrir o que procurava encontrar.
Emocionou-se ao vê-la: Uma mulher maltrapilha que vagava
inerte, cuja pobreza se esvaia em seu semblante, a encostar-se no
canto de uma rua. Uma mulher ferida na alma e problemática,
com olhos que não refletiam mais as perspectivas que a vida
poderia lhe ofertar.
Uma senhora jovem, cujo destino rasgava-lhe as entranhas...
Quem sabe, talvez a sua alma, ocasionada pelo ensejo de vidas
anteriores... Quem sabe. Os seus cabelos longos... O seu cansa-
ço fatigante, por já não mais suportar o peso de seu ventre nem
os dissabores ganhos nessa vida, tão amargurada vida!
         A toda essa cena, meticulosamente Lídia observava, até
que, em sua aproximação, percebe que sentiu fome, porém não
se sentiu desamparada. Estranho, pela primeira vez após a sua
ascensão espiritual, depois de seu desencarne, ela sentiu fome!
Além do que, juntinha daquela mulher o que Lídia queria e
necessitava era de proteção. Muito estranho.
         Após alguns minutos em que volitara, Lídia sente por
extinto que estava à frente de sua mãe, por um instinto familiar.
Ela percebera que chegava a hora de sua volta ao plano físico.
Ela iria reencarnar. Muito triste por ter de deixar seus amigos do
plano astral mas feliz por ter a oportunidade de reencarnar para
resgatar suas dívidas do passado, e também porque estava à ser-
viço da Espiritualidade, em especial daquele espírito que viu plas-
mado, ela se sentia agasalhada, apesar de que o seu compromis-
so se fazia, e não poderia mais deixar aquela mulher a sós, deve-
ria cuidá-la para que não sofresse as perseguições dos espíritos
maledicentes e renunciasse àquela gestação.
         – Não! Isso não. Afinal, sou uma guerreira. – afirma
Lidia. – Camila não irá renunciar, e é para isso estou aqui. Lou-

270
vado seja o Pai Celestial, eis a minha mãezinha! A partir de agora
permaneceremos juntas, aconteça o que acontecer. Teremos um
grande período juntas.
         Anoitecia. Aquela mulher com fome não se dava conta
de nada. Calada, encostou-se nas paredes de uma construção
que a protegia dos ventos do sul. Uma brisa suave tocava os seus
lindos cabelos e a magnífica Lua deixava marcada, nas paredes
em ruína, o belo semblante de Camila. Aquela mulher a quem
Lídia buscava, era Camila. Entre ela e o bebê, uma magia eston-
teava Lídia. Ao ver Camila tocar seu ventre com uma de suas
mãos, Lídia fechou os olhos para sentir-se acariciada, mesmo
ainda estando ao seu lado. Era o amor, infinito amor entre duas
energias emanadas por Deus: Mãe e filha.
       Nesse momento, aconteceu uma explosão naquele jovem
espírito... Lídia não estava e nem se sentia mais só. Por vezes
seguidas, sem que sua futura mãe percebesse, em noites frias e
chuvosas, Lídia encontrava e induzia Camila sempre a uma gua-
rida, para que sua futura mamãe ficasse protegida.
         Passam-se três dias apenas quando se surpreende, logo
pela manhã, com uma senhora que, ao passar por elas, com um
branco nos cabelos denunciava a sua idade de anciã, piedosa-
mente pergunta:

        – Filha, você com certeza precisa de ajuda. Deseja algu-
ma coisa? O que posso fazer por você?
        – Tenho fome...
        – O que faz sentada neste chão úmido e frio? Você não
tem casa? Nem família?
        – Não. Eu tenho muita fome e frio...
        – Você está com uma gestação já muito avançada. Ve-
nha, deixe-me ajudar-lhe, Levante-se!
        As forças da jovem estavam aniquiladas; arrastava os pés no
chão para seguir a senhora que lhe prometera um pouco de alimento.

                                                               271
– Olhe, filha, a minha casa é simples mas sempre cabe
mais um Sente-se aqui nesta cadeira que vou lhe preparar algo
para comer, e também vou preparar um bom banho para você.
         Prontamente a senhora volta com uma variedade de ali-
mentos para Camila que, vagarosamente, passa a se alimentar.
Após um copo com refrigerante, Camila se levanta da cadeira e
aproxima-se da boa senhora.
         – Deus a abençoe senhora. Agora eu tenho que ir.
         – Diz-me filha, onde é que você mora? Veja os seus pés,
estão inchados e você está rastejando. Se você quiser, darei um
jeito de levá-la até a sua casa.
         Camila, calada, saiu em direção à rua e vagarosamente,
acompanhada pelos olhos piedosos daquela senhora, cabisbaixa
se despediu, até completar o final do horizonte demarcado por
aquela rua.
         – Pobre menina, tão jovem e jogada pelas ruas para cum-
prir o seu destino.
         Certamente que haveria uma resposta. Quem sabe a fe-
licidade de Camila não estaria depois de todo esse sofrimento?
Esse é um mistério que o ser humano não conseguia decifrar
ainda. Lídia por sua vez se comovia ao lado de sua mãe. Porém,
uma aragem acariciou-lhe, saindo dali uma voz oculta que sus-
surrou em seu ouvido.
         – Eis tua mãe, e aí está você. Na verdade, o espírito que
era para estar aí, onde você se encontra, seria aquele que por
várias vezes tentou reencarnar como filho desta mulher, para
que ambos se completassem em seus resgates cármicos. Mas não
é possível por enquanto que ele renasça, pois, com as tragédias
pelas quais passou em consequência dos abortos provocados por
Camila, ele se encontra deformado e quase destruído em seu
estado psíquico, por isso foi solicitado a você que reencarnasse
como filha de Camila, já que tens afinidade com ela de vidas
passadas. Faça com ela um lindo elo e prepare-se para o seu

272
regresso ao plano físico. Logo terá um irmãozinho para lhe fazer
companhia em sua vida terrena
         Feliz, Lídia, em meio às lágrimas ora chorava, ora sorria,
por certificar-se que realmente seria aquela a sua futura mamãe.
Ela se unira àquela mulher e dali em diante lutaria contra as
tiranias do sobrenatural. Juntas prosseguiriam com seus com-
promissos para poder resgatar saldos anteriores. Essa seria a vitó-
ria de Lídia.
Os momentos de alegria foram breves, por causa das coisas es-
tranhas que às vezes Camila fazia. Da forma que se encontrava,
afastada do mundo, por causa do grande abalo pelo qual havia
passado com a morte de seu companheiro Josué, a fome e o frio
também as assolava.
         Camila balbuciava algumas palavras ao levar as mãos ao
ventre.
         – Meu bebê... – e chorava... Ambas choravam.

         Seguem-se os dias. Enquanto o bebê crescia naquele
humilde ventre, o espírito daquele bebê, ou seja, Lídia, também
crescia em evolução, até que finalmente completa-se o ciclo do
milagre da vida, pois Camila já havia chegado ao nono mês de
gravidez.
         – Já estamos preparadas pra nossa união e para receber a
nossa missão, minha mãe. Sinto-me um tanto desligada do pas-
sado e da minha vida espiritual, porque percebo que outra esfera
ou domínio renasce em mim. Deus permita que vençamos esse
trajeto, e que não tenhamos medo algum do que poder vir a
acontecer conosco.
         Alguns dias depois, logo ao entardecer o tempo se fe-
chara para uma tempestade. Lídia pressentira algo ruim, pois
aquele tempo lhe perturbava. Por quê? Devia haver algo que
pudesse servir-lhe como explicação. O tempo se fechava ainda
mais, foi quando Camila começou a passar mal. Dores horríveis

                                                               273
surgiram em seu corpo e sua voz de clamor ressoava em seus
lábios. Já muito fraca pela desnutrição e maltratada pelo tempo,
mostrava sinais de derrota, sentindo que poderia perder aquela
criança que estava para nascer. Em seu desespero ela clamava a
Deus.
         – Meu Deus! Não deixe que eu perca o meu bebê, pois
já aprendi a amá-lo acima de minha própria vida.
         Lídia também rogava a seus amigos espirituais – Meu
Deus, peço-lhe ajuda! Permita que os espíritos protetores ve-
nham em nosso socorro. Por que agora, quase ao final de sua
gestação, a minha futura mamãe se encontra dessa forma?
         Lídia sabia perfeitamente da situação emocional e física
de Camila. Porém, era inadmissível que algo ruim viesse a acon-
tecer-lhe. De repente, uma suave voz e já conhecida por Lídia
veio novamente aos seus ouvidos lhe sussurrar.
         – Minha irmã, cuidado! Todas essas mazelas estão sendo
provocadas pelos espíritos da baixa esfera, para que tu não venhas
a ter a oportunidade de reencarnar.
         – Mas por Deus! O que devo fazer?
         – Consulte o seu coração, tu bem sabes da força que
emana de ti, e que nós estaremos sempre juntos. Não temas...
Pense na doce mãe de Jesus, pense em alguém do plano espiritu-
al que possa lhe dar forças e também em espíritos encarnados
que possam lhe ajudar. Mantendo contato com seres deste pla-
no em que você irá renascer, se forem do bem, com certeza terá
grande auxílio, porque essas pessoas poderão lhe fornecer um
bom ectoplasma para revigorar tanto você, quanto a sua futura
mamãe e farão parte da vida de vocês.
         De imediato, seu pensamento inexato chega a quem
muito colaborou para tirá-la do umbral: sua mãe, e também em
Anita e Oscar. Logo ela recebe uma mensagem de espíritos cola-
boradores que se fizeram voluntários em busca do sucesso da
missão designada para Lídia. Eram Mãe Benedita e outros.

274
Percebe que eles, Oscar e Anita, estavam justamente à procura
de Camila, e que por capricho do destino, ou melhor, pelas leis
do Universo, elas estariam juntas novamente, o que Lídia consi-
derou um presente de Deus. Então, com muito mais vibração,
ela consegue se comunicar por telepatia com sua mãe que estava
bem, em sua caminhada espiritual.
         – E Anita, como fazer agora para que também esteja
neste encontro?
         Irmão X e seus superiores do plano metafísico preparam
o espírito de uma criança que muito trabalha no plano espiritu-
al, cujo nome é Saulo, para fazer uma visita a Anita, instruindo-
a para que saia à procura de Camila, levando Oscar até uma
delegacia próxima de onde estava a pobre mulher. Foi esse o
meio que Lídia conseguiu para ajudar sua futura mãe, junta-
mente com os demais irmãos do mundo espiritual.
         Quando Irmão X se afasta de Lídia, nuvens escuras em
formato de sombras se põem sobre ela com palavras imundas e
risos sarcásticos.
         – Nós jamais permitiremos o seu retorno sua traidora,
você já sabe disso. Afaste-se dessa mulher porque ela nos perten-
ce. O homem dela nós já resgatamos, só falta ela. Você não fará
nada para nos impedir. Nós arrancaremos neste instante o feto
que se encontra no ventre dela, assim como fizemos com os
outros que ela gerou.
         Uma legião perversa e maligna toma a frente de Camila,
que grita pedindo socorro, pois suas dores já estavam muito
fortes. Na rua onde se encontrava as pessoas a olhavam com
indiferença dizendo: – A louca hoje está embriagada. Camila
escondia sua gravidez o máximo que podia com um cobertor
velho ganho de alguém que teve piedade dela, porque na verda-
de, os espíritos ruins passavam essa vibração para ela. Assim
Camila não teria socorro e os maus espíritos lhe provocariam
mais um aborto.

                                                             275
– Qual nada, é a cirrose dela que vai estourar de tanto
álcool ingerido. – Dizia outro curioso que por ali passava. To-
dos ali profanavam o sofrimento da pobre mulher, pois não
sabiam realmente das más influências.
         Lídia, repelindo os maus espíritos dizia:
         – Deixem a mim e a minha futura mãe em paz.
         – Saia daqui sua traidora!
         – Vão embora todos, saiam daqui e deixe minha mãe
em paz.
         – Nós conseguimos o melhor para arrebatar as forças
dela contra nós. Ela blasfemou, pois esta ficando irritada com
isso tudo. Ela mesma está afastando os espíritos de luz.
         – Ó, meu Deus, me perdoe! Preciso ter calma e fé!
         Um vento saiu de trás do corpo astral de Lídia e imedia-
tamente desfez aquela sombra em migalhas soltas pelo ar. Eram
os guardiões da noite, conhecidos por muitos como Exus, que
vieram em seu auxílio a pedido de sua mãe que vivia no plano
astral e que ali também se encontrava para ajudá-la.
         Enquanto isso, um anjo chamado Saulo se fazia presen-
te na casa de Anita com outras crianças, espíritos brincalhões
mas de muita luz. Anita, com sua percepção, sentiu que havia
ali no meio da sala uma criança que soltava várias esferas de luz
de todas as cores. Chama por Oscar pedindo que ele vá depressa
para a sala. Assim que Oscar entra sala adentro vê nitidamente
uma linda criança de olhos azuis, de uma beleza angelical e ma-
ravilhosa, brincando com outras crianças. Então, Saulo materi-
aliza no meio das esferas um retrato de uma jovem conhecida
do casal. O retrato estava bastante ofuscado, mas ele pode per-
ceber que se tratava de Camila. Assim que aquele fenômeno
desapareceu, sem perda de tempo o casal sai à procura de Camila,
mas sem saber onde encontrá-la. Nesse momento, a mãe de
Lídia, que muito colaborou para que ela saísse do umbral, entra
em ação intuindo ou fazendo com que eles vissem e fossem até

276
uma delegacia, ao mesmo tempo em que consegue afastar os
maus espíritos de Lídia.
        – Nós não podemos com você agora, mas no ato de sua
reencarnação você ficará totalmente vulnerável a nós. Você verá
que não é fácil assim como pensa a reencarnação, pois reencarnar
é o mesmo que morrer. – Eles afirmam.
        – Eu sei que reencarnar é morrer, mas também sei que é
um renascimento. E eu confio em Deus e nos bons companhei-
ros espirituais, portanto, não tenho medo de vocês.
        Lídia volta-se para Camila, que agora parecia já ter se
acalmado. Os gritos e as dores amenizaram e já não havia mais o
desespero. Encostada em uma parede qualquer, ela adormece.
Aquela noite estava fria e a roupa que Camila vestia era apenas
um vestido fino, já muito sujo, nada mais. A não ser aquele
velho cobertor que escondia sua gravidez. Ela se encolhia no
canto de um muro e se cobria com o velho cobertor que al-
guém, por misericórdia colocara em seu corpo debilitado. A rua
era pouco movimentada e ali ela se encostava para ficar sossega-
da. Lídia, juntinho a ela, constantemente orava louvando a Deus
por todos os segundos de estada junto àquela mulher e tentava
lhe dizer algo, mas ela não ouvia. Só um pouco mais tarde, lá
pela madrugada, que um velho senhor, ao aproximar-se de
Camila, colocou em seu corpo outro pequeno cobertor para
protegê-la das intempéries que assolavam o ar numa canção tris-
te de amor.
        Na manhã seguinte, Camila se mostra sem forças para a
vida. O seu semblante se modificara e Lídia percebera que ela
estava estranha. Camila começa a chorar e a reclamar do que
estava passando.
        – Mas o que está acontecendo comigo? Lembro-me va-
gamente do que me aconteceu num passado próximo, pois ain-
da estou grávida. Ó meu Deus, o meu bebê! O desanimo to-
mou conta totalmente de mim, não tenho forças nem para me

                                                           277
levantar deste lugar! Sinto dores, dores fortíssimas. Ajude-me
meu Deus, não deixe que eu perca o meu bebê, pois é a única
coisa que tenho nesta vida!
        Lídia, ao perceber que Camila estava se recordando do
trauma que vivera na noite passada, fica muito feliz. O início
das contrações de sua futura mamãe começa a lhe arrastar para o
ventre de Camila. A dor que Camila sente já não são mais ema-
nadas dos espíritos perversos, mas sim contrações que antece-
dem o nascimento de seu bebê. Nesse momento, Lídia roga a
Deus.
        – Que tenhamos coragem, que sejamos fortes, porque é
chegado o momento. Turbulências e fortes nebulosidades ve-
dam os olhos de Lídia. Nua, molhada e inquieta, ela busca as
entranhas, para se desligar do cordão. No mundo espiritual, tra-
va-se uma grande batalha entre luzes e trevas, entre o bem e o
mal, entre anjos e demônios. Do ventre de Camila jorra um
caminho de luz para que livre, a pequena criança pudesse nascer.
        – Alguém me socorra, por favor, o meu bebê está nas-
cendo! – Grita Camila, em busca de ajuda. Algumas senhoras
curiosas se aproximam, mas ninguém ousa lhe ajudar, pois esta-
va muito mal cheirosa e suja. Mandaram que viessem policiais
para socorrê-la.
        – Senhor delegado, bem próximo daqui há uma mu-
lher dando à luz.
        – É uma mendiga? Que fica por aqui, em volta da dele-
gacia? Mande alguém buscá-la para levar a um hospital, não posso
sair agora porque estou com uma ocorrência de uma pessoa de-
saparecida, e esse caso não é tão importante, é só uma moradora
de rua.
        A ocorrência da pessoa desaparecida era justamente a
pedido de Oscar e Anita, que estava com aquele delegado à pro-
cura de Camila.
        – Não seja por isso, nós fazemos questão de ir junto

278
ajudar essa mulher. Dependendo do caso, poderemos levá-la a
uma de nossas instituições. Depois continuamos a procurar
Camila. – Diz Oscar ao delegado.
         – Já que vocês acham que devem ajudá-la... Eu acho
que não vale a pena, mas se assim querem. Adotar uma mendi-
ga... Aviso a vocês que ela é louca, mas se querem ir, então va-
mos até ela, mas acho que vocês não irão aguentar o mau cheiro.
         As dores que Camila sente se refletiam em Lídia.
         – Deus, fortaleça a mim e minha futura mãe para que
não nos separemos!
         As dores ultrapassam os seus sentidos... Camila, com a
sua mão direita estendida, só ouvia sussurros.
         – Meu Deus, pobre mulher! Não devemos colocar a mão,
pois a situação dela só vai piorar. O socorro está para chegar.
         O vento que vinha do sul trazia consigo um clima frio,
pois já era inverno. Camila ali, no canto da rua, procurava se
proteger. Lídia, confusa e em meio àquela triste cena, já não
pensava e nem queria mais regressar a este mundo expiatório.
         – O que será de mim? Como me defenderei de tantas
aflições neste pequeno corpo físico?
         O que Lidia sentia era simplesmente o reflexo das desi-
gualdades que há entre os homens. Contudo, existem grupos
imensos de espíritos benevolentes, tanto encarnados quanto
desencarnados.
         – Deus, ajude-me! Estou me asfixiando! Ah! Nesse
momento, um grito imenso se ouviu nas Espiritualidade, e um
grupo de benfeitores ali presentes ajoelhou-se diante daquela cena
e bendizendo a Deus por sua bondade suprema.
         – Meu Deus, meu bebê está nascendo! Pensando bem,
eu não posso ter esta criança nesta total miséria. – Esse
pensamento de Camila era transmitido pelos espíritos de baixa
frequência para que houvesse o aborto. – Mas eu já aprendi a
amar esta criança, afinal, ela faz parte do verdadeiro amor entre

                                                             279
mim e Josué. – Já estes pensamentos, seriam exatamente os guias,
protetores ou espíritos de luz que transmitiam a Camila, para
que ela não desistisse.
         – O que eu faço agora? Aqui sozinha, na rua. Alguém
me ajude!
         As dores queriam tomar os seus sentidos e a vertigem já
lhe tomava, deixando seus olhos ofuscados. A sua mão, porém,
continuava estendida em busca de ajuda.
         – Pelo indicado e o tumulto de pessoas, deve ser ali
mesmo que a mulher está. – Diz o delegado. Anita e Oscar se
assustam quando reconhecem no semblante daquela mendiga o
rosto de Camila. Oscar é o primeiro a correr a dizer.
         – Anita! Será que...
         – Sem sombra de dúvida. Aquele é o vestido que lhe
dei, nós a encontramos! Veja Oscar, Camila está com a mão
estendida, pedindo ajuda.
         Não tardou para que o carro parasse diante de Camila e
Anita e Oscar fossem correndo ao seu encontro.
         – Minha menina! – Diz Anita. – Por que você está assim?
Eu vou lhe amparar... Não tenha medo, pois somos a sua família.
         – Que situação! Por que isso, Camila?
         Ao sentir os braços singelos de sua amiga, Camila, muita
fraca, sussurra algumas palavras, e todas as pessoas que ali estavam
se apiedaram de suas lágrimas.
         Estou sendo mamãe! Isto é lindo, é uma benção! Eu
não consigo vê-la direito à minha frente, mas sei que é você
Anita, e o que lhe peço é que você divida o seu amor comigo,
não deixando que o meu bebê caia em mãos alheias às suas. Não
me sinto bem... Diga ao meu bebê que estou muito feliz por
lhe dar a vida, mas sinto que não suportarei, sinto que não posso
continuar.
         Um choro forte se ouve entre tantas vozes caladas e surge
uma linda criança, uma menina que acabara de nascer. Anita

280
trajava apenas um fino vestido em tom verde, e trazia em seu
ombro uma blusa de tecido leve, mas ao ver a nudez da criança,
de imediato tirou-a de seus ombros para envolvê-la. Camila
cuidadosamente é apanhada do chão e levada à ambulância para
que pudessem socorrê-la.

                                                  No hospital
          Camila está desfalecida, o corpo gelado e inerte em meio
às roupas maltrapilhas... Só um respirar frágil em um peito magro
e quase sem vida. A criança estava fora de perigo e havia sido
levada ao berçário para os devidos cuidados. Anita a chorar,
entregando a criança a uma atendente que vinha de encontro a
ela, pousa as suas mãos sobre sua amiga e a lamentar diz:
          – Camila, como isso pôde acontecer? Por que você não
confiou em mim e em Oscar?
Mas Deus, o nosso Pai, nos é bondoso e deixou que nós a
encontrássemos, permitindo que os bons espíritos viessem em
nosso auxílio. Obrigada, Senhor, por nos permitir encontrá-la.
De repente saem dos lábios de Camila, com dificuldades,
algumas segredadas palavras:
          – Anita, e o meu bebê?
          – O seu bebê é uma linda menina. Confie em nós, a sua
filha é linda!
          – Eu não deveria ter feito o que fiz com vocês, perdoem-
me! Minha filha irá se chamar Thalita.
          – Oscar, a Camila quer que a criança se chame Thalita.
          Nesse momento, Camila desmaia e prontamente
enfermeiros e médicos levam-na para uma grande sala para os
cuidados necessários e especiais, enquanto Anita e Oscar,
penalizados, permanecem na sala de espera.
          Alguns minutos depois, a criança é colocada no berçário
para que Oscar e Anita pudessem vê-la.

                                                             281
– Talvez seja pelo cansaço ou sono que estou sentindo,
mas esta criança me faz lembrar de alguém. – Diz Anita a Oscar.
         – E quem é que ela lhe faz lembrar?
         – Eu não sei, mas me parece uma pessoa muito especial.
Realmente eu não sei dizer, mas me é familiar. Bem, deixe para
lá.
         – Estou admirado Anita, mesmo estando Camila nessa
situação, a criança está perfeita e tem um bom peso. E o mais
importante são os fatos; Como pode? Fomos à delegacia no
momento exato! E encontramos a pessoa a quem tanto
procurávamos. Não cai uma folha de uma arvore sem a permissão
de Deus. Com certeza, aí tem as mãos de nossos amigos do
Plano Espiritual.
         – É Oscar, essas são coisas que a gente nem imagina que
venham a nos acontecer. Como dizem os bons espíritas, nada é
por acaso, tudo, mas tudo mesmo tem uma razão de ser. Há
quantos meses estamos à procura de Camila e só agora, justo
neste momento, é que conseguimos encontrá-la. Ela tinha que
passar pelo que o passou, são seus carmas. Estou feliz, mas ainda
me preocupo com a situação dela, pois está bastante debilitada.
          Oscar e Anita passaram algumas horas de vigília no
hospital. Quando perguntavam aos médicos e enfermeiros sobre
a situação de Camila, eles diziam que ainda não podiam dizer
com certeza a respeito do diagnóstico da moça, mas que a situação
era bastante delicada, devido a uma anemia e uma forte
pneumonia que lhe acometera.
         – Doutor, já se passaram algumas horas e o senhor não
nos diz nada a respeito de Camila. – Diz Anita, aflita.
         – Tudo leva a crer que o caso dessa moça tem a ver com
hipertensão. Vamos trabalhar e buscar acreditar em prodígios,
pois a vida dela está por um fio, Por enquanto, é só o que tenho
a dizer a vocês.
         Anita e Oscar sentem-se inertes, como se nada pudessem

282
fazer e com sentimento de culpa e de perda. Ali, sozinhos, se
abraçam prometendo que não desistiriam de lutar por Camila e
pelo bebê, por menor que fossem as esperanças.
         – Estou pensando em algo. – Diz Oscar.
         – Será que é a mesma coisa em que estou pensando?
         Os dois falam juntos: – Vamos tirar Camila daqui!
         – Vamos levá-la para o hospital que nos é familiar, onde
trabalha Dr. Osvaldo. Lá ela estará em boas mãos. – Reitera
Oscar.
         Após transferi-la, já no hospital e após uma bateria de
exames, Dr. Osvaldo diz que Camila não tem nada no coração,
que Oscar e Anita podiam ficar sossegados. Quanto ao resto, ela
não estava nada bem, mas que estava sob controle.
         – Ainda bem que ela é forte; daqui a quatro ou cinco
dias, se o quadro dela não se agravar, ela terá de alta e o resto do
tratamento poderá ser feito em casa. Mas seria muito bom se
vocês a levassem àquele centro espírita em que me levaram. Anita.
         – E o Senhor Gostou de lá, doutor? – Pergunta Anita.
         – Gostei tanto que estou aguardando novo convite.
Confesso que não conhecia tal filosofia.
         Já era tarde, nove horas da noite. Na sala de espera do
hospital, Oscar e Anita recebem seus amigos, João Eduardo e
Izabel, que foram para apascentar os seus corações..
         – Por que vocês não nos contaram nada, Oscar?
Poderíamos estar aqui há mais tempo! E Francisco, onde está? –
Pergunta Izabel.
         – Está com a babá, inclusive ela tem de ir embora... Vou
chamá-la, um instante.
         – Vamos fazer uma troca? Vá descansar com Anita que
eu e João Eduardo ficaremos aqui fazendo vigília.
         – Mas aí estaremos abusando... – Responde Anita.
         – Por favor, não termine essa frase porque dói! Você já
esqueceu que hoje nós somos uma família?

                                                               283
– Minha querida, me dê um abraço! Estou deveras
preocupada com a situação de Camila. Como é bom ter você...
Então está bem, nós iremos.
        – Vocês e meus filhos, além de João Eduardo, foram as
melhores coisas que Deus me deu nesta vida.
        – Fiquem o tempo necessário e tenham um bom
descanso. – Recomenda João Eduardo.
        No outro dia pela manhã, chegam ao hospital Anita,
Oscar e o pequeno Francisco, para trocarem de turno com Izabel
e João Eduardo.
        – Bom dia, meus encantos. – Dizem Anita e Oscar aos
bons amigos.
        – Bom dia minha menina! E o nosso bebê, como está?
Venha no colo de sua madrinha, que está cheia de amor pra lhe
dar. Anita, você deixa Francisco ir para sua segunda casa com a
madrinha?
        – Não só deixo como peço: “Por favor!”
        Todos sorriem esquecendo-se, por um instante, de
Camila e do bebê, a pequena Thalita.
        – Alguma notícia de Camila? Anita pergunta, apreensiva,
a João Eduardo.
        – Seu estado de saúde é regular, mas ainda não pode
amamentar. Agora pela manhã uma enfermeira nos disse que
seria ótimo uma mamãe que pudesse amamentar a pequena
Thalita.
        Todos, no mesmo instante, olham para Anita, que
levando as suas mãos aos seios se emociona ao responder bem
baixinho, o que todos já sabiam.
        – Eu posso, eu posso! Ela terá também uma gotinha de
meu sangue!
        Todos, silenciosos, a aplaudiram. O que Anita ainda não
sabia era do elo espiritual que havia entre ela e aquela criança,
mas que bastariam os seus gestos, fecundos de amor.

284
– Mas que nome terá essa criança? – Pergunta Izabel.
        – Meu Deus, Oscar, nós não contamos para a Izabel.
Com toda essa turbulência, não paramos ainda para lhes contar
como foi e o que aconteceu.
        Izabel e João Eduardo ficaram surpresos com o que
acontecera. Mas estavam tranquilos, apesar da situação de Camila.
        Após três dias em observação, a criança segue para o seu
novo lar nos braços de Anita,
mas Camila teve que permanecer no hospital. As visitas à
Camila eram constantes, mas em nada ainda havia progredido
o seu estado de saúde.

                                O bebê no centro espírita
         Irmão X, por meio do médium Irmão Lázaro, pede a
João Eduardo e Izabel que transmitam seu recado a Anita e Oscar.
Ele pede aos dois que fossem visitá-lo, pois gostaria de conhecer
Thalita.
         – Anita, a sua vida e a de Oscar estão sendo transformadas
num romance maravilhoso.
A história espiritual que há entre todos vocês dois é magnífica,
porém, você, Camila e Lídia pertencem à classe de espíritos que
vêm, já há algum tempo, vencendo limites para alcançarem um
ponto admirável, doado por Deus. Anita, minha irmã. Procures
que acharás uma resposta para as suas perguntas. Tudo está em paz
com Lídia, pois agora está tudo consumado. Camila ficará bem,
confie, pois não cai uma folha de laranjeira ou de uma árvore
qualquer, sem que haja a permissão do Pai que está no Céu.
         Nas visitas de rotina que Anita fazia ao hospital para estar
com Camila, num dia pela manhã, ao banhar Thalita, ela se assus-
ta ao ver que no ombro da pequena criança surgira uma mancha
estranha. Preocupada, aproveita e leva o bebê ao médico para que
qualquer, sem que haja a permissão do Pai que está no Céu.

                                                                285
Nas visitas de rotina que Anita fazia ao hospital para estar
com Camila, num dia pela manhã, ao banhar Thalita, ela se assus-
ta ao ver que no ombro da pequena criança surgira uma mancha
estranha. Preocupada, aproveita e leva o bebê ao médico para que
a mancha fosse diagnosticada.
         – Nós faremos os exames necessários, porém a senhora
não se preocupe que isso pode ser de origem hereditária.
         – Mas doutro, eu nunca ouvi falar sobre isso.
         – Existem esses casos, senhora. Poucas pessoas sabem,
mas existem.
         Mesmo com o médico lhe acalmando, Anita retorna
para casa preocupada. Ela não se conformava por aquela man-
cha ter surgido no corpinho do bebê de uma hora para outra.
         – Não se preocupe meu amor, Thalita está bem. – Diz
Oscar, tentando tranquilizá-la.
         Logo mais à tarde, Izabel vai até a casa de Anita para
uma visita informal e a encontra preocupada.
         – Anita, essa mancha me faz lembrar uma folha cítrica,
de laranja ou de limão. É! É uma folha cítrica!
         Como se de repente tivesse se espantado, Anita exclama:
          – Bem que falei para Oscar que este bebê não me era
estranho! Mas Será?
         – Será o que Anita?...
         – Izabel, os sinais de reencarnação estão a olhos vistos,
mas por pura ignorância nós não os percebemos.
         – Explique-me melhor, porque não estou compreen-
dendo o que você está tentando me dizer. Estou curiosa.
         – Izabel, Lídia tinha em suas costas uma mancha, e ela
me dizia que era como a folha de uma laranja. Inclusive eu vi e
me certifiquei, por conhecer bem a folha de uma laranja. O
medico me disse que esta mancha poderia ser hereditária, e o
Irmão X havia me alertado que não cai uma folha de laranja ou
de outra arvore sem a permissão de Deus. É uma questão de

286
analisar com cuidado tudo o que foi dito pelo medico e pelo
Irmão X. Vamos ver... Será mesmo?
         Anita reconhece que o bebê talvez pudesse até mesmo
ser a reencarnação de Lídia, por que em seu corpinho havia uma
mancha igual a que ela possuía e seria muita coincidência, mas o
espírita verdadeiramente esclarecido não acredita em coincidên-
cia, mas sim, que nada é por acaso, e também acredita na lei de
causa e efeito.
         – Da forma com que Irmão X se expressou, Camila,
Lídia e eu temos um elo na Espiritualidade.
         Se for assim, estamos todos juntos minha querida, e
isso é magnífico! – exclama feliz Izabel.

                      Camila é atingida por bactérias
         Dois meses se passaram e Camila ainda estava internada
sob cuidados médicos. Seu estado era vegetativo e estava em
coma induzido. Não se movia; sua respiração vagarosa era auxi-
liada através de aparelhos e medicamentos. Por algumas vezes,
os médicos que acompanhavam o estado da paciente acredita-
vam que ela não mais retornaria ao seu estado normal e que
definharia até a morte. Mas em seus atos interrogativos eles per-
sistiam, chefiados por Dr. Osvaldo, acreditando que havia algo
além de suas capacidades profissionais. Camila tornou-se uma
paciente muito amada por todos por saberem de todos os pro-
blemas pelos quais já havia passado. O parto em plena rua, a
falta de um teto durante a gestação, fazendo com que Camila
dormisse ao relento e a falta de higiene também fizeram com
que seu corpo fosse invadido por bactérias nocivas à sua saúde,
além dos problemas psíquicos e espirituais, pois espíritos sádi-
cos se deliciavam com a degradação de Camila, desnorteando
seu cérebro e fazendo com que ela não pudesse lutar pela vida.
Mas se essa infiltração no corpo físico e psíquico se manifestava

                                                             287
tão claramente nela, não haveria também grandes possibilidades
de estar envolta por uma baixa esfera da espiritualidade? Anita
frequentemente dizia que desejava imensamente que Camila
acordasse para conhecer o seu bebê. Qual mãe não morreria fe-
liz? Nos braços de Anita, a criança é tratada carinhosamente, da
mesma forma como Francisco. Seus seios de mãe alimentavam
os filhos que Deus lhe predestinara.

                                        A súplica de Josué
         As preces eram constantes. Uma corrente de orações era
feita frequentemente entre os irmãos da casa espírita. A maioria
dos membros se encontrava todas as quartas-feiras para eleva-
rem os seus pensamentos a Deus pedindo, por misericórdia, pela
saúde de Camila. Bem sabiam que não havia progresso em sua
saúde, porém, fervorosos, enchiam seus corações de esperança.
E foi o que aconteceu. Irmão Lázaro inicia a sessão.
         – A paz do Divino Mestre Jesus esteja entre nós neste
início de orações. Vemos que há aqui hoje um irmão, que pro-
vavelmente está em busca de auxilio, pois se encontra perdido.
É o que ele tenta demonstrar através de uma pequena sensibili-
dade energética e telepática. Nele há certa urgência em nos
contatar. Devemos fluidificar com as nossas preces este ambien-
te, para que os bons mentores nos ajudem e possam trazê-lo até
nós.
         Pedimos aos nossos mentores, ao Irmão X, à Mãe
Benedita e também ao nosso Pai que está no Céu, a proteção e a
luz dos Espíritos que comandam nossos trabalhos, para que tra-
gam este espírito que suplica por nossa ajuda.
         Ao abrir a reunião com a Prece de Cáritas e em seguida
um Pai Nosso, a oração ensinada por Jesus e uma ave Maria, em
lembrança à mãe de Jesus, logo em seguida Irmã Angélica, uma
das médiuns da casa espírita, é tomada em transe por um espíri-

288
to que começa a gritar por socorro.
         – Socorro! Ajudem-me, por favor, ajudem-me! Estão
querendo me pegar, estou em lugar horrível.
         – Mas quem és tu irmão? – Indaga Irmão X.
         – Eu levei vários tiros... Sinto que estou debaixo do chão,
mas ao mesmo tempo sinto que estou sendo perseguido pela
polícia e por um punhado de sombras escuras que estão queren-
do me arrastar. Um pouco mais distante de mim, uma luz mui-
to pequena me chama para ir com eles, mas eu tenho medo. Foi
esta luz que me conduziu para cá. Porque me trouxeram? Eu
não devo nada, estou muito confuso, na verdade não sei o que
se passa comigo. Eu não sou bandido, só fiz alguns pequenos
assaltos. Já usei droga, mas não sou viciado e nem traficante.
         – Mas tu podes nos dizer quem és?
O espírito se cala, voltando a dizer novamente: – Eu? É... Eu?
Eu sou...
         – Esta é uma casa que socorre espíritos aflitos e perdidos
que não sabem para onde ir, meu irmão. Você precisa saber que
seu corpo físico está morto, ou melhor, o seu corpo está debai-
xo da terra e você está aqui conosco em espírito. Nos diga o seu
nome, por favor, e então saberemos como lhe ajudar.
         – Meu corpo? Mas não é possível! Como posso estar
falando com vocês se já estou morto?
         – Quem morreu foi seu corpo físico, mas o espírito
prevalece. Olhe através do seu pensamento que poderás ver seu
corpo se desfazendo debaixo da terra, mas seu espírito não mor-
reu, ele prevaleceu após a morte física. Você atravessou a nossa
porta, que estamos abrindo com amor, meu irmãozinho, desde
que iniciamos os nossos trabalhos. Aproveite as boas orações
para lhe ajudar a se alimentar com energias, saciar sua fome e
acalentar suas dores; jogar os seus maus critérios para longe e
assim estar ao lado do bem. A escolha é sua, porque tens a liber-
dade de fazer o que achar melhor para o seu espírito. Mas lem-

                                                               289
bre-se, o espírito é eterno.
         – Como é essa coisa do bem e do mal? Eu não entendo!
         – O bem é onde estão os espíritos de luz, onde residem
os seus familiares, aqueles que foram corretos ou os que se arre-
penderam de praticar o mal. E o Mal é onde residem os seus
perseguidores, os falsos amigos, aqueles que um dia lhe conven-
ceram a usar drogas e a pegar aquilo que não lhe pertencia e
outros malefícios É lá que moram os espíritos revoltados, vin-
gativos e invejosos, que não podem sair daquele lugar enquanto
não reconhecerem seus erros, e eles querem você com eles.
         – Eu vou dizer o meu nome, mas vou pedir, por favor,
que encontrem a minha namorada. Antes de eu levar os tiros ela
apanhou muito dos policiais e eu não sei se ela está deste lado ou
do lado de lá, se ela está morta ou viva. Eu sinto ela me chamar,
mas não consigo enxergá-la. Sinto que ela quer me dizer algo
mas não consegue se desprender do seu corpo, pois eu a chamo
para vir comigo e ela repete que quer vir, mas não consegue se
desligar totalmente do corpo, porque nossa filha está desse lado.
Ela também está confusa, sem saber se deve vir para ficar comi-
go ou se permanece aí para cuidar de nossa criança.
         De repente, aquele espírito, em transe no corpo de irmã
Angélica, se põe desesperadamente a chorar e a clamar pelo filho
que estava na barriga de Camila e agora não está mais.
         – Eu não conheci a minha filha ou meu filho na vida
material, em que estive até bem pouco tempo. Eu sou o Josué,
e minha namorada chama-se Camila. Ela estava grávida.
         Os olhos de Irmã Angélica são direcionados a Anita,
que trazia no colo a pequena Thalita. Isso logo a fez perceber
que aquele espírito tinha tudo a ver com Thalita e Camila.
         – Meu Deus, não é possível! Izabel, por tudo o que está
se passando, será que Camila morreu? Enquanto estávamos aqui,
há poucos instantes, será que desencarnou?
         – Louvado seja Deus! Tenhamos paciência, Anita.

290
– Não é possível! Antes de virmos pra cá eu telefonei
para o hospital e me disseram que ela estava ainda em coma, mas
havia chance. A criança que ele fala, meu Deus, é a filha de Camila
mesmo, Izabel.
         – Mesmo que seja, não vamos nos desesperar, porque não
será nada bom perdermos as nossas energias e a nossa fé. Tenha-
mos calma, Anita, por favor, não vamos nos desesperar. Vamos
rezar.
         Nesse momento, Irmão X se dirige a Anita.
         – Irmã Anita, acalme-se. Fique tranqüila, pois Camila
ainda se encontra neste plano. Por ela estar em coma, seu espíri-
to consegue se desprender com muito mais facilidade, então, a
comunicação com Josué fica quase que perfeita, pois ela conse-
gue se desprender mais facilmente do corpo, mais do que em
um sonho, e se comunicar com o Plano Espiritual de acordo
com o seu psíquico, ou seja, com o que ela mais deseja, que seria
estar ao lado do seu amado. O que temos aqui em nosso meio é
um espírito errante, mas de um bom coração. Veja que em ne-
nhum momento ele falou de vingança ou reclamou de seus
algozes, os que lhe tiraram sua vida terrena. Alguns deles, junta-
mente com sua legião, tentam nos ludibriar, para arrancar de
nosso meio as almas que nos procuram em busca de socorro.
         Entre gargalhadas, um desses espíritos se comunica atra-
vés de outro médium.
         – Vocês querem saber quem eu sou? Eu sou o vampiro
da Calunga, sou relento, sou errante, sou da madrugada, sou
quiumba, sou da pesada. E quem pode mais que eu e minha
falange? Nós estamos aqui para levá-los e ninguém irá nos inter-
romper.
         Irmão Renato tenta convencer os espíritos a se retirarem
daquela casa de caridade.
         – Os irmãos de aura negativa estão impossibilitados de
entrar neste local devido à nossa aura de proteção. Vós, irmão,

                                                               291
será acorrentado e levado fora daqui. Vós ireis para o seu campo
de existência no Umbral. Lá obterá conhecimento de vossa ig-
norância. Que sejas guiado pelos bons guardiões e mentores desta
casa, os nossos queridos Exus de Lei. Assim seja.
          – Nós não vamos sem ele! Eu e meus companheiros
queremos levá-los, eles nos pertencem e terão de ir conosco.
          Irmão X, mais uma vez intervém.
           – Veja aí à sua frente o seu quadro de existência. Vocês
estão impossibilitados de impor qualquer condição, porque es-
tão amarrados e dominados pela energia do bem e vão embora
sim, pois assim será melhor para vocês.
          – Eu não quero ver o quadro de existência ou minha
existência na Terra. É horrível ver o meu corpo apodrecendo
debaixo da terra e o do meu companheiro só as cinzas, por que
ele foi cremado. Por favor, não faça isso comigo, eu não quero
ver... Já estamos indo embora.
Um grito horrível e alucinante faz com que as pessoas ali se
calem ainda mais, por estarem totalmente envoltas pela indig-
nação em relação àqueles espíritos.
          – Você Está bem irmã Angélica? – Pergunta Irmão X.
          – Sim irmão X, com as graças de Deus e dos nossos
mentores.
          – Que Deus lhe abençoe por sua caridade. Hoje você
prestou um grande serviço para a Espiritualidade.
          – Amém. Coloco-me à disposição sempre que assim se
fizer necessário.

         Depois de energizado o ambiente com orações, água,
velas e ervas, percebe-se prontamente que ainda havia uma ener-
gia branda, porém urgente, e os lábios de irmão Pedro proferem
algumas palavras.
         – Eu não sei ainda quem eu sou e nem o que estou
fazendo aqui neste lugar. Vejo as coisas embaçadas, nada sei.

292
Mesmo sem saber de quase nada aqui, eu estou me sentindo um
pouco melhor, – Conta Josué, por meio do irmão médium.
Prontamente, Irmão X inicia com ele um novo diálogo.
         – Mas podemos saber a causa que lhe trouxe aqui? Ou
pelo menos o vosso nome irmão?
         – Meu nome é Josué, e o que me lembro é que um dia
fiz grandes males com algumas pessoas. Só que por não saber
medir as maldades fiz coisas estranhas pela minha sobrevivência
e pela ansiedade de cuidar da minha namorada e do meu futuro
filho, que estava na barriga de Camila. De todas elas, sei que
algumas talvez não consegui corrigir, porém, neste momento há
uma única coisa que me fez vir até vocês para que me ajudem.
         – Mas quem foi que lhe enviou aqui e o que vos, irmão,
quer de nós?
         – Quem me trouxe até aqui foi um homem que alguns
conhecem por guardião ou Exu, sei disso porque a condição foi
ele me dizer quem era para depois eu topar vir com ele até aqui
neste lugar. Acho que na verdade ele é um caçador de almas.
Vocês não vão me ferrar, vão? – Josué, chorando, continua. –
Pelo amor de Deus, eu não sei se é um pesadelo, se morri de
verdade, ou se virei espírito, alma ou o que quer que seja, mas,
por favor, salvem Camila. Ela está sofrendo muito por minha
causa e isso não é justo, Camila não pode morrer. Eu falei para
ela vir comigo, mas a perdi de vista. Sei que vocês podem ajudá-
la, pois o guardião da noite me disse. Eu queria levá-la comigo,
mas ele me falou que isso não seria possível, pois ela tem seu
destino a seguir, que é cuidar e dar amor para nossa pequena
filha.
         Irmão Renato, que também era um excelente
doutrinador, recomenda:
         – Peço-lhe que feche os seus olhos e só os abra quando
eu mandar. Peço também a todos aqui presentes que elevem,
neste momento, seus pensamentos a Deus, para que a vida espi-

                                                            293
ritual deste irmão lhe possa ser esclarecida.
         As preces flutuavam nos lábios das pessoas como uma
nuvem. Alguns videntes se maravilharam ao ver que Josué se
suavizava e se deslumbrava com a leveza de seu corpo espiritual.
Ficou-se sabendo, após a sessão, que Josué fora enviado a um
lugar magnífico, e aquelas preces agiram como um transporte
que conduzia aquele espírito e se transformavam em alimento
para ele saciar-se, assim como o milagre das sementes que se
espalham pela terra, se transformam em grãos e frutos, se mul-
tiplicam, alimentam e nutrem o corpo humano.
         Josué também ficou sabendo que Camila e sua filha es-
tavam bem, e seriam esclarecidos todos os seus atos. Com o
aprendizado que passaria a ter, chegaria à conclusão por si mes-
mo do que é certo ou errado, e como ele caminharia dali em
diante em sua vida espiritual. Quanto à Camila, dali para frente
os cuidados a ela seriam presenciais, pois o principal já havia
sido feito. A partir daquele momento, estava livre das energias
negativas e do apego carnal a Josué que queria levá-la naquele
momento de total desespero.

          O regresso de Camila do estado de coma
         Constantes foram as visitas e orações feitas para Camila,
mas nada havia em seu progresso material: vida vegetativa. A
moça, com a face pálida mas sem a delicadeza e os traços natu-
rais, deixava-a serena. Pela fisionomia, poderia se dizer que so-
mente mães e anjos poderiam transparecer esse semblante.
         – Eu não sei Oscar, mas tenho uma impressão
estranha dentro de mim.
         – Que impressão é essa, meu amor?
         – Thalita hoje amanheceu com febre. Não quer mamar,
enfim, parece-me estar aborrecida.
         – Não se preocupe, eu vou ao hospital com você. Não

294
haverá de ser nada grave com ela.
        – Oscar, o telefone. Atenda por favor, veja quem é.
        – É Izabel que quer falar-lhe.
        – Não sei não, Anita, estou ligando porque estou pres-
sentindo que você precisa de mim, ou melhor, pode ser que seja
eu que esteja com saudades das crianças, porque já faz três dias
que não as vejo. O que você acha que é?

         – Eu não posso nem imaginar, mas o que posso lhe di-
zer é que se eu tivesse um helicóptero à minha disposição, você
já estaria aqui conosco. Venham para almoçar. Depois, se quiser,
podemos ir ao hospital. Após a visita que faremos a Camila
poderemos esticar o nosso caminho até uma sorveteria, e logo
mais à noite você chama João e eu chamo Oscar para uma pizza
bem deliciosa. Depois, voltaremos exaustos e felizes para casa.
O que você acha?
         – Eu não acho nada bom... Eu acho esplendido! Já, já
estarei aí.
         Logo que Izabel chegou à casa de Anita, as duas tomam
um delicioso café da manhã e seguiram ao hospital para visitar
Camila, que ainda estava em coma. Aproveitam também para
passar pelo pediatra, que tranquilizou totalmente Anita em rela-
ção à pequena Thalita. Assim que Anita foi até a outra ala do
hospital, onde estava Camila, o médico de plantão recebe as
ambas com um largo sorriso dizendo:
         – As senhoras vieram visitar a paciente Camila, não é
mesmo?
         – Sim, – responde Anita.
         – E como ela está? – Pergunta Izabel.
         – Vocês não vão acreditar, mas aconteceu algo fantásti-
co, parece até um milagre. Ela saiu do coma e está totalmente
fora de perigo.
         As duas agradecem ao médico pela boa notícia e então

                                                            295
ligam para Oscar e João Eduardo para lhes contar as boas novas.
        Oscar diz aos três:
        – Amanhã haverá uma reunião de trabalho no centro,
sob o comando de Mãe Benedita e Irmão X. Que tal se nós
formos até lá para agradecer a ajuda que tivemos com as orações
e aquela desobsessão, em que Josué foi o protagonista em prol
de Camila?
        No dia seguinte, por volta das 20 horas, lá foram os
dois casais, juntamente com o pequeno Francisco e a pequena
Thalita. Assim que chegaram, logo a seguir foi aberta a sessão
com orações e cânticos de louvores a Deus e aos Guias, Proteto-
res e Entidades auxiliares. Os dois casais, por já terem um relaci-
onamento familiar com aquela casa espírita, pediram que, se
fosse possível, eles gostariam de falar com Irmão X e Mãe
Benedita. Os quatro ao mesmo tempo, pois a finalidade seria
fazer um agradecimento e tomar um passe. O atendente lhes
responde que não seria possível falar com Irmão X porque ele
estava em outra frequência, com uma missão diferente, portan-
to, quem estava atendendo em seu lugar era irmão Y e Mãe
Benedita, mas que o atendimento seria igual porque os dois
eram companheiros de muitas etapas juntos com Irmão X. As-
sim sendo, iriam ter com eles.
        Junto às Entidades, eles dizem:
        – Vimos aqui hoje para tomarmos um passe e agradecer
pela recuperação de nossa amiga Camila, pois graças às vibrações
das Entidades desta casa, ela saiu do estado de coma em que se
encontrava. Foi realmente um milagre.
        Irmão Y é o primeiro a se manifestar.
        – Meus queridos irmãos. É bem verdade que foi a per-
missão do nosso querido Pai, Deus Todo Poderoso, e de nosso
querido Jesus, que os bons mentores fizeram um excelente traba-
lho para livrar nossa irmã daquelas vibrações que a envolviam,
auxiliando os médicos a ministrar os remédios corretos e assim

296
acabar com a tal infecção, que ameaçava tomar conta de todo o
corpo de Camila. Por isso, agradeço aos médicos daquele hospi-
tal. A dedicação e o carinho que tiveram com aquela nossa irmã
foi fundamental para sua recuperação. Para que vocês entendam,
a infecção dela estava atingindo seu corpo físico e a obsessão esta-
va atingindo diretamente todo o seu perispírito, por isso o estado
de coma. Quando aqueles espíritos de baixa frequência se afasta-
ram e ela em espírito entendeu que deveria voltar à vida terrena e
deixar Josué seguir seu destino, os Espíritos de luz lhe aplicaram
vários passes magnéticos e seu psiquismo voltou ao estado nor-
mal, então ela pode sair do coma. Mas repito: os médicos foram
fundamentais neste caso.
         Izabel toma a palavra para agradecer ao Irmão Y.
         – Irmão, estamos muito felizes por conhecer mais um Es-
pírito de luz e tão educado. Que nosso Deus lhe dê muito mais luz
para trabalhar em prol da solidariedade e em favor de quem real-
mente necessita de ajuda.
         Após os passes, todos aguardaram o término dos trabalhos e,
com ansiedade, aguardaram também a alta de Camila do hospital.

                                          Auto-hemoterapia
        Após aquele episódio e com Camila já em casa de Anita,
aos prantos ela sentiu-se na obrigação de pedir a Oscar que tra-
tasse dos documentos de adoção, pois ela teria que ir embora.
Anita sugere a Oscar oferecer um emprego à Camila na siderúr-
gica.
        De imediato, Oscar chama Camila seguindo a sugestão
de Anita, aproveitando também a oportunidade para lhe infor-
mar sobre as consequências de um aborto, tanto espiritual como
também na parte física, pois o aborto danifica todos os órgãos
genitais com consequências graves, como por exemplo, infla-
mação no útero, mioma e sucessivamente o câncer e outros males

                                                               297
de ordem psíquica, como o peso da consciência em relação ao
delito. No tocante ao feto, imagine a dor que ele sente por estar
sendo arrancado aos pedaços do útero ou sendo dissolvido com
produtos químicos. Em relação ao espírito, surgem sequelas ter-
ríveis de ordem psíquica, pois ele precisa cumprir seu tempo de
expiação mas está sendo interrompido pelo aborto (um assassi-
nato). Ele precisa resgatar as dívidas de seu passado e ajudar tam-
bém a mãe a corrigir as suas dívidas ou expiações.
         – Vocês são de que religião? – Pergunta Camila
         – Somos espíritas, graças a Deus.
         – Eu posso ir até lá, à casa que vocês frequentam? É só
por curiosidade!
         – Com o maior prazer, responde Anita.
         Com isso, Camila visitou aquela boa casa de orações e
passou a frequentá-la semanalmente, tornando-se uma pessoa
mais equilibrada e aceitando o emprego na siderúrgica. Com o
passar do tempo, Anita sugeriu a Oscar comprar o pequeno apar-
tamento em que Camila morava, não como pagamento pela
adoção, mas como gratidão. Anita passou a amar aquela doce e
meiga menina como sua própria filha. E Colocou o nome de
Thalita, porque Thalita é como Fênix, que ressurgiu das cinzas,
e com sua sensibilidade conseguiu enxergar o lado bom de
Camila. Educou a menina procurando fazer com que Camila
estivesse sempre presente, fazendo parte ativa do desenvolvimento
da pequena, sempre lembrando à criança que ela tinha duas
“mamães”.
         O casal, Anita e Oscar, conseguiu enxergar com a ajuda
das Entidades do pequeno centro espírita, os problemas que atin-
giam Camila, que eram as consequências e sequelas de uma in-
fância mal vivida com os pais problemáticos. A mãe e o pai de
Camila tinham um passado muito ruim. Eles morreram por
consequência de bebidas alcoólicas, orgias e muita infidelidade
de ambas as partes, alem de outras drogas que usavam, deixando

298
a menina Camila à deriva em sua infância e adolescência. Camila
tinha aquelas atitudes por revolta ou trauma e, inconsciente-
mente, era uma maneira que tinha para vingar-se dos seus pais.
         Oscar, Anita e Mãe Benedita, muito trabalharam para
ajudar Camila a entender que tudo aquilo era um resgate de sua
vida passada. Camila se apaixonou por Luiz, um colega de tra-
balho educado e com um bom desempenho em tudo o que
fazia e, após entender que seus pais também foram vítimas de
espíritos vingativos, tudo fora perdoado por ela com resigna-
ção. Camila passou a orar por seus pais, sendo que a recíproca de
seus bons pensamentos era visível em sua vida, pois seus pais
puderam ter uma caminhada mais feliz na Espiritualidade en-
quanto aguardavam, com um bom aprendizado, por suas reen-
carnações em outra etapa a caminho da evolução. Com isso, ela
se tornou exemplar, honesta e tranquila, e teve a oportunidade
de ser se casar com Luiz.

        João Eduardo em visita ao Centro Espírita
         João, em consulta no centro espírita, tentadoramente
faz um pedido ao Irmão X.
         – Gostaria de ver você, irmão X. Seria para mim uma
grande prova de sua verdadeira existência, algo maravilhoso e
mais concreto para mim.
         – Não é necessária essa prova, meu irmão.
         – Mas eu tenho esse grande desejo, e posso lhe afirmar
que é por amor a esta bela religião, ou melhor, esta filosofia.
         – O que você tanto quer e está me pedindo é totalmen-
te fora de propósito, é desnecessário, meu irmão. A maior prova
é a existência de Deus. De que forma? Pense nas aves roçando o
céu, nos oceanos com suas criaturas, na multiplicação dos ali-
mentos, nos astros e planetas. Tudo em plena harmonia! Por-
tanto, para nós, que somos auxiliares de Deus e dos Espíritos

                                                             299
mais elevados, seria pura vaidade, e vaidade nós procuramos eli-
minar do nosso vocabulário.
        João continua insistindo.
        – Eu necessito disso... Já ouvi falar em materializações;
você pode materializar-se se quiser, não pode?
        Nós consideramos isso desnecessário e inconsequente.
No seu caso, nós não vemos necessidade. Só utilizamos a
materialização em casos excepcionais.
        – Como vocês não têm permissão? Se há tantos casos
comprovados de materializações!
        – Enfatizo que no seu caso nós não temos permissão,
porque não vemos essa necessidade.
        – Nem sei se realmente estou curado, nem sei se eu esta-
va mesmo doente.
        – O importante é que você não sente nenhum tipo de
dor. Seus rins, assim como os outros órgãos estão perfeitos. Você
já não está angustiado, não chora com frequência e sua vida está
normal com sua família. Continue contrito a Deus e seus auxi-
liares.
        Mas eu não sei da sua existência, não sei como você é.
Eu posso estar aqui apenas conversando com esta pessoa, a quem
chamamos de Lázaro, e a quem fui apresentado há algum tem-
po no começo destas seções, por isso, o meu psíquico é que
poderia estar doente.
        – Exatamente, você está certo. Era a sua consciência que
arrastava os seus algozes para lhe prejudicar. E quanto a mim,
Irmão X, estar aqui ou não, não faz diferença. Eu não tomei o
corpo do médium, porque o corpo do médium já tem dono,
ou melhor, nele já habita um espírito. Na verdade, estou a uma
certa distância transmitindo a ele, pela técnica da telepatia, o
que se faz necessário falar. Por meio deste médium, que gentil-
mente nos empresta o corpo para você nos ouvir, nós nos apro-
ximamos e transmitimos, de forma telepática, nossos pensamen-

300
tos e orientações, palavras de amor, caridade e solidariedade. É
verdade que eu poderia me materializar e dar uma prova para
você da minha existência, mas repito que é totalmente desneces-
sário e não está no projeto dos nossos superiores.
         – Então continuarei na dúvida... Eu preciso tanto ter
certeza da sua existência e dos demais espíritos! E posso lhe afir-
mar que este pedido é por amor, pois pretendo ser um bom
espírita, e para isso tenho que ter total convicção.
         Se eu lhe desse essa prova, seria injusto, porque não po-
demos fazer o mesmo com todos que nos pedem, e por isso eu
iria regredir na minha caminhada espiritual.
         Está bem, mas no meu íntimo não vou ficar tranquilo.
Sinto-me um pouco perturbado, não tenho certeza deste mun-
do após a vida terrena. Tudo que eu aprendi na faculdade nada
se relaciona com seu mundo, por isso me sinto à deriva.
         – Faça muitas orações e peça ao Pai que está no Céu.
Você verá que não há necessidade deste processo. Fique na paz;
vá com Deus e até outro dia. Agora, preciso ir.

                                            Em outra sessão
        Alguns dias depois, João de volta à casa de Lázaro, o
médium.
        – Meu bom irmão Lázaro, gostaria de falar com a Enti-
dade Irmão X. Preciso muito conversar com ele, por favor.
        – Hoje não será possível, pois ele está se reabilitando da
sessão anterior. Você gostaria de falar com a Entidade Y?
        Na impossibilidade da consulta com a entidade habitu-
al, João é atendido pelo irmão Y
        – O que está se passando meu amigo, o que lhe aflige? –
Pergunta-lhe a entidade Y.
        – Você é um espírito, portanto, deveria estar sabendo
do que estou precisando neste momento.

                                                               301
– A nossa função não é a adivinhação, mas o auxílio aos
que necessitam de orientações ou de uma palavra amiga. Sabe-
mos o que se passa em seu coração ou em seu pensamento, mas
não interferimos no seu dia a dia, porque isto não cabe a nós.
         – Eu não vim em busca de palavras, vim saber onde
estou pisando, pois tenho mais coisas a fazer. Sou uma pessoa
de bem e não posso me expor ao ridículo.
         Ouvindo a imponente resposta, a Entidade Y paciente-
mente pergunta.
         – A propósito, como está você? Ainda sente aquelas dores
horríveis?
         – Não, não sinto mais aquelas dores. Mas diante de tudo,
provavelmente pode ser o efeito dos remédios que tomei anteri-
ormente. Ou talvez o meu estado psicológico, que estava horrí-
vel, ou alguma coisa que se passou pela minha cabeça, sei lá.
         – E a sua casa, como está? As coisas já se acertaram? –
Continua a Entidade.
         – Isso eu não posso negar. Minha família está bem, mi-
nha filha e meu filho estão de volta à escola e minha esposa
renunciou à bebida.
         – E você recuperou seus bens materiais? Hoje é um ho-
mem de bem, não é?
         – É, mas tudo isso porque não tenho mais aquelas dores
horríveis. Minha família ficou mais calma e eu pude trabalhar
com a cabeça melhor.
         – Então volte para casa e pense em Deus que sua vida
continuará boa. Mas cuidado: não mexa com o que você não
conhece.
         – E quando posso falar com a Entidade X?
         – Em breve, logo, logo. Agora, vá com Deus. E Repito
a você: não mexa com o desconhecido, pois você poderá ter
conseqüências sérias.
         Dizendo isso, a entidade vai embora. João fica com seus

302
pensamentos, inconformado por não ter controle sobre a situa-
ção. Resolve então conversar com o médium.
         – Não é possível meu bom irmão, essa Entidade não
entende que eu quero apenas ser generoso com eles, que só que-
ro uma prova, apenas para ter certeza do que me fez ficar bom.
Não sei se foram eles ou aquela psiquiatra, que também fez
algumas sessões, ou até o Doutor Osvaldo, com toda a sua de-
dicação. Quero pagar quem fez este bem para mim, em dinhei-
ro vivo. Agora eu tenho condições financeiras.
         – Meu amigo João, espírito não precisa de dinheiro.
No Plano Espiritual tudo é feito por amor a Deus. Lá não existe
nem uma moeda corrente.
         – E você, irmão Lázaro? Como sobrevive se não cobra
nada de ninguém?
         – Eu tenho a minha aposentadoria. Ganho meu salário e
com ele vivo com dignidade, pois não preciso de muito dinheiro
para viver bem. Fazemos tudo de graça, pois Jesus disse:
“Daí de graça, o que de graça recebestes”.
         – Diante de todas as explicações que tive, ainda não es-
tou contente. Preciso saber e ter certeza da existência dos espíri-
tos, e principalmente do irmão X.
         – Não se preocupe com isso meu amigo, se você irá
pagar ou não os irmãos do Plano Espiritual ou a psiquiatra.
Olhe para dentro de você, consulte seu coração. Se ele achar que
foi a psiquiatra que o curou, tudo bem, a remunere da forma
mais correta ou mais generosa possível. Mas se você achar que
foi Deus, por intermédio do Irmão X e de outros, pague da
seguinte forma: vá aos hospitais, às creches e aos orfanatos, vá
aonde precisam de humanidade, solidariedade e amor e doe uma
palavra amiga. Se chegar à conclusão que foi tanto o psiquiatra
quanto os irmãos do Plano Espiritual remunere-os. Ao psiquia-
tra com dinheiro, e retribua ao Irmão X apenas com fé, caridade e
amor, como lhe falei há pouco, pois a caridade sem a fé é morta.

                                                               303
Percebendo que o médium Lázaro não lhe ajudaria no
que achava ser uma “necessidade”, João retruca.
         – É o seguinte, meu bom médium. Entre a dúvida e a
curiosidade, estou fascinado com esse tipo de misticismo, por
isso eu gostaria de ir mais longe, saber mais da Espiritualidade.
         – Mas nem o próprio Irmão X sabe muito da
Espiritualidade. O aprendizado vem no seu tempo certo, não
devemos queimar etapas. O pouco que sei, aprendi com Irmão
X e Y e o que eles sabem só o tempo e as atitudes, minha, sua e
deles, é que vão fazer com que se elevem ou regridam.
         – Por que isso? – Pergunta João.
         – Porque de alguma forma eles estão ligados a nós, como
familiares de vidas passadas ou porque foram designados para
nos proteger. É mais provável que sejam ente queridos nossos. E
por estarem designados para estas missões, estão conosco sem-
pre que necessitamos deles. Não devemos nos preocupar com
provas, basta termos fé em Deus, amar ao Pai sobre todas as
coisas e respeitá-los, aos Irmãos X e Y e a outros vários. O que
você deseja saber são enigmas que só cabe a Deus, em sua infini-
ta sabedoria.
         – Eu estudei tanto para chegar aonde cheguei, sou uma
pessoa formada pela melhor faculdade deste estado e me sinto
como se nada soubesse.
         – Não se preocupe meu amigo, saiba que um dia, quan-
do se for desta vida, você levará o que sabe e poderá ajudar ao
próximo com sua sapiência. Você só não levará bens materiais,
mas o teu saber levará para a vida espiritual, com certeza. Não
leve a vida muito a sério, porque você não cairá dela vivo! – Diz
Irmão Lázaro, em tom de brincadeira.
         Eu só queria conhecer melhor o Irmão X, mas já que
você não pode fazer isso por mim, não sei como vou fazer, mas
vou conseguir.
         – Não faça nada que tudo ficará bem, mas cuidado com

304
o que você não o conhece. Há muito para aprender entre os dois
mundos que nos envolvem.
         João Eduardo nem imaginava da ligação familiar que
havia entre ele e Irmão X. Se soubesse, provavelmente não pedi-
ria o que pediu, pois saberia das consequências que infalivel-
mente viriam para eles e para qualquer outra pessoa que estives-
se envolvida direta ou indiretamente. Do outro lado, Irmão X
sabia de sua ligação, tanto com João, quanto com Izabel, e ficou
desconcertado diante do pedido de João. Mesmo sendo ele um
Espírito esclarecido e conhecendo sua ligação de vidas passadas,
não tinha como negar o pedido de uma pessoa tão querida, mas
as consequências viriam não por perversidade dos bons Espíri-
tos, mas pela própria natureza ou pela leis imutáveis do Univer-
so, que não podem ter exceções e nem ser violadas, nem uma
vírgula sequer.

                                  O casamento de Camila
         Após o casamento de Camila com Luiz, o casal começa
a fazer projetos. Um deles é ter mais um filho, e desta vez o ideal
seria um menino, fruto do amor de ambos. Camila havia relata-
do tudo de sua vida a Luiz, para que não restasse nenhuma dú-
vida com o seu então amado esposo, por isso ela queria tudo às
claras. Por conseguinte, Luiz também expôs todo seu passado
para Camila, assim, eles começariam uma nova etapa em suas
vidas sem nenhuma surpresa desagradável.
         – Hoje sou um homem de bem e encontrei minha alma
gêmea. Não sei o que seria de minha vida sem você Camila,
pois em você encontrei a mulher ideal. Mas quero que você
saiba que fui um homem que errei muito em minha vida. Tive
varias mulheres, fui um grande cafajeste e explorador de moças
inocentes. Cada mulher que eu tinha, sempre conseguia seduzi-
las para intimidades sexuais e viver às custas delas. Quando elas

                                                               305
engravidavam, eu não assumia. O máximo que eu fazia era
incentivá-las ao maldito aborto, até mesmo por pressão de mi-
nha família, e com um casamento arranjado por eles, eu casei-
me. Minha ex-mulher era muito fértil e com isso eu fui pai de
quatro filhos em um curto prazo de seis anos, sendo que um
deles nasceu com vários problemas, era totalmente paralítico e
com retardamento mental, totalmente dependente pela sua de-
formação física e psíquica.
        Chorando, Luiz continuou a sua narrativa.
        – Covardemente, abandonei minha ex-mulher e filhos,
pois não a amava. Mas fui um covarde irresponsável por não
assumi-los.
        – E onde estão seus filhos? – Pergunta-lhe Camila.
        – O meu filho mais novo, que era paralítico, morreu
depois de um ano e meio de eu tê-los abandonado. Os outros
foram para Belém do Pará, a terra natal de minha ex-esposa.
Eles me odeiam pela minha covardia, mas hoje me tornei uma
pessoa coerente e equilibrada, após conhecer o Senhor Oscar
que, sabendo quem eu era, um irresponsável, muito lutou para
que eu me recuperasse, orientando-me e dando-me a oportuni-
dade de um emprego. Com muitos conselhos, ele me conven-
ceu a fazer um curso profissionalizante em uma de suas ONGs.
Depois que fiquei sabendo das ONGs e associações de que ele é
provedor com outros empresários, comecei a me interessar pelo
assunto e me tornei um voluntario, trabalhando uma vez por
semana para ajudar ao próximo. Com isso fiquei conhecendo o
centro espírita do qual ele, sua esposa e mais um grupo de ami-
gos são assíduos freqüentadores. Lá eu aprendi a discernir o cer-
to do errado, e aprendi também que eu tenho direitos e deveres,
e que o meu semelhante também tem. Com isso estou apren-
dendo a ser coerente comigo mesmo e a respeitar as pessoas como
meus irmãos, a não fazer para o outro aquilo que não é bom
para você. Por isso devo muito a Deus, aos bons Espíritos e

306
àquele casal maravilhoso, o Senhor Oscar e a Dona Anita.
        Realmente, Luiz e Camila eram semelhantes em seus
desacertos nas vidas física e espiritual.
        – Luiz, você nunca mais teve notícias de seus filhos?
        – Sim, tive. Há algum tempo, aconselhado por Senhor
Oscar e sua esposa, enviei uma carta para eles me redimindo e
pedindo perdão, dizendo que estava disposto a de alguma for-
ma tentar corrigir a minha covardia, mas eles me mandaram a
resposta da tal carta que mandei em pouquíssimas linhas.

          “Por favor, não nos procure mais. Já superamos o pior das
nossas crises e não queremos saber como você está, não nos interes-
sa a sua vida. Portanto, siga o seu caminho e esqueça que nós existi-
mos um dia. Nos deixe em paz.”
          – Logo em seguida, fiquei sabendo que a minha ex-esposa
havia morrido, vítima de um acidente em um rio. Quem me con-
tou de sua morte foi um parente dela que encontrei por acaso. Ele
me contou que ela escorregou e bateu a cabeça em uma grande
pedra, vindo a falecer e dando passagem para o mundo espiritual.
          – Mas eu acho que você deveria insistir em vê-los, afinal,
são seus filhos.
          – Eu não os odeio pelo que me disseram na carta, afinal,
eu é que fui totalmente errado. Mas fui orientado pelos bons
espíritos a orar muito por eles para abrandar seus corações e en-
tregar nas mãos de Deus, pois assim um dia tudo se acertará. O
mais importante, segundo o que dizem as Entidades, é que eles
estão parcialmente bem, e com orações em favor deles, um dia
tudo poderá ser resolvido da melhor maneira possível. Aprendi
também que tudo deve acontecer a seu tempo.




                                                                 307
João faz nova investida para que
                           Irmão X apareça para ele
         – Como vai, meu bom amigo? – Pergunta Irmão X.
         – Está tudo bem, estou tentando seguir as orientações
de seu médium e estou me sentindo bem. Mas não me confor-
mo com tudo de bom que tem acontecido em minha vida. Eu
amo a Espiritualidade, acredito em vocês, mas gostaria de algu-
ma coisa mais palpável. Será que não tenho direito a uma prova,
a algo mais concreto? Existe a materialização de espíritos, mas
vocês me dizem que no meu caso não há necessidade.
         – Deus já lhe deu esta prova meu bom irmão, pois você
e sua família estão restaurados dos danos que foram cometidos
em sua vida.
         – E eu adoro a Deus, não sou mais um revoltado. Aprendi
aqui a amar a vocês e agora ao Irmão Y, mas não posso me
conformar com esta sua atitude. Eu sei que você, Irmão X, há
de me dar uma luz em relação à materialização. Eu preciso dis-
so.
         – Torno a repetir, meu bom irmão, se eu assim o fizer,
terei de regredir e você arcará com as consequências. Regredirei
um tempo curto; neste caso, seria como descer um único de-
grau de escada. Não sei bem o que aconteceria comigo, mas sei
que teria uma queda, para depois eu me regenerar.
         – Mas em nossas conversas você me disse que Deus não
castiga ninguém. Como nós podemos sofrer as consequências?
         – Essas consequências são da própria Lei do Universo,
somos eu e você que determinamos o que temos de resgatar,
pelas nossas atitudes. A reencarnação, para o Espírito é uma pas-
sagem, como a morte para vocês encarnados. Morrer é renascer,
passar de uma vida para outra, assim como a vegetação. As árvo-
res nascem, crescem, geram sementes, as sementes caem na ter-
ra. A árvore morre e a semente renasce. Assim como vocês sen-
308
tem quando morre alguém querido, nós também sentimos quan-
do um Espírito que nós amamos deve reencarnar. Seria como
ter de morrer.
         Irmão X tenta, de uma maneira discreta, mostrar para
João o tipo de consequência que ele poderá sofrer. Mas João
continua irredutível.
         – Eu já cometi tantos erros, que em troca dessa prova
não hesitaria em resgatar um pouco mais.
         – É bom que você saiba que haverá consequências para
mim e para você,– responde irmão X. Para que você entenda, eu
regredirei mais ou menos 5 anos da Terra. Meu bom amigo,
quanto menos nós errarmos, menos teremos a resgatar. Você
ama a sua vida material, eu amo minha caminhada espiritual.
         – E todos os Espíritos amam sua vida espiritual?
         – Isso eu não posso lhe afirmar, mas parece-me que nem
todos. Os que estão no plano inferior, acham que tudo não
passa de um sonho ruim, um pesadelo, por isso ainda estão muito
ligados à vida terrestre. Outros mais esclarecidos ainda têm o
desejo dos vícios ou a vontade de ingerir bebidas, cigarros e até
drogas, ou um alimento que era de sua preferência. Por isso
precisamos trabalhar esses irmãos constantemente com amor,
para que eles se esclareçam.
         – Me diga uma coisa – pergunta João. – Um desses ir-
mãos pode nos dar essa prova?
         – Sim, pode, mas depende de sua sapiência, só que é um
tanto quanto perigoso.
         – Como assim, perigoso? Por quê?
         – Por serem pouco esclarecidos, eles têm menos luz, por
isso, tudo o que desejam fazer, fazem com as legiões, e não sa-
bem muito bem o que é certo ou errado. Se vão fazer o bem, a
caridade, eles serão cercados de Espíritos de luz. Assim, eles ob-
têm mais luz, mais conhecimento do bem (força), pois atraem
os bons espíritos pela vibração do amor. Mas se é algo contra a

                                                              309
Lei do Universo, eles passam a ser perseguidos por legiões infe-
riores a eles em caminhos obscuros. Esses irmãos não têm escrú-
pulos nem remorso, e com essas atitudes errôneas, só regridem,
por isso vivem em lugares horríveis, mais parecidos com um
profundo abismo escuro e mal cheiroso. A bandeira deles é a
violência, a inveja, o ego, a corrupção, homicídio, covardia e o
egocentrismo, que é a ganância pelo poder, os vícios e principal-
mente o ódio. Mas como eles também têm o livre-arbítrio,
permanecerão naquele lugar até entenderem o quanto estão er-
rados, pois o ódio e a revolta são a arma principal das legiões
inferiores.
         – Eles saem de lá a hora que querem? E por que eles têm
tanto ódio e revolta?
         – Veja bem meu filho, para que eles possam se libertar
daquele lugar é preciso que eliminem principalmente o ódio e a
vingança. Na verdade, existe algo no subconsciente que nem
mesmo eles percebem.
         – E o que é? – Pergunta João.
         – É o desejo de terem uma vida espiritual melhor do
que a que estão vivenciando. Esses espíritos também estão à pro-
cura de um lugar ao sol ou um lugar de luz, mas isso está escon-
dido em seu subconsciente, e a revolta, juntamente com o ódio,
estão em evidência ou à vista de qualquer um que queira enxer-
gar. Portanto, quando algum deles chega ao nosso pequeno cen-
tro, os mesmos são recebidos com seriedade e rigor, mas com o
devido respeito e carinho, pois eles não devem ser tratados como
“cachorros sarnentos”, como se dizem por aí.
Em algumas denominações protestantes ou mesmo em alguns
centros espíritas pouco esclarecidos, eles são excomungados,
maltratados e escorraçados, e levam o nome de “Exu fulano de
tal” ou “Pomba-Gira tal”. Pense bem; quem precisa de remédio
é o doente, quem precisa de alimento é o faminto, quem precisa
do leito é quem tem sono e quem precisa de luz é exatamente o

310
que está no escuro. Quem precisa de professor é o aluno, por
isso eu lhe afirmo que esses dirigentes de centros, igrejas etc.,
precisam aprender sobre a Espiritualidade. Seria muito bom para
a humanidade se houvesse esse aprendizado.
         – É, estou aprendendo muito com vocês. Pensei que
por ter uma boa faculdade sabia de tudo, mas vejo que não sei
nada, por isso, torno a repetir: eu adoro a Deus e amo a vocês
como meus irmãos, do fundo do meu coração, mas desejaria
imensamente sentir a sua presença em pessoa, meu bom Irmão
X. Sinto uma alegria inexplicável quando falo com você, é como
se eu estivesse reencontrando um parente muito amado ou um
velho amigo muito querido, não sei se você entende isso. Eu
não vejo a hora das sessões desta casa chegarem para estar aqui
com vocês.
         – No seu pensamento passa um desejo muito forte, mas
eu não devo satisfazê-lo. Sei que esse desejo é por amor e tam-
bém por curiosidade ou egocentrismo, mas saiba que isso pode
lhe custar caro e me deixa muito triste. Mas insisto em reco-
mendar a você, meu bom irmão, muito cuidado. Não mexa
com o desconhecido. Você deve aprender a agradecer, não só a
pedir. No seu plano, o plano físico, terrestre, existe uma consti-
tuição que dita regras, os direitos e deveres. No nosso plano, o
plano extrafísico, existem as Leis do Universo, e também temos
direitos e deveres. Direito de estar bem e dever do labor em prol
do próximo, tanto encarnado quanto desencarnado. O dever da
solidariedade, do amor ao próximo, sem se preocupar se o pró-
ximo é bom ou mal, se é um espírito das trevas ou da luz. Im-
porta que se ame o próximo como nosso verdadeiro irmão.
         – E você Irmão X, você nos ama, ou melhor, você me
ama como seu irmão?
         – Essa é uma armadilha muito bem colocada que você
está preparando para mim, afinal, essa é a bandeira dos Espíritos
em evolução ou Espíritos de luz, como chamam, mas não pos-

                                                              311
so mentir. Por isso, lhe respondo que você está me preparando
essa armadilha. Lógico que amo a você, afinal, como eu disse,
somos todos filhos do mesmo Deus, por isso somos filhos do
mesmo Pai. É como você disse: ou fomos velhos companheiros
ou parentes muito apegados, mas nem eu, na condição de Espí-
rito, posso lhe afirmar se fomos ou não parentes ou amigos,
porque eu não tive a curiosidade de perguntar aos meus superi-
ores ou porque ainda não é a hora certa para tal pergunta.
        – Eu sinto que já estivemos juntos há muito tempo.
        – Isso pode ser um fato, mas ao mesmo tempo uma
armadilha, – responde irmão X.
        – Então, torno a repetir: eu arco com as consequências.
E você saberia me responder quais seriam as consequências?
        – Eu até gostaria de estar junto a você, mas existem dois
mundos que nos separam. Bem, esta conversa já se estendeu
demais e tenho mais afazeres. Tenho que visitar algumas mater-
nidades e hospitais; alguém está me chamando. Até breve, e que
a paz de Deus esteja contigo!
        Mesmo tendo se passado muito tempo desde que con-
versara com João, o médium ainda não acreditava que o amigo
não houvesse entendido o que poderia acontecer num futuro
não muito distante, abandonado seus planos. Por isso, foi com
muita cautela que lhe dirigiu a seguinte pergunta.
        – Você ficou bastante tempo com o Irmão X.
        – É verdade, essa Entidade é maravilhosa. Estou fascina-
do por ele, e o amo de todo o meu coração. É um amor
inexplicável, como se ele fosse mais do que meu pai.
        – Você deve ter mais cautela com os Espíritos, meu bom
irmão João. Às vezes, por amor também se erra.
        – Eu sei, já conversei com outros Espíritos, mas o Ir-
mão X é o que mais me fascina. Há poucos dias eu o senti se
materializar, mas acho que foi coisa da minha cabeça, eu estava
com uma máquina fotográfica.

312
Irmão Lázaro o interrompe e continua.
        – Você colocou contra a luz e estava sozinho. O foco da
lente em contato com a luz fez com que se transformasse em
nuvens e, no meio das nuvens, uma porta se abriu e você viu
uma pessoa em forma de luz, mas não deu para você identificar
o rosto dele. Tudo isso era muito branco, simbolizando a paz...
        – E como você sabe disso? Que eu me lembre, não lhe
contei nada.
        – Pois é. Isso foi um presente para você.
        – Mas não estou certo disto, pode ser coisa da minha
cabeça.
        – Bem, só você pode saber se é coisa da sua cabeça ou
não, mas peça a Deus esclarecimentos.
        Logo depois, Irmão Lázaro fez suas orações, pedindo
aos amigos espirituais proteção a todos os envolvidos, pois esta-
va temeroso sobre o que poderia acontecer com João.

           Dias depois, no pequeno centro espírita
        Irmão Y se dirige a João Eduardo.
        – Estou aqui para avisar a você que nosso Irmão X vai
permanecer ausente por algum tempo, para se refazer do que
aqui se passou.
        – Como assim, Irmão Y?
        – É que ele não deveria aceitar suas condições, então,
houve uma contaminação.
        Incrédulo João pergunta.
        – Como? Ele iria aceitar o meu pedido?
        – Não só iria como tentou materializar-se, e isso só não
aconteceu por falta de ectoplasma, senão, seria fatal. Mas mes-
mo assim, houve algo estranho com sua câmera fotográfica, não
houve? No conceito dele, seria para agradar o amigo e até por

                                                             313
vaidade própria. Segundo a Lei do Universo, isso é um desafio
que você está impondo, e ele, aceitando seu desafio, agora terá
que regredir em sua caminhada espiritual alguns poucos anos.
         – Então, no Plano Espiritual vocês são rigorosos, a esse
ponto? Aqui, para nós, seria como condenar ou deter alguém.
         – Só que ele não está enclausurado ou preso, e sim, num
lugar que, para vocês aqui, seria como uma clínica de recupera-
ção ou uma escola, com um novo e pequeno curso.
         Momentaneamente consciente do peso de sua incredu-
lidade, João chega à conclusão de que não poderia exigir de ir-
mão X como vinha fazendo. Esse pedido absurdo ao então caro
Irmão X... João Eduardo coloca em palavras seu pensamento.
         – Não posso pedir isso a ele!
         Então, o Irmão Y lhe explica que na Lei do Universo
existe algo que se chama Livre-Arbítrio, por isso, quem conduz
a vida espiritual é o próprio Espírito, assim como nós aqui, no
plano terrestre, conduzimos nossas próprias vidas e temos von-
tade própria e o direito de ir e vir. Mas no íntimo, João conti-
nuava lutando entre fazer o que sabe que é correto e a vaidade de
ver realizado seu pedido. A vaidade é algo muito forte de se
vencer.
         – Nem que me custe caro, quero ver o Irmão X com
meus próprios olhos. Vocês me ensinaram que para obter a pre-
sença de espírito próximo a nós, basta entrar em sintonia.
         – É verdade! – Afirma irmão Y.
         – Eu sei que convivi com Irmão X em vidas passadas,
por isso, acho que fica mais fácil a sintonia e aproximação.
         – A sintonia é realmente fácil, mas, a materialização,
exige técnicas específicas. E eu imagino que vocês sejam velhos
conhecidos sim, – responde irmão Y.




314
Em casa
         É sempre à noite, após o jantar, que João e Izabel têm
oportunidade de conversar, de poder compartilhar suas dúvidas
e incertezas, os acontecimentos do dia e os planos para o dia
seguinte. Em uma dessas noites, João fala a Izabel do que têm
lhe ocupado os pensamentos ultimamente.
         – Izabel, cada sessão a que vou naquele centro, aprendo
mais.
         – Que bom João. Se hoje estamos bem, é graças a Deus,
Lázaro e sua equipe de médiuns, sem falar nos Irmãos X e Y e
em Mãe Benedita e outros mentores daquela casa.
         – Só que isso é meio confuso...
         – Como meio confuso?
         – Nada, nada... – Diz João, preferindo ficar com suas
dúvidas apenas em pensamento.
         – Nada como? O que se passa na sua cabeça? – Indaga
Izabel.
         – É que eu acredito na ajuda que tivemos, mas queria ter
certeza absoluta da existência dos Espíritos, principalmente do Ir-
mão X. Às vezes me parece fantasia.
         – É. Eu também gostaria de ter plena certeza. Será tudo
verdadeiro o que o médium diz João? Ou será que foi a vontade de
resolver nossos problemas ou só uma fase ruim em nossas vidas?
         – Sei lá... De repente, a vontade daquele médium era
tão grande em nos ajudar que acabou tudo dando certo. Eu sei
que eles são muito honestos, mas será que aquilo tudo não é
fantasia da cabeça deles? Às vezes eu me pergunto: Existe espíri-
to mesmo? Afinal, eu nunca vi nada que me prove. O Espírito
entra em nós? E para quem já morreu, como será? Como será
tudo isso? Será tudo força da mente? Na faculdade aprendemos
e cremos na ciência, e nada mais.

                                                               315
– E o interessante disso tudo é que Lázaro não quer nada
em troca. Ele e os outros médiuns só pregam o amor a Deus e
ao próximo. – Diz João, ainda com suas dúvidas. – E nenhum
deles, Izabel, nem Lázaro o médium, assim como os Irmãos X e
Y, são contraditórios. Tudo que você fala para eles, eles tem uma
resposta concreta, verdadeira, eu vejo firmeza nas palavras deles.
É fantástico! Em um lugar tão simples como aquele, Espíritos
tão sábios, e o mais importante é que o nosso irmão Lázaro é
praticamente analfabeto. Estudou só dois anos na escola primá-
ria e a gente percebe que ele dá um banho de conhecimento, e só
se preocupa com o bem-estar das pessoas. Lá, como você já pode
observar, não se fala em dinheiro ou em bens materiais.
          – É, mas seria muito bom se nós pudéssemos saber mais
sobre os Irmãos X e Y, apesar de ser isso só um desejo ou vaida-
de, seria algo que nos deixaria totalmente convictos. Você não
acha João? Porque, na realidade, não sabemos bem quem real-
mente nos ajudou a sair daqueles problemas todos por que pas-
samos. Eu acho que vamos conseguir realizar esse sonho. Se eles
existem e conseguem até restaurar uma família, eles poderão
também nos provar sua existência. Vamos batalhar que conse-
guiremos o nosso objetivo.
          – Será que não estamos pedindo demais Izabel?
          – Quais serão as consequências? – Pergunta Izabel.
          – Eles dizem que teremos consequências sim.
          – Você acha que seremos castigados por isso? Se eles só
pregam o amor, porque não haverão de nos perdoar?
          – Eu tenho perguntado às pessoas que são atendidas pelo
Irmão X, se as consultas têm dado bons resultados, e os depoi-
mentos são todos otimistas.
          – Por falar nisso, você poderia pedir ao irmão Lázaro
para ir visitar seu sobrinho, que está em coma no hospital.
          – Ah! Aquele lá não tem mais jeito, Izabel. Ele caiu e
quebrou o crânio, está faltando até um pedacinho do osso da

316
cabeça. No momento do acidente o choque foi tão violento,
que ficaram algumas partículas de osso da sua cabeça no local. E
o médico disse que se ele sobreviver, certamente ficará paralítico
e com retardamento mental.
         – Coitada da sua irmã, João. Como ela fará para viver
uma situação dessa?
         – Seria mais simples se ele logo desse passagem desta
vida. Por enquanto é apenas um ser vegetativo. – Responde João,
um tanto chateado, mas resignado. – É. Seja como Deus quiser.
         Neste momento, chega Gabriela, filha de João e Izabel.
         – Bom dia papai, bom dia mamãe.
         – Porque nesta noite você se debatia tanto minha filha?
– Pergunta Izabel. –Você deveria estar com tanta sede que quase
lhe acordei.
         – Agora que a senhora está me falando, lembrei-me que
tive um sonho.
         – O sonho era ruim minha filha? – Diz João.
         – Não papai, foi um sonho bom e engraçado. O Junior
teve um sonho quase igual!
         – Conte minha filha, como foi o sonho? – Pergunta
Izabel, interessada.
         – No sonho a senhora estava grávida e tinha um nenê.
         – Pare com isso Gabi! Filho, nem pensar... – Diz João,
não gostando nem um pouco da ideia.
         – E o Junior teve o mesmo sonho? – Pergunta a mãe.
         – É, foi quase igual. – Afirma Gabi.
         – Isso com certeza aconteceu porque vocês estiveram na
casa de Anita, e lá tem dois bebês, – explica Izabel á sua filha.
         – É... Pode ser. – Afirma João. Com certeza é isto mes-
mo. Sua mãe é muito cuidadosa e está sempre em dia com seus
anticoncepcionais, não é mesmo Izabel?
         – Com certeza, meu amor.
         Nesse momento, o telefone toca e João atende. Do ou-

                                                              317
tro lado da linha, falava a irmã de João, Margarida.
         – João, é você? Quem está falando é a Margarida...
         –
           Sim Margarida, sou eu. Como esta seu filho?
         – Meu irmão, você sabe, somos de família católica, apos-
tólica e romana, e sempre fomos contra esse negócio de ma-
cumba ou Espiritismo. Você sabe disso, mas estou tão desespe-
rada! Sei que você e sua esposa frequentam um lugar desses. Já
fiz todo tipo de oração, recorri a tudo que você possa imaginar,
até promessas fiz. Fui à igreja protestante e só promessas. Não
sei mais o que fazer, então, resolvi recorrer a você, apesar do
preconceito que temos. Mas nestas horas, até o preconceito cai
por terra. Peço a sua ajuda, meu irmão! Eu não queria me meter
nesse negócio de Espiritismo, mas vejo que será minha ultima
tentativa.
         – Calma Margarida, não chore. Que tipo de ajuda você
quer minha irmã? Estou à sua disposição.
         – Fale para aquele homem, esse que você disse que co-
nheceu nesse lugar que você freqüenta, se ele pode ir até o hospi-
tal fazer alguma coisa pelo meu filho, pois estou muito aflita.
Você sabe que dinheiro não é problema.
         – Margarida, sei do seu sofrimento e estou propenso a
compartilhar dele, mas mesmo assim, você tem que ser um
pouco mais humilde minha irmã. Me perdoe lhe falar desta
forma, neste momento em que você esta tão aflita.
         – Como assim João?
         – Não é ele quem tem de ir até o hospital ou nos procu-
rar, é você quem deve ir até ele.
         – É verdade, você tem razão! Será que se eu for até lá ele
poderá me atender?
         – Eu tenho certeza que sim. Ele é muito bom, humilde,
extremamente solidário e tem sempre as portas abertas para to-
dos que lhe procuram. Vamos lá à hora que você quiser.
         – Então vamos agora mesmo, meu irmão!

318
Na casa de Irmão Lázaro
        Esperançosa, Margarida combina com o irmão e vão
imediatamente à procura da ajuda tão esperada.
        – Bom dia meu bom amigo, como vai? – Diz João,
cumprimentando Irmão Lázaro.
        – Tudo bem, graças a Deus. Esta é a sua irmã, não é?
        – Como sabe disso?
        – É que você me falou dela. Parece que o seu filho so-
freu um acidente e está hospitalizado, não é isso?
        – É verdade, e viemos aqui lhe pedir uma palavra de
consolo.
        – Entre minha amiga, a casa é humilde, mas o coração é
grande.
        – Muito obrigada, como o senhor é amável.
        – Bem, como o senhor já sabe, eu trouxe minha irmã
exatamente pelo meu sobrinho.
        – Vamos tomar um café, pois a pressa é inimiga da per-
feição.
        Após alguns minutos de reflexão, o médium se dirige a
João Eduardo e Margarida.
        – Vamos fazer uma oração e pedir ajuda ao Alto, tanto a
Deus, que é nosso Pai querido, como também a Maria, Mãe de
Jesus, que é mãe assim como a senhora. Vocês sabem que a Mãe
de Jesus, que também é nossa mãe, esta sempre de braços aber-
tos para nos ajudar. Vamos pensar também no filho de Maria,
que só pregou o amor.
        – Sim, sabemos. – Respondem prontamente João e
Margarida.
        Cansada, sob o peso da preocupação e sentindo-se inca-
paz diante de uma situação em que nada podia fazer, Margarida
sente-se extasiada diante da tranquilidade que impera naquela
humilde casa.
                                                           319
– Como está casa é gostosa! Aqui a gente sente a paz.
Que gostoso estar aqui... diz Margarida, dirigindo-se ao mé-
dium Irmão Lázaro.
         – Obrigada, minha irmã. Peço que se sinta à vontade.
         Alguns minutos depois, Irmão Lázaro se dirige nova-
mente aos dois.
         – Já fizemos nossas preces e não tem ninguém para eu
atender. Eu gostaria que vocês me levassem até o hospital onde
está o menino. Podem fazer isso? Eu agradeço a gentileza.
         – Com toda a certeza, meu irmão! – Responde pronta-
mente João Eduardo.
         Entusiasmados, cada um com suas preces no coração, os
três se dirigem ao hospital.

                                                   No hospital
        – Eles entram no prédio branco e frio. Em cada canto
que se olha, pode-se ver estampado nos rostos ali presentes o
que eles trazem na alma. Aqui, a dor e a esperança, ali só a dor, e
assim eles atravessam corredores e portas, até chegarem à parte
onde próximo está o filho de Margarida.
        – Clotilde, que bom encontrar vocês aqui! – Exclama
com alegria João Eduardo.
        – Vim visitar meu sobrinho.
        – Meu bom irmão, esta é minha irmã Clotilde.
        – Muito prazer! – Diz Irmão Lázaro. – Eu acho que a
senhora, com sua sensibilidade e seu bom coração, poderá nos
ajudar na recuperação do seu sobrinho.
        – Como o senhor é otimista, ainda bem! Se depender
das minhas orações, ele já está curado. O meu sobrinho, para
mim, é como um filho. Bem, estamos aqui parados, daqui a
pouco acaba o horário de visita e só pode entrar um de cada vez.
        – Onde fica a entrada? – Pergunta João.
320
– Tem que seguir por aqui. Você fica de um lado do
vidro e os pacientes do outro. Não pode haver contato direto
para não contaminar os pacientes, pois este setor é a UTI (Uni-
dade de Terapia Intensiva).
        – Bem, quem vai? – Pergunta João Eduardo.
        – Acho melhor ir a Margarida, pois é a mãe, tem priori-
dade – responde Irmão Lázaro.
        – Está bem. Volto logo.

                                      Na volta do quarto
        A visão que se tem de um hospital não é nada agradável,
de uma UTI então...
        – Não chore minha irmã, – João consola Margarida.
        – Tenha fé e tudo ficará bem. – Diz Clotilde, sempre
tentando espalhar a fé, mesmo sabendo da total gravidade do
estado de seu sobrinho.
        – É porque vocês não viram como ele está. Além disso,
tive uma conversa rápida com o médico. Antes não tivesse ouvi-
do nada, nessas horas gostaria de ser surda. Ele disse que meu
filho não vai andar e ficará com sequelas no cérebro.
        – Margarida, o médico já havia lhe falado sobre isso, –
responde João. – Mantenha a calma.
        – Mesmo assim, eu tinha esperanças. Eu sou sua mãe e
o vejo bom, mas a realidade não é essa.
        – Como ele se chama? Pergunta Irmão Lázaro.
        – Juarez! – Rapidamente responde Margarida.
        – Pense em Deus, não se desespere, – recomenda o
médium.
        – Bem, eu vou lá visitar meu sobrinho.
        João entra e os outros aguardam ansiosos. Após alguns
minutos, ele retorna nitidamente desolado.
        – Mas que coisa! Como um jovem igual a esse menino,

                                                           321
forte, pode estar nessa situação? Vá lá Clotilde, diz João.
         – Eu já fui antes de vocês chegarem, responde Clotilde.
         Irmão Lázaro então resolve ver Juarez.
         – Bem, restam alguns minutos. Agora é minha vez.
         Assim que o médium se afasta, Clotilde pergunta.
         – Quem é aquele médico tão moço que pegou no braço
do nosso amigo? Parece que ele está sendo conduzido para a
porta errada, pois ali só entram os médicos.
         Sem que as pessoas se apercebam, no Plano Espiritual
somos assistidos por nossos protetores. Nesse exato momento,
o Irmão X se manifesta.
         O Irmão Y está comprando meu problema, vai tentar dar
a prova que o irmão João tanto quer. Mas não será o suficiente,
pois mesmo assim ele ainda ficará em dúvida. O que falta a ele,
Irmão X, é fé no invisível, fé no que seus olhos não enxergam,
mas que é uma realidade diante dos acontecimentos. Ele não acre-
dita completamente naquilo que não vê. Sabe que existimos, que
é verdadeiro, mas mesmo assim falta-lhe a convicção.
         Enquanto Irmão X ouve essa sabia resposta do Mentor, os
acontecimentos em nosso plano prosseguem.
         – Vamos, vamos, diz João, aflito.
         – Vamos onde João? – Pergunta Margarida.
         – Vamos dar um jeito de ver de perto o que está acontecendo!
          Os três irmãos conseguem chegar até o vidro onde
ficam as visitas e observam o médium e um médico, ainda muito
moço, ao lado do jovem paciente. Como um relâmpago, o tem-
po passou. Acabada a visita, o jovem médico desaparece diante
de seus olhos, permanecendo apenas o médium. Antes que se
refizessem, um funcionário diz aos três que não podem perma-
necer ali, e eles saem para o pátio. Em seguida, chega Irmão
Lázaro o médium e se dirige à Margarida.
         – Acho que errei a porta, fui parar bem onde está o seu
filho.

322
– O senhor estava acompanhado de um... – Clotilde
não consegue terminar a frase.
         Irmão Lázaro percebe o embaraço de Clotilde e dos
outros dois irmãos.
         – Não se assustem, isso é um fenômeno natural. Bem,
conversei com aquele jovem medico. Disse-me ele que estão
trabalhando muito neste caso, em auxílio à equipe médica que
está cuidando de Juarez. Disse-me também que há chance de o
menino ficar bom. Lembre-se de uma coisa dona Margarida,
coração de mãe não se engana. Há pouco tempo a senhora co-
mentou que tinha esperança e que enxergava seu filho bom, por
isso, tenha fé e acredite em seu sexto sentido.
         – Mas quem é aquele jovem médico que estava com o
senhor? Afinal, quem está cuidando do meu filho é o Dr.
Roberto, e ele tirou-me toda esperança que eu tinha. Esse jovem
que estava com o senhor é o único medico que eu não conheço,
nunca vi ou ouvi falar dele.
         – Bem, isso agora não importa, o que importa é que
tenhamos fé, pois assim estaremos ajudando Juarez em sua total
recuperação, e ele haverá de se recuperar.
         Assim, os quatro voltam para casa. Mas o assunto entre
todos era só sobre Juarez, o rapaz hospitalizado.

                                          No dia seguinte
        Na maioria das vezes, para que vibrem as boas energias,
basta que algumas pessoas se reúnam com bons pensamentos.
Esse é o verdadeiro milagre da vida.
        No dia seguinte, pela manhã, João recebe um emocio-
nado telefonema de Margarida.
        – João, meu irmão! Já liguei para a Clotilde e agora
também quero lhe dar a excelente notícia: meu filho saiu da
UTI!
                                                           323
– Como? – Pergunta João, com muita admiração.
         – Ele pediu comida e mexeu o dedo do pé! Isso é fantás-
tico, pois os médicos foram bem convictos em dizer que meu
filho iria ficar paraplégico e com problemas mentais.
         – É verdade! Mas o que você está falando? Eu não estou
sonhando, não é? Que maravilha!
         – Pode acreditar, meu irmão!
         – Mas os médicos que estão tratando dele disseram que
ele não tinha cura... Que bom ouvir isso! Que maravilha, Deus
é bom!
         – Um dos médicos me disse que houve um enorme en-
gano quanto ao diagnóstico da junta médica, e que só há essa
explicação para a rápida recuperação de Juarez. Estou pensando
naquele jovem médico que estava com nosso amigo Irmão
Lázaro. Ele não sai do meu pensamento.
- E eu também. Aquele médico que estava com Irmão Lázaro
não pertence à equipe que está cuidando do seu filho.
         – Na verdade, nunca ouvi falar nesse médico.
         – É mesmo. Mas como ele conseguiu entrar lá?
         – Vai ver que funcionários pensaram que ele trabalhava
no hospital.
         – É, pode ser. Ele estava vestido de branco. Bem Marga-
rida, eu vou até sua casa agora mesmo. Precisamos conversar;
diga para a Clotilde ir também.
         – Ela já está aqui.
         – Ótimo, – responde João, encerrando a conversa.




324
Na casa de Margarida
        Reunidos, os irmãos trocam entre si opiniões a respeito
dos últimos acontecimentos.
        – O que vocês acham de tudo o que aconteceu ontem
no hospital?
        – Quer a minha opinião sincera? Pergunta e responde ao
mesmo tempo Clotilde.
        – Claro! – Responde Margarida, sem nem ao menos dar
tempo ao irmão.
        – Pois é. Aquele homem, digo, o médium, com certeza
é uma pessoa excepcional que traz em suas mãos o dom da cura.
É com certeza um enviado de Deus, uma pessoa maravilhosa
que veio ao mundo para servir às pessoas aflitas. Vocês viram,
ele não tem maldade no coração, é um verdadeiro amigo, mi-
nha irmã. E você não seja ingrata, dê uma boa recompensa para
ele. –Afirma Clotilde.
        – Porque você está tão convicta disso?
        – Margarida, pense bem. Você, minha irmã, é Juíza e é
uma pessoa bem informada, coerente e com uma formação aca-
dêmica da melhor qualidade, digo, pela melhor faculdade deste
Estado. Não é burra, é só analisar. Há quanto tempo seu filho
está no hospital? Há quase dois meses e nunca houve progresso
em seu restabelecimento. Lembra-se o que os médicos lhe fala-
ram ontem?
        – Que ele não tinha mais jeito...
        E Clotilde continua.
        – Aí eu entrei, ele estava mal. Você, Margarida, também
entrou e ele estava mal. Mas bastou o médium Lázaro entrar
para aparecer um jovem médico, vindo do nada, pegar no braço
do senhor Lázaro e ir até onde só podiam estar os pacientes e os
médicos. Em seguida, o jovem médico aponta para a cabeça de
Juarez como que se estivesse instruindo alguém a como aplicar
                                                            325
algum tratamento em seu filho e desaparecer na nossa cara. Nós
vimos! Então, o nosso modesto irmão médium comenta que
falou com um médico de nome de Ylem, que nós não conhece-
mos. Espere, tem mais. E no dia seguinte? No dia seguinte,
Margarida, seu filho Juarez sai da UTI. O que mais você quer?
Maior prova do que essa? Isso tudo é real e nós pudemos com-
provar, nós vimos, a olho nu.
        – É mesmo verdade tudo o que você acabou de dizer.
Devo mesmo recompensar muito bem aquele médium.
        – Não faça isso. – Diz João. Você vai ofendê-lo.
        – Por que vou ofendê-lo? Estou até pensando em refor-
mar aquele pequeno centro.
        – Ele não aceitará a reforma e muito menos o dinheiro,
Isso eu posso lhe garantir, pois eu o conheço bem. Estará muito
mais bem pago se você for lá e pedir uma oração de agradeci-
mento. Aproveite e diga a ele que você visitará alguns hospitais,
orfanatos e asilos. E que vai de alguma forma retribuir a graça
que você e seu filho receberam, dando sua atenção àqueles que
necessitarem de auxílio, de uma palavra amiga, solidariedade etc.
– Vou ver. Talvez eu faça isso. Mas não acho justo, acho que
ele merece uma boa quantia em dinheiro.

                                      Na casa do médium
        – Olá! Tem alguém em casa?
        – Pode entrar Dona Margarida, – responde Irmão Lázaro.
– Como vai a senhora? E a Dona Clotilde? Que bom receber
vocês! Trazem-me boas notícias, não é verdade?
        – Como sabe, meu bom irmão? – Indaga Clotilde.
        – Pelo semblante alegre de vocês.
        – Como o senhor é modesto, – diz Clotilde. – Já sabia
das novidades antes de nós, não é mesmo? Pois é. Meu filho, o
meu querido filho, – diz Margarida chorando, chorando de ale-

326
gria, – saiu da UTI. Está em plena recuperação e os médicos
disseram que é só questão de tempo. Ele ficará bem, mas não
sabem explicar esse fenômeno, pois um dia antes eles não ti-
nham a menor esperança de curá-lo. Um dia antes, eles haviam
constatado que ele iria ficar em uma cadeira de rodas, inválido
para o resto da vida. E agora, o único problema com o meu
filho é um pequenino pedaço de osso que falta no crânio dele,
talvez tenham de colocar uma prótese.
          – No crânio? – Indaga o médium. – Mas se é esse o
problema, então está tudo resolvido. Sabem por quê?
          – Não, não sabemos. – Responde Clotilde, ansiosa.
          – Ontem eu vi o crânio de seu filho e não tem nenhuma
infecção. E Dr. Ylem me disse que, não tendo infecção e sendo
ele ainda jovem, o próprio organismo do menino com certeza
restaurará a parte afetada. A senhora não deve deixar os médicos
colocarem prótese.
          – Os médicos deveriam saber disso. Não entendo por-
que nada me disseram.
          Na humilde parede da casa do médium, um quadro
chama a atenção das irmãs, que o olham admiradas. Percebendo
o espanto das duas, Irmão Lázaro lhes pergunta.
          – Vocês não o conhecem?
          – Não, não sabemos quem é.
          – Este é o Irmão Y, um dos mentores da nossa casa
espírita.
          – Mas esse aí é o médico que esteve com o senhor on-
tem no hospital!
          – É mesmo? Ele sempre comenta que trabalha com uma
equipe de 2 mil Espíritos, entre médicos, enfermeiros, psicólo-
gos e vários especialistas. Ele diz que é um simples “faxineiro”
do Plano Espiritual. Mas vocês não se espantem, pois isso é
muito natural para eles. Mas mesmo sendo natural, só conse-
guem se materializar-se em casos específicos.

                                                            327
– Irmão, – diz Margarida, – nós queremos lhe agrade-
cer, e gostaríamos de lhe recompensar.
         – Mas a visita de vocês já é uma recompensa. Eu estou
muito feliz com vocês aqui me trazendo as boas novas.
         – E quanto à recompensa? – Insiste Margarida.
         – Minha irmã, quando nós fazemos a caridade, quando
somos solidários, somos beneficiados também, pois quem nos
procura nos proporciona a oportunidade de trabalharmos, e é
assim que nós nos sentimos úteis, prestando serviço aos nossos
semelhantes. Existe um ditado que diz. “Fazer o bem, faz bem”.
         – Mas isso não é tudo. –Retruca Clotilde.
         – Eu explico melhor. – Continua o médium. – Quan-
do alguém bate à sua porta pedindo um prato de comida, o que
você faz?
         – Eu o coloco para dentro e lhe dou um bom prato de
comida. E, se possível, algumas roupas e procuro orientar a pes-
soa participando do seu problema. Bem, faço isso, mas com
muita cautela.
         – Muito bem, isso é caridade ou solidariedade. Porém,
se mais tarde você souber que suas orientações fizeram com que
aquela pessoa não precisasse mais pedir, e a mesma estivesse feliz
por ter superado os seus problemas, como você se sentiria?
         – Ah, Meu irmão! Eu me sentiria super, super bem. Posso
lhe dizer porque já tive um momento como esse. – Responde
Clotilde.
         – E nunca mais você esqueceu esse momento, não é
mesmo minha boa irmã?
         – É verdade.
         – E aquela pessoa que foi pedir, lhe deixou tão feliz, tão
feliz, que mesmo sem saber fez um bem enorme para a sua alma,
não é mesmo? – Então ela praticou a caridade, e nós chamamos
essas pessoas de “anjos da caridade”. Eu estou tão feliz, minhas ir-
mãs, que não é necessária recompensa em dinheiro, carro, casa na

328
praia ou qualquer outra coisa. Vocês querem me dar um presente,
não querem?
         – Com certeza! – Responde Margarida.
         – Então me deem uma pequena lembrança. Posso
escolher?
         – Claro que pode! – Antecipa-se Clotilde.
         – Eu quero uma camisa branca para meus trabalhos espiri-
tuais. – Esse foi o pedido do humilde médium.
         – Então, nos oriente sobre o que fazer. – Pede Margarida.
         – Em relação à recompensa?
         – Sim.
         – Todo benefício que recebemos do nosso querido Pai
que está no Céu, por intermédio de seus auxiliares, é bom. Por
isso, eu recomendo no seu caso não se apressar para dar a recom-
pensa. Você deve se recuperar do susto que passou e descansar
sua cabeça. Depois, aparecerá alguém que necessite de sua ajuda.
Aí sim você irá dar sua recompensa, pagar o seu tributo.
         Elas agradeceram a orientação do irmão médium e saí-
ram satisfeitas, pensando na caridade que poderiam fazer para
“pagar” aquela recompensa.

     Em outra dimensão, no Mundo dos Espíritos
        Argumenta irmão X a outro mentor.
        – Você é um Espírito de maior elevação ou mais esclare-
cido espiritualmente do que eu, por isso, peço-lhe que me ex-
plique porque não posso voltar à Terra para ver meu amigo João.
        – Você está se recuperando bem, mas o seu campo de
força espiritual precisa de mais energia.
        – Eu não posso deixá-lo sem a minha assistência.
        – No tempo certo você irá vê-lo.
        – E o Irmão Y, onde está? Nós somos inseparáveis, por
que não posso vê-lo?

                                                              329
– Tudo deve acontecer de acordo com a Lei do Univer-
so. Neste momento, o Irmão Y está cuidando de uma pessoa da
família do seu amigo João e tudo terminará bem. Como você
está se sentindo aqui?
         – Está tudo muito bem. A pessoa de que ele esta cui-
dando é aquele jovem que estava na UTI?
         – Sim, é esse mesmo. – Responde o mentor.
         – Aqui é maravilhoso, mas sinto algo muito forte que
me atrai para a Terra.
         – É que nesse exato momento alguém está em uma for-
te sintonia com você.
         – Por acaso é o irmão João?
         – Sim, é ele mesmo.
         – Mentor, por favor, me responda. Por que eu tenho
tanta afinidade com o irmão João? Ele pediu uma prova concre-
ta da minha existência e eu não tenho como negar a ele.
         – E você gostaria de satisfazer seu amigo, não é verdade?
         – Sim, é isso mesmo.
         – Só que tanto você, quanto ele sofrerão consequências.
         – Eu tenho consciência disso, mas mesmo assim, pre-
tendo correr o risco.
         – Se é a sua vontade, então você será preparado para isso
Irmão X.
         – E quais serão as consequências?
         – No tempo certo você saberá.

                            Algum tempo depois, ainda
                                no Mundo dos Espíritos
        Sabendo que tanto pode regredir, como também evo-
luir espiritualmente, naquele momento Irmão X ouve do Ir-
mão Superior as seguintes palavras.
        – É necessário lhe avisar que tudo que você for fazer
330
deve ser com muito cuidado, pois lhe foi dada a permissão que
nos solicitou. Você conseguiu recuperar suas forças no campo
espiritual, agora siga sua consciência, ou melhor, seu livre-arbí-
trio. E lembre-se: muito cuidado com as legiões inferiores para
você não se contaminar. Peça ajuda quando precisar. Vá! Que a
paz de Deus esteja contigo. Siga seu destino, siga sua vontade,
pois sua vontades são seus desígnios.
          Enquanto isso na Terra, no pequeno centro espírita.
          – Irmão Lázaro, preciso falar com suas Entidades com
certa urgência. – Diz João, que estava ali com sua esposa Izabel.
          – Eu já imaginava, por isso irei me preparar João.
          Logo depois, Irmão Lázaro volta.
          – Boa tarde, meus queridos irmãos.
          – Bom tarde, Irmão Y. Por onde anda o Irmão X? –
Pergunta João.
          Como lhe disse anteriormente, ele está em plena recu-
peração, mas muito em breve estará conosco. Estou aqui para
lhes fazer uma pergunta: você e sua esposa conseguem ficar por
30 dias “na condição de vegetarianos”, sem comer carne, sem
ingerir bebida alcoólica, sem cigarro, sem sexo e com seus pen-
samentos totalmente voltados a Deus?
          – Qual a finalidade dessa abstinência Irmão Y?
          – Vocês tanto pediram que finalmente o Irmão X lhes
dará uma prova definitiva. Mas vou lhes avisar, ele conseguirá
com muito sacrifício, terá de regredir para a tal prova, passando
por outros caminhos, caminhos obscuros, lugares horríveis. Para
isso ele teve de ficar no que vocês chamam de “clinica de repou-
so”, para restabelecer sua luz e ter forças para suportar o que virá
pela frente. Ele terá de passar por situações muito difíceis.
          – Como assim? – Pergunta João.
          – Suponhamos que você vá participar de uma competi-
ção que requeira muito esforço físico. O que você deve que
fazer?

                                                                331
– Preparar-me com exercícios físicos, tomar vitaminas e
repousar bastante.
         – É mais ou menos isso que ele teve de fazer, porque
virá por outro caminho, por onde necessita de muita energia.
Agora façam sua parte durante os próximos 30 dias. Assim sen-
do, após esse período vocês entrarão em nossa dimensão e terão
a prova que tanto querem. Porém, não se esqueçam das
consequências. Haverá alegria e tristeza nesse contexto.
         – E ele poderá nos perdoar! Pois vocês só ensinam a
bondade, o amor e a resignação.
         – Nós temos um pouco de luz, realmente não temos
ódio nem carregamos a bandeira de vingança, mas as
consequências são naturais e virão da própria Lei do Universo,
que é inevitável, pois como lhes foi dito anteriormente, para
essas leis não há exceções, não se pode mudar nada.
         – Ouvindo tais palavras, João diz a si mesmo: “Ah, já
entendi. As consequências virão em minha próxima encarnação,
ou seja, em uma vida futura”.
         A Entidade responde ao pensamento de João.
         – É exatamente isso, – em uma vida futura tudo aconte-
cera, mas não será a sua vida. Você só fará parte das futuras
consequências.
         – Está bem. Até lá a gente dá um jeito.
         João e Izabel pensavam dessa forma não por rebeldia,
mas por ignorar as normas ou a lei que rege o Universo.

                                       Em outra dimensão
       Irmão X começa sua peregrinação, passando por lugares
habitados por espíritos em estado lamentável. Essa situação foi
determinada para fazer com que ele tivesse consciência de sua
vontade. Ele deve seguir seu destino e arcar com as consequências.
Assim poderá balizar verdadeiramente a sua caminhada espiritu-
332
al, trabalhando em prol da humanidade ou atender a um único
pedido, o do seu amigo.
         Irmão X segue andando por entre aqueles destroços, onde
parecia haver muitos restos mortais em um lamaçal movediço,
um lugar sombrio e totalmente desolado. Mas não consegue
deixar de dizer ao Mentor: Meu Deus, que lugar amedrontador!
Ainda bem que estou acompanhado por esta legião de espíritos
de luz e pelo senhor.
– Você está sendo acompanhado por nós até a próxima camada,
mas pior ainda está por vir. Seremos obrigados a voltar, pois lá a
atmosfera é muito mais pesada.
         – E eu terei de seguir sozinho?
         – Você ainda pode voltar, basta consultar sua consciência.
         – No plano terrestre eu tenho um amigo e por ele terei
de continuar, aconteça o que acontecer.
         – Mesmo sabendo que haverá consequências?
         – Sim, mesmo sabendo das consequências.
         – Se essa é sua decisão... Bem, chegamos até o nosso
limite. Daqui teremos de voltar.
Vá em frente que você encontrará irmãos que trabalham nas
trevas para conter as camadas mais perigosas. Coragem irmão X!
         – E como devo chamar a esses irmãos, Mentor?
         – Bem, aqui eles são chamados de Guardiões, são como
policiais. Lá na Terra são conhecidos por outros nomes, entre
eles, um dos mais populares é Exu. Não tem perigo, esses espí-
ritos são excelentes em seu trabalho, são realmente como bons
policiais.
         – E como posso identificá-los?
         – Eles se apresentam com uma roupagem plasmada,
como se estivessem vestidos com chumbo. Você também terá
de usar essas vestimentas para continuar sua caminhada. Vamos
materializá-la em seu corpo espiritual, para usá-la até o ponto
que for necessário.

                                                               333
– E para que servem essas roupas?
         – Para que você não receba as irradiações das legiões in-
feriores. Elas são muito perigosas e você pode se contaminar.
         Por algum tempo, que não se pode determinar qual,
Irmão X seguiu sozinho por entre as densas trevas.
         – Nossa! Isso aqui é horrível! E eu sozinho... Onde esta-
rão os mentores do plano inferior?
         Algum tempo depois...
         – Bom dia!
         – Por que bom dia?
         – Você está entre as trevas meu amigo, aqui é sempre
noite, e apesar de você ser um espírito que veio da luz, lembre-
se: daqui pra frente quem comanda somos nós. Deixe que cui-
demos de você. Tenha fé. A sua confiança será nossa total segu-
rança, muito útil para nós lhe ajudarmos nessa missão. Não se
descuide nunca e tenha muito cuidado, irmão.
         Eles passaram por várias camadas, das quais a mais suave
é a dos suicidas. Depois a dos criminosos, dos hipócritas, cor-
ruptos, feiticeiros etc. Após algum tempo, o Guardião pede uma
pausa, pois algo estava acontecendo com o Irmão Y e ele sentia
e recebia as vibrações, chamando próximo dali, como se vies-
sem de outra dimensão. Ele pede ao Irmão X que o aguarde
com um grupo de espíritos guardiões, enquanto ele segue com
o outro grupo na direção das vibrações que recebera.
         O guardião e seu grupo retornam com mais alguém em
sua companhia.
         – O que você está fazendo aqui, Irmão Y? – Indaga Ir-
mão X.
         – Eu não poderia deixar você vir sozinho, afinal, no
mundo espiritual somos companheiros inseparáveis.
         – Mas este desafio é meu!
         – Realmente você está regredindo! Essa sua atitude cha-
ma-se egoísmo. Se você escolheu passar por este sacrifício, a única

334
coisa que posso fazer, sendo eu seu companheiro, é estar ao seu
lado aconteça o que acontecer. Afinal, amigo é para essas horas.
Deixe que eu lhe acompanhe.
          – Está bem. Obrigado, meu bom companheiro. Agora
sei que será mais leve meu fardo. Mas eu lhe aviso que não vai
ser fácil, e também teremos consequências por causa disso.
          – Amigos são para todos os momentos, são para sem-
pre. E a partir de agora, temos de aceitar os nossos próprios
desígnios, ou melhor, as Leis do Universo ou causa e efeito dos
nossos atos. Porque toda efeito tem sua causa.
          Após o diálogo entre os dois amigos, o guardião dirige-
se ao Irmão X.
          – Você tem consciência do que irá acontecer com você?
          – Sim, tenho. Terei de reencarnar.
          – No plano terrestre, o fenômeno que acontecerá com
você é como se fosse a morte. Você desaparecerá do nosso conví-
vio por uns tempos e renascerá na Terra, – diz Irmão Y pensativo.
          – Eu sei, esse processo chama-se reencarnação.
          – Bem, pela contagem da Terra vocês estão nesta peregri-
nação há 30 dias. Terão de ir até lá dar a prova que você Irmão X
assumiu, voltar e se preparar para sua viagem, reencarnados. Lá
deverá ficar com o Irmão Y pelo tempo que for determinado pela
Lei do Universo. Aqui é o caminho para a Terra; não se esqueça
que terá de voltar, e na volta, outros irmãos superiores lhes recebe-
rão em sua preparação definitiva para o que terá de passar.

                                                        Na Terra
        Demonstrando certa ansiedade, João comenta com sua
irmã.
        – Clotilde, faz 30 dias que eu e minha esposa estamos
seguindo rigorosamente novos hábitos, tanto alimentares como
outros. Estamos em abstinência total.
                                                                 335
– Não sei por que você faz tanta questão dessa prova.
Você quer prova maior do que a sua cura, a cura do nosso sobri-
nho, a paz que reina em sua casa? Vocês estão prosperando e seu
lar está restaurado!
          – São vários os motivos, Clotilde. Um deles é que vivo
debatendo com pessoas que não acreditam na Espiritualidade, e
sempre me falam que estou no caminho errado, que só lido
com demônios e que o único que pode fazer as coisas é Deus, e
se eu não tomar cuidado o demônio toma conta de mim e de
minha casa. Mal sabem eles como esta fé ou filosofia me restau-
rou, me trouxe paz e vontade de viver. Hoje sou muito feliz
com minha família, então eu pergunto: Por que eles fizeram
tantas orações, tantas reuniões em minha casa e as coisas só pio-
ravam? Falam em Deus, mas muito mais no “Diabo”, acredi-
tam que o diabo tem tanto poder quanto Deus, porque, da
mesma forma que eles temem a Deus, na mesma medida te-
mem o “Diabo”. O que eu aprendi naquele centro espírita é que
não devemos temer a Deus e sim amá-lo e respeitá-lo acima de
qualquer coisa. Quanto ao Diabo ou demônio, este somos nós,
com nossas mas ações que criamos, pois quando agimos de má-
fé e contra o nosso semelhante, nosso demônio sai de dentro de
nós ou de nossa própria consciência e se multiplica em maldade,
contrariando totalmente o que o nosso querido Jesus nos ensi-
nou que é o amor ao próximo, sem o mal que tanto nos atinge
e sem o preconceito. “Amai-vos uns aos outros assim como vos
amei, seja ele de qualquer credo, raça e cor”. Com nosso Cria-
dor e os bons Espíritos, sinto-me seguro e feliz em minha casa e
minha vida estava cada vez melhor. Agora estamos realmente
em paz. Creio eu que temos em nós a luz e as trevas, portanto,
devemos dar vazão à luz para que tenhamos cada vez menos
trevas.
          Na casa de nosso Irmão Lázaro ele enfatiza sempre que
Deus está sobre todas as coisas. – João continua a falar. – Sabe

336
Clotilde, ele só prega e pratica o amor ao próximo, à caridade
pura e a solidariedade, como poderia ser a casa do demônio?
Deus é a luz. O demônio, com certeza são as trevas.
         Mas essas pessoas acham que esses irmãos maravilhosos
não são auxiliares de Deus, e sim do diabo ou demônio.
         – Deixe-os pensar como quiserem. Diz o ditado: “Cada
cabeça é seu mestre”, ou outro ditado que diz “Falem bem ou
mal, mas falem de mim”.
         – Bem, já cheguei até aqui, agora vou em frente. Estou
com vontade de ficar num lugar bem tranquilo ao lado de Izabel.
         – Você está bem, meu irmão? Sinto que você esta aflito.
         – Sim, estou bem. Estou alegre por dentro e muito fe-
liz. Mas eu sinto que algo me atrai para um lugar isolado, longe
do barulho. Vou chamar Izabel e dar uma volta. Até mais Clo-
tilde, um beijo!
         – Você tem certeza que está bem? Você está bem mesmo?
         – Nunca estive tão bem, pode ficar tranquila. Posso não
estar certo, mas o que quero do irmão X é por amor a esta fan-
tástica religião, ou melhor, a esta fantástica filosofia. Fique
tranquila minha irmã.
         – Bem, sendo assim eu vou para casa. Ah, o nosso sobri-
nho está ótimo, você viu?
         – É verdade, Deus é maravilhoso.

                                            A grande prova
        Depois de João dar várias voltas pelo centro da cidade
com seu carro, ele vai até sua casa e convida sua amada esposa
para também sair um pouco. Em seguida, pega uma estrada
deserta e entra mato adentro e à direita numa trilha, onde obser-
va duas pessoas estranhas, muito altas, com roupas parecendo
de chumbo lhe indicando um caminho. Eles se aproximam um
pouco mais.
                                                             337
João para seu carro e, sai com Izabel. Quase inconscien-
tes, continuam andando mato adentra a pé, até que observam
duas luzes vindas do alto em suas direções a uma distância de
cerca de 15 a 20 metros. As luzes ficam paradas no chão e se
inicia o inigualável fenômeno de materialização dos Espíritos.
Ele pergunta:
         – Quem são vocês?
         Do seu lado, ele observa uma senhora negra e muito
velha e também em seguida um senhor muito velho e negro
que lhes diz:
         – Esta é a prova que vocês tanto queriam. Aqueles ali
são Irmãos X e Irmão Y.
Ambos caem de joelho, chorando e agradecendo. Em seguida,
aquela luz se transformou em dois belos jovens muito bonitos,
de uma beleza espiritual inconfundível. João reconheceu que
um deles, ou melhor, o Irmão Y, era o mesmo que estava vesti-
do de médico ao lado do médium Lázaro no hospital, quando
seu sobrinho estava enfermo. E eles, com os olhos fixos nos
irmãos, observaram um fenômeno fantástico: os dois espíritos
saem de cena dando lugar a uma criança recém-nascida, e essa
mesma criança se transforma em um menino de mais ou menos
5 ou 6 anos de idade, flutuando sobre o alto em forma de luz.
João pergunta para o casal:
         – E vocês quem são? De onde vieram?
         – Nós somos chamados de Pretos-Velhos nos centros
espíritas.
         – E aqueles dois que ficaram na entrada da mata, quem
são? – Pergunta Izabel.
         – Vocês os chamam de Exus. Eles nos auxiliam traba-
lhando na linha que divide o bem e o mal. São como os polici-
ais aqui no seu plano, ou melhor, aqui na Terra.
         João e Izabel estavam se comunicando com aqueles es-
píritos de forma telepática.

338
A Realidade
         O casal de velhos continuou com suas explicações.
         Em verdade, os chamados Exus são espíritos elevados
que abraçam esta espinhosa missão, mesmo sabendo o quanto
vão ser humilhados, enxotados e excomungados até pelas pesso-
as que dizem entender a Espiritualidade. São missões difíceis,
assim como algumas profissões aqui na Terra que vocês conside-
ram humilhantes e difíceis de executar. Como, por exemplo,
enterrar os mortos, tratar de pessoas com doenças contagiosas
entre outras. Existe uma confusão tremenda em relação a estas
Entidades, pois são confundidos até por alguns líderes de certas
religiões e até por alguns médiuns de centros espíritas, com “Es-
píritos do mal, quando em verdade não são, pois, pela missão
que Deus lhes deu, são eles que trazem o equilíbrio ao plano
metafísico, em harmonia com o plano terrestre. Essa confusão
se dá porque algumas crenças ensinam absurdos aos seus segui-
dores. E também porque existem alguns espíritas que vêm de
outras denominações ou religiões, e continuam com essa cultu-
ra errônea em relação aos Exus, que são espíritos do bem e com-
batem o mal com muito rigor.
         – Mas se eles trabalham também nas trevas, não podem
também fazer o mal? – Pergunta João Eduardo.
         – Não! Literalmente não! –Afirmam aqueles espíritos
materializados, e complementam.
         – Quem faz o mal são os chamados quiumbas ou espí-
ritos trevosos, que são vingativos invejosos ou gananciosos, que
deixaram suas fortunas na Terra e acham que seus bens materiais
ainda lhes pertencem. Essas pessoas que migram de outras de-
nominações religiosas, nas quais lhes ensinavam que os Espíri-
tos são “coisas do diabo”, e acreditam que os Exus, por serem
espíritos ligados às questões mais terrenas, são demônios, por
isso são os que mais sofrem preconceitos. Mas no próprio livro
                                                             339
sagrado, também conhecido como a Bíblia ou Evangelho, em
que muitas religiões se apegam, tendo como seu principal
orientador, existe uma passagem que relata a aparição de dois
Espíritos: Moises e Elias, e os mesmos conversam com Jesus.
        – Como assim? – Pergunta Izabel.
        Os Pretos-Velhos continuam explicando aos dois.
        – Jesus subiu ao monte, segundo a Bíblia, com três de
seus apóstolos, e lá surgiram Moisés e Elias. Moisés já havia
morrido há pelo menos 3.800 anos, e Elias há cerca de 900 anos
antes de Cristo. Então, se o próprio Jesus tinha contato com os
mortos, como pode a comunicação com os Espíritos ser coisa
do demônio? O que essas pessoas chamam de demônios, são o
que poderíamos chamar de espíritos sofredores, perdidos em
seus próprios atos e em seu estado psicológico. Esses demônios,
como eles os chamam, precisam de ajuda e devemos ser solidá-
rios com eles, orientá-los e com amor encaminhá-los para Deus,
que é o a sua verdadeira morada, pois não existem Espíritos
totalmente perdidos. Se assim fosse, a promessa do grande Mestre
Jesus Cristo seria vulgar quando ele disse que o Pai não tinha ou
não tem nenhum filho a perder, e que ele não viera buscar os
justos, mas os pecadores ou impuros, pois a missão dele era
resgatar as ovelhas perdidas para o seu rebanho. Ele deixou essa
missão com seus apóstolos e discípulos, os doze apóstolos fo-
ram escolhidos para pregar e curar os enfermos de sua época. Os
outros eram discípulos, e discípulos são aqueles que aceitam
voluntariamente a incumbência de dar continuidade a uma obra,
mas com honestidade e pureza de alma. Por isso todo cristão de
verdade pode ser um discípulo do senhor Jesus, e os apóstolos
foram os escolhidos por ele, não havendo outros. Jesus não pri-
vilegiou a Moisés e Elias, Pedro ou Paulo ou outros, nem no
plano terrestre nem no plano espiritual. Não existe privilégio
ou privilegiados. Cada um com sua sapiência, sua evolução ou
degradação. Existem centros que invocam Espíritos que se iden-

340
tificam como escritores, médicos, advogados, psicólogos, artis-
tas plásticos, mas em vidas anteriores. Esses mesmos Espíritos
podem ter reencarnado como um negro, um índio, um baiano
ou um boiadeiro. E os índios, boiadeiros, negros etc., também
podem, em vidas passadas, ter reencarnado como médicos, ad-
vogados, escritores ou filósofos, cada um com o seu histórico.
Gostaria de deixar para você analisar essas questões com bastan-
te cuidado, pois há espíritos inferiores que se passam
tranquilamente por essas entidades chamadas de Exus.
         – E por que isso é permitido?
         – Porque todos nós temos o livre-arbítrio, lembra-se?
         – É verdade, não tinha pensado nisso. O que significa
Exu?
         – Exu é um nome de origem africana, que quer dizer
Entidade mais próxima da Terra. Essas Entidades trabalham para
manter o equilíbrio entre os homens e os Espíritos, entre os
dois mundos, e são também chamados de mensageiros ou
guardiões. Quando uma pessoa ou uma família está em estado
degradante procura um bom centro espírita, os Espíritos que ali
trabalham percebem que aquela família ou pessoa está sendo
vítima de alguma obsessão, feitiçaria, bruxaria ou outros males
que provocam energias ruins. São eles que trazem os obsessores,
pois é como se estivessem algemados, presos, para dizerem por-
que estão obsedando aquela vítima. Os Exus são exímios na
limpeza de ambientes, por isso são chamados nos terreiros, ro-
ças ou centros no início das sessões para afastar as energias nega-
tivas. Vou lhe dar um exemplo. Quando alguém vai a um lugar
de baixa frequência para pedir o mal, quem os atende são
obsessores, chamados pelos africanos de quiumbas, que muitas
vezes se fazem passar pelos Exus exatamente para confundir as
pessoas. Como os exus, os quiumbas têm liberdade e também
são chamados para se encostarem a uma vítima qualquer. Mas
eles só conseguem se aproximar se a pessoa estiver vulnerável.

                                                               341
Aceitam presentes para entrar em sintonia e destruir a vida ou a
família daquela pessoa e, em sua ignorância, começam a preju-
dicar a sua presa com vibrações telepáticas.
         – Mas como isso é possível?
         – Veja, se você está protegido, esses quiumbas não têm
acesso, não conseguem fazer sintonia com a sua mente.
         – E como devemos nos proteger?
         – Evitando tudo aquilo que é ruim.
         – E como saber o que é ruim?
         – É muito fácil. Basta não fazerem para o outro, aquilo
que vocês não querem para si mesmos. E também estar sempre
contrito a Deus e, em seu dia a dia, fazer sempre exames de
consciência. Não importa a sua fé ou crença, pois o Espírito é,
por natureza, ecumênico. Portanto, os Espíritos e também o
Criador (Deus), não têm religião. Podemos dizer que pertence-
mos a todas as crenças, desde que cultuem o nosso Criador e
que sejam verdadeiros em sua fé.
         – E porque os Exus são chamados de mensageiros?
         – Exatamente porque quando alguém nos procura em
determinados centros para tirar o mal que lhe foi colocado, nós
pedimos aos Exus que vão buscar os quiumbas, para saber como
devemos agir. E, de acordo com o consentimento da pessoa que
nos procurou, aí sim nós temos permissão para afastar e limpar
aquela vítima.
         – Mas porque eles trabalham em uma só denominação?
Ou melhor, eles só trabalham em religiões de origem afro-brasi-
leira, digo, Umbanda e Candomblé?
         Aí é que você se engana meu irmão. Eles trabalham,
assim como nós, em várias ou em qualquer denominação, por
isso são chamados de Anjo da Guarda, Protetor, Orixá, Guia de
Luz, Energia, Espírito Santo ou outros nomes. Mas em outras
denominações eles não se identificam, por não serem reconheci-
do como auxiliares de Deus ou laboriosos da Espiritualidade.

342
Trabalham em silêncio, pois seriam rejeitados e confundidos
com o “demônio”.
          – E Por que isso acontece?
         – Porque é assim que irmãos de outras denominações
aprenderam em suas religiões ou doutrinas, principalmente após
a crucificação do nosso Mestre Jesus. Porque os interesses polí-
ticos continuaram e também na intenção de não perderem o
controle sobre o povo. Com esse modo de agir, crucificaram
Jesus, o nosso Cristo, e muitos outros seguidores do Cristianis-
mo. Outros foram queimados vivos nas fogueiras, taxados como
feiticeiros, e bruxos na época da chamada Inquisição.
         – E por que vocês são chamados de Pretos-Velhos? É
uma maneira carinhosa de serem tratados?
         – Sim! Responde a Entidade. Mas também somos cha-
mados pelo nome. Por algumas pessoas que dirigem determina-
dos centros, ainda somos carinhosamente chamados de Pai, Mãe,
Vovó e Vovô.
         – Porque existem várias denominações religiosas e não
só uma? Afinal, Deus é único não é mesmo?
         – Você está totalmente correto, mas existem outras de-
nominações religiosas porque existem várias culturas diferentes.
Cada região tem seus costumes.
         – Mas como se sabe que existem várias crenças em uma
só região?
         – Os motivos desses acontecimentos talvez sejam as
imigrações ou colonizações. Cada um pratica sua fé de acordo
com sua cultura, e também com o que aprenderam com seus
líderes. As religiões se modernizam, assim como o mundo evo-
lui, mas ainda existem algumas que continuam a manter-se na
velha tradição. Imagine se todas as religiões resolvessem seguir a
Bíblia ao pé da letra, principalmente o Velho Testamento, que
relata Deus ordenando por intermédio de Moisés vários e vários
sacrifícios de animais? Como seria? – Curiosidade: a Bíblia nos

                                                              343
relata que o Rei Salomão sacrificou 200 mil bois de uma só vez
como oferta para Deus –. Há vários maneiras de cultuar a Deus,
mas você pode ter certeza de uma coisa, nós, Espíritos, estamos
a serviço dos humanos em todas as religiões por determinação
de Deus, pois os seres humanos também são Espíritos como
nós, cada um com sua sapiência. Mas necessitam de um porto
seguro, que são os Espíritos de Luz, pois os Espíritos encarna-
dos encontram-se presos a um corpo físico.
         – Vocês, Pretos-Velhos, são carinhosamente chamados e
considerados Espíritos simples e ignorantes, por se apresenta-
rem na condição de ex-escravos. Vocês nunca reencarnaram an-
tes, em outras condições? Quero dizer, não como escravos?
         – Filho, a nossa hora chegou e precisamos ir. Temos outras
missões, precisamos socorrer irmãos em recantos diferentes. Estão
me chamando com certa urgência, mas vou pedir para o irmão mé-
dium, do centro que vocês frequentam, para continuar com esta gos-
tosa prosa que estamos tendo por telepatia, da próxima vez que você
for àquela casa de orações. Deixarei outra Entidade próxima ao nosso
querido médium Lázaro para que ele responda suas perguntas.
         E os velhos somem ali, bem às vistas de João Eduardo e
Izabel.
         – Nossa, que fantástico! É inacreditável como nós con-
seguimos, – afirma Izabel. – Bem, temos de ir embora; já 6
horas da tarde e chegamos aqui ao meio-dia. Interessante, parece
que foi há apenas cinco minutos, como pode? E o pior é que
ninguém irá acreditar. E agora, quais serão as consequências? Meu
Deus! O que nós fizemos?

                             João e Izabel comentam o
                            ocorrido com Irmão Lázaro
       – Meu querido Irmão Lázaro. Nós estamos deslumbra-
dos com tudo o que vimos e ouvimos ontem, foi realmente
344
fantástico. Aprendemos muito com os nossos irmãos do Plano
Espiritual. Sem querer abusar da sua costumeira atenção, mas
nos ficou uma pergunta que eu gostaria muito de saber, – diz
João Eduardo.
         – Pode perguntar meu irmão, – responde o médium
com carinho. – Se a pergunta estiver ao meu alcance, com pra-
zer responderei.
         – Eu perguntei aos Pretos-Velhos sobre reencarnação,
mas especificamente no caso deles, perguntei se eles tinham pas-
sado por outras reencarnações, em outras condições antes deles
virem como escravos.
         – Sim, com certeza, passaram sim. São Espíritos muito
antigos, que já tiveram várias reencarnações.
         – Então por que eles regrediram tanto?
         – Aí é que você se engana, meu bom amigo. Esses Espí-
ritos são elevadíssimos, e quanto mais o espírito é elevado, mais
humilde é, prova disso é Jesus, o mais elevado dos Espíritos que
encarnou no plano terrestre. Ele foi e é o Mestre dos Mestres.
No entanto, ele nasceu em uma família humilde, em uma man-
jedoura, e em nome de seu povo ele aceitou passar por tudo que
passou com resignação. Vou lhe fazer uma pergunta: Como você
reagiria se fosse preso, humilhado, obrigado a trabalhar todos os
dias de sua vida sem remuneração e ainda fosse surrado?
         – Eu ficaria muito revoltado, e assim que eu tivesse opor-
tunidade me vingaria.
         – E se você não tivesse tempo de se vingar?
         – Como assim?
         – Quero dizer o seguinte: Se você desse passagem, mor-
resse antes de conseguir se vingar de seus algozes?
         – Bem, aí então, no Plano Espiritual, eu passaria vibra-
ções de ódio, revolta e tudo que estivesse ao meu alcance para
me vingar dos meus algozes.
         – Entre todos aqueles escravos que saíram de suas terras

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natais e foram espalhados em outros continentes, havia Espíri-
tos atrasados, ignorantes. Esses realmente são vingativos e maus!
Mas essas entidades que se aproximam de nós médiuns e trazem
palavras de amor ao próximo, usam como bandeira o amor ao
próximo, a caridade e a solidariedade. São Espíritos elevadíssimos
que nos ensinam chás e benzeduras, nos trazem palavras de con-
forto que levantam nossa autoestima. Por isso eu lhe afirmo,
com toda a convicção, que são Espíritos de várias passagens pela
terra. Eles foram escravizados, surrados, humilhados e mesmo
assim são solidários, caridosos e resignados. A filosofia deles é
bem semelhante aos ensinamentos do nosso Mestre Jesus, eu
diria que Jesus foi o maior médium de todas as épocas, e esses
Pretos-Velhos, como carinhosamente os chamamos, são Espíri-
tos extremamente sábios, e quanto mais elevados e sábios, mais
simples eles são. Veja o maior exemplo disto, que foi a vinda do
Mestre, daquele espírito maravilhoso que passou pela terra há 2
mil anos. Jesus não tinha bens, vestia uma túnica simples, anda-
va de sandália com total simplicidade, pregava o amor, a carida-
de e insistia: “Amai os inimigos assim como eu vos amei”, e ele
foi condenado à crucificação, foi surrado, humilhado, cuspiram
em seu santo rosto e ainda, quando ele estava para dar passagem
ao Plano Espiritual, disse: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o
que fazem”. Se o Espírito tivesse a necessidade de mostrar-se como
ele é, Jesus viria com pompas de um rei, se declarando como o
imperador, morando em um belo palácio e com vários súditos e
escravo à sua volta, com toda a pose de um verdadeiro rei, assim
como ele realmente é, por ser o mais elevado dos Espíritos como
também por hierarquia, porque era descendente dos reis Davi e
Salomão. Mas lhes afirmo: quanto mais o Espírito é elevado,
com mais simplicidade ele se identifica.
         Nesse momento, o médium entra em transe e aproxima-
se um mentor para continuar o dialogo com João e Izabel. E as
perguntas brotam no pensamento de João.

346
– E aquela criança que também se materializou, quem é?
         – Isso você saberá daqui a algum tempo,– responde a
entidade. – Eu lhe aconselho a nunca mais fazer esse tipo de
pedido ou quase exigência de um espírito, principalmente de
um irmão maravilhoso e dócil como o Irmão X. Não mexa
com o desconhecido e lembre-se: Deus não castiga ninguém,
são os nossos próprios atos que nos condenam ou absolvem.
         Assim que João e Izabel chegam em casa, sua filha Gabi
corre a lhes dizer.
         – Papai, sonhei outra vez aquele mesmo sonho!
         – Gabi, pare com esses sonhos. Sua mãe não está prepa-
rada para ter outro filho.
         – Isso deve ser um desejo seu, é a vontade de ter mais
um irmãozinho filha, retruca a mãe.

                                       Na sessão seguinte
        Antes de iniciada a sessão, João conversa com o médium.
        – Meu bom irmão, minha filha já sonhou pela segunda
ou terceira vez com minha esposa grávida. Você tem alguma
explicação para isso?
        – Sonho é algo fantástico. Às vezes é coisa que passamos
durante dois, três ou até seis meses, aí mistura no nosso sub-
consciente e o sonho se torna confuso. Mas quando é previsão,
o sonho é repetitivo, digo, é sempre semelhante. Pode acontecer
o que foi revelado no sonho ou ser ao contrário do que a pessoa
está sonhando. Você não deve se preocupar com isso meu ir-
mão. Pense em Deus e na Lei do Universo.
        – Como é a Lei do Universo?
        – Seria mais ou menos assim: Deus, em sua infinita sa-
bedoria, fez as leis com muito equilíbrio e justiça, assim como
cada país tem as suas constituições, e nas constituições o povo
tem direitos e deveres. Na Lei do Universo há a constituição e
também o livre-arbítrio, que são os direitos, e com os deveres
                                                            347
cumpridos corretamente os espíritos não sofrem danos. Elevam-
se aí os Espíritos que respeitam as Leis do Universo e que não
necessitam mais do mundo de expiação até que chegam ao pla-
no máximo, que é o Plano Angelical. Aqui em nosso plano, os
seres mais puros são as crianças, e no Plano Espiritual, abaixo de
Deus estão os anjos.
         – Como você sabe tudo isso meu irmão? Estou fascina-
do com seus conhecimentos.
         – Os nossos queridos irmãos (as Entidades) nos passam
esses ensinamentos, digo conhecimentos.
         – Eu lhe falei do que vi ontem! Nunca, mas nunca mes-
mo eu vou esquecer toda aquela maravilha. Em outra oportuni-
dade em que tivemos uma longa conversa, você me falou da
materialização de Espíritos, e que só seria possível pelo
ectoplasma. Lembra-se?
         – Claro que me lembro. Mas vou pedir para outro ir-
mão, especialista em materializações, que lhe explique melhor
sobre o assunto.
         – Logo em seguida, se faz presente outra Entidade para
passar esses conhecimentos ao atento ouvinte e aprendiz João.
         – Bem meu irmão, o ectoplasma é um material que
exala da boca, nariz e ouvido do ser humano. Normalmente é
um material puro, mas se torna impuro quando é ingerido em
forma de bebidas, alimentos e outros, e também pelas más ações
que o ser humano comete diariamente, transformando a
adrenalina em ectoplasma maléfico. Para se tornar um médium
de materialização, é necessário que haja uma total abstinência
dessas coisas e até de sexo. Para que se torne possível a
materialização de Espíritos, o ectoplasma não pode ser impuro
e o médium tem que estar bem preparado para essa finalidade.
Para você ter uma ideia, os banhos de ervas ajudam a limpar o
perispírito, com isso o ectoplasma fica um pouco mais puro
         – E pode ser qualquer médium? – Pergunta Izabel.

348
– Veja bem, para acontecer esse fenômeno é necessário
que o médium seja especialista em materialização. Assim como
existem médium de transporte, médium de cura, médium de
evangelização, psicografia, entre outros.
         – Mas ali onde estávamos só estávamos eu e minha es-
posa, não havia nenhum médium de materialização. Então,
como ter ocorrido aquele fenômeno?
         – E você tem alguma dúvida do que viu?
         – Nenhuma. Hoje eu tenho certeza de 100 por cento da
existência daqueles irmãos.
         – Meu filho, assim como o médium de materialização
exala o ectoplasma, nas árvores esse material é encontrado em
abundância..
         – Nas árvores? – Pergunta João com muita admiração.
         – Sim, nas árvores. – Responde a Entidade com muita
segurança e simplicidade. – Elas captam a energia que está no ar,
também conhecido como oxigênio, e a transforma em
ectoplasma. As árvores têm em seu interior proteínas, vitami-
nas, sais, anticorpos etc., porque elas têm ligação direta com a
terra e captam as energias do subsolo, onde também se situa ou
esta armazenada o melhor ectoplasma. É lá que está concentra-
do todo o processo energético do planeta. Por exemplo, a água,
o ferro, o fosfato, o enxofre, o zinco, o petróleo, pedras precio-
sas e outros. Pelas árvores terem vida própria é que elas exalam
em abundância um excelente ectoplasma. As árvores também
procriam; existem árvores machos e fêmeas. Elas soltam as se-
mentes como uma desova e geram mudas que crescem como
um renascer ou reencarnar, e assim as árvores velhas morrem.
Ou renascem, pois a pequena muda que nasce é a mesma arvore
velha que morreu. Os médiuns de materialização, estes sim pre-
cisam passar por um rigoroso processo de preparação. Para você
ter uma idéia, o médium tem que ser vegetariano, abdicar do
sexo, entre outras coisas. Por aí dá para se notar a ligação de

                                                              349
ambos, ou melhor, dos médiuns e das árvores. Enfatizo: o mé-
dium deve se alimentar somente com vegetais para armazenar
um ectoplasma mais puro ou de boa qualidade.
        – É realmente fantástico e faz muito sentido tudo que
você me falou.
        – Bem, se você não tem mais nenhuma dúvida, até ou-
tro dia meu filho. Que a paz esteja contigo.

              Em outra sessão, na semana seguinte
         – Boa tarde, meu bom Irmão!
         – Bem, você está satisfeito com o seu aprendizado?
         – Com toda certeza, estou muito satisfeito. Agora que-
ro lhe fazer outra pergunta: É possível falar com o Irmão X?
         – No futuro, sim.
         – E com o Irmão Y?
         – Também não. Depois do que eles lhe proporciona-
ram, você terá de aguardar um bom tempo para falar com o
Irmão Y. Quanto ao Irmão X, nós perdemos o contato.
         – Porque isso aconteceu? Eu sou o culpado?
         – Veja bem, os bons Espíritos não acusam e nem defen-
dem. A Lei do Universo ou a nossa constituição, como vocês o
chamam aqui na Terra, é que se encarrega dessas coisas. Nós só
procuramos ajudar, orientando os seres da sua dimensão.
         – E em qual dimensão está o Irmão X?
         – Em um lugar que se parece com uma escola. De lá ele
regressará para onde for designado pelos nossos superiores.
         – Você diz regressar, voltar para onde ele estava?
         – Tanto ele pode fazer uma viagem longa, como pode
ser uma viagem curta.
         – Viagem longa ou curta?
         – Longa, para outras galáxias, outros planetas. Curta, na
própria galáxia. Portanto, temos que aguardar, mas certamente
350
você terá contato com o Irmão X de alguma forma. Como, eu
não saberia lhe dizer.
        – Só mais uma coisa, meu bom irmão.
        – Pode falar, estou à sua disposição.
        – Por que o tempo passou tão rápido naquele momen-
to de materialização com o os irmãos X, Y e outros? Permanece-
mos naquele lugar por seis horas, mas eu e minha esposa tive-
mos a impressão de que foram apenas cinco minutos.
        – Para acontecer aquele tipo de materialização você en-
trou na nossa sintonia, e assim sendo, os seu perispírito entrou
em outra dimensão, a dimensão espiritual. Quando vocês se
concentram para chamar ou invocar um Espírito, entram em
sintonia com o mundo espiritual. Então, o Espírito que você
invocou é sendo chamado para o seu habitat, mas naquele caso,
o Irmão X queria lhes dar a tal prova, foi ele quem entrou em
sintonia com vocês. Seu Espírito foi conduzido ou invocado
para o nosso habitat, por isso vocês estavam conscientes, mas
totalmente imóveis. Por isso, em seus pensamentos acreditaram
terem se passado apenas cinco minutos, mas foram aproxima-
damente cinco a seis horas na contagem da Terra. Os Espíritos
que trabalharam nesse projeto se conectaram com vocês pelo
cordão de prata que há na cabeça de ambos e de todo ser huma-
no. Esse cordão de prata é a ligação entre o mundo físico, o
mundo espiritual e os vossos corpos na dimensão terrena. E mais,
seus espíritos estavam ligados às suas matérias e ao mesmo tem-
po em nosso habitat.
        – Exatamente: Eu achei que tinham se passado só cinco
minutos, por isso fiquei perplexo.
        – Bem, tenho de continuar minha caminhada. Até um
dia, e que a paz esteja com vocês.




                                                            351
Na Dimensão dos Espíritos
         – O Mentor que trabalha junto ao plano inferior está
fazendo o caminho de volta? – Pergunta Irmão Y.
         Sim irmão Y, estou. – Responde o Mentor. Iremos pas-
sar outra vez por lugares horríveis, mas com estas roupas de chum-
bo plasmadas não correremos perigo de contaminação pelas más
vibrações. Basta que sejamos cautelosos e não tenhamos medo.
O medo poderá nos trazer problemas, pois atrai as más vibra-
ções. Mas lembre-se: somos mais fortes do que eles. A minha
legião está aqui para defender-te das legiões do mal.
         – Quer dizer que quanto mais fortes essas vibrações, mais
próximos estamos da Terra?
         – É por isso que a Terra é o plano de expiação, onde
nenhum ser humano é totalmente feliz. Sempre tem seus altos e
baixos, e o Criador é tão bondoso que mesmo sendo um mun-
do de expiação, ele proporciona paz, alegria, prazer e felicidade.
O espírito encarnado (ser humano) pode ser totalmente feliz,
basta querer e saber ser feliz.
         – Como assim? Pergunta irmão Y.
         – Basta que o ser humano não seja soberbo, ou melhor,
que seja feliz com o que ele conquistou, ou, como dizem no
plano terrestre, ser feliz com o que Deus lhe deu.
         – Por que o Irmão X segue por outro caminho?
         – Você Irmão Y, irá para um lugar onde poderá repor
sua luz e suas energias. Quanto ao Irmão X, o Mentor Superior
lhe dará as devidas explicações.
         Algum tempo depois, Irmão Y, pergunta.
         – Nos já estamos na linha que divide a luz das trevas?
         – Sim, – responde o mentor – a partir daqui você segui-
rá sozinho. Logo encontrará o Mentor do Plano Superior. Que
a paz esteja contigo.
         – Tenho que tirar estas roupas e continuar minha
352
caminhada, ainda com muita cautela.
         Pouco depois, Irmão Y encontra outros Espíritos que o
ajudam na caminhada.
         – Vamos Irmão Y, agora você irá para um lugar onde
poderá se recuperar dessa sua nova experiência.
         – Mas onde está o irmão X? Para onde ele foi? O Mentor
do plano Inferior nos disse que teríamos de nos separar, mas por
que, se nós fomos designados para trabalharmos juntos? Somos
velhos parceiros Mentor, por favor, me esclareça..
         – Ele foi se preparar para reencarnar no mundo de expi-
ação, a Terra. E você, prepare-se para cuidar dele durante a gesta-
ção de sua futura mãe.
- Como assim? Explique-me melhor Mentor, pois essa experi-
ência para mim é nova. Por que não serei eu a reencarnar? Irmão
X é mais elevado do que eu, mais sábio e tem mais luz.
         – Tudo, mas tudo mesmo tem sua razão de ser. Nada é
por acaso, e o nosso Criador sabe exatamente o que é certo ou
errado, por isso não devemos questionar meu irmão, as Leis do
Universo. O que sei é que houve uma regressão dele por ter
aceitado aquele desafio, e uma regressão menor de sua parte por
tomar partido. Só que ele tomou aquela atitude para mostrar a
verdade do nosso plano e por amor ao seu amigo, ou melhor, ao
seu bisneto de vidas passadas, e isso ele fez sem uma real
necessidade. Você resolveu tomar partido e acompanhá-lo por
fidelidade ao seu amigo Irmão X, que é seu companheiro nas
missões.
         – E por quanto tempo cuidarei do Irmão X?
         – Assim que acontecer a fecundação. A partir dali, o
Irmão X estará ligado ao Espírito da sua futura mamãe, e o
ponto de ligação é o umbigo, que se liga à placenta. Você
terá muito trabalho pela frente!
         – Por que terei tanto trabalho? Afinal, o Irmão X é
muito dócil. E haverá mesmo a necessidade dele reencarnar?

                                                               353
– Questiona irmão Y.
         – Nosso superiores sabem o que fazem, tenha certeza
disso.
         – É, eu sei. – Responde irmão Y. E por que terei tanto
trabalho?
         – No momento da concepção e também durante a ges-
tação da futura mãe, haverá vários Espíritos do plano inferior,
cada um deles com um objetivo.
         – Como? Explique-me melhor...
         – Haverá Espíritos das legiões inferiores querendo to-
mar aquele corpo para reencarnar, sendo que aquela futura mãe
não esta predestinada a tal situação, e do outro lado, Espíritos
que só pretendem causar danos, por sadismo etc. Assim como
os espermatozóides competem entre si para sobreviver e realizar
a fecundação, esses espíritos trazem vibrações negativas para o
pai ou a mãe, tentando provocar rejeições e aborto, doenças,
desavenças e outros males, deixando a mãe muito tensa. Enfim,
a sua missão será transmitir vibrações positivas pelo cordão de
prata àquela família, e principalmente para a futura mamãe. E a
melhor maneira ou técnica é transmitir pelo cordão de prata,
que está no centro da cabeça das pessoas de forma invisível para os
olhos humanos, e que liga o mundo material com o mundo as-
tral. O cordão é invisível para os habitantes da Terra, mas visível
para nós, Espíritos.
         – E terei de fazer isso sozinho?
         – Aconteceu algo muito interessante a seu favor por você
ter tomado partido pelo Irmão X. Aquela equipe de 2 mil Espí-
ritos com a qual você trabalha...
         – Sei, sei, onde estão?
         – Calma, estão a caminho daqui, pois chegaram a um
consenso e todos resolveram que deveriam tomar partido a seu
favor. Portanto, a partir de agora você comandará essa legião.
         – Mas nessa equipe eu sou apenas um auxiliar!
354
– Acontece meu bom irmão, que a missão é sua. Você
comandará, tenha fé!

                                    À procura de Irmão X
        Um dos Mentores informa que Irmão X já está pronto
para sua nova etapa. Perdeu a consciência quase que totalmente,
restando apenas alguns resíduos de sua vida espiritual. Agora ele
é uma criança no Plano Espiritual. Uma criança que renascerá na
Terra.

Enquanto isso, no Plano Físico...

         – João, meu amor, aquela experiência que tivemos com
aqueles Espíritos foi fantástica. Eu gostei muito de ter estado lá
com você, pois hoje somos espíritas muito mais convictos.
         – Eu tenho lido muito e hoje compreendo que não de-
veria ter exigido tanto do Irmão X. Quem sabe um dia nos
possamos vê-lo novamente, ou até mesmo tocá-lo.
         No dia seguinte, Izabel acorda indisposta
         – Eu não estou bem João, gostaria de ir ao médico, –
diz Izabel.
         – O que você tem Izabel, o que está sentindo?
         – Não sei, mas estou com tonturas e com o estômago
ruim.
         – O estômago dói?
         – Não, mas não consigo comer nada.
         – Arrume-se e vamos ao médico.
         Muito preocupado com a saúde da mulher, João a acom-
panha ao consultório, onde o médico pede uma série de exames
e os orienta a retornar com os resultados.
         Assim que ficaram prontos os exames, eles retornaram

                                                              355
ao médico, sem que houvesse nenhuma melhora de Izabel.
        – Aqui estão os exames, doutor.
        O médico abre o envelope e pede que ela se deite na
maca. Mede sua pressão arterial e a examina minuciosamente.
Pede que ambos sentem-se, pois tem uma notícia para o casal.
Volta-se para o preocupado esposo e lhe diz:
        – Sr. João, meus parabéns! Sua esposa está grávida, e já
está com 45 dias de gestação.
        – Mas não é possível, doutor, pois ela é muito cuidado-
sa com os anticoncepcionais.
        – Dona Izabel, a senhora está com a cartela de anticon-
cepcional aí?
        – Estou sim, e tomo rigorosamente há muito tempo.
Nunca tive nenhum problema.
        O médico examina a cartela cuidadosamente.
        – É inexplicável, pois estes anticoncepcionais são extre-
mamente eficientes. Enfim, ela está realmente grávida, estes exa-
mes não falham...
        – Bem, que seja tudo como tiver de ser. Seja como que
Deus quiser... Com certeza será bem-vinda, ou então, bem-vindo.
        Pouco depois, em casa, Gabi exclama.
        – Viu só o meu sonho mamãe, como deu certo?
        – É Gabi, realmente é incrível.
        – Mamãe, muitas vezes eu tive aquele mesmo sonho,
mas há algum tempo parei de sonhar, só que não comentei mais
dos sonhos para não aborrecê-los. Engraçado, depois que sua
gravidez foi confirmada, sonhei com outras coisas.
        – Às vezes a gente não quer acreditar, mas isso não passa
de um aviso, pode ter certeza. – Responde Izabel.
        João chega em casa nesse momento e, todo sorridente,
cumprimenta as duas e galanteia a esposa.
        – Izabel, você está quase de cinco meses e cada vez mais
bonita.

356
– Obrigada, meu galã! Você é um sedutor.
       Em seguida, os dois saem para fazer uma visita ao queri-
do amigo Lázaro, o médium.

                João e Izabel com o médium Lázaro
         – Porque não tivemos mais contato com os Irmãos X e Y?
         – Parece-me que o Irmão Y está muito próximo, – res-
ponde o Irmão lázaro. – Eu sinto isso, mas não consigo contato
com ele. E com Irmão X, é como se ele já não mais existisse, e
ao mesmo tempo, quando vocês estão próximos, parece-me que
ele esta por perto. É muito estranho, argumenta o médium.
         – Meu Deus, não me fale isso. Minha consciência preci-
sa saber sobre ele. Um Espírito pode ser destruído, meu irmão?
         – Não, não, fique tranqüilo. Todo espírito, sem exce-
ção, é eterno. O que pode acontecer é uma transformação, ou
uma elevação muito alta.
         – Como assim, meu bom médium?
         – Se ele se elevou, ou como se diz por aqui, se progre-
diu, obteve tanta luz que não é possível mais contato com nosso
mundo de expiação. Mas também pode ser que ele esteja se
preparando para reencarnar, e isso seria uma transformação. Nesse
caso, o Espírito perde totalmente sua consciência, esquecendo
todas as suas vidas anteriores. Volta a ser uma criança totalmente
inocente, mais inocente ainda do que uma criança recém-nasci-
da. Mas sempre traz, em seu subconsciente, o que aprendeu no
passado. Veja você que uns sãos bons em Matemática, outros
em Ciências e também outros na Arte da pintura, em literatura,
trabalhos braçais, enfim, por isso é que dizemos que todos nós,
encarnados ou desencarnados, estamos sempre a caminho da
evolução.
         – E qual das duas hipóteses você considera mais provável?
         – Meu bom amigo, isso eu não posso lhe responder,

                                                              357
pois não somos juízes, e pensando assim nós estaríamos fazendo
um julgamento. Algum tempo atrás lhe foi prometido que você
mais cedo ou mais tarde haveria de ter contato com o Irmão X,
não foi?
         – É verdade, por isso eu amo a Espiritualidade. Tudo,
mas tudo se conclui. Sempre chegamos a um consenso, sem
contradições, sem mentiras, todas as previsões ou promessas se
cumprem. E lhe afirmo, meu irmão médium, o que seria de
mim e de minha família sem as suas orientações?
         – Então fique tranquilo, pois tudo o que os bons Espí-
ritos prometem, passe o tempo que passar, há de se cumprir
pela misericórdia Divina. E quanto à minha ajuda meu irmão
João, se não fosse eu a lhe auxiliar, haveria outros. Com toda
certeza existem bons médiuns espalhados nos centros espíritas
por aí afora.
         – E na hipótese do Irmão X reencarnar ele não tem lem-
brança de nada? Como será? – Pergunta Izabel, aflita.
         – De um jeito ou de outro vocês terão contato, e será
com ele, isso eu lhes garanto.
         Izabel, que a tudo ouvia com muita atenção, não pode
deixar de perguntar.
         – Mas como saberemos?
         – Eu não posso lhe afirmar nada minha irmã, mas com
certeza haveremos de saber.
Saberemos de sua existência onde ele estiver. Se os nossos ir-
mãos do Plano Espiritual prometeram contato com ele, certa-
mente teremos. Isso sim eu posso lhe afirmar, só não sei como e
quando será esse contato.
         Nesse momento Izabel se emociona, pois o bebê que
está em seu ventre se precipita e começa a mexer-se para lá e para
cá, como se estivesse dizendo: – Eu estou aqui! Percebendo o
médium que algo estava se passando naquele momento, com
muita sutileza pede para que ela fique tranquila. Mas a suspeita

358
do médium se concretiza, tendo ele a certeza absoluta de quem
era aquela criança que Izabel protegia com sua própria vida. Sendo
ela já de certa idade e com sequelas provocadas pela grande quan-
tidade de bebidas alcoólicas que ingerira no passado, o irmão
médium procura de todas as formas lhe acalmar.

                                Na dimensão do Irmão Y
         Percebendo que a reação do Irmão X é devido à sua an-
siedade, não tendo ele consciência, mas por instinto tivera aque-
le gesto querendo sentir o afeto dos futuros pais pelo amor que
tinha de vidas passadas, o Irmão Y faz um apelo aos seus auxili-
ares.
         – Peço à equipe que fiquem todos atentos, pois estou
tendo muito trabalho para conter os espíritos inferiores. Houve
uma reação inconsciente do Irmão X, e esses espíritos inferiores
querem aproveitar a oportunidade e vibrar negativamente pro-
vocando um aborto. Assim, pode haver um acidente com a mãe
e não é o momento de ela dar passagem. O casal tem de cum-
prir sua missão e sucessivamente aceitar os seus desígnios.
         A luta no Plano Espiritual é muito grande para conter
os espíritos aproveitadores, das trevas. Irmão Y teve de contar
com a ajuda não só dos médicos do mundo espiritual, como
também do casal de Pretos-Velhos, do Mentor que trabalha no
plano inferior e também do Mentor Superior. Sabedor da im-
portância que o momento requeria, o Irmão Y intuiu o mé-
dium a dar assistência à futura mamãe com orações e Mãe
Benedita, por telepatia, sugeriu a Lázaro que lhe desse um bom
chá de camomila com cidreira para Izabel ficar mais calma, e
também um banho de rosas brancas e flor do campo para puri-
ficar a aura da futura mamãe.
         – Minha irmã. Estou recebendo uma mensagem do Ir-
mão Y e também de Mãe Benedita e outros mentores. Eles me
                                                              359
aconselham por intuição a rezarmos, termos muita fé, em Deus
e ficar bem sintonizados com os nossos irmãos protetores. E
mais: Mãe Benedita me recomenda para termos muita calma.
Tome este chá e tudo ficará bem. Assim que você chegar à sua
casa, deverá tomar um bom banho com rosas brancas e flor do
campo para limpar sua aura.
         – Eu já estou bem, graças a Deus.
         – Meu irmão, agora sou eu que não estou bem, – argu-
menta João.
         – Fique tranquilo João, você receberá uma mensagem.
         – Como assim?
         – A partir de agora João, você tem um dever, ou uma
missão, como preferir. Você irá trabalhar com os nossos irmãos.
         – Como? Não entendi.
         – Essa reação que você está tendo é a aproximação de
uma Entidade.
         – Mas eu não estou preparado para tão importante missão!
         – Tudo que você passou e irá passar lhe servirá como
uma grande experiência, e será a preparação para a sua missão na
condição de médium, para servir a Deus e às pessoas que irão lhe
procurar. A partir de agora você esta sendo convocado pela
Espiritualidade para pagar, em forma de doação, tudo o que
você recebeu do mundo extrafísico. Em breve você terá que pres-
tar serviços a quem lhe procurar. E lembre-se: Uns vêm para
servir, outros para serem servidos. Chegou a hora de você retri-
buir pelo muito que recebeu. Primeiramente de Deus, e depois
dos nossos queridos irmãos, auxiliares ou discípulos de nosso
querido Jesus e do Pai que está no Céu.
         – Seja como Deus determinar, estou à disposição da
Espiritualidade.
         – Mas lhe aviso, recomenda Irmão Lázaro. – Você so-
frerá calúnias, humilhações e ingratidões. Muitos lhe dirão que
você está no inferno, levará o nome de feiticeiro, bruxo etc., terá

360
várias decepções em nome da caridade, da solidariedade e da fé,
ou melhor, em nome de Deus. E peço que você se lembre de
uma coisa: aqui, no plano terrestre, que é um dos mundos de
expiação, nem tudo é um mar de rosas, haverá muitas e muitas
decepções. O importante é que seu Espírito, na condição de
médium, esteja sempre bem. Lembre-se do que Jesus passou
aqui neste mundo de expiação por ser justo, solidário e defender
os fracos e necessitados, sempre enfatizando o amor ao próxi-
mo. Ele afirmava que todos os seres humanos são filhos do
mesmo Pai. E eu lhes afirmo que tanto o ser humano por mais
perdido que seja, assim como os espíritos trevosos, são filhos do
mesmo pai, portanto, todos nós, encarnados ou desencarnados,
precisamos evoluir, sempre a caminho da PERFEIÇÃO. A nos-
sa missão é a sempre trazer para Deus os filhos perdidos, espíri-
tos que habitam aqui ou no mundo extrafísico. Jesus foi caluni-
ado de todas as formas mas não perdeu o amor ao próximo,
porque sua missão era resgatar os pecadores para o Pai que esta
no céu.
        – Se amanhã eu amanhecer vivo, Deus estará comigo.
Mas se eu não amanhecer, estarei com Deus. – Responde João
Eduardo com emoção (frase de autor desconhecido).

                                            Izabel dá à Luz
         Pelo telefone, João Eduardo avisa sua irmã Margarida.
         – Margarida, minha irmã, estou ligando para lhe infor-
mar que sou pai outra vez, e é um lindo garoto. Avise a Clotil-
de, por favor.
         – Meus parabéns, meu querido irmão. Fique tranqüilo
que avisarei a Clotilde e em seguida vou para o hospital. Até já.
         Algum tempo depois, chegam ao hospital as ansiosas
tias para dar às boas vindas ao recém-nascido.
         – Ele é lindo! Como vai se chamar João?
                                                             361
– Será Daniel o nome dele, Clotilde.
         – Por que Daniel? Tem algum motivo? – Pergunta
Margarida, curiosa.
         – Sim, é o nome de um grande personagem bíblico.
Não sei o porquê, mas esta criança parece com alguém que já vi
ou com quem convivi há muito tempo. Mas não é desta vida,
ou melhor, não é nosso contemporâneo.
         Suavemente, o pensamento ou o subconsciente de João
estava naquela criança que se materializou após a aparição dos
irmãos X e Y.
         Margarida sorri ao responder.
         – Criança recém-nascida se confunde muito com outras
pessoas. Daqui a pouco chega alguém e diz que ele se parece
com o pai, outro diz que tem o nariz da mãe e as mãos da tia...
         – Só que essa semelhança me deixou intrigado. Vocês
não acreditam, mas no momento em que peguei esta criança e
coloquei no meu colo pela primeira vez, ele me fez um ar de
riso, como se me dissesse que agora está tudo consumado, ou
que conseguimos o que queríamos. Com certeza isto é coisa da
minha cabeça!
         – Pare com isso João! Não ponha nada na cabeça. – Diz
Clotilde. – Crie o meu sobrinho com carinho e tudo bem.
         – E trate de benzer contra quebranto, pois ele é muito
bonitinho. – Completa Margarida.
         – É isso mesmo, – concorda João. – Preciso parar de
imaginar o que não posso entender. Ah, lembrei-me que tenho
de ligar para Oscar e Anita. Eles estão na Rússia a passeio, mas
precisam saber das boas novas.




362
Camila prepara-se para a
                        chegada de seu segundo filho
          Após vários tratamentos para que sua segunda gravidez
pudesse se consumar, pois seu grande objetivo era dar um filho
para Luiz, Camila se prepara para ver confirmado o seu desejo:
estar grávida.
          – Camila, meu amor, vamos ao medico! Afinal, hoje é
o dia em que o Doutor Cláudio abrirá os exames para saber se
você esta realmente grávida ou não.
          – Vamos sim, meu amor, apesar de que eu tenho certeza
que aqui em meu ventre tem sim, sem dádiva, uma linda crian-
ça para brincar com Talita.
          Os dois se encaminham para o carro e seguem felizes até
ao consultório do Doutor Claudio. No caminho, Camila co-
mentava.
          – Mas como Talita é sortuda, você não acha meu amor?
          – É verdade, Camila.
          – Ela tem duas mamães, – diz Camila; – E dois excelen-
tes pais!
          – Obrigado pela parte que me toca, – agradece Luiz.
          Assim, ambos seguiram felizes para o consultório. Ao
chegarem, cumprimentam o médico e, após ele abrir os exames
laboratoriais, olha para Camila com certa satisfação.
          – Parabéns, Camila. Você será mamãe outra vez, os exa-
mes deram resultado positivo. Após tantas insistências da parte
de vocês e com vários tratamentos, você esta grávida, com abso-
luta certeza. – Afirma Doutor Claudio. – Agora é só seguir seu
pré-natal que daqui alguns meses vocês serão pais de mais uma
criança.
          Luiz, emocionado, não se contém. Mistura sorrisos e
lágrimas de tanta alegria. Após saírem da clínica, Camila diz a
Luiz que gostaria de dar as boas novas para Anita e Oscar. E Luiz
                                                             363
completa: – Também para o Senhor João Eduardo e sua esposa.
         Camila segue rigorosamente os exames de rotina. To-
mando as vitaminas recomendadas pelo medico, segue com to-
tal assistência de Anita e às vezes também de Izabel. As três se
envolveram com aquela criança que estava para chegar com uma
dedicação e amor incomparáveis, como se fosse filho de cada
uma delas. João, Oscar e Luiz aguardavam com muita ansieda-
de a vinda do futuro bebê.

        A vida espiritual do futuro filho de Camila
         – O tempo passa e, aos cinco meses de gestação de
Camila, Mãe Benedita recomenda a que ela faça alguns exames
mais específicos em relação ao estado de saúde do bebê. A inten-
ção daquela Entidade muitíssimo evoluída e sábia era prevenir e
preparar o casal e os amigos, do que haveria de vir. Recomendou
que não se preocupassem, pois o casal deveria aceitar os seus
desígnios. Quanto ao Espírito do futuro filho de Camila e Luiz,
nossa querida Mãe Benedita, que comandava com total dedica-
ção e amor uma legião do bem, de Espíritos devotos à boa cau-
sa, ordenou que fosse plasmada em uma tela especifica para es-
ses casos, a vida passada daquele Espírito que estava para reencarnar
na condição de filho de Camila e Luiz. Só assim ela poderia
analisar o melhor a fazer em prol de seu desenvolvimento físico
e extrafísico. Enquanto não ficavam prontos os resultados dos
exames laboratoriais pedidos pelo medico especialista cuidava
do pré-natal de Camila, Mãe Benedita e os demais Espíritos
colaboradores daquele pequeno centro espírita, após saberem
com absoluta certeza o que causou toda a deformação naquele
que seria o filho do casal, trabalham arduamente enviando ener-
gias benéficas em forma de passes magnéticos, tanto para o casal
Luiz e Camila, como também para o Espírito, que estava so-
frendo por causa dos abortos praticados por Camila. Mãe

364
Benedita concluiu que se aquele fosse tratado com os devidos
cuidados, sabendo de seu passado, tudo ficaria mais ameno em
relação ao que teriam de enfrentar. Assim, os pais poderiam acei-
tar com resignação o resultado dos exames e receber aquela cri-
ança com muito amor, e aquele espírito reencarnaria também
resignado e pronto para recomeçar a caminho da perfeição, sem
se perder por séculos no mundo obscuro do Plano Espiritual.
         Quando os exames ficaram prontos, o casal, com muita
preocupação e pensando no pior, ficou sabendo pelo médico
que aquela criança não corria risco de vida, mas que iria nascer
com retardamento mental e problemas de paralisia, tanto nos
braços como nas pernas, e que seria totalmente dependente dos
pais. Camila, ao receber a noticia chorou muito e se lamentou.
Maldizendo, ao mesmo tempo ela pedia perdão ao seu marido
dizendo que queria lhe dar um filho perfeito. Luiz, por sua vez,
não se conformava, pois tudo estava planejado para receberem
uma criança perfeita. Pensando dessa forma e com certa revolta
de ambos, em seus subconscientes eles sentiam que Deus queria
lhes castigar pelo que fizeram no passado, e com isto abriram a
guarda em seus corpos astrais deixando uma pequena brecha
para espíritos aproveitadores zombar deles, incutindo em seus
pensamentos mais um crime: o aborto. Por sorte, Camila e seu
marido estavam acompanhados de Anita no momento dos re-
sultados dos exames, e imediato convenceram ambos a irem até
a casa de Irmão Lazaro.
         Após um longo diálogo e também de excelentes orações
em favor de ambos e daquela criança que estava no ventre de
Camila, eles se acalmaram. Mesmo porque, Irmão Lázaro per-
cebeu que havia influência de espíritos aproveitadores, então,
pediu a presença de Mãe Benedita. Com isso, aproximou-se
aquela boa Entidade e sua equipe, afastando por definitivo aquela
legião de espíritos do maL.
         Após aquela pequena sessão particular, Camila e Luiz

                                                             365
aguardaram com ansiedade o dia dos trabalhos espirituais que
aconteciam semanalmente no pequeno centro espírita, na espe-
rança de que houvesse uma saída para aquela situação que eles
sentiam ser degradante.
         – Enfim chegou o grande dia, – comenta Camila. – Hoje
haverá uma sessão no centro espírita onde trabalha Mãe Benedita.
         Assim que começam os trabalhos espirituais, logo chega
a vez de Camila ser atendida.
         – Minha mãe, estou muito triste e decepcionada por
não poder dar ao meu marido um filho prefeito. Luiz não se
alimenta direito e vive pelos cantos se lamentando, e o meu
bebe já esta quase para nascer. O que eu gostaria de saber é se
existe alguma chance ou um milagre para que esta criança nasça
perfeita.
         – Minha filha querida. – Responde Mãe Benedita com
carinho. – Esta criança, ou seu espírito, sofreu muito em suas
tentativas de reencarnar. Foram quatro abortos provocados, não
é mesmo? Portanto, a cada tentativa dele reencarnar, havia uma
interferência provocada pelo tal aborto. O que quero lhe dizer é
que pesquisamos a vida espiritual do seu futuro filho e conclu-
ímos que em sua primeira tentativa de reencarnar ele escolheu
você para ser sua genitora. Era um Espírito sem seqüelas. Lógico
que egocêntrico, porém, perfeito em seu corpo astral. Mas a
cada aborto que ele sofria, havia uma desordem em seu
psiquismo. Em contrapartida, sentia o que o corpinho daquela
criança que estava no ventre de sua futura mamãe sentia, digo,
as dores no momento em que o feto estava sendo dissolvido ou
sendo tirado aos pedaços do útero pelo veneno ingerido. Ou,
em outra ocasião, quando ele fora sufocado até a morte, e em
seguida, seu pequenino corpo fora jogado em um vaso sanitário
e de lá foi para os esgotos. O sofrimento foi muito grande,
tanto para aquele frágil corpinho, como também para o Espíri-
to que estava ligado ao feto, pois já se faziam parte um do

366
outro. O Espírito se decepcionava com a atitude da mãe que
escolhera com muito amor. A cada aborto que ela praticava, ele
sofria e regredia pela dor, angustia e o sentimento de rejeição.
O Espírito que procura a reencarnação, renasce exatamente para
cumprir suas tarefas em parceria com seus genitores. Lógico que
há casos e casos, cada um com seu histórico. E neste caso, quan-
do este Espírito tentou reencarnar por quatro vezes, é porque ele
fora designado para renascer pelo intermédio daquela mãe. Exa-
tamente pelo Espírito ainda não ter o esclarecimento suficiente,
quer passar pela encarnação para praticar seu aprendizado que
fora conquistado no Plano Espiritual. Mas por não ser ainda
totalmente esclarecido, sente revolta e angústia, assim sendo,
adquire sequelas horríveis em seu perispírito quando passa pela
degradante situação do aborto. Imaginem vocês dois como é:
Um ser humano, meio adulto, meio criança, digo, com parte
do corpo adulto e outra metade criança, afirmo isto porque
quando o Espírito esta em plena harmonia e aprendizado no
Plano Espiritual ele é semelhante à forma que tinha no plano
terrestre em sua última passagem. Mas quando decide reencarnar,
se inicia um processo para voltar e esquecer as vidas passadas.
Quando aconteceu o primeiro aborto, aquele Espírito estava
exatamente passando por essa metamorfose.
         No plano físico esse fenômeno acontece exatamente ao
contrário: todos nascem como crianças e aos poucos se tornam
adultos. Imaginem um de vocês sendo despojado ou arrancado
aos pedaços de um lugar com vida, onde só cabe uma pessoa e
mais nada. Como vocês se sentiriam? Quanto ao pai, eu vos
afirmo: ele também, de alguma forma está envolvido neste pro-
cesso, mas não há necessidade de comentários, pois cada caso é
um caso.
         Sem que houvesse nenhum tipo de acusação por parte
de Mãe Benedita, logo após um breve silêncio, tanto Luiz quanto
Camila reconheceram naquele momento porque deveriam

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receber aquela criança que estava para nascer com amor e muita
dedicação. Luiz colocou as mãos sobre o ventre de Camila com
aprovação e com muito carinho, e chorando dizia:
         – Meu querido filho, você será bem-vindo. Não tenha
medo, pois iremos lhe proteger com nossas próprias vidas.
         – Eu lhe garanto, – disse Camila.
         – Eu também prometo proteger-lhe acima de minha
própria vida.
         Naquele momento, a criança precipitou-se mexendo no
ventre da mãe para um lado e para o outro, como que se estives-
se entendendo e recebendo o afeto de seus pais. Todos os mé-
diuns que estavam fazendo parte daquela corrente presenciaram
o momento de emoção que comoveu a todos. Mãe Benedita
pediu que os todos se reunissem em volta do casal para louvar e
agradecer a Deus e aos bons Espíritos que faziam parte daquela
legião de amor. – Que bom! – Resmunga Mãe Benedita. –
Mais um caso resolvido com êxito total. Louvado seja Deus em
sua infinita bondade e sabedoria.
         Após alguns dias, Camila se dirige ao hospital para dar à
luz e seu medico, antes de conduzi-la para a sala de cirurgia,
convida o casal para irem até sua sala, propondo a eles que se
quisessem, ambos poderiam acabar com o sofrimento, tanto do
casal, quanto da criança, e aquele momento seria a grande opor-
tunidade. Os honorários lhes custariam um pouco mais, mas
poderiam até ser parcelados. Camila e Luiz responderam não,
literalmente não.
– Nós queremos criar esta criança com amor, porque nós o
amamos em Espírito. E lhe digo mais, – continuou Luiz. – A
partir de agora, a vida desta criança está em suas mãos Doutor
Claudio, e lembre-se: o senhor é o grande responsável pela vida
do nosso bebê. Faça um bom serviço para que ele não sofra, do
contrário, a responsabilidade será só sua.
         – Percebo que o senhor não conhece o verdadeiro amor,

368
– argumenta Camila. Nós amamos esta criança de corpo e alma.
Para este Espírito se recuperar de seus traumas e seguir a cami-
nho da perfeição, se faz necessário que lhe doemos muito amor,
não importando seus defeitos físicos. Gostaria doutor, de ter
aprendido o que é o verdadeiro amor bem mais cedo.
          O médico ficou totalmente surpreso e desconcertado,
sem saber o que dizer, sem não ter nem como olhar para o rosto
do casal. Após Camila ser encaminhada para a sala de cirurgia,
Luiz exigiu que também participar do parto de sua esposa. Logo
após, com muita dificuldade, o médico e seus auxiliares conse-
guem trazer aquela criança ao mundo.
          Após a criança nascer, com carinho e muito amor doado
por Mãe Benedita, foram dados vários passes naquele bebê defor-
mado por consequência de quatro abortos praticados por Camila.
Após varias sessões naquela casa de caridade, a criança cresce em
plena harmonia. Seu Espírito havia sido curado de seus proble-
mas psíquicos e traumáticos e assim fora libertado de seus pesade-
los. Isso havia sido notado pelos amigos e membros do centro
espírita, porque aquele menino era extremamente meigo e de uma
inteligência fora do comum. Mesmo com seus defeitos físicos, a
cada dia em que o menino chegava de suas aulas especiais surpre-
endia seus pais, demonstrando estar bem acima de uma criança
normal em sua sapiência. O cérebro daquela criança continuou
com sequelas, mas a inteligência do seu Espírito fora restaurada
pelos excelentes psicólogos e psiquiatras do Plano Espiritual, e
também pelo amor doado pelos seus pais.

       Dois anos depois, na casa de João e Izabel
       – O nosso querido Daniel é dotado de uma inteligência
muito acima do normal, ele assimila tudo com uma facilidade
enorme, – comenta Izabel. – Eu sei que você gosta muito dele,
mas quero ouvir da sua boca. João, você ama nosso Daniel?
                                                              369
– Amo, amo acima da minha própria vida. Mas por que
a pergunta?
        – Porque eu sinto um amor tão forte por ele, que não
sei como definir. Às vezes chega até a me incomodar. E a sua
beleza também, pois verdadeiramente ele é de um semblante
angelical.

                               Na casa do Irmão Lázaro
         Irmão João, com a sua evolução mediúnica já adquirida
em nosso pequeno centro espírita, você está apto e tem permis-
são para dar passes nas pessoas que vêm nos procurar. O Irmão
Y designou um Espírito de sua equipe para acompanhá-lo e tra-
balhar com você, ele se chama Irmão Z. Quero dizer, este não é
o nome dele, mas é assim que ele irá se identificar até a conclu-
são de seu total desenvolvimento mediúnico. Assim que você
estiver bem sintonizado com esse espírito, você trabalhará com
mais dois irmãos de muita luz.
         – E quem são esses irmãos? São quem estou pensando?
         – Exatamente, são eles mesmos. O casal de Pretos-Ve-
lhos, e como auxiliar deles você terá...
         – Já sei, aqueles dois que nós chamamos de Exus, os que
estavam na entrada da mata no dia em que se passou aquele
fenômeno de materialização comigo.
         – Viu como você está preparado?
         – Só porque acertei quem são os auxiliares?
         – Não só por isso, mas por sua convicção.




370
Após três anos, Irmão Y e
                               sua equipe se manifestam
         – O que faz aqui Mentor? Veio comandar a nossa equi-
pe? – Pergunta irmão Y.
         – A missão é sua, Irmão Y. – Responde o mentor.
         – Então por que está aqui? – Pergunta Irmão Y com
carinho, porém, com certa preocupação.
         – Bem, já faz cinco anos, pela contagem na Terra, que
você está com essa missão como guardião do irmão X (Daniel),
e agora vem o mais difícil.
         – Como assim, meu bom Mentor?
         – Está quase no tempo do Irmão X retornar para o
mundo espiritual.
         – Não, não, como pode? Ele tem de voltar para o mun-
do espiritual?
         – Sim, é assim que deve ser...
         – Mas e a família? Eles o amam!
         – Nós também o amamos.
         – Essa família entrará em desespero total! – Responde
Irmão Y.
         – Você precisa de se conter Irmão Y, pense em Deus, são
seus desígnios. Chegou o seu tempo ou o final de mais uma
etapa. Os frutos têm de ser colhidos na época certa. Nossa mãe,
que é a mãe de Jesus também, sofreu com a passagem de seu
amado filho, mas seu tempo havia chegado. Esse tempo que
Irmão X passou na Terra foi o mesmo que ele regrediu no Plano
Espiritual, portanto, seu regresso para é inevitável, pois essa é a
Lei do Universo, e não podemos acrescentar nenhuma vírgula.
Por isso temos que aceitá-las com resignação e amor, Irmão Y. E
lembre-se: João, por ter consciência das consequências, tendo
concordado com aquela condição e sucessivamente com o in-
centivo de sua esposa, lhes foi concedido pela Espiritualidade
                                                               371
tudo o que se passou na vida deles, afinal, é para isso que existe
o livre-arbítrio. No entanto, João e sua esposa e também o Ir-
mão X, sabiam que haveria consequências. Não haveria a neces-
sidade de reencarnar se ele não tivesse aceitado aquele tipo de
pedido ou desafio. Como você sabe muito bem, Deus não
castiga ninguém, porém lhe afirmo meu bom irmão, que lite-
ralmente isso é causa e efeito. Mas pela afinidade ou parentesco
de vidas passadas dos três, João, Izabel e irmão X fraquejaram,
ignorando as Leis do Universo. Então, afirmo com toda segu-
rança que esse acontecimento pode-se chamar sim de causa e
efeito. Agora, diante das Leis do Universo ele terá de voltar. Pelo
que consta na nossa constituição, ou melhor, na nossa lei, ele
voltará no tempo certo, dentro do prazo determinado pelos
nossos superiores. Não será uma passagem prematura, nem um
dia a mais ou a menos. Essa é a lei que Deus deixou no Univer-
so. O Espírito resgata o que tem para resgatar. Lembre-se que a
terra é o plano de expiação, isso para nós é normal. Para os atuais
pais e familiares haverá choro, por não serem eles conhecedores
da verdade ou a realidade dos dois mundos. Mas por ser Irmão
X um Espírito muito sábio e de muita luz, por instinto ele sabe-
rá contornar a situação sem que haja desespero total ou angústia
dos familiares. E com o passar do tempo eles entenderão e até se
alegrarão por saber que há um Espírito de tanta luz, um anjo
verdadeiramente na família.
         – Eu insisto meu bom irmão, como vai ficar essa
família, meu Deus?
         – Falta um ano para isso acontecer. Lembre-se que isso
acontece todos os dias, em outras famílias e em toda parte do
planeta. Você estará muito mais ativo junto aos familiares de
João fazendo desde já uma preparação para quando isso aconte-
cer. Não haverá tanto desespero, pois eles conhecem em parte
como é o nosso mundo. Eles estão informados da melhor ma-
neira possível, tanto pelos bons professores que temos no mun-

372
do astral, como também pelos bons livros no plano físico que
eles leem, e temos também o nosso grande e querido médium,
o Irmão Lázaro, que no plano terrestre lhes passa bons
ensinamentos. Tudo dependerá da tua força e da sua fé, a sua
convicção da verdade ou da realidade. Você será a força da sua
equipe, e a força da sua equipe será à força daquela família.
         – E quanto aos espíritos inferiores, meu bom mentor?
Designará outra equipe para afastá-los do local familiar?
         – Irmão Y, não se preocupe com isso. Fique tranquilo,
pois já tomamos as devidas providências quanto à passagem do
Irmão X. Ele é um espírito esclarecido e de muita luz.

                                                     Na Terra
        Na casa do pequeno Daniel, seus pais recebem a visita
de Margarida e Clotilde, e os quatros não se cansam de admirar
a criança tão bonita e muito amada.
        – Você vê João, o Daniel está com cinco anos e já lê
qualquer livro corretamente. Como pode?
        – E as pinturas desse menino, que espetáculo! Cada qua-
dro maravilhoso. Você viu aquele, Clotilde? São nuvens com
uma porta se abrindo.
        É, realmente ele é fora de série, – concorda Clotilde com
a empolgada Margarida.
        – O que vocês esperavam, afinal, ele é meu filho! – diz
João, orgulhosamente.
        – Convencido, – diz Izabel em tom de brincadeira.
        – Você sabe que estou brincando, Izabel.
        – Todas nós sabemos, meu irmão. – Responde Clotilde.
        – E por falar em filho, como está o meu querido sobri-
nho Juarez? Nós sabemos que ele veio com você da França, onde
vocês residem atualmente, mas ainda não tivemos a satisfação
de vê-lo.
                                                             373
– É como lhe disse meu irmão, ele foi passar uns dias
com os avôs paternos. Depois que mudamos para a França ele
está mais educado. É que lá as escolas aplicam muito mais eti-
queta. Juarez fala muito de vocês e não se esquece do nosso
irmão Lázaro, aquele médium maravilhoso, que muito colabo-
rou para a sua cura. Ele faz questão de visitá-lo e de matar as
saudades de vocês agora nessas férias que estamos passando aqui
no Brasil. Por falar nisso, eu gostaria de convidar o Irmão Lázaro
para estar conosco na formatura de Juarez. Ele irá se formar
médico, e na festa de formatura gostaria da presença de vocês,
que são pessoas que tiveram muita importância em nossa vida.
As passagens e estadias para a França, tanto de ida quanto de
volta, serão por minha conta. E quanto ao nosso irmão Lázaro,
Juarez faz questão de receber a sua bênção na ocasião de sua
formatura O nosso Irmão Lázaro ainda mora no mesmo lugar
não mora? Estou lhe perguntando porque ele também é nosso
convidado de honra.
         – Irmão Lázaro, Mora aqui – João aponta para o cora-
ção, deixando que as lágrimas rolem de seus olhos, lavando seu
rosto.
         – Eu não entendi. Como assim, mora aqui?
         – Ele deu passagem, minha irmã, voltou para o nosso
verdadeiro mundo, o mundo real, para o mundo dos Espíritos,
minha irmã. Quando ele se foi, deixou um abraço fraterno para
você, seu filho e para Clotilde. E pediu para nós não chorarmos
por ele, pois ele tinha a convicção de que tudo ficaria bem. Com
certeza ele tem muita luz e pediu, por favor, que nos alegrásse-
mos, pois se assim o fizéssemos ele também estaria alegre em
sua viagem de volta ao seu lar.
         – E faz tempo que ele morreu? – Pergunta Margarida.
         – Não, não faz, mas ele já nos enviou uma mensagem e
continua nos ensinado com muito devotamento.
         – E por intermédio de quem ele enviou essa mensagem?

374
– Pergunta Clotilde. Onde você achou um médium de
psicografia? Pelo que sei, esse tipo de mediunidade é muito raro.
        – Vocês não vão acreditar! Izabel e eu estamos assusta-
dos! – Diz João, cautelosamente.
        – Fale logo João! Nós o conhecemos? – Pergunta a im-
paciente Clotilde.
        – Quem psicografou foi o Daniel.
        – Daniel? – Perguntam as duas irmãs com grande admi-
ração. – Como isso é possível?
        – Você não acreditam, não é? Pois vou lhes mostrar.
        João sai da sala e retorna logo com um papel cuidadosa-
mente dobrado nas mãos.
        – Estou muito preocupado com tudo isso. Isto aqui
minhas irmãs, é a mensagem que Daniel psicografou. Vou ler
para vocês.

         “Meu irmão João, pela permissão de nossos Mentores,
usei a mão de seu filho para enviar esta mensagem de amor à sua
querida família, pois a mão de um Anjo é suave e meiga e por eu
ter este privilégio, agradeço muito primeiramente a Deus e aos
Espíritos nossos superiores, os Mentores da colônia onde resido
atualmente. Quero que saibam que estou indo muito bem em
meu novo aprendizado e em meu novo lar. O labor é muito,
mas estou praticando para continuar a trabalhar com afinco,
por amor a Deus, aos nossos companheiros deste plano e tam-
bém em prol dos nossos irmãos que aí estão no plano físico.
Em um futuro bem próximo, quando a mim for permitido,
estarei aí por perto para revê-los. Agradeço também todo o cari-
nho que recebi de sua família. Nosso querido Juarez logo vai se
formar e você receberá notícias dele pessoalmente, por intermé-
dio de sua mãe. Ele será um grande médico, auxiliando as pesso-
as mais necessitadas, pois Juarez é um espírito de grande eleva-
ção e vem na vanguarda de grandes homens. E você, meu bom

                                                             375
amigo, não se preocupe com o futuro, pois tudo deve se aceitar
pela misericórdia Divina e os desígnios do Altíssimo.
        Até breve, com estima e amor. Um forte abraço!”.
        Pasma, mas sem perceber o consolo amigo que o mé-
dium tentava transmitir, já prevendo o que teria de acontecer
para João e familiares, Margarida comenta:
        – Que fantástico!
        – Fantástico? Isso é assustador! – Retruca Clotilde.
        – Eu estou muito preocupada com isso, – diz Isabel.
        – Estamos sem saber o que fazer, ele é muito novinho, –
responde João.
        E assim, todos ficaram com suas preocupações. Com o
assunto em pauta e as conclusões que a mensagem lhes transmi-
tiu, cada um teve o seu entendimento. A intenção do irmão
médium era amenizar ou prepará-los para o que haveria de acon-
tecer. Oscar e Anita, frequentadores assíduos do centro, tam-
bém não sabiam o que dizer quando tomaram conhecimento
da psicografia.

                                           No Plano Astral
         – Você já sabe da passagem de seu médium Lázaro,
Irmão Y?
         – Eu senti a ausência dele na minha sintonia em seu lar
no plano físico, digo, em seu centro. Mas logo eu estive com
ele, na ocasião em que ele mandou uma mensagem para João e
Izabel por intermédio de Daniel.
         – É isso mesmo, agora ele está em nosso mundo.
         – E posso vê-lo?
         – Você tem este direito. Qual a finalidade da visita a
Lázaro?
         – Comunicar-se com o amigo e ajudá-lo a confortar a
família para o que está por vir.
376
Onde está o médium? O meu amigo e grande companheiro de
varias batalhas?
         – Aguarde um momento, estou entrando na sintonia
dele, logo ele estará aqui
         Alguns segundos depois surge o bom Irmão Lázaro. É
com grande emoção, que o bom médium encontra-se com ir-
mão Y, uma das Entidades que tanto o auxiliou em seu cami-
nho de trabalho e total dedicação abnegação ao próximo no
plano terrestre.
         – Você está muito bem! Está gostando do nosso mundo?
         – É realmente maravilhoso, é fascinante... – Responde
Lázaro.
         – Pois se prepare Irmão Lázaro, pois haverá muito o que
fazer por aqui.
         – Estou pronto, disposto e um tanto quanto ansioso
para novas experiências em outras tarefas.
         – Agora Irmão Y, iremos conduzir o Irmão Lázaro até
seu local de trabalho. – Afirma o mentor. Ele foi designado para
participar de uma equipe que tem a especialidade de resgatar
espíritos que estão se desligando de seus corpos no plano de
expiação, a Terra, principalmente por acidentes em rodovias, a
maioria com morte prematura. Bom trabalho Irmão Lázaro.
No começo será difícil, mas logo você se acostumará.
         Enquanto o Mentor se afasta acompanhado pelo mé-
dium Lázaro, Irmão Y os observa sentindo uma gratidão imen-
sa por aquele Espírito que quando habitava a Terra, havia de-
monstrado tanta convicção, dedicação, amor, fé e caridade, dan-
do a ele, Irmão Y, e a tantos outros Espíritos, a oportunidade de
propagar o bom trabalho espiritual na Terra, e com isso ter a
oportunidade de seguirem a caminho da perfeição.




                                                             377
Na Terra, algum tempo depois
        É em clima de muita dor, mas também com resignação,
que vamos encontrar quatro pessoas a se consolarem.
        –Temos que nos conformar com a passagem de Daniel
e aceitar com amor, pois ele era muito especial. Com certeza
voltou para o seu labor espiritual, – diz Izabel, enquanto as lá-
grimas lhe correm pelo rosto.
        – Eu já aceitei a passagem dele com resignação, afinal,
agora eu entendo o porquê, e sinto-o muito próximo de mim.
        – Papai, o que você ira fazer com as roupas e brinquedos
do meu irmãozinho? – Pergunta Gabi a João Eduardo.
        – Vou doar para crianças carentes. Que mais me resta
fazer com estas coisas Gabi? Pelo menos serão úteis a alguém.
        Junior, tentando consolar seus pais, lhes diz: – Fiquem
tranquilos, pois com certeza ele está com Deus.
        – Vamos ao quarto agora mesmo separar o que doar
João, pois desmanchando o seu quarto, será menos sofrido para
nós, – diz Izabel.
        – Assim poderemos lembrar de nosso querido Daniel
só em ocasiões especiais, e deixar que ele siga sua nova vida espi-
ritual em paz. Não devemos ficar nos lastimando a todo o mo-
mento, pois assim ajudaremos muito a sua caminhada e pro-
gresso espiritual. – Conclui João.
        Todos se encaminharam ao quarto de Daniel para reali-
zar a tarefa, cúmplices de estarem próximos do ente querido
que os deixara. E, entre um brinquedo e outro, um quadro e
outro, João vai exclamando com muita admiração.
        – Olhe só, veja bem este quadro que Daniel pintou! É
idêntico àquela visão que tive quando estava fazendo o curso de
fotografia, agora que consegui analisar os detalhes. É incrível,
parece uma porta entre as nuvens e alguém saindo de dentro
dela.

378
– É mesmo! Que impressionante mamãe, – responde
Junior. – Eu me lembro que há muito tempo você comentou
sobre essa visão, quando estava fazendo a foto lá no curso.
         Enquanto João e Izabel conversavam, Gabi lia alguns
escritos de Daniel, e um deles lhe chamou a atenção.
         – Papai, mamãe, é incrível! Leiam com atenção, vejam
que impressionante.
         – Deixe-me ver, minha filha.
         – Antes papai, me responda. O senhor lembra-se bem
da caligrafia do Daniel?
         – Lógico Gabi, que pergunta minha filha! Como seu
pai, eu não poderia me esquecer. Afinal, a letrinha dele era in-
confundível.
         – Então leia com atenção. – Diz calmamente Gabi.
         – Meu Deus, tudo se encaixa! Agora eu entendo tudo e
sei que tenho de trabalhar muito para resgatar o que fiz e o que
não deveria ter feito. Nesta carta ou mensagem está muito cla-
ro. Daniel nos afirma, com toda convicção, que nosso bisavô,
que deu passagem em sua total velhice e que após algum tempo
no plano astral reencarnou com o nome de Xavier, viveu em
nosso mundo até sua tenra juventude, era nosso parente, primo
em terceiro grau. Izabel, procure lembrar-se daquele nosso pri-
mo que deu a vida naquele incêndio para salvar seus amigos.
         – Entendo, – responde Izabel.
         – Agora está tudo claro para mim, inclusive minha irmã
mais velha estava junto com aqueles jovens no dia do incêndio,
e entendo também, que por sua missão ou carma ter se cumpri-
do, ele voltou para o Plano Espiritual e, após um bom tempo
de aprendizado, pediu aos Espíritos Superiores para fazer frente
aos problemas que tanto nos afligiram, exatamente quando mais
precisávamos de ajuda. A pedido dele, ou sob seu comando,
aquele bom mensageiro que incorporou em padre André me
conduziu até aquela praça, onde tive a grande oportunidade de

                                                            379
conhecer meu bom amigo e irmão, o nosso bom José. A partir
dali, conseguimos, com a ajuda de Oscar e Anita, chegar até
aquela boa casa de caridade ao centro espírita, onde fomos rece-
bidos com todo carinho e devoção, tanto daqueles médiuns que
lá trabalham, como também pelos bons espíritos abnegados e
Irmão Lázaro. Agora sim me vem a lembrança e a convicção de
que seu bisavô, após a morte, reencarnou com o nome de Xavier.
Assim sendo, em sua tenra juventude Xavier viveu entre nossos
parentes. E ainda jovem ele deu passagem para a Espiritualidade,
e como Espírito ele se identificava como irmão X. Ao ver todo
o nosso sofrimento, veio em nosso socorro quando mais preci-
samos, ou seja, na pior fase de nossas vidas. Se identificando
como irmão X, pois se ele se identificasse como Xavier, seria
mais difícil para que nós acreditássemos, ou como nosso paren-
te seria bem mais difícil todo o trabalho dele em nosso favor. E
foi exatamente naquela igreja que ele encontrou os meios para
nos ajudar, através daquele mensageiro, aceso na pessoa de padre
André. Então ele se identificando como irmão X no médium
Irmão Lázaro, pois durante nosso tratamento espiritual não se-
ria bom sabermos que Irmão X era o mesmo espírito do jovem
Xavier, e sucessivamente o seu bisavô, que se chama também
Daniel, seu bisavô Izabel, ou melhor, “nosso” bisavô.
         – Como irmão X ou Xavier ele se foi ainda jovem, por-
que tinha pouco a resgatar e por sua elevação espiritual quando
desencarnou. Não seria mais necessário que retornasse ao nosso
plano de expiação. Quando nossa família estava sendo destruída,
ele entrou em ação e trabalhou intensamente em prol de nossa
recuperação, por amor a nós e pela necessidade de trabalhar para
evoluir em sua caminhada espiritual também. Mas a sua cami-
nhada como Irmão X fora interrompida por um capricho nos-
so, ou por amá-lo demais. A bem da verdade, nós exageramos
João, passamos dos nossos limites.
         – Mas também foi por amor que Irmão X se mostrou

380
para nós naquela materialização maravilhosa. Ele não soube di-
zer não, pois assim ele era em sua vida terrena, de um coração
maior que seu corpo, no bom sentido da palavra. E para que
isso fosse possível, houve um desdobramento fantástico, um
esforço descomunal, fora do comum, e nas, naquele dia, não
conseguimos associar Irmão X com o nosso primo Xavier. Eles
passaram por muitas dificuldades para que nós entrássemos em
sua dimensão, a dimensão daqueles irmãos queridos e de muita
luz. Por ser Irmão X de nossa família, ele interrompeu sua vida
espiritual e sucessivamente regrediu em seu aprendizado, e teve
de reencarnar por pouco tempo. Reencarnou em nossa família
como Daniel, também por amor e pelos desígnios, ou pela lei
causa e efeito, pois assim cumpriu-se a Lei do universo.
         – Na condição de pai do nosso Daniel, realmente você
faz parte da família do meu bisavô, de alma e de sangue – afirma
Izabel, – pois era tudo o que ele queria. O meu bisavô lhe ama-
va muito e o considerava como seu bisneto, como se fosse de
seu sangue e alma. Mas acontece que após a sua morte, desco-
brimos, depois de muito tempo de casados, que aquele amor
dele por você meu querido esposo, não era por acaso. Após casa-
dos ficamos sabendo pela sua tia que tínhamos um parentesco,
ou seja, tanto eu como também você, temos o mesmo sangue
de nosso bisavô.
         Comovido pela emoção e chorando pelo que o mo-
mento lhe proporcionava, João responde a Izabel.
         – Você se lembra quando nós nos vimos pela primeira
vez?
         – Ainda éramos duas crianças, – afirma Izabel.
         – Da mesma maneira que ele lhe amava, tinha também
um aconchego muito grande por mim. Depois, fomos um para
cada lado, e em seguida ele morreu. Mas o destino nos colocou
frente a frente novamente, quando ficamos adultos.
         – Lembro-me muito bem, e ele falava que gostava mui-

                                                            381
to de você, como se fosse bisneto dele. E dizia que você teria de
pertencer à nossa família, custasse o que custasse. Ele queria ser
seu bisavô de verdade, ele queria que você tivesse o sangue dele.
        – E graças a Deus eu tenho o sangue dele. – Responde
João, emocionado.

                                   Momentos de reflexão
         Um grande silêncio pairou no ambiente e fez-se sentir
uma paz total, enquanto João fazia sua palestra aos atentos ou-
vintes, os seus familiares.
         – Com a certeza absoluta de que todo ser humano, um
dia tem deve se desligar da matéria, devemos aceitar que esta
vida é só uma passagem, uma viagem de ida e volta, e que o
nosso corpo físico é uma prisão, onde temos a oportunidade de
realizar nossos acertos e resgate de vidas passadas, também co-
nhecido como carma. Onde há sol, também deve haver a som-
bra, se existe a luz também há trevas, e nós, seres físicos ou
extrafísicos, somos às vezes luz, outras vezes trevas, porque, por
mais que nos julguemos bons, também temos nossos pensa-
mentos ruins, nossas falhas. Às vezes somos bem intencionados,
mas às vezes fraquejamos diante de situações, portanto, nem
sempre somos bons e nem sempre somos maus, mas temos
nossos pontos fracos.
         Segundo a Bíblia, no Velho Testamento consta que Deus
disse: ‘Faça-se do homem, à minha imagem e semelhança’. Nós
somos a semelhança de Deus, mas em verdade, o mais impor-
tante é a semelhança em Espírito, porque somos uma partícula
do amor e do Espírito de Deus, o Espírito em sua essência. Afir-
mo: somos semelhança de Deus em Espírito. A carne morre, é
um invólucro. Vem da terra e volta ao pó da terra, porque o
corpo físico é com toda certeza a semelhança da terra em sua
composição, mas o espírito, esse sim prevalece, porque é pura
382
energia, semelhante à energia cósmica. É a energia de Deus tam-
bém em sua composição.
Somos uma micro célula de Deus, como o filho que contém o
sangue de seu pai, portanto, somos parte do Espírito de Deus.
Somos sua semelhança em espírito, portanto, o corpo físico não
é o principal, porque desintegra, morre. O Espírito sim, esse é
eterno.
         De um lado sofremos pela perda do nosso querido
Daniel, e do outro nos sentimos felizes por ele ser eterno, e
também por ter a grande oportunidade de conviver alguns anos
com um anjo aqui, em nosso lar, exatamente aqui, dentro desta
casa. E devemos analisar com calma e carinho as Leis do Univer-
so, criadas por Deus em sua infinita sabedoria e eterna bondade.
Pensem bem, qualquer ser humano, por mais esclarecido que
seja, por mais que tenha um bom nível de escolaridade, seja
advogado, jurista, médico, intelectual etc., suas leis são falhas,
suas obras imperfeitas. Mas as obras de Deus não têm falhas e
nem imperfeição.
Então, nosso bisavô, que é também Daniel, que é também Ir-
mão X, reencarnou como nosso querido Daniel, veio nos ensi-
nar em suas três vidas!”.
         Izabel, com as seguintes palavras, resume tudo o que
fervilhava em seus pensamentos naquela pausa dada por João.
         – O nosso bisavô veio constituir uma família e ensinou
a seus filhos com amor. Irmão X, como seu sucessor perante
Deus, intercedeu por nós nos momentos dificílimos de nossas
vidas, ajudando-nos a reconstituir os pedaços de nossa família.
E o nosso Daniel nos ensinou o respeito que devemos ter pelo
desconhecido, nos mostrou a verdade. Agora, só nos resta elevar
nossos pensamentos com humildade, respeito e amor a Deus,
entregar nossos corações ao Pai que está no Céu, rogando-lhe
que conduza o nosso Daniel ao mais alto escalão, entrando na
sintonia dele com muito amor em nossos corações.

                                                              383
No Plano Espiritual
         – Mentor, veja aqueles irmãos que acabam de chegar da
Terra. Olhe quem está com eles.
         – Olhe só, é o Irmão X! – Exclama Lázaro, o médium,
com muita admiração. – Daniel não sabe que ele é o mesmo
irmão X ou Xavier? – Pergunta Lázaro, o médium.
         – Não – afirma o mentor, – ele ainda não sabe. Mas
com sua ajuda Irmão Lázaro, e por você ser recém-chegado do
plano físico, ele irá se entrosar e entender com mais facilidade
quem foi em suas vidas passadas.
         – Mas por que será mais fácil, se ainda estou passando
por um processo primário de aprendizado, irmão Mentor?
         – Porque você, sendo recém-chegado em nosso plano,
ainda conserva características residuais de seu corpo físico, por
isso ele se identificará melhor com você. Você poderá ser muito
útil neste processo, e assim que fizermos os trabalhos de regres-
são, plasmando as duas vidas passadas, o então irmão Daniel
concluirá com muita facilidade todo seu histórico, assim como
você e outros, que entenderam que é só no mundo de expiação
que esquecemos as nossas vidas anteriores, para que possamos
cumprir nossos desígnios sem nos martirizarmos pelos nossos
erros cometidos no passado. Aqui, nós, pela misericórdia divi-
na, temos a oportunidade das lembranças de quem somos, de
quem fomos e de onde viemos.
         – E como funciona essa técnica de plasmar vidas passa-
das, irmão mentor?
         – Veja bem meu Irmão Lázaro, nós aqui usamos muito
a telepatia, o subconsciente ou o psíquico, portanto, a nossa
memória nunca se apaga. Com isso conseguimos armazenar tudo
que se passou em nossas vidas passadas, mas quando
reencarnamos, nossa memória fica guardada, como se fosse um
arquivo. A bem da verdade é um arquivo em nosso subconsciente.

384
Vamos fazer a seguinte comparação: a memória do ser encarna-
do é extremamente limitada, ele precisa arquivar o histórico de
sua vida em maquinas, livros, cadernos, diários etc. Quando o
ser humano quer lembrar-se de algo que se passou em sua vida
terrena, usa fotografias ou máquinas como o computador. Nós,
no Plano Espiritual, usamos o subconsciente, e com isto plas-
mamos nossos históricos de vidas passadas pelo conceito telepá-
tico, e o nosso subconsciente torna-se consciente. O esqueci-
mento para quem reencarna é necessário para que o Espírito
possa trabalhar e resgatar sem traumas suas dívidas, em harmo-
nia com o perispírito.
         – E quanto aos gananciosos, criminosos, suicidas, bru-
xos e outros meu irmão mentor, como deve ser?
         – Alguns deles entendem seus erros, como ódio, vin-
gança, etc. e voltam para o bem. Lógico que há casos e casos, e
que esses Espíritos passarão por um processo demorado ou vari-
as reencarnações para seu aprendizado. Por quê? Porque os que
passam por um processo mais lento, têm que ter um aprendiza-
do mais específico, por serem muito mais apegados à vida terrena
ou aos seus bens materiais. Quando os mesmos assimilam bem
suas aulas e renunciam ao que deixaram na Terra, aceitando apren-
dizado nas boas colônias espirituais, se tornam excelentes com-
panheiros, prontos para grandes missões, pela pujança que sem-
pre tiveram. Outros se precipitam e voltam para o mundo de
expiação, reencarnando na Terra sem nenhuma preparação ou
sem se regenerarem. A maioria desses Espíritos que se precipi-
tam são gananciosos e autoritários porém, muitos deles são ex-
tremamente inteligentes e deixaram fortunas conquistadas de
maneira sórdida e desonesta na Terra. Reencarnados, pensam que
conseguirão reavê-las. Com este critério errôneo, escolhem al-
guém familiar para a reencarnação.
         – Mas como isso é admissível? E se aquela pessoa que
ele escolheu como mãe não estiver destinada para recebê-lo na

                                                             385
condição de filho?
          – É como eu lhe disse, há casos e casos. Essas futuras
mães são aquelas que engravidam sem que no ato íntimo ou na
concepção haja realmente amor. É o chamado sexo vulgar. Esses
espíritos, aproveitando a vulgaridade dos tais parceiros, se apos-
sam do corpo astral da mãe na concepção. E na época do nasci-
mento reencarnam naquele corpinho frágil. Por conseguinte,
assim que o filho daquele casal sem nenhum compromisso con-
jugal nasce, de alguma forma não é a mãe ou então o pai quem
cria e educa. Um deles, ou ambos, abandonam seus filhos dei-
xando-os à deriva, jogando a responsabilidade da criação aos avôs,
irmãos, tios e outros. Ou deixam em alguma instituição de vo-
luntários, doam para outros que queiram criá-los. Há até um
ditado que diz: “Pai não é aquele que faz, mas aquele que cria”.
Enfim, abandonam ou, em outros casos, criam sem nenhum
vínculo de amor em relação àquele espírito. Há também casos
em que pais e filhos se tornam até inimigos, chegando a atentar
contra a vida do outro, não assumindo o devido amor e tudo o
mais, isso porque em seu perispírito ou em seu subconsciente
sentem que não têm nenhuma obrigação com aquele recém-
nascido ou vice-versa.
          – E isso é permitido?
          – Lógico que sim. Não se esqueça irmão, tanto aqui
quanto no plano físico temos o livre-arbítrio, ou o direito de ir
e vir. E quero acrescentar que, no caso de filhos e pais se amarem
intensamente, é exatamente porque existe um elo ou um histó-
rico de vidas passadas, onde podemos acrescentar o amor e
entrosamento que foram herdados por eles em outras vidas ou
que estão em seus subconscientes. Mas como eu lhe disse, há
casos e casos, então, também há aqueles espíritos independen-
tes, que escolhem sua genitora ou seus genitores para que fi-
quem com ele até a sua reencarnação, ou até o nascimento da
criança em pauta, sabendo que será doado para outra família ou

386
creche, pois seus vínculos ou compromissos chegam até ali, ou
melhor, vão até o nascimento ou a conclusão da gravidez da
mãe, e com isso o espírito tem a liberdade de se desvincular da
família genética e pode assumir seu destino doando-se total-
mente ao seu semelhante sem se preocupar com a responsabili-
dade familiar. Normalmente essas são pessoas são mais ligadas
ao amor universal.
         Após Daniel passar pelo processo de regressão para lem-
brar-se de suas duas últimas reencarnações, o Mentor Superior
se dirige a todos.
         – Agora Irmão X , você, Irmão Y e os Pretos-Velhos,
juntamente com Irmão Z, se encontrarão e se farão presentes na
Terra, exatamente na casa de João Eduardo, pois aquele irmão
tão fervoroso e sua família estão em uma sintonia muito forte,
se preparando para entrar em contato por intermédio das ora-
ções ao nosso Pai Maior em vossos nomes. Vocês farão uma
viagem astral saudável usando um transporte extremamente efi-
ciente e rápido para chegar até aquele local tão abençoado pelas
boas e fervorosas preces. O caminho será suave como uma plu-
ma, pois sob as asas das súplicas que fizerem, estarão, com total
amor praticando um ato sublime em homenagem a vocês. To-
dos vocês irão volitar, serão conduzidos. Lá o nosso Irmão Xavier
(X) revelará a mensagem que ele mesmo deixou como Daniel
antes de sua passagem. Isso será feito pela médium de psicografia,
lá conhecida como Clotilde, e será a primeira experiência como
médium que a irmã terá. Portanto, a missão dela ou compro-
misso com a Espiritualidade começa agora.

                                                     Em Terra
      – João e Izabel, me respondam: Por onde anda aquela
moça que Oscar e Anita tanto ajudaram? – Pergunta Clotilde.
      – Ela esta muito bem. Casou-se há pouco mais de três
                                                              387
anos e tem agora um lindo garoto, com algumas deficiências
físicas, mas de uma Espiritualidade maravilhosa. Ela mora mui-
to próximo de Anita e estão sempre juntas, pois tanto Anita
quanto Oscar fazem questão de Camila estar sempre por perto
para que as duas mamães possam criar e educar a pequena Talita
próxima de seu recém-chegado irmãozinho.
         – Parece que vocês irão se reunir em oração, não é?
         – É verdade, logo mais à noite, e com certeza Anita
virá com seu esposo e também Camila com seu marido e as
crianças. Vamos chamar também uns dos nossos amigos para
participarem de nossa reunião. Logo depois serviremos um
delicioso jantar, portanto, recomendo que fique até a noite,
você não irá se arrepender.
         – Eu senti uma vontade enorme de estar aqui com
vocês hoje. Margarida chegou da França, virá nos visitar ama-
nhã.
         – Que bom! – Responde João. – Vamos ligar para ela
e falar de nossa reunião, quem sabe ela queira vir também.
         – Não precisa chamá-la. Eu já sabia que ela havia che-
gado, – diz Izabel. – Ela me ligou há pouco e já a convidei.
         Nesse exato momento a campainha se faz ouvir. João
abre a porta.
         – Entre Margarida, você chegou bem na hora, estáva-
mos falando de você. Onde está meu sobrinho Juarez?
         – Juarez? - Está aí fora pegando algumas coisas no
carro, já ira entrar.
         – Estamos nos preparando para uma pequena reunião com
preces para nossos irmãos do Plano Espiritual.
         – Que bom meu irmão, quero participar. Afinal, fui con-
vidada por Izabel.
         Logo chegam Oscar e Anita, Camila com seu esposo e os
filhos. Após um delicioso chá com biscoitos, sentam-se todos ao
redor da mesa e João Eduardo inicia os trabalhos espirituais.

388
Oscar comenta sobre como se deve praticar a verdadeira
caridade ou solidariedade, e como exemplo cita os ensinamentos
do grande Mestre Jesus, o maior médium de todas as épocas.
Senhor José aproveita para falar um pouco sobre experiências de
sua vida relacionadas à filosofia espírita, tanto nos ensinamento
de Kardec quanto no ritual de Umbanda, e também da ligação
que as outras religiões ou etnias têm umas com as outras, mas
que passam despercebidas pela vaidade ou ganância de muitos
líderes religiosos.
         – Vamos iniciar com a Prece de Cáritas, – afirma João.
– Em seguida, a prece do Pai Nosso e também nos lembrar de
nossa querida Mãe Maria Santíssima, que foi a grande protago-
nista na vida de Jesus.

             “Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade,
dai a força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que
procura a verdade; ponde no coração do homem a compaixão e
a caridade!

       Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação,
ao doente o repouso.

        Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a ver-
dade, à criança o guia, e ao órfão o pai!

        Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o
que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não conhece,
esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bondade permita
aos espíritos consoladores derramarem por toda a parte a paz, a
esperança e a fé.

        Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abrasar
a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e

                                                              389
infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão.

      E um só coração, um só pensamento subirá até Vós,
como um grito de reconhecimento e de amor.

        Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos
com os braços abertos, oh! Poder, oh! Bondade, oh! Beleza, oh!
Perfeição e queremos de alguma sorte merecer a Vossa Divina
Misericórdia.

         Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, a fim de
subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão;
dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde
se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem”.

        Assim Seja.

         Izabel lê parte do Evangelho Segundo o Espiritismo de
Allan Kardec, com comentários de Anita e várias explanações.
Camila aproveita o convite que João lhe fizera para que ela ex-
ponha seu pensamento. Ela agradece então à Mãe Benedita, sá-
bio Espírito que lhe trouxe muito conforto e paz, abrindo sua
mente para o verdadeiro amor ao próximo, e comentou tam-
bém sobre as consequências do aborto. Oscar também comen-
ta com muito entusiasmo os verdadeiros ensinamentos de nos-
so Mestre Jesus. Também fala da filosofia umbandista e o quan-
to ela colabora trabalhando com seus Caboclos, Pretos-Velhos e
outras Entidades. Enfatiza falando sobre outros grandes colabo-
radores da Seara do Mestre em prol dos Espíritos encarnados e
também desencarnados. Exalta também a verdadeira Umbanda,
com suas Entidades que muito trabalham para o bem estar em
geral.


390
– Mas como disse o Mestre Jesus, “orai e vigiai”. Deve-
mos estar sempre alertas para os falsos profetas ou falsos espíri-
tas. E ainda para os espíritas vaidosos, que pensam saber mais do
que as Entidades, ensinando da maneira errada o que eles nunca
viram ou não podem provar, e quando alguém os contesta, di-
zem que tudo é psicografado, recebido de Espíritos luminosos
do Astral.

                                                O reencontro
        No Plano Espiritual, nossos amigos se reúnem para dar
assistência ao Irmão X e o Mentor dirige-se a ele.
        – Bem, as vibrações a seu favor já foram feitas, agora
você está pronto para resgatar suas lembranças. Convido-lhe para
irmos até a sala de projeção; lá iremos plasmar tudo que se pas-
sou em suas três vidas anteriores.
        Após o trabalho de regressão em favor de Daniel, ou
Irmão X, ele pergunta:
        – Onde está meu bom irmão Y?
        – Ele está próximo de você, basta que olhe para trás.
        – Aqui está ele, Irmão X! – Responde o Mentor, feliz
com a consciência do dever cumprido.
        – É muito gratificante revê-lo, saber que resplandece uma
luz maravilhosa sobre você e que podemos continuar nossas
missões juntos. – Diz irmão Y.
        – Vocês sabem por que estão reunidos? – Pergunta o
Mentor.
        Sim, porque devemos ter alguma missão a cumprir, e
estou sempre disposto a trabalhar com Irmão Y, meu grande
parceiro.
        – Isso mesmo, – concorda o Mentor.
        – E qual é a nossa próxima missão? – Pergunta Irmão X.
        – Hoje nós participaremos de uma festa junto de nossos
                                                              391
queridos Pretos-Velhos lá no plano terrestre! Mas desta vez ire-
mos por um caminho diferente. Será um caminho de luz, afi-
nal, vamos compartilhar de uma reunião de amor e total sintonia
ao nosso querido Deus. Poderemos volitar tranquilos e nosso
caminho será muitíssimo curto. Será uma visita de cortesia àque-
les com os quais você, Irmão X, conviveu por seis anos com o
nome de Daniel, espírito encarnado na Terra, na última passa-
gem que você teve na condição de filho do casal João e Izabel.
Assim você terá a oportunidade de passar uma mensagem de
consolo e amor a essa família quando da sua última estada por lá
no plano físico.

                                                     Na Terra
         Assim que iniciou a prece, Irmão João pede a presença
dos Mentores da casa, os Espíritos de Luz, para que seu lar e as
pessoas que lá se encontram sejam protegidos. Então, surge uma
brisa muitíssima agradável, com cheiro de essência de flores per-
fumando todo o ambiente. De imediato, Clotilde, sem nenhu-
ma experiência em psicografia, pede um lápis e um papel, meio
que em transe, sem saber que fora Daniel quem havia deixado
aquela última mensagem de despedida. Repete-a com todas as
letras como se fosse uma cópia das palavras, com todos os pon-
tos e vírgulas.

         “Papai e Mamãe. Estivemos juntos por seis anos e foi
para mim uma honra ter essa passagem pela Terra. Não me arre-
pendo de nada, pois foi para mim uma conclusão da minha
etapa e na condição de filho de ambos. Apesar da minha pere-
grinação no mundo de expiação agradeço pelos pais carinhosos
e dedicados. Tenho certeza de que vocês vão ficar bem, pois hoje
bem sabem que tenho minha missão, que é seguir em minha
caminhada espiritual.
392
Não se preocupem, pois estou bem. Quem me assistiu
esse tempo todo, desde antes da concepção e gravidez de mamãe
foi o Irmão Y e outro grande Mentor, digo grande em sua sapi-
ência, e mais um monte de espíritos trabalhadores da Luz, desde
antes do meu nascimento até minha passagem para o plano es-
piritual. E também gostaria que vocês soubessem que aquele
jovem médico que acompanhou o nosso irmão Lázaro no hos-
pital foi exatamente o Irmão Y. E por falar em Irmão Lázaro, ele
se encontra aqui conosco, e neste momento, junto a vocês.
         Lembram-se papai e mamãe? Cada vez que olharem para
o meu retrato vocês estarão vendo o bisavô de ambos e o Irmão
X, aquele espírito que papai viu materializar-se junto com o
Irmão Y antes da minha estada com vocês.
         Sempre que nossos superiores permitirem estarei por
perto para visitá-los. Um dia, quando for determinado por Deus,
estaremos juntos outra vez. Mamãe, não se perturbe. Lembra
do seu bisavô Daniel? Gostaria que se lembrassem também da
minha semelhança com ele. Realmente nós temos algo em co-
mum não acham? O nosso comportamento, nossos gostos,
nosso nome, tudo é muito parecido. E o nome que papai me
deu foi realmente uma homenagem muito bonita, obrigado.
Quando a senhora olhar para o céu e vir uma estrela se juntar a
outra, lembre-se do seu bisavô e do Irmão X. E lembre-se de
mim com todo o amor dos seus corações, pois, pela infinita
bondade de Deus somos o mesmo Espírito.
         E assim foram e serão escritas no Livro do Universo as
minhas três vidas: Daniel, o bisavô, Xavier, o Irmão X e Daniel, o
neto. Veja bem, papai escolheu o meu nome não por acaso, apesar
de que no momento da escolha ele não se lembrava do nome do
bisavô de mamãe por fazer muito tempo que ele havia
desencarnado. Lembrem-se: nada, mas nada mesmo é por acaso.
Tudo tem uma razão de ser”.


                                                              393
Em seguida, os trabalhos são encerrados e todos ali pre-
sentes se sentem felizes pelo acontecimento da noite.
         João pede que Ana, a médium que trabalha com Mãe
Maria Conga, encerre os trabalhos com preces. Enquanto isso,
Mãe Benedita não saía de perto de seu pupilo: Luiz Carlos Junior,
o filho caçula de Camila e Luiz.
         Naquele momento de total paz, pairava sobre aquele
ambiente um clima de alegria e uma brisa suave de amor e de
paz celestial. Após os trabalhos realizados, os comentários so-
bre aquela maravilhosa noite, que foi comemorado com um
delicioso jantar.

       Um leitor, em sua simplicidade de vida, se emocionou ao
folhear as páginas anteriores e pediu, em nome de Deus, para
que esse pequeno poema fizesse parte do final deste livro, e que
fosse oferecido à personagem Lídia.


                                   UM POEMA PARA LÍDIA
Uma luz esmaecida, débil
Sem tom
Sem som
Sem nada

Totalmente amotinada
Uma luz esmaecida
De tom fraco
Sem harmonia
Sem extasia
Sem nada



394
Uma luz fosca
Quase apagada!
Uma luz
Que vai aos poucos se refazendo
Como a fênix que ressurge das cinzas
Num brilho intenso se envolvendo
De uma sombra triste, escura
Qual foi se preenchendo
Com a glória de uma mulher

Lídia!
Aguerrida
Entre o ódio e a dor
Acreditava que os tinha
O seu ódio era amor
A sua dor... Compaixão

Lídia enfrentou as ribeiras
Para alcançar a luz
Esmerada,
A sua “luz” conquistou...




                                       395
Minhas Três Vidas
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Minhas Três Vidas

  • 2. 2
  • 3. 3
  • 4. 4
  • 5. 5
  • 6. 6
  • 7. Considerações do Autor o começar a escrever este livro, deparei-me com al- A gumas barreiras preconceituosas aos meus escritos que considerava inadmissíveis, não me permitindo ir adiante. Porém, com minha persistência, conti- nuei. Mesmo com o pensamento inexato, sentia grande necessidade de ir em frente, pois com a sensibilidade que passei a adquirir notei que não era só ficção o que eu estava passando para o papel. Alguma coisa ou alguém do plano metafísico me conduzia por meio da inspiração. Após alguns depoimentos de amigos e com as devidas provas, como relatórios médicos em formato de documen- tos de onde ficou internado o jovem acidentado, cujo nome do personagem, este sim é fictício assim como os demais personagens desta narrativa, continuei a escrever. O jovem acidentado será citado como Juarez, que teve uma cura verdadeira por meio de fenômenos de aparição e materialização de espíritos luminosos, fenômenos esses na- turais, simples e verdadeiros, no entanto, complicados para os leigos, que confundem esses abnegados trabalhadores com espíritos demoníacos ou almas perdidas. Procurei ser o mais coerente possível e gostaria de agra- decer aos filhos da União Espírita Ogum da Lua e Cabocla Iara, pois foi pelo amor e dedicação desses irmãos que de- senvolvi meus escritos, por meio de psicografias enviadas pelos irmãos espirituais. Mas deixo um adendo. Como disse um pensador: “Muito tenho para aprender e pouco para ensinar”. 7
  • 8. Com Deus e por Deus Deus, em sua infinita sabedoria, bondade e total amor pela Criação, nos permite ter contato com o mundo transcendental, onde habitam os nossos entes queridos. Mas para que isso seja possível, necessário se faz estar com o nosso pensamento claro e livre do orgulho, do egoísmo, da vaidade, da ganância etc., para que nossa aura não tenha nenhuma nódoa, assim, os nossos contatos além de ser to- talmente agradáveis, também serão terapêuticos. O que não podemos é dar margem a pensamentos obsoletos, pois sua negatividade enganará até mesmo o nos- so subconsciente, e aí então, em nossos sonhos, pode nos fazer vítimas de nós mesmos. Nesse contato que fazemos com o mundo espiri- tual, passamos não somente por sintonias em camadas su- periores, como também por camadas inferiores, às vezes com sortilégios tristes e sintomas ruins que se refletem em nós, adquiridos pela captação de energias negativas – so- fredoras, vingativas e outras. Por esse motivo, com Deus e o amor de Deus é que temos como via de fato o nosso porto seguro, e a virtude de transformar energias ruins em fontes de luz que, se bem conduzidas, podem até ser transmitidas aos que necessitam. Se pensarmos no milagre da multiplicação dos pães, poderemos vê-lo todos os dias: na agricultura, nos mares, nos rios e na vegetação. Esse é o milagre que dificilmente nós enxergamos, e que acontece nas 24 horas do dia. Todos os dias. 8
  • 9. Então, necessário se faz que não odiemos as cama- das inferiores, popularmente ditas demoníacas, pois elas também são parte da Criação do Pai. Por conseguinte, são eles nossos irmãos. É de nossa missão resgatá-los para Deus, pois a palavra expressa pelos lábios Divinos diz que não quer jamais um filho para o caminho da desonra. É necessário que não tenhamos ódio no coração, mas muito amor, fé, caridade, solidariedade e confiança no Criador. É necessário que aprendamos a não só a pedir, pedir, pedir, mas a agradecer o que Deus nos dá em abun- dância: o oxigênio, as frutas, as águas, os grãos, as vegeta- ções, as ervas medicinais e muito mais. Este é o verdadeiro milagre da multiplicação que esperamos. O milagre da multiplicação não se expres- sa somente na abundância de frutas, das águas, do oxigê- nio, dos grãos, da vegetação, dos peixes, dos pães, das er- vas medicinais e outros, para a nossa satisfação e cura ma- terial. O milagre da multiplicação se faz complementando a tudo isso com o acréscimo do amor, para que sejam mul- tiplicados os alimentos do corpo e da alma com orações e atos da fé, com a grandeza e a arte da caridade e com a sutileza da esperança, que se transformam em perdão e AMOR – magnífico é o Amor que se resume puramente em Deus. Seguramente, nesse caminho seremos felizes, pois nos faz progredir no mundo físico e espiritual. Nós, deste planeta, vivemos em um plano de expia- ção e precisamos nos conduzir, porque somos sim, parci- almente limitados. E é justamente por esse motivo que estamos sujeitos à arrogância e à ignorância. Temos o nos- so livre-arbítrio para nos conduzir, mas temos as leis de 9
  • 10. Causa e Efeito constituídas no Universo. Portanto, ao partirmos para o Plano Espiritual, lá sim, estaremos em nosso verdadeiro lar. E voltamos para lá com o que conseguimos conquistar. Certamente, leva- mos o que é nosso de direito, deixando na Terra o que é da Terra (exemplo: os bens materiais). Levamos o que apren- demos ou o que de bom praticamos, com fé e solidarieda- de, para ganharmos amor, o amor de Deus, mas também levamos o que de ruim praticamos: a desonra, o egoísmo, a calúnia, a ganância e a nossa ausência, quando se fazia tão necessário a nossa presença. O Plano Espiritual é um de nossos lares. Certamen- te que, ao regressarmos para ele, seremos glorificados com as boas atitudes ou sofreremos o peso de nossas matulas. Os resultados para nele viver dependerão exclusivamente de nossas conquistas e dos nossos direitos. Então, no Pla- no Espiritual, somos conduzidos para as moradas que her- damos de fato e de acordo com o nosso psíquico. E para que a nossa herança seja farta, é necessário que façamos um bom investimento na Terra! Um forte abraço e boa leitura. Nevas do Amaral 10
  • 11. Início da Saga Dona Antônia e seu marido trabalhavam muito para manter João Eduardo em uma boa escola particular, dando- lhe tudo o que desejava: brinquedos, roupas caras e outras variedades, sempre do bom e do melhor. De momento e hora, faziam-lhe suas vontades, era só pedir. João, criado com muito mimo, era o caçula da famí- lia, a “raspa do tacho”, como se diz popularmente. Após alguns anos, o menino, já transformado em homem, cursa a universidade “São Francisco”, para logo começar a traba- lhar em um escritório de partido político, onde prontamen- te se destaca como um excelente líder, conquistando uma promoção e um elevado salário. Mas não é por aí que as coisas ficam: João, por meio de elogios, se sente extrema- mente seguro em suas ambições, tornando-as ilimitadas. Seus pais, abarcados pela ambição do filho, reme- tem-no à segurança da recompensa pela criação de uma criança traquina, inteligente e encantadora. Foram nesses requisitos que João se formou em sua intelectualidade. E por tudo isso, compensou seus pais, porque o conforto financeiro que João Eduardo lhes proporcionou, fora fan- tástico. “Valeu a pena”, diziam o senhor Arnaldo e sua es- posa dona Antônia. E João Eduardo, que a cada instante desejava ainda mais provar a todos a sua imensa capacidade, até se exce- dia em seus desejos. A ganância o inquietava e isso não lhe fazia bem, porque perdia a solidariedade de ceder a ou- trem a oportunidade de conquistar a felicidade, assim como ele , no tocante à parte financeira. João Eduardo só conse- guia ver abastanças e volumosas fortunas. Soam os sinos das eras. Aquele jovem, já próximo aos 28 anos, um dia se apaixona por uma mulher de pele 11
  • 12. morena, olhos castanhos, muito sensual e de traços troianos. 20 anos apenas: Ternamente linda. O que de mais interes- sante havia era justamente a ascendência dessa mulher e tam- bém a sua forma física. Seu nome era Izabel e, por coinci- dência ou destino, havia um parentesco entre ambos que nem eles, nem os de suas famílias sabiam. A única coisa que sabiam é que conviveram juntos durante a infância, moran- do no mesmo bairro e na mesma rua e o destino lhes colo- cou frente a frente novamente, em sua fase adulta. Izabel, uma mulher extremamente culta, apesar da pouca idade, era fluente nos idiomas inglês, alemão e fran- cês, que lhe caíam perfeitamente com os trejeitos do cor- po, do coração e da alma. Uma mulher com quem João se encantou e se casou, tendo com ela dois filhos: Junior e Gabriela. Falemos um pouco neste parágrafo sobre as difi- culdades encontradas para que fosse realizada essa união conjugal. Na verdade, para que fosse executado esse ma- trimônio, houve alguns transtornos quanto aos pais de Izabel, cuja educação lhe remetiam aos princípios matri- moniais de uma criação, muito rigorosa no contexto religi- oso, e que rejeita a ganância financeira. Porém, por mais uma vez o amor levou à deriva os preconceitos ou excesso de cuidados. E isso não bastou. Izabel havia se prometido a Lúcio, uma pessoa possessiva em seu modo de ser. Um homem cuja paixão tresloucada, ínfima, mesquinha e im- perativa, deixa excedido e encarcerado seu coração pela obsessão sentida por Izabel. Lúcio era homem tão posses- sivo quanto a sua própria loucura; um homem egoísta em seus desejos pessoais, amargo e irresoluto em relação à pró- pria vida. Para ele, Izabel serviria só e simplesmente para a sua continuidade, fatal continuidade... Seria um objeto em suas mãos. 12
  • 13. Lúcio, não conformado pela perda de Izabel, nada mais poderia fazer do que caluniá-la, difamá-la e desmoralizá-la com todo o ódio que sentia. Pensando e agindo dessa forma, faria dessa maneira o resgate de seu brio e sua acrimoniosa desforra. Seus apelos chegaram ao mais baixo caminho. Além dos requisitos negativos predeterminados por ele, havia também práticas anônimas e demoníacas. Um homem sem recato nem honradez, que se fazia valer de missas, cultos evangélicos e até de feitiçarias, pois o que queria era lo- grar-se de um objetivo único, que era ver João Eduardo e Izabel arrastados num recife de lodo, pobres e loucos. Bem, como o amor sempre vence, as dificuldades foram imensas para realizar-se o tão polêmico matrimô- nio, porém aconteceu, pois era inevitável, pelo amor que sempre vence. No entanto, Lúcio prometera a si que mesmo indo para o inferno, haveria de ver João e Izabel separados. Suas visitas a lugares onde ficava sabendo que poderia recon- quistar Izabel eram frequentes, não importando qual a reli- gião ou rituais que pudesse trazê-la de volta para satisfazer seu ego. Com isso ele cada vez mais decaía no conceito espiritual, dando vazão a espíritos de baixíssima frequência, energias estas captadas em lugares onde se praticam magia negra. Além do mais, suas orgias eram constantes: bebidas, tabagismo, drogas e amigos que estavam sempre na mes- ma sintonia. Com isso se formava um elo entre o mundo físico e as baixas camadas do mundo espiritual, onde a morada desses espíritos era em camadas obscuras, e lá que eram planejadas as desordens em laboratórios plasmados, tudo com a finalidade de prejudicar tanto espíritos perdi- dos em busca de um caminho, como também seres encar- nados. Em uma dessas orgias, Lúcio fora assaltado por 13
  • 14. quatro bandidos; uma armação de seus falsos amigos. Mas Lúcio reagiu ao assalto e a fatalidade foi inevitável. Ele veio a falecer e em seguida foi resgatado pelos espíritos das trevas. Por ser ele muito inteligente, rapidamente aprendeu a se comunicar de forma telepática, e seu objetivo era a destruição do casal: João e Izabel. João Eduardo é perseguido por Lúcio João tinha como objetivo dar conforto para sua espo- sa e filhos, pois tinha em seu íntimo o mesmo intuito de seus pais: dar tudo do bom e do melhor para sua família. Além do mais, seu ego era alimentado por todos que o cercavam, fa- miliares e seus superiores do trabalho: o partido político. João queria mais e mais, não importando a que custo. Com isso começou uma cadeia de egoísmo incalculável, aceitando subor- no pela troca de favores, facilitando assim a vida de amigos e parentes com bons empregos, excelentes salários e total esta- bilidade. Por serem empregos públicos, em repartições as quais ele tinha livre acesso, passou a ser um homem notável em seu poder. E ainda tinha Osmar, o presidente do partido em suas mãos. João sabia de tudo o que se passava no movimento partidário, de todas as sujeiras. Passou então a tomar atitudes irrelevantes, adversas à conduta de um bom cidadão e pai de família. João era solicitado pelo partido para viagens e mais viagens, e seu lar passou a ser os aviões e os carros, e em cada uma das viagens suas finanças aumentavam ainda mais, ge- rando mais entusiasmo, ou melhor, cada vez mais se dispu- nha a servir ao seu partido. Em uma dessas viagens conheceu Lídia, mulher de belo porte físico e muito sensual, mas problemática e de ca- 14
  • 15. ráter dúbio. Ela vivia com crises neuróticas, portanto, estava vulnerável a energias ruins. Então, Lúcio aproveita essa aber- tura ou oportunidade para usá-la como trampolim em suas ações sórdidas contra João. E João, induzido pelos espíritos que acompanhavam Lúcio, enxergava em Lídia uma mulher mais interessante. Por ser extremamente sensual e a mais lin- da que já conhecera, estava deslumbrado por ela, que se mos- trava ou se insinuava, mostrando estar sempre disposta a sa- tisfazer as vontades eróticas de seu parceiro. As visitas de João a Lídia eram constantes e ela o seduzia para as orgias. Logo se tornaram amantes, e com as juras de amor ele mentia prometendo a ela que logo estaria divorciado e livre de sua esposa, dizendo que o divórcio estava para sair e aí sim, os dois estariam totalmente livres. Aquela dama estava deslum- brada; além de ele ser um homem viril, ainda lhe dava vários presentes, como carro, apartamento, jóias, vestidos e festas, na alta sociedade e nos meios políticos. Sua esposa começou a perceber que algo estava erra- do e passou a indagar. Com isso, Lúcio sentia que sua vingan- ça estava próxima. Mas João sabia se sair de situações piores como, por exemplo, quando era sabatinado por seus adversá- rios e convencer Izabel, uma simples dona de casa, seria fácil, pensava João. Izabel já não era mais a mesma. Suas amigas invejo- sas, querendo ver “o circo pegar fogo”, diziam: – Izabel, mi- nha querida, abra os seus olhos. Você parece que está cega! O João está sendo desonesto com você. Ele é um canalha, está na cara que ele tem outra. Cuidado... Cuide do seu homem, boba! João já não era mais o mesmo, não era o homem cari- nhoso de outrora com sua esposa. Não participava da educa- ção de seus filhos, Junior e a pequena Gabriela, e estava cada vez mais afastado de sua ainda jovem esposa. Ela se sentia 15
  • 16. sozinha e sucessivamente angustiada. Começou então a ter sintomas de depressão. Perdera o interesse em se arrumar e tudo ia mal com ela. Entre os colegas de João havia Alberto, um homem de meia idade que era realmente um bom amigo, sempre de- voto a Deus, bem conceituado em seu modo de vida, tanto familiar quanto profissional. Era um funcionário que traba- lhava no partido, mas era terceirizado, e tentava passar para João Eduardo suas experiências no campo amoroso e famili- ar, dando-lhe bons conselhos. Izabel, desmotivada com o comportamento munda- no do marido, deixa os cuidados do lar e a educação dos fi- lhos sob os auspícios de suas duas empregadas, para com al- gumas de suas atuais amigas, satisfazer-se em festas, afogan- do assim os seus sentimentos em taças de bebida. João, alertado por seu bom amigo, que lhe aconselha- va e implorava a Deus por ele e sua família, começou a per- ceber que estava perdendo algo muito precioso: sua esposa e seus filhos. E Izabel, sem perceber, estava dando vazão a espíritos de planos inferiores: era Lúcio sob o comando daquela le- gião, que aproveitava sua vulnerabilidade para sugar suas energias. João, pensando no que dissera seu amigo Alberto em relação à sua família, tomou uma decisão. Deixou de compa- recer a alguns encontros marcados com Lídia e aos poucos foi se afastando daquela dama. Sua amante lhe cobrava por essas faltas, dizendo a ele que deveria ser mais presente e que ela não aceitava ficar sozinha nos finais de semana, pois era jovem ainda e tinha de aproveitar o seu tempo. João estava entre a cruz e a espada, e seu amigo tentava de alguma forma fazer com que ele entendesse que sua família era tudo o que importava em sua vida, enfatizando os clamores a Deus em 16
  • 17. prol de João e sua família e argumentando que a melhor mulher do mundo literalmente é a nossa esposa, pois ela está sempre potente para qualquer situação, em momentos bons ou ruins. Uma amante só é interessante nos bons momentos, pois ela não está presente e é impotente nas horas amargas, isto, logicamente, com raras exceções. As amigas de Izabel lhe aconselhavam a ir em frente dizendo: – Larga de ser boba, não dá moleza. Vai passear, a noite é uma criança. Vamos sair e conhecer pessoas interessantes. Se ele lhe trai, você deve pagar na mesma moeda. A quantidade de bebida que Izabel estava ingerindo era cada vez maior, sendo quase que diariamente. Nas suas saídas, as duas falsas amigas lhes diziam: – Você, Izabel, é realmente muito bonita! Olha como você esta sendo notada, veja como aquele rapaz não tira os olhos de você. Não perca tempo sua boba, aquele rapaz é lindo, é um gato. Izabel respondia: – Não, literalmente não. Eu tenho um marido. Não vou pagar na mesma moeda, pois isso não é de minha índole. Quando João percebeu que sua esposa estava para se transformar em uma alcoólatra, tomou uma atitude definiti- va. Separou-se de Lídia, que totalmente segura, achava que João estava por ela realmente apaixonado. Mas na realidade, nem ela e nem João sabiam do amor verdadeiro que ele tinha pela sua esposa e pelos filhos. Lídia, por meio de dívidas exageradamente feitas para manter o seu alto padrão de vida, começa a vender os presen- tes que ganhou de seu amante João. Inconformada com a si- tuação, passa a persegui-lo, ligando diariamente para o seu trabalho. E ele, por sua vez, não quis mais atender às suas ligações. Desesperada, Lídia passa a ligar para a casa de João, e não sabendo mais como agir, com arrogância conta tudo a Izabel, expondo-lhe a sua vida íntima com João e até as 17
  • 18. aberrações que cometia com ele na parte sexual e o drama de sua atual situação, exigindo dele que assumisse suas dívidas porque ela não era descartável. Disse-lhe também dos presen- tes ganhos, de seu status na sociedade e que num instante perdera tudo. Izabel, com seus apelos a Deus, pedia forças para suportar todos aqueles dissabores. E João, sem saber, recebia por via telepática as vibrações de Lúcio, então com muito ódio, e pensou em várias formas para se ver livre de Lídia. Mas Alberto intercedeu, dando-lhe conselhos e pedindo-lhe que se acalmasse para não tomar decisões precipitadas. Izabel queria divorciar-se a qualquer custo, mas no fundo sabia que mesmo com todos os problemas, João era o seu porto seguro. Ela ainda o amava e, afinal de contas, ele era o pai de seus filhos. Izabel dizia isso entre lágrimas, mas a depressão, as amigas e as energias negativas de espíritos de baixa freqüência e aproveitadores invadiram seu lar, come- çando uma desordenada vibração e causando uma grande dis- córdia. Esses espíritos, conhecidos como vampiros, se apro- veitavam da desarmonia do lar para se satisfazer com as vibrações de sadismo, ódio, traição e vícios em excesso. O casal de filhos de João era bem educado, apesar do caminho errado que o pai deles seguira. Com o lar se desfa- zendo, os filhos perdiam o entusiasmo pelos estudos. Não eram mais aquelas crianças dóceis e tornaram-se rebeldes por causa da ausência dos pais, que se transformaram com o uso do álcool em excesso e das palavras grotescas que brotavam dos lábios de ambos. A mãe daqueles meninos, Izabel, além de alcoólatra estava tristemente para se transformar em uma pessoa gros- seira e amarga. Ela já não era mais a mãe dedicada e carinho- sa, e os maus espíritos se deliciavam com aquela situação, pois as energias ruins deles emanavam, se proliferavam com 18
  • 19. a presença de mais companheiros para preencher com desordens o lar daquela família. Lídia, já sem propósito de vida, fazia constante visitas a Izabel. Suas palavras pesadas agrediam até a alma de Izabel, que também tomada por ener- gias inferiores, fazia-se enlevar quase que totalmente. Mal intencionada em suas palavras, Lídia tentava convencer Izabel a se separar de João Eduardo, pois ele era um cafajeste, mas mesmo assim, era o grande amor de sua vida. Izabel afirmava que tudo o que tinha, havia conquistado pelo amor que João Eduardo sentia por ela. Naquele instante, ela ofegava diante das más energias que recebia de Lídia. O que Izabel fez foi apelar para o nosso tão esquecido Pai, o nosso amado Deus, que naquele momen- to de angústia e desespero fora lembrado. Com esse apelo, fo- ram emanadas sintonias de paz, que certamente absorveram os murmúrios de Lídia. No âmago daquele pedido a Deus, Izabel começa a atrair para si minúsculas gotículas de energias supremas e fa- voráveis a ela. Uma luz se acendera à sua volta. Ali se aproxi- maram novamente grandes e magníficos Anjos da espiritualidade, Espíritos Guardiões, que sem palavras e sem que ambas percebessem a presença deles, fizeram com que aquelas energias ruins começassem a se dissipar. Lídia, não se sentindo bem, se afasta incomodada, dizendo a Izabel que em outro dia se falariam. João, desolado com o que estava se passando, tinha uma preocupação quase única - seus filhos. Alberto, seu ami- go, insistia para que seus olhos se abrissem quanto a Lídia, o grande obstáculo que atrapalhava a sua felicidade. Os filhos se afastavam dele; sua esposa, terna mulher, fragilmente pos- suída por más companhias quando ingeria bebidas alcoóli- cas, e com o ódio que sentia pelo que estava se passando em suas vidas, dava vazão aos espíritos aproveitadores. João 19
  • 20. percebia também que sua vida profissional estava ameaçada pelos acontecimentos atuais. Seus superiores já não o viam mais como o supremo intelecto e excelente profissional de primeira linha. Enfim, tudo na vida de João Eduardo transformara-se em um jogo de difícil resolução. Um jogo injusto, no qual o poder se encontrava totalmente nas mãos do inimigo. De tudo, o que ainda lhe segurava era o seu trabalho, pois diante de seus superiores uma cumplicidade os mantinha unidos: os “segredos profissionais”. Profissionalmente, João conhecia por demais os pontos podres, as chantagens, os cri- mes de colarinho branco etc. Se contasse aos adversários aqueles segredos, seria o partido totalmente desmascarado pelos oposicionistas. Osmar, o líder do partido, pensou, pensou e pediu a opinião dos demais. Cada um lhe passava um conceito. Haroldo, o vice-líder e conselheiro, braço direito de Osmar, disse: – Haveremos de dar um jeito em João Eduardo e em sua família, e isto será muito fácil. – Você é louco, Haroldo? – responde Osmar. Não há necessidade de chegarmos a esse ponto, isso somente em úl- tima hipótese. João não é nada bobo e deve ter um excelente Seguro de Vida. Se algo lhe acontecer, vamos ser sabatinados por autoridades e por nossos adversários. Haverá uma inves- tigação minuciosa da seguradora, por isso, nem pensar nessa hipótese. Devemos ter muita calma, Haroldo, pois existem outros meios. Nós temos excelentes advogados e o nosso departamento de marketing poderá montar boas estratégias. Afinal, João Eduardo não é louco, e certamente não nos de- nunciará. Não se esqueça de um detalhe, meu amigo: o di- nheiro compra tudo, e se há algo de que João gosta, é de di- nheiro, assim como nós. Fique tranquilo e deixe comigo, está bem? 20
  • 21. Após Osmar argumentar e colocar aos demais os seus planos, todos se reuniram para chegar a um consenso, que foi oferecer a João uma boa aposentadoria, mas ameaçando se ele abrisse a boca, dizendo que ele poderia até sofrer um enfarte fulminante. E João, em pensamento, ao perceber que entre eles havia muita astúcia, agiu de um modo que lhe era peculiar. Pediu-lhes, antes de qualquer proposta, uma reunião. Com isso João estava se prevenindo para não correr riscos com a sua segurança. Imediatamente após lhe ser permitida a reunião, to- dos nela compareceram para, atentos, ouvirem as suas pro- postas. Na mesa onde estava reunidos, João Eduardo inicia o seu discurso usando o termo “ironia”, pois era disso que eles gostavam, e isso os excitava. E João Eduardo começa a ex- por seus argumentos. – Meus amigos e correligionários, vocês não imagi- nam o quanto eu amo o meu trabalho, e esta casa é tudo o que eu tenho, e o que sou, devo a vocês. Tanto aos meus antecessores, como também aos que chegaram após mim. Esta casa e todos vocês, muito me ensinaram. Por isso, sou grato a cada um de vocês e jamais usarei de ingratidão, pois sei mui- to bem reconhecer o que de bom fizeram por mim, todos vocês. Hoje tenho uma família saudável e meus pais estão bem amparados financeiramente. Enfatizo: Tudo o que te- nho, devo a vocês. Porém, cometi uma falha, e somente eu posso e devo corrigi-la. Enlevei-me, por algum tempo, pela beleza de uma mulher, e dela fiz minha amante. Hoje, essa mesma mulher tenta destruir o meu lar e age também em meu trabalho e, após tantas sequelas, agora sei como evitá-la para que não me ocorra mais catástrofes. Para preservar mi- nha família e principalmente este movimento (partido políti- co), ouvi Alberto, nosso companheiro que presta serviços para 21
  • 22. esta boa casa. Digo boa casa pelas pessoas competentes que aqui estão à minha volta, e se estas pessoas são competentes, imaginem nossos líderes, que são nossos dirigentes, princi- palmente a pessoa de nosso presidente Osmar e nosso vice Haroldo, pessoas estas que elevo em meus pensamentos pela grandeza de seus conceitos, caráter elevado e serviços pres- tados à nossa sociedade. Estes dois homens são os pais deste partido, e também excelentes pais de família. Gostaria de ci- tar também o quanto eles são grandes, tanto como pais deste partido, quanto com a preocupação que ambos têm com sua dignidade e a de seus companheiros de trabalho, e também a lealdade com os adversários. Estes meus comentários são só uma pequena gota do que são verdadeiramente estes nobres senhores. Mas agora, quero voltar ao que me disse o nosso amigo Alberto, que me abriu os olhos em relação àquela mu- lher com quem me envolvi. Bem, diante deste impasse e com muita tristeza no coração, tenho que tomar uma decisão coe- rente, que é a seguinte: Para que eu não venha atrapalhar o bom andamento desta conceituada casa, estou pedindo meu desligamento, sem nenhum prejuízo para nosso querido mo- vimento partidário. Mas pediria a compreensão dos senhores, pois não quero me desligar totalmente. – E o que você pretende? – Retruca Haroldo. Você Já tem emprego em outro partido? – Bem, se eu renunciar do meu cargo de diretor exe- cutivo e tesoureiro, tudo aqui fica mais tranquilo. Mas se eu ficar, posso, com os meus problemas, atrapalhar o bom anda- mento desta casa. Fico torcendo para que tudo ande bem por aqui, portanto, vou abrir um escritório e dar assessoria finan- ceira ao partido. Prometo-lhes que jamais pertencerei a qual- quer outro partido, e se vocês me permitirem, poderei no fu- turo, quando lhes convier, assessorá-los com consultoria, pois é neste campo que desempenho bem o meu trabalho, assim 22
  • 23. como também a outras empresas privadas de outros segmen- tos. Gostaria de repetir, em alto e bom som: Prometo não prestar serviço a qualquer outro partido político, pois o meu coração ficará nesta casa. – E o que você precisa para montar seu escritório? – Pergunta Osmar, o presidente do movimento. – Bem, Tenho uma boa conta bancária e não pretendo incomodá-los, – responde João, já sabendo o que Osmar tinha a lhe dizer. Osmar contesta. – E se você tiver uma ajuda do nosso caixa? Essa pergunta foi feita por Osmar com a intenção de suborná-lo ou comprar sua consciência. João, percebendo a manobra, sentiu-se aliviado, pois sabia que o seu silêncio es- tava sendo comprado. Menos mal, pois dessa maneira o risco de vida seria menor. Melhor assim do que tê-los como inimigos declarados. João Eduardo pensa consigo mesmo: – A partir de agora vou tentar consertar as coisas. Não quero mais traba- lhar de maneira tão desonesta, pretendo me reconciliar com minha família. Mas neste momento vou seguir aquele velho conselho, ou melhor, aquele velho ditado: “Se não pode com eles, junte-se a eles”. Essa é a única saída que vejo neste exato momento. E João, fingindo estar pensado na proposta de Osmar, faz uma pausa e depois diz: – Pois assim será. Aceito a vossa proposta, meu presi- dente, e podem contar com minha fidelidade e total discrição. – Com total ironia, João continua. – Pois bem, sei que a discrição é nossa maior segurança para a nossa dignidade física. – Disse essas palavras para mostrar aos seus líderes que sabia o risco que corria se abrisse a boca em relação aos podres de seu partido. João Eduardo queria consertar os erros, porém, os atos 23
  • 24. cometidos desde sua juventude, nos quais colocava o dinhei- ro como prioridade em sua vida, fez com que sempre estives- se vulnerável às vibrações negativas. Após montar seu escri- tório, passa por grandes dificuldades para conquistar sua cli- entela, mas, mesmo assim, sua vida profissional começa a dar algum sinal de melhora e também a sua vida familiar. Izabel, no entanto, continuava bebendo quase que diariamente, e andava a cada dia mais deprimida. Lídia encontra João em um restaurante Lídia, após tomar conhecimento do afastamento de João de seu partido, se desespera, pois sabia claramente por- que isso aconteceu. O que Lídia também sabia era que João Eduardo tinha uma conta bancária altíssima, e vendo que todo o apelo feito para reconquistá-lo não dera certo, começa a pensar em novas investidas. Tenta de todas as formas chantageá-lo, até que, num belo dia, por acaso encontra João entrando em um dos restaurantes que os dois costumeiramente frequentavam quando estavam juntos. – Olá meu caro, como está? Tudo bem? – Pergunta Lídia, com um sorriso sarcástico. – Tudo bem – Responde João Eduardo receoso, pois nesse instante preocupou-se com os seus acompanhantes, que eram futuros clientes. Quando João vira-lhe as costas, Lídia o aborda. – Se você não me der atenção farei um grande escân- dalo aqui mesmo meu caro, na presença de seus amigos. Você não pode me descartar dessa forma. – Por favor, não me faça passar por esse vexame – responde João, preocupado com o que ela poderia fazer. – Dessa forma você só vai piorar a situação, pois essas pessoas são homens de negócios. Estou fechando bons contratos com 24
  • 25. eles e você pode acabar comigo. Tenha calma, vamos conversar. – Está bem. – Responde Lídia. – Só que agora não é possível – lhe diz João Eduardo, – marcaremos um encontro. – Nem pensar, meu caro. Você acha que sou boba de perder esta oportunidade? – Bem, então façamos o seguinte: aqui está o número do telefone do restaurante. Daqui a alguns minutos você me liga. Pensarei numa desculpa para dar aos meus clientes. – Está bem, mas não tente me enganar, pois poderá lhe custar muito caro. João conseguiu sair-se bem, como sempre. Afinal, ele era muito astuto. Cinco minutos depois, o telefone do restau- rante toca e o garçom chama João, dizendo-lhe que era sua esposa afirmando urgência. Depois de atender ao telefone, João Eduardo volta aos seus clientes desculpando-se, pois sua esposa não se encontrava bem e precisaria transferir a reunião para o dia seguinte. Logo depois, João Eduardo e Lídia se encontram como ele havia prometido. Ironicamente, Lídia diz: – João, que saudade! Você é o único homem de minha vida, eu te amo! Mas ele, não acreditando e procurando um meio para sair daquela situação, mostrando a Lídia um ar de decepção, lhe pergunta: – Será? – O que você quer dizer com isso? Ou melhor, o que você sabe? – Responde Lídia. – Não adianta você negar, você me traiu e sei muito bem com quem, sei de tudo. – Foi por isso que você deixou o seu emprego no partido? – O que você acha? 25
  • 26. – Mas foi só uma aventura, meu amor. Contigo é dife- rente, porque você é um homem de verdade. Viril, inteligente, bonito... – E com eles foi tudo um fracasso, um grande fracasso, não é? João percebe que Lídia teve relações íntimas com al- guém de seu antigo trabalho e, jogando a sua esperteza, ele diz o nome do líder. – Osmar é muito oportunista, minha cara. – Osmar lhe contou algo? – Olha Lídia, vamos acabar com esta palhaçada. Está tudo acabado, siga com a sua vida. – João, eu sai só uma vez com Osmar. – E com os demais? – Bem, com Haroldo foi quase à força, ele me chantageou. – E como ele chantageou você? Vamos fazer o se- guinte, Lídia. Siga a sua vida e não tente me perseguir. Eu não tenho mais nada com você. – João, isso não vai ficar assim, você não perde por esperar. Você usou e abusou de mim e agora quer me jogar fora, como se eu fosse descartável? Alguns dias após o encontro com Lídia, Alberto en- contra João e, com alegria pelo reencontro, os dois vão come- morar em um almoço no restaurante que sempre frequenta- ram. Durante o almoço, João argumenta que não quer mais nada com Lídia, mas confessa sentir que algo o empurra para ela, e que por algumas vezes fora procurá-la. Alberto lhe diz que ele deveria ser forte e não procurá- la, pois diante das chantagens de Lídia, as coisas só iriam piorar para João e sua família. Após os conselhos dado a João, Alberto, ao chegar à 26
  • 27. sua casa, continua com suas suplicas a Deus em prol do ami- go, enfraquecendo assim as energias ruins de Lúcio e seus comparsas do mundo espiritual, vindas dos umbrais onde se situam os maus espíritos. Lídia encontra uma amiga – Lídia! Como você está, minha amiga? Há quanto tempo não nos vemos! Como vai, tudo bem? – pergunta Anita. – O que você acha, Anita? – Pensando bem, me parece que você está com problemas. – Problemas? Pode por problema nisso, minha cara. – Mas na última vez em que nos falamos você me parecia tão bem. Estava alegre, até achei você um pouco metida. Você estava com um caso, se não me engano ele se chama João Eduardo, e agora você me parece tão impotente. – E você, como está? – pergunta Lídia. – Comigo está quase tudo bem. No amor estou mal, mas vou superar essa dificuldade, você verá. – Por que tem tanta certeza assim Anita? – Bem, o Marcos me trocou por outra mulher, e eu fui orientada a procurar um Pai de Santo que faz trabalhos para o amor, trazendo o namorado de volta. Estou trabalhando para isso, porque o meu objetivo é tê-lo de volta. – Anita, me dê o endereço desse feiticeiro, pois o meu maior problema é esse. Você se lembra bem de João Eduardo, não é? – Lógico que me lembro! Um gato. Como poderia esquecê-lo? E ele, como está? – Pois é menina, ele também me largou, deu-me as costas. Demitiu-me de sua vida e eu o quero de volta, custe o que custar. 27
  • 28. – Por falar em custe o que custar, vou logo lhe avisan- do que não são baratos os trabalhos do tal feiticeiro, minha cara. – Para que existem cheques? – Só que tem que ter fundo, minha cara Lídia. – Vamos logo. Dê-me esse endereço que estou ansiosa. Lá eu darei um jeito, deixe comigo. Lídia e o Pai de Santo Lídia bate palmas para chamar alguém. Quando apa- rece o tal Pai de Santo, ela diz: – Bom dia! Gostaria de falar com o Pai Gildo. – Aqui não se diz bom dia, e sim boa noite, minha senhora. Mas vai falando o que deseja. – Eu quero falar com Pai Gildo. – Sobre o quê? – Quero fazer uma consulta. É o Senhor? – Sim, sou eu. Mas pode me chamar de Pai Quiumba. Entre que eu vou lhe atender. Sente-se e espere, porque eu tenho mais gente para consultar. O lugar onde Lídia estava era ameaçador e com muitos trabalhos espalhados pelo chão. Ali, tudo parecia ter mau cheiro. Era assombroso! O tal pai Gildo era esquisito e misterioso, ou melhor, totalmente desconfiado, com um olhar sinistro. Após Lídia esperar por duas horas, o tal Pai Gildo cha- mou-a para uma pequena sala, cuja porta era uma cortina em pés- simo estado, suja e mal cheirosa. Ali se inicia uma variedade de perguntas. Queria o tal Pai Gildo saber quem a tinha mandado e o que ela fazia em sua vida. Sua profissão etc. Após várias perguntas, ele afirma: – Você veio aqui por causa de um homem, não é verdade? 28
  • 29. – Sim, é verdade. O senhor acertou em cheio. No desespero em que Lídia se encontrava, ela não percebera a artimanha que tinha sido usada pelo mal espírita para mostrar-lhe que profetizava. – Eu estou sofrendo muito por causa desse homem. – Mas você é tão apaixonada por ele a ponto de vir aqui, pedir que eu o traga de volta? – Entenda do jeito que o senhor quiser, eu o quero de qualquer jeito. Farei o possível e o impossível para tê-lo de volta. Lúcio estava próximo de Lídia para que ela não desistisse de suas investidas. – Olhe, minha senhora, não é muito barato! Quanto a senhora pode gastar para que eu o traga de volta, com um trabalho feito em amarração? – Bem, eu vou deixar um cheque em branco com o senhor, e aí o senhor vê em quanto fica, está bem? – Dona Lídia, não trabalhamos com cheques, tem que ser dinheiro vivo. – Bem, em dinheiro eu só tenho no momento o da consulta. – E como você quer um homem? Pensa que é assim? Paga logo a minha consulta e volta quando tiver o dinheiro, dona. Lídia não tinha escrúpulos. De caráter dúbio, porém não tão esperta quanto pensava, achando que poderia tapear o feiticeiro com cheque sem fundo. Nesse momento, Lúcio entra em total sintonia telepática com Lídia e faz com que ela responda ao tal “Pai Quiumba”. – O senhor fique tranqüilo, que volto ainda hoje com o dinheiro. Darei um jeito. Até mais tarde. – Eu sei que você irá dar um jeito, pois quando vocês querem um homem, não medem as consequências. Em pen- samento, Pai Gildo diz: “Essas mulheres ficam até sem 29
  • 30. comer para arrumar dinheiro e ter o seu homem de volta. E quem se dá bem sou eu!”. Lídia dá o golpe para conseguir dinheiro Lídia apela para alguns amigos sem sucesso, pois seu crédito estava cortado em todos os lugares. Pensando em como fazer para conseguir o dinheiro, tenta vender alguma coisa que lhe restava, porém, não consegue. Vai para casa desesperada e sente uma dor horrível nos rins. Há dias passa- dos já vinha tendo algumas crises, talvez pelo desenfrear de sua agitação. Mas mesmo com dores, a sua prioridade era fa- zer talvez até o impossível para reconquistar João. Lúcio vi- brava para Lídia reatar com João Eduardo. Lídia Pensou, pensou e então se lembrou que tinha uma folha de cheque em um velho talão da antiga conta de João, que ele esquecera em sua casa. João Eduardo era bem conceituado financeiramente e Lídia não teve dúvidas. Pre- encheu uma folha de cheque, colocou uma assinatura seme- lhante à dele, pois ela tinha algumas notas de compras com A assinatura de João, e foi procurar Alberto, amigo de João, in- ventando uma história, ou melhor, dando-lhe uma desculpa, dizendo que João havia lhe dado aquele cheque. Alberto, encurralado, mesmo sabendo que Lídia esta- va mentindo achou melhor trocar o tal cheque e ficar livre das ameaças que ela estava fazendo. Lídia disse a Alberto que mostraria o cheque à esposa de João, pois precisava da- quele dinheiro para cuidar de sua saúde, quando na verdade, ela o queria era para fazer o tal trabalho com o inescrupuloso feiticeiro. 30
  • 31. Lídia, de volta ao Pai Gildo Já era quase meia-noite quando Lídia chega ao seu destino. Bate palmas e logo é recebida pelo auxiliar do Pai de Santo, que logo foi dizendo que ele estava ocupado e não poderia atendê-la naquele instante. Diga ao Pai que arrumei dois mil reais. Pergunte-lhe se esse dinheiro é o suficiente. O homem, já de volta, através do velho portão de madeira, quase caindo, convidou-a para entrar dizendo-lhe: – Dona Lídia, sente-se que vou lhe servir um café. O Pai Gildo não tardará a lhe atender. Em seguida, entra na sala Pai Gildo, sorrindo-lhe e beijando-lhe a testa, dizendo: – Vamos conseguir trazer o seu homem, você verá! – Mas por que o senhor fala com tanta firmeza? Pai Gildo era raposa velha, como diz o ditado, e se saindo bem, ele responde: – Porque você provou-me que é uma mulher forte, uma guerreira que não desiste nunca. Então, vamos iniciar os trabalhos? O feiticeiro pediu a Lídia que escrevesse o nome dos dois, dela e João Eduardo, pedindo-lhe também algum objeto pertencente ao rapaz. Ela entregou-lhe algumas fotos e os endereços de ambos. Logo em seguida, tomado por energias, o inescrupuloso “Pai de Santo” pronunciava palavras de bai- xo calão, de espíritos atrasados e revoltados, que de alguma forma se tornam obedientes ao que o feiticeiro lhe mandava fazer. Esses espíritos, equivocadamente são confundidos com Exus, que na verdade são espíritos ou energias que traba- lham em uma linha intermediária, que divide o bem do mal. São espíritos voluntários e em elevação, que aceitam missões difíceis, assim como algumas profissões no plano terrestre. 31
  • 32. Eles se sujeitam até mesmo a ser escarnecidos, taxados como diabo ou satanás, não somente por outros credos, como também por espíritas mal informados. Os que aceitam presentes para fazer o mal são conhe- cidos como quiumbas por grandes mestres e bons pesquisa- dores da verdadeira teologia do conhecimento espiritual pós- vida (quiumba é uma palavra de origem africana que significa espírito das trevas). O tal Pai, logo após o iniciar dos trabalhos, passa a dar um atendimento “vip” a Lídia para tirar-lhe mais dinheiro, fa- zendo dela sua vítima. Assim que sai do transe, pergunta à moça: – Lídia, você sentiu boas vibrações, minha amiga? – Pai Gildo, será que ele volta? – Eu lhe prometi que o prazo para ele voltar é de sete a vinte e um dias. Agora, é só uma questão de tempo. As dores de Lídia aumentaram e ela pediu ajuda a “Pai Gildo”. – O senhor pode me dar um passe para aliviar as dores que tenho nos rins? – Minha cara, aqui nós só trabalhamos com magia ne- gra, e o seu caso pertence à Medicina. Vá procurar um médico, nós não tratamos de pessoas materialmente enfermas. A casa do tal feiticeiro ficava num bairro da periferia. Um lugar muito perigoso, pois ali havia uma comercialização descontrolada de drogas. Naquele lugar, estava outra vítima de “Pai Gildo”, um consulente que se sente honrado em oferecer a Lídia uma carona, porque para sair daquele lugar a pé, seria um tanto arriscado. Dali Lídia segue, levada por essa pessoa, a um hospi- tal, pois realmente não se sentia bem de saúde. Agradece ao homem, que ainda persistente oferece-lhe mais ajuda, dizen- do que a esperaria após a consulta feita para levá-la até sua 32
  • 33. casa, dizendo um até breve. Depois de um ansioso e longo tempo de espera, uma atendente lhe chama para que o médico a examinasse. O médico, no entanto, após diagnosticá-la, diz: – Senhorita, o seu caso é sério, muito sério, você pre- cisa cuidar-se. Vá a um especialista o mais rápido possível. Depois de dito isso, o médico lhe aplicou uma injeção, recei- tou-lhe alguns comprimidos e mandou-a para casa. Lídia, ao sair dali, propõe-se a buscar um táxi. Porém, percebe que tinha pouco dinheiro. Resolve então voltar para casa de ônibus, porque o dinheiro que tinha era suficiente apenas para uma passagem de coletivo. Ao chegar ao seu apar- tamento, o único dos presentes que lhe restava, dado por João Eduardo, estava sendo questionado na Justiça pela adminis- tradora do prédio por falta de pagamento de condomínios e outras taxas ativas. Lídia, como sempre, continua adiando suas dívidas na esperança de que João Eduardo voltasse, con- forme prometido por pai Gildo. Só assim resolveria todos os seus problemas financeiros. O tempo passa e nada de João Passaram-se vinte e um dias. Ansioso foi esse tempo para Lídia, e nada. Assim como no início dos trabalhos do tal “Pai Gildo”, Lídia estava no mesmo ponto inicial: na estaca zero. Nada, simplesmente nada no que se referia ao retorno de seu homem, seu provedor João Eduardo. Enquanto isso, João, envolvido pelo feitiço de Pai Gildo, lutava e relutava contra sua vontade. A vontade de rever Lídia fazia com que ele sentisse algo que lhe puxava para aquela excitante mulher. Ao mesmo tempo, tinha como objetivo reconquistar Izabel. Era a luta entre o bem e o mal, do ódio contra o amor de sua amada esposa, que após aquele 33
  • 34. episódio sórdido, percebera o quanto amava. Mas, diária e continuamente, Izabel ingeria bebidas alcoólicas e sua casa continuava uma desordem. Não havia entendimento entre João, seus filhos e a esposa. Bastava-lhes algum gesto ou qualquer diálogo para que entrassem em choque. Enquanto Lúcio e os espíritos trevosos vibravam para que João voltasse para Lídia, assim a desordem seria total, os espíritos de luz, protetores de Izabel e João, ou melhor, seus anjos da guarda, vibravam a favor da reconciliação do casal e dos filhos. Era uma luta constante. As atitudes do passado e do presente, de ambas as partes, abriam um grande espaço aos espíritos negativos e corruptos, que aceitavam as ofertas ou presentes em troca de ver aquela família na lama, assim como eles são: perversos, vingativos e sádicos. Essas energias espargiam naquele lar um desconforto total, com atitudes e explanações errôneas e agressivas, sempre sob as más inspirações. Entre essa classe espiritual, há, assim como no plano material, uma divisão em diversas classes. Verifica-se no en- tanto que ali, no lar de João Eduardo, há uma definida classe espiritual trabalhando, composta de energias vãs emanadas por espíritos corruptos, concentrados entre a orgia e os víci- os gerais, trazendo aos poucos, àquele lar, uma atmosfera degradante e pontuada por más vibrações. O que se percebia era uma tentativa de invasão dos bons amigos do Plano Espiritual Superior. Porém, lhes eram escassas a luz que os irradiariam para o auxílio aqueles ir- mãos tão carentes. Não percebia João e toda a sua família, a grande tentativa que faziam os bons espírito ou anjos, irmãos espirituais abnegados, para ajudar a resolver tal situação. E eles persistiam, e eternamente continuariam, mesmo com to- das as dificuldades, a jorrar-lhes nem que fosse uma ínfima partícula de raios de amor, enlevada por suas boas vibrações. 34
  • 35. Por isso a degradação não era total, porque havia uma peque- na luz no fim do túnel. O mau pensamento ou as más atitudes se transfor- mam em más sintonias, que consequentemente atraem maus espíritos. O bom pensamento ou boas atitudes, por conse- guinte atraem bons espíritos e a paz. João não cultuava ne- nhuma fé ou não se lembrava sequer da existência de Deus. Ele continuava e persistia preocupado com o dinheiro em abundancia, com o lucro em alta escala. O dinheiro era a sua vida. O ser humano que vive em contato com nosso querido Deus O criador de todas as coisas, ou seja, o nosso Deus Onipotente, não importando a fé, ou as denominações que lhe derem, sempre será o nosso porto seguro. Quem não tem uma fé, certamente se torna escravo de si mesmo ou escravo de seu próprio egoísmo, além de estar totalmente vulnerável e sujeito às vibrações negativas. E quando isso ocorre com pessoas de má índole, que permanecem no erro e que não tem escrúpulos, geram em torno de si maus pensamentos: inveja, ciúmes, ego- ísmo, ganância desenfreada, corrupção, individualismo, calu- nia etc. E quando um espírito do mal se aproxima, encontra o maior de seus desejos, que é o de atormentar as pessoas, mate- rializando doenças e tirando o máximo de proveito que puder, sugando suas energias, incentivando aos vícios pelo psiquismo, ao roubo e até a homicídios. Essa pessoa, estando total ou parcialmente indefesa (sem nenhuma fé), logicamente será atingida, tornando-se uma presa fácil dessas vibrações maléficas. Sintomas físicos como mal estar, insônia, angústia, choros desmotivados, previsão ou sensação de morte e 35
  • 36. outros males. São assim que começam a se revelar as más sintonias. Isto é só o fim, ou o começo de uma situação degradante. Mas quando o ser humano tem sua fé, seja ela qual for, que pregue o amor ao próximo, à família, solidariedade e principalmente amor a Deus, tudo leva a crer que terá o seu anjo ou espírito guardião fortalecido, bem sintonizado, desig- nado por Deus 24 horas por dia, não importando se o nome de sua proteção seja Anjo da Guarda, Protetor, Espírito Santo, Energia ou Orixá. Nosso querido mestre Jesus afastava e conduzia os espíritos que obsedavam as pessoas para outras dimensões. Essas pessoas obsedadas estavam vulneráveis por causa de seus atos improcedentes. Provavelmente, João Eduardo, sua esposa e seus filhos, estavam vulneráveis e expostos a tal obsessão. Observemos o que dizia o Mestre Jesus às pessoas que eram vítimas de espíritos obsessores, também conhecidos como “legião”: – “Vás e não peques mais”. Ou pode-se dizer: Vá e tenha bons pensamentos e boas atitudes. Lídia volta ao Pai Gildo Lídia, voltando àquele lugar, bate palmas e logo é atendida. O auxiliar pede para que ela entre. Em seguida, surge Pai Gildo. – Tudo bem? Veio trazer-me boas notícias, não é mesmo? – Não – responde Lídia, desolada. O senhor prome- teu-me que João Eduardo voltaria entre sete a vinte e um dias. Já faz quase dois meses e nada. Ele ainda não voltou. Estou desesperada e com dívidas, muitas dívidas. Não tenho mais nem o que comer, e eu quero o João se arrastando aos meus pés, não só pelo que ele foi para mim ou porque ele me dava de tudo, agora eu o quero por vingança – e põe-se a chorar. 36
  • 37. Magoada pelos enganos e mentiras de João Eduardo e de pai de Gildo, frente a frente com seu guru, cheia de tormentos, se diz vencida por Izabel nessa batalha. E é bem verdade que Izabel, com todos aqueles problemas, era realmente uma vencedora. Afinal, ela usava uma poderosa arma: o amor que doava saído de suas entranhas, aos filhos a ao marido. Amor que estava guardado em seu íntimo, mas a bebida alcoólica estava lhe prejudicando, numa busca inútil por consolo e resolução dos problemas. Izabel, vagamente se apegava à fé, mas o que pedia, clamando, era com palavras verdadeiras. Nesses momentos, o seu coração se abria, despojado e seguro às suas preces. Mas, é claro que entre eles havia uma fenda já um tanto profunda, para que as energias inconstantes dali se provessem, para que os maus espíri- tos entrassem em sintonia com o ódio e a vaidade, cujo único objetivo era explorar esses sentimentos ao máximo, para comple- tar a maldosa destruição daquele lar. Enquanto isso, Pai Gildo diz a Lídia que é preciso reforçar o trabalho. – Então reforce, – respondeu Lídia, com muito ódio. – Vamos reforçar minha filha, só que eu preciso de mais dinheiro. – Dinheiro? Eu não o tenho mais dinheiro. Já lhe disse que não tenho nem o que comer. – Mas você disse que tem um bom apartamento. Vai ter de vendê-lo. – O Senhor acha que devo vender meu apartamento para continuar esse trabalho? – Minha filha, o que mais vale? O apartamento ou esse homem? – E se ele não voltar? – pergunta Lídia. – Você tem de confiar em mim, o trabalho já está quase dando o resultado que você deseja. Agora, só precisa de um pequeno reforço. 37
  • 38. – E em quanto fica esse “pequeno reforço?”. – Para que ele fique bem feito, quero que você me traga o quanto antes a quantia de sete mil reais. Garanto-lhe que o seu homem voltará, com certeza, no prazo de três dias. Lídia, espantada e com ironia, responde a pai Gildo. – Mas meu amigo, eu não tenho mais dinheiro, nem para comer. Ajude-me, por favor! Traga-me este homem que depois eu saberei ser muito generosa com você. Poderei ate lhe dar um carro novo. – Pois venda o seu apartamento. Sem dinheiro, não tem trabalho. E vá embora, porque tenho muita gente para atender. Lúcio, furioso, assim que Lídia vira as costas para Pai Gildo, com sua vibração ruim faz com que o tal “Pai Quiumba” leve um belo tombo, caindo de boca no chão. Lídia, por mais uma vez se sente derrotada e com os rins cada vez mais problemáticos. No desespero que sentia para alcançar aquele objetivo, a conquista do seu homem, ela se esquecera do mais importante: sua saúde, que se agravara. Ao chegar em seu apartamento, Lídia procura um com- panheiro para o seu consolo: o rádio. Sintoniza-o em qual- quer emissora e ouve a voz do locutor, que diz: – Você está desesperada, não é mesmo? Nada está dando certo em sua vida? Sua saúde está abalada? Seu espo- so ou namorado se foi? Nós temos a solução. Ligue-nos agora mesmo, porque teremos resposta de imediato para o seu caso. Temos aqui vários depoimentos e uma equipe que ora por você. Ouça alguns depoimentos. Lídia, muita atenta, começa a se envolver e a sentir- se realizada com aqueles depoimentos. Não teve dúvidas. Foi à casa de Anita, também enganada por Pai Gildo, e as duas tomaram uma decisão. Ansiosa, Lídia liga para o líder religio- so, o locutor, para um contato imediato. Logo ela é atendida 38
  • 39. pela secretária da tal emissora pirata, que lhe pede que escre- va uma carta para ser lida ao vivo pelo locutor. No dia se- guinte, após a carta chegar às mãos do locutor, este a respon- de, pedindo que as duas fossem à igreja para serem atendidas pelo reverendo. Eis o que o locutor respondeu no ar: – Eu sou o Reverendo Luiz e aqui estou com a carta de Lídia, que me conta sobre o seu estado de saúde, causado pela má situação financeira que está atravessando, além da triste ausência e o abandono de seu namorado. Eis o que esta se passando com você, minha filha. Você está com um traba- lho de feitiçaria muito pesado. Um Exu e uma Pomba-Gira aceitaram uma tarefa para acabar com você, e essa pessoa você conhece bem. É ela mesma, é exatamente quem você esta pensando neste exato momento. A minha vidência ainda me mostra todo o mal que fizeram a você. Esse trabalho par- tiu também de uma vizinha sua. Procure-nos com urgência, mas venha rápido, para que possamos fazer-lhe uma forte cor- rente de orações. Eu tenho o poder para lhe salvar dessa situação. Vou abençoar-lhe e seu namorado voltará urgente, mais rápido do que você pensa, minha querida ouvinte. Venha hoje mesmo. Lídia, já um tanto debilitada e com um péssimo as- pecto, consegue, com a ajuda de Anita, chegar ao local onde o reverendo reunia, pela força da comunicação, o rádio, mui- tas pessoas que se encontravam desesperadas e sem saber o que fazer. O encontro 39
  • 40. Quando Lídia se apresenta à secretária do reverendo, esta percebe que a pobre moça não se prezava mais ao futuro. Mas mesmo assim, após varias e varias perguntas, Silvia, a secretária do reverendo, diz à Lídia: Venda o seu apartamento e volte aqui. Nós não cobramos nada, mas você precisa só colaborar com ofertas para que possa- mos continuar pagando o aluguel desse enorme salão e o progra- ma de rádio, por meio do qual prestamos auxilio às pessoas que têm problemas iguais aos seus. Lídia alegou que seu apartamento estava à venda já há algum tempo, porém, não conseguia vender, pois nunca havia aparecido ninguém interessado. – Posso lhe dar uma idéia? – diz-lhe a secretária. Abaixe o preço que você está pedindo para vendê-lo, assim, ficará mais fácil a negociação do seu imóvel. Eu pedirei ao reverendo para que ore muito por você, e verá como será rápida a venda do apartamento. Façamos o seguinte: você me dá o seu endereço para que eu o coloque na fogueira da prosperidade. No dia seguinte, logo após lídia se levantar, toca a campa- inha. Era uma pessoa interessada na compra do apartamento: – Bom dia! Quero falar com dona Lídia. – Pois não, sou eu mesma. O que o senhor deseja? – A senhora está vendendo o apartamento? – É, estou. – Bem, estou interessado. Quanto a senhora quer por ele? – Veja bem meu senhor, o apartamento vale oitenta mil, mas estou pedindo cinqüenta mil, pois tenho urgência em vendê-lo. – Têm dividas? – pergunta-lhe o comprador. – Algumas taxas de condomínio atrasadas. Lídia lhe mostra os boletos. – Aqui está o que devo: Três mil reais. – Bem, eu lhe dou vinte mil reais. É pegar ou largar. 40
  • 41. – O senhor aceita um café? É a única coisa que posso lhe oferecer no momento. Lídia lhe oferece um café para ter tempo de pensar, pois estava sendo pressionada. Enquanto fazia o café, marti- rizava-se em pensamentos: “Aquele pessoal da igreja do re- verendo Luiz é realmente incrível. Fui ontem ter com eles e hoje já estou vendo o resultado. Isto é um verdadeiro mila- gre. Não é bem o que eu queria, mas até agora não havia aparecido nenhum comprador, e se eu pegar os vinte mil reais e tiver o João de volta, tudo estará resolvido em minha vida, pois se aconteceu este milagre, com certeza outro mila- gre acontecerá: João irá voltar”. Mas o que Lídia não sabia é que aquele sujeito, o com- prador sem escrúpulos e mal intencionado, era comparsa do revendo Luiz e de sua secretária Silvia, que o enviaram até Lídia para extorqui-la, executando uma compra desonesta e oportunista do imóvel, a preço irrisório, sabendo eles perfei- tamente, que através da sensibilidade emocional em que a moça se encontrava, certamente seria uma presa fácil, e eles bem sucedidos com a compra do imóvel. Com isso, teriam um bom lucro após vender o apartamento para outra pessoa pelo preço de mercado. Lídia, voltando da cozinha com o café, diz ao homem: – O senhor não pode melhorar um pouco mais a sua proposta? – Senhora, na verdade eu já estou quase arrependido, pois percebo que nesse apartamento tem alguma coisa. Aqui há uma tristeza muito grande, parece-me que tem macumba, feitiçaria, enfim, uma energia totalmente negativa que toma conta deste lugar. Quem morar aqui só terá problemas. Pa- rece-me que tem um feitiço muito bravo, coisas de vizinho. Após ouvir atentamente aquele homem, Lídia deduz rapidamente que João fora embora porque alguma vizinha 41
  • 42. invejosa lhe fez algum trabalho para tirar João de sua vida. Ao ouvir as estranhas palavras daquele homem, inesperada- mente, quase que suplicando, diz ao homem: – Pensando bem... Não, não vá embora! Vamos conversar! – Não, dona Lídia, eu não vou comprar mais o apartamento da senhora. – Então está bem, eu aceito os vinte mil. Fechamos o negócio agora? O comprador convida Lídia a ir ao seu escritório para concluir o negócio. Assim, consumado o negócio, ela entrega as chaves do apartamento ao homem. E a convite de sua amiga Anita, Lídia vai morar com ela, dividindo ambas as despesas de aluguel, telefone, alimentação e outros. – Você viu Anita? Agora vai ser tudo do jeito que eu quero. Aquele canalha logo em breve estará aqui, em minhas mãos. O pessoal do reverendo Luiz é ótimo, fomos num dia e no dia seguinte consegui vender o apartamento. Temos que ir lá o quanto antes para eu dar a minha oferta, para que João Eduardo esteja logo, bem aqui, aos meus pés. Vamos Anita, arrume-se enquanto eu pego um táxi. – Que nada Lídia! Vamos de ônibus, você precisa economizar. – Que economizar, que nada. Logo, logo o João vol- tará e meus problemas financeiros estarão resolvidos, mesmo porque, eu não estou bem de saúde. De vez em quando me dá umas crises e eu tenho muitas dores nos rins. Estou urinando sangue. – Cuidado Lídia, você precisa se cuidar, mulher ! – pre- vine Anita. – Assim que João voltar para mim amiga, irei tomar providências em relação à minha saúde. Irei me tratar nas melhores clínicas e aproveitarei para fazer algumas correções, 42
  • 43. com cirurgias plásticas e estéticas faciais. E você Anita? O seu namorado não voltou? – É, mas eu prefiro não mexer mais com essas coisas, vou deixar nas mãos de Deus. O que for meu virá em minhas mãos. Bem, até que enfim chegamos à igreja do reverendo. Na igreja Lídia aborda um atendente. – Boa tarde moço, quero falar com a Sílvia. – Quem quer falar-lhe? – Diga que é a moça do apartamento que ela saberá . – Qual é o seu nome moça? – Diga-lhe que é a Lídia. Em seguida, aparece Sílvia. E Lídia, dirigindo-se a ela com entusiasmo, diz: – Vocês são demais. Eu vim o mais rápido para agrade- cer-lhes, e também para trazer a oferta prometida. Diga-me o quanto devo dar como colaboração, além do meu testemunho. – Bem Lídia, você colaborando com ofertas, no máxi- mo em três dias seu namorado estará de volta, com toda a garantia. – Quero saber o quanto devo doar. – Quanto mais você puder colaborar, mais rápido seu namorado voltará. Faça esse desafio e você verá como o mila- gre acontece rápido. Faça isso. – Duzentos reais está bom? – Se você acha que estamos aqui pedindo esmolas, está totalmente enganada, moça. Isso é uma ofensa. Bem, faça o seguinte: Doe a metade do que conseguiu com a venda do seu apartamento e você verá o milagre acontecer. Reafirmo-lhe que em três dias você terá o seu homem de volta, eu lhe garanto. Anita quis interferir, dizendo que aquilo era um 43
  • 44. absurdo. A secretária Sílvia, porém, percebendo a intromissão de Anita, chamou Lídia para outra sala para torná-la sua presa. – Dez mil reais? – indaga Lídia, com admiração. – Sim, exatamente dez mil reais – afirma a secretaria do tal reverendo. E foi o preço que Lídia pagou por seu ato de simplicidade, desespero e fé naquela quadrilha. Silvia, a secretária confiável do reverendo, participava de um esque- ma sórdido, cuja finalidade era só usufruir do desespero das pessoas com promessas e garantias em tudo o que se dizia relativo à solução de problemas. Lídia em estado grave Lídia, ansiosa, aguardara os três dias. Porém, João Eduardo não regressara. Os dias se passavam e o seu cora- ção, totalmente em frangalhos, se desajustava em seu peito sórdido, seco, frio, quase em morte. E João Eduardo, não mais. Ou nunca mais. Sua doença estava cada vez mais grave e Anita tenta- va ajudá-la do jeito que podia. Lídia dizia à amiga que os seus caminhos se estreitavam a partir dali. Enferma de corpo e alma, se calava pelos cantos. Porém, com muita revolta, não ouvia ninguém, e também não obtinha mais respostas aos seus clamores. Talvez a vida lhe obrigara, a partir daquele momento, a se conformar. Anita, por sua vez, passou a frequentar um templo budista, onde, bem orientada, se instruiu e passou às medita- ções e à leitura de bons livros, tornando-se em pouco tempo uma pessoa mais alegre, passando a compreender e a aceitar o que a vida podia lhe dar. Entendia que na vida, faz-se sintonia com as leis de causa e de efeito. O bom torna-se bom, o ruim se multiplica e torna-se ainda pior. Metafisicamente falando, o sobrenatural aprofunda-se 44
  • 45. nela através de leituras feitas em livros extraordinários, assim como os bons livros espíritas, e, além do mais, de fundo cientí- fico elevado, trazendo-lhe fontes tranquilas para a sua alma. Lídia, totalmente apegada aos seus encantamentos, es- quece de sua saúde física, já um tanto afetada pelas esperas e pela angústia. É aconselhada várias vezes por sua amiga a cuidar de sua saúde. Após visitar um consultório médico, imediatamente recebe das mãos do doutor uma guia de internação em caráter de urgência, por sorte em um hospital que ficava bem próximo à casa onde ela morava com sua amiga Anita. Após vários exames realizados por uma junta médica, foi feita uma biopsia e concluiu-se que os rins de Lídia esta- vam totalmente comprometidos, pois ela tardara a procurar por tratamento. Após o diagnóstico feito, encontraram um enorme tumor maligno bem próximo ao seu coração e outro no rim. Quem sabe não teria sido o resultado de tantas lágri- mas, tanto ódio e tanta angústia? Ou, quem sabe, não estaria ali já há muito tempo, somente aguardando o momento de mostrar-se em dores, para arrancar-lhe o máximo de sofrimento. O tempo, curto o tempo, deixa por alguns dias a jo- vem mulher banhar-se com as próprias lamúrias, para depois de derrubadas suas lágrimas, afagar suave o “benéfico mal” que guar- dava em seu peito com as delicadas mãos, aceitando-o diante do tempo que ainda lhe restava de vida. Termina aqui a passagem de Lídia pelo plano Terrestre, mas perguntas pairam: Será que Lídia teve oportunidades de resgatar dívidas? E para onde teria ido? Lídia acreditava parcialmente que as pessoas, João Eduardo, por exemplo, é que tinham por obrigação cumprir com os compromissos dela e promover seus devaneios. Seria Justo? Lúcio, junto àquela legião de espíritos trevosos, resolve que deveria resgatar Lídia para se juntar a eles, mas sabendo de antemão que não seria tão fácil, afinal, ela tinha 45
  • 46. seu livre-arbítrio. – Será que Lídia perdera essa oportunidade de se vingar de João? – questiona Lúcio. Há um pequeno trecho bíblico que diz: “Nem filho paga por pai, nem pai paga por filho”. Será que essa lei fará com que a alma de Lídia fique por aí, vagando? Após a morte de Lídia, Anita resolve mudar-se, pois sentia um grande vazio em sua casa: faltava-lhe a amiga. Anita recordava-se muito de Lídia e passou a frequentar um bom centro espírita. Lá, formavam-se grupos de voluntários para visitas constantes às crianças excepcionais. E Anita sempre se fazia presente nessas oportunidades, além de continuar fre- quentando o templo budista, onde aprendera a meditação, o jejum e a reflexão. Entre os frequentadores daquela casa de caridade, Anita conheceu Oscar, um homem culto, de meia idade e boa procedência, cuja humildade jorrava de seus lábi- os em forma de sorriso. Um cavalheiro que lhe cercava de atenção, fazendo-a dele se aproximar num encantamento de amor. Houve entre ambos, as flores e o namoro. O desejo de estar sempre junto dela, de lhe dar flores, era uma realidade fantástica que fazia Anita fruir em seu co- ração, também muito sofrido, o desejo da vida, o desejo de amar. Mas como em todo sonho ou conto de fadas, de repente, sem motivo, uma emoção profundamente triste, va- zia, faz surgir dos lábios de Oscar uma doçura ternamente transformada em um gosto amargo, ao dizer a Anita que não poderiam mais se envolver, que ele se afastaria dela por mo- tivos alheios à sua vontade. Há dois anos, Oscar tivera um romance com uma moça chamada Camila. Depois de perceber que não havia nada em comum entre ele e Camila, que eram desajustados, ele foi amar- gamente traído por aquela mulher, que preocupada somente com 46
  • 47. o seu bem-estar, feriu-o intensamente com suas falsas juras de amor, transformadas por Oscar em decepção e desconfiança no sexo oposto. Certamente que Anita lhe parecia diferente, no en- tanto, não confiava nela o suficiente para viver uma bela his- tória de amor, assim como sonhara. Quis colocar à prova a paixão, o amor e a honestidade de Anita. Esse afastamento de Oscar foi uma determinação um tanto insegura e vulgar da parte dele, que por não ter nenhu- ma experiência com as mulheres, acreditava que seria o úni- co caminho para chegar ao que ambos buscavam: o amor. O coração de Oscar ficou imensamente amargurado, e o de Anita, duplamente amargurado, pois sabia o que havia acon- tecido no passado entre Oscar e outra mulher. – Anita! O melhor que devemos fazer é nos separar, paremos por aqui. Não mereço você, sou só um tolo, não sei lidar com as mulheres, não podemos mais ficar juntos Ela rebate as suas palavras respondendo-lhe: – Oscar! Que brincadeira é essa? O que está acontecendo? – e se põe a chorar. Momentaneamente, ao levantar o rosto, percebe que o homem a quem estava aprendendo a amar se encontrava ali chorando, e a passos lerdos ia aos poucos se afastando dela, silencioso, pés rastejantes, para que talvez nem mesmo os seus rastros ficassem. Ele sabia perfeitamente que seus ras- tros seriam as suas saudades. Oscar não diz mais nada e vai-se embora, com a cer- teza de que Anita sairia à sua procura. Pobre mulher... Ali, surpreendida, os seus braços não se moviam e suas pernas só lhe deram forças para que se ajoelhasse no chão, sozinha, lançan- do um grito triste acompanhado de um choro sórdido, tão sór- dido, que instantaneamente a fez se calar. Aquela noite, uma noite de inverno, estava muito fria. 47
  • 48. Anita tinha preparado uma bebida muito saborosa, com uma receita elaborada por sua mãe que ela jamais esquecera. Nessa bebida estavam incluídos os seguintes ingredientes: chocola- te, ovos, leite, açúcar e uma pequena dose de conhaque. Jun- to àquela bebida viria também um pouco de sua história de vida, de suas labutas e tudo pelo que já tinha passado em sua vida. Anita nascera em uma família pobre, originária do sul do Brasil. Ainda menina, que viera para a cidade grande para conquistar uma vida mais digna. Mas e o seu amor? Por que não teria Anita sorte com o amor? Que Deus tomasse conta de sua alma. Alguns dia se passam e Oscar, por intermédio de ou- tras pessoas, fica sabendo notícias de Anita. Ela não andava bem, estava abatida e muito deprimida. A verdade é que ele a queria, e sofria muito com a separação. Oscar era um homem simples; não possuía bens e vi- via com um salário razoável. Um homem de 40 anos cuja vida sempre fora voltada para o trabalho. Após o episódio com Camila, Oscar jurou para si mesmo que nunca mais pas- saria por uma situação daquela natureza, que o envolvera em traumas, tristezas profundas, traição, desilusões e inquieta- ções. Mas Anita, não! Por que Anita? O seu amor por ela tirava-lhe os domínios que impusera para o seu destino! Deve- ria procurá-la? Sim é claro que deveria, porque nada soubera de erros passados. Anita lhe dissera tudo num gesto transpa- rente, para nada ficar-lhe oculto. E será que ela o perdoaria? O que Anita nem imaginava era que Oscar, na verda- de, era um empresário bem sucedido, que ocultara dela os seus grandes bens financeiros. Era dono de uma siderúrgica que empregava 1.500 funcionários. A tristeza, irmã melancólica da depressão, comparti- lhava as horas com Anita após a sua separação de Oscar. Do 48
  • 49. silêncio oculto que se fazia em sua casa, nada se ouvia além dela mesma e de suas lamentações. Para si, todas as manhãs lhe eram vazias, as tardes pareciam não existir mais, e desejava o véu da noite pra morrer com ele. As noites lhe eram frias e trevosas. Às vezes chamava por sua amiga que já se fora, outras vezes temia a presença de Lídia, chegando a sentir fortes arrepios e temores em um dia que invocou a presença da amiga falecida. E poucas lhe foram as noites tranquilas em que conseguia dormir. De repente, numa manhã, ao levantar-se da cama olha para o espelho e assustada e põe-se a chorar. Teria perdido uns bons quilos de peso corporal. Sua fisionomia era cadavé- rica, flagelada. Imediatamente toma o seu banho e troca a sua roupa para dirigir-se a um hospital, pois daquela forma não poderia continuar. Que Ironia, mais uma vez, o destino Anita, em uma de suas idas ao hospital, ao passar por alguns exames não sabia que ali, onde se tratava doentes, um dos provedores do hospital teria o nome de Oscar. Ela real- mente não se importava com o nome, porque não seria o mesmo Oscar a quem ela tanto amava, jamais, pois ele não teria o mínimo de condição para ser um provedor daquele complexo hospitalar. Em uma das consultas, um médico sim- pático chama-lhe pelo nome ao atendê-la. Dr. Osvaldo, ao examiná-la sorrindo, lhe dá o diagnóstico: chama-o de “solidão”. Essa situação despertou nela grandes atenções, e aquele doutor passou-lhe um carinho especial através das palavras, pois sabia que a situação daquela senhorita estava ligada somente ao fator psicológico. O que resta dizer é que, após algumas visitas ao hos- pital, Anita sente que ainda teria possibilidades de se reerguer, 49
  • 50. por encontrar ali uma pessoa que se tornou um grande amigo, que era o Dr. Osvaldo. Mas ela sentia que ele lhe omitia algu- ma coisa, ainda assim, confiara a sua vida a ele, pois suas palavras lhe confortavam, e muito. O tempo passava. Depois de suas visitas ao médico, Anita conseguira se estabilizar, retornando à vida ativa. Não se esquecera por todo de Oscar, mas já se sentia melhor, qua- se pronta para o labor. Algumas sessões lhe foram feitas por profissionais na área de psicologia, para ajudá-la em seu pro- gresso íntimo. E sempre ali presente estava o seu “Dr. Ami- go”. E nessa vigilância, com algumas visitações médicas, Anita sente-se muito bem. Só que uma coisa começava a afli- gir a sua mente. Por que tanta atenção do Dr. Osvaldo? Foi quando caiu em si. – Meu Deus! Não pode ser! Eu não devo mais passar por essa penosa situação. Um dia, ao examiná-la, Dr. Osvaldo, não contendo mais sua paixão mas sem lhe faltar com o devido respeito, fez-lhe um elogio, convidando-a para jantar. – Anita, você é e está hoje ainda mais bonita. Não gostaria de jantar comigo? – Dr. Osvaldo, o senhor é realmente uma pessoa mui- to interessante, bonito. Um excelente médico, de boa posição social e tem uma missão maravilhosa, que é a de curar as pessoas. O senhor é tudo que uma mulher equilibrada sonha. Mas o meu coração doutor, meu coração está totalmente ocupado, e para sempre. – Você me desculpe, Anita. Pensei que você fosse solteira e que não tinha compromisso algum. A sua ficha diz que você é solteira. – Sim, sou solteira e não tenho namorado, não tenho ninguém. Quem eu realmente amo, profundamente, foi embora sem dar-me explicações. – E como se chama esse felizardo, Anita? 50
  • 51. – Isso agora não importa, doutor. – Desculpe a minha curiosidade, estou querendo saber demais de sua vida. – Não, não há problema. Eu é quem lhe devo descul- pas. Fui um tanto grosseira e o senhor me é tão gentil. A pessoa a quem amo se chama Oscar. Ele trabalha em uma siderúrgica. Não tem o seu status, é uma pessoa simples fi- nanceiramente, porém, um perfeito cavalheiro tanto quanto o senhor, doutor. Ele é tudo o que eu sonhei para completar a minha felicidade: Um homem pobre financeiramente, mas rico de alma, rico em suas convicções, em seus planos. Só que eu não entendo porque ele se foi. Não pensou nas sequelas que me deixaria ao afastar-se de mim, sem que existisse al- gum motivo ou justificativa para isso. – Ele não lhe deu nenhuma explicação? – pergunta Dr. Osvaldo. – Por que Oscar? Por quê? Se você soubesse como eu te amo e o quanto te odeio por isso. Eu tinha planos para nós dois, mas tudo não passou de uma mentira. Em seguida, Anita se despede de Dr. Osvaldo e ele lhe pede desculpas. – O senhor não imagina o bem que me fez com esse convite, auxiliando-me em meu interior, levantando minha autoestima. Quando vim a este hospital, desolada, jamais pensei em meu regresso como pessoa normal. Mas com as bênçãos divinas, encontrei-me com o senhor e lhe fiquei de- vedora. Foi aqui, através de seu braço amigo e de seu coração maravilhoso que me fiz novamente filha de Deus, uma pessoa normal. E foi exatamente isso que eu tanto precisei para erguer-me novamente. Fico-lhe grata doutor, muito grata. Que Deus o ilumine sempre. Oscar, além de provedor daquele hospital, também o era em outras instituições filantrópicas, em especial numa casa 51
  • 52. espírita, onde ele se sentia muitíssimo bem na companhia de crianças “especiais”. Mas mantinha sigilo total, para que sua solidariedade não perdesse a essência da caridade. Lídia vaga sobre a Terra Após a morte de Lídia, com o seu espírito já desliga- do do corpo físico, ela se encontra numa dimensão de baixa frequência, com outros espíritos da mesma faixa vibratória. – Que lugar é este? – pergunta Lídia. – Que horrível! Onde estou? Responde-lhe, telepaticamente, um dos espíritos ali presentes: – Aqui, minha cara, é a sua nova casa. – Como assim? Eu tenho de encontrar Anita. Pelo que sei, ela estava comigo no hospital, e aqui não me parece ser um hospital. – Verdadeiramente, aqui não é um hospital, você esta certa. Aqui é outro lugar, é a sua nova casa. O seu corpo você deixou lá no hospital, e de lá ele foi levado para o cemi- tério. Seu corpo agora está podre! Podre, você entendeu? Em decomposição. – Não entendi e você está falando bobagem. Eu estou aqui, viva e com muitas dores. Diga-me onde posso encontrar um médico. Como ninguém a atendia em seus apelos, confusamente ela perguntava: – Por favor, diga-me a verdade! Eu quero voltar pra casa! – Como você se chama? – alguém pergunta. – Eu me chamo Lídia. – Olhe aqui moça, você agora é um espírito, só espírito. O seu corpo está debaixo da terra, podre, todo podre. Você entende isso? Logo ali na frente tem um homem que se cha- 52
  • 53. ma Lúcio. Ele esta à sua procura faz tempo. Tem outro ali que você já conhece. Foi assassinado de tanto enrolar os ou- tros enquanto viveu na Terra. Um belo dia ele achou um que fez dele churrasco! Vá até lá que você descobrirá quem ele é. – E você, quem é? Pergunta Lídia. – Bem, eu era ladrão, assassino, estuprador etc. Só que, após vários anos, comecei a entender que estou aqui na condição de espírito, sofrendo um monte neste lugar horrí- vel. Estou aqui de acordo com as minhas ações. É aqui o nosso lugar, e pode ir se acostumando, minha cara. – Estou com frio, com fome e com muitas dores. – Para você se alimentar terá que esperar. Bem, eu não estou aqui pra lhe ensinar nada, aqui é cada um por si. – E onde está a pessoa que eu conheço? – Vá andando por aí. Depois daquele lodo você o encontrará. Será fácil você encontrá-lo, pois ele está todo deformado, talvez se banhando no lodo que ele mesmo construiu. – Então ele está vivo! – responde Lidia. – No meu caso, se eu sinto dores em todo o meu corpo, certamente é porque também estou viva. Sabe de uma coisa, você está me enrolando, seu mentiroso. Naquele momento, surge na presença de Lídia um espírito de aparência suave. Após cumprimentá-la, ele lhe diz: – Chamo-me Rafael, sou um espírito que trabalha na linha que divide o bem do mal. Sou conhecido por vários nomes no planeta Terra. Alguns me chamam de Guardião, outros de Exu, Portal, Auxiliar... Assim, rotulando-me com nomes diferentes e credos também diferentes. Por vezes somos confundidos com espíritos que sentem prazer em fazer o mal. O que fazemos, no entanto, é trabalharmos ardorosamente para manter o equilíbrio no Universo, e vim aqui neste lugar de tre- vas com a missão de lhe fazer um convite. Venha conosco para 53
  • 54. uma colônia espiritual, onde você terá grandes oportunidades de um bom aprendizado e conforto espiritual. – Bem, Sr. Gabriel ou Sr. Rafael, – responde Lídia – isso pra mim não tem a menor importância. O que me inte- ressa no momento é falar com o homem que aquele outro espírito diz que eu conheço. Você pode me dizer onde ele está? – Eu lhe recomendo que não o veja, pelo menos por agora. – Veja bem, Sr. Rafael ou Sr Exu, seja lá o que for. Sempre fui dona do meu nariz. Não lhe conheço e não aceito suas ordens ou recomendações. Eu tenho um objetivo, que é reconquistar o homem que perdi. Não estou bem de saúde, sinto muitas dores. Sinto fome e muito frio. Quero resolver minhas pendengas. Você pode me dizer onde está a tal pessoa que aquele cara disse que eu conheço? Sim ou não? – Aqui você tem vontade própria, ou seja, tem o seu “livre-arbítrio”. Portanto, você é livre para ir e vir. Siga o seu caminho e encontrarás quem procura – responde Rafael. Após algum tempo, Lídia se depara com Lúcio e Gildo, o tal feiticeiro. Com muito espanto, ela exclama: – Você por aqui? Nossa! Pai Gildo, como você está péssimo, seu pilantra! Cadê o João, que você jurou que no máximo em 21 dias estaria comendo em minhas mãos? – Agora ficou mais fácil, minha cara! Este aqui é Lucio. Você não o conhece, mas ele esteve sempre ao seu lado, ten- tando lhe ajudar. Ele era namorado da esposa do seu amante. Vamos formar uma equipe e nos preparar para uma viagem, e lá você terá o seu homem a hora em que você quiser. O terá até 24 horas por dia. O que você acha? – Você está tentando me enrolar outra vez, não é mesmo? – diz Lídia. – Tente entender uma coisa moça, nós estamos mor- 54
  • 55. tos! Mortos, entendeu? Estamos mortos fisicamente, como se diz na Terra. Agora nós estamos em outro plano, que muitos chamam de “Inferno”. Aqui, ou você se une a nós, ou você se declara nossa inimiga. Como queira minha cara. Lídia, já um tanto amedrontada, procura disfarçar, buscando resolver as suas preocupações e necessidades físicas. – Como é que a gente se alimenta por aqui? Estou com muita fome... Sinto frio e tenho dores. – Para nos alimentarmos por aqui – diz o feiticeiro – temos que vagar sobre a Terra para sugar as energias das pessoas que nos dão abertura. – Como assim? O que é abertura? Não estou enten- dendo nada, meu caro – responde Lídia. – Quanto mais as pessoas cometem erros, mais elas ficam vulneráveis, ficando assim mais fácil para nós. Mas não tenha pressa para aprender, pois você terá tempo disponível em seu aprendizado. Aos poucos você aprenderá a fazer isso, é muito fácil. O que basta é que você não tenha piedade de ninguém, pois o ódio é a arma mais eficiente para nós. Lídia, muito confusa com aquela situação, não sabia se era realidade ou sonho. Dizia para si mesma ser só um sonho, apenas um sonho. Era o que estava lhe acontecendo, era no que ela queria acreditar. Aquilo tudo não se passava de um sonho ba- nal, afirmava Lídia para si mesma. Mesmo acreditando que estava sonhando e que ainda es- tava viva e na Terra, ela pergunta ao feiticeiro: – Então, Pai Gildo, diga-me, o que foi que lhe aconteceu? – Bem, minha cara, das coisas que não resolvi em sua vida, muitas outras pessoas eu também enganei com minhas mentiras e traições. Até que um dia, de tanto enrolar os outros, acabei me dando mal. – Mal como? – É, minha cara, fui procurado por um libertino ex- 55
  • 56. plorador de mulheres, popularmente conhecido como cafetão, você entende? Ele estava desesperado para conquistar uma bacana e tomar o dinheiro dela. Eu o fiz vender o carro e a casa para me pagar um trabalho, que jamais fiz direito. E foi daí que, após a promessa vencida, ele notou que eu não tinha feito trabalho algum, da forma como ele queria que aconte- cesse e, mordido de raiva, me arrancou da Terra e me man- dou pra cá, para o inferno. Jogou gasolina em meu corpo e sem piedade ateou fogo. Por isso estou todo deformado. Mas estou convicto de que aqui é realmente o meu lugar, pelo fato de ter enrolado muitas pessoas. Mas não me arrependo de nada de errado que fiz. Aos gritos, o feiticeiro retumba bem alto: – Quero que se dane! E, voltando para Lídia, ele diz: – Agora, depois de estar ciente que aqui é o meu lugar, faço uma imensa questão de buscá-lo para que ele viva aqui também. Esta será a mi- nha vingança, ele será meu escravo, pois este é o meu, maior objetivo. – Mas aqui há muitos moradores? – pergunta Lídia. – Sim, aqui há muitos moradores, e vão bem mais além do que você imagina. Aqui é a morada de corruptos que enganam as pessoas, exploradores mentirosos etc. Mais pra baixo, é a de assassinos, gananciosos, mesquinhos e fraudu- lentos. Mais abaixo, de estupradores e outros, enfim, de ho- mens que conhecem o poder Divino, mas que persistem no erro ou na rejeição, assim como eu, que estou aqui por minha opção, porque sou alimentado pelo ódio e seduzido a conti- nuar aqui por aqueles espíritos que trabalharam comigo, os quiumbas (espíritos trevosos). E aqui há muitos políticos e líde- res de nações, que manipulavam o seu povo e ainda manipu- lam, interferindo junto aos maus políticos que lá na Terra ainda vivem, pessoas que eram consideradas importantíssimas na Ter- 56
  • 57. ra, mas que aqui são consideradas lixo dos mais podres. Novamente Lídia pergunta ao feiticeiro: – Mas se você morreu recentemente, como pode saber de tudo isso e eu não? – Você se esqueceu de quem eu fui? Fui e sou um feiticeiro, fiz vários trabalhos para atrapalhar os outros e por isso lhe afirmo: sou um mau espírita com muito prazer. Eu praticava somente magia negra, trabalhava com espíritos pe- rigosos e hei de me tornar um desses líderes ou gênios do mal. Vivia constantemente invocando espíritos trevosos para fazer o mal às pessoas. Lídia, confusa com as respostas dadas pelo feiticeiro, confessou-lhe que realmente estava uma tanto atrapalhada, porque não imaginava nada daquilo. O tal Pai Gildo, no entanto, entre comparações lhe diz: – Minha cara, assim como existem maus espíritas, há de existir também maus pastores, maus padres, e tantas ou- tros, de tantas outras religiões existentes na face da Terra. Eu, Pai Gildo, o feiticeiro, conheci a vida e a morte. Por op- ção dediquei minha vida em lidar com essa qualidade de espí- ritos, pois me identifiquei com eles. Só não sei lhe dizer se fui fruto desse ambiente. Mas aqui estou por questão pessoal e me dou bem, mesmo sofrendo muito. O sofrimento me traz mais ódio, e o ódio me alimenta. Me considero um psicopata, apren- diz de gênio do mal. – Mas por que você quer ser tão perverso assim? – Você, moça, não conhece o que é maldade, pensa que sabe fazer o mal, mas na verdade é uma otária. Nós aqui nada somos em relação aos nossos chefes, os chamados espíritos das tre- vas. – E os Exus? – pergunta Lídia – Quem são eles? – Os Exus podem ser comparados a policiais. Alguns mais evoluídos, outros menos, alguns mais severos outros mais amenos. Eles trabalham como voluntários na linha que divide o 57
  • 58. bem do mal, para manter o equilíbrio universal, assim dizem eles. – E você pretende sair daqui e ir para um lugar melhor? – O que me segura e me alimenta aqui é o ódio, como já lhe disse, pois foi pelo ódio fui criado por meus genitores. Meu pai carnal era um matador pistoleiro feroz, um pistoleiro que matava pra ver o tombo, e minha mãe uma pilantra de marca maior. Gosto muito de ver os outros sofrerem, assim como eu sofri na minha infância e juventude. Tornei-me um sádico, por isso sempre gostei de invocar os maus espíritos para fazer amar- rações e também para fazer o mal aos outros E você Lídia, quer sair daqui? – Se é que não estou sonhando, e se tenho o poder de fazer o mal aos outros também, então, só tenho um objetivo, uma só coisa a fazer: Quero o João Eduardo em minhas mãos, quero vê-lo se arrastando aos meus pés como um animal ferido. Nesse momento, Lúcio solta varias gargalhadas e afirma: – É isso aí! E pode contar comigo, Lídia, já que é isso que você quer e agora sabe que não é um sonho! – É, eu sei que nada mais conseguirei, o que me resta agora é me consolar com essa situação e trazer aquele maldi- to para este lugar, para eu saciar minha vingança. O feiticeiro lhe diz: – Pois é, já que você não acredita totalmente em sua morte física, vou lhe mostrar um quadro visionário de como você morreu e como está hoje o seu corpo embaixo da terra, decomposto após algumas semanas devido à ausência de sua alma. Assim, você poderá tirar todas as suas dúvidas. Agora olhe nesse espelho que está logo aí, na sua frente. Lídia, ao ver sua própria imagem fria e triste, numa sepultura solitária, fica também muito triste e começa a solu- çar, dizendo que aquilo não era possível, porque ela estava ali, totalmente lúcida a conversar com Pai Gildo e Lucio, que aquilo não passava de mais um truque baixo daquele patife. 58
  • 59. O falso Pai de Santo, sarcasticamente se põe a sorrir com altas gargalhadas, dizendo-lhe: – Minha cara, isso que você está sentindo é totalmen- te normal. Porém, terá que aceitar por ser esta a sua realidade agora, pois você se encontra em outro plano de vida. – Não me venha com mais uma de suas mentiras – responde Lídia – Eu não acredito mais em você! – Eu queria poupá-la de mais sofrimentos, mas já que você insiste, então olhe mais uma vez no espelho que verá no seu quadro de existência: a sua própria morte, física, é claro. Lídia, ao voltar-se de frente para o espelho, fica es- pantada ao ver-se morrendo naquele hospital. Lembra-se que, agonizante, pedia às pessoas que estavam ao seu lado por ajuda, mas ninguém lhe fazia caso. Certamente porque ela, naquele momento, já se encontrava desligada, para fora de seu corpo físico e se transferindo para o Plano Espiritual, pelo fato de ninguém estar ouvindo os seus apelos, pois espírito não tem cordas vocais. Aos poucos Lídia vai se afastando do espelho ao ver exatamente a triste cena de sua própria morte. Ao perceber- se de frente para o espelho, reconhece que naquela imagem o seu corpo entra em estado profundo de inércia, para logo após erguer-se, como uma cópia feita ou um clone de seu próprio corpo físico, na condição de espírito ou alma miserável em total degradação. Naquele instante, mistura-se nela medo e revolta, por não poder rever seus bens materiais, o luxo ou a boa vida que desfrutou na companhia de João Eduardo. Só lágrimas, além das dores, fome e frio. Muitas lágrimas! O tal Pai Gildo, ao vê-la sentada no chão com as mãos desesperadas sobre a cabeça, tenta lhe dizer algo. – É assim mesmo, minha cara, é assim mesmo. É a lei de causa e efeito. 59
  • 60. O feiticeiro, como já era prático na indução das pessoas, e prin- cipalmente de espíritos, quando em seus momentos psicológi- cos frágeis, aproveita para induzi-la aos seus planos sórdidos. – Veja, é como eu lhe falei. Vamos formar uma equipe e você aprenderá muitas coisas. Ficaremos mais fortes nos unindo, aí, você poderá fazer dele, digo, do tal de João Eduardo, o que você quiser. Pense, pense bastante e não tenha pressa. Após algum tempo, Lídia, obstinada e um tanto re- voltada por sua atual situação, aprende, por meio da indução do feiticeiro, como se tornar um espírito obscuro. E com uma equipe pronta, sob o comando de Pai Gildo, parte em busca dos seus maldosos objetivos. Lúcio se oferece para participar daquela equipe, sem saber que se tornaria mais um escravo do tal feiticeiro. Na casa de João João, conversando com Izabel, diz: – Bem que você poderia amenizar mais com a bebida, Izabel. Eu acho melhor procurarmos ajuda, existem clínicas especializadas para esse caso. – Não se esqueça João, foi você quem provocou esta situação – responde Izabel. – Izabel, você está dando um péssimo exemplo aos nossos filhos. Eles não são mais crianças, já estão saindo da in- fância para a adolescência, e esses maus exemplos lhes são muito perigosos. – João, eu tenho consciência disso, quero parar, mas não consigo. Mas e você, já pensou nos seus maus exemplos? – Izabel, você deve procurar fazer um tratamento, pois está se tornando uma alcoólatra. – Não vai adiantar João, porque isso não é doença. 60
  • 61. Eu vou parar, você verá, é só deixar que a minha mágoa passe. Me dê um tempo. Parcialmente, Izabel estava certa. Só o que ela não sabia é que a sua mágoa abria fendas para que espíritos vici- ados lhe induzissem através de bebidas alcoólicas, que favo- reciam a eles. As energias eram sugadas, fortalecendo as suas forças negativas e, através de artimanhas, realizavam as suas maldades. Por conseqüência do álcool em excesso, poderia provocar sequelas em Izabel e traumatizar seus filhos. Passados alguns dias, Izabel, tocada pela bebida, co- meça a contar aos seus amigos sobre a situação que está pas- sando com sua família. Por que não poderiam eles ser felizes? Será que ele, João Eduardo, estaria com algum plano macabro, por isso nada fazia por ela, somente esperando por sua morte para poder ficar totalmente livre para Lídia? Na verdade, o que Izabel e João Eduardo não sabiam é que a pobre mulher já havia falecido. João, a parte, escuta sem querer as lamúrias de Izabel e, após suas amigas irem embora, tenta conversar com sua mulher. – Izabel, eu tive uma aventura com aquela mulher, mas me arrependi amargamente. Eu nunca mais a vi por op- ção minha, porque optei por você, entenda de uma vez por todas. Nós não estamos mais juntos, confie em minhas pala- vras. Ela não está mais em minha vida, nunca mais a vi, mesmo porque, ela desapareceu. O que posso dizer-lhe é que nem mes- mo sei onde ela anda e nem quero saber. – Quem? A tal Lídia? – pergunta Izabel – João, acon- tece que eu não sou tola como você. Se ela parou de vir aqui para me atormentar, logicamente ela está com você, e vocês dois, com certeza, têm um acordo. João Eduardo irrita-se naquele mesmo instante, como se um ódio imenso o atravessasse e adentrasse em si, em for- 61
  • 62. ma de uma fonte de energia ruim, assim como a luz de um raio que, lhe atravessando o cérebro, deixou-o atordoado e com do- res frequentes e profundas. Naquele momento, não percebera o que lhe ocorrera. Aquele foi o primeiro contato com a falecida Lídia, e ambos tragavam a frequência de uma vibração profun- damente espiritual. Sem que João Eduardo o percebesse, ao dar um grito, pede a Izabel: – Ai, ai, ai! Que dor horrível, Izabel! Por favor, socor- ra-me, socorra-me que estou passando mal. Por favor, seja imediata, pois sinto que estou morrendo! Que sensação hor- rível, nunca havia sentido isso em minha vida. Pegue o carro e leve-me ao médico. Izabel, perdidamente atordoada com o que estava acontecendo, tirou-lhe do bolso as chaves e, pedindo a ajuda de um de seus filhos, colocou-o dentro do carro e levou-o a um consultório médico próximo de sua casa. Já no consultó- rio, o médico lhe da um bom analgésico e recomenda a Izabel que leve João Eduardo imediatamente a um hospital, para ter um melhor atendimento. Após ser atendido por Dr. Osvaldo, um profissional idôneo e capacitado na área da Medicina, logo uma enfer- meira aplica-lhe um calmante injetável para que ele pudesse ficar em observação, e no dia seguinte lhe seriam feitas as avaliações necessárias. João Eduardo agonizava. Seu semblan- te, quase desfalecido, se desfigurava em morte. Dr. Osvaldo procura acalmar Izabel, talvez pelo fato de, em pesquisas elabo- radas, ele perceber que ali havia outra parte da Ciência. A “Ciên- cia Oculta”, talvez. O sono de João Eduardo era dramático. Ele se deba- tia na cama como quem estivesse transbordado de angústia e de ódio, havendo em seu corpo tremores contínuos, compa- rados aos de um estado febril, como se tivesse a presença de mais alguém naquele recinto. Tudo o que ali estava aconte- 62
  • 63. cendo, era justamente pelas vibrações negativas que Lídia e sua gangue, através da maldade e ódio, transmitiam ao pobre ho- mem. E aquele quarto de hospital realmente estava infectado com a presença daquela legião. Depois de ser avaliado parcialmente, Dr. Osvaldo colocou João Eduardo sob fortes medicamentos, para que mais tarde pudesse diagnosticá-lo melhor. Somente no final da tarde é que foi chamado para falar com o Doutor Osvaldo, que lhes disse: – O senhor João Eduardo terá que fazer algumas ra- diografias, ressonâncias e alguns exames de rotina. – Sim, doutor – Confirma Izabel, aflita. Dali se seguiram as radiografias e os exames laboratoriais, até que, com tudo concluído, o médico retorna com as respostas. – Dona Izabel, as minhas notícias quanto ao quadro clí- nico de seu esposo não são das melhores, tenho que lhe ser sin- cero. O seu esposo está com um tumor enorme nos rins, que já está abrangendo outros órgãos. – Mas ele nunca reclamou de nada, doutor! Como pode ser assim tão grave? – A senhora tem razão, e é realmente temível. Eu sou médico e minha especialidade é exatamente o câncer. Eu, em toda a minha vida profissional, nunca vi um caso desses. Nor- malmente o tumor começa a incomodar o paciente quando ele ainda está bem menor. E se estivesse menor, teríamos mais chances. – O Senhor acha que meu marido não tem cura, doutor? – Veja dona Izabel, a chance é muito remota. O me- lhor que posso fazer é transferi-lo para o Hospital São Miguel. Eu trabalho lá também e a senhora pode confiar que faremos o melhor, mas não podemos lhe garantir nada, dona Izabel. Comentário 63
  • 64. Nós, seres humanos, independente ou não das fartas religiões, certamente que temos os nossos guardiões (lógica da existência humana), designados por Deus para zelar por nossas vidas espiritual e física. Recebem esses guardiões al- guns nomes como Anjo da Guarda, Protetores, Energias, Orixás, Portal de Luz, Benfazejos, Espírito Santo e outros, podendo-se imaginar que, aqui neste Orbe, somos sustenta- dos beneficamente por esses guardiões. E assim também, opostos a eles, certamente existem os chamados espíritos do abismo com outros codinomes, que devastam todo um siste- ma de harmonia. Mas temos a convicção de que esses espíri- tos trevosos um dia estarão do lado oposto, ou melhor, do lado do bem. Não podemos prever quando, pois é questão de tempo, que é senhor supremo e sábio. Por isso, a evolução de cada um deles se dará com o progresso espiritual dos mes- mos. Sobre esse complexo de contrariedade, nada sabemos com exatidão, pois ainda não há uma conclusão extremamen- te verdadeira, sabemos muito pouco diante da sapiência do criador (Deus). Podemos dizer que existe um equilíbrio no Universo, gerado justamente por meio dessas fontes energéticas, como também podemos dizer que essa energia inferior possa ser a que exatamente necessita ainda ser lapi- dada para que, unida à sua outra metade, a benéfica, quem sabe o mundo ficará completo em sua composição. Mas só o tempo poderá nos dizer, só o tempo. Aquele mal que João sentia, na realidade eram as vi- brações que Lídia lhe passava. Foi o que ela aprendera, e tão bem, após o seu desencarne, com os seus recentes compa- nheiros das trevas que, com as suas façanhas espirituais, con- seguiram confundir até mesmo os médicos, enfermeiros, Izabel e principalmente a sua almejada vítima: João Eduardo. As crises que João Eduardo sentia, passados alguns 64
  • 65. dias foram aos poucos diminuindo, porque, certamente, ao re- ceber as orações emanadas pela esposa, pelos filhos e alguns amigos, seus inimigos eram atacados e as perversidades de Lídia enfraquecidas. Pelo resultado do diagnóstico feito, os médicos acre- ditavam que a situação do rapaz só tendia a piorar, e se as- sustaram diante do quadro de restabelecimento de João Eduar- do. Em suas hipóteses e indecisões, acreditavam estar diante de uma situação não alcançada por eles, por se tratar de um fenômeno ou algo desconhecido pela Medicina contemporâ- nea. Por esse motivo, jamais pensaram ou acreditaram na- quelas bases, com exceção de Dr. Osvaldo que, silenciosa- mente, em suas meditações, formava ao redor do rapaz uma aura quase protetora, por não ser totalmente cético e acredi- tar que existia algo acima da Medicina ou de sua capacidade como médico. E Lídia, quando percebia isso, vibrava com mais frequência, colocando em sua fórmula ainda mais ódio! Quan- do isso ocorria, as dores de João Eduardo aumentavam e, em intervalos menores, ficavam mais fortes. Era uma verdadeira luta entre o bem e o mal: de um lado, afloravam-se energias em forma de orações de parentes e amigos de João, havendo do outro lado um contra-ataque de energias cheias de ódio, violência e obscuridade, reunidas por uma legião perversa e maligna, exaltada pelos devaneios de Lídia, e, de outro lado, as orações que contra-atacavam essas energias e traziam algum alento a João Eduardo. – Lídia, assistindo a degradação de João e o desalento de Izabel, se deliciava e cada vez se exaltava, intensificando ainda mais, com aqueles espíritos vingativos e trevosos, seus ataques de ódio. Após alguns dias, João recebeu alta do hospital, pois os médicos acharam por bem não mexer naquele tumor por- 65
  • 66. que, se o fizessem, a situação do paciente se agravaria mais. Na verdade, os protetores de João travavam uma luta contínua contra Lídia e seus companheiros, fazendo de tudo para que João não passasse por uma cirurgia, pois isso poderia ser fatal e desneces- sário. João não resistiria e, após a anestesia geral, seu espírito ficaria à disposição de Lídia, por estar semi desvinculado de seu corpo físico e isso não seria compensatório. Enfim, ele estava totalmente desenganado pelos médicos e, seus últimos meses, segundo a Medicina, poderiam ser em casa diante dos filhos e da esposa, que ficaram perturbados por não saberem mais o que fazer. Para Izabel, a bebida era a principal companheira. Dizia a pobre mulher que lhe servia para satisfazer seus desabafos e inse- gurança. No dia seguinte, após João ter vindo do hospital, se levantou do leito para não se sentir só. E, mesmo debilitado, resolveu ir a uma praça próxima de sua casa para apreciar a paisagem e repensar a sua vida. João Eduardo se senta em um dos bancos e começa refletir sobre sua vida. Tudo o que fez e o que foi, resulta-lhe num retorno triste ao seu passado, às tantas amarguras que ele e as pessoas que estavam ao seu redor sofreram. Também milhares de pessoas perderam com seus lucros gananciosos e desonestos. Ele se recorda primei- ramente de sua infância; como fora doce! Além de sua ino- cência, havia duas límpidas luzes que constantemente se pu- nham ao seu redor: seu querido pai e sua amada mamãe. Que intensa vida de labor ambos tiveram em prol de uma vida abun- dante para João Eduardo. Lembra-se também de sua juventude, de seus tempos de colegial, dos amores, afetos e desejos juvenis. Lembra-se também dos seus amigos. Profissionalmente bem sucedido, necessitava agora de uma trégua para não cavar a sua própria decadência e a de seu lar. – Meu Deus! O que restou de meu lar? 66
  • 67. Era essa a principal pergunta que João Eduardo se fazia, em busca de uma solução para o que aquela família estava pas- sando. Inquieto, se questionava: – O que será de minha esposa e de meus filhos se eu não resistir a esta doença? Os sintomas que João Eduardo sentia, eram na ver- dade as vibrações emanadas por Lídia, que o afetavam psi- quicamente, pois recebia energias enfermas através de for- mas adquiridas pelos espíritos trevosos, companheiros de Lídia. Na realidade, seus rins estavam bons, mas os médicos queriam aplicar-lhe quimioterapia, que neste caso só agrava- ria ainda mais sua situação em relação à sua saúde. 67
  • 68. A volta de João ao hospital Oscar visita o hospital com outros provedores, não só com a intenção de supervisionar o trabalho dos médicos e dos funcionários, mas também para visitar os pacientes na intenção de tranquilizá-los. Nesse hospital, havia pacientes particulares, como João Eduardo, que tinha boa condição financeira, sendo que noutra ala havia os que nada pagavam, eram mantidos pelos provedores. Ali, no entanto, diante da situação, todos eram atendidos pelos médicos, funcionários e provedores da mes- ma forma: com respeito e carinho. Oscar, entrando na sala de espera onde estava João Eduardo aguardando Dr. Osvaldo, o cumprimenta: – Bom dia, senhor! – Bom dia! – Responde João. – Como vai o senhor? – Vou levando, com a ajuda dos médicos, que são muito bons. – Qual o seu nome? – Chamo-me João Eduardo. E como vai o senhor? – pergunta-lhe João Eduardo – Estou bem. Sr. João Eduardo, meu nome é Oscar. Faço parte de um grupo de voluntários aqui no hospital. – Mas o que realmente fazem os senhores aqui? – per- gunta João Eduardo. – O que fazemos aqui é visitar os pacientes. Doamos dois dias por semana para colaborar com os funcionários no que nos for permitido. Aqui, auxiliamos desde a faxina até os banhos nos pacientes. Em momentos vagos, nos dedicamos com nossas palavras, um contato direto e de coração aberto com os pacientes que permitirem nossas visitas. 68
  • 69. – Como assim? Dá pra você me explicar melhor? – diz João Eduardo. Às vezes, Sr. João Eduardo, nós, por de alguma pala- vra dita, podemos confortar alguém que está ao nosso lado. Além do mais, podemos descobrir as possibilidades que há entre nós mesmos em fazer amigos. E essa certeza nos é exa- ta quando percebemos que todos somos filhos de um Pai único e, vitoriosos, cantamos a alegria de sermos irmãos. Esse é o meu, ou melhor, o compromisso que eu e o restante do grupo temos com todos os que carecem. E posso lhe dizer que ga- nhamos também com essa permuta, gestos de humildade e principalmente “amor”. O que queremos na verdade meu amigo, é que as nossas palavras possam auxiliar em seus restabelecimentos, porque esse é o nosso gesto fraterno e a nossa obrigação humana, afinal, ser solidário nos faz bem, por- que temos como lema que, fazer o bem, faz bem. Caso neces- site de alguma coisa Sr. João Eduardo, pode me procurar que estarei pronto a lhe ajudar. Oscar, naquele momento, mesmo sendo verdadeiras as suas palavras, não se identificara como provedor, preferin- do passar como voluntário. João se encontrava sentado numa cadeira de rodas à espera do médico. Sentia fortes crises provocadas por Lídia que, com suas vibrações maléficas, se deleitava no plano es- piritual. Quando o seu ódio aumentava, as dores de João Eduardo também se agravavam. Lídia ainda estava também enferma em seu psíquico ou períspírito, totalmente seduzida pelo que deixara na Terra. Oscar, ao perceber que João não estava bem, imedia- tamente dá a devida assistência, levando-o a sala do Dr. Os- valdo, pedindo-lhe prioridade no atendimento e que anteci- passe a consulta do paciente. Pela delicadeza de seu estado, o atendimento deveria ser prioritário. Oscar, próximo a João 69
  • 70. Eduardo e já parcialmente orientado por sua sensibilidade espiritual, percebe que por ali vagava uma vibração ruim, mas cala-se em oração, pedindo a Deus, no silêncio de sua prece, que a eles fosse transmitida uma fonte de luz, que os envol- vesse por meio dos protetores da divina casa espírita e insti- tuição filantrópica que freqüentava, e da qual era também provedor. Dr. Osvaldo chama Oscar, que está saindo, e lhe diz: – Obrigado Dr. Oscar, pelo auxilio. O senhor foi magnífico. E foi naquele exato momento que a atendente, sem perceber que Dr. Oscar, pelo seu livre acesso ao hospital te- ria entrado com o paciente na sala do Dr. Osvaldo, pede a Anita que também entre, por ser a próxima paciente a ser atendida. Ao entrar na sala, Anita se põe perplexa ao ver Oscar. Fixando os olhos nos dele, Anita perde-se no tempo. Não poderia ela ali chorar as tristezas passadas, nem tampouco poderia sorrir pelo reencontro. O que realmente ela desejava naquele instante era morrer... Sim, “morrer”, pois só assim, talvez, por um minuto apenas voltaria para os braços de Os- car, a quem ainda tanto ama. – Oscar! O que significa isso? Você, doutor? Pelo que sei você é funcionário de uma siderúrgica, e não doutor! Naquele instante, Anita volta os olhos a João Eduardo e diz: – Eu o conheço. Por acaso você se chama João Eduardo? João, abatido, perdera também, no decorrer daqueles dias, alguns quilos, tendo facialmente um envelhecimento precoce, mas sem perder o vínculo de sua fisionomia. – Sim é este o meu nome. E você, quem é? Não me lembro de você! – E o senhor, Dr. Oscar? – pergunta João. O senhor me disse que era voluntário aqui neste hospital. 70
  • 71. – Sou amigo do Dr. Osvaldo e ele me chama de dou- tor por brincadeira. Essa é a sua maneira carinhosa de me tratar, não é verdade Dr. Osvaldo? João e Anita, já quase convencidos, são surpreendi- dos pela atendente que entra na sala. – Doutor Oscar, tem um funcionário seu lhe espe- rando; é o seu motorista, e pediu para avisá-lo que já esta de volta e que a seu pedido está à sua disposição para levá- lo para a sua siderúrgica. Oscar, já não tendo mais como se defender, abaixa a cabeça como a pedir clemência e, sem nenhuma explicação, espera o julgamento de sua amada, que vagarosamente apro- xima-se dele e, num gesto muito triste, começa a dizer algu- mas palavras enquanto inicia um suave pranto. Anita dirige-se ao Dr. Osvaldo. – Doutor Osvaldo, aquela proposta para jantarmos juntos ainda está de pé? Se o senhor quiser, tudo bem, eu irei jantar com o senhor. Dr. Osvaldo sabia algo sobre Anita que nem ela mes- ma sabia, e pretendia lhe dizer no momento certo, quando estivesse convicto de sua suspeita. Oscar, percebendo que Anita estava confusa, lhe diz: Anita, preciso falar-lhe. Podemos? – Lógico que não, não tenho nada para falar com você! Fui classificada por você como descartável “Dr. Oscar”! Anita, paralisada, aflita e com o coração em cha- mas, gesticulava e colocava as mãos sobre o peito, num ato desesperado de amor pelo homem que à sua frente se colo- cava, dando-lhe o direito de abraçá-lo. Anita o amava forte- mente, mas, diante da situação, ela compreendera tudo o que ele havia feito, pois, sabendo naquele momento que Oscar era o dono da siderúrgica, seguramente ela não que- ria envolver-se com gente poderosa para não passar por 71
  • 72. decepções como Lídia, e terminar como quase terminou. – Não, não quero falar com você. Numa última tentativa, Oscar se despede e aguarda a saída de Anita do hospital. – Então Dr. Osvaldo, vamos jantar juntos ou não? – pergunta Anita, ainda tensa. – Gostaria muito Anita, mas não sabia da sua ligação com Dr. Oscar. Ele me falou de alguém que ama muito, só que precisava tomar uma atitude muito arriscada, porque tinha pas- sado por uma decepção amorosa que lhe trouxe aborrecimen- tos e esse foi o único jeito que encontrou, colocando quem mais amava à prova. Peço-lhe perdão, pois agora vejo que essa pessoa é você. – Dr. Osvaldo, aceite a minha companhia. Não sou submissa a ninguém, não tenho mais nada com Oscar. – Não, Anita. Seria o melhor jantar da minha vida, mas me seria também muito desastroso. Dá para ver nitidamente o quanto vocês se amam, eu seria um tropeço para ambos. – Você quer um conselho? Lute, mas lute mesmo por este amor. Lute pelo Dr. Oscar, porque valerá à pena. Qual- quer um percebe o quanto ele te ama e você a ele. Isso é uma fase de encontros e desencontros. Anita, sem ter mais o que dizer, pede licença a Dr. Osvaldo para retirar-se, pois aguardaria na sala de espera sua vez para ser atendida, pois precisava de uma consulta de retor- no. Antes de ela sair do consultório, João Eduardo, que já se sentia um pouco melhor e participara de toda a conversa sem dizer nada, faz uma pergunta a Anita: – Anita, de onde você me conhece? – É melhor deixar pra lá, eu garanto que você não vai gostar de saber. – Se o Dr. Osvaldo permitir que você continue eu gostaria sim, de saber. 72
  • 73. Dr. Osvaldo intervém na conversa dos dois. – Perdoe-me, amigo, nós nos esquecemos de você e das dores que sente. – A crise passou, ela vem e volta – responde João. No mundo espiritual, os espíritos trevosos, respon- sáveis pela obsessão, sabiam que as orações de Oscar fize- ram com que os guardiões de João o fortalecessem e, com isso, as vibrações de Lídia foram afastadas e as crises de João passaram momentaneamente. – Então Anita, você pode me dizer? – Podem ficar à vontade, hoje está calmo por aqui – diz Dr. Osvaldo. – Bem, João Eduardo, se você quer saber mesmo, vou aliviar sua curiosidade. Eu era a amiga numero um de Lídia. Você se lembra dela? – Lógico que sim! E ela, como está? – pergunta João – Você não sabe? Jura? Infelizmente ela morreu. – Como? Não posso acreditar! Como foi isso? – diz João, perplexo com a notícia. Anita conta com detalhes sobre a doença de Lídia, e sobre sua revolta e ódio por João ter desistido dela. – Talvez o que você esteja passando seja resultado da sua insensatez, João Eduardo. Lídia sofrera muito para mor- rer, completamente revoltada com sua indiferença, com seu desprezo. – Mas entre nós não poderia haver mais nada, tudo estava terminado – responde João Eduardo. – Sim, vocês poderiam ter terminado, mas que hou- vesse entre ambos o diálogo pra finalizar o relacionamento de forma coerente, não a deixando com esperanças, como ela ficou. – Mas eu era um homem muito ocupado profissional- mente, além de ter a minha família. 73
  • 74. – João Eduardo, você se fez parte da vida de Lídia. Ao se afastar dela, levou uma parte dela consigo. Ela não te amava na verdade, mas, de alguma forma, ela fazia parte de você, afinal, havia um contato intimo entre ambos. – O incrível é eu estar tendo os mesmos sintomas que Lídia teve. Dr. Osvaldo, como o senhor pode explicar isso? Que coincidência, não sei como posso explicar, meu amigo. – Mas afinal, quem foi Lídia Anita? – pergunta-lhe o mé- dico, e João Eduardo, antes que Anita respondesse se antecipa. – Doutor, Lídia foi uma bela mulher que passou pela minha vida, mas que eu desprezei, desrespeitando antes a minha própria família. – Enquanto falavam Lídia, no plano espiritual, presen- ciava toda a conversa, mas não tendo como mostrar-se diante deles, sugava as energias de João Eduardo para que o seu esta- do de saúde se agravasse, devolvendo-lhe energias maléficas em forma de dores insuportáveis, como as que fizeram com que ele fosse imediatamente internado no hospital. – Depois de tomadas as providências com João Eduar- do, Dr. Osvaldo retorna ao consultório para passar uma re- ceita à Lídia, e mais uma vez, pede insistentemente que ela vá a procura do Dr. Oscar. – Dr. Osvaldo, eu não quero status e nem ser amante, quero viver a realidade de uma felicidade. Quero um compa- nheiro que me faça feliz e que eu também o faça, pois certa- mente eu também o farei. Quero sentir o desejo da vida, que- ro procriar e quero a presença de Deus, quero sim é viver um grande amor, este é o meu grande sonho. – Mas você pode unir o útil ao agradável Anita. Não é sempre que a sorte bate à nossa porta. – Não considero isso como sorte, pelo contrário, acho isso um azar. 74
  • 75. – Por que Anita? – Doutor, eu já passei por uma decepção amorosa, mas a maior lição que eu tive foi exatamente o que minha amiga Lídia passou. – Quem? A tal amante de que João falou? – É isso mesmo! – Que eu saiba, João Eduardo não é daqui, mas de uma cidade próxima. – É verdade, ele veio de Itupeva. – Exatamente, responde Dr. Osvaldo. – Pois é, eu não sei se hoje ainda é assim, mas João era poderoso, tinha ou tem muito dinheiro. Ele encheu Lídia de presentes, carros, jóias, roupas boas e até um apartamen- to. Ele frequentava com ela muitas festas, reuniões e bons jantares. Aí então, quando a paixão passou e tudo se acabou, Lídia, não tendo limites para gastar, pois já acostumada com aquela nova fase de sua vida, ficou à deriva e perdeu tudo. Perdeu sua dignidade e até a sua saúde. Ganhou, talvez até antes da hora, uma tristeza tão abominável que a levou à morte. Quando esse romance veio à tona e os filhos e a espo- sa de João descobriram, a casa dele transformou-se num ver- dadeiro caos. A esposa dele começou a beber, os filhos fica- ram rebeldes, e ele em tão decidiu se separar de Lídia, que do outro lado já achava fazer parte da família de João. Dali nas- ceu o ciúme, a ira, as calúnias e a difamação. E Lídia, como já estava acostumada com aquela vida de alta sociedade, come- çou contrair cada vez mais dívidas para manter o seu status. Ela realmente não tinha juízo. Foi nessa época que eu a reen- contrei, pois já fazia algum tempo que não a via. Foi exata- mente quando o homem, que eu julgava amar, foi embora e eu, em meus apelos, procurei um Pai de Santo conhecido como Pai Gildo para que ele resolvesse o meu problema, sendo esse um dos maiores erros de minha vida. 75
  • 76. – Por que foi o maior erro da sua vida? – Foi o maior erro de minha vida porque, além de gastar uma boa quantia em dinheiro, caí nas mãos de um vi- garista que fez-me sentir também, durante algum tempo, uma pessoa tão baixa quanto ele. Inocentemente, talvez tenha até prejudicado Lídia, pois, tentando ajudá-la em sua situação amorosa com João Eduardo, acabei colocando-a em uma mi- séria financeira e psicológica quase total. Meu Deus! Como fui inocente, tola e incoerente! E não ficou só nisso não Dr. Osvaldo, a cada dia que passava, o nosso desespero aumen- tava, e saímos tresloucadas em busca de solução para as nos- sas ilusões, passando pela mão de gente que só sabe enganar as pessoas, numa pura ilusão de que alguma coisa poderia dar certo. Mas eram só promessas, puras promessas que nunca se realizavam. Eu, já cansada, logo me desiludi. Larguei tudo e deixei nas mãos do destino. Lídia, porém, obcecada com os seus problemas, a cada dia se tornava mais escrava de suas vontades. E nessa fixação ou fanatismo, Lídia se excedeu tanto que suas atitudes se transformaram em grandes pesadelos. Tentei tirá-la daquela situação, mas já era tarde demais. E o sonho de minha amiga transformou-se em ódio, e o ódio trans- formou-se em morte. Minha pobre menina, doutor! Anita, ao sussurrar essas palavras, começou a clamar a ausência de sua grande amiga, entre lágrimas e soluços. – Depois disso tudo, comecei a frequentar um templo budista e uma casa espírita onde ensinam o amor ao próximo, a ter solidariedade, como evitar preconceitos e a respeitar fenômenos com Entidades Espirituais. Foi aí que eu me li- bertei dos erros que estava cometendo. Mas Lídia, infeliz- mente continuou em seus erros, envolvendo-se tanto que isso afetou até a sua saúde. Ela sentia muitas dores nos rins, que foram se agravando. Quando resolveu ir ao médico, já era tarde, pois um tumor enorme já tinha atingido o órgão. Um 76
  • 77. tumor maligno, doutor. Coincidência ou não, o seu ex-aman- te está com o mesmo mal. Como pode ser isso? É, nós não somos nada nessa vida. O restante da história o senhor já sabe. – É Anita, você, além de ser muito bonita é também notável. E sua fragilidade interior também é marcante. – É a vida que ensina por isso, eu prefiro sofrer só. O amor que sinto por Oscar é tão intenso que me parece já ter ultrapassado as linhas carnais. Parece-me até coisa de alma! Amo Oscar perdidamente. Quando me deito, silenciosa, me ponho a conversar sozinha com ele. Faço carícias no meu travesseiro, beijo-o e lhe chamo de “meu Oscar”. Às vezes, quando, por exemplo, vou comer uma maçã, coloco frente a mim e digo: “Essa maçã é para o meu amor!” Imagine Dr. Osvaldo, não tenho coragem de comê-la. No dia seguinte, coloco-a no jardim frente à minha casa. Para mim, seria um desafeto comer a fruta logo após ter dado a ele. Coisas de amor, coisas de mulher, coisas de quem muito ama! – Anita, tudo o que você está me dizendo é perfeito. Procure o Oscar e lhe fale dos seus sentimentos. – Não Doutor, prefiro não mais tê-lo, porque não quero passar pelo que passou a minha amiga. Tenho muito medo. Dr. Osvaldo, eu gostaria de fazer-lhe um pedido. – Pois peça Anita. – Bem, eu não sei qual a sua religião, mas gostaria de vir aqui amanhã cedo para fazer uma oração para João Eduardo. – Isso é muito bom. Eu acredito na Ciência. Não te- nho nenhuma religião ou fé, na verdade, sigo aquele pensa- mento que diz: “Eu não acredito em bruxa ou em sua existên- cia, mas que existe, existe”. Com isso quero dizer que acredito que realmente existe algo acima da Ciência, não sei nem como lhe explicar, mas se você quiser pode vir, eu lhe autorizo. Venha amanhã às 9 horas. Está bom para você? 77
  • 78. – Está ótimo Doutor, muito obrigada. Assim que Anita se vai, Dr. Osvaldo liga para Dr. Os- car e fala sobre a conversa que teve com Anita, mas sem lhe dar muitos detalhes. Oscar, convicto do amor de Anita, sente-se enlevado. Era tudo de que ele precisava para sua felicidade. No dia se- guinte, Oscar chega ao hospital pouco antes das 9 horas e, antes de fazer uma visita a João Eduardo, segue até o consultó- rio de Dr. Osvaldo que, ao contar-lhe mais alguns detalhes de sua conversa com Anita, ainda lhe diz que provavelmente ela estaria no hospital para fazer uma oração para a melhora de João Eduardo. Oscar nada mais fazia do que olhar o seu relógio. Que- ria imediatamente ver a mulher amada. Chega o momento – 9 horas. A passos largos, pelo corredor do hospital Oscar busca o quarto de João Eduardo. Ao entrar no quarto não a vê, mas percebe que ali, um aroma suave de Anita se faz presente. E ela, ao entrar novamente no quarto para iniciar suas orações em favor de João Eduardo, se põe frente a Oscar e quase não responde ao seu cumprimento, por assustar-se com a presença de seu homem tão amado. Pelo tremor de seu corpo, era evi- dente que ela não se sentia calma, mas iniciara naquele instan- te, súplicas em preces a Deus. O que se percebe espiritualmen- te é que o enfermo passa a ficar mais tranquilo em suas dores, que no princípio o agitavam muito. Pelo poder das palavras da prece, Lídia e seus comparsas se afastam, tendo João Eduardo condições de sentir-se aliviado. Sereno e ausente das dores ele adormece, anestesiado pela energia dos bons espíritos. 78
  • 79. Lídia no Plano Espiritual – Mas que droga! – reclama Lídia. Eu gostaria que você, seu feiticeiro mentiroso, que você me dissesse, ou me- lhor, que me falasse a verdade sobre os meus poderes. Você os enaltece tanto! Mas quando alguém faz aquelas orações idiotas a gente se esparrama como fumaça por aí. Por que acontece isso? Responda-me seu capeta, imbecil! – Nós temos um poder muito forte cara amiga, – res- ponde-lhe o feiticeiro – que pode criar até tempestades, rede- moinhos, enchentes e mortes. Nós temos uma infinidade de poderes que deixa o mundo em atropelos. A nossa grande força, vaidade e euforia são justamente quando não aparece um empecilho desses para nos afastar, nos aniquilar, nos des- truir. A chamada oração, quando bem executada por um co- ração que seja puro e verdadeiro, tem todas as possibilidades possíveis de nos atingir. A oração é o único sistema que envolve os bons ca- maradas – explica Pai Gildo – trazendo os espíritos do alto para nos afastar. A tal da oração minha amiga, varre tudo que há de mal, ela queima, quase extermina. Por isso é que quando ela vem nós, da baixa esfera, por estratégia nos afas- tamos rapidamente, para que não pereçamos. Neste caso, te- mos que fugir das orações, que são como uma grande tem- pestade. E atenção, minha cara. Quando você notar que a oração está se aproximando, corra, pois essa arma, que os do bem usam, é muito poderosa quando bem feita. – Isso é um disparate ou mais uma de suas outras mentiras! Eu que não vou temer a tamanho absurdo saído de sua boca. O inferno que lhe acolha com suas mentiras. – Você tem toda razão, Lídia. Mas quando passar por uma situação dessas, certamente que se lembrará do que es- tou lhe dizendo. Verá que aqui eu não preciso mais do seu 79
  • 80. dinheiro, o que eu realmente quero é a sua companhia, para que possamos nos fortalecer nessa nossa nova vida trevosa, que provavelmente será eterna. Anita e Oscar Quando terminam as orações, Anita e Oscar se cum- primentam e se dirigem a uma sala ao lado do quarto, pois João adormecera. – Anita... Tenho saudades. – Será que você não percebeu que eu não te amo mais? Eu não quero comprometer-me mais com você Oscar, afinal, você é um grande mentiroso. Ao mesmo tempo em que dizia tudo isso a Oscar, um medo enorme se formava dentro de Anita, onde estava a per- sonagem verdadeira, que queria desvendar a grande mentira saída de seus lábios. Lábios infames, ardilosos, que não per- mitiam que ela exprimisse a verdade de seus sentimentos. Lábios que não permitiam que ela pudesse sentir o corpo do homem tão desejado pelo seu amor. Oscar, de várias maneiras tenta convencê-la, fazen- do-lhe mil declarações de amor. Mas Anita dizia: – Oscar? O meu Oscar morreu! Redimido de seus erros após a sua conversa com Dr. Osvaldo, Oscar é que passa a perceber o quanto a havia mal- tratado com o seu desdém e o seu desafeto. Percebe ali, na- quele instante, com apenas uma pequena frase: “O meu Os- car morreu!” Os fragmentos da dor. E quanta dor ele teria deixado no coração daquela mulher, já surrada pelo seu pas- sado. – Eu não estou entendendo nada, – diz Oscar – você, naquele quarto, liderou uma corrente de preces maravilhosa, demonstrou um amor imenso pelo próximo sendo solidária, 80
  • 81. como é recomendado pela espiritualidade, e aqui fora você me parece uma pessoa amarga, cheia de mágoas e rancorosa. Dr. Osvaldo falou de você e de seus sentimentos nobres de mulher especial e sofrida, mas bem equilibrada. Mas aqui você se mostra outra pessoa! Você não pode imaginar o quanto eu te amo Anita! Hoje eu vejo com muita clareza o quanto eu lhe quero, se case comigo. – Você tem consciência do que fez comigo? Deixou- me sem nenhuma explicação, não me dizendo o porquê e nem mesmo dando-me o direito à defesa. Por quê? Por quê? – Não chore Anita. Sei agora o quanto eu te amo tam- bém, meu amor. Eu agi com você de uma forma brutal, mui- to baixa, eu reconheço. Eu simplesmente, por uma questão de egoísmo, quis por à prova o seu amor e errei, eu sei que errei. Por isso lhe peço perdão, e sei que essa é a única forma que tenho para tê-la em meus braços. Anita, eu te amo. Anita, quase cedendo, mas ainda muito magoada, ti- nha medo de perdoá-lo, pois teria que compartilhar com o seu amor o dissabor que tivera, e isso ela não queria mais. O “Eu te amo” de Oscar, ali, naquele momento, ia se distanci- ando, pois ela, em sua reflexão, viajou no tempo em sua me- mória. Pensa Anita na posição social que tinha Oscar... Era de uma posição elevada. E sendo ela uma mulher financeira- mente simples, acreditava que ficaria refém de Oscar, na mesma situação de sua amiga Lídia. Isso lhe amedrontava e ela jamais desejaria para si. Se Oscar a fez passar por uma situação desagradável e desnecessária como aquela, será que não faria um dia alguma coisa pior? Por mais que ele tivesse sofrido por alguma decepção em sua vida, Anita não estava mais disposta a ficar à mercê dele como uma poça, para que ele jogasse os seus despojos, a sua vingança, a sua ira. Isso não! Para ela não foi bom o que ele fez. Ela não sentia revol- ta nem ambição, por amá-lo demais. O que sentia era medo. 81
  • 82. Dali em diante, ela guardaria para si, em seu coração, o gran- de amor que sentia por Oscar. Faria dele parte de sua alma. Enquanto ali estavam Oscar e Anita, entra Dr. Os- valdo, trazendo em suas mãos alguns papéis. Batia-os eufori- camente em suas mãos com um gesto imenso de felicidade. – Anita, traga-lhe ótimas notícias. Eu já sabia pelos testes que fiz sem lhe falar, mas agora tenho certeza e posso lhe dizer com toda a convicção. – Pode falar Dr. Osvaldo. E diga o quanto antes, por- que, pela felicidade do senhor, a notícia parece ser ótima. – Bem, eu não sei se posso dizer na frente do Oscar, por não saber se é particularidade sua ou não. Perdão, Anita acho que, enlevado pela minha euforia, creio estar fazendo alguma coisa errada. Prefiro que vá até minha sala. – Doutor... Seja lá o que for, eu jamais ficarei magoa- da, pois lhe estimo muito. Vamos, Doutor, fale o quanto an- tes esse seu segredo, o que sabe de mim. A minha vida, Dr. Osvaldo é, e sempre será um livro aberto. Eu não tenho nada a esconder. – Bem, se eu posso falar, então, lá vai. É uma ótima notícia Anita. – Fale Dr.Osvaldo, estou curiosa. – Anita, você será mamãe. Você está grávida! Oscar toma-se frente de Anita. – Grávida? Você Anita, grávida? Anita, inconformada mas feliz, pergunta: – É verdade Dr.Osvaldo? Eu estou grávida? – Com certeza minha amiga! Deus é imensamente maravilhoso. Oscar põe-se de joelhos ao chão e, vazado em lágri- mas, diz para Anita: – Aí está meu amor, agora você não tem outra saída. Fiquemos juntos... 82
  • 83. Anita saíra das trevas. Aquele momento fora total- mente a sua glória. Não mais tristezas, não mais o vazio que tanto sombreou os seus olhos... Não! Nunca mais! Teria al- guém para amar e ser seu companheiro ou sua companheira até o fim de seus dias. Deus colocou-lhe no ventre um anjo em forma humana. Um anjo, que em suas responsabilidades se tornaria frágil até a sua idade adulta, que traria para ela, enquanto sua vida durasse somente “felicidade”. Mas sem perceber que poderia dividir a grande felicidade com o ho- mem que ama, inconsequentemente abandona Oscar. – Como ficar juntos? Eu tenho condições de cuidar do meu filho sozinha. Além do mais, você nem sabe se o filho é seu, Oscar. – Pelo seu caráter Anita, eu não tenho a menor dúvida. – Só que eu pretendo criá-lo sozinha. Quando esta criança nascer, você faça nele um exame de sangue, pois se ele for o seu filho, assim como você acha que é, deixarei vê-lo uma vez por mês. – Você está louca? Nem pensar? Verei o meu filho todos os dias. Anita, eu lhe proponho que nos casemos, – diz Oscar, eufórico – Vamos nos casar? Eu sei que você me ama, assim como eu também te amo. E sei também que co- meti uma infantilidade colocando-lhe à prova. Mas vamos deixar isso passar, perdoe-me, por favor, eu lhe peço. Se aca- so você quiser, faça comigo o que lhe fiz por ignorância ou ingenuidade. Faça o que quiser, mas deixe-me ficar junto com o nosso filho. – Tudo isso agora por causa da minha gravidez, não é verdade Oscar? Não, nem pensar meu caro. – Não quero casar-me com você só pelo bebê, Anita, por favor, entenda isso. Eu agora sei o quanto a amo, de ver- dade. Loucamente eu te amo! – Você me pôs à prova porque se sente o senhor da 83
  • 84. situação. É rico e acha que pode fazer o que quiser com seu semelhante, acha que o dinheiro compra tudo, mas você está completamente enganado comigo, porque o dinheiro nunca me comprou. É rico e tem tudo nas mãos para colocar-me a seus pés. E eu não quero a sua riqueza, quero um amor de verdade. O que me satisfará a partir de agora é o meu bebe. Uma luz está iluminando-me desde o meu ventre até o meu coração. Estou feliz. Quero, a partir de então, ser forte, não mais ser hipócrita, insegura, frágil. Quero ser verdadeira co- migo mesma. Nessas novas sensações que adiciono em mim, conservarei o que sempre me foi real, e isso meu caro, lhe digo olhando firme em seus olhos, que é e certamente será você Oscar, a alma que tanto idealizei para viver junto com a minha. Mas agora, sem medo, há em mim uma partícula sua que eu felicito. – Mas Anita, eu estou aqui, à sua frente, sou real. Sou uma pessoa normal, um ser humano que errou, mas que agora está diante de você para se redimir. – Você e nenhum outro homem me farão chorar no- vamente. Você é o grande amor da minha vida, mas quando falei que o meu Oscar morreu, é a pura verdade. O meu Os- car é aquele funcionário da siderúrgica que você idealizou e me fez conhecer e ficar fascinada, não é esse Oscar com motorista particular, segurança à sua volta, com pompa e ri- queza. Você me pôs a prova, uma prova difícil que me fez sentir totalmente vulnerável e humilhada. Você ainda me diz que posso lhe colocar à prova? É isso mesmo o que eu deve- ria fazer, mas eu não quero. Jamais, porque se eu lhe colocas- se à prova, com certeza sofreria outra decepção. – Então me diz que eu tenho de fazer. Pelo amor de Deus, me diz! Eu quero estar com você. Seja o que for que quiser que eu faça, eu farei, tenha certeza disto. 84
  • 85. – Bem Oscar, pensando bem e para que você esqueça de uma vez por todas de mim, resolvi neste exato momento lhe colocar à prova. Você terá que tomar uma decisão corajo- sa. E o que é minha querida Anita? Estou completamen- te a seus pés. Ponha-me à prova, assim não teremos nenhuma dúvida. – Você me dará um tempo, peço-lhe que tenha paci- ência. Vou pensar em tudo o que está acontecendo com a gente. Quero e preciso ser coerente e ter certeza desse amo que tanto nos tem imaculado. Quero ter certeza que você me ama assim como eu te amo, ou melhor, como eu amo aquele Oscar que conheci e que me deixou deslumbrada, mas que me trouxe tanto sofrimento. Não tendo mais palavras para convencê-la, Oscar, calado, se afasta de Anita e, pouco distante dela, sussurra que irá esperá-la, mesmo que seja o tempo de sua existência. Mesmo que seja esse tempo, o último sinal de sua vida. Quando já estava um tanto distante, Anita quis trair-se indo ao seu encontro, pois imaginava o quanto ele sofreria. E era justa- mente o que não desejava para Oscar. Mas lembrou do que sua amiga Lidia passou e, naquele instante, voltou atrás. Anita volta ao hospital no dia seguinte – Bom dia, Dr. Osvaldo. – Bom dia Anita. Mas o que lhe traz aqui hoje? Há algum problema com a sua saúde? – Não Doutor, o motivo de minha vinda aqui não é por mim. É que eu gostaria de visitar novamente João Eduar- do para continuar com as orações que iniciei ontem. Posso? – Muito bem, Anita. A partir de agora você terá livre 85
  • 86. acesso neste hospital, a hora e o dia que desejar. A sua presença nos será sempre uma honra. – Sinto-me lisonjeada com suas palavras Doutor, muito obrigada. – Fique à vontade Anita. Caso necessite de algo, estarei em meu consultório. – Preciso sim, Doutor, mas terá que ser agora. – Sim, Anita, me diga o que é. – O senhor por acaso não vai me perguntar como está o meu bebê? O médico sorri, pela sua graciosidade e lhe responde: – Como está o seu bebê? Ou melhor, vou lhe perguntar: “Como está ‘o nosso bebê’?”. Digo-lhe dessa forma porque já o tenho também em meu coração, acredite! Anita, emocionada, quase começa a chorar. Porém, Dr. Osvaldo, ao colocar a mão em seu avental, tira dele um bombom e lhe diz: – Se você chorar, lhe garanto que não irá ganhar este bom- bom. E mulher grávida não pode ter vontades! Imagine, o nosso bebezinho com carinha de bombom? Anita sorri e, ao dirigir-se para pegar o bombom, lhe dá um forte abraço. – Ah! Doutor Osvaldo, como é bom ter o senhor ao meu lado. Que Deus derrame dos céus uma gotinha de bálsamo sagra- do sobre o senhor, para que a sua força e a sua luz se perpetuem. – Obrigado, minha doce Anita, farei bom uso de suas pa- lavras. E, por hoje, chega de fortes emoções. Vá visitar o nosso amigo paciente. - Não se esqueça. Eu estarei no consultório e, pensado bem, você bem que poderia ser uma voluntária no nosso hospital, que tal Anita? – Ótimo! Eu aceito o convite. Diga-me o que devo fazer. 86
  • 87. Chegando ao quarto onde João Eduardo estava Anita se depara com uma mulher. – Bom dia, senhora. – Bom dia. – E o senhor João Eduardo, como amanheceu hoje? – Parece bem melhor. – A senhora é parente dele? – Sim, eu sou a esposa dele. E você? Quem é? – Eu me chamo Anita. Conheci o seu esposo há pouco tempo, e agora tomei a liberdade de vir aqui para lhe fazer uma corrente de oração em prol de sua saúde. E se a senhora não se opuser, eu gostaria de continuar. – Mas você poderia dizer-me o porquê de toda essa de- dicação? Quem é você realmente? Como conheceu o meu mari- do e qual o grau de afinidade você tem com ele? E por que tanto interesse em fazer orações pra ele? Com tantas perguntas, Anita, receando suas próprias res- postas, começa a gaguejar por não saber como lhe responder. – Bem, eu o conheci... Nesse momento, entra Oscar. – Bom dia, senhora. Bom dia, Anita! A senhora é a esposa de João, não é? – Sim, sou. E o senhor, quem é? – Muito prazer, senhora. Eu sou um voluntário e ve- nho sempre ao hospital, assim como Anita, para doar uma palavra amiga de apoio aos pacientes e parentes dos mesmos. Eu e Anita estamos namorando. Em breve, se ela quiser, é claro, nós iremos nos casar. Eu a quero muito. Ela é o grande amor de minha vida, além de que, nós estamos esperando a chegada do nosso bebê. Anita, não sabendo o que dizer, mais uma vez brava e feliz, reprime Oscar. – Oscar, você está me ofendendo com suas palavras. 87
  • 88. A senhora Izabel acaba de conhecer-me. O que ela vai pen- sar de mim? Por favor, pare com essa conversa. – O que eu quero Anita, é que o mundo todo saiba o quanto eu lhe quero, o quanto eu lhe amo. Não estou conse- guindo mais respirar naturalmente, os sentimentos me sufo- cam. Às vezes, penso que estou morrendo. Quero que todos saibam! Ah, se eu pudesse aqui, neste lugar, gritar bem alto para que todos ouçam as minhas palavras, letra a letra: Eu te amo! Anita abaixa a cabeça, pois não suportava mais o cru- el destino de seu orgulho. Ali, na sua frente, estava Oscar. Braços fortes de jovialidade para protegê-la do frio que a iso- lava. Ali, na sua frente, estava o homem mais belo que a na- tureza preservou para ela, somente para ela. Ali, perto de seus lábios, outros lábios que a seduziam com palavras. Do- ces os lábios do homem a quem tanto ama. Um brinde à vida! Sim, pois tudo o que Izabel acabara de presenciar, não havia como não se comover. Ela tenta disfarçar diante do ocorrido, porém com gestos de quem estivesse pouco interessada em saber da vida íntima de ambos, Izabel responde: – Vocês podem fazer as orações, mas até onde eu sei, meu marido é incrédulo. Ele não acredita em oração, em nada. Oscar e Anita logo perceberam que aquela mulher suportava um sofrimento cáustico, tão intenso que ambos sentiram de uma só vez uma energia cavernosa, extremamen- te negativa, que se fazia aparecer em sua aura, a sua moradia. Apiedaram-se da pobre mulher devido à situação em que es- tava, principalmente com o seu esposo enfermo. Izabel mos- trava em seus olhos a ausência de perspectiva e a intensidade de sortilégios que a vida lhe reservara. Oscar e Anita, silenci- osos em suas orações, pediam do alto o auxilio dos irmãos espirituais, para que suavizassem a gravidade que tanto fluía da pobre mulher. 88
  • 89. Logo no início da oração, Izabel pressente que as pala- vras de ambos pareciam transformar-se em energias. Era algo que ela nunca sentira antes, mas que a deixara envolvida, embriagada. Por um breve momento Izabel chegou a sentir náuseas. Ela não se sente bem e pensa em sair dali, porém, resolve ficar. Com aqueles sintomas, algum resultado teria atra- vés daquela reação. Sim, ela esperaria. Se passasse mal não haveria problema, porque já se encontrava dentro de um hos- pital e ali Dr. Osvaldo lhe prestaria o atendimento necessário. Na turbulência de seus pensamentos, Izabel começa a criar situações vulgares. Pensava também em qual seria a reação de todas as pessoas que estavam envolvidas em sua vida se ela chegasse a morrer naquele dia. Seria bom para ela? Sim, seria ótimo, porque ela se afastaria de tudo o que se passava em sua vida. Tomaria pra si um lugar distante, nada mais lhe pesaria nessa vida. Seria por esse caminho a forma correta para que pudesse resolver sua situação? Iniciadas as orações, um silêncio envolvente penetra- va naquele lugar. Um silêncio apenas quebrado pelas preces. Izabel sentia ao seu redor um vento suave, que soprava dos seus ouvidos aos seus pés. Aquele vento entorpecia o seu coração em remissão, pois lhe fazia se encontrar com as fer- vorosas palavras daquele casal. Um êxtase... Nele, luzes opa- cas reluziam. Nele, um presente, uma dádiva. Os sintomas que Izabel sentia se amenizaram. Todos os sintomas ruins que estavam em seu corpo já haviam passado, não mais exis- tiam. Que maravilha! Era muito bom. Izabel põe-se a pensar: – Será que aquele casal, que acabara de se aproximar, não estaria aqui para ajudar-me tam- bém? Anjos em forma humana. O peso dos sofrimentos que Izabel trazia na alma es- tava insuportável. A sua emotividade parecia não existir mais, não sabia dizer nem mesmo o que estava fazendo naquele 89
  • 90. hospital ou que providências tomar. No que dizia respeito à sua vida... Uma vida amargurada, sem direito algum à felici- dade. Sentia-se uma mulher sem sorte no amor, sem sorte na vida... Uma mulher cuja juventude, assim como o vento, trans- formara-se rapidamente em um destino bárbaro. Confusa, Izabel sentia-se extremamente inferior di- ante de Oscar e Anita. Uma mulher dominada pelo impulso da bebida alcoólica, que se fazia de amiga, a única e verda- deira, mas que estava destruindo a ela e a sua família. Era ela quem a acariciava em seus momentos de depressão. A cada trago que tomava, se tornava mais amarga, assim como o fel. E seus filhos? Ela já não se importava mais com eles. Esta- vam, pela mãe, abandonados. O seu marido... – Oh! João Eduardo! Por que não fomos felizes? Tudo pra Izabel realmente estava terminado. Mas e os anjos? Os anjos em forma de seres humanos, que frente a Izabel se prostravam em orações? Ali estavam os dois, homem e mulher. Depois de terminadas as orações, Izabel, com de de- licadeza e respeito, antecipa-se e pergunta a Anita: – Você está grávida, Anita? – Sim, Senhora, eu estou grávida. Poucas semanas apenas, mas estou grávida. – Meus parabéns! Vocês realmente formam um lindo casal. Anita sorri não pela maneira agradável com que Izabel dirigiu-se a ela, mas porque percebera que as orações, bem direcionadas, foram como um analgésico, tanto para João como para Izabel. Aquele ambiente estava magnífico. Pare- cia que ali havia chegado uma legião de anjos enviados por Deus. – Deus seja louvado! – exclama Anita. Oscar, mais próximo de João Eduardo, sentia vibra- 90
  • 91. ções extraordinárias, porém com elas havia um misto de tris- teza e ódio, emitidos por um espírito desordenado. Um espí- rito que, por não ter nenhum bom reflexo, se perdia entre aquela imensidão de luzes que entraram naquele ambiente para fortalecer as auras que aos poucos se apagavam. Eram Anita e sua “gang”, que se camuflavam para não serem per- cebidos. Oscar também sorri após sentir que a tristeza havia debandado daquele recinto por algum tempo. Izabel põe-se a olhar fixamente para Oscar e Anita, que logo se aproximam e, num abraço, viram-se para ela, que imediatamente abaixa seu rosto e começa chorar. – Dona Izabel! Acalme-se – pede Anita – Tenha fé em nosso Senhor Jesus! Vamos pedir a Deus que tudo fique bem daqui por diante. – Anita, não me chame de dona, por favor, apenas de Izabel, e me dê um abraço forte, bem forte! Não tenho nin- guém mais a quem recorrer ou desabafar. Creio precisar de vocês... Necessito de amigos, de bons amigos. Eles me fazem uma falta danada na vida, pois até agora só tivemos falsos amigos e também falsas amigas, que agora percebo claramen- te que só queriam ver o circo pegar fogo, como diz o velho ditado. Anita abre os braços e, chorando, neles Izabel se aga- salha como se fosse o reencontro de duas grades amigas. – Como eu preciso disso! Abraços de verdade – diz Izabel – Estranho, Anita, a impressão que tenho e a de que nos conhecemos há muito tempo, e na verdade conheço você há pouco mais de uma hora! Pelo que podemos observar, nos conceitos extrafísicos, aquelas almas já eram velhas amigas. O reencontro delas nes- ta vida não era mera coincidência, pois em vidas passadas elas conviveram juntas fazendo parte de uma mesma família, 91
  • 92. daí então, neste exato momento, ambas se reencontram para seguir juntas e se beneficiar em suas evoluções espirituais. Comove, aos que tem sensibilidade, o amor EM um encontro desse gênero. Entre afagos e sorrisos, Anita e Oscar, envoltos pelo amor, disseram a Izabel que seriam, a partir dali, os seus alia- dos. Que ela não deixasse que eles ficassem ausentes, pois isso eles jamais aceitariam. Houvesse o que fosse Izabel sem- pre poderia contar com o apoio de ambos. Aproximaram-se de João Eduardo por intermédio das orações e do amor ema- nado pelos espíritos de luz. João, num sono profundo, mos- trava-se também muito calmo. Todos se despediram e prometeram que no dia seguin- te estariam ali novamente, no mesmo horário, para se ajuda- rem. Anita também havia derrubado as desilusões, o tanto que até ali tinha sofrido. Oscar, amedrontado com a resolu- ção de Anita, pouco se expressava, pois tinha medo de algu- ma palavra não se encaixar bem entre ambos e a situação deles se tornar pior. O Mundo Espiritual Com aquela maravilhosa vibração, Lídia e sua legião, sentindo-se fracos em suas nefastas vibrações, se afastaram temporariamente de João. Os espíritos atormentadores e en- raivecidos se afastarem, mas na promessa de que voltariam duplamente mais fortes, e que Anita e Oscar também fossem atingidos, para não serem mais intrometidos e nenhum em- pecilho na vingança planejada por eles. Anita e Oscar deveri- am levar uma boa lição. – Aquela infeliz da Anita – diz Lídia entre dentes – Ela se dizia minha melhor amiga... Bem que poderia usar suas forças para me ajudar, pois ela bem sabe o que eu sofri. Se ela 92
  • 93. continuar persistindo, tiro tudo que está vindo de bom para ela, inclusive seu filho. Um dos espíritos da legião, ali presen- te, comenta: – Isso é muito bom! Lídia está se saindo melhor do que a encomenda. Vamos lá garota, não dá mole! Bota pra arrebentar e mate-a também! Passe as vibrações de seu cân- cer para ela, assim como está fazendo com o canalha do seu ex-amante. Ao ouvir a palavra “mate-a”, Lídia, rancorosa, sentiu em seu coração que não poderia ser assim tão calculista. Por enquan- to aquela que fora a sua amiga ainda não a tinha prejudicado diretamente, por não saber onde a alma de sua amiga se en- contrava. Por algum instante Lídia se aquieta. Como o soprar de um vento forte, sua alma sobe a um grande despenhadeiro e lá, sozinha, ela começa refletir. – O que eu devo fazer? Anita também já sofreu tanto, eu não tenho como. Não! Não devo mais sentir piedade de ninguém! Mas Anita não! Tentarei fazer com que ela se afaste de João Eduardo e de Izabel. Um espírito comparsa de Lídia que se encontrava por perto, diz: – Ela não vai lhe ouvir! Ferra ela também! – Se ela não me ouvir, minha benevolência por ela se acabará, e a transformarei em nada. Essa será a minha regra. No outro dia, Dr. Osvaldo presencia algo estranho e sem explicação. O que estava acontecendo não tinha reflexo científico. Pelo diagnóstico executado pela junta médica hos- pitalar, adequada ao caso de João Eduardo, os médicos resol- veram de comum acordo que seria aplicada a quimioterapia e o tratamento se iniciaria nesse mesmo dia, no período da manhã. Porém o que ocorreu é que pouco antes de iniciar o tratamento, Dr. Osvaldo, ao entrar no quarto do paciente para averiguar seu quadro, percebeu que João Eduardo não estava 93
  • 94. no leito e muito menos no quarto. Preocupado, pergunta a uma das enfermeiras o que havia ocorrido com ele, já pensando que o pior poderia ter-lhe acontecido. A enfermeira responde que seu paciente estava no cor- redor do hospital com uma ótima aparência, inclusive esperan- do pela visita de seu médico para dizer-lhe que não sentia mais nada. Que por sanar-lhe as dores, ele se sentia muito bem. Dr. Osvaldo enfim encontra-o numa outra ala do hos- pital, conversando com alguns enfermeiros e dizendo-lhes que Dr. Osvaldo poderia lhe dar alta. Uma alegria imensa havia no semblante de seu paciente, o que fez com que o médico parasse no corredor, ainda distante dele e, colocando as mãos sobre o queixo, se perguntava o que realmente havia aconte- cido. Parecia um tanto impossível, mas ali estava uma reali- dade ainda desconhecida por ele. Foi algum sedativo? Ou teria sido algum engano quan- to ao diagnóstico? Bem, teria que examiná-lo novamente, só que aquele dia não seria possível. Não haveria de destruir a felicidade do jovem senhor com suas dúvidas e curiosidades! Como poderia estar curado um câncer nos rins diagnosticado com total precisão? Como, se o tumor é totalmente maligno? – João, realmente eu não entendo esta sua melhora, está tudo muito confuso para mim, não estou entendendo nada! E olha que sou especialista nessa enfermidade. Vou mandá-lo pra casa até que eu possa saber com certeza o que está se passando. Qualquer coisa me procure, aqui está meu telefone. Seja noite, dia ou madrugada, não se preocupe. É só me ligar. – Eu não sei o que dizer quanto à minha saúde ou quanto à enfermidade que se apossou de mim, Doutor. Só o que sei é que durante a minha convalescença ocorreram coisas estranhas. – O que, por exemplo? 94
  • 95. – Ouvia palavras horríveis, que aos poucos iam se desmanchando por meio de palavras santificadas. – Como assim? Você pode me explicar melhor? – Creio que não saberei lhe explicar nunca, Doutor. Parecia uma execução de Deus contra a profanação. Eram gritos terríveis, de um ódio alucinado! O que não se apagou de minha memória a respeito desse sonho ou visão, não sei, porque eu me sentia meio acordado, meio dormindo, algo muito estranho. Apesar de não acreditar em nada disso, uma frase ficou-me gravada na mente. De todas as vozes, havia uma de bom tom, uma voz feminina que, parecendo entediada, repetia por várias vezes a seguinte frase: “Você há de vir para onde estou, pois esse é o meu desejo e o meu veredicto”. E repetia como que se estivesse com ódio: “Você há de vir para onde eu estou, pois esse é o meu desejo”. Por mais que eu não acredite nisso, não consigo tirar de minha mente. O que o senhor acha que pode estar acontecendo? Será um delírio? – Isso não há de ser nada, deve ser porque você ainda está muito fraco, não se preocupe. Oscar e Anita Oscar pede a Anita que vá jantar com ele, pra que possam nesse ter uma oportunidade maior de diálogo referente à vida de ambos. – Oscar, já lhe disse, siga o seu caminho. Não queira colocar à prova o que a vida lhe propõe. Esteja certo que será para você um caminho muito difícil, quase impossível. Nós vivemos em mundos diferentes e eu não pretendo sair de minha posição, estou feliz assim e me sinto bem. – Eu, Anita, vivo numa sociedade bem avantajada financeiramente, mas nem por isso deixo os meus compro- missos com as pessoas. Deus me deu o dom da fraternidade. 95
  • 96. Isso a mim pertence e também sou muito feliz em poder dividir com os meus irmãos deste plano, porque estou certo de que a riqueza que herdamos verdadeiramente é o amor ao próximo e a Deus. Sei que errei muito com você e mil vezes lhe peço perdão e, se necessitar, outras mil vezes lhe pedirei. Anita se cala diante das palavras de Oscar. Seus olhos brilham de fulgor e lisonjeio pelo homem a quem tan- to ama. Calada, porém orgulhosa em ouvir palavras doces, tranquilas, serenas e exatas que lhe enchem a alma, pelo justo fato de estarem frente a frente e próxima de uma pes- soa realmente abastada em amor. Só que, quanto a ambos, só tempo os instruirá. – Anita, jante comigo, lhe peço. Nem que seja esse o nosso último jantar. Depois de Oscar muito insistir, Anita abre a guarda. Aceita o convite e ele marca para logo mais à noite. – Às sete horas está bem? – Sim, está! – Então irei à sua casa para lhe buscar. – Está bem. – Mas uma coisa eu tenho de lhe perguntar: Será que você virá mesmo? Perdoe-me pela pergunta, meu amor. – Sim Oscar, eu lhe espero. Afinal, sou uma mulher de palavra. Beijaram-se na face como bons amigos, mas o coração de amantes, em arroubos de amor, parecia saltar-lhe pelos lábios. Por que Anita não cedia a ele o seu perdão? Talvez pela justa razão de esperar que o tempo se incumbisse de todos os motivos e razões. O tempo é quem curaria as feridas que ainda permaneciam num fruto ainda verde ou amargo. 96
  • 97. Durante o jantar, Anita explica os motivos pelos quais ainda exita em aceitar ficar com Oscar. – Por que você mentiu para mim? Não havia necessi- dade disso! Você se fez passar por um simples funcionário da siderúrgica e ainda desprezou-me, por quê? – Veja bem Anita, a coisa não é tão simples assim. Não foi bem uma mentira, foi o modo que encontrei para me defender. – Para se defender de quê? Como assim? Eu não entendi. – Eu lhe explico. Eu estava vivendo uma fantasia, ou melhor, fazendo uma experiência comigo mesmo. Há dois anos passados, bem antes de conhecer você, eu passei por uma situação amorosa muito difícil e traumatizante. Pensava es- tar vivendo um grande amor e, mesmo apesar dos meus 38 anos, foi a minha primeira experiência sexual e amorosa, e por isso, ou melhor, por não ter nenhuma experiência em re- lação ao sexo oposto, fui iludido ao entregar-me de corpo e alma àquela mulher sem a mínima experiência, será que você entende? Antes eu só pensava em trabalhar para assumir a enorme responsabilidade que meus pais jogaram em minhas costas. Logo que me formei, colocaram sob o meu comando a siderúrgica. Estava imaturo, desprevenido profissionalmente, porque até os meus vinte e cinco anos eu só estudava. For- mei-me em Administração de Empresas. Por essa razão ar- quei em minha vida um compromisso muito sério com o tra- balho. Não foi nada fácil manter aquela empresa em pé, e a minha primeira experiência sexual veio-me praticamente aos trinta e cinco anos. E, de tudo que tenho passado, a única situação que me fez amadurecer tão cedo em minha vida foi o respeito e amor ao meu próximo. Isso sim, eu posso lhe dizer, com clarividência, era o que meus pais me enfatizavam. Por isso dou graças e louvo a Deus por ser assim, pois esse é 97
  • 98. um dos maiores vínculos que tenho com a felicidade. Dos meus desenganos comigo mesmo eu cometi um grande erro em relação a você. Foi realmente uma fraqueza, ou falta de experiência amorosa, não sei. O que sei é que o que estou passando, talvez seja o preço do meu aprendizado ou da minha insegurança. Por isso Anita, é que tanto insisti para que você jantasse comigo, pois se não soubesse um pou- co de minha vida, a impressão que você teria de mim seria a pior. Eu posso até lhe jurar que, a partir de hoje, mesmo que você não se fique mais comigo, certamente estarei contigo pelo resto de minha vida, juntos ou em pensamento, pois nin- guém mais importa na minha vida. – Como assim, Oscar? – O nosso bebê é também parte de mim. – Estou ansiosa para fazer-lhe uma pergunta. Por que os seus pais lhe deram essa responsabilidade tão cedo em sua vida? E onde estão eles neste exato momento? – Anita, eu sou filho único. E é por esse motivo e outros mais que tenho sofrido tanto em minha vida. – Oscar, da maneira que você fala, tenho a impressão de que deve ser alguma coisa muito séria. Você não gostaria de me dizer? – Não somente eu gostaria como lhe implorei tanto para que você estivesse comigo neste jantar, porque preciso de um ombro amigo para os meus desabafos. Tudo começou com os meus pais fugindo da Áustria, por causa da guerra. Eles vieram para o Brasil, onde aqui nasci. Eles estiveram comigo até a minha tenra juventude e, que após me empossarem em nossa empresa, eles desapareceram. – Mas o que aconteceu com eles? – Nada sei a respeito deles. E para lhe ser sincero, tenho medo até em pensar. O que quero lhe dizer Anita, é que meus pais me fazem uma grande falta, não tenho sequer 98
  • 99. um parente aqui no Brasil, sou extremamente só. Anita, comovida com a história de Oscar, aproxima- va-se mais dele para que ele pudesse sentir o seu apoio, o seu carisma. Mas em alguns momentos também vacilava quanto às palavras de Oscar, temendo que ele não estivesse dizen- do-lhe a verdade. Curiosa, ela fazia perguntas tentando des- cobrir algumas falhas que pudessem mostrar a fraqueza de Oscar. – De onde é mesmo que os seus pais são? – Eles são austríacos. Naquela época, se os austría- cos não se convertessem ao nazismo eram subjugados e se tornavam inimigos de seu próprio país. Meus pais, não que- rendo renegar a sua pátria, só tiveram uma alternativa: Fugir. Mas para onde? O mundo era e é grande, mas para os que viviam em guerra, como no caso da Europa que estava en- volvida nessa situação, eles acreditavam que tinham de ir para bem longe. Meu pai, ainda jovem, não se admitia ter de ir para as frentes de batalha. Ele tinha se casado recentemente, era filho de pessoas nobres e muito religiosas, portanto, tirar a vida de qualquer ser humano era contra seus princípios. Os seus pais, ou seja, os meus avôs colocaram os meus pais num navio para que partissem em busca de paz, enquanto meus avôs foram em busca da morte, para eles já não havia mais como fugir. E foi aqui, neste belo e imenso país, que eles foram acolhidos. Trabalharam muito e, quando eu me for- mei, me entregaram a empresa e partiram para uma aventura que eu sempre achei que fosse uma grande loucura, que era voltar para a Europa de barco, assim como fora a fuga deles. É como fazem alguns excêntricos aventureiros. – É por isso que não é correto você deixar que eu compartilhe de sua vida e de seus bens, pois afinal, foi com muito sacrifício que seus pais e você conquistaram os seus objetivos. 99
  • 100. Anita, mais uma vez para colocá-lo à prova, pergunta: – E seus pais, estão aqui no Brasil ou na Europa? – Eu não sei. O que posso lhe afirmar é que soube, na época, que a viagem deles não teria dado certo, pois uma tempestade muito forte não permitiu que chegassem ao des- tino. E era só o que eles queriam. Oxalá não tenha sido esse o tributo que eles deveriam pagar. – Mas só havia eles dois no barco? – Não, além deles havia mais três pessoas. Um co- mandante e dois imediatos. – E com eles, o comandante e os imediatos, o que aconteceu? – Nada se sabe a respeito de todos eles. O comandan- te e os imediatos foram em companhia dos meus pais por dinheiro, por sinal foram muito bem remunerados. – Mas os seus pais estavam cientes do risco que corriam no mar? – Mesmo sabendo que havia um grande risco, os meus pais tomaram essa atitude por se tornarem egocêntricos, tal- vez. – Não vejo nada de egocentrismo nessa história Os- car, porque se era uma realização a ser feita, foi o que eles fizeram: completaram a realização. – Me trocaram por uma realização mesquinha, como lhe disse antes, egocêntrica. Eu, aqui sozinho. Eu e meus gritos numa voz rouca, muda. Ninguém podia ouvir minhas lamentações. Anita, sensibilizada, toca-o em seus braços dizendo- lhe que ele não estava só. – E onde eles deverão estar? – Com certeza todos pereceram e fiquei sozinho, ór- fão, mas muito bem financeiramente. Para que essa estabili- dade? Para nada? De que vale essa riqueza? Para muitos, isso 100
  • 101. significa sorte, liberdade financeira. Para mim, é somente um vazio imenso, deixado por uma grande ferida chamada triste- za. Perdi meus pais, não tenho você, e uma criança que agora vem ao mundo para reviver uma história que parcialmente irá se repetir: Um filho sem pai. Para ele será muito triste, Anita. Eu, particularmente, nunca me acostumarei com a idéia e a oportunidade que tive, mas o tempo amenizará mais um destino que terei ou virei a cumprir. Deus seja louvado, Anita. – Abrace a vida Oscar... Ansiosa, plena no seu amor que reacendera ainda mais forte em seu coração, Anita passa a querer lutar consigo mes- ma em sua opinião, que a faria esquecer tudo para ficar para sempre junto ao homem a quem tanto ama. Mas as provas ainda eram insuficientes, pois Oscar teria a marcante presen- ça de pai. Amedrontava-se ao pensar no desprezo que ele poderia dar ao seu filho, e isso ela jamais aceitaria. – Até hoje Anita, eu me busquei tanto em minha vida! Fiz nela coisas fantasiosas. – Como coisas fantasiosas? – O que eu quero dizer é que a minha fantasia ou minha experiência foi a mais profusa, a mais vulgar que fiz, e com quem fiz. Foi com você; eu machuquei a pessoa a quem mais amo, e você provou-me com seu amor que devo ter for- ça e vontade de viver. Hoje eu sei que fui ou que sou amado não pelo meu status, mas pelo que sou. Pelo menos me resta este consolo. – Uma pena essa sua fantasia. Para mim ela foi cruel. Mas Oscar, você deve ter amigos. Pelo seu status, o que não lhe faltam são amigos! – Amigos eu os tenho e muitos. Tenho amigos que me abraçam forte, que choram comigo. Que se preocupam as 24 horas do dia comigo, até que eu me reative depois da bonan- ça. Esses meus “verdadeiramente amigos” me procuram para 101
  • 102. que eu possa proporcionar-lhes uma festa, dar-lhes um di- nheiro emprestado ou quando necessitam de uma viagem ur- gente para o exterior e me pegam como patrocinador. Esses são os amigos que tenho. São maravilhosos, você não acha Anita? Anita sorri dizendo-lhe que ela era a sua melhor amiga. – A sua amizade vem diretamente dos céus, você é o meu anjo protetor, não posso deixar de acreditar em você. Se eu fizer isso não acreditarei mais em mim, nem tampouco em Deus. Anita abaixa o seu rosto, orgulhosa da grandeza por ele prestada. – Um dia, já exausto de tanto oportunismo, decidi fa- zer com aqueles amigos uma brincadeira. Disse-lhes que ti- nha ficado pobre financeiramente, que estava falido e que só estava vivendo de aparências. Os que estavam ao meu redor desapareceram feito ratos de esgoto. Esqueceram-se das fes- tas proporcionadas por mim, enfim, de tudo o que lhes era satisfatório e simplesmente debandaram. Aquilo tudo me foi muito engraçado, senti que as amizades eu não conquistava, mas as comprava, e sempre por um bom dinheiro. Eles sumi- ram, se dissiparam. – Eu, após este jantar delicioso e cheio de requinte, vou ter que ir embora. – Pois leve a minha alma contigo. Certamente ela se deliciará também. Você é diferente. É especial. E agora mais do que nunca, porque é a mãe do meu filho. Eu a tenho a minha família, quer você queira ou não. – Você tem certeza disso? Você tem certeza que A criança que está no meu ventre é seu filho? – Eu sinto isso no mais fundo do meu coração e de minha alma. Eu tenho plena convicção. Não é só mãe que tem sexto sentido ou “intuição”, pai também tem. 102
  • 103. Anita, na intenção de por Oscar à prova, diz: – Mas não é seu este filho, a sua intuição pode es- tar errada. Anita tinha plena certeza de que o filho era de Oscar, mas ela queria provocá-lo na busca de saber se ele realmente a amava. Agora era ela quem queria provas decisivas do amor de Oscar. – Está bem. Mesmo que ele não seja, pelo que você me afirma, deixe-me aprender a amá-lo, quero ser o pai dessa criança. Prometo-lhe encher de carinho, tanto esta criança, quanto você. Minhas Três Vidas – O encontro Num banco de jardim, há ocasionalmente o encontro de dois homens. Um deles ainda com ares de juventude, o ou- tro, mesmo sereno, em sua fisionomia mostra sua idade avan- çada, é um ancião. O velho senhor, num tom de paz e tranquilidade, cumprimenta o jovem senhor. – Bom dia! O jovem num tom áspero responde: – Bom dia. – Hoje o dia está lindo e a temperatura está agradável. – É verdade. Mas quando temos algo para solucionar, parece que o dia fica sempre escuro, as nuvens ficam negras, pesadas. Mas tirando os problemas, o dia realmente está muito formoso, lindo. – O senhor vem sempre aqui? – Não, não, só venho quando estou desocupado, por isso é raro vir aqui. Hoje é um dia especial. Estou precisando repensar minha situação e minhas pendências. O velho senhor percebe por meio da experiência de seus longos anos já vividos, que o tom ingrato daquele jovem 103
  • 104. senhor era de quem queria estar só. Não sabia o jovem que, às vezes, a solidão só aumenta os problemas e o velho ho- mem, percebendo que poderia ajudá-lo, o faria se necessário fosse. Sabia aquele experiente ancião que por pior que fos- sem os problemas do rapaz, não passariam de coisas fúteis que a vida norteia e domina. Amigavelmente, o sábio senhor, dirigindo-se ao jovem já quase amigo, lhe diz: – Problemas, meu jovem, enquanto tivermos vida eles estarão sempre conosco. Imagine o senhor que tédio seria a vida se não existissem os problemas? Problemas meu jovem amigo, todos têm. O velho homem, olhando fixamente aos olhos do jo- vem, senta-se, cauteloso pelo cansaço de seu corpo, num dos bancos do jardim que estava próximo deles e estende uma pequena bengala que estava em uma de suas mãos, colocan- do-a encostada no banco. Depois, retira de sua cabeça um chapéu simples e velho, de formato elegante, assim como ele- gante também ele já fora. Tira o chapéu da cabeça e o pousa no colo. Sussurrando, pede ao jovem, da mesma forma como se pede a um filho, que se sentasse junto dele, para que fos- sem apresentados um ao outro e pudessem iniciar entre am- bos uma combinação de idéias e fatos que a vida preserva. – Sente-se aqui, meu jovem rapaz. – Com muito gosto, apesar de não nos conhecermos. Perdão senhor, por não ter me apresentado antes. Meu nome é João Eduardo. – Não há problema algum meu amigo, estou aqui ao seu dispor. Fixe-se forte, para que alguém possa em você se amparar, como sua esposa e filhos. O meu nome é José. Aquele homem, o Sr. José, tem uma história longa em sua vida que, por mais resumida, ainda fica muito emocio- nante. E isso não lhe tira o direito de falar o mínimo possível dessa vida tão maravilhosa que nos serve de exemplo. 104
  • 105. – Eu, meu filho, se assim puder chamá-lo devido a mi- nha avançada idade, nasci em berço muito forte, na presente e rica fonte do amor. Fui o primogênito de um amor intenso en- tre um homem e uma mulher, cuja duração foi curta na vida entre ambos. Já com os meus 10 anos de idade ganhei de pre- sente dois irmãozinhos de uma só vez: João e Néu. Eles eram tão parecidos que até meus pais os confundiam. Os gêmeos chegaram pra completar a nossa felicidade e vedar os nossos martírios, pois aos nove meses dos pequenos, nos vem a faltar o nosso pai. Nessa época, minha mãe, ainda jovem, chorava pelos cantos a ausência do companheiro. Foram tempos vazios em nossas vidas. O velho José achou que deveria parar com a sua his- tória, pois acreditava que era o seu amigo quem teria direito ao desabafo, mas foi propositalmente que o ancião lhe con- tou uma pequena parte de sua história, para que o jovem se sentisse mais à vontade. Calou-se frente ao novo amigo, lhe pedindo desculpas por falar demais. João, envolvido por uma história simples, porém magnífica, não se opôs ao velho senhor, pedindo-lhe, encarecidamente, que continuasse. Zé Tocador, como aquele velho senhor gostava de ser chamado, diz: – Se você não se opõe, mas eu tentarei resumi-la ao máximo. – O senhor terá o tempo que quiser. –Com o passar do tempo, minha mãe se casa nova- mente com um senhor também viúvo, que trazia com ele um “mundaréu” de filhos. Somados a nós, os seis irmãos e o ca- sal, fizemos uma enorme família. Os anos se passaram e nos- sos pais se foram. Ficou para mim a responsabilidade de edu- car meus irmãos, e fiz o que foi possível diante de minhas condições paupérrimas, mas com orgulho e humildade. Para 105
  • 106. os irmãos que quiseram, tive a oportunidade de ensiná-los a ler e a escrever, pois onde morávamos não existia escola. O tempo continuou a passar... Os filhos de nossos pais se casa- ram e tiveram os seus filhos. Alguns irmãos e filhos também já se foram, pois havia chegado seu tempo. A mim, meu jo- vem amigo, só me resta transmitir o que aprendi em minha vida e mostrar para quem eu puder, que não vale a pena so- frer pelas coisas ruins proporcionadas por nos mesmos, ou também ser traídos por nossos atos ou nossos maus pensa- mentos. Podemos chamar isso de causa e efeito. Agora me conte, por que o meu novo amigo está demonstrando tanta tristeza nos olhos e também em seu semblante? Apesar de não termos nenhuma afinidade familiar, ofereço-lhe o meu ombro velho, no entanto, amigo. Se você achar que fará bem à sua alma, converse comigo. João, jamais pensando que na vida ainda existissem pessoas que pudessem agir dessa maneira, sente-se comovi- do, pois atos assim como esse se encontram pouquíssimo hoje em dia entre pais e filhos. O tempo atual é insuficiente para uma conversa; as pessoas parecem não ter mais tempo para um bom bate-papo. Não existe mais tempo para falar, não existe mais tempo para ouvir, mas o velho senhor faz a tal oferta com muito carisma. Que tenham um bom diálogo. – Eu estou... Nada, deixe para lá. Não vou ocupá-lo com os meus problemas. Desculpe minha curiosidade, mas, quantos anos o senhor tem? – Apenas 94 anos meu jovem amigo, – responde o ancião – mas a vida ainda me alegra. Sou um ancião muito feliz, porque a felicidade mora dentro de nós, ou melhor, mora dentro de nossa alma. Você é que me parece muito triste. – Nem sei se deveria abrir o meu coração para o se- nhor, pois acabo de conhecê-lo. Mas a situação que passo hoje... Tudo o que se refere à minha vida, setor profissional, afetivo, 106
  • 107. em meu lar, tudo está ruim, tudo está se destruindo. E com todas esses problemas, eu ainda me encontro muito enfermo, praticamente desiludido pelos médicos. Estou com uma doen- ça incurável que me esmaga a cada segundo de minha vida. Sinto-me totalmente desamparado, inútil, sem perspectiva para nada. O sábio Sr. José, percebendo que João Eduardo estava completamente desconcertado, lhe responde: – Mas você tenha certeza de uma coisa: Após a tempestade, segue-se a calmaria. – Eu já ouvi várias vezes essas frases, mas a minha situação ainda é mais complicada que a tempestade. – Para Deus, meu amigo, nada é difícil. Não diga a Deus que você tem um grande problema, diga ao problema que você tem um grande Deus. Estou lhe passando este pensamento que ouvi de alguém e que acho muito precioso. Veja você que frase bonita, e é de autor desconhecido. Nós, meu amigo, te- mos o privilégio de ter um grande Deus. Portanto, diante da grandeza de Deus os nossos problemas se tornam ínfimo. – Sr. José, eu não sei mais o que fazer, estou desespera- do. Os médicos constataram um grande tumor no meu rim e não consigo nem me alimentar. Tudo parece me fazer mal. Mas eu sinto que este tumor não é real, mesmo porque, nas resso- nâncias que faço às vezes ele aparece e às vezes não. Tudo isso eu acho muito estranho. A minha esposa, esta se deixou levar pela bebida, uma quase alcoólatra já acima dos limites. Parece que ouço vozes em minha casa, enfim, tudo está fora do lugar. Só pesadelos e mais pesadelos, é horrível! Só angústia, tristeza, discussão... Não tenho sossego nem consigo dormir. Os meus filhos não querem mais estudar, estão, rebeldes. Eu sempre fui um pai e um esposo extremamente generoso, tudo que me pediam eu dava e, mesmo assim, tudo vai mal. O velho Zé Tocador, atentamente ouvindo as lamú- 107
  • 108. rias do jovem homem, com comoção lhe toca o peito ao dizer que tudo o que vem nesta vida passa. Tudo passa, menos a sabedoria e a bondade de Deus. Um silêncio afaga os lábios de João Eduardo, já farto de tristezas. – Nem sei por que estou lhe falando tudo isso, afinal, o senhor não tem nada que se sobrecarregar com problemas alheios. – Meu bom homem, você ainda é muito jovem, e pos- so lhe afirmar que tenho muito a ver com a sua vida afinal, você é um ser humano e, na condição de ser humano, somos irmãos. Somos filho do mesmo pai, somos uma partícula de Deus. Posso lhe sugerir uma coisa? – Pode sim, claro. É o que mais estou necessitando: de sugestões. – Você tem alguma religião? – Minha família é de origem católica, mas há também protestantes e espíritas. Eu não frequento nenhum desses lu- gares, pois sempre trabalhei muito, sempre fui uma pessoa ocupada. – Você precisa se aproximar de Deus, acredite! Tudo poderá melhorar. Aproximar-se de Deus só nos faz bem. – E onde encontrar Deus? Eu nem mesmo sei como fazer isso! – A dor é um mal provocado pela necessidade, por- tanto é um mal que se cura, mas para a cura há a necessidade da busca, a busca da fé. A fé é capaz de remover montanhas, tudo é possível quando realmente acreditamos. A fé é a irmã primeira do amor. Pense bem, meu rapaz, na existência de Deus. Todo este planeta em plena harmonia, o dia que se transforma em noite, a noite transformada em dia. É pura- mente a Existência Suprema. Bela em formas pelas quais Ele age, transforma, vivifica. Deus realmente existe, pois veja como nosso planeta e outros foram planejados, a posição do 108
  • 109. sol, da lua, das estrelas, das águas, com a percentagem de 70% e 30% de terra, enfim, tudo foi projetado de forma ma- temática, de forma exata. Esta luz meu caro, é a irradiação de Deus sobre nós, e para que possamos acreditar, basta apenas olhar ao nosso redor. Um tanto distante da Terra... A Lua, as estrelas e o sol. Tão próximo de nós as vegetações, o oxigênio, os pás- saros – como belos são os pássaros! A multiplicação dos alimentos que renascem pela terra todos os dias, enfim, isso é uma prova mínima da existência de Deus. É questão de analisar para depois crer, e pedir ao Pai, com humildade e amor, para que ele nos dê o pão, o pão do saber. Se pedir- mos com amor, certamente que jamais ele nos dará pedra ou ignorância. Filho, se assim o posso chamar, tudo há de passar e você poderá, num futuro muito próximo, ver a comprovação do que lhe digo agora. – E o que o senhor me aconselha procurar? Que tipo de religião para que eu possa estar em sintonia com Deus? – Haja de acordo com seu coração e peça, dê esse tributo a ele. Certamente ele agirá corretamente, porque o nosso bom pensamento só tem uma direção: Deus. O senhor José era incansável em suas palavras. Em suas entranhas havia uma formosura inexplicável. Ele se ex- pressava de uma forma elegante, amiga e carismática. Certa- mente por ser muito maduro e estar planificado em seus co- nhecimentos. Incansavelmente, ele continua. – Uma casa de oração sempre faz bem e ajuda-nos muito. Nesses lugares, encontra-se o apoio de algumas pes- soas humildes que expressam as palavras de Deus. Essa é a sua vez, jovem amigo. As suas dores estão profundas, então siga o amor de Deus através de suas dores. Não se regozije das expressões de desprezo ou escárnio. Seja humilde e deixe 109
  • 110. o seu coração agir. Ainda há tempo, eu lhe afirmo com toda a convicção. – Mas que casa de oração? Existem tantas religiões nesse mundo! – Procure um lugar onde você se sinta bem, pois nes- se lugar você haverá de encontrar Deus. Não importa se é igreja católica, igreja protestante, sinagoga ou uma casa espí- rita. Siga o lugar que lhe aproxime de Deus verdadeiramente. A você será muito fácil! – Vejo pessoas falarem das religiões atuais. Segundo pesquisas, existem no mundo por volta de 68 mil religiões. Pergunto para o senhor: Em que porta devo bater ou onde devo entrar? – A informação que você obteve está totalmente fora da realidade, pois não existe somente essa quantidade de religiões, e sim milhões e milhões delas. – Como assim? O senhor pode me explicar melhor? – Sim, eu posso. O nosso coração é o templo de Deus. Então, veja onde é que estão as religiões! Agora, o importan- te é que participemos de reuniões para explanar as palavras de Deus deixadas para nós. Mas observe um detalhe: Exis- tem grupos de pessoas chamadas oportunistas ou usurpadoras que usam as palavras divinas para obter grandes lucros, e as- sim sugar as pessoas em nome de Deus. São pessoas profa- nas, não os siga. Eles são como animais peçonhentos, estão sempre cheios de um veneno que contamina e destrói. Um bom lugar você conhecerá facilmente, pois haverá nele sem- pre boas palavras, que expressam fervor e autenticidade na palavra “solidariedade”, sem a ganância financeira. Aí sim, entre corajosamente, entre de corpo e alma e ali você obterá respostas positivas. A caridade e a solidariedade são cegas meu amigo, não têm malícia, não pensam em bens materiais, são suaves. A caridade é a irmã primogênita da fé, e a fé sem 110
  • 111. a caridade transborda, porque caridade é amor, e amor é Deus. A caridade, no entanto, é o vínculo da perfeição. Não permi- ta jamais que a sua fé o faça mesquinho, que o torne indivi- dualista. Isso poderá lhe transformar num ser totalmente materialista que só pensa em seu grupo, nos que se reúnem com você, mas todos os seres humanos são filhos do mesmo pai, estando certos ou errados. Não deixe que ninguém venha lhe convencer com essa situação elaborada, suja e sórdida. Seja solidário com o seu próximo, sem o tal preconceito religioso. Viva mais intensa- mente a sua vida e faça-se feliz. Mas lembre-se de uma coisa: se receberes caridade, quando puderes, a transfira. É a dadivosa mão a cultuar o amor ou a semente que faz renascer. Mas cuidado com os que colocam Deus à prova. Exemplo: Se você doar uma boa quantia em dinheiro, seus problemas serão resolvidos. O dinheiro esta com certeza mais ligado à ganância do que à solidariedade e ao amor a Deus, à família e ao próximo, que certamente é seu irmão por ser ele também uma partícula de Deus. Enquanto o Sr. José e João Eduardo travavam amiza- de naquela praça, o que não perceberam foi o tempo em que ambos permaneceram ali. Bastaram as poucas palavras ex- pressadas por João Eduardo para que o velho senhor as deci- frasse, para que João Eduardo ouvisse por horas seguidas uma voz terna e carinhosa, cujas mensagens envaideceram o ami- go João Eduardo como um ser existente e com esperança de dias melhores, pois sendo ele uma criação divina, eterno ele também seria. – Dependendo da condição ou da situação, senhor, sem dinheiro nada é possível. Isso se vê mesmo entre as religiões. – Dê a César o que é de César... Dê a Deus o que a Deus pertence. Meu rapaz, a verdadeira riqueza que Deus quer 111
  • 112. em nós é o amor. O dinheiro é coisa da terra, é produto e cria- ção do homem, da matéria. Deus não está preocupado com bens materiais, tributos, dízimos ou ofertas. Tudo o que há na terra, pertence a ela. Porém, o que é do Céu, pertence também a ele. A Terra é um mundo pequeno para a nossa eternidade; o Céu, como dizem nos é eterno. Vamos pedir a Deus por essa riqueza, a riqueza infinita do amor e do perdão. João, depois de ouvir tais palavras fica inquieto dian- te do que teria feito em sua vida. Pensava nos seus feitos, na sua soberania quanto ao seu próximo e trêmulo põe-se a cho- rar. Aquele senhor o havia despertado para a vida, porém, o que ele fizera talvez a própria vida não lhe daria oportunida- de de perdão. Ele magoara a sua tão querida esposa, desestruturando o seu lar e os seus filhos, fazendo de sua companheira, uma mulher de traços delicados e de boa índo- le, uma pessoa enegrecida pelo ódio e pelo rancor, tragados em copos, no final de um vício profundo e frio. João Eduardo tomara para si corações, assim como o de Lídia, para os dese- jos ardentes do prazer e do dinheiro fácil. Mesmo profissio- nalmente ele havia prejudicado várias e várias pessoas. João pensa: – Meu Deus! Eu fiz desordens em minha vida! Que perdão é esse que eu terei que procurar? De todo esse seu pensamento confuso, amedrontado, lembre-se somente de uma coisa: O coração ou o pensamen- to é o meio ou o veículo de comunicação entre nós e Deus. De repente, José se levanta do banco e olha fixamen- te para João Eduardo. Esse, sem ter o que dizer, levanta-se também, ergue os olhos para o velho senhor e pergunta: – Por que todas estas recomendações? O senhor com certeza é um religioso ou frequenta algum lugar. A que religião o senhor pertence? – Não importa a minha religião, não quero que você se sinta influenciado por mim. Siga o seu caminho, siga seu 112
  • 113. coração. Na certeza de que alcançará o seu objetivo, fique em paz. Até um dia, meu jovem amigo. João, emocionado, sentou-se novamente no banco porque sentia uma dor profunda no peito. Não era nada refe- rente ao seu estado de saúde. Naquele instante, o que ele sentiu foi uma luz muito forte que estava se afastando dele. Antes, sentira em seu ombro a mão de um homem de estatu- ra alta, magro e de cor clara. Um homem cuja suavidade das mãos parecia ter iluminado todo o seu corpo em plena luz do dia. – Meu Deus, como a vida é infinita! Um homem a quem eu nunca vi, se projetou em minhas dificuldades e trans- mitiu-me uma filosofia altiva, trazendo para mim alívio e pa- lavras de esperança. Estou quase sem dores. Naquele momento João estava quase sem dores, por- que as vibrações de Lídia e sua gangue se tornaram fracas diante da luz que permanecia junto de João. Essa Luz ou energia fora deixada pelo Sr. José e, no plano espiritual, se tornou uma luta descomunal. – Engraçado, eu aqui, sentado nesta praça, e aparece esse senhor que me transmite uma paz tão grande, que me faz sentir alegre, com ânimo e vontade de viver, apesar dos tantos problemas que tenho. Eu não sei se o verei mais, mas a partir de agora, com ele em meu coração, vou chamá-lo em meu pensamento de “meu bom José”. 113
  • 114. João e Izabel Depois de sair do hospital, João fora à praça para se distrair e encontrou aquele senhor, “o bom José”, que lhe aconselhou a procurar um lugar de orações na intenção de que João tivesse um ponto de apoio, um porto seguro. Ao retornar para casa, encontra-se com a esposa Izabel, que preocupada já estava para sair à sua procura. – João! Onde você estava? Por que não avisou que ia sair? Todos nós ficamos preocupados com você! – Ficaram mesmo? Que bom! – Lógico! Afinal, você é o meu marido e precisa de cuidados. – Você falando assim eu me sinto lisonjeado – Anita e Oscar estiveram aqui para lhe fazer uma visita e eu tomei a liberdade de pedir a eles para fazer uma oração em seu favor. – Que bom! É bom saber que temos bons amigos e que eles se preocupam com a gente. – É, certamente que eles são amigos e não falsos como aqueles aproveitadores que vinham orar por você, com a bíblia numa mão e uma sacolinha na outra, para que déssemos uma oferta para Deus. Engraçado, depois que a gente passa por certas situações é que começamos a enxergar o lado profano das pessoas. – Izabel, eu ainda não lhe contei o que foi que me aconteceu na praça. – Mas que praça é essa? – É essa que fica aqui perto de nossa casa. – Sim, sei. E o que houve? – Conheci um senhor de 94 anos de idade. Gostaria que você visse a simpatia que ele é e o carisma que ele tem. 114
  • 115. Ele me passou uma paz magnífica com seus conselhos, tive até vontade de convidá-lo para vir aqui em nossa casa. – Mas porque não o convidou? – Tantos foram os seus bons conselhos que passamos horas a fio conversando. No final, eu estava tão emotivo que quase não percebi quando ele já estava indo embora. Ao se despedir de mim, eu tristemente chorava pela comoção de suas palavras. A impressão que tenho, até o momento, é que ele deve ser uma grande pessoa perante Deus, só mesmo você ouvindo para me dar razão, Izabel. – Pelo tempo que nós nos conhecemos como marido e mulher, tenho convicção plena de suas palavras, João. Mas o que foi que ele lhe disse? E onde podemos encontrá-lo? – Onde encontrá-lo eu não sei, mas ele me aconselhou, entre outras coisas, que fosse à procura de uma casa de oração, não importasse onde. Que eu seguisse o meu coração e fosse, devi- do também à necessidade que estamos passando em nossas vidas. Que deveríamos procurar Deus para sermos felizes. A Guerra Oscar e Anita agem de maneira discreta quanto à cren- ça seguida por eles, para que João Eduardo e Izabel não se sintam influenciados. João e Izabel, de origem católica porém não praticantes, ao tomarem consciência de suas ligações com Deus passam a frequentar a igreja, mantendo em suas casas orações e pedidos em favor da paz e da saúde. Certo dia, ao participar de uma missa na igreja que frequentava, João Eduardo sente uma crise fortíssima e é imediatamente socorrido, justamente por um padre que esta- va em visita àquela paróquia. O nome do padre era André e, além de padre, era também um médium sensitivo. Só que, ele além de não saber nada sobre mediunidade, nem 115
  • 116. imaginava que a sensibilidade espiritual que trazia com ele era parte de seu dom. Ao aproximar-se de João Eduardo, Padre André sen- te algo estranho. Ao tocá-lo, começa a ter estranhas sensa- ções a influenciar seus pensamentos, sensações cobertas de ódio e injurias. Que coisas estranhas estariam acontecendo com aquele homem? O padre, confuso, não soube explicar. Porém, percebeu que havia algo errado, pois as dores que João sentia possuíam vibrações ruins, maléficas, e uma re- sistência forte quando alguém tentava lhe amparar ou lhe tocar. As dores pareciam insuportáveis. Naquele instante, o padre, tentando socorrê-lo, de repente se ergue e, como se estivesse nele outra pessoa, mais resistente e forte, diz com autoridade: – Solte este homem! Saiam dele, eu vos ordeno! Os católicos fiéis que ali estavam ficaram abisma- dos com a atitude daquele padre que, cruzando os braços de João, continua a dizer: – Saia deste homem! Saiba que está muito próxima a sua resignação. Assim como Jesus retirou os espíritos e nos deu esta autoridade, em nome de Deus eu ordeno: Afaste- se deste homem! João, um pouco mais tranquilo e já sem dores, ao perceber que aquele homem o havia auxiliado, beija-lhe as mãos e humildemente lhe agradece. Algumas pessoas ali pre- sentes, por nunca terem presenciado uma cena daquele gê- nero antecipam os julgamentos, dizendo em voz alta que o padre visitante não pertencia nem a igreja e nem a Deus, pois o que fizera ali, na presença de todos, era puramente obra demoníaca. – Onde já seu viu? Falar com demônios! Pois que fosse também um deles, porque eram os demônios que podiam falar entre si. 116
  • 117. Foi o que muitos adeptos comentaram por falta de conhecimento sobre o fenômeno. Padre André se dirige a João Eduardo e lhe aconselha a procurar ajuda. – Saia daqui agora mesmo e vá procurar uma boa casa espírita, pois lá o seu caso será resolvido. Mas seja rápido, pois se você não se cuidar, irá para um buraco sem fim levan- do consigo a sua família. Sua companheira está se tornando uma alcoólatra, ela precisa acabar com aquele vício. Seus dois filhos estão rebeldes, perdendo o interesse pela vida. Pense bem moço, você não está doente. Este mal que está com você não é doença física nenhuma. Os médicos estão sem saber o que fazer com você, estão perdidos e não sabem como lhe curar. As palavras de Padre André eram insistentes e piedo- sas. Ele quase que implorava em tom baixo para João Eduar- do e sua esposa, de forma que somente eles o escutavam. Já não havia mais alternativas. O que deveriam fazer era seguir as palavras ditas por lábios nobres. – Então o senhor acha que devo ir? – Sim, e o quanto antes, pois o que você tem não é doença física, meu filho, é uma vingança contagiosa e vulgar que pode destruir você e sua família. Ainda bem que não lhe aplicaram a quimioterapia ou outras drogas incompatíveis com seu organismo. Isso, graças aos seus anjos guardiões. O médico que está lhe prestando cuidados é muito bom, tem pesquisado constantemente para solucionar o seu problema. Porém, o que ele não sabe é que o seu caso é espiritual. Procure o quanto antes uma solução espiritual que esse problema será sanado. Os mentores transmitiam ao Padre André e ele disse a João que seguraria as energias nefastas que sombreavam o seu corpo por pouco tempo, por serem muito pesadas e malignas. João Eduardo, abismado com a situação, perguntava- 117
  • 118. se como aquele homem sabia de suas coisas pessoais. Era tudo muito estranho. Algumas pessoas que estavam ali comentavam. – Realmente o padre tem demônio. Ali, dentro da igreja, a ousadia de Lídia e sua gangue foi incrível. O mundo espiritual, naquele recinto, transmutou- se em guerra, com situações horríveis entre anjos e quiumbas (espíritos obsessores). Lídia gritava... – Largue-me, eu já te disse, largue-me! Quem é você? – Eu sou o mensageiro das estradas. – Como você é bonito e forte! – Eu não estou aqui para a sua apreciação, estou aqui para retirar-lhe deste recinto e do corpo a quem tanto atordoas. – Mas será que a sua prepotência é dessa maneira que você está mostrando? – Eu não tenho prepotência alguma, tenho autorida- de para expulsar-lhe daqui. Vamos, saia daqui. – Então veremos... Steph, Joab, Ruan! Convido todos os meus comparsas para o ataque. Somos uma legião, uma legião de maus espíritos. Veja que há uma grande desigualdade; você está só, mas veja só quantos somos! Lanças e espadas plasmadas fumegavam no templo... Medievais lutavam na defesa e no ataque. O que Lídia não sabia é que conhecimentos milenares são guardados no Uni- verso espiritual. Bastou um sopro para que a defesa vencesse o ataque num só instante. Enraivecida, Lídia pede caminho para se retirar. Seus lábios flamejantes juraram vingança. Não se calaria nem se acalmaria enquanto não visse o homem a quem tanto queria ao seu lado, ou melhor, em suas mãos para o seu bel prazer. Caído, esmagado e uivando como um cão a procurar pelas sombras da noite por seu esgalgado corpo em decomposição. 118
  • 119. Era dessa maneira que Lídia desejava João. A força do seu ódio a deixara desnorteada. Estendia a sua jura a todos que estavam ali presentes em espírito. Só não blasfemou o padre porque sabia da importância supra daquele persona- gem no mundo da espiritualidade, tendo ele, para sua prote- ção, o zelo de um mensageiro, um grande guardião que lhe acompanhava há várias encarnações. O padre era um grande médium, apesar de não ter consciência de sua mediunidade. Em meio a toda aquela atribulação, Padre André não possuía a visão dos imortais, porém, pressentia a desarmo- nia, as contradições e a vitória! O que Padre André não sabia é que ele fora conduzido àquela igreja por seu mentor e pela Graça Divina, e de como importante fora ele ter sido enviado por bons espíritos e por Deus para salvar a vida de João Eduar- do, que já estava predestinada por aquela legião à sua fatali- dade e total destruição de sua família. Amantes Eternos O dia se finda, a noite se faz presente. É hora de refletir, de fazer o balanço diário. Depois de um grande susto, ao saber daquele acontecimento e receber seu marido em casa ajudado por mãos amigas, Izabel senta-se com seu marido no sofá da imensa sala de visitas que havia em sua casa. Imó- veis, se olham profundamente e num só instante falam em uma só voz: – Meu Deus! O que está acontecendo conosco? Ao sentirem as mesmas palavras, os dois se põem a chorar, aproximam-se um pouco mais os corpos e se abra- çam, rogando a Deus o perdão que aliviaria suas culpas, pois já se arrependidos queriam, além da saúde, obter paz e felici- dade. Na verdade, João acreditava que por muito pouco ain- da viveria, mas se o pouco que Deus lhe concedesse fosse 119
  • 120. suficiente para reparar pelo menos algumas de suas falhas, ele ficaria feliz. Quando não transformado o ser humano pelo amor, surge para si a dor. E a dor, dependendo das circunstâncias, resulta em sofrimento e aprendizado, que pode lapidar o ser físico e o ser psíquico, elaborando, na grande maioria dos seres, traços em seus escaninhos. A dor é persistente, é cruel e noci- va... É bendita. João Eduardo tenta suportar os golpes da dor. O su- cesso profissional fora para si o primeiro salto. Vem-lhe a mor- te dos pais e, logo após esse triste episódio, outros insucessos tais como o seu próprio massacre profissional. Sua conquista foi ter requisitado para si como esposa uma jovem mulher, bela, de boa índole familiar, culta, mas que após anos vividos em comum se transforma em uma mulher amarga, cujo vício do álcool a deixa completa de dissabor e aflita para sair das obscu- ridades da vida, pois ainda persiste muito para sobreviver. João Eduardo, que depois de tempos acostumado com as regalias, traz na vulgaridade de sua cobiça a exaltação, iludindo e depri- mindo com o seu status social pessoas inferiores, irresolutas e incoerentes, em cuja permuta recebe vingança. Talvez esse tenha sido o seu pior erro ou seu grande aprendizado. Um erro que tem nome, que se chama traição ou Lídia! Izabel se tornara o seu ponto de amparo. Ele sofrera até ali o bastante para pedir-lhe perdão, por mil vezes se neces- sário. Ela o abraçava amparando sua cabeça em seus seios. Mesmo ainda sujeita ao domínio do álcool, ela requisitava para si forças extraordinárias para o acalento de todos de sua famí- lia. E Izabel estava ali, para João. Após aquele episódio mara- vilhoso com Padre André, como que em um passe de mágica Izabel se tornou dócil e mais protetora. O espírito de Lúcio, que também estava envolvido naquele esquema sórdido, fora afastado juntamente com a gangue de Lídia e do tal feiticeiro. 120
  • 121. Os filhos Naquele dia, João Eduardo recebeu o afago dos seus dois filhos. Foi maravilhoso o final de noite no aconchego da família, que boa aquela troca de carinho com esposa e fi- lhos... Será que tudo voltaria a ser bom como fora há tempos? A Igreja - O Episódio – Izabel, eu estou assustado. O padre não é daquela paróquia, eu não o conhecia, nunca o tinha visto na minha frente! Como ele sabia de tudo aquilo? Dos meus problemas, que sou casado e que tenho um casal de filhos? Como pode? Falou-me até das bebidas que você toma diariamente... Ele falou-me de coisa íntimas, que estão só em meus pensamen- tos! Disse-me também que não é esta doença que vai me matar, porque na realidade eu não estou doente, que se eu não pro- curar uma casa espírita posso desencarnar muito em breve, porque há em mim um espírito perverso no desejo de vingan- ça. Ele pediu-me, Izabel, por a minha própria vida que eu vá o quanto antes, porque ele não pode e nem tem condições de segurar essa energia ruim por muito tempo. O que faço, Izabel? – Vamos procurar ajuda. Nos informaremos com al- guém onde podemos encontrar um lugar sério para irmos. – Eu não gosto desse negócio de “macumba”, mas diante de tudo o que nos tem acontecido, me parece ser a única maneira, ou a nossa ultima tentativa. É o único jeito, e espero que esse não seja o último lugar, mas o único que temos para os nossos apelos neste momento. Agora eu estou sem aquelas crises, estou ótimo. Vou andar um pouquinho ali na praça para apreciar o movimento e pensar em como vamos fazer, porque no momento me sinto perdido, sem 121
  • 122. iniciativa. Fazer o quê? Que atitude tomar? Não vamos nos pre- cipitar com as nossas palavras, pois na vida há dois caminhos: o ruim e o bom. Mas repito: não gosto desse negócio de macum- ba. Creio que já temos sofrido o bastante para não sabermos diferenciar o bem do mal. Que procuremos o bem, pois ele exis- te, assim como existem bons evangélicos e bons padres, haverá de existir também bons espíritas. – Tenhamos calma, pois certa estou João, que Deus está nos iluminando. Ele nos enviará o pão da misericórdia para nos saciar, assim como também indicará o caminho certo, por isso não devemos temer. E quando você for à praça não demore, para que eu não fique preocupada. Está bem? Por favor! Padre André Um jovem que por vocação optou pela religião católi- ca para ser seu ponto de comunicação com Deus. Um homem religioso cuja herança era sua conexão sublime com as divin- dades da Natureza. Um homem que tem dotes exclusivos, por se sobressair de uma seleção conquistada por pouquíssimas pessoas sensíveis e extremamente refinadas. Entre eles não há competidores negativos que possam induzir-se ao sistema ruim. Padre André foi criado por pais adotivos na vida ma- terial. Uma família de dois filhos legítimos, perfazendo-se com ele e mais outros dois, quatro filhos. A união e a religiosidade que havia nesse lar eram intensas em luz entre os quatros filhos do casal, sendo dois legítimos e dois adotivos. Um de- les se tornou um excelente médico, a filha uma das melhores psicólogas e o terceiro se tornou um bom pastor, voltado para o bem como poucos, de uma igreja evangélica que conduzia seu rebanho sempre para o bom caminho, aliviando pais de família que tinham filhos problemáticos por causa da bebida e das drogas, além do excelente Padre André. 122
  • 123. A filosofia de vida que possuíam era um modelo interes- sante, exemplos que deveriam ser rotineiros e seguidos pela so- ciedade humana. Por sermos seres racionais, que se dizem supe- riores, deveríamos nos prostrar diante de situações que outros praticam diante de nossos olhos e que pouco percebemos ou não queremos nos dar conta. Vamos nos igualar às andorinhas, que têm filhotes de várias idades. Quando os mais velhos iniciam seus vôos, a prova de gratidão que têm com os pais é regressar ao ninho para ajudá-los na criação dos irmãos mais jovens, que neces- sitam de alimento para também sobreviverem. É assim que as andorinhas constituem a família, sempre se auxiliando e se protegendo. Tudo isso é simplesmente uma comparação com a família do padre, que praticou e deu certo, pois foi desse modo que os filhos se ergueram na vida. Padre André foi um privilegiado por ter sido criado nesse seio familiar. Sendo ele o filho mais jovem, recebeu guarida e muito amor de pais e irmãos. Isso fez com que esse religioso, hoje em dia, divida seu pão com os irmãos, não negando ajuda a nenhum necessitado. Ele faz o que tem de ser feito para outrem não por caridade, mas por obrigação humana e solidariedade, pois para ele a caridade é vivificada por Deus. Talvez seja esse o motivo de Lídia nem mesmo conseguir pensar em algo errado. Na realidade, o padre tinha vibrações de espíritos que rondavam estradas, mas exclusivamente para socorrer víti- mas em acidentes fatais. Essas vibrações, ou seja, esses espí- ritos socorriam almas de corpos recém-desencarnados, enca- minhando-os para o mundo extrafísico com carinho e muito consolo. Lógico que para aqueles que aceitavam os espíritos socorristas ou os espíritos amigos. Padre André não sabia a altura que se encontrava sua mediunidade, muito menos lhe passava pela cabeça ter esse 123
  • 124. dom. Às vezes estranhava a si próprio por acontecimentos como o de João Eduardo, que acabara de vivenciar. Em seus momentos de fraqueza, tentava até se reprimir excomungan- do-se. No entanto, ao se colocar como uma pessoa compre- endida na religiosidade, além da dedicação e clemência a Deus, ele se redimia, certamente para avaliar as situações estranhas ou fenômenos que ele presenciava. É claro que se- riam maravilhas emanadas por Deus, pois se assim não fosse, jamais deixaria algumas pessoas felizes com os seus feitos, pois tudo que é bom e traz felicidade pertence a Deus, por- que pertence ao bem. Às vezes acontecia alguma dessas situ- ações em lugares não adequados, como no caso de João na igreja. Cite-se inadequado pela interpretação dos ignorantes, pois o caso de João acontecera no lugar exato. Padre André jamais deixou de buscar esclarecimen- tos quanto às suas dúvidas. Ele se aprofundava mais, toman- do as atitudes que necessitava para desvendar o que na ver- dade havia de mistério. Após algum tempo de busca entre religiosos, religiões e estudos afins, o padre chegara à conclusão de que era um médium nato e que haveria de abraçar e cumprir sua abençoa- da missão. O que ele não sabia é que esse dom da espiritualidade era trazido de sua descendência, já muito antes de seus avôs. Isso foi verificado através de estatutos de sua arvore genealógica, guardados como relíquias por seus avôs paternos, mais tarde encontrados por ele e desvendados. Na praça Apos João caminhar por quase uma hora, resolve vol- tar e sentar-se no banco da praça próxima de sua casa. E eis quem estava sentado próximo a ele: Sr. José! 124
  • 125. – Boa tarde João, Como vai? Está com a aparên- cia boa, com toda certeza você está bem. João, de imediato não reconhecera a voz. Após se virar para o lado, verifica quem é a pessoa que lhe sur- preende e se alegra, pelo fato de desejar rever o Sr. José. – Boa tarde Sr. José, que prazer imenso em reencontrá-lo! Que surpresa maravilhosa! E o senhor não esqueceu o meu nome! – Mas por que eu haveria de esquecer o vosso nome? – Pessoas boas iguais ao senhor a gente não pode esquecer a imagem. – Eu, pela minha idade, até que poderia esquecer o vosso nome, mas o seu semblante jamais. Pelo que vejo você também não se esqueceu do meu nome, apesar de que José, Zé, Zezinho... Fica tudo igual. Se esquecer um nome, existe outro. Não é mesmo? João Eduardo estava tão emocionado com aquele velho senhor ali, se fazendo presente à sua frente e com tanta humildade, que as palavras não saiam de seus lábios, ele somente sussurrava. – É realmente fantástico! Graças a Deus, que ma- ravilha! Eu estou muito feliz em vê-lo, Sr. José! Agora estou melhor ainda, bem melhor que há dois minutos pas- sados. Gostei muito da sua presença e dos conselhos que me deu no outro dia, mas pensei que nunca mais o veria. – Você me dizendo que gosta de minha presença? Fico muito lisonjeado, porque o senhor não me conhece bem ainda. Sou um velho jovem muito arteiro, gosto de festas, de música e de piadas picantes. Ambos começam a sorrir. João Eduardo, sentado no banco, se levanta e precipitadamente vai a ele para um abraço. Ao aproximar-se tenta recuar, mas não havia 125
  • 126. tempo para retornar, pois os braços do velho homem, já abertos, esperavam pelo aconchego do seu novo amigo. – Aceite meu filho este abraço que você buscou, e que eu o receba com muito afeto e muito amor a Deus celestial. Seja bem vindo em meu coração. Posso lhe chamar de amigo? João, buscando-lhe os braços, pede para que ele se sente no banco da praça nem que fosse por um minuto ape- nas, por ter uma grande necessidade em falar-lhe. – Meu jovem senhor, o meu tempo será o vosso. Fi- quemos na paz de Deus o tempo que nos for permitido. – Vamos combinar uma coisa? O senhor me chama de amigo e eu o chamarei de meu bom José. Posso? E o senhor me chamará de você. Então, vamos combinar da se- guinte forma: nenhum de nós dois será chamado de senhor, porque na verdade senhor é o Pai que está nos Céus. – E lhe afirmo, estou muitíssimo honrado com esse seu modo, meu jovem. Sentados no banco da praça, João Eduardo, um ho- mem prepotente, ambicioso e materialista, que somente pen- sava em cálculos, hoje, no entanto, carinhosamente sorri e se emociona ao dialogar com um senhor de palavras simples, porém singelas e cheias de candura. Quando é que ele se sen- taria numa praça para conversar com alguém? Os ensinamentos alcançados pelo tempo fizeram sim, João Eduardo amadurecer e alcançar alguns conhecimentos. Agora, um João, que de tanto sofrer por se equivocar da vida, já não mais repudiava o próximo. Era um ser ainda cheio de falhas, mas partir dali com algumas virtudes. João sentia ago- ra um espaço maior em sua vida. Modestamente forte, que- ria vencer em igualdade com o seu próximo, porque, mesmo estando consciente de sua mortalidade, o que ele desejava era vencer as sequelas da imoralidade, sendo, no entanto, autêntico até o seu último instante. 126
  • 127. – Meu bom José! Acontecera-me algo extraordinário que me deixou impressionado. Não sei o que o senhor irá pensar e nem sei como lhe dizer, mas tenho de lhe falar. – E o que foi que lhe aconteceu de fantástico, de tão extraordinário, João? Nesse dia, o velho José se põe a ouvir as lamúrias dos sortilégios que João estava enfrentando para sobreviver, como via de regra, para a sua evolução. João Eduardo ia elucidando ao velho homem o passado de sua vida ao mais recente acon- tecimento que lhe ocorrera, concluindo a sua história com o ocorrido entre ele e Padre André dentro da igreja. – Meu bom José, o padre me pediu para que eu fosse rápido à procura de alguém que pudesse me ajudar. Pelo fato de eu não acreditar em bruxaria ou coisa parecida, não tenho ânimo e nem mesmo faço idéia de onde buscar alguém que possa me auxiliar. Tenho medo de cair nas mãos de oportu- nistas, assim como já aconteceu, e as coisas só piorarem. – João, tudo o que há na Terra é criação Divina. Nós, com os nossos percalços, é que transmutamos, através da poeira de nossas mentes, coisas boas em malfazejas. Nada, meu amigo, pertence ao diabo. Diabos somos nós mesmos ao usarmos o exclusivismo e as nossas ganâncias. Quando te- mos más atitudes e falta de solidariedade, certamente que o diabo está conosco, ou que sejamos o próprio, porque Deus, em sua infinita bondade e amor por sua criação, não iria criar diabo com chifre e rabo e nos entregar a ele por condenação eterna. O que existe na verdade são bons e maus espíritos, cada um de acordo com seus atos ou pensamentos. O malfei- to atinge, mas pega justamente em quem não tem Deus em seu coração, ficando exposto e vulnerável ao mal. Existem sim, claro que existem espíritos do mal, e eles são vingativos, abomináveis e sádicos. Mas só existe um meio para resolver 127
  • 128. tudo isso, que é tentar salvar esses espíritos, porque, por mais que eles não queiram ser ajudados, com certeza estão à procu- ra de um lugar ao sol. E para quem está com pensamentos positivos e voltados para as coisas benignas, esta classe de es- píritos avança, mas não consegue penetrar. É muito fácil afastá- los, pois a oração para eles é o pior dos venenos, pois na com- posição da oração sempre há o amor. Para a esfera deles a ora- ção é incômoda, prejudicial, pois seus principais aliados são o ódio e a vingança e, em alguns casos, a vingança dura por vari- as encarnações, pois cada caso é um caso. Em meio ao diálogo entre ambos, João Eduardo come- ça a perceber o grau de conhecimento e sabedoria de seu ami- go, o “bom José”. Ouve de sua suave voz palavras fecundas e infinitamente formosas, que adentram no mais profundo de seu coração. Palavras segredadas em amor e fé. – Meu bom José, qual é a sua religião? – Isto no momento não importa, porque não quero lhe influenciar, como lhe disse da outra vez em que nos falamos. – O senhor falou em ganância. Então é pecado a gente ter as coisas, ou melhor, lutar para ter um bom dinheiro? – João, veja bem. Em primeiro lugar, o pecado não exis- te. Trabalhar, criar oportunidades para ganhar dinheiro ou para ficar rico, não é errado. Errado ou pecado, como queira, é es- magar o seu próximo com o poder, é pisotear as pessoas para vencer na vida, iludindo-as por vezes, para tomar-lhes os bens que a maioria conquistou de forma sacrificada e honesta. É a corrupção, agir com má-fé e usar de calúnia ou iludir as pesso- as para levar vantagens. Isso sim é que acaba por atrasar a evo- lução do ser humano, tanto no plano terreno quanto no extrafísico, pois não existe efeito sem causa. A Lei de “Causa e Efeito” é uma das maiores leis, escolhida por Deus e colocada no Universo pra reger o homem encarnado e o homem em espírito (eterno), tanto neste plano como no espiritual. Por ser 128
  • 129. magnânima, funciona 100%. Quando ouvir alguém dizer que Deus vai castigar o indivíduo, isso pode se chamar de balela, pois se está levantando calúnia contra Deus ou, pode se cha- mar de ignorância, porque se Deus é amor, como pode Ele usar o ódio contra seus filhos ou a vingança? Não, isso não é possível e nem verdade. Agora, dizer que essa Lei criada por Deus traz resultados, isso sim é correto. Somos nós, meu amigo, que geramos o efeito criado por nossas faltas. A conversa se tornara muito participativa entre ambos, e não contaram horas nem cansaço. Naquele dia, o céu tinha um azul especial; as flores se mostravam espetaculares em perfumes e cores, afinal, era primavera e a vegetações aca- bara de renascer. Um frescor suave se delineava entre eles num cheiro agradável de leite materno. Quem sabe não seria a Mãe Natureza revidando-lhes a graça de suas palavras. De repente, o velho homem, o bom José, se levanta do banco para o momento do adeus. – Meu bom José, gostaria tanto que o senhor fosse à minha casa para fazer-nos uma visita. Eu, minha esposa e meus filhos ficaríamos muito felizes com a sua presença. – Agora meu amigo, você me deixou emocionado. Um dia, se Deus permitir, lá estarei com vocês para um café e uma boa conversa. Obrigado pelo carinho de seu convite. Mas não vou deixar de dizer-lhe que amanhã você terá visi- ta em sua casa, e que lhe trará boas novas. Um casal, duas pessoas que se tornaram seus bons amigos, e que irão aju- dar muito você e sua esposa. Desejo-lhe boa sorte, e tenho certeza de que terá. Ao chegar à sua casa, João é recebido com alegria por Izabel, já preocupada com ele. – Mas o que houve com você? Parece-me tão estranho! – É que tudo de bom tem nos acontecido, por isso estou feliz assim. 129
  • 130. – Mas o que houve de tão bom assim que você parece não querer me contar? – Eu lhe contarei minha princesa, com todos os detalhes. João Eduardo, ao chamá-la de “minha princesa”, fez com que Izabel se sentasse numa poltrona que estava ao seu lado e, derribando-se em choro, repetiu: – Princesa... Você nunca mais havia me chamado dessa forma, “minha princesa”! João se põe de joelhos frente a ela e a abraça, deitan- do a cabeça em seu colo e repetindo “minha princesa” várias vezes seguidas, acariciando-lhe o rosto e os cabelos, para num pranto, sussurrar que a amava. Passada a forte emoção que se abatera sobre eles, João conta a Izabel sobre seu reencontro com o amigo José. – Mas por que você não insistiu pra que ele viesse aqui em casa? Só assim poderemos conhecê-lo melhor, e de- veras ele nos ajudasse. – Ele me parece um homem tão verdadeiro Izabel, que antes que a gente pense em algo para dizer ele já traz as repostas prontas em seus lábios, é incrível! – Que bom meu, meu... – João lhe interrompe e diz: – Vamos, tenha coragem e complete a frase, eu sei do seu amor por mim, mas preciso ouvir da sua boca ou do seu coração, minha amada. – Vou dizer-lhe, meu príncipe. É muito reconfortan- te eu poder lhe dizer estas palavras: Eu te amo, meu marido. Bem, eu convidei Anita e Oscar para jantar conosco amanhã. – Eu já sei. – Como assim, eu já sei? Eu não lhe falei nada! – Parece que alguém já me disse isso... Não foi você? Mas deixemos pra lá, isso agora não convém, não é mesmo? 130
  • 131. O jantar no dia seguinte Antes do jantar, Izabel pede ao casal se poderia fazer aquelas preces tão reconfortantes e formosas, que só eles sabiam fazer. – Com todo o prazer Izabel, – responde Anita. Silenciados pela voz de Anita, todos passam a ouvir atenciosamente suas palavras. – Senhor Deus, Tu, Esplendido e Supremo, que crias- te o infinito Universo, que fizeste para a sequidão da terra a brandura terna das águas, para a vida ser fecundada com a carícia dos mananciais. Tu, Senhor, que sacia os corações de seus filhos com o seu amor... Tu, Senhor, que não permite jamais que caíamos no vazio da escuridão, tão funesta em seu escárnio, e que nos ampara em vossos braços. O senhor é misericordioso com estes seus filhos, neste lar. Eles, Senhor, lhes pedem o “pão”, o pão do amor fraterno. Anita estendeu as suas boas palavras em súplicas por alguns minutos mais, deixando a casa, suave e leve espiritu- almente, e, durante o jantar todos sorriram. – João, como você está se sentindo? Você me parece bem! – exclama Oscar. – Do que me aconteceu na igreja até o momento presente, estou ótimo, não sinto nada. – Mas o que aconteceu com você na igreja? Você não nos contou... João conta a Anita e Oscar, com detalhes, tudo o que lhe acontecera. As atitudes de um padre que, em sinal de solidariedade, passou a ser visto pelos praticantes da igreja de uma forma antagônica. – Há outra coisa interessante também que tem ocor- rido comigo, inclusive eu nem mesmo ainda comentei com Izabel. 131
  • 132. João Eduardo, ao usar essas palavras se emociona, abaixa o seu semblante e se cala. Izabel, ao aproximar-se dele, dá um beijo em seu rosto e lhe abraça. – Então nos conte “meu príncipe”! Veja, nós estamos juntinhos de você. Não estamos ao seu lado, estamos com você. Ali, silenciosos por um instante, apesar de não sabe- rem o que João diria, ficam atentos, pensando na hipótese de uma crise que poderia atingi-lo. Izabel, para preencher aquele vazio que já incomodava a todos, se dirige aos visitantes, Anita e Oscar. – É verdade, eu até tinha me esquecido de suas cri- ses, João. Vejam vocês, meu marido está ótimo! Ele está com outra aparência, vocês não acham? – Obrigado, minha princesa, pelo seu carinho. Não se preocupe com as crises que sinto, pois não será desta vez que elas virão para prejudicar esta noite maravilhosa que estamos passando junto de nossos amigos. O que tenho a dizer é que, além de você, eu sinto pela primeira vez que tenho amigos verdadeiros. Nem sei como me expressar, mas haverei de con- seguir, tentarei. É que Anita e Oscar, meu novo amigo, o bom José e o padre André, apesar de tê-lo visto uma única vez, enfim, todos vocês me fazem forte e saudável, e a minha vontade de viver já começa a aflorar em meu coração. Sinto emoções boas, as quais nunca antes havia sentido. O mundo para mim, nos dias atuais, despertou-me para a vida e para a Natureza e, principalmente, para o meu lar, a minha compa- nheira e os meus filhos. E para Deus. A vida me despertou também para amigos verdadeiros como vocês, e isso está acon- tecendo depois que Padre André disse tudo aquilo para mim Izabel. – É verdade, mas fique quieto João, você não deve falar estas coisas para Oscar e Anita, que eles podem não 132
  • 133. gostar. Izabel usa um tom de brincadeira ao expressar suas palavras e todos se põem a sorrir. – Vocês dois não vão deixar seus amigos curiosos, não é mesmo? – retruca Oscar. Então, João toma coragem e passa a narrar tudo o que se passou na igreja com Padre André, e também comenta sobre o seu novo amigo, o bom José. – Não sei bem como explicar, mas sinto que o ambi- ente está bom e que entre todos nós vocês terão muita alegria – comenta Oscar, feliz pelas novidades. – E é chegado o momento de Anita e eu contarmos um segredo nosso. – É o sexo do bebê? Não? Então, não me digam que são gêmeos! – Erraram. O que temos a dizer é que seguimos o Espiritismo, somos espíritas. Infelizmente alguns preconceituosos chamam de “macumba”. – E por que vocês mantiveram isso em segredo? – Não lhes falamos antes por alguns motivos. O pri- meiro deles é que não conhecíamos a religiosidade de vocês ou suas raízes religiosas. Deduzimos que vocês fossem cató- licos, talvez. Pelo menos foi o que você nos disse no hospi- tal, Izabel, que João não dava importância a nenhuma reli- gião, e tínhamos de respeitá-los. Além do mais, por ser o Es- piritismo muito perseguido por incrédulos e profanos, tive- mos receio de perder essa amizade que está começando. Nós esperamos, por respeito, que as pessoas venham ter conosco, em nossa filosofia religiosa. Inclusive, como no caso de vocês, pois a nossa finalidade é ajudá-los, e não influenciá-los. Essa é a revelação que temos para vocês. – E vocês frequentam algum local? – pergunta Izabel. – Eu e Anita frequentamos uma casa espírita maravilhosa. É um local para prestar assistência a crianças 133
  • 134. excepcionais. Se vocês nos permitirem e quiserem, um dia des- ses nós os levaremos a um local que acreditamos ser bom. Tenho certeza que vocês irão gostar. – Gostaríamos imensamente de conhecer esse local Oscar – afirma João. – Meu amigo, nós não somente queremos ir para conhecer, como também para que possamos obter as respostas às nossas perguntas, pois, pelo que Padre André me orientou, ele suportaria por pouco tempo aquela carga negativa, por isso necessito tomar as devidas providências o mais rápido possível. Sentimos que em nossos corações alguma coisa parece nos despertar para esse misterioso mundo que tão próximo de nós se faz agora. Queremos conhecer porque para nós é diferen- te e parece bom. Nós queremos e desejamos ir com vocês, não importa onde. – É um centro espírita pequeno e muito humilde, próximo daqui – orienta Anita. – Mas eu tenho medo dessa coisa de alma ou espírito – diz Izabel, aflita. – Izabel, esses lugares existem para ajudar as pessoas aflitas a combater o mal que nelas estão. Esse ambiente onde queremos levá-los é um lugar limpo, onde vocês se sentirão bem. É um lugar onde Deus está presente, porque lá se ouvem muitas orações e palavras de bom tom. O que realmente as pessoas de lá desejam é ajudar ao próximo com seus bons conselhos. Va- mos lá e vocês verão com seus próprios olhos que é um lugar humilde e maravilhoso. E se por acaso não gostarem, sairemos imediatamente. Está bem? João e Izabel aceitam o convite dos amigos para no dia seguinte conhecer a pequena casa de caridade. 134
  • 135. Acalanto Depois de uma noite tranquila, onde nascera uma calmaria naquela família, tudo ali emanava felicidade. João Eduardo e Izabel tinham motivos; bastava um olhar entre eles para que suas faces transbordassem de alegria e seus lá- bios sorrissem. Na noite anterior, Anita e Oscar se despedi- ram por volta de 11 horas. Após os amigos partirem e en- quanto os pequenos dormiam, os dois se dirigiram a uma va- randa larga onde havia algumas cadeiras de encosto. Ali eles se sentaram para apreciar por alguns minutos o vácuo que possuía a noite com suas estrelas. Apreciavam a majestosa obra do criador: o silêncio, a suavidade do vento, o belo e triste cantar de uma ave noturna, cuja voz se explanava em saudosismo e amor. E beijam-se com os lábios úmidos e trê- mulos. E se amam como adolescentes, como pela primeira vez. Até chegarem ao êxtase, completando o ciclo do prazer absoluto da arte de fazer amor com as bênçãos de Deus, en- quanto o aroma agradável da flor dama-da-noite se encarrega de completar aquele momento único que só pertencia a am- bos. Logo após vem o cansaço e o sono tranquilo e reparador, dando uma pausa para o acalanto daquelas almas. Mas antes de os dois irem para seu repouso, João diz a Izabel que o velho amor acordou, e Izabel lhe beija com ternura. O convite Após aqueles dois encontros na praça com seu recen- te amigo, Sr. José, João Eduardo o convida para ir à sua casa fazer-lhes uma visita, pois sua esposa teria imenso prazer em conhecê-lo. O bom José, envaidecido com a forma amistosa de seu amigo, se rende ao seu pedido dizendo-lhe que pode- ria marcar o dia, pois prontamente ele estaria lá para alguns 135
  • 136. minutos de conversa e para a conquista de uma nova amizade. Ambos ficam felizes. E foi num domingo, por volta das 10 horas da manhã, que Marília, a empregada, anuncia ao casal João Eduardo e Izabel que na sala de espera havia um senhor bem vestido que gostaria de falar-lhes. Espontaneamente, ambos vão recebê-lo. Um pouco mais adiante segue Izabel, logo reprimida por João que pede a ela que espere. Ela sorri, pois fora auto- mática a pressa que sentiu. Na sala, Sr. José, logo que os vê, se precipita para cumprimentar o casal. – Como vai o senhor, meu bom José? – Muito bem, meu filho, apesar de um pouco cansado pela idade. Mas o meu espírito está muito bem. – Meu bom José, esta é minha esposa, de quem lhe falei. É a pessoa que imensamente gostaria de conhecê-lo, a minha Izabel. – Meu amigo, quem está em minha frente e a quem você chama de esposa, na realidade é um lindo diamante, um frag- mento de seu coração. Fico envaidecido em conhecê-la, tão bela senhora. – Sinceramente meu bom homem, suas palavras são sutis e doces. Porém, não completas. – Mas por que você diz que ele, em suas palavras, não foi completo? – pergunta João. – Não foi completo porque quero deste ancião um forte abraço, e que ele também me chame de filha. Todos sorriram com o suspense que Izabel, à primeira vista, tinha deixado naquela sala. – Pois sim, minha filha. Mesmo tendo nos conhecido neste instante, me sinto lisonjeado com sua delicadeza, e penso que a partir de agora faço parte desta família. Os meus bra- 136
  • 137. ços estão fracos materialmente, mas o meu abraço vem do cora- ção. Deus os abençoe e fortaleça a ambos. Após os abraços ganhos, os três se sentam e, bastaram alguns poucos minutos para que fossem anunciados também, – João, não se esqueça que o dia ainda não terminou para você, recorda Izabel ao seu marido. – E você pode me dizer por quê? Perdoe-me, amor, é que eu trabalhei tanto hoje que não estou me lembrando! – São exatamente 7 da noite, e você terá de ir à casa espírita às 8 horas, pois há uma consulta marcada para você, já se esqueceu? – É verdade! Estou tão cansado que já ia me esque- cendo. Vou tomar uma boa ducha e em seguida irei até lá. Você não irá hoje comigo? – Mas é claro que sim, essa batalha nos pertence, meu amor, é a nossa recuperação. E, graças a Deus e as orienta- ções de um mentor espiritual que se manifesta por meio do médium, o irmão Lazaro, essas consultas têm nos ajudado mui- to. É justamente com essa ajuda que estamos melhorando dia a dia, e estamos indo muito bem. Lídia no Plano Espiritual – Um bando de cafajestes, assim como eu, agora em pele de cordeiros, livres e leves. Já pensou? Eu, transformada em capeta e com direito a rabinho e chifrinho! Uma prostituta de saia curta, mal amada e sem direito a virar anjo, porque sou debochada. Sem direito a uma vingançazinha, sem direito a nada! Mas que petulância, vocês não acham? Eu, ou melhor, nós, não vamos perder essa batalha, pois seremos persistentes. Já que es- tou perdida, não tenho mais nada a zelar e seguiremos em frente. Prontos para a guerra? 137
  • 138. Lídia e Anita – Olá amiga, como você está? Anita, assombrada, não sabendo se era sonho ou reali- dade, se sentia meio dormindo e meio acordada. Como se esti- vesse passando por uma hipnose, senta-se à cama e vê que em seu quarto há sombras foscas em meio a um ar rarefeito que emanava um cheiro estranho de gases carbonizados e enxofre. Em meio àquela fumaça, surge uma sombra em forma de corpo que, em sua intuição, lhe parecia Lídia em fortes tons escuros. – Lídia! É você mesma quem está aqui? Lídia, de forma telepática, começa a se comunicar com Anita e lhe diz: – Acalme-se. Faça de conta que você está sonhando, minha cara. Tentarei ser rápida; vim aqui só para lhe dar um aviso, sua idiota. Fique fora do meu caminho, pois você me traiu e agora está cinicamente do lado de João Eduardo. Pense nesse pivete que você espera com ansiedade, pois você pode se arrepender, sua pilantra traiçoeira! Eu quero aquele patife do João cadavérico, seco e gritando aos meus pés! Eu o quero aqui comigo, não me atrapalhe e nem fique no meu caminho, estou lhe avisando! Onde vivo agora não se fala em piedade. Aqui, a sua desgraça é a nossa conquista minha cara, portanto não se meta, afaste-se da casa daquele pilantra. Anita acorda chorando e aos gritos daquele pesadelo horrível. – Meu Deus! Acho que não foi pesadelo, não. Minha irmãzinha, o seu estado está deplorável. Por que, Meu Deus? Ouça-me, Lídia, a luz divina é imensa e não faz sofrer. Senhor Jesus, tenha misericórdia dessa alma que cegamente se vê num mar de ódio, cuja violação de Sua palavra ali existe. Piedade senhor, tende piedade! Pois ela está no escaninho da morte eterna! 138
  • 139. Ouça o meu pedido, Lídia! Por Deus minha irmã, eu a amo muito e lutarei para que você um dia sinta a luz em seu coração. Sei o que você sofreu, mas não é justo que agora você se entregue aos seios da escuridão. Por nosso Senhor Jesus, ouça o meu pedido minha irmã, e tire esse ódio do seu coração. Anita vivia sozinha em sua casa e sua gravidez era recen- te. Mesmo assim, acordara aos prantos e gritos por estar total- mente perplexa diante do que vira e ouvira. Sua certeza, pelo fato de ter assiduidade aos ensinamentos de sua religião, é a de que fora real a sua visão. Por um instante, chorou a saudade de sua grande amiga... Chorou o destino de Lídia, que ela mesma escolhera. Tomada pela insônia e preocupada com a situação, uma pergunta surge em seu coração. – Como posso abandonar João Eduardo e Izabel? E Lídia, meu Deus? Que providências eu deverei tomar? Os comparsas de Lídia, ouvindo as lamentações de Anita, começam a escarnecer com seus deboches o sofrimento da ami- ga terrena. As palavras de Anita repercutem no plano espiritual, deixando Lídia calada. Mas aqueles espíritos maldosamente cor- rompiam-na com palavras violentas e repudiáveis. – Veja Lídia, depois que você se danou toda, vem essa santinha para lhe iludir e querer lhe levar para o “bom cami- nho”? Sai fora dessa, pois você já não tem mais salvação. Eles que se danem! Vamos ficar perto dela para que esse filho não nasça; depois a gente conta para eles que fomos nós que fizemos isso. Garanto-lhe que ela vai sair do nosso caminho. De repente, com um grito forte, Lídia pede para que todos se calem, pois ali quem dava as cartas era ela, e o que estava em pauta era a sua causa. – Hoje fui convidada para ir até o centro colocar as coi- sas em pratos limpos no que se refere ao João e a Izabel. Nós iremos todos a esse lugar, para bagunçar e, quem sabe, até trazer o meu troféu: João Eduardo. 139
  • 140. O mentor espiritual que prestava cuidados a João Eduar- do, disse-lhe que nesse dia ele não poderia se ausentar da reu- nião, pois teria ali uma surpresa não muito agradável, porém, necessária. João Eduardo, confuso e ao mesmo tempo amedrontado por causa de sua saúde, pede ao mentor para que ele antecipe o as- sunto. Infelizmente, não lhe foi permitido saber antecipadamente o que iria acontecer naquela noite. O mentor simplesmente pe- diu-lhe que tivesse calma; bastaria que ele soubesse que seria em prol de sua saúde e de sua felicidade. Só aí então, é que João acalmou-se, porque não sofrera mais aquelas crises, que lhe pa- reciam mortais. Anoitece e os corações de João Eduardo e Izabel disparam. – João! Por favor, acalme-se. Por que tanta ansiedade? Tenha fé em Deus e nos mentores espirituais, pois todos eles estão a nosso favor. – Eu sei meu amor, assim como sei também que você está tensa. Vamos para o centro, lá eu ficarei mais tranquilo. Izabel, em seu sexto sentido, chegou até a pressentir que aquela surpresa teria algo a ver com Lídia, mas não quis contar nada a João Eduardo para que ele não se aborrecesse ou se ame- drontasse ainda mais. Ao chegarem ao centro espírita, foram recebidos com afabilidade por Irmão Lázaro, que ao cumpri- mentar Izabel, lhe diz: – Minha irmã, estou certo de que você já sabe do que se trata. – Irmão Lázaro, para que eu me certifique desse pensa- mento que está fixado em minha mente, tem algo a ver com... – Sim, minha irmã, tem tudo a ver com Lídia. – Meu Deus! Como pode? – Tenhamos calma e fé, irmã Izabel. Nós conseguire- mos, com as graças de Deus e o auxilio do espaço. Nós temos 140
  • 141. um grupo de espíritos que estão lutando a nosso favor. – Que Deus tenha misericórdia de nós e de Lídia. A reunião entre Lídia e João Eduardo Lídia é levada à presença de João e, por volta das 8 da noite, tem início a reunião. São poucos ainda os dias de frequência e participação de João e sua esposa naquela casa, porém, já rece- bem orientações de Entidades do plano espiritual. Um dos mentores pede para que João se coloque frente a eles. Logo se fecham em forma de círculo alguns médiuns preparados espiritualmente para equilibrar as energias negativas que Lídia poderia trazer consigo. Lídia, pelo pouco tempo de desencarnada, já trazia em si camadas negativas fortes de outras encarnações que, unidas à última, lhe deixara mais potente no campo oposto à luz. Ela, pelo contrário, não sentia medo al- gum de estar ali presente. O que ela sentia era uma vontade imensa de comparecer o quanto antes para mostrar, perante to- das as pessoas, sua ira e seus deboches. Bastou, no entanto, chamá-la pelo nome que, de repen- te, o que se viu foi uma médium contorcer-se no chão, aos gri- tos e fortes gargalhadas. – Quem és tu, minha irmã? O que vens fazer aqui? – pergunta o mentor espiritual. – Se veio em nome de nosso Se- nhor Jesus Cristo, peça e receberás. A jovem mulher, tomada pelo espírito, tenta reprimir as palavras que lhe chegam aos lábios, porém, a força e a ousadia daquele espírito eram tamanhas que logo a fizeram perder quase todos os sentidos para que pudesse passar, totalmente a seu gos- to, sua suja e devassa mensagem. – Estou aqui não é porque quero, mas porque imensa- mente desejo! Há, há, há... Tenho sede, muita sede de vingança. Quem sou eu e o que venho fazer aqui? Pergunte a essa pilantra 141
  • 142. traidora! – e aponta para Anita. Ao mesmo tempo, olha para Izabel com ódio... – Eu não lhe disse sua pilantra, para você sair de perto desse canalha? – e aponta para João. Em seguida, olhando para Izabel, Lídia continua. – A sua intuição... Por que você trouxe o seu tão amado cafajeste até aqui hoje? Coitados de todos vocês, pensam acredi- tar em uma força celestial para ajudá-los, sendo que o que vim fazer aqui, jamais será barrado. – O mentor espiritual responde: – E o que você, minha irmã, veio fazer aqui de tão importante para tanto escândalo? Será que não vê que aqui é uma casa de Deus, e que na casa de Deus o poder é tão infinito que jamais as suas forças irão predo- minar? – Bem, para que todos saibam, para que não paire ne- nhuma dúvida e para que meu nome se perpetue entre vós, eu me chamo Lídia, e trago comigo uma grande legião, disposta a tudo. Enquanto algumas pessoas no recinto se sentiam ame- drontadas e tremiam pela cena ali exposta, Lídia escarnecia com o seu infame sorriso de desventura. – Eu não venho em nome de Jesus, estou aqui por or- dem total do capeta. O que eu venho fazer aqui? Vocês ainda me perguntam? Venho buscar o que é meu por natureza, e certa- mente hoje levarei aquilo que a mim pertence. Nesse momento, João começa a ter uma forte crise e é socorrido por uma entidade conhecida como Preta-Velha e tam- bém por Irmão X. – Mas o que é que lhe pertence? – O meu amante. Ele é o meu homem. O meu desejo é levá-lo magro e seco, assim como uma folha em decomposição. Esquelético, frio, acabado. Mas eu resolvi e não vou adiar mais. Eu o levarei hoje mesmo comigo. Veja suas crises! As suas dores 142
  • 143. são as minhas dores, são as dores que me fizeram partir desta vida terrena para o inferno, e já que estou condenada... – A irmã não tem essa ordem e nem tampouco esse poder. Esse poder, minha irmã, só cabe a Deus e a mais ninguém. – Bem, se for assim, então veremos. Eu, de minha par- te, não tenho tempo a perder. A médium que estava em transe e possuída por Lídia, começa a jogar-se no chão de uma forma que ninguém conse- guia segurá-la. De repente, outro médium é colocado em estado calamitoso. Logo após outro mais, até que, já não tendo mais condição alguma de assegurar nada, o mentor pede auxílio às forças divinas para sustentá-los naquela atribulação. Todos os que estavam em transe e possessos se acalmam e caem ao chão. Num instante, um grito muito piedoso salta entre as pessoas que ali estavam. – Meu Deus! Estou morrendo! Naquele dia, encontravam-se no centro espírita por vol- ta de 50 participantes. Por estarem todos juntos e pelo fato de o ambiente ser pequeno, foi só depois de alguns instantes que per- ceberam a ausência de João Eduardo no círculo feito por eles, pois Lídia o havia induzido a sair daquele recinto para ficar to- talmente exposto às suas energias. Porém ela não conseguiu, mas permitiu que sua legião dele se apossasse, para que não fosse admitida a entrada da proteção divina. Ali estava um homem mórbido, esmaecido, com traços da morte em seu semblante cadavérico. Algumas pessoas ali choravam, temendo que o po- bre homem tivesse morrido. Imediatamente, um médium veio para socorrê-lo e, quando o amparou em seus braços, ele se lamentou, dizendo que era tarde demais. Ele acreditou que João Eduardo estivesse morto. 143
  • 144. Izabel fica estática com o que acaba de ouvir. – Não! Não pode ser verdade! Amparada por Anita, ela repetia palavras ingênuas e tristes... – Não! Não pode ser verdade. O meu João não está morto! Eu não acredito! João, os nossos filhos, o nosso lar! Eu não posso ficar sozinha, sem você! Anita pede-lhe que se acalmasse porque, para Deus, nada era impossível. – Eu não acredito que o meu esposo, o meu compa- nheiro tenha me deixado. Não! Isso não pode ser verdade! Em meio àquela cena, uma das médiuns grita em voz de prazer e êxtase: – Vamos embora, meu homem, você agora será somen- te meu. Saia desse corpo, porque ele já não lhe pertence. Vamos embora. – João, com a cabeça deitada no colo de Izabel, recebia em seu rosto as lágrimas da mulher amada. Naquele dia, Sr. José ou o “bom José”, como era cha- mado por João, não deveria ter se atrasado, mas ocorreu-lhe um imprevisto e somente de surpresa é que todos ali presentes ouvi- ram uma voz de quem acabara de chegar àquele ambiente, di- zendo: – Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo! Todos ouviram a voz suave de um homem de 94 anos e muito experiente pela sua idade, pelos seus conhecimentos e, prin- cipalmente, por toda a caridade que já praticara neste mundo. – Bendito e louvado seja o nome de Nosso Senhor Je- sus Cristo! Todos, numa única voz, respondem. – Para sempre seja louvado o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo! – Meus queridos irmãos, o nosso amigo não está morto, está somente desfalecido. Sua energia está sendo sugadas por 144
  • 145. espíritos vampirescos e estão sendo emitidas energias ruins pelos espíritos que o estão atingindo. Mas nós estamos com ele e, se cada um de nós tiver fé viva em nosso bom Deus, poderemos emitir energias boas em forma de ectoplasma para repor o ectoplasma dele, que esta sendo sugado por esses espíritos malé- ficos. Essa corrente maligna será retirada desse irmão e do nosso meio, mas isso depende de nós. Tenhamos fé e muita concen- tração. Oremos. – Sr. Deus! Se for digno de nós aqui presentes, deseja- mos acabar com o sofrimento deste irmão. Se vossos desígnios estiverem ao final desta prova, permita-nos que falemos com autoridade a estes espíritos trevosos e sofredores, e com autori- dade peçamos a toda legião de espíritos do bem o auxilio direto, e que estes irmãos sejam conduzidos a esferas transparentes e tenham a oportunidade de conhecer o caminho que conduz à Luz do Senhor, nosso querido Pai. Bom pai! Não permitais que pereçamos diante destes espíritos revoltosos e vingativos, por- que a revolta e a vingança não prospera, mas atrasa a boa evolu- ção dos irmãos que procuram um lugar ao sol, pois todos os espíritos revoltosos ou não, são frutos de vossa criação e nossos irmãos. Neste momento lhe pedimos por pão, o pão da vida. A ti Senhor, que com o Vosso amor nos criou, pedimos por estes espí- ritos que, enfatizo, são nossos irmãos e estão perdidos em seus devaneios ou iras psíquicas, se achando donos da verdade. Faça Senhor, com que saia de Vossas Dadivosas mãos, o orvalho de vossa existência sobre este vosso servo, para que ele, neste instante, receba em seu corpo, retirando todos os eflúvios maléficos que nele faz estada. E pedimos também, aos nossos guerreiros da luz, que tenham força total para nos amparar neste momento de total angustia. Misericórdia, Senhor Deus, é o que vos pedimos. Não deixe Senhor, que este vosso servo caia nos braços da vingança, pois se for para ele cair, que caia senhor, em vossos braços. 145
  • 146. Em nome de Jesus Cristo eu vos peço, Pai amado, que este nosso irmãozinho receba em seu corpo os bons eflúvios de nossos espíritos amigos e protetores. Peço também, com auto- ridade, que neste momento, se retire deste corpo, toda e qual- quer ligação ruim que nele possa estar. Eu ordeno, em nome de Jesus, e peço aos nossos soldados guerreiros da luz que nos am- parem. O velho homem, assim como Jesus em suas curas, so- prou os ouvidos de João que, num instante abriu os olhos, co- meçando a mover-se ligeiramente ano chão e a soltar uma gran- de gargalhada. As pessoas que estavam próximas dele se afastam, pois se assustaram com a horrível cena que acabavam de presen- ciar. Quem conhecera a Lídia poderia até dizer que houve uma mutação naquele corpo, de homem para mulher. Era real- mente assustador ver João Eduardo totalmente transfigurado. O bom José pedia para que todos ali presentes formas- sem um elo em oração, para que fosse retirada a legião de maus espíritos nele presente. Auxiliado pelos guardiões do espaço, acorrentaram e expulsaram todos aqueles espíritos diabólicos quando, somente um deles, Lídia, aquela alma perniciosa, pede, por um instante a mais, para dizer, através dos lábios de João Eduardo. – Diga minha irmã, o que queres – pergunta o bom José. – Só quero, ao sair deste corpo, levar tudo o que lhe pertence. Vocês não têm o direito de impedir o que estou fazen- do. É olho por olho e dente por dente. O que esse homem fez comigo na vida terrena, só posso revidar dessa forma. Infeliz- mente, parece-me que por enquanto eu não posso terminar o que comecei, porque o meu corpo espiritual parece estar em chamas com essas energias que todos vocês estão jogando em mim. Vocês são uns desventurados, assim como eu! Anita! 146
  • 147. Tanto que eu lhe pedi para não ficar contra mim! – Minha Lídia, eu a amo tanto! Você não está totalmen- te perdida em sua vida espiritual. Veja minha irmã, quanta luz cintila ao seu redor! O seu corpo está começando a se defor- mar... Olhe para os seus companheiros... Saia desse umbral! Eu lhe imploro, em nome de Jesus. Saia dessas trevas, pois lhe que- remos juntinho de nós! – Prefiro o inferno! Prefiro me ver transformada em monstro. Quero escandalizar e desordenar quem eu puder, justa- mente para não ficar sozinha. Posso até ter perdido esse confron- to, mas criarei novas forças para retornar mais potente ainda. – Eu lhe digo Lídia, que falas assim pelo ódio que está ressequido em seu coração. Mas Deus lhe relevará um dia suas palavras e você ira reconhecer quão bela, sublime e eterna é a Luz Divina! É tão bom estar do lado de cá sem ódio, minha querida amiga. Veja você, abandonei a ideia de ir atrás do meu ex-namorado e hoje me sinto feliz sem ele. Momentaneamente, um grito surge nos lábios de um médium ainda jovem. Um grito atinado e rebelde, a que todos ali presentes se apiedam. Surge naquele momento outra cena: uma pequenina luz que algumas pessoas mais sensitivas pude- ram observar. Estava ali, sob aquela luz, a mãe de lídia, a única pessoa a quem Lídia amou de todo coração, e que se fora quan- do Lídia ainda era uma adolescente. Naquele momento, sua mãezinha teve a grande e única oportunidade de comunicar-se com sua filha Lídia, pois ela estava em um lugar de luz. Então, para não perder tempo, ela diz: – Lídia, minha filha querida. Após tantos anos lhe en- contrei e não lhe deixarei mais. Por amor vou até os confins com você, e bem que você poderia aproveitar esta oportunidade e seguir-me ao lado destes mentores, porque deste lado em que estou tudo é tranqüilo, tudo é paz. Estes irmãos são dedicados e 147
  • 148. solidários, mas, se for o caso, posso ir para esse umbral só para estar contigo. Nunca mais vou lhe deixar minha filha querida, e o que pedimos ao Pai ele nos concede. Venha! Eu te amo! Você é fruto de uma grande história de amor. Venha comigo e ne- nhum mal irá lhe acontecer, eu garanto. Além do mais, eu devo isso a você pelo total desempenho que teve quando eu estava no leito de morte. O seu desempenho foi fantástico na tentativa de salvar-me da morte, e isso só não foi possível porque minha hora havia chegado. Mas após ser socorrida por estes sábios Es- píritos de Luz, me acho em um lugar maravilho. Venha minha filha querida, eu te amo e sei do seu amor por mim. Venha ver como o amor e a solidariedade transformam o espírito para melhor. Algumas pessoas, após o ocorrido, perceberam em seus aguçados sentidos que Lídia, ao sair do corpo de João Eduardo, lhes dera a impressão de estar tirando dele toda uma roupagem falsa em formato sombra, para em seguida estender a mão para sua doce mãe, que caminhava a passos lentos e com um olhar brando. Cabisbaixa, amparada pela mão e pelo colo que acalen- ta, Lídia foi encaminhada pelos bons mentores para uma clínica e, após sua recuperação, para uma escola espiritual. Lídia segue o seu caminho, um caminho inexplicável por parecer não haver nele destino algum que a levasse a um ponto final. Nela um vento soprava para limpar seu perispírito, trazendo às pessoas o seu odor, um perfume dulcificado e suave, calcinado pela transfusão de amor. Lídia partira, caminhando a passos lentos para uma jor- nada de luz. Uma legião de espíritos benfeitores, adentrando àquele ambiente, pede ao mentor para que as portas e as janelas fossem abertas, que todos ali presentes retirassem dos pés os seus calça- dos e que se mantivessem em silêncio e sintonizados com Deus e os bons espíritos de luz, por necessitarem fazer uma limpeza, 148
  • 149. retirando dali todas as impurezas deixadas pelos espíritos atordoadores. Seguem-se alguns dias. Izabel, sentada em uma cadeira que havia nos fundos de sua casa, passa a observar a beleza e a tranquilidade que havia ao seu redor. Ela não queria pensar mais no passado e em tudo o que aconteceu. Porém, não podia ainda se ocultar, porque em seu pensamento Lídia ainda se fazia pre- sente e ela acreditava que não poderia deixá-la pra trás. De alguma maneira, Izabel e o grupo da casa espírita tinham que tomar uma atitude séria, porque Lídia não poderia mais seguir o caminho da vingança que cegamente premeditara. Izabel passou a compreendê-la e a amá-la após todo o sofrimen- to por que passara, para ela agora bem esclarecido e um grande aprendizado. Mas, como estará agora Lídia? Só o tempo dirá Muitas sessões foram feitas em prol da família de João Eduardo, mas com um segmento mais direcionado a ele, pois acreditavam que a sua doença poderia ser totalmente espiritual. Lídia, através de um impulso, acreditava-se que conscientemen- te tivera pena de João, pois levara consigo a carga do seu perispírito, que se quisesse poderia ter deixado com ele. Dentro da espiritualidade, pode-se dizer que Lídia era obsedada ou in- fluencia por aquela gang, revoltada e com muita vontade e força para realizar suas façanhas do mal. O que Lídia fez, sem perceber, foi obter para si um raio de luz que a iluminava, por intermédio dos mentores de sua mãe. Lídia no Plano Espiritual A ala dos quiumbas, na Espiritualidade é considerada um dos níveis mais baixos dessa esfera. Nessa classe, mesmo sendo considerados malignos, existem espíritos de vários graus. 149
  • 150. A classe mais pesada supõe-se que seja daquelas almas que, de tão maléficas e perversas, chegam até a deformar o próprio perispírito, transformando-se em formas monstruosas horríveis. Outros, pela tamanha desordem que podem cometer entre si e com a humanidade, permanecem acorrentados. Uma outra classe, chamada de “obsessores”, são espíritos vingativos e vadios, que em suas desordens praticam calamidades como, por exemplo, praticar o mal por vingança, vagando pelo plano terrestre e tra- zendo depressão, angústia e decadência para as famílias. Mas essa aproximação só se faz possível quando as pessoas estão fora da sintonia com Deus, ou, quando visam só o dinheiro e a ganân- cia, esquecendo do seu próximo e dos entes queridos que se foram para o mundo espiritual. Mas se a palavra de Deus afirma que ele não tem nenhum filho a perder, com certeza cabe aos líderes religiosos a incumbência de ter como objetivo lutar no intuito de conduzir ou resgatar essas almas perdidas para Deus. Portanto, para que isso seja possível e, quando estes espíritos se fizerem presentes em centros espíritas ou igrejas de qualquer denominação, devemos tratar essas almas com amor e solidarie- dade, porém, com rigor e muita convicção. São almas perdidas? Não! São almas que estão na perdi- ção, mas que no fundo de suas consciências estão à procura de um lugar ao sol. Esses são nossos irmãos, como se fossem ove- lhas negras de uma família, da família que luta ardentemente para restituí-los à casa do Pai, pois com certeza, o nosso Criador e Pai amoroso ama a todos sem distinção. Devemos orientar os espíritos trevosos, orientando-os sem julgá-los, mostrando que eles têm a possibilidade de reaver as suas falhas e de se redimirem com facilidade, porque Deus proporciona a eles esta oportuni- dade, assim como uma boa mãe e um bom pai proporcionam nova oportunidade para os filhos que estão seguindo o caminho errado. Essa é a classe onde se encontra Lídia. Deus não tem nenhum filho a perder, perdem-se “aque- 150
  • 151. les que querem”. Esta é uma frase verdadeira e magnífica deixa- da por Jesus. O que se quer dizer, é que Lídia depende somente de sua vontade e resignação. As leis estão no Universo portanto, nós é que escolhemos o caminho, Naquele instante juntam-se como insetos em desordem a legião de espíritos que fazia parte da mesma gang de Lídia. Trava-se uma luta mesquinha, suja e repleta de traição entre eles, dividindo-os em pequenos grupos por terem perdido uma alia- da importante. Para aqueles revoltosos era uma derrota, para os bons Espíritos, uma vitória conquistada com amor e com a ban- deira de Jesus. Com toda certeza Deus, em sua infinita bondade e amor, enche aquela casa espírita de luz e amor por gratidão. Gratidão pela dedicação daqueles médiuns, cujos objetivos fo- ram salvar mais um filho ou filha e trazer de volta para o reba- nho, nesse caso uma filha: Lídia. E então se ergue Lídia, a vencedora, pois aceitou o cha- mado de sua mãe e de Deus. Daquele espírito ficara ali somente seu passado e, junto dele, somente o exemplo do que ela seria ou teria capacidade para fazer. Houve ali um pacato e total silêncio. Bem acima da ala dos quiumbas, existem outras classes de espíritos que trabalham na linha que divide o mal e o bem, ou a luz e as trevas. Esses espíritos são erroneamente confundi- dos com espíritos do mal. São os chamados “Exus”. Dentro da escala espiritual, são espíritos mensageiros, guerreiros, guardiões, protetores, considerados os “bons policiais” do Universo. São brigões, pesados, duros e sinceros. Foram eles os guardiões na- quela seção tão especial, e que muito colaboraram na recupera- ção de Lidia e na busca de sua mãe. Os Exus são conduzidos pelos Espíritos Superiores; são eles os seus guias, os dirigentes que lutam em prol do bem, pois almejam seguir a caminho da perfeição e alcançar mais luz, e a misericórdia Divina sempre há de enviá-los para que alcancem seus progressos espirituais. Os Exus nada mais são que espíritos 151
  • 152. que conhecem muito bem as leis do Universo, trabalhando com muita dedicação para que o equilíbrio não seja quebrado. Estão em busca da paz para se elevarem em boas energias. – Salve, senhor Exu. – Salve, Lídia. Diz-me o que deseja, minha irmã. Lídia estava muito tímida diante do espírito irmão. Al- guma coisa estranha deveria estar nela, pois a sua aura se encon- trava ligeiramente fraca, vazia. Ela inclusive se mostrava neutra em suas reações, era como se estivesse dopada por algum senti- mento. Algo estranho e duvidoso estava se passando. Por um instante, ela fixou o olhar no irmão Exu como se estivesse ana- lisando a sua aura. Calada diante dele, olhava-o de uma maneira estranha. Tímido, ele lhe responde: – Nada não, não é nada. Ao afastar-se, Lídia o deixa feliz, pois ele percebe que aquela estranheza era um bom sinal, afinal, Lídia não sentia mais aquelas dores horríveis e isso era realmente uma grande vitória de Lídia. Esperava que seu pressentimento não falhasse, pois desejava imensamente levar aos irmãos superiores uma boa notícia. Alguns meses depois Anita, muito feliz com sua gravidez provoca, de uma maneira que parece casual, se encontrar com Oscar para que ambos participem do desenvolvimento do bebê e possam com- partilhar juntos o carinho por ele. Ela permite os seus afagos, dados ao bebê. – O meu bebezinho já veio visitar-me? Onde será que está a cabecinha do bebê, Anita? – Eu não sei dizer exatamente, mas me parece que está aqui, deste lado. – Nossa Anita! Como ele se mexe! Será que percebe 152
  • 153. quando a gente conversa com ele ou lhe faz afagos? – Sim Oscar, isso já foi provado pela ciência. – Se for assim, então vou aproveitar para dizer-lhe algu- mas palavrinhas. Mas são particulares, só entre ele e eu, você não pode ouvir. Meu bebê, assim como amo muito você, amo tam- bém a sua mãezinha. Sabe meu filhinho, se sua mamãe permi- tisse, ela não teria todo esse trabalho de vir com você até onde estou. Sabe por quê? Eu lhe afirmo que, certamente, ficaria com vocês 24 por dia. Mas quem sabe um dia? Em Deus eu tenho essa certeza. Ao dizer tais palavras, Oscar olha fixamente para Anita e ambos sorriem. Anita se afligia com a dor e o anseio de Oscar, mas não estava agindo de propósito, pois Oscar era o homem a quem ela tanto amava, mas era necessário que agisse daquela forma. Visitas de João ao Hospital João Eduardo continuara com o tratamento hospitalar. Por vezes, acreditou não ser mais necessário dar continuidade ao tratamento, por não sentir praticamente nada. Alguns reflexos das crises que ele tinha vinham-lhe ao corpo mas, na verdade, eram do seu psíquico, nada grave, como lhe acontecera há me- ses. Ele temia, sempre que voltava ao hospital, que os médicos lhe dissessem algo a respeito de sua saúde que ele não gostaria de ouvir. Os irmãos do Centro Espírita diziam a João que ele podia confiar e ter fé, pois se restabeleceria. Mas que não deixas- se de retornar ao hospital quando necessário fosse, pois os médi- cos do Plano Espiritual, por ética respeitam a Medicina do pla- no físico. Suas idas ao consultório médico eram semanais; como João se sentia bem, suas consultas passaram a ser quinzenais. Aconteceu, 153
  • 154. no entanto, que o Dr. Osvaldo necessitou fazer uma longa viagem ate a Itália para resolver uma herança de seus avôs, permanecendo ausente de seu posto por dois meses. Nesse ínterim, João voltou ao hospital por algumas ve- zes, mas não fora atendido em todos os detalhes necessários que só o Dr. Osvaldo, como seu médico pessoal, fazia. Logo após retornar de sua viagem, Dr. Osvaldo pede a João que faça os exames rotineiros referentes à sua enfermidade. Após averiguá-los, Dr. Osvaldo fica estático diante do que vê. – Mas o que foi que o senhor viu aí nesses exames? É algo tão ruim para o senhor ficar desse jeito, parado, sem me dizer nada? Nenhuma palavra? O que há Doutor? – Não é nada grave meu amigo, mas acho que os apare- lhos de ressonância devem estar com algum problema. Eu lhe enviarei a outro laboratório para que sejam feitos novos exames. Você se importa? – É claro que não, Doutor. O que precisar ser feito pela minha saúde, eu farei de bom grado. Aconteça o que for, eu não temo mais nada. Estou feliz e seguro em tudo. Se for para eu partir hoje para outro plano, irei sem mágoas e sem ressenti- mentos. Estou imensamente feliz, Doutor. Peço-lhe, por favor, que não guarde nenhum segredo sobre o meu estado de saúde. Pelo modo de João agir, nota-se que havia contradições em seu modo de pensar com relação à sua saúde. Hora ele acre- ditava estar totalmente curado, hora ele imaginava que seus dias estavam contados. Todo esse transtorno ocorria porque seu psí- quico havia sido atingido, mas, com certeza, os psicólogos do Plano Espiritual estavam trabalhando incessantemente para curá- lo de seu problema psíquico, era só uma questão de tempo. Após refazer todos os exames, João Eduardo, ao retornar ao hospital a pedido do Dr. Osvaldo, percebe no médico um semblante sério. Ao se cumprimentarem, Dr. Osvaldo pede pra que ele se sente, juntamente com Izabel, pois lhe daria uma 154
  • 155. notícia duvidosa, dizendo-lhe, por mais uma vez, que os exa- mes seriam refeitos. Ele reuniria uma junta médica no hospital, com profissionais altamente qualificados, para resolver o que estava acontecendo com os exames de João Eduardo e saber quais providências deveriam ser tomadas, pois havia algo sem explicação. – Doutor, o que o senhor está querendo dizer? Seja claro, por favor! – Não vamos nos precipitar meu amigo, porque, como você sabe, seu problema, além de delicado, é muito sério. Mas me parece que as notícias são ótimas! – Como são “ótimas”, Doutor? – É que os exames não acusam nada de grave, e o tumor nem aparece. Pelos exames, você está curado. Quero que me perdoe pelo que vou lhe dizer, mas, sinceramente, não estou acreditando. Quero que você aguarde um novo contato, mas, de minha parte, estou felicíssimo, mas ainda preocupado. – Bendito e Louvado seja, Doutor! Meu bom José, minha querida esposa Izabel, meus grandes amigos Anita e Os- car, meus irmãos da Espiritualidade e o senhor Doutor, por toda a sua dedicação. Seja o que for, em nome de Deus eu vos agradeço. – Eu e a junta médica deste hospital vamos lhe pedir dois meses, para termos a certeza plena e total do seu diag- nóstico. – Mas se o senhor diz que estou bem, por que isso agora? – Por ser um caso inédito e delicado, temos que ter 100% de certeza. Esse tempo será o suficiente. Doutor Osvaldo lhe falou desta forma por não conhe- cer as técnicas contemporâneas espirituais, só conhecia a parte científica. 155
  • 156. João e a Casa Espírita João Eduardo, depois de receber a notícia de que sua saúde poderia estar restabelecida, apressado segue para casa para compartilhar a felicidade que estava sentindo com os filhos. Ao caminhar pelas ruas, deixava que suas lágrimas se misturassem ao sereno e, na tarde fria de um mês de inverno, lhe permitia que as pessoas próximas dele não percebessem sua comoção. Ao chegar em casa, as primeiras pessoas que encontra são seus fi- lhos. Izabel, ao vê-lo aos prantos como uma criança quando busca amparo, pensa logo no resultado dos exames e não hesita em envolvê-lo em seus braços. – Perdoe-me, por favor. Eu não deveria ter chegado des- sa maneira para não preocupar as crianças, mas é que nós saímos muito felizes do hospital, e esse choro é de pura felicidade! Eu creio Izabel, que algo de maravilhoso tenha acontecido comigo. Você, ou melhor, nós, temos acompanhado as complicações com os exames, não é mesmo? Só que Dr. Osvaldo tem quase certeza de que não deva mais existir enfermidade alguma em mim. Por isso estou desta forma, feito um menino chorão. – Senhor Jesus, obrigada por tudo – agradece Izabel. Perdoai-nos, ó bom Deus, pois grande é a vossa graça! Meu esposo, você pode confiar, nós ainda seremos uma família mui- to feliz! Logo, ao cair da noite, João Eduardo e Izabel vão até o Centro Espírita para contar a todos sobre a graça recebida. Ao encontrá-los, nada disseram. Por estarem emotivos, às vezes sor- riam, às vezes choravam. O que fizeram, naquele momento, foi abraçar forte os irmãos da casa espírita que, perplexos, sem sabe- rem o porquê, pois ainda não haviam dado explicação, aceita- vam os seus abraços sem nada lhes perguntar, pois certamente falariam no momento oportuno. Foi ali que eles perceberam e 156
  • 157. concretizaram em seus corações, as possibilidades que a Espiritualidade lhes oferecia. João Eduardo e Izabel aprenderam a amar e a respeitar os amigos daquela formação religiosa ou filosófica, principal- mente pelo afeto e atenção que a todos eram peculiares. Doa- vam-se uns aos outros com muito amor e solidariedade. João e Izabel, depois de alcançarem uma graça impossível aos seus e aos conhecimentos da Medicina, passaram a acreditar no elo entre a natureza metafísica e o homem, o que para eles tornou-se algo magnífico. Passaram a classificar o homem, em seu estado físi- co, como uma matéria totalmente elaborada, desde a parte or- gânica até a psicológica. Passaram a visualizar o homem, em seu estado fluídico, como um ser totalmente elaborado por partí- culas de igualdade, de respeito e de amor. Deslumbrados com o que acabara de acontecer, eles se conheceram e se avaliaram como membros do Cosmos e passaram a enxergar que o ser humano está ligado à Espiritualidade pelo chamado cordão de prata, que está situado no centro do cérebro. – Sua doença já não existe mais - dizia-lhe a Entidade com a qual ele se consultava, chamado de Irmão X, um dos mentores daquela casa que trabalhava com o médium Irmão Lázaro. Irmão X foi a Entidade que abraçou a causa de João e de sua família desde o início da doença ou peregrinação, coman- dando com amor aquela causa juntamente com outros espíritos trabalhadores da ceara do Mestre Jesus. Ali havia índios (Cabo- clos) e sábios Pretos-Velhos, entre outros fieis companheiros da Espiritualidade. – Como assim? Então eu estou curado mesmo? – inda- gava João. – Sim, está totalmente curado, ou melhor, você nunca teve essa doença, que foi projetada por Lídia e pelo seu psiquismo, e se tornou mais evidente após o primeiro diagnós- tico médico, quando afirmaram que você tinha um tumor 157
  • 158. maligno. Meu irmão, nós já sabíamos da sua felicidade. Não pudemos falar-lhe antes por motivos superiores que não nos permitiam dizer. Tudo, meu irmão, no seu tempo exato. Esse é o tempo. Temos uma grande certeza de que tudo o que ocorrera a vós foi por misericórdia de Deus, para que aproveitassem essas oportunidades doadas para evoluírem. E nós, do Plano Espiri- tual, estamos 100% certos de que valeu a pena. Eu vos peço por uma coisa meus irmãos: tenham misericórdia de nossa irmã Lídia, pois ela, afinal, é nossa irmãzinha, pois como eu e vocês, ela é uma criação de Deus. Orem por ela, meus irmãos, pois neste exato momento ela está sob os cuidados de irmãos especialistas em psicologia para o seu restabelecimento. Quanto a vós, meu irmão, continue com suas visitas de rotina ao médico e não lhe diga nada, por favor. Deixe que eles saibam por conta própria, é o que lhe pedimos – E que mérito eu obtive para que essa enfermidade de- saparecesse de meu corpo? – Essa doença não lhe pertencia, era projetada e quem a enviava para vós, na verdade era o espírito de Lídia e aquela gang. Lídia, que deixava as suas próprias sequelas em você, conviveu com as mesmas dores que você sentia, até resolver abandonar aquela vingança a convite de sua terna mãe. Ela optou por segui- la, mas ainda sente rancor por você e por sua esposa. Um espíri- to, tal qual Lídia, ao aproximar-se de uma pessoa traz consigo todo o conteúdo de sua vida carnal. Ela dera passagem à enfer- midade (câncer) pela qual culpava a ti, meu irmão. Como essa enfermidade a intranquilizava, ao aproximar-se de ti ela jorrava toda essa energia em forma de ódio em sua aura. Ela se aliviava através de sua ira, e vós, meu irmão, se contaminava por estar vulnerável. Em mais uns poucos dias essa energia ruim iria se materializar, porque o seu psiquismo ou a força de seu pensa- mento iria constituir e materializar o tumor em você. Aí então não haveria mais solução, você passaria a realmente ter o tal 158
  • 159. tumor, mas você nos procurou a tempo e isso foi muito bom. – Quer dizer que se ela morreu com essa doença e eu sentia os sintomas que ela? – Exatamente. Se o espírito fizer a passagem da Terra com uma doença ou qualquer outro problema, e aprender se comunicar de maneira telepática, até que ele se esclareça conti- nuará por raiva, vingança etc., enviando as vibrações que há em seu psiquismo. Há casos em que ele consegue, em conjunto com o psiquismo do encarnado, até materializar a tal doença, e assim foi com você. O ódio que ela sentia por você era muito grande, por não conseguir em sua vida terrena o que ela almeja- va. Então, suas vibrações eram mais fortes e, sucessivamente, as dores ou a tal doença apareciam com mais frequência. Portanto agora, com certeza, você está totalmente livre, pois os nossos irmãos trabalhadores do Plano Espiritual conseguiram afastar definitivamente Lídia para uma clínica, e aquela legião que a acompanhava optou por voltar para o lugar de onde vieram. As vibrações ruins deles acabaram, eles só conseguiam lhe perturbar sob o comando de Lídia, porque o motivo era ela, e, além do mais, com suas orações e assistência espiritual de seus proteto- res, eles não tiveram mais força suficiente para lhe atormentar. Quanto à sua saúde, você aos poucos se restabelecerá. Mas para que isso seja definitivo e concreto, é necessário que sua mente esteja em perfeita harmonia com seus órgãos, que estão perfei- tos. Os médicos irão constatar que o tumor que estava nos seus rins sumiu e muitos acharão que foi um milagre ou outro fenô- meno, ou mesmo que foi um erro médico. – Se acaso eu viesse a falecer, o que seria de meu espírito? Antes que désseis passagem, seriam contínuas as vibrações em seu psiquismo. Lídia continuaria enviando-as, porque acredi- tava que era a arma mais eficaz que teria pra lhe atingir e, consequentemente, acabar com a sua vida terrena para depois lhe conduzir, em espírito, para o local onde ela convivia com a legião. 159
  • 160. – Mas por que ela queria me levar? Pelo que eu saiba, ela não me amava e nem eu a ela. – O que ela lhe fez não foi por amor. Ela se sentiu descartável quando você não quis saber mais dela. Tudo o que ela fez foi por vingança e por ódio. Ela acreditava que você fosse propriedade dela e também o culpado por sua decadência finan- ceira e por sua doença. Para concluir, seu ódio duplicou-se após sua morte. No conceito que Lídia levara consigo para o túmulo, ela estava onde estava por sua culpa, sua total culpa João. Apesar de eu não ser juiz para julgar a sua culpa, o problema foi você não ter esclarecido a ela por que estava acabando com aquele romance ou aventura, que não existia nem uma gota de amor de ambas as partes. Faltou-lhe a coragem para ser verdadeiro com ela. O que ela queria, em verdade, era ver você passar por tudo o que ela passou. Portanto, meu irmão, aquele câncer já não existe mais em você e nem em Lídia. Ali, naquele momento, após uma longa conversa entre o mentor e João Eduardo, um mensageiro, ao aproximar-se do mentor, lhe trouxe uma ótima visita. Por um instante esse mentor, emocionado pelas vibrações energéticas enviadas pelo médium receptor, não se conteve e fez pender, sobre a face do médium, sua satisfação e alegria em forma de lágrimas. – Acabo de receber uma ótima mensagem de um guardião. – Qual é a noticia, meu irmão? – Lídia agora está entre nós. Neste exato momento, ela está sendo enviada para um lugar, ou melhor, para uma colônia de paz próxima de sua mamãe, onde serão regeneradas suas ener- gias, por meio do auxílio cedido por sua genitora e outros pa- rentes dela. Por isso temos que ir agora, mas em breve continu- aremos nosso gostoso “bate-papo”, como dizem vocês 160
  • 161. Lídia pede por remissão As suas mãos, os seus pés, o seu coração... envelhecidos, feridos, em frangalhos. Por quê? Para quê? A sua carne já teria há muito sido despojada aos vermes. Um mundo intenso à sua frente seduzindo-a, num caminho cuja luz reluzindo em seus olhos a hipnotizava, parecendo querer neutralizar todas as dores que sentia. E era o seu ódio que a estava destruindo, aniquilan- do-a, fazendo-a definhar para que em alma se transformasse em verme. – Eu também sou filha de Deus – rogava Lídia. – Deus, tenha misericórdia de mim, Senhor, que tan- to quero acabar com este ódio! Será, ó Pai, que tu me conce- derás essa oportunidade? Não quero e nem suportarei viver mais assim, como um verme. Abarca-me Senhor, com a vos- sa grandeza. Eu, neste instante, me redimo diante de vós e, de joelhos ao chão, me ponho em lágrimas diante dos seus olhos, Senhor! Não quero mais tragar desse veneno cruel que me faz definhar. Olhai por mim Pai, pois seu que errei se- nhor, então, perdoa-me, ó Paizinho querido! Sinto que minha caminhada é longa, mas sinto também que deste lado poderei ser feliz, assim como minha mamãe o é. Ela não sente mais as dores que sentia em seu corpo carnal e, com certeza, é pelo amor que ela emana de seu límpido coração. Permita-me que eu seja como ela! Prometo que já mais o decepcionarei. O mentor que estava encarregado dos ensinamentos a Lídia diz: – Lídia, minha irmã. Chegou o momento de você ver por esta tela materializada, o umbral onde estava antes de vir para cá. É bom que veja, pois faz parte de seu aprendizado. O local onde Lidia havia estado tinha um forte cheiro de corpos em decomposição. O que se via ali eram pessoas total- mente deformadas. Ouvia-se gritos horríveis de sofrimento, 161
  • 162. junto a gargalhadas demoníacas em um pântano lamacento e de cor obscura. Havia muito fogo e fumaça, dor e ódio que os alimentavam. Havia perispíritos em formas jovens que envelhe- ciam porque, logo após jorrar suas dores e difamações sobre o mundo terreno, voltavam para aquele lugar um tanto mais le- ves, pra logo depois se sobrecarregarem até se reduzirem a nada. Naquele lugar, onde ninguém clamava por ninguém ou por nada, às vezes alguns daqueles espíritos, ao se redimirem de seus erros, saíam dali. Só que, quando ocorria alguma situação desse gênero, na maioria das vezes uns não conseguiam, pois eram acorrentados e escravizados, não passando de meros ins- trumentos para servirem de escudos para os mais astutos. Diz o Mentor a Lídia: – Você teve a oportunidade de reencontrar sua genitora em uma casa de oração, onde aquele povo terrestre, por solidariedade e amor ao próximo, dispõe de seu precioso tempo na Terra para servir a qualquer um que lhes procure. E quero acrescentar que você realmente é amada, tanto pela sua mãe como também por sua amiga que está encarnada, cujo nome é Anita. Ela realmente lhe ama, use-a como um porto seguro para que sirva em sua nova etapa na vida espiritual. Os ex-companheiros de Lídia, ao vê-la do outro lado, deixaram seus maus afazeres para tentar trazê-la de volta com vibrações telepáticas, mas foi em vão, porque, a essa altura, já era tarde demais, pois Lídia estava conhecendo o quanto é valioso o perdão e o verdadeiro amor ao próximo. Tentaram hipnotizá-la para deixá-la presa à ilusão das dores físicas de sua matéria, não sabendo contar dias ou noites naquele lugar. – Senhor Deus! Deixe-me ver minha mãezinha queri- da, que pela vossa misericórdia me tirou deste inferno – rogava Lídia. 162
  • 163. Missionários de Luz enfrentam o Umbral Os Exus, que mais uma vez frisamos, são pré-deter- minados em suas escalas evolutivas, têm acesso aos campos de contato que ligam o bem e o mal, auxiliando aos que bus- cam a luz e aos que vêm para a luz, um trabalho magnífico. Ao se aproximarem do portal daquele umbral, eles materiali- zam roupas de chumbo para evitar as más vibrações, ondas magnéticas ofuscantes que tentam impedi-los de entrar na- quele local. Mas isso não era possível, pois aqueles missio- nários, em sua grande maioria, já tinham passado por situa- ções iguais naquele lugar, sabiam das artimanhas e usariam a força se necessário fosse. – O que vieram fazer por aqui? – pergunta-lhes a le- gião de espíritos trevosos. – Nada daquilo que nos é costumeiro, meus irmãos. Por que perguntam? – Lídia, se é que vieram buscá-la, ela não está mais aqui, vá procurar em outro umbral. Nós já sabemos que agora ela não pertence mais a este lugar – responde aos mensageiros – Nós estamos aqui em paz. Afastem-se, pois preci- samos passar. De repente, homens em formato de animais pelo estado psíquico surgem à frente deles, os quais, ao lançarem suas espadas reluzentes, enfrentam-nos deixando-os embolados em chamas e perturbados em gritos. Caminham 7 mensageiros sob aquele mormaço ardente à procura de uma voz que tanto ressoara seu pedido de clemência, que se ouvira por todos os recantos. – Aqui, irmãos, eu o encontrei. Mesmo sabendo de suas linhagens na Espiritualidade, e que coisas horrendas se faziam por ali, esses mensageiros por hora também se apiedavam, como no caso de Lídia, que 163
  • 164. já não tinha mais os seus pés naquele lugar horrível. As suas mãos estavam envoltas de chagas e seu corpo começara a se defi- nhar. A sua voz, rouca, porém ainda reconhecível, se punha a dizer: – Me tire daqui! Por favor, me tire daqui! Era Gildo, o ex-Pai de Santo e Lúcio. Lídia, assistindo à distância, ou melhor, por uma tela projetada para essa finalidade, diz em seus pensamentos: – Graças! Graças ao Bom Deus! Como o senhor é maravilhoso! Os mensageiros conseguiram tirar mais dois daquele lugar horrível. – Irmão, o seu pedido de ajuda chegou até nós, e sua força de vontade nos fortalecerá ainda mais. Mantenha fé, pois é pela força do seu pensamento que conseguiremos tirá-los daqui! Lidia sussurra: – Como eu gostaria de estar lá, nesse umbral, exatamente nesse momento, junto àqueles mensa- geiros, com uma espada em punho e trabalhando em prol da luz. Que maravilhoso é o resgate desses espíritos que querem se redimir – Nós podemos levá-lo em nossos braços, mas estamos certos de que você poderá buscar os seus pés e caminhar por si mesmo. – Eu não tenho mais os meus pés... O que devo fazer? – Pense no criador, somente nele, com toda força que lhe resta e com resignação. – Senhor, eu quero sair daqui! Ajude-me! Uma nuvem clara envolve os seus pés e Gildo, cir- cundado pelos mensageiros, sai daquele local junto com Lú- cio, e logo os dois são encaminhados para um hospital que há no espaço, para a cura de seus perispíritos. – Que bárbaro! Que trabalho lindo o desses mensageiros! É fascinante o resgate, salvar almas, fazer o bem, que maravilha! 164
  • 165. João Eduardo em outra sessão com o mentor – E Lídia, agora também está curada? – Sim, para onde ela foi conduzida, entendeu que a doença era do seu corpo físico, que ficou debaixo da terra. Por misericórdia de Deus, a doença que está em seu psiquismo os mentores saberão com certeza como curá-la. Quanto ao Gildo, o processo é o mesmo, só que bem mais demorado, e o destino dele só Deus sabe. Mas penso que ele se tornará um bom mensageiro ou guardião no futuro. – Por que só agora os mentores conseguiram afastar Lídia do meu João? – pergunta Izabel. – Porque, para isso, é necessária a técnica de espíritos especializados, e é necessário que haja permissão de vocês e dedicação total. Quando nos procuram, tudo fica mais fácil e nós, tendo a vossa permissão para trabalhar, conseguimos salvar Lídia, doutrinar alguns daqueles espíritos e conduzi- los para outras colônias, onde terão novas oportunidades de aprendizado. Quanto a Lídia, foi realmente muito difícil afastá- la de você e de João, que era o mais atingido, mas graças a Deus e aos experientes e sábios mentores de luz, que perceberam o ponto fraco de Lídia, que é sua mãe, a pessoa ou o espírito a quem ela realmente ama de todo seu coração, com essa estratégia, os bons irmãos conseguiram, com muita dedica- ção, encontrar e trazer a mãe de Lídia, que muito colaborou e tudo foi resolvido com sucesso. Quanto ao Lúcio, foi mais fácil após descobrir que o que ele sentia na realidade era orgulho ou egocentrismo. Seu amor próprio estava ferido por perder Izabel para você. Os nossos mentores, compostos de Caboclos, Pre- tos-Velhos, Boiadeiros, Exus e outros como psicólogos, psiqui- atras e médicos, todos do plano espiritual, já conduziram boa parte desses espíritos que traziam transtornos a vocês. Eles 165
  • 166. foram levados para escolas e clínicas, onde verão que o espírito é saudável, pois a doença só existe no corpo físico e no psíquico, tanto da mente encarnada como também do espírito. Porém, os conduzidos para clínicas ou escolas foram espontaneamente, por vontade própria. – Naquela sessão em que Lídia estava presente, eu pensei que meu João não voltaria à vida, mas graças a vocês todos e ao senhor José, que carinhosamente nós chamamos de meu bom José, meu marido esta aí para contar sua saga. – E por que só alguns e não a todos, meu irmão? – Se Deus disse “Eu não tenho nenhum filho a per- der”, perdem-se aqueles que querem ficar perdidos, ou me- lhor, os que continuam com o objetivo do ódio, da vingança, da ganância etc. Isso quer dizer que Ele, o nosso bom Deus, nos deixou a lei universal do livre-arbítrio, lembra-se? – Sim, agora eu me recordo quando o senhor me dis- se, pouco tempo atrás. – Os seres humanos, quando desencarnam ou dão passagem da Terra, a que nós chamamos de “mundo de expi- ações”, em sua grande maioria são pessoas pouco esclarecidas quanto ao mundo espiritual, ou seja, o “plano astral”. Quan- do em espírito, não percebem que a sua carne morreu, pois perdem a noção e, em seus devaneios, acham que tudo aquilo é só um sonho ruim ou um pesadelo. Às vezes, quando percebe que desencarnou, a pessoa entra em estado de loucura, depres- são ativa, inquietude e muitos outros sintomas, porque ainda está apegada aos bens materiais, objetos de suas paixões. Nós, mentores e mensageiros, buscamos proteger àqueles que neces- sitam e aos que querem ser auxiliados com bons aprendizados. É aí, meu irmão, que entra a “lei do livre-arbítrio.” – Como sabemos quando morremos? – pergunta curioso, João. – João, para que tenhamos consciência de nossa 166
  • 167. passagem, precisamos estar bem informados em relação ao mun- do extrafísico e a Espiritualidade, ou seja, com o mundo dos espíritos. Nesse caso, a leitura de bons livros ajuda aos que habi- tam a Terra a serem mais informados, pois os bons livros espíri- tas, em sua maioria são psicografados por espíritos extremamente sábios, inclusive a Bíblia, desde que bem interpretada. – Porque acontece isso, como no caso de Lídia? – Acontece justamente quando as pessoas são apega- das às coisas terrenas, aos bens materiais, pois o bem maior está em seu coração, e a melhor maneira de se desviar desse apego é procurar conhecer Deus em sua essência e magnitude, ou melhor, como espírito, e lembrar que fomos criados por Ele à sua imagem e semelhança, em espírito, literalmente. Tanto nós, espíritos, como também o corpo humano, pois sem o Cri- ador não há a obra, ou melhor, a obra-prima, pois, com toda a convicção, nós somos a obra-prima de Deus! Sendo assim, a melhor maneira para evitar que empecilhos ocorram em nossa vida espiritual é estarmos continuamente contritos diante de Deus Pai e abertos aos bons aprendizados, que nos levam a caminho da evolução. – E quanto a não sabermos que morremos? O que pode nos acontecer, meu irmão? – As pessoas desinformadas desse aprendizado se desligam do corpo físico de acordo com o seu estado psíquico. Um exemplo: Nem sempre, e pela condição do psíquico, a pes- soa desencarnada aceita a sua passagem devido ao apego que tem aos bens materiais conquistados, como eu disse antes, ou até mesmo a um ente querido, paixões etc. Se esse ser não tiver um bom esclarecimento espiritual, que lhe ensine a não ter tanto apego às coisas terrenas, mais difícil se tornará para ele desligar- se do plano terreno. Observe bem: O desligamento do corpo físico é imediato, mas do plano terrestre é de acordo com o tempo, que é senhor supremo e sábio. 167
  • 168. – Então, quer dizer que a maioria, ao morrer, fica ligada ao corpo físico? – Não propriamente ao corpo que está debaixo da terra ou cremado, ou até em outro estado. Quando o sangue para totalmente de circular, os órgãos do corpo físico também pa- ram, então, todo o processo físico também pára, inclusive o cérebro perde sua consciência e, aí, automaticamente o espí- rito se desliga do corpo, saindo em forma de ectoplasma ou o “fôlego da vida”, que o individuo adquiriu em seu nascimen- to. Mas o espírito não perde sua consciência, e nesse caso ele acredita estar sonhando ou vivendo um pesadelo horrível, começando a vagar pelo tempo e carregando em seu subcons- ciente o peso de seu corpo físico, impregnando sua casa e familiares e tudo o que deixou para trás. Aí então, após um determinado período, ele encontra a casa dos seus familiares ou o local onde ainda está impregnada a sua vida material (que pode ser sua casa, uma jóia, roupa ou até mesmo uma árvore que ele plantou quando vivo) e começa a tentar comunicar-se. Para que você compreenda melhor, irmão João, esse estado é como se o espírito ainda estivesse preso ao seu corpo físico; ele sente suas mãos, pés e todos os membros do corpo, inclusive o problema que lhe causou a morte. No caso da pessoa ser bem idosa, esse processo é bem mais ameno, porque o espí- rito já é mais experiente, tanto materialmente quanto espiritual- mente, pelo tempo vivido na Terra. Imagine você tendo um pesadelo e querendo gritar ou se mover e não conseguir! Mas é aí, no entanto, que se vê o imaginário, pelo psíquico ou perispírito. – Há um momento exato para que o espírito se desprenda do corpo? – Veja bem João Eduardo, o espírito, quando reencarna, toma o seu corpo exatamente no momento do 168
  • 169. nascimento, que também é chamado de “fôlego da vida”. É nes- se exato momento que o recém-nascido se torna independente do espírito e do corpo físico de sua mãe. Todo esse processo tem a ver com o oxigênio, o momento em que a criança aspira e o espírito se torna reencarnado, passando a pertencer ao seu corpo e a ter vida própria. Da mesma forma, quando a pessoa falece, ela expira, e é nesse momento que o espírito se desliga do corpo. E se o desencarnado não for bem esclarecido, aí então começa o pesadelo, conforme lhe falei. Ele vê tudo o que se passa à sua volta... Vê a sua família chorando, vê o velório, a cerimônia fúnebre, enfim, ele observa tudo o que está próximo de si. Mas repito-lhe: Tudo o que se passa com ele acontece como se esti- vesse dormindo, por acreditar que toda aquela situação seja um sonho. Isso tudo por ele não ter a prática da vida espiritual. Mais ou menos como uma criança que precisa aprender a andar. – Mas e os irmãos do plano espiritual, não vêm em seu socorro pra resgatá-lo, como eu já fui informado? – Os irmãos sempre vêm em socorro, pois estão pron- tos para essas situações. São os chamados “Auxiliadores”. Mas nem sempre os recém-desencarnados aceitam a ajuda de tais es- píritos, achando que tudo aquilo faz parte de seu sonho ruim, pois acreditam que aqueles espíritos fazem parte de seus deva- neios. Ali, João, além dos espíritos auxiliadores aproximam-se também os espíritos das trevas para tentar resgatá-lo, e várias dessas almas são levadas por eles, de acordo com seu proceder durante a vida terrena (lei de causa e efeito). – Irmão, quem tem mais seguidores? O bem ou o mal? – Não há mais nem menos, tudo depende das ações de cada um durante a vida material. – Por que, irmão, algumas pessoas ao desencarnarem ficam nessa aflição? – Tudo na vida de um ser vivente é uma questão de tempo, o tempo é que nos indica algo a ser feito. Mas quanto 169
  • 170. ao homem recém-desencarnado, por aflição daquilo que lhe disse pouco antes, ele tenta contato com os parentes mais próximos, principalmente onde viveu os seus últimos dias, pois ali está impregnado o seu EU e os seus bens materiais, não sabendo esse irmão que, a partir dali, o seu bem mais precioso está em seu coração ou pensamento. E enfatizo, é como disse nosso Mestre Jesus: “Onde está o seu tesouro, ali está o seu coração”. Por isso é recomendável orar sempre em favor dos entes queridos, para que eles não se tornem revoltados ou abandonados e sucessiva- mente venham a sentir revolta e ódio pelos que ficaram, como dizem vocês, ainda vivos ou presos em seus corpos carnais aqui neste plano. Quando esse espírito se põe presente, as pessoas mais sensíveis ficam com a sensação da presença de alguém e pas- sam a ter medo, angústia e até sensação de morte, porque, pelo fato dele estar com essas sensações, a sua energia passa também a ser reflexo de um suposto pesadelo. E, quando a maioria dos desencarnados começa perceber que há algo estranho consigo, se perguntando “será que eu morri?”, começam a passar para as pessoas o seu medo e a sua angústia de forma telepática. Essa é a maneira que o espírito sem prática tem para se comunicar, porque ele não tem tato e nem as cordas vocais, mas dificilmente as pessoas percebem ou sabem se co- municar com seus entes queridos, por falta de conhecerem bons livros que possam lhes transmitir um bom ensinamento sobre o mundo espiritual. Por isso é recomendável as orações em favor daqueles espíritos que se foram para uma nova vida, é obrigação dos que ficaram no plano físico encaminhar seus entes queridos para esferas luminosas ou para o Céu, como dizem outras deno- minações ou filosofias religiosas. Com o passar do tempo, os que eram recém-desencarnados obtém a prática desse tipo de comunicação através da telepatia, sugestionando as pessoas e fa- zendo-as acreditar que possam estar até doentes, ou melhor, com 170
  • 171. o mesmo problema que deveras tenha causado a sua morte. Mas há casos e casos, uns passam a ter consciência que deram passa- gem, mas outros continuam achando que é pesadelo. Também há os espíritos vagabundos que convencem o recém-falecido de que sua família lhe virou as costas e, por isso, ele deve se vingar, e então começa a se formar uma corrente maldosa contra aquela família, chamada de legião. Muitas vezes a vítima confunde todos esses transtornos com feitiçaria, olho gordo, inveja etc. Você se recorda, João Eduardo, com quem isso aconteceu? – Graças a Deus, irmão, não tenho mais essas sequelas. Mas isso acontece sempre? – Sim, mas que para isso ocorra é necessário que a pessoa esteja vulnerável. O ideal é as pessoas serem mais zelosas com seus entes queridos e fazê-los entender que a vida continua após a morte física. Rezar ou orar para que bons espíritos ou o santo de sua devoção possam conduzir aquela alma para um bom lugar, um lugar de aprendizado, rogar a Deus transmitindo muito amor para que aquele que partiu entenda a sua passagem, o seu tempo na Terra, o ciclo da vida, assim como uma árvore, que morre após dar frutos e som- bra, mas as suas sementes infalivelmente germinarão e surgirão novas árvores em forma de uma nova reencarnação. – É realmente uma boa forma para evitar transtornos. – Estando envoltos pelo bem, certamente nada de mal os atingirá. Por meio das orações nós podemos nos livrar de várias espécies negativas da Espiritualidade, como os obsessores, os suicidas, os gananciosos, os caluniadores e corruptos, que enganam seus semelhantes ou súditos, os es- píritos da inveja, os que vos transmitem enfermidades e mui- tos outros. Por isso, meu irmão, é que devemos orar a Deus sempre, pois a oração nos irradia e nos alimenta a alma. As boas orações são sinônimo de amor, e são verdadeiramente um porto seguro para todos. 171
  • 172. – Então, nos dois mundos é tudo igual? – Veja bem, o Plano Espiritual é um mundo de aper- feiçoamento, e o mundo material é um lugar de expiação, aprendizado e acerto de contas. – Não entendi. – O mundo de aperfeiçoamento é onde aos poucos nos livramos de coisas fúteis que cometemos, e que inclusive podem nos custar várias reencarnações. Por isso, depois de esclarecidos, não temos fome nem sede, nem a necessidade de acumular bens como imóveis, dinheiro, carros e tantas outras coisas as quais damos tanto valor aqui neste plano, onde infelizmente ainda impera a ambição e a ganância. Mas o tempo vai cumprindo a sua etapa. Em contínuas perguntas ao Mentor Espiritual ou ao ir- mão Lazaro, um médium muito bem preparado, João Eduardo recebe deles informações extraordinárias do mundo espiritual. Irmão Lázaro sabia que aquela busca incessante de informa- ção por parte de João Eduardo lhe seria muito importante, pois ele realmente buscava esclarecimento do mundo transcendental. E, sem que percebesse, estava se tornando um verdadeiro mem- bro daquela casa de caridade. – Estou orgulhosa de tê-lo como meu companheiro, a quem Deus permitiu que passássemos por toda essa situação para ficarmos mais esclarecidos quanto ao prosseguimento de nossas vidas em evolução, pois fazemos parte dessa evolução. – Enquanto Deus permitir, eu ficarei sempre ao seu lado Izabel, pois só agora sei que nós somos parte um do outro, mi- nha doce rainha! Como eu te amo! Deus é testemunha! Quero- lhe sempre e sempre juntinho de mim. Você é a minha pedra preciosa, o meu porto seguro. Nós não ficaremos longe um do outro nunca mais, Deus há de nos conceder essa graça. – Eu te amo, Izabel!. – Eu te amo, João Eduardo! 172
  • 173. As crises que João sentia, desapareceram. Izabel se tor- nara uma mulher mais jovem fisicamente, pois superara o vício, que aos poucos a extinguia. Os filhos se encontravam bem e a paz voltara àquele lar. Todo o ódio em forma de pesadelo, que entre eles se estabelecera, desapareceu. João tomara novos ru- mos profissionais; escolhera para si uma função mais alinhada, onde pudesse tranquilamente cumprir as suas obrigações como pessoa séria e de bom caráter com as suas responsabilidades. Fi- nanceiramente, João Eduardo era um homem com bem menos dinheiro do que antes, mas com uma situação estável, buscando respeitar com dignidade as coisas alheias e a si, e também a compactuar com as pessoas mais simples a sua atenção e os seus gestos solidários. – Hoje eu tenho de ir ao centro espírita mais cedo, porque haverá uma reunião importante. Você irá comigo hoje, Izabel? – Sim, quando quiser e como quiser, meu senhor. A Casa de Caridade A cada duas semanas, às quartas-feiras, as sessões eram feitas somente com a classe mediúnica, onde, além da presença, ou melhor, do contato com os Espíritos, havia um tempo para fazerem leitura e explanação de bons livros espíritas. Era um conceito de busca de conhecimentos numa ciência profunda- mente tentadora, que em sua beleza se ocultava como em mati- zes. Assim também os espíritos com pouco conhecimento, como por exemplo, Lídia, também poderiam desfrutar daquele bom aprendizado. Após leituras feitas e com a presença das Entidades Espirituais, poderiam ser feitas perguntas para esclarecimentos pessoais. Médiuns e mentores se dispunham a dar todas as explicações. – Irmão, onde moram os espíritos? – perguntou João Eduardo. 173
  • 174. – Assim como disse o nosso Mestre Jesus, existem mui- tas moradas, meu irmão, que estão de acordo com a compreen- são de cada espírito. Existem lugares maravilhosos, lugares ame- nos e lugares horríveis, de muito sofrimento. – E como fazer para que um espírito mau se torne bom? – indagou Izabel, mas antes que o mentor pudesse res- ponder, uma senhora que ali estava, rapidamente virou-se e disse: – Louvado seja o nome do Senhor Deus! Eu sou Lídia, necessito do perdão de vocês dois para que possa alcançar os meus objetivos e as graças divinas. A senhora, tomada pelo espírito, se põe a chorar. Era Lídia! – Por Deus, perdoem-me! A minha morada ainda é um pouco distante e se tornará próxima de Deus através do perdão de ambos, e minha caminhada se tornará mais suave – Não lhe perdoamos só uma vez minha querida irmã, como lhe perdoamos quantas vezes forem necessárias – res- ponde Izabel, carinhosamente. – Que Deus lhe fortaleça em seu novo caminho rumo à Espiritualidade. Lhe pedimos que nos perdoe também. – Me perdoe Lídia – diz João Eduardo, – pois tudo não passou de um mal-entendido. Minha irmã, eu realmente fui egoísta, só me preocupando com o meu bem-estar. Em seguida, aquela senhora é tomada por um grito tão piedoso que algumas pessoas se assustaram e, entre elas, além de João, Izabel e o mentor, todos viram que uma mulher jovem – Lídia – levantara seus braços abertos, glorificando a Deus pelo perdão tão rápido. Em meio ao testemunho, as pessoas começaram a ouvir uma suave melodia de louvor a Deus, que saía dos lábios de uma das pessoas ali presentes. – Mais uma vez a vitória. Mais uma vez, Lídia, em sua mutação, de espírito rebelde torna-se um espírito bom – diz o mentor a todos. Pela pergunta que a mim fizestes, irmão, creio 174
  • 175. não ser necessária a minha resposta, mas posso lhe afirmar que, a partir de agora, Lídia estará em boa companhia, pois sua ma- mãe estará com ela como assim sempre desejou tê-la como eter- na companheira. Vá com estes irmãos maravilhosos e dedicados e também com a presença de Deus altíssimo, Lídia. Deus real- mente não tem nenhum filho a perder, todos têm chances de voltar para Ele. Quaisquer Entidades podem conduzir o espírito para o lado do bem, com amor e dedicação. O amor e o perdão são as mais eficazes das armas. Não há nada melhor para comba- ter o mal do que o amor, pois o mal é sinônimo de ódio, de revolta, de violência e de terror. Esses sentimentos ruins afetam tanto o plano material, quanto o espiritual. Mas o amor, sinôni- mo do bem, o Grande Criador deixou para reger o nosso Univer- so que está aí, completo em seus planetas e em suas galáxias. Com suas estrelas, com seus astros e com toda a Criação que o nosso Pai Eterno nos deixou, além de sua generosidade em multiplicar os alimentos, a água em abundância e o oxigênio, que carinhosa- mente chamamos de o “Hálito de Deus” e tantas outras generosi- dades. No plano espiritual nós vivemos em plena evolução, prin- cipalmente quando temos a oportunidade de trabalhar com as nossas energias em prol do próximo. E quando ainda somos pou- co esclarecidos, passamos por estágios, que nada mais são do que o nosso regresso ao mundo de expiações, assim chamado por nós, pois somos nós mesmos que nos condenamos a reencarnar, e pe- dimos para voltar para, aqui em Terra, poder resgatar as nossas dívidas de vidas passadas. É como uma duplicata que você tem de pagar ao seu credor. Por isso aqui, no plano terrestre, nunca so- mos totalmente felizes, somos inseguros com o dia de amanhã. – É a isso que chamamos de reencarnação? – Exatamente. A reencarnação é o ressurgimento do es- pírito, como as sementes que brotam e renascem sobre a terra. A morte é um fenômeno natural, a passagem para a outra vida, 175
  • 176. a liberdade do espírito. Assim como a reencarnação é a passa- gem para a expiação. Aqui, neste plano, os espíritos encarnados sofrem pela insegurança e necessidade de obter bens materiais para a con- tinuação da vida, tida como preciosa. Todos amam a vida porque ela oferece a oportunidade de resgatar dividas anteri- ores, os espíritos encarnados têm este instinto e sentem o receio da morte e querem viver vários anos, por terem aqui na Terra a grande oportunidade de se resignar. Portanto, quanto mais tempo ficamos presos ao corpo físico, mais se tem a oportunidade do resgate. Mas mesmo assim há limites, devido ao peso da carne. Aqui, no plano espiritual, nós nos tornamos mais leves, porque deixamos a roupagem que nos oprime (o corpo físico). Tanto é que, ao chegarmos aqui, de volta no mundo espiritual de forma natural, nós, em nosso subconsciente, sorri- mos, ao passo que, ao chegarmos aqui em Terra pela reencarna- ção, ao nascermos, choramos. Nesse momento, Isabel faz uma pergunta ao irmão espiritual. – E você, irmão, deve ser um espírito de muita luz! Ainda haverá a necessidade de você reencarnar e voltar para este plano? – Tenho me dedicado muito para que não haja mais essa necessidade, pois reencarnar, para nós, é como a morte no plano físico. Quanto mais trabalhamos, mais queremos trabalhar, porque é pelo labor que conseguimos erguer a ban- deira da paz e do amor, em prol dos nossos semelhantes e da evolução. Trabalho não por mim, somente. Trabalhamos por nós, incansavelmente, por toda a eternidade. Essa é a ebuli- ção do Universo. Somos energia, minha irmã, e desejamos que um dia o Universo seja totalmente iluminado pela compre- ensão. Quanto a reencarnar, só se eu regredir em minhas ações. Pode ser até que eu esteja na fase angelical, e isso é imutável. 176
  • 177. Mas, se eu regredir, o meu tempo de estada como reencarnado poderá ser de um segundo apenas, uns meses ou poucos anos, como também poderá ser de vários e vários anos. Isso depende dos meus próprios conceitos, ou seja, dos meus atos, de minha livre escolha. Você entendeu minha irmã? – Ainda estou confusa. – Observe que aqui, neste plano físico, milhares de seres humanos retornam em suas passagens de volta ao plano espiritual diariamente. Adultos, crianças, idosos e adolescentes. Isso porque a reencarnação tem um tempo de expiação, ou um prazo de validade. Como diz a palavra de Deus, “O fruto será colhido em seu devido tempo”. – Ainda estou um pouco confusa, irmão. – Vou lhe dar um exemplo: se você contrai uma pe- quena dívida, você vai pagá-la mais rápido. Por quê? Porque ela ainda está pequena. Porém, se a sua dívida for grande, certamente que se puder você pagará, caso contrário, você levará um tempo maior para quitá-la. Quando uma criança morre, é exatamente porque em sua vida passada só existia uma pequena dívida, ou seja, um pequeno carma para o seu resgate, ou para a sua volta à Espiritualidade. – Irmão, agora compreendo como a obra de Deus é perfeita e cheia de graça! – Sim, irmã, e olha que só conhecemos um milésimo dessa perfeição. Imagine o restante! São coisas que na graça de nossos pensamentos nem há como alcançar. O bom José e João Eduardo Terminada a sessão, João se sente envergonhado de perguntar ao médium Lázaro ou ao mentor a respeito de sua saúde, pois, ainda frágil em seu pensamento, uma gotinha de medo rondava sua fé, que não era totalmente convicta. Seu 177
  • 178. retorno ao médico fora marcado para o dia seguinte e, a partir dali, João contava cada hora que se passava, permitindo em si que uma pequena amargura lhe corroesse. Ao saírem do centro espírita, João e Izabel foram acompanhados até o veículo pelo irmão José, o bom José, que havia percebido no semblante de João que ele não se sentia bem, pois escondia alguma amargura. – João, não me negue. Diga-me, por favor, Por que você está permitindo que essa angústia lhe tome? Não, não é possível meu irmão, que por um pequeno deslize você jogue a sua felicidade fora, isso é inadmissível! João não manifestara o seu temor a Izabel para que ela não se preocupasse. O que ele não queria também é que alguém jamais soubesse de sua particular incredulidade. João Eduardo não conseguia assimilar para si que o seu problema era o que popularmente se chama de “encosto” e, em seu conceito, o afas- tamento do espírito obsessor não iria lhe trazer a cura de seu corpo físico. Ainda havia em João um pequeno sinal de des- crença; não quanto à Espiritualidade, mas quanto à duração de sua vida neste plano. – Perdoe-me, meu bom José. Eu sei que é tentação ou ignorância minha, por isso peço ao senhor que me ajude. – Acalme-se, meu bom rapaz, que tudo dará certo. Confie em Deus. Izabel, entremeada em lágrimas, sorri e abraça João Eduardo ternamente, dizendo-lhe: – Meu grande esposo, o nosso carma ainda está muito pesado. Com o que aprendi há pouco com o nosso mentor, temos uma dívida dolosa para resgatar, por isso viveremos até nossa total velhice. O nosso bom José é quem pode nos dizer também quanto a esse nosso carma. – Tenha fé, meu filho. Que tenha a sua fé a dimensão de uma semente de mostarda, não importa. Tu e tua compa- 178
  • 179. nheira sigam os teus caminhos na paz do Senhor, nosso Deus. Não se preocupem, vão em paz. Ao ouvir aquelas palavras do bom José, João Eduar- do sentiu-se mais confiante, tranquilo e com uma expressão de sorriso na face, pois adorava quando seu bom amigo lhe passava alguma mensagem. Isso lhe confortava. Já sozinho, João se perguntava: – Será que estou curado mesmo ou o meu problema é psíquico? Ou será que eles estão me escondendo a verdade para que eu não me desespere? O que será meu Deus? Será que o pessoal do centro está mentindo para que eu não caia em desespero? O espírito transmissor deixa transparecer a doença no corpo, na alma ou no psiquismo. É o que todos da casa de caridade dizem a João Eduardo e Izabel. Quando surge no corpo, a medicina consegue diag- nosticar por intermédio de exames avançados como radio- grafias, ultrassonografias e ressonâncias, que buscam tumores benignos, malignos e tantas outras enfermidades. Mas se o pro- blema estiver na alma, o espírito que causa obsessões transmite à sua vítima, por meio de ilusões, uma variedade imensa de acha- ques, trazendo-lhe uma série de sintomas. Isso torna a vítima desses espíritos perturbadores muita agressiva, podendo, em al- gumas dessas situações, levarem-no a uma enfermidade desco- nhecida pela medicina. É o que comumente acontece. Citemos como exemplo o caso de João Eduardo, quan- do auxiliado pela Espiritualidade. Se a pessoa possuída, seja por incredulidade, falta de orientação ou desconhecimento não bus- car socorro para iluminar sua aura, certamente que com o tem- po o seu corpo se tornará morada de espíritos sugadores ou vampirescos, que nada mais são que energias de baixa frequência, que acreditam que só podem sobreviver dessa forma, sugando a energia alheia. E quando a situação se entrelaça nesse sentido, fica quase impossível a recuperação da pessoa que está sendo 179
  • 180. obsedada. O “encosto”, afeta o paciente ou vítima de tal forma, que em muitos casos a vítima começa a declinar psíquica e fi- nanceiramente, e até no convívio familiar e de amigos. Outros passam a usar drogas e bebidas alcoólicas em excesso e a agredir fisicamente as pessoas. Existem médicos, advogados, intelectu- ais ou outros, morando nas ruas, embaixo das pontes ou em hospícios, sem que haja uma explicação coerente ou convincen- te de psiquiatras de renome para esse tipo de comportamen- to, pois no cérebro do paciente não consta nenhum tipo de le- são, sendo que esses problemas ou anomalias são causados pelos chamados “encostos”. Mas no caso de nosso amigo João, mesmo ainda estan- do um pouco descrente, há sim grandes possibilidades de cura. Retirou-se dele o espírito que o obsedava, conduzindo essa frá- gil criatura para outras esferas evolutivas, onde terá novas opor- tunidades de superar as suas próprias sombras. Cuidar de um espírito como Lídia requer paciência e muita dedicação. Em Sintonia com o Divino e com a Natureza Acreditamos que estar em sintonia com a Natureza é estar em harmonia com o “Onipotente”. Os elementos da Natureza – água, terra, fogo e ar – são primordiais para nossas vidas, acreditem! Os vegetais, em sua grande variedade, nos são úteis devido a grandes fontes energéticas que possuem. A vela simboliza o sol ou o fogo; Usamos as velas por causa do fogo, pois fogo é luz, que ao resplandecer nos serve como ponto referencial. Como dizem, “Uma luz no fim do túnel” ou a “estre- la guia”. Onde há uma vela acesa, o ambiente se torna purificado, pois o calor da mesma mantém aquele local livre de bactérias, e os trabalhos espirituais seguem envoltos em energias boas ou ruins, de acordo com quem os estiver conduzindo. Se tudo o que há 180
  • 181. aqui, neste orbe, é dádiva de Deus, por que não utilizarmos o que Ele nos emana? Vejamos a importância das ervas, em conjunto aos quatros elementos da natureza. As Ervas As ervas são ricas em clorofila e outras substâncias fornecidas pelos quatros elementos da Natureza. João Eduar- do, em uma das sessões, pergunta ao Irmão Lázaro sobre a utilização das ervas nos trabalhos. – O Senhor e as entidades, irmão Lázaro, se utilizam de instrumentos como velas, águas e ervas, para captar for- ças positivas. Por que isso se faz necessário aqui, nesta casa de caridade, se em outras denominações o que basta são as ora- ções, dízimos e ofertas? – Cada lugar tem o seu culto, o seu ritual, a sua liturgia. Em todas as denominações, os dirigentes, quando bem in- tencionados em suas progressões, tudo o que ali por ele for utilizado tem a sua eficácia. Em nosso caso, sabemos que. quando nós, seres humanos, ingerimos verduras e ervas cru- as conquistamos um grande benefício, tanto para o corpo material, quanto para o corpo astral, ou seja, nossas aura ou corpo astral também são beneficiados com os alimentos, chás e banhos com ervas. Os nossos antepassados, digo, avós e bisavós e também os índios e os velhos africanos, fervorosos no curandeirismo, usavam e recomendavam as ervas não somente para banhos e plasmas como também em forma de chás, sucos de ervas e tam- bém a ingestão das raízes, acreditando eles que as ervas fossem o meio mais eficaz para a manutenção da saúde. E, logicamente, eles estavam corretos em seu pensar e em suas ações, pois na época a medicina era algo muitíssimo raro. Quanto às pesquisas 181
  • 182. da medicina em relação à utilização de ervas, já há comprova- ções positivas em relação à teoria das antigas vovós. Os Quatro Elementos Água A água das nascentes, como também a que nos chega por intermédio das chuvas, nos traz energias primorosas. Os trovões, magníficos, ao anunciarem a chegada das águas pro- vindas dos céus, avisam que uma chuva cairá para lavar a terra e penetrar em suas entranhas. Ao anunciarem as águas, às vezes surgem vozes que ressoam os seus martírios... Vozes que cantam a benevolência trazida pelas águas. O trovão, aos quais nossos irmãos indígenas dão à antonomásia de “deus”... Faz-se natural que o digam assim: “deus-trovão”, pois realmente não é ele o pai supremo que eles se referem, porém, uma essência abas- tada em alento. A água, em sua composição, contém ferro, fosfato, enxofre, magnésio e outros nutrientes. É ela que sustenta as nossas vidas. Isso se pode observar em nosso próprio corpo físico, cuja maior quantidade é composta de líquidos. Assim também é a composição de nosso planeta: 70% do nosso Glo- bo Terrestre é composto de água. Fogo O fogo, por meio do aquecimento do sol, em sua per- feição e grandiosidade está colocado a uma distância estraté- gica, para que nós, seres humanos, não sejamos sucumbidos. Ele é o nosso condutor de energia, a nossa estrela de quinta gran- deza. 182
  • 183. O fogo saído de uma lareira, ateado em uma mata... O fogo que surge do centro da terra, que esparge dos vulcões. O fogo aceso de uma vela. Vejamos o quanto o fogo destrói, mas o que ele tam- bém constrói, mesmo destruindo. O fogo destrói bactérias e é a própria luz! Mesmo rigoroso, nos é benevolente, pois nos ilu- mina nas trevas. Ele nos aquece do triste frio do corpo e da alma. O fogo, em sua luz nos resplandece, nos guia como uma estrela, nos encaminhando para a vida eterna. Este é o monologo do fogo Onde houver uma vela acesa, tudo ao seu redor esta- rá quimicamente esterilizado; ao seu redor não permanece ou não sobrevive nenhum inseto, tudo flui bem, pois, ao vê-la acesa em fogo, a nossa certeza é de um ambiente purificado. E, em nosso caso, o simbolizo em almas benfazejas. Terra Muito interessante quando chamamos a terra como mãe, a nossa mãe. Isso é algo extremamente belo, pois a nos- sa composição física é semelhante à dela e para ela todo ser vivo volta mesmo em cinzas. Os mesmos elementos que a terra possui o corpo físico também tem. Há entre nós um termo perfeito quando dizemos que a terra nos alimenta. Sim. É pura- mente verdade, pois como bem sabemos, carecemos de seus nutrientes, dos grãos às frutas, de espécimes vegetais e animais, tudo para a sobrevivência de nossos corpos físicos, ajudando assim, o ciclo da nossa evolução! Quando o espírito parte de volta ao plano espiritual, devolve à terra o que dela utilizou em forma de pó ou cinzas, reciclados ou reutilizados como fertilizante. Frase do célebre químico francês Lavoisier: “Na Natu- 183
  • 184. reza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Isso é mui- to perfeito e filosófico. Em nosso planeta, tudo se permite quando há a junção dos quatro elementos: fogo, terra, água e ar em perfeita harmonia, fazendo parte ativa da composição ou do milagre da colheita (arroz, feijão, milho, soja etc.). Ar – Oxigênio O oxigênio tem o sufixo “GÊNIO”. Quem sabe não seja um ar libertino formado por gases de ectoplasmas, pois gênios, no mundo extrafísico, são os espíritos, que se movi- mentam livremente pelo Universo, redundando numa única, extra e genial Energia: Deus. O ar perfeito, o oxigênio, o “há- lito de Deus”. Nós, sem esse ar, não podemos ser coisa alguma! Nem mesmo partícula de nada, pois nem chegaríamos a nascer, por ser ele o principal elemento que, estando ligado à espiritualidade, rege a existência dos seres viventes. Para o Universo, o ar é único, é o “fôlego da vida”. Para se ter uma idéia o feto, durante a estada no útero de sua futura mãe, não tem vida própria, ele depende do ar que ela respira. Mas assim que o feto sai do corpo de sua mãe, a primei- ra coisa que ele precisa é de ar, e é nesse exato momento que se tem a junção do corpo espiritual com o corpo físico ou carnal, para sua sobrevivência. Irmão Lázaro continua com suas explanações – Quem mais respeita a Natureza? A parcela de pes- soas que ainda conserva o bom- senso está se tornando irrisória. Não existem mais índios ou sertanistas que zelem 100% pela Mãe Natureza. O poder e a ganância, a estupidez, o desrespeito e a imoralidade, fazem estada neste mundo. É como cuspir no 184
  • 185. prato que se come. Abusam do autoritarismo, achando que pelo poder e pelo dinheiro, tudo podem. Acreditam ser sábios, mas na verdade são ignorantes e incrédulos. Não sabem que a reencarna- ção é algo notório e lógico, que merece ter um pouco de atenção. Quem sabe, se assim o fizessem, cuidariam um pouco mais do nosso planeta, da nossa Mãe Natureza. É assim o que o ser humano é: insatisfeito e cheio de soberba. Satisfeitos, João e Izabel se despedem marcando uma próxima reunião. Anita em consulta no Centro No pequeno centro espírita havia poucos médiuns, porém, eram pessoas realmente dedicadas e convictas de suas missões. Cumpridoras de suas obrigações, elas ali se encontravam toda vez que era necessário. Eram pessoas que tinham conhecimento da verdadeira riqueza doada por Deus: o amor ao próximo, a solidariedade e o perdão. No centro, João Eduardo encontra sua amiga. – Anita, você vai consultar com alguma entidade? – Sim, João. Hoje estou aqui também à procura de colo e braços para um consolo espiritual. – Você gostaria de se consultar com Mãe Benedita? – Que bom! Gostaria sim. Anita, aproxima-se da médium incorporada Irmã Alzira, uma senhora simples, humilde e de apenas 52 anos, cuja incorporação fizera com que a sua idade se dupli- casse devido ao perispírito daquela sábia negra ex-escra- va, “Irmã Benedita”. Com a proximidade, ela se reerguia em luz por meio de Irmã Alzira, que zelosamente a auxilia- va emprestando-lhe seu corpo, doando-lhe energias, como a quem só pode um anjo ainda em corpo físico. Sem que percebessem, havia entre ambas uma ligação formidável em prol 185
  • 186. das pessoas que ali estavam em busca de prosperidade física e espiritual. Sim, um verdadeiro elo que cresce entre alguns mem- bros da humanidade: o compartilhar. Naquele instante, ali estava Anita, a terceira pessoa. E Mãe Benedita se dirige a ela. – Hum... Minha filha, Deus te abençoe! – Que a sua benção, minha mãe, me sirva de lenitivo. – Filha, você está pensando em tomar uma atitude há um bom tempo, mas não tem coragem suficiente para tal pro- jeto, que é colocar a pessoa a quem tanto ama a prova. Eu lhe afirmo: Essa prova que você exige dele é desnecessária. Esse seu rapaz está para tomar decisões em sua vida, decisões corajosas de um homem de bem, que vêm de encontro ao que você pensa. Digo-lhe, no entanto, que mesmo eu lhe recomendando a não fazer, por não haver necessidade, você fará. – Será mãe? Será que o que estou pensando em dizer a ele vai ser tão ruim assim? – Minha filha, ele está cansado de ser o que é no seu dia-a-dia, em sua vida profissional. E, por outro lado, está deslumbrado com o seu modo de vida, e esse deslumbramen- to chama a atenção de alguém ruim que quer prejudicá-los. Ore bastante por Oscar filha, cuide para que ele não decaia por vi- brações ruins. – Mas porque a senhora me diz dessa forma? Parece querer me resguardar de algo. – Exatamente, porque eu não quero que você fique assustada com algum mal- entendido que você e Oscar pos- sam ter, e que isto venha a lhe aborrecer. Mas não se preocu- pe, pois estaremos sempre ao seu lado. Se acalme que tudo virá a seu tempo, confie em Deus. Anita, muito preocupada com as atitudes que tinha para tomar, percebeu o que aquela mensageira queria lhe passar. – Ouça com atenção filha, e guarde para si tudo o que 186
  • 187. eu lhe disse. – Sim, minha mãe, eu farei o possível. E o meu bebê? A senhora acha que ele está bem? – A aura do seu bebê está ótima. Fique tranquila fi- lha, que nós estamos juntinhos de vocês. Deixe-me benzer o seu corpo com um pouco de arruda para que você possa retornar em paz ao seu lar. Após a benzedura, Mãe Benedita recomenda a Anita tomar alguns banhos de rosa branca apanhada em quintal, pois seria bom para o bebê. Ao chegar em casa, logo lhe vem um sono inexplicável, e ela se deita e adormece. Ao adormecer, seu espírito passa a visitar lugares tranqüilos e interessantes. Nesse seu giro pelo mundo espiritual, Anita encontra com um jovem em apuros. Ao aproximar-se dele, já não o vê mais com esse aspectos, pois ele se modificara em seu físico, parecendo um homem de meia idade, cuja aparência, à primeira vista não iden- tificara nitidamente, mas percebera, ao aproximar-se dele, que se tratava de Oscar, cercado por espíritos malfeitores. Próxima dele estava Mãe Benedita, que usava suas vibrações numa luta exaustiva para livrá-lo daquela baixa frequência. Na verdade, o sonho de Anita, estava concernente à realidade, pois foi revelado em seu sonho o que realmente estava acontecendo com o seu amado. Anita era médium sonambúlica, mesmo sem perceber. Oscar estava sendo envolvido por entidades negativas, exatamente porque o ex-namorado de Anita há muito vinha lutando para reconquistá-la por vingança e ódio, após Anita aban- donar a ideia de reatar o namoro com ele. Apelando para conse- guir obtê-la de volta, não por amor, mas para satisfazer seu ego, ele queria apossar-se de Anita, pois estava ferido em seu orgu- lho. Quando ela quis tê-lo de volta, ele a humilhou de todas as formas possíveis, mas quando ela concluiu que viveria feliz sem ele, então, com seu orgulho ferido, começou a apelar procuran- do templos evangélicos, igrejas, fazendo novenas e até feitiçarias 187
  • 188. com bruxos, tudo na intenção de prejudicar Oscar, pois ele acre- ditava que sem Oscar em seu caminho, tudo ficaria mais fácil. Por isso a dificuldade para Oscar e Anita ficarem juntos, e essas vibrações ruins começaram a fazer um efeito mais eficaz quando Oscar desistiu de Anita para colocá-la à prova. Por esse motivo, Oscar e Anita não conseguiam completar o sonho de ambos de se casarem, sempre havia alguma atrapalhação. Por conta dessas energias ruins, Oscar sentia desanimo para o trabalho, além de outros afazeres que arcara para constituir sua família. Mas Oscar era um homem de boa índole e bem intencio- nado. Na verdade, fora aberta uma fresta em sua aura e ele estava vulnerável àquela energia ruim, por ter um pouco de revolta em seu coração e por algo errado que ele cometera anos atrás. Oscar, já conhecendo um pouco a espiritualidade, começa perceber que não se encontrava bem. Vivia aborrecido e ranzinza, e seu comporta- mento não era aquele que costumava ter. A cada dia manifestava uma nova maneira de se comportar. Aquela energia parecia se mul- tiplicar todos os dias, e Oscar estava abandonando a sua empresa. Ele, que era uma pessoa educada, bem conceituada, coerente e, aci- ma de tudo, humilde. Mas ultimamente se sentia angustiado, so- nolento, com raiva de tudo e de todos e sem interesse por nada. Anita, preocupada com seu sonho e com as atitudes de Oscar, no outro dia, inquieta e tensa, resolve ligar para Oscar para comentar o sonho que tivera com ele na noite passada. – Alô! Como está você Oscar? Está tudo bem? Liguei para o seu trabalho e o senhor Mário falou-me que faz três dias que você não aparece por lá, então, resolvi ligar para você aí em sua casa. Oscar, sem perceber que estava envolvido por energias ru- ins, responde com certa grosseria. – E daí, Anita? O que é que há? Se eu não fui trabalhar é problema meu, somente meu. Será que não posso descansar? Olhe Anita, não me leve a mal, mas vou desligar porque eu estava dormindo e você me acordou. Outra hora a gente 188
  • 189. conversa, está bem assim? – Não desligue Oscar, quero falar-lhe de um sonho que tive com você ontem. Sonhei que você estava sendo envolvido por espíritos ruins. E nessas... – Eu não sabia que você agora estava ficando fanática! Sonho é sonho, Anita! Tchau. – e desliga o telefone. – Meu Deus! O que estará acontecendo com Oscar? Ele nunca agiu dessa maneira! Ainda bem que eu não me casei com esse grosso! Oscar, ao se levantar, faz uma oração costumeira que sua mãe lhe ensinou na infância. Logo após a oração, ele começa a lembrar o que disse a Anita por telefone. Por que teria usado aquelas palavras com ela? Anita queria di- zer-lhe alguma coisa importante, mas a sua rudez não lhe permitiu ouvi-la. Ele fora extremamente bruto com ela. Con- fuso, ele se assustava com os seus próprios gestos. Preocupado com a atitude que teve com Anita, também se sentia feliz. Na verdade não era felicidade, mas sadismo, emanado daquelas más energias enviadas pelo ex-namorado de Anita, tendo como intermediário um feiticeiro mau-caráter. De volta à Mãe Benedita Assim que Anita se aproxima de Mãe Benedita, ela lhe diz: – Pois é, minha filha. Às vezes a gente começa a ter um sonho bom, e esse sonho se transforma e fica ruim. Com a sua sensibilidade, que por sinal se faz muito importante na espiritualidade, sem com que perceba você às vezes consegue ajudar alguém. – Então a senhora sabe do sonho que tive esta semana? Eu estou preocupada. Por isso vim até a senhora para que me socorra com o seu auxílio costumeiro, orientando-me no que melhor eu 189
  • 190. deva fazer para ajudar Oscar. – Veja filha, o que você teve não foi bem um sonho, foi um contato extrafísico ou uma visão. Nós aproveitamos o seu estado de sonolência para requisitarmos o seu espírito para nos ajudar, pois você é o elo entre nós e Oscar, o nosso porta-voz. Você fez uma viagem astral; levamos você para outra dimensão. – E por que eu, mãe Benedita? – Às vezes nós necessitamos trabalhar com o espírito de encarnados. No caso de Oscar, para nós fica mais fácil ajudá- lo, pois a temos como nossa intermediária ou aliada. A sua participação foi fundamental naquele momento, porque o seu bom pensamento e a sua energia são maravilhosos. A sua aura é verdadeira, repleta de pontos contínuos de luz. Nós, do pla- no espiritual, trabalhamos muito bem contigo, minha filha! Agora, lhe peço que me conte sobre a visão que teve com Oscar em sua viagem astral. Isso irá ajudá-lo bastante, para que ele reflita bem e aprenda a se safar dos seus momentos de aflição e se defen- der dos irmãos das baixas esferas no plano inferior, que neste momento tentam envolvê-lo. – A Senhora, Mãe Benedita, disse que gosta de trabalhar comigo, sendo assim, não foi a primeira vez que eu tive a honra de trabalhar com a senhora, não é? E estou muito emocionada; quando precisar de mim e só me chamar, minha mãe, com seu gesto tão carinhoso! Ao dizer aquelas palavras, Anita sente o seu coração acelerar os batimentos, devido à emotividade que sente jun- to de Mãe Benedita, deixando que as lágrimas se derramem em sua face, para que seu lindo rosto e sua alma se refres- quem com elas. Mãe Benedita responde com afeto: – O amor que há entre nós nos faz irmãos, filhos e pais, nos faz Deus! – Nós temos ligações de vidas passadas? Seguramente 190
  • 191. que sim... – Filha. Aqui, nesta vida terrena, siga e cumpra dig- namente a sua missão. Neste plano, a sua caminhada será grande. Viva cada dia de sua vida sempre com intensidade, e faça tudo que tiveres de fazer com total alegria. Auxilie o seu bom amigo e amado Oscar, retirando dele, em nome de Deus, as más influências que tentam obsedá-lo pela magia negra. Essa é a meta do seu destino. No dia seguinte, Anita vai à casa de João Eduardo Anita, em visita ao casal João Eduardo e Izabel, casual- mente (nada é por acaso) se encontra com Oscar. Ela pensa en- tão – “Foi bom encontrá-lo, pois justamente o que eu iria fazer na casa de nossos amigos era pedir ajuda a eles no caso de Oscar, pois me encontro sozinha e sem forças para fazer o que for ne- cessário por ele. Anita já se sentia cansada por causa da gravidez, pois seu corpo se avantajava à medida que o bebê se desenvolvia dentro de seu ventre. Ao chegar à casa de Isabel, estava fatigada com a roupa que usava, pois não estava adequada, apertava-lhe o corpo. Izabel logo percebe que Anita estava inquieta por causa da roupa que estava usando e, não resistindo, pois aquilo lhe incomodava também, pediu-lhe que fossem até o seu quarto, pois queria falar-lhe algo. Ao chegarem, Izabel foi até seu roupeiro e pegou um lindo vestido de gestante, bem solto, leve e muito suave, num tom de azul-celeste que parecia ter sido feito exclu- sivamente para Anita, porque se mesclava à cor de seus olhos. Um vestido que, no corpo de Anita, expressava toda a sua gran- deza de caráter, bondade e beleza de uma mulher digna em con- tribuir com a continuidade da humanidade, gerando um filho cuja alma vinha da vanguarda de espíritos e que resplandecia em luz. 191
  • 192. – Bem amiga, estou aproveitando esta oportunidade para presentear-lhe com algo. Aqui está: Ele é todinho seu, tome. – Para mim? – Diz Anita. – Mas ele é muito bonito e, com certeza, caríssimo! – Teria que ser ele muito bonito para combinar contigo. Você concorda? – É o seu coração quem diz, minha boa e doce amiga. – Você merece! Minha querida, isso é nada diante do que você é em sua dignidade. Gostaria que você o colocasse agora, será que é possível? – Eu coloquei uma roupa pouco adequada para o dia. Estou tão fatigada e alegre com o presente, que farei uso ime- diatamente. Muito obrigada minha amiga, que Deus ilumine o seu carinho. Izabel deixa que sua amiga fique à vontade para trocar de roupa. E, não tardando muito, logo Anita pede para que Izabel entre no quarto para ver como ela ficara. Anita tinha a pele clara, os cabelos levemente castanhos, olhos azuis como o mar, nobre em sua personalidade, estatura mediana, corpo ma- gro. Era uma mulher simples, mas de traços elegantes e expres- são delicada. Ao aproximar-se Izabel se alegra ao ver que ali havia uma majestade em formato mulher. – Anita! Eu gostaria imensamente de... Eu gostaria de ser... Eu gostaria... – Izabel, seja madrinha do meu bebê, por favor! – Era isso mesmo que eu estava tentando pedir-lhe, mas não me encorajava para terminar a frase, pois se eu for madrinha de seu filho, passarei a ser da sua família. – E era isso mesmo o que eu tanto queria, mas nunca tive coragem de pedir. Entregar o meu filho em seus braços para que faças dele um de seus filhos, para mim será uma consagração a Deus. 192
  • 193. Ambas se abraçam e, emotivas, se põem a sorrir e a cho- rar, seguindo ambas para a sala. Uma mulher grávida linda, ao lado de outra mulher maravilhosa, cuja beleza surgia da alma, vinha de dentro, de dentro da alma e envolvia todo o seu corpo físico. Oscar e João sorriem. – Que mulheres lindas! – Oscar! Como Anita é linda! – Sim. A minha, quero dizer, Anita é excepcional! Oscar, ao voltar seus olhos para Anita, pede desculpas a ela. – Perdão Anita, pelo que eu disse. Não se ofenda, pois você sabe que não é do meu feitio ser grosso daquela forma que fui. Anita, ao aproximar-se dele, acaricia seus cabelos e começa a contar para todos os sonhos que tivera com ele. Por outro lado, Oscar conta que, quando Anita lhe telefonou, ele se sentia como que estivesse embriagado, em transe. Com essa sintonia, ele sentia uma sensação de angústia e medo, o ambien- te em sua casa tinha uma atmosfera pesada, tensa, chegando a ser indelicado com Anita. – Há momentos em que sinto desejos estranhos. Sinto que a necessidade do isolamento me faz bem, e que algumas atitudes surgem em meu pensamento para que eu, sem pensar, haja de uma forma irreflexiva, impensada. E sei que essas atitu- des não me pertencem, sinto que algo estranho vaga sobre mim, e que essas energias não são boas. João e Izabel dizem, quase ao mesmo tempo. – Se é assim, iremos todos juntos ao centro espírita. Lá teremos a resposta para tudo isso que está acontecendo com você. Ao dizer a Oscar que iriam todos ao centro espírita, imediatamente ele modifica o seu semblante e, em tom de iro- nia, responde que não haveria necessidade de aborrecer os ir- mãos do plano superior e muito menos os médiuns da casa. 193
  • 194. Mas Izabel insiste. – Oscar, nós estamos notando a sua mudança de comportamento, você está diferente, não é o mes- mo de alguns segundos atrás. Cuide-se, meu amigo, não se per- mita ser envolvido e vencido pelos perseguidores. Pense, algo deve estar errado Oscar. – Creio que não há necessidade. Eu não irei, estou bem. Izabel chama João Eduardo um pouco mais distante de Oscar, dizendo-lhe que seriam padrinhos do bebê. Pede- lhe que ele aproveite esse tempo para convencê-lo. – Oscar, bem, se você não quer se cuidar, se é assim que quer, aceitamos a sua opção. Só que eu gostaria imensa- mente de batizar o bebê, a pedido de Izabel e Anita. Mas não posso aceitar. – Como não pode aceitar? Por que essa desfeita com a gente, que lhe tem tanto apreço? – E você está tendo esse apreço com a gente? Será? Por que você não pode atender a um pedido nosso? – Não, não! Pelo amor de Deus, eu não sei o que estou dizendo. Eu irei sim, até agora, se vocês quiserem e se for necessário. Mas aceite o meu filho como seu afilhado. A mudança repentina no comportamento de Oscar ocorreu porque o seu perispírito, estava mesclado com dois tipos de energia, ou seja, a de seus protetores e a daquela falange, enviada pelo feiticeiro a pedido do ex-namorado de Anita. – Nós já aceitamos o bebê, desde quando fora fecundado. Vocês nos ensinaram a amá-lo. Eu e Izabel nos encontramos com vocês, podemos dizer, na maior de nossas amarguras e, por intermédio de vocês e do meu grande amigo, o nosso bom José, estamos vencendo as nossas batalhas. O que pudermos fazer, nós faremos, pois estamos jun- to com vocês. Lutaremos para fazer o possível e o impossível. 194
  • 195. Os quatro amigos Os quatro amigos seguiram juntos à casa de caridade. Ao entrarem no centro espírita, a maioria das pessoas ali presente per- cebeu que com eles havia também uma sombra. Escura, ruim, que trazia consigo uma atmosfera pesada, envolvida de maus pres- ságios, afinal, os que ali estavam eram sensitivos por trabalharem espiritualmente. Logo se inicia a sessão. Irmão Lázaro era um excelente médium, um homem de 58 anos que passara da juventude até o presente momento a prestar serviços de caridade ao seu próximo. Ele era uma pessoa muito instruída quanto aos trabalhos mais pesados com certos espíritos. Herdara essa bem-aventurança de seu pai, que também já nascera dentro da filosofia espírita. O incrível é que, junto dele, os seus pais constantemente, ainda em visa, colaboravam participando em suas devidas funções. Logo após a abertura da sessão, irmão Lázaro inicia sua palestra. – Meus irmãos, daremos início à nossa sessão de hoje. Vamos pedir a Deus que tenha misericórdia de nós, não permi- tindo que as energias densas venham nos tentar. Pedimos a pre- sença de todas as correntes que nos prestam socorro, dos benevo- lentes anjos salutares, aos guerreiros que lutam em prol da paz. Bendito e louvado seja o nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Pedimos a presença de nossos Caboclos, Pretos-Velhos, Baianos, Boiadeiros e Exus, e todos os espíritos de luz para nos proteger. Amém. Em seguida, o médium Lázaro inicia uma linda oração chamada “Prece de Cáritas”, mundialmente conhecida. “Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade, dai a força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que procura a verdade; ponde no coração do homem a compaixão e a caridade! 195
  • 196. Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação, ao doente o repouso. Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a ver- dade, à criança o guia, e ao órfão o pai! Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não co- nhece, esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bonda- de permita aos espíritos consoladores derramarem por toda a parte a paz, a esperança e a fé. Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abra- sar a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão. E um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de reconhecimento e de amor. Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos com os braços abertos, oh! Poder, oh! Bondade, oh! Beleza, oh! Perfeição e queremos de alguma sorte merecer a Vossa Divina Misericórdia. Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, a fim de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o es- pelho onde se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem”. Assim Seja. Esta prece, denominada “de Cáritas”, tem sido queri- da e contritamente orada por várias gerações de espíritas. Cáritas era um espírito que se comunicava por meio de uma das gran- 196
  • 197. des médiuns de sua época, Madame W. Krell, em um grupo de Bordeaux, na França, sendo ela uma das maiores psicógrafas da História do Espiritismo, em especial por transmitir poesias (que se constitui no ácido da psicografia), da lavra de Lamartine, André Chénier, Saint-Beuve e Alfred de Musset, além do próprio Edgard Allan Poe. Na prosa, recebeu ela mensagens de O Espírito da Verdade, Dumas, Larcordaire, Lamennais Pascal, e dos gregos Ésopo e Fenelon. A prece de Cáritas foi psicografada na noite de Natal, 25 de dezembro do ano de 1873, ditada pela suave Cáritas, de quem são, ainda, as comunicações: “Como servir à religião espiritual” e “A esmola espiritual”. – Percebo que hoje, neste recinto, o ar está denso, e que há aqui uma propagação que nos tenta desvanecer ao ímpio. Não, isso jamais se permitirá aqui, porque esta casa é de solida- riedade e caridade, é uma casa de orações. Há em nosso meio um irmão do plano inferior que acaba de ser acorrentado pelos nossos guardiões, e que nos dirá algo. O que aconteceu de interessante naquele dia é que havia um jovem adolescente de nome Henrique, com cerca de 18 anos apenas, que justamente há um mês entrara pela primeira vez naquele local, vindo a ser frequentador assíduo das sessões devido a uma inevitável necessidade, qual se fizera, de ser levado por seus pais para receber auxílio dos irmãos superiores quanto à sua recuperação, pois o uso das drogas vinha definhando a sua carne e o seu espírito. Perfeito! O testemunho todos presenciaram, e tão per- feito fora o testemunho que, após o ocorrido, até o próprio rapaz, ao agradecer a Deus, colocou diante de todos os ali pre- sentes a promessa feita pelos lábios dele próprio, por ficar mara- vilhado com a sólida realidade da existência de Deus e da Espiritualidade, 197
  • 198. Em seguida, irmão Lázaro continua – Em nome de nosso Senhor Jesus eu recorro aos bons mentores, para que tragam neste instante esse espírito obsessor, após as orações de abertura e as cantigas de exaltação aos Guias e Protetores. O pequeno jovem inesperadamente cai ao chão, se re- torcendo em transe como em um ataque de epilepsia, lan- çando um liquido viscoso e de cor esverdeada de sua boca. Algumas pessoas, ao se levantarem de seus assentos para socorrê-lo, deixam os seus pais assustados e se pondo a cho- rar. Logo, ao se aproximar do rapaz, irmão Lázaro pede para que todos dele se afastem, pois não havia nada de errado, a não ser que o que estava se manifestando no jovem era um espírito de baixíssima frequência, conhecido pelos Pretos- Velhos como “quiumba”. Mas esse estava acorrentado, não ha- vendo, portanto, perigo algum. O quiumba começa a falar por meio do jovem Henrique, em meio ao transe. – Seus filhos de uma p..., porque me trouxeram aqui? Eu não suporto este ambiente, sinto náuseas. Irmão Lázaro inicia o processo de doutrinação... – Sendo que os seus sintomas são esses, meu irmão, o que viestes fazer aqui então? – Eu não vim visitar ninguém, simplesmente acom- panhava alguém. E se eu acompanhava a mandado de ou- trem, por que vocês me acorrentaram? – Nossos protetores lhe acorrentaram devido a sua energia ruim, que está muito forte, e isso deve estar afetando muito a quem você faz companhia. –Isso é problema meu e dele, para isso fui muito bem pago. Estou ganhando muita bebida, sangue de animal e ou- tros presentes para ferrá-lo – E quem você está perturbando? – Pergunte ao próprio, e a esta corja de espíritos que 198
  • 199. me trouxeram aqui na marra. Se eu soubesse que daria no que deu, o teria jogado debaixo de um carro, ou teria feito com que ele se atirasse de cima de um viaduto, ou então, poderia provo- car um assalto, aí ele poderia vir comigo para as profundezas do lodo, meu chapa. Eu já fui bandido e matador, mas agora, por eu ter dado uma vacilada, perderei a minha mesada. O quiumba, apontando para Oscar com sadismo e dan- do muitas gargalhadas, continua a falar: – Tudo bem palhaço, a gente se esbarra por aí. Um dia desses, eu te pego de jeito. – Quer dizer que todo esse transtorno que está se pas- sando com nosso irmão Oscar é culpa sua meu irmão? – É isso mesmo! E eu não sou seu irmão! Estou encos- tado nesse homem para acabar com a sua dignidade e também para separá-lo daquela mulher com quem ele pretende casar-se. – E aponta para Anita. – E não vou falar mais nada, quero que se danem. – O quiumba sorria e gritava sarcasticamente. – E podemos saber quem pagou para você fazer tudo isso? O quiumba continuava sorrindo, com sarcasmo. – Cale-se, meu irmão, com as suas ironias, e conte- nos agora! Oscar, ainda envolto por aquela energia, queria ir embora, dizendo que aquilo tudo estava confuso para ele. O que teria ele a ver com aquela galhofa? Ele dizia que tudo não passava de uma grande palhaçada. O mentor da casa que era uma pessoa hábil, e pedia para que Oscar se acalmasse um pouco, obrigando aquele espírito a falar a verdade a respeito do que sabia sobre Oscar. O espírito, por sua vez, sentindo-se acuado, começa a falar, dizendo que quem o mandou perseguir Oscar foi o ex- namorado de Anita, apontando para ela. Normalmente, espíritos dessas esferas não gostam de falar nomes de pessoas encarnadas. Falou também sobre algumas particularidades de Oscar, ou melhor, algo que se 199
  • 200. passava só no pensamento dele. – Eu estou enfiando bobagens na cabeça desse trou- xa, para que ele faça aquela viagem suicida que ele pretende fazer. É! Aquele passeio que os pais dele fizeram e se deram mal... Ele já conhece, não é mesmo seu otário? Oscar tente responder... – O Senhor me perdoe irmão, mas isto já está se tor- nando um transtorno. Chega aqui um espírito à toa, mentiro- so, e começa a dizer essas coisas... Que viagem eu devo fa- zer? Quem sabe seja a influência do médium, por ser muito novinho e ainda não ter a devida experiência, ou melhor, com certeza é à força, pois o pequeno rapaz que quer me ajudar não entende ainda muito bem de mediunidade. E ainda, para com- pletar, fica aí soltando palavras de baixo calão. Enquanto o jovem médium Henrique estava em tran- se com aquele espírito trevoso, Oscar, sem perceber, estava sendo influenciado e quase estava também entrando em transe e na mesma sintonia daquele espírito. Outro comparsa estava ali, exatamente para confundir os médiuns que estavam vibrando em favor de Oscar. Anita tenta acalmá-lo – Mas essa qualidade de espírito você já sabe Oscar, eles são dessa forma. Nesse momento, Irmão Lazaro sussurra para Anita – Minha irmã, Oscar está tomado pela energia que circula en- tre ele e o nosso jovem médium irmão Henrique. – Perdão irmão, eu não tinha percebido. É que estou agindo assim por preocupação. – A sua rejeição pra mim é zero. A viagem a que eu me refiro, é a mesma que os babacas dos seus pais fizeram em um barco há alguns anos. Será que agora você se recorda? Inclusive, eles estão atordoados no espaço, querendo muito lhe pedir que não faça aquela viagem, porque será fatal. Eles também querem lhe pedir perdão pelo que fizeram, por deixa- 200
  • 201. rem você sozinho no mundo com toda aquela responsabilida- de, mas nós cortamos a sua frequência e estamos conseguindo atrapalhar esse contato, porque você nos abriu a guarda seu bobão. Eu e minha gangue não vamos permitir essa aproximação. Quer também que eu fale o nome deles? Ou que carinhosamente eu os chame de “minha pequena Ásia” e “meu grande Habib”? E então? Acredita agora seu babaca? Esse comentário que o espírito das trevas fez abriu de vez os olhos de Oscar, e já se via nitidamente que, em sua composição espiritual, também havia um espírito de luz, es- pecialista em psicologia e que trabalha para o bem, se misturando na comunicação telepática do tal espírito, exata- mente para que Oscar saísse daquele quase transe. E, gritando, Oscar ordena: – Pare! Chega! Já basta. Meu Deus, será que é verda- de? Meus pais viajaram. Na verdade, nunca mais me deram notícias e eu não sabia, até este momento, se estavam vivos ou mortos, tanto que gostaria muito de revê-los, por isso me pas- sou pela cabeça fazer uma viagem para a Áustria. Cheguei até pensar em fazer essa viagem nas mesmas condições em que eles viajaram. O que esse espírito disse, quanto às formas carinhosas com que se tratavam os meus pais, está totalmente correta, certíssima! Meu Deus! Então é tudo verdade! O quiumba, sorrindo, continua a zombar de Oscar. – E não vamos ficar somente por aqui não, – e aponta para Anita – coitada dessa mulher! Sua empresa, onde você tem vári- os empregados à sua disposição, vai ficar nas mãos dela por im- posição sua, e ela, sozinha, vai quebrar a cara! Mas vocês estão tentando estragar os meus planos. Escute aqui seu otário, com seu masoquismo e com nossa ajuda, você já estava quase que disposto e convencido da tal viagem e a abandonar a empresa. Certamente que iria direto pra as profundezas, para eu lhe apre- sentar ao meu chefe. Ele é bem mais poderoso do que eu! 201
  • 202. Irmão Lázaro pergunta ao espírito trevoso – E qual a razão para tudo isso? – Bem, eu ganhei vários presentes para fazer o mal a este palhaço. Já que não tenho mais nada a perder, vou contar a história completa, mas quero em dobro o que ganhei para aban- donar tudo isso. E já vou avisando, não venham com essa histó- ria de que os bons irmãos querem me conduzir para esferas lu- minosas, pois eu quero ficar com o meu chefe. Agora eu per- gunto: Topa o acordo ou não? Bem, eu sei que você vai topar. – Eu fui mandado para acabar com o casamento dele e levá-la de volta ao seu antigo homem. Aquela mulher – e apon- ta novamente para Anita – Ele está com ela em seu coração, mas eu, aos poucos, estava afastando-a dele. – E podemos saber o porquê de tudo isso? – Sim, podem. Se me derem o que eu quero, podem sim. Eu ganhei um bom banquete, que um homem me pa- gou. Inclusive ganharia o dobro após destruí-lo. Por isso eu quero o dobro. – Quem sabe eu ainda consiga, não é mesmo? Enquanto isso, aquele excelente espírito, o psicólogo, com muito esforço e total dedicação continua vibrando, passando mensagens telepáticas para aquele obsessor na intenção de que ele esclarecesse tudo o que se passava com as perturbações de Oscar – Não, meu irmão! Sua estada com o nosso irmão Os- car termina neste momento. – Eu não tenho permissão para falar o nome de quem me mandou. Eu estava quase ganhando esta batalha e vocês me prenderam aqui. Deixem-me ir embora, não gosto deste lugar! Me liberem! Vocês estão me sugando! Se você, irmão babaca, não me pagar, eu volto para cobrar! E quero em sete dias meus presentes Nesse momento, o mentor se manifesta e pede – Siga 202
  • 203. estes irmãos que o levarão a um plano melhor, onde você apren- derá as verdadeiras obras. Quanto ao homem que você está pre- judicando, ele não lhe deve nada e não ira lhe dar nenhum pre- sente relacionado a bens materiais. Ele pode sim, lhe dar exce- lentes presentes: muitas orações para que você entenda que o mal faz mal e o bem faz o bem. – Eu não quero... Tenho um gosto enorme em sofrer e fazer os outros sofrerem. Se um dia eu mudar as minhas idéias, já sei onde posso vir para ser socorrido. Mas agora, tenho de seguir meu destino. Eu quero fazer a minha estada no corpo do cara que me mandou para que eu fizesse o que tentei fazer. Agora por vingança porque a atitude porca desse cara só atrasou o meu lado, ou minha caminhada. Portanto peço que não me atrapalhem, vou voltar para quem me mandou. Conheço o que é causa e efeito ou a lei do retorno. Torno a repetir: esta é a lei do retorno, então, eu tenho esse direito ou meu livre-arbítrio, é ou não é? Eu estou nas trevas, mas conheço bem o sistema, ou melhor, as leis do Universo. – Mas tu sabes, meu irmão, que terás que levar contigo toda a tua energia, e que se colocá-la em seu amigo, o mal volta- rá todo para ele e para você? – Dane-se ele. Não é essa a Lei Superior? Ou a Lei do Universo? Você pensa que está conversando com um babaca? Eu conheço alguma coisa do Mundo Espiritual. Esse “ju- mento” em que estou montado não sabe nada, mas eu? Eu sei o que é bom e o que é ruim. Agora, faça um favor e me solte; prometo que vou embora, vou voltar para quem me mandou. Naquele instante, Henrique, o jovem rapaz, tomado por aquele espírito, levanta o seu semblante para cima e, com um grito piedoso, cai de joelhos prostrado no chão. Imediatamente foram ao socorro daquele jovem que, sonolento e assustado, pedia a presença de seus pais. Logo seus pais se aproximaram dele e, entre lágrimas, acolheram a sua cabeça ao colo.O mentor 203
  • 204. pede aos Exus e outras Entidades para que levem dali todo aquele rastro degradante. Tentaram doutrinar aquele espírito, mas ele estava ainda muito convicto de onde queria ficar e era imaturo. Não era aquela a sua vontade, ou seu tempo e o seu livre-arbí- trio. O fruto ainda não estava maduro, tudo vem a seu tempo. Izabel fala ao mentor sobre Oscar. – Será que agora Os- car ficará bem? – Sim, certamente, desde que ele colabore, tomando alguns banhos com ervas para limpar a sua aura. – Eu irei ajudá-lo. Com os vossos auxílios, Deus nos fortalecerá. – Oscar estará constantemente vigiado. Terá os cuidados de Mãe Benedita e de outros espíritos benevolentes. Ele não poderá ficar sozinho, pois essa casta de espíritos maléfi- cos é traiçoeira. Basta que ganhem mais para voltarem mais for- tes e em número maior. Em seguida, Oscar é conduzido até onde está Mãe Benedita. A entidade lhe dá um passe magnético para lhe transmitir energias boas, envolvendo-o em sua aura, assim como uma ligação, ou seja, um cordão umbilical. Com uma vela acesa na mão direita, ela a circunda sobre sua cabeça para purificar seu corpo astral, passando-lhe algumas reco- mendações: Que ele fizesse orações diárias para estar sempre em sintonia com Deus e com os bons espíritos, pois só assim evitaria a aproximação das energias negativas. Seguem-se os dias. Para Oscar, a sua situação cotidi- ana volta à normalidade. Ele agradece imensamente aos amigos por tê-lo ajudado num momento tão perigoso de sua vida. Alguns dias depois, algo de interessante acontece. Uma manche- te de jornal, estampa a forma estranha como um homem se suicidou. 204
  • 205. “Um homem enlouquecido teria se jogado de seu aparta- mento no terceiro andar” O interessante é que, antes de cometer o suicídio, ele corta a palma de sua mão em forma de uma letra, a letra “K” de “Kiumba”. Quando Anita fica sabendo daquele acontecimento, se surpreende ainda mais ao saber que aquele homem era Frank, o seu ex-namorado – Que coisa horrível! Será que é o que estou pensando ou só coincidência? Coisas da vida... Oscar em visita à Mãe Benedita Oscar teria que voltar à casa de caridade uma vez por semana, durante sete semanas seguidas para fazer uma cor- rente de orações, receber passes e obter orientações de Mãe Benedita, Guia Espiritual da médium Alzira. Como Anita não podia acompanhá-lo todas as sextas-feiras, Oscar pede a João Eduardo que o acompanhe, pois ele se sentia um pouco en- vergonhado e amedrontado. Ao chegarem à casa de caridade, são recebidos por Irmão Lázaro. – Seja bem-vindo Oscar, à nossa casa. – Obrigado, meu irmão, por vossa sensibilidade e por vosso carinho. Deus seja louvado. – Amém. Que Deus prepare o teu coração. Eu peço que você me perdoe, mas dentre o que você veio buscar aqui, existe uma coisa adormecida em seu coração que você provavelmente só irá se lembrar após algumas horas, ou ao sair daqui. – Meu Deus!!! Eu não disse nada a ninguém, mas sabia que teria outra coisa a fazer aqui, e agora, como num estalo eu já sei. Obrigado, farei isso agora mesmo. 205
  • 206. Os olhos de Oscar correm em todas as direções no inte- riores da casa espírita, porém, ali não estava a pessoa a quem ele dirigiria suas palavras. – Acalme-se, que o jovem rapaz está por vir. Poucos minutos se passaram e de repente Oscar vê o jovem Henrique. Ele prostra-se diante dele para pedir-lhe desculpas pela grosseria e por sua incredulidade. – Gostaria que você me perdoasse meu pequeno jo- vem, pelo que fiz contigo. Creio que eu estava envolvido por aquela energia ruim. – O mal que estava contigo me foi tão útil e necessário que eu só tenho a agradecer, a Deus e aos mentores desta casa, por permitir que a mim fosse transportado o que havia em sua aura senhor Dr. Oscar, pois só assim me libertei de um sofri- mento ainda maior em minha vida. Até da morte eu me livrei, devido ao que aconteceu conosco naquela sessão. Eu estou feliz, pois renasci! O que tenho a dizer-lhe é que não há porque pedir perdão pela lição que acolhemos para as nossas vidas. Deus nos abençoe, hoje e sempre. Ao ouvir as palavras do rapaz, Oscar ficou sabendo da luta que o jovem vinha enfrentando para salvar-se. Emociona- do, deu um abraço no rapaz e mais uma vez agradeceu-lhe. – Henrique, que Deus em sua infinita bondade e sa- bedoria lhe abençoe. Bem, quero aproveitar a oportunidade, já que somos amigos, para lhe pedir que não me chame mais de Doutor e sim de Oscar, afinal, somos amigos e irmãos na mes- ma fé. Iniciada a sessão, logo Mãe Benedita pede a um Cambone (auxiliar), que lhe traga Oscar, pois ela estava pronta para falar-lhe. – A sua bênção, Mãe Benedita. – Que Pai Oxalá lhe abençoe, meu filho. – Então minha Mãe, esse encosto veio mandado? 206
  • 207. – Certamente, filho! – Mas por que minha Mãe, se eu não faço mal a nin- guém? Por que essas perseguições? – Bem, meu filho, alguma coisa errada se passou com você para estar assim vulnerável, pois as energias ruins só se apro- ximam de quem esta vulnerável, ou melhor, você deve ter feito algo errado e isso abriu uma brecha no seu perispírito. Quando o ser humano busca ser correto esses espíritos têm pouquíssimo acesso, não chegando a afetar o cotidiano das pessoas. Isso por- que, estando em sintonia com seus guardiões, não fica vulnerável às energias ruins. Pense, examine a sua consciência. Faça uma pequena regressão voltando no tempo, assim você conseguirá saber se fez ou não algo prejudicial a alguém a ponto de prejudicá-lo. Eu sei que neste momento você se sente confu- so, mas acredite, tudo ficará claro para você, pois o tempo é sábio e o nosso bom Deus é Supremo. – As vossas palavras são reconfortantes e me trazem uma segurança muito grande, minha Mãe. A senhora é muito sabia. – É, filho... Realmente eu devo ter aprendido alguma coisa nessa minha vida espiritual, porque junto a mim, além de excelentes mestres e bons livros que são plasmados para que possamos aprender, Deus me deu vocês também, para que eu possa compartilhar o pouco que sei e o muito que ainda tenho a aprender. Agora vá em paz, com Deus diante de seus passos. E tenha fé, pois tudo ficará bem, você verá. Terminada a sessão, Oscar, antes de despedir-se de João, é logo convidado por ele para ir até sua casa. Ao chega- rem à casa de João, os dois e Izabel comentam sobre o acon- tecimento da semana anterior. Faltara Anita naquele dia, e Izabel telefonara para saber se estava tudo bem com ela. – Alô! Sim, sou eu, Anita! – Posso saber o que você está fazendo em casa às oito 207
  • 208. horas da noite, com um calor tão forte como esse? – Estou só morta de vontade de sair de casa para tomar um sorvete. – Eu tenho sorvete aqui em casa, de vários sabores. – Menos um que é o que eu mais gosto... – E eu posso saber qual é? – É de salada de frutas. – Pois eu tenho. É uma pena você não estar aqui conosco para saborear o delicioso sorvete de salada de frutas, e se você não vir logo, acabarei com seu sorvete. – Sim, é uma pena. E agora aumentou mais ainda a vontade! Mas vou dormir e logo esquecerei. – Mas você tem coragem de me dizer isso? Não senhora, Oscar e João irão aí nesse instante para buscá-la, está bem? – Verdade? Mas ficará muito tarde, deixemos para uma próxima oportunidade, sim? – Não, você pode muito bem dormir aqui em casa. – Não Izabel, eu nunca fiz isso em minha vida, tenho vergonha... – Você, além de minha irmã é minha protetora, e tam- bém a minha querida comadre. Você Já se esqueceu que agora somos uma família? – Você tem o dom de convencer Isabel, até já. – João e Oscar, eu fiz uma loucura! Aqui em casa eu não tenho sorvete de salada de frutas! E agora? – Não se preocupe, eu sei onde encontrar. Irei buscar agora mesmo. – Bem... Então, eu e Izabel poderemos ir buscar Anita. O que você acha Izabel? – Eu acho uma ótima idéia, mas vão vocês, enquanto eu dou umas ordens na cozinha. Correu tudo bem naquela noite. Oscar conseguiu o sor- vete e João pegou Anita em sua casa. E só depois de fartada com 208
  • 209. o sorvete é que Anita ficou sabendo da façanha de Izabel. Todos sorriram alegres por estarem bem espiritualmente. Izabel, na intenção de ver o casal unido não perde tempo, convida a amiga Anita para jantar. Marcam para quinta-feira, às 19h. No bate papo entre os dois casais, Oscar comenta o que Mãe Benedita lhe disse sobre o exame de consciência que ele deveria fazer para não ficar vulnerável. Acreditava ele não ter nada de tão grave em sua vida, a não ser o que fizera com Anita. Aí sim, estaria com as sequelas do remorso. – Ninguém melhor do que nosso irmão Lázaro para nos ajudar nesta tarefa – comenta João Eduardo. Então vamos amanhã até a casa dele! – afirma Anita. Na casa de Irmão Lázaro – Bem, Oscar, primeiro vamos ligar o nosso pensa- mento a Deus em oração, pedindo-Lhe que conduza até nós um raio de luz e de sabedoria do local habitado por Mãe Benedita e os bons espíritos, para obtermos deles o auxílio de que necessitamos. Após algumas preces, irmão Lázaro pede a Oscar que reflita sobre tudo que fez durante os últimos anos de sua vida, todas as atitudes que ele imaginava serem boas e ruins. Pede para que todos ali presentes fiquem em silêncio absoluto e com os olhos fechados, para que Oscar pudesse refletir e fazer uma via- gem em seu íntimo. Poucos minutos depois, aproxima-se daquele ambiente um espírito com prática na técnica em conduzir as pessoas à hipnose. Oscar, em transe provocado pela hipnose, começa a se transportar e a narrar o que sentia em um lugar que, aos poucos, ele percebe tratar-se de uma clínica. Ali, há duas enfermeiras e um mé- dico e com eles estava uma paciente. Ao ver o rosto da paciente que estava em uma maca, mesmo com a visão ofuscada Oscar percebera 209
  • 210. que se tratava de uma mulher ainda jovem. Aproximando-se mais dela, Oscar a reconhece. Era Camila, a primeira e única mulher que tivera em toda a sua vida, a mulher com quem conviveu por um ano e meio e, após esse tempo, ele a abandonara porque, para sua decepção, descobrira que ela o havia traído várias vezes, com vários parceiros. Na realidade, Camila o havia traído várias vezes. Porém, ao se separarem, ela levava no ventre um filho e, com a má condição financeira em que se encontrava após se separar de Oscar, revoltada com sua tolice de engravidar fez, aos três meses de gestação, um aborto. Oscar soube, na época em que descobriu a traição de Camila, que ela estava grávida. Queria lhe dar uma nova opor- tunidade, mas não admitia a criança que estava em seu ventre: não a queria grávida de outro homem. Seria assim ou nada. Nesse momento, Oscar volta do transe e Irmão Lázaro lhe faz uma revelação. – Dentro da escala de consanguinidade, aquela criança poderia ser o seu filho. – Como, irmão Lázaro? Ele não tinha o meu sangue, com toda certeza. – Mesmo não sendo seu filho, para nós, que cremos no Plano Espiritual, ser pai ou ser filho vem da afinidade que sentimos por alguém. Tenho certeza que, se fosse nos dias atu- ais, mesmo você estando convicto de que não era um filho seu que ela carregava, mesmo assim, ele já teria conquistado o seu coração. O que tenho a lhe dizer é que hoje você está maduro e preparado para assumir essa falha cometida no passado. E este espírito que sofreu o terror do aborto poderia ter lhe escolhido como um bom pai adotivo. – Mas se por ventura eu me corrigir, esse espírito será o mesmo que foi abortado? – Isso não se sabe, ele já pode ter reencarnado. Mas a 210
  • 211. revelação virá do alto, porque, pela lógica e segundo o que estu- damos, se ele escolheu a Camila para ser sua mãe, aguardará uma nova oportunidade. Quanto a você, esteja certo de que se isso vier a acontecer, deverá recebê-lo de braços abertos, porque já está determinado. Pai não é o que concebe, mas aquele que cria e que doa o amor. – Meu Deus! Eu ajudei e incentivei a interromper uma vida! Estou muito envergonhado diante de todos vocês, princi- palmente de você, Anita. – Oscar, você quer falar sobre isso na frente de todos ou prefere ficar a sós com nosso irmão Lazaro? – Não tenho nada a esconder Anita, por favor, fiquem aqui comigo. Irmão Lázaro explica a Oscar e aos demais que ali estavam as consequências de um aborto. – Não sei, mas gostaria que você e João Eduardo ou- vissem, porque estou muito frágil para suportar mais um acon- tecimento comigo –, pede Oscar a Anita. – Por favor, fiquem comigo. – Não se preocupe, eu e João Eduardo ficaremos juntinhos de você. A sua dor e a sua resolução serão nossas também. A história de Oscar e Camila – Camila. Nós estamos namorando há dois meses, só que hoje tenho uma notícia ruim pra lhe dar. – E você pode me adiantar qual é a notícia? – Sim. Hoje, um rapaz cujo nome é Gustavo me procurou, pois queria falar-me. Pedi a ele que esperasse um pouco por estar muito atarefado, não podendo deixar as minhas obri- gações naquele instante. Ele me respondeu que esperaria o tem- po que fosse necessário, pois era inadiável o que tinha a me dizer 211
  • 212. e o assunto tratava de você, Camila. Quando ele se expressou dessa forma, fiquei curioso, deixando os afazeres para ouvi-lo. As poucas palavras que ouvi do rapaz foram suficientes para eu ficar num estado psicológico péssimo. – Mas o que ele disse de tão sério? – Ele me disse que é seu amante, e que precisava de dinheiro para não me incomodar e nos deixar em paz – Mas isso não é verdade Oscar! Ele lhe disse isso para ter- me de volta, e eu não o quero mais. Por favor, acredite em mim! A partir daquele dia, o rapaz não foi mais procurá-lo, mas mesmo assim, Oscar não acreditava na fidelidade de Camila e não confiava mais em suas palavras. Só pairavam em sua cabe- ça dúvidas e mentiras por parte dela. A vida de ambos estava em desordem total, e tentavam a cada dia que se findava modificar o que acontecia entre ambos, mas nunca as coisas acabavam bem, uma neurose os perturbava. Um ano e meio depois, numa manhã de domingo, Oscar, ao sair de sua casa, deparou-se com o rapaz, que lhe pediu um instante de atenção para dizer-lhe que Camila esta- va grávida de três meses, e que o filho não era de Oscar. Ela escondia a verdade para não perder o conforto financeiro que Oscar lhe proporcionava. Ao mesmo tempo ela tinha dinhei- ro suficiente para sustentar seu outro amante, que era o pai do filho que Camila carregava em sua barriga. Gustavo comentou com ironia para provocar Oscar. – Camila, o tal Gustavo esteve novamente à minha procura para me dizer que você está grávida, e que o filho não é meu. Isso é verdade? Por favor, não me esconda nada! – Por favor, perdoe-me! Eu tenho cometido graves erros com você! Antes de ficar contigo, como você sabe, eu me envolvia com drogas e nessa loucura conheci Gustavo, também viciado. Por algumas vezes ficamos juntos, até que um dia ele desapareceu. Pensei que ele tivesse morrido ou que estivesse 212
  • 213. preso. Quando ele soube que eu tinha mudado o meu estilo de vida e saí da miséria, ele veio à minha procura fazendo-me chan- tagens, inclusive com promessas de lhe fazer mal, Oscar. Para que isso não acontecesse, eu cedi às chantagens dele, até que há três meses eu estive com ele em nosso quarto. Fui forçada a man- ter um relacionamento íntimo com ele em nossa cama. Sarcasti- camente, ele me deixou chorando, e com uma grande ferida no coração. Por um momento, passou-me pela cabeça que eu deve- ria matá-lo, mas não tive coragem. Sinceramente, não sei a quem o filho pertence, se a você ou a ele. Eu tive muito medo que você soubesse. – Você está mentindo, deveria ter me contado a verda- de. Por que tanto mentira? Eu pensei que você me amasse! – É porque ele só vive no meio de vagabundos. Imagi- ne! Um pedido que ele fizesse a eles poderia nos exterminar! – Mas ele diz que você está grávida de um filho dele! – É como eu lhe disse, não sei de quem é esse filho que espero, só sei que tenho sofrido muito com essa situação, e desmoronou tudo novamente. O que me resta agora é sair da sua casa e da sua vida. Assim ficarei mais tranquila Oscar. – Mais uma vez você esta mentindo, porque a minha mãe me disse, por várias vezes que a mulher sempre sabe quem é o pai de seu filho. Ela me dizia isso porque mamãe tinha uma irmã, que na 2ª Grande Guerra fora obrigada a ter relações amorosas com vários soldados. Mas quando ela engravidou, sabia exatamente quem era o pai da criança. Mamãe dizia que a mulher sempre sabe quem é o pai. Eu posso até ficar contigo, só que primeiro temos que dar um jeito de afastar esse rapaz de nós, e depois, pensaremos no que fazer com a sua gestação. Para Oscar, era interessante estar com Camila, uma mulher fisicamente muito atraente. Ele estava cego de pai- xão por Camila e acreditava que venceria essa batalha. 213
  • 214. – Se você me quiser de verdade Oscar, até tiro esta criança. Conheço um lugar bom para fazer o aborto. – Eu topo! Quanto ao aborto, será melhor assim, pois esse filho não é meu. Consiga uma boa clínica, que lhe dê toda a assistência de que você precisar. Eu pago todas as despesas. Logo você estará grávida de um filho meu. Passou-se exatamente uma semana para que tudo fosse resolvido. Lá estava a bela moça, livre de uma deformação física que, segundo ela, fora causada por uma gravidez indesejada. Assim pensava também Oscar. Camila ficou internada na clinica, pois havia tido um início de hemorragia e necessitava de cuida- dos médicos. Essa hemorragia teria sido causada por uma altera- ção de pressão, pela vida desregrada que levava. Esses dois dias de internação foram suficientes para que ela voltasse à vida triste que levava. No dia em que teve alta, quando Oscar foi buscá-la não a encontrou mais. Por várias semanas ele a procurou pelos arredores, mas nada soube da pobre mulher. Só lhe restaram saudades. Oscar, após ter relatado tudo o que acontecera consigo e Camila, deixa o pranto cair em sua face, para, em soluços, pedir auxilio a Deus e orientações a Lázaro, o irmão médium. – Meu irmão! Então aquela criança que estava no ven- tre de Camila seria realmente o meu filho de sangue! Meu Deus! Mesmo que não fosse, hoje eu não agiria dessa forma, eu o teria criado com muito amor e dedicação. Por que teve de ser assim? Olhe só o mal que causei à Camila, a mim e a esse espírito! Estou sentindo-me totalmente perdido, meu irmão. – O principal, diante dessa situação, é o arrependi- mento. – Lázaro cautelosamente lhe responde – Como eu lhe disse, esse espírito, que tentou reencarnar, provavelmente deve estar à espera de uma nova oportunidade para cumprir sua mis- são. Quem sabe? – Então, pode ser o que estou pensando? 214
  • 215. – Não, não é o que você esta pensando. Não é o filho que Anita está esperando, com certeza, não. Esse é fruto do amor entre vocês dois. Esse espírito terá de nascer do ventre de Camila, e o pai biológico não será você. Aquela gestação foi concebida em uma aventura frustrada, que não tinha nada a ver com você, meu irmão. Mas como você participou daquele ato sórdido, a sua própria consciência lhe acusa. O ideal agora é rezar e fazer boas ações, e até lhe recomendo, se um dia puder, a adotar uma criança. – Adotar uma criança? Isso é magnífico! Bem, eu posso e farei de bom grado, mas me parece difícil conseguir adotar uma criança. – Adotar uma criança não é tão difícil, Oscar. – responde Anita. – Só que para Oscar não será tão simples – argumenta Irmão Lázaro. – Mas por quê? – pergunta o amigo João Eduardo. – Porque, para Oscar, o ideal seria que ele adotasse um filho de Camila – explica Anita, tentando entender a situ- ação que Lázaro expôs. – Como é que você sabe disso, Anita? – Eu imaginei que deveria ser assim. Estou certa em pensar dessa forma irmão Lázaro? – Você está correta. Das atitudes de Oscar, essa poderá ser a mais nobre e a que trará a cura total ao seu psiquismo e à sua consciência. – Eu bem que gostaria de saber onde está Camila e a situação em que ela se encontra. A partir do momento em que nos separamos, nunca mais voltamos a nos ver. O que posso fazer é contratar um detetive para encontrá-la. O que penso é que ela não tenha nenhum filho, pois não foi a pri- meira vez que praticou um ato que agora vejo que é sórdido e criminoso. Provavelmente ela até esteja passando por 215
  • 216. privações financeiras. Irmão Lázaro resume a todas aquelas palavras toman- do a seguinte atitude: – Meus irmãos. A ansiedade neste momento é ruim; o ideal é entregar este problema nas mãos do Criador e seus auxili- ares, nossos Espíritos de Luz. Agora, o mais importante é que Oscar tenha esse objetivo pelo arrependimento. – Quem sabe se ela já não pode estar grávida por aí e o destino os colocará frente a frente? Comenta João Eduardo. – É exatamente isso que devemos fazer: aguardar. Logo após, todos se despedem do irmão na promessa de estarem juntos novamente no centro espírita, para a próxi- ma sessão. Ao sair da casa do Irmão Lázaro, Anita faz um convite aos dois amigos para um sorvete, pois desejava uma taça imensa de sorvete de salada de frutas. João pediu-lhes desculpas, dizendo que necessitaria ir à sua casa, na intenção de deixar Anita e Oscar a sós. Na sorveteria – Bem Anita, o que você acha disso tudo? Pelo que disse nosso grande orientador, Irmão Lázaro, necessito adotar um filho de Camila, mas não sei como fazer isso, pois acho quase impossível dar certo. Que Deus me perdoe dizer isso, mas ela deve estar envolvida com aquele camarada. Onde ela estará agora e fazendo o que de sua vida? Na época, ela se envolvera com más amizades, enfim, uma série de motivos que poderiam acarretar problemas à sua vida futura. Mas seja como for, que Deus me ajude, pois tudo deverá vir a seu tempo. – Seja paciente. O que você não pode e nem deve é ter pressa. Se você conseguir encontrar Camila agora, na situação psicológica em que está se encontra neste momento, creio que 216
  • 217. não valha a pena. Se um dia acontecer de encontrá-la, você terá o seu filho, adotivo ou não. Entregue nas mãos de Deus, pois o importante é que ele seja amado, e não somente criado. Mas Oscar se martirizava, pedindo a Anita para ajudá-lo a encontrá-la. Queria observar todos os passos de Camila para evitar que, se ela estivesse grávida, fizesse um novo aborto, pois ele assumiria a paternidade. Ele sabia que, pela cidade não ser tão grande, seria mais fácil encontrá-la. Depois de alguns dias, Oscar contrata um detetive para encontrar Camila. Os dias se passam e nada de Camila, e sua ansiedade fazia com que culpasse o profissional por ainda não ter nenhuma pista de Camila. Realmente Oscar estava inquieto, querendo resolver o quanto antes essa pendência psíquica que muito lhe incomodava. – Oscar! – repreende Anita – Você está ansioso, acal- me-se. Tenha fé, muita fé. Cada coisa a seu tempo! Tenha a certeza que se você tiver que adotar um filho de Camila, ele virá em suas mãos. Confie. Pense que nada há de vir por acaso, assim nos aconselhou o irmão Lázaro. – Bem Anita, que tal então falar de nós dois? Eu gos- taria de saber como você está em relação a mim, se já pode perdoar o meu erro, porque eu desejo sair da condição de amigo e me casar com você. Diz-me, o que preciso fazer para que você confie em mim definitivamente? – Eu lhe disse que preciso de uma prova do seu amor, assim como você fez comigo. Estou grávida e às vezes me sinto angustiada e insegura... Sinto sua falta ao meu lado, para acariciar a mim e ao bebê. – Mas eu tenho implorado a você e a resposta é sempre essa! Gostaria que você também imaginasse a minha situação, longe de você e do meu filho. Por quantas vezes, eu, repousan- do em minha cama, clamo por vocês, e com as mãos fixadas no rosto me ponho a rezar! 217
  • 218. – Eu acredito que realmente você transformou-me num pretexto em sua vida. – Eu lhe prometo não mais falar sobre isso. Saberei vencer esta fase, pois tenho que respeitar os seus modos, porém, não tenho mais como aceitar as suas imposições. Que sejamos feli- zes, cada um o seu modo, não é mesmo? Oscar tomara essa decisão não por medida de defesa ou de rejeição à Anita e ao bebê. Ele reagiu dessa maneira, contudo, teria que dar um basta àquela situação. Anita, por sua vez, se amedrontara realmente com a com a atitude de Oscar. Ela não queria perdê-lo jamais. Imediatamente, solta dos lábios a sua doce sugestão. – Pois bem Oscar, eu vou lhe fazer uma proposta. Será muito difícil para você, mas dessa vez, será tudo ou nada. – Então, pela última vez, diz-me a sua proposta. – Eu não acredito que você passe por esta avaliação, mas vou lhe propor o seguinte: Se você realmente ama a mim e ao meu filho, veja bem, é tudo ou nada. – Está bem Anita, é tudo ou nada agora, por favor, fale. – Compre uma casa modesta para mim, você e nosso filho. Entregue a sua siderúrgica para os seus funcionários, doe os seus bens para as instituições filantrópicas, assim como a Casa de Caridade que frequentamos, e vamos viver uma vida simples, porém, digna para os nossos dias, assim como imaginei ao lhe conhecer, porque, na verdade, eu o tenho como um bom amigo, eu não lhe amo. Na verdade, eu amo aquele Oscar, fun- cionário da siderúrgica. Esse sim, eu amo de todo o meu cora- ção. Torno a repetir quantas vezes forme necessárias: Eu te amo Oscar, do fundo do meu coração, e esse amor que sinto pelo meu Oscar, é muito forte! Ele ultrapassa os limites da minha imaginação, eu vivo com você todos os instantes, Deus é teste- munha. Eu não tenho como lhe explicar, pois é forte demais! Só que eu não consigo lhe ver assim, como se fosse meu senhor, 218
  • 219. quero lhe ver de igual para igual. Lutaremos juntos pela nossa sobrevivência, e saiba Oscar, que você é e sempre será meu ho- mem, meu cúmplice meu amor verdadeiro, pois me abarco em tristeza ao sentir que umas manchas escuras e frias se abatem sobre você. Você para mim é atencioso, amigo e amante. Um perfeito cavalheiro. Sinto-me totalmente segura quando estou contigo, mas lhe vejo como um pássaro aprisionado, em busca de liberdade. Para mim, Oscar, essa sua liberdade é a proposta que lhe faço. Não me responda agora, pense, pois será tudo ou nada. Mas lembre-se de uma coisa, amanhã eu envelhecerei e certamente não serei a mesma. Pense bem, mas seja breve em sua resposta, pois agora é a hora. Ao calar-se, Anita se assusta e por um momento se sente indignada diante da sua coragem em fazer aquela absurda pro- posta a Oscar, pois ele começa a sorrir à sua frente, sem parar nenhum instante. – E você acha Anita? Você acredita em que Anita? – Basta Oscar! Eu já sei a resposta por causa do seu sorriso, que me parece sarcástico! – Não, não basta Anita. – Oscar aproxima-se de Anita e, ao acariciar seus lábios, afaga o seu ventre – Eu estou sorrindo e sorriremos muito, se essa realmente for a sua proposta. – Mas eu posso saber por que o sorriso? – Sim, e lhe darei a resposta de imediato, neste instante, pois, não tenho mais no que pensar. Quando Oscar tenta lhe falar, ela, com suavidade e ternura, coloca os seus lábios ao dele, deixando que o seu perfume o envolvesse, pedindo-lhe que naquele instante não lhe dissesse mais nada porque, diante da sua intuição, aquele seria o seu último beijo. Após um terno e longo beijo, Oscar, ao fixar seus olhos nos de Anita, lhe diz: – E a minha resposta? Como ficamos? 219
  • 220. – Deixe para daqui a alguns dias. É melhor que você pense, não quero lhe perder, pelo menos por hoje. – Não! Não pretendo esperar mais! Oscar se levanta da mesa e pede para que Anita o espere, pois iria buscar algo que estava em seu carro. Sozinha, Anita fica a pensar. – O que será que ele foi fazer no carro? Será que vai embora e me deixará aqui sozi- nha? Que vergonha! Eu acredito que, mesmo que ele não me queira mais, não será capaz de fazer isso comigo, afinal ele é um cavalheiro. O coração de Anita se acelera com a adrenalina que lhe sobe ao corpo. Porém, Oscar não demora, trazendo em suas mãos uma pequena pasta com alguns papéis. – Anita, você fala em doar a empresa para os meus funcionários, para que se torne uma cooperativa. Bem, aqui está o projeto de doação. – Mas o que é isso? Você fez... – Sim. Agora, preste atenção. Eu já imaginava tomar essa decisão, só me faltava o seu empurrão, e este será o pon- tapé inicial. Quanto a eu abrir mão dos meus bens para ter uma vida humilde ao seu lado, para mim será gratificante, porque ficarei ainda mais rico: terei você e nosso filho. Essa será a melhor e maior riqueza da minha vida. Anita estava perplexa diante o que ouvia. Essa foi a maior prova que a vida poderia lhe dar. Parada, olhava no fundo dos olhos de Oscar. Pensou num instante em morrer, pois acreditava que sua missão havia se completado. O seu homem, a sua imagem, o seu reflexo, o seu grande amor! – Meu Deus, Oscar! – Quero que você saiba que lhe amo de verdade, pois você despertou em mim uma nova vida. E mesmo que não queira mais ficar comigo, lhe digo que jamais esquecerei dos nossos momentos. Talvez por não ter tido muita experiência 220
  • 221. no amor, não saiba tratar uma mulher especial como você. Sinto que lhe perdi. Oscar levanta-se da mesa e, ao afastar-se dela, ouve Anita lhe dizer: – Oscar, ouça-me! Ouça-me, por favor! Eu quero me casar com você. Os dois se abraçam e se beijam. As lágrimas de ambos se misturam feito água do mar, deixando-os calados, sublimes. Ambos sorrindo, murmuram – Graças a Deus! – Anita, quanto a eu ter me levantado para ir embora, devo lhe confessar que foi só um blefe ou um dengo. O ventre de Anita se agita. Um medo de que aquelas emoções pudessem atingir o pequeno bebê, fez com que de- cidissem ir até um hospital próximo. No caminho, param em uma floricultura onde, além do proprietário, havia uma fre- guesa, uma senhora de idade um tanto avançada que, se aproximando deles diz – Você está se sentindo bem, filha? – Não, senhora, o bebezinho parece querer nascer antes do tempo. – Não se preocupe filha. Vá para sua casa com o seu companheiro, tome um banho refrescante e tome um chazi- nho bem suave. Não se esqueça filha, de colocar numa vasilha algumas gotas daquela essência que você tem em sua casa. Em curto período você estará bem. Anita ficara surpresa com a atenção e o carinho de uma senhora que mal havia conhecido. Oscar, ouvindo tais palavras, sorriu para a senhora e ambos, ao agradecê-la por sua atenção, perguntam-lhe o nome, pois a senhora se mos- trara ser uma pessoa de Deus, com a sua capacidade de amor ao próximo. – Gostaríamos de saber o seu nome, para guardá-lo em nosso coração. – Engraçado filha, a impressão que tenho é de que eu 221
  • 222. já os conheço. O meu nome é Benedita. Vão em paz, e que Deus os abençoe. Ao se afastarem, já dentro do carro percebem que aque- la senhora, a cada momento que se distanciava deles, parecia tomar uma forma física diferente, assim como uma materialização, ou seja, a transformação de uma pessoa em outra. Anita pede para que Oscar pare o carro alguns metros depois daquela senhora. – Oscar, o nome dela é Benedita, o mesmo nome da Entidade do centro espírita – Mãe Benedita. Inclusive o seu tom de voz me fez lembrá-la. – Anita, olhe para ela! Apesar de distante de nós, ela me parece familiar! Deus seja louvado, afinal, Mãe Benedita é quem esta cuidando de nós. Ao chegarem em casa, já era noite. Anita começa a amedrontar-se com as leves dores que sentia em seu ventre. – Por favor, Anita, vamos ao hospital. – Não, meu amor. Vamos parar por aqui com a nossa incredulidade. Se for para eu morrer agora, estarei feliz e gra- ta a Deus por ter conquistado o maior dos meus sonhos: morrer pertinho de ti. – Não fale assim, meu amor! Anita, próxima de Oscar, desfalece. Enlouquecido, Os- car a coloca na cama e imediatamente telefona para o seu médi- co particular para que ele a socorra. Apoiada em seu colo, Oscar aos gritos é socorrido pela vizinha do apartamento ao lado, que após ver a porta aberta, imediatamente entre para socorrê-los. – Oscar, não se preocupe. Tenha fé em Deus que ela ficará bem – diz a vizinha, Matilde, tentando acalmá-lo. – Eu fui até a cozinha e preparei um pouco de chá, vamos dar a ela. Anita, ao voltar da vertigem, toma um pouco de chá e logo começa a reagir. Ao tocar a campainha, Matilde abre a porta para receber o médico que havia chegado. Depois de 222
  • 223. diagnosticá-la, ele diz: – Oscar, não se preocupe porque Anita e o bebê passam bem. – Mas o que houve com ela Doutor? – Uma pequena queda de pressão, provocada por algu- ma emoção. Isso nós resolveremos com um simples chá. – Nós já demos um chá para ela, há poucos instantes – responde Matilde ao médico. – Então, nada melhor que bom um banho e repouso, isso lhe fará bem. Só não a deixem sozinha. – Muito obrigado Doutor. – Se precisar me chame. Não se importe com a hora. Anita já se encontrava no oitavo mês de gestação. As mudanças que estavam acontecendo em seu corpo lhe inco- modavam, porém, ela suportava com paciência e amor. Os- car, para não deixá-la sozinha, sentava-se a seu lado a observá- la, vendo o quanto estava bela em sua gestação. – Minha querida Anita. Desejo tanto ficar juntinho de você, por toda a minha vida. Quero fazê-la minha companheira, minha esposa, a mulher a quem eu tanto desejo em minha vida! O nosso bebezinho será parecido contigo. Oscar aproxima-se do ventre de Anita e, ao beijá-lo, sorri de uma maneira doce. – Mesmo que você me rejeitasse, sem que percebesse jamais eu sairei de perto de ti. Andaria oculto para lhe proteger, a ti e ao nosso pequeno bebê. Ao dizer aquelas palavras, Oscar, também cansado, pois já eram duas horas da madrugada, sem perceber, adormece ao lado de Anita. O dia amanhece. Anita, ao acordar, percebe que alguém está ao seu lado. Ao verificar que se tratava de Oscar, ela o em- purra da cama. Ele acorda assustado, pois caíra no chão. – Escute aqui meu caro, o que é que você está fazendo em minha cama? Você pode me dizer, senhor Oscar? 223
  • 224. – Perdão Anita, é que eu adormeci. – Mas você tinha que adormecer em minha cama? E onde é que está a sua cama, a sua casa? – Eu não podia deixá-la sozinha, por isso fiquei aqui com você. – Não tem mais nenhuma desculpa. Você queria mesmo era se deitar comigo, e isso eu não permito mais. – Eu estou envergonhado, desculpe-me. A única coisa que fiz foi beijar-te... – Foi beijar o meu ventre e dizer que me amava. – Você ouviu? – Tanto ouvi como também vi e aceitei os seus cari- nhos. Agora, para você dormir comigo, só depois do casa- mento. A não ser que você queira deitar agora por mais um tempinho, aí eu deixo... Oscar imediatamente se deita ao lado de Anita e ambos riem muito depois do susto que Anita dera em Oscar. Em segui- da, se abraçam e se beijam. Certamente que Deus os abençoara naquele instante, pois foi ali, naquele momento, que se consu- mou aquela linda união que entrelaçara ambos. Planos para o casamento – Bem Oscar, eu já escolhi os meus padrinhos. – E quem são eles? – João e Izabel. – Olhe aqui Anita, isso não é correto. Você está roubando os meus padrinhos! – Será que não é você o espertalhão? Mas eu disse pri- meiro, eu ganhei, porque já falei com eles. Você viu como sou mais esperta que você? Não, meu amor, eu não fiz isso. Só estou brincando, não os chamei ainda. Queria primeiro falar com você. – Meus parabéns pela escolha, estou morrendo de inveja. 224
  • 225. Agora terei de abrir mão desse casal? Não é possível! Eu só permitirei que eles sejam seus padrinhos porque tenho em men- te uma dupla maravilhosa. – E quem são? Eu posso saber? – Ainda não sei... Você está muito Curiosa? Acho que vou guardar segredo. Bem, é o nosso irmão Lázaro, que dirige a Casa de Caridade e a médium dona Alzira, que trabalha com Mãe Benedita. – Com certeza estamos bem de padrinhos, só que, pensando bem, acho que deveríamos escolher o irmão Lázaro para consagrar nossa união. – E quem eu poderia escolher no lugar dele? – O senhor José. – Como diz João Eduardo: “o nosso bom José”! – Ótimo! Está fechado! Pistas de Camila – Anita, eu bem sei que a hora não é propícia para lhe dizer, mas há pouco o detetive que contratei para encontrar Camila me telefonou para dizer que já tem uma pista dela. Ele descobriu que ela está presa. – Eu não acredito! E qual foi o motivo? – Pelo que ele ficou sabendo, ela foi acusada de roubo. – Como assim? Roubo de quê? – Ela estava em um restaurante, jantando com um ho- mem. Quando ele foi pagar a conta, a carteira dele não estava mais no bolso do seu paletó, simplesmente havia sumido. Pelo que o detetive contou-me, o homem jamais esperava que fosse Camila. Porém, a falta de sorte dela foi tamanha que, ao apa- nhar do bolso dele para colocar em sua bolsa, a metade da car- teira ficou para fora. Foi aí que, de repente, ele viu a ladra à sua frente, e o jantar acabou na delegacia. 225
  • 226. – E você sabe onde ela está? – Não, eu não sei. O detetive ficou de me ligar assim que souber de algo. Logo em seguida, o telefone toca; era o funcionário de Oscar dizendo que o Sr. Magalhães havia ligado pedindo para Oscar retornar a ligação. Oscar diz a Anita que vai retornar a ligação para o detetive Magalhães, pois ele já devia ter o endere- ço. Logo ele desliga o telefone e diz a Anita que já tem o ende- reço da delegacia onde está detida Camila. – Vamos até lá? – Vamos fazer-lhe uma visita? Quem sabe isso não é o começo ou o caminho de que você precisa para corrigir o que supõe ser um erro, o seu erro. – Tenho receio de aproximar-me dela, não sabemos o que vamos encontrar. Mas se você estiver junto de mim eu terei coragem. – É claro que sim, meu amor! É claro que estarei conti- go, e para que você se recorde, nós temos as Entidades conosco e nossa Mãe Benedita pertinho de nós. Em visita à delegacia – Como vai, Camila? – O que você quer? Que veio fazer aqui, Oscar? E, afinal de contas, quem é essa moça? – Esta é Anita, a minha noiva. – Por que vieram me visitar? Eu não lhe devo nada; sei que não tenho juízo, que sou uma pessoa vulgar, mas com certeza não roubei nada de você. Se há uma coisa que não tenho costume é de roubar, faço tudo errado mas roubar, nunca! – Ninguém está lhe acusando de nada – responde Anita. – Mas se você nem me conhece... Por que esta aqui, moça? – Nós não estamos aqui para prejudicá-la ou acusá-la, 226
  • 227. estamos aqui para lhe ajudar. – Aquele safado que estava comigo, maldito Josué! Foi ele quem colocou a carteira na minha bolsa para se ver livre de mim. Fez-me essa acusação, para se livrar de mim. Mas ele há de pagar por isso. – Por que ele queria se livrar de você? – pergunta Oscar. – Porque ele não é homem. Homem que é homem assume seus atos, assim como você, que no momento em que mais precisei me ajudou. Eu não sei se posso falar aqui, na presença da sua noiva, mas você foi um homem muito bom para mim. Cuide bem dele moça, pois ele merece. É um bom homem, eu é que não presto, sou uma louca. – Ouça Camila, eu não tenho nada a esconder da mi- nha noiva. O que você quiser falar sobre o que houve em nosso relacionamento, e o que está acontecendo com você agora, pode nos dizer abertamente. – Estou muito confusa, não sei quais são as suas in- tenções. O que vocês querem de mim? Por que estão aqui? Pelo amor de Deus, não me prejudiquem ainda mais! – Se você não deve nada à justiça, então confie em nós, pois conseguiremos um bom advogado pra lhe tirar daqui – explica Anita à Camila, ainda muito confusa com toda aquela situação. – Mas por que todo esse interesse em mim, se, quanto à fidelidade, não fui honesta com o Oscar? Afinal, o que vocês querem comigo? Vocês ainda não me responderam! – Bem, você se lembra quando estava grávida? Eu a aju- dei levando você a uma clínica clandestina para que você fizesse um aborto, lembra-se? – Lembro-me perfeitamente Oscar, como se fosse hoje. – Naquela época, por não ter nenhum escrúpulo ou a maturidade que tenho hoje, me fiz cúmplice. O correto seria 227
  • 228. utilizar um meio qualquer para que aquilo não acontecesse. Sin- to-me até hoje muito culpado, e é por isso que estamos aqui. – Não se sinta culpado nunca, pois você tinha toda a razão. Eu tenho certeza que o filho nem era seu, era daquele safado, que já era... – O que aconteceu com ele? – Ele morreu nas mãos de um traficante – conta Camila, chorando. – Você o amava? – pergunta Oscar. – Sim! Ele era meu homem, apesar de todos os defei- tos que tinha. Ele era ardente e companheiro, era ele quem eu realmente amava. Perdoe-me, moça, por estar falando des- sa maneira. A maioria dos meus sofrimentos foi de moça bo- nita, porém pobre. Infelizmente essa é uma parte de minha so- frida vida. A maioria dos homens que tento segurar vivem co- migo por algum tempo e, após descobrirem que estou grávida, arranjam um motivo não pra me ajudar e me prejudicar ainda mais. É por isso que eu digo que aquele canalha que me acusou não é homem suficiente para assumir os seus atos. – Como assim? Você já o conhecia antes? Nós ouvi- mos quando ele disse para o delegado que lhe conheceu há duas horas apenas! – Qual nada, é pura mentira dona. Somos amantes há algum tempo, coisa de oito a nove meses. Ele me fez promes- sas e mais promessas, e o que eu ganhei dele? Nada além de promessas, uma grande calúnia e esta gravidez indesejada. Eu falei para aquele canalha que estava grávida dele, e ele me respondeu que filho nem pensar. Aí então, pedi para ele provi- denciar uma clínica e pagar o aborto, pois eu não tenho dinhei- ro e nem quero filho, pois filho só atrapalha. Mas o que ele fez foi mandar que eu me virasse. Eu não sou ladra! Estou revoltada com o desdém com que ele me tratou. Então, insisti para ele pagar o aborto, pois assim eu o deixaria em paz. Não querendo 228
  • 229. pagar o aborto e pretendendo ficar livre de mim, enquanto fui ao toalete ele colocou a carteira dele com uma mixaria de di- nheiro na minha bolsa para me acusar. Denunciou-me como ladra para se ver livre de mim e por vingança, porque não fui fiel a ele, e agora aqui estou. Sou mesmo uma miserável, além de grávida, ainda estou presa. – Grávida? – Pergunta Oscar, eufórico. – Então você está grávida? – É, infelizmente eu estou, e esse cafajeste está fa- zendo o mesmo que aqueles outros estúpidos que passaram pela minha vida. O único que eu realmente amei foi aquele que você conheceu há tempos passados, e que agora está morto. Não sei se foi para o céu ou para o inferno, Deus ou o diabo que o tenham. Foi ele quem me engravidou quando eu estava com você. – Estamos dispostos a lhe dar toda a assistência possível – diz Anita. – Nós só lhe faremos uma exigência – completa Os- car – Você não pode abortar. Nós vamos lhe tirar daqui o quanto antes; você fará um bom pré-natal e será assistida por um excelente médico até o nascimento desse bebê. – Eu não tenho pretensão nenhuma em continuar com esta gravidez. – Por favor, não faça isso! – pede Anita. – Só se eu der esse filho para vocês, mas pelo que estou vendo, você já traz um filho em seu ventre. Digam, então, por que tanto interesse? Será que vocês querem mais um filho ou vieram aqui para me ferrar mais um pouco? Vamos, falem! Vocês não pediram para que eu jogasse limpo? Então joguem limpo comigo. – Eu não sei se conseguirei explicar Camila, é muito difícil. O que eu tenho a dizer é que, por causa do que aconte- 229
  • 230. ceu conosco no passado, eu também tenho sofrido muito, pois não deveria ter lhe incentivado a fazer aquele aborto, deveria ter amparado o seu filho. Por uma questão de querer corrigir um erro do passado, eu acredito que a única forma de reverter essa situação seria adotar o seu filho, que seria criado por mim e Anita com carinho, porém, sem nunca esconder dele quem são os seus pais verdadeiros. Isso agora dependerá exclusivamente de você, Camila. – Mas como é que vou fazer para ganhar o meu dinheiro com esta criança na barriga? – Como você já percebeu, eu também estou grávida, e lhe prometo que o tratamento e o conforto que eu tiver você também receberá. Você terá tudo que uma gestante ne- cessita para ter um bebê saudável. E nós estamos certos de que após a sua gestação você não ficará desamparada. Ajudaremos também, para que você reconstrua a sua vida de uma forma digna e saudável. – Eu insisto, ainda não entendi o porquê de todo esse interesse. –Não importa por enquanto Camila, se você aceitar que nós a tiremos daqui o mais rápido possível, e que durante a sua gravidez cuidemos de você, com a condição de que você não cometa o aborto, com o tempo você entenderá tudo direitinho. Só podemos lhe afirmar que isso será bom para nós e para você. É pegar ou largar. – Bem, já que é assim... Pior eu não posso ficar, porque não há nem como. Vocês vão me tirar daqui? – Você pode contar com isso, confie em nós – afirma Anita. – Eu topo, mas veja lá se vocês não vão me tapear! – Fique tranquila amiga, você entenderá tudo quando sair daqui. Ao saírem da delegacia, Oscar entra em contato com o 230
  • 231. detetive para que ele vá até onde está o amante de Camila. Foi fácil encontrá-lo e convencê-lo, pois lhe bastou uma pequena quantia pra que ele fosse à delegacia e retirasse a queixa feita contra a pobre mulher. Logo depois que Camila foi solta, Anita e Oscar alu- garam um pequeno apartamento para ela e lhe deram toda a assistência que uma gestante necessita em sua gravidez. Du- rante esse período, Oscar e Anita, por várias vezes, repetiram a Camila que eles queriam adotar aquela criança para tranquilizar Oscar por sua cumplicidade no aborto feito por Camila no passado. Mesmo assim, a moça parecia não compreendê-los por completo, mas aceitou deles o apoio. Algum tempo depois, João e Doutor Osvaldo Izabel pede insistentemente para que João Eduardo vá à consulta com Dr. Osvaldo. – João Eduardo, você precisa ir ao hospital! – Izabel, já faz algum tempo que eu não sinto mais nada, inclusive, como você mesma sabe, o Dr. Osvaldo me avaliou há seis meses. – Pelo amor de Deus e dos bons mentores, vá, meu marido! Eu irei contigo. Seja o que for, não perca a fé e nem a esperança. – Sim Izabel, eu tenho fé! A prova disso é que eu acho desnecessário ir ao medico. João Eduardo, logo após tomar um demorado banho, em seguida toma outro banho a base de ervas, indicadas pe- los mentores espirituais. Após os banhos ele se recosta em sua cama para um curto repouso, não tardando mais que dez minutos. Logo em seguida, ao apoiar-se na cabeceira, ele começa a chorar. 231
  • 232. – Meu Deus. Esteja comigo, Pai querido, e permita que os bons amigos do Plano Espiritual nos tragam boas energias! Tenha misericórdia deste vosso servo. Peco constantemente Se- nhor, mas permita-me que eu conquiste a sabedoria e seja me- nos ignorante, controle a minha insensatez e as minhas ganas, permitindo-me que eu tenha a alegria de mais algum tempo de vida neste plano. Eu bem sei, Senhor, que somos mortais nesta vida, mas imortais no Plano Espiritual. Mas a vida nos deste com o seu total amor, por isso, vos peço compreensão para os meus desígnios. Ao levantar-se de sua cama, João Eduardo segue para o centro espírita e, lá chegando, pede com veemência aos irmãos daquela casa de caridade que lhe auxiliem, transmi- tindo-lhe energias de paz, fé e coragem para enfrentar mais uma de suas provações em seu resgate. Três horas da tarde, no hospital Izabel e João Eduardo se encontram com Oscar no hos- pital executando seu trabalho como voluntário, e ele acompanha o casal para lhes dar apoio. Os três são recebidos por uma assisten- te do hospital, que os encaminha ao consultório de Dr. Osvaldo. João Eduardo, ansioso, talvez por receio, não queria saber o resul- tado dos exames. Poucos minutos depois, Dr. Osvaldo, ao cumprimentá-los, senta-se em sua cadeira atrás de sua escrivani- nha e, ao abrir o envelope que estava consigo, tenso e angustiado e com total perplexidade, ele exclama: – Mas não é possível, deve ter acontecido algo estranho com o resultado de seus exames, João Eduardo. Agora o seu problema está nos pulmões. – Como assim, doutor? – pergunta Izabel, já aflita. – Meu Deus!... Bem que eu não queria vir, pra não saber de nenhuma noticia ruim!... 232
  • 233. – Mantenha-se calmo meu amigo, seu diagnóstico está confuso, mas tenha calma João. Estava tudo certo e eu estava preparado para lhe dar uma boa notícia. Nesse momento, Oscar percebeu que a fé de João ain- da não era suficiente para a sua cura psíquica e também Izabel percebera, pois ficara abalada e tensa com o que Doutor Os- valdo lhes dissera. – Como o diagnóstico está confuso doutor? Eu não estou curado? Os tumores ainda estão nos meus órgãos? – Como pode isso doutor, se João está sem dores? – Sim, mas por favor, me aguardem por alguns minu- tos. Eu a voltarei, pois não é possível, algo está errado. – Sus- surrando, ele repete a si mesmo que nos exames de João apare- cem dois tumores nos pulmões. Izabel e João se olhavam entre si assustados e amedronta- dos, pois para eles a dúvida de Dr. Osvaldo realmente lhes deixou desconcertados. Sua fé ou convicção na cura ainda era muito pou- ca, porque no centro, o mentor chamado de Irmão X lhe dera um diagnostico totalmente favorável, dizendo que a doença não seria dele, e sim de Lídia, aquele espírito que virou sua família de cabe- ça para baixo. Será que, talvez, João Eduardo estivesse pior e real- mente com o tal câncer que todos imaginavam? A sensação que se via no semblante de João era muito triste. Caminhando pelos cantos do consultório, ele se lastimava, balançando a cabeça de maneira negativa. – Senhor Deus, não deixe que o resultado desse diag- nóstico venha a me trazer desespero. Que eu seja paciente e te- nha resignação com os seus desígnios, pois tu sabes o que fazer pra nós, seus filhos. – Acalme-se, meu amor, Deus está conosco. Seja do jeito que for, estarei sempre ao seu lado. Oscar, abraçando ambos, tenta reconfortá-los – O que tiver de acontecer contigo, estaremos juntos. Você pode contar 233
  • 234. com isso, mas se bem conheço aquele centro espírita, o diagnos- tico do irmão X está correto. Confie João, que tudo terminara bem. Eu tenho fé e estou convicto disso. O que devemos fazer neste instante é unir as nossas forças, você não acha? A ansiedade estava tomando conta do casal. Juntos a eles, estavam também duas atendentes que se emocionavam, mas que se calavam, devido à ética profissional que tinham de seguir. O tempo parecia não ter fim. Frente ao consultório, havia um longo corredor vazio, que só denunciava vida quando alguém ali passava trazendo aos pés o som de seus sapatos. Um som vazio e triste. Dez minutos depois, Dr. Osvaldo retorna à sala. – Onde está a minha secretária, a senhorita Clara? – Ela está no ambulatório – responde a atendente. O senhor necessita falar-lhe? – Pergunta uma das auxiliares. – Sim, e com a maior urgência, se possível. Olhando para João, o médico sutilmente lhe sorri. – O seu sorriso doutor, o que quer dizer? – Posso saber por que tanta ansiedade? – Porque eles me dizem que eu não estou doente. – Se o meu sorriso não lhe diz nada, será que o meu abraço pode lhe dizer algo? – Ganhar um abraço seu doutor, me deixaria feliz. – Mas, e se esse abraço vier para lhe dar uma ótima no- tícia, 100% verdadeira, dizendo, em minhas palavras, que você está bem e que seus órgãos estão perfeitos? Curado... Não seria melhor? Pois eu quero lhe dar esse abraço, meu amigo! João, você está curado e totalmente fora de perigo. Sua saúde está ótima! Necessário se fez que Dr. Osvaldo viesse ao encontro de João que, ao ouvir as palavras do médico, pela comoção que tivera, por alguns segundos suas pernas perderam os movimen- 234
  • 235. tos. Sorrisos e lágrimas se espalharam entre eles, invadidos pela felicidade. – Se o senhor está tão certo assim doutor, eu abrirei os meus braços e agradecerei a Deus por sua infinita bondade, e por colocar todos vocês ao meu lado como anjos que me auxi- liam para que, com o progresso de minha humildade, eu consi- ga me equilibrar em minha luz. Prontamente, a secretária Clara entra no consultório. – Doutor, o senhor pediu-me que eu viesse, aqui estou. – Sim, e pela primeira vez eu serei um tanto rude com você e mal-educado, principalmente frente às pessoas que aqui estão, mas assim se faz necessário. Apesar de você ser muito eficiente e responsável, será que percebe a confusão em que me colocou com o seu equívoco? – O Senhor poderia me explicar melhor, doutor? Naquele instante, todos se calaram para ouvi-los. – Você simplesmente confundiu o nome do paciente e me trouxe os exames de outro, que está na ala dois, aparta- mento 15, cujo nome é João Eduardo Dautanies que, inclusi- ve, está muito mal. Você entendeu agora a minha situação frente ao meu paciente? – Doutor, perdoe-me, pois não foi intencional. – Sim, certamente que não foi intencional, só que esse descuido não poderá mais acontecer, Clara. – Talvez eu não tivesse o reconhecimento e a alegria que tenho agora sem esse suspense que nos aconteceu por causa dos exames trocados, devido à situação do meu caso. – comenta, feliz, João Eduardo. – Hoje você está sendo um personagem exclusivo em minha vida, Clara e certo estamos que isso não deva ter acontecido por acaso. Que Deus lhe abençoe. – Se o senhor pensa dessa forma, eu fico feliz. Mesmo assim, peço a todos que me perdoem pelo constrangimento que causei. 235
  • 236. – Tudo bem Clara, o seu erro poderia até ser inadmis- sível, mas não será por isso que você deixará jamais de ser a minha assistente de trabalho preferida. Agi dessa forma porque não tive outra saída para dar explicação a eles. – Obrigada, doutor, é uma honra trabalhar com o se- nhor. E mais uma vez, perdoem-me. Dr. Osvaldo, ao sentar-se em sua cadeira, ainda co- menta por alguns segundos sobre o que acontecera ali com eles, não julgando mais a fragilidade e o erro que ocorrera, porém, a nobreza e a simplicidade que Clara tivera ao corrigir a sua falha profissional. – Mas vocês não acham que isso é motivo para come- morar? Afinal de contas, isso acontece uma vez em cada 100 anos, vocês não acham? – Não é possível doutor, eu renasci para a vida! – Vou pedir suco, café e água, é o que de melhor tenho para oferecer a todos neste instante. Quero também estar com vocês neste momento, pois estou feliz e gostaria de compactuar essa alegria com todos. Um dia ainda quero decifrar este enig- ma. Agora me pergunto: Como pode um tumor maligno apa- recer e desaparecer por várias vezes em seus rins, sem os devidos tratamentos da Medicina? – Um dia desse eu explicarei ao senhor com detalhes, tudo o que aconteceu com o nosso amigo João Eduardo. – enfatiza Oscar, também feliz com o resultado final de todo o acontecido naquele consultório. – Claro que queremos comemorar com o senhor esta nossa vitória! – congratula-se Izabel, agora aliviada pelo mal- entendido ter sido prontamente resolvido. – O senhor é o nos- so Anjo da Guarda. Façamos um trato; marcaremos um encon- tro em nossa casa e o senhor será nosso convidado de honra. Ficará ao seu critério o dia e o horário, doutor. – Mas por que ao meu critério, Izabel?! 236
  • 237. – Para que o senhor use o seu dia de folga pois, para nós, o compromisso quanto ao dia ou horário não nos pesa. – Me sinto muito grato Izabel, inclusive, nem havia pensado nisso. Que tal depois de amanhã? Assim está bem João? – Esta ótimo para nós, doutor, e leve a sua secretária Clara, com certeza ela irá adorar o seu convite, e ficaremos muito felizes com este belo evento. – Oscar e Anita estarão conosco? – Sem a menor duvida, pois esse jantar sem eles não terá a menor graça. – Mas, por falar em Anita, onde ela está Oscar? – Eu a deixei em casa, na certeza de que irá reclamar por não estar conosco neste momento tão importante. – Diga-lhe que foi melhor que ficasse em casa, devido às fortes emoções que tivemos aqui hoje. Se eu, médico, me preo- cupei com vocês e comigo mesmo, imaginem se ela estivesse aqui, a situação ficaria uma tanto mais delicada, não é mesmo? – Claro, doutor, o senhor tem toda a razão. Às 17 horas, ao saírem do consultório, Izabel e Oscar se assustam com os gestos que João começa fazer. Ele simplesmente começa a cantar, assoviar e a dizer para as pessoas que ele acaba de renascer. Uma senhora, ao passar por ele, indaga: – Por que você está dizendo para o mundo acaba de renascer, hein, meu garoto? – É que o nosso Pai Altíssimo teve misericórdia de mim, me permitindo mais algum tempo de vida. – Entendi. Você estava doente e com medo de morrer, e agora vê que está fora de perigo. Acertei? – Sim, minha querida senhora, é isso mesmo. A senhora dirige o olhar a Izabel e pergunta se João Eduardo era irmão ou marido dela. – É meu marido. – Que pena que este “gato” tem compromisso! Posso dar 237
  • 238. um abraço e um beijo nele? – Não somente um abraço, mas quantos a senhora quiser dar. – Muitas felicidades meu filho, e nunca mais deixe esca- par de ti esta linda mulher. Que Deus guie a todos vocês. Izabel decide convidar aquela senhora tão simpática a se juntar a eles no jantar em comemoração à boa saúde de João Eduardo. – Por que a senhora não vem jantar conosco nesta quin- ta-feira? Será um jantar em família maravilhoso, pois nessa oca- sião comemoraremos a cura de meu marido. – Gostei da idéia. Posso levar meu marido também? Ele é muito alegre! – Claro que sim. – Responde João. – Vai ser muito bom. – Retruca Oscar. Izabel pega um pequeno bloco de rascunho e dá o endereço de casa àquela senhora, dizendo-lhe para que chegassem às 17h. Oscar e a divisão da empresa Oscar chama Anita para lhe mostrar como será dividi- da a sua empresa, querendo inclusive saber se ela estaria de acordo com o projeto elaborado por ele e por seus advogados. – Bem, Anita, eu não poderia renunciar totalmente à empresa, porque na siderúrgica não há um líder a altura, pelo menos por enquanto. Após pensar cuidadosamente, agirei da seguinte forma, mas quero a sua aprovação. Antes de Oscar dar início às explicações, Anita o inter- rompe, dizendo-lhe: – Oscar, você não precisa me dizer como será feita a divisão... – Anita, você precisa saber. Se vamos nos casar, a partir de 238
  • 239. agora somos uma família. Aqui está o projeto, e quero saber se você tem alguma opinião, alguma idéia, para que, de repente, possamos aproveitá-la. Aí então eu comunicarei aos meus funcio- nários o que vou fazer com a empresa e finalizar com uma bonita festa. – Se você faz questão, eu fico muito feliz em participar. – A idéia é a seguinte: vou doar 50% da siderúrgica para os funcionários em forma de cooperativa, 30% para ins- tituições filantrópicas e 15% pertencerá ao nosso filho, com usofruto nosso até que ele alcance a maioridade. Nós, digo, você e eu, ficaremos com 5%. – Quando nosso filho alcançar a maioridade, todo o lucro de suas cotas, que serão de 15%, pertencerá a ele? – É aí que eu lhe pergunto: o que você acha? – Quando o nosso bebê fizer 18 anos ele será dono de si próprio. Mas, e nós? O que faremos nessa época pela nossa sobrevivência? Também temos que pensar na criança que vamos adotar. Podemos fazer alguns ajustes no projeto em forma de testamento? – Sim, é claro. – Então, vejamos. Em vez de 15% para nosso filho, vamos colocar 20% para nós. Se der certo, a doação deixará 10% para cada um deles, que será usufruído por eles após a maioridade de ambos. Quanto a nós dois, poderemos viver de nossa aposentadoria! – Sendo nós, já velhos, a nossa aposentadoria será o suficien- te. Não é mesmo? – Que bom! Você pensou em tudo. – mas se não fosse você com as suas sugestões... Graciosamente, Anita, entre trejeitos e lágrimas, começa a imitar uma velhinha para que Oscar sorrisse. – Oi, meu amor, eu me chamo Anita “com H”. Qual é o seu nome mesmo? É José? – Eu não me chamo José, o meu nome é Pedro. Pedro não, 239
  • 240. desculpe-me, eu tenho o mesmo nome que o seu marido tem, meu nome é Oscar. – Seja lá quem for, eu só sei dizer que te amo muito meu moleque travesso, seu velhinho atrevido! Ambos sorriem. – Ah! Anita, vamos logo escolher a nossa casa, estou ansioso para ficar com você para sempre, meu grande e único amor. – Seu grande mentiroso, eu não sou o seu único amor. Você se declarou para outra pessoa, pensa que eu não sei? – Isso é verdade meu amor, é a pura verdade Anita, você não é o meu único amor, afinal de contas, temos a caminho outro grande amor para preencher nossas vidas, que é o nosso filho, o fruto do nosso amor. – Oscar, agora falando sério. Lhe farei uma pergunta, mas gostaria que você olhasse bem para os meus olhos e que me res- pondesse com sinceridade. – Pergunte logo, Anita. Do modo como você me olha, estou ficando assustado. – Eu estou envergonhada, mas vou lhe perguntar assim mesmo. Vai ter bastante doce no nosso casamento? Estou maluquinha pra comer doces de casamento. – Eu lhe dou uma tonelada de doces, minha velhinha maravilhosa. Até agora mesmo, se você assim desejar. – Não, agora eu só quero duas coisas: uma, é tomar um sorvete, daqueles bem grandes, de salada de frutas! – E qual é a outra coisa? – Bem, pelo fato de saber que você não é homem de se jogar fora, o que eu quero nesse momento é lhe beijar muito. Ao abraçá-la, Oscar agradece a Deus em pensamento pela felicidade que sentia em conseguir juntar a parte verdadeira que se entrelaçava a seu corpo: Anita, a sua alma querida. Oscar lite- ralmente reconhece que valeu a pena trocar sua fortuna por uma pequena e doce família: Anita e o bebê que estava a caminho. 240
  • 241. O casamento de Oscar e Anita Numa quarta-feira pela manhã, Anita e Oscar se unem pelo matrimônio. A cerimônia foi simples, porém, farta de amor. Pela manhã, eles e algumas testemunhas seguiram em direção ao cartório para consolidar o casamento civil. À noi- te houve o matrimônio religioso no centro espírita, na pre- sença de amigos e do Irmão Lázaro, que na condição de diri- gente da casa, celebrou o casamento e intercedeu, dando ên- fase à confirmação de Deus e dos bons mentores do Plano Espiritual, transmitindo-lhes alguns conselhos e as bênçãos para as duas almas que se uniram por amor para uma nova etapa em suas vidas. Assim foi a explanação do médium Lázaro, durante a celebração do casamento. – A paz do Senhor Deus esteja, agora e sempre, bem jun- tinha de nós. Estamos felizes neste dia, pois estamos frente a um casal que se faz especial ante a criação Divina. Anita, por meio de suas expressões de doçura nos tem ensinado, com seus gestos, os grandes louvores pelos quais todos nós deveríamos nos exemplificar, pois, em tudo o que faz, ela alcança o seu progresso. Oscar, um homem que, através de suas reencarnações vem de- monstrando para si mesmo como é importante carregar em seus trechos percorridos a humildade, o amor e a solidariedade. Hoje, falo isso para que todos ouçam. A luz que irradia deles tem um tom jaspe de céu. Neles essa luz se torna tão magnífica, que nós, aqui presentes, junto a eles temos o privilégio de recebê-la tam- bém em nossos corações. Realmente, nos é esta uma grande e misericordiosa dádiva. Quisera eu, irmãos, contar-lhes o passa- do que se incube do presente dessas duas lindas almas. Neles um traço, uma linha, um segmento, que ainda os levará frente ao 241
  • 242. misericordioso Deus, nosso Pai. Portanto, tomo a liberdade de lhes dar outra notícia maravilhosa. Este casal, bem sabe que está aguardando a vinda de uma nova progênie para a conclusão do amor de ambos e a continuação da humanidade: o filho que virá com muita saúde e lhe trará também muita alegria, e lhes parabenizamos, principalmente Anita, pela graça de ser mulher, que tem o dom de dar à luz, tornando-se sublime para Deus por estar colaborando com o surgimento de novas vidas. Anita, pela graça de ser mulher sim, pois a mulher que da à luz com zelo e amor pela sua gestação, se torna sublime para Deus por colabo- rar com o surgimento de novas vidas. Quanto a Oscar, o felici- tamos por seu desempenho e convicção para reconquistar seu grande amor de vidas passadas, e sua solidariedade e amor ao próximo quando ele e Anita tomaram a atitude de adotar e sal- var a vida de outro ser que logo nascerá de outra mulher, que rejeitou suas gestações anteriores por viver insegura em seu mundo de idas e vindas. O fenômeno Luz Por conta de todas as palavras ditas pelo irmão mé- dium, as lágrimas se delineavam sobre as faces, reconhecedoras de seus dizeres e de seu zelo em seus diálogos. Algumas pesso- as, mais concentradas após as orações, percebem dentro da casa um clarão de luz suave passando por todos e fechando-se entre Anita e Oscar. Outros sentem uma sensação de bem-estar fora do comum. Com certeza, uma gotícula de energia ou luz do nosso Deus querido. Novamente, Irmão Lázaro toma a palavra. – Deus está conosco, sejam felizes Oscar e Anita. O estimado Irmão Lázaro acaricia o ventre de Anita di- zendo-lhe que aquele bebê estava por demais feliz por Deus lhe permitir a escolha de seus pais e os seus resgates. Anita, no entan- 242
  • 243. to, emocionada se abraça ao médium e em seguida a Oscar, e em uníssono dizem: – “Seja bem-vindo, meu filho”. As emoções, os festejos e o tempo que não parava, deixaram aflorar a luz do novo dia, fazendo com que Izabel se aproximasse de sua amiga para dizer-lhe: – Anita, o dia já amanhece e você precisa descansar. Afinal de contas, você já está entrando nos nove meses de gestação. – Oh, minha querida irmã e comadre, eu nunca estive tão bem em minha vida! Oscar também está preocupado co- migo, só porque comi uns docinhos a mais. E por falar nisso, eu ainda não degustei do meu bolo. Você me acompanha? – É dessa vez que viro uma baleia! Eu topo, mas com uma condição. – Meu Deus! Que condição é essa? – Bem... É que não sei se devo falar-lhe... – Ora Izabel, por que você está assim? Fale-me logo! – É que após o nascimento do bebê, gostaria muito que você fosse lá para casa. Eu tenho uma saudade imensa dos meus filhos quando crianças. – É nada, isso é puro ciúme de madrinha. Mas eu topo, e tenho certeza de que Oscar também irá gostar. Enquanto isso, Oscar e João Eduardo também conver- sam sobre os últimos acontecimentos. – Estou feliz por demais Oscar, em lhe ver casado com Anita. Eu aprendi tanto a querer bem vocês dois que já não conseguimos, eu e Izabel, ficar distante de vocês. Estou felicíssimo. Que Deus os abençoe para sempre. Venha cá, meu irmão que quero lhe dar um abraço bem forte! Eu tenho certeza de que Deus ouve as nossas súplicas. – Com certeza João, seremos amigos e irmãos para todo o sempre. 243
  • 244. Nasce o bebê de Anita e Oscar Exatamente 15 dias após o casamento de Anita e Oscar, surge um novo personagem em nossa história: um ra- paz de 54 cm de estatura e 3,580 kg. Moreno claro, olhos claros, fisionomia serena, mas que não suporta passar do horário de alimentação. Anita deu à luz um belo menino. E quem fez o parto com todos os cuidados? Claro! Dr. Osvaldo e sua futura esposa Clara, que depois do incidente com os exames de João Eduardo, sutilmente Izabel abriu os olhos de ambos, convidan- do-os para aquele jantar em sua casa. Foi ali que Dr. Osvaldo e Clara fizeram uma grande descoberta: o amor, e em breve irão se casar. Izabel chega com o bebê para Anita amamentar. – Mamãe, o seu bebê está faminto! – Bem que eu queria ter tido uma madrinha dessas, só assim eu não seria tão frágil e raquítica como sou hoje. Venha meu bebê, mamãe tem um montão de leite pra você. Assim na Terra como no Céu. Essa é a forma com que aprendemos quando entramos ou saímos deste planeta. Enquanto Anita repousava, Oscar e seus amigos jun- tavam as suas felicidades, principalmente com a vinda do pe- queno Francisco Xavier (em homenagem póstuma a um grande líder espiritual). Uma imagem de mulher se punha próxima a Anita. Uma bela jovem, com um pouco de luz em sua volta, que desabrochara para a vida, a “doce vida da espiritualidade”. Era Lídia. – Meu Deus, meu Deus! Você está aqui Lídia? – diz Anita, emocionada. – Eu não posso vê-la, mas sinto-a pertinho de mim. Seja bem-vinda minha querida irmã, seja bem vinda! Imediatamente, Lídia se espanta com os dizeres da amiga, por jamais perceber que ela sentiria a sua presença. Abaixa o seu 244
  • 245. semblante e se põe a chorar. – Ó, Deus! Como o Senhor é misericordioso permitin- do que Anita percebesse a minha presença e conduzindo-me em seu coração. E ela sabe que jamais eu estaria aqui novamente para lhe fazer algum mal. Bendito sejais vós, ó Pai Celestial. Lídia, naquele instante, enlevada pelo amor envia uma mensagem de paz à sua amiga acariciando o seu bebê, que ao fixar seus olhinhos se põe a sorrir pela doce carícia recebida da- quele espírito que viera visitar Anita por amor. – É titia Lídia que está nos visitando, filhinho – diz Anita. – Bendita seja. De imediato, entra em seu quarto para uma visita formal Irmão Lázaro, acompanhado de Izabel. Ao cumprimentá-la, logo diz: – Perdoe-me minha amiga e irmã, eu não sabia que aqui contigo se encontrava outra visita. – Mas não há ninguém aqui comigo, irmão. – Anita, eu sei que você tem uma excelente visita. – Já sabe? Então eu não estou sonhando e é verdade que Lídia esta aqui conosco? – Não só é verdade, como também lhe deixou uma singela mensagem. “Anita, minha amiga e irmã em Cristo. Eu estou indo bem, aqui tudo é tranquilo e fazemos aquilo que queremos fa- zer, pois temos o livre-arbítrio, e os irmãos do Plano Espiritual são compreensivos, solidários e maravilhosos, nos ensinando e nos conduzindo com muita benevolência e amor. Por isso agra- deço sempre por ter saído daquela condição de espírito do um- bral para a luz, e quero aproveitar a oportunidade para estudar muito, pois aqui, no Plano Espiritual, existem excelentes bibli- otecas com os melhores autores. Quero agradecer o empenho que todos vocês tiveram quando ainda eu estava com aquele 245
  • 246. ódio e revolta. E também aproveitar a oportunidade que me concederam para parabenizar-lhe pela sua união com Oscar, um gato e com um excelente coração, cercado de bondade, solidari- edade e amor. Parabéns também pelo seu lindo bebê, o Francis- co, e a criança que logo virá, adotada por vocês para fazer com- panhia ao seu bebê. Um forte abraço. – Você gostou da mensagem? – pergunta Irmão Lázaro. – Sim, irmão, e me sinto muito honrada por ela estar aqui me visitando. – Como você está irmã Lídia, no mundo da espiritualidade? Por meio de telepatia, Lídia responde ao Irmão Lázaro. – Tenho me esforçado muito para alcançar progresso Irmão Lázaro, e estou muito feliz em saber que Deus é um bom Pai e tem cuidado para que eu não mais caia nos braços da devassidão e da tristeza. Hoje estou congratulada a Deus por estar aqui con- quistando mais um risco de luz pra recompor a minha aura, que se encontrava totalmente escura e perdida. E quero aproveitar o momento para lhes dar boas novas. Eu fui convocada pelos mentores a fazer parte da equipe que zelará pelo espírito de Gildo na clínica onde ele se encontra neste momento, portanto, terei o maior empenho em tirá-lo do estado psíquico em que ainda se encontra, muito confuso e ainda sofrendo. Gostaria de frisar que minha mãezinha está sempre comigo, trazendo-me excelestes orientações. – Anita, Lídia já se foi. Vamos nutri-la sempre com as nossas orações. E você, fique alerta e feliz, pois bendita sejas tu por perceber os irmãos que estão em nossa volta, minha querida irmã, porque tens luzes magníficas ao teu redor. – Rendo graças a Deus por todos os instantes de minha vida, irmão. A minha grande felicidade é ter todos vocês comigo. Deus permita que esse nosso elo haja de ser eterno. 246
  • 247. A fuga de Camila Com o passar dos dias, um grande amor vai se somando no coração de Camila, ao perceber que em seu ventre o bebê cresce. Ela passa a compreender que aquela criança, totalmente dependente de si, lhe seria a sua única e verdadeira companhia para toda a vida. – Bom dia, minha criança – diz carinhosamente Camila, afagando o ventre. – Como estamos hoje? Antes de qualquer coisa, referente à atitude que sua mãezinha vai to- mar para não se separar de você, eu gostaria de saber se você é uma menininha ou um rapazinho. Eu tenho uma leve impres- são de que você é uma menininha, mas se for um rapazinho será bem-vindo da mesma forma. O que eu não desejo é perder você, e farei o que for necessário para que isso não aconteça. A decisão tomada por Camila a deixa confusa. Toma em suas mãos uma folha de papel e uma caneta para deixar uma triste carta de despedida aos seus amigos, com os se- guintes dizeres: “Meus amigos. Jamais pude compreender até o mo- mento o por quê de vossas preocupações e de tanto zelo co- migo. Mesmo assim, através de seus afetos vocês me ensina- ram o que é amar, colocando frente a meus olhos atitudes e encantos. Sinto-me prazenteira em dizer-lhes que aprendi a amar. E é justamente por isso que venho tomar uma decisão muito séria em minha vida. Sinceramente, com o passar dos dias tenho convivido com uma situação que me faz atuar como mãe, que aos poucos vai me fraquejando e me fazendo sentir, como doce se faz o ser mãe. Tenho me afligido muito com esse sentimento que está crescendo em mim, que é o dom divino de gerar uma nova vida. Agora, sinceramente, eu não posso tirar essa criança dos meus braços, pois tenho certeza de que não conseguirei. Anita, agora que você já é mamãe, pense um pouco em mim e 247
  • 248. ore por mim... Por favor, eu sinto um grande medo de tudo, mas o que não posso fazer é fugir de minha realidade, da divina missão de ser mãe. Tenho lutado para me afastar do obscuro mundo do vício e dos fracassos vividos para recomeçar a minha vida. Quem sabe eu consiga! Eu sinto que conseguirei, porque até agora não usei mais drogas. Deixo-lhes esta carta com amor, pedindo que não me procurem, não me censurem pela minha atitude e não se aflijam por mim. Eu e o bebê ficaremos bem. Mais uma vez lhes digo que não sei quais são os motivos que os fizeram me ajudar, porém, eu aprendi a amá-los. Mesmo assim, adeus e obrigada por tudo”. Camila pega apenas parte de seus pertences, uma peque- na quantia em dinheiro, que era a mesada oferecida por Oscar e Anita e somente a roupa vestida em seu corpo. Era um vestido solto, apropriado à gestação e muito bonito, que Anita lhe pre- senteara. O vestido tinha um tom esverdeado que combinava com a sua serenidade, apesar de que a sua tranquilidade estava contrastada com os ressentimentos passados. – Meu Deus, o que é que estou fazendo?! Estou sendo cruel e ingrata com Oscar e Anita! Meu corpo, a cada dia que passa está ficando mais delicado... Sinto o peso da criança, mas tenho que procurar Josué, afinal de contas, ele é o meu homem e o verdadeiro pai do meu bebê, e não é justo que eu fique sozinha com esta responsabilidade, ou que deva passá-la para outras pessoas. Por algumas vezes, Camila pensou em voltar ou telefo- nar para pedir-lhes perdão pelo que havia feito com amigos, mas não se encorajava em tomar tal atitude. O que ela acredita- va é que teria de cumprir naturalmente o seu destino. Voltando ao lugar de onde saíra, ou seja, de sua humilde casa alugada onde vivia com Josué, Camila, ao chegar à tal casa, soube que Josué havia mudado dali pra safar-se da perseguição pelo envolvimento 248
  • 249. com as drogas. Camila persistiu em sua busca até conseguir, com um de seus amigos, o seu endereço atual. Esse amigo, inclusive, pe- diu-lhe que não fosse a esse lugar, por ser muito perigoso. Mas Camila, persistente consigo mesma, certamente que iria, pois lugares piores do que esse ela já havia frequentado. Buscou um transporte que a levaria até esse lugar para reclamar ao amante os seus direitos de estarem juntos. Ao chegar ao local, logo fora recebida com maus tra- tos e perguntas obscenas, que pela primeira vez a fizeram ficar envergonhada frente à sua própria gestação. – Por favor, meu senhor, é só uma informação que procuro. – Senhor uma pinóia, eu tenho nome, sua.... Se quiser informação, me chame de Zé da Rocha e arruma algum di- nheiro para o “véio” aqui pagar as contas. Cinquenta tá bom. – Mas, cinquenta? Eu não tenho esse dinheiro, só tenho dois reais. Por favor, eu só quero uma informação. – Eu não quero essa merreca, não tô passando fome. Se quiser, vamos lá pra minha casa descansar comigo que te passo a informação. – O senhor deveria me respeitar, sou uma senhora e es- tou gestante. – Isso é que não! Você não é senhora nem aqui, nem no céu. Basta procurar o vagabundo do Josué pra gente saber quem é você. Com certeza é mais um caso dele, é ou não é? E caso dele é coisa perdida, pois ele só anda com vagabunda. E tem mais, Eu sei da sua história. Você deve ser a tal da Camila, a quem ele usou e debochou. Vamos dormir comigo e chega de conversa fiada. – O senhor acha que ninguém tem o direito de se redimir? – Nem todos. E você bem sabe que é uma dessas perdi- das, para quem não existe cura. Uma hora dessas deve ter alguém chorando muito por alguma maldade feita por você. E torno a lhe 249
  • 250. dizer: se você esta aqui atrás desse pilantra, é porque não presta mesmo! – E o senhor pode me dizer qual foi a maldade que eu fiz? – Nem precisa, porque só você é quem sabe. Cala logo essa boca, que dela só esta saindo besteira. – O senhor não se aproxime de mim, pois não tardará para que o Josué venha aqui para tirar-lhe satisfações. O homem furiosamente avança sobre Camila tentando arrancar-lhe a roupa do corpo. Ela, por sua vez, se põe a gritar por socorro, e o homem tão logo a joga ao chão, esmurrando sua face para tentar desfalecê-la. Camila, não suportando mais as agressões e totalmente indefesa, desfalece. No início do ato ela sente a agitação do bebê em seu ventre e, com o objetivo de defender seu filho, mesmo sem saber de onde viera tanta força ela consegue tirar o homem de cima de si, empurrando-o com os dois pés, afinal, ela sabia se defender, pois não era a primeira vez que passava por isso. Rapi- damente, ao levantar-se do chão passa a agredi-lo com um peda- ço de madeira que estava próximo de si. Aquele homem, cheio de monstruosidade e força, teria cerca de 50 anos de idade. No entanto, a ira da jovem fora tanta para proteger a si e a seu filho, que conseguiu deixá-lo desfaleci- do no chão após alguns golpes. Meu Deus! Não sei se matei este miserável. Ajuda-me e dai- me forças para que eu saia deste lugar. Vamos embora, meu bebê, mamãe não permitirá que nada de ruim nesse mundo lhe aconteça. Havia nela desmantelos e danos físicos. Sua roupa não estava rasgada, mas suja. Os seus longos cabelos, esvoaçados. A sua face, dolorida devido às agressões sofridas. Mas o seu bebê, sua maior preocupação naquele instante, se encontrava bem. Camila teria levado um mau jeito em seu joelho esquerdo, mas passaria. Tudo passaria, como em tantas outras vezes. Logo à frente, Camila, ao se encontrar com uma velha 250
  • 251. senhora, lhe pergunta se já ouvira falar no nome de Josué, que por algum tempo vivera por ali. – Sim, filha, eu o conheço, apesar de saber que ele não é gente boa, você me perdoe por meus dizeres. Eu o co- nheço e vou lhe passar o endereço, mas por favor, não diga a ele quem lhe deu o endereço, eu tenho medo. Estou fazendo isso porque me parece que você está precisando de ajuda, mas lembre-se, ele não vale nada, estou lhe avisando. – Senhora, muito obrigada e que Deus lhe ilumine por sua caridade. Já era tarde, aproximadamente dez horas da noite. Camila, ao sair daquele lugar, parte em busca de Josué. So- mente por volta das duas horas da madrugada, após fazer longa caminhada, é que ela consegue encontrá-lo. – Mas você está louca? Veja a sua situação! O que houve? Você foi agredida por Oscar? Conta-me! – Jamais! Eu vou lhe contar o que foi que me aconte- ceu, mas primeiro eu tenho que tomar um banho e comer algu- ma coisa, porque estou faminta. Já tem quase dois dias que es- tou à sua procura, e até que enfim lhe encontrei neste cortiço. – Mas onde é que você ficou na noite passada? E você não tem bagagem, nem grana... – O único dinheiro que trouxe comigo foram cinquenta paus para a passagem, e nem isso deveria ter pegado, porque eu não tinha o direito diante do que fizeram por mim. Eles são maravilhosos. Logo o dinheiro acabou e ontem fui obrigada a encostar-me num banco qualquer de praça. – Mas até que ponto você chegou! Você é masoquis- ta, parece que gosta de sofrer. – Pelo meu filho eu faço qualquer sacrifício, e não fale desse jeito comigo. Eu não quero doar o bebê, porque ele tem pai e mãe. Esse filho eu não quero desprezar. Hoje eu tenho 251
  • 252. consciência de que fiz muitas bobagens; fiz vários abortos e matei muitos inocentes. Agora, tudo o que fiz foi pensando no bebê e em nós dois. – Belos e exemplares pais esse bebê terá, você não acha? Nenhum de nós dois presta Camila, somos vidas tor- tas, o que vamos dar como exemplo para o nosso filho? Vou ensiná-lo a roubar e a usar drogas? – Você não diga isso, porque nós temos chances em nossas vidas. Podemos ainda ser felizes. – Sim, você ainda não me contou tudo. O que foi que lhe aconteceu? Como você chegou aqui, nesta situação? Inclusi- ve o seu rosto está inchado, como é que você se machucou as- sim? – Eu caí ao andar pela rua. Por um instante, me deu uma vertigem e quando dei por mim, estava caída no chão. Talvez tenha sido devido ao cansaço e à fome que sentia. Como você vê, estou gestante. Bem. Quanto à verdadeira história a respeito do que lhe acontecera realmente, Camila não quis contar a Josué para não haver vingança. Ela o havia procurado para recomeçarem as suas vidas. Aquilo passaria, assim como outras muitas vezes já passara. – Alguns poucos meses longe de você e sabe que estou percebendo que você está mudando? Está mais bonita, mais bem tratada. Enfim, parece que “bateu” um requinte em você. Parabéns, que seja daí para melhor. Me dê um abraço e vamos tentar modificar tudo isso de ruim que ainda trazemos conosco, só que lhe aviso: eu posso tentar mudar, mas primeiro preciso fazer a boa, pois está tudo certo entre eu e mais quatro amigos para a gente assaltar um banco do jeito que bolamos. Vai dar tudo certo, depois eu prometo que paro com tudo para nós seguirmos uma outra vida. – Alguma coisa vai dar errado, porque eu senti um gelo 252
  • 253. no coração, e você pode não acreditar, mas vim atrás de você não só pelo nosso filho, mas porque eu te amo de verdade. Eu ficava com outros homens, mas sempre voltava para você. Uma semana depois, Camila ainda se sente intranquila pela decisão que tomara, principalmente ao perceber, através de sussurros entre Josué e alguns de seus amigos, que alguma coisa muito perigosa estava cercando-os. E ela não queria ouvir os seus dizeres, porque temia alguma coisa ruim. Às vezes, sozinha, sem que Josué percebesse, Camila, preocupada com o pós-par- to de Anita, começava a chorar. Porém, uma fé desejável de ser também feliz, vinha e lhe abrandava as dúvidas. Anita e a carta Anita, com a chave reserva do apartamento onde es- tava vivendo Camila, entra e pergunta: – Onde é que você está, Camila? – Ola! Somos nós, Oscar e Camila. Viemos lhe visitar e ver como você está. – Ela não está, deve ter saído um pouco – diz Anita. – Será que foi ao hospital falar com Dr. Osvaldo? – Creio que não, está marcada para amanhã a consulta de rotina, Oscar, inclusive ela me pediu para que eu a acompanhasse. – Ainda bem. Ela deve estar por aí. – Eu trouxe para ela algumas roupinhas de bebê, vou colocá-las em cima da cama. – Mas será que ela irá gostar que você entre em seu quarto? – Tanto gosta meu amor, que na maioria das vezes em que venho aqui, sozinha ou com Izabel, ela nos pede que arrume- mos as roupinhas do bebê na cômoda dele. – Então, se é assim, vá até lá que eu ficarei aqui lhe esperando. 253
  • 254. Minutos depois, Anita, chorando, volta para a sala. – Oscar! Ó, meu Deus! – Mas o que houve? Você está pálida. Tem alguma coisa errada lá no quarto? Vamos, diga-me! – Há sim, uma coisa ruim, e está aqui em minhas mãos. É uma carta muito triste que Camila nos deixou. Oscar, ela foi embora! Ela foi embora! – Mas como isso pode acontecer? Não é possível! E o que ela diz nesta carta? – Coisas em que não posso acreditar. Ela nos deixará por ainda não confiar em nós, e também para tentar uma nova vida com o seu bebê e Josué. – E você acha que devemos deixá-la à sorte? – Creio que não. Tentemos encontrá-la, talvez não esteja bem. Oscar e Anita em busca de Camila Por mais uma vez, o destino se cumpriu entre Anita e Oscar. Saíram dia após dia em busca de informações sobre Camila e não desistiriam. No entanto, não sabiam mais onde procurá-la. Novamente Oscar combina com um detetive, Paulo Antunes, para auxiliá-los na busca de Camila. – Por favor, Paulo. Não vamos desistir. Gaste o que for necessário para encontrá-la. Nós precisamos saber como ela está para ajudá-la. – Certamente que nós a encontraremos, fiquem tranquilos. Alguns dias já haviam se passado. Era uma noite triste e fria; um frio na alma perturbava aquela mulher sem que ela soubesse o porquê. Aquela tristeza parecia estar no peito há um século, e aquele martírio lhe deixava profundamente desalentada. 254
  • 255. Relembrava naquela noite tudo o que já havia se passa- do em sua vida: a sagaz e infame vulgaridade que havia encalçado seu progresso espiritual. Sentada à beira da cama de um quarto pequeno, quase escuro, cuja iluminação vinha de uma pequena lâmpada que havia do lado de fora da casa, Camila, com as mãos postas no ventre, cabelos caídos à face, pés descalços no chão, aos prantos pedia perdão à criança que estava por vir. Era a noite mais triste de todas as noites. Passara-se o tempo. Camila se sentara ali por volta das 20h; estranhamente calada, sem ao menos ter força para erguer a cabeça, não percebera que as horas se iam, até que, por volta das 23h ela se assusta com um grande movimento do lado de fora do pequeno quarto. – Meu Deus! Que tiros são esses? E estas sirenes? Logo o seu quarto é invadido por um homem que, num tom baixo de voz, mandou que ela se calasse. Era um policial. – Onde está o seu macho vagabunda? – Pelo amor de Deus, o senhor Não me trate assim. Mal terminara de completar a frase e Camila é esbofeteada pelo policial. – Pelo amor de Deus, não faça isso comigo! Estou grávida! – Melhor que esse aí também não nasça para não ficar igual ao pai dele. E enquanto você não disser onde ele está, vai continuar apanhando. O jovem rapaz que estava escondido no quarto, sem que Camila soubesse, logo se põe à frente do miserável policial e se identifica dizendo não ser o marido dela. – Eu tô pouco me lixando! Dane-se ela, dane-se você! Não havendo testemunhas, morrerão os dois, aqui e agora. O rapaz, enlouquecido, se põe à frente de Camila. Por sua vez, o policial toma em suas mãos a arma que estava em sua cintura e impiedosamente a dispara contra o rapaz, que desfale- 255
  • 256. ce imediatamente. A pobre mulher, sem perspectiva nenhuma de vida, leva as mãos ao ventre, fecha os seus olhos e clama por Deus. – Senhor meu Deus, perdoa-me! Salve esta criancinha inocente... Quanto a mim, não importa. Um tiro é disparado. Uma morte silenciosa, sem voz. Braços que lhe afagam, um corpo que aquece o seu. Uma voz suave que lhe diz: – Eu te amo Camila, eu te amo muito. Nós seremos felizes com o nosso bebê. Assustada, imediatamente Camila abre os olhos ao reconhecer aquela voz: era Josué. Ao virar-se para a porta, percebe que havia outro corpo no chão. Era o do policial que Josué acabara de matar. – Não olhe, fique encostada em meu peito. Não tema nada, estou aqui com você. – Mas porque você o matou? Meu Deus! Pensei que o tiro teria saído dele pra mim! – Aconteça o que acontecer, as únicas palavras que posso pronunciar agora são eu te amo. Sente-se e descanse um pouco. Poucos foram os minutos de felicidade e alegria entre ambos, pois prontamente à sua porta surge outro policial, que pedia cobertura a tantos outros que estavam ali ao redor para que Josué fosse capturado. – Vamos pegá-lo, ele está dentro da casa. Josué, ao perceber que ali estava o seu fim, teria de con- seguir uma maneira de se afastar de Camila para que ela e o bebê não sofressem. Beijou-a e, afastando-se rapidamente, ao pular a janela ainda teve um instante pra dizer que a amava, pedindo a ela que fugisse pelo buraco que havia na parede da casa de ma- deira onde estavam. Josué se dirige ao policial e diz: – Aí, seu estúpido, somos ambos da mesma matilha. Quer me matar só porque não dividi a droga do dinheiro contigo? 256
  • 257. – Cale a boca infeliz, você já está morto! Um estalo, uma queda, vários suspiros. Camila imediatamente se levanta da cama e segue em direção à rua, quando vê Josué caído no chão, entre dores e gritos de ódio. Ao dirigir-se ele, é segura pelas mãos de uma senhora que tenta tranquilizá-la. Josué grita... – Não! Não, Camila! Fique aí para cuidar do nosso bebê! Estes policiais são do mal, fuja! – Josué, não me deixe! – Estaremos sempre juntos, não tenha medo! Outro disparo. Josué, com as mãos no peito se vira de costas pra cima, oportunidade que o policial jamais perderia para crivar o corpo do homem de balas, para não serem acusados por ele. – Meu Deus! Tenha misericórdia! – Grita Camila, de- sesperada. Josué, ao ouvir as palavras de clamor de sua amada, toma imediatamente a arma das mãos do policial que estava ao seu lado, caído e desfalecido e, com um só disparo derruba o seu algoz, o seu inimigo. – Vamos juntos, amigo, não é justo que eu sofra sozi- nho se temos a mesma natureza. Vamos juntos para o inferno. Aos poucos, Josué vai se largando no chão. Camila, ao aproximar-se dele, se ajoelha para que ele deite sua cabeça em seu colo. Ofegante Josué começa a dizer algumas palavras e to- dos ali presentes se emocionam. – Deus! Ó Deus! Não sei que mundo é este onde estou, nem mesmo sei para onde devo ir! Tudo em minha frente está opaco, quero luz, dê-me luz, Senhor! Nesse mesmo instante, aquele homem deixa de existir. Talvez por ironia, um vento oculto passou entre as pessoas que ali estavam. A face de Camila, molhada por suas lágrimas, era 257
  • 258. enxugada com o suave roçar de seus cabelos em sua face, com o espanar do vento. Doce e triste era o vento, pois cantava nos ouvidos da jovem mulher a sua triste sina. Quatro mortes, quatro horríveis assassinatos. Uma monstruosa chacina divulgada por jornais e TVs pelo mundo afora, cujas imagens ficariam presas para sempre nos olhos e no coração de Camila. Um estado depressivamente profundo atin- ge aquela mulher. Dessa vez, Camila se perdera no mundo; um estado de letargia roubara-lhe o último elo de esperança que a faria alcançar a felicidade que ainda poderia ter nessa vida. Como uma pessoa totalmente embriagada, saiu às ruas sem destino como uma inocente ave ainda sem saber voar, perdida ao vento. Sem vida futura, sem nada. Lídia e a reencarnação O mentor Irmão X conversa com Lídia. – Como se sente irmã, nesta sua nova morada? – Louvado seja o Senhor Jesus. Aqui me encontro muito bem e em total paz, pois sinto que minha aura está suave. Creio que já me libertei da insanidade por meio das buscas que tenho feito pelo labor e resignação, para o meu progresso espiritual. – Sabias que já estás preparada para o retorno? – Não, irmão, eu não sabia. Mas me parece que faz tão pouco tempo que saí do corpo físico! E estou bem aqui, mas se tiver de ser assim, que assim seja meu bom irmão, mesmo que haja forças negativas para tentar impedir-me, eu voltarei para res- gatar, eliminar as minhas dívidas do passado e seguir a caminho da perfeição. Quem sabe assim eu possa ter progressos em minha espiritualidade, pois terei possibilidades melhores para o labor em prol do bem, tanto aqui, quanto no plano terrestre. Desta vez não perderei a oportunidade que o nosso Criador esta me dando, mas pensei que demorasse anos para um espírito reencarnar. 258
  • 259. – Ha casos e casos, minha boa irmã. Cada espírito tem o seu histórico e, no seu caso, pela bondade de Deus houve um consenso e a permissão lhe foi dada pelos Espíritos Superiores para a sua volta ao plano físico. Mesmo porque, regressaste ao Plano Espiritual prematuramente, graças ao seu descuido com a saúde de seu antigo corpo carnal. Por isso, lhe afirmo que está próxima a sua reencarnação. Lídia estudava com afinco naquela colônia, onde se esclarecia com muita rapidez, por meio do aprendizado em vi- das passadas e também por sua atual vivência no Plano Espiritu- al. Eis que, em determinado momento, o mentor recomenda a Lídia e aos demais alunos que fizessem um intervalo, para que todos pudessem imaginar e refletir sobre tudo o que haviam aprendido até o momento. Após sair da sala de aula, Lídia sen- tou-se em um lindo jardim onde havia várias e várias espécies de orquídeas. Ela então as admira, pois eram a sua flor preferida, que ela e Anita cultivavam com muito carinho quando da sua estada no plano físico. As duas costumavam comentar que as orquídeas eram lindas por serem barrocas e nativas. Aquelas or- quídeas, plasmadas no astral para sua sensível admiração, tam- bém eram uma tática para que Lídia se lembrasse do caminho de volta, que ela agora teria de seguir. Irmão X, pela técnica da telepatia, muito comum entre os espíritos, diz a Lídia: – Não temas irmã, o que tu fizestes até agora foi alcan- çar raios iluminados o suficiente para aprender e renascer, sem que haja qualquer empecilho. Lá, viverás por 94 anos na conta- gem terrestre. Seus anjos e protetores estarão ao seu lado o tem- po todo durante a sua estada no Plano Terrestre. – E como devo agir de agora em diante, irmão? Na mi- nha volta? – A sua missão será árdua; terá algumas dificuldades e, 259
  • 260. no seu caso, excepcionalmente você perdera a consciência bem próximo ao momento da sua reencarnação, ou melhor, no mo- mento exato do seu nascimento. Esquecerá tudo que passou aqui conosco e se tornará uma criança totalmente inocente. – Mas isso é necessário, meu irmão? Por que eu devo perder a consciência? – Deus nos dá o livre-arbítrio, mas existem regras. Pe- rante as Leis do Universo o esquecimento é necessário, e isso nos é dado pela misericórdia de Deus, para que não nos perturbe- mos com os erros do passado. Pense bem; como seria se você reencarnasse sem perder a consciência? Como seria nossa nova oportunidade na Terra com nossa consciência cobrando os nos- sos erros do passado? Siga o seu coração e o seu destino. Saberás por si mesma e pelo seu instinto como deverá agir. – Irmão, desculpe-me por tantas perguntas, mas tenho que lhe fazer mais uma. – Fique à vontade minha boa irmã, estou aqui exata- mente para lhe orientar. Esta é a minha missão ou função, auxiliá- la respondendo a todas as suas perguntas. Fui designado pata esta colônia com essa finalidade. – Por que eu, excepcionalmente, tenho de perder a cons- ciência e os outros que reencarnam não a perdem? – Não é assim, Lídia. Todos que reencarnam perdem a consciência literalmente. Uns bem próximos ao nascimento, outros bem antes, e outros até alguns anos antes de reencarnar. Cada um com seu histórico. Enfatizo: cada caso é um caso, mas todos são acompanhados por Espíritos esclarecidos e especializados para cada caso, e também pelos guardiões desig- nados para cuidar e lhe proteger durante sua estada no plano físico. Há também uma legião de espíritos que trabalham para resguardá-la durante a gestação da futura mamãe, e quando lá você renascer ou nascer, terá vários anjos, vários Espíritos de Luz 260
  • 261. para lhe acompanhar até o fim de sua jornada terrestre. No seu caso, você e a Legião de Espíritos precisarão estar próximos à sua futura mamãe, exatamente para que ela sinta sua total presença e não desista da criança que está em seu ventre. E você terá a gran- de oportunidade de ampará-la em seu sofrimento durante e até o final de sua gestação. Essa assistência que você dará a ela fará parte da sua missão nessa sua nova passagem. A partir de hoje, Irmã Lídia, a sua missão será estar ao lado dela até no momento da sua reencarnação. Proteja-a com toda a sua energia e a sua paz. Zele bem pelo corpo carnal de sua futura mamãe e lembre- se: você encontrara muito sofrimento naquela alma encarnada, pois tudo isso faz parte do resgate dela. Não esqueça, minha irmã, que a vida, tanto aqui quan- to no plano físico, é um grande aprendizado para todos nós, desencarnados e encarnados. Então, a esses dois processos pode- mos nos referir como teoria e pratica ou vice-versa. Em um plano você aprende e em outro você pratica o que aprendeu. Mas quem aprende na teoria pode fazer tudo errado na prática, por isso o livre-arbítrio. – A minha afinidade será grande com essa pessoa, ir- mão, eu tenho certeza, pois já a conheço. Digo isso pelo que eu aprendi aqui e por minha intuição. Conheço também um pou- co mais o meu coração, logicamente que aqui eu tive a oportu- nidade de aprender a amar o próximo e ser solidária e, além do mais, sinto que já a conheço. Principalmente após descobrir em minhas aulas que em vidas anteriores já estive com ela em uma ligação familiar, meu bom Irmão X. Farei o melhor para que tudo dê certo. – Bem Lidia, como você já sabe, por seu excelente de- sempenho em suas aulas, a reencarnação é como a morte para os que aqui estão. Você irá desaparecer do nosso convívio para esta missão, e lá no plano físico se tornara outra pessoa, mas com o mesmo espírito, pois o corpo físico após a morte apodrece e 261
  • 262. vira pó, mas o espírito, esse minha boa irmã, é eterno, porque Deus nos fez eternos. Então, quando o espírito precisa reencarnar, seria como trocar sua roupagem espiritual por um novo corpo físico Quero que saiba de uma coisa muito importante. Quan- to a você reencarnar agora, é notório que realmente é um pouco cedo, e que você poderia desfrutar de sua estada aqui conosco por mais algum tempo, mas por sua excepcional desempenho você está pronta. Dessa vez, além do seu resgate, também lhe pedimos que como voluntária abraçasse esta missão. Você po- derá permanecer por mais um tempo aqui conosco se quiser, mas queremos lhe pedir que antecipe sua reencarnação como voluntária, por que neste momento se assim o fizer estará pres- tando um grande serviço para sua futura mãe, seu futuro irmão e para a Espiritualidade. – E eu poderei saber o que é este servi- ço voluntário, meu bom irmão? – A bem da verdade, você seria a primeira dos dois fi- lhos dessa mulher, cujo nome no plano físico é Camila. Mas o espírito que iria reencarnar em sua atual gestação não tem por enquanto a mínima condição pelos seus traumas sofridos, mo- tivados exatamente pelos abortos provocados por aquela mu- lher. Consequentemente, ela também passou e passará por vári- os traumas e, nesse caso, você estaria dando a grande oportuni- dade a esse espírito, que está sob tratamento em uma colônia especifica de ser seu irmão. Assim sendo, ele não perderá a opor- tunidade de voltar para seus acertos, afinal, será sua quinta e última tentativa e, se ele não conseguir reencarnar, ficará por vários séculos perdido em seus próprios traumas psíquicos. Para que você tenha idéia de como ele está neste momento, vou materializar o local onde ele se encontra em suas deformações psíquicas. Assim que foi plasmado o local onde aquele espírito se encontrava, Lídia levou um grande susto e perguntou: 262
  • 263. – Então eu estaria reencarnando por solidariedade a este espírito? – Sim, Lidia. – Afirma o mentor. Havia ali um espírito em uma situação degradante, meio adulto, meio criança. Enquanto ele se preparava, ou seja, volta- va para o seu estágio infantil, sua genitora estava se relacionando intimamente, de forma que sua gravidez seria inevitável, pois ela não tomava os devidos cuidados, era promíscua. E aquele espírito, nos abortos que Camila praticava, era arrancado de seu ventre aos pedaços, como se fosse arrancado de uma cratera, sem nenhum pingo de misericórdia. De outro ângulo, ele se via dissolvendo e podia sentir que estava sendo jogado em um vaso sanitário para ser devorado pelo esgoto. Ouvia-se, de forma te- lepática, aquele espírito pedindo por clemência, dizendo que amava sua futura mamãe e, em cada nova tentativa de renascer, ele fazia o possível para que ela o recebesse com carinho e digni- dade, mas toda vez sofria outra decepção. Mas ele nunca desis- tiu de sua mãe, por ser ela eleita a mulher que lhe daria a grande oportunidade de seguir a caminho da perfeição. – Portanto, minha boa irmã, – explica o mentor Irmão X –por mais uma vez ele irá tentar se refugiar exatamente no ventre que lhe feriu, mas como agora ele não tem a mínima condição de reencarnar, pedimos a você que antecipe sua passa- gem para o plano físico, salvando Camila e este espírito da de- gradação total por vários séculos. Mas saiba que esta decisão é só sua, nenhum de nós pode decidir por você. Posso lhe afirmar que será a atitude mais nobre que poderá demonstrar, e com essa atitude estará colaborando com Camila e com esse espírito para um resgate mais suave, e também aos demais envolvidos neste processo. Para nós, que estamos lutando para a melhora desse espírito, será uma grande vitória, e você também estará colaborando com o sistema ou processo de vidas, tanto no plano espiritual quanto 263
  • 264. no plano físico. Isso lhe trará um reconhecimento maravilhoso da Alta Espiritualidade. – Eu tinha algumas dúvidas quanto a voltar a voltar ao plano físico, mas após ver o sofrimento desse espírito, lhe afir- mo Irmão X, que estou pronta para esta missão. Haverei de passar dias felizes em minha volta para cá, quando me for per- mitido o regresso. – Você esta certíssima, Lídia, e lhe repito que, durante a gestação de Camila, haverá muito sofrimento daquela mulher, pois este sofrimento lhe trará um grande aprendizado e o reco- nhecimento dela do mal que fez, tanto para a alma quanto para o corpo físico com os abortos que praticou. Inclusive, após o seu nascimento, ela tornará a ficar grávida para receber o filho que renegou por várias vezes, interrompendo por meio do abor- to a reencarnação daquele ser inofensivo que você viu plasmado através de uma tela telepática. – Este, para mim, será o maior dos desafios e uma gran- de oportunidade de ser solidaria. Sei também que estar junto a essa mãe me fará gloriosa, pois numa dessas viagens de retorno, em vidas anteriores, já estivemos juntas. – Você irmã, é muito querida por todos nós. Nós apren- demos a lhe amar verdadeiramente. O seu progresso se fez mui- tíssimo rápido depois de chegar a este plano. Esse é o resultado de sua coragem, de sua luta e persistência. Você realmente é uma grande guerreira. Prossiga sem temer a nada, irmã Lídia. Estare- mos com você em todas suas dificuldades, creia-me. 264
  • 265. O Retorno de Lídia Lídia ainda traz alguns vestígios de seu psiquismo quando fora martirizada pelos espíritos da baixa esfera. Após algum tempo ausente, ela regressara, porém com uma roupa- gem magnífica de amor, serenidade e grandes afetos conquis- tados no mundo da Espiritualidade. Ela se alegrava por ter o alvedrio de volitar (andar) para onde queria. Assim veria, por vezes mais a Anita, a quem o seu enlace de amizade perma- neceria como uma esmeralda valiosíssima em seu coração, mesmo depois de reencarnações posteriores. Agora Lídia sabia um pouco mais sobre os dois mun- dos, um pouco mais do que ha entre os Céus e a Terra. E quanto o homem ainda caminharia na conquista da perfeição ou de um Céu. Lídia sabia que teria à sua frente uma imensa quantidade de degraus a subir, mas tinha a precisão necessá- ria, em conhecimentos abarcados pela Espiritualidade, de onde deveria iniciar o seu caminho. Seria fiel e breve em sua busca. – Onde deverá estar a quem eu procuro? Certamente que o tempo me dará essa satisfação. Estática com a visão que tivera desse mundo após o seu aprendizado espiritual, Lídia, totalmente resignada, adentra à casa de seus recém-amigos a quem tanto aprendera a amar e respeitar, deixando ali uma aura tão formosa e com aroma de orquídeas campestres, que o aroma era inconfundível. Ela exalava seu perfume suave gratuitamente por amor aos seus amigos. – Anita, que aroma suave... Parece ter vindo de fora! Você está sentindo? – Você também, meu amor, está sentindo? Pensei que fosse somente eu. Por isso me calei. Foi uma suave brisa que 265
  • 266. entrou pela janela de nosso quarto. Esse perfume pertencera à Lídia, pertence a ela, meu amor, ela adorava orquídeas. Lídia está aqui neste momento para nos dar a sua mensagem de amor. Ela parece quase um anjo em sua brandura... Eu posso senti-la. Anita teve a impressão de estar vendo quase um anjo, porque aquele processo era verdadeiro. Lídia, em espírito, esta- va passando por uma metamorfose, voltando ao estado infantil. Emocionada, ela se põe a chorar e, aproximando-se do pequeno bebê de Anita, este lhe sorri. Naquele momento de vibrações magníficas, entra no quarto uma jovem que há duas semanas apenas fora admitida para cuidar dos afazeres domésticos. Prontamente, após servir o chá da tarde para Anita e Oscar, ela sente uma pequena tontura, sendo logo apoiada por Anita, que estava ao seu lado, sentando- a numa cadeira que estava próxima à cama. – Perdoe-me, senhora, por favor. Nunca senti uma sen- sação estranha como essa... Estou ficando tonta. Parece que os meus sentidos se vão... – Não se preocupe, Márcia, isso pode ser queda de pres- são. Abaixe um pouco a sua cabeça. – Não, minha irmã! Sou eu, Lídia. A paz esteja com vocês. – Oscar! Eu imaginava que fosse Lídia. Como você está minha querida? – Creio que estou melhor do que mereceria estar. – Lídia, nós não te esquecemos jamais... – Como eu posso não saber e não agradecer a vocês, principalmente pelo que me fizeram para que eu alcançasse o meu progresso? Por isso venho a vocês pra dizer-lhes que o meu retorno está próximo. Que Deus, em sua bondade infinita, está permitindo o meu regresso. Irei reencarnar e estarei sempre pertinho de vocês. Meu Deus, estou tão feliz! Ao dizer aquelas palavras, Márcia, como numa verti- 266
  • 267. gem, se derriba nos braços de Anita e Oscar. Eles a deitaram sobre a cama para que ela pudesse refazer as energias doadas. Calmamente, Márcia se levanta perguntando aos patrões: – O que eu fiz? Sei que falei um bocado de coisa, mas eu não consegui me controlar, não sei por que aconteceu isto comigo, com certeza vocês vão me demitir. Calados, eles a olham sem lhe dizer nada. – Os senhores me perdoem, eu nunca me senti assim em toda a minha vida. Se os senhores pensam que tenho algu- ma enfermidade, por favor, não me demitam, eu preciso muito trabalhar. Nunca aconteceu isso comigo. Eu sinto muito, vou arrumar as minhas coisas. – Márcia, você não sabe por que lhe aconteceu tudo isso? – pergunta Anita. – Não, senhora... Creio que tive um passamento ou uma epilepsia, ou outra coisa qualquer, porque olhando em seus sem- blantes, algo horrível deve ter me ocorrido aqui, há poucos mi- nutos. – Sim, Márcia, ocorreu, – conta Oscar. – E você é uma pessoa enorme, admirável, formidável. Que Deus te ilumine, filha! – Mas, enfim, o que foi que aconteceu para o senhor usar esses termos tão reconfortantes comigo? Após Anita e Oscar contar o ocorrido, a moça totalmente espantada se levanta e diz: – Mas isso senhor, não pode acontecer comigo, porque os meus segmentos são opostos a isso. Eu sou evangélica, meus pais já nasceram evangélicos. Eu não aceito essa linhagem religi- osa. Oscar e Anita se calam. A moça pede licença a eles para se retirar e não mais voltar ao trabalho nem sequer para receber os dias em que efetivara o seu compromisso. Não deixou ende- reço algum e saiu dizendo baixinho: 267
  • 268. – Vade retro, Satanás! Em casa de macumbeiro, nem passando fome eu trabalho. Seis meses depois, Márcia retornou à casa deles para pe- dir-lhes perdão e dizer que, após uma pesquisa pessoal, ela pas- sou a ver a Espiritualidade de um modo respeitoso, solidário, participativo e verdadeiro, e que a partir daquele dia se tornaria uma espírita convicta. Isso foi para Anita e Oscar motivo de alegria e prova de que o mundo não está resumido, mas sim, abrangente ao infinito. Márcia, uma moça de poucos estudos e grande vontade de desenvolvimento intelectual, de imediato foi convidada por Oscar para preencher uma vaga em uma de suas instituições, onde poderia trabalhar e estudar, só sairia dali quando quisesse e depois de formada, pois os seus estudos seriam por conta da Corporação. A moça fica feliz e aceita, pela forma humilde com que lhe ofertaram. Lídia sofre perseguição no Umbral – Olhe só aquelazinha! O que você está fazendo aqui? Se cansou de suas asinhas? Não, eu acho que você sentiu sauda- des dos seus demônios. Venha aqui pra eu lhe dar um abraço! – Afaste-se de mim, porque sou uma serva de Deus. – Engraçado! Então a gente pode fazer a desordem que quiser que não acontecerá nada de ruim. Legal! – Porque dizes isso? – Ora, vejam só. O que tu eras e agora quer posar de santinha! É uma perdida disfarçada de... – Cale-se! Não vou ouvir mais os seus abusos, as suas difamações. Eu simplesmente não persisti em meus erros passa- dos, eu os reconheci. – Mas por que então nós ficamos aqui neste inferno, sendo somente você a protegida, a privilegiada? 268
  • 269. – Eu não sou privilegiada, todos nós somos, é só ques- tão de querer. Vocês não quiseram e não querem. Isso foi o que vocês fizeram a mim, mas em tempo reconheci minha revolta e ódio e me arrependi. Deus, em sua infinita bondade e miseri- córdia, permitiu que os nossos irmãos de luz viessem em meu auxílio. – Ora vai se danar... Eu vou chamar e reunir a legião para que você sinta novamente o peso de nossos aferros. Lídia sentindo-se constrangida e sem saber como pode- ria se defender, medita e implora a presença dos irmãos da alta esfera. Prontamente é atendida por Irmão X. – Eu e outros espíritos estamos próximos, nem você nem ele podem nos ver, mas estamos na sua sintonia. Enfrente-os sem temor, nós estaremos contigo irmã, em todos os instantes. -Não os tema, pois o teu medo pode lhe trazer transtor- nos. Enfatizo: não tenha medo. Com um barulho ensurdecedor, os quiumbas se manifes- tavam. – Ela voltou, ela voltou! Vamos pegá-la. Desta vez ela não resistirá. – Senhor, tenha misericórdia de mim e destes irmãos que têm os corações em chamas e os olhos tão escuros para o infinito! Misericórdia, Senhor! Ao se aproximarem, o corpo fluídico de Lídia foi se refletindo em múltiplas luzes até que, assustados, eles se afasta- ram. Tentaram mais vezes se aproximar dela para capturá-la, mas não conseguiram nada. Para eles, os quiumbas, talvez fossem novos truques que ela aprendera com sua nova gangue. – Vamos cair fora daqui! Essa mulher está muito estra- nha, assim, com tanta luz! Luzes que nos perturba e nos ofus- cam. Estou fora! Nem mesmo lídia entendeu direito o que se passara! Protagonista desse ato, não soube esclarecer o que vivenciou ali, 269
  • 270. no entanto, foi agradecer aos mentores pelo luminoso aconche- go. Dali, Lídia se dispersa, dirigindo a sua atenção ao seu com- promisso de busca. Os olhos da espiritualidade, em seus breves reflexos, fizeram Lídia descobrir o que procurava encontrar. Emocionou-se ao vê-la: Uma mulher maltrapilha que vagava inerte, cuja pobreza se esvaia em seu semblante, a encostar-se no canto de uma rua. Uma mulher ferida na alma e problemática, com olhos que não refletiam mais as perspectivas que a vida poderia lhe ofertar. Uma senhora jovem, cujo destino rasgava-lhe as entranhas... Quem sabe, talvez a sua alma, ocasionada pelo ensejo de vidas anteriores... Quem sabe. Os seus cabelos longos... O seu cansa- ço fatigante, por já não mais suportar o peso de seu ventre nem os dissabores ganhos nessa vida, tão amargurada vida! A toda essa cena, meticulosamente Lídia observava, até que, em sua aproximação, percebe que sentiu fome, porém não se sentiu desamparada. Estranho, pela primeira vez após a sua ascensão espiritual, depois de seu desencarne, ela sentiu fome! Além do que, juntinha daquela mulher o que Lídia queria e necessitava era de proteção. Muito estranho. Após alguns minutos em que volitara, Lídia sente por extinto que estava à frente de sua mãe, por um instinto familiar. Ela percebera que chegava a hora de sua volta ao plano físico. Ela iria reencarnar. Muito triste por ter de deixar seus amigos do plano astral mas feliz por ter a oportunidade de reencarnar para resgatar suas dívidas do passado, e também porque estava à ser- viço da Espiritualidade, em especial daquele espírito que viu plas- mado, ela se sentia agasalhada, apesar de que o seu compromis- so se fazia, e não poderia mais deixar aquela mulher a sós, deve- ria cuidá-la para que não sofresse as perseguições dos espíritos maledicentes e renunciasse àquela gestação. – Não! Isso não. Afinal, sou uma guerreira. – afirma Lidia. – Camila não irá renunciar, e é para isso estou aqui. Lou- 270
  • 271. vado seja o Pai Celestial, eis a minha mãezinha! A partir de agora permaneceremos juntas, aconteça o que acontecer. Teremos um grande período juntas. Anoitecia. Aquela mulher com fome não se dava conta de nada. Calada, encostou-se nas paredes de uma construção que a protegia dos ventos do sul. Uma brisa suave tocava os seus lindos cabelos e a magnífica Lua deixava marcada, nas paredes em ruína, o belo semblante de Camila. Aquela mulher a quem Lídia buscava, era Camila. Entre ela e o bebê, uma magia eston- teava Lídia. Ao ver Camila tocar seu ventre com uma de suas mãos, Lídia fechou os olhos para sentir-se acariciada, mesmo ainda estando ao seu lado. Era o amor, infinito amor entre duas energias emanadas por Deus: Mãe e filha. Nesse momento, aconteceu uma explosão naquele jovem espírito... Lídia não estava e nem se sentia mais só. Por vezes seguidas, sem que sua futura mãe percebesse, em noites frias e chuvosas, Lídia encontrava e induzia Camila sempre a uma gua- rida, para que sua futura mamãe ficasse protegida. Passam-se três dias apenas quando se surpreende, logo pela manhã, com uma senhora que, ao passar por elas, com um branco nos cabelos denunciava a sua idade de anciã, piedosa- mente pergunta: – Filha, você com certeza precisa de ajuda. Deseja algu- ma coisa? O que posso fazer por você? – Tenho fome... – O que faz sentada neste chão úmido e frio? Você não tem casa? Nem família? – Não. Eu tenho muita fome e frio... – Você está com uma gestação já muito avançada. Ve- nha, deixe-me ajudar-lhe, Levante-se! As forças da jovem estavam aniquiladas; arrastava os pés no chão para seguir a senhora que lhe prometera um pouco de alimento. 271
  • 272. – Olhe, filha, a minha casa é simples mas sempre cabe mais um Sente-se aqui nesta cadeira que vou lhe preparar algo para comer, e também vou preparar um bom banho para você. Prontamente a senhora volta com uma variedade de ali- mentos para Camila que, vagarosamente, passa a se alimentar. Após um copo com refrigerante, Camila se levanta da cadeira e aproxima-se da boa senhora. – Deus a abençoe senhora. Agora eu tenho que ir. – Diz-me filha, onde é que você mora? Veja os seus pés, estão inchados e você está rastejando. Se você quiser, darei um jeito de levá-la até a sua casa. Camila, calada, saiu em direção à rua e vagarosamente, acompanhada pelos olhos piedosos daquela senhora, cabisbaixa se despediu, até completar o final do horizonte demarcado por aquela rua. – Pobre menina, tão jovem e jogada pelas ruas para cum- prir o seu destino. Certamente que haveria uma resposta. Quem sabe a fe- licidade de Camila não estaria depois de todo esse sofrimento? Esse é um mistério que o ser humano não conseguia decifrar ainda. Lídia por sua vez se comovia ao lado de sua mãe. Porém, uma aragem acariciou-lhe, saindo dali uma voz oculta que sus- surrou em seu ouvido. – Eis tua mãe, e aí está você. Na verdade, o espírito que era para estar aí, onde você se encontra, seria aquele que por várias vezes tentou reencarnar como filho desta mulher, para que ambos se completassem em seus resgates cármicos. Mas não é possível por enquanto que ele renasça, pois, com as tragédias pelas quais passou em consequência dos abortos provocados por Camila, ele se encontra deformado e quase destruído em seu estado psíquico, por isso foi solicitado a você que reencarnasse como filha de Camila, já que tens afinidade com ela de vidas passadas. Faça com ela um lindo elo e prepare-se para o seu 272
  • 273. regresso ao plano físico. Logo terá um irmãozinho para lhe fazer companhia em sua vida terrena Feliz, Lídia, em meio às lágrimas ora chorava, ora sorria, por certificar-se que realmente seria aquela a sua futura mamãe. Ela se unira àquela mulher e dali em diante lutaria contra as tiranias do sobrenatural. Juntas prosseguiriam com seus com- promissos para poder resgatar saldos anteriores. Essa seria a vitó- ria de Lídia. Os momentos de alegria foram breves, por causa das coisas es- tranhas que às vezes Camila fazia. Da forma que se encontrava, afastada do mundo, por causa do grande abalo pelo qual havia passado com a morte de seu companheiro Josué, a fome e o frio também as assolava. Camila balbuciava algumas palavras ao levar as mãos ao ventre. – Meu bebê... – e chorava... Ambas choravam. Seguem-se os dias. Enquanto o bebê crescia naquele humilde ventre, o espírito daquele bebê, ou seja, Lídia, também crescia em evolução, até que finalmente completa-se o ciclo do milagre da vida, pois Camila já havia chegado ao nono mês de gravidez. – Já estamos preparadas pra nossa união e para receber a nossa missão, minha mãe. Sinto-me um tanto desligada do pas- sado e da minha vida espiritual, porque percebo que outra esfera ou domínio renasce em mim. Deus permita que vençamos esse trajeto, e que não tenhamos medo algum do que poder vir a acontecer conosco. Alguns dias depois, logo ao entardecer o tempo se fe- chara para uma tempestade. Lídia pressentira algo ruim, pois aquele tempo lhe perturbava. Por quê? Devia haver algo que pudesse servir-lhe como explicação. O tempo se fechava ainda mais, foi quando Camila começou a passar mal. Dores horríveis 273
  • 274. surgiram em seu corpo e sua voz de clamor ressoava em seus lábios. Já muito fraca pela desnutrição e maltratada pelo tempo, mostrava sinais de derrota, sentindo que poderia perder aquela criança que estava para nascer. Em seu desespero ela clamava a Deus. – Meu Deus! Não deixe que eu perca o meu bebê, pois já aprendi a amá-lo acima de minha própria vida. Lídia também rogava a seus amigos espirituais – Meu Deus, peço-lhe ajuda! Permita que os espíritos protetores ve- nham em nosso socorro. Por que agora, quase ao final de sua gestação, a minha futura mamãe se encontra dessa forma? Lídia sabia perfeitamente da situação emocional e física de Camila. Porém, era inadmissível que algo ruim viesse a acon- tecer-lhe. De repente, uma suave voz e já conhecida por Lídia veio novamente aos seus ouvidos lhe sussurrar. – Minha irmã, cuidado! Todas essas mazelas estão sendo provocadas pelos espíritos da baixa esfera, para que tu não venhas a ter a oportunidade de reencarnar. – Mas por Deus! O que devo fazer? – Consulte o seu coração, tu bem sabes da força que emana de ti, e que nós estaremos sempre juntos. Não temas... Pense na doce mãe de Jesus, pense em alguém do plano espiritu- al que possa lhe dar forças e também em espíritos encarnados que possam lhe ajudar. Mantendo contato com seres deste pla- no em que você irá renascer, se forem do bem, com certeza terá grande auxílio, porque essas pessoas poderão lhe fornecer um bom ectoplasma para revigorar tanto você, quanto a sua futura mamãe e farão parte da vida de vocês. De imediato, seu pensamento inexato chega a quem muito colaborou para tirá-la do umbral: sua mãe, e também em Anita e Oscar. Logo ela recebe uma mensagem de espíritos cola- boradores que se fizeram voluntários em busca do sucesso da missão designada para Lídia. Eram Mãe Benedita e outros. 274
  • 275. Percebe que eles, Oscar e Anita, estavam justamente à procura de Camila, e que por capricho do destino, ou melhor, pelas leis do Universo, elas estariam juntas novamente, o que Lídia consi- derou um presente de Deus. Então, com muito mais vibração, ela consegue se comunicar por telepatia com sua mãe que estava bem, em sua caminhada espiritual. – E Anita, como fazer agora para que também esteja neste encontro? Irmão X e seus superiores do plano metafísico preparam o espírito de uma criança que muito trabalha no plano espiritu- al, cujo nome é Saulo, para fazer uma visita a Anita, instruindo- a para que saia à procura de Camila, levando Oscar até uma delegacia próxima de onde estava a pobre mulher. Foi esse o meio que Lídia conseguiu para ajudar sua futura mãe, junta- mente com os demais irmãos do mundo espiritual. Quando Irmão X se afasta de Lídia, nuvens escuras em formato de sombras se põem sobre ela com palavras imundas e risos sarcásticos. – Nós jamais permitiremos o seu retorno sua traidora, você já sabe disso. Afaste-se dessa mulher porque ela nos perten- ce. O homem dela nós já resgatamos, só falta ela. Você não fará nada para nos impedir. Nós arrancaremos neste instante o feto que se encontra no ventre dela, assim como fizemos com os outros que ela gerou. Uma legião perversa e maligna toma a frente de Camila, que grita pedindo socorro, pois suas dores já estavam muito fortes. Na rua onde se encontrava as pessoas a olhavam com indiferença dizendo: – A louca hoje está embriagada. Camila escondia sua gravidez o máximo que podia com um cobertor velho ganho de alguém que teve piedade dela, porque na verda- de, os espíritos ruins passavam essa vibração para ela. Assim Camila não teria socorro e os maus espíritos lhe provocariam mais um aborto. 275
  • 276. – Qual nada, é a cirrose dela que vai estourar de tanto álcool ingerido. – Dizia outro curioso que por ali passava. To- dos ali profanavam o sofrimento da pobre mulher, pois não sabiam realmente das más influências. Lídia, repelindo os maus espíritos dizia: – Deixem a mim e a minha futura mãe em paz. – Saia daqui sua traidora! – Vão embora todos, saiam daqui e deixe minha mãe em paz. – Nós conseguimos o melhor para arrebatar as forças dela contra nós. Ela blasfemou, pois esta ficando irritada com isso tudo. Ela mesma está afastando os espíritos de luz. – Ó, meu Deus, me perdoe! Preciso ter calma e fé! Um vento saiu de trás do corpo astral de Lídia e imedia- tamente desfez aquela sombra em migalhas soltas pelo ar. Eram os guardiões da noite, conhecidos por muitos como Exus, que vieram em seu auxílio a pedido de sua mãe que vivia no plano astral e que ali também se encontrava para ajudá-la. Enquanto isso, um anjo chamado Saulo se fazia presen- te na casa de Anita com outras crianças, espíritos brincalhões mas de muita luz. Anita, com sua percepção, sentiu que havia ali no meio da sala uma criança que soltava várias esferas de luz de todas as cores. Chama por Oscar pedindo que ele vá depressa para a sala. Assim que Oscar entra sala adentro vê nitidamente uma linda criança de olhos azuis, de uma beleza angelical e ma- ravilhosa, brincando com outras crianças. Então, Saulo materi- aliza no meio das esferas um retrato de uma jovem conhecida do casal. O retrato estava bastante ofuscado, mas ele pode per- ceber que se tratava de Camila. Assim que aquele fenômeno desapareceu, sem perda de tempo o casal sai à procura de Camila, mas sem saber onde encontrá-la. Nesse momento, a mãe de Lídia, que muito colaborou para que ela saísse do umbral, entra em ação intuindo ou fazendo com que eles vissem e fossem até 276
  • 277. uma delegacia, ao mesmo tempo em que consegue afastar os maus espíritos de Lídia. – Nós não podemos com você agora, mas no ato de sua reencarnação você ficará totalmente vulnerável a nós. Você verá que não é fácil assim como pensa a reencarnação, pois reencarnar é o mesmo que morrer. – Eles afirmam. – Eu sei que reencarnar é morrer, mas também sei que é um renascimento. E eu confio em Deus e nos bons companhei- ros espirituais, portanto, não tenho medo de vocês. Lídia volta-se para Camila, que agora parecia já ter se acalmado. Os gritos e as dores amenizaram e já não havia mais o desespero. Encostada em uma parede qualquer, ela adormece. Aquela noite estava fria e a roupa que Camila vestia era apenas um vestido fino, já muito sujo, nada mais. A não ser aquele velho cobertor que escondia sua gravidez. Ela se encolhia no canto de um muro e se cobria com o velho cobertor que al- guém, por misericórdia colocara em seu corpo debilitado. A rua era pouco movimentada e ali ela se encostava para ficar sossega- da. Lídia, juntinho a ela, constantemente orava louvando a Deus por todos os segundos de estada junto àquela mulher e tentava lhe dizer algo, mas ela não ouvia. Só um pouco mais tarde, lá pela madrugada, que um velho senhor, ao aproximar-se de Camila, colocou em seu corpo outro pequeno cobertor para protegê-la das intempéries que assolavam o ar numa canção tris- te de amor. Na manhã seguinte, Camila se mostra sem forças para a vida. O seu semblante se modificara e Lídia percebera que ela estava estranha. Camila começa a chorar e a reclamar do que estava passando. – Mas o que está acontecendo comigo? Lembro-me va- gamente do que me aconteceu num passado próximo, pois ain- da estou grávida. Ó meu Deus, o meu bebê! O desanimo to- mou conta totalmente de mim, não tenho forças nem para me 277
  • 278. levantar deste lugar! Sinto dores, dores fortíssimas. Ajude-me meu Deus, não deixe que eu perca o meu bebê, pois é a única coisa que tenho nesta vida! Lídia, ao perceber que Camila estava se recordando do trauma que vivera na noite passada, fica muito feliz. O início das contrações de sua futura mamãe começa a lhe arrastar para o ventre de Camila. A dor que Camila sente já não são mais ema- nadas dos espíritos perversos, mas sim contrações que antece- dem o nascimento de seu bebê. Nesse momento, Lídia roga a Deus. – Que tenhamos coragem, que sejamos fortes, porque é chegado o momento. Turbulências e fortes nebulosidades ve- dam os olhos de Lídia. Nua, molhada e inquieta, ela busca as entranhas, para se desligar do cordão. No mundo espiritual, tra- va-se uma grande batalha entre luzes e trevas, entre o bem e o mal, entre anjos e demônios. Do ventre de Camila jorra um caminho de luz para que livre, a pequena criança pudesse nascer. – Alguém me socorra, por favor, o meu bebê está nas- cendo! – Grita Camila, em busca de ajuda. Algumas senhoras curiosas se aproximam, mas ninguém ousa lhe ajudar, pois esta- va muito mal cheirosa e suja. Mandaram que viessem policiais para socorrê-la. – Senhor delegado, bem próximo daqui há uma mu- lher dando à luz. – É uma mendiga? Que fica por aqui, em volta da dele- gacia? Mande alguém buscá-la para levar a um hospital, não posso sair agora porque estou com uma ocorrência de uma pessoa de- saparecida, e esse caso não é tão importante, é só uma moradora de rua. A ocorrência da pessoa desaparecida era justamente a pedido de Oscar e Anita, que estava com aquele delegado à pro- cura de Camila. – Não seja por isso, nós fazemos questão de ir junto 278
  • 279. ajudar essa mulher. Dependendo do caso, poderemos levá-la a uma de nossas instituições. Depois continuamos a procurar Camila. – Diz Oscar ao delegado. – Já que vocês acham que devem ajudá-la... Eu acho que não vale a pena, mas se assim querem. Adotar uma mendi- ga... Aviso a vocês que ela é louca, mas se querem ir, então va- mos até ela, mas acho que vocês não irão aguentar o mau cheiro. As dores que Camila sente se refletiam em Lídia. – Deus, fortaleça a mim e minha futura mãe para que não nos separemos! As dores ultrapassam os seus sentidos... Camila, com a sua mão direita estendida, só ouvia sussurros. – Meu Deus, pobre mulher! Não devemos colocar a mão, pois a situação dela só vai piorar. O socorro está para chegar. O vento que vinha do sul trazia consigo um clima frio, pois já era inverno. Camila ali, no canto da rua, procurava se proteger. Lídia, confusa e em meio àquela triste cena, já não pensava e nem queria mais regressar a este mundo expiatório. – O que será de mim? Como me defenderei de tantas aflições neste pequeno corpo físico? O que Lidia sentia era simplesmente o reflexo das desi- gualdades que há entre os homens. Contudo, existem grupos imensos de espíritos benevolentes, tanto encarnados quanto desencarnados. – Deus, ajude-me! Estou me asfixiando! Ah! Nesse momento, um grito imenso se ouviu nas Espiritualidade, e um grupo de benfeitores ali presentes ajoelhou-se diante daquela cena e bendizendo a Deus por sua bondade suprema. – Meu Deus, meu bebê está nascendo! Pensando bem, eu não posso ter esta criança nesta total miséria. – Esse pensamento de Camila era transmitido pelos espíritos de baixa frequência para que houvesse o aborto. – Mas eu já aprendi a amar esta criança, afinal, ela faz parte do verdadeiro amor entre 279
  • 280. mim e Josué. – Já estes pensamentos, seriam exatamente os guias, protetores ou espíritos de luz que transmitiam a Camila, para que ela não desistisse. – O que eu faço agora? Aqui sozinha, na rua. Alguém me ajude! As dores queriam tomar os seus sentidos e a vertigem já lhe tomava, deixando seus olhos ofuscados. A sua mão, porém, continuava estendida em busca de ajuda. – Pelo indicado e o tumulto de pessoas, deve ser ali mesmo que a mulher está. – Diz o delegado. Anita e Oscar se assustam quando reconhecem no semblante daquela mendiga o rosto de Camila. Oscar é o primeiro a correr a dizer. – Anita! Será que... – Sem sombra de dúvida. Aquele é o vestido que lhe dei, nós a encontramos! Veja Oscar, Camila está com a mão estendida, pedindo ajuda. Não tardou para que o carro parasse diante de Camila e Anita e Oscar fossem correndo ao seu encontro. – Minha menina! – Diz Anita. – Por que você está assim? Eu vou lhe amparar... Não tenha medo, pois somos a sua família. – Que situação! Por que isso, Camila? Ao sentir os braços singelos de sua amiga, Camila, muita fraca, sussurra algumas palavras, e todas as pessoas que ali estavam se apiedaram de suas lágrimas. Estou sendo mamãe! Isto é lindo, é uma benção! Eu não consigo vê-la direito à minha frente, mas sei que é você Anita, e o que lhe peço é que você divida o seu amor comigo, não deixando que o meu bebê caia em mãos alheias às suas. Não me sinto bem... Diga ao meu bebê que estou muito feliz por lhe dar a vida, mas sinto que não suportarei, sinto que não posso continuar. Um choro forte se ouve entre tantas vozes caladas e surge uma linda criança, uma menina que acabara de nascer. Anita 280
  • 281. trajava apenas um fino vestido em tom verde, e trazia em seu ombro uma blusa de tecido leve, mas ao ver a nudez da criança, de imediato tirou-a de seus ombros para envolvê-la. Camila cuidadosamente é apanhada do chão e levada à ambulância para que pudessem socorrê-la. No hospital Camila está desfalecida, o corpo gelado e inerte em meio às roupas maltrapilhas... Só um respirar frágil em um peito magro e quase sem vida. A criança estava fora de perigo e havia sido levada ao berçário para os devidos cuidados. Anita a chorar, entregando a criança a uma atendente que vinha de encontro a ela, pousa as suas mãos sobre sua amiga e a lamentar diz: – Camila, como isso pôde acontecer? Por que você não confiou em mim e em Oscar? Mas Deus, o nosso Pai, nos é bondoso e deixou que nós a encontrássemos, permitindo que os bons espíritos viessem em nosso auxílio. Obrigada, Senhor, por nos permitir encontrá-la. De repente saem dos lábios de Camila, com dificuldades, algumas segredadas palavras: – Anita, e o meu bebê? – O seu bebê é uma linda menina. Confie em nós, a sua filha é linda! – Eu não deveria ter feito o que fiz com vocês, perdoem- me! Minha filha irá se chamar Thalita. – Oscar, a Camila quer que a criança se chame Thalita. Nesse momento, Camila desmaia e prontamente enfermeiros e médicos levam-na para uma grande sala para os cuidados necessários e especiais, enquanto Anita e Oscar, penalizados, permanecem na sala de espera. Alguns minutos depois, a criança é colocada no berçário para que Oscar e Anita pudessem vê-la. 281
  • 282. – Talvez seja pelo cansaço ou sono que estou sentindo, mas esta criança me faz lembrar de alguém. – Diz Anita a Oscar. – E quem é que ela lhe faz lembrar? – Eu não sei, mas me parece uma pessoa muito especial. Realmente eu não sei dizer, mas me é familiar. Bem, deixe para lá. – Estou admirado Anita, mesmo estando Camila nessa situação, a criança está perfeita e tem um bom peso. E o mais importante são os fatos; Como pode? Fomos à delegacia no momento exato! E encontramos a pessoa a quem tanto procurávamos. Não cai uma folha de uma arvore sem a permissão de Deus. Com certeza, aí tem as mãos de nossos amigos do Plano Espiritual. – É Oscar, essas são coisas que a gente nem imagina que venham a nos acontecer. Como dizem os bons espíritas, nada é por acaso, tudo, mas tudo mesmo tem uma razão de ser. Há quantos meses estamos à procura de Camila e só agora, justo neste momento, é que conseguimos encontrá-la. Ela tinha que passar pelo que o passou, são seus carmas. Estou feliz, mas ainda me preocupo com a situação dela, pois está bastante debilitada. Oscar e Anita passaram algumas horas de vigília no hospital. Quando perguntavam aos médicos e enfermeiros sobre a situação de Camila, eles diziam que ainda não podiam dizer com certeza a respeito do diagnóstico da moça, mas que a situação era bastante delicada, devido a uma anemia e uma forte pneumonia que lhe acometera. – Doutor, já se passaram algumas horas e o senhor não nos diz nada a respeito de Camila. – Diz Anita, aflita. – Tudo leva a crer que o caso dessa moça tem a ver com hipertensão. Vamos trabalhar e buscar acreditar em prodígios, pois a vida dela está por um fio, Por enquanto, é só o que tenho a dizer a vocês. Anita e Oscar sentem-se inertes, como se nada pudessem 282
  • 283. fazer e com sentimento de culpa e de perda. Ali, sozinhos, se abraçam prometendo que não desistiriam de lutar por Camila e pelo bebê, por menor que fossem as esperanças. – Estou pensando em algo. – Diz Oscar. – Será que é a mesma coisa em que estou pensando? Os dois falam juntos: – Vamos tirar Camila daqui! – Vamos levá-la para o hospital que nos é familiar, onde trabalha Dr. Osvaldo. Lá ela estará em boas mãos. – Reitera Oscar. Após transferi-la, já no hospital e após uma bateria de exames, Dr. Osvaldo diz que Camila não tem nada no coração, que Oscar e Anita podiam ficar sossegados. Quanto ao resto, ela não estava nada bem, mas que estava sob controle. – Ainda bem que ela é forte; daqui a quatro ou cinco dias, se o quadro dela não se agravar, ela terá de alta e o resto do tratamento poderá ser feito em casa. Mas seria muito bom se vocês a levassem àquele centro espírita em que me levaram. Anita. – E o Senhor Gostou de lá, doutor? – Pergunta Anita. – Gostei tanto que estou aguardando novo convite. Confesso que não conhecia tal filosofia. Já era tarde, nove horas da noite. Na sala de espera do hospital, Oscar e Anita recebem seus amigos, João Eduardo e Izabel, que foram para apascentar os seus corações.. – Por que vocês não nos contaram nada, Oscar? Poderíamos estar aqui há mais tempo! E Francisco, onde está? – Pergunta Izabel. – Está com a babá, inclusive ela tem de ir embora... Vou chamá-la, um instante. – Vamos fazer uma troca? Vá descansar com Anita que eu e João Eduardo ficaremos aqui fazendo vigília. – Mas aí estaremos abusando... – Responde Anita. – Por favor, não termine essa frase porque dói! Você já esqueceu que hoje nós somos uma família? 283
  • 284. – Minha querida, me dê um abraço! Estou deveras preocupada com a situação de Camila. Como é bom ter você... Então está bem, nós iremos. – Vocês e meus filhos, além de João Eduardo, foram as melhores coisas que Deus me deu nesta vida. – Fiquem o tempo necessário e tenham um bom descanso. – Recomenda João Eduardo. No outro dia pela manhã, chegam ao hospital Anita, Oscar e o pequeno Francisco, para trocarem de turno com Izabel e João Eduardo. – Bom dia, meus encantos. – Dizem Anita e Oscar aos bons amigos. – Bom dia minha menina! E o nosso bebê, como está? Venha no colo de sua madrinha, que está cheia de amor pra lhe dar. Anita, você deixa Francisco ir para sua segunda casa com a madrinha? – Não só deixo como peço: “Por favor!” Todos sorriem esquecendo-se, por um instante, de Camila e do bebê, a pequena Thalita. – Alguma notícia de Camila? Anita pergunta, apreensiva, a João Eduardo. – Seu estado de saúde é regular, mas ainda não pode amamentar. Agora pela manhã uma enfermeira nos disse que seria ótimo uma mamãe que pudesse amamentar a pequena Thalita. Todos, no mesmo instante, olham para Anita, que levando as suas mãos aos seios se emociona ao responder bem baixinho, o que todos já sabiam. – Eu posso, eu posso! Ela terá também uma gotinha de meu sangue! Todos, silenciosos, a aplaudiram. O que Anita ainda não sabia era do elo espiritual que havia entre ela e aquela criança, mas que bastariam os seus gestos, fecundos de amor. 284
  • 285. – Mas que nome terá essa criança? – Pergunta Izabel. – Meu Deus, Oscar, nós não contamos para a Izabel. Com toda essa turbulência, não paramos ainda para lhes contar como foi e o que aconteceu. Izabel e João Eduardo ficaram surpresos com o que acontecera. Mas estavam tranquilos, apesar da situação de Camila. Após três dias em observação, a criança segue para o seu novo lar nos braços de Anita, mas Camila teve que permanecer no hospital. As visitas à Camila eram constantes, mas em nada ainda havia progredido o seu estado de saúde. O bebê no centro espírita Irmão X, por meio do médium Irmão Lázaro, pede a João Eduardo e Izabel que transmitam seu recado a Anita e Oscar. Ele pede aos dois que fossem visitá-lo, pois gostaria de conhecer Thalita. – Anita, a sua vida e a de Oscar estão sendo transformadas num romance maravilhoso. A história espiritual que há entre todos vocês dois é magnífica, porém, você, Camila e Lídia pertencem à classe de espíritos que vêm, já há algum tempo, vencendo limites para alcançarem um ponto admirável, doado por Deus. Anita, minha irmã. Procures que acharás uma resposta para as suas perguntas. Tudo está em paz com Lídia, pois agora está tudo consumado. Camila ficará bem, confie, pois não cai uma folha de laranjeira ou de uma árvore qualquer, sem que haja a permissão do Pai que está no Céu. Nas visitas de rotina que Anita fazia ao hospital para estar com Camila, num dia pela manhã, ao banhar Thalita, ela se assus- ta ao ver que no ombro da pequena criança surgira uma mancha estranha. Preocupada, aproveita e leva o bebê ao médico para que qualquer, sem que haja a permissão do Pai que está no Céu. 285
  • 286. Nas visitas de rotina que Anita fazia ao hospital para estar com Camila, num dia pela manhã, ao banhar Thalita, ela se assus- ta ao ver que no ombro da pequena criança surgira uma mancha estranha. Preocupada, aproveita e leva o bebê ao médico para que a mancha fosse diagnosticada. – Nós faremos os exames necessários, porém a senhora não se preocupe que isso pode ser de origem hereditária. – Mas doutro, eu nunca ouvi falar sobre isso. – Existem esses casos, senhora. Poucas pessoas sabem, mas existem. Mesmo com o médico lhe acalmando, Anita retorna para casa preocupada. Ela não se conformava por aquela man- cha ter surgido no corpinho do bebê de uma hora para outra. – Não se preocupe meu amor, Thalita está bem. – Diz Oscar, tentando tranquilizá-la. Logo mais à tarde, Izabel vai até a casa de Anita para uma visita informal e a encontra preocupada. – Anita, essa mancha me faz lembrar uma folha cítrica, de laranja ou de limão. É! É uma folha cítrica! Como se de repente tivesse se espantado, Anita exclama: – Bem que falei para Oscar que este bebê não me era estranho! Mas Será? – Será o que Anita?... – Izabel, os sinais de reencarnação estão a olhos vistos, mas por pura ignorância nós não os percebemos. – Explique-me melhor, porque não estou compreen- dendo o que você está tentando me dizer. Estou curiosa. – Izabel, Lídia tinha em suas costas uma mancha, e ela me dizia que era como a folha de uma laranja. Inclusive eu vi e me certifiquei, por conhecer bem a folha de uma laranja. O medico me disse que esta mancha poderia ser hereditária, e o Irmão X havia me alertado que não cai uma folha de laranja ou de outra arvore sem a permissão de Deus. É uma questão de 286
  • 287. analisar com cuidado tudo o que foi dito pelo medico e pelo Irmão X. Vamos ver... Será mesmo? Anita reconhece que o bebê talvez pudesse até mesmo ser a reencarnação de Lídia, por que em seu corpinho havia uma mancha igual a que ela possuía e seria muita coincidência, mas o espírita verdadeiramente esclarecido não acredita em coincidên- cia, mas sim, que nada é por acaso, e também acredita na lei de causa e efeito. – Da forma com que Irmão X se expressou, Camila, Lídia e eu temos um elo na Espiritualidade. Se for assim, estamos todos juntos minha querida, e isso é magnífico! – exclama feliz Izabel. Camila é atingida por bactérias Dois meses se passaram e Camila ainda estava internada sob cuidados médicos. Seu estado era vegetativo e estava em coma induzido. Não se movia; sua respiração vagarosa era auxi- liada através de aparelhos e medicamentos. Por algumas vezes, os médicos que acompanhavam o estado da paciente acredita- vam que ela não mais retornaria ao seu estado normal e que definharia até a morte. Mas em seus atos interrogativos eles per- sistiam, chefiados por Dr. Osvaldo, acreditando que havia algo além de suas capacidades profissionais. Camila tornou-se uma paciente muito amada por todos por saberem de todos os pro- blemas pelos quais já havia passado. O parto em plena rua, a falta de um teto durante a gestação, fazendo com que Camila dormisse ao relento e a falta de higiene também fizeram com que seu corpo fosse invadido por bactérias nocivas à sua saúde, além dos problemas psíquicos e espirituais, pois espíritos sádi- cos se deliciavam com a degradação de Camila, desnorteando seu cérebro e fazendo com que ela não pudesse lutar pela vida. Mas se essa infiltração no corpo físico e psíquico se manifestava 287
  • 288. tão claramente nela, não haveria também grandes possibilidades de estar envolta por uma baixa esfera da espiritualidade? Anita frequentemente dizia que desejava imensamente que Camila acordasse para conhecer o seu bebê. Qual mãe não morreria fe- liz? Nos braços de Anita, a criança é tratada carinhosamente, da mesma forma como Francisco. Seus seios de mãe alimentavam os filhos que Deus lhe predestinara. A súplica de Josué As preces eram constantes. Uma corrente de orações era feita frequentemente entre os irmãos da casa espírita. A maioria dos membros se encontrava todas as quartas-feiras para eleva- rem os seus pensamentos a Deus pedindo, por misericórdia, pela saúde de Camila. Bem sabiam que não havia progresso em sua saúde, porém, fervorosos, enchiam seus corações de esperança. E foi o que aconteceu. Irmão Lázaro inicia a sessão. – A paz do Divino Mestre Jesus esteja entre nós neste início de orações. Vemos que há aqui hoje um irmão, que pro- vavelmente está em busca de auxilio, pois se encontra perdido. É o que ele tenta demonstrar através de uma pequena sensibili- dade energética e telepática. Nele há certa urgência em nos contatar. Devemos fluidificar com as nossas preces este ambien- te, para que os bons mentores nos ajudem e possam trazê-lo até nós. Pedimos aos nossos mentores, ao Irmão X, à Mãe Benedita e também ao nosso Pai que está no Céu, a proteção e a luz dos Espíritos que comandam nossos trabalhos, para que tra- gam este espírito que suplica por nossa ajuda. Ao abrir a reunião com a Prece de Cáritas e em seguida um Pai Nosso, a oração ensinada por Jesus e uma ave Maria, em lembrança à mãe de Jesus, logo em seguida Irmã Angélica, uma das médiuns da casa espírita, é tomada em transe por um espíri- 288
  • 289. to que começa a gritar por socorro. – Socorro! Ajudem-me, por favor, ajudem-me! Estão querendo me pegar, estou em lugar horrível. – Mas quem és tu irmão? – Indaga Irmão X. – Eu levei vários tiros... Sinto que estou debaixo do chão, mas ao mesmo tempo sinto que estou sendo perseguido pela polícia e por um punhado de sombras escuras que estão queren- do me arrastar. Um pouco mais distante de mim, uma luz mui- to pequena me chama para ir com eles, mas eu tenho medo. Foi esta luz que me conduziu para cá. Porque me trouxeram? Eu não devo nada, estou muito confuso, na verdade não sei o que se passa comigo. Eu não sou bandido, só fiz alguns pequenos assaltos. Já usei droga, mas não sou viciado e nem traficante. – Mas tu podes nos dizer quem és? O espírito se cala, voltando a dizer novamente: – Eu? É... Eu? Eu sou... – Esta é uma casa que socorre espíritos aflitos e perdidos que não sabem para onde ir, meu irmão. Você precisa saber que seu corpo físico está morto, ou melhor, o seu corpo está debai- xo da terra e você está aqui conosco em espírito. Nos diga o seu nome, por favor, e então saberemos como lhe ajudar. – Meu corpo? Mas não é possível! Como posso estar falando com vocês se já estou morto? – Quem morreu foi seu corpo físico, mas o espírito prevalece. Olhe através do seu pensamento que poderás ver seu corpo se desfazendo debaixo da terra, mas seu espírito não mor- reu, ele prevaleceu após a morte física. Você atravessou a nossa porta, que estamos abrindo com amor, meu irmãozinho, desde que iniciamos os nossos trabalhos. Aproveite as boas orações para lhe ajudar a se alimentar com energias, saciar sua fome e acalentar suas dores; jogar os seus maus critérios para longe e assim estar ao lado do bem. A escolha é sua, porque tens a liber- dade de fazer o que achar melhor para o seu espírito. Mas lem- 289
  • 290. bre-se, o espírito é eterno. – Como é essa coisa do bem e do mal? Eu não entendo! – O bem é onde estão os espíritos de luz, onde residem os seus familiares, aqueles que foram corretos ou os que se arre- penderam de praticar o mal. E o Mal é onde residem os seus perseguidores, os falsos amigos, aqueles que um dia lhe conven- ceram a usar drogas e a pegar aquilo que não lhe pertencia e outros malefícios É lá que moram os espíritos revoltados, vin- gativos e invejosos, que não podem sair daquele lugar enquanto não reconhecerem seus erros, e eles querem você com eles. – Eu vou dizer o meu nome, mas vou pedir, por favor, que encontrem a minha namorada. Antes de eu levar os tiros ela apanhou muito dos policiais e eu não sei se ela está deste lado ou do lado de lá, se ela está morta ou viva. Eu sinto ela me chamar, mas não consigo enxergá-la. Sinto que ela quer me dizer algo mas não consegue se desprender do seu corpo, pois eu a chamo para vir comigo e ela repete que quer vir, mas não consegue se desligar totalmente do corpo, porque nossa filha está desse lado. Ela também está confusa, sem saber se deve vir para ficar comi- go ou se permanece aí para cuidar de nossa criança. De repente, aquele espírito, em transe no corpo de irmã Angélica, se põe desesperadamente a chorar e a clamar pelo filho que estava na barriga de Camila e agora não está mais. – Eu não conheci a minha filha ou meu filho na vida material, em que estive até bem pouco tempo. Eu sou o Josué, e minha namorada chama-se Camila. Ela estava grávida. Os olhos de Irmã Angélica são direcionados a Anita, que trazia no colo a pequena Thalita. Isso logo a fez perceber que aquele espírito tinha tudo a ver com Thalita e Camila. – Meu Deus, não é possível! Izabel, por tudo o que está se passando, será que Camila morreu? Enquanto estávamos aqui, há poucos instantes, será que desencarnou? – Louvado seja Deus! Tenhamos paciência, Anita. 290
  • 291. – Não é possível! Antes de virmos pra cá eu telefonei para o hospital e me disseram que ela estava ainda em coma, mas havia chance. A criança que ele fala, meu Deus, é a filha de Camila mesmo, Izabel. – Mesmo que seja, não vamos nos desesperar, porque não será nada bom perdermos as nossas energias e a nossa fé. Tenha- mos calma, Anita, por favor, não vamos nos desesperar. Vamos rezar. Nesse momento, Irmão X se dirige a Anita. – Irmã Anita, acalme-se. Fique tranqüila, pois Camila ainda se encontra neste plano. Por ela estar em coma, seu espíri- to consegue se desprender com muito mais facilidade, então, a comunicação com Josué fica quase que perfeita, pois ela conse- gue se desprender mais facilmente do corpo, mais do que em um sonho, e se comunicar com o Plano Espiritual de acordo com o seu psíquico, ou seja, com o que ela mais deseja, que seria estar ao lado do seu amado. O que temos aqui em nosso meio é um espírito errante, mas de um bom coração. Veja que em ne- nhum momento ele falou de vingança ou reclamou de seus algozes, os que lhe tiraram sua vida terrena. Alguns deles, junta- mente com sua legião, tentam nos ludibriar, para arrancar de nosso meio as almas que nos procuram em busca de socorro. Entre gargalhadas, um desses espíritos se comunica atra- vés de outro médium. – Vocês querem saber quem eu sou? Eu sou o vampiro da Calunga, sou relento, sou errante, sou da madrugada, sou quiumba, sou da pesada. E quem pode mais que eu e minha falange? Nós estamos aqui para levá-los e ninguém irá nos inter- romper. Irmão Renato tenta convencer os espíritos a se retirarem daquela casa de caridade. – Os irmãos de aura negativa estão impossibilitados de entrar neste local devido à nossa aura de proteção. Vós, irmão, 291
  • 292. será acorrentado e levado fora daqui. Vós ireis para o seu campo de existência no Umbral. Lá obterá conhecimento de vossa ig- norância. Que sejas guiado pelos bons guardiões e mentores desta casa, os nossos queridos Exus de Lei. Assim seja. – Nós não vamos sem ele! Eu e meus companheiros queremos levá-los, eles nos pertencem e terão de ir conosco. Irmão X, mais uma vez intervém. – Veja aí à sua frente o seu quadro de existência. Vocês estão impossibilitados de impor qualquer condição, porque es- tão amarrados e dominados pela energia do bem e vão embora sim, pois assim será melhor para vocês. – Eu não quero ver o quadro de existência ou minha existência na Terra. É horrível ver o meu corpo apodrecendo debaixo da terra e o do meu companheiro só as cinzas, por que ele foi cremado. Por favor, não faça isso comigo, eu não quero ver... Já estamos indo embora. Um grito horrível e alucinante faz com que as pessoas ali se calem ainda mais, por estarem totalmente envoltas pela indig- nação em relação àqueles espíritos. – Você Está bem irmã Angélica? – Pergunta Irmão X. – Sim irmão X, com as graças de Deus e dos nossos mentores. – Que Deus lhe abençoe por sua caridade. Hoje você prestou um grande serviço para a Espiritualidade. – Amém. Coloco-me à disposição sempre que assim se fizer necessário. Depois de energizado o ambiente com orações, água, velas e ervas, percebe-se prontamente que ainda havia uma ener- gia branda, porém urgente, e os lábios de irmão Pedro proferem algumas palavras. – Eu não sei ainda quem eu sou e nem o que estou fazendo aqui neste lugar. Vejo as coisas embaçadas, nada sei. 292
  • 293. Mesmo sem saber de quase nada aqui, eu estou me sentindo um pouco melhor, – Conta Josué, por meio do irmão médium. Prontamente, Irmão X inicia com ele um novo diálogo. – Mas podemos saber a causa que lhe trouxe aqui? Ou pelo menos o vosso nome irmão? – Meu nome é Josué, e o que me lembro é que um dia fiz grandes males com algumas pessoas. Só que por não saber medir as maldades fiz coisas estranhas pela minha sobrevivência e pela ansiedade de cuidar da minha namorada e do meu futuro filho, que estava na barriga de Camila. De todas elas, sei que algumas talvez não consegui corrigir, porém, neste momento há uma única coisa que me fez vir até vocês para que me ajudem. – Mas quem foi que lhe enviou aqui e o que vos, irmão, quer de nós? – Quem me trouxe até aqui foi um homem que alguns conhecem por guardião ou Exu, sei disso porque a condição foi ele me dizer quem era para depois eu topar vir com ele até aqui neste lugar. Acho que na verdade ele é um caçador de almas. Vocês não vão me ferrar, vão? – Josué, chorando, continua. – Pelo amor de Deus, eu não sei se é um pesadelo, se morri de verdade, ou se virei espírito, alma ou o que quer que seja, mas, por favor, salvem Camila. Ela está sofrendo muito por minha causa e isso não é justo, Camila não pode morrer. Eu falei para ela vir comigo, mas a perdi de vista. Sei que vocês podem ajudá- la, pois o guardião da noite me disse. Eu queria levá-la comigo, mas ele me falou que isso não seria possível, pois ela tem seu destino a seguir, que é cuidar e dar amor para nossa pequena filha. Irmão Renato, que também era um excelente doutrinador, recomenda: – Peço-lhe que feche os seus olhos e só os abra quando eu mandar. Peço também a todos aqui presentes que elevem, neste momento, seus pensamentos a Deus, para que a vida espi- 293
  • 294. ritual deste irmão lhe possa ser esclarecida. As preces flutuavam nos lábios das pessoas como uma nuvem. Alguns videntes se maravilharam ao ver que Josué se suavizava e se deslumbrava com a leveza de seu corpo espiritual. Ficou-se sabendo, após a sessão, que Josué fora enviado a um lugar magnífico, e aquelas preces agiram como um transporte que conduzia aquele espírito e se transformavam em alimento para ele saciar-se, assim como o milagre das sementes que se espalham pela terra, se transformam em grãos e frutos, se mul- tiplicam, alimentam e nutrem o corpo humano. Josué também ficou sabendo que Camila e sua filha es- tavam bem, e seriam esclarecidos todos os seus atos. Com o aprendizado que passaria a ter, chegaria à conclusão por si mes- mo do que é certo ou errado, e como ele caminharia dali em diante em sua vida espiritual. Quanto à Camila, dali para frente os cuidados a ela seriam presenciais, pois o principal já havia sido feito. A partir daquele momento, estava livre das energias negativas e do apego carnal a Josué que queria levá-la naquele momento de total desespero. O regresso de Camila do estado de coma Constantes foram as visitas e orações feitas para Camila, mas nada havia em seu progresso material: vida vegetativa. A moça, com a face pálida mas sem a delicadeza e os traços natu- rais, deixava-a serena. Pela fisionomia, poderia se dizer que so- mente mães e anjos poderiam transparecer esse semblante. – Eu não sei Oscar, mas tenho uma impressão estranha dentro de mim. – Que impressão é essa, meu amor? – Thalita hoje amanheceu com febre. Não quer mamar, enfim, parece-me estar aborrecida. – Não se preocupe, eu vou ao hospital com você. Não 294
  • 295. haverá de ser nada grave com ela. – Oscar, o telefone. Atenda por favor, veja quem é. – É Izabel que quer falar-lhe. – Não sei não, Anita, estou ligando porque estou pres- sentindo que você precisa de mim, ou melhor, pode ser que seja eu que esteja com saudades das crianças, porque já faz três dias que não as vejo. O que você acha que é? – Eu não posso nem imaginar, mas o que posso lhe di- zer é que se eu tivesse um helicóptero à minha disposição, você já estaria aqui conosco. Venham para almoçar. Depois, se quiser, podemos ir ao hospital. Após a visita que faremos a Camila poderemos esticar o nosso caminho até uma sorveteria, e logo mais à noite você chama João e eu chamo Oscar para uma pizza bem deliciosa. Depois, voltaremos exaustos e felizes para casa. O que você acha? – Eu não acho nada bom... Eu acho esplendido! Já, já estarei aí. Logo que Izabel chegou à casa de Anita, as duas tomam um delicioso café da manhã e seguiram ao hospital para visitar Camila, que ainda estava em coma. Aproveitam também para passar pelo pediatra, que tranquilizou totalmente Anita em rela- ção à pequena Thalita. Assim que Anita foi até a outra ala do hospital, onde estava Camila, o médico de plantão recebe as ambas com um largo sorriso dizendo: – As senhoras vieram visitar a paciente Camila, não é mesmo? – Sim, – responde Anita. – E como ela está? – Pergunta Izabel. – Vocês não vão acreditar, mas aconteceu algo fantásti- co, parece até um milagre. Ela saiu do coma e está totalmente fora de perigo. As duas agradecem ao médico pela boa notícia e então 295
  • 296. ligam para Oscar e João Eduardo para lhes contar as boas novas. Oscar diz aos três: – Amanhã haverá uma reunião de trabalho no centro, sob o comando de Mãe Benedita e Irmão X. Que tal se nós formos até lá para agradecer a ajuda que tivemos com as orações e aquela desobsessão, em que Josué foi o protagonista em prol de Camila? No dia seguinte, por volta das 20 horas, lá foram os dois casais, juntamente com o pequeno Francisco e a pequena Thalita. Assim que chegaram, logo a seguir foi aberta a sessão com orações e cânticos de louvores a Deus e aos Guias, Proteto- res e Entidades auxiliares. Os dois casais, por já terem um relaci- onamento familiar com aquela casa espírita, pediram que, se fosse possível, eles gostariam de falar com Irmão X e Mãe Benedita. Os quatro ao mesmo tempo, pois a finalidade seria fazer um agradecimento e tomar um passe. O atendente lhes responde que não seria possível falar com Irmão X porque ele estava em outra frequência, com uma missão diferente, portan- to, quem estava atendendo em seu lugar era irmão Y e Mãe Benedita, mas que o atendimento seria igual porque os dois eram companheiros de muitas etapas juntos com Irmão X. As- sim sendo, iriam ter com eles. Junto às Entidades, eles dizem: – Vimos aqui hoje para tomarmos um passe e agradecer pela recuperação de nossa amiga Camila, pois graças às vibrações das Entidades desta casa, ela saiu do estado de coma em que se encontrava. Foi realmente um milagre. Irmão Y é o primeiro a se manifestar. – Meus queridos irmãos. É bem verdade que foi a per- missão do nosso querido Pai, Deus Todo Poderoso, e de nosso querido Jesus, que os bons mentores fizeram um excelente traba- lho para livrar nossa irmã daquelas vibrações que a envolviam, auxiliando os médicos a ministrar os remédios corretos e assim 296
  • 297. acabar com a tal infecção, que ameaçava tomar conta de todo o corpo de Camila. Por isso, agradeço aos médicos daquele hospi- tal. A dedicação e o carinho que tiveram com aquela nossa irmã foi fundamental para sua recuperação. Para que vocês entendam, a infecção dela estava atingindo seu corpo físico e a obsessão esta- va atingindo diretamente todo o seu perispírito, por isso o estado de coma. Quando aqueles espíritos de baixa frequência se afasta- ram e ela em espírito entendeu que deveria voltar à vida terrena e deixar Josué seguir seu destino, os Espíritos de luz lhe aplicaram vários passes magnéticos e seu psiquismo voltou ao estado nor- mal, então ela pode sair do coma. Mas repito: os médicos foram fundamentais neste caso. Izabel toma a palavra para agradecer ao Irmão Y. – Irmão, estamos muito felizes por conhecer mais um Es- pírito de luz e tão educado. Que nosso Deus lhe dê muito mais luz para trabalhar em prol da solidariedade e em favor de quem real- mente necessita de ajuda. Após os passes, todos aguardaram o término dos trabalhos e, com ansiedade, aguardaram também a alta de Camila do hospital. Auto-hemoterapia Após aquele episódio e com Camila já em casa de Anita, aos prantos ela sentiu-se na obrigação de pedir a Oscar que tra- tasse dos documentos de adoção, pois ela teria que ir embora. Anita sugere a Oscar oferecer um emprego à Camila na siderúr- gica. De imediato, Oscar chama Camila seguindo a sugestão de Anita, aproveitando também a oportunidade para lhe infor- mar sobre as consequências de um aborto, tanto espiritual como também na parte física, pois o aborto danifica todos os órgãos genitais com consequências graves, como por exemplo, infla- mação no útero, mioma e sucessivamente o câncer e outros males 297
  • 298. de ordem psíquica, como o peso da consciência em relação ao delito. No tocante ao feto, imagine a dor que ele sente por estar sendo arrancado aos pedaços do útero ou sendo dissolvido com produtos químicos. Em relação ao espírito, surgem sequelas ter- ríveis de ordem psíquica, pois ele precisa cumprir seu tempo de expiação mas está sendo interrompido pelo aborto (um assassi- nato). Ele precisa resgatar as dívidas de seu passado e ajudar tam- bém a mãe a corrigir as suas dívidas ou expiações. – Vocês são de que religião? – Pergunta Camila – Somos espíritas, graças a Deus. – Eu posso ir até lá, à casa que vocês frequentam? É só por curiosidade! – Com o maior prazer, responde Anita. Com isso, Camila visitou aquela boa casa de orações e passou a frequentá-la semanalmente, tornando-se uma pessoa mais equilibrada e aceitando o emprego na siderúrgica. Com o passar do tempo, Anita sugeriu a Oscar comprar o pequeno apar- tamento em que Camila morava, não como pagamento pela adoção, mas como gratidão. Anita passou a amar aquela doce e meiga menina como sua própria filha. E Colocou o nome de Thalita, porque Thalita é como Fênix, que ressurgiu das cinzas, e com sua sensibilidade conseguiu enxergar o lado bom de Camila. Educou a menina procurando fazer com que Camila estivesse sempre presente, fazendo parte ativa do desenvolvimento da pequena, sempre lembrando à criança que ela tinha duas “mamães”. O casal, Anita e Oscar, conseguiu enxergar com a ajuda das Entidades do pequeno centro espírita, os problemas que atin- giam Camila, que eram as consequências e sequelas de uma in- fância mal vivida com os pais problemáticos. A mãe e o pai de Camila tinham um passado muito ruim. Eles morreram por consequência de bebidas alcoólicas, orgias e muita infidelidade de ambas as partes, alem de outras drogas que usavam, deixando 298
  • 299. a menina Camila à deriva em sua infância e adolescência. Camila tinha aquelas atitudes por revolta ou trauma e, inconsciente- mente, era uma maneira que tinha para vingar-se dos seus pais. Oscar, Anita e Mãe Benedita, muito trabalharam para ajudar Camila a entender que tudo aquilo era um resgate de sua vida passada. Camila se apaixonou por Luiz, um colega de tra- balho educado e com um bom desempenho em tudo o que fazia e, após entender que seus pais também foram vítimas de espíritos vingativos, tudo fora perdoado por ela com resigna- ção. Camila passou a orar por seus pais, sendo que a recíproca de seus bons pensamentos era visível em sua vida, pois seus pais puderam ter uma caminhada mais feliz na Espiritualidade en- quanto aguardavam, com um bom aprendizado, por suas reen- carnações em outra etapa a caminho da evolução. Com isso, ela se tornou exemplar, honesta e tranquila, e teve a oportunidade de ser se casar com Luiz. João Eduardo em visita ao Centro Espírita João, em consulta no centro espírita, tentadoramente faz um pedido ao Irmão X. – Gostaria de ver você, irmão X. Seria para mim uma grande prova de sua verdadeira existência, algo maravilhoso e mais concreto para mim. – Não é necessária essa prova, meu irmão. – Mas eu tenho esse grande desejo, e posso lhe afirmar que é por amor a esta bela religião, ou melhor, esta filosofia. – O que você tanto quer e está me pedindo é totalmen- te fora de propósito, é desnecessário, meu irmão. A maior prova é a existência de Deus. De que forma? Pense nas aves roçando o céu, nos oceanos com suas criaturas, na multiplicação dos ali- mentos, nos astros e planetas. Tudo em plena harmonia! Por- tanto, para nós, que somos auxiliares de Deus e dos Espíritos 299
  • 300. mais elevados, seria pura vaidade, e vaidade nós procuramos eli- minar do nosso vocabulário. João continua insistindo. – Eu necessito disso... Já ouvi falar em materializações; você pode materializar-se se quiser, não pode? Nós consideramos isso desnecessário e inconsequente. No seu caso, nós não vemos necessidade. Só utilizamos a materialização em casos excepcionais. – Como vocês não têm permissão? Se há tantos casos comprovados de materializações! – Enfatizo que no seu caso nós não temos permissão, porque não vemos essa necessidade. – Nem sei se realmente estou curado, nem sei se eu esta- va mesmo doente. – O importante é que você não sente nenhum tipo de dor. Seus rins, assim como os outros órgãos estão perfeitos. Você já não está angustiado, não chora com frequência e sua vida está normal com sua família. Continue contrito a Deus e seus auxi- liares. Mas eu não sei da sua existência, não sei como você é. Eu posso estar aqui apenas conversando com esta pessoa, a quem chamamos de Lázaro, e a quem fui apresentado há algum tem- po no começo destas seções, por isso, o meu psíquico é que poderia estar doente. – Exatamente, você está certo. Era a sua consciência que arrastava os seus algozes para lhe prejudicar. E quanto a mim, Irmão X, estar aqui ou não, não faz diferença. Eu não tomei o corpo do médium, porque o corpo do médium já tem dono, ou melhor, nele já habita um espírito. Na verdade, estou a uma certa distância transmitindo a ele, pela técnica da telepatia, o que se faz necessário falar. Por meio deste médium, que gentil- mente nos empresta o corpo para você nos ouvir, nós nos apro- ximamos e transmitimos, de forma telepática, nossos pensamen- 300
  • 301. tos e orientações, palavras de amor, caridade e solidariedade. É verdade que eu poderia me materializar e dar uma prova para você da minha existência, mas repito que é totalmente desneces- sário e não está no projeto dos nossos superiores. – Então continuarei na dúvida... Eu preciso tanto ter certeza da sua existência e dos demais espíritos! E posso lhe afir- mar que este pedido é por amor, pois pretendo ser um bom espírita, e para isso tenho que ter total convicção. Se eu lhe desse essa prova, seria injusto, porque não po- demos fazer o mesmo com todos que nos pedem, e por isso eu iria regredir na minha caminhada espiritual. Está bem, mas no meu íntimo não vou ficar tranquilo. Sinto-me um pouco perturbado, não tenho certeza deste mun- do após a vida terrena. Tudo que eu aprendi na faculdade nada se relaciona com seu mundo, por isso me sinto à deriva. – Faça muitas orações e peça ao Pai que está no Céu. Você verá que não há necessidade deste processo. Fique na paz; vá com Deus e até outro dia. Agora, preciso ir. Em outra sessão Alguns dias depois, João de volta à casa de Lázaro, o médium. – Meu bom irmão Lázaro, gostaria de falar com a Enti- dade Irmão X. Preciso muito conversar com ele, por favor. – Hoje não será possível, pois ele está se reabilitando da sessão anterior. Você gostaria de falar com a Entidade Y? Na impossibilidade da consulta com a entidade habitu- al, João é atendido pelo irmão Y – O que está se passando meu amigo, o que lhe aflige? – Pergunta-lhe a entidade Y. – Você é um espírito, portanto, deveria estar sabendo do que estou precisando neste momento. 301
  • 302. – A nossa função não é a adivinhação, mas o auxílio aos que necessitam de orientações ou de uma palavra amiga. Sabe- mos o que se passa em seu coração ou em seu pensamento, mas não interferimos no seu dia a dia, porque isto não cabe a nós. – Eu não vim em busca de palavras, vim saber onde estou pisando, pois tenho mais coisas a fazer. Sou uma pessoa de bem e não posso me expor ao ridículo. Ouvindo a imponente resposta, a Entidade Y paciente- mente pergunta. – A propósito, como está você? Ainda sente aquelas dores horríveis? – Não, não sinto mais aquelas dores. Mas diante de tudo, provavelmente pode ser o efeito dos remédios que tomei anteri- ormente. Ou talvez o meu estado psicológico, que estava horrí- vel, ou alguma coisa que se passou pela minha cabeça, sei lá. – E a sua casa, como está? As coisas já se acertaram? – Continua a Entidade. – Isso eu não posso negar. Minha família está bem, mi- nha filha e meu filho estão de volta à escola e minha esposa renunciou à bebida. – E você recuperou seus bens materiais? Hoje é um ho- mem de bem, não é? – É, mas tudo isso porque não tenho mais aquelas dores horríveis. Minha família ficou mais calma e eu pude trabalhar com a cabeça melhor. – Então volte para casa e pense em Deus que sua vida continuará boa. Mas cuidado: não mexa com o que você não conhece. – E quando posso falar com a Entidade X? – Em breve, logo, logo. Agora, vá com Deus. E Repito a você: não mexa com o desconhecido, pois você poderá ter conseqüências sérias. Dizendo isso, a entidade vai embora. João fica com seus 302
  • 303. pensamentos, inconformado por não ter controle sobre a situa- ção. Resolve então conversar com o médium. – Não é possível meu bom irmão, essa Entidade não entende que eu quero apenas ser generoso com eles, que só que- ro uma prova, apenas para ter certeza do que me fez ficar bom. Não sei se foram eles ou aquela psiquiatra, que também fez algumas sessões, ou até o Doutor Osvaldo, com toda a sua de- dicação. Quero pagar quem fez este bem para mim, em dinhei- ro vivo. Agora eu tenho condições financeiras. – Meu amigo João, espírito não precisa de dinheiro. No Plano Espiritual tudo é feito por amor a Deus. Lá não existe nem uma moeda corrente. – E você, irmão Lázaro? Como sobrevive se não cobra nada de ninguém? – Eu tenho a minha aposentadoria. Ganho meu salário e com ele vivo com dignidade, pois não preciso de muito dinheiro para viver bem. Fazemos tudo de graça, pois Jesus disse: “Daí de graça, o que de graça recebestes”. – Diante de todas as explicações que tive, ainda não es- tou contente. Preciso saber e ter certeza da existência dos espíri- tos, e principalmente do irmão X. – Não se preocupe com isso meu amigo, se você irá pagar ou não os irmãos do Plano Espiritual ou a psiquiatra. Olhe para dentro de você, consulte seu coração. Se ele achar que foi a psiquiatra que o curou, tudo bem, a remunere da forma mais correta ou mais generosa possível. Mas se você achar que foi Deus, por intermédio do Irmão X e de outros, pague da seguinte forma: vá aos hospitais, às creches e aos orfanatos, vá aonde precisam de humanidade, solidariedade e amor e doe uma palavra amiga. Se chegar à conclusão que foi tanto o psiquiatra quanto os irmãos do Plano Espiritual remunere-os. Ao psiquia- tra com dinheiro, e retribua ao Irmão X apenas com fé, caridade e amor, como lhe falei há pouco, pois a caridade sem a fé é morta. 303
  • 304. Percebendo que o médium Lázaro não lhe ajudaria no que achava ser uma “necessidade”, João retruca. – É o seguinte, meu bom médium. Entre a dúvida e a curiosidade, estou fascinado com esse tipo de misticismo, por isso eu gostaria de ir mais longe, saber mais da Espiritualidade. – Mas nem o próprio Irmão X sabe muito da Espiritualidade. O aprendizado vem no seu tempo certo, não devemos queimar etapas. O pouco que sei, aprendi com Irmão X e Y e o que eles sabem só o tempo e as atitudes, minha, sua e deles, é que vão fazer com que se elevem ou regridam. – Por que isso? – Pergunta João. – Porque de alguma forma eles estão ligados a nós, como familiares de vidas passadas ou porque foram designados para nos proteger. É mais provável que sejam ente queridos nossos. E por estarem designados para estas missões, estão conosco sem- pre que necessitamos deles. Não devemos nos preocupar com provas, basta termos fé em Deus, amar ao Pai sobre todas as coisas e respeitá-los, aos Irmãos X e Y e a outros vários. O que você deseja saber são enigmas que só cabe a Deus, em sua infini- ta sabedoria. – Eu estudei tanto para chegar aonde cheguei, sou uma pessoa formada pela melhor faculdade deste estado e me sinto como se nada soubesse. – Não se preocupe meu amigo, saiba que um dia, quan- do se for desta vida, você levará o que sabe e poderá ajudar ao próximo com sua sapiência. Você só não levará bens materiais, mas o teu saber levará para a vida espiritual, com certeza. Não leve a vida muito a sério, porque você não cairá dela vivo! – Diz Irmão Lázaro, em tom de brincadeira. Eu só queria conhecer melhor o Irmão X, mas já que você não pode fazer isso por mim, não sei como vou fazer, mas vou conseguir. – Não faça nada que tudo ficará bem, mas cuidado com 304
  • 305. o que você não o conhece. Há muito para aprender entre os dois mundos que nos envolvem. João Eduardo nem imaginava da ligação familiar que havia entre ele e Irmão X. Se soubesse, provavelmente não pedi- ria o que pediu, pois saberia das consequências que infalivel- mente viriam para eles e para qualquer outra pessoa que estives- se envolvida direta ou indiretamente. Do outro lado, Irmão X sabia de sua ligação, tanto com João, quanto com Izabel, e ficou desconcertado diante do pedido de João. Mesmo sendo ele um Espírito esclarecido e conhecendo sua ligação de vidas passadas, não tinha como negar o pedido de uma pessoa tão querida, mas as consequências viriam não por perversidade dos bons Espíri- tos, mas pela própria natureza ou pela leis imutáveis do Univer- so, que não podem ter exceções e nem ser violadas, nem uma vírgula sequer. O casamento de Camila Após o casamento de Camila com Luiz, o casal começa a fazer projetos. Um deles é ter mais um filho, e desta vez o ideal seria um menino, fruto do amor de ambos. Camila havia relata- do tudo de sua vida a Luiz, para que não restasse nenhuma dú- vida com o seu então amado esposo, por isso ela queria tudo às claras. Por conseguinte, Luiz também expôs todo seu passado para Camila, assim, eles começariam uma nova etapa em suas vidas sem nenhuma surpresa desagradável. – Hoje sou um homem de bem e encontrei minha alma gêmea. Não sei o que seria de minha vida sem você Camila, pois em você encontrei a mulher ideal. Mas quero que você saiba que fui um homem que errei muito em minha vida. Tive varias mulheres, fui um grande cafajeste e explorador de moças inocentes. Cada mulher que eu tinha, sempre conseguia seduzi- las para intimidades sexuais e viver às custas delas. Quando elas 305
  • 306. engravidavam, eu não assumia. O máximo que eu fazia era incentivá-las ao maldito aborto, até mesmo por pressão de mi- nha família, e com um casamento arranjado por eles, eu casei- me. Minha ex-mulher era muito fértil e com isso eu fui pai de quatro filhos em um curto prazo de seis anos, sendo que um deles nasceu com vários problemas, era totalmente paralítico e com retardamento mental, totalmente dependente pela sua de- formação física e psíquica. Chorando, Luiz continuou a sua narrativa. – Covardemente, abandonei minha ex-mulher e filhos, pois não a amava. Mas fui um covarde irresponsável por não assumi-los. – E onde estão seus filhos? – Pergunta-lhe Camila. – O meu filho mais novo, que era paralítico, morreu depois de um ano e meio de eu tê-los abandonado. Os outros foram para Belém do Pará, a terra natal de minha ex-esposa. Eles me odeiam pela minha covardia, mas hoje me tornei uma pessoa coerente e equilibrada, após conhecer o Senhor Oscar que, sabendo quem eu era, um irresponsável, muito lutou para que eu me recuperasse, orientando-me e dando-me a oportuni- dade de um emprego. Com muitos conselhos, ele me conven- ceu a fazer um curso profissionalizante em uma de suas ONGs. Depois que fiquei sabendo das ONGs e associações de que ele é provedor com outros empresários, comecei a me interessar pelo assunto e me tornei um voluntario, trabalhando uma vez por semana para ajudar ao próximo. Com isso fiquei conhecendo o centro espírita do qual ele, sua esposa e mais um grupo de ami- gos são assíduos freqüentadores. Lá eu aprendi a discernir o cer- to do errado, e aprendi também que eu tenho direitos e deveres, e que o meu semelhante também tem. Com isso estou apren- dendo a ser coerente comigo mesmo e a respeitar as pessoas como meus irmãos, a não fazer para o outro aquilo que não é bom para você. Por isso devo muito a Deus, aos bons Espíritos e 306
  • 307. àquele casal maravilhoso, o Senhor Oscar e a Dona Anita. Realmente, Luiz e Camila eram semelhantes em seus desacertos nas vidas física e espiritual. – Luiz, você nunca mais teve notícias de seus filhos? – Sim, tive. Há algum tempo, aconselhado por Senhor Oscar e sua esposa, enviei uma carta para eles me redimindo e pedindo perdão, dizendo que estava disposto a de alguma for- ma tentar corrigir a minha covardia, mas eles me mandaram a resposta da tal carta que mandei em pouquíssimas linhas. “Por favor, não nos procure mais. Já superamos o pior das nossas crises e não queremos saber como você está, não nos interes- sa a sua vida. Portanto, siga o seu caminho e esqueça que nós existi- mos um dia. Nos deixe em paz.” – Logo em seguida, fiquei sabendo que a minha ex-esposa havia morrido, vítima de um acidente em um rio. Quem me con- tou de sua morte foi um parente dela que encontrei por acaso. Ele me contou que ela escorregou e bateu a cabeça em uma grande pedra, vindo a falecer e dando passagem para o mundo espiritual. – Mas eu acho que você deveria insistir em vê-los, afinal, são seus filhos. – Eu não os odeio pelo que me disseram na carta, afinal, eu é que fui totalmente errado. Mas fui orientado pelos bons espíritos a orar muito por eles para abrandar seus corações e en- tregar nas mãos de Deus, pois assim um dia tudo se acertará. O mais importante, segundo o que dizem as Entidades, é que eles estão parcialmente bem, e com orações em favor deles, um dia tudo poderá ser resolvido da melhor maneira possível. Aprendi também que tudo deve acontecer a seu tempo. 307
  • 308. João faz nova investida para que Irmão X apareça para ele – Como vai, meu bom amigo? – Pergunta Irmão X. – Está tudo bem, estou tentando seguir as orientações de seu médium e estou me sentindo bem. Mas não me confor- mo com tudo de bom que tem acontecido em minha vida. Eu amo a Espiritualidade, acredito em vocês, mas gostaria de algu- ma coisa mais palpável. Será que não tenho direito a uma prova, a algo mais concreto? Existe a materialização de espíritos, mas vocês me dizem que no meu caso não há necessidade. – Deus já lhe deu esta prova meu bom irmão, pois você e sua família estão restaurados dos danos que foram cometidos em sua vida. – E eu adoro a Deus, não sou mais um revoltado. Aprendi aqui a amar a vocês e agora ao Irmão Y, mas não posso me conformar com esta sua atitude. Eu sei que você, Irmão X, há de me dar uma luz em relação à materialização. Eu preciso dis- so. – Torno a repetir, meu bom irmão, se eu assim o fizer, terei de regredir e você arcará com as consequências. Regredirei um tempo curto; neste caso, seria como descer um único de- grau de escada. Não sei bem o que aconteceria comigo, mas sei que teria uma queda, para depois eu me regenerar. – Mas em nossas conversas você me disse que Deus não castiga ninguém. Como nós podemos sofrer as consequências? – Essas consequências são da própria Lei do Universo, somos eu e você que determinamos o que temos de resgatar, pelas nossas atitudes. A reencarnação, para o Espírito é uma pas- sagem, como a morte para vocês encarnados. Morrer é renascer, passar de uma vida para outra, assim como a vegetação. As árvo- res nascem, crescem, geram sementes, as sementes caem na ter- ra. A árvore morre e a semente renasce. Assim como vocês sen- 308
  • 309. tem quando morre alguém querido, nós também sentimos quan- do um Espírito que nós amamos deve reencarnar. Seria como ter de morrer. Irmão X tenta, de uma maneira discreta, mostrar para João o tipo de consequência que ele poderá sofrer. Mas João continua irredutível. – Eu já cometi tantos erros, que em troca dessa prova não hesitaria em resgatar um pouco mais. – É bom que você saiba que haverá consequências para mim e para você,– responde irmão X. Para que você entenda, eu regredirei mais ou menos 5 anos da Terra. Meu bom amigo, quanto menos nós errarmos, menos teremos a resgatar. Você ama a sua vida material, eu amo minha caminhada espiritual. – E todos os Espíritos amam sua vida espiritual? – Isso eu não posso lhe afirmar, mas parece-me que nem todos. Os que estão no plano inferior, acham que tudo não passa de um sonho ruim, um pesadelo, por isso ainda estão muito ligados à vida terrestre. Outros mais esclarecidos ainda têm o desejo dos vícios ou a vontade de ingerir bebidas, cigarros e até drogas, ou um alimento que era de sua preferência. Por isso precisamos trabalhar esses irmãos constantemente com amor, para que eles se esclareçam. – Me diga uma coisa – pergunta João. – Um desses ir- mãos pode nos dar essa prova? – Sim, pode, mas depende de sua sapiência, só que é um tanto quanto perigoso. – Como assim, perigoso? Por quê? – Por serem pouco esclarecidos, eles têm menos luz, por isso, tudo o que desejam fazer, fazem com as legiões, e não sa- bem muito bem o que é certo ou errado. Se vão fazer o bem, a caridade, eles serão cercados de Espíritos de luz. Assim, eles ob- têm mais luz, mais conhecimento do bem (força), pois atraem os bons espíritos pela vibração do amor. Mas se é algo contra a 309
  • 310. Lei do Universo, eles passam a ser perseguidos por legiões infe- riores a eles em caminhos obscuros. Esses irmãos não têm escrú- pulos nem remorso, e com essas atitudes errôneas, só regridem, por isso vivem em lugares horríveis, mais parecidos com um profundo abismo escuro e mal cheiroso. A bandeira deles é a violência, a inveja, o ego, a corrupção, homicídio, covardia e o egocentrismo, que é a ganância pelo poder, os vícios e principal- mente o ódio. Mas como eles também têm o livre-arbítrio, permanecerão naquele lugar até entenderem o quanto estão er- rados, pois o ódio e a revolta são a arma principal das legiões inferiores. – Eles saem de lá a hora que querem? E por que eles têm tanto ódio e revolta? – Veja bem meu filho, para que eles possam se libertar daquele lugar é preciso que eliminem principalmente o ódio e a vingança. Na verdade, existe algo no subconsciente que nem mesmo eles percebem. – E o que é? – Pergunta João. – É o desejo de terem uma vida espiritual melhor do que a que estão vivenciando. Esses espíritos também estão à pro- cura de um lugar ao sol ou um lugar de luz, mas isso está escon- dido em seu subconsciente, e a revolta, juntamente com o ódio, estão em evidência ou à vista de qualquer um que queira enxer- gar. Portanto, quando algum deles chega ao nosso pequeno cen- tro, os mesmos são recebidos com seriedade e rigor, mas com o devido respeito e carinho, pois eles não devem ser tratados como “cachorros sarnentos”, como se dizem por aí. Em algumas denominações protestantes ou mesmo em alguns centros espíritas pouco esclarecidos, eles são excomungados, maltratados e escorraçados, e levam o nome de “Exu fulano de tal” ou “Pomba-Gira tal”. Pense bem; quem precisa de remédio é o doente, quem precisa de alimento é o faminto, quem precisa do leito é quem tem sono e quem precisa de luz é exatamente o 310
  • 311. que está no escuro. Quem precisa de professor é o aluno, por isso eu lhe afirmo que esses dirigentes de centros, igrejas etc., precisam aprender sobre a Espiritualidade. Seria muito bom para a humanidade se houvesse esse aprendizado. – É, estou aprendendo muito com vocês. Pensei que por ter uma boa faculdade sabia de tudo, mas vejo que não sei nada, por isso, torno a repetir: eu adoro a Deus e amo a vocês como meus irmãos, do fundo do meu coração, mas desejaria imensamente sentir a sua presença em pessoa, meu bom Irmão X. Sinto uma alegria inexplicável quando falo com você, é como se eu estivesse reencontrando um parente muito amado ou um velho amigo muito querido, não sei se você entende isso. Eu não vejo a hora das sessões desta casa chegarem para estar aqui com vocês. – No seu pensamento passa um desejo muito forte, mas eu não devo satisfazê-lo. Sei que esse desejo é por amor e tam- bém por curiosidade ou egocentrismo, mas saiba que isso pode lhe custar caro e me deixa muito triste. Mas insisto em reco- mendar a você, meu bom irmão, muito cuidado. Não mexa com o desconhecido. Você deve aprender a agradecer, não só a pedir. No seu plano, o plano físico, terrestre, existe uma consti- tuição que dita regras, os direitos e deveres. No nosso plano, o plano extrafísico, existem as Leis do Universo, e também temos direitos e deveres. Direito de estar bem e dever do labor em prol do próximo, tanto encarnado quanto desencarnado. O dever da solidariedade, do amor ao próximo, sem se preocupar se o pró- ximo é bom ou mal, se é um espírito das trevas ou da luz. Im- porta que se ame o próximo como nosso verdadeiro irmão. – E você Irmão X, você nos ama, ou melhor, você me ama como seu irmão? – Essa é uma armadilha muito bem colocada que você está preparando para mim, afinal, essa é a bandeira dos Espíritos em evolução ou Espíritos de luz, como chamam, mas não pos- 311
  • 312. so mentir. Por isso, lhe respondo que você está me preparando essa armadilha. Lógico que amo a você, afinal, como eu disse, somos todos filhos do mesmo Deus, por isso somos filhos do mesmo Pai. É como você disse: ou fomos velhos companheiros ou parentes muito apegados, mas nem eu, na condição de Espí- rito, posso lhe afirmar se fomos ou não parentes ou amigos, porque eu não tive a curiosidade de perguntar aos meus superi- ores ou porque ainda não é a hora certa para tal pergunta. – Eu sinto que já estivemos juntos há muito tempo. – Isso pode ser um fato, mas ao mesmo tempo uma armadilha, – responde irmão X. – Então, torno a repetir: eu arco com as consequências. E você saberia me responder quais seriam as consequências? – Eu até gostaria de estar junto a você, mas existem dois mundos que nos separam. Bem, esta conversa já se estendeu demais e tenho mais afazeres. Tenho que visitar algumas mater- nidades e hospitais; alguém está me chamando. Até breve, e que a paz de Deus esteja contigo! Mesmo tendo se passado muito tempo desde que con- versara com João, o médium ainda não acreditava que o amigo não houvesse entendido o que poderia acontecer num futuro não muito distante, abandonado seus planos. Por isso, foi com muita cautela que lhe dirigiu a seguinte pergunta. – Você ficou bastante tempo com o Irmão X. – É verdade, essa Entidade é maravilhosa. Estou fascina- do por ele, e o amo de todo o meu coração. É um amor inexplicável, como se ele fosse mais do que meu pai. – Você deve ter mais cautela com os Espíritos, meu bom irmão João. Às vezes, por amor também se erra. – Eu sei, já conversei com outros Espíritos, mas o Ir- mão X é o que mais me fascina. Há poucos dias eu o senti se materializar, mas acho que foi coisa da minha cabeça, eu estava com uma máquina fotográfica. 312
  • 313. Irmão Lázaro o interrompe e continua. – Você colocou contra a luz e estava sozinho. O foco da lente em contato com a luz fez com que se transformasse em nuvens e, no meio das nuvens, uma porta se abriu e você viu uma pessoa em forma de luz, mas não deu para você identificar o rosto dele. Tudo isso era muito branco, simbolizando a paz... – E como você sabe disso? Que eu me lembre, não lhe contei nada. – Pois é. Isso foi um presente para você. – Mas não estou certo disto, pode ser coisa da minha cabeça. – Bem, só você pode saber se é coisa da sua cabeça ou não, mas peça a Deus esclarecimentos. Logo depois, Irmão Lázaro fez suas orações, pedindo aos amigos espirituais proteção a todos os envolvidos, pois esta- va temeroso sobre o que poderia acontecer com João. Dias depois, no pequeno centro espírita Irmão Y se dirige a João Eduardo. – Estou aqui para avisar a você que nosso Irmão X vai permanecer ausente por algum tempo, para se refazer do que aqui se passou. – Como assim, Irmão Y? – É que ele não deveria aceitar suas condições, então, houve uma contaminação. Incrédulo João pergunta. – Como? Ele iria aceitar o meu pedido? – Não só iria como tentou materializar-se, e isso só não aconteceu por falta de ectoplasma, senão, seria fatal. Mas mes- mo assim, houve algo estranho com sua câmera fotográfica, não houve? No conceito dele, seria para agradar o amigo e até por 313
  • 314. vaidade própria. Segundo a Lei do Universo, isso é um desafio que você está impondo, e ele, aceitando seu desafio, agora terá que regredir em sua caminhada espiritual alguns poucos anos. – Então, no Plano Espiritual vocês são rigorosos, a esse ponto? Aqui, para nós, seria como condenar ou deter alguém. – Só que ele não está enclausurado ou preso, e sim, num lugar que, para vocês aqui, seria como uma clínica de recupera- ção ou uma escola, com um novo e pequeno curso. Momentaneamente consciente do peso de sua incredu- lidade, João chega à conclusão de que não poderia exigir de ir- mão X como vinha fazendo. Esse pedido absurdo ao então caro Irmão X... João Eduardo coloca em palavras seu pensamento. – Não posso pedir isso a ele! Então, o Irmão Y lhe explica que na Lei do Universo existe algo que se chama Livre-Arbítrio, por isso, quem conduz a vida espiritual é o próprio Espírito, assim como nós aqui, no plano terrestre, conduzimos nossas próprias vidas e temos von- tade própria e o direito de ir e vir. Mas no íntimo, João conti- nuava lutando entre fazer o que sabe que é correto e a vaidade de ver realizado seu pedido. A vaidade é algo muito forte de se vencer. – Nem que me custe caro, quero ver o Irmão X com meus próprios olhos. Vocês me ensinaram que para obter a pre- sença de espírito próximo a nós, basta entrar em sintonia. – É verdade! – Afirma irmão Y. – Eu sei que convivi com Irmão X em vidas passadas, por isso, acho que fica mais fácil a sintonia e aproximação. – A sintonia é realmente fácil, mas, a materialização, exige técnicas específicas. E eu imagino que vocês sejam velhos conhecidos sim, – responde irmão Y. 314
  • 315. Em casa É sempre à noite, após o jantar, que João e Izabel têm oportunidade de conversar, de poder compartilhar suas dúvidas e incertezas, os acontecimentos do dia e os planos para o dia seguinte. Em uma dessas noites, João fala a Izabel do que têm lhe ocupado os pensamentos ultimamente. – Izabel, cada sessão a que vou naquele centro, aprendo mais. – Que bom João. Se hoje estamos bem, é graças a Deus, Lázaro e sua equipe de médiuns, sem falar nos Irmãos X e Y e em Mãe Benedita e outros mentores daquela casa. – Só que isso é meio confuso... – Como meio confuso? – Nada, nada... – Diz João, preferindo ficar com suas dúvidas apenas em pensamento. – Nada como? O que se passa na sua cabeça? – Indaga Izabel. – É que eu acredito na ajuda que tivemos, mas queria ter certeza absoluta da existência dos Espíritos, principalmente do Ir- mão X. Às vezes me parece fantasia. – É. Eu também gostaria de ter plena certeza. Será tudo verdadeiro o que o médium diz João? Ou será que foi a vontade de resolver nossos problemas ou só uma fase ruim em nossas vidas? – Sei lá... De repente, a vontade daquele médium era tão grande em nos ajudar que acabou tudo dando certo. Eu sei que eles são muito honestos, mas será que aquilo tudo não é fantasia da cabeça deles? Às vezes eu me pergunto: Existe espíri- to mesmo? Afinal, eu nunca vi nada que me prove. O Espírito entra em nós? E para quem já morreu, como será? Como será tudo isso? Será tudo força da mente? Na faculdade aprendemos e cremos na ciência, e nada mais. 315
  • 316. – E o interessante disso tudo é que Lázaro não quer nada em troca. Ele e os outros médiuns só pregam o amor a Deus e ao próximo. – Diz João, ainda com suas dúvidas. – E nenhum deles, Izabel, nem Lázaro o médium, assim como os Irmãos X e Y, são contraditórios. Tudo que você fala para eles, eles tem uma resposta concreta, verdadeira, eu vejo firmeza nas palavras deles. É fantástico! Em um lugar tão simples como aquele, Espíritos tão sábios, e o mais importante é que o nosso irmão Lázaro é praticamente analfabeto. Estudou só dois anos na escola primá- ria e a gente percebe que ele dá um banho de conhecimento, e só se preocupa com o bem-estar das pessoas. Lá, como você já pode observar, não se fala em dinheiro ou em bens materiais. – É, mas seria muito bom se nós pudéssemos saber mais sobre os Irmãos X e Y, apesar de ser isso só um desejo ou vaida- de, seria algo que nos deixaria totalmente convictos. Você não acha João? Porque, na realidade, não sabemos bem quem real- mente nos ajudou a sair daqueles problemas todos por que pas- samos. Eu acho que vamos conseguir realizar esse sonho. Se eles existem e conseguem até restaurar uma família, eles poderão também nos provar sua existência. Vamos batalhar que conse- guiremos o nosso objetivo. – Será que não estamos pedindo demais Izabel? – Quais serão as consequências? – Pergunta Izabel. – Eles dizem que teremos consequências sim. – Você acha que seremos castigados por isso? Se eles só pregam o amor, porque não haverão de nos perdoar? – Eu tenho perguntado às pessoas que são atendidas pelo Irmão X, se as consultas têm dado bons resultados, e os depoi- mentos são todos otimistas. – Por falar nisso, você poderia pedir ao irmão Lázaro para ir visitar seu sobrinho, que está em coma no hospital. – Ah! Aquele lá não tem mais jeito, Izabel. Ele caiu e quebrou o crânio, está faltando até um pedacinho do osso da 316
  • 317. cabeça. No momento do acidente o choque foi tão violento, que ficaram algumas partículas de osso da sua cabeça no local. E o médico disse que se ele sobreviver, certamente ficará paralítico e com retardamento mental. – Coitada da sua irmã, João. Como ela fará para viver uma situação dessa? – Seria mais simples se ele logo desse passagem desta vida. Por enquanto é apenas um ser vegetativo. – Responde João, um tanto chateado, mas resignado. – É. Seja como Deus quiser. Neste momento, chega Gabriela, filha de João e Izabel. – Bom dia papai, bom dia mamãe. – Porque nesta noite você se debatia tanto minha filha? – Pergunta Izabel. –Você deveria estar com tanta sede que quase lhe acordei. – Agora que a senhora está me falando, lembrei-me que tive um sonho. – O sonho era ruim minha filha? – Diz João. – Não papai, foi um sonho bom e engraçado. O Junior teve um sonho quase igual! – Conte minha filha, como foi o sonho? – Pergunta Izabel, interessada. – No sonho a senhora estava grávida e tinha um nenê. – Pare com isso Gabi! Filho, nem pensar... – Diz João, não gostando nem um pouco da ideia. – E o Junior teve o mesmo sonho? – Pergunta a mãe. – É, foi quase igual. – Afirma Gabi. – Isso com certeza aconteceu porque vocês estiveram na casa de Anita, e lá tem dois bebês, – explica Izabel á sua filha. – É... Pode ser. – Afirma João. Com certeza é isto mes- mo. Sua mãe é muito cuidadosa e está sempre em dia com seus anticoncepcionais, não é mesmo Izabel? – Com certeza, meu amor. Nesse momento, o telefone toca e João atende. Do ou- 317
  • 318. tro lado da linha, falava a irmã de João, Margarida. – João, é você? Quem está falando é a Margarida... – Sim Margarida, sou eu. Como esta seu filho? – Meu irmão, você sabe, somos de família católica, apos- tólica e romana, e sempre fomos contra esse negócio de ma- cumba ou Espiritismo. Você sabe disso, mas estou tão desespe- rada! Sei que você e sua esposa frequentam um lugar desses. Já fiz todo tipo de oração, recorri a tudo que você possa imaginar, até promessas fiz. Fui à igreja protestante e só promessas. Não sei mais o que fazer, então, resolvi recorrer a você, apesar do preconceito que temos. Mas nestas horas, até o preconceito cai por terra. Peço a sua ajuda, meu irmão! Eu não queria me meter nesse negócio de Espiritismo, mas vejo que será minha ultima tentativa. – Calma Margarida, não chore. Que tipo de ajuda você quer minha irmã? Estou à sua disposição. – Fale para aquele homem, esse que você disse que co- nheceu nesse lugar que você freqüenta, se ele pode ir até o hospi- tal fazer alguma coisa pelo meu filho, pois estou muito aflita. Você sabe que dinheiro não é problema. – Margarida, sei do seu sofrimento e estou propenso a compartilhar dele, mas mesmo assim, você tem que ser um pouco mais humilde minha irmã. Me perdoe lhe falar desta forma, neste momento em que você esta tão aflita. – Como assim João? – Não é ele quem tem de ir até o hospital ou nos procu- rar, é você quem deve ir até ele. – É verdade, você tem razão! Será que se eu for até lá ele poderá me atender? – Eu tenho certeza que sim. Ele é muito bom, humilde, extremamente solidário e tem sempre as portas abertas para to- dos que lhe procuram. Vamos lá à hora que você quiser. – Então vamos agora mesmo, meu irmão! 318
  • 319. Na casa de Irmão Lázaro Esperançosa, Margarida combina com o irmão e vão imediatamente à procura da ajuda tão esperada. – Bom dia meu bom amigo, como vai? – Diz João, cumprimentando Irmão Lázaro. – Tudo bem, graças a Deus. Esta é a sua irmã, não é? – Como sabe disso? – É que você me falou dela. Parece que o seu filho so- freu um acidente e está hospitalizado, não é isso? – É verdade, e viemos aqui lhe pedir uma palavra de consolo. – Entre minha amiga, a casa é humilde, mas o coração é grande. – Muito obrigada, como o senhor é amável. – Bem, como o senhor já sabe, eu trouxe minha irmã exatamente pelo meu sobrinho. – Vamos tomar um café, pois a pressa é inimiga da per- feição. Após alguns minutos de reflexão, o médium se dirige a João Eduardo e Margarida. – Vamos fazer uma oração e pedir ajuda ao Alto, tanto a Deus, que é nosso Pai querido, como também a Maria, Mãe de Jesus, que é mãe assim como a senhora. Vocês sabem que a Mãe de Jesus, que também é nossa mãe, esta sempre de braços aber- tos para nos ajudar. Vamos pensar também no filho de Maria, que só pregou o amor. – Sim, sabemos. – Respondem prontamente João e Margarida. Cansada, sob o peso da preocupação e sentindo-se inca- paz diante de uma situação em que nada podia fazer, Margarida sente-se extasiada diante da tranquilidade que impera naquela humilde casa. 319
  • 320. – Como está casa é gostosa! Aqui a gente sente a paz. Que gostoso estar aqui... diz Margarida, dirigindo-se ao mé- dium Irmão Lázaro. – Obrigada, minha irmã. Peço que se sinta à vontade. Alguns minutos depois, Irmão Lázaro se dirige nova- mente aos dois. – Já fizemos nossas preces e não tem ninguém para eu atender. Eu gostaria que vocês me levassem até o hospital onde está o menino. Podem fazer isso? Eu agradeço a gentileza. – Com toda a certeza, meu irmão! – Responde pronta- mente João Eduardo. Entusiasmados, cada um com suas preces no coração, os três se dirigem ao hospital. No hospital – Eles entram no prédio branco e frio. Em cada canto que se olha, pode-se ver estampado nos rostos ali presentes o que eles trazem na alma. Aqui, a dor e a esperança, ali só a dor, e assim eles atravessam corredores e portas, até chegarem à parte onde próximo está o filho de Margarida. – Clotilde, que bom encontrar vocês aqui! – Exclama com alegria João Eduardo. – Vim visitar meu sobrinho. – Meu bom irmão, esta é minha irmã Clotilde. – Muito prazer! – Diz Irmão Lázaro. – Eu acho que a senhora, com sua sensibilidade e seu bom coração, poderá nos ajudar na recuperação do seu sobrinho. – Como o senhor é otimista, ainda bem! Se depender das minhas orações, ele já está curado. O meu sobrinho, para mim, é como um filho. Bem, estamos aqui parados, daqui a pouco acaba o horário de visita e só pode entrar um de cada vez. – Onde fica a entrada? – Pergunta João. 320
  • 321. – Tem que seguir por aqui. Você fica de um lado do vidro e os pacientes do outro. Não pode haver contato direto para não contaminar os pacientes, pois este setor é a UTI (Uni- dade de Terapia Intensiva). – Bem, quem vai? – Pergunta João Eduardo. – Acho melhor ir a Margarida, pois é a mãe, tem priori- dade – responde Irmão Lázaro. – Está bem. Volto logo. Na volta do quarto A visão que se tem de um hospital não é nada agradável, de uma UTI então... – Não chore minha irmã, – João consola Margarida. – Tenha fé e tudo ficará bem. – Diz Clotilde, sempre tentando espalhar a fé, mesmo sabendo da total gravidade do estado de seu sobrinho. – É porque vocês não viram como ele está. Além disso, tive uma conversa rápida com o médico. Antes não tivesse ouvi- do nada, nessas horas gostaria de ser surda. Ele disse que meu filho não vai andar e ficará com sequelas no cérebro. – Margarida, o médico já havia lhe falado sobre isso, – responde João. – Mantenha a calma. – Mesmo assim, eu tinha esperanças. Eu sou sua mãe e o vejo bom, mas a realidade não é essa. – Como ele se chama? Pergunta Irmão Lázaro. – Juarez! – Rapidamente responde Margarida. – Pense em Deus, não se desespere, – recomenda o médium. – Bem, eu vou lá visitar meu sobrinho. João entra e os outros aguardam ansiosos. Após alguns minutos, ele retorna nitidamente desolado. – Mas que coisa! Como um jovem igual a esse menino, 321
  • 322. forte, pode estar nessa situação? Vá lá Clotilde, diz João. – Eu já fui antes de vocês chegarem, responde Clotilde. Irmão Lázaro então resolve ver Juarez. – Bem, restam alguns minutos. Agora é minha vez. Assim que o médium se afasta, Clotilde pergunta. – Quem é aquele médico tão moço que pegou no braço do nosso amigo? Parece que ele está sendo conduzido para a porta errada, pois ali só entram os médicos. Sem que as pessoas se apercebam, no Plano Espiritual somos assistidos por nossos protetores. Nesse exato momento, o Irmão X se manifesta. O Irmão Y está comprando meu problema, vai tentar dar a prova que o irmão João tanto quer. Mas não será o suficiente, pois mesmo assim ele ainda ficará em dúvida. O que falta a ele, Irmão X, é fé no invisível, fé no que seus olhos não enxergam, mas que é uma realidade diante dos acontecimentos. Ele não acre- dita completamente naquilo que não vê. Sabe que existimos, que é verdadeiro, mas mesmo assim falta-lhe a convicção. Enquanto Irmão X ouve essa sabia resposta do Mentor, os acontecimentos em nosso plano prosseguem. – Vamos, vamos, diz João, aflito. – Vamos onde João? – Pergunta Margarida. – Vamos dar um jeito de ver de perto o que está acontecendo! Os três irmãos conseguem chegar até o vidro onde ficam as visitas e observam o médium e um médico, ainda muito moço, ao lado do jovem paciente. Como um relâmpago, o tem- po passou. Acabada a visita, o jovem médico desaparece diante de seus olhos, permanecendo apenas o médium. Antes que se refizessem, um funcionário diz aos três que não podem perma- necer ali, e eles saem para o pátio. Em seguida, chega Irmão Lázaro o médium e se dirige à Margarida. – Acho que errei a porta, fui parar bem onde está o seu filho. 322
  • 323. – O senhor estava acompanhado de um... – Clotilde não consegue terminar a frase. Irmão Lázaro percebe o embaraço de Clotilde e dos outros dois irmãos. – Não se assustem, isso é um fenômeno natural. Bem, conversei com aquele jovem medico. Disse-me ele que estão trabalhando muito neste caso, em auxílio à equipe médica que está cuidando de Juarez. Disse-me também que há chance de o menino ficar bom. Lembre-se de uma coisa dona Margarida, coração de mãe não se engana. Há pouco tempo a senhora co- mentou que tinha esperança e que enxergava seu filho bom, por isso, tenha fé e acredite em seu sexto sentido. – Mas quem é aquele jovem médico que estava com o senhor? Afinal, quem está cuidando do meu filho é o Dr. Roberto, e ele tirou-me toda esperança que eu tinha. Esse jovem que estava com o senhor é o único medico que eu não conheço, nunca vi ou ouvi falar dele. – Bem, isso agora não importa, o que importa é que tenhamos fé, pois assim estaremos ajudando Juarez em sua total recuperação, e ele haverá de se recuperar. Assim, os quatro voltam para casa. Mas o assunto entre todos era só sobre Juarez, o rapaz hospitalizado. No dia seguinte Na maioria das vezes, para que vibrem as boas energias, basta que algumas pessoas se reúnam com bons pensamentos. Esse é o verdadeiro milagre da vida. No dia seguinte, pela manhã, João recebe um emocio- nado telefonema de Margarida. – João, meu irmão! Já liguei para a Clotilde e agora também quero lhe dar a excelente notícia: meu filho saiu da UTI! 323
  • 324. – Como? – Pergunta João, com muita admiração. – Ele pediu comida e mexeu o dedo do pé! Isso é fantás- tico, pois os médicos foram bem convictos em dizer que meu filho iria ficar paraplégico e com problemas mentais. – É verdade! Mas o que você está falando? Eu não estou sonhando, não é? Que maravilha! – Pode acreditar, meu irmão! – Mas os médicos que estão tratando dele disseram que ele não tinha cura... Que bom ouvir isso! Que maravilha, Deus é bom! – Um dos médicos me disse que houve um enorme en- gano quanto ao diagnóstico da junta médica, e que só há essa explicação para a rápida recuperação de Juarez. Estou pensando naquele jovem médico que estava com nosso amigo Irmão Lázaro. Ele não sai do meu pensamento. - E eu também. Aquele médico que estava com Irmão Lázaro não pertence à equipe que está cuidando do seu filho. – Na verdade, nunca ouvi falar nesse médico. – É mesmo. Mas como ele conseguiu entrar lá? – Vai ver que funcionários pensaram que ele trabalhava no hospital. – É, pode ser. Ele estava vestido de branco. Bem Marga- rida, eu vou até sua casa agora mesmo. Precisamos conversar; diga para a Clotilde ir também. – Ela já está aqui. – Ótimo, – responde João, encerrando a conversa. 324
  • 325. Na casa de Margarida Reunidos, os irmãos trocam entre si opiniões a respeito dos últimos acontecimentos. – O que vocês acham de tudo o que aconteceu ontem no hospital? – Quer a minha opinião sincera? Pergunta e responde ao mesmo tempo Clotilde. – Claro! – Responde Margarida, sem nem ao menos dar tempo ao irmão. – Pois é. Aquele homem, digo, o médium, com certeza é uma pessoa excepcional que traz em suas mãos o dom da cura. É com certeza um enviado de Deus, uma pessoa maravilhosa que veio ao mundo para servir às pessoas aflitas. Vocês viram, ele não tem maldade no coração, é um verdadeiro amigo, mi- nha irmã. E você não seja ingrata, dê uma boa recompensa para ele. –Afirma Clotilde. – Porque você está tão convicta disso? – Margarida, pense bem. Você, minha irmã, é Juíza e é uma pessoa bem informada, coerente e com uma formação aca- dêmica da melhor qualidade, digo, pela melhor faculdade deste Estado. Não é burra, é só analisar. Há quanto tempo seu filho está no hospital? Há quase dois meses e nunca houve progresso em seu restabelecimento. Lembra-se o que os médicos lhe fala- ram ontem? – Que ele não tinha mais jeito... E Clotilde continua. – Aí eu entrei, ele estava mal. Você, Margarida, também entrou e ele estava mal. Mas bastou o médium Lázaro entrar para aparecer um jovem médico, vindo do nada, pegar no braço do senhor Lázaro e ir até onde só podiam estar os pacientes e os médicos. Em seguida, o jovem médico aponta para a cabeça de Juarez como que se estivesse instruindo alguém a como aplicar 325
  • 326. algum tratamento em seu filho e desaparecer na nossa cara. Nós vimos! Então, o nosso modesto irmão médium comenta que falou com um médico de nome de Ylem, que nós não conhece- mos. Espere, tem mais. E no dia seguinte? No dia seguinte, Margarida, seu filho Juarez sai da UTI. O que mais você quer? Maior prova do que essa? Isso tudo é real e nós pudemos com- provar, nós vimos, a olho nu. – É mesmo verdade tudo o que você acabou de dizer. Devo mesmo recompensar muito bem aquele médium. – Não faça isso. – Diz João. Você vai ofendê-lo. – Por que vou ofendê-lo? Estou até pensando em refor- mar aquele pequeno centro. – Ele não aceitará a reforma e muito menos o dinheiro, Isso eu posso lhe garantir, pois eu o conheço bem. Estará muito mais bem pago se você for lá e pedir uma oração de agradeci- mento. Aproveite e diga a ele que você visitará alguns hospitais, orfanatos e asilos. E que vai de alguma forma retribuir a graça que você e seu filho receberam, dando sua atenção àqueles que necessitarem de auxílio, de uma palavra amiga, solidariedade etc. – Vou ver. Talvez eu faça isso. Mas não acho justo, acho que ele merece uma boa quantia em dinheiro. Na casa do médium – Olá! Tem alguém em casa? – Pode entrar Dona Margarida, – responde Irmão Lázaro. – Como vai a senhora? E a Dona Clotilde? Que bom receber vocês! Trazem-me boas notícias, não é verdade? – Como sabe, meu bom irmão? – Indaga Clotilde. – Pelo semblante alegre de vocês. – Como o senhor é modesto, – diz Clotilde. – Já sabia das novidades antes de nós, não é mesmo? Pois é. Meu filho, o meu querido filho, – diz Margarida chorando, chorando de ale- 326
  • 327. gria, – saiu da UTI. Está em plena recuperação e os médicos disseram que é só questão de tempo. Ele ficará bem, mas não sabem explicar esse fenômeno, pois um dia antes eles não ti- nham a menor esperança de curá-lo. Um dia antes, eles haviam constatado que ele iria ficar em uma cadeira de rodas, inválido para o resto da vida. E agora, o único problema com o meu filho é um pequenino pedaço de osso que falta no crânio dele, talvez tenham de colocar uma prótese. – No crânio? – Indaga o médium. – Mas se é esse o problema, então está tudo resolvido. Sabem por quê? – Não, não sabemos. – Responde Clotilde, ansiosa. – Ontem eu vi o crânio de seu filho e não tem nenhuma infecção. E Dr. Ylem me disse que, não tendo infecção e sendo ele ainda jovem, o próprio organismo do menino com certeza restaurará a parte afetada. A senhora não deve deixar os médicos colocarem prótese. – Os médicos deveriam saber disso. Não entendo por- que nada me disseram. Na humilde parede da casa do médium, um quadro chama a atenção das irmãs, que o olham admiradas. Percebendo o espanto das duas, Irmão Lázaro lhes pergunta. – Vocês não o conhecem? – Não, não sabemos quem é. – Este é o Irmão Y, um dos mentores da nossa casa espírita. – Mas esse aí é o médico que esteve com o senhor on- tem no hospital! – É mesmo? Ele sempre comenta que trabalha com uma equipe de 2 mil Espíritos, entre médicos, enfermeiros, psicólo- gos e vários especialistas. Ele diz que é um simples “faxineiro” do Plano Espiritual. Mas vocês não se espantem, pois isso é muito natural para eles. Mas mesmo sendo natural, só conse- guem se materializar-se em casos específicos. 327
  • 328. – Irmão, – diz Margarida, – nós queremos lhe agrade- cer, e gostaríamos de lhe recompensar. – Mas a visita de vocês já é uma recompensa. Eu estou muito feliz com vocês aqui me trazendo as boas novas. – E quanto à recompensa? – Insiste Margarida. – Minha irmã, quando nós fazemos a caridade, quando somos solidários, somos beneficiados também, pois quem nos procura nos proporciona a oportunidade de trabalharmos, e é assim que nós nos sentimos úteis, prestando serviço aos nossos semelhantes. Existe um ditado que diz. “Fazer o bem, faz bem”. – Mas isso não é tudo. –Retruca Clotilde. – Eu explico melhor. – Continua o médium. – Quan- do alguém bate à sua porta pedindo um prato de comida, o que você faz? – Eu o coloco para dentro e lhe dou um bom prato de comida. E, se possível, algumas roupas e procuro orientar a pes- soa participando do seu problema. Bem, faço isso, mas com muita cautela. – Muito bem, isso é caridade ou solidariedade. Porém, se mais tarde você souber que suas orientações fizeram com que aquela pessoa não precisasse mais pedir, e a mesma estivesse feliz por ter superado os seus problemas, como você se sentiria? – Ah, Meu irmão! Eu me sentiria super, super bem. Posso lhe dizer porque já tive um momento como esse. – Responde Clotilde. – E nunca mais você esqueceu esse momento, não é mesmo minha boa irmã? – É verdade. – E aquela pessoa que foi pedir, lhe deixou tão feliz, tão feliz, que mesmo sem saber fez um bem enorme para a sua alma, não é mesmo? – Então ela praticou a caridade, e nós chamamos essas pessoas de “anjos da caridade”. Eu estou tão feliz, minhas ir- mãs, que não é necessária recompensa em dinheiro, carro, casa na 328
  • 329. praia ou qualquer outra coisa. Vocês querem me dar um presente, não querem? – Com certeza! – Responde Margarida. – Então me deem uma pequena lembrança. Posso escolher? – Claro que pode! – Antecipa-se Clotilde. – Eu quero uma camisa branca para meus trabalhos espiri- tuais. – Esse foi o pedido do humilde médium. – Então, nos oriente sobre o que fazer. – Pede Margarida. – Em relação à recompensa? – Sim. – Todo benefício que recebemos do nosso querido Pai que está no Céu, por intermédio de seus auxiliares, é bom. Por isso, eu recomendo no seu caso não se apressar para dar a recom- pensa. Você deve se recuperar do susto que passou e descansar sua cabeça. Depois, aparecerá alguém que necessite de sua ajuda. Aí sim você irá dar sua recompensa, pagar o seu tributo. Elas agradeceram a orientação do irmão médium e saí- ram satisfeitas, pensando na caridade que poderiam fazer para “pagar” aquela recompensa. Em outra dimensão, no Mundo dos Espíritos Argumenta irmão X a outro mentor. – Você é um Espírito de maior elevação ou mais esclare- cido espiritualmente do que eu, por isso, peço-lhe que me ex- plique porque não posso voltar à Terra para ver meu amigo João. – Você está se recuperando bem, mas o seu campo de força espiritual precisa de mais energia. – Eu não posso deixá-lo sem a minha assistência. – No tempo certo você irá vê-lo. – E o Irmão Y, onde está? Nós somos inseparáveis, por que não posso vê-lo? 329
  • 330. – Tudo deve acontecer de acordo com a Lei do Univer- so. Neste momento, o Irmão Y está cuidando de uma pessoa da família do seu amigo João e tudo terminará bem. Como você está se sentindo aqui? – Está tudo muito bem. A pessoa de que ele esta cui- dando é aquele jovem que estava na UTI? – Sim, é esse mesmo. – Responde o mentor. – Aqui é maravilhoso, mas sinto algo muito forte que me atrai para a Terra. – É que nesse exato momento alguém está em uma for- te sintonia com você. – Por acaso é o irmão João? – Sim, é ele mesmo. – Mentor, por favor, me responda. Por que eu tenho tanta afinidade com o irmão João? Ele pediu uma prova concre- ta da minha existência e eu não tenho como negar a ele. – E você gostaria de satisfazer seu amigo, não é verdade? – Sim, é isso mesmo. – Só que tanto você, quanto ele sofrerão consequências. – Eu tenho consciência disso, mas mesmo assim, pre- tendo correr o risco. – Se é a sua vontade, então você será preparado para isso Irmão X. – E quais serão as consequências? – No tempo certo você saberá. Algum tempo depois, ainda no Mundo dos Espíritos Sabendo que tanto pode regredir, como também evo- luir espiritualmente, naquele momento Irmão X ouve do Ir- mão Superior as seguintes palavras. – É necessário lhe avisar que tudo que você for fazer 330
  • 331. deve ser com muito cuidado, pois lhe foi dada a permissão que nos solicitou. Você conseguiu recuperar suas forças no campo espiritual, agora siga sua consciência, ou melhor, seu livre-arbí- trio. E lembre-se: muito cuidado com as legiões inferiores para você não se contaminar. Peça ajuda quando precisar. Vá! Que a paz de Deus esteja contigo. Siga seu destino, siga sua vontade, pois sua vontades são seus desígnios. Enquanto isso na Terra, no pequeno centro espírita. – Irmão Lázaro, preciso falar com suas Entidades com certa urgência. – Diz João, que estava ali com sua esposa Izabel. – Eu já imaginava, por isso irei me preparar João. Logo depois, Irmão Lázaro volta. – Boa tarde, meus queridos irmãos. – Bom tarde, Irmão Y. Por onde anda o Irmão X? – Pergunta João. Como lhe disse anteriormente, ele está em plena recu- peração, mas muito em breve estará conosco. Estou aqui para lhes fazer uma pergunta: você e sua esposa conseguem ficar por 30 dias “na condição de vegetarianos”, sem comer carne, sem ingerir bebida alcoólica, sem cigarro, sem sexo e com seus pen- samentos totalmente voltados a Deus? – Qual a finalidade dessa abstinência Irmão Y? – Vocês tanto pediram que finalmente o Irmão X lhes dará uma prova definitiva. Mas vou lhes avisar, ele conseguirá com muito sacrifício, terá de regredir para a tal prova, passando por outros caminhos, caminhos obscuros, lugares horríveis. Para isso ele teve de ficar no que vocês chamam de “clinica de repou- so”, para restabelecer sua luz e ter forças para suportar o que virá pela frente. Ele terá de passar por situações muito difíceis. – Como assim? – Pergunta João. – Suponhamos que você vá participar de uma competi- ção que requeira muito esforço físico. O que você deve que fazer? 331
  • 332. – Preparar-me com exercícios físicos, tomar vitaminas e repousar bastante. – É mais ou menos isso que ele teve de fazer, porque virá por outro caminho, por onde necessita de muita energia. Agora façam sua parte durante os próximos 30 dias. Assim sen- do, após esse período vocês entrarão em nossa dimensão e terão a prova que tanto querem. Porém, não se esqueçam das consequências. Haverá alegria e tristeza nesse contexto. – E ele poderá nos perdoar! Pois vocês só ensinam a bondade, o amor e a resignação. – Nós temos um pouco de luz, realmente não temos ódio nem carregamos a bandeira de vingança, mas as consequências são naturais e virão da própria Lei do Universo, que é inevitável, pois como lhes foi dito anteriormente, para essas leis não há exceções, não se pode mudar nada. – Ouvindo tais palavras, João diz a si mesmo: “Ah, já entendi. As consequências virão em minha próxima encarnação, ou seja, em uma vida futura”. A Entidade responde ao pensamento de João. – É exatamente isso, – em uma vida futura tudo aconte- cera, mas não será a sua vida. Você só fará parte das futuras consequências. – Está bem. Até lá a gente dá um jeito. João e Izabel pensavam dessa forma não por rebeldia, mas por ignorar as normas ou a lei que rege o Universo. Em outra dimensão Irmão X começa sua peregrinação, passando por lugares habitados por espíritos em estado lamentável. Essa situação foi determinada para fazer com que ele tivesse consciência de sua vontade. Ele deve seguir seu destino e arcar com as consequências. Assim poderá balizar verdadeiramente a sua caminhada espiritu- 332
  • 333. al, trabalhando em prol da humanidade ou atender a um único pedido, o do seu amigo. Irmão X segue andando por entre aqueles destroços, onde parecia haver muitos restos mortais em um lamaçal movediço, um lugar sombrio e totalmente desolado. Mas não consegue deixar de dizer ao Mentor: Meu Deus, que lugar amedrontador! Ainda bem que estou acompanhado por esta legião de espíritos de luz e pelo senhor. – Você está sendo acompanhado por nós até a próxima camada, mas pior ainda está por vir. Seremos obrigados a voltar, pois lá a atmosfera é muito mais pesada. – E eu terei de seguir sozinho? – Você ainda pode voltar, basta consultar sua consciência. – No plano terrestre eu tenho um amigo e por ele terei de continuar, aconteça o que acontecer. – Mesmo sabendo que haverá consequências? – Sim, mesmo sabendo das consequências. – Se essa é sua decisão... Bem, chegamos até o nosso limite. Daqui teremos de voltar. Vá em frente que você encontrará irmãos que trabalham nas trevas para conter as camadas mais perigosas. Coragem irmão X! – E como devo chamar a esses irmãos, Mentor? – Bem, aqui eles são chamados de Guardiões, são como policiais. Lá na Terra são conhecidos por outros nomes, entre eles, um dos mais populares é Exu. Não tem perigo, esses espí- ritos são excelentes em seu trabalho, são realmente como bons policiais. – E como posso identificá-los? – Eles se apresentam com uma roupagem plasmada, como se estivessem vestidos com chumbo. Você também terá de usar essas vestimentas para continuar sua caminhada. Vamos materializá-la em seu corpo espiritual, para usá-la até o ponto que for necessário. 333
  • 334. – E para que servem essas roupas? – Para que você não receba as irradiações das legiões in- feriores. Elas são muito perigosas e você pode se contaminar. Por algum tempo, que não se pode determinar qual, Irmão X seguiu sozinho por entre as densas trevas. – Nossa! Isso aqui é horrível! E eu sozinho... Onde esta- rão os mentores do plano inferior? Algum tempo depois... – Bom dia! – Por que bom dia? – Você está entre as trevas meu amigo, aqui é sempre noite, e apesar de você ser um espírito que veio da luz, lembre- se: daqui pra frente quem comanda somos nós. Deixe que cui- demos de você. Tenha fé. A sua confiança será nossa total segu- rança, muito útil para nós lhe ajudarmos nessa missão. Não se descuide nunca e tenha muito cuidado, irmão. Eles passaram por várias camadas, das quais a mais suave é a dos suicidas. Depois a dos criminosos, dos hipócritas, cor- ruptos, feiticeiros etc. Após algum tempo, o Guardião pede uma pausa, pois algo estava acontecendo com o Irmão Y e ele sentia e recebia as vibrações, chamando próximo dali, como se vies- sem de outra dimensão. Ele pede ao Irmão X que o aguarde com um grupo de espíritos guardiões, enquanto ele segue com o outro grupo na direção das vibrações que recebera. O guardião e seu grupo retornam com mais alguém em sua companhia. – O que você está fazendo aqui, Irmão Y? – Indaga Ir- mão X. – Eu não poderia deixar você vir sozinho, afinal, no mundo espiritual somos companheiros inseparáveis. – Mas este desafio é meu! – Realmente você está regredindo! Essa sua atitude cha- ma-se egoísmo. Se você escolheu passar por este sacrifício, a única 334
  • 335. coisa que posso fazer, sendo eu seu companheiro, é estar ao seu lado aconteça o que acontecer. Afinal, amigo é para essas horas. Deixe que eu lhe acompanhe. – Está bem. Obrigado, meu bom companheiro. Agora sei que será mais leve meu fardo. Mas eu lhe aviso que não vai ser fácil, e também teremos consequências por causa disso. – Amigos são para todos os momentos, são para sem- pre. E a partir de agora, temos de aceitar os nossos próprios desígnios, ou melhor, as Leis do Universo ou causa e efeito dos nossos atos. Porque toda efeito tem sua causa. Após o diálogo entre os dois amigos, o guardião dirige- se ao Irmão X. – Você tem consciência do que irá acontecer com você? – Sim, tenho. Terei de reencarnar. – No plano terrestre, o fenômeno que acontecerá com você é como se fosse a morte. Você desaparecerá do nosso conví- vio por uns tempos e renascerá na Terra, – diz Irmão Y pensativo. – Eu sei, esse processo chama-se reencarnação. – Bem, pela contagem da Terra vocês estão nesta peregri- nação há 30 dias. Terão de ir até lá dar a prova que você Irmão X assumiu, voltar e se preparar para sua viagem, reencarnados. Lá deverá ficar com o Irmão Y pelo tempo que for determinado pela Lei do Universo. Aqui é o caminho para a Terra; não se esqueça que terá de voltar, e na volta, outros irmãos superiores lhes recebe- rão em sua preparação definitiva para o que terá de passar. Na Terra Demonstrando certa ansiedade, João comenta com sua irmã. – Clotilde, faz 30 dias que eu e minha esposa estamos seguindo rigorosamente novos hábitos, tanto alimentares como outros. Estamos em abstinência total. 335
  • 336. – Não sei por que você faz tanta questão dessa prova. Você quer prova maior do que a sua cura, a cura do nosso sobri- nho, a paz que reina em sua casa? Vocês estão prosperando e seu lar está restaurado! – São vários os motivos, Clotilde. Um deles é que vivo debatendo com pessoas que não acreditam na Espiritualidade, e sempre me falam que estou no caminho errado, que só lido com demônios e que o único que pode fazer as coisas é Deus, e se eu não tomar cuidado o demônio toma conta de mim e de minha casa. Mal sabem eles como esta fé ou filosofia me restau- rou, me trouxe paz e vontade de viver. Hoje sou muito feliz com minha família, então eu pergunto: Por que eles fizeram tantas orações, tantas reuniões em minha casa e as coisas só pio- ravam? Falam em Deus, mas muito mais no “Diabo”, acredi- tam que o diabo tem tanto poder quanto Deus, porque, da mesma forma que eles temem a Deus, na mesma medida te- mem o “Diabo”. O que eu aprendi naquele centro espírita é que não devemos temer a Deus e sim amá-lo e respeitá-lo acima de qualquer coisa. Quanto ao Diabo ou demônio, este somos nós, com nossas mas ações que criamos, pois quando agimos de má- fé e contra o nosso semelhante, nosso demônio sai de dentro de nós ou de nossa própria consciência e se multiplica em maldade, contrariando totalmente o que o nosso querido Jesus nos ensi- nou que é o amor ao próximo, sem o mal que tanto nos atinge e sem o preconceito. “Amai-vos uns aos outros assim como vos amei, seja ele de qualquer credo, raça e cor”. Com nosso Cria- dor e os bons Espíritos, sinto-me seguro e feliz em minha casa e minha vida estava cada vez melhor. Agora estamos realmente em paz. Creio eu que temos em nós a luz e as trevas, portanto, devemos dar vazão à luz para que tenhamos cada vez menos trevas. Na casa de nosso Irmão Lázaro ele enfatiza sempre que Deus está sobre todas as coisas. – João continua a falar. – Sabe 336
  • 337. Clotilde, ele só prega e pratica o amor ao próximo, à caridade pura e a solidariedade, como poderia ser a casa do demônio? Deus é a luz. O demônio, com certeza são as trevas. Mas essas pessoas acham que esses irmãos maravilhosos não são auxiliares de Deus, e sim do diabo ou demônio. – Deixe-os pensar como quiserem. Diz o ditado: “Cada cabeça é seu mestre”, ou outro ditado que diz “Falem bem ou mal, mas falem de mim”. – Bem, já cheguei até aqui, agora vou em frente. Estou com vontade de ficar num lugar bem tranquilo ao lado de Izabel. – Você está bem, meu irmão? Sinto que você esta aflito. – Sim, estou bem. Estou alegre por dentro e muito fe- liz. Mas eu sinto que algo me atrai para um lugar isolado, longe do barulho. Vou chamar Izabel e dar uma volta. Até mais Clo- tilde, um beijo! – Você tem certeza que está bem? Você está bem mesmo? – Nunca estive tão bem, pode ficar tranquila. Posso não estar certo, mas o que quero do irmão X é por amor a esta fan- tástica religião, ou melhor, a esta fantástica filosofia. Fique tranquila minha irmã. – Bem, sendo assim eu vou para casa. Ah, o nosso sobri- nho está ótimo, você viu? – É verdade, Deus é maravilhoso. A grande prova Depois de João dar várias voltas pelo centro da cidade com seu carro, ele vai até sua casa e convida sua amada esposa para também sair um pouco. Em seguida, pega uma estrada deserta e entra mato adentro e à direita numa trilha, onde obser- va duas pessoas estranhas, muito altas, com roupas parecendo de chumbo lhe indicando um caminho. Eles se aproximam um pouco mais. 337
  • 338. João para seu carro e, sai com Izabel. Quase inconscien- tes, continuam andando mato adentra a pé, até que observam duas luzes vindas do alto em suas direções a uma distância de cerca de 15 a 20 metros. As luzes ficam paradas no chão e se inicia o inigualável fenômeno de materialização dos Espíritos. Ele pergunta: – Quem são vocês? Do seu lado, ele observa uma senhora negra e muito velha e também em seguida um senhor muito velho e negro que lhes diz: – Esta é a prova que vocês tanto queriam. Aqueles ali são Irmãos X e Irmão Y. Ambos caem de joelho, chorando e agradecendo. Em seguida, aquela luz se transformou em dois belos jovens muito bonitos, de uma beleza espiritual inconfundível. João reconheceu que um deles, ou melhor, o Irmão Y, era o mesmo que estava vesti- do de médico ao lado do médium Lázaro no hospital, quando seu sobrinho estava enfermo. E eles, com os olhos fixos nos irmãos, observaram um fenômeno fantástico: os dois espíritos saem de cena dando lugar a uma criança recém-nascida, e essa mesma criança se transforma em um menino de mais ou menos 5 ou 6 anos de idade, flutuando sobre o alto em forma de luz. João pergunta para o casal: – E vocês quem são? De onde vieram? – Nós somos chamados de Pretos-Velhos nos centros espíritas. – E aqueles dois que ficaram na entrada da mata, quem são? – Pergunta Izabel. – Vocês os chamam de Exus. Eles nos auxiliam traba- lhando na linha que divide o bem e o mal. São como os polici- ais aqui no seu plano, ou melhor, aqui na Terra. João e Izabel estavam se comunicando com aqueles es- píritos de forma telepática. 338
  • 339. A Realidade O casal de velhos continuou com suas explicações. Em verdade, os chamados Exus são espíritos elevados que abraçam esta espinhosa missão, mesmo sabendo o quanto vão ser humilhados, enxotados e excomungados até pelas pesso- as que dizem entender a Espiritualidade. São missões difíceis, assim como algumas profissões aqui na Terra que vocês conside- ram humilhantes e difíceis de executar. Como, por exemplo, enterrar os mortos, tratar de pessoas com doenças contagiosas entre outras. Existe uma confusão tremenda em relação a estas Entidades, pois são confundidos até por alguns líderes de certas religiões e até por alguns médiuns de centros espíritas, com “Es- píritos do mal, quando em verdade não são, pois, pela missão que Deus lhes deu, são eles que trazem o equilíbrio ao plano metafísico, em harmonia com o plano terrestre. Essa confusão se dá porque algumas crenças ensinam absurdos aos seus segui- dores. E também porque existem alguns espíritas que vêm de outras denominações ou religiões, e continuam com essa cultu- ra errônea em relação aos Exus, que são espíritos do bem e com- batem o mal com muito rigor. – Mas se eles trabalham também nas trevas, não podem também fazer o mal? – Pergunta João Eduardo. – Não! Literalmente não! –Afirmam aqueles espíritos materializados, e complementam. – Quem faz o mal são os chamados quiumbas ou espí- ritos trevosos, que são vingativos invejosos ou gananciosos, que deixaram suas fortunas na Terra e acham que seus bens materiais ainda lhes pertencem. Essas pessoas que migram de outras de- nominações religiosas, nas quais lhes ensinavam que os Espíri- tos são “coisas do diabo”, e acreditam que os Exus, por serem espíritos ligados às questões mais terrenas, são demônios, por isso são os que mais sofrem preconceitos. Mas no próprio livro 339
  • 340. sagrado, também conhecido como a Bíblia ou Evangelho, em que muitas religiões se apegam, tendo como seu principal orientador, existe uma passagem que relata a aparição de dois Espíritos: Moises e Elias, e os mesmos conversam com Jesus. – Como assim? – Pergunta Izabel. Os Pretos-Velhos continuam explicando aos dois. – Jesus subiu ao monte, segundo a Bíblia, com três de seus apóstolos, e lá surgiram Moisés e Elias. Moisés já havia morrido há pelo menos 3.800 anos, e Elias há cerca de 900 anos antes de Cristo. Então, se o próprio Jesus tinha contato com os mortos, como pode a comunicação com os Espíritos ser coisa do demônio? O que essas pessoas chamam de demônios, são o que poderíamos chamar de espíritos sofredores, perdidos em seus próprios atos e em seu estado psicológico. Esses demônios, como eles os chamam, precisam de ajuda e devemos ser solidá- rios com eles, orientá-los e com amor encaminhá-los para Deus, que é o a sua verdadeira morada, pois não existem Espíritos totalmente perdidos. Se assim fosse, a promessa do grande Mestre Jesus Cristo seria vulgar quando ele disse que o Pai não tinha ou não tem nenhum filho a perder, e que ele não viera buscar os justos, mas os pecadores ou impuros, pois a missão dele era resgatar as ovelhas perdidas para o seu rebanho. Ele deixou essa missão com seus apóstolos e discípulos, os doze apóstolos fo- ram escolhidos para pregar e curar os enfermos de sua época. Os outros eram discípulos, e discípulos são aqueles que aceitam voluntariamente a incumbência de dar continuidade a uma obra, mas com honestidade e pureza de alma. Por isso todo cristão de verdade pode ser um discípulo do senhor Jesus, e os apóstolos foram os escolhidos por ele, não havendo outros. Jesus não pri- vilegiou a Moisés e Elias, Pedro ou Paulo ou outros, nem no plano terrestre nem no plano espiritual. Não existe privilégio ou privilegiados. Cada um com sua sapiência, sua evolução ou degradação. Existem centros que invocam Espíritos que se iden- 340
  • 341. tificam como escritores, médicos, advogados, psicólogos, artis- tas plásticos, mas em vidas anteriores. Esses mesmos Espíritos podem ter reencarnado como um negro, um índio, um baiano ou um boiadeiro. E os índios, boiadeiros, negros etc., também podem, em vidas passadas, ter reencarnado como médicos, ad- vogados, escritores ou filósofos, cada um com o seu histórico. Gostaria de deixar para você analisar essas questões com bastan- te cuidado, pois há espíritos inferiores que se passam tranquilamente por essas entidades chamadas de Exus. – E por que isso é permitido? – Porque todos nós temos o livre-arbítrio, lembra-se? – É verdade, não tinha pensado nisso. O que significa Exu? – Exu é um nome de origem africana, que quer dizer Entidade mais próxima da Terra. Essas Entidades trabalham para manter o equilíbrio entre os homens e os Espíritos, entre os dois mundos, e são também chamados de mensageiros ou guardiões. Quando uma pessoa ou uma família está em estado degradante procura um bom centro espírita, os Espíritos que ali trabalham percebem que aquela família ou pessoa está sendo vítima de alguma obsessão, feitiçaria, bruxaria ou outros males que provocam energias ruins. São eles que trazem os obsessores, pois é como se estivessem algemados, presos, para dizerem por- que estão obsedando aquela vítima. Os Exus são exímios na limpeza de ambientes, por isso são chamados nos terreiros, ro- ças ou centros no início das sessões para afastar as energias nega- tivas. Vou lhe dar um exemplo. Quando alguém vai a um lugar de baixa frequência para pedir o mal, quem os atende são obsessores, chamados pelos africanos de quiumbas, que muitas vezes se fazem passar pelos Exus exatamente para confundir as pessoas. Como os exus, os quiumbas têm liberdade e também são chamados para se encostarem a uma vítima qualquer. Mas eles só conseguem se aproximar se a pessoa estiver vulnerável. 341
  • 342. Aceitam presentes para entrar em sintonia e destruir a vida ou a família daquela pessoa e, em sua ignorância, começam a preju- dicar a sua presa com vibrações telepáticas. – Mas como isso é possível? – Veja, se você está protegido, esses quiumbas não têm acesso, não conseguem fazer sintonia com a sua mente. – E como devemos nos proteger? – Evitando tudo aquilo que é ruim. – E como saber o que é ruim? – É muito fácil. Basta não fazerem para o outro, aquilo que vocês não querem para si mesmos. E também estar sempre contrito a Deus e, em seu dia a dia, fazer sempre exames de consciência. Não importa a sua fé ou crença, pois o Espírito é, por natureza, ecumênico. Portanto, os Espíritos e também o Criador (Deus), não têm religião. Podemos dizer que pertence- mos a todas as crenças, desde que cultuem o nosso Criador e que sejam verdadeiros em sua fé. – E porque os Exus são chamados de mensageiros? – Exatamente porque quando alguém nos procura em determinados centros para tirar o mal que lhe foi colocado, nós pedimos aos Exus que vão buscar os quiumbas, para saber como devemos agir. E, de acordo com o consentimento da pessoa que nos procurou, aí sim nós temos permissão para afastar e limpar aquela vítima. – Mas porque eles trabalham em uma só denominação? Ou melhor, eles só trabalham em religiões de origem afro-brasi- leira, digo, Umbanda e Candomblé? Aí é que você se engana meu irmão. Eles trabalham, assim como nós, em várias ou em qualquer denominação, por isso são chamados de Anjo da Guarda, Protetor, Orixá, Guia de Luz, Energia, Espírito Santo ou outros nomes. Mas em outras denominações eles não se identificam, por não serem reconheci- do como auxiliares de Deus ou laboriosos da Espiritualidade. 342
  • 343. Trabalham em silêncio, pois seriam rejeitados e confundidos com o “demônio”. – E Por que isso acontece? – Porque é assim que irmãos de outras denominações aprenderam em suas religiões ou doutrinas, principalmente após a crucificação do nosso Mestre Jesus. Porque os interesses polí- ticos continuaram e também na intenção de não perderem o controle sobre o povo. Com esse modo de agir, crucificaram Jesus, o nosso Cristo, e muitos outros seguidores do Cristianis- mo. Outros foram queimados vivos nas fogueiras, taxados como feiticeiros, e bruxos na época da chamada Inquisição. – E por que vocês são chamados de Pretos-Velhos? É uma maneira carinhosa de serem tratados? – Sim! Responde a Entidade. Mas também somos cha- mados pelo nome. Por algumas pessoas que dirigem determina- dos centros, ainda somos carinhosamente chamados de Pai, Mãe, Vovó e Vovô. – Porque existem várias denominações religiosas e não só uma? Afinal, Deus é único não é mesmo? – Você está totalmente correto, mas existem outras de- nominações religiosas porque existem várias culturas diferentes. Cada região tem seus costumes. – Mas como se sabe que existem várias crenças em uma só região? – Os motivos desses acontecimentos talvez sejam as imigrações ou colonizações. Cada um pratica sua fé de acordo com sua cultura, e também com o que aprenderam com seus líderes. As religiões se modernizam, assim como o mundo evo- lui, mas ainda existem algumas que continuam a manter-se na velha tradição. Imagine se todas as religiões resolvessem seguir a Bíblia ao pé da letra, principalmente o Velho Testamento, que relata Deus ordenando por intermédio de Moisés vários e vários sacrifícios de animais? Como seria? – Curiosidade: a Bíblia nos 343
  • 344. relata que o Rei Salomão sacrificou 200 mil bois de uma só vez como oferta para Deus –. Há vários maneiras de cultuar a Deus, mas você pode ter certeza de uma coisa, nós, Espíritos, estamos a serviço dos humanos em todas as religiões por determinação de Deus, pois os seres humanos também são Espíritos como nós, cada um com sua sapiência. Mas necessitam de um porto seguro, que são os Espíritos de Luz, pois os Espíritos encarna- dos encontram-se presos a um corpo físico. – Vocês, Pretos-Velhos, são carinhosamente chamados e considerados Espíritos simples e ignorantes, por se apresenta- rem na condição de ex-escravos. Vocês nunca reencarnaram an- tes, em outras condições? Quero dizer, não como escravos? – Filho, a nossa hora chegou e precisamos ir. Temos outras missões, precisamos socorrer irmãos em recantos diferentes. Estão me chamando com certa urgência, mas vou pedir para o irmão mé- dium, do centro que vocês frequentam, para continuar com esta gos- tosa prosa que estamos tendo por telepatia, da próxima vez que você for àquela casa de orações. Deixarei outra Entidade próxima ao nosso querido médium Lázaro para que ele responda suas perguntas. E os velhos somem ali, bem às vistas de João Eduardo e Izabel. – Nossa, que fantástico! É inacreditável como nós con- seguimos, – afirma Izabel. – Bem, temos de ir embora; já 6 horas da tarde e chegamos aqui ao meio-dia. Interessante, parece que foi há apenas cinco minutos, como pode? E o pior é que ninguém irá acreditar. E agora, quais serão as consequências? Meu Deus! O que nós fizemos? João e Izabel comentam o ocorrido com Irmão Lázaro – Meu querido Irmão Lázaro. Nós estamos deslumbra- dos com tudo o que vimos e ouvimos ontem, foi realmente 344
  • 345. fantástico. Aprendemos muito com os nossos irmãos do Plano Espiritual. Sem querer abusar da sua costumeira atenção, mas nos ficou uma pergunta que eu gostaria muito de saber, – diz João Eduardo. – Pode perguntar meu irmão, – responde o médium com carinho. – Se a pergunta estiver ao meu alcance, com pra- zer responderei. – Eu perguntei aos Pretos-Velhos sobre reencarnação, mas especificamente no caso deles, perguntei se eles tinham pas- sado por outras reencarnações, em outras condições antes deles virem como escravos. – Sim, com certeza, passaram sim. São Espíritos muito antigos, que já tiveram várias reencarnações. – Então por que eles regrediram tanto? – Aí é que você se engana, meu bom amigo. Esses Espí- ritos são elevadíssimos, e quanto mais o espírito é elevado, mais humilde é, prova disso é Jesus, o mais elevado dos Espíritos que encarnou no plano terrestre. Ele foi e é o Mestre dos Mestres. No entanto, ele nasceu em uma família humilde, em uma man- jedoura, e em nome de seu povo ele aceitou passar por tudo que passou com resignação. Vou lhe fazer uma pergunta: Como você reagiria se fosse preso, humilhado, obrigado a trabalhar todos os dias de sua vida sem remuneração e ainda fosse surrado? – Eu ficaria muito revoltado, e assim que eu tivesse opor- tunidade me vingaria. – E se você não tivesse tempo de se vingar? – Como assim? – Quero dizer o seguinte: Se você desse passagem, mor- resse antes de conseguir se vingar de seus algozes? – Bem, aí então, no Plano Espiritual, eu passaria vibra- ções de ódio, revolta e tudo que estivesse ao meu alcance para me vingar dos meus algozes. – Entre todos aqueles escravos que saíram de suas terras 345
  • 346. natais e foram espalhados em outros continentes, havia Espíri- tos atrasados, ignorantes. Esses realmente são vingativos e maus! Mas essas entidades que se aproximam de nós médiuns e trazem palavras de amor ao próximo, usam como bandeira o amor ao próximo, a caridade e a solidariedade. São Espíritos elevadíssimos que nos ensinam chás e benzeduras, nos trazem palavras de con- forto que levantam nossa autoestima. Por isso eu lhe afirmo, com toda a convicção, que são Espíritos de várias passagens pela terra. Eles foram escravizados, surrados, humilhados e mesmo assim são solidários, caridosos e resignados. A filosofia deles é bem semelhante aos ensinamentos do nosso Mestre Jesus, eu diria que Jesus foi o maior médium de todas as épocas, e esses Pretos-Velhos, como carinhosamente os chamamos, são Espíri- tos extremamente sábios, e quanto mais elevados e sábios, mais simples eles são. Veja o maior exemplo disto, que foi a vinda do Mestre, daquele espírito maravilhoso que passou pela terra há 2 mil anos. Jesus não tinha bens, vestia uma túnica simples, anda- va de sandália com total simplicidade, pregava o amor, a carida- de e insistia: “Amai os inimigos assim como eu vos amei”, e ele foi condenado à crucificação, foi surrado, humilhado, cuspiram em seu santo rosto e ainda, quando ele estava para dar passagem ao Plano Espiritual, disse: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem”. Se o Espírito tivesse a necessidade de mostrar-se como ele é, Jesus viria com pompas de um rei, se declarando como o imperador, morando em um belo palácio e com vários súditos e escravo à sua volta, com toda a pose de um verdadeiro rei, assim como ele realmente é, por ser o mais elevado dos Espíritos como também por hierarquia, porque era descendente dos reis Davi e Salomão. Mas lhes afirmo: quanto mais o Espírito é elevado, com mais simplicidade ele se identifica. Nesse momento, o médium entra em transe e aproxima- se um mentor para continuar o dialogo com João e Izabel. E as perguntas brotam no pensamento de João. 346
  • 347. – E aquela criança que também se materializou, quem é? – Isso você saberá daqui a algum tempo,– responde a entidade. – Eu lhe aconselho a nunca mais fazer esse tipo de pedido ou quase exigência de um espírito, principalmente de um irmão maravilhoso e dócil como o Irmão X. Não mexa com o desconhecido e lembre-se: Deus não castiga ninguém, são os nossos próprios atos que nos condenam ou absolvem. Assim que João e Izabel chegam em casa, sua filha Gabi corre a lhes dizer. – Papai, sonhei outra vez aquele mesmo sonho! – Gabi, pare com esses sonhos. Sua mãe não está prepa- rada para ter outro filho. – Isso deve ser um desejo seu, é a vontade de ter mais um irmãozinho filha, retruca a mãe. Na sessão seguinte Antes de iniciada a sessão, João conversa com o médium. – Meu bom irmão, minha filha já sonhou pela segunda ou terceira vez com minha esposa grávida. Você tem alguma explicação para isso? – Sonho é algo fantástico. Às vezes é coisa que passamos durante dois, três ou até seis meses, aí mistura no nosso sub- consciente e o sonho se torna confuso. Mas quando é previsão, o sonho é repetitivo, digo, é sempre semelhante. Pode acontecer o que foi revelado no sonho ou ser ao contrário do que a pessoa está sonhando. Você não deve se preocupar com isso meu ir- mão. Pense em Deus e na Lei do Universo. – Como é a Lei do Universo? – Seria mais ou menos assim: Deus, em sua infinita sa- bedoria, fez as leis com muito equilíbrio e justiça, assim como cada país tem as suas constituições, e nas constituições o povo tem direitos e deveres. Na Lei do Universo há a constituição e também o livre-arbítrio, que são os direitos, e com os deveres 347
  • 348. cumpridos corretamente os espíritos não sofrem danos. Elevam- se aí os Espíritos que respeitam as Leis do Universo e que não necessitam mais do mundo de expiação até que chegam ao pla- no máximo, que é o Plano Angelical. Aqui em nosso plano, os seres mais puros são as crianças, e no Plano Espiritual, abaixo de Deus estão os anjos. – Como você sabe tudo isso meu irmão? Estou fascina- do com seus conhecimentos. – Os nossos queridos irmãos (as Entidades) nos passam esses ensinamentos, digo conhecimentos. – Eu lhe falei do que vi ontem! Nunca, mas nunca mes- mo eu vou esquecer toda aquela maravilha. Em outra oportuni- dade em que tivemos uma longa conversa, você me falou da materialização de Espíritos, e que só seria possível pelo ectoplasma. Lembra-se? – Claro que me lembro. Mas vou pedir para outro ir- mão, especialista em materializações, que lhe explique melhor sobre o assunto. – Logo em seguida, se faz presente outra Entidade para passar esses conhecimentos ao atento ouvinte e aprendiz João. – Bem meu irmão, o ectoplasma é um material que exala da boca, nariz e ouvido do ser humano. Normalmente é um material puro, mas se torna impuro quando é ingerido em forma de bebidas, alimentos e outros, e também pelas más ações que o ser humano comete diariamente, transformando a adrenalina em ectoplasma maléfico. Para se tornar um médium de materialização, é necessário que haja uma total abstinência dessas coisas e até de sexo. Para que se torne possível a materialização de Espíritos, o ectoplasma não pode ser impuro e o médium tem que estar bem preparado para essa finalidade. Para você ter uma ideia, os banhos de ervas ajudam a limpar o perispírito, com isso o ectoplasma fica um pouco mais puro – E pode ser qualquer médium? – Pergunta Izabel. 348
  • 349. – Veja bem, para acontecer esse fenômeno é necessário que o médium seja especialista em materialização. Assim como existem médium de transporte, médium de cura, médium de evangelização, psicografia, entre outros. – Mas ali onde estávamos só estávamos eu e minha es- posa, não havia nenhum médium de materialização. Então, como ter ocorrido aquele fenômeno? – E você tem alguma dúvida do que viu? – Nenhuma. Hoje eu tenho certeza de 100 por cento da existência daqueles irmãos. – Meu filho, assim como o médium de materialização exala o ectoplasma, nas árvores esse material é encontrado em abundância.. – Nas árvores? – Pergunta João com muita admiração. – Sim, nas árvores. – Responde a Entidade com muita segurança e simplicidade. – Elas captam a energia que está no ar, também conhecido como oxigênio, e a transforma em ectoplasma. As árvores têm em seu interior proteínas, vitami- nas, sais, anticorpos etc., porque elas têm ligação direta com a terra e captam as energias do subsolo, onde também se situa ou esta armazenada o melhor ectoplasma. É lá que está concentra- do todo o processo energético do planeta. Por exemplo, a água, o ferro, o fosfato, o enxofre, o zinco, o petróleo, pedras precio- sas e outros. Pelas árvores terem vida própria é que elas exalam em abundância um excelente ectoplasma. As árvores também procriam; existem árvores machos e fêmeas. Elas soltam as se- mentes como uma desova e geram mudas que crescem como um renascer ou reencarnar, e assim as árvores velhas morrem. Ou renascem, pois a pequena muda que nasce é a mesma arvore velha que morreu. Os médiuns de materialização, estes sim pre- cisam passar por um rigoroso processo de preparação. Para você ter uma idéia, o médium tem que ser vegetariano, abdicar do sexo, entre outras coisas. Por aí dá para se notar a ligação de 349
  • 350. ambos, ou melhor, dos médiuns e das árvores. Enfatizo: o mé- dium deve se alimentar somente com vegetais para armazenar um ectoplasma mais puro ou de boa qualidade. – É realmente fantástico e faz muito sentido tudo que você me falou. – Bem, se você não tem mais nenhuma dúvida, até ou- tro dia meu filho. Que a paz esteja contigo. Em outra sessão, na semana seguinte – Boa tarde, meu bom Irmão! – Bem, você está satisfeito com o seu aprendizado? – Com toda certeza, estou muito satisfeito. Agora que- ro lhe fazer outra pergunta: É possível falar com o Irmão X? – No futuro, sim. – E com o Irmão Y? – Também não. Depois do que eles lhe proporciona- ram, você terá de aguardar um bom tempo para falar com o Irmão Y. Quanto ao Irmão X, nós perdemos o contato. – Porque isso aconteceu? Eu sou o culpado? – Veja bem, os bons Espíritos não acusam e nem defen- dem. A Lei do Universo ou a nossa constituição, como vocês o chamam aqui na Terra, é que se encarrega dessas coisas. Nós só procuramos ajudar, orientando os seres da sua dimensão. – E em qual dimensão está o Irmão X? – Em um lugar que se parece com uma escola. De lá ele regressará para onde for designado pelos nossos superiores. – Você diz regressar, voltar para onde ele estava? – Tanto ele pode fazer uma viagem longa, como pode ser uma viagem curta. – Viagem longa ou curta? – Longa, para outras galáxias, outros planetas. Curta, na própria galáxia. Portanto, temos que aguardar, mas certamente 350
  • 351. você terá contato com o Irmão X de alguma forma. Como, eu não saberia lhe dizer. – Só mais uma coisa, meu bom irmão. – Pode falar, estou à sua disposição. – Por que o tempo passou tão rápido naquele momen- to de materialização com o os irmãos X, Y e outros? Permanece- mos naquele lugar por seis horas, mas eu e minha esposa tive- mos a impressão de que foram apenas cinco minutos. – Para acontecer aquele tipo de materialização você en- trou na nossa sintonia, e assim sendo, os seu perispírito entrou em outra dimensão, a dimensão espiritual. Quando vocês se concentram para chamar ou invocar um Espírito, entram em sintonia com o mundo espiritual. Então, o Espírito que você invocou é sendo chamado para o seu habitat, mas naquele caso, o Irmão X queria lhes dar a tal prova, foi ele quem entrou em sintonia com vocês. Seu Espírito foi conduzido ou invocado para o nosso habitat, por isso vocês estavam conscientes, mas totalmente imóveis. Por isso, em seus pensamentos acreditaram terem se passado apenas cinco minutos, mas foram aproxima- damente cinco a seis horas na contagem da Terra. Os Espíritos que trabalharam nesse projeto se conectaram com vocês pelo cordão de prata que há na cabeça de ambos e de todo ser huma- no. Esse cordão de prata é a ligação entre o mundo físico, o mundo espiritual e os vossos corpos na dimensão terrena. E mais, seus espíritos estavam ligados às suas matérias e ao mesmo tem- po em nosso habitat. – Exatamente: Eu achei que tinham se passado só cinco minutos, por isso fiquei perplexo. – Bem, tenho de continuar minha caminhada. Até um dia, e que a paz esteja com vocês. 351
  • 352. Na Dimensão dos Espíritos – O Mentor que trabalha junto ao plano inferior está fazendo o caminho de volta? – Pergunta Irmão Y. Sim irmão Y, estou. – Responde o Mentor. Iremos pas- sar outra vez por lugares horríveis, mas com estas roupas de chum- bo plasmadas não correremos perigo de contaminação pelas más vibrações. Basta que sejamos cautelosos e não tenhamos medo. O medo poderá nos trazer problemas, pois atrai as más vibra- ções. Mas lembre-se: somos mais fortes do que eles. A minha legião está aqui para defender-te das legiões do mal. – Quer dizer que quanto mais fortes essas vibrações, mais próximos estamos da Terra? – É por isso que a Terra é o plano de expiação, onde nenhum ser humano é totalmente feliz. Sempre tem seus altos e baixos, e o Criador é tão bondoso que mesmo sendo um mun- do de expiação, ele proporciona paz, alegria, prazer e felicidade. O espírito encarnado (ser humano) pode ser totalmente feliz, basta querer e saber ser feliz. – Como assim? Pergunta irmão Y. – Basta que o ser humano não seja soberbo, ou melhor, que seja feliz com o que ele conquistou, ou, como dizem no plano terrestre, ser feliz com o que Deus lhe deu. – Por que o Irmão X segue por outro caminho? – Você Irmão Y, irá para um lugar onde poderá repor sua luz e suas energias. Quanto ao Irmão X, o Mentor Superior lhe dará as devidas explicações. Algum tempo depois, Irmão Y, pergunta. – Nos já estamos na linha que divide a luz das trevas? – Sim, – responde o mentor – a partir daqui você segui- rá sozinho. Logo encontrará o Mentor do Plano Superior. Que a paz esteja contigo. – Tenho que tirar estas roupas e continuar minha 352
  • 353. caminhada, ainda com muita cautela. Pouco depois, Irmão Y encontra outros Espíritos que o ajudam na caminhada. – Vamos Irmão Y, agora você irá para um lugar onde poderá se recuperar dessa sua nova experiência. – Mas onde está o irmão X? Para onde ele foi? O Mentor do plano Inferior nos disse que teríamos de nos separar, mas por que, se nós fomos designados para trabalharmos juntos? Somos velhos parceiros Mentor, por favor, me esclareça.. – Ele foi se preparar para reencarnar no mundo de expi- ação, a Terra. E você, prepare-se para cuidar dele durante a gesta- ção de sua futura mãe. - Como assim? Explique-me melhor Mentor, pois essa experi- ência para mim é nova. Por que não serei eu a reencarnar? Irmão X é mais elevado do que eu, mais sábio e tem mais luz. – Tudo, mas tudo mesmo tem sua razão de ser. Nada é por acaso, e o nosso Criador sabe exatamente o que é certo ou errado, por isso não devemos questionar meu irmão, as Leis do Universo. O que sei é que houve uma regressão dele por ter aceitado aquele desafio, e uma regressão menor de sua parte por tomar partido. Só que ele tomou aquela atitude para mostrar a verdade do nosso plano e por amor ao seu amigo, ou melhor, ao seu bisneto de vidas passadas, e isso ele fez sem uma real necessidade. Você resolveu tomar partido e acompanhá-lo por fidelidade ao seu amigo Irmão X, que é seu companheiro nas missões. – E por quanto tempo cuidarei do Irmão X? – Assim que acontecer a fecundação. A partir dali, o Irmão X estará ligado ao Espírito da sua futura mamãe, e o ponto de ligação é o umbigo, que se liga à placenta. Você terá muito trabalho pela frente! – Por que terei tanto trabalho? Afinal, o Irmão X é muito dócil. E haverá mesmo a necessidade dele reencarnar? 353
  • 354. – Questiona irmão Y. – Nosso superiores sabem o que fazem, tenha certeza disso. – É, eu sei. – Responde irmão Y. E por que terei tanto trabalho? – No momento da concepção e também durante a ges- tação da futura mãe, haverá vários Espíritos do plano inferior, cada um deles com um objetivo. – Como? Explique-me melhor... – Haverá Espíritos das legiões inferiores querendo to- mar aquele corpo para reencarnar, sendo que aquela futura mãe não esta predestinada a tal situação, e do outro lado, Espíritos que só pretendem causar danos, por sadismo etc. Assim como os espermatozóides competem entre si para sobreviver e realizar a fecundação, esses espíritos trazem vibrações negativas para o pai ou a mãe, tentando provocar rejeições e aborto, doenças, desavenças e outros males, deixando a mãe muito tensa. Enfim, a sua missão será transmitir vibrações positivas pelo cordão de prata àquela família, e principalmente para a futura mamãe. E a melhor maneira ou técnica é transmitir pelo cordão de prata, que está no centro da cabeça das pessoas de forma invisível para os olhos humanos, e que liga o mundo material com o mundo as- tral. O cordão é invisível para os habitantes da Terra, mas visível para nós, Espíritos. – E terei de fazer isso sozinho? – Aconteceu algo muito interessante a seu favor por você ter tomado partido pelo Irmão X. Aquela equipe de 2 mil Espí- ritos com a qual você trabalha... – Sei, sei, onde estão? – Calma, estão a caminho daqui, pois chegaram a um consenso e todos resolveram que deveriam tomar partido a seu favor. Portanto, a partir de agora você comandará essa legião. – Mas nessa equipe eu sou apenas um auxiliar! 354
  • 355. – Acontece meu bom irmão, que a missão é sua. Você comandará, tenha fé! À procura de Irmão X Um dos Mentores informa que Irmão X já está pronto para sua nova etapa. Perdeu a consciência quase que totalmente, restando apenas alguns resíduos de sua vida espiritual. Agora ele é uma criança no Plano Espiritual. Uma criança que renascerá na Terra. Enquanto isso, no Plano Físico... – João, meu amor, aquela experiência que tivemos com aqueles Espíritos foi fantástica. Eu gostei muito de ter estado lá com você, pois hoje somos espíritas muito mais convictos. – Eu tenho lido muito e hoje compreendo que não de- veria ter exigido tanto do Irmão X. Quem sabe um dia nos possamos vê-lo novamente, ou até mesmo tocá-lo. No dia seguinte, Izabel acorda indisposta – Eu não estou bem João, gostaria de ir ao médico, – diz Izabel. – O que você tem Izabel, o que está sentindo? – Não sei, mas estou com tonturas e com o estômago ruim. – O estômago dói? – Não, mas não consigo comer nada. – Arrume-se e vamos ao médico. Muito preocupado com a saúde da mulher, João a acom- panha ao consultório, onde o médico pede uma série de exames e os orienta a retornar com os resultados. Assim que ficaram prontos os exames, eles retornaram 355
  • 356. ao médico, sem que houvesse nenhuma melhora de Izabel. – Aqui estão os exames, doutor. O médico abre o envelope e pede que ela se deite na maca. Mede sua pressão arterial e a examina minuciosamente. Pede que ambos sentem-se, pois tem uma notícia para o casal. Volta-se para o preocupado esposo e lhe diz: – Sr. João, meus parabéns! Sua esposa está grávida, e já está com 45 dias de gestação. – Mas não é possível, doutor, pois ela é muito cuidado- sa com os anticoncepcionais. – Dona Izabel, a senhora está com a cartela de anticon- cepcional aí? – Estou sim, e tomo rigorosamente há muito tempo. Nunca tive nenhum problema. O médico examina a cartela cuidadosamente. – É inexplicável, pois estes anticoncepcionais são extre- mamente eficientes. Enfim, ela está realmente grávida, estes exa- mes não falham... – Bem, que seja tudo como tiver de ser. Seja como que Deus quiser... Com certeza será bem-vinda, ou então, bem-vindo. Pouco depois, em casa, Gabi exclama. – Viu só o meu sonho mamãe, como deu certo? – É Gabi, realmente é incrível. – Mamãe, muitas vezes eu tive aquele mesmo sonho, mas há algum tempo parei de sonhar, só que não comentei mais dos sonhos para não aborrecê-los. Engraçado, depois que sua gravidez foi confirmada, sonhei com outras coisas. – Às vezes a gente não quer acreditar, mas isso não passa de um aviso, pode ter certeza. – Responde Izabel. João chega em casa nesse momento e, todo sorridente, cumprimenta as duas e galanteia a esposa. – Izabel, você está quase de cinco meses e cada vez mais bonita. 356
  • 357. – Obrigada, meu galã! Você é um sedutor. Em seguida, os dois saem para fazer uma visita ao queri- do amigo Lázaro, o médium. João e Izabel com o médium Lázaro – Porque não tivemos mais contato com os Irmãos X e Y? – Parece-me que o Irmão Y está muito próximo, – res- ponde o Irmão lázaro. – Eu sinto isso, mas não consigo contato com ele. E com Irmão X, é como se ele já não mais existisse, e ao mesmo tempo, quando vocês estão próximos, parece-me que ele esta por perto. É muito estranho, argumenta o médium. – Meu Deus, não me fale isso. Minha consciência preci- sa saber sobre ele. Um Espírito pode ser destruído, meu irmão? – Não, não, fique tranqüilo. Todo espírito, sem exce- ção, é eterno. O que pode acontecer é uma transformação, ou uma elevação muito alta. – Como assim, meu bom médium? – Se ele se elevou, ou como se diz por aqui, se progre- diu, obteve tanta luz que não é possível mais contato com nosso mundo de expiação. Mas também pode ser que ele esteja se preparando para reencarnar, e isso seria uma transformação. Nesse caso, o Espírito perde totalmente sua consciência, esquecendo todas as suas vidas anteriores. Volta a ser uma criança totalmente inocente, mais inocente ainda do que uma criança recém-nasci- da. Mas sempre traz, em seu subconsciente, o que aprendeu no passado. Veja você que uns sãos bons em Matemática, outros em Ciências e também outros na Arte da pintura, em literatura, trabalhos braçais, enfim, por isso é que dizemos que todos nós, encarnados ou desencarnados, estamos sempre a caminho da evolução. – E qual das duas hipóteses você considera mais provável? – Meu bom amigo, isso eu não posso lhe responder, 357
  • 358. pois não somos juízes, e pensando assim nós estaríamos fazendo um julgamento. Algum tempo atrás lhe foi prometido que você mais cedo ou mais tarde haveria de ter contato com o Irmão X, não foi? – É verdade, por isso eu amo a Espiritualidade. Tudo, mas tudo se conclui. Sempre chegamos a um consenso, sem contradições, sem mentiras, todas as previsões ou promessas se cumprem. E lhe afirmo, meu irmão médium, o que seria de mim e de minha família sem as suas orientações? – Então fique tranquilo, pois tudo o que os bons Espí- ritos prometem, passe o tempo que passar, há de se cumprir pela misericórdia Divina. E quanto à minha ajuda meu irmão João, se não fosse eu a lhe auxiliar, haveria outros. Com toda certeza existem bons médiuns espalhados nos centros espíritas por aí afora. – E na hipótese do Irmão X reencarnar ele não tem lem- brança de nada? Como será? – Pergunta Izabel, aflita. – De um jeito ou de outro vocês terão contato, e será com ele, isso eu lhes garanto. Izabel, que a tudo ouvia com muita atenção, não pode deixar de perguntar. – Mas como saberemos? – Eu não posso lhe afirmar nada minha irmã, mas com certeza haveremos de saber. Saberemos de sua existência onde ele estiver. Se os nossos ir- mãos do Plano Espiritual prometeram contato com ele, certa- mente teremos. Isso sim eu posso lhe afirmar, só não sei como e quando será esse contato. Nesse momento Izabel se emociona, pois o bebê que está em seu ventre se precipita e começa a mexer-se para lá e para cá, como se estivesse dizendo: – Eu estou aqui! Percebendo o médium que algo estava se passando naquele momento, com muita sutileza pede para que ela fique tranquila. Mas a suspeita 358
  • 359. do médium se concretiza, tendo ele a certeza absoluta de quem era aquela criança que Izabel protegia com sua própria vida. Sendo ela já de certa idade e com sequelas provocadas pela grande quan- tidade de bebidas alcoólicas que ingerira no passado, o irmão médium procura de todas as formas lhe acalmar. Na dimensão do Irmão Y Percebendo que a reação do Irmão X é devido à sua an- siedade, não tendo ele consciência, mas por instinto tivera aque- le gesto querendo sentir o afeto dos futuros pais pelo amor que tinha de vidas passadas, o Irmão Y faz um apelo aos seus auxili- ares. – Peço à equipe que fiquem todos atentos, pois estou tendo muito trabalho para conter os espíritos inferiores. Houve uma reação inconsciente do Irmão X, e esses espíritos inferiores querem aproveitar a oportunidade e vibrar negativamente pro- vocando um aborto. Assim, pode haver um acidente com a mãe e não é o momento de ela dar passagem. O casal tem de cum- prir sua missão e sucessivamente aceitar os seus desígnios. A luta no Plano Espiritual é muito grande para conter os espíritos aproveitadores, das trevas. Irmão Y teve de contar com a ajuda não só dos médicos do mundo espiritual, como também do casal de Pretos-Velhos, do Mentor que trabalha no plano inferior e também do Mentor Superior. Sabedor da im- portância que o momento requeria, o Irmão Y intuiu o mé- dium a dar assistência à futura mamãe com orações e Mãe Benedita, por telepatia, sugeriu a Lázaro que lhe desse um bom chá de camomila com cidreira para Izabel ficar mais calma, e também um banho de rosas brancas e flor do campo para puri- ficar a aura da futura mamãe. – Minha irmã. Estou recebendo uma mensagem do Ir- mão Y e também de Mãe Benedita e outros mentores. Eles me 359
  • 360. aconselham por intuição a rezarmos, termos muita fé, em Deus e ficar bem sintonizados com os nossos irmãos protetores. E mais: Mãe Benedita me recomenda para termos muita calma. Tome este chá e tudo ficará bem. Assim que você chegar à sua casa, deverá tomar um bom banho com rosas brancas e flor do campo para limpar sua aura. – Eu já estou bem, graças a Deus. – Meu irmão, agora sou eu que não estou bem, – argu- menta João. – Fique tranquilo João, você receberá uma mensagem. – Como assim? – A partir de agora João, você tem um dever, ou uma missão, como preferir. Você irá trabalhar com os nossos irmãos. – Como? Não entendi. – Essa reação que você está tendo é a aproximação de uma Entidade. – Mas eu não estou preparado para tão importante missão! – Tudo que você passou e irá passar lhe servirá como uma grande experiência, e será a preparação para a sua missão na condição de médium, para servir a Deus e às pessoas que irão lhe procurar. A partir de agora você esta sendo convocado pela Espiritualidade para pagar, em forma de doação, tudo o que você recebeu do mundo extrafísico. Em breve você terá que pres- tar serviços a quem lhe procurar. E lembre-se: Uns vêm para servir, outros para serem servidos. Chegou a hora de você retri- buir pelo muito que recebeu. Primeiramente de Deus, e depois dos nossos queridos irmãos, auxiliares ou discípulos de nosso querido Jesus e do Pai que está no Céu. – Seja como Deus determinar, estou à disposição da Espiritualidade. – Mas lhe aviso, recomenda Irmão Lázaro. – Você so- frerá calúnias, humilhações e ingratidões. Muitos lhe dirão que você está no inferno, levará o nome de feiticeiro, bruxo etc., terá 360
  • 361. várias decepções em nome da caridade, da solidariedade e da fé, ou melhor, em nome de Deus. E peço que você se lembre de uma coisa: aqui, no plano terrestre, que é um dos mundos de expiação, nem tudo é um mar de rosas, haverá muitas e muitas decepções. O importante é que seu Espírito, na condição de médium, esteja sempre bem. Lembre-se do que Jesus passou aqui neste mundo de expiação por ser justo, solidário e defender os fracos e necessitados, sempre enfatizando o amor ao próxi- mo. Ele afirmava que todos os seres humanos são filhos do mesmo Pai. E eu lhes afirmo que tanto o ser humano por mais perdido que seja, assim como os espíritos trevosos, são filhos do mesmo pai, portanto, todos nós, encarnados ou desencarnados, precisamos evoluir, sempre a caminho da PERFEIÇÃO. A nos- sa missão é a sempre trazer para Deus os filhos perdidos, espíri- tos que habitam aqui ou no mundo extrafísico. Jesus foi caluni- ado de todas as formas mas não perdeu o amor ao próximo, porque sua missão era resgatar os pecadores para o Pai que esta no céu. – Se amanhã eu amanhecer vivo, Deus estará comigo. Mas se eu não amanhecer, estarei com Deus. – Responde João Eduardo com emoção (frase de autor desconhecido). Izabel dá à Luz Pelo telefone, João Eduardo avisa sua irmã Margarida. – Margarida, minha irmã, estou ligando para lhe infor- mar que sou pai outra vez, e é um lindo garoto. Avise a Clotil- de, por favor. – Meus parabéns, meu querido irmão. Fique tranqüilo que avisarei a Clotilde e em seguida vou para o hospital. Até já. Algum tempo depois, chegam ao hospital as ansiosas tias para dar às boas vindas ao recém-nascido. – Ele é lindo! Como vai se chamar João? 361
  • 362. – Será Daniel o nome dele, Clotilde. – Por que Daniel? Tem algum motivo? – Pergunta Margarida, curiosa. – Sim, é o nome de um grande personagem bíblico. Não sei o porquê, mas esta criança parece com alguém que já vi ou com quem convivi há muito tempo. Mas não é desta vida, ou melhor, não é nosso contemporâneo. Suavemente, o pensamento ou o subconsciente de João estava naquela criança que se materializou após a aparição dos irmãos X e Y. Margarida sorri ao responder. – Criança recém-nascida se confunde muito com outras pessoas. Daqui a pouco chega alguém e diz que ele se parece com o pai, outro diz que tem o nariz da mãe e as mãos da tia... – Só que essa semelhança me deixou intrigado. Vocês não acreditam, mas no momento em que peguei esta criança e coloquei no meu colo pela primeira vez, ele me fez um ar de riso, como se me dissesse que agora está tudo consumado, ou que conseguimos o que queríamos. Com certeza isto é coisa da minha cabeça! – Pare com isso João! Não ponha nada na cabeça. – Diz Clotilde. – Crie o meu sobrinho com carinho e tudo bem. – E trate de benzer contra quebranto, pois ele é muito bonitinho. – Completa Margarida. – É isso mesmo, – concorda João. – Preciso parar de imaginar o que não posso entender. Ah, lembrei-me que tenho de ligar para Oscar e Anita. Eles estão na Rússia a passeio, mas precisam saber das boas novas. 362
  • 363. Camila prepara-se para a chegada de seu segundo filho Após vários tratamentos para que sua segunda gravidez pudesse se consumar, pois seu grande objetivo era dar um filho para Luiz, Camila se prepara para ver confirmado o seu desejo: estar grávida. – Camila, meu amor, vamos ao medico! Afinal, hoje é o dia em que o Doutor Cláudio abrirá os exames para saber se você esta realmente grávida ou não. – Vamos sim, meu amor, apesar de que eu tenho certeza que aqui em meu ventre tem sim, sem dádiva, uma linda crian- ça para brincar com Talita. Os dois se encaminham para o carro e seguem felizes até ao consultório do Doutor Claudio. No caminho, Camila co- mentava. – Mas como Talita é sortuda, você não acha meu amor? – É verdade, Camila. – Ela tem duas mamães, – diz Camila; – E dois excelen- tes pais! – Obrigado pela parte que me toca, – agradece Luiz. Assim, ambos seguiram felizes para o consultório. Ao chegarem, cumprimentam o médico e, após ele abrir os exames laboratoriais, olha para Camila com certa satisfação. – Parabéns, Camila. Você será mamãe outra vez, os exa- mes deram resultado positivo. Após tantas insistências da parte de vocês e com vários tratamentos, você esta grávida, com abso- luta certeza. – Afirma Doutor Claudio. – Agora é só seguir seu pré-natal que daqui alguns meses vocês serão pais de mais uma criança. Luiz, emocionado, não se contém. Mistura sorrisos e lágrimas de tanta alegria. Após saírem da clínica, Camila diz a Luiz que gostaria de dar as boas novas para Anita e Oscar. E Luiz 363
  • 364. completa: – Também para o Senhor João Eduardo e sua esposa. Camila segue rigorosamente os exames de rotina. To- mando as vitaminas recomendadas pelo medico, segue com to- tal assistência de Anita e às vezes também de Izabel. As três se envolveram com aquela criança que estava para chegar com uma dedicação e amor incomparáveis, como se fosse filho de cada uma delas. João, Oscar e Luiz aguardavam com muita ansieda- de a vinda do futuro bebê. A vida espiritual do futuro filho de Camila – O tempo passa e, aos cinco meses de gestação de Camila, Mãe Benedita recomenda a que ela faça alguns exames mais específicos em relação ao estado de saúde do bebê. A inten- ção daquela Entidade muitíssimo evoluída e sábia era prevenir e preparar o casal e os amigos, do que haveria de vir. Recomendou que não se preocupassem, pois o casal deveria aceitar os seus desígnios. Quanto ao Espírito do futuro filho de Camila e Luiz, nossa querida Mãe Benedita, que comandava com total dedica- ção e amor uma legião do bem, de Espíritos devotos à boa cau- sa, ordenou que fosse plasmada em uma tela especifica para es- ses casos, a vida passada daquele Espírito que estava para reencarnar na condição de filho de Camila e Luiz. Só assim ela poderia analisar o melhor a fazer em prol de seu desenvolvimento físico e extrafísico. Enquanto não ficavam prontos os resultados dos exames laboratoriais pedidos pelo medico especialista cuidava do pré-natal de Camila, Mãe Benedita e os demais Espíritos colaboradores daquele pequeno centro espírita, após saberem com absoluta certeza o que causou toda a deformação naquele que seria o filho do casal, trabalham arduamente enviando ener- gias benéficas em forma de passes magnéticos, tanto para o casal Luiz e Camila, como também para o Espírito, que estava so- frendo por causa dos abortos praticados por Camila. Mãe 364
  • 365. Benedita concluiu que se aquele fosse tratado com os devidos cuidados, sabendo de seu passado, tudo ficaria mais ameno em relação ao que teriam de enfrentar. Assim, os pais poderiam acei- tar com resignação o resultado dos exames e receber aquela cri- ança com muito amor, e aquele espírito reencarnaria também resignado e pronto para recomeçar a caminho da perfeição, sem se perder por séculos no mundo obscuro do Plano Espiritual. Quando os exames ficaram prontos, o casal, com muita preocupação e pensando no pior, ficou sabendo pelo médico que aquela criança não corria risco de vida, mas que iria nascer com retardamento mental e problemas de paralisia, tanto nos braços como nas pernas, e que seria totalmente dependente dos pais. Camila, ao receber a noticia chorou muito e se lamentou. Maldizendo, ao mesmo tempo ela pedia perdão ao seu marido dizendo que queria lhe dar um filho perfeito. Luiz, por sua vez, não se conformava, pois tudo estava planejado para receberem uma criança perfeita. Pensando dessa forma e com certa revolta de ambos, em seus subconscientes eles sentiam que Deus queria lhes castigar pelo que fizeram no passado, e com isto abriram a guarda em seus corpos astrais deixando uma pequena brecha para espíritos aproveitadores zombar deles, incutindo em seus pensamentos mais um crime: o aborto. Por sorte, Camila e seu marido estavam acompanhados de Anita no momento dos re- sultados dos exames, e imediato convenceram ambos a irem até a casa de Irmão Lazaro. Após um longo diálogo e também de excelentes orações em favor de ambos e daquela criança que estava no ventre de Camila, eles se acalmaram. Mesmo porque, Irmão Lázaro per- cebeu que havia influência de espíritos aproveitadores, então, pediu a presença de Mãe Benedita. Com isso, aproximou-se aquela boa Entidade e sua equipe, afastando por definitivo aquela legião de espíritos do maL. Após aquela pequena sessão particular, Camila e Luiz 365
  • 366. aguardaram com ansiedade o dia dos trabalhos espirituais que aconteciam semanalmente no pequeno centro espírita, na espe- rança de que houvesse uma saída para aquela situação que eles sentiam ser degradante. – Enfim chegou o grande dia, – comenta Camila. – Hoje haverá uma sessão no centro espírita onde trabalha Mãe Benedita. Assim que começam os trabalhos espirituais, logo chega a vez de Camila ser atendida. – Minha mãe, estou muito triste e decepcionada por não poder dar ao meu marido um filho prefeito. Luiz não se alimenta direito e vive pelos cantos se lamentando, e o meu bebe já esta quase para nascer. O que eu gostaria de saber é se existe alguma chance ou um milagre para que esta criança nasça perfeita. – Minha filha querida. – Responde Mãe Benedita com carinho. – Esta criança, ou seu espírito, sofreu muito em suas tentativas de reencarnar. Foram quatro abortos provocados, não é mesmo? Portanto, a cada tentativa dele reencarnar, havia uma interferência provocada pelo tal aborto. O que quero lhe dizer é que pesquisamos a vida espiritual do seu futuro filho e conclu- ímos que em sua primeira tentativa de reencarnar ele escolheu você para ser sua genitora. Era um Espírito sem seqüelas. Lógico que egocêntrico, porém, perfeito em seu corpo astral. Mas a cada aborto que ele sofria, havia uma desordem em seu psiquismo. Em contrapartida, sentia o que o corpinho daquela criança que estava no ventre de sua futura mamãe sentia, digo, as dores no momento em que o feto estava sendo dissolvido ou sendo tirado aos pedaços do útero pelo veneno ingerido. Ou, em outra ocasião, quando ele fora sufocado até a morte, e em seguida, seu pequenino corpo fora jogado em um vaso sanitário e de lá foi para os esgotos. O sofrimento foi muito grande, tanto para aquele frágil corpinho, como também para o Espíri- to que estava ligado ao feto, pois já se faziam parte um do 366
  • 367. outro. O Espírito se decepcionava com a atitude da mãe que escolhera com muito amor. A cada aborto que ela praticava, ele sofria e regredia pela dor, angustia e o sentimento de rejeição. O Espírito que procura a reencarnação, renasce exatamente para cumprir suas tarefas em parceria com seus genitores. Lógico que há casos e casos, cada um com seu histórico. E neste caso, quan- do este Espírito tentou reencarnar por quatro vezes, é porque ele fora designado para renascer pelo intermédio daquela mãe. Exa- tamente pelo Espírito ainda não ter o esclarecimento suficiente, quer passar pela encarnação para praticar seu aprendizado que fora conquistado no Plano Espiritual. Mas por não ser ainda totalmente esclarecido, sente revolta e angústia, assim sendo, adquire sequelas horríveis em seu perispírito quando passa pela degradante situação do aborto. Imaginem vocês dois como é: Um ser humano, meio adulto, meio criança, digo, com parte do corpo adulto e outra metade criança, afirmo isto porque quando o Espírito esta em plena harmonia e aprendizado no Plano Espiritual ele é semelhante à forma que tinha no plano terrestre em sua última passagem. Mas quando decide reencarnar, se inicia um processo para voltar e esquecer as vidas passadas. Quando aconteceu o primeiro aborto, aquele Espírito estava exatamente passando por essa metamorfose. No plano físico esse fenômeno acontece exatamente ao contrário: todos nascem como crianças e aos poucos se tornam adultos. Imaginem um de vocês sendo despojado ou arrancado aos pedaços de um lugar com vida, onde só cabe uma pessoa e mais nada. Como vocês se sentiriam? Quanto ao pai, eu vos afirmo: ele também, de alguma forma está envolvido neste pro- cesso, mas não há necessidade de comentários, pois cada caso é um caso. Sem que houvesse nenhum tipo de acusação por parte de Mãe Benedita, logo após um breve silêncio, tanto Luiz quanto Camila reconheceram naquele momento porque deveriam 367
  • 368. receber aquela criança que estava para nascer com amor e muita dedicação. Luiz colocou as mãos sobre o ventre de Camila com aprovação e com muito carinho, e chorando dizia: – Meu querido filho, você será bem-vindo. Não tenha medo, pois iremos lhe proteger com nossas próprias vidas. – Eu lhe garanto, – disse Camila. – Eu também prometo proteger-lhe acima de minha própria vida. Naquele momento, a criança precipitou-se mexendo no ventre da mãe para um lado e para o outro, como que se estives- se entendendo e recebendo o afeto de seus pais. Todos os mé- diuns que estavam fazendo parte daquela corrente presenciaram o momento de emoção que comoveu a todos. Mãe Benedita pediu que os todos se reunissem em volta do casal para louvar e agradecer a Deus e aos bons Espíritos que faziam parte daquela legião de amor. – Que bom! – Resmunga Mãe Benedita. – Mais um caso resolvido com êxito total. Louvado seja Deus em sua infinita bondade e sabedoria. Após alguns dias, Camila se dirige ao hospital para dar à luz e seu medico, antes de conduzi-la para a sala de cirurgia, convida o casal para irem até sua sala, propondo a eles que se quisessem, ambos poderiam acabar com o sofrimento, tanto do casal, quanto da criança, e aquele momento seria a grande opor- tunidade. Os honorários lhes custariam um pouco mais, mas poderiam até ser parcelados. Camila e Luiz responderam não, literalmente não. – Nós queremos criar esta criança com amor, porque nós o amamos em Espírito. E lhe digo mais, – continuou Luiz. – A partir de agora, a vida desta criança está em suas mãos Doutor Claudio, e lembre-se: o senhor é o grande responsável pela vida do nosso bebê. Faça um bom serviço para que ele não sofra, do contrário, a responsabilidade será só sua. – Percebo que o senhor não conhece o verdadeiro amor, 368
  • 369. – argumenta Camila. Nós amamos esta criança de corpo e alma. Para este Espírito se recuperar de seus traumas e seguir a cami- nho da perfeição, se faz necessário que lhe doemos muito amor, não importando seus defeitos físicos. Gostaria doutor, de ter aprendido o que é o verdadeiro amor bem mais cedo. O médico ficou totalmente surpreso e desconcertado, sem saber o que dizer, sem não ter nem como olhar para o rosto do casal. Após Camila ser encaminhada para a sala de cirurgia, Luiz exigiu que também participar do parto de sua esposa. Logo após, com muita dificuldade, o médico e seus auxiliares conse- guem trazer aquela criança ao mundo. Após a criança nascer, com carinho e muito amor doado por Mãe Benedita, foram dados vários passes naquele bebê defor- mado por consequência de quatro abortos praticados por Camila. Após varias sessões naquela casa de caridade, a criança cresce em plena harmonia. Seu Espírito havia sido curado de seus proble- mas psíquicos e traumáticos e assim fora libertado de seus pesade- los. Isso havia sido notado pelos amigos e membros do centro espírita, porque aquele menino era extremamente meigo e de uma inteligência fora do comum. Mesmo com seus defeitos físicos, a cada dia em que o menino chegava de suas aulas especiais surpre- endia seus pais, demonstrando estar bem acima de uma criança normal em sua sapiência. O cérebro daquela criança continuou com sequelas, mas a inteligência do seu Espírito fora restaurada pelos excelentes psicólogos e psiquiatras do Plano Espiritual, e também pelo amor doado pelos seus pais. Dois anos depois, na casa de João e Izabel – O nosso querido Daniel é dotado de uma inteligência muito acima do normal, ele assimila tudo com uma facilidade enorme, – comenta Izabel. – Eu sei que você gosta muito dele, mas quero ouvir da sua boca. João, você ama nosso Daniel? 369
  • 370. – Amo, amo acima da minha própria vida. Mas por que a pergunta? – Porque eu sinto um amor tão forte por ele, que não sei como definir. Às vezes chega até a me incomodar. E a sua beleza também, pois verdadeiramente ele é de um semblante angelical. Na casa do Irmão Lázaro Irmão João, com a sua evolução mediúnica já adquirida em nosso pequeno centro espírita, você está apto e tem permis- são para dar passes nas pessoas que vêm nos procurar. O Irmão Y designou um Espírito de sua equipe para acompanhá-lo e tra- balhar com você, ele se chama Irmão Z. Quero dizer, este não é o nome dele, mas é assim que ele irá se identificar até a conclu- são de seu total desenvolvimento mediúnico. Assim que você estiver bem sintonizado com esse espírito, você trabalhará com mais dois irmãos de muita luz. – E quem são esses irmãos? São quem estou pensando? – Exatamente, são eles mesmos. O casal de Pretos-Ve- lhos, e como auxiliar deles você terá... – Já sei, aqueles dois que nós chamamos de Exus, os que estavam na entrada da mata no dia em que se passou aquele fenômeno de materialização comigo. – Viu como você está preparado? – Só porque acertei quem são os auxiliares? – Não só por isso, mas por sua convicção. 370
  • 371. Após três anos, Irmão Y e sua equipe se manifestam – O que faz aqui Mentor? Veio comandar a nossa equi- pe? – Pergunta irmão Y. – A missão é sua, Irmão Y. – Responde o mentor. – Então por que está aqui? – Pergunta Irmão Y com carinho, porém, com certa preocupação. – Bem, já faz cinco anos, pela contagem na Terra, que você está com essa missão como guardião do irmão X (Daniel), e agora vem o mais difícil. – Como assim, meu bom Mentor? – Está quase no tempo do Irmão X retornar para o mundo espiritual. – Não, não, como pode? Ele tem de voltar para o mun- do espiritual? – Sim, é assim que deve ser... – Mas e a família? Eles o amam! – Nós também o amamos. – Essa família entrará em desespero total! – Responde Irmão Y. – Você precisa de se conter Irmão Y, pense em Deus, são seus desígnios. Chegou o seu tempo ou o final de mais uma etapa. Os frutos têm de ser colhidos na época certa. Nossa mãe, que é a mãe de Jesus também, sofreu com a passagem de seu amado filho, mas seu tempo havia chegado. Esse tempo que Irmão X passou na Terra foi o mesmo que ele regrediu no Plano Espiritual, portanto, seu regresso para é inevitável, pois essa é a Lei do Universo, e não podemos acrescentar nenhuma vírgula. Por isso temos que aceitá-las com resignação e amor, Irmão Y. E lembre-se: João, por ter consciência das consequências, tendo concordado com aquela condição e sucessivamente com o in- centivo de sua esposa, lhes foi concedido pela Espiritualidade 371
  • 372. tudo o que se passou na vida deles, afinal, é para isso que existe o livre-arbítrio. No entanto, João e sua esposa e também o Ir- mão X, sabiam que haveria consequências. Não haveria a neces- sidade de reencarnar se ele não tivesse aceitado aquele tipo de pedido ou desafio. Como você sabe muito bem, Deus não castiga ninguém, porém lhe afirmo meu bom irmão, que lite- ralmente isso é causa e efeito. Mas pela afinidade ou parentesco de vidas passadas dos três, João, Izabel e irmão X fraquejaram, ignorando as Leis do Universo. Então, afirmo com toda segu- rança que esse acontecimento pode-se chamar sim de causa e efeito. Agora, diante das Leis do Universo ele terá de voltar. Pelo que consta na nossa constituição, ou melhor, na nossa lei, ele voltará no tempo certo, dentro do prazo determinado pelos nossos superiores. Não será uma passagem prematura, nem um dia a mais ou a menos. Essa é a lei que Deus deixou no Univer- so. O Espírito resgata o que tem para resgatar. Lembre-se que a terra é o plano de expiação, isso para nós é normal. Para os atuais pais e familiares haverá choro, por não serem eles conhecedores da verdade ou a realidade dos dois mundos. Mas por ser Irmão X um Espírito muito sábio e de muita luz, por instinto ele sabe- rá contornar a situação sem que haja desespero total ou angústia dos familiares. E com o passar do tempo eles entenderão e até se alegrarão por saber que há um Espírito de tanta luz, um anjo verdadeiramente na família. – Eu insisto meu bom irmão, como vai ficar essa família, meu Deus? – Falta um ano para isso acontecer. Lembre-se que isso acontece todos os dias, em outras famílias e em toda parte do planeta. Você estará muito mais ativo junto aos familiares de João fazendo desde já uma preparação para quando isso aconte- cer. Não haverá tanto desespero, pois eles conhecem em parte como é o nosso mundo. Eles estão informados da melhor ma- neira possível, tanto pelos bons professores que temos no mun- 372
  • 373. do astral, como também pelos bons livros no plano físico que eles leem, e temos também o nosso grande e querido médium, o Irmão Lázaro, que no plano terrestre lhes passa bons ensinamentos. Tudo dependerá da tua força e da sua fé, a sua convicção da verdade ou da realidade. Você será a força da sua equipe, e a força da sua equipe será à força daquela família. – E quanto aos espíritos inferiores, meu bom mentor? Designará outra equipe para afastá-los do local familiar? – Irmão Y, não se preocupe com isso. Fique tranquilo, pois já tomamos as devidas providências quanto à passagem do Irmão X. Ele é um espírito esclarecido e de muita luz. Na Terra Na casa do pequeno Daniel, seus pais recebem a visita de Margarida e Clotilde, e os quatros não se cansam de admirar a criança tão bonita e muito amada. – Você vê João, o Daniel está com cinco anos e já lê qualquer livro corretamente. Como pode? – E as pinturas desse menino, que espetáculo! Cada qua- dro maravilhoso. Você viu aquele, Clotilde? São nuvens com uma porta se abrindo. É, realmente ele é fora de série, – concorda Clotilde com a empolgada Margarida. – O que vocês esperavam, afinal, ele é meu filho! – diz João, orgulhosamente. – Convencido, – diz Izabel em tom de brincadeira. – Você sabe que estou brincando, Izabel. – Todas nós sabemos, meu irmão. – Responde Clotilde. – E por falar em filho, como está o meu querido sobri- nho Juarez? Nós sabemos que ele veio com você da França, onde vocês residem atualmente, mas ainda não tivemos a satisfação de vê-lo. 373
  • 374. – É como lhe disse meu irmão, ele foi passar uns dias com os avôs paternos. Depois que mudamos para a França ele está mais educado. É que lá as escolas aplicam muito mais eti- queta. Juarez fala muito de vocês e não se esquece do nosso irmão Lázaro, aquele médium maravilhoso, que muito colabo- rou para a sua cura. Ele faz questão de visitá-lo e de matar as saudades de vocês agora nessas férias que estamos passando aqui no Brasil. Por falar nisso, eu gostaria de convidar o Irmão Lázaro para estar conosco na formatura de Juarez. Ele irá se formar médico, e na festa de formatura gostaria da presença de vocês, que são pessoas que tiveram muita importância em nossa vida. As passagens e estadias para a França, tanto de ida quanto de volta, serão por minha conta. E quanto ao nosso irmão Lázaro, Juarez faz questão de receber a sua bênção na ocasião de sua formatura O nosso Irmão Lázaro ainda mora no mesmo lugar não mora? Estou lhe perguntando porque ele também é nosso convidado de honra. – Irmão Lázaro, Mora aqui – João aponta para o cora- ção, deixando que as lágrimas rolem de seus olhos, lavando seu rosto. – Eu não entendi. Como assim, mora aqui? – Ele deu passagem, minha irmã, voltou para o nosso verdadeiro mundo, o mundo real, para o mundo dos Espíritos, minha irmã. Quando ele se foi, deixou um abraço fraterno para você, seu filho e para Clotilde. E pediu para nós não chorarmos por ele, pois ele tinha a convicção de que tudo ficaria bem. Com certeza ele tem muita luz e pediu, por favor, que nos alegrásse- mos, pois se assim o fizéssemos ele também estaria alegre em sua viagem de volta ao seu lar. – E faz tempo que ele morreu? – Pergunta Margarida. – Não, não faz, mas ele já nos enviou uma mensagem e continua nos ensinado com muito devotamento. – E por intermédio de quem ele enviou essa mensagem? 374
  • 375. – Pergunta Clotilde. Onde você achou um médium de psicografia? Pelo que sei, esse tipo de mediunidade é muito raro. – Vocês não vão acreditar! Izabel e eu estamos assusta- dos! – Diz João, cautelosamente. – Fale logo João! Nós o conhecemos? – Pergunta a im- paciente Clotilde. – Quem psicografou foi o Daniel. – Daniel? – Perguntam as duas irmãs com grande admi- ração. – Como isso é possível? – Você não acreditam, não é? Pois vou lhes mostrar. João sai da sala e retorna logo com um papel cuidadosa- mente dobrado nas mãos. – Estou muito preocupado com tudo isso. Isto aqui minhas irmãs, é a mensagem que Daniel psicografou. Vou ler para vocês. “Meu irmão João, pela permissão de nossos Mentores, usei a mão de seu filho para enviar esta mensagem de amor à sua querida família, pois a mão de um Anjo é suave e meiga e por eu ter este privilégio, agradeço muito primeiramente a Deus e aos Espíritos nossos superiores, os Mentores da colônia onde resido atualmente. Quero que saibam que estou indo muito bem em meu novo aprendizado e em meu novo lar. O labor é muito, mas estou praticando para continuar a trabalhar com afinco, por amor a Deus, aos nossos companheiros deste plano e tam- bém em prol dos nossos irmãos que aí estão no plano físico. Em um futuro bem próximo, quando a mim for permitido, estarei aí por perto para revê-los. Agradeço também todo o cari- nho que recebi de sua família. Nosso querido Juarez logo vai se formar e você receberá notícias dele pessoalmente, por intermé- dio de sua mãe. Ele será um grande médico, auxiliando as pesso- as mais necessitadas, pois Juarez é um espírito de grande eleva- ção e vem na vanguarda de grandes homens. E você, meu bom 375
  • 376. amigo, não se preocupe com o futuro, pois tudo deve se aceitar pela misericórdia Divina e os desígnios do Altíssimo. Até breve, com estima e amor. Um forte abraço!”. Pasma, mas sem perceber o consolo amigo que o mé- dium tentava transmitir, já prevendo o que teria de acontecer para João e familiares, Margarida comenta: – Que fantástico! – Fantástico? Isso é assustador! – Retruca Clotilde. – Eu estou muito preocupada com isso, – diz Isabel. – Estamos sem saber o que fazer, ele é muito novinho, – responde João. E assim, todos ficaram com suas preocupações. Com o assunto em pauta e as conclusões que a mensagem lhes transmi- tiu, cada um teve o seu entendimento. A intenção do irmão médium era amenizar ou prepará-los para o que haveria de acon- tecer. Oscar e Anita, frequentadores assíduos do centro, tam- bém não sabiam o que dizer quando tomaram conhecimento da psicografia. No Plano Astral – Você já sabe da passagem de seu médium Lázaro, Irmão Y? – Eu senti a ausência dele na minha sintonia em seu lar no plano físico, digo, em seu centro. Mas logo eu estive com ele, na ocasião em que ele mandou uma mensagem para João e Izabel por intermédio de Daniel. – É isso mesmo, agora ele está em nosso mundo. – E posso vê-lo? – Você tem este direito. Qual a finalidade da visita a Lázaro? – Comunicar-se com o amigo e ajudá-lo a confortar a família para o que está por vir. 376
  • 377. Onde está o médium? O meu amigo e grande companheiro de varias batalhas? – Aguarde um momento, estou entrando na sintonia dele, logo ele estará aqui Alguns segundos depois surge o bom Irmão Lázaro. É com grande emoção, que o bom médium encontra-se com ir- mão Y, uma das Entidades que tanto o auxiliou em seu cami- nho de trabalho e total dedicação abnegação ao próximo no plano terrestre. – Você está muito bem! Está gostando do nosso mundo? – É realmente maravilhoso, é fascinante... – Responde Lázaro. – Pois se prepare Irmão Lázaro, pois haverá muito o que fazer por aqui. – Estou pronto, disposto e um tanto quanto ansioso para novas experiências em outras tarefas. – Agora Irmão Y, iremos conduzir o Irmão Lázaro até seu local de trabalho. – Afirma o mentor. Ele foi designado para participar de uma equipe que tem a especialidade de resgatar espíritos que estão se desligando de seus corpos no plano de expiação, a Terra, principalmente por acidentes em rodovias, a maioria com morte prematura. Bom trabalho Irmão Lázaro. No começo será difícil, mas logo você se acostumará. Enquanto o Mentor se afasta acompanhado pelo mé- dium Lázaro, Irmão Y os observa sentindo uma gratidão imen- sa por aquele Espírito que quando habitava a Terra, havia de- monstrado tanta convicção, dedicação, amor, fé e caridade, dan- do a ele, Irmão Y, e a tantos outros Espíritos, a oportunidade de propagar o bom trabalho espiritual na Terra, e com isso ter a oportunidade de seguirem a caminho da perfeição. 377
  • 378. Na Terra, algum tempo depois É em clima de muita dor, mas também com resignação, que vamos encontrar quatro pessoas a se consolarem. –Temos que nos conformar com a passagem de Daniel e aceitar com amor, pois ele era muito especial. Com certeza voltou para o seu labor espiritual, – diz Izabel, enquanto as lá- grimas lhe correm pelo rosto. – Eu já aceitei a passagem dele com resignação, afinal, agora eu entendo o porquê, e sinto-o muito próximo de mim. – Papai, o que você ira fazer com as roupas e brinquedos do meu irmãozinho? – Pergunta Gabi a João Eduardo. – Vou doar para crianças carentes. Que mais me resta fazer com estas coisas Gabi? Pelo menos serão úteis a alguém. Junior, tentando consolar seus pais, lhes diz: – Fiquem tranquilos, pois com certeza ele está com Deus. – Vamos ao quarto agora mesmo separar o que doar João, pois desmanchando o seu quarto, será menos sofrido para nós, – diz Izabel. – Assim poderemos lembrar de nosso querido Daniel só em ocasiões especiais, e deixar que ele siga sua nova vida espi- ritual em paz. Não devemos ficar nos lastimando a todo o mo- mento, pois assim ajudaremos muito a sua caminhada e pro- gresso espiritual. – Conclui João. Todos se encaminharam ao quarto de Daniel para reali- zar a tarefa, cúmplices de estarem próximos do ente querido que os deixara. E, entre um brinquedo e outro, um quadro e outro, João vai exclamando com muita admiração. – Olhe só, veja bem este quadro que Daniel pintou! É idêntico àquela visão que tive quando estava fazendo o curso de fotografia, agora que consegui analisar os detalhes. É incrível, parece uma porta entre as nuvens e alguém saindo de dentro dela. 378
  • 379. – É mesmo! Que impressionante mamãe, – responde Junior. – Eu me lembro que há muito tempo você comentou sobre essa visão, quando estava fazendo a foto lá no curso. Enquanto João e Izabel conversavam, Gabi lia alguns escritos de Daniel, e um deles lhe chamou a atenção. – Papai, mamãe, é incrível! Leiam com atenção, vejam que impressionante. – Deixe-me ver, minha filha. – Antes papai, me responda. O senhor lembra-se bem da caligrafia do Daniel? – Lógico Gabi, que pergunta minha filha! Como seu pai, eu não poderia me esquecer. Afinal, a letrinha dele era in- confundível. – Então leia com atenção. – Diz calmamente Gabi. – Meu Deus, tudo se encaixa! Agora eu entendo tudo e sei que tenho de trabalhar muito para resgatar o que fiz e o que não deveria ter feito. Nesta carta ou mensagem está muito cla- ro. Daniel nos afirma, com toda convicção, que nosso bisavô, que deu passagem em sua total velhice e que após algum tempo no plano astral reencarnou com o nome de Xavier, viveu em nosso mundo até sua tenra juventude, era nosso parente, primo em terceiro grau. Izabel, procure lembrar-se daquele nosso pri- mo que deu a vida naquele incêndio para salvar seus amigos. – Entendo, – responde Izabel. – Agora está tudo claro para mim, inclusive minha irmã mais velha estava junto com aqueles jovens no dia do incêndio, e entendo também, que por sua missão ou carma ter se cumpri- do, ele voltou para o Plano Espiritual e, após um bom tempo de aprendizado, pediu aos Espíritos Superiores para fazer frente aos problemas que tanto nos afligiram, exatamente quando mais precisávamos de ajuda. A pedido dele, ou sob seu comando, aquele bom mensageiro que incorporou em padre André me conduziu até aquela praça, onde tive a grande oportunidade de 379
  • 380. conhecer meu bom amigo e irmão, o nosso bom José. A partir dali, conseguimos, com a ajuda de Oscar e Anita, chegar até aquela boa casa de caridade ao centro espírita, onde fomos rece- bidos com todo carinho e devoção, tanto daqueles médiuns que lá trabalham, como também pelos bons espíritos abnegados e Irmão Lázaro. Agora sim me vem a lembrança e a convicção de que seu bisavô, após a morte, reencarnou com o nome de Xavier. Assim sendo, em sua tenra juventude Xavier viveu entre nossos parentes. E ainda jovem ele deu passagem para a Espiritualidade, e como Espírito ele se identificava como irmão X. Ao ver todo o nosso sofrimento, veio em nosso socorro quando mais preci- samos, ou seja, na pior fase de nossas vidas. Se identificando como irmão X, pois se ele se identificasse como Xavier, seria mais difícil para que nós acreditássemos, ou como nosso paren- te seria bem mais difícil todo o trabalho dele em nosso favor. E foi exatamente naquela igreja que ele encontrou os meios para nos ajudar, através daquele mensageiro, aceso na pessoa de padre André. Então ele se identificando como irmão X no médium Irmão Lázaro, pois durante nosso tratamento espiritual não se- ria bom sabermos que Irmão X era o mesmo espírito do jovem Xavier, e sucessivamente o seu bisavô, que se chama também Daniel, seu bisavô Izabel, ou melhor, “nosso” bisavô. – Como irmão X ou Xavier ele se foi ainda jovem, por- que tinha pouco a resgatar e por sua elevação espiritual quando desencarnou. Não seria mais necessário que retornasse ao nosso plano de expiação. Quando nossa família estava sendo destruída, ele entrou em ação e trabalhou intensamente em prol de nossa recuperação, por amor a nós e pela necessidade de trabalhar para evoluir em sua caminhada espiritual também. Mas a sua cami- nhada como Irmão X fora interrompida por um capricho nos- so, ou por amá-lo demais. A bem da verdade, nós exageramos João, passamos dos nossos limites. – Mas também foi por amor que Irmão X se mostrou 380
  • 381. para nós naquela materialização maravilhosa. Ele não soube di- zer não, pois assim ele era em sua vida terrena, de um coração maior que seu corpo, no bom sentido da palavra. E para que isso fosse possível, houve um desdobramento fantástico, um esforço descomunal, fora do comum, e nas, naquele dia, não conseguimos associar Irmão X com o nosso primo Xavier. Eles passaram por muitas dificuldades para que nós entrássemos em sua dimensão, a dimensão daqueles irmãos queridos e de muita luz. Por ser Irmão X de nossa família, ele interrompeu sua vida espiritual e sucessivamente regrediu em seu aprendizado, e teve de reencarnar por pouco tempo. Reencarnou em nossa família como Daniel, também por amor e pelos desígnios, ou pela lei causa e efeito, pois assim cumpriu-se a Lei do universo. – Na condição de pai do nosso Daniel, realmente você faz parte da família do meu bisavô, de alma e de sangue – afirma Izabel, – pois era tudo o que ele queria. O meu bisavô lhe ama- va muito e o considerava como seu bisneto, como se fosse de seu sangue e alma. Mas acontece que após a sua morte, desco- brimos, depois de muito tempo de casados, que aquele amor dele por você meu querido esposo, não era por acaso. Após casa- dos ficamos sabendo pela sua tia que tínhamos um parentesco, ou seja, tanto eu como também você, temos o mesmo sangue de nosso bisavô. Comovido pela emoção e chorando pelo que o mo- mento lhe proporcionava, João responde a Izabel. – Você se lembra quando nós nos vimos pela primeira vez? – Ainda éramos duas crianças, – afirma Izabel. – Da mesma maneira que ele lhe amava, tinha também um aconchego muito grande por mim. Depois, fomos um para cada lado, e em seguida ele morreu. Mas o destino nos colocou frente a frente novamente, quando ficamos adultos. – Lembro-me muito bem, e ele falava que gostava mui- 381
  • 382. to de você, como se fosse bisneto dele. E dizia que você teria de pertencer à nossa família, custasse o que custasse. Ele queria ser seu bisavô de verdade, ele queria que você tivesse o sangue dele. – E graças a Deus eu tenho o sangue dele. – Responde João, emocionado. Momentos de reflexão Um grande silêncio pairou no ambiente e fez-se sentir uma paz total, enquanto João fazia sua palestra aos atentos ou- vintes, os seus familiares. – Com a certeza absoluta de que todo ser humano, um dia tem deve se desligar da matéria, devemos aceitar que esta vida é só uma passagem, uma viagem de ida e volta, e que o nosso corpo físico é uma prisão, onde temos a oportunidade de realizar nossos acertos e resgate de vidas passadas, também co- nhecido como carma. Onde há sol, também deve haver a som- bra, se existe a luz também há trevas, e nós, seres físicos ou extrafísicos, somos às vezes luz, outras vezes trevas, porque, por mais que nos julguemos bons, também temos nossos pensa- mentos ruins, nossas falhas. Às vezes somos bem intencionados, mas às vezes fraquejamos diante de situações, portanto, nem sempre somos bons e nem sempre somos maus, mas temos nossos pontos fracos. Segundo a Bíblia, no Velho Testamento consta que Deus disse: ‘Faça-se do homem, à minha imagem e semelhança’. Nós somos a semelhança de Deus, mas em verdade, o mais impor- tante é a semelhança em Espírito, porque somos uma partícula do amor e do Espírito de Deus, o Espírito em sua essência. Afir- mo: somos semelhança de Deus em Espírito. A carne morre, é um invólucro. Vem da terra e volta ao pó da terra, porque o corpo físico é com toda certeza a semelhança da terra em sua composição, mas o espírito, esse sim prevalece, porque é pura 382
  • 383. energia, semelhante à energia cósmica. É a energia de Deus tam- bém em sua composição. Somos uma micro célula de Deus, como o filho que contém o sangue de seu pai, portanto, somos parte do Espírito de Deus. Somos sua semelhança em espírito, portanto, o corpo físico não é o principal, porque desintegra, morre. O Espírito sim, esse é eterno. De um lado sofremos pela perda do nosso querido Daniel, e do outro nos sentimos felizes por ele ser eterno, e também por ter a grande oportunidade de conviver alguns anos com um anjo aqui, em nosso lar, exatamente aqui, dentro desta casa. E devemos analisar com calma e carinho as Leis do Univer- so, criadas por Deus em sua infinita sabedoria e eterna bondade. Pensem bem, qualquer ser humano, por mais esclarecido que seja, por mais que tenha um bom nível de escolaridade, seja advogado, jurista, médico, intelectual etc., suas leis são falhas, suas obras imperfeitas. Mas as obras de Deus não têm falhas e nem imperfeição. Então, nosso bisavô, que é também Daniel, que é também Ir- mão X, reencarnou como nosso querido Daniel, veio nos ensi- nar em suas três vidas!”. Izabel, com as seguintes palavras, resume tudo o que fervilhava em seus pensamentos naquela pausa dada por João. – O nosso bisavô veio constituir uma família e ensinou a seus filhos com amor. Irmão X, como seu sucessor perante Deus, intercedeu por nós nos momentos dificílimos de nossas vidas, ajudando-nos a reconstituir os pedaços de nossa família. E o nosso Daniel nos ensinou o respeito que devemos ter pelo desconhecido, nos mostrou a verdade. Agora, só nos resta elevar nossos pensamentos com humildade, respeito e amor a Deus, entregar nossos corações ao Pai que está no Céu, rogando-lhe que conduza o nosso Daniel ao mais alto escalão, entrando na sintonia dele com muito amor em nossos corações. 383
  • 384. No Plano Espiritual – Mentor, veja aqueles irmãos que acabam de chegar da Terra. Olhe quem está com eles. – Olhe só, é o Irmão X! – Exclama Lázaro, o médium, com muita admiração. – Daniel não sabe que ele é o mesmo irmão X ou Xavier? – Pergunta Lázaro, o médium. – Não – afirma o mentor, – ele ainda não sabe. Mas com sua ajuda Irmão Lázaro, e por você ser recém-chegado do plano físico, ele irá se entrosar e entender com mais facilidade quem foi em suas vidas passadas. – Mas por que será mais fácil, se ainda estou passando por um processo primário de aprendizado, irmão Mentor? – Porque você, sendo recém-chegado em nosso plano, ainda conserva características residuais de seu corpo físico, por isso ele se identificará melhor com você. Você poderá ser muito útil neste processo, e assim que fizermos os trabalhos de regres- são, plasmando as duas vidas passadas, o então irmão Daniel concluirá com muita facilidade todo seu histórico, assim como você e outros, que entenderam que é só no mundo de expiação que esquecemos as nossas vidas anteriores, para que possamos cumprir nossos desígnios sem nos martirizarmos pelos nossos erros cometidos no passado. Aqui, nós, pela misericórdia divi- na, temos a oportunidade das lembranças de quem somos, de quem fomos e de onde viemos. – E como funciona essa técnica de plasmar vidas passa- das, irmão mentor? – Veja bem meu Irmão Lázaro, nós aqui usamos muito a telepatia, o subconsciente ou o psíquico, portanto, a nossa memória nunca se apaga. Com isso conseguimos armazenar tudo que se passou em nossas vidas passadas, mas quando reencarnamos, nossa memória fica guardada, como se fosse um arquivo. A bem da verdade é um arquivo em nosso subconsciente. 384
  • 385. Vamos fazer a seguinte comparação: a memória do ser encarna- do é extremamente limitada, ele precisa arquivar o histórico de sua vida em maquinas, livros, cadernos, diários etc. Quando o ser humano quer lembrar-se de algo que se passou em sua vida terrena, usa fotografias ou máquinas como o computador. Nós, no Plano Espiritual, usamos o subconsciente, e com isto plas- mamos nossos históricos de vidas passadas pelo conceito telepá- tico, e o nosso subconsciente torna-se consciente. O esqueci- mento para quem reencarna é necessário para que o Espírito possa trabalhar e resgatar sem traumas suas dívidas, em harmo- nia com o perispírito. – E quanto aos gananciosos, criminosos, suicidas, bru- xos e outros meu irmão mentor, como deve ser? – Alguns deles entendem seus erros, como ódio, vin- gança, etc. e voltam para o bem. Lógico que há casos e casos, e que esses Espíritos passarão por um processo demorado ou vari- as reencarnações para seu aprendizado. Por quê? Porque os que passam por um processo mais lento, têm que ter um aprendiza- do mais específico, por serem muito mais apegados à vida terrena ou aos seus bens materiais. Quando os mesmos assimilam bem suas aulas e renunciam ao que deixaram na Terra, aceitando apren- dizado nas boas colônias espirituais, se tornam excelentes com- panheiros, prontos para grandes missões, pela pujança que sem- pre tiveram. Outros se precipitam e voltam para o mundo de expiação, reencarnando na Terra sem nenhuma preparação ou sem se regenerarem. A maioria desses Espíritos que se precipi- tam são gananciosos e autoritários porém, muitos deles são ex- tremamente inteligentes e deixaram fortunas conquistadas de maneira sórdida e desonesta na Terra. Reencarnados, pensam que conseguirão reavê-las. Com este critério errôneo, escolhem al- guém familiar para a reencarnação. – Mas como isso é admissível? E se aquela pessoa que ele escolheu como mãe não estiver destinada para recebê-lo na 385
  • 386. condição de filho? – É como eu lhe disse, há casos e casos. Essas futuras mães são aquelas que engravidam sem que no ato íntimo ou na concepção haja realmente amor. É o chamado sexo vulgar. Esses espíritos, aproveitando a vulgaridade dos tais parceiros, se apos- sam do corpo astral da mãe na concepção. E na época do nasci- mento reencarnam naquele corpinho frágil. Por conseguinte, assim que o filho daquele casal sem nenhum compromisso con- jugal nasce, de alguma forma não é a mãe ou então o pai quem cria e educa. Um deles, ou ambos, abandonam seus filhos dei- xando-os à deriva, jogando a responsabilidade da criação aos avôs, irmãos, tios e outros. Ou deixam em alguma instituição de vo- luntários, doam para outros que queiram criá-los. Há até um ditado que diz: “Pai não é aquele que faz, mas aquele que cria”. Enfim, abandonam ou, em outros casos, criam sem nenhum vínculo de amor em relação àquele espírito. Há também casos em que pais e filhos se tornam até inimigos, chegando a atentar contra a vida do outro, não assumindo o devido amor e tudo o mais, isso porque em seu perispírito ou em seu subconsciente sentem que não têm nenhuma obrigação com aquele recém- nascido ou vice-versa. – E isso é permitido? – Lógico que sim. Não se esqueça irmão, tanto aqui quanto no plano físico temos o livre-arbítrio, ou o direito de ir e vir. E quero acrescentar que, no caso de filhos e pais se amarem intensamente, é exatamente porque existe um elo ou um histó- rico de vidas passadas, onde podemos acrescentar o amor e entrosamento que foram herdados por eles em outras vidas ou que estão em seus subconscientes. Mas como eu lhe disse, há casos e casos, então, também há aqueles espíritos independen- tes, que escolhem sua genitora ou seus genitores para que fi- quem com ele até a sua reencarnação, ou até o nascimento da criança em pauta, sabendo que será doado para outra família ou 386
  • 387. creche, pois seus vínculos ou compromissos chegam até ali, ou melhor, vão até o nascimento ou a conclusão da gravidez da mãe, e com isso o espírito tem a liberdade de se desvincular da família genética e pode assumir seu destino doando-se total- mente ao seu semelhante sem se preocupar com a responsabili- dade familiar. Normalmente essas são pessoas são mais ligadas ao amor universal. Após Daniel passar pelo processo de regressão para lem- brar-se de suas duas últimas reencarnações, o Mentor Superior se dirige a todos. – Agora Irmão X , você, Irmão Y e os Pretos-Velhos, juntamente com Irmão Z, se encontrarão e se farão presentes na Terra, exatamente na casa de João Eduardo, pois aquele irmão tão fervoroso e sua família estão em uma sintonia muito forte, se preparando para entrar em contato por intermédio das ora- ções ao nosso Pai Maior em vossos nomes. Vocês farão uma viagem astral saudável usando um transporte extremamente efi- ciente e rápido para chegar até aquele local tão abençoado pelas boas e fervorosas preces. O caminho será suave como uma plu- ma, pois sob as asas das súplicas que fizerem, estarão, com total amor praticando um ato sublime em homenagem a vocês. To- dos vocês irão volitar, serão conduzidos. Lá o nosso Irmão Xavier (X) revelará a mensagem que ele mesmo deixou como Daniel antes de sua passagem. Isso será feito pela médium de psicografia, lá conhecida como Clotilde, e será a primeira experiência como médium que a irmã terá. Portanto, a missão dela ou compro- misso com a Espiritualidade começa agora. Em Terra – João e Izabel, me respondam: Por onde anda aquela moça que Oscar e Anita tanto ajudaram? – Pergunta Clotilde. – Ela esta muito bem. Casou-se há pouco mais de três 387
  • 388. anos e tem agora um lindo garoto, com algumas deficiências físicas, mas de uma Espiritualidade maravilhosa. Ela mora mui- to próximo de Anita e estão sempre juntas, pois tanto Anita quanto Oscar fazem questão de Camila estar sempre por perto para que as duas mamães possam criar e educar a pequena Talita próxima de seu recém-chegado irmãozinho. – Parece que vocês irão se reunir em oração, não é? – É verdade, logo mais à noite, e com certeza Anita virá com seu esposo e também Camila com seu marido e as crianças. Vamos chamar também uns dos nossos amigos para participarem de nossa reunião. Logo depois serviremos um delicioso jantar, portanto, recomendo que fique até a noite, você não irá se arrepender. – Eu senti uma vontade enorme de estar aqui com vocês hoje. Margarida chegou da França, virá nos visitar ama- nhã. – Que bom! – Responde João. – Vamos ligar para ela e falar de nossa reunião, quem sabe ela queira vir também. – Não precisa chamá-la. Eu já sabia que ela havia che- gado, – diz Izabel. – Ela me ligou há pouco e já a convidei. Nesse exato momento a campainha se faz ouvir. João abre a porta. – Entre Margarida, você chegou bem na hora, estáva- mos falando de você. Onde está meu sobrinho Juarez? – Juarez? - Está aí fora pegando algumas coisas no carro, já ira entrar. – Estamos nos preparando para uma pequena reunião com preces para nossos irmãos do Plano Espiritual. – Que bom meu irmão, quero participar. Afinal, fui con- vidada por Izabel. Logo chegam Oscar e Anita, Camila com seu esposo e os filhos. Após um delicioso chá com biscoitos, sentam-se todos ao redor da mesa e João Eduardo inicia os trabalhos espirituais. 388
  • 389. Oscar comenta sobre como se deve praticar a verdadeira caridade ou solidariedade, e como exemplo cita os ensinamentos do grande Mestre Jesus, o maior médium de todas as épocas. Senhor José aproveita para falar um pouco sobre experiências de sua vida relacionadas à filosofia espírita, tanto nos ensinamento de Kardec quanto no ritual de Umbanda, e também da ligação que as outras religiões ou etnias têm umas com as outras, mas que passam despercebidas pela vaidade ou ganância de muitos líderes religiosos. – Vamos iniciar com a Prece de Cáritas, – afirma João. – Em seguida, a prece do Pai Nosso e também nos lembrar de nossa querida Mãe Maria Santíssima, que foi a grande protago- nista na vida de Jesus. “Deus, nosso Pai, que sois todo Poder e Bondade, dai a força àquele que passa pela provação, dai a luz àquele que procura a verdade; ponde no coração do homem a compaixão e a caridade! Deus, Dai ao viajor a estrela guia, ao aflito a consolação, ao doente o repouso. Pai, Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a ver- dade, à criança o guia, e ao órfão o pai! Senhor, que a Vossa Bondade se estenda sobre tudo o que criastes. Piedade, Senhor, para aquele que vos não conhece, esperança para aquele que sofre. Que a Vossa Bondade permita aos espíritos consoladores derramarem por toda a parte a paz, a esperança e a fé. Deus! Um raio, uma faísca do Vosso Amor pode abrasar a Terra; deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e 389
  • 390. infinita, e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão. E um só coração, um só pensamento subirá até Vós, como um grito de reconhecimento e de amor. Como Moisés sobre a montanha, nós Vos esperamos com os braços abertos, oh! Poder, oh! Bondade, oh! Beleza, oh! Perfeição e queremos de alguma sorte merecer a Vossa Divina Misericórdia. Deus, dai-nos a força para ajudar o progresso, a fim de subirmos até Vós; dai-nos a caridade pura, dai-nos a fé e a razão; dai-nos a simplicidade que fará de nossas almas o espelho onde se refletirá a Vossa Divina e Santa Imagem”. Assim Seja. Izabel lê parte do Evangelho Segundo o Espiritismo de Allan Kardec, com comentários de Anita e várias explanações. Camila aproveita o convite que João lhe fizera para que ela ex- ponha seu pensamento. Ela agradece então à Mãe Benedita, sá- bio Espírito que lhe trouxe muito conforto e paz, abrindo sua mente para o verdadeiro amor ao próximo, e comentou tam- bém sobre as consequências do aborto. Oscar também comen- ta com muito entusiasmo os verdadeiros ensinamentos de nos- so Mestre Jesus. Também fala da filosofia umbandista e o quan- to ela colabora trabalhando com seus Caboclos, Pretos-Velhos e outras Entidades. Enfatiza falando sobre outros grandes colabo- radores da Seara do Mestre em prol dos Espíritos encarnados e também desencarnados. Exalta também a verdadeira Umbanda, com suas Entidades que muito trabalham para o bem estar em geral. 390
  • 391. – Mas como disse o Mestre Jesus, “orai e vigiai”. Deve- mos estar sempre alertas para os falsos profetas ou falsos espíri- tas. E ainda para os espíritas vaidosos, que pensam saber mais do que as Entidades, ensinando da maneira errada o que eles nunca viram ou não podem provar, e quando alguém os contesta, di- zem que tudo é psicografado, recebido de Espíritos luminosos do Astral. O reencontro No Plano Espiritual, nossos amigos se reúnem para dar assistência ao Irmão X e o Mentor dirige-se a ele. – Bem, as vibrações a seu favor já foram feitas, agora você está pronto para resgatar suas lembranças. Convido-lhe para irmos até a sala de projeção; lá iremos plasmar tudo que se pas- sou em suas três vidas anteriores. Após o trabalho de regressão em favor de Daniel, ou Irmão X, ele pergunta: – Onde está meu bom irmão Y? – Ele está próximo de você, basta que olhe para trás. – Aqui está ele, Irmão X! – Responde o Mentor, feliz com a consciência do dever cumprido. – É muito gratificante revê-lo, saber que resplandece uma luz maravilhosa sobre você e que podemos continuar nossas missões juntos. – Diz irmão Y. – Vocês sabem por que estão reunidos? – Pergunta o Mentor. Sim, porque devemos ter alguma missão a cumprir, e estou sempre disposto a trabalhar com Irmão Y, meu grande parceiro. – Isso mesmo, – concorda o Mentor. – E qual é a nossa próxima missão? – Pergunta Irmão X. – Hoje nós participaremos de uma festa junto de nossos 391
  • 392. queridos Pretos-Velhos lá no plano terrestre! Mas desta vez ire- mos por um caminho diferente. Será um caminho de luz, afi- nal, vamos compartilhar de uma reunião de amor e total sintonia ao nosso querido Deus. Poderemos volitar tranquilos e nosso caminho será muitíssimo curto. Será uma visita de cortesia àque- les com os quais você, Irmão X, conviveu por seis anos com o nome de Daniel, espírito encarnado na Terra, na última passa- gem que você teve na condição de filho do casal João e Izabel. Assim você terá a oportunidade de passar uma mensagem de consolo e amor a essa família quando da sua última estada por lá no plano físico. Na Terra Assim que iniciou a prece, Irmão João pede a presença dos Mentores da casa, os Espíritos de Luz, para que seu lar e as pessoas que lá se encontram sejam protegidos. Então, surge uma brisa muitíssima agradável, com cheiro de essência de flores per- fumando todo o ambiente. De imediato, Clotilde, sem nenhu- ma experiência em psicografia, pede um lápis e um papel, meio que em transe, sem saber que fora Daniel quem havia deixado aquela última mensagem de despedida. Repete-a com todas as letras como se fosse uma cópia das palavras, com todos os pon- tos e vírgulas. “Papai e Mamãe. Estivemos juntos por seis anos e foi para mim uma honra ter essa passagem pela Terra. Não me arre- pendo de nada, pois foi para mim uma conclusão da minha etapa e na condição de filho de ambos. Apesar da minha pere- grinação no mundo de expiação agradeço pelos pais carinhosos e dedicados. Tenho certeza de que vocês vão ficar bem, pois hoje bem sabem que tenho minha missão, que é seguir em minha caminhada espiritual. 392
  • 393. Não se preocupem, pois estou bem. Quem me assistiu esse tempo todo, desde antes da concepção e gravidez de mamãe foi o Irmão Y e outro grande Mentor, digo grande em sua sapi- ência, e mais um monte de espíritos trabalhadores da Luz, desde antes do meu nascimento até minha passagem para o plano es- piritual. E também gostaria que vocês soubessem que aquele jovem médico que acompanhou o nosso irmão Lázaro no hos- pital foi exatamente o Irmão Y. E por falar em Irmão Lázaro, ele se encontra aqui conosco, e neste momento, junto a vocês. Lembram-se papai e mamãe? Cada vez que olharem para o meu retrato vocês estarão vendo o bisavô de ambos e o Irmão X, aquele espírito que papai viu materializar-se junto com o Irmão Y antes da minha estada com vocês. Sempre que nossos superiores permitirem estarei por perto para visitá-los. Um dia, quando for determinado por Deus, estaremos juntos outra vez. Mamãe, não se perturbe. Lembra do seu bisavô Daniel? Gostaria que se lembrassem também da minha semelhança com ele. Realmente nós temos algo em co- mum não acham? O nosso comportamento, nossos gostos, nosso nome, tudo é muito parecido. E o nome que papai me deu foi realmente uma homenagem muito bonita, obrigado. Quando a senhora olhar para o céu e vir uma estrela se juntar a outra, lembre-se do seu bisavô e do Irmão X. E lembre-se de mim com todo o amor dos seus corações, pois, pela infinita bondade de Deus somos o mesmo Espírito. E assim foram e serão escritas no Livro do Universo as minhas três vidas: Daniel, o bisavô, Xavier, o Irmão X e Daniel, o neto. Veja bem, papai escolheu o meu nome não por acaso, apesar de que no momento da escolha ele não se lembrava do nome do bisavô de mamãe por fazer muito tempo que ele havia desencarnado. Lembrem-se: nada, mas nada mesmo é por acaso. Tudo tem uma razão de ser”. 393
  • 394. Em seguida, os trabalhos são encerrados e todos ali pre- sentes se sentem felizes pelo acontecimento da noite. João pede que Ana, a médium que trabalha com Mãe Maria Conga, encerre os trabalhos com preces. Enquanto isso, Mãe Benedita não saía de perto de seu pupilo: Luiz Carlos Junior, o filho caçula de Camila e Luiz. Naquele momento de total paz, pairava sobre aquele ambiente um clima de alegria e uma brisa suave de amor e de paz celestial. Após os trabalhos realizados, os comentários so- bre aquela maravilhosa noite, que foi comemorado com um delicioso jantar. Um leitor, em sua simplicidade de vida, se emocionou ao folhear as páginas anteriores e pediu, em nome de Deus, para que esse pequeno poema fizesse parte do final deste livro, e que fosse oferecido à personagem Lídia. UM POEMA PARA LÍDIA Uma luz esmaecida, débil Sem tom Sem som Sem nada Totalmente amotinada Uma luz esmaecida De tom fraco Sem harmonia Sem extasia Sem nada 394
  • 395. Uma luz fosca Quase apagada! Uma luz Que vai aos poucos se refazendo Como a fênix que ressurge das cinzas Num brilho intenso se envolvendo De uma sombra triste, escura Qual foi se preenchendo Com a glória de uma mulher Lídia! Aguerrida Entre o ódio e a dor Acreditava que os tinha O seu ódio era amor A sua dor... Compaixão Lídia enfrentou as ribeiras Para alcançar a luz Esmerada, A sua “luz” conquistou... 395