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1
Projeto:
Módulo 1I / 2016.2
PIBID-UEPB/LETRAS
Nome:___________________________________________________________________________Série:___
Endereço:_________________________________________________________________________Nº:_____
E-mail:___________________________________________________________Telefone:________________
2
Universidade Estadual da Paraíba-UEPB
Programa institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID
Subprojeto Letras-Língua Portuguesa
Escola de Atuação: E.E.E.F.M Caic José Joffily
Coordenadora de Área: Magliana Rodrigues da Silva
Supervisora: Alessandra Magda de Miranda
Docentes: Benilde Cassandra
Fernanda Félix
Flávia Roberta
Joseilma Barros
Projeto:
Nas Trilhas da Língua Portuguesa: o texto em foco
3
Título: A CULTURA POPULAR NORDESTINA, NO FOLHETO SE
ETERNIZA!
UMA MENSAGEM PARA VOCÊ:
Caro (a)aluno(a),
O Projeto Nas Trilhas da Língua Portuguesa: o texto em foco tem a
honra de recebê-lo(a) como integrante da nossa equipe. Hoje, você faz parte
do projeto que a cada dia obtém melhores resultados do trabalho desenvolvido
nas escolas selecionadas. Esperamos que aproveite ao máximo essa oportunidade
que surgiu em sua vida.
Este módulo contém uma coletânea de textos e de informações
relacionadas à Língua Portuguesa, cujo objetivo é servir de apoio para as
discussões e análises a serem realizadas neste primeiro período. Iniciaremos
refletindo um pouco sobre a importância da leitura e sobre a nossa cultura,
que deve ser valorizada e enaltecida, pois foi e é berço e inspiração para vários
nomes reconhecidos nacionalmente. Neste viés, buscaremos conhecer e estudar
o gênero que é nosso símbolo regional, e que melhor retrata nosso povo e
cultura, e qual melhor exemplo para isso, se não o folheto, vulgo, cordel?
Esperamos contar com a sua presença durante todo o ano, para
podermos juntos desenvolver ainda mais os nossos conhecimentos, tanto a
respeito do estado, quanto sobre a língua portuguesa. Sendo assim, organize
sua bagagem, deixe um espaço para o conhecimento e vamos embarcar nessa
viagem trilhando caminhos paraibanos!
Atenciosamente:
As professoras
CONTATOS DO PROJETO:
Blog: http://nastrilhasdalinguaportuguesa.blogspot.com.br/
Página: https://www.facebook.com/nastrilhasdalinguaportuguesauepb?fref=ts
Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/NasTrilhasdaLinguaPortuguesa?fref=ts
4
Grupo no Whatsapp: Alunos do Pibid. Administradores: Joseilma (83) 99190-1981;
Fernanda (83) 99193-4839; Benilde (83) 98737-6681; Flávia: (83) 99654-1437
5
LEITURA, PRA QUE TE QUERO?
LER FAZ BEM – Juarês Alencar
Ler faz bem a todos
amplia nossa visão
deve estar no dia-a-dia
de quem faz a educação
esse é maior recurso
faça essa lição
Com a leitura viajamos
além da imaginação
abrimos novos horizontes
vencendo a limitação
tornando-se um grande farol
que indica a direção
A leitura nos instrui
também é diversão
eleva a auto-estima
nos traz orientação
desenvolve o senso crítico
e forma o cidadão
Você que não gosta de ler
vamos mudar essa história
desenvolva a leitura
melhore sua oratória
esse é o meu conselho
arquive em sua memória
Vença esse desafio
seja um grande leitor
é uma missão do aluno
e também do professor
de todos que querem na vida
ser um grande vencedor.
Disponível em: http://juaresdocordel.blogspot.com.br/2009/04/leitura-abre-as-portas-do-
conhecimento.html
6
PLURALIDADE CULTURAL
– Juarês Alencar
O nosso país é exemplo
Da grande diversidade
Por sua rica cultura
Sinal de brasilidade
Com todas as diferenças
Mostra a sua pluralidade.
Terra dos muitos sotaques
Cores e manifestações
E com as várias etnias
Preservando as tradições
As diferenças existem
Entre as várias regiões.
Nordestino fala oxente
Que é próprio da região
O mineiro fala uai...
Com muita satisfação
O gaucho já fala thê
E numa forte expressão.
Com todas as etnias
Que presentes aqui estão
O negro, branco e índio
Formaram esta nação
Os brasileiros são frutos
Desta miscigenação.
O Brasil é um grande palco
De bela apresentação
Do frevo, samba e forró
Carnaval e folião
Ciranda e Coco de roda
Xote, xaxado e baião.
É o país do futebol
Do ritmo e religião
Do regue e bumba meu boi
Presentes no Maranhão
Do alegre axé da Bahia
Com toda a animação.
Tem a festa do divino
Que é muito popular
Tem a folia de reis
Maracatu pra dançar
Além da bela catira
E o belo boi bumbá.
A nossa cultura é rica
Pois tem forte tradição
Na música e na poesia
E também na religião
Carnaval e futebol
É verdadeira paixão.
A cultura religiosa
Demonstra a fé popular
Romarias a padre Cícero
Grande Sírio no Pará
Procissão do fogaréu
Faz Goiás iluminar.
Terra das vaquejadas
Das festas de apartação
Famosas pegas de boi
Que existem no sertão
Vaqueiros e repentistas
Fazem sua louvação.
As festas de boiadeiros
De cowboy e de peão
Grande festa de rodeio
CULTURA
7
Que causa admiração
Com locutores famosos
Que falam com emoção.
Famosas festas juninas
É uma grande tradição
No nordeste brasileiro
É a maior animação
Fogueira e milho assado
Quadrilha, forró e quentão.
Lá pras banda da Amazônia
Bem no meio da floresta
Caprichoso e Garantido
Fazem a maior festa
Os turistas que lá vão
Diz não ter outra como esta.
Esse é o país da alegria
É cheio de sonoridade
Tem rimo de todo jeito
Forte musicalidade
Sendo um misto de beleza
É sua própria identidade.
Terra dos vários sabores
Com culinária aprovada
Pamonha e acarajé
Pé de moleque, feijoada
Baião de dois, tapioca
Carne de sol, galinhada.
Tem pato no tucupi
E também no tacacá
Tem churrasco com fartura
E o gostoso mungunzá
O chimarrão lá no sul
E na Bahia o vatapá.
Nossa cultura é marcada
Pelos afro-descendentes
Um povo de muita garra
E de coração valente
Que migraram lá da África
Para o nosso continente.
Os nativos do Brasil
Ameríndios brasileiros
Foram quase exterminados
Pelos brancos estrangeiros
Relutaram e sobrevivem
Povo forte e verdadeiro.
Amamos esse Brasil
ETA país arretado
Expresso em alta voz
Falo pra todo lado
Não importa a região
Nem tão pouco o Estado.
Pode ser aqui no Norte
Ou também lá no Nordeste
Até no longínquo Sul
Ou lá no rico Sudeste
Em todo lugar é bom
Inclusive o Centro-oeste.
Em todo lugar é bom
Dá gosto aqui viver
Esse país é tão grande
Tem riquezas pra valer
E pra ele ser melhor
Falta à corrupção varrer.
Esse é um breve relato
Da nossa pluralidade
O Brasil é um país
Que tem sua identidade
Mostra em todos os ritmos
A sua originalidade.
Disponível em: http://juaresdocordel.blogspot.com.br/2014/04/pluralidade-cultural.html
8
REPORTAGENSSOBRE
LEANDRO GOMES DE BARROS:
Conheça Leandro Gomes de Barros, o pai do
cordel no Brasil - Globo Rural 02/01/2011 (2º
Bloco)
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=ukzY-
qG5p2g 9:11 min
Sesquicentenário do poeta Leandro Gomes de
Barros
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=CvHv005bNtw
7:00 min
A literatura de cordel
No Brasil cordel é sinônimo de poesia popular em verso. As histórias de
batalhas, amores, sofrimentos, crimes, fatos políticos e sociais do país e do mundo, as
famosas disputas entre cantadores, fazem parte de diversos tipos de texto em verso
denominados literatura de cordel.
Os primeiros escritores de folhetos que saíram do campo em direção às cidades
levavam consigo a esperança por melhores dias e as lembranças de contos e histórias de
príncipes e princesas, reinos distantes, homens valentes e mocinhas indefesas, além das
canções dos violeiros e repentistas que viajavam pelas fazendas animando festas e
desafiando outros cantadores. Vivendo nas cidades os poetas começaram a transpor para
o papel todo este universo de experiências. Além de contos e cantorias de viola, estavam
guardados na memória o som dos maracatus, dos reisados, do coco e da embolada. É
essa cultura, influenciada pelos ritmos afro-brasileiros, pela mistura entre rituais
sagrados e profanos, que faz do cordel uma produção cultural distinta das outras.
O folheto vai para as ruas e praças e é vendido por homens que ora declamam os
versos, ora cantam em toadas semelhantes às tocadas pelos repentistas. São nordestinos
pobres e semialfabetizados que entram no mundo da escrita, das tipografias, da
transmissão escrita e não apenas oral. A poesia popular, antes restrita ao universo
familiar e a grupos sociais colocados à margem da sociedade (moradores pobres de vilas
e fazendas, ex-escravos, pequenos comerciantes etc.), ultrapassa fronteiras, ocupa
espaços outrora reservados aos escritores e homens de letras do país.
O CORDELÉ ESTRANGEIRO, MAS O FOLHETO É BRASILEIRO!
9
Da literatura de folheto à literatura de cordel
A expressão “literatura de cordel” foi inicialmente empregada pelos estudiosos
da nossa cultura para designar os folhetos vendidos nas feiras, sobretudo em pequenas
cidades do interior do Nordeste, em uma aproximação com o que acontecia em terras
portuguesas. Em Portugal, eram chamados cordéis os livros impressos em papel barato,
vendidos em feiras, praças e mercados.
Os cordéis portugueses, diferentemente dos folhetos brasileiros, eram escritos e
lidos por pessoas que pertenciam às camadas médias da população: advogados,
professores, militares, padres, médicos, funcionários públicos, entre outros. Em muitos
casos, os cordéis eram comprados por uma pessoa letrada e lidos para um público não
letrado, situação que se reproduz aqui no Brasil, onde os folhetos eram consumidos
coletivamente.
DIA DE CINEMA!!!!!
As aventuras dos nordestinos João
Grilo (Matheus Natchergaele), um
sertanejo pobre e mentiroso, e
Chicó (Selton Mello), o mais
covarde dos homens. Ambos lutam
pelo pão de cada dia e atravessam
por vários episódios enganando a
todos do pequeno vilarejo de
Taperoá, no sertão da Paraíba. A
salvação da dupla acontece com a
aparição da Nossa Senhora
(Fernanda Montenegro).
Adaptação da obra homônima de
Ariano Suassuna.
10
CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ – PATATIVA DO ASSARÉ
Poeta, cantô de rua,
Que na cidade nasceu,
Cante a cidade que é sua,
Que eu canto o sertão que é meu.
Se aí você teve estudo,
Aqui, Deus me ensinou tudo,
Sem de livro precisá
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mexo aí,
Cante lá, que eu canto cá.
Você teve inducação,
Aprendeu munta ciença,
Mas das coisa do sertão
Não tem boa esperiença.
Nunca fez uma paioça,
Nunca trabaiou na roça,
Não pode conhecê bem,
Pois nesta penosa vida,
Só quem provou da comida
Sabe o gosto que ela tem.
Pra gente cantá o sertão,
Precisa nele morá,
Tê armoço de fejão
E a janta de mucunzá,
Vivê pobre, sem dinhêro,
Socado dentro do mato,
De apragata currelepe,
Pisando inriba do estrepe,
Brocando a unha-de-gato.
Você é muito ditoso,
Sabe lê, sabe escrevê,
Pois vá cantando o seu gozo,
Que eu canto meu padecê.
Inquanto a felicidade
Você canta na cidade,
Cá no sertão eu infrento
A fome, a dô e a misera.
Pra sê poeta divera,
Precisa tê sofrimento.
Sua rima, inda que seja
Bordada de prata e de ôro,
Para a gente sertaneja
É perdido este tesôro.
Com o seu verso bem feito,
Não canta o sertão dereito,
Porque você não conhece
Nossa vida aperreada.
E a dô só é bem cantada,
Cantada por quem padece.
Só canta o sertão dereito,
Com tudo quanto ele tem,
Quem sempre correu estreito,
Sem proteção de ninguém,
Coberto de precisão
Suportando a privação
Com paciença de Jó,
Puxando o cabo da inxada,
Na quebrada e na chapada,
Moiadinho de suó.
Amigo, não tenha quêxa,
Veja que eu tenho razão
Em lhe dizê que não mêxa
Nas coisa do meu sertão.
Pois, se não sabe o colega
De quá manêra se pega
Num ferro pra trabaiá,
Por favô, não mêxa aqui,
Que eu também não mêxo aí,
Cante lá que eu canto cá.
Repare que a minha vida
É deferente da sua.
A sua rima pulida
Nasceu no salão da rua.
Já eu sou bem deferente,
Meu verso é como a simente
Que nasce inriba do chão;
Não tenho estudo nem arte,
A minha rima faz parte
Das obra da criação.
A LÍNGUA É NACIONAL, MAS O OXENTE É REGIONAL!
11
Mas porém, eu não invejo
O grande tesôro seu,
Os livro do seu colejo,
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima compreta,
Não precisa professô;
Basta vê no mês de maio,
Um poema em cada gaio
E um verso em cada fulô.
Seu verso é uma mistura,
É um tá sarapaté,
Que quem tem pôca leitura
Lê, mais não sabe o que é.
Tem tanta coisa incantada,
Tanta deusa, tanta fada,
Tanto mistéro e condão
E ôtros negoço impossive.
Eu canto as coisa visive
Do meu querido sertão.
Canto as fulô e os abróio
Com todas coisa daqui:
Pra toda parte que eu óio
Vejo um verso se bulí.
Se as vêz andando no vale
Atrás de curá meus male
Quero repará pra serra
Assim que eu óio pra cima,
Vejo um divule de rima
Caindo inriba da terra.
Mas tudo é rima rastêra
De fruita de jatobá,
De fôia de gamelêra
E fulô de trapiá,
De canto de passarinho
E da poêra do caminho,
Quando a ventania vem,
Pois você já tá ciente:
Nossa vida é deferente
E nosso verso também.
Repare que deferença
Iziste na vida nossa:
Inquanto eu tô na sentença,
Trabaiando em minha roça,
Você lá no seu descanso,
Fuma o seu cigarro mando,
Bem perfumado e sadio;
Já eu, aqui tive a sorte
De fumá cigarro forte
Feito de paia de mio.
Você, vaidoso e facêro,
Toda vez que qué fumá,
Tira do bôrso um isquêro
Do mais bonito metá.
Eu que não posso com isso,
Puxo por meu artifiço
Arranjado por aqui,
Feito de chifre de gado,
Cheio de argodão queimado,
Boa pedra e bom fuzí.
Sua vida é divirtida
E a minha é grande pená.
Só numa parte de vida
Nóis dois samo bem iguá:
É no dereito sagrado,
Por Jesus abençoado
Pra consolá nosso pranto,
Conheço e não me confundo
Da coisa mió do mundo
Nóis goza do mesmo tanto.
Eu não posso lhe invejá
Nem você invejá eu,
O que Deus lhe deu por lá,
Aqui Deus também me deu.
Pois minha boa muié,
Me estima com munta fé,
Me abraça, beja e qué bem
E ninguém pode negá
Que das coisa naturá
Tem ela o que a sua tem.
Aqui findo esta verdade
Toda cheia de razão:
Fique na sua cidade
Que eu fico no meu sertão.
Já lhe mostrei um ispeio,
Já lhe dei grande conseio
Que você deve tomá.
Por favô, não mexa aqui,
Que eu também não mêxo aí,
Cante lá que eu canto cá.
Disponível em: http://www.moisesneto.com.br/estudo66.pdf
12
O cavalo que defecava dinheiro – Leandro Gomes De Barros
Na cidade de Macaé
Antigamente existia
Um duque velho invejoso
Que nada o satisfazia
Desejava possuir
Todo objeto que via
Esse duque era compadre
De um pobre muito
atrasado
Que morava em sua terra
Num rancho todo
estragado
Sustentava seus filhinhos
Na vida de alugado.
Se vendo o compadre
pobre
Naquela vida privada
Foi trabalhar nos
engenhos
Longe da sua morada
Na volta trouxe um cavalo
Que não servia pra nada
Disse o pobre à mulher:
— Como havemos de
passar?
O cavalo é magro e velho
Não pode mais trabalhar
Vamos inventar um
"quengo"
Pra ver se o querem
comprar.
Foi na venda e de lá
trouxe
Três moedas de cruzado
Sem dizer nada a ninguém
Para não ser censurado
No fiofó do cavalo
Foi o dinheiro guardado
Do fiofó do cavalo
Ele fez um mealheiro
Saiu dizendo: — Sou rico!
Inda mais que um
fazendeiro,
Porque possuo o cavalo
Que só defeca dinheiro.
Quando o duque velho
soube
Que ele tinha esse cavalo
Disse pra velha duquesa:
—Amanhã vou visitá-lo
Se o animal for assim
Faço o jeito de comprá-lo!
Saiu o duque vexado
Fazendo que não sabia,
Saiu percorrendo as terras
Como quem não conhecia
Foi visitar a choupana,
Onde o pobre residia.
Chegou salvando o
compadre
Muito desinteressado:
— Compadre, Como lhe
vai?
Onde tanto tem andado?
Há dias que lhe vejo
Parece está melhorado...
—É muito certo compadre
Ainda não melhorei
Porque andava por fora
Faz três dias que cheguei
Mas breve farei fortuna
Com um cavalo que
comprei.
—Se for assim, meu
compadre
Você está muito bem!
É bom guardar o segredo,
Não conte nada a
ninguém.
Me conte qual a vantagem
Que este seu cavalo tem?
Disse o pobre: —Ele está
magro
Só o osso e o couro,
Porém tratando-se dele
Meu cavalo é um tesouro
Basta dizer que defeca
Níquel, prata, cobre e
ouro!
Aí chamou o compadre
E saiu muito vexado,
Para o lugar onde tinha
O cavalo defecado
O duque ainda encontrou
Três moedas de cruzado.
Então exclamou o velho:
— Só pude achar essas
três!
Disse o pobre: — Ontem à
tarde
Ele botou dezesseis!
Ele já tem defecado,
Dez mil réis mais de uma
vez.
—Enquanto ele está
magro
Me serve de mealheiro.
Eu tenho tratado dele
Com bagaço do terreiro,
Porém depois dele gordo
Não quem vença o
dinheiro...
Disse o velho: — meu
compadre
Você não pode tratá-lo,
Se for trabalhar com ele
É com certeza matá-lo
O melhor que você faz
É vender-me este cavalo!
— Meu compadre, este
cavalo
Eu posso negociar,
Só se for por uma soma
Que dê para eu passar
Com toda minha família,
E não precise trabalhar.
O velho disse ao
compadre:
— Assim não é que se faz
Nossa amizade é antiga
Desde os tempo de seus
pais
Dou-lhe seis contos de
réis
Acha pouco, inda quer
mais?
— Compadre, o cavalo é
seu!
13
Eu nada mais lhe direi,
Ele, por este dinheiro
Que agora me sujeitei
Para mim não foi vendido,
Faça de conta que te dei!
O velho pela ambição
Que era descomunal,
Deu-lhe seis contos de réis
Todo em moeda legal
Depois pegou no cabresto
E foi puxando o animal.
Quando ele chegou em
casa
Foi gritando no terreiro:
— Eu sou o homem mais
rico
Que habita o mundo
inteiro!
Porque possuo um cavalo
Que só defeca dinheiro!
Pegou o dito cavalo
Botou na estrebaria,
Milho, farelo e alface
Era o que ele comia
O velho duque ia lá,
Dez, doze vezes por dia...
Aí o velho zangou-se
Começou loga a falar:
—Como é que meu
compadre
Se atreve a me enganar?
Eu quero ver amanhã
O que ele vai me contar.
Porém o compadre pobre,
(Bicho do quengo lixado)
Fez depressa outro plano
Inda mais bem arranjado
Esperando o velho duque
Quando viesse zangado...
O pobre foi na farmácia
Comprou uma
borrachinha
Depois mandou encher ela
Com sangue de uma
galinha
E sempre olhando a
estrada
Pré ver se o velho vinha.
Disse o pobre à mulher:
— Faça o trabalho direito
Pegue esta borrachinha
Amarre em cima do peito
Para o velho não saber,
Como o trabalho foi feito!
Quando o velho aparecer
Na volta daquela estrada,
Você começa a falar
Eu grito: —Oh mulher
danada!
Quando ele estiver bem
perto,
Eu lhe dou uma facada.
Porém eu dou-lhe a facada
Em cima da borrachinha
E você fica lavada
Com o sangue da galinha
Eu grito: —Arre danada!
Nunca mais comes
farinha!
Quando ele ver você
morta
Parte para me prender,
Então eu digo para ele:
—Eu dou jeito ela viver,
O remédio tenho aqui,
Faço para o senhor ver!
—Eu vou buscar a rabeca
Começo logo a tocar
Você então se remaxa
Como quem vai melhorar
Com pouco diz: —Estou
boa
Já posso me levantar.
Quando findou-se a
conversa
Na mesma ocasião
O velho ia chegando
Aí travou-se a questão
O pobre passou-lhe a faca,
Botou a mulher no chão.
O velho gritou a ele
Quando viu a mulher
morta:
Esteja preso, bandido!
E tomou conta da porta
Disse o pobre: —Vou
curá-la!
Pra que o senhor se
importa?
—O senhor é um bandido
Infame de cara dura
Todo mundo apreciava
Esta infeliz criatura
Depois dela assassinada,
O senhor diz que tem
cura?
Compadre, não admito
O senhor dizer mais nada,
Não é crime se matar
Sendo a mulher malcriada
E mesmo com dez
minutos,
Eu dou a mulher curada!
Correu foi ver a rabeca
Começou logo a tocar
De repente o velho viu
A mulher se endireitar
E depois disse: —Estou
boa,
Já posso me levantar...
O velho ficou suspenso
De ver a mulher curada,
Porém como estava vendo
Ela muito ensanguentada
Correu ela, mas não viu,
Nem o sinal da facada.
O pobre entusiasmado
Disse-lhe: —Já conheceu
Quando esta rabeca estava
Na mão de quem me
vendeu,
Tinha feito muitas curas
De gente que já morreu!
No lugar onde eu estiver
Não deixo ninguém
morrer,
Como eu adquiri ela
Muita gente quer saber
Mas ela me está tão cara
Que não me convém
dizer.
O velho que tinha vindo
Somente propor questão,
Por que o cavalo velho
Nunca botou um tostão
14
Quando viu a tal rabeca
Quase morre de ambição.
—Compadre, você
desculpe
De eu ter tratado assim
Porque agora estou certo
Eu mesmo fui o ruim
Porém a sua rabeca
Só serve bem para mim.
—Mas como eu sou um
homem
De muito grande poder
O senhor é um homem
pobre
Ninguém quer o conhecer
Perca o amor da rabeca...
Responda se quer vender?
—Porque a minha mulher
Também é muito
estouvada
Se eu comprar esta rabeca
Dela não suporto nada
Se quiser teimar comigo,
Eu dou-lhe uma facada.
—Ela se vê quase morta
Já conhece o castigo,
Mas eu com esta rabeca
Salvo ela do perigo
Ela daí por diante,
Não quer mais teimar
comigo!
Disse-lhe o compadre
pobre:
—O senhor faz muito
bem,
Quer me comprar a rabeca
Não venderei a ninguém
Custa seis contos de réis,
Por menos nem um
vintém.
O velho muito contente
Tornou então repetir:
—A rabeca já é minha
Eu preciso a possuir
Ela para mim foi dada,
Você não soube pedir.
Pagou a rabeca e disse:
—Vou já mostrar a
mulher!
A velha zangou-se e disse:
—Vá mostrar a quem
quiser!
Eu não quero ser culpada
Do prejuízo que houver.
—O senhor é mesmo um
velho
Avarento e interesseiro,
Que já fez do seu cavalo
Que defecava dinheiro?
—Meu velho, dê-se a
respeito,
Não seja tão embusteiro.
O velho que confiava
Na rabeca que comprou
Disse a ela: —Cale a
boca!
O mundo agora virou
Dou-lhe quatro
punhaladas,
Já você sabe quem sou.
Ele findou as palavras
A velha ficou teimando,
Disse ele: —Velha dos
diabos
Você ainda está falando?
Deu-lhe quatro
punhaladas
Ela caiu arquejando...
O velho muito ligeiro
Foi buscar a rabequinha,
Ele tocava e dizia:
—Acorde,minha
velhinha!
Porém a pobre da velha,
Nunca mais comeu
farinha.
O duque estava pensando
Que sua mulher tornava
Ela acabou de morrer
Porém ele duvidava
Depois então conheceu
Que a rabeca não
prestava.
Quando ele ficou certo
Que a velha tinha morrido
Boto os joelhos no chão
E deu tão grande gemido
Que o povo daquela casa
Ficou todo comovido.
Ele dizia chorando:
—Esse crime hei de
vingá-lo
Seis contos desta rabeca
Com outros seis do cavalo
Eu lá não mando
ninguém,
Porque pretendo matá-lo.
Mandou chamar dois
capangas:
—Me façam um surrão
bem feito
Façam isto com cuidado
Quero ele um pouco
estreito
Com uma argola bem
forte,
Pra levar este sujeito!
Quando acabar de fazer
Mande este bandido
entrar,
Para dentro do surrão
E acabem de costurar
O levem para o rochedo,
Para sacudi-lo no mar.
Os homens eram dispostos
Findaram no mesmo dia,
O pobre entrou no surrão
Pois era o jeito que havia
Botaram o surrão nas
costas
E saíram numa folia.
Adiante disse um
capanga:
—Está muito alto o rojão,
Eu estou muito cansado,
Botemos isto no chão!
Vamos tomar uma pinga,
Deixe ficar o surrão.
&mdashEstá muito bem,
companheiro
Vamos tomar a bicada!
(Assim falou o capanga
Dizendo pro camarada)
Seguiram ambos pra
venda
Ficando além da estrada...
15
Quando os capangas
seguiram
Ele cá ficou dizendo:
—Não caso porque não
quero,
Me acho aqui padecendo...
A moça é milionária
O resto eu bem
compreendo!
Foi passando um
boiadeiro
Quando ele dizia assim,
O boiadeiro pediu-lhe:
—Arranje isto pra mim
Não importa que a moça
Seja boa ou ruim!
O boiadeiro lhe disse:
—Eu dou-lhe de mão
beijada,
Todos os meus possuídos
Vão aqui nessa boiada...
Fica o senhor como dono,
Pode seguir a jornada!
Ele condenado à morte
Não fez questão, aceitou,
Descoseu o tal surrão
O boiadeiro entrou
O pobre morto de medo
Num minuto costurou.
O pobre quando se viu
Livre daquela enrascada,
Montou-se num bom
cavalo
E tomou conta da boiada,
Saiu por ali dizendo:
—A mim não falta mais
nada.
Os capangas nada viram
Porque fizeram ligeiro,
Pegaram o dito surrão
Com o pobre do boiadeiro
Voaram de serra abaixo
Não ficou um osso inteiro.
Fazia dois ou três meses
Que o pobre negociava
A boiada que lhe deram
Cada vez mais aumentava
Foi ele um dia passar,
Onde o compadre
morava...
Quando o compadre viu
ele
De susto empalideceu;
—Compadre, por onde
andava
Que agora me apareceu?!
Segundo o que me parece,
Está mais rico do que eu...
—Aqueles seus dois
capangas
Voaram-me num lugar
Eu caí de serra abaixo
Até na beira do mar
Aí vi tanto dinheiro,
Quanto pudesse apanhar!..
—Quando me faltar
dinheiro
Eu prontamente vou ver.
O que eu trouxe não é
pouco,
Vai dando pra eu viver
Junto com a minha
família,
Passar bem até morrer.
—Compadre, a sua
riqueza
Diga que fui eu quem dei!
Pra você recompensar-me
Tudo quanto lhe arranjei,
É preciso que me bote
No lugar que lhe botei!..
Disse-lhe o pobre: —Pois
não,
Estou pronto pra lhe
mostrar!
Eu junto com os capangas
Nós mesmo vamos levar
E o surrão de serra abaixo
Sou eu quem quero
empurrar!..
O velho no mesmo dia
Mandou fazer um surrão.
Depressa meteu-se nele,
Cego pela ambição
E disse: —Compadre eu
estou
À tua disposição.
O pobre foi procurar
Dois cabras de confiança
Se fingindo satisfeito
Fazendo a coisa bem
mansa
Só assim ele podia,
Tomar a sua vingança.
Saíram com este velho
Na carreira,sem parar
Subiram de serra acima
Até o último lugar
Daí voaram o surrão
Deixaram o velho
embolar...
O velho ia pensando
De encontrar muito
dinheiro,
Porém secedeu com ele
Do jeito do boiadeiro,
Que quando chegou
embaixo
Não tinha um só osso
inteiro.
Este livrinho nos mostra
Que a ambição nada
convém
Todo homem ambicioso
Nunca pode viver bem,
Arriscando o que possui
Em cima do que já tem.
Cada um faça por si,
Eu também fareipor mim!
É este um dos motivos
Que o mundo está ruim,
Porque estamos cercados
Dos homens que pensam
assim.
Disponível em: https://pt.wikisource.org/wiki/O_cavalo_que_defecava_dinheiro
16
Variação linguística
A linguagem é a característica que nos difere dos demais seres, permitindo-nos a oportunidade de
expressar sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião frente aos assuntos relacionados ao
nosso cotidiano, e, sobretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social.
E dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os níveis da fala, que são basicamente
dois: O nível de formalidade e o de informalidade.
O padrão formal está diretamente ligado à linguagem escrita, restringindo-se às normas gramaticais
de um modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma maneira que falamos. Este fator foi
determinante para a que a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais.
Quanto ao nível informal, este por sua vez representa a linguagem do dia a dia, das conversas
informais que temos com amigos, familiares etc.
Compondo o quadro do padrão informal da linguagem, estão as chamadas variedades linguísticas, as
quais representam as variações de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é
utilizada.
Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/variacoes-linguisticas.htm
Variação regional
O Brasil é um país com um território amplo e mesmo assim ainda possui uma língua única. Além
de contribuir para uma grande diversidade nos hábitos culturais, religiosos, políticos e artísticos, a influência
de várias culturas deixou na língua portuguesa marcas que acentuam a riqueza de vocabulário e de
pronúncia. É importante destacar que as diferenças na nossa língua não constituem erro, mas são
consequências das marcas deixadas por outros idiomas que entraram na formação do português brasileiro.
Entre esses idiomas estão os indígenas e africanos, além dos europeus, como o francês e o italiano. A
influência desses elementos presentes em cada região do país, aliada ao desenvolvimento histórico de cada
lugar, fez com que surgissem regionalismos, isto é, expressões típicas de determinada região.
Regionalismo é, na língua, o emprego de palavras ou expressões peculiares a determinadas
regiões. Em literatura, é a produção literária que focaliza especialmente usos, costumes, falares e
tradições regionais.
Disponível em: http://letrasmarques2013.blogspot.com.br/2013/08/regionalismos.html
17
A MOÇA QUE FOI ENTERRADA VIVA - João Martins de Athayde
Nos sertões de Teresina
Habitava um
fazendeiro,
Era materialista
Além disso interesseiro
Só amava a duas coisas
Homem valente e
dinheiro
Era quase um
analfabeto
Ostentava o fanatismo
Mostrava grande
afeição
Pelo imperialismo
Ele era um potentado
Nos tempos do
carrancismo
Como era muito rico
Confiava em sua sorte
Era o temor dos sertões
Naquela zona do Norte
Que o que quisesse
fazia,
Ainda encarando a
morte
Vivendo como casado
Na mais perfeita
harmonia
Tinha quatro filhos
homens
Todos em sua
companhia
Tinha uma filha moça,
Por nome de Sofia
Esta moça era caçula
Vinte e um anos
contava,
Os irmãos eram mais
velhos
Mas nenhum se
emancipava
Só era dono de si
No dia que se casava
O velho não se
importava
De fazer revolução,
Para sustentar o
capricho
Ou se vingar sua paixão
Seus filhos também
seguiam
Nessa mesma opinião
Quando ele conversava
No meio de muita gente
Dizia: “Tenho uma filha
É uma moça decente
Porém só casa com ela
Quem for um bicho
valente”
Com poucos dias depois
A noticia se espelhava,
Qualquer um rapaz
solteiro
Que na estrada passava
Já ia com tanto medo,
Pra fazenda nem olhava
Sofia se lastimava
Dizendo: “Até onde vai,
Este meu padecimento
Sem se ver de onde sai
Eu hei de ficar solteira,
Pra fazer gosto a meu
pai?!”
Depois enxugou as
lágrimas
Que banhavam o lindo
rosto
Dizia: “Eu encontrando
Um rapaz moço e
disposto
Eu farei com que meu
pai
Passe por esse
desgosto”
Um rapaz sabendo disto
Se condoeu da donzela
Vendo que não
encontrava
Outra moça igual àquela
Um da determinou-se
Dizendo: “Vou roubar
ela”
Escreveu logo um
bilhete
Dizendo: “Dona Sofia,
Eu ontem fui sabedor
Do que a senhora sofria
Fiquei muito indignado
Pois lhe tenho simpatia
Conheço perfeitamente
Que vou entrar em
perigo
Porque seu pai
conhecendo
Torna-se meu inimigo
Basta saber que a
senhora,
Pretende se casar
comigo
Eu sou um rapaz
solteiro
Não tenho conta a quem
dar
Responda esse bilhete
Pra eu me desenganar
Se me aceita como
esposo,
O jeito eu vou procurar”
Sofia mandou o sim
Pela manha muito cedo,
Fazendo ver a seu noivo
Que de nada tinha medo
Queria falar com ele,
No outro dia em
segredo
O moço aí preveniu-se
De um punhal e um
facão,
Pistola boa na cinta
Cartucheira e munição
Seguiu para a casa do
velho,
Porém com boa
intenção
Encontrou uma criada
18
Com um candeeiro na
mão
Perguntou-lhe: “Onde é
o quarto
Da filha de seu patrão?”
Diz ela: “Ao lado
esquedo
Pela porta do oitão”
A noite era muito escura
Por ali ninguém o viu,
Ele tanto pelejou
E tanto se retraiu
Que entrou no quarto da
moça
E o velho nem
pressentiu
Foi entardecendo a
noite
Acabaram de cear,
Quando a moça entrou
no quarto
Para se agasalhar
Foi avistando o rapaz,
Ficou sem poder falar
O rapaz muito ligeiro
Pegou ela pela mão,
Porém com muito
respeito
Contou-lhe sua intenção
Dizendo: “Eu arranjo
tudo,
Sem precisar de questão
Assim passaram a noite
A moça muito assustada
Quando amanheceu o
dia
Por sua mãe foi
chamada
Para cuidar dos
trabalhos,
Como era acostumada
O rapaz ficou no quarto
Do povo se ocultou,
Quando botaram o
almoço
Então a moça voltou
De parelha com seu
noivo
Ao velho se apresentou
O rapaz saiu do quarto
Seu rosto não
demudava,
Fincou o punhal na
mesa
Dizendo se aproximava:
“É este o homem
valente!...
Que o senhor
procurava?”
Sou eu, seu futuro genro
Que amo a esta donzela,
Tudo isso que já fiz
Não é criticando dela
Embora me custe a
vida,
Só me casarei com
ela”...
O velho conheceu logo
Que não tinha jeito a
dar
Correu a vista nos filhos
Como quem quer avisar
Aí todos convidaram
O moço para almoçar
Ele aceitou o convite
Porque não tinha
precisão
Disse o velho
mansamente:
“Entre nós não há
questão
Precisamos fazer logo,
Toda esta arrumação
O senhor vá para casa
Veja que falta arrumar,
Arrumação para a noiva
Eu também vou
aprontar
E o senhor no dia
quinze,
Venha para se casar”
Assim que o rapaz saiu
O velho chamou Sofia,
Dizendo: “Filha maldita
Quem te deu tanta
ousadia?
Me obrigastes da fazer
O que nunca pretendia!”
Aí gritou para os filhos,
Dizendo de cara dura:
“Agarrem esta maldita
Prendam ela bem segura
E vão no quarto do
meio
Cavem uma sepultura”
Naquele mesmo
momento
Sofia foi amarrada,
Para o quarto que estava
A sepultura foi cavada
Aonde a triste donzela
Havia de ser sepultada
Reuniu-se em roda dela
Toda aquela comitiva,
O pai, a mãe, os irmãos
Por infame tentativa
Condenaram a pobre
moça
Para sepultarem-na viva
Naquela situação
Que estava a pobre
Sofia,
Pedindo ao pai, em
soluços,
E o velho não atendia:
“Meu pai, não me mate
hoje
Deixe eu viver mais um
dia!”
Sofia se lastimava
E o velho não dava
ouvido,
Depois disse para ela:
“Nada vale o seu pedido
19
A senhora está passando
Da hora de ter morrido”
Sofia disse: “Meu pai
Tenha de mim
compaixão
Mande chamar o vigário
Pra me ouvir em
confissão
Talvez por este meio
Eu possa alcançar o
perdão!”
“A senhora em parte
alguma
Podia ser perdoada,
Não há sentença
bastante
Para filha excomungada
Quem fez o que você
fez
Só paga sendo
queimada”
O velho zangou-se e
disse:
“Não quero mais
discutir
Palavras de sua boca
Não pretendo mais
ouvir
Siga; entre para a cova
Para eu mandar entupir”
Aí botaram Sofia
Pra dentro da cova
escura,
O buraco foi cavado
Com dez palmos de
fundura
Que sofrimento tirano
Desta infeliz criatura
O velho como uma fera
Mandou ela se deitar
Ela na ânsia da morte
Começou logo a gritar
Pedia aos outros: “Me
acudam
Que meu pai quer me
matar!”
O velho era malvado
Pior que o Satanás
Pegou Sofia dizendo:
“Veja bem como se
faz!”...
Botou-lhe terra por
cima,
Até que não gritou mais
Aí seguiram para a sala
Ele, os filhos e a mulher
Dizendo: “Estou
satisfeito
Vou esperar o que
houver
Só fica mais perigoso,
Se o noivo dela souber”
Logo preveniu-se tudo
Contra o noivo de Sofia
Nisto bateram à porta
Mandaram ver quem
batia
Era o rapaz noivo dela,
Porém de nada sabia
O velho disse para ele
“O senhor de onde
vem?
Minha derrota está feita
Aqui não me sai
ninguém
Matei sua noiva agora,
E o senhor morre
também”
Aí partiu para ele
Como uma fera
assanhada,
O rapaz negou-lhe o
corpo
E deu-lhe uma
punhalada
O velho caiu gritando
Não pode mais fazer
nada
Reuniu-se contra ele
Os quatro irmãos de
Sofia,
Atirando à queima-
roupa
Mas nem um tiro atingia
E ele os poucos que
dava,
La um ou outro perdia
Com meia hora de luta
Estava tudo sem ação,
Os quatro irmãos de
Sofia
Dois morreram na
questão
Um correu espavorido
E o outro ficou no chão
O rapaz ficou sozinho
Porém já muito ferido
Quando foi passando a
porta
Ouviu um grande
gemido
Diz ele: “Talvez Sofia
Inda não tenha morrido”
O rapaz muito ferido
Conhecendo que
morria,
Seguiu pela casa
adentro
Procurando quem gemia
Acertou logo no quarto
Onde enterraram Sofia,
No mesmo canto
encontrou
A alavanca e a enxada
Os ferros que tinham
sido
A dita cova cavada
Com eles tirou Sofia,
Quase morta asfixiada
O leitor preste atenção
Sofia foi arrancada
Não morreu por um
motivo
20
A cova não foi socada
Só fazia quatro horas,
Que tinha sido enterrada
O rapaz muito doente
Ainda conduziu Sofia
Pra casa de sua mãe
Que nada disso sabia
A velha quando viu ele
Quase morre de agonia
Não fazia dez minutos
Que o rapaz tinha
chegado,
Na casa de sua mãe
Quando recebeu um
recado
Pelo irmão de Sofia
Ia ser assassinado
Disse o rapaz a Sofia:
“Me acabo aqui mas
não corro
Já estou muito ferido
Desta conheço que
morro
E também não me
sujeito
Gritar pedindo socorro”
Aí ele pediu à mãe:
“Veja as armas que aí
tem
O bacamarte, a
espingarda
E a pistola também
E corra para bem longe
Porque o povo já vem”
A velha morta de medo
Trouxe as armas e
entregou
Transpassada de agonia
Chorando o abençoou
Temendo a morte fugiu
Porém Sofia ficou
O rapaz entrincheirou-
se
Bem na porta da entrada
Sofia estava por tudo
Não se temia de nada
Foi botar o sei piquete
Atrás pela retaguarda
Sofia triste pensando
Tão depressa se acabar
Conhecendo que morria
Talvez antes de casar
Quando levantou a vista
Foi vendo o grupo
chegar
O rapaz que estava
pronto
Com o seu revólver na
mão
Amparou-se num portal
Enfrentou o pelotão
Cada tiro era um
defunto
Que embolava no chão
Sofia na retaguarda
Inda emparelhou seis
O bacamarte era bom
Certa pontaria fez
Quando puxou o
gatilho,
Caiu tudo de uma vez
Entrou um pela janela
Sofia não pressentiu
O rapaz estava lutando
De forma nenhuma o
viu
Atirou nele nas costas
Que o pobre rapaz caiu
Aí pegaram Sofia
Que não podia escapar,
Cortaram todo o cabelo
Mandaram os olhos
furar
Depois dependuraram
ela
Dizendo: “Vamos
sangrar”
Sangraram devagarinho
Pra ainda mais judiar
Antes da moça morrer
Eles foram retalhar
Em pedaços tão
pequenos
Que não puderam
enterrar
Quem me contou essa
história
Foi um rapaz muito
sério
Foi testemunha de vista
Daquele caso funéreo
Os corpos foram
levados
Num cesto pro
cemitério
O mundo está
corrompido
O erro vem de atrás
Muitos acontecimentos
De resultados fatais
Só acontecem com as
filhas
Que vão de encontro
aos pais
21
A SORTE DE UMA MERETRIZ - João Martins de Athayde
Não se engane com o
mundo
Que o mundo não tem o
que dar,
Quem com ele se iludir
Iludido há de ficar
Pois temos visto
exemplos,
Que é feliz quem os
tomar
Doze anos tinha Aulina
Seu pai era fazendeiro,
Casa que naquele tempo
Havia tanto dinheiro
Muitas joias de valor,
Crédito no mundo
inteiro
Aulina, eu creio, não
tinha
Outra igual na
perfeição,
Parece que a natureza
Carregou mais nela a
mão
Pois nela via-se a força
Do autor da criação
Os olhos dela fingiam
Raios do sol da manhã,
O rosto bem regular
Corado como a romã
Parecia que as estrelas,
Queriam chama-la
irmão
Os dedos alvos e finos
Qual teclados de piano,
Quem a visse só diria
Que não era corpo
humano Parecia ser
propósito, Do Divino
Soberano
Também tinha tanto
orgulho Que nem aos
pais conhecia, Se
julgava saliente A todo
mundo que via Julgando
que todo mundo A ela
se curvaria
Quando inteirou vinte
anos Por si se prostituiu
O pai quase
enlouqueceu tanto
desgosto sentiu Porque
em toda família Um
caso assim nunca viu
Logo que caiu no
mundo Por todos foi
abraçada, Por as mais
altas pessoas Era
sempre visitada Por
fidalgos e militares, Por
todos era adorada
Recebeu logo um
presente
De um palacete
importante Com uma
mobília sublime Dada
pelo seu amante
A obra de mais estima
A quem se chama
elegante
Para sala de visita
Comprou um rico piano,
Quatro consolos de
mármore
Um aparador de ébano
Uma cômoda muito
rica,
Que só a de um
soberano
Ricas cadeiras
modernas Candeeiros
importantes,
Jarros de fino cristal
Espelhos muito
elegantes
O retrato dela em um
quadro Com quatro ou
cinco brilhantes
Um grande damasco
verde
A sala toda cobria
Toalha bordada a ouro
Em qualquer quarto se
via
Era só de porcelana
Toda a louça que existia
Nem é preciso falar
No quarto onde ela
dormia, Porque já se viu
na sala
A riqueza que existia
Agora na cama dela,
Faça ideia o que havia
Durante cinco ou seis
anos
A vida dela era assim
A casa era um céu de
estrelas Rodeada de
Marfim
Vivia ela qual vive
Um beija-flor no jardim
Adoeceu de repente
Não cuidou logo em
tratar-se Julgando que
dos amantes Nenhum a
desamparasse
Devido à sua influência
Qualquer médico
curasse
Foi vice-verso o seu
cálculo
A si só chegaram dores,
Foi perdendo a
influência,
22
Multiplicando os
clamores
Não foi mais em sua
casa Nenhum dos
adoradores
Pegou logo a empenhar
As jóias que possuía,
Por menos do seu valor
Diversas coisas vendia
E a moléstia no seu
auge Crescendo de dia a
dia
No período de dois anos
Gastou o que possuía,
Pegou logo pelas jóias
De mais valor que
existia
Sofás, cadeiras e
consolos, Vendeu tudo
em um só dia
Os quadros, os
aparadores Pianos,
relógios, espelhos
Vendeu-os para curar
Duas fístulas nos
joelhos
Já desejava encontrar
Quem lhe desse alguns
conselhos
Afinal vendeu a casa
E a cama onde dormia
Era o único objeto
Que em seu poder
existia
Ainda um amante vendo
Jamais a conheceria
"Meu Deus", exclamava
ela
Vai infeliz meu futuro
Nasci em berço dourado
Para morrer no monturo
Quanta diferença existe,
Da seda para o chão
duro
Quantos lordes aos
meus pés
Se esqueciam de seus
cargos, Me adoravam
como santa
Me mostrando mil
afagos
Hoje não vejo nenhum,
Nesses dias tão amargos
Quede os grandes
militares
Que não podiam passar,
Três dias numa semana
Sem me virem visitar
E faziam de mim santa,
De meu divã um altar
Nada disso existe mais
Tudo já se dissipou,
As promessas e os
presentes
O vento veio e levou
Em paga de tudo isso
Na miséria me deixou
Essas dores que hoje
sofro
É justo que sofra elas,
Essas lágrimas que eu
derramo Serão em
pagas daquelas
Que fiz gotejar dos
olhos
Das casadas e das
donzelas
Sinto dores com
excesso
Ouço a voz da
consciência
Me dizer: "Filha maldita
Tua desobediência
Clamará perante Deus
E pedirá providência"
Ela em soluços
exclamava:
"Meu Deus, tende
compaixão, Nega-me
tudo na vida
Mas me alcançai o
perdão Santíssima
Virgem, rogai,
Pela minha salvação"
Que cobertores tão
caros
Já forraram meu
colchão,
Que cortinas de seda
De grande admiração
Hoje não tenho uma
estopa
Que forre aqui esse
chão
Ricos vestidos de seda
Lancei muitos no
monturo,
Saias ainda em estado
Camisa de linho puro
Não pensava na
desgraça
Que vinha para o futuro
Minha mesa nesse
tempo
Tinha de tudo que
havia,
Só mesa de um
personagem
De alta categoria
Hoje o resto de uma
sopa Quando agora me
servia
Peço esmola a quem
passa
Esse nem me dá ouvido,
Quem outrora me
adorava
Não ouve mais meu
gemido Passa por mim
torce a cara,
Se finge desconhecido
Eu era como uma flor
23
Ao despontar da manhã
Representava outrora
Aquela deusa louçã
Meus amantes
perguntavam,
Se a lua era minha irmã
As majestades
chegavam
Antes da celebração,
Humildes como um
escravo
Me faziam saudação
Como se a render-me
culto
Seria uma obrigação
O exército e o comércio
A arte e agricultura,
Todos me ofereciam
Seu afeto de ternura
Tudo vinha admirar
Minha grande
formosura
Mas eu vivia enganada
Com essas tristes
carícias,
Eu bem podia saber
Que o mundo não tem
delícias
É um gozo provisório,
É um cofre de malícias
Donzelas eis o exemplo
para todos que estão
vendo,
Não me viram a poucos
dias Como o sol que
vem nascendo? Já estou
aqui no chão,
Os tapurus me comendo
Ah! meu pai se tu me
visse Nessa miséria
prostrada,
Embora que vossa face
Foi por mim injuriada
Talvez que ainda
dissesse:
"Deus te perdoe,
desgraçada"
Ah! minha mãe
carinhosa
Se eu agora te
abraçasse,
Inda com essa agonia
Talvez que me
consolasse
E antes de partir do
mundo,
Essa sede saciasse
Sinto o soluço da morte
Já é hora de partir,
Peço ao meu anjo da
guarda Para comigo
assistir
Porque temo que o
demônio,
Não venha me
perseguir"
Uma velha caridosa
Trouxe água, ela bebeu,
Matou a sede que tinha
E graças a Jesus rendeu
Erguendo os olhos ao
céu,
Nesse momento morreu.
24
João Martins de Athayde (24/06/1880 – 07/08/1959)
O poeta popular e editor de folhetos João Martins de Athayde nasceu no
povoado de Cachoeira de Cebolas, município de Ingá do Bacamarte, Paraíba, no dia 23
de junho de 1880.
Nunca freqüentou uma escola. Aprendeu a ler e escrever sozinho. Segundo seu
próprio depoimento, aos oito anos, assistindo pela primeira vez a um desafio de Pedra
Azul, um famoso cantador da região, começou a se interessar e fazer poesia popular.
Fez sua primeira rima aos doze anos de idade.
Em 1898, por causa da seca, migrou da sua cidade natal para Camaragibe, um
município da Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, mudando-se,
posteriormente, para a capital, onde trabalhou como auxiliar de enfermagem no Hospital
Português.
Seu primeiro folheto de cordel, O preto e o branco apurando qualidade, que
alcançou grande sucesso de vendas, foi escrito, em 1908, e impresso na Tipografia
Moderna. A partir daí, começou a vender folhetos de sua autoria e de outros em feiras e
mercados do Recife.
Em 1909, conseguiu montar uma pequena tipografia na Rua do Rangel,bairro de
São José, tornando-se um dos maiores editores de folhetos de cordel do País. Da sua
oficina saíram, durante mais de quarenta anos, estórias fantásticas, recriações de estórias
famosas, crítica de costumes, notícias de acontecimentos da época que divertiam,
informavam e educavam o homem da cidade grande e das localidades mais distantes
do Nordeste brasileiro.
Os folhetos que tivessem a marca de João Martins de Athayde tinham sucesso
garantido, independente da autoria. Com um próspero negócio no “ramo do poesia”,
Athayde deu oportunidades de emprego a poetas, folheteiros, agentes e distribuidores,
dando uma grande contribuição para o desenvolvimento da arte e da comercialização do
folheto popular no Recife.
João Martins de Athayde foi o desbravador da indústria do folheto de cordel no
País. Industrializando e comercializando sua produção e a de outros artistas, criou uma
grande rede de atividades lucrativas no Nordeste, que se espalhou para outras regiões
brasileiras, possibilitando a diversos poetas populares se dedicarem exclusivamente à
A VISÃO DA MULHER NO FOLHETO DEPENDE DO CONTEXTO!
25
poesia como atividade profissional. Foi o responsável por profundas mudanças na
edição de folhetos de cordel, no que se refere à relação entre os artistas e a tipografia,
criando, inclusive, contratos de edição com o pagamento de direitos de propriedade
intelectual, assim como na apresentação gráfica dos folhetos.
Athayde foi aclamado na década de 1940 como o maior poeta popular do
Nordeste, sendo elogiado por Tristão de Athayde e Mário de Andrade. Tinha uma
grande admiração por Leandro Gomes de Barros, escrevendo em sua homenagem, em
1918, o folheto A pranteada morte do grande poeta Leandro Gomes de Barros.
Em 1921, comprou à viúva de Leandro, por seiscentos mil réis, os direitos de
publicação de toda a obra do poeta paraibano. Foi acusado então de publicar como sua a
obra de Leandro e de ter posto o seu nome em poemas de vários outros poetas populares
de quem também comprou o direito de edição. No caso da obra de Leandro, no início
ele se colocava como editor proprietário e, posteriormente, retirou a informação da
autoria de Leandro, chegando até a modificar alguns acrósticos (última estrofe da
poesia, cujas letras iniciais identificam o autor da obra).
Em 1949, sofreu um acidente vascular cerebral, tendo que se afastar de suas
atividades.
Em 1950, vendeu a tipografia e os direitos de edição a José Bernardo da Silva,
proprietário da Tipografia São Francisco, localizada em Juazerio de Norte, Ceará, que
passou a ser o maior centro editorial de folhetos de cordel do Nordeste, posição ocupada
até então pelo Recife.
Para o pesquisador popular Liêdo Maranhão, os poetas Leandro Gomes de
Barros e João Martins de Athayde deveriam ter um monumento na Praça do Mercado de
São José, pelos relevantes serviços prestados à poesia e ao folclore nordestinos.
João Martins de Athayde morreu no dia 7 de agosto de 1959, na cidade de
Limoeiro, Pernambuco, onde viveu seus últimos anos de vida.
Disponível em:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=375&Ite
mid=189
26
A PROPOSTA
 De acordo com os estudos, leituras e discussões realizados nas aulas anteriores,
redija um texto que corresponda às normas do gênero Folheto. Lembre-se que ele
deverá ser escrito com base em uma das três temáticas em que você já foi
contemplado nas aulas anteriores, que são:
 O cordel é estrangeiro, mas o folheto é brasileiro!
 A língua é nacional, mas o oxente é regional!
 A mulher no folheto, depende do contexto!
OFICINA DE FOLHETOS
27
O que é um verso?
É cada uma das linhas constitutivas de um poema. (o mesmo que pé).
Versos brancos: versos não rimados; versos soltos.
Verso de seis pés: sextilhas
Verso de pé quebrado: Verso errado ou malfeito
O que é estrofe?
É um grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo, o mesmo que
estância. Existem vários tipos de estrofes, no cordel as mais usadas são: quadra (que
caiu em desuso), sextilha, setilha e décima. Veja os exemplos abaixo:
 Quadra (estrofes de quatro versos de sete sílabas)
O sabonete cheiroso,
Bonitinho e perfumado;
Ele ouviu alguns rumores
Que o deixou encabulado. (A briga do sabão com o sabonete, Izaías Gomes de Assis)
 Sextilhas (estrofes de seis versos de sete sílabas)
A sujeira aqui em baixo
Já está fazendo mal
E o Homem achando pouco
Lá no Espaço Sideral
Contamina nossa órbita
Com o lixo espacial. (A Terra pede socorro, Izaías Gomes de Assis)
 Setilhas (estrofes de sete versos de sete sílabas)
Bin Laden conectado
Com Nete ficou teclando
Passando noites no Messagen
Por ela se declarando.
Bom! Gosto não se discute,
Mas não é que pelo Orkut
Um romance foi rolando. (Férias que Bin Laden passou em Natal, Izaías Gomes de
Assis)
 Décimas
Se eu morrer neste lugar
Cessando aqui minha lida
Lá do outro lado da vida
Do Sertão hei de lembrar
E se Deus me castigar
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Será branda a punição
Pois ele dirá então:
– Pior castigo foi ser
Um sertanejo e viver
Distante lá do Sertão. (Saudades do meu sertão, Izaías Gomes de Assis)
O que é métrica?
Arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos.
Sistema de versificação particular a um poeta: (Dicionário Aurélio)
Uma sílaba poética é diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais
sílabas ou fonemas em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo:
Lá do_outro lado da vida
Observe que essa estrofe tem oito sílabas comuns, mas poeticamente só tem sete sílabas
metrificadas.
1 2 3 4 5 6 7
Lá do ou tro la do da vi da
A sílaba poética é pronunciada como ouvimos os versos, por isso a sonoridade é
importante num verso metrificado (a essa contração dá-se o nome de crase ou elisão) e
só se conta as sílabas até a sílaba tônica da última palavra.
Veja outro exemplo:
Em pleno século vinte,
O colossal transatlântico
Partindo lá da_Inglaterra
E_atravessando o Atlântico,
Chega à_América em cem horas.
Feito digno de cântico. (Manuel Azevedo, A tragédia do Nyengurg)
As sílabas em negrito são as sílabas tônicas das últimas palavras, onde termina a
contagem das sílabas métricas, e as sílabas sublinhadas são as que se contraem
formando uma única sílaba.
Observa-se que três vocais se contraindo no quinto verso e no sexto verso a consoante
“g” forma uma sílaba.
Na literatura de cordel geralmente usa-se os versos de sete sílabas (redondilhas maiores)
e os versos de dez sílabas (decassílabos). Outro ex.:
Vou narrar uma história
De_um pavão misterioso
Que levantou vôo da Grécia
Com um rapaz corajoso
Raptando_uma condessa
Filha de_um conde_orgulhoso. (* Romance do Pavão Misterioso.)
O que é rima?
Identidade de som na terminação de duas ou mais palavras. Palavra que rima com outra.
29
 Rimas ricas
Rimas entre palavras de que só existem poucas, ou raríssimas, (chamadas também de
rimas difíceis) com a mesma terminação, como novembro e dezembro;
túmido e úmido, ou, segundo critério mais seguro, entre palavras de classes gramaticais
distintas, como santo (adjetivo) e enquanto (conjunção), minha (pronome)e
caminha(verbo).
 Rimas pobres
Rimas entre palavras de que se encontra superabundância com a mesma terminação,
(chamadas também de rimas fáceis) como agonia e sombria; caminhão e pão ou entre
palavras antônimas, como fiel e infiel, simpático e antipático, ou, ainda, segundo
critério preferível, entre vocábulos da mesma classe gramatical, como chorasse (verbo)
e cantasse (verbo); meu (pronome) e seu (pronome).
Rimas toantes
Aquelas em que só há identidade de sons nas vogais, a começar das vogais tônicas até a
última letra ou fonema, ou algumas vezes, só nas vogais tônicas, ex.: fuso e veludo;
cálida e lágrima. (essa forma não é aceita na cantoria nem na literatura de cordel).
 Rimas consoantes
As que se conformam inteiramente no som desde a vogal tônica até a última letra ou
fonema. Ex.: fecundo e mundo; amigo e contigo; doce e fosse; pálido e válido; moita e
afoita. (essa é a forma adotada nas cantorias e na literatura de cordel por ser uma rima
perfeita).
Palavras com grafia diferente, mas com fonemas (sons) iguais são consideradas rimas
perfeitas, ex.: chorasse e face; princesa e riqueza; peça e pressa; seis e mês; faz e mais,
PT e dendê.
Temos que ter maior cuidado com palavras estrangeiras, porém podem ser usadas, ex.:
discute e orkut; batuque e notebook; bauex e você; Internet e chevete, gay e rei.
(Existe uma linha de poetas contemporâneos que não utilizam a rima com grafia
diferente).
 Rimas aparentes (em hipótese alguma se usa no cordel)
São palavras que enganam pelas suas sonoridades parecem que rimam com outras,
porém não rimam, ex.: Ceará e cantar; café e chofer; doutor e cantou; desistir e aqui;
preferido e amigo; esperto e concreto, pensamento e centro; menina e clima;
métrica e genérica; pensamento e tempo vazio e sumiu;cururu e azul.
Cuidado que tem palavras que praticamente não existem rimas para elas, ex.: pizza,
tempo, cinza e lâmpada.
CUIDADO: Não se rima plural com singular.
Devido um fato histórico-linguístico não se rima palavras terminadas em “l” com
terminadas em “u”, ex.: Brasil e viu; Natal e bacurau Gabriel e chapéu não rimam.
Boas rimas!!!
Disponível em: http://cordeldobrasil.com.br/v1/aprenda-fazer-um-cordel/
30
Literatura oral
Faz parte da literatura oral os mitos, lendas, contos e provérbios que são
transmitidos oralmente de geração para geração. Geralmente, não se conhece os autores
reais deste tipo de literatura e, acredita-se, que muitas destas estórias são modificadas
com o passar do tempo. Muitas vezes, encontramos o mesmo conto ou lenda
com características diferentes em regiões diferentes do Brasil. A literatura oral é
considerada uma importante fonte de memória popular e revela o imaginário do tempo e
espaço onde foi criada.
Muitos historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura com o
objetivo de buscarem informações preciosas sobre a cultura e a história de uma época.
Em meio a ficção, resgata-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos,
objetos, linguagem, arquitetura etc.
Podemos considerar como sendo literatura oral os cantos, encenações e textos
populares que são representados nos folguedos.
Exemplos de mitos, lendas e folclore brasileiro: saci-pererê, curupira, boto cor
de rosa, caipora, Iara, boitatá, lobisomem, mula-sem-cabeça, negrinho do pastoreio.
Disponível em: http://www.suapesquisa.com/cordel/
É NO RAP, OU NO REPENTE– Caju e Castanha
É no rap ou no repente,
é na batida do pandeiro,
sou poeta brasileiro,
e a minha vida é cantar.
E na poesia que eu faço,
eu nasci para improvisar. (bis)
Venha do jeito que queira,
seja do jeito que for,
eu também tenho meu valor,
os meus versos são ligeiros.
E na levada do pandeiro,
Eu nasci para improvisar. (bis)
TIPOS DE FOLHETOS
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Paparaparapapa,
tararaturututu,
tapioca contra caju,
manga, abacaju e caja.
E no swing do pandeiro,
eu nasci para improvisar. (bis)
Sou repente, sou tumada,
minha rima tem história,
cantador comigo chora
quando eu começo a cantar.
E na pancada do pandeiro,
eu nasci para improvisar. (bis)
Rap:
Fala cantador,
canta cantador,
entre pra essa rima que tua história tem valor.
Quando você canta,
encanta a multidão,
na escola da vida vai cantando esse refrão.
Eu sou o castanha,
você pode acreditar,
no décimo repente eu também sei improvisar.
Eu sou o caju,
faço filinha de fé,
dança a mão no rádio como são todo repente.
Disponível em: https://www.vagalume.com.br/caju-castanha/no-rap-ou-no-repente.html
32
Sobre o repente
O repente nordestino é uma das diversas formas que surgiu de interpretação de
canto e poesia a partir da tradição medieval ibérica dos trovadores. Seus personagens,
chamados de repentistas ou cantadores improvisam versos sobre os mais variados
assuntos, e andando pelas feiras e espaços populares se apresentam sozinho ou trocam
versos com outro cantador, o chamado desafio.
O estilo é característico da região nordeste do Brasil, e praticado em especial
pelos habitantes da região do sertão paraibano e pernambucano, mais especificamente
na região do Pajeú e Sertão do Moxotó (PE) e Serra do Teixeira e Cariri Ocidental (PB),
onde estão as cidades de São José do Egito, Sertânia, Arcoverde (PE), Teixeira,
Princesa e Monteiro (PB).
Com a migração de muitos nordestinos para a cidade de São Paulo, a cantoria se
tornou uma tradição conhecida em todo o Brasil, a partir da mídia massiva que a capital
paulista dispõe. Também foi a partir de São Paulo que os cantadores começaram a
adotar uma viola de dez cordas criada pelos fabricantes e comerciantes de instrumentos
Del Vecchio, a chamada "viola dinâmica", com seus característicos bocais de metal,
inspirada em modelos americanos das fábricas National e Dobro, diferentes apenas pelo
corpo do instrumento, fabricado em metal. A viola dinâmica de dez cordas se tornou um
símbolo dos cantadores, especialmente a partir da década de 70 do século XX.
Disponível em: http://www.infoescola.com/musica/repente/
O que é uma Peleja?
Nesse tipo de folheto, cada poeta mostra suas habilidades no verso e tenta
depreciar o oponente. As pelejas podem basear-se em desafios reais ou imaginários e
geralmente são escritas em versos de sete sílabas. Quando escrita, a descrição da luta é
antecedida por uma pequena introdução em que são apresentados os cantadores, o lugar
da disputa, o público e os antecedentes. Os folhetos possuem outras características
formais que se assemelham aos repentes, tais como o mote, tema em forma de verso,
proposto por cantadores durante uma disputa.
33
O que é um folheto de circunstância?
Os folhetos de circunstância, outra modalidade da literatura de cordel, não
podem ser confundidos com o relato jornalístico dos acontecimentos. Nesses folhetos é
possível encontrar desde as últimas notícias sobre os acontecimentos do país e do
mundo, até histórias curiosas [...].
Os fatos eram narrados logo depois de acontecidos e por esta razão os folhetos
de circunstância, também chamado folhetos de época, têm um tempo limitado de venda,
exceção feita aos que se tornam clássicos.
O que é um ABC?
Além dos folhetos que narram fatos do dia a dia existem os ABCs, poemas
narrativos em que cada estrofe corresponde a uma letra do alfabeto. Os ABCs dão conta
de um assunto de A a Z e neles cabem vários tipos de histórias. Esse modelo de
composição revela o poder de inventividade do poeta, sendo comumente encontrado na
literatura infantil.
O que é um romance?
Os romances são comumente escritos em sextilhas [...]. Nas primeiras estrofes
ficamos conhecendo os heróis e heroínas, os vilões, o lugar onde se passa a história, o
tipo de história (de luta, aventura, humor, amor, mistério...).
Em relação aos aspectos formais, pode-se ressaltar a presença de poucos
personagens e a ausência de descrições detalhadas de paisagens e situações. Não
existem restrições temáticas, mas os aspectos da vida no Nordeste possuem maior
destaque. Também se encontram nos folhetos adaptações de romances e peças teatrais.
MARINHO, Ana Cristina. O cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2012.
APELEJADOCEGOADERALDOCOMZÉPRETINHO–Firmino
TeixeiradoAmaral
34
Apreciemmeusleitores
Umaforte discussão
que tive comZé Pretinho
Umcantadordosertão
Oqualno tangerdoverso
Venciaqualquer questão
Umdia determinei
AsairdoQuixadá
Umadasbelascidades
DoestadodoCeará
FuiatéaoPiauí
Veroscantoresdelá
Hospedei-me emPimenteira
DepoisemAlagoinha
CanteiemCampoMaior
NoAngicoe naBaixinha
Delá tive umconvite
PracantarnaVarzinha
Quandochegueina Varzinha
Foide manhã bemcedinho
Entãoodono dacasa
Meperguntou semcarinho:
Cego,você nãotemmedo
DafamadeZéPretinho?
Eulhe disse:Nãosenhor
Masdaverdade eunãozombo
Mandechamaressepreto
Queeuquerodar-lhe um
tombo
Ele vindo um denósdois
Hoje há dearderolombo
Odono da casadisse:
ZéPretopelo comum
Dáemdezou vinte cegos
Quantomaissendosóum;
Mandou aoMacumanzeiro
ChamarJosédoTucum
Chamouum dosfilhos edisse
Meufilho, vocêvájá
DizeraJoséPretinho
Quedesculpe eunãoir lá
Eelecomo semfalta
Ànoite venha porcá
EmcasadotalPretinho
Foichegandooportador
Foidizendo: Lá emcasa
Temumcegocantador
Emeupaimanda dizer
Quevá tirar-lhe ocalor
ZéPretinho respondeu:
-Bomamigo équem avisa
Menino, dizei aocego
Quevá tirando acamisa
Mandebenzerlogo olombo
Queeuvoudar-lhe umapisa
Tudo zombava de mim
Euainda nãosabia
QueotalJoséPretinho
Vinha paraacantoria
Àscincohorasdatarde
Chegouacavalaria
Opretovinha na frente
Todo vestido debranco
Seucavaloencapotado
Comum passomuito franco
Riscaramde uma sóvez
Todosno primeiro arranco
Saudaramodono da casa
Todoscommuita alegria
Ovelho bemsatisfeito
Folgava alegree sorria
Voudaronome dopovo
Queveio pracantoria
VieramocapitãoDuda
Tonheiro PedroGalvão
AugustoAntônio Feitosa
FranciscoManuelSimão
SenhorJoséCarpinteiro
FranciscoePedroAragão
OJoséda Cabeceira
EseuManuelCasado
Chico Lopes,PedroRosa
EManuelBronzeado
Antônio Lopesde Aquino
Eumtalde PéFurado
JoséAntônio deAndrade
SamueleJeremias
SenhorManuelTomás
ManducaJoãodeAnanias
Eveio ovigário velho
Curade trêsfreguesias
Foidona Meridiana
Dogrêmio dasprofessoras
Essalevou duasfilhas
Bonitas eencantadoras
Essaseramdaigreja
Asmaisexímias cantoras
FoitambémPedroMartins
AlfredoeJoséRaimundo
SenhorFranciscoPalmeira
JoãoSampaio Secundo
Eumgrupo derapazes
Dobatalhãovagabundo
Levaramonegroprasala
Edepois paraacozinha
Lheofereceramumjantar
Dedoce,queijo egalinha
Paramimveio um café
Comuma magrabolachinha
Depoistrouxeramonegro
Ecolocaramno salão
Assentadonum sofá
Comaviola na mão
Juntoa uma escarradeira
Paranãocuspirnochão
Ele tirou aviola
Dumsaconovo dechita
Ecuja viola estava
Toda enfeitadade fita
Ouviasmoçasdizendo:
Grande viola bonita!
Entãoparamesentar
Botaramum pobre caixão
Jávelho desmantelado
Dessesquevemcomsabão
Eusentei,eleenvergou
Emedeuumbeliscão
Eutireiarabequinha
Dumpobre sacodemeia
Umpoucodesconfiado
Porestáemterraalheia
Ouviasmoçasdizendo:
MeuDeus,que rabecafeia!
Umdisse aZéPretinho:
Aroupa do cegoésuja
Botemtrêsguardasnaporta
Paraqueelenãofuja
Cegofeioassimde óculos
Sópareceumacoruja
DisseraocapitãoDuda
Como homemmui sensato
Vamosfazeruma bolsa
35
Botemdinheiro no prato
Queémesmoque botar
Manteiga emventade gato
Dissemais: euquerover
Pretinhoespalharospés
Eparaosdois cantores
Tireisetentamil réis
Masvou inteirar oitenta
Daminha partedou dez
Medisse ocapitãoDuda
–Cego,você nãoestranha
Estedinheiro do prato
Euvou lhe dizer quemganha
Pertenceaovencedor
Nadaleva quemapanha
Nistoasmoçasdisseram:
Játemoitenta mil réis
PorqueocapitãoDuda
Dapartedele deudez
SeencostaramaZéPretinho
Ebotarammais trêsanéis
Entãodisse ZéPretinho:
Deperdernãotenhomedo
Estecegoapanha logo
Falo sempedir segredo
Tendoisto comocerto
Botou osanéisnodedo
Afinemos osintrumentos
Entremosemdiscussão
Omeuguia disse amim:
Onegropareceocão
Tenhacuidado comele
Quandoentraremquestão
Eulhe disse:seuJosé
Seique osenhortemciência
Parecequeésdotado
DaDivina Providência
Vamossaudaropovo
Comajusta excelência
P-Saidaí,cegoamarelo
Cordeouro detoucinho
Umcegoda tuaforma
Chama-seabusavizinho
Aonde eubotarospés
Cegonãobota otoucinho
C-Jávique seuZé Pretinho
Éumhomem semação
Como semaltrataoutro
Semhaveralteração
Eupensavaque osenhor
Possuísseeducação
P-Essecegobrutohoje
Apanhaque fica roxo
Caradepãodecruzado
Testadecarneiromocho
Cego,tuésum bichinho
Quequando comevira ococho
C-SeuJosé,oseucantar
Merecericosfulgores
Mereceganharnasala
Rosasetrovasde amores
Maistardeasmoçaslhe dão
Bonitas palmasdeflores
P-Cego,creioque tués
Daraçadosaposunga
Cegonãoadora aDeus
ODeusde cegoécalunga
Aonde oshomensconversam
Ocegochegaeresmunga
C-ZéPretonãome aborreça
Comoteucantarruim
Ohomem que cantabem
Nãotrabalha emversoassim
Tirando asfaltasque tem
Botandoemcima de mim
P-Cala-tecegoruim
Cegoaquinãofazfigura
Cegoquando abreaboca
Éuma mentira pura
Ocegoquantomais mente
Inda maissustentaajura
C-Essenegrofoiescravo
Porisso étãopositivo
Quersernasala debranco
Exageradoe ativo
Negroda canelaseca
Todo elefoicativo
P-Dou-teuma surra
Decipó deurtiga
Furo-te abarriga
Maistardetuurra
Hoje ocegoesturra
Pedindo socorro
Saidizendo: eumorro
MeusDeusque fadiga
Poruma intriga
Eudemedo corro…
C-Se euderumtapa
Numnegrode fama
Ele come lama
Dizendo que épapa
Eurompo-lhe omapa
Lherasgodeespora
Onegrohoje chora
Comfebreecomíngua
Eudeixo-lhe alíngua
Comum palmo defora
P-Nosertãoeupeguei
Umcegomalcriado
Danei-lhe omachado
Caiueusangrei
Ocouroeutirei
Emregradeescala
Espicheinuma sala
Puxeiparaumbeco
Edepois dele seco
Fiz mais deuma malha
C-Negroésmonturo
Molambo rasgado
Cachimbo apagado
Recantodemuro
Negrosemfuturo
Pernadetição
Bocadeporão
Beiçodegamela
Ventademoela
Moleque ladrão
P-Vejoacousaruim
Ocegoestádanado
Cantemoderado
Eunãoqueroassim
Olhe pra mim
Quesouverdadeiro
Sou bomcompanheiro
Cantesemmaldade
Euqueroametade
Cego,do dinheiro
C-Nemqueonegroseque
Aengolideira
Peçaanoite inteira
Queeunãolhe abreque
Masestemoleque
Hoje dá pinote
Bocadebispote
Ventadeboieiro
36
Tuqueresdinheiro
Eudou-te chicote
P-Cantemaismoderno
Perfeitoebonito
Como tenhoescrito
Cánomeucaderno
Sou seusubalterno
Embora estranho
Creioque apanho
Enãodou um caldo
Tepeço,Aderaldo
Repartadoganho
C-Negroéraiz
Queapodreceu
Cascodejudeu
Moleque infeliz
Vaiprateupaís
Senãoeutesurro
Dou-teatéde murro
Tiro-te oregalo
Caradecavalo
Cabeçadeburro
P-Fala doutro jeito
Commelhor agrado
Seja delicado
Cantemaisperfeito
Olhe,eunãoaceito
Tantodesespero
Cantemaismaneiro
Comversoscapaz
Façamosapaz
Repartaodinheiro
C-Negrocareteiro
Eurasgo-teagiba
Caradeguariba
Pajéfeiticeiro
Queresdinheiro
Barriga deangu
Barbadequandu
Camisa desaia
Tedeixo na praia
Escovandourubu
P-Euvoumudar detoada
Paraumaque metemedo
Nuncaacheiumcantor
Quedesmanchasseesseenredo
Éumdedoéum dadoéum dia
Éumdia éumdadoé umdedo
C-ZéPretoesteteuenredo
Teservedezombaria
Tuhoje cegasderaiva
Odiabo seráteuguia
Éumdia éumdadoé umdedo
Éumdedoéum dadoéum dia
P-Cegorespondestesbem
Como seestivesseestudado
Eutambémdeminha parte
Cantoversoaprumado
Éumdedoéum dadoéum dia
Éumdia éumdedoé umdado
C-Vamoslá,JoséPretinho
Queeujá perdiomedo
Sou bravocomooleão
Sou fortecomoopenedo
Éumdedoéum dadoéum dia
Éumdia éumdadoé umdedo
P-Cegoagora puxa uma
Dastuasbelastoadas
Paraverseessasmoças
Dãoalgumas gargalhadas
Quasetodoopovo ri
Sóasmoçasestãocaladas
C-Amigo JoséPretinho
Eunãoseioque será
Devocênofim daluta
Porquevencido já está
–Quemapacacaracompra
Apacacarapagará
P-Cego,estouapertado
Quesóumpinto noovo
Estáscantandoaprumado
Esatisfazendoaopovo
Esteseulema da paca
Porfavorcantedenovo
C-Digo uma edigo dez
Nocantarnãotenhopompa
Presentementenãoacho
Quemomeumapa rompa
Pacacarapagará
Quemapacacaracompra
P-Cego,teupeito édeaço
Foibom ferreiroquefez
Penseique ocegonãotinha
Noversotalrapidez
Cego,senãoformassada
Repita apacaoutra vez
C-Arrecomtantapergunta
destenegrocapivara
Nãohá quemcuspapracima
Quenãolhe caianacara
–Quemapacacaracompra
Pagaráapacacara
P-Agoracegome ouça
Cantareia pacajá
Temaassiméum borrego
Nobico deumcarcará
Quemacaracaracompra
CacacacaCacará
Houve umtrovãode risadas
Peloversodo Pretinho
OcapitãoDuda disse:
Arrede,pralá negrinho
Vaidescansarteujuízo
Ocegocantasozinho
Ficou vaiado oPretinho
Aíeulhe disse: meouça
José,quemcantacomigo
Pegadevagarnalouça
Agoraoamigo entregue
Oanelde cadamoça
DesculpeJoséPretinho
Senãocanteiaseugosto
Negronãotempé,temgancho
Nãotemcaratemérosto
Negrona salade branco
Sóservepradardesgosto
Quandoeufiz estesversos
Comaminha rabequinha
Procureionegrona sala
Jáestavanacozinha
Devolta queria entrar
Naporta dacamarinha
Disponível em:http://osrascunhos.blogspot.com.br/2011/07/poesia-peleja-do-cego-aderaldo-com-ze.html
37
TerrornasTorresGêmeas–JoséJoãodosSantos(MestreAzulão)
Como poeta repórter
Nordestino Brasileiro
Descrevo neste cordel
Um lamentável roteiro
Do mais cruel fanatismo
Num ato deterrorismo
Que abalou omundo inteiro
Uma môça americana
Muito educada egentil
Veio até aminha casa
Fez-me um convite febril
Parair aoCite Lore
Entre cordel efolclore
Representar oBrasil
(…)
Foino dia dezdeAbril
De noventa enove oano
Eu andando em NovaYork
Isento dequalquer dano
Subi até oterraço
Daquele monstro deaço
Eorgulho americano
Foino World Trade Center
Comseus cento edez andares
Eu contemplando a altura
Avistei muitos lugares
Dando aimpressão
Que estava deavião
Ouflutuando nos ares
Do seuenorme terraço
Olhei aimensidão
Eu vi que deNova Jersey
Vindo em nossa direção
um pouco sedesviando
Passava devez em quando
Velozmente um avião
Eu pensei naquela hora
Refletindo emminha mente
Deus defenda um avião
Sechocar poracidente
Nestes prédios eexplodir
Além desedestruir
Podematar muita gente
Pois, Azulão previu oacontecimento. Embora
proposital, aoinvés deacidental, aquelas duas
torres eram um alvo e tanto. Ecomenta o
atentado terrorista:
Dois anos ecinco meses
Depois daminha visita
Terroristas portadores
De crueldade esquisita
Entre vinganças etédios
Explodiram aqueles prédios
Ação cruel emaldita
(…)
Écovarde e desumano
Quem faz atosde terror
Vingar-se dequem não fez
Maldade oucrime de horror
Uma açãoinjustamente
Fazer que oinocente
Pague pelo traidor
Passados alguns versos, opoetafaz algumas
críticas àpolítica de“combate aoterror” do
governo estadunidense:
George Bush eseuimpério
Que quase omundo governa
Comseus mísseis bombardeiros
Mata, destrói e inferna
ParaBin Laden encontrar
Esem perdãolhe matar
Comtodos numa caverna
Mas sótem gastado armas
Helicóptero eavião
Bombardeando cidades
38
Mulher, criança, ancião
Toda aquela pobregente
Indefesa einocente
Porém Bin Laden não
Assim, minha gente, Mestre Azulão narra mais
esta barbárie que impulsiona muitas outras
mais. Sem deixar delado ohumor, oMestre
apresenta suas críticas enos brinda com mais
um interessantíssimo cordel. Como depraxe,
finaliza com um acróstico, isto é,com versos
que sãoiniciados pelas letras que fazem seu
nome:
Nãosouafavor doterror
Da morte edestruição
Mas quem fez oufaz maldade
Recebe acompensação
Nãolembram osamericanos
Que há cinquenta anos
Bombardearam oJapão
Milhares perderam as vidas
Ali num atotirano
Zuada, grito elamento
Um desastre desumano
Logo ofogo consumiu
Agonizou eferiu
O país americano
Disponível em: https://lercordel.wordpress.com/2011/09/11/o-11-de-setembro-em-cordel/
ABCDONORDESTEFLAGELADO-PatativadoAssaré
A —Ai, como éduro viver
nos Estados doNordeste
quando onosso PaiCeleste
não manda anuvem chover.
Ébemtriste agente ver
findar omês dejaneiro
depois findar fevereiro
emarço também passar,
sem oinverno começar
B — Berra o gado impaciente
reclamando o verde pasto,
desfigurado e arrasto,
com o olhar de penitente;
o fazendeiro, descrente,
um jeito não pode dar,
o sol ardente a queimar
e o vento forte soprando,
a gente fica pensando
que o mundo vai se acabar.
C — Caminhando pelo espaço,
como os trapos de um lençol,
pras bandas do pôr do sol,
as nuvens vão em fracasso:
aqui e ali um pedaço
vagando... sempre vagando,
quem estiver reparando
faz logo a comparação
de umas pastas de algodão
que o vento vai carregando.
D — De manhã, bem de manhã,
vem da montanha um agouro
de gargalhada e de choro
da feia e triste cauã:
um bando de ribançã
pelo espaço a se perder,
pra de fome não morrer,
vai atrás de outro lugar,
e ali só há de voltar,
um dia, quando chover.
E — Em tudo se vê mudança
quem repara vê até
que o camaleão que é
verde da cor da esperança,
39
com o flagelo que avança,
muda logo de feição.
O verde camaleão
perde a sua cor bonita
fica de forma esquisita
que causa admiração.
F — Foge o prazer da floresta
o bonito sabiá,
quando flagelo não há
cantando se manifesta.
Durante o inverno faz festa
gorjeando por esporte,
mas não chovendo é sem sorte,
fica sem graça e calado
o cantor mais afamado
dos passarinhos do norte.
G — Geme de dor, se aquebranta
e dali desaparece,
o sabiá só parece
que com a seca se encanta.
Se outro pássaro canta,
o coitado não responde;
ele vai não sei pra onde,
pois quando o inverno não vem
com o desgosto que tem
o pobrezinho se esconde.
H — Horroroso, feio e mau
de lá de dentro das grotas,
manda suas feias notas
o tristonho bacurau.
Canta o João corta-pau
o seu poema funério,
é muito triste o mistério
de uma seca no sertão;
a gente tem impressão
que o mundo é um cemitério.
I — Ilusão, prazer, amor,
a gente sente fugir,
tudo parece carpir
tristeza, saudade e dor.
Nas horas de mais calor,
se escuta pra todo lado
o toque desafinado
da gaita da seriema
acompanhando o cinema
no Nordeste flagelado.
J — Já falei sobre a desgraça
dos animais do Nordeste;
com a seca vem a peste
e a vida fica sem graça.
Quanto mais dia se passa
mais a dor se multiplica;
a mata que já foi rica,
de tristeza geme e chora.
Preciso dizer agora
o povo como é que fica.
L — Lamento desconsolado
o coitado camponês
porque tanto esforço fez,
mas não lucrou seu roçado.
Num banco velho, sentado,
olhando o filho inocente
e a mulher bem paciente,
cozinha lá no fogão
o derradeiro feijão
que ele guardou pra semente.
M — Minha boa companheira,
diz ele, vamos embora,
e depressa, sem demora
vende a sua cartucheira.
Vende a faca, a roçadeira,
machado, foice e facão;
vende a pobre habitação,
galinha, cabra e suíno
e viajam sem destino
em cima de um caminhão.
N — Naquele duro transporte
sai aquela pobre gente,
agüentando paciente
o rigor da triste sorte.
Levando a saudade forte
de seu povo e seu lugar,
sem um nem outro falar,
vão pensando em sua vida,
deixando a terra querida,
para nunca mais voltar.
O — Outro tem opinião
de deixar mãe, deixar pai,
porém para o Sul não vai,
procura outra direção.
Vai bater no Maranhão
40
onde nunca falta inverno;
outro com grande consterno
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família
pra construção do governo.
P - Porém lá na construção,
o seu viver é grosseiro
trabalhando o dia inteiro
de picareta na mão.
Pra sua manutenção
chegando dia marcado
em vez do seu ordenado
dentro da repartição,
recebe triste ração,
farinha e feijão furado.
Q — Quem quer ver o sofrimento,
quando há seca no sertão,
procura uma construção
e entra no fornecimento.
Pois, dentro dele o alimento
que o pobre tem a comer,
a barriga pode encher,
porém falta a substância,
e com esta circunstância,
começa o povo a morrer.
R — Raquítica, pálida e doente
fica a pobre criatura
e a boca da sepultura
vai engolindo o inocente.
Meu Jesus! Meu Pai Clemente,
que da humanidade é dono,
desça de seu alto trono,
da sua corte celeste
e venha ver seu Nordeste
como ele está no abandono.
S — Sofre o casado e o solteiro
sofre o velho, sofre o moço,
não tem janta, nem almoço,
não tem roupa nem dinheiro.
Também sofre o fazendeiro
que de rico perde o nome,
o desgosto lhe consome,
vendo o urubu esfomeado,
puxando a pele do gado
que morreu de sede e fome.
T — Tudo sofre e não resiste
este fardo tão pesado,
no Nordeste flagelado
em tudo a tristeza existe.
Mas a tristeza mais triste
que faz tudo entristecer,
é a mãe chorosa, a gemer,
lágrimas dos olhos correndo,
vendo seu filho dizendo:
mamãe, eu quero morrer!
U — Um é ver, outro é contar
quem for reparar de perto
aquele mundo deserto,
dá vontade de chorar.
Ali só fica a teimar
o juazeiro copado,
o resto é tudo pelado
da chapada ao tabuleiro
onde o famoso vaqueiro
cantava tangendo o gado.
V — Vivendo em grande maltrato,
a abelha zumbindo voa,
sem direção, sempre à toa,
por causa do desacato.
À procura de um regato,
de um jardim ou de um pomar
sem um momento parar,
vagando constantemente,
sem encontrar, a inocente,
uma flor para pousar.
X — Xexéu, pássaro que mora
na grande árvore copada,
vendo a floresta arrasada,
bate as asas, vai embora.
Somente o saguim demora,
pulando a fazer careta;
na mata tingida e preta,
tudo é aflição e pranto;
só por milagre de um santo,
se encontra uma borboleta.
Z — Zangado contra o sertão
dardeja o sol inclemente,
cada dia mais ardente
tostando a face do chão.
E, mostrando compaixão
lá do infinito estrelado,
41
pura, limpa, sem pecado
de noite a lua derrama
um banho de luz no drama
do Nordeste flagelado.
Posso dizer que cantei
aquilo que observei;
tenho certeza que dei
aprovada relação.
Tudo é tristeza e amargura,
indigência e desventura.
— Veja, leitor, quanto é dura
a seca no meu sertão.
Disponível em: http://vermelho.org.br/noticia/43510-11
AS PROEZAS DE JOÃO GRILO – João Ferreira de Lima
João Grilo foi um cristão
que nasceu antes do dia
criou-se sem formosura
mas tinha sabedoria
e morreu depois da hora
pelas artes que fazia.
E nasceu de sete meses
chorou no bucho da mãe
quando ela pegou um gato
ele gritou: não me arranhe
não jogue neste animal
que talvez você não ganhe
Na noite que João nasceu
houve um eclipse na lua
e detonou um vulcão
que ainda continua
naquela noite correu
um lobisomem na rua
Porem João Grilo criou-se
pequeno, magro e sambudo
as pernas tortas e finas
boca grande e beiçudo
no sitio onde morava
dava noticia de tudo
João perdeu o pai
com sete anos de idade
morava perto de um rio
ia pescar toda tarde
um dia fez uma cena
que admirou a cidade.
O rio estava de nado
vinha um vaqueiro de fora
perguntou: dará passagem?
João Grilo disse: inda agora
o gadinho de meu pai
passou com o lombo de
fora.
O vaqueiro botou o cavalo
com uma braça deu nado
foi sair já muito embaixo
quase que morre afogado
voltou e disse ao menino:
você é um desgraçado!
João Grilo foi ver o gado
para provar aquele ato
veio trazendo na frente
um bom rebanho de pato
os patos passaram n'agua
João provou que era exato
Um dia a mãe de João
Grilo
foi buscar água à tardinha
deixou João Grilo em casa
e quando deu fé lá vinha
um padre pedindo água
nessa ocasião não tinha
João disse; só tem garapa
disse o padre: donde é?
João Grilo lhe respondeu:
é do engenho Catolé!
disse o padre: pois eu quero
João levou uma coité
O padre bebeu e disse:
oh! que garapa boa!
João Grilo disse: quer
mais?
o padre disse; e a patroa
não brigará com você?
João disse: tem uma canoa
João trouxe outra coité
naquele mesmo momento
disse ao padre: bebe mais
não precisa acanhamento
na garapa tinha um rato
estava podre o fedorento
O padre disse: menino
tenha mais educação
e porque não me disseste?
oh! natureza do cão!
pegou a dita coité
arrebentou-a no chão
João Grilo disse; danou-se!
misericórdia, S. Bento!
com isto mamãe se dana
me pegue mil e quinhentos
essa coité, seu vigário
é de mamãe mijar dentro!
O padre deu uma pôpa
disse para o sacristão
esse menino é o diabo
em forma de cristão!
meteu o dedo na goela
quase vomita o pulmão
João Grilo ficou sorrindo
pela cilada que fez
dizendo: vou confessar-me
no dia sete do mês
êle nunca confessou-se
foi essa a primeira vez
João Grilo tinha um
costume
para toda parte que ia
era alegre e satisfeito
no convivio da alegria
42
João Grilo fazia graça
que todo mundo sorria
Num dia de sexta-feira
às cinco horas da tarde
João Grilo disse: hoje a
noite
eu assombro aquele padre
se êle não perdoar-me
na igreja há novidade
Pegou uma lagartixa
amarrou-a pelo gogó
botou-a numa caixinha
no bolso do palitó
foi confessar-se João Grilo
com paciência de Jó
As sete horas da noite
foi ao confissionário
fez logo pelo-sinal
pôsto nos pés do vigário
o padre disse: acuse-se;
João disse o necessário
Eu sou aquele menino
da garapa e da coité;
o padre disse: levante-se,
eu já sei você quem é;
João tirou a lagartixa
soltou-a junto do pé
A lagartixa subiu
por debaixo da batina
entrou na perna da calça
tornou-se feia a buzina
o padre meteu os pés
arrebentou a cortina
Jogou a batina fora
naquela grande fadiga
a lagartixa cascuda
arranhando na barriga;
João Grilo de lá gritava;
seu padre, Deus lhe castiga!
O padre impaciente
naquele turututu
saltava pra todo lado
que parecia um timbu
terminou tirando as calças
ficando o esqueleto nu
João disse: padre é homem?
pensei que fosse mulher
anda vestido de saia
não casa porque não quer
isto é que é ser caviloso
cara de mata bebé
O padre disse: João Grilo
vai-te daqui infeliz!
João Grilo disse: bravo
do vigário da matriz
é assim que ele me paga
o benefício que fiz?
João Grilo foi embora
o padre ficou zangado
João Grilo disse: ora sêbo
eu não aliso croado
vou vingar-me duma raiva
que tive o ano passado
No subúrbio da cidade
morava um português
vivia de vender ovos
justamente nesse mês
denunciou de João Grilo
pelas artes que ele fez
João encontrou o português
com a égua carregada
com duas caixas de ovos
João lhe disse: oh!
camarada
deixa eu dizer a tua égua
uma pequena charada
O português disse: diga,
João chegou bem no ouvido
com a ponta do cigarro
soltou-a dentro escondido
a égua meteu os pés
foi temeroso estampido
Derrubou o português
foi ovos pra todo lado
arrebentou a cangalha
ficou o chão ensopado
o português levantou-se
tristonho e todo melado
O português perguntou:
o que foi que tu disseste
que causou tanto desgosto
a esse animal agreste?
- Eu disse que a mãe
morreu
o português respondeu:
oh égua besta da peste!
João Grilo foi a escola
com sete anos de idade
com dez anos êle saiu
por espontânea vontade
todos perdiam pra êle
outro Grilo como aquele
perdeu-se a propriedade
João Grilo em qualquer
escola
chamava o povo atenção
passava quinau nos mestres
nunca faltou com a lição
era um tipo inteligente
no futuro e no presente
João dava interpretação
Um dia pergunta ao mestre:
O que é que Deus não vê
o homem vê qualquer hora?
diz ele: não pode ser
pois Deus vê tudo no
mundo
em menos de um segundo
de tudo pode saber
João Grilo disse: qual nada
quêde os elementos seus?
abra os olhos, mestre velho
que vou lhe mostrar os
meus
seus estudos se consomem
um homem ver outro
homem
só Deus vão ver outro Deus
João Grilo disse: seu
mestre,
me diga como se chama
a mãe de todas as mães?
tenha cuidado no drama
o mestre coça a cabeça
disse: antes que me esqueça
vou resolver o programa
- A mãe de todas as mães
é Maria Concebida
João Grilo disse: eu
protesto
antes dela nascer
já esta mãe existia
não foi a Virgem Maria
oh que resposta perdida!
João Grilo disse depois
num bonito português:
a mãe de todas as mães
já disse e digo outra vez
como a escritura ensina
43
é a natureza divina
que tudo criou e fez
- Me responda professor
entre grandes e pequenos
quero que fique notável
por todos nossos terrenos
responda com rapidez
como se chama o mês
que a mulher fala menos?
- Êste mês eu não conheço
quem fez esta tabuada?
João Grilo lhe respondeu:
ora sêbo, camarada
pra mim perdeu o valor
ter o nome de professor
mais não conhece de nada
- êste mês é fevereiro
por todos bem conhecido
só tem vinte e oito dias
o tempo mais resumido
entre grandes e pequenos
é o que a mulher fala
menos
mestre, você está perdido
- Seu professor, me
responda
se algum tempo estudou
quem serviu a Jesus Cristo
morreu e não se salvou
no dia que êle morreu
seu corpo o urubu comeu
e ninguém o sepultou?
- Não conheço quem é esse
porque nunca vi escrito;
João Grilo lhe respondeu:
foi um jumento está dito
que a Jesus Cristo servia
na noite que êle fugia
de Belém para o Egito
João Grilo olhou de um
lado
disse para o diretor:
fique sabendo o senhor
sem dúvida exame não fez
o aluno desta vez
ensinou ao professor
João Grilo foi para casa
encontrou sua mãe
chorando
êle então disse: mamãe
não está ouvindo
encantando?
não chora, cante mais antes
pois o seu filho garante
pra isso vive estudando
A mãe de João Grilo disse:
choro por necessidade
sou uma pobre viúva
e tu de menor idade
até da escola saíste;
João lhe disse: ainda existe
o mesmo Deus de bondade
— A senhora pensa em
carne
de vinte mil réis o quilo
ou talvez no meu destino
que a fôrça hei de segui-lo?
não chore, fique bem certa
a senhora só se aperta
quando matarem João Grilo
João chegou no rio
ás cinco horas da tarde
passou até nove horas
porém tudo foi debalde
na noite triste e sombria
João Grilo sem companhia
voltava sem novidade
Chegando dentro da mata
ouviu lá dentro um gemido
os lobos devoradores
o caminho interrompido
e trepou-se num pinheiro
como era forasteiro
ficou calado escondido
Os lobos foram embora
e João não quis descer
disse: eu dormirei aqui
siceda o que suceder
eu hoje imito araquan
só vou embora amanhã
quando o dia amanhecer
O Grilo ficou trepado
temendo lobos e leões
pensando na fatal sorte
e recordando as lições
que na escola estudou
quando do súbito chegou
uns quatro ou cinco ladrões
Eram uns ladrões de Meca
que roubavam no grito
se ocultavam na mata
naquele bosque esquisito
pois cada um de persi
que vinha juntar-se ali
para ver quem era perito
O capitão dos ladrões
disse: não fala ninguém?
um respondeu: não senhor
disse ele: muito bem
cuidado, não roubem vã
vamos ajuntar-nos amanhã
na capela de Belém
— Lá partiremos o dinheiro
pois aqui tudo é graúdo
temos um roubo a fazer
desde ontem que estudo
mas já estou preparado;
e o Grilo lá trepado
calado e escutando tudo.
Os ladrões foram embora
depois da conversação
João Grilo ficou ciente
dizendo em seu coração:
se Deus ajudar a mim
acabou-se tempo ruim
sou eu quem ganho a
questão
João Grilo desceu da árvore
quando o dia amanheceu
mas quando chegou em
casa
não contou o que se deu
furtou um roupão de malha
vestiu fez uma mortalha
lá no mato se escondeu
À noite foi pra capela
por detraz da sacristia
vestiu-se com a mortalha
pois a capela jazia
sempre com a porta aberta
João Grilo partiu na certa
colhêr o que pretendia
Deitou-se lá num caixão
que enterrava defunto
João Grilo disse: hoje aqui
vou ganhar um bom
presunto;
os ladrões foram chegando
João Grilo observando
sem pensar em outro
44
assunto
Acenderam um farol
penduraram numa cruz
foram contar o dinheiro
no claro de uma luz
João Grilo de lá gritou:
esperem por mim que vou
com as ordens de Jesus!
Os ladrões dali fugiram
quando viram a alma em pé
João Grilo ficou com tudo
disse: já sei como é
nada no mundo me atrasa
agora vou pra casa
tomar um rico café
Chegou e disse: mamãe
morreu nossa precisão
o ladrão que rouba outro
tem cem anos de perdão;
contou o que tinha feito
disse a velha: está direito
vamos fazer refeição
Bartolomeu do Egito
foi um rei de opinião
mandou convidar João
Grilo
pra uma adivinhação
João Grilo disse: eu vou,
no outro dia embarcou
para saudar o sultão
João Grilo chegou na corte
cumprimentou o sultão
disse: pronto, senhor rei
(deu-lhe um aperto de mão)
com calma e maneira doce
o sultão admirou-se
da sua disposição
O sultão pergunta ao Grilo:
de onde você saiu?
aonde você nasceu?
João Grilo fitou ele e sorriu
— Sou deste mundo
d'agora
nascina ditosa hora
que minha mãe me pariu
— João Grilo, tu adivinha?
e Grilo respondeu, não
eu digo algumas coisas
conforme a ocasião
quem canta de graça é galo
cangalha só pra cavalo
e sêca só no sertão
— Eu tenho doze perguntas
pra você me responder
no prazo de quinze dias
escute o que vou dizer
veja lá como se arruma
è bastante faltar uma
está condenado a morrer
João Grilo disse: estou
pronto
pode dizer a primeira
se acaso sair-me bem
venha a segunda e a terceira
venha a quarta e a quinta
talvez o Grilo não minta
diga até a derradeira
Perguntou: qual o animal
que mostra mais rapidez
que anda de quatro pés
de manhã por sua vez
ao meio-dia com dois
passando disto depois
a tarde anda com três?
O Grilo disse: é o homem
que se arrasta pelo chão
no tempo que engatinha
depois toma posição
anda em pé bem seguro
mas quando fica maduro
faz três pés com o bastão
O sultão maravilhou-se
com sua resposta linda
João disse: pergunte outra
vou ver se respondo ainda;
a segunda o sultão fez
João Grilo daquela vez
celebrizou sua vinda
— Grilo, você me responda
em termos bem divididos
uma cova bem cavada
doze mortos estendidos
e todos mortos falando
cinco vivos passeando
trabalham com três sentidos
— Esta cova é um violão
com prima, baixo e bordão
mortas são as doze cordas
quando canta um cidadão
canta, toca e faz verso
cinco vivos num progresso
os cinco dedos da mão
Houve uma salva de palma
com vivas que retumbou
o sultão ficou suspenso
seu viva também bradou
depois pediu silencio
com outro desejo imenso
a terceira perguntou
João Grilo, qual é a coisa
que eu mandei carregar
primeiro dia e segundo
no terceiro fui olhar
quase dá-me a tiririca
se tirar mais grande fica
não mingua, faz aumentar?
— Senhor rei, sua pergunta
parece me fazer guerra
um Grilo não tem saber
criado dentro da serra
mas digo pra quem conhece
o que tirando mais cresce
é um buraco na terra
— João Grilo, vou terminar
as perguntas do tratado
e Grilo disse: pergunte
quero ficar descansado;
disse o rei: é muito exato
o que é que vem do alto
cai em pé, corre deitado?
— Aquele que cai em pé
e sai correndo no chão
será uma grande chuva
nos barros de um sertão;
o rei disse: muito bem
no mundo todo não tem
outro Grilo como João
— João Grilo, você bebe?
João disse: bebo 1
pouquinho
e disse: eu não sou filho
de Baco que fez o vinho
o meu pai morreu bebendo
eu o que estou fazendo?de
boca aberta em seu ninho
O rei disse: João Grilo
beber è coisa ruim
e Grilo respondeu: qual
o meu pai dizia assim:
na casa de seu Henrique
45
zelam bem um alambique
melhor do que um jardim
O rei disse: João Grilo
tua fama é um estrondo
João Grilo disse: eu
sabendo
o que perguntar respondo
disse o rei enfurecido:
o que tem o pé comprido
e faz o rastro redondo?
Senhor rei, tenho
lembrança
de tempo da minha avó
que ela tinha um compasso
na caixa do bororó
como êsse eu também ando
fazendo o rastro redondo
andando com uma perna só
João qual é o bicho,
que passa pela campina
a qualquer hora da noite
andando de lamparina?
é um pequeno animal
tem luz artificial;
veja o que determina
— Esse bicho eu já vi
pois eu tinha por costume
de brincar sempre com êle
minha mãe tinha ciúme
eu andava pelo campo
uns chamam pirilampo
e outros de vagalume
O rei já tinha esgotado
a sua imaginação
não achou uma pergunta
que interrompesse a João
disse: me responda agora
qual é o olho que chora
sem haver consolação?
O Grilo então respondeu:
lá muito perto da gente
tem num oiteiro importante
um moço muito doente
suas lágrimas têm paladar
quem não deixa de chorar
é ôlho d'água vertente
O rei inventou um truque
do jeito que lhe convinha
— Vou arrumar uma cilada
ver se João adivinha
mandou vir um alçapão
fez outra adivinhação
escondeu uma bacurinha
— João, o que é que tem
dentro deste alçapão?
se não disser o que é
é morto, não tem perdão
João Grilo lhe respondeu:
quem mata um como eu
não tem dó no coração
João lhe disse: esse objeto
nem é manso nem é brabo
nem é grande nem é
pequeno
nem é santo nem é diabo
bem que mamãe me dizia
que eu ainda caía
onde a porca torce o rabo
Trouxeram uma bandeja
ornada de muitas flores
dentro dela uma latinha
cheia de muitos fulgores
o rei lhe disse: João Grilo
é este o último estrilo
que rebenta tuas dores
João Grilo desta vez
passou na última estica
adivinhar uma coisa
nojenta que se pratica
fugir da sorte mesquinha
pois dentro da lata tinha
um pouquinho de xinica
O rei disse: João Grilo
veja se escapa da morte
o que tem nesta latinha?
responda se tiver sorte
toda aquela populaça
queria ver a desgraça
do Grilo franzino e forte
— Minha mãe profetizou
que o futuro è minha perda
— Dessas adivinhações
brevemente você herda
faz de conta que já vi
como esta hoje aqui
parece que dá em merda
O rei achou muita graça
nada teve o que fazer
João Grilo ficou na corte
com regosijo e prazer
gozando um bom paladar
foi comer sem trabalhar
desta data até morrer
E todas as questões do
reino
era João que deslindava
qualquer pergunta difícil
ele sempre decifrava
julgamentos delicados
problemas muito
enrascados
e João Grilo desmanchava
Certa vez chegou na corte
em mendigo esfarrapado
com uma mochila nas
costas
dois guardas de cada lado
seu rosto cheio de mágoa
os olhos vertendo água
fazia pena o coitado
Junto dele estava um duque
que veio denunciar
dizendo que o mendigo
na prisão ia morar
por não pagar a despesa
que fizera por afoiteza
sem ter como lhe pagar
João Grilo disse ao
mendigo:
e como é, pobretão
que se faz uma despesa
sem ter no bolso um tostão
me conte todo passado
depois de eu ter-lhe
escutado
lhe darei razão ou não
Disse o mendigo: sou pobre
e fui pedir uma esmola
na casa do senhor duque
levei a minha sacola
quando cheguei na cozinha
vi cozinhando galinha
numa grande caçarola
Como a comida cheirava
eu tive apetite nela
tirei um taco de pão
e marcheipro lado dela
e sem pensar na desgraça
botei o pão na fumaça
que saia da panela
46
O cozinheiro zangou-se
chamou logo o seu senhor
dizendo que eu roubara
da comida o seu sabor
só por eu ter colocado
um taco de pão mirrado
aproveitando o vapor
Por isso fui obrigado
a pagar essa quantia
como não tive dinheiro
o duque por tirania
mandou trazer-me
escoltado
para depois de ser julgado
ser posto na enxovia
João Grilo disse: está bem
não precisa mais falar:
então perguntou ao duque:
quanto o homem vai pagar?
- Cinco coroas de prata
ou paga ou vai pra chibata
não lhe deve perdoar
João Grilo tirou do bolso
a importância cobrada
na mochila do mendigo
deixou-a depositada
e disse para o mendigo:
balance a mochila, amigo
pro duque ouvir a zuada
O mendigo sem demora
fez como Grilo mandou
pegou sua mochilinha
sem compreender o truque
bem no ouvido do duque
o dinheiro tilintou
Disse o duque enfurecido:
mas não recebi o meu,
diz João Grilo: sim senhor,
isto foi o que valeu
deixe de ser batoteiro
o tinido do dinheiro
o senhor já recebeu
- Você diz que o mendigo
por ter provado o vapor
foi mesmo que ter comido
seu manjar e seu sabor
pois também é verdadeiro
que o tinir do dinheiro
representa o seu valor
Virou-se para o mendigo
e disse: estás perdoado
leva o dinheiro que dei-te
vai pra casa descansado
o duque olhou para o Grilo
depois de dar um estrilo
saiu por ali danado
A fama então de João Grilo
foi de nação em nação
por sua sabedoria
e por seu bom coração
sem ser por êle esperado
um dia foi convidado
para visitar um sultão
O rei daquele país
quis o reino embandeirado
pra receber a visita
do ilustre convidado
o castelo estava em flores
cheio de tantos fulgores
ricamente engalanado
As damas da alta côrte
trajavam decentemente
tôda côrte imperial
esperava impaciente
ou por isso ou por aquilo
para conhecer João Grilo
figura tão eminente
Afinal chegou João Grilo
no reinado do sultão
quando êle entrou na côrte
que grande decepção!
de palitó remendado
sapato velho furado
nas costas um matulão
O rei disse: não é ele
pois assim já é demais;
João Grilo pediu licença
mostrou-lhe as credenciais
embora o rei não gostasse
mandou que ele ocupasse
os aposentos reais
Só se ouvia cochichos
que vinham de todo lado
as damas então diziam:
é esse o homem falado?
duma pobreza tamanha
e ele nem se acanha
de ser nosso convidado?
Até os membros da côrte
diziam num tom chocante
pensava que o João Grilo
fôsse dum tipo elegante
mas nos manda 1
remendado
sem roupa, esfarrapado
um maltrapilho ambulante
E João Grilo ouvia tudo
mas sem dar demonstração
em toda a côrte real
ninguem lhe dava atenção
por mostrar-se
esmolambado
tinha sido desprezado
naquela rica nação
Afinal veio um criado
e disse sem o fitar:
já preparei o banheiro
para o senhor se banhar
vista uma roupa minha
e depois vá pra cozinha
na hora de almoçar
João Grilo disse; está bom;
mas disse com seu botão:
roupas finas trouxe eu
dentro de meu matulão
me apresentei rasgado
para ver neste reinado
qual era a minha impressão
João Grilo tomou um
banho
vestiu uma roupa de gala
então muito bem vestido
apresentou-se na sala
ao ver seu traje tão belo
houve gente no castelo
que quase perdia a fala
E então toda repulsa
transformou-se de repente
o rei chamou-o pra mesa
como homem competente
consigo, dizia João:
na hora da refeição
vez ensinar esta gente
O almoço foi servido
porém João não quis comer
despejou vinho na roupa
só para vê-lo escorrer
ante a corte estarrecida
encheu os bolsos de
comida
para toda corte ver
47
O rei bastante zangado
perguntou pra João:
por que motivo o senhor
não come da refeição?
respondeu João com
maldade:
tenha calma, majestade
digo já toda razão
Esta mesa tão repleta
de tanta comida boa
não foi posta pra mim
um ente vulgar a toa
desde sobre-mesa a sopa
foram postas à minha roupa
e não à minha pessoa
Os comensais se olharam
o rei pergunta espantado:
por que o senhor diz isto
estando tão bem tratado?
disse João: isso se explica
por está de roupa rica
não sou mais esmolambado
Eu estando esfarrapado
ia comer na cozinha
mas como troquei de roupa
como junto da rainha
vejo nisto um grande ultraje
homenagem ao meu traje
e não a pessoa minha
Toda corte imperial
pediu desculpa a João
e muito tempo falou-se
naquela dura lição
e todo mundo dizia
que sua sabedoria
era igual a Salomão.
Disponível em: http://poesianordestina.blogspot.com.br/2013/10/as-proezas-de-joao-grilo.html
A TERRA É NATURÁ – Patativa do Assaré
Sinhô dotô, meu ofiço
É servi ao meu patrão.
Eu não sei fazê comiço,
Nem discuço, nem sermão;
Nem sei as letra onde mora,
Mas porém, eu quero agora
Dizê, com sua licença,
Uma coisa bem singela,
Que a gente pra dizê ela
Não percisa de sabença.
Se um pai de famia honrado,
Morre, dexando a famia,
Os seus fiinho adorado
Por dono da moradia,
E aqueles irmão mais véio,
Sem pensá nos Evangéio,
Contro os novo a toda hora
Lança da inveja o veneno
Inté botá os mais pequeno
Daquela casa pra fora.
Disso tudo o resurtado
Seu dotô sabe a verdade,
Pois, logo os prejudicado
Recorre às oturidade;
E no chafurdo infeliz
Depressa vai o juiz
Fazê. a paz dos irmão
E se ele fô justicêro
Parte a casa dos herdêro
Pra cada quá seu quinhão.
Seu dotô, que estudou munto
E tem boa inducação,
Não ignore este assunto
Da minha comparação,
Pois este pai de famia
É o Deus da Soberania,
Pai do sinhô e pai meu,
Que tudo cria e sustenta,
E esta casa representa
A terra que Ele nos deu.
O pai de famia honrado,
A quem tô me referindo,
É Deus nosso Pai Amado
Que lá do Céu tá me uvindo,
O Deus justo que não erra
E que pra nós fez a terra,
Este praneta comum;
Pois a terra com certeza
É obra da natureza
Que pertence a cada um.
Esta terra é como o Só
48
Que nace todos os dia
Briando o grande, o menó
E tudo que a terra cria.
O só quilarêa os monte,
Tombém as água das fonte,
Com a sua luz amiga,
Potrege, no mesmo instante,
Do grandaião elefante
A pequenina formiga.
Esta terra é como a chuva,
Que vai da praia a campina,
Móia a casada, a viúva,
A véia, a moça, a menina.
Quando sangra o nevuêro,
Pra conquistá o aguacêro
Ninguém vai fazê fuxico,
Pois a chuva tudo cobre,
Móia a tapera do pobre
E a grande casa do rico.
Esta terra é como a lua,
Este foco prateado
Que é do campo até a rua,
A lampa dos namorado;
Mas, mesmo ao véio cacundo,
Já com ar de moribundo
Sem amô, sem vaidade,
Esta lua cô de prata
Não lhe dêxa de sê grata;
Lhe manda quilaridade.
Esta terra é como o vento,
O vento que, por capricho
Assopra, as vez, um momento,
Brando, fazendo cuchicho.
Otras vez, vira o capêta,
Vai fazendo piruêta,
Roncando com desatino,
Levando tudo de móio
Jogando arguêro nos óio
Do grande e do pequenino.
Se o orguiôso podesse
Com seu rancô desmedido,
Tarvez até já tivesse
Este vento repartido,
Ficando com a viração
Dando ao pobre o furacão;
Pois sei que ele tem vontade
E acha mesmo que percisa
Gozá de frescô da brisa,
Dando ao pobre a tempestade.
Pois o vento, o só, a lua,
A chuva e a terra também,
Tudo é coisa minha e sua,
Seu dotô conhece bem.
Pra se sabê disso tudo
Ninguém precisa de istudo;
Eu, sem escrevê nem lê,
Conheço desta verdade,
Seu dotô, tenha bondade
De uvi o que vô dizê.
Não invejo o seu tesoro,
Sua mala de dinhêro
A sua prata, o seu ôro
o seu boi, o seu carnêro
Seu repôso, seu recreio,
Seu bom carro de passeio,
Sua casa de morá
E a sua loja surtida,
O que quero nesta vida
É terra pra trabaiá.
Iscute o que tô dizendo,
Seu dotô, seu coroné:
De fome tão padecendo
Meus fio e minha muié.
Sem briga, questão nem guerra,
Meça desta grande terra
Umas tarefa pra eu!
Tenha pena do agregado
Não me dêxe deserdado
Daquilo que Deus me deu.
Disponível em: http://vermelho.org.br/noticia/43510-11
49
 Como você vê a mulher sendo representada, nos diferentes gêneros textuais
e/ou literários aos quais você já teve acesso?
O NORDESTE É A PERIFERIA DO BRASIL – Jarid Arraes
Já dizia Patativa
Grande mestre
professor:
Pra falar da minha terra
Tem de ser conhecedor
Só possui conhecimento
Com bastante
embasamento
Quem daqui é morador.
Nordestina é essa gente
Que conhece a exclusão
O injusto esquecimento
Triste de desilusão
Pois se vive condenado
Invisível e renegado
Feito fosse reclusão.
O nordeste é preterido
Já tem tempo até demais
E por causa dessa sina
Já de nossos ancestrais
Muita gente foi simbora
Desde antes té agora
Vivendo nas capitais.
Só que na cidade grande
Nordestino vira bicho
Humilhado e explorado
Só tratado como lixo
O trabalho e a labuta
É o som que se escuta
Nessa vida de serviço.
Trabalhando feito
escravo
Sem direito ou
assistência
Nosso povo é oprimido
Num teste de resistência
No sol quente ou no frio
Pelos cantos do Brasil
Sem espaço pra
clemência.
Esse prédio tão bonito
Que paulista tanto gosta
Só pode ser construído
Com o peso em nossas
costa
Sem família pra cobrar
Se morreu, pode
enterrar
Feito um pedaço de
bosta.
Foi assim com os
candangos
Que fizeram essa
Brasília
E saíram de suas terras
Pra viver na disbulia
Até hoje esse sumiço
Foi o pago do serviço
Duma constante vigília.
Trabalhar de sol a sol
É coisa de nordestino
Que batalha todo dia
Pra mudar o seu destino
Não tem tempo ocioso
Muito menos
preguiçoso
Só vivendo o desatino.
As mulheres nordestinas
Desde cedo exploradas
Na cozinha ou no bordel
São ainda traficadas
Ser mulher não é
moleza
E falando com
franqueza
Só nos veem de
empregada.
A batalha feminina
É puxada e dolorida
É na roça e na cidade
Trabalhando por comida
Com os filho
abandonada
É de meretriz chamada
E com força reprimida.
Se virar uma empregada
Pra limpar a casa alheia
O dinheiro é uma
miséria
Que não faz um pé de
meia
E o patrão que assedia
Só demonstra a
covardia
Dessa elite brasileira.
ATIVIDADE ORAL
50
Muitas dessas
nordestinas
Que acabam no sudeste
Não arranjam um
trabalho
Nem um salário que
preste
E a prostituição
Vira a única opção
Nesse mundo cafajeste.
Para além de tudo isso
Que envolve o trabalhar
É notável e evidente
O desejo de apagar
A cultura nordestina
De riqueza que ensina
E só faz nos orgulhar.
Já começa do sotaque
Essa padronização
Que imita nossa fala
Nessa vil televisão
E a gente é debochado
Com o riso escrachado
Sem contextualização.
Para o povo nordestino
Fica o resto do sobejo
Bota a gente de piada
Nesse cultural despejo
Que rejeita nossa arte
Faz de nós a contraparte
Dum cruel e mau
desejo.
Quem despreza nossa
gente
Não esconde o que
almeja
Que é a nossa extinção
Bem entregue de
bandeja
Pedem a separação
Dividindo essa nação
Numa linha que traceja.
Mas pior é perceber
O que dói é constatar
Que nem mesmo a
esquerda
Que se diz politizar
Lembra do nosso
nordeste
Pois só olha pro sudeste
Sem querer mobilizar.
Só quem fala é
sudestino
O lembrado maiorial
Convidado em todo
canto
Palestrante coisa e tal
O nordeste é invisível
Na política risível
Sem conduta e imoral.
É por isso que eu digo
Fácil é ser miltante
E falar coisa bonita
Dando uma de
importante
Mas na hora de provar
E na prática atestar
Só se mostra ignorante.
Pois o reconhecimento
Pro sudeste é destinado
Não importa a corrente
Nem problema
abordado
Se falar de feminismo
De favela, de racismo
O nordeste é apagado.
Mas pra cá no
Pernambuco
E no Rio Grande do
Norte
Ceará ou Paraíba
Também acontece
morte
Nordestino é minoria
Sem nenhuma regalia
E jogado à própria
sorte.
No nordeste tem
racismo
E a mulher é espancada
Também tem
homofobia
E a travesti rejeitada
Também vive nessa
terra
Enfrentando uma guerra
Onde é silenciada.
Nossa terra tem favela
E a polícia é militar
Aqui tem periferia
Falta só tu enxergar
É por isso que eu grito
E nem vou falar bonito
Pra paulista se agradar.
Já estamos saturados
Dessa discriminação
Pois a nossa inteligência
Não é para a servidão
A gente não é capacho
Dessa bando de diacho
Elitista fi do cão.
Eu não mudo meu
sotaque
Nem meu termo
imponente
A riqueza da minha
terra
Que é falada pela gente
Como disse o Suassuna
Minha língua é
Jaguaruna
E não troco meu oxente.
Com orgulho falo alto
Essa pátria me pariu
Como filha nordestina
Dessa força feminil
Me calar não poderia
Eu sou da periferia
Da perifa do Brasil.
51
Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2015/04/25/cordel-o-nordeste-e-
periferia-brasil/
Jarrid Arraes
Nascida e criada em Juazeiro do Norte, Jarid é íntima da literatura de cordel
desde criança. Seu pai e avô são cordelistas e também fazem xilogravuras (técnica na
qual se usa madeira como matriz e a reprodução da imagem é geralmente gravada sobre
papel). "Cresci nesse contato direto com o cordel, que é uma manifestações da cultura
popular nordestina. Eu era a primeira a ler os cordéis do meu pai e do meu avô, que
tratam de assuntos mais politizados em suas obras - é o que chamamos de Cordel
Engajado."
Quando começou a produzir os seus, Jarid não teve dúvida de eles também
seriam politizados. "Escrevo sobre o que me deixa engasgada", diz. Mulher, negra e
nordestina, Jarid transforma suas vivências em versos rimados. "Os temas foram
surgindo a partir da minha própria experiência, dos preconceitos e assédios que sofro
diariamente e assisto o outro sofrer", revela.
Além de cordelista, Jarid é comprometida com projetos sobre direitos humanos e
tem uma coluna semanal na revista Fórum, chamada Questão de Gênero. Por lá, ela
publica textos de opinião e também cordéis. Um dos últimos, "Não me chame de
mulata", viralizou e causou discussões na internet. "Recebi dezenas de comentários me
xingando por causa do cordel ‘Não me chame de mulata’. Por outro lado - e esse, sim,
vale a pena - já li pessoas afirmando que nunca mais usarão o termo", escreveu em sua
timeline do Facebook.
Disponível em: http://revistatrip.uol.com.br/tpm/cordelista-e-feminista-conheca-jarid-arraes-uma-voz-
de-protesto-contra-a-opressao
52
MANOEL MONTEIRO E O NOVO CORDEL
Em ensaio que – há quatro
dias – publiquei aqui
(intitulado "O Reino
Fecundo da Poesia
Popular de Manoel
Monteiro"), explanei
detalhes do encontro que
tivemos - eu e o poeta
sonetista Fernando Cunha
Lima - com o mais
evidenciado bardo popular
da atualidade e o maior
representante do
chamado Novo Cordel do
nosso país: o poeta
cordelista Manoel Monteiro,
que – nascido, em 1937, na
pacata cidade de Bezerros
(PE) – está radicado, há décadas, em Campina Grande (PB), onde nos recebeu (em sua casa) na
data de 26 de julho do corrente ano.
Na ocasião, finalizamos o nosso inesquecível encontro fraterno-cultural, documentando uma
descontraída entrevista com o carismático e prolífero vate, que é autor de mais de uma centena
de títulos de cordéis e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano e
da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC).
RUBENIO MARCELO — Manoel, Inicialmente, eu gostaria de saber de você qual a
importância do Novo Cordel na atualidade.
MANOEL MONTEIRO — Rubenio, o Novo Cordel de que eu falo é o cordel atual, o cordel
do século XXI, este que está sendo utilizado, com eficiência, pelos professores nas salas de aula.
O cordel, no momento, está em uma evidência muito maior do que nos seus ditos tempos áureos
e pioneiros. Isto é verdade. Pode escrever. Eu conheço a história do cordel desde muito tempo, e
convivendo com ele, nas feiras do Nordeste, desde 1951. Meu primeiro cordel foi publicado
aqui em Campina Grande em 1953. Eu já vinha, há uns dois ou três anos, trabalhando com
folhetos de feira em feira. Foi assim que eu saí de casa. As minhas asas para levantar vôo do
ninho paterno foram os folhetos de cordel. E tão bem coladas foram estas asas, que ainda hoje
eu continuo voando... Estas minhas asas foram e são, assim, muito mais firmes do que as (de
penas) que puseram em Ícaro, pois quando este se aproximou do Sol, as suas asas caíram. Pois
bem! Como afirmei, o cordel, hoje, está em evidência. Se o cordel de ontem era consumido (era
absorvido) basicamente por gente simples e de pouca cultura, um público da periferia, das
fazendas, das cidades pequenas do interior, dos mercados, das feiras livres (porque aonde ia o
sertanejo, ia a sua mala repleta de saudades e de folhetos), hoje o cordel é consumido também
nas escolas brasileiras; é valorizado nas instituições escolares de todos os graus, inclusive sendo
enfocado por mestres e doutores nas suas teses acadêmicas. Então, o cordel hoje está em alta
evidência e eu sei por que ele está com este prestígio...
RUBENIO MARCELO — Por que, então, Manoel, que o cordel está com este prestígio
que você acaba de nos reportar?
MANOEL MONTEIRO — ... Porque os autores de hoje estão fazendo um trabalho
diferenciado. Hoje, há cordelistas que possuem cursos superiores e especializações. Cordelistas
53
que conhecem todo o Brasil e até países do exterior. Então, a vivência destes homens (que
trazem na bagagem, antes da formação superior, uma cultura de massa, uma natural convivência
com o povo), capacita-os a participar – por exemplo – de conferências, cursos e palestras para
universitários em qualquer faculdade ou universidade brasileira. O que não acontecia ontem. Se
o Novo Cordel está com toda esta evidência, é porque hoje os seus autores estão inserindo esta
literatura nas escolas, nas salas de aula, e ministrando também interessantes palestras e
conferências acerca do assunto... Atualmente, o campo, o auditório, o público do cordelista é
diferente. E o cordelista também é diferente. Então, esta qualidade do novo cordelista faz o
Novo Cordel; faz com que o texto do cordel seja estudado e utilizado, inclusive no aprendizado
da nossa Língua Portuguesa. Neste sentido, nós temos trabalhos de alta classe, como – por
exemplo – o de Moreira de Acopiara (em São Paulo), Klévisson Viana (no Ceará), Geraldo
Amâncio (grande repentista cearense), Janduí Dantas (com a sua Gramática em Cordel, que é
admirável), o José Maria de Fortaleza (que também trabalha muito bem com a literatura de
cordel nas escolas),apenas pra citar alguns (claro que temos outros nomes). Todos são trabalhos
simples, humildes na aparência, mas grandiosos na penetração, na originalidade, no
convencimento, na maneira de transformar o difícil em fácil, porque a vantagem da informação
feita através do cordel é que ela é compreensível, em virtude de esta poesia ser fecunda e
sonora. E esta particularidade do texto poético faz com que qualquer informação, veiculada
através dela, seja de fácil apreensão e de agradável consumo.
RUBENIO MARCELO — Quais as dificuldades e obstáculos que esta arte maravilhosa –
o Cordel – está enfrentando nos nossos dias? E o que deve balizar a criação do Novo
Cordel?
MANOEL MONTEIRO — Eu diria que os obstáculos são aqueles naturais a toda qualidade
de impresso. Especialmente os livros. Ora, eu me lembro, e aproveito a ocasião para repetir, o
que disse, certa vez na Feira de Remígio, o escritor Cristino Pimentel: — “Vender livros no
Brasil é carregar a cruz de Cristo, vinte e quatro horas, durante toda a vida”. Isto sintetiza a
dificuldade das pessoas que vivem das suas obras literárias. Aqui mesmo, nesta sala, onde
estamos agora, um pessoal da imprensa me perguntou o seguinte:“... Se nós estávamos tendo
ajuda governamental... Se nós tínhamos facilidade de publicar os nossos trabalhos... E como
que o governo olha osnossos artistas...”. E eu respondi (e esta é a minha posição): — O artista
precisa, mas não deve se submeter ao beneplácito dos governantes, ficar esperando por isto,
porque isto pode implicar numa certa subserviência, mesmo que instintiva. A independência
para o artista é fundamental. Eu dizia e digo que: – Se uma pessoa, um artista, fizer um bom
trabalho, ele há de ser reconhecido. O que interessa é que este artista prime pela sua obra.
Procure fazer um trabalho de classe. Para isto, ele às vezes necessita de proceder a uma busca,
realizar uma pesquisa, para ilustrar o seu conhecimento. Quem está escrevendo, quem vive de
escrever, como é o nosso caso, é preciso cuidar, analisar o que publica e buscar aprimorar
sempre a sua criação. E eu sou partidário da condição de que o poeta tenha um pouco de
trabalho (em prol do aperfeiçoamento) para compor a sua obra, visto que este material ficará
registrado para sempre, passando – às vezes – por várias mãos (leitores diversificados). Digo
isto porque fizeram comigo, um dia desses, uma dessas surpresas maravilhosas: eu estava aqui e
chegou o professor Daniel Duarte (homem que gosta de publicações e livros raros), que é do
Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano, e me mostrou um monte de folhetos
antigos que ele adquirira numa dessas feiras do interior. Então, eu passando alguns (uns eu
conhecia e outros não...), e o que é que eu encontro... Eu encontrei um folheto que eu havia
publicado aqui em Campina Grande em 1957. E deste folheto eu só me lembrava do título: “O
Crime da Sombra Misteriosa”, e nem me lembrava mais de como eu tinha criado, inventado e
conduzido a história, como havia desenvolvido o enredo. Mas onde eu iria encontrar aquilo?
Então me chega aqui o Daniel com um exemplar deste folheto, que fora manuseado por mãos
diversas, por mais de cinqüenta anos, passado certamente de pai para filho. Então eu pude
perceber, mais uma vez, que quem escreve tem que pensar bem no que vai registrar, tem que
analisar com cautela a formação do seu pensamento e da sua obra, para não documentar
besteiras, que assim ficarão por muito tempo. Portanto, temos que pensar sempre em legar ao
54
futuro alguma coisa consistente e efetivamente útil. Poesia são fragmentos de luz... São
relances... São fagulhas de beleza e de graça... E o poeta tem a obrigação de procurar isto. Uns
têm mais facilidade... São mais queridos pela musa. Outros possuem certas dificuldades... Eu,
por mim, digo: a cada dia que passa, mais dificuldades eu encontro para escrever os meus
textos, porque eu não quero me repetir; eu não quero dizer aquilo que eu já disse... E é muito
difícil um homem de mais de setenta anos, como é o meu caso, ficar dizendo coisas
novas... (risos)... Quase tudo que eu vou dizer alguém já disse, ou eu mesmo já expressei
anteriormente. Mas esta busca é uma necessidade. Nós temos que buscar novas flores e
fragrâncias. Num jardim por onde você anda todo dia, onde você já beijou todas as rosas, você
tem que buscar uma de nuança diferente. Que tenha alguma graça diferenciada daquela que
você contemplou no dia anterior. Esta é a dificuldade e o desafio do poeta.
RUBENIO MARCELO — Manoel, você – que é membro da Academia Brasileira de
Literatura de Cordel – poderia nos dizer se esta Entidade (a ABLC) tem realizado
atividades voltadas para a valorização e para a divulgação da arte do cordel?
MANOEL MONTEIRO — Sim. Digo, com sinceridade, que a Academia Brasileira de
Literatura de Cordel, que tem a sua sede localizada no Rio de Janeiro (no bairro de Santa
Teresa), é uma das chaves que têm aberto as portas de muitas instituições e entidades
importantes no Brasil (e no mundo) para o cordel brasileiro, para este tipo de literatura impressa
e expressa em versos. O cearense Gonçalo Ferreira da Silva – o presidente atual da ABLC – é
um homem de cultura, possui curso superior, mas é, sobretudo, um poeta nato. Possui dom
natural e sensibilidade. A Academia é muito importante. E muita gente tem me abordado sobre
ela. Algumas pessoas até me questionam por que esta Academia não é estabelecida no Nordeste,
uma vez que – segundo pensam – poesia popular é coisa de nordestino. E eu respondo: Poesia
popular não é arte somente de nordestino. Poesia popular é arte do mundo e para o mundo. Os
versos populares da literatura de cordel vêm – eu diria – das cavernas. Sim... Eu penso que a
primeira poesia popular nasceu, lá numa primitiva caverna, com um troglodita, que – querendo
conquistar uma formosa companheira – deixou de emitir aquele ruído agressivo e fez um ruído
sonoro, flertou a trogloditazinha de uma maneira poética, agradável, musical, e aí nasceu a
primeira poesia, o primeiro texto poético. A poesia é um sentimento especial; é a expressão de
um assunto qualquer com a graça e a beleza e a ternura de um texto em versos. Então... Quando
a poesia popular (na forma como estamos nos referindo: o cordel) vivia apenas de feira em feira,
ela realmente tinha uma limitação de público, é verdade. Mas quando São Paulo e o Rio de
Janeiro, por exemplo, começaram a absorver mão-de-obra dos outros estados, e também do
Norte e do Nordeste, aí a poesia popular disseminou-se; o cordel ganhou as sendas do Brasil. O
Ciclo da Borracha e a construção de Brasília também são eventos que colaboraram para esta
universalização da poesia popular, que era, no princípio, um pouco restrita, realmente, ao
Nordeste brasileiro. Cordel, literatura popular, hoje, é coisa do mundo. Poesia Popular é nada
mais, nada menos, do que uma poesia bem escrita e que atinge a maioria das pessoas, porque ela
é compreensível, ela é envolvente e boa de ser assimilada. Poesia popular é – por exemplo – o
que encontramos nos versos de Leandro Gomes de Barros,versos escritos há cerca de cem anos
e que compõem agora, por três anos seguidos, o programa do vestibular da Universidade
Estadual da Paraíba. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel tem estabelecido
importantes contatos com entidades culturais e instituições do mundo, e esta abertura para os
novos meios – mostrando a importância, o real valor da poesia popular – faz com que a
literatura de cordel ganhe evidência e amplo destaque nos nossos dias.
RUBENIO MARCELO — E os meios de comunicação de massa, por exemplo, a TV, o
rádio, o jornal e, principalmente, a Internet, têm contribuído de forma efetiva para o
prestígio e esta evidência do cordel (que você se refere)?
MANOEL MONTEIRO — Estes meios de comunicação têm contribuído, e muito. O cordel,
hoje, fala a linguagem do Século XXI. E a mídia, toda a imprensa que precisa de notícia, está
vendo aí a importância e a influência do cordel, este expoente de arte que está sendo inclusive
55
(como já afirmei) estudado e enfocado – com destaque – em teses e monografias de mestrado e
doutorado. Então, quando as universidades estão interessadas em algo, a imprensa – que é
inteligente – também está. E isto tem favorecido deveras a valorização merecida da nossa
literatura de cordel. A poesia em geral, hoje, é para ser veiculada também pela Internet e por
todos os meios mais modernos de comunicação.
RUBENIO MARCELO — Manoel Monteiro, o que é ser cordelista?
MANOEL MONTEIRO — Ser cordelista é sonhar... E sonhar vinte e quatro horas por dia,
porque a poesia popular é um exercício mental maravilhoso e muito gratificante. O poeta olha o
vôo de um pássaro, analisa seus movimentos, diferentemente de um físico, por exemplo. Ser
poeta cordelista é brincar com o lúdico, é querer copiar estrelas (e isto é possível?)... Então,
repito, ser poeta [para mim] é viver sonhando, e é muito bom viver assim, porque a realidade do
cotidiano é muito ríspida, é muito vazia. A poesia, às vezes, faz chorar, mas choramos de uma
maneira diferente, porque choramos com a fecundação da alma...
RUBENIO MARCELO — Eu gostaria que você nos explicasse como é que nasce a sua
inspiração para escrever os seus trabalhos de cordel.
MANOEL MONTEIRO — Primeiro, vem da minha vivência. O meu grande livro é a vida. Os
meus cordéis são compostos, principalmente, embasados nas minhas experiências de vida, mas
também - quando necessito - realizo um pouco de pesquisa. Quando eu vou escrever sobre um
determinado assunto, às vezes temas requisitados, eu procuro me inteirar o máximo possível
sobre aquela matéria. Contudo, a criação, no meu ponto-de-vista, deve ser a mais solitária
possível. Na gestação do texto, o poeta deve-se voltar para o interior, para o seu interior, para os
seus sentimentos, suas lembranças mais recônditas. É preciso mergulhar no desconhecido em
busca do belo. Isto parece tão subjetivo, este meu raciocínio, mas é assim que estou
conseguindo dizer como é o meu processo de criação. Eu não tenho um folheto pronto. Eu não
sei nem como ele terá fim. E eu não sei nem se ele vai terminar. Às vezes eu busco uma palavra,
eu quero uma palavra de determinado tamanho, eu necessito de uma palavra de determinada cor
ou aspecto e ela não me aparece. Não adianta fazer por fazer... Só rimar é fácil (quando o som
não arranha o ouvido, temos a rima). Metrificar, outrossim, não é difícil: a métrica pode ser
aperfeiçoada pelo costume e a prática. Mas isto é muito pouco para a elaboração um bom
poema. Faltam os desígnios da oração, que é o sentido, e principalmente a essência, que é a
beleza. Então, o meu processo de criação é uma busca (e é dolorida)... Por isso quando eu
trabalho algum folheto de encomenda (e eu faço, principalmente se o assunto for um desafio),
eu preciso me inteirar, conhecer, falar com especialistas daquele assunto... Mas eu digo para as
pessoas que encomendam: – Em não garanto nada. Não garanto que vai prestar... O futuro é que
vai dizer... Eu vou tentar fazer, mas se eu não conseguir, paciência... O que é certo é que,
somente pelo fato de eu conhecer os aspectos da rima e da métrica, não terei jamais a garantia
da criação de uma bom texto poético. Preciso de algo mais, preciso daquilo que transcende...
RUBENIO MARCELO — Para encerrarmos, eu gostaria que você expressasse algumas
palavras dirigidas àquelas pessoas que estão se iniciando na arte do cordel, ou que estão se
interessando, de alguma forma, pela poesia popular.
MANOEL MONTEIRO – Parabenizo os que estão iniciando. É preciso que as pessoas
expressem o que sentem. E, para isto, o melhor canal, o veículo mais democrático é a poesia. É
preciso escrever e divulgar o trabalho. Mas é preciso procurar escrever com responsabilidade e
desvelo (e também com racional autocrítica). No momento, a poesia está ganhando muitos
adeptos em todo o mundo. Mas escrever poesia não é para todo mundo: só faz poesia quem é
poeta; e só concebe a boa poesia quem é bom poeta. A real inspiração é uma coisa deveras
etérea; muito sublime; não fácil de ser alcançada. A busca eterna pelo belo é uma das missões
do poeta, e eu felicito os que estão começando a escrever, e volto a repetir: - Escrevam tudo que
lhe vier ao coração, passem para o papel e divulguem, porque é desse meio, é dessa produção
56
que sairão as grandes obras. Contudo, quero repetir mais uma vez: é preciso ter cuidado ao
escrever. O que for escrito agora, assume uma responsabilidade com os leitores do futuro.
Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/manoel-monteiro-e-o-novo-cordel-
entrevista
SOBRE A ENTREVISTA:
A entrevista é um tipo de texto que tem a utilidade de informar as pessoas sobre
algum acontecimento social ou fazer com que o público conheça sobre as ideias e
opiniões da pessoa que é entrevistada.
Desta maneira, tanto o entrevistado quanto o entrevistador devem se posicionar
de maneira correta, procurando pronunciar as palavras de forma correta e mantendo
uma boa aparência, para que possa causar uma boa impressão diante daqueles que irão
assistir a uma entrevista ou lê-la. Mas não podemos nos esquecer de que tudo aquilo é
planejado com antecedência, tem mais chances de obter um bom resultado. Dessa
forma, é muito importante elaborar as perguntas de maneira clara e objetiva, procurando
sempre facilitar o entendimento.
Estruturalmente, a entrevista compõe-se dos seguintes elementos:
 Manchete ou título – Essa é uma parte que deverá despertar interesse no
interlocutor envolvido, podendo ser uma frase criativa ou pergunta interessante.
 Apresentação – É o momento em que se apresentam os pontos de maior relevância
da entrevista, como também se destaca o perfil do entrevistado, sua experiência
profissional e seu domínio em relação ao assunto abordado.
 Perguntas e respostas – Basicamente, é a entrevista propriamente dita, na qual são
retratadas as falas de cada um dos envolvidos.
Disponível em: http://marista.edu.br/diocesano/genero-textual-a-entrevista-e-sua-funcao-informativa/

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Modulo versão final 2016.2

  • 1. 1 Projeto: Módulo 1I / 2016.2 PIBID-UEPB/LETRAS Nome:___________________________________________________________________________Série:___ Endereço:_________________________________________________________________________Nº:_____ E-mail:___________________________________________________________Telefone:________________
  • 2. 2 Universidade Estadual da Paraíba-UEPB Programa institucional de Bolsa de Iniciação à Docência-PIBID Subprojeto Letras-Língua Portuguesa Escola de Atuação: E.E.E.F.M Caic José Joffily Coordenadora de Área: Magliana Rodrigues da Silva Supervisora: Alessandra Magda de Miranda Docentes: Benilde Cassandra Fernanda Félix Flávia Roberta Joseilma Barros Projeto: Nas Trilhas da Língua Portuguesa: o texto em foco
  • 3. 3 Título: A CULTURA POPULAR NORDESTINA, NO FOLHETO SE ETERNIZA! UMA MENSAGEM PARA VOCÊ: Caro (a)aluno(a), O Projeto Nas Trilhas da Língua Portuguesa: o texto em foco tem a honra de recebê-lo(a) como integrante da nossa equipe. Hoje, você faz parte do projeto que a cada dia obtém melhores resultados do trabalho desenvolvido nas escolas selecionadas. Esperamos que aproveite ao máximo essa oportunidade que surgiu em sua vida. Este módulo contém uma coletânea de textos e de informações relacionadas à Língua Portuguesa, cujo objetivo é servir de apoio para as discussões e análises a serem realizadas neste primeiro período. Iniciaremos refletindo um pouco sobre a importância da leitura e sobre a nossa cultura, que deve ser valorizada e enaltecida, pois foi e é berço e inspiração para vários nomes reconhecidos nacionalmente. Neste viés, buscaremos conhecer e estudar o gênero que é nosso símbolo regional, e que melhor retrata nosso povo e cultura, e qual melhor exemplo para isso, se não o folheto, vulgo, cordel? Esperamos contar com a sua presença durante todo o ano, para podermos juntos desenvolver ainda mais os nossos conhecimentos, tanto a respeito do estado, quanto sobre a língua portuguesa. Sendo assim, organize sua bagagem, deixe um espaço para o conhecimento e vamos embarcar nessa viagem trilhando caminhos paraibanos! Atenciosamente: As professoras CONTATOS DO PROJETO: Blog: http://nastrilhasdalinguaportuguesa.blogspot.com.br/ Página: https://www.facebook.com/nastrilhasdalinguaportuguesauepb?fref=ts Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/NasTrilhasdaLinguaPortuguesa?fref=ts
  • 4. 4 Grupo no Whatsapp: Alunos do Pibid. Administradores: Joseilma (83) 99190-1981; Fernanda (83) 99193-4839; Benilde (83) 98737-6681; Flávia: (83) 99654-1437
  • 5. 5 LEITURA, PRA QUE TE QUERO? LER FAZ BEM – Juarês Alencar Ler faz bem a todos amplia nossa visão deve estar no dia-a-dia de quem faz a educação esse é maior recurso faça essa lição Com a leitura viajamos além da imaginação abrimos novos horizontes vencendo a limitação tornando-se um grande farol que indica a direção A leitura nos instrui também é diversão eleva a auto-estima nos traz orientação desenvolve o senso crítico e forma o cidadão Você que não gosta de ler vamos mudar essa história desenvolva a leitura melhore sua oratória esse é o meu conselho arquive em sua memória Vença esse desafio seja um grande leitor é uma missão do aluno e também do professor de todos que querem na vida ser um grande vencedor. Disponível em: http://juaresdocordel.blogspot.com.br/2009/04/leitura-abre-as-portas-do- conhecimento.html
  • 6. 6 PLURALIDADE CULTURAL – Juarês Alencar O nosso país é exemplo Da grande diversidade Por sua rica cultura Sinal de brasilidade Com todas as diferenças Mostra a sua pluralidade. Terra dos muitos sotaques Cores e manifestações E com as várias etnias Preservando as tradições As diferenças existem Entre as várias regiões. Nordestino fala oxente Que é próprio da região O mineiro fala uai... Com muita satisfação O gaucho já fala thê E numa forte expressão. Com todas as etnias Que presentes aqui estão O negro, branco e índio Formaram esta nação Os brasileiros são frutos Desta miscigenação. O Brasil é um grande palco De bela apresentação Do frevo, samba e forró Carnaval e folião Ciranda e Coco de roda Xote, xaxado e baião. É o país do futebol Do ritmo e religião Do regue e bumba meu boi Presentes no Maranhão Do alegre axé da Bahia Com toda a animação. Tem a festa do divino Que é muito popular Tem a folia de reis Maracatu pra dançar Além da bela catira E o belo boi bumbá. A nossa cultura é rica Pois tem forte tradição Na música e na poesia E também na religião Carnaval e futebol É verdadeira paixão. A cultura religiosa Demonstra a fé popular Romarias a padre Cícero Grande Sírio no Pará Procissão do fogaréu Faz Goiás iluminar. Terra das vaquejadas Das festas de apartação Famosas pegas de boi Que existem no sertão Vaqueiros e repentistas Fazem sua louvação. As festas de boiadeiros De cowboy e de peão Grande festa de rodeio CULTURA
  • 7. 7 Que causa admiração Com locutores famosos Que falam com emoção. Famosas festas juninas É uma grande tradição No nordeste brasileiro É a maior animação Fogueira e milho assado Quadrilha, forró e quentão. Lá pras banda da Amazônia Bem no meio da floresta Caprichoso e Garantido Fazem a maior festa Os turistas que lá vão Diz não ter outra como esta. Esse é o país da alegria É cheio de sonoridade Tem rimo de todo jeito Forte musicalidade Sendo um misto de beleza É sua própria identidade. Terra dos vários sabores Com culinária aprovada Pamonha e acarajé Pé de moleque, feijoada Baião de dois, tapioca Carne de sol, galinhada. Tem pato no tucupi E também no tacacá Tem churrasco com fartura E o gostoso mungunzá O chimarrão lá no sul E na Bahia o vatapá. Nossa cultura é marcada Pelos afro-descendentes Um povo de muita garra E de coração valente Que migraram lá da África Para o nosso continente. Os nativos do Brasil Ameríndios brasileiros Foram quase exterminados Pelos brancos estrangeiros Relutaram e sobrevivem Povo forte e verdadeiro. Amamos esse Brasil ETA país arretado Expresso em alta voz Falo pra todo lado Não importa a região Nem tão pouco o Estado. Pode ser aqui no Norte Ou também lá no Nordeste Até no longínquo Sul Ou lá no rico Sudeste Em todo lugar é bom Inclusive o Centro-oeste. Em todo lugar é bom Dá gosto aqui viver Esse país é tão grande Tem riquezas pra valer E pra ele ser melhor Falta à corrupção varrer. Esse é um breve relato Da nossa pluralidade O Brasil é um país Que tem sua identidade Mostra em todos os ritmos A sua originalidade. Disponível em: http://juaresdocordel.blogspot.com.br/2014/04/pluralidade-cultural.html
  • 8. 8 REPORTAGENSSOBRE LEANDRO GOMES DE BARROS: Conheça Leandro Gomes de Barros, o pai do cordel no Brasil - Globo Rural 02/01/2011 (2º Bloco) Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ukzY- qG5p2g 9:11 min Sesquicentenário do poeta Leandro Gomes de Barros Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CvHv005bNtw 7:00 min A literatura de cordel No Brasil cordel é sinônimo de poesia popular em verso. As histórias de batalhas, amores, sofrimentos, crimes, fatos políticos e sociais do país e do mundo, as famosas disputas entre cantadores, fazem parte de diversos tipos de texto em verso denominados literatura de cordel. Os primeiros escritores de folhetos que saíram do campo em direção às cidades levavam consigo a esperança por melhores dias e as lembranças de contos e histórias de príncipes e princesas, reinos distantes, homens valentes e mocinhas indefesas, além das canções dos violeiros e repentistas que viajavam pelas fazendas animando festas e desafiando outros cantadores. Vivendo nas cidades os poetas começaram a transpor para o papel todo este universo de experiências. Além de contos e cantorias de viola, estavam guardados na memória o som dos maracatus, dos reisados, do coco e da embolada. É essa cultura, influenciada pelos ritmos afro-brasileiros, pela mistura entre rituais sagrados e profanos, que faz do cordel uma produção cultural distinta das outras. O folheto vai para as ruas e praças e é vendido por homens que ora declamam os versos, ora cantam em toadas semelhantes às tocadas pelos repentistas. São nordestinos pobres e semialfabetizados que entram no mundo da escrita, das tipografias, da transmissão escrita e não apenas oral. A poesia popular, antes restrita ao universo familiar e a grupos sociais colocados à margem da sociedade (moradores pobres de vilas e fazendas, ex-escravos, pequenos comerciantes etc.), ultrapassa fronteiras, ocupa espaços outrora reservados aos escritores e homens de letras do país. O CORDELÉ ESTRANGEIRO, MAS O FOLHETO É BRASILEIRO!
  • 9. 9 Da literatura de folheto à literatura de cordel A expressão “literatura de cordel” foi inicialmente empregada pelos estudiosos da nossa cultura para designar os folhetos vendidos nas feiras, sobretudo em pequenas cidades do interior do Nordeste, em uma aproximação com o que acontecia em terras portuguesas. Em Portugal, eram chamados cordéis os livros impressos em papel barato, vendidos em feiras, praças e mercados. Os cordéis portugueses, diferentemente dos folhetos brasileiros, eram escritos e lidos por pessoas que pertenciam às camadas médias da população: advogados, professores, militares, padres, médicos, funcionários públicos, entre outros. Em muitos casos, os cordéis eram comprados por uma pessoa letrada e lidos para um público não letrado, situação que se reproduz aqui no Brasil, onde os folhetos eram consumidos coletivamente. DIA DE CINEMA!!!!! As aventuras dos nordestinos João Grilo (Matheus Natchergaele), um sertanejo pobre e mentiroso, e Chicó (Selton Mello), o mais covarde dos homens. Ambos lutam pelo pão de cada dia e atravessam por vários episódios enganando a todos do pequeno vilarejo de Taperoá, no sertão da Paraíba. A salvação da dupla acontece com a aparição da Nossa Senhora (Fernanda Montenegro). Adaptação da obra homônima de Ariano Suassuna.
  • 10. 10 CANTE LÁ QUE EU CANTO CÁ – PATATIVA DO ASSARÉ Poeta, cantô de rua, Que na cidade nasceu, Cante a cidade que é sua, Que eu canto o sertão que é meu. Se aí você teve estudo, Aqui, Deus me ensinou tudo, Sem de livro precisá Por favô, não mêxa aqui, Que eu também não mexo aí, Cante lá, que eu canto cá. Você teve inducação, Aprendeu munta ciença, Mas das coisa do sertão Não tem boa esperiença. Nunca fez uma paioça, Nunca trabaiou na roça, Não pode conhecê bem, Pois nesta penosa vida, Só quem provou da comida Sabe o gosto que ela tem. Pra gente cantá o sertão, Precisa nele morá, Tê armoço de fejão E a janta de mucunzá, Vivê pobre, sem dinhêro, Socado dentro do mato, De apragata currelepe, Pisando inriba do estrepe, Brocando a unha-de-gato. Você é muito ditoso, Sabe lê, sabe escrevê, Pois vá cantando o seu gozo, Que eu canto meu padecê. Inquanto a felicidade Você canta na cidade, Cá no sertão eu infrento A fome, a dô e a misera. Pra sê poeta divera, Precisa tê sofrimento. Sua rima, inda que seja Bordada de prata e de ôro, Para a gente sertaneja É perdido este tesôro. Com o seu verso bem feito, Não canta o sertão dereito, Porque você não conhece Nossa vida aperreada. E a dô só é bem cantada, Cantada por quem padece. Só canta o sertão dereito, Com tudo quanto ele tem, Quem sempre correu estreito, Sem proteção de ninguém, Coberto de precisão Suportando a privação Com paciença de Jó, Puxando o cabo da inxada, Na quebrada e na chapada, Moiadinho de suó. Amigo, não tenha quêxa, Veja que eu tenho razão Em lhe dizê que não mêxa Nas coisa do meu sertão. Pois, se não sabe o colega De quá manêra se pega Num ferro pra trabaiá, Por favô, não mêxa aqui, Que eu também não mêxo aí, Cante lá que eu canto cá. Repare que a minha vida É deferente da sua. A sua rima pulida Nasceu no salão da rua. Já eu sou bem deferente, Meu verso é como a simente Que nasce inriba do chão; Não tenho estudo nem arte, A minha rima faz parte Das obra da criação. A LÍNGUA É NACIONAL, MAS O OXENTE É REGIONAL!
  • 11. 11 Mas porém, eu não invejo O grande tesôro seu, Os livro do seu colejo, Onde você aprendeu. Pra gente aqui sê poeta E fazê rima compreta, Não precisa professô; Basta vê no mês de maio, Um poema em cada gaio E um verso em cada fulô. Seu verso é uma mistura, É um tá sarapaté, Que quem tem pôca leitura Lê, mais não sabe o que é. Tem tanta coisa incantada, Tanta deusa, tanta fada, Tanto mistéro e condão E ôtros negoço impossive. Eu canto as coisa visive Do meu querido sertão. Canto as fulô e os abróio Com todas coisa daqui: Pra toda parte que eu óio Vejo um verso se bulí. Se as vêz andando no vale Atrás de curá meus male Quero repará pra serra Assim que eu óio pra cima, Vejo um divule de rima Caindo inriba da terra. Mas tudo é rima rastêra De fruita de jatobá, De fôia de gamelêra E fulô de trapiá, De canto de passarinho E da poêra do caminho, Quando a ventania vem, Pois você já tá ciente: Nossa vida é deferente E nosso verso também. Repare que deferença Iziste na vida nossa: Inquanto eu tô na sentença, Trabaiando em minha roça, Você lá no seu descanso, Fuma o seu cigarro mando, Bem perfumado e sadio; Já eu, aqui tive a sorte De fumá cigarro forte Feito de paia de mio. Você, vaidoso e facêro, Toda vez que qué fumá, Tira do bôrso um isquêro Do mais bonito metá. Eu que não posso com isso, Puxo por meu artifiço Arranjado por aqui, Feito de chifre de gado, Cheio de argodão queimado, Boa pedra e bom fuzí. Sua vida é divirtida E a minha é grande pená. Só numa parte de vida Nóis dois samo bem iguá: É no dereito sagrado, Por Jesus abençoado Pra consolá nosso pranto, Conheço e não me confundo Da coisa mió do mundo Nóis goza do mesmo tanto. Eu não posso lhe invejá Nem você invejá eu, O que Deus lhe deu por lá, Aqui Deus também me deu. Pois minha boa muié, Me estima com munta fé, Me abraça, beja e qué bem E ninguém pode negá Que das coisa naturá Tem ela o que a sua tem. Aqui findo esta verdade Toda cheia de razão: Fique na sua cidade Que eu fico no meu sertão. Já lhe mostrei um ispeio, Já lhe dei grande conseio Que você deve tomá. Por favô, não mexa aqui, Que eu também não mêxo aí, Cante lá que eu canto cá. Disponível em: http://www.moisesneto.com.br/estudo66.pdf
  • 12. 12 O cavalo que defecava dinheiro – Leandro Gomes De Barros Na cidade de Macaé Antigamente existia Um duque velho invejoso Que nada o satisfazia Desejava possuir Todo objeto que via Esse duque era compadre De um pobre muito atrasado Que morava em sua terra Num rancho todo estragado Sustentava seus filhinhos Na vida de alugado. Se vendo o compadre pobre Naquela vida privada Foi trabalhar nos engenhos Longe da sua morada Na volta trouxe um cavalo Que não servia pra nada Disse o pobre à mulher: — Como havemos de passar? O cavalo é magro e velho Não pode mais trabalhar Vamos inventar um "quengo" Pra ver se o querem comprar. Foi na venda e de lá trouxe Três moedas de cruzado Sem dizer nada a ninguém Para não ser censurado No fiofó do cavalo Foi o dinheiro guardado Do fiofó do cavalo Ele fez um mealheiro Saiu dizendo: — Sou rico! Inda mais que um fazendeiro, Porque possuo o cavalo Que só defeca dinheiro. Quando o duque velho soube Que ele tinha esse cavalo Disse pra velha duquesa: —Amanhã vou visitá-lo Se o animal for assim Faço o jeito de comprá-lo! Saiu o duque vexado Fazendo que não sabia, Saiu percorrendo as terras Como quem não conhecia Foi visitar a choupana, Onde o pobre residia. Chegou salvando o compadre Muito desinteressado: — Compadre, Como lhe vai? Onde tanto tem andado? Há dias que lhe vejo Parece está melhorado... —É muito certo compadre Ainda não melhorei Porque andava por fora Faz três dias que cheguei Mas breve farei fortuna Com um cavalo que comprei. —Se for assim, meu compadre Você está muito bem! É bom guardar o segredo, Não conte nada a ninguém. Me conte qual a vantagem Que este seu cavalo tem? Disse o pobre: —Ele está magro Só o osso e o couro, Porém tratando-se dele Meu cavalo é um tesouro Basta dizer que defeca Níquel, prata, cobre e ouro! Aí chamou o compadre E saiu muito vexado, Para o lugar onde tinha O cavalo defecado O duque ainda encontrou Três moedas de cruzado. Então exclamou o velho: — Só pude achar essas três! Disse o pobre: — Ontem à tarde Ele botou dezesseis! Ele já tem defecado, Dez mil réis mais de uma vez. —Enquanto ele está magro Me serve de mealheiro. Eu tenho tratado dele Com bagaço do terreiro, Porém depois dele gordo Não quem vença o dinheiro... Disse o velho: — meu compadre Você não pode tratá-lo, Se for trabalhar com ele É com certeza matá-lo O melhor que você faz É vender-me este cavalo! — Meu compadre, este cavalo Eu posso negociar, Só se for por uma soma Que dê para eu passar Com toda minha família, E não precise trabalhar. O velho disse ao compadre: — Assim não é que se faz Nossa amizade é antiga Desde os tempo de seus pais Dou-lhe seis contos de réis Acha pouco, inda quer mais? — Compadre, o cavalo é seu!
  • 13. 13 Eu nada mais lhe direi, Ele, por este dinheiro Que agora me sujeitei Para mim não foi vendido, Faça de conta que te dei! O velho pela ambição Que era descomunal, Deu-lhe seis contos de réis Todo em moeda legal Depois pegou no cabresto E foi puxando o animal. Quando ele chegou em casa Foi gritando no terreiro: — Eu sou o homem mais rico Que habita o mundo inteiro! Porque possuo um cavalo Que só defeca dinheiro! Pegou o dito cavalo Botou na estrebaria, Milho, farelo e alface Era o que ele comia O velho duque ia lá, Dez, doze vezes por dia... Aí o velho zangou-se Começou loga a falar: —Como é que meu compadre Se atreve a me enganar? Eu quero ver amanhã O que ele vai me contar. Porém o compadre pobre, (Bicho do quengo lixado) Fez depressa outro plano Inda mais bem arranjado Esperando o velho duque Quando viesse zangado... O pobre foi na farmácia Comprou uma borrachinha Depois mandou encher ela Com sangue de uma galinha E sempre olhando a estrada Pré ver se o velho vinha. Disse o pobre à mulher: — Faça o trabalho direito Pegue esta borrachinha Amarre em cima do peito Para o velho não saber, Como o trabalho foi feito! Quando o velho aparecer Na volta daquela estrada, Você começa a falar Eu grito: —Oh mulher danada! Quando ele estiver bem perto, Eu lhe dou uma facada. Porém eu dou-lhe a facada Em cima da borrachinha E você fica lavada Com o sangue da galinha Eu grito: —Arre danada! Nunca mais comes farinha! Quando ele ver você morta Parte para me prender, Então eu digo para ele: —Eu dou jeito ela viver, O remédio tenho aqui, Faço para o senhor ver! —Eu vou buscar a rabeca Começo logo a tocar Você então se remaxa Como quem vai melhorar Com pouco diz: —Estou boa Já posso me levantar. Quando findou-se a conversa Na mesma ocasião O velho ia chegando Aí travou-se a questão O pobre passou-lhe a faca, Botou a mulher no chão. O velho gritou a ele Quando viu a mulher morta: Esteja preso, bandido! E tomou conta da porta Disse o pobre: —Vou curá-la! Pra que o senhor se importa? —O senhor é um bandido Infame de cara dura Todo mundo apreciava Esta infeliz criatura Depois dela assassinada, O senhor diz que tem cura? Compadre, não admito O senhor dizer mais nada, Não é crime se matar Sendo a mulher malcriada E mesmo com dez minutos, Eu dou a mulher curada! Correu foi ver a rabeca Começou logo a tocar De repente o velho viu A mulher se endireitar E depois disse: —Estou boa, Já posso me levantar... O velho ficou suspenso De ver a mulher curada, Porém como estava vendo Ela muito ensanguentada Correu ela, mas não viu, Nem o sinal da facada. O pobre entusiasmado Disse-lhe: —Já conheceu Quando esta rabeca estava Na mão de quem me vendeu, Tinha feito muitas curas De gente que já morreu! No lugar onde eu estiver Não deixo ninguém morrer, Como eu adquiri ela Muita gente quer saber Mas ela me está tão cara Que não me convém dizer. O velho que tinha vindo Somente propor questão, Por que o cavalo velho Nunca botou um tostão
  • 14. 14 Quando viu a tal rabeca Quase morre de ambição. —Compadre, você desculpe De eu ter tratado assim Porque agora estou certo Eu mesmo fui o ruim Porém a sua rabeca Só serve bem para mim. —Mas como eu sou um homem De muito grande poder O senhor é um homem pobre Ninguém quer o conhecer Perca o amor da rabeca... Responda se quer vender? —Porque a minha mulher Também é muito estouvada Se eu comprar esta rabeca Dela não suporto nada Se quiser teimar comigo, Eu dou-lhe uma facada. —Ela se vê quase morta Já conhece o castigo, Mas eu com esta rabeca Salvo ela do perigo Ela daí por diante, Não quer mais teimar comigo! Disse-lhe o compadre pobre: —O senhor faz muito bem, Quer me comprar a rabeca Não venderei a ninguém Custa seis contos de réis, Por menos nem um vintém. O velho muito contente Tornou então repetir: —A rabeca já é minha Eu preciso a possuir Ela para mim foi dada, Você não soube pedir. Pagou a rabeca e disse: —Vou já mostrar a mulher! A velha zangou-se e disse: —Vá mostrar a quem quiser! Eu não quero ser culpada Do prejuízo que houver. —O senhor é mesmo um velho Avarento e interesseiro, Que já fez do seu cavalo Que defecava dinheiro? —Meu velho, dê-se a respeito, Não seja tão embusteiro. O velho que confiava Na rabeca que comprou Disse a ela: —Cale a boca! O mundo agora virou Dou-lhe quatro punhaladas, Já você sabe quem sou. Ele findou as palavras A velha ficou teimando, Disse ele: —Velha dos diabos Você ainda está falando? Deu-lhe quatro punhaladas Ela caiu arquejando... O velho muito ligeiro Foi buscar a rabequinha, Ele tocava e dizia: —Acorde,minha velhinha! Porém a pobre da velha, Nunca mais comeu farinha. O duque estava pensando Que sua mulher tornava Ela acabou de morrer Porém ele duvidava Depois então conheceu Que a rabeca não prestava. Quando ele ficou certo Que a velha tinha morrido Boto os joelhos no chão E deu tão grande gemido Que o povo daquela casa Ficou todo comovido. Ele dizia chorando: —Esse crime hei de vingá-lo Seis contos desta rabeca Com outros seis do cavalo Eu lá não mando ninguém, Porque pretendo matá-lo. Mandou chamar dois capangas: —Me façam um surrão bem feito Façam isto com cuidado Quero ele um pouco estreito Com uma argola bem forte, Pra levar este sujeito! Quando acabar de fazer Mande este bandido entrar, Para dentro do surrão E acabem de costurar O levem para o rochedo, Para sacudi-lo no mar. Os homens eram dispostos Findaram no mesmo dia, O pobre entrou no surrão Pois era o jeito que havia Botaram o surrão nas costas E saíram numa folia. Adiante disse um capanga: —Está muito alto o rojão, Eu estou muito cansado, Botemos isto no chão! Vamos tomar uma pinga, Deixe ficar o surrão. &mdashEstá muito bem, companheiro Vamos tomar a bicada! (Assim falou o capanga Dizendo pro camarada) Seguiram ambos pra venda Ficando além da estrada...
  • 15. 15 Quando os capangas seguiram Ele cá ficou dizendo: —Não caso porque não quero, Me acho aqui padecendo... A moça é milionária O resto eu bem compreendo! Foi passando um boiadeiro Quando ele dizia assim, O boiadeiro pediu-lhe: —Arranje isto pra mim Não importa que a moça Seja boa ou ruim! O boiadeiro lhe disse: —Eu dou-lhe de mão beijada, Todos os meus possuídos Vão aqui nessa boiada... Fica o senhor como dono, Pode seguir a jornada! Ele condenado à morte Não fez questão, aceitou, Descoseu o tal surrão O boiadeiro entrou O pobre morto de medo Num minuto costurou. O pobre quando se viu Livre daquela enrascada, Montou-se num bom cavalo E tomou conta da boiada, Saiu por ali dizendo: —A mim não falta mais nada. Os capangas nada viram Porque fizeram ligeiro, Pegaram o dito surrão Com o pobre do boiadeiro Voaram de serra abaixo Não ficou um osso inteiro. Fazia dois ou três meses Que o pobre negociava A boiada que lhe deram Cada vez mais aumentava Foi ele um dia passar, Onde o compadre morava... Quando o compadre viu ele De susto empalideceu; —Compadre, por onde andava Que agora me apareceu?! Segundo o que me parece, Está mais rico do que eu... —Aqueles seus dois capangas Voaram-me num lugar Eu caí de serra abaixo Até na beira do mar Aí vi tanto dinheiro, Quanto pudesse apanhar!.. —Quando me faltar dinheiro Eu prontamente vou ver. O que eu trouxe não é pouco, Vai dando pra eu viver Junto com a minha família, Passar bem até morrer. —Compadre, a sua riqueza Diga que fui eu quem dei! Pra você recompensar-me Tudo quanto lhe arranjei, É preciso que me bote No lugar que lhe botei!.. Disse-lhe o pobre: —Pois não, Estou pronto pra lhe mostrar! Eu junto com os capangas Nós mesmo vamos levar E o surrão de serra abaixo Sou eu quem quero empurrar!.. O velho no mesmo dia Mandou fazer um surrão. Depressa meteu-se nele, Cego pela ambição E disse: —Compadre eu estou À tua disposição. O pobre foi procurar Dois cabras de confiança Se fingindo satisfeito Fazendo a coisa bem mansa Só assim ele podia, Tomar a sua vingança. Saíram com este velho Na carreira,sem parar Subiram de serra acima Até o último lugar Daí voaram o surrão Deixaram o velho embolar... O velho ia pensando De encontrar muito dinheiro, Porém secedeu com ele Do jeito do boiadeiro, Que quando chegou embaixo Não tinha um só osso inteiro. Este livrinho nos mostra Que a ambição nada convém Todo homem ambicioso Nunca pode viver bem, Arriscando o que possui Em cima do que já tem. Cada um faça por si, Eu também fareipor mim! É este um dos motivos Que o mundo está ruim, Porque estamos cercados Dos homens que pensam assim. Disponível em: https://pt.wikisource.org/wiki/O_cavalo_que_defecava_dinheiro
  • 16. 16 Variação linguística A linguagem é a característica que nos difere dos demais seres, permitindo-nos a oportunidade de expressar sentimentos, revelar conhecimentos, expor nossa opinião frente aos assuntos relacionados ao nosso cotidiano, e, sobretudo, promovendo nossa inserção ao convívio social. E dentre os fatores que a ela se relacionam destacam-se os níveis da fala, que são basicamente dois: O nível de formalidade e o de informalidade. O padrão formal está diretamente ligado à linguagem escrita, restringindo-se às normas gramaticais de um modo geral. Razão pela qual nunca escrevemos da mesma maneira que falamos. Este fator foi determinante para a que a mesma pudesse exercer total soberania sobre as demais. Quanto ao nível informal, este por sua vez representa a linguagem do dia a dia, das conversas informais que temos com amigos, familiares etc. Compondo o quadro do padrão informal da linguagem, estão as chamadas variedades linguísticas, as quais representam as variações de acordo com as condições sociais, culturais, regionais e históricas em que é utilizada. Disponível em: http://brasilescola.uol.com.br/gramatica/variacoes-linguisticas.htm Variação regional O Brasil é um país com um território amplo e mesmo assim ainda possui uma língua única. Além de contribuir para uma grande diversidade nos hábitos culturais, religiosos, políticos e artísticos, a influência de várias culturas deixou na língua portuguesa marcas que acentuam a riqueza de vocabulário e de pronúncia. É importante destacar que as diferenças na nossa língua não constituem erro, mas são consequências das marcas deixadas por outros idiomas que entraram na formação do português brasileiro. Entre esses idiomas estão os indígenas e africanos, além dos europeus, como o francês e o italiano. A influência desses elementos presentes em cada região do país, aliada ao desenvolvimento histórico de cada lugar, fez com que surgissem regionalismos, isto é, expressões típicas de determinada região. Regionalismo é, na língua, o emprego de palavras ou expressões peculiares a determinadas regiões. Em literatura, é a produção literária que focaliza especialmente usos, costumes, falares e tradições regionais. Disponível em: http://letrasmarques2013.blogspot.com.br/2013/08/regionalismos.html
  • 17. 17 A MOÇA QUE FOI ENTERRADA VIVA - João Martins de Athayde Nos sertões de Teresina Habitava um fazendeiro, Era materialista Além disso interesseiro Só amava a duas coisas Homem valente e dinheiro Era quase um analfabeto Ostentava o fanatismo Mostrava grande afeição Pelo imperialismo Ele era um potentado Nos tempos do carrancismo Como era muito rico Confiava em sua sorte Era o temor dos sertões Naquela zona do Norte Que o que quisesse fazia, Ainda encarando a morte Vivendo como casado Na mais perfeita harmonia Tinha quatro filhos homens Todos em sua companhia Tinha uma filha moça, Por nome de Sofia Esta moça era caçula Vinte e um anos contava, Os irmãos eram mais velhos Mas nenhum se emancipava Só era dono de si No dia que se casava O velho não se importava De fazer revolução, Para sustentar o capricho Ou se vingar sua paixão Seus filhos também seguiam Nessa mesma opinião Quando ele conversava No meio de muita gente Dizia: “Tenho uma filha É uma moça decente Porém só casa com ela Quem for um bicho valente” Com poucos dias depois A noticia se espelhava, Qualquer um rapaz solteiro Que na estrada passava Já ia com tanto medo, Pra fazenda nem olhava Sofia se lastimava Dizendo: “Até onde vai, Este meu padecimento Sem se ver de onde sai Eu hei de ficar solteira, Pra fazer gosto a meu pai?!” Depois enxugou as lágrimas Que banhavam o lindo rosto Dizia: “Eu encontrando Um rapaz moço e disposto Eu farei com que meu pai Passe por esse desgosto” Um rapaz sabendo disto Se condoeu da donzela Vendo que não encontrava Outra moça igual àquela Um da determinou-se Dizendo: “Vou roubar ela” Escreveu logo um bilhete Dizendo: “Dona Sofia, Eu ontem fui sabedor Do que a senhora sofria Fiquei muito indignado Pois lhe tenho simpatia Conheço perfeitamente Que vou entrar em perigo Porque seu pai conhecendo Torna-se meu inimigo Basta saber que a senhora, Pretende se casar comigo Eu sou um rapaz solteiro Não tenho conta a quem dar Responda esse bilhete Pra eu me desenganar Se me aceita como esposo, O jeito eu vou procurar” Sofia mandou o sim Pela manha muito cedo, Fazendo ver a seu noivo Que de nada tinha medo Queria falar com ele, No outro dia em segredo O moço aí preveniu-se De um punhal e um facão, Pistola boa na cinta Cartucheira e munição Seguiu para a casa do velho, Porém com boa intenção Encontrou uma criada
  • 18. 18 Com um candeeiro na mão Perguntou-lhe: “Onde é o quarto Da filha de seu patrão?” Diz ela: “Ao lado esquedo Pela porta do oitão” A noite era muito escura Por ali ninguém o viu, Ele tanto pelejou E tanto se retraiu Que entrou no quarto da moça E o velho nem pressentiu Foi entardecendo a noite Acabaram de cear, Quando a moça entrou no quarto Para se agasalhar Foi avistando o rapaz, Ficou sem poder falar O rapaz muito ligeiro Pegou ela pela mão, Porém com muito respeito Contou-lhe sua intenção Dizendo: “Eu arranjo tudo, Sem precisar de questão Assim passaram a noite A moça muito assustada Quando amanheceu o dia Por sua mãe foi chamada Para cuidar dos trabalhos, Como era acostumada O rapaz ficou no quarto Do povo se ocultou, Quando botaram o almoço Então a moça voltou De parelha com seu noivo Ao velho se apresentou O rapaz saiu do quarto Seu rosto não demudava, Fincou o punhal na mesa Dizendo se aproximava: “É este o homem valente!... Que o senhor procurava?” Sou eu, seu futuro genro Que amo a esta donzela, Tudo isso que já fiz Não é criticando dela Embora me custe a vida, Só me casarei com ela”... O velho conheceu logo Que não tinha jeito a dar Correu a vista nos filhos Como quem quer avisar Aí todos convidaram O moço para almoçar Ele aceitou o convite Porque não tinha precisão Disse o velho mansamente: “Entre nós não há questão Precisamos fazer logo, Toda esta arrumação O senhor vá para casa Veja que falta arrumar, Arrumação para a noiva Eu também vou aprontar E o senhor no dia quinze, Venha para se casar” Assim que o rapaz saiu O velho chamou Sofia, Dizendo: “Filha maldita Quem te deu tanta ousadia? Me obrigastes da fazer O que nunca pretendia!” Aí gritou para os filhos, Dizendo de cara dura: “Agarrem esta maldita Prendam ela bem segura E vão no quarto do meio Cavem uma sepultura” Naquele mesmo momento Sofia foi amarrada, Para o quarto que estava A sepultura foi cavada Aonde a triste donzela Havia de ser sepultada Reuniu-se em roda dela Toda aquela comitiva, O pai, a mãe, os irmãos Por infame tentativa Condenaram a pobre moça Para sepultarem-na viva Naquela situação Que estava a pobre Sofia, Pedindo ao pai, em soluços, E o velho não atendia: “Meu pai, não me mate hoje Deixe eu viver mais um dia!” Sofia se lastimava E o velho não dava ouvido, Depois disse para ela: “Nada vale o seu pedido
  • 19. 19 A senhora está passando Da hora de ter morrido” Sofia disse: “Meu pai Tenha de mim compaixão Mande chamar o vigário Pra me ouvir em confissão Talvez por este meio Eu possa alcançar o perdão!” “A senhora em parte alguma Podia ser perdoada, Não há sentença bastante Para filha excomungada Quem fez o que você fez Só paga sendo queimada” O velho zangou-se e disse: “Não quero mais discutir Palavras de sua boca Não pretendo mais ouvir Siga; entre para a cova Para eu mandar entupir” Aí botaram Sofia Pra dentro da cova escura, O buraco foi cavado Com dez palmos de fundura Que sofrimento tirano Desta infeliz criatura O velho como uma fera Mandou ela se deitar Ela na ânsia da morte Começou logo a gritar Pedia aos outros: “Me acudam Que meu pai quer me matar!” O velho era malvado Pior que o Satanás Pegou Sofia dizendo: “Veja bem como se faz!”... Botou-lhe terra por cima, Até que não gritou mais Aí seguiram para a sala Ele, os filhos e a mulher Dizendo: “Estou satisfeito Vou esperar o que houver Só fica mais perigoso, Se o noivo dela souber” Logo preveniu-se tudo Contra o noivo de Sofia Nisto bateram à porta Mandaram ver quem batia Era o rapaz noivo dela, Porém de nada sabia O velho disse para ele “O senhor de onde vem? Minha derrota está feita Aqui não me sai ninguém Matei sua noiva agora, E o senhor morre também” Aí partiu para ele Como uma fera assanhada, O rapaz negou-lhe o corpo E deu-lhe uma punhalada O velho caiu gritando Não pode mais fazer nada Reuniu-se contra ele Os quatro irmãos de Sofia, Atirando à queima- roupa Mas nem um tiro atingia E ele os poucos que dava, La um ou outro perdia Com meia hora de luta Estava tudo sem ação, Os quatro irmãos de Sofia Dois morreram na questão Um correu espavorido E o outro ficou no chão O rapaz ficou sozinho Porém já muito ferido Quando foi passando a porta Ouviu um grande gemido Diz ele: “Talvez Sofia Inda não tenha morrido” O rapaz muito ferido Conhecendo que morria, Seguiu pela casa adentro Procurando quem gemia Acertou logo no quarto Onde enterraram Sofia, No mesmo canto encontrou A alavanca e a enxada Os ferros que tinham sido A dita cova cavada Com eles tirou Sofia, Quase morta asfixiada O leitor preste atenção Sofia foi arrancada Não morreu por um motivo
  • 20. 20 A cova não foi socada Só fazia quatro horas, Que tinha sido enterrada O rapaz muito doente Ainda conduziu Sofia Pra casa de sua mãe Que nada disso sabia A velha quando viu ele Quase morre de agonia Não fazia dez minutos Que o rapaz tinha chegado, Na casa de sua mãe Quando recebeu um recado Pelo irmão de Sofia Ia ser assassinado Disse o rapaz a Sofia: “Me acabo aqui mas não corro Já estou muito ferido Desta conheço que morro E também não me sujeito Gritar pedindo socorro” Aí ele pediu à mãe: “Veja as armas que aí tem O bacamarte, a espingarda E a pistola também E corra para bem longe Porque o povo já vem” A velha morta de medo Trouxe as armas e entregou Transpassada de agonia Chorando o abençoou Temendo a morte fugiu Porém Sofia ficou O rapaz entrincheirou- se Bem na porta da entrada Sofia estava por tudo Não se temia de nada Foi botar o sei piquete Atrás pela retaguarda Sofia triste pensando Tão depressa se acabar Conhecendo que morria Talvez antes de casar Quando levantou a vista Foi vendo o grupo chegar O rapaz que estava pronto Com o seu revólver na mão Amparou-se num portal Enfrentou o pelotão Cada tiro era um defunto Que embolava no chão Sofia na retaguarda Inda emparelhou seis O bacamarte era bom Certa pontaria fez Quando puxou o gatilho, Caiu tudo de uma vez Entrou um pela janela Sofia não pressentiu O rapaz estava lutando De forma nenhuma o viu Atirou nele nas costas Que o pobre rapaz caiu Aí pegaram Sofia Que não podia escapar, Cortaram todo o cabelo Mandaram os olhos furar Depois dependuraram ela Dizendo: “Vamos sangrar” Sangraram devagarinho Pra ainda mais judiar Antes da moça morrer Eles foram retalhar Em pedaços tão pequenos Que não puderam enterrar Quem me contou essa história Foi um rapaz muito sério Foi testemunha de vista Daquele caso funéreo Os corpos foram levados Num cesto pro cemitério O mundo está corrompido O erro vem de atrás Muitos acontecimentos De resultados fatais Só acontecem com as filhas Que vão de encontro aos pais
  • 21. 21 A SORTE DE UMA MERETRIZ - João Martins de Athayde Não se engane com o mundo Que o mundo não tem o que dar, Quem com ele se iludir Iludido há de ficar Pois temos visto exemplos, Que é feliz quem os tomar Doze anos tinha Aulina Seu pai era fazendeiro, Casa que naquele tempo Havia tanto dinheiro Muitas joias de valor, Crédito no mundo inteiro Aulina, eu creio, não tinha Outra igual na perfeição, Parece que a natureza Carregou mais nela a mão Pois nela via-se a força Do autor da criação Os olhos dela fingiam Raios do sol da manhã, O rosto bem regular Corado como a romã Parecia que as estrelas, Queriam chama-la irmão Os dedos alvos e finos Qual teclados de piano, Quem a visse só diria Que não era corpo humano Parecia ser propósito, Do Divino Soberano Também tinha tanto orgulho Que nem aos pais conhecia, Se julgava saliente A todo mundo que via Julgando que todo mundo A ela se curvaria Quando inteirou vinte anos Por si se prostituiu O pai quase enlouqueceu tanto desgosto sentiu Porque em toda família Um caso assim nunca viu Logo que caiu no mundo Por todos foi abraçada, Por as mais altas pessoas Era sempre visitada Por fidalgos e militares, Por todos era adorada Recebeu logo um presente De um palacete importante Com uma mobília sublime Dada pelo seu amante A obra de mais estima A quem se chama elegante Para sala de visita Comprou um rico piano, Quatro consolos de mármore Um aparador de ébano Uma cômoda muito rica, Que só a de um soberano Ricas cadeiras modernas Candeeiros importantes, Jarros de fino cristal Espelhos muito elegantes O retrato dela em um quadro Com quatro ou cinco brilhantes Um grande damasco verde A sala toda cobria Toalha bordada a ouro Em qualquer quarto se via Era só de porcelana Toda a louça que existia Nem é preciso falar No quarto onde ela dormia, Porque já se viu na sala A riqueza que existia Agora na cama dela, Faça ideia o que havia Durante cinco ou seis anos A vida dela era assim A casa era um céu de estrelas Rodeada de Marfim Vivia ela qual vive Um beija-flor no jardim Adoeceu de repente Não cuidou logo em tratar-se Julgando que dos amantes Nenhum a desamparasse Devido à sua influência Qualquer médico curasse Foi vice-verso o seu cálculo A si só chegaram dores, Foi perdendo a influência,
  • 22. 22 Multiplicando os clamores Não foi mais em sua casa Nenhum dos adoradores Pegou logo a empenhar As jóias que possuía, Por menos do seu valor Diversas coisas vendia E a moléstia no seu auge Crescendo de dia a dia No período de dois anos Gastou o que possuía, Pegou logo pelas jóias De mais valor que existia Sofás, cadeiras e consolos, Vendeu tudo em um só dia Os quadros, os aparadores Pianos, relógios, espelhos Vendeu-os para curar Duas fístulas nos joelhos Já desejava encontrar Quem lhe desse alguns conselhos Afinal vendeu a casa E a cama onde dormia Era o único objeto Que em seu poder existia Ainda um amante vendo Jamais a conheceria "Meu Deus", exclamava ela Vai infeliz meu futuro Nasci em berço dourado Para morrer no monturo Quanta diferença existe, Da seda para o chão duro Quantos lordes aos meus pés Se esqueciam de seus cargos, Me adoravam como santa Me mostrando mil afagos Hoje não vejo nenhum, Nesses dias tão amargos Quede os grandes militares Que não podiam passar, Três dias numa semana Sem me virem visitar E faziam de mim santa, De meu divã um altar Nada disso existe mais Tudo já se dissipou, As promessas e os presentes O vento veio e levou Em paga de tudo isso Na miséria me deixou Essas dores que hoje sofro É justo que sofra elas, Essas lágrimas que eu derramo Serão em pagas daquelas Que fiz gotejar dos olhos Das casadas e das donzelas Sinto dores com excesso Ouço a voz da consciência Me dizer: "Filha maldita Tua desobediência Clamará perante Deus E pedirá providência" Ela em soluços exclamava: "Meu Deus, tende compaixão, Nega-me tudo na vida Mas me alcançai o perdão Santíssima Virgem, rogai, Pela minha salvação" Que cobertores tão caros Já forraram meu colchão, Que cortinas de seda De grande admiração Hoje não tenho uma estopa Que forre aqui esse chão Ricos vestidos de seda Lancei muitos no monturo, Saias ainda em estado Camisa de linho puro Não pensava na desgraça Que vinha para o futuro Minha mesa nesse tempo Tinha de tudo que havia, Só mesa de um personagem De alta categoria Hoje o resto de uma sopa Quando agora me servia Peço esmola a quem passa Esse nem me dá ouvido, Quem outrora me adorava Não ouve mais meu gemido Passa por mim torce a cara, Se finge desconhecido Eu era como uma flor
  • 23. 23 Ao despontar da manhã Representava outrora Aquela deusa louçã Meus amantes perguntavam, Se a lua era minha irmã As majestades chegavam Antes da celebração, Humildes como um escravo Me faziam saudação Como se a render-me culto Seria uma obrigação O exército e o comércio A arte e agricultura, Todos me ofereciam Seu afeto de ternura Tudo vinha admirar Minha grande formosura Mas eu vivia enganada Com essas tristes carícias, Eu bem podia saber Que o mundo não tem delícias É um gozo provisório, É um cofre de malícias Donzelas eis o exemplo para todos que estão vendo, Não me viram a poucos dias Como o sol que vem nascendo? Já estou aqui no chão, Os tapurus me comendo Ah! meu pai se tu me visse Nessa miséria prostrada, Embora que vossa face Foi por mim injuriada Talvez que ainda dissesse: "Deus te perdoe, desgraçada" Ah! minha mãe carinhosa Se eu agora te abraçasse, Inda com essa agonia Talvez que me consolasse E antes de partir do mundo, Essa sede saciasse Sinto o soluço da morte Já é hora de partir, Peço ao meu anjo da guarda Para comigo assistir Porque temo que o demônio, Não venha me perseguir" Uma velha caridosa Trouxe água, ela bebeu, Matou a sede que tinha E graças a Jesus rendeu Erguendo os olhos ao céu, Nesse momento morreu.
  • 24. 24 João Martins de Athayde (24/06/1880 – 07/08/1959) O poeta popular e editor de folhetos João Martins de Athayde nasceu no povoado de Cachoeira de Cebolas, município de Ingá do Bacamarte, Paraíba, no dia 23 de junho de 1880. Nunca freqüentou uma escola. Aprendeu a ler e escrever sozinho. Segundo seu próprio depoimento, aos oito anos, assistindo pela primeira vez a um desafio de Pedra Azul, um famoso cantador da região, começou a se interessar e fazer poesia popular. Fez sua primeira rima aos doze anos de idade. Em 1898, por causa da seca, migrou da sua cidade natal para Camaragibe, um município da Região Metropolitana do Recife, Pernambuco, mudando-se, posteriormente, para a capital, onde trabalhou como auxiliar de enfermagem no Hospital Português. Seu primeiro folheto de cordel, O preto e o branco apurando qualidade, que alcançou grande sucesso de vendas, foi escrito, em 1908, e impresso na Tipografia Moderna. A partir daí, começou a vender folhetos de sua autoria e de outros em feiras e mercados do Recife. Em 1909, conseguiu montar uma pequena tipografia na Rua do Rangel,bairro de São José, tornando-se um dos maiores editores de folhetos de cordel do País. Da sua oficina saíram, durante mais de quarenta anos, estórias fantásticas, recriações de estórias famosas, crítica de costumes, notícias de acontecimentos da época que divertiam, informavam e educavam o homem da cidade grande e das localidades mais distantes do Nordeste brasileiro. Os folhetos que tivessem a marca de João Martins de Athayde tinham sucesso garantido, independente da autoria. Com um próspero negócio no “ramo do poesia”, Athayde deu oportunidades de emprego a poetas, folheteiros, agentes e distribuidores, dando uma grande contribuição para o desenvolvimento da arte e da comercialização do folheto popular no Recife. João Martins de Athayde foi o desbravador da indústria do folheto de cordel no País. Industrializando e comercializando sua produção e a de outros artistas, criou uma grande rede de atividades lucrativas no Nordeste, que se espalhou para outras regiões brasileiras, possibilitando a diversos poetas populares se dedicarem exclusivamente à A VISÃO DA MULHER NO FOLHETO DEPENDE DO CONTEXTO!
  • 25. 25 poesia como atividade profissional. Foi o responsável por profundas mudanças na edição de folhetos de cordel, no que se refere à relação entre os artistas e a tipografia, criando, inclusive, contratos de edição com o pagamento de direitos de propriedade intelectual, assim como na apresentação gráfica dos folhetos. Athayde foi aclamado na década de 1940 como o maior poeta popular do Nordeste, sendo elogiado por Tristão de Athayde e Mário de Andrade. Tinha uma grande admiração por Leandro Gomes de Barros, escrevendo em sua homenagem, em 1918, o folheto A pranteada morte do grande poeta Leandro Gomes de Barros. Em 1921, comprou à viúva de Leandro, por seiscentos mil réis, os direitos de publicação de toda a obra do poeta paraibano. Foi acusado então de publicar como sua a obra de Leandro e de ter posto o seu nome em poemas de vários outros poetas populares de quem também comprou o direito de edição. No caso da obra de Leandro, no início ele se colocava como editor proprietário e, posteriormente, retirou a informação da autoria de Leandro, chegando até a modificar alguns acrósticos (última estrofe da poesia, cujas letras iniciais identificam o autor da obra). Em 1949, sofreu um acidente vascular cerebral, tendo que se afastar de suas atividades. Em 1950, vendeu a tipografia e os direitos de edição a José Bernardo da Silva, proprietário da Tipografia São Francisco, localizada em Juazerio de Norte, Ceará, que passou a ser o maior centro editorial de folhetos de cordel do Nordeste, posição ocupada até então pelo Recife. Para o pesquisador popular Liêdo Maranhão, os poetas Leandro Gomes de Barros e João Martins de Athayde deveriam ter um monumento na Praça do Mercado de São José, pelos relevantes serviços prestados à poesia e ao folclore nordestinos. João Martins de Athayde morreu no dia 7 de agosto de 1959, na cidade de Limoeiro, Pernambuco, onde viveu seus últimos anos de vida. Disponível em: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=375&Ite mid=189
  • 26. 26 A PROPOSTA  De acordo com os estudos, leituras e discussões realizados nas aulas anteriores, redija um texto que corresponda às normas do gênero Folheto. Lembre-se que ele deverá ser escrito com base em uma das três temáticas em que você já foi contemplado nas aulas anteriores, que são:  O cordel é estrangeiro, mas o folheto é brasileiro!  A língua é nacional, mas o oxente é regional!  A mulher no folheto, depende do contexto! OFICINA DE FOLHETOS
  • 27. 27 O que é um verso? É cada uma das linhas constitutivas de um poema. (o mesmo que pé). Versos brancos: versos não rimados; versos soltos. Verso de seis pés: sextilhas Verso de pé quebrado: Verso errado ou malfeito O que é estrofe? É um grupo de versos que apresentam, comumente, sentido completo, o mesmo que estância. Existem vários tipos de estrofes, no cordel as mais usadas são: quadra (que caiu em desuso), sextilha, setilha e décima. Veja os exemplos abaixo:  Quadra (estrofes de quatro versos de sete sílabas) O sabonete cheiroso, Bonitinho e perfumado; Ele ouviu alguns rumores Que o deixou encabulado. (A briga do sabão com o sabonete, Izaías Gomes de Assis)  Sextilhas (estrofes de seis versos de sete sílabas) A sujeira aqui em baixo Já está fazendo mal E o Homem achando pouco Lá no Espaço Sideral Contamina nossa órbita Com o lixo espacial. (A Terra pede socorro, Izaías Gomes de Assis)  Setilhas (estrofes de sete versos de sete sílabas) Bin Laden conectado Com Nete ficou teclando Passando noites no Messagen Por ela se declarando. Bom! Gosto não se discute, Mas não é que pelo Orkut Um romance foi rolando. (Férias que Bin Laden passou em Natal, Izaías Gomes de Assis)  Décimas Se eu morrer neste lugar Cessando aqui minha lida Lá do outro lado da vida Do Sertão hei de lembrar E se Deus me castigar
  • 28. 28 Será branda a punição Pois ele dirá então: – Pior castigo foi ser Um sertanejo e viver Distante lá do Sertão. (Saudades do meu sertão, Izaías Gomes de Assis) O que é métrica? Arte que ensina os elementos necessários à feitura de versos medidos. Sistema de versificação particular a um poeta: (Dicionário Aurélio) Uma sílaba poética é diferente de uma sílaba comum. É possível unir duas ou mais sílabas ou fonemas em apenas uma sílaba poética. Veja o verso abaixo: Lá do_outro lado da vida Observe que essa estrofe tem oito sílabas comuns, mas poeticamente só tem sete sílabas metrificadas. 1 2 3 4 5 6 7 Lá do ou tro la do da vi da A sílaba poética é pronunciada como ouvimos os versos, por isso a sonoridade é importante num verso metrificado (a essa contração dá-se o nome de crase ou elisão) e só se conta as sílabas até a sílaba tônica da última palavra. Veja outro exemplo: Em pleno século vinte, O colossal transatlântico Partindo lá da_Inglaterra E_atravessando o Atlântico, Chega à_América em cem horas. Feito digno de cântico. (Manuel Azevedo, A tragédia do Nyengurg) As sílabas em negrito são as sílabas tônicas das últimas palavras, onde termina a contagem das sílabas métricas, e as sílabas sublinhadas são as que se contraem formando uma única sílaba. Observa-se que três vocais se contraindo no quinto verso e no sexto verso a consoante “g” forma uma sílaba. Na literatura de cordel geralmente usa-se os versos de sete sílabas (redondilhas maiores) e os versos de dez sílabas (decassílabos). Outro ex.: Vou narrar uma história De_um pavão misterioso Que levantou vôo da Grécia Com um rapaz corajoso Raptando_uma condessa Filha de_um conde_orgulhoso. (* Romance do Pavão Misterioso.) O que é rima? Identidade de som na terminação de duas ou mais palavras. Palavra que rima com outra.
  • 29. 29  Rimas ricas Rimas entre palavras de que só existem poucas, ou raríssimas, (chamadas também de rimas difíceis) com a mesma terminação, como novembro e dezembro; túmido e úmido, ou, segundo critério mais seguro, entre palavras de classes gramaticais distintas, como santo (adjetivo) e enquanto (conjunção), minha (pronome)e caminha(verbo).  Rimas pobres Rimas entre palavras de que se encontra superabundância com a mesma terminação, (chamadas também de rimas fáceis) como agonia e sombria; caminhão e pão ou entre palavras antônimas, como fiel e infiel, simpático e antipático, ou, ainda, segundo critério preferível, entre vocábulos da mesma classe gramatical, como chorasse (verbo) e cantasse (verbo); meu (pronome) e seu (pronome). Rimas toantes Aquelas em que só há identidade de sons nas vogais, a começar das vogais tônicas até a última letra ou fonema, ou algumas vezes, só nas vogais tônicas, ex.: fuso e veludo; cálida e lágrima. (essa forma não é aceita na cantoria nem na literatura de cordel).  Rimas consoantes As que se conformam inteiramente no som desde a vogal tônica até a última letra ou fonema. Ex.: fecundo e mundo; amigo e contigo; doce e fosse; pálido e válido; moita e afoita. (essa é a forma adotada nas cantorias e na literatura de cordel por ser uma rima perfeita). Palavras com grafia diferente, mas com fonemas (sons) iguais são consideradas rimas perfeitas, ex.: chorasse e face; princesa e riqueza; peça e pressa; seis e mês; faz e mais, PT e dendê. Temos que ter maior cuidado com palavras estrangeiras, porém podem ser usadas, ex.: discute e orkut; batuque e notebook; bauex e você; Internet e chevete, gay e rei. (Existe uma linha de poetas contemporâneos que não utilizam a rima com grafia diferente).  Rimas aparentes (em hipótese alguma se usa no cordel) São palavras que enganam pelas suas sonoridades parecem que rimam com outras, porém não rimam, ex.: Ceará e cantar; café e chofer; doutor e cantou; desistir e aqui; preferido e amigo; esperto e concreto, pensamento e centro; menina e clima; métrica e genérica; pensamento e tempo vazio e sumiu;cururu e azul. Cuidado que tem palavras que praticamente não existem rimas para elas, ex.: pizza, tempo, cinza e lâmpada. CUIDADO: Não se rima plural com singular. Devido um fato histórico-linguístico não se rima palavras terminadas em “l” com terminadas em “u”, ex.: Brasil e viu; Natal e bacurau Gabriel e chapéu não rimam. Boas rimas!!! Disponível em: http://cordeldobrasil.com.br/v1/aprenda-fazer-um-cordel/
  • 30. 30 Literatura oral Faz parte da literatura oral os mitos, lendas, contos e provérbios que são transmitidos oralmente de geração para geração. Geralmente, não se conhece os autores reais deste tipo de literatura e, acredita-se, que muitas destas estórias são modificadas com o passar do tempo. Muitas vezes, encontramos o mesmo conto ou lenda com características diferentes em regiões diferentes do Brasil. A literatura oral é considerada uma importante fonte de memória popular e revela o imaginário do tempo e espaço onde foi criada. Muitos historiadores e antropólogos estudam este tipo de literatura com o objetivo de buscarem informações preciosas sobre a cultura e a história de uma época. Em meio a ficção, resgata-se dados sobre vestimentas, crenças, comportamentos, objetos, linguagem, arquitetura etc. Podemos considerar como sendo literatura oral os cantos, encenações e textos populares que são representados nos folguedos. Exemplos de mitos, lendas e folclore brasileiro: saci-pererê, curupira, boto cor de rosa, caipora, Iara, boitatá, lobisomem, mula-sem-cabeça, negrinho do pastoreio. Disponível em: http://www.suapesquisa.com/cordel/ É NO RAP, OU NO REPENTE– Caju e Castanha É no rap ou no repente, é na batida do pandeiro, sou poeta brasileiro, e a minha vida é cantar. E na poesia que eu faço, eu nasci para improvisar. (bis) Venha do jeito que queira, seja do jeito que for, eu também tenho meu valor, os meus versos são ligeiros. E na levada do pandeiro, Eu nasci para improvisar. (bis) TIPOS DE FOLHETOS
  • 31. 31 Paparaparapapa, tararaturututu, tapioca contra caju, manga, abacaju e caja. E no swing do pandeiro, eu nasci para improvisar. (bis) Sou repente, sou tumada, minha rima tem história, cantador comigo chora quando eu começo a cantar. E na pancada do pandeiro, eu nasci para improvisar. (bis) Rap: Fala cantador, canta cantador, entre pra essa rima que tua história tem valor. Quando você canta, encanta a multidão, na escola da vida vai cantando esse refrão. Eu sou o castanha, você pode acreditar, no décimo repente eu também sei improvisar. Eu sou o caju, faço filinha de fé, dança a mão no rádio como são todo repente. Disponível em: https://www.vagalume.com.br/caju-castanha/no-rap-ou-no-repente.html
  • 32. 32 Sobre o repente O repente nordestino é uma das diversas formas que surgiu de interpretação de canto e poesia a partir da tradição medieval ibérica dos trovadores. Seus personagens, chamados de repentistas ou cantadores improvisam versos sobre os mais variados assuntos, e andando pelas feiras e espaços populares se apresentam sozinho ou trocam versos com outro cantador, o chamado desafio. O estilo é característico da região nordeste do Brasil, e praticado em especial pelos habitantes da região do sertão paraibano e pernambucano, mais especificamente na região do Pajeú e Sertão do Moxotó (PE) e Serra do Teixeira e Cariri Ocidental (PB), onde estão as cidades de São José do Egito, Sertânia, Arcoverde (PE), Teixeira, Princesa e Monteiro (PB). Com a migração de muitos nordestinos para a cidade de São Paulo, a cantoria se tornou uma tradição conhecida em todo o Brasil, a partir da mídia massiva que a capital paulista dispõe. Também foi a partir de São Paulo que os cantadores começaram a adotar uma viola de dez cordas criada pelos fabricantes e comerciantes de instrumentos Del Vecchio, a chamada "viola dinâmica", com seus característicos bocais de metal, inspirada em modelos americanos das fábricas National e Dobro, diferentes apenas pelo corpo do instrumento, fabricado em metal. A viola dinâmica de dez cordas se tornou um símbolo dos cantadores, especialmente a partir da década de 70 do século XX. Disponível em: http://www.infoescola.com/musica/repente/ O que é uma Peleja? Nesse tipo de folheto, cada poeta mostra suas habilidades no verso e tenta depreciar o oponente. As pelejas podem basear-se em desafios reais ou imaginários e geralmente são escritas em versos de sete sílabas. Quando escrita, a descrição da luta é antecedida por uma pequena introdução em que são apresentados os cantadores, o lugar da disputa, o público e os antecedentes. Os folhetos possuem outras características formais que se assemelham aos repentes, tais como o mote, tema em forma de verso, proposto por cantadores durante uma disputa.
  • 33. 33 O que é um folheto de circunstância? Os folhetos de circunstância, outra modalidade da literatura de cordel, não podem ser confundidos com o relato jornalístico dos acontecimentos. Nesses folhetos é possível encontrar desde as últimas notícias sobre os acontecimentos do país e do mundo, até histórias curiosas [...]. Os fatos eram narrados logo depois de acontecidos e por esta razão os folhetos de circunstância, também chamado folhetos de época, têm um tempo limitado de venda, exceção feita aos que se tornam clássicos. O que é um ABC? Além dos folhetos que narram fatos do dia a dia existem os ABCs, poemas narrativos em que cada estrofe corresponde a uma letra do alfabeto. Os ABCs dão conta de um assunto de A a Z e neles cabem vários tipos de histórias. Esse modelo de composição revela o poder de inventividade do poeta, sendo comumente encontrado na literatura infantil. O que é um romance? Os romances são comumente escritos em sextilhas [...]. Nas primeiras estrofes ficamos conhecendo os heróis e heroínas, os vilões, o lugar onde se passa a história, o tipo de história (de luta, aventura, humor, amor, mistério...). Em relação aos aspectos formais, pode-se ressaltar a presença de poucos personagens e a ausência de descrições detalhadas de paisagens e situações. Não existem restrições temáticas, mas os aspectos da vida no Nordeste possuem maior destaque. Também se encontram nos folhetos adaptações de romances e peças teatrais. MARINHO, Ana Cristina. O cordel no cotidiano escolar. São Paulo: Cortez, 2012. APELEJADOCEGOADERALDOCOMZÉPRETINHO–Firmino TeixeiradoAmaral
  • 34. 34 Apreciemmeusleitores Umaforte discussão que tive comZé Pretinho Umcantadordosertão Oqualno tangerdoverso Venciaqualquer questão Umdia determinei AsairdoQuixadá Umadasbelascidades DoestadodoCeará FuiatéaoPiauí Veroscantoresdelá Hospedei-me emPimenteira DepoisemAlagoinha CanteiemCampoMaior NoAngicoe naBaixinha Delá tive umconvite PracantarnaVarzinha Quandochegueina Varzinha Foide manhã bemcedinho Entãoodono dacasa Meperguntou semcarinho: Cego,você nãotemmedo DafamadeZéPretinho? Eulhe disse:Nãosenhor Masdaverdade eunãozombo Mandechamaressepreto Queeuquerodar-lhe um tombo Ele vindo um denósdois Hoje há dearderolombo Odono da casadisse: ZéPretopelo comum Dáemdezou vinte cegos Quantomaissendosóum; Mandou aoMacumanzeiro ChamarJosédoTucum Chamouum dosfilhos edisse Meufilho, vocêvájá DizeraJoséPretinho Quedesculpe eunãoir lá Eelecomo semfalta Ànoite venha porcá EmcasadotalPretinho Foichegandooportador Foidizendo: Lá emcasa Temumcegocantador Emeupaimanda dizer Quevá tirar-lhe ocalor ZéPretinho respondeu: -Bomamigo équem avisa Menino, dizei aocego Quevá tirando acamisa Mandebenzerlogo olombo Queeuvoudar-lhe umapisa Tudo zombava de mim Euainda nãosabia QueotalJoséPretinho Vinha paraacantoria Àscincohorasdatarde Chegouacavalaria Opretovinha na frente Todo vestido debranco Seucavaloencapotado Comum passomuito franco Riscaramde uma sóvez Todosno primeiro arranco Saudaramodono da casa Todoscommuita alegria Ovelho bemsatisfeito Folgava alegree sorria Voudaronome dopovo Queveio pracantoria VieramocapitãoDuda Tonheiro PedroGalvão AugustoAntônio Feitosa FranciscoManuelSimão SenhorJoséCarpinteiro FranciscoePedroAragão OJoséda Cabeceira EseuManuelCasado Chico Lopes,PedroRosa EManuelBronzeado Antônio Lopesde Aquino Eumtalde PéFurado JoséAntônio deAndrade SamueleJeremias SenhorManuelTomás ManducaJoãodeAnanias Eveio ovigário velho Curade trêsfreguesias Foidona Meridiana Dogrêmio dasprofessoras Essalevou duasfilhas Bonitas eencantadoras Essaseramdaigreja Asmaisexímias cantoras FoitambémPedroMartins AlfredoeJoséRaimundo SenhorFranciscoPalmeira JoãoSampaio Secundo Eumgrupo derapazes Dobatalhãovagabundo Levaramonegroprasala Edepois paraacozinha Lheofereceramumjantar Dedoce,queijo egalinha Paramimveio um café Comuma magrabolachinha Depoistrouxeramonegro Ecolocaramno salão Assentadonum sofá Comaviola na mão Juntoa uma escarradeira Paranãocuspirnochão Ele tirou aviola Dumsaconovo dechita Ecuja viola estava Toda enfeitadade fita Ouviasmoçasdizendo: Grande viola bonita! Entãoparamesentar Botaramum pobre caixão Jávelho desmantelado Dessesquevemcomsabão Eusentei,eleenvergou Emedeuumbeliscão Eutireiarabequinha Dumpobre sacodemeia Umpoucodesconfiado Porestáemterraalheia Ouviasmoçasdizendo: MeuDeus,que rabecafeia! Umdisse aZéPretinho: Aroupa do cegoésuja Botemtrêsguardasnaporta Paraqueelenãofuja Cegofeioassimde óculos Sópareceumacoruja DisseraocapitãoDuda Como homemmui sensato Vamosfazeruma bolsa
  • 35. 35 Botemdinheiro no prato Queémesmoque botar Manteiga emventade gato Dissemais: euquerover Pretinhoespalharospés Eparaosdois cantores Tireisetentamil réis Masvou inteirar oitenta Daminha partedou dez Medisse ocapitãoDuda –Cego,você nãoestranha Estedinheiro do prato Euvou lhe dizer quemganha Pertenceaovencedor Nadaleva quemapanha Nistoasmoçasdisseram: Játemoitenta mil réis PorqueocapitãoDuda Dapartedele deudez SeencostaramaZéPretinho Ebotarammais trêsanéis Entãodisse ZéPretinho: Deperdernãotenhomedo Estecegoapanha logo Falo sempedir segredo Tendoisto comocerto Botou osanéisnodedo Afinemos osintrumentos Entremosemdiscussão Omeuguia disse amim: Onegropareceocão Tenhacuidado comele Quandoentraremquestão Eulhe disse:seuJosé Seique osenhortemciência Parecequeésdotado DaDivina Providência Vamossaudaropovo Comajusta excelência P-Saidaí,cegoamarelo Cordeouro detoucinho Umcegoda tuaforma Chama-seabusavizinho Aonde eubotarospés Cegonãobota otoucinho C-Jávique seuZé Pretinho Éumhomem semação Como semaltrataoutro Semhaveralteração Eupensavaque osenhor Possuísseeducação P-Essecegobrutohoje Apanhaque fica roxo Caradepãodecruzado Testadecarneiromocho Cego,tuésum bichinho Quequando comevira ococho C-SeuJosé,oseucantar Merecericosfulgores Mereceganharnasala Rosasetrovasde amores Maistardeasmoçaslhe dão Bonitas palmasdeflores P-Cego,creioque tués Daraçadosaposunga Cegonãoadora aDeus ODeusde cegoécalunga Aonde oshomensconversam Ocegochegaeresmunga C-ZéPretonãome aborreça Comoteucantarruim Ohomem que cantabem Nãotrabalha emversoassim Tirando asfaltasque tem Botandoemcima de mim P-Cala-tecegoruim Cegoaquinãofazfigura Cegoquando abreaboca Éuma mentira pura Ocegoquantomais mente Inda maissustentaajura C-Essenegrofoiescravo Porisso étãopositivo Quersernasala debranco Exageradoe ativo Negroda canelaseca Todo elefoicativo P-Dou-teuma surra Decipó deurtiga Furo-te abarriga Maistardetuurra Hoje ocegoesturra Pedindo socorro Saidizendo: eumorro MeusDeusque fadiga Poruma intriga Eudemedo corro… C-Se euderumtapa Numnegrode fama Ele come lama Dizendo que épapa Eurompo-lhe omapa Lherasgodeespora Onegrohoje chora Comfebreecomíngua Eudeixo-lhe alíngua Comum palmo defora P-Nosertãoeupeguei Umcegomalcriado Danei-lhe omachado Caiueusangrei Ocouroeutirei Emregradeescala Espicheinuma sala Puxeiparaumbeco Edepois dele seco Fiz mais deuma malha C-Negroésmonturo Molambo rasgado Cachimbo apagado Recantodemuro Negrosemfuturo Pernadetição Bocadeporão Beiçodegamela Ventademoela Moleque ladrão P-Vejoacousaruim Ocegoestádanado Cantemoderado Eunãoqueroassim Olhe pra mim Quesouverdadeiro Sou bomcompanheiro Cantesemmaldade Euqueroametade Cego,do dinheiro C-Nemqueonegroseque Aengolideira Peçaanoite inteira Queeunãolhe abreque Masestemoleque Hoje dá pinote Bocadebispote Ventadeboieiro
  • 36. 36 Tuqueresdinheiro Eudou-te chicote P-Cantemaismoderno Perfeitoebonito Como tenhoescrito Cánomeucaderno Sou seusubalterno Embora estranho Creioque apanho Enãodou um caldo Tepeço,Aderaldo Repartadoganho C-Negroéraiz Queapodreceu Cascodejudeu Moleque infeliz Vaiprateupaís Senãoeutesurro Dou-teatéde murro Tiro-te oregalo Caradecavalo Cabeçadeburro P-Fala doutro jeito Commelhor agrado Seja delicado Cantemaisperfeito Olhe,eunãoaceito Tantodesespero Cantemaismaneiro Comversoscapaz Façamosapaz Repartaodinheiro C-Negrocareteiro Eurasgo-teagiba Caradeguariba Pajéfeiticeiro Queresdinheiro Barriga deangu Barbadequandu Camisa desaia Tedeixo na praia Escovandourubu P-Euvoumudar detoada Paraumaque metemedo Nuncaacheiumcantor Quedesmanchasseesseenredo Éumdedoéum dadoéum dia Éumdia éumdadoé umdedo C-ZéPretoesteteuenredo Teservedezombaria Tuhoje cegasderaiva Odiabo seráteuguia Éumdia éumdadoé umdedo Éumdedoéum dadoéum dia P-Cegorespondestesbem Como seestivesseestudado Eutambémdeminha parte Cantoversoaprumado Éumdedoéum dadoéum dia Éumdia éumdedoé umdado C-Vamoslá,JoséPretinho Queeujá perdiomedo Sou bravocomooleão Sou fortecomoopenedo Éumdedoéum dadoéum dia Éumdia éumdadoé umdedo P-Cegoagora puxa uma Dastuasbelastoadas Paraverseessasmoças Dãoalgumas gargalhadas Quasetodoopovo ri Sóasmoçasestãocaladas C-Amigo JoséPretinho Eunãoseioque será Devocênofim daluta Porquevencido já está –Quemapacacaracompra Apacacarapagará P-Cego,estouapertado Quesóumpinto noovo Estáscantandoaprumado Esatisfazendoaopovo Esteseulema da paca Porfavorcantedenovo C-Digo uma edigo dez Nocantarnãotenhopompa Presentementenãoacho Quemomeumapa rompa Pacacarapagará Quemapacacaracompra P-Cego,teupeito édeaço Foibom ferreiroquefez Penseique ocegonãotinha Noversotalrapidez Cego,senãoformassada Repita apacaoutra vez C-Arrecomtantapergunta destenegrocapivara Nãohá quemcuspapracima Quenãolhe caianacara –Quemapacacaracompra Pagaráapacacara P-Agoracegome ouça Cantareia pacajá Temaassiméum borrego Nobico deumcarcará Quemacaracaracompra CacacacaCacará Houve umtrovãode risadas Peloversodo Pretinho OcapitãoDuda disse: Arrede,pralá negrinho Vaidescansarteujuízo Ocegocantasozinho Ficou vaiado oPretinho Aíeulhe disse: meouça José,quemcantacomigo Pegadevagarnalouça Agoraoamigo entregue Oanelde cadamoça DesculpeJoséPretinho Senãocanteiaseugosto Negronãotempé,temgancho Nãotemcaratemérosto Negrona salade branco Sóservepradardesgosto Quandoeufiz estesversos Comaminha rabequinha Procureionegrona sala Jáestavanacozinha Devolta queria entrar Naporta dacamarinha Disponível em:http://osrascunhos.blogspot.com.br/2011/07/poesia-peleja-do-cego-aderaldo-com-ze.html
  • 37. 37 TerrornasTorresGêmeas–JoséJoãodosSantos(MestreAzulão) Como poeta repórter Nordestino Brasileiro Descrevo neste cordel Um lamentável roteiro Do mais cruel fanatismo Num ato deterrorismo Que abalou omundo inteiro Uma môça americana Muito educada egentil Veio até aminha casa Fez-me um convite febril Parair aoCite Lore Entre cordel efolclore Representar oBrasil (…) Foino dia dezdeAbril De noventa enove oano Eu andando em NovaYork Isento dequalquer dano Subi até oterraço Daquele monstro deaço Eorgulho americano Foino World Trade Center Comseus cento edez andares Eu contemplando a altura Avistei muitos lugares Dando aimpressão Que estava deavião Ouflutuando nos ares Do seuenorme terraço Olhei aimensidão Eu vi que deNova Jersey Vindo em nossa direção um pouco sedesviando Passava devez em quando Velozmente um avião Eu pensei naquela hora Refletindo emminha mente Deus defenda um avião Sechocar poracidente Nestes prédios eexplodir Além desedestruir Podematar muita gente Pois, Azulão previu oacontecimento. Embora proposital, aoinvés deacidental, aquelas duas torres eram um alvo e tanto. Ecomenta o atentado terrorista: Dois anos ecinco meses Depois daminha visita Terroristas portadores De crueldade esquisita Entre vinganças etédios Explodiram aqueles prédios Ação cruel emaldita (…) Écovarde e desumano Quem faz atosde terror Vingar-se dequem não fez Maldade oucrime de horror Uma açãoinjustamente Fazer que oinocente Pague pelo traidor Passados alguns versos, opoetafaz algumas críticas àpolítica de“combate aoterror” do governo estadunidense: George Bush eseuimpério Que quase omundo governa Comseus mísseis bombardeiros Mata, destrói e inferna ParaBin Laden encontrar Esem perdãolhe matar Comtodos numa caverna Mas sótem gastado armas Helicóptero eavião Bombardeando cidades
  • 38. 38 Mulher, criança, ancião Toda aquela pobregente Indefesa einocente Porém Bin Laden não Assim, minha gente, Mestre Azulão narra mais esta barbárie que impulsiona muitas outras mais. Sem deixar delado ohumor, oMestre apresenta suas críticas enos brinda com mais um interessantíssimo cordel. Como depraxe, finaliza com um acróstico, isto é,com versos que sãoiniciados pelas letras que fazem seu nome: Nãosouafavor doterror Da morte edestruição Mas quem fez oufaz maldade Recebe acompensação Nãolembram osamericanos Que há cinquenta anos Bombardearam oJapão Milhares perderam as vidas Ali num atotirano Zuada, grito elamento Um desastre desumano Logo ofogo consumiu Agonizou eferiu O país americano Disponível em: https://lercordel.wordpress.com/2011/09/11/o-11-de-setembro-em-cordel/ ABCDONORDESTEFLAGELADO-PatativadoAssaré A —Ai, como éduro viver nos Estados doNordeste quando onosso PaiCeleste não manda anuvem chover. Ébemtriste agente ver findar omês dejaneiro depois findar fevereiro emarço também passar, sem oinverno começar B — Berra o gado impaciente reclamando o verde pasto, desfigurado e arrasto, com o olhar de penitente; o fazendeiro, descrente, um jeito não pode dar, o sol ardente a queimar e o vento forte soprando, a gente fica pensando que o mundo vai se acabar. C — Caminhando pelo espaço, como os trapos de um lençol, pras bandas do pôr do sol, as nuvens vão em fracasso: aqui e ali um pedaço vagando... sempre vagando, quem estiver reparando faz logo a comparação de umas pastas de algodão que o vento vai carregando. D — De manhã, bem de manhã, vem da montanha um agouro de gargalhada e de choro da feia e triste cauã: um bando de ribançã pelo espaço a se perder, pra de fome não morrer, vai atrás de outro lugar, e ali só há de voltar, um dia, quando chover. E — Em tudo se vê mudança quem repara vê até que o camaleão que é verde da cor da esperança,
  • 39. 39 com o flagelo que avança, muda logo de feição. O verde camaleão perde a sua cor bonita fica de forma esquisita que causa admiração. F — Foge o prazer da floresta o bonito sabiá, quando flagelo não há cantando se manifesta. Durante o inverno faz festa gorjeando por esporte, mas não chovendo é sem sorte, fica sem graça e calado o cantor mais afamado dos passarinhos do norte. G — Geme de dor, se aquebranta e dali desaparece, o sabiá só parece que com a seca se encanta. Se outro pássaro canta, o coitado não responde; ele vai não sei pra onde, pois quando o inverno não vem com o desgosto que tem o pobrezinho se esconde. H — Horroroso, feio e mau de lá de dentro das grotas, manda suas feias notas o tristonho bacurau. Canta o João corta-pau o seu poema funério, é muito triste o mistério de uma seca no sertão; a gente tem impressão que o mundo é um cemitério. I — Ilusão, prazer, amor, a gente sente fugir, tudo parece carpir tristeza, saudade e dor. Nas horas de mais calor, se escuta pra todo lado o toque desafinado da gaita da seriema acompanhando o cinema no Nordeste flagelado. J — Já falei sobre a desgraça dos animais do Nordeste; com a seca vem a peste e a vida fica sem graça. Quanto mais dia se passa mais a dor se multiplica; a mata que já foi rica, de tristeza geme e chora. Preciso dizer agora o povo como é que fica. L — Lamento desconsolado o coitado camponês porque tanto esforço fez, mas não lucrou seu roçado. Num banco velho, sentado, olhando o filho inocente e a mulher bem paciente, cozinha lá no fogão o derradeiro feijão que ele guardou pra semente. M — Minha boa companheira, diz ele, vamos embora, e depressa, sem demora vende a sua cartucheira. Vende a faca, a roçadeira, machado, foice e facão; vende a pobre habitação, galinha, cabra e suíno e viajam sem destino em cima de um caminhão. N — Naquele duro transporte sai aquela pobre gente, agüentando paciente o rigor da triste sorte. Levando a saudade forte de seu povo e seu lugar, sem um nem outro falar, vão pensando em sua vida, deixando a terra querida, para nunca mais voltar. O — Outro tem opinião de deixar mãe, deixar pai, porém para o Sul não vai, procura outra direção. Vai bater no Maranhão
  • 40. 40 onde nunca falta inverno; outro com grande consterno deixa o casebre e a mobília e leva a sua família pra construção do governo. P - Porém lá na construção, o seu viver é grosseiro trabalhando o dia inteiro de picareta na mão. Pra sua manutenção chegando dia marcado em vez do seu ordenado dentro da repartição, recebe triste ração, farinha e feijão furado. Q — Quem quer ver o sofrimento, quando há seca no sertão, procura uma construção e entra no fornecimento. Pois, dentro dele o alimento que o pobre tem a comer, a barriga pode encher, porém falta a substância, e com esta circunstância, começa o povo a morrer. R — Raquítica, pálida e doente fica a pobre criatura e a boca da sepultura vai engolindo o inocente. Meu Jesus! Meu Pai Clemente, que da humanidade é dono, desça de seu alto trono, da sua corte celeste e venha ver seu Nordeste como ele está no abandono. S — Sofre o casado e o solteiro sofre o velho, sofre o moço, não tem janta, nem almoço, não tem roupa nem dinheiro. Também sofre o fazendeiro que de rico perde o nome, o desgosto lhe consome, vendo o urubu esfomeado, puxando a pele do gado que morreu de sede e fome. T — Tudo sofre e não resiste este fardo tão pesado, no Nordeste flagelado em tudo a tristeza existe. Mas a tristeza mais triste que faz tudo entristecer, é a mãe chorosa, a gemer, lágrimas dos olhos correndo, vendo seu filho dizendo: mamãe, eu quero morrer! U — Um é ver, outro é contar quem for reparar de perto aquele mundo deserto, dá vontade de chorar. Ali só fica a teimar o juazeiro copado, o resto é tudo pelado da chapada ao tabuleiro onde o famoso vaqueiro cantava tangendo o gado. V — Vivendo em grande maltrato, a abelha zumbindo voa, sem direção, sempre à toa, por causa do desacato. À procura de um regato, de um jardim ou de um pomar sem um momento parar, vagando constantemente, sem encontrar, a inocente, uma flor para pousar. X — Xexéu, pássaro que mora na grande árvore copada, vendo a floresta arrasada, bate as asas, vai embora. Somente o saguim demora, pulando a fazer careta; na mata tingida e preta, tudo é aflição e pranto; só por milagre de um santo, se encontra uma borboleta. Z — Zangado contra o sertão dardeja o sol inclemente, cada dia mais ardente tostando a face do chão. E, mostrando compaixão lá do infinito estrelado,
  • 41. 41 pura, limpa, sem pecado de noite a lua derrama um banho de luz no drama do Nordeste flagelado. Posso dizer que cantei aquilo que observei; tenho certeza que dei aprovada relação. Tudo é tristeza e amargura, indigência e desventura. — Veja, leitor, quanto é dura a seca no meu sertão. Disponível em: http://vermelho.org.br/noticia/43510-11 AS PROEZAS DE JOÃO GRILO – João Ferreira de Lima João Grilo foi um cristão que nasceu antes do dia criou-se sem formosura mas tinha sabedoria e morreu depois da hora pelas artes que fazia. E nasceu de sete meses chorou no bucho da mãe quando ela pegou um gato ele gritou: não me arranhe não jogue neste animal que talvez você não ganhe Na noite que João nasceu houve um eclipse na lua e detonou um vulcão que ainda continua naquela noite correu um lobisomem na rua Porem João Grilo criou-se pequeno, magro e sambudo as pernas tortas e finas boca grande e beiçudo no sitio onde morava dava noticia de tudo João perdeu o pai com sete anos de idade morava perto de um rio ia pescar toda tarde um dia fez uma cena que admirou a cidade. O rio estava de nado vinha um vaqueiro de fora perguntou: dará passagem? João Grilo disse: inda agora o gadinho de meu pai passou com o lombo de fora. O vaqueiro botou o cavalo com uma braça deu nado foi sair já muito embaixo quase que morre afogado voltou e disse ao menino: você é um desgraçado! João Grilo foi ver o gado para provar aquele ato veio trazendo na frente um bom rebanho de pato os patos passaram n'agua João provou que era exato Um dia a mãe de João Grilo foi buscar água à tardinha deixou João Grilo em casa e quando deu fé lá vinha um padre pedindo água nessa ocasião não tinha João disse; só tem garapa disse o padre: donde é? João Grilo lhe respondeu: é do engenho Catolé! disse o padre: pois eu quero João levou uma coité O padre bebeu e disse: oh! que garapa boa! João Grilo disse: quer mais? o padre disse; e a patroa não brigará com você? João disse: tem uma canoa João trouxe outra coité naquele mesmo momento disse ao padre: bebe mais não precisa acanhamento na garapa tinha um rato estava podre o fedorento O padre disse: menino tenha mais educação e porque não me disseste? oh! natureza do cão! pegou a dita coité arrebentou-a no chão João Grilo disse; danou-se! misericórdia, S. Bento! com isto mamãe se dana me pegue mil e quinhentos essa coité, seu vigário é de mamãe mijar dentro! O padre deu uma pôpa disse para o sacristão esse menino é o diabo em forma de cristão! meteu o dedo na goela quase vomita o pulmão João Grilo ficou sorrindo pela cilada que fez dizendo: vou confessar-me no dia sete do mês êle nunca confessou-se foi essa a primeira vez João Grilo tinha um costume para toda parte que ia era alegre e satisfeito no convivio da alegria
  • 42. 42 João Grilo fazia graça que todo mundo sorria Num dia de sexta-feira às cinco horas da tarde João Grilo disse: hoje a noite eu assombro aquele padre se êle não perdoar-me na igreja há novidade Pegou uma lagartixa amarrou-a pelo gogó botou-a numa caixinha no bolso do palitó foi confessar-se João Grilo com paciência de Jó As sete horas da noite foi ao confissionário fez logo pelo-sinal pôsto nos pés do vigário o padre disse: acuse-se; João disse o necessário Eu sou aquele menino da garapa e da coité; o padre disse: levante-se, eu já sei você quem é; João tirou a lagartixa soltou-a junto do pé A lagartixa subiu por debaixo da batina entrou na perna da calça tornou-se feia a buzina o padre meteu os pés arrebentou a cortina Jogou a batina fora naquela grande fadiga a lagartixa cascuda arranhando na barriga; João Grilo de lá gritava; seu padre, Deus lhe castiga! O padre impaciente naquele turututu saltava pra todo lado que parecia um timbu terminou tirando as calças ficando o esqueleto nu João disse: padre é homem? pensei que fosse mulher anda vestido de saia não casa porque não quer isto é que é ser caviloso cara de mata bebé O padre disse: João Grilo vai-te daqui infeliz! João Grilo disse: bravo do vigário da matriz é assim que ele me paga o benefício que fiz? João Grilo foi embora o padre ficou zangado João Grilo disse: ora sêbo eu não aliso croado vou vingar-me duma raiva que tive o ano passado No subúrbio da cidade morava um português vivia de vender ovos justamente nesse mês denunciou de João Grilo pelas artes que ele fez João encontrou o português com a égua carregada com duas caixas de ovos João lhe disse: oh! camarada deixa eu dizer a tua égua uma pequena charada O português disse: diga, João chegou bem no ouvido com a ponta do cigarro soltou-a dentro escondido a égua meteu os pés foi temeroso estampido Derrubou o português foi ovos pra todo lado arrebentou a cangalha ficou o chão ensopado o português levantou-se tristonho e todo melado O português perguntou: o que foi que tu disseste que causou tanto desgosto a esse animal agreste? - Eu disse que a mãe morreu o português respondeu: oh égua besta da peste! João Grilo foi a escola com sete anos de idade com dez anos êle saiu por espontânea vontade todos perdiam pra êle outro Grilo como aquele perdeu-se a propriedade João Grilo em qualquer escola chamava o povo atenção passava quinau nos mestres nunca faltou com a lição era um tipo inteligente no futuro e no presente João dava interpretação Um dia pergunta ao mestre: O que é que Deus não vê o homem vê qualquer hora? diz ele: não pode ser pois Deus vê tudo no mundo em menos de um segundo de tudo pode saber João Grilo disse: qual nada quêde os elementos seus? abra os olhos, mestre velho que vou lhe mostrar os meus seus estudos se consomem um homem ver outro homem só Deus vão ver outro Deus João Grilo disse: seu mestre, me diga como se chama a mãe de todas as mães? tenha cuidado no drama o mestre coça a cabeça disse: antes que me esqueça vou resolver o programa - A mãe de todas as mães é Maria Concebida João Grilo disse: eu protesto antes dela nascer já esta mãe existia não foi a Virgem Maria oh que resposta perdida! João Grilo disse depois num bonito português: a mãe de todas as mães já disse e digo outra vez como a escritura ensina
  • 43. 43 é a natureza divina que tudo criou e fez - Me responda professor entre grandes e pequenos quero que fique notável por todos nossos terrenos responda com rapidez como se chama o mês que a mulher fala menos? - Êste mês eu não conheço quem fez esta tabuada? João Grilo lhe respondeu: ora sêbo, camarada pra mim perdeu o valor ter o nome de professor mais não conhece de nada - êste mês é fevereiro por todos bem conhecido só tem vinte e oito dias o tempo mais resumido entre grandes e pequenos é o que a mulher fala menos mestre, você está perdido - Seu professor, me responda se algum tempo estudou quem serviu a Jesus Cristo morreu e não se salvou no dia que êle morreu seu corpo o urubu comeu e ninguém o sepultou? - Não conheço quem é esse porque nunca vi escrito; João Grilo lhe respondeu: foi um jumento está dito que a Jesus Cristo servia na noite que êle fugia de Belém para o Egito João Grilo olhou de um lado disse para o diretor: fique sabendo o senhor sem dúvida exame não fez o aluno desta vez ensinou ao professor João Grilo foi para casa encontrou sua mãe chorando êle então disse: mamãe não está ouvindo encantando? não chora, cante mais antes pois o seu filho garante pra isso vive estudando A mãe de João Grilo disse: choro por necessidade sou uma pobre viúva e tu de menor idade até da escola saíste; João lhe disse: ainda existe o mesmo Deus de bondade — A senhora pensa em carne de vinte mil réis o quilo ou talvez no meu destino que a fôrça hei de segui-lo? não chore, fique bem certa a senhora só se aperta quando matarem João Grilo João chegou no rio ás cinco horas da tarde passou até nove horas porém tudo foi debalde na noite triste e sombria João Grilo sem companhia voltava sem novidade Chegando dentro da mata ouviu lá dentro um gemido os lobos devoradores o caminho interrompido e trepou-se num pinheiro como era forasteiro ficou calado escondido Os lobos foram embora e João não quis descer disse: eu dormirei aqui siceda o que suceder eu hoje imito araquan só vou embora amanhã quando o dia amanhecer O Grilo ficou trepado temendo lobos e leões pensando na fatal sorte e recordando as lições que na escola estudou quando do súbito chegou uns quatro ou cinco ladrões Eram uns ladrões de Meca que roubavam no grito se ocultavam na mata naquele bosque esquisito pois cada um de persi que vinha juntar-se ali para ver quem era perito O capitão dos ladrões disse: não fala ninguém? um respondeu: não senhor disse ele: muito bem cuidado, não roubem vã vamos ajuntar-nos amanhã na capela de Belém — Lá partiremos o dinheiro pois aqui tudo é graúdo temos um roubo a fazer desde ontem que estudo mas já estou preparado; e o Grilo lá trepado calado e escutando tudo. Os ladrões foram embora depois da conversação João Grilo ficou ciente dizendo em seu coração: se Deus ajudar a mim acabou-se tempo ruim sou eu quem ganho a questão João Grilo desceu da árvore quando o dia amanheceu mas quando chegou em casa não contou o que se deu furtou um roupão de malha vestiu fez uma mortalha lá no mato se escondeu À noite foi pra capela por detraz da sacristia vestiu-se com a mortalha pois a capela jazia sempre com a porta aberta João Grilo partiu na certa colhêr o que pretendia Deitou-se lá num caixão que enterrava defunto João Grilo disse: hoje aqui vou ganhar um bom presunto; os ladrões foram chegando João Grilo observando sem pensar em outro
  • 44. 44 assunto Acenderam um farol penduraram numa cruz foram contar o dinheiro no claro de uma luz João Grilo de lá gritou: esperem por mim que vou com as ordens de Jesus! Os ladrões dali fugiram quando viram a alma em pé João Grilo ficou com tudo disse: já sei como é nada no mundo me atrasa agora vou pra casa tomar um rico café Chegou e disse: mamãe morreu nossa precisão o ladrão que rouba outro tem cem anos de perdão; contou o que tinha feito disse a velha: está direito vamos fazer refeição Bartolomeu do Egito foi um rei de opinião mandou convidar João Grilo pra uma adivinhação João Grilo disse: eu vou, no outro dia embarcou para saudar o sultão João Grilo chegou na corte cumprimentou o sultão disse: pronto, senhor rei (deu-lhe um aperto de mão) com calma e maneira doce o sultão admirou-se da sua disposição O sultão pergunta ao Grilo: de onde você saiu? aonde você nasceu? João Grilo fitou ele e sorriu — Sou deste mundo d'agora nascina ditosa hora que minha mãe me pariu — João Grilo, tu adivinha? e Grilo respondeu, não eu digo algumas coisas conforme a ocasião quem canta de graça é galo cangalha só pra cavalo e sêca só no sertão — Eu tenho doze perguntas pra você me responder no prazo de quinze dias escute o que vou dizer veja lá como se arruma è bastante faltar uma está condenado a morrer João Grilo disse: estou pronto pode dizer a primeira se acaso sair-me bem venha a segunda e a terceira venha a quarta e a quinta talvez o Grilo não minta diga até a derradeira Perguntou: qual o animal que mostra mais rapidez que anda de quatro pés de manhã por sua vez ao meio-dia com dois passando disto depois a tarde anda com três? O Grilo disse: é o homem que se arrasta pelo chão no tempo que engatinha depois toma posição anda em pé bem seguro mas quando fica maduro faz três pés com o bastão O sultão maravilhou-se com sua resposta linda João disse: pergunte outra vou ver se respondo ainda; a segunda o sultão fez João Grilo daquela vez celebrizou sua vinda — Grilo, você me responda em termos bem divididos uma cova bem cavada doze mortos estendidos e todos mortos falando cinco vivos passeando trabalham com três sentidos — Esta cova é um violão com prima, baixo e bordão mortas são as doze cordas quando canta um cidadão canta, toca e faz verso cinco vivos num progresso os cinco dedos da mão Houve uma salva de palma com vivas que retumbou o sultão ficou suspenso seu viva também bradou depois pediu silencio com outro desejo imenso a terceira perguntou João Grilo, qual é a coisa que eu mandei carregar primeiro dia e segundo no terceiro fui olhar quase dá-me a tiririca se tirar mais grande fica não mingua, faz aumentar? — Senhor rei, sua pergunta parece me fazer guerra um Grilo não tem saber criado dentro da serra mas digo pra quem conhece o que tirando mais cresce é um buraco na terra — João Grilo, vou terminar as perguntas do tratado e Grilo disse: pergunte quero ficar descansado; disse o rei: é muito exato o que é que vem do alto cai em pé, corre deitado? — Aquele que cai em pé e sai correndo no chão será uma grande chuva nos barros de um sertão; o rei disse: muito bem no mundo todo não tem outro Grilo como João — João Grilo, você bebe? João disse: bebo 1 pouquinho e disse: eu não sou filho de Baco que fez o vinho o meu pai morreu bebendo eu o que estou fazendo?de boca aberta em seu ninho O rei disse: João Grilo beber è coisa ruim e Grilo respondeu: qual o meu pai dizia assim: na casa de seu Henrique
  • 45. 45 zelam bem um alambique melhor do que um jardim O rei disse: João Grilo tua fama é um estrondo João Grilo disse: eu sabendo o que perguntar respondo disse o rei enfurecido: o que tem o pé comprido e faz o rastro redondo? Senhor rei, tenho lembrança de tempo da minha avó que ela tinha um compasso na caixa do bororó como êsse eu também ando fazendo o rastro redondo andando com uma perna só João qual é o bicho, que passa pela campina a qualquer hora da noite andando de lamparina? é um pequeno animal tem luz artificial; veja o que determina — Esse bicho eu já vi pois eu tinha por costume de brincar sempre com êle minha mãe tinha ciúme eu andava pelo campo uns chamam pirilampo e outros de vagalume O rei já tinha esgotado a sua imaginação não achou uma pergunta que interrompesse a João disse: me responda agora qual é o olho que chora sem haver consolação? O Grilo então respondeu: lá muito perto da gente tem num oiteiro importante um moço muito doente suas lágrimas têm paladar quem não deixa de chorar é ôlho d'água vertente O rei inventou um truque do jeito que lhe convinha — Vou arrumar uma cilada ver se João adivinha mandou vir um alçapão fez outra adivinhação escondeu uma bacurinha — João, o que é que tem dentro deste alçapão? se não disser o que é é morto, não tem perdão João Grilo lhe respondeu: quem mata um como eu não tem dó no coração João lhe disse: esse objeto nem é manso nem é brabo nem é grande nem é pequeno nem é santo nem é diabo bem que mamãe me dizia que eu ainda caía onde a porca torce o rabo Trouxeram uma bandeja ornada de muitas flores dentro dela uma latinha cheia de muitos fulgores o rei lhe disse: João Grilo é este o último estrilo que rebenta tuas dores João Grilo desta vez passou na última estica adivinhar uma coisa nojenta que se pratica fugir da sorte mesquinha pois dentro da lata tinha um pouquinho de xinica O rei disse: João Grilo veja se escapa da morte o que tem nesta latinha? responda se tiver sorte toda aquela populaça queria ver a desgraça do Grilo franzino e forte — Minha mãe profetizou que o futuro è minha perda — Dessas adivinhações brevemente você herda faz de conta que já vi como esta hoje aqui parece que dá em merda O rei achou muita graça nada teve o que fazer João Grilo ficou na corte com regosijo e prazer gozando um bom paladar foi comer sem trabalhar desta data até morrer E todas as questões do reino era João que deslindava qualquer pergunta difícil ele sempre decifrava julgamentos delicados problemas muito enrascados e João Grilo desmanchava Certa vez chegou na corte em mendigo esfarrapado com uma mochila nas costas dois guardas de cada lado seu rosto cheio de mágoa os olhos vertendo água fazia pena o coitado Junto dele estava um duque que veio denunciar dizendo que o mendigo na prisão ia morar por não pagar a despesa que fizera por afoiteza sem ter como lhe pagar João Grilo disse ao mendigo: e como é, pobretão que se faz uma despesa sem ter no bolso um tostão me conte todo passado depois de eu ter-lhe escutado lhe darei razão ou não Disse o mendigo: sou pobre e fui pedir uma esmola na casa do senhor duque levei a minha sacola quando cheguei na cozinha vi cozinhando galinha numa grande caçarola Como a comida cheirava eu tive apetite nela tirei um taco de pão e marcheipro lado dela e sem pensar na desgraça botei o pão na fumaça que saia da panela
  • 46. 46 O cozinheiro zangou-se chamou logo o seu senhor dizendo que eu roubara da comida o seu sabor só por eu ter colocado um taco de pão mirrado aproveitando o vapor Por isso fui obrigado a pagar essa quantia como não tive dinheiro o duque por tirania mandou trazer-me escoltado para depois de ser julgado ser posto na enxovia João Grilo disse: está bem não precisa mais falar: então perguntou ao duque: quanto o homem vai pagar? - Cinco coroas de prata ou paga ou vai pra chibata não lhe deve perdoar João Grilo tirou do bolso a importância cobrada na mochila do mendigo deixou-a depositada e disse para o mendigo: balance a mochila, amigo pro duque ouvir a zuada O mendigo sem demora fez como Grilo mandou pegou sua mochilinha sem compreender o truque bem no ouvido do duque o dinheiro tilintou Disse o duque enfurecido: mas não recebi o meu, diz João Grilo: sim senhor, isto foi o que valeu deixe de ser batoteiro o tinido do dinheiro o senhor já recebeu - Você diz que o mendigo por ter provado o vapor foi mesmo que ter comido seu manjar e seu sabor pois também é verdadeiro que o tinir do dinheiro representa o seu valor Virou-se para o mendigo e disse: estás perdoado leva o dinheiro que dei-te vai pra casa descansado o duque olhou para o Grilo depois de dar um estrilo saiu por ali danado A fama então de João Grilo foi de nação em nação por sua sabedoria e por seu bom coração sem ser por êle esperado um dia foi convidado para visitar um sultão O rei daquele país quis o reino embandeirado pra receber a visita do ilustre convidado o castelo estava em flores cheio de tantos fulgores ricamente engalanado As damas da alta côrte trajavam decentemente tôda côrte imperial esperava impaciente ou por isso ou por aquilo para conhecer João Grilo figura tão eminente Afinal chegou João Grilo no reinado do sultão quando êle entrou na côrte que grande decepção! de palitó remendado sapato velho furado nas costas um matulão O rei disse: não é ele pois assim já é demais; João Grilo pediu licença mostrou-lhe as credenciais embora o rei não gostasse mandou que ele ocupasse os aposentos reais Só se ouvia cochichos que vinham de todo lado as damas então diziam: é esse o homem falado? duma pobreza tamanha e ele nem se acanha de ser nosso convidado? Até os membros da côrte diziam num tom chocante pensava que o João Grilo fôsse dum tipo elegante mas nos manda 1 remendado sem roupa, esfarrapado um maltrapilho ambulante E João Grilo ouvia tudo mas sem dar demonstração em toda a côrte real ninguem lhe dava atenção por mostrar-se esmolambado tinha sido desprezado naquela rica nação Afinal veio um criado e disse sem o fitar: já preparei o banheiro para o senhor se banhar vista uma roupa minha e depois vá pra cozinha na hora de almoçar João Grilo disse; está bom; mas disse com seu botão: roupas finas trouxe eu dentro de meu matulão me apresentei rasgado para ver neste reinado qual era a minha impressão João Grilo tomou um banho vestiu uma roupa de gala então muito bem vestido apresentou-se na sala ao ver seu traje tão belo houve gente no castelo que quase perdia a fala E então toda repulsa transformou-se de repente o rei chamou-o pra mesa como homem competente consigo, dizia João: na hora da refeição vez ensinar esta gente O almoço foi servido porém João não quis comer despejou vinho na roupa só para vê-lo escorrer ante a corte estarrecida encheu os bolsos de comida para toda corte ver
  • 47. 47 O rei bastante zangado perguntou pra João: por que motivo o senhor não come da refeição? respondeu João com maldade: tenha calma, majestade digo já toda razão Esta mesa tão repleta de tanta comida boa não foi posta pra mim um ente vulgar a toa desde sobre-mesa a sopa foram postas à minha roupa e não à minha pessoa Os comensais se olharam o rei pergunta espantado: por que o senhor diz isto estando tão bem tratado? disse João: isso se explica por está de roupa rica não sou mais esmolambado Eu estando esfarrapado ia comer na cozinha mas como troquei de roupa como junto da rainha vejo nisto um grande ultraje homenagem ao meu traje e não a pessoa minha Toda corte imperial pediu desculpa a João e muito tempo falou-se naquela dura lição e todo mundo dizia que sua sabedoria era igual a Salomão. Disponível em: http://poesianordestina.blogspot.com.br/2013/10/as-proezas-de-joao-grilo.html A TERRA É NATURÁ – Patativa do Assaré Sinhô dotô, meu ofiço É servi ao meu patrão. Eu não sei fazê comiço, Nem discuço, nem sermão; Nem sei as letra onde mora, Mas porém, eu quero agora Dizê, com sua licença, Uma coisa bem singela, Que a gente pra dizê ela Não percisa de sabença. Se um pai de famia honrado, Morre, dexando a famia, Os seus fiinho adorado Por dono da moradia, E aqueles irmão mais véio, Sem pensá nos Evangéio, Contro os novo a toda hora Lança da inveja o veneno Inté botá os mais pequeno Daquela casa pra fora. Disso tudo o resurtado Seu dotô sabe a verdade, Pois, logo os prejudicado Recorre às oturidade; E no chafurdo infeliz Depressa vai o juiz Fazê. a paz dos irmão E se ele fô justicêro Parte a casa dos herdêro Pra cada quá seu quinhão. Seu dotô, que estudou munto E tem boa inducação, Não ignore este assunto Da minha comparação, Pois este pai de famia É o Deus da Soberania, Pai do sinhô e pai meu, Que tudo cria e sustenta, E esta casa representa A terra que Ele nos deu. O pai de famia honrado, A quem tô me referindo, É Deus nosso Pai Amado Que lá do Céu tá me uvindo, O Deus justo que não erra E que pra nós fez a terra, Este praneta comum; Pois a terra com certeza É obra da natureza Que pertence a cada um. Esta terra é como o Só
  • 48. 48 Que nace todos os dia Briando o grande, o menó E tudo que a terra cria. O só quilarêa os monte, Tombém as água das fonte, Com a sua luz amiga, Potrege, no mesmo instante, Do grandaião elefante A pequenina formiga. Esta terra é como a chuva, Que vai da praia a campina, Móia a casada, a viúva, A véia, a moça, a menina. Quando sangra o nevuêro, Pra conquistá o aguacêro Ninguém vai fazê fuxico, Pois a chuva tudo cobre, Móia a tapera do pobre E a grande casa do rico. Esta terra é como a lua, Este foco prateado Que é do campo até a rua, A lampa dos namorado; Mas, mesmo ao véio cacundo, Já com ar de moribundo Sem amô, sem vaidade, Esta lua cô de prata Não lhe dêxa de sê grata; Lhe manda quilaridade. Esta terra é como o vento, O vento que, por capricho Assopra, as vez, um momento, Brando, fazendo cuchicho. Otras vez, vira o capêta, Vai fazendo piruêta, Roncando com desatino, Levando tudo de móio Jogando arguêro nos óio Do grande e do pequenino. Se o orguiôso podesse Com seu rancô desmedido, Tarvez até já tivesse Este vento repartido, Ficando com a viração Dando ao pobre o furacão; Pois sei que ele tem vontade E acha mesmo que percisa Gozá de frescô da brisa, Dando ao pobre a tempestade. Pois o vento, o só, a lua, A chuva e a terra também, Tudo é coisa minha e sua, Seu dotô conhece bem. Pra se sabê disso tudo Ninguém precisa de istudo; Eu, sem escrevê nem lê, Conheço desta verdade, Seu dotô, tenha bondade De uvi o que vô dizê. Não invejo o seu tesoro, Sua mala de dinhêro A sua prata, o seu ôro o seu boi, o seu carnêro Seu repôso, seu recreio, Seu bom carro de passeio, Sua casa de morá E a sua loja surtida, O que quero nesta vida É terra pra trabaiá. Iscute o que tô dizendo, Seu dotô, seu coroné: De fome tão padecendo Meus fio e minha muié. Sem briga, questão nem guerra, Meça desta grande terra Umas tarefa pra eu! Tenha pena do agregado Não me dêxe deserdado Daquilo que Deus me deu. Disponível em: http://vermelho.org.br/noticia/43510-11
  • 49. 49  Como você vê a mulher sendo representada, nos diferentes gêneros textuais e/ou literários aos quais você já teve acesso? O NORDESTE É A PERIFERIA DO BRASIL – Jarid Arraes Já dizia Patativa Grande mestre professor: Pra falar da minha terra Tem de ser conhecedor Só possui conhecimento Com bastante embasamento Quem daqui é morador. Nordestina é essa gente Que conhece a exclusão O injusto esquecimento Triste de desilusão Pois se vive condenado Invisível e renegado Feito fosse reclusão. O nordeste é preterido Já tem tempo até demais E por causa dessa sina Já de nossos ancestrais Muita gente foi simbora Desde antes té agora Vivendo nas capitais. Só que na cidade grande Nordestino vira bicho Humilhado e explorado Só tratado como lixo O trabalho e a labuta É o som que se escuta Nessa vida de serviço. Trabalhando feito escravo Sem direito ou assistência Nosso povo é oprimido Num teste de resistência No sol quente ou no frio Pelos cantos do Brasil Sem espaço pra clemência. Esse prédio tão bonito Que paulista tanto gosta Só pode ser construído Com o peso em nossas costa Sem família pra cobrar Se morreu, pode enterrar Feito um pedaço de bosta. Foi assim com os candangos Que fizeram essa Brasília E saíram de suas terras Pra viver na disbulia Até hoje esse sumiço Foi o pago do serviço Duma constante vigília. Trabalhar de sol a sol É coisa de nordestino Que batalha todo dia Pra mudar o seu destino Não tem tempo ocioso Muito menos preguiçoso Só vivendo o desatino. As mulheres nordestinas Desde cedo exploradas Na cozinha ou no bordel São ainda traficadas Ser mulher não é moleza E falando com franqueza Só nos veem de empregada. A batalha feminina É puxada e dolorida É na roça e na cidade Trabalhando por comida Com os filho abandonada É de meretriz chamada E com força reprimida. Se virar uma empregada Pra limpar a casa alheia O dinheiro é uma miséria Que não faz um pé de meia E o patrão que assedia Só demonstra a covardia Dessa elite brasileira. ATIVIDADE ORAL
  • 50. 50 Muitas dessas nordestinas Que acabam no sudeste Não arranjam um trabalho Nem um salário que preste E a prostituição Vira a única opção Nesse mundo cafajeste. Para além de tudo isso Que envolve o trabalhar É notável e evidente O desejo de apagar A cultura nordestina De riqueza que ensina E só faz nos orgulhar. Já começa do sotaque Essa padronização Que imita nossa fala Nessa vil televisão E a gente é debochado Com o riso escrachado Sem contextualização. Para o povo nordestino Fica o resto do sobejo Bota a gente de piada Nesse cultural despejo Que rejeita nossa arte Faz de nós a contraparte Dum cruel e mau desejo. Quem despreza nossa gente Não esconde o que almeja Que é a nossa extinção Bem entregue de bandeja Pedem a separação Dividindo essa nação Numa linha que traceja. Mas pior é perceber O que dói é constatar Que nem mesmo a esquerda Que se diz politizar Lembra do nosso nordeste Pois só olha pro sudeste Sem querer mobilizar. Só quem fala é sudestino O lembrado maiorial Convidado em todo canto Palestrante coisa e tal O nordeste é invisível Na política risível Sem conduta e imoral. É por isso que eu digo Fácil é ser miltante E falar coisa bonita Dando uma de importante Mas na hora de provar E na prática atestar Só se mostra ignorante. Pois o reconhecimento Pro sudeste é destinado Não importa a corrente Nem problema abordado Se falar de feminismo De favela, de racismo O nordeste é apagado. Mas pra cá no Pernambuco E no Rio Grande do Norte Ceará ou Paraíba Também acontece morte Nordestino é minoria Sem nenhuma regalia E jogado à própria sorte. No nordeste tem racismo E a mulher é espancada Também tem homofobia E a travesti rejeitada Também vive nessa terra Enfrentando uma guerra Onde é silenciada. Nossa terra tem favela E a polícia é militar Aqui tem periferia Falta só tu enxergar É por isso que eu grito E nem vou falar bonito Pra paulista se agradar. Já estamos saturados Dessa discriminação Pois a nossa inteligência Não é para a servidão A gente não é capacho Dessa bando de diacho Elitista fi do cão. Eu não mudo meu sotaque Nem meu termo imponente A riqueza da minha terra Que é falada pela gente Como disse o Suassuna Minha língua é Jaguaruna E não troco meu oxente. Com orgulho falo alto Essa pátria me pariu Como filha nordestina Dessa força feminil Me calar não poderia Eu sou da periferia Da perifa do Brasil.
  • 51. 51 Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/2015/04/25/cordel-o-nordeste-e- periferia-brasil/ Jarrid Arraes Nascida e criada em Juazeiro do Norte, Jarid é íntima da literatura de cordel desde criança. Seu pai e avô são cordelistas e também fazem xilogravuras (técnica na qual se usa madeira como matriz e a reprodução da imagem é geralmente gravada sobre papel). "Cresci nesse contato direto com o cordel, que é uma manifestações da cultura popular nordestina. Eu era a primeira a ler os cordéis do meu pai e do meu avô, que tratam de assuntos mais politizados em suas obras - é o que chamamos de Cordel Engajado." Quando começou a produzir os seus, Jarid não teve dúvida de eles também seriam politizados. "Escrevo sobre o que me deixa engasgada", diz. Mulher, negra e nordestina, Jarid transforma suas vivências em versos rimados. "Os temas foram surgindo a partir da minha própria experiência, dos preconceitos e assédios que sofro diariamente e assisto o outro sofrer", revela. Além de cordelista, Jarid é comprometida com projetos sobre direitos humanos e tem uma coluna semanal na revista Fórum, chamada Questão de Gênero. Por lá, ela publica textos de opinião e também cordéis. Um dos últimos, "Não me chame de mulata", viralizou e causou discussões na internet. "Recebi dezenas de comentários me xingando por causa do cordel ‘Não me chame de mulata’. Por outro lado - e esse, sim, vale a pena - já li pessoas afirmando que nunca mais usarão o termo", escreveu em sua timeline do Facebook. Disponível em: http://revistatrip.uol.com.br/tpm/cordelista-e-feminista-conheca-jarid-arraes-uma-voz- de-protesto-contra-a-opressao
  • 52. 52 MANOEL MONTEIRO E O NOVO CORDEL Em ensaio que – há quatro dias – publiquei aqui (intitulado "O Reino Fecundo da Poesia Popular de Manoel Monteiro"), explanei detalhes do encontro que tivemos - eu e o poeta sonetista Fernando Cunha Lima - com o mais evidenciado bardo popular da atualidade e o maior representante do chamado Novo Cordel do nosso país: o poeta cordelista Manoel Monteiro, que – nascido, em 1937, na pacata cidade de Bezerros (PE) – está radicado, há décadas, em Campina Grande (PB), onde nos recebeu (em sua casa) na data de 26 de julho do corrente ano. Na ocasião, finalizamos o nosso inesquecível encontro fraterno-cultural, documentando uma descontraída entrevista com o carismático e prolífero vate, que é autor de mais de uma centena de títulos de cordéis e membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano e da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC). RUBENIO MARCELO — Manoel, Inicialmente, eu gostaria de saber de você qual a importância do Novo Cordel na atualidade. MANOEL MONTEIRO — Rubenio, o Novo Cordel de que eu falo é o cordel atual, o cordel do século XXI, este que está sendo utilizado, com eficiência, pelos professores nas salas de aula. O cordel, no momento, está em uma evidência muito maior do que nos seus ditos tempos áureos e pioneiros. Isto é verdade. Pode escrever. Eu conheço a história do cordel desde muito tempo, e convivendo com ele, nas feiras do Nordeste, desde 1951. Meu primeiro cordel foi publicado aqui em Campina Grande em 1953. Eu já vinha, há uns dois ou três anos, trabalhando com folhetos de feira em feira. Foi assim que eu saí de casa. As minhas asas para levantar vôo do ninho paterno foram os folhetos de cordel. E tão bem coladas foram estas asas, que ainda hoje eu continuo voando... Estas minhas asas foram e são, assim, muito mais firmes do que as (de penas) que puseram em Ícaro, pois quando este se aproximou do Sol, as suas asas caíram. Pois bem! Como afirmei, o cordel, hoje, está em evidência. Se o cordel de ontem era consumido (era absorvido) basicamente por gente simples e de pouca cultura, um público da periferia, das fazendas, das cidades pequenas do interior, dos mercados, das feiras livres (porque aonde ia o sertanejo, ia a sua mala repleta de saudades e de folhetos), hoje o cordel é consumido também nas escolas brasileiras; é valorizado nas instituições escolares de todos os graus, inclusive sendo enfocado por mestres e doutores nas suas teses acadêmicas. Então, o cordel hoje está em alta evidência e eu sei por que ele está com este prestígio... RUBENIO MARCELO — Por que, então, Manoel, que o cordel está com este prestígio que você acaba de nos reportar? MANOEL MONTEIRO — ... Porque os autores de hoje estão fazendo um trabalho diferenciado. Hoje, há cordelistas que possuem cursos superiores e especializações. Cordelistas
  • 53. 53 que conhecem todo o Brasil e até países do exterior. Então, a vivência destes homens (que trazem na bagagem, antes da formação superior, uma cultura de massa, uma natural convivência com o povo), capacita-os a participar – por exemplo – de conferências, cursos e palestras para universitários em qualquer faculdade ou universidade brasileira. O que não acontecia ontem. Se o Novo Cordel está com toda esta evidência, é porque hoje os seus autores estão inserindo esta literatura nas escolas, nas salas de aula, e ministrando também interessantes palestras e conferências acerca do assunto... Atualmente, o campo, o auditório, o público do cordelista é diferente. E o cordelista também é diferente. Então, esta qualidade do novo cordelista faz o Novo Cordel; faz com que o texto do cordel seja estudado e utilizado, inclusive no aprendizado da nossa Língua Portuguesa. Neste sentido, nós temos trabalhos de alta classe, como – por exemplo – o de Moreira de Acopiara (em São Paulo), Klévisson Viana (no Ceará), Geraldo Amâncio (grande repentista cearense), Janduí Dantas (com a sua Gramática em Cordel, que é admirável), o José Maria de Fortaleza (que também trabalha muito bem com a literatura de cordel nas escolas),apenas pra citar alguns (claro que temos outros nomes). Todos são trabalhos simples, humildes na aparência, mas grandiosos na penetração, na originalidade, no convencimento, na maneira de transformar o difícil em fácil, porque a vantagem da informação feita através do cordel é que ela é compreensível, em virtude de esta poesia ser fecunda e sonora. E esta particularidade do texto poético faz com que qualquer informação, veiculada através dela, seja de fácil apreensão e de agradável consumo. RUBENIO MARCELO — Quais as dificuldades e obstáculos que esta arte maravilhosa – o Cordel – está enfrentando nos nossos dias? E o que deve balizar a criação do Novo Cordel? MANOEL MONTEIRO — Eu diria que os obstáculos são aqueles naturais a toda qualidade de impresso. Especialmente os livros. Ora, eu me lembro, e aproveito a ocasião para repetir, o que disse, certa vez na Feira de Remígio, o escritor Cristino Pimentel: — “Vender livros no Brasil é carregar a cruz de Cristo, vinte e quatro horas, durante toda a vida”. Isto sintetiza a dificuldade das pessoas que vivem das suas obras literárias. Aqui mesmo, nesta sala, onde estamos agora, um pessoal da imprensa me perguntou o seguinte:“... Se nós estávamos tendo ajuda governamental... Se nós tínhamos facilidade de publicar os nossos trabalhos... E como que o governo olha osnossos artistas...”. E eu respondi (e esta é a minha posição): — O artista precisa, mas não deve se submeter ao beneplácito dos governantes, ficar esperando por isto, porque isto pode implicar numa certa subserviência, mesmo que instintiva. A independência para o artista é fundamental. Eu dizia e digo que: – Se uma pessoa, um artista, fizer um bom trabalho, ele há de ser reconhecido. O que interessa é que este artista prime pela sua obra. Procure fazer um trabalho de classe. Para isto, ele às vezes necessita de proceder a uma busca, realizar uma pesquisa, para ilustrar o seu conhecimento. Quem está escrevendo, quem vive de escrever, como é o nosso caso, é preciso cuidar, analisar o que publica e buscar aprimorar sempre a sua criação. E eu sou partidário da condição de que o poeta tenha um pouco de trabalho (em prol do aperfeiçoamento) para compor a sua obra, visto que este material ficará registrado para sempre, passando – às vezes – por várias mãos (leitores diversificados). Digo isto porque fizeram comigo, um dia desses, uma dessas surpresas maravilhosas: eu estava aqui e chegou o professor Daniel Duarte (homem que gosta de publicações e livros raros), que é do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri Paraibano, e me mostrou um monte de folhetos antigos que ele adquirira numa dessas feiras do interior. Então, eu passando alguns (uns eu conhecia e outros não...), e o que é que eu encontro... Eu encontrei um folheto que eu havia publicado aqui em Campina Grande em 1957. E deste folheto eu só me lembrava do título: “O Crime da Sombra Misteriosa”, e nem me lembrava mais de como eu tinha criado, inventado e conduzido a história, como havia desenvolvido o enredo. Mas onde eu iria encontrar aquilo? Então me chega aqui o Daniel com um exemplar deste folheto, que fora manuseado por mãos diversas, por mais de cinqüenta anos, passado certamente de pai para filho. Então eu pude perceber, mais uma vez, que quem escreve tem que pensar bem no que vai registrar, tem que analisar com cautela a formação do seu pensamento e da sua obra, para não documentar besteiras, que assim ficarão por muito tempo. Portanto, temos que pensar sempre em legar ao
  • 54. 54 futuro alguma coisa consistente e efetivamente útil. Poesia são fragmentos de luz... São relances... São fagulhas de beleza e de graça... E o poeta tem a obrigação de procurar isto. Uns têm mais facilidade... São mais queridos pela musa. Outros possuem certas dificuldades... Eu, por mim, digo: a cada dia que passa, mais dificuldades eu encontro para escrever os meus textos, porque eu não quero me repetir; eu não quero dizer aquilo que eu já disse... E é muito difícil um homem de mais de setenta anos, como é o meu caso, ficar dizendo coisas novas... (risos)... Quase tudo que eu vou dizer alguém já disse, ou eu mesmo já expressei anteriormente. Mas esta busca é uma necessidade. Nós temos que buscar novas flores e fragrâncias. Num jardim por onde você anda todo dia, onde você já beijou todas as rosas, você tem que buscar uma de nuança diferente. Que tenha alguma graça diferenciada daquela que você contemplou no dia anterior. Esta é a dificuldade e o desafio do poeta. RUBENIO MARCELO — Manoel, você – que é membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel – poderia nos dizer se esta Entidade (a ABLC) tem realizado atividades voltadas para a valorização e para a divulgação da arte do cordel? MANOEL MONTEIRO — Sim. Digo, com sinceridade, que a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, que tem a sua sede localizada no Rio de Janeiro (no bairro de Santa Teresa), é uma das chaves que têm aberto as portas de muitas instituições e entidades importantes no Brasil (e no mundo) para o cordel brasileiro, para este tipo de literatura impressa e expressa em versos. O cearense Gonçalo Ferreira da Silva – o presidente atual da ABLC – é um homem de cultura, possui curso superior, mas é, sobretudo, um poeta nato. Possui dom natural e sensibilidade. A Academia é muito importante. E muita gente tem me abordado sobre ela. Algumas pessoas até me questionam por que esta Academia não é estabelecida no Nordeste, uma vez que – segundo pensam – poesia popular é coisa de nordestino. E eu respondo: Poesia popular não é arte somente de nordestino. Poesia popular é arte do mundo e para o mundo. Os versos populares da literatura de cordel vêm – eu diria – das cavernas. Sim... Eu penso que a primeira poesia popular nasceu, lá numa primitiva caverna, com um troglodita, que – querendo conquistar uma formosa companheira – deixou de emitir aquele ruído agressivo e fez um ruído sonoro, flertou a trogloditazinha de uma maneira poética, agradável, musical, e aí nasceu a primeira poesia, o primeiro texto poético. A poesia é um sentimento especial; é a expressão de um assunto qualquer com a graça e a beleza e a ternura de um texto em versos. Então... Quando a poesia popular (na forma como estamos nos referindo: o cordel) vivia apenas de feira em feira, ela realmente tinha uma limitação de público, é verdade. Mas quando São Paulo e o Rio de Janeiro, por exemplo, começaram a absorver mão-de-obra dos outros estados, e também do Norte e do Nordeste, aí a poesia popular disseminou-se; o cordel ganhou as sendas do Brasil. O Ciclo da Borracha e a construção de Brasília também são eventos que colaboraram para esta universalização da poesia popular, que era, no princípio, um pouco restrita, realmente, ao Nordeste brasileiro. Cordel, literatura popular, hoje, é coisa do mundo. Poesia Popular é nada mais, nada menos, do que uma poesia bem escrita e que atinge a maioria das pessoas, porque ela é compreensível, ela é envolvente e boa de ser assimilada. Poesia popular é – por exemplo – o que encontramos nos versos de Leandro Gomes de Barros,versos escritos há cerca de cem anos e que compõem agora, por três anos seguidos, o programa do vestibular da Universidade Estadual da Paraíba. A Academia Brasileira de Literatura de Cordel tem estabelecido importantes contatos com entidades culturais e instituições do mundo, e esta abertura para os novos meios – mostrando a importância, o real valor da poesia popular – faz com que a literatura de cordel ganhe evidência e amplo destaque nos nossos dias. RUBENIO MARCELO — E os meios de comunicação de massa, por exemplo, a TV, o rádio, o jornal e, principalmente, a Internet, têm contribuído de forma efetiva para o prestígio e esta evidência do cordel (que você se refere)? MANOEL MONTEIRO — Estes meios de comunicação têm contribuído, e muito. O cordel, hoje, fala a linguagem do Século XXI. E a mídia, toda a imprensa que precisa de notícia, está vendo aí a importância e a influência do cordel, este expoente de arte que está sendo inclusive
  • 55. 55 (como já afirmei) estudado e enfocado – com destaque – em teses e monografias de mestrado e doutorado. Então, quando as universidades estão interessadas em algo, a imprensa – que é inteligente – também está. E isto tem favorecido deveras a valorização merecida da nossa literatura de cordel. A poesia em geral, hoje, é para ser veiculada também pela Internet e por todos os meios mais modernos de comunicação. RUBENIO MARCELO — Manoel Monteiro, o que é ser cordelista? MANOEL MONTEIRO — Ser cordelista é sonhar... E sonhar vinte e quatro horas por dia, porque a poesia popular é um exercício mental maravilhoso e muito gratificante. O poeta olha o vôo de um pássaro, analisa seus movimentos, diferentemente de um físico, por exemplo. Ser poeta cordelista é brincar com o lúdico, é querer copiar estrelas (e isto é possível?)... Então, repito, ser poeta [para mim] é viver sonhando, e é muito bom viver assim, porque a realidade do cotidiano é muito ríspida, é muito vazia. A poesia, às vezes, faz chorar, mas choramos de uma maneira diferente, porque choramos com a fecundação da alma... RUBENIO MARCELO — Eu gostaria que você nos explicasse como é que nasce a sua inspiração para escrever os seus trabalhos de cordel. MANOEL MONTEIRO — Primeiro, vem da minha vivência. O meu grande livro é a vida. Os meus cordéis são compostos, principalmente, embasados nas minhas experiências de vida, mas também - quando necessito - realizo um pouco de pesquisa. Quando eu vou escrever sobre um determinado assunto, às vezes temas requisitados, eu procuro me inteirar o máximo possível sobre aquela matéria. Contudo, a criação, no meu ponto-de-vista, deve ser a mais solitária possível. Na gestação do texto, o poeta deve-se voltar para o interior, para o seu interior, para os seus sentimentos, suas lembranças mais recônditas. É preciso mergulhar no desconhecido em busca do belo. Isto parece tão subjetivo, este meu raciocínio, mas é assim que estou conseguindo dizer como é o meu processo de criação. Eu não tenho um folheto pronto. Eu não sei nem como ele terá fim. E eu não sei nem se ele vai terminar. Às vezes eu busco uma palavra, eu quero uma palavra de determinado tamanho, eu necessito de uma palavra de determinada cor ou aspecto e ela não me aparece. Não adianta fazer por fazer... Só rimar é fácil (quando o som não arranha o ouvido, temos a rima). Metrificar, outrossim, não é difícil: a métrica pode ser aperfeiçoada pelo costume e a prática. Mas isto é muito pouco para a elaboração um bom poema. Faltam os desígnios da oração, que é o sentido, e principalmente a essência, que é a beleza. Então, o meu processo de criação é uma busca (e é dolorida)... Por isso quando eu trabalho algum folheto de encomenda (e eu faço, principalmente se o assunto for um desafio), eu preciso me inteirar, conhecer, falar com especialistas daquele assunto... Mas eu digo para as pessoas que encomendam: – Em não garanto nada. Não garanto que vai prestar... O futuro é que vai dizer... Eu vou tentar fazer, mas se eu não conseguir, paciência... O que é certo é que, somente pelo fato de eu conhecer os aspectos da rima e da métrica, não terei jamais a garantia da criação de uma bom texto poético. Preciso de algo mais, preciso daquilo que transcende... RUBENIO MARCELO — Para encerrarmos, eu gostaria que você expressasse algumas palavras dirigidas àquelas pessoas que estão se iniciando na arte do cordel, ou que estão se interessando, de alguma forma, pela poesia popular. MANOEL MONTEIRO – Parabenizo os que estão iniciando. É preciso que as pessoas expressem o que sentem. E, para isto, o melhor canal, o veículo mais democrático é a poesia. É preciso escrever e divulgar o trabalho. Mas é preciso procurar escrever com responsabilidade e desvelo (e também com racional autocrítica). No momento, a poesia está ganhando muitos adeptos em todo o mundo. Mas escrever poesia não é para todo mundo: só faz poesia quem é poeta; e só concebe a boa poesia quem é bom poeta. A real inspiração é uma coisa deveras etérea; muito sublime; não fácil de ser alcançada. A busca eterna pelo belo é uma das missões do poeta, e eu felicito os que estão começando a escrever, e volto a repetir: - Escrevam tudo que lhe vier ao coração, passem para o papel e divulguem, porque é desse meio, é dessa produção
  • 56. 56 que sairão as grandes obras. Contudo, quero repetir mais uma vez: é preciso ter cuidado ao escrever. O que for escrito agora, assume uma responsabilidade com os leitores do futuro. Disponível em: http://www.overmundo.com.br/overblog/manoel-monteiro-e-o-novo-cordel- entrevista SOBRE A ENTREVISTA: A entrevista é um tipo de texto que tem a utilidade de informar as pessoas sobre algum acontecimento social ou fazer com que o público conheça sobre as ideias e opiniões da pessoa que é entrevistada. Desta maneira, tanto o entrevistado quanto o entrevistador devem se posicionar de maneira correta, procurando pronunciar as palavras de forma correta e mantendo uma boa aparência, para que possa causar uma boa impressão diante daqueles que irão assistir a uma entrevista ou lê-la. Mas não podemos nos esquecer de que tudo aquilo é planejado com antecedência, tem mais chances de obter um bom resultado. Dessa forma, é muito importante elaborar as perguntas de maneira clara e objetiva, procurando sempre facilitar o entendimento. Estruturalmente, a entrevista compõe-se dos seguintes elementos:  Manchete ou título – Essa é uma parte que deverá despertar interesse no interlocutor envolvido, podendo ser uma frase criativa ou pergunta interessante.  Apresentação – É o momento em que se apresentam os pontos de maior relevância da entrevista, como também se destaca o perfil do entrevistado, sua experiência profissional e seu domínio em relação ao assunto abordado.  Perguntas e respostas – Basicamente, é a entrevista propriamente dita, na qual são retratadas as falas de cada um dos envolvidos. Disponível em: http://marista.edu.br/diocesano/genero-textual-a-entrevista-e-sua-funcao-informativa/