Mural Centro Habitação
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O projeto Vanguarda está construindo 113 moradias para famílias de baixa renda através de mutirões onde os próprios moradores trabalham na construção. Apesar de não ter recebido verbas da prefeitura, o projeto conseguiu recursos estaduais e federais. Alguns moradores reclamam que terão que pagar mais do que pagavam nos cortiços, mas a maioria considera que as novas moradias oferecem melhores condições.
Mural Centro Habitação
- 1. MURAL DO CENTRO MURAL DO CENTRO OUTUBRO - 2009 - ANO XIV - Nº 06 Projeto Laboratorial do Curso de Jornalismo do Centro de Ciências da Comunicação e Artes da Universidade Católica de Santos Com as próprias mãos Diante da insuficiência das políticas públicas, moradores de cortiços se mobilizam para garantir conjunto habitacional no Paquetá ‘Vanguarda’ muda vida de 113 famílias Prédio novo já precisa de reformas Fotos: Fabíola Ferreira Nathália Geraldo contados pelo trabalho dos benefi- Diante da procura pelo Daphine Machado e Cássio Freitas zes, o conserto não é imediato, e ciados. A ONG Ambienta é res- Vanguarda, outro projeto da pode demorar até duas semanas O conjunto habitacional Van- ponsável pelo projeto e vai de- ACC já aprovado para a Os prédios da CDHU no Centro para ser realizado. guarda, com previsão de entrega no senvolver no Vanguarda um sistema construção de mais 68 foram entregues aos moradores de Os moradores consideram que primeiro semestre de 2010, é um sustentável de aproveitamento da moradias no mesmo ter- cortiços em novembro de os apartamentos apresentam me- projeto pioneiro na Baixada Santista. água da chuva e separação do lixo. reno está em fase de 2008. Apesar de novos, já lhores condições que as antigas Pelo menos uma pessoa de cada O conjunto terá quatro blocos de busca de recursos. apresentam entupimento moradias, embora, por um preço uma das 113 famílias que vão ocupar apartamentos, boxes comerciais para de calhas, infiltração, maior. Marlucia de Fátima da Silva os imóveis trabalha na construção da geração de renda, área de vazamentos nos ba- mora com mais seis pessoas em um própria moradia. Isso acontece desde lazer e salão de fes- nheiros e manchas de apartamento de um quarto. Paga janeiro deste ano. Os apartamentos tas. Segundo a pre- umidade. Quando sur- por ele R$ 132, mais as despesas têm até três quartos e atendem à sidente da ACC, Sa- gem os problemas, a de água, luz e gás. “É um preço alto população do Paquetá, da Vila Nova, mara Faustino, a ide- garantia do prédio é comparado ao que pagava no do Valongo e da Vila Mathias. ia foi fazer o conjunto acionada. Funcioná- cortiço, mas gastamos o que po- Os novos prédios ficam na Rua atendendo às neces- rios da Menin Enge- demos pagar”, explica. André Her- General Câmara com a Rua dos sidades das famílias. nharia, empresa res- nandes Feitosa Gomes gastava Estivadores, em um terreno de 6,5 “Os moradores fica- ponsável pela manu- R$ 180 quando morava no cortiço mil m² cedido pela Secretaria de ram tão empolgados tenção dos prédios, e agora paga mais de R$300. Patrimônio da União. A Associação que querem construir fazem os reparos ne- Os prédios Jardim Paquetá, dos Cortiços do Centro (ACC), até uma churras- cessários. Depois, localizado na Rua Amador Bueno, responsável pela busca de re- queira”. fiscais da CDHU ve- e o Vitória, na Rua João Pessoa, cursos para o empreendimento, Após a entrega rificam se o trabalho têm respectivamente 53 e 60 selecionou os moradores pelo dos apartamentos, os foi concluído. Às ve- apartamentos. envolvimento de cada um no pro- moradores vão pagar cesso de viabilização da obra. Os recursos envolvem R$ 3,4 mensalidade de R$ 125 por 20 anos. Pa- Faltou orientação, diz CDHU milhões do Governo Federal, cerca gando em dia, o fi- Luiza de Oliveira mesma empresa. de R$ 900 mil do Governo do nanciamento pode ser O diretor regional da CDHU Estado e ainda R$ 240 mil des- reduzido para 17 anos. A obra, que começou em janeiro deste ano, tem entrega prevista para o início de 2010 O diretor regional explica que o impasse vivido pelo da CDHU, José Mar- Santos F ocorreu devido à quebra celo Ferreira, garante que não foi feito das empresas que estavam à frente Trabalho garante vaga Sacrifício que compensa um trabalho social para que as famílias da obra. “Por isso mesmo, o prédio Fabíola Ferreira e Paula Moreira comprometendo a participar do mutirão. Natasha Guerrize Mãe de dois filhos - um deles, recém-saídas dos cortiços fossem ficou paralisado por muito tempo”. Cerca de 30% dos participantes Bruno, também auxilia no mutirão -, orientadas sobre como cuidar da nova Quanto à qualidade dos ma- Com o sistema de mutirão, o perdem, ou ainda vão perder, o direito Mexer na terra, ou no cimento, não ela ainda consegue arrumar tempo moradia. Resultado: os moradores dos teriais utilizados, Ferreira diz que Vanguarda está sendo erguido ao imóvel, por não cumprir o contrato, é problema para Lourdes Basílio, de 54 durante o almoço de sábado para prédios Santos F e Santos H enfrentam “não são de luxo, mas têm o mínimo pelas mãos dos próprios mora- avalia Samara. “Há os que acham que anos. Gaúcha de origem, e há 38 anos levar a filha na escola. “Por causa da problemas como canos entupidos e, necessário para durar.” Ele ainda dores, que trabalham como aju- não precisam trabalhar. Esses são em Santos, a faxineira tem outro motivo gripe, ela estuda aos sábados para consequentemente, alagamentos. ressalta que os moradores não dantes de pedreiro. Cada um dos retirados do projeto e um dos que para celebrar a conquista da casa repor aula. Mas vale a pena todo o Ferreira afirma que a falta de devem descuidar da manutenção. futuros proprietários deve com- estão na fila de espera entra no lugar”, própria. Ela mesma participou da esforço para conciliar os trabalhos e conscientização é a causa principal O engenheiro e líder de obras pletar pelo menos 50% do trabalho. explica. “Se não querem trabalhar, construção, trabalhando como auxiliar a família”, garante Lourdes. desses transtornos. “Houve problemas da CDHU, Roberto Rosa Ber- A quantidade de horas semanais damos lugar a quem queira”. das obras. Assim como outras famílias, A diarista aprendeu, depois de 54 de alagamento, porque moradores tagnoli, afirma que as construtoras varia, de acordo com o tamanho dos Aparecido Vieira era um dos que Lourdes e os filhos serão contemplados anos, que ter um lugar próprio para deixaram a bomba d’água ligada. estão finalizando o atendimento de imóveis. Para apartamentos tipo estavam na fila, há dois meses, e com apartamento de um quarto. morar não é um sonho impossível. Alguns até jogavam sacolas pela janela, pós-ocupação. “Nos dois prédios, quitinete, é preciso cumprir uma obteve uma vaga. Ele deixará de O desafio não é dos mais fáceis. “Minha maior alegria é saber que causando o entupimento dos ralos”. estão sendo feitos serviços como jornada de oito horas semanais. O pagar R$ 150 por mês em um cortiço, Além de trabalhar como diarista nos essa conquista não é só minha, mas A construção dos prédios co- troca de medidores, por exemplo”. número aumenta conforme a área. Os onde divide o único banheiro com oito dias de semana, Lourdes tem de se também dos meus filhos”, diz. Assim meçou há cerca de seis anos. As Roberto também destaca a espaços menores são para quem famílias. No Vanguarda, ele pagará dedicar ao mutirão aos sábados e como seu conterrâneo, o escritor empresas foram escolhidas por importância da conscientização por mora sozinho. Para até três pessoas, R$ 125. “Estou trabalhando muito feliz domingos até completar 11 horas Érico Veríssimo, Lourdes pode dizer licitação. O Santos F passou por parte dos moradores. “Há con- há os apartamentos de um quarto; por saber que estou fazendo isto por de atividades. que a vida começa todos os dias. três construtoras até ser entregue sertos para os quais eles não estão até cinco, dois quartos; e para mim e pelo meu futuro”, diz Vieira. à comunidade no ano passado. Já habilitados, mas insistem em fazer. famílias com mais de seis inte- Há ainda um programa de pon- o Santos H começou a ser construí- E o problema de um apartamento grantes, três quartos. tuação entre os trabalhadores. Con- do mais tarde, e se manteve com a pode virar o de um prédio inteiro”. Há fiscais que contabilizam os forme a participação em reuniões turnos. Quem não cumprir o horário e assembléias, é feita uma lista dos Plano de Habitação quer verba federal pode perder o imóvel. Segundo a mais engajados. A ordem da lista presidente da Associação dos Cor- dará direito à escolha dos andares Cidinha Santos Centro Habitação, que tramita na tiços do Centro (ACC), Samara e da posição do apartamento (fren- Comissão de Justiça e Redação, Faustino, todas as famílias cadas- te ou fundos), além de permitir optar Em breve, Santos conhecerá o e está previsto para entrar na tradas assinaram um contrato se por varanda. seu déficit habitacional, por meio do pauta da Câmara neste semestre. Plano Municipall de Habitação, uma Bechara avalia que “pela primeira Município fica de fora exigência do Ministério das Cidades. Com esse instrumento, que está em vez está se colocando o dedo na ferida. É preciso que o poder Brenda M.S.M Duarte que isso ocorreu devido à falta de verba elaboração, o Município poderá bus- público intervenha”. e de discussão prévia quanto à de- car verbas federais para a constru- Sobre as 14.500 pessoas que A presidente da Associação manda do Projeto Vanguarda. ção de moradias populares. moram nos cortiços, o secretário dos Cortiços do Centro (ACC), Segundo Vieira, a Prefeitura Os problemas observados nos diz que o número é importante para Samara Faustino, afirma que o pretendia vincular o projeto da ACC cortiços e as condições precárias se medir o tamanho do problema. Projeto Vanguarda não contou com ao Plano Municipal de Habitação. desses locais surgiram nos primei- Bechara argumenta que Santos é verbas da Prefeitura de Santos. ”Nós queríamos beneficiar as pessoas ros dados levantados pela equipe uma das cidades que mais têm ‘Nós recebemos recursos es- por blocos. Por exemplo, uma rua seria responsável pelo plano. Num dos recebido recursos do governo taduais e federais, mas a parte que contemplada com os imóveis, e então imóveis da Rua Dr. Cóchrane, no federal para habitação e que di- cabia ao Município não foi dada”. interditaríamos aqueles cortiços para Paquetá, 17 pessoas moram e versos empreendimentos estão na Segundo Samara, isso aconte- a população não retornar”. pagam aluguel para dividir um lugar fase de licenciamento. “Os mo- ceu porque o projeto apresentado Ele diz que a Prefeitura se com- para dormir. vimentos de moradia têm um tra- pela ACC incluía apartamentos promete a ajudar quando a obra Segundo o secretário de Pla- balho sério e intenso. Vivemos um com um e três quartos e se di- estiver em fase mais avançada. ‘Não nejamento, Bechara Abdalla Pestana quadro privilegiado de ação política ferenciava do padrão de imóveis da vamos deixar nada inacabado. Se Neves, esse é o imóvel que se na área habitacional”, afirma. CDHU, que só prevê dois quartos. precisarem de ajuda, ajudaremos”. encontra em pior estado. “Os dados De acordo com estudo rea- O presidente do Conselho Muni- Samara, por sua vez, alega que e imagens foram apresentados aos lizado para implementação do cipal de Habitação e da Companhia não houve iniciativa por parte do vereadores para mostrar a respon- Plano Municipal de Habitação, o Municipal de Habitação (Cohab), Município, no sentido de integração dos sabilidade que temos em reverter aproveitamento das áreas urbanas Hélio Vieira, admite que o Município projetos e ironiza a promessa de ajuda esse quadro”. com infraestrutura, como é o caso não disponibilizou recursos, mas feita por Hélio Vieira. ’Depois da onça As informações deram respaldo da região central, é a alternativa contesta Samara Faustino. Ele alega morta, todo mundo quer dar o tiro”. O trabalho na construção garante experiência profissional aos moradores à elaboração do Projeto Alegra mais viável, financeiramente. EXPEDIENTE MURAL DO CENTRO - Projeto laboratorial do Curso de Jornalismo, do Centro de Ciências da Comunicação e Artes (CCA) da Universidade Católica de Santos. Diretor: Prof. Dr. Ouhydes Fonseca. Coordenador: Prof. Me Paulo Roberto Börnsen. Elaborado pelos alunos do 6º semestre - matutino - sob a orientação da Profª Drª Benalva Vitório, do Prof. Me Eduardo Cavalcanti (textual) e do Profº Claudio Lemos (gráfica). As cartas deverão ser enviadas para Avenida Conselheiro Nébias, 300. CEP: 11015-002. As opiniões aqui emitidas são responsabilidade de seus autores, não representando necessariamente a opinião do CCA e de seus dirigentes. EQUIPE DE FECHAMENTO - Editora: Fabíola Ferreira. Revisora: Brenda M.S.M. Duarte. Diagramadora: Nathália Geraldo. Impressão: Diário do Litoral.