SlideShare uma empresa Scribd logo
6
Mais lidos
7
Mais lidos
10
Mais lidos
Sonetos
Luís de Camões
Prof. José Ricardo Lima
www.literaturaeshow.com.br
O AUTOR
SONETOS Luís de Camões
 Luís Vaz de Camões
 (Lisboa[?], 1524 — Lisboa, 10 de
junho de 1579 ou 1580) foi
um poeta nacional de Portugal,
considerado uma das maiores
figuras da literatura lusófona e
um dos grandes poetas da
tradição ocidental.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
o autor
SLIDES SOBRE O CLASSICISMO
PORTUGUÊS
TEXTOS PARA LEITURA E ANÁLISE
SONETOS Luís de Camões
Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
PRIMEIRA PARTE (verso 1 ao 11)
 Tentativa de uma definição “racional” do
amor;
 Metáforas paradoxais;
 Presença de anáfora;
SEGUNDA PARTE (verso 12 a 14)
 Adversidade;
 O amor é paradoxal, pois é contrário a si
mesmo;
 Reflexão inconclusiva, pois termina com
uma pergunta.
INTERTEXTUALIDADE
 Monte Castelo (Legião urbana)
SONETOS Luís de Camões
Ah! minha Dinamene! Assi deixaste
quem não deixara nunca de querer-te?
Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te,
tão asinha esta vida desprezaste!
Como já para sempre te apartaste
de quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te,
que não visses quem tanto magoaste?
Nem falar-te somente a dura morte
me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos deitado consentiste!
Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte!
Que pena sentirei, que valha tanto,
que inda tenho por pouco o viver triste?
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
 Dinamene: ninfa, nereida (Nereu + Dóris);
amada de Camões (Oriente);
 ARCAÍSMOS: Assí (v.1) e Inda (v13)morte
depressa
Para o eu lírico, é como se ela tivesse
“concordado” com a morte
As nereidas estavam relacionadas às águas
e Dinamene morreu afogada
Interjeição: saudade
O céu. Onde está Dinamene, aparece personificado (letra maiúscula)
Luto em função da morte da amada
O eu lírico pressente que seus anos serão curtos
SONETOS Luís de Camões
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
algua causa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
cacófato
morte
ANTÍTESES: “Céu” e “Terra” / “repousa” e “viva”
Uma visão cristã de “céu”
ANTÍTESES: amor neoplatônico X amor erótico
Éter: quinta essência (Aristóteles)
arcaísmo
Para o eu lírico, é como se ela tivesse
“concordado” com a morte. Ele fica “sentido”,
magoado.
Novamente, a ideia de uma morte prematura, já
expressa no outro poema
Peça a Deus que eu morra também. Que sua
vida seja tão breve como a da amada.
SONETOS Luís de Camões
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
Questa anima gentil che si diparte,
anzi tempo chiamata a l’altra vita,
se lassuso è quanto esser dê gradita,
terrà del ciel la piú beata parte.
S’ella riman fra ’l terzo lume et Marte,
fia la vista del sole scolorita,
poi ch’a mirar sua bellezza infinita
l’anime degne intorno a lei fien sparte.
Se si posasse sotto al quarto nido,
ciascuna de le tre saria men bella,
et essa sola avria la fama e ’l grido;
nel quinto giro non habitrebbe ella;
ma se vola piú alto, assai mi fido
che con Giove sia vinta ogni altra stella.
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no Céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
memória desta vida se consente,
não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
algua causa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
Essa alma genti l que partiu,
antes do tempo, chamada a outra vida,
terá no céu segura acolhida
terá no céu a mais beata parte.
Se ela ficar entre a terceira luz e Marte
será a vista do sol descolorida
depois virá, toda alma ao céu subida
em torno dela olhar beleza infinita.
Se pousar abaixo do quarto ninho,
nenhuma das três será mais bela,
que está só, espalhada a fama e o grito;
No quinto giro não chegará ela;
mas se voar alto, em muito confio
ser vencido Júpiter e cada outra estrela;
SONETO CAMONIANO CONGÊNERE PETRARQUIANO TRADUÇÃO LIVRE
LITERATURA MIMÉTICA: A CÓPIA DOS CLÁSICOS
SONETOS Luís de Camões
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
O soneto estabelece sua função retórica,
mesmo dialética, na exposição argumenta-
tiva. Obedecendo ao modelo clássico, sua
composição permite a ambientação da
divisão temática e a construção de uma
unidade sonora rica, a qual, ao passo
que atua na familiarização de uma
estrofe à outra, atua também no sentido
de promover a ilustração estrutural do
discurso, relacionando poeticamente
proposições e argumentos. A adoção do
soneto ainda é justificada tendo em
vista a familiaridade de sua marcha
sonora ao silogismo, explícito na
primeira e terceira estrofe, notado no
esquema seguinte:
SONETOS Luís de Camões
Busque Amor novas artes, novo engenho,
para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
Proposição 1ª estrofe:
- As artes e o engenho do Amor não tirarão a
esperança do eu lírico.
Argumentação 1ª estrofe:
- O Amor não pode tirar a esperança de onde
ela não existe. O eu lírico não tem esperança.
Proposição 3ª estrofe:
- Eu lírico não sofrerá desgosto.
Argumentação 3ª estrofe:
- Onde falta esperança, não há desgosto. O eu
lírico não tem esperança.
Enquanto primeira e terceira estrofes tematizam a questão por
meio de silogismos, o segundo quarteto e terceto o fazem
através de torneios discursivos, utilizando a retórica
composta por imagens, paradoxos, sínquise, que em associação
à sonoridade e repetição de palavras, têm a função de
acentuar a dúvida sobre o inconceituável sentimento de amar.
SONETOS Luís de Camões
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
TEMPUS FUGIT / instabilidade das coisas / a inexorabilidade do tempo
PARADOXO: No mundo, TUDO MUDA. Apenas uma
coisa permanece: a MUDANÇA.
Na 1ª quadra, o sujeito poético refere que as pessoas mudam e
que, por isso, os interesses e os sentimentos também evoluem. A
forma de ser, a personalidade alteram-se assim como a confiança
em si próprio e nos outros.
O advérbio Continuamente reforça esta ideia de que a
mudança ininterrupta do mundo não se controla e que as
mudanças são, normalmente, para pior.
O eu lírico chega a questionar a
felicidade
ANTÍTESES na Natureza, tudo se renova mas no Homem as mudanças
são irreversíveis, sem retorno.
No 2º terceto, 1º verso, retoma-se a ideia desta
mudança contínua e incontornável já expressa pelo
advérbio da 2ª quadra, Continuamente. O sujeito revela
o seu espanto pelo fato de já não se reconhecer no que
vai mudando pois a própria mudança está a mudar...
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.
SONETOS Luís de Camões
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando se com vê la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;
começa de servir outros sete anos,
dizendo: —Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
E Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia, e o nome da menor
Raquel. Lia tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa
à vista. E Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por Raquel, tua
filha menor. Então disse Labão: Melhor é que eu a dê a ti, do que eu a dê a outro
homem; fica comigo. Assim serviu Jacó sete anos por Raquel; e estes lhe
pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava. E disse Jacó a Labão:
Dá-me minha mulher, porque meus dias são cumpridos, para que eu me case
com ela. Então reuniu Labão a todos os homens daquele lugar, e fez um
banquete. E aconteceu, à tarde, que tomou Lia, sua filha, e trouxe-a a Jacó que a
possuiu. E Labão deu sua serva Zilpa a Lia, sua filha, por serva. E aconteceu que
pela manhã, viu que era Lia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso?
Não te tenho servido por Raquel? Por que então me enganaste? E disse Labão:
Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita.
Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo serviço que
ainda outros sete anos comigo servires. E Jacó fez assim, e cumpriu a semana
de Lia; então lhe deu por mulher Raquel sua filha. E Labão deu sua serva Bila
por serva a Raquel, sua filha. E possuiu também a Raquel, e amou também a
Raquel mais do que a Lia e serviu com ele ainda outros sete anos.
Gênesis 29, 16-30
SONETOS Luís de Camões
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
A simbologia bíblica do “sete”
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.
Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;
começa de servir outros sete anos,
dizendo: — Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.
amor neoplatônico
A construção de um soneto pastoril de inspiração bíblica,
demonstra uma dupla filiação de Camões dentro da poesia
ocidental: ele valoriza tanto o pilar greco-latino quanto o
hebraico-cristão.
RIMA “IMPERFEITA”
As diferenças entre o soneto e
o texto-matriz
brevidade da vida (tempus fugit)
SONETOS Luís de Camões
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sòmente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada. [ligada]
Mas esta linda e pura semideia, [semideusa]
que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
“Transforma-se o amador na cousa
amada” pode ser reflexo de uma
opinião de Pseudo-Dionísio, que foi
um filósofo neoplatônico que afirmou
que o amor é uma força unitiva e
consistente. São Tomás de Aquino
esclareceu que isso quer dizer que
existem duas formas de união entre o
amador e o amado: a primeira é a
união real, e a segunda é a união
intelectual e a inclinação que a
pessoa tem em relação à outra, de
maneira que ela passa a participar da
pessoa amada de alguma forma. Como
participa da pessoa amada, o amante
só pode ter nele a parte desejada.
SONETOS Luís de Camões
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sòmente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
Não necessitando do amor dos corpos,
pois já existe uma ligação das almas,
o amante contempla a “semideia” .
“Como um acidente em seu sujeito”
pode ser referente a afirmação de São
Tomás, inspirado por Aristóteles, que
“o sujeito está para o acidente como
a potência para o ato; pois, em
relação ao acidente, o sujeito é, de
certo modo, atual”.
SONETOS Luís de Camões
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sòmente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assi co a alma minha se conforma,
está no pensamento como ideia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
textos
A amada está em seu pensamento como
uma Ideia platônica que busca a forma
Aristotélica no mundo da physis. O
poema é uma batalha entre as duas
escolas, a platônica e a
aristotélica, que reflete o mundo da
filosofia no Renascimento. O mundo
das ideias de Platão misturado com a
matéria e forma de Aristóteles fazem
desse poema uma das obras-primas da
poesia de todos os países em todos os
tempos.
O espelho
Machado de Assis
Prof. José Ricardo Lima
www.literaturaeshow.com.br
SONETOS Luís de Camões
 Luís Vaz de Camões
 (Lisboa[?], 1524 — Lisboa, 10 de
junho de 1579 ou 1580) foi
um poeta nacional de Portugal,
considerado uma das maiores
figuras da literatura lusófona e
um dos grandes poetas da
tradição ocidental.
Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br
o autor

Mais conteúdo relacionado

PPT
Camões lírico: vida obra
PDF
"As Ilhas Afortunadas" - análise
PPTX
Luís Vaz de Camões
PPTX
Folhas caídas características gerais da obra
PPTX
"Mar Português" e " Ascensão de Vasco da Gama" por Filipe Reis
PPTX
Alberto Caeiro - poema I do guardador de rebanhos
PPTX
Endechas a bárbara
PPTX
Autopsicografia e Isto
Camões lírico: vida obra
"As Ilhas Afortunadas" - análise
Luís Vaz de Camões
Folhas caídas características gerais da obra
"Mar Português" e " Ascensão de Vasco da Gama" por Filipe Reis
Alberto Caeiro - poema I do guardador de rebanhos
Endechas a bárbara
Autopsicografia e Isto

Mais procurados (20)

PPTX
Cantigas de amor
PPTX
Cantigas trovadorescas
PPTX
Mensagem: Análise "O Bandarra"
PPTX
Poemas de Alberto Caeiro
DOCX
As rosas amo dos jardins de adónis
PPTX
Sete anos de pastor jacob servia
PPTX
Amor é fogo que arde
DOCX
Mapa Resumo classicismo
PPTX
_O sentimento dum ocidental__ visão global.pptx
PPTX
Álvaro de Campos
PPTX
A métrica e a rima
DOC
Teste poesia trovadoresca 10 ano
PDF
Literatura trovadoresca
PPTX
Enquanto quis fortuna que tivesse
PPTX
Camões lírico 2017
PPT
PDF
Lírica de Luís de Camões
DOCX
Teste4 11.º maias_poema_xx
PDF
Teste Luis de Camões
DOCX
Resumos de Português: Camões lírico
Cantigas de amor
Cantigas trovadorescas
Mensagem: Análise "O Bandarra"
Poemas de Alberto Caeiro
As rosas amo dos jardins de adónis
Sete anos de pastor jacob servia
Amor é fogo que arde
Mapa Resumo classicismo
_O sentimento dum ocidental__ visão global.pptx
Álvaro de Campos
A métrica e a rima
Teste poesia trovadoresca 10 ano
Literatura trovadoresca
Enquanto quis fortuna que tivesse
Camões lírico 2017
Lírica de Luís de Camões
Teste4 11.º maias_poema_xx
Teste Luis de Camões
Resumos de Português: Camões lírico
Anúncio

Semelhante a Sonetos (Camões) UNICAMP (20)

PPTX
Sonetos de camões
ODP
Unic 01 - camoes sonetos-2018-pr wsf
PPT
Luis de camões 1
PPTX
Antologia poética
PDF
Eternizadas setembro__10
PDF
Luisdecames1 110622224318-phpapp01
PDF
Feras da Poetica
PPSX
30 Poemas De Amor Slide
PDF
Eternizadas dez__16
PPTX
Trabalho de portugues 2 viniciu 1ºb
PDF
PPTX
Gêneros literários
PPTX
Análise de poemas
DOC
PPT
Vinicius
PPS
Viniciuspraviverumgrandeamor
PPS
Vinicius antologia poetica
PDF
Eternizadas julho__25
PDF
Estrutura do Poema.pdf
Sonetos de camões
Unic 01 - camoes sonetos-2018-pr wsf
Luis de camões 1
Antologia poética
Eternizadas setembro__10
Luisdecames1 110622224318-phpapp01
Feras da Poetica
30 Poemas De Amor Slide
Eternizadas dez__16
Trabalho de portugues 2 viniciu 1ºb
Gêneros literários
Análise de poemas
Vinicius
Viniciuspraviverumgrandeamor
Vinicius antologia poetica
Eternizadas julho__25
Estrutura do Poema.pdf
Anúncio

Mais de José Ricardo Lima (20)

PPT
Machado de Assis 2.0.ppt
PPTX
Quincas Borba
PPTX
Claro enigma (Carlos Drummond de Andrade)
PPTX
O cortiço
PPTX
Sobrevivendo no inferno (Unicamp)
PPTX
O bem-amado (Unicamp)
PPTX
O espelho (Machado de Assis) Unicamp
PPTX
Claro enigma
PPTX
Maus: a história de um sobrevivente
PPTX
Morte e vida severina
PDF
Artigo sobre "A morte de Ivan Ilitch"
PPT
Romantismo 2.0
PPT
Relações intertextuais 2.0
PPT
PPT
Manuel Bandeira (com textos)
PPT
Exercícios cda
PPT
Vidas secas
PPT
UFU 2013_A volta do marido pródigo
PPT
Gustav Courbet
PPT
Arcadismo 2.0
Machado de Assis 2.0.ppt
Quincas Borba
Claro enigma (Carlos Drummond de Andrade)
O cortiço
Sobrevivendo no inferno (Unicamp)
O bem-amado (Unicamp)
O espelho (Machado de Assis) Unicamp
Claro enigma
Maus: a história de um sobrevivente
Morte e vida severina
Artigo sobre "A morte de Ivan Ilitch"
Romantismo 2.0
Relações intertextuais 2.0
Manuel Bandeira (com textos)
Exercícios cda
Vidas secas
UFU 2013_A volta do marido pródigo
Gustav Courbet
Arcadismo 2.0

Último (20)

PPTX
4. A cultura do cinema e as vanguardas.pptx
PPT
YY2015MM3DD6HH12MM42SS3-Organiza__o do Estado ILP.ppt
PDF
Historia da Gastronomia Mundial por Daianna Marques dos Santos
PPTX
QuestõesENEMVESTIBULARPARAESTUDOSEAPRENDIZADO.pptx
PDF
Reino Monera - Biologiaensinomediofun.pdf
PDF
Atividades sobre o livro Letras de Carvão
PDF
Pecados desdenhados por muita gente (islamismo)
PPTX
AULA 01 - INTRODUÇÃO AO ATENDIMENTO HUMANIZADO.pptx
PPTX
REVISA-GOIAS-6o-ANO-LP-3o-BIMESTRE-PPT.pptx
PPT
Caderno de Boas Práticas dos Professores Alfabetizadores.ppt
PPSX
A epistemologia de Wilheim G Leibniz.ppsx
PDF
Fiqh da adoração (islamismo)
PPTX
Fronteiras e soberania..........................pptx
PPTX
Slides Lição 8, CPAD, Uma Igreja que Enfrenta os seus Problemas, 3Tr25.pptx
PDF
edital-de-chamamento-publico-no-3-2025.pdf
PDF
Urbanização no Brasil LEVANDO EM CONTA CONCEITOS
PPTX
2. A Cultura do Salão - o fim das trevas.pptx
PPTX
Slides Lição 8, Betel, Jesus e a Mulher Adúltera, 3Tr25.pptx
PDF
[Slides] A Literatura no ENEM 2017 (1).pdf
PDF
HABILIDADES POR BIMESTRES HABILIDADES POR BIMESTRES HABILIDADES POR BIMESTRES...
4. A cultura do cinema e as vanguardas.pptx
YY2015MM3DD6HH12MM42SS3-Organiza__o do Estado ILP.ppt
Historia da Gastronomia Mundial por Daianna Marques dos Santos
QuestõesENEMVESTIBULARPARAESTUDOSEAPRENDIZADO.pptx
Reino Monera - Biologiaensinomediofun.pdf
Atividades sobre o livro Letras de Carvão
Pecados desdenhados por muita gente (islamismo)
AULA 01 - INTRODUÇÃO AO ATENDIMENTO HUMANIZADO.pptx
REVISA-GOIAS-6o-ANO-LP-3o-BIMESTRE-PPT.pptx
Caderno de Boas Práticas dos Professores Alfabetizadores.ppt
A epistemologia de Wilheim G Leibniz.ppsx
Fiqh da adoração (islamismo)
Fronteiras e soberania..........................pptx
Slides Lição 8, CPAD, Uma Igreja que Enfrenta os seus Problemas, 3Tr25.pptx
edital-de-chamamento-publico-no-3-2025.pdf
Urbanização no Brasil LEVANDO EM CONTA CONCEITOS
2. A Cultura do Salão - o fim das trevas.pptx
Slides Lição 8, Betel, Jesus e a Mulher Adúltera, 3Tr25.pptx
[Slides] A Literatura no ENEM 2017 (1).pdf
HABILIDADES POR BIMESTRES HABILIDADES POR BIMESTRES HABILIDADES POR BIMESTRES...

Sonetos (Camões) UNICAMP

  • 1. Sonetos Luís de Camões Prof. José Ricardo Lima www.literaturaeshow.com.br
  • 3. SONETOS Luís de Camões  Luís Vaz de Camões  (Lisboa[?], 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1579 ou 1580) foi um poeta nacional de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br o autor
  • 4. SLIDES SOBRE O CLASSICISMO PORTUGUÊS
  • 5. TEXTOS PARA LEITURA E ANÁLISE
  • 6. SONETOS Luís de Camões Amor é um fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos PRIMEIRA PARTE (verso 1 ao 11)  Tentativa de uma definição “racional” do amor;  Metáforas paradoxais;  Presença de anáfora; SEGUNDA PARTE (verso 12 a 14)  Adversidade;  O amor é paradoxal, pois é contrário a si mesmo;  Reflexão inconclusiva, pois termina com uma pergunta. INTERTEXTUALIDADE  Monte Castelo (Legião urbana)
  • 7. SONETOS Luís de Camões Ah! minha Dinamene! Assi deixaste quem não deixara nunca de querer-te? Ah! Ninfa minha! Já não posso ver-te, tão asinha esta vida desprezaste! Como já para sempre te apartaste de quem tão longe estava de perder-te? Puderam estas ondas defender-te, que não visses quem tanto magoaste? Nem falar-te somente a dura morte me deixou, que tão cedo o negro manto em teus olhos deitado consentiste! Ó mar, ó Céu, ó minha escura sorte! Que pena sentirei, que valha tanto, que inda tenho por pouco o viver triste? Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos  Dinamene: ninfa, nereida (Nereu + Dóris); amada de Camões (Oriente);  ARCAÍSMOS: Assí (v.1) e Inda (v13)morte depressa Para o eu lírico, é como se ela tivesse “concordado” com a morte As nereidas estavam relacionadas às águas e Dinamene morreu afogada Interjeição: saudade O céu. Onde está Dinamene, aparece personificado (letra maiúscula) Luto em função da morte da amada O eu lírico pressente que seus anos serão curtos
  • 8. SONETOS Luís de Camões Alma minha gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente, repousa lá no Céu eternamente, e viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te algua causa a dor que me ficou da mágoa, sem remédio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus olhos te levou. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos cacófato morte ANTÍTESES: “Céu” e “Terra” / “repousa” e “viva” Uma visão cristã de “céu” ANTÍTESES: amor neoplatônico X amor erótico Éter: quinta essência (Aristóteles) arcaísmo Para o eu lírico, é como se ela tivesse “concordado” com a morte. Ele fica “sentido”, magoado. Novamente, a ideia de uma morte prematura, já expressa no outro poema Peça a Deus que eu morra também. Que sua vida seja tão breve como a da amada.
  • 9. SONETOS Luís de Camões Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos Questa anima gentil che si diparte, anzi tempo chiamata a l’altra vita, se lassuso è quanto esser dê gradita, terrà del ciel la piú beata parte. S’ella riman fra ’l terzo lume et Marte, fia la vista del sole scolorita, poi ch’a mirar sua bellezza infinita l’anime degne intorno a lei fien sparte. Se si posasse sotto al quarto nido, ciascuna de le tre saria men bella, et essa sola avria la fama e ’l grido; nel quinto giro non habitrebbe ella; ma se vola piú alto, assai mi fido che con Giove sia vinta ogni altra stella. Alma minha gentil, que te partiste tão cedo desta vida descontente, repousa lá no Céu eternamente, e viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, memória desta vida se consente, não te esqueças daquele amor ardente que já nos olhos meus tão puro viste. E se vires que pode merecer-te algua causa a dor que me ficou da mágoa, sem remédio, de perder-te, roga a Deus, que teus anos encurtou, que tão cedo de cá me leve a ver-te, quão cedo de meus olhos te levou. Essa alma genti l que partiu, antes do tempo, chamada a outra vida, terá no céu segura acolhida terá no céu a mais beata parte. Se ela ficar entre a terceira luz e Marte será a vista do sol descolorida depois virá, toda alma ao céu subida em torno dela olhar beleza infinita. Se pousar abaixo do quarto ninho, nenhuma das três será mais bela, que está só, espalhada a fama e o grito; No quinto giro não chegará ela; mas se voar alto, em muito confio ser vencido Júpiter e cada outra estrela; SONETO CAMONIANO CONGÊNERE PETRARQUIANO TRADUÇÃO LIVRE LITERATURA MIMÉTICA: A CÓPIA DOS CLÁSICOS
  • 10. SONETOS Luís de Camões Busque Amor novas artes, novo engenho, para matar me, e novas esquivanças; que não pode tirar me as esperanças, que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho. Mas, conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê. Que dias há que n'alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos O soneto estabelece sua função retórica, mesmo dialética, na exposição argumenta- tiva. Obedecendo ao modelo clássico, sua composição permite a ambientação da divisão temática e a construção de uma unidade sonora rica, a qual, ao passo que atua na familiarização de uma estrofe à outra, atua também no sentido de promover a ilustração estrutural do discurso, relacionando poeticamente proposições e argumentos. A adoção do soneto ainda é justificada tendo em vista a familiaridade de sua marcha sonora ao silogismo, explícito na primeira e terceira estrofe, notado no esquema seguinte:
  • 11. SONETOS Luís de Camões Busque Amor novas artes, novo engenho, para matar-me, e novas esquivanças; que não pode tirar me as esperanças, que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho! Vede que perigosas seguranças! Que não temo contrastes nem mudanças, andando em bravo mar, perdido o lenho. Mas, conquanto não pode haver desgosto onde esperança falta, lá me esconde Amor um mal, que mata e não se vê. Que dias há que n'alma me tem posto um não sei quê, que nasce não sei onde, vem não sei como, e dói não sei porquê. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos Proposição 1ª estrofe: - As artes e o engenho do Amor não tirarão a esperança do eu lírico. Argumentação 1ª estrofe: - O Amor não pode tirar a esperança de onde ela não existe. O eu lírico não tem esperança. Proposição 3ª estrofe: - Eu lírico não sofrerá desgosto. Argumentação 3ª estrofe: - Onde falta esperança, não há desgosto. O eu lírico não tem esperança. Enquanto primeira e terceira estrofes tematizam a questão por meio de silogismos, o segundo quarteto e terceto o fazem através de torneios discursivos, utilizando a retórica composta por imagens, paradoxos, sínquise, que em associação à sonoridade e repetição de palavras, têm a função de acentuar a dúvida sobre o inconceituável sentimento de amar.
  • 12. SONETOS Luís de Camões Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos TEMPUS FUGIT / instabilidade das coisas / a inexorabilidade do tempo PARADOXO: No mundo, TUDO MUDA. Apenas uma coisa permanece: a MUDANÇA. Na 1ª quadra, o sujeito poético refere que as pessoas mudam e que, por isso, os interesses e os sentimentos também evoluem. A forma de ser, a personalidade alteram-se assim como a confiança em si próprio e nos outros. O advérbio Continuamente reforça esta ideia de que a mudança ininterrupta do mundo não se controla e que as mudanças são, normalmente, para pior. O eu lírico chega a questionar a felicidade ANTÍTESES na Natureza, tudo se renova mas no Homem as mudanças são irreversíveis, sem retorno. No 2º terceto, 1º verso, retoma-se a ideia desta mudança contínua e incontornável já expressa pelo advérbio da 2ª quadra, Continuamente. O sujeito revela o seu espanto pelo fato de já não se reconhecer no que vai mudando pois a própria mudança está a mudar... Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, Muda-se o ser, muda-se a confiança; todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades. Continuamente vemos novidades, diferentes em tudo da esperança; do mal ficam as mágoas na lembrança, e do bem (se algum houve), as saudades. O tempo cobre o chão de verde manto, que já coberto foi de neve fria, e, enfim, converte em choro o doce canto. E, afora este mudar-se cada dia, outra mudança faz de mor espanto, que não se muda já como soía.
  • 13. SONETOS Luís de Camões Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, e a ela só por prémio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, passava, contentando se com vê la; porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos lhe fora assi negada a sua pastora, como se a não tivera merecida; começa de servir outros sete anos, dizendo: —Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos E Labão tinha duas filhas; o nome da mais velha era Lia, e o nome da menor Raquel. Lia tinha olhos tenros, mas Raquel era de formoso semblante e formosa à vista. E Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por Raquel, tua filha menor. Então disse Labão: Melhor é que eu a dê a ti, do que eu a dê a outro homem; fica comigo. Assim serviu Jacó sete anos por Raquel; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo muito que a amava. E disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, porque meus dias são cumpridos, para que eu me case com ela. Então reuniu Labão a todos os homens daquele lugar, e fez um banquete. E aconteceu, à tarde, que tomou Lia, sua filha, e trouxe-a a Jacó que a possuiu. E Labão deu sua serva Zilpa a Lia, sua filha, por serva. E aconteceu que pela manhã, viu que era Lia; pelo que disse a Labão: Por que me fizeste isso? Não te tenho servido por Raquel? Por que então me enganaste? E disse Labão: Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita. Cumpre a semana desta; então te daremos também a outra, pelo serviço que ainda outros sete anos comigo servires. E Jacó fez assim, e cumpriu a semana de Lia; então lhe deu por mulher Raquel sua filha. E Labão deu sua serva Bila por serva a Raquel, sua filha. E possuiu também a Raquel, e amou também a Raquel mais do que a Lia e serviu com ele ainda outros sete anos. Gênesis 29, 16-30
  • 14. SONETOS Luís de Camões Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos A simbologia bíblica do “sete” Sete anos de pastor Jacob servia Labão, pai de Raquel, serrana bela; mas não servia ao pai, servia a ela, e a ela só por prémio pretendia. Os dias, na esperança de um só dia, passava, contentando se com vê-la; porém o pai, usando de cautela, em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com enganos lhe fora assi negada a sua pastora, como se a não tivera merecida; começa de servir outros sete anos, dizendo: — Mais servira, se não fora para tão longo amor tão curta a vida. amor neoplatônico A construção de um soneto pastoril de inspiração bíblica, demonstra uma dupla filiação de Camões dentro da poesia ocidental: ele valoriza tanto o pilar greco-latino quanto o hebraico-cristão. RIMA “IMPERFEITA” As diferenças entre o soneto e o texto-matriz brevidade da vida (tempus fugit)
  • 15. SONETOS Luís de Camões Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sòmente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. [ligada] Mas esta linda e pura semideia, [semideusa] que, como um acidente em seu sujeito, assi co a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos “Transforma-se o amador na cousa amada” pode ser reflexo de uma opinião de Pseudo-Dionísio, que foi um filósofo neoplatônico que afirmou que o amor é uma força unitiva e consistente. São Tomás de Aquino esclareceu que isso quer dizer que existem duas formas de união entre o amador e o amado: a primeira é a união real, e a segunda é a união intelectual e a inclinação que a pessoa tem em relação à outra, de maneira que ela passa a participar da pessoa amada de alguma forma. Como participa da pessoa amada, o amante só pode ter nele a parte desejada.
  • 16. SONETOS Luís de Camões Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sòmente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assi co a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos Não necessitando do amor dos corpos, pois já existe uma ligação das almas, o amante contempla a “semideia” . “Como um acidente em seu sujeito” pode ser referente a afirmação de São Tomás, inspirado por Aristóteles, que “o sujeito está para o acidente como a potência para o ato; pois, em relação ao acidente, o sujeito é, de certo modo, atual”.
  • 17. SONETOS Luís de Camões Transforma-se o amador na cousa amada, por virtude do muito imaginar; não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada. Se nela está minha alma transformada, que mais deseja o corpo de alcançar? Em si sòmente pode descansar, pois consigo tal alma está liada. Mas esta linda e pura semideia, que, como um acidente em seu sujeito, assi co a alma minha se conforma, está no pensamento como ideia: [e] o vivo e puro amor de que sou feito, como a matéria simples busca a forma. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br textos A amada está em seu pensamento como uma Ideia platônica que busca a forma Aristotélica no mundo da physis. O poema é uma batalha entre as duas escolas, a platônica e a aristotélica, que reflete o mundo da filosofia no Renascimento. O mundo das ideias de Platão misturado com a matéria e forma de Aristóteles fazem desse poema uma das obras-primas da poesia de todos os países em todos os tempos.
  • 18. O espelho Machado de Assis Prof. José Ricardo Lima www.literaturaeshow.com.br
  • 19. SONETOS Luís de Camões  Luís Vaz de Camões  (Lisboa[?], 1524 — Lisboa, 10 de junho de 1579 ou 1580) foi um poeta nacional de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. Prof. JOSÉ RICARDO LIMA – Literatura - www.literaturaeshow.com.br o autor