Lições aprendidas em
experiências de tutoria a
distância: fatores
potencializadores e
limitantes1
                                                                           Taís Rabetti Giannella2
                                                                               Miriam Struchiner2
                                                                     Regina Maria Vieira Ricciardi2

                       Resumo: Muito embora diferentes classificações sobre o papel
                       do tutor/orientador a distância venham sendo amplamente discu-
                       tidas na literatura, ainda há poucos dados ancorados em pesqui-
                       sas sobre a prática de tutoria em contextos a distância, mediados
                       pelas novas tecnologias da informação e da comunicação. Tendo
                       em vista que estas informações são de fundamental importância
                       para o planejamento de ambientes e processos educativos a dis-
                       tância, este trabalho tem como finalidade oferecer subsídios para
                       esta discussão, com base na análise dos resultados obtidos – as
                       lições aprendidas – sobre os fatores potencializadores e limitantes
                       do trabalho de tutoria/orientação a distância, em três estudos so-
                       bre programas de EAD, via web.
                       Palavras-chave: Tutoria/orientação a distância; fatores
                       potencializadores e limitantes




1 Apoio: CNPq, CAPES, PAPED/SEED/MEC
2 Laboratório de Tecnologias Cognitivas NUTES/UFRJ. tais@nutes.ufrj.br; mchiner@nutes.ufrj.br; ricciardi@nutes.ufrj.br


                                Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03                77
Abstract: Although the roles of distance education tutors have
                 being widely discussed in the literature, there are still few data
                 anchored in research based on tutor’s praxis in real distance
                 educational contexts Considering that this information is of great
                 importance for planning distance learning processes and
                 environments, this paper has the objective to offer arguments to
                 this discussion, based on the results and analyses from three
                 distance education experiences. Based on the lessons learned we
                 present the factors that may facilitate or limit the distance tutoring/
                 orientation work.
                 Keywords: distance tutoring/orientation; influencing factors.


                                             fica que grande parte dos conhecimentos
1. Introdução
                                             envolvidos no processo educativo e nas
                                             atividades de ensino-aprendizagem são
    A pesquisa e o desenvolvimento de
                                             fundamentais para a EAD que, para su-
ambientes de aprendizagem a distância
                                             prir a distância física, lança mão de ins-
têm contribuído com o movimento de
                                             trumentos, materiais e meios adequados
reflexão e questionamento sobre o campo
                                             para que todos os participantes tenham
educacional. Este movimento aponta para
                                             acesso às fontes de informação, parti-
a necessidade de integrar novos
                                             cipem ativamente do processo
conhecimentos e materiais que contribuam
                                             educativo, trocando experiências e re-
para a melhoria da qualidade do ensino,
                                             lacionando-as ao mundo em que vivem,
viabilizando não apenas mudanças
                                             recebendo apoio e orientação para este
curriculares, mas também, um ensino
                                             fim (STRUCHINER & GIANNELLA,
ativo, que enfatize a autonomia e a
                                             2001). Neste sentido, um dos elementos
pesquisa, bem como a cooperação entre
                                             cruciais de reflexão e renovação do pro-
as pessoas envolvidas no processo de
                                             cesso educativo é a relação professor-
aprendizagem         (DEMO,         1994;
                                             aluno. Em especial, a reformulação do pa-
JONASSEN, 1998; LAURILLARD,
                                             pel do professor na relação pedagógica é
1999; STRUCHINER et al., 1998). Vale
                                             uma das características fundamentais da
ressaltar que, embora os desafios lançados
                                             EAD, que se apóia na “tutoria/orientação”
por este movimento não sejam, em
                                             realizada com o suporte de diferentes
instância alguma, peculiares à educação      meios e ferramentas pedagógicas. Esta
a distância (EAD), o desenvolvimento         reformulação ganha relevo quando a pro-
destes ambientes de aprendizagem tem         posta educacional está pautada em uma
criado oportunidades de repensar velhos      abordagem inovadora, que está centrada
modelos, a partir de novas modalidades.      no papel ativo do sujeito na atividade
    É com a visão de que a EAD não di-       educativa. Principalmente, quando o ato
fere da educação presencial em sua es-       educativo é entendido como um momen-
sência, mas em aspectos pontuais, que        to de construção de conhecimento, de in-
devemos discutir o modelo de EAD que         tercâmbio de experiências e de criação
desejamos e suas implicações. Isto signi-    de novas formas de participação.

78
É neste contexto que o presente ar-               Para os tutores/orientadores apoiarem
tigo se desenvolve, tendo como objeti-            o processo de aprendizagem dos alunos,
vo fundamental discutir, a partir da aná-         Jonassen (1998) propõe os seguintes ní-
lise de três experiências de EAD, os              veis de orientação: Tutoramento
principais fatores potencializadores e            (scaffolding), Treinamento (coaching)
limitantes da atividade de tutoria/orien-         e Modelagem (modeling). O tutoramento
tação a distância.                                dá um suporte sistemático ao estudante,
                                                  até que este seja capaz de agir sozinho,
                                                  como, por exemplo, iniciando uma tarefa,
2. O papel do tutor/orientador                    demonstrando os procedimentos e, pos-
a distância: competências e                       teriormente, deixando que o aprendiz dê
estratégias                                       seguimento à atividade de maneira autô-
                                                  noma. O treinamento objetiva motivar os
    Alguns autores questionam o con-
                                                  alunos, analisar suas atividades, promo-
ceito de tutoria, ressaltando que o “pro-
                                                  ver feedback e dar conselhos, provocar
fissional potencializador da aprendiza-
gem” além de complementar e facilitar             reflexões e articular os conhecimentos
a mediação pedagógica deve estabele-              adquiridos. A modelagem caracteriza-se
cer uma “comunicação empática” com                por oferecer ao aluno um exemplo do
o estudante (COELHO, 2003; GOLD,                  comportamento ou da atividade pretendi-
2001; GUTIERREZ, 1996). Pensar nes-               da, por meio de relato de casos pareci-
te mediador ultrapassa o conceito de tu-          dos, mostrando como as soluções foram
toria já que, analisando o significado da         tomadas ou demonstrando como um es-
palavra, tutor é aquele que tutela, que           pecialista perseguiria a solução de um
ampara, confere proteção, dependên-               determinado problema. O aluno analisa
cia e sujeição (STRUCHINER et al.,                os procedimentos e as soluções, compa-
1998). Essas características não fazem            rando-os com o problema que precisa
parte do perfil de um profissional de um          resolver, e tenta encontrar suas próprias
ambiente de aprendizagem que busca                respostas. Desta maneira, percebe-se a
a potencialização do ato educativo numa           existência de três níveis de atividade e de
ação participativa, criativa, relacional e,       suporte para o aluno, que vão desde um
principalmente, reflexiva. Assim, este            acompanhamento mais estruturado e di-
profissional será mais bem denomina-              reto até o mais aberto, que possibilita a
do facilitador, orientador pedagógico ou,         livre iniciativa do aluno (STRUCHINER
como optamos neste texto, tutor/                  et al., 1998).
orientador: integrar o conceito de ori-
entação valoriza a idéia de educar pela               Aretio (2001) aponta que a quanti-
pesquisa. Portanto, remetendo ao con-             dade de características e competênci-
texto universitário, ressalta-se que o pro-       as recomendadas para a atividade de
fessor deve assumir o papel de                    orientação a distância é muito extensa
orientador e, assim como em sua rela-             e, neste sentido, procura enfatizar qua-
ção com seus orientandos de pesquisa,             tro principais qualidades, sem as quais
deve se caracterizar como alguém que,             todas as demais podem fracassar: Cor-
tendo produção própria, motiva o aluno            dialidade: fazer com que os alunos se
a produzir também (DEMO, 1994).                   sintam “bem-vindos”, respeitados e con-

                        Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03   79
fortáveis; Aceitação: aceitar/compre-       ou possível desistência, ou tempo neces-
ender a realidade do aluno que, em seus     sário para a reflexão/ação individual.
contatos com o tutor/orientador, deve          O desenvolvimento de todas estas
se sentir participante ativo do proces-     qualidades revela a importância do
so; Honradez: ser verdadeiro e autên-       aspecto humano das relações, que deve
tico; não deixar que o aluno crie expec-    ser elevado ao máximo, possibilitando
tativas falsas sobre o que se pode ofe-     o estabelecimento de um processo
recer; manifestar honestidade, não as-      educativo onde haja uma relação
sumindo uma postura de “professor           emocional de confiança, amizade e
dono da verdade”; Empatia: colocar-         cumplicidade (SANTOS, 2002).
se no lugar do outro; envolver-se com       Segundo Krelling (2001), este tipo de
os sentimentos dos alunos, aproximan-       relação é essencial para o crescimento
do as relações.                             do aluno, contribuindo para minimizar
    Aliada a estas qualidades, Aretio       problemas como a alta evasão nos
(2001) ressalta ainda mais uma: a ca-       cursos de EAD.
pacidade de desenvolver uma escuta/            Muito embora estas classificações
leitura inteligente, isto é, o tutor deve   sobre o papel do tutor/orientador a
procurar escutar/ler o que se diz/escre-    distância venham sendo amplamente
ve intencionalmente, ou inconsciente-       discutidas na literatura (ARETIO, 2001;
mente. Com isso, espera-se animar o es-     BERGE, 1995; GUTIERREZ, 1996;
tudante a expressar seus sentimentos e      JONASSEN, 1998; KRELLING, 2001;
preocupações sem constrangimento.           SANTOS, 2002), ainda há poucos dados
Para o desenvolvimento desta qualida-       ancorados em pesquisas sobre a prática
de, Aretio (2001) indica as seguintes re-   de tutoria em contextos a distância,
comendações: (1) procurar remeter a         mediados pelas novas tecnologias da
idéia dominante que o aluno acabou de       informação e da comunicação. Tendo
dizer/escrever, resumindo ou parafrase-     em vista que estas informações são de
ando suas palavras, evitando emitir opi-    fundamental importância para o
nião ou crítica, de maneira a estimular     planejamento de ambientes e processos
sua reflexão e fazendo-o prosseguir; (2)    educativos a distância, este trabalho tem
evitar perguntas que podem ser respon-      como finalidade oferecer subsídios para
didas com “sim” ou “não”, ou aquelas        esta discussão, com base na análise dos
iniciadas com “Por que”; estas pergun-      resultados obtidos em três estudos sobre
tas tendem a quebrar o fluxo natural do     programas de EAD, via web.
pensamento dos alunos, são restritivas e
por possuírem uma natureza de interro-
gatório, podem colocar os alunos em uma     3. Análise das três
postura defensiva; (3) compreender o si-    experiências de EAD
lêncio; muitas vezes, um espaço de tem-
po sem diálogo é necessário para a re-         A presente análise foi realizada a
flexão e a tomada de decisão pelo alu-      partir do levantamento e da caracteri-
no; o tutor/orientador deve procurar es-    zação dos principais fatores identifica-
tar atento se o silêncio indica desânimo    dos como potencializadores e limitantes

80
do trabalho de tutoria/orientação, nos          tionários e entrevistas (com alunos, tu-
cursos investigados. Os estudos anali-          tores/orientadores e coordenadores).
sados contaram com três principais fon-            No quadro 2, são apresentadas as
tes de dados: observação do desenvol-           características gerais destas três ex-
vimento dos cursos, realização de ques-         periências.

      Quadro 2: Características básicas das experiências descritas




    Em relação ao curso A, verificou-           curso, havia a proposta de uma reunião
se que não houve um processo de sele-           presencial mensal com os tutores, o que
ção de tutores/orientadores. Os profes-         ocorreu apenas durante os três primei-
sores, que integravam o departamento            ros meses, já que os tutores não conse-
que oferecia o curso, foram convida-            guiam mais conciliar seus horários. Foi
dos a participar da experiência, rece-          verificado que a comunicação entre tu-
bendo remuneração para cada aluno               tores e alunos foi bastante falha, não
que completasse as atividades do cur-           apenas por problemas tecnológicos (o
so. Uma das razões, segundo o coorde-           fórum, única ferramenta disponível,
nador do curso, para utilizar os profes-        apresentou diversos problemas), como
sores do próprio departamento, era a            por uma falta de entendimento e com-
possibilidade de associar os recursos da        preensão sobre o papel da orientação
instituição ao programa de EAD. Os tu-          no curso (ALCÂNTARA, 2001).
tores foram orientados para o desem-               Em relação ao modelo de tutoria/ori-
penho de suas atividades em workshop            entação do curso B, o curso contou com
com duração de dois dias, coordenado            duas tutoras, profissionais com domínio
pela assessora pedagógica. No início do         do conteúdo tanto do ponto de vista teó-

                      Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03   81
rico quanto prático. Vale ressaltar que      tes contou com as mesmas ferramentas
as tutoras tinham também prática do-         comunicacionais oferecidas no curso B
cente no ensino presencial, mas nunca        (GIANNELLA, 2002).
haviam participado de cursos a distân-
cia. Foram orientadas pela coordena-
dora (que participara da elaboração do       3. Lições aprendidas
curso), em relação ao modelo do pro-
grama, às atividades pedagógicas e ao           A partir das três experiências rela-
desenvolvimento de suas funções de           tadas, apresenta-se uma síntese dos fa-
orientador/facilitador, numa abordagem       tores que potencializaram ou limitaram
construtivista de aprendizagem. A co-        as atividades de tutoria/orientação a
municação entre alunos, tutores/             distância.
orientadores e coordenação foi facili-
                                                 Os fatores que potencializaram as
tada pela existência de diferentes fer-
                                             atividades podem ser classificados em
ramentas de comunicação: quadro de
                                             três categorias: fatores pedagógicos,
avisos, e-mail e fórum de discussão
                                             tecnológicos e gerenciais.
(CARVALHO, 2000).
    Como o curso C fazia parte de uma           Fatores pedagógicos:
experiência piloto, não se planejou             Estratégia pedagógica baseada
oferecê-lo para um grande número de          na resolução de situações-problema
participantes. Assim, visando estabele-
cer uma dinâmica aberta e informal, não         Este modelo pedagógico, utilizado
se previu a existência de um modelo de       no curso (B), permitiu envolver as ex-
tutoria/orientação formal, mas sim de um     periências dos alunos, estimulando o
                                             desenvolvimento de uma aprendizagem
coordenador para orientar as atividades,
                                             ativa e autônoma. Ao mesmo tempo
preferencialmente por meio de espaços
                                             em que exigia maior dedicação e ela-
coletivos, como o fórum e a monitoria.
                                             boração por parte do tutor/orientador,
Posteriormente, como o curso contou
                                             tornou a atividade de tutoria/orienta-
com um grande número de inscrições,
                                             ção mais aberta e flexível. Esta estra-
optou-se por dividir, aleatoriamente, os
                                             tégia não é a melhor, nem a única que
alunos entre três orientadoras, para que
                                             propicia os elementos acima citados,
os participantes pudessem direcionar os
                                             mas, configura um exemplo oportuno
problemas ou as dificuldades pessoais        para o desenvolvimento de ambientes
que preferissem não publicar nas áreas       construtivistas de aprendizagem.
de comunicação coletiva, não sobrecar-
regando assim a coordenação. Neste              Diversidade de ferramentas comu-
sentido, o papel das orientadoras foi o de   nicacionais
atender e orientar dúvidas e/ou questões         A possibilidade de utilizar ferramen-
mais pessoais provenientes dos alunos.       tas comunicacionais com funções es-
A coordenadora, que era uma das              pecíficas (quadro de avisos, e-mail e
orientadoras, foi quem assumiu o papel       fórum de discussão, por exemplo) faci-
de gerenciamento, mobilização e orien-       lita o trabalho do tutor/orientador, pois
tação do processo educativo, no sentido      permite atender diferentes estilos de
coletivo. A interação entre os participan-   conversação (interação mais pessoal ou

82
coletiva, por exemplo). As ferramentas           deverá ser aperfeiçoada, já que sua “lei-
comunicacionais possibilitam diminuir a          tura” e interpretação não é tão amigá-
sensação de isolamento nos cursos de             vel. No curso (B), os tutores/orientadores
EAD, potencializando a construção co-            contaram com a ferramenta de Alunos
letiva de conhecimento.                          por orientador (cadastro dos alunos re-
   Familiarização dos tutores com                lacionados ao orientador), Controle de
todos os elementos e estrutura do curso          Acesso (disponibiliza os dados sobre a
                                                 rotina de utilização do curso pelos alu-
    O habitual, em cursos a distância, é         nos sob sua orientação) e Análise dos
que haja equipes especializadas para as          trabalhos (dá acesso à visualização e
diferentes etapas de desenvolvimento e           correção dos trabalhos dos alunos). No
implementação. Normalmente, este pro-            curso (C) os tutores não contaram com
cesso envolve especialistas de conteúdo,         qualquer ferramenta de gerência.
desenhistas instrucionais, programadores
visuais e de informática, além de tutores/            Fatores gerenciais:
orientadores. Os tutores/orientadores qua-
                                                      Liderança da coordenação do curso
se nunca participam do processo de con-
cepção e planejamento do curso. Portan-              É fundamental que a coordenação do
to, é necessário que se familiarizem tanto       curso se coloque no papel dos tutores para
com o conteúdo, como com a abordagem             conhecer e vivenciar o processo educativo
pedagógica e o ambiente de aprendiza-            e melhor gerenciar a dinâmica do curso.
gem. Esta familiaridade garante maior            A coordenação deve assumir o papel de
segurança e domínio em relação ao pro-           integração da equipe, potencializando as
cesso educativo, o que potencializa a ati-       atividades dos tutores.
vidade de tutoria/orientação.                         Apoio de monitores tecnológicos
   Fatores tecnológicos:                             Tendo em vista as inúmeras dificul-
                                                 dades com o uso da tecnologia, ainda
   Existência de ferramentas de acom-            apresentadas pela maioria dos partici-
panhamento das atividades do curso               pantes (coordenadores, tutores e alunos),
    Uma vez que todas as atividades              o apoio de monitores especializados é um
acontecem a distância, as ferramentas            elemento muito importante para auxiliar
de acompanhamento facilitam as ativi-            as atividades de tutoria. Os monitores não
dades dos tutores, criando estratégias de        apenas apóiam as dúvidas dos alunos,
organização do trabalho e gerenciamento          como as dos próprios tutores. Os tuto-
das atividades dos alunos. Assim, a par-         res, assim, ficam liberados da sobrecar-
tir destas ferramentas, os tutores/              ga das dúvidas dos alunos em relação
orientadores podem visualizar o número           ao uso da tecnologia e podem se con-
de acessos, os caminhos percorridos, os          centrar na orientação pedagógica.
materiais consultados e enviados etc. No            Na classificação dos fatores que li-
curso (A), os tutores podiam acompa-             mitaram as atividades de tutoria/orien-
nhar as atividades a partir do histórico         tação, além das três categorias apre-
de navegação dos alunos. Embora faci-            sentadas acima, identificou-se a cate-
lite o trabalho, esta ferramenta ainda           goria “fatores culturais”.

                       Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03   83
Fatores pedagógicos:                  do há problemas técnicos as ativida-
   Falta de experiência com a prática      des de tutoria ficam prejudicadas, li-
de orientação a distância                  mitando a interatividade e distancian-
                                           do a comunidade.
   As atividades de EAD ainda são
uma novidade para a maioria dos pro-          Capacitação de tutores limitada
fessores, lançando inúmeros desafios       aos aspectos técnicos do curso
para as suas práticas docentes. Dificil-      Grande parte dos cursos de
mente será possível transferir os mes-     capacitação para tutores se limita aos
mos hábitos/estratégias da sala de aula    aspectos técnicos relacionados ao uso
para as atividades de EAD, o que traz,     das ferramentas do curso. Os aspectos
de início, uma certa insegurança para      pedagógicos e os elementos e estraté-
os professores. Com a prática, novas       gias peculiares da EAD são, muitas
competências são desenvolvidas para        vezes, deixados em segundo plano ou
o melhor aproveitamento das atividades     nem abordados, o que acaba prejudi-
de tutoria/orientação.                     cando o desempenho dos tutores. Isto
                                           se deve a dois principais motivos: 1) à
   Falta de uma compreensão sólida e
                                           familiaridade ainda pequena em relação
comum sobre a abordagem pedagógica
                                           aos aspectos pedagógicos envolvidos na
proposta
                                           EAD e 2) ao fato de se considerar que,
    Embora, atualmente, grande parte       sendo professores, estes já são compe-
dos cursos de EAD sejam apresentados       tentes na prática pedagógica.
como propostas inovadoras e
construtivistas, nem sempre isto é com-
patível com os modelos oferecidos. Além       Fatores tecnológicos:
disso, nem sempre existe uma compre-          Limitações técnicas do uso da
ensão sólida sobre este modelo, que seja   tecnologia
compartilhada por todos os profissionais
                                               As limitações tecnológicas de nossa
envolvidos. No processo de planejamento
                                           rede de computadores ainda são bastante
e desenvolvimento de um curso, é fun-
                                           intensas, o que dificulta muito as ativida-
damental, além da análise profunda e
                                           des a distância pela internet; dentre as
crítica sobre qual a visão educativa que
                                           limitações, pode-se citar a lentidão da
o curso pretende oferecer, propiciar es-
                                           rede e o seu custo de uso. A dificuldade
tratégias de discussão e integração des-
                                           de acesso à internet é um dos elementos
ta visão com toda a equipe. Isto pos-      que mais provoca a desistência e o
sibilita o desenvolvimento profissional    insucesso desta modalidade de EAD.
e pessoal de cada um e favorece a
concretização de um projeto coletivo.
   Problemas nas ferramentas comuni-          Fatores gerenciais:
cacionais – limitação da interatividade       Pequeno tempo de dedicação dos
entre os participantes                     tutores
   Como as ferramentas comunica-              A falsa idéia de que a EAD exige
cionais são o principal meio de contato    menos tempo de dedicação dos profes-
e diálogo entre os participantes, quan-    sores ainda persiste. Na verdade, as ati-

84
vidades de EAD, quando realizadas com            recursos e ferramentas. Isto também
seriedade e com a visão de priorizar os          facilitará o atendimento às dúvidas téc-
processo de autonomia, interação e co-           nicas dos alunos.
operação, acabam requerendo dos pro-                Dificuldade de lidar com situações
fessores um tempo de dedicação maior             onde os alunos apresentam maior conhe-
do que o imaginado. Isto pode acabar
                                                 cimento sobre determinado conteúdo
trazendo conflitos e desorganização para
o processo educativo, dificultando as ati-           Pela facilidade de enviar perguntas
vidades de tutoria/orientação. É neces-          e comentários diversos (a qualquer hora,
sário ter sempre em mente que as ativi-          quando desejar) e pela abertura e flexi-
dades de EAD requerem, além das de-              bilidade propostas em muitos ambien-
mandas normais de qualquer atividade             tes de aprendizagem, pode acontecer
educativa, uma reorganização das rela-           de os orientadores receberem questões
ções de ensino-aprendizagem, o que é             que não saibam responder. Isto pode ser
um grande desafio e exige maior tempo            embaraçoso para os professores, que
de dedicação e compromisso.                      devem aprender a lidar com estas situ-
                                                 ações. É sempre bom poder relembrar
                                                 que a atividade educativa é uma ativi-
   Fatores culturais:                            dade de construção social, que se dá
   Desafios do modelo pedagógico                 por meio da troca e cooperação de di-
que privilegia uma postura mais ativa            ferentes conhecimentos e expertises.
e autônoma dos alunos                               Dificuldade de exposição, devido
    A cultura da transmissão do conheci-         à linguagem escrita
mento ainda está enraizada em nossa so-              A falta de familiaridade com o for-
ciedade, dificultando o desenvolvimento          mato de interação viabilizado pela
de propostas educativas mais abertas que         internet, onde idéias e posicionamentos
estimulem uma postura ativa e autônoma           são registrados de forma permanente,
dos alunos. Geralmente, os alunos man-           através da expressão escrita, pode ser
têm uma postura passiva, esperam que o
                                                 um fator de inibição que explica a par-
professor dite todo o andamento do pro-
                                                 ticipação de caráter mais observador
cesso educativo e desejam receber sem-
                                                 de alguns participantes. Esta postura
pre respostas prontas para as suas dúvi-
                                                 mais observadora pode acabar limitan-
das. Um dos papéis dos orientadores/tu-
                                                 do as atividades dos tutores, que de-
tores é procurar transformar esta visão,
                                                 vem procurar alternativas para orien-
redirecionando suas práticas para uma
                                                 tar estes alunos.
ação de apoio ao aprendizado.
   Limitações culturais do uso da
tecnologia                                       4. Conclusões
   O primeiro passo para o orientador
passar confiança e segurança para os                Tendo em vista a idéia de que o alu-
seus alunos a distância é demonstrar             no a distância deve encontrar em si mes-
conforto com a tecnologia, procurando            mo as motivações e as necessidades para
conhecer a fundo todo o ambiente, seus           aprender, sendo capaz de fazer opções

                       Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03   85
sobre seu próprio processo de educação,        gerenciais), indo até a postura e expecta-
apresenta-se um grande desafio para a          tiva dos alunos, além da visão sobre o pro-
EAD, que é o de estabelecer pedagogia          cesso de ensino-aprendizagem, contem-
menos diretiva, onde os alunos possam          plada por todos os participantes envolvi-
definir seus ritmos, preferências              dos (fatores culturais).
curriculares e de metodologias de apren-           Finalmente, vale ressaltar que a
dizagem. O planejamento do processo            literatura define tantas listas de
educativo deve levar em conta as habili-       qualidades e recomendações para o
dades e competências dos participantes,        trabalho de tutoria/orientação a distância
assim como suas condições socioculturais       que, para alcançá-las, precisaríamos de
(situação familiar, profissional, social,      perfeitos “super-homens” (ARETIO,
ambiental). Como discutem Struchiner et        2001); na verdade, mais do que procurar
al. (1998), a mediação pedagógica              seguir recomendações, é necessário ter
construtivista pode ser traduzida em com-      a oportunidade de refletir sobre elas, com
petências do tutor/orientador, que deverá      a prática e com os possíveis erros.
compreender a construção do conheci-
mento como um processo dinâmico e
relacional; deverá ter uma visão clara da      5. Referências bibliográficas
metodologia a ser realizada, dos proces-
sos adequados de avaliação e desenvol-         ALCÂNTARA, M. Análise dos fato-
ver uma postura de atuação compatível          res que influenciam o planejamento e
com esta visão. Desta maneira, o tutor/        a implementação de ambientes de
orientador possui um papel fundamental,        aprendizagem a distância: um estudo
direcionando seus esforços na                  de um caso de um programa que não
personalização da EAD, mediante um             deu certo. (dissertação de mestrado).
apoio sistemático e organizado, que ajude      2001. Dissertação (Mestrado em
os alunos na utilização dos materiais          Tecnologia Educacional para a Saúde)
educativos oferecidos, que propicie o es-      – Núcleo de Tecnologia Educacional
tímulo e a orientação individual e coletiva,   para a Saúde. Universidade Federal do
facilitando e motivando as situações de        Rio de janeiro.
aprendizagem. No entanto, esta inegável
                                               ARETIO, L.G. La educación a distan-
importância relegada ao tutor/orientador
                                               cia. Barcelona: Ariel SA, 2001.
deve vir acompanhada da compreensão
de que sua atuação, como foi apresenta-        BERGE, Z.L. Facilitating Computer
do neste trabalho, é influenciada por uma      Conferencing: recommendations from
série de elementos. Assim, como pode ser       the field. Educational technology. 35(1)
observado em nossas Lições aprendi-            22-30, 1995.
das, os fatores envolvidos no trabalho de      CARVALHO, M.A.P. Análise de um
tutoria/orientação a distância contemplam      ambiente construtivista de aprendi-
desde aqueles relativos à concepção pe-        zagem a distância: um estudo da
dagógica do curso (fatores pedagógicos),       interatividade, de cooperação e da au-
passando pelos relacionados aos recur-         tonomia no curso de gestão descen-
sos e ferramentas disponíveis para auxili-     tralizada de recursos humanos em
ar o seu trabalho (fatores tecnológicos e      saúde. (dissertação de mestrado).

86
2000. Dissertação (Mestrado em                  JONASSEN,         D.H.    Designing
Tecnologia Educacional para a Saú-              Constructivist Learning Environments.
de) – Núcleo de Tecnologia Educaci-             In: REIGELUTH, C. M. (Ed).
onal para a Saúde. Universidade Fe-             Instructional theories and models.
deral do Rio de janeiro.                        Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 1998.
COELHO, M.I.N. Relação entre                    KRELLING, P.C.L. Ação tutorial:
referenciais pedagógicos e o uso de fer-        redesenho de uma ação. In: Congresso
ramentas de courseware: desafios ao             virtual educa. Madrid. Atas de la Confe-
promover aprendizagem colaborativa              rencia Internacional sobre Educación,
on-line. In: Revista Brasileira de              Formación y Nuevas Tecnologias. CD-
Aprendizagem Aberta e a Distância.              ROM, 2001.
(Publicação virtual). Publicada em: 10/         LAURILLARD, D. Rethinking
09/2002.                                        University Teaching: a framework for
DEMO, P. Pesquisa e Construção do               the effective use of educational
Conhecimento: metodologia científica            technology. London: Routledge, 1993.
no caminho de Habermas. Rio de Ja-              SANTOS, H. Formação e prática do
neiro: Tempo Brasileiro, 1994.                  tutor-orientador na educação a dis-
GIANNELLA, T.R. A Teoria da Ativi-              tância mediada pelas tecnologias da
dade como Abordagem Teórico-                    informação e comunicação. 2002. Dis-
Metodológica para o Desenvolvimen-              sertação (Mestrado em Tecnologia Edu-
to e Análise de um Curso Virtual para           cacional para a Saúde) – Núcleo de
Docentes Universitáros. A Internet no           Tecnologia Educacional para a Saúde.
Ensino Superior: recursos e aplicações.         Universidade Federal do Rio de janeiro.
(dissertação de mestrado). 2002. Disser-        STRUCHINER, M., REZENDE, F.,
tação (Mestrado em Tecnologia Educa-            RICCIARDI, R.M. & CARVALHO,
cional para a Saúde) – Núcleo de                M.A. (1998) Elementos Fundamentais
Tecnologia Educacional para a Saúde.            para o Desenvolvimento de ambientes
Universidade Federal do Rio de janeiro.         Construtivistas de Aprendizagem a Dis-
GOLD, S. A Constructivist Approach              tância. Tecnologia Educacional,
to Online Training for Online Teachers.         26(142):.3-11.
JALN. V5, I1. Maio de 2001.                     STRUCHINER, M. & GIANNELLA,
GUTIÉRREZ, F. La mediación peda-                T. Educação a Distância: reflexões para
gógica y la tecnología educativa.               a prática nas universidades brasileiras.
Tecnología Educacional, v.25 (132/              Brasília: CRUB – Conselho de Reitores
133), Set/Out/Nov, 1996.                        das Universidades Brasileiras, 2001.




                      Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03   87

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PIGEAD - STCD - Tarefa 2: Competências de mediação.
Apresentação X encontro de iniciação científica e I encontro de iniciação a d...
"TUTOR; UM NOVO PAPEL PARA O PROFESSOR"
Odete Ufop Ead Projmono
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  • 1. Lições aprendidas em experiências de tutoria a distância: fatores potencializadores e limitantes1 Taís Rabetti Giannella2 Miriam Struchiner2 Regina Maria Vieira Ricciardi2 Resumo: Muito embora diferentes classificações sobre o papel do tutor/orientador a distância venham sendo amplamente discu- tidas na literatura, ainda há poucos dados ancorados em pesqui- sas sobre a prática de tutoria em contextos a distância, mediados pelas novas tecnologias da informação e da comunicação. Tendo em vista que estas informações são de fundamental importância para o planejamento de ambientes e processos educativos a dis- tância, este trabalho tem como finalidade oferecer subsídios para esta discussão, com base na análise dos resultados obtidos – as lições aprendidas – sobre os fatores potencializadores e limitantes do trabalho de tutoria/orientação a distância, em três estudos so- bre programas de EAD, via web. Palavras-chave: Tutoria/orientação a distância; fatores potencializadores e limitantes 1 Apoio: CNPq, CAPES, PAPED/SEED/MEC 2 Laboratório de Tecnologias Cognitivas NUTES/UFRJ. tais@nutes.ufrj.br; mchiner@nutes.ufrj.br; ricciardi@nutes.ufrj.br Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03 77
  • 2. Abstract: Although the roles of distance education tutors have being widely discussed in the literature, there are still few data anchored in research based on tutor’s praxis in real distance educational contexts Considering that this information is of great importance for planning distance learning processes and environments, this paper has the objective to offer arguments to this discussion, based on the results and analyses from three distance education experiences. Based on the lessons learned we present the factors that may facilitate or limit the distance tutoring/ orientation work. Keywords: distance tutoring/orientation; influencing factors. fica que grande parte dos conhecimentos 1. Introdução envolvidos no processo educativo e nas atividades de ensino-aprendizagem são A pesquisa e o desenvolvimento de fundamentais para a EAD que, para su- ambientes de aprendizagem a distância prir a distância física, lança mão de ins- têm contribuído com o movimento de trumentos, materiais e meios adequados reflexão e questionamento sobre o campo para que todos os participantes tenham educacional. Este movimento aponta para acesso às fontes de informação, parti- a necessidade de integrar novos cipem ativamente do processo conhecimentos e materiais que contribuam educativo, trocando experiências e re- para a melhoria da qualidade do ensino, lacionando-as ao mundo em que vivem, viabilizando não apenas mudanças recebendo apoio e orientação para este curriculares, mas também, um ensino fim (STRUCHINER & GIANNELLA, ativo, que enfatize a autonomia e a 2001). Neste sentido, um dos elementos pesquisa, bem como a cooperação entre cruciais de reflexão e renovação do pro- as pessoas envolvidas no processo de cesso educativo é a relação professor- aprendizagem (DEMO, 1994; aluno. Em especial, a reformulação do pa- JONASSEN, 1998; LAURILLARD, pel do professor na relação pedagógica é 1999; STRUCHINER et al., 1998). Vale uma das características fundamentais da ressaltar que, embora os desafios lançados EAD, que se apóia na “tutoria/orientação” por este movimento não sejam, em realizada com o suporte de diferentes instância alguma, peculiares à educação meios e ferramentas pedagógicas. Esta a distância (EAD), o desenvolvimento reformulação ganha relevo quando a pro- destes ambientes de aprendizagem tem posta educacional está pautada em uma criado oportunidades de repensar velhos abordagem inovadora, que está centrada modelos, a partir de novas modalidades. no papel ativo do sujeito na atividade É com a visão de que a EAD não di- educativa. Principalmente, quando o ato fere da educação presencial em sua es- educativo é entendido como um momen- sência, mas em aspectos pontuais, que to de construção de conhecimento, de in- devemos discutir o modelo de EAD que tercâmbio de experiências e de criação desejamos e suas implicações. Isto signi- de novas formas de participação. 78
  • 3. É neste contexto que o presente ar- Para os tutores/orientadores apoiarem tigo se desenvolve, tendo como objeti- o processo de aprendizagem dos alunos, vo fundamental discutir, a partir da aná- Jonassen (1998) propõe os seguintes ní- lise de três experiências de EAD, os veis de orientação: Tutoramento principais fatores potencializadores e (scaffolding), Treinamento (coaching) limitantes da atividade de tutoria/orien- e Modelagem (modeling). O tutoramento tação a distância. dá um suporte sistemático ao estudante, até que este seja capaz de agir sozinho, como, por exemplo, iniciando uma tarefa, 2. O papel do tutor/orientador demonstrando os procedimentos e, pos- a distância: competências e teriormente, deixando que o aprendiz dê estratégias seguimento à atividade de maneira autô- noma. O treinamento objetiva motivar os Alguns autores questionam o con- alunos, analisar suas atividades, promo- ceito de tutoria, ressaltando que o “pro- ver feedback e dar conselhos, provocar fissional potencializador da aprendiza- gem” além de complementar e facilitar reflexões e articular os conhecimentos a mediação pedagógica deve estabele- adquiridos. A modelagem caracteriza-se cer uma “comunicação empática” com por oferecer ao aluno um exemplo do o estudante (COELHO, 2003; GOLD, comportamento ou da atividade pretendi- 2001; GUTIERREZ, 1996). Pensar nes- da, por meio de relato de casos pareci- te mediador ultrapassa o conceito de tu- dos, mostrando como as soluções foram toria já que, analisando o significado da tomadas ou demonstrando como um es- palavra, tutor é aquele que tutela, que pecialista perseguiria a solução de um ampara, confere proteção, dependên- determinado problema. O aluno analisa cia e sujeição (STRUCHINER et al., os procedimentos e as soluções, compa- 1998). Essas características não fazem rando-os com o problema que precisa parte do perfil de um profissional de um resolver, e tenta encontrar suas próprias ambiente de aprendizagem que busca respostas. Desta maneira, percebe-se a a potencialização do ato educativo numa existência de três níveis de atividade e de ação participativa, criativa, relacional e, suporte para o aluno, que vão desde um principalmente, reflexiva. Assim, este acompanhamento mais estruturado e di- profissional será mais bem denomina- reto até o mais aberto, que possibilita a do facilitador, orientador pedagógico ou, livre iniciativa do aluno (STRUCHINER como optamos neste texto, tutor/ et al., 1998). orientador: integrar o conceito de ori- entação valoriza a idéia de educar pela Aretio (2001) aponta que a quanti- pesquisa. Portanto, remetendo ao con- dade de características e competênci- texto universitário, ressalta-se que o pro- as recomendadas para a atividade de fessor deve assumir o papel de orientação a distância é muito extensa orientador e, assim como em sua rela- e, neste sentido, procura enfatizar qua- ção com seus orientandos de pesquisa, tro principais qualidades, sem as quais deve se caracterizar como alguém que, todas as demais podem fracassar: Cor- tendo produção própria, motiva o aluno dialidade: fazer com que os alunos se a produzir também (DEMO, 1994). sintam “bem-vindos”, respeitados e con- Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03 79
  • 4. fortáveis; Aceitação: aceitar/compre- ou possível desistência, ou tempo neces- ender a realidade do aluno que, em seus sário para a reflexão/ação individual. contatos com o tutor/orientador, deve O desenvolvimento de todas estas se sentir participante ativo do proces- qualidades revela a importância do so; Honradez: ser verdadeiro e autên- aspecto humano das relações, que deve tico; não deixar que o aluno crie expec- ser elevado ao máximo, possibilitando tativas falsas sobre o que se pode ofe- o estabelecimento de um processo recer; manifestar honestidade, não as- educativo onde haja uma relação sumindo uma postura de “professor emocional de confiança, amizade e dono da verdade”; Empatia: colocar- cumplicidade (SANTOS, 2002). se no lugar do outro; envolver-se com Segundo Krelling (2001), este tipo de os sentimentos dos alunos, aproximan- relação é essencial para o crescimento do as relações. do aluno, contribuindo para minimizar Aliada a estas qualidades, Aretio problemas como a alta evasão nos (2001) ressalta ainda mais uma: a ca- cursos de EAD. pacidade de desenvolver uma escuta/ Muito embora estas classificações leitura inteligente, isto é, o tutor deve sobre o papel do tutor/orientador a procurar escutar/ler o que se diz/escre- distância venham sendo amplamente ve intencionalmente, ou inconsciente- discutidas na literatura (ARETIO, 2001; mente. Com isso, espera-se animar o es- BERGE, 1995; GUTIERREZ, 1996; tudante a expressar seus sentimentos e JONASSEN, 1998; KRELLING, 2001; preocupações sem constrangimento. SANTOS, 2002), ainda há poucos dados Para o desenvolvimento desta qualida- ancorados em pesquisas sobre a prática de, Aretio (2001) indica as seguintes re- de tutoria em contextos a distância, comendações: (1) procurar remeter a mediados pelas novas tecnologias da idéia dominante que o aluno acabou de informação e da comunicação. Tendo dizer/escrever, resumindo ou parafrase- em vista que estas informações são de ando suas palavras, evitando emitir opi- fundamental importância para o nião ou crítica, de maneira a estimular planejamento de ambientes e processos sua reflexão e fazendo-o prosseguir; (2) educativos a distância, este trabalho tem evitar perguntas que podem ser respon- como finalidade oferecer subsídios para didas com “sim” ou “não”, ou aquelas esta discussão, com base na análise dos iniciadas com “Por que”; estas pergun- resultados obtidos em três estudos sobre tas tendem a quebrar o fluxo natural do programas de EAD, via web. pensamento dos alunos, são restritivas e por possuírem uma natureza de interro- gatório, podem colocar os alunos em uma 3. Análise das três postura defensiva; (3) compreender o si- experiências de EAD lêncio; muitas vezes, um espaço de tem- po sem diálogo é necessário para a re- A presente análise foi realizada a flexão e a tomada de decisão pelo alu- partir do levantamento e da caracteri- no; o tutor/orientador deve procurar es- zação dos principais fatores identifica- tar atento se o silêncio indica desânimo dos como potencializadores e limitantes 80
  • 5. do trabalho de tutoria/orientação, nos tionários e entrevistas (com alunos, tu- cursos investigados. Os estudos anali- tores/orientadores e coordenadores). sados contaram com três principais fon- No quadro 2, são apresentadas as tes de dados: observação do desenvol- características gerais destas três ex- vimento dos cursos, realização de ques- periências. Quadro 2: Características básicas das experiências descritas Em relação ao curso A, verificou- curso, havia a proposta de uma reunião se que não houve um processo de sele- presencial mensal com os tutores, o que ção de tutores/orientadores. Os profes- ocorreu apenas durante os três primei- sores, que integravam o departamento ros meses, já que os tutores não conse- que oferecia o curso, foram convida- guiam mais conciliar seus horários. Foi dos a participar da experiência, rece- verificado que a comunicação entre tu- bendo remuneração para cada aluno tores e alunos foi bastante falha, não que completasse as atividades do cur- apenas por problemas tecnológicos (o so. Uma das razões, segundo o coorde- fórum, única ferramenta disponível, nador do curso, para utilizar os profes- apresentou diversos problemas), como sores do próprio departamento, era a por uma falta de entendimento e com- possibilidade de associar os recursos da preensão sobre o papel da orientação instituição ao programa de EAD. Os tu- no curso (ALCÂNTARA, 2001). tores foram orientados para o desem- Em relação ao modelo de tutoria/ori- penho de suas atividades em workshop entação do curso B, o curso contou com com duração de dois dias, coordenado duas tutoras, profissionais com domínio pela assessora pedagógica. No início do do conteúdo tanto do ponto de vista teó- Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03 81
  • 6. rico quanto prático. Vale ressaltar que tes contou com as mesmas ferramentas as tutoras tinham também prática do- comunicacionais oferecidas no curso B cente no ensino presencial, mas nunca (GIANNELLA, 2002). haviam participado de cursos a distân- cia. Foram orientadas pela coordena- dora (que participara da elaboração do 3. Lições aprendidas curso), em relação ao modelo do pro- grama, às atividades pedagógicas e ao A partir das três experiências rela- desenvolvimento de suas funções de tadas, apresenta-se uma síntese dos fa- orientador/facilitador, numa abordagem tores que potencializaram ou limitaram construtivista de aprendizagem. A co- as atividades de tutoria/orientação a municação entre alunos, tutores/ distância. orientadores e coordenação foi facili- Os fatores que potencializaram as tada pela existência de diferentes fer- atividades podem ser classificados em ramentas de comunicação: quadro de três categorias: fatores pedagógicos, avisos, e-mail e fórum de discussão tecnológicos e gerenciais. (CARVALHO, 2000). Como o curso C fazia parte de uma Fatores pedagógicos: experiência piloto, não se planejou Estratégia pedagógica baseada oferecê-lo para um grande número de na resolução de situações-problema participantes. Assim, visando estabele- cer uma dinâmica aberta e informal, não Este modelo pedagógico, utilizado se previu a existência de um modelo de no curso (B), permitiu envolver as ex- tutoria/orientação formal, mas sim de um periências dos alunos, estimulando o desenvolvimento de uma aprendizagem coordenador para orientar as atividades, ativa e autônoma. Ao mesmo tempo preferencialmente por meio de espaços em que exigia maior dedicação e ela- coletivos, como o fórum e a monitoria. boração por parte do tutor/orientador, Posteriormente, como o curso contou tornou a atividade de tutoria/orienta- com um grande número de inscrições, ção mais aberta e flexível. Esta estra- optou-se por dividir, aleatoriamente, os tégia não é a melhor, nem a única que alunos entre três orientadoras, para que propicia os elementos acima citados, os participantes pudessem direcionar os mas, configura um exemplo oportuno problemas ou as dificuldades pessoais para o desenvolvimento de ambientes que preferissem não publicar nas áreas construtivistas de aprendizagem. de comunicação coletiva, não sobrecar- regando assim a coordenação. Neste Diversidade de ferramentas comu- sentido, o papel das orientadoras foi o de nicacionais atender e orientar dúvidas e/ou questões A possibilidade de utilizar ferramen- mais pessoais provenientes dos alunos. tas comunicacionais com funções es- A coordenadora, que era uma das pecíficas (quadro de avisos, e-mail e orientadoras, foi quem assumiu o papel fórum de discussão, por exemplo) faci- de gerenciamento, mobilização e orien- lita o trabalho do tutor/orientador, pois tação do processo educativo, no sentido permite atender diferentes estilos de coletivo. A interação entre os participan- conversação (interação mais pessoal ou 82
  • 7. coletiva, por exemplo). As ferramentas deverá ser aperfeiçoada, já que sua “lei- comunicacionais possibilitam diminuir a tura” e interpretação não é tão amigá- sensação de isolamento nos cursos de vel. No curso (B), os tutores/orientadores EAD, potencializando a construção co- contaram com a ferramenta de Alunos letiva de conhecimento. por orientador (cadastro dos alunos re- Familiarização dos tutores com lacionados ao orientador), Controle de todos os elementos e estrutura do curso Acesso (disponibiliza os dados sobre a rotina de utilização do curso pelos alu- O habitual, em cursos a distância, é nos sob sua orientação) e Análise dos que haja equipes especializadas para as trabalhos (dá acesso à visualização e diferentes etapas de desenvolvimento e correção dos trabalhos dos alunos). No implementação. Normalmente, este pro- curso (C) os tutores não contaram com cesso envolve especialistas de conteúdo, qualquer ferramenta de gerência. desenhistas instrucionais, programadores visuais e de informática, além de tutores/ Fatores gerenciais: orientadores. Os tutores/orientadores qua- Liderança da coordenação do curso se nunca participam do processo de con- cepção e planejamento do curso. Portan- É fundamental que a coordenação do to, é necessário que se familiarizem tanto curso se coloque no papel dos tutores para com o conteúdo, como com a abordagem conhecer e vivenciar o processo educativo pedagógica e o ambiente de aprendiza- e melhor gerenciar a dinâmica do curso. gem. Esta familiaridade garante maior A coordenação deve assumir o papel de segurança e domínio em relação ao pro- integração da equipe, potencializando as cesso educativo, o que potencializa a ati- atividades dos tutores. vidade de tutoria/orientação. Apoio de monitores tecnológicos Fatores tecnológicos: Tendo em vista as inúmeras dificul- dades com o uso da tecnologia, ainda Existência de ferramentas de acom- apresentadas pela maioria dos partici- panhamento das atividades do curso pantes (coordenadores, tutores e alunos), Uma vez que todas as atividades o apoio de monitores especializados é um acontecem a distância, as ferramentas elemento muito importante para auxiliar de acompanhamento facilitam as ativi- as atividades de tutoria. Os monitores não dades dos tutores, criando estratégias de apenas apóiam as dúvidas dos alunos, organização do trabalho e gerenciamento como as dos próprios tutores. Os tuto- das atividades dos alunos. Assim, a par- res, assim, ficam liberados da sobrecar- tir destas ferramentas, os tutores/ ga das dúvidas dos alunos em relação orientadores podem visualizar o número ao uso da tecnologia e podem se con- de acessos, os caminhos percorridos, os centrar na orientação pedagógica. materiais consultados e enviados etc. No Na classificação dos fatores que li- curso (A), os tutores podiam acompa- mitaram as atividades de tutoria/orien- nhar as atividades a partir do histórico tação, além das três categorias apre- de navegação dos alunos. Embora faci- sentadas acima, identificou-se a cate- lite o trabalho, esta ferramenta ainda goria “fatores culturais”. Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03 83
  • 8. Fatores pedagógicos: do há problemas técnicos as ativida- Falta de experiência com a prática des de tutoria ficam prejudicadas, li- de orientação a distância mitando a interatividade e distancian- do a comunidade. As atividades de EAD ainda são uma novidade para a maioria dos pro- Capacitação de tutores limitada fessores, lançando inúmeros desafios aos aspectos técnicos do curso para as suas práticas docentes. Dificil- Grande parte dos cursos de mente será possível transferir os mes- capacitação para tutores se limita aos mos hábitos/estratégias da sala de aula aspectos técnicos relacionados ao uso para as atividades de EAD, o que traz, das ferramentas do curso. Os aspectos de início, uma certa insegurança para pedagógicos e os elementos e estraté- os professores. Com a prática, novas gias peculiares da EAD são, muitas competências são desenvolvidas para vezes, deixados em segundo plano ou o melhor aproveitamento das atividades nem abordados, o que acaba prejudi- de tutoria/orientação. cando o desempenho dos tutores. Isto se deve a dois principais motivos: 1) à Falta de uma compreensão sólida e familiaridade ainda pequena em relação comum sobre a abordagem pedagógica aos aspectos pedagógicos envolvidos na proposta EAD e 2) ao fato de se considerar que, Embora, atualmente, grande parte sendo professores, estes já são compe- dos cursos de EAD sejam apresentados tentes na prática pedagógica. como propostas inovadoras e construtivistas, nem sempre isto é com- patível com os modelos oferecidos. Além Fatores tecnológicos: disso, nem sempre existe uma compre- Limitações técnicas do uso da ensão sólida sobre este modelo, que seja tecnologia compartilhada por todos os profissionais As limitações tecnológicas de nossa envolvidos. No processo de planejamento rede de computadores ainda são bastante e desenvolvimento de um curso, é fun- intensas, o que dificulta muito as ativida- damental, além da análise profunda e des a distância pela internet; dentre as crítica sobre qual a visão educativa que limitações, pode-se citar a lentidão da o curso pretende oferecer, propiciar es- rede e o seu custo de uso. A dificuldade tratégias de discussão e integração des- de acesso à internet é um dos elementos ta visão com toda a equipe. Isto pos- que mais provoca a desistência e o sibilita o desenvolvimento profissional insucesso desta modalidade de EAD. e pessoal de cada um e favorece a concretização de um projeto coletivo. Problemas nas ferramentas comuni- Fatores gerenciais: cacionais – limitação da interatividade Pequeno tempo de dedicação dos entre os participantes tutores Como as ferramentas comunica- A falsa idéia de que a EAD exige cionais são o principal meio de contato menos tempo de dedicação dos profes- e diálogo entre os participantes, quan- sores ainda persiste. Na verdade, as ati- 84
  • 9. vidades de EAD, quando realizadas com recursos e ferramentas. Isto também seriedade e com a visão de priorizar os facilitará o atendimento às dúvidas téc- processo de autonomia, interação e co- nicas dos alunos. operação, acabam requerendo dos pro- Dificuldade de lidar com situações fessores um tempo de dedicação maior onde os alunos apresentam maior conhe- do que o imaginado. Isto pode acabar cimento sobre determinado conteúdo trazendo conflitos e desorganização para o processo educativo, dificultando as ati- Pela facilidade de enviar perguntas vidades de tutoria/orientação. É neces- e comentários diversos (a qualquer hora, sário ter sempre em mente que as ativi- quando desejar) e pela abertura e flexi- dades de EAD requerem, além das de- bilidade propostas em muitos ambien- mandas normais de qualquer atividade tes de aprendizagem, pode acontecer educativa, uma reorganização das rela- de os orientadores receberem questões ções de ensino-aprendizagem, o que é que não saibam responder. Isto pode ser um grande desafio e exige maior tempo embaraçoso para os professores, que de dedicação e compromisso. devem aprender a lidar com estas situ- ações. É sempre bom poder relembrar que a atividade educativa é uma ativi- Fatores culturais: dade de construção social, que se dá Desafios do modelo pedagógico por meio da troca e cooperação de di- que privilegia uma postura mais ativa ferentes conhecimentos e expertises. e autônoma dos alunos Dificuldade de exposição, devido A cultura da transmissão do conheci- à linguagem escrita mento ainda está enraizada em nossa so- A falta de familiaridade com o for- ciedade, dificultando o desenvolvimento mato de interação viabilizado pela de propostas educativas mais abertas que internet, onde idéias e posicionamentos estimulem uma postura ativa e autônoma são registrados de forma permanente, dos alunos. Geralmente, os alunos man- através da expressão escrita, pode ser têm uma postura passiva, esperam que o um fator de inibição que explica a par- professor dite todo o andamento do pro- ticipação de caráter mais observador cesso educativo e desejam receber sem- de alguns participantes. Esta postura pre respostas prontas para as suas dúvi- mais observadora pode acabar limitan- das. Um dos papéis dos orientadores/tu- do as atividades dos tutores, que de- tores é procurar transformar esta visão, vem procurar alternativas para orien- redirecionando suas práticas para uma tar estes alunos. ação de apoio ao aprendizado. Limitações culturais do uso da tecnologia 4. Conclusões O primeiro passo para o orientador passar confiança e segurança para os Tendo em vista a idéia de que o alu- seus alunos a distância é demonstrar no a distância deve encontrar em si mes- conforto com a tecnologia, procurando mo as motivações e as necessidades para conhecer a fundo todo o ambiente, seus aprender, sendo capaz de fazer opções Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03 85
  • 10. sobre seu próprio processo de educação, gerenciais), indo até a postura e expecta- apresenta-se um grande desafio para a tiva dos alunos, além da visão sobre o pro- EAD, que é o de estabelecer pedagogia cesso de ensino-aprendizagem, contem- menos diretiva, onde os alunos possam plada por todos os participantes envolvi- definir seus ritmos, preferências dos (fatores culturais). curriculares e de metodologias de apren- Finalmente, vale ressaltar que a dizagem. O planejamento do processo literatura define tantas listas de educativo deve levar em conta as habili- qualidades e recomendações para o dades e competências dos participantes, trabalho de tutoria/orientação a distância assim como suas condições socioculturais que, para alcançá-las, precisaríamos de (situação familiar, profissional, social, perfeitos “super-homens” (ARETIO, ambiental). Como discutem Struchiner et 2001); na verdade, mais do que procurar al. (1998), a mediação pedagógica seguir recomendações, é necessário ter construtivista pode ser traduzida em com- a oportunidade de refletir sobre elas, com petências do tutor/orientador, que deverá a prática e com os possíveis erros. compreender a construção do conheci- mento como um processo dinâmico e relacional; deverá ter uma visão clara da 5. Referências bibliográficas metodologia a ser realizada, dos proces- sos adequados de avaliação e desenvol- ALCÂNTARA, M. Análise dos fato- ver uma postura de atuação compatível res que influenciam o planejamento e com esta visão. Desta maneira, o tutor/ a implementação de ambientes de orientador possui um papel fundamental, aprendizagem a distância: um estudo direcionando seus esforços na de um caso de um programa que não personalização da EAD, mediante um deu certo. (dissertação de mestrado). apoio sistemático e organizado, que ajude 2001. Dissertação (Mestrado em os alunos na utilização dos materiais Tecnologia Educacional para a Saúde) educativos oferecidos, que propicie o es- – Núcleo de Tecnologia Educacional tímulo e a orientação individual e coletiva, para a Saúde. Universidade Federal do facilitando e motivando as situações de Rio de janeiro. aprendizagem. No entanto, esta inegável ARETIO, L.G. La educación a distan- importância relegada ao tutor/orientador cia. Barcelona: Ariel SA, 2001. deve vir acompanhada da compreensão de que sua atuação, como foi apresenta- BERGE, Z.L. Facilitating Computer do neste trabalho, é influenciada por uma Conferencing: recommendations from série de elementos. Assim, como pode ser the field. Educational technology. 35(1) observado em nossas Lições aprendi- 22-30, 1995. das, os fatores envolvidos no trabalho de CARVALHO, M.A.P. Análise de um tutoria/orientação a distância contemplam ambiente construtivista de aprendi- desde aqueles relativos à concepção pe- zagem a distância: um estudo da dagógica do curso (fatores pedagógicos), interatividade, de cooperação e da au- passando pelos relacionados aos recur- tonomia no curso de gestão descen- sos e ferramentas disponíveis para auxili- tralizada de recursos humanos em ar o seu trabalho (fatores tecnológicos e saúde. (dissertação de mestrado). 86
  • 11. 2000. Dissertação (Mestrado em JONASSEN, D.H. Designing Tecnologia Educacional para a Saú- Constructivist Learning Environments. de) – Núcleo de Tecnologia Educaci- In: REIGELUTH, C. M. (Ed). onal para a Saúde. Universidade Fe- Instructional theories and models. deral do Rio de janeiro. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 1998. COELHO, M.I.N. Relação entre KRELLING, P.C.L. Ação tutorial: referenciais pedagógicos e o uso de fer- redesenho de uma ação. In: Congresso ramentas de courseware: desafios ao virtual educa. Madrid. Atas de la Confe- promover aprendizagem colaborativa rencia Internacional sobre Educación, on-line. In: Revista Brasileira de Formación y Nuevas Tecnologias. CD- Aprendizagem Aberta e a Distância. ROM, 2001. (Publicação virtual). Publicada em: 10/ LAURILLARD, D. Rethinking 09/2002. University Teaching: a framework for DEMO, P. Pesquisa e Construção do the effective use of educational Conhecimento: metodologia científica technology. London: Routledge, 1993. no caminho de Habermas. Rio de Ja- SANTOS, H. Formação e prática do neiro: Tempo Brasileiro, 1994. tutor-orientador na educação a dis- GIANNELLA, T.R. A Teoria da Ativi- tância mediada pelas tecnologias da dade como Abordagem Teórico- informação e comunicação. 2002. Dis- Metodológica para o Desenvolvimen- sertação (Mestrado em Tecnologia Edu- to e Análise de um Curso Virtual para cacional para a Saúde) – Núcleo de Docentes Universitáros. A Internet no Tecnologia Educacional para a Saúde. Ensino Superior: recursos e aplicações. Universidade Federal do Rio de janeiro. (dissertação de mestrado). 2002. Disser- STRUCHINER, M., REZENDE, F., tação (Mestrado em Tecnologia Educa- RICCIARDI, R.M. & CARVALHO, cional para a Saúde) – Núcleo de M.A. (1998) Elementos Fundamentais Tecnologia Educacional para a Saúde. para o Desenvolvimento de ambientes Universidade Federal do Rio de janeiro. Construtivistas de Aprendizagem a Dis- GOLD, S. A Constructivist Approach tância. Tecnologia Educacional, to Online Training for Online Teachers. 26(142):.3-11. JALN. V5, I1. Maio de 2001. STRUCHINER, M. & GIANNELLA, GUTIÉRREZ, F. La mediación peda- T. Educação a Distância: reflexões para gógica y la tecnología educativa. a prática nas universidades brasileiras. Tecnología Educacional, v.25 (132/ Brasília: CRUB – Conselho de Reitores 133), Set/Out/Nov, 1996. das Universidades Brasileiras, 2001. Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03 87