Impactos da Mineração na Sociedade Marianense
Política urbana e preservação de áreas patrimoniais
Para abordar esta questão, pode-se considerar o lugar das áreas patrimoniais na agenda das políticas
públicas para as cidades, a partir dos diferentes recortes por meio dos quais as preocupações de
natureza social formatam a abordagem dos problemas urbanos. A título de análise, serão considerados
os recortes econômico, social e político.
– Mariana era uma cidade tranqüila. De topografia menos acidentada, ruas largas, retas e bem
ordenadas, onde trafegavam poucos carros, a cidade representava a meus olhos uma “típica” cidade do
interior mineiro. Após uma pesquisa informal, descobri que Mariana havia passado por um intenso
processo de urbanização nas últimas décadas (1970-1980), motivado pela instalação de três grandes
mineradoras no município. Esta rápida e desordenada urbanização revolveu não apenas seu espaço
físico como deu uma nova configuração ao espaço sócio-simbólico da cidade. Com a chegada dos novos
contingentes populacionais a população já estabelecida percebeu-se imbuída da tarefa de cunhar novos
códigos que pudessem guiar suas ações e as ações dos neófitos dentro do espaço urbano.acreditamos
que, após o processo de urbanização sofrido pela cidade, a antiga população se viu acossada pelo medo
do novo, do estranho. Esse medo foi direcionado para as pessoas que não se encaixavam no mapa
cognitivo local, que tornaram turvo o que devia ser transparente, obscurecendo fronteiras que deviam
ser vistas claramente. Entendemos o processo que ocorreu na cidade de Mariana nos moldes do que o
historiador Eric Hobsbawm chama de “invenção das tradições”
Por invenção das tradições, entende-se como um conjunto de práticas, normalmente reguladas por
regras tácitas ou abertamente aceitas, tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar
certos valores e normas de comportamento através da repetição, ou que implica, automaticamente,
uma continuidade em relação ao passado.
A FORÇA DA MINERAÇÃO NA CIDADE DE MARIANA-MG
- Urbanização; Patrimônio Histórico; Espaço Social
O presente artigo tem como foco central reconstruir algumas facetas do processo de urbanização
sofrido pela cidade de Mariana-MG, durante as décadas de 1970 e 1980, bem como as conseqüências
deste para a conformação do imaginário” sobre o patrimônio histórico da cidade. Mais especificamente,
pretendemos dissertar sobre as formas de apropriação do “espaço social” da cidade pelos diversos
grupos inscritos nesta. Assim, tentaremos demonstrar de que modo as formas de relação com o passado
influenciam na compreensão e posse do espaço social (Bauman, 1999) Como observaremos, a cidade de
Mariana é marcada por uma polarização bastante contundente entre população “tradicional” e
população “recém-chegada”, após o intenso processo de urbanização sofrido pela cidade durante as
décadas de 1970 e 1980.
Mariana traduz-se em um espaço social igualmente hierarquizado, tanto geograficamente, quanto
simbolicamente. Nessa hierarquia são reservados à população estabelecida os “melhores espaços”: “a
Rua Direita”, as ruas de “cima” o centro antigo e a “Rua Nova”, enquanto à população periférica ficam
as “Cabanas”,“Prainhas”, “Vila do Sapo”, “Matadouro” e ruas de “Baixo”. Este último exemplo
demonstra que a qualificação do lugar não se dá somente por aspectos geográficos; noções como alto e
baixo, indicam muito mais que a posição geográfica, indicam posições na hierarquia social.Cidade
situada no norte da Zona da Mata Mineira (Espinhaço Meridional),Mariana vai ter sua história marcada
por dois elementos fundamentais: as jazidas minerais e a sua religião, elementos que parecem fundir se
e confundir-se na memória social local. a estrada de ferro e com a mineradora, Ouro Preto Gold Mines
of Brazil, instalada no distrito de Passagem de Mariana. Nesse período, através de um convênio firmado
em 1918, com essa companhia, é instalada a luz elétrica no município. Assim, todos os ventos parecem
soprar para o progresso. O principal sonho do habitante da cidade na época é vê-la industrializada,
como já havia ocorrido com outras cidades mineiras, como Juiz de Fora (Fonseca, 1995). Lembramos
que, até então, a idéia de preservação não assolava as mentes da população, a ordem do dia era uma
só: modernizar . A partir da década de 1960, chegam as primeiras mineradoras na cidade, causando um
processo de urbanização jamais sonhado nas melancólicas décadas anteriores. A sede do município que,
nos anos de 1960, contava com menos de sete mil habitantes, termina o século com mais de trinta e
cinco mil.
A INFLUENCIA DA MINERAÇÃO NA CIDADE DE MARIANA MG
Em 1965, chega a S. A. Mineração Trindade (Samitri), que mesmo antes de sua ativação já atraía um
significativo contingente populacional, causando modificações no ritmo calmo da cidade (Fischer, 1993).
No entanto, o crescimento populacional da década foi bastante tímido. A população da sede do
município 18 passou de 6.837 habitantes, em 1960, para 7.720 habitantes, em 1970 . Motivadas pelas
reservas minerais e pelos gordos incentivos fiscais oferecidos pelo ímpeto desenvolvimentista ditatorial,
chegam à Mariana mais duas mineradoras, Samarco Mineradora S.A e a Companhia Vale do Rio Doce. A
chegada, em 1977, da companhia Samarco, provocaria um fluxo de pessoas para o município bem mais
significativo do que o da década precedente. Segundo Fischer (1993), 10 mil pessoas se deslocaram para
o município na época, muitas delas empregadas das empreiteiras. Após as obras, permaneceram na
cidade mesmo desempregadas. Na década de 1970, o crescimento demográfico foi bem mais
significativo. A população da sede que era de 7.720 habitantes, chegou ao final da década com 12.853,
mostrando um crescimento de 18,63%, índice superior ao do 19 Estado no mesmo período . Em 1979,
era a vez da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), começar a construir suas instalações na cidade, para
iniciar a produções em 1984 . A chegada das mineradoras e seus operário,demandou o planejamento e
a construção de bairros (chamadas Vilas) exclusivos a esses, que dispusessem de serviços básicos, que o
resto da cidade carecia, tais como: escolas, serviço médico, clubes sociais, supermercados, serviço de
água etc. o. Foi na década 1990 que a cidade começou a viver sua “crise de confiança” no progresso,
pelo menos no representado pelas mineradoras.
AS OPORTUNIDADES EDUCACIONAIS OFERECIDAS PELAS MINERADORAS EM MARIANA E REGIOES
Atualidades 1986 á 2014
Em 1986, defenderam a criação de um ginásio poli-esportivo, que contrastaria com a arquitetura
barroca da cidade. Na época, um grande número de pessoas foi às ruas para reivindicar a continuação
das obras do ginásio. Os jornais exibiam slogans como: “Mariana não pode parar” , “A cidade retoma os
rumos do progresso.
2014 ,Na atualidade
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  • 1. Impactos da Mineração na Sociedade Marianense Política urbana e preservação de áreas patrimoniais Para abordar esta questão, pode-se considerar o lugar das áreas patrimoniais na agenda das políticas públicas para as cidades, a partir dos diferentes recortes por meio dos quais as preocupações de natureza social formatam a abordagem dos problemas urbanos. A título de análise, serão considerados os recortes econômico, social e político. – Mariana era uma cidade tranqüila. De topografia menos acidentada, ruas largas, retas e bem ordenadas, onde trafegavam poucos carros, a cidade representava a meus olhos uma “típica” cidade do interior mineiro. Após uma pesquisa informal, descobri que Mariana havia passado por um intenso processo de urbanização nas últimas décadas (1970-1980), motivado pela instalação de três grandes mineradoras no município. Esta rápida e desordenada urbanização revolveu não apenas seu espaço físico como deu uma nova configuração ao espaço sócio-simbólico da cidade. Com a chegada dos novos contingentes populacionais a população já estabelecida percebeu-se imbuída da tarefa de cunhar novos códigos que pudessem guiar suas ações e as ações dos neófitos dentro do espaço urbano.acreditamos que, após o processo de urbanização sofrido pela cidade, a antiga população se viu acossada pelo medo do novo, do estranho. Esse medo foi direcionado para as pessoas que não se encaixavam no mapa cognitivo local, que tornaram turvo o que devia ser transparente, obscurecendo fronteiras que deviam ser vistas claramente. Entendemos o processo que ocorreu na cidade de Mariana nos moldes do que o historiador Eric Hobsbawm chama de “invenção das tradições” Por invenção das tradições, entende-se como um conjunto de práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas, tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, ou que implica, automaticamente, uma continuidade em relação ao passado. A FORÇA DA MINERAÇÃO NA CIDADE DE MARIANA-MG - Urbanização; Patrimônio Histórico; Espaço Social O presente artigo tem como foco central reconstruir algumas facetas do processo de urbanização sofrido pela cidade de Mariana-MG, durante as décadas de 1970 e 1980, bem como as conseqüências deste para a conformação do imaginário” sobre o patrimônio histórico da cidade. Mais especificamente, pretendemos dissertar sobre as formas de apropriação do “espaço social” da cidade pelos diversos grupos inscritos nesta. Assim, tentaremos demonstrar de que modo as formas de relação com o passado influenciam na compreensão e posse do espaço social (Bauman, 1999) Como observaremos, a cidade de Mariana é marcada por uma polarização bastante contundente entre população “tradicional” e população “recém-chegada”, após o intenso processo de urbanização sofrido pela cidade durante as décadas de 1970 e 1980. Mariana traduz-se em um espaço social igualmente hierarquizado, tanto geograficamente, quanto simbolicamente. Nessa hierarquia são reservados à população estabelecida os “melhores espaços”: “a Rua Direita”, as ruas de “cima” o centro antigo e a “Rua Nova”, enquanto à população periférica ficam as “Cabanas”,“Prainhas”, “Vila do Sapo”, “Matadouro” e ruas de “Baixo”. Este último exemplo demonstra que a qualificação do lugar não se dá somente por aspectos geográficos; noções como alto e baixo, indicam muito mais que a posição geográfica, indicam posições na hierarquia social.Cidade situada no norte da Zona da Mata Mineira (Espinhaço Meridional),Mariana vai ter sua história marcada por dois elementos fundamentais: as jazidas minerais e a sua religião, elementos que parecem fundir se e confundir-se na memória social local. a estrada de ferro e com a mineradora, Ouro Preto Gold Mines
  • 2. of Brazil, instalada no distrito de Passagem de Mariana. Nesse período, através de um convênio firmado em 1918, com essa companhia, é instalada a luz elétrica no município. Assim, todos os ventos parecem soprar para o progresso. O principal sonho do habitante da cidade na época é vê-la industrializada, como já havia ocorrido com outras cidades mineiras, como Juiz de Fora (Fonseca, 1995). Lembramos que, até então, a idéia de preservação não assolava as mentes da população, a ordem do dia era uma só: modernizar . A partir da década de 1960, chegam as primeiras mineradoras na cidade, causando um processo de urbanização jamais sonhado nas melancólicas décadas anteriores. A sede do município que, nos anos de 1960, contava com menos de sete mil habitantes, termina o século com mais de trinta e cinco mil. A INFLUENCIA DA MINERAÇÃO NA CIDADE DE MARIANA MG Em 1965, chega a S. A. Mineração Trindade (Samitri), que mesmo antes de sua ativação já atraía um significativo contingente populacional, causando modificações no ritmo calmo da cidade (Fischer, 1993). No entanto, o crescimento populacional da década foi bastante tímido. A população da sede do município 18 passou de 6.837 habitantes, em 1960, para 7.720 habitantes, em 1970 . Motivadas pelas reservas minerais e pelos gordos incentivos fiscais oferecidos pelo ímpeto desenvolvimentista ditatorial, chegam à Mariana mais duas mineradoras, Samarco Mineradora S.A e a Companhia Vale do Rio Doce. A chegada, em 1977, da companhia Samarco, provocaria um fluxo de pessoas para o município bem mais significativo do que o da década precedente. Segundo Fischer (1993), 10 mil pessoas se deslocaram para o município na época, muitas delas empregadas das empreiteiras. Após as obras, permaneceram na cidade mesmo desempregadas. Na década de 1970, o crescimento demográfico foi bem mais significativo. A população da sede que era de 7.720 habitantes, chegou ao final da década com 12.853, mostrando um crescimento de 18,63%, índice superior ao do 19 Estado no mesmo período . Em 1979, era a vez da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), começar a construir suas instalações na cidade, para iniciar a produções em 1984 . A chegada das mineradoras e seus operário,demandou o planejamento e a construção de bairros (chamadas Vilas) exclusivos a esses, que dispusessem de serviços básicos, que o resto da cidade carecia, tais como: escolas, serviço médico, clubes sociais, supermercados, serviço de água etc. o. Foi na década 1990 que a cidade começou a viver sua “crise de confiança” no progresso, pelo menos no representado pelas mineradoras. AS OPORTUNIDADES EDUCACIONAIS OFERECIDAS PELAS MINERADORAS EM MARIANA E REGIOES Atualidades 1986 á 2014 Em 1986, defenderam a criação de um ginásio poli-esportivo, que contrastaria com a arquitetura barroca da cidade. Na época, um grande número de pessoas foi às ruas para reivindicar a continuação das obras do ginásio. Os jornais exibiam slogans como: “Mariana não pode parar” , “A cidade retoma os rumos do progresso. 2014 ,Na atualidade