Descrição de chapéu Dias Melhores COP30

Cooperativa de artesanato no Pará quintuplica produção às vésperas da COP30

Demanda passa de 200 para 1.000 peças por mês, com foco em brindes de empresas para a conferência

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A imagem mostra uma variedade de cestos artesanais dispostos sobre uma superfície. Os cestos são feitos de materiais trançados e apresentam diferentes padrões e cores, incluindo amarelo, roxo, laranja e branco. Alguns cestos têm etiquetas penduradas, indicando informações sobre o produto. A composição é rica em texturas e formas, com cestos de tamanhos variados.

Cestos e mandalas produzidos por artesãs da Turiarte, cooperativa de artesanato sediada em Santarém (PA) - Gabriel Gama / Folhapress

Santarém (PA)

As artesãs paraenses que fabricam cestos e mandalas a partir de uma técnica ancestral pararam de aceitar novas encomendas: a demanda cresceu cinco vezes às vésperas da COP30, a conferência da Organização das Nações Unidas sobre mudanças climáticas que acontecerá em novembro em Belém.

Até janeiro deste ano, a Turiarte (Cooperativa de Turismo e Artesanato da Floresta), sediada em Santarém (PA), produzia 200 itens por mês —hoje, alcança a capacidade máxima, com 1.000 peças. Os produtos vão para clientes como a empresa de cosméticos Natura e a organização internacional WWF (World Wide Fund for Nature).

"Em um mês, a gente vendia uns R$ 6.000. Agora, aumentou para R$ 10 mil, R$ 12 mil", afirma Natália Dias, presidente da Turiarte. "Vamos enviar mil peças só para a WWF nos Estados Unidos. As empresas com essa pegada de sustentabilidade têm procurado a gente."

A imagem mostra uma variedade de cestos artesanais coloridos dispostos em uma superfície. Os cestos apresentam diferentes padrões e cores, incluindo laranja, amarelo, azul e branco, com detalhes geométricos e desenhos variados. Alguns cestos têm etiquetas visíveis, indicando que são produtos artesanais.
Peças da cooperativa de artesanato Turiarte, em Santarém (PA); COP30 provoca aumento de cinco vezes na produção - Cleyton Silva/Sistema OCB

Segundo ela, as companhias buscam comprar as peças para distribuir como brindes durante o evento na capital do Pará. Os pedidos mais numerosos chegam a ser parcelados, com entregas divididas em dois momentos, algo inédito.

A cooperativa funciona apenas com encomendas e planeja capacitar novas artesãs para dar conta da produção para a COP30. "A demanda está sendo muito grande e, como é um trabalho manual, leva bastante tempo", afirma Dias.

Fundada em 2015, a Turiarte tem 180 cooperados de 12 comunidades paraenses. O artesanato responde por 75% da renda da cooperativa e o restante vem do turismo de base comunitária. A reserva extrativista Tapajós-Arapiuns, uma unidade de conservação federal no oeste do Pará, concentra a maior parte da produção.


A matéria-prima das peças é a palha do tucumanzeiro, uma palmeira nativa da amazônia. A técnica do trançado é transmitida entre gerações e mantém viva a conexão com a floresta.

"A tradição vem de tempos antigos, eu aprendi com a minha mãe e ela aprendeu com a mãe dela", diz a artesã Ivaneide de Oliveira, cooperada da Turiarte e moradora da comunidade de Urucureá.

Neide, como prefere ser chamada, criou as três filhas com a renda do artesanato e educou as meninas a pedirem a benção ao tucumanzeiro, uma forma de agradecer à árvore pelo sustento. As filhas, hoje adultas, já conhecem a técnica ancestral.

"A gente não deixa perder a nossa cultura, vamos levando isso para a frente", diz. "A cooperativa trabalha o empoderamento feminino, para as mulheres terem mais independência dos maridos e ganharem o seu próprio dinheiro."

Duas mulheres sentadas em cadeiras em um ambiente rústico, com um teto de palha. A mulher à esquerda está vestindo uma camiseta verde e jeans, enquanto a mulher à direita usa uma blusa vermelha. Em uma mesa ao lado, há uma variedade de cestos coloridos. O fundo mostra uma área com vegetação e redes de descanso.
Natália Dias (à esq.), presidente da Turiarte, e Ivaneide de Oliveira (à dir.), artesã - Cleyton SIlva/Sistema OCB

Dias, nascida na comunidade Vila Brasil, dá sequência ao legado da mãe, que também era cooperada da Turiarte. "É muito mais do que só artesanato para nós, é a nossa história de vida, nossa riqueza, nossa cultura. A gente precisa valorizar cada vez mais isso", afirma.

No passado, a venda do artesanato dependia de atravessadores, que pagavam um valor considerado baixo pelas peças. Ela diz que a criação da cooperativa melhorou o pagamento às artesãs.

A pigmentação das peças, antes feita com uma resina artificial, hoje é baseada em plantas como jenipapo, açafrão, urucum e crajiru. "A mulher faz todo o manejo e o tingimento natural. Tudo isso está ao nosso redor, a gente não precisa desmatar, tudo é tirado em harmonia com a natureza", afirma Dias.

A imagem mostra um fogão ao ar livre, com uma panela de metal prateada sobre uma fogueira. Ao lado, há uma panela preta com conteúdo visível. O fundo é de areia e há algumas folhas e galhos ao redor.
Tingimento da palha do tucumanzeiro para a produção de artesanato - Cleyton Silva/Sistema OCB

As mudanças climáticas, porém, impõem dificuldades. Nos períodos de estiagem, a palha do tucumanzeiro fica farelenta, o que inviabiliza a tecelagem. No inverno amazônico, marcado por mais chuvas, as fibras têm chance de mofar.

A seca extrema de 2024 causou prejuízos. Com o nível baixo dos rios, o transporte das peças ficou comprometido.

"A gente está pensando em criar o Fundo Semente para a compra de estoque de artesanato, ter um capital, para quando tiver novamente seca a gente não ficar nesse aperreio", diz a presidente da Turiarte. A ideia é captar ao menos R$ 30 mil para aumentar a resiliência à estiagem.

Hoje, 80% da produção da cooperativa vai para comerciantes, que então revendem as peças. "Nosso sonho é atender o consumidor final, porque gera mais lucro. Mas, por enquanto, estamos atendendo os lojistas e passamos por um processo de precificação para entender melhor isso", afirma Dias.

A Turiarte estuda ainda criar uma loja online e almeja a exportação. "Se não tiver a comercialização, a gente acaba perdendo a nossa cultura", diz a presidente.

O repórter viajou a convite do Sistema OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras)

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