ENEM-2016 resolvido e comentado: Compreensão textual

primeira aplicação do ENEM-2016
Questões de Compreensão textual
Manoel Neves

Mandinga — Era a denominação que, no período das grandes navegações, os
portugueses davam à costa ocidental da África. A palavra se tornou sinônimo de
fei@çaria porque os exploradores lusitanos consideravam bruxos os africanos que
ali habitavam — é que eles davam indicações sobre a existência de ouro na região.
Em idioma na@vo, manding designava terra de fei@ceiros. A palavra acabou
virando sinônimo de fei@ço, sor@légio.
COTRIM, M. O pulo do gato. São Paulo: Geração editorial, 2009. Fragmento.

QUESTÃO 01
No texto, evidencia-se que a construção do signiﬁcado da palavra mandinga
resulta de um(a)
a) contexto sócio-histórico.
b) diversidade étnica.
c) descoberta geográﬁca.
d) apropriação religiosa.
e) contraste cultural.

SOLUÇÃO COMENTADA
Há, no texto em análise, uma explicação de natureza histórica [Era dos
Descobrimentos] e social [emprés@mo vocabular de natureza africana] para a
origem do vocábulo mandinga. Deve-se, portanto, assinalar a alterna@va “a”.
conteúdos abordados na questão
variação linguís4ca; diversidade social, linguís4ca e cultural

PINHÃO sai ao mesmo tempo que BENONA entra.
BENONA: Eurico, Eudoro Vicente está lá fora e quer falar com você.
EURICÃO: Benona, minha irmã, eu sei que ele está lá fora, mas não quero falar
com ele.
BENONA: Mas Eurico, nós lhe devemos certas atenções.
EURICÃO: Você, que foi noiva dele. Eu, não!
BENONA: Isso são coisas passadas.
EURICÃO: Passadas para você, mas o prejuízo foi meu. Esperava que Eudoro, com
todo aquele dinheiro, se tornasse meu cunhado. Era uma boca a menos e um
patrimônio a mais. E o peste me traiu. Agora, parece que ouviu dizer que eu tenho
um tesouro. E vem louco atrás dele, sedento, atacado de verdadeira hidrofobia.
Vive farejando ouro, como um cachorro da molesta, como um urubu, atrás do
sangue dos outros. Mas ele está enganado. Santo Antônio há de proteger minha
pobreza e minha devoção.
SUASSUNA, A. O santo e a porca. Rio de Janeiro: José Olympio, 2013. Fragmento.

QUESTÃO 02
Nesse texto teatral, o emprego das expressões “o peste” e “cachorro da molesta”
contribui para
a) marcar a classe social das personagens.
b) caracterizar usos linguís@cos de uma região.
c) enfa@zar a relação familiar entre as personagens.
d) sinalizar a inﬂuência do gênero nas escolhas vocabulares.
e) demonstrar o tom autoritário da fala de uma das personagens.

SOLUÇÃO COMENTADA
A obra de Ariano Suassuna, produzida depois da II Guerra Mundial, insere-se na
corrente do regionalismo universalista da terceira geração do modernismo
brasileiro. Nesse sen@do, ambienta, no interior do Nordeste brasileiro, questões
deba@das em todo o mundo e por todas as gerações.
Na cena em análise, percebe-se o comportamento arrivista da personagem
Euricão. Nessa perspec@va, o uso de expressões como o peste e cachorro da
molest’a visa a reforçar a caracterização regional da peça e da personagem.
Marque-se, pois, a alterna@va “b”.
terceira geração do modernismo brasileiro; variação linguís4ca

DE DOMINGO
— Outrossim…
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
— É.
— O que é que tem?
— Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça.
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.

— Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira.
— Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
— “Ônus”.
— “Ônus” também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício” é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça.
— Mas “outrossim”, francamente…
— Qual o problema?
— Re@ra o “outrossim”.
— Não re@ro. É uma ó@ma palavra. Aliás, é uma palavra dircil de usar. Não é
qualquer um que usa “outrossim”.
VERÍSSIMO, L. V. Comédias da vida privada. Porto Alegre, L&PM, 1996. Fragmento.

QUESTÃO 03
No texto, á uma discussão sobre o uso de algumas palavras da língua portuguesa.
Esse uso promove o(a)
a) marcação temporal, evidenciada pela presença de palavras indica@vas dos dias
da semana.
b) tom humorís@co, ocasionado pela ocorrência de palavras empregadas em
contextos formais.
c) caracterização da iden@dade linguís@ca dos interlocutores, percebida pela
recorrência de palavras regionais.
d) distanciamento entre os interlocutores, provocado pelo emprego de palavras
com signiﬁcados pouco conhecidos.
e) inadequação vocabular, demonstrada pela seleção de palavras desconhecidas
por parte de um dos interlocutores do diálogo.

SOLUÇÃO COMENTADA
No texto em análise, há um debate de cunho metalinguís@co acerca da per@nência
do uso de um vocabulário mais rebuscado. A discussão promovida pelos
enunciadores, que se põem a debater o emprego de algumas palavras, acaba
tendo um efeito humorís@co. Sendo assim, deve-se assinalar a alterna@va “b”.
quarta geração do modernismo; efeitos irônicos

Na4onal geograﬁc Brasil, n.151. out. 2012. Adaptado.

QUESTÃO 04
Nessa campanha publicitária, para es@mular a economia de água, o leitor é
incitado a
a) adotar prá@cas de consumo consciente.
b) alterar hábitos de higienização pessoal e residencial.
c) contrapor-se a formas indiretas de exportação de água.
d) optar por vestuário produzido com matéria-prima reciclável.
e) conscien@zar produtores rurais sobre os custos de produção.

SOLUÇÃO COMENTADA
A principal ideia veiculada na propaganda em análise é a de que é possível
consumir água de modo indireto: na forma de bens de consumo. Sendo assim, o
consumo responsável também pode auxiliar na economia de água. Por isso, deve-
se assinalar a alterna@va “a”.
contexto de produção, circulação e de recepção; gêneros textuais: propaganda;

QUAL É A SEGURANÇA DO SANGUE?
Para que o sangue esteja disponível para aqueles que necessitam, os indivíduos
saudáveis devem criar o hábito de doar sangue e encorajar amigos e familiares
saudáveis a pra@carem o mesmo ato.
A prá@ca de selecionar criteriosamente os doadores, bem como as rígidas normas
aplicadas para testar, transportar, estocar e transfundir o sangue doado ﬁzeram
dele um produto muito mais seguro do que já foi anteriormente.
Apenas pessoas saudáveis e que não sejam de risco para adquirir doenças
infecciosas transmissíveis pelo sangue, como hepa@tes B e C, HIV, síﬁlis e Chagas,
podem doar sangue.
Se você acha que sua saúde ou comportamento pode colocar em risco a vida de
quem for receber seu sangue, ou tem a real intenção de apenas realizar o teste
para o HIV, NÃO DOE SANGUE.
Cumpre destacar que apesar de o sangue doado ser testado para as doenças
transmissíveis conhecidas no momento, existe um período chamado de janela
imunológica em que o doador contaminado por um determinado vírus pode
transmi@r a doença através do seu sangue.
DA SUA HONESTIDADE DEPENDE A VIDA DE QUEM VAI RECEBER SEU SANGUE.
Disponível em: www.prosangue.sp.gov.br. Acesso em: 24 abr. 2015. Adaptado.

QUESTÃO 05
Nessa campanha, as informações apresentadas têm como obje@vo principal
a) conscien@zar o doador de sua corresponsabilidade pela qualidade do sangue.
b) garan@r a segurança de pessoas de grupos de risco durante a doação de
sangue.
c) esclarecer o público sobre a segurança do processo de captação do sangue.
d) alertar os doadores sobre as diﬁculdades enfrentadas na coleta de sangue.
e) aplicar o número de doadores para manter o banco de sangue.

SOLUÇÃO COMENTADA
O objeto discurso do enunciador é corresponsabilizar o doador pela qualidade do
sangue. Por isso, deve-se assinalar a alterna@va “a”.
gêneros textuais: propaganda; processos de interação discursiva

TEXTO I
ENTREVISTADORA: Eu vou conversar aqui com a professora A. D… o português
então não é uma língua dircil?
PROFESSORA: Olha se você parte do princípio… que a língua portuguesa não é só
regras grama@cais… não se você se apaixona pela língua que você… já domina que
você já fala ao chegar na escola se o teu professora ca@va você a ler obras da
literatura… obras da/dos meios de comunicação… se você tem acesso a revistas…
é… a livros didá@cos…. a … livros de literatura o mais formal e e/o dircil é porque a
escola transforma como eu já disse as aulas de língua portuguesa em análises
grama@cais.

TEXTO II
ENTREVISTADORA: Vou conversar com a professora A. D. O português é uma
língua dircil?
PROFESSORA: Não, se você parte do princípio que a língua portuguesa não é só
regras grama@cais. Ao chegar à escola, o aluno já domina e fala a língua. Se o
professor mo@vá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a revistas, a livros
didá@cos, você se apaixona pela língua. O que torna dircil é que a escola
transforma as aulas de língua portuguesa em análises grama@cais.
MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: a@vidades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001. Adaptado.

QUESTÃO 06
O texto I é a transcrição de uma entrevista concedida por uma professora de
português a um programa de rádio. O texto II é a adaptação dessa entrevista para
a modalidade escrita. Em comum, esses textos
a) apresentam ocorrências de hesitações e reformulações.
b) são modelos de emprego de regras grama@cais.
c) são exemplos de uso não planejado da língua.
d) apresentam marcas da linguagem literária.
e) são amostras do português culto urbano.

SOLUÇÃO COMENTADA
Apesar de os textos evidenciarem modalidades dis@ntas da língua — a falada e a
escrita —, é fácil perceber [pela seleção vocabular, pelas regras de concordância,
por exemplo] que tanto no texto I quanto no texto II há traços da língua formal,
padrão, culta. Posto isso, deve-se assinalar a alterna@va “e”.
padrões linguís4cos

TEXTO I
Nesta época do ano, em que comprar compulsivamente é a principal preocupação
de boa parte da população, é imprescindível refle@rmos sobre a importância da
mídia na propagação de determinados comportamentos que induzem ao
consumismo exacerbado. No clássico livro O capital, Karl Marx aponta que no
capitalismo os bens materiais ao serem fe5chizados, passam a assumir qualidades
que vão além da mera materialidade. As coisas são personificadas e as pessoas
são codificadas. Em outros termos, um automóvel de luxo, uma mansão em um
bairro nobre ou a ostentação de objetos de determinadas marcas famosas são
alguns dos fatores que conferem maior valorização e visibilidade a um indivíduo.
LADEIRA, F. F. Reflexões sobre o consumismo. Disponível em: h•p://observatoriodaimprensa.com.br. Acesso em: 18 jan. 2015.

TEXTO II
Todos os dias, em algum nível, o consumo a@nge nossa vida, modiﬁca nossas
relações, gera e rege sen@mentos, engendra fantasias, aciona comportamentos,
faz sofrer, faz gozar. Às vezes, constrangendo-nos em nossas ações no mundo,
humilhando e aprisionando; às vezes, ampliando nossa imaginação e nossa
capacidade de desejar consumimos e somos consumidos. Numa época toda
codiﬁcada como a nossa, o código da alma (o código do ser) virou código do
consumidor! Fascínio pelo consumo, fascínio do consumo. Felicidade, luxo, bem-
estar, boa forma, lazer, elevação espiritual, saúde, família e corpo são hoje reféns
da engrenagem do consumo.
BARCELOS, G. A alma do consumo. Disponível em: www.diploma@que.org.br. Acesso em: 18 jan. 2015.

QUESTÃO 07
Esses textos propõem uma reﬂexão crí@ca sobre o consumismo. Ambos partem do
ponto de vista de que esse hábito
a) desperta o desejo de ascensão social.
b) provoca mudanças nos valores sociais.
c) advém de necessidades suscitadas pela publicidade.
d) deriva da inerente busca por felicidade pelo ser humano.
e) resulta de um apelo do mercado em determinadas datas.

SOLUÇÃO COMENTADA
Os dois textos assumem posicionamentos bastante dis@ntos no que diz respeito
ao consumismo. Apesar disso, tanto no primeiro quanto no segundo, evidencia-se
a ideia segundo a qual esse comportamento altera os valores sociais na medida
em que o que se consome altera o modo como o ser é visto pela sociedade [I: as
pessoas são coisiﬁcadas; II: o código da alma… virou código do consumidor]. Sendo
assim, deve-se assinalar a alterna@va “b”.
contexto de produção, de circulação e de recepção de textos

O livro A fórmula secreta conta a história de um episódio fundamental para o
nascimento da matemá@ca moderna e retrata uma das disputas mais virulentas da
ciência renascen@sta. Fórmulas misteriosas, duelos públicos, traições, genialidade,
ambição — e matemá@ca! Esse é o ins@gante universo apresentado no livro, que
resgata a história dos italianos Tartaglia e Cardano e da fórmula revolucionária
para resolução de equações de terceiro grau. A obra recons@tui um episódio do
período moderno da matemá@ca.
Em úl@ma análise, A fórmula secreta apresenta-se como uma ó@ma opção para
conhecer um pouco mais sobre a história da matemá@ca e acompanhar um dos
debates cien‚ﬁcos mais inﬂamados do século XVI no campo. Mais do que isso, é
uma obra de fácil leitura e uma boa mostra de que é possível abordar temas como
álgebra de forma interessante, inteligente e acessível ao grande público.
GARCIA, M. Duelos, segredos e matemá4ca. Disponível em: h•p://cienciahoje.uol.com.br. Acesso em: 6 out. 2015. Adaptado.

QUESTÃO 08
Na construção textual, o autor realiza escolhas para cumprir determinados
obje@vos. Nesse sen@do, a função social desse texto é
a) interpretar a obra a par@r de elementos da narra@va.
b) apresentar o resumo do conteúdo da obra de modo impessoal.
c) fazer a apreciação crí@ca de uma obra a par@r de uma síntese crí@ca.
d) informar o leitor sobre a veracidade dos fatos descritos na obra.
e) classiﬁcar a obra como uma referência para estudiosos da matemá@ca.

SOLUÇÃO COMENTADA
O texto em questão visa a apresentar sucintamente a obra e a fazer uma
apreciação crí@ca acerca do conteúdo veiculado no livro. Trata-se de uma resenha
crí@ca. Posto isso, deve-se assinalar a alterna@va “c”.
gêneros textuais: resenha jornalís@ca

Centro das atenções em um planeta cada vez mais interconectado, a Floresta
Amazônica expõe inúmeros dilemas. Um dos mais candentes diz respeito à
madeira e sua exploração econômica, uma saga que envolve os muitos desafios
para a conservação dos recursos naturais às gerações futuras.
Com o olhar jornalís@co, crí@co e ao mesmo tempo didá@co, adentramos a
Amazônia em busca de histórias e su@lezas que os dados nem sempre revelam.
Lapidamos esta‚s@cas e estudos cien‚ficos para construir uma síntese ú@l a quem
direciona esforços para conservar a floresta, seja no setor público, seja no setor
privado, seja na sociedade civil.
Guiada como uma reportagem, rica em informações ilustradas, a obra Madeira de
ponta a ponta revela a diversidade de fraudes na cadeia de produção, transporte
e comercialização da madeira, bem como as inicia@vas de boas prá@cas que se
disseminam e trazem esperança rumo a um modelo de convivência entre
desenvolvimento e manutenção da floresta.
VILLELA, M.; SPINK, P. In.: ADEODATO, S. et. al. Madeira de ponta a ponta: o caminho desde a floresta até o consumo. São
Paulo: FGV RAE, 2011. Adaptado.

QUESTÃO 08
A fim de alcançar seus obje@vos comunica@vos, os autores escreveram esse texto
para
a) apresentar informações e comentários sobre o livro.
b) no@ficar as descobertas cien‚ficas oriundas de pesquisa.
c) defender as prá@cas sustentáveis de manejo da madeira.
d) ensinar formas de combate à exploração ilegal de madeira.
e) demonstrar a importância de parcerias para a realização da pesquisa.

SOLUÇÃO COMENTADA
O texto em análise visa a apresentar o que levou os autores à construção da obra
Madeira de ponta a ponta. Funciona, pois, como uma apresentação/introdução à
obra. Por isso, deve-se assinalar a alterna@va “a”.

Disponível em: www.paradapelavida.com.br. Acesso em: 15 nov. 2014.

QUESTÃO 09
Nesse texto, a combinação de elementos verbais e não verbais conﬁgura-se como
estratégia argumenta@va para
a) manifestar a preocupação do governo com a segurança dos pedestres.
b) associar a u@lização do celular às ocorrências de atropelamento de crianças.
c) orientar pedestres e motoristas quanto à u@lização responsável do telefone
móvel.
d) inﬂuenciar o comportamento de motoristas em relação ao uso de celular no
trânsito
e) alertar a população para os riscos da falta de atenção no trânsito das grandes
cidades.

SOLUÇÃO COMENTADA
Se se atentar aos elementos verbais e não verbais que ar@culam essa propaganda
de caráter social, há de se perceber que seu obje@vo discursivo é persuadir o
motorista na não u@lizar o celular ao dirigir. Deve-se, portanto, assinalar a
alterna@va “d”.
contexto de produção, de circulação e de recepção de textos; gêneros textuais: propaganda

QUERIDO DIÁRIO
Hoje topei com alguns conhecidos meus
Me dão bom-dia, cheios de carinho
Dizem para eu ter muita luz, ﬁcar com Deus
Eles têm pena de eu viver sozinho […]
Hoje o inimigo veio me espreitar
Armou tocaia lá na curva do rio
Trouxe um porrete a mó de de quebrar
Mas eu não quebro porque sou macio, viu.
HOLANDA, C. B. Chico. Rio de Janeiro: Biscoito Fino, 2013. Fragmento.

QUESTÃO 10
Uma caracterís@ca do gênero diário que aparece na letra da canção de Chico
Buarque é o(a)
a) diálogo com interlocutores próximos.
b) recorrência de verbos no inﬁni@vo.
c) predominância de tom poé@co.
d) uso de rimas na composição.
e) narra@va autorreﬂexivo.

SOLUÇÃO COMENTADA
O gênero textual diário ar@cula-se por intermédio de pequenas narra@vas,
entremeadas de sequências exposi@vas e argumenta@vas. Nesse sen@do, a
alterna@va que apresenta a análise correta acerca dos componentes dessa
modalidade textual é a letra “e”.
contexto de produção, de circulação e de recepção de textos; gêneros textuais: diário

RECEITA
Tome-se um poeta não cansado,
Uma nuvem de sonho e uma ﬂor,
Três gotas de tristeza, um tom dourado,
Uma veia sangrando de pavor.
Quando a massa já ferve e se retorce
Deita-se a luz dum corpo de mulher,
Duma pitada de morte se reforce,
Que um amor de poeta assim requer.
SARAMAGO, J. Os poemas possíveis. Alfragide: Caminho, 1997.

QUESTÃO 11
Os gêneros textuais caracterizam-se por serem rela@vamente estáveis e podem
reconﬁgurar-se em função do propósito comunica@vo. Esse texto cons@tui uma
mescla de gêneros, pois
a) introduz procedimentos prescri@vos na composição do poema.
b) explicita as etapas essenciais à preparação de uma receita.
c) explora elementos temá@cos presentes em uma receita.
d) apresenta organização estrutural ‚pica de um poema.
e) u@liza linguagem ﬁgurada na construção do poema.

SOLUÇÃO COMENTADA
No poema de José Saramago, notam-se traços de receita. Para além do ‚tulo, as
caracterís@cas de tal gênero, presentes no texto, são os ingredientes [quatro
primeiros versos] e o modo de preparo [quatro úl@mos versos]. Marque-se, pois, a
alterna@va “a”.

O HUMOR E A LÍNGUA
Há algum tempo, venho estudando as piadas, com ênfase em sua cons@tuição
linguís@ca. Por isso, embora a aﬁrmação a seguir possa parecer surpreendente,
creio que posso garan@r que se trata de uma verdade quase banal: as piadas
fornecem simultaneamente um dos melhores retratos dos valores e problemas de
uma sociedade, por um lado, e uma coleção de fatos e dados impressionantes
para quem quer saber o que é e como funciona uma língua, por outro. Se se quiser
descobrir os problemas com os quais uma sociedade se debate, uma coleção de
piadas fornecerá excelente pista: sexualidade, etnia/raça e outras diferenças,
ins@tuições (igreja, escola, casamento, polí@ca), morte, tudo isso está sempre
presente nas piadas que circulam anonimamente e que são ouvidas e contadas
por todo mundo em todo o mundo. Os antropólogos ainda não prestaram a
devida atenção a esse material, que poderia subs@tuir com vantagem muitas
entrevistas e pesquisas par@cipantes. Saberemos mais a quantas andam o
machismo e o racismo, por exemplo, se pesquisarmos uma coleção de piadas do
que qualquer outro corpus.
POSSENTI, S. Ciência hoje. n. 176, out. 2001. Adaptado.

QUESTÃO 12
A piada é um gênero textual que ﬁgura entre os mais recorrentes na cultura
brasileira, sobretudo na tradição oral. Nessa reﬂexão, a piada é enfa@zada por
a) sua função humorís@ca.
b) sua ocorrência universal.
c) sua diversidade temá@ca.
d) seu papel como veículo de preconceitos.
e) seu potencial como objeto de inves@gação.

SOLUÇÃO COMENTADA
O professor Sírio Possen@, em seu ar@go, destaca o potencial que tem a piada de
promover leituras de mundo, na medida em que nelas é possível encontrar um
dos melhores retratos dos valores e problemas de uma sociedade. Nesse sen@do,
sem dúvida, é possível inferir que elas possuem enorme potencial como objeto a
ser inves@gado pelos cien@stas de várias áreas. Marque-se, pois, a alterna@va “e”.
contexto de produção, de circulação e de recepção de textos; gênero textual: piada/anedota

A obra de Túlio Piva poderia ser obje@vo de estudo nos bancos escolares, ao lado
de Noel, Ataulfo e Lupicínio. Se o criador optou por permanecer em sua querência
— San@ago, e depois Porto Alegre, a obra alçou voos mais altos, com passagens na
Rússia, Estados Unidos e Venezuela. Tem que ter mulata, seu samba maior, é
coisa de craque. Um retrato feito de ritmo e poesia, uma ode ao gênero que amou
desde sempre. E o paradoxo: misto de gaúcho e italiano, nascido na fronteira com
a Argen@na, falando de samba, morro e mulata, com categoria. E que categoria!
Uma ba@da de violão que fez história. O tango transmudado em samba.
RAMIREZ, H.; PIVA. R. (Org.). Túlio Piva: pra ser samba brasileiro. Porto Alegre: Programa Petrobrás Cultural, 2005. Adaptado.

QUESTÃO 13
O texto é um trecho da crí@ca musical sobre a obra de Túlio Piva. Para enfa@zar a
qualidade do ar@sta, usou-se como recurso argumenta@vo o(a)
a) contraste entre o local de nascimento e a escolha pelo gênero samba.
b) exemplo de temá@cas gaúchas abordadas nas letras de sambas.
c) alusão a gêneros musicais brasileiros e argen@nos.
d) comparação entre sambistas de diferentes regiões.
e) aproximação entre a cultura brasileira e a argen@na.

SOLUÇÃO COMENTADA
O recurso argumenta@vo adotado pelo locutor para falar da obra de Túlio Piva foi
o confronto. Tal raciocínio pode ser comprovado pelo fato de o ar@sta, mesmo
nascido nas imediações da terra do tango, ter optado pelo gênero musical
brasileiro por excelência — o samba. Deve-se, pois, assinalar a alterna@va “a”.
estratégias argumenta4vas

O nome do inseto pirilampo (vaga-lume) tem uma interessante cer@dão de
nascimento. De repente, no ﬁm do século XVII, os poetas de Lisboa repararam que
não podiam cantar o inseto luminoso, apesar de ele ser um manancial de
metáforas, pois possuía um nome “indecoroso” que não podia ser “usado em
papéis sérios”: caga-lume. Foi então que o dicionarista Raphael Bluteau inventou a
nova palavra, pirilampo, a par@r do grego por, signiﬁcando ‘fogo’, e lampas,
‘candeia’.
FERREIRA, M. B. Caminhos do português: exposição comemora@va do Ano Europeu das Línguas. Portugal: Biblioteca
Nacional, 2001. Adaptado.

QUESTÃO 14
O texto descreve a mudança ocorrida na nomeação do inseto, por questões de
tabu linguís@co. Esse tabu diz respeito à
a) recuperação histórica do signiﬁcado.
b) ampliação do sen@do de uma palavra.
c) produção imprópria de poetas portugueses.
d) denominação cien‚ﬁca com base em termos gregos.
e) restrição ao uso de um vocábulo pouco aceito socialmente.

SOLUÇÃO COMENTADA
Deve-se assinalar a alterna@va “e”, pois a alteração do nome do vaga-lume visou a
subs@tuir uma palavra considerada indecorosa por outra mais palatável.

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