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UM
A lua cheia exterminava a escuridão enquanto Sabrina corria. Em cada passo, a
garota concentrava todas as suas forças. Precisava fugir, a qualquer custo, de quem
tentava a matar. Sem parar de correr, virou-se. Com a visão embaçada pelas lágrimas,
avistou a silhueta do perseguidor. A distância entre eles já havia aumentado, mas o
medo não desaparecera.
A rua estava vazia e assustadora. Não possuía nenhuma construção. Apenas
grandes terrenos baldios compunham o cenário por onde ela fugia. Já estava ofegante.
Seu coração batia cada vez mais rápido. Após muitos passos e muitas lágrimas, Sabrina
avistou uma casa. Um pingo de esperança encheu seu coração. A vontade de viver a
possibilitou aumentar a velocidade. Porém, ela sabia que não aguentaria continuar
correndo por muito tempo.
Estava se aproximando da casa. Era uma construção antiga. Várias árvores
enfeitavam o jardim. Possuía um velho portão de madeira. As janelas estavam
fechadas e não era possível ver o lado de dentro.
A chuva começou.
Talvez Sabrina não conseguisse ser salva a tempo. Mas ela acreditava que podia
conseguir com que o bandido se espantasse com a possibilidade de ser pego e
abandonasse a ideia de mata-la. Estava errada.
Saltou por cima do portão. Nunca fora uma boa atleta. Caiu contra a terra
daquele quintal. Com o rosto coberto de lágrimas e lama, se rastejou até a porta.
Esmurrou-a. Com dificuldade, conseguiu se levantar. Então, viu o assassino saltando o
portão. Ele estava usando uma máscara e apontou sua arma para Sabrina.
“Quem é você?”. Quase não conseguia balbuciar.
“Não sabe quem sou eu, Sabrininha?”
“Fala logo quem é você”
“Você vai morrer”. Sua fala veio seguida de uma longa risada.
“Não atire, por favor. O que você quer? Que eu implore?”
“É o que se espera de alguém que não sabe o que fazer para continuar viva”
“Quem é você?”
“Você é muito burra mesmo. Não consegue nem reconhecer pela voz?”
“Não. Me fale quem é você, idiota.”
“ Que lama nojenta”. Tocou nos cabelos loiros da garota. Pegou os óculos dela e
quebrou-os com a mão. Com um dos cacos, riscou o rosto dela. Sabrina gritava cada
vez mais.
“ Sabrininha... Você gosta de corações, não gosta? Que tal uma tatuagem?”.
Com o vidro, começou a traçar um coração em sua face, que já estava coberta
com sangue. A rapariga tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu.
A chuva já havia se tornado uma tempestade.
“ Quem sou eu?”
Esmurrou o rosto de Sabrina
“ Eu sou o Jonathan”
Socou ela mais uma vez.
“ Ou será que eu sou o Nicolas?”
Jogou-a contra a porta da casa. Ela caiu de joelhos.
“ Parece que não tem ninguém, Sabrininha. Afinal, quem iria morar num lugar
desses? Aposto que acontecem muitos assassinatos por aqui.”
Chutou-a.
“Lembrei. Eu sou a Emma”
Chutou-a mais uma vez.
“ Ou eu sou a Hailey?”
Levantou-a pelo pescoço
“ Fica de pé, porcaria. E porque não falou mais nada? O gato comeu sua língua?”
Retirou uma faca do bolso. Puxou a língua de Sabrina e a cortou. Em seguida, a
engoliu.
Um barulho estridente veio da garota. Só conseguia gemer e mais nada.
“ Quem sabe eu seja a Camila?”
Fez mais um corte no rosto da menina. Desta vez com a faca.
“Ou talvez eu seja a fusão de toda a discórdia que você semeou. E esteja
sedenta por seu sangue”
Encostou sua pistola no peito de Sabrina.
Atirou.
Atirou.
E atirou.
Ela sentiu cada um dos três tiros.
A última gosta de esperança se esvaiu junto com seu sangue, que se misturou
as poças de chuva.
Seus olhos soltaram a última lágrima.
A chuva continuava a cair.
DOIS
Michele olhava profundamente para a noite cada vez que mergulhava o bico de
pena na tinta. Costumava escrever por horas, em todas as madrugadas. A luz da lua
cheia exaltava seus olhos azuis, e a pequena lareira fazia com que seus cabelos ruivos
parecessem fogo.
Possuía um escritório pequeno, porém gracioso. Ficava no décimo andar e uma
das paredes era feita de vidro. Podia ver quase toda a cidade de lá: Desde os grandes
prédios comerciais até o parque central. Estava sentada em frente a uma mesinha
rústica que ficava voltada para a incrível vista. Escrevia sobre a luz da lareira e de
algumas velas. Além disso, havia uma poltrona salmão e uma estante com livros e
papéis.
Alguém tocou a campainha. Michele se levantou lentamente. Possuía uma
aparência jovial: tinha trinta e dois anos, mas aparentava, no máximo, uns vinte.
Abriu a porta. Era o delegado Roberto Rocha, um senhor de cabelos grisalhos e um
chapéu-coco. Estava acompanhado do policial Manuel Olívio, um jovem sorridente com
um bigode estranho.
“ Boa noite, senhorita SunWinter ”. Disse o delegado.
“Bob. Eu já não pedi para me chamar de Michele?”
“Oi Michele.”. Disse Olívio.
“Isso vale só para o delegado. Continue me chamando pelo sobrenome, Manuel.”
“Ok. Me desculpe”.
“Entrem.”
Michele sentou-se em sua cadeira, Rocha na poltrona e Olívio num banquinho
dobrável que estava encostado na estante.
“Qual é o motivo para essa visita tão tarde?”
“Eu até pensei em vir amanhã, mas sei que você sempre está acordada neste
horário. Aliás, o que são essas coisas que você sempre está escrevendo?”
“Coisas.”
“Que tipo de coisas?”
“Coisas.”
“Enfim, vamos direto ao assunto.”
“Porque não usa um computador?”. Interrompeu Manuel.
“O quê?”. Michele perguntou
“Você sempre está escrevendo a mão. Não é mais prático escrever em um
notebook ou algo do tipo? Sem falar que qualquer dia esses papéis pegam fogo e você
perde tudo.”
“Chega de baboseiras”. Exclamou Rocha. “Queremos que você pegue um caso,
detetive SunWinter.”
“O quê aconteceu?”
“Há algumas horas, uma estudante foi morta com três tiros, em uma cidade da
região metropolitana. Seu corpo estava todo espancado e cortado. O assassino fez um
corte em forma de coração no rosto dela e também arrancou a sua língua.”
“Hum... Interessante.”
“Então você aceita o caso?”
“Sim.”
“Por favor, comece o quanto antes.”
TRÊS
O corpo de Sabrina continuava em frente aquela casa abandonada. A lua
continuava a iluminar aquela enorme poça de sangue. Perto dela, alguns policiais faziam
anotações. Seus pais estavam aos prantos. Um carro preto se aproximou. Dele saíram
Sunwinter, Rocha e Olívio.
“A garota sempre voltava de ônibus para casa. Fazia uma baldeação cinco
quilômetros a leste daqui. Acreditamos que o assassino a abordou enquanto esperava
o próximo ônibus e ela tentou fugir por este caminho.”, Explicou Rocha.
“Marcas de estupro?”. Perguntou Michele
“Não”
“Os pertences dela foram roubados?”
“Também não”
Os três se aproximaram do corpo e dos pais da garota. A mãe dela estava
olhando fixamente para o cadáver da ilha.
“Meus sentimentos, senhora”. Disse a detetive
Não desviou o olhar. Não falou nada.
“Sei como isso está sendo difícil. Prometo que eu vou achar o assassin...”
“Por quê?”. Murmurou ela, interrompendo SunWinter. “Porquê isso aconteceu
com a minha filhinha?”
A senhora se ajoelhou em frente ao corpo, sujando-se de sangue. Os policiais a
levantaram. A detetive voltou-se para Rocha.
“Se já examinaram o corpo e a cena, deveriam ter retirado o corpo. O sofrimento
deles, que já é infinito, deve estar duplicado ao ver essa cena deplorável: A filha sem
língua, toda cortada, com três tiros e banhada no próprio sangue.”
“Mas temos poucas pistas”. Exclamou Olívio
“Para achar uma resposta, só é preciso uma pergunta. Levem esse corpo e
tentem deixa-lo melhor para fazerem um enterro digno. Sei que você, Rocha, consegue
que fique pouco tempo no IML. Não quero que esse sofrimento se prolongue. Amanhã
mesmo vou começar os interrogatórios. E pode ter certeza de uma coisa: Quem fez
isso vai pagar.”

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  • 1. UM A lua cheia exterminava a escuridão enquanto Sabrina corria. Em cada passo, a garota concentrava todas as suas forças. Precisava fugir, a qualquer custo, de quem tentava a matar. Sem parar de correr, virou-se. Com a visão embaçada pelas lágrimas, avistou a silhueta do perseguidor. A distância entre eles já havia aumentado, mas o medo não desaparecera. A rua estava vazia e assustadora. Não possuía nenhuma construção. Apenas grandes terrenos baldios compunham o cenário por onde ela fugia. Já estava ofegante. Seu coração batia cada vez mais rápido. Após muitos passos e muitas lágrimas, Sabrina avistou uma casa. Um pingo de esperança encheu seu coração. A vontade de viver a possibilitou aumentar a velocidade. Porém, ela sabia que não aguentaria continuar correndo por muito tempo. Estava se aproximando da casa. Era uma construção antiga. Várias árvores enfeitavam o jardim. Possuía um velho portão de madeira. As janelas estavam fechadas e não era possível ver o lado de dentro. A chuva começou.
  • 2. Talvez Sabrina não conseguisse ser salva a tempo. Mas ela acreditava que podia conseguir com que o bandido se espantasse com a possibilidade de ser pego e abandonasse a ideia de mata-la. Estava errada. Saltou por cima do portão. Nunca fora uma boa atleta. Caiu contra a terra daquele quintal. Com o rosto coberto de lágrimas e lama, se rastejou até a porta. Esmurrou-a. Com dificuldade, conseguiu se levantar. Então, viu o assassino saltando o portão. Ele estava usando uma máscara e apontou sua arma para Sabrina. “Quem é você?”. Quase não conseguia balbuciar. “Não sabe quem sou eu, Sabrininha?” “Fala logo quem é você” “Você vai morrer”. Sua fala veio seguida de uma longa risada. “Não atire, por favor. O que você quer? Que eu implore?” “É o que se espera de alguém que não sabe o que fazer para continuar viva” “Quem é você?” “Você é muito burra mesmo. Não consegue nem reconhecer pela voz?” “Não. Me fale quem é você, idiota.” “ Que lama nojenta”. Tocou nos cabelos loiros da garota. Pegou os óculos dela e quebrou-os com a mão. Com um dos cacos, riscou o rosto dela. Sabrina gritava cada vez mais. “ Sabrininha... Você gosta de corações, não gosta? Que tal uma tatuagem?”. Com o vidro, começou a traçar um coração em sua face, que já estava coberta com sangue. A rapariga tentou falar alguma coisa, mas não conseguiu. A chuva já havia se tornado uma tempestade. “ Quem sou eu?”
  • 3. Esmurrou o rosto de Sabrina “ Eu sou o Jonathan” Socou ela mais uma vez. “ Ou será que eu sou o Nicolas?” Jogou-a contra a porta da casa. Ela caiu de joelhos. “ Parece que não tem ninguém, Sabrininha. Afinal, quem iria morar num lugar desses? Aposto que acontecem muitos assassinatos por aqui.” Chutou-a. “Lembrei. Eu sou a Emma” Chutou-a mais uma vez. “ Ou eu sou a Hailey?” Levantou-a pelo pescoço “ Fica de pé, porcaria. E porque não falou mais nada? O gato comeu sua língua?” Retirou uma faca do bolso. Puxou a língua de Sabrina e a cortou. Em seguida, a engoliu. Um barulho estridente veio da garota. Só conseguia gemer e mais nada. “ Quem sabe eu seja a Camila?” Fez mais um corte no rosto da menina. Desta vez com a faca. “Ou talvez eu seja a fusão de toda a discórdia que você semeou. E esteja sedenta por seu sangue” Encostou sua pistola no peito de Sabrina. Atirou. Atirou.
  • 4. E atirou. Ela sentiu cada um dos três tiros. A última gosta de esperança se esvaiu junto com seu sangue, que se misturou as poças de chuva. Seus olhos soltaram a última lágrima. A chuva continuava a cair. DOIS Michele olhava profundamente para a noite cada vez que mergulhava o bico de pena na tinta. Costumava escrever por horas, em todas as madrugadas. A luz da lua cheia exaltava seus olhos azuis, e a pequena lareira fazia com que seus cabelos ruivos parecessem fogo. Possuía um escritório pequeno, porém gracioso. Ficava no décimo andar e uma das paredes era feita de vidro. Podia ver quase toda a cidade de lá: Desde os grandes prédios comerciais até o parque central. Estava sentada em frente a uma mesinha rústica que ficava voltada para a incrível vista. Escrevia sobre a luz da lareira e de algumas velas. Além disso, havia uma poltrona salmão e uma estante com livros e papéis. Alguém tocou a campainha. Michele se levantou lentamente. Possuía uma aparência jovial: tinha trinta e dois anos, mas aparentava, no máximo, uns vinte. Abriu a porta. Era o delegado Roberto Rocha, um senhor de cabelos grisalhos e um chapéu-coco. Estava acompanhado do policial Manuel Olívio, um jovem sorridente com um bigode estranho. “ Boa noite, senhorita SunWinter ”. Disse o delegado. “Bob. Eu já não pedi para me chamar de Michele?” “Oi Michele.”. Disse Olívio. “Isso vale só para o delegado. Continue me chamando pelo sobrenome, Manuel.”
  • 5. “Ok. Me desculpe”. “Entrem.” Michele sentou-se em sua cadeira, Rocha na poltrona e Olívio num banquinho dobrável que estava encostado na estante. “Qual é o motivo para essa visita tão tarde?” “Eu até pensei em vir amanhã, mas sei que você sempre está acordada neste horário. Aliás, o que são essas coisas que você sempre está escrevendo?” “Coisas.” “Que tipo de coisas?” “Coisas.” “Enfim, vamos direto ao assunto.” “Porque não usa um computador?”. Interrompeu Manuel. “O quê?”. Michele perguntou “Você sempre está escrevendo a mão. Não é mais prático escrever em um notebook ou algo do tipo? Sem falar que qualquer dia esses papéis pegam fogo e você perde tudo.” “Chega de baboseiras”. Exclamou Rocha. “Queremos que você pegue um caso, detetive SunWinter.” “O quê aconteceu?” “Há algumas horas, uma estudante foi morta com três tiros, em uma cidade da região metropolitana. Seu corpo estava todo espancado e cortado. O assassino fez um corte em forma de coração no rosto dela e também arrancou a sua língua.” “Hum... Interessante.” “Então você aceita o caso?”
  • 6. “Sim.” “Por favor, comece o quanto antes.” TRÊS O corpo de Sabrina continuava em frente aquela casa abandonada. A lua continuava a iluminar aquela enorme poça de sangue. Perto dela, alguns policiais faziam anotações. Seus pais estavam aos prantos. Um carro preto se aproximou. Dele saíram Sunwinter, Rocha e Olívio. “A garota sempre voltava de ônibus para casa. Fazia uma baldeação cinco quilômetros a leste daqui. Acreditamos que o assassino a abordou enquanto esperava o próximo ônibus e ela tentou fugir por este caminho.”, Explicou Rocha. “Marcas de estupro?”. Perguntou Michele “Não” “Os pertences dela foram roubados?” “Também não” Os três se aproximaram do corpo e dos pais da garota. A mãe dela estava olhando fixamente para o cadáver da ilha. “Meus sentimentos, senhora”. Disse a detetive Não desviou o olhar. Não falou nada. “Sei como isso está sendo difícil. Prometo que eu vou achar o assassin...” “Por quê?”. Murmurou ela, interrompendo SunWinter. “Porquê isso aconteceu com a minha filhinha?” A senhora se ajoelhou em frente ao corpo, sujando-se de sangue. Os policiais a levantaram. A detetive voltou-se para Rocha.
  • 7. “Se já examinaram o corpo e a cena, deveriam ter retirado o corpo. O sofrimento deles, que já é infinito, deve estar duplicado ao ver essa cena deplorável: A filha sem língua, toda cortada, com três tiros e banhada no próprio sangue.” “Mas temos poucas pistas”. Exclamou Olívio “Para achar uma resposta, só é preciso uma pergunta. Levem esse corpo e tentem deixa-lo melhor para fazerem um enterro digno. Sei que você, Rocha, consegue que fique pouco tempo no IML. Não quero que esse sofrimento se prolongue. Amanhã mesmo vou começar os interrogatórios. E pode ter certeza de uma coisa: Quem fez isso vai pagar.”