INTERTEXTUALIDADE
INTERTEXTUALIDADE
TECENDO A MANHÃ
Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
(Camões)
Monte Castelo - Legião Urbana
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal,
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É um não contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem.
Todos dormem. Todos dormem.
Agora vejo em parte,
Mas então veremos face a face.
É só o amor! É só o amor
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
Composição: Renato Russo (recortes do
Apóstolo Paulo e de Camões).
Intertextualidade – esse palavrão...
“(...) todo o texto é absorção e transformação de outro texto. (...) a
linguagem poética se lê, pelo menos como dupla.” (KRISTEVA in
CARVALHAL, 1992, p. 50.)
“(...) não é possível ler senão comparativamente (ou seja,
racionalmente) (...) não se trata tanto da opção entre comprar e não
comparar... Não há de fato como não comparar. Toda leitura é
ativação, partilha e ‘cooperação interpretativa’(...).” (BUESCU, 2001, p.
23.)
“A noção de intertextualidade abre um campo novo e sugere modos
de atuação diferentes ao comparativista (...). Principalmente, as novas
noções sobre a produtividade dos textos literários comprometem a
também ‘velha’ concepção de originalidade.” (CARVALHAL, 1992, p.
53.)
Intertextualidade – esse palavrão...
INTERTEXTUALIDADE nada mais é do que o conceito mais importante
nos dias de hoje quando falamos sobre criação artística – colocando,
então, nesse “caldo” de arte, a literatura. É muito difícil nos depararmos
com algo realmente original atualmente no meio da cultura e do
entretenimento. E isso se deve ao exercício constante da comparação,
onde estabelecemos, quase sempre, aproximações entre uma criação
e outra. Quando percebemos que um texto usa outro texto em sua
construção, mesmo que sem a intenção do autor, o que estamos
fazendo é comprovar a ocorrência de INTERTEXTUALIDADE.
Intertextualidade – esse palavrão...
Sendo assim, INTERTEXTUALIDADE nada mais é do que o
cruzamento de um texto com outro (ou outros), muitas vezes
utilizado conscientemente, sendo parte fundamental da criação do
autor; comporta-se não como plágio involuntário, mas,
frequentemente, é um dos objetivos de determinada obra a CITAÇÃO
explícita para fins de REFERÊNCIA, HOMENAGEM ou, ainda,
PARÓDIA.
INTERTEXTUALIDADE
Há, basicamente, duas maneiras de se perceber a intertextualidade...
• Uma explícita, facilmente notada e parte do corpo do texto (geralmente apoiando-se justamente
no conhecimento do senso comum por parte do leitor/espectador).
Na série cinematográfica Shrek, por exemplo...
...É fundamental a presença de
diversas referências dos contos
de fadas (ou contos infantis)...
...Temos o Gato de Botas...
... Há personagens importantes
na trama, como Rapunzel,
Branca de Neve, Cinderela e
muitos outros...
...Sobra espaço até
para outras citações,
como o filme Matrix,
lendas medievais, etc.
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INTERTEXTUALIDADE
• O outro caso de ocorrência de INTERTEXTO é quando este está implícito, mais subjetivo, portanto,
dependendo muito do olhar do leitor/espectador para ser encontrado e, muitas vezes, colocado de
forma inconsciente pelo autor, justamente pelo fato de certas INFLUÊNCIAS ou REFERÊNCIAS de
senso comum estarem tão dispersas no mundo que essas acabam surgindo naturalmente.
A história da saga Crepúsculo, por exemplo, tenta renovar os mitos vampíricos tão presentes na
cultura de massa... ...Ainda que não
se consigam
evitar outras
referências
clássicas do
gênero, como
Drácula.
...Com
direito a
referências
como A Bela
e a Fera...
...Abrindo espaço para a
velha história do “amor
proibido”, que remete a
Romeu e Julieta, Tristão e
Isolda...
Semana que vem
Pitty
Amanhã eu vou revelar
Depois eu penso em aprender
Daqui a uns dias eu vou dizer
O que me faz querer gritar
No mês que vem tudo vai melhorar
Só mais alguns anos e o mundo vai mudar
Ainda temos tempo até tudo explodir
Quem sabe quanto vai durar
Não deixe nada pra depois
Não deixe o tempo passar
Não deixe nada pra semana que vem
Porque semana que vem pode nem chegar
A partir de amanhã eu vou discutir
Da próxima vez eu vou questionar
Na segunda eu começo a agir
Só mais duas horas pra eu decidir...
(...)
Carpe Diem
Horácio
Não indagues muito: é cruel querer saber
Que fim nos reservaram os deuses; nem
Fiques consultando os números babilônios.
Pode ser que Júpiter te conceda muitos
invernos,
Ou somente este último, como expressa agora
o mar tirreno ao bater nas rochas.
Sê sensato, bebe teu vinho e abrevia as
longas [esperanças,
Pois o tempo foge enquanto aqui parlamos.
Curte o dia de hoje – não te fies no futuro!
INTERTEXTUALIDADE não demonstra falta de originalidade, necessariamente, mas, muitas vezes,
uma nova noção sobre o que é originalidade. Inferir que um texto utiliza outro texto na sua
construção é um exercício comparativo comum do ser humano; está muito evidente na propaganda
(no uso de símbolos de marcas, por exemplo) e, no texto artístico, apóia-se no conhecimento dos
clássicos.
Canção do Exílio
Gonçalves Dias
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar –sozinho, à noite–
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
HINO
NACIONAL
BRASILEIRO
PARÁFRASE
Proveniente do grego “para-phrasis”, a
paráfrase caracteriza-se como sendo uma
reafirmação de um texto pré-existente.
Neste tipo de intertexto, há uma repetição do
conteúdo ou um fragmento dele em outros
termos, a ideia inicial é preservada. Em
resumo, podemos afirmar que parafrasear um
texto significa recriá-lo com outras palavras,
mantendo a sua essência.
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EXEMPLO DE PARÁFRASE
Coríntios c1 v13 - Ainda que eu
falasse as línguas dos homens e
dos anjos, e não tivesse amor, seria
como o metal que soa ou como o
sino que tine.
EXEMPLO DE PARÁFRASE
Monte Castelo - Legião Urbana
Ainda que eu falasse
A língua dos homens
E falasse a língua dos anjos
Sem amor eu nada seria
PARÓDIA
Neste caso, também há uma apropriação do texto de
outro, porém, não o endossa, mas sim subverte-o,
satirizando o próprio tema do texto ou utilizando-o
para satirizar um outro contexto. Em outras
palavras, a paródia é uma imitação, e normalmente
possui intenção crítica ou humorística.
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Paródias nos filmes...https://w
ww.youtube.com/watch?v=tK
o2gFlOQAU&t=111s
EXEMPLO DE PARÓDIA
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas
retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond Andrade
EXEMPLO DE PARÓDIA
Contramão
Eu tropecei agora numa casca de banana.
Numa casca de banana!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Caí para trás desamparadamente,
E rasguei os fundilhos das calças!
Numa casca de banana eu tropecei agora.
Numa casca de banana!
Eu tropecei agora numa casca de banana!
Gondim da Fonseca.

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  • 2. TECENDO A MANHÃ Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito que um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos. JOÃO CABRAL DE MELO NETO
  • 3. Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor? (Camões)
  • 4. Monte Castelo - Legião Urbana Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos, Sem amor eu nada seria. É só o amor! É só o amor Que conhece o que é verdade. O amor é bom, não quer o mal, Não sente inveja ou se envaidece. O amor é o fogo que arde sem se ver; É ferida que dói e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria.
  • 5. É um não querer mais que bem querer; É solitário andar por entre a gente; É um não contentar-se de contente; É cuidar que se ganha em se perder. É um estar-se preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É um ter com quem nos mata a lealdade. Tão contrário a si é o mesmo amor.
  • 6. Estou acordado e todos dormem. Todos dormem. Todos dormem. Agora vejo em parte, Mas então veremos face a face. É só o amor! É só o amor Que conhece o que é verdade. Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos, Sem amor eu nada seria. Composição: Renato Russo (recortes do Apóstolo Paulo e de Camões).
  • 7. Intertextualidade – esse palavrão... “(...) todo o texto é absorção e transformação de outro texto. (...) a linguagem poética se lê, pelo menos como dupla.” (KRISTEVA in CARVALHAL, 1992, p. 50.) “(...) não é possível ler senão comparativamente (ou seja, racionalmente) (...) não se trata tanto da opção entre comprar e não comparar... Não há de fato como não comparar. Toda leitura é ativação, partilha e ‘cooperação interpretativa’(...).” (BUESCU, 2001, p. 23.) “A noção de intertextualidade abre um campo novo e sugere modos de atuação diferentes ao comparativista (...). Principalmente, as novas noções sobre a produtividade dos textos literários comprometem a também ‘velha’ concepção de originalidade.” (CARVALHAL, 1992, p. 53.)
  • 8. Intertextualidade – esse palavrão... INTERTEXTUALIDADE nada mais é do que o conceito mais importante nos dias de hoje quando falamos sobre criação artística – colocando, então, nesse “caldo” de arte, a literatura. É muito difícil nos depararmos com algo realmente original atualmente no meio da cultura e do entretenimento. E isso se deve ao exercício constante da comparação, onde estabelecemos, quase sempre, aproximações entre uma criação e outra. Quando percebemos que um texto usa outro texto em sua construção, mesmo que sem a intenção do autor, o que estamos fazendo é comprovar a ocorrência de INTERTEXTUALIDADE.
  • 9. Intertextualidade – esse palavrão... Sendo assim, INTERTEXTUALIDADE nada mais é do que o cruzamento de um texto com outro (ou outros), muitas vezes utilizado conscientemente, sendo parte fundamental da criação do autor; comporta-se não como plágio involuntário, mas, frequentemente, é um dos objetivos de determinada obra a CITAÇÃO explícita para fins de REFERÊNCIA, HOMENAGEM ou, ainda, PARÓDIA.
  • 10. INTERTEXTUALIDADE Há, basicamente, duas maneiras de se perceber a intertextualidade... • Uma explícita, facilmente notada e parte do corpo do texto (geralmente apoiando-se justamente no conhecimento do senso comum por parte do leitor/espectador). Na série cinematográfica Shrek, por exemplo... ...É fundamental a presença de diversas referências dos contos de fadas (ou contos infantis)... ...Temos o Gato de Botas... ... Há personagens importantes na trama, como Rapunzel, Branca de Neve, Cinderela e muitos outros... ...Sobra espaço até para outras citações, como o filme Matrix, lendas medievais, etc.
  • 14. INTERTEXTUALIDADE • O outro caso de ocorrência de INTERTEXTO é quando este está implícito, mais subjetivo, portanto, dependendo muito do olhar do leitor/espectador para ser encontrado e, muitas vezes, colocado de forma inconsciente pelo autor, justamente pelo fato de certas INFLUÊNCIAS ou REFERÊNCIAS de senso comum estarem tão dispersas no mundo que essas acabam surgindo naturalmente. A história da saga Crepúsculo, por exemplo, tenta renovar os mitos vampíricos tão presentes na cultura de massa... ...Ainda que não se consigam evitar outras referências clássicas do gênero, como Drácula. ...Com direito a referências como A Bela e a Fera... ...Abrindo espaço para a velha história do “amor proibido”, que remete a Romeu e Julieta, Tristão e Isolda...
  • 15. Semana que vem Pitty Amanhã eu vou revelar Depois eu penso em aprender Daqui a uns dias eu vou dizer O que me faz querer gritar No mês que vem tudo vai melhorar Só mais alguns anos e o mundo vai mudar Ainda temos tempo até tudo explodir Quem sabe quanto vai durar Não deixe nada pra depois Não deixe o tempo passar Não deixe nada pra semana que vem Porque semana que vem pode nem chegar A partir de amanhã eu vou discutir Da próxima vez eu vou questionar Na segunda eu começo a agir Só mais duas horas pra eu decidir... (...) Carpe Diem Horácio Não indagues muito: é cruel querer saber Que fim nos reservaram os deuses; nem Fiques consultando os números babilônios. Pode ser que Júpiter te conceda muitos invernos, Ou somente este último, como expressa agora o mar tirreno ao bater nas rochas. Sê sensato, bebe teu vinho e abrevia as longas [esperanças, Pois o tempo foge enquanto aqui parlamos. Curte o dia de hoje – não te fies no futuro!
  • 16. INTERTEXTUALIDADE não demonstra falta de originalidade, necessariamente, mas, muitas vezes, uma nova noção sobre o que é originalidade. Inferir que um texto utiliza outro texto na sua construção é um exercício comparativo comum do ser humano; está muito evidente na propaganda (no uso de símbolos de marcas, por exemplo) e, no texto artístico, apóia-se no conhecimento dos clássicos. Canção do Exílio Gonçalves Dias Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá. Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar –sozinho, à noite– Mais prazer eu encontro lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que disfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá. HINO NACIONAL BRASILEIRO
  • 17. PARÁFRASE Proveniente do grego “para-phrasis”, a paráfrase caracteriza-se como sendo uma reafirmação de um texto pré-existente. Neste tipo de intertexto, há uma repetição do conteúdo ou um fragmento dele em outros termos, a ideia inicial é preservada. Em resumo, podemos afirmar que parafrasear um texto significa recriá-lo com outras palavras, mantendo a sua essência.
  • 19. EXEMPLO DE PARÁFRASE Coríntios c1 v13 - Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.
  • 20. EXEMPLO DE PARÁFRASE Monte Castelo - Legião Urbana Ainda que eu falasse A língua dos homens E falasse a língua dos anjos Sem amor eu nada seria
  • 21. PARÓDIA Neste caso, também há uma apropriação do texto de outro, porém, não o endossa, mas sim subverte-o, satirizando o próprio tema do texto ou utilizando-o para satirizar um outro contexto. Em outras palavras, a paródia é uma imitação, e normalmente possui intenção crítica ou humorística.
  • 25. EXEMPLO DE PARÓDIA No meio do caminho No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra. Carlos Drummond Andrade
  • 26. EXEMPLO DE PARÓDIA Contramão Eu tropecei agora numa casca de banana. Numa casca de banana! Numa casca de banana eu tropecei agora. Caí para trás desamparadamente, E rasguei os fundilhos das calças! Numa casca de banana eu tropecei agora. Numa casca de banana! Eu tropecei agora numa casca de banana! Gondim da Fonseca.