AATIVIDADE
RACIONAL
Professor: Maikon M. da Costa
As Modalidades da Atividade Racional
A filosofia distingue duas grandes modalidades
da atividade racional, realizadas pelo sujeito do
conhecimento:
1. Raciocínio (Razão Discursiva)
É um processo gradual e sucessivo. O sujeito
percorre etapas sucessivas de aproximação até
alcançar o conceito ou a definição do objeto.
2. Intuição (Razão Intuitiva)
Consiste em um único ato do espírito que
apreende de forma completa e imediata o objeto
do conhecimento.
A Intuição
•A intuição é a compreensão imediata e
completa de um objeto ou fato.
•Nela, a razão capta todas as relações
constitutivas da realidade e da verdade do
que é intuído.
•Não exige provas ou demonstrações.
Exemplo: Intuição Médica
Um médico experiente, ao ver um paciente,
identifica instantaneamente a doença, sua causa
e o tratamento — tudo num só ato de
compreensão.
Características da Intuição
Pode depender de
conhecimentos anteriores
Pode ser:
•Final de um processo de
conhecimento
•Ponto de partida para um
novo processo racional
Tipos de Intuição
1. Intuição Sensível ou Empírica
Conhecimento direto, imediato das qualidades sensíveis: cor,
sabor, cheiro, textura, forma, som.
Exemplo: ao ver um gato, percebemos sua aparência, som,
textura, cheiro — tudo de uma só vez.
Singularidade:
• Do objeto (isto é esta maçã, este gato)
• Do sujeito (minhas sensações, minha percepção)
Empírica: do grego empeiría, que significa experiência (sensorial
ou prática) Características:
• Psicológica: depende dos estados corporais e psíquicos do
sujeito
• Não universal: não se aplica de forma geral a todos os
objetos similares
• Intransferível: não se aplica a outros objetos ou pessoas de
forma exata
2. Intuição Intelectual
Conhecimento direto e imediato de princípios da
razão:
•Identidade
•Contradição
•Terceiro excluído
•Razão suficiente
Universal e necessária:
Exemplo: “O todo é maior que as partes” — uma
verdade compreendida sem demonstração
Ideias Simples e Complexas:
•Algumas ideias são apreendidas
diretamente (ideias simples)
•Outras são intuições alcançadas após um
processo racional (ideias complexas)
Exemplos Filosóficos de Intuição
Intelectual
1. Platão – O Mito da Caverna
O prisioneiro liberto intui as ideias
verdadeiras ao sair da caverna.
Dois tipos de intuição:
Prisioneiro: intuição sensível
Filósofo: intuição intelectual
Ambos têm conhecimento intuitivo: direto e
imediato, sem provas ou demonstrações.
2. Descartes – O Cogito Cartesiano
“Cogito, ergo sum” – “Penso, logo existo”
Quando penso, sei que estou existindo, sem
necessidade de demonstração.
A intuição intelectual capta essa verdade
imediatamente, por meio da razão, e não dos
sentidos.
A Razão Discursiva: Dedução, Indução
e Abdução
1. Intuição e Raciocínio
A intuição pode ser tanto ponto de partida
quanto ponto de chegada no processo de
conhecimento.
Já o raciocínio (ou razão discursiva) é um
processo cognitivo que exige provas e
demonstrações.
Ele envolve vários atos intelectuais
conectados, formando um encadeamento
lógico de ideias.
2. Exemplo Prático: O Caçador e a Onça
Um caçador observa indícios no
ambiente (pegadas, galhos quebrados,
carcaça, silêncio na mata).
A partir desses sinais empíricos, ele
infere a possível presença de uma onça.
Esse é um exemplo de raciocínio
empírico e prático, baseado na
experiência sensorial e voltado para a
ação.
Trata-se de um processo de inferência,
típico da razão discursiva.
Quando o Raciocínio Busca
Universalidade
Quando o raciocínio deixa de
se basear na singularidade do
sujeito e do objeto, e adota
critérios universais e gerais,
ele se realiza por meio de:
Dedução
Indução
Abdução
A Dedução
Definição
•Parte-se de uma verdade geral já
conhecida para aplicá-la a casos
particulares.
•Vai do geral ao particular.
Objetivo
•Demonstrar que uma verdade se aplica a
todos os casos semelhantes.
•Permite inferir novas conclusões
verdadeiras a partir de princípios ou teorias
conhecidas.
Exemplo Geométrico:
Definindo o triângulo como figura com ângulos
internos somando dois ângulos retos,
deduzimos:
Os tipos de triângulo
Exemplo Científico:
Com a teoria da gravitação
universal de Newton, podemos
prever e explicar fenômenos
físicos particulares, aplicando
leis gerais.
Fórmula da Dedução
Todos os Y são X (teoria geral)
A é Y (caso particular)
Logo, A é X (conclusão)
A Indução
Definição
•Parte de casos particulares para chegar a uma
conclusão geral.
•Vai do particular ao geral.
Exemplo: Calor e Ebulição
Observamos diversos líquidos fervendo ao serem
aquecidos → concluímos que o calor causa evaporação.
Comparamos tempos de ebulição → entendemos que
cada líquido possui propriedades específicas.
Usamos a água como padrão → ela ferve a 100°C e
congela a 0°C.
Assim, chegamos a uma teoria dos estados da matéria em
função da temperatura.
AAbdução
Definição por Peirce
•Tipo de inferência não demonstrativa,
baseada na interpretação de sinais e
indícios.
•Semelhante à intuição, mas se constrói
passo a passo.
Exemplo Clássico: O Detetive
•Coleta pistas, elabora hipóteses e
constrói uma teoria para o caso
investigado.
•Muito usada em descobertas científicas
iniciais e trabalhos históricos.
Função
•Inicia o estudo de novos campos
Tipo de
Raciocínio
Caminho Finalidade Exemplo
Dedução
Geral →
Particular
Verificar uma verdade
já conhecida
Aplicação da física
newtoniana
Indução
Particular →
Geral
Construir teorias a
partir da experiência
Teoria do calor e da
evaporação
Abdução
Sinais →
Hipótese
Formular suposições
iniciais
Detetives, historiadores,
cientistas iniciando um campo
Resumo Comparativo:
Peirce e os Procedimentos Racionais
Charles Sanders Peirce exemplificou as três formas clássicas de raciocínio —
dedução, indução e abdução — com uma analogia simples:
•Dedução: Todos os feijões desta saca são brancos. Estes feijões eram desta saca.
Logo, estes feijões são brancos.
•Indução: Estes feijões eram desta saca. Estes feijões são brancos. Logo, todos os
feijões desta saca são brancos.
•Abdução: Todos os feijões desta saca são brancos. Estes feijões são brancos.
Logo, estes feijões eram desta saca.
Peirce também ilustra a abdução com o exemplo do astrônomo Johannes Kepler
(1571–1630), que, ao observar que Marte não seguia uma órbita circular, supôs que a
órbita era elíptica. Essa hipótese foi posteriormente confirmada por cálculos mais
precisos. Trata-se de um caso clássico de abdução científica, em que uma hipótese
explicativa é sugerida para dar conta de uma anomalia observada.
Realismo e Idealismo
Razão objetiva e razão subjetiva
Muitos filósofos distinguem entre dois tipos de
razão: razão objetiva e razão subjetiva.
Razão objetiva é a ideia de que a realidade externa
ao nosso pensamento obedece a princípios
racionais como identidade, não contradição,
terceiro excluído e razão suficiente.
Isso significa que a realidade é racional em si
mesma e, por isso, é possível conhecê-la tal como
ela é.
Exemplo: espaço e tempo existem por si mesmos;
relações matemáticas e de causa e efeito estão nos
próprios objetos.
A posição filosófica que afirma a existência da
razão objetiva é chamada de realismo.
Idealismo: o papel das ideias na construção do
conhecimento
Alguns filósofos, no entanto, afirmam que há uma diferença
entre a realidade e o nosso conhecimento racional sobre ela.
•Segundo essa perspectiva, embora a realidade exista em si
e por si mesma, só podemos conhecê-la como nossas
ideias a formulam e organizam. Ou seja, não é possível
garantir que o conhecimento humano alcance a realidade
como ela é em si.
•Assim, não podemos saber se a realidade é racional em si,
apenas que ela é racional para nós, ou seja, mediada por
nossas ideias. Essa posição é conhecida como idealismo e
afirma apenas a existência da razão subjetiva, que opera
com princípios universais e necessários válidos para todos
os seres humanos.
•Para o idealismo, a realidade é aquilo que podemos
Uma síntese nas ciências contemporâneas
A ciência contemporânea tende a combinar elementos do
realismo e do idealismo. Vejamos alguns exemplos:
Química Orgânica:
Por um lado, realiza experimentos e medições de massa, o que
pressupõe a existência de realidades externas acessíveis pela
experiência (realismo).
Por outro, desenvolve teorias baseadas em hipóteses e constrói
modelos teóricos de objetos que nem sempre podem ser
diretamente observados (idealismo).
Física:
Admite a existência dos átomos como entidades reais.
No entanto, só recentemente foi possível ter uma experiência
direta deles por meio de instrumentos como o microscópio
eletrônico — e ainda assim de forma limitada.
Antes disso, os átomos eram explicados por modelos teóricos
elaborados pelo sujeito do conhecimento.
Razão na Filosofia Contemporânea: Continuidade ou Descontinuidade?
1. A Perspectiva da Continuidade (Teoria Crítica)
Nos anos 1950 e 1960, os filósofos da Escola de Frankfurt — como Theodor Adorno,
Max Horkheimer e Herbert Marcuse — afirmaram que existem duas modalidades da
razão:
• Razão instrumental ou técnico-científica: voltada para a eficiência, controle e
domínio técnico da realidade. Foi essa forma de razão que justificou, por exemplo,
o uso da tecnologia tanto pelo nazismo quanto pelas Forças Armadas dos EUA
(bombas atômicas).
• Razão crítica ou filosófica: voltada para a reflexão sobre os conflitos e
contradições sociais e políticas, com potencial emancipador. Segundo essa escola, a
razão se desenvolve por continuidade histórica. Cada forma de racionalidade nasce
da resolução dos conflitos da forma anterior, sem ruptura. A razão muda porque a
sociedade muda, e essas transformações são históricas e encadeadas.
2. Diferença entre Teorias: Tradicional vs.
Crítica
Max Horkheimer distingue duas concepções de
teoria:
• Teoria tradicional (cartesiana): organiza a
experiência com base na reprodução das
condições da sociedade existente. Os
problemas científicos são considerados neutros
e objetivos.
• Teoria crítica: entende o ser humano como
produtor de suas próprias formas históricas de
vida. A ciência é vista como uma prática social,
e não neutra. A teoria crítica considera o
3. A Perspectiva da Descontinuidade (Estruturalismo
e Pós-estruturalismo)
A partir dos anos 1960, filósofos franceses
influenciados pelo estruturalismo, como Michel
Foucault, Jacques Derrida e Gilles Deleuze,
propuseram uma nova visão:
• A história da razão não é contínua nem
progressiva.
• A razão se manifesta em formas descontínuas, com
rupturas profundas.
• Cada nova estrutura de racionalidade é tão
diferente das anteriores que não se pode falar em
evolução, mas em diferença radical.
Nesse sentido, não há como julgar teorias passadas
como erradas ou ultrapassadas — elas são apenas
diferentes, pois se baseiam em outros princípios e
O Valor da Razão
Apesar das diferenças entre continuístas e
descontinuístas, há um ponto de concordância:
A razão busca compreender o sentido do mundo e
da vida humana. A atitude racional envolve:
• Compreender e interpretar o sentido das
coisas;
• Buscar a coerência interna dos pensamentos e
teorias;
• Avaliar se uma teoria ou ideia contribui para
entender, criticar ou transformar a realidade.
Assim, a razão é tanto:
• Um critério de avaliação dos conhecimentos
(coerência, clareza, consistência),
• Quanto um instrumento transformador das
condições de vida humanas.
slides sobre A ATIVIDADE RACIONAL - 2 ANO.pptx
slides sobre A ATIVIDADE RACIONAL - 2 ANO.pptx

Mais conteúdo relacionado

PDF
Atividade 4 ética e filosofia na ci pdf.
PPTX
Atividade racional
DOCX
Teoria do conhecimento
PDF
O conhecimento e a lógica
PPTX
A atividade racional.pptx
PDF
O empirismo e o racionalismo (Doc.2)
PDF
O empirismo de David Hume (Doc. 2)
PDF
O empirismo e o racionalismo (Doc. 2)
Atividade 4 ética e filosofia na ci pdf.
Atividade racional
Teoria do conhecimento
O conhecimento e a lógica
A atividade racional.pptx
O empirismo e o racionalismo (Doc.2)
O empirismo de David Hume (Doc. 2)
O empirismo e o racionalismo (Doc. 2)

Semelhante a slides sobre A ATIVIDADE RACIONAL - 2 ANO.pptx (20)

PPTX
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mp
PPTX
A teoria do conhecimento
PDF
Racionalismo em Descartes
PPTX
A atividade racional e suas modalidades
PPTX
A razão
PDF
Estudo dirigido (3) de ética e filosofia na ci
PDF
Descartes e o realismo ciêntifico
PDF
Empirismo de David Hume (Doc2)
PDF
Empirismo de David Hume (Doc.1)
PDF
AULA PDE - INATISMO E EMPIRISMO.pdf
PPTX
Racionalismo e Empirismo
PPTX
Slide filosofia
PDF
O emprismo de David Hume (doc. 1)
PDF
O empirismo e o racionalismo (doc.1)
PPTX
Introdução à Filosofia
PDF
Filosofia da razão
PPTX
Epistemologia
PPT
Epistemologia
PPT
Racionalismo manu 25 tp
PPT
AI subtema 8.2
Racionalismo, empirismo e iluminismo brenda 22 mp
A teoria do conhecimento
Racionalismo em Descartes
A atividade racional e suas modalidades
A razão
Estudo dirigido (3) de ética e filosofia na ci
Descartes e o realismo ciêntifico
Empirismo de David Hume (Doc2)
Empirismo de David Hume (Doc.1)
AULA PDE - INATISMO E EMPIRISMO.pdf
Racionalismo e Empirismo
Slide filosofia
O emprismo de David Hume (doc. 1)
O empirismo e o racionalismo (doc.1)
Introdução à Filosofia
Filosofia da razão
Epistemologia
Epistemologia
Racionalismo manu 25 tp
AI subtema 8.2
Anúncio

Último (20)

PPTX
Santo Agostinho, bispo de Hipona, doutor da Igreja 354-430 d.C..pptx
PPTX
Continente europeu sua Hegemonia Europeia na Cultura.pptx
PDF
Os pilares da fé. (Religião muçulmana)
PPTX
Gesto de Sala de Aulae a A mediação de conflitos
PDF
Desafio-SAEB-Lingua-portuguesa-9o-ano-c7xqle (1) (3) (2) (1).pdf
PDF
Educacao_Contempranea_educação paulo freire
PPT
aulainicialfsicaagro-140326193444-phpapp02.ppt
PDF
Contradições Existentes no Velho e Novo Testamento. PDF gratuito
PPTX
Aula de psicofarmacologia: classes de psicofármacos
PDF
Análise e interpretação da letra da música Página Por Página - Mundo Bita.
PPT
Aulão dos descritores SAEB-SAEPE maio - slide aulão 2.ppt
PDF
DocumentoCurricularGoiasAmpliadovolII.pdf
PPTX
funcionamento de pilhas e baterias - encerramento
PDF
Termo de cessão de direitos autorais - Seduc-SP
PDF
Ofício ao MP contra monitoramento de alunos por IA
PDF
SIMULADO AGOSTOSAEB.pdf ensino fundamental I
PPT
REDAÇÃO-OFICIAL-completo.pptREDAÇÃO-OFICIAL-completo.ppt
PPTX
Aulão-Enem 2025 História PARA ENSINO MÉDIO
PPTX
Slides Lição 10, CPAD, A Expansão da Igreja, 3Tr25.pptx
PDF
REVISAGOIAS3SERIECIENCIASdanatureza_MARCO_ABRIL-ESTUDANTE.pdf
Santo Agostinho, bispo de Hipona, doutor da Igreja 354-430 d.C..pptx
Continente europeu sua Hegemonia Europeia na Cultura.pptx
Os pilares da fé. (Religião muçulmana)
Gesto de Sala de Aulae a A mediação de conflitos
Desafio-SAEB-Lingua-portuguesa-9o-ano-c7xqle (1) (3) (2) (1).pdf
Educacao_Contempranea_educação paulo freire
aulainicialfsicaagro-140326193444-phpapp02.ppt
Contradições Existentes no Velho e Novo Testamento. PDF gratuito
Aula de psicofarmacologia: classes de psicofármacos
Análise e interpretação da letra da música Página Por Página - Mundo Bita.
Aulão dos descritores SAEB-SAEPE maio - slide aulão 2.ppt
DocumentoCurricularGoiasAmpliadovolII.pdf
funcionamento de pilhas e baterias - encerramento
Termo de cessão de direitos autorais - Seduc-SP
Ofício ao MP contra monitoramento de alunos por IA
SIMULADO AGOSTOSAEB.pdf ensino fundamental I
REDAÇÃO-OFICIAL-completo.pptREDAÇÃO-OFICIAL-completo.ppt
Aulão-Enem 2025 História PARA ENSINO MÉDIO
Slides Lição 10, CPAD, A Expansão da Igreja, 3Tr25.pptx
REVISAGOIAS3SERIECIENCIASdanatureza_MARCO_ABRIL-ESTUDANTE.pdf
Anúncio

slides sobre A ATIVIDADE RACIONAL - 2 ANO.pptx

  • 2. As Modalidades da Atividade Racional A filosofia distingue duas grandes modalidades da atividade racional, realizadas pelo sujeito do conhecimento: 1. Raciocínio (Razão Discursiva) É um processo gradual e sucessivo. O sujeito percorre etapas sucessivas de aproximação até alcançar o conceito ou a definição do objeto. 2. Intuição (Razão Intuitiva) Consiste em um único ato do espírito que apreende de forma completa e imediata o objeto do conhecimento.
  • 3. A Intuição •A intuição é a compreensão imediata e completa de um objeto ou fato. •Nela, a razão capta todas as relações constitutivas da realidade e da verdade do que é intuído. •Não exige provas ou demonstrações. Exemplo: Intuição Médica Um médico experiente, ao ver um paciente, identifica instantaneamente a doença, sua causa e o tratamento — tudo num só ato de compreensão.
  • 4. Características da Intuição Pode depender de conhecimentos anteriores Pode ser: •Final de um processo de conhecimento •Ponto de partida para um novo processo racional
  • 5. Tipos de Intuição 1. Intuição Sensível ou Empírica Conhecimento direto, imediato das qualidades sensíveis: cor, sabor, cheiro, textura, forma, som. Exemplo: ao ver um gato, percebemos sua aparência, som, textura, cheiro — tudo de uma só vez. Singularidade: • Do objeto (isto é esta maçã, este gato) • Do sujeito (minhas sensações, minha percepção) Empírica: do grego empeiría, que significa experiência (sensorial ou prática) Características: • Psicológica: depende dos estados corporais e psíquicos do sujeito • Não universal: não se aplica de forma geral a todos os objetos similares • Intransferível: não se aplica a outros objetos ou pessoas de forma exata
  • 6. 2. Intuição Intelectual Conhecimento direto e imediato de princípios da razão: •Identidade •Contradição •Terceiro excluído •Razão suficiente Universal e necessária: Exemplo: “O todo é maior que as partes” — uma verdade compreendida sem demonstração Ideias Simples e Complexas: •Algumas ideias são apreendidas diretamente (ideias simples) •Outras são intuições alcançadas após um processo racional (ideias complexas)
  • 7. Exemplos Filosóficos de Intuição Intelectual 1. Platão – O Mito da Caverna O prisioneiro liberto intui as ideias verdadeiras ao sair da caverna. Dois tipos de intuição: Prisioneiro: intuição sensível Filósofo: intuição intelectual Ambos têm conhecimento intuitivo: direto e imediato, sem provas ou demonstrações. 2. Descartes – O Cogito Cartesiano “Cogito, ergo sum” – “Penso, logo existo” Quando penso, sei que estou existindo, sem necessidade de demonstração. A intuição intelectual capta essa verdade imediatamente, por meio da razão, e não dos sentidos.
  • 8. A Razão Discursiva: Dedução, Indução e Abdução 1. Intuição e Raciocínio A intuição pode ser tanto ponto de partida quanto ponto de chegada no processo de conhecimento. Já o raciocínio (ou razão discursiva) é um processo cognitivo que exige provas e demonstrações. Ele envolve vários atos intelectuais conectados, formando um encadeamento lógico de ideias.
  • 9. 2. Exemplo Prático: O Caçador e a Onça Um caçador observa indícios no ambiente (pegadas, galhos quebrados, carcaça, silêncio na mata). A partir desses sinais empíricos, ele infere a possível presença de uma onça. Esse é um exemplo de raciocínio empírico e prático, baseado na experiência sensorial e voltado para a ação. Trata-se de um processo de inferência, típico da razão discursiva.
  • 10. Quando o Raciocínio Busca Universalidade Quando o raciocínio deixa de se basear na singularidade do sujeito e do objeto, e adota critérios universais e gerais, ele se realiza por meio de: Dedução Indução Abdução
  • 11. A Dedução Definição •Parte-se de uma verdade geral já conhecida para aplicá-la a casos particulares. •Vai do geral ao particular. Objetivo •Demonstrar que uma verdade se aplica a todos os casos semelhantes. •Permite inferir novas conclusões verdadeiras a partir de princípios ou teorias conhecidas. Exemplo Geométrico: Definindo o triângulo como figura com ângulos internos somando dois ângulos retos, deduzimos: Os tipos de triângulo
  • 12. Exemplo Científico: Com a teoria da gravitação universal de Newton, podemos prever e explicar fenômenos físicos particulares, aplicando leis gerais. Fórmula da Dedução Todos os Y são X (teoria geral) A é Y (caso particular) Logo, A é X (conclusão)
  • 13. A Indução Definição •Parte de casos particulares para chegar a uma conclusão geral. •Vai do particular ao geral. Exemplo: Calor e Ebulição Observamos diversos líquidos fervendo ao serem aquecidos → concluímos que o calor causa evaporação. Comparamos tempos de ebulição → entendemos que cada líquido possui propriedades específicas. Usamos a água como padrão → ela ferve a 100°C e congela a 0°C. Assim, chegamos a uma teoria dos estados da matéria em função da temperatura.
  • 14. AAbdução Definição por Peirce •Tipo de inferência não demonstrativa, baseada na interpretação de sinais e indícios. •Semelhante à intuição, mas se constrói passo a passo. Exemplo Clássico: O Detetive •Coleta pistas, elabora hipóteses e constrói uma teoria para o caso investigado. •Muito usada em descobertas científicas iniciais e trabalhos históricos. Função •Inicia o estudo de novos campos
  • 15. Tipo de Raciocínio Caminho Finalidade Exemplo Dedução Geral → Particular Verificar uma verdade já conhecida Aplicação da física newtoniana Indução Particular → Geral Construir teorias a partir da experiência Teoria do calor e da evaporação Abdução Sinais → Hipótese Formular suposições iniciais Detetives, historiadores, cientistas iniciando um campo Resumo Comparativo:
  • 16. Peirce e os Procedimentos Racionais Charles Sanders Peirce exemplificou as três formas clássicas de raciocínio — dedução, indução e abdução — com uma analogia simples: •Dedução: Todos os feijões desta saca são brancos. Estes feijões eram desta saca. Logo, estes feijões são brancos. •Indução: Estes feijões eram desta saca. Estes feijões são brancos. Logo, todos os feijões desta saca são brancos. •Abdução: Todos os feijões desta saca são brancos. Estes feijões são brancos. Logo, estes feijões eram desta saca. Peirce também ilustra a abdução com o exemplo do astrônomo Johannes Kepler (1571–1630), que, ao observar que Marte não seguia uma órbita circular, supôs que a órbita era elíptica. Essa hipótese foi posteriormente confirmada por cálculos mais precisos. Trata-se de um caso clássico de abdução científica, em que uma hipótese explicativa é sugerida para dar conta de uma anomalia observada.
  • 17. Realismo e Idealismo Razão objetiva e razão subjetiva Muitos filósofos distinguem entre dois tipos de razão: razão objetiva e razão subjetiva. Razão objetiva é a ideia de que a realidade externa ao nosso pensamento obedece a princípios racionais como identidade, não contradição, terceiro excluído e razão suficiente. Isso significa que a realidade é racional em si mesma e, por isso, é possível conhecê-la tal como ela é. Exemplo: espaço e tempo existem por si mesmos; relações matemáticas e de causa e efeito estão nos próprios objetos. A posição filosófica que afirma a existência da razão objetiva é chamada de realismo.
  • 18. Idealismo: o papel das ideias na construção do conhecimento Alguns filósofos, no entanto, afirmam que há uma diferença entre a realidade e o nosso conhecimento racional sobre ela. •Segundo essa perspectiva, embora a realidade exista em si e por si mesma, só podemos conhecê-la como nossas ideias a formulam e organizam. Ou seja, não é possível garantir que o conhecimento humano alcance a realidade como ela é em si. •Assim, não podemos saber se a realidade é racional em si, apenas que ela é racional para nós, ou seja, mediada por nossas ideias. Essa posição é conhecida como idealismo e afirma apenas a existência da razão subjetiva, que opera com princípios universais e necessários válidos para todos os seres humanos. •Para o idealismo, a realidade é aquilo que podemos
  • 19. Uma síntese nas ciências contemporâneas A ciência contemporânea tende a combinar elementos do realismo e do idealismo. Vejamos alguns exemplos: Química Orgânica: Por um lado, realiza experimentos e medições de massa, o que pressupõe a existência de realidades externas acessíveis pela experiência (realismo). Por outro, desenvolve teorias baseadas em hipóteses e constrói modelos teóricos de objetos que nem sempre podem ser diretamente observados (idealismo). Física: Admite a existência dos átomos como entidades reais. No entanto, só recentemente foi possível ter uma experiência direta deles por meio de instrumentos como o microscópio eletrônico — e ainda assim de forma limitada. Antes disso, os átomos eram explicados por modelos teóricos elaborados pelo sujeito do conhecimento.
  • 20. Razão na Filosofia Contemporânea: Continuidade ou Descontinuidade? 1. A Perspectiva da Continuidade (Teoria Crítica) Nos anos 1950 e 1960, os filósofos da Escola de Frankfurt — como Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse — afirmaram que existem duas modalidades da razão: • Razão instrumental ou técnico-científica: voltada para a eficiência, controle e domínio técnico da realidade. Foi essa forma de razão que justificou, por exemplo, o uso da tecnologia tanto pelo nazismo quanto pelas Forças Armadas dos EUA (bombas atômicas). • Razão crítica ou filosófica: voltada para a reflexão sobre os conflitos e contradições sociais e políticas, com potencial emancipador. Segundo essa escola, a razão se desenvolve por continuidade histórica. Cada forma de racionalidade nasce da resolução dos conflitos da forma anterior, sem ruptura. A razão muda porque a sociedade muda, e essas transformações são históricas e encadeadas.
  • 21. 2. Diferença entre Teorias: Tradicional vs. Crítica Max Horkheimer distingue duas concepções de teoria: • Teoria tradicional (cartesiana): organiza a experiência com base na reprodução das condições da sociedade existente. Os problemas científicos são considerados neutros e objetivos. • Teoria crítica: entende o ser humano como produtor de suas próprias formas históricas de vida. A ciência é vista como uma prática social, e não neutra. A teoria crítica considera o
  • 22. 3. A Perspectiva da Descontinuidade (Estruturalismo e Pós-estruturalismo) A partir dos anos 1960, filósofos franceses influenciados pelo estruturalismo, como Michel Foucault, Jacques Derrida e Gilles Deleuze, propuseram uma nova visão: • A história da razão não é contínua nem progressiva. • A razão se manifesta em formas descontínuas, com rupturas profundas. • Cada nova estrutura de racionalidade é tão diferente das anteriores que não se pode falar em evolução, mas em diferença radical. Nesse sentido, não há como julgar teorias passadas como erradas ou ultrapassadas — elas são apenas diferentes, pois se baseiam em outros princípios e
  • 23. O Valor da Razão Apesar das diferenças entre continuístas e descontinuístas, há um ponto de concordância: A razão busca compreender o sentido do mundo e da vida humana. A atitude racional envolve: • Compreender e interpretar o sentido das coisas; • Buscar a coerência interna dos pensamentos e teorias; • Avaliar se uma teoria ou ideia contribui para entender, criticar ou transformar a realidade. Assim, a razão é tanto: • Um critério de avaliação dos conhecimentos (coerência, clareza, consistência), • Quanto um instrumento transformador das condições de vida humanas.