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CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE
           EDUCANDO PARA A DIVERSIDADE


• Silvana Vilodre Goellner




                             Apresentação: Ludmila Mourão
                                                    EC 25
O corpo é algo produzido na e pela cultura. Mais do que
um dado natural cuja materialidade nos presentifica no
  mundo, o corpo é uma construção sobre a qual são
  conferidas diferentes marcas em diferentes tempos,
  espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais,
                     étnicos, etc.


           Não é portanto algo dado à priori
               nem mesmo é universal
“A existência é corporal”

“Nunca se viu um corpo. O que se vê são homens,
mulheres” (....)

“O corpo não existe em estado natural, sempre será
compreendido na trama social de sentidos”

“O corpo é uma falsa evidência, não é um dado inequívoco,
mas efeito de uma elaboração social e cultural”

“O corpo é também uma construção simbólica”
                                              (Le Breton)
O corpo humano não é um dado puramente
  biológico sobre o qual a cultura impinge
especificidades. O corpo é fruto da interação
             natureza/cultura .
 Uma pessoa sente fome/sede por determinados alimentos e não por
outros;

 A sensação de dor é biológica mas o limite suportável da dor varia
entre culturas;

 O choro/riso é uma capacidade biológica mas o motivo que o
determinam podem ser os mesmos que fazem rir/chorar numa outra
sociedade;

 A excitação sexual é biológica mas o que excita numa cultura pode
causar repulsa noutra;
 A capacidade de sentir cheiros é biológica mas a avaliação entre o
que é agradável ou desagradável é cultural.
“Mais do que um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos e
sensações,       o corpo é também a roupa e os acessórios que o
adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem que dele se
produz, as máquinas que nele se acoplam, os sentidos que nele se
incorporam, os silêncios que por ele falam, os vestígios que nele se
exibem, a educação de seus gestos... enfim, é um sem limite de
possibilidades sempre reinventadas, sempre à descoberta e a serem
descobertas. Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o
definem mas, fundamentalmente, os significados culturais e sociais
que a ele se atribuem” (GOELLNER, 2008, p.28).



             .
GÊNERO

• Construção cultural do sexo. Condição social
pela qual somos identificados como masculinos e
femininas

• Engloba diferentes processos de produção de
masculinidades e feminilidades como, por
exemplo, processos históricos, sociais, culturais,
entre outros.
Barbie Fitness
Ken
SEXO

• Termo usado para referir as diferenças
anatômicas, internas e externas ao corpo, que tem
sido usadas como forma de diferenciar fisicamente
mulheres de homens.


• Diferenças de sexo são aquelas diferenças
biológicas que se apresentam desde o nascimento
Corpo, gênero e sexualidade - Educando para a diversidade
GÊNERO
• Jogo das dicotomias (razão x emoção; natureza x cultura)

• Masculinidades e feminilidades no plural

• Estereótipos e papéis sexuais fixam identidades

• Gênero é cultural e histórico

• Práticas sociais generificam os corpos, inclusive o esporte

•Aprende-se a ser homem ou mulher na cultura
Corpo, gênero e sexualidade - Educando para a diversidade
Corpo, gênero e sexualidade - Educando para a diversidade
• Politizar o determinismo biológico;


• Questionar porque as diferenças biológicas são
tomadas    para   justificar   determinadas   ações,
comportamentos, inclusões e exclusões, inclusive
no campo das práticas corporais e esportivas;


•Desnaturalizar o que parece ser “natural”;
Será, mesmo que todas as mulheres flutuam mais facilmente que todos os homens? Não
teriam mulheres que flutuam mais facilmente que outras mulheres? E entre homens, será que
                                   também não existe?
  Aqui estamos problematizando a diferença biológica que se faz entre homens e mulheres.
SEXUALIDADE
• A sexualidade é entendida como uma construção histórica e
social e não como algo que é inerente ao ser humano. Envolve
uma série de crenças, comportamentos, relações e práticas que
permitem a homens e mulheres viverem, de determinados
modos, seus desejos e seus prazeres corporais.


• Cada cultura elege que é considerado “normal” ou não quando
relacionado às praticas sexuais. Exemplo: Pedofilia, por
exemplo, hoje é considerado indesejado mas há algum tempo
atrás, uma menina de 13 anos casar com um homem de 40 ou
50 era considerado normal.
SEXUALIDADE
 Identidade sexual
•Trata-se de uma construção através das quais os sujeitos experienciam os
afetos, desejos e prazeres corporais, com parceiros/as do mesmo sexo, do sexo
oposto, de ambos os sexos ou solitárias. A identidade sexual também não é fixa
nem imutável: uma mesma pessoa, ao longo de sua vida, pode apresentar mais
de uma identidade sexual, ou seja, ser heterossexual, homossexual ou
bissexual.


Identidade de gênero
•Trata-se de uma construção histórica, cultural e social, que se faz acerca dos
sujeitos e que está relacionada com as distinções que se baseiam no sexo.
Refere-se a como os sujeitos se identificam como masculinos e femininos. Essa
identificação de gênero pode ou não corresponder ao sexo atribuído no
nascimento. Por exemplo, uma pessoa pode nascer homem e apresentar uma
identidade de gênero feminina.
SEXUALIDADE

• Matriz   biologizada atrelada à funções hormonais.
Sexualidade é mais do que isso


•Algo visto como inerente ao ser humano; força
interior/ impulso “selvagem”. Sexualidade é cultural.
É na cultura que se aprende a se relacionar
sexualmente e afetivamente.
Gênero e sexualidade são duas dimensões
 que estão muito próximas. São, também
atravessadas por outros marcadores sociais
  como raça/etnia, religião, classe social,
       capacidade física e geração
QUEM SÃO OS SUJEITOS COM OS QUAIS
 ATUAMOS E QUE ESPAÇOS SOCIAIS OCUPAM?

Jovens,    meninos,     meninas,     negros,   brancos,
trabalhadores, drogados, doentes,         homossexuais,
magros, gordos, marginalizados? Quais os motivos que os
envolvem nos projetos desenvolvidos?

São sujeitos diversos que trazem consigo marcas
culturais, conhecimentos, histórias de vida permeadas por
diferentes formas de violência, sofrimentos, vitórias,
superações, vontades, desejos, sonhos.

         .
Como trabalhar como temáticas como corpo, gênero
   e sexualidade de forma a evitar preconceitos,
        classificações, exclusões e violência
                (física e simbólica)?

 Como intervir em prol do respeito à diversidade?
Problematizar o caráter natural atribuído ao
corpo,ao gênero e a sexualidade é fundamental para nos
posicionarmos de forma crítica em relação a muitos dos
   discursos que, pautados na anatomia dos corpos,
excluem muitos em detrimentos de poucos, ou educam
alguns corpos, nomeando-os como perfeitos, desejáveis,
     vitoriosos em oposição a outros considerados
   desviantes, deslocados, abjetos e não desejáveis.
O que é necessário problematizar?


• A idéia de que a anatomia dos corpos justifica o acesso e a permanência de
  meninos e meninas em diferentes modalidades esportivas.


•   A importância atribuída à aparência corporal como determinante no julgamento
    que se faz sobre as pessoas (gordos, deficientes, sujos, etc..)


•   A ênfase na beleza como uma obrigação para as meninas e mulheres em função
    da qual devem aderir a uma série de práticas (pouca alimentação, cirurgias
    estéticas) inclusive, as esportivas. – deslocar o foco do embelezamento

•    O constante incentivo para que os meninos explicitem, cotidianamente, sinais de
    masculinidade (brincadeiras agressivas, práticas esportivas masculinizadoras,
    piadas homofóbicas, narrar suas aventuras sexuais com as meninas, etc).
• A representação de que existe um estereótipo masculino e um feminino


•   A percepção de que a maneira correta de viver a sexualidade é a heterossexual.
    Outros modos são desvios, doenças, aberrações e precisam ser corrigidas.


• A identificação de que alguns esportes devem ou não devem ser indicados para
  meninos e/ou meninas, pois não correspondem ao seu gênero.

•    A existência de preconceitos e violências que determinados sujeitos sofrem
    apenas por pertencerem à determinada classe social, religião, orientação sexual,
    identidade de gênero, habilidade física, etnia, entre outros.

•    O uso de linguagem discriminatória e sexista e racista (programa de índio, ele
    joga como uma dama, parece um Ronaldinho de saias, a situação tá preta, o
    buraco negro, o termo homem utilizado no genérico, etc,)
É necessário considerar que:

• As meninas têm menos oportunidades para o lazer que os meninos
porque, não raras vezes, desempenham atividades domésticas
relacionadas ao cuidado com a casa, a educação dos irmãos, entre
outras;

• Como o esporte é identificado como uma prática viril, quando as
meninas apresentam um perfil de habilidade e comportamento mais
agressivo para o jogo, muitas vezes, sua feminilidade é colocada em
suspeição. Da mesma forma, o menino que não se adapta ao esporte,
(sobretudo às práticas coletivas) ou prefere a dança também se coloca
em dúvida a sua masculinidade.


• Existem níveis diferentes de habilidade física entre meninos e meninas
– mas estas também existem entre os meninos e entre as meninas;
• As meninas são menos incentivadas que os meninos por parte da
sua família e amigos/as a participarem de atividades esportivas ;


• Jovens homossexuais (masculinos e femininos), não raras vezes,
sentem-se deslocados nas atividades esportivas, pois não são
respeitados quanto a sua orientação sexual.


• O esporte no singular – trabalhar as práticas corporais e esportivas
na sua pluralidade
• O corpo não é apenas um dado biológico e sim um produto do
  inter-relacionamento entre natureza e cultura;
• O corpo não é algo que se tem mas algo que se é, afinal, toda a
  existência é corporal;
• Os atributos de gênero (masculinidade e feminilidade) são
  construções culturais e variam entre culturas e entre os tempos;
• Não existe um jeito único de ser masculino e/ou feminino;
• Não existe uma única maneira de vivenciar a sexualidade;
• Discriminação de gênero ou por orientação sexual devem ser
  evitadas nas atividades do PST;
• O respeito pela diversidade dos corpos, dos gêneros e das e
  sexualidades deve integrar todas as ações do PST.
O que propor?

      Atividades de sensibilização para as temáticas:



1) Dinâmicas individuais e em grupos que envolvam a criação
   de desenhos, colagens, esculturas, narrativas, etc., através
   das quais seja possível discutir questões relacionadas ao
   gênero e à sexualidade.
2) Trabalhar com as histórias de vida
     (narrativas pessoais, coletivas, reais ou inventadas)

João, 18 anos, é homossexual, adotou o nome de uma artista famosa, apanha do
irmão, sua mãe não o defende. As meninas pequenas ficam longe dele na escola
porque as mães assim o determinam. Faz capoeira porque quer aprender a lutar. Na
aula de capoeira, fica no fundo, a professora acompanha todos os alunos, menos
João”


Letícia brinca de pipas com seus irmãos e vizinhos. Adora a brincadeira, confecciona
suas próprias pipas, coloridas, bonitas. Na escola vai acontecer um festival de pipas.
A mãe leva Letícia com a pipa que confeccionou para o festival. Ao chegar na escola
a mãe pergunta: Só vai ter homens? E não houve jeito de convencê-la a deixar
Letícia participar do festival.
3) Ampla utilização de artefatos culturais
              diversos (revistas, publicidade, filmes,
               músicas, programas televisivos, etc)

                                 Filmes

Gracie (EUA, 2007)                   A luta pela esperança     (EUA, 2005)
Ela é o cara (EUA, 2007)             Menina de Ouro      (EUA, 2004)
Lirios D´Agua   (França, 2007)       Billy Elliot (Inglaterra, 2000)
Jump In! (EUA, 2007)                 Damas de Ferro (Tailândia, 2000)
Treinando com papai    (EUA, 2007)   Mulan (EUA, 1998)
Murderball   (EUA, 2005)             Cartão Vermelho (Brasil, 1994)
Ginga (Brasil, 2006)                 Uma equipe muito especial (EUA, 1992)
Os Reis de Dogtown (EUA, 2005)       Fora de Jogo     (Irã,2006)
                                     Driblando o destino (EUA,2003
Atividades de intervenção

• Criar um bom ambiente entre os participantes da atividade proposta –
permitir que cada pessoa possa se expressar livremente e que seja
escutado/a e respeitado/a pelas suas opiniões, habilidades, vivências,
etc;

• Incentivar a prática de atividades esportivas para todos/as,
independente, do gênero, promovendo atividades nas quais meninos e
meninas, homens e mulheres participem conjuntamente;

• Oferecer atividades em turnos diferenciados visando se adequar às
condições de trabalho dos participantes;
•Incentivar as meninas e meninos a participarem de atividade
culturalmente identificadas tanto como masculinas e femininas


•Ficar atento para situações onde aconteçam discriminações e buscar
interferir de forma a minimizá-las e evitá-las


•Desenvolver estratégias, incentivos, elogios para que cada sujeito
sinta-se integrante do projeto


•Não se eximir do papel de educador/a, pois nossa intervenção faz
diferença!
TEMA: somos nossos corpos
         Analisar as interações entre corpo e cultura
                  na construção de identidades


• Montar um corpo adolescente ressaltando (nome, idade, filiação, ídolos,
roupas, adornos, lazer, esporte, o que gosta de fazer, trabalho, dúvidas
quanto ao gênero e sexualidade, música, etc);

• Cada grupo monta um personagem a apresenta.

• Construir uma narrativa envolvendo duas personagens que se encontram
num local que cada grupo vai conhecer apenas nesse momento (rua, fila de
emprego, festa, igreja, escola, shopping center, mercadinho, etc).
Possibilidade de discussão:
 Marcadores sociais relacionado à adolescência (formas de vestir, andar,
namorar, relacionar-se com os outros);

• Adolescência como construção discursiva e não etapa biológica


• Marcas de feminilidade e masculinidade

• Identificar os adornos (MP3, tatuagens, piercings, roupas com inscrições,
mochilas com desenhos, maquiagem) com pertencimento a determinados
grupos (tribos)


• Corpos/sujeitos desejáveis e não desejáveis

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Corpo, gênero e sexualidade - Educando para a diversidade

  • 1. CORPO, GÊNERO E SEXUALIDADE EDUCANDO PARA A DIVERSIDADE • Silvana Vilodre Goellner Apresentação: Ludmila Mourão EC 25
  • 2. O corpo é algo produzido na e pela cultura. Mais do que um dado natural cuja materialidade nos presentifica no mundo, o corpo é uma construção sobre a qual são conferidas diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos, etc. Não é portanto algo dado à priori nem mesmo é universal
  • 3. “A existência é corporal” “Nunca se viu um corpo. O que se vê são homens, mulheres” (....) “O corpo não existe em estado natural, sempre será compreendido na trama social de sentidos” “O corpo é uma falsa evidência, não é um dado inequívoco, mas efeito de uma elaboração social e cultural” “O corpo é também uma construção simbólica” (Le Breton)
  • 4. O corpo humano não é um dado puramente biológico sobre o qual a cultura impinge especificidades. O corpo é fruto da interação natureza/cultura .
  • 5.  Uma pessoa sente fome/sede por determinados alimentos e não por outros;  A sensação de dor é biológica mas o limite suportável da dor varia entre culturas;  O choro/riso é uma capacidade biológica mas o motivo que o determinam podem ser os mesmos que fazem rir/chorar numa outra sociedade;  A excitação sexual é biológica mas o que excita numa cultura pode causar repulsa noutra;  A capacidade de sentir cheiros é biológica mas a avaliação entre o que é agradável ou desagradável é cultural.
  • 6. “Mais do que um conjunto de músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações, o corpo é também a roupa e os acessórios que o adornam, as intervenções que nele se operam, a imagem que dele se produz, as máquinas que nele se acoplam, os sentidos que nele se incorporam, os silêncios que por ele falam, os vestígios que nele se exibem, a educação de seus gestos... enfim, é um sem limite de possibilidades sempre reinventadas, sempre à descoberta e a serem descobertas. Não são, portanto, as semelhanças biológicas que o definem mas, fundamentalmente, os significados culturais e sociais que a ele se atribuem” (GOELLNER, 2008, p.28). .
  • 7. GÊNERO • Construção cultural do sexo. Condição social pela qual somos identificados como masculinos e femininas • Engloba diferentes processos de produção de masculinidades e feminilidades como, por exemplo, processos históricos, sociais, culturais, entre outros.
  • 9. SEXO • Termo usado para referir as diferenças anatômicas, internas e externas ao corpo, que tem sido usadas como forma de diferenciar fisicamente mulheres de homens. • Diferenças de sexo são aquelas diferenças biológicas que se apresentam desde o nascimento
  • 11. GÊNERO • Jogo das dicotomias (razão x emoção; natureza x cultura) • Masculinidades e feminilidades no plural • Estereótipos e papéis sexuais fixam identidades • Gênero é cultural e histórico • Práticas sociais generificam os corpos, inclusive o esporte •Aprende-se a ser homem ou mulher na cultura
  • 14. • Politizar o determinismo biológico; • Questionar porque as diferenças biológicas são tomadas para justificar determinadas ações, comportamentos, inclusões e exclusões, inclusive no campo das práticas corporais e esportivas; •Desnaturalizar o que parece ser “natural”;
  • 15. Será, mesmo que todas as mulheres flutuam mais facilmente que todos os homens? Não teriam mulheres que flutuam mais facilmente que outras mulheres? E entre homens, será que também não existe? Aqui estamos problematizando a diferença biológica que se faz entre homens e mulheres.
  • 16. SEXUALIDADE • A sexualidade é entendida como uma construção histórica e social e não como algo que é inerente ao ser humano. Envolve uma série de crenças, comportamentos, relações e práticas que permitem a homens e mulheres viverem, de determinados modos, seus desejos e seus prazeres corporais. • Cada cultura elege que é considerado “normal” ou não quando relacionado às praticas sexuais. Exemplo: Pedofilia, por exemplo, hoje é considerado indesejado mas há algum tempo atrás, uma menina de 13 anos casar com um homem de 40 ou 50 era considerado normal.
  • 17. SEXUALIDADE Identidade sexual •Trata-se de uma construção através das quais os sujeitos experienciam os afetos, desejos e prazeres corporais, com parceiros/as do mesmo sexo, do sexo oposto, de ambos os sexos ou solitárias. A identidade sexual também não é fixa nem imutável: uma mesma pessoa, ao longo de sua vida, pode apresentar mais de uma identidade sexual, ou seja, ser heterossexual, homossexual ou bissexual. Identidade de gênero •Trata-se de uma construção histórica, cultural e social, que se faz acerca dos sujeitos e que está relacionada com as distinções que se baseiam no sexo. Refere-se a como os sujeitos se identificam como masculinos e femininos. Essa identificação de gênero pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento. Por exemplo, uma pessoa pode nascer homem e apresentar uma identidade de gênero feminina.
  • 18. SEXUALIDADE • Matriz biologizada atrelada à funções hormonais. Sexualidade é mais do que isso •Algo visto como inerente ao ser humano; força interior/ impulso “selvagem”. Sexualidade é cultural. É na cultura que se aprende a se relacionar sexualmente e afetivamente.
  • 19. Gênero e sexualidade são duas dimensões que estão muito próximas. São, também atravessadas por outros marcadores sociais como raça/etnia, religião, classe social, capacidade física e geração
  • 20. QUEM SÃO OS SUJEITOS COM OS QUAIS ATUAMOS E QUE ESPAÇOS SOCIAIS OCUPAM? Jovens, meninos, meninas, negros, brancos, trabalhadores, drogados, doentes, homossexuais, magros, gordos, marginalizados? Quais os motivos que os envolvem nos projetos desenvolvidos? São sujeitos diversos que trazem consigo marcas culturais, conhecimentos, histórias de vida permeadas por diferentes formas de violência, sofrimentos, vitórias, superações, vontades, desejos, sonhos. .
  • 21. Como trabalhar como temáticas como corpo, gênero e sexualidade de forma a evitar preconceitos, classificações, exclusões e violência (física e simbólica)? Como intervir em prol do respeito à diversidade?
  • 22. Problematizar o caráter natural atribuído ao corpo,ao gênero e a sexualidade é fundamental para nos posicionarmos de forma crítica em relação a muitos dos discursos que, pautados na anatomia dos corpos, excluem muitos em detrimentos de poucos, ou educam alguns corpos, nomeando-os como perfeitos, desejáveis, vitoriosos em oposição a outros considerados desviantes, deslocados, abjetos e não desejáveis.
  • 23. O que é necessário problematizar? • A idéia de que a anatomia dos corpos justifica o acesso e a permanência de meninos e meninas em diferentes modalidades esportivas. • A importância atribuída à aparência corporal como determinante no julgamento que se faz sobre as pessoas (gordos, deficientes, sujos, etc..) • A ênfase na beleza como uma obrigação para as meninas e mulheres em função da qual devem aderir a uma série de práticas (pouca alimentação, cirurgias estéticas) inclusive, as esportivas. – deslocar o foco do embelezamento • O constante incentivo para que os meninos explicitem, cotidianamente, sinais de masculinidade (brincadeiras agressivas, práticas esportivas masculinizadoras, piadas homofóbicas, narrar suas aventuras sexuais com as meninas, etc).
  • 24. • A representação de que existe um estereótipo masculino e um feminino • A percepção de que a maneira correta de viver a sexualidade é a heterossexual. Outros modos são desvios, doenças, aberrações e precisam ser corrigidas. • A identificação de que alguns esportes devem ou não devem ser indicados para meninos e/ou meninas, pois não correspondem ao seu gênero. • A existência de preconceitos e violências que determinados sujeitos sofrem apenas por pertencerem à determinada classe social, religião, orientação sexual, identidade de gênero, habilidade física, etnia, entre outros. • O uso de linguagem discriminatória e sexista e racista (programa de índio, ele joga como uma dama, parece um Ronaldinho de saias, a situação tá preta, o buraco negro, o termo homem utilizado no genérico, etc,)
  • 25. É necessário considerar que: • As meninas têm menos oportunidades para o lazer que os meninos porque, não raras vezes, desempenham atividades domésticas relacionadas ao cuidado com a casa, a educação dos irmãos, entre outras; • Como o esporte é identificado como uma prática viril, quando as meninas apresentam um perfil de habilidade e comportamento mais agressivo para o jogo, muitas vezes, sua feminilidade é colocada em suspeição. Da mesma forma, o menino que não se adapta ao esporte, (sobretudo às práticas coletivas) ou prefere a dança também se coloca em dúvida a sua masculinidade. • Existem níveis diferentes de habilidade física entre meninos e meninas – mas estas também existem entre os meninos e entre as meninas;
  • 26. • As meninas são menos incentivadas que os meninos por parte da sua família e amigos/as a participarem de atividades esportivas ; • Jovens homossexuais (masculinos e femininos), não raras vezes, sentem-se deslocados nas atividades esportivas, pois não são respeitados quanto a sua orientação sexual. • O esporte no singular – trabalhar as práticas corporais e esportivas na sua pluralidade
  • 27. • O corpo não é apenas um dado biológico e sim um produto do inter-relacionamento entre natureza e cultura; • O corpo não é algo que se tem mas algo que se é, afinal, toda a existência é corporal; • Os atributos de gênero (masculinidade e feminilidade) são construções culturais e variam entre culturas e entre os tempos; • Não existe um jeito único de ser masculino e/ou feminino; • Não existe uma única maneira de vivenciar a sexualidade; • Discriminação de gênero ou por orientação sexual devem ser evitadas nas atividades do PST; • O respeito pela diversidade dos corpos, dos gêneros e das e sexualidades deve integrar todas as ações do PST.
  • 28. O que propor? Atividades de sensibilização para as temáticas: 1) Dinâmicas individuais e em grupos que envolvam a criação de desenhos, colagens, esculturas, narrativas, etc., através das quais seja possível discutir questões relacionadas ao gênero e à sexualidade.
  • 29. 2) Trabalhar com as histórias de vida (narrativas pessoais, coletivas, reais ou inventadas) João, 18 anos, é homossexual, adotou o nome de uma artista famosa, apanha do irmão, sua mãe não o defende. As meninas pequenas ficam longe dele na escola porque as mães assim o determinam. Faz capoeira porque quer aprender a lutar. Na aula de capoeira, fica no fundo, a professora acompanha todos os alunos, menos João” Letícia brinca de pipas com seus irmãos e vizinhos. Adora a brincadeira, confecciona suas próprias pipas, coloridas, bonitas. Na escola vai acontecer um festival de pipas. A mãe leva Letícia com a pipa que confeccionou para o festival. Ao chegar na escola a mãe pergunta: Só vai ter homens? E não houve jeito de convencê-la a deixar Letícia participar do festival.
  • 30. 3) Ampla utilização de artefatos culturais diversos (revistas, publicidade, filmes, músicas, programas televisivos, etc) Filmes Gracie (EUA, 2007) A luta pela esperança (EUA, 2005) Ela é o cara (EUA, 2007) Menina de Ouro (EUA, 2004) Lirios D´Agua (França, 2007) Billy Elliot (Inglaterra, 2000) Jump In! (EUA, 2007) Damas de Ferro (Tailândia, 2000) Treinando com papai (EUA, 2007) Mulan (EUA, 1998) Murderball (EUA, 2005) Cartão Vermelho (Brasil, 1994) Ginga (Brasil, 2006) Uma equipe muito especial (EUA, 1992) Os Reis de Dogtown (EUA, 2005) Fora de Jogo (Irã,2006) Driblando o destino (EUA,2003
  • 31. Atividades de intervenção • Criar um bom ambiente entre os participantes da atividade proposta – permitir que cada pessoa possa se expressar livremente e que seja escutado/a e respeitado/a pelas suas opiniões, habilidades, vivências, etc; • Incentivar a prática de atividades esportivas para todos/as, independente, do gênero, promovendo atividades nas quais meninos e meninas, homens e mulheres participem conjuntamente; • Oferecer atividades em turnos diferenciados visando se adequar às condições de trabalho dos participantes;
  • 32. •Incentivar as meninas e meninos a participarem de atividade culturalmente identificadas tanto como masculinas e femininas •Ficar atento para situações onde aconteçam discriminações e buscar interferir de forma a minimizá-las e evitá-las •Desenvolver estratégias, incentivos, elogios para que cada sujeito sinta-se integrante do projeto •Não se eximir do papel de educador/a, pois nossa intervenção faz diferença!
  • 33. TEMA: somos nossos corpos Analisar as interações entre corpo e cultura na construção de identidades • Montar um corpo adolescente ressaltando (nome, idade, filiação, ídolos, roupas, adornos, lazer, esporte, o que gosta de fazer, trabalho, dúvidas quanto ao gênero e sexualidade, música, etc); • Cada grupo monta um personagem a apresenta. • Construir uma narrativa envolvendo duas personagens que se encontram num local que cada grupo vai conhecer apenas nesse momento (rua, fila de emprego, festa, igreja, escola, shopping center, mercadinho, etc).
  • 34. Possibilidade de discussão: Marcadores sociais relacionado à adolescência (formas de vestir, andar, namorar, relacionar-se com os outros); • Adolescência como construção discursiva e não etapa biológica • Marcas de feminilidade e masculinidade • Identificar os adornos (MP3, tatuagens, piercings, roupas com inscrições, mochilas com desenhos, maquiagem) com pertencimento a determinados grupos (tribos) • Corpos/sujeitos desejáveis e não desejáveis