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A UA U L A
     L A

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             Amazônia,
             insônia do mundo

                                               Nesta aula estudaremos a região Norte Va-
                                                                               Norte.
             mos compreender como suas características naturais e sócio-econômicas manti-
             veram essa grande porção do território à margem da economia nacional até a
             segunda metade do século XX.
                 Veremos que a integração dessa área às demais regiões brasileiras foi
             orientada pela intervenção do Estado e apoiada em grandes projetos
                             mineradores.
             agropecuários e mineradores




                 Chico conseguiu um serviço pelo qual pode ganhar um bom dinheiro. Deve
             levar uma carga de produtos alimentares enlatados para Manaus. No retorno,
             trará produtos eletroeletrônicos das indústrias da Zona Franca de Manaus para
             distribuição em São Paulo.

                 Para ganhar tempo na viagem e dividir a direção, Chico contrata outro
             motorista, Milton. Serão muitos dias de viagem. Se fosse sozinho, o percurso
             seria muito arriscado e cansativo.
                 Nenhum dos dois caminhoneiros conhece bem a região. Chico pergunta a
             Milton que caminho que eles devem seguir. Eles procuram um mapa para avaliar
             as estradas e as grandes distâncias que terão de percorrer.

                  O trajeto escolhido por Chico e Milton é seguir pela região central do país até
             alcançar a rodovia Cuiabá-PortoVelho. De lá, pegarão uma balsa que desce o rio
             Madeira até chegar a Manaus.
                  Chico e Milton não estão acostumados a navegar por rio, mas não têm outra
             alternativa. As rodovias que atravessam a floresta são de difícil manutenção,
             devido às fortes chuvas da região. Os rios são estradas naturais, que há muito
             tempo servem para o transporte de mercadorias pelas longas distâncias da
             região Norte.
                  Já na balsa, que avança aproveitando a correnteza do rio Madeira, Chico se
             acomoda em uma rede e pensa na música:

                 Sou mais um nessa guerra
                 Quebrando a serra da devastação...
A região Norte, dominada pela grande floresta amazônica, desperta opini-         A U L A
ões contraditórias. Já foi o “Eldorado” de imensas riquezas, depois um “inferno
verde”, e hoje é chamada “pulmão do mundo”.
     Diversos mitos e lendas sobre a Amazônia não correspondem à realidade. Se        29
quisermos compreender um pouco mais a região, precisamos entender como a
água e a floresta construíram uma relação muito estreita, responsável pela
principal riqueza da região.
     Em primeiro lugar, a região Norte é formada por uma imensa bacia
hidrográfica, que possui o maior conjunto de rios navegáveis de todo o mundo.
     O rio Amazonas, que nasce na cordilheira dos Andes e deságua no Oceano
Atlântico, é hoje considerado o rio mais extenso do mundo. Também apresenta
o maior volume de água, devido às condições de clima equatorial de sua bacia.
Essa bacia é limitada, ao norte, pelo planalto das Guianas, que apresenta as
maiores altitudes do Brasil; ao sul, é limitada pelo planalto Brasileiro.
     O relevo da região Amazônica se assemelha a uma escada: apresenta
degraus formados por sedimentos trazidos pelos rios e depositados ao longo da
bacia. Os sedimentos descem dos planaltos em direção às áreas de baixas
altitudes, próximas ao vale do rio Amazonas, no interior da região.
     As baixas altitudes (abaixo dos 200 metros), são predominantes e constituem
a chamada Planície Amazônica. Seus “degraus” mais altos, com altitudes que
variam entre 100 metros e 200 metros e próximos aos planaltos que formam os
limites da região, são chamados terras firmes que jamais são inundadas pelas
                                          firmes,
enchentes dos rios.
     Às margens do rio Amazonas, formada por sedimentos mais recentes,
encontramos as chamadas terras de várzea As terras desse “degrau” são
                                         várzea.
submetidas a longos períodos de cheia e ficam inundadas parte do ano. Apresen-
tam porções permanentemente inundadas, próximas às margens dos rios,
conhecidas como matas de igapóigapó.




     Contrastando com a exuberância da vegetação, os solos amazônicos são
extremamente pobres. O clima muito quente e chuvoso provoca uma intensa
lixiviação do solo, isto é, uma verdadeira lavagem dos sais minerais que
alimentam as plantas.
     Na floresta equatorial as raízes são pouco profundas, pois os nutrientes estão
a pouca profundidade e existe água em abundância perto da superfície. As raízes
tendem a se entrelaçar, e as árvores apóiam-se umas nas outras, já que, devido
à pouca penetração de luz, as árvores possuem poucas ramagens nas partes
baixas e formam grandes copas a diferentes alturas.
     A ocupação da região amazônica sofreu um grande impulso no final do
século XIX. Com a expansão da indústria automobilística, difundiu-se a utiliza-
A U L A   ção de pneus e câmaras de ar. Esses produtos tinham como matéria-prima básica
          a borracha natural, produzida a partir do látex retirado da seringueira, planta

29        originária da Amazônia.
               Na ocasião, o Brasil era o único produtor mundial de látex. A economia
          amazônica conheceu grande crescimento entre 1890 e 1920, quando os preços da
          borracha no mercado internacional alcançaram os maiores valores. Em 1910, a
          borracha chegou a competir com o café como principal produto de exportação.
          Além do impulso na economia, a produção de borracha promoveu um grande
          fluxo migratório para a região Norte, composto particularmente por nordestinos.
               O fim do período de exploração da borracha isolou a região dos mercados
          internacionais. Até a primeira metade do século XX, o Norte permaneceu uma
          grande área com povoamento rarefeito.
               A transferência da capital para Brasília, em 1960, foi um marco no processo
          de integração da região à economia nacional. A construção da rodovia Belém-
          Brasília abriu novas terras para a a pecuária, promovendo a ocupação no norte
          de Goiás, atual Estado de Tocantins.
               Os incentivos fiscais e os grandes financiamentos atraíram empresas para a
          instalação de projetos agropecuários e mineradores principalmente no norte
                                                     mineradores,
          do Mato Grosso e na porção sul do Pará.
               Esses projetos foram implantados por grandes empresas nacionais e
          multinacionais. Promoveram grandes desmatamentos, alterando profunda-
          mente as condições naturais da região. Devido à falta de adaptação às condições
          da região, muitos destes projetos fracassaram. A extração de madeiras nobres foi
          a maior fonte de lucros desses empreendimentos.
               Os projetos de mineração na Amazônia contaram com grande apoio gover-
          namental. Foi construída uma infra-estrutura de transporte e energia para a
          extração, beneficiamento e exportação de minérios.
               O maior de todos esses empreendimentos é o Projeto Grande Carajás que
                                                                               Carajás,
          abarca extensas áreas da Amazônia Oriental, na região do Bico do Papagaio
          (divisa dos Estados do Pará, Maranhão e Tocantins), e se estende até as áreas
          litorâneas, como Belém e São Luís (MA).
               Para o abastecimento energético desses grandes projetos foram construídas
          usinas hidrelétricas na região Norte, como por exemplo a de Tucuruí, no rio
          Tocantins. Isso facilitou a implantação da indústria de alumínio na região, já que
          o beneficiamento da bauxita que é o minério do alumínio, consome muita
                                  bauxita,
          energia elétrica.
               Os Estados do Pará, Amapá e Tocantins formam a Amazônia Oriental   Oriental,
          onde a pecuária extensiva e a atividade mineradora são muito importantes.
               Entre o Pará e o Tocantins, na confluência dos rios Araguaia e Tocantins, está
          a área do Bico do Papagaio, que constitui um dos territórios mais disputados do
          Brasil, palco de violentas lutas pela posse da terra.
               A Amazônia Ocidental engloba os Estados do Amazonas, Rondônia,
          Roraima e Acre. A abertura da rodovia Cuiabá-Porto Velho, em 1973, e a
          instalação do Pólo Noroeste, em 1981, trouxeram para a região muitos agricul-
          tores, que seguiram a rodovia aberta no noroeste de Mato Grosso.
               Durante a década de 80, grande número de agricultores chegaram a Rondônia
          dispostos a se fixar na Amazônia, aproveitando os incentivos para a colonização
          oferecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
               Em 1967 foi criada a Zona Franca de Manaus que é uma área livre de
                                                         Manaus,
          impostos alfandegários para os produtos importados. Ali se estabeleceram
          diversas fábricas montadoras de produtos eletroeletrônicos destinados ao mer-
          cado nacional.
No Acre, com a finalidade de defender a floresta contra a pecuária extensiva,   A U L A
os seringueiros utilizam o empate que envolve toda a comunidade. Esta se
                             empate,
coloca à frente das áreas a serem desmatadas, enfrentando os grandes proprie-
tários, que procuram aumentar suas áreas de pastagens.                               29
     As tentativas de integração da região Norte à economia nacional, embora
tenham incorrido em inúmeros erros, acabaram por colocar a a região Norte em
destaque. Hoje, sabe-se que é necessário aprender muito mais sobre a natureza
amazônica. Assim, novas alternativas para a utilização dos recursos florestais
devem ser buscadas, para tentar minimizar seus impactos sobre o ambiente.
     A efetiva inserção da região amazônica no cenário econômico nacional deve
se basear na pesquisa científica, para que sejam criadas técnicas compatíveis com
as peculiaridades do ambiente e definidas as áreas de preservação e conservação.
É preciso buscar formas de desenvolvimento sustentável nas quais sejam
                                                    sustentável,
mantidas as condições naturais do grande ecossistema amazônico.


    Louvor a Chico Mendes

    Chico
    Onde houver uma vida
    Sua voz será ouvida
    Como força de oração
    Do amor pela terra
    Que não se encerra num coração
    Sou mais um nessa guerra
    Quebrando a serra da devastação
    Me abraço à natureza
    E a Deus peço axé
    Em louvor a Chico Mendes
    Sua luta, sua fé
    Homem simples, seringueiro
    Um valente brasileiro
    Que ao mundo fez seu manifesto
    Um protesto à crueldade e à tirania
    Das derrubadas
    Das queimadas
    É a Amazônia em agonia
    Que hoje chora a saudade
    De Nova York a Xapuri ô ô
    Do Oiapoque ao Chuí
    Será que as coisas mudam por aqui?
    Na Amazônia
    A Amazônia tá virando zona
    De liquidação
    Sem cerimônia
    Matam e metem a mão
    Na Amazônia
    A Amazônia tá virando zona
    De liquidação
    Sem cerimônia
    Matam sem perdão                             Música e letra de Almir de Araújo
    Um líder                                         e Marquinhos Lessa (trechos)
A U L A       A região Norte caracteriza-se por uma grande superfície drenada pelo rio
          Amazonas e seus afluentes, coberta por uma densa floresta que se mantém

29        graças ao delicado equilíbrio entre água, solo e vegetação.
              Com uma população até hoje rarefeita, a ocupação da região amazônica teve
          um grande impulso com a produção de borracha no início deste século.
              Na década de 60, iniciou-se uma política de ocupação e integração da região
          ao resto do país. Essa política baseou-se na construção de estradas e na implan-
          tação de projetos agropecuários e mineradores
                                               mineradores.
              Existem duas porções bem definidas da região Norte: a Amazônia Oriental
                                                                                 Oriental,
          onde predominam as empresas agropecuárias e mineradoras, e a Amazônia
          Ocidental que é marcada pela presença da Zona Franca de Manaus
          Ocidental,                                                      Manaus.
              O grande desafio para a ciência e a tecnologia no Brasil é formular projetos
          de desenvolvimento sustentável para a região Norte. Tais projetos devem
          garantir o aumento da renda da população local e preservar o delicado equilíbrio
          dos ecossistemas amazônicos.




          Exercício 1
             Durante muito tempo a economia da região Norte esteve pouco articulada
             com a economia nacional. Apresente duas ações que facilitaram a integração
             da produção regional ao restante do país.


          Exercício 2
             Quais são as diferenças entre a Amazônia Ocidental e a Amazônia Oriental?


          Exercício 3
             Escreva C para as afirmativas corretas e E para as erradas.

              a) ( ) A Amazônia é o “pulmão do mundo”.
              b) ( ) A população indígena foi diretamente atingida pelo processo de
                     ocupação da Amazônia.
              c) ( ) Os solos da Amazônia são muito férteis, pois sustentam uma grande
                     floresta.
              d) ( ) A destruição da floresta amazônica pode alterar o regime de chuvas
                     na região.


          Exercício 4
             Retire da letra de Louvor a Chico Mendes um trecho que reflita a preocupa-
             ção mundial com os acontecimentos na Amazônia.


          Exercício 5
             Utilizando o atlas geográfico, aponte as cidades de maior população da
             região amazônica. Explique as razões do crescimento acelerado da popula-
             ção de Manaus, no Estado do Amazonas.

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  • 1. A UA U L A L A 29 29 Amazônia, insônia do mundo Nesta aula estudaremos a região Norte Va- Norte. mos compreender como suas características naturais e sócio-econômicas manti- veram essa grande porção do território à margem da economia nacional até a segunda metade do século XX. Veremos que a integração dessa área às demais regiões brasileiras foi orientada pela intervenção do Estado e apoiada em grandes projetos mineradores. agropecuários e mineradores Chico conseguiu um serviço pelo qual pode ganhar um bom dinheiro. Deve levar uma carga de produtos alimentares enlatados para Manaus. No retorno, trará produtos eletroeletrônicos das indústrias da Zona Franca de Manaus para distribuição em São Paulo. Para ganhar tempo na viagem e dividir a direção, Chico contrata outro motorista, Milton. Serão muitos dias de viagem. Se fosse sozinho, o percurso seria muito arriscado e cansativo. Nenhum dos dois caminhoneiros conhece bem a região. Chico pergunta a Milton que caminho que eles devem seguir. Eles procuram um mapa para avaliar as estradas e as grandes distâncias que terão de percorrer. O trajeto escolhido por Chico e Milton é seguir pela região central do país até alcançar a rodovia Cuiabá-PortoVelho. De lá, pegarão uma balsa que desce o rio Madeira até chegar a Manaus. Chico e Milton não estão acostumados a navegar por rio, mas não têm outra alternativa. As rodovias que atravessam a floresta são de difícil manutenção, devido às fortes chuvas da região. Os rios são estradas naturais, que há muito tempo servem para o transporte de mercadorias pelas longas distâncias da região Norte. Já na balsa, que avança aproveitando a correnteza do rio Madeira, Chico se acomoda em uma rede e pensa na música: Sou mais um nessa guerra Quebrando a serra da devastação...
  • 2. A região Norte, dominada pela grande floresta amazônica, desperta opini- A U L A ões contraditórias. Já foi o “Eldorado” de imensas riquezas, depois um “inferno verde”, e hoje é chamada “pulmão do mundo”. Diversos mitos e lendas sobre a Amazônia não correspondem à realidade. Se 29 quisermos compreender um pouco mais a região, precisamos entender como a água e a floresta construíram uma relação muito estreita, responsável pela principal riqueza da região. Em primeiro lugar, a região Norte é formada por uma imensa bacia hidrográfica, que possui o maior conjunto de rios navegáveis de todo o mundo. O rio Amazonas, que nasce na cordilheira dos Andes e deságua no Oceano Atlântico, é hoje considerado o rio mais extenso do mundo. Também apresenta o maior volume de água, devido às condições de clima equatorial de sua bacia. Essa bacia é limitada, ao norte, pelo planalto das Guianas, que apresenta as maiores altitudes do Brasil; ao sul, é limitada pelo planalto Brasileiro. O relevo da região Amazônica se assemelha a uma escada: apresenta degraus formados por sedimentos trazidos pelos rios e depositados ao longo da bacia. Os sedimentos descem dos planaltos em direção às áreas de baixas altitudes, próximas ao vale do rio Amazonas, no interior da região. As baixas altitudes (abaixo dos 200 metros), são predominantes e constituem a chamada Planície Amazônica. Seus “degraus” mais altos, com altitudes que variam entre 100 metros e 200 metros e próximos aos planaltos que formam os limites da região, são chamados terras firmes que jamais são inundadas pelas firmes, enchentes dos rios. Às margens do rio Amazonas, formada por sedimentos mais recentes, encontramos as chamadas terras de várzea As terras desse “degrau” são várzea. submetidas a longos períodos de cheia e ficam inundadas parte do ano. Apresen- tam porções permanentemente inundadas, próximas às margens dos rios, conhecidas como matas de igapóigapó. Contrastando com a exuberância da vegetação, os solos amazônicos são extremamente pobres. O clima muito quente e chuvoso provoca uma intensa lixiviação do solo, isto é, uma verdadeira lavagem dos sais minerais que alimentam as plantas. Na floresta equatorial as raízes são pouco profundas, pois os nutrientes estão a pouca profundidade e existe água em abundância perto da superfície. As raízes tendem a se entrelaçar, e as árvores apóiam-se umas nas outras, já que, devido à pouca penetração de luz, as árvores possuem poucas ramagens nas partes baixas e formam grandes copas a diferentes alturas. A ocupação da região amazônica sofreu um grande impulso no final do século XIX. Com a expansão da indústria automobilística, difundiu-se a utiliza-
  • 3. A U L A ção de pneus e câmaras de ar. Esses produtos tinham como matéria-prima básica a borracha natural, produzida a partir do látex retirado da seringueira, planta 29 originária da Amazônia. Na ocasião, o Brasil era o único produtor mundial de látex. A economia amazônica conheceu grande crescimento entre 1890 e 1920, quando os preços da borracha no mercado internacional alcançaram os maiores valores. Em 1910, a borracha chegou a competir com o café como principal produto de exportação. Além do impulso na economia, a produção de borracha promoveu um grande fluxo migratório para a região Norte, composto particularmente por nordestinos. O fim do período de exploração da borracha isolou a região dos mercados internacionais. Até a primeira metade do século XX, o Norte permaneceu uma grande área com povoamento rarefeito. A transferência da capital para Brasília, em 1960, foi um marco no processo de integração da região à economia nacional. A construção da rodovia Belém- Brasília abriu novas terras para a a pecuária, promovendo a ocupação no norte de Goiás, atual Estado de Tocantins. Os incentivos fiscais e os grandes financiamentos atraíram empresas para a instalação de projetos agropecuários e mineradores principalmente no norte mineradores, do Mato Grosso e na porção sul do Pará. Esses projetos foram implantados por grandes empresas nacionais e multinacionais. Promoveram grandes desmatamentos, alterando profunda- mente as condições naturais da região. Devido à falta de adaptação às condições da região, muitos destes projetos fracassaram. A extração de madeiras nobres foi a maior fonte de lucros desses empreendimentos. Os projetos de mineração na Amazônia contaram com grande apoio gover- namental. Foi construída uma infra-estrutura de transporte e energia para a extração, beneficiamento e exportação de minérios. O maior de todos esses empreendimentos é o Projeto Grande Carajás que Carajás, abarca extensas áreas da Amazônia Oriental, na região do Bico do Papagaio (divisa dos Estados do Pará, Maranhão e Tocantins), e se estende até as áreas litorâneas, como Belém e São Luís (MA). Para o abastecimento energético desses grandes projetos foram construídas usinas hidrelétricas na região Norte, como por exemplo a de Tucuruí, no rio Tocantins. Isso facilitou a implantação da indústria de alumínio na região, já que o beneficiamento da bauxita que é o minério do alumínio, consome muita bauxita, energia elétrica. Os Estados do Pará, Amapá e Tocantins formam a Amazônia Oriental Oriental, onde a pecuária extensiva e a atividade mineradora são muito importantes. Entre o Pará e o Tocantins, na confluência dos rios Araguaia e Tocantins, está a área do Bico do Papagaio, que constitui um dos territórios mais disputados do Brasil, palco de violentas lutas pela posse da terra. A Amazônia Ocidental engloba os Estados do Amazonas, Rondônia, Roraima e Acre. A abertura da rodovia Cuiabá-Porto Velho, em 1973, e a instalação do Pólo Noroeste, em 1981, trouxeram para a região muitos agricul- tores, que seguiram a rodovia aberta no noroeste de Mato Grosso. Durante a década de 80, grande número de agricultores chegaram a Rondônia dispostos a se fixar na Amazônia, aproveitando os incentivos para a colonização oferecidos pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em 1967 foi criada a Zona Franca de Manaus que é uma área livre de Manaus, impostos alfandegários para os produtos importados. Ali se estabeleceram diversas fábricas montadoras de produtos eletroeletrônicos destinados ao mer- cado nacional.
  • 4. No Acre, com a finalidade de defender a floresta contra a pecuária extensiva, A U L A os seringueiros utilizam o empate que envolve toda a comunidade. Esta se empate, coloca à frente das áreas a serem desmatadas, enfrentando os grandes proprie- tários, que procuram aumentar suas áreas de pastagens. 29 As tentativas de integração da região Norte à economia nacional, embora tenham incorrido em inúmeros erros, acabaram por colocar a a região Norte em destaque. Hoje, sabe-se que é necessário aprender muito mais sobre a natureza amazônica. Assim, novas alternativas para a utilização dos recursos florestais devem ser buscadas, para tentar minimizar seus impactos sobre o ambiente. A efetiva inserção da região amazônica no cenário econômico nacional deve se basear na pesquisa científica, para que sejam criadas técnicas compatíveis com as peculiaridades do ambiente e definidas as áreas de preservação e conservação. É preciso buscar formas de desenvolvimento sustentável nas quais sejam sustentável, mantidas as condições naturais do grande ecossistema amazônico. Louvor a Chico Mendes Chico Onde houver uma vida Sua voz será ouvida Como força de oração Do amor pela terra Que não se encerra num coração Sou mais um nessa guerra Quebrando a serra da devastação Me abraço à natureza E a Deus peço axé Em louvor a Chico Mendes Sua luta, sua fé Homem simples, seringueiro Um valente brasileiro Que ao mundo fez seu manifesto Um protesto à crueldade e à tirania Das derrubadas Das queimadas É a Amazônia em agonia Que hoje chora a saudade De Nova York a Xapuri ô ô Do Oiapoque ao Chuí Será que as coisas mudam por aqui? Na Amazônia A Amazônia tá virando zona De liquidação Sem cerimônia Matam e metem a mão Na Amazônia A Amazônia tá virando zona De liquidação Sem cerimônia Matam sem perdão Música e letra de Almir de Araújo Um líder e Marquinhos Lessa (trechos)
  • 5. A U L A A região Norte caracteriza-se por uma grande superfície drenada pelo rio Amazonas e seus afluentes, coberta por uma densa floresta que se mantém 29 graças ao delicado equilíbrio entre água, solo e vegetação. Com uma população até hoje rarefeita, a ocupação da região amazônica teve um grande impulso com a produção de borracha no início deste século. Na década de 60, iniciou-se uma política de ocupação e integração da região ao resto do país. Essa política baseou-se na construção de estradas e na implan- tação de projetos agropecuários e mineradores mineradores. Existem duas porções bem definidas da região Norte: a Amazônia Oriental Oriental, onde predominam as empresas agropecuárias e mineradoras, e a Amazônia Ocidental que é marcada pela presença da Zona Franca de Manaus Ocidental, Manaus. O grande desafio para a ciência e a tecnologia no Brasil é formular projetos de desenvolvimento sustentável para a região Norte. Tais projetos devem garantir o aumento da renda da população local e preservar o delicado equilíbrio dos ecossistemas amazônicos. Exercício 1 Durante muito tempo a economia da região Norte esteve pouco articulada com a economia nacional. Apresente duas ações que facilitaram a integração da produção regional ao restante do país. Exercício 2 Quais são as diferenças entre a Amazônia Ocidental e a Amazônia Oriental? Exercício 3 Escreva C para as afirmativas corretas e E para as erradas. a) ( ) A Amazônia é o “pulmão do mundo”. b) ( ) A população indígena foi diretamente atingida pelo processo de ocupação da Amazônia. c) ( ) Os solos da Amazônia são muito férteis, pois sustentam uma grande floresta. d) ( ) A destruição da floresta amazônica pode alterar o regime de chuvas na região. Exercício 4 Retire da letra de Louvor a Chico Mendes um trecho que reflita a preocupa- ção mundial com os acontecimentos na Amazônia. Exercício 5 Utilizando o atlas geográfico, aponte as cidades de maior população da região amazônica. Explique as razões do crescimento acelerado da popula- ção de Manaus, no Estado do Amazonas.