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MINISTÉRIO DA SAÚDE 
Secretaria de Atenção à Saúde 
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas 
Série A. Normas e Manuais Técnicos 
Perda 
Auditiva 
Induzida por 
Ruído (Pair) 
Brasília – DF 
2006 
5 Saúde do Trabalhador 
Protocolos de Complexidade Diferenciada
© 2006 Ministério da Saúde. 
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Série A. Normas e Manuais Técnicos 
Tiragem: 1.ª edição – 2006 – 10.000 exemplares 
Elaboração, distribuição e informações: 
MINISTÉRIO DA SAÚDE 
Secretaria de Atenção à Saúde 
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas 
Área Técnica de Saúde do Trabalhador 
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Texto: 
Alice Penna de Azevedo Bernardi 
Ana Cláudia Fiorini 
Everardo Andrade da Costa 
Raul Nielsen Ibañez 
Teresa Raquel Ribeiro de Sena 
Organização: 
Márcia Tiveron de Souza 
Organização da Série Saúde do Trabalhador: 
Elizabeth Costa Dias 
Marco Antônio Gomes Pérez 
Maria da Graça Luderitz Hoefel 
Fluxograma: 
Cláudio Juliano da Costa 
Ficha Catalográfi ca 
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas 
Estratégicas. 
Perda auditiva induzida por ruído (Pair) / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, 
Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2006. 
40 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Saúde do Trabalhador ; 5. Protocolos de Com-plexidade 
Diferenciada) 
ISBN 85-334-1144-8 
1. Perda auditiva. 2. Riscos ocupacionais. 3. Saúde ocupacional. I. Título. II. Série. 
NLM WV 270 
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2006/0444 
Títulos para indexação: 
Em inglês: Noise-Induced Hearing Loss – NIHL 
Em espanhol: Pérdida Auditiva Inducida por Ruido – Pair 
EDITORA MS 
Documentação e Informação 
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Equipe Editorial: 
Normalização: Juliane de Sousa 
Revisão: Lilian Assunção e Daniele Thiebaut 
Capa, projeto gráfi co e diagramação: Fabiano Bastos 
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
SUMÁRIO 
Apresentação, 5 
1 Introdução, 7 
1.1 Ruído, 8 
2 Escopo, 13 
2.1 Definição, 13 
2.2 Tipo de protocolo, 13 
2.3 Público-Alvo , 13 
2.4 Objetivo, 14 
2.5 Benefícios, 14 
3 Epidemiologia, 15 
4 Metodologia de elaboração do protocolo, 16 
5 Recomendações, 17 
5.1 Diagnóstico, 17 
5.1.1 Efeitos auditivos da exposição ao ruído, 17 
5.1.2 Efeitos não-auditivos da exposição ao ruído, 20 
5.2 Avaliação da Pair, 23 
5.2.1 A avaliação dos efeitos auditivos da Pair, 23 
5.2.2 Avaliação dos efeitos não-auditivos da Pair, 24 
5.3 Diagnóstico diferencial, 25 
5.3.1 Trauma acústico, 25 
5.3.2 Mudança Transitória de Limiar (MTL), 26 
5.3.3 Situações possíveis no diagnóstico, 27 
5.3.4 Exposição ao ruído não-relacionada ao trabalho, 28
5.4 Tratamento e reabilitação, 28 
5.5 Prevenção, 29 
5.6 Notificação, 31 
Referências bibliográficas, 33 
Anexo, 39 
Anexo A – Fluxograma, 39
5 
APRESENTAÇÃO 
A saúde, como direito universal e dever do Estado, é uma conquista 
do cidadão brasileiro, expressa na Constituição Federal e regulamenta-da 
pela Lei Orgânica da Saúde. No âmbito deste direito encontra-se a 
saúde do trabalhador. 
Embora o Sistema Único de Saúde (SUS), nos últimos anos, tenha avan-çado 
muito em garantir o acesso do cidadão às ações de atenção à 
saúde, somente a partir de 2003 as diretrizes políticas nacionais para a 
área começam a ser implementadas. 
Tais diretrizes são: 
• Atenção Integral à Saúde dos Trabalhadores; 
• Articulação Intra e Intersetoriais; 
• Estruturação de Rede de Informações em Saúde do Traba-lhador; 
• Apoio ao Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas; 
• Desenvolvimento e Capacitação de Recursos Humanos; 
• Participação da Comunidade na Gestão das Ações em 
Saúde do Trabalhador. 
Entre as estratégias para a efetivação da Atenção Integral à Saúde do 
Trabalhador, destaca-se a implementação da Rede Nacional de Aten-ção 
Integral à Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2005), cujo objetivo é in-tegrar 
a rede de serviços do SUS voltados à assistência e à vigilância, 
além da notificação de agravos à saúde relacionados ao trabalho em 
rede de serviços sentinela (BRASIL, 2004)1. 
1 Os agravos à saúde relacionados ao trabalho, de notifi cação compulsória que constam 
na Portaria n.º 777/04, são: acidentes de trabalho fatais, com mutilações, com exposição a 
materiais biológicos, com crianças e adolescentes, além dos casos de dermatoses ocupacio-nais, 
intoxicações por substâncias químicas (incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais 
pesados), Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados 
ao Trabalho (Dort), pneumoconioses, Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) e câncer rela-cionado 
ao trabalho.
6 
Com o intuito de atender os trabalhadores com suspeita de agravos 
à saúde relacionados ao trabalho, incluindo os procedimentos com-preendidos 
entre o primeiro atendimento até a notificação, esta série 
de publicações “Complexidade Diferenciada” oferece recomendações e 
parâmetros para seu diagnóstico, tratamento e prevenção. 
Trata-se, pois, de dotar o profissional do SUS de mais um instrumen-to 
para o cumprimento de seu dever enquanto agente de Estado, con-tribuindo 
para melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e, por 
conseguinte, para a garantia de seu direito à saúde. 
Ministério da Saúde 
Área Técnica de Saúde do Trabalhador
7 
1 INTRODUÇÃO 
Quando se estudam as perdas auditivas de origem ocupacional, deve-se 
levar em conta que há outros agentes causais que não somente po-dem 
gerar perdas auditivas, independentemente de exposição ao ruí-do, 
mas também, ao interagir com este, potencializar os seus efeitos 
sobre a audição. Entre outros, podem ser citados a exposição a certos 
produtos químicos, as vibrações e o uso de alguns medicamentos. 
Morata e Lemasters (1995) propuseram a utilização do termo “perda 
auditiva ocupacional”, por ser mais abrangente, considerando o ruído, 
sem dúvida, como o agente mais comum, mas sem ignorar a existência 
de outros, com todas as implicações que estes pudessem originar em 
termos de diagnóstico, medidas preventivas, limites de segurança, le-gislação, 
etc. 
Em 1996, o National Institute for Occupational Safety and Health 
(NIOSH) publicou o Guia Prático para Prevenção de Perda Auditiva 
Ocupacional, utilizando o termo “perda auditiva ocupacional”, que 
incorpora não só a perda auditiva induzida por ruído, mas também 
aquelas provocadas por exposições a solventes aromáticos, metais e 
alguns asfixiantes, além de vibração, incentivando a pesquisa desses 
e de outros fatores potencialmente geradores de perda auditiva 
(FIORINI; NASCIMENTO, 2001). 
Considerando que o conhecimento acumulado nessa área é bem maior 
no que se refere à Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) e que esse 
Protocolo é destinado a toda rede de atenção à saúde do SUS, que de-verá 
iniciar um trabalho de identificação e notificação dos casos de 
perdas auditivas relacionadas ao trabalho, optou-se por restringir es-ses 
casos à Pair, acreditando que isso irá viabilizar o processo de notifi-
8 
cação nessa fase inicial. O texto será revisto em outra oportunidade, a 
partir das experiências da rede SUS. 
1.1 Ruído 
O ruído já faz parte do nosso dia-a-dia. E isso se inicia cada vez mais 
cedo, pois é possível observar em gestantes que trabalham expostas a 
níveis elevados de ruído, principalmente quando o trabalho é realiza-do 
em turnos, desde lesões auditivas irreversíveis no feto (LALANDE; 
HETÚ; LAMBERT, 1986) até problemas na gestação, como hipertensão, 
hiperemese gravídica, parto prematuro e bebês de baixo peso (NUR-MINEN; 
KURPA, 1989; NURMINEN, 1995; HARTIKAINEN et al., 1994). 
Caso necessite de incubadora, o bebê ficará exposto a níveis de pressão 
sonora de aproximadamente 61dB(A), que podem atingir até 130 ou 
140dB(A), de acordo com as manobras realizadas (BESS; FINLAYSON; 
CHAPMAN, 1979). Quando for para casa, o bebê, e depois a criança, 
terá ao seu redor brinquedos que podem atingir 100dB(A) (CELANI, 
1991) e eletrodomésticos que produzem ruídos de semelhante intensi-dade. 
Na escola, onde permanece em média quatro horas por dia, o ruí-do 
pode atingir até 94,3dB(A), com a média 70dB(A) (CELANI; BEVI-LÁCQUA; 
RAMOS,1994; FRANÇA, 2000). Quando se tornar um ado-lescente, 
serão agregados a essa exposição seus hábitos de lazer (moto-cicleta, 
discoteca, walkman) e o ruído urbano. Ao entrar na fase adulta, 
esse indivíduo poderá passar de 8 a 12 horas por dia, em média, expos-to 
a elevados níveis de pressão sonora em seu ambiente de trabalho. 
A Conferência da Terra (ECO 92), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, 
endossou a Agenda 21, um programa de ação mundial para a promo-ção 
do desenvolvimento sustentável, que envolve modificação de con-ceitos 
e práticas referentes ao desenvolvimento econômico e social. 
Neste contexto, o ruído foi considerado a terceira maior causa de po-luição 
ambiental, atrás da poluição da água e do ar. O ruído pode ser 
visto como o risco de agravo à saúde que atinge maior número de tra-balhadores. 
Estudos apresentados na ECO 92 indicam que 16% da po-
9 
pulação dos países ligados à Cooperação de Desenvolvimento Econô-mico 
(ODCE), algo em torno de 110 milhões de pessoas, está exposta a 
níveis de ruído que provocam doenças no ser humano. 
Esse estilo de vida, nem sempre opcional, leva à incorporação do ruído 
às nossas vidas, como se fosse algo natural e, portanto, inofensivo. 
Esse comportamento, bastante nocivo à saúde, torna-se mais perigo-so 
quando se trata de ruído no ambiente de trabalho, pela sua intensi-dade, 
tempo de exposição e efeitos combinados com outros fatores de 
risco, como produtos químicos ou vibração (SILVA, 2002). 
Agentes químicos ou ambientais podem, em alguns casos, causar per-das 
auditivas com as mesmas características audiométricas das perdas 
por ruído (MORATA; LEMASTERS, 1995), havendo alta variabilidade 
entre os casos, a qual pode ser atribuída aos seguintes fatores: multi-plicidade 
de produtos químicos existentes (com diferentes estruturas 
moleculares), diferenças entre ambientes de trabalho, infinitas combi-nações 
de produtos químicos e variações na intensidade e nos parâme-tros 
de exposição – aguda, intermitente ou crônica. 
As investigações publicadas até o momento indicam que os efeitos dos 
solventes podem ser detectados a partir de dois ou três anos de expo-sição, 
mais precocemente do que os efeitos do ruído (MORATA et al., 
1993; MORATA; DUNN; SIEB, 1997). Um outro estudo, entretanto, so-mente 
detectou efeito significante dos solventes a partir de cinco anos 
de exposição (JACOBSEN et al., 1993). A questão da latência depende, 
certamente, do produto em consideração e das características da ex-posição, 
e necessita ser explorada mais extensivamente. 
As propriedades ototóxicas de produtos químicos industriais e a in-teração 
destes com o ruído somente foram investigadas para um nú-mero 
reduzido de substâncias. Neste cenário, devem ser obtidas infor-mações 
sobre a toxicidade e neurotoxicidade das exposições químicas
10 
e das queixas apresentadas pelas populações expostas. Estas servirão 
para uma avaliação preliminar de risco potencial à audição, para que 
então seja possível a tomada de decisões quanto às medidas de avalia-ção 
e prevenção a serem adotadas. 
O som é definido como qualquer perturbação vibratória em um meio 
elástico, que produza sensação auditiva (MERLUZZI, 1981). O ruído é 
um sinal acústico aperiódico, originado da superposição de vários mo-vimentos 
de vibração com diferentes freqüências que não apresentam 
relação entre si (FELDMAN; GRIMES, 1985). Portanto, do ponto de vis-ta 
da Acústica Física, podemos dizer que a definição de ruído é englo-bada 
pela definição de som. 
Em relação a Psicoacústica, enquanto o som é utilizado para descrever 
sensações prazerosas, o ruído é usado para descrever sons indesejáveis ou 
desagradáveis, o que traz um aspecto de subjetividade à sua definição. 
Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada, em média 
85dB(A) por oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na ore-lha 
interna, que determinam a ocorrência da Pair (CID 10 – H83.3). A 
Pair é o agravo mais freqüente à saúde dos trabalhadores, estando pre-sente 
em diversos ramos de atividade, principalmente siderurgia, me-talurgia, 
gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros. 
Além dos sintomas auditivos freqüentes – quais sejam perda auditiva, di-ficuldade 
de compreensão de fala, zumbido e intolerância a sons inten-sos 
–, o trabalhador portador de Pair também apresenta queixas, como 
cefaléia, tontura, irritabilidade e problemas digestivos, entre outros. 
Morata e Lemasters (2001) observam a importância de estudos sobre 
a Pair, utilizando o método epidemiológico, o que traz confiabilida-de 
aos resultados obtidos e permite a reprodução desses mesmos es-tudos.
11 
Quando a exposição ao ruído é de forma súbita e muito intensa, pode 
ocorrer o trauma acústico, lesando, temporária ou definitivamente, di-versas 
estruturas do ouvido. Outro tipo de alteração auditiva provoca-do 
pela exposição ao ruído intenso é a mudança transitória de limiar, 
que se caracteriza por uma diminuição da acuidade auditiva que pode 
retornar ao normal, após um período de afastamento do ruído. 
A Norma Regulamentadora n.º 15 (NR-15), da Portaria MTb n.º 
3.214/1978 (BRASIL, 1978), estabelece os limites de exposição a ruído 
contínuo, conforme a Tabela 1, a seguir. 
Tabela 1 – Limites de Tolerância (LTs) para ruído contínuo ou in-termitente 
(NR-15) 
Nível de ruído dB(A) Máxima exposição diária permissível 
85 8 horas 
86 7 horas 
87 6 horas 
88 5 horas 
89 4 horas e 30 minutos 
90 4 horas 
91 3 horas e 30 minutos 
92 3 horas 
93 2 horas e 30 minutos 
94 2 horas 
95 1 hora e 45 minutos 
98 1 hora e 15 minutos 
100 1 hora 
102 45 minutos 
104 35 minutos 
105 30 minutos 
106 25 minutos 
108 20 minutos 
110 15 minutos 
112 10 minutos 
114 8 minutos 
115 7 minutos
12 
O limite de tolerância para ruído do tipo impacto será de 130dB(A), 
de acordo com a NR-15. Nos intervalos entre os picos, o ruído existente 
deverá ser avaliado como ruído contínuo. 
Como conseqüência à exposição continuada a ruído elevado, o traba-lhador 
pode apresentar a Pair.
13 
2 ESCOPO 
2.1 Definição 
Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) é a perda provocada pela ex-posição 
por tempo prolongado ao ruído. Configura-se como uma per-da 
auditiva do tipo neurossensorial, geralmente bilateral, irreversível e 
progressiva com o tempo de exposição ao ruído (CID 10 – H 83.3). 
Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruí-do 
no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disa-cusia 
ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pres-são 
sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda au-ditiva 
neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de 
pressão sonora de origem ocupacional. 
2.2 Tipo de protocolo 
Este tipo de protocolo tem a função de articulação, no âmbito do SUS, 
de ações de prevenção, promoção, diagnóstico, tratamento, reabilita-ção 
e vigilância em saúde do trabalhador, urbano e rural, independen-temente 
do vínculo empregatício e do tipo de inserção no mercado de 
trabalho. 
2.3 Público-Alvo 
Este Protocolo se destina a todos os profissionais de saúde da rede SUS, 
nos seus três níveis de atenção, e a outros que lidam com os diversos 
aspectos decorrentes da perda auditiva, tais como assistentes sociais, 
auditores fiscais, enfermeiros, engenheiros, epidemiologistas, fisiotera-peutas, 
fonoaudiólogos, peritos, profissionais da área de Vigilância em 
Saúde do Trabalhador, médicos, toxicologistas, químicos, etc.
14 
2.4 Objetivo 
Este Protocolo tem como objetivo auxiliar os profissionais da rede do 
SUS a identificar e notificar os casos de Pair, conforme determina a Por-taria 
n.º 777, de 28/4/04 (BRASIL, 2004), bem como dar subsídios aos 
órgãos de vigilância para intervenções nos ambientes de trabalho. 
2.5 Benefícios 
A adoção do Protocolo estabelece a utilização de critérios definidos 
em consenso por especialistas e permite uniformidade no tratamento 
e na leitura epidemiológica dos dados, o que contribuirá para a identi-ficação 
da real magnitude de casos de perda auditiva em trabalhado-res 
relacionados à exposição ao ruído e/ou às substâncias químicas no 
Brasil, e permitirá iniciar um processo de vigilância no País. 
A partir da notificação da Pair, será possível conhecer sua prevalência 
para tornar eficaz qualquer planejamento de ações de capacitação e 
organização de recursos em função da capacidade instalada necessá-ria 
para prevenir e diagnosticar Pair, assim como reabilitar os portado-res 
dessa doença. 
Essas ações poderiam evitar que inúmeros trabalhadores fossem ex-cluídos 
do mercado de trabalho, o que gera graves conseqüências ao 
País, apesar de não apresentarem incapacidade por serem portadores 
de perda auditiva.
15 
3 EPIDEMIOLOGIA 
Os dados epidemiológicos sobre perda auditiva no Brasil são escassos e 
referem-se a determinados ramos de atividades e, portanto, não há re-gistros 
epidemiológicos que caracterizem a real situação. Os dados dis-poníveis 
sobre as ocorrências dão uma idéia parcial da situação de ris-co 
relacionada à perda auditiva. 
Estima-se que 25% da população trabalhadora exposta (BERGSTRÖM; 
NYSTRÖM, 1986; CARNICELLI, 1988; MORATA, 1990; PRÓSPERO, 
1999) seja portadora de Pair em algum grau. Apesar de ser o agravo 
mais freqüente à saúde dos trabalhadores, ainda são pouco conheci-dos 
seus dados de prevalência no Brasil. Isso reforça a importância da 
notificação, que torna possível o conhecimento da realidade e o di-mensionamento 
das ações de prevenção e assistência necessárias.
16 
4 METODOLOGIA DE 
ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO 
• Elaboração, envio e análise de questionário enviado aos 
Cerests, para conhecer suas experiências e necessidades 
em relação aos casos de Pair. 
• Revisão bibliográfica e elaboração do texto-base. 
• Reunião com especialistas para avaliação do documen-to- 
base. 
• Envio para publicação e consulta pública. 
• Revisão pós-consulta pública. 
• Redação final.
17 
5 RECOMENDAÇÕES 
5.1 Diagnóstico 
5.1.1 Efeitos auditivos da exposição ao ruído 
A maior característica da Pair é a degeneração das células ciliadas do 
órgão de Corti. Recentemente tem sido demonstrado o desencade-amento 
de lesões e de apoptose celular em decorrência da oxidação 
provocada pela presença de radicais livres formados pelo excesso de 
estimulação sonora ou pela exposição a determinados agentes quími-cos. 
Esses achados têm levado ao estudo de substâncias e condições 
capazes de proteger as células ciliadas cocleares contra as agressões 
do ruído e dos produtos químicos (OLIVEIRA, 2001, 2002; HYPPOLI-TO, 
2003). 
Em 1998, o Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva definiu 
como características da Pair: 
• Ser sempre neurossensorial, uma vez que a lesão é no ór-gão 
de Corti da orelha interna. 
• Ser geralmente bilateral, com padrões similares. Em algu-mas 
situações, observam-se diferenças entre os graus de 
perda das orelhas. 
• Geralmente, não produzir perda maior que 40dB(NA) nas 
freqüências baixas e que 75dB(NA) nas altas. 
• A sua progressão cessa com o fim da exposição ao ruído 
intenso. 
• A presença de Pair não torna a orelha mais sensível ao ruí-do; 
à medida que aumenta o limiar, a progressão da per-da 
se dá de forma mais lenta. 
• A perda tem seu início e predomínio nas freqüências de 3, 
4 ou 6 kHz, progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 
e 0,25 kHz.
18 
• Em condições estáveis de exposição, as perdas em 3, 4 ou 
6 kHz, geralmente atingirão um nível máximo, em cerca 
de 10 a 15 anos. 
• O trabalhador portador de Pair pode desenvolver intole-rância 
a sons intensos, queixar-se de zumbido e de dimi-nuição 
de inteligibilidade da fala, com prejuízo da comu-nicação 
oral. 
O American College of Occupational and Environmental Medicine 
(Acoem), em 2003, apresenta como principais características da Pair: 
• Perda auditiva sensório-neural com comprometimento 
das células ciliadas da orelha interna. 
• Quase sempre bilateral. 
• Seu primeiro sinal é um rebaixamento no limiar audiomé-trico 
de 3, 4 ou 6kHz. No início da perda, a média dos li-miares 
de 500, 1 e 2kHz é melhor do que a média de 3,4 
ou 6kHz. O limiar de 8kHz tem que ser melhor do que o 
pior limiar. 
• Em condições normais, apenas a exposição ao ruído não 
produz perdas maiores do que 75dB em freqüências altas 
e do que 40dB nas baixas. 
• A progressão da perda auditiva decorrente da exposição 
crônica é maior nos primeiros 10 a 15 anos e tende a di-minuir 
com a piora dos limiares. 
• Evidências científicas indicam que a orelha com exposições 
prévias a ruído não são mais sensíveis a futuras exposições. 
Uma vez cessada a exposição, a Pair não progride. 
• O risco de Pair aumenta muito quando a média da expo-sição 
está acima de 85dB(A) por oito horas diárias. As ex-posições 
contínuas são piores do que as intermitentes, 
porém, curtas exposições a ruído intenso também po-dem 
desencadear perdas auditivas. Quando o histórico 
identificar o uso de protetores auditivos, deve ser consi-derada 
a atenuação real do mesmo, assim como a varia-bilidade 
individual durante o seu uso.
19 
A deficiência auditiva provocada pela exposição continuada a ruído 
pode provocar diversas limitações auditivas funcionais, as quais refe-rem- 
se, além da alteração da sensibilidade auditiva, às alterações de se-letividade 
de freqüência, das resoluções temporal e espacial, do recru-tamento 
e do zumbido (SAMELLI, 2004). 
A alteração da seletividade de freqüência provoca dificuldades na dis-criminação 
auditiva. Essa lesão provoca aumento do tempo mínimo 
requerido para resolver um evento sonoro (resolução temporal), o 
que, principalmente associado com a reverberação dos ambientes de 
trabalho, provoca limitação da capacidade do portador de Pair em re-conhecer 
sons (BAMFORD; SAUNDERS, 1991). 
Quando o indivíduo é portador de uma Pair, que tem como caracte-rística 
ser neurossensorial, ocorre uma redução na faixa dinâmica en-tre 
o limiar auditivo e o limiar de desconforto, provocando um aumen-to 
na ocorrência de recrutamento (fenômeno de crescimento rápido e 
anormal da sensação de intensidade sonora) e, portanto, um aumento 
da sensação de desconforto. Isso é comum nos ambientes de trabalho 
com elevados níveis de pressão sonora. 
O zumbido é um dos sintomas mais comumente relatados pelos por-tadores 
de Pair, e provoca muito incômodo (KANDEL; SCHWARTZ; 
JUSSEL, 2003). Ele é definido como sendo a manifestação do mau fun-cionamento, 
no processamento de sinais auditivos envolvendo com-ponentes 
perceptuais e psicológicos (VESTERAGER, 1997). Num estu-do 
com 3.466 trabalhadores requerentes de indenização por Pair, Mc 
Shane, Hyde Alberti (1988) observaram uma prevalência de zumbi-do 
de 49,8%. Destes, 29,2% afirmaram que o zumbido era o proble-ma 
principal. 
As dificuldades de compreensão de fala são as mais relatadas pelo tra-balhador 
portador de Pair, cujo padrão de fala poderá sofrer altera-ções, 
de acordo com o grau de perda auditiva.
20 
5.1.2 Efeitos não-auditivos da exposição ao ruído 
O ruído certamente não é o único fator presente no ambiente de tra-balho 
capaz de desencadear efeitos nocivos à saúde em geral, como 
nervosismo, irritabilidade, cefaléia, insônia, alterações circulatórias, al-teração 
de visão, alterações gastrointestinais, entre outros apontados 
como efeitos não-auditivos. 
Quando o consideramos como um fator de estresse, fica mais fácil a 
compreensão da sintomatologia apresentada. 
O estresse é definido por Selye (1936), como sendo uma “resposta não 
específica do corpo a qualquer exigência feita sobre ele; é o conjunto 
de defesas do corpo contra qualquer forma de estímulo nocivo. Por-tanto, 
estresse não é doença e sim tentativa de adaptação (reação de 
luta ou fuga)”. 
Os fatos em si não são estressantes, é a forma como cada indivíduo in-terpreta 
e reage a eles que os torna estressantes. Por isso, o estresse de-pende 
da relação entre a pessoa e o ambiente, que pode estar sobre-carregando 
ou excedendo os seus recursos e ameaçando o seu bem-estar. 
A sintomatologia do estresse é dividida em três etapas: na primeira, 
chamada de reação de alarme, observa-se aumento de pressão sangüí-nea, 
de freqüência cardíaca e respiratória, e diminuição da taxa de di-gestão; 
na segunda etapa, chamada de reação de resistência, o corpo 
começa a liberar estoques de açúcar e gordura, esgotando seus recur-sos, 
o que provoca cansaço, irritabilidade, ansiedade, problemas de me-mória 
e surgimento de doenças agudas como gripes; na terceira etapa, 
a da exaustão, os estoques de energia são esgotados, tornando o indi-víduo 
cronicamente estressado, observando-se, então, insônia, erros 
de julgamento, mudanças de personalidade, doenças crônicas corona-rianas, 
respiratórias, digestivas, mentais e outras (STELLMAN; DAUM, 
1975).
21 
São definidos como estressores psicossociais do ambiente de trabalho: 
a) Sobrecarga quantitativa: muito a fazer; excessiva pressão de 
tempo. 
b) Sobrecarga qualitativa: conteúdo da tarefa muito limitado; 
ausência de variações no trabalho; baixa demanda de criativi-dade; 
poucas oportunidades de interação social. 
c) Ausência de controle sobre o ambiente e sobre a organização 
do trabalho. 
d) Ausência de suporte social: relações inadequadas no traba-lho 
e em casa. 
Portanto, podemos concluir que, como o ruído é um agente de risco 
potencialmente estressor, pode trazer, como efeitos nocivos à saúde, 
não só os auditivos, mas toda uma gama de sintomatologia relaciona-da 
ao estresse, e que faz parte dos chamados efeitos não-auditivos. 
Dentro desses efeitos, é fundamental esclarecer melhor, aqueles rela-cionados 
à comunicação, importante conseqüência da perda auditi-va 
na vida do trabalhador, que se caracteriza tanto como uma das con-seqüências 
da lesão auditiva como também, diretamente, um fator de 
estresse. 
De acordo com os estudos de Hètu, Lalande e Getty (1987), o trabalha-dor 
apresenta, como conseqüências da Pair: 
• Em relação à percepção ambiental: dificuldades para ouvir 
sons de alarme, sons domésticos, dificuldade para com-preender 
a fala em grandes salas (igrejas, festas), necessi-dade 
de alto volume de televisão e rádio. 
• Problemas de comunicação: em grupos, lugares ruido-sos, 
carro, ônibus, telefone.
22 
Esses fatores podem provocar os seguintes efeitos: 
• Esforço e fadiga: atenção e concentração excessiva du-rante 
a realização de tarefas que impliquem a discrimina-ção 
auditiva. 
• Ansiedade: irritação e aborrecimentos causados pelo 
zumbido, intolerância a lugares ruidosos e a interações 
sociais, aborrecimento pela consciência da deterioração 
da audição. 
• Dificuldades nas relações familiares: confusões pelas difi-culdades 
de comunicação, irritabilidade pela incompre-ensão 
familiar. 
• Isolamento. 
• Auto-imagem negativa: vê-se como surdo, velho ou inca-paz. 
Sintetizando, Seligman (2001) indica como sinais e sintomas 
da Pair: 
a) Auditivos: 
• Perda auditiva. 
• Zumbidos. 
• Dificuldades no entendimento de fala. 
• Outros sintomas auditivos menos freqüentes: algiacusia, 
sensação de audição “abafada”, dificuldade na localiza-ção 
da fonte sonora. 
b) Não-auditivos: 
• Transtornos da comunicação. 
• Alterações do sono. 
• Transtornos neurológicos. 
• Transtornos vestibulares. 
• Transtornos digestivos. 
• Transtornos comportamentais.
23 
c) Outros efeitos do ruído 
• Transtornos cardiovasculares 
• Transtornos hormonais 
5.2 Avaliação da Pair 
A avaliação do trabalhador exposto a ruído consta de avaliação clínica e 
ocupacional, na qual pesquisa-se a exposição ao risco, pregressa e atual, 
considerando-se os sintomas característicos, descritos anteriormente. 
É importante o detalhamento da exposição, para que seja possível bus-car 
relações entre a exposição e os sinais e sintomas. Dessa forma, a ana-mnese 
ocupacional configura-se como instrumento fundamental para a 
identificação do risco. 
O conhecimento sobre o ambiente de trabalho também pode ser feito 
por meio de visita ao local, avaliação de laudos técnicos da própria em-presa 
e informações sobre fiscalizações, além do relato do paciente. 
5.2.1 A avaliação dos efeitos auditivos da Pair 
Para a confirmação da existência de alterações auditivas, é fundamen-tal 
a realização da avaliação audiológica. A avaliação audiológica é for-mada 
por uma bateria de exames: 
• Audiometria tonal por via aérea. 
• Audiometria tonal por via óssea. 
• Logoaudiometria. 
• Imitanciometria. 
Essa avaliação deve ser feita sob determinadas condições, estabeleci-das 
pela Portaria n.º 19, da Norma Regulamentadora n.º 7 (NR-7): 
• Utilização de cabina acústica. 
• Utilização de equipamento calibrado.
24 
• Repouso acústico de 14 horas. 
• Profissional qualificado para a realização do exame (mé-dico 
ou fonoaudiólogo). 
Essas condições são fundamentais para que o exame seja confiável, 
principalmente considerando-se que a audiometria tonal é um exame 
subjetivo. A necessidade do repouso auditivo se dá em função da exis-tência 
da Mudança Temporária de Limiar (MTL), que ocorre após ex-posição 
ao ruído e que pode ser confundida com uma Pair. Além des-ses 
fatores, definidos como extrínsecos ao exame, existem os fatores in-trínsecos, 
que se referem ao paciente e suas condições gerais, motiva-ção, 
inteligência, atenção, familiaridade com a tarefa, interpretação da 
instrução do exame. 
O resultado será compatível com Pair quando apresentar as caracterís-ticas 
descritas anteriormente. 
Existem várias classificações para avaliação da Pair, mas nenhuma de-las, 
na atualidade, consegue resolver todos os problemas de uma in-terpretação 
técnica e cientificamente fundamentada. Mais complexa 
ainda é a aplicabilidade destes critérios, sob o aspecto da classificação 
dos graus de incapacidade laborativa com finalidade médico-pericial 
(MENDES, 2003). 
5.2.2 Avaliação dos efeitos não-auditivos da Pair 
A avaliação dos efeitos não-auditivos da exposição ao ruído está re-lacionada 
com o significado da perda de audição e suas conseqüên-cias 
na vida diária do indivíduo. Essa avaliação se faz necessária para in-dicar 
de que forma e quanto essa perda auditiva está interferindo na 
vida pessoal e profissional do indivíduo, possibilitando o real dimen-sionamento 
do problema, assim como direcionando possíveis ações 
de reabi litação.
25 
Ela pode ser feita utilizando-se a própria anamnese ocupacional para 
caracterização dos sintomas não-auditivos que podem estar relaciona-dos 
à exposição ao ruído e à própria perda auditiva, assim como outros 
instrumentos padronizados específicos para o levantamento de difi-culdades 
de vida diária (principalmente comunicação) como questio-nários 
de auto-avaliação. 
Outro importante instrumento é a Classificação Internacional de Fun-cionalidade, 
Incapacidade e Saúde, publicada em 2003 pela Organiza-ção 
Mundial da Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde. O obje-tivo 
dessa classificação é proporcionar bases científicas para a compre-ensão 
e o estudo da saúde e dos casos relacionados à saúde. Ela forne-ce 
uma descrição de situações relacionadas ao funcionamento huma-no 
e suas restrições, envolvendo funções e estruturas corporais e ativi-dades 
e participação, relacionados às ações tanto individuais como co-letivas. 
Embora seja bastante adequada, essa classificação ainda não é 
de uso corrente no SUS. 
5.3 Diagnóstico diferencial 
É importante diferenciar a Pair de outros agravos auditivos que, apesar 
de terem o mesmo agente etiológico, também com possibilidade de 
ocorrência no ambiente de trabalho, possuem características diferen-tes 
e não são objetos deste Protocolo. Esses agravos são descritos abai-xo 
para conhecimento. 
5.3.1 Trauma acústico 
É uma perda auditiva súbita, decorrente de uma única exposição a ruí-do 
intenso (HUNGRIA, 1995). Quando ocorre uma explosão, a des-compressão 
brusca e violenta pode acarretar dor e lesões simultâne-as 
da orelha média, como rotura da membrana timpânica e/ou desar-ticulação 
dos ossículos, assim como distúrbios vestibulares (vertigem 
e perturbações de equilíbrio). Nesse caso, o som chegará com menor 
energia na orelha interna, lesando menos essa região.
26 
Geralmente, a intensidade sonora capaz de provocar trauma acústico é 
de 120dB(NA) ou 140dB(NPS), tendo como origem explosões de fogos 
de artifícios, disparos de armas de fogo, ruído de motores a explosão e 
alguns tipos de máquinas de grande impacto. 
O elemento causador dessa perda auditiva é, geralmente, muito trau-mático 
e a pessoa envolvida não tem dificuldade em especificar o iní-cio 
do problema auditivo. 
Normalmente, além da perda auditiva que é percebida de imediato, o 
paciente costuma relatar a presença de zumbido. Pode ocorrer uma 
melhora dos sintomas, após alguns dias. É recomendável a realização 
de avaliação audiológica, imediatamente depois de ocorrido o trauma, 
com repetição em intervalos aumentados, até a observação da estabi-lização 
do quadro audiológico. 
5.3.2 Mudança Transitória de Limiar (MTL) 
Também conhecida como TTS (Temporary Treshold Shift), é uma ele-vação 
do limiar de audibilidade que se recupera gradualmente, após a 
exposição ao ruído (SANTOS; MORATA, 1994). 
As variações na MTL ainda são controversas, mas, de maneira geral, ob-serva- 
se que: 
1 - Os ruídos de alta freqüência são mais nocivos que os de baixa 
freqüência, principalmente na faixa entre 2kHz a 6kHz. 
2 - A MTL começa a partir de uma exposição a 75dB(A) e, acima 
desse nível, ela aumentará proporcionalmente ao aumento 
de intensidade e duração do ruído.
27 
3 - A exposição contínua é mais nociva do que a interrompida. 
4 - A suscetibilidade individual segue uma distribuição normal. 
Segundo Merluzzi (1981), a recuperação dos limiares auditivos tem um 
andamento proporcional ao logaritmo do tempo, sendo que a maior 
parte da MTL é recuperada nas primeiras duas a três horas. O restante 
da recuperação pode levar até 16 horas para se completar, dependen-do 
da intensidade do estímulo. 
São observadas discretas alterações intracelulares, edema das termi-nações 
nervosas junto às células ciliadas, alterações vasculares, quími-cas 
e exaustão metabólica, além da diminuição da rigidez dos estereo-cílios, 
que ocasionam uma redução na capacidade das células em per-ceberem 
a energia sonora que as atingem (SANTOS; MORATA, 1994). 
Essas alterações podem ser reversíveis, de acordo com o tempo e a in-tensidade 
da exposição. 
A fadiga auditiva dessas estruturas pode ser considerada anormal 
quando a mudança de limiar permanece por mais de 16 horas, após o 
término da exposição. 
5.3.3 Situações possíveis no diagnóstico 
a) Quando o diagnóstico for feito a partir de apenas uma avalia-ção 
audiológica, deve-se considerar, principalmente que: 
• O tipo de perda auditiva é sempre neurossensorial. 
• A perda auditiva é geralmente bilateral, com padrões si-milares, 
podendo, em alguns casos, haver diferenças en-tre 
os graus de perda das orelhas. 
• Geralmente, não produz perda maior que 40dB(NA) nas 
freqüências baixas e que 75 dB(NA) nas altas. 
• O trabalhador portador de Pair pode desenvolver intole-rância 
a sons intensos, queixar-se de zumbido e diminui-ção 
de inteligibilidade da fala, com prejuízo da comuni-cação 
oral.
28 
b) Quando houver avaliações audiológicas anteriores, estas de-vem 
ser comparadas, procurando observar a ocorrência de 
progressão da perda auditiva, que na Pair tem seu início e pre-domínio 
nas freqüências de 3, 4 ou 6kHz, progredindo, pos-teriormente 
para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25kHz. Da mesma forma, deve 
ser considerado que, em condições estáveis de exposição, as 
perdas em 3, 4 ou 6kHz, geralmente atingirão um nível máxi-mo, 
em cerca de 10 a 15 anos. 
O diagnóstico deverá, portanto, englobar a avaliação clínica e ocupa-cional, 
seguida de avaliação audiológica, podendo ser feito em qual-quer 
dos níveis de atenção à saúde do SUS. 
5.3.4 Exposição ao ruído não relacionada ao trabalho 
É freqüente a exposição de trabalhadores ao ruído em atividades de 
lazer. Por apresentarem configuração clínica e audiológica semelhan-te 
a das perdas auditivas relacionadas ao trabalho, devem sempre ser 
lembradas e pesquisadas. Hábitos exagerados com música, prática de 
tiro e caça, esportes que envolvem motores, oficinas caseiras, entre ou-tros 
são itens obrigatórios da anamnese (IBAÑEZ; SCHNEIDER; SELIG-MAN, 
2001). 
5.4 Tratamento e reabilitação 
Não existe até o momento tratamento para Pair. O fundamental, além da 
notificação que dará início ao processo de vigilância em saúde, é o acom-panhamento 
da progressão da perda auditiva por meio de avaliações au-diológicas 
periódicas. Essas avaliações podem ser realizadas em serviço 
conveniado da empresa onde o trabalhador trabalha ou na rede públi-ca 
de saúde, na atenção secundária ou terciária, que dispuser do serviço. 
A reabilitação pode ser feita por meio de ações terapêuticas individuais e 
em grupo, a partir da análise cuidadosa da avaliação audiológica do tra-balhador. 
Esse serviço poderá ser realizado na atenção secundária ou ter-ciária, 
desde que exista o profissional capacitado, o fonoaudiólogo.
29 
É importante esclarecer que a Pair não provoca incapacidade para o tra-balho, 
entretanto, pode ocasionar limitações na realização de tarefas di-versas. 
Cada caso deverá ser avaliado em relação às dificuldades apresen-tadas 
para orientar as ações de reabilitação do trabalhador e adequação 
do ambiente de trabalho. 
5.5 Prevenção 
Sendo o ruído um risco presente nos ambientes de trabalho, as ações de 
prevenção devem priorizar esse ambiente. Como descrito anteriormen-te, 
existem limites de exposição preconizados pela legislação, bem como 
orientações sobre programas de prevenção e controle de riscos, os quais 
devem ser seguidos pela empresa. Cabe ao Ministério do Trabalho, por 
meio das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT), e ao serviço de vigi-lância 
à saúde a fiscalização do cumprimento da legislação pertinente. 
Para isso, é fundamental que primeiro seja feita uma detalhada obser-vação 
do processo produtivo, por meio da qual serão localizados os 
pontos de maior risco auditivo (considerando-se também número e 
idade dos expostos), o tipo de ruído, as características da função e os 
horários de maior ritmo de produção. Essas informações são obtidas 
pela observação direta, levantamento de documentação da empresa e 
conversa com os trabalhadores. 
As empresas devem manter, de acordo com as Normas Regulamenta-doras 
do Ministério do Trabalho, um Programa de Prevenção de Ris-cos 
Ambientais (PPRA–NR9), no qual os diversos riscos existentes no 
trabalho devem ser identificados e quantificados para, a partir des-sa 
informação, direcionar as ações do Programa de Controle Médico 
de Saúde Ocupacional (PCMSO-NR7), que procederá às avaliações de 
saúde dos trabalhadores. 
Em relação ao risco ruído, existe um programa específico para seu ge-renciamento, 
o qual esquematicamente pode ser assim apresentado 
(FIORINI; NASCIMENTO, 2001):
30 
1. Designação de responsabilidade: momento de atribuição de 
responsabilidades para cada membro da equipe envolvido. 
2. Avaliação, gerenciamento e controle dos riscos: etapa na qual, 
a partir do conhecimento da situação de risco, são estabeleci-das 
as metas a serem atingidas. 
3. Gerenciamento audiométrico: estabelece os procedimentos 
de avaliação audiológica e seguimento do trabalhador expos-to 
a ruído. 
4. Proteção auditiva: análise para escolha do tipo mais adequa-do 
de proteção auditiva individual para o trabalhador. 
5. Treinamento e programas educacionais: desenvolvimento de 
estratégias educacionais e divulgação dos resultados de cada 
etapa do programa. 
6. Auditoria do programa de controle: garante a contínua ava-liação 
da eficácia das medidas adotadas. 
As ações de controle da Pair estão relacionadas ao controle do ruído. 
São as medidas de controle da exposição na fonte, na trajetória e no 
indivíduo. Além dessas, podemos dispor de medidas organizacionais, 
como redução de jornada, estabelecimento de pausas e mudança de 
função. 
A avaliação audiológica periódica permite o acompanhamento da pro-gressão 
da perda auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade 
e com o tempo de exposição, além da suscetibilidade individual. A velo-cidade 
da progressão da perda auditiva determinará a eficácia das me-didas 
de proteção tomadas e a necessidade da aplicação de outras. Os 
efeitos extra-auditivos devem ser considerados nessa avaliação, apesar 
de não serem previstos pela legislação. 
As ações educativas junto aos trabalhadores, para que compreendam 
a dimensão do problema e as formas de evitá-lo, são fundamentais no 
controle da Pair.
31 
A avaliação constante do programa é importante para verificar sua efi-cácia. 
A melhor forma de prevenção é a informação. Portanto, ao saber que 
o ruído provoca perda auditiva e que sua acuidade auditiva deve ser 
acompanhada, o trabalhador já ficará mais sensibilizado para essa 
questão e poderá buscar orientações especializadas num Centro de 
Referência de Saúde do Trabalhador. 
Cabe, portanto, a todos os níveis de atenção à saúde, o acolhimento 
deste trabalhador, fornecendo as informações básicas e dando início 
ao processo de diagnóstico, notificação e acompanhamento do caso. 
Considerando-se que a perda auditiva é irreversível e progressiva e que 
poderia ser evitada com a eliminação ou redução da exposição, é fun-damental 
que qualquer caso de Pair seja indicativo de necessidade de 
fiscalização e intervenção. 
O serviço de assistência à saúde, em qualquer nível, deve orientar o tra-balhador 
a respeito do risco auditivo e acompanhar sua condição audi-tiva 
no decorrer do tempo, dando subsídios aos serviços de fiscalização 
e recebendo outros casos, por eles encaminhados. 
5.6 Notificação 
Todo caso de Perda Auditiva Induzida por Ruído é passível de notifica-ção 
compulsória pelo SUS, segundo parâmetro da Portaria GM/MS/ 
N.º 777, de 28 de abril de 2004. 
Da mesma forma, todo caso de PAIR deve ser comunicado à Previdên-cia 
Social, por meio de abertura de comunicação de Acidente de Tra-balho 
(CAT).
32 
Os exames audiométricos dos trabalhadores avaliados devem ser in-cluídos, 
via web, no sistema de cadastro de exames audiométricos. Te-rão 
acesso ao sistema (e a conseqüente obrigatoriedade de inclusão de 
todo exame audiométrico realizado ou solicitado) os Centros de Refe-rência 
em Saúde do Trabalhador e, após pactuação mediada pela res-ponsável 
estadual, os serviços especializados de otorrinolaringologia 
ou de audiologia, públicos ou privados. As unidades básicas de saúde 
que realizarem notificações de Pair devem enviar ao Cerest mais próxi-mo 
cópia do exame para sua inclusão.
33 
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ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CIF – Classificação 
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde: 
classificação detalhada com definições. [S. l.], 2003. 
PRÓSPERO, A. C. Estudo dos efeitos do ruído em servidores do 
Centro Técnico Aeroespacial. 1999. Dissertação (Mestrado)– 
Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1999. 
SAMELLI, A. G. Zumbido: avaliação, diagnóstico e 
reabilitação: abordagens atuais. São Paulo: Lovise, 2004. 
SANTOS, U. P.; MORATA, T. C. Efeitos do ruído na 
audição. In: SANTOS, U. P. (Org.). Ruído: riscos e 
prevenção. São Paulo: HUCITEC, 1994. p. 7-23.
38 
SELIGMAN, J. Sintomas e sinais na Pair. In: NUDELMANN, 
A. A. et al. Pair – Perda Auditiva Induzida pelo 
Ruído. Rio de Janeiro, Revinter, 2001. 
SELYE, H. A syndrome produced by diverse nocious 
agents. Nature, [S. l.], v. 32, n. 138, 1936. 
SILVA, L. F. Estudo sobre a exposição combinada entre 
ruído e vibração de corpo inteiro e os efeitos na audição de 
trabalhadores. 2002. Tese (Doutorado)–Faculdade de Saúde 
Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. 
STELLMAN, J. M.; DAUM, S. M. Trabalho e saúde 
na indústria. São Paulo: EPU/EDUSP, 1975. 
VESTERAGER, V. Tinnitus: investigation and 
management. BJM, [S. l.], v. 314, p. 728-731, 1997.
39 
ANEXO 
Anexo A – FLUXOGRAMA 
Paciente com sintomas 
sugestivos de Pair ou exposto 
a ruídos no local de trabalho 
Há evidências 
de exposição 
a ruído no 
trabalho? 
Sim 
Sinais e Sintomas de Pair: 
Auditivos 
 
Perda auditiva 
 
Zumbidos 
 
Dificuldades no entendimento de fala 
 
Algiacusia 
 
Sensação de audição “abafada” 
 
Dificuldade na localização 
da fonte sonora 
Não-auditivos 
Transtornos da comunicação 
Alterações do sono 
Transtornos neurológicos 
Transtornos vestibulares 
Transtornos digestivos 
 
 
 
 
 
 Tr anstornos comportamentais 
Critérios Diagnósticos de Pair 
 Si nais e sintomas característicos 
 Au diometria compatível 
 Ex posição a níveis sonoros elevados 
Atenção Básica ou Local de Atendimento Média e / ou Alta Complexidade 
Vigilância do 
ambiente de 
trabalho 
Anamnese e 
investigação da 
exposição a ruído e 
exame físico com 
otoscopia 
Realizar ações de 
controle e prevenção 
Paciente 
possui exame 
audiométrico 
prévio 
( até 1 a no) ? 
É possível o médico 
realizar o diagnóstico 
com a história do 
paciente + exame 
audiométrico 
disponível ? 
Encaminhar para 
serviço especializado 
p / avaliação médica e 
audiológica 
Tratamento e 
reabilitação 
Notificar Sinan 
Investigação 
diagnóstica 
sugere 
Pair ? 
Sim 
Acompanhamento 
clínico 
Não 
Não 
Sim 
Não 
Notificação , 
reabilitação e 
investigação 
Encaminhar para 
otorrinolaringologista 
Não 
Há sintomas 
auditivos ? 
Sim 
Encaminhar para 
o Centro de 
Referência 
Inconclusivo 
Reavaliação 
Sim 
Perda Auditiva Induzida por Ruído
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada 
na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: 
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O conteúdo desta e de outras obras da Editora do Ministério da Saúde 
pode ser acessado gratuitamente na página: 
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Protocolo perda auditiva

  • 1. MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Série A. Normas e Manuais Técnicos Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) Brasília – DF 2006 5 Saúde do Trabalhador Protocolos de Complexidade Diferenciada
  • 2. © 2006 Ministério da Saúde. Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra é da área técnica. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs O conteúdo desta e de outras obras da Editora do Ministério da Saúde pode ser acessado na página: http://www.saude.gov.br/editora Série A. Normas e Manuais Técnicos Tiragem: 1.ª edição – 2006 – 10.000 exemplares Elaboração, distribuição e informações: MINISTÉRIO DA SAÚDE Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Ações Programáticas Estratégicas Área Técnica de Saúde do Trabalhador Esplanada dos Ministérios, bloco G, Edifício Sede, sala 603 70058-900, Brasília – DF Tel.: (61) 3315-2610 Fax: (61) 3226-6406 E-mail: cosat@saude.gov.br Home page: http://www.saude.gov.br/trabalhador Texto: Alice Penna de Azevedo Bernardi Ana Cláudia Fiorini Everardo Andrade da Costa Raul Nielsen Ibañez Teresa Raquel Ribeiro de Sena Organização: Márcia Tiveron de Souza Organização da Série Saúde do Trabalhador: Elizabeth Costa Dias Marco Antônio Gomes Pérez Maria da Graça Luderitz Hoefel Fluxograma: Cláudio Juliano da Costa Ficha Catalográfi ca Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Perda auditiva induzida por ruído (Pair) / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2006. 40 p. : il. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos) (Saúde do Trabalhador ; 5. Protocolos de Com-plexidade Diferenciada) ISBN 85-334-1144-8 1. Perda auditiva. 2. Riscos ocupacionais. 3. Saúde ocupacional. I. Título. II. Série. NLM WV 270 Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2006/0444 Títulos para indexação: Em inglês: Noise-Induced Hearing Loss – NIHL Em espanhol: Pérdida Auditiva Inducida por Ruido – Pair EDITORA MS Documentação e Informação SIA, trecho 4, lotes 540/610 CEP: 71200-040, Brasília – DF Tels.: (61) 3233-1774/2020 Fax: (61) 3233-9558 Home page: http://www.saude.gov.br/editora E-mail: editora.ms@saude.gov.br Equipe Editorial: Normalização: Juliane de Sousa Revisão: Lilian Assunção e Daniele Thiebaut Capa, projeto gráfi co e diagramação: Fabiano Bastos Impresso no Brasil / Printed in Brazil
  • 3. SUMÁRIO Apresentação, 5 1 Introdução, 7 1.1 Ruído, 8 2 Escopo, 13 2.1 Definição, 13 2.2 Tipo de protocolo, 13 2.3 Público-Alvo , 13 2.4 Objetivo, 14 2.5 Benefícios, 14 3 Epidemiologia, 15 4 Metodologia de elaboração do protocolo, 16 5 Recomendações, 17 5.1 Diagnóstico, 17 5.1.1 Efeitos auditivos da exposição ao ruído, 17 5.1.2 Efeitos não-auditivos da exposição ao ruído, 20 5.2 Avaliação da Pair, 23 5.2.1 A avaliação dos efeitos auditivos da Pair, 23 5.2.2 Avaliação dos efeitos não-auditivos da Pair, 24 5.3 Diagnóstico diferencial, 25 5.3.1 Trauma acústico, 25 5.3.2 Mudança Transitória de Limiar (MTL), 26 5.3.3 Situações possíveis no diagnóstico, 27 5.3.4 Exposição ao ruído não-relacionada ao trabalho, 28
  • 4. 5.4 Tratamento e reabilitação, 28 5.5 Prevenção, 29 5.6 Notificação, 31 Referências bibliográficas, 33 Anexo, 39 Anexo A – Fluxograma, 39
  • 5. 5 APRESENTAÇÃO A saúde, como direito universal e dever do Estado, é uma conquista do cidadão brasileiro, expressa na Constituição Federal e regulamenta-da pela Lei Orgânica da Saúde. No âmbito deste direito encontra-se a saúde do trabalhador. Embora o Sistema Único de Saúde (SUS), nos últimos anos, tenha avan-çado muito em garantir o acesso do cidadão às ações de atenção à saúde, somente a partir de 2003 as diretrizes políticas nacionais para a área começam a ser implementadas. Tais diretrizes são: • Atenção Integral à Saúde dos Trabalhadores; • Articulação Intra e Intersetoriais; • Estruturação de Rede de Informações em Saúde do Traba-lhador; • Apoio ao Desenvolvimento de Estudos e Pesquisas; • Desenvolvimento e Capacitação de Recursos Humanos; • Participação da Comunidade na Gestão das Ações em Saúde do Trabalhador. Entre as estratégias para a efetivação da Atenção Integral à Saúde do Trabalhador, destaca-se a implementação da Rede Nacional de Aten-ção Integral à Saúde do Trabalhador (BRASIL, 2005), cujo objetivo é in-tegrar a rede de serviços do SUS voltados à assistência e à vigilância, além da notificação de agravos à saúde relacionados ao trabalho em rede de serviços sentinela (BRASIL, 2004)1. 1 Os agravos à saúde relacionados ao trabalho, de notifi cação compulsória que constam na Portaria n.º 777/04, são: acidentes de trabalho fatais, com mutilações, com exposição a materiais biológicos, com crianças e adolescentes, além dos casos de dermatoses ocupacio-nais, intoxicações por substâncias químicas (incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados), Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort), pneumoconioses, Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) e câncer rela-cionado ao trabalho.
  • 6. 6 Com o intuito de atender os trabalhadores com suspeita de agravos à saúde relacionados ao trabalho, incluindo os procedimentos com-preendidos entre o primeiro atendimento até a notificação, esta série de publicações “Complexidade Diferenciada” oferece recomendações e parâmetros para seu diagnóstico, tratamento e prevenção. Trata-se, pois, de dotar o profissional do SUS de mais um instrumen-to para o cumprimento de seu dever enquanto agente de Estado, con-tribuindo para melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e, por conseguinte, para a garantia de seu direito à saúde. Ministério da Saúde Área Técnica de Saúde do Trabalhador
  • 7. 7 1 INTRODUÇÃO Quando se estudam as perdas auditivas de origem ocupacional, deve-se levar em conta que há outros agentes causais que não somente po-dem gerar perdas auditivas, independentemente de exposição ao ruí-do, mas também, ao interagir com este, potencializar os seus efeitos sobre a audição. Entre outros, podem ser citados a exposição a certos produtos químicos, as vibrações e o uso de alguns medicamentos. Morata e Lemasters (1995) propuseram a utilização do termo “perda auditiva ocupacional”, por ser mais abrangente, considerando o ruído, sem dúvida, como o agente mais comum, mas sem ignorar a existência de outros, com todas as implicações que estes pudessem originar em termos de diagnóstico, medidas preventivas, limites de segurança, le-gislação, etc. Em 1996, o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH) publicou o Guia Prático para Prevenção de Perda Auditiva Ocupacional, utilizando o termo “perda auditiva ocupacional”, que incorpora não só a perda auditiva induzida por ruído, mas também aquelas provocadas por exposições a solventes aromáticos, metais e alguns asfixiantes, além de vibração, incentivando a pesquisa desses e de outros fatores potencialmente geradores de perda auditiva (FIORINI; NASCIMENTO, 2001). Considerando que o conhecimento acumulado nessa área é bem maior no que se refere à Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) e que esse Protocolo é destinado a toda rede de atenção à saúde do SUS, que de-verá iniciar um trabalho de identificação e notificação dos casos de perdas auditivas relacionadas ao trabalho, optou-se por restringir es-ses casos à Pair, acreditando que isso irá viabilizar o processo de notifi-
  • 8. 8 cação nessa fase inicial. O texto será revisto em outra oportunidade, a partir das experiências da rede SUS. 1.1 Ruído O ruído já faz parte do nosso dia-a-dia. E isso se inicia cada vez mais cedo, pois é possível observar em gestantes que trabalham expostas a níveis elevados de ruído, principalmente quando o trabalho é realiza-do em turnos, desde lesões auditivas irreversíveis no feto (LALANDE; HETÚ; LAMBERT, 1986) até problemas na gestação, como hipertensão, hiperemese gravídica, parto prematuro e bebês de baixo peso (NUR-MINEN; KURPA, 1989; NURMINEN, 1995; HARTIKAINEN et al., 1994). Caso necessite de incubadora, o bebê ficará exposto a níveis de pressão sonora de aproximadamente 61dB(A), que podem atingir até 130 ou 140dB(A), de acordo com as manobras realizadas (BESS; FINLAYSON; CHAPMAN, 1979). Quando for para casa, o bebê, e depois a criança, terá ao seu redor brinquedos que podem atingir 100dB(A) (CELANI, 1991) e eletrodomésticos que produzem ruídos de semelhante intensi-dade. Na escola, onde permanece em média quatro horas por dia, o ruí-do pode atingir até 94,3dB(A), com a média 70dB(A) (CELANI; BEVI-LÁCQUA; RAMOS,1994; FRANÇA, 2000). Quando se tornar um ado-lescente, serão agregados a essa exposição seus hábitos de lazer (moto-cicleta, discoteca, walkman) e o ruído urbano. Ao entrar na fase adulta, esse indivíduo poderá passar de 8 a 12 horas por dia, em média, expos-to a elevados níveis de pressão sonora em seu ambiente de trabalho. A Conferência da Terra (ECO 92), realizada no Rio de Janeiro, em 1992, endossou a Agenda 21, um programa de ação mundial para a promo-ção do desenvolvimento sustentável, que envolve modificação de con-ceitos e práticas referentes ao desenvolvimento econômico e social. Neste contexto, o ruído foi considerado a terceira maior causa de po-luição ambiental, atrás da poluição da água e do ar. O ruído pode ser visto como o risco de agravo à saúde que atinge maior número de tra-balhadores. Estudos apresentados na ECO 92 indicam que 16% da po-
  • 9. 9 pulação dos países ligados à Cooperação de Desenvolvimento Econô-mico (ODCE), algo em torno de 110 milhões de pessoas, está exposta a níveis de ruído que provocam doenças no ser humano. Esse estilo de vida, nem sempre opcional, leva à incorporação do ruído às nossas vidas, como se fosse algo natural e, portanto, inofensivo. Esse comportamento, bastante nocivo à saúde, torna-se mais perigo-so quando se trata de ruído no ambiente de trabalho, pela sua intensi-dade, tempo de exposição e efeitos combinados com outros fatores de risco, como produtos químicos ou vibração (SILVA, 2002). Agentes químicos ou ambientais podem, em alguns casos, causar per-das auditivas com as mesmas características audiométricas das perdas por ruído (MORATA; LEMASTERS, 1995), havendo alta variabilidade entre os casos, a qual pode ser atribuída aos seguintes fatores: multi-plicidade de produtos químicos existentes (com diferentes estruturas moleculares), diferenças entre ambientes de trabalho, infinitas combi-nações de produtos químicos e variações na intensidade e nos parâme-tros de exposição – aguda, intermitente ou crônica. As investigações publicadas até o momento indicam que os efeitos dos solventes podem ser detectados a partir de dois ou três anos de expo-sição, mais precocemente do que os efeitos do ruído (MORATA et al., 1993; MORATA; DUNN; SIEB, 1997). Um outro estudo, entretanto, so-mente detectou efeito significante dos solventes a partir de cinco anos de exposição (JACOBSEN et al., 1993). A questão da latência depende, certamente, do produto em consideração e das características da ex-posição, e necessita ser explorada mais extensivamente. As propriedades ototóxicas de produtos químicos industriais e a in-teração destes com o ruído somente foram investigadas para um nú-mero reduzido de substâncias. Neste cenário, devem ser obtidas infor-mações sobre a toxicidade e neurotoxicidade das exposições químicas
  • 10. 10 e das queixas apresentadas pelas populações expostas. Estas servirão para uma avaliação preliminar de risco potencial à audição, para que então seja possível a tomada de decisões quanto às medidas de avalia-ção e prevenção a serem adotadas. O som é definido como qualquer perturbação vibratória em um meio elástico, que produza sensação auditiva (MERLUZZI, 1981). O ruído é um sinal acústico aperiódico, originado da superposição de vários mo-vimentos de vibração com diferentes freqüências que não apresentam relação entre si (FELDMAN; GRIMES, 1985). Portanto, do ponto de vis-ta da Acústica Física, podemos dizer que a definição de ruído é englo-bada pela definição de som. Em relação a Psicoacústica, enquanto o som é utilizado para descrever sensações prazerosas, o ruído é usado para descrever sons indesejáveis ou desagradáveis, o que traz um aspecto de subjetividade à sua definição. Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada, em média 85dB(A) por oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na ore-lha interna, que determinam a ocorrência da Pair (CID 10 – H83.3). A Pair é o agravo mais freqüente à saúde dos trabalhadores, estando pre-sente em diversos ramos de atividade, principalmente siderurgia, me-talurgia, gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros. Além dos sintomas auditivos freqüentes – quais sejam perda auditiva, di-ficuldade de compreensão de fala, zumbido e intolerância a sons inten-sos –, o trabalhador portador de Pair também apresenta queixas, como cefaléia, tontura, irritabilidade e problemas digestivos, entre outros. Morata e Lemasters (2001) observam a importância de estudos sobre a Pair, utilizando o método epidemiológico, o que traz confiabilida-de aos resultados obtidos e permite a reprodução desses mesmos es-tudos.
  • 11. 11 Quando a exposição ao ruído é de forma súbita e muito intensa, pode ocorrer o trauma acústico, lesando, temporária ou definitivamente, di-versas estruturas do ouvido. Outro tipo de alteração auditiva provoca-do pela exposição ao ruído intenso é a mudança transitória de limiar, que se caracteriza por uma diminuição da acuidade auditiva que pode retornar ao normal, após um período de afastamento do ruído. A Norma Regulamentadora n.º 15 (NR-15), da Portaria MTb n.º 3.214/1978 (BRASIL, 1978), estabelece os limites de exposição a ruído contínuo, conforme a Tabela 1, a seguir. Tabela 1 – Limites de Tolerância (LTs) para ruído contínuo ou in-termitente (NR-15) Nível de ruído dB(A) Máxima exposição diária permissível 85 8 horas 86 7 horas 87 6 horas 88 5 horas 89 4 horas e 30 minutos 90 4 horas 91 3 horas e 30 minutos 92 3 horas 93 2 horas e 30 minutos 94 2 horas 95 1 hora e 45 minutos 98 1 hora e 15 minutos 100 1 hora 102 45 minutos 104 35 minutos 105 30 minutos 106 25 minutos 108 20 minutos 110 15 minutos 112 10 minutos 114 8 minutos 115 7 minutos
  • 12. 12 O limite de tolerância para ruído do tipo impacto será de 130dB(A), de acordo com a NR-15. Nos intervalos entre os picos, o ruído existente deverá ser avaliado como ruído contínuo. Como conseqüência à exposição continuada a ruído elevado, o traba-lhador pode apresentar a Pair.
  • 13. 13 2 ESCOPO 2.1 Definição Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) é a perda provocada pela ex-posição por tempo prolongado ao ruído. Configura-se como uma per-da auditiva do tipo neurossensorial, geralmente bilateral, irreversível e progressiva com o tempo de exposição ao ruído (CID 10 – H 83.3). Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruí-do no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disa-cusia ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pres-são sonora, perda auditiva induzida por ruído ocupacional, perda au-ditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora de origem ocupacional. 2.2 Tipo de protocolo Este tipo de protocolo tem a função de articulação, no âmbito do SUS, de ações de prevenção, promoção, diagnóstico, tratamento, reabilita-ção e vigilância em saúde do trabalhador, urbano e rural, independen-temente do vínculo empregatício e do tipo de inserção no mercado de trabalho. 2.3 Público-Alvo Este Protocolo se destina a todos os profissionais de saúde da rede SUS, nos seus três níveis de atenção, e a outros que lidam com os diversos aspectos decorrentes da perda auditiva, tais como assistentes sociais, auditores fiscais, enfermeiros, engenheiros, epidemiologistas, fisiotera-peutas, fonoaudiólogos, peritos, profissionais da área de Vigilância em Saúde do Trabalhador, médicos, toxicologistas, químicos, etc.
  • 14. 14 2.4 Objetivo Este Protocolo tem como objetivo auxiliar os profissionais da rede do SUS a identificar e notificar os casos de Pair, conforme determina a Por-taria n.º 777, de 28/4/04 (BRASIL, 2004), bem como dar subsídios aos órgãos de vigilância para intervenções nos ambientes de trabalho. 2.5 Benefícios A adoção do Protocolo estabelece a utilização de critérios definidos em consenso por especialistas e permite uniformidade no tratamento e na leitura epidemiológica dos dados, o que contribuirá para a identi-ficação da real magnitude de casos de perda auditiva em trabalhado-res relacionados à exposição ao ruído e/ou às substâncias químicas no Brasil, e permitirá iniciar um processo de vigilância no País. A partir da notificação da Pair, será possível conhecer sua prevalência para tornar eficaz qualquer planejamento de ações de capacitação e organização de recursos em função da capacidade instalada necessá-ria para prevenir e diagnosticar Pair, assim como reabilitar os portado-res dessa doença. Essas ações poderiam evitar que inúmeros trabalhadores fossem ex-cluídos do mercado de trabalho, o que gera graves conseqüências ao País, apesar de não apresentarem incapacidade por serem portadores de perda auditiva.
  • 15. 15 3 EPIDEMIOLOGIA Os dados epidemiológicos sobre perda auditiva no Brasil são escassos e referem-se a determinados ramos de atividades e, portanto, não há re-gistros epidemiológicos que caracterizem a real situação. Os dados dis-poníveis sobre as ocorrências dão uma idéia parcial da situação de ris-co relacionada à perda auditiva. Estima-se que 25% da população trabalhadora exposta (BERGSTRÖM; NYSTRÖM, 1986; CARNICELLI, 1988; MORATA, 1990; PRÓSPERO, 1999) seja portadora de Pair em algum grau. Apesar de ser o agravo mais freqüente à saúde dos trabalhadores, ainda são pouco conheci-dos seus dados de prevalência no Brasil. Isso reforça a importância da notificação, que torna possível o conhecimento da realidade e o di-mensionamento das ações de prevenção e assistência necessárias.
  • 16. 16 4 METODOLOGIA DE ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO • Elaboração, envio e análise de questionário enviado aos Cerests, para conhecer suas experiências e necessidades em relação aos casos de Pair. • Revisão bibliográfica e elaboração do texto-base. • Reunião com especialistas para avaliação do documen-to- base. • Envio para publicação e consulta pública. • Revisão pós-consulta pública. • Redação final.
  • 17. 17 5 RECOMENDAÇÕES 5.1 Diagnóstico 5.1.1 Efeitos auditivos da exposição ao ruído A maior característica da Pair é a degeneração das células ciliadas do órgão de Corti. Recentemente tem sido demonstrado o desencade-amento de lesões e de apoptose celular em decorrência da oxidação provocada pela presença de radicais livres formados pelo excesso de estimulação sonora ou pela exposição a determinados agentes quími-cos. Esses achados têm levado ao estudo de substâncias e condições capazes de proteger as células ciliadas cocleares contra as agressões do ruído e dos produtos químicos (OLIVEIRA, 2001, 2002; HYPPOLI-TO, 2003). Em 1998, o Comitê Nacional de Ruído e Conservação Auditiva definiu como características da Pair: • Ser sempre neurossensorial, uma vez que a lesão é no ór-gão de Corti da orelha interna. • Ser geralmente bilateral, com padrões similares. Em algu-mas situações, observam-se diferenças entre os graus de perda das orelhas. • Geralmente, não produzir perda maior que 40dB(NA) nas freqüências baixas e que 75dB(NA) nas altas. • A sua progressão cessa com o fim da exposição ao ruído intenso. • A presença de Pair não torna a orelha mais sensível ao ruí-do; à medida que aumenta o limiar, a progressão da per-da se dá de forma mais lenta. • A perda tem seu início e predomínio nas freqüências de 3, 4 ou 6 kHz, progredindo, posteriormente, para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25 kHz.
  • 18. 18 • Em condições estáveis de exposição, as perdas em 3, 4 ou 6 kHz, geralmente atingirão um nível máximo, em cerca de 10 a 15 anos. • O trabalhador portador de Pair pode desenvolver intole-rância a sons intensos, queixar-se de zumbido e de dimi-nuição de inteligibilidade da fala, com prejuízo da comu-nicação oral. O American College of Occupational and Environmental Medicine (Acoem), em 2003, apresenta como principais características da Pair: • Perda auditiva sensório-neural com comprometimento das células ciliadas da orelha interna. • Quase sempre bilateral. • Seu primeiro sinal é um rebaixamento no limiar audiomé-trico de 3, 4 ou 6kHz. No início da perda, a média dos li-miares de 500, 1 e 2kHz é melhor do que a média de 3,4 ou 6kHz. O limiar de 8kHz tem que ser melhor do que o pior limiar. • Em condições normais, apenas a exposição ao ruído não produz perdas maiores do que 75dB em freqüências altas e do que 40dB nas baixas. • A progressão da perda auditiva decorrente da exposição crônica é maior nos primeiros 10 a 15 anos e tende a di-minuir com a piora dos limiares. • Evidências científicas indicam que a orelha com exposições prévias a ruído não são mais sensíveis a futuras exposições. Uma vez cessada a exposição, a Pair não progride. • O risco de Pair aumenta muito quando a média da expo-sição está acima de 85dB(A) por oito horas diárias. As ex-posições contínuas são piores do que as intermitentes, porém, curtas exposições a ruído intenso também po-dem desencadear perdas auditivas. Quando o histórico identificar o uso de protetores auditivos, deve ser consi-derada a atenuação real do mesmo, assim como a varia-bilidade individual durante o seu uso.
  • 19. 19 A deficiência auditiva provocada pela exposição continuada a ruído pode provocar diversas limitações auditivas funcionais, as quais refe-rem- se, além da alteração da sensibilidade auditiva, às alterações de se-letividade de freqüência, das resoluções temporal e espacial, do recru-tamento e do zumbido (SAMELLI, 2004). A alteração da seletividade de freqüência provoca dificuldades na dis-criminação auditiva. Essa lesão provoca aumento do tempo mínimo requerido para resolver um evento sonoro (resolução temporal), o que, principalmente associado com a reverberação dos ambientes de trabalho, provoca limitação da capacidade do portador de Pair em re-conhecer sons (BAMFORD; SAUNDERS, 1991). Quando o indivíduo é portador de uma Pair, que tem como caracte-rística ser neurossensorial, ocorre uma redução na faixa dinâmica en-tre o limiar auditivo e o limiar de desconforto, provocando um aumen-to na ocorrência de recrutamento (fenômeno de crescimento rápido e anormal da sensação de intensidade sonora) e, portanto, um aumento da sensação de desconforto. Isso é comum nos ambientes de trabalho com elevados níveis de pressão sonora. O zumbido é um dos sintomas mais comumente relatados pelos por-tadores de Pair, e provoca muito incômodo (KANDEL; SCHWARTZ; JUSSEL, 2003). Ele é definido como sendo a manifestação do mau fun-cionamento, no processamento de sinais auditivos envolvendo com-ponentes perceptuais e psicológicos (VESTERAGER, 1997). Num estu-do com 3.466 trabalhadores requerentes de indenização por Pair, Mc Shane, Hyde Alberti (1988) observaram uma prevalência de zumbi-do de 49,8%. Destes, 29,2% afirmaram que o zumbido era o proble-ma principal. As dificuldades de compreensão de fala são as mais relatadas pelo tra-balhador portador de Pair, cujo padrão de fala poderá sofrer altera-ções, de acordo com o grau de perda auditiva.
  • 20. 20 5.1.2 Efeitos não-auditivos da exposição ao ruído O ruído certamente não é o único fator presente no ambiente de tra-balho capaz de desencadear efeitos nocivos à saúde em geral, como nervosismo, irritabilidade, cefaléia, insônia, alterações circulatórias, al-teração de visão, alterações gastrointestinais, entre outros apontados como efeitos não-auditivos. Quando o consideramos como um fator de estresse, fica mais fácil a compreensão da sintomatologia apresentada. O estresse é definido por Selye (1936), como sendo uma “resposta não específica do corpo a qualquer exigência feita sobre ele; é o conjunto de defesas do corpo contra qualquer forma de estímulo nocivo. Por-tanto, estresse não é doença e sim tentativa de adaptação (reação de luta ou fuga)”. Os fatos em si não são estressantes, é a forma como cada indivíduo in-terpreta e reage a eles que os torna estressantes. Por isso, o estresse de-pende da relação entre a pessoa e o ambiente, que pode estar sobre-carregando ou excedendo os seus recursos e ameaçando o seu bem-estar. A sintomatologia do estresse é dividida em três etapas: na primeira, chamada de reação de alarme, observa-se aumento de pressão sangüí-nea, de freqüência cardíaca e respiratória, e diminuição da taxa de di-gestão; na segunda etapa, chamada de reação de resistência, o corpo começa a liberar estoques de açúcar e gordura, esgotando seus recur-sos, o que provoca cansaço, irritabilidade, ansiedade, problemas de me-mória e surgimento de doenças agudas como gripes; na terceira etapa, a da exaustão, os estoques de energia são esgotados, tornando o indi-víduo cronicamente estressado, observando-se, então, insônia, erros de julgamento, mudanças de personalidade, doenças crônicas corona-rianas, respiratórias, digestivas, mentais e outras (STELLMAN; DAUM, 1975).
  • 21. 21 São definidos como estressores psicossociais do ambiente de trabalho: a) Sobrecarga quantitativa: muito a fazer; excessiva pressão de tempo. b) Sobrecarga qualitativa: conteúdo da tarefa muito limitado; ausência de variações no trabalho; baixa demanda de criativi-dade; poucas oportunidades de interação social. c) Ausência de controle sobre o ambiente e sobre a organização do trabalho. d) Ausência de suporte social: relações inadequadas no traba-lho e em casa. Portanto, podemos concluir que, como o ruído é um agente de risco potencialmente estressor, pode trazer, como efeitos nocivos à saúde, não só os auditivos, mas toda uma gama de sintomatologia relaciona-da ao estresse, e que faz parte dos chamados efeitos não-auditivos. Dentro desses efeitos, é fundamental esclarecer melhor, aqueles rela-cionados à comunicação, importante conseqüência da perda auditi-va na vida do trabalhador, que se caracteriza tanto como uma das con-seqüências da lesão auditiva como também, diretamente, um fator de estresse. De acordo com os estudos de Hètu, Lalande e Getty (1987), o trabalha-dor apresenta, como conseqüências da Pair: • Em relação à percepção ambiental: dificuldades para ouvir sons de alarme, sons domésticos, dificuldade para com-preender a fala em grandes salas (igrejas, festas), necessi-dade de alto volume de televisão e rádio. • Problemas de comunicação: em grupos, lugares ruido-sos, carro, ônibus, telefone.
  • 22. 22 Esses fatores podem provocar os seguintes efeitos: • Esforço e fadiga: atenção e concentração excessiva du-rante a realização de tarefas que impliquem a discrimina-ção auditiva. • Ansiedade: irritação e aborrecimentos causados pelo zumbido, intolerância a lugares ruidosos e a interações sociais, aborrecimento pela consciência da deterioração da audição. • Dificuldades nas relações familiares: confusões pelas difi-culdades de comunicação, irritabilidade pela incompre-ensão familiar. • Isolamento. • Auto-imagem negativa: vê-se como surdo, velho ou inca-paz. Sintetizando, Seligman (2001) indica como sinais e sintomas da Pair: a) Auditivos: • Perda auditiva. • Zumbidos. • Dificuldades no entendimento de fala. • Outros sintomas auditivos menos freqüentes: algiacusia, sensação de audição “abafada”, dificuldade na localiza-ção da fonte sonora. b) Não-auditivos: • Transtornos da comunicação. • Alterações do sono. • Transtornos neurológicos. • Transtornos vestibulares. • Transtornos digestivos. • Transtornos comportamentais.
  • 23. 23 c) Outros efeitos do ruído • Transtornos cardiovasculares • Transtornos hormonais 5.2 Avaliação da Pair A avaliação do trabalhador exposto a ruído consta de avaliação clínica e ocupacional, na qual pesquisa-se a exposição ao risco, pregressa e atual, considerando-se os sintomas característicos, descritos anteriormente. É importante o detalhamento da exposição, para que seja possível bus-car relações entre a exposição e os sinais e sintomas. Dessa forma, a ana-mnese ocupacional configura-se como instrumento fundamental para a identificação do risco. O conhecimento sobre o ambiente de trabalho também pode ser feito por meio de visita ao local, avaliação de laudos técnicos da própria em-presa e informações sobre fiscalizações, além do relato do paciente. 5.2.1 A avaliação dos efeitos auditivos da Pair Para a confirmação da existência de alterações auditivas, é fundamen-tal a realização da avaliação audiológica. A avaliação audiológica é for-mada por uma bateria de exames: • Audiometria tonal por via aérea. • Audiometria tonal por via óssea. • Logoaudiometria. • Imitanciometria. Essa avaliação deve ser feita sob determinadas condições, estabeleci-das pela Portaria n.º 19, da Norma Regulamentadora n.º 7 (NR-7): • Utilização de cabina acústica. • Utilização de equipamento calibrado.
  • 24. 24 • Repouso acústico de 14 horas. • Profissional qualificado para a realização do exame (mé-dico ou fonoaudiólogo). Essas condições são fundamentais para que o exame seja confiável, principalmente considerando-se que a audiometria tonal é um exame subjetivo. A necessidade do repouso auditivo se dá em função da exis-tência da Mudança Temporária de Limiar (MTL), que ocorre após ex-posição ao ruído e que pode ser confundida com uma Pair. Além des-ses fatores, definidos como extrínsecos ao exame, existem os fatores in-trínsecos, que se referem ao paciente e suas condições gerais, motiva-ção, inteligência, atenção, familiaridade com a tarefa, interpretação da instrução do exame. O resultado será compatível com Pair quando apresentar as caracterís-ticas descritas anteriormente. Existem várias classificações para avaliação da Pair, mas nenhuma de-las, na atualidade, consegue resolver todos os problemas de uma in-terpretação técnica e cientificamente fundamentada. Mais complexa ainda é a aplicabilidade destes critérios, sob o aspecto da classificação dos graus de incapacidade laborativa com finalidade médico-pericial (MENDES, 2003). 5.2.2 Avaliação dos efeitos não-auditivos da Pair A avaliação dos efeitos não-auditivos da exposição ao ruído está re-lacionada com o significado da perda de audição e suas conseqüên-cias na vida diária do indivíduo. Essa avaliação se faz necessária para in-dicar de que forma e quanto essa perda auditiva está interferindo na vida pessoal e profissional do indivíduo, possibilitando o real dimen-sionamento do problema, assim como direcionando possíveis ações de reabi litação.
  • 25. 25 Ela pode ser feita utilizando-se a própria anamnese ocupacional para caracterização dos sintomas não-auditivos que podem estar relaciona-dos à exposição ao ruído e à própria perda auditiva, assim como outros instrumentos padronizados específicos para o levantamento de difi-culdades de vida diária (principalmente comunicação) como questio-nários de auto-avaliação. Outro importante instrumento é a Classificação Internacional de Fun-cionalidade, Incapacidade e Saúde, publicada em 2003 pela Organiza-ção Mundial da Saúde e Organização Pan-Americana da Saúde. O obje-tivo dessa classificação é proporcionar bases científicas para a compre-ensão e o estudo da saúde e dos casos relacionados à saúde. Ela forne-ce uma descrição de situações relacionadas ao funcionamento huma-no e suas restrições, envolvendo funções e estruturas corporais e ativi-dades e participação, relacionados às ações tanto individuais como co-letivas. Embora seja bastante adequada, essa classificação ainda não é de uso corrente no SUS. 5.3 Diagnóstico diferencial É importante diferenciar a Pair de outros agravos auditivos que, apesar de terem o mesmo agente etiológico, também com possibilidade de ocorrência no ambiente de trabalho, possuem características diferen-tes e não são objetos deste Protocolo. Esses agravos são descritos abai-xo para conhecimento. 5.3.1 Trauma acústico É uma perda auditiva súbita, decorrente de uma única exposição a ruí-do intenso (HUNGRIA, 1995). Quando ocorre uma explosão, a des-compressão brusca e violenta pode acarretar dor e lesões simultâne-as da orelha média, como rotura da membrana timpânica e/ou desar-ticulação dos ossículos, assim como distúrbios vestibulares (vertigem e perturbações de equilíbrio). Nesse caso, o som chegará com menor energia na orelha interna, lesando menos essa região.
  • 26. 26 Geralmente, a intensidade sonora capaz de provocar trauma acústico é de 120dB(NA) ou 140dB(NPS), tendo como origem explosões de fogos de artifícios, disparos de armas de fogo, ruído de motores a explosão e alguns tipos de máquinas de grande impacto. O elemento causador dessa perda auditiva é, geralmente, muito trau-mático e a pessoa envolvida não tem dificuldade em especificar o iní-cio do problema auditivo. Normalmente, além da perda auditiva que é percebida de imediato, o paciente costuma relatar a presença de zumbido. Pode ocorrer uma melhora dos sintomas, após alguns dias. É recomendável a realização de avaliação audiológica, imediatamente depois de ocorrido o trauma, com repetição em intervalos aumentados, até a observação da estabi-lização do quadro audiológico. 5.3.2 Mudança Transitória de Limiar (MTL) Também conhecida como TTS (Temporary Treshold Shift), é uma ele-vação do limiar de audibilidade que se recupera gradualmente, após a exposição ao ruído (SANTOS; MORATA, 1994). As variações na MTL ainda são controversas, mas, de maneira geral, ob-serva- se que: 1 - Os ruídos de alta freqüência são mais nocivos que os de baixa freqüência, principalmente na faixa entre 2kHz a 6kHz. 2 - A MTL começa a partir de uma exposição a 75dB(A) e, acima desse nível, ela aumentará proporcionalmente ao aumento de intensidade e duração do ruído.
  • 27. 27 3 - A exposição contínua é mais nociva do que a interrompida. 4 - A suscetibilidade individual segue uma distribuição normal. Segundo Merluzzi (1981), a recuperação dos limiares auditivos tem um andamento proporcional ao logaritmo do tempo, sendo que a maior parte da MTL é recuperada nas primeiras duas a três horas. O restante da recuperação pode levar até 16 horas para se completar, dependen-do da intensidade do estímulo. São observadas discretas alterações intracelulares, edema das termi-nações nervosas junto às células ciliadas, alterações vasculares, quími-cas e exaustão metabólica, além da diminuição da rigidez dos estereo-cílios, que ocasionam uma redução na capacidade das células em per-ceberem a energia sonora que as atingem (SANTOS; MORATA, 1994). Essas alterações podem ser reversíveis, de acordo com o tempo e a in-tensidade da exposição. A fadiga auditiva dessas estruturas pode ser considerada anormal quando a mudança de limiar permanece por mais de 16 horas, após o término da exposição. 5.3.3 Situações possíveis no diagnóstico a) Quando o diagnóstico for feito a partir de apenas uma avalia-ção audiológica, deve-se considerar, principalmente que: • O tipo de perda auditiva é sempre neurossensorial. • A perda auditiva é geralmente bilateral, com padrões si-milares, podendo, em alguns casos, haver diferenças en-tre os graus de perda das orelhas. • Geralmente, não produz perda maior que 40dB(NA) nas freqüências baixas e que 75 dB(NA) nas altas. • O trabalhador portador de Pair pode desenvolver intole-rância a sons intensos, queixar-se de zumbido e diminui-ção de inteligibilidade da fala, com prejuízo da comuni-cação oral.
  • 28. 28 b) Quando houver avaliações audiológicas anteriores, estas de-vem ser comparadas, procurando observar a ocorrência de progressão da perda auditiva, que na Pair tem seu início e pre-domínio nas freqüências de 3, 4 ou 6kHz, progredindo, pos-teriormente para 8, 2, 1, 0,5 e 0,25kHz. Da mesma forma, deve ser considerado que, em condições estáveis de exposição, as perdas em 3, 4 ou 6kHz, geralmente atingirão um nível máxi-mo, em cerca de 10 a 15 anos. O diagnóstico deverá, portanto, englobar a avaliação clínica e ocupa-cional, seguida de avaliação audiológica, podendo ser feito em qual-quer dos níveis de atenção à saúde do SUS. 5.3.4 Exposição ao ruído não relacionada ao trabalho É freqüente a exposição de trabalhadores ao ruído em atividades de lazer. Por apresentarem configuração clínica e audiológica semelhan-te a das perdas auditivas relacionadas ao trabalho, devem sempre ser lembradas e pesquisadas. Hábitos exagerados com música, prática de tiro e caça, esportes que envolvem motores, oficinas caseiras, entre ou-tros são itens obrigatórios da anamnese (IBAÑEZ; SCHNEIDER; SELIG-MAN, 2001). 5.4 Tratamento e reabilitação Não existe até o momento tratamento para Pair. O fundamental, além da notificação que dará início ao processo de vigilância em saúde, é o acom-panhamento da progressão da perda auditiva por meio de avaliações au-diológicas periódicas. Essas avaliações podem ser realizadas em serviço conveniado da empresa onde o trabalhador trabalha ou na rede públi-ca de saúde, na atenção secundária ou terciária, que dispuser do serviço. A reabilitação pode ser feita por meio de ações terapêuticas individuais e em grupo, a partir da análise cuidadosa da avaliação audiológica do tra-balhador. Esse serviço poderá ser realizado na atenção secundária ou ter-ciária, desde que exista o profissional capacitado, o fonoaudiólogo.
  • 29. 29 É importante esclarecer que a Pair não provoca incapacidade para o tra-balho, entretanto, pode ocasionar limitações na realização de tarefas di-versas. Cada caso deverá ser avaliado em relação às dificuldades apresen-tadas para orientar as ações de reabilitação do trabalhador e adequação do ambiente de trabalho. 5.5 Prevenção Sendo o ruído um risco presente nos ambientes de trabalho, as ações de prevenção devem priorizar esse ambiente. Como descrito anteriormen-te, existem limites de exposição preconizados pela legislação, bem como orientações sobre programas de prevenção e controle de riscos, os quais devem ser seguidos pela empresa. Cabe ao Ministério do Trabalho, por meio das Delegacias Regionais do Trabalho (DRT), e ao serviço de vigi-lância à saúde a fiscalização do cumprimento da legislação pertinente. Para isso, é fundamental que primeiro seja feita uma detalhada obser-vação do processo produtivo, por meio da qual serão localizados os pontos de maior risco auditivo (considerando-se também número e idade dos expostos), o tipo de ruído, as características da função e os horários de maior ritmo de produção. Essas informações são obtidas pela observação direta, levantamento de documentação da empresa e conversa com os trabalhadores. As empresas devem manter, de acordo com as Normas Regulamenta-doras do Ministério do Trabalho, um Programa de Prevenção de Ris-cos Ambientais (PPRA–NR9), no qual os diversos riscos existentes no trabalho devem ser identificados e quantificados para, a partir des-sa informação, direcionar as ações do Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO-NR7), que procederá às avaliações de saúde dos trabalhadores. Em relação ao risco ruído, existe um programa específico para seu ge-renciamento, o qual esquematicamente pode ser assim apresentado (FIORINI; NASCIMENTO, 2001):
  • 30. 30 1. Designação de responsabilidade: momento de atribuição de responsabilidades para cada membro da equipe envolvido. 2. Avaliação, gerenciamento e controle dos riscos: etapa na qual, a partir do conhecimento da situação de risco, são estabeleci-das as metas a serem atingidas. 3. Gerenciamento audiométrico: estabelece os procedimentos de avaliação audiológica e seguimento do trabalhador expos-to a ruído. 4. Proteção auditiva: análise para escolha do tipo mais adequa-do de proteção auditiva individual para o trabalhador. 5. Treinamento e programas educacionais: desenvolvimento de estratégias educacionais e divulgação dos resultados de cada etapa do programa. 6. Auditoria do programa de controle: garante a contínua ava-liação da eficácia das medidas adotadas. As ações de controle da Pair estão relacionadas ao controle do ruído. São as medidas de controle da exposição na fonte, na trajetória e no indivíduo. Além dessas, podemos dispor de medidas organizacionais, como redução de jornada, estabelecimento de pausas e mudança de função. A avaliação audiológica periódica permite o acompanhamento da pro-gressão da perda auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o tempo de exposição, além da suscetibilidade individual. A velo-cidade da progressão da perda auditiva determinará a eficácia das me-didas de proteção tomadas e a necessidade da aplicação de outras. Os efeitos extra-auditivos devem ser considerados nessa avaliação, apesar de não serem previstos pela legislação. As ações educativas junto aos trabalhadores, para que compreendam a dimensão do problema e as formas de evitá-lo, são fundamentais no controle da Pair.
  • 31. 31 A avaliação constante do programa é importante para verificar sua efi-cácia. A melhor forma de prevenção é a informação. Portanto, ao saber que o ruído provoca perda auditiva e que sua acuidade auditiva deve ser acompanhada, o trabalhador já ficará mais sensibilizado para essa questão e poderá buscar orientações especializadas num Centro de Referência de Saúde do Trabalhador. Cabe, portanto, a todos os níveis de atenção à saúde, o acolhimento deste trabalhador, fornecendo as informações básicas e dando início ao processo de diagnóstico, notificação e acompanhamento do caso. Considerando-se que a perda auditiva é irreversível e progressiva e que poderia ser evitada com a eliminação ou redução da exposição, é fun-damental que qualquer caso de Pair seja indicativo de necessidade de fiscalização e intervenção. O serviço de assistência à saúde, em qualquer nível, deve orientar o tra-balhador a respeito do risco auditivo e acompanhar sua condição audi-tiva no decorrer do tempo, dando subsídios aos serviços de fiscalização e recebendo outros casos, por eles encaminhados. 5.6 Notificação Todo caso de Perda Auditiva Induzida por Ruído é passível de notifica-ção compulsória pelo SUS, segundo parâmetro da Portaria GM/MS/ N.º 777, de 28 de abril de 2004. Da mesma forma, todo caso de PAIR deve ser comunicado à Previdên-cia Social, por meio de abertura de comunicação de Acidente de Tra-balho (CAT).
  • 32. 32 Os exames audiométricos dos trabalhadores avaliados devem ser in-cluídos, via web, no sistema de cadastro de exames audiométricos. Te-rão acesso ao sistema (e a conseqüente obrigatoriedade de inclusão de todo exame audiométrico realizado ou solicitado) os Centros de Refe-rência em Saúde do Trabalhador e, após pactuação mediada pela res-ponsável estadual, os serviços especializados de otorrinolaringologia ou de audiologia, públicos ou privados. As unidades básicas de saúde que realizarem notificações de Pair devem enviar ao Cerest mais próxi-mo cópia do exame para sua inclusão.
  • 33. 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMERICAN COLLEGE OF OCCUPATIONAL AND ENVIRONMENTAL MEDICINE; ACOEME EVIDENCE BASED STATEMENT. Noise induced hearing loss. J. Occup. Environ. Med., [S. l.], v.45, n. 6, jun. 2003. BAMFORD, J.; SAUNDERS, E. Hearing impairment, auditory perception and language disability. 2nd ed. San Diego, California: Singular Publishing Group, 1991. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 777, de 28 de abril de 2004. Dispõe sobre os procedimentos técnicos para a notificação compulsória de agravos à saúde do trabalhador em rede de serviços sentinela específica, no Sistema Único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 28 abr. 2004. Disponível em: <http://www.anamt.org.br/downloads/portaria_777.pdf>. ______ . Ministério da Saúde. Portaria n.º 2.437, de 7 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a ampliação e o fortalecimento da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) no Sistema Único de Saúde (SUS) e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 9 de dez. de 2005. ______. Ministério do Trabalho. Portaria nº 3.214, de 8 de Junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras - NR - do Capítulo V, Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas a Segurança e Medicina do Trabalho. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, jun. 1978. ______. Ministério do Trabalho. Portaria nº 19 GM/SSSTb, de 9 de abril de 1998. Estabelece diretrizes e parâmetros mínimos para avaliação e acompanhamento da audição em trabalhadores expostos a níveis de pressão sonora elevados. Diário Oficial da União, São Paulo, 22 abril. 1998.
  • 34. 34 BERGSTRÖM, B.; NYSTRÖM, B. Development of hearing loss during long term exposure to occupational noise. Scand. Audiol., [S. l.], v. 15, p. 227-234, 1986. BESS, F. H.; FINLAYSON, P. B.; CHAPMAN, J. J. Pediatrics observation on noise level in infant incubators. Pediatrics, [S. l.], v. 63, n. 1, 1979. CARNICELLI, M. V. F. Audiologia preventiva voltada à saúde do trabalhador: organização e desenvolvimento de um programa audiológico numa indústria têxtil da cidade de São Paulo. 1988. Dissertação (Mestrado)– Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1988. CELANI, A. C. Brinquedos e seus níveis de ruído. Rev. Dist. Com., [S. l.], v. 4, n. 1, p. 49-58, 1991. CELANI, A. C.; BEVILÁCQUA, M. C.; RAMOS, C. R. Ruído em escolas. Fono: Rev. Atual. Cient, [S. I.] v. 6, n. 2, p. 1-4, 1994. COMITÊ NACIONAL DE RUÍDO E CONSERVAÇÃO AUDITIVA. Perda auditiva induzida por ruído relacionada ao trabalho. Boletim, São Paulo, n. 1, 29 jun. 1994. Revisto em 14 nov. 1999. FELDMAN, A. S.; GRIMES, C. T. Hearing conservation in industry. Baltimore: The Williams & Wilkins, 1985. FERREIRA JR., M. Pair – Perda Auditiva Induzida por Ruído: bom senso e consenso. São Paulo: VK, 1998. FIORINI, A. C.; NASCIMENTO, P. E. S. Programa de Prevenção de Perdas Auditivas. In: NUDELMANN, A. A. et al. Pair – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído: volume II. Rio de Janeiro: Revinter, 2001.
  • 35. 35 FRANÇA, D. O ruído presente nas salas de aula em Curitiba: um assunto a ser refletido pelos fonoaudiólogos. Rev. Soc. Bras. Fono., [S. l.], v. 4, n. 6, p. 65-67, jun. 2000. HARTIKAINEN, A. L. et al. Effect of occupational noise on the course and outcome of pregnancy. Scand. J. Work Environ. Health, [S. l.], v. 20, n. 6, p. 444-450, dec. 1994. HETÙ, R.; LALANDE, M.; GETTY, L. Psycosocial disadvantages associated with occupational hearing loss as experienced in the family. Audiology, [S. l.], v. 26, p. 141-152, 1987. HYPPOLITO, M. A. et al. Ototoxicidade da cisplatina e otoproteção pelo extrato de ginkgo biloba às células ciliadas externas: estudo anatômico e eletrofisiológico. Rev. Bras. Otorrinolaringol., [S. l.], v. 69, n. 4, 2003. HUNGRIA, H. Otorrinolaringologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 1995. IBAÑEZ, R. N.; SCHNEIDER, I. O.; SELIGMAN, J. Anamnese dos trabalhadores expostos ao ruído. In: NUDELMANN, A. A. et al. Pair – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído: volume II. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. JACOBSEN, P. et al. Mixed solvent exposure and hearing impairment: an epidemiological study of 3284 men: the Copenhagen male study. Occup. Med., [S. l.], v. 43, p. 180-184, 1993. KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSEL, T. M. Princípios da neurociência. São Paulo: [s.n.], 2003. LALANDE, N. M.; HETÚ, R.; LAMBERT, J. Is occupational noise exposure during pregnancy a risk factor of damage
  • 36. 36 to the auditory system of the fetus? American Journal of Industrial Medicine, Quebec, Canadá, 1986. MC SHANE, D. P.; HYDE, M. L.; ALBERTI, P. W. Tinnitus prevalence in industrial hearing loss compensation claimants. Clin. Otol., [S. l.], v. 13, p. 323-330, 1988. MENDES, R. (Org.). Patologia do trabalho. São Paulo: Atheneu, 2003. MERLUZZI, F. Patologia da rumore. In: SARTORELLI, E. Trattato di medicina del lavoro. Pádua: Piccin Editore, 1981. v. 2. p.1119-1149. MORATA, T. C. An epidemiological study of the effects of exposure to noise and organic solvents on workers hearing and balance. 1990. Dissertação (Doutorado)–University of Cincinnati, Cincinnati, 1990. MORATA, T. C. ; DUNN, D. ; SIEBER, K. Exposição ocupacional a ruído e solventes orgânicos. In: NUDELMANN, A. et al. (Org.). Pair – Perda Auditiva Induzida pelo Ruido. Porto Alegre: [s.n.], 1997. v. 1. p. 189-201. MORATA, T. C.; LEMASTERS, G. K. Considerações epidemiológicas para o estudo de perdas auditivas ocupacionais. In: NUDELMANN, A. A.et al. Pair – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. ______. Epidemiologic considerations in the evaluation of occupational hearing loss. Occup. Med. State Art. Rev., [S. I.], v. 10, n. 3, p. 641-56, 1995. MORATA, T. C. et al. Efeitos da exposicão a ruído e tolueno na audição e equilibrio de trabalhadores. Acústica e Vibrações, [S. l.], v. 12, p. 2-16, 1993.
  • 37. 37 NATIONAL INSTITUTE FOR OCCUPATIONAL SAFETY AND HEALTH. Preventing occupational hearing loss: a pratical guide. Atlanta, 1996. Revised october 1996. NURMINEN, T.; KURPA, K. Occupational noise exposure and course of pregnancy. Scand. J. Environ. Health, [S. l.], v. 15, n. 2, p. 117-124, apr. 1989. NURMINEN, T. Female noise exposure, shift work and reproduction. J. Occup. Environ. Med., [S. l.], v. 37, n. 8, p. 945-950, aug. 1995. OLIVEIRA, J. A. A. Prevenção e proteção contra perda auditiva induzida pelo ruído. In: NUDELMANN, A. A. et al. Pair – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído: volume II. Rio de Janeiro: Revinter, 2001. OLIVEIRA, J. A. A.; CANEDO, D. M.; ROSSATO, M. Otoproteção das células ciliadas auditivas contra a otoxicidade da amicacina. Rev. Bras. Otorrinolaringol., [S. l.], v. 68, n. 1, p. 7-13, 2002. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde: classificação detalhada com definições. [S. l.], 2003. PRÓSPERO, A. C. Estudo dos efeitos do ruído em servidores do Centro Técnico Aeroespacial. 1999. Dissertação (Mestrado)– Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1999. SAMELLI, A. G. Zumbido: avaliação, diagnóstico e reabilitação: abordagens atuais. São Paulo: Lovise, 2004. SANTOS, U. P.; MORATA, T. C. Efeitos do ruído na audição. In: SANTOS, U. P. (Org.). Ruído: riscos e prevenção. São Paulo: HUCITEC, 1994. p. 7-23.
  • 38. 38 SELIGMAN, J. Sintomas e sinais na Pair. In: NUDELMANN, A. A. et al. Pair – Perda Auditiva Induzida pelo Ruído. Rio de Janeiro, Revinter, 2001. SELYE, H. A syndrome produced by diverse nocious agents. Nature, [S. l.], v. 32, n. 138, 1936. SILVA, L. F. Estudo sobre a exposição combinada entre ruído e vibração de corpo inteiro e os efeitos na audição de trabalhadores. 2002. Tese (Doutorado)–Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. STELLMAN, J. M.; DAUM, S. M. Trabalho e saúde na indústria. São Paulo: EPU/EDUSP, 1975. VESTERAGER, V. Tinnitus: investigation and management. BJM, [S. l.], v. 314, p. 728-731, 1997.
  • 39. 39 ANEXO Anexo A – FLUXOGRAMA Paciente com sintomas sugestivos de Pair ou exposto a ruídos no local de trabalho Há evidências de exposição a ruído no trabalho? Sim Sinais e Sintomas de Pair: Auditivos Perda auditiva Zumbidos Dificuldades no entendimento de fala Algiacusia Sensação de audição “abafada” Dificuldade na localização da fonte sonora Não-auditivos Transtornos da comunicação Alterações do sono Transtornos neurológicos Transtornos vestibulares Transtornos digestivos Tr anstornos comportamentais Critérios Diagnósticos de Pair Si nais e sintomas característicos Au diometria compatível Ex posição a níveis sonoros elevados Atenção Básica ou Local de Atendimento Média e / ou Alta Complexidade Vigilância do ambiente de trabalho Anamnese e investigação da exposição a ruído e exame físico com otoscopia Realizar ações de controle e prevenção Paciente possui exame audiométrico prévio ( até 1 a no) ? É possível o médico realizar o diagnóstico com a história do paciente + exame audiométrico disponível ? Encaminhar para serviço especializado p / avaliação médica e audiológica Tratamento e reabilitação Notificar Sinan Investigação diagnóstica sugere Pair ? Sim Acompanhamento clínico Não Não Sim Não Notificação , reabilitação e investigação Encaminhar para otorrinolaringologista Não Há sintomas auditivos ? Sim Encaminhar para o Centro de Referência Inconclusivo Reavaliação Sim Perda Auditiva Induzida por Ruído
  • 40. A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde: http://www.saude.gov.br/bvs O conteúdo desta e de outras obras da Editora do Ministério da Saúde pode ser acessado gratuitamente na página: http://www.saude.gov.br/editora EDITORA MS Coordenação-Geral de Documentação e Informação/SAA/SE MINISTÉRIO DA SAÚDE (Normalização, revisão, editoração, impressão, acabamento e expedição) SIA, trecho 4, lotes 540/610 – CEP: 71200-040 Telefone: (61) 3233-2020 Fax: (61) 3233-9558 E-mail: editora.ms@saude.gov.br Home page: http://www.saude.gov.br/editora Brasília – DF, agosto de 2006 OS 0444/2006