(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea - volume 1
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea - volume 1
Copyright © Pimenta Cultural, alguns direitos reservados
Copyright do texto © 2019 os autores e as autoras
Copyright da edição © 2019 Pimenta Cultural
Esta obra é licenciada por uma Licença Creative Commons: by-nc-nd. Direitos para
esta edição cedidos à Pimenta Cultural pelo autor para esta obra. Qualquer parte ou
a totalidade do conteúdo desta publicação pode ser reproduzida ou compartilhada.
O conteúdo publicado é de inteira responsabilidade do autor, não representando a
posição oficial da Pimenta Cultural.
Comissão Editorial Científica
Alaim Souza Neto, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Alexandre Antonio Timbane, Universidade de Integração Internacional da Lusofonia
Afro-Brasileira, Brasil
Alexandre Silva Santos Filho, Universidade Federal do Pará, Brasil
Aline Corso, Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves, Brasil
André Gobbo, Universidade Federal de Santa Catarina e Faculdade Avantis, Brasil
Andressa Wiebusch, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Andreza Regina Lopes da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Angela Maria Farah, Centro Universitário de União da Vitória, Brasil
Anísio Batista Pereira, Universidade Federal de Uberlândia, Brasil
Arthur Vianna Ferreira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Beatriz Braga Bezerra, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Bernadétte Beber, Faculdade Avantis, Brasil
Bruna Carolina de Lima Siqueira dos Santos, Universidade do Vale do Itajaí, Brasil
Bruno Rafael Silva Nogueira Barbosa, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Cleonice de Fátima Martins, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil
Daniele Cristine Rodrigues, Universidade de São Paulo, Brasil
Dayse Sampaio Lopes Borges, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, Brasil
Delton Aparecido Felipe, Universidade Estadual do Paraná, Brasil
Dorama de Miranda Carvalho, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Elena Maria Mallmann, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil
Elisiene Borges leal, Universidade Federal do Piauí, Brasil
Elizabete de Paula Pacheco, Instituto Federal de Goiás, Brasil
Emanoel Cesar Pires Assis, Universidade Estadual do Maranhão. Brasil
Francisca de Assiz Carvalho, Universidade Cruzeiro do Sul, Brasil
Gracy Cristina Astolpho Duarte, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Handherson Leyltton Costa Damasceno, Universidade Federal da Bahia, Brasil
Heloisa Candello, IBM Research Brazil, IBM BRASIL, Brasil
Inara Antunes Vieira Willerding, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Jacqueline de Castro Rimá, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Jeane Carla Oliveira de Melo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão, Brasil
Jeronimo Becker Flores, Pontifício Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil
Joelson Alves Onofre, Universidade Estadual de Feira de Santana, Brasil
Joselia Maria Neves, Portugal, Instituto Politécnico de Leiria, Portugal
Júlia Carolina da Costa Santos, Universidade Estadual do Maro Grosso do Sul, Brasil
Juliana da Silva Paiva, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba, Brasil
Kamil Giglio, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Laionel Vieira da Silva, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Lidia Oliveira, Universidade de Aveiro, Portugal
Ligia Stella Baptista Correia, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil
Luan Gomes dos Santos de Oliveira, Universidade Federal de Campina Grande, Brasil
Lucas Rodrigues Lopes, Faculdade de Tecnologia de Mogi Mirim, Brasil
Luciene Correia Santos de Oliveira Luz, Universidade Federal de Goiás; Instituto
Federal de Goiás., Brasil
Lucimara Rett, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil
Marcio Bernardino Sirino, Universidade Castelo Branco, Brasil
Marcio Duarte, Faculdades FACCAT, Brasil
Marcos dos Reis Batista, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil
Maria Edith Maroca de Avelar Rivelli de Oliveira, Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil
Maribel Santos Miranda-Pinto, Instituto de Educação da Universidade do Minho, Portugal
Marília Matos Gonçalves, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Marina A. E. Negri, Universidade de São Paulo, Brasil
Marta Cristina Goulart Braga, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Michele Marcelo Silva Bortolai, Universidade de São Paulo, Brasil
Midierson Maia, Universidade de São Paulo, Brasil
Patricia Bieging, Universidade de São Paulo, Brasil
Patricia Flavia Mota, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Patricia Mara de Carvalho Costa Leite, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil
Patrícia Oliveira, Universidade de Aveiro, Portugal
Ramofly Ramofly Bicalho, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil
Rarielle Rodrigues Lima, Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Raul Inácio Busarello, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Ricardo Luiz de Bittencourt, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Brasil
Rita Oliveira, Universidade de Aveiro, Portugal
Rosane de Fatima Antunes Obregon, Universidade Federal do Maranhão, Brasil
Samuel Pompeo, Universidade Estadual Paulista, Brasil
Tadeu João Ribeiro Baptista, Universidade Federal de Goiás, Brasil
Tarcísio Vanzin, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Thais Karina Souza do Nascimento, Universidade Federal Do Pará, Brasil
Thiago Barbosa Soares, Instituto Federal Fluminense, Brasil
Valdemar Valente Júnior, Universidade Castelo Branco, Brasil
Vania Ribas Ulbricht, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil
Wellton da Silva de Fátima, Universidade Federal Fluminense, Brasil
Wilder Kleber Fernandes de Santana, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
Patricia Bieging
Raul Inácio Busarello
Direção Editorial
Marcelo EyngDiretor de sistemas
Raul Inácio BusarelloDiretor de criação
Ligia Andrade MachadoEditoração eletrônica
Designed by pikisuperstar
Designed by rawpixel.com
Freepik
Imagens da capa
Patricia BiegingEditora executiva
Os organizadoresRevisão
Horácio dos Santos Ribeiro Pires
Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira
Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias
Organizadores
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
________________________________________________________________________
I611 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea.
Volume 1. Horácio dos Santos Ribeiro Pires, Bianca
Isabela Acampora e Silva Ferreira, Fabrízia Miranda de
Alvarenga Dias - organizadores. São Paulo: Pimenta
Cultural, 2019. 182p..
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-7221-061-4 (eBook)
1. Educação. 2. Escola. 3. Aprendizagem. 4. Ensino.
5. Pedagogia. I. Pires, Horácio dos Santos Ribeiro. II. Ferreira,
Bianca Isabela Acampora e Silva. III. Dias, Fabrízia Miranda de
Alvarenga. IV. Título.
CDU: 37.01
CDD: 370
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614
________________________________________________________________________
PIMENTA CULTURAL
São Paulo - SP
Telefone: +55 (11) 96766-2200
livro@pimentacultural.com
www.pimentacultural.com 2019
5
SUMÁRIO
Prefácio
Apresentando (inter)conexão de saberes
na educação contemporânea - vol. 1 ............................................. 7
Karina Hernandes Neves
Capítulo 1
Autoconceito profissional: o senso de valor próprio
e seus reflexos na saúde e no ambiente de trabalho................... 10
Beatriz Acampora e Silva de Oliveira
Capítulo 2
Análise comportamental: como a linguagem
corporal pode contribuir no ambiente e saúde............................. 27
João Batista de Oliveira Filho
Capítulo 3
Estresse em pais/responsáveis de crianças
com Transtorno de Espectro Autista.............................................. 43
Manuela Gomes Rangel de Paula
Capítulo 4
A importância do contexto escolar
no desenvolvimento neuropsicológico da criança........................ 58
Larissa Vieira de Lima Gonçalves
Capítulo 5
Potencialização hipertextual e novos perfis
de leitor e autoria: o que há de novo?........................................... 84
Horácio dos Santos Ribeiro Pires
6
Capítulo 6
A contribuição de programas pedagógicos
para a ampliação de repertório de um indivíduo
com Transtorno do Espectro Autista: estudo de caso................ 104
Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias, Manuela Gomes Rangel de Paula
e Lilliany de Souza Cordeiro
Capítulo 7
A formação de professores sob a ótica de empoderamento
e a construção de mentes pensantes......................................... 121
Carla Barbosa Ferreira, Jossana dos Santos Bartolazzi Barbosa
e Maria Francisca Ribeiro Barbosa Monteiro
Capítulo 8
A contribuição de aplicativos e softwares no ensino
da Matemática para crianças autistas......................................... 132
Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias, Daniele Fernandes Rodrigues
e Adriana Fantoni Naurath Colares
Capítulo 9
Sustentabilidade – alelopatia: uma alternativa
à utilização de agroquímicos....................................................... 146
Luciana Moreno dos Santos, Luciana Ribeiro Coutinho de Oliveira
Mansur e Fábio Nascimento Custodio
Capítulo 10
Programa de residência multiprofissional de saúde
na formação de Recursos Humanos para o SUS:
conexões entre Delors e Perrenoud alicerçando
qualidade no lato sensu............................................................... 165
Maura Nogueira Cobra e Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira
Sobre o organizador e as organizadoras.................................... 179
Sobre os autores e as autoras..................................................... 179
7
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
7SUMÁRIO
Prefácio
APRESENTANDO (INTER)CONEXÃO DE SABERES
NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA VOL. 1
O presente livro é o primeiro volume de uma série de duas
produções que trazem temáticas importantes sobre a grande
questão que permeia os tempos atuais: a ligação entre as diversas
áreas do conhecimento. Aqui, o (a) leitor (a) vai encontrar relevantes
contribuições a respeito das conexões entre educação e saberes,
dando ênfase à (inter) relação entre educação e saúde. Trata-se
de uma expressiva reunião de artigos paradoxalmente “in” e “inter”
dependentes alimentados pela espinha dorsal do viés educacional
em seu sentido mais amplo.
O diálogo que se estabelece entre os artigos é evidenciado
ao longo deste compêndio. Dividido em duas grandes seções,
a primeira possui quatro artigos e intitula-se “Saúde” e a derra-
deira, batizada “Educação e Saúde” conta com produções que se
agregam às questões anteriormente desenvolvidas.
O artigo que inaugura este livro trata-se de uma substancial
revisão de literatura com a qual Oliveira alicerçou sua tese de douto-
rado. Nele, a pesquisadora analisa a relação entre autoconceito
profissional, desempenho e saúde no trabalho, debatendo espe-
cialmente quais as implicações do autoconceito profissional no
desempenho do trabalhador. O texto seguinte é igualmente parte de
uma tese de doutoramento em saúde pública em que Filho analisa
a forma como a linguagem corporal pode influenciar a comunicação
entre profissionais da saúde e pacientes internados em hospitais.
No viés dessas discussões, tem-se a contribuição de Gomes,
que analisa as reações dos pais de crianças que apresentam
Transtorno do Espectro Autista (TEA) ao receberem o diagnóstico
8
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
8SUMÁRIO
de seus filhos, evidenciando a capacidade de acolhimento destes
progenitores por profissionais de saúde qualificados para apoiá-los
nesse momento de transição.
No derradeiro artigo da seção I, Gonçalves aborda a impor-
tância do contexto escolar no desenvolvimento neuropsicológico da
criança, explanando, inicialmente, a primeira infância e as implica-
ções desta etapa na vida futura do infante, evoluindo a discussão
a respeito do quanto atividades realizadas no ambiente escolar
podem ser decisivas para o desenvolvimento da criança.
A seção II, “Educação e Saúde” é inaugurada com as refle-
xões de Dias (et. Al.) a respeito da ampliação do repertório dos
indivíduos com TEA, sugerindo a utilização de programas que propi-
ciem a população à elevação de seu repertório linguístico.
Posteriormente, Pires resgata algumas provocações reali-
zadas em sua dissertação de mestrado, pesquisa em que inves-
tigou a formação docente e discente na imersão do mundo digital,
através das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação
(NTICS), retratando as lacunas entre as práticas pedagógicas anali-
sadas e a eficiência do processo de ensino e aprendizagem.
A análise de Ferreira também retrata do processo de apren-
dizagem, contudo, com ênfase mais psicológica, visando debater
o empoderamento e a construção cognitiva dos profissionais
docentes brasileiros, abordando tanto o valor profissional quanto
simbólico para a formação cultural do Brasil.
O artigo seguinte, proposto por Dias (et. Al.) discorre sobre as
formas como os softwares e aplicativos podem favorecer a cognição
de alunos com TEA, especialmente no que diz respeito à aprendi-
zagem de conceitos lógico-matemáticos.
9
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
9SUMÁRIO
Santos (et. Al) discutem a alelopatia como alternativa para a
fertilização de agroquímicos. Partindo do dilema da necessidade da
utilização de agroquímicos X impactos ambientais, verifica-se que
a atividade biológica pode resultar na busca por moléculas alelo-
páticas que, por sua vez, podem ser benéficas no cultivo agrícola.
Finalmente, Cobra e Ferreira problematizam a dicotômica
relação especialista x generalista, defendendo que a formação deve
ser baseada em “aprender a aprender” em uma relação dialética
constante, apontando ainda outras necessidades importantes para
a formação dos profissionais da saúde.
O livro é deleitoso na medida em que trata de assuntos
aparentemente não-relacionáveis de uma forma dinâmica, didática
e agradável. Uma leitura desafiadora e estimulante que passeia
por diversos temas dessas áreas tão fundamentais em todos os
aspectos, em especial a educação em seu mais amplo sentido.
Karina Hernandes Neves1
1. Doutora em Ciências Sociais (UFJF). Mestre em Gestão e Avaliação da Educação (UFJF).
Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (IFFluminense Campus Bom Jesus do
Itabapoana).
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.7-9
CAPÍTULO 1
AUTOCONCEITO PROFISSIONAL: O SENSO DE
VALOR PRÓPRIO E SEUS REFLEXOS NA SAÚDE E
NO AMBIENTE DE TRABALHO
Beatriz Acampora e Silva de Oliveira
1
Autoconceitoprofissional:
osensodevalorpróprio
eseusreflexosnasaúde
enoambientedetrabalho
BeatrizAcamporaeSilvadeOliveira
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.10-26
11
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
11SUMÁRIO
Resumo:
Este artigo consiste em revisão de literatura e pesquisa qualitativa de caráter
exploratório realizada através de levantamento bibliográfico sobre o tema
proposto. O problema norteador da pesquisa consiste na relação entre
o autoconceito profissional, o desempenho e a saúde no trabalho, tendo
como objetivos conceituar o autoconceito e como ele se constitui; explicar
as bases do autoconceito profissional e suas implicações no contexto do
trabalho; analisar a relação entre o autoconceito profissional, assédio moral,
aspectos de gênero e resiliência dentre outros. Os resultados revelam que
o autoconceito é continuamente construído e modificado nas relações do
sujeito com o meio ambiente.
Palavras-chave:
Autoconceito; Saúde; Trabalho.
12
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
12SUMÁRIO
Introdução
Os padrões de comportamento de uma pessoa são consequ-
ência da sua personalidade, do modo como ela se vê e se compre-
ende na existência. Desde a mais tenra infância, desenvolve-se o
autoconceito, o senso de valor próprio, a partir das relações com as
outras pessoas e da importância que se acredita ter, em especial,
para os cuidadores.
Um dos primeiros autores a definir o autoconceito foi William
James, em 1890, (JAMES, 1890 apud COSTA, 2002). Sua definição
abrange o autoconceito como o conjunto dos fatores daquilo que
o indivíduo é ou sua compreensão sobre si mesmo e de tudo o
que pode chamar de seu: corpo, capacidades físicas, amigos, fami-
liares, trabalho, pertences. James define o autoconceito a partir da
noção de self, que consiste em tudo o que faz parte do sujeito ou
que ele apropria como seu.
O ser humano está sempre se comparando com as pessoas
de suas relações sociais e a noção de certo e errado, de bom e
mau, de bonito e feito, é construída socialmente e depende da
cultura na qual o indivíduo está inserido, das relações familiares e
dos grupos dos quais participa. Dessa forma, a noção de si mesmo
tem relação intrínseca com o modo como uma pessoa se vê diante
dos estímulos oferecidos e na comparação das suas ações com as
atitudes que a cercam.
O campo da fenomenologia lançou luz sobre o assunto com
Combs e Snygg (1949 apud ASSIS, 2004), destacando a si mesmo
como funcional e estrutural. O foco passa o próprio sujeito como
responsável pela organização das suas próprias percepções e do
ambiente, sendo o construtor de sua própria realidade a partir do
seu campo de percepções.
13
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
13SUMÁRIO
Já Shavelson et al. (1976 apud SERRA, 1988) analisam o
autoconceito como algo organizado e estruturado, mas também
multifacetado, pois se relaciona a sistemas de categorias aos quais
o ser humano está submetido e que também é compartilhado pelo
grupo ao qual pertence, que refletem facetas que o influenciam dire-
tamente. Para os autores, o autoconceito subdivide-se em autocon-
ceito acadêmico, social, emocional e físico.
Estudioso da psicologia social, o americano Rosemberg
(1989 apud ASSIS, 2004) avaliou a autoestima na interação com
o grupo social, ressaltando que o ser humano é influenciado pela
cultura da qual faz parte, internalizando ideias e atitudes nas inte-
rações sociais e, a partir das reações dos outros às suas experiên-
cias, consegue experimentar seus próprios sentimentos e reações
pessoais, aprendendo a se autoavaliar.
Rogers (1997), psicólogo humanista, considerou que autoes-
tima é uma força interna e depende da capacidade do ser humano
de se manter autêntico. Para ele o homem está em constante desen-
volvimento de suas potencialidades.
Tamayo (1985) analisou o autoconceito como um processo
psicológico que é fundamentalmente social, uma vez que se desen-
volve na relação com os outros, a partir das percepções e represen-
tações sociais que ocorrem nas interações com as outras pessoas.
O autor português Veiga (1995) acredita que o autoconceito
é fundamental na vida humana e sua compreensão pode elucidar
o comportamento humano e suas nuances, facilitando o entendi-
mento da personalidade humana a partir do modo como o indivíduo
se compreende enquanto ser de relações.
Assis (2004) destaca que em 1984 uma comissão que ficou
conhecida como Task Force to Promote Self-Esteem (força tarefa
para promover a autoestima) buscou a valorização do compromisso
14
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
14SUMÁRIO
do indivíduo em assumir responsabilidade pelos seus atos, por si
mesmo e por suas relações intra e interpessoais, o que contribuiu
para os estudos mais recentes sobre o tema.
O posicionamento de uma pessoa diante das mais diferentes
situações tem como base seu autoconceito, pois o modo como o
indivíduo se autoavalia tem impacto em suas relações pessoais e
profissionais. Assim, pode-se afirmar que uma pessoa com uma
boa relação intrapessoal tenderá a ter boas relações interpessoais.
O comportamento emocional e o estilo de vida adotado na
fase adulta são reflexos de como o autoconceito foi desenvolvido ao
longo da vida. Uma pessoa com autoconceito positivo tende a ser
mais resiliente e a acreditar nas suas potencialidades para superar
dificuldades (ACAMPORA, 2013).
Na atualidade há uma valorização do modo como as pessoas
se veem, se relacionam umas com as outras e projetam na vida seus
sentimentos, angústias e desejos. O autoconceito está intimamente
ligado aos modos de experimentar as situações da vida, ao sucesso
no trabalho, às relações com si próprias e com os outros e ao modo
como cada indivíduo se posiciona nas diferentes esferas da existência.
As conceituações apresentadas mostram que o autoconceito
é formado na relação com o meio e o modo como a pessoa avalia
suas relações, seu valor para os outros e para o mundo é a base
para que ela se autoavalie positiva ou negativamente.
A autoestima é a fonte do nosso poder pessoal, da capacidade que
todo ser humano tem de influenciar e ser influenciado nas relações
sociais. Em todos os tipos de relações a autoestima é o pano de
fundo, pois ela determinará o modo como o indivíduo irá respirar, se
emocionar e agir. Em situações de trabalho, por exemplo, pessoas
com alta autoestima tendem a ser mais ágeis, a falar assertivamente
o que querem, a lutar pelos seus objetivos de forma clara. Uma
pessoa com alta autoestima acredita em si mesma, é o que quer
ser, goza a vida e assume responsabilidades sem culpar os outros
ou se justificar pelas escolhas que faz (ACAMPORA, 2013, p. 20-21).
15
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
15SUMÁRIO
No ambiente de trabalho, a autoestima deve ser considerada
como um fator importante que está na base do modo de desen-
volver a atividade profissional, de avaliar a si mesmo como capaz
de desempenhar determinadas tarefas e da habilidade de superar
dificuldades a partir de seus recursos internos.
O mundo atual é repleto de cobranças, estimulação à
competição, comparações e busca por um alto padrão de reali-
zação de tarefas, almejando sempre melhores resultados. Nesse
sentido, é inevitável que as pessoas cobrem a si mesmas para fazer
parte das exigências sociais. O autoconceito e a autoconfiança vêm
sendo cada vez mais exigidos no mundo do trabalho, pois formam
o alicerce para a atuação em equipe e a efetividade das ações em
prol dos objetivos organizacionais.
Metodologia
Este estudo se classifica como pesquisa qualitativa, de
caráter exploratório, realizada através de pesquisa bibliográfica
sobre o tema autoconceito profissional.
A pesquisa qualitativa utiliza a coleta de dados sem medição
numérica para descobrir ou aprimorar perguntas de pesquisa no
processo de interpretação (SAMPIERI, COLLADO, LUCIO, 2013, p.
33). Possibilita a análise qualitativa de dados coletados em função
de uma investigação sobre um determinado tema.
A pesquisa exploratória tem como objetivo examinar um
tema pouco estudado (SAMPIERI, COLLADO, LUCIO, 2013, p. 33).
O autoconceito profissional é um termo novo, com poucas publica-
ções a respeito e que merece maior investigação e análise.
16
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
16SUMÁRIO
A pesquisa bibliográfica ocorre a partir da coleta de infor-
mações que se constituem em resultados de pesquisas e análises
já realizadas anteriormente e divulgadas através de livros, artigos,
dissertações, monografias e teses.
Resultados/Discussão
Souza e Puente-Palacios (2011), no artigo A influência do auto-
conceitoprofissionalnasatisfaçãocomaequipedetrabalho,relacionam
o autoconceito com o trabalho em equipe, o alcance de determinados
resultados para a organização e a satisfação no trabalho.
Neste artigo, as autoras destacam que o autoconceito tem
como base de formação a relação e comparação com outras
pessoas, sendo relevante em diferentes situações sociais, entre
elas o trabalho, consistindo em uma variável fortemente relacionada
a habilidades e competências, influenciando resultados e relaciona-
mentos. Dessa forma, conceituam o autoconceito profissional:
O autoconceito profissional é definido como “a percepção que o
indivíduo tem de si em relação ao trabalho (tarefas) que executa” (...)
Tal definição considera o autoconceito em função de percepções
individuais relacionadas à realização profissional, à competência, à
autoconfiança e à saúde, que são as suas dimensões constitutivas.
(SOUZA; PUENTE-PALACIOS, 2011, p. 4).
O sentimento de competência implica o indivíduo apreender
que tem um conhecimento específico e é capaz de colocá-lo em
prática em prol de determinados resultados exigidos no ambiente
laboral. Para que o senso de competência exista é preciso um inves-
timento do próprio sujeito no aprimoramento de suas habilidades.
Cada indivíduo, em sua relação com o trabalho, desempenha
de determinado modo sua atividade, o que depende da maneira
como ele se vê diante da tarefa executada, de como se relaciona
17
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
17SUMÁRIO
consigo e com as pessoas da equipe da qual faz parte, com sua
produção e sua autorrealização no trabalho.
A realização profissional está relacionada ao sentimento de
competência diante dos processos de trabalho e das exigências
cotidianas e tem conexão com a saúde, entendida a partir de um
amplo espectro que envolve a vida psíquica, biológica e social.
A percepção do indivíduo e a consciência de si mesmo em
relação ao trabalho que executa, objetivos e resultados alcançados,
reconhecimento, o papel desempenhado e sua importância na
organização em que atua formam a base da realização profissional
(Souza; PUENTE-PALACIOS, 2011).
A satisfação no trabalho e a realização profissional caminham
juntas, uma vez que, quando o indivíduo percebe a si mesmo como
capaz, útil e parte integrante de algo maior, competente e autoconfiante
para realizar suas atividades laborais, há um maior comprometimento
com seu papel na organização, principalmente se esta oferece infraes-
trutura, benefícios, salário, plano de cargos e salários adequados.
Assim como a organização escolhe o indivíduo mais capaci-
tado para atuar em um determinado cargo, o trabalhador também
escolhe a organização que supra suas necessidades de realização
profissional. Quanto mais qualificado é o trabalhador e mais exigên-
cias o cargo requer, maior essa relação de reciprocidade.
Estes fatores também estão relacionados com a saúde no
trabalho, que consiste na percepção de como a atividade laboral
impacta no estado de saúde do indivíduo. Assim, o autoconceito
profissional influencia o modo como o trabalhador se comporta no
ambiente de trabalho, sua postura diante de suas tarefas, a relação
com a equipe da qual faz parte e com os resultados obtidos em
função dos objetivos traçados. Isso porque a imagem que um indi-
víduo tem de si é projetada no meio em que ele está inserido e afeta
a sua percepção de mundo (SOUZA; PUENTE-PALACIOS, 2011).
18
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
18SUMÁRIO
A relação entre autoconceito no trabalho e saúde pode ser
apreendida a partir do entendimento de que as relações laborais,
os processos de trabalho e o modo como o indivíduo se apreende
nesse contexto podem afetar suas emoções e psique de modos
muito distintos, acarretando no senso de importância, utilidade e
valor próprio na atividade exercida ou, ainda, no senso de inutilidade
e desvalorização como trabalhador.
Os processos de saúde e doença no trabalho também podem
ser avaliados a partir do recorte do autoconceito, pois o modo como
o trabalhador se vê diante de seu exercício profissional pode acar-
retar adoecimento nas atividades laborais. Em função disso, cada
vez mais as organizações investem em ações que visem à moti-
vação e à satisfação no trabalho.
Em sua dissertação de mestrado, Invitti (2012) trata de uma
perspectiva mais restrita a respeito do autoconceito profissional,
fazendo um recorte sobre a relação com o assédio moral no trabalho
e ressaltando que estudos anteriores já relacionavam o impacto do
assédio moral sobre o autoconceito profissional.
Uma das relações identificadas por Ferraz (2009) é a influência da
percepção do assédio moral, pelos trabalhadores, sobre o autocon-
ceito profissional destes. A autora encontrou correlação significativa
entre estas duas variáveis, ou seja, a percepção da ocorrência de
situações de assédio moral pelo trabalhador influencia negativa-
mente em seu autoconceito profissional (INVITTI, 2012, p. 27).
A autora destaca que o autoconceito é continuamente cons-
truído e modificado nas relações do sujeito com o meio ambiente,
podendo ser alterado em função das relações de trabalho e do
ambiente laboral. Dessa forma, críticas, humilhações, rejeições,
perdas, abandono, desvalorizações, isolamento, podem ter forte
influência na diminuição do autoconceito.
Invitti (2012), em sua pesquisa, chegou aos seguintes resul-
tados, dentre outros: o assédio moral teve impacto na autoaceitação
19
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
19SUMÁRIO
dos indivíduos avaliados, promovendo a crença de que é preciso
mudar o modo de se comunicar, por exemplo:
a) a autoconfiança também sofreu impacto, gerando senti-
mento de incapacidade de realização de tarefas em muitos
dos trabalhadores avaliados;
b) no quesito autovalor, alguns participantes, ao se sentirem
desvalorizados no trabalho, também passaram a atribuir
menos valor a si mesmos;
c) na categoria autoconceito social, alguns trabalhadores
relataram dificuldades em estabelecer novas relações e de
comunicar o que pensam;
d) metade da amostra estudada apresentou percepção de
baixo autoconceito moral, com relatos de sentimento de culpa
e vergonha.
Os dados do estudo mostram que, mesmo que uma pessoa
tenha um autoconceito profissional positivo, ao ser exposta constan-
temente a situações de humilhação, de desvalorização e críticas não
assertivas, esse autoconceito pode ser alterado para pior, fazendo
com que haja uma transformação no modo como o indivíduo vê sua
capacidade de lidar com os desafios do trabalho, com seus pares e
gestor(es), com a maneira de se comunicar, entre outros prejuízos.
O autoconceito profissional também foi analisado por Tamayo
e Abbad (2006) em relação ao treinamento no trabalho. As autoras
ressaltam que o autoconceito profissional é altamente relevante
para que os conteúdos dos treinamentos realizados possam ser
colocados em prática. Isso implica que pessoas com baixo auto-
conceito profissional tendem a ter mais dificuldades em utilizar os
recursos adquiridos durante as capacitações, principalmente, se o
ambiente organizacional não for propício.
20
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
20SUMÁRIO
Espera-se que indivíduos que apresentam Autoconceito Profissional
elevado e disponham de ambiente organizacional favorável ao uso
das novas habilidades percebam de forma mais favorável o Impacto
do Treinamento no Trabalho do que aqueles que apresentam baixo
Autoconceito Profissional e que se encontrem em ambiente organi-
zacional desfavorável (TAMAYO; ABBAD, 2006, p. 11).
Quando as organizações têm um bom ambiente para o
trabalho e propiciam treinamentos para seus trabalhadores, há uma
tendência a que estes se sintam mais valorizados e compreendam
a importância do aprimoramento para a realização de suas ativi-
dades, o que tende a fortalecer o autoconceito profissional.
Santos (2014), por sua vez, relaciona autoconceito, gênero e
trabalho, fazendo uma análise de mulheres que ocupam profissões
socialmente compreendidas como masculinas. E em sua pesquisa
de doutorado, chega aos seguintes resultados: as mulheres atri-
buem o sucesso na ocupação predominantemente masculina à
competência adquirida no exercício profissional na relação com os
homens que desempenham a mesma tarefa; parece existir indica-
ções a respeito das tarefas específicas que favorecem o exercício
profissional, como não se sentir inferior aos homens, não demons-
trar fragilidade, realizar as atividades conforme esperado pelos
homens ou até mesmo com maior nível de qualidade; a mulheres
elegeram um perfil que seria mais ajustado para ocupações tradi-
cionalmente masculinas, que envolve: não ter frescuras, gostar de
fazer coisas que os homens fazem, ter capacidade crítica e poder
de análise, sentir-se à vontade em ambientes masculinos.
Assim, o autoconceito profissional também estaria relacio-
nado às características necessárias para exercer uma determinada
função e à capacidade de aprender a lidar com as adversidades,
podendo alterar a concepção básica e socialmente aceita do que é
um comportamento masculino ou feminino no trabalho. É possível,
dessa forma, um homem realizar tarefas que eram essencialmente
21
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
21SUMÁRIO
femininas, como secretariado, recepcionista e serviços gerais, ou
uma mulher desempenhar atividades que eram consideradas estri-
tamente masculinas, como frentista de posto de gasolina, pescador
e técnico de petróleo.
Meireles e Custódio (2012) ressaltam a importância dos
esquemas relacionados ao gênero para o autoconceito, esquemas
que são criados a partir de experiências individuais e definições
sociais de feminilidade e masculinidade, influenciando respostas
cognitivas, afetivas e comportamentais.
Existem padrões socioculturais específicos e determinados
para cada gênero, que faz com que sejam criados atributos e
condutas esperadas para homens e mulheres. Dos homens, por
exemplo, são esperadas ações agressivas, racionais, objetivas e
competitivas; das mulheres, são esperadas condutas sensíveis,
delicadas, emotivas, frágeis e passíveis.
No mundo do trabalho, esses esquemas não são mais tão
estanques, pois há muitas profissões que requerem esquemas
masculinos e femininos; isto é, uma interatividade entre aspectos
de ambos os gêneros que fazem parte do ser humano.
Os esquemas fazem parte do autoconceito e são ativados
mediante estímulos do meio. A ideia de que todos os indivíduos
possuem esquemas masculino e feminino simultaneamente é o que
constitui o Modelo Interativo, que propõe os seguintes grupos tipo-
lógicos: Heteroesquema Masculino (o esquema masculino predo-
mina sobre o feminino); Heteroesquema Feminino (o esquema
feminino predomina sobre o masculino); Isoesquema (há simetria
no desenvolvimento de esquemas feminino e masculino). (GIOVANI;
TAMAYO, 2000 apud MEIRELES; CUSTÓDIO, 2012).
A partir do exposto, é possível compreender que as pessoas
percebam o autoconceito profissional de formas distintas em
22
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
22SUMÁRIO
função dos esquemas internalizados a respeito do que é a atividade
laboral para homens e mulheres, bem como possíveis diferenças na
percepção do valor de outras pessoas nas relações interpessoais e
de si mesmo no ambiente de trabalho.
Gondim et al. (2013) fazem um comparativo sobre o autocon-
ceito e gênero relacionado ao trabalho no Brasil e Angola, desta-
cando o aumento das mulheres inseridas no mercado de trabalho
e o aumento dos atributos relacionados ao gênero feminino em
ambos os países.
Os resultados que os autores supracitados revelam são que a
maioria das pessoas em cargo de gestão, seja do sexo masculino ou
do feminino, apresenta predominância de atributos femininos, e as
mulheres gerentes também incorporam atributos masculinos para o
exercício da função. Isso parece ocorrer em função do que é reque-
rido para o cargo de gestão: objetividade, racionalidade e, também,
empatia, compreensão do outro, dentre outros aspectos. Dessa
forma, homens e mulheres apresentam atributos de ambos os tipos,
pois há um caráter multidimensional da perspectiva de gênero, que
estão presentes na formação do autoconceito pessoal e profissional.
A partir dessa análise, pode-se inferir que a forma como o
indivíduo vê a si mesmo e como se posiciona diante da sua vida
profissional de acordo com o autovalor, influencia a produtividade e
os resultados dos seus esforços no trabalho. O autoconceito profis-
sional deve ser visto como um critério importante para as relações
de trabalho, a energia empregada no exercício da função, a apro-
priação da produtividade e os impactos na capacidade de lidar com
as mudanças necessárias no mundo organizacional.
Emilio e Martins (2012) relacionam autoconceito profissional
e resiliência no trabalho, abordando o papel do autoconceito diante
da exigência de se adaptar às necessidades de mudança e às
adversidades da organização.
23
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
23SUMÁRIO
O ritmo acelerado, a necessidade de cumprir objetivos em
curto espaço de tempo, a obrigatoriedade de aprendizado constante
em função de mudanças para adequação ao mercado, aumento de
responsabilidade e de tarefas executadas, podem acarretar preju-
ízos para a saúde, dependendo do modo como o indivíduo lida
com todas essas pressões no ambiente de trabalho. Ser resiliente
implica uma adaptação e flexibilização diante desse contexto.
Indivíduos que acreditam no seu potencial e têm um alto auto-
conceito profissional tendem a ser mais resilientes, pois confiam que
podem aprender constantemente e assumir novas responsabilidades,
flexibilizando suas atividades e negociando prazos. Uma pessoa
que possui autoconfiança na sua capacidade de trabalho supera os
obstáculos em prol de melhores resultados e da sua autorrealização.
O estudo de Emilio e Martins (2012) foi realizado com poli-
ciais militares e revelou que a maioria dos participantes se sente
capaz de enfrentar as adversidades em função da persistência e
da adaptação positiva às mudanças, suportando situações difíceis
no trabalho, com bom autoconceito profissional, e confiando em si
mesmos para a realização de suas atividades.
Costa (2002) ressalta que o trabalho é constituinte da iden-
tidade do indivíduo e do modo como ele se percebe como parte
da sociedade. As relações de prazer e desprazer fazem parte da
atividade laboral em função de seus significados.
Como o autoconceito é um constructo subjetivo, a melhor
forma de avaliá-lo é a autodescrição. Costa (2002) propõe seis
fatores para a análise do autoconceito no trabalho: autonomia, reali-
zação, competência, saúde, segurança e ajustamento. A autonomia
corresponde à capacidade de tomar decisões e resolver problemas
complexos sem ajuda. A realização abrange a consciência de suas
aspirações, ideais, do seu papel e status na organização em que
24
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
24SUMÁRIO
atua. A competência diz respeito à percepção do indivíduo acerca
de sua atuação profissional e os sentimentos que surgem desta
percepção. A saúde é um fator que consiste na percepção de
como o trabalho e suas nuances podem afetar a saúde. A segu-
rança abarca a percepção do indivíduo sobre suas suspeitas e
hesitações em face às novas situações e mudanças no trabalho.
O ajustamento consiste no modo como o indivíduo se apreende no
que diz respeito à adequação das regras do trabalho, de condutas
sociais e no modo como se auto avalia em relação à adaptação às
tarefas que executa.
Pode-se, então, verificar que o autoconceito é um tema atual
que vem sendo cada vez mais estudado em função de sua possível
relação com a produtividade, com o envolvimento e comprometi-
mento com os resultados no trabalho.
Conclusão
Este estudo conceituou o autoconceito profissional a partir
de bases teóricas e pesquisas científicas sobre o tema, explicando
as possíveis implicações de um autoconceito profissional positivo
e negativo para o trabalhador e a organização. Também foi anali-
sada a relação entre o autoconceito profissional, o assédio moral e
os aspectos de gênero e resiliência. Além disso avaliou-se como o
autoconceito profissional pode impactar na saúde do trabalhador.
Nesse sentido, os objetivos do estudo foram cumpridos.
	 Os resultados mostraram que o autoconceito profissional
influencia o desempenho, as relações interpessoais, o senso de
autorrealização, a satisfação, a resiliência e a saúde no trabalho,
tendo relação com a produtividade e os resultados para a o indi-
víduo e a organização, o que afirma a hipótese adotada neste
estudo e responde ao problema de pesquisa.
25
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
25SUMÁRIO
Conclui-se que quando o autoconceito profissional é positivo,
a tendência é que haja mais facilidade em lidar com as dificuldades
que surgem diariamente no trabalho, pois a pessoa tem autocon-
fiança e se impulsiona para realizar suas tarefas, empenhando‑se
da melhor forma possível para que tenha os melhores resultados.
No mundo do trabalho, o modo como as pessoas lidam
com a atividade laboral que desempenham, com as relações intra
e interpessoais, bem como o ambiente e clima que a organização
apresenta, influenciam o autoconceito profissional, o sentimento de
autoconfiança para a realização de tarefas e de competência para
solucionar problemas e enfrentar desafios.
Referências
ACAMPORA, B. AUTOESTIMA: práticas para transformar pessoas. Rio de
Janeiro: Wak editora, 2013.
ASSIS, S. G. Labirinto de espelhos: formação da autoestima na infância e
na adolescência. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004.
COSTA, P. Escala de Autoconceito no Trabalho: Construção e Validação.
Psicologia: Teoria e Pesquisa. jan./abr. 2002, v. 18 n. 1, p. 75-81. Disponível
em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n1/a09v18n1.pdf>. Acesso em: 2
jan. 2016.
EMILIO, E.; MARTINS, M. Resiliência e autoconceito profissional em
policiais militares: um estudo descritivo. Mudanças – Psicologia da
Saúde, 20 (1-2), Jan-Dez 2012, 23-29p. Disponível em: <file:///C:/Users/
Admin/Desktop/ARTIGOS%20AUTOCONCEITO%20NO%20TRABALHO/
resili%C3%AAncia%20e%20autoconceito%20profissional%20em%20
policiais.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2016.
GONDIM, S. et al. Gênero, autoconceito e trabalho na perspectiva de
brasileiros e angolanos. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2013,
vol. 16, n. 2, p. 153-165. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/cpst/
article/viewFile/77827/81805 – acesso em: 02 jan.16.
26
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
26SUMÁRIO
INVITTI, C. Autoconceito de trabalhadores assediados moralmente no
trabalho. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis,
2012. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/
handle/123456789/100814/309676.pdf?sequence=1&isAllowed=y>
Acesso em: 2 jan. 2016.
MEIRELES, M; CUSTÓDIO, M. R. Diferenças do autoconceito entre
enfermeiros e portadores de estoma intestinal. Encontro Revista de
Psicologia. v.14, n.20, 4 maio 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/
Admin/Desktop/ARTIGOS%20AUTOCONCEITO%20NO%20TRABALHO/
diferen%C3%A7as%20do%20autoconceito%20entre%20enfermeiros%20
e....pdf – acesso em 02 jan.16.
ROGERS, C. Tonar-se Pessoa. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SAMPIERE, HR; COLLADO, CF; LUCIO, MPB. Metodologia de Pesquisa.
5ª ed. Porto Alegre: penso, 2013.
SANTOS, V. Autoconceito, gênero e trabalho: mulheres em profissões
masculinas. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia da Universidade
Federal da Bahia - UFBA. Salvador, 2014. Disponível em: <http://www.
pospsi.ufba.br/Vanda_Martins%20(Tese).pdf>. Acesso em: 2 jan. 2016.
SERRA, A. O auto-conceito. Análise Psicológica (1988), 2
(VI): 101-110. Disponível em: <http://repositorio.ispa.pt/
bitstream/10400.12/2204/1/1988_2_101.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2016.
SOUZA, M & PUENTE-PALACIOS. A influência do autoconceito profissional
na satisfação com a equipe de trabalho. Estudos de Psicologia,
Campinas, 28(3), 315-325, julho - setembro 2011. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/estpsi/v28n3/a03v28n3.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2016.
TAMAYO, A. Relação entre o auto-conceito e a avaliação percebida de um
parceiro significativo. Arq. Bras. Psic, Rio de Janeiro, 37(1):88-96, jan./mar.
1985. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abp/
article/viewFile/19178/17918>. Acesso em: 11 mar. 2016.
TAMAYO, N.; ABBAD, G. Autoconceito Profissional e Suporte à
Transferência e Impacto do Treinamento no Trabalho. RAC - Revista
de Administração Contemporânea [online] 2006, 10 (julho-setembro).
Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84010302>.
Acesso em: 2 jan. 2016.
VEIGA, F. Transgressão e autoconceito dos jovens na escola. Lisboa,
Portugal: Fim de Século, 1995.
CAPÍTULO 2
ANÁLISE COMPORTAMENTAL: COMO A
LINGUAGEM CORPORAL PODE CONTRIBUIR NO
AMBIENTE E SAÚDE
João Batista de Oliveira Filho
2
Análisecomportamental:
comoalinguagem
corporalpodecontribuir
noambienteesaúde
JoãoBatistadeOliveiraFilho
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.27-42
28
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
28SUMÁRIO
Resumo:
O presente artigo consiste em um estudo de finalidade aplicada do tipo
transversal, de caráter quantitativo, com perfil exploratório, realizado em
pesquisa de campo na qual se levantaram dados por meio de um ques-
tionário estruturado que abordou o perfil e o nível de conhecimento e a
aplicabilidade da linguagem não verbal em seu ambiente de trabalho, tendo
como objetivo analisar o conhecimento de profissionais de saúde sobre a
interpretação da linguagem corporal e expressão das emoções pela face e
a influência desse procedimento no cotidiano. Constatou-se que todos os
participantes foram capazes de identificar, corretamente, a maior parte das
expressões emocionais.
Palavras-chave:
Ambiente hospitalar; Comunicação não-verbal; Linguagem corporal
29
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
29SUMÁRIO
Introdução
O corpo e a face dos seres humanos estão sempre dela-
tando o que se passa no universo subjetivo de cada um. Basta um
pouco de atenção para poder perceber o extravasamento de ansie-
dade pelo contínuo movimento dos dedos sobre a mesa de uma
pessoa na sala de espera e a sensação de medo em outra andando
apressadamente por uma rua escura tarde da noite. Claro que tais
demonstrações de linguagem não verbal só podem ser bem deci-
fradas ao estarem dentro de um cenário em que se crie um contexto.
O ambiente hospitalar oferta um cenário único de observação
no qual o usuário se apresenta quase sempre em uma forma fragi-
lizada, fazendo com que emoções como medo, tristeza ou raiva
possam surgir em seus mais diversos perfis. A expectativa (ou não) de
um resultado positivo, a ansiedade criada pela moléstia que o aflige
e o medo de um estado prolongado na doença, podem fazer surgir
comportamentos, gestos, posturas e expressões faciais pertencentes
a um vocabulário rico encontrável em uma unidade de saúde.
De forma natural, as pessoas já utilizam o entendimento da
linguagem corporal e das expressões faciais. Mesmo sem nenhum
conhecimento técnico a respeito dessas possibilidades, quase
todos os seres humanos sabem que um rosto sorridente significa
exatamente o contrário de um rosto entristecido. Basta o olhar se
deparar na face do outro com o formato dos lábios curvados com
as pontas voltadas para cima ou para baixo para se ter uma ideia do
que ocorre no universo subjetivo da pessoa.
Esse perfil de conhecimento natural e espontâneo, fruto
de uma memória filogenética, como demonstram Darwin (2009),
Ekman (2007) e outros, está inserido na própria estrutura humana
como espécie e como meio facilitador do processo comunicacional.
30
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
30SUMÁRIO
Antes da aquisição da linguagem verbal, as expressões e os gestos,
unidos aos grunhidos e gritos, eram a única forma de comunicar as
intenções e estados emocionais.
Não se trata de um processo de comunicação exclusivo dos
primatas. Darwin (2009) apresenta as expressões das emoções em
várias espécies além dos símios. Cães e gatos possuem um vasto
repertório de signos posturais para interagirem uns com os outros
e com seus respectivos donos. Muitos dos que possuem animais
de estimação (estas espécies em particular) conseguem identificar
várias necessidades de seus animais pela forma como eles apre-
sentam seus movimentos, quase sempre como verdadeiros rituais
que antecedem passeios, alimentação, necessidades fisiológicas,
necessidade de carinho, entre outros.
Alinguagemnãoverbalatravessatodooprocessodaevolução
do ser humano como um apoio à comunicação com o grupo. Até
hoje os primatas selvagens, macacos, se valem de gestos para
informar intenções ao grupo. O zoólogo e autor Desmond M. (2006),
em seu livro O Macaco Nu, apresenta vários tipos de exibição da
linguagem corporal dos símios com diversas intenções.
O autor cita, por exemplo, como os chimpanzés sinalizam,
pela expressão corporal, que não são agressivos aos outros
membros de sua própria espécie. Eles oferecem a mão como sinal
de submissão; quase o mesmo movimento feito pelos humanos
quando movimentam as mãos para se cumprimentarem. No caso
dos chimpanzés, apenas um deles apresenta a mão e se propõe
como submisso e não agressivo, tornando-a assim extremamente
vulnerável às possíveis dentadas que podem ser desferidas pelo
outro animal. Esse gesto tende a acalmar o outro animal de que está
diante. Trata-se da utilização da linguagem corporal como meio de
evitar atos violentos entre os indivíduos do grupo.
31
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
31SUMÁRIO
Metodologia
Esta pesquisa foi feita com quarenta profissionais de saúde
que atuam diariamente no cuidado a pacientes internos que perma-
necem por muito tempo deitados em seu leito, com a aplicação de
questionário devidamente validado por experts doutores em psico-
logia. Trata-se de um estudo de finalidade aplicada, caracterizado por
ser do tipo transversal, de caráter quantitativo, com perfil exploratório,
realizado por meio de pesquisa de campo com levantamento de
dados por meio de um questionário de 21 perguntas que abordaram
o perfil e nível de conhecimento dos pesquisados sobre a aplicabili-
dade da linguagem não verbal em seu ambiente de trabalho.
Pesquisa exploratória: o problema da linguagem não verbal
no ambiente de saúde ainda não é amplamente estudado, por
isso, se torna um campo rico em possíveis novas descobertas. O
foco direcionado às posturas adotadas pelos pacientes nos leitos
hospitalares é inédito e, portanto, inovador, o que qualifica ainda
mais este estudo como exploratório. Existem conceitos promissores
nesse imenso campo da comunicação não verbal, o que pode auxi-
liar na elaboração de novos estudos.
Não há dúvida quanto ao pequeno número de documentos
encontrados no resultado da pesquisa sistemática realizada para
este estudo, um dado relevante quanto a isso, pois, mesmo com
descritores amplos, o número final foi de apenas 181 textos, dos
quais somente 48 estavam de fato relacionados ao perfil da utili-
zação da comunicação não verbal no ambiente da saúde.
A ausência de informações científicas para um embasamento
amplo torna ainda mais importante o aspecto exploratório. Isso pode
alavancar novos estudos e possibilitar o crescimento da clarificação
das relações comunicacionais entre os profissionais que atuam no
ramo da saúde e seus pacientes.
32
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
32SUMÁRIO
É importante lembrar que uma intervenção terapêutica
bem-sucedida pode solucionar um problema, trazendo bem-estar
para uma pessoa. Para isso, todas as informações devem chegar
ao profissional para facilitar sua tomada de decisão. Dessa forma,
os índices informacionais ofertados pela comunicação não verbal
se tornam tão relevantes como a comunicação verbal e, muitas
vezes, superior a ela.
O caráter exploratório desse estudo busca evidenciar alguns
elementos e dados qualitativos que possam ser utilizados por outros
pesquisadores no futuro.
Resultados/Discussão
Este estudo tem por objetivo mostrar como os sinais não
verbais podem ser úteis no cotidiano de um hospital. A atenção
principal é voltada para o paciente interno, por vários dias, em uma
postura deitada no leito hospitalar. Foram escolhidas instituições
onde o período de internação fosse mais prolongado, um lugar
onde o convívio diário fosse compartilhado por mais tempo e os
pacientes permanecessem em seus leitos por longos períodos.
O Programa Nacional de Humanização da Assistência
Hospitalar surge no Brasil com o objetivo de colocar o paciente em
primeiro plano e tratá-lo como ser humano, com direitos a serem
respeitados. A comunicação é o objeto de maior valor na interação
entre os elementos envolvidos: o profissional e o paciente. Deve-se
dar valor ao processo comunicacional para que não restem dúvidas
de que o entendimento do que é dito pela linguagem verbal não deve
ser prejudicado quando ocorrem incongruências entre as palavras e
o que está sendo exposto pelos gestos ou posturas. Dúvidas podem
gerar erros e os erros se transformarem em prejuízo terapêutico.
33
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
33SUMÁRIO
O processo evolucionário manteve as emoções nos homens
como forma de preservação da espécie. Elas são úteis para mobilizar
recursos para fuga ou ataque, para sinalizar aos outros membros
da espécie a necessidade de ajuda para acentuar as percepções
diante de algum quadro em que são necessárias mais informações
do ambiente, para tomar a decisão mais correta. O ser humano,
segundo Ekman (2007), desde o tempo das cavernas, dialoga com
seu semelhante muito mais pela linguagem corporal e expressões
emocionais do que pela palavra propriamente dita.
As emoções transbordam em gestos, linguagem corporal,
nas expressões faciais e ainda, com o passar dos anos, deixam
marcas de sua presença nas rugas de expressão. Assim, em um
ambiente hospitalar, os sinais emitidos pelo corpo do interno podem
servir como índices de informações para auxiliar o profissional de
saúde na escolha de sua abordagem comunicacional. As chamadas
rugas de expressão, nos dizeres de Oliveira (2012), podem indicar
as emoções mais vividas pela pessoa durante os anos, pois as
contínuas manifestações das expressões também acabam por
deixar marcas na face.
A inserção da análise comportamental como método de
avaliação do perfil emocional das pessoas, logo no primeiro
momento no atendimento de saúde, visando a ampliação dos
recursos para melhor diagnóstico do sujeito/paciente, pode servir
como recurso de apoio ao profissional de saúde que depende da
otimização de seu tempo. A alta demanda enfrentada diariamente
no sistema de saúde pública necessita cada vez mais de meca-
nismos que possam acelerar o processo de triagem, por exemplo.
Nos dias atuais, pode-se encontrar vários títulos publicados
que direcionam a utilização da comunicação não verbal para o
ambiente corporativo. Líderes, gestores e políticos são apresen-
tados aos modelos mais corretos de movimentar o corpo quando
34
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
34SUMÁRIO
falam para um grupo de pessoas. Vendedores podem tirar proveito
desse conhecimento com a intenção de facilitar suas vendas diaria-
mente. No entanto, o lugar onde o humano mais necessita de
cuidados ainda carece de publicações que possam facilitar o trân-
sito de informações entre pacientes e seus cuidadores.
Nas instituições de saúde, assim como na vida, é relevante
que as relações humanas sejam saudáveis, permeadas por trocas
que permitam uma boa expressão emocional nas quais caibam
movimentos de aproximação e de acolhimento. Lançada em 2003, a
Política Nacional de Humanização (PHN) estimula uma relação mais
pessoal com o ser humano, que é sociável por natureza e pode
apresentar uma série de problemas de ordem emocional e compor-
tamental quando não consegue se comunicar bem. Identificar
pelas expressões faciais e linguagem corporal as emoções mais
presentes no sujeito e corretamente alocá-lo no melhor perfil de
tratamento possível pode ser mais um elemento importante para o
retorno da saúde plena.
Em todo o tempo, as pessoas estão interagindo umas com as
outras, mas o profissional de saúde deve ter uma atenção toda espe-
cial, uma vez que sua relação com o paciente, mão inversa da leitura
do sujeito à sua frente, pode implicar um retorno nas informações.
O desenvolvimento da compreensão do outro, identificando
seu perfil emocional e podendo relacionar isso às funções de uma
unidade hospitalar, pode vir a ser um dos fatores mais importantes
para um bom relacionamento interpessoal, pois quando se compre-
ende que as pessoas são diferentes de nós, que não precisamos
ter sempre razão, que as pessoas têm problemas tanto quanto
nós, que importância é uma questão valorativa, que quando conhe-
cemos nossas limitações e dificuldades podemos inferir que os
outros também têm limitações e dificuldades, então, avaliar em vez
de julgar fica muito mais fácil.
35
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
35SUMÁRIO
Atualmente, o atendimento nos ambientes da saúde necessita
colher o máximo de informações possível para a melhor avaliação
dos usuários. Nesse universo, novas ferramentas podem ser criadas
a partir desta pesquisa com enfoque na análise comportamental
voltada diretamente para ajudar ao profissional de saúde que parti-
cipa deste contato com o sujeito/paciente. Para esses profissionais,
pode ser a incorporação de mais um instrumento aos já existentes
em sua análise clínica, que pode ser usada na observação do
usuário durante todos os momentos de interação. Durante esse
processo, o profissional, após breve apresentação aos conceitos da
análise comportamental, pode ter uma observação mais apurada
de detalhes expostos, mas não ditos.
Estar atento a esses fatores e, principalmente, ao estado
emocional, pode dotar o profissional de saúde de recursos mais
refinados que irão possibilitar um apanhado apurado de informa-
ções sobre o sujeito/paciente.
Por intermédio desta pesquisa, pretende-se investigar a utili-
zação do recurso da análise comportamental na observação da
linguagem corporal dos pacientes deitados em seu leito para ampliar
as possibilidades de extrair as melhores informações possíveis de
sujeito/paciente e potencializar o processo terapêutico, dando ao
profissional de saúde mais uma ferramenta no seu instrumental de
acompanhamento clínico.
Sem a pretensão de ser finalista, este estudo exploratório
busca encontrar elementos que possam incentivar novas pesquisas
nesta área específica do conhecimento humano. Todo e qualquer
elemento que, somando aos já existentes, possa agregar valores
ao momento terapêutico deve ser valorizado. O humano, como ser
acometido de uma enfermidade, muitas vezes se perde no entendi-
mento ou compreensão do que está sendo colocado pela comuni-
cação verbal.
36
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
36SUMÁRIO
Ao que se refere às seis emoções básicas apresentadas aos
profissionais no questionário para seu reconhecimento, não ocorreram
grandes diferenças de identificação. O nível de acerto alto comprova
a universalidade destas expressões faciais – raiva, medo, alegria, tris-
teza, espanto e nojo. As emoções básicas raiva e tristeza, por exemplo,
tiveram 100% de acerto. Este fenômeno deve suceder por relacionar-se
às expressões mais vistas por esses profissionais no seu trabalho ao
lidar com pacientes com transtornos de humor e adictos.
Neste ponto, a linguagem corporal e as expressões faciais
deixam de ser apenas úteis e passam a ser fundamentais para a
manutenção de um processo comunicacional entre as partes no
ambiente hospitalar. Mesmo que pequeno, o entendimento dos
signos não verbais pode levar o cuidador a tomar decisões asser-
tivas que minimizem o estado de dor e sofrimento em que seu
paciente se encontra.
Trata-se de municiar os cuidadores de mais uma ferra-
menta para o arsenal de conhecimentos adquiridos no lidar coti-
diano. Outra possibilidade é a inserção dessas informações ainda
no momento de formação do profissional de saúde para que ele
chegue às suas funções com mais preparo, no que diz respeito ao
entendimento dos sinais que podem ser emitidos tanto pela face
quanto pelo corpo do paciente no hospital.
Ao ser analisado o objetivo específico, que foca a questão de
o tempo de serviço ou faixa etária do profissional causar alteração
na percepção da linguagem não verbal, uma conclusão definitiva
não foi possível por causa do pequeno número de elementos cons-
tantes no universo pesquisado com grande período de atividade
laboral. No entanto, o índice de assertividade desses profissionais,
com maior tempo de atividade ou faixa etária, foi excelente, demons-
trando que, quanto maior o tempo de serviço ou idade, capacidade
de percepção dos sinais emitidos pelo corpo se amplia.
37
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
37SUMÁRIO
Mesmo nos primeiros momentos de triagem, este conhe-
cimento pode ter seu valor destacado para minimizar o tempo de
espera daqueles usuários que, pela postura e expressões faciais,
demonstram mais necessidade de ações terapêuticas iniciais. O
alívio da dor por meio de intervenções promovidas pelos profissio-
nais de saúde poderá ser direcionado para os que demonstram
maior grau de sofrimento, podendo ser percebido sem a necessi-
dade de uma anamnese mais profunda.
A hipótese deste estudo foi confirmada, já que a pesquisa
comprova que o conhecimento de análise comportamental agrega
valor ao instrumental do profissional de saúde para melhor atender
ao paciente acamado, por tornar mais fácil o entendimento de
suas demandas subjetivas não expressas em sua totalidade pela
linguagem verbal. Dessa forma, este estudo apresenta a possibili-
dade de existir um encontro salutar da prática terapêutica em hospi-
tais e clínicas e do conhecimento da análise comportamental de
uma forma ampla.
Conclusão
O objetivo geral deste estudo foi alcançado, uma vez que fora
possível verificar não só a existência de um bom nível de conheci-
mento natural entre os profissionais cuja capacidade de reconhe-
cimento de expressões faciais básicas pôde ser avaliada, como
também o interesse pelo tema. Muitos profissionais já utilizam,
de forma espontânea, suas percepções da linguagem não verbal
para tomar algumas decisões nas ações terapêuticas no processo
cotidiano. Já existem conhecimentos em prática nas unidades
pesquisadas, tornando-se desnecessários grandes esforços em
treinamentos para a utilização da linguagem não verbal de forma
cotidiana como ferramenta no instrumental terapêutico.
38
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
38SUMÁRIO
O objetivo específico de identificar o conhecimento de profis-
sionais de saúde sobre a interpretação da linguagem corporal do
paciente acamado e expressão das emoções pela face foi alcan-
çado uma vez que a grande maioria conseguiu relatar a existência
de uma observação desses sinais e ações terapêuticas efetivadas
muitas vezes com base nesses sinais.
Assim, também se comprovou o objetivo específico que
consistia em analisar o conhecimento de profissionais de saúde
sobre a interpretação da linguagem corporal e expressão das
emoções pela face e também a influência desse procedimento no
cotidiano, já que, como citado, ações foram feitas com base no
entendimento da linguagem não verbal mesmo que ainda não exista
um protocolo oficial da instituição para esse perfil de atuação.
Por esse mesmo prisma, também se comprovou outro obje-
tivo específico que consistia em avaliar a influência que o proce-
dimento da interpretação da linguagem corporal e expressão das
emoções pela face pode criar, para ajudar no cotidiano do ambiente
de saúde. A experiência em lidar com os pacientes no dia a dia, com
os erros e acertos comunicacionais pode ter desenvolvido um nível
de conhecimento mais apurado nessas pessoas, no entendimento
da linguagem não verbal. Assim, por intermédio deste estudo, foi
possível perceber que esses atributos já existem, mesmo de forma
inconsciente nos profissionais.
Um protocolo, como o que inicialmente apresentamos com
cinco posturas sendo o resultado dessa pesquisa, pode funcionar
como um dicionário que traduz as expressões faciais e corporais ao
entendimento do profissional de saúde, para que ele possa decidir
com velocidade qual a melhor intervenção a ser feita em prol do
paciente à sua frente. Sendo certo pensar que mais estudos seriam
úteis para dispormos de outras posições e suas indicações de
estado do paciente.
39
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
39SUMÁRIO
Muitas publicações existem e estudos continuam sendo
realizados em todo o mundo, realçando o valor dessa abordagem.
Esperamos que este trabalho possa incentivar novos pesquisadores
a ter um olhar científico e trazer conhecimentos úteis no que tange
ao lidar com seres humanos que, por um motivo ou outro, possuem
dificuldade de se expressarem na forma verbal.
Um elemento simples como este quadro com figuras dos
resultados apontados nessa pesquisa pode ser de grande utilidade
como apoio aos profissionais que atuam no primeiro contato com
o paciente no hospital. Perceber o nível de desconforto ou dor que
o paciente pode estar sentindo, sem ao menos fazer uma pergunta
verbal, aumenta a possibilidade de assertividade e alívio do sofri-
mento do usuário.
Poucas horas dedicadas a um treinamento focado na comu-
nicação não verbal nas instituições de saúde podem criar uma
verdadeira revolução na velocidade com que os procedimentos
iniciais ocorrem na triagem. Ampliar o nível de conforto e bem-estar
com maior velocidade de ações terapêuticas direcionadas aos que
mais precisam é prover qualidade no atendimento. O reflexo disso
deve ser percebido em um processo de recuperação mais rápido
e na desospitalização. Assim, o sistema ganha em produtividade,
mantendo um excelente nível de qualidade no atendimento.
Nem sempre a tecnologia que pode prover resultados está
retida em modernos equipamentos de última geração e altos custos.
O mais valioso bem de qualquer instituição de saúde são os seus
profissionais que, bem orientados e treinados, podem causar toda
a diferença no atendimento aos usuários.
Os gestores devem incluir no briefing diário um item que
destaque, todos os dias, uma atenção especial aos gestos e expres-
sões. Somente isso poderia trazer um aumento na eficácia das
40
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
40SUMÁRIO
ações dos agentes de saúde. Protocolos de ações devidamente
estudados também podem ser incorporados na detecção de deter-
minados sinais ou posturas emitidas pelos usuários. Igualmente, os
profissionais podem ser orientados a uma maior atenção às próprias
posturas diante dos pacientes para evitar conflito no entendimento do
conteúdo das mensagens verbais e transferir mais confiança e afeto.
Não há nada que se possa perder ao fazer um investimento
para a maior compreensão da linguagem não verbal. Qualquer novo
conhecimento nessa área será útil em toda interação em que estiver
presente o ser humano se comunicando com outro ser humano.
O ambiente de saúde é um laboratório constante em busca de
soluções para prover bem-estar aos seus usuários e aos elementos
que compõem seu corpo laboral. Dessa maneira, pensar em formas
de colocar mais instrumental válido a serviço da melhor qualidade
no atendimento deve ser sempre bem-vindo ao sistema em todos
os seus níveis de contato com a população.
Conclui-se que muito pode contribuir para o ambiente hospi-
talar já que o reconhecimento da importância de obter mais informa-
ções sobre a comunicação não verbal pelos profissionais de saúde
foi notadamente registrado neste trabalho. Por isso, deve-se investir
em mais atenção dos gestores das unidades de atendimento em
relação à criação de um protocolo de atendimento com foco na
comunicação não verbal.
Referências
DARWIN. Charles. A expressão das emoções no homem e nos animais.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
EKMAN, Paul. A Linguagem das Emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011.
_____. Emotions revealed. New York: Holt Paperbacks, 2007.
41
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
41SUMÁRIO
MORRIS, Desmond. Bodytalk: a world guide to gestures. Londres:
Jonathan Cape, 1994.
_____. O macaco nu um estudo do animal humano. 16. ed. Rio de Janeiro:
Editora Record. 2006.
OLIVEIRA, J. Saiba quem está à sua frente: Análise comportamental pelas
expressões faciais e corporais. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2012.
PACHERIE, E. Mímica Facial. Biblioteca Mente e Cérebro: O desafio das
emoções. n° 5. p. 41-51. São Paulo: Duetto Editorial, 2013.
PINTO, B. et al. Diferenças de gênero entre universitários no
reconhecimento de expressões faciais emocionais. Av. Psicol. Latinoam.
v. 31 n.1 Bogotá jan./abr. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/
scielo.php?pid=S1794-47242013000100017&script=sci_arttext>. Acesso
em: 24 jan. 2016.
RAMOS, A.; AMARAL, F. A comunicação não-verbal na área da saúde.
São Paulo, SP, Revista CEFAC: Atualização Cientifica em Fonoaudiologia e
Educação 14.1, p. 164-70, 2012. Disponível em: <http://bit.ly/1RIGpRu>.
Acesso em: 25 jan. 2016.
REBOUÇAS, C. et al. Validação de modelo de comunicação não verbal
para a consulta de enfermagem a pacientes cegos. Fortaleza, CE,
Revista de Enfermagem do Nordeste, 13(1): p. 125-39, 2012. Disponível
em: <http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/
view/24/20>. Acesso em: 18 jan. 2016.
RESENDE, R. et al. Expressões corporais no cuidado: uma contribuição
à Comunicação da Enfermagem. Brasília, DF, Revista brasileira de
enfermagem, 2015, v. 68, maio/jun. p. 490, 490-6. Disponível em: <http://
www.scielo.br/pdf/reben/v68n3/0034-7167-reben-68-03-0490.pdf> Acesso
em: 11 jan. 2016.
SALLES, M.; BARROS, S., Transformações na atenção em saúde mental
e na vida cotidiana de usuários: do hospital psiquiátrico ao Centro de
Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro. Saúde em Debate, v. 37, n. 97, p.
324-335, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v37n97/
v37n97a14.pdf> Acesso em: 7 fev. 2016.
SHARON, S.; Seu corpo fala no trabalho: conquiste seu espaço, crie
relacionamentos, inspire e influencie pessoas. Petrópolis, RJ: Editora
Vozes, 2012.
42
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
42SUMÁRIO
SILVA, J.; SILVA, M. Expressões faciais e emoções humanas: levantamento
bibliográfico. Brasília, DF, Brasil. Revista Brasileira de Enfermagem, v.
48, n. 2, p. 180-7, 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/
v48n2/v48n2a13.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2016.
SILVA, L. et al. Comunicação não-verbal: reflexões acerca da linguagem
corporal. Ribeirão Preto, SP. Rev. latino-am. enfermagem, v. 8, n. 4, p. 52-58,
2000. Disponível em: <http://bit.ly/1K6W2jp>. Acesso em: 25 jan. 2016.
SILVIA, M. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações
interpessoais em saúde. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
_____. Aspectos gerais da construção de um programa sobre para
enfermeiros. Ribeirão Preto - SP, Revista Latino Americana de Enfermagem,
v. 4 - n. especial, p. 25-37, 1996. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
rlae/v4nspe/v4nea04.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2016.
SOUZA, A.; SARAN, D. A Comunicação como ferramenta de apoio a
pacientes terminais. Dourados, MS, Comunicação & Mercado/UNIGRAN,
v. 1, n. 3, p. 7-13, 2012. Disponível em: <http://www.unigran.br/mercado/
paginas/arquivos/edicoes/3/edicao_completa.pdf#page=7>. Acesso em:
31 jan. 2016.
SOUZA, R.; ARCURI E. Estratégias de comunicação da Equipe de
Enfermagem na afasia decorrente de acidente vascular encefálico. São
Paulo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2014; 48(2): p. 292-8.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n2/pt_0080-6234-
reeusp-48-02-292.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2016.
SPILLLER, E.; SENNA, A.; SANTOS, J.; VILAR, J. Gestão dos serviços em
Saúde. Rio de Janeiro: Publicações FGV Management, 2010.
WERLANG, S. et al. Comunicação não verbal do paciente submetido
à cirurgia cardíaca: do acordar da anestesia à extubação. Rev Gaúcha
Enferm., Porto Alegre, RS, dez 2008; 29(4):551-6. Disponível em:
<http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/
view/7625/4680>. Acesso em: 10 jan. 2016
CAPÍTULO 3
ESTRESSE EM PAIS/RESPONSÁVEIS DE
CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE ESPECTRO
AUTISTA
Manuela Gomes Rangel de Paula
3
Estresseem
pais/responsáveis
decriançascom
TranstornodeEspectroAutista
ManuelaGomesRangeldePaula
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.43-57
44
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
44SUMÁRIO
Resumo:
Este trabalho tem como objetivo relatar como os pais de crianças com
Transtorno do espectro autista (TEA) reagem ao receber o diagnóstico do
filho (a) e como eles lidam com a realidade desse filho(a) buscando instru-
mentalização adequada: seja na indicação médica, educativa e na rotina
doméstica. Desta forma, de acordo com a pesquisa realizada, foi possível
observar a necessidade real de um acolhimento a esses pais/responsáveis,
por precisarem da atenção de um profissional que promova auxilio para
lidar com todas as questões decorrentes de se ter uma criança com TEA
em casa, estando expostos e suscetíveis a níveis de elevado estresse.
Palavras-chave:
Autismo; Criança autista; Família.
45
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
45SUMÁRIO
Introdução
O autismo é um transtorno que causa grande desconforto
para os pais e/ou responsáveis por uma criança, à medida que
ainda é desconhecida a sua origem. Com isso, a família passa por
várias peregrinações médicas até que se chegue a um diagnóstico
e que se trace um tratamento adequado, vindo assim ao longo do
tempo, a minimizar os sintomas.
Sugerimos que este desconhecido associado aos compor-
tamentos estereotipados e os atrasos no desenvolvimento assim
como os inúmeros tratamentos solicitados pela equipe de saúde,
pode tornar a vida desta mãe, porque é ela, em sua maioria, que
assume a responsabilidade dos cuidados diários e da rotina tera-
pêutica estressante.
Partimos do princípio de que a influência dos aspectos
ambientais no desenvolvimento humano e a participação fami-
liar são fundamentais para o desenvolvimento da criança. Ao se
destacar a criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) esta
participação é fundamental.
O TEA, como hoje é nomeado, é um transtorno do desenvol-
vimento que pode ser observado e identificado na primeira infância.
Apesar de ainda não serem conhecidos os mecanismos exatos que
desencadeiam este espectro, o autismo afeta profundamente a
forma como o indivíduo comunica e interage com o meio ambiente,
requerendo, assim, uma adaptação às necessidades específicas de
cada indivíduo e um cuidado contínuo por parte de seus pais e/ou
responsáveis (SCHIMIDT; BOSA, 2003).
As pessoas com o espectro autista têm déficits no processa-
mento da informação que afetam a percepção e a compreensão do
mundo ao seu redor, limitando a capacidade para compreenderem
46
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
46SUMÁRIO
os pensamentos dos outros, suas intenções e suas emoções. Outra
área deficitária é a função executiva que afeta as capacidades de
planejar e organizar. A presença destes problemas neurocognitivos
explica um pouco o porquê destes indivíduos se ocuparem de ativi-
dades restritas e repetitivas como forma de lidar com o ambiente
social, e que para eles, muitas vezes, é visto como um ambiente de
difícil entendimento e compreensão (SCHIMIDT; BOSA, 2003).
O TEA é classificado como um transtorno invasivo do desen-
volvimento que engloba médias e graves dificuldades ao longo da
vida nas habilidades sociais e comunicativas (além das que são atri-
buídas ao atraso global do desenvolvimento) e, também, comporta-
mentos e interesses limitados e repetitivos. Os enquadramentos para
diagnósticos mais utilizados são CID-10 e DSM-V. Cabe ressaltar
que as identificações da sintomatologia nestas áreas acontecem
antes da idade de 36 meses. Constata-se nas referências bibliográ-
ficas consultadas que, de fato, os relatos sobre a preocupação dos
pais em relação ao comportamento social e às brincadeiras de seus
filhos datam dos primeiros dois anos de vida.
Estima-se que o autismo atinge 1% da população, 70 milhões
de pessoas no mundo conforme dados da Organização Mundial de
Saúde (OMS). Destes, 2 milhões estão no Brasil, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014).
Com todas essas informações e dúvidas que as autoras
deste trabalho apresentam ao mesmo tempo com relação ao
Espectro Autista e, observando que os pais de crianças autistas
apresentam um ritmo de vida mais acelerado, se comparado com
as das famílias com crianças sem espectro. Esses pais vivem em
constante estado de alerta em relação a esta criança, pois sempre
são chamados pela circunstância instalada a desenvolver a apren-
dizagem e ao entendimento do que é o autismo e do que lhe está
associado no desenvolvendo social, cognitivo e comportamental da
criança autista (SCHIMIDT; BOSA, 2003).
47
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
47SUMÁRIO
É observado, atualmente, que não é dada a devida atenção
e suporte psicológico adequado aos pais de crianças com TEA.
Muitas vezes nem o indivíduo com o diagnóstico do transtorno tem
acesso aos atendimentos necessários para o seu desenvolvimento.
Por muitas vezes quando essa criança consegue atendimento, já
está com idade avançada para receber suas primeiras intervenções
e os pais, na maioria das vezes, não encontram na rede um suporte
psicológico adequado (FIAMENGHI Jr.; MESSA, 2007).
Metodologia
Esta pesquisa foi realizada a partir de consulta de base de
dados online, com o intuito de enfatizar o estresse em pais ou
responsáveis de crianças autistas, para este fim utilizamos uma
pesquisa bibliográfica. Foram consultadas as seguintes bases de
dados: SciELO e Pepsic publicados até o ano de 2017. Os unitermos
de busca utilizados foram: estresse, crianças autistas, estresse em
cuidadores de crianças autistas, pais de crianças autistas. Após a
pesquisa foram lidos, analisados e selecionados 10 (dez) artigos.
Conceito de Autismo
O autismo é considerado uma síndrome comportamental
de etiologias múltiplas (KLIN, 2006). Segundo o DSM IV-TR (2002),
o Transtorno Autista, figura entre os Transtornos Globais do
Desenvolvimento(TGD),tendocomocritériosdiagnósticosapresença
de alterações qualitativas nas interações sociais recíprocas e nas
modalidades de comunicação, bem como de interesses e atividades
restritas, estereotipadas e repetitivas, se manifestando até os trinta e
seis meses de idade. Também tem sido associado a problemas de
48
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
48SUMÁRIO
comportamento, tais como a hiperatividade, impulsividade, agressivi-
dade, comportamentos autodestrutivos, além de distúrbios de humor
e de afeto (DSM IV-TR, 2002; GADIA & cols., 2004).
Aproximadamente 60 a 70% dos indivíduos com autismo
funcionam na faixa do retardo mental, ainda que esse percentual
esteja sendo reduzido em estudos mais recentes. Esta mudança,
provavelmente, reflete uma maior percepção sobre as manifesta-
ções do autismo com alto grau de funcionamento, o que, por sua
vez, parece conduzir a que um maior número de indivíduos seja
diagnosticado com tal condição (KLIN, 2009).
Segundo Bruno Bethelheim (2008), durante os anos 50 e 60
do século passado, houve muitas dúvidas sobre a sua etiologia e
a crença mais comum era a de que o autismo seria causado por
pais não emocionalmente responsivos a seus filhos (a hipótese da
“mãe geladeira”). Tais noções foram sendo abandonadas, ainda
podendo ser encontradas em partes da Europa e da América Latina.
No início dos anos 60, um crescente corpo de evidências começou
a se acumular, sugerindo que o autismo era um transtorno cerebral
presente desde a infância, havendo apenas predominância no que
se refere ao gênero e nenhuma outra especificidade quanto aos
grupos sociais.
Um marco na classificação deste transtorno ocorreu em 1978,
quando Michael Rutter propôs uma definição do autismo com base
em quatro critérios: 1) atraso e desvio sociais não só como função
de retardo mental; 2) problemas de comunicação, novamente, não
só em função de retardo mental associado; 3) comportamentos
incomuns, tais como movimentos estereotipados e maneirismos;
e 4) início antes dos 30 meses de idade. A definição de Rutter e
o crescente corpo de trabalhos sobre o autismo influenciaram a
definição desta condição no DSM-III, em 1980, quando o autismo
pela primeira vez foi reconhecido e colocado em uma nova classe
49
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
49SUMÁRIO
de transtornos, a saber: Transtornos Invasivos do Desenvolvimento
(TIDs). O termo TID foi escolhido para refletir o fato de que múltiplas
áreas de funcionamento são afetadas no autismo e nas condições
a ele relacionadas (KLIN, 2006).
O fechamento do diagnóstico de autismo ocorre antes dos
três anos de idade. Na medida em que a linguagem não se desen-
volve entre os 12 e os 18 meses, os pais normalmente começam a se
preocupar, eventualmente há relatos dos pais dizendo que a criança
parecia desenvolver alguma linguagem e, então, a fala permaneceu
no mesmo patamar ou se perdeu. Quase sempre os pais relatam
terem ficado preocupados ao redor de dois anos e inevitavelmente
em torno dos três anos.
Ainda que os pais possam estar preocupados pelo fato de
a criança não escutar devido à falta de resposta às abordagens
verbais, normalmente eles podem observar que a criança responde
de forma dramática aos sons de alguns objetos como: um aspirador
de pó, doces sendo desembrulhados entre outros. Ocasionalmente,
os pais relatam, retrospectivamente, que a criança era “demasia-
damente boa”, tinha poucas exigências e tinha pouco interesse na
interação social. Isso contrasta, claramente, com as crianças com
desenvolvimento normal para as quais a voz e a face humanas,
assim como a interação social, estão entre as características mais
interessantes e evidentes do mundo (KLIN, 2006).
É possível que a criança autista desenvolva a fala e, esta,
pode acontecer de diversas formas: eles podem fazer repetição
do que lhes é dito (ecolalia imediata) ou o que escutam em seu
ambiente, como por exemplo, pela TV (ecolalia tardia). A linguagem
tende a ser menos flexível e pode ser não-recíproca em sua natu-
reza, quando a criança produz uma linguagem sem ter a intenção
de comunicação. Mesmo que a sintaxe e a morfologia da linguagem
estejam relativamente preservadas, o vocabulário e as habilidades
50
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
50SUMÁRIO
podem ter um desenvolvimento lento e aspectos dos usos sociais
da linguagem são particularmente difíceis para os indivíduos com
autismo. Portanto, o humor e o sarcasmo podem ser uma fonte
de confusão, na medida em que a pessoa com autismo pode
não conseguir apreciar e entender a intenção de comunicação do
falante, resultando em uma interpretação completamente diferente
da que foi expressa.
Os déficits no brincar podem incluir a falha no desenvolvi-
mento de padrões usuais de desempenho de papéis, ou brinca-
deiras de faz-de-conta, simbólicas ou imaginativas. A criança com
TEA pode explorar os aspectos não funcionais dos brinquedos
(gosto ou cheiro) ou usar partes dos brinquedos para a auto estimu-
lação (girar os pneus de um caminhão de brinquedo). Crianças com
TEA apresentam um repertório notavelmente restrito de atividades
e interesses nesses objetos, frequentemente elas possuem dificul-
dade em tolerar alterações e variações em sua rotina (KLIN, 2006).
Como observamos anteriormente, de 60 a 70% dos indiví-
duos com autismo possuem retardo mental e cerca de metade deles
enquadra-se na faixa de retardo mental leve e os demais na faixa de
retardo mental de moderado a profundo. Segundo Klin (2006), o
retardo mental não é simplesmente consequência de negativismo
ou da falta de motivação. O perfil típico nos testes psicológicos é
marcado por déficits significativos de raciocínio abstrato, formação
de conceitos verbais e habilidades de integração, e nas tarefas que
requerem certo grau de raciocínio verbal e compreensão social.
Não é incomum, por exemplo, que as crianças com autismo tenham
grande facilidade de decifrar letras e números, às vezes precoce-
mente (hiperlexia), mesmo que a compreensão do que lêem esteja
muito prejudicada (KLIN, 2009, p. 6).
Distúrbios do sono e alimentares podem ser muito esgotantes
na vida familiar, particularmente durante a infância. Crianças com
51
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
51SUMÁRIO
autismo podem apresentar padrões erráticos de sono com insô-
nias frequentes à noite por longos períodos. Distúrbios alimentares
podem envolver aversão a certos alimentos, devido à textura, cor ou
odor, ou insistência em comer somente uma pequena seleção de
alimentos e recusa de provar alimentos novos.
Crianças com TEA com um grau de funcionamento menor
podem morder as mãos ou punhos muitas vezes, levando ao sangra-
mento e a formações calosas (automutilações). O fato de golpear a
cabeça, particularmente, nas que possuem um retardo mental mais
grave ou profundo, pode tornar necessário o uso de capacetes ou
outros dispositivos protetores. As crianças podem também cutucar
excessivamente a pele, arrancar o cabelo, bater no peito ou golpe-
ar-se. Existe uma percepção menor do perigo, o que, junto com a
impulsividade, pode levar a ferimentos. Acessos de ira são comuns,
particularmente em reação às exigências impostas, alterações na
rotina ou eventos inesperados. A falta de compreensão ou a inca-
pacidade de comunicar-se, ou a frustração total, podem, eventual-
mente, levar a agressividade, e com isso esses indivíduos se tornam
vítimas de piadas ou outras formas de preconceito (KLIN, 2006).
Impacto do diagnóstico do Autismo nos pais
Receber a notícia de que seu filho tem Autismo é algo
de grande impacto emocional. Muitos não desejam filhos com
problemas de desenvolvimento e cognitivo, pois os pais criam uma
expectativa de que seus filhos nascerão sempre “perfeitos” e que
um dia terão plena autonomia. A chegada de uma notícia que o
seu filho(a) apresenta um transtorno costuma abalar as expectativas
dos pais e da família, passando a criar uma perspectiva de que este
filho(a) com TEA terá sempre que ser acompanhado e supervisio-
nado em diversas funções, como, se vestir, brincar, estudar e comer.
52
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
52SUMÁRIO
Algumas perguntas que norteiam os pensamentos dos pais;
“Será sempre assim?” “Meu filho vai sofrer bullying?” “Não será
compreendido?” “Como posso fazer para ajudar logo?” “Quando ele
vai falar?” Estas perguntas muitas vezes chegam aos consultórios e
fazem com que a ansiedade sempre esteja presente na relação da
família com os profissionais médicos e técnicos (psicólogos, tera-
peutas ocupacionais, fonoaudiólogos, pedagogos). Existem situa-
ções em que a família não aceita o diagnóstico e passa a migrar
para vários profissionais a fim de encontrar um que discorde e dê
uma notícia melhor. Esta atitude faz com que a criança perca tempo
precioso e que a melhora clínica seja postergada em virtude da
demora em iniciar o atendimento, piorando o prognóstico e atra-
sando o desenvolvimento desta criança (SCHMIDT; BOSA, 2003).
Quando existe uma criança com deficiência na família, os trans-
tornos familiares são inevitáveis, mas a capacidade de enfrentamento
frente a estas ocorrências dependerá de múltiplos fatores, desde as
crenças dos pais até os recursos da família em lidar com a deficiência.
Os pais precisam ultrapassar as situações de crise provocada pela
atipicidade comportamental do filho que apresenta o quadro do
espectro autista no sentido de ser possível desenvolver e manter
um relacionamento saudável e o mais normativo possível para que
consigam assim uma maior funcionalidade e adaptabilidade nas
relações entre os pares, familiares e com o próprio filho (NORA
CAVACO, 2016, s/p.).
Segundo Schmidt & Bosa (2003), o TEA pode gerar nos
pais da criança sentimentos de baixa autoestima, culpa, perda
de confiança no futuro, estresse conjugal, crises de ansiedade e
pânico, problemas de sono e redução de renda familiar. No que se
refere ao investimento no tratamento, esta família passa por diversas
terapias, que nem sempre são disponibilizadas no Sistema Único
de Saúde (SUS), e eventuais medicações além do fato de que um
dos cônjuges normalmente reduz sua carga horária de trabalho ou
pede demissão do trabalho para poder cuidar da criança.
53
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
53SUMÁRIO
Os autores supracitados, também relatam que em nossa
sociedade, ainda é comum a mulher ser a responsável pelos
cuidados básicos dos filhos e, neste caso, não é exceção, são
elas que mais perdem oportunidades profissionais e tendem a se
comprometer mais com as necessidades desta criança. Muitas
vezes, o marido a abandona ou se afasta das responsabilidades
exigidas pelo filho especial o que redobra as demandas deste pelos
cuidados maternos.
Estudos revelam que um casamento sólido e solidário asso-
ciado a compreensão da família em seu entorno fortalecem o rela-
cionamento e tornam os tratamentos mais eficazes e duradouros
para esta criança com Autismo.
Estresse na família
Pesquisas têm investigado a natureza dos eventos causa-
dores de estresse e as características próprias da criança com
autismo que exercem um impacto sobre os familiares (BOUMA;
SCHWEITZER, 1990; SALOVIITA, ITÄLINNA; LEINONEN, 2003).
Porém, devemos considerar as formas como os familiares lidam
com o estresse, frente a situações decorrentes do quadro de
autismo apresentado pelos seus filhos. Percebemos, porém, que
são poucos os estudos a respeito da qualidade de vida dos fami-
liares das crianças com autismo.
A presença da criança autista tem probabilidade de modi-
ficar as relações entre os familiares, uma vez que os sintomas do
distúrbio desencadeiam elevados níveis de estresse nos membros
da família. As relações sociais destas famílias ficam embaraçosas
e/ou se reduzem, podendo até haver rupturas em seus vínculos
sociais. Frequentemente, elas passam a ocupar uma posição
54
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
54SUMÁRIO
inferior àquela que desfrutavam anteriormente na sociedade. Pais
de autistas passam por períodos de estresse pela dificuldade de
comunicação das crianças, do comportamento, do isolamento
social nas atividades da vida diária e pela falta de entendimento pelo
conjunto de pessoas que vivem na mesma sociedade (BARBOSA;
FERNANDES, 2009).
Segundo Fávero e Santos (2005), as famílias que se encon-
tram em circunstâncias especiais, promotoras de mudanças nas
atividades de vida diária e no funcionamento psicológico de seus
membros, deparam-se com uma sobre carga de tarefas e exigências
especiais que podem surgir em algumas situações potencialmente
essas são responsáveis por induzir o estresse e tensão emocional.
O estresse constitui-se como uma reação psicológica cujas
fontes podem ser oriundas de eventos externos ou internos. De
acordo com Lipp e Guevara (1994), o estresse pode provocar tanto
sintomas físicos como psicológicos. Os possíveis efeitos psico-
lógicos das reações ao estresse são: ansiedade, pânico, tensão,
angústia, insônia, alienação, dificuldades interpessoais, dúvidas
contra si próprio, preocupação excessiva, inabilidade de concen-
tração em assuntos não relacionados com o estressor, inabili-
dade de relaxar, tédio, ira, depressão e hipersensibilidade emotiva
(FÁVERO; SANTOS, 2005).
Existem três importantes fatores causadores do estresse nos
pais de crianças com TEA que são: a pouca aceitação dos compor-
tamentos característicos de um autista, pela sociedade e por
outros membros da família, os cuidados necessários e a ausência
de suporte social (BARBOSA; FERNANDES, 2009). Estes fatores
estressores são desencadeados, muitas vezes, pela falta de conhe-
cimento ou habilidade para lidar com o autista. Há também cuidados
necessários para o desenvolvimento desses pais com profissionais
especializados, professores treinados em escolas preparada para o
55
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
55SUMÁRIO
atendimento e famílias orientadas para juntos conseguirem fornecer,
ao mesmo tempo, suporte necessário para esta criança e serem
canal de desenvolvimento dela. As características negativas do
comportamento associadas às inabilidades da criança, frequente-
mente, aumentam os níveis de estresse. Além disso, mostrar que
os pais desejam e merecem ser tratados de forma sensível pelos
profissionais que atendem seus filhos, devendo estes profissionais,
de uma forma acolhedora e direta, demonstrar que estão etica-
mente comprometidos com eles.
Há um grande número de fatores de impacto que intensificam os
níveis de estresse, sendo ele, a severidade dos casos, a dificul-
dade de acesso aos serviços especiais de que necessitam e fatores
econômicos e culturais. O recebimento ou não de suporte informal
acaba por influenciar a qualidade de vida tanto do autista como de
seus familiares (BARBOSA, 2009, p. 482).
Frequentemente, a qualidade de vida dos cuidadores de
autistas é moderada pelas condições socioeconômicas, pelo
suporte social e características dos pais e das crianças. Por
exemplo, o problema da criança em não dormir frequentemente
causa exaustão nos pais, o que acaba influenciando seu desem-
penho no trabalho (BARBOSA; FERNANDES, 2009).
Quando a criança tem atendimentos com especialistas e
suporte apropriado, as oportunidades de viver independentemente
são maiores, assim como as situações de trabalho e relações
sociais, minimizando os níveis de estresse dos pais (BARBOSA;
FERNANDES, 2009).
Conclusão
Atualmente, tem sido crescente os estudos sobre o TEA,
sendo bastante pesquisado e comentado por profissionais da área
56
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
56SUMÁRIO
de educação e da saúde. Neste sentido, no decorrer dos atendi-
mentos aos pais/responsáveis de crianças com o transtorno, obser-
vou-se a necessidade de aprofundamento sobre a temática, devido
ao desamparo e desespero que esses indivíduos sentem frente ao
diagnóstico médico estabelecido.
Desse modo, o objetivo proposto neste estudo, foi relatar
como os pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA)
reagem ao receber o diagnóstico do filho(a) e como eles lidam com
a realidade desse filho(a), buscando instrumentalização adequada:
seja na indicação médica, educativa e na rotina doméstica.
Nesta perspectiva, foi observado por meio de levanta-
mento bibliográfico, que não há pesquisas dedicadas aos pais de
crianças com TEA, e que também não é comum encontrar locais
que ofereçam suporte psicológico a esses pais e/ou responsáveis,
especificamente. Desta forma, na pesquisa bibliográfica há uma
lacuna sobre o encaminhamento desses pais, por profissionais
da saúde, para uma auxílio psicológico, ou ainda se os pais não
procuram atendimento adequado por estarem esgotados.
Portanto, frente à pesquisa realizada, foi possível observar a
necessidade de um acolhimento dos pais/responsáveis, por isso os
mesmos precisam de uma atenção de um profissional que sirva de
auxílio para lidar com todas as questões que gira em torno de se ter
uma criança com TEA em casa, estando expostos e suscetíveis a
níveis de elevado estresse.
Referências
BARBOSA, Altemir José Gonçalves; OLIVEIRA, Larissa Dias de.
Estresse e enfrentamento em pais de pessoas com necessidades
especiais - Psicologia em Pesquisa – UFJF, julho-dezembro de 2008.
Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1982-12472008000200005 Acesso em: 16 ago. 2017.
57
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
57SUMÁRIO
BARBOSA Milene Rossi Pereira; FERNANDES Fernanda Dreux Miranda
(2009). Qualidade de vida dos cuidadores de crianças com transtorno do
espectro autístico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia,
v.14, n.4, p. 482-486, 2009. Disponível em: <http://producao.usp.br/
handle/BDPI/9167>. Acesso em 10 abr. 2018.
BRASIL, Ministério da Saúde, DSM-IV. Disponível em: <http://www.
psicosite.com.br/tra/ans/agorafobia.htm>. Acesso em: 16 ago. 2017.
_____. Ministério da Saúde, DSM-V. Disponível em: <https://blogs.sapo.pt/
cloud/file/b37dfc58aad8cd477904b9bb2ba8a75b/obaudoeducador/2015/
DSM%20V.pdf>. Acesso: 16 ago. 2017.
BETHELHEIM, Bruno. Autismo. Disponível em: Site: <https://psicologiapsi.
wordpress.com/autismo> Acesso: 9 mar. 2018.
FÁVERO Maria Ângela Bravo, SANTOS Manoel Antônio Autismo Infantil e
Estresse Familiar: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Universidade de
São Paulo, Ribeirão Preto. Ano: 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/
pdf/prc/v18n3/a10v18n3> Acesso em 04 mar. 2018.
FIAMENGHI Geraldo A. Jr & MESSA Alcione A. Pais, Filhos e Deficiência:
Estudos Sobre as Relações Familiares - (Universidade Presbiteriana
Mackenzie). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414>
ano 2007. Acesso em 20 fev. 2018.
KLIN, Ami. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Revista
Brasileira de psiquiatria. 2006 p.28. Disponível em: <http://www.scielo.br/
pdf/rbp/v28s1/a02v28s1/a02v8s1.pdf> Acesso em: 19 out. 2017.
SCHIMIDT, Carlo; BOSA, Cleonice. A investigação do impacto do autismo
na família: Revisão crítica da literatura e proposta de um novo modelo.
(UFRGS), 2003. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/
view/3229> Acesso em: 19 out. 2017.
_____. Estresse e auto-eficácia em mães de pessoas com
autismo. (UFRGS) 2007. Disponível em: <http://www.redalyc.org/
html/2290/229017529008> Acesso em: 22 nov. 2017.
SCHMIDT, Carlo; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco & Bosa, Cleonice Alves.
Estratégias de Copingde Mães de Portadores de Autismo: Lidando
com Dificuldades e com a Emoção (2007). Disponível em: <http://
www.scielo.br/scielo.php?pid=S010279722007000100016&script=sci_
abstract&tlng=pt> Acesso em 20 fev. 2018.
SEMENSATO, Márcia Rejane; SCHMIDT, Carlo; BOSA, Cleonice Alves.
Grupo de familiares de pessoas com autismo: relatos de experiências
parentais. Aletheia 32, p. 183-194, maio/ago. 2010. Acesso em 20 fev. 2018.
CAPÍTULO 4
A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO ESCOLAR NO
DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOLÓGICO DA
CRIANÇA
Larissa Vieira de Lima Gonçalves
4
Aimportânciadocontexto
escolarnodesenvolvimento
neuropsicológicodacriança
LarissaVieiradeLimaGonçalves
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.58-83
59
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
59SUMÁRIO
Resumo:
O presente trabalho busca explicitar o desenvolvimento neuropsicológico
da criança, na primeira infância, bem como a importância do contexto
escolar para tal. Desta forma, este artigo traz uma breve revisão da lite-
ratura, citando pesquisadores relevantes ao tema. No primeiro momento
trará uma explanação referentes ao momento da primeira infância e sua
importância para a criança. Em seguida, tratará sobre o desenvolvimento
neuropsicológico, incluindo o desenvolvimento cerebral e as habilidades
e funções desenvolvidas por ele. Ao final, este trabalho pretende refletir
acerca do contexto escolar e sua influência nesta fase, bem como o brincar
e a sua importância para o desenvolvimento.
Palavras-chave:
Neuropsicologia; Primeira infância; Brincar.
60
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
60SUMÁRIO
Introdução
A primeira infância relaciona-se a fase do desenvolvimento
da criança entre 0 e 5 anos de vida completos (ou seja, até 5 anos
e 11 meses), os quais são marcados pelo intenso desenvolvimento
dela. Está é uma etapa determinante para o desenvolvimento
das habilidades cognitivas, sociais, afetivas e psicológicas do ser
humano. Nessa fase, os estudos vêm ressaltando a importância de
oportunizar estímulos e espaços, para que possam desenvolver as
habilidades e as competências. Dessa forma,
A ciência nos mostra que o desenvolvimento da primeira infância é
fundamental e marca uma criança para a vida toda. O desenvolvi-
mento cerebral da criança pequena afeta sua saúde física e mental,
sua capacidade para aprender e seu comportamento durante a
infância e a vida adulta. A conexão e a estruturação de bilhões de
neurônios nos primeiros anos estabelecem a base para o desenvol-
vimento posterior da competência e das habilidades competitivas
(YOUNG, 2010, p. 6).
Nessa etapa da vida, há plasticidade cerebral excessivamente
possibilitando uma grande capacidade de transformação cerebral. Isto
é, as habilidades desenvolvidas nessa fase servirão como bases para
o desenvolvimento das habilidades mais complexas posteriormente
(COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016).
Antes mesmo do nascimento, as crianças já vêm desenvol-
vendo-se no período intrauterino de forma que, o sistema nervoso
surge na 3ª a 4ª semana pós-fecundação (PINHEIRO, 2007). Após
o nascimento e durante a infância, o sistema nervoso continua se
desenvolvendo. Assim, o cérebro em desenvolvimento é plástico,
capaz de reorganizar-se e transformar-se. Acerca do desenvolvi-
mento mental do ser humano, Piaget (1976) identificou quatro está-
gios desse desenvolvimento, sendo eles: sensório-motor (0 a 24
meses), pré-operatório (2 a 7 anos), operacional-concreto (7 a 12
anos) e operacional-formal (12 anos em diante). Cada estágio é um
61
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
61SUMÁRIO
período que o ser humano passa, onde o pensamento e comporta-
mento é caracterizado por uma forma específica de conhecimento
e raciocínio. Para o enfoque abordado no trabalho, as etapas de
desenvolvimento mental baseada nas ideias Piagetianas, referem-se
à Sensório-motor e dá continuidade à Pré-Operatório, iniciando ao
nascimento até os 7 anos.
No primeiro, sensório-motor, as crianças necessitam do
concreto, do real para compreender. Ou seja, ainda não foi desen-
volvida a capacidade de representação mental. Assim, para a
criança, só existe se estiver no campo visual dela. Logo, nesse
período, a inteligência se mediante as percepções e as ações
através do próprio corpo (FERREIRA, 2009). A criança constrói o
conhecimento, a memória, através dos sentidos (tocando, aper-
tando, levando na boca etc.).
Ao final deste período, a criança já desenvolve a represen-
tação mental e insere-se ao campo da linguagem, dando continui-
dade assim ao próximo período, o Pré-operatório. A “entrada” para
este período é marcada, principalmente, pela inserção ao campo da
linguagem e ao sistema de significações. Isto é, a criança consegue
criar representações mentais sem a necessidade do objeto da ação
presente (FERREIRA, 2009). Assim, a criança adentra ao campo
simbólico, como por exemplo, consegue fazer de contas que uma
caneta é um microfone e a utiliza para cantar. Nessa fase, a criança
também se encontra com o egocentrismo, ou seja, suas falas são
voltadas para si, seus pensamentos são voltados para si. Ainda não
há uma ideia de um mundo muito além do dela.
Assim, a escola como um contexto social, sendo a segunda
instituição social que a criança é inserida e reconhecida (ressal-
tando que a primeira é a família), deve ser um espaço que possibi-
lite e estimule o desenvolvimento da criança como um ser integral,
de forma sadia. Para que seja realizado dessa maneira, existe uma
62
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
62SUMÁRIO
proposta curricular nacional voltada para a educação infantil (BNCC)
e esta entende a criança como um ser que observa, questiona,
levanta hipóteses, conclui, constrói o conhecimento e se apropria
do conhecimento através da interação com o mundo (MEC, 2017).
Dessa forma, considera-se que a aprendizagem e o desenvolvi-
mento das crianças na educação infantil devem estar estruturados
nas interações e nas brincadeiras. De acordo com essa proposta,
assegura-se à essas crianças o direito de conviver, brincar, explorar,
expressar-se e conhecer-se (MEC, 2017).
Sendo assim, é de suma importância que as crianças tenham
possibilidades nos ambientes que vivem e interagem para desen-
volver-se, neuropsicologicamente, dizendo, pois, “desperdiçar as
possibilidades da primeira infância significa limitar o potencial indi-
vidual, uma vez que nem sempre é possível recuperá-lo plenamente
com investimentos posteriores” (COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO
CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016, p. 4).
A partir do exposto acima, este artigo tem como objetivo
analisar a importância do desenvolvimento neuropsicológico de
crianças de 0 a 6 anos inseridas no contexto escolar. Para tanto,
será feita uma breve revisão bibliográfica acerca do desenvolvi-
mento neuropsicológico da criança, tendo em vista a influência e
importância do contexto escolar atual.
Desenvolvimento neuropsicológico de 0 a 6 anos
Assim como Piaget, Wallon (1934 apud VASCONCELLOS,
2005) acredita que a criança passa por dois períodos do desenvol-
vimento, os quais são: Período sensório-motor e Período pré-ope-
racional. O primeiro, ocorre do 0 aos 2 anos de idade e este é
marcado pelo desenvolvimento através dos reflexos. O segundo,
63
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
63SUMÁRIO
refere-se ao desenvolvimento que ocorre dando início ao pensa-
mento pré-lógico, entre 2 a 7 anos de idade. Desta forma, os perí-
odos de desenvolvimento propostos por Wallon tem início na vida
intrauterina, assim como Pinheiro (2007) também observou, poste-
riormente, em seus estudos.
Wallon acredita que o desenvolvimento nesse período da
vida intrauterina se caracteriza por uma simbiose orgânica. Isto é,
uma interação da mãe com o bebê, e do meio com o bebê, através
da ligação biológica. Para o autor, após o nascimento a criança já
se apresenta em outro período, denominado como simbiose afetiva,
caracterizado por prevalecer a emoção. Ainda assim, a partir dos 3
anos de idade, ocorre o período do personalismo, isto é, momento
de início da formação da personalidade, da constituição do eu,
completando seu desenvolvimento por volta dos 6 anos (WALLON,
1934; 1956 apud VASCONCELLOS, 2005).
Desde a vida intrauterina, já é iniciado o processo de desen-
volvimento da criança. Para tanto, a partir da segunda/terceira
semana após a fecundação, inicia-se o desenvolvimento do cérebro
e este continuará durante a gestação, a primeira infância e até o
início da idade adulta. Sendo assim, desde o período pré-natal até
primeiros anos de vida, o cérebro passa por períodos determinantes
em relação ao seu desenvolvimento (PINHEIRO, 2007).
O desenvolvimento do sistema nervoso central inicia-se com
um conjunto de células que se multiplicam por meio da mitose,
formando assim, a placa neural. Em seguida, esta placa transfor-
ma-se em sulco e, posteriormente, em tubo neural (PINHEIRO,
2007). Este tubo neural desenvolve-se e origina uma estrutura
composta por três expansões, chamada de vesículas encefálicas,
que formarão o prosencéfalo, o mesencéfalo e o rombencéfalo. A
primeira estrutura, prosencéfalo, dará origem, posteriormente, ao
telencéfalo e ao diencéfalo. O rombencéfalo, a terceira estrutura,
64
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
64SUMÁRIO
dará origem ao metencéfalo e ao mielencéfalo. O mesencéfalo não
sofre modificações (PINHEIRO, 2007).
Posto isso, o telencéfalo, em seu desenvolvimento, originará
o córtex cerebral e os núcleos da base; enquanto o metencéfalo
originará o cerebelo e a ponte e o mielencéfalo originará o bulbo.
Cabe ressaltar que o tubo neural continuará seu desenvolvimento
até a sua transformação em medula espinhal (PINHEIRO, 2007).
Concomitante ao desenvolvimento desse sistema nervoso central,
ocorre também o desenvolvimento do sistema nervoso periférico,
o qual possui estruturas importantes (gânglios e nervos) desenvol-
vidas a partir das cristas neurais, se concluindo ao redor do tubo
neural. Em resumo, o Sistema Nervoso Central (SNC) é formado
pelo encéfalo e pela medula espinhal, funcionando como um
sistema de controle e de integração do sistema nervoso, atuando
como receptor e produtor de impulsos.
Pensando acerca das funções cognitivas desempenhadas
pelo Sistema Nervoso (SN), Luria (1966 apud PIRES, 2010) acre-
dita que as funções mais fundamentais podem até ser localizadas
no SN, mas que os processos mentais atuam em conjuntos nos
sistemas funcionais, situando-se em áreas diferentes do cérebro.
Assim, de acordo com o objetivo proposto neste artigo, a seguir
serão descritos as principais áreas e estruturas relacionadas aos
processos cognitivos, passando assim pelo desenvolvimento
neuropsicológico acerca da criança, dos 0 a 6 anos.
Aocitarosprocessoscognitivos,éprecisodelimitarquesetrata
das habilidades mentais relacionadas à capacidade de percepção,
atenção, memória, linguagem, habilidades visuoconstrutivas,
pensamento, raciocínio, funções executivas, entre outras. Devido as
habilidades particulares de cada processo cognitivo, cada um deles
possui uma origem e um desenvolvimento específico. Isto é, alguns
processos cognitivos estão mais relacionados à determinadas
estruturas corticais e subcorticais, as quais são organizadas no
65
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
65SUMÁRIO
momento do nascimento, enquanto outras estruturas vão se
desenvolvendo ao longo dos anos (PIRES, 2010).
Para uma melhor observação, a Figura 1 apresenta uma
visão geral das estruturas cerebrais. Já com relação aos processos
cognitivos, a Figura 2 mostra a divisão através dos lobos.
Figura 1: Encéfalo
Fonte: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Corpo/cerebro.jpg
66
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
66SUMÁRIO
Figura 2: Funções do cérebro
Fonte: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/12/funcoes�-
-do-cerebro.html
Os processos perceptivos e sensitivos são a base para a
formação de todo o conhecimento, por meio dos órgãos dos sentidos
e das células. Como ilustrado na Figura 3, o desenvolvimento dos
sentidos ocorre por integração, dificultando determinar uma única
área para tal função. Contudo, sabe-se que o sistema sensitivo tátil
se localiza na pele e é a fronteira entre o corpo e o mundo exterior,
desenvolvido no córtex somestésico, localizado no lobo parietal.
O sistema gustativo encontra-se na boca e a língua responsa-
biliza-se pela recepção, sensação e diferenciação do sabor, através
67
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
67SUMÁRIO
de receptores sensoriais. Nesse sistema, a “leitura” da sensação
ocorre no córtex gustativo, também localizado no lobo parietal. Já o
sistema auditivo, possui receptores no ouvido, captando as ondas
sonoras, percorrendo o caminho até ao córtex auditivo, localizado
no lobo temporal (SERRANO, 2016).
É importante ressaltar que esse sistema não é aprendido,
mas ao contrário, nascemos já prontos para ouvir (com as exce-
ções das deficiências). A literatura confirma que após o 5º mês (em
média, vigésima semana) de gestação, o feto (sem nenhuma alte-
ração ou atraso de desenvolvimento) já demonstra reações aos estí-
mulos sonoros (NORTHEN e DOWNS, 1989 apud NUNES, 2009).
Ainda sobre o desenvolvimento dos sentidos, o sistema olfa-
tivo tem a função de captar as moléculas de odor encontradas no
ar recebidas pelo nariz, acionando os neurônios sensoriais olfativos
até o sistema límbico (centro das emoções) localizado no lobo
temporal, possibilitando a capacidade de inalar odores (cheirar). Por
último, dos sistemas sensoriais, há ainda o sistema visual, sendo
este o mais complexo dos sistemas. Os receptores desse sistema
são os olhos, que captam as ondas de luz, passando pela retina. No
córtex visual (lobo occipital) ocorre a decodificação da informação
visual (SERRANO, 2016).
68
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
68SUMÁRIO
Figura 3: Sistema Sensorial
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/corpo-humano/sistema-sensorial
Em consonância ao desenvolvimento perceptivo e sensitivo,
ocorre também o desenvolvimento físico-motor. Isto é, nos primeiros
meses de vida, o bebê ainda tem pouco controle do seu corpo,
executando movimentos desordenados. Gradativamente, vai se
desenvolvendo, iniciando com controle melhor dos membros supe-
riores (DIAS, CORREIA e MARCELINO, 2013). Matta (2001 apud DIAS
et al., 2013) afirma que nos primeiros dois meses, a criança aprende
a fixar o pescoço e, após, aos 4 meses, consegue sentar-se com
ajuda. Em seguida, surgem os movimentos com o corpo de raste-
jar-se e engatinhar, por volta dos quatro a seis meses. Aos 7 meses
já é capaz de sentar-se sozinha. E então por volta dos onze/doze
meses consegue andar, com ajuda e progredindo com o tempo.
69
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
69SUMÁRIO
Quando a criança aprende a andar, demonstra a capacidade
também de libertar as mãos para outras descobertas, não mais as
utilizando para apoio nesse movimento (DIAS et al., 2013). Após
o segundo ano de vida, a criança já demonstra capacidade de
correr, pular, saltar. Nesse período, desenvolve-se também as habili-
dades acerca da motricidade fina, tais como: movimentos de pinça,
preensão, registros escritos; assim como, desenvolve-se também
as outras habilidades, como lateralidade, equilíbrio, coordenação,
esquema corporal, orientação espaço-temporal.
Cabe ressaltar que algumas habilidades, como a laterali-
dade, só são desenvolvidas por completo aos 7 anos. A área cere-
bral responsável pelo controle dos movimentos motores refere-se
ao cerebelo que coordena as instruções para o controle motor e
para manter o equilíbrio e a postura corporal. Contudo, o lobo frontal
também se relaciona às instruções dos movimentos e execução dos
atos motores voluntários (DOS SANTOS e COSTA, 2015). Velasco
(1996) afirma e relaciona a importância da brincadeira para a ocor-
rência do desenvolvimento psicomotor da criança, assim:
O desenvolvimento psicomotor se processa de acordo com a matu-
ração do sistema nervoso centra, assim a ação do brincar não deve
ser considerada vazia e abstrata, pois é dessa forma que a criança
capacita o organismo a responder aos estímulos oferecidos pelo
ato de brincar, manipular a situação será uma maneira eficiente da
criança ordenar os pensamentos e elaborar atos motores adequados
a requisição (VELASCO, 1996, p. 27).
Em relação ao desenvolvimento psicossocial da criança na
primeira infância, muitas teorias envolvem este assunto, existindo
diferentes perspectivas. Com isso, o autor Brazelton (2006 apud
DIAS et al., 2013) afirma que a criança utiliza o sorriso como um
meio para obter a atenção dos seus cuidadores, por volta dos 2
meses de vida. Bem como, sabe-se que o choro, em muitas situa-
ções, também possui a mesma intenção. Nesses primeiros meses
de vida, a criança possui grandes oscilações de humor, de forma
70
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
70SUMÁRIO
que busca a todo momento pela atenção de seus cuidadores e
sente-se como o “centro do universo”.
Até os 2 anos, ainda não há a visão do mundo além dela,
isto é, para ela só existe aquilo que está ao seu redor e que tudo
ocorre ao seu favor. Neste período (mais precisamente com 1 ano
de idade até 1 ano e meio), a criança ainda possui um apego exces-
sivo aos seus cuidadores, demonstrando dificuldade e resistência
nos momentos de separações dela com eles e nos momentos de
ausência dos cuidadores.
Aos 2 anos, percebe-se a criança em uma idade de conflito,
conhecido até mesmo pela expressão terrible two (o terrível dois
anos – a adolescência do bebê). Este é um período em que a criança
testa o adulto cuidador e até mesmo o adulto professor, em diversos
momentos, realizando birras, desobediência e até mesmo tendo
comportamento agressivos. Tudo isso em busca de autonomia (que
é o que as crianças mais querem em todo seu desenvolvimento),
em que necessita a independência e ao mesmo tempo, afeto.
Nessa idade, a criança também demonstra dificuldade em
partilhar, costuma dizer com frequência “é meu” e algumas até não
gostam de dividir os brinquedos, os objetos. Pode haver também
nessa idade, dificuldade de relacionar-se com outras crianças,
principalmente se for o início na escola. Ou seja, nesse período é
comum que a criança tente lidar com essa dificuldade de sociali-
zação e utilize a força física como mordida, tapas (DIAS et al., 2013).
A partir dos 3 anos até o final da primeira infância, esses
comportamentos diminuem e dão lugar a crianças mais obedientes,
amáveis e afetuosas. É importante destacar que muitos desses
comportamentosedesenvolvimentopsicossociaisestãorelacionadas
ao sistema límbico, o qual refere-se às emoções e às memórias.
71
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
71SUMÁRIO
Por fim, os escritos a seguir referem-se ao desenvolvimento
cognitivo propriamente dito; em outras palavras, referem-se ao desen-
volvimento dos processos atencionais, de memória, de linguagem,
de habilidades visuoconstrutivas e das funções executivas.
Nos primeiros anos de vida, até os 3, a criança desenvolve as
habilidades cognitivas em razão da necessidade de comunicação
e de tudo que possui ao seu redor. Sendo assim, aos 4 meses, a
criança já é capaz de concentrar-se no que vê, utiliza bastante o
sistema tátil para as experimentações. Rapidamente, ela também
se torna capaz de usar e compreender os sinais emitidos através do
corpo, como sorrisos e balbucios, como um meio de comunicação.
Dessa forma, entende-se que a atenção é resultado de um
funcionamento integrado de várias estruturas e sistemas. Assim,
nos processos atencionais várias regiões cerebrais são ativadas,
podendo ser o córtex parietal, o córtex pré-motor, o córtex fronto-
parietal, o córtex pré-frontal, o sistema límbico, o tálamo e córtex
frontal, entre outras ainda (PIRES, 2010). Sabe-se que as áreas
frontais do cérebro estão mais implicadas na forma superior da
atenção, como a atenção voluntária.
Durante os primeiros anos de vida, a criança ainda possui
um tempo curto de atenção sustentada. Aos 3 anos, as crianças
possuem mais facilidade para manter-se atentas em atividades diri-
gidas, conseguindo sustentar a sua atenção por um tempo maior.
Aos 6 anos, acredita-se que já é possível estender ainda mais, a
depender também da maneira que a atividade está sendo reali-
zada. Sendo assim, o processo atencional tem grande relação ao
interesse, ao prazer, principalmente nessa fase (PROJETO PELA
PRIMEIRA INFÂNCIA, 2015).
Em relação à memória, pode-se dizer que não há uma loca-
lização cerebral específica, mas sim, diversas estruturas envolvidas
72
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
72SUMÁRIO
e inter-relacionadas. Na região temporal, mais especificamente no
hipocampo, ocorre a codificação e a formação de novas memórias.
Acredita-se que o hipocampo é o responsável pela memória decla-
rativa, enquanto a amígdala (outra estrutura cerebral), é respon-
sável pela memória afetiva, dando uma ligação emocional ao que é
aprendido e guardado (PIRES, 2010).
A memória relaciona-se a função que possibilita e busca
registrar os fatos. Assim, afirma Mineiro (2015) que
seu desenvolvimento acontece durante a infância, tendo diferentes
níveis e fases, com o passar dos anos a criança vai construindo um
referencial interno que lhe possibilita o maior número de informações
arquivadas (MINEIRO, 2015, s/p).
Dessa forma, a memória desenvolve-se por meio da interação
dos aspectos biológicos e sociais, e tem início na fase do pré-natal,
passando por inúmeras modificações ao longo da vida. Em relação
ao desenvolvimento da linguagem na primeira infância, sabe-se que
ao nascer a criança ainda não entende o que lhe é dito, somente
depois, aos poucos, é que começa dando sentido ao que escuta.
Assim acontece também com a fala. No início a linguagem
que a criança utiliza para expressar é através do corpo e dos
movimentos. O desenvolvimento da linguagem divide-se em dois
momentos, o primeiro é o pré-linguístico e o segundo o linguístico
(PIRES, 2010). O primeiro momento ocorre quando o bebê utiliza
sons para se comunicar, principalmente o choro. Enquanto no
segundo, ocorre quando a criança já consegue utilizar palavras.
Neste desenvolvimento, os bebês começam através das
imitações dos sons que ouvem, realizando assim a ecolalia e, por
volta dos 10 meses, os bebês imitam intencionalmente os sons
que ouvem, ressaltando a importância da estimulação externa para
o desenvolvimento da linguagem (SAMPAIO, 2003 apud PIRES,
2010). No primeiro ano, a criança consegue falar algumas palavras
73
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
73SUMÁRIO
soltas, a partir dos 2 anos, ela já é hábil para elaborar frases com
construção sintáticas mais simples, com 2 ou 3 palavras para se
comunicar. Entre os 3 e os 6 anos a criança aumenta seu repertório
linguístico, vocabular, utiliza frases mais bem construídas e busca
expressar-se corretamente, considerando as normas gramaticais
(PIAGET, 1971 apud VASCONCELLOS, 2005).
Em relação ao processamento da fala e linguagem no cérebro,
este ocorre em estruturas específicas e localizações determinadas.
O cerebelo é o responsável pelo sequenciamento dos movimentos
na fala, enquanto o córtex motor está relacionado aos atos motores
da fonação, e os nervos motores relacionam-se ao controle da
motricidade dos músculos faciais (PIRES, 2010). Há também a área
de Broca, a qual relaciona-se no planejamento motor da linguagem,
na articulação da fala. E a área de Wernicke, relaciona-se à compre-
ensão da linguagem (PIRES, 2010).
Quanto as habilidades visuoconstrutivas, estas referem-se à
capacidade de manipular estímulos físicos ou de realizar certos movi-
mentos, de forma a organizá-los. Isto é, a capacidade de executar
movimentos ou gestos de maneira precisa, intencional, coordenada
e organizada com objetivo de atingir a meta definida. Envolve a capa-
cidade para realizar atos voluntários na prática, como vestir-se e
escovar os dentes, até a realização de tarefas mais complexas. Para
o desenvolvimento das habilidades de visuoconstrução, as regiões
cerebrais envolvidas são as corticais posteriores, como córtex parietal
e occipital. As habilidades de visuoconstrução também envolvem
planejamento, motricidade, memória e atenção (PIRES, 2010).
Posto isto, outro processo cognitivo a ser escrito abaixo, refe-
re-se às funções executivas. Estas são um conjunto de habilidades que
possibilitam o alcance de um objetivo de forma intencional e delibe-
rada (COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016).
Isto é, refere-se ao pensar antes de agir, ao solucionar problemas e
74
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
74SUMÁRIO
desafios, organizar, diferentes atividades no dia, planejar e executar,
concluir tarefas, flexibilidade, controlar impulsos, entre outras. O seu
principal desenvolvimento ocorre justamente na primeira infância, dos
0 até os 6 anos e esse desenvolvimento depende fortemente da esti-
mulação das experiências que a criança possa ter, sendo influenciado
pela qualidade e pela quantidade destas.
A região cerebral envolvida nas funções executivas refere-se
ao córtex pré-frontal, o qual também é fundamental para o controle
da atenção, do raciocínio e do comportamento (COMITÊ CIENTÍFICO
NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016). O desenvolvimento das
funções executivas na primeira infância será fundamental para a
formação de habilidades superiores em idades posteriores.
As funções executivas envolvem uma série de funções mais
complexas, conforme citado anteriormente. Dentre várias, as três
habilidades básicas fundamentais são a inibição de comporta-
mento, a memória operacional e a flexibilidade cognitiva.
A inibição de comportamento refere-se à capacidade de
inibir uma resposta em razão de outras demandas. Um exemplo
bem prático que ocorre no contexto escolar é quando uma criança
consegue ter esse controle de não pegar da mão do amigo o brin-
quedo dele. Através dessa inibição também é possível aprimorar a
atenção, inibindo os estímulos externos. Já memória operacional é
a capacidade de armazenamento de uma informação, por pouco
tempo, mas juntamente ao processamento de outras informações. E
por fim, a flexibilidade cognitiva relaciona-se à capacidade de alterar
as perspectivas ou o foco da atenção, ajustando-se às exigências
(PROJETO PELA PRIMEIRA INFÂNCIA, 2015).
Na figura abaixo, as habilidades relacionadas à função execu-
tiva foram descritas por faixa etária, para uma melhor compreensão:
75
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
75SUMÁRIO
Figura 4: Habilidades relacionadas à função executiva
Fonte: Center on the Developing Child, Harvard University, 2011 apud Projeto pela
primeira infância, 2015.
Assim sendo, pode-se dizer que não há padrões de desen-
volvimento fidedignamente iguais para todas as crianças visto que
cada criança é semelhante às outras crianças em alguns aspectos,
mas é única em outros (PAPALIA et al., 2001, p. 9 apud Dias et al.,
2013). Logo, esse processo de desenvolvimento é um processo
pessoal, individual e único, influenciado diretamente pelo meio
externo, como as interações sociais, culturais e pessoais.
76
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
76SUMÁRIO
A importância do brincar para o desenvolvimento da criança
O desenvolvimento do ser humano é um processo dinâmico e
flexível, o qual ocorre devido a fatores genéticos, a fatores sociais (do
meio) em que está inserido e, também, devido ao modo que acon-
tecem as interações com esses fatores. Assim, pode-se dizer que o
ser humano é um ser que possui o desenvolvimento biopsicossocial,
isto é, depende de aspectos biológicos, psíquicos e sociais.
Dessa maneira, estudos afirmam que para o desenvolvi-
mento da visão (mais precisamente das áreas cerebrais que permi-
tirão a visão) é imprescindível que um estímulo luminoso ocorra
assim como ouvir e perceber os sons é imprescindível também para
o desenvolvimento das áreas cerebrais da audição e da linguagem
(COMITÊ CIENTÍFICO DO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA,
2014). Nota-se assim que, nos primeiros anos de vida, para que
ocorra o desenvolvimento pleno das estruturas cerebrais e suas
funções, é de suma importância que haja estímulos, de forma que,
se houver a ocorrência de estímulos negativos ou até mesmo a
ausência de estímulos, rupturas e marcas podem ser características
presentes no desenvolvimento.
Outro aspecto importante para o desenvolvimento infantil, são
habilidades desenvolvidas e adquiridas ao brincar. Isto é, através
do brincar, desde os primeiros meses de vida, o bebê aprende a
explorar os objetos através dos sistemas sensoriais, reage à estí-
mulos lúdicos e ainda demonstra prazer nessas interações com as
pessoas e/ou com os objetos (COMITÊ CIENTÍFICO DO NÚCLEO
CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2014).
A brincadeira pode ser vista como o palco para a experi-
mentação uma vez que é o espaço de experienciar as habilidades
cognitivas, sensoriais, motoras e emocionais. Nela, há várias áreas
cerebrais que estão envolvidas, pois cada brincadeira estimular
77
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
77SUMÁRIO
regiões diferentes, sendo que normalmente uma única brincadeira
consegue estimular e desenvolver mais de uma área cerebral,
agindo de forma integrada (HENNEMANN, 2018).
Sendo assim, nota-se a importância do brincar para o desen-
volvimento infantil, de tal forma que quando a criança está brincando
ela expressa sua linguagem por meio de gestos e atitudes, externa
as suas emoções (reconstruindo um mundo do seu jeito), vivencia
tomada de decisões, experimenta novas situações, novos senti-
mentos, constrói normas para si e para os outros, etc. (QUEIROZ et
al., 2006; DOS SANTOS, COSTA, 2015; ROLIM et al., 2008).
A brincadeira das crianças progride mais na primeira infância,
sendo esta o berço do desenvolvimento e da brincadeira. A brinca-
deira é fundamental para o desenvolvimento infantil à proporção que
a criança pode transformar e produzir novos significados. Portanto,
a atividade do brincar contribui na mudança da relação da criança
com os objetos e com as pessoas (QUEIROZ et al., 2006) e como
afirma o Ministério da Educação:
Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento
da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo,
poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde repre-
sentar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva
sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver
algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação,
a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capaci-
dades de socialização, por meio da interação e da utilização e expe-
rimentação de regras e papéis sociais. (BRASIL, 1998, p. 22-23).
Para Vygotsky (1991) a atividade do brincar é crucial para o
desenvolvimento mental da criança, pois através da brincadeira os
processos de simbolização e de representação permitirão a criança
à chegada ao pensamento abstrato. A brincadeira, seja simbólica
(com faz-de-contas) ou de regras (com jogos), não possui apenas a
especificidade de diversão ou de passar tempo. Mas sim de desen-
volvimento da criança, pois nela é possível estimular a atenção, a
78
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
78SUMÁRIO
concentração, a criatividade, a abstração, a expressão dos senti-
mentos, a linguagem, a formulação de estratégias, as habilidades
motoras, a socialização.
A influência do contexto escolar no desenvolvimento neuropsicológico
O contexto escolar nessa faixa etária (0 a 6 anos) é a educação
infantil, caracterizado por proporcionar o espaço e o momento de inte-
ração da criança com o mundo, com as outras crianças, com o meio
que a cerca e com ela mesma (VASCONCELLOS, 2005). Mostra-se
assim a importância de acompanhar o desenvolvimento da criança
desde o seu nascimento. Contextos sociais como a escola, oferecem
às crianças oportunidades para seu desenvolvimento, que podem ser
determinantes e fundamentais para tal (DIAS et al., 2013).
Dessa maneira, Kyrillos e Sanches (2004, p.154 apud DOS
SANTOS e COSTA, 2015, p.3) afirmam que “na Educação Infantil
começamos a exploração intensa do mundo, das sensações, das
emoções, ampliando estas vivências como movimentos mais elabo-
rados”. Do mesmo modo, Dos Santos e Costa (2015) subscrevem que:
A descoberta do corpo, das sensações, dos limites e movimentos
é muito importante para a criança da Educação Infantil, pois nesta
etapa ela está construindo a sua imagem corporal. Assim, ela
precisa descobrir seu corpo e também o corpo do outros. As ativi-
dades psicomotoras são essenciais para que ocorra essa cons-
trução, pois brincando e explorando o espaço, ela se organiza tanto
nos aspectos motor e sensorial, como emocional, ampliando seus
conhecimentos de mundo (DOS SANTOS e COSTA, 2015, p. 3).
Segundo Casarin e Ramos (2007), a escola tem como prin-
cipal função contribuir para o desenvolvimento, estimulando e
fazendo com que os alunos alcancem estágios cognitivos mais
elevados, desenvolvam capacidades e habilidades. Assim sendo,
estudos realizados por Soares (2013 apud COMITÊ CIENTÍFICO
79
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
79SUMÁRIO
DO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2014) demonstram os
impactos positivos da educação infantil no desenvolvimento da
criança, apontando para diferenciais definitivos em indicadores de
desenvolvimento e de bem-estar futuros.
Salienta-se que no contexto escolar, a criança deve participar
de atividades que exijam mais do seu cérebro, pois cada local deve
oferecer atividades distintas às crianças. Ou seja:
O fato desenvolvimental importante é que estimular as mentes
infantis, através de atividades não regularmente oferecidas em casa,
reforça sua capacidade cognitivas de lidar com tarefas cada vez
mais difíceis com as quais elas vão se deparar nas décadas futuras
(SAVA, 1975, p. 14 apud MOYLES, 2002, p. 4).
Percebe-se assim, a importância da escola e a influência que
esta possui no desenvolvimento neuropsicológico da criança, pois
nesse espaço é possibilitado à criança envolver-se, interagir e agir
com o meio, com o outro e com si mesma para apreender o mundo
que a rodeia e mais ainda apreendendo para além da imagem, com
o concreto, com o real (DUARTE e BATISTA, 2015).
Conclusão
Os primeiros anos de vida da criança são importantíssimos
para o seu desenvolvimento, pois sabe-se que desde a gestação
inicia-se o desenvolvimento cerebral da criança e após o nasci-
mento, este deve ser estimulado para o desenvolvimento das áreas
e das suas funções correspondentes. O desenvolvimento das
habilidades neuropsicológicas na primeira infância é a base para
o desenvolvimento do ser humano, pensando nos próximos anos.
É na primeira infância que a capacidade cerebral de reorganizar e
reconstituir através da plasticidade é muito maior que em qualquer
outra idade. Logo, na primeira infância é importante ter um olhar
80
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
80SUMÁRIO
muito cuidadoso, cauteloso e estimular, para melhor promover o
desenvolvimento neuropsicológico da criança.
É na primeira infância que a criança desenvolverá caracte-
rísticas, habilidades e aptidões essenciais para os demais anos de
vida posteriores. Neste período, Piccinin (2012) afirma que:
(...) a base para as aprendizagens humanas está na primeira
infância. Entre o primeiro e o terceiro ano de idade a qualidade de
vida de uma criança tem uma influência em seu desenvolvimento
futuro e ainda pode ser determinante em relação às contribuições
que, quando adulta, oferecerá a sociedade. Caso esta fase ainda
inclua suporte para os demais desenvolvimentos, como habilidades
motoras, adaptativas, crescimento cognitivo, aspecto sócio-emocio-
nais e desenvolvimento da linguagem, as relações sociais e a vida
escolar da criança serão bem sucedidas e fortalecidas (PICCININ,
2012 apud DUARTE e BATISTA, 2015, p. 294).
Sendo assim, entende-se que o brincar é de suma impor-
tância para o desenvolvimento neuropsicológico da criança e que
através do brincar, há a reprogramação da estrutura neuronal e a
possibilidade de desenvolvimento das habilidades importantes para
a vida. Isto é, através do brincar, são desenvolvidas estratégias que
exigem da criança a flexibilidade, o planejamento, a negociação,
a linguagem, a criatividade, o controle, a regulação, o movimento,
o pensamento, e o desenvolvimento das habilidades mentais
(HENNEMANN, 2018).
Cabe ressaltar que todos esses benefícios do brincar e o
desenvolvimento que ele proporciona devem ser estimulados,
mediados e reforçados no contexto escolar, uma vez que é a
segunda instituição social com a qual a criança possui vínculos e
que deve possibilitar o desenvolvimento desses processos neurop-
sicológicos, bem como deve promover o cuidado, a atenção e a
aprendizagem. Em suma, nota-se assim a importância e a neces-
sidade de refletir sobre o contexto escolar e do brincar para o
desenvolvimento neuropsicológico da criança, buscando auxiliar
81
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
81SUMÁRIO
as crianças para que se desenvolvam de maneira plena durante a
primeira infância.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação
Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil.
Brasília: MEC/SEF, 1998.
CASARIN, Nelson Elinton Fonseca; RAMOS, Maria Beatriz Jacques. Família e
aprendizagem escolar. Revista psicopedagógica, vol.27, n. 74. São Paulo, 2007.
COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA. Funções executivas e
desenvolvimento na primeira infância: habilidades necessárias para a autonomia.
1ed. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – FMCSV, 2016.
_____. O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a Aprendizagem.
1ed. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – FMCSV, 2014.
DIAS, Isabel Simões; Correia, Sonia; Marcelino, Patrícia. Desenvolvimento
na primeira infância: características valorizadas pelos futuros educadores
de infância. Revista Eletrônica de Educação, V.7, nº3, p.9-24. 2013.
Disponível em: <http://www.reveduc.ufscar.br> Acesso em:
DOS SANTOS, Alessandra; COSTA, Gisele M. Tonin da. A
psicomotricidade na Educação Infantil: Um enfoque psicopedagógico.
Revista de Educação do Ideau. Vol.10, nº22, Julho – Dezembro, 2015.
DUARTE, B. da S.; BATISTA, C. V. M.. Desenvolvimento Infantil:
Importância das Atividades Operacionais na Educação Infantil. XVI
Semana da Educação, VI Simpósio de Pesquisa e Pós-graduação em
Educação – Desafios atuais para a Educação. 2015.
FERREIRA, L. C. Q.. Psicologia do desenvolvimento: desenvolvimento
psíquico em Jean Piaget. II Encontro Científico e II Simpósio de Educação
do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – Unisalesiano. Lins/
SP, 2009. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/encontro2009/
trabalho/aceitos/RE36875218852.pdf> Acesso em: 20 jan. 2018.
HENNEMANN, A. L. Desenvolvimento Infantil – Enfoques da Neurociência:
O lúdico e o desenvolvimento infantil. Material disponibilizado pelo Grupo
Educacional CENSUPEG. 2018. Disponível em: <http://materiais.censupeg.
com.br/e-book-neuropsicopedagogia> Acesso em: 15 mar. 2018.
82
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
82SUMÁRIO
MINEIRO, Denise. Desenvolvimento da Memória. Matéria publicada no
Blog Denise Mineiro. Maio, 2015. Disponível em: <http://denisemineiro.
com/desenvolvimento-da-memoria> Acessado em: 12 mar. 2018.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC). Base Nacional Comum Curricular
(BNCC). MEC. Brasília, 2017.
MOYLES, J. R. Só brincar? O papel do brincar na Educação Infantil. Trad.
Maria Adriana Veronoses. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002.
NUNES, Patrícia Alexandra Oliveira. Experiência auditiva no meio intra-
uterino. Trabalho desenvolvido no curso de Mestrado Integrado em
Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da
Universidade de Coimbra, Portugal. 2009. Disponível em: <http://www.
psicologia.pt/artigos/textos/TL0157.pdf> Acessado em: 12 mar. 2018.
PIAGET, J.. A Equilibração das Estruturas Cognitivas – Problema Central
do Desenvolvimento. Tradução: Marion Merlone Dos Santos Penna. Rio de
Janeiro: Zahar Editores. 1976.
PINHEIRO, M.. Fundamentos de Neuropsicologia – o desenvolvimento
cerebral da criança. Vita et Sanitas, Trindade/GO, v.1, n.01, 2007.
PIRES, Emmy Uehara; LANDEIRA-FERNANDEZ, Jesus. Ontogênese
das funções cognitivas: uma abordagem neuropsicológica. 2010.
Dissertação (Mestrado)-Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Departamento de Psicologia, Rio de Janeiro, 2010 Disponível
em: <http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses.
php?open=1&arqtese=0812172_10_Indice.html> Acesso em:
PROJETO PELA PRIMEIRA INFÂNCIA. Conhecendo as funções do cérebro
e o comportamento: atenção e o comportamento executivo. Material
desenvolvido no projeto “Desenvolvimento de um programa de formação
em desenvolvimento cognitivo para profissionais da educação infantil: o
modelo de resposta à intervenção”. 2015. Disponível em: <https://www.
eventize.com.br/new/upload/003256/files/Apostila05_web.pdf> Acesso
em: 12 mar. 2018.
QUEIROZ, N. L. N. de; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U.. Brincadeira
e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista.
Universidade de Brasília. Paidéia, v. 16, pp.169-179, 2006.
ROLIM, A. A. M.; GUERRA, S. S. F.; TASSIGNY, M. M.. Uma leitura de Vygotsky
sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Revista
Humanidades, Fortaleza, V. 23, nº 02, p. 176-180, Julho/Dezembro. 2008.
83
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
83SUMÁRIO
SERRANO, Paula. A Integração Sensorial - No Desenvolvimento e
Aprendizagem da Criança. Ed. Papa Letras. 2016.
VASCONCELLOS, Maria de Fátima Barboza. As fases do desenvolvimento
da criança de 0 a 06 anos. Disponível em: <http://br.monografias.com/
trabalhos-pdf/fases-desenvolvimento-crianca/fases-desenvolvimento-
crianca.pdf> Acessado em: 12 mar. 2018.
VELASCO, Cassilda Gonçalves. Brincar: O despertar psicomotor. Rio de
Janeiro: Sprint, 1996.
VYGOSTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos
processos psicológicos superiores. 4ªed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
YOUNG, M. E.. Do desenvolvimento da primeira infância ao
desenvolvimento humano: investindo no futuro de nossas crianças. São
Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, 2010.
CAPÍTULO 5
POTENCIALIZAÇÃO HIPERTEXTUAL E NOVOS
PERFIS DE LEITOR E AUTORIA: O QUE HÁ DE
NOVO?
Horácio dos Santos Ribeiro Pires
5
Potencialização
hipertextualenovos
perfisdeleitoreautoria:
oquehádenovo?
HoráciodosSantosRibeiroPires
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.84-103
85
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
85SUMÁRIO
Resumo:
O presente trabalho é resultado de pesquisa de Mestrado em Cognição
e Linguagem da Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF) cujo objetivo central foi investigar a formação docente e discente no
contexto da inserção das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação
(NTICs), propondo a prática dos multiletramentos como estratégia para
solucionar (ou minimizar) o hiato entre ambos os sujeitos. Trata-se de uma
pesquisa de campo realizada no IFFluminense Campus Bom Jesus em
Bom Jesus do Itabapoana/RJ a fim de investigar entre os participantes
seus hábitos de leitura, sua relação com as novas tecnologias e a apli-
cação disso na sala de aula, envolvendo práticas pedagógicas e processo
de ensino/aprendizagem.
Palavras-chave:
Multiletramentos; Formação Docente; Novas Tecnologias da Informação e
Comunicação.
Introdução
86
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
86SUMÁRIO
É inegável o avanço tecnológico pelo qual a humanidade
vem passando ao longo do tempo, especialmente nas últimas
décadas. Cada vez mais as técnicas se aprimoram e se potencia-
lizam, fazendo com que a sociedade tenda a se adaptar às cons-
tantes transformações que surgem a cada instante em velocidade
considerável. O novo vem em cascata, numa avalanche de poten-
cialidades que, sem pedir licença, vão se alocando em nosso meio.
A comunicação, a informação, tornam-se rápidas, velozes,
fluidas. É a era do Just-in-time que requer que cada um de nós
sejamos tão velozes quanto o fluxo do momento. Isso afeta a
sociedade em geral, principalmente a Educação. Novos perfis de
leitores e autores se fazem necessários em virtude da dinamicidade
do momento que exige absorção do máximo de informações em
tempo hábil – quanto mais rápido, mais eficaz.
O advento do computador e da Internet – veículos condutores
ao Ciberespaço – ocasionam o boom da atualidade por serem ferra-
mentas potencializadoras da informação, da comunicação, estabele-
cendo novas perspectivas da escrita e leitura. Do pictórico, imagético
aos infográficos, hipertextos e hipermídias. Um potencial avanço que
provoca o mesmo impacto que a imprensa de Gutenberg.
Por essas razões, a Educação começa a ser repensada.
Há necessidade de reciclagem dos docentes para atenderem as
demandas dos nativos digitais e esses, por sua vez, devem ser orien-
tados no sentido de absorver o máximo que puderem e transformar
essas absorções em conhecimento, fazendo bom uso dele. Torna-se
necessário o Letramento Digital e a prática de Multiletramentos que
transcendem o rito ordinário de Letramento, exigindo que a Escola
seja condizente com a realidade vivida, sendo capacitada a receber
o público da atualidade que já nasceu inserido em meio ao novo, às
mutações constantes e, mais do que isso, capacitá-los para atuar
87
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
87SUMÁRIO
nessa atmosfera mutante, veloz e em devir constante.
Novos perfis de leitor e autoria
Cada passo, cada degrau que a escrita alcança desde sua
criação gera necessidade de (re)adaptação fazendo com que se
originem novas maneiras de leitura e novos perfis de leitores. Nos
rolos da Antiguidade as ideias eram dispostas linear e horizontal-
mente, fazendo com que o leitor se posicionasse da mesma maneira.
Esse comportamento passivo é herdado pelo livro manuscrito e,
posteriormente, pelo livro impresso inaugurado por Gutenberg.
Nessa nova fase, leitor e autor abandonam o ócio, quietude e hori-
zontalidade do processo de leitura e se inserem no barulho, no
emaranhado de informações que se intensificam, acompanhando
a fluidez, rapidez e dinamicidade do momento ocasionando fato
análogo ao que se presenciou quando do surgimento da imprensa:
A complexidade corporificada nas mediações é por nós revisitada
no momento do surgimento da imprensa, no momento da acele-
ração do processo com a introdução da rotativa e, na atualidade,
quando os lugares de produção e reprodução sofrem novo abalo
(VILLAÇA, 2002, p. 17).
A passagem da cultura impressa à eletrônica acontece pela
abertura de um canal, como sempre, oferecido pela arte em geral
e a criação literária como o local onde se lê as inscrições da subje-
tividade (Ibidem). Segundo Martin-Barbero (1997) a crise que nos
constitui “não é só um fato social, e sim uma razão de ser, tecido
de temporalidades e espaços, memórias e imaginários que até
agora só a leitura soube exprimir” (VILLAÇA, 2002, apud MARTIN-
BARBERO, p. 259).
As constantes e intensas transformações no universo da
escrita levaram Marshall McLuhan a profetizar o fim da “galáxia
88
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
88SUMÁRIO
Gutenberg” e a instituição de uma “aldeia global” eletrônica e plane-
tária, especialmente as surgidas a partir dos anos 60 como o cabe-
amento dos sinais de TV, as redes de satélites de comunicação,
surgimento do vídeo portátil e na sequência o gravador doméstico,
a microinformática, telemática, redes digitais integradas, TV intera-
tiva, celulares, HD TV (High Definition Television – TV em alta defi-
nição) (VILLAÇA, 2002, p. 17-18).
Pode-se perceber claramente que na transposição de cada
fase pela qual o livro passa desde sua invenção, há uma crescente
preocupação com o aperfeiçoamento e a chegada a uma forma
mais eficazmente elaborada que é o legado de toda descoberta e
não acontece diferente quando a humanidade vislumbra e adentra a
fase do livro digital. Nesse prisma, Villaça (2002) comenta:
O livro eletrônico pode ser avaliado de diversos ângulos: facilidade
de compilação em termos espaciais, enriquecimento multimídia,
qualidade da dimensão interativa, nível de liberdade propiciado,
qualidades que se distribuem com maior ou menor ênfase nos dife-
rentes suportes (VILLAÇA, 2002, p. 18).
O livro eletrônico potencializa todas as fases anteriores
exigindo novos perfis de leitor e autoria. Requer uma leitura dinâ-
mica, fluida e descomprometida da linearidade e horizontalidade de
outrora. Há uma reaproximação do texto com o diálogo ou com a
conversação devido ao seu caráter fluido, desterritorializado, dinâ-
mico, afinal o texto perde sua fixidez e vai ao encontro do leitor para
que seja atualizado i.e. amassado e amarrotado, mergulhado no
mundo oceânico do ciberespaço. Lê-se em iPad, iPhone, e-books,
PC, Notebooks, celulares etc., e não apenas em suporte único.
Essas considerações estão coadunadas ao pensamento de Lévy
(2011) a respeito do texto contemporâneo:
Pois o texto contemporâneo, alimentando correspondências
on-line e conferências eletrônicas, correndo em redes, fluido,
desterritorializado, mergulhado no meio oceânico do ciberespaço,
esse texto dinâmico reconstitui, mas de outro modo e numa
escala infinitamente superior, a copresença da mensagem e de
89
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
89SUMÁRIO
seu contexto vivo que caracteriza a comunicação oral. De novo,
os critérios mudam. Reaproximam-se daqueles do diálogo ou da
conversação: pertinência em função do momento, dos leitores e
dos lugares virtuais; brevidade, graças à possibilidade de apontar
imediatamente as referências; eficiência, pois prestar serviço ao
leitor (e em particular ajudá-lo a navegar) é o melhor meio de ser
reconhecido sob o dilúvio informacional (LÉVY, 2011, p. 39).
De fato, o ser digital faz o modelo atual de livro ser algo
inovador e o padrão que superou o que se pretendia ao haver a
necessidade de substituição dos livros manuscritos que eram
imensos e difíceis de serem transportados. Vê-se que o livro alcança
um elevado padrão de potencialidade no momento presente. Porém,
há críticas a esse respeito. Ora, em 1999 ocorre o lançamento do
primeiro livro eletrônico do mundo, o Rockete Book que prometia
poupar espaço e transformar hábitos de leitura, fazendo com que
estudiosos e especialistas apostassem que seria essa uma revo-
lução análoga a provocada por Gutenberg quando da invenção da
imprensa. Segundo Villaça (2001), isso ainda não aconteceu em
virtude dos processos adaptativos requeridos para essa passagem.
A autora se posiciona criticamente acerca dessa questão, mencio-
nando o nível de interatividade oferecido pelo suporte eletrônico:
As características, qualidades e limitações e, por que não as inquie-
tações trazidas pelo livro eletrônico, podem ser melhor avaliadas se
distinguirmos o livro on-line, o tipo e a qualidade de interatividade
oferecida; o e-book e a possibilidade de proteção dos direitos auto-
rais com sua versão portátil, e o CD-ROM que, se traduz o enrique-
cimento do som e da imagem, representa, por outro lado, com links
programados, uma limitação diante da maior liberdade que tinha o
leitor tradicional em suas associações (VILLAÇA, 2001, p. 20).
O advento da era digital gera impactos significativos no
modo de leitura e de produção. Como visto anteriormente, a leitura
vê-se desterritorializada que nas palavras de Villaça (2002) se trata
de “um afastamento do corpo vivido tradicional e individual, e um
desligamento do lugar, da terra e tarefas não verbais” (p.64). Agora,
com a presença do suporte eletrônico e de sua estrutura agregativa
90
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
90SUMÁRIO
na qual inúmeros recursos inovadores entram em cena: imagens
em movimento, animação das próprias palavras, presença de
vozes, páginas com várias saídas, surge o modelo hipertextual –
o hipertexto. O suporte digital, como afirma Lévy (2011), permite
novos tipos de leituras (e de escritas) coletivas.
Hipertexto: Platô da era digital
A terminologia hipertexto surge como definidora dos textos
dispostos na Web que apresentam hiperlinks que, por sua vez,
conduzem o leitor navegador a outras enunciações e assim suces-
sivamente por pontos de convergência que Lévy (2011) chama de
Nós e que Deleuze e Guattari (2011) chamaram de Rizomas que se
opõem às linhas de articulação e segmentaridade por serem linhas
de fuga, movimentos de desterritorialização e desestratificação.
Para os autores o Rizoma é uma antigenealogia:
O livro não é a imagem do mundo segundo uma crença enraizada.
Ele faz rizoma com o mundo, há evolução aparalela do livro e do
mundo, o livro assegura a desterritorialização do mundo, mas o
mundo opera uma reterritorialização do livro, que se desterritorializa
por sua vez em si mesmo no mundo (se ele é disto capaz e se ele
pode) (DELEUZE e GUATTARI, 2011, p. 28).
O hipertexto – modalidade de texto – não mimetiza a reali-
dade segundo Deleuze e Guattari (2011), mas se trata de um mape-
amento em virtude de ser o mapa aberto, conectável em todas as
suas dimensões, desmontável, reversível e suscetível de receber
alterações, constantemente, diferente do decalque que é completa-
mente fechado e irreversível:
O rizoma é uma antigenealogia. É uma memória curta ou uma anti-
memória. O rizoma procede por variação, expansão, conquista,
captura, picada. Oposto ao grafismo, ao desenho ou à fotografia,
oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser
produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível,
91
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
91SUMÁRIO
modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de
fuga (DELEUZE e GUATTARI, 2011, p. 43).
O rizoma surge com forte posicionamento contra sistemas
centrados (e até policentrados), de comunicação hierárquica e liga-
ções preestabelecidas i.e. trata-se de um sistema acentrado não
hierárquico e não significante, sem memória organizadora, sem
autômato geral, sendo definido unicamente por uma organização
de estados (ibidem). O hipertexto se conecta com outros infinita-
mente através do que Deleuze; Guattari (2011) chamam de Platô
– toda multiplicidade conectada com outras hastes subterrâneas
artificiais de maneira a formar e estender um rizoma, que por sua
vez, não inicia e nem conclui nada, apenas se encontra no meio
entre as coisas, intermezzo (p. 48).
Deleuze e Guattari (2011) em se tratando da ideia de
rizoma acrescentam:
Num livro, como em qualquer coisa, há linhas de articulação ou
segmentaridade, estratos, territorialidades, mas também linhas de
fuga, movimentos de desterritorialização e desestratificação. [...]
É uma multiplicidade – mas não se sabe ainda o que o múltiplo
implica. [...] O rizoma é uma antigenealogia. É uma memória curta
ou uma antimemória. O rizoma procede por variação, expansão,
conquista, captura, picada. Oposto ao grafismo, ao desenho ou à
fotografia, oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que
deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável,
reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas
linhas de fuga. (DELEUZE e GUATTARI, 2011, p. 18;43).
Para os filósofos da linguagem anteriormente citados um
texto se constitui de corpos sem órgãos que se ligam e se entre-
laçam a outros corpos sem órgãos. O que importa não é “o que um
livro quer dizer [...], mas sim “com o que ele funciona, em conexão
com o que ele faz [...] em que multiplicidades ele se introduz e meta-
morfoseia a sua, com que corpos sem órgãos ele faz convergir o
seu” (ibidem, p. 18).
92
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
92SUMÁRIO
A evolução da linguagem em suas diversas modalidades
traz consigo o advento das novas Tecnologias da Comunicação:
as Mídias Digitais. Nesta nova era da informação a característica
marcante é a digitalização desta que segundo Coutinho; Silveira Jr.
(2008) são as “novas transformação de textos, imagens e sons em
linguagem binária, através da codificação 0 e 1” (p. 141). De acordo
com os estudiosos, a hipermídia juntamente com seus recursos
multicódigos, acrescenta novas possibilidades ao cenário comu-
nicacional por congregar as três matrizes da linguagem: visual,
sonora e verbal. Surge, enfim, a noção de hipertexto que tem como
precursor Vannevar Bush que afirma que o hipertexto reproduz a
estrutura da mente humana. Lévy (1993) comunga da ideia de Bush
e define o hipertexto nos seguintes termos:
um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser pala-
vras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências
sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser
hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente,
como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria,
estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em
um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma
rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó
pode, por sua vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 1993, p. 33).
Há, como podemos verificar, uma ruptura com a linearidade,
horizontalidade seja ela discursiva, textual e até mesmo do próprio
pensamento. O sistema se constitui em rede, em inúmeros rizomas,
interrelações de infinitos corpos vazios, de nós, em cascata impul-
sionado não por uma força centrípeta – que atrai para o centro – mas
centrífuga, tendo o receptor como o centro das conexões, “fazendo
ele mesmo suas relações simbólicas e cognitivas, através de um
processo rizomático de escolhas” (COUTINHO; SILVEIRA JR., 2008,
p. 145).
93
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
93SUMÁRIO
Nativos digitais vs. imigrantes: tensões do cenário atual
O conceito de nativos digitais e imigrantes, bem como essa
nomenclatura são patenteados por Prensky (apud TORI, 2010, p.
218). Segundo o autor, o primeiro grupo (nativos) são os nascidos a
partir de 1980, momento em que se inicia o domínio das tecnologias
digitais. Esses indivíduos teriam acesso a esses aparatos e trariam
consigo habilidades de operá-los por serem oriundos dessa fase,
i.e. por já nascerem em contato com as novas ferramentas.
Observa-se, desde então, que cada vez mais cedo crianças
e adolescentes operam e dominam as NTICs (Novas Tecnologias
da Informação e Comunicação) como algo comum, corriqueiro o
que se difere grandemente da realidade de tempos passados. Essa
nova geração traz consigo uma marca: a identidade digital, uma
vez que passam a maior parte do tempo logados em redes sociais,
chats, blogs, games e demais inovações tecnológicas.
Acerca dos imigrantes digitais os pesquisadores Palfrey e
Gasser (2011, p. 13) nomeiam outra figura, os colonizadores digi-
tais, que na sua concepção são pessoas mais velhas, as quais
estão desde o início da era digital, mas cresceram em um mundo
analógico e vem contribuindo para a evolução tecnológica, conti-
nuam conectados e sofisticados no uso das tecnologias, porém
baseados nas formas tradicionais e analógicas da interação. Esses
entes, segundo os autores, são os menos familiarizados com o
aparato tecnológico, com o ambiente digital por terem aprendido ao
longo da vida a operar as novas ferramentas. São oriundos de uma
realidade distinta da atual em ambiente não dominado pela tecno-
logia, apresentando uma maneira diferente de aprender.
A realidade apresentada anteriormente permite que se
observe que a formação do docente imigrante digital diverge da
94
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
94SUMÁRIO
concepção de mundo de seus alunos, sua maneira de perceber o
conhecimento e da realidade em que vivem e operam.
Choque de gerações: a problemática
O cenário atual é marcado pela presença de duas gerações:
nativos digitais e imigrantes digitais. Duas classes que dividem o
mesmo palco, mas que se chocam uma com a outra. A escola vive
os dilemas e desafios de uma fase em transição e, consequente-
mente, docentes e discentes que representam bem a realidade em
questão. Os primeiros, provenientes de uma cultura oralista, presen-
cial, onde o olhar, o toque, a interação no meio físico, palpável se
fazia importante. Para Prensky (2001), os docentes com mais de
vinte anos de carreira são imigrantes no ciberespaço por terem o
processo de construção do conhecimento distinto da realidade dos
nativos digitais. Segundo Borba (2001, p. 46), “os seres humanos
são constituídos por técnicas que estendem e modificam seu racio-
cínio e, ao mesmo tempo, esses mesmos seres humanos estão
constantemente transformando essas técnicas”.
Através desses apontamentos, pode-se observar que o
trabalho do docente imigrante difere muito da forma como seus
alunos percebem e produzem conhecimento. As grandes e cons-
tantes reclamações são a respeito da carência de leitura, desmo-
tivação em sala de aula e dificuldade de entrosamento no grupo.
Paradoxalmente, esses mesmos sujeitos (os alunos) interagem com
seus colegas via Facebook, Skype, leem através de Blogs e Tumblr
e participam de Chats.
A partir dessas reflexões, decidiu-se realizar uma pesquisa
entre os docentes do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal
Fluminense a fim de investigar o uso e o papel das NTICs no
95
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
95SUMÁRIO
processo de ensino-aprendizagem. Para alcançar o objetivo
proposto, pensou-se a seguinte questão: Como os professores, em
sua maioria, imigrantes digitais, lidam com a chegada das Novas
Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs) e que usos têm
feito delas no cotidiano escolar para formar os discentes que são
sujeitos nativos digitais? Estes, por sua vez, estão sendo apresen-
tados às novas ferramentas tecnológicas, fazendo uso correto delas
na aquisição do conhecimento?
Metodologia
Tendo em vista os objetivos deste trabalho, foi escolhido o
survey como método de pesquisa, por se tratar de um método de
coleta de informações direto, com questionário estruturado, com
o objetivo de obter informações para análise, permitindo alcance
rápido a um número maior de participantes.
Para esta pesquisa, os questionários foram aplicados no
IFFluminense Campus Bom Jesus, na cidade de Bom Jesus
do Itabapoana/RJ entre os docentes e discentes dos cursos de
Agropecuária e Informática integrados ao Ensino Médio desta
Instituição. O compêndio de perguntas foi elaborado com base
no trabalho de Hirsch (2007), abrangendo questões que fornecem
dados sobre os professores e alunos, seus hábitos de leitura, sua
relação com as novas tecnologias. Depois da obtenção dos dados
primários, procedeu-se à etapa de codificação e tabulação deles
para posterior análise dos resultados.
Para alcançar os objetivos deste estudo, optou-se por adotar
uma pesquisa de abordagem qualitativa e de caráter descritivo.
Segundo Babbie (2005), a pesquisa descritiva tem como objetivo
primordial escrever as características de determinada população,
96
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
96SUMÁRIO
bem como dos processos sociais e realidades vivenciadas e cons-
truídas por elas. Na escolha das turmas, prezei pelas turmas nas
quais sou regente e em dias estratégicos para não haver prejuízo no
andamento das atividades.
Para melhor organização dos dados coletados, foram estabe-
lecidos os seguintes critérios de análise envolvendo corpo docente
e discente:
1. Perfil do grupo: Nativos Digitais/Imigrantes Digitais
2. Conhecimento: Produtivo/Não produtivo
3. Suporte: Impresso/Eletrônico
4. Gêneros Textuais
Resultados/Discussão
Quanto aos docentes, foram analisados todos que integram
a(s) equipe(s) dos cursos objeto de análise. Foram investigados,
também, aspectos como Formação Complementar e Uso das
NTICs como ferramenta potencializadora da aprendizagem no rol
dos critérios. Dentre os docentes que participaram da pesquisa, a
priori, a maioria (54,50%) são do sexo masculino e 45,45% do sexo
feminino com idades que variam dos 26-35 anos e maciçamente
configurado como Imigrantes digitais, totalizando 90,90%, sobrepu-
jando os nativos digitais que juntos representam 9,09%.
Dos participantes da pesquisa até aquele dado momento,
50% possuíam formação teórica ou prática para o uso do ambiente
digital como ferramenta de ensino o que é, de fato, preocupante em
se tratando da clientela (alunos) de nativos digitais que compõem o
cenário atual. Outro fator alarmante é que, embora alguns possuam
97
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
97SUMÁRIO
esse tipo de formação, não fazem uso prático do conhecimento
obtido no cotidiano escolar. Segundo resposta dos discentes a
respeito do uso da novas tecnologias na sala de aula, os profes-
sores utilizam apenas slides (Power Point) como única ferramenta
potencializadora do processo de ensino-aprendizagem.
Pode-se perceber por meio da aplicação da pesquisa que,
a maioria quase que absoluta dos professores utilizam o ambiente
digital para fins de conhecimento não produtivo como, redes sociais,
entretenimento, chats com algumas ocorrências de pesquisas,
obtenção de informação, trabalhos e projetos em geral, etc.. No que
concerne ao corpo discente, podemos retratar a maioria do sexo
masculino como ocorre com os docentes, prefigurando 66,39% e
33,60% do sexo feminino. Isto pode estar relacionado aos tipos de
curso oferecidos pela Instituição.
Quanto ao perfil – nativos digitais ou imigrantes digitais – no
contexto da Instituição observada, a comunidade escolar de alunos
é 100% de nativos digitais, i.e. indivíduos nascidos de 1990 em diante
e que já nasceram inseridos no contexto das Novas Tecnologias da
Informação e Comunicação, quiçá operando-as desde tenra idade.
Parcialmente, é possível observar que os alunos se valem do meio
digital tanto para o conhecimento produtivo como para o não produ-
tivo. No primeiro caso, utilizam o ambiente para pesquisas diversas,
para reforço das atividades desenvolvidas em sala de aula e para
execução e elaboração dos trabalhos. Paralelo a isso, utilizam o
mesmo espaço para entretenimento, acesso e participação em
redes sociais, chats, games, etc.. Ocorre que não recebem orien-
tação sobre como fazer e não aprendem utilizando os novos meios
em sala de aula. Além disso, boa parcela dos alunos reside em
locais onde não têm acesso à internet, muitos não possuem compu-
tador em casa devido à dificuldade financeira, fazendo uso apenas
na escola (micródromo).
98
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
98SUMÁRIO
Em relação ao suporte (impresso e eletrônico) há uma prefe-
rência pelo meio impresso, porém sem desprezo do eletrônico. Esse
fato comprova os argumentos de VILLAÇA (2002) e ZILBERMAN
(2001) a respeito do impresso e eletrônico e sobre o fim do livro.
Essas estudiosas sugerem uma coexistência pacífica entre ambos
os suportes que atendem a um público leitor fiel e que utilizam esse
ou aquele suporte de acordo com a necessidade de determinado
momento. Outro ponto que defendem é, ainda, forte presença do
meio impresso na sociedade marcada pelas Novas Tecnologias
informacionais e comunicacionais conforme o gráfico a seguir:
40,16%
28,69%
30,32%
0,82%
Suporte
Impresso
Eletrônico
Ambos
Nenhum
Figura 1: Suporte: impresso ou eletrônico
Fonte: Dados do autor
Conforme dito anteriormente, ambos os suportes dividem
bem o espaço. Pode-se observar que 30,32% dos discentes parti-
cipantes valem-se de ambos os suportes para fins específicos em
razão das necessidades múltiplas e que apenas o uso de ambos
torna cada atividade possível e eficaz. Vale apontar, também, o caso
dos nativos digitais que se valem apenas do meio eletrônico em seu
cotidiano escolar e secular que, aqui, totalizam 28,69%.
99
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
99SUMÁRIO
Por se tratar de cursos tão diferentes entre si (Agropecuária
e Informática) tabulamos os dados divididos por curso para que
fosse possível uma melhor dimensão do que se argumenta nesta
pesquisa. Vejamos a tabela a seguir:
Figura 2: Curso de Agropecuária
Fonte: Dados do autor
É curioso perceber que a incidência do texto impresso é maior
entre as meninas que totalizam 26,92% dos 51,92%. Em segundo
lugar, estão aqueles que leem em ambos os suportes e cuja maioria
é de meninos, totalizando 23,07% dos 26,91% dos participantes.
Figura 3: Curso de Informática
Fonte: Dados do autor
100
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
100SUMÁRIO
NocursodeInformáticaaconteceanálogoaodeAgropecuária.
A maior incidência do suporte impresso é maior entre as meninas
18,60% dos 31,45%. Com uma diferença mínima, vence o grupo
que utiliza o suporte eletrônico somente, totalizando 34,30% e em
segundo lugar, com uma diferença pequena, os que utilizam ambos
os suportes que representam 32,85% dos participantes, lembrando
serem alunos do curso de informática. Há uma curiosidade que
são os 1,42% que afirmam não utilizarem nenhum dos suportes
apresentados.
A interseção entre os cursos e que representam alunos do
Ensino Médio da rede federal de ensino, revelam que a incidência
do suporte impresso é superior em relação aos demais suportes,
atingindo 83,37% conforme a tabela 4:
Figura 4: Interseção entre os cursos
Fonte: Dados do autor
Concorrem entre si, de forma equilibrada, a incidência dos
suportes eletrônico e ambos os suportes (impresso e eletrônico
simultaneamente). No primeiro caso 55,47% e no segundo, 59,76%.
Os dados revelam que os alunos apresentam hábitos e comporta-
mentos de indivíduos nativos digitais, porém desmistifica a ideia de
iminente fim do suporte impresso.
Em relação aos gêneros textuais, preliminarmente, pudemos
observar a predominância de livros impressos que atingem um
ranking de 63,11%. Mais da metade dos participantes recorrem ao
101
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
101SUMÁRIO
livro impresso em seu dia-a-dia. A ocorrência dos demais suportes
manteve-se equilibrada, sendo 24,60% revista, 22,13% jornal e
20,50% outros gêneros.
Os 20,50% que representam outros gêneros destacam-se gibis,
mangás, blogs, Facebook, Twitter, RPG (Role-playing Game), sites
diversos, games, notícias online, tutoriais, chats, wiki, dentre outros.
Vale ressaltar que os alunos participantes não optam por um gênero em
detrimento de outro, mas sim fazem uso de vários e simultaneamente.
Conclusão
Através de tudo que fora exposto até aqui e dos resultados
parciais apresentados nesse trabalho podemos chegar a algumas
conclusões a respeito do cenário atual marcado pelos inúmeros
(e potentes) avanços tecnológicos, profundas transformações que
não cessam e que inquietam estudiosos e filósofos.
Em primeiro plano, é fato que os docentes conceberam (e
concebem) a maneira de aprender distinta da dos estudantes por
terem vivenciado, interagido com realidade também distinta da atual.
A tendência do ser humano é reproduzir os mesmos processos de
aprendizagem pelos quais passou em sua vida. O que nem sempre
é o posicionamento mais adequado. Isso ocorre seja por limitações
frente ao novo seja pelo pensamento de que aquele modelo que
vivenciou é o melhor a ser adotado. Essa inércia provoca efeitos
catastróficos no processo de ensino-aprendizagem.
O grande retrato que se tem do cotidiano escolar é, de um
lado, estudantes desmotivados, sem gosto pela leitura e, de outro,
docentes estagnados, inertes como se não conseguissem ousar
mais um passo. Isso se deve ao fato de que os docentes, mesmo
102
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
102SUMÁRIO
os nativos digitais, não têm (e não tiveram) formação voltada para o
uso das NTICs e não se capacitaram em momento algum durante
a formação acadêmica. Uma pequena parcela de docentes que se
capacitaram, opta por não utilizar os conhecimentos sedimentados
no dia a dia para enriquecimento de suas aulas, reproduzindo,
mais uma vez, os modelos de ensino tradicionais. Foram educados
nesses moldes e, mesmo sendo nativos digitais, foram orientados
por imigrantes digitais ou, na maioria dos casos, pelos que se
relutam a emigrar.
Acreditamos, portanto, que os professores não receberam
(e continuam sem receber) em sua formação, métodos e estraté-
gias de ensino pautadas nas NTICs, fazendo com que os discentes
não sejam apresentados a essas novas ferramentas, deixando de
usufruir das benesses dessa nova prática de ensino. Além disso,
presumimos que não tem havido apropriação e ampliação dos
múltiplos letramentos (e/ou multiletramentos) para que docentes
e discentes sejam capazes de caminhar de mãos dadas. Aqueles
sendo preparados para a manipulação das NTICs e estes, por sua
vez, fazendo uso correto das novas ferramentas na aquisição do
conhecimento. O que se observa, no entanto, é um grande hiato
entre ambos os sujeitos ocasionado pelo período de transição que
vivemos: confronto entre essas duas gerações, i.e. imigrantes digi-
tais vs. nativos digitais e que para ser superado requer força de
vontade, ousadia e caráter destemido.
103
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
103SUMÁRIO
Referências
BORBA, Marcelo de Carvalho; PENTEADO, Miriam Godoy. Informática e
Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
COUTINHO, Iluska; SILVEIRA JR., Potiguara Mendes da. [orgs.].
Comunicação e Cultura Visual. E-papers: Rio de Janeiro, 2008.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia.
Vol. 1. 2ª ed. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e
Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 2011.
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na
Era da Informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro:
Editora 34, 1993.
_____. A ideografia dinâmica: rumo a uma imaginação artificial? São
Paulo: Loyola, 1998.
_____. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo:
Editora 34, 2ª ed., 2000.
_____. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2003.
_____. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4ª ed.
São Paulo. Loyola, 2003.
MARTÍN BARBERO. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e
hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.
PALFREY, John; GASSER, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a
primeira geração dos nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011.
PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. Part 1, On the Horizon,
2001, Vol. 9 Iss: 5, p.1-6
VILLAÇA, Nízia. Impresso ou Eletrônico? Um Trajeto de Leitura. Rio de
Janeiro: Mauad, 2002.
ZILBERMAN, Regina. Fim do livro: fim dos leitores? 2ª ed. São Paulo:
Editora Senac São Paulo, 2001.
CAPÍTULO 6
A CONTRIBUIÇÃO DE PROGRAMAS
PEDAGÓGICOS PARA A AMPLIAÇÃO DE
REPERTÓRIO DE UM INDIVÍDUO COM
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: ESTUDO
DE CASO
Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias
Manuela Gomes Rangel de Paula
Lilliany de Souza Cordeiro
6
Acontribuiçãodeprogramas
pedagógicosparaaampliação
derepertóriodeumindivíduocom
TranstornodoEspectroAutista:
estudodecaso
FabriziaMirandadeAlvarengaDias
ManuelaGomesRangeldePaula
LillianydeSouzaCordeiro
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.104-120
105
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
105SUMÁRIO
Resumo:
O objetivo deste estudo é analisar a ampliação do repertório do indivíduo
com Transtorno do Espectro Autista por meio da utilização de programas
pedagógicos como instrumentos de intervenções. O autista, apresenta
características específicas pautadas pelo DSM-V, que traz aspectos relacio-
nados à comunicação, interação social; interesses restritos e movimentos
estereotipados. Assim, o estudo sugere que a utilização de programas
pedagógicos aliados à repetição e treinamento, favorece à ampliação
do vocabulário do indivíduo, contribuindo para um comportamento mais
funcional e autônomo.
Palavras-chave:
Autismo; Linguagem; Vídeos pedagógicos; Repertório.
106
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
106SUMÁRIO
Introdução
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), possui caracterís-
ticas especificadas pelo DSM-V (2014), tais quais: déficits déficts na
comunicação, interação social e comportamentos restritos, repeti-
tivos e estereotipados. O transtorno tem afetado um número expres-
sivo de indivíduos no mundo.
A OMS estima que em torno de 1% da população mundial
encontra-se no espectro. (Dados da OMS, citado na ONU News-NY,
Edgard Júnior, 2017). O TEA envolve múltiplos fatores, dentre os
mais citados como prováveis causas são os de âmbito ambientais
e genéticos.
O sujeito com TEA, costuma apresentar atraso no neurode-
senvolvimento, principalmente, nos aspectos da linguagem, impac-
tando diretamente nos aspectos interacionais e de comunicação.
Conforme cada nível, especificado no DSM-V (2014), o sujeito pode
mostrar sinais de dificuldades leves, moderadas ou mais graves.
Dessa forma, o prejuízo frente às tarefas diárias do sujeito, fica
extremamente evidente, dando margem à busca de novos recursos
para auxílio na qualidade de vida desse sujeito.
Nessa perspectiva, a tecnologia tem sido utilizada cada vez
mais frequentemente no dia-a-dia desses sujeitos, como forma de
auxiliá-los na aquisição de habilidades e competências prejudicadas
pelo transtorno. O objetivo deste trabalho é verificar a ampliação do
vocabulário de um autista adolescente por meio da utilização de
vídeos pedagógicos como instrumentos de intervenções.
107
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
107SUMÁRIO
Transtorno do Espectro Autista (TEA)
A Organização Mundial da Saúde, OMS, estima que o TEA
afeta, em média, uma em cada 160 crianças no mundo. Portanto,
é alta a incidência do transtorno em todas as regiões do mundo.
Contudo, há o desconhecimento de suas causas e sinais tem forte
impacto nos indivíduos acometidos, nas suas famílias e comuni-
dades em geral. De acordo com a Organização das Nações Unidas
(ONU), uma variabilidade de pesquisas científicas aponta para
causas relacionadas a questões ambientais e genéticas (Edgard
Júnior, ONU News-NY, 2017, p. 1).
A etiologia da palavra “Autismo” vem do grego “autós”, que
quer dizer “de si mesmo”, alguém que vive em seu próprio mundo.
Esta terminologia foi descrita pela primeira vez no ano de 1911, pelo
psiquiatra suíço Eugen Bleuler, fazendo menção aos seus pacientes
esquizofrênicos, na tentativa de explicar o sinais de fuga da reali-
dade desses pacientes aliados a um comportamento extremante
intrínseco (AJURIAGUERRA, 1977). Aproximadamente trinta e dois
anos depois, Leo Kanner, baseado em estudos com seus onze
pacientes, crianças com esquizofrenia, publica artigos revelando a
questão do “autismo”, cunhando a expressão “Distúrbio Autístico
do Contato Afetivo” (CUNHA, 2017). No ano seguinte, em 1944,
Hans Asperger também publica estudos com crianças, mencio-
nando sinais similares aos descritos por Kanner, ressaltando que
as crianças com autismo apresentavam certa desenvoltura cogni-
tiva, com habilidades para lógica e abstração, inteligência superior,
e que apresentavam interesses incomuns. A pesquisadora Lorna
Wing, mãe de autista, em 1981, traduziu o artigo de Hans Asperger
e o publicou em revista uma inglesa de alto impacto, utilizando o
termo “Autismo” (ASSUMPÇÃO, 2015).
108
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
108SUMÁRIO
A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com
TEA, amparada pela Lei número 12.764/12, ratifica o tripé do trans-
torno para diagnóstico: Sendo assim, descrito na lei:
ciência persistente e clinicamente significativa da comunicação e
da interação social, padrões restritivos e repetitivos de comporta-
mentos, interesses e atividades. (BRASIL, 2012, Art 1, §1).
Existe sinais bastante significativos nos indivíduos com TEA:
costumam apresentar grande resistência a quebra de rotinas, com
interesses restritos e fixos, de forma detalhista, em objetos inco-
muns, a ausência de iniciativa a um diálogo e pouco contato visual.
O transtorno é definido pela medicina como de grande complexi-
dade para diagnóstico, devido as diversas possibilidades causais e
a variabilidade de níveis. 	
De acordo com o CID-10, o TEA é classificado como um
dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, apresentando-se
em três níveis diferentes, do mais leve ao mais severo. No caso de
maior severidade, a linguagem e o aprendizado são extremamente
prejudicados (DSM-V, 2014). Nesse sentido, para fechar um diag-
nóstico é preciso uma equipe multidisciplinar.
O profissional da Neuropsicopedagogia possui um arcabouço
de conhecimentos relacionados à neuroanatomia e neurofisiologia,
compondo informações sobre as funções e estruturas do sistema
nervoso central, relevantes para o processo de desenvolvimento
e aprendizagem de um indivíduo (RUSSO, 2015). Dessa forma, o
profissional está apto a avaliar e intervir nos casos de indivíduos que
apresentam os mais diversos transtornos, inclusive o TEA. Sendo
assim, o Neuropsicopedagogo Clínico, lança mão a instrumentos
avaliativos padronizados e qualitativos, para o processo de
investigação. A partir de dados coletados no decorrer do processo
de avaliação, recorre-se ao planejamento das intervenções,
buscando promover melhorias no desenvolvimento das habilidades
e competências prejudicadas pelo transtorno.
109
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
109SUMÁRIO
Tecnologia e TEA: estudo de caso
Segundo Schlunzen (2005, p. 2), “as tecnologias podem
constituir um recurso fundamental para possibilitar a comunicação
das pessoas com necessidades educativas especiais, permitindo
uma manipulação do meio e um melhor desenvolvimento cognitivo”.
Sendo assim, a criação de novas tecnologias tem sido importante
como recurso para a melhoria de habilidades prejudicadas pelos
mais diversos transtornos e síndromes.
Nessa perspectiva, esse estudo objetiva analisar o caso
de A.C., de treze anos de idade, que está matriculada no 3º ano
do Ensino Fundamental II, em Escola da Municipal, na cidade de
Campos dos Goytacazes-RJ. No contraturno, ela frequenta a Sala
de Recursos (SR) que fica em uma instituição filantrópica da cidade,
por duas vezes na semana com duração de quatro horas/dia. A.C.
não frequenta assiduamente a escola. Segundo relato da mãe, ela
não expressa satisfação em estar na escola regular.
Na Sala de Recursos, A.C. é bem seletiva em relação aos
colegas, mas os poucos que têm, demonstra algum afeto através
de abraços e por pronunciar os nomes desses colegas quando não
estão presentes. A.C. tem diagnóstico de TEA, grau moderado-nível
2, retardo mental leve e epilepsia. Começou a desenvolver a fala por
volta de dois anos e três meses, com dificuldade de repetir o que
ouvia, conforme relato da mãe. Demonstra compreender ordens
simples identificando objetos e condições de seu cotidiano. A.C.
apresenta estereotipias (girar objetos) quando realiza atividade livre.
É necessário sempre orientá-la sobre a função dos objetos e como
interagir de forma adequada ao contexto da situação.
Em alguns momentos demonstra através de comportamento
inadequado (irritabilidade, risos, empurrões), quando não quer fazer
110
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
110SUMÁRIO
algo que foi solicitado ou quando sua vontade não é atendida. A.C.
participa de todas as atividades, dentro do que é proposto, porém a
mudança na rotina, na maioria das vezes, desencadeia comporta-
mentos agressivos. Sendo esses episódios apresentados raras vezes
nesse período em que a mesma frequenta a Sala de Recursos.
Segundo Belizário Filho (2010, p. 22), “é comum que essas
crianças apresentem manifestações de sua inflexibilidade de
maneira exacerbada”. Nesta perspectiva, entende-se que nos
ambientes com variados estímulos, com um número grande de
pessoas que não lhe são familiares, é esperado que o indivíduo
tenha reações exacerbadas ou disfuncionais.
No caso em estudo, pode-se apontar alguns fatores que
necessitam que haja mediação e contribuição na solução dos
problemas identificados, tais como: comunicação, comportamento
inadequado, a aprendizagem, a afetividade e socialização. Tais
comportamentos são decorrentes do transtorno que a mesma apre-
senta. A.C. apresenta o uso da linguagem de forma restrita, apon-
tando em direção aos objetos que deseja como forma de mostrar
o que quer: como por exemplo, apontar ou pegar o prato para
expressar a sua vontade de comer algo.
Atualmente, é crescente a influência da tecnologia em nosso
cotidiano e para os indivíduos com TEA não é diferente. A tecno-
logia fascina essas crianças e pode facilitar a execução de suas
atividades diárias, fazendo-as com mais atenção e concentração,
tornando a conclusão das tarefas mais agradáveis à medida que é
utilizada de maneira adequada (CUNHA, 2016).
Nesse aspecto, a tecnologia aparece como um incentivo ao
indivíduo com TEA, favorecendo o seu entendimento em relação
as regras e realizações de tarefas diárias como acordar cedo,
esperar a hora de entrar na escola, comer, fazer tarefas oferecidas
111
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
111SUMÁRIO
nas diversas terapias que precisa frequentar. A tecnologia pode
auxiliar ainda como incentivo no enfrentamento de situações sociais
(ASSUMPÇÃO, 2017).
O desenvolvimento de programas pedagógicos e outras
ferramentas tecnológicas, para intervenções no âmbito clínico com
sujeitos autistas, tem crescido significativamente. No site do Google
Play apresenta, atualmente, 138 aplicativos desenvolvidos com obje-
tivo de auxiliar indivíduos com TEA. Nesse sentido, questiona-se: de
que forma o uso de programas pedagógicos pode contribuir para a
ampliação de repertório de um sujeito autista?
Dessa forma, Prensky (2009, p. 4), ressalta que “num futuro
inimaginavelmente complexo, a pessoa intensificará suas capaci-
dades graças à tecnologia digital, incrementando assim, sua sabe-
doria”. O autor, como um visionário, já observava há alguns anos
a influência da tecnologia digital na vida das pessoas. No entanto,
Prensky (2009), recomenda prudência na utilização, para que deci-
sões possam ser tomadas de forma assertiva:
A forma em que utilizamos estes recursos, a maneira em que os
filtremos para encontrar o que precisamos, depende de nós, que
devemos estar conscientes de que a tecnologia é, e será um
meio de ajuda muito importante para a formação de nossa sabe-
doria, e assim, poder tomar decisões e avaliações mais acertadas
(PRENSKY, 2009, p. 4).	
O ser humano é criativo e tem a capacidade de desenvolver
sistemas que oportunizem a melhoria da qualidade de vida de uma
população. Contudo, deve-se considerar os riscos do uso inade-
quado dos meios tecnológicos. A sabedoria encontra-se no bom
uso da tecnologia de forma que traga benefícios à humanidade.
Nessa perspectiva, utilizando programas pedagógicos, o
sujeito com TEA pode ser estimulado a ter mais independência em
sua vida cotidiana. Com o uso dessas ferramentas, alguns pesqui-
sadores apontam que indivíduos com o Transtorno do Espectro
112
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
112SUMÁRIO
Autista tenham mais chances de desenvolver as suas habilidades
de comunicação, com a aquisição de repertório, ampliando as
suas possibilidades de interação, através de jogos e outras ativi-
dades tecnológicas disponíveis nesses programas (MELLO &
SGANZERLA, 2013).
Alguns estudos já demonstraram que o uso de tablets, smar-
tphones e outros dispositivos, podem ajudar pessoas com TEA
na obtenção de uma qualidade de vida melhor, no que tange a
interação social e à superação de suas dificuldades, que trazem
complexidade à vida diária desses indivíduos (CAMINHA et al.,
2006; SANTOS et al., 2014; KRAUSE et al., 2016).
Outros estudos ainda demonstram que o uso da tecnologia
de forma planejada e adaptada, tornam-se recursos importantes no
desenvolvimento desses sujeitos. A tecnologia assistiva tem sido
relevante no auxílio a indivíduos autistas em seu desenvolvimento
cognitivo e habilidades sociais (MELLO & SGANZERLA, 2013).
Em 2017, Doidge, dedica um capítulo de seu livro à impor-
tância da tecnologia na remodelação cognitiva, ressaltando o
trabalho de Michael Merzenich e sua equipe que desenvolveram
um software, com bases nas neurociências. Merzenich é um reno-
mado neurocientista no que tange trabalhos sobre neuroplas-
ticidade cerebral. O pesquisador criou o Fast Forword, que é um
programa desenvolvido para ajudar estudantes com distúrbios ou
transtornos de aprendizagem de qualquer nível. O programa parece
um jogo que ensina a ouvir sons em frequências cada vez mais altas
e a lembrar e combinar sons. Merzenich preocupou-se ainda com
sistema de recompensa, que está presente no programa a cada vez
que o objetivo é alcançado, apresentando na tela algo divertido, que
por ser inesperado, prende a atenção da criança (DOIDGE, 2017).
É importante ter a recompensa, pois quando o sujeito é
recompensado, o cérebro secreta substâncias neuroquímicas, tais
113
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
113SUMÁRIO
quais: a dopamina (reforça a recompensa) e a acetilcolina (ajuda a
sintonizar e aguçar a memória), que têm um papel fundamental na
consolidação das alterações que ocorrem nas áreas do córtex que
participam das atividades propostas pelos jogos (DOIDGE, 2017).
Sendo assim, Doidge (2017, p. 89), afirma que “com a utili-
zação do Fast ForWord, as crianças tiveram ganhos significativos
na fala, linguagem, processamento visual e auditivo, aumento do
Quoeficiente Intelectual”. Dessa forma, o programa oportuniza
processamento mental mais aprimorado, proporcionando melhores
possibilidades de comunicação.
Doidge(2017,p.61)ressaltaqueinesperadamente,oprograma
também ajudou várias crianças autista. Portanto, de acordo com os
estudos de Merzenich, que discorrem sobre existência de plastici-
dade cerebral frente à utilização da tecnologia, contam com resul-
tados positivos, especialmente, com crianças autistas.
Processo de Avaliação e Intervenção
O processo de avaliação do quadro atual da paciente e as
intervenções, ocorreu ao longo de 20 encontros, em que 3 foram
para observação e conversa com a mãe. Os outros encontros foram
para aplicação dos testes e intervenções.
Após uma prévia análise do caso, optamos pelo Teste Infantil
de Nomeação (TIN), como mais apropriado para avaliar o vocabulário
do sujeito, para efeito do objetivo desse estudo. Foi feita uma análise
comparativa dos testes, considerando a situação anterior ao uso
das intervenções com programas pedagógicos e pós intervenções,
visando verificar e analisar a ampliação do vocabulário da paciente.
114
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
114SUMÁRIO
Aplicação do TIN
O Teste Infantil de Nomeação avalia a linguagem oral do indi-
víduo, ou seja, em que nível está o vocabulário do sujeito, por meio da
apresentação de imagens que devem ser nomeadas pelo paciente.
Os resultados são analisados de acordo com uma tabela de pontu-
ação-padrão, conforme Tabela 2, apresentada no corpo desse texto.
As aplicações do TIN foram realizadas em 3 etapas, com
intervalos de intervenções com o uso dos programas pedagógicos.
De acordo com a Tabela 1, pode-se observar um progresso da
paciente, que salta do nível Muito baixo para o Baixo. Com todas
as suas dificuldades sensoriais, juntamente com as comorbidades,
consideramos um avanço significativo, já que se trata de uma
adolescente que não teve um acompanhamento terapêutico efetivo.
Em análise dos resultados, observa-se que no primeiro
momento houve um escore bruto de 32, conforme a tabela 1, com
pontuação-padrão de 1 ponto. Já em um segundo momento, após
as sessões interventivas, houve avanços nos resultados com o
escore bruto de 38 e pontuação-padrão de 28. Observou-se ainda
uma melhor compreensão na execução do teste, mesmo que tenha
permanecido no nível Muito Baixo, de acordo com a tabela 2. No
encontro seguinte e final, aplicamos o teste pela terceira vez, com
resultados mais satisfatórios, em que A.C. obteve o escore bruto de
48, com pontuação-padrão de 72, demonstrando progressos. De
acordo com a tabela 2, a paciente avançou para no nível Baixo, se
comparada a indivíduos de mesma faixa etária.
115
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
115SUMÁRIO
Datas Aplicação
TIN
Escore Bruto Pontuação Interpretação
20/03/2019 32 1 Muito Baixa
25/03/2019 38 28 Muito Baixa
01/04/2019 48 72 Baixa
Figura 1: Aplicação do TIN
Fonte: Dados da pesquisa
Pontuação-padrão < 70 Muito baixa
Pontuação-padrão entre 70 e 84 Baixa
Pontuação-padrão entre 85 e 114 Média
Pontuação-padrão 115 e 129 Alta
Pontuação-padrão ≥ a 130 Muito alta
Figura 2: Pontuação padrão do TIN
Fonte: Seabra & Dias, 2012
Teste Infantil de Nomeação (TIN)
De acordo com a Tabela 1, foi possível precisar os ganhos
no desenvolvimento do repertório da paciente, após as interven-
ções com a tecnologia, considerando o seu quadro de compro-
metimento em virtude do TEA e outras comorbidades associadas,
aliado ao curto período de acompanhamento terapêutico. Segundo
Fauconnier (1984 apud 2017, p. 120), as palavras são lanternas que
iluminam o caminho da significação. Nesse sentido, a linguagem é
fundamental para inserção do indivíduo ao meio em que vive, facul-
tando a sua comunicação com o mundo, uma vez que a relação
entre a palavra e o mundo é mediada por processos neurais impor-
tantes à vida humana.
116
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
116SUMÁRIO
Desse modo, complementa-se com Vigotski (2001) no sentido
de que o desenvolvimento da linguagem está diretamente ligado às
experiências socioculturais e não apenas dos processos cognitivos,
especialmente em se tratando de uma “mente” com TEA, que apre-
senta peculiaridades e limitações.
Intervenções
A tecnologia é uma área de características interdisciplinares
de importante abrangência no campo de produtos, recursos, meto-
dologias, estratégias, práticas e serviços que oportunizam a funcio-
nalidade, relacionada à atividade e participação, de indivíduos com
deficiências, buscando melhorar a sua autonomia, independência,
inclusão social e qualidade de vida. (MELLO & SGANZERLA, 2013)
Com o intuito de trazer novas palavras ao vocabulário da
paciente A.C., de maneira mais contextualizada, para que o apren-
dizado possa acontecer ao nível da compreensão e aplicação
adequada ao meio, foram inseridos no processo interventivo entre
um teste e outro diversos programas, em que se pudesse relacioná-
-los à aplicação de novas palavras, buscando dar sentido ao obje-
tivo proposto neste estudo.
Desse modo, quando se trata da aplicação de recursos
tecnológicos no mundo do sujeito com TEA, pesquisadores afirmam
que os pacientes costumam apresentar especial interesse na inte-
ração com os dispositivos, dentre os quais pode-se citar os tablets
e computadores, ressaltando a importância da realização de novas
pesquisas sobre o assunto (CAMINHA et al., 2006).
Dessa forma, com o uso dos vídeos pedagógicos, perce-
beu-se o empenho e interesse da paciente na compreensão do
amplo sentido de cada palavra.
117
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
117SUMÁRIO
Figura 3: Vídeo pedagógico
Fonte: http://www.alfafon.com.br
Figura 4:
Fonte: http://www.applestore.comapp.matraquinha
Segundo Rivière (1995, p. 107) à medida que os objetos
se inserem em suas relações com as pessoas, começam a cons-
tituir-se temas de relação. Nesta perspectiva, quando o indivíduo
é inserido ao meio e consegue compreender que os objetos são
nomeados, que têm significado, função e aplicação a esse meio,
consegue também se ver como agente ativo e integrante de um
contexto que pode ser compartilhado. Dessa forma, a contextuali-
zação, através programas pedagógicos, puderam dar vida e signifi-
cado ao objetivo deste estudo.
118
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
118SUMÁRIO
Observa-se um importante decréscimo na quantidade de
erros no decorrer da aplicação dos testes. Sendo assim, a tecnologia
precisa ser utilizada prudentemente, com o objetivo de perceber as
necessidades para o seu uso consciente, pois é um meio impor-
tante de auxílio a formação de sabedoria, visando alcançar tomadas
de decisões mais precisas e avaliações mais acertadas (PRENSKY,
2009). Portanto, o autor recomenda e incentiva a criação de novas
tecnologias que possam oportunizar progressos e desenvolvimento
em benefício de toda a humanidade.
Conclusão
O objetivo deste estudo foi analisar a ampliação do reper-
tório de um indivíduo com o Transtorno do Espectro Autista por
meio da utilização de programas pedagógicos como instrumentos
de intervenções.
No decorrer de todo o processo trabalhou-se baseados nas
competências e habilidades de comunicação da paciente, compro-
metidas pelo transtorno, partindo de suas potencialidades mais
explícitas. De acordo com os dados analisados percebe-se que
com a aplicação de intervenções com a utilização de programas
pedagógicos houve ampliação do repertório da paciente, compro-
vados pela análise comparativa dos resultados das etapas de apli-
cação dos testes, conforme a tabela 1 e 2. Observou-se que as
intervenções foram atrativas e adequadas às necessidades do indi-
víduo em questão.
Com a análise feita nesse estudo, pode-se inferir que a apli-
cação de intervenções com o uso de programas pedagógicos foi
favorável para a ampliação do repertório da paciente, ocorrendo
melhorias em suas habilidades sociais. Orientamos que outros
119
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
119SUMÁRIO
profissionais que lidam, de alguma forma, com indivíduos autistas,
se aprofundem e busquem desenvolver novos métodos e estraté-
gias com a utilização de recursos tecnológicos, a fim de auxiliar
esses indivíduos a terem uma melhor qualidade de vida.
Referências
AJURIAGUERRA, J.. Manual de Psiquiatria Infantile. 2a
ed.; Barcelona:
Toray-Masson, 1983.
APPLE STORE. Disponível em: <https://itunes.apple.com/br/app/fast-
forword-language> Acesso em:
ASSUMPÇÃO F.B.J.; Autismo infantil: novas tendências e perspectivas. 2a
ed.; São Paulo: Ed. Atheneu, 2015.
BELIZÁRIO FILHO, José Ferreira. MEC - Coleção A Educação Especial na
Perspectiva da Inclusão Escolar: transtornos globais do desenvolvimento.
Volume 9. Fortaleza: UFC, 2010.
BRASIL, Lei no 12.764 de 27 de dezembro de 2012. Política Nacional de
Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtornos do Espectro Autista.
Presidência da República, Casa Civil. Disponível em: <https://bit.
ly/2AytGhm> Acesso em: 17 set. 2018.
CAMINHA, V.L.P.S.; [et. al.]. Autismo: vivências e caminhos. São Paulo:
Blucher, 2016.
CUNHA, E.. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na
escola e na família. 7a
ed. Rio de Janeiro: Wak, 2017.
DIAS, F. M. A. A contribuição da tecnologia para obtenção de ganhos
cognitivos de crianças autistas. Revista Philologus, Ano 24, n.72; Rio de
Janeiro: CIFEFIL, set./dez. 2018.
DOIDGE, N., O cérebro que se transforma: como a neurociência pode
curar pessoas. 9a
ed, Rio de Janeiro, Record, 2017.
DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-V
(American Psychiatric Association – M.I.C. Nascimento et. al.), 5a
ed.; Porto
Alegre: ArtMed, 2014.
120
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
120SUMÁRIO
EDGARD, J.. OMS afirma que autismo afeta uma em cada 160 crianças no
mundo. ONU News. Disponível em: <https://bit.ly/2yJFrjr> Acesso em: 17
set. 2018.
FAST ForWord. Disponível em: <http://www.fastforword.com/who-it-is-for/
autism> Acesso em:
LUQUETTI, F.C.E.; MOURA, A. S. Linguística em perspectiva: cognição
e ensino de língua e literatura, Campos dos Goytacazes, RJ: Brasil
Multicultural, 2017.
MELLO, C. M. C.; SGANZERLA, M. A. R.. Aplicativo android para auxiliar
no que? p. 231–239, 2013.
OMS: Organização Mundial de Saúde. Classificação de Transtornos
Mentais e de Comportamento – CID-10, Porto Alegre: ArtMed, 1993.
PEDRO W. (Org.). Guia Prático de Neuroeducação: Neuropsicopedagogia,
Neuropsicologia e Neurociência. Rio de Janeiro: Wak, 2017.
PRENSKY, Marc. H. Sapiens Digital: From Digital Immigrants and Digital
Natives to Digital Wisdom, Innovate: Journal of Online Education: Vol. 5:
Iss. 3, Article1. Available at: <htps://nsuworks.nova.edu/innovate/vol5/
iss3/1> Acssessed in:
RIVIÈRE, A. Origem e desenvolvimento da função simbólica na criança. In:
COLL, C.; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, A.. Desenvolvimento psicológico e
educação I. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. p. 94-110.
RUSSO, R. M.T. Neuropsicopedagogia Clínica: introdução, conceitos,
teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2015.
SBNPp. Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Disponível em:
<https://bit.ly/2qkqhgb> Acesso em:
SEABRA, G. A.; DIAS, M. N.. Avaliação Neuropsicológica Cognitiva:
linguagem oral, volume 2. ed. São Paulo: Memnon, 2012.
VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
CAPÍTULO 7
A FORMAÇÃO DE PROFESSORES SOB A ÓTICA
DE EMPODERAMENTO E A CONSTRUÇÃO DE
MENTES PENSANTES
Carla Barbosa Ferreira
Jossana dos Santos Bartolazzi Barbosa
Maria Francisca Ribeiro Barbosa Monteiro
7CarlaBarbosaFerreira
JossanadosSantosBartolazziBarbosa
MariaFranciscaRibeiroBarbosaMonteiro
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.121-131
Aformação
deprofessoressobaótica
deempoderamento
eaconstrução
dementespensantes
122
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
122SUMÁRIO
Resumo:
O presente artigo estuda a formação de professores sob a ótica de empo-
deramento e a construção de mentes pensantes, compreendendo que o
professor tem um papel de destaque na mediação do conhecimento e na
formação do sujeito. O ato de educar precede a toda e qualquer formação
de professores. Surge a necessidade da preparação de profissionais espe-
cíficos para exercer essa atividade, facilitando o processo de ensino-apren-
dizagem e começando a nortear os passos da educação brasileira, dando
largada a inumeros desafios enfrentados por esses profissionais até o
momento atual, tanto quanto ao seu valor profissional, sua remuneração e
a sua importância na formação de uma elite cultural do pais.
Palavras-chave:
Formação de professores, Empoderamento, Ensino-aprendizagem.
123
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
123SUMÁRIO
Introdução
O presente trabalho aborda a formação de Professores
desde o surgimento da profissão, até os dias de hoje, com a legí-
tima reflexão da importância e valorização do Professor enquanto
construtor de mentes pensantes, como formador de opinião e
responsável pela criação e manutenção de uma nação. Dentro do
processo ensino-aprendizagem, há elementos que se tornam muito
importantes para que, o mesmo, seja cumprido com sucesso.
A pesquisa gira em torno da relação de valorização do outro
e da autovalorização do Professor, considerando os enfrentamentos
que vem vencendo, seja na esfera acadêmica, social ou pessoal.
O problema que norteia este estudo é a desvalorização
quanto a formação do Professor, a banalização da Educação e a
necessidade de reflexão quanto a árdua e desafiadora tarefa, que
é educar com amor, com inclusão e excelência, entendendo que
essa reflexão também deveria partir dos profissionais envolvidos,
recobrando a autoestima e o orgulho de seus ofícios, conseguindo
dicotomizar as mazelas sociais e econômicas de sua formação
vocacional e de livre escolha. Tais indivíduos apresentam desequi-
líbrios que os impede de construir o conhecimento, impactando na
autoestima e na motivação para aprender.
Este estudo se justifica porque possui relevância social, pode
nortear profissionais da Educação, chamando a atenção para a
tamanha responsabilidade que é a escolha da formação de profes-
sores. Que para além de mediadores do processo de ensino-apren-
dizagem, são multiplicadores do bem, de amor, de valores, de
princípios, são exemplos e quando exercem esse ofício com amor,
dedicação e excelência, tornam-se inesquecíveis na memória de
cada educando. Tem-se como objetivo geral, observar como tem
124
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
124SUMÁRIO
sido a formação de Professores ao longo do tempo e recobrar a sua
importância, seus diferenciais e desafios.
A Pesquisa tem como objetivos específicos apontar como a
Formação de Professores, pode impactar positivamente na socie-
dade e identificar os resultados obtidos com a boa influência deles
na vida de crianças e adolescentes a margem. Observando como a
afetividade influencia na aprendizagem e na valorização do profis-
sional envolvido. Propor estratégias que aumentem a autoestima
do professor, reduzindo possíveis sintomas que o afetem negativa-
mente e que o convidem para olhar em uma direção, enxergando e
construindo novas frentes e novas possibilidades.
A hipótese deste estudo constitui-se da seguinte afirmativa: A
Formação de Professores valorizados e empoderados pode contri-
buir para a educação de forma diferenciada, bem como terá um
melhor gerenciamento emocional, mais motivado e trabalhando a
afetividade com eficazes instrumentos.
Quanto a finalidade da pesquisa, ela é bibliográfica, pois
através de estudos de literaturas publicadas se pode refletir tanto na
formação de professores quanto no seu empoderamento e utilizar
essas ideias para mediar as situações vivenciadas na sala de aula e
na vida do educador em sociedade.
O surgimento da Formação de Professores no Brasil
Não há como falar da formação de professores no Brasil,
sem fazer correlação com fatos históricos. Partindo do pressuposto
de que é possível compreender o contexto por meio de sua histo-
ricidade, pois, não há atualidade nacional que não seja processo
histórico (FREIRE, 2012, p. 25). Após a proclamação da República
125
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
125SUMÁRIO
houve a preocupação com o preparo de professores. Mesmo na
década de 50, 60 e 70 o índice de analfabetismo é vultuoso, foi
a Industrialização que trouxe um grande e acelerado crescimento
populacional e consequentemente a necessidade de formar mais
professores para atender essa demanda.
Contudo, desde o Império até a instauração da República,
a instrução primária não era centralizada, ficando sob a responsa-
bilidade das províncias. O governo central ocupava-se do ensino
secundário e superior administrando o ensino primário somente no
Distrito Federal. Diante da ausência do governo central, os estados
passaram a ser os protagonistas das ações educacionais sob
sua jurisdição. Em 1890 o estado de São Paulo iniciou uma ampla
reforma educacional alcançando avanços no que diz respeito ao
desenvolvimento qualitativo e quantitativo das escolas de formação
de professores” (TANURI, 2000). Nesse contexto, havia uma preo-
cupação com a implantação do ensino graduado na Escola Normal,
afinal, “a condição prévia para a eficácia da escola primária é a
adequada formação de seus professores” (SAVIANI, 2011).
Dentro do contexto histórico, a formação de professores vem
sofrendo transformações e é tema muito discutido atualmente, onde
se analisa como são formados os professores e como se dão as
práticas pedagógicas mediante a desafios diários.
O termo professor, segundo o dicionário Aurélio, refere-se a
um substantivo masculino, indivíduo que ensina, ministra disciplinas,
matérias, numa escola ou universidade; aquele cuja especialização
ou formação acadêmica é ensinar; mestre; quem sabe muito sobre
um assunto ou coisa; perito; quem professa uma crença ou religião;
que possui título de professor ou se especializou na área do ensino.
126
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
126SUMÁRIO
A Formação de Professores e o empoderamento
Defendemos o empoderamento do professor para que ele
tenha acesso a uma formação de alta qualidade, salários justos e
oportunidades sucessivas para o desenvolvimento profissional. É
possibilitar ao docente, ter liberdade para apoiar o desenvolvimento
dos currículos nacionais assim como a autonomia profissional para
escolher as abordagens e os métodos mais adequados. Atributos
que o farão capaz de ensinar com garantia, em tempos de incons-
tâncias políticas e subversões.
Por muito tempo, a formação inicial foi concebida como satisfa-
tória por si só na preparação do educador, por toda a vida profissional.
Entretanto, com o avanço das inúmeras pesquisas, a globalização
do conhecimento, a modernização e avanços nas diversas áreas do
conhecimento, faz-se necessário a atualização e aperfeiçoamento
constante, principalmente daqueles que atuam na educação:
A formação não se esgota na formação inicial, devendo prosseguir
ao longo da carreira, de forma coerente e integrada, respondendo às
necessidades de formação sentidas pelo próprio sistema educativo,
resultantes das mudanças sociais e/ou do próprio sistema de ensino
(RODRIGUES; ESTEVES, 1993, p. 41).
Professores de sucesso buscam constantemente o aprimora-
mento e reflexão de suas práticas e de seus conhecimentos. Assim,
a formação continuada propicia que o professor reflita sobre a sua
prática adquirindo a utilização de metodologias mais adequadas à
realidade, possibilitando contato com discussões teóricas mais atuais.
[...] na formação permanente dos professores, o momento funda-
mental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criti-
camente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
próxima prática” (FREIRE, 1996, p. 43-44).
O desenvolvimento pessoal do docente perpassa pela vertente
profissional. Como cita Nóvoa (1995), permitindo aos professores
127
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
127SUMÁRIO
apropriar-se de seus processos de formação e dar-lhes um sentido
no quadro de suas histórias de vida (NÓVOA, 1995, p. 25).
Nesse sentido, as práticas de formação continuada, além de
serem voltadas para as mais novas pesquisas, não podem perder
o cunho prático, de forma a considerarem as bagagens e experiên-
cias dos educadores.
Como referência, as dimensões coletivas, contribuem para a eman-
cipação profissional e para a consolidação de uma profissão que
é autônoma na produção dos seus saberes e dos seus valores
(NÓVOA, 1995, p. 27).
A formação continuada deve corresponder à uma fase de
formação constante, incluindo todas as atividades planejadas
pelas escolas e, pelos próprios professores, de modo a promover
o desenvolvimento e satisfação pessoal além do aprimoramento
como profissional.
Não podemos deixar de explanar que é também objetivo da
formação continuada de professores, levar o profissional a suprimir
dificuldades, sempre alçando uma maior competência profissional.
Ressaltamos ainda, a nível de formatação das formações
continuadas, o “nascimento” de espaços, como: seminários, fóruns,
cursos de extensão etc. Porém, insta refletir sobre o aspecto forma-
tivo dessas atividades como em Candau (1997):
A formação continuada não pode ser concebida como um meio de
acumulação (de cursos, palestras, seminários, etc., de conhecimentos
e técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica
sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade
pessoal e profissional, em interação mútua (CANDAU, 1997, p. 64).
Faz-se fundamental para os professores de todos os níveis
educacionais ter a liberdade acadêmica para sustentar suas habi-
lidades de inovar, descobrir e atualizar-se quanto às mais recentes
pesquisas pedagógicas.
128
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
128SUMÁRIO
Neste ponto de vista, Paulo Freire, em seu livro Professora sim,
tia não, relata o contrassenso presente em alguns projetos educa-
cionais e projetos de formação de professor organizados como
“pacotes” que tem em suas preleções o fim de criar mentes críticas e
criativas, mas tem como perspectiva e destino, professores tímidos e
refreados em sua autonomia e na autonomia de sua escola.
Acreditamos que seria necessário e urgente, projetos
voltados para uma formação continuada entre pessoas com seus
saberes e seus fazeres que, pensem coletivamente, troquem expe-
riências bem-sucedidas e, dessa forma, gerem reflexões sobre o
próprio trabalho e acreditem na idealização entre teoria e prática
para a reinvenção de suas próprias práticas cotidianas.
Contribuições da Formação Continuada para o rendimento
escolar do aluno
Nos dias atuais, recebemos um enorme volume de informa-
ções a todo momento, embora esta só se constitua em conheci-
mento quando vem permeada de sentido. Transformar informação
em conhecimento, é de fundamental importância, através de boas
práticas pedagógicas do professor, já que livros e internet apenas
informam, sendo necessária a intervenção do professor para que o
conhecimento ocorra de forma significativa.
A formação continuada nesse contexto, tem muito a oferecer,
porque ajuda o professor a melhorar cada vez mais suas práticas
pedagógicas e com isso apoiar os alunos na construção de conhe-
cimentos, e não apenas no acúmulo de informações. Ela é realizada
após a formação inicial e tem como objetivo assegurar um ensino
de qualidade para agregar conhecimento que o capacite a atuar de
forma impactante no contexto profissional.
129
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
129SUMÁRIO
Essa formação, é vista como um processo permanente e
constante de aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade
dos educadores, bem como à evolução das práticas pedagógicas
e às novas tendências educacionais, contribuindo nesse processo
para agregar conhecimento que o capacite a atuar de forma impac-
tante no contexto profissional.
Acompanhando a rápida evolução do mundo moderno, a
tecnologia assume um lugar de destaque no processo de apren-
dizagem, a formação de professores também acompanha essa
evolução, por meio dos cursos de formação continuada online e
cursos que oferecem tutorias para apoio ao professor ou que
adotam metodologias capazes de fazer, através do uso da tecno-
logia, a formação continuada ainda mais produtiva, abordando
temas como:
• Como desenvolver as competências socioemocionais
dos alunos;
• Práticas de sala de aula (oratória, planejamento e controle
de turma);
• Incorporação das novas tecnologias e tendências na sala
de aula;
• Métodos de avaliação e acompanhamento do desempenho
e desenvolvimento dos alunos.
Pode-se observar que os educadores que veem na formação
continuada um aliado para sua prática, ministram aulas mais dinâ-
micas, percebem e interferem com mais facilidade nas dificuldades
dos alunos, conseguem um maior engajamento dos alunos nas ativi-
dades propostas, adaptam-se às mudanças do mundo moderno,
abrindo espaço para novas e significativas práticas, contribuindo
assim com todos os aspectos pedagógicos.
130
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
130SUMÁRIO
Conclusão
Nos dias atuais, com o advento da tecnologia, globalização e
informatização da educação, é necessário também que o educador
acompanhe e se atualize de modo a compreender e a buscar saber
atender as novas demandas que vão surgindo, sem deixar de levar
em conta a sua importância, o seu valor enquanto profissional e
mediador na construção de mentes pensantes.
A formação continuada atualmente pode ser vista para a
maioria dos educadores como um divisor de águas, na medida em
que contribui de forma significativa para o trabalho docente, favo-
recendo a criação de novos ambientes de aprendizagem e dando
novo significado às práticas pedagógicas.
A evolução do mundo cibernético, exige do educador uma
formação que abranja as competências técnica, política e científica,
que o capacite a atuação com mais criticidade.
Conclui-se, através dos estudos, que a formação de profes-
sores, que a sua práxis, se associada a valorização do profissional
envolvido, aliado a resiliência frente aos desafios impostos na socie-
dade, políticos e econômicos, vem atrelado ao orgulho de educar,
de construir mentes pensantes, críticas e capazes de transcender
as mazelas sociais, ele é visto por um olhar diferenciado, ele se
sentirá mais valorizado também e isso facilitará o processo de
ensino-aprendizagem.
131
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
131SUMÁRIO
Referências
Dicionário Aurélio Século XXI, versão digital, Manual do Usuário, Prefácio.
FREIRE, Paulo. Educação e Atualidade Brasileira, 1956. ROMÃO,
Eustáquio (Org.). São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2012.
TANURI, Leonor Maria. História da Formação de Professores. Revista
Brasileira de Educação. Campinas: n.14, p. 61-88, mai./jun./jul./ago., 2000.
SAVIANI, Dermeval. Educação e colonização: as ideias pedagógicas no
Brasil. In: STEPHANOU, Maria e BASTOS, Maria H. (Orgs.) Histórias e
memórias da educação no Brasil, vol. I: séculos XVI-XVIII. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2011. p. 121-130.
PERRENOUD, P. et. al.. As competências para ensinar no século XXI: a
formação dos professores e o desafio da avaliação; Porto Alegre: Artmed,
2002.
GATTI, Bernadete Angelina (Coord.); BARRETO, Elba Siqueira de Sá.
Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília/DF: UNESCO, 2009.
CAPÍTULO 8
A CONTRIBUIÇÃO DE APLICATIVOS E
SOFTWARES NO ENSINO DA MATEMÁTICA PARA
CRIANÇAS AUTISTAS
Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias
Daniele Fernandes Rodrigues
Adriana Fantoni Naurath Colares
8FabríziaMirandadeAlvarengaDias
DanieleFernandesRodrigues
AdrianaFantoniNaurathColares
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.132-145
Acontribuição
deaplicativosesoftwares
noensinodaMatemática
paracriançasautistas
133
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
133SUMÁRIO
Resumo:
O presente trabalho tem como objetivo analisar softwares e aplicativos que
podem ser utilizados no ensino de matemática com alunos autistas. Os
alunos dessa geração encontram-se inseridos na era tecnológica. Dessa
forma, foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório e uma análise
comparativa de algumas ferramentas tecnológicas disponíveis. Ao término
da pesquisa e da análise final foi possível verificar a importância da utili-
zação desses novos recursos no processo de ensino-aprendizagem de
alunos com o Transtorno do Espectro Autista – TEA, por propiciar maior
interesse no desenvolvimento das tarefas matemáticas e facilitar o seu
processo de aprendizagem.
Palavras-chave:
Autismo; Matemática; Tecnologia.
134
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
134SUMÁRIO
Introdução
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido muito
pesquisado, principalmente na área da educação. De acordo com
dados extraídos do Censo Escolar, que são divulgados pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP), o índice de alunos com TEA matriculados nas escolas,
em classes comuns no Brasil, aumentou 37,27% no decorrer de
um ano. Sabe-se que em 2017, existiam 77.102, dentre crianças e
adolescentes, com o transtorno. Em 2018, esse índice subiu para
105.842 alunos. Os índices divulgados consideram estudantes de
escolas públicas e privadas. (INEP, 2018)
O aluno com TEA está amparado legalmente pela lei no
12.764/12, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos
da Pessoas com TEA, no que tange à sua inclusão na educação
regular e na sociedade como um todo. Nessa perspectiva, questio-
na-se de que forma o uso de aplicativos e softwares pode contribuir
para o ensino da matemática a alunos com TEA?
A partir desses pressupostos, propõe-se uma pesquisa biblio-
gráfica de caráter exploratório, com um levantamento das possíveis
ferramentas tecnológicas que atendam à educação de alunos com
TEA no campo da Matemática; e a descrição das possibilidades de
contribuição que esses recursos podem proporcionar ao aluno com
esse transtorno.
A proposta desse estudo se justifica pelo número cres-
cente de alunos com TEA nas classes comuns, tendo em vista
que a lei assegura a inclusão desses alunos na educação regular.
Pretende-se ainda prover caminhos para o fazer docente, oportu-
nizando um processo de ensino-aprendizagem mais efetivo no
desenvolvimento cognitivo dessas crianças.
135
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
135SUMÁRIO
Transtorno do Espectro Autista e o uso da tecnologia
O Transtorno do Espectro Autista tem sido tratado como um
transtorno do neurodesenvolvimento, com causas ainda desconhe-
cidas. O TEA é um transtorno que intriga as àreas da medicina e
da educação, no entanto, diversos estudos apontam seus sintomas
como de origem genética e a fatores ambientais. (CUNHA, 2017).
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais
(DSM-V, 2014), define as características do TEA:
[...] déficits persistentes na comunicação social e na interação social
em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social,
em comportamentos não verbais de comunicação usados para inte-
ração social e em habilidades para desenvolver, manter e compre-
ender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social,
o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista requer a presença
de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou
atividades (DSM-V, 2014, p. 32).
Desta forma, o aluno com TEA poderá apresentar uma
variedade de dificuldades no decorrer do seu processo de apren-
dizagem, devido a implicação de seus sintomas na execução das
tarefas escolares ou atividades realizadas em sala de aula. Contudo,
a sua permanência na escola está respaldada por lei, desde 2012.
Neste aspecto, a lei no 12.764/12, que institui a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoas com TEA, trata o
indivíduo com TEA como portador de síndrome clínica, cujas carac-
terísticas são:
I – de ciência persistente e clinicamente significativa da comuni-
cação e da interação sociais, manifestada por de ciência marcada
de comunicação verbal e não verbal usada para interação social;
ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter
relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento;
II – padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses
e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais
136
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
136SUMÁRIO
estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; exces-
siva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados;
interesses restritos entre outros (BRASIL, 2012, Art. 1, § 1).
Desse modo, os sujeitos com TEA possuem necessidades
educativas especiais (NEE), tais quais: fisioterapia, para o desenvol-
vimento de habilidades motoras; fonoaudiologia, para melhoria do
desenvolvimento da linguagem; terapia ocupacional, para trabalhar
as suas habilidades em lidar com as atividades da vida diária; meto-
dologia especializada de ensino que considere os seus interesses
ou hiperfoco; a utilização de instrumentos que possam facilitar o seu
processo de aprendizagem, dentre outras necessidades.
Para tanto, a Declaração de Salamanca (1994), que afirma a
necessidade de inclusão total e incondicional, para todos os alunos
nas escolas, inclusive os alunos que precisam de educação espe-
cial, chegando-se ao conceito de educação inclusiva. A Política
Nacional de Educação Especial (PNEE) define os alunos que neces-
sitam de educação especial como indivíduos que por apresentarem
necessidades próprias e diferenciadas de outros alunos, no campo
do estabelecido pelo currículo escolar correspondentes à sua idade,
precisa de recursos e metodologias pedagógicos e educacionais
específicas (MEC, 1994).
AsDiretrizesNacionaisparaaEducaçãoEspecialnaEducação
Básica (2001), defende as providências a serem tomadas que darão
condições à inclusão dos indivíduos com necessidades educativas
especiais, regulamentando a garantia do direito de acesso e perma-
nência desses alunos e orientando-os para a inclusão em classes
comuns do sistema regular de ensino. Sendo assim, as práticas
pedagógicas, projetos e até mesmo a estrutura do ambiente físico
escolar devem respeitar a diversidade de seus alunos. Os sistemas
de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas
organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades
137
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
137SUMÁRIO
educacionais especiais, assegurando as condições necessárias
para uma educação de qualidade para todos (BRASIL, 2001, p. 1).
Neste sentido, as ferramentas tecnológicas podem ser consi-
deradas bons instrumentos para facilitar o aprendizado de alunos
com necessidades educativas especiais, incluindo os indivíduos
com TEA (CUNHA, 2017).
A Tecnologia Assistiva, tem sido uma forma de nomear os
recursos tecnológicos voltados para indivíduos com necessidades
especiais e foi definida em 1988, por meio de lei pública, como qual-
quer item, peça de equipamento ou sistema de produtos, quando
adquiridos comercialmente, modificados, ou feito sob medida, que
é usado para aumentar, manter ou melhorar as habilidades funcio-
nais do Indivíduo com limitações funcionais (MELLO, 1997).
Nesta perspectiva, a tecnologia assistiva se diferencia da
tecnologia reabilitadora por ser utilizada no auxílio do desempenho
de tarefas, na tentativa de reduzir as incapacidades ou dificuldades,
enquanto a reabilitadora propõe-se a ajudar na recuperação de
movimentos reduzidos em função, por exemplo, de uma patologia
ou lesão (MELLO, 1997).
As pesquisas que o uso dessas ferramentas de maneira
planejada e adaptada, em ambiente de aprendizagem, são impor-
tantes no desenvolvimento de sujeitos com necessidades especiais.
A tecnologia assistiva tem auxiliado aos pacientes com autismo,
em seu desenvolvimento cognitivo e habilidades sociais (MELLO &
SGANZERLA, 2013).
EmsetratandodasTecnologiasdaInformaçãoeComunicação
(TICs), os recursos tecnológicos se diversificam ainda mais. Esta
terminologia, refere-se à união da tecnologia computacional com
a tecnologia das telecomunicações, caracterizada, especialmente,
pela conexão à internet. Miranda (2007), demonstrou em suas
138
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
138SUMÁRIO
pesquisas que havia uma influência positiva na utilização das TICs
na educação, se tonando um meio facilitador do processo de apren-
dizagem dos alunos (MIRANDA, 2007).
Segundo Coscarrelli (2016, p. 161), o desenvolvimento das
TICs e sua crescente utilização no contexto social nos remete
à necessidade premente de que a escola tem que estar atenta e
aberta às mudanças que a inserção da sociedade no mundo digital
exige. As novas gerações estão envolvidas pela tecnologia, e findam
por ir em busca de seu próprio conhecimento.
Nesse sentido, urge uma atitude mais eficaz da escola, ratifi-
cada por Soares (2000, p. 77), ao afirmar que a educação é cobrada
a comprometer-se com o desenvolvimento de competências para
o uso da ciência e tecnologia, resolução de problemas e novos
contextos. Dessa forma, a tecnologia pode e deve ser utilizada com
intuito de oportunizar a otimização do processo de aprendizagem.
No decorrer do aprendizado, uma variedade de processos
internos, relacionados ao desenvolvimento do sujeito, são desper-
tados. No entanto, a aplicação desse aprendizado somente ocorre
quando o aluno interage com outros indivíduos em seu ambiente,
demonstrando que a socialização de alunos autistas no meio
escolar é fator preponderante para a concretização de seu aprendi-
zado e que de alguma forma, a tecnologia pode também colaborar
nesse aspecto (PASSERINO, 2005).
A pesquisa realizada por Oliveira (et al, 2008), com a utili-
zação de softwares na educação matemática com alunos autistas,
observou-se resultados positivos na aprendizagem dos alunos.
As pesquisas têm apontado que a utilização das tecnologias
digitais, pode propiciar uma melhor qualidade de vida aos pacientes
com TEA, frente aos desafios e superação de suas dificuldades,
139
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
139SUMÁRIO
principalmente no que tange à interação social (CAMINHA et al.,
2006; SANTOS et al., 2014; KRAUSE et al., 2016).
Método TEACCH
Este programa, fundado em 1972, pelo Doutor Eric Schopler
tem a sigla em inglês Treatment and Education of Autistic and Related
Communication-Handicapped Children – TEACCH (Tratamento
e educação de crianças com autismo e dificuldades de comuni-
cação), foi criado para aplicação no âmbito educacional e clínico.
Teixeira (2016), define o método:
É uma metodologia amplamente utilizada durante a aprendizagem
de crianças com autismo. O método procura ensinar habilidades
através de pistas visuais, como cartões ilustrados ou figuras que
mostram à criança como se vestir a partir de informações quebradas
em pequenos passos (TEIXEIRA, 2016, p. 68).
O programa é voltado predominantemente à psicopeda-
gogia. O método foi criado a partir de um projeto de pesquisa que
buscou observar os comportamentos de crianças autistas frente a
diferentes estímulos, em diferentes situações (DRUMMOND, 2016).
Nas pesquisas de Schopler (1972), acerca das crianças
autistas, verificou-se que seus comportamentos inadequados pode-
riam ser modificados à medida que essas crianças conseguiam
se expressar e ter compreensão sobre o que era esperado delas.
Foi observado ainda, que elas respondiam de forma mais consis-
tente aos estímulos visuais do que aos auditivos. O método traz a
concepção sobre a importância da manipulação do ambiente, com a
finalidade de reduzir ou amenizar os comportamentos considerados
inadequados, reforçando positivamente as condutas adequadas.
De acordo com Clevelares (2017), no que tange à utilização
do método aplicado à linguagem:
140
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
140SUMÁRIO
[…] inicialmente não-verbal, é um sistema simbólico complexo e
se baseia na interiorização das experiências. Assim, esta vai dando
significados às ações e aos objetos e consolidando a linguagem
interior. Portanto, a linguagem é resultado da transformação da infor-
mação sensorial em símbolos e signos. O método utiliza estímulos
visuais, corporais, auditivos e sinestésicos para buscar a linguagem
oral (ou uma comunicação alternativa) (CLEVELARES et al., p. 1302).
Nesse sentido, em sala de aula, o professor no ensino da
tarefa deverá conduzir as mãos do aluno, procurando utilizar os
cartões e as imagens como apoio visual. O objetivo é que aos
poucos a criança possa realizar a tarefa por si só, guiada pelos
cartões e, posteriormente, essa atividade possa ser integrada à sua
rotina., de forma a não mais precisar dos cartões, dando início ao
ensino da próxima tarefa.
Sendo assim, considerando os avanços das novas tecnolo-
gias frente à proposta do método TEACCH, encontra-se diversos
softwares e aplicativos que buscam reproduzir essa linguagem para
atender demandas de indivíduos com TEA ou não.
Aplicativos e softwares para autistas
Os dados levantados apresentam softwares e aplicativos
disponibilizados para o ensino da Matemática para aplicação
em indivíduos com TEA. Para tanto, visitou-se o site do Projeto
Participar, da UnB (Universidade de Brasília), que foi criado pelos
alunos do curso de Ciências da Computação Tiago Galvão e Renato
Domingues, sob a supervisão do professor Wilson Veneziano.
O projeto tem como objetivo levar aos indivíduos com TEA e
Deficiência Intelectual uma nova perspectiva de educação voltada
para seu conhecimento de mundo. Neste aspecto, encontrou-se o
software “Somar”, que contempla tarefas sobre matemática social,
141
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
141SUMÁRIO
coma utilização de cédulas monetárias, calculadora e leitura de reló-
gios digitais.
Figura 1: Capa do software Somar
Fonte: http://www.projetoparticipar.unb.br
Os softwares disponíveis no site do Projeto Participar foram
testados na APAE – Brasília. O Somar pode ser baixado gratuita-
mente, e funciona bem em computadores de baixa capacidade.
O software JClic foi criado por Francesc Busquest, para
funcionar em diversos ambientes operacionais: Linux, MAC iOS,
Windows e Solaris. De acordo com os autores, o software pode ser
usado livremente, e se encontra disponível em português e pode ser
baixado gratuitamente. O JClic possibilita a criação de recursos de
aplicações didáticas e interativas, contendo atividades para desen-
volvimento do raciocínio lógico e matemático, tais quais: quebra-ca-
beças, jogos de pares, enigmas, palavras-cruzadas, entre outros;
e propicia ainda que seu usuário crie atividades conforme alguns
modelos apresentados pelo software.
142
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
142SUMÁRIO
Figura 2: JClic
Fonte: https://jclic.br.uptodown.com/windows
No site da Apple Store pode-se encontrar um interessante
aplicativo chamado O rei da Matemática. Trata-se de um jogo de
matemática dentro de um ambiente medieval em que o usuário
pode alcançar um status social respondendo às perguntas de mate-
mática e solucionando os enigmas. Dessa forma, o usuário pode
juntar estrelas, ganhar medalhas e competir com seus familiares e
amigos. A finalidade é ganhar o jogo e tornar-se Rei ou Rainha da
Matemática. Em sua versão gratuita está incluso o aprendizado de
Contagem, Adição e Subtração. O jogo também pode ser adquirido
em uma compra única incluindo o aprendizado da Multiplicação,
Divisão, Geometria, Comparação, Medição, Enigmas, Frações.
143
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
143SUMÁRIO
Figura 3: O rei da Matemática
Fonte: https://itunes.apple.com/pt/app/rei-da-matematica-junior-gratis
Sendo assim, os recursos apresentados são apenas algumas
ferramentas disponíveis na internet para ensino da matemática a
indivíduos com TEA, dentre outros existentes, gratuitamente ou
pagos, mas que também podem ser utilizados como recursos didá-
ticos na Educação Inclusiva.
Conclusão
Esta pesquisa buscou analisar softwares e aplicativos que
podem ser utilizados no ensino de matemática com alunos autistas.
A partir do que foi proposto nesse estudo, observou-se a impor-
tância da discussão sobre o uso das TICs na educação para alunos
autistas. Dessa forma, ficou claro que frente as dificuldades apre-
sentadas pelas as características do Transtorno do Espectro Autista,
associadas ao crescente número de alunos com TEA nas classes
comuns, é necessário que o professor busque novas formas de
ensino da matemática.
144
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
144SUMÁRIO
Nesta perspectiva, os softwares e aplicativos tornam-se ferra-
mentas valiosas, visto que o aluno da atual geração está inserido
nesse mundo. Sendo assim, esses recursos devem ser aprovei-
tados para o ensino de conteúdos específicos em um contexto mais
próximos da vivência dessas crianças, aproveitando o seu interesse
e motivação para um aprendizado mais lúdico.
Ao término da pesquisa e da análise final foi possível veri-
ficar a importância da utilização desses novos recursos no processo
de ensino-aprendizagem de alunos com o Transtorno do Espectro
Autista - TEA, por propiciar maior interesse no desenvolvimento das
tarefas matemáticas e facilitar o seu processo de aprendizagem,
buscando que as suas fragilidades possam ser desenvolvidas e as
potencialidades ressaltadas.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Declaração de Salamanca. 1994.
Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.
pdf. Acesso em: Maio de 2019.
_____. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação
especial na educação básica. Secretaria de Educação Especial. Brasília:
MEC/SEESP, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/
pdf/CEB0201.pdf> Acesso em: Mai. 2019.
_____. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política
Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro
Autista; e altera o § 3o do art. 98 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de
1990. Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm> Acesso em: Mai. de 2019.
CAMINHA, V.L.P.S.; [et al.]. Autismo: vivências e caminhos. São Paulo:
Blucher, 2016.
COSCARELLI, C. V. Tecnologias para aprender. 1ª Ed., São Paulo,
Parábola editorial, 2016.
145
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
145SUMÁRIO
CUNHA, E. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na
escola e na família. 7a ed. Rio de Janeiro: Wak, 2017.
DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-V
(American Psychiatric Association – M.I.C. Nascimento et al., Trad); 5a ed.;
Porto Alegre: ArtMed, 2014.
DRUMOND, Simone Helen Ischkanian. Projeto: Autismo e Educação.
Métodos, programas e técnicas educacionais para autistas. Disponível
em: <http://pt.slideshare.net/SimoneHelenDrumond/93-metodos-para-
pessoas-autistas> Acesso em: Set. 2016.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 2008.
MEDEIROS, Edmar da Silva; RODRIGUES, Cleyton Mário de Oliveira. Uma
proposta de uso do método TEACCH para criança autista de 6 a 9 anos
usando o JClic. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/edmarcrazy/
artigo-autismo> Acesso em: Mai. 2019.
MELLO, M. Tecnologia assistiva. In: GREVE, J. M. D.; AMATUZZI, M. M.
Medicina de reabilitação aplicada à ortopedia e traumatologia. São Paulo:
Manole, 1997.
MELLO, Cleusimari M. Colombo; SGANZERLA, Maria Adelina Raupp.
Educação Matemática e Inclusão. VI Congresso Internacional de Ensino
da Matemática, 2013. Disponível em: <http://www.conferencias.ulbra.br/
index.php/ciem/vi/paper/viewFile/994/98> Acesso em: Mai. 2019.
MIRANDA, Guilherme Lobato. Limites e possibilidades das TIC na educação.
Revista de Ciências da Educação, 2007. Disponível em: <http://s3.amazonaws.
AJ56TQJRTWSMTNPEA&Expires=1473278710&Signature=dypVqwm8
VcrwdQYy3Is8nmFnksk%3D&responsecontentdisposition=inline%3B%20
lename%3DLimites_e_ possibilidades_das_TIC_na_educ.pdf>
Acesso em: Mai. 2019.
PASSERINO, Liliana Maria. Pessoas com Autismo em Ambientes Digitais
de Aprendizagem: estudo dos processos de Interação Social e Mediação.
Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005.
SCHWARTZMAN, S. J. Autismo Infantil. Brasília, Corde, 1994. Site do
Projeto Participar. Disponível em: <http://www.projetoparticipar.unb.br/>
Acesso em: Mai. 2019.
SOARES, S. G.. Arquitetura da Identidade: sobre educação, ensino e
aprendizagem. São Paulo, Ed. Cortez, 2000.
TEIXEIRA, G.. Manual do Autismo. 3a ed., Rio de Janeiro, BestSeller, 2017.
CAPÍTULO 9
SUSTENTABILIDADE – ALELOPATIA: UMA
ALTERNATIVA À UTILIZAÇÃO DE AGROQUÍMICOS
Luciana Moreno dos Santos
Luciana Ribeiro Coutinho de Oliveira Mansur
Fábio Nascimento Custodio
9LucianaMorenodosSantos
LucianaRibeiroCoutinhodeOliveiraMansur
FábioNascimentoCustodio
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.146-164
Sustentabilidade–
Alelopatia:
umaalternativa
àutilizaçãodeagroquímicos
147
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
147SUMÁRIO
Resumo:
Em virtude do desenvolvimento do agronegócio, uma série de agroquímicos
vêm sendo utilizados indiscriminadamente pelo setor. A alelopatia insere-se
neste contexto como uma alternativa agroecológica ao cultivo. Relações
ecológicas entre as espécies ajudam no entendimento da interação entre as
substâncias químicas e o controle delas, sendo tais observações de grande
valia para o entendimento da relação planta-planta, avaliando não apenas
substâncias puras, mas o efeito sinérgico entre elas. A alelopatia desta-
ca-se como uma forma de estudo da relação entre espécies de plantas,
fungos e patógenos, buscando alternativas agrícolas sustentáveis. Neste
capítulo, evidenciamos os estudos que resultem na busca por moléculas
alelopáticas e sua importância.
Palavras-chave:
Sustentabilidade; Alelopatia; Agroquímicos.
148
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
148SUMÁRIO
Introdução
Das mais de 200.000 espécies existentes no Brasil, estima-se
que a metade pode vir a apresentar alguma utilidade à população
embora nem 1% dessas espécies tenham sido alvos de estudos
adequados (MARTINS, 2003).	
Devido à diversidade da flora brasileira é possível que hoje
uma enorme diversidade de compostos ainda não estudados e
testados biologicamente. Estudos adequados de matrizes de origem
natural envolvendo grupos multidisciplinares podem dar origem à
descoberta de diversas substâncias que poderão apresentar apli-
cações tecnológicas das mais diversas (YUNES e CALIXTO, 2001).
Produtos naturais têm sido considerados como uma verda-
deira biblioteca fornecendo uma diversidade química e desejável
perfil farmacológico. Tais compostos são descritos como fonte alta-
mente significativa para o desenvolvimento de novas drogas (WANG
et al., 2011). Tais compostos naturais são capazes de interagir com
específicos alvos intracelulares e tem se tornado fonte de inspiração
para o desenvolvimento de novas drogas (MISHRA e TIWARI, 2011).
A alelopatia é utilizada no controle da competição de culturas sendo
uma das opções de controle cultural para possível inclusão em
sistemas de cultivo (ALGANDAIBER e EL-DARBER, 2016).
A busca por alternativas a utilização agroquímicos não se dá
de forma diferente. A necessidade de substâncias que controlem
pragas e doenças por mecanismos de ação diferentes, evidenciam
a necessidade do controle de tais patógenos e espécies daninhas,
muitas vezes já resistências aos produtos disponíveis no mercado.
Agroquímicos causam diversos problemas a saúde da população.
Devido a este fato, o estudo de relações alelopática, e resultados
positivos, podem ser extremamente importantes, viabilizando o cultivo
149
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
149SUMÁRIO
de alimentos sem utilização de agroquímicos. Tais alimentos, conhe-
cidos como orgânicos, trazem benefícios em relação a seu consumo.
Eles são considerados mais indicados ao consumo. A utilização de
relações alelopáticas, vem de encontro a necessidade, do cultivo de
alimentos sem utilização de agroquímicos (UDDIN et al., 2017).
Química ecológica e sustentabilidade
A Alelopatia vem se destacando como ramo da química
ecológica com aplicações agronômicas que cercam as interações
planta-planta. Tal área da ciência vem se desenvolvendo ampla-
mente nas últimas quatro décadas. Diversas definições já foram
usadas para explicar a Alelopatia como ciência e seus fenômenos.
Tais compostos nada mais são que metabólitos secundários estu-
dados pela química de produtos naturais (POULION et al., 2018,
MARTINS, 2001).
As relações de compostos naturais oriundos de plantas vêm
sendo estudada por diversos autores. A busca por alternativas
sustentáveis na agricultura insere-se neste contexto de forma a mini-
mizar a ação destes compostos como agentes poluidores ambien-
tais. Neste caso existem duas vertentes de pesquisa, uma aliada a
questões de agricultura orgânica e natural na busca de compostos
inibidores principalmente de espécies daninhas, sendo tais
compostos denominados aleloquímicos. Tais compostos, frações
ou até mesmo extratos de diversas espécies são ainda avaliados
em relação a sua interação com outras espécies culminando em
uma nova área de pesquisa denominada química ecológica aliada
a diversas áreas de conhecimento como a nutrição e agronomia
(SILVA e SILVA, 2007; YUNES e CALIXTO, 2001).
Em outra linha de pesquisa observamos a busca e a desco-
berta de novos compostos de origem natural provenientes de
150
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
150SUMÁRIO
plantas, fungos ou animais, provenientes do isolamento das mesmas,
dosagem e posterior síntese de tais compostos com objetivo de se
produzirem herbicidas comerciais (DEMUNER et al., 2006; MORAES
e BRAZ-FILHO, 2007). Mesmo apresentando objetivos diferentes, tais
áreas buscam na realidade a mesma coisa, compostos originários de
produtos naturais que apresentem atividade fitotóxica ao crescimento
de plantas daninhas, o que leva ao aumento da produtividade agrí-
cola e a melhora da qualidade do alimento.
Plantas daninhas representam a maior parte dos gastos
acerca do cultivo de alimentos. Seu controle nas lavouras se faz
necessário para manutenção da produtividade agrícola e, também,
da qualidade do alimento a ser distribuído. A Alelopatia visa em sua
essência o estudo das relações entre tais espécies, buscando de
forma natural seu controle (ALGANDAIBER & EL-DARIER, 2017).
Estudos apontam espécies vegetais como herbicidas naturais (alelo-
químicos) em potencial, auxiliando o manejo ecológico do cultivo se
tornando uma alternativa a utilização de agroquímicos sintéticos, o
que certamente leva a melhor qualidade do alimento como um todo
(KREMER et al., 2016; ROCHA et al., 2016).
Agentes químicos produzidos em algumas plantas podem
provocar alterações no desenvolvimento de outras plantas ou até
mesmo de outros organismos. Segundo IGANCI e colaboradores
(2006), o uso de ensaios biológicos para avaliação da bioatividade
de extratos, frações e compostos isolados em plantas tem sido
frequentemente incorporado à identificação de substâncias poten-
cialmente tóxicas. Estudos referentes ao efeito de aleloquímicos
fitotóxicos sobre a germinação e/ou desenvolvimento de plantas
são manifestações secundárias de processos ocorridos em níveis
molecular e celular inicialmente, porém a maioria dos estudos se
refere apenas a esses parâmetros sem considerar os efeitos celu-
lares relacionados a mudanças fisiológicas e genéticas.
151
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
151SUMÁRIO
No estudo realizado avaliou-se o efeito do extrato aquoso
de três diferentes espécies de boldo-daterra (Plectrantus barbatus -
Lamiaceae), o boldo-miúdo (Plectrantus amboinicus – Lamiaceae) e
o boldo-baiano (Vernonia condensata - Asteraceae), sobre a germi-
nação e Allium cepa. A fitoxicidade foi avaliada através do índice
mitótico contado através da técnica de varredura. Os bioensaios
realizados revelaram que os extratos vegetais interferiram sobre a
germinação e sobre a divisão celular em células meristemáticas;
revelaram ainda que sementes expostas ao extrato de Vernonia
condensata apresentaram as maiores divergências em relação ao
grupo controle.
Baseado em estudos utilizando produtos naturais tanto
de origem fúngica como de origem vegetal e relacionamento os
mesmos ao efeito alelopática causado em espécies indicadores,
levam a obtenção de moléculas que apresentam bioatividade alelo-
pática. Tais conceitos e a busca por moléculas bioativas, são alvos
neste trabalho. A presença de produtos naturais com potencial
atividade alelopática veem sendo testadas e estudadas. Eles são
utilizados como bioindicadores em fracionamento bioguiado para
isolamento de produtos naturais com atividade fito tóxica previa-
mente atestada.
Produtos naturais alelopáticos
Produtos naturais com atividades biológicas diversas
remontam a antiguidade. Sua utilização por civilizações antigas
tais como egípcia, persa e grega já foram relatados em diversos
trabalhos e são até os dias atuais bastante discutidos. Biblicamente,
a necessidade do controle de espécies daninhas fora relatada
quando se faz menção a parábola da separação entre o “joio e o
trigo” (BARBOSA, 2004).
152
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
152SUMÁRIO
A fitotoxicidade de compostos naturais oriundos de plantas
vem sendo estudada por diversos autores. Neste caso existem duas
vertentes de pesquisa, uma aliada a questões de agricultura orgâ-
nica e natural na busca de compostos inibidores principalmente de
espécies daninhas, sendo tais compostos denominados aleloquí-
micos. Neste caso tais compostos, frações ou até mesmo extratos,
são ainda avaliados em relação a sua interação com outras espécies
culminando em uma nova área de pesquisa dentro da química de
produtos naturais denominada química ecológica (SILVA & SILVA,
2007; YUNES & CALIXTO, 2001; OLIVEIRA et al., 2015).
Ao longo da evolução, as fontes vegetais desenvolveram
algumas vantagens em relação à ação de microrganismos, vírus,
insetos, e outros patógenos e predadores, seja inibido por sua ativi-
dade, como agente de defesa para combate de organismos patogê-
nicos, insetos e herbívoros predadores; ou atuando como agentes
de competição para modificação do comportamento germinativo e
do crescimento de espécies vegetais estranhas (TUR et al., 2010),
o que evidencia sua possível utilização como agente alelopático.
Diversos estudos têm sido realizados para a avaliação da atividade
fitotóxica das mais diversas fontes vegetais, comparadas às espé-
cies daninhas como alternativa a utilização de herbicidas sintéticos
acarretando diminuição dos impactos ambientais causados pela
aplicação deles.
A substância mimosina (ß-[N-(3-hidroxi-4-oxipiridil)]-α-
aminopropiônico), classificada como aminoácido não protéico
(Figura 01) foi evidenciada como aleloquímico responsável pela
bioatividade apresentada em estudo realizado por PIRES et al.
(2001). O trabalho apresenta o estudo da atividade alelopática
da espécie leucena (Leucaena leucocephala (Larm.) de Wit) sob
as espécies daninhas Desmodium purpureum, Bidens pilosa,
Amaranthus hybridus. Embora relatos indiquem a presença de
outras substâncias como quercetina, ácido gálico, os ácidos
153
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
153SUMÁRIO
protecatequino, p-hidroxibenzóico, p-hidroxifenilacético, vanílico,
ferúlico, caféico e p-cumárico no extrato aquoso das folhas de
leucena, o efeito alelopático é atribuído somente a mimosina.
A análise do extrato se deu através de cromatografia líquida de
alta eficiência. A substância foi evidenciada como responsável
pela inibição do crescimento dessas espécies sendo destacada
a importância da utilização de bioensaios em laboratório como
indicador da ação de biomoléculas ressaltando a importância de
identificação e quantificação delas.
N
O
CH2 C OH
NH2H
Figura 1: Estrutura molecular da substância mimosina
Fonte:
O monitoramento de fitoquímicos com propriedades poten-
cialmente tóxicas podem ser avaliados por alterações fisiológicas
em organismos testes. SOUZA FILHO e colaboradores (2006) rela-
taram que sementes de alface e tomate foram, por serem consi-
deradas sensíveis a alterações, escolhidas como bioindicadora
de aleloquímicos. Neste estudo os autores ressaltam que alguns
compostos apresentaram atividade alelopática em altas concentra-
ções, porém em concentrações mais baixas podem não estimular o
mesmo processo.
Na avaliação da atividade alelopática e do extrato aquoso
da espinheira – santa (Maytenus ilicifolia Mart. Ex Reiss) foi identifi-
cada a presença de três classes de metabólitos secundário através
de testes simples: saponinas, taninos e flavonóides (flavonas). O
extrato analisado foi o aquoso apresentando efeito alelopático sobre
154
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
154SUMÁRIO
sementes de alface que foram relacionadas à presença das classes
de biocompostos identificados; embora não tenha sido realizado
neste estudo o fracionamento fitoquímico.
Interações ecológicas
Os aleloquímicos são definidos como substâncias que libe-
radas por organismos vegetais provocam mudança fisiológica ou
comportamental em outro organismo, sendo denominado semio-
químico. Estas substâncias podem ter ação intraespecífica (fero-
mônios) ou interespecíficas (aleloquímicos) (FERREIRA et al., 2007,
WANG et al., 2015).
Os aleloquímicos podem ser classificados em: cariomônios,
alomônios e sinônimos de acordo com o tipo de sinal químico liberado
e com os efeitos apresentados em relação a outras espécies. Os cario-
mônios apresentam sinais químicos que quando liberados beneficiam
apenas o agente receptor; os alomônios apresentam sinais químicos
que favorecem apenas o agente emissor e os sinônimos apresentam
sinais químicos que favorecem tanto o agente receptor como o agente
emissor (FERREIRA et al., 2001). Agentes químicos produzidos em
algumas plantas podem provocar alterações no desenvolvimento de
outras plantas ou até mesmo de outros organismos.
Segundo Iganci et al. (2006), o uso de ensaios biológicos
para a avaliação da bioatividade de extratos, frações e compostos
isolados em plantas tem sido frequentemente incorporado a identifi-
cação de substâncias potencialmente tóxicas. Estudos referentes ao
efeito de aleloquímicos sobre a germinação e/ou desenvolvimento
de plantas são manifestações secundárias de processos ocorridos
em níveis molecular e celular inicialmente, porém a maioria dos
estudos se refere apenas a esses parâmetros sem considerar os
efeitos celulares relacionados a mudanças fisiológicas e genéticas.
155
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
155SUMÁRIO
No estudo realizado avaliou-se o efeito do extrato aquoso de
três diferentes espécies de boldo-da- terra (Plectrantus barbatus -
Lamiaceae), o boldo-miúdo (Plectrantus amboinicus – Lamiaceae) e
o boldo-baiano (Vernonia condensata - Asteraceae), sobre a germi-
nação e Allium cepa. A fitoxicidade foi avaliada através do índice
mitótico contado através da técnica de varredura. Os bioensaios
realizados revelaram que os extratos vegetais interferiram sobre a
germinação e sobre a divisão celular em células meristemáticas;
revelaram ainda que sementes expostas ao extrato de Vernonia
condensata apresentaram as maiores divergências em relação ao
grupo controle.
A importância da pesquisa com plantas medicinais é indi-
cada no trabalho realizado por OLGUIN e colaboradores (2006);
pesquisas dessa ordem geralmente são iniciadas com a investi-
gação de seu potencial biológico, citando a avaliação do potencial
biológico alelopático como extremamente relevante para determi-
nação de substâncias biotivas. Vernonia tweediana Baker é uma
planta considerada resistente, provavelmente devido à presença
de substâncias alelopáticas com potencial fitotóxica. Seu poten-
cial biológico alelopático foi avaliado a partir dos extratos de suas
raízes. Os extratos avaliados indicaram a presença de substâncias
alelopáticas com potencial fitotóxica nos extratos hexânicos e em
acetato de etila; a presença de substâncias sesquiterpênicas e
flavonóides foram citados como aleloquímicos responsáveis pela
atividade apresentada (SHEM et al., 2014).
Substâncias alelopáticas: Compostos fitotóxicos naturais
As plantas produzem e estocam grande quantidade de
produtos do metabolismo secundário nas suas diversas partes
156
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
156SUMÁRIO
(folhas, caules, raízes, flores e sementes), que são posteriormente
liberados para o ambiente (YUNES e CALIXTO, 2001).
Ao longo da evolução, as fontes vegetais desenvolveram
algumas vantagens em relação à ação de microorganismos, vírus,
insetos, e outros patógenos e predadores, seja inibido por sua ativi-
dade, como agente de defesa para combate de organismos patogê-
nicos, insetos e herbívoros predadores; ou atuando como agentes de
competição para modificação do comportamento germinativo e do
crescimento de espécies vegetais estranhas (SILVA e SILVA, 2007), o
que evidencia sua possível utilização como agente alelopático.
As substâncias biossintetizados a partir do metabolismo
secundário de plantas são classificadas em diferentes grupos
quanto à estrutura química e as propriedades físico-químicas apre-
sentadas. Das classes de metabólitos conhecidos, grande parte
apresenta atividade alelopática, assim se destacam os efeitos
das fitoalexinas; flavonóides, iso flavonóides, chalconas, auronas
e xantinas; flavonas, flavonóis e glicosídeos gerados; ligninas;
monoterpenos e monoterpenóides; naftoquinonas, antraquinonas,
estilbenos e fenantrenos; poliacetilênicos, policetonas, saponinas,
sesquiterpenos e sesquiterpenóides, taninos, triterpenos e trieterpe-
nóides (SILVA e SILVA, 2007). Entretanto, a classe de metabólitos a
qual a atividade alelopática tem sido evidenciada refere-se principal-
mente a terpenos, alcalóides e compostos fenólicos, sendo citada
ainda a atividade de alguns esteróides, ácidos graxos de cadeia
longa e lactonas insaturadas (YUNES e CALIXTO, 2001); quanto aos
aleloquímicos voláteis a maioria são compostos terpenóides, desta-
cando-se os monoterpenos e sesquiterpenos (SILVA e SILVA, 2007).
Algumas classes do metabolismo secundário de plantas,
ainda não foram efetivamente avaliadas quanto à atividade alelopá-
tica embora suas características químicas, e a presença de diversas
157
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
157SUMÁRIO
classes substâncias em seus extratos, possam atuar de forma sinér-
gica (SOUZA FILHO, 2006).
Compostos fenólicos atuam como agentes de defesa e
ainda como agentes de competição para modificação do compor-
tamento germinativo e do crescimento de espécies vegetais estra-
nhas (SOUZA et al., 2005); concentra-se, principalmente, na parte
aérea das plantas, ocorrendo em menor concentração nas raízes
e nos rizomas. Apresentam como principais funções biológicas à
atração de insetos polinizadores e proteção contra nocivos, reações
contra infecções virais e fúngica (fitoalexinas), colaboração com os
hormônios no processo de crescimento, inibição de ações enzimá-
ticas e participação no sistema redox das células (MARTINS et al.,
2003). Embora a utilização de tais compostos na medicina seja bem
expressiva, sua atividade alelopática ainda não é muito explorada,
principalmente se detendo a relações estrutura atividade.
Estudos realizados com os flavonóides canferol e querce-
tina (Figura 02) isolados a partir das folhas de Gleiquenia pectinata
indicaram a atividade alelopática dessa classe de compostos. As
análises dos testes de germinação indicaram que a quercetina esti-
mulou a germinação em 45% ao passo que o canferol apresentou
maior inibição da germinação, porém a mistura dos flavonóides esti-
mulou a germinação em cerca de 104% (YUNES e CALIXTO, 2001).
OHO
HO OH
O
OH
OH
OH
OHO
OH
OH O
Canferol Quercetina
Figura 2: Flavonídes com atividade alelopática
158
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
158SUMÁRIO
A composição e a concentração dessas substâncias
dependem de fatores ambientais. Todavia podem ser liberadas
para o ambiente quando lavados das folhas verdes, lixiviados de
folhas secas, volatilizado das folhas, exsudados das raízes, ou libe-
rados durante a decomposição de restos de plantas. Mesmo flores
e frutos podem ser fontes de fitoalexinas alelopáticas, em alguns
casos as substâncias não são fitotóxicas até terem sido alteradas
pelo próprio ambiente, seja por degradação química normal ou pela
ação de microrganismos (GOETZE e THOMÉ, 2004); podendo ser
absorvidos diretamente pela cutícula das plantas vizinhas por meio
dos próprios vapores, ou condensados no orvalho, e ainda alcançar
o solo, onde são absorvidos pelas raízes.
O efeito de um aleloquímico depende da sua concentração
e da quantidade total de fitotoxina disponível para absorção,
pois, semelhante ao que acontece com os nutrientes, as plantas
competem pelas toxinas disponíveis (SILVA e SILVA, 2007).
A presença de determinados aleloquímicos em alguns
extratos pode ser feita através de testes simples que indicam
apenas a presença das diversas classes de metabólitos, sendo esta
técnica mais utilizada nos trabalhos que visam apenas à relação
entre espécie e a classe de compostos responsável pela atividade
alelopática, não se importando com a substância química respon-
sável pela atividade (CHAGAS, 2004; SOUZA et al., 2005).
Bioensaios alelopáticos
A espécie Lactuca sativa é considerada bioindicadora de
atividade alelopática devido à grande sensibilidade, apresentar
germinação rápida e uniforme, e grau de sensibilidade que permite
expressar os resultados sob baixas concentrações de substâncias
159
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
159SUMÁRIO
alelopáticas (ALVES et al., 2004) sendo por isso escolhida como
espécie a ser submetida a avaliação alelopática em grande parte
dos estudos realizados.
As avaliações através de bioensaios alelopáticos das mais
diversas espécies acompanham a resposta biológica durante as
fases de extração, fracionamento, purificação e identificação dos
compostos bioativos. Muitas pesquisas realizadas em laboratórios
e em casa-de-vegetação têm relatado o potencial alelopático de
diversas famílias de vegetais, utilizando ensaios de germinação e
crescimento de espécies alvo, embora ainda se busque um padrão
para a realização de bioensaios alelopáticos.
As avaliações alelopáticas podem ocorrem em laboratório
e posteriormente em casa-de-vegetação. Em casa de vegetação
destaca-se a importância para melhor avaliação das interações
entre a planta e o ambiente em que vivem. A germinação é acom-
panhada pela emergência da plântula na superfície do substrato.
Massa seca e comprimento das plântulas são os parâmetros mais
utilizados para se avaliar o efeito alelopático sobre o crescimento
(FERREIRA e ÁQUILA, 2000). Os bioensaios mais utilizados são o
de inibição, ou, algumas vezes, a estimulação da germinação de
sementes, porém bioensaios de crescimento e desenvolvimento
também são utilizados para a avaliação da atividade alelopática.
Em diversos trabalhos enfocando a avaliação da atividade
alelopática são utilizados extratos aquosos (SOUZA et al., 2005;
IGANCI et al., 2006; SOUZA et al., 2007); porém, em alguns casos
extratos metanólicos, etanólicos e hidroalcoólicos têm sido também
avaliados (SOUZA FILHO et al., 2006; SANTOS et al., 2006). Quando
se têm indícios de que uma planta possua atividade alelopática, a
técnica preliminar envolve o preparo de extratos aquosos ou hidro-
alcoólicos da parte da planta na qual que se pretende desenvolver
o estudo.
160
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
160SUMÁRIO
Substâncias químicas consideradas mais comuns como
causadoras de atividade alelopática pertencem ao grupo dos ácidos
fenólicos, cumarinas, terpenóides, flavonóides glicosídeos, cianogê-
nicos, derivados do ácido benzóico, taninos e quinonas complexas.
Além disto, os extratos polares são preferenciais para a obtenção de
substâncias fenólicas que são descritos como portadores de ativi-
dade alelopática (SILVA E SILVA, 2007; HOAGLAND, 2001).
É importante ressaltar que testes biológicos relativamente
simples são imprescindíveis para se localizar a bioatividade procu-
rada no extrato da planta e nas numerosas frações obtidas nas
diferentes etapas de purificação e separação. A sensibilidade dos
testes deverá ser ampla, pois alguns compostos estão presentes
em pequenas concentrações devendo ser ainda específicos para
determinados alvos biológicos (DUKE et al., 2002; HOSTETTMAN
et al., 2003).
Conclusão
Diversos estudos têm sido realizados acerca da avaliação da
atividade alelopática das mais diversas fontes vegetais e biomolé-
culas isoladas, comparadas às espécies daninhas como alternativa
a utilização de herbicidas sintéticos, acarretando diminuição dos
impactos ambientais causados pela aplicação deles.
A busca por biocompostos, bem como extratos e espécies
alelopáticas é de suma importância para o desenvolvimento de uma
agricultura sustentável, que cause menos impactos ambientais.
Sabe-se que a utilização indiscriminada de agroquímicos é hoje
problema de saúde e nos daria este assunto, um novo capítulo.
Avaliações alelopáticas, são de extrema importância na busca
do entendimento das relações entre plantas, microrganismos e
161
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
161SUMÁRIO
insetos de forma a se buscar novos compostos com atividade agro-
química em potencial. A alelopatia planta-planta, já muito é muito
utilizada tanto na busca de novas biomoléculas, como na busca de
extratos e frações que apresentem atividade, direcionando assim a
atividade biológica apresentada por espécies vegetais.
Com base no exposto, podemos afirmar que a busca por novas
técnicas e por moléculas alelopáticas é de extrema importância para
o desenvolvimento sustentável e obtenção de alimentos mais saudá-
veis para a população. A alelopatia aliada a agricultura orgânica
surge como nova forma de avaliação da interação entre as espécies
de plantas e microrganismos de forma ecológica e sustentável.
Referências
ALGANDAIBER e EL-DARBER (2016). Management of the noxious weed;
Medicago polymorpha L. via allelopathy of some medicinal plants from Taif
region. Saudi Arabi. Saudi Journal of Biological Sciences, p. 1-9. In Press.
ALVES, M. C. S., FILHO, M. S., INNECCO, R., TORRES, S. B. Alelopatia
de Atividade alelopática de leucena sobre espécies de plantas daninha.
Scientia Baker. Revista Varia Scientia, v.5, n.10, p. 137-143, 2004.
BARBOSA, L. C. A. Os pesticidas, o homem e o meio ambiente. 1ª ed.
Viçosa: Editora UFV, 2004. 215 p.
CHAGAS, A. C. S. (2004) Controle de parasitas usando extratos vegetais.
Revista de insetos. São Carlos: Ed. UFSCar, 176p.
DEMUNER, A. J.; BARBOSA, L. C. A.; VEIGA, T. A. M.; BARRETO, R. W.;
KING-DIAZ, B.; LOTINA-HENNSEN, B. Phytotoxic constituents form Nymbia
alternatherae. Biochemical Systematics and Ecology. v. 34, p. 790-795, 2006.
DUKE, S. O.; DAYAN, F. E.; RIMANDO, A. M.; SCHRADER, K. K.;
ALIOTTA, G.; OLIVA, A.; ROMAGNI, J. G. Chemicals from nature for weed
management. Weed Science, v. 50, p. 138-151, 2002.
FERREIRA, A. G., ÁQUILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da
ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia, v.12, p. 175-204, 2000.
162
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
162SUMÁRIO
FERREIRA, M. C., SOUZA, J. R. P., FARIA, T. J. Potencial alelopático de
extratos vegetais na germinação e no crescimento inicial de picão-preto e
alface. Ciência Agrotécnica, v.31, n.4, p. 1054-1060, 2007.
HOAGLAND, R. E. Microbial allelochemicals and pathogens as bioherbicial
agents. WeedTechnology, v. 15, p. 835-857, 2001.
HOSTETTMANN, K., QUEIROZ., E. F., VIEIRA, C. P. (2003) Princípios Ativos
de Plantas Superiores.1.ed. São Carlos: EdUFSCAr, 136p
IGANCI, J. R. V., BOBROWSKI, V. L., HEIDEN, G., STEIN, V. C., ROCHA, B.
H. G.. Índice mitótico de Alliun cepa L. Arq. Instituto de Biologia, São Paulo,
v.73, n.1, p. 79-82, 2006.
KREMER, T. C.B.; YAMASHITA, O.M.; FELITO, R.A.; FERREIRA, A.C.T.;
ARAÚJO, C.F. Atividade alelopática de extrato aquoso de Croton
glandulosus L. na germinação e no desenvolvimento inicial de alface.
Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v.14, n.1, p. 890-898, 2016.
MACÍAS, F. A.; MOLINILLO, J. M. G.; VARELA, R. M.; GALINDO, J.
C. G. Allelophaty – a natural alternative for weed control (2007). Pest
Management Science, v. 63, p. 327-348, 2007.
MARTIN F.; HAY A. E.; CORNO L.; GUPTA M. P.; HOSTETTMANN K.
(2007). Iridoid glycosides from the stems of Pithecoctenium crucigerum
(Bignoneaceae). Phytochemistry, v. 68 p. 1307-1311, 2007.
MARTINS, E. R., CASTRO, D. M., CASTELLANI, D., C. DIAS, J. E. (2003)
Plantas Medicinais, 5.ed. Viçosa: UFV, 220p.
MISHRA B.B.; TIWARI, V, K. (2011). Nactural Products role in future drug
discovery. European Journal of Medicinal Chemistry. v. 46, p. 4769-4807, 2011.
MORAIS & BRAZ-FILHO (2007). Produtos Naturais Estudos Químicos e
Biológicos, 1ª.ed. Fortaleza, EdUECE, 2007, 238p.
OLGUIM, C. F. A., HAMERSKI, L., PERCIO, M. F., Somensi, A. Avaliação
do potencial alelopático dos extratos fracionados da raiz de Vernonia
Tweendiana Baker. Revista Varia Scientia, v.5, n.10, p. 137-143, 2006.
OLIVEIRA, J.S.; PEIXOTO, C.P.; POELKING, V.G.C.; ALMEIDA, A.T.
Avaliação de extratos das espécies Helianthus annuus, Brachiaria
brizantha e Sorghum bicolor com potencial alelopático para uso como
herbicida natural. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Campinas/SP
v.17, n.3, p. 379-384, 2015.
163
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
163SUMÁRIO
PIRES, N. M.; PRATES, H. T.; FILHO, I. A. P. F.; OLIVEIRA JR, R. S.; FARIA,
T. C. L. Atividade Alelopática de Leucena Sobre Espécies de Plantas
Daninha. Scientia Agrícola, v.58 n.1, p. 61-65, 2001.
POSER G. L.; SCHRISPSEMA J.; HENRIQUES A. T.; JENSEN S. R. The
distribtion of iridoids in Bignoneaceae. Biochemical Systematics and
Ecology v. 28, p. 351-366, 2000.
POULIN, R. X.; HOGAN S.; POULSON-ELLESTAD, K. L.; BROWN, E.,
FERNANDEZ, F. M.; KUBANCK, J. (2018). Karenia brevis allelopathy
compromises the lipidome membrane integrity, and photosynthesis of
competitor. Scientific Reports. 8:9572. DOI:10.1038/s41598-018-27845, 2018.
ROCHA, A.M.; FELITO, R.A.; YAMASHITA, O.M.; GERVAZIO, W.; KREMER,
T.C. B. Estudos Preliminares Para o Potencial Uso do Repolho Como
Herbicida Natural: Práticas Para o Manejo Agroecológico. Cadernos de
Agroecologia, v.11, n.2, 2016.
SHEN, W.; MAO, H.; HUANG, Q.; DONG, J. Benzenediol lactones: a
class of fungal metabolites with diverse structural features and biological
activities. European Journal of Medicinal Chemistry, In Press, Corrected
Proof, Available online 3 December 2014.
SILVA W. P. K.; KARUNANAYAKE. E. H.; WIJESUNDERA, R. I. C.;
PRIYANKA, M.S. Genetic variation in Corynespora cassiicola: a possible
relationship betweem host origin anda virulence. Mycol. Res. v. 05, p.
567-571, 2005.
SILVA, A. A., SILVA, J. F., (2007) Tópicos em Manejo de Plantas Daninhas.
1.ed. Viçosa: UFV, 367p.
SILVA, A. C. Potencial Alelopático de Myrcia guinensis. Planta Daninha,
Viçosa v.24, p. 121-29, 2006.
SOUZA FILHO, A. P. S.. Interferência Potencialmente Alelopática do Capim-
Gengibre (Paspalum matitimum) Em Áreas de Pastagens Cultivadas.
Planta Daninha, v.24, n.3, p. 451- 456, 2006.
SOUZA FILHO, A. P. S., PEREIRA, A. A. G. E BAYMA, J. C. Aleloquímico
Produzido Pela Gramínia Forrageira Brachiaria humidicola. Planta Daninha,
v. 23, n. 1, p. 25-32, 2005.
SOUZA FILHO, A. P. S., SANTOS, R. A., SANTOS, L. S., GUILHON, G.
M. P., SANTOS, A. S., ARRUDA, M. S. P., MULLER, A. H., ARRUDA, A. C.
Potencial Alelopático de Myrcia guinensis. Planta Daninha, v. 24, n.4. p.
649-656, 2006.
164
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
164SUMÁRIO
SOUZA FILHO, A. P. S., SANTOS, R. A., SANTOS, L. S., GUILHON, G.
M. P., SANTOS, A. S., ARRUDA, M. S. P., MULLER, A. H., ARRUDA.
Interferência Potencialmente Alelopática do Capim-Gengibre (Paspalum
matitimum) Em Áreas de Pastagens Cultivadas. Planta Daninha, v. 24, n.3,
p. 451- 456, 2006.
TUR, C.M.; BORELLA, J.; PASTORINI, L.H. Alelopatia de extratos aquosos
de Duranta repens sobre a germinação e o crescimento inicial de Lactuca
sativa e Lycopersicum esculentum. Biotemas, v. 23, n. 2, p. 13-22; 2010.
UDDIN, M. N.; ROBINSON, R. W., BUULTJIENS, A.; HARUN, M. A. Y. A,
SHAMPA S. H. Role of allelopathy of Phragmites australis in its invasion
processes. Journal of Experimental Marine Biologyand Ecology, v. 86, p.
237-244, 2017.
WANG B.; GAO Y.; ZHU L.; XU Y. The screening toolbox bioactive
substances from natural products: A review. Fitoterapia v. 82, p. 1141-
1151, 2011.
YUNES, R. A.; CALIXTO, J. B. (2001). Plantas Medicinais sob a ótica da
Química Medicinal Moderna. 2ª.ed. Chapecó: Argos, 532p.
CAPÍTULO 10
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA
MULTIPROFISSIONAL DE SAÚDE NA FORMAÇÃO
DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS:
CONEXÕES ENTRE DELORS E PERRENOUD
ALICERÇANDO QUALIDADE NO LATO SENSU
Maura Nogueira Cobra
Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira
10MauraNogueiraCobra
BiancaIsabelaAcamporaeSilvaFerreira
DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.165-178
Programaderesidência
multiprofissionaldeSaúde
naformaçãodeRecursos
HumanosparaoSUS:
conexõesentreDelorsePerrenoud
alicerçandoqualidadenoLatoSensu
166
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
166SUMÁRIO
Resumo:
A formação de recursos humanos do SUS vem sendo discutida e o processo
atual de formação deve ser articulado com o mundo do trabalho, rompendo
a separação entre teoria e prática. O estudo objetivou refletir sobre os quatro
pilares da educação expostos por Jacques Delors: aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Propôs analisar, à
luz de Perrenoud, as competências docentes frente à ação de educador
e do profissional atuante. O método adotado foi o de revisão de literatura.
Os resultados apontaram que o perfil profissional poderá ser conquistado
com êxito em programas de residência multiprofissional. O cenário favo-
rece a vivência real do SUS e corrobora com o aprender a ser e aprender
a conviver.
Palavras-chave:
Residência multiprofissional, Recursos Humanos, SUS.
167
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
167SUMÁRIO
Introdução
A partir da Criação do SUS, a formação de recursos humanos
vem sendo discutida a respeito da mudança do perfil profissional
capaz de consolidar o referencial teórico proposto nos princípios do
SUS e da LDBEN. No cenário atual de mudanças no processo de
trabalho em saúde, com a introdução de inovações tecnológicas e
de novas formas de organização do trabalho, o desenvolvimento das
práticasprofissionaisqueconsideremocontextosocialeaconcepção
em saúde, tem se tornado fundamental como estratégias de reorde-
nação setorial e institucional no Sistema Único de Saúde - SUS.
A formação do profissional, nas diversas ocupações da área
da saúde, ainda está pautada no modelo biomédico, fragmentado
e especializado, o que tem dificultado a compreensão dos determi-
nantes e a intervenção sobre os condicionantes do processo saúde-
-doença da população. A fragmentação do conhecimento, que
caracteriza a formação inicial na maior parte dos cursos, predispõe
à mesma ocorrência na prática, o que cria obstáculos para a cons-
trução da integralidade da assistência.
Com a intenção de construir um novo conhecimento, que
tenha impacto na resolução de problemas de saúde da população,
o trabalho em equipe, com vistas à interdisciplinaridade, tem sido
foco de atenção na formação e qualificação dos trabalhadores
em saúde, considerando a extrema importância da interação e da
troca de conhecimentos, a partir de princípios éticos e respeito nas
relações entre trabalhadores e usuários dos serviços. Deste modo,
processo atual de formação deve ser articulado com o mundo do
trabalho, rompendo a separação existente entre teoria e prática e
estimulando os profissionais a desenvolver um olhar crítico reflexivo
que possibilite transformação dos métodos, tendo em vista a
168
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
168SUMÁRIO
resolubilidade e a qualidade dos serviços prestados à comunidade
(PPC, PUC – SP, 2013).
Os estágios existentes nos cursos da área da saúde, geral-
mente são concentrados no momento profissionalizante destes
cursos, objetivam, através de atividades eminentemente práticas,
a aplicação de conhecimentos adquiridos e a habilitação para
o exercício profissional. Em geral, as práticas são realizadas em
serviços públicos visando minimizar o distanciamento entre o
ensino e a realidade social buscando formar profissionais com visão
mais realística do mercado e das necessidades sociais. Porém,
nem sempre os resultados são esses e pode ocorrer por motivos
diversos e complexos. Entre os motivos, destaca-se a inadequação
dos serviços à docência, sua ineficiência em responder às Diretrizes
do SUS, e o fazer pedagógico relacionado ao trabalho em saúde
(GARCIA, 2000).
Em 1988, no Brasil, a Nova Constituição foi promulgada após
21 anos de regime militar e entrou em vigor em 05 de outubro de 1988.
A Nova Constituinte culminou para a Reforma Sanitária Brasileira e
pelo o mesmo marco histórico, uma nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação - LDBEN tornou-se necessária.
A reforma Sanitária Brasileira ocorreu em 1988, antes da Lei de
Diretrizes e Bases da Educação – LDBEN que data de 1996. Assim
como foi regulamentado para a educação brasileira, a Constituição
Nacional também garantiu como dever do Estado o acesso à saúde
de forma Universal. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi implantado
em 1988 através da Nova Constituição, porém passou a ser regu-
lamentado pela Lei Federal n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990,
que dispõe sobre a organização e regulação das ações de saúde,
e Lei Federal n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que trata do
financiamento da saúde e da participação popular.
169
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
169SUMÁRIO
A partir da legislação citada, as ações e serviços de saúde
se constituem em um sistema único e integram uma rede regionali-
zada, hierarquizada e integralizada que presta atendimento a todos
os cidadãos brasileiros. O princípio da integralidade surge como
norteador da formulação das políticas públicas de saúde e espe-
cificamente em relação aos trabalhadores para esse setor, que já
exposto na Constituição Nacional, cabe ao SUS ordenar a formação
de recursos humanos na área da saúde.
Na Lei orgânica da Saúde, o título relativo aos recursos
humanos afirma que a política para os trabalhadores da área
da saúde deve cumprir o objetivo de organizar um sistema de
formação em todos os níveis de ensino; graduação, pós-gradu-
ação, além de programas de educação permanente e aperfeiçoa-
mento profissional.
Estão cadastrados no e-MEC 747 cursos de especiali-
zação na área da saúde e bem-estar. Apenas 421 cursos cadas-
trados possuem carga horária mínima de 5000 horas. Em todo o
território nacional, 45 cursos são identificados como Residência
Multiprofissional em Saúde, e no Estado do Rio de Janeiro apenas
2 instituições públicas oferecem cursos neste formato. (BRASIL,
e-MEC, 2019).
Sobre o perfil do profissional que se pretende formar nos
Programas de Residência Multiprofissional o estudo objetivou:
refletir sobre os quatro pilares da educação exposto por Jacques
Delors: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver
e aprender a ser. Quanto ao papel do professor, que nos Programas
de residência, denomina-se preceptor, o estudo propôs analisar à
luz de Philippe Perrenoud, as competências docentes frente à ação
de educador e do profissional atuante.
170
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
170SUMÁRIO
Sobre o perfil profissional que se pretende formar em conso-
nância aos princípios do sistema, pretendeu-se respaldar teori-
camente esse debate baseado em Delors e Perrenoud quanto à
formação baseada em competência, as competências do preceptor
no processo formativo dos egressos; discutir o incentivo aos
programas de residência multiprofissional como a melhor opção de
formação lato sensu.
Ométodoadotadofoioderevisãodeliteraturaatravésdaleitura
das obras de Perrenoud (1999, 2000) e Delors (1998), da Legislação
específica para implantação de Programas Multiprofissionais de
Residência em Saúde, de Projetos Pedagógicos de Programas já
implantados e artigos científicos.
A definição do programa de residência multiprofissional da
Saúde, legislação e regulamentação
Programa de Residência, por definição, é uma modalidade de
ensino em nível de pós-graduação lato sensu, que se caracteriza como
treinamento em serviço sob a supervisão de profissionais habilitados.
Programas como esse são poucos no Brasil e em sua maioria
são desenvolvidos por Instituições Públicas com algumas iniciativas
da rede privada de assistência. Temos como exemplo na cidade de
São Paulo, Programas desenvolvidos no Hospital Sírio-Libanês e Albert
Einstein. No Estado do Rio de Janeiro, todos cursos são públicos como
os do Instituto Fernandes Figueira - FIOCRUZ e Hospital Pedro Ernesto
- UERJ. Parcerias entre Instituições privadas (IES e Serviços de Saúde)
para Programas de Residência são ações inovadoras.
As residências multiprofissionais e em área profissional da
saúde, foram criadas a partir da promulgação da Lei n° 11.129 de
2005, são orientadas pelos princípios e diretrizes do Sistema Único
171
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
171SUMÁRIO
de Saúde (SUS), a partir das necessidades e realidades locais e
regionais (BRASIL, PORTAL MEC, 2015).
Segundo a Resolução da Comissão Nacional de Residência
Multiprofissional em Saúde - CNRMS nº 02, 13 de abril de 2012,
caracteriza-se como Residência Multiprofissional em Saúde o
programa que for constituído por,
no mínimo, 03 (três) profissões da saúde. Abrange as profissões da
área da saúde, a saber: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação
Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia,
Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço
Social e Terapia Ocupacional (RESOLUÇÃO CNS nº 287/1998).
Os Programas de Residência Multiprofissional são regu-
lamentados e controlados, segundo a Portaria Interministerial nº
1.320, de 11 de Novembro de 2010, pela COMISSÃO NACIONAL
DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE (CNRMS). É
um órgão colegiado de deliberação, criada pela Lei nº 11.129, 30
de Junho de 2005, que tem por finalidade “atuar na formulação e
execução do controle dos Programas de Residência Multiprofissional
em Saúde e em Área Profissional de Saúde.”
A Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em
Saúde – CNRMS possui as seguintes atribuições:
1) Avaliar e acreditar os programas de Residência Multiprofissional
em Saúde e Residência em Área Profissional da Saúde de acordo
com os princípios e diretrizes do SUS e que atendam às necessi-
dades sócioepidemiológicas da população brasileira. 2) Credenciar
os programas de Residência Multiprofissional em Saúde e
Residência em Área Profissional da Saúde bem como as instituições
habilitadas para oferecê-lo. 3) Registrar certificados de Programas
de Residência Multiprofissional em Saúde e Residência em Área
Profissional da Saúde, de validade nacional, com especificação de
categoria e ênfase do programa (Lei nº 11.129, 2005).
A Comissão citada exige para implantação de um programa
de RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL os seguintes requisitos base-
ados na Resolução CNRMS nº 5 de 7 de novembro de 2014, são:
172
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
172SUMÁRIO
1) Os cursos deverão ter duração mínima de dois anos, com carga
horária mínima de 5.760 horas, 60 horas semanais, ter 20% de estra-
tégias educacionais teóricas e teórico-práticas e 80% de atividades
práticas”, possuir PPC, ter bolsa de trabalho (Resolução CNRMS nº
5, 2014).
De acordo com a Lei 11.129/05, podem se habilitar como
proponentes as instituições que se enquadrem em situações, a saber:
I. Instituição de ensino superior reconhecida por sistema oficial
de ensino brasileiro, com cursos de graduação e/ou pós-gradu-
ação na área da saúde = Documento de autorização ou reconhe-
cimento da instituição de ensino superior e a data de validade; II.
Instituição de pesquisa ou de ciência e tecnologia com autorização
da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior
- CAPES para a oferta de cursos de pós-graduação Stricto Sensu
= Documento que comprove a autorização da CAPES; III. Instituição
pública, filantrópica ou privada do setor da saúde = Número do
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica acompanhado da razão
social e Número do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
Saúde (exceto para instituições de medicina veterinária); IV. Serviço
de saúde certificado em conjunto pelos setores da educação e da
saúde como instituição escola ou serviço de saúde reconhecido
pelo setor da saúde como rede SUSEscola = Declaração do secre-
tário de saúde do município ou do Estado, com Justificativa que
caracterize que a instituição proponente é um serviço - escola ou
que compõe um sistema de saúde escola; V.  Instituição ou serviço
de saúde que abrigue em caráter permanente e contínuo programas
de Residência Médica, regularmente credenciados pela Comissão
Nacional de Residência Médica (CNRM) = Documento contendo o
nome e o número de protocolo do programa de Residência Médica
cadastrado na CNRM. (Lei 11.129/05).
A Instituição Proponente deverá constituir e implementar
uma única Comissão de Residência Multiprofissional (COREMU),
conforme a Resolução CNRMS nº 01 de 21 de julho de 2015.Trata-se
de uma Comissão local composta pelo coordenador da COREMU
e demais coordenadores de programas representantes das áreas
profissionais e membros do colegiado.
Para serem implantados, os Programas devem realizar articu-
lação/parceria com o gestor local (Secretarias Municipais e Estaduais
173
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
173SUMÁRIO
de Saúde) para definição de prioridades e demandas. O gestor local
de saúde ou seu representante deve participar da eleição do coor-
denador de COREMU e das próximas reuniões das COREMU. Os
Programas de Residência devem dispor de infraestrutura adequada
de apoio e quantitativo de pessoal qualificado, possuir biblioteca
atualizada com acervo de livros e periódicos pertinentes ao Programa
de Residência Multiprofissional, salas em número suficiente e pontos
de acesso às bases de dados virtuais, possuir capacidade mínima
indispensável para efetivação do programa como salas de aulas em
número suficiente para discussões de casos, aulas teóricas e locais
de repouso apropriado para os residentes.
É importante que venha articular-se com as unidades de
saúde da família utilizadas como campo de inserção de graduação,
preferencialmente aquelas que estejam desenvolvendo projetos
PET-SAÚDE e PRÓ-SAÚDE. O Programa de Educação pelo Trabalho
para a Saúde - PET SAÚDE foi instituído pela Portaria Interministerial
MS/MEC nº. 1.802/08 e é destinado a fomentar grupos de apren-
dizagem tutorial no âmbito da Estratégia Saúde da Família, viabili-
zando programas de aperfeiçoamento e especialização em serviço
dos profissionais da Saúde, bem como de iniciação ao trabalho,
estágios e vivências dirigidos aos estudantes da área, por meio do
pagamento de bolsas.
Considera-se ainda que os Programas de Residência
Multiprofissional atendam a realidade sócio- epidemiológica, a
capacidade técnico-assistencial e as necessidades loco regio-
nais. Garante a educação permanente de todos os colaboradores
(preceptores, docentes e outros) envolvidos com o programa, a
isonomia de benefícios oferecidos a todos os residentes e outras
condições que a instituição formadora e executora avalie como
relevantes, dependendo de sua especificidade. Os residentes
ingressam através de processo seletivo público para seleção. Os
174
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
174SUMÁRIO
cursos são cadastrados no Sistema de Informação da Comissão
Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde – SisCNRMS.
Conexões entre Delors e Perrenoud na formação profissional
em saúde
Em 1996, foi apresentado o relatório pela Comissão
Internacional sobre a Educação para o século XXI – UNESCO, coor-
denado por Jacques Delors, editado sob a forma de livro, intitu-
lado; Educação: Um Tesouro a Descobrir. A discussão apresentada
no relatório discorre sobre “Os quatro pilares da Educação”. São
conceitos de fundamento da educação para o novo século onde
se sugeria uma educação direcionada para os quatro tipos funda-
mentais de educação: aprender a conhecer, (adquirir instrumentos
da compreensão), aprender a fazer (para poder agir sobre o meio
envolvente), aprender a viver juntos (cooperação com os outros em
todas as atividades humana) e finalmente aprender a ser (conceito
principal que integra todos os anteriores).
O objeto da discussão se refere à indissociabilidade entre
o aprendizado direcionado para a aquisição de instrumentos de
compreensão,deexecução,dofazer,doconviveredoser.Discute-se
pelo fato de que um dos maiores desafios para a educação será a
transmissão, de forma maciça e eficaz, da informação e da comu-
nicação adaptadas à civilização cognitiva, ou sociedade do conhe-
cimento (pois estas são as bases das competências do futuro). O
relatório manifesta uma preocupação devido ao grande acesso à
informação. O documento revela que compete ao ensino encon-
trar e ressaltar as referências que impeçam as pessoas de ficarem
ilhadas pelo número de informações, mais ou menos efêmeras, que
invadem os espaços públicos e privados, desse modo, orientar os
educandos para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos.
175
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
175SUMÁRIO
Paralelamente ao Relatório da UNESCO (1996), Perrenoud
(1999) explicita a aprendizagem por competências em sua obra inti-
tulada; “Construir as competências desde a escola”, editora Artmed.
Seu texto questiona a democratização do ensino e a real qualifi-
cação da sociedade, discute a formação conteudista e defende a
abordagem por competências como o caminho para ressignificar a
ação pedagógica desde que ela esteja atrelada a outras mudanças.
Em trecho de sua obra aponta:
As competências estão no fundamento da flexibilidade dos
sistemas e das relações sociais “[...] Procurarei mostrar a inutili-
dade de criarem-se grandes esperanças sobre uma abordagem
por competências se, paralelamente a isso, não se mudar a
relação com a cultura geral, se não houver a reconstrução de uma
transposição didática, se não forem inventados novos modos de
avaliação, se o fracasso for negado para construir a seqüência do
currículo sobre a areia, se a ação pedagógica não for diferenciada,
se a formação dos professores não for modificada, em suma, se o
modo de ensinar e fazer aprender não for radicalmente alterado”.
(PERRENOUD, 1999, p. 17).
Perrenoud (2000) e Delors (1998) consentem sobre a primordiali-
dade em se inquietar e cuidar para que a educação seja conduzida não
pela aquisição de conteúdos, e sim pela aquisição de competências.
Resultados/Discussão
Os resultados apontaram que o perfil profissional do saber
integral, humanista, ético e bioético poderá ser conquistado com
êxito em programas de residência multiprofissional, pois diferentes
saberes são compartilhados, reconhecidos e valorizados entre
profissionais de diferentes áreas. Esse cenário favorece a vivência
real do sistema de saúde e corrobora com o aprender a ser e
aprender a conviver.
176
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
176SUMÁRIO
Os programas em formato de residência oferecem 80% da
carga horária práticas para 20% teórica e concorda com Perrenoud
que afirma que a competência se concretiza através da prática, o
que também se relaciona ao pilar, aprender fazer. Favorece apren-
dizagem significativa, sob três formas principais: 1. Descoberta,
através da pesquisa, 2. Receptiva, através da troca entre preceptor-
-residente, residente-paciente, residente-residente, o conhecimento
é o objeto a ser trabalhado. 3. Situações- problema, a prática recorre
à teoria frente à tomada de decisão.
Conclusão
Para atuar no sistema de saúde brasileiro, o profissional
deverá ter uma formação baseada por competências, aplicar seu
conhecimento de forma que se substitua o especialismo pelo gene-
ralismo, tendo, o aprender a aprender, o aprender a fazer e aprender
a ser, aprender a conviver, como pilares da sua formação em saúde,
formação essa, voltada para as necessidades do usuário, sob a
lógica das práticas sociais, da humanização da assistência, cujo foco
é o sujeito e não a doença, bem como o respeito à ética e a bioética.
O estudo concluiu que os Programas de Residência
Multiprofissional ainda não aparecem de forma expressiva no Brasil
sendo poucos cadastrados no Ministério da Educação devendo
haver maior incentivo às Instituições de Ensino e de Saúde na
criação deles.
A composição curricular, as proporções de carga horária
prática maior que teórica, bem como todo o processo de aprendi-
zado facilitado por tutoria, preceptoria e docência, traz aos profissio-
nais que buscam Programas de Residência, a melhor opção para a
formação em saúde.
177
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
177SUMÁRIO
Os cursos cadastrados recebem do Ministério da Educação
orientações educacionais a fim de preparar os que serão atores
na formação de novos profissionais, através de atualização de
preceptores, sugestões de modelos de boas práticas em saúde e
educação continuada em educação.
Referências
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Ministério da Educação.
20 de dezembro	 de1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.
php?option=com_content&id=12501&Itemid=813 #apresentacoes>
Acesso em: 20 abr. 2015.
BRASIL. Ministério da Educação. Sistema de Regulação do Ensino
Superior. E-MEC. Consulta Pública Cursos de Especialização. Disponível
em: http://emec.mec.gov.br/. Acesso em: 26 mai. 2019.
BRASIL. Ministério da Educação. Sistema de Regulação do Ensino
Superior. E-MEC. Consulta Pública de Cursos de Graduação. Disponível
em: <http://emec.mec.gov.br/> Acesso em: 15 jun. 2015.
BRASIL. Ministério Da Saúde. Portal Educação. Programa De Residência
Multiprofissional	 em	 Saúde. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12501&Itemid=813
#apresentacoes> Acesso em: 20 abr. 2015.
BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNRMS N. 5 de 7 de
novembro de 2014. Dispõe sobre a duração e a carga horária dos
Programas de Residência em Área Profissional da Saúde nas modalidades
multiprofissional e uniprofissional e sobre a avaliação e frequência dos
profissionais de saúde residentes, 2014. Disponível	 em: <http://portal.
mec.gov.br> Acesso em: 26/05/2019.
BRASIL, Resolução 047/2010, do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa
e Extensão – CONSEPE, 2010.
DELORS. Educação: UM TESOURO A DESCOBRIR. Cortez. 1998.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo. PAZ e TERRA, 1996.
178
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
178SUMÁRIO
GARCIA. Maria Alice Amorim. Saber, Agir e Educar: O ensino-
aprendizagem em serviços de saúde. Revista de Educação
PUC-Campinas, n 9, p. 72-82, dezembro2000.
PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre:
ARTMED,1999.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Artmed. Porto
Alegre 2000.
PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA – SMS; PONTIFÍCIA
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO. Programa de residência
multiprofissional da saúde em urgência e emergência. Setembro de 2013.
Responsáveis pela construção do PPC: Diego Garcia Diniz (Pms), Izabel
Cristina Ribeiro da Silva Saccomann (Pucsp), Gleidjane Maciel Della Cruz
(Pms), Liliane Guimarães Pinho (Pms), Alcirene H Cabral (Pucsp).
179
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
179SUMÁRIO
SOBRE O ORGANIZADOR E AS
ORGANIZADORAS
Horácio dos Santos Ribeiro Pires
Mestre em Cognição e Linguagem. Especialista em Arteterapia em Saúde
e Educação. Licenciado em Letras (Português/Inglês). Professor do Ensino
Básico, Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus Bom Jesus do
Itabapoana. E-mail: hpires@iff.edu.br
Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira
Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Cognição e Linguagem.
Especialista em Neuroaprendizagem, Dificuldades de Aprendizagem,
Treinamento Cognitivo e Habilidades Socioemocionais. Psicopedagoga,
Arteterapeuta, Coach pessoal e empresarial. Professora do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus Campos-Centro. E-mail:
bia.acampora@gmail.com
Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias
Mestranda em Cognição e Linguagem. Especialista em Psicopedagogia.
Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Especialista em
Neurociências Aplicadas à Reabilitação. MBA em Gestão Empresarial.
Graduada em Administração de Empresas. Licenciada em Ciências
Biológicas. Graduanda em Pedagogia. E-mail: fabriziadias@gmail.com
SOBRE OS AUTORES E AS AUTORAS
Adriana Fantoni Naurath Colares
Especialista em Psicomotricidade. Especialista em Neuropsicopedagogia
Clínica. Especialista Psicopedagogia Clínica. Especialista em
Psicopedagogia. Especialista em Pedagogia Empresarial. E-mail: drica.
naurath@hotmail.com
180
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
180SUMÁRIO
Beatriz Acampora e Silva de Oliveira
Doutora em Saúde Pública. Mestre em Cognição e Linguagem. MBA
Executivo em Coaching. MBA Executivo em Gestão de Pessoas e RH.
Especialista em Arteterapia em Saúde e Educação. Especialista em Hipnose
Clínica, Hospitalar e Organizacional. Psicóloga. Professora da Universidade
Estácio de Sá – RJ. E-mail: beatriz.acampora@gmail.com
Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira
Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Cognição e Linguagem.
Especialista em Neuroaprendizagem, Dificuldades de Aprendizagem,
Treinamento Cognitivo e Habilidades Socioemocionais Psicopedagoga,
Arteterapeuta, Coach pessoal e empresarial. Professora do Ensino Básico,
Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus Campos-Centro. E-mail:
bia.acampora@gmail.com
Carla Barbosa Ferreira
Especialista em Neuropsicopedagogia. Perita Judicial Pedagógica.
Pedagoga. E-mail: carlabneuropsico@gmail.com
Daniele Fernandes Rodrigues
Doutora em Cognição e Linguagem. Mestre em Economia Empresarial.
Especialista em Economia. Professora bolsista do Programa de
Pós-graduação em Cognição e Linguagem. Professora da Escola Técnica
Estadual João Barcelos Martins – FAETEC. E-mail: dani.uenf@gmail.com
Fabio Nascimento Custodio
Graduado em Biologia. Licenciado em Ciências Biológicas. Professor do
Ensino Fundamental e Médio – Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: fabio�-
custodio9@gmail.com
Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias
Mestranda em Cognição e Linguagem. Especialista em Psicopedagogia.
Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Especialista em
Neurociências Aplicadas à Reabilitação. MBA em Gestão Empresarial.
Graduada em Administração de Empresas. Licenciada em Ciências
Biológicas Graduanda em Pedagogia. E-mail: fabriziadias@gmail.com
181
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
181SUMÁRIO
Horácio dos Santos Ribeiro Pires
Mestre em Cognição e Linguagem. Especialista em Arteterapia em Saúde
e Educação. Licenciado em Letras (Português/Inglês). Professor de Língua
Inglesa do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus
Bom Jesus do Itabapoana. E-mail: hpires@iff.edu.br
João Batista de Oliveira Filho
Doutor em Saúde Pública. Mestre em Cognição e Linguagem. Graduado
em Psicologia. Graduado em Comunicação Social. Psicólogo. Professor
Universitário. E-mail: isecpsicologia@gmail.com
Jossana dos Santos Bartolazzi Barbosa
Mestranda em Cognição e Linguagem. Especialista em Pedagogia
Empresarial. Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Graduada em
Pedagogia. Professora Orientadora Pedagógica da prefeitura Municipal de
Campos dos Goytacazes/RJ. Diretora de RH da Secretaria Municipal de
Educação de Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: jsbartolazzi@yahoo.
com.br
Larissa Vieira de Lima Gonçalves
Mestranda em Educação. Especialista em Neuropsicologia. Graduada
em Psicologia. Graduada em Pedagogia. Professora dos anos iniciais
da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes/RJ. Psicóloga/
Neuropsicóloga. E-mail: psicologalarissagoncalves@gmail.com
Lilliany de Souza Cordeiro
Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Ciências da Motricidade
Humana. Especialista em Fisiologia do Exercício. Licenciada em Ciências
Biológicas. Licenciada em Educação Física. E-mail: lilliany.cordeiro@
yahoo.com.br
Luciana Moreno dos Santos
Mestre em Produção Vegetal. Professora e pesquisadora da UNESA –
Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: lucianamoreno990@gmail.com
182
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea
182SUMÁRIO
Luciana Ribeiro Coutinho de Oliveira Mansur
Doutora em Produção Vegetal. Bióloga Professora e pesquisadora da
UNESA – Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: lucianarcom@yahoo.com.br
Manuela Gomes Rangel de Paula
Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental. Especialista em
Neuropsicologia. Psicóloga – APOE Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail:
manuelardepaula@gmail.com
Maria Francisca Ribeiro Barbosa Monteiro
Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Especialista em
Planejamento Educacional. Graduada em Pedagogia Graduada em Letras.
E-mail: mfranciscarbm@yahoo.com.br
Maura Nogueira Cobra
Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Saúde da Família.
Especialista em Fisioterapia Cardiovascular e respiratória. Graduada em
Fisioterapia. Atua em Terapia Intensiva Neo-Pediátrica e em Programa de
Capacitação Profissional e Educação Continuada. E-mail: mauracobra@
gmail.com
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea - volume 1

Mais conteúdo relacionado

PDF
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea - volume 2
PDF
Temas emergentes à educação: docências em movimento no contexto atual
PDF
Ensino de ciências, currículo e inclusão: diálogos interdisciplinares
PDF
Mídia e educação: abordagens e práticas
PDF
A aprendizagem na atualidade: dos saberes às práticas
PDF
Aprendizagem na atualidade: dos saberes às práticas
PDF
Objetos digitais de aprendência para a educação mediada: uma cartografia em d...
PDF
Temas emergentes à educação: (re)significações e complexidades ao ensino e ap...
(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea - volume 2
Temas emergentes à educação: docências em movimento no contexto atual
Ensino de ciências, currículo e inclusão: diálogos interdisciplinares
Mídia e educação: abordagens e práticas
A aprendizagem na atualidade: dos saberes às práticas
Aprendizagem na atualidade: dos saberes às práticas
Objetos digitais de aprendência para a educação mediada: uma cartografia em d...
Temas emergentes à educação: (re)significações e complexidades ao ensino e ap...

Mais procurados (20)

PDF
Pesquisas educacionais na graduação: a inclusão em foco
PDF
Do Ensino de História em novas fronteiras: ou de como se faz pesquisa e exten...
PDF
Estratégias diversificadas para o Ensino de Ciências
PDF
A ética da nulificação e a contranulificação
PDF
(Re)pensar as tecnologias na educação a partir da teoria crítica
PDF
Nudez em cena: insurgências dos corpos
PDF
A escola e a educação do campo
PDF
eBook Multimodalidade e ensino: múltiplas perspectivas
PDF
Avaliação, ensino e aprendizagem: uma relação dialética
PDF
Experiências e reflexões sobre a pedagogia e o social
PDF
143639 6c2d4c38577140f595f8e43c12379c17
PDF
Com(posições) pós estruturalistas em Educação Matemática e Educação em Ciências
PDF
Festa e memória: perspectivas étnico-raciais
PDF
Travessia: reflexões acerca de um movimento sistêmico na educação básica
PDF
eBook Criatividade
PDF
Estado e sociedade sob olhares in(ter)disciplinares: experiências e perspecti...
PDF
Reflexões sobre questões de gênero nas aulas de Educação Física Escolar
PDF
Ecos (dialógicos) da ditadura no Brasil
PDF
Guardiões das emoções no apoio à vida plena
PDF
Desafios da docência: democratização de saberes em tempos de recusa do outro
Pesquisas educacionais na graduação: a inclusão em foco
Do Ensino de História em novas fronteiras: ou de como se faz pesquisa e exten...
Estratégias diversificadas para o Ensino de Ciências
A ética da nulificação e a contranulificação
(Re)pensar as tecnologias na educação a partir da teoria crítica
Nudez em cena: insurgências dos corpos
A escola e a educação do campo
eBook Multimodalidade e ensino: múltiplas perspectivas
Avaliação, ensino e aprendizagem: uma relação dialética
Experiências e reflexões sobre a pedagogia e o social
143639 6c2d4c38577140f595f8e43c12379c17
Com(posições) pós estruturalistas em Educação Matemática e Educação em Ciências
Festa e memória: perspectivas étnico-raciais
Travessia: reflexões acerca de um movimento sistêmico na educação básica
eBook Criatividade
Estado e sociedade sob olhares in(ter)disciplinares: experiências e perspecti...
Reflexões sobre questões de gênero nas aulas de Educação Física Escolar
Ecos (dialógicos) da ditadura no Brasil
Guardiões das emoções no apoio à vida plena
Desafios da docência: democratização de saberes em tempos de recusa do outro
Anúncio

Semelhante a (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea - volume 1 (20)

PDF
Crianças e tecnologias: influências, contradições e possibilidades formativas
PDF
Sobre a educação: perspectivas, interfaces e desafios contemporâneos
PDF
Formação continuada docente para o atendimento educacional especializado: fra...
PDF
Pedagogia social e educação integral: campos educacionais em construção no B...
PDF
Direitos humanos, políticas públicas e mudança social: diálogos e tensionamentos
PDF
Desafios da docência: democratização de saberes em tempos de recusa do outro
PDF
Abecedário de aula
PDF
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e o Ensino de Ciênc...
PDF
eBook "Novas narrativas para o ensino-aprendizagem"
PDF
eBook_Matematica_Infantil.pdf
PDF
Política, religião e desenvolvimento: compreensões de jovens universitários d...
PDF
Educação e tecnociência na contemporaneidade
PDF
Diálogos com a literatura portuguesa
PDF
Diálogos com a literatura portuguesa
PDF
Educação no plural: da sala de aula às tecnologias digitais
PDF
Pesquisas educacionais em contextos inclusivos: diversidade em questão
PDF
Gêneros socioafetivos: do sexismo às práticas discursivas insurgentes
PDF
O delírio do verbo: a poesia de Manoel de Barros e o consumo.
PDF
Autismo e aplicativos móveis: no mundo do isolamento a tecnologia como suport...
PDF
A música e seus (em) cantos na educação, cultura e sociedade
Crianças e tecnologias: influências, contradições e possibilidades formativas
Sobre a educação: perspectivas, interfaces e desafios contemporâneos
Formação continuada docente para o atendimento educacional especializado: fra...
Pedagogia social e educação integral: campos educacionais em construção no B...
Direitos humanos, políticas públicas e mudança social: diálogos e tensionamentos
Desafios da docência: democratização de saberes em tempos de recusa do outro
Abecedário de aula
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência e o Ensino de Ciênc...
eBook "Novas narrativas para o ensino-aprendizagem"
eBook_Matematica_Infantil.pdf
Política, religião e desenvolvimento: compreensões de jovens universitários d...
Educação e tecnociência na contemporaneidade
Diálogos com a literatura portuguesa
Diálogos com a literatura portuguesa
Educação no plural: da sala de aula às tecnologias digitais
Pesquisas educacionais em contextos inclusivos: diversidade em questão
Gêneros socioafetivos: do sexismo às práticas discursivas insurgentes
O delírio do verbo: a poesia de Manoel de Barros e o consumo.
Autismo e aplicativos móveis: no mundo do isolamento a tecnologia como suport...
A música e seus (em) cantos na educação, cultura e sociedade
Anúncio

Mais de Pimenta Cultural (20)

PDF
Design thinking: modelo aplicável em desafios complexos e em inovação
PDF
Descolonizando a Psicologia: contribuições para uma prática popular
PDF
Inclusão, aprendizagem e tecnologias em educação: pensar a educação no século...
PDF
Retratos da docência brasileira: um estudo em três tempos (1960-2000)
PDF
Saúde Mental no Brasil: tecendo cuidados no território brasileiro
PDF
Estesia, educação e design: rumo à Educação Estética
PDF
PIBID-UFS 2018: múltiplos caminhos na formação docente
PDF
As experiências laborais de catadores: contribuições educativas para a logíst...
PDF
O espectro da teoria-prática na docência em Matemática: uma lente para pensar...
PDF
Emancipação digital cidadã de jovens do campo num contexto híbrido, multimoda...
PDF
A produção da neodocência no ensino médio brasileiro na segunda metade do séc...
PDF
A vida mobile no capitalismo de dados: narrativas de negócios digitais e a co...
PDF
Anais do III Sehum: seminário de pós-graduação em ensino de humanidades
PDF
Conhecimento, inteligência e estratégia
PDF
Reflexões e práticas sobre educação ambiental
PDF
Encefalopatia crônica da infância: um enfoque fonoaudiológico em atuação na e...
PDF
Linguística geral: os conceitos que todos precisam conhecer - volume 3
PDF
Saberes e fazeres no ensino-aprendizagem de línguas e literaturas estrangeiras
PDF
Cartas às crianças do futuro: narrativas sobre a pandemia Covid-19
PDF
“Por amor a Deus” o processo de alforria de escravos em Mariana (1750-1779)
Design thinking: modelo aplicável em desafios complexos e em inovação
Descolonizando a Psicologia: contribuições para uma prática popular
Inclusão, aprendizagem e tecnologias em educação: pensar a educação no século...
Retratos da docência brasileira: um estudo em três tempos (1960-2000)
Saúde Mental no Brasil: tecendo cuidados no território brasileiro
Estesia, educação e design: rumo à Educação Estética
PIBID-UFS 2018: múltiplos caminhos na formação docente
As experiências laborais de catadores: contribuições educativas para a logíst...
O espectro da teoria-prática na docência em Matemática: uma lente para pensar...
Emancipação digital cidadã de jovens do campo num contexto híbrido, multimoda...
A produção da neodocência no ensino médio brasileiro na segunda metade do séc...
A vida mobile no capitalismo de dados: narrativas de negócios digitais e a co...
Anais do III Sehum: seminário de pós-graduação em ensino de humanidades
Conhecimento, inteligência e estratégia
Reflexões e práticas sobre educação ambiental
Encefalopatia crônica da infância: um enfoque fonoaudiológico em atuação na e...
Linguística geral: os conceitos que todos precisam conhecer - volume 3
Saberes e fazeres no ensino-aprendizagem de línguas e literaturas estrangeiras
Cartas às crianças do futuro: narrativas sobre a pandemia Covid-19
“Por amor a Deus” o processo de alforria de escravos em Mariana (1750-1779)

Último (20)

PPTX
REVISA_GOIAS_3_SERIE_LP_2_BIMESTRE_PPT.pptx
PPTX
material-didatico-1a-revisao-pre-enem-livepdf.pptx
PDF
RESUMO BIOLOGIA, TODA MATRIA DE BIOLOGIA,
PDF
livro de inEbook_Informatica_Aplicada_UnP.pdf
PPTX
O TRABALHO EM MARX, WEBER E DURKHRIM.pptx
PDF
Educacao_Contempranea_educação paulo freire
PPTX
Gesto de Sala de Aulae a A mediação de conflitos
PDF
livro Ebook_Informatica_Aplicada_UnP.pdf
PDF
DocumentoCurricularGoiasAmpliadovolII.pdf
PPTX
Crédito em um contexto mais amplo (dívidas).pptx
PDF
Poema Minha Pátria. Análise e compreensão do poema
PPT
REDAÇÃO-OFICIAL-completo.pptREDAÇÃO-OFICIAL-completo.ppt
PPTX
Aula de Psicofarmacologia: Psicotrópicos
PDF
ebook_historia_pessoal_dos_mitos_gregos.pdf
PPTX
Aula de psicofarmacologia: classes de psicofármacos
PDF
Análise e interpretação da letra da música Página Por Página - Mundo Bita.
PDF
Aula 01 - Migração.pdf ffffhhjjiiueieeud
PDF
Unid1 _ProdEProcSw-2022.1- paraProf.pdf
PPT
Aulão dos descritores SAEB-SAEPE maio - slide aulão 2.ppt
PDF
SIMULADO AGOSTOSAEB.pdf ensino fundamental I
REVISA_GOIAS_3_SERIE_LP_2_BIMESTRE_PPT.pptx
material-didatico-1a-revisao-pre-enem-livepdf.pptx
RESUMO BIOLOGIA, TODA MATRIA DE BIOLOGIA,
livro de inEbook_Informatica_Aplicada_UnP.pdf
O TRABALHO EM MARX, WEBER E DURKHRIM.pptx
Educacao_Contempranea_educação paulo freire
Gesto de Sala de Aulae a A mediação de conflitos
livro Ebook_Informatica_Aplicada_UnP.pdf
DocumentoCurricularGoiasAmpliadovolII.pdf
Crédito em um contexto mais amplo (dívidas).pptx
Poema Minha Pátria. Análise e compreensão do poema
REDAÇÃO-OFICIAL-completo.pptREDAÇÃO-OFICIAL-completo.ppt
Aula de Psicofarmacologia: Psicotrópicos
ebook_historia_pessoal_dos_mitos_gregos.pdf
Aula de psicofarmacologia: classes de psicofármacos
Análise e interpretação da letra da música Página Por Página - Mundo Bita.
Aula 01 - Migração.pdf ffffhhjjiiueieeud
Unid1 _ProdEProcSw-2022.1- paraProf.pdf
Aulão dos descritores SAEB-SAEPE maio - slide aulão 2.ppt
SIMULADO AGOSTOSAEB.pdf ensino fundamental I

(Inter)conexão de saberes na educação contemporânea - volume 1

  • 3. Copyright © Pimenta Cultural, alguns direitos reservados Copyright do texto © 2019 os autores e as autoras Copyright da edição © 2019 Pimenta Cultural Esta obra é licenciada por uma Licença Creative Commons: by-nc-nd. Direitos para esta edição cedidos à Pimenta Cultural pelo autor para esta obra. Qualquer parte ou a totalidade do conteúdo desta publicação pode ser reproduzida ou compartilhada. O conteúdo publicado é de inteira responsabilidade do autor, não representando a posição oficial da Pimenta Cultural. Comissão Editorial Científica Alaim Souza Neto, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Alexandre Antonio Timbane, Universidade de Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Brasil Alexandre Silva Santos Filho, Universidade Federal do Pará, Brasil Aline Corso, Faculdade Cenecista de Bento Gonçalves, Brasil André Gobbo, Universidade Federal de Santa Catarina e Faculdade Avantis, Brasil Andressa Wiebusch, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Andreza Regina Lopes da Silva, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Angela Maria Farah, Centro Universitário de União da Vitória, Brasil Anísio Batista Pereira, Universidade Federal de Uberlândia, Brasil Arthur Vianna Ferreira, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Beatriz Braga Bezerra, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Bernadétte Beber, Faculdade Avantis, Brasil Bruna Carolina de Lima Siqueira dos Santos, Universidade do Vale do Itajaí, Brasil Bruno Rafael Silva Nogueira Barbosa, Universidade Federal da Paraíba, Brasil Cleonice de Fátima Martins, Universidade Estadual de Ponta Grossa, Brasil Daniele Cristine Rodrigues, Universidade de São Paulo, Brasil Dayse Sampaio Lopes Borges, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil Delton Aparecido Felipe, Universidade Estadual do Paraná, Brasil Dorama de Miranda Carvalho, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Elena Maria Mallmann, Universidade Federal de Santa Maria, Brasil Elisiene Borges leal, Universidade Federal do Piauí, Brasil Elizabete de Paula Pacheco, Instituto Federal de Goiás, Brasil Emanoel Cesar Pires Assis, Universidade Estadual do Maranhão. Brasil Francisca de Assiz Carvalho, Universidade Cruzeiro do Sul, Brasil Gracy Cristina Astolpho Duarte, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Handherson Leyltton Costa Damasceno, Universidade Federal da Bahia, Brasil Heloisa Candello, IBM Research Brazil, IBM BRASIL, Brasil Inara Antunes Vieira Willerding, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Jacqueline de Castro Rimá, Universidade Federal da Paraíba, Brasil Jeane Carla Oliveira de Melo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, Brasil
  • 4. Jeronimo Becker Flores, Pontifício Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil Joelson Alves Onofre, Universidade Estadual de Feira de Santana, Brasil Joselia Maria Neves, Portugal, Instituto Politécnico de Leiria, Portugal Júlia Carolina da Costa Santos, Universidade Estadual do Maro Grosso do Sul, Brasil Juliana da Silva Paiva, Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Paraíba, Brasil Kamil Giglio, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Laionel Vieira da Silva, Universidade Federal da Paraíba, Brasil Lidia Oliveira, Universidade de Aveiro, Portugal Ligia Stella Baptista Correia, Escola Superior de Propaganda e Marketing, Brasil Luan Gomes dos Santos de Oliveira, Universidade Federal de Campina Grande, Brasil Lucas Rodrigues Lopes, Faculdade de Tecnologia de Mogi Mirim, Brasil Luciene Correia Santos de Oliveira Luz, Universidade Federal de Goiás; Instituto Federal de Goiás., Brasil Lucimara Rett, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil Marcio Bernardino Sirino, Universidade Castelo Branco, Brasil Marcio Duarte, Faculdades FACCAT, Brasil Marcos dos Reis Batista, Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Brasil Maria Edith Maroca de Avelar Rivelli de Oliveira, Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil Maribel Santos Miranda-Pinto, Instituto de Educação da Universidade do Minho, Portugal Marília Matos Gonçalves, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Marina A. E. Negri, Universidade de São Paulo, Brasil Marta Cristina Goulart Braga, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Michele Marcelo Silva Bortolai, Universidade de São Paulo, Brasil Midierson Maia, Universidade de São Paulo, Brasil Patricia Bieging, Universidade de São Paulo, Brasil Patricia Flavia Mota, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Brasil Patricia Mara de Carvalho Costa Leite, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil Patrícia Oliveira, Universidade de Aveiro, Portugal Ramofly Ramofly Bicalho, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Brasil Rarielle Rodrigues Lima, Universidade Federal do Maranhão, Brasil Raul Inácio Busarello, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Ricardo Luiz de Bittencourt, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Brasil Rita Oliveira, Universidade de Aveiro, Portugal Rosane de Fatima Antunes Obregon, Universidade Federal do Maranhão, Brasil Samuel Pompeo, Universidade Estadual Paulista, Brasil Tadeu João Ribeiro Baptista, Universidade Federal de Goiás, Brasil Tarcísio Vanzin, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Thais Karina Souza do Nascimento, Universidade Federal Do Pará, Brasil Thiago Barbosa Soares, Instituto Federal Fluminense, Brasil Valdemar Valente Júnior, Universidade Castelo Branco, Brasil Vania Ribas Ulbricht, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil Wellton da Silva de Fátima, Universidade Federal Fluminense, Brasil Wilder Kleber Fernandes de Santana, Universidade Federal da Paraíba, Brasil
  • 5. Patricia Bieging Raul Inácio Busarello Direção Editorial Marcelo EyngDiretor de sistemas Raul Inácio BusarelloDiretor de criação Ligia Andrade MachadoEditoração eletrônica Designed by pikisuperstar Designed by rawpixel.com Freepik Imagens da capa Patricia BiegingEditora executiva Os organizadoresRevisão Horácio dos Santos Ribeiro Pires Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias Organizadores Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) ________________________________________________________________________ I611 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea. Volume 1. Horácio dos Santos Ribeiro Pires, Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira, Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias - organizadores. São Paulo: Pimenta Cultural, 2019. 182p.. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-7221-061-4 (eBook) 1. Educação. 2. Escola. 3. Aprendizagem. 4. Ensino. 5. Pedagogia. I. Pires, Horácio dos Santos Ribeiro. II. Ferreira, Bianca Isabela Acampora e Silva. III. Dias, Fabrízia Miranda de Alvarenga. IV. Título. CDU: 37.01 CDD: 370 DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614 ________________________________________________________________________ PIMENTA CULTURAL São Paulo - SP Telefone: +55 (11) 96766-2200 livro@pimentacultural.com www.pimentacultural.com 2019
  • 6. 5 SUMÁRIO Prefácio Apresentando (inter)conexão de saberes na educação contemporânea - vol. 1 ............................................. 7 Karina Hernandes Neves Capítulo 1 Autoconceito profissional: o senso de valor próprio e seus reflexos na saúde e no ambiente de trabalho................... 10 Beatriz Acampora e Silva de Oliveira Capítulo 2 Análise comportamental: como a linguagem corporal pode contribuir no ambiente e saúde............................. 27 João Batista de Oliveira Filho Capítulo 3 Estresse em pais/responsáveis de crianças com Transtorno de Espectro Autista.............................................. 43 Manuela Gomes Rangel de Paula Capítulo 4 A importância do contexto escolar no desenvolvimento neuropsicológico da criança........................ 58 Larissa Vieira de Lima Gonçalves Capítulo 5 Potencialização hipertextual e novos perfis de leitor e autoria: o que há de novo?........................................... 84 Horácio dos Santos Ribeiro Pires
  • 7. 6 Capítulo 6 A contribuição de programas pedagógicos para a ampliação de repertório de um indivíduo com Transtorno do Espectro Autista: estudo de caso................ 104 Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias, Manuela Gomes Rangel de Paula e Lilliany de Souza Cordeiro Capítulo 7 A formação de professores sob a ótica de empoderamento e a construção de mentes pensantes......................................... 121 Carla Barbosa Ferreira, Jossana dos Santos Bartolazzi Barbosa e Maria Francisca Ribeiro Barbosa Monteiro Capítulo 8 A contribuição de aplicativos e softwares no ensino da Matemática para crianças autistas......................................... 132 Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias, Daniele Fernandes Rodrigues e Adriana Fantoni Naurath Colares Capítulo 9 Sustentabilidade – alelopatia: uma alternativa à utilização de agroquímicos....................................................... 146 Luciana Moreno dos Santos, Luciana Ribeiro Coutinho de Oliveira Mansur e Fábio Nascimento Custodio Capítulo 10 Programa de residência multiprofissional de saúde na formação de Recursos Humanos para o SUS: conexões entre Delors e Perrenoud alicerçando qualidade no lato sensu............................................................... 165 Maura Nogueira Cobra e Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira Sobre o organizador e as organizadoras.................................... 179 Sobre os autores e as autoras..................................................... 179
  • 8. 7 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 7SUMÁRIO Prefácio APRESENTANDO (INTER)CONEXÃO DE SABERES NA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA VOL. 1 O presente livro é o primeiro volume de uma série de duas produções que trazem temáticas importantes sobre a grande questão que permeia os tempos atuais: a ligação entre as diversas áreas do conhecimento. Aqui, o (a) leitor (a) vai encontrar relevantes contribuições a respeito das conexões entre educação e saberes, dando ênfase à (inter) relação entre educação e saúde. Trata-se de uma expressiva reunião de artigos paradoxalmente “in” e “inter” dependentes alimentados pela espinha dorsal do viés educacional em seu sentido mais amplo. O diálogo que se estabelece entre os artigos é evidenciado ao longo deste compêndio. Dividido em duas grandes seções, a primeira possui quatro artigos e intitula-se “Saúde” e a derra- deira, batizada “Educação e Saúde” conta com produções que se agregam às questões anteriormente desenvolvidas. O artigo que inaugura este livro trata-se de uma substancial revisão de literatura com a qual Oliveira alicerçou sua tese de douto- rado. Nele, a pesquisadora analisa a relação entre autoconceito profissional, desempenho e saúde no trabalho, debatendo espe- cialmente quais as implicações do autoconceito profissional no desempenho do trabalhador. O texto seguinte é igualmente parte de uma tese de doutoramento em saúde pública em que Filho analisa a forma como a linguagem corporal pode influenciar a comunicação entre profissionais da saúde e pacientes internados em hospitais. No viés dessas discussões, tem-se a contribuição de Gomes, que analisa as reações dos pais de crianças que apresentam Transtorno do Espectro Autista (TEA) ao receberem o diagnóstico
  • 9. 8 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 8SUMÁRIO de seus filhos, evidenciando a capacidade de acolhimento destes progenitores por profissionais de saúde qualificados para apoiá-los nesse momento de transição. No derradeiro artigo da seção I, Gonçalves aborda a impor- tância do contexto escolar no desenvolvimento neuropsicológico da criança, explanando, inicialmente, a primeira infância e as implica- ções desta etapa na vida futura do infante, evoluindo a discussão a respeito do quanto atividades realizadas no ambiente escolar podem ser decisivas para o desenvolvimento da criança. A seção II, “Educação e Saúde” é inaugurada com as refle- xões de Dias (et. Al.) a respeito da ampliação do repertório dos indivíduos com TEA, sugerindo a utilização de programas que propi- ciem a população à elevação de seu repertório linguístico. Posteriormente, Pires resgata algumas provocações reali- zadas em sua dissertação de mestrado, pesquisa em que inves- tigou a formação docente e discente na imersão do mundo digital, através das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICS), retratando as lacunas entre as práticas pedagógicas anali- sadas e a eficiência do processo de ensino e aprendizagem. A análise de Ferreira também retrata do processo de apren- dizagem, contudo, com ênfase mais psicológica, visando debater o empoderamento e a construção cognitiva dos profissionais docentes brasileiros, abordando tanto o valor profissional quanto simbólico para a formação cultural do Brasil. O artigo seguinte, proposto por Dias (et. Al.) discorre sobre as formas como os softwares e aplicativos podem favorecer a cognição de alunos com TEA, especialmente no que diz respeito à aprendi- zagem de conceitos lógico-matemáticos.
  • 10. 9 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 9SUMÁRIO Santos (et. Al) discutem a alelopatia como alternativa para a fertilização de agroquímicos. Partindo do dilema da necessidade da utilização de agroquímicos X impactos ambientais, verifica-se que a atividade biológica pode resultar na busca por moléculas alelo- páticas que, por sua vez, podem ser benéficas no cultivo agrícola. Finalmente, Cobra e Ferreira problematizam a dicotômica relação especialista x generalista, defendendo que a formação deve ser baseada em “aprender a aprender” em uma relação dialética constante, apontando ainda outras necessidades importantes para a formação dos profissionais da saúde. O livro é deleitoso na medida em que trata de assuntos aparentemente não-relacionáveis de uma forma dinâmica, didática e agradável. Uma leitura desafiadora e estimulante que passeia por diversos temas dessas áreas tão fundamentais em todos os aspectos, em especial a educação em seu mais amplo sentido. Karina Hernandes Neves1 1. Doutora em Ciências Sociais (UFJF). Mestre em Gestão e Avaliação da Educação (UFJF). Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (IFFluminense Campus Bom Jesus do Itabapoana). DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.7-9
  • 11. CAPÍTULO 1 AUTOCONCEITO PROFISSIONAL: O SENSO DE VALOR PRÓPRIO E SEUS REFLEXOS NA SAÚDE E NO AMBIENTE DE TRABALHO Beatriz Acampora e Silva de Oliveira 1 Autoconceitoprofissional: osensodevalorpróprio eseusreflexosnasaúde enoambientedetrabalho BeatrizAcamporaeSilvadeOliveira DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.10-26
  • 12. 11 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 11SUMÁRIO Resumo: Este artigo consiste em revisão de literatura e pesquisa qualitativa de caráter exploratório realizada através de levantamento bibliográfico sobre o tema proposto. O problema norteador da pesquisa consiste na relação entre o autoconceito profissional, o desempenho e a saúde no trabalho, tendo como objetivos conceituar o autoconceito e como ele se constitui; explicar as bases do autoconceito profissional e suas implicações no contexto do trabalho; analisar a relação entre o autoconceito profissional, assédio moral, aspectos de gênero e resiliência dentre outros. Os resultados revelam que o autoconceito é continuamente construído e modificado nas relações do sujeito com o meio ambiente. Palavras-chave: Autoconceito; Saúde; Trabalho.
  • 13. 12 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 12SUMÁRIO Introdução Os padrões de comportamento de uma pessoa são consequ- ência da sua personalidade, do modo como ela se vê e se compre- ende na existência. Desde a mais tenra infância, desenvolve-se o autoconceito, o senso de valor próprio, a partir das relações com as outras pessoas e da importância que se acredita ter, em especial, para os cuidadores. Um dos primeiros autores a definir o autoconceito foi William James, em 1890, (JAMES, 1890 apud COSTA, 2002). Sua definição abrange o autoconceito como o conjunto dos fatores daquilo que o indivíduo é ou sua compreensão sobre si mesmo e de tudo o que pode chamar de seu: corpo, capacidades físicas, amigos, fami- liares, trabalho, pertences. James define o autoconceito a partir da noção de self, que consiste em tudo o que faz parte do sujeito ou que ele apropria como seu. O ser humano está sempre se comparando com as pessoas de suas relações sociais e a noção de certo e errado, de bom e mau, de bonito e feito, é construída socialmente e depende da cultura na qual o indivíduo está inserido, das relações familiares e dos grupos dos quais participa. Dessa forma, a noção de si mesmo tem relação intrínseca com o modo como uma pessoa se vê diante dos estímulos oferecidos e na comparação das suas ações com as atitudes que a cercam. O campo da fenomenologia lançou luz sobre o assunto com Combs e Snygg (1949 apud ASSIS, 2004), destacando a si mesmo como funcional e estrutural. O foco passa o próprio sujeito como responsável pela organização das suas próprias percepções e do ambiente, sendo o construtor de sua própria realidade a partir do seu campo de percepções.
  • 14. 13 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 13SUMÁRIO Já Shavelson et al. (1976 apud SERRA, 1988) analisam o autoconceito como algo organizado e estruturado, mas também multifacetado, pois se relaciona a sistemas de categorias aos quais o ser humano está submetido e que também é compartilhado pelo grupo ao qual pertence, que refletem facetas que o influenciam dire- tamente. Para os autores, o autoconceito subdivide-se em autocon- ceito acadêmico, social, emocional e físico. Estudioso da psicologia social, o americano Rosemberg (1989 apud ASSIS, 2004) avaliou a autoestima na interação com o grupo social, ressaltando que o ser humano é influenciado pela cultura da qual faz parte, internalizando ideias e atitudes nas inte- rações sociais e, a partir das reações dos outros às suas experiên- cias, consegue experimentar seus próprios sentimentos e reações pessoais, aprendendo a se autoavaliar. Rogers (1997), psicólogo humanista, considerou que autoes- tima é uma força interna e depende da capacidade do ser humano de se manter autêntico. Para ele o homem está em constante desen- volvimento de suas potencialidades. Tamayo (1985) analisou o autoconceito como um processo psicológico que é fundamentalmente social, uma vez que se desen- volve na relação com os outros, a partir das percepções e represen- tações sociais que ocorrem nas interações com as outras pessoas. O autor português Veiga (1995) acredita que o autoconceito é fundamental na vida humana e sua compreensão pode elucidar o comportamento humano e suas nuances, facilitando o entendi- mento da personalidade humana a partir do modo como o indivíduo se compreende enquanto ser de relações. Assis (2004) destaca que em 1984 uma comissão que ficou conhecida como Task Force to Promote Self-Esteem (força tarefa para promover a autoestima) buscou a valorização do compromisso
  • 15. 14 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 14SUMÁRIO do indivíduo em assumir responsabilidade pelos seus atos, por si mesmo e por suas relações intra e interpessoais, o que contribuiu para os estudos mais recentes sobre o tema. O posicionamento de uma pessoa diante das mais diferentes situações tem como base seu autoconceito, pois o modo como o indivíduo se autoavalia tem impacto em suas relações pessoais e profissionais. Assim, pode-se afirmar que uma pessoa com uma boa relação intrapessoal tenderá a ter boas relações interpessoais. O comportamento emocional e o estilo de vida adotado na fase adulta são reflexos de como o autoconceito foi desenvolvido ao longo da vida. Uma pessoa com autoconceito positivo tende a ser mais resiliente e a acreditar nas suas potencialidades para superar dificuldades (ACAMPORA, 2013). Na atualidade há uma valorização do modo como as pessoas se veem, se relacionam umas com as outras e projetam na vida seus sentimentos, angústias e desejos. O autoconceito está intimamente ligado aos modos de experimentar as situações da vida, ao sucesso no trabalho, às relações com si próprias e com os outros e ao modo como cada indivíduo se posiciona nas diferentes esferas da existência. As conceituações apresentadas mostram que o autoconceito é formado na relação com o meio e o modo como a pessoa avalia suas relações, seu valor para os outros e para o mundo é a base para que ela se autoavalie positiva ou negativamente. A autoestima é a fonte do nosso poder pessoal, da capacidade que todo ser humano tem de influenciar e ser influenciado nas relações sociais. Em todos os tipos de relações a autoestima é o pano de fundo, pois ela determinará o modo como o indivíduo irá respirar, se emocionar e agir. Em situações de trabalho, por exemplo, pessoas com alta autoestima tendem a ser mais ágeis, a falar assertivamente o que querem, a lutar pelos seus objetivos de forma clara. Uma pessoa com alta autoestima acredita em si mesma, é o que quer ser, goza a vida e assume responsabilidades sem culpar os outros ou se justificar pelas escolhas que faz (ACAMPORA, 2013, p. 20-21).
  • 16. 15 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 15SUMÁRIO No ambiente de trabalho, a autoestima deve ser considerada como um fator importante que está na base do modo de desen- volver a atividade profissional, de avaliar a si mesmo como capaz de desempenhar determinadas tarefas e da habilidade de superar dificuldades a partir de seus recursos internos. O mundo atual é repleto de cobranças, estimulação à competição, comparações e busca por um alto padrão de reali- zação de tarefas, almejando sempre melhores resultados. Nesse sentido, é inevitável que as pessoas cobrem a si mesmas para fazer parte das exigências sociais. O autoconceito e a autoconfiança vêm sendo cada vez mais exigidos no mundo do trabalho, pois formam o alicerce para a atuação em equipe e a efetividade das ações em prol dos objetivos organizacionais. Metodologia Este estudo se classifica como pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, realizada através de pesquisa bibliográfica sobre o tema autoconceito profissional. A pesquisa qualitativa utiliza a coleta de dados sem medição numérica para descobrir ou aprimorar perguntas de pesquisa no processo de interpretação (SAMPIERI, COLLADO, LUCIO, 2013, p. 33). Possibilita a análise qualitativa de dados coletados em função de uma investigação sobre um determinado tema. A pesquisa exploratória tem como objetivo examinar um tema pouco estudado (SAMPIERI, COLLADO, LUCIO, 2013, p. 33). O autoconceito profissional é um termo novo, com poucas publica- ções a respeito e que merece maior investigação e análise.
  • 17. 16 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 16SUMÁRIO A pesquisa bibliográfica ocorre a partir da coleta de infor- mações que se constituem em resultados de pesquisas e análises já realizadas anteriormente e divulgadas através de livros, artigos, dissertações, monografias e teses. Resultados/Discussão Souza e Puente-Palacios (2011), no artigo A influência do auto- conceitoprofissionalnasatisfaçãocomaequipedetrabalho,relacionam o autoconceito com o trabalho em equipe, o alcance de determinados resultados para a organização e a satisfação no trabalho. Neste artigo, as autoras destacam que o autoconceito tem como base de formação a relação e comparação com outras pessoas, sendo relevante em diferentes situações sociais, entre elas o trabalho, consistindo em uma variável fortemente relacionada a habilidades e competências, influenciando resultados e relaciona- mentos. Dessa forma, conceituam o autoconceito profissional: O autoconceito profissional é definido como “a percepção que o indivíduo tem de si em relação ao trabalho (tarefas) que executa” (...) Tal definição considera o autoconceito em função de percepções individuais relacionadas à realização profissional, à competência, à autoconfiança e à saúde, que são as suas dimensões constitutivas. (SOUZA; PUENTE-PALACIOS, 2011, p. 4). O sentimento de competência implica o indivíduo apreender que tem um conhecimento específico e é capaz de colocá-lo em prática em prol de determinados resultados exigidos no ambiente laboral. Para que o senso de competência exista é preciso um inves- timento do próprio sujeito no aprimoramento de suas habilidades. Cada indivíduo, em sua relação com o trabalho, desempenha de determinado modo sua atividade, o que depende da maneira como ele se vê diante da tarefa executada, de como se relaciona
  • 18. 17 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 17SUMÁRIO consigo e com as pessoas da equipe da qual faz parte, com sua produção e sua autorrealização no trabalho. A realização profissional está relacionada ao sentimento de competência diante dos processos de trabalho e das exigências cotidianas e tem conexão com a saúde, entendida a partir de um amplo espectro que envolve a vida psíquica, biológica e social. A percepção do indivíduo e a consciência de si mesmo em relação ao trabalho que executa, objetivos e resultados alcançados, reconhecimento, o papel desempenhado e sua importância na organização em que atua formam a base da realização profissional (Souza; PUENTE-PALACIOS, 2011). A satisfação no trabalho e a realização profissional caminham juntas, uma vez que, quando o indivíduo percebe a si mesmo como capaz, útil e parte integrante de algo maior, competente e autoconfiante para realizar suas atividades laborais, há um maior comprometimento com seu papel na organização, principalmente se esta oferece infraes- trutura, benefícios, salário, plano de cargos e salários adequados. Assim como a organização escolhe o indivíduo mais capaci- tado para atuar em um determinado cargo, o trabalhador também escolhe a organização que supra suas necessidades de realização profissional. Quanto mais qualificado é o trabalhador e mais exigên- cias o cargo requer, maior essa relação de reciprocidade. Estes fatores também estão relacionados com a saúde no trabalho, que consiste na percepção de como a atividade laboral impacta no estado de saúde do indivíduo. Assim, o autoconceito profissional influencia o modo como o trabalhador se comporta no ambiente de trabalho, sua postura diante de suas tarefas, a relação com a equipe da qual faz parte e com os resultados obtidos em função dos objetivos traçados. Isso porque a imagem que um indi- víduo tem de si é projetada no meio em que ele está inserido e afeta a sua percepção de mundo (SOUZA; PUENTE-PALACIOS, 2011).
  • 19. 18 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 18SUMÁRIO A relação entre autoconceito no trabalho e saúde pode ser apreendida a partir do entendimento de que as relações laborais, os processos de trabalho e o modo como o indivíduo se apreende nesse contexto podem afetar suas emoções e psique de modos muito distintos, acarretando no senso de importância, utilidade e valor próprio na atividade exercida ou, ainda, no senso de inutilidade e desvalorização como trabalhador. Os processos de saúde e doença no trabalho também podem ser avaliados a partir do recorte do autoconceito, pois o modo como o trabalhador se vê diante de seu exercício profissional pode acar- retar adoecimento nas atividades laborais. Em função disso, cada vez mais as organizações investem em ações que visem à moti- vação e à satisfação no trabalho. Em sua dissertação de mestrado, Invitti (2012) trata de uma perspectiva mais restrita a respeito do autoconceito profissional, fazendo um recorte sobre a relação com o assédio moral no trabalho e ressaltando que estudos anteriores já relacionavam o impacto do assédio moral sobre o autoconceito profissional. Uma das relações identificadas por Ferraz (2009) é a influência da percepção do assédio moral, pelos trabalhadores, sobre o autocon- ceito profissional destes. A autora encontrou correlação significativa entre estas duas variáveis, ou seja, a percepção da ocorrência de situações de assédio moral pelo trabalhador influencia negativa- mente em seu autoconceito profissional (INVITTI, 2012, p. 27). A autora destaca que o autoconceito é continuamente cons- truído e modificado nas relações do sujeito com o meio ambiente, podendo ser alterado em função das relações de trabalho e do ambiente laboral. Dessa forma, críticas, humilhações, rejeições, perdas, abandono, desvalorizações, isolamento, podem ter forte influência na diminuição do autoconceito. Invitti (2012), em sua pesquisa, chegou aos seguintes resul- tados, dentre outros: o assédio moral teve impacto na autoaceitação
  • 20. 19 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 19SUMÁRIO dos indivíduos avaliados, promovendo a crença de que é preciso mudar o modo de se comunicar, por exemplo: a) a autoconfiança também sofreu impacto, gerando senti- mento de incapacidade de realização de tarefas em muitos dos trabalhadores avaliados; b) no quesito autovalor, alguns participantes, ao se sentirem desvalorizados no trabalho, também passaram a atribuir menos valor a si mesmos; c) na categoria autoconceito social, alguns trabalhadores relataram dificuldades em estabelecer novas relações e de comunicar o que pensam; d) metade da amostra estudada apresentou percepção de baixo autoconceito moral, com relatos de sentimento de culpa e vergonha. Os dados do estudo mostram que, mesmo que uma pessoa tenha um autoconceito profissional positivo, ao ser exposta constan- temente a situações de humilhação, de desvalorização e críticas não assertivas, esse autoconceito pode ser alterado para pior, fazendo com que haja uma transformação no modo como o indivíduo vê sua capacidade de lidar com os desafios do trabalho, com seus pares e gestor(es), com a maneira de se comunicar, entre outros prejuízos. O autoconceito profissional também foi analisado por Tamayo e Abbad (2006) em relação ao treinamento no trabalho. As autoras ressaltam que o autoconceito profissional é altamente relevante para que os conteúdos dos treinamentos realizados possam ser colocados em prática. Isso implica que pessoas com baixo auto- conceito profissional tendem a ter mais dificuldades em utilizar os recursos adquiridos durante as capacitações, principalmente, se o ambiente organizacional não for propício.
  • 21. 20 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 20SUMÁRIO Espera-se que indivíduos que apresentam Autoconceito Profissional elevado e disponham de ambiente organizacional favorável ao uso das novas habilidades percebam de forma mais favorável o Impacto do Treinamento no Trabalho do que aqueles que apresentam baixo Autoconceito Profissional e que se encontrem em ambiente organi- zacional desfavorável (TAMAYO; ABBAD, 2006, p. 11). Quando as organizações têm um bom ambiente para o trabalho e propiciam treinamentos para seus trabalhadores, há uma tendência a que estes se sintam mais valorizados e compreendam a importância do aprimoramento para a realização de suas ativi- dades, o que tende a fortalecer o autoconceito profissional. Santos (2014), por sua vez, relaciona autoconceito, gênero e trabalho, fazendo uma análise de mulheres que ocupam profissões socialmente compreendidas como masculinas. E em sua pesquisa de doutorado, chega aos seguintes resultados: as mulheres atri- buem o sucesso na ocupação predominantemente masculina à competência adquirida no exercício profissional na relação com os homens que desempenham a mesma tarefa; parece existir indica- ções a respeito das tarefas específicas que favorecem o exercício profissional, como não se sentir inferior aos homens, não demons- trar fragilidade, realizar as atividades conforme esperado pelos homens ou até mesmo com maior nível de qualidade; a mulheres elegeram um perfil que seria mais ajustado para ocupações tradi- cionalmente masculinas, que envolve: não ter frescuras, gostar de fazer coisas que os homens fazem, ter capacidade crítica e poder de análise, sentir-se à vontade em ambientes masculinos. Assim, o autoconceito profissional também estaria relacio- nado às características necessárias para exercer uma determinada função e à capacidade de aprender a lidar com as adversidades, podendo alterar a concepção básica e socialmente aceita do que é um comportamento masculino ou feminino no trabalho. É possível, dessa forma, um homem realizar tarefas que eram essencialmente
  • 22. 21 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 21SUMÁRIO femininas, como secretariado, recepcionista e serviços gerais, ou uma mulher desempenhar atividades que eram consideradas estri- tamente masculinas, como frentista de posto de gasolina, pescador e técnico de petróleo. Meireles e Custódio (2012) ressaltam a importância dos esquemas relacionados ao gênero para o autoconceito, esquemas que são criados a partir de experiências individuais e definições sociais de feminilidade e masculinidade, influenciando respostas cognitivas, afetivas e comportamentais. Existem padrões socioculturais específicos e determinados para cada gênero, que faz com que sejam criados atributos e condutas esperadas para homens e mulheres. Dos homens, por exemplo, são esperadas ações agressivas, racionais, objetivas e competitivas; das mulheres, são esperadas condutas sensíveis, delicadas, emotivas, frágeis e passíveis. No mundo do trabalho, esses esquemas não são mais tão estanques, pois há muitas profissões que requerem esquemas masculinos e femininos; isto é, uma interatividade entre aspectos de ambos os gêneros que fazem parte do ser humano. Os esquemas fazem parte do autoconceito e são ativados mediante estímulos do meio. A ideia de que todos os indivíduos possuem esquemas masculino e feminino simultaneamente é o que constitui o Modelo Interativo, que propõe os seguintes grupos tipo- lógicos: Heteroesquema Masculino (o esquema masculino predo- mina sobre o feminino); Heteroesquema Feminino (o esquema feminino predomina sobre o masculino); Isoesquema (há simetria no desenvolvimento de esquemas feminino e masculino). (GIOVANI; TAMAYO, 2000 apud MEIRELES; CUSTÓDIO, 2012). A partir do exposto, é possível compreender que as pessoas percebam o autoconceito profissional de formas distintas em
  • 23. 22 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 22SUMÁRIO função dos esquemas internalizados a respeito do que é a atividade laboral para homens e mulheres, bem como possíveis diferenças na percepção do valor de outras pessoas nas relações interpessoais e de si mesmo no ambiente de trabalho. Gondim et al. (2013) fazem um comparativo sobre o autocon- ceito e gênero relacionado ao trabalho no Brasil e Angola, desta- cando o aumento das mulheres inseridas no mercado de trabalho e o aumento dos atributos relacionados ao gênero feminino em ambos os países. Os resultados que os autores supracitados revelam são que a maioria das pessoas em cargo de gestão, seja do sexo masculino ou do feminino, apresenta predominância de atributos femininos, e as mulheres gerentes também incorporam atributos masculinos para o exercício da função. Isso parece ocorrer em função do que é reque- rido para o cargo de gestão: objetividade, racionalidade e, também, empatia, compreensão do outro, dentre outros aspectos. Dessa forma, homens e mulheres apresentam atributos de ambos os tipos, pois há um caráter multidimensional da perspectiva de gênero, que estão presentes na formação do autoconceito pessoal e profissional. A partir dessa análise, pode-se inferir que a forma como o indivíduo vê a si mesmo e como se posiciona diante da sua vida profissional de acordo com o autovalor, influencia a produtividade e os resultados dos seus esforços no trabalho. O autoconceito profis- sional deve ser visto como um critério importante para as relações de trabalho, a energia empregada no exercício da função, a apro- priação da produtividade e os impactos na capacidade de lidar com as mudanças necessárias no mundo organizacional. Emilio e Martins (2012) relacionam autoconceito profissional e resiliência no trabalho, abordando o papel do autoconceito diante da exigência de se adaptar às necessidades de mudança e às adversidades da organização.
  • 24. 23 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 23SUMÁRIO O ritmo acelerado, a necessidade de cumprir objetivos em curto espaço de tempo, a obrigatoriedade de aprendizado constante em função de mudanças para adequação ao mercado, aumento de responsabilidade e de tarefas executadas, podem acarretar preju- ízos para a saúde, dependendo do modo como o indivíduo lida com todas essas pressões no ambiente de trabalho. Ser resiliente implica uma adaptação e flexibilização diante desse contexto. Indivíduos que acreditam no seu potencial e têm um alto auto- conceito profissional tendem a ser mais resilientes, pois confiam que podem aprender constantemente e assumir novas responsabilidades, flexibilizando suas atividades e negociando prazos. Uma pessoa que possui autoconfiança na sua capacidade de trabalho supera os obstáculos em prol de melhores resultados e da sua autorrealização. O estudo de Emilio e Martins (2012) foi realizado com poli- ciais militares e revelou que a maioria dos participantes se sente capaz de enfrentar as adversidades em função da persistência e da adaptação positiva às mudanças, suportando situações difíceis no trabalho, com bom autoconceito profissional, e confiando em si mesmos para a realização de suas atividades. Costa (2002) ressalta que o trabalho é constituinte da iden- tidade do indivíduo e do modo como ele se percebe como parte da sociedade. As relações de prazer e desprazer fazem parte da atividade laboral em função de seus significados. Como o autoconceito é um constructo subjetivo, a melhor forma de avaliá-lo é a autodescrição. Costa (2002) propõe seis fatores para a análise do autoconceito no trabalho: autonomia, reali- zação, competência, saúde, segurança e ajustamento. A autonomia corresponde à capacidade de tomar decisões e resolver problemas complexos sem ajuda. A realização abrange a consciência de suas aspirações, ideais, do seu papel e status na organização em que
  • 25. 24 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 24SUMÁRIO atua. A competência diz respeito à percepção do indivíduo acerca de sua atuação profissional e os sentimentos que surgem desta percepção. A saúde é um fator que consiste na percepção de como o trabalho e suas nuances podem afetar a saúde. A segu- rança abarca a percepção do indivíduo sobre suas suspeitas e hesitações em face às novas situações e mudanças no trabalho. O ajustamento consiste no modo como o indivíduo se apreende no que diz respeito à adequação das regras do trabalho, de condutas sociais e no modo como se auto avalia em relação à adaptação às tarefas que executa. Pode-se, então, verificar que o autoconceito é um tema atual que vem sendo cada vez mais estudado em função de sua possível relação com a produtividade, com o envolvimento e comprometi- mento com os resultados no trabalho. Conclusão Este estudo conceituou o autoconceito profissional a partir de bases teóricas e pesquisas científicas sobre o tema, explicando as possíveis implicações de um autoconceito profissional positivo e negativo para o trabalhador e a organização. Também foi anali- sada a relação entre o autoconceito profissional, o assédio moral e os aspectos de gênero e resiliência. Além disso avaliou-se como o autoconceito profissional pode impactar na saúde do trabalhador. Nesse sentido, os objetivos do estudo foram cumpridos. Os resultados mostraram que o autoconceito profissional influencia o desempenho, as relações interpessoais, o senso de autorrealização, a satisfação, a resiliência e a saúde no trabalho, tendo relação com a produtividade e os resultados para a o indi- víduo e a organização, o que afirma a hipótese adotada neste estudo e responde ao problema de pesquisa.
  • 26. 25 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 25SUMÁRIO Conclui-se que quando o autoconceito profissional é positivo, a tendência é que haja mais facilidade em lidar com as dificuldades que surgem diariamente no trabalho, pois a pessoa tem autocon- fiança e se impulsiona para realizar suas tarefas, empenhando‑se da melhor forma possível para que tenha os melhores resultados. No mundo do trabalho, o modo como as pessoas lidam com a atividade laboral que desempenham, com as relações intra e interpessoais, bem como o ambiente e clima que a organização apresenta, influenciam o autoconceito profissional, o sentimento de autoconfiança para a realização de tarefas e de competência para solucionar problemas e enfrentar desafios. Referências ACAMPORA, B. AUTOESTIMA: práticas para transformar pessoas. Rio de Janeiro: Wak editora, 2013. ASSIS, S. G. Labirinto de espelhos: formação da autoestima na infância e na adolescência. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2004. COSTA, P. Escala de Autoconceito no Trabalho: Construção e Validação. Psicologia: Teoria e Pesquisa. jan./abr. 2002, v. 18 n. 1, p. 75-81. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n1/a09v18n1.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2016. EMILIO, E.; MARTINS, M. Resiliência e autoconceito profissional em policiais militares: um estudo descritivo. Mudanças – Psicologia da Saúde, 20 (1-2), Jan-Dez 2012, 23-29p. Disponível em: <file:///C:/Users/ Admin/Desktop/ARTIGOS%20AUTOCONCEITO%20NO%20TRABALHO/ resili%C3%AAncia%20e%20autoconceito%20profissional%20em%20 policiais.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2016. GONDIM, S. et al. Gênero, autoconceito e trabalho na perspectiva de brasileiros e angolanos. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, 2013, vol. 16, n. 2, p. 153-165. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/cpst/ article/viewFile/77827/81805 – acesso em: 02 jan.16.
  • 27. 26 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 26SUMÁRIO INVITTI, C. Autoconceito de trabalhadores assediados moralmente no trabalho. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2012. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/ handle/123456789/100814/309676.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Acesso em: 2 jan. 2016. MEIRELES, M; CUSTÓDIO, M. R. Diferenças do autoconceito entre enfermeiros e portadores de estoma intestinal. Encontro Revista de Psicologia. v.14, n.20, 4 maio 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/ Admin/Desktop/ARTIGOS%20AUTOCONCEITO%20NO%20TRABALHO/ diferen%C3%A7as%20do%20autoconceito%20entre%20enfermeiros%20 e....pdf – acesso em 02 jan.16. ROGERS, C. Tonar-se Pessoa. 5ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. SAMPIERE, HR; COLLADO, CF; LUCIO, MPB. Metodologia de Pesquisa. 5ª ed. Porto Alegre: penso, 2013. SANTOS, V. Autoconceito, gênero e trabalho: mulheres em profissões masculinas. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia - UFBA. Salvador, 2014. Disponível em: <http://www. pospsi.ufba.br/Vanda_Martins%20(Tese).pdf>. Acesso em: 2 jan. 2016. SERRA, A. O auto-conceito. Análise Psicológica (1988), 2 (VI): 101-110. Disponível em: <http://repositorio.ispa.pt/ bitstream/10400.12/2204/1/1988_2_101.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2016. SOUZA, M & PUENTE-PALACIOS. A influência do autoconceito profissional na satisfação com a equipe de trabalho. Estudos de Psicologia, Campinas, 28(3), 315-325, julho - setembro 2011. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/estpsi/v28n3/a03v28n3.pdf>. Acesso em: 2 jan. 2016. TAMAYO, A. Relação entre o auto-conceito e a avaliação percebida de um parceiro significativo. Arq. Bras. Psic, Rio de Janeiro, 37(1):88-96, jan./mar. 1985. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/abp/ article/viewFile/19178/17918>. Acesso em: 11 mar. 2016. TAMAYO, N.; ABBAD, G. Autoconceito Profissional e Suporte à Transferência e Impacto do Treinamento no Trabalho. RAC - Revista de Administração Contemporânea [online] 2006, 10 (julho-setembro). Disponível em: <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84010302>. Acesso em: 2 jan. 2016. VEIGA, F. Transgressão e autoconceito dos jovens na escola. Lisboa, Portugal: Fim de Século, 1995.
  • 28. CAPÍTULO 2 ANÁLISE COMPORTAMENTAL: COMO A LINGUAGEM CORPORAL PODE CONTRIBUIR NO AMBIENTE E SAÚDE João Batista de Oliveira Filho 2 Análisecomportamental: comoalinguagem corporalpodecontribuir noambienteesaúde JoãoBatistadeOliveiraFilho DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.27-42
  • 29. 28 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 28SUMÁRIO Resumo: O presente artigo consiste em um estudo de finalidade aplicada do tipo transversal, de caráter quantitativo, com perfil exploratório, realizado em pesquisa de campo na qual se levantaram dados por meio de um ques- tionário estruturado que abordou o perfil e o nível de conhecimento e a aplicabilidade da linguagem não verbal em seu ambiente de trabalho, tendo como objetivo analisar o conhecimento de profissionais de saúde sobre a interpretação da linguagem corporal e expressão das emoções pela face e a influência desse procedimento no cotidiano. Constatou-se que todos os participantes foram capazes de identificar, corretamente, a maior parte das expressões emocionais. Palavras-chave: Ambiente hospitalar; Comunicação não-verbal; Linguagem corporal
  • 30. 29 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 29SUMÁRIO Introdução O corpo e a face dos seres humanos estão sempre dela- tando o que se passa no universo subjetivo de cada um. Basta um pouco de atenção para poder perceber o extravasamento de ansie- dade pelo contínuo movimento dos dedos sobre a mesa de uma pessoa na sala de espera e a sensação de medo em outra andando apressadamente por uma rua escura tarde da noite. Claro que tais demonstrações de linguagem não verbal só podem ser bem deci- fradas ao estarem dentro de um cenário em que se crie um contexto. O ambiente hospitalar oferta um cenário único de observação no qual o usuário se apresenta quase sempre em uma forma fragi- lizada, fazendo com que emoções como medo, tristeza ou raiva possam surgir em seus mais diversos perfis. A expectativa (ou não) de um resultado positivo, a ansiedade criada pela moléstia que o aflige e o medo de um estado prolongado na doença, podem fazer surgir comportamentos, gestos, posturas e expressões faciais pertencentes a um vocabulário rico encontrável em uma unidade de saúde. De forma natural, as pessoas já utilizam o entendimento da linguagem corporal e das expressões faciais. Mesmo sem nenhum conhecimento técnico a respeito dessas possibilidades, quase todos os seres humanos sabem que um rosto sorridente significa exatamente o contrário de um rosto entristecido. Basta o olhar se deparar na face do outro com o formato dos lábios curvados com as pontas voltadas para cima ou para baixo para se ter uma ideia do que ocorre no universo subjetivo da pessoa. Esse perfil de conhecimento natural e espontâneo, fruto de uma memória filogenética, como demonstram Darwin (2009), Ekman (2007) e outros, está inserido na própria estrutura humana como espécie e como meio facilitador do processo comunicacional.
  • 31. 30 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 30SUMÁRIO Antes da aquisição da linguagem verbal, as expressões e os gestos, unidos aos grunhidos e gritos, eram a única forma de comunicar as intenções e estados emocionais. Não se trata de um processo de comunicação exclusivo dos primatas. Darwin (2009) apresenta as expressões das emoções em várias espécies além dos símios. Cães e gatos possuem um vasto repertório de signos posturais para interagirem uns com os outros e com seus respectivos donos. Muitos dos que possuem animais de estimação (estas espécies em particular) conseguem identificar várias necessidades de seus animais pela forma como eles apre- sentam seus movimentos, quase sempre como verdadeiros rituais que antecedem passeios, alimentação, necessidades fisiológicas, necessidade de carinho, entre outros. Alinguagemnãoverbalatravessatodooprocessodaevolução do ser humano como um apoio à comunicação com o grupo. Até hoje os primatas selvagens, macacos, se valem de gestos para informar intenções ao grupo. O zoólogo e autor Desmond M. (2006), em seu livro O Macaco Nu, apresenta vários tipos de exibição da linguagem corporal dos símios com diversas intenções. O autor cita, por exemplo, como os chimpanzés sinalizam, pela expressão corporal, que não são agressivos aos outros membros de sua própria espécie. Eles oferecem a mão como sinal de submissão; quase o mesmo movimento feito pelos humanos quando movimentam as mãos para se cumprimentarem. No caso dos chimpanzés, apenas um deles apresenta a mão e se propõe como submisso e não agressivo, tornando-a assim extremamente vulnerável às possíveis dentadas que podem ser desferidas pelo outro animal. Esse gesto tende a acalmar o outro animal de que está diante. Trata-se da utilização da linguagem corporal como meio de evitar atos violentos entre os indivíduos do grupo.
  • 32. 31 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 31SUMÁRIO Metodologia Esta pesquisa foi feita com quarenta profissionais de saúde que atuam diariamente no cuidado a pacientes internos que perma- necem por muito tempo deitados em seu leito, com a aplicação de questionário devidamente validado por experts doutores em psico- logia. Trata-se de um estudo de finalidade aplicada, caracterizado por ser do tipo transversal, de caráter quantitativo, com perfil exploratório, realizado por meio de pesquisa de campo com levantamento de dados por meio de um questionário de 21 perguntas que abordaram o perfil e nível de conhecimento dos pesquisados sobre a aplicabili- dade da linguagem não verbal em seu ambiente de trabalho. Pesquisa exploratória: o problema da linguagem não verbal no ambiente de saúde ainda não é amplamente estudado, por isso, se torna um campo rico em possíveis novas descobertas. O foco direcionado às posturas adotadas pelos pacientes nos leitos hospitalares é inédito e, portanto, inovador, o que qualifica ainda mais este estudo como exploratório. Existem conceitos promissores nesse imenso campo da comunicação não verbal, o que pode auxi- liar na elaboração de novos estudos. Não há dúvida quanto ao pequeno número de documentos encontrados no resultado da pesquisa sistemática realizada para este estudo, um dado relevante quanto a isso, pois, mesmo com descritores amplos, o número final foi de apenas 181 textos, dos quais somente 48 estavam de fato relacionados ao perfil da utili- zação da comunicação não verbal no ambiente da saúde. A ausência de informações científicas para um embasamento amplo torna ainda mais importante o aspecto exploratório. Isso pode alavancar novos estudos e possibilitar o crescimento da clarificação das relações comunicacionais entre os profissionais que atuam no ramo da saúde e seus pacientes.
  • 33. 32 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 32SUMÁRIO É importante lembrar que uma intervenção terapêutica bem-sucedida pode solucionar um problema, trazendo bem-estar para uma pessoa. Para isso, todas as informações devem chegar ao profissional para facilitar sua tomada de decisão. Dessa forma, os índices informacionais ofertados pela comunicação não verbal se tornam tão relevantes como a comunicação verbal e, muitas vezes, superior a ela. O caráter exploratório desse estudo busca evidenciar alguns elementos e dados qualitativos que possam ser utilizados por outros pesquisadores no futuro. Resultados/Discussão Este estudo tem por objetivo mostrar como os sinais não verbais podem ser úteis no cotidiano de um hospital. A atenção principal é voltada para o paciente interno, por vários dias, em uma postura deitada no leito hospitalar. Foram escolhidas instituições onde o período de internação fosse mais prolongado, um lugar onde o convívio diário fosse compartilhado por mais tempo e os pacientes permanecessem em seus leitos por longos períodos. O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar surge no Brasil com o objetivo de colocar o paciente em primeiro plano e tratá-lo como ser humano, com direitos a serem respeitados. A comunicação é o objeto de maior valor na interação entre os elementos envolvidos: o profissional e o paciente. Deve-se dar valor ao processo comunicacional para que não restem dúvidas de que o entendimento do que é dito pela linguagem verbal não deve ser prejudicado quando ocorrem incongruências entre as palavras e o que está sendo exposto pelos gestos ou posturas. Dúvidas podem gerar erros e os erros se transformarem em prejuízo terapêutico.
  • 34. 33 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 33SUMÁRIO O processo evolucionário manteve as emoções nos homens como forma de preservação da espécie. Elas são úteis para mobilizar recursos para fuga ou ataque, para sinalizar aos outros membros da espécie a necessidade de ajuda para acentuar as percepções diante de algum quadro em que são necessárias mais informações do ambiente, para tomar a decisão mais correta. O ser humano, segundo Ekman (2007), desde o tempo das cavernas, dialoga com seu semelhante muito mais pela linguagem corporal e expressões emocionais do que pela palavra propriamente dita. As emoções transbordam em gestos, linguagem corporal, nas expressões faciais e ainda, com o passar dos anos, deixam marcas de sua presença nas rugas de expressão. Assim, em um ambiente hospitalar, os sinais emitidos pelo corpo do interno podem servir como índices de informações para auxiliar o profissional de saúde na escolha de sua abordagem comunicacional. As chamadas rugas de expressão, nos dizeres de Oliveira (2012), podem indicar as emoções mais vividas pela pessoa durante os anos, pois as contínuas manifestações das expressões também acabam por deixar marcas na face. A inserção da análise comportamental como método de avaliação do perfil emocional das pessoas, logo no primeiro momento no atendimento de saúde, visando a ampliação dos recursos para melhor diagnóstico do sujeito/paciente, pode servir como recurso de apoio ao profissional de saúde que depende da otimização de seu tempo. A alta demanda enfrentada diariamente no sistema de saúde pública necessita cada vez mais de meca- nismos que possam acelerar o processo de triagem, por exemplo. Nos dias atuais, pode-se encontrar vários títulos publicados que direcionam a utilização da comunicação não verbal para o ambiente corporativo. Líderes, gestores e políticos são apresen- tados aos modelos mais corretos de movimentar o corpo quando
  • 35. 34 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 34SUMÁRIO falam para um grupo de pessoas. Vendedores podem tirar proveito desse conhecimento com a intenção de facilitar suas vendas diaria- mente. No entanto, o lugar onde o humano mais necessita de cuidados ainda carece de publicações que possam facilitar o trân- sito de informações entre pacientes e seus cuidadores. Nas instituições de saúde, assim como na vida, é relevante que as relações humanas sejam saudáveis, permeadas por trocas que permitam uma boa expressão emocional nas quais caibam movimentos de aproximação e de acolhimento. Lançada em 2003, a Política Nacional de Humanização (PHN) estimula uma relação mais pessoal com o ser humano, que é sociável por natureza e pode apresentar uma série de problemas de ordem emocional e compor- tamental quando não consegue se comunicar bem. Identificar pelas expressões faciais e linguagem corporal as emoções mais presentes no sujeito e corretamente alocá-lo no melhor perfil de tratamento possível pode ser mais um elemento importante para o retorno da saúde plena. Em todo o tempo, as pessoas estão interagindo umas com as outras, mas o profissional de saúde deve ter uma atenção toda espe- cial, uma vez que sua relação com o paciente, mão inversa da leitura do sujeito à sua frente, pode implicar um retorno nas informações. O desenvolvimento da compreensão do outro, identificando seu perfil emocional e podendo relacionar isso às funções de uma unidade hospitalar, pode vir a ser um dos fatores mais importantes para um bom relacionamento interpessoal, pois quando se compre- ende que as pessoas são diferentes de nós, que não precisamos ter sempre razão, que as pessoas têm problemas tanto quanto nós, que importância é uma questão valorativa, que quando conhe- cemos nossas limitações e dificuldades podemos inferir que os outros também têm limitações e dificuldades, então, avaliar em vez de julgar fica muito mais fácil.
  • 36. 35 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 35SUMÁRIO Atualmente, o atendimento nos ambientes da saúde necessita colher o máximo de informações possível para a melhor avaliação dos usuários. Nesse universo, novas ferramentas podem ser criadas a partir desta pesquisa com enfoque na análise comportamental voltada diretamente para ajudar ao profissional de saúde que parti- cipa deste contato com o sujeito/paciente. Para esses profissionais, pode ser a incorporação de mais um instrumento aos já existentes em sua análise clínica, que pode ser usada na observação do usuário durante todos os momentos de interação. Durante esse processo, o profissional, após breve apresentação aos conceitos da análise comportamental, pode ter uma observação mais apurada de detalhes expostos, mas não ditos. Estar atento a esses fatores e, principalmente, ao estado emocional, pode dotar o profissional de saúde de recursos mais refinados que irão possibilitar um apanhado apurado de informa- ções sobre o sujeito/paciente. Por intermédio desta pesquisa, pretende-se investigar a utili- zação do recurso da análise comportamental na observação da linguagem corporal dos pacientes deitados em seu leito para ampliar as possibilidades de extrair as melhores informações possíveis de sujeito/paciente e potencializar o processo terapêutico, dando ao profissional de saúde mais uma ferramenta no seu instrumental de acompanhamento clínico. Sem a pretensão de ser finalista, este estudo exploratório busca encontrar elementos que possam incentivar novas pesquisas nesta área específica do conhecimento humano. Todo e qualquer elemento que, somando aos já existentes, possa agregar valores ao momento terapêutico deve ser valorizado. O humano, como ser acometido de uma enfermidade, muitas vezes se perde no entendi- mento ou compreensão do que está sendo colocado pela comuni- cação verbal.
  • 37. 36 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 36SUMÁRIO Ao que se refere às seis emoções básicas apresentadas aos profissionais no questionário para seu reconhecimento, não ocorreram grandes diferenças de identificação. O nível de acerto alto comprova a universalidade destas expressões faciais – raiva, medo, alegria, tris- teza, espanto e nojo. As emoções básicas raiva e tristeza, por exemplo, tiveram 100% de acerto. Este fenômeno deve suceder por relacionar-se às expressões mais vistas por esses profissionais no seu trabalho ao lidar com pacientes com transtornos de humor e adictos. Neste ponto, a linguagem corporal e as expressões faciais deixam de ser apenas úteis e passam a ser fundamentais para a manutenção de um processo comunicacional entre as partes no ambiente hospitalar. Mesmo que pequeno, o entendimento dos signos não verbais pode levar o cuidador a tomar decisões asser- tivas que minimizem o estado de dor e sofrimento em que seu paciente se encontra. Trata-se de municiar os cuidadores de mais uma ferra- menta para o arsenal de conhecimentos adquiridos no lidar coti- diano. Outra possibilidade é a inserção dessas informações ainda no momento de formação do profissional de saúde para que ele chegue às suas funções com mais preparo, no que diz respeito ao entendimento dos sinais que podem ser emitidos tanto pela face quanto pelo corpo do paciente no hospital. Ao ser analisado o objetivo específico, que foca a questão de o tempo de serviço ou faixa etária do profissional causar alteração na percepção da linguagem não verbal, uma conclusão definitiva não foi possível por causa do pequeno número de elementos cons- tantes no universo pesquisado com grande período de atividade laboral. No entanto, o índice de assertividade desses profissionais, com maior tempo de atividade ou faixa etária, foi excelente, demons- trando que, quanto maior o tempo de serviço ou idade, capacidade de percepção dos sinais emitidos pelo corpo se amplia.
  • 38. 37 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 37SUMÁRIO Mesmo nos primeiros momentos de triagem, este conhe- cimento pode ter seu valor destacado para minimizar o tempo de espera daqueles usuários que, pela postura e expressões faciais, demonstram mais necessidade de ações terapêuticas iniciais. O alívio da dor por meio de intervenções promovidas pelos profissio- nais de saúde poderá ser direcionado para os que demonstram maior grau de sofrimento, podendo ser percebido sem a necessi- dade de uma anamnese mais profunda. A hipótese deste estudo foi confirmada, já que a pesquisa comprova que o conhecimento de análise comportamental agrega valor ao instrumental do profissional de saúde para melhor atender ao paciente acamado, por tornar mais fácil o entendimento de suas demandas subjetivas não expressas em sua totalidade pela linguagem verbal. Dessa forma, este estudo apresenta a possibili- dade de existir um encontro salutar da prática terapêutica em hospi- tais e clínicas e do conhecimento da análise comportamental de uma forma ampla. Conclusão O objetivo geral deste estudo foi alcançado, uma vez que fora possível verificar não só a existência de um bom nível de conheci- mento natural entre os profissionais cuja capacidade de reconhe- cimento de expressões faciais básicas pôde ser avaliada, como também o interesse pelo tema. Muitos profissionais já utilizam, de forma espontânea, suas percepções da linguagem não verbal para tomar algumas decisões nas ações terapêuticas no processo cotidiano. Já existem conhecimentos em prática nas unidades pesquisadas, tornando-se desnecessários grandes esforços em treinamentos para a utilização da linguagem não verbal de forma cotidiana como ferramenta no instrumental terapêutico.
  • 39. 38 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 38SUMÁRIO O objetivo específico de identificar o conhecimento de profis- sionais de saúde sobre a interpretação da linguagem corporal do paciente acamado e expressão das emoções pela face foi alcan- çado uma vez que a grande maioria conseguiu relatar a existência de uma observação desses sinais e ações terapêuticas efetivadas muitas vezes com base nesses sinais. Assim, também se comprovou o objetivo específico que consistia em analisar o conhecimento de profissionais de saúde sobre a interpretação da linguagem corporal e expressão das emoções pela face e também a influência desse procedimento no cotidiano, já que, como citado, ações foram feitas com base no entendimento da linguagem não verbal mesmo que ainda não exista um protocolo oficial da instituição para esse perfil de atuação. Por esse mesmo prisma, também se comprovou outro obje- tivo específico que consistia em avaliar a influência que o proce- dimento da interpretação da linguagem corporal e expressão das emoções pela face pode criar, para ajudar no cotidiano do ambiente de saúde. A experiência em lidar com os pacientes no dia a dia, com os erros e acertos comunicacionais pode ter desenvolvido um nível de conhecimento mais apurado nessas pessoas, no entendimento da linguagem não verbal. Assim, por intermédio deste estudo, foi possível perceber que esses atributos já existem, mesmo de forma inconsciente nos profissionais. Um protocolo, como o que inicialmente apresentamos com cinco posturas sendo o resultado dessa pesquisa, pode funcionar como um dicionário que traduz as expressões faciais e corporais ao entendimento do profissional de saúde, para que ele possa decidir com velocidade qual a melhor intervenção a ser feita em prol do paciente à sua frente. Sendo certo pensar que mais estudos seriam úteis para dispormos de outras posições e suas indicações de estado do paciente.
  • 40. 39 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 39SUMÁRIO Muitas publicações existem e estudos continuam sendo realizados em todo o mundo, realçando o valor dessa abordagem. Esperamos que este trabalho possa incentivar novos pesquisadores a ter um olhar científico e trazer conhecimentos úteis no que tange ao lidar com seres humanos que, por um motivo ou outro, possuem dificuldade de se expressarem na forma verbal. Um elemento simples como este quadro com figuras dos resultados apontados nessa pesquisa pode ser de grande utilidade como apoio aos profissionais que atuam no primeiro contato com o paciente no hospital. Perceber o nível de desconforto ou dor que o paciente pode estar sentindo, sem ao menos fazer uma pergunta verbal, aumenta a possibilidade de assertividade e alívio do sofri- mento do usuário. Poucas horas dedicadas a um treinamento focado na comu- nicação não verbal nas instituições de saúde podem criar uma verdadeira revolução na velocidade com que os procedimentos iniciais ocorrem na triagem. Ampliar o nível de conforto e bem-estar com maior velocidade de ações terapêuticas direcionadas aos que mais precisam é prover qualidade no atendimento. O reflexo disso deve ser percebido em um processo de recuperação mais rápido e na desospitalização. Assim, o sistema ganha em produtividade, mantendo um excelente nível de qualidade no atendimento. Nem sempre a tecnologia que pode prover resultados está retida em modernos equipamentos de última geração e altos custos. O mais valioso bem de qualquer instituição de saúde são os seus profissionais que, bem orientados e treinados, podem causar toda a diferença no atendimento aos usuários. Os gestores devem incluir no briefing diário um item que destaque, todos os dias, uma atenção especial aos gestos e expres- sões. Somente isso poderia trazer um aumento na eficácia das
  • 41. 40 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 40SUMÁRIO ações dos agentes de saúde. Protocolos de ações devidamente estudados também podem ser incorporados na detecção de deter- minados sinais ou posturas emitidas pelos usuários. Igualmente, os profissionais podem ser orientados a uma maior atenção às próprias posturas diante dos pacientes para evitar conflito no entendimento do conteúdo das mensagens verbais e transferir mais confiança e afeto. Não há nada que se possa perder ao fazer um investimento para a maior compreensão da linguagem não verbal. Qualquer novo conhecimento nessa área será útil em toda interação em que estiver presente o ser humano se comunicando com outro ser humano. O ambiente de saúde é um laboratório constante em busca de soluções para prover bem-estar aos seus usuários e aos elementos que compõem seu corpo laboral. Dessa maneira, pensar em formas de colocar mais instrumental válido a serviço da melhor qualidade no atendimento deve ser sempre bem-vindo ao sistema em todos os seus níveis de contato com a população. Conclui-se que muito pode contribuir para o ambiente hospi- talar já que o reconhecimento da importância de obter mais informa- ções sobre a comunicação não verbal pelos profissionais de saúde foi notadamente registrado neste trabalho. Por isso, deve-se investir em mais atenção dos gestores das unidades de atendimento em relação à criação de um protocolo de atendimento com foco na comunicação não verbal. Referências DARWIN. Charles. A expressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. EKMAN, Paul. A Linguagem das Emoções. São Paulo: Lua de Papel, 2011. _____. Emotions revealed. New York: Holt Paperbacks, 2007.
  • 42. 41 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 41SUMÁRIO MORRIS, Desmond. Bodytalk: a world guide to gestures. Londres: Jonathan Cape, 1994. _____. O macaco nu um estudo do animal humano. 16. ed. Rio de Janeiro: Editora Record. 2006. OLIVEIRA, J. Saiba quem está à sua frente: Análise comportamental pelas expressões faciais e corporais. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2012. PACHERIE, E. Mímica Facial. Biblioteca Mente e Cérebro: O desafio das emoções. n° 5. p. 41-51. São Paulo: Duetto Editorial, 2013. PINTO, B. et al. Diferenças de gênero entre universitários no reconhecimento de expressões faciais emocionais. Av. Psicol. Latinoam. v. 31 n.1 Bogotá jan./abr. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/ scielo.php?pid=S1794-47242013000100017&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 jan. 2016. RAMOS, A.; AMARAL, F. A comunicação não-verbal na área da saúde. São Paulo, SP, Revista CEFAC: Atualização Cientifica em Fonoaudiologia e Educação 14.1, p. 164-70, 2012. Disponível em: <http://bit.ly/1RIGpRu>. Acesso em: 25 jan. 2016. REBOUÇAS, C. et al. Validação de modelo de comunicação não verbal para a consulta de enfermagem a pacientes cegos. Fortaleza, CE, Revista de Enfermagem do Nordeste, 13(1): p. 125-39, 2012. Disponível em: <http://www.revistarene.ufc.br/revista/index.php/revista/article/ view/24/20>. Acesso em: 18 jan. 2016. RESENDE, R. et al. Expressões corporais no cuidado: uma contribuição à Comunicação da Enfermagem. Brasília, DF, Revista brasileira de enfermagem, 2015, v. 68, maio/jun. p. 490, 490-6. Disponível em: <http:// www.scielo.br/pdf/reben/v68n3/0034-7167-reben-68-03-0490.pdf> Acesso em: 11 jan. 2016. SALLES, M.; BARROS, S., Transformações na atenção em saúde mental e na vida cotidiana de usuários: do hospital psiquiátrico ao Centro de Atenção Psicossocial. Rio de Janeiro. Saúde em Debate, v. 37, n. 97, p. 324-335, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sdeb/v37n97/ v37n97a14.pdf> Acesso em: 7 fev. 2016. SHARON, S.; Seu corpo fala no trabalho: conquiste seu espaço, crie relacionamentos, inspire e influencie pessoas. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012.
  • 43. 42 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 42SUMÁRIO SILVA, J.; SILVA, M. Expressões faciais e emoções humanas: levantamento bibliográfico. Brasília, DF, Brasil. Revista Brasileira de Enfermagem, v. 48, n. 2, p. 180-7, 1995. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/ v48n2/v48n2a13.pdf>. Acesso em: 26 jan. 2016. SILVA, L. et al. Comunicação não-verbal: reflexões acerca da linguagem corporal. Ribeirão Preto, SP. Rev. latino-am. enfermagem, v. 8, n. 4, p. 52-58, 2000. Disponível em: <http://bit.ly/1K6W2jp>. Acesso em: 25 jan. 2016. SILVIA, M. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. São Paulo: Edições Loyola, 2002. _____. Aspectos gerais da construção de um programa sobre para enfermeiros. Ribeirão Preto - SP, Revista Latino Americana de Enfermagem, v. 4 - n. especial, p. 25-37, 1996. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ rlae/v4nspe/v4nea04.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2016. SOUZA, A.; SARAN, D. A Comunicação como ferramenta de apoio a pacientes terminais. Dourados, MS, Comunicação & Mercado/UNIGRAN, v. 1, n. 3, p. 7-13, 2012. Disponível em: <http://www.unigran.br/mercado/ paginas/arquivos/edicoes/3/edicao_completa.pdf#page=7>. Acesso em: 31 jan. 2016. SOUZA, R.; ARCURI E. Estratégias de comunicação da Equipe de Enfermagem na afasia decorrente de acidente vascular encefálico. São Paulo. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 2014; 48(2): p. 292-8. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v48n2/pt_0080-6234- reeusp-48-02-292.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2016. SPILLLER, E.; SENNA, A.; SANTOS, J.; VILAR, J. Gestão dos serviços em Saúde. Rio de Janeiro: Publicações FGV Management, 2010. WERLANG, S. et al. Comunicação não verbal do paciente submetido à cirurgia cardíaca: do acordar da anestesia à extubação. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre, RS, dez 2008; 29(4):551-6. Disponível em: <http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/ view/7625/4680>. Acesso em: 10 jan. 2016
  • 44. CAPÍTULO 3 ESTRESSE EM PAIS/RESPONSÁVEIS DE CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA Manuela Gomes Rangel de Paula 3 Estresseem pais/responsáveis decriançascom TranstornodeEspectroAutista ManuelaGomesRangeldePaula DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.43-57
  • 45. 44 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 44SUMÁRIO Resumo: Este trabalho tem como objetivo relatar como os pais de crianças com Transtorno do espectro autista (TEA) reagem ao receber o diagnóstico do filho (a) e como eles lidam com a realidade desse filho(a) buscando instru- mentalização adequada: seja na indicação médica, educativa e na rotina doméstica. Desta forma, de acordo com a pesquisa realizada, foi possível observar a necessidade real de um acolhimento a esses pais/responsáveis, por precisarem da atenção de um profissional que promova auxilio para lidar com todas as questões decorrentes de se ter uma criança com TEA em casa, estando expostos e suscetíveis a níveis de elevado estresse. Palavras-chave: Autismo; Criança autista; Família.
  • 46. 45 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 45SUMÁRIO Introdução O autismo é um transtorno que causa grande desconforto para os pais e/ou responsáveis por uma criança, à medida que ainda é desconhecida a sua origem. Com isso, a família passa por várias peregrinações médicas até que se chegue a um diagnóstico e que se trace um tratamento adequado, vindo assim ao longo do tempo, a minimizar os sintomas. Sugerimos que este desconhecido associado aos compor- tamentos estereotipados e os atrasos no desenvolvimento assim como os inúmeros tratamentos solicitados pela equipe de saúde, pode tornar a vida desta mãe, porque é ela, em sua maioria, que assume a responsabilidade dos cuidados diários e da rotina tera- pêutica estressante. Partimos do princípio de que a influência dos aspectos ambientais no desenvolvimento humano e a participação fami- liar são fundamentais para o desenvolvimento da criança. Ao se destacar a criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA) esta participação é fundamental. O TEA, como hoje é nomeado, é um transtorno do desenvol- vimento que pode ser observado e identificado na primeira infância. Apesar de ainda não serem conhecidos os mecanismos exatos que desencadeiam este espectro, o autismo afeta profundamente a forma como o indivíduo comunica e interage com o meio ambiente, requerendo, assim, uma adaptação às necessidades específicas de cada indivíduo e um cuidado contínuo por parte de seus pais e/ou responsáveis (SCHIMIDT; BOSA, 2003). As pessoas com o espectro autista têm déficits no processa- mento da informação que afetam a percepção e a compreensão do mundo ao seu redor, limitando a capacidade para compreenderem
  • 47. 46 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 46SUMÁRIO os pensamentos dos outros, suas intenções e suas emoções. Outra área deficitária é a função executiva que afeta as capacidades de planejar e organizar. A presença destes problemas neurocognitivos explica um pouco o porquê destes indivíduos se ocuparem de ativi- dades restritas e repetitivas como forma de lidar com o ambiente social, e que para eles, muitas vezes, é visto como um ambiente de difícil entendimento e compreensão (SCHIMIDT; BOSA, 2003). O TEA é classificado como um transtorno invasivo do desen- volvimento que engloba médias e graves dificuldades ao longo da vida nas habilidades sociais e comunicativas (além das que são atri- buídas ao atraso global do desenvolvimento) e, também, comporta- mentos e interesses limitados e repetitivos. Os enquadramentos para diagnósticos mais utilizados são CID-10 e DSM-V. Cabe ressaltar que as identificações da sintomatologia nestas áreas acontecem antes da idade de 36 meses. Constata-se nas referências bibliográ- ficas consultadas que, de fato, os relatos sobre a preocupação dos pais em relação ao comportamento social e às brincadeiras de seus filhos datam dos primeiros dois anos de vida. Estima-se que o autismo atinge 1% da população, 70 milhões de pessoas no mundo conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Destes, 2 milhões estão no Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2014). Com todas essas informações e dúvidas que as autoras deste trabalho apresentam ao mesmo tempo com relação ao Espectro Autista e, observando que os pais de crianças autistas apresentam um ritmo de vida mais acelerado, se comparado com as das famílias com crianças sem espectro. Esses pais vivem em constante estado de alerta em relação a esta criança, pois sempre são chamados pela circunstância instalada a desenvolver a apren- dizagem e ao entendimento do que é o autismo e do que lhe está associado no desenvolvendo social, cognitivo e comportamental da criança autista (SCHIMIDT; BOSA, 2003).
  • 48. 47 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 47SUMÁRIO É observado, atualmente, que não é dada a devida atenção e suporte psicológico adequado aos pais de crianças com TEA. Muitas vezes nem o indivíduo com o diagnóstico do transtorno tem acesso aos atendimentos necessários para o seu desenvolvimento. Por muitas vezes quando essa criança consegue atendimento, já está com idade avançada para receber suas primeiras intervenções e os pais, na maioria das vezes, não encontram na rede um suporte psicológico adequado (FIAMENGHI Jr.; MESSA, 2007). Metodologia Esta pesquisa foi realizada a partir de consulta de base de dados online, com o intuito de enfatizar o estresse em pais ou responsáveis de crianças autistas, para este fim utilizamos uma pesquisa bibliográfica. Foram consultadas as seguintes bases de dados: SciELO e Pepsic publicados até o ano de 2017. Os unitermos de busca utilizados foram: estresse, crianças autistas, estresse em cuidadores de crianças autistas, pais de crianças autistas. Após a pesquisa foram lidos, analisados e selecionados 10 (dez) artigos. Conceito de Autismo O autismo é considerado uma síndrome comportamental de etiologias múltiplas (KLIN, 2006). Segundo o DSM IV-TR (2002), o Transtorno Autista, figura entre os Transtornos Globais do Desenvolvimento(TGD),tendocomocritériosdiagnósticosapresença de alterações qualitativas nas interações sociais recíprocas e nas modalidades de comunicação, bem como de interesses e atividades restritas, estereotipadas e repetitivas, se manifestando até os trinta e seis meses de idade. Também tem sido associado a problemas de
  • 49. 48 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 48SUMÁRIO comportamento, tais como a hiperatividade, impulsividade, agressivi- dade, comportamentos autodestrutivos, além de distúrbios de humor e de afeto (DSM IV-TR, 2002; GADIA & cols., 2004). Aproximadamente 60 a 70% dos indivíduos com autismo funcionam na faixa do retardo mental, ainda que esse percentual esteja sendo reduzido em estudos mais recentes. Esta mudança, provavelmente, reflete uma maior percepção sobre as manifesta- ções do autismo com alto grau de funcionamento, o que, por sua vez, parece conduzir a que um maior número de indivíduos seja diagnosticado com tal condição (KLIN, 2009). Segundo Bruno Bethelheim (2008), durante os anos 50 e 60 do século passado, houve muitas dúvidas sobre a sua etiologia e a crença mais comum era a de que o autismo seria causado por pais não emocionalmente responsivos a seus filhos (a hipótese da “mãe geladeira”). Tais noções foram sendo abandonadas, ainda podendo ser encontradas em partes da Europa e da América Latina. No início dos anos 60, um crescente corpo de evidências começou a se acumular, sugerindo que o autismo era um transtorno cerebral presente desde a infância, havendo apenas predominância no que se refere ao gênero e nenhuma outra especificidade quanto aos grupos sociais. Um marco na classificação deste transtorno ocorreu em 1978, quando Michael Rutter propôs uma definição do autismo com base em quatro critérios: 1) atraso e desvio sociais não só como função de retardo mental; 2) problemas de comunicação, novamente, não só em função de retardo mental associado; 3) comportamentos incomuns, tais como movimentos estereotipados e maneirismos; e 4) início antes dos 30 meses de idade. A definição de Rutter e o crescente corpo de trabalhos sobre o autismo influenciaram a definição desta condição no DSM-III, em 1980, quando o autismo pela primeira vez foi reconhecido e colocado em uma nova classe
  • 50. 49 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 49SUMÁRIO de transtornos, a saber: Transtornos Invasivos do Desenvolvimento (TIDs). O termo TID foi escolhido para refletir o fato de que múltiplas áreas de funcionamento são afetadas no autismo e nas condições a ele relacionadas (KLIN, 2006). O fechamento do diagnóstico de autismo ocorre antes dos três anos de idade. Na medida em que a linguagem não se desen- volve entre os 12 e os 18 meses, os pais normalmente começam a se preocupar, eventualmente há relatos dos pais dizendo que a criança parecia desenvolver alguma linguagem e, então, a fala permaneceu no mesmo patamar ou se perdeu. Quase sempre os pais relatam terem ficado preocupados ao redor de dois anos e inevitavelmente em torno dos três anos. Ainda que os pais possam estar preocupados pelo fato de a criança não escutar devido à falta de resposta às abordagens verbais, normalmente eles podem observar que a criança responde de forma dramática aos sons de alguns objetos como: um aspirador de pó, doces sendo desembrulhados entre outros. Ocasionalmente, os pais relatam, retrospectivamente, que a criança era “demasia- damente boa”, tinha poucas exigências e tinha pouco interesse na interação social. Isso contrasta, claramente, com as crianças com desenvolvimento normal para as quais a voz e a face humanas, assim como a interação social, estão entre as características mais interessantes e evidentes do mundo (KLIN, 2006). É possível que a criança autista desenvolva a fala e, esta, pode acontecer de diversas formas: eles podem fazer repetição do que lhes é dito (ecolalia imediata) ou o que escutam em seu ambiente, como por exemplo, pela TV (ecolalia tardia). A linguagem tende a ser menos flexível e pode ser não-recíproca em sua natu- reza, quando a criança produz uma linguagem sem ter a intenção de comunicação. Mesmo que a sintaxe e a morfologia da linguagem estejam relativamente preservadas, o vocabulário e as habilidades
  • 51. 50 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 50SUMÁRIO podem ter um desenvolvimento lento e aspectos dos usos sociais da linguagem são particularmente difíceis para os indivíduos com autismo. Portanto, o humor e o sarcasmo podem ser uma fonte de confusão, na medida em que a pessoa com autismo pode não conseguir apreciar e entender a intenção de comunicação do falante, resultando em uma interpretação completamente diferente da que foi expressa. Os déficits no brincar podem incluir a falha no desenvolvi- mento de padrões usuais de desempenho de papéis, ou brinca- deiras de faz-de-conta, simbólicas ou imaginativas. A criança com TEA pode explorar os aspectos não funcionais dos brinquedos (gosto ou cheiro) ou usar partes dos brinquedos para a auto estimu- lação (girar os pneus de um caminhão de brinquedo). Crianças com TEA apresentam um repertório notavelmente restrito de atividades e interesses nesses objetos, frequentemente elas possuem dificul- dade em tolerar alterações e variações em sua rotina (KLIN, 2006). Como observamos anteriormente, de 60 a 70% dos indiví- duos com autismo possuem retardo mental e cerca de metade deles enquadra-se na faixa de retardo mental leve e os demais na faixa de retardo mental de moderado a profundo. Segundo Klin (2006), o retardo mental não é simplesmente consequência de negativismo ou da falta de motivação. O perfil típico nos testes psicológicos é marcado por déficits significativos de raciocínio abstrato, formação de conceitos verbais e habilidades de integração, e nas tarefas que requerem certo grau de raciocínio verbal e compreensão social. Não é incomum, por exemplo, que as crianças com autismo tenham grande facilidade de decifrar letras e números, às vezes precoce- mente (hiperlexia), mesmo que a compreensão do que lêem esteja muito prejudicada (KLIN, 2009, p. 6). Distúrbios do sono e alimentares podem ser muito esgotantes na vida familiar, particularmente durante a infância. Crianças com
  • 52. 51 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 51SUMÁRIO autismo podem apresentar padrões erráticos de sono com insô- nias frequentes à noite por longos períodos. Distúrbios alimentares podem envolver aversão a certos alimentos, devido à textura, cor ou odor, ou insistência em comer somente uma pequena seleção de alimentos e recusa de provar alimentos novos. Crianças com TEA com um grau de funcionamento menor podem morder as mãos ou punhos muitas vezes, levando ao sangra- mento e a formações calosas (automutilações). O fato de golpear a cabeça, particularmente, nas que possuem um retardo mental mais grave ou profundo, pode tornar necessário o uso de capacetes ou outros dispositivos protetores. As crianças podem também cutucar excessivamente a pele, arrancar o cabelo, bater no peito ou golpe- ar-se. Existe uma percepção menor do perigo, o que, junto com a impulsividade, pode levar a ferimentos. Acessos de ira são comuns, particularmente em reação às exigências impostas, alterações na rotina ou eventos inesperados. A falta de compreensão ou a inca- pacidade de comunicar-se, ou a frustração total, podem, eventual- mente, levar a agressividade, e com isso esses indivíduos se tornam vítimas de piadas ou outras formas de preconceito (KLIN, 2006). Impacto do diagnóstico do Autismo nos pais Receber a notícia de que seu filho tem Autismo é algo de grande impacto emocional. Muitos não desejam filhos com problemas de desenvolvimento e cognitivo, pois os pais criam uma expectativa de que seus filhos nascerão sempre “perfeitos” e que um dia terão plena autonomia. A chegada de uma notícia que o seu filho(a) apresenta um transtorno costuma abalar as expectativas dos pais e da família, passando a criar uma perspectiva de que este filho(a) com TEA terá sempre que ser acompanhado e supervisio- nado em diversas funções, como, se vestir, brincar, estudar e comer.
  • 53. 52 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 52SUMÁRIO Algumas perguntas que norteiam os pensamentos dos pais; “Será sempre assim?” “Meu filho vai sofrer bullying?” “Não será compreendido?” “Como posso fazer para ajudar logo?” “Quando ele vai falar?” Estas perguntas muitas vezes chegam aos consultórios e fazem com que a ansiedade sempre esteja presente na relação da família com os profissionais médicos e técnicos (psicólogos, tera- peutas ocupacionais, fonoaudiólogos, pedagogos). Existem situa- ções em que a família não aceita o diagnóstico e passa a migrar para vários profissionais a fim de encontrar um que discorde e dê uma notícia melhor. Esta atitude faz com que a criança perca tempo precioso e que a melhora clínica seja postergada em virtude da demora em iniciar o atendimento, piorando o prognóstico e atra- sando o desenvolvimento desta criança (SCHMIDT; BOSA, 2003). Quando existe uma criança com deficiência na família, os trans- tornos familiares são inevitáveis, mas a capacidade de enfrentamento frente a estas ocorrências dependerá de múltiplos fatores, desde as crenças dos pais até os recursos da família em lidar com a deficiência. Os pais precisam ultrapassar as situações de crise provocada pela atipicidade comportamental do filho que apresenta o quadro do espectro autista no sentido de ser possível desenvolver e manter um relacionamento saudável e o mais normativo possível para que consigam assim uma maior funcionalidade e adaptabilidade nas relações entre os pares, familiares e com o próprio filho (NORA CAVACO, 2016, s/p.). Segundo Schmidt & Bosa (2003), o TEA pode gerar nos pais da criança sentimentos de baixa autoestima, culpa, perda de confiança no futuro, estresse conjugal, crises de ansiedade e pânico, problemas de sono e redução de renda familiar. No que se refere ao investimento no tratamento, esta família passa por diversas terapias, que nem sempre são disponibilizadas no Sistema Único de Saúde (SUS), e eventuais medicações além do fato de que um dos cônjuges normalmente reduz sua carga horária de trabalho ou pede demissão do trabalho para poder cuidar da criança.
  • 54. 53 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 53SUMÁRIO Os autores supracitados, também relatam que em nossa sociedade, ainda é comum a mulher ser a responsável pelos cuidados básicos dos filhos e, neste caso, não é exceção, são elas que mais perdem oportunidades profissionais e tendem a se comprometer mais com as necessidades desta criança. Muitas vezes, o marido a abandona ou se afasta das responsabilidades exigidas pelo filho especial o que redobra as demandas deste pelos cuidados maternos. Estudos revelam que um casamento sólido e solidário asso- ciado a compreensão da família em seu entorno fortalecem o rela- cionamento e tornam os tratamentos mais eficazes e duradouros para esta criança com Autismo. Estresse na família Pesquisas têm investigado a natureza dos eventos causa- dores de estresse e as características próprias da criança com autismo que exercem um impacto sobre os familiares (BOUMA; SCHWEITZER, 1990; SALOVIITA, ITÄLINNA; LEINONEN, 2003). Porém, devemos considerar as formas como os familiares lidam com o estresse, frente a situações decorrentes do quadro de autismo apresentado pelos seus filhos. Percebemos, porém, que são poucos os estudos a respeito da qualidade de vida dos fami- liares das crianças com autismo. A presença da criança autista tem probabilidade de modi- ficar as relações entre os familiares, uma vez que os sintomas do distúrbio desencadeiam elevados níveis de estresse nos membros da família. As relações sociais destas famílias ficam embaraçosas e/ou se reduzem, podendo até haver rupturas em seus vínculos sociais. Frequentemente, elas passam a ocupar uma posição
  • 55. 54 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 54SUMÁRIO inferior àquela que desfrutavam anteriormente na sociedade. Pais de autistas passam por períodos de estresse pela dificuldade de comunicação das crianças, do comportamento, do isolamento social nas atividades da vida diária e pela falta de entendimento pelo conjunto de pessoas que vivem na mesma sociedade (BARBOSA; FERNANDES, 2009). Segundo Fávero e Santos (2005), as famílias que se encon- tram em circunstâncias especiais, promotoras de mudanças nas atividades de vida diária e no funcionamento psicológico de seus membros, deparam-se com uma sobre carga de tarefas e exigências especiais que podem surgir em algumas situações potencialmente essas são responsáveis por induzir o estresse e tensão emocional. O estresse constitui-se como uma reação psicológica cujas fontes podem ser oriundas de eventos externos ou internos. De acordo com Lipp e Guevara (1994), o estresse pode provocar tanto sintomas físicos como psicológicos. Os possíveis efeitos psico- lógicos das reações ao estresse são: ansiedade, pânico, tensão, angústia, insônia, alienação, dificuldades interpessoais, dúvidas contra si próprio, preocupação excessiva, inabilidade de concen- tração em assuntos não relacionados com o estressor, inabili- dade de relaxar, tédio, ira, depressão e hipersensibilidade emotiva (FÁVERO; SANTOS, 2005). Existem três importantes fatores causadores do estresse nos pais de crianças com TEA que são: a pouca aceitação dos compor- tamentos característicos de um autista, pela sociedade e por outros membros da família, os cuidados necessários e a ausência de suporte social (BARBOSA; FERNANDES, 2009). Estes fatores estressores são desencadeados, muitas vezes, pela falta de conhe- cimento ou habilidade para lidar com o autista. Há também cuidados necessários para o desenvolvimento desses pais com profissionais especializados, professores treinados em escolas preparada para o
  • 56. 55 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 55SUMÁRIO atendimento e famílias orientadas para juntos conseguirem fornecer, ao mesmo tempo, suporte necessário para esta criança e serem canal de desenvolvimento dela. As características negativas do comportamento associadas às inabilidades da criança, frequente- mente, aumentam os níveis de estresse. Além disso, mostrar que os pais desejam e merecem ser tratados de forma sensível pelos profissionais que atendem seus filhos, devendo estes profissionais, de uma forma acolhedora e direta, demonstrar que estão etica- mente comprometidos com eles. Há um grande número de fatores de impacto que intensificam os níveis de estresse, sendo ele, a severidade dos casos, a dificul- dade de acesso aos serviços especiais de que necessitam e fatores econômicos e culturais. O recebimento ou não de suporte informal acaba por influenciar a qualidade de vida tanto do autista como de seus familiares (BARBOSA, 2009, p. 482). Frequentemente, a qualidade de vida dos cuidadores de autistas é moderada pelas condições socioeconômicas, pelo suporte social e características dos pais e das crianças. Por exemplo, o problema da criança em não dormir frequentemente causa exaustão nos pais, o que acaba influenciando seu desem- penho no trabalho (BARBOSA; FERNANDES, 2009). Quando a criança tem atendimentos com especialistas e suporte apropriado, as oportunidades de viver independentemente são maiores, assim como as situações de trabalho e relações sociais, minimizando os níveis de estresse dos pais (BARBOSA; FERNANDES, 2009). Conclusão Atualmente, tem sido crescente os estudos sobre o TEA, sendo bastante pesquisado e comentado por profissionais da área
  • 57. 56 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 56SUMÁRIO de educação e da saúde. Neste sentido, no decorrer dos atendi- mentos aos pais/responsáveis de crianças com o transtorno, obser- vou-se a necessidade de aprofundamento sobre a temática, devido ao desamparo e desespero que esses indivíduos sentem frente ao diagnóstico médico estabelecido. Desse modo, o objetivo proposto neste estudo, foi relatar como os pais de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) reagem ao receber o diagnóstico do filho(a) e como eles lidam com a realidade desse filho(a), buscando instrumentalização adequada: seja na indicação médica, educativa e na rotina doméstica. Nesta perspectiva, foi observado por meio de levanta- mento bibliográfico, que não há pesquisas dedicadas aos pais de crianças com TEA, e que também não é comum encontrar locais que ofereçam suporte psicológico a esses pais e/ou responsáveis, especificamente. Desta forma, na pesquisa bibliográfica há uma lacuna sobre o encaminhamento desses pais, por profissionais da saúde, para uma auxílio psicológico, ou ainda se os pais não procuram atendimento adequado por estarem esgotados. Portanto, frente à pesquisa realizada, foi possível observar a necessidade de um acolhimento dos pais/responsáveis, por isso os mesmos precisam de uma atenção de um profissional que sirva de auxílio para lidar com todas as questões que gira em torno de se ter uma criança com TEA em casa, estando expostos e suscetíveis a níveis de elevado estresse. Referências BARBOSA, Altemir José Gonçalves; OLIVEIRA, Larissa Dias de. Estresse e enfrentamento em pais de pessoas com necessidades especiais - Psicologia em Pesquisa – UFJF, julho-dezembro de 2008. Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1982-12472008000200005 Acesso em: 16 ago. 2017.
  • 58. 57 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 57SUMÁRIO BARBOSA Milene Rossi Pereira; FERNANDES Fernanda Dreux Miranda (2009). Qualidade de vida dos cuidadores de crianças com transtorno do espectro autístico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, v.14, n.4, p. 482-486, 2009. Disponível em: <http://producao.usp.br/ handle/BDPI/9167>. Acesso em 10 abr. 2018. BRASIL, Ministério da Saúde, DSM-IV. Disponível em: <http://www. psicosite.com.br/tra/ans/agorafobia.htm>. Acesso em: 16 ago. 2017. _____. Ministério da Saúde, DSM-V. Disponível em: <https://blogs.sapo.pt/ cloud/file/b37dfc58aad8cd477904b9bb2ba8a75b/obaudoeducador/2015/ DSM%20V.pdf>. Acesso: 16 ago. 2017. BETHELHEIM, Bruno. Autismo. Disponível em: Site: <https://psicologiapsi. wordpress.com/autismo> Acesso: 9 mar. 2018. FÁVERO Maria Ângela Bravo, SANTOS Manoel Antônio Autismo Infantil e Estresse Familiar: Uma Revisão Sistemática da Literatura. Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto. Ano: 2005. Disponível em <http://www.scielo.br/ pdf/prc/v18n3/a10v18n3> Acesso em 04 mar. 2018. FIAMENGHI Geraldo A. Jr & MESSA Alcione A. Pais, Filhos e Deficiência: Estudos Sobre as Relações Familiares - (Universidade Presbiteriana Mackenzie). Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414> ano 2007. Acesso em 20 fev. 2018. KLIN, Ami. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Revista Brasileira de psiquiatria. 2006 p.28. Disponível em: <http://www.scielo.br/ pdf/rbp/v28s1/a02v28s1/a02v8s1.pdf> Acesso em: 19 out. 2017. SCHIMIDT, Carlo; BOSA, Cleonice. A investigação do impacto do autismo na família: Revisão crítica da literatura e proposta de um novo modelo. (UFRGS), 2003. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/psicologia/article/ view/3229> Acesso em: 19 out. 2017. _____. Estresse e auto-eficácia em mães de pessoas com autismo. (UFRGS) 2007. Disponível em: <http://www.redalyc.org/ html/2290/229017529008> Acesso em: 22 nov. 2017. SCHMIDT, Carlo; DELL’AGLIO, Débora Dalbosco & Bosa, Cleonice Alves. Estratégias de Copingde Mães de Portadores de Autismo: Lidando com Dificuldades e com a Emoção (2007). Disponível em: <http:// www.scielo.br/scielo.php?pid=S010279722007000100016&script=sci_ abstract&tlng=pt> Acesso em 20 fev. 2018. SEMENSATO, Márcia Rejane; SCHMIDT, Carlo; BOSA, Cleonice Alves. Grupo de familiares de pessoas com autismo: relatos de experiências parentais. Aletheia 32, p. 183-194, maio/ago. 2010. Acesso em 20 fev. 2018.
  • 59. CAPÍTULO 4 A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO ESCOLAR NO DESENVOLVIMENTO NEUROPSICOLÓGICO DA CRIANÇA Larissa Vieira de Lima Gonçalves 4 Aimportânciadocontexto escolarnodesenvolvimento neuropsicológicodacriança LarissaVieiradeLimaGonçalves DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.58-83
  • 60. 59 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 59SUMÁRIO Resumo: O presente trabalho busca explicitar o desenvolvimento neuropsicológico da criança, na primeira infância, bem como a importância do contexto escolar para tal. Desta forma, este artigo traz uma breve revisão da lite- ratura, citando pesquisadores relevantes ao tema. No primeiro momento trará uma explanação referentes ao momento da primeira infância e sua importância para a criança. Em seguida, tratará sobre o desenvolvimento neuropsicológico, incluindo o desenvolvimento cerebral e as habilidades e funções desenvolvidas por ele. Ao final, este trabalho pretende refletir acerca do contexto escolar e sua influência nesta fase, bem como o brincar e a sua importância para o desenvolvimento. Palavras-chave: Neuropsicologia; Primeira infância; Brincar.
  • 61. 60 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 60SUMÁRIO Introdução A primeira infância relaciona-se a fase do desenvolvimento da criança entre 0 e 5 anos de vida completos (ou seja, até 5 anos e 11 meses), os quais são marcados pelo intenso desenvolvimento dela. Está é uma etapa determinante para o desenvolvimento das habilidades cognitivas, sociais, afetivas e psicológicas do ser humano. Nessa fase, os estudos vêm ressaltando a importância de oportunizar estímulos e espaços, para que possam desenvolver as habilidades e as competências. Dessa forma, A ciência nos mostra que o desenvolvimento da primeira infância é fundamental e marca uma criança para a vida toda. O desenvolvi- mento cerebral da criança pequena afeta sua saúde física e mental, sua capacidade para aprender e seu comportamento durante a infância e a vida adulta. A conexão e a estruturação de bilhões de neurônios nos primeiros anos estabelecem a base para o desenvol- vimento posterior da competência e das habilidades competitivas (YOUNG, 2010, p. 6). Nessa etapa da vida, há plasticidade cerebral excessivamente possibilitando uma grande capacidade de transformação cerebral. Isto é, as habilidades desenvolvidas nessa fase servirão como bases para o desenvolvimento das habilidades mais complexas posteriormente (COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016). Antes mesmo do nascimento, as crianças já vêm desenvol- vendo-se no período intrauterino de forma que, o sistema nervoso surge na 3ª a 4ª semana pós-fecundação (PINHEIRO, 2007). Após o nascimento e durante a infância, o sistema nervoso continua se desenvolvendo. Assim, o cérebro em desenvolvimento é plástico, capaz de reorganizar-se e transformar-se. Acerca do desenvolvi- mento mental do ser humano, Piaget (1976) identificou quatro está- gios desse desenvolvimento, sendo eles: sensório-motor (0 a 24 meses), pré-operatório (2 a 7 anos), operacional-concreto (7 a 12 anos) e operacional-formal (12 anos em diante). Cada estágio é um
  • 62. 61 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 61SUMÁRIO período que o ser humano passa, onde o pensamento e comporta- mento é caracterizado por uma forma específica de conhecimento e raciocínio. Para o enfoque abordado no trabalho, as etapas de desenvolvimento mental baseada nas ideias Piagetianas, referem-se à Sensório-motor e dá continuidade à Pré-Operatório, iniciando ao nascimento até os 7 anos. No primeiro, sensório-motor, as crianças necessitam do concreto, do real para compreender. Ou seja, ainda não foi desen- volvida a capacidade de representação mental. Assim, para a criança, só existe se estiver no campo visual dela. Logo, nesse período, a inteligência se mediante as percepções e as ações através do próprio corpo (FERREIRA, 2009). A criança constrói o conhecimento, a memória, através dos sentidos (tocando, aper- tando, levando na boca etc.). Ao final deste período, a criança já desenvolve a represen- tação mental e insere-se ao campo da linguagem, dando continui- dade assim ao próximo período, o Pré-operatório. A “entrada” para este período é marcada, principalmente, pela inserção ao campo da linguagem e ao sistema de significações. Isto é, a criança consegue criar representações mentais sem a necessidade do objeto da ação presente (FERREIRA, 2009). Assim, a criança adentra ao campo simbólico, como por exemplo, consegue fazer de contas que uma caneta é um microfone e a utiliza para cantar. Nessa fase, a criança também se encontra com o egocentrismo, ou seja, suas falas são voltadas para si, seus pensamentos são voltados para si. Ainda não há uma ideia de um mundo muito além do dela. Assim, a escola como um contexto social, sendo a segunda instituição social que a criança é inserida e reconhecida (ressal- tando que a primeira é a família), deve ser um espaço que possibi- lite e estimule o desenvolvimento da criança como um ser integral, de forma sadia. Para que seja realizado dessa maneira, existe uma
  • 63. 62 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 62SUMÁRIO proposta curricular nacional voltada para a educação infantil (BNCC) e esta entende a criança como um ser que observa, questiona, levanta hipóteses, conclui, constrói o conhecimento e se apropria do conhecimento através da interação com o mundo (MEC, 2017). Dessa forma, considera-se que a aprendizagem e o desenvolvi- mento das crianças na educação infantil devem estar estruturados nas interações e nas brincadeiras. De acordo com essa proposta, assegura-se à essas crianças o direito de conviver, brincar, explorar, expressar-se e conhecer-se (MEC, 2017). Sendo assim, é de suma importância que as crianças tenham possibilidades nos ambientes que vivem e interagem para desen- volver-se, neuropsicologicamente, dizendo, pois, “desperdiçar as possibilidades da primeira infância significa limitar o potencial indi- vidual, uma vez que nem sempre é possível recuperá-lo plenamente com investimentos posteriores” (COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016, p. 4). A partir do exposto acima, este artigo tem como objetivo analisar a importância do desenvolvimento neuropsicológico de crianças de 0 a 6 anos inseridas no contexto escolar. Para tanto, será feita uma breve revisão bibliográfica acerca do desenvolvi- mento neuropsicológico da criança, tendo em vista a influência e importância do contexto escolar atual. Desenvolvimento neuropsicológico de 0 a 6 anos Assim como Piaget, Wallon (1934 apud VASCONCELLOS, 2005) acredita que a criança passa por dois períodos do desenvol- vimento, os quais são: Período sensório-motor e Período pré-ope- racional. O primeiro, ocorre do 0 aos 2 anos de idade e este é marcado pelo desenvolvimento através dos reflexos. O segundo,
  • 64. 63 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 63SUMÁRIO refere-se ao desenvolvimento que ocorre dando início ao pensa- mento pré-lógico, entre 2 a 7 anos de idade. Desta forma, os perí- odos de desenvolvimento propostos por Wallon tem início na vida intrauterina, assim como Pinheiro (2007) também observou, poste- riormente, em seus estudos. Wallon acredita que o desenvolvimento nesse período da vida intrauterina se caracteriza por uma simbiose orgânica. Isto é, uma interação da mãe com o bebê, e do meio com o bebê, através da ligação biológica. Para o autor, após o nascimento a criança já se apresenta em outro período, denominado como simbiose afetiva, caracterizado por prevalecer a emoção. Ainda assim, a partir dos 3 anos de idade, ocorre o período do personalismo, isto é, momento de início da formação da personalidade, da constituição do eu, completando seu desenvolvimento por volta dos 6 anos (WALLON, 1934; 1956 apud VASCONCELLOS, 2005). Desde a vida intrauterina, já é iniciado o processo de desen- volvimento da criança. Para tanto, a partir da segunda/terceira semana após a fecundação, inicia-se o desenvolvimento do cérebro e este continuará durante a gestação, a primeira infância e até o início da idade adulta. Sendo assim, desde o período pré-natal até primeiros anos de vida, o cérebro passa por períodos determinantes em relação ao seu desenvolvimento (PINHEIRO, 2007). O desenvolvimento do sistema nervoso central inicia-se com um conjunto de células que se multiplicam por meio da mitose, formando assim, a placa neural. Em seguida, esta placa transfor- ma-se em sulco e, posteriormente, em tubo neural (PINHEIRO, 2007). Este tubo neural desenvolve-se e origina uma estrutura composta por três expansões, chamada de vesículas encefálicas, que formarão o prosencéfalo, o mesencéfalo e o rombencéfalo. A primeira estrutura, prosencéfalo, dará origem, posteriormente, ao telencéfalo e ao diencéfalo. O rombencéfalo, a terceira estrutura,
  • 65. 64 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 64SUMÁRIO dará origem ao metencéfalo e ao mielencéfalo. O mesencéfalo não sofre modificações (PINHEIRO, 2007). Posto isso, o telencéfalo, em seu desenvolvimento, originará o córtex cerebral e os núcleos da base; enquanto o metencéfalo originará o cerebelo e a ponte e o mielencéfalo originará o bulbo. Cabe ressaltar que o tubo neural continuará seu desenvolvimento até a sua transformação em medula espinhal (PINHEIRO, 2007). Concomitante ao desenvolvimento desse sistema nervoso central, ocorre também o desenvolvimento do sistema nervoso periférico, o qual possui estruturas importantes (gânglios e nervos) desenvol- vidas a partir das cristas neurais, se concluindo ao redor do tubo neural. Em resumo, o Sistema Nervoso Central (SNC) é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal, funcionando como um sistema de controle e de integração do sistema nervoso, atuando como receptor e produtor de impulsos. Pensando acerca das funções cognitivas desempenhadas pelo Sistema Nervoso (SN), Luria (1966 apud PIRES, 2010) acre- dita que as funções mais fundamentais podem até ser localizadas no SN, mas que os processos mentais atuam em conjuntos nos sistemas funcionais, situando-se em áreas diferentes do cérebro. Assim, de acordo com o objetivo proposto neste artigo, a seguir serão descritos as principais áreas e estruturas relacionadas aos processos cognitivos, passando assim pelo desenvolvimento neuropsicológico acerca da criança, dos 0 a 6 anos. Aocitarosprocessoscognitivos,éprecisodelimitarquesetrata das habilidades mentais relacionadas à capacidade de percepção, atenção, memória, linguagem, habilidades visuoconstrutivas, pensamento, raciocínio, funções executivas, entre outras. Devido as habilidades particulares de cada processo cognitivo, cada um deles possui uma origem e um desenvolvimento específico. Isto é, alguns processos cognitivos estão mais relacionados à determinadas estruturas corticais e subcorticais, as quais são organizadas no
  • 66. 65 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 65SUMÁRIO momento do nascimento, enquanto outras estruturas vão se desenvolvendo ao longo dos anos (PIRES, 2010). Para uma melhor observação, a Figura 1 apresenta uma visão geral das estruturas cerebrais. Já com relação aos processos cognitivos, a Figura 2 mostra a divisão através dos lobos. Figura 1: Encéfalo Fonte: http://www.sobiologia.com.br/figuras/Corpo/cerebro.jpg
  • 67. 66 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 66SUMÁRIO Figura 2: Funções do cérebro Fonte: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/12/funcoes�- -do-cerebro.html Os processos perceptivos e sensitivos são a base para a formação de todo o conhecimento, por meio dos órgãos dos sentidos e das células. Como ilustrado na Figura 3, o desenvolvimento dos sentidos ocorre por integração, dificultando determinar uma única área para tal função. Contudo, sabe-se que o sistema sensitivo tátil se localiza na pele e é a fronteira entre o corpo e o mundo exterior, desenvolvido no córtex somestésico, localizado no lobo parietal. O sistema gustativo encontra-se na boca e a língua responsa- biliza-se pela recepção, sensação e diferenciação do sabor, através
  • 68. 67 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 67SUMÁRIO de receptores sensoriais. Nesse sistema, a “leitura” da sensação ocorre no córtex gustativo, também localizado no lobo parietal. Já o sistema auditivo, possui receptores no ouvido, captando as ondas sonoras, percorrendo o caminho até ao córtex auditivo, localizado no lobo temporal (SERRANO, 2016). É importante ressaltar que esse sistema não é aprendido, mas ao contrário, nascemos já prontos para ouvir (com as exce- ções das deficiências). A literatura confirma que após o 5º mês (em média, vigésima semana) de gestação, o feto (sem nenhuma alte- ração ou atraso de desenvolvimento) já demonstra reações aos estí- mulos sonoros (NORTHEN e DOWNS, 1989 apud NUNES, 2009). Ainda sobre o desenvolvimento dos sentidos, o sistema olfa- tivo tem a função de captar as moléculas de odor encontradas no ar recebidas pelo nariz, acionando os neurônios sensoriais olfativos até o sistema límbico (centro das emoções) localizado no lobo temporal, possibilitando a capacidade de inalar odores (cheirar). Por último, dos sistemas sensoriais, há ainda o sistema visual, sendo este o mais complexo dos sistemas. Os receptores desse sistema são os olhos, que captam as ondas de luz, passando pela retina. No córtex visual (lobo occipital) ocorre a decodificação da informação visual (SERRANO, 2016).
  • 69. 68 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 68SUMÁRIO Figura 3: Sistema Sensorial Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/corpo-humano/sistema-sensorial Em consonância ao desenvolvimento perceptivo e sensitivo, ocorre também o desenvolvimento físico-motor. Isto é, nos primeiros meses de vida, o bebê ainda tem pouco controle do seu corpo, executando movimentos desordenados. Gradativamente, vai se desenvolvendo, iniciando com controle melhor dos membros supe- riores (DIAS, CORREIA e MARCELINO, 2013). Matta (2001 apud DIAS et al., 2013) afirma que nos primeiros dois meses, a criança aprende a fixar o pescoço e, após, aos 4 meses, consegue sentar-se com ajuda. Em seguida, surgem os movimentos com o corpo de raste- jar-se e engatinhar, por volta dos quatro a seis meses. Aos 7 meses já é capaz de sentar-se sozinha. E então por volta dos onze/doze meses consegue andar, com ajuda e progredindo com o tempo.
  • 70. 69 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 69SUMÁRIO Quando a criança aprende a andar, demonstra a capacidade também de libertar as mãos para outras descobertas, não mais as utilizando para apoio nesse movimento (DIAS et al., 2013). Após o segundo ano de vida, a criança já demonstra capacidade de correr, pular, saltar. Nesse período, desenvolve-se também as habili- dades acerca da motricidade fina, tais como: movimentos de pinça, preensão, registros escritos; assim como, desenvolve-se também as outras habilidades, como lateralidade, equilíbrio, coordenação, esquema corporal, orientação espaço-temporal. Cabe ressaltar que algumas habilidades, como a laterali- dade, só são desenvolvidas por completo aos 7 anos. A área cere- bral responsável pelo controle dos movimentos motores refere-se ao cerebelo que coordena as instruções para o controle motor e para manter o equilíbrio e a postura corporal. Contudo, o lobo frontal também se relaciona às instruções dos movimentos e execução dos atos motores voluntários (DOS SANTOS e COSTA, 2015). Velasco (1996) afirma e relaciona a importância da brincadeira para a ocor- rência do desenvolvimento psicomotor da criança, assim: O desenvolvimento psicomotor se processa de acordo com a matu- ração do sistema nervoso centra, assim a ação do brincar não deve ser considerada vazia e abstrata, pois é dessa forma que a criança capacita o organismo a responder aos estímulos oferecidos pelo ato de brincar, manipular a situação será uma maneira eficiente da criança ordenar os pensamentos e elaborar atos motores adequados a requisição (VELASCO, 1996, p. 27). Em relação ao desenvolvimento psicossocial da criança na primeira infância, muitas teorias envolvem este assunto, existindo diferentes perspectivas. Com isso, o autor Brazelton (2006 apud DIAS et al., 2013) afirma que a criança utiliza o sorriso como um meio para obter a atenção dos seus cuidadores, por volta dos 2 meses de vida. Bem como, sabe-se que o choro, em muitas situa- ções, também possui a mesma intenção. Nesses primeiros meses de vida, a criança possui grandes oscilações de humor, de forma
  • 71. 70 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 70SUMÁRIO que busca a todo momento pela atenção de seus cuidadores e sente-se como o “centro do universo”. Até os 2 anos, ainda não há a visão do mundo além dela, isto é, para ela só existe aquilo que está ao seu redor e que tudo ocorre ao seu favor. Neste período (mais precisamente com 1 ano de idade até 1 ano e meio), a criança ainda possui um apego exces- sivo aos seus cuidadores, demonstrando dificuldade e resistência nos momentos de separações dela com eles e nos momentos de ausência dos cuidadores. Aos 2 anos, percebe-se a criança em uma idade de conflito, conhecido até mesmo pela expressão terrible two (o terrível dois anos – a adolescência do bebê). Este é um período em que a criança testa o adulto cuidador e até mesmo o adulto professor, em diversos momentos, realizando birras, desobediência e até mesmo tendo comportamento agressivos. Tudo isso em busca de autonomia (que é o que as crianças mais querem em todo seu desenvolvimento), em que necessita a independência e ao mesmo tempo, afeto. Nessa idade, a criança também demonstra dificuldade em partilhar, costuma dizer com frequência “é meu” e algumas até não gostam de dividir os brinquedos, os objetos. Pode haver também nessa idade, dificuldade de relacionar-se com outras crianças, principalmente se for o início na escola. Ou seja, nesse período é comum que a criança tente lidar com essa dificuldade de sociali- zação e utilize a força física como mordida, tapas (DIAS et al., 2013). A partir dos 3 anos até o final da primeira infância, esses comportamentos diminuem e dão lugar a crianças mais obedientes, amáveis e afetuosas. É importante destacar que muitos desses comportamentosedesenvolvimentopsicossociaisestãorelacionadas ao sistema límbico, o qual refere-se às emoções e às memórias.
  • 72. 71 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 71SUMÁRIO Por fim, os escritos a seguir referem-se ao desenvolvimento cognitivo propriamente dito; em outras palavras, referem-se ao desen- volvimento dos processos atencionais, de memória, de linguagem, de habilidades visuoconstrutivas e das funções executivas. Nos primeiros anos de vida, até os 3, a criança desenvolve as habilidades cognitivas em razão da necessidade de comunicação e de tudo que possui ao seu redor. Sendo assim, aos 4 meses, a criança já é capaz de concentrar-se no que vê, utiliza bastante o sistema tátil para as experimentações. Rapidamente, ela também se torna capaz de usar e compreender os sinais emitidos através do corpo, como sorrisos e balbucios, como um meio de comunicação. Dessa forma, entende-se que a atenção é resultado de um funcionamento integrado de várias estruturas e sistemas. Assim, nos processos atencionais várias regiões cerebrais são ativadas, podendo ser o córtex parietal, o córtex pré-motor, o córtex fronto- parietal, o córtex pré-frontal, o sistema límbico, o tálamo e córtex frontal, entre outras ainda (PIRES, 2010). Sabe-se que as áreas frontais do cérebro estão mais implicadas na forma superior da atenção, como a atenção voluntária. Durante os primeiros anos de vida, a criança ainda possui um tempo curto de atenção sustentada. Aos 3 anos, as crianças possuem mais facilidade para manter-se atentas em atividades diri- gidas, conseguindo sustentar a sua atenção por um tempo maior. Aos 6 anos, acredita-se que já é possível estender ainda mais, a depender também da maneira que a atividade está sendo reali- zada. Sendo assim, o processo atencional tem grande relação ao interesse, ao prazer, principalmente nessa fase (PROJETO PELA PRIMEIRA INFÂNCIA, 2015). Em relação à memória, pode-se dizer que não há uma loca- lização cerebral específica, mas sim, diversas estruturas envolvidas
  • 73. 72 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 72SUMÁRIO e inter-relacionadas. Na região temporal, mais especificamente no hipocampo, ocorre a codificação e a formação de novas memórias. Acredita-se que o hipocampo é o responsável pela memória decla- rativa, enquanto a amígdala (outra estrutura cerebral), é respon- sável pela memória afetiva, dando uma ligação emocional ao que é aprendido e guardado (PIRES, 2010). A memória relaciona-se a função que possibilita e busca registrar os fatos. Assim, afirma Mineiro (2015) que seu desenvolvimento acontece durante a infância, tendo diferentes níveis e fases, com o passar dos anos a criança vai construindo um referencial interno que lhe possibilita o maior número de informações arquivadas (MINEIRO, 2015, s/p). Dessa forma, a memória desenvolve-se por meio da interação dos aspectos biológicos e sociais, e tem início na fase do pré-natal, passando por inúmeras modificações ao longo da vida. Em relação ao desenvolvimento da linguagem na primeira infância, sabe-se que ao nascer a criança ainda não entende o que lhe é dito, somente depois, aos poucos, é que começa dando sentido ao que escuta. Assim acontece também com a fala. No início a linguagem que a criança utiliza para expressar é através do corpo e dos movimentos. O desenvolvimento da linguagem divide-se em dois momentos, o primeiro é o pré-linguístico e o segundo o linguístico (PIRES, 2010). O primeiro momento ocorre quando o bebê utiliza sons para se comunicar, principalmente o choro. Enquanto no segundo, ocorre quando a criança já consegue utilizar palavras. Neste desenvolvimento, os bebês começam através das imitações dos sons que ouvem, realizando assim a ecolalia e, por volta dos 10 meses, os bebês imitam intencionalmente os sons que ouvem, ressaltando a importância da estimulação externa para o desenvolvimento da linguagem (SAMPAIO, 2003 apud PIRES, 2010). No primeiro ano, a criança consegue falar algumas palavras
  • 74. 73 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 73SUMÁRIO soltas, a partir dos 2 anos, ela já é hábil para elaborar frases com construção sintáticas mais simples, com 2 ou 3 palavras para se comunicar. Entre os 3 e os 6 anos a criança aumenta seu repertório linguístico, vocabular, utiliza frases mais bem construídas e busca expressar-se corretamente, considerando as normas gramaticais (PIAGET, 1971 apud VASCONCELLOS, 2005). Em relação ao processamento da fala e linguagem no cérebro, este ocorre em estruturas específicas e localizações determinadas. O cerebelo é o responsável pelo sequenciamento dos movimentos na fala, enquanto o córtex motor está relacionado aos atos motores da fonação, e os nervos motores relacionam-se ao controle da motricidade dos músculos faciais (PIRES, 2010). Há também a área de Broca, a qual relaciona-se no planejamento motor da linguagem, na articulação da fala. E a área de Wernicke, relaciona-se à compre- ensão da linguagem (PIRES, 2010). Quanto as habilidades visuoconstrutivas, estas referem-se à capacidade de manipular estímulos físicos ou de realizar certos movi- mentos, de forma a organizá-los. Isto é, a capacidade de executar movimentos ou gestos de maneira precisa, intencional, coordenada e organizada com objetivo de atingir a meta definida. Envolve a capa- cidade para realizar atos voluntários na prática, como vestir-se e escovar os dentes, até a realização de tarefas mais complexas. Para o desenvolvimento das habilidades de visuoconstrução, as regiões cerebrais envolvidas são as corticais posteriores, como córtex parietal e occipital. As habilidades de visuoconstrução também envolvem planejamento, motricidade, memória e atenção (PIRES, 2010). Posto isto, outro processo cognitivo a ser escrito abaixo, refe- re-se às funções executivas. Estas são um conjunto de habilidades que possibilitam o alcance de um objetivo de forma intencional e delibe- rada (COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016). Isto é, refere-se ao pensar antes de agir, ao solucionar problemas e
  • 75. 74 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 74SUMÁRIO desafios, organizar, diferentes atividades no dia, planejar e executar, concluir tarefas, flexibilidade, controlar impulsos, entre outras. O seu principal desenvolvimento ocorre justamente na primeira infância, dos 0 até os 6 anos e esse desenvolvimento depende fortemente da esti- mulação das experiências que a criança possa ter, sendo influenciado pela qualidade e pela quantidade destas. A região cerebral envolvida nas funções executivas refere-se ao córtex pré-frontal, o qual também é fundamental para o controle da atenção, do raciocínio e do comportamento (COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2016). O desenvolvimento das funções executivas na primeira infância será fundamental para a formação de habilidades superiores em idades posteriores. As funções executivas envolvem uma série de funções mais complexas, conforme citado anteriormente. Dentre várias, as três habilidades básicas fundamentais são a inibição de comporta- mento, a memória operacional e a flexibilidade cognitiva. A inibição de comportamento refere-se à capacidade de inibir uma resposta em razão de outras demandas. Um exemplo bem prático que ocorre no contexto escolar é quando uma criança consegue ter esse controle de não pegar da mão do amigo o brin- quedo dele. Através dessa inibição também é possível aprimorar a atenção, inibindo os estímulos externos. Já memória operacional é a capacidade de armazenamento de uma informação, por pouco tempo, mas juntamente ao processamento de outras informações. E por fim, a flexibilidade cognitiva relaciona-se à capacidade de alterar as perspectivas ou o foco da atenção, ajustando-se às exigências (PROJETO PELA PRIMEIRA INFÂNCIA, 2015). Na figura abaixo, as habilidades relacionadas à função execu- tiva foram descritas por faixa etária, para uma melhor compreensão:
  • 76. 75 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 75SUMÁRIO Figura 4: Habilidades relacionadas à função executiva Fonte: Center on the Developing Child, Harvard University, 2011 apud Projeto pela primeira infância, 2015. Assim sendo, pode-se dizer que não há padrões de desen- volvimento fidedignamente iguais para todas as crianças visto que cada criança é semelhante às outras crianças em alguns aspectos, mas é única em outros (PAPALIA et al., 2001, p. 9 apud Dias et al., 2013). Logo, esse processo de desenvolvimento é um processo pessoal, individual e único, influenciado diretamente pelo meio externo, como as interações sociais, culturais e pessoais.
  • 77. 76 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 76SUMÁRIO A importância do brincar para o desenvolvimento da criança O desenvolvimento do ser humano é um processo dinâmico e flexível, o qual ocorre devido a fatores genéticos, a fatores sociais (do meio) em que está inserido e, também, devido ao modo que acon- tecem as interações com esses fatores. Assim, pode-se dizer que o ser humano é um ser que possui o desenvolvimento biopsicossocial, isto é, depende de aspectos biológicos, psíquicos e sociais. Dessa maneira, estudos afirmam que para o desenvolvi- mento da visão (mais precisamente das áreas cerebrais que permi- tirão a visão) é imprescindível que um estímulo luminoso ocorra assim como ouvir e perceber os sons é imprescindível também para o desenvolvimento das áreas cerebrais da audição e da linguagem (COMITÊ CIENTÍFICO DO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2014). Nota-se assim que, nos primeiros anos de vida, para que ocorra o desenvolvimento pleno das estruturas cerebrais e suas funções, é de suma importância que haja estímulos, de forma que, se houver a ocorrência de estímulos negativos ou até mesmo a ausência de estímulos, rupturas e marcas podem ser características presentes no desenvolvimento. Outro aspecto importante para o desenvolvimento infantil, são habilidades desenvolvidas e adquiridas ao brincar. Isto é, através do brincar, desde os primeiros meses de vida, o bebê aprende a explorar os objetos através dos sistemas sensoriais, reage à estí- mulos lúdicos e ainda demonstra prazer nessas interações com as pessoas e/ou com os objetos (COMITÊ CIENTÍFICO DO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2014). A brincadeira pode ser vista como o palco para a experi- mentação uma vez que é o espaço de experienciar as habilidades cognitivas, sensoriais, motoras e emocionais. Nela, há várias áreas cerebrais que estão envolvidas, pois cada brincadeira estimular
  • 78. 77 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 77SUMÁRIO regiões diferentes, sendo que normalmente uma única brincadeira consegue estimular e desenvolver mais de uma área cerebral, agindo de forma integrada (HENNEMANN, 2018). Sendo assim, nota-se a importância do brincar para o desen- volvimento infantil, de tal forma que quando a criança está brincando ela expressa sua linguagem por meio de gestos e atitudes, externa as suas emoções (reconstruindo um mundo do seu jeito), vivencia tomada de decisões, experimenta novas situações, novos senti- mentos, constrói normas para si e para os outros, etc. (QUEIROZ et al., 2006; DOS SANTOS, COSTA, 2015; ROLIM et al., 2008). A brincadeira das crianças progride mais na primeira infância, sendo esta o berço do desenvolvimento e da brincadeira. A brinca- deira é fundamental para o desenvolvimento infantil à proporção que a criança pode transformar e produzir novos significados. Portanto, a atividade do brincar contribui na mudança da relação da criança com os objetos e com as pessoas (QUEIROZ et al., 2006) e como afirma o Ministério da Educação: Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde repre- sentar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas capaci- dades de socialização, por meio da interação e da utilização e expe- rimentação de regras e papéis sociais. (BRASIL, 1998, p. 22-23). Para Vygotsky (1991) a atividade do brincar é crucial para o desenvolvimento mental da criança, pois através da brincadeira os processos de simbolização e de representação permitirão a criança à chegada ao pensamento abstrato. A brincadeira, seja simbólica (com faz-de-contas) ou de regras (com jogos), não possui apenas a especificidade de diversão ou de passar tempo. Mas sim de desen- volvimento da criança, pois nela é possível estimular a atenção, a
  • 79. 78 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 78SUMÁRIO concentração, a criatividade, a abstração, a expressão dos senti- mentos, a linguagem, a formulação de estratégias, as habilidades motoras, a socialização. A influência do contexto escolar no desenvolvimento neuropsicológico O contexto escolar nessa faixa etária (0 a 6 anos) é a educação infantil, caracterizado por proporcionar o espaço e o momento de inte- ração da criança com o mundo, com as outras crianças, com o meio que a cerca e com ela mesma (VASCONCELLOS, 2005). Mostra-se assim a importância de acompanhar o desenvolvimento da criança desde o seu nascimento. Contextos sociais como a escola, oferecem às crianças oportunidades para seu desenvolvimento, que podem ser determinantes e fundamentais para tal (DIAS et al., 2013). Dessa maneira, Kyrillos e Sanches (2004, p.154 apud DOS SANTOS e COSTA, 2015, p.3) afirmam que “na Educação Infantil começamos a exploração intensa do mundo, das sensações, das emoções, ampliando estas vivências como movimentos mais elabo- rados”. Do mesmo modo, Dos Santos e Costa (2015) subscrevem que: A descoberta do corpo, das sensações, dos limites e movimentos é muito importante para a criança da Educação Infantil, pois nesta etapa ela está construindo a sua imagem corporal. Assim, ela precisa descobrir seu corpo e também o corpo do outros. As ativi- dades psicomotoras são essenciais para que ocorra essa cons- trução, pois brincando e explorando o espaço, ela se organiza tanto nos aspectos motor e sensorial, como emocional, ampliando seus conhecimentos de mundo (DOS SANTOS e COSTA, 2015, p. 3). Segundo Casarin e Ramos (2007), a escola tem como prin- cipal função contribuir para o desenvolvimento, estimulando e fazendo com que os alunos alcancem estágios cognitivos mais elevados, desenvolvam capacidades e habilidades. Assim sendo, estudos realizados por Soares (2013 apud COMITÊ CIENTÍFICO
  • 80. 79 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 79SUMÁRIO DO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA, 2014) demonstram os impactos positivos da educação infantil no desenvolvimento da criança, apontando para diferenciais definitivos em indicadores de desenvolvimento e de bem-estar futuros. Salienta-se que no contexto escolar, a criança deve participar de atividades que exijam mais do seu cérebro, pois cada local deve oferecer atividades distintas às crianças. Ou seja: O fato desenvolvimental importante é que estimular as mentes infantis, através de atividades não regularmente oferecidas em casa, reforça sua capacidade cognitivas de lidar com tarefas cada vez mais difíceis com as quais elas vão se deparar nas décadas futuras (SAVA, 1975, p. 14 apud MOYLES, 2002, p. 4). Percebe-se assim, a importância da escola e a influência que esta possui no desenvolvimento neuropsicológico da criança, pois nesse espaço é possibilitado à criança envolver-se, interagir e agir com o meio, com o outro e com si mesma para apreender o mundo que a rodeia e mais ainda apreendendo para além da imagem, com o concreto, com o real (DUARTE e BATISTA, 2015). Conclusão Os primeiros anos de vida da criança são importantíssimos para o seu desenvolvimento, pois sabe-se que desde a gestação inicia-se o desenvolvimento cerebral da criança e após o nasci- mento, este deve ser estimulado para o desenvolvimento das áreas e das suas funções correspondentes. O desenvolvimento das habilidades neuropsicológicas na primeira infância é a base para o desenvolvimento do ser humano, pensando nos próximos anos. É na primeira infância que a capacidade cerebral de reorganizar e reconstituir através da plasticidade é muito maior que em qualquer outra idade. Logo, na primeira infância é importante ter um olhar
  • 81. 80 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 80SUMÁRIO muito cuidadoso, cauteloso e estimular, para melhor promover o desenvolvimento neuropsicológico da criança. É na primeira infância que a criança desenvolverá caracte- rísticas, habilidades e aptidões essenciais para os demais anos de vida posteriores. Neste período, Piccinin (2012) afirma que: (...) a base para as aprendizagens humanas está na primeira infância. Entre o primeiro e o terceiro ano de idade a qualidade de vida de uma criança tem uma influência em seu desenvolvimento futuro e ainda pode ser determinante em relação às contribuições que, quando adulta, oferecerá a sociedade. Caso esta fase ainda inclua suporte para os demais desenvolvimentos, como habilidades motoras, adaptativas, crescimento cognitivo, aspecto sócio-emocio- nais e desenvolvimento da linguagem, as relações sociais e a vida escolar da criança serão bem sucedidas e fortalecidas (PICCININ, 2012 apud DUARTE e BATISTA, 2015, p. 294). Sendo assim, entende-se que o brincar é de suma impor- tância para o desenvolvimento neuropsicológico da criança e que através do brincar, há a reprogramação da estrutura neuronal e a possibilidade de desenvolvimento das habilidades importantes para a vida. Isto é, através do brincar, são desenvolvidas estratégias que exigem da criança a flexibilidade, o planejamento, a negociação, a linguagem, a criatividade, o controle, a regulação, o movimento, o pensamento, e o desenvolvimento das habilidades mentais (HENNEMANN, 2018). Cabe ressaltar que todos esses benefícios do brincar e o desenvolvimento que ele proporciona devem ser estimulados, mediados e reforçados no contexto escolar, uma vez que é a segunda instituição social com a qual a criança possui vínculos e que deve possibilitar o desenvolvimento desses processos neurop- sicológicos, bem como deve promover o cuidado, a atenção e a aprendizagem. Em suma, nota-se assim a importância e a neces- sidade de refletir sobre o contexto escolar e do brincar para o desenvolvimento neuropsicológico da criança, buscando auxiliar
  • 82. 81 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 81SUMÁRIO as crianças para que se desenvolvam de maneira plena durante a primeira infância. Referências BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998. CASARIN, Nelson Elinton Fonseca; RAMOS, Maria Beatriz Jacques. Família e aprendizagem escolar. Revista psicopedagógica, vol.27, n. 74. São Paulo, 2007. COMITÊ CIENTÍFICO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA. Funções executivas e desenvolvimento na primeira infância: habilidades necessárias para a autonomia. 1ed. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – FMCSV, 2016. _____. O Impacto do Desenvolvimento na Primeira Infância sobre a Aprendizagem. 1ed. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal – FMCSV, 2014. DIAS, Isabel Simões; Correia, Sonia; Marcelino, Patrícia. Desenvolvimento na primeira infância: características valorizadas pelos futuros educadores de infância. Revista Eletrônica de Educação, V.7, nº3, p.9-24. 2013. Disponível em: <http://www.reveduc.ufscar.br> Acesso em: DOS SANTOS, Alessandra; COSTA, Gisele M. Tonin da. A psicomotricidade na Educação Infantil: Um enfoque psicopedagógico. Revista de Educação do Ideau. Vol.10, nº22, Julho – Dezembro, 2015. DUARTE, B. da S.; BATISTA, C. V. M.. Desenvolvimento Infantil: Importância das Atividades Operacionais na Educação Infantil. XVI Semana da Educação, VI Simpósio de Pesquisa e Pós-graduação em Educação – Desafios atuais para a Educação. 2015. FERREIRA, L. C. Q.. Psicologia do desenvolvimento: desenvolvimento psíquico em Jean Piaget. II Encontro Científico e II Simpósio de Educação do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – Unisalesiano. Lins/ SP, 2009. Disponível em: <http://www.unisalesiano.edu.br/encontro2009/ trabalho/aceitos/RE36875218852.pdf> Acesso em: 20 jan. 2018. HENNEMANN, A. L. Desenvolvimento Infantil – Enfoques da Neurociência: O lúdico e o desenvolvimento infantil. Material disponibilizado pelo Grupo Educacional CENSUPEG. 2018. Disponível em: <http://materiais.censupeg. com.br/e-book-neuropsicopedagogia> Acesso em: 15 mar. 2018.
  • 83. 82 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 82SUMÁRIO MINEIRO, Denise. Desenvolvimento da Memória. Matéria publicada no Blog Denise Mineiro. Maio, 2015. Disponível em: <http://denisemineiro. com/desenvolvimento-da-memoria> Acessado em: 12 mar. 2018. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC). Base Nacional Comum Curricular (BNCC). MEC. Brasília, 2017. MOYLES, J. R. Só brincar? O papel do brincar na Educação Infantil. Trad. Maria Adriana Veronoses. Porto Alegre: Artmed Editora, 2002. NUNES, Patrícia Alexandra Oliveira. Experiência auditiva no meio intra- uterino. Trabalho desenvolvido no curso de Mestrado Integrado em Psicologia da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Portugal. 2009. Disponível em: <http://www. psicologia.pt/artigos/textos/TL0157.pdf> Acessado em: 12 mar. 2018. PIAGET, J.. A Equilibração das Estruturas Cognitivas – Problema Central do Desenvolvimento. Tradução: Marion Merlone Dos Santos Penna. Rio de Janeiro: Zahar Editores. 1976. PINHEIRO, M.. Fundamentos de Neuropsicologia – o desenvolvimento cerebral da criança. Vita et Sanitas, Trindade/GO, v.1, n.01, 2007. PIRES, Emmy Uehara; LANDEIRA-FERNANDEZ, Jesus. Ontogênese das funções cognitivas: uma abordagem neuropsicológica. 2010. Dissertação (Mestrado)-Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Psicologia, Rio de Janeiro, 2010 Disponível em: <http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/biblioteca/php/mostrateses. php?open=1&arqtese=0812172_10_Indice.html> Acesso em: PROJETO PELA PRIMEIRA INFÂNCIA. Conhecendo as funções do cérebro e o comportamento: atenção e o comportamento executivo. Material desenvolvido no projeto “Desenvolvimento de um programa de formação em desenvolvimento cognitivo para profissionais da educação infantil: o modelo de resposta à intervenção”. 2015. Disponível em: <https://www. eventize.com.br/new/upload/003256/files/Apostila05_web.pdf> Acesso em: 12 mar. 2018. QUEIROZ, N. L. N. de; MACIEL, D. A.; BRANCO, A. U.. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Universidade de Brasília. Paidéia, v. 16, pp.169-179, 2006. ROLIM, A. A. M.; GUERRA, S. S. F.; TASSIGNY, M. M.. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Revista Humanidades, Fortaleza, V. 23, nº 02, p. 176-180, Julho/Dezembro. 2008.
  • 84. 83 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 83SUMÁRIO SERRANO, Paula. A Integração Sensorial - No Desenvolvimento e Aprendizagem da Criança. Ed. Papa Letras. 2016. VASCONCELLOS, Maria de Fátima Barboza. As fases do desenvolvimento da criança de 0 a 06 anos. Disponível em: <http://br.monografias.com/ trabalhos-pdf/fases-desenvolvimento-crianca/fases-desenvolvimento- crianca.pdf> Acessado em: 12 mar. 2018. VELASCO, Cassilda Gonçalves. Brincar: O despertar psicomotor. Rio de Janeiro: Sprint, 1996. VYGOSTSKY, L. S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4ªed. São Paulo: Martins Fontes, 1991. YOUNG, M. E.. Do desenvolvimento da primeira infância ao desenvolvimento humano: investindo no futuro de nossas crianças. São Paulo: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, 2010.
  • 85. CAPÍTULO 5 POTENCIALIZAÇÃO HIPERTEXTUAL E NOVOS PERFIS DE LEITOR E AUTORIA: O QUE HÁ DE NOVO? Horácio dos Santos Ribeiro Pires 5 Potencialização hipertextualenovos perfisdeleitoreautoria: oquehádenovo? HoráciodosSantosRibeiroPires DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.84-103
  • 86. 85 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 85SUMÁRIO Resumo: O presente trabalho é resultado de pesquisa de Mestrado em Cognição e Linguagem da Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) cujo objetivo central foi investigar a formação docente e discente no contexto da inserção das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs), propondo a prática dos multiletramentos como estratégia para solucionar (ou minimizar) o hiato entre ambos os sujeitos. Trata-se de uma pesquisa de campo realizada no IFFluminense Campus Bom Jesus em Bom Jesus do Itabapoana/RJ a fim de investigar entre os participantes seus hábitos de leitura, sua relação com as novas tecnologias e a apli- cação disso na sala de aula, envolvendo práticas pedagógicas e processo de ensino/aprendizagem. Palavras-chave: Multiletramentos; Formação Docente; Novas Tecnologias da Informação e Comunicação. Introdução
  • 87. 86 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 86SUMÁRIO É inegável o avanço tecnológico pelo qual a humanidade vem passando ao longo do tempo, especialmente nas últimas décadas. Cada vez mais as técnicas se aprimoram e se potencia- lizam, fazendo com que a sociedade tenda a se adaptar às cons- tantes transformações que surgem a cada instante em velocidade considerável. O novo vem em cascata, numa avalanche de poten- cialidades que, sem pedir licença, vão se alocando em nosso meio. A comunicação, a informação, tornam-se rápidas, velozes, fluidas. É a era do Just-in-time que requer que cada um de nós sejamos tão velozes quanto o fluxo do momento. Isso afeta a sociedade em geral, principalmente a Educação. Novos perfis de leitores e autores se fazem necessários em virtude da dinamicidade do momento que exige absorção do máximo de informações em tempo hábil – quanto mais rápido, mais eficaz. O advento do computador e da Internet – veículos condutores ao Ciberespaço – ocasionam o boom da atualidade por serem ferra- mentas potencializadoras da informação, da comunicação, estabele- cendo novas perspectivas da escrita e leitura. Do pictórico, imagético aos infográficos, hipertextos e hipermídias. Um potencial avanço que provoca o mesmo impacto que a imprensa de Gutenberg. Por essas razões, a Educação começa a ser repensada. Há necessidade de reciclagem dos docentes para atenderem as demandas dos nativos digitais e esses, por sua vez, devem ser orien- tados no sentido de absorver o máximo que puderem e transformar essas absorções em conhecimento, fazendo bom uso dele. Torna-se necessário o Letramento Digital e a prática de Multiletramentos que transcendem o rito ordinário de Letramento, exigindo que a Escola seja condizente com a realidade vivida, sendo capacitada a receber o público da atualidade que já nasceu inserido em meio ao novo, às mutações constantes e, mais do que isso, capacitá-los para atuar
  • 88. 87 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 87SUMÁRIO nessa atmosfera mutante, veloz e em devir constante. Novos perfis de leitor e autoria Cada passo, cada degrau que a escrita alcança desde sua criação gera necessidade de (re)adaptação fazendo com que se originem novas maneiras de leitura e novos perfis de leitores. Nos rolos da Antiguidade as ideias eram dispostas linear e horizontal- mente, fazendo com que o leitor se posicionasse da mesma maneira. Esse comportamento passivo é herdado pelo livro manuscrito e, posteriormente, pelo livro impresso inaugurado por Gutenberg. Nessa nova fase, leitor e autor abandonam o ócio, quietude e hori- zontalidade do processo de leitura e se inserem no barulho, no emaranhado de informações que se intensificam, acompanhando a fluidez, rapidez e dinamicidade do momento ocasionando fato análogo ao que se presenciou quando do surgimento da imprensa: A complexidade corporificada nas mediações é por nós revisitada no momento do surgimento da imprensa, no momento da acele- ração do processo com a introdução da rotativa e, na atualidade, quando os lugares de produção e reprodução sofrem novo abalo (VILLAÇA, 2002, p. 17). A passagem da cultura impressa à eletrônica acontece pela abertura de um canal, como sempre, oferecido pela arte em geral e a criação literária como o local onde se lê as inscrições da subje- tividade (Ibidem). Segundo Martin-Barbero (1997) a crise que nos constitui “não é só um fato social, e sim uma razão de ser, tecido de temporalidades e espaços, memórias e imaginários que até agora só a leitura soube exprimir” (VILLAÇA, 2002, apud MARTIN- BARBERO, p. 259). As constantes e intensas transformações no universo da escrita levaram Marshall McLuhan a profetizar o fim da “galáxia
  • 89. 88 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 88SUMÁRIO Gutenberg” e a instituição de uma “aldeia global” eletrônica e plane- tária, especialmente as surgidas a partir dos anos 60 como o cabe- amento dos sinais de TV, as redes de satélites de comunicação, surgimento do vídeo portátil e na sequência o gravador doméstico, a microinformática, telemática, redes digitais integradas, TV intera- tiva, celulares, HD TV (High Definition Television – TV em alta defi- nição) (VILLAÇA, 2002, p. 17-18). Pode-se perceber claramente que na transposição de cada fase pela qual o livro passa desde sua invenção, há uma crescente preocupação com o aperfeiçoamento e a chegada a uma forma mais eficazmente elaborada que é o legado de toda descoberta e não acontece diferente quando a humanidade vislumbra e adentra a fase do livro digital. Nesse prisma, Villaça (2002) comenta: O livro eletrônico pode ser avaliado de diversos ângulos: facilidade de compilação em termos espaciais, enriquecimento multimídia, qualidade da dimensão interativa, nível de liberdade propiciado, qualidades que se distribuem com maior ou menor ênfase nos dife- rentes suportes (VILLAÇA, 2002, p. 18). O livro eletrônico potencializa todas as fases anteriores exigindo novos perfis de leitor e autoria. Requer uma leitura dinâ- mica, fluida e descomprometida da linearidade e horizontalidade de outrora. Há uma reaproximação do texto com o diálogo ou com a conversação devido ao seu caráter fluido, desterritorializado, dinâ- mico, afinal o texto perde sua fixidez e vai ao encontro do leitor para que seja atualizado i.e. amassado e amarrotado, mergulhado no mundo oceânico do ciberespaço. Lê-se em iPad, iPhone, e-books, PC, Notebooks, celulares etc., e não apenas em suporte único. Essas considerações estão coadunadas ao pensamento de Lévy (2011) a respeito do texto contemporâneo: Pois o texto contemporâneo, alimentando correspondências on-line e conferências eletrônicas, correndo em redes, fluido, desterritorializado, mergulhado no meio oceânico do ciberespaço, esse texto dinâmico reconstitui, mas de outro modo e numa escala infinitamente superior, a copresença da mensagem e de
  • 90. 89 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 89SUMÁRIO seu contexto vivo que caracteriza a comunicação oral. De novo, os critérios mudam. Reaproximam-se daqueles do diálogo ou da conversação: pertinência em função do momento, dos leitores e dos lugares virtuais; brevidade, graças à possibilidade de apontar imediatamente as referências; eficiência, pois prestar serviço ao leitor (e em particular ajudá-lo a navegar) é o melhor meio de ser reconhecido sob o dilúvio informacional (LÉVY, 2011, p. 39). De fato, o ser digital faz o modelo atual de livro ser algo inovador e o padrão que superou o que se pretendia ao haver a necessidade de substituição dos livros manuscritos que eram imensos e difíceis de serem transportados. Vê-se que o livro alcança um elevado padrão de potencialidade no momento presente. Porém, há críticas a esse respeito. Ora, em 1999 ocorre o lançamento do primeiro livro eletrônico do mundo, o Rockete Book que prometia poupar espaço e transformar hábitos de leitura, fazendo com que estudiosos e especialistas apostassem que seria essa uma revo- lução análoga a provocada por Gutenberg quando da invenção da imprensa. Segundo Villaça (2001), isso ainda não aconteceu em virtude dos processos adaptativos requeridos para essa passagem. A autora se posiciona criticamente acerca dessa questão, mencio- nando o nível de interatividade oferecido pelo suporte eletrônico: As características, qualidades e limitações e, por que não as inquie- tações trazidas pelo livro eletrônico, podem ser melhor avaliadas se distinguirmos o livro on-line, o tipo e a qualidade de interatividade oferecida; o e-book e a possibilidade de proteção dos direitos auto- rais com sua versão portátil, e o CD-ROM que, se traduz o enrique- cimento do som e da imagem, representa, por outro lado, com links programados, uma limitação diante da maior liberdade que tinha o leitor tradicional em suas associações (VILLAÇA, 2001, p. 20). O advento da era digital gera impactos significativos no modo de leitura e de produção. Como visto anteriormente, a leitura vê-se desterritorializada que nas palavras de Villaça (2002) se trata de “um afastamento do corpo vivido tradicional e individual, e um desligamento do lugar, da terra e tarefas não verbais” (p.64). Agora, com a presença do suporte eletrônico e de sua estrutura agregativa
  • 91. 90 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 90SUMÁRIO na qual inúmeros recursos inovadores entram em cena: imagens em movimento, animação das próprias palavras, presença de vozes, páginas com várias saídas, surge o modelo hipertextual – o hipertexto. O suporte digital, como afirma Lévy (2011), permite novos tipos de leituras (e de escritas) coletivas. Hipertexto: Platô da era digital A terminologia hipertexto surge como definidora dos textos dispostos na Web que apresentam hiperlinks que, por sua vez, conduzem o leitor navegador a outras enunciações e assim suces- sivamente por pontos de convergência que Lévy (2011) chama de Nós e que Deleuze e Guattari (2011) chamaram de Rizomas que se opõem às linhas de articulação e segmentaridade por serem linhas de fuga, movimentos de desterritorialização e desestratificação. Para os autores o Rizoma é uma antigenealogia: O livro não é a imagem do mundo segundo uma crença enraizada. Ele faz rizoma com o mundo, há evolução aparalela do livro e do mundo, o livro assegura a desterritorialização do mundo, mas o mundo opera uma reterritorialização do livro, que se desterritorializa por sua vez em si mesmo no mundo (se ele é disto capaz e se ele pode) (DELEUZE e GUATTARI, 2011, p. 28). O hipertexto – modalidade de texto – não mimetiza a reali- dade segundo Deleuze e Guattari (2011), mas se trata de um mape- amento em virtude de ser o mapa aberto, conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível e suscetível de receber alterações, constantemente, diferente do decalque que é completa- mente fechado e irreversível: O rizoma é uma antigenealogia. É uma memória curta ou uma anti- memória. O rizoma procede por variação, expansão, conquista, captura, picada. Oposto ao grafismo, ao desenho ou à fotografia, oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível,
  • 92. 91 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 91SUMÁRIO modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga (DELEUZE e GUATTARI, 2011, p. 43). O rizoma surge com forte posicionamento contra sistemas centrados (e até policentrados), de comunicação hierárquica e liga- ções preestabelecidas i.e. trata-se de um sistema acentrado não hierárquico e não significante, sem memória organizadora, sem autômato geral, sendo definido unicamente por uma organização de estados (ibidem). O hipertexto se conecta com outros infinita- mente através do que Deleuze; Guattari (2011) chamam de Platô – toda multiplicidade conectada com outras hastes subterrâneas artificiais de maneira a formar e estender um rizoma, que por sua vez, não inicia e nem conclui nada, apenas se encontra no meio entre as coisas, intermezzo (p. 48). Deleuze e Guattari (2011) em se tratando da ideia de rizoma acrescentam: Num livro, como em qualquer coisa, há linhas de articulação ou segmentaridade, estratos, territorialidades, mas também linhas de fuga, movimentos de desterritorialização e desestratificação. [...] É uma multiplicidade – mas não se sabe ainda o que o múltiplo implica. [...] O rizoma é uma antigenealogia. É uma memória curta ou uma antimemória. O rizoma procede por variação, expansão, conquista, captura, picada. Oposto ao grafismo, ao desenho ou à fotografia, oposto aos decalques, o rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga. (DELEUZE e GUATTARI, 2011, p. 18;43). Para os filósofos da linguagem anteriormente citados um texto se constitui de corpos sem órgãos que se ligam e se entre- laçam a outros corpos sem órgãos. O que importa não é “o que um livro quer dizer [...], mas sim “com o que ele funciona, em conexão com o que ele faz [...] em que multiplicidades ele se introduz e meta- morfoseia a sua, com que corpos sem órgãos ele faz convergir o seu” (ibidem, p. 18).
  • 93. 92 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 92SUMÁRIO A evolução da linguagem em suas diversas modalidades traz consigo o advento das novas Tecnologias da Comunicação: as Mídias Digitais. Nesta nova era da informação a característica marcante é a digitalização desta que segundo Coutinho; Silveira Jr. (2008) são as “novas transformação de textos, imagens e sons em linguagem binária, através da codificação 0 e 1” (p. 141). De acordo com os estudiosos, a hipermídia juntamente com seus recursos multicódigos, acrescenta novas possibilidades ao cenário comu- nicacional por congregar as três matrizes da linguagem: visual, sonora e verbal. Surge, enfim, a noção de hipertexto que tem como precursor Vannevar Bush que afirma que o hipertexto reproduz a estrutura da mente humana. Lévy (1993) comunga da ideia de Bush e define o hipertexto nos seguintes termos: um conjunto de nós ligados por conexões. Os nós podem ser pala- vras, páginas, imagens, gráficos ou partes de gráficos, sequências sonoras, documentos complexos que podem eles mesmos ser hipertextos. Os itens de informação não são ligados linearmente, como em uma corda com nós, mas cada um deles, ou a maioria, estende suas conexões em estrela, de modo reticular. Navegar em um hipertexto significa, portanto, desenhar um percurso em uma rede que pode ser tão complicada quanto possível. Porque cada nó pode, por sua vez, conter uma rede inteira (LÉVY, 1993, p. 33). Há, como podemos verificar, uma ruptura com a linearidade, horizontalidade seja ela discursiva, textual e até mesmo do próprio pensamento. O sistema se constitui em rede, em inúmeros rizomas, interrelações de infinitos corpos vazios, de nós, em cascata impul- sionado não por uma força centrípeta – que atrai para o centro – mas centrífuga, tendo o receptor como o centro das conexões, “fazendo ele mesmo suas relações simbólicas e cognitivas, através de um processo rizomático de escolhas” (COUTINHO; SILVEIRA JR., 2008, p. 145).
  • 94. 93 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 93SUMÁRIO Nativos digitais vs. imigrantes: tensões do cenário atual O conceito de nativos digitais e imigrantes, bem como essa nomenclatura são patenteados por Prensky (apud TORI, 2010, p. 218). Segundo o autor, o primeiro grupo (nativos) são os nascidos a partir de 1980, momento em que se inicia o domínio das tecnologias digitais. Esses indivíduos teriam acesso a esses aparatos e trariam consigo habilidades de operá-los por serem oriundos dessa fase, i.e. por já nascerem em contato com as novas ferramentas. Observa-se, desde então, que cada vez mais cedo crianças e adolescentes operam e dominam as NTICs (Novas Tecnologias da Informação e Comunicação) como algo comum, corriqueiro o que se difere grandemente da realidade de tempos passados. Essa nova geração traz consigo uma marca: a identidade digital, uma vez que passam a maior parte do tempo logados em redes sociais, chats, blogs, games e demais inovações tecnológicas. Acerca dos imigrantes digitais os pesquisadores Palfrey e Gasser (2011, p. 13) nomeiam outra figura, os colonizadores digi- tais, que na sua concepção são pessoas mais velhas, as quais estão desde o início da era digital, mas cresceram em um mundo analógico e vem contribuindo para a evolução tecnológica, conti- nuam conectados e sofisticados no uso das tecnologias, porém baseados nas formas tradicionais e analógicas da interação. Esses entes, segundo os autores, são os menos familiarizados com o aparato tecnológico, com o ambiente digital por terem aprendido ao longo da vida a operar as novas ferramentas. São oriundos de uma realidade distinta da atual em ambiente não dominado pela tecno- logia, apresentando uma maneira diferente de aprender. A realidade apresentada anteriormente permite que se observe que a formação do docente imigrante digital diverge da
  • 95. 94 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 94SUMÁRIO concepção de mundo de seus alunos, sua maneira de perceber o conhecimento e da realidade em que vivem e operam. Choque de gerações: a problemática O cenário atual é marcado pela presença de duas gerações: nativos digitais e imigrantes digitais. Duas classes que dividem o mesmo palco, mas que se chocam uma com a outra. A escola vive os dilemas e desafios de uma fase em transição e, consequente- mente, docentes e discentes que representam bem a realidade em questão. Os primeiros, provenientes de uma cultura oralista, presen- cial, onde o olhar, o toque, a interação no meio físico, palpável se fazia importante. Para Prensky (2001), os docentes com mais de vinte anos de carreira são imigrantes no ciberespaço por terem o processo de construção do conhecimento distinto da realidade dos nativos digitais. Segundo Borba (2001, p. 46), “os seres humanos são constituídos por técnicas que estendem e modificam seu racio- cínio e, ao mesmo tempo, esses mesmos seres humanos estão constantemente transformando essas técnicas”. Através desses apontamentos, pode-se observar que o trabalho do docente imigrante difere muito da forma como seus alunos percebem e produzem conhecimento. As grandes e cons- tantes reclamações são a respeito da carência de leitura, desmo- tivação em sala de aula e dificuldade de entrosamento no grupo. Paradoxalmente, esses mesmos sujeitos (os alunos) interagem com seus colegas via Facebook, Skype, leem através de Blogs e Tumblr e participam de Chats. A partir dessas reflexões, decidiu-se realizar uma pesquisa entre os docentes do Ensino Médio Integrado do Instituto Federal Fluminense a fim de investigar o uso e o papel das NTICs no
  • 96. 95 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 95SUMÁRIO processo de ensino-aprendizagem. Para alcançar o objetivo proposto, pensou-se a seguinte questão: Como os professores, em sua maioria, imigrantes digitais, lidam com a chegada das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTICs) e que usos têm feito delas no cotidiano escolar para formar os discentes que são sujeitos nativos digitais? Estes, por sua vez, estão sendo apresen- tados às novas ferramentas tecnológicas, fazendo uso correto delas na aquisição do conhecimento? Metodologia Tendo em vista os objetivos deste trabalho, foi escolhido o survey como método de pesquisa, por se tratar de um método de coleta de informações direto, com questionário estruturado, com o objetivo de obter informações para análise, permitindo alcance rápido a um número maior de participantes. Para esta pesquisa, os questionários foram aplicados no IFFluminense Campus Bom Jesus, na cidade de Bom Jesus do Itabapoana/RJ entre os docentes e discentes dos cursos de Agropecuária e Informática integrados ao Ensino Médio desta Instituição. O compêndio de perguntas foi elaborado com base no trabalho de Hirsch (2007), abrangendo questões que fornecem dados sobre os professores e alunos, seus hábitos de leitura, sua relação com as novas tecnologias. Depois da obtenção dos dados primários, procedeu-se à etapa de codificação e tabulação deles para posterior análise dos resultados. Para alcançar os objetivos deste estudo, optou-se por adotar uma pesquisa de abordagem qualitativa e de caráter descritivo. Segundo Babbie (2005), a pesquisa descritiva tem como objetivo primordial escrever as características de determinada população,
  • 97. 96 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 96SUMÁRIO bem como dos processos sociais e realidades vivenciadas e cons- truídas por elas. Na escolha das turmas, prezei pelas turmas nas quais sou regente e em dias estratégicos para não haver prejuízo no andamento das atividades. Para melhor organização dos dados coletados, foram estabe- lecidos os seguintes critérios de análise envolvendo corpo docente e discente: 1. Perfil do grupo: Nativos Digitais/Imigrantes Digitais 2. Conhecimento: Produtivo/Não produtivo 3. Suporte: Impresso/Eletrônico 4. Gêneros Textuais Resultados/Discussão Quanto aos docentes, foram analisados todos que integram a(s) equipe(s) dos cursos objeto de análise. Foram investigados, também, aspectos como Formação Complementar e Uso das NTICs como ferramenta potencializadora da aprendizagem no rol dos critérios. Dentre os docentes que participaram da pesquisa, a priori, a maioria (54,50%) são do sexo masculino e 45,45% do sexo feminino com idades que variam dos 26-35 anos e maciçamente configurado como Imigrantes digitais, totalizando 90,90%, sobrepu- jando os nativos digitais que juntos representam 9,09%. Dos participantes da pesquisa até aquele dado momento, 50% possuíam formação teórica ou prática para o uso do ambiente digital como ferramenta de ensino o que é, de fato, preocupante em se tratando da clientela (alunos) de nativos digitais que compõem o cenário atual. Outro fator alarmante é que, embora alguns possuam
  • 98. 97 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 97SUMÁRIO esse tipo de formação, não fazem uso prático do conhecimento obtido no cotidiano escolar. Segundo resposta dos discentes a respeito do uso da novas tecnologias na sala de aula, os profes- sores utilizam apenas slides (Power Point) como única ferramenta potencializadora do processo de ensino-aprendizagem. Pode-se perceber por meio da aplicação da pesquisa que, a maioria quase que absoluta dos professores utilizam o ambiente digital para fins de conhecimento não produtivo como, redes sociais, entretenimento, chats com algumas ocorrências de pesquisas, obtenção de informação, trabalhos e projetos em geral, etc.. No que concerne ao corpo discente, podemos retratar a maioria do sexo masculino como ocorre com os docentes, prefigurando 66,39% e 33,60% do sexo feminino. Isto pode estar relacionado aos tipos de curso oferecidos pela Instituição. Quanto ao perfil – nativos digitais ou imigrantes digitais – no contexto da Instituição observada, a comunidade escolar de alunos é 100% de nativos digitais, i.e. indivíduos nascidos de 1990 em diante e que já nasceram inseridos no contexto das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação, quiçá operando-as desde tenra idade. Parcialmente, é possível observar que os alunos se valem do meio digital tanto para o conhecimento produtivo como para o não produ- tivo. No primeiro caso, utilizam o ambiente para pesquisas diversas, para reforço das atividades desenvolvidas em sala de aula e para execução e elaboração dos trabalhos. Paralelo a isso, utilizam o mesmo espaço para entretenimento, acesso e participação em redes sociais, chats, games, etc.. Ocorre que não recebem orien- tação sobre como fazer e não aprendem utilizando os novos meios em sala de aula. Além disso, boa parcela dos alunos reside em locais onde não têm acesso à internet, muitos não possuem compu- tador em casa devido à dificuldade financeira, fazendo uso apenas na escola (micródromo).
  • 99. 98 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 98SUMÁRIO Em relação ao suporte (impresso e eletrônico) há uma prefe- rência pelo meio impresso, porém sem desprezo do eletrônico. Esse fato comprova os argumentos de VILLAÇA (2002) e ZILBERMAN (2001) a respeito do impresso e eletrônico e sobre o fim do livro. Essas estudiosas sugerem uma coexistência pacífica entre ambos os suportes que atendem a um público leitor fiel e que utilizam esse ou aquele suporte de acordo com a necessidade de determinado momento. Outro ponto que defendem é, ainda, forte presença do meio impresso na sociedade marcada pelas Novas Tecnologias informacionais e comunicacionais conforme o gráfico a seguir: 40,16% 28,69% 30,32% 0,82% Suporte Impresso Eletrônico Ambos Nenhum Figura 1: Suporte: impresso ou eletrônico Fonte: Dados do autor Conforme dito anteriormente, ambos os suportes dividem bem o espaço. Pode-se observar que 30,32% dos discentes parti- cipantes valem-se de ambos os suportes para fins específicos em razão das necessidades múltiplas e que apenas o uso de ambos torna cada atividade possível e eficaz. Vale apontar, também, o caso dos nativos digitais que se valem apenas do meio eletrônico em seu cotidiano escolar e secular que, aqui, totalizam 28,69%.
  • 100. 99 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 99SUMÁRIO Por se tratar de cursos tão diferentes entre si (Agropecuária e Informática) tabulamos os dados divididos por curso para que fosse possível uma melhor dimensão do que se argumenta nesta pesquisa. Vejamos a tabela a seguir: Figura 2: Curso de Agropecuária Fonte: Dados do autor É curioso perceber que a incidência do texto impresso é maior entre as meninas que totalizam 26,92% dos 51,92%. Em segundo lugar, estão aqueles que leem em ambos os suportes e cuja maioria é de meninos, totalizando 23,07% dos 26,91% dos participantes. Figura 3: Curso de Informática Fonte: Dados do autor
  • 101. 100 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 100SUMÁRIO NocursodeInformáticaaconteceanálogoaodeAgropecuária. A maior incidência do suporte impresso é maior entre as meninas 18,60% dos 31,45%. Com uma diferença mínima, vence o grupo que utiliza o suporte eletrônico somente, totalizando 34,30% e em segundo lugar, com uma diferença pequena, os que utilizam ambos os suportes que representam 32,85% dos participantes, lembrando serem alunos do curso de informática. Há uma curiosidade que são os 1,42% que afirmam não utilizarem nenhum dos suportes apresentados. A interseção entre os cursos e que representam alunos do Ensino Médio da rede federal de ensino, revelam que a incidência do suporte impresso é superior em relação aos demais suportes, atingindo 83,37% conforme a tabela 4: Figura 4: Interseção entre os cursos Fonte: Dados do autor Concorrem entre si, de forma equilibrada, a incidência dos suportes eletrônico e ambos os suportes (impresso e eletrônico simultaneamente). No primeiro caso 55,47% e no segundo, 59,76%. Os dados revelam que os alunos apresentam hábitos e comporta- mentos de indivíduos nativos digitais, porém desmistifica a ideia de iminente fim do suporte impresso. Em relação aos gêneros textuais, preliminarmente, pudemos observar a predominância de livros impressos que atingem um ranking de 63,11%. Mais da metade dos participantes recorrem ao
  • 102. 101 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 101SUMÁRIO livro impresso em seu dia-a-dia. A ocorrência dos demais suportes manteve-se equilibrada, sendo 24,60% revista, 22,13% jornal e 20,50% outros gêneros. Os 20,50% que representam outros gêneros destacam-se gibis, mangás, blogs, Facebook, Twitter, RPG (Role-playing Game), sites diversos, games, notícias online, tutoriais, chats, wiki, dentre outros. Vale ressaltar que os alunos participantes não optam por um gênero em detrimento de outro, mas sim fazem uso de vários e simultaneamente. Conclusão Através de tudo que fora exposto até aqui e dos resultados parciais apresentados nesse trabalho podemos chegar a algumas conclusões a respeito do cenário atual marcado pelos inúmeros (e potentes) avanços tecnológicos, profundas transformações que não cessam e que inquietam estudiosos e filósofos. Em primeiro plano, é fato que os docentes conceberam (e concebem) a maneira de aprender distinta da dos estudantes por terem vivenciado, interagido com realidade também distinta da atual. A tendência do ser humano é reproduzir os mesmos processos de aprendizagem pelos quais passou em sua vida. O que nem sempre é o posicionamento mais adequado. Isso ocorre seja por limitações frente ao novo seja pelo pensamento de que aquele modelo que vivenciou é o melhor a ser adotado. Essa inércia provoca efeitos catastróficos no processo de ensino-aprendizagem. O grande retrato que se tem do cotidiano escolar é, de um lado, estudantes desmotivados, sem gosto pela leitura e, de outro, docentes estagnados, inertes como se não conseguissem ousar mais um passo. Isso se deve ao fato de que os docentes, mesmo
  • 103. 102 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 102SUMÁRIO os nativos digitais, não têm (e não tiveram) formação voltada para o uso das NTICs e não se capacitaram em momento algum durante a formação acadêmica. Uma pequena parcela de docentes que se capacitaram, opta por não utilizar os conhecimentos sedimentados no dia a dia para enriquecimento de suas aulas, reproduzindo, mais uma vez, os modelos de ensino tradicionais. Foram educados nesses moldes e, mesmo sendo nativos digitais, foram orientados por imigrantes digitais ou, na maioria dos casos, pelos que se relutam a emigrar. Acreditamos, portanto, que os professores não receberam (e continuam sem receber) em sua formação, métodos e estraté- gias de ensino pautadas nas NTICs, fazendo com que os discentes não sejam apresentados a essas novas ferramentas, deixando de usufruir das benesses dessa nova prática de ensino. Além disso, presumimos que não tem havido apropriação e ampliação dos múltiplos letramentos (e/ou multiletramentos) para que docentes e discentes sejam capazes de caminhar de mãos dadas. Aqueles sendo preparados para a manipulação das NTICs e estes, por sua vez, fazendo uso correto das novas ferramentas na aquisição do conhecimento. O que se observa, no entanto, é um grande hiato entre ambos os sujeitos ocasionado pelo período de transição que vivemos: confronto entre essas duas gerações, i.e. imigrantes digi- tais vs. nativos digitais e que para ser superado requer força de vontade, ousadia e caráter destemido.
  • 104. 103 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 103SUMÁRIO Referências BORBA, Marcelo de Carvalho; PENTEADO, Miriam Godoy. Informática e Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. COUTINHO, Iluska; SILVEIRA JR., Potiguara Mendes da. [orgs.]. Comunicação e Cultura Visual. E-papers: Rio de Janeiro, 2008. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs. Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 1. 2ª ed. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e Célia Pinto Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 2011. LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência: O Futuro do Pensamento na Era da Informática. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993. _____. A ideografia dinâmica: rumo a uma imaginação artificial? São Paulo: Loyola, 1998. _____. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, 2ª ed., 2000. _____. O que é o virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2003. _____. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4ª ed. São Paulo. Loyola, 2003. MARTÍN BARBERO. Dos meios às mediações: comunicação, cultura e hegemonia. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997. PALFREY, John; GASSER, Urs. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração dos nativos digitais. Porto Alegre: Artmed, 2011. PRENSKY, Marc. Digital Natives, Digital Immigrants. Part 1, On the Horizon, 2001, Vol. 9 Iss: 5, p.1-6 VILLAÇA, Nízia. Impresso ou Eletrônico? Um Trajeto de Leitura. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. ZILBERMAN, Regina. Fim do livro: fim dos leitores? 2ª ed. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2001.
  • 105. CAPÍTULO 6 A CONTRIBUIÇÃO DE PROGRAMAS PEDAGÓGICOS PARA A AMPLIAÇÃO DE REPERTÓRIO DE UM INDIVÍDUO COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: ESTUDO DE CASO Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias Manuela Gomes Rangel de Paula Lilliany de Souza Cordeiro 6 Acontribuiçãodeprogramas pedagógicosparaaampliação derepertóriodeumindivíduocom TranstornodoEspectroAutista: estudodecaso FabriziaMirandadeAlvarengaDias ManuelaGomesRangeldePaula LillianydeSouzaCordeiro DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.104-120
  • 106. 105 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 105SUMÁRIO Resumo: O objetivo deste estudo é analisar a ampliação do repertório do indivíduo com Transtorno do Espectro Autista por meio da utilização de programas pedagógicos como instrumentos de intervenções. O autista, apresenta características específicas pautadas pelo DSM-V, que traz aspectos relacio- nados à comunicação, interação social; interesses restritos e movimentos estereotipados. Assim, o estudo sugere que a utilização de programas pedagógicos aliados à repetição e treinamento, favorece à ampliação do vocabulário do indivíduo, contribuindo para um comportamento mais funcional e autônomo. Palavras-chave: Autismo; Linguagem; Vídeos pedagógicos; Repertório.
  • 107. 106 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 106SUMÁRIO Introdução O Transtorno do Espectro Autista (TEA), possui caracterís- ticas especificadas pelo DSM-V (2014), tais quais: déficits déficts na comunicação, interação social e comportamentos restritos, repeti- tivos e estereotipados. O transtorno tem afetado um número expres- sivo de indivíduos no mundo. A OMS estima que em torno de 1% da população mundial encontra-se no espectro. (Dados da OMS, citado na ONU News-NY, Edgard Júnior, 2017). O TEA envolve múltiplos fatores, dentre os mais citados como prováveis causas são os de âmbito ambientais e genéticos. O sujeito com TEA, costuma apresentar atraso no neurode- senvolvimento, principalmente, nos aspectos da linguagem, impac- tando diretamente nos aspectos interacionais e de comunicação. Conforme cada nível, especificado no DSM-V (2014), o sujeito pode mostrar sinais de dificuldades leves, moderadas ou mais graves. Dessa forma, o prejuízo frente às tarefas diárias do sujeito, fica extremamente evidente, dando margem à busca de novos recursos para auxílio na qualidade de vida desse sujeito. Nessa perspectiva, a tecnologia tem sido utilizada cada vez mais frequentemente no dia-a-dia desses sujeitos, como forma de auxiliá-los na aquisição de habilidades e competências prejudicadas pelo transtorno. O objetivo deste trabalho é verificar a ampliação do vocabulário de um autista adolescente por meio da utilização de vídeos pedagógicos como instrumentos de intervenções.
  • 108. 107 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 107SUMÁRIO Transtorno do Espectro Autista (TEA) A Organização Mundial da Saúde, OMS, estima que o TEA afeta, em média, uma em cada 160 crianças no mundo. Portanto, é alta a incidência do transtorno em todas as regiões do mundo. Contudo, há o desconhecimento de suas causas e sinais tem forte impacto nos indivíduos acometidos, nas suas famílias e comuni- dades em geral. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), uma variabilidade de pesquisas científicas aponta para causas relacionadas a questões ambientais e genéticas (Edgard Júnior, ONU News-NY, 2017, p. 1). A etiologia da palavra “Autismo” vem do grego “autós”, que quer dizer “de si mesmo”, alguém que vive em seu próprio mundo. Esta terminologia foi descrita pela primeira vez no ano de 1911, pelo psiquiatra suíço Eugen Bleuler, fazendo menção aos seus pacientes esquizofrênicos, na tentativa de explicar o sinais de fuga da reali- dade desses pacientes aliados a um comportamento extremante intrínseco (AJURIAGUERRA, 1977). Aproximadamente trinta e dois anos depois, Leo Kanner, baseado em estudos com seus onze pacientes, crianças com esquizofrenia, publica artigos revelando a questão do “autismo”, cunhando a expressão “Distúrbio Autístico do Contato Afetivo” (CUNHA, 2017). No ano seguinte, em 1944, Hans Asperger também publica estudos com crianças, mencio- nando sinais similares aos descritos por Kanner, ressaltando que as crianças com autismo apresentavam certa desenvoltura cogni- tiva, com habilidades para lógica e abstração, inteligência superior, e que apresentavam interesses incomuns. A pesquisadora Lorna Wing, mãe de autista, em 1981, traduziu o artigo de Hans Asperger e o publicou em revista uma inglesa de alto impacto, utilizando o termo “Autismo” (ASSUMPÇÃO, 2015).
  • 109. 108 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 108SUMÁRIO A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA, amparada pela Lei número 12.764/12, ratifica o tripé do trans- torno para diagnóstico: Sendo assim, descrito na lei: ciência persistente e clinicamente significativa da comunicação e da interação social, padrões restritivos e repetitivos de comporta- mentos, interesses e atividades. (BRASIL, 2012, Art 1, §1). Existe sinais bastante significativos nos indivíduos com TEA: costumam apresentar grande resistência a quebra de rotinas, com interesses restritos e fixos, de forma detalhista, em objetos inco- muns, a ausência de iniciativa a um diálogo e pouco contato visual. O transtorno é definido pela medicina como de grande complexi- dade para diagnóstico, devido as diversas possibilidades causais e a variabilidade de níveis. De acordo com o CID-10, o TEA é classificado como um dos Transtornos Invasivos do Desenvolvimento, apresentando-se em três níveis diferentes, do mais leve ao mais severo. No caso de maior severidade, a linguagem e o aprendizado são extremamente prejudicados (DSM-V, 2014). Nesse sentido, para fechar um diag- nóstico é preciso uma equipe multidisciplinar. O profissional da Neuropsicopedagogia possui um arcabouço de conhecimentos relacionados à neuroanatomia e neurofisiologia, compondo informações sobre as funções e estruturas do sistema nervoso central, relevantes para o processo de desenvolvimento e aprendizagem de um indivíduo (RUSSO, 2015). Dessa forma, o profissional está apto a avaliar e intervir nos casos de indivíduos que apresentam os mais diversos transtornos, inclusive o TEA. Sendo assim, o Neuropsicopedagogo Clínico, lança mão a instrumentos avaliativos padronizados e qualitativos, para o processo de investigação. A partir de dados coletados no decorrer do processo de avaliação, recorre-se ao planejamento das intervenções, buscando promover melhorias no desenvolvimento das habilidades e competências prejudicadas pelo transtorno.
  • 110. 109 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 109SUMÁRIO Tecnologia e TEA: estudo de caso Segundo Schlunzen (2005, p. 2), “as tecnologias podem constituir um recurso fundamental para possibilitar a comunicação das pessoas com necessidades educativas especiais, permitindo uma manipulação do meio e um melhor desenvolvimento cognitivo”. Sendo assim, a criação de novas tecnologias tem sido importante como recurso para a melhoria de habilidades prejudicadas pelos mais diversos transtornos e síndromes. Nessa perspectiva, esse estudo objetiva analisar o caso de A.C., de treze anos de idade, que está matriculada no 3º ano do Ensino Fundamental II, em Escola da Municipal, na cidade de Campos dos Goytacazes-RJ. No contraturno, ela frequenta a Sala de Recursos (SR) que fica em uma instituição filantrópica da cidade, por duas vezes na semana com duração de quatro horas/dia. A.C. não frequenta assiduamente a escola. Segundo relato da mãe, ela não expressa satisfação em estar na escola regular. Na Sala de Recursos, A.C. é bem seletiva em relação aos colegas, mas os poucos que têm, demonstra algum afeto através de abraços e por pronunciar os nomes desses colegas quando não estão presentes. A.C. tem diagnóstico de TEA, grau moderado-nível 2, retardo mental leve e epilepsia. Começou a desenvolver a fala por volta de dois anos e três meses, com dificuldade de repetir o que ouvia, conforme relato da mãe. Demonstra compreender ordens simples identificando objetos e condições de seu cotidiano. A.C. apresenta estereotipias (girar objetos) quando realiza atividade livre. É necessário sempre orientá-la sobre a função dos objetos e como interagir de forma adequada ao contexto da situação. Em alguns momentos demonstra através de comportamento inadequado (irritabilidade, risos, empurrões), quando não quer fazer
  • 111. 110 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 110SUMÁRIO algo que foi solicitado ou quando sua vontade não é atendida. A.C. participa de todas as atividades, dentro do que é proposto, porém a mudança na rotina, na maioria das vezes, desencadeia comporta- mentos agressivos. Sendo esses episódios apresentados raras vezes nesse período em que a mesma frequenta a Sala de Recursos. Segundo Belizário Filho (2010, p. 22), “é comum que essas crianças apresentem manifestações de sua inflexibilidade de maneira exacerbada”. Nesta perspectiva, entende-se que nos ambientes com variados estímulos, com um número grande de pessoas que não lhe são familiares, é esperado que o indivíduo tenha reações exacerbadas ou disfuncionais. No caso em estudo, pode-se apontar alguns fatores que necessitam que haja mediação e contribuição na solução dos problemas identificados, tais como: comunicação, comportamento inadequado, a aprendizagem, a afetividade e socialização. Tais comportamentos são decorrentes do transtorno que a mesma apre- senta. A.C. apresenta o uso da linguagem de forma restrita, apon- tando em direção aos objetos que deseja como forma de mostrar o que quer: como por exemplo, apontar ou pegar o prato para expressar a sua vontade de comer algo. Atualmente, é crescente a influência da tecnologia em nosso cotidiano e para os indivíduos com TEA não é diferente. A tecno- logia fascina essas crianças e pode facilitar a execução de suas atividades diárias, fazendo-as com mais atenção e concentração, tornando a conclusão das tarefas mais agradáveis à medida que é utilizada de maneira adequada (CUNHA, 2016). Nesse aspecto, a tecnologia aparece como um incentivo ao indivíduo com TEA, favorecendo o seu entendimento em relação as regras e realizações de tarefas diárias como acordar cedo, esperar a hora de entrar na escola, comer, fazer tarefas oferecidas
  • 112. 111 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 111SUMÁRIO nas diversas terapias que precisa frequentar. A tecnologia pode auxiliar ainda como incentivo no enfrentamento de situações sociais (ASSUMPÇÃO, 2017). O desenvolvimento de programas pedagógicos e outras ferramentas tecnológicas, para intervenções no âmbito clínico com sujeitos autistas, tem crescido significativamente. No site do Google Play apresenta, atualmente, 138 aplicativos desenvolvidos com obje- tivo de auxiliar indivíduos com TEA. Nesse sentido, questiona-se: de que forma o uso de programas pedagógicos pode contribuir para a ampliação de repertório de um sujeito autista? Dessa forma, Prensky (2009, p. 4), ressalta que “num futuro inimaginavelmente complexo, a pessoa intensificará suas capaci- dades graças à tecnologia digital, incrementando assim, sua sabe- doria”. O autor, como um visionário, já observava há alguns anos a influência da tecnologia digital na vida das pessoas. No entanto, Prensky (2009), recomenda prudência na utilização, para que deci- sões possam ser tomadas de forma assertiva: A forma em que utilizamos estes recursos, a maneira em que os filtremos para encontrar o que precisamos, depende de nós, que devemos estar conscientes de que a tecnologia é, e será um meio de ajuda muito importante para a formação de nossa sabe- doria, e assim, poder tomar decisões e avaliações mais acertadas (PRENSKY, 2009, p. 4). O ser humano é criativo e tem a capacidade de desenvolver sistemas que oportunizem a melhoria da qualidade de vida de uma população. Contudo, deve-se considerar os riscos do uso inade- quado dos meios tecnológicos. A sabedoria encontra-se no bom uso da tecnologia de forma que traga benefícios à humanidade. Nessa perspectiva, utilizando programas pedagógicos, o sujeito com TEA pode ser estimulado a ter mais independência em sua vida cotidiana. Com o uso dessas ferramentas, alguns pesqui- sadores apontam que indivíduos com o Transtorno do Espectro
  • 113. 112 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 112SUMÁRIO Autista tenham mais chances de desenvolver as suas habilidades de comunicação, com a aquisição de repertório, ampliando as suas possibilidades de interação, através de jogos e outras ativi- dades tecnológicas disponíveis nesses programas (MELLO & SGANZERLA, 2013). Alguns estudos já demonstraram que o uso de tablets, smar- tphones e outros dispositivos, podem ajudar pessoas com TEA na obtenção de uma qualidade de vida melhor, no que tange a interação social e à superação de suas dificuldades, que trazem complexidade à vida diária desses indivíduos (CAMINHA et al., 2006; SANTOS et al., 2014; KRAUSE et al., 2016). Outros estudos ainda demonstram que o uso da tecnologia de forma planejada e adaptada, tornam-se recursos importantes no desenvolvimento desses sujeitos. A tecnologia assistiva tem sido relevante no auxílio a indivíduos autistas em seu desenvolvimento cognitivo e habilidades sociais (MELLO & SGANZERLA, 2013). Em 2017, Doidge, dedica um capítulo de seu livro à impor- tância da tecnologia na remodelação cognitiva, ressaltando o trabalho de Michael Merzenich e sua equipe que desenvolveram um software, com bases nas neurociências. Merzenich é um reno- mado neurocientista no que tange trabalhos sobre neuroplas- ticidade cerebral. O pesquisador criou o Fast Forword, que é um programa desenvolvido para ajudar estudantes com distúrbios ou transtornos de aprendizagem de qualquer nível. O programa parece um jogo que ensina a ouvir sons em frequências cada vez mais altas e a lembrar e combinar sons. Merzenich preocupou-se ainda com sistema de recompensa, que está presente no programa a cada vez que o objetivo é alcançado, apresentando na tela algo divertido, que por ser inesperado, prende a atenção da criança (DOIDGE, 2017). É importante ter a recompensa, pois quando o sujeito é recompensado, o cérebro secreta substâncias neuroquímicas, tais
  • 114. 113 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 113SUMÁRIO quais: a dopamina (reforça a recompensa) e a acetilcolina (ajuda a sintonizar e aguçar a memória), que têm um papel fundamental na consolidação das alterações que ocorrem nas áreas do córtex que participam das atividades propostas pelos jogos (DOIDGE, 2017). Sendo assim, Doidge (2017, p. 89), afirma que “com a utili- zação do Fast ForWord, as crianças tiveram ganhos significativos na fala, linguagem, processamento visual e auditivo, aumento do Quoeficiente Intelectual”. Dessa forma, o programa oportuniza processamento mental mais aprimorado, proporcionando melhores possibilidades de comunicação. Doidge(2017,p.61)ressaltaqueinesperadamente,oprograma também ajudou várias crianças autista. Portanto, de acordo com os estudos de Merzenich, que discorrem sobre existência de plastici- dade cerebral frente à utilização da tecnologia, contam com resul- tados positivos, especialmente, com crianças autistas. Processo de Avaliação e Intervenção O processo de avaliação do quadro atual da paciente e as intervenções, ocorreu ao longo de 20 encontros, em que 3 foram para observação e conversa com a mãe. Os outros encontros foram para aplicação dos testes e intervenções. Após uma prévia análise do caso, optamos pelo Teste Infantil de Nomeação (TIN), como mais apropriado para avaliar o vocabulário do sujeito, para efeito do objetivo desse estudo. Foi feita uma análise comparativa dos testes, considerando a situação anterior ao uso das intervenções com programas pedagógicos e pós intervenções, visando verificar e analisar a ampliação do vocabulário da paciente.
  • 115. 114 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 114SUMÁRIO Aplicação do TIN O Teste Infantil de Nomeação avalia a linguagem oral do indi- víduo, ou seja, em que nível está o vocabulário do sujeito, por meio da apresentação de imagens que devem ser nomeadas pelo paciente. Os resultados são analisados de acordo com uma tabela de pontu- ação-padrão, conforme Tabela 2, apresentada no corpo desse texto. As aplicações do TIN foram realizadas em 3 etapas, com intervalos de intervenções com o uso dos programas pedagógicos. De acordo com a Tabela 1, pode-se observar um progresso da paciente, que salta do nível Muito baixo para o Baixo. Com todas as suas dificuldades sensoriais, juntamente com as comorbidades, consideramos um avanço significativo, já que se trata de uma adolescente que não teve um acompanhamento terapêutico efetivo. Em análise dos resultados, observa-se que no primeiro momento houve um escore bruto de 32, conforme a tabela 1, com pontuação-padrão de 1 ponto. Já em um segundo momento, após as sessões interventivas, houve avanços nos resultados com o escore bruto de 38 e pontuação-padrão de 28. Observou-se ainda uma melhor compreensão na execução do teste, mesmo que tenha permanecido no nível Muito Baixo, de acordo com a tabela 2. No encontro seguinte e final, aplicamos o teste pela terceira vez, com resultados mais satisfatórios, em que A.C. obteve o escore bruto de 48, com pontuação-padrão de 72, demonstrando progressos. De acordo com a tabela 2, a paciente avançou para no nível Baixo, se comparada a indivíduos de mesma faixa etária.
  • 116. 115 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 115SUMÁRIO Datas Aplicação TIN Escore Bruto Pontuação Interpretação 20/03/2019 32 1 Muito Baixa 25/03/2019 38 28 Muito Baixa 01/04/2019 48 72 Baixa Figura 1: Aplicação do TIN Fonte: Dados da pesquisa Pontuação-padrão < 70 Muito baixa Pontuação-padrão entre 70 e 84 Baixa Pontuação-padrão entre 85 e 114 Média Pontuação-padrão 115 e 129 Alta Pontuação-padrão ≥ a 130 Muito alta Figura 2: Pontuação padrão do TIN Fonte: Seabra & Dias, 2012 Teste Infantil de Nomeação (TIN) De acordo com a Tabela 1, foi possível precisar os ganhos no desenvolvimento do repertório da paciente, após as interven- ções com a tecnologia, considerando o seu quadro de compro- metimento em virtude do TEA e outras comorbidades associadas, aliado ao curto período de acompanhamento terapêutico. Segundo Fauconnier (1984 apud 2017, p. 120), as palavras são lanternas que iluminam o caminho da significação. Nesse sentido, a linguagem é fundamental para inserção do indivíduo ao meio em que vive, facul- tando a sua comunicação com o mundo, uma vez que a relação entre a palavra e o mundo é mediada por processos neurais impor- tantes à vida humana.
  • 117. 116 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 116SUMÁRIO Desse modo, complementa-se com Vigotski (2001) no sentido de que o desenvolvimento da linguagem está diretamente ligado às experiências socioculturais e não apenas dos processos cognitivos, especialmente em se tratando de uma “mente” com TEA, que apre- senta peculiaridades e limitações. Intervenções A tecnologia é uma área de características interdisciplinares de importante abrangência no campo de produtos, recursos, meto- dologias, estratégias, práticas e serviços que oportunizam a funcio- nalidade, relacionada à atividade e participação, de indivíduos com deficiências, buscando melhorar a sua autonomia, independência, inclusão social e qualidade de vida. (MELLO & SGANZERLA, 2013) Com o intuito de trazer novas palavras ao vocabulário da paciente A.C., de maneira mais contextualizada, para que o apren- dizado possa acontecer ao nível da compreensão e aplicação adequada ao meio, foram inseridos no processo interventivo entre um teste e outro diversos programas, em que se pudesse relacioná- -los à aplicação de novas palavras, buscando dar sentido ao obje- tivo proposto neste estudo. Desse modo, quando se trata da aplicação de recursos tecnológicos no mundo do sujeito com TEA, pesquisadores afirmam que os pacientes costumam apresentar especial interesse na inte- ração com os dispositivos, dentre os quais pode-se citar os tablets e computadores, ressaltando a importância da realização de novas pesquisas sobre o assunto (CAMINHA et al., 2006). Dessa forma, com o uso dos vídeos pedagógicos, perce- beu-se o empenho e interesse da paciente na compreensão do amplo sentido de cada palavra.
  • 118. 117 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 117SUMÁRIO Figura 3: Vídeo pedagógico Fonte: http://www.alfafon.com.br Figura 4: Fonte: http://www.applestore.comapp.matraquinha Segundo Rivière (1995, p. 107) à medida que os objetos se inserem em suas relações com as pessoas, começam a cons- tituir-se temas de relação. Nesta perspectiva, quando o indivíduo é inserido ao meio e consegue compreender que os objetos são nomeados, que têm significado, função e aplicação a esse meio, consegue também se ver como agente ativo e integrante de um contexto que pode ser compartilhado. Dessa forma, a contextuali- zação, através programas pedagógicos, puderam dar vida e signifi- cado ao objetivo deste estudo.
  • 119. 118 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 118SUMÁRIO Observa-se um importante decréscimo na quantidade de erros no decorrer da aplicação dos testes. Sendo assim, a tecnologia precisa ser utilizada prudentemente, com o objetivo de perceber as necessidades para o seu uso consciente, pois é um meio impor- tante de auxílio a formação de sabedoria, visando alcançar tomadas de decisões mais precisas e avaliações mais acertadas (PRENSKY, 2009). Portanto, o autor recomenda e incentiva a criação de novas tecnologias que possam oportunizar progressos e desenvolvimento em benefício de toda a humanidade. Conclusão O objetivo deste estudo foi analisar a ampliação do reper- tório de um indivíduo com o Transtorno do Espectro Autista por meio da utilização de programas pedagógicos como instrumentos de intervenções. No decorrer de todo o processo trabalhou-se baseados nas competências e habilidades de comunicação da paciente, compro- metidas pelo transtorno, partindo de suas potencialidades mais explícitas. De acordo com os dados analisados percebe-se que com a aplicação de intervenções com a utilização de programas pedagógicos houve ampliação do repertório da paciente, compro- vados pela análise comparativa dos resultados das etapas de apli- cação dos testes, conforme a tabela 1 e 2. Observou-se que as intervenções foram atrativas e adequadas às necessidades do indi- víduo em questão. Com a análise feita nesse estudo, pode-se inferir que a apli- cação de intervenções com o uso de programas pedagógicos foi favorável para a ampliação do repertório da paciente, ocorrendo melhorias em suas habilidades sociais. Orientamos que outros
  • 120. 119 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 119SUMÁRIO profissionais que lidam, de alguma forma, com indivíduos autistas, se aprofundem e busquem desenvolver novos métodos e estraté- gias com a utilização de recursos tecnológicos, a fim de auxiliar esses indivíduos a terem uma melhor qualidade de vida. Referências AJURIAGUERRA, J.. Manual de Psiquiatria Infantile. 2a ed.; Barcelona: Toray-Masson, 1983. APPLE STORE. Disponível em: <https://itunes.apple.com/br/app/fast- forword-language> Acesso em: ASSUMPÇÃO F.B.J.; Autismo infantil: novas tendências e perspectivas. 2a ed.; São Paulo: Ed. Atheneu, 2015. BELIZÁRIO FILHO, José Ferreira. MEC - Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: transtornos globais do desenvolvimento. Volume 9. Fortaleza: UFC, 2010. BRASIL, Lei no 12.764 de 27 de dezembro de 2012. Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtornos do Espectro Autista. Presidência da República, Casa Civil. Disponível em: <https://bit. ly/2AytGhm> Acesso em: 17 set. 2018. CAMINHA, V.L.P.S.; [et. al.]. Autismo: vivências e caminhos. São Paulo: Blucher, 2016. CUNHA, E.. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na escola e na família. 7a ed. Rio de Janeiro: Wak, 2017. DIAS, F. M. A. A contribuição da tecnologia para obtenção de ganhos cognitivos de crianças autistas. Revista Philologus, Ano 24, n.72; Rio de Janeiro: CIFEFIL, set./dez. 2018. DOIDGE, N., O cérebro que se transforma: como a neurociência pode curar pessoas. 9a ed, Rio de Janeiro, Record, 2017. DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-V (American Psychiatric Association – M.I.C. Nascimento et. al.), 5a ed.; Porto Alegre: ArtMed, 2014.
  • 121. 120 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 120SUMÁRIO EDGARD, J.. OMS afirma que autismo afeta uma em cada 160 crianças no mundo. ONU News. Disponível em: <https://bit.ly/2yJFrjr> Acesso em: 17 set. 2018. FAST ForWord. Disponível em: <http://www.fastforword.com/who-it-is-for/ autism> Acesso em: LUQUETTI, F.C.E.; MOURA, A. S. Linguística em perspectiva: cognição e ensino de língua e literatura, Campos dos Goytacazes, RJ: Brasil Multicultural, 2017. MELLO, C. M. C.; SGANZERLA, M. A. R.. Aplicativo android para auxiliar no que? p. 231–239, 2013. OMS: Organização Mundial de Saúde. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento – CID-10, Porto Alegre: ArtMed, 1993. PEDRO W. (Org.). Guia Prático de Neuroeducação: Neuropsicopedagogia, Neuropsicologia e Neurociência. Rio de Janeiro: Wak, 2017. PRENSKY, Marc. H. Sapiens Digital: From Digital Immigrants and Digital Natives to Digital Wisdom, Innovate: Journal of Online Education: Vol. 5: Iss. 3, Article1. Available at: <htps://nsuworks.nova.edu/innovate/vol5/ iss3/1> Acssessed in: RIVIÈRE, A. Origem e desenvolvimento da função simbólica na criança. In: COLL, C.; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, A.. Desenvolvimento psicológico e educação I. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. p. 94-110. RUSSO, R. M.T. Neuropsicopedagogia Clínica: introdução, conceitos, teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2015. SBNPp. Sociedade Brasileira de Neuropsicopedagogia. Disponível em: <https://bit.ly/2qkqhgb> Acesso em: SEABRA, G. A.; DIAS, M. N.. Avaliação Neuropsicológica Cognitiva: linguagem oral, volume 2. ed. São Paulo: Memnon, 2012. VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
  • 122. CAPÍTULO 7 A FORMAÇÃO DE PROFESSORES SOB A ÓTICA DE EMPODERAMENTO E A CONSTRUÇÃO DE MENTES PENSANTES Carla Barbosa Ferreira Jossana dos Santos Bartolazzi Barbosa Maria Francisca Ribeiro Barbosa Monteiro 7CarlaBarbosaFerreira JossanadosSantosBartolazziBarbosa MariaFranciscaRibeiroBarbosaMonteiro DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.121-131 Aformação deprofessoressobaótica deempoderamento eaconstrução dementespensantes
  • 123. 122 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 122SUMÁRIO Resumo: O presente artigo estuda a formação de professores sob a ótica de empo- deramento e a construção de mentes pensantes, compreendendo que o professor tem um papel de destaque na mediação do conhecimento e na formação do sujeito. O ato de educar precede a toda e qualquer formação de professores. Surge a necessidade da preparação de profissionais espe- cíficos para exercer essa atividade, facilitando o processo de ensino-apren- dizagem e começando a nortear os passos da educação brasileira, dando largada a inumeros desafios enfrentados por esses profissionais até o momento atual, tanto quanto ao seu valor profissional, sua remuneração e a sua importância na formação de uma elite cultural do pais. Palavras-chave: Formação de professores, Empoderamento, Ensino-aprendizagem.
  • 124. 123 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 123SUMÁRIO Introdução O presente trabalho aborda a formação de Professores desde o surgimento da profissão, até os dias de hoje, com a legí- tima reflexão da importância e valorização do Professor enquanto construtor de mentes pensantes, como formador de opinião e responsável pela criação e manutenção de uma nação. Dentro do processo ensino-aprendizagem, há elementos que se tornam muito importantes para que, o mesmo, seja cumprido com sucesso. A pesquisa gira em torno da relação de valorização do outro e da autovalorização do Professor, considerando os enfrentamentos que vem vencendo, seja na esfera acadêmica, social ou pessoal. O problema que norteia este estudo é a desvalorização quanto a formação do Professor, a banalização da Educação e a necessidade de reflexão quanto a árdua e desafiadora tarefa, que é educar com amor, com inclusão e excelência, entendendo que essa reflexão também deveria partir dos profissionais envolvidos, recobrando a autoestima e o orgulho de seus ofícios, conseguindo dicotomizar as mazelas sociais e econômicas de sua formação vocacional e de livre escolha. Tais indivíduos apresentam desequi- líbrios que os impede de construir o conhecimento, impactando na autoestima e na motivação para aprender. Este estudo se justifica porque possui relevância social, pode nortear profissionais da Educação, chamando a atenção para a tamanha responsabilidade que é a escolha da formação de profes- sores. Que para além de mediadores do processo de ensino-apren- dizagem, são multiplicadores do bem, de amor, de valores, de princípios, são exemplos e quando exercem esse ofício com amor, dedicação e excelência, tornam-se inesquecíveis na memória de cada educando. Tem-se como objetivo geral, observar como tem
  • 125. 124 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 124SUMÁRIO sido a formação de Professores ao longo do tempo e recobrar a sua importância, seus diferenciais e desafios. A Pesquisa tem como objetivos específicos apontar como a Formação de Professores, pode impactar positivamente na socie- dade e identificar os resultados obtidos com a boa influência deles na vida de crianças e adolescentes a margem. Observando como a afetividade influencia na aprendizagem e na valorização do profis- sional envolvido. Propor estratégias que aumentem a autoestima do professor, reduzindo possíveis sintomas que o afetem negativa- mente e que o convidem para olhar em uma direção, enxergando e construindo novas frentes e novas possibilidades. A hipótese deste estudo constitui-se da seguinte afirmativa: A Formação de Professores valorizados e empoderados pode contri- buir para a educação de forma diferenciada, bem como terá um melhor gerenciamento emocional, mais motivado e trabalhando a afetividade com eficazes instrumentos. Quanto a finalidade da pesquisa, ela é bibliográfica, pois através de estudos de literaturas publicadas se pode refletir tanto na formação de professores quanto no seu empoderamento e utilizar essas ideias para mediar as situações vivenciadas na sala de aula e na vida do educador em sociedade. O surgimento da Formação de Professores no Brasil Não há como falar da formação de professores no Brasil, sem fazer correlação com fatos históricos. Partindo do pressuposto de que é possível compreender o contexto por meio de sua histo- ricidade, pois, não há atualidade nacional que não seja processo histórico (FREIRE, 2012, p. 25). Após a proclamação da República
  • 126. 125 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 125SUMÁRIO houve a preocupação com o preparo de professores. Mesmo na década de 50, 60 e 70 o índice de analfabetismo é vultuoso, foi a Industrialização que trouxe um grande e acelerado crescimento populacional e consequentemente a necessidade de formar mais professores para atender essa demanda. Contudo, desde o Império até a instauração da República, a instrução primária não era centralizada, ficando sob a responsa- bilidade das províncias. O governo central ocupava-se do ensino secundário e superior administrando o ensino primário somente no Distrito Federal. Diante da ausência do governo central, os estados passaram a ser os protagonistas das ações educacionais sob sua jurisdição. Em 1890 o estado de São Paulo iniciou uma ampla reforma educacional alcançando avanços no que diz respeito ao desenvolvimento qualitativo e quantitativo das escolas de formação de professores” (TANURI, 2000). Nesse contexto, havia uma preo- cupação com a implantação do ensino graduado na Escola Normal, afinal, “a condição prévia para a eficácia da escola primária é a adequada formação de seus professores” (SAVIANI, 2011). Dentro do contexto histórico, a formação de professores vem sofrendo transformações e é tema muito discutido atualmente, onde se analisa como são formados os professores e como se dão as práticas pedagógicas mediante a desafios diários. O termo professor, segundo o dicionário Aurélio, refere-se a um substantivo masculino, indivíduo que ensina, ministra disciplinas, matérias, numa escola ou universidade; aquele cuja especialização ou formação acadêmica é ensinar; mestre; quem sabe muito sobre um assunto ou coisa; perito; quem professa uma crença ou religião; que possui título de professor ou se especializou na área do ensino.
  • 127. 126 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 126SUMÁRIO A Formação de Professores e o empoderamento Defendemos o empoderamento do professor para que ele tenha acesso a uma formação de alta qualidade, salários justos e oportunidades sucessivas para o desenvolvimento profissional. É possibilitar ao docente, ter liberdade para apoiar o desenvolvimento dos currículos nacionais assim como a autonomia profissional para escolher as abordagens e os métodos mais adequados. Atributos que o farão capaz de ensinar com garantia, em tempos de incons- tâncias políticas e subversões. Por muito tempo, a formação inicial foi concebida como satisfa- tória por si só na preparação do educador, por toda a vida profissional. Entretanto, com o avanço das inúmeras pesquisas, a globalização do conhecimento, a modernização e avanços nas diversas áreas do conhecimento, faz-se necessário a atualização e aperfeiçoamento constante, principalmente daqueles que atuam na educação: A formação não se esgota na formação inicial, devendo prosseguir ao longo da carreira, de forma coerente e integrada, respondendo às necessidades de formação sentidas pelo próprio sistema educativo, resultantes das mudanças sociais e/ou do próprio sistema de ensino (RODRIGUES; ESTEVES, 1993, p. 41). Professores de sucesso buscam constantemente o aprimora- mento e reflexão de suas práticas e de seus conhecimentos. Assim, a formação continuada propicia que o professor reflita sobre a sua prática adquirindo a utilização de metodologias mais adequadas à realidade, possibilitando contato com discussões teóricas mais atuais. [...] na formação permanente dos professores, o momento funda- mental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criti- camente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática” (FREIRE, 1996, p. 43-44). O desenvolvimento pessoal do docente perpassa pela vertente profissional. Como cita Nóvoa (1995), permitindo aos professores
  • 128. 127 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 127SUMÁRIO apropriar-se de seus processos de formação e dar-lhes um sentido no quadro de suas histórias de vida (NÓVOA, 1995, p. 25). Nesse sentido, as práticas de formação continuada, além de serem voltadas para as mais novas pesquisas, não podem perder o cunho prático, de forma a considerarem as bagagens e experiên- cias dos educadores. Como referência, as dimensões coletivas, contribuem para a eman- cipação profissional e para a consolidação de uma profissão que é autônoma na produção dos seus saberes e dos seus valores (NÓVOA, 1995, p. 27). A formação continuada deve corresponder à uma fase de formação constante, incluindo todas as atividades planejadas pelas escolas e, pelos próprios professores, de modo a promover o desenvolvimento e satisfação pessoal além do aprimoramento como profissional. Não podemos deixar de explanar que é também objetivo da formação continuada de professores, levar o profissional a suprimir dificuldades, sempre alçando uma maior competência profissional. Ressaltamos ainda, a nível de formatação das formações continuadas, o “nascimento” de espaços, como: seminários, fóruns, cursos de extensão etc. Porém, insta refletir sobre o aspecto forma- tivo dessas atividades como em Candau (1997): A formação continuada não pode ser concebida como um meio de acumulação (de cursos, palestras, seminários, etc., de conhecimentos e técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal e profissional, em interação mútua (CANDAU, 1997, p. 64). Faz-se fundamental para os professores de todos os níveis educacionais ter a liberdade acadêmica para sustentar suas habi- lidades de inovar, descobrir e atualizar-se quanto às mais recentes pesquisas pedagógicas.
  • 129. 128 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 128SUMÁRIO Neste ponto de vista, Paulo Freire, em seu livro Professora sim, tia não, relata o contrassenso presente em alguns projetos educa- cionais e projetos de formação de professor organizados como “pacotes” que tem em suas preleções o fim de criar mentes críticas e criativas, mas tem como perspectiva e destino, professores tímidos e refreados em sua autonomia e na autonomia de sua escola. Acreditamos que seria necessário e urgente, projetos voltados para uma formação continuada entre pessoas com seus saberes e seus fazeres que, pensem coletivamente, troquem expe- riências bem-sucedidas e, dessa forma, gerem reflexões sobre o próprio trabalho e acreditem na idealização entre teoria e prática para a reinvenção de suas próprias práticas cotidianas. Contribuições da Formação Continuada para o rendimento escolar do aluno Nos dias atuais, recebemos um enorme volume de informa- ções a todo momento, embora esta só se constitua em conheci- mento quando vem permeada de sentido. Transformar informação em conhecimento, é de fundamental importância, através de boas práticas pedagógicas do professor, já que livros e internet apenas informam, sendo necessária a intervenção do professor para que o conhecimento ocorra de forma significativa. A formação continuada nesse contexto, tem muito a oferecer, porque ajuda o professor a melhorar cada vez mais suas práticas pedagógicas e com isso apoiar os alunos na construção de conhe- cimentos, e não apenas no acúmulo de informações. Ela é realizada após a formação inicial e tem como objetivo assegurar um ensino de qualidade para agregar conhecimento que o capacite a atuar de forma impactante no contexto profissional.
  • 130. 129 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 129SUMÁRIO Essa formação, é vista como um processo permanente e constante de aperfeiçoamento dos saberes necessários à atividade dos educadores, bem como à evolução das práticas pedagógicas e às novas tendências educacionais, contribuindo nesse processo para agregar conhecimento que o capacite a atuar de forma impac- tante no contexto profissional. Acompanhando a rápida evolução do mundo moderno, a tecnologia assume um lugar de destaque no processo de apren- dizagem, a formação de professores também acompanha essa evolução, por meio dos cursos de formação continuada online e cursos que oferecem tutorias para apoio ao professor ou que adotam metodologias capazes de fazer, através do uso da tecno- logia, a formação continuada ainda mais produtiva, abordando temas como: • Como desenvolver as competências socioemocionais dos alunos; • Práticas de sala de aula (oratória, planejamento e controle de turma); • Incorporação das novas tecnologias e tendências na sala de aula; • Métodos de avaliação e acompanhamento do desempenho e desenvolvimento dos alunos. Pode-se observar que os educadores que veem na formação continuada um aliado para sua prática, ministram aulas mais dinâ- micas, percebem e interferem com mais facilidade nas dificuldades dos alunos, conseguem um maior engajamento dos alunos nas ativi- dades propostas, adaptam-se às mudanças do mundo moderno, abrindo espaço para novas e significativas práticas, contribuindo assim com todos os aspectos pedagógicos.
  • 131. 130 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 130SUMÁRIO Conclusão Nos dias atuais, com o advento da tecnologia, globalização e informatização da educação, é necessário também que o educador acompanhe e se atualize de modo a compreender e a buscar saber atender as novas demandas que vão surgindo, sem deixar de levar em conta a sua importância, o seu valor enquanto profissional e mediador na construção de mentes pensantes. A formação continuada atualmente pode ser vista para a maioria dos educadores como um divisor de águas, na medida em que contribui de forma significativa para o trabalho docente, favo- recendo a criação de novos ambientes de aprendizagem e dando novo significado às práticas pedagógicas. A evolução do mundo cibernético, exige do educador uma formação que abranja as competências técnica, política e científica, que o capacite a atuação com mais criticidade. Conclui-se, através dos estudos, que a formação de profes- sores, que a sua práxis, se associada a valorização do profissional envolvido, aliado a resiliência frente aos desafios impostos na socie- dade, políticos e econômicos, vem atrelado ao orgulho de educar, de construir mentes pensantes, críticas e capazes de transcender as mazelas sociais, ele é visto por um olhar diferenciado, ele se sentirá mais valorizado também e isso facilitará o processo de ensino-aprendizagem.
  • 132. 131 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 131SUMÁRIO Referências Dicionário Aurélio Século XXI, versão digital, Manual do Usuário, Prefácio. FREIRE, Paulo. Educação e Atualidade Brasileira, 1956. ROMÃO, Eustáquio (Org.). São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2012. TANURI, Leonor Maria. História da Formação de Professores. Revista Brasileira de Educação. Campinas: n.14, p. 61-88, mai./jun./jul./ago., 2000. SAVIANI, Dermeval. Educação e colonização: as ideias pedagógicas no Brasil. In: STEPHANOU, Maria e BASTOS, Maria H. (Orgs.) Histórias e memórias da educação no Brasil, vol. I: séculos XVI-XVIII. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p. 121-130. PERRENOUD, P. et. al.. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação; Porto Alegre: Artmed, 2002. GATTI, Bernadete Angelina (Coord.); BARRETO, Elba Siqueira de Sá. Professores do Brasil: impasses e desafios. Brasília/DF: UNESCO, 2009.
  • 133. CAPÍTULO 8 A CONTRIBUIÇÃO DE APLICATIVOS E SOFTWARES NO ENSINO DA MATEMÁTICA PARA CRIANÇAS AUTISTAS Fabrízia Miranda de Alvarenga Dias Daniele Fernandes Rodrigues Adriana Fantoni Naurath Colares 8FabríziaMirandadeAlvarengaDias DanieleFernandesRodrigues AdrianaFantoniNaurathColares DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.132-145 Acontribuição deaplicativosesoftwares noensinodaMatemática paracriançasautistas
  • 134. 133 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 133SUMÁRIO Resumo: O presente trabalho tem como objetivo analisar softwares e aplicativos que podem ser utilizados no ensino de matemática com alunos autistas. Os alunos dessa geração encontram-se inseridos na era tecnológica. Dessa forma, foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório e uma análise comparativa de algumas ferramentas tecnológicas disponíveis. Ao término da pesquisa e da análise final foi possível verificar a importância da utili- zação desses novos recursos no processo de ensino-aprendizagem de alunos com o Transtorno do Espectro Autista – TEA, por propiciar maior interesse no desenvolvimento das tarefas matemáticas e facilitar o seu processo de aprendizagem. Palavras-chave: Autismo; Matemática; Tecnologia.
  • 135. 134 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 134SUMÁRIO Introdução O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido muito pesquisado, principalmente na área da educação. De acordo com dados extraídos do Censo Escolar, que são divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o índice de alunos com TEA matriculados nas escolas, em classes comuns no Brasil, aumentou 37,27% no decorrer de um ano. Sabe-se que em 2017, existiam 77.102, dentre crianças e adolescentes, com o transtorno. Em 2018, esse índice subiu para 105.842 alunos. Os índices divulgados consideram estudantes de escolas públicas e privadas. (INEP, 2018) O aluno com TEA está amparado legalmente pela lei no 12.764/12, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoas com TEA, no que tange à sua inclusão na educação regular e na sociedade como um todo. Nessa perspectiva, questio- na-se de que forma o uso de aplicativos e softwares pode contribuir para o ensino da matemática a alunos com TEA? A partir desses pressupostos, propõe-se uma pesquisa biblio- gráfica de caráter exploratório, com um levantamento das possíveis ferramentas tecnológicas que atendam à educação de alunos com TEA no campo da Matemática; e a descrição das possibilidades de contribuição que esses recursos podem proporcionar ao aluno com esse transtorno. A proposta desse estudo se justifica pelo número cres- cente de alunos com TEA nas classes comuns, tendo em vista que a lei assegura a inclusão desses alunos na educação regular. Pretende-se ainda prover caminhos para o fazer docente, oportu- nizando um processo de ensino-aprendizagem mais efetivo no desenvolvimento cognitivo dessas crianças.
  • 136. 135 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 135SUMÁRIO Transtorno do Espectro Autista e o uso da tecnologia O Transtorno do Espectro Autista tem sido tratado como um transtorno do neurodesenvolvimento, com causas ainda desconhe- cidas. O TEA é um transtorno que intriga as àreas da medicina e da educação, no entanto, diversos estudos apontam seus sintomas como de origem genética e a fatores ambientais. (CUNHA, 2017). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2014), define as características do TEA: [...] déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para inte- ração social e em habilidades para desenvolver, manter e compre- ender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (DSM-V, 2014, p. 32). Desta forma, o aluno com TEA poderá apresentar uma variedade de dificuldades no decorrer do seu processo de apren- dizagem, devido a implicação de seus sintomas na execução das tarefas escolares ou atividades realizadas em sala de aula. Contudo, a sua permanência na escola está respaldada por lei, desde 2012. Neste aspecto, a lei no 12.764/12, que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoas com TEA, trata o indivíduo com TEA como portador de síndrome clínica, cujas carac- terísticas são: I – de ciência persistente e clinicamente significativa da comuni- cação e da interação sociais, manifestada por de ciência marcada de comunicação verbal e não verbal usada para interação social; ausência de reciprocidade social; falência em desenvolver e manter relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; II – padrões restritivos e repetitivos de comportamentos, interesses e atividades, manifestados por comportamentos motores ou verbais
  • 137. 136 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 136SUMÁRIO estereotipados ou por comportamentos sensoriais incomuns; exces- siva aderência a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; interesses restritos entre outros (BRASIL, 2012, Art. 1, § 1). Desse modo, os sujeitos com TEA possuem necessidades educativas especiais (NEE), tais quais: fisioterapia, para o desenvol- vimento de habilidades motoras; fonoaudiologia, para melhoria do desenvolvimento da linguagem; terapia ocupacional, para trabalhar as suas habilidades em lidar com as atividades da vida diária; meto- dologia especializada de ensino que considere os seus interesses ou hiperfoco; a utilização de instrumentos que possam facilitar o seu processo de aprendizagem, dentre outras necessidades. Para tanto, a Declaração de Salamanca (1994), que afirma a necessidade de inclusão total e incondicional, para todos os alunos nas escolas, inclusive os alunos que precisam de educação espe- cial, chegando-se ao conceito de educação inclusiva. A Política Nacional de Educação Especial (PNEE) define os alunos que neces- sitam de educação especial como indivíduos que por apresentarem necessidades próprias e diferenciadas de outros alunos, no campo do estabelecido pelo currículo escolar correspondentes à sua idade, precisa de recursos e metodologias pedagógicos e educacionais específicas (MEC, 1994). AsDiretrizesNacionaisparaaEducaçãoEspecialnaEducação Básica (2001), defende as providências a serem tomadas que darão condições à inclusão dos indivíduos com necessidades educativas especiais, regulamentando a garantia do direito de acesso e perma- nência desses alunos e orientando-os para a inclusão em classes comuns do sistema regular de ensino. Sendo assim, as práticas pedagógicas, projetos e até mesmo a estrutura do ambiente físico escolar devem respeitar a diversidade de seus alunos. Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades
  • 138. 137 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 137SUMÁRIO educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos (BRASIL, 2001, p. 1). Neste sentido, as ferramentas tecnológicas podem ser consi- deradas bons instrumentos para facilitar o aprendizado de alunos com necessidades educativas especiais, incluindo os indivíduos com TEA (CUNHA, 2017). A Tecnologia Assistiva, tem sido uma forma de nomear os recursos tecnológicos voltados para indivíduos com necessidades especiais e foi definida em 1988, por meio de lei pública, como qual- quer item, peça de equipamento ou sistema de produtos, quando adquiridos comercialmente, modificados, ou feito sob medida, que é usado para aumentar, manter ou melhorar as habilidades funcio- nais do Indivíduo com limitações funcionais (MELLO, 1997). Nesta perspectiva, a tecnologia assistiva se diferencia da tecnologia reabilitadora por ser utilizada no auxílio do desempenho de tarefas, na tentativa de reduzir as incapacidades ou dificuldades, enquanto a reabilitadora propõe-se a ajudar na recuperação de movimentos reduzidos em função, por exemplo, de uma patologia ou lesão (MELLO, 1997). As pesquisas que o uso dessas ferramentas de maneira planejada e adaptada, em ambiente de aprendizagem, são impor- tantes no desenvolvimento de sujeitos com necessidades especiais. A tecnologia assistiva tem auxiliado aos pacientes com autismo, em seu desenvolvimento cognitivo e habilidades sociais (MELLO & SGANZERLA, 2013). EmsetratandodasTecnologiasdaInformaçãoeComunicação (TICs), os recursos tecnológicos se diversificam ainda mais. Esta terminologia, refere-se à união da tecnologia computacional com a tecnologia das telecomunicações, caracterizada, especialmente, pela conexão à internet. Miranda (2007), demonstrou em suas
  • 139. 138 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 138SUMÁRIO pesquisas que havia uma influência positiva na utilização das TICs na educação, se tonando um meio facilitador do processo de apren- dizagem dos alunos (MIRANDA, 2007). Segundo Coscarrelli (2016, p. 161), o desenvolvimento das TICs e sua crescente utilização no contexto social nos remete à necessidade premente de que a escola tem que estar atenta e aberta às mudanças que a inserção da sociedade no mundo digital exige. As novas gerações estão envolvidas pela tecnologia, e findam por ir em busca de seu próprio conhecimento. Nesse sentido, urge uma atitude mais eficaz da escola, ratifi- cada por Soares (2000, p. 77), ao afirmar que a educação é cobrada a comprometer-se com o desenvolvimento de competências para o uso da ciência e tecnologia, resolução de problemas e novos contextos. Dessa forma, a tecnologia pode e deve ser utilizada com intuito de oportunizar a otimização do processo de aprendizagem. No decorrer do aprendizado, uma variedade de processos internos, relacionados ao desenvolvimento do sujeito, são desper- tados. No entanto, a aplicação desse aprendizado somente ocorre quando o aluno interage com outros indivíduos em seu ambiente, demonstrando que a socialização de alunos autistas no meio escolar é fator preponderante para a concretização de seu aprendi- zado e que de alguma forma, a tecnologia pode também colaborar nesse aspecto (PASSERINO, 2005). A pesquisa realizada por Oliveira (et al, 2008), com a utili- zação de softwares na educação matemática com alunos autistas, observou-se resultados positivos na aprendizagem dos alunos. As pesquisas têm apontado que a utilização das tecnologias digitais, pode propiciar uma melhor qualidade de vida aos pacientes com TEA, frente aos desafios e superação de suas dificuldades,
  • 140. 139 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 139SUMÁRIO principalmente no que tange à interação social (CAMINHA et al., 2006; SANTOS et al., 2014; KRAUSE et al., 2016). Método TEACCH Este programa, fundado em 1972, pelo Doutor Eric Schopler tem a sigla em inglês Treatment and Education of Autistic and Related Communication-Handicapped Children – TEACCH (Tratamento e educação de crianças com autismo e dificuldades de comuni- cação), foi criado para aplicação no âmbito educacional e clínico. Teixeira (2016), define o método: É uma metodologia amplamente utilizada durante a aprendizagem de crianças com autismo. O método procura ensinar habilidades através de pistas visuais, como cartões ilustrados ou figuras que mostram à criança como se vestir a partir de informações quebradas em pequenos passos (TEIXEIRA, 2016, p. 68). O programa é voltado predominantemente à psicopeda- gogia. O método foi criado a partir de um projeto de pesquisa que buscou observar os comportamentos de crianças autistas frente a diferentes estímulos, em diferentes situações (DRUMMOND, 2016). Nas pesquisas de Schopler (1972), acerca das crianças autistas, verificou-se que seus comportamentos inadequados pode- riam ser modificados à medida que essas crianças conseguiam se expressar e ter compreensão sobre o que era esperado delas. Foi observado ainda, que elas respondiam de forma mais consis- tente aos estímulos visuais do que aos auditivos. O método traz a concepção sobre a importância da manipulação do ambiente, com a finalidade de reduzir ou amenizar os comportamentos considerados inadequados, reforçando positivamente as condutas adequadas. De acordo com Clevelares (2017), no que tange à utilização do método aplicado à linguagem:
  • 141. 140 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 140SUMÁRIO […] inicialmente não-verbal, é um sistema simbólico complexo e se baseia na interiorização das experiências. Assim, esta vai dando significados às ações e aos objetos e consolidando a linguagem interior. Portanto, a linguagem é resultado da transformação da infor- mação sensorial em símbolos e signos. O método utiliza estímulos visuais, corporais, auditivos e sinestésicos para buscar a linguagem oral (ou uma comunicação alternativa) (CLEVELARES et al., p. 1302). Nesse sentido, em sala de aula, o professor no ensino da tarefa deverá conduzir as mãos do aluno, procurando utilizar os cartões e as imagens como apoio visual. O objetivo é que aos poucos a criança possa realizar a tarefa por si só, guiada pelos cartões e, posteriormente, essa atividade possa ser integrada à sua rotina., de forma a não mais precisar dos cartões, dando início ao ensino da próxima tarefa. Sendo assim, considerando os avanços das novas tecnolo- gias frente à proposta do método TEACCH, encontra-se diversos softwares e aplicativos que buscam reproduzir essa linguagem para atender demandas de indivíduos com TEA ou não. Aplicativos e softwares para autistas Os dados levantados apresentam softwares e aplicativos disponibilizados para o ensino da Matemática para aplicação em indivíduos com TEA. Para tanto, visitou-se o site do Projeto Participar, da UnB (Universidade de Brasília), que foi criado pelos alunos do curso de Ciências da Computação Tiago Galvão e Renato Domingues, sob a supervisão do professor Wilson Veneziano. O projeto tem como objetivo levar aos indivíduos com TEA e Deficiência Intelectual uma nova perspectiva de educação voltada para seu conhecimento de mundo. Neste aspecto, encontrou-se o software “Somar”, que contempla tarefas sobre matemática social,
  • 142. 141 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 141SUMÁRIO coma utilização de cédulas monetárias, calculadora e leitura de reló- gios digitais. Figura 1: Capa do software Somar Fonte: http://www.projetoparticipar.unb.br Os softwares disponíveis no site do Projeto Participar foram testados na APAE – Brasília. O Somar pode ser baixado gratuita- mente, e funciona bem em computadores de baixa capacidade. O software JClic foi criado por Francesc Busquest, para funcionar em diversos ambientes operacionais: Linux, MAC iOS, Windows e Solaris. De acordo com os autores, o software pode ser usado livremente, e se encontra disponível em português e pode ser baixado gratuitamente. O JClic possibilita a criação de recursos de aplicações didáticas e interativas, contendo atividades para desen- volvimento do raciocínio lógico e matemático, tais quais: quebra-ca- beças, jogos de pares, enigmas, palavras-cruzadas, entre outros; e propicia ainda que seu usuário crie atividades conforme alguns modelos apresentados pelo software.
  • 143. 142 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 142SUMÁRIO Figura 2: JClic Fonte: https://jclic.br.uptodown.com/windows No site da Apple Store pode-se encontrar um interessante aplicativo chamado O rei da Matemática. Trata-se de um jogo de matemática dentro de um ambiente medieval em que o usuário pode alcançar um status social respondendo às perguntas de mate- mática e solucionando os enigmas. Dessa forma, o usuário pode juntar estrelas, ganhar medalhas e competir com seus familiares e amigos. A finalidade é ganhar o jogo e tornar-se Rei ou Rainha da Matemática. Em sua versão gratuita está incluso o aprendizado de Contagem, Adição e Subtração. O jogo também pode ser adquirido em uma compra única incluindo o aprendizado da Multiplicação, Divisão, Geometria, Comparação, Medição, Enigmas, Frações.
  • 144. 143 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 143SUMÁRIO Figura 3: O rei da Matemática Fonte: https://itunes.apple.com/pt/app/rei-da-matematica-junior-gratis Sendo assim, os recursos apresentados são apenas algumas ferramentas disponíveis na internet para ensino da matemática a indivíduos com TEA, dentre outros existentes, gratuitamente ou pagos, mas que também podem ser utilizados como recursos didá- ticos na Educação Inclusiva. Conclusão Esta pesquisa buscou analisar softwares e aplicativos que podem ser utilizados no ensino de matemática com alunos autistas. A partir do que foi proposto nesse estudo, observou-se a impor- tância da discussão sobre o uso das TICs na educação para alunos autistas. Dessa forma, ficou claro que frente as dificuldades apre- sentadas pelas as características do Transtorno do Espectro Autista, associadas ao crescente número de alunos com TEA nas classes comuns, é necessário que o professor busque novas formas de ensino da matemática.
  • 145. 144 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 144SUMÁRIO Nesta perspectiva, os softwares e aplicativos tornam-se ferra- mentas valiosas, visto que o aluno da atual geração está inserido nesse mundo. Sendo assim, esses recursos devem ser aprovei- tados para o ensino de conteúdos específicos em um contexto mais próximos da vivência dessas crianças, aproveitando o seu interesse e motivação para um aprendizado mais lúdico. Ao término da pesquisa e da análise final foi possível veri- ficar a importância da utilização desses novos recursos no processo de ensino-aprendizagem de alunos com o Transtorno do Espectro Autista - TEA, por propiciar maior interesse no desenvolvimento das tarefas matemáticas e facilitar o seu processo de aprendizagem, buscando que as suas fragilidades possam ser desenvolvidas e as potencialidades ressaltadas. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Declaração de Salamanca. 1994. Disponível em: http:// portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca. pdf. Acesso em: Maio de 2019. _____. Ministério da Educação. Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica. Secretaria de Educação Especial. Brasília: MEC/SEESP, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/ pdf/CEB0201.pdf> Acesso em: Mai. 2019. _____. Lei nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista; e altera o § 3o do art. 98 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990. Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ ato2011-2014/2012/lei/l12764.htm> Acesso em: Mai. de 2019. CAMINHA, V.L.P.S.; [et al.]. Autismo: vivências e caminhos. São Paulo: Blucher, 2016. COSCARELLI, C. V. Tecnologias para aprender. 1ª Ed., São Paulo, Parábola editorial, 2016.
  • 146. 145 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 145SUMÁRIO CUNHA, E. Autismo e inclusão: psicopedagogia práticas educativas na escola e na família. 7a ed. Rio de Janeiro: Wak, 2017. DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-V (American Psychiatric Association – M.I.C. Nascimento et al., Trad); 5a ed.; Porto Alegre: ArtMed, 2014. DRUMOND, Simone Helen Ischkanian. Projeto: Autismo e Educação. Métodos, programas e técnicas educacionais para autistas. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/SimoneHelenDrumond/93-metodos-para- pessoas-autistas> Acesso em: Set. 2016. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. MEDEIROS, Edmar da Silva; RODRIGUES, Cleyton Mário de Oliveira. Uma proposta de uso do método TEACCH para criança autista de 6 a 9 anos usando o JClic. Disponível em: <http://pt.slideshare.net/edmarcrazy/ artigo-autismo> Acesso em: Mai. 2019. MELLO, M. Tecnologia assistiva. In: GREVE, J. M. D.; AMATUZZI, M. M. Medicina de reabilitação aplicada à ortopedia e traumatologia. São Paulo: Manole, 1997. MELLO, Cleusimari M. Colombo; SGANZERLA, Maria Adelina Raupp. Educação Matemática e Inclusão. VI Congresso Internacional de Ensino da Matemática, 2013. Disponível em: <http://www.conferencias.ulbra.br/ index.php/ciem/vi/paper/viewFile/994/98> Acesso em: Mai. 2019. MIRANDA, Guilherme Lobato. Limites e possibilidades das TIC na educação. Revista de Ciências da Educação, 2007. Disponível em: <http://s3.amazonaws. AJ56TQJRTWSMTNPEA&Expires=1473278710&Signature=dypVqwm8 VcrwdQYy3Is8nmFnksk%3D&responsecontentdisposition=inline%3B%20 lename%3DLimites_e_ possibilidades_das_TIC_na_educ.pdf> Acesso em: Mai. 2019. PASSERINO, Liliana Maria. Pessoas com Autismo em Ambientes Digitais de Aprendizagem: estudo dos processos de Interação Social e Mediação. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2005. SCHWARTZMAN, S. J. Autismo Infantil. Brasília, Corde, 1994. Site do Projeto Participar. Disponível em: <http://www.projetoparticipar.unb.br/> Acesso em: Mai. 2019. SOARES, S. G.. Arquitetura da Identidade: sobre educação, ensino e aprendizagem. São Paulo, Ed. Cortez, 2000. TEIXEIRA, G.. Manual do Autismo. 3a ed., Rio de Janeiro, BestSeller, 2017.
  • 147. CAPÍTULO 9 SUSTENTABILIDADE – ALELOPATIA: UMA ALTERNATIVA À UTILIZAÇÃO DE AGROQUÍMICOS Luciana Moreno dos Santos Luciana Ribeiro Coutinho de Oliveira Mansur Fábio Nascimento Custodio 9LucianaMorenodosSantos LucianaRibeiroCoutinhodeOliveiraMansur FábioNascimentoCustodio DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.146-164 Sustentabilidade– Alelopatia: umaalternativa àutilizaçãodeagroquímicos
  • 148. 147 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 147SUMÁRIO Resumo: Em virtude do desenvolvimento do agronegócio, uma série de agroquímicos vêm sendo utilizados indiscriminadamente pelo setor. A alelopatia insere-se neste contexto como uma alternativa agroecológica ao cultivo. Relações ecológicas entre as espécies ajudam no entendimento da interação entre as substâncias químicas e o controle delas, sendo tais observações de grande valia para o entendimento da relação planta-planta, avaliando não apenas substâncias puras, mas o efeito sinérgico entre elas. A alelopatia desta- ca-se como uma forma de estudo da relação entre espécies de plantas, fungos e patógenos, buscando alternativas agrícolas sustentáveis. Neste capítulo, evidenciamos os estudos que resultem na busca por moléculas alelopáticas e sua importância. Palavras-chave: Sustentabilidade; Alelopatia; Agroquímicos.
  • 149. 148 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 148SUMÁRIO Introdução Das mais de 200.000 espécies existentes no Brasil, estima-se que a metade pode vir a apresentar alguma utilidade à população embora nem 1% dessas espécies tenham sido alvos de estudos adequados (MARTINS, 2003). Devido à diversidade da flora brasileira é possível que hoje uma enorme diversidade de compostos ainda não estudados e testados biologicamente. Estudos adequados de matrizes de origem natural envolvendo grupos multidisciplinares podem dar origem à descoberta de diversas substâncias que poderão apresentar apli- cações tecnológicas das mais diversas (YUNES e CALIXTO, 2001). Produtos naturais têm sido considerados como uma verda- deira biblioteca fornecendo uma diversidade química e desejável perfil farmacológico. Tais compostos são descritos como fonte alta- mente significativa para o desenvolvimento de novas drogas (WANG et al., 2011). Tais compostos naturais são capazes de interagir com específicos alvos intracelulares e tem se tornado fonte de inspiração para o desenvolvimento de novas drogas (MISHRA e TIWARI, 2011). A alelopatia é utilizada no controle da competição de culturas sendo uma das opções de controle cultural para possível inclusão em sistemas de cultivo (ALGANDAIBER e EL-DARBER, 2016). A busca por alternativas a utilização agroquímicos não se dá de forma diferente. A necessidade de substâncias que controlem pragas e doenças por mecanismos de ação diferentes, evidenciam a necessidade do controle de tais patógenos e espécies daninhas, muitas vezes já resistências aos produtos disponíveis no mercado. Agroquímicos causam diversos problemas a saúde da população. Devido a este fato, o estudo de relações alelopática, e resultados positivos, podem ser extremamente importantes, viabilizando o cultivo
  • 150. 149 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 149SUMÁRIO de alimentos sem utilização de agroquímicos. Tais alimentos, conhe- cidos como orgânicos, trazem benefícios em relação a seu consumo. Eles são considerados mais indicados ao consumo. A utilização de relações alelopáticas, vem de encontro a necessidade, do cultivo de alimentos sem utilização de agroquímicos (UDDIN et al., 2017). Química ecológica e sustentabilidade A Alelopatia vem se destacando como ramo da química ecológica com aplicações agronômicas que cercam as interações planta-planta. Tal área da ciência vem se desenvolvendo ampla- mente nas últimas quatro décadas. Diversas definições já foram usadas para explicar a Alelopatia como ciência e seus fenômenos. Tais compostos nada mais são que metabólitos secundários estu- dados pela química de produtos naturais (POULION et al., 2018, MARTINS, 2001). As relações de compostos naturais oriundos de plantas vêm sendo estudada por diversos autores. A busca por alternativas sustentáveis na agricultura insere-se neste contexto de forma a mini- mizar a ação destes compostos como agentes poluidores ambien- tais. Neste caso existem duas vertentes de pesquisa, uma aliada a questões de agricultura orgânica e natural na busca de compostos inibidores principalmente de espécies daninhas, sendo tais compostos denominados aleloquímicos. Tais compostos, frações ou até mesmo extratos de diversas espécies são ainda avaliados em relação a sua interação com outras espécies culminando em uma nova área de pesquisa denominada química ecológica aliada a diversas áreas de conhecimento como a nutrição e agronomia (SILVA e SILVA, 2007; YUNES e CALIXTO, 2001). Em outra linha de pesquisa observamos a busca e a desco- berta de novos compostos de origem natural provenientes de
  • 151. 150 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 150SUMÁRIO plantas, fungos ou animais, provenientes do isolamento das mesmas, dosagem e posterior síntese de tais compostos com objetivo de se produzirem herbicidas comerciais (DEMUNER et al., 2006; MORAES e BRAZ-FILHO, 2007). Mesmo apresentando objetivos diferentes, tais áreas buscam na realidade a mesma coisa, compostos originários de produtos naturais que apresentem atividade fitotóxica ao crescimento de plantas daninhas, o que leva ao aumento da produtividade agrí- cola e a melhora da qualidade do alimento. Plantas daninhas representam a maior parte dos gastos acerca do cultivo de alimentos. Seu controle nas lavouras se faz necessário para manutenção da produtividade agrícola e, também, da qualidade do alimento a ser distribuído. A Alelopatia visa em sua essência o estudo das relações entre tais espécies, buscando de forma natural seu controle (ALGANDAIBER & EL-DARIER, 2017). Estudos apontam espécies vegetais como herbicidas naturais (alelo- químicos) em potencial, auxiliando o manejo ecológico do cultivo se tornando uma alternativa a utilização de agroquímicos sintéticos, o que certamente leva a melhor qualidade do alimento como um todo (KREMER et al., 2016; ROCHA et al., 2016). Agentes químicos produzidos em algumas plantas podem provocar alterações no desenvolvimento de outras plantas ou até mesmo de outros organismos. Segundo IGANCI e colaboradores (2006), o uso de ensaios biológicos para avaliação da bioatividade de extratos, frações e compostos isolados em plantas tem sido frequentemente incorporado à identificação de substâncias poten- cialmente tóxicas. Estudos referentes ao efeito de aleloquímicos fitotóxicos sobre a germinação e/ou desenvolvimento de plantas são manifestações secundárias de processos ocorridos em níveis molecular e celular inicialmente, porém a maioria dos estudos se refere apenas a esses parâmetros sem considerar os efeitos celu- lares relacionados a mudanças fisiológicas e genéticas.
  • 152. 151 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 151SUMÁRIO No estudo realizado avaliou-se o efeito do extrato aquoso de três diferentes espécies de boldo-daterra (Plectrantus barbatus - Lamiaceae), o boldo-miúdo (Plectrantus amboinicus – Lamiaceae) e o boldo-baiano (Vernonia condensata - Asteraceae), sobre a germi- nação e Allium cepa. A fitoxicidade foi avaliada através do índice mitótico contado através da técnica de varredura. Os bioensaios realizados revelaram que os extratos vegetais interferiram sobre a germinação e sobre a divisão celular em células meristemáticas; revelaram ainda que sementes expostas ao extrato de Vernonia condensata apresentaram as maiores divergências em relação ao grupo controle. Baseado em estudos utilizando produtos naturais tanto de origem fúngica como de origem vegetal e relacionamento os mesmos ao efeito alelopática causado em espécies indicadores, levam a obtenção de moléculas que apresentam bioatividade alelo- pática. Tais conceitos e a busca por moléculas bioativas, são alvos neste trabalho. A presença de produtos naturais com potencial atividade alelopática veem sendo testadas e estudadas. Eles são utilizados como bioindicadores em fracionamento bioguiado para isolamento de produtos naturais com atividade fito tóxica previa- mente atestada. Produtos naturais alelopáticos Produtos naturais com atividades biológicas diversas remontam a antiguidade. Sua utilização por civilizações antigas tais como egípcia, persa e grega já foram relatados em diversos trabalhos e são até os dias atuais bastante discutidos. Biblicamente, a necessidade do controle de espécies daninhas fora relatada quando se faz menção a parábola da separação entre o “joio e o trigo” (BARBOSA, 2004).
  • 153. 152 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 152SUMÁRIO A fitotoxicidade de compostos naturais oriundos de plantas vem sendo estudada por diversos autores. Neste caso existem duas vertentes de pesquisa, uma aliada a questões de agricultura orgâ- nica e natural na busca de compostos inibidores principalmente de espécies daninhas, sendo tais compostos denominados aleloquí- micos. Neste caso tais compostos, frações ou até mesmo extratos, são ainda avaliados em relação a sua interação com outras espécies culminando em uma nova área de pesquisa dentro da química de produtos naturais denominada química ecológica (SILVA & SILVA, 2007; YUNES & CALIXTO, 2001; OLIVEIRA et al., 2015). Ao longo da evolução, as fontes vegetais desenvolveram algumas vantagens em relação à ação de microrganismos, vírus, insetos, e outros patógenos e predadores, seja inibido por sua ativi- dade, como agente de defesa para combate de organismos patogê- nicos, insetos e herbívoros predadores; ou atuando como agentes de competição para modificação do comportamento germinativo e do crescimento de espécies vegetais estranhas (TUR et al., 2010), o que evidencia sua possível utilização como agente alelopático. Diversos estudos têm sido realizados para a avaliação da atividade fitotóxica das mais diversas fontes vegetais, comparadas às espé- cies daninhas como alternativa a utilização de herbicidas sintéticos acarretando diminuição dos impactos ambientais causados pela aplicação deles. A substância mimosina (ß-[N-(3-hidroxi-4-oxipiridil)]-α- aminopropiônico), classificada como aminoácido não protéico (Figura 01) foi evidenciada como aleloquímico responsável pela bioatividade apresentada em estudo realizado por PIRES et al. (2001). O trabalho apresenta o estudo da atividade alelopática da espécie leucena (Leucaena leucocephala (Larm.) de Wit) sob as espécies daninhas Desmodium purpureum, Bidens pilosa, Amaranthus hybridus. Embora relatos indiquem a presença de outras substâncias como quercetina, ácido gálico, os ácidos
  • 154. 153 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 153SUMÁRIO protecatequino, p-hidroxibenzóico, p-hidroxifenilacético, vanílico, ferúlico, caféico e p-cumárico no extrato aquoso das folhas de leucena, o efeito alelopático é atribuído somente a mimosina. A análise do extrato se deu através de cromatografia líquida de alta eficiência. A substância foi evidenciada como responsável pela inibição do crescimento dessas espécies sendo destacada a importância da utilização de bioensaios em laboratório como indicador da ação de biomoléculas ressaltando a importância de identificação e quantificação delas. N O CH2 C OH NH2H Figura 1: Estrutura molecular da substância mimosina Fonte: O monitoramento de fitoquímicos com propriedades poten- cialmente tóxicas podem ser avaliados por alterações fisiológicas em organismos testes. SOUZA FILHO e colaboradores (2006) rela- taram que sementes de alface e tomate foram, por serem consi- deradas sensíveis a alterações, escolhidas como bioindicadora de aleloquímicos. Neste estudo os autores ressaltam que alguns compostos apresentaram atividade alelopática em altas concentra- ções, porém em concentrações mais baixas podem não estimular o mesmo processo. Na avaliação da atividade alelopática e do extrato aquoso da espinheira – santa (Maytenus ilicifolia Mart. Ex Reiss) foi identifi- cada a presença de três classes de metabólitos secundário através de testes simples: saponinas, taninos e flavonóides (flavonas). O extrato analisado foi o aquoso apresentando efeito alelopático sobre
  • 155. 154 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 154SUMÁRIO sementes de alface que foram relacionadas à presença das classes de biocompostos identificados; embora não tenha sido realizado neste estudo o fracionamento fitoquímico. Interações ecológicas Os aleloquímicos são definidos como substâncias que libe- radas por organismos vegetais provocam mudança fisiológica ou comportamental em outro organismo, sendo denominado semio- químico. Estas substâncias podem ter ação intraespecífica (fero- mônios) ou interespecíficas (aleloquímicos) (FERREIRA et al., 2007, WANG et al., 2015). Os aleloquímicos podem ser classificados em: cariomônios, alomônios e sinônimos de acordo com o tipo de sinal químico liberado e com os efeitos apresentados em relação a outras espécies. Os cario- mônios apresentam sinais químicos que quando liberados beneficiam apenas o agente receptor; os alomônios apresentam sinais químicos que favorecem apenas o agente emissor e os sinônimos apresentam sinais químicos que favorecem tanto o agente receptor como o agente emissor (FERREIRA et al., 2001). Agentes químicos produzidos em algumas plantas podem provocar alterações no desenvolvimento de outras plantas ou até mesmo de outros organismos. Segundo Iganci et al. (2006), o uso de ensaios biológicos para a avaliação da bioatividade de extratos, frações e compostos isolados em plantas tem sido frequentemente incorporado a identifi- cação de substâncias potencialmente tóxicas. Estudos referentes ao efeito de aleloquímicos sobre a germinação e/ou desenvolvimento de plantas são manifestações secundárias de processos ocorridos em níveis molecular e celular inicialmente, porém a maioria dos estudos se refere apenas a esses parâmetros sem considerar os efeitos celulares relacionados a mudanças fisiológicas e genéticas.
  • 156. 155 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 155SUMÁRIO No estudo realizado avaliou-se o efeito do extrato aquoso de três diferentes espécies de boldo-da- terra (Plectrantus barbatus - Lamiaceae), o boldo-miúdo (Plectrantus amboinicus – Lamiaceae) e o boldo-baiano (Vernonia condensata - Asteraceae), sobre a germi- nação e Allium cepa. A fitoxicidade foi avaliada através do índice mitótico contado através da técnica de varredura. Os bioensaios realizados revelaram que os extratos vegetais interferiram sobre a germinação e sobre a divisão celular em células meristemáticas; revelaram ainda que sementes expostas ao extrato de Vernonia condensata apresentaram as maiores divergências em relação ao grupo controle. A importância da pesquisa com plantas medicinais é indi- cada no trabalho realizado por OLGUIN e colaboradores (2006); pesquisas dessa ordem geralmente são iniciadas com a investi- gação de seu potencial biológico, citando a avaliação do potencial biológico alelopático como extremamente relevante para determi- nação de substâncias biotivas. Vernonia tweediana Baker é uma planta considerada resistente, provavelmente devido à presença de substâncias alelopáticas com potencial fitotóxica. Seu poten- cial biológico alelopático foi avaliado a partir dos extratos de suas raízes. Os extratos avaliados indicaram a presença de substâncias alelopáticas com potencial fitotóxica nos extratos hexânicos e em acetato de etila; a presença de substâncias sesquiterpênicas e flavonóides foram citados como aleloquímicos responsáveis pela atividade apresentada (SHEM et al., 2014). Substâncias alelopáticas: Compostos fitotóxicos naturais As plantas produzem e estocam grande quantidade de produtos do metabolismo secundário nas suas diversas partes
  • 157. 156 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 156SUMÁRIO (folhas, caules, raízes, flores e sementes), que são posteriormente liberados para o ambiente (YUNES e CALIXTO, 2001). Ao longo da evolução, as fontes vegetais desenvolveram algumas vantagens em relação à ação de microorganismos, vírus, insetos, e outros patógenos e predadores, seja inibido por sua ativi- dade, como agente de defesa para combate de organismos patogê- nicos, insetos e herbívoros predadores; ou atuando como agentes de competição para modificação do comportamento germinativo e do crescimento de espécies vegetais estranhas (SILVA e SILVA, 2007), o que evidencia sua possível utilização como agente alelopático. As substâncias biossintetizados a partir do metabolismo secundário de plantas são classificadas em diferentes grupos quanto à estrutura química e as propriedades físico-químicas apre- sentadas. Das classes de metabólitos conhecidos, grande parte apresenta atividade alelopática, assim se destacam os efeitos das fitoalexinas; flavonóides, iso flavonóides, chalconas, auronas e xantinas; flavonas, flavonóis e glicosídeos gerados; ligninas; monoterpenos e monoterpenóides; naftoquinonas, antraquinonas, estilbenos e fenantrenos; poliacetilênicos, policetonas, saponinas, sesquiterpenos e sesquiterpenóides, taninos, triterpenos e trieterpe- nóides (SILVA e SILVA, 2007). Entretanto, a classe de metabólitos a qual a atividade alelopática tem sido evidenciada refere-se principal- mente a terpenos, alcalóides e compostos fenólicos, sendo citada ainda a atividade de alguns esteróides, ácidos graxos de cadeia longa e lactonas insaturadas (YUNES e CALIXTO, 2001); quanto aos aleloquímicos voláteis a maioria são compostos terpenóides, desta- cando-se os monoterpenos e sesquiterpenos (SILVA e SILVA, 2007). Algumas classes do metabolismo secundário de plantas, ainda não foram efetivamente avaliadas quanto à atividade alelopá- tica embora suas características químicas, e a presença de diversas
  • 158. 157 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 157SUMÁRIO classes substâncias em seus extratos, possam atuar de forma sinér- gica (SOUZA FILHO, 2006). Compostos fenólicos atuam como agentes de defesa e ainda como agentes de competição para modificação do compor- tamento germinativo e do crescimento de espécies vegetais estra- nhas (SOUZA et al., 2005); concentra-se, principalmente, na parte aérea das plantas, ocorrendo em menor concentração nas raízes e nos rizomas. Apresentam como principais funções biológicas à atração de insetos polinizadores e proteção contra nocivos, reações contra infecções virais e fúngica (fitoalexinas), colaboração com os hormônios no processo de crescimento, inibição de ações enzimá- ticas e participação no sistema redox das células (MARTINS et al., 2003). Embora a utilização de tais compostos na medicina seja bem expressiva, sua atividade alelopática ainda não é muito explorada, principalmente se detendo a relações estrutura atividade. Estudos realizados com os flavonóides canferol e querce- tina (Figura 02) isolados a partir das folhas de Gleiquenia pectinata indicaram a atividade alelopática dessa classe de compostos. As análises dos testes de germinação indicaram que a quercetina esti- mulou a germinação em 45% ao passo que o canferol apresentou maior inibição da germinação, porém a mistura dos flavonóides esti- mulou a germinação em cerca de 104% (YUNES e CALIXTO, 2001). OHO HO OH O OH OH OH OHO OH OH O Canferol Quercetina Figura 2: Flavonídes com atividade alelopática
  • 159. 158 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 158SUMÁRIO A composição e a concentração dessas substâncias dependem de fatores ambientais. Todavia podem ser liberadas para o ambiente quando lavados das folhas verdes, lixiviados de folhas secas, volatilizado das folhas, exsudados das raízes, ou libe- rados durante a decomposição de restos de plantas. Mesmo flores e frutos podem ser fontes de fitoalexinas alelopáticas, em alguns casos as substâncias não são fitotóxicas até terem sido alteradas pelo próprio ambiente, seja por degradação química normal ou pela ação de microrganismos (GOETZE e THOMÉ, 2004); podendo ser absorvidos diretamente pela cutícula das plantas vizinhas por meio dos próprios vapores, ou condensados no orvalho, e ainda alcançar o solo, onde são absorvidos pelas raízes. O efeito de um aleloquímico depende da sua concentração e da quantidade total de fitotoxina disponível para absorção, pois, semelhante ao que acontece com os nutrientes, as plantas competem pelas toxinas disponíveis (SILVA e SILVA, 2007). A presença de determinados aleloquímicos em alguns extratos pode ser feita através de testes simples que indicam apenas a presença das diversas classes de metabólitos, sendo esta técnica mais utilizada nos trabalhos que visam apenas à relação entre espécie e a classe de compostos responsável pela atividade alelopática, não se importando com a substância química respon- sável pela atividade (CHAGAS, 2004; SOUZA et al., 2005). Bioensaios alelopáticos A espécie Lactuca sativa é considerada bioindicadora de atividade alelopática devido à grande sensibilidade, apresentar germinação rápida e uniforme, e grau de sensibilidade que permite expressar os resultados sob baixas concentrações de substâncias
  • 160. 159 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 159SUMÁRIO alelopáticas (ALVES et al., 2004) sendo por isso escolhida como espécie a ser submetida a avaliação alelopática em grande parte dos estudos realizados. As avaliações através de bioensaios alelopáticos das mais diversas espécies acompanham a resposta biológica durante as fases de extração, fracionamento, purificação e identificação dos compostos bioativos. Muitas pesquisas realizadas em laboratórios e em casa-de-vegetação têm relatado o potencial alelopático de diversas famílias de vegetais, utilizando ensaios de germinação e crescimento de espécies alvo, embora ainda se busque um padrão para a realização de bioensaios alelopáticos. As avaliações alelopáticas podem ocorrem em laboratório e posteriormente em casa-de-vegetação. Em casa de vegetação destaca-se a importância para melhor avaliação das interações entre a planta e o ambiente em que vivem. A germinação é acom- panhada pela emergência da plântula na superfície do substrato. Massa seca e comprimento das plântulas são os parâmetros mais utilizados para se avaliar o efeito alelopático sobre o crescimento (FERREIRA e ÁQUILA, 2000). Os bioensaios mais utilizados são o de inibição, ou, algumas vezes, a estimulação da germinação de sementes, porém bioensaios de crescimento e desenvolvimento também são utilizados para a avaliação da atividade alelopática. Em diversos trabalhos enfocando a avaliação da atividade alelopática são utilizados extratos aquosos (SOUZA et al., 2005; IGANCI et al., 2006; SOUZA et al., 2007); porém, em alguns casos extratos metanólicos, etanólicos e hidroalcoólicos têm sido também avaliados (SOUZA FILHO et al., 2006; SANTOS et al., 2006). Quando se têm indícios de que uma planta possua atividade alelopática, a técnica preliminar envolve o preparo de extratos aquosos ou hidro- alcoólicos da parte da planta na qual que se pretende desenvolver o estudo.
  • 161. 160 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 160SUMÁRIO Substâncias químicas consideradas mais comuns como causadoras de atividade alelopática pertencem ao grupo dos ácidos fenólicos, cumarinas, terpenóides, flavonóides glicosídeos, cianogê- nicos, derivados do ácido benzóico, taninos e quinonas complexas. Além disto, os extratos polares são preferenciais para a obtenção de substâncias fenólicas que são descritos como portadores de ativi- dade alelopática (SILVA E SILVA, 2007; HOAGLAND, 2001). É importante ressaltar que testes biológicos relativamente simples são imprescindíveis para se localizar a bioatividade procu- rada no extrato da planta e nas numerosas frações obtidas nas diferentes etapas de purificação e separação. A sensibilidade dos testes deverá ser ampla, pois alguns compostos estão presentes em pequenas concentrações devendo ser ainda específicos para determinados alvos biológicos (DUKE et al., 2002; HOSTETTMAN et al., 2003). Conclusão Diversos estudos têm sido realizados acerca da avaliação da atividade alelopática das mais diversas fontes vegetais e biomolé- culas isoladas, comparadas às espécies daninhas como alternativa a utilização de herbicidas sintéticos, acarretando diminuição dos impactos ambientais causados pela aplicação deles. A busca por biocompostos, bem como extratos e espécies alelopáticas é de suma importância para o desenvolvimento de uma agricultura sustentável, que cause menos impactos ambientais. Sabe-se que a utilização indiscriminada de agroquímicos é hoje problema de saúde e nos daria este assunto, um novo capítulo. Avaliações alelopáticas, são de extrema importância na busca do entendimento das relações entre plantas, microrganismos e
  • 162. 161 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 161SUMÁRIO insetos de forma a se buscar novos compostos com atividade agro- química em potencial. A alelopatia planta-planta, já muito é muito utilizada tanto na busca de novas biomoléculas, como na busca de extratos e frações que apresentem atividade, direcionando assim a atividade biológica apresentada por espécies vegetais. Com base no exposto, podemos afirmar que a busca por novas técnicas e por moléculas alelopáticas é de extrema importância para o desenvolvimento sustentável e obtenção de alimentos mais saudá- veis para a população. A alelopatia aliada a agricultura orgânica surge como nova forma de avaliação da interação entre as espécies de plantas e microrganismos de forma ecológica e sustentável. Referências ALGANDAIBER e EL-DARBER (2016). Management of the noxious weed; Medicago polymorpha L. via allelopathy of some medicinal plants from Taif region. Saudi Arabi. Saudi Journal of Biological Sciences, p. 1-9. In Press. ALVES, M. C. S., FILHO, M. S., INNECCO, R., TORRES, S. B. Alelopatia de Atividade alelopática de leucena sobre espécies de plantas daninha. Scientia Baker. Revista Varia Scientia, v.5, n.10, p. 137-143, 2004. BARBOSA, L. C. A. Os pesticidas, o homem e o meio ambiente. 1ª ed. Viçosa: Editora UFV, 2004. 215 p. CHAGAS, A. C. S. (2004) Controle de parasitas usando extratos vegetais. Revista de insetos. São Carlos: Ed. UFSCar, 176p. DEMUNER, A. J.; BARBOSA, L. C. A.; VEIGA, T. A. M.; BARRETO, R. W.; KING-DIAZ, B.; LOTINA-HENNSEN, B. Phytotoxic constituents form Nymbia alternatherae. Biochemical Systematics and Ecology. v. 34, p. 790-795, 2006. DUKE, S. O.; DAYAN, F. E.; RIMANDO, A. M.; SCHRADER, K. K.; ALIOTTA, G.; OLIVA, A.; ROMAGNI, J. G. Chemicals from nature for weed management. Weed Science, v. 50, p. 138-151, 2002. FERREIRA, A. G., ÁQUILA, M. E. A. Alelopatia: uma área emergente da ecofisiologia. Revista Brasileira de Fisiologia, v.12, p. 175-204, 2000.
  • 163. 162 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 162SUMÁRIO FERREIRA, M. C., SOUZA, J. R. P., FARIA, T. J. Potencial alelopático de extratos vegetais na germinação e no crescimento inicial de picão-preto e alface. Ciência Agrotécnica, v.31, n.4, p. 1054-1060, 2007. HOAGLAND, R. E. Microbial allelochemicals and pathogens as bioherbicial agents. WeedTechnology, v. 15, p. 835-857, 2001. HOSTETTMANN, K., QUEIROZ., E. F., VIEIRA, C. P. (2003) Princípios Ativos de Plantas Superiores.1.ed. São Carlos: EdUFSCAr, 136p IGANCI, J. R. V., BOBROWSKI, V. L., HEIDEN, G., STEIN, V. C., ROCHA, B. H. G.. Índice mitótico de Alliun cepa L. Arq. Instituto de Biologia, São Paulo, v.73, n.1, p. 79-82, 2006. KREMER, T. C.B.; YAMASHITA, O.M.; FELITO, R.A.; FERREIRA, A.C.T.; ARAÚJO, C.F. Atividade alelopática de extrato aquoso de Croton glandulosus L. na germinação e no desenvolvimento inicial de alface. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, v.14, n.1, p. 890-898, 2016. MACÍAS, F. A.; MOLINILLO, J. M. G.; VARELA, R. M.; GALINDO, J. C. G. Allelophaty – a natural alternative for weed control (2007). Pest Management Science, v. 63, p. 327-348, 2007. MARTIN F.; HAY A. E.; CORNO L.; GUPTA M. P.; HOSTETTMANN K. (2007). Iridoid glycosides from the stems of Pithecoctenium crucigerum (Bignoneaceae). Phytochemistry, v. 68 p. 1307-1311, 2007. MARTINS, E. R., CASTRO, D. M., CASTELLANI, D., C. DIAS, J. E. (2003) Plantas Medicinais, 5.ed. Viçosa: UFV, 220p. MISHRA B.B.; TIWARI, V, K. (2011). Nactural Products role in future drug discovery. European Journal of Medicinal Chemistry. v. 46, p. 4769-4807, 2011. MORAIS & BRAZ-FILHO (2007). Produtos Naturais Estudos Químicos e Biológicos, 1ª.ed. Fortaleza, EdUECE, 2007, 238p. OLGUIM, C. F. A., HAMERSKI, L., PERCIO, M. F., Somensi, A. Avaliação do potencial alelopático dos extratos fracionados da raiz de Vernonia Tweendiana Baker. Revista Varia Scientia, v.5, n.10, p. 137-143, 2006. OLIVEIRA, J.S.; PEIXOTO, C.P.; POELKING, V.G.C.; ALMEIDA, A.T. Avaliação de extratos das espécies Helianthus annuus, Brachiaria brizantha e Sorghum bicolor com potencial alelopático para uso como herbicida natural. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Campinas/SP v.17, n.3, p. 379-384, 2015.
  • 164. 163 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 163SUMÁRIO PIRES, N. M.; PRATES, H. T.; FILHO, I. A. P. F.; OLIVEIRA JR, R. S.; FARIA, T. C. L. Atividade Alelopática de Leucena Sobre Espécies de Plantas Daninha. Scientia Agrícola, v.58 n.1, p. 61-65, 2001. POSER G. L.; SCHRISPSEMA J.; HENRIQUES A. T.; JENSEN S. R. The distribtion of iridoids in Bignoneaceae. Biochemical Systematics and Ecology v. 28, p. 351-366, 2000. POULIN, R. X.; HOGAN S.; POULSON-ELLESTAD, K. L.; BROWN, E., FERNANDEZ, F. M.; KUBANCK, J. (2018). Karenia brevis allelopathy compromises the lipidome membrane integrity, and photosynthesis of competitor. Scientific Reports. 8:9572. DOI:10.1038/s41598-018-27845, 2018. ROCHA, A.M.; FELITO, R.A.; YAMASHITA, O.M.; GERVAZIO, W.; KREMER, T.C. B. Estudos Preliminares Para o Potencial Uso do Repolho Como Herbicida Natural: Práticas Para o Manejo Agroecológico. Cadernos de Agroecologia, v.11, n.2, 2016. SHEN, W.; MAO, H.; HUANG, Q.; DONG, J. Benzenediol lactones: a class of fungal metabolites with diverse structural features and biological activities. European Journal of Medicinal Chemistry, In Press, Corrected Proof, Available online 3 December 2014. SILVA W. P. K.; KARUNANAYAKE. E. H.; WIJESUNDERA, R. I. C.; PRIYANKA, M.S. Genetic variation in Corynespora cassiicola: a possible relationship betweem host origin anda virulence. Mycol. Res. v. 05, p. 567-571, 2005. SILVA, A. A., SILVA, J. F., (2007) Tópicos em Manejo de Plantas Daninhas. 1.ed. Viçosa: UFV, 367p. SILVA, A. C. Potencial Alelopático de Myrcia guinensis. Planta Daninha, Viçosa v.24, p. 121-29, 2006. SOUZA FILHO, A. P. S.. Interferência Potencialmente Alelopática do Capim- Gengibre (Paspalum matitimum) Em Áreas de Pastagens Cultivadas. Planta Daninha, v.24, n.3, p. 451- 456, 2006. SOUZA FILHO, A. P. S., PEREIRA, A. A. G. E BAYMA, J. C. Aleloquímico Produzido Pela Gramínia Forrageira Brachiaria humidicola. Planta Daninha, v. 23, n. 1, p. 25-32, 2005. SOUZA FILHO, A. P. S., SANTOS, R. A., SANTOS, L. S., GUILHON, G. M. P., SANTOS, A. S., ARRUDA, M. S. P., MULLER, A. H., ARRUDA, A. C. Potencial Alelopático de Myrcia guinensis. Planta Daninha, v. 24, n.4. p. 649-656, 2006.
  • 165. 164 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 164SUMÁRIO SOUZA FILHO, A. P. S., SANTOS, R. A., SANTOS, L. S., GUILHON, G. M. P., SANTOS, A. S., ARRUDA, M. S. P., MULLER, A. H., ARRUDA. Interferência Potencialmente Alelopática do Capim-Gengibre (Paspalum matitimum) Em Áreas de Pastagens Cultivadas. Planta Daninha, v. 24, n.3, p. 451- 456, 2006. TUR, C.M.; BORELLA, J.; PASTORINI, L.H. Alelopatia de extratos aquosos de Duranta repens sobre a germinação e o crescimento inicial de Lactuca sativa e Lycopersicum esculentum. Biotemas, v. 23, n. 2, p. 13-22; 2010. UDDIN, M. N.; ROBINSON, R. W., BUULTJIENS, A.; HARUN, M. A. Y. A, SHAMPA S. H. Role of allelopathy of Phragmites australis in its invasion processes. Journal of Experimental Marine Biologyand Ecology, v. 86, p. 237-244, 2017. WANG B.; GAO Y.; ZHU L.; XU Y. The screening toolbox bioactive substances from natural products: A review. Fitoterapia v. 82, p. 1141- 1151, 2011. YUNES, R. A.; CALIXTO, J. B. (2001). Plantas Medicinais sob a ótica da Química Medicinal Moderna. 2ª.ed. Chapecó: Argos, 532p.
  • 166. CAPÍTULO 10 PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL DE SAÚDE NA FORMAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS PARA O SUS: CONEXÕES ENTRE DELORS E PERRENOUD ALICERÇANDO QUALIDADE NO LATO SENSU Maura Nogueira Cobra Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira 10MauraNogueiraCobra BiancaIsabelaAcamporaeSilvaFerreira DOI: 10.31560/pimentacultural/2019.614.165-178 Programaderesidência multiprofissionaldeSaúde naformaçãodeRecursos HumanosparaoSUS: conexõesentreDelorsePerrenoud alicerçandoqualidadenoLatoSensu
  • 167. 166 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 166SUMÁRIO Resumo: A formação de recursos humanos do SUS vem sendo discutida e o processo atual de formação deve ser articulado com o mundo do trabalho, rompendo a separação entre teoria e prática. O estudo objetivou refletir sobre os quatro pilares da educação expostos por Jacques Delors: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Propôs analisar, à luz de Perrenoud, as competências docentes frente à ação de educador e do profissional atuante. O método adotado foi o de revisão de literatura. Os resultados apontaram que o perfil profissional poderá ser conquistado com êxito em programas de residência multiprofissional. O cenário favo- rece a vivência real do SUS e corrobora com o aprender a ser e aprender a conviver. Palavras-chave: Residência multiprofissional, Recursos Humanos, SUS.
  • 168. 167 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 167SUMÁRIO Introdução A partir da Criação do SUS, a formação de recursos humanos vem sendo discutida a respeito da mudança do perfil profissional capaz de consolidar o referencial teórico proposto nos princípios do SUS e da LDBEN. No cenário atual de mudanças no processo de trabalho em saúde, com a introdução de inovações tecnológicas e de novas formas de organização do trabalho, o desenvolvimento das práticasprofissionaisqueconsideremocontextosocialeaconcepção em saúde, tem se tornado fundamental como estratégias de reorde- nação setorial e institucional no Sistema Único de Saúde - SUS. A formação do profissional, nas diversas ocupações da área da saúde, ainda está pautada no modelo biomédico, fragmentado e especializado, o que tem dificultado a compreensão dos determi- nantes e a intervenção sobre os condicionantes do processo saúde- -doença da população. A fragmentação do conhecimento, que caracteriza a formação inicial na maior parte dos cursos, predispõe à mesma ocorrência na prática, o que cria obstáculos para a cons- trução da integralidade da assistência. Com a intenção de construir um novo conhecimento, que tenha impacto na resolução de problemas de saúde da população, o trabalho em equipe, com vistas à interdisciplinaridade, tem sido foco de atenção na formação e qualificação dos trabalhadores em saúde, considerando a extrema importância da interação e da troca de conhecimentos, a partir de princípios éticos e respeito nas relações entre trabalhadores e usuários dos serviços. Deste modo, processo atual de formação deve ser articulado com o mundo do trabalho, rompendo a separação existente entre teoria e prática e estimulando os profissionais a desenvolver um olhar crítico reflexivo que possibilite transformação dos métodos, tendo em vista a
  • 169. 168 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 168SUMÁRIO resolubilidade e a qualidade dos serviços prestados à comunidade (PPC, PUC – SP, 2013). Os estágios existentes nos cursos da área da saúde, geral- mente são concentrados no momento profissionalizante destes cursos, objetivam, através de atividades eminentemente práticas, a aplicação de conhecimentos adquiridos e a habilitação para o exercício profissional. Em geral, as práticas são realizadas em serviços públicos visando minimizar o distanciamento entre o ensino e a realidade social buscando formar profissionais com visão mais realística do mercado e das necessidades sociais. Porém, nem sempre os resultados são esses e pode ocorrer por motivos diversos e complexos. Entre os motivos, destaca-se a inadequação dos serviços à docência, sua ineficiência em responder às Diretrizes do SUS, e o fazer pedagógico relacionado ao trabalho em saúde (GARCIA, 2000). Em 1988, no Brasil, a Nova Constituição foi promulgada após 21 anos de regime militar e entrou em vigor em 05 de outubro de 1988. A Nova Constituinte culminou para a Reforma Sanitária Brasileira e pelo o mesmo marco histórico, uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDBEN tornou-se necessária. A reforma Sanitária Brasileira ocorreu em 1988, antes da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDBEN que data de 1996. Assim como foi regulamentado para a educação brasileira, a Constituição Nacional também garantiu como dever do Estado o acesso à saúde de forma Universal. O Sistema Único de Saúde (SUS) foi implantado em 1988 através da Nova Constituição, porém passou a ser regu- lamentado pela Lei Federal n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990, que dispõe sobre a organização e regulação das ações de saúde, e Lei Federal n.º 8.142, de 28 de dezembro de 1990, que trata do financiamento da saúde e da participação popular.
  • 170. 169 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 169SUMÁRIO A partir da legislação citada, as ações e serviços de saúde se constituem em um sistema único e integram uma rede regionali- zada, hierarquizada e integralizada que presta atendimento a todos os cidadãos brasileiros. O princípio da integralidade surge como norteador da formulação das políticas públicas de saúde e espe- cificamente em relação aos trabalhadores para esse setor, que já exposto na Constituição Nacional, cabe ao SUS ordenar a formação de recursos humanos na área da saúde. Na Lei orgânica da Saúde, o título relativo aos recursos humanos afirma que a política para os trabalhadores da área da saúde deve cumprir o objetivo de organizar um sistema de formação em todos os níveis de ensino; graduação, pós-gradu- ação, além de programas de educação permanente e aperfeiçoa- mento profissional. Estão cadastrados no e-MEC 747 cursos de especiali- zação na área da saúde e bem-estar. Apenas 421 cursos cadas- trados possuem carga horária mínima de 5000 horas. Em todo o território nacional, 45 cursos são identificados como Residência Multiprofissional em Saúde, e no Estado do Rio de Janeiro apenas 2 instituições públicas oferecem cursos neste formato. (BRASIL, e-MEC, 2019). Sobre o perfil do profissional que se pretende formar nos Programas de Residência Multiprofissional o estudo objetivou: refletir sobre os quatro pilares da educação exposto por Jacques Delors: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser. Quanto ao papel do professor, que nos Programas de residência, denomina-se preceptor, o estudo propôs analisar à luz de Philippe Perrenoud, as competências docentes frente à ação de educador e do profissional atuante.
  • 171. 170 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 170SUMÁRIO Sobre o perfil profissional que se pretende formar em conso- nância aos princípios do sistema, pretendeu-se respaldar teori- camente esse debate baseado em Delors e Perrenoud quanto à formação baseada em competência, as competências do preceptor no processo formativo dos egressos; discutir o incentivo aos programas de residência multiprofissional como a melhor opção de formação lato sensu. Ométodoadotadofoioderevisãodeliteraturaatravésdaleitura das obras de Perrenoud (1999, 2000) e Delors (1998), da Legislação específica para implantação de Programas Multiprofissionais de Residência em Saúde, de Projetos Pedagógicos de Programas já implantados e artigos científicos. A definição do programa de residência multiprofissional da Saúde, legislação e regulamentação Programa de Residência, por definição, é uma modalidade de ensino em nível de pós-graduação lato sensu, que se caracteriza como treinamento em serviço sob a supervisão de profissionais habilitados. Programas como esse são poucos no Brasil e em sua maioria são desenvolvidos por Instituições Públicas com algumas iniciativas da rede privada de assistência. Temos como exemplo na cidade de São Paulo, Programas desenvolvidos no Hospital Sírio-Libanês e Albert Einstein. No Estado do Rio de Janeiro, todos cursos são públicos como os do Instituto Fernandes Figueira - FIOCRUZ e Hospital Pedro Ernesto - UERJ. Parcerias entre Instituições privadas (IES e Serviços de Saúde) para Programas de Residência são ações inovadoras. As residências multiprofissionais e em área profissional da saúde, foram criadas a partir da promulgação da Lei n° 11.129 de 2005, são orientadas pelos princípios e diretrizes do Sistema Único
  • 172. 171 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 171SUMÁRIO de Saúde (SUS), a partir das necessidades e realidades locais e regionais (BRASIL, PORTAL MEC, 2015). Segundo a Resolução da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde - CNRMS nº 02, 13 de abril de 2012, caracteriza-se como Residência Multiprofissional em Saúde o programa que for constituído por, no mínimo, 03 (três) profissões da saúde. Abrange as profissões da área da saúde, a saber: Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia, Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional (RESOLUÇÃO CNS nº 287/1998). Os Programas de Residência Multiprofissional são regu- lamentados e controlados, segundo a Portaria Interministerial nº 1.320, de 11 de Novembro de 2010, pela COMISSÃO NACIONAL DE RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE (CNRMS). É um órgão colegiado de deliberação, criada pela Lei nº 11.129, 30 de Junho de 2005, que tem por finalidade “atuar na formulação e execução do controle dos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde e em Área Profissional de Saúde.” A Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde – CNRMS possui as seguintes atribuições: 1) Avaliar e acreditar os programas de Residência Multiprofissional em Saúde e Residência em Área Profissional da Saúde de acordo com os princípios e diretrizes do SUS e que atendam às necessi- dades sócioepidemiológicas da população brasileira. 2) Credenciar os programas de Residência Multiprofissional em Saúde e Residência em Área Profissional da Saúde bem como as instituições habilitadas para oferecê-lo. 3) Registrar certificados de Programas de Residência Multiprofissional em Saúde e Residência em Área Profissional da Saúde, de validade nacional, com especificação de categoria e ênfase do programa (Lei nº 11.129, 2005). A Comissão citada exige para implantação de um programa de RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL os seguintes requisitos base- ados na Resolução CNRMS nº 5 de 7 de novembro de 2014, são:
  • 173. 172 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 172SUMÁRIO 1) Os cursos deverão ter duração mínima de dois anos, com carga horária mínima de 5.760 horas, 60 horas semanais, ter 20% de estra- tégias educacionais teóricas e teórico-práticas e 80% de atividades práticas”, possuir PPC, ter bolsa de trabalho (Resolução CNRMS nº 5, 2014). De acordo com a Lei 11.129/05, podem se habilitar como proponentes as instituições que se enquadrem em situações, a saber: I. Instituição de ensino superior reconhecida por sistema oficial de ensino brasileiro, com cursos de graduação e/ou pós-gradu- ação na área da saúde = Documento de autorização ou reconhe- cimento da instituição de ensino superior e a data de validade; II. Instituição de pesquisa ou de ciência e tecnologia com autorização da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior - CAPES para a oferta de cursos de pós-graduação Stricto Sensu = Documento que comprove a autorização da CAPES; III. Instituição pública, filantrópica ou privada do setor da saúde = Número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica acompanhado da razão social e Número do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (exceto para instituições de medicina veterinária); IV. Serviço de saúde certificado em conjunto pelos setores da educação e da saúde como instituição escola ou serviço de saúde reconhecido pelo setor da saúde como rede SUSEscola = Declaração do secre- tário de saúde do município ou do Estado, com Justificativa que caracterize que a instituição proponente é um serviço - escola ou que compõe um sistema de saúde escola; V.  Instituição ou serviço de saúde que abrigue em caráter permanente e contínuo programas de Residência Médica, regularmente credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) = Documento contendo o nome e o número de protocolo do programa de Residência Médica cadastrado na CNRM. (Lei 11.129/05). A Instituição Proponente deverá constituir e implementar uma única Comissão de Residência Multiprofissional (COREMU), conforme a Resolução CNRMS nº 01 de 21 de julho de 2015.Trata-se de uma Comissão local composta pelo coordenador da COREMU e demais coordenadores de programas representantes das áreas profissionais e membros do colegiado. Para serem implantados, os Programas devem realizar articu- lação/parceria com o gestor local (Secretarias Municipais e Estaduais
  • 174. 173 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 173SUMÁRIO de Saúde) para definição de prioridades e demandas. O gestor local de saúde ou seu representante deve participar da eleição do coor- denador de COREMU e das próximas reuniões das COREMU. Os Programas de Residência devem dispor de infraestrutura adequada de apoio e quantitativo de pessoal qualificado, possuir biblioteca atualizada com acervo de livros e periódicos pertinentes ao Programa de Residência Multiprofissional, salas em número suficiente e pontos de acesso às bases de dados virtuais, possuir capacidade mínima indispensável para efetivação do programa como salas de aulas em número suficiente para discussões de casos, aulas teóricas e locais de repouso apropriado para os residentes. É importante que venha articular-se com as unidades de saúde da família utilizadas como campo de inserção de graduação, preferencialmente aquelas que estejam desenvolvendo projetos PET-SAÚDE e PRÓ-SAÚDE. O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde - PET SAÚDE foi instituído pela Portaria Interministerial MS/MEC nº. 1.802/08 e é destinado a fomentar grupos de apren- dizagem tutorial no âmbito da Estratégia Saúde da Família, viabili- zando programas de aperfeiçoamento e especialização em serviço dos profissionais da Saúde, bem como de iniciação ao trabalho, estágios e vivências dirigidos aos estudantes da área, por meio do pagamento de bolsas. Considera-se ainda que os Programas de Residência Multiprofissional atendam a realidade sócio- epidemiológica, a capacidade técnico-assistencial e as necessidades loco regio- nais. Garante a educação permanente de todos os colaboradores (preceptores, docentes e outros) envolvidos com o programa, a isonomia de benefícios oferecidos a todos os residentes e outras condições que a instituição formadora e executora avalie como relevantes, dependendo de sua especificidade. Os residentes ingressam através de processo seletivo público para seleção. Os
  • 175. 174 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 174SUMÁRIO cursos são cadastrados no Sistema de Informação da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde – SisCNRMS. Conexões entre Delors e Perrenoud na formação profissional em saúde Em 1996, foi apresentado o relatório pela Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI – UNESCO, coor- denado por Jacques Delors, editado sob a forma de livro, intitu- lado; Educação: Um Tesouro a Descobrir. A discussão apresentada no relatório discorre sobre “Os quatro pilares da Educação”. São conceitos de fundamento da educação para o novo século onde se sugeria uma educação direcionada para os quatro tipos funda- mentais de educação: aprender a conhecer, (adquirir instrumentos da compreensão), aprender a fazer (para poder agir sobre o meio envolvente), aprender a viver juntos (cooperação com os outros em todas as atividades humana) e finalmente aprender a ser (conceito principal que integra todos os anteriores). O objeto da discussão se refere à indissociabilidade entre o aprendizado direcionado para a aquisição de instrumentos de compreensão,deexecução,dofazer,doconviveredoser.Discute-se pelo fato de que um dos maiores desafios para a educação será a transmissão, de forma maciça e eficaz, da informação e da comu- nicação adaptadas à civilização cognitiva, ou sociedade do conhe- cimento (pois estas são as bases das competências do futuro). O relatório manifesta uma preocupação devido ao grande acesso à informação. O documento revela que compete ao ensino encon- trar e ressaltar as referências que impeçam as pessoas de ficarem ilhadas pelo número de informações, mais ou menos efêmeras, que invadem os espaços públicos e privados, desse modo, orientar os educandos para projetos de desenvolvimento individuais e coletivos.
  • 176. 175 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 175SUMÁRIO Paralelamente ao Relatório da UNESCO (1996), Perrenoud (1999) explicita a aprendizagem por competências em sua obra inti- tulada; “Construir as competências desde a escola”, editora Artmed. Seu texto questiona a democratização do ensino e a real qualifi- cação da sociedade, discute a formação conteudista e defende a abordagem por competências como o caminho para ressignificar a ação pedagógica desde que ela esteja atrelada a outras mudanças. Em trecho de sua obra aponta: As competências estão no fundamento da flexibilidade dos sistemas e das relações sociais “[...] Procurarei mostrar a inutili- dade de criarem-se grandes esperanças sobre uma abordagem por competências se, paralelamente a isso, não se mudar a relação com a cultura geral, se não houver a reconstrução de uma transposição didática, se não forem inventados novos modos de avaliação, se o fracasso for negado para construir a seqüência do currículo sobre a areia, se a ação pedagógica não for diferenciada, se a formação dos professores não for modificada, em suma, se o modo de ensinar e fazer aprender não for radicalmente alterado”. (PERRENOUD, 1999, p. 17). Perrenoud (2000) e Delors (1998) consentem sobre a primordiali- dade em se inquietar e cuidar para que a educação seja conduzida não pela aquisição de conteúdos, e sim pela aquisição de competências. Resultados/Discussão Os resultados apontaram que o perfil profissional do saber integral, humanista, ético e bioético poderá ser conquistado com êxito em programas de residência multiprofissional, pois diferentes saberes são compartilhados, reconhecidos e valorizados entre profissionais de diferentes áreas. Esse cenário favorece a vivência real do sistema de saúde e corrobora com o aprender a ser e aprender a conviver.
  • 177. 176 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 176SUMÁRIO Os programas em formato de residência oferecem 80% da carga horária práticas para 20% teórica e concorda com Perrenoud que afirma que a competência se concretiza através da prática, o que também se relaciona ao pilar, aprender fazer. Favorece apren- dizagem significativa, sob três formas principais: 1. Descoberta, através da pesquisa, 2. Receptiva, através da troca entre preceptor- -residente, residente-paciente, residente-residente, o conhecimento é o objeto a ser trabalhado. 3. Situações- problema, a prática recorre à teoria frente à tomada de decisão. Conclusão Para atuar no sistema de saúde brasileiro, o profissional deverá ter uma formação baseada por competências, aplicar seu conhecimento de forma que se substitua o especialismo pelo gene- ralismo, tendo, o aprender a aprender, o aprender a fazer e aprender a ser, aprender a conviver, como pilares da sua formação em saúde, formação essa, voltada para as necessidades do usuário, sob a lógica das práticas sociais, da humanização da assistência, cujo foco é o sujeito e não a doença, bem como o respeito à ética e a bioética. O estudo concluiu que os Programas de Residência Multiprofissional ainda não aparecem de forma expressiva no Brasil sendo poucos cadastrados no Ministério da Educação devendo haver maior incentivo às Instituições de Ensino e de Saúde na criação deles. A composição curricular, as proporções de carga horária prática maior que teórica, bem como todo o processo de aprendi- zado facilitado por tutoria, preceptoria e docência, traz aos profissio- nais que buscam Programas de Residência, a melhor opção para a formação em saúde.
  • 178. 177 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 177SUMÁRIO Os cursos cadastrados recebem do Ministério da Educação orientações educacionais a fim de preparar os que serão atores na formação de novos profissionais, através de atualização de preceptores, sugestões de modelos de boas práticas em saúde e educação continuada em educação. Referências BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Ministério da Educação. 20 de dezembro de1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index. php?option=com_content&id=12501&Itemid=813 #apresentacoes> Acesso em: 20 abr. 2015. BRASIL. Ministério da Educação. Sistema de Regulação do Ensino Superior. E-MEC. Consulta Pública Cursos de Especialização. Disponível em: http://emec.mec.gov.br/. Acesso em: 26 mai. 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Sistema de Regulação do Ensino Superior. E-MEC. Consulta Pública de Cursos de Graduação. Disponível em: <http://emec.mec.gov.br/> Acesso em: 15 jun. 2015. BRASIL. Ministério Da Saúde. Portal Educação. Programa De Residência Multiprofissional em Saúde. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=12501&Itemid=813 #apresentacoes> Acesso em: 20 abr. 2015. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNRMS N. 5 de 7 de novembro de 2014. Dispõe sobre a duração e a carga horária dos Programas de Residência em Área Profissional da Saúde nas modalidades multiprofissional e uniprofissional e sobre a avaliação e frequência dos profissionais de saúde residentes, 2014. Disponível em: <http://portal. mec.gov.br> Acesso em: 26/05/2019. BRASIL, Resolução 047/2010, do Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão – CONSEPE, 2010. DELORS. Educação: UM TESOURO A DESCOBRIR. Cortez. 1998. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. PAZ e TERRA, 1996.
  • 179. 178 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 178SUMÁRIO GARCIA. Maria Alice Amorim. Saber, Agir e Educar: O ensino- aprendizagem em serviços de saúde. Revista de Educação PUC-Campinas, n 9, p. 72-82, dezembro2000. PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: ARTMED,1999. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Artmed. Porto Alegre 2000. PREFEITURA MUNICIPAL DE SOROCABA – SMS; PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO. Programa de residência multiprofissional da saúde em urgência e emergência. Setembro de 2013. Responsáveis pela construção do PPC: Diego Garcia Diniz (Pms), Izabel Cristina Ribeiro da Silva Saccomann (Pucsp), Gleidjane Maciel Della Cruz (Pms), Liliane Guimarães Pinho (Pms), Alcirene H Cabral (Pucsp).
  • 180. 179 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 179SUMÁRIO SOBRE O ORGANIZADOR E AS ORGANIZADORAS Horácio dos Santos Ribeiro Pires Mestre em Cognição e Linguagem. Especialista em Arteterapia em Saúde e Educação. Licenciado em Letras (Português/Inglês). Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus Bom Jesus do Itabapoana. E-mail: hpires@iff.edu.br Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Cognição e Linguagem. Especialista em Neuroaprendizagem, Dificuldades de Aprendizagem, Treinamento Cognitivo e Habilidades Socioemocionais. Psicopedagoga, Arteterapeuta, Coach pessoal e empresarial. Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus Campos-Centro. E-mail: bia.acampora@gmail.com Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias Mestranda em Cognição e Linguagem. Especialista em Psicopedagogia. Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Especialista em Neurociências Aplicadas à Reabilitação. MBA em Gestão Empresarial. Graduada em Administração de Empresas. Licenciada em Ciências Biológicas. Graduanda em Pedagogia. E-mail: fabriziadias@gmail.com SOBRE OS AUTORES E AS AUTORAS Adriana Fantoni Naurath Colares Especialista em Psicomotricidade. Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Especialista Psicopedagogia Clínica. Especialista em Psicopedagogia. Especialista em Pedagogia Empresarial. E-mail: drica. naurath@hotmail.com
  • 181. 180 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 180SUMÁRIO Beatriz Acampora e Silva de Oliveira Doutora em Saúde Pública. Mestre em Cognição e Linguagem. MBA Executivo em Coaching. MBA Executivo em Gestão de Pessoas e RH. Especialista em Arteterapia em Saúde e Educação. Especialista em Hipnose Clínica, Hospitalar e Organizacional. Psicóloga. Professora da Universidade Estácio de Sá – RJ. E-mail: beatriz.acampora@gmail.com Bianca Isabela Acampora e Silva Ferreira Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Cognição e Linguagem. Especialista em Neuroaprendizagem, Dificuldades de Aprendizagem, Treinamento Cognitivo e Habilidades Socioemocionais Psicopedagoga, Arteterapeuta, Coach pessoal e empresarial. Professora do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus Campos-Centro. E-mail: bia.acampora@gmail.com Carla Barbosa Ferreira Especialista em Neuropsicopedagogia. Perita Judicial Pedagógica. Pedagoga. E-mail: carlabneuropsico@gmail.com Daniele Fernandes Rodrigues Doutora em Cognição e Linguagem. Mestre em Economia Empresarial. Especialista em Economia. Professora bolsista do Programa de Pós-graduação em Cognição e Linguagem. Professora da Escola Técnica Estadual João Barcelos Martins – FAETEC. E-mail: dani.uenf@gmail.com Fabio Nascimento Custodio Graduado em Biologia. Licenciado em Ciências Biológicas. Professor do Ensino Fundamental e Médio – Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: fabio�- custodio9@gmail.com Fabrizia Miranda de Alvarenga Dias Mestranda em Cognição e Linguagem. Especialista em Psicopedagogia. Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Especialista em Neurociências Aplicadas à Reabilitação. MBA em Gestão Empresarial. Graduada em Administração de Empresas. Licenciada em Ciências Biológicas Graduanda em Pedagogia. E-mail: fabriziadias@gmail.com
  • 182. 181 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 181SUMÁRIO Horácio dos Santos Ribeiro Pires Mestre em Cognição e Linguagem. Especialista em Arteterapia em Saúde e Educação. Licenciado em Letras (Português/Inglês). Professor de Língua Inglesa do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – IFFluminense Campus Bom Jesus do Itabapoana. E-mail: hpires@iff.edu.br João Batista de Oliveira Filho Doutor em Saúde Pública. Mestre em Cognição e Linguagem. Graduado em Psicologia. Graduado em Comunicação Social. Psicólogo. Professor Universitário. E-mail: isecpsicologia@gmail.com Jossana dos Santos Bartolazzi Barbosa Mestranda em Cognição e Linguagem. Especialista em Pedagogia Empresarial. Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Graduada em Pedagogia. Professora Orientadora Pedagógica da prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes/RJ. Diretora de RH da Secretaria Municipal de Educação de Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: jsbartolazzi@yahoo. com.br Larissa Vieira de Lima Gonçalves Mestranda em Educação. Especialista em Neuropsicologia. Graduada em Psicologia. Graduada em Pedagogia. Professora dos anos iniciais da Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes/RJ. Psicóloga/ Neuropsicóloga. E-mail: psicologalarissagoncalves@gmail.com Lilliany de Souza Cordeiro Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Ciências da Motricidade Humana. Especialista em Fisiologia do Exercício. Licenciada em Ciências Biológicas. Licenciada em Educação Física. E-mail: lilliany.cordeiro@ yahoo.com.br Luciana Moreno dos Santos Mestre em Produção Vegetal. Professora e pesquisadora da UNESA – Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: lucianamoreno990@gmail.com
  • 183. 182 (Inter)conexão de saberes na educação contemporânea 182SUMÁRIO Luciana Ribeiro Coutinho de Oliveira Mansur Doutora em Produção Vegetal. Bióloga Professora e pesquisadora da UNESA – Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: lucianarcom@yahoo.com.br Manuela Gomes Rangel de Paula Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental. Especialista em Neuropsicologia. Psicóloga – APOE Campos dos Goytacazes/RJ. E-mail: manuelardepaula@gmail.com Maria Francisca Ribeiro Barbosa Monteiro Especialista em Neuropsicopedagogia Clínica. Especialista em Planejamento Educacional. Graduada em Pedagogia Graduada em Letras. E-mail: mfranciscarbm@yahoo.com.br Maura Nogueira Cobra Doutora em Ciências da Educação. Mestre em Saúde da Família. Especialista em Fisioterapia Cardiovascular e respiratória. Graduada em Fisioterapia. Atua em Terapia Intensiva Neo-Pediátrica e em Programa de Capacitação Profissional e Educação Continuada. E-mail: mauracobra@ gmail.com